O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e obtereis – Instruções dos Espíritos - Item 23 – Felicidade que a prece
proporciona.
23. Vinde, todos vós que desejais crer:
acorrem os Espíritos celestes, e vêm anunciar-vos grandes coisas! Deus, meus
filhos, abre os seus tesouros, para vos distribuir os seus benefícios. Homens
incrédulos! Se soubésseis como a fé beneficia o coração, e leva a alma ao
arrependimento e à prece! A prece. Ah, como são tocantes as palavras que se desprendem
dos lábios na hora da prece! Porque a prece é o orvalho divino, que suaviza o
excessivo calor das paixões. Filha predileta da fé, leva-nos ao caminho que
conduz a Deus. No recolhimento e na solidão, encontrai-vos com Deus; e para vós
o mistério se desfaz, porque Ele se revela. Apóstolos do pensamento, a
verdadeira vida se abre para vós! Vossa alma se liberta da matéria e se lança
pelos mundos infinitos e etéreos, que a pobre Humanidade desconhece.
Marchai, marchai, pelos caminhos da prece,
e ouvireis a voz dos Anjos! Que harmonia! Não são mais os ruídos confusos e as
vozes gritantes da Terra: são as liras dos arcanjos, as vozes doces e meigas
dos serafins, mais leves que as brisas da manhã, quando brincam nas ramagens
dos vossos arvoredos. Com que alegria então marchais! Vossa linguagem terrena
não poderá exprimir jamais essas venturas, que vos impregna por todos os poros,
tão, vivas e refrescantes é a fonte em que bebemos através da prece! Doces
vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança, pela
prece, a essas esferas desconhecidas e habitadas! São divinas todas as
aspirações, quando livres dos desejos carnais. Vós também, como o Cristo, orai,
carregando a vossa cruz para o Gólgota, para o Calvário. Levai-a, e sentireis
as doces emoções que lhe passavam pela alma, embora carregasse o madeiro
infamante. Sim, porque ele ia morrer, mas para viver a vida celestial, na
morada do Pai! (Santo Agostinho - Paris, 1861)
Rara são as
vezes que conseguimos realmente fazer uma prece com sinceridade e coração
aberto para se encontrar com Deus, na maioria das vezes nos dispomos a
conversar com ele tal qual relatório de rotina que entregamos no trabalho para
cumprir com nossa obrigação . Muitas são as vezes que nos vimos em situações
onde o contato direto com Deus nos confortaria a alma, nos daria força, mas,
nós não nos colocamos nesta condição. É como se tivéssemos a intensão de ligar
para alguém para pedir ajuda durante todo o dia, mas não saímos da intenção,
queremos a ajuda de deus mas não entramos em sintonia com ele ...
A Felicidade não
é deste mundo por que a verdade felicidade não é algo material e sim um estado
de espirito, duradouro ou não conforme nossa condição espiritual. Tendo então
esta certeza de que aqui na terra não teremos a felicidade tal qual almejamos,
plena e inabalável, experimentaremos momentos de tormenta, de dor , grandes
provas , dificuldades como então suportar ?Jesus nos deu o caminho.
Neste Evangelho é
feito um estudo sobre isto onde é citado os trechos anotados por Mateus, onde
Jesus nos esclarece e nos conforta o coração.: Cap. 5 – BEM-AVENTURADOS OS
AFLITOS
1 –
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem
perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V:
5, 6 e 10). Cap. 6 – O CRISTO CONSOLADOR
2 – Vinde a mim,
todos os que andam em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e
o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30)
Jesus nos afirma
que se formos até ele, ele nos aliviará, não nos diz que nos tirará as provas,
mas sim que nos aliviará , que estará conosco, tal qual um irmão que cuida do
outro nos momentos de dificuldade e de dor, irmão que não pode muitas vezes trocar
de lugar conosco nas provas que a vida nos oferece, mas certamente que através
de sua presença e sua doação de amor, nos conforta e divide conosco aquilo que
nos parece impossível de suportar.
E como nos ligar
a Jesus nos dias hoje já que não se encontra mais entre nós? Como sentir sua
presença em nossas vidas, como sentir seu abraço, sua força?
O mecanismo da
prece é a misericórdia de Deus atuando em nossas vidas, através do fluido
universal que nos envolve a todos e ao universo, nos interligamos através do
pensamento, de nossos sentimentos, a aquilo ou aquela pessoa que almejamos. É
dito que Deus esta sempre de braços abertos, que Jesus e os Bons Espíritos
estão sempre de braços abertos e através do mecanismo natural da prece isto faz
todo o sentido.
IMPORTANTE:
Com relação ao Capítulo XXVIII – Coletânea
de preces espíritas, não se faz necessário nenhum comentário ou apreciação, porque, segundo os Espíritos, "A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração".
Kardec diz que não há que se considerar esta coletânea como um formulário absoluto e único, mas, apenas, uma variedade no conjunto das instruções que os Espíritos ministraram.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e obtereis – Instruções dos Espíritos - Item 22 – Maneira de orar.
22. O primeiro dever de toda criatura
humana, o primeiro ato que deve assinalar o seu retorno à atividade diária, é a
prece. Vós orais, quase todos, mas quão poucos sabem realmente orar! Que
importam ao Senhor as frases que ligais maquinalmente uma às outras, porque já
vos habituastes a repeti-las, porque é um dever que tendes de cumprir, e que
vos pesa, como todo o dever?
A
prece do cristão, do Espírita, principalmente, de qualquer culto que seja, deve
ser feita no momento em que o Espírito retoma o jugo da carne, e deve elevar-se
com humildade aos pés da Majestade Divina, mas também com profundeza, num
impulso de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até esse dia. E de
agradecimento, ainda, pela noite transcorrida, durante a qual lhe foi
permitido, embora não guarde a lembrança, retornar junto aos amigos e aos
guias, para nesse contato haurir novas forças e mais perseverança. Deve
elevar-se humilde aos pés do Senhor, pedindo pela sua fraqueza, suplicando o
seu amparo, a sua indulgência, a sua misericórdia. E deve ser profunda, porque
é a vossa alma que deve elevar-se ao Criador, que deve transfigurar-se, como
Jesus no Tabor, para chegar até Ele, branca e radiante de esperança e de amor.
Vossa
prece deve encerrar o pedido das graças de que necessitais, mas de que
necessitais realmente. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que abrevie as vossas
provas, ou que vos dê alegrias e riquezas. Pedi-lhe antes os bens mais
preciosos da paciência, da resignação e da fé. Evitai dizer, como o fazem
muitos dentre vós: “Não vale a pena orar, porque Deus não me atende”. O que
pedis a Deus, na maioria das vezes? Já vos lembrastes de pedir-lhe a vossa
melhoria moral? Oh, não, tão poucas vezes! O que mais vos lembrais de pedir é o
sucesso para os vossos empreendimentos terrenos, e depois exclamais: “Deus não
se preocupa conosco; se o fizesse, não haveria tantas injustiças!” Insensatos,
ingratos! Se mergulhásseis no fundo da vossa consciência, quase sempre ali
encontraríeis o motivo dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de
tudo, para vos tornardes melhores, e vereis que torrentes de graças e
consolações se derramarão sobre vós! (Ver cap. V, nº 4).
Deveis
orar incessantemente, sem para isso procurardes o vosso oratório ou
cairdes de joelhos nas praças públicas.
A prece diária é o próprio cumprimento dos vossos deveres, mas dos vossos
deveres sem exceção, de qualquer natureza que sejam. Não é um ato de amor para
com o Senhor assistirdes os vossos irmãos numa necessidade qualquer, moral ou
física? Não é um ato de reconhecimento a elevação do vosso pensamento a Ele,
quando uma felicidade vos chega, quando evitais um acidente, ou mesmo quando
uma simples contrariedade vos aflora à alma, e dizeis mentalmente: “Seja
bendito, meu Pai!”? Não é um ato de
contribuição, quando sentis que falistes, dizerdes humilde para o Supremo Juiz,
mesmo que seja num rápido pensamento: “Perdoai-me, Deus meu, pois que pequei
(por orgulho, por egoísmo ou por falta de caridade); dai-me a força de não
tornar a falir, e a coragem de reparar a minha falta”?
Isto
independe das preces regulares da manhã e da noite, e dos dias consagrados,
pois, como vedes a prece pode ser de todos os instantes, sem interromper os
vosso afazeres; e até, pelo contrário, assim feita, ela os santifica. E não
duvideis de que um só desses pensamentos, partindo do coração, é mais ouvido
por vosso Pai celestial do que as longas preces repetidas por hábitos, quase
sempre sem um motivo imediato, apenas porque a hora convencional maquinalmente
vos chama.
Nota: Nos primeiros tempos, os adeptos do
Espiritismo ainda permaneciam muitas vezes ligados às igrejas de que provinham.
O mesmo aconteceu também com o Cristianismo dos primeiros tempos. (N. do T.)
Nessas conversas
do Espírito com a Divindade, a linguagem não deve ser preparada, anotada com
antecedência; deve variar segundo as necessidades, o estado do espírito do ser
humano. É um grito, um lamento, uma efusão ou um canto de amor, um ato de
adoração, um inventário moral feito sob o olhar de Deus, ou, ainda, um simples
pensamento, uma lembrança, um olhar levantado para os céus.
Não há horas
para a prece. É bom, sem dúvida, elevar seu coração a Deus no início e no fim
do dia. Mas, se sentirem indispostos, não orem. Em compensação, quando sua alma
for abrandada, transportada por um sentimento profundo, pelo espetáculo do
Infinito, mesmo que seja à beira dos oceanos, sob a claridade do dia ou sob a
cúpula cintilante das noites, no meio dos campos e dos bosques sombrios, no
silêncio das florestas, orem, então; é boa e grande toda causa que molhe seus
olhos de lágrimas, faça dobrar seus joelhos e jorrar do seu coração um hino de
amor, um grito de adoração em direção ao Alto.
Seria um erro
acreditar que tudo podemos obter pela prece, que sua eficácia é bastante grande
para desviar de nós as provações inerentes à vida. A lei de imutável justiça
não poderia dobrar-se aos nossos caprichos. Alguns pedem a fortuna, ignorando
que seria uma infelicidade para eles, dando um livre impulso às suas paixões.
Outros querem afastar males que são, às vezes, a condição necessária aos seus
progressos. Suprimi-los teria como efeito tornar sua vida estéril. Por outro
lado, como Deus poderia atender a todos os desejos que os homens exprimem nas
suas preces? A maioria é incapaz de discernir o que lhe convém, o que lhe seria
mais proveitoso.
Na prece que
dirige cada dia ao Eterno, o sábio não pede que seu destino seja feliz; não
pede que a dor, as decepções, os reveses sejam afastados de si. Não! O que
deseja é conhecer a lei para melhor cumpri-la; o que implora é a ajuda do Alto,
o socorro dos espíritos benevolentes, a fim de suportar dignamente os maus
dias. E os bons espíritos respondem ao seu apelo. Eles não procuram desviar o
curso da justiça, entravar a execução dos divinos decretos. Sensíveis aos
sofrimentos humanos, que conheceram, suportaram, trazem aos seus irmãos da
Terra, a inspiração que os sustenta contra as influências materiais; favorecem
esses nobres e salutares pensamentos, esses impulsos do coração que,
transportando-os para as altas regiões, livram-nos das tentações e das
armadilhas da carne. A prece do sábio, feita num recolhimento profundo, fora de
qualquer preocupação egoística, desperta nele essa intuição do dever, esse sentimento
superior do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através das dificuldades
da existência e o mantêm em comunhão íntima com a grande harmonia universal.
O que Deus lhe
concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a
resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das
dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos,
deixando-lhe dessa forma o mérito da ação.
Tem Deus
preferência pelos que O adoram desta ou daquela maneira? Deus prefere os que O
adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal,
aos que julgam honrá-Lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os
seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a Si
todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as
exprimam. É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau
exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.
Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que
professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e
implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo
vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do
que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da
justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que
enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. Não pergunteis, pois,
se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a
perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda
uma vez vos digo: até Ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela
porta do coração. (O Livro dos Espíritos. Questão 654. Allan Kardec).
Conclusão do
Estudo:
A melhor maneira
de orar é aquela que mais nos predisponha ao contato com o plano espiritual e o
Criador. Não há fórmula nem rituais para valorizá-las melhor. Só um requisito é
indispensável: que parta do coração.
Questões para reflexão:
1 - Qual a
melhor hora de orar?
Qualquer hora,
desde que precisemos ou queiramos. Entretanto, orar de manhã e à noite,
deveríamos adotar como prática habitual.
"O dever
primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua
volta à vida ativa de cada dia, é a prece."
2 - Como devem
ser nossas preces?
Sinceras:
partindo do coração, de modo a expressar fielmente o que lhe vai no íntimo;
simples: sem floreio ou imensidade de palavras; com humildade: expressando
nosso reconhecimento por todos os benefícios recebidos e pela nossa fraqueza
diante de Deus; profundas: expressando integralmente o nosso pensamento.
A prece, sendo
uma conversa franca e sincera com o Criador, deve refletir o que se passa em
nosso íntimo, isto é, se desejamos agradecer, agradeçamos; louvar, louvemos;
pedir, peçamos.
3 - Afinal, o
que é correto pedir quando oramos?
Devemos pedir
bens mais preciosos, como: a paciência, a fé, a resignação e a melhoria moral;
enfim, tudo aquilo que nos propicie a evolução espiritual.
Temos a
inteligência e a razão que nos dirige os passos; usemo-las para decidir o que é
correto pedir. Deus está sempre onde vê boa intenção.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e obtereis – Itens de 18 a 21, - Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores.
18. Os Espíritos sofredores reclamam
preces, e estas lhe são de utilidade, pois ao verem que são lembrados,
sentem-se menos abandonados e menos infelizes. Mas a prece tem sobre eles uma
ação mais direta: reergue-lhes a coragem, excita-lhes o desejo de se elevarem,
pelo arrependimento e a reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É
nesse sentido que ela pode não somente aliviar, mas abreviar-lhes os
sofrimentos. (Ver Céu e Inferno, II ª parte: Exemplos).
19. Algumas
pessoas não admitem a prece pelos mortos, porque acreditam que a alma só tem
uma alternativa: ser salva ou condenada às penas eternas. Num e noutro caso,
portanto, a prece seria inútil. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos
por um instante a realidade das penas eternas e irremissíveis, e que as nossas
preces sejam impotentes para interrompê-las. Perguntamos se mesmo com essa
hipótese, é lógico, é caridoso, é cristão, recusar a prece pelos réprobos?
Essas preces, por mais importantes que sejam para libertá-los, não serão para
eles uma prova de piedade, que poderá minorar-lhes os sofrimentos? Na Terra,
quando um homem é condenado à prisão perpétua, mesmo que não haja nenhuma
esperança de obter-se a graça para ele, é proibido a uma pessoa caridosa
auxiliá-lo a carregar o peso dos grilhões? Quando alguém está atacado de mal
incurável, não havendo, portanto nenhuma esperança de cura, deve-se abandoná-lo
sem nenhum alívio? Pensai que entre os réprobos pode estar uma pessoa que vos
seja cara: um amigo talvez um pai, a mãe ou um filho, e só porque, segundo
julgais, essa criatura não pode ser perdoada, poderíeis recusar-lhe um copo d´água
para mitigar a sede, um bálsamo para secar-lhe as feridas? Não faríeis por ela
o que faríeis por um prisioneiro? Não lhe daria uma prova de amor, uma
consolação? Não, isso não seria cristão! Uma crença que endurece o coração não
pode conciliar-se com a crença num Deus que coloca, como o primeiro de todos os
deveres, o amor do próximo!
Negar
a eternidade das penas não implica negar uma penalidade temporária, mesmo
porque, na sua justiça, Deus não pode confundir o mal com o bem. Ora, nesse
caso, negar a eficácia da prece seria negar a eficácia da consolação, dos
estímulos e dos bons conselhos; e isso equivaleria a negar a força que haurimos
da assistência moral dos que nos amam.
20. Outros
se fundam numa razão mais especiosa: a imutabilidade dos desígnios divinos.
Deus, dizem, eles, não pode modificar as suas decisões a pedido das criaturas,
pois caso contrário nada seria estável no mundo. O homem nada tem, portanto, de
pedir a Deus, cabendo-lhes apenas submeter-se e adorá-lo.
Há
nesta ideia uma falsa interpretação da imutabilidade da lei divina, ou melhor,
ignorância da lei, no que concerne à penalidade futura. Essa lei é revelada
pelos Espíritos do Senhor, hoje que o homem já amadureceu para compreender o
que, na lei, é conforme ou contrário aos atributos divinos.
Segundo
o dogma da eternidade absoluta das penas, nem os remorsos nem o arrependimento
são considerados a favor do culpado. Para ele, todo o desejo de melhorar-se é
inútil: está condenado a permanecer eternamente no mal. Se foi condenado, entretanto,
por um determinado tempo, a pena cessará no fim do prazo. Mas quem pode afirmar
que ele terá então melhorado os seus sentimentos? Quem dirá que, a exemplo de
muitos condenados da Terra, ao sair da prisão, ele não será tão mau quanto
antes? No primeiro caso, seria manter sob a dor do castigo um homem que se
tornara bom; no segundo, seria agraciar aquele que continua culpado. A lei de
Deus é mais previdente: sempre justa, equitativa e misericordiosa, não fixa
nenhuma duração para a pena, qualquer que seja. Ela se resume assim:
21. “O
homem sofre sempre a consequência das suas faltas; não há uma única infração à
lei de Deus, que não tenha a sua punição”.
“A
severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta”.
“A
duração do castigo, para qualquer falta, é indeterminada, pois fica subordinada
ao arrependimento do culpado e ao seu retorno ao bem; assim, a pena dura tanto
quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se a obstinação o fosse; é de curta
duração, se o arrependimento vir logo”.
“Desde
que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança.
Mas o simples remorso não basta: é necessária a reparação da falta. É por isso
que o culpado se vê submetido a novas provas, nas quais ele pode, sempre pela
sua própria vontade, fazer o bem para a reparação do mal anteriormente
praticado”.
“O
homem é assim o árbitro constante da sua própria sorte. Ele pode abreviar o seu
suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça depende
da sua vontade de fazer o bem”.
Essa
é a lei; lei imutável e conforme a bondade e à justiça de Deus.
O
Espírito culpado e infeliz, dessa maneira, pode sempre se salvar a si mesmo: a
lei de Deus lhe diz sob quais condições ele pode fazê-lo. O que geralmente lhe
falta é à vontade, a força e a coragem. Se, pelas nossas preces, lhe inspiramos
essa vontade, se o amparamos e encorajamos; se, pelos nossos conselhos, lhe
damos as luzes que lhe faltam, em vez de solicitar a Deus que derrogue a sua
lei, tornamo-nos instrumentos da execução dessa lei de amor e caridade, da qual
ele assim nos permite participar, para darmos nós mesmos uma prova de caridade.
(Ver Céu e Inferno, I ª parte, caps. IV, VII e VIII).
Jesus dizia que
devemos amar ao próximo como a nós mesmos, muitos somente veem o próximo como
aquele ser visível que está ao nosso lado: irmão, pai, cônjuge, vizinhos,
amigos etc. Muitos não percebem, ou simplesmente passa despercebido, ou pela
falta de interesse pelo mundo espiritual habitado por seres invisíveis aos
nossos olhos, mas que também são nosso próximo e que devemos igualmente amar,
são os seres desencarnados. Aqueles que já partiram, mas que continuam vivendo
e a trilhar os caminhos da evolução rumo a redenção espiritual.
Algumas
religiões não admitem a prece pelos mortos, porque julgam que a alma, após a
morte, tem dois caminhos: ser salva ou condenada as penas eternas, dizendo ser
inútil a prece em qualquer dos casos, pois à sua sorte estaria selada. Seria o
mesmo que negar um copo d’água a quem tem sede, a esperança a um doente,
consolo àqueles que estão em aflição. Uma crença que endurece o coração não
pode conciliar-se com a crença num Deus que coloca, como primeiro de todos os
deveres o amor ao próximo. Esquecem-se da misericórdia de Deus e que Ele não
quer que nenhum de seus filhos se perca. Muitos espíritos estão em sofrimento
pelo remorso e arrependimento pelas faltas cometidas quando encarnados, outros
porque vivem com sentimento de vingança que gera a obsessão a nós encarnados e,
nessas condições de desajustes não conseguem entrar em sintonia com os seres
amigos e superiores que vêm para socorrê-los e auxiliá-los, esse sentimento
ofusca-lhes a visão impossibilitando o socorro.
A prece não tem
o poder de alterar os desígnios de Deus, mas serve como uma ponte de luz que
liga o desajustado ou sofredor aos planos mais elevados, atraindo, para eles os
espíritos superiores que vêm em seu
auxílio para esclarecê-los, consolá-los e lhes dar esperanças. Jesus orava
pelas ovelhas desgarradas, mostrando-nos que seríamos culpáveis se não fizermos
o mesmo com os mais necessitados inclusive com os desencarnados.
A prece feita a
esses espíritos torna-se útil desde que ditada por verdadeira caridade, nestas
condições a prece tem o condão de estimular ao arrependimento e ao desejo de
fazer o necessário para encontrarem a felicidade e, dessa forma estaremos
contribuindo para o alívio de suas penas e dores.
A prece é
agradável a eles, pois percebem que não estão abandonados a si próprios na
imensidão, que há, ainda, na Terra seres que se interessam pela sua sorte e
desejam à sua felicidade. E mesmo que não alcancem a felicidade pelas preces
que lhes são dirigidas, elas são essenciais, pois os tiram do desespero,
dando-lhes forças fluídicas necessárias para lutarem contra as influências perniciosas
e ajudando-os a subirem mais alto.
O Espiritismo
nos dá a certeza de que o nosso amor pode visitar os desencarnados em seu
benefício, mostra-nos ainda que a duração do sofrimento depende, até certo
ponto, da vontade do espírito e, a prece pode abreviá-lo auxiliando eles nos
esforços que fizerem para progredirem.
Mas como orar?
Jesus ensinou que basta a criatura recolher-se em seu íntimo, em seu mundo
interior e ao dizer: Senhor eu não sei rezar; pode ter a certeza de que já
começou a orar.
Assim, o
Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo: a lei de Deus
estabelece a condição em que se lhe toma possível fazê-lo. O que as mais das
vezes lhe falta é a vontade, a força, a coragem. Se, por nossas preces, lhe
inspiramos essa vontade, se o amparamos e animamos; se, pelos nossos conselhos,
lhe damos as luzes de que carece, em lugar de pedirmos a Deus que derrogue a
sua lei, tornamo-nos instrumentos da execução de outra lei, também sua, a de amor
e de caridade, execução em que, desse modo, ele nos permite participar, dando
nós mesmos, com isso, uma prova de caridade.
Questões para reflexão:
1. Por que é
necessário orar pelos desencarnados, principalmente pelos espíritos sofredores?
Primeiro, porque
nos impõe um dever, como cristãos, de auxiliar os necessitados; segundo,
porque, ao se sentirem lembrados, ficam mais aliviados em seus sofrimentos e, portanto,
menos infelizes.
A prece
constitui uma grande forma que a Providência nos oferece para prestar o nosso
auxílio em favor dos desencarnados.
2. A nossa prece
terá alguma influência para o espírito sofredor, se não houver neste
predisposição em melhorar-se?
A prece poderá
beneficiá-lo, no sentido de influenciar suas atitudes, auxiliando-o a
reconduzir-se à senda do bem.
Não há espírito
tão endurecido que não se renda e se torne, cedo ou tarde, sensível à
grandiosidade, justiça e bondade do Pai Maior.
3. Como podemos
entender a imutabilidade das leis, aplicada às penas futuras?
A imutabilidade,
aqui, deve ser entendida no sentido de que ninguém foge ao compasso inexorável
e nivelador da justiça de Deus, isto é, a ninguém será dado evadir-se do
resgate de seus débitos para com a Providência.
"O homem
sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à lei de
Deus que fique sem a correspondente punição."
Conclusão:
Orar pelos
desencarnados é ajudá-los na libertação dos sofrimentos que experimentam. Essa
prática salutar, além de evidenciar a bondade e justiça de Deus, revela-se um
ato de caridade das mais excelsas, que se reflete em favor dos outros e daquele
que ora.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e Obtereis – Itens de 16 e 17.
Preces
inteligíveis.
16. Se eu não entender o que significam as
palavras, serei um bárbaro para aquele a quem falo; e o que fala, sê-lo-á para
mim do mesmo modo. Porque se eu orar numa língua estrangeira, verdade é que o
meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. Mas se louvares com o
espírito, o que ocupa o lugar do simples povo como dirá Amém sobre a tua
benção, visto não entender ele o que tu dizes? Verdade é que tu dás bem as
graças, mas o outro não é edificado. (Paulo, I Coríntios, XIV: 11 – 14, 16-17).
17. A prece só tem valor pelo pensamento
que a informa. Ora, é impossível ligar um pensamento àquilo que não se
compreende, pois o que não se compreende não pode tocar o coração. Para a
grande maioria, as preces numa língua desconhecida não passam de mistura de
palavras que nada dizem ao espírito. Para que a prece toque o coração, é
necessário que cada palavra revele uma ideia, e se não a compreendermos, ela
não pode revelar nenhuma. Podemos repeti-la como simples fórmula, cuja virtude
estará apenas no menor ou maior número das repetições. Muitos oram por dever,
alguns, mesmo, para seguir o costume; eis porque eles se julgam quites com o
dever, depois de uma prece repetida por certo número de vezes e segundo
determinada ordem. Mas Deus lê no íntimo dos corações; perscruta o nosso
pensamento e a nossa sinceridade; e considerá-lo mais sensível à forma do que
ao fundo seria rebaixá-lo. (Ver cap. XXVIII, nº 2)
"Até as
coisas inanimadas que emitem sons, seja flauta, seja cítara (espécie de Lira,
instrumento de corda em forma de U), se não formarem sons distintos, como se
conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara? Porque se a trombeta der sonido
incerto, quem se preparará para a batalha?” Assim também vós, se a língua não
pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz?
Antigamente, em
algumas regiões, oravam em língua desconhecida. "São misturas de palavras
que nada dizem ao espírito, pois quem as houve não entende a língua. A prece
tem de revelar uma ideia. Se não a compreendemos ela nada revela. Não adianta
repeti-las, muito menos orar por dever ou costume". Deus lê no íntimo dos
corações, perscruta, indaga, investiga, perquire o nosso pensamento e a nossa
sinceridade. Esclarecido o que dizia Paulo e a Doutrina Espírita, podemos aquilatar
o efeito de uma pequena palestra, proferida por aquele expositor, que a fez com
muita clareza, num palavreado acessível a toda plateia presente. Uma condição
essencial da prece é, pois, segundo Paulo, de ser inteligível, a fim de que
possa falar ao nosso espírito; para isto não basta que seja dita numa língua
compreendida por aquele que ora; há preces em linguagem vulgar que não dizem
muito mais ao pensamento do que se estivessem em língua estrangeira, e que, por
isso mesmo, não vão ao coração; as raras ideias que elas contêm,
frequentemente, são abafadas sob a superabundância das palavras e do misticismo
da linguagem.
A principal
qualidade da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem
luxo de epítetos que não são senão enfeites de lantejoulas; cada palavra deve
ter sua importância, revelar um pensamento, movimentar uma fibra; em uma palavra,
deve fazer refletir; só com esta condição a prece pode alcançar seu objetivo,
de outro modo não é senão ruído. O mais perfeito modelo de concisão com relação
à prece, sem contradita, é a Oração dominical, verdadeira obra-prima de sublimidade
em sua simplicidade; sob a forma mais restrita ela resume todos os deveres do
homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. No entanto, em
razão de sua própria brevidade, o sentido profundo, encerrado nas poucas
palavras das quais ele se compõem, escapa à maioria; os comentários que foram
dados a esse respeito não estão sempre presentes na memória, ou mesmo são desconhecidos
da maioria; é porque dizem-na, geralmente, sem dirigir-se o pensamento sobre as
aplicações de cada uma de suas partes, é dita como uma fórmula cuja eficácia é
proporcional ao número de vezes que é repetida; ora, é quase sempre um dos
números cabalísticos três, sete ou nove, tirados da antiga crença na virtude
dos números, e em uso nas operações da magia.” (Revista Espírita de agosto de
1864.)
Paulo nos ensina
a falar, não só ao coração, mas a mente também. Que a oração obedeça a uma
lógica, uma coerência, reflita um desejo, uma vontade e esteja dentro de uma
realidade. A prece então é algo real e a prece, tanto quanto a pregação, deve
chegar aos ouvidos e ser entendida. Como diria Paulo, como as pessoas dirão
Amém para palavras sem sentido? Como a espiritualidade maior, Deus, Jesus
poderá nos ouvir se nós não sabemos nos expressar? Devemos então orar de forma
espontânea, com retidão, com absoluta convicção de nossas intenções, externando
o que vai de mais profundo em nossa consciência, não importa o local, a luz , a
hora, a principal condição é que ela expresse verdadeiramente o nosso amor e a
nossa fé a Deus, em profunda confiança de que receberemos aquilo que precisamos
e merecemos. Tanto o louvor, ou suplica, ou o agradecimento significa uma
entrega absoluta a Deus e aceitação dos seus desígnios. Entretanto, notai com
que ar distraído e com que volubilidade elas são ditas na maioria dos casos. Veem-se
lábios a mover-se; mas, pela expressão da fisionomia, pelo som mesmo da voz,
verifica-se que ali apenas há um ato maquinal, puramente exterior, ao qual se
conserva indiferente a alma.
Questões para reflexão:
1 - Se a prece
não necessita de nenhuma fórmula predefinida, por que Kardec compilou o
Capítulo XXVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo?
Os Espíritos
jamais prescreveram qualquer fórmula absoluta de preces. Quando dão alguma, é
apenas para fixar as ideias e, sobretudo, para chamar a atenção sobre certos
princípios da Doutrina Espírita. Fazem-no também com o fim de auxiliar os que
sentem embaraço para externar suas ideias, pois alguns há que não acreditariam
ter orado realmente, desde que não formulassem seus pensamentos.
2 - Qual a
qualidade principal da prece?
A qualidade
principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem
luxo de epítetos, que são meros adornos de lentejoulas. Cada palavra deve ter
alcance próprio, despertar uma idéia, pôr em vibração uma fibra da alma. Numa
palavra: deve fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o
seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído.
3 - Quais são as
categorias das preces existentes nesse capítulo?
Estão divididas
em cinco categorias as preces constantes nesta coletânea; 1ª) Preces gerais;
2ª) Preces por aquele mesmo que ora; 3ª) Preces pelos vivos; 4ª) Preces pelos
mortos; 5ª) Preces especiais pelos enfermos e pelos obsidiados.
Com o propósito
de chamar, de maneira especial, a atenção sobre o objeto de cada prece e de lhe
tornar mais compreensível o alcance, vão todas precedidas de uma instrução
preliminar, de uma espécie de exposição de motivos, sob o titulo de prefácio.
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e Obtereis – Itens de 9 a 15.
Ação da prece –
Transmissão do pensamento.
9. A
prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos
dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor.
Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As
preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução
dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para
Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem
apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem à
vontade de Deus.
10. O
Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de
transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso
apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que
ocorre nesse caso, é necessário imaginar os seres, encarnados e desencarnados,
mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra
estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade,
pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença
de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se
ampliam ao infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na
terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente
fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar
transmite o som.
A
energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade.
É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem,
assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as suas
inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os próprios
encarnados.
Esta
explicação se dirige sobretudo aos que não compreendem a utilidade da prece
puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar
compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que ela pode exercer ação direta e
positiva. Nem por isso está menos sujeita à vontade de Deus, juiz supremo em
todas as coisas, e único que pode dar eficácia à sua ação.
11. Pela
prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar nas
suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Ele adquire assim a força
moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho reto, quando
dele se afastou; e assim também podem desviar de si os males que atrairia pelas
suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos
excessos que cometeu, e arrasta, até o fim dos seus dias, uma vida de
sofrimento. Tem o direito de queixar-se, se não conseguir a cura? Não, porque
poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.
12. Se
dividirmos os males da vida em duas categorias, sendo uma a dos que o homem não
pode evitar, e outra a das atribuições que ele mesmo provoca, por sua incúria e
pelos seus excessos. (Ver cap. V, nº 4), veremos que esta última é muito mais
numerosa que a primeira. Torna-se pois evidente que o homem é o autor da
maioria das suas aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com
sabedoria e prudência.
É
certo, também, que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de
Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes.
Se não ultrapassássemos os limites do necessário, na satisfação das nossas
exigências vitais, não sofreríamos as doenças que são provocadas pelos
excessos, e as vicissitudes decorrentes dessas doenças. Se limitássemos as
nossas ambições, não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos subir mais alto do
que podemos, não recearíamos a queda. Se fossemos humildes, não sofreríamos as
decepções do orgulho abatido. Se praticássemos a lei de caridade, não seríamos
maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as querelas e as
dissensões. Se não fizéssemos nenhum mal a ninguém, não teríamos de temer as
vinganças, e assim por diante.
Admitamos
que o homem nada pudesse fazer contra os outros males; que todas as preces
fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria muito, poder afastar todos os
que decorrem da sua própria conduta? Pois bem: neste caso concebe-se facilmente
a ação da prece, que tem por fim atrair a inspiração salutar dos Bons
Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos maus pensamentos,
cuja execução pode nos ser funesta. E, para nos atenderem nisto, não é o mal
que eles afastam de nós, mas é a nós que eles afastam do pensamento que nos
pode causar o mal; não embaraçam em nada os desígnios de Deus, nem suspendem o
curso das leis naturais, mas é a nós que impedem de infringirmos as leis, ao
orientarem o nosso livre arbítrio. Mas o fazem sem o perceberem, de maneira
oculta, para não prejudicarem a nossa vontade. O homem se encontra então na
posição de quem solicita bons conselhos e os segue, mas conservando a liberdade
de segui-los ou não. Deus quer que assim seja, para que ele tenha a
responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o
bem e o mal. É isso o que o homem sempre receberá, se pedir com fervor, e ao
que se podem sobretudo aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.
A
eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, não daria imenso
resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação, pela revelação
das relações entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Mas não se limitam a
isso os seus efeitos. A prece é recomendada por todos os Espíritos. Renunciar a
ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a sua assistência; e
para os outros, o bem que se poderia fazer.
13. Ao
atender o pedido que lhe é dirigido, Deus tem frequentemente em vista
recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque a
prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior
eficácia. Porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança
que só o sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do egoísta,
daquele que só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que palavras, e
nunca os impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força. Compreende-se
isso tão bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às preces daqueles
cuja conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são melhores
escutados.
14. Se
a prece exerce uma espécie de ação magnética, podemos supor que o seu efeito
estivesse subordinado à potência fluídica. Entretanto, não é assim. Desde que
os Espíritos exercem esta ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário,
a insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome,
seja ao lhe conferirem momentaneamente uma força excepcional, quando ele for
julgado digno desse benefício ou quando isso possa ser útil.
O
homem que não se julga suficientemente bom para exercer uma influência salutar,
não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é digno de ser ouvido. A
consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre agradável a
Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa. Seu fervor e sua confiança em
Deus constituem o primeiro passo do seu retorno ao bem, que os Bons Espíritos
se sentem felizes de estimular. A prece que é repelida é a do orgulhoso, que só
tem fé no seu poder e nos seus méritos, e julga poder substituir-se à vontade
do Eterno.
15. O
poder da prece está no pensamento, e não depende nem das palavras, nem do
lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em qualquer hora, a
sós ou em conjunto. A influência do lugar ou do tempo depende das
circunstâncias que possam favorecer o recolhimento. A prece em comum tem ação
mais poderosa, quando todos os que a fazem se associam de coração num mesmo
pensamento e têm a mesma finalidade, porque então é como se muitos clamassem juntos
e em uníssono. Mas que importaria estarem reunidos em grande número, se cada
qual agisse isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem
orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma aspiração comum,
orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força do que a
daquelas cem. (Ver cap. XXVIII, nº 4 e 5 ).
O codificador
inicia com a valiosa informação de que “as preces dirigidas a Deus são ouvidas
pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades (…)”, após ponderar
que a prece coloca um ser em comunicação mental com outro ser a quem se dirige,
não importando se esteja encarnado ou já tenha deixado o corpo pela
desencarnação.
O caminhar
didático do texto é suave, leve, proporcionando como que uma aula útil e muito
agradável para se aprender o mecanismo de transmissão do pensamento na
comunicação entre os seres. Para isso faz uma comparação notável para
entendermos a questão: “(…) é preciso mentalizar todos os seres, encarnados e
desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o
somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o
veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, como a diferença de que as
vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluído universal se
estendem ao infinito. (…)”. O que ocorre, portanto, é que “(…) estabelece-se
uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo o pensamento, como o ar
transmite o som. (…)”.
A prece tem
poderosa ação porque por ela atraímos o concurso dos bons espíritos, que nos
sustentam nas boas resoluções e nos inspiram bons pensamentos,
possibilitando-nos adquirir as forças morais para superação das dificuldades.
Não usá-la, conforme raciocínio de Kardec, é renunciar para sim mesmo e a
outros o bem que se lhes pode fazer, à assistência que todos podemos receber da
Bondade Divina.
E há uma
advertência expressiva no texto, com outras palavras e outro exemplo, mas que
se pode resumir no exemplo de adversidades ou doenças que podemos enfrentar,
fruto ou não de excessos: temos o direito de reclamar? E conclui a resposta de
Kardec: “(…) Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às
tentações (…)”. E podemos acrescentar, inclusive à tentação da reclamação ou
dos lamentos da revolta.
O texto ocupa
três páginas do capítulo, com sábias reflexões. Deixo ao leitor ir à fonte original
para o prazer dessa leitura do sábio e profundo texto. Mas concluo com dois
pensamentos importantes ali expressos, para ampliar a reflexão de todos nós:
No item 13:
“Acedendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus frequentemente, tem em vista
recompensar a intenção, o devotamento e a fé àquele que ora, eis porque a prece
do homem de bem é mais meritória aos olhos de Deus, e sempre mais eficaz,
porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só é
dado pelo sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, daquele que
ora com os lábios, não podem sair senão palavras, mas não os impulsos da
caridade que dão à prece todo o seu poder. (…)”;
No item 15: “O
poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao
lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, em
qualquer lugar, a qualquer hora, sozinho ou em comum. (…)”.
Recomendo, com
ênfase, ao leitor, ler o texto integral, até para ampliar o assunto a respeito
da prece com comum, reunindo várias pessoas e seu extraordinário poder, mas
também para tocar num ponto muito comum nos relacionamentos humanos, quando
ouvimos alguém pedir: “Ah! Ore por mim!”. A lucidez de Kardec se faz presente:
“(…) Isso é tão compreensível, que, por um movimento instintivo, a pessoa se
recomenda de preferência às preces daqueles nos quais se percebe que a conduta
deve ser agradável a Deus, porque são mais ouvidos.”
O fato
principal, contudo, fica no raciocínio de que diante das dificuldades todas que
possamos atravessar, das adversidades muitas vezes inevitáveis, é preciso
lembrar, entre outras situações de “(…) Se não ultrapassarmos o limite do
necessário na satisfação das nossas necessidades, não teremos as doenças que
são consequências dos excessos, e as vicissitudes que essas doenças ocasionam.
Se colocarmos limite à nossa ambição, não teremos a ruína. Se não quisermos
subir mais alto do que podemos, não temeremos cair. Se formos humildes, não
sofreremos as decepções do orgulho humilhado. Se praticarmos a lei da caridade,
não seremos nem maldizentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaremos as
querelas e as dissenções. Se não fizermos mal a ninguém, não temeremos as
vinganças, etc. (…)”.
A prece é o
grande recurso contra esses males que ainda nos sondam os passos.
Questões para reflexão:
1 - Como podem
ser as preces?
Para pedir, para
agradecer e para louvar.
a) pedir: é a
que fazemos para rogar auxílio em favor de alguém ou de nós próprios. Exemplo:
podemos pedir paciência, tolerância para passarmos por uma dificuldade com mais
tranquilidade.
b) agradecer: é
a que fazemos para agradecer uma ajuda recebida, um objetivo atingido; por ter
nos livrado de um perigo; por termos recebido uma graça, etc.
c) louvar: é
aquela através da qual demonstramos o nosso reconhecimento a Deus de sua grandeza
e a de sua obra; demonstramos a nossa humildade perante o Criador.
Devemos nos
esforçar para que nossas preces sejam mais para agradecer e louvar do que para
pedir.
É bem melhor
termos pouco a pedir e muito a agradecer, pois é demonstração de resignação
diante das provações da vida.
2 - Com base no
trecho lido, explique como a prece atinge seu objetivo, ou seja, como a mesma é
conduzida ao alvo a que se destina.
Para explicar é
preciso que nos consideremos todos mergulhados no fluido universal, de modo que
todos, encarnados e desencarnados, possamos nos comunicar uns com os outros.
Assim, a nossa prece é transmitida a quem nos dirigimos, através desse fluido,
que efetua o papel como o de um telefone que transmite a nossa voz, de um a
outro ponto qualquer.
"Dirigido,
pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado
para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um
e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som."
3 - De que forma
os espíritos nos ajudam a vencer as dificuldades?
Através da prece
sincera nos ligamos aos espíritos superiores, que, sondando a nossa vontade e
boa intenção, nos vêm em socorro, dando-nos a força moral necessária para
superar os problema, ou retomar o caminho reto, se dele porventura nos
desviamos.
Através da prece
podemos nos prevenir para não cair no caminho do mal. A prece, no caso, tem a
função de nos propiciar forças para resistir ao mal.
Conclusão do Estudo:
As nossas preces
são atendidas por Deus, através dos espíritos incumbidos da execução de suas
vontades. Os espíritos ouvem-nos as preces qualquer que seja o lugar onde se
encontrem.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e Obtereis – Itens de 5 a 8.
Eficácia da
prece.
5. Por isso vos digo: todas as coisas que vós pedirdes orando, crede que
as haveis de ter, e que assim vos sucederão. (Marcos, XI: 24)
6. Há pessoas que contestam a
eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus as nossas necessidades, é
desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no
universo através de leis eternas, nossos votos não podem modificar os desígnios
de Deus.
Há leis naturais e imutáveis, sem
dúvida, que Deus não pode anular segundo os caprichos de cada um. Mas daí a
acreditar que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade,
a distância é grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento
passivo, sem livre arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia
curvar a fronte ante os golpes do destino; sem procurar evitá-los; não deveria
esquivar-se dos perigos. Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para
que não os utilizasse, a vontade para não querer, a atividade para cair na
inação. O homem sendo livre de agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para
ele mesmo e para os outros, consequências subordinadas às suas decisões. Em
virtude da sua iniciativa, há portanto acontecimentos que escapam,
forçosamente, à fatalidade, e que nem por isso destroem a harmonia das leis
universais, da mesma maneira que o avanço ou atraso dos ponteiros de um relógio
não destrói a lei do movimento, que regula o mecanismo do aparelho. Deus pode,
pois, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem
o conjunto, dependendo sempre o atendimento da sua vontade.
7. Seria ilógico concluir-se,
desta máxima: “Aquilo que pedirdes pela prece vos será dado”, que basta pedir
para obter, e injusto acusar a Providência se ela não atender a todos os
pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que nos convém.
Assim procede ao pai prudente, que recusa ao filho o que lhe seria prejudicial.
O homem, geralmente, só vê o presente; mas, se o sofrimento é útil para a sua
felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente
sofrer a operação que deve curá-lo.
O que Deus lhe concederá, se
pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe
concederá, são os meios de se livrar das dificuldades, com a ajuda das ideias
que lhe serão sugeridas pelos Bons Espíritos, de maneira que lhe restará o
mérito da ação. Deus assiste aos que se ajudam a si mesmos, segundo a máxima:
“Ajuda-te e o céu te ajudará”, e não aos que tudo esperam do socorro alheio,
sem usar as próprias faculdades. Mas, na maioria das vezes, preferimos ser
socorridos por um milagre, sem nada fazermos. (Ver cap. XXV, nº 1 e segs.)
8. Tomemos um exemplo. Um homem
está perdido num deserto; sofre horrivelmente de sede; sente-se desfalecer e
deixa-se cair ao chão. Ora, pedindo a ajuda de Deus, e espera, mas nenhum anjo
vem lhe dar de beber. No entanto, um Bom Espírito lhe sugere o pensamento de
levantar-se e seguir determinada direção. Então, por um impulso instintivo,
reúne suas forças, levanta-se e avança ao acaso. Chegando a uma elevação do
terreno, descobre ao longe um regato, e com isso retoma a coragem. Se tiver fé,
exclamará: “Graças, meu Deus, pelo pensamento que me inspiraste e pela força
que me deste”. Se não tiver fé, dirá: “Que boa ideia tive eu! Que sorte eu
tive, de tomar o caminho da direita e não o da esquerda; o acaso, algumas
vezes, nos ajuda de fato! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me
haver deixado abater!”.
Mas, perguntarão, por que o Bom
Espírito não lhe disse claramente: ”Siga este caminho, e no fim encontrarás o
que necessitas”? Porque não se mostrou a ele, para guiá-lo e sustentá-lo no seu
abatimento? Dessa maneira o teria convencido da intervenção da Providência.
Primeiramente, para lhe ensinar que é necessário ajudar-se a si mesmo e usar as
próprias forças. Depois, porque, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e
a submissão à sua vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao
cair, vendo alguém, põe-se a gritar e espera que a levantem; mas, se não vê
ninguém, esforça-se e levanta-se sozinha.
Se o anjo que acompanhou a Tobias
lhes houvesse dito: “Fui enviado por Deus para te guiar na viagem e te preservar
de todo perigo”, Tobias não teria nenhum mérito. Foi por isso que o anjo só se
deu a conhecer na volta.
Tudo quanto pedirdes pela prece,
crede que obtereis e que vos será concedido. (Marcos, 11:24).
Devemos aqui ter certo cuidado ao
interpretar essas palavras de Jesus, pois não seria lógico concluir que basta
pedir para obter. Em primeiro lugar devemos sempre lembrar de que Deus é bom e
justo, misericordioso, mas como um Pai, sabe o que é melhor para Nós, seus
filhos. Muitas vezes, como fazem as crianças, pedimos a Deus coisas que não
poderão ser concedidas porque poderiam complicar nossa existência. Precisamos
entender que nossos pedidos serão atendidos conforme a nossa real necessidade e
merecimento. Deus cuida para que não nos falte o necessário e nos atende desde
que nossos pedidos não sejam meros caprichos ou futilidades. Precisamos
entender qual a importância de orar e porque devemos orar sempre. A prece é uma
invocação; por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos.
Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar
por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces
dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus
desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando
oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de
intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de
Deus. Por ela, ligamo-nos a Deus através do concurso das luminosas entidades
que Lhe representam a Sabedoria e o Amor, nos inumeráveis planos da vida. É o
pensamento que dá qualidade curativa aos fluidos, que existem em estado natural
ao nosso redor. É ele que transforma o fluido inerte em energia capaz de
recompor um tecido doente ou reduzir os males de ordem espiritual que afetam os
indivíduos. É o pensamento também o fio que nos permite estabelecer um
relacionamento positivo com os espíritos, que participam das atividades
curadoras. Mas, ao mesmo tempo em que nos permite tudo isso, ele também poderá
nos ligar a espíritos cuja presença será prejudicial ao ato de curar. Toda
moeda tem dois lados, as leis da natureza são estradas de duas mãos. A mente é
fonte de energia curativa ou de energia destruidora.
Qual a importância da prece?
Lembremo-nos de um exemplo
prático. Se não limparmos periodicamente o nosso quintal, a sujeira se acumula,
o mato cresce, e há a proliferação de bichos. No campo espiritual, se não limparmos
o nosso psiquismo, os espíritos luminosos se afastam (mesmo que
temporariamente), as trevas tomam conta favorecendo a ação de espíritos
endurecidos. A prece deve ser curta e feita em segredo, no recôndito da
consciência e em profunda meditação. Preces prolongadas ou repetidas tornam-se
cansativas, sonolentas e, muitas vezes, delas não participam o pensamento e o
coração. Assim, a condição da prece está no pensamento reto, podendo-se orar em
qualquer lugar, a qualquer hora, a sós ou em conjunto, em pé, deitado, de luz
acesa ou apagada, de olhos abertos ou fechado; desde que haja o recolhimento
íntimo necessário para se estabelecer a sintonia harmoniosa. Por isto a
importância do sentimento amoroso, humilde, piedoso, livre de qualquer
ressentimento ou mágoa, dessa maneira o homem irá absorver a força moral
necessária para vencer as dificuldades com seus próprios méritos. De tudo o que
foi dito anteriormente, podemos concluir que a eficácia da prece está na
dependência da renovação íntima do homem, em que deve prevalecer a linguagem do
amor, do perdão e da humildade para que ele possa assim, de coração liberto de
sentimentos negativos, agradecer a Deus a dádiva da vida.
Questões para reflexão:
1 - Como podemos interpretar o
ensinamento de Jesus: "Seja o que for que peçais na prece, crede que o
obtereis e concedido vos será o que pedirdes"?
Deus sempre nos atende os pedidos.
Mas é claro que esse atendimento só ocorre conforme a nossa real necessidade e
merecimento, e na medida em que nossos pedidos não visem à satisfação de meros
caprichos ou futilidades.
"Desta máxima, fora ilógico
deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não
acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós,
o que é para nosso bem."
2 - Afinal, se tudo no Universo
obedece a leis eternas, como poderão nossas súplicas alterar-lhe o sentido?
É que, quando somos atendidos em
nossos pedidos, não significa que Deus alterou o curso de suas leis, que são
imutáveis, mas que, dentro da flexibilidade das mesmas, apraz a Ele acatar
nossas súplicas, desde que as considere merecidas. Com isso, a Providência nos
dá uma demonstração de respeito à nossa iniciativa e livre arbítrio.
Se Deus nunca aquiescesse aos
pedidos, estaria Ele nos tolhendo o livre arbítrio e iniciativa.
"Há, pois, devidos à sua
iniciativa (do homem), sucessos que forçosamente escapam à fatalidade e que não
quebram a harmonia das leis universais."
3 - Como age a Providência Divina
em relação aos nossos pedidos?
Deus nos atende em todas as
nossas necessidades. Porém, nem sempre isso coincide com aquilo que pedimos,
uma vez que somos atendidos conforme nossas carências reais e não segundo o que
desejamos.
"Em geral, o homem apenas vê
o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a felicidade futura, Deus
o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma
operação que lhe trará a cura."
Conclusão do Estudo:
Deus sempre atende os pedidos.
Esse atendimento é conforme a nossa real necessidade e merecimento, e na medida
em que nossos pedidos não visem à satisfação de meros caprichos ou futilidades.
A ajuda divina sempre ocorre para a criatura que sabe ajudar-se a si mesma.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVII –
Pedi e Obtereis – Itens de 1 a 4.
Qualidade da
prece.
1. E quando orais, não haveis de
ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé na sinagoga, e nos cantos das
ruas, para serem vistos dos homens; em verdade vos digo, que eles já receberam
a sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechada à
porta, ora a teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê o que se passa em secreto,
te dará a paga. E quando orais não faleis muito, como os gentios; pois cuidam
que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não queiras portanto parecer-vos com
eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, primeiro que vós lho
peçais. (Mateus, VI: 5-8)
2.
Mas quando vos puserdes em oração, se tendes alguma coisa contra alguém,
perdoai-lha, para que também vosso Pai, que está nos Céus, vos perdoe os vossos
pecados. Porque se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos
não há de perdoar vossos pecados. (Marcos, XI: 25-26)
3. E propôs também esta parábola a uns que
confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros: Subiram
dois homens ao templo, a fazer oração: um fariseu e outro publicano. O fariseu,
posto em pé, orava lá no seu interior desta forma: Graças te dou, meu Deus,
porque não sou como os mais homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns
adúlteros, como é também este publicano; jejuo duas vezes na semana, pago o
dízimo de tudo o que tenho. O publicano, pelo contrário, posto lá de longe, não
ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu
Deus, sê propício a mim, pecador. Digo-vos que este voltou justificado para a
sua casa, e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo o
que se humilha será exaltado. (Lucas, XVIII: 9-14).
4. As condições da prece foram claramente
definidas por Jesus. Quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência,
mas orai em secreto. Não fingi orar demasiado, porque não será pelas muitas
palavras que serão atendidos, mas pela sinceridade delas. Antes de orar, se
tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-a, porque a prece não poderia
ser agradável a Deus, se não partisse de um coração purificado de todo
sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano,
e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, e não as vossas
qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que existe de mal em
vós. (Ver cap. X, nº 7 e 8)
REFLEXÕES: Jesus
define claramente quais as qualidades da prece, conforme nos esclarece Kardec
no item 4:
1. Orai em
secreto - O local físico não tem grande importância, porém o nosso recolhimento
e a nossa postura sim, devemos estar sempre atentos para as nossas atitudes.
Muitas vezes em lugares públicos, podemos orar sem que ninguém saiba que
estamos orando, pois o poder da prece está no pensamento, está em sua pureza,
na sua sinceridade e na humildade daquele que ora.
2.Não fingir
orar em demasia, porque não será pela quantidade de palavras que seremos
atendidos e nem pelas palavras difíceis que proferimos, Os Espíritos sempre nos
dizem que "A forma não é nada, o pensamento é tudo”
3. Seremos
atendidos pela nossa sinceridade e por nosso merecimento.
4. Antes de
orar, perdoai, a prece que elevamos a Deus tem que emanar sempre de um coração
disposto a perdoar, pois, do contrário, a nossa súplica não sairá do ambiente,
onde está sendo proferida.
5. Orar com
humildade, como o Publicano - É necessário que tenhamos sentimentos de pureza e
amor ao próximo. A qualidade da prece, segundo os ensinamentos de Jesus,
decorrem de certas virtudes que conquistamos através do nosso aprimoramento
espiritual: a humildade, a fé, a indulgência, o amor a Deus, ao próximo, e a
nós mesmos.
6. Não com
orgulho, como o fariseu - se a nossa prece for apenas proferida pelos lábios, e
os nossos corações estiverem cheios de orgulho, é óbvio que ela não atingirá os
seus objetivos.
7. Examinar os
nossos defeitos, não as nossas qualidades.
Devemos fazer uma análise consciencial, e vermos, em nós mesmos em
primeiro lugar, se não somos também portadores dos mesmos defeitos, que
julgamos encontrar em nosso semelhante.
8. E se nos compararmos aos outros, procuremos o
que há de mau em nós e não no outro. O julgamento apressado constitui um dos
grandes entraves à nossa evolução, pois o Mestre afirmou que seremos julgados
com o mesmo comportamento que empregarmos em relação ao nosso próximo.
Portanto, a
qualidade das nossas preces não se encontra na fórmula que estamos utilizando
para executá-las, mas no sentimento que impregnamos nelas. E fica aqui o
alerta... “o essencial não é orar muito, mas orar bem”, entendendo que para
isto devemos colocar a nossa intenção onde realmente esteja o nosso coração. Em
se tratando de qualidade da prece, "um único e bom sentimento vale mais
que mil palavras". Pensemos nisto. Lembrando sempre que onde estão os
nossos pensamentos ai estará o nosso coração. O poder da prece está no
pensamento, em sua pureza, sinceridade e na humildade daquele que ora, pois
quando ditada pelo coração alcança as esferas superiores e reconforta a alma
que tem sede de paz. Portanto, a qualidade das nossas preces não se encontra na
fórmula que estamos utilizando para executá-las. E fica aqui o alerta... “O essencial não é orar muito, mas orar bem”,
entendendo que para isto devemos colocar a nossa intenção onde realmente esteja
o nosso coração. Em se tratando de qualidade da prece, "um único e bom
sentimento vale mais que mil palavras".
Questões para reflexão:
1 - Por que
devemos orar em secreto?
Porque a oração,
sendo uma ligação da criatura com o Criador, é a este que deve se reportar,
sendo desnecessário ser feita à vista dos homens.
"Quando
orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram em pé nas
sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens."
2 - Por que o
publicano teve mais mérito em sua oração?
Porque este, ao
contrário do fariseu, reconheceu-se pecador e demonstrou humildade perante
Deus.
"... Aquele
que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado."
3 - Como podemos
enumerar as qualidades da prece?
a) a prece deve
ser feita em secreto, isto é, não devemos nos colocar em evidência, quando
oramos;
b) não é pela
multiplicidade das palavras que seremos atendidos, mas sim pela sinceridade
delas;
c) a prece deve
partir de um coração puro, ou seja, antes de orar devemos perdoar, se tivermos
qualquer coisas contra alguém;
d) devemos orar
com humildade, e não com orgulho.
"... A
prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de
todo sentimento contrário à caridade."
Conclusão do
Estudo:
Orar bem não é
orar muito; é saber posicionar-se de forma a que a prece chegue até o Pai e
dele se possa receber permanentemente as dádivas. Para isso, é necessário que,
ao orar, estejamos com o coração livre de qualquer mágoa ou rancor contra o
próximo e que nos coloquemos humildes e submissos perante Deus.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí
gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens de 7 a 10.
Mediunidade
gratuita.
7. Os
médiuns modernos, pois os apóstolos também tinham mediunidade, receberam igualmente de Deus um dom gratuito,
que é o de serem intérpretes dos Espíritos, para instruírem os homens, para
lhes ensinarem o caminho do bem e levá-los à fé, e não para lhes venderem
palavras que não lhes pertencem, pois que não se originam nas suas ideias, nem
nas suas pesquisas, nem em qualquer outra espécie de seu trabalho pessoal. Deus
deseja que a luz atinja a todos, e não que o mais pobre seja deserdado e possa
dizer: Não tenho fé, porque não pude pagar; não tive a consolação de receber o
estímulo e o testemunho de afeição daqueles por quem choro, pois sou pobre. Eis
porque a mediunidade não é um privilégio, e se encontra por toda parte. Fazê-la
pagar, seria portanto desviá-la de sua finalidade providencial.
8. Qualquer
pessoa que conheça as condições em que os bons Espíritos se comunicam, sua
repulsa a todas as formas de interesse egoísta, e saiba como pouca coisa basta
para afastá-los, jamais poderá admitir que Espíritos Superiores estejam à
disposição do primeiro que os convocar a tanto por sessão. O simples bom senso
repele semelhante coisa. Não seria ainda uma profanação, evocar por dinheiro os
seres que respeitamos ou que nos são caros? Não há dúvida que podemos obter manifestações
dessa maneira, mas quem poderia garantir-lhes a sinceridade? Os Espíritos
levianos, mentirosos e espertos, e toda a turba de Espíritos inferiores, muito
pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a
responder ao que lhes perguntarem, sem qualquer preocupação com a verdade.
Aquele, pois, que deseja comunicações sérias, deve primeiro procurá-las com
seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os
seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se conseguir a boa
vontade dos bons Espíritos é a que decorre da humildade, do devotamento e da
abnegação: o mais absoluto desinteresse moral e material.
9. Ao
lado da questão moral, apresenta-se uma consideração de ordem positiva, não
menos importante, que se refere à própria natureza da faculdade. A mediunidade
séria não pode ser e não será jamais uma profissão, não somente porque isso a
desacreditaria no plano moral, colocando os médiuns na mesma posição dos
ledores da sorte, mas porque existe ainda uma dificuldade material para isso: é
que se trata de uma faculdade essencialmente instável, fugida, variável, com a
qual ninguém pode contar na certa. Ela seria, portanto, para o seu explorador,
um campo inteiramente incerto, que poderia escapar-lhe no momento mais
necessário. Bem diversa é uma capacidade adquirida pelo estudo e pelo trabalho,
e que, por isso mesmo, torna-se uma verdadeira propriedade, da qual é
naturalmente lícito tirar proveito. A mediunidade, porém, não é nem uma arte
nem uma habilidade, e por isso não pode ser profissionalizada. Ela só existe
graças ao concurso dos Espíritos; se estes faltarem, não há mediunidade, pois
embora a aptidão possa subsistir, o exercício se torna impossível. Não há,
portanto, um único médium no mundo, que possa garantir a obtenção de um
fenômeno espírita em determinado momento. Explorar a mediunidade, como se vê, é
querer dispor de uma coisa que realmente não se possui. Afirmar o contrário é
enganar os que pagam. Mas há mais, porque não é de si mesmo, que se dispõe, e
sim dos Espíritos, das almas dos mortos, cujo concurso é posto à venda. Este
pensamento repugna instintivamente. Foi esse tráfico, degenerado em abuso,
explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, a credulidade e a superstição,
que provocou a proibição de Moisés. O Espiritismo moderno, compreendendo o
aspecto sério do assunto, lançou o descrédito sobre essa exploração, e elevou a
mediunidade à categoria de missão. (Ver Livro dos Médiuns, cap. XXVIII, e Céu e
Inferno, cap. XII).
10. A
mediunidade é uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente,
religiosamente. E se há uma espécie de mediunidade que requer esta condição de
maneira ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. O médico oferece o
resultado dos seus estudos, feitos ao peso de sacrifícios geralmente penosos; o
magnetizador, o seu próprio fluído, e frequentemente a sua própria saúde: eles
podem estipular um preço para isso. O médium curador transmite o fluído salutar
dos bons Espíritos, e não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os Apóstolos,
embora pobres, não cobravam as curas que operavam.
Que
aquele, pois, que não tem do que viver, procure outros recursos que não os da
mediunidade; e que não lhe consagre, se necessário, senão o tempo de que
materialmente possa dispor. Os Espíritos levarão em conta o seu devotamento e
os seus sacrifícios, enquanto se afastarão dos que pretendem fazer da
mediunidade um meio de subir na vida.
Um dos pontos de
honra da Doutrina Espírita e do autêntico Movimento Espírita é o zelo
ético-moral perante a Mediunidade. A proposta do Espiritismo é a “Mediunidade
com Jesus”, isto é, o emprego de nossas faculdades paranormais, mediúnicas e
anímicas, da forma mais elevada espiritualmente que possamos alcançar. Assim
sendo, é inevitável lembrar-se do “Daí de graça o que de graça recebestes”, o
qual foi proferido pelo Mestre Nazareno e que dá nome a um importantíssimo
capítulo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. A gratuidade de todo e
qualquer trabalho de cunho religioso-espiritual é pré-requisito para toda e
qualquer atividade espírita, sob pena da respectiva tarefa não fazer justiça ao
rótulo espírita, isto é, ser um uso indevido do termo espírita. O Espiritismo
não chancela o profissionalismo religioso assim como qualquer tipo de
associação entre atividades de origem espiritual e ganhos materiais pessoais.
Chico Xavier, nosso grande exemplo de “Mediunidade com Jesus” e rigorosa
referência de mediunidade gratuita, doava, inclusive, os presentes recebidos
para que de maneira indireta e sutil, ele não recebesse qualquer vantagem
material em função de sua atividade mediúnica, mesmo que de forma
não-intencional por parte dos confrades e amigos em geral. Nós, espíritas,
devemos ter grande responsabilidade perante tal posicionamento, que constitui
aspecto insofismável da Doutrina Espírita e que, longe de representar grande
mérito por parte do médium, não é mais do que simples obrigação de qualquer
pessoa minimamente esclarecida quanto às verdades espirituais.
Grandes
fracassos espirituais dentro e fora da tarefa mediúnica têm sido observados ao
serem perpetrados por indivíduos que foram seduzidos pelo velho e surrado vício
espiritual de buscar vantagens materiais, inclusive ascensão social, em tarefas
religiosas. Desde priscas eras, esse tipo de queda espiritual vem acontecendo
em todas as religiões e, de fato, continua ocorrendo nos dias atuais.
Entretanto, no Espiritismo, o qual representa o Cristianismo Redivivo e o
Consolador prometido por Jesus, quedas semelhantes ganham contornos ainda mais
dramáticos, em função do maior nível de esclarecimento e compromisso de seus
adeptos para com a verdadeira religiosidade. A Doutrina Espírita é tão clara a
esse respeito que não há nenhuma margem de ambiguidade ou dupla interpretação.
Assim, especialmente nós, que nos declaramos espíritas, devemos ter redobrada
atenção para essa questão, pois seremos duramente cobrados pela Lei de Deus, em
nossa própria consciência, se cometermos erros nessa área. Portanto, nossa
vigilância espiritual e nosso desprendimento material, que já são metas
comportamentais do Espírita em todas as áreas da vida, devem ser redobrados em
nossas atividades vinculadas ao trabalho religioso, sobretudo no Movimento
Espírita. Diz-nos o Apóstolo Paulo, “Nada trouxemos para este mundo e manifesto
é que nada podemos levar dele” e, em outra passagem “E cada um dará conta de si
mesmo a Deus”. O Apóstolo dos Gentios deixa evidente que, em primeiro lugar, o
apego excessivo aos bens materiais é erro primário para qualquer pessoa que
busca a verdadeira espiritualidade e, em segundo lugar, não adianta nos
enganarmos, pois prestaremos contas de todas as oportunidades evolutivas que
desfrutamos e da produtividade no bem que geramos com as mesmas. Neste
contexto, a comercialização das tarefas espirituais será uma mancha
consciencial de difícil resolução. De fato, o Mestre Jesus é ainda mais
contundente ao dizer “Guardai-vos dos escribas e fariseus que a pretexto de
longas preces devoram a casa das viúvas”. Para concluir, poderíamos lembrar
igualmente do Apóstolo Tiago que dissera em sua carta “Porque a verdadeira
religião é essa: visitar os órfãos e as viúvas em suas necessidades”, denotando
que, do ponto de vista material, devemos nos aproximar das tarefas religiosas
para contribuir com o pouco que possamos oferecer e não para tirarmos vantagens
dos trabalhos, como o próprio Apóstolo Paulo assevera: “fazendo com as mãos o
que for bom, para ter o que repartir com aquele que passa por necessidades”.
Esforcemo-nos
para que nossas atividades espirituais e doutrinárias sejam sinceras, humildes
e completamente desinteressadas de quaisquer vantagens de ordem material, pois
Deus conhece “o coração do homem” e “sabe o que se passa em segredo”. Desta
forma, cuidemos de nossas intenções mais profundas, procurando elevar nosso
patamar ético-moral a fim de não nos violentarmos através de agressões à
própria consciência e, por consequência, à Lei de Deus.
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí
gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 5 e 6.
Mercadores
expulsos do templo
5. Chegaram
pois a Jerusalém. E havendo entrado no templo, começou a lançar fora os que
vendiam e compravam no templo; e derribou as mesas dos banqueiros, e as
cadeiras dos que vendiam pombas; e não consentia que qualquer transportasse
móvel algum pelo templo. E ele os ensinava, dizendo-lhes: Porventura não está
escrito que a minha casa será chamada casa de oração entre todas as gentes? E
vós tendes feito dela covil de ladrões. O que ouvindo os príncipes dos
sacerdotes, e os escribas, andavam excogitando de que modo o haviam de perder,
porque todo o povo admirava a sua doutrina, e tinham medo dele. (Marcos, XI:
15-18: e semelhante em Mateus, XXI: 12-13).
6. Jesus
expulsou os vendilhões do templo, e assim condenou o tráfico das coisas santas,
sob qualquer forma que seja. Deus não vende a sua benção, nem o seu perdão, nem
a entrada no Reino dos Céus. O homem não tem, portanto, o direito de cobrar
nada disso.
Sempre que se
estuda o evangelho de Jesus nota-se um certo desconforto quando se menciona a
passagem em que Jesus expulsa os vendilhões do templo. Jesus foi a Jerusalém na
época da Páscoa judaica e havia inúmeros mercadores no templo, vendendo seus
animais para os sacrifícios que eram oferecidos a Deus. Os quatro evangelhos
relatam o fato. Entendemos que na passagem evangélica não há um comportamento
agressivo por parte de Jesus; comportamento agressivo é interpretação dada por
quem está lendo a passagem. O fato era que o Templo de Jerusalém estava
perdendo seu aspecto religioso para dar lugar ao comércio e a corrupção do povo
e dos sacerdotes locais, justificando assim uma postura mais enérgica de Jesus
para combater tais desvios. O templo possuía uma guarda própria, então eles
tinham centenas de guardas. Além disso, tinha, ao lado do templo, a Torre
Antônia, que era uma fortaleza militar romana. Se Jesus chegasse ao templo
enfurecido, chutando tudo, batendo nas pessoas, em 3 segundos ele estaria
preso. Então, historicamente é impossível que Jesus tenha saído chutando e
batendo em animais e nas pessoas. Se o Mestre não tivesse adotado este
posicionamento, talvez a essência espiritual do templo se perderia por
completo. Certamente Cristo não adotou uma conduta agressiva, mas manteve-se
firme em sua atitude, para que as pessoas compreendessem a gravidade da
situação. Podemos considerar esta passagem, portanto, como uma encenação
literária mimica, muito utilizada na época por Jesus para transmitir suas
mensagens à mente humana ainda limitada. Aliás, esse tipo de comunicação
gestual era uma característica dos profetas da época. Recordemo-nos das
parábolas, outro gênero literário. As parábolas evocam cenas do dia a dia e há
a visualização delas na mente à medida que são lidas ou ouvidas. Embora não
tenham sido encenadas, são visualizadas na imaginação. Se Jesus tivesse uma
virtude a menos dos Espíritos Puros, Ele deixaria de pertencer à Ordem Primeira
dos Espíritos Puros. Se Jesus é um espírito puro, consequentemente não
manifestaria paixões inferiores como a raiva e a agressividade, nem mesmo
encarnado, pois espíritos pertencentes a essa ordem, já expurgaram de seu
íntimo este tipo de sentimento que é uma característica humana. Ele ensinou que
fossemos "brandos e pacíficos" para com os nossos semelhantes. E a
atitude enérgica de Jesus no templo é a mesma atitude enérgica que devemos ter
com os nossos vícios morais, com nossos desejos aviltantes e com a preguiça,
que não nascem do corpo, mas que se manifestam através dele.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí
gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 3 e 4.
Preces pagas
3. Estando
porém ouvindo-o todo o povo, disse Jesus a seus discípulos: Guardai-vos dos
escribas, que querem andar com roupas talares, e gostam de ser saudados nas
praças, e das primeiras cadeiras nas sinagogas, e dos primeiros assentos nos
banquetes; que devoram as casas das viúvas, fingindo largas orações. Estes tais
receberão maior condenação. (Lucas, XX: 45-47, e semelhantes em Marcos, XIII:
38-40; Mateus, XXIII: 14).
4. Disse
ainda Jesus: Não façais que as vossas preces sejam pagas; não façais como os
escribas, que “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas”, o que
quer dizer: apossam-se de suas fortunas. A prece é um ato de caridade, um impulso
do coração; fazer pagar aquelas que dirigimos a Deus pelos outros, é nos
transformamos em intermediários assalariados. A prece se transforma, então,
numa fórmula que é cobrada segundo o seu tamanho. Ora, das duas, uma: Deus mede
ou não mede as suas graças pelo número das palavras; e se forem necessárias
muitas, como dizer apenas algumas, ou quase nada, por aquele que não pode
pagar? Isso é uma falta de caridade. E se uma palavra é suficiente, as demais
são inúteis. Então, como cobrá-las? É uma prevaricação.
Deus
não vende os seus benefícios, mas concede-os. Como, pois, aquele que tem sequer
é o seu distribuidor, e que não pode garantir a sua obtenção, cobra um pedido
que talvez nem seja atendido? Deus não pode subordinar um ato de clemência, de
bondade ou de justiça, que se solicita de sua misericórdia, a um determinado
pagamento; mesmo porque, se o fizesse, o pagamento não sendo efetuado, ou sendo
insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso.
A razão, o bom senso, a lógica, dizem-nos que Deus, a perfeição absoluta, não
pode delegar a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preços para a sua
justiça. Pois a justiça de Deus é como o Sol, que se distribui para todos, para
o pobre como para o rico. Se considerarmos imoral traficar com as graças de um
soberano terreno, seria lícito vender as do Soberano do Universo?
As
preces pagas têm ainda outro inconveniente; é que aquele que as compra se
julga, no mais das vezes, dispensado de orar por si mesmo, pois se considera
livre dessa obrigação, desde que deu o seu dinheiro. Sabemos que os Espíritos
são tocados pelo fervor do pensamento dos que se interessam por eles. Mas qual
pode ser o fervor daquele que paga um terceiro para orar por ele? E qual o fervor
desse terceiro, quando delega o mandato a outro, e este a outro, e assim por
diante? Não é isso reduzir a eficácia da prece ao valor da moeda corrente?
Hoje é prática comum, e não falta
quem garanta: ”campanhas,” “correntes de fé,” “vigílias e fogueiras santas”,
semanas disso e daquilo que bons rendimentos alavanca. Há quem prometa vida nova, quem prometa a
“salvação”, a paz e a felicidade, aqui mesmo neste chão, mais cada prece tem
seu preço enganam o povo cristão. Nas
escrituras está o alerta, contra estas práticas confusas, de homens que com
longas preces, “devoram a casa da viúva”.
“Guardai vos dos
escribas que gostam
de andar com
vestes compridas.” Jesus (MARCOS, 12: 38)
As letras do mundo sempre
estiveram cheias de “escribas que gostam de andar com vestes compridas”. Jesus
referia-se não só aos intelectuais ambiciosos, mas também aos escritores
excêntricos que, a pretexto de novidade, envenenam os espíritos com as suas concepções
doentias, oriundas da excessiva preocupação de originalidade.
Pois é, analisando as palavras do
Cristo, achamos inicialmente que Ele quis dizer para os apóstolos para que não
cobrassem nada daquilo que viessem a executar, porque a prece vem a ser um ato
de caridade e um êxtase do coração. Orar representando alguém e cobrar algo vem
a se transformar em um assalariado. A prece feita dessa maneira fica sendo uma
formula cujo comprimento se proporciona à soma que custe. Deus não mede a prece
pela quantidade de palavras e nem pela soma paga. Perguntamos como fica para
aquele que não pode pagar? Isto será falta de caridade, onde apenas uma palavra
somente basta Deus me ajude, porque dizê-las em excesso e cobrá-las?
Isto realmente esta errado,
porque Deus não vende seus benefícios, e sendo assim qual a garantia que aquele
que a vende da às pessoas que alcançarão seus pedidos?
Se Deus levasse em consideração a
quantia paga, onde estaria a sua bondade, a sua justiça e onde estaria a sua
misericórdia? Deus não delega poderes a criaturas imperfeitas, principalmente
para pessoas que vendem a sua palavra e leis. A justiça de Deus é para todos,
seja quem for. A justiça de Deus é como o sol: ela é para todos, para o pobre
como para o rico, não dependendo de qualquer soma de dinheiro. Ele não
estabelece preço algum. Ainda quanto às preces pagas, ela acaba ferindo a
pessoa que paga, porque ela se considera isenta por ter dado dinheiro. Pagar
significa reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso. Além
disso, as preces pagas podem levar aquele que as compra a crer que ele próprio
está dispensado de orar. Os Espíritos sentem-se tocados pelas demonstrações de
amor contidas no pensamento que se dirige a eles, ficando evidente a inutilidade
de encarregar um terceiro de orar sob pagamento. Não é a quantidade ou a beleza
das palavras que selecionam as preces verdadeiras, mas o sentimento de amor e
fé daquele que ora, muitas vezes através de um simples gesto ou pensamento, em
qualquer lugar onde se encontre.
Entendo que a Terra está precisando
de novos enviados de Deus, porque aqui esta virando comercio a palavra Dele.
Veja, no passado, Marcos conta no capitulo XI, versículo de 15 a 18, e Mateus
no capitulo XXI, versículo de 12 a 13, que Jesus expulsou do templo os
mercadores, condenando assim o trafico das coisas santas. Fez isto baseado
naquilo que dissemos que Deus não vende a sua benção, nem o seu perdão e nem a
entrada no Seu Reino, onde o homem não tem o direito de estipular preços.
Portanto irmãos, vamos tomar
cuidado com as preces pagas, elas diante de Deus não tem valor e sim a nossa
feita com humildade, pedindo e sabendo agradecer.
A PRECE É UM ATO DE CARIDADE, UM
IMPULSO DO CORAÇÃO. PAGAR PELO QUE SE DIRIGE A DEUS POR OUTREM, É TRANSFORMAR-SE
EM INTERMEDIÁRIO ASSALARIADO. NÃO É NECESSÁRIO MUITAS PALAVRAS. COBRAR É FALTA DE
CARIDADE. O EXCESSO É INÚTIL. POUCAS E SINCERAS PALAVRAS QUE TOCAM OS BONS
ESPÍRITOS. DITAS PELA PRÓPRIA PESSOA QUE ESTÁ PAGANDO TAL PRECE. DEUS NÃO VENDE
OS BENEFÍCIOS QUE CONCEDE. TENHA FÉ. TUDO QUE FOR MELHOR PARA A PESSOA DEUS DÁ
UM JEITO DE CHEGAR ATÉ O MESMO.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXVI – Daí
gratuitamente o que gratuitamente recebestes – Itens 1 e 2.
Dom de curar
1 – Curai
os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; daí
de graça o que de graça recebestes. (Mateus, X: 8).
2 – “Daí
de graça o que de graça recebestes”, disse Jesus aos seus discípulos, e por
esse preceito estabelece que não se deve cobrar aquilo por que nada se pagou.
Ora, o que eles haviam recebido de graça era a faculdade de curar os doentes e
de expulsar os demônios, ou seja, os maus Espíritos. Esse dom lhe fora dado
gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar a propagação
da fé. Ele lhes diz que não o transformem em objeto de comércio ou de
especulação, nem em meio de vida.
Como podemos
entender o que Jesus quis dizer quando falou "Dai de graça o que de graça
recebestes"?
Primeiramente
devemos entender do que ele estava falando. O que recebemos de graça? Nossos
talentos e nossa inteligência não caem do céu. Deus não distribui inteligência,
ou aptidão para a música. Isso é conquista do espírito. Se não nesta, em outras
vidas. Mas seria injusto para com aqueles que se esforçam em conseguir algo, se
Deus distribuísse assim estes valores.
O que é então,
que temos nesse mundo mas não é nosso ? Primeiramente nosso corpo. Ele é um
empréstimo de Deus, que nos permite habita-lo para podermos aprender. Depois
temos os bens materiais, como dinheiro de família.
Vamos falar
antes do corpo físico. Ele é um bem de imenso valor. Saibam todos que, a não
ser em casos muito extremos, todos recebemos nosso corpo em perfeito estado, e
que se sofremos com doenças, nada mais estamos fazendo do que colhendo as
frutas amargas que semeamos antes.
Abusos sem fim
são cometidos com nossos corpos. Comemos demais, dormimos muito pouco, bebemos,
fumamos, agredimos o pobre do corpo de todas as maneiras. Nervosismo em
excesso, trabalho fatigante unicamente por ambição ao poder e dinheiro,
divertimentos pouco recomendados, tudo isso contribui para minar nossa saúde.
Quem pensa na
saúde antes de comer uma enorme feijoada ? Não quero dizer com isso que não se
deve comer feijoadas. Mas todos sabemos que é um prato pesado, e no entanto não
nos vemos satisfeitos até termos limpado completamente as panelas. Isso também
vale para os divertimentos. Ninguém é proibido de se divertir. Muito pelo
contrário, isso é saudável e recomendável. No entanto, quando estamos lá, no
bem bom, nunca nos lembramos de nos limitar para evitar desgastes
desnecessários ao nosso corpo.
Que mais
tínhamos de graça? O dinheiro de família? Pouco preciso dizer aqui o que isso
significa para a maioria das pessoas. Dissipação, excessos, orgulho, egoísmo, e
muito mais.
E que mais?
Existe algo de muito importante, uma faculdade que nos permite trabalhar
intimamente dos grandes da Espiritualidade. Estou falando da mediunidade. Esta
faculdade não é privilégio de ninguém, muito pelo contrário, ela existe em
todas as classes sociais, em todas as raças e credos. Poucos imaginam que um
padre fazendo um sermão ou um pastor num discurso inflamado podem ser médiuns
em ação. Eles podem não sabe-lo, ou podem chamar isso de inspiração do Espírito
Santo, ou qualquer outra coisa.
De qualquer
forma, é algo que recebemos de graça, como nossos corpos, e que tem um destino
específico. Deus quer que a luz chegue a todos. É para isso que ele tem feito
uso dos médiuns, trazendo sua palavra consoladora. Antes eram chamados de
adivinhos, magos, pitonisas, e um monte de outras coisas. Hoje sabemos que são
a ponte que nos liga ao outro lado da vida. O Irmão X tem uma pequena estória,
em que ele conta um caso onde uma turma de desajustados, procurando fazer alvoroço,
destruiu as lâmpadas de um recinto. Lembra-nos que a energia elétrica que as
iluminava continua lá, intocada. Ele compara as lâmpadas aos médiuns, e a
energia elétrica à espiritualidade superior. Muitas vezes as lâmpadas se
quebram, ou se apagam por si, mas a bondade divina nunca cessa.
Nesta posição,
como intermediário, o médium tem o sagrado dever de utilizar esta faculdade em
proveito do próximo. É na verdade uma grande oportunidade que ele recebe, pois
tem a possibilidade direta de trabalhar ajudando.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV –
Buscai e achareis – Não vos afadigueis pela posse do ouro – Itens de 9 a 11.
9 – Não
possuais ouro nem prata, nem leveis dinheiro nas vossas cintas; nem alforje
para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão, porque digno é o
trabalhador do seu alimento.
10 – E em
qualquer cidade ou aldeia que entrardes, informai-vos de quem há nela digno, e
ficai ali até que vos retireis. E ao entrardes na casa, saudai-a, dizendo: Paz
seja nesta casa. E se aquela casa na realidade o merecer, virá sobre ela a
vossa paz; e se não o merecer, tornará para vós a vossa paz. Sucedendo não vos
querer alguém em casa, nem ouvir o que dizeis, ao sair para fora da casa, ou da
cidade, sacudi o pó de vossos pés. Em verdade vos afirmo isto: menos rigor
experimentará no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra, do que aquela
cidade. (Mateus, X: 9-15).
11 – Estas
palavras, que Jesus dirigia aos seus apóstolos, ao enviá-los anunciar a boa
nova pela primeira vez, nada tinham de estranho naquela época. Estavam de
acordo com os costumes patriarcais do Oriente, onde o viajor era sempre bem
recebido. Mas então eles eram raros. Entre os povos modernos, o aumento das
viagens teria de criar novos costumes. Só encontramos agora os do tempo antigo
nas regiões distantes, onde o tráfico intenso ainda não penetrou. Se Jesus
voltasse hoje a Terra, não poderia mais dizer aos seus apóstolos: Ponde-vos a
caminho sem provisões.
Juntamente com
o seu sentido próprio, essas palavras encerram um sentido moral bastante
profundo. Jesus ensinava, assim, aos seus discípulos, a se confiarem à
Providência. Além, desde de que nada possuíam, eles não podiam tentar a cupidez
dos que os recebiam. Era um meio pelo qual distinguiram os caridosos dos
egoístas, e por isso lhes disse: “Informai-vos de quem é digno de vos receber”,
ou seja, de quem é suficientemente humano para abrigar o viajor que nada pode
pagar, porquanto esses são dignos de ouvir as vossas palavras e é pela sua
caridade que os reconhecereis.
Quanto aos que
nem sequer os quisessem receber, nem ouvir, o recomendou aos apóstolos que os
amaldiçoassem? Ou recomendou que se impusessem a eles, e usassem de violência,
para os constranger a se converterem?: Não, mas que se retirassem pura e
simplesmente, à procura de gente de boa vontade.
Assim diz hoje
o Espiritismo aos seus adeptos: Não violenteis nenhuma consciência; não forceis
ninguém a deixar a sua crença para adotar a vossa; não lanceis o anátema sobre
os que não pensam como vós. Acolhei os que vos procuram e deixem em paz os que
vos repelem. Lembrai-vos das palavras do Cristo: antigamente o céu era tomado
por violência, mas hoje o será pela caridade e a doçura. (Ver cap. IV, nº 10 e
11).
REFLEXÃO:
Nestas passagens evangélicas, Jesus está falando para
seus apóstolos que iam pregar a Boa Nova. Jesus sempre usou exemplos da vida
cotidiana para que as pessoas pudessem entender o que verdadeiramente ele
queria explicar.
Quando o Mestre Jesus deu estas instruções, não possuais
ouro e nem leveis dinheiro; as suas palavras não tinham por objetivo instruir
os homens a negarem o trabalho e a não se preocuparem com a previdência, porque
trabalhar para o progresso e prevenir-se para os dias difíceis fazem parte da
condição humana. Esses cuidados são essenciais para a existência material na
vida terrena. Hoje a maioria das pessoas vive nas áreas urbanas muito próximas
umas das outras. Naquele tempo a solidariedade compensava as enormes distâncias
e o viajante era bem recebido por onde passava. Havia nas propriedades da
época, abrigos para estes peregrinos. Se fosse hoje, Jesus não poderia dizer
para não se precaverem, pois a vida atual é diferente. Podemos entender que há
o sentido próprio e o sentido moral, nas instruções de Jesus e em hipótese
nenhuma Jesus condenou as atividades materiais, pois Ele mesmo sempre
trabalhou. Lembremos que toda atividade útil é considerada como trabalho e cada
homem de bem que esteja atendendo corretamente as exigências que a vida lhe
faz, através de atividades enobrecedoras, seja no lar ou noutro setor da
produção humana é, mesmo sem que o saiba, sem ter consciência disso, um
mensageiro de realizações atuando sob o amparo da providência divina. Quem de
nós se esforce para produzir, que procura ser útil na medida de suas
possibilidades, mesmo que não esteja vinculado a instituições formais, é um
trabalhador. Desde que estas atividades materiais não comprometam o próprio
homem ou ao seu semelhante diante da moral, esta atividade é um trabalho digno.
E digno é o trabalhador do seu salário; logo não precisa perder a serenidade na
jornada terrena. Pois Deus, nosso Pai, nunca deixa ninguém ao abandono. Antes
de tudo deve manter a confiança que as suas necessidades sempre estão sendo
avaliadas pelos Benfeitores de Jesus, tanto no que se refere ao sustento físico
como no que for preciso para progredir em sua caminhada espiritual. Desta forma
as palavras de Jesus têm por objetivo mostrar que a Providência divina assegura
ao homem o quê ele realmente necessita para o avanço de sua alma, na jornada
evolutiva do Espírito imortal. Que as suas necessidades materiais são
satisfeitas dentro de um limite sabiamente coordenado pela mão superior que
guia a senda humana. E por mais que o homem se impaciente não poderá se impor
aos desígnios superiores. Isto significa que todos devemos nos esforçar para
progredir ao máximo, dentro das leis divinas que nos asseguram hoje uma nova
oportunidade de plantar para a felicidade com resignação, serenidade e
confiança. Além disso, Jesus provou que não é necessário ter uma posição social
elevada para a prática do bem. Podemos imaginar em nossas meditações, como será
a grandeza do mundo, quando os homens se decidirem a dar apenas do que
realmente possuem para a construção do grande edifício da evolução universal.
Não cobiçando os recursos que ainda não são capazes de gerenciar sem correrem
os riscos de se desviarem do roteiro seguro. E ninguém é tão pobre que não
possa dar um sorriso, ou uma palavra de conforto, mesmo diante das situações
mais duras. Jesus também fala de como os discípulos devem se portar ao entrarem
na casa de uma pessoa. Levando a sua paz, a sua gentileza, gratidão pela acolhida.
E o que fazer se o dono da casa não os receber bem? Jesus recomendou que saíssem
batendo o pó de suas sandálias, que não devemos levar nada de lá nem as
lembranças tristes. Olha que interessante: Ele diz: - Se a casa for digna da
visita, a vossa paz virá sobre ela; se não o for, a vossa paz voltará para vós.
Quer dizer, o pensamento de paz se propaga e afeta os de dentro da casa. Esse pensamento pode ser retribuído ou não e o
pensamento volta para os apóstolos. Por isso que a Doutrina Espírita nos
orienta, segundo a lei de Causa e Efeito, que nós devemos nos esforçar por
querer o bem para as pessoas, pois que toda ação tem uma reação, e ninguém
gosta de reações desagradáveis.
Kardec, ao final dessa lição faz seu comentário dando o
fechamento do assunto:
" O mesmo diz hoje o Espiritismo a seus adeptos: não
violenteis nenhuma consciência; a ninguém forceis para que deixe a sua crença,
a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; acolhei
os que venham ter convosco e deixai tranquilos os que vos repelem Lembrai-vos
das palavras do Cristo. Outrora, o céu era tomado com violência hoje o é pela
brandura. (Cap. IV, nº 10 e 11.)
O bem que você faz de todo o coração e sem interesse vai
contando ao seu favor segundo a segundo e abatendo na falta a pagar. Assim Deus
premia o Espírito que se arrepende e deseja trocar o mal pelo Bem.
De fato, nós só precisamos dos princípios edificantes e
simples, contidos no evangelho de Jesus, e não importa se moramos num bairro
nobre, ou numa ‘aldeola’ sem nome como aquela em que Ele viveu; nem tampouco
serão necessários milhões de seguidores nas redes sociais, lembremos que Ele
tinha apenas alguns poucos amigos. Mas foi com esse material que o Cristo
iniciou. Desta forma quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir
nas boas obras, na verdade ainda se encontra muito distante da possibilidade de
ajudar a si próprio. Contanto estas recomendações de Jesus sejam antigas,
atualmente muitos estão inquietos, se cansando até a beira da exaustão,
esgotando-se, seja por causa das questões nos relacionamentos de ordem pessoal,
seja por causa das questões de natureza financeira, e nesta condição estão
sendo levados a examinar o intercâmbio entre os novos discípulos do evangelho e
os desencarnados, perguntando ansiosamente pelas possibilidades de o plano
espiritual dar colaboração e solução nas atividades humanas. Mas os benfeitores
espirituais não estimulam a cobiça de ninguém. Suas mensagens recordam sempre
que trabalhar e aprender constituem processos lógicos do aperfeiçoamento e da
ascensão. E nos fortalecem para que atendamos a esses imperativos da Lei, com
bastante paz, pois este é o desejo amoroso e puro de Jesus Cristo.
Questões para reflexão:
1 - Quis, aqui, Jesus, nos induzir à imprevidência?
Não. Recomendou-nos que não estivéssemos demasiadamente
preocupados e que guardássemos confiança na Providência Divina, além de
trabalharmos incessantemente, cumprindo o nosso dever.
A Providência Divina tudo provê, desde que cumpramos a
vontade do Pai.
2 - A quem se referia Jesus, ao dizer "aquele que
trabalha merece ser sustentado"?
Referiu-se àquele que cumpre a vontade de Deus, fazendo
da sua vida um ato permanente de reverência aos ditames do bem.
A sustentação de que aqui se fala não é somente aquela do
corpo físico, mas também, e principalmente, a do espírito, que dá a este
condições para evoluir.
3 - O que significa "sacudir o pó dos pés"?
Significa que em nós não deve persistir qualquer mágoa ou
rancor, se, porventura, não formos ouvidos em nossas prédicas, ou mal
compreendidos em nossas boas intenções. Significa dizer: "Sacuda as más
impressões e siga alegremente".
"Se alguém te não recebeu a boa-vontade, nem te
percebeu a boa intenção, por que a perda de tempo em sentenças
acusatórias?" (Emmanuel - Pão Nosso)
Conclusão do Estudo:
Há outros objetivos mais importantes do que a preocupação
pelos bens materiais. A disseminação da verdade e do bem, associada à nossa
confiança na Providência, é a forma de atingirmos esses objetivos. Devemos
exercê-la junto às pessoas de boa-vontade e que se mostrem receptivas ao nosso
conselho e boa intenção.
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV –
Buscai e achareis – Observai os pássaros do céu – Itens de 6 a 8.
6 – Não queirais entesourar para vós tesouros na
Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram
e roubam. Mas entesourai para vós tesouros no céu, onde não os consomem a
ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não o desenterram nem roubam. Porque
onde está o tesouro, aí está também o teu coração.
Portanto vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida,
que comereis, nem para o vosso corpo, que vestireis. Não é mais a alma do que a
comida, e o corpo mais do que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não
semeiam, nem segam, nem fazem provimentos nos celeiros; e, contudo, vosso Pai
celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas? E qual de
vós, discorrendo, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E por que andais
vós solícitos pelo vestido? Considerai como crescem os lírios do campo; eles
não trabalham nem fiam; digo-vos mais, que nem Salomão, em toda a sua glória,
se cobriu jamais como um destes. Pois se ao feno do campo, que hoje é e amanhã
é lançado no forno. Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
Não vos aflijais, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos
cobriremos? Porque os gentios é que se cansam por estas coisas. Porquanto vosso
Pai sabe que tendes necessidade de todas elas. Buscai primeiramente o Reino de
Deus e a sua justiça, e todas estas coisas se vos acrescentarão. E assim não
andeis inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã a si mesmo trará
seu cuidado; ao dia basta a sua própria aflição. (Mateus, 19-21, 25-34).
7 – Se tomássemos estas palavras ao pé da letra,
elas seriam a negação de toda a previdência e de todo o trabalho, e
conseqüentemente, de todo o progresso. Segundo esse princípio, o homem se
reduziria a um expectador passivo. Suas forças físicas e intelectuais não
seriam postas em atividade. Se essa tivesse sido a sua condição normal na
Terra, ele jamais sairia do estado primitivo, e se adotasse agora esse
princípio, não teria mais nada a fazer. É evidente que não poderia ter sido
esse o pensamento de Jesus, porque estaria em contradição com o que ele já
dissera em outras ocasiões, como no tocante às leis da natureza. Deus criou o
homem sem roupas e sem casa, mas deu-lhe a inteligência para produzi-las.(Ver
cap. XIV, nº 6 e cap. XXV, nº 2).
Não se pode ver nestas palavras, portanto, mais do que
uma alegoria poética da Providência, que jamais abandona os que nela confiam,
mas com a condição de que também se esforcem. É assim que, se nem sempre os
socorre com ajuda material, inspira-lhes os meios de saírem por si mesmos de
suas dificuldades. (Ver cap. XXVII, nº 8)
Deus conhece as nossas necessidades, e a elas provê,
conforme for necessário. Mas o homem, insaciável nos seus desejos, nem sempre
contenta-se com o que tem. O necessário não lhe basta, ele quer também o
supérfluo. É então que a Providência o entrega a si mesmo. Frequentemente ele
se torna infeliz por sua própria culpa, e por não haver atendido as
advertências da voz da consciência, e Deus o deixa sofrer as consequências,
para que isso lhe sirva de lição no futuro. (Ver cap. V, nº 4).
8 – A Terra produz o suficiente para alimentar a
todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar a sua produção,
segundo as leis de justiça, caridade e amor ao próximo. Quando a fraternidade
reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o que
sobrar para um determinado momento, suprirá a insuficiência momentânea de
outro, e todos terão o necessário. O rico, então, considerará a si mesmo como
um homem que possui grandes depósitos de sementes: se as distribuir, elas
produzirão ao cêntuplo, para ele e para os outros; mas, se as comer sozinho, se
as desperdiçar e deixar que se perca o excedente do que comeu, elas nada
produzirão, e todos ficarão em necessidade. Se as fechar no seu celeiro, os
insetos as devorarão. Eis por que Jesus ensinou: Não amontoeis tesouros na
Terra, pois são perecíveis, mas amontoai-os no céu, onde são eternos. Em outras
palavras: não deis mais importância aos bens materiais do que aos espirituais,
e aprendei a sacrificar os primeiros em favor dos segundos. (Ver cap. XVI, nº 7
e segs.).
Não é através de leis que se decretam a caridade e a
fraternidade. Se elas não estiverem no coração, o egoísmo as asfixiará sempre.
Fazê-las ali penetrar, é a tarefa do Espiritismo.
Se ao lermos a parábola “Olhai as aves do céu” a
interpretássemos ao pé da letra poderíamos crer que Jesus estaria a negar as
leis do trabalho e do progresso. Entretanto, conhecendo os ensinamentos do
Mestre concluímos que esta não poderia ter sido sua intenção.
Os espíritos superiores nos dizem que estas palavras
devem ser interpretadas como uma “poética alegoria da Providência, que não
abandona jamais aqueles que colocam nela sua confiança, mas quer que trabalhem
ao seu lado.”
Deus, nosso Pai, soberanamente bom e justo, sabe quais
são as nossas necessidades e a elas provê como for necessário, se muitas vezes
não nos acode com o auxilio material, está sempre a consolar os nossos
corações, a nos inspirar bons pensamentos, boas ideias, boas ações que nos
permitirão encontrar os meios para enfrentar as dificuldades.
Na mensagem 152, “Cuidados”, do livro Vinha de Luz, encontramos
a advertência que os preguiçosos, sempre interpretam as palavras de Jesus como
lhes sendo favoráveis e consequentemente exortando o ócio. Todavia, o mestre
nos alerta a vivermos confiantes, atentos em evoluirmos na sabedoria e no amor
para a obra perfeita de Deus. Cairbar Schutel, em sua obra A Gênese da Alma,
nos alerta para o fato de que o trabalho, como lei sábia da Providência Divina,
não é senão um instrumento de desenvolvimento da atividade e da inteligência.
Adverte-nos, ainda, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, que o objetivo da
vida na Terra é o aperfeiçoamento do Espírito.
“Aquele que assim compreende eleva-se, dignifica-se, e
livra dos entraves materiais, sobe às alturas inacessíveis do sofrimento,
alcançando a felicidade eterna. Aquele que assim não quer compreender
rebaixa-se, desmoraliza-se, e absorvido pelas más paixões, desce às voragens da
dor, para expiar e reparar as faltas, as transgressões das leis divinas.”
Jesus disse para que não nos inquietássemos com o dia de
amanhã porque o nosso pai sabe do que temos necessidade. Portanto, tenhamos fé,
tenhamos coragem para vencer as provas dessa vida. A vida não é mais que um
segundo frente à eternidade. Não nos esqueçamos que a Terra é escola abençoada
que nos permite resgatar os erros do passado, é aqui que venceremos as nossas
mazelas rumo à perfeição.
Disse-nos Lameira de Andrade, no livro Ideal Espírita,
psicografia de Chico Xavier que “A evolução é a transição do ser da condição de
escravo à condição de senhor do próprio destino. Desse modo, não te amofines
quanto às condições difíceis em que te encontras, na romagem terrestre, sejam
elas quais forem.”
Assim, cumpramos com o nosso dever de cristãos, trabalhemos
incessantemente por nossa reforma íntima, trabalhemos na obra do Senhor,
busquemos o reino de Deus e a sua justiça, que tudo o mais nos será dado por
acréscimo.
Questões para reflexão:
1 - O que são os tesouros da terra e os tesouros do céu?
Na terra, são os bens supérfluos, as riquezas
improdutivas, a posse egoísta; no céu, são as virtudes, a caridade prática, os
conhecimentos adquiridos, a ação no bem.
"Beleza física, poder temporário, propriedade e
fortuna amoedada podem ser simples atributos da máscara humana, que o tempo
transforma, infatigável." (Emmanuel - Fonte Viva)
2 - A fé é suficiente para prover as nossas necessidades,
como vestir, comer, beber, etc?
A fé somente não basta. Ela apenas nos auxilia e nos
anima, proporcionando-nos meios de atingir o objetivo encetado. A Providência
só nos provê do necessário, quando em nós existe disposição para o trabalho e
empenho na busca daquilo de que necessitamos.
Fé sem obras é como lampião sem lume. A fé se materializa
através do trabalho edificante.
3 - Como age a Providência para nos dotar daquilo que
necessitamos?
Inspirando-nos, iluminando-nos o caminho, concedendo-nos
a inteligência, prodigalizando saúde, ensejando-nos trabalho, etc.
Esses são alguns dos tantos instrumentos; todos,
entretanto, apoiados em nossa disposição e empenho.
Conclusão do Estudo:
Devemos cultivar os tesouros do céu, os únicos capazes de
engrandecer-nos, fazendo-nos evoluir. Os recursos indispensáveis para vivermos
nunca nos faltarão, desde que nos submetamos às leis de Deus, através das quais
a Providência nos supre, na proporção em que nos dedicamos ao trabalho com
empenho e fé.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXV –
Buscai e achareis – Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará – Itens de 1 a 5.
1 – Pedi, e
dar-se-vos-á, buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo o que
pede, recebe; e o que busca, acha; e a quem bate, abrir-se-á. Ou qual de vós,
porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou,
porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Pois se vós outros, sendo
maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está
nos Céus, dará boas dádivas aos que lhas pedirem. (Mateus, VII: 7-11).
2 – Segundo o
modo de ver terreno, a máxima: Buscai e achareis, é semelhante a esta outra:
Ajuda-te e o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho, e por
conseguinte, da lei do progresso. Porque o progresso é o produto do trabalho,
desde que é este que põe em ação as forças da inteligência.
Na infância da
Humanidade, o homem só aplica a sua inteligência na procura de alimentos, dos
meios de se preservar das intempéries e de se defender dos inimigos. Mas Deus
lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo constante de melhorar, ou seja, essa
aspiração do melhor, que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua
situação, levando-o às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da
ciência, pois é a ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Graças às suas
pesquisas, sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. Às necessidades
do corpo sucedem as necessidades do espírito: após o alimento material, ele
necessita do alimento espiritual. É assim que o homem passa da selvageria à
civilização.
Mas o progresso
que cada homem realiza individualmente, durante a vida terrena, é coisa
insignificante, e num grande número deles, até mesmo imperceptível. Como,
então, a Humanidade poderia progredir, sem a preexistência e a reexistência da
alma? Se as almas deixassem a Terra todos os dias, para não mais voltar, a
Humanidade se renovaria sem cessar com as entidades primitivas, que teriam tudo
a fazer e tudo a aprender. Não haveria razão, portanto, para que o homem de
hoje fosse mais adiantado que o dos primeiros tempos do mundo, pois que, para
cada nascimento, o trabalho intelectual teria de recomeçar. A alma voltando, ao
contrário, com o seu progresso já realizado, e adquirindo de cada vez alguma
experiência a mais, vai assim passando gradualmente da barbárie à civilização
material, e desta à civilização moral. (Ver cap. IV, nº 17).
3 – Se Deus
tivesse liberado o homem do trabalho físico, seus membros seriam atrofiados; se
o livrasse do trabalho intelectual, seu espírito permaneceria na infância, nas
condições instintivas do animal. Eis porque ele fez do trabalho uma
necessidade, e lhe disse: Busca e acharás; trabalha e produzirás; e dessa
maneira serás filho das tuas obras, terás o mérito da sua realização, e serás
recompensado segundo o que tiveres feito.
4 – É em
virtude da aplicação desse princípio que os Espíritos não vêm poupar ao homem o
seu trabalho de pesquisar, trazendo-lhe descobertas e invenções já feitas e
prontas para a utilização, de maneira a só ter que tomá-las nas mãos, sem
sequer o incômodo de um pequeno esforço, nem mesmo de pensar. Se assim fosse, o
mais preguiçoso poderia enriquecer-se, e o mais ignorante tornar-se sábio,
ambos sem nenhum esforço, e atribuindo-se o mérito do que não haviam feito.
Não, os Espíritos não vêm livrar o homem da lei do trabalho, mas mostrar-lhe o
alvo que deve atingir e a rota que leva
a ele, dizendo: Marcha e o atingirás! Encontrarás pedras nos teus passos;
mantém-te vigilante, e afasta-as por ti mesmo! Nós te daremos a força
necessária, se quiseres empregá-la. (Ver Livro dos Médiuns, cap. XXVI, nº 291 e
segs.).
5 – Segundo a
compreensão moral, essas palavras de Jesus significam o seguinte: Pedi à luz
que deve clarear o vosso caminho, e ela vos será dada; pedi a força de resistir
ao mal, e a tereis; pedi a assistência dos Bons Espíritos, e eles virão
ajudar-vos, e como o anjo de Tobias, vos servirão de guias; pedi bons
conselhos, e jamais vos serão recusados; batei à nossa porta, e ela vos será
aberta; mas pedi sinceramente, com fé, fervor e confiança; apresentai-vos com
humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias
forças, e as próprias quedas que sofrerdes constituirão a punição do vosso
orgulho.
É esse o
sentindo dessas palavras do Cristo: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.
O aforismo "Ajuda-te que o Céu te Ajudará" é
semelhante ao "busca e acharás". É o princípio da lei do trabalho e
da lei do progresso. É a esperança no meio das dificuldades acerbas que a alma
passa neste planeta de provas e expiações. É o consolo de uma vida melhor ante
o desgaste de nosso corpo físico. É a realização da justiça divina ante as
injustiças humanas.
Narra-se que um sábio caminhava com os discípulos por uma
estrada tortuosa, quando encontraram um homem piedoso que, ajoelhado, rogava a
Deus que o auxiliasse a tirar seu carro do atoleiro.
Todos olharam o devoto, sensibilizaram-se e prosseguiram.
Alguns quilômetros à frente, havia um outro homem que tinha, igualmente, o
carro atolado num lodaçal. Esse, porém, esbravejava reclamando, mas tentava com
todo empenho liberar o veículo. Comovido, o sábio propôs aos discípulos
ajudá-lo. Reuniram todas as forças e conseguiram retirar o transporte do
atoleiro. Após os agradecimentos, o viajante se foi feliz. Os aprendizes
surpresos, indagaram ao mestre: Senhor, o primeiro homem orava, era piedoso e
não o ajudamos. Este, que era rebelde e até praguejava, recebeu nosso apoio.
Por quê? Sem perturbar-se, o nobre professor respondeu: Aquele que orava,
aguardava que Deus viesse fazer a tarefa que a ele competia. O outro, embora
desesperado por ignorância, empenhava-se, merecendo auxílio.
Muitos de nós costumamos agir como o primeiro viajante.
Diante das dificuldades, que nos parecem insolúveis, acomodamo-nos, esperando
que Deus faça a parte que nos cabe para a solução do problema. Nós podemos e
devemos empregar esforços para melhorar a situação em que nos encontramos. Há
pessoas que desejam ver os obstáculos retirados do caminho por mãos invisíveis,
esquecidas de que esses obstáculos, em sua maioria, foram ali colocados por nós
mesmos, cabendo-nos agora, a responsabilidade de retirá-los. Alguns se deixam
cair no amolentamento, alegando que a situação está difícil e que não adianta
lutar. Outros não dispõem de perseverança, abandonando a luta após ligeiros
esforços. Com propriedade afirma a sabedoria popular que pedra que rola não
cria limo, sugerindo alteração de rota, movimento, dinamismo, realização. Não
basta pedir ajuda a Deus, é preciso buscar, conforme o ensino de Jesus: Buscai
e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Devemos, portanto, fazer a nossa parte que
Deus nos ajudará no que não estiver ao nosso alcance resolver.
B - Questões para reflexão:
1 - O que Jesus nos ensinava, quando assim se referia?
Que devemos nos esforçar na busca do que necessitamos,
uma vez que a ajuda de Deus ocorre para quem trabalha e se empenha na procura
do desejado, usando da humildade, sinceridade, fé e confiança.
Tal é o sentido das palavras do Cristo: buscai e achareis;
pedi e obterereis; batei e abrir-se-vos-á.
2 - Dessa forma, será mesmo necessário pedir a Deus o que
necessitamos, uma vez que é pelo trabalho que se consegue as coisas?
Embora Deus saiba o que precisamos e nos auxilie sempre,
a nossa ligação com Ele é necessária para que possamos agir com mais confiança
e equilíbrio, garantindo-nos o sucesso do trabalho encetado.
O pedido a Deus é um ato de reverência e humildade, que
se torna necessário em qualquer atividade nossa.
3 - E como é que o "céu" nos ajuda?
Deus nos ajuda ao permitir nosso progresso espiritual,
que é a consequência natural na aplicação digna do nosso trabalho e, ainda, ao
nos propiciar um bem estar interior, em face de havermos cumprido o nosso
dever.
O homem que "ajuda a si mesmo" descobre mais
rapidamente o alvo a atingir e, mais facilmente, o caminho que a ele conduz.
Essa á uma forma de compensação do seu esforço.
Conclusão do Estudo:
Deus nos ajuda, na medida em que nos esforçamos na busca
do que precisamos. Tudo concorrerá em nosso favor se trabalharmos com afinco,
humildade, fé e confiança. Não há milagres: as grandes obras, conquistas e
vitórias, são frutos, unicamente, do trabalho digno.
Seria ideal que, sem reclamar e pensando corretamente,
fizéssemos esforços para retirar do atoleiro o carro da nossa existência, a fim
de seguirmos adiante felizes, com coragem e disposição. Confiantes de que Deus
sustentará as nossas forças para que possamos triunfar.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV –
Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 17 e 19.
Carregar sua
cruz. Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á.
17. Bem aventurados sereis quando os
homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, e carregarem de injúrias, e
rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. Folgai naquele
dia, e exultai; porque, olhai, que grande é o vosso galardão no céu; porque
desta maneira tratavam aos profetas os pais deles. (Lucas, VI: 22-23)
18 – E chamando a si o povo, com seus
discípulos, disse-lhes: Se alguém me quiser seguir, negue-se a si mesmo, e tome
a sua cruz, e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas o
que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois de que
aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Marcos,
VIII: 34-36; Mateus, X: 39, e João, XII: 24-25).
19 –
Regozijai-vos,
disse Jesus, quando os homens vos odiarem e vos perseguirem por minha causa,
porque sereis recompensados no céu. Essas palavras podem ser interpretadas
assim: Sedes felizes quando os homens, tratando-vos com má vontade, vos derem a
ocasião de provar a sinceridade de vossa fé, porque o mal que eles vos fizerem
resultará em vosso proveito. Lamentai-lhes a cegueira, mas não os amaldiçoeis.
Após
isso, acrescenta: “Tome a sua cruz aquele que me quer seguir”, isto é: que
suporte corajosamente as tribulações que a sua fé provocar, pois aquele que
quiser salvar a sua vida e os seus bens, renunciando a mim, perderá as
vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo perderem aqui em baixo, até
mesmo a vida, para o triunfo da verdade, receberão na vida futura o prêmio da
coragem, da perseverança e da abnegação. Mas para os que sacrificam os bens
celestes aos gozos terrenos, Deus dirá: Já recebeste a vossa recompensa.
Recordemos que o termo cruz significa,
geralmente, martírio, punição, dor, porque nos tempos primeiros a cruz foi
apresentada, idealizada para castigo daqueles que se insurgissem contra
hábitos, leis vigentes e mais tarde crimes políticos. Nesses tempos o ensino de
Jesus possuía uma interpretação literal uma vez que segui-Lo significava perder
a pouca liberdade que se tinha e a própria existência física. Jesus mostrava
que os valores mundanos não eram os mais importantes porque o ser transcende às
injunções materiais e a Imortalidade é a aspiração máxima a cuja realização
todos devemos nos entregar. A frase “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome sua cruz e siga-me” encerra uma convocação à renovação
espiritual pela conquista de valores intelectuais e morais. Essa renovação é
íntima despertando e aprimorando as coisas do nosso mundo interior, vencendo a
nós mesmos, reajustando as dificuldades mentais, emocionais e sentimentais. A
proposta de Jesus fala da necessidade de buscar os valores maiores do Espírito
e sua Imortalidade, onde as necessidades da vida, que aparecem de várias
formas, não se constituem em fardo que se deve carregar, mas empreendimentos
difíceis que devem ser vencidos. “Carregar a sua cruz é não se submeter às imposições
mesquinhas de quem quer que seja", mas assumir a vida com todas as
realidades que o mundo oferece, como oportunidades necessárias, estímulos
adequados ao processo de crescimento espiritual. Carregar a cruz e seguir os
Seus passos é cumprir com todos os deveres que nos competem em relação a nós, à
família e à comunidade da qual fazemos parte; é agir em todas as situações,
favoráveis ou adversas, com firmeza, com tranquilidade, empreendimento e
serviço, contribuindo com eficiência e equilíbrio em favor do Bem.
NEGUE-SE A SI MESMO
Negar a si mesmo é ser desprovido de todo
sentimento faccioso como a inveja, vaidade, ciúmes, avareza, soberba,
concupiscência da carne, lascívia, ira, desejo de vingança, vícios e outros
sentimentos abomináveis ao Cristo. Negar a si mesmo é oferecer o outro lado da
face, é perdoar e amar os vossos inimigos, bendizer os que vos maldizem, fazer
bem aos que vos odeiam e orar pelos que vos maltratam e vos perseguem. Ter a mesma humildade de Cristo, andar em
santidade como Ele andou, guardando os seus mandamentos fazendo a vontade do
Pai. Isso é negar a si mesmo. Negar-se a si mesmo para seguir as pegadas de Jesus
exige desapego, abdicação dos prazeres da carne para viver uma vida espiritual
sob a égide do Cristo.
Lamentavelmente, hoje, muitos estão no mesmo
caminho daquele jovem rico, procuram servir a Jesus com único interesse nas
coisas deste mundo, querem viver na abundância dos prazeres da carne, em
regalia esplêndida, mas não querem compromisso com Deus, não renunciam a si
mesmo para servir ao próximo.
COMO SEGUIR A JESUS?
Seguir a Jesus é andar no mesmo caminho que
Ele andou em toda a sua boa maneira de viver. Ser humilde (ser humilde não tem
ligação nenhuma com a condição econômica de alguém), andar na fé, na caridade,
no amor ao próximo, ter coragem de dar a tua vida, por aquele que, primeiro deu
a sua por nós.
Para nós espíritas, a cruz significa o
instrumento da realização do nosso aperfeiçoamento moral, para a conquista da
grande meta, a perfeição relativa. Nos
dois planos da vida não há conquista sem esforço. Assim, para nós, encarnados,
a cruz é qualquer dificuldade que nos aprimore o espírito, seja uma doença ou
qualquer obstáculo de difícil superação em nossa vida. Já para os
desencarnados, são os vícios não superados, os resgates não realizados, a
culpa, o remorso pelas dificuldades não enfrentadas ou mal sofridas, enquanto
militavam no corpo carnal. Muitos querem seguir Jesus, mas para isso é preciso
tomar a sua cruz, ou seja, é preciso trabalhar o desapego ao bem próprio em
proveito do bem de todos; suportando, corajosamente, as consequências dos atos
de ontem e de hoje. No texto acima, Jesus deixa bem claro que não há uma
imposição, mas um convite. Um importante princípio para todos aqueles que
desejam segui-lo e se tornarem seus discípulos, negar-se a si mesmo. Você já
meditou na profundidade das palavras do Cristo nesse mandamento?
Questões para reflexão:
1 - Em que constitui a perseguição aludida
por Jesus?
Representa as dificuldades que encontramos
para vivenciar o Evangelho e as incompreensões existentes entre os homens, com
relação a Jesus.
A cruz que hoje carregamos deve ser, para
nós, motivo de júbilo e regozijo, pois é o prenúncio da libertação que se
avizinha.
2 - Qual o roteiro sugerido por Jesus, para
aqueles que pretendem "andar em suas pegadas"?
"Renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me."
O roteiro para a conquista da felicidade
inclui o desapego ao bem próprio em proveito do bem de todos; o suportar
corajosamente as consequências dos atos de ontem e de hoje; e a procura de
Jesus por Divino Modelo.
3 - O que quer dizer "salvar-se a si
mesmo e perder-se"?
Significa viver uma vida voltada para os
prazeres e gozos que o mundo oferece, na vã ideia de estar aproveitando a vida.
Contudo, renunciar aos prazeres e gozos do
mundo não significa que o homem deva adotar uma postura de completa fuga a
esses prazeres, mas vivê-los, atribuindo-lhes o relativo valor.
Conclusão do Estudo:
A nossa cruz representa as dificuldades e
obstáculos da vida presente, consequência de nossos erros do passado.
Constitui, ao mesmo tempo, a nossa esperança de libertação, cabendo-nos,
portanto, carregá-la com ânimo, firmeza, alegria e resignação. Para isso, é
necessário seguir o roteiro estabelecido por Jesus.
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV –
Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 13 e 16. Coragem da fé.
13. Todo
aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei
diante de meu Pai, que está nos Céus; e o que me negar diante dos homens,
também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos Céus. (Mateus, X: 32-33).
14. Porque
se alguém se envergonhar de mim, e das minhas palavras, também o Filho do Homem
se envergonhará dele, quando vier na sua majestade, e na de seu Pai e dos
santos anjos. (Lucas, IX: 26)
15. A
coragem das opiniões sempre mereceu a consideração dos homens, porque é prova
de dignidade enfrentar os perigos, as perseguições, as discussões, e até mesmo
os simples sarcasmos, aos quais sempre se expõe aquele que não teme confessar
abertamente ideias que não são admitidas por todos. Nisto, como em tudo, o
mérito está na razão das circunstâncias, e dos resultados que podem advir. Há
sempre fraqueza em recuar diante das consequências da sustentação das opiniões,
mas há casos em que isso equivale a uma covardia tão grande como a de fugir no
momento do combate.
Jesus
estigmatiza essa covardia, no tocante ao problema especial da sua doutrina, ao
dizer que, se alguém se envergonhar das suas palavras, ele também se
envergonhará daquele; que renegará o que o houver renegado; que reconhecerá,
perante o Pai que está nos Céus, o que o confessar diante dos homens. Em outros
termos: Aqueles que temeram confessar-se discípulos da verdade, não são dignos
de ser admitidos no Reino da Verdade. Perderão, assim, as vantagens da fé,
porque se trata de uma fé egoísta, que eles guardam para si mesmos,
ocultando-a, com medo dos prejuízos que lhes possa acarretar no mundo. Enquanto
isso, os que colocam a verdade acima dos seus interesses materiais,
proclamando-a abertamente, trabalham ao mesmo tempo pelo futuro próprio e dos
outros.
16. O
mesmo acontece com os adeptos do Espiritismo, pois sendo a sua doutrina o
desenvolvimento e a aplicação da doutrina do Evangelho, a eles também se
dirigem essas palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida
espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
Em várias
passagens do Evangelho, Jesus salienta a importância da coragem de testemunhar
a própria fé. Por exemplo, em determinado ponto da narrativa evangélica, o
Cristo afirma que ninguém deve se envergonhar Dele e de Suas palavras. Das
exortações do Mestre, extrai-se que não basta crer em algo. O homem deve viver
na conformidade de suas crenças. Esposar um ideal é muito pouco. É necessário
ser fiel a esse ideal. Em um mundo corrompido, a fidelidade a uma concepção de
vida mais pura não costuma ser fácil. Os exemplos que se recebe diariamente são
bastante tristes. A Humanidade vive um período de grave crise moral. Sob o nome
de liberdade, impera a libertinagem. A título de diversidade de costumes, as
criaturas se permitem os mais estranhos desregramentos.
Nesse contexto, ser sóbrio, trabalhador,
honesto e responsável parece quase exótico. O homem pouco reflexivo pode se
sentir tentado a seguir a “onda da modernidade”. Entretanto, é preciso ponderar
um pouco. Hábitos que destroem a integridade física e psíquica, o lar e a
própria dignidade de quem os adota não podem ser saudáveis. A corrupção
dilacera a sociedade. Ela implica o desvio de dinheiro que poderia salvar e
melhorar inúmeras vidas. A promiscuidade sexual deixa um rastro de desencanto e
doença nas vidas de quem a adota. Perante um Mundo conturbado e violento, o
homem precisa refletir a respeito de seus ideais. Quais são os valores que se
consideram necessários para uma vida harmoniosa e saudável? Identificados esses
valores, impõe-se a fidelidade a eles. O que não vale é viver ao sabor das
circunstâncias, como um animal que se guia pelo movimento da manada. A
inteligência é um dom precioso demais para ser desperdiçado.
Urge lançar um
olhar crítico sobre os hábitos da sociedade e meditar sobre eles. Se todos
adotarem determinado padrão de comportamento, será possível uma convivência
pacífica e proveitosa? Certo naipe de conduta é louvável? Seria agradável ver
os próprios filhos ou pais vivendo de forma destrambelhada? Ou ver um ente
querido sofrendo as consequências da conduta inconsequente de outrem? O que não
é bom e honroso, o que torna infelizes os outros deve ser combatido. Aí surge a
necessidade de ser corajoso. Viver de acordo com padrões mundanos é fácil.
Difícil é esposar ideais nobres e viver com nobreza. Ser fiel a um Ideal não
implica tornar-se conversor compulsório dos semelhantes. A liberdade de
consciência é um imperativo da vida em sociedade. Entretanto, respeitar a
liberdade dos outros não significa ser conivente com seus equívocos. Para viver
em paz é necessário aprender a conviver com o diferente. Mas viver
pacificamente não é sinônimo de ser passivo. Em certos momentos, a omissão é um
escândalo. Sempre que chamado a dar opinião sobre uma questão ética, é
importante ser honesto, embora mantendo a gentileza. Se a opinião não agradar,
paciência. Perante condutas que prejudicam inocentes ou o patrimônio público,
deve-se atuar na defesa do bem e da ética. Em todo e qualquer caso, agir
corretamente, mesmo em prejuízo dos próprios interesses imediatos. Uma vida
honrada é o maior e mais corajoso testemunho que um homem pode dar de suas
crenças.
Questões para reflexão:
1 - O que se
entende por fé?
Fé é a crença
que temos em alguma coisa ou alguém. Este sentimento, quando verdadeiro, se
manifesta de forma espontânea, através de nossos atos e palavras, e nos leva
até a enfrentar dificuldades e perigos, na defesa do que acreditamos.
Dá testemunho da
verdade aquele que, possuindo uma fé, vive de acordo com ela e não teme
praticá-la, nem defendê-la, onde ou diante de quem quer que seja.
A demonstração
da fé dá-se, acima de tudo, pela vivência e a coragem de ostentá-la.
2 - O que
devemos entender pelas palavras de Jesus: "eu também o reconhecerei e
confessarei diante de meu Pai".
Em primeiro
lugar, que Jesus é o enviado de Deus, nosso Pai, para nos ensinar suas leis. Em
segundo, que Jesus está sempre ao nosso lado e, percebendo nosso esforço em
praticar o bem, nos reconhecerá diante do Pai, como seguidores de seus
ensinamentos.
Jesus não nos
reconhecerá pelo nome ou pelos bens que possuímos, mas pelo esforço em superar
nossas imperfeições e praticar seus ensinamentos.
3 - Para dar
testemunho do Cristo é preciso coragem?
Muitas vezes
sim, pois a coragem é sempre necessária para quem proclama abertamente ideias
que não são as de toda gente.
Só quem é forte
na fé possui coragem suficiente para dela dar testemunho público, em todas as
ocasiões. Aquele cuja fé é frágil, prefere renegá-la diante das dificuldades da
vida.
Conclusão do
Estudo:
O discípulo da
verdade é aquele que crê em Deus e vive conforme os ensinamentos de Jesus, não
temendo dar testemunho de sua fé diante dos homens, através de palavras e,
sobretudo, de atos. Portanto, não devemos ter vergonha em demonstrar a nossa fé
e o nosso relacionamento com Deus, pois este caminho nos auxilia e fortalece,
lembrando que cada um de nós é um tempero que faz a diferença na vida de cada
pessoa; em diversas ocasiões do nosso dia-a-dia precisamos mostrar confiança em
Deus para nos guiarmos inclusive nos momentos difíceis, pois necessitamos
carregar nossa própria cruz, com aceitação e perseverança, em busca que estamos
de nossa evolução espiritual; precisamos ter coragem para levarmos a ação do
Evangelho para dentro de nós, para nossas vidas, alicerce de luz que nos
sustenta e ampara. É preciso coragem para assumir que somos cristãos
(Espíritas) perante a sociedade, não esquecendo acima de tudo do respeito que
precisamos ter para com as opções diferentes dos nossos irmãos que estão a
caminho conosco na jornada terrena.
É preciso coragem
para assumir que somos cristãos (Espíritas) perante a sociedade, não esquecendo
acima de tudo do respeito que precisamos ter para com as opções diferentes dos
nossos irmãos que estão a caminho conosco na jornada terrena.
O que é ser
espírita? Espírita é toda pessoa que vive de acordo com os ensinamentos da
doutrina espírita. Seu primeiro dever é melhorar a si mesmo, e o segundo é
auxiliar o progresso de seus irmãos ou em seu adiantamento moral e espiritual.
O dever do espírita é instruir e para ensinar é preciso primeiro aprender e
para aprender é preciso estudar, colocando em prática tudo que aprende.
Precisamos ter
coragem para levarmos a ação do Evangelho para dentro de nós, para nossas
vidas, alicerce de luz que nos sustenta e ampara.
É importante
observar que precisamos ensinar as verdades a todos, mas não vamos insistir com
aqueles que Jesus chamava de “gentios”, isto é, aqueles que são materialistas e
zombam das coisas espirituais. Todos nós temos o momento de despertamento para
a verdade cristã, respeitemos esse tempo nos outros. Para esses não insistamos,
prece, carinho pelo companheiro e silêncio é melhor remédio.
Temos de ter a
compreensão cristã para as dificuldades e defeitos dos outros, pois todos temos
nossos sofrimentos. Como uma cruz, devemos carregá-las. Para isso devemos ter
fé. Acreditar na vida eterna do espírito e na felicidade que poderemos
alcançar, se formos bons. Portanto, não devemos reclamar do sofrimento. Devemos
abençoá-lo, pois ele tem o poder de nos fazer amadurecer.
Toda vez que
enfrentarmos sem temor as adversidades que nos surgirem, para mostrar nossa
confiança nas mensagens de Jesus, constantes dos evangelhos, e tão bem
explicadas pela nobre Doutrina Espírita, e que representam a única maneira de
verdadeiramente chegarmos a Deus, como ELE nos afirmou: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”, é que estaremos dando
nossa contribuição efetiva e nosso testemunho pessoal, para que a verdade das
coisas se estabeleça segundo as suas próprias palavras em outra passagem
registrada pelo evangelista João, quando nos disse: “O Espírito é o que
vivifica, a carne para nada serve; as palavras que eu vos tenho dito são
espírito e são vida".
Assim sendo, não
podemos apenas deixar que a Espiritualidade Superior realize tudo o que se faz
necessário para que a divulgação da mensagem do Consolador Prometido se
estabeleça com eficiência como muitos dos nossos confrades pensam e defendem.
Dizem que em tudo a espiritualidade dará um jeito no tempo certo e, até mesmo
com relação aos seus filhos, estão esperando que cresçam e que os Espíritos
Superiores os convençam a segui-los ao encontro de Jesus nas casas espíritas
que frequentam, como se a orientação religiosa não fosse importante e não lhes
estivesse designada pela Soberana Sabedoria do Universo, como responsabilidade
de Pais.
Nos assuntos da
Doutrina Espírita também são incontáveis os seguidores do Espiritismo que
pensam e agem da mesma maneira, aceitando sem contestação as falsas
interpretações dadas por uma grande quantidade de pseudo-sábios que, colocando
a vaidade acima dos deveres de cristãos, enxertam, alteram e espalham conceitos
absurdos como se fizessem parte da doutrina que desconhecem em profundidade e
que ainda encontram apoio nas atitudes de grande parte dos espíritas que, a
título de não polemizar, se calam deixando a falsa ideia se expandir,
principalmente entre os que não fazem uso dos grupos de estudo das Instituições
Espíritas sérias, deixando dessa forma de atender as instruções dos Espíritos
que nos afirmam: "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única
falsidade, uma só teoria errônea".
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV –
Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 11 e 12. Não são os que
gozam saúde que precisam de médico.
11. E aconteceu que, estando Jesus
assentado à mesa numa casa, eis que, vindo muitos publicanos e pecadores, se
assentaram a comer com ele e com os seus discípulos. E vendo isto os fariseus,
diziam aos seus discípulos: Por que come o vosso mestre com os publicanos e
pecadores? Mas, ouvindo-os, Jesus disse: Os são não têm necessidade de médico,
mas sim os enfermos. (Mateus, IX: 10-12).
12. Jesus dirigia-se sobretudo aos pobres e
aos deserdados, porque são eles os que mais necessitam de consolação; e aos
cegos humildes e de boa fé, porque eles pedem que lhes abram os olhos; e não os
orgulhosos, que creem possuir toda a luz e não precisar de nada. (Ver
Introdução: Publicanos, Peageiros).
Estas palavras, como tantas outras,
aplicam-se ao Espiritismo. Às vezes admira-se de que a mediunidade seja
concedida a pessoas indignas, e por isso mesmo capazes de a empregarem mal.
Parece, costuma-se dizer, que uma faculdade tão preciosa deveria ser atributo
exclusivo de pessoas de maior merecimento.
Digamos, de início, que a mediunidade é
inerente a uma condição orgânica, de que todos podem ser dotados, como a de
ver, ouvir e falar. Não há nenhuma de que o homem, em consequência do seu livre
arbítrio, não possa abusar. Ora, se Deus não tivesse concedido a palavra, por
exemplo, senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos do
que falantes. Deus outorgou as faculdades ao homem, dando-lhe a liberdade de
usá-las como quiser, mas pune sempre aqueles que delas abusam.
Se o poder de comunicar-se com os Espíritos
só fosse dado aos mais dignos, qual aquele que ousaria pretendê-lo? E onde
estaria o limite da dignidade e da indignidade? A mediunidade é dada sem
distinção, a fim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a
todas as classes da sociedade, ao pobre ao rico: aos virtuosos, para os
fortalecer no bem, e aos viciosos, para os corrigir. Estes últimos não são os
doentes que precisam de médico? Por que Deus, que não quer a morte do pecador,
o privaria do socorro que pode tirá-lo da lama? Os Bons Espíritos vêm assim em
seu auxílio e seus conselhos, que ele recebe diretamente, são de natureza a
impressioná-lo mais vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta.
Deus, na sua bondade, poupa-lhe a pena de ir procurar a luz à distância, e lha
mete nas mãos. Não será ele bem mais culpado, se não atentar para ela? Poderia
escusar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo escreveu, viu com os próprios
olhos, ouviu com os seus ouvidos e pronunciou com sua própria boca a sua
condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com a perda ou a perversão
da sua faculdade, de que os maus Espíritos se apoderarão, para o obsedar e
enganar, sem prejuízo das aflições comuns com que Deus castiga os servos
indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o egoísmo.
A mediunidade não implica necessariamente
as relações habituais com os Espíritos superiores. É simplesmente uma aptidão,
para servir de instrumento, mais ou menos dócil, aos Espíritos em geral. O bom
médium não é, portanto, aquele que tem facilidade de comunicação, mas o que é
simpático aos Bons Espíritos e só por eles é assistido. É neste sentido,
unicamente, que a excelência das qualidades morais é de importância absoluta
para a mediunidade.
Obviamente, as
criaturas saudáveis não necessitam de cuidados médicos. Os que precisam dos
serviços da medicina são aquelas que, de alguma forma, estão doentes.
Jesus usou essa
imagem para mostrar que a Sua vinda a Terra trazia a proposta de socorrer
especialmente aqueles que ainda não estavam devidamente enquadrados no contexto
do equilíbrio, o que em realidade era e ainda é a grande maioria das pessoas
neste mundo. E a enfermidade a que se referia vai muito além das anormalidades
físicas, abrangendo, detalhadamente, todas as deformidades do Espírito. Jesus
sempre se prontificou a nos orientar de forma holística, para que tenhamos
saúde plena, ou seja, o necessário equilíbrio entre as duas naturezas de
que somos portadores; a física e a espiritual.
Diante da nossa
condição evolutiva, ainda muito distantes da perfeição, podemos até contar com
uma boa saúde física, mas quem terá ampla e total saúde espiritual?
Os sãos não têm
necessidade de médico, mas sim os enfermos. O que Jesus quis dizer com estas
palavras era que os enfermos, no caso, as pessoas consideradas de má vida,
necessitavam de maior atenção que aqueles que já tinham em seus corações os
bens nascidos do seu amor. Ele dirigia-se principalmente às pessoas humildes,
desprezadas pelos homens, as que tinham o coração dilacerado pela incompreensão
humana, eram elas que necessitavam do bálsamo suavizante de suas palavras
amorosas, as que tinham maior necessidade de consolo.
Esta passagem do
banquete nos demonstra que Jesus abraça a todos os que desejam a excelência do
seu alimento espiritual, e que não só nas ocasiões de fé permanece entre os que
o amam, mas em qualquer tempo e situação, está pronto a atender as almas que o
buscam. O fato de Jesus se dirigir às pessoas tidas como de má vida não
significava que ele não se preocupava com as outras. O que Jesus recusava era a
ostentação da pureza, que muitas vezes não passa de aparência, orgulho e
falsidade. E os fariseus que o interpelaram apesar de demonstrarem certo
equilíbrio, e encontramos em nossas vidas muitos como eles, padeciam de
hipocrisia, trazendo no íntimo mal de difícil cura, pois muitos que aparentam
virtudes são na verdade, falsos e hipócritas.
Jesus viveu
entre os pobres, os humildes, os deserdados, com todos aqueles que sofreram as
humilhações impostas pelos poderosos. Se Ele se fez pequeno para igualar-se a
nós, muito mais devemos descer para igualar-nos aos que estão em menor altura
espiritual e moral do que aquela que conquistamos através de séculos de
evolução.
Este exemplo de
Jesus impõe-nos a obrigação de auxiliarmos aqueles que transitam no mundo entre
dificuldades maiores que as nossas, porque se nós procuramos o consolo também
devemos dá-lo ao nosso próximo. Isso é caridade.
Questões para
estudo e reflexão:
1 - Com relação
ao texto, qual o sentido da expressão "não são os que gozam de saúde que
precisam de médico"?
Os publicanos e
aquelas pessoas consideradas como de má vida eram, na verdade, doentes da alma
e, por isso, Jesus os acolheu, reconhecendo neles os reais necessitados de
consolo.
Entre os
publicanos existiam pessoas estimáveis, mas que, pelas funções que exerciam,
eram vistos com desprezo. Jesus, porém, reconhecia-lhes as verdadeiras
intenções.
2 - Por que
Jesus dá ênfase e acolhe com destaque as pessoas tidas como de má vida?
Porque,
normalmente, as pessoas nessa situação encontram-se sofridas e com o coração
mais maleável para aceitar as diretrizes do Evangelho. Não esperam mais nada do
mundo e por isso melhor se apegam ao amor de Jesus.
Conclusão do
Estudo:
Jesus
dirigiu-se, principalmente, aos que tinham o coração dilacerado, no entanto,
resignados, pois estes estavam preparados para receber o bálsamo suavizante do
seu Evangelho. O banquete aos publicanos e pecadores demonstra que o Senhor
abraça a todos os que desejam a excelência de sua alimentação espiritual, em
qualquer tempo e situação.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV –
Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 8 a 10. Não vades ter com
os gentios.
8. A estes doze enviou Jesus, dando-lhes
estas instruções, dizendo: Não procureis os gentios, nem entreis nas cidades
dos samaritanos; mas ide antes às ovelhas que perecem, da casa de Israel. E
pondo-vos a caminho, pregai, dizendo que está próximo o Reino dos Céus.
(Mateus, X: 5-7)
9. Jesus demonstra, em muitas
circunstâncias, que as suas vistas não estão circunscritas ao povo judeu, mas
abrangem a toda a Humanidade. Quando disse, portanto, aos apóstolos, que não se
dirigissem aos pagãos, não foi por desprezar a sua conversão, o que nada teria
de caridoso, mas porque os Judeus, que aceitavam a unicidade de Deus e
esperavam o Messias, estavam preparados, pela lei de Moisés e pelos profetas,
para receberem a sua palavra. Entre os pagãos faltava essa base, tudo ainda
estava por fazer, e os apóstolos ainda não se achavam suficientemente
esclarecidos para uma tarefa assim tão pesada. Eis porque lhes disse: Ide às
ovelhas desgarradas de Israel, ou seja, ide semear em terreno já preparado,
pois sabia que a conversão dos gentios viria a seu tempo. Mais tarde, com
efeito, os apóstolos foram plantar a cruz no próprio centro do paganismo.
10. Essas mesmas palavras podem ser
aplicadas aos adeptos e aos divulgadores do Espiritismo. Os incrédulos
sistemáticos, os obstinados zombadores, os adversários interessados, são para
eles o que eram os gentios para os apóstolos. A exemplo destes, devem procurar
prosélitos, primeiramente, entre as pessoas de boa vontade, que desejam a luz,
nos quais se encontra um germe fecundo, e cujo número é grande, sem perderem
tempo com os que se recusam a ver e entender, e que mais se aferram ao seu
orgulho, quanto mais se der a impressão de se valorizar a sua conversão. Mais
vale abrir os olhos a cem cegos que desejam ver claramente, do que a um só que
se compraz na obscuridade, porque isso seria aumentar em maior proporção o
número dos que sustentam a causa. Deixar os outros em paz não quer dizer
indiferença, mas apenas boa política. A vez deles chegará, quando se renderem à
opinião geral, de tanto ouvirem a mesma coisa incessantemente repetida ao seu
redor, pois então julgarão que aceitam a ideia voluntariamente, por si mesmos,
e não sob a pressão de outra pessoa. Porque as ideias são como as sementes: não
podem germinar antes da estação própria, e a não ser em terreno preparado. Eis
porque é melhor esperar o tempo propício, cultivando primeiro as que estão em
condições, e evitando perder as outras por precipitação.
No tempo de Jesus, e em consequência das ideias
restritas e materiais que o dominavam, tudo era circunscrito e localizado: a
casa de Israel era um pequeno povo; os gentios eram pequenos povos
circunvizinhos. Hoje, as ideias se universalizam e se espiritualizam. A nova
luz não é privilégio de nenhuma nação; para ela, não existem barreiras; o seu
foco se distribui por toda parte, e todos os homens são irmãos. Mas os gentios
também não são mais um povo determinado, são apenas uma opinião que se encontra
por toda parte, e da qual a verdade triunfa pouco a pouco, como o Cristianismo
triunfou do paganismo. E não é mais com armas de guerra que se pode
combatê-los, mas com o poder da ideia.
À primeira vista
parece que razões insondáveis teriam levado Jesus Cristo a recomendar a seus
discípulos que não procurassem os gentios nem os samaritanos, mas de
preferência aqueles que, em Israel, estivessem desviados do caminho certo.
Porventura não
preceituou o Mestre que "o Pai faz o sol nasce para os bons e para os
maus, e a chuva beneficiar justos e injustos". Não é certo que o Mestre
tomou os Samaritanos como paradigma de bondade ou de compreensão, conforme se
depara da Parábola do Bom Samaritano, do seu colóquio com a Mulher Samaritana;
do episódio da Cura dos Dez Leprosos? Nestas três passagens evangélicas o
Senhor situou alguns samaritanos em nítida situação de superioridade moral e
espiritual sobre muitos judeus ortodoxos.
O Mestre jamais
recomendou qualquer espécie de discriminação, por parte dos seus discípulos,
quando fossem pregar as verdades eternas dos Evangelhos. Na recomendação acima
ele disse "ide antes" às ovelhas perdidas da Casa de Israel. Isso
significa, que, após terem ido às aldeias e cidades de Israel, poderiam aldeias
e cidades dos gentios.
À primeira vista
parece que estas palavras de Jesus encerram sentimentos de intolerância e
menosprezo por determinados agrupamentos humanos, e o trecho acima, do
Evangelho de Jesus, deve ter servido, no passado, para justificar perseguições
e severos movimentos de repressão contra minorias religiosas que pactuavam com
a ortodoxia religiosa prevalecente.
Realmente, o
Mestre foi enviado às ovelhas desgarradas de Israel, e não poderia ter sido de
outra forma, o povo judeu havia sido adredemente preparado, no decurso de
vários séculos, para receber o Grande Missionário. O esforço no sentido de se
manter uma estrutura monoteísta no arcabouço religioso do povo hebraico havia
custado lágrimas, longos cativeiros, dores e até morte. Graças ao empenho dos
antigos profetas e de outros grandes missionários que habitaram a Terra, Israel
era a única nação que estava preparada para receber o Messias, para que em seu
solo ele desempenhasse sua fulgurante missão de paz e de luz. Eis por que ele
disse à Mulher Samaritana: "A salvação vem dos judeus".
O desempenho de
um Messiado no seio de uma nação politeísta teria sido muito mais difícil,
demandaria muito maior esforço e lograria menor êxito, a trabalho dos apóstolos
teria sido muito mais espinhoso, pois entre os gentios tudo estava por fazer, a
começar da necessidade de se implantar a crença num só Deus. Haja vista o trabalho
gigantesco que Paulo de Tarso, Barnabé e outros missionários tiveram de
desenvolver no sentido de proceder à semeadura cristã no coração daqueles
povos.
Recomendando a
seus apóstolos que não fossem aos pagãos, não representou isso qualquer descaso
pela sua conversão, o que teria sido pouco caridoso e até conflitante com o
caráter universal da revelação cristã.
É óbvio que o
Mestre tem suas vistas voltadas para toda a Humanidade, uma vez que sua missão
abarca todos os povos da Terra, entretanto, em seu incomensurável amor, previu
tudo para que o seu Messiado fosse completo e suscitou outros missionários que
tiveram a tarefa gigantesca de proceder à semeadura da sua mensagem no cenário
dos povos politeístas.
Este ensinamento
do Mestre se aplica aos homens de todas as épocas, muitos dos quais nem sempre
estão preparados para a assimilação dos ensinamentos reformadores. Sempre
existiram e existem os céticos, os escarnecedores, os obstinados, os
detratores, os opositores sistemáticos. A estes de pouco adiantam palavras
esclarecedoras, as quais eles não estão aptos a receber.
O Mestre jamais
se importunou em converter os grandes da Terra. Quando algumas pessoas de
influência lhe pediram um sinal, sua resposta foi categórica: "Nenhum
sinal será dado a esta geração má e infiel". Quando Herodes mandou
procurá-lo, pretextando querer conhecê-lo, ele deu ao portador do convite o
célebre recado: "lde dizer a essa raposa que ainda por três dias devo
expulsar os maus espíritos e curar os leprosos e paralíticos e no terceiro dia
serei levantado". Não estava na cogitação imediata de Jesus a conversão
dos homens insensíveis, dos cegos que não queriam ver, dos gentios que viviam a
braços com grotesco paganismo e dos samaritanos que estavam mergulhados no mais
denso obscurantismo, originado por dogmas e observância de pueris tradições. O
Senhor preferia antes ir em demanda dos pequeninos, dos Lázaros, das Madalenas,
dos Zaqueus, das Marias de Betânia e de outros dessa linhagem - ovelhas
desgarradas que careciam voltar sem mais delongas ao redil.
Enquanto, na
época de Jesus, devido à estreiteza das ideias: à materialidade dos costumes,
tudo estava confinado, hoje, as ideias tendem para um sentido libertador e a
tendência é de se caminhar para um mais ativo processo de espiritualização. Na
atualidade não existem mais "povos eleitos", nem "gentios",
nem "samaritanos pois todos os povos estão sendo preparados para a
assimilação luz que brilha nos horizontes do mundo e que não é privilégio de
nenhuma nação, de nenhum povo, de nenhuma religião. Os "gentios"
deixaram de ser um povo para se tornar uma opinião generalizada em cujo seio as
verdades reveladas por Jesus triunfariam um dia. Assim, como o Cristianismo
causou a derrocada do paganismo, o Espiritismo, que representa a revivescência
de seu Evangelho revelado por Jesus, triunfará de todos os sistemas que não
estiverem fortemente fundamentados nas verdades imorredouras do Cristianismo.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIV –
Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Itens de 1 a 7. Candeia sob o
alqueire. Porque fala Jesus por parábolas.
Os termos
candeia e alqueire representam a simbologia da transmissão do conhecimento.
Nosso propósito, neste texto, é mostrar que a transmissão do conhecimento deve
ser proporcional à compreensão do estudioso.
1 – Nem os que acendem uma luzerna a metem
debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a
todos os que estão na casa. (Mateus, V: 15).
2 – Ninguém, pois, acende uma luzerna e a cobre com alguma vasilha, ou a
põe debaixo da cama; põe-na, sim, sobre um candeeiro, para que vejam a luz os
que entram. Porque não há coisa encoberta, que não haja de ser manifestada; nem
escondida, que não haja de saber-se e fazer-se pública. (Lucas, VIII: 16-17).
JESUS com a máxima “Não coloqueis a candeia sob o
alqueire mas no velador” faz alusão a nossa obrigação de sermos divulgadores do
bem e da verdade, não ocultando os benefícios que os conhecimentos espirituais
já nos trazem à existência. Elevar a candeia é exatamente usar o nosso melhor a
cada dia, fazendo com que nossa conduta reta, pensar reto, agir retamente, faça
modificações ao nosso redor, exemplificando na prática o que já sabemos. Muitas
vezes nós espíritas confundimos espiritualização com doutrinação que aborrece,
com verborragia improdutiva ou pregação desrespeitosa. Uma das características
do Espiritismo é exatamente a de que ele é universalista, capaz de abraçar
todos os povos, crenças e sentimentos religiosos sob os seus postulados de
renovação para a vida imortal.
3 – E chegando-se a ele os discípulos lhe
disseram: Por que razão lhes falas tu por parábola? Ele, respondendo, lhes
disse: Porque a vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas
a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em
abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que
eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem,
nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós
ouvireis com os ouvidos, e não escutareis; e olhareis com os olhos, e não
vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram
tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos,
e ouçam com os ouvidos, e entendam no coração, e se convertam, e eu os sare.
(Mateus, XIII: 10-15)
Em seu tempo, JESUS, o pedagogo excelente, utilizava-se
do recurso da parábola a fim de transmitir seus ensinamentos espirituais aos
homens. Quando falava ao pescador, falava do mar e dos peixes; ao lavrador, da
Semente e da vinha; ao homem comum, da moeda e do credor... Para cada um tinha
o recurso adequado a fim de gravar indelevelmente nas almas os seus
ensinamentos.
4 – Causa
estranheza ouvir Jesus dizer que não se deve por a luz debaixo do alqueire, ao
mesmo tempo em que esconde a toda hora o sentido das suas palavras sob o véu da
alegoria, que nem todos podem compreender. Ele se explica, entretanto, dizendo
aos apóstolos: Eu lhes falo em
parábolas, porque eles não estão em condições de compreender certas coisas;
eles veem, olham, ouvem e não compreendem; assim, dizer-lhes tudo, ao menos
agora seria inútil; mas a vós o digo, porque já vos é dado compreender esses
mistérios. Ele procedia, portanto, para com o povo, como se faz com
as crianças, cujas ideias ainda não se encontram desenvolvidas. Dessa maneira,
indica-nos o verdadeiro sentido da máxima: “Não se deve por a candeia debaixo
do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entram possam
vê-la”. Ela não diz que tenhamos de revelar inconsideravelmente todas as
coisas, pois, todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência de quem o
recebe, e porque há pessoas que uma luz muito viva pode ofuscar sem esclarecer.
Acontece com os homens, em geral, o mesmo que com os
indivíduos. As gerações passam também pela infância, pela juventude e pela
madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada a terra,
fora de tempo, não produz. Mas aquilo que a prudência manda calar
momentaneamente, cedo ou tarde deve ser descoberto, porque chegando a certo
grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; a
obscuridade lhes pesa. Como Deus lhes deu a inteligência para compreenderem e
se guiarem, entre as coisas da Terra e do céu, eles querem racionalizar a sua
fé. É então que não se deve por a candeia debaixo do alqueire, pois sem a luz da razão, a fé se enfraquece. (Ver
cap. XIX, nº 7).
5 – Se a
Providência, portanto, na sua prudente sabedoria, não revela a verdade senão
gradualmente,é que a vai sempre desvelando, à medida que a Humanidade amadurece
para recebê-la. Ela mantém a luz em reserva, e não debaixo do alqueire. Mas os
homens que a possuem, em geral, só a ocultam do vulgo com a intenção de
dominá-lo. São esses os que põem verdadeiramente a luz debaixo do alqueire. É
assim que todas as religiões sempre tiveram os seus mistérios, cujo exame
proíbem. Mas enquanto essas religiões se atrasavam, a ciência e a inteligência
avançaram e romperam o véu misterioso. O povo que se tornou adulto pode assim
penetrar o fundo das coisas, e então rejeitou na sua fé o que se mostrava
contrário à observação.
Não podem substituir mistérios absolutos nesse terreno, e
Jesus está com a razão quando afirma que não há nada secreto que não deva ser
conhecido. Tudo o que está oculto será descoberto um dia, e o que o homem ainda
não pode compreender sobre a Terra, lhe será progressivamente revelado nos
mundos mais adiantados, na proporção em que ele se purificar. Aqui na Terra,
ainda se perde no nevoeiro.
6 – Pergunta-se
que proveito o povo poderia tirar dessa infinidade de parábolas, cujo sentido
estava oculto para ele. Deve notar-se que Jesus só se exprimiu em parábolas
sobre as questões, de alguma maneira abstrata, da sua doutrina. Mas, tendo
feito da caridade e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que
disse a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambiguidade.
Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam
compreender, para poderem observar. Era isso o essencial para a multidão
ignorante, à qual se limitava a dizer: Eis o que é necessário para se ganhar o
Reino dos Céus. Sobre outras questões, só desenvolvia os seus pensamentos para
os discípulos. Estando eles mais adiantado, moral e intelectualmente, Jesus
podia iniciá-los nos princípios mais abstratos. Foi por isso que disse: Ao que já tem, ainda mais se dará, e terá em
abundância. (Ver cap. XVIII, nº 15).
Não obstante, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago
sobre muitos pontos, cuja inteligência completa estava reservada aos tempos
futuros. Foram esses os pontos que deram
lugar a diversas interpretações, até que a Ciência, de um lado, e o
Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da natureza, que tornaram
compreensível o seu verdadeiro sentido.
7 – O Espiritismo
vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o
faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com
admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as
diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão
reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da
obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início, ela não teria
sido acessível senão a um pequeno número e teria mesmo assustado aqueles que
não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua propagação. Se os
Espíritos, portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a
doutrina possua mistérios reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a candeia
debaixo do alqueire, mas por que cada coisa deve vir no tempo
oportuno. Eles dão a cada ideia o tempo de amadurecer e se propagar, antes de
apresentarem outra, e aos
acontecimentos, o tempo de lhes preparar a aceitação.
Questões para estudo e diálogo
virtual:
1 - Qual o sentido da frase:
"Não se acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire"?
Significa que, assim como não
se acende uma luz senão para dissipar a escuridão e iluminar o ambiente, do
mesmo modo aquele que possui o conhecimento das leis divinas não deve guardá-lo
para si, mas divulgá-lo através da palavra e, sobretudo, do exemplo.
Os que conhecem as leis
divinas deverão divulgá-las para o maior número possível de criaturas.
Não espalhar os conhecimentos
espirituais é esconder egoisticamente a luz que poderia beneficiar a muitos.
2 - O que devemos entender por
"Àquele que já tem, mais lhe será dado.àquele que não tem, mesmo o que tem
se lhe tirará"?
Devemos perceber, nesta
passagem, uma referência aos bens espirituais: a observância dos preceitos
divinos faz com que estes bens, que constituem a verdadeira riqueza do
espírito, aumentem incessantemente. Por outro lado, aqueles que se ocupam
apenas da vida material, esquecem-se de desenvolver os bens espirituais e o
pouco progresso que possuem fica estacionado.
Não sabendo conservar nem
cultivar a semente das verdades eternas, ela acaba por ser temporariamente
ofuscada, dando a sensação de perda.
Conclusão do Estudo:
Devemos espalhar os
conhecimentos que possuímos em benefício de todos, pois a verdade não é para
ser escondida de ninguém. Entretanto, ela pode ser gradualmente percebida por
aqueles que se propõem a ir ao seu encontro.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII –
Estranha moral –Não vim trazer a paz, mas, a divisão – Itens 9 a 18.
9. Não
julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque
vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra
sua sogra; e os inimigos do homem serão
os seus mesmos domésticos. (Mateus, X: 34-36).
Contradição estranha entre as
doutrinas do “Fazer ao próximo o mesmo que desejamos a nós mesmos” e a “Não vim
trazer a paz, mas a espada”. Seria Jesus uma pessoa de ideias contraditórias?
Numa avaliação superficial e descuidada, sim.
É preciso muito
cuidado na análise dessa citação evangélica, pois uma interpretação literal
pode favorecer manifestações de lutas externas sob o jugo da “espada”, fato que
não deixa de representar uma perigosa insensatez, considerando-se ser Jesus,
Guia e Modelo da Humanidade.
Inúmeros
estudiosos do Evangelho perturbam-se ante essas afirmativas do Mestre Divino,
porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos foi
visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido
garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados,
rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se
dos movimentos da vida. Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez, e,
em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a
luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação
divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo.
10. Eu
vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Eu, pois,
tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até
que ele se cumpra? Vós cuidais que eu
vim trazer paz à Terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em
diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três contra duas e
duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o filho, e o filho contra seu
pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a
nora contra sua sogra. (Lucas, XII: 49-53)
11. Foi
mesmo Jesus, a personificação da doçura e da bondade, ele que não cessava de
pregar o amor do próximo, quem disse estas palavras: Eu não vim trazer a paz,
mas a espada; vim separar o filho do pai, o marido da mulher, vim lançar fogo
na Terra e tenho pressa que ele se acenda? Essas palavras não estão em
flagrante contradição com o seu ensino? Não é uma blasfêmia atribuir-se a
linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia
nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo quem as pronunciou, e
elas atestam a sua elevada sabedoria. Somente a forma, um tanto equívoca, não
exprime exatamente o seu pensamento, o que provocou alguns enganos quanto ao
seu verdadeiro sentido. Tomadas ao pé da letra, elas tenderiam a transformar a
sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e discórdias,
consequência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia
contradizer-se. (Ver cap. XIV, nº 6).
12. Toda
ideia nova encontra forçosamente oposição, e não houve uma única que se
implantasse sem lutas. A resistência, nesses casos, está sempre na razão da
importância dos resultados previstos, pois quanto maior ela for, maior será o
número de interesses ameaçados. Se for uma ideia notoriamente falsa,
considerada sem consequências, ninguém se perturba com ela, e a deixam passar,
confiantes na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeira, se está assentada
em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um secreto
pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de um perigo para
eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se interessam. E é por isso
que se lançam contra ela e os seus adeptos. A medida da importância e das
consequências de uma ideia nova nos é dada, portanto, pela emoção que o seu
aparecimento provoca, pela violência da oposição que desperta, e pela
intensidade e a persistência da cólera dos seus adversários.
13. Jesus
vinha proclamar uma doutrina que minava pelas bases a situação de abusos em que
viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Por isso o
fizeram morrer, julgando matar a ideia com a morte do homem. Mas a ideia
sobreviveu, porque era verdadeira; desenvolveu-se, porque estava nos desígnios
de Deus; e nascida numa pequena vila da Judéia, foi plantar a sua bandeira na
própria capital do mundo pagão, em face dos seus inimigos mais encarniçados,
daqueles que tinham o maior interesse em combatê-la, porque ela subvertia as
crenças seculares, a que muitos se apegavam, mais por interesse do que por
convicção. Era lá que as lutas mais terríveis esperavam os seus apóstolos; as
vítimas foram inumeráveis; mas a ideia cresceu e saiu triunfante, porque
superava, como verdade, as suas antecessoras.
14. Observe-se
que o Cristianismo apareceu quando Paganismo declinava, debatendo-se contra as
luzes da razão. Convencionalmente ainda o praticavam, mas a crença já havia
desaparecido, de maneira que apenas o interesse pessoal o sustinha. Ora, o
interesse é tenaz, não cede nunca à evidência, e irrita-se tanto mais, quanto
mais peremptórios são os raciocínios que se lhe opõem e que melhor demonstram o
seu erro. Bem sabe que está errado, mas isso pouco lhe importa, pois a verdadeira
fé não lhe interessa; pelo contrário, o que mais o amedronta é a luz que
esclarece os cegos. O erro lhe é proveitoso, e por isso a ele se aferra, e o
defende.
Sócrates
não formulara também uma doutrina, até certo ponto, semelhante à do Cristo? Por
que, então, não prevaleceu naquela época, no seio de um dos povos mais
inteligentes da Terra? Porque os tempos ainda não haviam chegado. Ele semeou em
terreno não preparado: o paganismo não estava suficientemente gasto. Cristo
recebeu a sua missão providencial no tempo devido. Nem todos o homens do seu
tempo estavam à altura das ideias cristãs, mas havia um clima geral de aptidão
para assimilá-las, porque já se fazia sentir o vazio que as crenças vulgares
deixavam na alma. Sócrates e Platão abriram o caminho e prepararam os
Espíritos. (Ver na Introdução, parágrafo IV: Sócrates e Platão, precursores da
ideia cristã e do Espiritismo).
15. Os
adeptos da nova doutrina, infelizmente, não se entenderam sobre a interpretação
das palavras do Mestre, na maioria veladas por alegorias e expressões
figuradas. Daí surgirem, desde o princípio, as numerosas seitas que pretendiam,
todas elas, a posse exclusiva da verdade, e que dezoito séculos não conseguiram
pôr de acordo. Esquecendo o mais importante dos preceitos divinos, aquele de
que Jesus havia feito a pedra angular do seu edifício e a condição expressa da
salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo, essas seitas se
anatematizaram reciprocamente, arremeteram-se umas contra as outras, as mais
fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, ou nas torturas e nas
chamas das fogueiras. Os cristãos vencedores do paganismo, passaram de
perseguidos a perseguidores. Foi a ferro e fogo que plantaram a cruz do
cordeiro sem mácula nos dois mundos. É um fato comprovado que as guerras de
religião foram mais cruéis e fizeram maior número de vítimas que as guerras
políticas, e que em nenhuma outra se cometeram tantos atos de atrocidade e de
barbárie.
Seria a culpa da doutrina do Cristo? Não, por
certo, pois ela condena formalmente toda violência. Disse ele em algum momento
aos seus discípulos: Ide matar, queimar, massacrar os que não acreditarem como
vós? Não, pois que lhes disse o contrário: Todos os homens são irmãos, e Deus é
soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos;
fazei bem aos que vos perseguem. E lhes disse ainda: Quem matar com a espada
perecerá pela espada. A responsabilidade, portanto, não é da doutrina de Jesus,
mas daqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a
serviço das suas paixões, daqueles que ignoram estas palavras: O meu Reino não
é deste mundo.
Jesus,
na sua profunda sabedoria, previu o que devia acontecer. Mas essas coisas eram
inevitáveis, porque decorriam da própria inferioridade da natureza humana, que
não podia ser transformada subitamente. Era necessário que o Cristianismo
passasse por essa prova demorada e cruel, de dezoito séculos, para demonstrar
toda a sua pujança: porque, apesar de todo o mal cometido em seu nome, ele saiu
dela puro, e jamais esteve em causa. A censura sempre caiu sobre os que dele
abusaram, pois a cada ato de intolerância sempre se disse: Se o Cristianismo
fosse melhor compreendido e melhor praticado, isso não teria acontecido.
16. Quando
Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz, mas a divisão – seu pensamento
era o seguinte:
“Não
penseis que a minha doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas
sangrentas, para as quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não
me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos,
separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão
se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim
lançar o fogo na Terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe
fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para
que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade.
A guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às
trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida” .
“Então,
quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da
Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o
verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão
enfim compreender, porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um
mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só acarreta
desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens
reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a
este e ao outro mundo, e verão de que
lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranquilidade. Nesse momento,
todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão
restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos ensinei”.
17. O
Espiritismo vem realizar, no tempo determinado, as promessas do Cristo. Não o
pode fazer, entretanto, sem destruir os erros. Como Jesus, ele se defronta com
o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, que, cercados nos
seus últimos redutos, tenta ainda barrar-lhe o caminho, e levantam contra ele
entraves e perseguições. Eis por que ele também é forçado a combater. Mas a
época das lutas e perseguições sangrentas já passou, e as que ele tem de
suportar são todas de ordem moral, sendo que o fim de todas elas se aproxima.
As primeiras duraram séculos; as de agora durarão apenas alguns anos, porque a
luz não parte de um só foco, mas irrompe de todos o ponto do globo, e abrirá
mais depressa os olhos aos cegos.
18. Aquelas
palavras de Jesus devem ser entendidas, portanto, como referentes à cólera que,
segundo previa, a sua doutrina iria suscitar; aos conflitos momentâneos, que
surgiram como consequência; às lutas que teria de sustentar, antes de se
firmar, como aconteceu com os hebreus antes de sua entrada na Terra Prometida;
e não como um desígnio premeditado, de sua parte, de semear a desordem e a
confusão. O mal devia provir dos homens, e não dele. A sua posição era a do
médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar,
revolvendo os humores malignos do enfermo.
Resumo:
Inicialmente, Kardec destaca que as palavras são de Jesus, apesar de a forma
não favorecer o entendimento claro do pensamento que ele exprimia, já que sua
missão era toda de paz. Destaca ainda que uma ideia nova encontra oposição,
tanto maior quanto a importância dos resultados previstos. Assim, Jesus trazia
uma ideia nova, toda de amor e bondade, que ia de encontro aos abusos dos
fariseus, escribas e sacerdotes, gerando uma oposição que culminou com a morte
de Jesus. Essa ideia, porém, sobreviveu à sua morte, pois que era verdadeira,
engrandeceu-se e espalhou-se, enfrentando grandes lutas. Considera ainda que o
Cristianismo surgiu na época propícia, quando o Paganismo já se apresentava
exaurido. Quando as mesmas ideias foram trazidas por Sócrates, o povo, apesar
de muito inteligente, ainda não estava preparado. Na época de Jesus, o caminho
já estava aberto e os espíritos predispostos a essas ideias. Essas ideias, no
entanto, também não foram bem compreendidas, gerando numerosas seitas que se
lançaram em guerra umas contra as outras, por não compreender a ideia central
do Cristo, que é a Caridade. Jesus quis dizer que sua doutrina não se
estabeleceria pacificamente, que traria lutas sangrentas porque os homens não a
teriam compreendido. Mas, de toda essa confusão, sairia triunfante a verdade.
Assim, quando o campo estivesse preparado, seria enviado o Consolador, que
restabeleceria todas as coisas, Kardec destaca ainda que o Espiritismo vem, na
época prevista, realizar as promessas de Jesus, e, da mesma forma, enfrenta
oposições, que agora não são mais sanguinolentas e sim de ordem moral, e que
durarão menos do que as que o Cristianismo teve de enfrentar. Essas palavras de
Jesus devem entender-se portanto, como a cólera que sua doutrina provocaria, em
conflitos momentâneos, e não de uma ideia premeditada de causar confusão. O mal
viria dos homens.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII –
Estranha moral – Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos – Itens 7 e
8.
7. E
a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá eu
primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem
os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus. (Lucas, IX: 59-60).
8 – O
que podem significar estas palavras: “Deixa que os mortos enterrem os seus
mortos”? As considerações precedentes já nos mostraram, antes de tudo, que, na
circunstância em que foram pronunciadas, não podiam exprimir uma censura àquele
que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas elas encerram
um sentido mais profundo, que só um conhecimento mais completo da vida
espiritual pode fazer compreender.
Comentário de Kardec:
A vida espiritual é, realmente, a
verdadeira vida, a vida normal do Espírito. Sua existência terrena é
transitória e passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à
atividade da vida espiritual. O corpo: é uma vestimenta grosseira, que envolve
temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e
da qual ele se sente feliz em libertar-se. O respeito que temos pelos mortos
não se refere à matéria, mas, através da lembrança, ao Espírito ausente. É
semelhante ao que temos pelos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou em
vida, e que guardamos como relíquias. Era isso que aquele homem não podia
compreender por si mesmo. Jesus lho ensinou; dizendo: Não vos inquieteis com o
corpo, mas pensai antes no Espírito; ide pregar o Reino de Deus: ide dizer aos
homens que a sua pátria não se concentra na Terra, mas no Céu, porque somente
lá é que se vive a verdadeira vida.
Após a transfiguração,
quando Jesus ia em direção à Jerusalém, pelo caminho viu um moço e pediu-lhe
que o seguisse. O moço respondeu que
iria, mas que primeiro precisava enterrar seu pai, que havia morrido. Jesus retruca ao moço que ele deveria deixar
os mortos enterrar os seus mortos e recomendou-lhe que fosse anunciar o Reino
de Deus.
Para muitos,
isso é um absurdo, e Jesus não teria tido esse diálogo, narrado em Mateus e
Lucas. Estariam então errados os
evangelistas?
Com relação ao
tema, é importante atentarmos para o fato de que Jesus não quis dizer que
devemos deixar os cadáveres sem sepultura, mas desejou, como sempre, deixar um
ensinamento. Por isso, suas palavras têm
um sentido mais profundo. Jesus falou em
mortos, não em cadáveres, e recomendou a divulgação do Reino de Deus, que é a
vida eterna, a vida do espírito, pois a vida na matéria é temporária e serve
como etapa para nossa evolução, nosso crescimento espiritual.
Deixar aos
mortos o cuidado de enterrar seus mortos é um tema a princípio curioso de um capítulo
igualmente de nome curioso em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Curioso para
aqueles que lhe não penetraram a essência. A primeira vista, aos olhos das
pessoas não familiarizadas com os estudos espíritas, poderia parecer algum tipo
de pregação cruel que não valorizasse, ou mesmo desprezasse os despojos
carnais. “Nossa, então os espíritas não ligam importância ao corpo?” Poderiam,
assim, questionarem-se alguns, preocupados, antes de mais nada, em
desqualificar o Espiritismo e os espíritas em nome de interesses de religião
ou, até mesmo, contra a noção de religião, no caso daqueles que não acreditam
em Deus e na sobrevivência da alma ao fenômeno biológico chamado morte. O
desenvolvimento do tema, no entanto, nos fará ver que não se trata de qualquer
anormalidade, desde que tenhamos o referencial de nossas vidas na ideia de Deus
e da imortalidade da alma.
À primeira
vista, parece-nos uma atitude cruel da parte de Jesus solicitar a alguém que o
seguisse ainda que tivesse que deixar para trás o sepultamento do corpo de seu
pai. A tradição do Judaísmo possui um ritual religioso de preparação do corpo
para o sepultamento, a Taharah, onde é realizada a limpeza física dele, além de
envolvê-lo em uma mortalha simples, da cor branca e composta por linho comum. Além
disso, são realizadas preces por aquele que morreu, pendido perdão a Deus pelos
pecados que ele possa ter cometido e que ele possa alcançar a paz eterna. Estas
informações foram obtidas mediante pesquisa breve na internet, o que pode nos
levantar a seguinte questão: “Se esse ritual é preconizado nos dias de hoje,
terá sido sempre assim entre os judeus?” Não sou especialista em História do
Judaísmo ou dos Judeus, aliás, nem aprecio muito essa categoria de
“especialista”, que tenta “cavar” um lugar de autoridade para aquele que é
chamado a opinar, quase que o colocando como “dono da verdade”. Entretanto, a
tomar pelo zelo com que os Judeus procuram manter suas tradições, é possível
que tenham sido, à época de Jesus, esses os rituais fúnebres ou, pelo menos,
minimamente semelhantes. Estaria, então, Jesus, insurgindo-se contra o piedoso
hábito de dar tratamento digno aos mortos?
Nos comentários
de Kardec temos uma informação que, para os espíritas, é ponto pacífico, que
todos concordam sem dificuldades, mas cuja vivência pessoal é problemática. “A
vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito,
sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se
comparada ao esplendor e à atividade da outra.”. Parece uma questão de fácil
entendimento. Pode até ser. Racionalmente admitirmos, tudo bem. Mas na vida
prática, na vida de relação, no nosso cotidiano, não nos comportamos como se
fôssemos Espíritos portadores de um corpo. Vivemos, lamentavelmente, operando
na lógica contrária.
O Espiritismo,
mostrando a atualidade dos ensinamentos de Jesus, alerta-nos sobre a
importância de cada dia mais nos ligarmos às coisas do espírito, ressaltando
que o respeito aos mortos está muito além das cerimônias e das visitas do Dia de
Finados. O respeito e as honras estão em
nossa postura cotidiana, naquilo que fazemos pelo próximo e na forma como
falamos dos que já abandonaram esta roupagem terrestre. De que adianta no Dia de Finados irmos ao
cemitério, levarmos flores, se no dia-a-dia falamos mal desse que se foi? Isso é respeito?
Só há uma forma
de mostrarmos o nosso respeito: é exercitando o amar ao próximo! Quando aprendermos a amar incondicionalmente,
teremos nos desligado das coisas materiais.
A partir daí, o enterrar nossos mortos será apenas um ato higiênico, de
enterrar cadáveres, que são carne sem vida, e de respeito por um corpo que
ajudou um espírito em sua evolução e que agora será desagregado e por isso
dispensa cultos e homenagens, pois na essência, que é o espírito, a vida não
cessou.
Para a Doutrina
Espírita, a morte é uma separação temporária, e a forma ideal de se demonstrar
saudades e respeito é com preces fervorosas e bons pensamentos, sem datas
marcadas. Essas ações vibram no espaço e
levam reconforto até os que deixaram o plano material pela certeza de que não
foram esquecidos. Não será também essa
uma forma de cumprir a recomendação de Jesus e anunciar o Reino de Deus?
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII –
Estranha moral – Abandonar pai, mãe e filhos – Itens de 4 a 6.
4. E
todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou
o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá cento por
um, e possuirá a vida eterna (Mateus, XIX: 29).
5. Então
disse Pedro: Eis aqui estamos nós, que deixamos tudo e te seguimos. Jesus lhes
respondeu: Em verdade vos digo que ninguém há que uma vez que deixou pelo Reino
de Deus a casa, ou os pais, ou os irmãos, ou a mulher, ou os filhos, logo neste
mundo não receba muito mais, e no século futuro a vida eterna. (Lucas, XVIII:
28-30).
6. E
disse-lhe outro: Eu, Senhor, seguir-te-ei, mas dá-me licença que eu vá primeiro
dispor dos bens que tenho em minha casa. Respondeu-lhe Jesus: Nenhum que mete a
sua mão ao arado, e olha para trás, é apto para o Reino de Deus. (Lucas, IX: 61-62).
Sem
discutir as palavras, devemos procurar compreender o pensamento, que era
evidentemente este: Os interesses da vida futura estão acima de todos os
interesses e todas as considerações de ordem humana, porque isto concorda com a
essência da doutrina de Jesus, enquanto a idéia do abandono da família seria a
sua negação.
Não
temos, aliás, sob os olhos, a aplicação dessas máximas no sacrifício dos
interesses e das afeições da família pela pátria? Condena-se um filho que deixa
o pai, a mãe, os irmãos, a mulher e os próprios filhos, para marchar em defesa
do seu país? Não lhe reconhecemos, pelo contrário, o mérito de deixar as
doçuras do lar e o calor das amizades, para cumprir um dever? Há, pois, deveres
que se sobrepõem a outros. A lei não sanciona a obrigação, para a filha de
deixar os pais e seguir o esposo? O mundo está cheio de casos em que as mais
penosas separações são necessárias. Mas nem por isso as afeições se rompem. O
afastamento não diminui o respeito ou a solicitude que se devem aos pais, nem a
ternura para com os filhos. Vê-se, assim, que mesmo tomada ao pé da letra,
salvo a palavra odiar, essas expressões não seriam a negação do mandamento que
prescreve honrar ao pai e à mãe, nem do sentimento de ternura paterna. Com mais
forte razão, se as analisarmos quanto ao seu espírito.
A
finalidade dessas expressões é mostrar, por uma figura, uma hipérbole, quanto é
imperioso o dever de cuidar da vida futura. Deviam, por isso mesmo, ser menos
chocantes para um povo e uma época em que, por força das circunstâncias, os
laços de família eram menos fortes do que numa civilização moralmente mais
avançada. Esses laços, mais fracos entre os povos primitivos, fortificam-se com
o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. Aliás, a separação, em si
mesma, é necessária ao progresso, e isso tanto no tocante às famílias, quanto
às raças. Umas e outras se abastardam se não houver cruzamentos, se não se
misturarem entre si. É uma lei da natureza, que tanto interessa ao progresso
moral quanto ao progresso material.
Encaramos
as coisas, na terra, apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las
apresenta de mais alto, mostrando-nos que os verdadeiros laços de afeição são
os do Espírito e não os do corpo; que esses laços não se rompem, nem pela
separação, nem mesmo pela morte do corpo; e que eles se fortificam na vida
espiritual, pela depuração do Espírito: consoladora verdade, que nos dá uma
grande força para suportar as vicissitudes da vida.
Para enfrentar a
sombra coletiva em que aquela sociedade estava mergulhada, e também romper com
as raízes que ainda prendiam o homem aos sentimentos mais agressivos, Jesus
precisou trazer uma doutrina de compreensão e bondade, ternura e compaixão, que
não podia ser comparada a qualquer atitude de agressividade interna ou externa,
fosse ela ostensiva ou disfarçada. Era preciso usar de energia e valor moral
para enfrentar os desafios que surgiam com a intenção de impedir a marcha para
a revolução espiritual que Ele trazia. E Ele não cedeu em nenhuma das
diretrizes que traçou para o cumprimento de sua tarefa: romper com as
estruturas do passado onde deveria haver: supremacia da humildade sobre o
orgulho; supremacia do altruísmo sobre o egoísmo; supremacia da compreensão e
da bondade sobre a intolerância. Essas palavras do Evangelho, interpretadas ao
pé da letra, têm dado margem a sérios equívocos entre aspirantes à vida
espiritual. Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar-se aos ideais
superiores, e julgando-os incompatíveis com a vida ordinária, resolvem
abandonar os pais e os irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um
claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam
atendendo ao chamamento do Cristo. Em verdade, porém, essa atitude não condiz
com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo
como a nós mesmos.
Essa era, no
mínimo, uma nova e estranha moral, por ser diferente de tudo o que existia e
por contrariar todas as convicções prevalecentes.
Para usarmos os
ensinamentos de Jesus como recursos na superação das nossas dificuldades,
precisamos estudá-los Infelizmente, para
a grande maioria de nós, essa doutrina continua a ser estranha porque vem de
encontro aos nossos interesses pessoais, aos nossos desejos e caprichos
egoísticos. “Não é minha praia”, dizem uns. “Não tenho paciência para ficar
ouvindo ou lendo”, dizem outros, justificando a total incapacidade de
compreender e muito menos de aceitar os convites que Jesus nos faz para a
transformação dos nossos sentimentos, para a libertação dos comportamentos
desajustados e doentios. Mesmo entre os espíritas, essa incapacidade existe.
Muitas vezes compreende-se a necessidade de mudar, mas não possuímos, ainda, os
instrumentos íntimos para enfrentarmos a nossa realidade. É por isso que ainda precisamos dos
ensinamentos de Jesus. Ele, na verdade, nos convida à terapia da renovação
espiritual. Abandonar pai, mãe, esposa, filhos, fazendas, para segui-Lo.
A ideia de
abandono da família não condiz com a doutrina de Jesus. É, antes, a sua
negação. Mas, se pensarmos que o ensinamento contido nessa passagem é para que
aprendamos a colocar o interesse da vida futura acima da vida material, então,
há concordância com a essência do ensinamento. Fica claro que Jesus pretendeu
nos conscientizar de que a vida futura, ou seja, a vida do Espírito é mais
importante que a vida da matéria. É interessante notar que existe a necessidade
de separação para o progresso. Quem poderia condenar o filho ou a filha que se
separam de seus pais para casarem? E que dizer dos filhos que deixam suas
famílias para defenderem seu país?
Abandonar
aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de
prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio
desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por
isso. Talvez seja até pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da
família, que não lhe faltam com o apoio material e moral, estão cultivando o
sentimento essencial do dever, e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados
da realização espiritual enquanto não haja aprendido as lições mais simples da
vivência comum. Assim, quem abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando
ainda lhes seja indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos
espirituais, será forçado a voltar à pauta dos seus deveres, porque ninguém
pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos
assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar,
na condição de credores de sua melhor atenção e carinho. Por outro lado, não se
devem confundir esses deveres com a preocupação doentia dos que atravessam a
existência acumulando dinheiro e propriedades, para que a família herde um
patrimônio, ainda que, para conseguir esse desiderato, precisem empregar a astúcia,
a desonestidade, a violência e outros recursos menos dignos. Essas obrigações
familiares menos ainda devem fazer-nos esquecidos dos deveres que temos para
com “os outros”; também eles são filhos de Deus, e, pois, nossos irmãos. Não é
razoável, portanto, que, por consideração à família, nos escravizemos às
exigências sociais, a ponto de nunca nos sobrar uma hora para um contato direto
com os sofredores, aos quais devemos solidariedade, como não é justo
despendermos com a parentela, no vicio ou no luxo, quantias que dariam pat5a
atender a inúmeros desafortunados, carecidos de pão, agasalho, remédio, etc.
Devemos
lembrar-nos de que nossos familiares são, como nós, espíritos em evolução e
que, antes de lhes garantirmos uma boa situação material, melhor fora que lhes
déssemos uma boa formação moral; que, ao invés de lhes satisfazermos a todos os
caprichos e vaidades, cumpre-nos despertar-lhes, com o nosso exemplo, o gosto
pela prática do Bem, fazendo-os sentir quanto é sublime renunciar a mesquinhas
satisfações pessoais em favor das necessidades do próximo.
Acreditamos,
mesmo, seja essa a melhor ajuda que possamos oferecer-lhes, embora nem sempre
sejamos compreendidos por eles.
Resumindo: não é
certo desampararmos nossos familiares, na vã tentativa de salvar-nos sozinhos,
nem tampouco nos submetermos aos seus interesses puramente mundanos. O ideal
seria conseguir e manter uma posição de equilíbrio, “dando a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus”.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXIII –
Estranha moral – Odiar os pais – Itens de 1 a 3.
O objetivo deste estudo é refletir sobre algumas frases
evangélicas, tais como, “odiar pai e mãe”, “deixar os mortos enterrar os
mortos”, que causam estranheza e desconforto aos nossos olhos e ouvidos, pois
mostram um Jesus agressivo nas palavras, ou até em contradições.
Uma das importantes missões da D.E. é justamente
esclarecer e levar o homem a raciocinar sobre os ideais de Cristo.
Nesse capítulo – Estranha Moral - Kardec coloca todas as
passagens que podem causar estranheza, mau entendimento, justamente porque se
refere a temas, que quando interpretados ao pé da letra, de forma alguma,
condiz com a conduta Moral de Jesus.
Não que Jesus esteja ensinando algo fora do que já vinha
dizendo, é porque a interpretação dessas passagens causam estranheza.
Antes mesmo de abordarmos as parábolas em questão
precisamos lembrar que a cada época; língua, costumes e palavras são utilizados
em diferentes níveis de interpretação. Lembrando também que as condutas mudam
de acordo com leis que regem o país em que vivemos. De uma língua para outra, o
mesmo termo se reveste de maior ou menor energia. Pode, numa, envolver injúria
ou blasfêmia, e carecer de importância noutra, conforme a ideia que suscite. Na
mesma língua, algumas palavras perdem seu valor com o correr dos séculos. Por
isso é que uma tradução rigorosamente literal nem sempre exprime perfeitamente
o pensamento e que, para manter a exatidão, se tem às vezes de empregar, não
termos correspondentes, mas outros equivalentes.
Certas palavras atribuídas ao Cristo fazem tão singular
contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele
o sentido literal.
Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos
Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar que, em casos
como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é
menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de
ter experimentado alguma alteração.
Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os
copiadores o tenham repetido como se dá frequentemente com relação aos fatos
históricos.
Como os Evangelhos foram escritos por cabeças e mãos
humanas, e muito tempo depois da passagem de Jesus pela Terra, não vamos nos
prender à letra, mas sim ao sentido lógico das frases e palavras, que também
sofreram influências e adaptações, conforme interesses e entendimentos dos
tradutores. Não é de “estranhar” que certamente parte do que Jesus queria
expressar verdadeiramente fora sendo perdido com o passar dos séculos.
Odiar os pais
1. Como nas suas pegadas caminhasse grande
massa de povo, Jesus, voltando-se, disse-lhes: - Se alguém vem a mim e não odeia
a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs,
mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. -E quem quer que não
carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo. - Assim, aquele
dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo. (S.
LUCAS, cap. XIV, vv. 25 a 27 e 33.)
2. Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe, mais
do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha,
mais do que a mim, de mim não é digno. (S. MATEUS, cap. X, v. 37.)
Na verdade neste tema não existe estranha moral, é um
questão de linguagem. O que veio Jesus pregar senão amor e caridade como
aprendemos e sabemos? Será que Jesus pediria que odiássemos a quem quer que
seja? Ainda mais se tratando de nossos familiares? É evidente que não.
Jesus prega plenamente o amor, até entre os inimigos.
Seria um contra senso acreditar que ele falasse em odiar e, mesmo, aborrecer,
no sentido comum que ora conhecemos.
E mesmo que quiséssemos traduzir por odiar, iríamos de
encontro ao caráter e a personalidade de Jesus.
De duas uma: ou a palavra foi escrita de forma indevida,
ou a tradução não pode captar o seu verdadeiro significado.
Nesta passagem evangélica temos uma variação na colocação
das palavras “aborrecer” e “odiar” - no rodapé do cap. XXIII do Evangelho
Segundo o Espiritismo, temos esta explicação: “A palavra “odiar” na época em
que foi escrita queria dizer “amar menos” .
De qualquer forma, tomá-la como amar menos faz mais
sentido e dá uma conotação mais racional ao nosso modo de pensar.
Encontramos pertinente observação
colocada por Kardec no rodapé da página:
"Non odit, em latim: Kaï ou miseï em grego, não quer dizer odiar, porém,
amar menos. O que o verbo grego
miseïn exprime, ainda melhor o expressa o verbo hebreu, de que Jesus se
há de ter servido. Esse verbo não significa apenas odiar, mas, também amar
menos, não amar igualmente, tanto quanto a um outro. No dialeto siríaco, do
qual, dizem, Jesus usava com mais frequência, ainda melhor acentuada é essa
significação.
Nesse sentido é que o Gênese
(capítulo XXIX, vv. 30 e 31) diz: “E Jacob amou também mais a Raquel do que a
Lia, e Jeová, vendo que Lia era odiada”.
É evidente que o verdadeiro
sentido aqui é menos amada. Assim se deve
traduzir.
Esta passagem chama atenção por dois detalhes, comuns,
mas importantes.
O ideal que Jesus quis pregar é que amássemos a todos sem
diferenças, e para segui-lo em sua mais plena natureza missionária o ideal é
que alargássemos a grandeza de nosso amor, muitas vezes, tão reduzido a somente
aqueles que nos são próximos.
O que Jesus quis dizer é que as famílias tinham suas
crenças por tradições muito rigorosas naquilo que adotavam. Para as famílias e
seus membros, desviarem-se das tradições era considerado escândalo, por isso
era motivo de humilhação, portanto, de aborrecimento. Então, aquele que não se
sujeitasse a abandonar as tradições de família, assim como suas próprias
convicções, não poderia aceitar e seguir Jesus. Jesus pregava uma renovação, considerada pelos
tradicionais como revolucionária. Para que uma pessoa seguisse e se adaptasse
àquela renovação era necessário que primeiramente ela renunciasse às próprias
convicções, contrariando, assim, suas famílias.
Jesus pedia para que não ficassem presos a erros e
preconceitos, apenas para se conservar na crença dos pais, ou dos filhos e dos
outros. Além disso, Ele colocava em evidência a necessidade da liberdade de
pensar e agir dentro das opções de cada um. Para seguir Jesus era preciso
quebrar as tradições. Nós sabemos que o que Jesus dizia não era para criar
rivalidades ou abandonar as obrigações com a família. Isto seria uma insensatez
e falta de responsabilidade. Jesus convidava a partirem para uma doutrina
renovadora, mesmo contrariando as opiniões da família. Quantas não são as pessoas
que não podem frequentar uma religião porque um dos seus familiares não o
permite? Quantas pessoas não vão às escondidas ao um Centro Espírita? E por que
não proclamam abertamente a sua religião? Simplesmente para não perturbar o
ambiente doméstico. Também é comum as pessoas dizerem: “Eu nasci nesta
religião, é a religião dos meus pais e não sou eu que vou mudar!” Puro
comodismo!...É fácil manter o rótulo de religiosos sentindo-se desobrigados de
qualquer compromisso com a religião, desobrigados inclusive do temido
compromisso de trabalhar pela própria reforma interior. O mesmo acontecia
naquela época. O outro detalhe é sobre aqueles que usavam, e ainda usam, a
família como obstáculo para se dedicarem a uma religião que exige trabalho e
dedicação. “Não posso, no momento, abandonar a família” e, com isso, deixa
sempre para depois os compromissos com a vida espiritual.
Jesus não exigia que o seguissem fisicamente e nem exige
hoje, que abandonemos a família para seguir o cristianismo, mas sugere que estudemos
os seus ensinamentos, para que, mais esclarecidos e colocando-os em prática,
possamos viver e conviver melhor com os familiares e com o mundo.
Com a mente desperta e livre podemos nos respeitar e
valorizar o amor fraternal.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXII – Não
separeis o que Deus juntou – Indissolubilidade do casamento – Divórcio
5.
O divórcio é
uma lei humana, cuja finalidade é separar legalmente o que já estava separado
de fato. Não é contrário à lei de Deus, pois só reforma o que os homens
fizeram, e só tem aplicação nos casos em que a lei divina não foi considerada.
Se fosse contrário a essa lei a própria Igreja seria forçada a considerar como
prevaricadores aqueles dos seus chefes que, por sua própria autoridade, e em
nome da religião, impuseram o divórcio, em várias circunstâncias. Dupla
prevaricação, porque praticada com vistas unicamente aos interesses materiais,
e não para atender à lei do amor.
Mas nem mesmo Jesus consagrou a indissolubilidade
absoluta do casamento. Não disse ele: “Moisés, pela dureza dos vossos corações,
vos permitiu repudiar as vossas mulheres”? Isto significa que, desde os tempos
de Moisés, não sendo a mútua afeição o motivo único do casamento, a separação podia
tornar-se necessária. Mas acrescenta: “ no princípio não foi assim”, ou seja,
na origem da Humanidade, quando os homens ainda não estavam pervertidos pelo
egoísmo e orgulho, e viviam segundo a lei de Deus, as uniões, fundadas na
simpatia recíproca e não sobre a vaidade ou a ambição, não davam motivo ao
repúdio.
E vai ainda mais longe, pois especifica o caso em que o
repúdio pode verificar-se: o de adultério. Ora, o adultério não existe onde
reina uma afeição recíproca sincera. É verdade que proíbe ao homem desposar a
mulher repudiada, mas é necessário considerar os costumes e o caráter dos
homens do seu tempo. A lei mosaica prescrevia a lapidação para esses casos.
Querendo abolir um costume bárbaro, precisava, naturalmente, de estabelecer uma
penalidade, que encontrou na ignomínia decorrente da proibição de novo
casamento. Era de qualquer maneira, uma lei civil substituída por outra lei
civil, que, por sua vez, como todas as leis dessa natureza, devia sofrer a
prova do tempo.
Para falarmos em divórcio, precisamos
inicialmente pensar na formação do casal, no casamento. O casamento é, principalmente, o encontro de duas almas
que precisam juntas aprender a aparar arestas, a descobrir o caminho, a
alimentar o amor pleno de um
sentimento de luta e de confiança. Sabemos que duas almas podem se unir na Terra
por um compromisso assumido anteriormente, com objetivos que podem ser desde
tarefas a serem desempenhadas em conjunto, como a educação de filhos, por
exemplo, até recuperar o respeito e o
amor perdidos nos caminhos tortuosos do passado espiritual. O estudo da Doutrina Espírita nos mostra que os casamentos
na Terra não se dão unicamente pela aproximação de espíritos simpáticos, há uniões
provacionais, em que se aproximam pelos laços conjugais individualidades
comprometidas por sérios desvios afetivos de vidas anteriores, e, que, pelo livre
arbítrio, provocam uniões apoiadas em interesses outros que não os laços
afetivos, ou do amor. Ou ainda, aquela união que estava programada para nosso
aprendizado. Não sabemos quais laços unem as pessoas, se voltados ao caminhar
juntos, ajudando-se mutuamente, amparando-se um ao outro, ou
laços de reajustes, de correção de erros passados, ou ainda, se a união
foi apenas fruto de interesses
inferiores e mundanos. Só os envolvidos poderão avaliar. Em muitos lances da
experiência, é a própria individualidade, na vida do Espírito, antes da
reencarnação, que assinala a si mesma o casamento difícil que faceará na
estância física, chamando a si o parceiro ou a parceira de existências
pretéritas para os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista de erros
perpetrados em outras épocas. Por vezes, o companheiro ou a companheira voltam
ao exercício da crueldade de outro tempo, seja através de menosprezo,
desrespeito, violência ou deslealdade, e o cônjuge prejudicado nem sempre encontra
recursos em si para se sobrepor aos processos de dilapidação moral de que é
vítima. Compelidos, muita vez, às últimas fronteiras da resistência, é natural
que o esposo ou a esposa, relegado a sofrimento indébito, se valha do divórcio
por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades outras que
lhes complicariam ainda mais o destino. A Sabedoria Divina jamais institui
princípios de violência, e o Espírito, conquanto em muitas situações agrave os
próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper, recusar, modificar,
discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos compromissos que abraça. O
divórcio é um remédio jurídico que tem por objetivo separar legalmente o que
já, de fato, está separado. Quantos casos, antes da lei do divórcio, nós
tomamos conhecimento de pessoas que abandonaram o lar, ficando o outro cônjuges
impossibilitado de reconstruir a sua vida? Historicamente, o divórcio sempre
existiu; chamava-se carta de repúdio. Uma curiosidade: Na Roma antiga, sem
falsos pudores, Cícero, para restaurar suas finanças com dote da jovem e rica
Publilia, não hesitou, depois de trinta anos de vida em comum, em repudiar
Terência, mãe de seus filhos.
O Espiritismo tem uma visão muito compreensiva dos
problemas humanos e aceita claramente o divórcio, que nada mais é que a
concretização exterior do que já havia acontecido na intimidade. Quando a lei
do amor não é considerada, não se pode dizer que Deus uniu o casal. O Livro dos
Espíritos vai ainda mais fundo na questão. Diz que nos equivocamos ao acreditar
que Deus nos obriga a viver com quem nos desagrada. Indagados por Kardec, os
espíritos concordam que quase sempre há uma vítima inocente, mas a sua
infelicidade recairá sobre aqueles que lhe deram causa. (O Livro dos Espíritos
– Uniões Antipáticas – Perguntas 939 a 940)
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XXII – Não
separeis o que Deus juntou – Indissolubilidade do casamento – Divórcio
Indissolubilidade do
casamento – Itens de 1 a 4.
1 – E chegaram-se a ele
os fariseus, tentando-o e dizendo: É porventura lícito a um homem repudiar a
sua mulher, por qualquer causa? Ele, respondendo, lhes disse: Não tendes lido
que quem criou o homem, desde o princípio os fez macho e fêmea? E disse: Por isso,
deixará o homem pai e mãe, e ajuntar-se-á com sua mulher, e serão dois numa só
carne. Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não separe logo o homem o
que Deus ajuntou. Replicaram-lhe eles: Pois por que mandou Moisés dar o homem à
sua mulher carta de desquite, e repudiá-la? Respondeu-lhes: Porque Moisés, pela
dureza de vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas ao
princípio não foi assim. Eu, pois, vos declaro, que todo aquele que repudiar
sua mulher, se não for por causa da fornicação, e casar com outra, comete
adultério, e o que se casar com a que o outro repudiou, comete adultério.
(Mateus, XIX: 3-9)
2 – A não ser o que
procede de Deus, nada é imutável no mundo. Tudo o que procede do homem está
sujeito a mudanças. As leis da natureza são as mesmas em todos os tempos e em
todos os países; as leis humanas, porém, modificam-se segundo os tempos, os
lugares, e o desenvolvimento intelectual. No casamento, o que é de ordem divina
é a união conjugal, para que se opere a renovação dos seres que morrem. Mas as
condições que regulam essa união são de tal maneira humanas, que não há em todo
o mundo, e mesmo na cristandade, dois países em que elas sejam absolutamente
iguais, e não há mesmo um só em que elas não tenham sofrido modificações através
dos tempos. Resulta desse fato que, perante a lei civil, o que é legítimo num
país e m certa época, torna-se adultério noutro país e noutro tempo. Isso
porque a lei civil tem por fim regular os interesses familiais e esses
interesses variam segundo os costumes e as necessidades locais. É assim, por
exemplo, que em certos países o casamento religioso é o único legítimo,
enquanto em outros o casamento civil é suficiente.
3 – Mas, na união
conjugal, ao lado da lei divina material, comum a todos os seres vivos, existe
outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, e exclusivamente moral,
que é a lei do amor. Deus quis que os seres se unissem, não somente pelos laços
carnais, mas também pelos da alma, a fim de que a mútua afeição dos esposos se
estenda aos filhos, e para que sejam dois, em vez de um, a amá-los, tratá-los e
fazê-los progredir. Nas condições ordinárias do casamento, é levada em conta a
lei do amor? Absolutamente! Não se consulta o sentimento mútuo de dois seres,
que se atraem reciprocamente, pois na maioria das vezes, esse sentimento é
rompido. O que se procura não é a satisfação do coração, mas a do orgulho, da
vaidade, da cupidez, numa palavra: todos os interesses materiais. Quando tudo
corre bem, segundo esses interesses, diz-se que o casamento é conveniente, e
quando as bolsas estão bem equilibradas, diz-se que os esposos estão igualmente
harmonizados e devem ser muito felizes.
Mas nem a lei civil,
nem os compromissos que ela determina, podem suprir a lei do amor, se esta não
presidir à união. Disso resulta frequentemente, que aquilo que se uniu à força,
por si mesmo se separa, e que o juramento pronunciado ao pé do altar se torna
um prejuízo, se foi dito como simples fórmula. São assim as uniões infelizes,
que se tornam criminosas. Dupla desgraça, que se evitaria se, nas condições do
matrimônio, não se esquecesse à única lei que o sanciona aos olhos de Deus: a
lei do amor. Quando Deus disse: “Serão dois numa só carne”, e quando Jesus
advertiu: “Não separe o homem o que Deus juntou”, isso deve ser entendido
segundo a lei imutável de Deus, e não segundo a lei instável dos homens.
4 – A lei civil seria
então supérflua, e deveríamos retornar aos casamentos segundo a natureza? Não,
certamente. Porque a lei civil tem por fim regular as relações sociais e os
interesse familiais, segundo as exigências da civilização, e eis porque ela é
útil, necessária, mas variável. Deve ela ser previdente, porque o homem
civilizado não pode viver como o selvagem. Mas nada, absolutamente, impede que
ela seja um corolário da lei de Deus. Os obstáculos ao cumprimento da lei
divina decorrem dos preconceitos sociais e não da lei civil. Esses
preconceitos, embora ainda vivazes, já perderam o seu domínio sobre os povos
esclarecidos, e desaparecerão com o progresso moral, que abrirá finalmente os
olhos dos homens para os males incontáveis, as faltas, e até mesmo os crimes
que resultam das uniões contraídas com vistas apenas aos interesses materiais.
E um dia se perguntará se é mais humano, mais caridoso, mais moral, ligar um ao
outro, dois seres que não podem viver juntos, ou restituir-lhes a liberdade; se
a perspectiva de uma cadeia indissolúvel não aumenta o número das uniões
irregulares.
Neste capítulo
acontecem duas coisas diferentes. Em primeiro lugar, Kardec restringe-se à fala
do Cristo; e em segundo, por razão desconhecida, não há instruções dos
Espíritos. Sobre este assunto, os Espíritos fizeram silêncio. Kardec aborda a
fala de Jesus a partir de uma perspectiva espírita, porque essa fala está num
contexto diferente do nosso. Jesus não viveu no século XXI; a sua fala, os
elementos daquela narrativa, estão focados na Palestina de dois mil anos atrás.
Na introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, objeto do nosso estudo,
Kardec nos faz essa advertência. Diz o codificador em Notícias Históricas: -
Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz
conhecer o valor de muitas palavras neles frequentemente empregadas e que
caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não
tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal
interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A inteligência da
significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas
que, à primeira vista, parecem singulares. E nós estamos diante de uma fala
singular. Nós vamos apreciar o texto do Evangelho de Mateus, item um do estudo,
que relata o encontro de Jesus com os fariseus, os doutores da lei, aqueles que
eram mais aptos a interpretar a lei de Moisés, que costumamos chamar de Velho
Testamento. “Assim que já não são dois, mas uma só carne. Não separe logo o
homem o que Deus ajuntou. Replicaram-lhe eles: Pois por que mandou Moisés dar o
homem à sua mulher carta de desquite, e repudiá-la? Respondeu-lhes: Porque
Moisés, pela dureza de vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres,
mas ao princípio não foi assim. Eu, pois, vos declaro, que todo aquele que
repudiar sua mulher, se não for por causa da fornicação, e casar com outra,
comete adultério, e o que se casar com a que o outro repudiou, comete
adultério”.
Esta é uma fala
difícil, porque a narrativa parece recheada aos nossos olhos e aos nossos
ouvidos de uma série de elementos estranhos, que parecem pressupor uma
imposição da divindade em relação às uniões. Nós vamos procurar fazer uma
análise um pouco mais profunda; o que representa o costume, a língua e aqueles
elementos que faziam parte da cultura das pessoas que ouviam Jesus, para que
possamos compreender o quanto às vezes a nossa percepção se distancia da
essência da mensagem, por nossas visões constituídas de elementos da
atualidade, e não daquela época. Vajamos: há uma fala que diz que os fariseus
chegaram a Ele para tenta-lo. Mas, acontece que essa frase denota algo
importante na interpretação dessa passagem. À época de Jesus, era muito comum
que os doutores da lei se colocassem diante uns dos outros para avaliarem a
capacidade de entendimento das leis divinas que cada um trazia. Essa frase
inicial nos mostra que não estamos diante de um diálogo comum. Estamos diante
de pessoas que conhecem as leis. Quando esse diálogo se inicia, nós temos aí
uma proposta diferente, através de uma pergunta que é formulada nos seguintes
termos: será permitido ao homem despedir sua mulher por qualquer motivo? Qual
seria o sentido da indagação? Será que os fariseus estavam perguntando sobre o
divórcio? Não. O divórcio era prática comum naquela sociedade. O dote dado à
esposa era não raro para garantir a ela um mínimo de condição de vida. Quando
os fariseus fazem essa pergunta, eles não estão questionando Jesus se o
divórcio é uma possibilidade. A questão aqui não é essa. A questão é a causa do
divórcio. É permitido despedir a esposa em qualquer situação? Esta indagação
deriva dos versículos iniciais do capítulo XXIV, do livro de Deuteronômio, em
que Moisés estabelece a possibilidade do divórcio. A interpretação desse
versículo foi dividida entre duas escolas. A primeira foi a de Shamai, que era
um pouco mais rígida. Shamai dizia que era possível o divórcio, mas somente no
caso de adultério ou que a mulher impedisse o homem de seguir a lei mosaica. E
Hilel, que constituía a segunda escola, afirmava de maneira diferente. Qualquer
motivo poderia dar ensejo à separação.
Quando os fariseus fazem essa pergunta a Jesus, há aqui em pressuposto;
a qual das duas escolas você segue, a mais rígida ou a mais liberal? É este o
sentido da pergunta. E Jesus respondeu à altura, fazendo referência a um livro
que é anterior ao Deuteronômio. Na prática interpretativa do povo judeu há uma
prevalência dos livros antigos, e é exatamente o que Jesus faz quando diz: Não
tendes lido que quem criou o homem, desde o princípio os fez macho e fêmea? A
questão é onde está escrita essa fala. Está precisamente em Gênesis no capítulo
I, versículo 27. Percebamos a natureza do diálogo; uma pergunta feita com base
numa escola e uma resposta dada mostrando um profundo conhecimento dos textos
do Velho Testamento. E Jesus encerra a sua fala dizendo: Assim que já não são
dois, mas uma só carne. Não separe logo o homem o que Deus ajuntou. Aqui temos
um detalhe importante. Deus não é católico; Deus não é certidão de casamento;
Deus não é interesses familiares. Nas palavras do apóstolo João, Deus é amor.
Então, o que o amor uniu o homem não separe. É esse o sentido da frase de
Jesus. Durante muito tempo nós convertemos as nossas uniões em processos
gravíssimos de aprisionamento, porque acreditamos que os convencionalismos
sociais pairam acima da lei universal do amor.
Compreendamos que além
da união dos sexos deve haver a união de almas, a afinidade espiritual, o
cumprimento da lei do Amor, quando os dois “farão uma só carne”. Aí, então,
justifica-se a recomendação de Jesus: “Não separeis o que Deus juntou”.
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