Carnaval, a
Psicosfera da Ilusão
Estamos no
período de Carnaval, festa de grande apelo popular em nosso país, voltada
unicamente para a materialidade, e que muitos se entregam aos excessos, em nome
da alegria, tendo como desculpa o fato de aproveitar a vida. Nesse período de
folia os carnavalescos surgem de todos os lados na busca do nutrimento de suas
devassidões. Com o risco de ser taxado de moralista, num tempo em que se perdem
as noções de moralidade, não posso deixar de analisar criticamente esses disparates
do mundo brasileiro. Indiscutivelmente, o chamado "Carnaval" se
constitui em quatro dias das mais devassas manifestações, e significa “Festa da
carne”, o que é uma expressão deveras contundente. Aí está um tema bastante
polêmico para nossa reflexão. Quando se fala desse folguedo, acendem-se os
ânimos, os defensores e os críticos se manifestam. Claro que as opiniões
variam. Uns, dizem que é festa perniciosa. Outros, dizem que é alegria. Uma
festa para o povo colocar para fora suas emoções guardadas, as angústias
contidas durante o ano que passou, um dia de contos de fadas; dia em que a alma
dança, o coração se enche de euforia. O carnaval é uma dessas festas que
costuma ser chamada de folia, que vem do francês folie, que significa loucura
ou extravagância sem que tenha existido perda da razão. No caso do carnaval a
palavra significa desvio, anormalidade, fantasia, descontração ou mesmo
alegria. Assim, a festa carnavalesca é o momento em que o espírito humano pode
observar o que há de mais profundo, de mais primitivo em si mesmo.
Infelizmente, os caminhos propostos nada têm a ver com alegria ou alívio de
tensões. Na literatura encontramos uma frase da Idade Média, de que “Nada
aconteceria se as pessoas enlouquecessem uma vez por ano”. Hoje, estamos próximos
dessa frase, só que, não por um dia, mas por muitos. Agora são três dias ou
mais de loucuras, sob a denominação de “Tríduo Momesco”, ocasião em que os
foliões vão da mais histérica e hilária alegria ao caos total, despertados pela
tresloucada folia. Dizem, também, que tudo isso decorre do êxtase atingido na
grande festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da
orgia e depravação, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal. Não
podemos deixar de reconhecer que o carnaval também é uma festa espiritual. O
culto à carne evoca tudo o que desperta materialidade, sensualidade, paixão e
gozo. O forte apelo do período que antecede, acompanha e sucede o evento ao
deus Mamon, guarda íntima relação com o conúbio de energias entre os dois
planos da vida, o físico e o extrafísico, alimentado pelos participantes,
“vivos de cá e de lá”, que se deleitam em intercâmbio de fluidos materialmente
imperceptíveis à maioria dos carnavalescos encarnados. A carne é fraca, dizem
alguns, para justificarem seus erros e fraquezas, atribuindo à fragilidade do
corpo físico a ausência de disposição para resistirem às tentações que essa
festividade pode proporcionar. É claro que esta é uma justificativa
inaceitável, que de modo algum legitima os excessos eventualmente cometidos. E
as consequências desses excessos serão cobradas depois pelo corpo, que, por
mais forte e resistente que seja, tem o seu limite, que deve ser respeitado,
para que possa continuar sendo instrumento para o progresso do indivíduo. Vivemos
em constante relação de intercâmbio, conectando-nos com os que nos são afins
pelos pensamentos, gostos, interesses e ações. Sem que nos apercebamos, somos
acompanhados por uma “nuvem de testemunhas”, que retrata nossa situação íntima.
Muitos jovens e adultos, transtornados pela música hipnotizante e frenética,
caem nas armadilhas das drogas alucinantes.
É hora de pular e sambar. Esse é o lado da festa que podemos observar
deste lado da vida. Mas há outro lado. Pelo lado espiritual, o carnaval
observado do Além, dizem os Mentores espirituais, é lamentavelmente muito mais
triste e perigoso. Milhares de
espíritos infelizes também invadem as avenidas, num triste e feio espetáculo, que
transforma o carnaval em um terrível circo dos horrores de grandes e atemorizantes
proporções. Diz o compositor que “Atrás do trio elétrico, só não vai quem já
morreu”. Coitado. Está totalmente equivocado, pois os queridos malfeitores das
trevas, os “vagabundos do mundo oculto,” vão atrás, sim, e se vinculam aos
foliões pelos fios invisíveis das preferências que estes trazem escondidas no
seu íntimo. Dezenas, centenas, milhares de entidades vampirescas, abraçam e se
desdobram em influenciar os foliões, para juntos beberem, fumarem, se drogarem,
se entregarem ao sexo desvairado e
cometerem os mais tristes desatinos. O homem vive onde e com quem se sintoniza
psiquicamente. E essa sintonia se dá pelos desejos e tendências existentes na
intimidade de cada um. E é graças a essa lei de afinidade, que os espíritos das
trevas se vinculam aos foliões descuidados, induzindo-os a orgias deprimentes e
atitudes grotescas, animalizadas, de lamentáveis consequências. Quantos crimes
acontecem nesses dias, quantos acidentes, quanta loucura. Acidentes de carro,
violência e até óbitos pelo uso de drogas ou combinações perigosas de
medicamentos e bebidas. Meses depois, a festa ainda traz consequências:
gravidez precoce e abortos realizados, frutos de envolvimentos insensatos e o
contágio com doenças sexualmente transmissíveis. As consequências cruéis desse
grotesco espetáculo se fazem sentir de forma rápida e inexorável. Pergunte a si
mesmo: vale a pena pagar o alto preço exigido por alguns dias de loucura? Vale
a pena ver seu nome na estatística de horrores que acontece no carnaval? Espero
que não. Algumas pessoas devem pensar: eu brinco, mas não faço nada de
errado! Mas se você atravessar um
pântano de lama fétida, local de doenças e outras mazelas, pode até acontecer
de você não adoecer, mas que vai sujar-se, não há a menor dúvida. Para atravessar
a tempestade de energia negativa que envolve o carnaval, sem ser tocado por
ela, só se você for alguém espiritualmente iluminado. Mas se você for tão
iluminado, com certeza não estará participando do carnaval. O Carnaval se
constitui, sob minha ótica, em um verdadeiro processo de Obsessão Coletiva,
afetando profundamente o estado espiritual dos incautos. Mas o grande saldo da
festa se resume em duas palavras: ilusão e sensualidade. Referimo-nos à ilusão
dos entorpecentes, dos alcoólicos. A ilusão de grandeza, que falsamente produz
um imenso contraste entre a beleza da avenida e a realidade da vida. Falamos da
sensualidade que se torna material de venda, nos corpos desnudos e
aparentemente felizes por fora, mas muitas vezes profundamente infelizes por
dentro. O carnaval é bem típico da alienação espiritual que a sociedade se
permite. De um lado, as falsas aquisições sociais de alguns, negadas pela
agressividade de muitos; de outro, a falsa felicidade de quatro dias de folia,
e 361 dias de novas e renovadas angústias. Vale a pena? Advertiu-nos o apóstolo
Paulo: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém". O mal não está
tanto na coisa em si; está em como nos conduzimos dentro dela. O carnaval não
seria o que é, se não fôssemos o que somos. O vulgo costuma dizer
equivocadamente: “A ocasião faz o ladrão”, mas, de nossa parte, à luz da
Doutrina Espírita, diríamos: “O ladrão faz a ocasião”, porque quem já adquiriu
valores éticos sólidos não vai se deixar levar por qualquer tipo de obsessão
coletiva, já que não será “tentado”, pois está em outro patamar de ideais e
propostas existenciais. Vale lembrar os famosos critérios socráticos: bondade,
utilidade e verdade. Se nossas atitudes não são aprovadas por tais crivos,
nossa consciência espírita não respaldará tais ações, porquanto, submeter-se
docilmente a este tipo de subjugação é escolha nossa, pois o livre-arbítrio é
alicerce da Lei de Deus. Logo, aproveitar o Carnaval, do ponto de vista
espírita, é ocupar esses quatro dias de uma forma prazerosa, mas também útil e
espiritualizada, que não deixa de ser um exercício para que busquemos superar
“a predominância da natureza animal sobre a espiritual e a satisfação das
paixões”, conforme nos ensina a questão 742 de O Livro dos Espíritos. VIGILÂNCIA
e ORAÇÃO é a recomendação sempre atual. Não cabe aqui a análise sob a ótica de
proibições ou cerceamento de vontades. Todos somos livres para fazer as
escolhas que julgarmos convenientes. O Espiritismo não condena o carnaval, mas,
também, não estimula suas festividades. Finalizando, devo dizer que, há sempre
a necessidade de situar-se cada coisa em seu próprio lugar. Existe festa de
carnaval menos agressiva, e sempre valerá a pena analisar a situação. O poeta
Vinicius de Morais deixou isto muito claro ao dizer: "Tristeza não tem
fim, felicidade sim / A felicidade parece a grande ilusão do carnaval/ a gente trabalha um ano inteiro / por um
momento de sonho/ pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira / Pra
tudo se acabar na quarta-feira." Na realidade, o ser humano é um
carnavalesco em potencial. Uma hora ele é pierrô, em outra ele é palhaço, e
numa outra ele é arlequim. Sempre mascarado no certame da vida, até que, um
dia, a máscara cai; é quando chega a quarta-feira de cinzas da desencarnação, e
ele se vê do outro lado da vida, com contas a ajustar, justamente porque não
brincou o carnaval da vida de cara limpa. Ao ver a fantasia rota e maltratada,
quantas decepções pelo tempo perdido. Valeu a pena? Quer brincar o carnaval?
Não se esqueça que o “Bloco Escola da Vida” está sempre em evolução com seu
enredo: “A Vida que liberta”. Agora, vá! Mas não fantasiado. Vá, pleno de si.
Vá para a apoteose maior, para a felicidade de religar-se a Deus. A festa da
vida é muito maior, muito mais divertida, rimada e harmoniosa, quando sabemos
escolher um bom enredo para vivenciá-la. E não se esqueça! Devemos procurar
sempre as melhores notas nos quesitos que nos são delegados por Deus. Se
participar do Carnaval é certo ou errado? Essa é a pergunta que não quer calar,
mas que somente a sua consciência pode responder. Somente poderemos garantir a
vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos
mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por
Jesus. Vamos fazer desses dias de feriado, dias de alegria verdadeira, em paz
conosco mesmo. Vamos meditar, ler um bom livro. Vamos conviver com nossa
família e amigos, trocando ideias salutares. Também podemos orar por aqueles
que ainda não tiveram consciência de fazer o bem conforme Jesus nos recomendou,
e que padecem nesses instantes de euforia descontrolada.
Importante! Boas
vibrações, nesse carnaval!
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o
equilíbrio necessário para uma vida feliz.
Leia Kardec!
Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é
sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!
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