INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
Pense nisso!

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Aprendendo com o Evangelho - Parte III

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e obtereis – Instruções dos Espíritos - Item 23 – Felicidade que a prece proporciona.
23. Vinde, todos vós que desejais crer: acorrem os Espíritos celestes, e vêm anunciar-vos grandes coisas! Deus, meus filhos, abre os seus tesouros, para vos distribuir os seus benefícios. Homens incrédulos! Se soubésseis como a fé beneficia o coração, e leva a alma ao arrependimento e à prece! A prece. Ah, como são tocantes as palavras que se desprendem dos lábios na hora da prece! Porque a prece é o orvalho divino, que suaviza o excessivo calor das paixões. Filha predileta da fé, leva-nos ao caminho que conduz a Deus. No recolhimento e na solidão, encontrai-vos com Deus; e para vós o mistério se desfaz, porque Ele se revela. Apóstolos do pensamento, a verdadeira vida se abre para vós! Vossa alma se liberta da matéria e se lança pelos mundos infinitos e etéreos, que a pobre Humanidade desconhece.
Marchai, marchai, pelos caminhos da prece, e ouvireis a voz dos Anjos! Que harmonia! Não são mais os ruídos confusos e as vozes gritantes da Terra: são as liras dos arcanjos, as vozes doces e meigas dos serafins, mais leves que as brisas da manhã, quando brincam nas ramagens dos vossos arvoredos. Com que alegria então marchais! Vossa linguagem terrena não poderá exprimir jamais essas venturas, que vos impregna por todos os poros, tão, vivas e refrescantes é a fonte em que bebemos através da prece! Doces vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança, pela prece, a essas esferas desconhecidas e habitadas! São divinas todas as aspirações, quando livres dos desejos carnais. Vós também, como o Cristo, orai, carregando a vossa cruz para o Gólgota, para o Calvário. Levai-a, e sentireis as doces emoções que lhe passavam pela alma, embora carregasse o madeiro infamante. Sim, porque ele ia morrer, mas para viver a vida celestial, na morada do Pai! (Santo Agostinho - Paris, 1861)
Rara são as vezes que conseguimos realmente fazer uma prece com sinceridade e coração aberto para se encontrar com Deus, na maioria das vezes nos dispomos a conversar com ele tal qual relatório de rotina que entregamos no trabalho para cumprir com nossa obrigação . Muitas são as vezes que nos vimos em situações onde o contato direto com Deus nos confortaria a alma, nos daria força, mas, nós não nos colocamos nesta condição. É como se tivéssemos a intensão de ligar para alguém para pedir ajuda durante todo o dia, mas não saímos da intenção, queremos a ajuda de deus mas não entramos em sintonia com ele ...
A Felicidade não é deste mundo por que a verdade felicidade não é algo material e sim um estado de espirito, duradouro ou não conforme nossa condição espiritual. Tendo então esta certeza de que aqui na terra não teremos a felicidade tal qual almejamos, plena e inabalável, experimentaremos momentos de tormenta, de dor , grandes provas , dificuldades como então suportar ?Jesus nos deu o caminho.
Neste Evangelho é feito um estudo sobre isto onde é citado os trechos anotados por Mateus, onde Jesus nos esclarece e nos conforta o coração.: Cap. 5 – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
1 – Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V: 5, 6 e 10). Cap. 6 – O CRISTO CONSOLADOR
2 – Vinde a mim, todos os que andam em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30)
Jesus nos afirma que se formos até ele, ele nos aliviará, não nos diz que nos tirará as provas, mas sim que nos aliviará , que estará conosco, tal qual um irmão que cuida do outro nos momentos de dificuldade e de dor, irmão que não pode muitas vezes trocar de lugar conosco nas provas que a vida nos oferece, mas certamente que através de sua presença e sua doação de amor, nos conforta e divide conosco aquilo que nos parece impossível de suportar.
E como nos ligar a Jesus nos dias hoje já que não se encontra mais entre nós? Como sentir sua presença em nossas vidas, como sentir seu abraço, sua força?
O mecanismo da prece é a misericórdia de Deus atuando em nossas vidas, através do fluido universal que nos envolve a todos e ao universo, nos interligamos através do pensamento, de nossos sentimentos, a aquilo ou aquela pessoa que almejamos. É dito que Deus esta sempre de braços abertos, que Jesus e os Bons Espíritos estão sempre de braços abertos e através do mecanismo natural da prece isto faz todo o sentido.

IMPORTANTE:
Com relação ao Capítulo XXVIII – Coletânea de preces espíritas, não se faz necessário nenhum comentário ou apreciação, porque, segundo os Espíritos, "A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração".
Kardec diz que não há que se considerar esta coletânea como um formulário absoluto e único, mas, apenas, uma variedade no conjunto das instruções que os Espíritos ministraram.




O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e obtereis – Instruções dos Espíritos - Item 22 – Maneira de orar.
22. O primeiro dever de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar o seu retorno à atividade diária, é a prece. Vós orais, quase todos, mas quão poucos sabem realmente orar! Que importam ao Senhor as frases que ligais maquinalmente uma às outras, porque já vos habituastes a repeti-las, porque é um dever que tendes de cumprir, e que vos pesa, como todo o dever?
A prece do cristão, do Espírita, principalmente, de qualquer culto que seja, deve ser feita no momento em que o Espírito retoma o jugo da carne, e deve elevar-se com humildade aos pés da Majestade Divina, mas também com profundeza, num impulso de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até esse dia. E de agradecimento, ainda, pela noite transcorrida, durante a qual lhe foi permitido, embora não guarde a lembrança, retornar junto aos amigos e aos guias, para nesse contato haurir novas forças e mais perseverança. Deve elevar-se humilde aos pés do Senhor, pedindo pela sua fraqueza, suplicando o seu amparo, a sua indulgência, a sua misericórdia. E deve ser profunda, porque é a vossa alma que deve elevar-se ao Criador, que deve transfigurar-se, como Jesus no Tabor, para chegar até Ele, branca e radiante de esperança e de amor.
Vossa prece deve encerrar o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais realmente. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que abrevie as vossas provas, ou que vos dê alegrias e riquezas. Pedi-lhe antes os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Evitai dizer, como o fazem muitos dentre vós: “Não vale a pena orar, porque Deus não me atende”. O que pedis a Deus, na maioria das vezes? Já vos lembrastes de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh, não, tão poucas vezes! O que mais vos lembrais de pedir é o sucesso para os vossos empreendimentos terrenos, e depois exclamais: “Deus não se preocupa conosco; se o fizesse, não haveria tantas injustiças!” Insensatos, ingratos! Se mergulhásseis no fundo da vossa consciência, quase sempre ali encontraríeis o motivo dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, para vos tornardes melhores, e vereis que torrentes de graças e consolações se derramarão sobre vós! (Ver cap. V, nº 4).
Deveis orar incessantemente, sem para isso procurardes o vosso oratório ou cairdes  de joelhos nas praças públicas. A prece diária é o próprio cumprimento dos vossos deveres, mas dos vossos deveres sem exceção, de qualquer natureza que sejam. Não é um ato de amor para com o Senhor assistirdes os vossos irmãos numa necessidade qualquer, moral ou física? Não é um ato de reconhecimento a elevação do vosso pensamento a Ele, quando uma felicidade vos chega, quando evitais um acidente, ou mesmo quando uma simples contrariedade vos aflora à alma, e dizeis mentalmente: “Seja bendito, meu Pai!”?  Não é um ato de contribuição, quando sentis que falistes, dizerdes humilde para o Supremo Juiz, mesmo que seja num rápido pensamento: “Perdoai-me, Deus meu, pois que pequei (por orgulho, por egoísmo ou por falta de caridade); dai-me a força de não tornar a falir, e a coragem de reparar a minha falta”?
Isto independe das preces regulares da manhã e da noite, e dos dias consagrados, pois, como vedes a prece pode ser de todos os instantes, sem interromper os vosso afazeres; e até, pelo contrário, assim feita, ela os santifica. E não duvideis de que um só desses pensamentos, partindo do coração, é mais ouvido por vosso Pai celestial do que as longas preces repetidas por hábitos, quase sempre sem um motivo imediato, apenas porque a hora convencional maquinalmente vos chama.
Nota: Nos primeiros tempos, os adeptos do Espiritismo ainda permaneciam muitas vezes ligados às igrejas de que provinham. O mesmo aconteceu também com o Cristianismo dos primeiros tempos. (N. do T.)
Nessas conversas do Espírito com a Divindade, a linguagem não deve ser preparada, anotada com antecedência; deve variar segundo as necessidades, o estado do espírito do ser humano. É um grito, um lamento, uma efusão ou um canto de amor, um ato de adoração, um inventário moral feito sob o olhar de Deus, ou, ainda, um simples pensamento, uma lembrança, um olhar levantado para os céus.
Não há horas para a prece. É bom, sem dúvida, elevar seu coração a Deus no início e no fim do dia. Mas, se sentirem indispostos, não orem. Em compensação, quando sua alma for abrandada, transportada por um sentimento profundo, pelo espetáculo do Infinito, mesmo que seja à beira dos oceanos, sob a claridade do dia ou sob a cúpula cintilante das noites, no meio dos campos e dos bosques sombrios, no silêncio das florestas, orem, então; é boa e grande toda causa que molhe seus olhos de lágrimas, faça dobrar seus joelhos e jorrar do seu coração um hino de amor, um grito de adoração em direção ao Alto.
Seria um erro acreditar que tudo podemos obter pela prece, que sua eficácia é bastante grande para desviar de nós as provações inerentes à vida. A lei de imutável justiça não poderia dobrar-se aos nossos caprichos. Alguns pedem a fortuna, ignorando que seria uma infelicidade para eles, dando um livre impulso às suas paixões. Outros querem afastar males que são, às vezes, a condição necessária aos seus progressos. Suprimi-los teria como efeito tornar sua vida estéril. Por outro lado, como Deus poderia atender a todos os desejos que os homens exprimem nas suas preces? A maioria é incapaz de discernir o que lhe convém, o que lhe seria mais proveitoso.
Na prece que dirige cada dia ao Eterno, o sábio não pede que seu destino seja feliz; não pede que a dor, as decepções, os reveses sejam afastados de si. Não! O que deseja é conhecer a lei para melhor cumpri-la; o que implora é a ajuda do Alto, o socorro dos espíritos benevolentes, a fim de suportar dignamente os maus dias. E os bons espíritos respondem ao seu apelo. Eles não procuram desviar o curso da justiça, entravar a execução dos divinos decretos. Sen­síveis aos sofrimentos humanos, que conheceram, suporta­ram, trazem aos seus irmãos da Terra, a inspiração que os sustenta contra as influências materiais; favorecem esses nobres e salutares pensamentos, esses impulsos do coração que, transportando-os para as altas regiões, livram-nos das tentações e das armadilhas da carne. A prece do sábio, feita num recolhimento profundo, fora de qualquer preocupação egoística, desperta nele essa intuição do dever, esse sentimento superior do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através das dificuldades da existência e o mantêm em comunhão íntima com a grande harmonia universal.
O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação.
Tem Deus preferência pelos que O adoram desta ou daquela maneira? Deus prefere os que O adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-Lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a Si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento. Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até Ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração. (O Livro dos Espíritos. Questão 654. Allan Kardec).
Conclusão do Estudo:
A melhor maneira de orar é aquela que mais nos predisponha ao contato com o plano espiritual e o Criador. Não há fórmula nem rituais para valorizá-las melhor. Só um requisito é indispensável: que parta do coração.
Questões para reflexão:
1 - Qual a melhor hora de orar?
Qualquer hora, desde que precisemos ou queiramos. Entretanto, orar de manhã e à noite, deveríamos adotar como prática habitual.
"O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece."
2 - Como devem ser nossas preces?
Sinceras: partindo do coração, de modo a expressar fielmente o que lhe vai no íntimo; simples: sem floreio ou imensidade de palavras; com humildade: expressando nosso reconhecimento por todos os benefícios recebidos e pela nossa fraqueza diante de Deus; profundas: expressando integralmente o nosso pensamento.
A prece, sendo uma conversa franca e sincera com o Criador, deve refletir o que se passa em nosso íntimo, isto é, se desejamos agradecer, agradeçamos; louvar, louvemos; pedir, peçamos.
3 - Afinal, o que é correto pedir quando oramos?
Devemos pedir bens mais preciosos, como: a paciência, a fé, a resignação e a melhoria moral; enfim, tudo aquilo que nos propicie a evolução espiritual.
Temos a inteligência e a razão que nos dirige os passos; usemo-las para decidir o que é correto pedir. Deus está sempre onde vê boa intenção.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e obtereis – Itens de 18 a 21, - Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores.
18. Os Espíritos sofredores reclamam preces, e estas lhe são de utilidade, pois ao verem que são lembrados, sentem-se menos abandonados e menos infelizes. Mas a prece tem sobre eles uma ação mais direta: reergue-lhes a coragem, excita-lhes o desejo de se elevarem, pelo arrependimento e a reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode não somente aliviar, mas abreviar-lhes os sofrimentos. (Ver Céu e Inferno, II ª parte: Exemplos).
19. Algumas pessoas não admitem a prece pelos mortos, porque acreditam que a alma só tem uma alternativa: ser salva ou condenada às penas eternas. Num e noutro caso, portanto, a prece seria inútil. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos por um instante a realidade das penas eternas e irremissíveis, e que as nossas preces sejam impotentes para interrompê-las. Perguntamos se mesmo com essa hipótese, é lógico, é caridoso, é cristão, recusar a prece pelos réprobos? Essas preces, por mais importantes que sejam para libertá-los, não serão para eles uma prova de piedade, que poderá minorar-lhes os sofrimentos? Na Terra, quando um homem é condenado à prisão perpétua, mesmo que não haja nenhuma esperança de obter-se a graça para ele, é proibido a uma pessoa caridosa auxiliá-lo a carregar o peso dos grilhões? Quando alguém está atacado de mal incurável, não havendo, portanto nenhuma esperança de cura, deve-se abandoná-lo sem nenhum alívio? Pensai que entre os réprobos pode estar uma pessoa que vos seja cara: um amigo talvez um pai, a mãe ou um filho, e só porque, segundo julgais, essa criatura não pode ser perdoada, poderíeis recusar-lhe um copo d´água para mitigar a sede, um bálsamo para secar-lhe as feridas? Não faríeis por ela o que faríeis por um prisioneiro? Não lhe daria uma prova de amor, uma consolação? Não, isso não seria cristão! Uma crença que endurece o coração não pode conciliar-se com a crença num Deus que coloca, como o primeiro de todos os deveres, o amor do próximo!
Negar a eternidade das penas não implica negar uma penalidade temporária, mesmo porque, na sua justiça, Deus não pode confundir o mal com o bem. Ora, nesse caso, negar a eficácia da prece seria negar a eficácia da consolação, dos estímulos e dos bons conselhos; e isso equivaleria a negar a força que haurimos da assistência moral dos que nos amam.
20. Outros se fundam numa razão mais especiosa: a imutabilidade dos desígnios divinos. Deus, dizem, eles, não pode modificar as suas decisões a pedido das criaturas, pois caso contrário nada seria estável no mundo. O homem nada tem, portanto, de pedir a Deus, cabendo-lhes apenas submeter-se e adorá-lo.
Há nesta ideia uma falsa interpretação da imutabilidade da lei divina, ou melhor, ignorância da lei, no que concerne à penalidade futura. Essa lei é revelada pelos Espíritos do Senhor, hoje que o homem já amadureceu para compreender o que, na lei, é conforme ou contrário aos atributos divinos.
Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas, nem os remorsos nem o arrependimento são considerados a favor do culpado. Para ele, todo o desejo de melhorar-se é inútil: está condenado a permanecer eternamente no mal. Se foi condenado, entretanto, por um determinado tempo, a pena cessará no fim do prazo. Mas quem pode afirmar que ele terá então melhorado os seus sentimentos? Quem dirá que, a exemplo de muitos condenados da Terra, ao sair da prisão, ele não será tão mau quanto antes? No primeiro caso, seria manter sob a dor do castigo um homem que se tornara bom; no segundo, seria agraciar aquele que continua culpado. A lei de Deus é mais previdente: sempre justa, equitativa e misericordiosa, não fixa nenhuma duração para a pena, qualquer que seja. Ela se resume assim:
21. “O homem sofre sempre a consequência das suas faltas; não há uma única infração à lei de Deus, que não tenha a sua punição”.
“A severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta”.
“A duração do castigo, para qualquer falta, é indeterminada, pois fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno ao bem; assim, a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se a obstinação o fosse; é de curta duração, se o arrependimento vir logo”.
“Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas o simples remorso não basta: é necessária a reparação da falta. É por isso que o culpado se vê submetido a novas provas, nas quais ele pode, sempre pela sua própria vontade, fazer o bem para a reparação do mal anteriormente praticado”.
“O homem é assim o árbitro constante da sua própria sorte. Ele pode abreviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça depende da sua vontade de fazer o bem”.
Essa é a lei; lei imutável e conforme a bondade e à justiça de Deus.
O Espírito culpado e infeliz, dessa maneira, pode sempre se salvar a si mesmo: a lei de Deus lhe diz sob quais condições ele pode fazê-lo. O que geralmente lhe falta é à vontade, a força e a coragem. Se, pelas nossas preces, lhe inspiramos essa vontade, se o amparamos e encorajamos; se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes que lhe faltam, em vez de solicitar a Deus que derrogue a sua lei, tornamo-nos instrumentos da execução dessa lei de amor e caridade, da qual ele assim nos permite participar, para darmos nós mesmos uma prova de caridade. (Ver Céu e Inferno, I ª parte, caps. IV, VII e VIII).
Jesus dizia que devemos amar ao próximo como a nós mesmos, muitos somente veem o próximo como aquele ser visível que está ao nosso lado: irmão, pai, cônjuge, vizinhos, amigos etc. Muitos não percebem, ou simplesmente passa despercebido, ou pela falta de interesse pelo mundo espiritual habitado por seres invisíveis aos nossos olhos, mas que também são nosso próximo e que devemos igualmente amar, são os seres desencarnados. Aqueles que já partiram, mas que continuam vivendo e a trilhar os caminhos da evolução rumo a redenção espiritual.
Algumas religiões não admitem a prece pelos mortos, porque julgam que a alma, após a morte, tem dois caminhos: ser salva ou condenada as penas eternas, dizendo ser inútil a prece em qualquer dos casos, pois à sua sorte estaria selada. Seria o mesmo que negar um copo d’água a quem tem sede, a esperança a um doente, consolo àqueles que estão em aflição. Uma crença que endurece o coração não pode conciliar-se com a crença num Deus que coloca, como primeiro de todos os deveres o amor ao próximo. Esquecem-se da misericórdia de Deus e que Ele não quer que nenhum de seus filhos se perca. Muitos espíritos estão em sofrimento pelo remorso e arrependimento pelas faltas cometidas quando encarnados, outros porque vivem com sentimento de vingança que gera a obsessão a nós encarnados e, nessas condições de desajustes não conseguem entrar em sintonia com os seres amigos e superiores que vêm para socorrê-los e auxiliá-los, esse sentimento ofusca-lhes a visão impossibilitando o socorro.
A prece não tem o poder de alterar os desígnios de Deus, mas serve como uma ponte de luz que liga o desajustado ou sofredor aos planos mais elevados, atraindo, para eles os espíritos superiores que vêm  em seu auxílio para esclarecê-los, consolá-los e lhes dar esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-nos que seríamos culpáveis se não fizermos o mesmo com os mais necessitados inclusive com os desencarnados.
A prece feita a esses espíritos torna-se útil desde que ditada por verdadeira caridade, nestas condições a prece tem o condão de estimular ao arrependimento e ao desejo de fazer o necessário para encontrarem a felicidade e, dessa forma estaremos contribuindo para o alívio de suas penas e dores.
A prece é agradável a eles, pois percebem que não estão abandonados a si próprios na imensidão, que há, ainda, na Terra seres que se interessam pela sua sorte e desejam à sua felicidade. E mesmo que não alcancem a felicidade pelas preces que lhes são dirigidas, elas são essenciais, pois os tiram do desespero, dando-lhes forças fluídicas necessárias para lutarem contra as influências perniciosas e ajudando-os a subirem mais alto.
O Espiritismo nos dá a certeza de que o nosso amor pode visitar os desencarnados em seu benefício, mostra-nos ainda que a duração do sofrimento depende, até certo ponto, da vontade do espírito e, a prece pode abreviá-lo auxiliando eles nos esforços que fizerem para progredirem.
Mas como orar? Jesus ensinou que basta a criatura recolher-se em seu íntimo, em seu mundo interior e ao dizer: Senhor eu não sei rezar; pode ter a certeza de que já começou a orar.
Assim, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo: a lei de Deus estabelece a condição em que se lhe toma possível fazê-lo. O que as mais das vezes lhe falta é a vontade, a força, a coragem. Se, por nossas preces, lhe inspiramos essa vontade, se o amparamos e animamos; se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes de que carece, em lugar de pedirmos a Deus que derrogue a sua lei, tornamo-nos instrumentos da execução de outra lei, também sua, a de amor e de caridade, execução em que, desse modo, ele nos permite participar, dando nós mesmos, com isso, uma prova de caridade.
Questões para reflexão:
1. Por que é necessário orar pelos desencarnados, principalmente pelos espíritos sofredores?
Primeiro, porque nos impõe um dever, como cristãos, de auxiliar os necessitados; segundo, porque, ao se sentirem lembrados, ficam mais aliviados em seus sofrimentos e, portanto, menos infelizes.
A prece constitui uma grande forma que a Providência nos oferece para prestar o nosso auxílio em favor dos desencarnados.
2. A nossa prece terá alguma influência para o espírito sofredor, se não houver neste predisposição em melhorar-se?
A prece poderá beneficiá-lo, no sentido de influenciar suas atitudes, auxiliando-o a reconduzir-se à senda do bem.
Não há espírito tão endurecido que não se renda e se torne, cedo ou tarde, sensível à grandiosidade, justiça e bondade do Pai Maior.
3. Como podemos entender a imutabilidade das leis, aplicada às penas futuras?
A imutabilidade, aqui, deve ser entendida no sentido de que ninguém foge ao compasso inexorável e nivelador da justiça de Deus, isto é, a ninguém será dado evadir-se do resgate de seus débitos para com a Providência.
"O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que fique sem a correspondente punição."
Conclusão:
Orar pelos desencarnados é ajudá-los na libertação dos sofrimentos que experimentam. Essa prática salutar, além de evidenciar a bondade e justiça de Deus, revela-se um ato de caridade das mais excelsas, que se reflete em favor dos outros e daquele que ora.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis – Itens de 16 e 17.
Preces inteligíveis.

16. Se eu não entender o que significam as palavras, serei um bárbaro para aquele a quem falo; e o que fala, sê-lo-á para mim do mesmo modo. Porque se eu orar numa língua estrangeira, verdade é que o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. Mas se louvares com o espírito, o que ocupa o lugar do simples povo como dirá Amém sobre a tua benção, visto não entender ele o que tu dizes? Verdade é que tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado. (Paulo, I Coríntios, XIV: 11 – 14,  16-17).
17. A prece só tem valor pelo pensamento que a informa. Ora, é impossível ligar um pensamento àquilo que não se compreende, pois o que não se compreende não pode tocar o coração. Para a grande maioria, as preces numa língua desconhecida não passam de mistura de palavras que nada dizem ao espírito. Para que a prece toque o coração, é necessário que cada palavra revele uma ideia, e se não a compreendermos, ela não pode revelar nenhuma. Podemos repeti-la como simples fórmula, cuja virtude estará apenas no menor ou maior número das repetições. Muitos oram por dever, alguns, mesmo, para seguir o costume; eis porque eles se julgam quites com o dever, depois de uma prece repetida por certo número de vezes e segundo determinada ordem. Mas Deus lê no íntimo dos corações; perscruta o nosso pensamento e a nossa sinceridade; e considerá-lo mais sensível à forma do que ao fundo seria rebaixá-lo. (Ver cap. XXVIII, nº 2)

"Até as coisas inanimadas que emitem sons, seja flauta, seja cítara (espécie de Lira, instrumento de corda em forma de U), se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara? Porque se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” Assim também vós, se a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz?
Antigamente, em algumas regiões, oravam em língua desconhecida. "São misturas de palavras que nada dizem ao espírito, pois quem as houve não entende a língua. A prece tem de revelar uma ideia. Se não a compreendemos ela nada revela. Não adianta repeti-las, muito menos orar por dever ou costume". Deus lê no íntimo dos corações, perscruta, indaga, investiga, perquire o nosso pensamento e a nossa sinceridade. Esclarecido o que dizia Paulo e a Doutrina Espírita, podemos aquilatar o efeito de uma pequena palestra, proferida por aquele expositor, que a fez com muita clareza, num palavreado acessível a toda plateia presente. Uma condição essencial da prece é, pois, segundo Paulo, de ser inteligível, a fim de que possa falar ao nosso espírito; para isto não basta que seja dita numa língua compreendida por aquele que ora; há preces em linguagem vulgar que não dizem muito mais ao pensamento do que se estivessem em língua estrangeira, e que, por isso mesmo, não vão ao coração; as raras ideias que elas contêm, frequentemente, são abafadas sob a superabundância das palavras e do misticismo da linguagem.
A principal qualidade da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos que não são senão enfeites de lantejoulas; cada palavra deve ter sua importância, revelar um pensamento, movimentar uma fibra; em uma palavra, deve fazer refletir; só com esta condição a prece pode alcançar seu objetivo, de outro modo não é senão ruído. O mais perfeito modelo de concisão com relação à prece, sem contradita, é a Oração dominical, verdadeira obra-prima de sublimidade em sua simplicidade; sob a forma mais restrita ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. No entanto, em razão de sua própria brevidade, o sentido profundo, encerrado nas poucas palavras das quais ele se compõem, escapa à maioria; os comentários que foram dados a esse respeito não estão sempre presentes na memória, ou mesmo são desconhecidos da maioria; é porque dizem-na, geralmente, sem dirigir-se o pensamento sobre as aplicações de cada uma de suas partes, é dita como uma fórmula cuja eficácia é proporcional ao número de vezes que é repetida; ora, é quase sempre um dos números cabalísticos três, sete ou nove, tirados da antiga crença na virtude dos números, e em uso nas operações da magia.” (Revista Espírita de agosto de 1864.)
Paulo nos ensina a falar, não só ao coração, mas a mente também. Que a oração obedeça a uma lógica, uma coerência, reflita um desejo, uma vontade e esteja dentro de uma realidade. A prece então é algo real e a prece, tanto quanto a pregação, deve chegar aos ouvidos e ser entendida. Como diria Paulo, como as pessoas dirão Amém para palavras sem sentido? Como a espiritualidade maior, Deus, Jesus poderá nos ouvir se nós não sabemos nos expressar? Devemos então orar de forma espontânea, com retidão, com absoluta convicção de nossas intenções, externando o que vai de mais profundo em nossa consciência, não importa o local, a luz , a hora, a principal condição é que ela expresse verdadeiramente o nosso amor e a nossa fé a Deus, em profunda confiança de que receberemos aquilo que precisamos e merecemos. Tanto o louvor, ou suplica, ou o agradecimento significa uma entrega absoluta a Deus e aceitação dos seus desígnios. Entretanto, notai com que ar distraído e com que volubilidade elas são ditas na maioria dos casos. Veem-se lábios a mover-se; mas, pela expressão da fisionomia, pelo som mesmo da voz, verifica-se que ali apenas há um ato maquinal, puramente exterior, ao qual se conserva indiferente a alma.
Questões para reflexão:
1 - Se a prece não necessita de nenhuma fórmula predefinida, por que Kardec compilou o Capítulo XXVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo?
Os Espíritos jamais prescreveram qualquer fórmula absoluta de preces. Quando dão alguma, é apenas para fixar as ideias e, sobretudo, para chamar a atenção sobre certos princípios da Doutrina Espírita. Fazem-no também com o fim de auxiliar os que sentem embaraço para externar suas ideias, pois alguns há que não acreditariam ter orado realmente, desde que não formulassem seus pensamentos.
2 - Qual a qualidade principal da prece?
A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que são meros adornos de lentejoulas. Cada palavra deve ter alcance próprio, despertar uma idéia, pôr em vibração uma fibra da alma. Numa palavra: deve fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído.
3 - Quais são as categorias das preces existentes nesse capítulo?
Estão divididas em cinco categorias as preces constantes nesta coletânea; 1ª) Preces gerais; 2ª) Preces por aquele mesmo que ora; 3ª) Preces pelos vivos; 4ª) Preces pelos mortos; 5ª) Preces especiais pelos enfermos e pelos obsidiados.

Com o propósito de chamar, de maneira especial, a atenção sobre o objeto de cada prece e de lhe tornar mais compreensível o alcance, vão todas precedidas de uma instrução preliminar, de uma espécie de exposição de motivos, sob o titulo de prefácio.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis – Itens de 9 a 15.
Ação da prece – Transmissão do pensamento.

9. A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem à vontade de Deus.

10. O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as suas inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os próprios encarnados.
Esta explicação se dirige sobretudo aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que ela pode exercer ação direta e positiva. Nem por isso está menos sujeita à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, e único que pode dar eficácia à sua ação.

11. Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Ele adquire assim a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho reto, quando dele se afastou; e assim também podem desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimento. Tem o direito de queixar-se, se não conseguir a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.

12. Se dividirmos os males da vida em duas categorias, sendo uma a dos que o homem não pode evitar, e outra a das atribuições que ele mesmo provoca, por sua incúria e pelos seus excessos. (Ver cap. V, nº 4), veremos que esta última é muito mais numerosa que a primeira. Torna-se pois evidente que o homem é o autor da maioria das suas aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com sabedoria e prudência.
É certo, também, que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes. Se não ultrapassássemos os limites do necessário, na satisfação das nossas exigências vitais, não sofreríamos as doenças que são provocadas pelos excessos, e as vicissitudes decorrentes dessas doenças. Se limitássemos as nossas ambições, não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não recearíamos a queda. Se fossemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido. Se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões. Se não fizéssemos nenhum mal a ninguém, não teríamos de temer as vinganças, e assim por diante.
Admitamos que o homem nada pudesse fazer contra os outros males; que todas as preces fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria muito, poder afastar todos os que decorrem da sua própria conduta? Pois bem: neste caso concebe-se facilmente a ação da prece, que tem por fim atrair a inspiração salutar dos Bons Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos maus pensamentos, cuja execução pode nos ser funesta. E, para nos atenderem nisto, não é o mal que eles afastam de nós, mas é a nós que eles afastam do pensamento que nos pode causar o mal; não embaraçam em nada os desígnios de Deus, nem suspendem o curso das leis naturais, mas é a nós que impedem de infringirmos as leis, ao orientarem o nosso livre arbítrio. Mas o fazem sem o perceberem, de maneira oculta, para não prejudicarem a nossa vontade. O homem se encontra então na posição de quem solicita bons conselhos e os segue, mas conservando a liberdade de segui-los ou não. Deus quer que assim seja, para que ele tenha a responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem sempre receberá, se pedir com fervor, e ao que se podem sobretudo aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.
A eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, não daria imenso resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação, pela revelação das relações entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Mas não se limitam a isso os seus efeitos. A prece é recomendada por todos os Espíritos. Renunciar a ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a sua assistência; e para os outros, o bem que se poderia fazer.

13. Ao atender o pedido que lhe é dirigido, Deus tem frequentemente em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior eficácia. Porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só o sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do egoísta, daquele que só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que palavras, e nunca os impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força. Compreende-se isso tão bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às preces daqueles cuja conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são melhores escutados.

14. Se a prece exerce uma espécie de ação magnética, podemos supor que o seu efeito estivesse subordinado à potência fluídica. Entretanto, não é assim. Desde que os Espíritos exercem esta ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário, a insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome, seja ao lhe conferirem momentaneamente uma força excepcional, quando ele for julgado digno desse benefício ou quando isso possa ser útil.
O homem que não se julga suficientemente bom para exercer uma influência salutar, não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é digno de ser ouvido. A consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre agradável a Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa. Seu fervor e sua confiança em Deus constituem o primeiro passo do seu retorno ao bem, que os Bons Espíritos se sentem felizes de estimular. A prece que é repelida é a do orgulhoso, que só tem fé no seu poder e nos seus méritos, e julga poder substituir-se à vontade do Eterno.

15. O poder da prece está no pensamento, e não depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em qualquer hora, a sós ou em conjunto. A influência do lugar ou do tempo depende das circunstâncias que possam favorecer o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que a fazem se associam de coração num mesmo pensamento e têm a mesma finalidade, porque então é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas que importaria estarem reunidos em grande número, se cada qual agisse isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma aspiração comum, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força do que a daquelas cem. (Ver cap. XXVIII, nº 4 e 5 ).

O codificador inicia com a valiosa informação de que “as preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades (…)”, após ponderar que a prece coloca um ser em comunicação mental com outro ser a quem se dirige, não importando se esteja encarnado ou já tenha deixado o corpo pela desencarnação.
O caminhar didático do texto é suave, leve, proporcionando como que uma aula útil e muito agradável para se aprender o mecanismo de transmissão do pensamento na comunicação entre os seres. Para isso faz uma comparação notável para entendermos a questão: “(…) é preciso mentalizar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, como a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluído universal se estendem ao infinito. (…)”. O que ocorre, portanto, é que “(…) estabelece-se uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. (…)”.
A prece tem poderosa ação porque por ela atraímos o concurso dos bons espíritos, que nos sustentam nas boas resoluções e nos inspiram bons pensamentos, possibilitando-nos adquirir as forças morais para superação das dificuldades. Não usá-la, conforme raciocínio de Kardec, é renunciar para sim mesmo e a outros o bem que se lhes pode fazer, à assistência que todos podemos receber da Bondade Divina.
E há uma advertência expressiva no texto, com outras palavras e outro exemplo, mas que se pode resumir no exemplo de adversidades ou doenças que podemos enfrentar, fruto ou não de excessos: temos o direito de reclamar? E conclui a resposta de Kardec: “(…) Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações (…)”. E podemos acrescentar, inclusive à tentação da reclamação ou dos lamentos da revolta.
O texto ocupa três páginas do capítulo, com sábias reflexões. Deixo ao leitor ir à fonte original para o prazer dessa leitura do sábio e profundo texto. Mas concluo com dois pensamentos importantes ali expressos, para ampliar a reflexão de todos nós:
No item 13: “Acedendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus frequentemente, tem em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé àquele que ora, eis porque a prece do homem de bem é mais meritória aos olhos de Deus, e sempre mais eficaz, porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só é dado pelo sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, daquele que ora com os lábios, não podem sair senão palavras, mas não os impulsos da caridade que dão à prece todo o seu poder. (…)”;
No item 15: “O poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, em qualquer lugar, a qualquer hora, sozinho ou em comum. (…)”.
Recomendo, com ênfase, ao leitor, ler o texto integral, até para ampliar o assunto a respeito da prece com comum, reunindo várias pessoas e seu extraordinário poder, mas também para tocar num ponto muito comum nos relacionamentos humanos, quando ouvimos alguém pedir: “Ah! Ore por mim!”. A lucidez de Kardec se faz presente: “(…) Isso é tão compreensível, que, por um movimento instintivo, a pessoa se recomenda de preferência às preces daqueles nos quais se percebe que a conduta deve ser agradável a Deus, porque são mais ouvidos.”
O fato principal, contudo, fica no raciocínio de que diante das dificuldades todas que possamos atravessar, das adversidades muitas vezes inevitáveis, é preciso lembrar, entre outras situações de “(…) Se não ultrapassarmos o limite do necessário na satisfação das nossas necessidades, não teremos as doenças que são consequências dos excessos, e as vicissitudes que essas doenças ocasionam. Se colocarmos limite à nossa ambição, não teremos a ruína. Se não quisermos subir mais alto do que podemos, não temeremos cair. Se formos humildes, não sofreremos as decepções do orgulho humilhado. Se praticarmos a lei da caridade, não seremos nem maldizentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaremos as querelas e as dissenções. Se não fizermos mal a ninguém, não temeremos as vinganças, etc. (…)”.
A prece é o grande recurso contra esses males que ainda nos sondam os passos.
Questões para reflexão:
1 - Como podem ser as preces?
Para pedir, para agradecer e para louvar.
a) pedir: é a que fazemos para rogar auxílio em favor de alguém ou de nós próprios. Exemplo: podemos pedir paciência, tolerância para passarmos por uma dificuldade com mais tranquilidade.
b) agradecer: é a que fazemos para agradecer uma ajuda recebida, um objetivo atingido; por ter nos livrado de um perigo; por termos recebido uma graça, etc.
c) louvar: é aquela através da qual demonstramos o nosso reconhecimento a Deus de sua grandeza e a de sua obra; demonstramos a nossa humildade perante o Criador.
Devemos nos esforçar para que nossas preces sejam mais para agradecer e louvar do que para pedir.
É bem melhor termos pouco a pedir e muito a agradecer, pois é demonstração de resignação diante das provações da vida.
2 - Com base no trecho lido, explique como a prece atinge seu objetivo, ou seja, como a mesma é conduzida ao alvo a que se destina.
Para explicar é preciso que nos consideremos todos mergulhados no fluido universal, de modo que todos, encarnados e desencarnados, possamos nos comunicar uns com os outros. Assim, a nossa prece é transmitida a quem nos dirigimos, através desse fluido, que efetua o papel como o de um telefone que transmite a nossa voz, de um a outro ponto qualquer.
"Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som."
3 - De que forma os espíritos nos ajudam a vencer as dificuldades?
Através da prece sincera nos ligamos aos espíritos superiores, que, sondando a nossa vontade e boa intenção, nos vêm em socorro, dando-nos a força moral necessária para superar os problema, ou retomar o caminho reto, se dele porventura nos desviamos.
Através da prece podemos nos prevenir para não cair no caminho do mal. A prece, no caso, tem a função de nos propiciar forças para resistir ao mal.
Conclusão do Estudo:
As nossas preces são atendidas por Deus, através dos espíritos incumbidos da execução de suas vontades. Os espíritos ouvem-nos as preces qualquer que seja o lugar onde se encontrem.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis – Itens de 5 a 8.
Eficácia da prece.
5. Por isso vos digo: todas as coisas que vós pedirdes orando, crede que as haveis de ter, e que assim vos sucederão. (Marcos, XI: 24)

6. Há pessoas que contestam a eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus as nossas necessidades, é desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no universo através de leis eternas, nossos votos não podem modificar os desígnios de Deus.
Há leis naturais e imutáveis, sem dúvida, que Deus não pode anular segundo os caprichos de cada um. Mas daí a acreditar que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a fronte ante os golpes do destino; sem procurar evitá-los; não deveria esquivar-se dos perigos. Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para que não os utilizasse, a vontade para não querer, a atividade para cair na inação. O homem sendo livre de agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, consequências subordinadas às suas decisões. Em virtude da sua iniciativa, há portanto acontecimentos que escapam, forçosamente, à fatalidade, e que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, da mesma maneira que o avanço ou atraso dos ponteiros de um relógio não destrói a lei do movimento, que regula o mecanismo do aparelho. Deus pode, pois, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, dependendo sempre o atendimento da sua vontade.

7. Seria ilógico concluir-se, desta máxima: “Aquilo que pedirdes pela prece vos será dado”, que basta pedir para obter, e injusto acusar a Providência se ela não atender a todos os pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que nos convém. Assim procede ao pai prudente, que recusa ao filho o que lhe seria prejudicial. O homem, geralmente, só vê o presente; mas, se o sofrimento é útil para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer a operação que deve curá-lo.
O que Deus lhe concederá, se pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe concederá, são os meios de se livrar das dificuldades, com a ajuda das ideias que lhe serão sugeridas pelos Bons Espíritos, de maneira que lhe restará o mérito da ação. Deus assiste aos que se ajudam a si mesmos, segundo a máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”, e não aos que tudo esperam do socorro alheio, sem usar as próprias faculdades. Mas, na maioria das vezes, preferimos ser socorridos por um milagre, sem nada fazermos. (Ver cap. XXV, nº 1 e segs.)

8. Tomemos um exemplo. Um homem está perdido num deserto; sofre horrivelmente de sede; sente-se desfalecer e deixa-se cair ao chão. Ora, pedindo a ajuda de Deus, e espera, mas nenhum anjo vem lhe dar de beber. No entanto, um Bom Espírito lhe sugere o pensamento de levantar-se e seguir determinada direção. Então, por um impulso instintivo, reúne suas forças, levanta-se e avança ao acaso. Chegando a uma elevação do terreno, descobre ao longe um regato, e com isso retoma a coragem. Se tiver fé, exclamará: “Graças, meu Deus, pelo pensamento que me inspiraste e pela força que me deste”. Se não tiver fé, dirá: “Que boa ideia tive eu! Que sorte eu tive, de tomar o caminho da direita e não o da esquerda; o acaso, algumas vezes, nos ajuda de fato! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me haver deixado abater!”.
Mas, perguntarão, por que o Bom Espírito não lhe disse claramente: ”Siga este caminho, e no fim encontrarás o que necessitas”? Porque não se mostrou a ele, para guiá-lo e sustentá-lo no seu abatimento? Dessa maneira o teria convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que é necessário ajudar-se a si mesmo e usar as próprias forças. Depois, porque, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e a submissão à sua vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao cair, vendo alguém, põe-se a gritar e espera que a levantem; mas, se não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinha.
Se o anjo que acompanhou a Tobias lhes houvesse dito: “Fui enviado por Deus para te guiar na viagem e te preservar de todo perigo”, Tobias não teria nenhum mérito. Foi por isso que o anjo só se deu a conhecer na volta.
Tudo quanto pedirdes pela prece, crede que obtereis e que vos será concedido. (Marcos, 11:24).
Devemos aqui ter certo cuidado ao interpretar essas palavras de Jesus, pois não seria lógico concluir que basta pedir para obter. Em primeiro lugar devemos sempre lembrar de que Deus é bom e justo, misericordioso, mas como um Pai, sabe o que é melhor para Nós, seus filhos. Muitas vezes, como fazem as crianças, pedimos a Deus coisas que não poderão ser concedidas porque poderiam complicar nossa existência. Precisamos entender que nossos pedidos serão atendidos conforme a nossa real necessidade e merecimento. Deus cuida para que não nos falte o necessário e nos atende desde que nossos pedidos não sejam meros caprichos ou futilidades. Precisamos entender qual a importância de orar e porque devemos orar sempre. A prece é uma invocação; por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus. Por ela, ligamo-nos a Deus através do concurso das luminosas entidades que Lhe representam a Sabedoria e o Amor, nos inumeráveis planos da vida. É o pensamento que dá qualidade curativa aos fluidos, que existem em estado natural ao nosso redor. É ele que transforma o fluido inerte em energia capaz de recompor um tecido doente ou reduzir os males de ordem espiritual que afetam os indivíduos. É o pensamento também o fio que nos permite estabelecer um relacionamento positivo com os espíritos, que participam das atividades curadoras. Mas, ao mesmo tempo em que nos permite tudo isso, ele também poderá nos ligar a espíritos cuja presença será prejudicial ao ato de curar. Toda moeda tem dois lados, as leis da natureza são estradas de duas mãos. A mente é fonte de energia curativa ou de energia destruidora.
Qual a importância da prece?
Lembremo-nos de um exemplo prático. Se não limparmos periodicamente o nosso quintal, a sujeira se acumula, o mato cresce, e há a proliferação de bichos. No campo espiritual, se não limparmos o nosso psiquismo, os espíritos luminosos se afastam (mesmo que temporariamente), as trevas tomam conta favorecendo a ação de espíritos endurecidos. A prece deve ser curta e feita em segredo, no recôndito da consciência e em profunda meditação. Preces prolongadas ou repetidas tornam-se cansativas, sonolentas e, muitas vezes, delas não participam o pensamento e o coração. Assim, a condição da prece está no pensamento reto, podendo-se orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a sós ou em conjunto, em pé, deitado, de luz acesa ou apagada, de olhos abertos ou fechado; desde que haja o recolhimento íntimo necessário para se estabelecer a sintonia harmoniosa. Por isto a importância do sentimento amoroso, humilde, piedoso, livre de qualquer ressentimento ou mágoa, dessa maneira o homem irá absorver a força moral necessária para vencer as dificuldades com seus próprios méritos. De tudo o que foi dito anteriormente, podemos concluir que a eficácia da prece está na dependência da renovação íntima do homem, em que deve prevalecer a linguagem do amor, do perdão e da humildade para que ele possa assim, de coração liberto de sentimentos negativos, agradecer a Deus a dádiva da vida.
Questões para reflexão:
1 - Como podemos interpretar o ensinamento de Jesus: "Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes"?
Deus sempre nos atende os pedidos. Mas é claro que esse atendimento só ocorre conforme a nossa real necessidade e merecimento, e na medida em que nossos pedidos não visem à satisfação de meros caprichos ou futilidades.
"Desta máxima, fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem."
2 - Afinal, se tudo no Universo obedece a leis eternas, como poderão nossas súplicas alterar-lhe o sentido?
É que, quando somos atendidos em nossos pedidos, não significa que Deus alterou o curso de suas leis, que são imutáveis, mas que, dentro da flexibilidade das mesmas, apraz a Ele acatar nossas súplicas, desde que as considere merecidas. Com isso, a Providência nos dá uma demonstração de respeito à nossa iniciativa e livre arbítrio.
Se Deus nunca aquiescesse aos pedidos, estaria Ele nos tolhendo o livre arbítrio e iniciativa.
"Há, pois, devidos à sua iniciativa (do homem), sucessos que forçosamente escapam à fatalidade e que não quebram a harmonia das leis universais."
3 - Como age a Providência Divina em relação aos nossos pedidos?
Deus nos atende em todas as nossas necessidades. Porém, nem sempre isso coincide com aquilo que pedimos, uma vez que somos atendidos conforme nossas carências reais e não segundo o que desejamos.
"Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura."
Conclusão do Estudo:
Deus sempre atende os pedidos. Esse atendimento é conforme a nossa real necessidade e merecimento, e na medida em que nossos pedidos não visem à satisfação de meros caprichos ou futilidades. A ajuda divina sempre ocorre para a criatura que sabe ajudar-se a si mesma.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis – Itens de 1 a 4.
Qualidade da prece.
1. E quando orais, não haveis de ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé na sinagoga, e nos cantos das ruas, para serem vistos dos homens; em verdade vos digo, que eles já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechada à porta, ora a teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê o que se passa em secreto, te dará a paga. E quando orais não faleis muito, como os gentios; pois cuidam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não queiras portanto parecer-vos com eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, primeiro que vós lho peçais. (Mateus, VI: 5-8)
2. Mas quando vos puserdes em oração, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lha, para que também vosso Pai, que está nos Céus, vos perdoe os vossos pecados. Porque se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não há de perdoar vossos pecados. (Marcos, XI: 25-26)
 3. E propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros: Subiram dois homens ao templo, a fazer oração: um fariseu e outro publicano. O fariseu, posto em pé, orava lá no seu interior desta forma: Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os mais homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns adúlteros, como é também este publicano; jejuo duas vezes na semana, pago o dízimo de tudo o que tenho. O publicano, pelo contrário, posto lá de longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, sê propício a mim, pecador. Digo-vos que este voltou justificado para a sua casa, e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado. (Lucas, XVIII: 9-14).      
4.  As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em secreto. Não fingi orar demasiado, porque não será pelas muitas palavras que serão atendidos, mas pela sinceridade delas. Antes de orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-a, porque a prece não poderia ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que existe de mal em vós. (Ver cap. X, nº 7 e 8)

REFLEXÕES: Jesus define claramente quais as qualidades da prece, conforme nos esclarece Kardec no item 4:
1. Orai em secreto - O local físico não tem grande importância, porém o nosso recolhimento e a nossa postura sim, devemos estar sempre atentos para as nossas atitudes. Muitas vezes em lugares públicos, podemos orar sem que ninguém saiba que estamos orando, pois o poder da prece está no pensamento, está em sua pureza, na sua sinceridade e na humildade daquele que ora.
2.Não fingir orar em demasia, porque não será pela quantidade de palavras que seremos atendidos e nem pelas palavras difíceis que proferimos, Os Espíritos sempre nos dizem que "A forma não é nada, o pensamento é tudo”
3. Seremos atendidos pela nossa sinceridade e por nosso merecimento.
4. Antes de orar, perdoai, a prece que elevamos a Deus tem que emanar sempre de um coração disposto a perdoar, pois, do contrário, a nossa súplica não sairá do ambiente, onde está sendo proferida.
5. Orar com humildade, como o Publicano - É necessário que tenhamos sentimentos de pureza e amor ao próximo. A qualidade da prece, segundo os ensinamentos de Jesus, decorrem de certas virtudes que conquistamos através do nosso aprimoramento espiritual: a humildade, a fé, a indulgência, o amor a Deus, ao próximo, e a nós mesmos.
6. Não com orgulho, como o fariseu - se a nossa prece for apenas proferida pelos lábios, e os nossos corações estiverem cheios de orgulho, é óbvio que ela não atingirá os seus objetivos.
7. Examinar os nossos defeitos, não as nossas qualidades.  Devemos fazer uma análise consciencial, e vermos, em nós mesmos em primeiro lugar, se não somos também portadores dos mesmos defeitos, que julgamos encontrar em nosso semelhante.
8.  E se nos compararmos aos outros, procuremos o que há de mau em nós e não no outro. O julgamento apressado constitui um dos grandes entraves à nossa evolução, pois o Mestre afirmou que seremos julgados com o mesmo comportamento que empregarmos em relação ao nosso próximo.
Portanto, a qualidade das nossas preces não se encontra na fórmula que estamos utilizando para executá-las, mas no sentimento que impregnamos nelas. E fica aqui o alerta... “o essencial não é orar muito, mas orar bem”, entendendo que para isto devemos colocar a nossa intenção onde realmente esteja o nosso coração. Em se tratando de qualidade da prece, "um único e bom sentimento vale mais que mil palavras". Pensemos nisto. Lembrando sempre que onde estão os nossos pensamentos ai estará o nosso coração. O poder da prece está no pensamento, em sua pureza, sinceridade e na humildade daquele que ora, pois quando ditada pelo coração alcança as esferas superiores e reconforta a alma que tem sede de paz. Portanto, a qualidade das nossas preces não se encontra na fórmula que estamos utilizando para executá-las. E fica aqui o alerta... “O essencial não é orar muito, mas orar bem”, entendendo que para isto devemos colocar a nossa intenção onde realmente esteja o nosso coração. Em se tratando de qualidade da prece, "um único e bom sentimento vale mais que mil palavras".
Questões para reflexão:
1 - Por que devemos orar em secreto?
Porque a oração, sendo uma ligação da criatura com o Criador, é a este que deve se reportar, sendo desnecessário ser feita à vista dos homens.
"Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens."
2 - Por que o publicano teve mais mérito em sua oração?
Porque este, ao contrário do fariseu, reconheceu-se pecador e demonstrou humildade perante Deus.
"... Aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado."
3 - Como podemos enumerar as qualidades da prece?
a) a prece deve ser feita em secreto, isto é, não devemos nos colocar em evidência, quando oramos;
b) não é pela multiplicidade das palavras que seremos atendidos, mas sim pela sinceridade delas;
c) a prece deve partir de um coração puro, ou seja, antes de orar devemos perdoar, se tivermos qualquer coisas contra alguém;
d) devemos orar com humildade, e não com orgulho.
"... A prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade."
Conclusão do Estudo:
Orar bem não é orar muito; é saber posicionar-se de forma a que a prece chegue até o Pai e dele se possa receber permanentemente as dádivas. Para isso, é necessário que, ao orar, estejamos com o coração livre de qualquer mágoa ou rancor contra o próximo e que nos coloquemos humildes e submissos perante Deus.


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens de 7 a 10.
Mediunidade gratuita.
7. Os médiuns modernos, pois os apóstolos também tinham mediunidade,  receberam igualmente de Deus um dom gratuito, que é o de serem intérpretes dos Espíritos, para instruírem os homens, para lhes ensinarem o caminho do bem e levá-los à fé, e não para lhes venderem palavras que não lhes pertencem, pois que não se originam nas suas ideias, nem nas suas pesquisas, nem em qualquer outra espécie de seu trabalho pessoal. Deus deseja que a luz atinja a todos, e não que o mais pobre seja deserdado e possa dizer: Não tenho fé, porque não pude pagar; não tive a consolação de receber o estímulo e o testemunho de afeição daqueles por quem choro, pois sou pobre. Eis porque a mediunidade não é um privilégio, e se encontra por toda parte. Fazê-la pagar, seria portanto desviá-la de sua finalidade providencial.
8. Qualquer pessoa que conheça as condições em que os bons Espíritos se comunicam, sua repulsa a todas as formas de interesse egoísta, e saiba como pouca coisa basta para afastá-los, jamais poderá admitir que Espíritos Superiores estejam à disposição do primeiro que os convocar a tanto por sessão. O simples bom senso repele semelhante coisa. Não seria ainda uma profanação, evocar por dinheiro os seres que respeitamos ou que nos são caros? Não há dúvida que podemos obter manifestações dessa maneira, mas quem poderia garantir-lhes a sinceridade? Os Espíritos levianos, mentirosos e espertos, e toda a turba de Espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a responder ao que lhes perguntarem, sem qualquer preocupação com a verdade. Aquele, pois, que deseja comunicações sérias, deve primeiro procurá-las com seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se conseguir a boa vontade dos bons Espíritos é a que decorre da humildade, do devotamento e da abnegação: o mais absoluto desinteresse moral e material.
9. Ao lado da questão moral, apresenta-se uma consideração de ordem positiva, não menos importante, que se refere à própria natureza da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não será jamais uma profissão, não somente porque isso a desacreditaria no plano moral, colocando os médiuns na mesma posição dos ledores da sorte, mas porque existe ainda uma dificuldade material para isso: é que se trata de uma faculdade essencialmente instável, fugida, variável, com a qual ninguém pode contar na certa. Ela seria, portanto, para o seu explorador, um campo inteiramente incerto, que poderia escapar-lhe no momento mais necessário. Bem diversa é uma capacidade adquirida pelo estudo e pelo trabalho, e que, por isso mesmo, torna-se uma verdadeira propriedade, da qual é naturalmente lícito tirar proveito. A mediunidade, porém, não é nem uma arte nem uma habilidade, e por isso não pode ser profissionalizada. Ela só existe graças ao concurso dos Espíritos; se estes faltarem, não há mediunidade, pois embora a aptidão possa subsistir, o exercício se torna impossível. Não há, portanto, um único médium no mundo, que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em determinado momento. Explorar a mediunidade, como se vê, é querer dispor de uma coisa que realmente não se possui. Afirmar o contrário é enganar os que pagam. Mas há mais, porque não é de si mesmo, que se dispõe, e sim dos Espíritos, das almas dos mortos, cujo concurso é posto à venda. Este pensamento repugna instintivamente. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, a credulidade e a superstição, que provocou a proibição de Moisés. O Espiritismo moderno, compreendendo o aspecto sério do assunto, lançou o descrédito sobre essa exploração, e elevou a mediunidade à categoria de missão. (Ver Livro dos Médiuns, cap. XXVIII, e Céu e Inferno, cap. XII).
10. A mediunidade é uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente, religiosamente. E se há uma espécie de mediunidade que requer esta condição de maneira ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. O médico oferece o resultado dos seus estudos, feitos ao peso de sacrifícios geralmente penosos; o magnetizador, o seu próprio fluído, e frequentemente a sua própria saúde: eles podem estipular um preço para isso. O médium curador transmite o fluído salutar dos bons Espíritos, e não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os Apóstolos, embora pobres, não cobravam as curas que operavam.
Que aquele, pois, que não tem do que viver, procure outros recursos que não os da mediunidade; e que não lhe consagre, se necessário, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos levarão em conta o seu devotamento e os seus sacrifícios, enquanto se afastarão dos que pretendem fazer da mediunidade um meio de subir na vida.
Um dos pontos de honra da Doutrina Espírita e do autêntico Movimento Espírita é o zelo ético-moral perante a Mediunidade. A proposta do Espiritismo é a “Mediunidade com Jesus”, isto é, o emprego de nossas faculdades paranormais, mediúnicas e anímicas, da forma mais elevada espiritualmente que possamos alcançar. Assim sendo, é inevitável lembrar-se do “Daí de graça o que de graça recebestes”, o qual foi proferido pelo Mestre Nazareno e que dá nome a um importantíssimo capítulo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. A gratuidade de todo e qualquer trabalho de cunho religioso-espiritual é pré-requisito para toda e qualquer atividade espírita, sob pena da respectiva tarefa não fazer justiça ao rótulo espírita, isto é, ser um uso indevido do termo espírita. O Espiritismo não chancela o profissionalismo religioso assim como qualquer tipo de associação entre atividades de origem espiritual e ganhos materiais pessoais. Chico Xavier, nosso grande exemplo de “Mediunidade com Jesus” e rigorosa referência de mediunidade gratuita, doava, inclusive, os presentes recebidos para que de maneira indireta e sutil, ele não recebesse qualquer vantagem material em função de sua atividade mediúnica, mesmo que de forma não-intencional por parte dos confrades e amigos em geral. Nós, espíritas, devemos ter grande responsabilidade perante tal posicionamento, que constitui aspecto insofismável da Doutrina Espírita e que, longe de representar grande mérito por parte do médium, não é mais do que simples obrigação de qualquer pessoa minimamente esclarecida quanto às verdades espirituais.
Grandes fracassos espirituais dentro e fora da tarefa mediúnica têm sido observados ao serem perpetrados por indivíduos que foram seduzidos pelo velho e surrado vício espiritual de buscar vantagens materiais, inclusive ascensão social, em tarefas religiosas. Desde priscas eras, esse tipo de queda espiritual vem acontecendo em todas as religiões e, de fato, continua ocorrendo nos dias atuais. Entretanto, no Espiritismo, o qual representa o Cristianismo Redivivo e o Consolador prometido por Jesus, quedas semelhantes ganham contornos ainda mais dramáticos, em função do maior nível de esclarecimento e compromisso de seus adeptos para com a verdadeira religiosidade. A Doutrina Espírita é tão clara a esse respeito que não há nenhuma margem de ambiguidade ou dupla interpretação. Assim, especialmente nós, que nos declaramos espíritas, devemos ter redobrada atenção para essa questão, pois seremos duramente cobrados pela Lei de Deus, em nossa própria consciência, se cometermos erros nessa área. Portanto, nossa vigilância espiritual e nosso desprendimento material, que já são metas comportamentais do Espírita em todas as áreas da vida, devem ser redobrados em nossas atividades vinculadas ao trabalho religioso, sobretudo no Movimento Espírita. Diz-nos o Apóstolo Paulo, “Nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele” e, em outra passagem “E cada um dará conta de si mesmo a Deus”. O Apóstolo dos Gentios deixa evidente que, em primeiro lugar, o apego excessivo aos bens materiais é erro primário para qualquer pessoa que busca a verdadeira espiritualidade e, em segundo lugar, não adianta nos enganarmos, pois prestaremos contas de todas as oportunidades evolutivas que desfrutamos e da produtividade no bem que geramos com as mesmas. Neste contexto, a comercialização das tarefas espirituais será uma mancha consciencial de difícil resolução. De fato, o Mestre Jesus é ainda mais contundente ao dizer “Guardai-vos dos escribas e fariseus que a pretexto de longas preces devoram a casa das viúvas”. Para concluir, poderíamos lembrar igualmente do Apóstolo Tiago que dissera em sua carta “Porque a verdadeira religião é essa: visitar os órfãos e as viúvas em suas necessidades”, denotando que, do ponto de vista material, devemos nos aproximar das tarefas religiosas para contribuir com o pouco que possamos oferecer e não para tirarmos vantagens dos trabalhos, como o próprio Apóstolo Paulo assevera: “fazendo com as mãos o que for bom, para ter o que repartir com aquele que passa por necessidades”.
Esforcemo-nos para que nossas atividades espirituais e doutrinárias sejam sinceras, humildes e completamente desinteressadas de quaisquer vantagens de ordem material, pois Deus conhece “o coração do homem” e “sabe o que se passa em segredo”. Desta forma, cuidemos de nossas intenções mais profundas, procurando elevar nosso patamar ético-moral a fim de não nos violentarmos através de agressões à própria consciência e, por consequência, à Lei de Deus.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 5 e 6.
Mercadores expulsos do templo
5. Chegaram pois a Jerusalém. E havendo entrado no templo, começou a lançar fora os que vendiam e compravam no templo; e derribou as mesas dos banqueiros, e as cadeiras dos que vendiam pombas; e não consentia que qualquer transportasse móvel algum pelo templo. E ele os ensinava, dizendo-lhes: Porventura não está escrito que a minha casa será chamada casa de oração entre todas as gentes? E vós tendes feito dela covil de ladrões. O que ouvindo os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, andavam excogitando de que modo o haviam de perder, porque todo o povo admirava a sua doutrina, e tinham medo dele. (Marcos, XI: 15-18: e semelhante em Mateus, XXI: 12-13).
6. Jesus expulsou os vendilhões do templo, e assim condenou o tráfico das coisas santas, sob qualquer forma que seja. Deus não vende a sua benção, nem o seu perdão, nem a entrada no Reino dos Céus. O homem não tem, portanto, o direito de cobrar nada disso.
Sempre que se estuda o evangelho de Jesus nota-se um certo desconforto quando se menciona a passagem em que Jesus expulsa os vendilhões do templo. Jesus foi a Jerusalém na época da Páscoa judaica e havia inúmeros mercadores no templo, vendendo seus animais para os sacrifícios que eram oferecidos a Deus. Os quatro evangelhos relatam o fato. Entendemos que na passagem evangélica não há um comportamento agressivo por parte de Jesus; comportamento agressivo é interpretação dada por quem está lendo a passagem. O fato era que o Templo de Jerusalém estava perdendo seu aspecto religioso para dar lugar ao comércio e a corrupção do povo e dos sacerdotes locais, justificando assim uma postura mais enérgica de Jesus para combater tais desvios. O templo possuía uma guarda própria, então eles tinham centenas de guardas. Além disso, tinha, ao lado do templo, a Torre Antônia, que era uma fortaleza militar romana. Se Jesus chegasse ao templo enfurecido, chutando tudo, batendo nas pessoas, em 3 segundos ele estaria preso. Então, historicamente é impossível que Jesus tenha saído chutando e batendo em animais e nas pessoas. Se o Mestre não tivesse adotado este posicionamento, talvez a essência espiritual do templo se perderia por completo. Certamente Cristo não adotou uma conduta agressiva, mas manteve-se firme em sua atitude, para que as pessoas compreendessem a gravidade da situação. Podemos considerar esta passagem, portanto, como uma encenação literária mimica, muito utilizada na época por Jesus para transmitir suas mensagens à mente humana ainda limitada. Aliás, esse tipo de comunicação gestual era uma característica dos profetas da época. Recordemo-nos das parábolas, outro gênero literário. As parábolas evocam cenas do dia a dia e há a visualização delas na mente à medida que são lidas ou ouvidas. Embora não tenham sido encenadas, são visualizadas na imaginação. Se Jesus tivesse uma virtude a menos dos Espíritos Puros, Ele deixaria de pertencer à Ordem Primeira dos Espíritos Puros. Se Jesus é um espírito puro, consequentemente não manifestaria paixões inferiores como a raiva e a agressividade, nem mesmo encarnado, pois espíritos pertencentes a essa ordem, já expurgaram de seu íntimo este tipo de sentimento que é uma característica humana. Ele ensinou que fossemos "brandos e pacíficos" para com os nossos semelhantes. E a atitude enérgica de Jesus no templo é a mesma atitude enérgica que devemos ter com os nossos vícios morais, com nossos desejos aviltantes e com a preguiça, que não nascem do corpo, mas que se manifestam através dele. 

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 3 e 4.
Preces pagas
3. Estando porém ouvindo-o todo o povo, disse Jesus a seus discípulos: Guardai-vos dos escribas, que querem andar com roupas talares, e gostam de ser saudados nas praças, e das primeiras cadeiras nas sinagogas, e dos primeiros assentos nos banquetes; que devoram as casas das viúvas, fingindo largas orações. Estes tais receberão maior condenação. (Lucas, XX: 45-47, e semelhantes em Marcos, XIII: 38-40; Mateus, XXIII: 14).
4. Disse ainda Jesus: Não façais que as vossas preces sejam pagas; não façais como os escribas, que “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas”, o que quer dizer: apossam-se de suas fortunas. A prece é um ato de caridade, um impulso do coração; fazer pagar aquelas que dirigimos a Deus pelos outros, é nos transformamos em intermediários assalariados. A prece se transforma, então, numa fórmula que é cobrada segundo o seu tamanho. Ora, das duas, uma: Deus mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras; e se forem necessárias muitas, como dizer apenas algumas, ou quase nada, por aquele que não pode pagar? Isso é uma falta de caridade. E se uma palavra é suficiente, as demais são inúteis. Então, como cobrá-las? É uma prevaricação.
Deus não vende os seus benefícios, mas concede-os. Como, pois, aquele que tem sequer é o seu distribuidor, e que não pode garantir a sua obtenção, cobra um pedido que talvez nem seja atendido? Deus não pode subordinar um ato de clemência, de bondade ou de justiça, que se solicita de sua misericórdia, a um determinado pagamento; mesmo porque, se o fizesse, o pagamento não sendo efetuado, ou sendo insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom senso, a lógica, dizem-nos que Deus, a perfeição absoluta, não pode delegar a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preços para a sua justiça. Pois a justiça de Deus é como o Sol, que se distribui para todos, para o pobre como para o rico. Se considerarmos imoral traficar com as graças de um soberano terreno, seria lícito vender as do Soberano do Universo?
As preces pagas têm ainda outro inconveniente; é que aquele que as compra se julga, no mais das vezes, dispensado de orar por si mesmo, pois se considera livre dessa obrigação, desde que deu o seu dinheiro. Sabemos que os Espíritos são tocados pelo fervor do pensamento dos que se interessam por eles. Mas qual pode ser o fervor daquele que paga um terceiro para orar por ele? E qual o fervor desse terceiro, quando delega o mandato a outro, e este a outro, e assim por diante? Não é isso reduzir a eficácia da prece ao valor da moeda corrente?
Hoje é prática comum, e não falta quem garanta: ”campanhas,” “correntes de fé,” “vigílias e fogueiras santas”, semanas disso e daquilo que bons rendimentos alavanca.  Há quem prometa vida nova, quem prometa a “salvação”, a paz e a felicidade, aqui mesmo neste chão, mais cada prece tem seu preço enganam o povo cristão.  Nas escrituras está o alerta, contra estas práticas confusas, de homens que com longas preces, “devoram a casa da viúva”.
“Guardai­ vos  dos  escribas  que  gostam  de  andar  com  vestes compridas.” Jesus (MARCOS, 12: 38)
As letras do mundo sempre estiveram cheias de “escribas que gostam de andar com vestes compridas”. Jesus referia-se não só aos intelectuais ambiciosos, mas também aos escritores excêntricos que, a pretexto de novidade, envenenam os espíritos com as suas concepções doentias, oriundas da excessiva preocupação de originalidade.
Pois é, analisando as palavras do Cristo, achamos inicialmente que Ele quis dizer para os apóstolos para que não cobrassem nada daquilo que viessem a executar, porque a prece vem a ser um ato de caridade e um êxtase do coração. Orar representando alguém e cobrar algo vem a se transformar em um assalariado. A prece feita dessa maneira fica sendo uma formula cujo comprimento se proporciona à soma que custe. Deus não mede a prece pela quantidade de palavras e nem pela soma paga. Perguntamos como fica para aquele que não pode pagar? Isto será falta de caridade, onde apenas uma palavra somente basta Deus me ajude, porque dizê-las em excesso e cobrá-las?
Isto realmente esta errado, porque Deus não vende seus benefícios, e sendo assim qual a garantia que aquele que a vende da às pessoas que alcançarão seus pedidos?
Se Deus levasse em consideração a quantia paga, onde estaria a sua bondade, a sua justiça e onde estaria a sua misericórdia? Deus não delega poderes a criaturas imperfeitas, principalmente para pessoas que vendem a sua palavra e leis. A justiça de Deus é para todos, seja quem for. A justiça de Deus é como o sol: ela é para todos, para o pobre como para o rico, não dependendo de qualquer soma de dinheiro.   Ele não estabelece preço algum. Ainda quanto às preces pagas, ela acaba ferindo a pessoa que paga, porque ela se considera isenta por ter dado dinheiro. Pagar significa reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso. Além disso, as preces pagas podem levar aquele que as compra a crer que ele próprio está dispensado de orar. Os Espíritos sentem-se tocados pelas demonstrações de amor contidas no pensamento que se dirige a eles, ficando evidente a inutilidade de encarregar um terceiro de orar sob pagamento. Não é a quantidade ou a beleza das palavras que selecionam as preces verdadeiras, mas o sentimento de amor e fé daquele que ora, muitas vezes através de um simples gesto ou pensamento, em qualquer lugar onde se encontre.
Entendo que a Terra está precisando de novos enviados de Deus, porque aqui esta virando comercio a palavra Dele. Veja, no passado, Marcos conta no capitulo XI, versículo de 15 a 18, e Mateus no capitulo XXI, versículo de 12 a 13, que Jesus expulsou do templo os mercadores, condenando assim o trafico das coisas santas. Fez isto baseado naquilo que dissemos que Deus não vende a sua benção, nem o seu perdão e nem a entrada no Seu Reino, onde o homem não tem o direito de estipular preços.
Portanto irmãos, vamos tomar cuidado com as preces pagas, elas diante de Deus não tem valor e sim a nossa feita com humildade, pedindo e sabendo agradecer.
A PRECE É UM ATO DE CARIDADE, UM IMPULSO DO CORAÇÃO. PAGAR PELO QUE SE DIRIGE A DEUS POR OUTREM, É TRANSFORMAR-SE EM INTERMEDIÁRIO ASSALARIADO. NÃO É NECESSÁRIO MUITAS PALAVRAS. COBRAR É FALTA DE CARIDADE. O EXCESSO É INÚTIL. POUCAS E SINCERAS PALAVRAS QUE TOCAM OS BONS ESPÍRITOS. DITAS PELA PRÓPRIA PESSOA QUE ESTÁ PAGANDO TAL PRECE. DEUS NÃO VENDE OS BENEFÍCIOS QUE CONCEDE. TENHA FÉ. TUDO QUE FOR MELHOR PARA A PESSOA DEUS DÁ UM JEITO DE CHEGAR ATÉ O MESMO.

 O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 1 e 2.
Dom de curar
1 – Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; daí de graça o que de graça recebestes. (Mateus, X: 8).
2 – “Daí de graça o que de graça recebestes”, disse Jesus aos seus discípulos, e por esse preceito estabelece que não se deve cobrar aquilo por que nada se pagou. Ora, o que eles haviam recebido de graça era a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, ou seja, os maus Espíritos. Esse dom lhe fora dado gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar a propagação da fé. Ele lhes diz que não o transformem em objeto de comércio ou de especulação, nem em meio de vida.
Como podemos entender o que Jesus quis dizer quando falou "Dai de graça o que de graça recebestes"?
Primeiramente devemos entender do que ele estava falando. O que recebemos de graça? Nossos talentos e nossa inteligência não caem do céu. Deus não distribui inteligência, ou aptidão para a música. Isso é conquista do espírito. Se não nesta, em outras vidas. Mas seria injusto para com aqueles que se esforçam em conseguir algo, se Deus distribuísse assim estes valores.
O que é então, que temos nesse mundo mas não é nosso ? Primeiramente nosso corpo. Ele é um empréstimo de Deus, que nos permite habita-lo para podermos aprender. Depois temos os bens materiais, como dinheiro de família.
Vamos falar antes do corpo físico. Ele é um bem de imenso valor. Saibam todos que, a não ser em casos muito extremos, todos recebemos nosso corpo em perfeito estado, e que se sofremos com doenças, nada mais estamos fazendo do que colhendo as frutas amargas que semeamos antes.
Abusos sem fim são cometidos com nossos corpos. Comemos demais, dormimos muito pouco, bebemos, fumamos, agredimos o pobre do corpo de todas as maneiras. Nervosismo em excesso, trabalho fatigante unicamente por ambição ao poder e dinheiro, divertimentos pouco recomendados, tudo isso contribui para minar nossa saúde.
Quem pensa na saúde antes de comer uma enorme feijoada ? Não quero dizer com isso que não se deve comer feijoadas. Mas todos sabemos que é um prato pesado, e no entanto não nos vemos satisfeitos até termos limpado completamente as panelas. Isso também vale para os divertimentos. Ninguém é proibido de se divertir. Muito pelo contrário, isso é saudável e recomendável. No entanto, quando estamos lá, no bem bom, nunca nos lembramos de nos limitar para evitar desgastes desnecessários ao nosso corpo.
Que mais tínhamos de graça? O dinheiro de família? Pouco preciso dizer aqui o que isso significa para a maioria das pessoas. Dissipação, excessos, orgulho, egoísmo, e muito mais.
E que mais? Existe algo de muito importante, uma faculdade que nos permite trabalhar intimamente dos grandes da Espiritualidade. Estou falando da mediunidade. Esta faculdade não é privilégio de ninguém, muito pelo contrário, ela existe em todas as classes sociais, em todas as raças e credos. Poucos imaginam que um padre fazendo um sermão ou um pastor num discurso inflamado podem ser médiuns em ação. Eles podem não sabe-lo, ou podem chamar isso de inspiração do Espírito Santo, ou qualquer outra coisa.
De qualquer forma, é algo que recebemos de graça, como nossos corpos, e que tem um destino específico. Deus quer que a luz chegue a todos. É para isso que ele tem feito uso dos médiuns, trazendo sua palavra consoladora. Antes eram chamados de adivinhos, magos, pitonisas, e um monte de outras coisas. Hoje sabemos que são a ponte que nos liga ao outro lado da vida. O Irmão X tem uma pequena estória, em que ele conta um caso onde uma turma de desajustados, procurando fazer alvoroço, destruiu as lâmpadas de um recinto. Lembra-nos que a energia elétrica que as iluminava continua lá, intocada. Ele compara as lâmpadas aos médiuns, e a energia elétrica à espiritualidade superior. Muitas vezes as lâmpadas se quebram, ou se apagam por si, mas a bondade divina nunca cessa.
Nesta posição, como intermediário, o médium tem o sagrado dever de utilizar esta faculdade em proveito do próximo. É na verdade uma grande oportunidade que ele recebe, pois tem a possibilidade direta de trabalhar ajudando.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV – Buscai e achareis – Não vos afadigueis pela posse do ouro – Itens de 9 a 11.
9 – Não possuais ouro nem prata, nem leveis dinheiro nas vossas cintas; nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão, porque digno é o trabalhador do seu alimento.
10 – E em qualquer cidade ou aldeia que entrardes, informai-vos de quem há nela digno, e ficai ali até que vos retireis. E ao entrardes na casa, saudai-a, dizendo: Paz seja nesta casa. E se aquela casa na realidade o merecer, virá sobre ela a vossa paz; e se não o merecer, tornará para vós a vossa paz. Sucedendo não vos querer alguém em casa, nem ouvir o que dizeis, ao sair para fora da casa, ou da cidade, sacudi o pó de vossos pés. Em verdade vos afirmo isto: menos rigor experimentará no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra, do que aquela cidade. (Mateus, X: 9-15).
11 – Estas palavras, que Jesus dirigia aos seus apóstolos, ao enviá-los anunciar a boa nova pela primeira vez, nada tinham de estranho naquela época. Estavam de acordo com os costumes patriarcais do Oriente, onde o viajor era sempre bem recebido. Mas então eles eram raros. Entre os povos modernos, o aumento das viagens teria de criar novos costumes. Só encontramos agora os do tempo antigo nas regiões distantes, onde o tráfico intenso ainda não penetrou. Se Jesus voltasse hoje a Terra, não poderia mais dizer aos seus apóstolos: Ponde-vos a caminho sem provisões.
Juntamente com o seu sentido próprio, essas palavras encerram um sentido moral bastante profundo. Jesus ensinava, assim, aos seus discípulos, a se confiarem à Providência. Além, desde de que nada possuíam, eles não podiam tentar a cupidez dos que os recebiam. Era um meio pelo qual distinguiram os caridosos dos egoístas, e por isso lhes disse: “Informai-vos de quem é digno de vos receber”, ou seja, de quem é suficientemente humano para abrigar o viajor que nada pode pagar, porquanto esses são dignos de ouvir as vossas palavras e é pela sua caridade que os reconhecereis.
Quanto aos que nem sequer os quisessem receber, nem ouvir, o recomendou aos apóstolos que os amaldiçoassem? Ou recomendou que se impusessem a eles, e usassem de violência, para os constranger a se converterem?: Não, mas que se retirassem pura e simplesmente, à procura de gente de boa vontade.
Assim diz hoje o Espiritismo aos seus adeptos: Não violenteis nenhuma consciência; não forceis ninguém a deixar a sua crença para adotar a vossa; não lanceis o anátema sobre os que não pensam como vós. Acolhei os que vos procuram e deixem em paz os que vos repelem. Lembrai-vos das palavras do Cristo: antigamente o céu era tomado por violência, mas hoje o será pela caridade e a doçura. (Ver cap. IV, nº 10 e 11).
REFLEXÃO:
Nestas passagens evangélicas, Jesus está falando para seus apóstolos que iam pregar a Boa Nova. Jesus sempre usou exemplos da vida cotidiana para que as pessoas pudessem entender o que verdadeiramente ele queria explicar.
Quando o Mestre Jesus deu estas instruções, não possuais ouro e nem leveis dinheiro; as suas palavras não tinham por objetivo instruir os homens a negarem o trabalho e a não se preocuparem com a previdência, porque trabalhar para o progresso e prevenir-se para os dias difíceis fazem parte da condição humana. Esses cuidados são essenciais para a existência material na vida terrena. Hoje a maioria das pessoas vive nas áreas urbanas muito próximas umas das outras. Naquele tempo a solidariedade compensava as enormes distâncias e o viajante era bem recebido por onde passava. Havia nas propriedades da época, abrigos para estes peregrinos. Se fosse hoje, Jesus não poderia dizer para não se precaverem, pois a vida atual é diferente. Podemos entender que há o sentido próprio e o sentido moral, nas instruções de Jesus e em hipótese nenhuma Jesus condenou as atividades materiais, pois Ele mesmo sempre trabalhou. Lembremos que toda atividade útil é considerada como trabalho e cada homem de bem que esteja atendendo corretamente as exigências que a vida lhe faz, através de atividades enobrecedoras, seja no lar ou noutro setor da produção humana é, mesmo sem que o saiba, sem ter consciência disso, um mensageiro de realizações atuando sob o amparo da providência divina. Quem de nós se esforce para produzir, que procura ser útil na medida de suas possibilidades, mesmo que não esteja vinculado a instituições formais, é um trabalhador. Desde que estas atividades materiais não comprometam o próprio homem ou ao seu semelhante diante da moral, esta atividade é um trabalho digno. E digno é o trabalhador do seu salário; logo não precisa perder a serenidade na jornada terrena. Pois Deus, nosso Pai, nunca deixa ninguém ao abandono. Antes de tudo deve manter a confiança que as suas necessidades sempre estão sendo avaliadas pelos Benfeitores de Jesus, tanto no que se refere ao sustento físico como no que for preciso para progredir em sua caminhada espiritual. Desta forma as palavras de Jesus têm por objetivo mostrar que a Providência divina assegura ao homem o quê ele realmente necessita para o avanço de sua alma, na jornada evolutiva do Espírito imortal. Que as suas necessidades materiais são satisfeitas dentro de um limite sabiamente coordenado pela mão superior que guia a senda humana. E por mais que o homem se impaciente não poderá se impor aos desígnios superiores. Isto significa que todos devemos nos esforçar para progredir ao máximo, dentro das leis divinas que nos asseguram hoje uma nova oportunidade de plantar para a felicidade com resignação, serenidade e confiança. Além disso, Jesus provou que não é necessário ter uma posição social elevada para a prática do bem. Podemos imaginar em nossas meditações, como será a grandeza do mundo, quando os homens se decidirem a dar apenas do que realmente possuem para a construção do grande edifício da evolução universal. Não cobiçando os recursos que ainda não são capazes de gerenciar sem correrem os riscos de se desviarem do roteiro seguro. E ninguém é tão pobre que não possa dar um sorriso, ou uma palavra de conforto, mesmo diante das situações mais duras. Jesus também fala de como os discípulos devem se portar ao entrarem na casa de uma pessoa. Levando a sua paz, a sua gentileza, gratidão pela acolhida. E o que fazer se o dono da casa não os receber bem? Jesus recomendou que saíssem batendo o pó de suas sandálias, que não devemos levar nada de lá nem as lembranças tristes. Olha que interessante: Ele diz: - Se a casa for digna da visita, a vossa paz virá sobre ela; se não o for, a vossa paz voltará para vós. Quer dizer, o pensamento de paz se propaga e afeta os de dentro da casa.  Esse pensamento pode ser retribuído ou não e o pensamento volta para os apóstolos. Por isso que a Doutrina Espírita nos orienta, segundo a lei de Causa e Efeito, que nós devemos nos esforçar por querer o bem para as pessoas, pois que toda ação tem uma reação, e ninguém gosta de reações desagradáveis.
Kardec, ao final dessa lição faz seu comentário dando o fechamento do assunto:
" O mesmo diz hoje o Espiritismo a seus adeptos: não violenteis nenhuma consciência; a ninguém forceis para que deixe a sua crença, a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; acolhei os que venham ter convosco e deixai tranquilos os que vos repelem Lembrai-vos das palavras do Cristo. Outrora, o céu era tomado com violência hoje o é pela brandura. (Cap. IV, nº 10 e 11.)
O bem que você faz de todo o coração e sem interesse vai contando ao seu favor segundo a segundo e abatendo na falta a pagar. Assim Deus premia o Espírito que se arrepende e deseja trocar o mal pelo Bem.
De fato, nós só precisamos dos princípios edificantes e simples, contidos no evangelho de Jesus, e não importa se moramos num bairro nobre, ou numa ‘aldeola’ sem nome como aquela em que Ele viveu; nem tampouco serão necessários milhões de seguidores nas redes sociais, lembremos que Ele tinha apenas alguns poucos amigos. Mas foi com esse material que o Cristo iniciou. Desta forma quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, na verdade ainda se encontra muito distante da possibilidade de ajudar a si próprio. Contanto estas recomendações de Jesus sejam antigas, atualmente muitos estão inquietos, se cansando até a beira da exaustão, esgotando-se, seja por causa das questões nos relacionamentos de ordem pessoal, seja por causa das questões de natureza financeira, e nesta condição estão sendo levados a examinar o intercâmbio entre os novos discípulos do evangelho e os desencarnados, perguntando ansiosamente pelas possibilidades de o plano espiritual dar colaboração e solução nas atividades humanas. Mas os benfeitores espirituais não estimulam a cobiça de ninguém. Suas mensagens recordam sempre que trabalhar e aprender constituem processos lógicos do aperfeiçoamento e da ascensão. E nos fortalecem para que atendamos a esses imperativos da Lei, com bastante paz, pois este é o desejo amoroso e puro de Jesus Cristo.
Questões para reflexão:
1 - Quis, aqui, Jesus, nos induzir à imprevidência?
Não. Recomendou-nos que não estivéssemos demasiadamente preocupados e que guardássemos confiança na Providência Divina, além de trabalharmos incessantemente, cumprindo o nosso dever.
A Providência Divina tudo provê, desde que cumpramos a vontade do Pai.
2 - A quem se referia Jesus, ao dizer "aquele que trabalha merece ser sustentado"?
Referiu-se àquele que cumpre a vontade de Deus, fazendo da sua vida um ato permanente de reverência aos ditames do bem.
A sustentação de que aqui se fala não é somente aquela do corpo físico, mas também, e principalmente, a do espírito, que dá a este condições para evoluir.
3 - O que significa "sacudir o pó dos pés"?
Significa que em nós não deve persistir qualquer mágoa ou rancor, se, porventura, não formos ouvidos em nossas prédicas, ou mal compreendidos em nossas boas intenções. Significa dizer: "Sacuda as más impressões e siga alegremente".
"Se alguém te não recebeu a boa-vontade, nem te percebeu a boa intenção, por que a perda de tempo em sentenças acusatórias?" (Emmanuel - Pão Nosso)
Conclusão do Estudo:
Há outros objetivos mais importantes do que a preocupação pelos bens materiais. A disseminação da verdade e do bem, associada à nossa confiança na Providência, é a forma de atingirmos esses objetivos. Devemos exercê-la junto às pessoas de boa-vontade e que se mostrem receptivas ao nosso conselho e boa intenção.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV – Buscai e achareis – Observai os pássaros do céu – Itens de 6 a 8.
6 – Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram e roubam. Mas entesourai para vós tesouros no céu, onde não os consomem a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não o desenterram nem roubam. Porque onde está o tesouro, aí está também o teu coração.
Portanto vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida, que comereis, nem para o vosso corpo, que vestireis. Não é mais a alma do que a comida, e o corpo mais do que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem fazem provimentos nos celeiros; e, contudo, vosso Pai celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas? E qual de vós, discorrendo, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E por que andais vós solícitos pelo vestido? Considerai como crescem os lírios do campo; eles não trabalham nem fiam; digo-vos mais, que nem Salomão, em toda a sua glória, se cobriu jamais como um destes. Pois se ao feno do campo, que hoje é e amanhã é lançado no forno. Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos cobriremos? Porque os gentios é que se cansam por estas coisas. Porquanto vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas se vos acrescentarão. E assim não andeis inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado; ao dia basta a sua própria aflição. (Mateus,  19-21, 25-34).
7 – Se tomássemos estas palavras ao pé da letra, elas seriam a negação de toda a previdência e de todo o trabalho, e conseqüentemente, de todo o progresso. Segundo esse princípio, o homem se reduziria a um expectador passivo. Suas forças físicas e intelectuais não seriam postas em atividade. Se essa tivesse sido a sua condição normal na Terra, ele jamais sairia do estado primitivo, e se adotasse agora esse princípio, não teria mais nada a fazer. É evidente que não poderia ter sido esse o pensamento de Jesus, porque estaria em contradição com o que ele já dissera em outras ocasiões, como no tocante às leis da natureza. Deus criou o homem sem roupas e sem casa, mas deu-lhe a inteligência para produzi-las.(Ver cap. XIV, nº 6 e cap. XXV, nº 2).
Não se pode ver nestas palavras, portanto, mais do que uma alegoria poética da Providência, que jamais abandona os que nela confiam, mas com a condição de que também se esforcem. É assim que, se nem sempre os socorre com ajuda material, inspira-lhes os meios de saírem por si mesmos de suas dificuldades. (Ver cap. XXVII, nº 8)
Deus conhece as nossas necessidades, e a elas provê, conforme for necessário. Mas o homem, insaciável nos seus desejos, nem sempre contenta-se com o que tem. O necessário não lhe basta, ele quer também o supérfluo. É então que a Providência o entrega a si mesmo. Frequentemente ele se torna infeliz por sua própria culpa, e por não haver atendido as advertências da voz da consciência, e Deus o deixa sofrer as consequências, para que isso lhe sirva de lição no futuro. (Ver cap. V, nº 4).
8 – A Terra produz o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar a sua produção, segundo as leis de justiça, caridade e amor ao próximo. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o que sobrar para um determinado momento, suprirá a insuficiência momentânea de outro, e todos terão o necessário. O rico, então, considerará a si mesmo como um homem que possui grandes depósitos de sementes: se as distribuir, elas produzirão ao cêntuplo, para ele e para os outros; mas, se as comer sozinho, se as desperdiçar e deixar que se perca o excedente do que comeu, elas nada produzirão, e todos ficarão em necessidade. Se as fechar no seu celeiro, os insetos as devorarão. Eis por que Jesus ensinou: Não amontoeis tesouros na Terra, pois são perecíveis, mas amontoai-os no céu, onde são eternos. Em outras palavras: não deis mais importância aos bens materiais do que aos espirituais, e aprendei a sacrificar os primeiros em favor dos segundos. (Ver cap. XVI, nº 7 e segs.).
Não é através de leis que se decretam a caridade e a fraternidade. Se elas não estiverem no coração, o egoísmo as asfixiará sempre. Fazê-las ali penetrar, é a tarefa do Espiritismo.

Se ao lermos a parábola “Olhai as aves do céu” a interpretássemos ao pé da letra poderíamos crer que Jesus estaria a negar as leis do trabalho e do progresso. Entretanto, conhecendo os ensinamentos do Mestre concluímos que esta não poderia ter sido sua intenção.
Os espíritos superiores nos dizem que estas palavras devem ser interpretadas como uma “poética alegoria da Providência, que não abandona jamais aqueles que colocam nela sua confiança, mas quer que trabalhem ao seu lado.”
Deus, nosso Pai, soberanamente bom e justo, sabe quais são as nossas necessidades e a elas provê como for necessário, se muitas vezes não nos acode com o auxilio material, está sempre a consolar os nossos corações, a nos inspirar bons pensamentos, boas ideias, boas ações que nos permitirão encontrar os meios para enfrentar as dificuldades.
Na mensagem 152, “Cuidados”, do livro Vinha de Luz, encontramos a advertência que os preguiçosos, sempre interpretam as palavras de Jesus como lhes sendo favoráveis e consequentemente exortando o ócio. Todavia, o mestre nos alerta a vivermos confiantes, atentos em evoluirmos na sabedoria e no amor para a obra perfeita de Deus. Cairbar Schutel, em sua obra A Gênese da Alma, nos alerta para o fato de que o trabalho, como lei sábia da Providência Divina, não é senão um instrumento de desenvolvimento da atividade e da inteligência. Adverte-nos, ainda, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, que o objetivo da vida na Terra é o aperfeiçoamento do Espírito.
“Aquele que assim compreende eleva-se, dignifica-se, e livra dos entraves materiais, sobe às alturas inacessíveis do sofrimento, alcançando a felicidade eterna. Aquele que assim não quer compreender rebaixa-se, desmoraliza-se, e absorvido pelas más paixões, desce às voragens da dor, para expiar e reparar as faltas, as transgressões das leis divinas.”
Jesus disse para que não nos inquietássemos com o dia de amanhã porque o nosso pai sabe do que temos necessidade. Portanto, tenhamos fé, tenhamos coragem para vencer as provas dessa vida. A vida não é mais que um segundo frente à eternidade. Não nos esqueçamos que a Terra é escola abençoada que nos permite resgatar os erros do passado, é aqui que venceremos as nossas mazelas rumo à perfeição.
Disse-nos Lameira de Andrade, no livro Ideal Espírita, psicografia de Chico Xavier que “A evolução é a transição do ser da condição de escravo à condição de senhor do próprio destino. Desse modo, não te amofines quanto às condições difíceis em que te encontras, na romagem terrestre, sejam elas quais forem.”
Assim, cumpramos com o nosso dever de cristãos, trabalhemos incessantemente por nossa reforma íntima, trabalhemos na obra do Senhor, busquemos o reino de Deus e a sua justiça, que tudo o mais nos será dado por acréscimo.
Questões para reflexão:
1 - O que são os tesouros da terra e os tesouros do céu?
Na terra, são os bens supérfluos, as riquezas improdutivas, a posse egoísta; no céu, são as virtudes, a caridade prática, os conhecimentos adquiridos, a ação no bem.
"Beleza física, poder temporário, propriedade e fortuna amoedada podem ser simples atributos da máscara humana, que o tempo transforma, infatigável." (Emmanuel - Fonte Viva)
2 - A fé é suficiente para prover as nossas necessidades, como vestir, comer, beber, etc?
A fé somente não basta. Ela apenas nos auxilia e nos anima, proporcionando-nos meios de atingir o objetivo encetado. A Providência só nos provê do necessário, quando em nós existe disposição para o trabalho e empenho na busca daquilo de que necessitamos.
Fé sem obras é como lampião sem lume. A fé se materializa através do trabalho edificante.
3 - Como age a Providência para nos dotar daquilo que necessitamos?
Inspirando-nos, iluminando-nos o caminho, concedendo-nos a inteligência, prodigalizando saúde, ensejando-nos trabalho, etc.
Esses são alguns dos tantos instrumentos; todos, entretanto, apoiados em nossa disposição e empenho.
Conclusão do Estudo:
Devemos cultivar os tesouros do céu, os únicos capazes de engrandecer-nos, fazendo-nos evoluir. Os recursos indispensáveis para vivermos nunca nos faltarão, desde que nos submetamos às leis de Deus, através das quais a Providência nos supre, na proporção em que nos dedicamos ao trabalho com empenho e fé.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV – Buscai e achareis – Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará – Itens de 1 a 5.
1 – Pedi, e dar-se-vos-á, buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo o que pede, recebe; e o que busca, acha; e a quem bate, abrir-se-á. Ou qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem. (Mateus, VII: 7-11).
 2 – Segundo o modo de ver terreno, a máxima: Buscai e achareis, é semelhante a esta outra: Ajuda-te e o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho, e por conseguinte, da lei do progresso. Porque o progresso é o produto do trabalho, desde que é este que põe em ação as forças da inteligência.
 Na infância da Humanidade, o homem só aplica a sua inteligência na procura de alimentos, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos inimigos. Mas Deus lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo constante de melhorar, ou seja, essa aspiração do melhor, que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua situação, levando-o às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da ciência, pois é a ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Graças às suas pesquisas, sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. Às necessidades do corpo sucedem as necessidades do espírito: após o alimento material, ele necessita do alimento espiritual. É assim que o homem passa da selvageria à civilização.
Mas o progresso que cada homem realiza individualmente, durante a vida terrena, é coisa insignificante, e num grande número deles, até mesmo imperceptível. Como, então, a Humanidade poderia progredir, sem a preexistência e a reexistência da alma? Se as almas deixassem a Terra todos os dias, para não mais voltar, a Humanidade se renovaria sem cessar com as entidades primitivas, que teriam tudo a fazer e tudo a aprender. Não haveria razão, portanto, para que o homem de hoje fosse mais adiantado que o dos primeiros tempos do mundo, pois que, para cada nascimento, o trabalho intelectual teria de recomeçar. A alma voltando, ao contrário, com o seu progresso já realizado, e adquirindo de cada vez alguma experiência a mais, vai assim passando gradualmente da barbárie à civilização material, e desta à civilização moral. (Ver cap. IV, nº 17).
3 – Se Deus tivesse liberado o homem do trabalho físico, seus membros seriam atrofiados; se o livrasse do trabalho intelectual, seu espírito permaneceria na infância, nas condições instintivas do animal. Eis porque ele fez do trabalho uma necessidade, e lhe disse: Busca e acharás; trabalha e produzirás; e dessa maneira serás filho das tuas obras, terás o mérito da sua realização, e serás recompensado segundo o que tiveres feito.
4 – É em virtude da aplicação desse princípio que os Espíritos não vêm poupar ao homem o seu trabalho de pesquisar, trazendo-lhe descobertas e invenções já feitas e prontas para a utilização, de maneira a só ter que tomá-las nas mãos, sem sequer o incômodo de um pequeno esforço, nem mesmo de pensar. Se assim fosse, o mais preguiçoso poderia enriquecer-se, e o mais ignorante tornar-se sábio, ambos sem nenhum esforço, e atribuindo-se o mérito do que não haviam feito. Não, os Espíritos não vêm livrar o homem da lei do trabalho, mas mostrar-lhe o alvo que deve atingir e a rota que  leva a ele, dizendo: Marcha e o atingirás! Encontrarás pedras nos teus passos; mantém-te vigilante, e afasta-as por ti mesmo! Nós te daremos a força necessária, se quiseres empregá-la. (Ver Livro dos Médiuns, cap. XXVI, nº 291 e segs.).
5 – Segundo a compreensão moral, essas palavras de Jesus significam o seguinte: Pedi à luz que deve clarear o vosso caminho, e ela vos será dada; pedi a força de resistir ao mal, e a tereis; pedi a assistência dos Bons Espíritos, e eles virão ajudar-vos, e como o anjo de Tobias, vos servirão de guias; pedi bons conselhos, e jamais vos serão recusados; batei à nossa porta, e ela vos será aberta; mas pedi sinceramente, com fé, fervor e confiança; apresentai-vos com humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias forças, e as próprias quedas que sofrerdes constituirão a punição do vosso orgulho.
É esse o sentindo dessas palavras do Cristo: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.
O aforismo "Ajuda-te que o Céu te Ajudará" é semelhante ao "busca e acharás". É o princípio da lei do trabalho e da lei do progresso. É a esperança no meio das dificuldades acerbas que a alma passa neste planeta de provas e expiações. É o consolo de uma vida melhor ante o desgaste de nosso corpo físico. É a realização da justiça divina ante as injustiças humanas.
Narra-se que um sábio caminhava com os discípulos por uma estrada tortuosa, quando encontraram um homem piedoso que, ajoelhado, rogava a Deus que o auxiliasse a tirar seu carro do atoleiro.
Todos olharam o devoto, sensibilizaram-se e prosseguiram. Alguns quilômetros à frente, havia um outro homem que tinha, igualmente, o carro atolado num lodaçal. Esse, porém, esbravejava reclamando, mas tentava com todo empenho liberar o veículo. Comovido, o sábio propôs aos discípulos ajudá-lo. Reuniram todas as forças e conseguiram retirar o transporte do atoleiro. Após os agradecimentos, o viajante se foi feliz. Os aprendizes surpresos, indagaram ao mestre: Senhor, o primeiro homem orava, era piedoso e não o ajudamos. Este, que era rebelde e até praguejava, recebeu nosso apoio. Por quê? Sem perturbar-se, o nobre professor respondeu: Aquele que orava, aguardava que Deus viesse fazer a tarefa que a ele competia. O outro, embora desesperado por ignorância, empenhava-se, merecendo auxílio.

Muitos de nós costumamos agir como o primeiro viajante. Diante das dificuldades, que nos parecem insolúveis, acomodamo-nos, esperando que Deus faça a parte que nos cabe para a solução do problema. Nós podemos e devemos empregar esforços para melhorar a situação em que nos encontramos. Há pessoas que desejam ver os obstáculos retirados do caminho por mãos invisíveis, esquecidas de que esses obstáculos, em sua maioria, foram ali colocados por nós mesmos, cabendo-nos agora, a responsabilidade de retirá-los. Alguns se deixam cair no amolentamento, alegando que a situação está difícil e que não adianta lutar. Outros não dispõem de perseverança, abandonando a luta após ligeiros esforços. Com propriedade afirma a sabedoria popular que pedra que rola não cria limo, sugerindo alteração de rota, movimento, dinamismo, realização. Não basta pedir ajuda a Deus, é preciso buscar, conforme o ensino de Jesus: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Devemos, portanto, fazer a nossa parte que Deus nos ajudará no que não estiver ao nosso alcance resolver.
B - Questões para reflexão:
1 - O que Jesus nos ensinava, quando assim se referia?
Que devemos nos esforçar na busca do que necessitamos, uma vez que a ajuda de Deus ocorre para quem trabalha e se empenha na procura do desejado, usando da humildade, sinceridade, fé e confiança.
Tal é o sentido das palavras do Cristo: buscai e achareis; pedi e obterereis; batei e abrir-se-vos-á.
2 - Dessa forma, será mesmo necessário pedir a Deus o que necessitamos, uma vez que é pelo trabalho que se consegue as coisas?
Embora Deus saiba o que precisamos e nos auxilie sempre, a nossa ligação com Ele é necessária para que possamos agir com mais confiança e equilíbrio, garantindo-nos o sucesso do trabalho encetado.
O pedido a Deus é um ato de reverência e humildade, que se torna necessário em qualquer atividade nossa.
3 - E como é que o "céu" nos ajuda?
Deus nos ajuda ao permitir nosso progresso espiritual, que é a consequência natural na aplicação digna do nosso trabalho e, ainda, ao nos propiciar um bem estar interior, em face de havermos cumprido o nosso dever.
O homem que "ajuda a si mesmo" descobre mais rapidamente o alvo a atingir e, mais facilmente, o caminho que a ele conduz. Essa á uma forma de compensação do seu esforço.
Conclusão do Estudo:
Deus nos ajuda, na medida em que nos esforçamos na busca do que precisamos. Tudo concorrerá em nosso favor se trabalharmos com afinco, humildade, fé e confiança. Não há milagres: as grandes obras, conquistas e vitórias, são frutos, unicamente, do trabalho digno.
Seria ideal que, sem reclamar e pensando corretamente, fizéssemos esforços para retirar do atoleiro o carro da nossa existência, a fim de seguirmos adiante felizes, com coragem e disposição. Confiantes de que Deus sustentará as nossas forças para que possamos triunfar.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV – Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 17 e 19.
Carregar sua cruz. Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á.
17. Bem aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, e carregarem de injúrias, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. Folgai naquele dia, e exultai; porque, olhai, que grande é o vosso galardão no céu; porque desta maneira tratavam aos profetas os pais deles. (Lucas, VI: 22-23)
18 – E chamando a si o povo, com seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quiser seguir, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois de que aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Marcos, VIII: 34-36; Mateus, X: 39, e João, XII: 24-25).
19 – Regozijai-vos, disse Jesus, quando os homens vos odiarem e vos perseguirem por minha causa, porque sereis recompensados no céu. Essas palavras podem ser interpretadas assim: Sedes felizes quando os homens, tratando-vos com má vontade, vos derem a ocasião de provar a sinceridade de vossa fé, porque o mal que eles vos fizerem resultará em vosso proveito. Lamentai-lhes a cegueira, mas não os amaldiçoeis.
            Após isso, acrescenta: “Tome a sua cruz aquele que me quer seguir”, isto é: que suporte corajosamente as tribulações que a sua fé provocar, pois aquele que quiser salvar a sua vida e os seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo perderem aqui em baixo, até mesmo a vida, para o triunfo da verdade, receberão na vida futura o prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação. Mas para os que sacrificam os bens celestes aos gozos terrenos, Deus dirá: Já recebeste a vossa recompensa.
Recordemos que o termo cruz significa, geralmente, martírio, punição, dor, porque nos tempos primeiros a cruz foi apresentada, idealizada para castigo daqueles que se insurgissem contra hábitos, leis vigentes e mais tarde crimes políticos. Nesses tempos o ensino de Jesus possuía uma interpretação literal uma vez que segui-Lo significava perder a pouca liberdade que se tinha e a própria existência física. Jesus mostrava que os valores mundanos não eram os mais importantes porque o ser transcende às injunções materiais e a Imortalidade é a aspiração máxima a cuja realização todos devemos nos entregar. A frase “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” encerra uma convocação à renovação espiritual pela conquista de valores intelectuais e morais. Essa renovação é íntima despertando e aprimorando as coisas do nosso mundo interior, vencendo a nós mesmos, reajustando as dificuldades mentais, emocionais e sentimentais. A proposta de Jesus fala da necessidade de buscar os valores maiores do Espírito e sua Imortalidade, onde as necessidades da vida, que aparecem de várias formas, não se constituem em fardo que se deve carregar, mas empreendimentos difíceis que devem ser vencidos. “Carregar a sua cruz é não se submeter às imposições mesquinhas de quem quer que seja", mas assumir a vida com todas as realidades que o mundo oferece, como oportunidades necessárias, estímulos adequados ao processo de crescimento espiritual. Carregar a cruz e seguir os Seus passos é cumprir com todos os deveres que nos competem em relação a nós, à família e à comunidade da qual fazemos parte; é agir em todas as situações, favoráveis ou adversas, com firmeza, com tranquilidade, empreendimento e serviço, contribuindo com eficiência e equilíbrio em favor do Bem.
NEGUE-SE A SI MESMO
Negar a si mesmo é ser desprovido de todo sentimento faccioso como a inveja, vaidade, ciúmes, avareza, soberba, concupiscência da carne, lascívia, ira, desejo de vingança, vícios e outros sentimentos abomináveis ao Cristo. Negar a si mesmo é oferecer o outro lado da face, é perdoar e amar os vossos inimigos, bendizer os que vos maldizem, fazer bem aos que vos odeiam e orar pelos que vos maltratam e vos perseguem.  Ter a mesma humildade de Cristo, andar em santidade como Ele andou, guardando os seus mandamentos fazendo a vontade do Pai. Isso é negar a si mesmo. Negar-se a si mesmo para seguir as pegadas de Jesus exige desapego, abdicação dos prazeres da carne para viver uma vida espiritual sob a égide do Cristo. 
Lamentavelmente, hoje, muitos estão no mesmo caminho daquele jovem rico, procuram servir a Jesus com único interesse nas coisas deste mundo, querem viver na abundância dos prazeres da carne, em regalia esplêndida, mas não querem compromisso com Deus, não renunciam a si mesmo para servir ao próximo.
COMO SEGUIR A JESUS?
Seguir a Jesus é andar no mesmo caminho que Ele andou em toda a sua boa maneira de viver. Ser humilde (ser humilde não tem ligação nenhuma com a condição econômica de alguém), andar na fé, na caridade, no amor ao próximo, ter coragem de dar a tua vida, por aquele que, primeiro deu a sua por nós.
Para nós espíritas, a cruz significa o instrumento da realização do nosso aperfeiçoamento moral, para a conquista da grande meta, a perfeição relativa.  Nos dois planos da vida não há conquista sem esforço. Assim, para nós, encarnados, a cruz é qualquer dificuldade que nos aprimore o espírito, seja uma doença ou qualquer obstáculo de difícil superação em nossa vida. Já para os desencarnados, são os vícios não superados, os resgates não realizados, a culpa, o remorso pelas dificuldades não enfrentadas ou mal sofridas, enquanto militavam no corpo carnal. Muitos querem seguir Jesus, mas para isso é preciso tomar a sua cruz, ou seja, é preciso trabalhar o desapego ao bem próprio em proveito do bem de todos; suportando, corajosamente, as consequências dos atos de ontem e de hoje. No texto acima, Jesus deixa bem claro que não há uma imposição, mas um convite. Um importante princípio para todos aqueles que desejam segui-lo e se tornarem seus discípulos, negar-se a si mesmo. Você já meditou na profundidade das palavras do Cristo nesse mandamento?
Questões para reflexão:
1 - Em que constitui a perseguição aludida por Jesus?
Representa as dificuldades que encontramos para vivenciar o Evangelho e as incompreensões existentes entre os homens, com relação a Jesus.
A cruz que hoje carregamos deve ser, para nós, motivo de júbilo e regozijo, pois é o prenúncio da libertação que se avizinha.
2 - Qual o roteiro sugerido por Jesus, para aqueles que pretendem "andar em suas pegadas"?
"Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me."
O roteiro para a conquista da felicidade inclui o desapego ao bem próprio em proveito do bem de todos; o suportar corajosamente as consequências dos atos de ontem e de hoje; e a procura de Jesus por Divino Modelo.
3 - O que quer dizer "salvar-se a si mesmo e perder-se"?
Significa viver uma vida voltada para os prazeres e gozos que o mundo oferece, na vã ideia de estar aproveitando a vida.
Contudo, renunciar aos prazeres e gozos do mundo não significa que o homem deva adotar uma postura de completa fuga a esses prazeres, mas vivê-los, atribuindo-lhes o relativo valor.
Conclusão do Estudo:
A nossa cruz representa as dificuldades e obstáculos da vida presente, consequência de nossos erros do passado. Constitui, ao mesmo tempo, a nossa esperança de libertação, cabendo-nos, portanto, carregá-la com ânimo, firmeza, alegria e resignação. Para isso, é necessário seguir o roteiro estabelecido por Jesus.
 O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV – Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 13 e 16. Coragem da fé.
13. Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos Céus; e o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos Céus. (Mateus, X: 32-33).
14. Porque se alguém se envergonhar de mim, e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade, e na de seu Pai e dos santos anjos. (Lucas, IX: 26)
15. A coragem das opiniões sempre mereceu a consideração dos homens, porque é prova de dignidade enfrentar os perigos, as perseguições, as discussões, e até mesmo os simples sarcasmos, aos quais sempre se expõe aquele que não teme confessar abertamente ideias que não são admitidas por todos. Nisto, como em tudo, o mérito está na razão das circunstâncias, e dos resultados que podem advir. Há sempre fraqueza em recuar diante das consequências da sustentação das opiniões, mas há casos em que isso equivale a uma covardia tão grande como a de fugir no momento do combate.
Jesus estigmatiza essa covardia, no tocante ao problema especial da sua doutrina, ao dizer que, se alguém se envergonhar das suas palavras, ele também se envergonhará daquele; que renegará o que o houver renegado; que reconhecerá, perante o Pai que está nos Céus, o que o confessar diante dos homens. Em outros termos: Aqueles que temeram confessar-se discípulos da verdade, não são dignos de ser admitidos no Reino da Verdade. Perderão, assim, as vantagens da fé, porque se trata de uma fé egoísta, que eles guardam para si mesmos, ocultando-a, com medo dos prejuízos que lhes possa acarretar no mundo. Enquanto isso, os que colocam a verdade acima dos seus interesses materiais, proclamando-a abertamente, trabalham ao mesmo tempo pelo futuro próprio e dos outros.
16. O mesmo acontece com os adeptos do Espiritismo, pois sendo a sua doutrina o desenvolvimento e a aplicação da doutrina do Evangelho, a eles também se dirigem essas palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
Em várias passagens do Evangelho, Jesus salienta a importância da coragem de testemunhar a própria fé. Por exemplo, em determinado ponto da narrativa evangélica, o Cristo afirma que ninguém deve se envergonhar Dele e de Suas palavras. Das exortações do Mestre, extrai-se que não basta crer em algo. O homem deve viver na conformidade de suas crenças. Esposar um ideal é muito pouco. É necessário ser fiel a esse ideal. Em um mundo corrompido, a fidelidade a uma concepção de vida mais pura não costuma ser fácil. Os exemplos que se recebe diariamente são bastante tristes. A Humanidade vive um período de grave crise moral. Sob o nome de liberdade, impera a libertinagem. A título de diversidade de costumes, as criaturas se permitem os mais estranhos desregramentos.
 Nesse contexto, ser sóbrio, trabalhador, honesto e responsável parece quase exótico. O homem pouco reflexivo pode se sentir tentado a seguir a “onda da modernidade”. Entretanto, é preciso ponderar um pouco. Hábitos que destroem a integridade física e psíquica, o lar e a própria dignidade de quem os adota não podem ser saudáveis. A corrupção dilacera a sociedade. Ela implica o desvio de dinheiro que poderia salvar e melhorar inúmeras vidas. A promiscuidade sexual deixa um rastro de desencanto e doença nas vidas de quem a adota. Perante um Mundo conturbado e violento, o homem precisa refletir a respeito de seus ideais. Quais são os valores que se consideram necessários para uma vida harmoniosa e saudável? Identificados esses valores, impõe-se a fidelidade a eles. O que não vale é viver ao sabor das circunstâncias, como um animal que se guia pelo movimento da manada. A inteligência é um dom precioso demais para ser desperdiçado.
Urge lançar um olhar crítico sobre os hábitos da sociedade e meditar sobre eles. Se todos adotarem determinado padrão de comportamento, será possível uma convivência pacífica e proveitosa? Certo naipe de conduta é louvável? Seria agradável ver os próprios filhos ou pais vivendo de forma destrambelhada? Ou ver um ente querido sofrendo as consequências da conduta inconsequente de outrem? O que não é bom e honroso, o que torna infelizes os outros deve ser combatido. Aí surge a necessidade de ser corajoso. Viver de acordo com padrões mundanos é fácil. Difícil é esposar ideais nobres e viver com nobreza. Ser fiel a um Ideal não implica tornar-se conversor compulsório dos semelhantes. A liberdade de consciência é um imperativo da vida em sociedade. Entretanto, respeitar a liberdade dos outros não significa ser conivente com seus equívocos. Para viver em paz é necessário aprender a conviver com o diferente. Mas viver pacificamente não é sinônimo de ser passivo. Em certos momentos, a omissão é um escândalo. Sempre que chamado a dar opinião sobre uma questão ética, é importante ser honesto, embora mantendo a gentileza. Se a opinião não agradar, paciência. Perante condutas que prejudicam inocentes ou o patrimônio público, deve-se atuar na defesa do bem e da ética. Em todo e qualquer caso, agir corretamente, mesmo em prejuízo dos próprios interesses imediatos. Uma vida honrada é o maior e mais corajoso testemunho que um homem pode dar de suas crenças.
Questões para reflexão:
1 - O que se entende por fé?
Fé é a crença que temos em alguma coisa ou alguém. Este sentimento, quando verdadeiro, se manifesta de forma espontânea, através de nossos atos e palavras, e nos leva até a enfrentar dificuldades e perigos, na defesa do que acreditamos.
Dá testemunho da verdade aquele que, possuindo uma fé, vive de acordo com ela e não teme praticá-la, nem defendê-la, onde ou diante de quem quer que seja.
A demonstração da fé dá-se, acima de tudo, pela vivência e a coragem de ostentá-la.
2 - O que devemos entender pelas palavras de Jesus: "eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai".
Em primeiro lugar, que Jesus é o enviado de Deus, nosso Pai, para nos ensinar suas leis. Em segundo, que Jesus está sempre ao nosso lado e, percebendo nosso esforço em praticar o bem, nos reconhecerá diante do Pai, como seguidores de seus ensinamentos.
Jesus não nos reconhecerá pelo nome ou pelos bens que possuímos, mas pelo esforço em superar nossas imperfeições e praticar seus ensinamentos.
3 - Para dar testemunho do Cristo é preciso coragem?
Muitas vezes sim, pois a coragem é sempre necessária para quem proclama abertamente ideias que não são as de toda gente.
Só quem é forte na fé possui coragem suficiente para dela dar testemunho público, em todas as ocasiões. Aquele cuja fé é frágil, prefere renegá-la diante das dificuldades da vida.
Conclusão do Estudo:
O discípulo da verdade é aquele que crê em Deus e vive conforme os ensinamentos de Jesus, não temendo dar testemunho de sua fé diante dos homens, através de palavras e, sobretudo, de atos. Portanto, não devemos ter vergonha em demonstrar a nossa fé e o nosso relacionamento com Deus, pois este caminho nos auxilia e fortalece, lembrando que cada um de nós é um tempero que faz a diferença na vida de cada pessoa; em diversas ocasiões do nosso dia-a-dia precisamos mostrar confiança em Deus para nos guiarmos inclusive nos momentos difíceis, pois necessitamos carregar nossa própria cruz, com aceitação e perseverança, em busca que estamos de nossa evolução espiritual; precisamos ter coragem para levarmos a ação do Evangelho para dentro de nós, para nossas vidas, alicerce de luz que nos sustenta e ampara. É preciso coragem para assumir que somos cristãos (Espíritas) perante a sociedade, não esquecendo acima de tudo do respeito que precisamos ter para com as opções diferentes dos nossos irmãos que estão a caminho conosco na jornada terrena.
É preciso coragem para assumir que somos cristãos (Espíritas) perante a sociedade, não esquecendo acima de tudo do respeito que precisamos ter para com as opções diferentes dos nossos irmãos que estão a caminho conosco na jornada terrena.
O que é ser espírita? Espírita é toda pessoa que vive de acordo com os ensinamentos da doutrina espírita. Seu primeiro dever é melhorar a si mesmo, e o segundo é auxiliar o progresso de seus irmãos ou em seu adiantamento moral e espiritual. O dever do espírita é instruir e para ensinar é preciso primeiro aprender e para aprender é preciso estudar, colocando em prática tudo que aprende.
Precisamos ter coragem para levarmos a ação do Evangelho para dentro de nós, para nossas vidas, alicerce de luz que nos sustenta e ampara.
É importante observar que precisamos ensinar as verdades a todos, mas não vamos insistir com aqueles que Jesus chamava de “gentios”, isto é, aqueles que são materialistas e zombam das coisas espirituais. Todos nós temos o momento de despertamento para a verdade cristã, respeitemos esse tempo nos outros. Para esses não insistamos, prece, carinho pelo companheiro e silêncio é melhor remédio.
Temos de ter a compreensão cristã para as dificuldades e defeitos dos outros, pois todos temos nossos sofrimentos. Como uma cruz, devemos carregá-las. Para isso devemos ter fé. Acreditar na vida eterna do espírito e na felicidade que poderemos alcançar, se formos bons. Portanto, não devemos reclamar do sofrimento. Devemos abençoá-lo, pois ele tem o poder de nos fazer amadurecer.
Toda vez que enfrentarmos sem temor as adversidades que nos surgirem, para mostrar nossa confiança nas mensagens de Jesus, constantes dos evangelhos, e tão bem explicadas pela nobre Doutrina Espírita, e que representam a única maneira de verdadeiramente chegarmos a Deus, como ELE nos afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”, é que estaremos dando nossa contribuição efetiva e nosso testemunho pessoal, para que a verdade das coisas se estabeleça segundo as suas próprias palavras em outra passagem registrada pelo evangelista João, quando nos disse: “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada serve; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida".
Assim sendo, não podemos apenas deixar que a Espiritualidade Superior realize tudo o que se faz necessário para que a divulgação da mensagem do Consolador Prometido se estabeleça com eficiência como muitos dos nossos confrades pensam e defendem. Dizem que em tudo a espiritualidade dará um jeito no tempo certo e, até mesmo com relação aos seus filhos, estão esperando que cresçam e que os Espíritos Superiores os convençam a segui-los ao encontro de Jesus nas casas espíritas que frequentam, como se a orientação religiosa não fosse importante e não lhes estivesse designada pela Soberana Sabedoria do Universo, como responsabilidade de Pais.   
Nos assuntos da Doutrina Espírita também são incontáveis os seguidores do Espiritismo que pensam e agem da mesma maneira, aceitando sem contestação as falsas interpretações dadas por uma grande quantidade de pseudo-sábios que, colocando a vaidade acima dos deveres de cristãos, enxertam, alteram e espalham conceitos absurdos como se fizessem parte da doutrina que desconhecem em profundidade e que ainda encontram apoio nas atitudes de grande parte dos espíritas que, a título de não polemizar, se calam deixando a falsa ideia se expandir, principalmente entre os que não fazem uso dos grupos de estudo das Instituições Espíritas sérias, deixando dessa forma de atender as instruções dos Espíritos que nos afirmam: "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea".

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV – Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 11 e 12. Não são os que gozam saúde que precisam de médico.
11. E aconteceu que, estando Jesus assentado à mesa numa casa, eis que, vindo muitos publicanos e pecadores, se assentaram a comer com ele e com os seus discípulos. E vendo isto os fariseus, diziam aos seus discípulos: Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores? Mas, ouvindo-os, Jesus disse: Os são não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. (Mateus, IX: 10-12).
12. Jesus dirigia-se sobretudo aos pobres e aos deserdados, porque são eles os que mais necessitam de consolação; e aos cegos humildes e de boa fé, porque eles pedem que lhes abram os olhos; e não os orgulhosos, que creem possuir toda a luz e não precisar de nada. (Ver Introdução: Publicanos, Peageiros).
Estas palavras, como tantas outras, aplicam-se ao Espiritismo. Às vezes admira-se de que a mediunidade seja concedida a pessoas indignas, e por isso mesmo capazes de a empregarem mal. Parece, costuma-se dizer, que uma faculdade tão preciosa deveria ser atributo exclusivo de pessoas de maior merecimento.
Digamos, de início, que a mediunidade é inerente a uma condição orgânica, de que todos podem ser dotados, como a de ver, ouvir e falar. Não há nenhuma de que o homem, em consequência do seu livre arbítrio, não possa abusar. Ora, se Deus não tivesse concedido a palavra, por exemplo, senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos do que falantes. Deus outorgou as faculdades ao homem, dando-lhe a liberdade de usá-las como quiser, mas pune sempre aqueles que delas abusam.
Se o poder de comunicar-se com os Espíritos só fosse dado aos mais dignos, qual aquele que ousaria pretendê-lo? E onde estaria o limite da dignidade e da indignidade? A mediunidade é dada sem distinção, a fim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre ao rico: aos virtuosos, para os fortalecer no bem, e aos viciosos, para os corrigir. Estes últimos não são os doentes que precisam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria do socorro que pode tirá-lo da lama? Os Bons Espíritos vêm assim em seu auxílio e seus conselhos, que ele recebe diretamente, são de natureza a impressioná-lo mais vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta. Deus, na sua bondade, poupa-lhe a pena de ir procurar a luz à distância, e lha mete nas mãos. Não será ele bem mais culpado, se não atentar para ela? Poderia escusar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo escreveu, viu com os próprios olhos, ouviu com os seus ouvidos e pronunciou com sua própria boca a sua condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com a perda ou a perversão da sua faculdade, de que os maus Espíritos se apoderarão, para o obsedar e enganar, sem prejuízo das aflições comuns com que Deus castiga os servos indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente as relações habituais com os Espíritos superiores. É simplesmente uma aptidão, para servir de instrumento, mais ou menos dócil, aos Espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que tem facilidade de comunicação, mas o que é simpático aos Bons Espíritos e só por eles é assistido. É neste sentido, unicamente, que a excelência das qualidades morais é de importância absoluta para a mediunidade.
Obviamente, as criaturas saudáveis não necessitam de cuidados médicos. Os que precisam dos serviços da medicina são aquelas que, de alguma forma, estão doentes.
Jesus usou essa imagem para mostrar que a Sua vinda a Terra trazia a proposta de socorrer especialmente aqueles que ainda não estavam devidamente enquadrados no contexto do equilíbrio, o que em realidade era e ainda é a grande maioria das pessoas neste mundo. E a enfermidade a que se referia vai muito além das anormalidades físicas, abrangendo, detalhadamente, todas as deformidades do Espírito. Jesus sempre se prontificou a nos orientar de forma holística, para que  tenhamos  saúde plena, ou seja, o necessário equilíbrio entre as duas naturezas de que somos portadores; a física e a espiritual.
Diante da nossa condição evolutiva, ainda muito distantes da perfeição, podemos até contar com uma boa saúde física, mas quem terá ampla e total saúde espiritual?  
Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. O que Jesus quis dizer com estas palavras era que os enfermos, no caso, as pessoas consideradas de má vida, necessitavam de maior atenção que aqueles que já tinham em seus corações os bens nascidos do seu amor. Ele dirigia-se principalmente às pessoas humildes, desprezadas pelos homens, as que tinham o coração dilacerado pela incompreensão humana, eram elas que necessitavam do bálsamo suavizante de suas palavras amorosas, as que tinham maior necessidade de consolo.
Esta passagem do banquete nos demonstra que Jesus abraça a todos os que desejam a excelência do seu alimento espiritual, e que não só nas ocasiões de fé permanece entre os que o amam, mas em qualquer tempo e situação, está pronto a atender as almas que o buscam. O fato de Jesus se dirigir às pessoas tidas como de má vida não significava que ele não se preocupava com as outras. O que Jesus recusava era a ostentação da pureza, que muitas vezes não passa de aparência, orgulho e falsidade. E os fariseus que o interpelaram apesar de demonstrarem certo equilíbrio, e encontramos em nossas vidas muitos como eles, padeciam de hipocrisia, trazendo no íntimo mal de difícil cura, pois muitos que aparentam virtudes são na verdade, falsos e hipócritas.
Jesus viveu entre os pobres, os humildes, os deserdados, com todos aqueles que sofreram as humilhações impostas pelos poderosos. Se Ele se fez pequeno para igualar-se a nós, muito mais devemos descer para igualar-nos aos que estão em menor altura espiritual e moral do que aquela que conquistamos através de séculos de evolução.
Este exemplo de Jesus impõe-nos a obrigação de auxiliarmos aqueles que transitam no mundo entre dificuldades maiores que as nossas, porque se nós procuramos o consolo também devemos dá-lo ao nosso próximo. Isso é caridade.
Questões para estudo e reflexão:
1 - Com relação ao texto, qual o sentido da expressão "não são os que gozam de saúde que precisam de médico"?
Os publicanos e aquelas pessoas consideradas como de má vida eram, na verdade, doentes da alma e, por isso, Jesus os acolheu, reconhecendo neles os reais necessitados de consolo.
Entre os publicanos existiam pessoas estimáveis, mas que, pelas funções que exerciam, eram vistos com desprezo. Jesus, porém, reconhecia-lhes as verdadeiras intenções.
2 - Por que Jesus dá ênfase e acolhe com destaque as pessoas tidas como de má vida?
Porque, normalmente, as pessoas nessa situação encontram-se sofridas e com o coração mais maleável para aceitar as diretrizes do Evangelho. Não esperam mais nada do mundo e por isso melhor se apegam ao amor de Jesus.
Conclusão do Estudo:
Jesus dirigiu-se, principalmente, aos que tinham o coração dilacerado, no entanto, resignados, pois estes estavam preparados para receber o bálsamo suavizante do seu Evangelho. O banquete aos publicanos e pecadores demonstra que o Senhor abraça a todos os que desejam a excelência de sua alimentação espiritual, em qualquer tempo e situação.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV – Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 8 a 10. Não vades ter com os gentios.
8. A estes doze enviou Jesus, dando-lhes estas instruções, dizendo: Não procureis os gentios, nem entreis nas cidades dos samaritanos; mas ide antes às ovelhas que perecem, da casa de Israel. E pondo-vos a caminho, pregai, dizendo que está próximo o Reino dos Céus. (Mateus, X: 5-7)
9. Jesus demonstra, em muitas circunstâncias, que as suas vistas não estão circunscritas ao povo judeu, mas abrangem a toda a Humanidade. Quando disse, portanto, aos apóstolos, que não se dirigissem aos pagãos, não foi por desprezar a sua conversão, o que nada teria de caridoso, mas porque os Judeus, que aceitavam a unicidade de Deus e esperavam o Messias, estavam preparados, pela lei de Moisés e pelos profetas, para receberem a sua palavra. Entre os pagãos faltava essa base, tudo ainda estava por fazer, e os apóstolos ainda não se achavam suficientemente esclarecidos para uma tarefa assim tão pesada. Eis porque lhes disse: Ide às ovelhas desgarradas de Israel, ou seja, ide semear em terreno já preparado, pois sabia que a conversão dos gentios viria a seu tempo. Mais tarde, com efeito, os apóstolos foram plantar a cruz no próprio centro do paganismo.
10. Essas mesmas palavras podem ser aplicadas aos adeptos e aos divulgadores do Espiritismo. Os incrédulos sistemáticos, os obstinados zombadores, os adversários interessados, são para eles o que eram os gentios para os apóstolos. A exemplo destes, devem procurar prosélitos, primeiramente, entre as pessoas de boa vontade, que desejam a luz, nos quais se encontra um germe fecundo, e cujo número é grande, sem perderem tempo com os que se recusam a ver e entender, e que mais se aferram ao seu orgulho, quanto mais se der a impressão de se valorizar a sua conversão. Mais vale abrir os olhos a cem cegos que desejam ver claramente, do que a um só que se compraz na obscuridade, porque isso seria aumentar em maior proporção o número dos que sustentam a causa. Deixar os outros em paz não quer dizer indiferença, mas apenas boa política. A vez deles chegará, quando se renderem à opinião geral, de tanto ouvirem a mesma coisa incessantemente repetida ao seu redor, pois então julgarão que aceitam a ideia voluntariamente, por si mesmos, e não sob a pressão de outra pessoa. Porque as ideias são como as sementes: não podem germinar antes da estação própria, e a não ser em terreno preparado. Eis porque é melhor esperar o tempo propício, cultivando primeiro as que estão em condições, e evitando perder as outras por precipitação.
No tempo de Jesus, e em consequência das ideias restritas e materiais que o dominavam, tudo era circunscrito e localizado: a casa de Israel era um pequeno povo; os gentios eram pequenos povos circunvizinhos. Hoje, as ideias se universalizam e se espiritualizam. A nova luz não é privilégio de nenhuma nação; para ela, não existem barreiras; o seu foco se distribui por toda parte, e todos os homens são irmãos. Mas os gentios também não são mais um povo determinado, são apenas uma opinião que se encontra por toda parte, e da qual a verdade triunfa pouco a pouco, como o Cristianismo triunfou do paganismo. E não é mais com armas de guerra que se pode combatê-los, mas com o poder da ideia.
À primeira vista parece que razões insondáveis teriam levado Jesus Cristo a recomendar a seus discípulos que não procurassem os gentios nem os samaritanos, mas de preferência aqueles que, em Israel, estivessem desviados do caminho certo.
Porventura não preceituou o Mestre que "o Pai faz o sol nasce para os bons e para os maus, e a chuva beneficiar justos e injustos". Não é certo que o Mestre tomou os Samaritanos como paradigma de bondade ou de compreensão, conforme se depara da Parábola do Bom Samaritano, do seu colóquio com a Mulher Samaritana; do episódio da Cura dos Dez Leprosos? Nestas três passagens evangélicas o Senhor situou alguns samaritanos em nítida situação de superioridade moral e espiritual sobre muitos judeus ortodoxos.
O Mestre jamais recomendou qualquer espécie de discriminação, por parte dos seus discípulos, quando fossem pregar as verdades eternas dos Evangelhos. Na recomendação acima ele disse "ide antes" às ovelhas perdidas da Casa de Israel. Isso significa, que, após terem ido às aldeias e cidades de Israel, poderiam aldeias e cidades dos gentios.
À primeira vista parece que estas palavras de Jesus encerram sentimentos de intolerância e menosprezo por determinados agrupamentos humanos, e o trecho acima, do Evangelho de Jesus, deve ter servido, no passado, para justificar perseguições e severos movimentos de repressão contra minorias religiosas que pactuavam com a ortodoxia religiosa prevalecente.
Realmente, o Mestre foi enviado às ovelhas desgarradas de Israel, e não poderia ter sido de outra forma, o povo judeu havia sido adredemente preparado, no decurso de vários séculos, para receber o Grande Missionário. O esforço no sentido de se manter uma estrutura monoteísta no arcabouço religioso do povo hebraico havia custado lágrimas, longos cativeiros, dores e até morte. Graças ao empenho dos antigos profetas e de outros grandes missionários que habitaram a Terra, Israel era a única nação que estava preparada para receber o Messias, para que em seu solo ele desempenhasse sua fulgurante missão de paz e de luz. Eis por que ele disse à Mulher Samaritana: "A salvação vem dos judeus".
O desempenho de um Messiado no seio de uma nação politeísta teria sido muito mais difícil, demandaria muito maior esforço e lograria menor êxito, a trabalho dos apóstolos teria sido muito mais espinhoso, pois entre os gentios tudo estava por fazer, a começar da necessidade de se implantar a crença num só Deus. Haja vista o trabalho gigantesco que Paulo de Tarso, Barnabé e outros missionários tiveram de desenvolver no sentido de proceder à semeadura cristã no coração daqueles povos.
Recomendando a seus apóstolos que não fossem aos pagãos, não representou isso qualquer descaso pela sua conversão, o que teria sido pouco caridoso e até conflitante com o caráter universal da revelação cristã.
É óbvio que o Mestre tem suas vistas voltadas para toda a Humanidade, uma vez que sua missão abarca todos os povos da Terra, entretanto, em seu incomensurável amor, previu tudo para que o seu Messiado fosse completo e suscitou outros missionários que tiveram a tarefa gigantesca de proceder à semeadura da sua mensagem no cenário dos povos politeístas.
Este ensinamento do Mestre se aplica aos homens de todas as épocas, muitos dos quais nem sempre estão preparados para a assimilação dos ensinamentos reformadores. Sempre existiram e existem os céticos, os escarnecedores, os obstinados, os detratores, os opositores sistemáticos. A estes de pouco adiantam palavras esclarecedoras, as quais eles não estão aptos a receber.
O Mestre jamais se importunou em converter os grandes da Terra. Quando algumas pessoas de influência lhe pediram um sinal, sua resposta foi categórica: "Nenhum sinal será dado a esta geração má e infiel". Quando Herodes mandou procurá-lo, pretextando querer conhecê-lo, ele deu ao portador do convite o célebre recado: "lde dizer a essa raposa que ainda por três dias devo expulsar os maus espíritos e curar os leprosos e paralíticos e no terceiro dia serei levantado". Não estava na cogitação imediata de Jesus a conversão dos homens insensíveis, dos cegos que não queriam ver, dos gentios que viviam a braços com grotesco paganismo e dos samaritanos que estavam mergulhados no mais denso obscurantismo, originado por dogmas e observância de pueris tradições. O Senhor preferia antes ir em demanda dos pequeninos, dos Lázaros, das Madalenas, dos Zaqueus, das Marias de Betânia e de outros dessa linhagem - ovelhas desgarradas que careciam voltar sem mais delongas ao redil.
Enquanto, na época de Jesus, devido à estreiteza das ideias: à materialidade dos costumes, tudo estava confinado, hoje, as ideias tendem para um sentido libertador e a tendência é de se caminhar para um mais ativo processo de espiritualização. Na atualidade não existem mais "povos eleitos", nem "gentios", nem "samaritanos pois todos os povos estão sendo preparados para a assimilação luz que brilha nos horizontes do mundo e que não é privilégio de nenhuma nação, de nenhum povo, de nenhuma religião. Os "gentios" deixaram de ser um povo para se tornar uma opinião generalizada em cujo seio as verdades reveladas por Jesus triunfariam um dia. Assim, como o Cristianismo causou a derrocada do paganismo, o Espiritismo, que representa a revivescência de seu Evangelho revelado por Jesus, triunfará de todos os sistemas que não estiverem fortemente fundamentados nas verdades imorredouras do Cristianismo.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV – Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 1 a 7. Candeia sob o alqueire. Porque fala Jesus por parábolas.
Os termos candeia e alqueire representam a simbologia da transmissão do conhecimento. Nosso propósito, neste texto, é mostrar que a transmissão do conhecimento deve ser proporcional à compreensão do estudioso.
 1 – Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos os que estão na casa. (Mateus, V: 15).
 2 – Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com alguma vasilha, ou a põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um candeeiro, para que vejam a luz os que entram. Porque não há coisa encoberta, que não haja de ser manifestada; nem escondida, que não haja de saber-se e fazer-se pública. (Lucas, VIII: 16-17).
JESUS com a máxima “Não coloqueis a candeia sob o alqueire mas no velador” faz alusão a nossa obrigação de sermos divulgadores do bem e da verdade, não ocultando os benefícios que os conhecimentos espirituais já nos trazem à existência. Elevar a candeia é exatamente usar o nosso melhor a cada dia, fazendo com que nossa conduta reta, pensar reto, agir retamente, faça modificações ao nosso redor, exemplificando na prática o que já sabemos. Muitas vezes nós espíritas confundimos espiritualização com doutrinação que aborrece, com verborragia improdutiva ou pregação desrespeitosa. Uma das características do Espiritismo é exatamente a de que ele é universalista, capaz de abraçar todos os povos, crenças e sentimentos religiosos sob os seus postulados de renovação para a vida imortal.
3 – E chegando-se a ele os discípulos lhe disseram: Por que razão lhes falas tu por parábola? Ele, respondendo, lhes disse: Porque a vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e não escutareis; e olhareis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam no coração, e se convertam, e eu os sare. (Mateus, XIII: 10-15)
Em seu tempo, JESUS, o pedagogo excelente, utilizava-se do recurso da parábola a fim de transmitir seus ensinamentos espirituais aos homens. Quando falava ao pescador, falava do mar e dos peixes; ao lavrador, da Semente e da vinha; ao homem comum, da moeda e do credor... Para cada um tinha o recurso adequado a fim de gravar indelevelmente nas almas os seus ensinamentos.
4 – Causa estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve por a luz debaixo do alqueire, ao mesmo tempo em que esconde a toda hora o sentido das suas palavras sob o véu da alegoria, que nem todos podem compreender. Ele se explica, entretanto, dizendo aos apóstolos: Eu lhes falo em parábolas, porque eles não estão em condições de compreender certas coisas; eles veem, olham, ouvem e não compreendem; assim, dizer-lhes tudo, ao menos agora seria inútil; mas a vós o digo, porque já vos é dado compreender esses mistérios. Ele procedia, portanto, para com o povo, como se faz com as crianças, cujas ideias ainda não se encontram desenvolvidas. Dessa maneira, indica-nos o verdadeiro sentido da máxima: “Não se deve por a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entram possam vê-la”. Ela não diz que tenhamos de revelar inconsideravelmente todas as coisas, pois, todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência de quem o recebe, e porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar sem esclarecer.
Acontece com os homens, em geral, o mesmo que com os indivíduos. As gerações passam também pela infância, pela juventude e pela madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada a terra, fora de tempo, não produz. Mas aquilo que a prudência manda calar momentaneamente, cedo ou tarde deve ser descoberto, porque chegando a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; a obscuridade lhes pesa. Como Deus lhes deu a inteligência para compreenderem e se guiarem, entre as coisas da Terra e do céu, eles querem racionalizar a sua fé. É então que não se deve por a candeia debaixo do alqueire, pois sem a luz da razão, a fé se enfraquece. (Ver cap. XIX, nº 7).
5 – Se a Providência, portanto, na sua prudente sabedoria, não revela a verdade senão gradualmente,é que a vai sempre desvelando, à medida que a Humanidade amadurece para recebê-la. Ela mantém a luz em reserva, e não debaixo do alqueire. Mas os homens que a possuem, em geral, só a ocultam do vulgo com a intenção de dominá-lo. São esses os que põem verdadeiramente a luz debaixo do alqueire. É assim que todas as religiões sempre tiveram os seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas enquanto essas religiões se atrasavam, a ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso. O povo que se tornou adulto pode assim penetrar o fundo das coisas, e então rejeitou na sua fé o que se mostrava contrário à observação.     
Não podem substituir mistérios absolutos nesse terreno, e Jesus está com a razão quando afirma que não há nada secreto que não deva ser conhecido. Tudo o que está oculto será descoberto um dia, e o que o homem ainda não pode compreender sobre a Terra, lhe será progressivamente revelado nos mundos mais adiantados, na proporção em que ele se purificar. Aqui na Terra, ainda se perde no nevoeiro.
6 – Pergunta-se que proveito o povo poderia tirar dessa infinidade de parábolas, cujo sentido estava oculto para ele. Deve notar-se que Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões, de alguma maneira abstrata, da sua doutrina. Mas, tendo feito da caridade e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambiguidade. Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam compreender, para poderem observar. Era isso o essencial para a multidão ignorante, à qual se limitava a dizer: Eis o que é necessário para se ganhar o Reino dos Céus. Sobre outras questões, só desenvolvia os seus pensamentos para os discípulos. Estando eles mais adiantado, moral e intelectualmente, Jesus podia iniciá-los nos princípios mais abstratos. Foi por isso que disse: Ao que já tem, ainda mais se dará, e terá em abundância. (Ver cap. XVIII, nº 15).
Não obstante, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago sobre muitos pontos, cuja inteligência completa estava reservada aos tempos futuros. Foram esses os pontos que deram lugar a diversas interpretações, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da natureza, que tornaram compreensível o seu verdadeiro sentido.
7 – O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início, ela não teria sido acessível senão a um pequeno número e teria mesmo assustado aqueles que não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua propagação. Se os Espíritos, portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a doutrina possua mistérios reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a candeia debaixo do alqueire, mas  por que cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles dão a cada ideia o tempo de amadurecer e se propagar, antes de apresentarem outra, e aos acontecimentos, o tempo de lhes preparar a aceitação.
Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Qual o sentido da frase: "Não se acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire"?
Significa que, assim como não se acende uma luz senão para dissipar a escuridão e iluminar o ambiente, do mesmo modo aquele que possui o conhecimento das leis divinas não deve guardá-lo para si, mas divulgá-lo através da palavra e, sobretudo, do exemplo.
Os que conhecem as leis divinas deverão divulgá-las para o maior número possível de criaturas.
Não espalhar os conhecimentos espirituais é esconder egoisticamente a luz que poderia beneficiar a muitos.
2 - O que devemos entender por "Àquele que já tem, mais lhe será dado.àquele que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará"?
Devemos perceber, nesta passagem, uma referência aos bens espirituais: a observância dos preceitos divinos faz com que estes bens, que constituem a verdadeira riqueza do espírito, aumentem incessantemente. Por outro lado, aqueles que se ocupam apenas da vida material, esquecem-se de desenvolver os bens espirituais e o pouco progresso que possuem fica estacionado.
Não sabendo conservar nem cultivar a semente das verdades eternas, ela acaba por ser temporariamente ofuscada, dando a sensação de perda.
Conclusão do Estudo:
Devemos espalhar os conhecimentos que possuímos em benefício de todos, pois a verdade não é para ser escondida de ninguém. Entretanto, ela pode ser gradualmente percebida por aqueles que se propõem a ir ao seu encontro.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII – Estranha moral –Não vim trazer a paz, mas, a divisão – Itens 9 a 18.
9. Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem  serão os seus mesmos domésticos. (Mateus, X: 34-36).
Contradição estranha entre as doutrinas do “Fazer ao próximo o mesmo que desejamos a nós mesmos” e a “Não vim trazer a paz, mas a espada”. Seria Jesus uma pessoa de ideias contraditórias? Numa avaliação superficial e descuidada, sim.
É preciso muito cuidado na análise dessa citação evangélica, pois uma interpretação literal pode favorecer manifestações de lutas externas sob o jugo da “espada”, fato que não deixa de representar uma perigosa insensatez, considerando-se ser Jesus, Guia e Modelo da Humanidade.
Inúmeros estudiosos do Evangelho perturbam-se ante essas afirmativas do Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida. Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez, e, em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo.
10. Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais  que eu vim trazer paz à Terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra. (Lucas, XII: 49-53)
11. Foi mesmo Jesus, a personificação da doçura e da bondade, ele que não cessava de pregar o amor do próximo, quem disse estas palavras: Eu não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar o filho do pai, o marido da mulher, vim lançar fogo na Terra e tenho pressa que ele se acenda? Essas palavras não estão em flagrante contradição com o seu ensino? Não é uma blasfêmia atribuir-se a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo quem as pronunciou, e elas atestam a sua elevada sabedoria. Somente a forma, um tanto equívoca, não exprime exatamente o seu pensamento, o que provocou alguns enganos quanto ao seu verdadeiro sentido. Tomadas ao pé da letra, elas tenderiam a transformar a sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e discórdias, consequência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia contradizer-se. (Ver cap. XIV, nº 6).
12. Toda ideia nova encontra forçosamente oposição, e não houve uma única que se implantasse sem lutas. A resistência, nesses casos, está sempre na razão da importância dos resultados previstos, pois quanto maior ela for, maior será o número de interesses ameaçados. Se for uma ideia notoriamente falsa, considerada sem consequências, ninguém se perturba com ela, e a deixam passar, confiantes na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeira, se está assentada em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de um perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se interessam. E é por isso que se lançam contra ela e os seus adeptos. A medida da importância e das consequências de uma ideia nova nos é dada, portanto, pela emoção que o seu aparecimento provoca, pela violência da oposição que desperta, e pela intensidade e a persistência da cólera dos seus adversários.
13. Jesus vinha proclamar uma doutrina que minava pelas bases a situação de abusos em que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Por isso o fizeram morrer, julgando matar a ideia com a morte do homem. Mas a ideia sobreviveu, porque era verdadeira; desenvolveu-se, porque estava nos desígnios de Deus; e nascida numa pequena vila da Judéia, foi plantar a sua bandeira na própria capital do mundo pagão, em face dos seus inimigos mais encarniçados, daqueles que tinham o maior interesse em combatê-la, porque ela subvertia as crenças seculares, a que muitos se apegavam, mais por interesse do que por convicção. Era lá que as lutas mais terríveis esperavam os seus apóstolos; as vítimas foram inumeráveis; mas a ideia cresceu e saiu triunfante, porque superava, como verdade, as suas antecessoras.
14. Observe-se que o Cristianismo apareceu quando Paganismo declinava, debatendo-se contra as luzes da razão. Convencionalmente ainda o praticavam, mas a crença já havia desaparecido, de maneira que apenas o interesse pessoal o sustinha. Ora, o interesse é tenaz, não cede nunca à evidência, e irrita-se tanto mais, quanto mais peremptórios são os raciocínios que se lhe opõem e que melhor demonstram o seu erro. Bem sabe que está errado, mas isso pouco lhe importa, pois a verdadeira fé não lhe interessa; pelo contrário, o que mais o amedronta é a luz que esclarece os cegos. O erro lhe é proveitoso, e por isso a ele se aferra, e o defende.
Sócrates não formulara também uma doutrina, até certo ponto, semelhante à do Cristo? Por que, então, não prevaleceu naquela época, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? Porque os tempos ainda não haviam chegado. Ele semeou em terreno não preparado: o paganismo não estava suficientemente gasto. Cristo recebeu a sua missão providencial no tempo devido. Nem todos o homens do seu tempo estavam à altura das ideias cristãs, mas havia um clima geral de aptidão para assimilá-las, porque já se fazia sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão abriram o caminho e prepararam os Espíritos. (Ver na Introdução, parágrafo IV: Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo).
15. Os adeptos da nova doutrina, infelizmente, não se entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre, na maioria veladas por alegorias e expressões figuradas. Daí surgirem, desde o princípio, as numerosas seitas que pretendiam, todas elas, a posse exclusiva da verdade, e que dezoito séculos não conseguiram pôr de acordo. Esquecendo o mais importante dos preceitos divinos, aquele de que Jesus havia feito a pedra angular do seu edifício e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo, essas seitas se anatematizaram reciprocamente, arremeteram-se umas contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, ou nas torturas e nas chamas das fogueiras. Os cristãos vencedores do paganismo, passaram de perseguidos a perseguidores. Foi a ferro e fogo que plantaram a cruz do cordeiro sem mácula nos dois mundos. É um fato comprovado que as guerras de religião foram mais cruéis e fizeram maior número de vítimas que as guerras políticas, e que em nenhuma outra se cometeram tantos atos de atrocidade e de barbárie.
 Seria a culpa da doutrina do Cristo? Não, por certo, pois ela condena formalmente toda violência. Disse ele em algum momento aos seus discípulos: Ide matar, queimar, massacrar os que não acreditarem como vós? Não, pois que lhes disse o contrário: Todos os homens são irmãos, e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos perseguem. E lhes disse ainda: Quem matar com a espada perecerá pela espada. A responsabilidade, portanto, não é da doutrina de Jesus, mas daqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a serviço das suas paixões, daqueles que ignoram estas palavras: O meu Reino não é deste mundo.
Jesus, na sua profunda sabedoria, previu o que devia acontecer. Mas essas coisas eram inevitáveis, porque decorriam da própria inferioridade da natureza humana, que não podia ser transformada subitamente. Era necessário que o Cristianismo passasse por essa prova demorada e cruel, de dezoito séculos, para demonstrar toda a sua pujança: porque, apesar de todo o mal cometido em seu nome, ele saiu dela puro, e jamais esteve em causa. A censura sempre caiu sobre os que dele abusaram, pois a cada ato de intolerância sempre se disse: Se o Cristianismo fosse melhor compreendido e melhor praticado, isso não teria acontecido.
16. Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz, mas a divisão – seu pensamento era o seguinte:
“Não penseis que a minha doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo na Terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. A guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida” .
“Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só acarreta desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranquilidade. Nesse momento, todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos ensinei”.
17. O Espiritismo vem realizar, no tempo determinado, as promessas do Cristo. Não o pode fazer, entretanto, sem destruir os erros. Como Jesus, ele se defronta com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, que, cercados nos seus últimos redutos, tenta ainda barrar-lhe o caminho, e levantam contra ele entraves e perseguições. Eis por que ele também é forçado a combater. Mas a época das lutas e perseguições sangrentas já passou, e as que ele tem de suportar são todas de ordem moral, sendo que o fim de todas elas se aproxima. As primeiras duraram séculos; as de agora durarão apenas alguns anos, porque a luz não parte de um só foco, mas irrompe de todos o ponto do globo, e abrirá mais depressa os olhos aos cegos.
18. Aquelas palavras de Jesus devem ser entendidas, portanto, como referentes à cólera que, segundo previa, a sua doutrina iria suscitar; aos conflitos momentâneos, que surgiram como consequência; às lutas que teria de sustentar, antes de se firmar, como aconteceu com os hebreus antes de sua entrada na Terra Prometida; e não como um desígnio premeditado, de sua parte, de semear a desordem e a confusão. O mal devia provir dos homens, e não dele. A sua posição era a do médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, revolvendo os humores malignos do enfermo.
Resumo: Inicialmente, Kardec destaca que as palavras são de Jesus, apesar de a forma não favorecer o entendimento claro do pensamento que ele exprimia, já que sua missão era toda de paz. Destaca ainda que uma ideia nova encontra oposição, tanto maior quanto a importância dos resultados previstos. Assim, Jesus trazia uma ideia nova, toda de amor e bondade, que ia de encontro aos abusos dos fariseus, escribas e sacerdotes, gerando uma oposição que culminou com a morte de Jesus. Essa ideia, porém, sobreviveu à sua morte, pois que era verdadeira, engrandeceu-se e espalhou-se, enfrentando grandes lutas. Considera ainda que o Cristianismo surgiu na época propícia, quando o Paganismo já se apresentava exaurido. Quando as mesmas ideias foram trazidas por Sócrates, o povo, apesar de muito inteligente, ainda não estava preparado. Na época de Jesus, o caminho já estava aberto e os espíritos predispostos a essas ideias. Essas ideias, no entanto, também não foram bem compreendidas, gerando numerosas seitas que se lançaram em guerra umas contra as outras, por não compreender a ideia central do Cristo, que é a Caridade. Jesus quis dizer que sua doutrina não se estabeleceria pacificamente, que traria lutas sangrentas porque os homens não a teriam compreendido. Mas, de toda essa confusão, sairia triunfante a verdade. Assim, quando o campo estivesse preparado, seria enviado o Consolador, que restabeleceria todas as coisas, Kardec destaca ainda que o Espiritismo vem, na época prevista, realizar as promessas de Jesus, e, da mesma forma, enfrenta oposições, que agora não são mais sanguinolentas e sim de ordem moral, e que durarão menos do que as que o Cristianismo teve de enfrentar. Essas palavras de Jesus devem entender-se portanto, como a cólera que sua doutrina provocaria, em conflitos momentâneos, e não de uma ideia premeditada de causar confusão. O mal viria dos homens.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII – Estranha moral – Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos – Itens 7 e 8.
7. E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus. (Lucas, IX: 59-60).
8 – O que podem significar estas palavras: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”? As considerações precedentes já nos mostraram, antes de tudo, que, na circunstância em que foram pronunciadas, não podiam exprimir uma censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas elas encerram um sentido mais profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual pode fazer compreender.
Comentário de Kardec:
A vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida normal do Espírito. Sua existência terrena é transitória e passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. O corpo: é uma vestimenta grosseira, que envolve temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e da qual ele se sente feliz em libertar-se. O respeito que temos pelos mortos não se refere à matéria, mas, através da lembrança, ao Espírito ausente. É semelhante ao que temos pelos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou em vida, e que guardamos como relíquias. Era isso que aquele homem não podia compreender por si mesmo. Jesus lho ensinou; dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide pregar o Reino de Deus: ide dizer aos homens que a sua pátria não se concentra na Terra, mas no Céu, porque somente lá é que se vive a verdadeira vida.
Após a transfiguração, quando Jesus ia em direção à Jerusalém, pelo caminho viu um moço e pediu-lhe que o seguisse.  O moço respondeu que iria, mas que primeiro precisava enterrar seu pai, que havia morrido.  Jesus retruca ao moço que ele deveria deixar os mortos enterrar os seus mortos e recomendou-lhe que fosse anunciar o Reino de Deus.
Para muitos, isso é um absurdo, e Jesus não teria tido esse diálogo, narrado em Mateus e Lucas.  Estariam então errados os evangelistas?
Com relação ao tema, é importante atentarmos para o fato de que Jesus não quis dizer que devemos deixar os cadáveres sem sepultura, mas desejou, como sempre, deixar um ensinamento.  Por isso, suas palavras têm um sentido mais profundo.  Jesus falou em mortos, não em cadáveres, e recomendou a divulgação do Reino de Deus, que é a vida eterna, a vida do espírito, pois a vida na matéria é temporária e serve como etapa para nossa evolução, nosso crescimento espiritual.
Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos é um tema a princípio curioso de um capítulo igualmente de nome curioso em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Curioso para aqueles que lhe não penetraram a essência. A primeira vista, aos olhos das pessoas não familiarizadas com os estudos espíritas, poderia parecer algum tipo de pregação cruel que não valorizasse, ou mesmo desprezasse os despojos carnais. “Nossa, então os espíritas não ligam importância ao corpo?” Poderiam, assim, questionarem-se alguns, preocupados, antes de mais nada, em desqualificar o Espiritismo e os espíritas em nome de interesses de religião ou, até mesmo, contra a noção de religião, no caso daqueles que não acreditam em Deus e na sobrevivência da alma ao fenômeno biológico chamado morte. O desenvolvimento do tema, no entanto, nos fará ver que não se trata de qualquer anormalidade, desde que tenhamos o referencial de nossas vidas na ideia de Deus e da imortalidade da alma.
À primeira vista, parece-nos uma atitude cruel da parte de Jesus solicitar a alguém que o seguisse ainda que tivesse que deixar para trás o sepultamento do corpo de seu pai. A tradição do Judaísmo possui um ritual religioso de preparação do corpo para o sepultamento, a Taharah, onde é realizada a limpeza física dele, além de envolvê-lo em uma mortalha simples, da cor branca e composta por linho comum. Além disso, são realizadas preces por aquele que morreu, pendido perdão a Deus pelos pecados que ele possa ter cometido e que ele possa alcançar a paz eterna. Estas informações foram obtidas mediante pesquisa breve na internet, o que pode nos levantar a seguinte questão: “Se esse ritual é preconizado nos dias de hoje, terá sido sempre assim entre os judeus?” Não sou especialista em História do Judaísmo ou dos Judeus, aliás, nem aprecio muito essa categoria de “especialista”, que tenta “cavar” um lugar de autoridade para aquele que é chamado a opinar, quase que o colocando como “dono da verdade”. Entretanto, a tomar pelo zelo com que os Judeus procuram manter suas tradições, é possível que tenham sido, à época de Jesus, esses os rituais fúnebres ou, pelo menos, minimamente semelhantes. Estaria, então, Jesus, insurgindo-se contra o piedoso hábito de dar tratamento digno aos mortos?
Nos comentários de Kardec temos uma informação que, para os espíritas, é ponto pacífico, que todos concordam sem dificuldades, mas cuja vivência pessoal é problemática. “A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra.”. Parece uma questão de fácil entendimento. Pode até ser. Racionalmente admitirmos, tudo bem. Mas na vida prática, na vida de relação, no nosso cotidiano, não nos comportamos como se fôssemos Espíritos portadores de um corpo. Vivemos, lamentavelmente, operando na lógica contrária.
O Espiritismo, mostrando a atualidade dos ensinamentos de Jesus, alerta-nos sobre a importância de cada dia mais nos ligarmos às coisas do espírito, ressaltando que o respeito aos mortos está muito além das cerimônias e das visitas do Dia de Finados.  O respeito e as honras estão em nossa postura cotidiana, naquilo que fazemos pelo próximo e na forma como falamos dos que já abandonaram esta roupagem terrestre.  De que adianta no Dia de Finados irmos ao cemitério, levarmos flores, se no dia-a-dia falamos mal desse que se foi?  Isso é respeito?  
Só há uma forma de mostrarmos o nosso respeito: é exercitando o amar ao próximo!  Quando aprendermos a amar incondicionalmente, teremos nos desligado das coisas materiais.  A partir daí, o enterrar nossos mortos será apenas um ato higiênico, de enterrar cadáveres, que são carne sem vida, e de respeito por um corpo que ajudou um espírito em sua evolução e que agora será desagregado e por isso dispensa cultos e homenagens, pois na essência, que é o espírito, a vida não cessou.
Para a Doutrina Espírita, a morte é uma separação temporária, e a forma ideal de se demonstrar saudades e respeito é com preces fervorosas e bons pensamentos, sem datas marcadas.  Essas ações vibram no espaço e levam reconforto até os que deixaram o plano material pela certeza de que não foram esquecidos.  Não será também essa uma forma de cumprir a recomendação de Jesus e anunciar o Reino de Deus?
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII – Estranha moral – Abandonar pai, mãe e filhos – Itens de 4 a 6.
4. E todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá cento por um, e possuirá a vida eterna (Mateus, XIX: 29).
5. Então disse Pedro: Eis aqui estamos nós, que deixamos tudo e te seguimos. Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que ninguém há que uma vez que deixou pelo Reino de Deus a casa, ou os pais, ou os irmãos, ou a mulher, ou os filhos, logo neste mundo não receba muito mais, e no século futuro a vida eterna. (Lucas, XVIII: 28-30).
6. E disse-lhe outro: Eu, Senhor, seguir-te-ei, mas dá-me licença que eu vá primeiro dispor dos bens que tenho em minha casa. Respondeu-lhe Jesus: Nenhum que mete a sua mão ao arado, e olha para trás, é apto para o Reino de Deus. (Lucas, IX: 61-62).

Sem discutir as palavras, devemos procurar compreender o pensamento, que era evidentemente este: Os interesses da vida futura estão acima de todos os interesses e todas as considerações de ordem humana, porque isto concorda com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a idéia do abandono da família seria a sua negação.
Não temos, aliás, sob os olhos, a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições da família pela pátria? Condena-se um filho que deixa o pai, a mãe, os irmãos, a mulher e os próprios filhos, para marchar em defesa do seu país? Não lhe reconhecemos, pelo contrário, o mérito de deixar as doçuras do lar e o calor das amizades, para cumprir um dever? Há, pois, deveres que se sobrepõem a outros. A lei não sanciona a obrigação, para a filha de deixar os pais e seguir o esposo? O mundo está cheio de casos em que as mais penosas separações são necessárias. Mas nem por isso as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito ou a solicitude que se devem aos pais, nem a ternura para com os filhos. Vê-se, assim, que mesmo tomada ao pé da letra, salvo a palavra odiar, essas expressões não seriam a negação do mandamento que prescreve honrar ao pai e à mãe, nem do sentimento de ternura paterna. Com mais forte razão, se as analisarmos quanto ao seu espírito.
A finalidade dessas expressões é mostrar, por uma figura, uma hipérbole, quanto é imperioso o dever de cuidar da vida futura. Deviam, por isso mesmo, ser menos chocantes para um povo e uma época em que, por força das circunstâncias, os laços de família eram menos fortes do que numa civilização moralmente mais avançada. Esses laços, mais fracos entre os povos primitivos, fortificam-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. Aliás, a separação, em si mesma, é necessária ao progresso, e isso tanto no tocante às famílias, quanto às raças. Umas e outras se abastardam se não houver cruzamentos, se não se misturarem entre si. É uma lei da natureza, que tanto interessa ao progresso moral quanto ao progresso material.
Encaramos as coisas, na terra, apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las apresenta de mais alto, mostrando-nos que os verdadeiros laços de afeição são os do Espírito e não os do corpo; que esses laços não se rompem, nem pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; e que eles se fortificam na vida espiritual, pela depuração do Espírito: consoladora verdade, que nos dá uma grande força para suportar as vicissitudes da vida.
Para enfrentar a sombra coletiva em que aquela sociedade estava mergulhada, e também romper com as raízes que ainda prendiam o homem aos sentimentos mais agressivos, Jesus precisou trazer uma doutrina de compreensão e bondade, ternura e compaixão, que não podia ser comparada a qualquer atitude de agressividade interna ou externa, fosse ela ostensiva ou disfarçada. Era preciso usar de energia e valor moral para enfrentar os desafios que surgiam com a intenção de impedir a marcha para a revolução espiritual que Ele trazia. E Ele não cedeu em nenhuma das diretrizes que traçou para o cumprimento de sua tarefa: romper com as estruturas do passado onde deveria haver: supremacia da humildade sobre o orgulho; supremacia do altruísmo sobre o egoísmo; supremacia da compreensão e da bondade sobre a intolerância. Essas palavras do Evangelho, interpretadas ao pé da letra, têm dado margem a sérios equívocos entre aspirantes à vida espiritual. Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar-se aos ideais superiores, e julgando-os incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e os irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do Cristo. Em verdade, porém, essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.
Essa era, no mínimo, uma nova e estranha moral, por ser diferente de tudo o que existia e por contrariar todas as convicções prevalecentes.
Para usarmos os ensinamentos de Jesus como recursos na superação das nossas dificuldades, precisamos estudá-los  Infelizmente, para a grande maioria de nós, essa doutrina continua a ser estranha porque vem de encontro aos nossos interesses pessoais, aos nossos desejos e caprichos egoísticos. “Não é minha praia”, dizem uns. “Não tenho paciência para ficar ouvindo ou lendo”, dizem outros, justificando a total incapacidade de compreender e muito menos de aceitar os convites que Jesus nos faz para a transformação dos nossos sentimentos, para a libertação dos comportamentos desajustados e doentios. Mesmo entre os espíritas, essa incapacidade existe. Muitas vezes compreende-se a necessidade de mudar, mas não possuímos, ainda, os instrumentos íntimos para enfrentarmos a nossa realidade.  É por isso que ainda precisamos dos ensinamentos de Jesus. Ele, na verdade, nos convida à terapia da renovação espiritual. Abandonar pai, mãe, esposa, filhos, fazendas, para segui-Lo.
A ideia de abandono da família não condiz com a doutrina de Jesus. É, antes, a sua negação. Mas, se pensarmos que o ensinamento contido nessa passagem é para que aprendamos a colocar o interesse da vida futura acima da vida material, então, há concordância com a essência do ensinamento. Fica claro que Jesus pretendeu nos conscientizar de que a vida futura, ou seja, a vida do Espírito é mais importante que a vida da matéria. É interessante notar que existe a necessidade de separação para o progresso. Quem poderia condenar o filho ou a filha que se separam de seus pais para casarem? E que dizer dos filhos que deixam suas famílias para defenderem seu país?
Abandonar aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por isso. Talvez seja até pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da família, que não lhe faltam com o apoio material e moral, estão cultivando o sentimento essencial do dever, e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados da realização espiritual enquanto não haja aprendido as lições mais simples da vivência comum. Assim, quem abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando ainda lhes seja indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos espirituais, será forçado a voltar à pauta dos seus deveres, porque ninguém pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de credores de sua melhor atenção e carinho. Por outro lado, não se devem confundir esses deveres com a preocupação doentia dos que atravessam a existência acumulando dinheiro e propriedades, para que a família herde um patrimônio, ainda que, para conseguir esse desiderato, precisem empregar a astúcia, a desonestidade, a violência e outros recursos menos dignos. Essas obrigações familiares menos ainda devem fazer-nos esquecidos dos deveres que temos para com “os outros”; também eles são filhos de Deus, e, pois, nossos irmãos. Não é razoável, portanto, que, por consideração à família, nos escravizemos às exigências sociais, a ponto de nunca nos sobrar uma hora para um contato direto com os sofredores, aos quais devemos solidariedade, como não é justo despendermos com a parentela, no vicio ou no luxo, quantias que dariam pat5a atender a inúmeros desafortunados, carecidos de pão, agasalho, remédio, etc.
Devemos lembrar-nos de que nossos familiares são, como nós, espíritos em evolução e que, antes de lhes garantirmos uma boa situação material, melhor fora que lhes déssemos uma boa formação moral; que, ao invés de lhes satisfazermos a todos os caprichos e vaidades, cumpre-nos despertar-lhes, com o nosso exemplo, o gosto pela prática do Bem, fazendo-os sentir quanto é sublime renunciar a mesquinhas satisfações pessoais em favor das necessidades do próximo.
Acreditamos, mesmo, seja essa a melhor ajuda que possamos oferecer-lhes, embora nem sempre sejamos compreendidos por eles.
Resumindo: não é certo desampararmos nossos familiares, na vã tentativa de salvar-nos sozinhos, nem tampouco nos submetermos aos seus interesses puramente mundanos. O ideal seria conseguir e manter uma posição de equilíbrio, “dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII – Estranha moral – Odiar os pais – Itens de 1 a 3.
O objetivo deste estudo é refletir sobre algumas frases evangélicas, tais como, “odiar pai e mãe”, “deixar os mortos enterrar os mortos”, que causam estranheza e desconforto aos nossos olhos e ouvidos, pois mostram um Jesus agressivo nas palavras, ou até em contradições.
Uma das importantes missões da D.E. é justamente esclarecer e levar o homem a raciocinar sobre os ideais de Cristo.
Nesse capítulo – Estranha Moral - Kardec coloca todas as passagens que podem causar estranheza, mau entendimento, justamente porque se refere a temas, que quando interpretados ao pé da letra, de forma alguma, condiz com a conduta Moral de Jesus.
Não que Jesus esteja ensinando algo fora do que já vinha dizendo, é porque a interpretação dessas passagens causam estranheza.
Antes mesmo de abordarmos as parábolas em questão precisamos lembrar que a cada época; língua, costumes e palavras são utilizados em diferentes níveis de interpretação. Lembrando também que as condutas mudam de acordo com leis que regem o país em que vivemos. De uma língua para outra, o mesmo termo se reveste de maior ou menor energia. Pode, numa, envolver injúria ou blasfêmia, e carecer de importância noutra, conforme a ideia que suscite. Na mesma língua, algumas palavras perdem seu valor com o correr dos séculos. Por isso é que uma tradução rigorosamente literal nem sempre exprime perfeitamente o pensamento e que, para manter a exatidão, se tem às vezes de empregar, não termos correspondentes, mas outros equivalentes.
Certas palavras atribuídas ao Cristo fazem tão singular contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele o sentido literal.
Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar que, em casos como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de ter experimentado alguma alteração.
Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os copiadores o tenham repetido como se dá frequentemente com relação aos fatos históricos.
Como os Evangelhos foram escritos por cabeças e mãos humanas, e muito tempo depois da passagem de Jesus pela Terra, não vamos nos prender à letra, mas sim ao sentido lógico das frases e palavras, que também sofreram influências e adaptações, conforme interesses e entendimentos dos tradutores. Não é de “estranhar” que certamente parte do que Jesus queria expressar verdadeiramente fora sendo perdido com o passar dos séculos.
Odiar os pais
1. Como nas suas pegadas caminhasse grande massa de povo, Jesus, voltando-se, disse-lhes: - Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. -E quem quer que não carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo. - Assim, aquele dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo. (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 25 a 27 e 33.)
2. Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe, mais do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim não é digno. (S. MATEUS, cap. X, v. 37.)
Na verdade neste tema não existe estranha moral, é um questão de linguagem. O que veio Jesus pregar senão amor e caridade como aprendemos e sabemos? Será que Jesus pediria que odiássemos a quem quer que seja? Ainda mais se tratando de nossos familiares? É evidente que não.
Jesus prega plenamente o amor, até entre os inimigos. Seria um contra senso acreditar que ele falasse em odiar e, mesmo, aborrecer, no sentido comum que ora conhecemos.
E mesmo que quiséssemos traduzir por odiar, iríamos de encontro ao caráter e a personalidade de Jesus.
De duas uma: ou a palavra foi escrita de forma indevida, ou a tradução não pode captar o seu verdadeiro significado.
Nesta passagem evangélica temos uma variação na colocação das palavras “aborrecer” e “odiar” - no rodapé do cap. XXIII do Evangelho Segundo o Espiritismo, temos esta explicação: “A palavra “odiar” na época em que foi escrita queria dizer “amar menos” .
De qualquer forma, tomá-la como amar menos faz mais sentido e dá uma conotação mais racional ao nosso modo de pensar.
Encontramos pertinente observação colocada por Kardec no rodapé da página:
"Non odit, em latim:  Kaï ou miseï em grego, não quer dizer  odiar, porém,  amar menos. O que o verbo grego  miseïn exprime, ainda melhor o expressa o verbo hebreu, de que Jesus se há de ter servido. Esse verbo não significa apenas odiar, mas, também amar menos, não amar igualmente, tanto quanto a um outro. No dialeto siríaco, do qual, dizem, Jesus usava com mais frequência, ainda melhor acentuada é essa significação.
Nesse sentido é que o Gênese (capítulo XXIX, vv. 30 e 31) diz: “E Jacob amou também mais a Raquel do que a Lia, e Jeová, vendo que Lia era odiada”.
É evidente que o verdadeiro sentido aqui é menos amada.  Assim se deve traduzir. 
Esta passagem chama atenção por dois detalhes, comuns, mas importantes.
O ideal que Jesus quis pregar é que amássemos a todos sem diferenças, e para segui-lo em sua mais plena natureza missionária o ideal é que alargássemos a grandeza de nosso amor, muitas vezes, tão reduzido a somente aqueles que nos são próximos.
O que Jesus quis dizer é que as famílias tinham suas crenças por tradições muito rigorosas naquilo que adotavam. Para as famílias e seus membros, desviarem-se das tradições era considerado escândalo, por isso era motivo de humilhação, portanto, de aborrecimento. Então, aquele que não se sujeitasse a abandonar as tradições de família, assim como suas próprias convicções, não poderia aceitar e seguir Jesus.  Jesus pregava uma renovação, considerada pelos tradicionais como revolucionária. Para que uma pessoa seguisse e se adaptasse àquela renovação era necessário que primeiramente ela renunciasse às próprias convicções, contrariando, assim, suas famílias.
Jesus pedia para que não ficassem presos a erros e preconceitos, apenas para se conservar na crença dos pais, ou dos filhos e dos outros. Além disso, Ele colocava em evidência a necessidade da liberdade de pensar e agir dentro das opções de cada um. Para seguir Jesus era preciso quebrar as tradições. Nós sabemos que o que Jesus dizia não era para criar rivalidades ou abandonar as obrigações com a família. Isto seria uma insensatez e falta de responsabilidade. Jesus convidava a partirem para uma doutrina renovadora, mesmo contrariando as opiniões da família. Quantas não são as pessoas que não podem frequentar uma religião porque um dos seus familiares não o permite? Quantas pessoas não vão às escondidas ao um Centro Espírita? E por que não proclamam abertamente a sua religião? Simplesmente para não perturbar o ambiente doméstico. Também é comum as pessoas dizerem: “Eu nasci nesta religião, é a religião dos meus pais e não sou eu que vou mudar!” Puro comodismo!...É fácil manter o rótulo de religiosos sentindo-se desobrigados de qualquer compromisso com a religião, desobrigados inclusive do temido compromisso de trabalhar pela própria reforma interior. O mesmo acontecia naquela época. O outro detalhe é sobre aqueles que usavam, e ainda usam, a família como obstáculo para se dedicarem a uma religião que exige trabalho e dedicação. “Não posso, no momento, abandonar a família” e, com isso, deixa sempre para depois os compromissos com a vida espiritual.
Jesus não exigia que o seguissem fisicamente e nem exige hoje, que abandonemos a família para seguir o cristianismo, mas sugere que estudemos os seus ensinamentos, para que, mais esclarecidos e colocando-os em prática, possamos viver e conviver melhor com os familiares e com o mundo.
Com a mente desperta e livre podemos nos respeitar e valorizar o amor fraternal.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXII – Não separeis o que Deus juntou – Indissolubilidade do casamento – Divórcio
5. O divórcio é uma lei humana, cuja finalidade é separar legalmente o que já estava separado de fato. Não é contrário à lei de Deus, pois só reforma o que os homens fizeram, e só tem aplicação nos casos em que a lei divina não foi considerada. Se fosse contrário a essa lei a própria Igreja seria forçada a considerar como prevaricadores aqueles dos seus chefes que, por sua própria autoridade, e em nome da religião, impuseram o divórcio, em várias circunstâncias. Dupla prevaricação, porque praticada com vistas unicamente aos interesses materiais, e não para atender à lei do amor.
Mas nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento. Não disse ele: “Moisés, pela dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar as vossas mulheres”? Isto significa que, desde os tempos de Moisés, não sendo a mútua afeição o motivo único do casamento, a separação podia tornar-se necessária. Mas acrescenta: “ no princípio não foi assim”, ou seja, na origem da Humanidade, quando os homens ainda não estavam pervertidos pelo egoísmo e orgulho, e viviam segundo a lei de Deus, as uniões, fundadas na simpatia recíproca e não sobre a vaidade ou a ambição, não davam motivo ao repúdio.
E vai ainda mais longe, pois especifica o caso em que o repúdio pode verificar-se: o de adultério. Ora, o adultério não existe onde reina uma afeição recíproca sincera. É verdade que proíbe ao homem desposar a mulher repudiada, mas é necessário considerar os costumes e o caráter dos homens do seu tempo. A lei mosaica prescrevia a lapidação para esses casos. Querendo abolir um costume bárbaro, precisava, naturalmente, de estabelecer uma penalidade, que encontrou na ignomínia decorrente da proibição de novo casamento. Era de qualquer maneira, uma lei civil substituída por outra lei civil, que, por sua vez, como todas as leis dessa natureza, devia sofrer a prova do tempo.
Para falarmos em divórcio, precisamos inicialmente pensar na formação do casal, no casamento. O casamento é, principalmente, o encontro de duas almas que precisam juntas aprender a aparar arestas, a descobrir o caminho, a alimentar o amor pleno de um
sentimento de luta e de confiança.  Sabemos que duas almas podem se unir na Terra por um compromisso assumido anteriormente, com objetivos que podem ser desde tarefas a serem desempenhadas em conjunto, como a educação de filhos, por exemplo,  até recuperar o respeito e o amor perdidos nos caminhos tortuosos do passado espiritual. O estudo da Doutrina Espírita nos mostra que os casamentos na Terra não se dão unicamente pela aproximação de espíritos simpáticos, há uniões provacionais, em que se aproximam pelos laços conjugais individualidades comprometidas por sérios desvios afetivos de vidas anteriores, e, que, pelo livre arbítrio, provocam uniões apoiadas em interesses outros que não os laços afetivos, ou do amor. Ou ainda, aquela união que estava programada para nosso aprendizado. Não sabemos quais laços unem as pessoas, se voltados ao caminhar juntos, ajudando-se mutuamente, amparando-se um ao outro,  ou  laços de reajustes, de correção de erros passados, ou ainda, se a união foi apenas fruto de  interesses inferiores e mundanos. Só os envolvidos poderão avaliar. Em muitos lances da experiência, é a própria individualidade, na vida do Espírito, antes da reencarnação, que assinala a si mesma o casamento difícil que faceará na estância física, chamando a si o parceiro ou a parceira de existências pretéritas para os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista de erros perpetrados em outras épocas. Por vezes, o companheiro ou a companheira voltam ao exercício da crueldade de outro tempo, seja através de menosprezo, desrespeito, violência ou deslealdade, e o cônjuge prejudicado nem sempre encontra recursos em si para se sobrepor aos processos de dilapidação moral de que é vítima. Compelidos, muita vez, às últimas fronteiras da resistência, é natural que o esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito, se valha do divórcio por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que lhes complicariam ainda mais o destino. A Sabedoria Divina jamais institui princípios de violência, e o Espírito, conquanto em muitas situações agrave os próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper, recusar, modificar, discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos compromissos que abraça. O divórcio é um remédio jurídico que tem por objetivo separar legalmente o que já, de fato, está separado. Quantos casos, antes da lei do divórcio, nós tomamos conhecimento de pessoas que abandonaram o lar, ficando o outro cônjuges impossibilitado de reconstruir a sua vida? Historicamente, o divórcio sempre existiu; chamava-se carta de repúdio. Uma curiosidade: Na Roma antiga, sem falsos pudores, Cícero, para restaurar suas finanças com dote da jovem e rica Publilia, não hesitou, depois de trinta anos de vida em comum, em repudiar Terência, mãe de seus filhos.
O Espiritismo tem uma visão muito compreensiva dos problemas humanos e aceita claramente o divórcio, que nada mais é que a concretização exterior do que já havia acontecido na intimidade. Quando a lei do amor não é considerada, não se pode dizer que Deus uniu o casal. O Livro dos Espíritos vai ainda mais fundo na questão. Diz que nos equivocamos ao acreditar que Deus nos obriga a viver com quem nos desagrada. Indagados por Kardec, os espíritos concordam que quase sempre há uma vítima inocente, mas a sua infelicidade recairá sobre aqueles que lhe deram causa. (O Livro dos Espíritos – Uniões Antipáticas – Perguntas 939 a 940)
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXII – Não separeis o que Deus juntou – Indissolubilidade do casamento – Divórcio
Indissolubilidade do casamento – Itens de 1 a 4.
1 – E chegaram-se a ele os fariseus, tentando-o e dizendo: É porventura lícito a um homem repudiar a sua mulher, por qualquer causa? Ele, respondendo, lhes disse: Não tendes lido que quem criou o homem, desde o princípio os fez macho e fêmea? E disse: Por isso, deixará o homem pai e mãe, e ajuntar-se-á com sua mulher, e serão dois numa só carne. Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não separe logo o homem o que Deus ajuntou. Replicaram-lhe eles: Pois por que mandou Moisés dar o homem à sua mulher carta de desquite, e repudiá-la? Respondeu-lhes: Porque Moisés, pela dureza de vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas ao princípio não foi assim. Eu, pois, vos declaro, que todo aquele que repudiar sua mulher, se não for por causa da fornicação, e casar com outra, comete adultério, e o que se casar com a que o outro repudiou, comete adultério. (Mateus, XIX: 3-9)
2 – A não ser o que procede de Deus, nada é imutável no mundo. Tudo o que procede do homem está sujeito a mudanças. As leis da natureza são as mesmas em todos os tempos e em todos os países; as leis humanas, porém, modificam-se segundo os tempos, os lugares, e o desenvolvimento intelectual. No casamento, o que é de ordem divina é a união conjugal, para que se opere a renovação dos seres que morrem. Mas as condições que regulam essa união são de tal maneira humanas, que não há em todo o mundo, e mesmo na cristandade, dois países em que elas sejam absolutamente iguais, e não há mesmo um só em que elas não tenham sofrido modificações através dos tempos. Resulta desse fato que, perante a lei civil, o que é legítimo num país e m certa época, torna-se adultério noutro país e noutro tempo. Isso porque a lei civil tem por fim regular os interesses familiais e esses interesses variam segundo os costumes e as necessidades locais. É assim, por exemplo, que em certos países o casamento religioso é o único legítimo, enquanto em outros o casamento civil é suficiente.
3 – Mas, na união conjugal, ao lado da lei divina material, comum a todos os seres vivos, existe outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, e exclusivamente moral, que é a lei do amor. Deus quis que os seres se unissem, não somente pelos laços carnais, mas também pelos da alma, a fim de que a mútua afeição dos esposos se estenda aos filhos, e para que sejam dois, em vez de um, a amá-los, tratá-los e fazê-los progredir. Nas condições ordinárias do casamento, é levada em conta a lei do amor? Absolutamente! Não se consulta o sentimento mútuo de dois seres, que se atraem reciprocamente, pois na maioria das vezes, esse sentimento é rompido. O que se procura não é a satisfação do coração, mas a do orgulho, da vaidade, da cupidez, numa palavra: todos os interesses materiais. Quando tudo corre bem, segundo esses interesses, diz-se que o casamento é conveniente, e quando as bolsas estão bem equilibradas, diz-se que os esposos estão igualmente harmonizados e devem ser muito felizes.
Mas nem a lei civil, nem os compromissos que ela determina, podem suprir a lei do amor, se esta não presidir à união. Disso resulta frequentemente, que aquilo que se uniu à força, por si mesmo se separa, e que o juramento pronunciado ao pé do altar se torna um prejuízo, se foi dito como simples fórmula. São assim as uniões infelizes, que se tornam criminosas. Dupla desgraça, que se evitaria se, nas condições do matrimônio, não se esquecesse à única lei que o sanciona aos olhos de Deus: a lei do amor. Quando Deus disse: “Serão dois numa só carne”, e quando Jesus advertiu: “Não separe o homem o que Deus juntou”, isso deve ser entendido segundo a lei imutável de Deus, e não segundo a lei instável dos homens.
4 – A lei civil seria então supérflua, e deveríamos retornar aos casamentos segundo a natureza? Não, certamente. Porque a lei civil tem por fim regular as relações sociais e os interesse familiais, segundo as exigências da civilização, e eis porque ela é útil, necessária, mas variável. Deve ela ser previdente, porque o homem civilizado não pode viver como o selvagem. Mas nada, absolutamente, impede que ela seja um corolário da lei de Deus. Os obstáculos ao cumprimento da lei divina decorrem dos preconceitos sociais e não da lei civil. Esses preconceitos, embora ainda vivazes, já perderam o seu domínio sobre os povos esclarecidos, e desaparecerão com o progresso moral, que abrirá finalmente os olhos dos homens para os males incontáveis, as faltas, e até mesmo os crimes que resultam das uniões contraídas com vistas apenas aos interesses materiais. E um dia se perguntará se é mais humano, mais caridoso, mais moral, ligar um ao outro, dois seres que não podem viver juntos, ou restituir-lhes a liberdade; se a perspectiva de uma cadeia indissolúvel não aumenta o número das uniões irregulares.
Neste capítulo acontecem duas coisas diferentes. Em primeiro lugar, Kardec restringe-se à fala do Cristo; e em segundo, por razão desconhecida, não há instruções dos Espíritos. Sobre este assunto, os Espíritos fizeram silêncio. Kardec aborda a fala de Jesus a partir de uma perspectiva espírita, porque essa fala está num contexto diferente do nosso. Jesus não viveu no século XXI; a sua fala, os elementos daquela narrativa, estão focados na Palestina de dois mil anos atrás. Na introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, objeto do nosso estudo, Kardec nos faz essa advertência. Diz o codificador em Notícias Históricas: - Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles frequentemente empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A inteligência da significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista, parecem singulares. E nós estamos diante de uma fala singular. Nós vamos apreciar o texto do Evangelho de Mateus, item um do estudo, que relata o encontro de Jesus com os fariseus, os doutores da lei, aqueles que eram mais aptos a interpretar a lei de Moisés, que costumamos chamar de Velho Testamento. “Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não separe logo o homem o que Deus ajuntou. Replicaram-lhe eles: Pois por que mandou Moisés dar o homem à sua mulher carta de desquite, e repudiá-la? Respondeu-lhes: Porque Moisés, pela dureza de vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas ao princípio não foi assim. Eu, pois, vos declaro, que todo aquele que repudiar sua mulher, se não for por causa da fornicação, e casar com outra, comete adultério, e o que se casar com a que o outro repudiou, comete adultério”.
Esta é uma fala difícil, porque a narrativa parece recheada aos nossos olhos e aos nossos ouvidos de uma série de elementos estranhos, que parecem pressupor uma imposição da divindade em relação às uniões. Nós vamos procurar fazer uma análise um pouco mais profunda; o que representa o costume, a língua e aqueles elementos que faziam parte da cultura das pessoas que ouviam Jesus, para que possamos compreender o quanto às vezes a nossa percepção se distancia da essência da mensagem, por nossas visões constituídas de elementos da atualidade, e não daquela época. Vajamos: há uma fala que diz que os fariseus chegaram a Ele para tenta-lo. Mas, acontece que essa frase denota algo importante na interpretação dessa passagem. À época de Jesus, era muito comum que os doutores da lei se colocassem diante uns dos outros para avaliarem a capacidade de entendimento das leis divinas que cada um trazia. Essa frase inicial nos mostra que não estamos diante de um diálogo comum. Estamos diante de pessoas que conhecem as leis. Quando esse diálogo se inicia, nós temos aí uma proposta diferente, através de uma pergunta que é formulada nos seguintes termos: será permitido ao homem despedir sua mulher por qualquer motivo? Qual seria o sentido da indagação? Será que os fariseus estavam perguntando sobre o divórcio? Não. O divórcio era prática comum naquela sociedade. O dote dado à esposa era não raro para garantir a ela um mínimo de condição de vida. Quando os fariseus fazem essa pergunta, eles não estão questionando Jesus se o divórcio é uma possibilidade. A questão aqui não é essa. A questão é a causa do divórcio. É permitido despedir a esposa em qualquer situação? Esta indagação deriva dos versículos iniciais do capítulo XXIV, do livro de Deuteronômio, em que Moisés estabelece a possibilidade do divórcio. A interpretação desse versículo foi dividida entre duas escolas. A primeira foi a de Shamai, que era um pouco mais rígida. Shamai dizia que era possível o divórcio, mas somente no caso de adultério ou que a mulher impedisse o homem de seguir a lei mosaica. E Hilel, que constituía a segunda escola, afirmava de maneira diferente. Qualquer motivo poderia dar ensejo à separação.  Quando os fariseus fazem essa pergunta a Jesus, há aqui em pressuposto; a qual das duas escolas você segue, a mais rígida ou a mais liberal? É este o sentido da pergunta. E Jesus respondeu à altura, fazendo referência a um livro que é anterior ao Deuteronômio. Na prática interpretativa do povo judeu há uma prevalência dos livros antigos, e é exatamente o que Jesus faz quando diz: Não tendes lido que quem criou o homem, desde o princípio os fez macho e fêmea? A questão é onde está escrita essa fala. Está precisamente em Gênesis no capítulo I, versículo 27. Percebamos a natureza do diálogo; uma pergunta feita com base numa escola e uma resposta dada mostrando um profundo conhecimento dos textos do Velho Testamento. E Jesus encerra a sua fala dizendo: Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não separe logo o homem o que Deus ajuntou. Aqui temos um detalhe importante. Deus não é católico; Deus não é certidão de casamento; Deus não é interesses familiares. Nas palavras do apóstolo João, Deus é amor. Então, o que o amor uniu o homem não separe. É esse o sentido da frase de Jesus. Durante muito tempo nós convertemos as nossas uniões em processos gravíssimos de aprisionamento, porque acreditamos que os convencionalismos sociais pairam acima da lei universal do amor.

Compreendamos que além da união dos sexos deve haver a união de almas, a afinidade espiritual, o cumprimento da lei do Amor, quando os dois “farão uma só carne”. Aí, então, justifica-se a recomendação de Jesus: “Não separeis o que Deus juntou”.

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