O Peso da Luz
Esse estudo foi
feito com base no conto intitulado “A Promoção”, do livro “Coração e Vida”, de
Maria Dolores (Espírito). É sobre alguém que muito se dedicou ao próximo,
fazendo caridade somente pela caridade, amando a todos aqueles que o
procuraram. A estória transcorre em pleno espaço celeste, onde aqueles que
haviam servido nas tarefas do amor sem recompensa na Terra estavam reunidos,
sob as vibrações serenas da fé no bem. Todos eles modelos de bondade. Estava
ali o melhor, em atitude calma e reverente, esperando a sonhada promoção, que
constaria do poder de elevar-se à própria ascensão. Todos trocavam frases
proveitosas. Somente alguém, ali, em meio a tudo, que era festa de brilho e de beleza,
parecia um mendigo, triste e mudo, era o irmão Jonaquim, desconhecido entre os
demais. Com expressão rude e feia, jazia ele a um canto, humilde, pensativo,
enquanto o grupo conversava alegremente. Chegando o instante da nobre promoção,
aquele dos presentes que tivesse o menor peso espiritual seria alçado à frente
no caminho brilhante. Vieram ao recinto dois encarregados, ambos chamados anjos
da balança, e os candidatos deixaram-se pesar. E o peso em cada um era leve,
tão leve, que quase não se notava diferença na balança. O recatado Jonaquim foi
o último a ser chamado, e um dos dois mensageiros perguntou: -Jonaquim, dizei
qual foi na Terra a vossa religião? Precisamos aqui de vossos dados, para serem
por nós devidamente revisados. No entanto, Jonaquim, humilde, respondeu: - Anjo
bom, crede! Não tive sobre a Terra a fé pregada, acreditei, como acredito
agora, na presença de Deus que nos guarda e aprimora, entretanto, por mais que
eu desejasse procurar um templo ou algum outro lugar para aprender como se
adora a Deus, nunca pude sair da choça em que morei, ao pé de antiga estrada.
Despendi muito tempo a transportar crianças e doentes. Minha pequena choupana
era uma porta aberta à desventura humana. Ouvi a confissão de míseros
velhinhos, que clamavam em vão pelos parentes, e aguardando inutilmente os
próprios descendentes. Socorri crianças sem apoio que me buscavam, sentindo
sede e fome. Deus me perdoe se nunca me liguei às crenças para estudar a fé e
entender diferenças. Ouvi dizer, na Terra, que houve um homem que nunca
descansou, sempre fazendo o bem; que amou os bons e aos maus, sem ferir
ninguém. Dizem que se chamava Jesus Cristo. A pequena assembleia escutava,
expectante e enternecida, aquele que soubera amenizar a vida. E os anjos da
balança puseram Jonaquim sob exame.
Depois anunciara que o velho Jonaquim tinha o peso da luz. É difícil imaginar
como seria ter o peso da luz! Mas o velho Jonaquim conseguiu. Toda criatura
traz dentro de si um impulso para o progresso espiritual. Mesmo que não pense
nisso, a centelha do amor de Deus, colocada em sua consciência, faz com que se mova
constantemente na direção de sua evolução. Até aqueles que hoje têm o coração
endurecido, e que ainda persistem nas paixões inferiores, na maldade, têm, lá
no fundo de sua consciência, a tendência para progredir e caminhar em direção à
pureza, em direção a Deus. Existem, porém, aqueles que, por já trazerem dentro
de si uma força de vontade tão grande, e a noção nítida de sua própria
imperfeição, conseguem passar nesse planeta de provas e expiações, dedicando-se
ao próximo, negando-se a si mesmo. Essas pessoas, obviamente, são candidatas
naturais à elevação espiritual, candidatas a serem promovidas, a passarem pela
porta estreita que leva ao plano espiritual superior, onde só haverá felicidade
no serviço e onde terão a oportunidade de entender Deus, em Sua infinita
bondade e em Sua infinita pureza. É interessante notar que Jonaquim não tinha
fé religiosa formalmente estabelecida. Apenas acreditava no Criador, naquele
que o havia colocado no mundo, e sentia aquele impulso irresistível de negar-se
e voltar-se para seu irmão necessitado. Passou toda sua vida sem ir à escola,
sem aprender as letras, as teorias, as filosofias, as teologias, mas sabia, no
íntimo de seu ser, o que deveria fazer para melhorar-se e para amenizar as
dores de seus semelhantes. Era cristão? Não declaradamente, mas pelo exemplo de
vida. Sabia, por ouvir falar, que Jesus Cristo existira e que trabalhava sem
descanso fazendo o bem. Mesmo sem ter ouvido diretamente os ensinos do Mestre
Jesus, era um verdadeiro cristão em atos, em dedicação, em caridade com seu
semelhante. Jonaquim, assim como Jesus, era justo. Justo é todo aquele que
cumpre a Lei de Deus, a lei do amor, justiça e caridade, sem perceber.
Cumpre-a, naturalmente. Não precisa ser pressionado para agir de forma
desprendida. Apenas age. Assim era Jonaquim, um justo! Uma choupana à beira da
estrada, de porta aberta para todos aqueles que necessitavam. Maria Dolores
apresenta, na estória de Jonaquim, algumas lições de caridade que devem ser
aprendidas por quem deseja ser um discípulo do Mestre. Abordou de novo os
míseros velhinhos desamparados, menosprezados ou desprezados pelos parentes,
muitas vezes considerados como estorvo. Alguém que já viveu e que agora
incomoda, que atrapalha, que requer cuidados. E nem sempre podemos dedicar
nosso “precioso tempo” cuidando de pessoas idosas, velhas, doentes, improdutivas
para a sociedade. Quantos irmãos se encontram nessa situação? Quantos são os
esquecidos nos asilos por parentes que prometem: -”Voltarei breve, não se
preocupe, estarei sempre aqui com você!” e nunca mais aparecem. Chamou, também,
a atenção para os meninos de rua. Muitos têm família, têm casa, mas fogem
porque o ambiente doméstico não representa um lar que possa lhes trazer
educação, amparo, amor e compreensão. São agredidos pelos pais, pelos padrastos,
pelos irmãos e fogem. Preferem viver na rua, junto ao mundo, do que em casa,
onde se veem longe de obter o consolo e o carinho necessários para a sua
evolução. Crianças necessitadas, famílias necessitadas, todos requerendo
aprendizado, compreensão, luz. Podemos nós, que vivemos em sociedade
organizada, nos considerar cristãos como Jonaquim? O que a nossa sociedade faz
em direção às dores, às injustiças e à ignorância do mundo? O que fazemos
quando olhamos para quadros como estes? Muito pouco ou quase nada! Continuamos a seguir a vida como sempre
fizemos, ignorando os problemas alheios como se não fossem nossos. Jonaquim,
não! Via nas crianças necessitadas a oportunidade de ajudar, a oportunidade de
esclarecer, de amparar, de alimentar, de agasalhar, procurando fazer diferença
no mundo em que vivia. E o Jonaquim fez diferença! Não quis passar sua
encarnação como se nada devesse construir. Estava sempre disposto a esquecer de
si próprio e ajudar a quem pedia. Isto é ter o peso da luz! Reportando aos
ensinamentos colocados no Evangelho Segundo o Espiritismo, vamos encontrar no
capítulo XVII, item 3, as características de um homem de bem. Um homem de bem é
aquele que procura fazer diferença no mundo em que vive, exemplificando a lei
do amor e está a caminho da luz. Um homem de bem tem fé no futuro, colocando os
bens espirituais acima dos bens materiais; é humilde perante Deus em sua infinita
bondade, justiça e sabedoria, pois sabe que nada acontece sem a Sua vontade;
procura ser justo, buscando cumprir a Lei da Justiça, do Amor e da Caridade, na
sua maior pureza; sabe que as vicissitudes são provas e expiações, agindo de
forma resignada diante das dores, aceitando as coisas sem murmurar ou reclamar;
faz o bem pelo bem, defende os fracos, sacrifica seus interesses pelo interesse
da justiça; encontra satisfação nos benefícios que espalha e no serviço que
presta, sem alarde, sem vaidade, sem orgulho, apenas sente satisfação como se
observasse a presença divina dentro de si; É benevolente com todos sem
distinção de raça, cor, credo ou idade; não importa no que acredita, importa
apenas aquilo que ele faz. Aquele que
desejar ter o peso da luz, assim como o velho Jonaquim, deve respeitar as
convicções sinceras e não lançar discussões sobre teorias com aqueles que não
pensam como ele. Deve ter caridade como guia, moderando suas palavras e suas
ações, evitando ferir ou proporcionar suscetibilidades nos outros. Deve sempre
recuar diante da eminência de faltar com amor ao seu semelhante. Que possamos,
todos nós, conhecer, entender, aceitar, admitir e observar em nossas ações as
virtudes do homem de bem. Não vamos permanecer preocupados com as nossas
fraquezas e inferioridades, que ainda são muitas, pois, aquele que caminha na
direção do bem vence, através da luta constante, suas próprias inferioridades,
colocando em seu espírito os valores eternos da espiritualidade. Coloca em seu
espírito a luz necessária para fazê-lo passar pela porta estreita, aquela pela
qual só conseguem passar os justos.
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida.
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