LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII – Da Perfeição
Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos iniciar o estudo do tópico Das
Paixões, analisando as Questões de 907 a 908.
907. O
princípio das paixões sendo natural é mau em si mesmo?
Não. “A paixão
está no excesso provocado pela vontade, pois o princípio foi dado ao homem para
o bem e as paixões podem conduzi-lo a grandes coisas. O abuso a que ele se
entrega é que causa o mal”.
As paixões em si
constituem força poderosa que podem levar o homem a grandes realizações. É bom
que se saiba do valor dos princípios das paixões, que não deixam de ser força a
ativar o amor e a caridade, o bem em todos os ângulos da vida. O que se acrescenta
nelas de exagero é que as coloca como sentimentos inferiores, tornando o homem
malfeitor.
908. Como
definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más?
“As paixões são
como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa.
Reconhecei, pois, que uma paixão se torna perniciosa no momento em que a
deixais de governar, e quando resulta num prejuízo qualquer para vós ou para
outro”.
Todas as paixões
têm limites traçados pelo bom entendimento evangélico. Quando elas passam
desses limites, passam a sofrer influência do mal, desnorteando a vida pelo
clima da inferioridade. Um veículo, sendo dirigido por pessoa capacitada para
tal, percorrerá seus caminhos com segurança, mas, se lhe falta a direção, ele
se desvia dos caminhos e pode cair nos precipícios.
Comentário de
Kardec:
As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o ajudam a cumprir
os desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, o homem se deixa
dirigir por elas, cai no excesso e a própria força que em suas mãos poderia
fazer o bem recai sobre ele e o esmaga. Todas as paixões tem seu princípio num
sentimento ou numa necessidade da Natureza. O princípio das paixões não é, portanto,
um mal, pois repousa sobre uma das condições providenciais da nossa existência.
A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento;
está no excesso e não na causa; e esse excesso se torna mau quando tem por consequência
algum mal. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal distancia-o da
natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal
anuncia o predomínio do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII – Da Perfeição
Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos encerrar o estudo do tópico As
virtudes e os vícios, analisando as Questões de 904 a 912.
904. É culpado
o que sonda os males da sociedade e os desvenda?
“Isso depende do
sentimento que o leva afazê-lo. Se o escritor só quer fazer escândalo, é um
prazer pessoal que se proporciona, apresentando quadros que são, em geral,
antes um mau do que um bom exemplo. O Espírito faz uma apreciação, mas pode ser
punido por essa espécie de prazer que sente em revelar o mal”.
Aquele que sonda
as chagas da sociedade para ajudar aos outros no silêncio dos seus escritos,
sem motivar a corrupção, está ajudando de maneira cristã as almas em formação
para a grande missão do amor. Entretanto, quem estuda os defeitos de uma
sociedade no sarcasmo da prepotência, divulgando-os em revistas e jornais, como
em outros meios de comunicações existentes, esse Espírito é um malfeitor que
deve ser, e será, corrigido pela própria natureza.
904–a. Como
julgar, nesse caso, a pureza das intenções e a sinceridade do escritor?
“Isso nem sempre é
útil. Se ele escreve boas coisas, procura aproveitá-las; se escreve más, e uma
questão de consciência que a ele diz respeito. De resto, se ele quer provar a
sua sinceridade, cabe-lhe apoiar os preceitos no seu próprio exemplo”.
Podemos e devemos
sondar as chagas da humanidade, mas desde que essa sondagem nos sirva para
ajudar aos outros, motivando na sociedade o viver retamente. O homem é dado à
pesquisa, mas Jesus veio nos ensinar como pesquisar. Devemos conhecer os
fundamentos do mal, porém, não divulgá-los como fonte de prazer.
905. Alguns
autores publicaram obras muito belas e moralmente elevadas, que ajudam o
progresso da Humanidade, mas das quais eles mesmos não tiraram proveito. Como
Espírito lhes será levado em conta o bem que fizeram através de suas obras?
“A moral sem ações
é como a semente sem. o trabalho. De que vos serve a semente se não afizerdes
frutificar pura vos alimentar? Esses homens são mais culpáveis porque tinham
inteligência para compreender; não praticando as máximas que ofereciam aos
outros, renunciaram a colher os seus frutos”.
O homem que
escreve tem grandes responsabilidades com o que fala aos outros, principalmente
se não passar a viver o que escreve. A vivência é o selo que mostra o maior
entendimento do que escreve e fala. O escritor, de certa maneira, é um pastor
de ovelhas, capaz de educá-las e instruí-las sobre as leis da vida.
906. E
repreensível aquele que, fazendo conscientemente o bem, reconhece que o faz?
“Desde que pode
ter consciência do mal que fizer, deve tê-la igualmente do bem, a fim de saber
se age bem ou mal. É pesando todas as suas ações na balança da lei de Deus, e
sobretudo na da lei de justiça, de amor e de caridade, que ele poderá dizer a
si mesmo se as suas ações são boas ou más e aprová-las ou desaprová-las. Não
pode, pois, ser responsabilizado por reconhecer que triunfou das más tendências
e de estar satisfeito por isso, desde que não se envaideça, com o que cairia em
outra falta”.
(Ver item 919.)
A consciência do
bem, todos devemos tê-la, sentir o bem que fazemos, porque desta maneira
passamos a conhecer a nós mesmos e deixamos de fazer o mal, que às vezes
praticamos. Não é censurado à criatura que ela examine a si mesma, no que se
encontra fazendo.
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LEIS MORAIS
Capítulo XII – Da Perfeição
Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As
virtudes e os vícios, analisando as Questões de 902 a 903.
902. É
repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de praticar o bem?
“O sentimento é
louvável, sem dúvida, quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante
desinteressado? Não trará oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira
pessoa a quem se deseja fazer o bem não será muitas vezes a nossa?”
O desejo de
riqueza no ser humano é desnecessário para a sua evolução espiritual. Quando
ele precisa dos bens materiais como uma prova, ou um trabalho que tenha de
realizar, esse tesouro vem às suas mãos pela vontade de Deus. No entanto,
necessário se faz que haja esforço próprio, porém, sem a usura de ganho,
trabalhando por dever e licitamente, e quando a fortuna vier a suas mãos, é
preciso saber conduzi-la nos seus verdadeiros caminhos.
903. Há culpa
em estudar os defeitos alheios?
“Se é com o fito
de os criticar e divulgar, há muita culpa, porque isso é faltar com a caridade.
Se é com intenção de proveito pessoal, evitando-se aqueles defeitos, pode ser
útil. Mas não se deve esquecer que a indulgência para com os defeitos alheios é
uma das virtudes compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições
dos outros, vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito. Tratai, pois, de
possuirás qualidades contrarias aos defeitos que criticais nos outros. Esse é
um meio de vos tomardes superiores. Se os censurais por serem avarentos, sede
generosos; por serem duros, sede dóceis- por agirem com mesquinhez, sede
grandes em todas as vossas ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não vos
possam aplicar aquelas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vizinho
e não vedes uma trave no vosso”.
Não é justo nos
preocuparmos com os defeitos alheios no sentido vulgar, procurando menosprezar
os valores de outrem. Somente nascem essas ideias na mente incapaz de
experimentar o amor, de quem não se lembra dos ensinamentos de Jesus a nos
ensinar a benevolência. Cada criatura é um mundo em particular; toda alma é um
campo de plantio, onde o que se semeia, germina, onde o cuidado multiplica,
onde o que se abençoa, aumenta. Quando procuramos nos interessar em divulgar os
erros dos outros, os nossos se escondem, prejudicando muito nossa ascensão
espiritual. Incorreremos em grande falta, se colocarmos à vista as falhas
alheias, como críticos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII –
Da Perfeição Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As
virtudes e os vícios, analisando as Questões de 899 a 901.
899. De dois
homens ricos, um nasceu na opulência e jamais conheceu a necessidade; o outro
deve a sua fortuna ao seu próprio trabalho; e todos os dois a empregam
exclusivamente em sua satisfação pessoal. Qual dele o mais culpado?
“O que conheceu
o sofrimento. Ele sabe o que é sofrer. Conhece a dor que não alivia, mas como
geralmente acontece, nem se lembra mais dela”.
O homem mais
culpado, quando na Terra, é o que leva uma vida de opulência, alimentando o
egoísmo, tendo já experimentado vida de miséria, no meio dos pobres, já
sabendo, portanto, o que eles passam. Certamente, o que nasceu no berço de
ouro, não tendo compaixão dos que sofrem, igualmente responde pela dureza de
seu coração, no entanto, o outro sofre com mais intensidade no tribunal da sua
própria consciência.
900. Aquele
que acumula sem cessar e sem beneficiar a ninguém, terá uma desculpa válida ao
dizer que ajunta para deixar aos herdeiros?
“É um
compromisso de má consciência”.
O ouro, em todos
os tempos, foi a arma mais poderosa que chegou às mãos dos homens. Ele está
presente em todos os movimentos humanos e é responsável pelos seus
desregramentos, contudo, ele é apenas instrumento. O comando nasce na alma que
o faz ser benfeitor ou malfeitor da sociedade. Em quase tudo, o dinheiro
constitui o meio para a realização dos ideais dos seres humanos. Existem
criaturas que acumulam fortunas para que seus herdeiros fiquem "bem"
e mostrem aos outros a sua descendência. Esse é um mal em forma e aparência de
bem. Aos pais foram dados esses meios para educar seus filhos, e o que sobrar,
ajudar aos necessitados, aos famintos e nus.
901. De dois
avarentos, o primeiro se priva do necessário e morre de necessidades sobre o
seu tesouro; o segundo é avaro só para os demais e pródigo para consigo mesmo;
enquanto recua diante do mais ligeiro sacrifício para prestar um serviço ou
fazer uma coisa útil, nada lhe parece muito para satisfazer aos seus gostos e
às suas paixões. Peçam-lhe um favor, e estará sempre de má vontade; ocorra-lhe,
porém, uma fantasia, e estará sempre pronto a satisfazê-la. Qual deles é o mais
culpável e qual terá o pior lugar no mundo dos Espíritos?
“Aquele que
goza. É mais egoísta do que avarento. O outro já recebeu uma parte de sua
punição”.
Podemos
verificar que até ouvir o nome avarento nos faz sentir constrangimento. Quem
vive este estado d'alma, o de avareza, é um sofredor, pois não usa o que
acumula, nem distribui os seus bens. A vida cobra dele o cumprimento do dever
por circunstâncias tais que, mais tarde, aprenderá como doar, usando igualmente
os bens do Senhor. Aquele que por outro lado, tomado de egoísmo, somente ajunta
para si e desfruta sozinho do ouro que acumulou, petrifica o coração como
faminto de uma paz que não encontra com facilidade. Ele entende que encontra o
céu na Terra pelos bens que ajunta. Pobre ser! É demasiadamente ignorante, mas
o tempo, mais tarde, irá ensinar-lhe a verdadeira felicidade. .
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII –
Da Perfeição Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As
virtudes e os vícios, analisando as Questões de 897 a 898.
897. Aquele
que faz o bem sem visar a uma recompensa na Terra, mas na esperança de que lhe
seja levado em conta na outra vida e que nessa a sua posição seja melhor, é
repreensível, e esse pensamento prejudica o seu
adiantamento?
“É necessário
fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse”.
Com a maturidade
que devemos desenvolver para tal empenho, o Espírito vai adquirindo condições
espirituais de fazer o bem sem interesse em receber de troca da vida o mesmo
bem, compreendendo que nada fica em vão na natureza. Ele sabe que se semear,
colherá, sem que seja preciso pensar na colheita.
897–a. Mas
cada um tem o desejo muito natural de progredir para sair da situação penosa
desta vida. Os Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse fim. Será, pois,
um mal pensar que pela prática do bem se pode esperar uma situação melhor?
“Não, por certo.
Mas aquele que faz o bem sem segunda intenção, pelo prazer único de ser
agradável a Deus e ao seu próximo sofredor, já se encontra num grau de
adiantamento que lhe permitirá chegar mais rapidamente à felicidade do que o
seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não pelo impulso natural
do coração”. (Ver item 894.)
Quando fazemos o
bem desinteressadamente, fazendo-o por amor, esse gesto de luz traz em seu
interior uma verdadeira paz, de modo que a consciência se torna um céu, com a
paz de Deus. O progresso da alma, será notado pelo bem que ela faz, por prazer
em servir.
897–b. Não há
aqui que se fazer uma distinção entre fazer o bem ao próximo e cuidar de se
corrigir dos próprios defeitos? Concebemos que fazer o bem com o pensamento de
que nos seja levado em conta na outra vida é pouco meritório; mas emendar-se,
vencer as paixões, corrigir o caráter, visando a se aproximar dos bons
Espíritos e se elevar, será igualmente um sinal de inferioridade?
“Não, não;
perfazer o bem queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que lhe pode
render cada uma de suas boas ações, na outra vida ou na vida terrena, procede
de maneira egoísta. Mas não há nenhum egoísmo em se melhorar com vistas de se
aproximar de Deus, pois esse é o objetivo de todos”.
Vejamos o que
nos diz o Evangelho: "Dar com uma mão, sem que a outra veja." Isso é
divino, principalmente para o espírita, que já compreende o sinal de luz do
coração e que já conhece a Boa Nova em Espírito e verdade. A caridade não pode
ser um comércio, por ser ela de ordem divina.
898. Desde que
a vida corpórea é apenas uma efêmera passagem por este mundo, e que o nosso
futuro deve ser a nossa principal preocupação, é útil esforçar-nos por adquirir
conhecimentos científicos que se referem somente às coisas e necessidades
materiais?
“Sem dúvida.
Primeiro, isso vos torna capazes de aliviar os vossos irmãos; depois, vosso
Espírito se elevará mais depressa se houver progredido intelectualmente. No
intervalo das encarnações, aprendereis em uma hora aquilo que na Terra
demandaria anos. Nenhum conhecimento é inútil; todos contribuem mais ou menos
para o adiantamento, porque o Espírito perfeito deve saber tudo e, devendo o
progresso realizar-se em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o
desenvolvimento do Espírito”.
O aprendizado é
constante em todas as direções da vida. Se queres aprender com mais eficiência,
não cruzes os braços, porque a escola de Deus são todas as coisas reunidas. É
neste sentido que a Doutrina dos Espíritos constitui a volta do Cristo à Terra.
Ela é ciência, religião e filosofia; ainda mais, é um curso para todo o saber.
O Espiritismo é uma ciência porque estuda os mínimos fenômenos relacionados com
o Espírito, dando explicações lógicas a todos eles; é religião, por ensinar a
aquisição das virtudes espirituais, e é filosofia por fazer de tudo isto uma
filosofia de vida. Por que não estudar tudo que existe? Se Deus fez todas as
coisas, o aprendizado é infinito; sempre temos algo para buscar, e essa é a
nossa maior alegria., Tudo que buscamos aprender de utilidade tem o traço do
Mestre nos convidando para a luz da vida.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII –
Da Perfeição Moral.
Dando continuidade
ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As
virtudes e os vícios, analisando as Questões de 895 a 896.
895. À parte
os defeitos e os vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual é o indício
mais característico da imperfeição?
“O interesse
pessoal. As qualidades morais são geralmente como a douração de um objeto de
cobre, que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais
que afazem para o mundo um homem de bem; mas essas qualidades, embora
representem um progresso, não suportam em geral a certas provas, e basta ferir
a tecla do interesse pessoal para se descobrir a fundo. O verdadeiro
desinteresse, é de fato tão raro na Terra que se pode admirá-lo como a um
fenômeno, quando ele se apresenta. O apego às coisas materiais é um indício
notório de inferioridade, pois, quanto mais o homem se apega aos bens deste
mundo, menos compreende o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele
prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado”.
A marca mais
visível da inferioridade da alma é o interesse pessoal, gesto este nascido do
egoísmo e, por vezes, do orgulho. Quando o Espírito descobre que tudo pertence
a Deus, que todos somos Seus filhos e herdeiros dos bens, e que os bens, quando
os possuímos, são de duração efêmera, passa ao desprendimento, e desprendimento
com Jesus não é desperdício, é saber usar o que Deus colocou em nossas mãos.
896. Há
pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam os seus
haveres sem proveito real, por não saberem empregá-los de maneira razoável.
Terão por isso algum mérito?
“Têm o mérito do
desinteresse, mas não o do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma
virtude, a prodigalidade irrefletida é sempre, pelo menos uma falta de juízo. A
fortuna não é dada a alguns para ser lançada ao vento como não o é a outros
para ser encerrada num cofre. E um depósito de que terão de prestar contas,
porque terão de responder por todo o bem que poderiam ter feito e não o
fizeram: por todas as lágrimas que poderiam ter enxugado com o dinheiro dado
aos que na verdade não estavam necessitados”.
A alma
desprendida é uma personalidade de princípios elevados, no entanto, devemos
verificar se esse desinteresse é em função dos que mais sofrem. Os bens
materiais que sobram em suas mãos devem ser empregados com discernimento. O
desperdício em qualquer rumo é deplorável, e quem o faz responderá sobre os
gastos desnecessários. Em tudo que fazemos, a vida requer o bom senso que
disciplina a bondade e dá direção à caridade, para que ela seja bem conduzida.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XII –
Da Perfeição Moral.
Dando início ao
Capítulo XII, vamos apresentar o estudo do tópico As virtudes e os vícios,
analisando as Questões de 893 a 894.
893. Qual a
mais meritória de todas as virtudes?
“Todas as
virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do
bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más
tendências; mas ti sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse
pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela
que se baseia na caridade mais desinteressada”.
Quando o
Espírito passa a conhecer o mundo das virtudes, ele começa a acordar para a
vida espiritual, e as virtudes devem ocupar o lugar dos vícios e hábitos
inconvenientes para a paz espiritual. As virtudes são variadas; cada uma tem
seu mérito próprio, é certo, no entanto, elas nascem da maior de todas,
envolvida no sopro de Deus, que é o Amor. Ele se divide em mil ações comandadas
pelas suas sensibilidades espirituais e fala da vida e da esperança em todos os
seus contornos de vida.
894. Há
pessoas que fazem o bem por um impulso espontâneo, sem que tenham de lutar com
nenhum sentimento contrário. Têm elas o mesmo mérito daquelas que têm de lutar
contra a sua própria natureza e conseguem superá-la?
“Os que não têm
de lutar é porque já realizaram o progresso: lutaram anteriormente e venceram;
é por isso que os bons sentimentos não lhes custam nenhum esforço e suas ações
lhes parecem tão fáceis: o bem tornou-se para eles um hábito. Deve-se honrá-los
como a velhos guerreiros que conquistaram suas posições. Como estais ainda
longe da perfeição, esses exemplos vos espantam pelo contraste e os admirais
tanto mais porque são raros. Mas sabei que nos mundos mais avançados que o
vosso, isso que entre vós é exceção se torna regra O sentimento do bem se
encontra por toda parte e de maneira espontânea, porque são mundos habitados
somente por bons Espíritos e uma única intenção má seria neles uma exceção
monstruosa. Eis porque os homens ali são felizes e assim será também na Terra,
quando a Humanidade se houver transformado e quando compreender e praticar a
caridade na sua verdadeira acepção”.
Quanto à
indagação sobre por que essa diferença de uns se esforçarem usando as últimas
forças para melhorar, enquanto outros, com poucos esforços, vencem com
facilidade muitos problemas, deixando em seguida muitos vícios e hábitos que
incomodam a consciência, respondemos que, os que com facilidade estão no
aprendizado assimilando e vivendo as lições do Evangelho, é por terem muita
vivência neste campo de reformas, e a tiveram em vidas passadas, ao passo que
os companheiros que encontram muitas dificuldades no aprendizado, podem estar
começando agora as mudanças internas. Isso é comum nas escolas religiosas e
filosofias diversas: quando encontramos certos irmãos envolvidos no fanatismo
religioso, é sinal de que estão iniciando agora as primeiras experiências no
certame da moral evangélica, e se deslumbram de tal modo que chegam ao
fanatismo. Entretanto, o tempo cuidará deles e acertará seus passos nas sendas
da luz.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos iniciar o estudo do tópico Amor materno e
filial, analisando as Questões de 890 a 892.
890. O amor
maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos
animais?
“É uma coisa e
outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua
conservação; mas, no animal, esse amor é limitado às necessidades materiais:
cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem, ele persiste por toda
vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes;
sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vedes que
há nele alguma coisa mais do que no animal”.
(Ver itens 205 e 385.)
O amor materno é
semente divina lançada no coração da mãe, para que ela possa cuidar com mais
eficiência dos seus filhos. No entanto, a razão vem nos alertar para que não
possamos traduzir esse amor em apego, comumente visto em demasia em alguns
pais. Os animais têm esse amor, na dimensão dos instintos, porém, quando se não
faz mais necessário, eles o esquecem, entregando os filhotes à natureza.
891. Se o amor
materno é uma lei natural, por que existem mães que odeiam os filhos e
frequentemente desde o nascimento?
“É, às vezes,
uma prova escolhida pelo Espírito do filho ou uma expiação, se ele tiver sido
um mau pai, mãe ruim ou mau filho em outra existência. (Ver item 392.) Em todos
esses casos, a mãe ruim não pode ser animada senão por um mau Espírito, que
procura criar dificuldades ao do filho, para que ele fracasse na prova desejada.
Mas essa violação das leis naturais não ficará impune e o Espírito do filho
será recompensado pelos obstáculos que tiver superado”.
As mães que
odeiam seus filhos, ainda são Espíritos que dormem em relação ao amor, e os
filhos que maltratam seus pais se encontram nas trevas dos entendimentos
superiores. Entretanto, não estão perdidos, pois o tempo lhes vai mostrando a
realidade. A vida constitui uma semeadura; ao colhermos o que plantamos, a
razão nos fala que não nos convém a violência, a maldade, o ódio, o ciúme, o
orgulho e o egoísmo. Às vezes, pelo passado incorrigível do filho, ele escolheu
a mãe que lhe seria própria, para a educação dos seus instintos grosseiros, e
vice versa; todavia, a própria vida nos vai moldando todos os dias e mostrando
que só o amor vale a pena ser cultivado, em todos os ângulos da vida.
892. Quando os
pais têm filhos que lhes causam desgostos, não são escusáveis de não terem por
eles a ternura que teriam caso contrário?
“Não, porque se
trata de um encargo que lhes foi confiado e sua missão é a de fazer todos os
esforços para os conduzir ao bem. (Ver itens 582 e 583.) Por outro lado, esses
desgostos são quase sempre a consequência dos maus costumes que os pais
deixaram os filhos seguir desde o berço; eles colhem, portanto, o que semearam”.
Mesmo no estágio em que se encontra a humanidade, de maior interesse para as paixões inferiores, é de sentimento comum das criaturas defender e gostar da pessoa virtuosa, e com o espaço de tempo estudar, pregar e, por fim, passar à prática dessas qualidades nobres ensinadas por Jesus e descritas no evangelho da sua vida.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos encerrar o estudo do tópico Caridade e amor
ao próximo, analisando a Questão 889.
889. Não há
homens reduzidos à mendicidade por sua própria culpa?
Sem dúvida. Mas
se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído
nos excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o
melhoramento do vosso globo. (Ver item 707.)
A educação moral
do homem já é um merecimento; quantas almas, podemos observar, reencarnam em
lugares em que os seus pais desconhecem até mesmo a higiene! É culpa delas,
renascerem neste ambiente? Isso tudo é processo de vida, são linhas traçadas
pelo próprio Criador, para que mais tarde venham a merecer uma volta ao meio
social, entre povos mais educados e conhecedores da higiene, onde se tem
notícias dos altos ensinamentos do Evangelho. Em muitos casos, mesmo assim
muitos ainda não se interessam por estas oportunidades, por lhes faltar
maturidade para tal desempenho moral.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Caridade
e amor ao próximo, analisando as Questões de 888 a 888-a.
888. Que
pensar da esmola?
“O homem
reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece. Numa
sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco,
sem humilhação para ele. Deve-se assegurar a existência dos que não podem
trabalhar sem deixá-los à mercê do acaso e da boa vontade”.
Estender a mão
nas ruas pedindo esmolas é um ato de humilhação, que no fundo pode ser de
natureza “cármica”, visando a educar a criatura, pois passamos por muitos
caminhos em busca da paz de consciência. Uma sociedade mais cristã procura por
todas as suas forças eliminar do meio humano o viver pela esmola, contudo, em
primeiro lugar, busca educar aos necessitados e dar-lhes trabalho digno. A
faixa em que se encontram os povos atuais, é a de passar por todos os tipos de
provações, capazes de os levar à mais profunda intimidade da dor, por ser esse
meio o mais eficiente de torná-los humanos. Os que estão se arrastando hoje
pelas calçadas foram os prepotentes de ontem, cujos desperdícios deixaram
faltar nas mesas pobres.
888–a. Então
condenais a esmola?
“Não, pois não é
a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O
homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do
desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão. A verdadeira caridade é
sempre boa c benevolente; tanto está no ato quanto na maneira de fazê-la. Um
serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a
necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração
mal será tocado. Lembrai-vos ainda de que a ostentação apaga aos olhos
de Deus o mérito do benefício. Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o
que faz a direita”. Com isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo
orgulho. É necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O
mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem
se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe assistir sem
ostentação. Amai-vos uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus
governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados,
e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica. Não olvideis jamais que
o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como
reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado entre um. superior que o
guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir.
Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do
bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro
das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos vossos
semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e
moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos suo
inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis
obedecido à lei de Deus”. (São Vicente de
Paulo.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos iniciar o estudo do tópico Caridade e amor
ao próximo, analisando as Questões de 886 a 887.
886. Qual o
verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência
para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas”.
A caridade
segundo Jesus é uma ação benfeitora, capaz de modificar a criatura em todos os
sentidos, tanto quem oferta, quanto quem recebe. Ela é o amor na sua mais alta
expressão, é a benevolência conduzindo ao entendimento. Ela é a indulgência
despertando a esperança divina no coração; é o esquecimento das ofensas
transmutando toda a violência em paz para os sentimentos. Quando o Mestre pediu
para amarmos a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos,
resumiu Ele o trabalho de caridade na sua claridade, onde se gera a união de
todos os seres. A caridade pura não se restringe somente em comida, veste ou
teto; ela se estende em todas as direções que possamos entender. Ela salva,
porque todo. Gesto de amor nos leva a Deus e nos faz ver Jesus dentro de nós,
sorrindo porque ajudou-nos a vencer a nós mesmos.
Comentário de Kardec: O amor e a
caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é
fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o
sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”. A
caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as
relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais
ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de
indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente
se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e
atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele.
Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer
aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura
elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.
887. Jesus
ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos
não é contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma
falta de simpatia entre os Espíritos?
“Sem dúvida não
se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não foi isso
que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o mal com o
bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos colocamos abaixo
deles”.
Amar os inimigos
constitui fator de paz. Quem revida ofensas, se coloca abaixo dos ofensores, e
o Mestre, vendo a posição dos judeus, que eram na sua maioria violentos nos
resguardos da lei mosaica, ensinou aos Seus discípulos que deveriam amar aos
ofensores, para isolarem o ambiente de inimizade entre eles. Certamente que não
se consegue facilmente ter o mesmo sentimento para com os ofensores, como o que
se tem pelas pessoas que nos dedicam carinho e confiança. No entanto, o amor
aos que nos perseguem e caluniam pode receber do seu viver o esquecimento das
ofensas e, quando preciso, ajudá-los, sem nos encontrarmos atrás destas
criaturas, procurando-as para perdoá-las frente a frente.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos encerrar o estudo do tópico Direito de
Propriedade – Roubo, analisando as Questões de 883 a 885.
883. O desejo
de possuir é natural?
“Sim, mas quando
o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoísmo”.
O desejo de
possuir é gesto normal nas criaturas, todavia, é preciso que essa vontade tenha
um objetivo útil. Ajuntar bens materiais não constitui falta grave, desde
quando o que se possui seja encaminhado para fins nobres, podendo servir,
igualmente, para os outros nas suas necessidades.
883–a. Entretanto,
não será legítimo o desejo de possuir, pois o que tem com o que viver não se
torna carga para ninguém?
“Há homens insaciáveis que acumulam sem
proveito para ninguém ou apenas para satisfazer as suas paixões. Acreditas que
isso seja aprovado por Deus? Aquele que ajunta pelo seu trabalho, com a
intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu
trabalho é abençoado por Deus”.
Pode-se ter
satisfação pessoal com o que se ganha, nos bens que se ajunta, mas não se pode
esquecer dos que padecem as provocações da vida e as expiações do aprendizado.
É natural o desejo de possuir desde quando não esteja ligado ao orgulho e ao
egoísmo, chagas dolorosas de quem desconhece o desprendimento. é de bom alvitre
que se conheçam as vidas dos homens nobres, que são muitos, e a razão em Jesus
nos manda copiá-los, pois se fazem fonte doadora em todas as circunstâncias,
por serem sempre tocados pelo amor à humanidade.
884. Qual é o
caráter da propriedade legítima?
“Só há uma
propriedade legítima: a que foi adquirida sem prejuízo pura os outros”. (Ver
item 808.)
Em se falando
das coisas da Terra, a legítima propriedade é aquela que é adquirida pelo
trabalho honesto em todos os seus pormenores. Não existe meio termo para a
honestidade; ela é reta em todas as suas circunstâncias de justiça. Quando a
aquisição das propriedades passa a prejudicar aos outros, ela já não é
legítima.
Comentário de Kardec: A lei de amor e
justiça proíbe que se faça a outro o que não queremos que nos seja feito, e
condena, por esse mesmo princípio, todo meio de adquirir que o contrarie.
885. O direito
de propriedade é sem limites?
”Sem dúvida,
tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade, mas, como já dissemos,
a legislação humana é imperfeita e consagra frequentemente direitos
convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam
suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a
justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como
bárbaro.” (Ver item 795.)
Do ponto de
vista espiritual, o direito de propriedade dos bens imperecíveis do Espírito é
ilimitado. Mesmo se adquirimos as coisas com honestidade, convém à lei que as
saibamos usar com discernimento, não buscando prender os valores de modo a não
servirem para ninguém. A circulação dos valores é lei natural que dá vida às
coisas que se movimentam.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Direito
de Propriedade – Roubo, analisando as Questões de 880 a 882.
880. Qual é o
primeiro de todos os direitos naturais do homem?
“O de viver. É
por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou
fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea”.
O maior direito
natural do homem é o de viver na plenitude do seu crescimento espiritual. Desde
quando a alma abriu os olhos para a luz da razão, passou a receber o primeiro
direito de Deus. Esse direito é seu em qualquer lugar da casa universal e até
os anjos de Deus respeitam esse direito, por terem passado pelas mesmas vias de
crescimento.
881. O direito
de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não
mais puder trabalhar?
“Sim, mas deve
fazê-lo em família, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não
ajuntar como um egoísta. Alguns animais lhe dão o exemplo dessa previdência”.
O direito de
viver é inerente à personalidade humana e a todas as criaturas, por ter sido
tudo criado por Deus. E se têm o direito de viver, têm o de comer, de vestir e
de se regalar. Para tanto, recebem os Espíritos a inteligência, usando dela
honestamente para o bem-estar, favorecendo igualmente aos que trilham conosco
os mesmos caminhos. O abuso daquilo que nos pertence é que nos faz sofrer e o
desperdício dos bens materiais nos complica a vida. A natureza nos dá exemplos
de como viver; basta analisarmos os fatos que ela nos apresenta.
882. O homem
tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho?
“Deus não disse:
“Não roubarás”; e Jesus: “Dai a César o que é de César”?”
O homem tem o
direito de defender os bens que possui, desde quando eles tragam a marca da
honestidade. Mas, existem muitos meios lícitos de defesa, pelos quais podemos
assegurar os bens terrenos para nós e para os nossos, sem que a usura se
intrometa, desestruturando a nossa vida.
Comentário de Kardec: Aquilo que o
homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o
direito de defender. Porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um
direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Dando
continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Justiça e
direitos naturais analisando as Questões de 876 a 879.
876. Fora do
direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei
natural?
“O Cristo vos
disse: “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no
coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada
um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o
semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como
desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua
própria consciência”.
Segundo a lei
natural, o direito de um é o direito do outro, por serem todos iguais diante de
Deus. Não é justo que uns tenham direitos diferentes dos outros. Uma das
nuances da lei da justiça é que cada um seja respeitado em seus direitos ante o
Pai que se encontra na direção de tudo que existe.
Comentário de Kardec: O critério da verdadeira justiça é de fato o
de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer
para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é
natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou
ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o
bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer
prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião crista foi tomar o
direito pessoal por base do direito do próximo.
877. A
necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações
particulares?
“Sim, e a
primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que
respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens
não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a
perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe
deveres recíprocos”.
Criamos sempre
deveres especiais por onde transitamos, elevando a nossa capacidade de trabalho
no campo em que estamos situados. Certamente que a necessidade que o homem tem
de viver em sociedade cria deveres especiais que lhe abrem igualmente os
caminhos do conhecimento. Existem muitas áreas a serem pesquisadas, e elas
esperam a nossa boa vontade de buscá-las, enriquecendo assim nossas
experiências, que são valiosas frente a nossa libertação espiritual.
878. Podendo o
homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que pode fazer que ele
conheça os seus limites?
“Os limites do
direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma
circunstância e de maneira recíproca”.
O que faz com
que o homem reconheça os limites dos seus direitos, é colocar-se no lugar do
outro, e sentir as suas limitações. Se acreditamos que tudo vem de Deus, Ele
não se esquece de inspirar a todos os Seus filhos sobre as linhas divisórias
dos seus direitos, onde começa o dever.
878–a. Mas se
cada um se atribui a si mesmo os direitos do semelhante, em que se transforma a
subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?
“Os direitos
naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus
não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses
direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as
instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e
saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua
virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam
superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A
subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à
sabedoria”.
Não devemos ter
limites para respeitar, nem para amar, nem para perdoar; os limites foram
feitos por causa do egoísmo e do orgulho, invasores dos direitos alheios,
usurpadores dos esforços dos outros, estabelecendo assim a desarmonia por toda
parte. Os direitos naturais das criaturas são iguais. Deus não iria fazer
diferença entre elas, entretanto, a consciência dentro de cada uma sabe regular
os direitos de todos, criando ambiente para a educação e aprovando os bons
modos que os homens e almas vão aprendendo no decorrer da eternidade.
879. Qual
seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
“O do verdadeiro
justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a
caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça”.
O caráter do
homem que pratica a justiça em toda a sua pureza, é o do homem reto, ao qual
nunca falta a tranquilidade de consciência. Todavia, esse homem dificilmente
aparece na área terrena. Mesmo estudando os grandes personagens, notaremos uma
tendência para o interesse próprio, para a família a que pertence, ou mesmo
para o país em que nasceu. A justiça universal, que acompanha os sentimentos
puros em todas as forças da justiça com amor, só a conhecemos em Jesus.
Certamente que muitos dos Seus acompanhantes passaram a viver Seu reflexo, mas
sem nunca serem iguais a Ele, por ser o Mestre um verdadeiro Sol de Amor.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo XI – Da
Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
Iniciando o
Capítulo XI, vamos fazer o estudo do tópico Justiça e direitos naturais analisando
as Questões de 873 a 875-a.
873. O
sentimento de justiça é natural ou resulta de ideias adquiridas?
“É de tal modo
natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral
desenvolve sem duvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do
homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e
primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber”.
A justiça se
encontra nas leis da natureza, onde ela se expressa com maior fulgor, no
entanto, pode ser e é copiada pela sensibilidade humana. Todo o ser humano
sente o impulso de revolta ao deparar com uma injustiça, seja com criaturas
humanas, com animais, ou mesmo em se agredindo a natureza. Toda e qualquer
violência, em qualquer parte, causa revolta.
874. Se a
justiça é uma lei natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras
tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?
“É que em geral
se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com
a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso
ponto de vista”.
É fácil para o
espírita compreender o porquê da desarmonia das mentes humanas. Todos os
encarnados estão em processos ingentes de despertamento espiritual, cujos
caminhos devem ser trilhados, pois são neles que se buscam as experiências,
para o verdadeiro conhecimento. Como conhecer e buscar a luz, se não se
conhecem as trevas? Como amar, sem experimentar o ódio? Como combater o
egoísmo, quando se desconhece o valor do desprendimento? Nesta linha de
entendimento, nestes fatos indispensáveis ao aprendizado, é que nos libertamos
das amarras do orgulho e das paixões inferiores, que nos prendem a alma,
esquecendo-nos de Deus.
875. Como se
pode definir a justiça?
“A justiça
consiste no respeito aos direitos de cada um”.
Define-se a
justiça em um dos seus inumeráveis ângulos: o respeito aos direitos alheios.
Podemos observar até onde chegam nossos direitos e começam os nossos deveres.
Olhando por este prisma, encontraremos sempre a paz. Não fazer aos outros o que
não desejamos para nós, eis a justiça interna ditada pela consciência, força
poderosa, em ação para nos comandar.
875-a. O que
determina esses direitos?
“São
determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens
feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram
direitos que podem variar com o progresso. Vede se as vossas leis de hoje, sem
serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses
direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais
naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça.
Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade
de atos que. são de competência exclusiva do tribunal da consciência”.
A verdadeira
justiça está escrita na natureza, e essa força divina inspira aos legisladores,
de maneira que eles transcrevem nas leis humanas alguns reflexos da justiça
divina. No entanto, essas leis humanas obedecem ao progresso, acompanham a
marcha do despertamento das almas, ao passo que a justiça de Deus é por
excelência imutável.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos fazer o estudo do tópico Resumo teórico do móvel das ações
humanas, analisando a Questão 872.
Resumo Teórico
do Móvel das Ações Humanas
872. A questão
do livre-arbítrio pode resumir-se assim: o homem não é fatalmente conduzido ao
mal; os atos que pratica não “estavam escritos”; os crimes que comete não são o
resultado de um decreto do destino Ele pode como prova e expiação, escolher uma
existência cm que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que
estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre
livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe, no estado de
Espírito, com a escolha da existência e das provas; e, no estado corpóreo, com
a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente
estamos submetidos. Cabe à educação combater as más tendências, e ela o fará de
maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do
homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a
modificá-la, como se modificam a inteligência pela instrução e as condições
físicas pela higiene.
O Espírito
desligado da matéria, no estado errante, faz a escolha de suas futuras
existências corpóreas segundo o grau de perfeição que tenha atingido. E nisso,
como já dissemos, que consiste sobretudo o seu livre-arbítrio. Essa liberdade
não é anulada pela encarnação. Se ele cede à influência da matéria, é então que
sucumbe nas provas por ele mesmo escolhidas. E é para o ajudar a superá-las que
pode invocar a assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Ver item 337.)
Sem o
livre-arbítrio, o homem não tem culpa do mal, nem mérito no bem; e isso é de tal
modo reconhecido que no mundo se proporciona sempre a censura ou o elogio à
intenção, o que quer dizer à vontade; ora, quem diz vontade diz liberdade. O
homem não poderia, portanto, procurar desculpas no seu organismo para as suas
faltas sem com isso abdicar da razão e da própria condição humana, para se
assemelhar aos animais. Se assim é para o mal, assim mesmo devia ser para o
bem. Mas, quando o homem pratica o bem, tem grande cuidado em consignar o
mérito a seu favor e não trata de o atribuir aos seus órgãos, o que prova que
instintivamente ele não renuncia, malgrado a opinião de alguns sistemáticos, ao
mais belo privilégio da sua espécie: a liberdade de pensar.
A fatalidade,
como vulgarmente é entendida, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os
acontecimentos da vida, qualquer que seja a sua importância. Se assim fosse, o
homem seria uma máquina destituída de vontade. Para que lhe serviria a
inteligência, se ele fosse invariavelmente dominado, em todos os seus atos,
pelo poder do destino? Semelhante doutrina, se verdadeira, representaria a
destruição de toda liberdade moral; não haveria mais responsabilidade para o
homem, nem mal, nem crime, nem virtude. Deus, soberanamente justo, não poderia
castigar as suas criaturas por faltas que não dependeriam delas, nem
recompensá-las por virtudes de que não teriam mérito. Semelhante lei seria
ainda a negação da lei do progresso, porque o homem que tudo esperasse da sorte
nada tentaria fazer para melhorar a sua posição, desde que não poderia torná-la
melhor nem pior.
A fatalidade não
é, entretanto, uma palavra vã; ela existe no tocante à posição do homem na
Terra e às funções que nela desempenha, como consequência do gênero de
existência que o seu Espírito escolheu, como prova, expiação ou missão. Sofre
ele, de maneira fatal, todas as vicissitudes dessa existência e todas as
tendências boas ou más que lhe são inerentes. Mas a isso se reduz a fatalidade,
porque depende de sua vontade ceder ou não a essas tendências. Os detalhes dos
acontecimentos estão na dependência das circunstâncias que ele mesmo provoque,
com os seus atos, e sobre os quais podem influir os Espíritos, através dos
pensamentos que lhe sugerem. (Ver item 459.)
A fatalidade
está, portanto, nos acontecimentos que se apresentam ao homem como consequência
da escolha de existência feita pelo Espírito; mas pode não estar no resultado
desses acontecimentos, pois pode depender do homem modificar o curso das
coisas, pela sua prudência; e jamais se encontra nos atos da vida moral.
É na morte que o
homem é submetido, de uma maneira absoluta, à inexorável lei da fatalidade,
porque ele não pode fugir ao decreto que fixa o termo de sua existência, nem ao
gênero de morte que deve interromper-lhe o curso.
Segundo a
doutrina comum, o homem tiraria dele mesmo todos os seus instintos; estes
procederiam, seja da sua organização física, pela qual ele não seria
responsável, seja da sua própria natureza, na qual pode procurar uma escusa
para si mesmo, dizendo que não é sua a culpa de haver sido feito assim.
A doutrina
espírita é evidentemente mais moral: ela admite para o homem o livre-arbítrio em toda a sua plenitude; e,
ao lhe dizer que, se pratica o mal, cede a uma sugestão má que lhe vem de fora,
deixa-lhe toda a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir,
coisa evidentemente mais fácil do que se tivesse de lutar contra a sua própria
natureza. Assim, segundo a doutrina espírita, não existem arrastamentos
irresistíveis: o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta que o
solicita para o mal no seu foro íntimo, como os pode fechar à voz material de
alguém que lhe fale; ele o pode pela sua vontade, pedindo a Deus a força
necessária e reclamando para esse fim a assistência dos bons Espíritos. É isso
que Jesus ensina na sublime fórmula da Oração dominical, quando nos manda
dizer: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.
Essa teoria da
causa excitante dos nossos atos ressalta evidentemente de todos os ensinamentos
dados pelos Espíritos. E não somente é sublime de moralidade, mas
acrescentaremos que eleva o homem aos seus próprios olhos, mostrando-o capaz de
sacudir um jugo obsessor, como é capaz de fechar sua porta aos importunos.
Dessa maneira, ele não é mais uma máquina agindo por impulsão estranha a sua vontade, mas um ser
dotado de razão, que escuta, julga e escolhe livremente entre dois conselhos.
Acrescentamos que, malgrado isso, o homem não fica privado de iniciativa, não
age menos pelo seu próprio impulso, pois em definitivo ele não passa de um
Espírito encarnado, que conserva, sob o invólucro corpóreo, as qualidades e os
defeitos que tinha como Espírito.
As faltas que
cometemos têm, portanto, sua origem primeira nas imperfeições do nosso próprio
Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral a que se destina, mas nem
por isso tem menos livre-arbítrio. A vida corpórea lhe é dada para purgar-se de
suas imperfeições através das provas que nela sofre, e são precisamente essas
imperfeições que o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros
Espíritos imperfeitos, que se aproveitam do fato de fazê-lo sucumbir na luta
que empreendeu. Se ele sai vitorioso dessa luta, se eleva; se fracassa,
continua a ser o que era, nem pior, nem melhor: é a prova que terá de recomeçar
e para o que ainda poderá demorar muito tempo na condição em que se encontra.
Quanto mais ele se depura, mais diminuem as suas fraquezas e menos acessível se
torna aos que o solicitam para o mal. Sua força moral cresce na razão da sua
elevação e os maus Espíritos se distanciam dele.
Todos os
Espíritos mais ou menos bons, quando encarnados, constituem a espécie humana. E
como a Terra é um dos mundos menos adiantados, nela se encontram mais Espíritos
maus do que bons; eis porque nela vemos tanta perversidade. Façamos, pois,
todos os esforços para não regressar a este mundo após esta passagem e para
merecermos repousar num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o
bem reina inteiramente e onde nos lembraremos de nossa permanência neste planeta
como de um tempo de exílio.
Esta Questão é
uma dissertação sobre o trabalho feito por Kardec a partir das noções anteriores
dadas pelos Espíritos, e que dispensa maior comentário.
As ações humanas
e mesmo as espirituais, digamos dos Espíritos livres, partem de uma vontade que
acionamos ou não, segundo nosso livre arbítrio. Existe, sim, uma programação de
Deus; as leis de Deus agem por toda a criação e vivemos dentro dela. Estamos
presos, ou somos escravos da lei. Para que entendamos o livre arbítrio, é
necessário mais despertamento espiritual, nos caminhos que percorremos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos fazer o estudo do tópico Conhecimento do futuro, analisando
as questões de 868 a 871.
868. O futuro
pode ser revelado ao homem?
“Em princípio o
futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais Deus lhe permite a sua
revelação”.
Conhecer o
futuro, se ele se encontra escondido nas dobras do tempo, igualmente poderá nos
interromper em nossa marcha de ascensão para o amanhã. O homem não está
preparado para conhecer o seu próprio futuro; se por acaso fosse ele revelado
antes do tempo, o Espírito reencarnado iria fazer todos os esforços para
modificá-lo, e poderia atrapalhar sua caminhada, no que diz respeito ao
aprendizado.
869. Com que
fim o futuro é oculto ao homem?
“Se o homem
conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma
liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que, se alguma coisa
deve acontecer, não adianta ocupar-se dela, ou então procuraria impedi-la. Deus
não quis que assim fosse, afim de que cada um pudesse concorrer para a
realização das coisas, mesmo daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu
mesmo, sem o saber, quase sempre preparas os acontecimentos que sobrevirão no
curso da tua vida”.
O futuro
conserva-se oculto ao homem, com a finalidade educativa, para que as lutas não
cessem no decorrer da sua existência. Se todos os homens tivessem conhecimento
do futuro, seria uma catástrofe nas suas vidas; eles iriam lutar para não
passarem pelas provas que deveriam enriquecer suas experiências para a
verdadeira felicidade.
870. Mas se é
útil que o futuro permaneça oculto, por que Deus permite, às vezes, a sua
revelação?
“E quando esse
acontecimento antecipado deve facilitar o cumprimento das coisas, em vez de
embaraçá-lo, levando o homem a agir dessa maneira diferente do que o faria se
não o tivesse. Além disso, muitas vezes é uma prova. A perspectiva de um
acontecimento pode despertar pensamentos que sejam mais ou menos bons: se um
homem souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não contava,
poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, pela alegria de aumentar os seus
gozos terrenos, pelo desejo de a obter mais cedo, aspirando pela morte daquele
que lha deve deixar, ou então essa perspectiva despertará nele bons sentimentos
e pensamentos generosos. Se a previsão não se realizar, será outra prova: a da
maneira por que suportará a decepção. Mas não deixará por isso de ter um mérito
ou demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença mi previsão lhe provocou”.
Algumas vezes,
permite o Senhor que seja revelado o futuro de certas criaturas, quando essa
revelação lhes possa ajudar no seu desempenho espiritual. É bom que pensemos
nisso, a fim de não conturbarmos nossos corações por falta de revelação
espiritual. Elas chegam de acordo com as nossas necessidades em caminho.
871. Desde que
Deus tudo sabe, também sabe se um homem deve ou não sucumbir numa prova. Nesse
caso, qual a necessidade da prova, que nada pode revelar a Deus sobre aquele
homem?
“Tanto valeria
perguntar por que Deus não fez o homem perfeito e realizado (item 119), por que
o homem passa pela infância, antes de checar a idade madura (item 379). A prova
não tem por fim esclarecer a Deus sobre o mérito do homem, porque Deus sabe
perfeitamente o que ele vale, mas dar ao homem toda a responsabilidade da sua
ação, uma vez que ele tem a liberdade de fazer ou não fazer. Podendo o homem
escolher entre o bem e o mal, aprova tem por fim colocá-lo ante a tentação do
mal, deixando-lhe todo o mérito da resistência. Ora, não obstante Deus saiba
muito bem com antecedência, se ele vencerá ou fracassará, não pode puni-lo nem
recompensá-lo, na sua Justiça, por um ato que ele não tenha praticado”. (Ver item 258 )
É bastante claro
para os estudiosos que, em se sucumbindo no caminho não se perde tudo; as
experiências ficam, e muito aprende o Espírito na própria queda. Os grandes
Espíritos que hoje se apresentam envoltos em luz, já sucumbiram no passado,
recolhendo experiências nessas lutas. Então não vale a pena lutar? É de luta em
luta que chegamos ao objetivo, na condição de alunos, ou mesmo professores para
os que vêm em nossa retaguarda.
rio de Kardec: É assim entre os homens. Por mais capaz que seja um aspirante por mais certeza que se tenha de seu triunfo, não se lhe concede nenhum grau sem exame o que quer dizer sem prova. Da mesma maneira, um juiz não condena um acusado senão pela prova de um ato consumado, e não pela previsão de que ele pode ou deve praticar esse ato. Quanto mais se reflete sobre as considerações que teria para o homem o conhecimento do futuro, mais se vê como a Providência foi sábia ao ocultá-lo A certeza de um acontecimento feliz o atiraria na inação; a de um acontecimento desgraçado, no desânimo; e num caso como no outro suas forcas seriam paralisadas. Eis porque o futuro não é mostrado ao homem senão como um alvo que ele deve atingir pelos seus esforços, mas sem conhecer as vicissitudes por que deve passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os incidentes da rota lhe tiraria a iniciativa e o uso do livre-arbítrio; ele se deixaria arrastar pelo declive fatal dos acontecimentos sem exercitar as suas faculdades. Quando o sucesso de uma coisa está assegurado ninguém mais se preocupa com ela.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos encerrar o estudo do tópico fatalidade, analisando as
questões de 865 a 867.
865. Como
explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem
da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo?
“Certos
Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte
que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem perde como
Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez”.
O Espírito, ao
tomar um corpo de carne, certamente que precisa de um esquema, assim como é
preciso uma planta do arquiteto para fazer-se um edifício e os cuidados de
pessoas que entendem de construção. A mesma coisa se dá no plano espiritual; ao
descer para a carne, o Espírito se submete a variados testes ou provações no
mundo mas, dependendo de sua maturidade, do seu interesse pelo bem comum, essas
escamas de provações vão caindo como por encanto, pela força do amor e
tornando-o livre dos seus padecimentos. Os prazeres que são dados às almas para
o gozo da vida física são testes, explicáveis pela reencarnação, que serão
dados a todos como experiências, assim como também os sofrimentos e todos os
tipos de infortúnios. Não há nada errado na escrita divina. O que pensas ser
erro, é devido à ignorância das leis que regem a todos e a tudo.
866. Então, a
fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria
também resultado do nosso livre-arbítrio?
“Tu mesmo
escolheste a tua prova; quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te
elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos
covardes que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados
ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram, na
sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles veem muito bem a
futilidade de vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz
é sempre agitada, sempre perturbada: não seria assim tão-somente pela ausência
da dor”. (Ver itens 525
e seguintes.)
Nós escolhemos
as nossas provas, no entanto, até nas nossas escolhas aparece a intuição divina
nos ajudando, quando temos capacidade para tal empreendimento. Se o Espírito
usa seu pensamento para comunicar, certamente que ele também recebe comunicação
dos maiores da espiritualidade através
desse sistema de conversa.
867. De onde
procede a expressão: Nascido sob uma boa estrela?
“Velha
superstição, segundo a qual as estrelas estariam ligadas ao destino de cada
homem; alegoria que certas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra”.
Verdadeiramente,
a crença na boa estrela é uma superstição, mas, dentro dela, está a verdade
brilhando, pois as estrelas - Espíritos iluminados - iluminam os missionários
da verdade e os ajudam, para ajudar o rebanho na Terra; nunca faltaram no mundo
os pastores que sempre dirigem o rebanho humano para o bem e a verdade. Nunca
faltaram livros educativos para a humanidade, nunca faltam para os povos
exemplos dignificantes, que levam o amor e a caridade, de Espíritos que passam
pela vida enfrentando sofrimentos e escárnio, recebendo pedradas e infortúnios
mas, que mesmo assim, não esmorecem nos caminhos que percorrem.
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as
questões de 863 a 864.
863. Os
costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a seguir um caminho errado? E
não está ele submetido à influência das opiniões na escolha de suas ocupações?
Isso a que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do
livre-arbítrio?
“São os homens
que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se submetem, é que lhes
convêm. Isso também é um ato de livre-arbítrio, pois se quisessem poderiam
rejeitá-los. Então, por que se lamentam? Não são os costumes sociais que eles devem acusar, mas o
seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a infringi-los.
Ninguém lhes pede conta desse sacrifício
feito à opinião geral, enquanto Deus lhes pedirá conta do sacrifício feito à
própria vaidade. Isso não quer dizer que se deva afrontar a opinião sem
necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade que de
verdadeira filosofia. Tanto é desarrazoado exibir-se como um animal curioso,
quanto é sensato descer voluntariamente e sem reclamações, se não se pode
permanecer no alto da escada”.
Os costumes
sociais dos homens foram feitos pelos próprios homens, por aquiescência de
Deus, porque as leis sociais são transitórias e as leis de Deus são eternas
como Ele. Então, é dado aos Seus filhos fazer as suas próprias leis, de acordo
com a evolução humana. Não poderiam as almas revestidas do fluido da carne,
compreender de imediato as leis de Deus na sua profundidade e praticá-las. A
verdade chega às criaturas na gradação que elas possam suportar. Essa é, pois,
a justiça. Como exigir das crianças a compreensão dos adultos? Os costumes
sociais que se notam no mundo e que se expressam diferentemente em cada país,
constituem disciplina que seu povo suporta. Se não existissem eles, ficaria a
humanidade sem freio, o que corresponde a uma calamidade.
864. Se há
pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas por ela, pois tudo lhes sai bem;
a que se deve isso?
“Em geral,
porque sabem orientar-se melhor. Mas isso pode ser, também, um gênero de prova:
o sucesso as embriaga, elas se fiam no seu destino, e frequentemente vão pagar
mais tarde esse sucesso com reveses cruéis, que poderiam ter evitado com um
pouco de prudência”.
As pessoas favorecidas
no mundo pelos bens materiais, e mesmo pela família em ordem, não são
beneficiadas por Deus enquanto outras são esquecidas. Somente a reencarnação
pode explicar essas "anomalias" do destino. Em muitos casos, elas
estão sendo testadas, com o fim de aprender sobre as leis de Deus. Alguns dos
favorecidos acham que, os que não o são, parecem preguiçosos, ou então não são
dotados de inteligência para ganhar a vida com mais facilidade. Os próprios
fatos desmentem isto, por existirem criaturas de pouca inteligência bem
aquinhoadas de bens materiais e outras que não usaram a inteligência para
adquirir os bens materiais, como, por exemplo, fortunas entregues a eles pelos
processos de jogos. A riqueza não constitui felicidade; às vezes é o contrário,
no entanto, quando sabemos usá-la, ela é uma porta que poderá levar seu dono
para as estâncias de luz.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as
questões de 861 a 862.
861. O homem
que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará
assassino?
“Não. Sabe
apenas que, ao escolher uma vida de lutas, terá a probabilidade de matar um de
seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque estará quase sempre nele
tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre alguma
coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o espírito soubesse com antecedência
que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso.
Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como
todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio. De
resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas, os acontecimentos
materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é
apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa estafara de vós e
que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam
sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de
escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade”.
Em escolhendo o
Espírito a sua nova existência na Terra, certamente que ele não saberia que
viria a ser um assassino, pois não escolheria esse tipo de falta, que viria a
comprometer sua vida com mais peso sobre seus ombros. Somente Deus é presciente
do que virá a acontecer com todos os Seus filhos. A deliberação é dos
Espíritos; eles têm livre escolha nos seus momentos de decisões.
862. Há
pessoas que nunca conseguem êxito na vida e que um mau gênio parece perseguir,
em todos os seus empreendimentos. Não é isso o que podemos chamar fatalidade?
“Pode ser
fatalidade, se assim o quiseres, mas decorrente da escolha do gênero de
existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de
decepções, afim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não creias,
entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas vezes é apenas o
resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que não está de acordo com
a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a
nado, sem saber nadar, tem grande probabilidade de morrer afogado. Assim
acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o homem não empreendesse mais
do que aquilo que está de acordo com as suas faculdades, triunfaria quase
sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam do
caminho para tomar por vocação o simples desejo de satisfazer certas paixões.
Então fracassa e a culpa é sua; mas, em vez de reconhecer o erro, prefere
acusar a sua estrela. Há o que teria sido um bom operário, ganhando
honradamente a vida, mas se fez mau poeta e morre de fome. Haveria lugar para
todos, se cada um soubesse ocupara seu lugar”.
Seria bom
compreendermos que a fatalidade, em quase todos os seus aspectos, se processa
na alma primitiva. Qual a criança dirigida pelos pais; crescendo, ela pode ir
tomando suas próprias decisões, o Espírito vai ganhando a liberdade de
conformidade com a sua compreensão. Existem muitos que, em quase tudo, a
fatalidade é para eles lei irremovível, por viverem dentro da ignorância quase
total.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as
questões de 859 a 860.
859. Se a
morte não pode ser evitada quando chega a sua hora, acontece o mesmo com todos
os acidentes no curso da nossa vida?
“São, em geral,
coisas demasiado pequenas, das quais podemos prevenir-vos dirigindo o vosso
pensamento no sentido de as evitardes porque não gostamos do sofrimento
material. Mas isso é de pouca importância para o curso da vida que escolhestes.
A fatalidade, na verdade, só consiste nestas duas horas: a em que deveis
aparecer e desaparecer deste mundo”.
Os acidentes em
geral são produzidos pela nossa invigilância, então, a lei nos cobra, por ser
ela instrumento da Justiça. Os nossos benfeitores da eternidade sempre nos
falam sobre o respeito às leis, e devemos atendê-los, confiando mais na força
divina dentro de nós, emergindo pelos processos da nossa consciência.
859–a. Há fatos
que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?
“Sim, mas que
tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste ao fazer a tua escolha.
Não acrediteis, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Um
acontecimento é quase sempre a consequência de uma coisa que fizeste por um ato
de tua livre vontade, de tal maneira que se não tivesses praticado aquele ato,
o acontecimento não se verificaria. Se queimas o dedo, isso é apenas a consequência
de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os
acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são
previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução”.
Podemos
verificar que quando uma pessoa dirige um veículo e sempre desrespeita os
sinais, mesmo que não tenha provação de passar por um acidente de veículos, ela
está criando essa condição pelo desrespeito aos sinais que significam ordem nas
raias humanas. Quando acontece um acidente, apesar de toda a atenção do
motorista, é a força da cobrança do passado, usando o ambiente do presente.
860. Pode o
homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam
realizar-se e vice-versa?
“Pode, desde que
esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além
disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode
impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior”.
Acresce notar-se
que a vontade na alma constitui uma força poderosa na sequência da sua vida. O
poder da vontade realiza prodígios, principalmente dentro de nós, no entanto, é
bom que se note que, para termos uma vontade poderosa, necessário se faz o
alcance da maturidade espiritual.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da
Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as
questões de 855 a 858.
855. Qual o
fito da Providência ao fazer-nos correr perigos que não devem ter consequências?
“Quando tua vida
se encontra em perigo, é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, afim de
te desviar do mal e te tornar melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a
influência do risco por que passaste, pensas com maior ou menor intensidade,
sob a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. O mau
Espírito retornando (digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe),
pensas que escaparás da mesma maneira a outros perigos e deixas que as tuas
paixões se desencadeiem de novo. Pelos perigos que correis. Deus vos recorda a
vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinarmos a causa e a
natureza do perigo, veremos que, na maioria das vezes, as consequências foram a
punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus vos adverte
para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes”. (Ver os itens 526 a 532.)
A humanidade se
encontra em perigo constantemente, para que possa aprender a se defender por si
mesma. Somente lutando, o soldado torna-se eficiente em novos campos de
batalha. O próprio corpo humano, na sua primorosa constituição, nos mostra a
variedade de lutas dentro de si, para o seu aperfeiçoamento e sua harmonia.
Fora dele é a mesma coisa: a alma está sempre em perigo de todas as ordens e
para que possa livrar-se de todos eles, Deus criou as leis que podem lhe servir
de defesa em todas essas lutas.
856. O
Espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?
“Sabe que o
gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma maneira que de
outra. Mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para o evitar, e
que, se Deus o permitir, não sucumbirá”.
A alma sabe mais
ou menos que gênero de morte encerrará sua jornada na carne, porque isto foi
antes escolhido, desde quando o seu destino não seja mudado pela Providência
Divina. Tudo muda conforme a lei; somente Deus e Suas leis são imutáveis.
857. Há homens
que enfrentam os perigos do combate com uma certa convicção de que a sua hora
não chegou; há algum fundamento nessa confiança?
“Com muita frequência
o homem tem o pressentimento do seu fim como o pode ter o de que ainda não
morrerá. Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protelares, que
desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir ou reerguem, a sua coragem
nos momentos em que se faz necessário. Também lhe pode vir da intuição da
existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir”. (Ver itens 411 e 522.)
São milhares de
criaturas que reconhecem, mesmo diante do perigo, que a hora da morte não lhes
chegou, e enfrentam tal estado perigoso com coragem. Porém, existem outras que
reconhecem chegada a hora. Esse processo é inspiração dos seus guias
espirituais. No silêncio da vida, essas revelações surgem por intuição durante
o dia ou pelo processo do sono, ou ainda por variados meios que os Espíritos
sabem escolher para avisar seus tutelados.
858. Os que
pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros. Por quê?
“E o homem que
teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito
do que como homem: compreende a sua libertação e a espera”.
A verdade é
sempre agradável aos que se encontram preparados para recebê-la. Os que pressentem
a morte reconhecem internamente que escolheram aquele tipo de desencarnação e,
por vezes, sentem-se aliviados quando ela dá demonstração de que está chegando.
Morrer, para o Espírito que cumpriu sua missão na Terra, é um prêmio. Muitos
dos que temem a morte, é porque não cumpriram a obrigação que assumiram no
plano do Espírito e procuram por todos os meios viver para terminar sua tarefa.
Uma quantidade enorme de almas consegue adiar o momento da morte, para
completarem sua tarefa, mas tornam a se esquecer dos compromissos assumidos.
LIVRO
TERCEIRO
LEIS
MORAIS
Capítulo
X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos iniciar o estudo do tópico fatalidade, analisando as questões
de 853 a 854.
853. Certas
pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem
escapar à morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no
verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegando esse momento,
de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar- vos”.
Somente a morte
é fatal, nos campos de lutas das formas. Tudo se transforma em todos os
segmentos da matéria. As mutações são fatais, no entanto, os momentos de
mudanças, em certos casos não o são.
853–a. Assim,
qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não
chegou?
“Não, não
morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas quando chegar tua hora de
partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por
que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe
foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência”.
Fatalidade total
é para a ignorância em todos os seus aspectos. A fatalidade pode sofrer
mudanças; depende muito do que as criaturas estão fazendo da vida, do
comportamento e da compreensão.
854. Da
infalibilidade da hora da morte segue-se que as precauções que se tomam para
evitá-la são inúteis?
“Não, porque as
precauções que tomais vos são sugeridas com o fim de evitar uma morte que vos
ameaça; são um dos meios para que ela não se verifique”.
Devemos tomar
precauções em tudo na vida, para evitarmos o pior que nos possa acontecer. A
prevenção, por vezes, é sugerida pelos Espíritos amigos, para que possamos nos
livrar do determinismo, pois a evolução da alma faz com que ela possa mudar de
rumo, sempre para melhor.
LIVRO
TERCEIRO
LEIS
MORAIS
Capítulo
X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos iniciar o estudo do tópico fatalidade, analisando as questões
de 851 a 852.
851. Há uma
fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa
palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso
cm que se torna o livre-arbítrio?
“A fatalidade só
existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta
ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino,
que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo das provas de
natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o
Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor
de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu
auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um
Espírito mau, ou seja. inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico,
pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por
isso menos livre de qualquer entrave”.
A fatalidade já
é produto do livre arbítrio, pois, antes de reencarnar o Espírito, por vezes,
escolheu determinadas fases para passar. Se ele escolheu, o acontecimento é uma
fatalidade. Mesmo assim, conforme a sua vida na Terra, poderá modificar seu
destino em algum aspecto, dependendo do que vai fazer ou está fazendo em favor
da humanidade.
852. Há
pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independentemente de sua
maneira de agir; a desgraça está no seu destino?
“São, talvez,
provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à
conta do destino o que é quase sempre a consequência de vossa própria falta. Em
meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te
sentirás meio consolado”.
Há certamente
pessoas que são perseguidas pela fatalidade, no entanto, elas escolheram essa
fatalidade pelo seu livre pensar. Essas pessoas, e principalmente as almas mais
evoluídas, em estado de sono, vão encontrar mais diretamente seus anjos
guardiães que tutelam por amor sua reencarnação e pedem novamente para não
tirar seus fardos, mesmo que para isso tenham adquirido direitos. Então, são
aparentemente massacradas pelo destino, de modo a levar muitas pessoas a se
condoerem pelos seus sofrimentos.
Comentário de Kardec: As ideias
justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar, segundo
o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos
humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao
destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas
vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que
nos forem sugeridas.
LIVRO
TERCEIRO
LEIS
MORAIS
Capítulo
X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o
Capítulo X, vamos encerrar o estudo do tópico Livre-arbítrio, analisando as
questões de 847 a 850.
847. A
alteração das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?
“Aquele cuja
inteligência está perturbada por uma causa qualquer perde o domínio do seu
pensamento e desde então não tem mais liberdade. Essa alteração é frequentemente
uma punição para o Espírito que, numa existência, pode ter sido vão e
orgulhoso, fazendo mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um
idiota, como o déspota no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo.
Mas o Espírito sofre esse constrangimento, do qual tem perfeita consciência: é
nisso que está a ação da matéria”.
(Ver item 371 e seguintes.)
As aberrações
das faculdades de uma criatura certamente que perturbam seus sentimentos mais
profundos. Os desvios das qualidades oriundas do Espírito, que se fazem sentir
pelas leis espirituais, fazem-no sofrer as suas consequências por muito tempo.
848, A
alteração das faculdades intelectuais pela embriaguez desculpa os atos
repreensíveis?
“Não, pois o
ébrio voluntariamente se priva da razão para satisfazer paixões brutais: em
lugar de uma falta, comete duas”.
Usando da
embriaguez para cometer atos reprováveis, o ser humano, ao invés de cometer uma
falta, verdadeiramente comete duas, por usar conscientemente de um estado
provocado pela bebida e incorrendo em outra falta.
849. Qual é,
no homem em estado selvagem, a faculdade dominante: o instinto ou o
livre-arbítrio?
“O instinto, o
que não o impede de agir com inteira liberdade em certas coisas. Mas, como a criança, ele
aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a
inteligência. Por conseguinte, tu, que és mais esclarecido que um selvagem, és
também mais responsável que ele pelo que fazes”.
A faculdade
predominante no selvagem, certamente que é o instinto, impulso que parte de
Deus para as necessidades do homem primitivo, como também dos animais. No
entanto, ele evolui cada vez mais, de acordo com o crescimento do homem em
busca da razão mais esclarecida. Mesmo assim, o instinto não desaparece no
homem; ele se desenvolve, alcançando o estado que se chama raciocínio e se
expressando como inteligência, de modo que a criatura se torna mais responsável
pelos seus atos.
850. A posição
social não é, às vezes, um obstáculo à inteira liberdade de ação?
“O mundo tem,
sem duvida, as suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos
deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para superar os
obstáculos”.
O mundo tem suas
exigências; se assim não fora, não constituiria escolas para esse aprendizado.
É necessário, e tanto o é que foi a Maior Inteligência que criou essas leis
para educar e disciplinar os homens e demais seres no silêncio da vida. A
evolução é, de certa forma, imposta às criaturas, porque fomos feitos para
isso. Se queres estacionar, a vida não o consente, por ser ela movimento, tanto
que, quando a alma não se movimenta no bem, ela passa a fazê-lo no mal, mas,
como o mal cansa, por não termos sido feitos para ele, passamos, depois de
muitos sofrimentos, a aceitar o bem, donde saem grandes almas, que a história
registra como santos.
LIVRO SEGUNDO
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