O Sermão do Monte comentado em capítulos
Capítulo 01
Quando Moisés implantou as suas leis, foi para que o
homem daquela época pudesse se pautar por um código que tinha limites,
punições, castigos, porque aquelas criaturas só entendiam aquela linguagem, só
entendiam aquela sistemática que era da pressão, do medo, do temor. Mas, quando
veio Jesus, Ele trouxe para nós um novo código de ética. Deu-nos o Sermão do
Monte, que é o texto mais importante do
Novo Testamento. Nele estão expressos os principais conceitos do Cristianismo,
e contém, sem dúvida alguma, a síntese da mensagem do Cristo. É o maior e mais
completo código de ética existente no mundo. É a iniciação cristã do processo
de evolução do espírito, em sua jornada terrena.
Se pudéssemos fazer uma comparação, diríamos que o Sermão
da Montanha está para nós, assim como os Dez Mandamentos estão para os judeus.
O Sermão do Monte não se trata de descrições de alguém excepcionalmente
virtuoso, mas, sim, das características que todas as criaturas devem ter. Ele é
o maior de todos os discursos que Jesus teria proferido, registrado nos
Evangelhos. Ele é tão rico, tão completo, que Mahatma Gandhi, o grande líder
indiano, que não era cristão, ao travar contato direto com o Evangelho de
Jesus, e, lendo-o, asseverou com muita propriedade: Se toda a literatura
espiritual da Humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada
estaria perdido.
As Bem-aventuranças, dentro do Sermão do Monte, é um
longo discurso de Jesus. Dos quatro evangelistas que narram a história do
Cristo, apenas dois contam a história do Sermão. Um deles é Lucas, e o outro é
Mateus. Os discursos são semelhantes mas profundamente diferentes. O discurso
de Mateus é um discurso longo, de três capítulos consecutivos; vai do capítulo
quinto ao sétimo do texto. Já o discurso de Lucas é bem menor, ocupa apenas
parte do seu capítulo sexto. E fragmentos que estão contidos na pregação de
Mateus aparecem espalhados em alguns lugares do Evangelho de Lucas. A diferença
entre os dois Evangelhos é que, no de Mateus, embora seja apenas uma
curiosidade, o evangelista diz que Jesus subiu ao alto do monte e, olhando a
multidão, sentou e, abrindo a sua boca, ensinava, dizendo... Já no evangelho de
Lucas, a mensagem é dita de maneira diferente; ele diz que Jesus percebendo a
multidão que o seguia, desceu para um lugar plano e, chegando a esse lugar,
abriu a sua boca e ensinava, dizendo...
Esse discurso é uma série de afirmações sobre as
qualidades do verdadeiro discípulo do Cristo. Essas Bem-aventuranças mal entendidas
representam o mais violento contraste entre os padrões do homem material e o
ideal do ser espiritual. Na primeira frase, Jesus faz referência ao sofrimento
daquele povo, quando Ele coloca Bem-aventurados os aflitos, pois serão
consolados. A partir dessa colocação, começam a surgir dúvidas. Como chamar de felizes os que choram; de felizes os
injustiçados; de felizes os que sofrem perseguição. Existe uma aparente
contradição nisso tudo. Jesus proclama felizes, precisamente, aqueles que o
mundo considera infelizes. O Cristo ensinou o avesso daquilo que os homens
pensavam. Bem-aventurados os que sofrem, porque se alegrarão, porque deles é o
reino dos céus. Isto sugere que tudo aquilo que é colocado como Bem-aventurado,
se bem vivido, bem experimentado, resulta em Bem-aventurança. E essas
Bem-aventuranças englobam uma série de situações humanas em que, no momento que
você observa, dá a impressão de que está tudo errado. Mas atado a esse suposto
erro há sempre uma situação grandiosa sendo prometida. Bem-aventurado é uma
expressão de Jesus, que significa Bem encaminhado, feliz, sob o aspecto
espiritual.
Capítulo 02
Talvez, o grande problema das criaturas seja o entendimento do Sermão da Montanha, porque não é fácil entendê-lo. Para que possamos entender melhor essas Bem-aventuranças, é necessário que façamos um preâmbulo.
A época em que o Império Romano assumia o controle da Palestina, a estrutura social se dividia basicamente em três grupos: os religiosos, composto por vários segmentos políticos, detentores de todas as honrarias do povo, afinal de contas eles eram sacerdotes e, por esta razão, eram tidos como quase intocáveis, eram vistos como homens de rigor e da lei, que mediam as ações das criaturas e, por este motivo, não se misturavam aos demais, era uma casta separada dentro da população, dentro da sociedade de Israel. O segundo grupo também vivia na mesma realidade. Era o grupo dos poderosos, dos ricos, não tinham autoridade religiosa, mas eram homens dotados de riqueza e, aquela época, o conceito judaico de riqueza era um conceito de uma bênção divina. Eles eram ricos porque eram homens abençoados. O pobre era um homem amaldiçoado. Os romanos tripudiavam sobre os judeus, criando um clima de extrema hostilidade entre eles. Assim, a sociedade se dividia entre os sacerdotes, os ricos e aqueles que não eram detentores de nada, os pobres, os rejeitados, os famintos, aqueles para os quais não havia nenhuma esperança específica. E é nesse cenário, marcado por esses três grupos, que surge uma figura estranha, diferente daquela que se estava acostumado a ver entre os pregadores de Israel. Aparece no meio do povo um jovem vindo da região da Galileia, uma região que nunca dera a Israel nenhum profeta, alguém que não era rabino, não era doutor da lei, não tinha nenhuma tradição. Esse jovem, que apareceu nas cercanias de Jerusalém, logo chamou a atenção pela pregação que fazia. Ele apareceu na cidade e a breve tempo começou a agregar pessoas em torno de si, pela coragem que tinha de apresentar as suas teses, os seus pensamentos, em confronto com aquilo que a lei antiga preconizava. A forma de se apresentar era diferente da dos rabinos, porque estes usavam roupas impecáveis, muito limpas, uma vestimenta muito própria para que fossem reconhecidos nas ruas quando passassem. O homem do qual estamos falando não usava nenhuma veste especial, misturava-se com o povo. E, assim, no início de sua pregação, que segundo se crê durou aproximadamente três anos, esse Jesus de Nazaré reuniu uma multidão e subiu ao alto de um monte, propiciando que as criaturas ficassem no sopé, e pudessem ouvir a sua mensagem. Conta o evangelista Mateus que não havia apenas uma multidão, mas, sim, as multidões. Ora, se eram multidões, isso significa dizer que havia mais de um grupo a ouvir o Nazareno. E é razoável que assim tenha sido, porque a espera de um Messias, o desejo que aparecesse essa figura singular, que iria transformar a história, era tão esperada que justificava a presença daquelas criaturas para ouvir a pregação daquele que estava no início de seu trabalho público. É possível, então, nós imaginarmos o Mestre no alto do monte, sentado, cercado por um conjunto de pessoas ávidas para ouvi-lo, por interesses distintos, certamente envolvidos na atmosfera da curiosidade, por conta daquilo que ele poderia trazer, já que apresentava teses religiosas, e os sacerdotes não se furtaram de ali estar para medir as suas palavras, para julgar os seus ensinamentos, para encontrar formas de condená-lo, diante da lei de Moisés. Para apreciar se aquele jovem Galileu, que não tinha nenhuma vinculação com a escola tradicional de rabinos, iria apresentar algum pensamento que ferisse a lei mosaica. Era, portanto, imprescindível vigiá-lo, acompanha-lo de perto, observar aquilo que ele apresentava, para verificar até que ponto ele era uma figura nociva que surgia dentro de Israel.
Capítulo 03
Ao mesmo tempo, os
homens de poder, os ricos e poderosos, sem autoridade religiosa, mas dotados da
capacidade de influenciar o governo pelo poder econômico que possuíam,
certamente também estavam ali para julgar aquele forasteiro de roupas e cabelos
estranhos. Convém lembrar que cada região de Israel possuía hábitos distintos
de vestimenta e formas diferentes de cultivar os cabelos. Além dos sacerdotes e
dos poderosos, também estava ali a multidão desesperançada, aqueles que haviam
perdido a crença de que poderiam ser felizes. Assim, é possível destacar três
multidões sentadas, a espera do discurso de Jesus. Agora, a qual delas se
dirigiria Jesus? Certamente, em função da presença dos sacerdotes iria falar ao
grupo daqueles homens poderosos do templo para mostrar o conhecimento da lei
que possuía. É lógico também que não desagradaria aos ricos que ali estavam,
uma vez que eles eram os senhores de todo poder. Entretanto, diferentemente do
que se poderia imaginar, o Cristo observando as multidões em seu redor, abre a
sua boca e, promovendo um escândalo sem par entre aqueles que lhe ouviam,
apresenta o seu discurso àqueles que menos se esperava que ele fizesse. O
Mestre não fala para os sacerdotes; não fala para os ricos; fala para aqueles
que tinham a crença de que nada mais restava senão a desgraça. Então, Jesus
começa o Sermão com as Bem-aventuranças, uma série de afirmações sobre as
qualidades do verdadeiro discípulo Dele, para alcançar a tão sonhada
felicidade, para alcançar um nível de consciência superior denominado reino dos
céus. A primeira parte do Sermão, Jesus se dirige aos sofredores, pois aquele
povo sofria, como hoje, na atualidade, estamos sofrendo, enaltecendo os
pequenos e, em nenhum momento se volta para enaltecer aqueles que são
poderosos. Conta o evangelista Mateus que o Cristo abre a sua boca e diz:
Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus. Isto dito naquela época,
seria considerado um tremendo desaforo. Não se podia exaltar um pequeno,
enaltecer aquele que não tem valor e não fazer reverência aos sacerdotes que
ali estavam. Agora, por que “pobres de espírito”? Bem-aventurados os pobres não
seria suficiente? Não! Porque há várias formas de pobreza. Porém, só a pobreza
de espírito é que faz jus ao reino dos céus. Há grande número de maltrapilhos e
de mendigos que são orgulhosos. Muitos entendem que pobre de espírito são
aquelas criaturas ignorantes, aquelas criaturas tolas, aquelas criaturas
desprovidas de sensibilidade intelectual. Mas, se isso fosse verdade, seria um
contrassenso, porque Jesus estaria dizendo que o reino dos céus não seria para
Ele, pois, o Cristo não se enquadrava nessa definição. O que o Mestre quis
dizer é que o reino dos céus é para aquelas pessoas despidas de orgulho; para
aquelas pessoas que não se envaidecem; para aquelas pessoas que reconhecem não
ter autossuficiência espiritual, e que dependem, exclusivamente, do poder de
Deus. A entrada no reino dos céus só é facultada àqueles que cumprem as leis de
Deus. A pobreza de espírito é uma pobreza no sentido da alma. Evidentemente, Jesus está nos incentivando a
desenvolver a humildade. Jesus estava prometendo o Reino de Deus para aqueles
que acham que não sabem nada, que não querem privilégios, que não querem
reconhecimento, e que precisam melhorar.
Bem-aventurado os
aflitos, os que choram, porque eles serão consolados. Como é que alguém pode
ser Bem-aventurado se está em aflição? Mas, como consolado? Muitas pessoas
choram desde que nasceram. Continuam chorando, e não têm consolo nenhum. Só
sofrimento. Onde estaria essa consolação, essa Bem-aventurança? Por mais que
possa parecer incoerente, nós, espíritas, sabemos que o espírito que reencarna
vem com proposta de crescer. E muitas das vezes, aquela dívida do “pretérito”,
ou seja, aquela limitação no aspecto físico, ou, até moral espiritual é
compatível com toda bagagem que ele trouxe para reencarnar. Bagagem que ele
trouxe de vidas passadas. O sofrimento de hoje é em virtude das atitudes
infelizes do passado, numa nova oportunidade de crescer espiritualmente. As
aflições fazem parte da justiça. Disse o Cristo: Os que sofrem serão consolados.
Ele não disse “são”, disse “serão”. Por isto, somente na vida futura podem
efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra. A
consolação nasce, diretamente, do profundo sentimento de alegria e alívio pelo
cumprimento integral do resgate.
Capítulo
04
Bem-aventurados os
mansos e pacíficos, porque eles herdarão a Terra. Fica difícil entender essa
colocação de Jesus. A Terra sempre foi subjugada pelos fortes, pelos potentes,
pelos duros, pelos cruéis, principalmente através das guerras, e, aí, Jesus
fala que os mansos herdarão a Terra. Naquela época os territórios eram
invadidos pelos povos. Os invasores tomavam posse, faziam prisioneiros, faziam
escravos, tudo para aumentar suas conquistas. Jesus diz justamente o oposto do
que acontecia, quando os guerreiros é que possuíam a Terra. Naquela ocasião, o
Mestre estava falando ao espírito e não à matéria. Para aquele povo, não dava para entender.
Mas, nós, espíritas, sabemos que o nosso planeta já foi um mundo primitivo. Ele
hoje é um planeta de expiações e provas e, mais adiante, estará chegando a um
grau maior, será um mundo de regeneração, para futuramente chegar à condição de
um mundo feliz, um mundo divino, certamente. Ser manso e pacífico é uma
condição interior. A pessoa pacífica é aquela que procura acomodar as coisas,
que não joga uns contra os outros, que não cria confusão. É aquela que, em
qualquer conflito, procura acomodar os ânimos e não incentivá-los. O nosso
planeta, como nos dizem os Bons Espíritos, está no momento culminante da
transformação que já foi iniciada, e só permanecerão aqui os mansos e
pacíficos, ou seja, aqueles que querem realmente contribuir para a paz. E só
estes terão o merecimento para reencarnar na Terra em épocas futuras,
herdando-a. Convém lembrar que mansuetude não é sinônimo de covardia, de
omissão. Ser manso é procurar adquirir uma qualidade de não ser agressivo. É
procurar lutar contra o instinto do olho por olho, dente por dente. Ser manso e
pacífico é uma etapa que cada um de nós deve buscar a passos largos para
podermos novamente habitar a Terra, numa nova situação.
Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Como fartos de justiça?
Uma criatura nasce cega, muda e surda, em pleno sofrimento, e outra nasce em
berço esplêndido. Uma é intelectualizada, e outra debiloide; uma é rica, a
outra pobre. Onde está a justiça? A Doutrina Espírita tem a explicação. A
justiça de Deus nunca deixa de acontecer. Como disse Jesus, a semeadura é
livre, mas a colheita é obrigatória; a cada um será dado de acordo com suas
obras. A vida é única. As experiências são diversas. Ora no plano espiritual,
ora no seio da Terra, na indumentária física. Então, aquelas criaturas que
muito aprontaram nessa existência, e não aconteceu nada, certamente vão voltar,
e irão experimentar uma situação muito mais complicada. Deus castiga? Não! Deus
educa, dando uma nova oportunidade. A justiça de Deus é perfeita. Por isso,
está tudo certo.
Bem-aventurados os
misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Como Deus é misericordioso
conosco, nós também devemos ser misericordiosos com as criaturas, ou seja,
olhar para elas e ter piedade. É procurar desculpar as ofensas e exercitar o
perdão; é ter misericórdia em todas as situações. Aquela criatura precisa de
mim, então, eu vou ajudá-la. Isto é misericórdia. Eu sei que o fulano não está
numa situação boa. Na medida do possível, eu vou até ele para ajudá-lo. Isso é
piedade, é compaixão. Ora, se Deus tem compaixão de todos nós, por que não
temos essa compaixão para com o próximo? É ter
sentimento de perdão para com todas as criaturas que, ao longo da nossa
vida, entendemos que nos ofenderam. Sede
misericordioso, disse Jesus, no imperativo, para obtermos misericórdia. E todos
nós precisamos de misericórdia.
Bem-aventurado os
limpos de coração, porque eles verão Deus. Jesus está falando de uma limpeza
interior, isenta de orgulho, de maldade e de hipocrisia. O Mestre está chamando
a nossa atenção para que não enveredemos pelo caminho errado dos fariseus, que
eram tão meticulosos quanto à limpeza cerimonial, com suas regras extremamente
rígidas. Tinham o espírito preocupado com as restrições e com o temor da
contaminação exterior, porém, não percebiam a manha do egoísmo e da malícia que
tomava conta deles. Essa limpeza se
evidencia no nosso relacionamento de amor com Deus e com nosso próximo. Para
ver Deus, a criatura tem que se transformar num espírito puro, e para isso, o
tempo espera. A Natureza não dá saltos. Cada um vai se purificar ao seu tempo e
à sua hora.
Bem-aventurados os que
sofrem por amor a mim. Na época de Jesus era muito comum a perseguição aos
cristãos. Eles representavam uma ameaça para a doutrina judaica, e os judeus
ortodoxos os perseguiam de uma maneira violenta. Exultai-vos e alegrai-vos,
porque grande será o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os
profetas que foram antes de vós, disse o Cristo. Aqueles perseguidos estavam
dando o testemunho, estavam colocando a sua fé acima da perseguição. É uma
benção nós podermos sofrer em nome de Jesus. Quando nós abraçamos a causa
cristã, criamos uma força redobrada e nos alegramos e, certamente, um galardão
nos espera, ou seja, o prêmio pela nossa atitude feliz.
Capítulo
05
E Jesus, reforçando a
sua fala, segue no seu discurso enaltecendo os excluídos, dizendo: Vós sois o
sal da Terra. Mas, o que significa, na verdade, isso? Para que possamos
compreender o que Jesus queria dizer com essa expressão, se faz necessário que
voltemos no tempo e indaguemos: o que o sal representava para aquele povo? O
sal era o instrumento utilizado para conservar os alimentos, para que estes
pudessem ser guardados por mais tempo. Quando O Cristo diz que aquelas
criaturas eram o sal da Terra, é porque elas seriam os responsáveis por salgar
aquele alimento que estava sendo oferecido, para que as gerações futuras
pudessem se alimentar daquilo que estava sendo oferecido naquele momento. Em
outras palavras, o Mestre estava passando a responsabilidade para aqueles que O
ouviam de conservar os seus ensinamentos. Por isto, por sermos o sal da Terra,
temos que falar de Jesus; temos que falar do Sermão do Monte; temos que falar
de Doutrina Espírita.
Em seguida, diz Jesus:
Vós sois a luz do mundo! E fala que não devemos nos esconder, porque quando
alguém tem uma luz não a coloca escondida. Coloca essa luz no alto, para que
ilumine a todos que estão na casa. O Cristo indica para nós que o conhecimento
do qual somos portadores nos impulsiona para que sejamos os partícipes da Boa
Nova na sociedade em que vivemos; que façamos o envolvimento daqueles que estão
próximos de nós. O cristão tem o compromisso de espalhar a proposta
comportamental que o Mestre apresentou para nós. Os estudiosos que analisam a
doutrina de Jesus dizem que ela é extremamente simples, e que o pensamento do
Cristo pode ser resumido em quatro fundamentos: O amor ao próximo; O perdão aos
inimigos; O desapego aos bens materiais e o combate à hipocrisia. A mensagem do
Mestre não é uma mensagem teológica; Não é uma mensagem para a fundação de uma
nova igreja. Ela é uma proposta comportamental, baseada numa relação nossa com
o próximo. Como ensinou Jesus, não sejamos estrelas apagadas, mas façamos
brilhar a nossa luz onde quer que estejamos. Assim, resplandeça a vossa luz
diante dos homens. Nós temos a obrigação de aumentar a nossa luz e clarear o
caminho de nossos irmãos de caminhada.
Na sequência, Jesus
apresenta cinco mandamentos da lei antiga, e faz pequenas correções. Ouviste o
que foi dito aos antigos; e mostra o texto como os judeus apresentavam, e faz a
correção que Ele gostaria que nós observássemos.
Não cuideis que vim destruir
a lei ou os profetas: não vim revogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo
que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da
lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o
menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado
grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a
dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.
Ouvistes que foi dito
aos antigos: Se o vosso olho direito for motivo de escândalo, arrancai-o; pois,
é melhor adentrardes na vida sem o olho do que serdes lançado no fogo do
inferno. Se a vossa mão direita for motivo de escândalo, ou seja, fazendo mal
para alguém, arrancai-a, é melhor adentrares mutilado na vida do que serdes
condenado ao fogo do inferno. Quando nós usamos os nossos talentos de uma
maneira indevida, Deus nos tira esses talentos, e vamos reencarnar numa
situação mais limitada. Quando apontamos o defeito do outro, comprometendo a
vida da pessoa; quando usamos a nossa fala para difamar uma criatura; quando
nós usamos a nossa mão para empunhar uma arma, e tirar a vida do próximo, nós
somos responsáveis.
Capítulo
06
Não matarás; mas
qualquer que matar será réu em juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que se encolerizar
contra seu irmão, já é réu em juízo. A raiva é o retrato de uma pequena cólera.
A pessoa que tem raiva ou se encoleriza, canaliza uma vibração negativa contra
a pessoa, e isso é de nossa responsabilidade. Por isso, Jesus destacou que se
deva ter o cuidado para não nos encolerizarmos contra as criaturas. Geralmente
a gente tem raiva de uma pessoa, e até deseja alguma coisa ruim para ela
(tomara que aconteça isso com ela), mas não devemos fazer isso, porque, nesse
momento, já estamos sendo réus em juízo, e lá na frente, alguma coisa vai
acontecer conosco, e aí nós vamos questionar: Meu Deus! Porque aconteceu isso
comigo? Então, basta a criatura não ter piedade para com seu próximo para estar
incriminada. Quando apontamos o defeito do outro, comprometendo a vida da
pessoa; quando usamos a nossa fala para difamar uma criatura; quando nós usamos
a nossa mão para empunhar uma arma, e tirar a vida do próximo, nós somos
responsáveis.
Quando fores depositar a tua oferenda no
altar, e ali te lembrares de que o teu irmão tem qualquer coisa contra ti,
deixa lá a tua dádiva junto ao altar e vai, antes, reconciliar-te com o teu
irmão; depois, então, volta para oferecê-la. Reconcilia-te o mais depressa
possível com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que ele
não te entregue ao juiz, e este ao ministro da justiça e não sejas metido na
prisão. Digo-te, em verdade, que daí não sairás, enquanto não houveres pago o
último centavo.
Não cometerás
adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para
cobiçá-la, já em seu coração cometeu adultério com ela. Jesus diz que o
adultério começa pela mente. E, às vezes, usamos a nossa mente de maneira
equivocada, e aí já estamos plasmando, e se não nos dermos conta, já estaremos
realizando, e ao realizar aquele pensamento em desequilíbrio gerará um problema
sério para nós. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, ou seja, for
para ti origem de pecado, arranca-o e
atira-o para longe de ti; pois é melhor que se perca um dos teus membros do que
seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te
escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos
teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. Quando
apontamos o defeito do outro, comprometendo a vida da pessoa; quando usamos a
nossa fala para difamar uma criatura; nós também somos responsáveis.
Não resistais ao mal.
“Olho por olho, e dente por dente”. Eu, porém, vos digo: Não oponhais
resistência ao mau; se alguém vos bater na face direita, ofertai a outra; se
alguém vos pedir a túnica, daí também a capa; e se alguém vos convidar a
caminhar uma milha, caminhai duas. Aquele que perseverar até o fim será salvo.
É lógico que nós não vamos dar o rosto para o outro bater do outro lado. A
expressão significa ignorar, porque se nós resistirmos ao mal, ele se
fortalece. O mal existe pela ausência do bem.
No mandamento mais
forte de todos e, até hoje, é entendido como o maior de todos os escândalos
pregados por Jesus, Ele diz assim: Ouviste o que foi dito aos antigos: amarás o
teu próximo e odiarás o teu inimigo; Eu,
porém, vos digo: amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos
odeiam; bendizei aos que vos mal dizem, e orai pelos que vos perseguem e vos
caluniam. E Jesus coloca pra nós como isso poderia ser feito. Fazei o bem aos
que nos aborrecem, ou seja, se a criatura nos faz mal, fazemos o bem a ela;
amar o seu inimigo é fazer o bem a quem nos faz mal. Isto é a forma prática de
vivenciar o amor aos inimigos. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa
haveis de ter? Não o fazem já os publicanos? E, se saudais somente os vossos
irmãos que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Sede, pois,
perfeitos como é perfeito vosso Pai celeste.
Deus faz com que o sol nasça para os bons e para os maus, e chova para
os justos e injustos. Ora, se Deus dá
para todas as criaturas o sol e chuva, porque nós ficamos resistindo ao mal?
Nesse momento, Jesus
encerra a primeira etapa do Seu discurso. Ele havia falado para a multidão dos
excluídos. A segunda parte do discurso já não é num tom consolador. Agora Ele
fala para os ricos e poderosos. E,
olhando uma segunda multidão que aguardava Dele alguma honraria, o Cristo
apresenta um conjunto de regras, chamando a atenção daquelas criaturas para que
mudem suas vidas, que agreguem no seu proceder aquilo que está sendo proposto,
e diz: Guardai-vos de oferecer as vossas
esmolas diante dos homens, para que sejam vistos pelo povo. Do contrário, não
tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus. Quando, pois, deres
esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em
verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Quando deres esmola,
que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita, a fim de que a tua esmola
permaneça em segredo. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam
de rezar, de pé, nas sinagogas, e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos
homens. Quando orardes, entre no teu quarto, e, fechada a porta, reza em
segredo a teu Pai, pois, Ele, que vê o oculto, recompensar-te-á. Nas vossas
orações não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam
que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque vosso Pai
celeste sabe do que necessitais antes da vossa petição.
CAPÍTULO
07
Do alto daquele monte,
Jesus nos ensinou a orar; primeiro recomendando que a oração fosse realizada em
nosso quarto interno. Depois, orientou-nos a evitar o palavreado excessivo,
tornando o ato de falar com Deus uma conversa amiga, desprovida de ritos ou
pomposidade. Por fim recita o Pai nosso: “Pai nosso, que estais nos céus,
santificado seja o Vosso nome. Venha a nós o Vosso reino. Seja feita a Vossa
vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E
não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal". Porque, se
perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará
a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai
vos não perdoará as vossas. Quantas almas, ao longo das eras, já se libertaram
de seus sofrimentos atrozes, nas asas de um Pai nosso, feito de coração!
E, quando jejuardes,
não mostreis um ar sombrio, um ar de sacrifício, como fazem os hipócritas que
desfiguram o rosto para que os outros vejam que jejuam. Em verdade vos digo que
esses já receberam a sua recompensa, disse o Cristo. Por isso, quando jejuares,
lava o rosto, para que as pessoas não saibam que fazes jejum, mas apenas o teu
Pai, que está presente em segredo. E o Pai que vê o que está oculto, te
retribuirá.
Em seguida, Jesus fala
dos tesouros do céu, mostrando que são os únicos que levamos daqui, os únicos
verdadeiramente reais para a nossa vida espiritual. Não acumuleis tesouros na
Terra, que são passageiros, onde a ferrugem e a traça os corroem e podem ser
dilapidados e destruídos. Acumulai tesouros de boas obras. Acumulai tesouros no
Céu, onde nem a traça nem a ferrugem os corroem nem os ladrões arrombam os
muros, a fim de roubá-los. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também, o
teu coração.
A lâmpada do corpo é o
olho; se o teu olho estiver são, todo o teu corpo andará iluminado, Se, porém,
o teu olho for mau, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a luz que
há em ti são trevas quão grandes serão essas trevas!
Ninguém pode servira
dois senhores igualmente e ao mesmo tempo, porque, ou há de odiar um e amar o
outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ás
riquezas. Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto á vossa vida, com o que
haveis de comer ou de beber, nem quanto ao .vosso corpo com o que haveis de
vestir. Porventura não é a vida mais importante que o alimento; e o corpo, mais
que a roupa?
Observai as aves do
céu: Não semeiam, não ceifam, não guardam em celeiros; No entanto o vosso Pai
celeste as alimenta. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que
se preocupe, pode prolongar por pouco que seja o tempo de sua vida?
E porque preocupar-vos
com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo! Não trabalham nem fiam.
Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como
qualquer um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e
amanhã será cortada e queimada, não fará Ele muito mais por vós, homens de
pouca fé? Portanto, não vos preocupeis, dizendo: "Que comeremos nós, que
beberemos, ou que vestiremos?". Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais
coisas; porém, o vosso Pai Celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo
isso. Procurai primeiro o Seu reino e a Sua justiça, e tudo o mais se vos dará
por acréscimo. Não vos inquieteis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de
amanhã já terá as suas preocupações. Bem basta a cada dia o seu trabalho.
CAPÍTULO
08
(Epílogo)
Nesse momento, Jesus
encerra a segunda etapa do seu discurso. E, olhando para um terceiro grupo, o
dos sacerdotes, começa a sua fala. O discurso agora era para aqueles que se
achavam superiores aos homens.
Não julgueis para não
serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os
outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para
com os outros. Não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos
julgamos a nós mesmos, nem condenar nos outros aquilo de que nos absolvemos.
Antes de censurar alguém por uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode
ser feita.
E o Cristo continua
falando sobre a hipocrisia. Apresenta a eles um conjunto de reflexões com relação
à postura dos sacerdotes que é completamente equivocada, e diz para eles o
seguinte:
- Cuidado, porque
existem dois caminhos. Entrai pela porta estreita porque largo e espaçoso é o
caminho que conduz o homem à perdição. Na sequência, Jesus destaca para os
doutores da lei que eles tomassem muito cuidado com os chamados falsos
profetas, aqueles que aparecem no meio do povo, mas não seriam verdadeiros. E,
para terminar, destaca que, ao contrário do que os sacerdotes imaginavam, não
eram pessoas salvas. Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no
Reino dos Céus. Isto é uma séria advertência com referência ao fato de nós
seguirmos ou não os Seus ensinamentos. A entrada no Reino dos Céus só é
facultada àqueles que cumprem a Lei de Deus, segundo os preceitos de Jesus.
O Cristo encerra o seu
discurso de forma majestosa e didática, com uma das Suas parábolas bastante
conhecida, a da construção da casa sobre a rocha. Todo aquele, pois, que ouve
estas minhas palavras e as observa, será comparado a um homem prudente, que
edificou a sua casa sobre a rocha. Desceu a chuva, vieram as torrentes,
sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela não caiu, pois
estava edificada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras
e não as observa, será comparado a um homem néscio, que edificou a sua casa
sobre a areia. Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e
bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a ruína.
REFLEXÃO
A nossa Humanidade
ainda está postada aos pés do Monte. Mas nem todos nós estamos inseridos como
sendo do primeiro grupo; alguns ainda estão no segundo grupo. Esse pessoal
ainda não conseguiu se desvencilhar do magnetismo que os bens da Terra lhe faz.
Mais de dois mil anos se passaram e continuamos presos a isso. Por esta razão é
fundamental que no processo de crescimento de cada um de nós façamos uma
reflexão, para buscar entender a qual dos grupos nós pertencemos. Se
pertencemos ao grupo daqueles que se comportam como o Sal da Terra, que se
comportam como aqueles que irão ser a Luz do Mundo, vivendo e espalhando a
mensagem do Cristo, ou estamos desconfortáveis com a necessidade de deixarmos
os Bens da Terra. Essa é uma questão que nos compete refletir: Em qual das
multidões estamos colocados; quem somos nós nesse contexto.
Construir nossa casa
sobre a rocha é buscar a prática dos ensinos de Jesus em nossa vida diária. De
nada vale conhecer as palavras, os conteúdos, se eles não nos fazem homens e
mulheres melhores, se não nos transformam em pessoas de bem. Construir nossa
casa sobre a rocha é perguntar sempre: Qual o comportamento cristão nesta
circunstância? Em cada decisão, questionar: Qual a decisão que me leva ao bem
do meu próximo? Que me transforma em farol de luz sobre os alqueires do mundo
atual? É tempo de construir essa nova casa, nos dias de hoje, finalmente, sobre
a rocha.
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