INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
Pense nisso!

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Estudo de O Livro dos Espíritos

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos iniciar o estudo do tópico Das Paixões, analisando as Questões de 907 a 908.

907. O princípio das paixões sendo natural é mau em si mesmo?

Não. “A paixão está no excesso provocado pela vontade, pois o princípio foi dado ao homem para o bem e as paixões podem conduzi-lo a grandes coisas. O abuso a que ele se entrega é que causa o mal”.

As paixões em si constituem força poderosa que podem levar o homem a grandes realizações. É bom que se saiba do valor dos princípios das paixões, que não deixam de ser força a ativar o amor e a caridade, o bem em todos os ângulos da vida. O que se acrescenta nelas de exagero é que as coloca como sentimentos inferiores, tornando o homem malfeitor.

908. Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más?

“As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa. Reconhecei, pois, que uma paixão se torna perniciosa no momento em que a deixais de governar, e quando resulta num prejuízo qualquer para vós ou para outro”.

Todas as paixões têm limites traçados pelo bom entendimento evangélico. Quando elas passam desses limites, passam a sofrer influência do mal, desnorteando a vida pelo clima da inferioridade. Um veículo, sendo dirigido por pessoa capacitada para tal, percorrerá seus caminhos com segurança, mas, se lhe falta a direção, ele se desvia dos caminhos e pode cair nos precipícios.

Comentário de Kardec: As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o ajudam a cumprir os desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, o homem se deixa dirigir por elas, cai no excesso e a própria força que em suas mãos poderia fazer o bem recai sobre ele e o esmaga. Todas as paixões tem seu princípio num sentimento ou numa necessidade da Natureza. O princípio das paixões não é, portanto, um mal, pois repousa sobre uma das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento; está no excesso e não na causa; e esse excesso se torna mau quando tem por consequência algum mal. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal distancia-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal anuncia o predomínio do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.

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Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos encerrar o estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 904 a 912.

904. É culpado o que sonda os males da sociedade e os desvenda?

“Isso depende do sentimento que o leva afazê-lo. Se o escritor só quer fazer escândalo, é um prazer pessoal que se proporciona, apresentando quadros que são, em geral, antes um mau do que um bom exemplo. O Espírito faz uma apreciação, mas pode ser punido por essa espécie de prazer que sente em revelar o mal”.

Aquele que sonda as chagas da sociedade para ajudar aos outros no silêncio dos seus escritos, sem motivar a corrupção, está ajudando de maneira cristã as almas em formação para a grande missão do amor. Entretanto, quem estuda os defeitos de uma sociedade no sarcasmo da prepotência, divulgando-os em revistas e jornais, como em outros meios de comunicações existentes, esse Espírito é um malfeitor que deve ser, e será, corrigido pela própria natureza.

904–a. Como julgar, nesse caso, a pureza das intenções e a sinceridade do escritor?

“Isso nem sempre é útil. Se ele escreve boas coisas, procura aproveitá-las; se escreve más, e uma questão de consciência que a ele diz respeito. De resto, se ele quer provar a sua sinceridade, cabe-lhe apoiar os preceitos no seu próprio exemplo”.

Podemos e devemos sondar as chagas da humanidade, mas desde que essa sondagem nos sirva para ajudar aos outros, motivando na sociedade o viver retamente. O homem é dado à pesquisa, mas Jesus veio nos ensinar como pesquisar. Devemos conhecer os fundamentos do mal, porém, não divulgá-los como fonte de prazer.

905. Alguns autores publicaram obras muito belas e moralmente elevadas, que ajudam o progresso da Humanidade, mas das quais eles mesmos não tiraram proveito. Como Espírito lhes será levado em conta o bem que fizeram através de suas obras?

“A moral sem ações é como a semente sem. o trabalho. De que vos serve a semente se não afizerdes frutificar pura vos alimentar? Esses homens são mais culpáveis porque tinham inteligência para compreender; não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher os seus frutos”.

O homem que escreve tem grandes responsabilidades com o que fala aos outros, principalmente se não passar a viver o que escreve. A vivência é o selo que mostra o maior entendimento do que escreve e fala. O escritor, de certa maneira, é um pastor de ovelhas, capaz de educá-las e instruí-las sobre as leis da vida.

906. E repreensível aquele que, fazendo conscientemente o bem, reconhece que o faz?

“Desde que pode ter consciência do mal que fizer, deve tê-la igualmente do bem, a fim de saber se age bem ou mal. É pesando todas as suas ações na balança da lei de Deus, e sobretudo na da lei de justiça, de amor e de caridade, que ele poderá dizer a si mesmo se as suas ações são boas ou más e aprová-las ou desaprová-las. Não pode, pois, ser responsabilizado por reconhecer que triunfou das más tendências e de estar satisfeito por isso, desde que não se envaideça, com o que cairia em outra falta”. (Ver item 919.)

A consciência do bem, todos devemos tê-la, sentir o bem que fazemos, porque desta maneira passamos a conhecer a nós mesmos e deixamos de fazer o mal, que às vezes praticamos. Não é censurado à criatura que ela examine a si mesma, no que se encontra fazendo.

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Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 902 a 903.

 

902. É repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de praticar o bem?

“O sentimento é louvável, sem dúvida, quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante desinteressado? Não trará oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa a quem se deseja fazer o bem não será muitas vezes a nossa?”

O desejo de riqueza no ser humano é desnecessário para a sua evolução espiritual. Quando ele precisa dos bens materiais como uma prova, ou um trabalho que tenha de realizar, esse tesouro vem às suas mãos pela vontade de Deus. No entanto, necessário se faz que haja esforço próprio, porém, sem a usura de ganho, trabalhando por dever e licitamente, e quando a fortuna vier a suas mãos, é preciso saber conduzi-la nos seus verdadeiros caminhos.

903. Há culpa em estudar os defeitos alheios?

“Se é com o fito de os criticar e divulgar, há muita culpa, porque isso é faltar com a caridade. Se é com intenção de proveito pessoal, evitando-se aqueles defeitos, pode ser útil. Mas não se deve esquecer que a indulgência para com os defeitos alheios é uma das virtudes compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros, vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito. Tratai, pois, de possuirás qualidades contrarias aos defeitos que criticais nos outros. Esse é um meio de vos tomardes superiores. Se os censurais por serem avarentos, sede generosos; por serem duros, sede dóceis- por agirem com mesquinhez, sede grandes em todas as vossas ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não vos possam aplicar aquelas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vizinho e não vedes uma trave no vosso”.

Não é justo nos preocuparmos com os defeitos alheios no sentido vulgar, procurando menosprezar os valores de outrem. Somente nascem essas ideias na mente incapaz de experimentar o amor, de quem não se lembra dos ensinamentos de Jesus a nos ensinar a benevolência. Cada criatura é um mundo em particular; toda alma é um campo de plantio, onde o que se semeia, germina, onde o cuidado multiplica, onde o que se abençoa, aumenta. Quando procuramos nos interessar em divulgar os erros dos outros, os nossos se escondem, prejudicando muito nossa ascensão espiritual. Incorreremos em grande falta, se colocarmos à vista as falhas alheias, como críticos.    

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LEIS MORAIS

Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 899 a 901.

899. De dois homens ricos, um nasceu na opulência e jamais conheceu a necessidade; o outro deve a sua fortuna ao seu próprio trabalho; e todos os dois a empregam exclusivamente em sua satisfação pessoal. Qual dele o mais culpado?

“O que conheceu o sofrimento. Ele sabe o que é sofrer. Conhece a dor que não alivia, mas como geralmente acontece, nem se lembra mais dela”.

O homem mais culpado, quando na Terra, é o que leva uma vida de opulência, alimentando o egoísmo, tendo já experimentado vida de miséria, no meio dos pobres, já sabendo, portanto, o que eles passam. Certamente, o que nasceu no berço de ouro, não tendo compaixão dos que sofrem, igualmente responde pela dureza de seu coração, no entanto, o outro sofre com mais intensidade no tribunal da sua própria consciência.

900. Aquele que acumula sem cessar e sem beneficiar a ninguém, terá uma desculpa válida ao dizer que ajunta para deixar aos herdeiros?

“É um compromisso de má consciência”.

O ouro, em todos os tempos, foi a arma mais poderosa que chegou às mãos dos homens. Ele está presente em todos os movimentos humanos e é responsável pelos seus desregramentos, contudo, ele é apenas instrumento. O comando nasce na alma que o faz ser benfeitor ou malfeitor da sociedade. Em quase tudo, o dinheiro constitui o meio para a realização dos ideais dos seres humanos. Existem criaturas que acumulam fortunas para que seus herdeiros fiquem "bem" e mostrem aos outros a sua descendência. Esse é um mal em forma e aparência de bem. Aos pais foram dados esses meios para educar seus filhos, e o que sobrar, ajudar aos necessitados, aos famintos e nus.

901. De dois avarentos, o primeiro se priva do necessário e morre de necessidades sobre o seu tesouro; o segundo é avaro só para os demais e pródigo para consigo mesmo; enquanto recua diante do mais ligeiro sacrifício para prestar um serviço ou fazer uma coisa útil, nada lhe parece muito para satisfazer aos seus gostos e às suas paixões. Peçam-lhe um favor, e estará sempre de má vontade; ocorra-lhe, porém, uma fantasia, e estará sempre pronto a satisfazê-la. Qual deles é o mais culpável e qual terá o pior lugar no mundo dos Espíritos?

“Aquele que goza. É mais egoísta do que avarento. O outro já recebeu uma parte de sua punição”.

Podemos verificar que até ouvir o nome avarento nos faz sentir constrangimento. Quem vive este estado d'alma, o de avareza, é um sofredor, pois não usa o que acumula, nem distribui os seus bens. A vida cobra dele o cumprimento do dever por circunstâncias tais que, mais tarde, aprenderá como doar, usando igualmente os bens do Senhor. Aquele que por outro lado, tomado de egoísmo, somente ajunta para si e desfruta sozinho do ouro que acumulou, petrifica o coração como faminto de uma paz que não encontra com facilidade. Ele entende que encontra o céu na Terra pelos bens que ajunta. Pobre ser! É demasiadamente ignorante, mas o tempo, mais tarde, irá ensinar-lhe a verdadeira felicidade.                            .

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Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 897 a 898.

897. Aquele que faz o bem sem visar a uma recompensa na Terra, mas na esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida e que nessa a sua posição seja melhor, é repreensível, e esse pensamento prejudica o seu  adiantamento?

“É necessário fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse”.

Com a maturidade que devemos desenvolver para tal empenho, o Espírito vai adquirindo condições espirituais de fazer o bem sem interesse em receber de troca da vida o mesmo bem, compreendendo que nada fica em vão na natureza. Ele sabe que se semear, colherá, sem que seja preciso pensar na colheita.

897–a. Mas cada um tem o desejo muito natural de progredir para sair da situação penosa desta vida. Os Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse fim. Será, pois, um mal pensar que pela prática do bem se pode esperar uma situação melhor?

“Não, por certo. Mas aquele que faz o bem sem segunda intenção, pelo prazer único de ser agradável a Deus e ao seu próximo sofredor, já se encontra num grau de adiantamento que lhe permitirá chegar mais rapidamente à felicidade do que o seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não pelo impulso natural do coração”. (Ver item 894.)

Quando fazemos o bem desinteressadamente, fazendo-o por amor, esse gesto de luz traz em seu interior uma verdadeira paz, de modo que a consciência se torna um céu, com a paz de Deus. O progresso da alma, será notado pelo bem que ela faz, por prazer em servir.

897–b. Não há aqui que se fazer uma distinção entre fazer o bem ao próximo e cuidar de se corrigir dos próprios defeitos? Concebemos que fazer o bem com o pensamento de que nos seja levado em conta na outra vida é pouco meritório; mas emendar-se, vencer as paixões, corrigir o caráter, visando a se aproximar dos bons Espíritos e se elevar, será igualmente um sinal de inferioridade?

“Não, não; perfazer o bem queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que lhe pode render cada uma de suas boas ações, na outra vida ou na vida terrena, procede de maneira egoísta. Mas não há nenhum egoísmo em se melhorar com vistas de se aproximar de Deus, pois esse é o objetivo de todos”.

Vejamos o que nos diz o Evangelho: "Dar com uma mão, sem que a outra veja." Isso é divino, principalmente para o espírita, que já compreende o sinal de luz do coração e que já conhece a Boa Nova em Espírito e verdade. A caridade não pode ser um comércio, por ser ela de ordem divina.

898. Desde que a vida corpórea é apenas uma efêmera passagem por este mundo, e que o nosso futuro deve ser a nossa principal preocupação, é útil esforçar-nos por adquirir conhecimentos científicos que se referem somente às coisas e necessidades materiais?

“Sem dúvida. Primeiro, isso vos torna capazes de aliviar os vossos irmãos; depois, vosso Espírito se elevará mais depressa se houver progredido intelectualmente. No intervalo das encarnações, aprendereis em uma hora aquilo que na Terra demandaria anos. Nenhum conhecimento é inútil; todos contribuem mais ou menos para o adiantamento, porque o Espírito perfeito deve saber tudo e, devendo o progresso realizar-se em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito”.

O aprendizado é constante em todas as direções da vida. Se queres aprender com mais eficiência, não cruzes os braços, porque a escola de Deus são todas as coisas reunidas. É neste sentido que a Doutrina dos Espíritos constitui a volta do Cristo à Terra. Ela é ciência, religião e filosofia; ainda mais, é um curso para todo o saber. O Espiritismo é uma ciência porque estuda os mínimos fenômenos relacionados com o Espírito, dando explicações lógicas a todos eles; é religião, por ensinar a aquisição das virtudes espirituais, e é filosofia por fazer de tudo isto uma filosofia de vida. Por que não estudar tudo que existe? Se Deus fez todas as coisas, o aprendizado é infinito; sempre temos algo para buscar, e essa é a nossa maior alegria., Tudo que buscamos aprender de utilidade tem o traço do Mestre nos convidando para a luz da vida. 

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Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando continuidade ao Capítulo XII, Da perfeição moral, vamos dar sequência ao estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 895 a 896.

895. À parte os defeitos e os vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual é o indício mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. As qualidades morais são geralmente como a douração de um objeto de cobre, que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que afazem para o mundo um homem de bem; mas essas qualidades, embora representem um progresso, não suportam em geral a certas provas, e basta ferir a tecla do interesse pessoal para se descobrir a fundo. O verdadeiro desinteresse, é de fato tão raro na Terra que se pode admirá-lo como a um fenômeno, quando ele se apresenta. O apego às coisas materiais é um indício notório de inferioridade, pois, quanto mais o homem se apega aos bens deste mundo, menos compreende o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado”.

A marca mais visível da inferioridade da alma é o interesse pessoal, gesto este nascido do egoísmo e, por vezes, do orgulho. Quando o Espírito descobre que tudo pertence a Deus, que todos somos Seus filhos e herdeiros dos bens, e que os bens, quando os possuímos, são de duração efêmera, passa ao desprendimento, e desprendimento com Jesus não é desperdício, é saber usar o que Deus colocou em nossas mãos.

896. Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam os seus haveres sem proveito real, por não saberem empregá-los de maneira razoável. Terão por isso algum mérito?

“Têm o mérito do desinteresse, mas não o do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma virtude, a prodigalidade irrefletida é sempre, pelo menos uma falta de juízo. A fortuna não é dada a alguns para ser lançada ao vento como não o é a outros para ser encerrada num cofre. E um depósito de que terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que poderiam ter feito e não o fizeram: por todas as lágrimas que poderiam ter enxugado com o dinheiro dado aos que na verdade não estavam necessitados”.

A alma desprendida é uma personalidade de princípios elevados, no entanto, devemos verificar se esse desinteresse é em função dos que mais sofrem. Os bens materiais que sobram em suas mãos devem ser empregados com discernimento. O desperdício em qualquer rumo é deplorável, e quem o faz responderá sobre os gastos desnecessários. Em tudo que fazemos, a vida requer o bom senso que disciplina a bondade e dá direção à caridade, para que ela seja bem conduzida.

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LEIS MORAIS

Capítulo XII – Da Perfeição Moral.

Dando início ao Capítulo XII, vamos apresentar o estudo do tópico As virtudes e os vícios, analisando as Questões de 893 a 894.

893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?

“Todas as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas ti sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada”.

Quando o Espírito passa a conhecer o mundo das virtudes, ele começa a acordar para a vida espiritual, e as virtudes devem ocupar o lugar dos vícios e hábitos inconvenientes para a paz espiritual. As virtudes são variadas; cada uma tem seu mérito próprio, é certo, no entanto, elas nascem da maior de todas, envolvida no sopro de Deus, que é o Amor. Ele se divide em mil ações comandadas pelas suas sensibilidades espirituais e fala da vida e da esperança em todos os seus contornos de vida.

894. Há pessoas que fazem o bem por um impulso espontâneo, sem que tenham de lutar com nenhum sentimento contrário. Têm elas o mesmo mérito daquelas que têm de lutar contra a sua própria natureza e conseguem superá-la?

“Os que não têm de lutar é porque já realizaram o progresso: lutaram anteriormente e venceram; é por isso que os bons sentimentos não lhes custam nenhum esforço e suas ações lhes parecem tão fáceis: o bem tornou-se para eles um hábito. Deve-se honrá-los como a velhos guerreiros que conquistaram suas posições. Como estais ainda longe da perfeição, esses exemplos vos espantam pelo contraste e os admirais tanto mais porque são raros. Mas sabei que nos mundos mais avançados que o vosso, isso que entre vós é exceção se torna regra O sentimento do bem se encontra por toda parte e de maneira espontânea, porque são mundos habitados somente por bons Espíritos e uma única intenção má seria neles uma exceção monstruosa. Eis porque os homens ali são felizes e assim será também na Terra, quando a Humanidade se houver transformado e quando compreender e praticar a caridade na sua verdadeira acepção”.

Quanto à indagação sobre por que essa diferença de uns se esforçarem usando as últimas forças para melhorar, enquanto outros, com poucos esforços, vencem com facilidade muitos problemas, deixando em seguida muitos vícios e hábitos que incomodam a consciência, respondemos que, os que com facilidade estão no aprendizado assimilando e vivendo as lições do Evangelho, é por terem muita vivência neste campo de reformas, e a tiveram em vidas passadas, ao passo que os companheiros que encontram muitas dificuldades no aprendizado, podem estar começando agora as mudanças internas. Isso é comum nas escolas religiosas e filosofias diversas: quando encontramos certos irmãos envolvidos no fanatismo religioso, é sinal de que estão iniciando agora as primeiras experiências no certame da moral evangélica, e se deslumbram de tal modo que chegam ao fanatismo. Entretanto, o tempo cuidará deles e acertará seus passos nas sendas da luz.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos iniciar o estudo do tópico Amor materno e filial, analisando as Questões de 890 a 892.

890. O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais?

“É uma coisa e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua conservação; mas, no animal, esse amor é limitado às necessidades materiais: cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem, ele persiste por toda vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes; sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vedes que há nele alguma coisa mais do que no animal”. (Ver itens 205 e 385.)

O amor materno é semente divina lançada no coração da mãe, para que ela possa cuidar com mais eficiência dos seus filhos. No entanto, a razão vem nos alertar para que não possamos traduzir esse amor em apego, comumente visto em demasia em alguns pais. Os animais têm esse amor, na dimensão dos instintos, porém, quando se não faz mais necessário, eles o esquecem, entregando os filhotes à natureza.

891. Se o amor materno é uma lei natural, por que existem mães que odeiam os filhos e frequentemente desde o nascimento?

“É, às vezes, uma prova escolhida pelo Espírito do filho ou uma expiação, se ele tiver sido um mau pai, mãe ruim ou mau filho em outra existência. (Ver item 392.) Em todos esses casos, a mãe ruim não pode ser animada senão por um mau Espírito, que procura criar dificuldades ao do filho, para que ele fracasse na prova desejada. Mas essa violação das leis naturais não ficará impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que tiver superado”.

As mães que odeiam seus filhos, ainda são Espíritos que dormem em relação ao amor, e os filhos que maltratam seus pais se encontram nas trevas dos entendimentos superiores. Entretanto, não estão perdidos, pois o tempo lhes vai mostrando a realidade. A vida constitui uma semeadura; ao colhermos o que plantamos, a razão nos fala que não nos convém a violência, a maldade, o ódio, o ciúme, o orgulho e o egoísmo. Às vezes, pelo passado incorrigível do filho, ele escolheu a mãe que lhe seria própria, para a educação dos seus instintos grosseiros, e vice versa; todavia, a própria vida nos vai moldando todos os dias e mostrando que só o amor vale a pena ser cultivado, em todos os ângulos da vida.

892. Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos, não são escusáveis de não terem por eles a ternura que teriam caso contrário?

“Não, porque se trata de um encargo que lhes foi confiado e sua missão é a de fazer todos os esforços para os conduzir ao bem. (Ver itens 582 e 583.) Por outro lado, esses desgostos são quase sempre a consequência dos maus costumes que os pais deixaram os filhos seguir desde o berço; eles colhem, portanto, o que semearam”.

Mesmo no estágio em que se encontra a humanidade, de maior interesse para as paixões inferiores, é de sentimento comum das criaturas defender e gostar da pessoa virtuosa, e com o espaço de tempo estudar, pregar e, por fim, passar à prática dessas qualidades nobres ensinadas por Jesus e descritas no evangelho da sua vida.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos encerrar o estudo do tópico Caridade e amor ao próximo, analisando a Questão 889.

889. Não há homens reduzidos à mendicidade por sua própria culpa?

Sem dúvida. Mas se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do vosso globo. (Ver item 707.)

A educação moral do homem já é um merecimento; quantas almas, podemos observar, reencarnam em lugares em que os seus pais desconhecem até mesmo a higiene! É culpa delas, renascerem neste ambiente? Isso tudo é processo de vida, são linhas traçadas pelo próprio Criador, para que mais tarde venham a merecer uma volta ao meio social, entre povos mais educados e conhecedores da higiene, onde se tem notícias dos altos ensinamentos do Evangelho. Em muitos casos, mesmo assim muitos ainda não se interessam por estas oportunidades, por lhes faltar maturidade para tal desempenho moral.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Caridade e amor ao próximo, analisando as Questões de 888 a 888-a.

888. Que pensar da esmola?

“O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à mercê do acaso e da boa vontade”.

Estender a mão nas ruas pedindo esmolas é um ato de humilhação, que no fundo pode ser de natureza “cármica”, visando a educar a criatura, pois passamos por muitos caminhos em busca da paz de consciência. Uma sociedade mais cristã procura por todas as suas forças eliminar do meio humano o viver pela esmola, contudo, em primeiro lugar, busca educar aos necessitados e dar-lhes trabalho digno. A faixa em que se encontram os povos atuais, é a de passar por todos os tipos de provações, capazes de os levar à mais profunda intimidade da dor, por ser esse meio o mais eficiente de torná-los humanos. Os que estão se arrastando hoje pelas calçadas foram os prepotentes de ontem, cujos desperdícios deixaram faltar nas mesas pobres.

888–a. Então condenais a esmola?

“Não, pois não é a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão. A verdadeira caridade é sempre boa c benevolente; tanto está no ato quanto na maneira de fazê-la. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração  mal será tocado. Lembrai-vos ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício. Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho. É necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o  verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação. Amai-vos uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica. Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado entre um. superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos suo inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de Deus”. (São Vicente de Paulo.)

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos iniciar o estudo do tópico Caridade e amor ao próximo, analisando as Questões de 886 a 887.

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas”.

A caridade segundo Jesus é uma ação benfeitora, capaz de modificar a criatura em todos os sentidos, tanto quem oferta, quanto quem recebe. Ela é o amor na sua mais alta expressão, é a benevolência conduzindo ao entendimento. Ela é a indulgência despertando a esperança divina no coração; é o esquecimento das ofensas transmutando toda a violência em paz para os sentimentos. Quando o Mestre pediu para amarmos a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos, resumiu Ele o trabalho de caridade na sua claridade, onde se gera a união de todos os seres. A caridade pura não se restringe somente em comida, veste ou teto; ela se estende em todas as direções que possamos entender. Ela salva, porque todo. Gesto de amor nos leva a Deus e nos faz ver Jesus dentro de nós, sorrindo porque ajudou-nos a vencer a nós mesmos.

Comentário de Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

887. Jesus ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma falta de simpatia entre os Espíritos?

“Sem dúvida não se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o mal com o bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos colocamos abaixo deles”.

Amar os inimigos constitui fator de paz. Quem revida ofensas, se coloca abaixo dos ofensores, e o Mestre, vendo a posição dos judeus, que eram na sua maioria violentos nos resguardos da lei mosaica, ensinou aos Seus discípulos que deveriam amar aos ofensores, para isolarem o ambiente de inimizade entre eles. Certamente que não se consegue facilmente ter o mesmo sentimento para com os ofensores, como o que se tem pelas pessoas que nos dedicam carinho e confiança. No entanto, o amor aos que nos perseguem e caluniam pode receber do seu viver o esquecimento das ofensas e, quando preciso, ajudá-los, sem nos encontrarmos atrás destas criaturas, procurando-as para perdoá-las frente a frente.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos encerrar o estudo do tópico Direito de Propriedade – Roubo, analisando as Questões de 883 a 885.

883. O desejo de possuir é natural?

“Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoísmo”.

O desejo de possuir é gesto normal nas criaturas, todavia, é preciso que essa vontade tenha um objetivo útil. Ajuntar bens materiais não constitui falta grave, desde quando o que se possui seja encaminhado para fins nobres, podendo servir, igualmente, para os outros nas suas necessidades.

883–a. Entretanto, não será legítimo o desejo de possuir, pois o que tem com o que viver não se torna carga para ninguém?

 “Há homens insaciáveis que acumulam sem proveito para ninguém ou apenas para satisfazer as suas paixões. Acreditas que isso seja aprovado por Deus? Aquele que ajunta pelo seu trabalho, com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus”.

Pode-se ter satisfação pessoal com o que se ganha, nos bens que se ajunta, mas não se pode esquecer dos que padecem as provocações da vida e as expiações do aprendizado. É natural o desejo de possuir desde quando não esteja ligado ao orgulho e ao egoísmo, chagas dolorosas de quem desconhece o desprendimento. é de bom alvitre que se conheçam as vidas dos homens nobres, que são muitos, e a razão em Jesus nos manda copiá-los, pois se fazem fonte doadora em todas as circunstâncias, por serem sempre tocados pelo amor à humanidade.

884. Qual é o caráter da propriedade legítima?

“Só há uma propriedade legítima: a que foi adquirida sem prejuízo pura os outros”. (Ver item 808.)

Em se falando das coisas da Terra, a legítima propriedade é aquela que é adquirida pelo trabalho honesto em todos os seus pormenores. Não existe meio termo para a honestidade; ela é reta em todas as suas circunstâncias de justiça. Quando a aquisição das propriedades passa a prejudicar aos outros, ela já não é legítima.

Comentário de Kardec: A lei de amor e justiça proíbe que se faça a outro o que não queremos que nos seja feito, e condena, por esse mesmo princípio, todo meio de adquirir que o contrarie.

885. O direito de propriedade é sem limites?

”Sem dúvida, tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade, mas, como já dissemos, a legislação humana é imperfeita e consagra frequentemente direitos convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como bárbaro.” (Ver item 795.)

Do ponto de vista espiritual, o direito de propriedade dos bens imperecíveis do Espírito é ilimitado. Mesmo se adquirimos as coisas com honestidade, convém à lei que as saibamos usar com discernimento, não buscando prender os valores de modo a não servirem para ninguém. A circulação dos valores é lei natural que dá vida às coisas que se movimentam.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Direito de Propriedade – Roubo, analisando as Questões de 880 a 882.

880. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?

“O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea”.

O maior direito natural do homem é o de viver na plenitude do seu crescimento espiritual. Desde quando a alma abriu os olhos para a luz da razão, passou a receber o primeiro direito de Deus. Esse direito é seu em qualquer lugar da casa universal e até os anjos de Deus respeitam esse direito, por terem passado pelas mesmas vias de crescimento.

881. O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que  necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar?

“Sim, mas deve fazê-lo em família, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta. Alguns animais lhe dão o  exemplo dessa previdência”.

O direito de viver é inerente à personalidade humana e a todas as criaturas, por ter sido tudo criado por Deus. E se têm o direito de viver, têm o de comer, de vestir e de se regalar. Para tanto, recebem os Espíritos a inteligência, usando dela honestamente para o bem-estar, favorecendo igualmente aos que trilham conosco os mesmos caminhos. O abuso daquilo que nos pertence é que nos faz sofrer e o desperdício dos bens materiais nos complica a vida. A natureza nos dá exemplos de como viver; basta analisarmos os fatos que ela nos apresenta.

882. O homem tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho?

“Deus não disse: “Não roubarás”; e Jesus: “Dai a César o que é de  César”?”

O homem tem o direito de defender os bens que possui, desde quando eles tragam a marca da honestidade. Mas, existem muitos meios lícitos de defesa, pelos quais podemos assegurar os bens terrenos para nós e para os nossos, sem que a usura se intrometa, desestruturando a nossa vida.

Comentário de Kardec: Aquilo que o homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o direito de defender. Porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Dando continuidade ao Capítulo XI, vamos dar seguimento ao estudo do tópico Justiça e direitos naturais analisando as Questões de 876 a 879.

876. Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural?

“O Cristo vos disse: “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência”.

Segundo a lei natural, o direito de um é o direito do outro, por serem todos iguais diante de Deus. Não é justo que uns tenham direitos diferentes dos outros. Uma das nuances da lei da justiça é que cada um seja respeitado em seus direitos ante o Pai que se encontra na direção de tudo que existe.

Comentário de Kardec:  O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião crista foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.

877. A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares?

“Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos”.

Criamos sempre deveres especiais por onde transitamos, elevando a nossa capacidade de trabalho no campo em que estamos situados. Certamente que a necessidade que o homem tem de viver em sociedade cria deveres especiais que lhe abrem igualmente os caminhos do conhecimento. Existem muitas áreas a serem pesquisadas, e elas esperam a nossa boa vontade de buscá-las, enriquecendo assim nossas experiências, que são valiosas frente a nossa libertação espiritual.

878. Podendo o homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que pode fazer que ele conheça os seus limites?

“Os limites do direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira recíproca”.

O que faz com que o homem reconheça os limites dos seus direitos, é colocar-se no lugar do outro, e sentir as suas limitações. Se acreditamos que tudo vem de Deus, Ele não se esquece de inspirar a todos os Seus filhos sobre as linhas divisórias dos seus direitos, onde começa o dever.

878–a. Mas se cada um se atribui a si mesmo os direitos do semelhante, em que se transforma a subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?

“Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria”.

Não devemos ter limites para respeitar, nem para amar, nem para perdoar; os limites foram feitos por causa do egoísmo e do orgulho, invasores dos direitos alheios, usurpadores dos esforços dos outros, estabelecendo assim a desarmonia por toda parte. Os direitos naturais das criaturas são iguais. Deus não iria fazer diferença entre elas, entretanto, a consciência dentro de cada uma sabe regular os direitos de todos, criando ambiente para a educação e aprovando os bons modos que os homens e almas vão aprendendo no decorrer da eternidade.

879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

“O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça”.

O caráter do homem que pratica a justiça em toda a sua pureza, é o do homem reto, ao qual nunca falta a tranquilidade de consciência. Todavia, esse homem dificilmente aparece na área terrena. Mesmo estudando os grandes personagens, notaremos uma tendência para o interesse próprio, para a família a que pertence, ou mesmo para o país em que nasceu. A justiça universal, que acompanha os sentimentos puros em todas as forças da justiça com amor, só a conhecemos em Jesus. Certamente que muitos dos Seus acompanhantes passaram a viver Seu reflexo, mas sem nunca serem iguais a Ele, por ser o Mestre um verdadeiro Sol de Amor.

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Capítulo XI – Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.

Iniciando o Capítulo XI, vamos fazer o estudo do tópico Justiça e direitos naturais analisando as Questões de 873 a 875-a.

873. O sentimento de justiça é natural ou resulta de ideias adquiridas?

“É de tal modo natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem duvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber”.

A justiça se encontra nas leis da natureza, onde ela se expressa com maior fulgor, no entanto, pode ser e é copiada pela sensibilidade humana. Todo o ser humano sente o impulso de revolta ao deparar com uma injustiça, seja com criaturas humanas, com animais, ou mesmo em se agredindo a natureza. Toda e qualquer violência, em qualquer parte, causa revolta.

874. Se a justiça é uma lei natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?

“É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista”.

É fácil para o espírita compreender o porquê da desarmonia das mentes humanas. Todos os encarnados estão em processos ingentes de despertamento espiritual, cujos caminhos devem ser trilhados, pois são neles que se buscam as experiências, para o verdadeiro conhecimento. Como conhecer e buscar a luz, se não se conhecem as trevas? Como amar, sem experimentar o ódio? Como combater o egoísmo, quando se desconhece o valor do desprendimento? Nesta linha de entendimento, nestes fatos indispensáveis ao aprendizado, é que nos libertamos das amarras do orgulho e das paixões inferiores, que nos prendem a alma, esquecendo-nos de Deus.

875. Como se pode definir a justiça?

“A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um”.

Define-se a justiça em um dos seus inumeráveis ângulos: o respeito aos direitos alheios. Podemos observar até onde chegam nossos direitos e começam os nossos deveres. Olhando por este prisma, encontraremos sempre a paz. Não fazer aos outros o que não desejamos para nós, eis a justiça interna ditada pela consciência, força poderosa, em ação para nos comandar.

875-a. O que determina esses direitos?

“São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Vede se as vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que. são de competência exclusiva do tribunal da consciência”.

A verdadeira justiça está escrita na natureza, e essa força divina inspira aos legisladores, de maneira que eles transcrevem nas leis humanas alguns reflexos da justiça divina. No entanto, essas leis humanas obedecem ao progresso, acompanham a marcha do despertamento das almas, ao passo que a justiça de Deus é por excelência imutável.

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Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos fazer o estudo do tópico Resumo teórico do móvel das ações humanas, analisando a Questão 872.

Resumo Teórico do Móvel das Ações Humanas

872. A questão do livre-arbítrio pode resumir-se assim: o homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não “estavam escritos”; os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino Ele pode como prova e expiação, escolher uma existência cm que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre-arbítrio existe, no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e, no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos. Cabe à educação combater as más tendências, e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la, como se modificam a inteligência pela instrução e as condições físicas pela higiene.

O Espírito desligado da matéria, no estado errante, faz a escolha de suas futuras existências corpóreas segundo o grau de perfeição que tenha atingido. E nisso, como já dissemos, que consiste sobretudo o seu livre-arbítrio. Essa liberdade não é anulada pela encarnação. Se ele cede à influência da matéria, é então que sucumbe nas provas por ele mesmo escolhidas. E é para o ajudar a superá-las que pode invocar a assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Ver item 337.)

Sem o livre-arbítrio, o homem não tem culpa do mal, nem mérito no bem; e isso é de tal modo reconhecido que no mundo se proporciona sempre a censura ou o elogio à intenção, o que quer dizer à vontade; ora, quem diz vontade diz liberdade. O homem não poderia, portanto, procurar desculpas no seu organismo para as suas faltas sem com isso abdicar da razão e da própria condição humana, para se assemelhar aos animais. Se assim é para o mal, assim mesmo devia ser para o bem. Mas, quando o homem pratica o bem, tem grande cuidado em consignar o mérito a seu favor e não trata de o atribuir aos seus órgãos, o que prova que instintivamente ele não renuncia, malgrado a opinião de alguns sistemáticos, ao mais belo privilégio da sua espécie: a liberdade de pensar.

A fatalidade, como vulgarmente é entendida, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os acontecimentos da vida, qualquer que seja a sua importância. Se assim fosse, o homem seria uma máquina destituída de vontade. Para que lhe serviria a inteligência, se ele fosse invariavelmente dominado, em todos os seus atos, pelo poder do destino? Semelhante doutrina, se verdadeira, representaria a destruição de toda liberdade moral; não haveria mais responsabilidade para o homem, nem mal, nem crime, nem virtude. Deus, soberanamente justo, não poderia castigar as suas criaturas por faltas que não dependeriam delas, nem recompensá-las por virtudes de que não teriam mérito. Semelhante lei seria ainda a negação da lei do progresso, porque o homem que tudo esperasse da sorte nada tentaria fazer para melhorar a sua posição, desde que não poderia torná-la melhor nem pior.

A fatalidade não é, entretanto, uma palavra vã; ela existe no tocante à posição do homem na Terra e às funções que nela desempenha, como consequência do gênero de existência que o seu Espírito escolheu, como prova, expiação ou missão. Sofre ele, de maneira fatal, todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más que lhe são inerentes. Mas a isso se reduz a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder ou não a essas tendências. Os detalhes dos acontecimentos estão na dependência das circunstâncias que ele mesmo provoque, com os seus atos, e sobre os quais podem influir os Espíritos, através dos pensamentos que lhe sugerem. (Ver item 459.)

A fatalidade está, portanto, nos acontecimentos que se apresentam ao homem como consequência da escolha de existência feita pelo Espírito; mas pode não estar no resultado desses acontecimentos, pois pode depender do homem modificar o curso das coisas, pela sua prudência; e jamais se encontra nos atos da vida moral.

É na morte que o homem é submetido, de uma maneira absoluta, à inexorável lei da fatalidade, porque ele não pode fugir ao decreto que fixa o termo de sua existência, nem ao gênero de morte que deve interromper-lhe o curso.

Segundo a doutrina comum, o homem tiraria dele mesmo todos os seus instintos; estes procederiam, seja da sua organização física, pela qual ele não seria responsável, seja da sua própria natureza, na qual pode procurar uma escusa para si mesmo, dizendo que não é sua a culpa de haver sido feito assim.

A doutrina espírita é evidentemente mais moral: ela admite para o homem  o livre-arbítrio em toda a sua plenitude; e, ao lhe dizer que, se pratica o mal, cede a uma sugestão má que lhe vem de fora, deixa-lhe toda a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, coisa evidentemente mais fácil do que se tivesse de lutar contra a sua própria natureza. Assim, segundo a doutrina espírita, não existem arrastamentos irresistíveis: o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta que o solicita para o mal no seu foro íntimo, como os pode fechar à voz material de alguém que lhe fale; ele o pode pela sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando para esse fim a assistência dos bons Espíritos. É isso que Jesus ensina na sublime fórmula da Oração dominical, quando nos manda dizer: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

Essa teoria da causa excitante dos nossos atos ressalta evidentemente de todos os ensinamentos dados pelos Espíritos. E não somente é sublime de moralidade, mas acrescentaremos que eleva o homem aos seus próprios olhos, mostrando-o capaz de sacudir um jugo obsessor, como é capaz de fechar sua porta aos importunos. Dessa maneira, ele não é mais uma máquina agindo por  impulsão estranha a sua vontade, mas um ser dotado de razão, que escuta, julga e escolhe livremente entre dois conselhos. Acrescentamos que, malgrado isso, o homem não fica privado de iniciativa, não age menos pelo seu próprio impulso, pois em definitivo ele não passa de um Espírito encarnado, que conserva, sob o invólucro corpóreo, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito.

As faltas que cometemos têm, portanto, sua origem primeira nas imperfeições do nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral a que se destina, mas nem por isso tem menos livre-arbítrio. A vida corpórea lhe é dada para purgar-se de suas imperfeições através das provas que nela sofre, e são precisamente essas imperfeições que o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que se aproveitam do fato de fazê-lo sucumbir na luta que empreendeu. Se ele sai vitorioso dessa luta, se eleva; se fracassa, continua a ser o que era, nem pior, nem melhor: é a prova que terá de recomeçar e para o que ainda poderá demorar muito tempo na condição em que se encontra. Quanto mais ele se depura, mais diminuem as suas fraquezas e menos acessível se torna aos que o solicitam para o mal. Sua força moral cresce na razão da sua elevação e os maus Espíritos se distanciam dele.

Todos os Espíritos mais ou menos bons, quando encarnados, constituem a espécie humana. E como a Terra é um dos mundos menos adiantados, nela se encontram mais Espíritos maus do que bons; eis porque nela vemos tanta perversidade. Façamos, pois, todos os esforços para não regressar a este mundo após esta passagem e para merecermos repousar num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina inteiramente e onde nos lembraremos de nossa permanência neste planeta como de um tempo de exílio.

Esta Questão é uma dissertação sobre o trabalho feito por Kardec a partir das noções anteriores dadas pelos Espíritos, e que dispensa maior comentário.

As ações humanas e mesmo as espirituais, digamos dos Espíritos livres, partem de uma vontade que acionamos ou não, segundo nosso livre arbítrio. Existe, sim, uma programação de Deus; as leis de Deus agem por toda a criação e vivemos dentro dela. Estamos presos, ou somos escravos da lei. Para que entendamos o livre arbítrio, é necessário mais despertamento espiritual, nos caminhos que percorremos.

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Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos fazer o estudo do tópico Conhecimento do futuro, analisando as questões de 868 a 871.

868. O futuro pode ser revelado ao homem?

“Em princípio o futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais Deus lhe permite a sua revelação”.

Conhecer o futuro, se ele se encontra escondido nas dobras do tempo, igualmente poderá nos interromper em nossa marcha de ascensão para o amanhã. O homem não está preparado para conhecer o seu próprio futuro; se por acaso fosse ele revelado antes do tempo, o Espírito reencarnado iria fazer todos os esforços para modificá-lo, e poderia atrapalhar sua caminhada, no que diz respeito ao aprendizado.

869. Com que fim o futuro é oculto ao homem?

“Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que, se alguma coisa deve acontecer, não adianta ocupar-se dela, ou então procuraria impedi-la. Deus não quis que assim fosse, afim de que cada um pudesse concorrer para a realização das coisas, mesmo daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu mesmo, sem o saber, quase sempre preparas os acontecimentos que sobrevirão no curso da tua vida”.

O futuro conserva-se oculto ao homem, com a finalidade educativa, para que as lutas não cessem no decorrer da sua existência. Se todos os homens tivessem conhecimento do futuro, seria uma catástrofe nas suas vidas; eles iriam lutar para não passarem pelas provas que deveriam enriquecer suas experiências para a verdadeira felicidade.

870. Mas se é útil que o futuro permaneça oculto, por que Deus permite, às vezes, a sua revelação?

“E quando esse acontecimento antecipado deve facilitar o cumprimento das coisas, em vez de embaraçá-lo, levando o homem a agir dessa maneira diferente do que o faria se não o tivesse. Além disso, muitas vezes é uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode despertar pensamentos que sejam mais ou menos bons: se um homem souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não contava, poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, pela alegria de aumentar os seus gozos terrenos, pelo desejo de a obter mais cedo, aspirando pela morte daquele que lha deve deixar, ou então essa perspectiva despertará nele bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a previsão não se realizar, será outra prova: a da maneira por que suportará a decepção. Mas não deixará por isso de ter um mérito ou demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença mi previsão lhe provocou”.

Algumas vezes, permite o Senhor que seja revelado o futuro de certas criaturas, quando essa revelação lhes possa ajudar no seu desempenho espiritual. É bom que pensemos nisso, a fim de não conturbarmos nossos corações por falta de revelação espiritual. Elas chegam de acordo com as nossas necessidades em caminho.

871. Desde que Deus tudo sabe, também sabe se um homem deve ou não sucumbir numa prova. Nesse caso, qual a necessidade da prova, que nada pode revelar a Deus sobre aquele homem?

“Tanto valeria perguntar por que Deus não fez o homem perfeito e realizado (item 119), por que o homem passa pela infância, antes de checar a idade madura (item 379). A prova não tem por fim esclarecer a Deus sobre o mérito do homem, porque Deus sabe perfeitamente o que ele vale, mas dar ao homem toda a responsabilidade da sua ação, uma vez que ele tem a liberdade de fazer ou não fazer. Podendo o homem escolher entre o bem e o mal, aprova tem por fim colocá-lo ante a tentação do mal, deixando-lhe todo o mérito da resistência. Ora, não obstante Deus saiba muito bem com antecedência, se ele vencerá ou fracassará, não pode puni-lo nem recompensá-lo, na sua Justiça, por um ato que ele não tenha praticado”. (Ver item 258 )

É bastante claro para os estudiosos que, em se sucumbindo no caminho não se perde tudo; as experiências ficam, e muito aprende o Espírito na própria queda. Os grandes Espíritos que hoje se apresentam envoltos em luz, já sucumbiram no passado, recolhendo experiências nessas lutas. Então não vale a pena lutar? É de luta em luta que chegamos ao objetivo, na condição de alunos, ou mesmo professores para os que vêm em nossa retaguarda.

rio de Kardec: É assim entre os homens. Por mais capaz que seja um aspirante por mais certeza que se tenha de seu triunfo, não se lhe concede nenhum grau sem exame o que quer dizer sem prova. Da mesma maneira, um juiz não condena um acusado senão pela prova de um ato consumado, e não pela previsão de que ele pode ou deve praticar esse ato. Quanto mais se reflete sobre as considerações que teria para o homem o conhecimento do futuro, mais se vê como a Providência foi sábia ao ocultá-lo A  certeza de um acontecimento feliz o atiraria na inação; a de um acontecimento desgraçado, no desânimo; e num caso como no outro suas forcas seriam paralisadas. Eis porque o futuro não é mostrado ao homem senão como um alvo que ele deve atingir pelos seus esforços, mas sem conhecer as vicissitudes por que deve passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os incidentes da rota lhe tiraria a iniciativa e o uso do livre-arbítrio; ele se deixaria arrastar pelo declive fatal dos acontecimentos sem exercitar as suas faculdades. Quando o sucesso de uma coisa está assegurado ninguém mais se preocupa com ela.

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Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos encerrar o estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 865 a 867.

865. Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo?

“Certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez”.

O Espírito, ao tomar um corpo de carne, certamente que precisa de um esquema, assim como é preciso uma planta do arquiteto para fazer-se um edifício e os cuidados de pessoas que entendem de construção. A mesma coisa se dá no plano espiritual; ao descer para a carne, o Espírito se submete a variados testes ou provações no mundo mas, dependendo de sua maturidade, do seu interesse pelo bem comum, essas escamas de provações vão caindo como por encanto, pela força do amor e tornando-o livre dos seus padecimentos. Os prazeres que são dados às almas para o gozo da vida física são testes, explicáveis pela reencarnação, que serão dados a todos como experiências, assim como também os sofrimentos e todos os tipos de infortúnios. Não há nada errado na escrita divina. O que pensas ser erro, é devido à ignorância das leis que regem a todos e a tudo.

866. Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre-arbítrio?

“Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos covardes que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram, na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles veem muito bem a futilidade de vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada: não seria assim tão-somente pela ausência da dor”. (Ver itens 525 e seguintes.)

Nós escolhemos as nossas provas, no entanto, até nas nossas escolhas aparece a intuição divina nos ajudando, quando temos capacidade para tal empreendimento. Se o Espírito usa seu pensamento para comunicar, certamente que ele também recebe comunicação dos maiores da espiritualidade através desse sistema de conversa.

867. De onde procede a expressão: Nascido sob uma boa estrela?

“Velha superstição, segundo a qual as estrelas estariam ligadas ao destino de cada homem; alegoria que certas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra”.

Verdadeiramente, a crença na boa estrela é uma superstição, mas, dentro dela, está a verdade brilhando, pois as estrelas - Espíritos iluminados - iluminam os missionários da verdade e os ajudam, para ajudar o rebanho na Terra; nunca faltaram no mundo os pastores que sempre dirigem o rebanho humano para o bem e a verdade. Nunca faltaram livros educativos para a humanidade, nunca faltam para os povos exemplos dignificantes, que levam o amor e a caridade, de Espíritos que passam pela vida enfrentando sofrimentos e escárnio, recebendo pedradas e infortúnios mas, que mesmo assim, não esmorecem nos caminhos que percorrem.

 LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 863 a 864.

863. Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a seguir um caminho errado? E não está ele submetido à influência das opiniões na escolha de suas ocupações? Isso a que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

“São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se submetem, é que lhes convêm. Isso também é um ato de livre-arbítrio, pois se quisessem poderiam rejeitá-los. Então, por que se lamentam? Não são os  costumes sociais que eles devem acusar, mas o seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes pede conta desse  sacrifício feito à opinião geral, enquanto Deus lhes pedirá conta do sacrifício feito à própria vaidade. Isso não quer dizer que se deva afrontar a opinião sem necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade que de verdadeira filosofia. Tanto é desarrazoado exibir-se como um animal curioso, quanto é sensato descer voluntariamente e sem reclamações, se não se pode permanecer no alto da escada”.

Os costumes sociais dos homens foram feitos pelos próprios homens, por aquiescência de Deus, porque as leis sociais são transitórias e as leis de Deus são eternas como Ele. Então, é dado aos Seus filhos fazer as suas próprias leis, de acordo com a evolução humana. Não poderiam as almas revestidas do fluido da carne, compreender de imediato as leis de Deus na sua profundidade e praticá-las. A verdade chega às criaturas na gradação que elas possam suportar. Essa é, pois, a justiça. Como exigir das crianças a compreensão dos adultos? Os costumes sociais que se notam no mundo e que se expressam diferentemente em cada país, constituem disciplina que seu povo suporta. Se não existissem eles, ficaria a humanidade sem freio, o que corresponde a uma calamidade.

864. Se há pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem  favorecidas por ela, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?

“Em geral, porque sabem orientar-se melhor. Mas isso pode ser, também, um gênero de prova: o sucesso as embriaga, elas se fiam no seu destino, e frequentemente vão pagar mais tarde esse sucesso com reveses cruéis, que poderiam ter evitado com um pouco de prudência”.

As pessoas favorecidas no mundo pelos bens materiais, e mesmo pela família em ordem, não são beneficiadas por Deus enquanto outras são esquecidas. Somente a reencarnação pode explicar essas "anomalias" do destino. Em muitos casos, elas estão sendo testadas, com o fim de aprender sobre as leis de Deus. Alguns dos favorecidos acham que, os que não o são, parecem preguiçosos, ou então não são dotados de inteligência para ganhar a vida com mais facilidade. Os próprios fatos desmentem isto, por existirem criaturas de pouca inteligência bem aquinhoadas de bens materiais e outras que não usaram a inteligência para adquirir os bens materiais, como, por exemplo, fortunas entregues a eles pelos processos de jogos. A riqueza não constitui felicidade; às vezes é o contrário, no entanto, quando sabemos usá-la, ela é uma porta que poderá levar seu dono para as estâncias de luz.

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 861 a 862.

861. O homem que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará assassino?

“Não. Sabe apenas que, ao escolher uma vida de lutas, terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque estará quase sempre nele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre alguma coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o espírito soubesse com antecedência que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso. Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio. De resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas, os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa estafara de vós e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade”.

Em escolhendo o Espírito a sua nova existência na Terra, certamente que ele não saberia que viria a ser um assassino, pois não escolheria esse tipo de falta, que viria a comprometer sua vida com mais peso sobre seus ombros. Somente Deus é presciente do que virá a acontecer com todos os Seus filhos. A deliberação é dos Espíritos; eles têm livre escolha nos seus momentos de decisões.

862. Há pessoas que nunca conseguem êxito na vida e que um mau gênio parece perseguir, em todos os seus empreendimentos. Não é isso o que podemos chamar fatalidade?

“Pode ser fatalidade, se assim o quiseres, mas decorrente da escolha do gênero de existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de decepções, afim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não creias, entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas vezes é apenas o resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que não está de acordo com a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande probabilidade de morrer afogado. Assim acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o homem não empreendesse mais do que aquilo que está de acordo com as suas faculdades, triunfaria quase sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam do caminho para tomar por vocação o simples desejo de satisfazer certas paixões. Então fracassa e a culpa é sua; mas, em vez de reconhecer o erro, prefere acusar a sua estrela. Há o que teria sido um bom operário, ganhando honradamente a vida, mas se fez mau poeta e morre de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse ocupara seu lugar”.

Seria bom compreendermos que a fatalidade, em quase todos os seus aspectos, se processa na alma primitiva. Qual a criança dirigida pelos pais; crescendo, ela pode ir tomando suas próprias decisões, o Espírito vai ganhando a liberdade de conformidade com a sua compreensão. Existem muitos que, em quase tudo, a fatalidade é para eles lei irremovível, por viverem dentro da ignorância quase total.

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Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 859 a 860.

859. Se a morte não pode ser evitada quando chega a sua hora, acontece o mesmo com todos os acidentes no curso da nossa vida?

“São, em geral, coisas demasiado pequenas, das quais podemos prevenir-vos dirigindo o vosso pensamento no sentido de as evitardes porque não gostamos do sofrimento material. Mas isso é de pouca importância para o curso da vida que escolhestes. A fatalidade, na verdade, só consiste nestas duas horas: a em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo”.

Os acidentes em geral são produzidos pela nossa invigilância, então, a lei nos cobra, por ser ela instrumento da Justiça. Os nossos benfeitores da eternidade sempre nos falam sobre o respeito às leis, e devemos atendê-los, confiando mais na força divina dentro de nós, emergindo pelos processos da nossa consciência.

859–a. Há fatos que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?

“Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste ao fazer a tua escolha. Não acrediteis, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Um acontecimento é quase sempre a consequência de uma coisa que fizeste por um ato de tua livre vontade, de tal maneira que se não tivesses praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Se queimas o dedo, isso é apenas a consequência de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução”.

Podemos verificar que quando uma pessoa dirige um veículo e sempre desrespeita os sinais, mesmo que não tenha provação de passar por um acidente de veículos, ela está criando essa condição pelo desrespeito aos sinais que significam ordem nas raias humanas. Quando acontece um acidente, apesar de toda a atenção do motorista, é a força da cobrança do passado, usando o ambiente do presente.

860. Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?

“Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior”.

Acresce notar-se que a vontade na alma constitui uma força poderosa na sequência da sua vida. O poder da vontade realiza prodígios, principalmente dentro de nós, no entanto, é bom que se note que, para termos uma vontade poderosa, necessário se faz o alcance da maturidade espiritual.

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos dar seguimento ao estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 855 a 858.

855. Qual o fito da Providência ao fazer-nos correr perigos que não devem ter consequências?

“Quando tua vida se encontra em perigo, é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, afim de te desviar do mal e te tornar melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do risco por que passaste, pensas com maior ou menor intensidade, sob a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. O mau Espírito retornando (digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe), pensas que escaparás da mesma maneira a outros perigos e deixas que as tuas paixões se desencadeiem de novo. Pelos perigos que correis. Deus vos recorda a vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinarmos a causa e a natureza do perigo, veremos que, na maioria das vezes, as consequências foram a punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus vos adverte para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes”. (Ver os itens 526 a 532.)

A humanidade se encontra em perigo constantemente, para que possa aprender a se defender por si mesma. Somente lutando, o soldado torna-se eficiente em novos campos de batalha. O próprio corpo humano, na sua primorosa constituição, nos mostra a variedade de lutas dentro de si, para o seu aperfeiçoamento e sua harmonia. Fora dele é a mesma coisa: a alma está sempre em perigo de todas as ordens e para que possa livrar-se de todos eles, Deus criou as leis que podem lhe servir de defesa em todas essas lutas.

856. O Espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?

“Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma maneira que de outra. Mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para o evitar, e que, se Deus o permitir, não sucumbirá”.

A alma sabe mais ou menos que gênero de morte encerrará sua jornada na carne, porque isto foi antes escolhido, desde quando o seu destino não seja mudado pela Providência Divina. Tudo muda conforme a lei; somente Deus e Suas leis são imutáveis.

857. Há homens que enfrentam os perigos do combate com uma certa convicção de que a sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?

“Com muita frequência o homem tem o pressentimento do seu fim como o pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protelares, que desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir ou reerguem, a sua coragem nos momentos em que se faz necessário. Também lhe pode vir da intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir”. (Ver itens 411 e 522.)

São milhares de criaturas que reconhecem, mesmo diante do perigo, que a hora da morte não lhes chegou, e enfrentam tal estado perigoso com coragem. Porém, existem outras que reconhecem chegada a hora. Esse processo é inspiração dos seus guias espirituais. No silêncio da vida, essas revelações surgem por intuição durante o dia ou pelo processo do sono, ou ainda por variados meios que os Espíritos sabem escolher para avisar seus tutelados.

858. Os que pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros. Por quê?

“E o homem que teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: compreende a sua libertação e a espera”.

A verdade é sempre agradável aos que se encontram preparados para recebê-la. Os que pressentem a morte reconhecem internamente que escolheram aquele tipo de desencarnação e, por vezes, sentem-se aliviados quando ela dá demonstração de que está chegando. Morrer, para o Espírito que cumpriu sua missão na Terra, é um prêmio. Muitos dos que temem a morte, é porque não cumpriram a obrigação que assumiram no plano do Espírito e procuram por todos os meios viver para terminar sua tarefa. Uma quantidade enorme de almas consegue adiar o momento da morte, para completarem sua tarefa, mas tornam a se esquecer dos compromissos assumidos.

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos iniciar o estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 853 a 854.

853. Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?

“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegando esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar- vos”.

Somente a morte é fatal, nos campos de lutas das formas. Tudo se transforma em todos os segmentos da matéria. As mutações são fatais, no entanto, os momentos de mudanças, em certos casos não o são.

853–a. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?

“Não, não morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas quando chegar tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência”.

Fatalidade total é para a ignorância em todos os seus aspectos. A fatalidade pode sofrer mudanças; depende muito do que as criaturas estão fazendo da vida, do comportamento e da compreensão.

854. Da infalibilidade da hora da morte segue-se que as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?

“Não, porque as precauções que tomais vos são sugeridas com o fim de evitar uma morte que vos ameaça; são um dos meios para que ela não se verifique”.

Devemos tomar precauções em tudo na vida, para evitarmos o pior que nos possa acontecer. A prevenção, por vezes, é sugerida pelos Espíritos amigos, para que possamos nos livrar do determinismo, pois a evolução da alma faz com que ela possa mudar de rumo, sempre para melhor.

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos iniciar o estudo do tópico fatalidade, analisando as questões de 851 a 852.

851. Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso cm que se torna o livre-arbítrio?

“A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja. inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave”.

A fatalidade já é produto do livre arbítrio, pois, antes de reencarnar o Espírito, por vezes, escolheu determinadas fases para passar. Se ele escolheu, o acontecimento é uma fatalidade. Mesmo assim, conforme a sua vida na Terra, poderá modificar seu destino em algum aspecto, dependendo do que vai fazer ou está fazendo em favor da humanidade.

852. Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independentemente de sua maneira de agir; a desgraça está no seu destino?

“São, talvez, provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à conta do destino o que é quase sempre a consequência de vossa própria falta. Em meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te sentirás meio consolado”.

Há certamente pessoas que são perseguidas pela fatalidade, no entanto, elas escolheram essa fatalidade pelo seu livre pensar. Essas pessoas, e principalmente as almas mais evoluídas, em estado de sono, vão encontrar mais diretamente seus anjos guardiães que tutelam por amor sua reencarnação e pedem novamente para não tirar seus fardos, mesmo que para isso tenham adquirido direitos. Então, são aparentemente massacradas pelo destino, de modo a levar muitas pessoas a se condoerem pelos seus sofrimentos.

Comentário de Kardec: As ideias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar, segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que nos forem sugeridas.

LIVRO TERCEIRO

LEIS MORAIS

Capítulo X – Da Lei de Liberdade.

Continuando o Capítulo X, vamos encerrar o estudo do tópico Livre-arbítrio, analisando as questões de 847 a 850.

847. A alteração das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?

“Aquele cuja inteligência está perturbada por uma causa qualquer perde o domínio do seu pensamento e desde então não tem mais liberdade. Essa alteração é frequentemente uma punição para o Espírito que, numa existência, pode ter sido vão e orgulhoso, fazendo mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um idiota, como o déspota no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Mas o Espírito sofre esse constrangimento, do qual tem perfeita consciência: é nisso que está a ação da matéria”. (Ver item 371 e seguintes.)

As aberrações das faculdades de uma criatura certamente que perturbam seus sentimentos mais profundos. Os desvios das qualidades oriundas do Espírito, que se fazem sentir pelas leis espirituais, fazem-no sofrer as suas consequências por muito tempo.

848, A alteração das faculdades intelectuais pela embriaguez desculpa os atos repreensíveis?

“Não, pois o ébrio voluntariamente se priva da razão para satisfazer paixões brutais: em lugar de uma falta, comete duas”.

Usando da embriaguez para cometer atos reprováveis, o ser humano, ao invés de cometer uma falta, verdadeiramente comete duas, por usar conscientemente de um estado provocado pela bebida e incorrendo em outra falta.

849. Qual é, no homem em estado selvagem, a faculdade dominante: o instinto ou o livre-arbítrio?

“O instinto, o que não o impede de agir com inteira liberdade em  certas coisas. Mas, como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Por conseguinte, tu, que és mais esclarecido que um selvagem, és também mais responsável que ele pelo que fazes”.

A faculdade predominante no selvagem, certamente que é o instinto, impulso que parte de Deus para as necessidades do homem primitivo, como também dos animais. No entanto, ele evolui cada vez mais, de acordo com o crescimento do homem em busca da razão mais esclarecida. Mesmo assim, o instinto não desaparece no homem; ele se desenvolve, alcançando o estado que se chama raciocínio e se expressando como inteligência, de modo que a criatura se torna mais responsável pelos seus atos.

850. A posição social não é, às vezes, um obstáculo à inteira liberdade de ação?

“O mundo tem, sem duvida, as suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para superar os obstáculos”.

O mundo tem suas exigências; se assim não fora, não constituiria escolas para esse aprendizado. É necessário, e tanto o é que foi a Maior Inteligência que criou essas leis para educar e disciplinar os homens e demais seres no silêncio da vida. A evolução é, de certa forma, imposta às criaturas, porque fomos feitos para isso. Se queres estacionar, a vida não o consente, por ser ela movimento, tanto que, quando a alma não se movimenta no bem, ela passa a fazê-lo no mal, mas, como o mal cansa, por não termos sido feitos para ele, passamos, depois de muitos sofrimentos, a aceitar o bem, donde saem grandes almas, que a história registra como santos.

LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o Capítulo X, vamos iniciar o estudo do tópico Livre-arbítrio, analisando as questões de 843 a 846.
843. O homem tem livre-arbítrio nos seus atos?
“Pois que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria uma máquina”.
O homem tem liberdade de pensar e de operar; contudo, nas suas obras pode ser obstado pelas leis humanas, se o que fizer for contra as regras da sociedade. No modo pelo qual pensa, todavia, ele tem plena liberdade, porque nessa equação divina somente ele e Deus se unem, compartilhando do segredo de pensar e sentir a vida.
844. O homem goza do livre-arbítrio desde o nascimento?
“Ele tem a liberdade de agir, desde que lenha a vontade de o fazer. Nas primeiras fases da vida, u liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com as faculdades. Estando os pensamentos da criança em relação com as necessidades da sua idade, ela aplica o seu livre-arbítrio às coisas que lhe são necessárias”.
O Espírito, quando volta ao corpo pelo processo da reencarnação, a princípio é tolhido na sua liberdade, por estar inseguro no seu instrumento de carne, mas, o tempo leva-lo-á, pelo crescimento do corpo, a certa liberdade, desde quando não lhe sejam impostas certas provações ou expiação, quando seu carma lhe cobra dos seus atos do passado. É preciso adquirir as condições para que ele possa chegar a uma liberdade mais acentuada, porém, quando a tem, essa liberdade vai chegando com o crescimento e ao se tornar adulto, é livre para pensar e fazer o que achar mais conveniente dentro da vida.
845. As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício de seu livre-arbítrio?
“As predisposições instintivas são as do Espírito antes da sua encarnação; conforme for ele mais ou menos adiantado, elas podem impeli-lo a atos repreensíveis, no que ele será secundado por Espíritos que simpatizem com essas disposições; mas não há arrastamento irresistível, quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder”. (Ver item 361.)
As predisposições instintivas do Espírito, quando toma um corpo físico, são as qualidades boas ou más do Espírito. Vivendo com essa alma, podemos reconhecer a sua estrutura espiritual. Quando se fala que o ambiente em que o homem vive o influencia, trata-se de uma parcela diminuta, por vezes nada. Quando o Espírito tem sua evolução voltada para o bem, dá-se o contrário: quanto mais instigada para o mal, mais faz o bem, por já ter se conscientizado dos frutos que o amor produz.
846. O organismo não influi nos atos da vida? E se influi, não o faz com prejuízo do livre-arbítrio?
“O Espírito é certamente, influenciado pela matéria, que pode entravar as suas manifestações. Eis porque, nos mundos em que os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desenvolvem, com mais liberdade. Mas o instrumento não dá faculdades ao Espírito. De resto, é necessário distinguir neste caso as faculdades morais das faculdades intelectuais. Se um homem tem o instinto do assassínio, é seguramente o seu próprio Espírito que o possui e que lho transmite mas nunca os seus órgãos. Aquele que aniquila o seu pensamento para apenas se ocupar da matéria se faz semelhante ao bruto e ainda pior, porque não pensa mais em se precaver contra o mal. E nisso que ele se torna faltoso, pois assim age pela própria vontade”. (Ver item 367 e seguintes, Influência do organismo.)

A matéria tem grande influência sobre o Espírito, entretanto, esse deve esforçar-se para a sua devida libertação, e para tanto deve renunciar a muitos impulsos que os instintos animais o possam envolver. A alma encarnada é capaz de grandes coisas, desde quando conheça a verdade. Jesus desceu à Terra, dos planos resplandecentes, para dotar de poderes a alma envolvida na carne, visando a disciplinar as investidas inferiores.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o Capítulo X, vamos encerrar o estudo do tópico Liberdade de consciência, analisando as questões de 835 a 842.
835. A liberdade de consciência é uma consequência da liberdade de pensar?
“A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem como todos os outros pensamentos”.
A consciência é um tribunal interno, instalado por Deus no centro da vida, que sabe escolher o melhor dentro das leis naturais. Tudo o que pensamos passa pela consciência e ela grava por processos sensíveis, que escapam ao entendimento humano.
836. O homem tem o direito de pôr entraves à liberdade de consciência?
“Não mais do que à liberdade de pensar, porque somente a Deus pertence o direito de julgar a consciência. Se o homem regula, pelas suas leis, a relação de homem para homem, Deus, por suas leis naturais, regula as relações do homem com Deus”.
O maior direito do homem é a obediência às leis de Deus. Quando se foge a isso, responde-se pelos desvios da harmonia divina e as consequências produzem lições inesquecíveis. É para tanto que o Criador deixa acontecer, no sentido de disciplinar, instruindo cada criatura naquilo que ela tem o direito de aprender.
837. Qual é o resultado dos entraves à liberdade de consciência?
“Constranger os homens a agir de maneira diversa ao seu modo de pensar, o que é torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso”.
Os homens que tentam constranger os homens para viverem contra as leis de Deus que se irradia pela consciência, buscam lutar contra Ele. A razão nos diz que é perda de tempo e procurar sofrimento, onde os padecimentos são sem medida. E esses padecimentos sabem educar. A consciência é uma área que deve ser livre por pertencer principalmente a Deus, depois, ser ouvida pela mente e obedecida.
838. Toda crença é respeitável, ainda mesmo quando notoriamente falsa?
“Toda crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do bem. As crenças reprováveis são as que conduzem ao mal”.
Toda religião carece do nosso respeito, desde quando ela inspire seus profitentes ao bem e ao amor. É preciso que se saiba que o sistema religioso é um celeiro, onde seus crentes recolhem e passam a semear, no entanto, é preciso notar que a colheita é viva e pertence ao semeador.
839. Somos repreensíveis por escandalizar em sua crença aquele que não pensa como nós?
“Isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento”.
Quando notamos companheiros que somente acreditam no seu modo de pensar e sentir, estampam em seu ser plena ignorância sobre a vida. É preciso que reconheçamos que fazemos parte de um todo, e que cada alma tem uma tarefa diferente da outra. Os dons dados por Deus para o Espírito são diversos, mas ainda carecem de ser despertados e esse despertamento é gradativo, mas em alternância que não para. Todo aquele que menospreza as opiniões alheias, por não compatibilizarem com as suas, está cheio de vaidade e desconhece os direitos alheios. Isso é falta de caridade e atenta contra a liberdade de pensamento.
840. Será atentar contra a liberdade da consciência opor entraves às crenças que podem perturbar a sociedade?
“Podem reprimir-se os atos, mas a crença íntima é inacessível”
É um dever da sociedade organizada reprimir os atos que a possam perturbar. A liberdade de pensar é divina, e nela não devemos nos intrometer. Se queremos ajudar aos que se encontram na retaguarda, vivamos uma vida de nobreza, acompanhando Jesus, que essa força do bom exemplo, em silêncio faz muita coisa em favor dos que precisam de conselhos.
Comentário de Kardec: Reprimir os atos externos de uma crença, quando esses atos acarretam qualquer prejuízo aos outros, não é atentar contra a liberdade de consciência porque essa repressão deixa à crença sua Inteira liberdade.
841. Devemos, por respeito à liberdade de consciência, deixar que se propaguem as doutrinas perniciosas ou podemos, sem atentar contra essa  liberdade, procurar conduzir para o caminho da verdade os que se desviaram  para falsos princípios?
“Certamente se pode e mesmo se deve; mas ensinai, a exemplo de Jesus, pela doçura e persuasão e não pela força, porque seria pior que a crença daquele a quem desejásseis convencer. Se há alguma coisa que possa ser imposta é o bem e a fraternidade, mas não acreditamos que o meio de fazê-lo seja a violência: a convicção não se impõe”.
Para que possamos reconhecer uma doutrina como boa, basta verificarmos seus preceitos e os seus componentes. Aquela doutrina, ou mesmo filosofia espiritualista, cujos profitentes amarem mais, essa doutrina é respeitável e será colocada como fonte de fraternidade. Os filhos de Deus se unem por sentimentos dotados da verdade e de paz. Poderemos reconhecer os verdadeiros discípulos de Jesus por muito se amarem.
842. Como todas as doutrinas têm a pretensão de ser única expressão da verdade, por que sinais podemos reconhecer a que tem o direito de se apresentar como tal?
“Essa será a que produza mais homens de bem e menos hipócritas quer dizer, que pratiquem a lei de amor e caridade na sua maior pureza e na sua aplicação mais ampla. Por esse sinal reconhecereis que uma doutrina é boa, pois toda doutrina que tiver por consequência semear a desunião e estabelecer divisões entre os filhos de Deus só pode ser falsa e perniciosa”.

O único sinal pelo qual podemos reconhecer se uma doutrina é boa e verdadeira, é aquela que ensina a amar mais, a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Melhor seria dizer, amar a Deus em todas as coisas, por ser Deus tudo para nós, seres criados por Ele por amor. 
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da Lei de Liberdade.
Continuando o Capítulo X, vamos estudar o tópico Liberdade de pensar, analisando as questões de 833 a 834.
833. Há no homem qualquer coisa que escape a todo o constrangimento, e pela qual ele goze de uma liberdade absoluta?
“É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode-se impedir a sua manifestação, mas não aniquilá-lo”.
O homem tem plena liberdade de pensar e de sentir, no entanto, mesmo que nada possa aniquilar tal valor espiritual, Ele tem meios diversos de tolher essa liberdade, para o bem do próprio Espírito.
834. O homem é responsável pelo seu pensamento?
“É responsável perante Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, condena-o ou absolve-o, segundo a sua justiça”.

Somos responsáveis pelos nossos pensamentos. Eles são como que sementes, e a mente alheia é a Terra onde semeamos. Todo semear de ideias tem colheita, e a lei de justiça nos faz colher o que semeamos. Certamente que o homem é responsável pelos seus pensamentos ante a Majestade Divina, no entanto, o Senhor, quando nos criou, e tendo onisciência, já sabia o uso que iríamos fazer dos nossos pensamentos e da nossa própria vida.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo X – Da Lei de Liberdade.
Iniciando o Capítulo X, vamos estudar o tópico Escravidão, analisando as questões de 829 a 832.
829. Há homens naturalmente destinados a ser propriedade de outros homens?
“Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força c desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos”.
Daí, podemos deduzir que a escravidão é uma consequência da nossa ignorância, da nossa imperfeição, em ver no outro um objeto. Algum dia, as almas sairão, certamente, da escuridão, quando acenderem a luz na intimidade da consciência.
Comentário de Kardec: A lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente.
830. Quando a escravidão pertence aos costumes de um povo, são repreensíveis os que a praticam, nada mais fazendo do que seguir um uso que lhes parece natural?
“O mal é sempre o mal. Todos os vossos sofismas não farão que uma ação má se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios de que dispondes para o compreender. Aquele que se serve da lei da escravidão é sempre culpável de uma violação da lei natural; mas nisso, como em todas as coisas, a culpabilidade é relativa. Sendo a escravidão um costume entre certos povos, o homem pode praticá-la de boa fé, como uma coisa que lhe parece natural. Mas desde que a sua razão, mais desenvolvida e sobretudo esclarecida pelas luzes do Cristianismo, lhe mostrou no escravo um seu igual perante Deus, ele não tem mais desculpas”.
O Cristo veio para nos dar uma nova noção de liberdade, tirando o homem da escravidão da Terra, colocando-o na obediência a Deus. No fundo, todos somos dependentes uns dos outros, no que tange às necessidades, principalmente no mundo em que nos encontramos, dando nossos testemunhos. Se não queremos ser escravos, basta que amemos aos que nos escravizam. Entendamos essa lei de amor, que ficaremos livres. Aquele que escraviza as criaturas se encontra, por lei, ligado a elas. Tanto um como o outro sofre as consequências.
831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças inteligentes?
“Sim, para as elevar e não para as embrutecer ainda mais na escravidão. Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgaram no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito”. (Ver itens 361 e 803)
A desigualdade das raças é um acontecimento natural em todos os mundos, mesmo os espirituais. Não se encontra em lugar algum igualdade de aptidões, e nem mesmo de evolução dos Espíritos que habitam determinado lugar ou mundo. No entanto, os mais inteligentes foram colocados ali para ajudar os menos capacitados, uns como sendo crianças e outros adultos. A lei nos fala que os fortes devem ajudar aos fracos e, consequentemente, os mais inteligentes instruírem aos que não alcançaram o dom do saber.
832. Há homens que tratam os seus escravos com humanidade, que nada lhes deixam faltar e pensam que a liberdade os exporia a mais privações. Que dizer disso?
“Digo que compreendem melhor os seus interesses. Eles têm também muito cuidado com os seus bois e os seus cavalos, a fim de tirarem mais proveito no mercado. Não são culpados como os que os maltratam, mas nem por isso deixam de usá-los como mercadorias, privando-os do direito de se pertencerem a si mesmos”.

Em todas as épocas existem homens bons, mesmo entre aqueles que tinham escravos, pois a própria lei permitia a escravidão entre os homens. Todavia, existiam senhores que maltratavam seus escravos e os vendiam como animais de carga e, por vezes, em piores condições. Faltava-lhes a humanidade para com os seus irmãos, filhos do mesmo Deus de bondade e de amor. Sabemos também que a escravidão em todo o mundo era um processo de despertamento das criaturas e, se nada se faz sem a permissão de Deus, ela teve algo de útil para os cativos. Não podemos esquecer ainda que havia a alforria para os escravos e, em muitos casos, muitos deles não queriam ser livres porque, no caso em questão, eles iriam sofrer mais. A sociedade não compreendia que o escravo poderia ter liberdade e, na verdade, mesmo não existindo escravidão, como nos dias que correm, continuava a existir a escravidão à discriminação racial e social.
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LEIS MORAIS
Capítulo X – Da Lei de Liberdade.
Iniciando o Capítulo X, vamos estudar o tópico Liberdade natural, analisando as questões de 825 a 828-a.
825. Há posições no mundo em que o homem possa gabar-se de gozar de uma liberdade absoluta?
“Não, porque vós todos necessitais uns dos outros, os pequenos como os grandes”.
Liberdade é um ponto de difícil entendimento, na interpretação das leis naturais. O homem não pode ser livre, do modo que pensa ser; toda liberdade é relativa aos Espíritos, de conformidade com a sua evolução espiritual. Ninguém pode glorificar-se ante os seus irmãos de ter plena liberdade, porque ninguém pode viver só; uns precisam dos outros e todos de Deus. Como, desse modo poder ufanar-se de que se é livre, de que não se precisa dos irmãos, quando se vive em conjunto?
826. Qual seria a condição cm que o homem pudesse gozar de liberdade absoluta?
“A do eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e não terão eles, portanto, liberdade absoluta”.
Liberdade absoluta só existe para Deus, criador de todas as coisas. O criado já é dependente do Criador. Deus pode fazer o que bem entender dentro da criação, mas somente Ele. No que tange aos homens, se todos têm os mesmos direitos, deixa de existir tal liberdade, pela barreira do respeito de uns para com os outros. É necessário saber que todos nós, para vivermos bem, nos submetemos à obediência das leis naturais criadas.
827. A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o direito de se pertencer a si mesmo?
“Absolutamente, pois esse é um direito que lhe vem da natureza”.
Temos obrigação espiritual de observar o direito dos outros porque se não agirmos assim, estaremos desrespeitando o próprio Deus que criou todos iguais. Se o homem não respeitar seu companheiro em caminho, como poderá exigir que seja respeitado? E como ficaria o mundo se não houvesse esse respeito mútuo?
828. Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com o seu frequente despotismo no lar e com os seus subordinados?
“É que possuem a compreensão da lei natural, mas contrabalançada pelo orgulho e pelo egoísmo. Sabem o que devem fazer, quando não transformam os seus princípios numa comédia bem calculada, mas não o fazem”.
A palavra é força poderosa em todas as suas ressonâncias, no entanto, nem sempre o que se fala corresponde à vivência. É muito comum a criatura anunciar certas verdades, porém, se encontrar longe delas. Grandes homens comumente são liberais com os estranhos e carrascos com a própria família.
828–a. Os princípios que professaram nesta vida lhes serão levados em conta na outra?
Quanto mais inteligência tenha o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo. Na verdade, vos digo que o homem simples, mas sincero, está mais adiantado no caminho de Deus do que aquele que aparenta o que não é.

Aquele que pretende parecer desperto em seus valores e não o é, engana-se a si mesmo, mas, como todo engano é breve, ele mesmo desconfia do seu comportamento, e a dor, os infortúnios e todos os tipos de problemas, fazem com que ele modifique o modo pelo qual vive, ganhando condições no trabalho de libertação, para se libertar definitivamente.
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Encerrando o Capítulo IX, vamos estudar o tópico Igualdade Perante o túmulo, analisando as questões de 823 a 824.
823. De onde vem o desejo de perpetuar a própria memória nos  monumentos fúnebres?
“Derradeiro ato de orgulho”.
Os monumentos erigidos nas sepulturas dos poderosos da Terra são impulsionados pelo orgulho e pela vaidade, para mostrar à sociedade que a família do morto é poderosa no domínio do ouro.
823–a. Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres não é, na maioria das vezes, determinada pelos parentes que desejam honrar a memória do falecido, e não por este?
“Orgulho dos parentes que querem honrar-se a si mesmos Oh!  Sim, nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações mas por amor-próprio, por consideração ao mundo c para exibição de riqueza. Crês que a lembrança de um ser querido seja menos durável no coração do pobre porque ele só pode colocar uma flor sobre sua tumba? Crês que o mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?”
Sabemos que nem sempre é pelo morto que os familiares fazem essas demonstrações para que a sociedade veja e, sim, para alimentar o orgulho de família na posição em que se encontram. Infelizes desses homens que ignoram seus destinos. Entretanto, o tempo os educará. Eles morrerão e também ficarão conhecendo a verdade que os libertará dessa ignorância.
824. Reprovais de maneira absoluta as pompas fúnebres?
“Não. Quando homenageiam a memória de um homem de bem são justas e de bom exemplo”.
É de bom exemplo, quando a pompa do funeral visa a honrar a memória de um homem de bem. Quanto mais se vibra para a difusão do amor, mais a luz acende na Terra, em se fazendo fonte no coração humano. Entrementes, o homem de bem recomenda sempre que não deseja gastos sem importância para a alma, em seu funeral, indicando outra direção para os gastos, como seja com alimentos para os pobres, roupas para os nus e casa para os desabrigados.

Comentário de Kardec: A tumba é o lugar de encontro de todos os homens, nela se findam impiedosamente todas as distinções humanas. É em vão que o rico tenta perpetuar a sua memória por meio de faustosos monumentos. O tempo os destruirá, como aos seus próprios corpos. Assim o quer a Natureza. A lembrança das suas boas e más ações será menos perecível do que do seu túmulo. A pompa dos funerais não o lavará de suas torpezas e não o fará subir sequer um degrau na hierarquia espiritual. (Ver item 320 e seguintes.)
LIVRO TERCEIRO
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos encerrar o estudo do tópico Igualdade dos direitos do homem e da mulher analisando as questões de 821 a 822.
821. As funções a que a mulher foi destinada pela Natureza têm tanta importância quanto as conferidas ao homem?
“Sim. E até maior; é ela quem lhe dá as primeiras noções da vida”.
As funções da mulher são grandiosas, por vezes até maiores que as do homem, pois é ela que gera filhos na sua intimidade, alimentando-os com o seu amor. A geração de um filho, pode-se dizer que é a maravilha das maravilhas. A função da mulher no lar é divina, mesmo tendo expressão humana.
822. Os homens, sendo iguais perante a lei de Deus, devem sê-lo igualmente perante a lei humana?
“Este é o primeiro princípio de justiça: Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam”.
Consagram as leis de Deus direitos iguais ao homem e à mulher. A igualdade de direitos é a expressão da justiça de Deus. Se os Espíritos são iguais na sua gênese, por que privilégio para um e negação para outros? Tanto a lei divina nos mostra a justiça neste caso, quanto as leis humanas devem fazer o mesmo.
822–a. De acordo com isso, para uma legislação ser perfeitamente justa deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher?
“De direitos, sim; de funções, não. É necessário que cada um. Tenha um lugar determinado; que o homem se ocupe de fora e a mulher do lar, cada um segundo a sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua escravização marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, só existem na organização física, pois os Espíritos podem tomar um e outro não havendo diferenças entre eles a esse respeito. Por conseguinte, devem gozar dos mesmos direitos”.
A emancipação da mulher no campo dos direitos avança e toma corpo, de modo que ela tenha a liberdade que lhe compete conquistar, paralelamente com a responsabilidade, duas forças que trabalham para o aperfeiçoamento da alma. Ser-nos-á difícil entender o homem com os seus direitos de posse assegurados na vida e os mesmos direitos negados à mulher, que faz um trabalho grandioso no lar e mesmo fora dele, em favor da educação e da instrução.

Há mais de cem anos, este livro indicava a solução do problema feminino: igualdade de direitos e diversidade de funções. Mando e mulher não são senhor e escrava, mas companheiros que desempenham uma tarefa comum, com a mesma responsabilidade pela sua realização. O feminismo adquire um novo aspecto à luz deste principio. A mulher não deve ser a imitadora e a competidora do homem, mas a sua companheira de vida, ambos mutuamente se completando na manutenção do lar, que é a célula básica da estrutura social (N do T)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos estudar o tópico Igualdade dos direitos do homem e da mulher analisando as questões de 817 a 820.
817. O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?
“Deus não deu a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?”
Os direitos do homem e da mulher são iguais, mesmo na diversificação dos seus ideais. Não há diferença de valores dos Espíritos; há, sim, de posições pelas vestimentas carnais que a natureza lhes empresta para o despertamento dos tesouros da vida. São duas formas diferentes, mas com o mesmo objetivo de vida, exercitando-se ambas, na busca da libertação espiritual.
818. De onde procede a inferioridade moral da mulher em certas regiões?
“Do domínio injusto e cruel que o homem exerceu sobre ela. Uma consequência das instituições sociais e do abuso da força sobre a debilidade. Entre os homens pouco adiantados do ponto de vista moral a força é o direito”.
As mulheres sofreram muito em épocas recuadas, pela ignorância humana, mas como nada se perde, elas recolheram valores maiores, que devem se expressar no futuro ao comandarem e direcionarem, pelos seus próprios valores, os altos postos que lhes foram tomados, invalidados pela força. O trabalho maior da mulher é a missão de educar aqueles que, por bênção de Deus, vêm para seus braços nas linhas do perdão. A Doutrina Espírita vem remover essas ideias de inferioridade da mulher ante o homem e insuflar, no coração do mesmo, o perdão.
819. Com que fim a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem?
Para lhe assinalar funções particulares. O homem se destina aos trabalhos rudes, por ser mais forte; a mulher aos trabalhos suaves; e ambos a se ajudarem mutuamente nas provas de uma vida cheia de amarguras.
Homem e mulher certamente que não poderiam ser iguais nas suas estruturas físicas; não haveria razão de ser, porque cada um tem funções diferentes, que se completam na união entre os dois. A mulher, sendo mais fraca fisicamente, deve cuidar dos trabalhos mais leves, aquele exercício sublimado do lar, enquanto o homem tem estrutura mais grosseira para os trabalhos da sua espécie. Eis aí como um completa o outro para a paz e o bem-estar da família.
820. A debilidade física da mulher não a coloca naturalmente na dependência do homem?
“Deus deu a força a uns para proteger o fraco e não para o escravizar”.
Aquilo que se chama de dependência não é escravidão e, sim, situação indispensável para o complemento da aquisição do estado de felicidade da Terra. O homem, no que tange à fortaleza, não é, e não poderemos considerá-lo, como bruto ou violento; ele passa por um estado de vida temporário na arregimentação de valores para o equilíbrio da sua vida diante dos compromissos assumidos. A vida deu à mulher menos força física, entretanto, dotou-a de sensibilidade maior, como que buscando, nas regiões espirituais, ideias e condições elevadas, como uma ponte da Terra ao Céu, para que pudesse educar seus filhos com o amor que lhe compete doar.

Comentário de Kardec: Deus apropriou a organização de cada ser às funções que ele deve desempenhar. Se deu menor força física à mulher, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade, em relação com a delicadeza das funções maternais e a debilidade dos seres confiados aos seus cuidados.
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos estudar o tópico As provas de riqueza e de miséria apreciando as questões de 814 a 816.
814. Por que Deus concedeu a uns a riqueza e o poder e a outros, a miséria?
“Para provar a cada um de uma maneira diferente. Aliás, vós o sabeis  essas provas são escolhidas pelos próprios Espíritos, que muitas vezes sucumbem ao realizá-las”.
Deus testa Seus filhos de várias maneiras: a uns dá a riqueza e, consequentemente, poderes; a outros, miséria, e junto a ela a escravidão de todas as ordens. Quem não compreende as leis, como a da reencarnação, acha que Deus é injusto, ou então, para não ofendê-Lo, fala sem conhecimento de causa que o Senhor sabe o que faz. Todas as duas versões do fato são incorretas e sem sabedoria. Estudando a reencarnação e o progresso dos Espíritos, notar-se-á que o rico de hoje pode ser o pobre de amanhã e vice-versa. Riqueza e miséria são extremos da vida, extremos esses mutáveis. Um pode ocupar o lugar do outro, em se buscando experiências, enriquecendo os celeiros do conhecimento para futura paz de consciência. Em muitos casos, essas provas de riqueza e miséria foram escolhidas pelos próprios Espíritos, por sentirem necessidade do aprendizado.
815. Qual dessas duas provas é a mais perigosa para o homem: a da desgraça ou a da riqueza?
“Tanto uma como a outra. A miséria provoca a lamentação contra a  Providência; a riqueza leva a todos os excessos”.
Não existem provas piores nem melhores; elas são paralelas às necessidades do aprendiz. Deus não põe fardo pesado em ombros frágeis, isto nos diz o Evangelho de Jesus. A cruz que se carrega na vida, foi estruturada, medida e pesada, para que se possa caminhar com coragem. As reclamações são mostras de Espírito fraco, que ainda não recolheu a experiência necessária nas lutas terrenas. As mensagens do além que descem sem cessar para os homens, mostram os deveres de cada criatura ante os compromissos assumidos. Na consciência se encontra o registro do que se compromete com Deus, e Ele, o Soberano Senhor, conhece e tem paciência com Seus filhos. Mas, Ele não retira dos seus caminhos os professores que os possam educar e instruir. Tanto a riqueza quanto a pobreza têm o mesmo peso, em se somando suas dificuldades e sua força de corrigir as criaturas.
816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe também de mais meios para fazer o bem?
“E justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo”.
O rico certamente tem melhores chances de prestar serviços ao próximo, de fazer a mais bela caridade que se possa praticar, que é aquela de oportunizar ao pobre a ganhar o seu sustento, para viver feliz com a sua família. No entanto, é o que não faz a maior parte dos ricos; uns são obrigados a fazê-lo porque dependem do trabalho daqueles, e não multiplicam seus bens sem os braços dos chamados miseráveis.Com a riqueza, as suas necessidades materiais crescem e eles gastam o que não deveriam em viagens pouco úteis a lugares que os atraem, inspirados na vaidade e mesmo no orgulho. Assim, vão embrutecendo cada vez mais seu sentimento de caridade, que deveria ser exercitado com aqueles que os ajudam a ganhar a fortuna. Enquanto gastam milhões em jornadas para conhecer outros povos, seus assalariados passam fome, frio e, por vezes, não têm teto, nem os seus filhos têm escolas. É certo que muitos vieram com a provação da pobreza, mas o que é desperdiçado poderia amenizar seus sofrimentos.
Comentário de Kardec: A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque, quanto mais o homem for rico e poderoso, mais obrigações tem a cumprir, maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder.

A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: — “Em verdade, vos digo: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. (Ver item 266.)
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos encarrar o estudo do tópico Desigualdades das riquezas, apreciando as questões de 811 a 813.
811. A igualdade absoluta das riquezas é possível e existiu alguma vez?
“Não, não é possível. A diversidade das faculdades e dos caracteres se opõe a isso”.
A igualdade que muitos entendem seja pregada pelo Cristianismo, não deve ser entendida como a distribuição em partes iguais das riquezas entre todas as almas que habitam este planeta. O socialismo visto no Evangelho é aquele que distribui com justiça a todas as pessoas, que mostra seus direitos e junto delas faz com que elas compreendam com respeito os seus deveres ante a sociedade.
811–a. Há homens, entretanto, que creem estar nisso o remédio para os males sociais; que pensais a respeito?
“São sistemáticos ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade seria logo rompida pela própria força das coisas. Combatei o egoísmo, pois essa é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras”.
A igualdade absoluta só é possível no raciocínio dos que não têm olhos para ver e sentir as leis criadas por Deus. A igualdade que mais tarde irá reinar no mundo e fazer os homens felizes, não será a igualdade absoluta, mas a justiça em todos os departamentos da vida humana. é o que se vive nas colônias espirituais, o que muito nos alegra e nos faz felizes em todas as estâncias abençoadas por Deus. Estudemos as leis do Criador, para sairmos da escravidão e nos tornarmos almas livres na liberdade de Deus.
812. Se a igualdade das riquezas não é possível, acontece o mesmo com o bem-estar?
“Não; mas o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem… Porque o verdadeiro bem-estar consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade, e não em trabalhos pelos quais não se  tem nenhum gosto. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo e é o homem quem o perturba”.
O bem-estar é relativo entre os homens. Acontece conforme a evolução de cada um. Os Espíritos encarnados apresentam aptidões diferentes de uns para com os outros. O bem-estar está sendo dirigido pelas mesmas leis que regem a igualdade: cada criatura sente esse bem-estar de acordo com a escala a que pertence no progresso espiritual. O entendimento dos homens, de uns para com os outros, depende do progresso das criaturas. Sem maturidade espiritual, não pode existir união, que somente o amor pode fazer.
812–a. É possível que todos se entendam?
“Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça”.
Todos queremos o bem-estar, mas ele custa o preço do esforço próprio. Deus tudo fez e colocou à disposição de quem ama mais. Trabalhemos buscando o bem-estar de todos, que todo trabalhador é digno do seu salário, e o salário da alma que entendeu e pratica a caridade é o bem-estar espiritual permanente no coração, que verte da consciência.
813. Há pessoas que caem nas privações e na miséria por sua própria culpa; a sociedade pode ser responsabilizada por isso?
“Sim, já o dissemos, ela é sempre a causa primeira dessas faltas; pois não lhe cabe velar pela educação moral de seus membros? É frequentemente a má educação que falseia o critério dessas pessoas, em lugar de aniquilar-lhes as tendências perniciosas”. (Ver item 685.)

Ninguém recebe o que não merece, em qualquer campo de trabalho na vinha do Pai. Em todos esses sofrimentos coletivos, quase sempre todos nós temos culpas, porque, se não estamos efetivamente ajudando a errar, estamos pensando, criando ideias inadequadas, de modo a inspirar os mais ignorantes para praticar o mal. Isso é muito sério. O filho, quando sai, volta depois à casa paterna; também, e principalmente em relação aos pensamentos, como sementes de vida que são semeadas por nós na lavoura de Deus, os frutos vêm ao nosso encontro, como o que pedimos a Deus.
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos fazer o estudo do tópico Desigualdades das riquezas, apreciando as questões de 808 a 810.
808. A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros?
“Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?”
Sempre existiu a desigualdade em tudo, e as riquezas não podem deixar de compartilhar deste "tudo". É notório que se observa em toda parte a desigualdade de riquezas. O dinheiro em si não é bom nem mau; ele faz o que a mente deseja que se faça com ele. Conhecemos muitos ricos que podem entrar no reino dos Céus. A história nos conta do desprendimento de muitos ricos em favor dos que sofrem o peso do carma que os guia para o cumprimento da justiça.
808–a. A riqueza hereditária, entretanto, seria fruto das más paixões?
“Que sabes disso? Remonta à origem e verás se é sempre pura. Sabes se no princípio não foi o fruto de uma espoliação ou de uma injustiça? Mas sem falar em origem, que pode ser má, crês que a cobiça de bens, mesmo os melhor adquiridos, e os desejos secretos que se concebem de possuir o mais cedo possível, sejam sentimentos louváveis? Isso é o que Deus julga, e te asseguro que o seu julgamento é mais severo que o dos homens”.
É muito difícil saber se uma riqueza tem boa procedência. Não raro, elas nascem da corrupção; quando não de um, têm raízes falsas em outros. O que deve fazer o homem é, quando as riquezas caírem em suas mãos, seja de qualquer procedência, procurar aplicá-la bem, para que possa ressarcir, ou ajudar a ressarcir erros.
809. Se uma fortuna foi mal adquirida, os herdeiros serão responsáveis por isso?
“Sem dúvida eles não são responsáveis pelo mal que outros tenham feito, tanto mais que o podem ignorar, mas fica sabendo que, muitas vezes, uma fortuna se destina a um homem para lhe dar ocasião de reparar uma injustiça. Feliz dele se o compreender! E se o fizer em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será levada em conta para ambos, porque quase sempre é este último quem a provoca”.
No caso de herança, muitas vezes não se conhece a origem da fortuna herdada, mas, mesmo sem o beneficiário o saber, já é um compromisso assumido, ao pôr as mãos em dinheiro que não nasceu dos próprios esforços. O rico tem oportunidades inúmeras de ajudar aos que sofrem, pela caridade bem conduzida, aquela que não fica somente ciando pão aos que têm fome, mas que lhes ensina quando oportuno, a plantar o trigo. Riqueza soma responsabilidades no caminho do seu portador. Ela é um empréstimo valioso de Deus para que se possa despertar no coração os sentimentos do amor, através do bem comum que se pode fazer.
810. Sem fraudar a legalidade, podemos dispor dos nossos bens de maneira mais ou menos equitativa. Quem assim o faz é responsável, depois da morte, pelas disposições testamentárias?
“Toda ação traz os seus frutos; os das boas ações são doces e os das outras são sempre amargos; sempre, entendei bem isso”.

Quando o homem reconhecer suas reais necessidades e procurar entender as leis naturais da vida, respeitando os seus semelhantes, estará entrando em um mundo melhor, aquele mundo que começa dentro de si mesmo. A porta para a glória de Deus se encontra dentro do coração de cada ser.
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LEIS MORAIS
Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Dando sequência ao Capítulo IX, vamos fazer o estudo do tópico Desigualdades sociais, apreciando as questões de 806 a 807.
806. A desigualdade das condições sociais é uma lei natural?
“Não; é obra do homem e não de Deus”.
As condições sociais, como as desigualdades entre os homens, não são obra de Deus. São condições temporárias necessárias, devido à desigualdade de posições das criaturas, no que se refere à escala de aperfeiçoamento das almas. Essa condição, repetimos, é passageira, pois somente as leis estabelecidas por Deus são imutáveis no tempo e no espaço. O bom observador notará sempre, no correr do tempo, que as condições humanas vão se transformando lentamente, e sempre para melhor. Todos os povos vão absorvendo, pela força do progresso espiritual, leis mais justas e mais humanas, vendo-se em seus semelhantes, em outra dimensão de vida. Mesmo com as facilidades que o mundo oferece hoje para o homem errar, ele acaba acertando mais, por ter sido feito para a glória da própria vida.
806–a. Essa desigualdade desaparecerá um dia?
“Só as leis de Deus são eternas. Não a vês desaparecer pouco a pouco, todos os dias? Essa desigualdade desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade do mérito. Chegará um dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não mais se olharão como de sangue mais ou menos puro, pois somente o Espírito é mais puro ou menos puro, e isso não depende da posição social”.
Os que desconhecem as leis de Deus e a existência do Todo Poderoso se mostram duvidosos no que tange à posição do homem ante a eternidade. Não encontrando salvação para o mundo e para sua humanidade, são profetas do pessimismo, no entanto, para Deus não existe o impossível. Ele age no momento adequado e a tudo conserta, usando os próprios homens de boa vontade. As Suas leis corrigem todos os deslizes, usando dos feitos humanos como exemplos e lições para os que incorrem em erro. As desigualdades que se veem nos povos, o são por merecimento de cada um. Não que Deus abençoe uns mais que os outros; é devido à escala a que pertence, é força espiritual da justiça, que marca a lei de reencarnação para todas as almas em trânsito na Terra.
807. Que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?
“Esses merecem o anátema; infelizes deles! Serão oprimidos por sua vez e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que fizeram sofrer”. (Ver item 684.)

Eles deverão continuar a nascer, e a natureza os corrigirá por duros processos. Depois dessa esfrega, aprenderão a respeitar aos seus semelhantes onde eles estiverem, na posição a que forem chamados para o seu progresso. O homem verdadeiramente superior é aquele que não se mostra como tal. Os que oprimem, somente buscam as coisas exteriores. Os seus caminhos são duros de passar, mas somente assim poderão conhecer as lições da honestidade e do amor para com todos e para com tudo.
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Capítulo IX – Da Lei de Igualdade.
Iniciando o Capítulo IX, vamos fazer o estudo dos tópicos Igualdade natural e Desigualdade de aptidões, apreciando as questões de 803 a 805.
803. Todos os homens são iguais perante Deus?
“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez. as suas leis para todos. Dizeis frequentemente: “O Sol brilha para todos”, e com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais”.
Todos os homens são iguais perante Deus, bem como todos os Espíritos que habitam a criação; no entanto, é bom raciocinar que nem todos assimilam da mesma forma as bênçãos que recebem. Cada criatura se encontra em uma faixa de vida diferente, e quem as coloca nessa diferença é o tempo. Não fomos feitos todos de uma só vez; a criação tem sua marcha, em passos sucessivos. As idades espirituais são diversas, pois Deus para de criar e ainda continua criando mundos e sóis, almas e homens. A maturidade é gradativa. Ele doa a todos com o mesmo amor, no entanto, cada um recebe o que merece, de acordo com a sua capacidade espiritual.
Comentário de Kardec: Todos os homens são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos são iguais diante dele.
804. Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os homens?
“Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles viveu mais ou menos tempo, e por conseguinte realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio: daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes dá aptidões diversas. A mistura de aptidões é necessária a fim de que cada um possa contribuir para os desígnios da Providência, nos limites do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais; o que tini não faz,, o outro faz., e é assim. que cada um tem a sua função útil. Além disso, todos os mundos sendo solidários entre si, é necessário que os habitantes dos mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso, venham habitar aqui para vos dar exemplo”. (Ver item 361.)
Deus, sendo justo, criou todos iguais, com as mesmas aptidões. As desigualdades que se veem, existem porque os Espíritos se encontram em escalas diferentes uns dos outros. Toma-se necessário que compreendamos essas diferenças pela maturidade do Espírito.

As aptidões diferentes não são doadas por Deus a uns e a outros não. Nós recebemos os dons e temos que desenvolvê-los. Se se precisa de algo que só o próximo pode proporcionar, é porque ainda se carece do desenvolvimento de certos dons. A força da necessidade faz com que nasça a amizade, que leva ao amor que irá gerar fortes laços de união. Se todos já tivessem seus dons despertados, o egoísmo e o orgulho poderiam se alastrar com muita facilidade nos corações, porém, as aptidões são diversas, e sempre nos falta algo que encontramos em outros. Eis porque vivemos em sociedade. Mesmo o egoísta não deseja viver isoladamente, e o orgulhoso quer estar sempre rodeado de admiradores.
805. Passando de um mundo superior para um inferior, o Espírito conserva integralmente as faculdades adquiridas?
“Sim, já o dissemos, o Espírito que progrediu não regride mais. Ele pode escolher, no estado de Espírito, um envoltório mais rude ou uma situação mais precária que a anterior, mas sempre para lhe servir de lição e ajudá-lo a progredir”. (Ver item 180.)
As faculdades adquiridas pelas almas não são esquecidas em tempo algum, mesmo que estas voltem à carne pela lei da reencarnação, e não possam expressar seus valores, com toda a plenitude, por provações ou opção. Elas guardam no centro da vida o que aprenderam por experiências. Não existe regressão do Espírito; o que dá a impressão de recuo é o fato de que ele veste uma roupa carnal, deformada pela sua própria escolha e exigência cármica. Pode, bem assim, reencarnar em mundos inferiores, com a tarefa de ajudar aos que ali se encontram em estado de sono. Os superiores têm o dever universal de dar as mãos a quem se encontra na retaguarda. O Espírito, ao passar de um mundo superior para um inferior, conserva sua superioridade, mas nem sempre pode expressá-la no seu todo, nas suas andanças como mestre e guia. Todavia, o que ele adquiriu, isso ele nunca perde e ninguém toma; é conquista dos seus esforços individuais, é tesouro divino que a eternidade sabe conservar em seu coração.

Comentário de Kardec: Assim, a diversidade das aptidões do homem não se relaciona com a natureza íntima de sua criação, mas com o grau de aperfeiçoamento a que ele tenha chegado como Espírito. Deus não criou, portanto, a desigualdade das faculdades, mas permitiu que os diferentes graus de desenvolvimento se mantivessem em contato a fim de que os mais adiantados pudessem ajudar os mais atrasados a progredir. E também a fim de que os homens, necessitando uns dos outros, compreendam a lei de caridade que os deve unir.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Encerrando o Capítulo VIII, vamos fazer o estudo do tópico Influência do Espiritismo no progresso, apreciando as questões de 801 e 802.
801. Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam hoje?
“Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao  recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai  agora frutificar”.
Como podemos ver na resposta da questão, os Espíritos dizem que não ensinaram aos homens do passado o que ensinam hoje, porque eles não estavam preparados para receber a verdade que pode ser dita nos momentos atuais. Entendemos que os benfeitores ainda têm muita coisa a dizer para os seres humanos, bastando que o amadurecimento dê ordem para tal aprendizado. Não se pode ensinar às crianças o que se ensina aos adultos. Enquanto a humanidade permanecer na faixa de crianças espirituais, somente receberá instruções que o seu porte puder suportar. A Doutrina dos Espíritos vem nos ensinar essa regra áurea para os profitentes da fé se submeterem à gradação do aprendizado. Os ensinamentos são feitos lentos e graduais.
802. Desde que o Espiritismo deve marcar um progresso da Humanidade, por que os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e patentes que pudessem levar a convicção aos mais incrédulos?
“Desejaríeis milagres, mas Deus os semeia a mancheias nos vossos passos e tendes ainda homens que os negam. O Cristo, ele próprio, convenceu os seus contemporâneos com os prodígios que realizou? Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem? Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade, ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão”.
Somente a Doutrina dos Espíritos pode tirar os homens dessa incredulidade, produto da ignorância. Essa é a resposta de por que Deus não apressa o progresso: não creiamos somente porque vemos, pois a crença nasce da maturidade espiritual. Os meios de mostrar à humanidade a existência dos Espíritos, o mundo espiritual os tem. Só nos basta analisá-los e concluirmos que não adianta; usar esses recursos é perder tempo para os novos fariseus e escribas espalhados pelo mundo inteiro.

O transcurso do primeiro século do Espiritismo, a 18 de abril de 1957 veio confirmar plenamente essa extraordinária previsão de Kardec. No primeiro século do seu desenvolvimento o Cristianismo era ainda uma seita obscura e terrivelmente perseguida. Somente nos fins do terceiro século atingiu as proporções de desenvolvimento e universalização que o Espiritismo apresenta no seu primeiro século. A marcha do Espiritismo se fez com muito maior rapidez e sua vitória brilhará mais rápida do que se espera. (N. do T.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando continuidade ao Capítulo VIII, vamos fazer o estudo do tópico Influência do Espiritismo no progresso, apreciando as questões de 798 a 800.
798. O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de  algumas pessoas?
“Certamente ele se tomará uma crença comum e marcara uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar entre os conhecimentos humanos. Haverá, entretanto grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditares, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos”.
A Doutrina dos Espíritos certamente que se tornará crença comum de todos os povos, por refletir com realismo e perfeição os mesmos preceitos de Jesus. Ainda mais, o seu progresso é mais rápido do que foi o Cristianismo, por ter vindo em época diferente, onde a própria ciência o ajuda pelas suas descobertas. Ela terá que sustentar muitas lutas, pois será injuriada, distorcida e perseguida, por vezes até por alguns dos seus profitentes, que desconhecem a caridade e o amor. Porém, ela vencerá todos eles, porque se encontra assentada na lei natural do Amor.
Comentário de Kardec: As ideias só se transformam com o tempo e não subitamente; elas se enfraquecem de geração em geração e acabam por desaparecer com os que as professavam e que são substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como se verifica com as idéias políticas. Vede o paganismo; não há ninguém, certamente que professe hoje as idéias religiosas daquele tempo; não obstante, muitos séculos depois do advento do Cristianismo, ainda haviam deixado traços que somente a completa renovação das raças pôde apagar. O mesmo acontecerá com o Espiritismo; ele faz muito progresso, mas haverá ainda, durante duas ou três gerações, um fenômeno de incredulidade que só o tempo fará desaparecer. Contudo, sua marcha será mais rápida que a do Cristianismo porque é o próprio Cristianismo que lhe abre as vias sobre as quais ele  se desenvolvera. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que construir.
799. De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A ‘vida futura não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor, ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos”.
A maneira de o Espiritismo contribuir para o progresso é a que ele vem fazendo, pois cabe-lhe o dever de mostrar Deus em tudo o que se possa ver e tocar. A expressão da Divindade se encontra em todas as coisas. O maior inimigo das criaturas humanas é o materialismo.
800. Não é de temer que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos homens e o seu apego às coisas materiais?
“Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer pudesse transformá-los como por encanto. As ideias se modificam pouco a  pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não  pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de uma vez; mas mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem de um só dos seus defeitos, isso seria um passo que ele afaria dar e por isso um grande bem, porque esse primeiro passo lhe tornaria os outros mais fáceis”.

Os pessimistas, dentro e fora do Espiritismo, acham que nenhuma doutrina pode mudar os homens, que estão cada vez piores moralmente, no modo daqueles analisarem. Dizem que tudo que se apresenta à sociedade é deturpado pelos que têm o poder temporal e pelos meios de comunicação. Como se enganam esses pessimistas, que esmorecem só com o barulho, esquecendo de verificar a essência que vem pela força do silêncio! A maior força é aquela que se irradia no silêncio das ondas, que o Espírito imortal, filho de Deus, tem o dom de absorver, assimilando a mensagem do Pai nas dobras das emissões espirituais.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando continuidade ao Capítulo VIII, vamos fazer o estudo do tópico Progresso da legislação humana, apreciando as questões de 794 a 797.
794. A sociedade poderia ser regida somente pelas leis naturais sem o  recurso das leis humanas?
“Poderia se os homens as compreendessem bem e quisessem praticá-las; então, seriam suficientes. Mas a sociedade tem as suas exigências e precisa de leis particulares”.
O Espírito primitivo não tem condições de assimilar as leis naturais, nem de compreendê-las na sua profundidade. Quando os agrupamentos das pessoas são muito atrasados, são movidos quase que totalmente pelos instintos. Com o passar do tempo, o progresso os prepara para criar uma legislação, de acordo com seu conhecimento, passando essas almas a entender que somente o progresso pode levá-las para melhores dias. Através dos séculos vão reformulando as suas leis e chegando cada vez mais perto das leis naturais. O Espírito cresce passo a passo, e vai sempre avançando, ano a ano. A legislação humana é necessária até quando os homens compreenderem e se prepararem para a obediência das leis divinas, que se expressam em tudo. Ainda mais, há uma voz da consciência que revela as necessidades humanas, para que sejam transcritas como leis dos homens.
795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
“Nos tempos de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis e as fazem em seu favor. Há necessidade de modifica-las à medida que os homens vão melhor compreendendo a justiça. As leis humanas são mais estáveis à medida que se aproximam da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que são feitas para todos e se identificam com a lei natural”.
Quanto mais próximo está o homem do princípio da formação da sociedade em que vive, menos tempo duram as suas leis, que são feitas pelos mais fortes, visando unicamente os seus interesses pessoais. Quanto mais cresce a humanidade espiritualmente, mais as suas leis visam à coletividade. Observemos os ensinamentos de Jesus: o Mestre nada pedia para Ele; tudo o que falou e viveu foi em benefício da humanidade. Ele renunciou totalmente a qualquer conforto para si mesmo, e chegou a dizer, de certa feita, que não tinha uma pedra sequer para reclinar a cabeça.
Comentário de Kardec: A civilização criou novas necessidades para o homem e essas necessidades são relativas a posição social de cada um. Foi necessário regular os direitos e os deveres dessas posições através de leis humanas. Mas, sob a influência das suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres imaginários, condenados pela lei natural e que os povos apagam dos seus códigos à proporção que progridem.  A lei natural é imutável e sempre a mesma para todos; a lei humana  é variável e progressiva: somente ela pode consagrar, na infância da Humanidade, o direito do mais forte.
796. A severidade das leis penais não é uma necessidade no estado atual da sociedade?
“Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas. Infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do  que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que, assim, não terão mais necessidade de leis tão rigorosas”.
A sociedade que tem sobre os seus ombros leis severas, é porque nela a depravação domina as consciências e, em lugar do amor, ela vive a violência. É de se notar que, em muitos países chamados civilizados e desenvolvidos, as leis são rigorosas, por faltarem ao seu povo a educação dos sentimentos, que favorece a fraternidade. As leis severas mais se destinam em punir o mal, do que secar a sua fonte. Infelizmente ainda é assim. Para secar a fonte do mal, da desarmonia, somente a educação tem esse poder, mas, para tanto, necessária se faz a ação do tempo, que provoca a maturidade da alma.
797 Como o homem poderia ser levado a reformar as suas leis?
“Isso acontecerá naturalmente, pela força das circunstâncias e pela influência das pessoas de bem que o conduzem na senda do progresso. Há muitas que já foram reformadas e muitas outras ainda o serão. Espera”.

Já foi dito em muitas mensagens de diversos Espíritos que somente Deus dirige e assiste a Sua Criação. Os homens nada fazem sem permissão da Divina Bondade. A reforma das leis humanas se processa de acordo com o progresso dos homens. À medida que as almas melhoram, as leis vão tomando novos cursos, como meios de corrigir e orientar as criaturas. Usando o raciocínio, é fácil concluir que não se podem fazer leis perfeitamente espiritualistas, nas bases do amor e da caridade, para aquela que hoje se entende como uma geração perversa. Ela não iria entender os objetivos desse amor que somente os anjos vivem, por estarem libertos do orgulho e do egoísmo. As leis dos homens são analisadas pelos Espíritos antes que se transformem em decreto, porque antes que os homens sintam a necessidade de fazerem essas leis, a espiritualidade superior já havia se preparado para tais empreendimentos. Devemos desejar somente o bem das criaturas, mas sabermos esperar a sua maturidade, sem aflição. Enquanto houver na Terra almas violentas e primitivas, ou ainda ligadas ao primitivismo, as leis acompanham seus sentimentos, por justiça. Ao Espírito mais elevado que se dispõe a ajudar as criaturas, ainda que com a própria vida, a humanidade sempre cobra caro, pela incompreensão dos que vivem ligados à Terra e tomando posse dela na ilusão de uma felicidade passageira.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando continuidade ao Capítulo VIII, vamos fazer o estudo do tópico Civilização, apreciando as questões de 790 a 793.
790. A civilização é um progresso, ou, segundo alguns filósofos, uma  decadência da Humanidade?
“Progresso incompleto, pois o homem não passa subitamente da infância à maturidade”.
A civilização é um progresso nos seus primeiros passos. A obra completa é demorada, bem assim a perfeição, que se opera em todas as coisas e, certamente, nas criaturas. A civilização, como acham certos filósofos que não atingem a profundidade das leis de Deus, não se encontra em decadência. A lei de Deus não regride; tudo avança do modo que o Senhor determina. Mesmo que queiramos recuar, Deus não permite. Queiramos ou não, somente vamos para frente. Toda ideia de regressão é por falta de visão espiritual dos iludidos. Compete a nós outros analisar a natureza.
790–a. É razoável condenar-se a civilização?
“Condenai antes os que abusam dela e não a obra de Deus”.
Como pode a prática vir antes do saber? A razão apurada nos informa ser impossível. Como condenar a civilização? Ela é portadora de muitas coisas nobres, e o tempo é que vai mostrando aos homens o que existe de bom nela. As mãos do tempo tornam-se selecionadoras das lições imortais do amor entre os homens. Nos primórdios da civilização, há quase quatro mil anos, Moisés manda, pela dureza dos corações dos homens, por eles não entenderem de outra forma, aplicar a justiça nos perseguidores e apedrejar as mulheres adúlteras, além de outras coisas mais que a civilização fez desaparecer das tábuas da lei moderna e cristã.
791. A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha produzido?
“Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência. O fruto não pode vir antes da flor”.
Os males que a civilização tem causado no seio dos povos são processos indispensáveis para educá-los, já que os próprios homens não encontraram outros meios que os acordem para o amor, sem o amparo da dor. Todos os acontecimentos que nascem das civilizações têm um objetivo, que Deus sabe muito bem, antes que os seres humanos o descubram. A própria natureza se encarrega de despertar nas criaturas os sentimentos do amor, que dormem.
792. Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem que ela poderia produzir?
“Porque os homens ainda não se encontram em condições, nem dispostos a obter este bem”.
O aperfeiçoamento das criaturas é lento, que se reajusta como condicionamento espiritual, em experiências de passo a passo. Deus colocou, por amor, no centro da vida de cada Espírito, dons eternos, todos iguais, e esses dons se despertam nos Espíritos lentamente, pela força do tempo. À medida que o homem cresce, eles vão se irradiando, de forma que o ambiente da alma faz lembrar o ambiente de Deus, seu criador.
792–a. Não seria ainda porque, criando necessidades novas, excita novas paixões?
“Sim, e porque todas as faculdades do Espírito não progridem ao mesmo tempo; é necessário tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta”. (Ver itens 751 e 780.)
A civilização não pode, de uma vez, ou em pouco tempo, iluminar o Espírito. Esse processo estaria fora da lei que assegura a gradatividade para tudo e o Espírito faz parte do todo, que deve obedecer às mesmas leis estabelecidas pelo Criador. A civilização que começa, a despontar em uma nação não pode dotar imediatamente essa nação das duas qualidades espirituais: moral e sabedoria. O trabalho é fruto de milênios e a marcha da civilização obedece a uma certa ordem, para desabrochar seus valores reais. É para tanto que existe a lei de reencarnação, onde os Espíritos voltam à Terra com novas roupas, quantas vezes forem necessárias, e cada vez avançam um pouco no seu aprimoramento espiritual.
793. Por que sinais se pode reconhecer uma civilização completa?
“Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento, não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização”.
Uma civilização completa, somente podemos reconhecê-la quando apresenta duas forças em harmonia: o desenvolvimento moral e o intelectual. A civilização que se educa nesses dois aspectos, faz desaparecer do seu seio as paixões inferiores que obscurecem todos os sentimentos da humanidade. Nesse arrojo de vida pede-se a cada um o esforço próprio, para que esse esforço passe a ser coletivo, pertencente a todas as criaturas de Deus. O homem não pode nascer desde a primeira vez, pelas bênçãos da encarnação, já purificado, já tendo despertas em si todas as qualidades morais e tendências aperfeiçoadas em todos os rumos. Isto é fruto do tempo, mas um tempo demorado, porque somos feitos iguais e a evolução acontece com todos, na sequência das vidas sucessivas.

 Comentário de Kardec: A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. À medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais  liberdade; em que exista mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses prejuízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade em que o fraco  sempre encontre apoio contra o forte; em que a vida do homem suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; em que haja menos desgraçados; e por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário.

Será essa a civilização crista que o Espiritismo estabelecerá na Terra Como se vê celas explicações dos Espíritos e os comentários de Kardec, a civilização incompleta em que vivemos é apenas uma fase de transição entre o mundo pagão da Antiguidade e o mundo cristão do futuro. Nos costumes, na legislação, na religião, na prática dos cultos religiosos, vemos a mistura constante dos elementos do paganismo com os princípios renovadores do Cristianismo. Cabe ao Espiritismo a missão de remover esses elementos pagãos para fazer brilhar o espírito cristão em toda a sua pureza. Veja-se, a propósito, todo o cap. I de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. (N. do T.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando continuidade ao Capítulo VIII, vamos encerrar o estudo do tópico Povos degenerados, apreciando a questão 790, e o respectivo comentário de Kardec.
789. O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra numa só nação?
“Não em uma só nação, o que é impossível, pois da diversidade dos climas nascem costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades. Assim, serão sempre necessárias leis apropriadas a esses costumes e a essas necessidades. Mas a caridade não conhece latitudes e não faz distinção dos homens pela cor. Quando a lei de Deus constituir por toda parte a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para o outro, como os indivíduos de homem para homem, vivendo felizes e em paz, porque ninguém tentará fazer o mal ao vizinho ou viver à suas expensas”.
Não podemos pensar que a Terra, no futuro, se transformará em uma nação única. Ela, mesmo com a evolução moral acompanhando o progresso da ciência, pode se dividir ainda mais, para que haja mais paz no tocante aos costumes e aos climas das regiões. Podemos acreditar que haverá um só rebanho, pela fraternidade entre os povos. Eles deverão unir-se em todos os sentidos do bem comum, trabalhando pelo mesmo objetivo de vida. Entretanto, não podemos nos esquecer do que fala o Evangelho, anotado por João no capitulo dez, versículo dezesseis: Haverá um só rebanho e um só Pastor.
Comentário de Kardec: A Humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos em tempos, surgem os homens de gênio que lhes dão um impulso, e, depois, homens investidos de autoridades, instrumentos de Deus, que em alguns anos a fazem avançar de muitos séculos.
O progresso dos povos faz ainda ressaltar a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem louváveis esforços para ajudar uma nação a avançar moral e intelectualmente; a nação transformada será mais feliz neste mundo e no outro, compreende-se; mas. Durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem diariamente, e qual seria a sorte de todos esses que sucumbem durante o trajeto? Sua inferioridade relativa os priva da felicidade reservada aos que chegam por último?  Ou também a sua felicidade é relativa? A justiça divina não poderia consagrar semelhante injustiça. Pela pluralidade das existências, o direito à felicidade é sempre o mesmo para todos, porque ninguém é deserdado  pelo progresso. Os que viveram no tempo de barbárie, podendo voltar no tempo da civilização, no mesmo povo ou em outro, é claro que todos se beneficiam da marcha ascendente.
Mas o sistema da unidade da existência apresenta neste caso outra dificuldade. Com esse sistema, a alma é criada no momento do nascimento, de maneira que um homem é mais adiantado que o outro porque Deus criou para ele uma alma mais adiantada.  Por que esse favor? Que mérito tem ele, que não viveu mais do que o outro, menos, muitas vezes, para ser dotado de uma alma superior?  Mas essa não é a principal dificuldade. Uma nação passa, em mil anos, da barbárie à civilização. Se os homens vivessem mil anos, poderia conceber-se que, nesse intervalo, tivessem tempo de progredir; mas diariamente morrem criaturas em todas as idades, renovando-se sem cessar, de maneira que dia a dia as vemos aparecerem e desaparecerem.
No fim de um milênio, não há mais traços dos antigos habitantes; a nação de bárbara que era tornou-se civilizada; mas quem foi que progrediu? Os indivíduos outrora bárbaros? Esses já estão mortos há muito tempo. Os que chegaram por último?  Mas se sua alma foi criada no momento do nascimento, essas almas não existiriam no tempo da barbárie  e é necessário admitir, então, que os esforços desenvolvidos para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar as almas imperfeitas, ,as de fazer Deus criar outras mais perfeitas.

Comparemos esta teoria do progresso com a que nos foi dada pelos Espíritos. As almas vinda nos tempo da civilização tiveram a sua infância, como todas as outras, mas já viveram e chagam adiantadas em conseqüência de um progresso anterior; elas vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que está em relação com o seu estado atual. Dessa maneira, os cuidados dispensados à civilização de um povo ou não têm por efeito determinar a criação futura de almas mais perfeitas, mas atrair aquelas que já progrediram, seja as que já viveram nesse mesmo povo em tempos de barbárie, seja as que procedem de outra parte. Aí temos, ainda, a chave do progresso de toda a Humanidade.  Quando todos os povos estiverem no mesmo nível quanto ao sentimento do bem, a Terra só abrigará bons espíritos, que viverão em união fraterna.  Os maus, tendo sido repelidos e deslocados, irão procurar nos mundos inferiores o meio que lhes convém, até que se tornem dignos de voltar ao nosso meio transformado.  A teoria vulgar tem ainda esta conseqüência: os trabalhos de melhoramento social só aproveitam às gerações presentes e futuras; seu resultado é nulo para as gerações passadas, que cometeram o erro de chegar muito cedo e só avançaram na medida de suas forças, sob a carga de seus atos de barbárie. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente a essas gerações, que revivem nas condições melhores e podem aperfeiçoar-se no meio da civilização. (Ver item 222.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando continuidade ao Capítulo VIII, vamos iniciar o estudo do tópico Povos degenerados, apreciando as questões de 786 a 788.
786. A História nos mostra uma multidão de povos que, após terem sido convulsionados, recaíram na barbárie. Onde está nesse caso o progresso?
Quando a tua casa ameaça cair, tu a derrubas para a reconstruir de maneira mais sólida e mais cômoda; mas, até que ela esteja reconstruída, haverá desarranjos e confusões na tua moradia.
Compreende isto também; és pobre e moras num casebre, mas ficas rico e o deixas para morar num palácio. Depois um pobre diabo, como o eras, vem tomar o teu lugar no casebre e se sente muito contente, pois antes não possuía um abrigo. Pois bem, compreende então que os Espíritos encarnados neste povo degenerado não são mais os que o constituíram nos tempos de sues esplendor. Aqueles, logo que se tornaram mais adiantados, mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto outros, menos avançados, tomaram seu lugar, que por sua vez também deixarão.
Sabemos que não há regressão. Assim, naqueles povos a quem chamamos degenerados, a regressão está apenas na forma, e não no Espírito. Tomemos como exemplo o caso dos dois continentes submergidos, Lemúria e Atlântida: eram duas civilizações altamente intelectualizadas, em relação aos povos de então; quando da súbita invasão das águas, muitos escaparam de diversas maneiras, visto que a catástrofe já era prevista. Vários sobreviventes alcançaram as Terras do Oriente e outros vieram ter ao continente americano, inclusive onde, bem mais tarde, viria a ser o Brasil e onde se reuniram em tribos.
787. Não há raças rebeldes ao progresso por sua própria natureza?
“Sim, mas dia a dia elas se aniquilam corporalmente”.
Existem raças rebeldes ao progresso, isso está à vista para o bom observador. No entanto, torna-se fácil de explicarmos essas anomalias encontradas na raça humana. Bem sabemos que a lei de afinidade espiritual é muito clara em tudo o que existe. É bom notar que a essas raças se reúnem homens iguais, mesmo vindo de outros países. Eles são atraídos para onde encontram ambiente com o qual se afinam.
787–a. Qual será o destino futuro das almas que animam essas raças?
“Chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias experiências. Deus não deserda ninguém”.
Elas mudarão, como todas as outras raças obedientes à Luz, pelos processos de reencarnação, e as suas ideias vão se firmando ao alcance dos elevados conceitos que as libertarão. Compete ao tempo a sua transformação.
787–b. Então, os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e antropófagos?
“Tu mesmo o foste, mais de uma vez, antes de seres o que és”.
Nós também já fizemos parte de raças rebeldes em outras épocas. Já matamos e morremos muitas vezes, impulsionados pela ignorância. Depois que conhecemos a verdade, tornamo-nos livres, mas os que estão na retaguarda precisam, assim como precisamos, de mãos amigas e tolerantes para crescerem. Onde estão elas? Elas se encontram espalhadas em toda parte, e os livros estão por todos os cantos, representando o Evangelho de Jesus, para nos indicar o caminho, a verdade e a vida.
788. Os povos são individualidades coletivas que passam pela infância, a idade madura e a decrepitude, como os indivíduos. Essa verdade constatada pela História não nos permite supor que os povos mais adiantados deste século terão o seu declínio e o seu fim, como os da Antiguidade?
“Os povos que só vivem materialmente, cuja grandeza se firma na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem; aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade morrem porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros povos”.

Cada pessoa e cada povo tem a sua ascensão e a sua queda. Podemos observar isso na história de todos os povos do planeta, pois são processos da evolução das criaturas. Na Terra não existe felicidade, porque os homens ainda desconhecem o equilíbrio das suas forças poderosas, que são o progresso moral e o progresso intelectual. Quando um povo se apega a só um destes, ocorrerá certamente um desnível, por lhe faltar o equilíbrio. Somente para o futuro, que não se encontra muito próximo, é que as nações deverão descobrir essas duas asas que as levarão à estabilidade espiritual, por encontrar o amor em todas as suas irradiações cristãs. Os povos são individualidades agregadas que deverão crescer juntos, por uns precisarem dos outros, em trocas permanentes de valores. Todos os sofrimentos são oriundos da falta de conhecimentos espirituais e da prática das normas estabelecidas pelo Cristo.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Encerrando o Capítulo VIII, vamos continuar estudando o tópico Marcha do progresso, nas questões de 784 e 785.
784. A perversidade do homem é bastante intensa, e não aprece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?
“Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do bem e das reformas”.
O recuo na caminhada das criaturas é apenas aparente. Nada na vida regride; todos os momentos, pode-se dizer os minutos e mesmo os segundos, têm a sua cota de avanço espiritual. A regressão dos Espíritos é ilusória, a não ser quando a reencarnação nos mostra uma regressão da forma e do ambiente em que o Espírito pode renascer, porém, a alma, seus celeiros, sua luz já conquistada, ela não perde nunca. É qual diamante jogado na lama, que fica escondido por algum tempo, mas, quando retirado dali, é a mesma pedra preciosa. Ele não deixou de ser diamante por se encontrar envolvido no barro.
785. Qual é o maior obstáculo ao progresso?
“O orgulho e o egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o intelectual avança sempre. Este aprece, aliás, à primeira vista, duplicar a intensidade daqueles vícios desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas, que por sua vez incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se relaciona no mundo moral como no físico e que do próprio mal pode sair o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o homem compreender melhor que, além do gozo dos bens terrenos, existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável”. (Ver Egoísmo, cap. XII).
O maior obstáculo ao progresso são dois monstros que devoram a sociedade na atualidade, e mesmo sendo eles perseguidos pela filosofia cristã, ainda vivem em quase seu apogeu; no entanto, a sua glória é terrena e transitória. Esses dois monstros são o orgulho e o egoísmo. O progresso moral tem sido atingido por estas duas forças das sombras, mas nunca interrompem sua marcha, por ser ela a força do próprio Criador, e lutar contra o Senhor é perder tempo. Por vezes, a marcha do progresso pode tornar-se mais lenta, pelos entraves criados pelos homens que ignoram a verdade, todavia, quando se faz necessário, o progresso moral quebra todos os obstáculos, desata todas as peias com que quiseram amarrá-lo, e feixes de luzes desimpedem todos os caminhos por processos variados, como flagelos, fome, guerras e, ainda mais, pelo anjo da dor.
Comentário de Kardec: Há duas espécies de progresso que mutuamente se apóiam e, entretanto, não marcham juntas: progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro recebe em nosso século todos os estímulos desejáveis e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse no mesmo nível. Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos  atrás com os de hoje, teremos de ser cegos para negar que houve progresso moral. Por que, pois, a marcha ascendente da moral deveria mostrar-se mais lenta que a da inteligência? Por que não haveria, entre o século décimo nono e o vigésimo quarto, tanta diferença nesse terreno como entre o décimo quarto e o décimo nono? Duvidar disso seria pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu da perfeição, o que é absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o a experiência desmente.
Como se vê, por este comentário de Kardec e pelas explicações dos Espíritos a que ele se refere, o Espiritismo reconhece a necessidade desses movimentos periódicos da agitação natural, quer dos elementos, quer dos povos, para a realização do progresso. Mas os admite como fatos naturais e não como criações artificiais a que os homens devam dedicar-se, em obediência a doutrinas revolucionárias.  O que ele ensina é que o homem deve colocar-se, nesses momentos, acima de seus mesquinhos interesses pessoais, para ver em sua amplitude a marcha irresistível do progresso, auxiliando-a na medida do possível. (N. do T.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando sequência ao Capítulo VIII, vamos continuar estudando o tópico Marcha do progresso, nas questões de 781 a 783.
781. É permitido ao homem deter a marcha do progresso?
“Não, mas pode entravá-la algumas vezes”.
O progresso é o caminho para o reino de Deus.
781-a. Que se deve pensar dos que tentam deter a marcha do progresso e fazer que a Humanidade retrograde?
“Pobres seres, que Deus castigará! Serão levados de roldão pela torrente que procuram deter”.
Conforme os Espíritos responderam, o homem não pode paralisar o progresso, mas, usando de seu livre-arbítrio, ele pode decidir ficar parado, porém, as coisas ao seu redor vão se modificando e ele fica estranho naquele lugar. As coisas se modificaram e ele ficou parado; então, a lei de progresso o leva de arrastão, porque a vida é movimento.
782. Não há homens que entravam o progresso de boa fé, acreditando favorecê-lo, porque o veem segundo o seu ponto de vista, e frequentemente onde ele não existe?
“Pequena pedra posta sob a roda de um grande carro sem impedi-lo de avançar”.
Ninguém impede o progresso, que caminha pelas bênçãos de Deus e sob as vistas dos agentes do Senhor. Querer impedi-lo é ignorância, que o tempo transformará em sabedoria. Todos fomos criados com o objetivo de despertar as belezas imortais no coração; todos os atributos de Deus fazem parte dos dons espirituais que as criaturas possuem e que, com o tempo, deverão despertar, tornando-se sóis que nos mostram a vida dentro da felicidade do Criador. Portanto, diremos, devemos avançar.
783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?
“Há o progresso regular e  lento que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma”.
Existe o aperfeiçoamento natural e progressivo, estendido a toda a criação de Deus. Ele é lento, para que o homem possa participar na evolução, sua e de tudo que o cerca. A parte dos seres humanos deve ser acionada por eles, no equilíbrio que a vida lhes mostra. Aí, o bom senso deve imperar em todos os corações que a luz da verdade já começa a iluminar.
Comentário de Kardec: Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis coma  justiça divina , que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco.
O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.

O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido.
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LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Dando sequência ao Capítulo VIII, vamos estudar o tópico Marcha do progresso, nas questões de 779 a 780-b.
779. O homem tira de si mesmo a energia progressiva ou o progresso não é mais do que o resultado de um ensinamento?
“O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros a progredir, pelo contato social”.
Tudo cresce pela lei que determina o despertamento de qualidades espirituais, por vontade de Deus. Homem algum pode ou tem poder de entravar o progresso, pois ele é um gênio de mil possibilidades, que age em todas as direções da vida. A própria Terra, com o passar dos tempos, vai ficando cada vez mais purificada, o ar mais leve, as águas mais sutis, os animais, as plantas com expressões mais adiantadas, e o homem é o que mais progride, o que mais assimila o progresso.
780. O progresso moral segue sempre o progresso intelectual?
“É a sua consequência, mas não o segue sempre imediatamente”. (Ver itens 192 e 365).
O progresso moral nem sempre acompanha o progresso intelectual. É no sentido de promover a elevação moral que a Doutrina dos Espíritos veio, com o objetivo de educar e instruir.
780–a. Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral?
“Dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos”.
A educação trata de harmonizar os sentimentos que são, a princípio, animalizados e somente o tempo, os problemas, as dores, os variados infortúnios, têm o poder de mostrar para a alma a necessidade de se modificar, ganhando, com os infindáveis esforços, as qualidades morais que o Evangelho indica para nos salvar de todas as agressões do mal.
780–b. Como se explica, então, que os povos mais esclarecidos sejam frequentemente os mais pervertidos?
“O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral, eles podem servir-se da inteligência  para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo”. (Ver itens 365 e 751.)
O progresso deve atingir todas as qualidades morais e espirituais e, certamente, o físico. Ele é Deus avançando, não para Ele mesmo, mas para que sejam despertados os dons da intimidade das criaturas. Disse Jesus com muita propriedade: Eu vim para lançar fogo sobre a Terra e bem quisera que já estivesse a arder. O fogo sobre a Terra que Jesus veio acender foi objetivando o progresso das criaturas, mudando o modo pelo qual o homem estava procedendo, usando a ciência e o saber para massacrar os mais fracos e corromper a si mesmo.  

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LEIS MORAIS
Capítulo VIII – Da Lei do Progresso.
Iniciando o Capítulo VIII, vamos estudar o tópico Estado de natureza, nas questões de 776 a 778.
776. O estado natural e a lei natural são a mesma coisa?
“Não; o estado natural é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado natural, enquanto a lei natural contribui para o progresso da Humanidade”.
A diferença é sutil, mas muito profunda entre o estado de natureza e as leis naturais. Estado de natureza é o ambiente em que vivem os primitivos, de modo que o progresso é tão lento que não dá para perceber o seu impulso, enquanto as leis naturais são perfeitas e imutáveis, por serem feitas pela Perfeição. Os Espíritos é que vão despertando, pela força do tempo e do espaço, alcançando as leis de acordo com a sua evolução. Isso é belo, desde quando possa ser entendido em Espírito e verdade.
Comentário de Kardec: O estado natural é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. O homem, sendo perfectível e trazendo em si o germe de seu melhoramento, não foi destinado a viver perpetuamente na infância. O estado natural é transitório e o homem o deixa pelo progresso e a civilização. A lei natural, pelo contrário, rege toda a condição humana e o homem  se melhora na medida em que melhor compreende e melhor pratica essa lei.
777. No estado natural, tendo menos necessidade, o homem não sofre todas as atribulações que cria para si mesmo num estado mais adiantado. Que pensar da opinião dos que considerem esse estado como o da mais perfeita felicidade terrena?
“Que queres? É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem a outra. É ser feliz a maneira dos animais. As crianças também são mais felizes que os adultos”.
Os extremos, mesmo aparentemente, se confundem. O homem, no estado de natureza, parece que vive feliz, no entanto, a felicidade ainda não é essa; a felicidade verdadeira é aquela onde a consciência se encontra em sintonia com a harmonia divina, a consciência imperturbável, que de tudo tira lições, sem exigir nada dos outros, nem se alterar com nada. Ela nunca se agita com os acontecimentos, por ser consciente da necessidade deles para a massa humana com o seu demorado despertamento espiritual.
778. O homem pode retrogradar para o estado natural?
“Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância.  Se ele progride, é que Deus assim o quer; pensar que ele pode retrogradar para a sua condição primitiva seria negar a lei do progresso”.
O homem não pode regredir para o seu estado primitivo, pois Deus não o fez para tal. Dentro de cada criatura existem dons que desabrocham com o tempo, e esse tempo é encarregado de fazê-lo entrar no progresso, por numerosos processos, inclusive o da dor. Passamos por muitos meios, por fases inúmeras de evolução.
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LEIS MORAIS
Capítulo VII – Da Lei de Sociedade.
Encerrando o Capítulo VII, vamos estudar o tópico Laços de Família, nas questões de 773 a 775.
773. Por que, entre os animais, pais e filhos deixam de se reconhecer, quando os últimos não precisam mais de cuidados?
“Os animais vivem a vida material e não a moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por principio o instinto de conservação aplicado aos seres que dão á luz. Quando esses seres podem cuidar de si mesmos, sua tarefa está cumprida e a Natureza nada mais lhe exige. É por isso que ela os abandona para se ocupar de outros que chegam”.
Não se pode comparar a vida entre os animais irracionais com a raça humana; a diferença é muito grande. A distância entre as duas espécies é enorme, capaz de se perder na idade do tempo. Na vida dos animais, o cuidado dos pais para com os filhos é breve. Toda aquela ternura se dá pela força do instinto de conservação. Depois dos filhotes crescidos, a mãe os abandona, por não terem mais necessidade dos cuidados da família. Já no que se refere à família humana, é bastante diferente, pelos laços morais dos seres humanos, que prendem as almas pelo amor.
774. Há pessoas que deduzem, do abandono das crias pelos animais, que os laços de família entre os homens não são mais que o resultado de costumes sociais e não uma lei natural. Que devemos pensar disso?
“O homem tem outro destino que não o dos animais; por que, pois, querer sempre identificá-los? Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas; há a necessidade do progresso. Os liames sociais são necessários ao progresso e os laços de família resumem os liames sociais; eis porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a amar-se como irmãos”. (Ver item 205.)
O destino do homem é bem diferente do destino dos animais, por ter o homem alcançado um degrau a mais na sua dianteira, por maturidade espiritual. Algum dia, os animais irão a esse estágio. Os animais abandonam suas crias logo que essas se tornam adultas, porque no meio deles a sua missão é somente até aquele ponto; daí para frente, é processo de aprendizado de cada um. A própria natureza os fez assim. Entre os homens é diferente; eles têm necessidade de permanecer mais tempo juntos, em família, porque os seus deveres, a sua preparação, é mais engenhosa, dada a sua capacidade de assimilação ante a vida.
775. Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família?
“Uma recrudescência do egoísmo”.
O relaxamento dos laços de família seria para a sociedade um desastre moral, capaz de reconduzi-la ao primitivismo. O que aconteceria ao corpo se desfizéssemos os órgãos que o compõem? Certamente que seria a morte. Avançar é a meta de todos nós e, para tanto, necessário se faz que entremos em novos métodos de vida. Quem cresce, amplia suas necessidades, desperta seus dons e essas qualidades devem ser acionadas nos seus devidos sentidos. Certamente que, pelos caminhos do desenvolvimento, não encontraremos apenas suavidade; observemos os grandes personagens da história; todos eles sofreram a incompreensão dos conservadores, 'daqueles que amam mais o comodismo, que se sentem bem na ociosidade, sem esforço próprio, que não desejam crescer e são contra o progresso. Quem deseja progredir, deve preparar-se para sofrer, pois os mesmos fariseus e escribas estão por toda parte, contra as ideias do progresso, tanto material como espiritual, ou mesmo moral, das criaturas.

Herbert Spencer considerou a família entre as instituições que dão forma à vida social; Marx e Engels, como o primeiro grupo histórico, a primeira forma de integração humana; Augusto Comte, como a célula básica da sociedade, o embrião e o modelo desta, de maneira que a sociedade perfeita é a que funciona como família. Atualmente, a Sociologia da Família e a Psicologia Social, bem como as próprias escolas de Psicologia do Indivíduo reconhecem a importância básica da família. O mesmo se dá nos estudos de Psicologia Educacional e de Filosofia da Educação. John Dewey, em Democracia e Educação, acentua  a importância do lar na organização social e na preparação da vida social. Como se vê, a asserção dos Espíritos de que “os laços de família resumem os liames sociais” são confirmados até mesmo pelos estudos materialistas da sociedade. (N. do T.)
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VII – Da Lei de Sociedade.
Dando continuidade ao Capítulo VII, e encerrando o tópico Vida de insulamento. Voto de silêncio, vamos estudar as questões de 771 a 772.
771. Que pensar dos que fogem do mundo para se devotarem ao amparo dos infelizes?
“Esses se elevam rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho”.
Há muita diferença entre os que fogem do mundo para beneficiar a humanidade e os que entram em reclusão por motivos que o egoísmo inspira. São motivos pessoais, motivos ilusórios. Os primeiros são homens bem intencionados, que descem, muitas vezes, de altos postos já alcançados, para se misturarem com os sofredores, com os famintos, os nus e os encarcerados, levando para eles o consolo, a veste e o alimento. São esses os bem-aventurados. Eis aí onde não existe egoísmo, desaparecendo a vaidade. Nos segundos, o amor próprio entra em evidência, mostrando o que a pessoa é, na escala da vida.
771–a. E os que procuram no retiro a tranquilidade necessária a certos trabalhos?
“Esse não é o retiro absoluto do egoísta; eles não se isolam da sociedade, pois trabalham para ela”.
Convém anotar que Jesus fugia do mundo de vez em quando, no sentido de buscar forças no Pai de todas as criaturas, para beneficiar a muitos, mas Ele não ficava na inatividade. Os que fogem do mundo por instantes, para buscar conforto em favor dos que sofrem, têm duplo mérito: não ficam na ilusão, ao tempo em que colhem recursos para que a caridade se expresse pelos processos do amor. Os que fogem das extravagâncias da sociedade não estão em recolhimento absoluto; eles se afastam dos grupos de pessoas que ainda não encontraram a verdade, e gastam seu precioso tempo no bem dos que realmente precisam de ajuda, aos que já compreendem o aproveitamento do tempo, na aquisição do bem eterno. Esses são bem-aventurados, por sentirem prazer em ajudar.
772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas desde a mais alta Antiguidade?
“Perguntai antes se a palavra é natural e por que Deus a deu. Deus condena abuso e não o uso das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque no silêncio te recolhes, teu espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude tem boa intenção, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras leis de Deus”.
Outro absurdo qual o de insulamento! Tudo que vai aos extremos, passa a restringir as possibilidades do bem. A palavra foi entregue ao homem por Deus para ser usada. Ela gastou milhões de anos para o devido aprimoramento, tal qual se encontra; como determinarmos o seu atrofiamento? O silêncio comedido, por necessidade do aprendizado, é nobre. O absoluto, entretanto, é erro gravíssimo, que faz esconder esse dom maravilhoso que pode servir, ajudando a muitos que sofrem, padecendo os processos de despertamento da alma. Convém notar que tudo obedece ao tempo para que a harmonia se faça para a alegria de todos.

Comentário de Kardec: O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VII – Da Lei de Sociedade.
Dando início ao Capítulo VII, e iniciando o tópico Vida de insulamento. Voto de silêncio, vamos estudar as questões de 769 a 770-a.
769. Concebe-se que, como principio geral, a vida social esteja nas leis da Natureza. Mas como todos os gostos são também naturais, por que o do isolamento absoluto seria condenável, se o homem encontra nele satisfação?
“Satisfação egoísta. Há também homens que encontram satisfação na embriaguez; aprovas isso? Deus não pode considerar agradável uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém”.
O homem é cheio de manias criadas por ele mesmo, e ainda pensa, quando não tem compreensão, que suas ideias estão certas. Ele enverga uma roupagem ilusória, julgando-se o próprio Deus. A presunção carrega-o para a perdição, até que encontre a verdade. As almas, no começo da sua evolução, se nos parecem egocêntricas, por lhes faltar sabedoria. Tudo que existe pertence a Deus. Que direito tem o ser humano de se isolar dos seus companheiros? Qual a finalidade desse gesto, que não o leva a nada? Isolar-se é desprezar as companhias que Deus proporciona às almas, para completarem o que buscam. O progresso vai nos dotando de novas condições, e os nossos dons passam a se desenvolver, atendendo muitas das nossas necessidades. Se nos insulamos por vaidade, para nos mostrar aos que passam, somente nós iremos dar conta a Deus dos nossos atos; é por isso que devemos, por lei do bem, viver em conjunto, para ensinar e aprender o que sabemos e o que ainda precisamos saber. Toda satisfação presunçosa é falta que fere a consciência. As nossas lutas devem ser sempre em favor de todas as criaturas, não somente em benefício próprio. O homem que se condena a não ser útil a alguém está à beira da falência, comungando com o desprezo de si mesmo; ele está morrendo, quando não serve para servir. O Espírito hiperbólico vai automaticamente para os extremos, onde ele sofre as consequências da sua ignorância. Foi para nos moderarmos que Deus nos deu inteligência, para que ela nos guie naquilo que pode e deve.
770. E que pensar dos homens que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo?
“Duplo egoísmo”.
O egoísmo se encontra em muitas faixas da vivência humana, e mesmo da espiritual. Ele é capaz de mover diversas dificuldades para se estabelecer como tal e, inspirando seu instrumento como sendo o amor, na verdade, ele não deixa de ser o amor, mas o amor próprio.
A alma que entra em completa reclusão, deixa de aprender muitas lições que a iriam instruir, crescendo para a vida maior. O egoísmo isola a criatura dos seus semelhantes, tornando-a cativa de si mesma, paralisando muitas de suas faculdades espirituais. Deus nos criou para vivermos em conjunto, e para isso nos mostra como exemplo todos os outros reinos, que estão sempre em grande atividade, formando conjuntos em trocas incessantes dos valores da vida. O egoísmo na reclusão é duplamente inferior, por deixar inativos os dons, principalmente a caridade. O egoísmo se encontra em muitas faixas da vivência humana, e mesmo da espiritual. Ele é capaz de mover diversas dificuldades para se estabelecer como tal e, inspirando seu instrumento como sendo o amor, na verdade, ele não deixa de ser o amor, mas o amor próprio.
770–a. Mas se esse retraimento tem por fim uma expiação, com a imposição de penosa renúncia, não é meritório?
“Fazer maior bem do que o mal que se tenha feito, essa é a melhor expiação. Com esse retraimento, evitando o mal o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e caridade”.
É de grande valor que recordemos João, no capítulo dez, versículo trinta, quando nos diz as palavras do Mestre: - Eu e meu Pai somos um.

Se Jesus e o Pai estão unidos, e Deus está sempre presente em toda a criação, Ele condena terminantemente a reclusão. As criaturas devem permanecer unidas com as suas irmãs, trabalhando e servindo de degraus para que outras possam subir. Nesta operação divina e humana, todas serão beneficiadas pela vida e por Deus, que comanda a vida. É indispensável que tenhamos equilíbrio em tudo; os extremos é que nos fazem mal, no porte espiritual em que nos encontramos. Alguns momentos de meditação e a sós não fazem mal a ninguém. Em tudo, o que nos prejudica mais é o abuso das possibilidades que temos para crescer, instruindo e educando. Alguns homens considerados grandes no passado, se entregavam à reclusão por anos a fio, meditando e, por vezes para não se "contaminarem" com a massa humana, esquivando-se das "impurezas" dos outros. Entretanto, devemos nos aproximar dos que ficaram na retaguarda, a ajudá-los na caminhada, assim como os benfeitores da eternidade sempre fazem conosco. É da lei receber e dar, dar para receber, sem, contudo, exigir essa troca natural do sistema de leis espirituais criadas por Deus.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VII – Da Lei de Sociedade.
Dando início ao Capítulo VII, e iniciando o tópico Necessidade da vida social, vamos estudar as questões de 766 a 768.
766. A vida social é natural?
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente ao homem a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação”.
A vida social se encontra com mais expressão na natureza. Podemos observar isso em todos os reinos, e ela é o mesmo amor, em faixa onde se mostra a fraternidade. O que chamamos de afinidade dos elementos e dos homens é o que vem a ser a vida social. é muito comum notar-se que os peixes vivem em cardumes, as aves em bandos, os animais de todas as espécies em grupos e que as árvores têm mais vida quando são plantadas em conjunto. Se analisarmos a lavoura, nos certificaremos da harmonia em todas as espécies de plantações, todas juntas para melhor rendimento. Podemos analisar uma situação interessante: Existem pessoas que costumam dizer egoisticamente: Não preciso de ninguém. Mas o interessante é que, a roupa que elas vestem, alguém teceu; a comida que elas comem, alguém plantou, alguém cuidou, alguém transportou; a água que elas bebem, alguém tratou. Quantas pessoas trabalham para que essa lei se dê?
767. O isolamento absoluto é contrário a lei natural?
“Sim, pois os homens buscam a sociedade por instinto e devem todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente”.
O insulamento é contrário à lei da natureza. Quem se isola fica afastado do intercâmbio com as outras vidas. Quem deseja estudar a natureza, que procure verificar o corpo humano, esse complexo maravilhoso sob o comando do Espírito. Ele é uma sociedade de vidas, em uma ação social, em trocas até então incompreendidas entre os homens. O corpo humano é uma sociedade de valores, para oferecer à alma oportunidades valiosas de crescimento. As letras que compõem um livro tiveram que entrar em sociedade, se afinarem com o assunto em questão, e daí surgir a harmonia, em se mostrando o ideal.
768. O homem, ao buscar a sociedade, obedece apenas a um sentimento pessoal ou há também nesse sentimento uma finalidade providencial, de ordem geral?
“O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer não possui todas as faculdades; precisa do contato dos outros homens. No isolamento ele se embrutece e se estiola”.
O homem procura a sociedade por instinto, por inteligência e pela própria intuição, pois é nela que ele evolui. Não tendo todos os dons desenvolvidos, a alma precisa de viver em relação com muitas das suas irmãs para se completar. O que não encontra em uma, acha em outra, e desta forma é capaz de viver bem melhor. Todavia, ela, isolada, sofre muitas restrições; é a mesma coisa que um doente não querer companhia, detestar médicos e remédio.

Comentário de Kardec: Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem o seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.
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LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e encerrando o tópico Pena de Morte, vamos estudar as questões de 763 a 765.
763. A restrição dos casos em que se aplica a pena de morte é um índice do progresso da civilização?
“Podes duvidar disso? Não se revolta o teu Espírito lendo os relatos dos morticínios humanos que antigamente se faziam em nome da justiça e frequentemente em honra à Divindade; das torturas a que se submetia o condenado e mesmo o acusado, para lhe arrancar, a peso do sofrimento, a confissão de um crime que ele muitas vezes não havia cometido? Pois bem, se tivesses vivido naqueles tempos, acharias tudo natural, e talvez, como juiz, tivesses feito outro tanto. É assim que o que parece justo numa época parece bárbaro em outra. Somente as leis divinas são eternas. As leis humanas modificam-se com o progresso. E se modificarão ainda, até que sejam  colocadas em harmonia com as leis divinas”.
Certamente que quando um povo está esquecendo às leis bárbaras, esse povo se encontra subindo na escala do progresso. No entanto, quanto mais se criam leis drásticas, parece evidenciar o que se passa pelos seus corações. Não adianta as aparências exteriores; o que vai pelo nosso íntimo nos dirige para os nossos próprios caminhos. Isso é o comando da justiça, é o comando de Deus. Ninguém engana ninguém. Somente a verdade fica firme em todos os pontos da vida. Quem a busca, sentir-se-á aliviado no centro da consciência.
764. Jesus disse: “Quem matar pela espada perecerá pela espada”. Essas palavras não representam a consagração da pena de talião? E a morte imposta  ao assassino não é a aplicação dessa pena?
Tomai tento! Estais equivocados quanto a estas palavras, como sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é ele quem a aplica. Todos vós sofreis a cada instante essa pena, porque sois punidos naquilo em pecais, nesta vida ou numa outra. Aquele que fez sofrer o seu semelhante estará numa situação em que sofrerá o mesmo. E este o sentido das palavras de Jesus. Pois não vos disse também: “Perdoai aos vossos inimigos”? E não vos ensinou a pedir a Deus que perdoe as vossas ofensas da maneira que perdoastes, ou seja, na mesma proporção em que houverdes perdoado? Compreendei bem isso.
O "olho por olho e dente por dente" do Velho Testamento não pode ser interpretado, como sendo para se exercitar a justiça humana. A pena de Talião, somente um pode exercê-la: Deus. As mãos humanas não têm autoridade para fazer justiça com ninguém. Os que servem de motivo de escândalo sofrem as consequências desse mesmo escândalo. O grande Arquiteto do Universo criou leis, e essas leis são aplicadas onde quer que seja, apresentando-se como justiça.
765. Que pensar da pena de morte imposta em nome de Deus?
“Isso equivale a tomar o lugar de Deus na prática da justiça. Os que agem assim revelam quanto estão longe de compreender a Deus e quanto têm ainda a expiar. É um crime aplicar a pena de morte em nome de Deus. e os que afazem são responsáveis por esses assassinatos”.
O "não matarás" é lei divina, que brilha entre os homens desde épocas recuadas, para que possa fazer parte da própria vida dos homens. Existem muitas modalidades de matar, e a alma deve observar a palavra de Deus, pelos seus semelhantes, começando a respeitar primeiro seus irmãos, para depois passar a outras escalas, de acordo com o crescimento espiritual das criaturas. Quem mata, morre; o sistema de morte do nível da humanidade é doloroso, porque as criaturas vivem matando em todas as modalidades. A morte está sendo transformada e deverá alcançar um plano maior, transformando-se em vida, em esplendor de alegria e de paz em plena consciência. A impressão de sofrimento que a morte do corpo dá, é pela consciência culpada de muitos atos indignos.


LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e apreciando o tópico Pena de Morte, vamos estudar as questões de 760 a 762.
760. A pena de morte desaparecerá um dia da legislação humana?
“A pena de morte desaparecerá incontestavelmente e sua supressão assinalará um progresso da Humanidade. Quando os homens forem mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida da Terra. Os homens não terão mais necessidade de ser julgados pelos homens. Falo de uma época que ainda está muito longe de vós”.
A pena de morte é um ato inferior entre a humanidade; quando os povos se tornarem mais mansos, mais compreensivos, mais humanos, quando a sociedade entender a missão de Jesus e passar a viver Seus preceitos, certamente que tanto a pena de morte, como outras leis que se afinizam com ela, desaparecerão da face da Terra. Para isso, deverão mudar tanto os homens que fazem as leis, como os fora da lei, porque não adianta modificar as leis da Terra, fazendo-as para anjos, se os que devem respeitá-las são demônios.
Comentário de Kardec: O progresso social ainda deixa muito a desejar, mas seríamos injustos para com a sociedade moderna se não víssemos um progresso nas restrições impostas á pena de morte entre os povos mais adiantados, e à natureza dos crimes aos quais se limita a sua aplicação. Se compararmos as garantias de que ajusta se esforça para cercar hoje o acusado, a humanidade com que o trata, mesmo quando reconhecidamente culpado, com o que se praticava em tempos que não vão muito longe, não poderemos deixar de reconhecer a via progressiva pela qual a Humanidade avança.
761. A lei de conservação dá ao homem o direito de preservar a sua própria vida; não aplica ele esse direito quando elimina da sociedade um membro perigoso?
“Há outros meios de se preservar do perigo, sem matar. É necessário, aliás, abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento”.
Ninguém tem o direito de tirar a vida física do seu semelhante. Se ele é um marginal, como se diz, é bem melhor que se ajude a educá-lo. Por que julgar, se igualmente já passamos por esses caminhos? O preço do despertamento espiritual das criaturas é bastante caro, os caminhos são longos e estreitos. A lei da conservação já.se expressa no seu contexto: conservar não é tirar a vida, seja sua ou do seu irmão. A justiça, não 'deve ser feita com as próprias mãos. Deus sabe como corrigir Seus filhos.
762. Se a pena de morte pode ser banida das sociedades civilizadas, não foi uma necessidade em tempos menos adiantados?
“Necessidade não é o termo. O homem sempre julga uma coisa necessária quando não encontra nada melhor. Mas, à medida que se esclarece, vai compreendendo melhor o que é justo ou injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em nome da justiça”.

O homem somente institui leis melhores para a sociedade a que pertence, quando alcança melhores níveis morais. Antes disso, tem empanada a sua mente, de maneira que ele não vê, nem sente indução para tal melhoramento. Quem não é aprovado em um curso, não pode passar para outro, e as reencarnações são cursos e meios de despertar as almas para uma realidade maior. Compete ao tempo, devagarinho, ir modificando as criaturas, para depois essas mesmas criaturas começarem a entender que elas próprias devem se esforçar para conquistar lugares melhores nas linhas da vida.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e apreciando o tópico Duelo, vamos estudar as questões de 757 a 759-a.
757. O duelo pode ser considerado como um caso de legítima defesa?
“Não; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Numa civilização mais avançada e mais moral, homem compreenderá que o duelo é tão ridículo quanto os combates de antigamente encarados como o juízo de Deus”.
O homem demonstra ter compreendido mal a questão da legítima defesa, ao entender que deve ser praticada com as próprias mãos. Deus, ao criar tudo que existe, não se esqueceu de estabelecer por leis maiores a defesa contra as investidas da maldade. As defesas são naturais; a própria lei da justiça se encarrega de defender o justo. Se se defende de um ataque com a mesma gana de matar do ofensor, compara-se com ele e pode, dessa forma, tornar-se um assassino, piorando a sua situação como irmão dos que atacam. Matar é um costume digno dos bárbaros, daqueles que ainda desconhecem que só quem deu a vida pode tirá-la. O duelo, bem sabe o espiritualista, é contrário à lei.
758. O duelo pode ser considerado como um assassínio por parte daquele que, conhecendo sua própria fraqueza, está quase certo de sucumbir?
“E um suicídio”.
Em tempos idos, um dos duelistas ia para a luta sabendo que era mais fraco, mas ia pela honra, certo de que deveria morrer. Essas as falsas crenças, filosofias monstruosas, que devoram os meios de educar e de servir a Deus na grande casa, onde a fraternidade vigora em busca da paz de consciência.
758–a. E quando as probabilidades são iguais,  é um assassínio ou um suicídio?
“E um e outro”.
O duelo é um assassínio premeditado; é a velha história de "limpar a honra". O duelo tanto poderia ser considerado como assassínio, como suicídio, porque sempre um sucumbia por simples momento de orgulho e vaidade.
Comentário de Kardec: Em todos os casos, mesmo naqueles em que as possibilidades são iguais, o duelista é culpável porque atenta friamente e com propósito deliberado contra a vida de seu semelhante; em segundo lugar, porque expõe a sua própria vida inutilmente e sem proveito para ninguém.
759. Qual o valor do que se chama o ponto de honra em matéria de duelo?
“O do orgulho e da vaidade, duas chagas da Humanidade”.
O chamado ponto de honra é ponto de ignorância. Em muitos países havia o duelo, quase como uma lei, quando se poderia defender os agravos sofridos. No entanto, as leis de Deus, por intermédio dos Seus filhos maiores, nunca ensinaram essas extravagâncias, somente nos mostrando a justiça, a fraternidade e a ajuda mútua, mostrando, igualmente, o valor da oração.
759–a. Mas não há casos em que a honra está verdadeiramente empenhada e a recusa seria uma covardia?
“Isso depende dos costumes e dos usos. Cada país e cada século têm a respeito uma maneira diferente de ver. Quando os homens forem melhores e moralmente mais adiantados, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando ou se fazendo matar que se repara uma falta”.
Perde-se tempo imensurável alimentando a própria vaidade, e o que é pior, gasta-se tempo em coisas transitórias, sem nenhum valor para a alma. Pobres coitados, que não sabem o que fazem! Eles estão à espera do tempo, para as devidas transformações dos valores do Espírito. E para encontrá-los, somente Jesus os pode guiar, pois Ele é o Doador Divino, na faixa humana, para que a luz da vida, cada vez mais, se faça como luz de Deus no coração da Terra e dos homens.

Comentário de Kardec: Há mais grandeza e verdadeira honra em se reconhecer culpado, quando se erra, ou em perdoar, quando se tem razão; e em todos os casos, em não se dar  importância aos insultos que não podem atingir-nos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e finalizando o tópico Crueldade, vamos estudar as questões de 755 e 756.
755. Como se explica que nas civilizações mais adiantadas existam criaturas às vezes tão cruéis como os selvagens?
“Da mesma maneira que numa árvore carregada de bons frutos existem os temporãos. Elas são, se quiseres, selvagens que só têm da civilização a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Os Espíritos de uma ordem inferior, muito atrasados, podem encarnar-se entre homens adiantados com a esperança de também se adiantarem; mas, se a prova for muito pesada a natureza primitiva reage”.
Sempre encontramos seres cruéis no meio de povos civilizados. Isso ocorre pela bondade de Deus, permitindo que Espíritos primitivos reencarnem no meio de outros elevados, para aprenderem com os bons. Entretanto, a prova passa a ser para eles um peso a mais, por não suportarem uma vida mais pura, em comparação à sua, e deixam predominar o mal. Mas, como nada se perde, as lições do bem que receberam com a convivência, lhes ficam na consciência como marca de luz, que algum dia acenderá para a sua paz.
756. A sociedade dos homens de bem será um dia expurgada dos malfeitores?
“A Humanidade progride. Esses homens dominados pelo instinto do mal, que se encontram deslocados entre os homens de bem, desaparecerão pouco a pouco como o mau grão é separado do bom quando joeirado Mas renascerão em outro invólucro. Então, com mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Tens um exemplo nas plantas e nos animais que o homem aprendeu como aperfeiçoar, desenvolvendo-lhes qualidades novas. Pois bem, é só depois de muitas gerações que o aperfeiçoamento se torna completo. Essa e a imagem das diversas existências do homem”.

A humanidade progride constantemente. Se dizem que os Espíritos maus nascem no meio da sociedade, para dos bons receberem exemplos dignificantes, também é afirmado que onde haja muito endurecimento eles são retirados para lugares com que mais se afinam por sentimentos. É qual a lentilha endurecida: as outras cedem ao cozimento, mas, ela permanece sem o devido amolecimento. Então, é retirada e lançada ao monturo, para que ali seja transformada de acordo com a ação da natureza.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e iniciando o tópico Crueldade, vamos estudar as questões de 752 a 754.
752. Podemos ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?
“É o próprio instinto de destruição no que ele tem de pior, porque, se a destruição é às vezes necessária, a crueldade jamais o é. Ela é sempre a consequência de uma natureza má”.
A crueldade é o instinto de destruição na sua mais baixa vibração. Ela domina pela força da ignorância e a sua origem está onde não se despertaram os talentos colocados no coração por Deus, em todas as criaturas. Podemos e devemos separar o instinto de destruição da crueldade, que nasce à parte nos sentimentos, sem disciplina, que desconhecem o amor. Aconselhamos aos companheiros já dotados de certa compreensão, capazes de discernir o bem do mal, que analisem seus atos e façam calar a maldade se, porventura, ela os tentar dominar, apagando no peito onde vibra a mola da vida física, a caridade, a fraternidade, o carinho e o trabalho no bem.
753. Por que motivo a crueldade é o caráter dominante dos povos primitivos?
“Entre os povos primitivos, como os chamas, a matéria sobrepuja o espírito. Eles se entregam aos instintos animais e como não têm outras necessidades além das corpóreas cuidam apenas da sua conservação pessoal. É isso que geralmente os torna cruéis. Além disso, os povos de desenvolvimento imperfeito estão sob o domínio de Espíritos igualmente imperfeitos que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou arrefecer essa influência”.
A atrocidade está mais ligada aos povos primitivos, porque de certa forma a civilização começa a educar os homens em muitos aspectos. O progresso vem de Deus, e nele o Senhor faz vibrar algo mais de amor, de modo que no avançar dos povos eles deverão encontrar a necessidade de viver bem com os seus irmãos em caminho. Nos povos primitivos, a matéria é mais bruta, e o Espírito, estando nas primeiras vivências na Terra, ainda não se capacitou no seu domínio. Ele vive sob a égide dos instintos. O tempo é que lhe dará a força para amaciar, se esse for o termo, as próprias faculdades inerentes à matéria. Se o Espírito precisa da matéria para crescer, para despertar seus valores, a matéria, igualmente, precisa do Espírito para se intelectualizar, enfim, para despertar no aglomerado de energias os dons que Deus lhe deu, igualmente.
754. A crueldade não decorre da falta de senso moral?
“Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente; porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não se abriu”.
A crueldade não é praticada por carência do senso moral, pois ele existe como germe divino na intimidade d'alma. São os talentos descritos pelo Evangelho de Jesus, são os valores da vida depositados por Deus no coração humano e espiritual, que obedecem ao progresso. O tempo dotá-lo-á de força para o seu despertamento passo a passo. Não há carência das coisas divinas, pelo contrário, elas existem em abundância em tudo o que Deus fez. É bom que compreendamos a necessidade de despertarmos cada vez mais para a luz do entendimento, em todos os aspectos do viver. O senso moral nos homens primitivos se encontra dormindo ou dominado pela ferocidade; quando ela enfraquecer, o dom divino começará a se aflorar no coração como flor de luz, exalando o perfume da paz e do amor. Quem dorme, não participa do que se processa em torno de si, no entanto, quem acorda passa a viver e interferir no que observa.

Comentário de Kardec: Todas as faculdades existem no homem em estado rudimentar ou latente e se desenvolvem segundo as circunstâncias mais ou menos favoráveis. O desenvolvimento excessivo de umas impede ou neutraliza o de outras. A superexcitação dos instintos materiais asfixia, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento deste arrefece pouco a pouco as faculdades puramente animais.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e iniciando o tópico Assassínio, vamos estudar as questões de 746 a 751.
746. O assassínio é um crime aos olhos de Deus?
“Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida de um semelhante  interrompe uma vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal”.      
Neste caso, julgar só quem matou, será justiça? Se quem morreu não tivesse culpa, onde estaria a lei que regula a preciosidade que se chama vida? Quem não deve, não pode temer e nem sofrer as consequências da maldade humana. No caso, por exemplo, de um missionário que perde a vida física por maldade dos que têm ciúme da sua tarefa, onde estaria a justiça de Deus? No caso de Ghandi, onde estaria a justiça que vibra no mundo, garantindo a paz dos justos? Ele tinha alguma dívida do passado, e quem o matou serviu de instrumento de escândalo, e também sofre por sua ignorância.  
747. Há sempre no assassínio o mesmo grau de culpabilidade?
“Já o dissemos: Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato”.
O grau de culpabilidade varia na pauta dos acontecimentos na Terra e mesmo no mundo dos Espíritos. O Espírito desencarnado não deixa de praticar faltas; isso se dá conforme a elevação do mesmo. No que toca ao assassínio, igualmente a falta é de acordo com o fato. Deus julga mais pela intenção. No assassínio premeditado, onde os maus sentimentos predominam, seu autor será castigado pela intensidade desses sentimentos, o que aumenta ou diminui o peso da cruz de expiações. É a justiça em pleno apreço na mente dos que comandam a vida, em nome de Deus.
748. Deus escusa o assassínio em caso de legítima defesa?
“Só a necessidade o pode acusar; mas, se pudermos preservar a nossa vida sem atentar contra a do agressor, é o que devemos fazer”.
Não devemos confundir a lei de Deus com as leis dos homens, pois na lei de Deus não existe legítima defesa. Isso é recurso dos homens para atenuarem os seus crimes. Eles mesmos, os criadores das leis, de tanto mal que fazem à coletividade, ficam procurando um preventivo para as suas faltas. Não há razão nenhuma para que se possa tirar a vida de outrem. Mesmo ameaçado pelos criminosos, existem muitos meios de defesa. Se desejamos saber se a legítima defesa tem o assentimento de Deus, por que não perguntar o que deve ser feito nesses casos? E a meditação nos responderá: mudança de vida, transformação íntima.
749. O homem é culpável pelos assassínios que comete na guerra?
“Não, quando é constrangido pela força; mas é responsável pelas crueldades que comete. Assim, também o seu sentimento de humanidade será levado em conta”.
Os que vão para a guerra sentindo prazer em matar se encontram na faixa dos belicosos. Todos os homens procuram defender com paixão desequilibrada sua nação dos invasores ou invadem outros países com ódio incontido: são os chamados pelas trevas e escolhidos pelos seus sentimentos inferiores, na ordem das matanças. Os soldados que se encontram no "front", podem ser influenciados pelo meio ambiente, respirando o mesmo clima de violência e, ao ouvir a voz do comando, acabam se tornando assassinos diante de Deus, pela fúria desmedida. Mesmo sendo a guerra um meio de acordá-los para a verdade, todos respondem, assim mesmo, pelos seus feitos contrários à lei de amor. Contudo, nem todos pagam o tributo dos seus feitos com a mesma intensidade, pois levam-se em conta os seus sentimentos. Como existem muitos que foram às guerras, e não mataram, há muitos que ficaram resguardados e não compareceram às frentes, por não terem idade para tais eventos, mas que cooperaram para influenciar os matadores, os violentos e sanguinários pelos seus pensamentos, pelas suas naturezas internas. Assim, não são somente os que matam, no calor do combate que são culpados.
750. Qual é o mais culpável aos olhos de Deus, o parricídio ou o infanticídio?
“Um e outro o são igualmente, porque todo o crime é crime”.
São dois crimes, aos olhos de Deus, que têm suas devidas penalidades, ainda mais de conformidade com as intenções, no entanto, todo crime é crime, e quem mata responde pelo fato irracional. A lei de Deus manda amar aos seus pais e respeitá-los, ajudando nas suas devidas necessidades. Então, o filho que mata seus pais ou ascendentes é um criminoso que deverá responder duramente por essa violência e falta de respeito às criaturas que serviram de instrumento para a sua vinda ao mundo material. O infanticida, aquele que mata uma criança, age abaixo de um animal, que sempre defende a vida dos seus filhotes. O ser humano deve defender a vida dos seus filhos e das crianças em geral. Como matar uma criança, se esta não tem condições de ofender a quem quer que seja? O adulto que pratica o infanticídio será, certamente, cobrado pela natureza, por seu ato selvagem. Se o infanticida agir sob a influência de obsessores, também estes estarão incursos nas leis da justiça.
751. Por que entre certos povos, já adiantados do ponto de vista intelectual, o infanticídio é um costume e consagrado pela legislação?
“O desenvolvimento intelectual não acarreta a necessidade do bem; o Espírito de inteligência superior pode ser mau; é aquele que muito viveu sem se melhorar: ele o sabe”.

Nos dias atuais, o infanticídio é permitido por lei, entre alguns povos intelectualmente desenvolvidos, sob o nome de aborto legal. É a crueldade exteriorizada pela alma presa em sentimentos inferiores, dominada pelas paixões brutais, com grande experiência nas trevas. É o progresso intelectual defasado do progresso moral que alarga as possibilidades de criações voltadas para o mal. Em tempos idos, crianças eram sacrificadas aos deuses pagãos, por influência de falanges das trevas, que se utilizavam de homens distanciados do amor.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, e encerrando o tópico Guerras, vamos estudar as questões de 744 a 745.
744. Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária?
“A liberdade e o progresso”
Desde quando não pode o homem evitar as guerras, elas são transformadas em instrumentos de liberdade e progresso, porque a lei nos fala muito claramente que nada se perde, tudo se transforma no melhor. Os homens deixam passar despercebidos os caminhos do amor, de maneira que passam a surgir os roteiros da dor que, pelo sofrimento, os faz entender a mensagem de regeneração espiritual.
744–a. Se a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade, como se explica que ela tenha geralmente por fim e por resultado a escravização?
“Escravização momentânea para sovar os povos, a fim de fazê-los  andar mais depressa”.
Como podemos notar, o flagelo da escravidão é um dos movimentos que liberta a alma, fazendo-a esquecer o orgulho e o egoísmo. Rolam existências e mais existências como servidores comuns de senhores perversos, para que nasça no coração a humildade e a obediência. Quando os seres humanos não obedecem às advertências espirituais para a educação pelo amor, a disciplina vem por processos rudes. As guerras, nesses casos, são instrumentos violentos para acordar as almas endurecidas. O Espírito não deve dormir no que se refere à reforma interna, para não cair nas armadilhas das trevas.
745. Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?
“Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de que foi causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para satisfazer a sua ambição”.

Os países que suscitam guerras para proveito próprio são os grandes culpados, e responderão pelos desastres que provocarem, dos flagelos que torturam os povos. Dizia Jesus: "É necessário o escândalo, mas ai daquele que provocar o escândalo." A ambição, quase sempre, é o motivo dos países famintos por dinheiro e bens materiais. Os que perdem a guerra, além da derrota e muitas perdas, ainda são surrupiados pelos vencedores, sofrendo espoliações de todos os tipos. Por simples conveniência, os opressores acham que devem fazer justiça pelas próprias mãos com os seus semelhantes, os quais já sofrem muitas necessidades. Jesus, há quase dois mil anos, já preveniu aos intérpretes da lei de Deus o que poderia ocorrer com eles.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, vamos iniciar o tópico Guerras, com as questões de 742 a 743.
742. Qual a causa que leva o homem à guerra?
“Predominância da natureza animal sobre a espiritual e a satisfação  das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito do mais forte, e é por isso que a guerra, para eles, é um estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque ele evita as suas causas e, quando ela se faz necessária, ele sabe adicionar-lhe humanidade”
Observemos que as guerras são filhas do primitivismo; os homens primitivos viviam em guerra constante com os outros. A fonte de onde emanam as ideias de guerras é a predominância da natureza animal sobre a espiritual. É a ignorância do ser humano, que ainda desconhece as leis do Criador. Os povos belicosos são os mais atrasados espiritualmente; eles desconhecem a fraternidade, que faz ligar todos os povos uns amparando os outros, pelos fios do amor, em nome da caridade. À medida que os homens progridem espiritualmente, as guerras e tudo que provém delas como sofrimento, vão desaparecendo como por encanto. E as bênçãos de Deus, pelos canais de Jesus, ficarão mais visíveis para a nossa paz.
743. A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então todos os povos serão irmãos”.

As guerras desaparecerão certamente da face da Terra, quando os homens nela estagiados compreenderem o amor e passarem a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Esse dia deve chegar pelo somatório de todos os esforços das almas de boa vontade. é o mar de virtudes que está surgindo gota a gota e a esperança nos faz sentir a sua realidade. Devemos anotar um trecho nos Prolegômenos, que diz: A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos que tiverem em vista o grande princípio de Jesus, se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro. Quando os homens chegarem a esse tempo, não existirão mais guerras, nem discórdia entre os povos. A força que deverá unir todos os povos é a força do Amor. É nesse empenho que se encontra a Doutrina dos Espíritos, mostrando a todos os povos, de todas as nações do mundo, que somente o Cristo de Deus tem condições de ajudar a estabelecer a paz no mundo, porque as formas, que são inúmeras, dos seres humanos se modificarem e reencontrarem o paraíso perdido, estão dentro de cada um. Quem ainda não encontrou o céu dentro de si, que o procure, pois ele não se encontra em outro lugar.
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LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, vamos encerrar o tópico Flagelos destruidores, com as questões de 739 a 741.
739. Esses flagelos destruidores têm utilidade do ponto de vista físico, malgrado os males que ocasionam?
“Sim, eles modificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta só é geralmente sentido pelas gerações futuras”.
Ainda se tratando dos flagelos, é bom considerar que aparentemente são desastres, mas, sua utilidade se estende em muitas direções, entretanto, somente as gerações futuras poderão falar da sua utilidade. Todas as catástrofes, se bem estudadas, põem termo a certos desregramentos morais, abrindo novas perspectivas para as futuras gerações, alinhando caminhos onde verdadeiramente se justificam, sem que a consciência acuse nossos fatos. Podemos citar como exemplo a Big Island, maior ilha do Havaí que está em constante fase de ampliação. Ela tem aumentado de território graças a um vulcão que está ativo desde 1983, o Kilauea. Daquele ano até hoje, a lava que ele despeja no mar fez a ilha crescer 3 milhões de metros quadrados. Sua lava se espalha a temperatura de 900 graus Celsius, engolindo tudo o que encontra pela frente. O interessante é que, de dentro da lava, lógico, depois do resfriamento surgem plantas, renovando a Natureza.
740. Os flagelos não seriam igualmente provas morais para o homem, pondo-o às voltas com necessidades mais duras?
“Os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo”.
Os flagelos comumente são provas morais, porque diante dessas provações as criaturas estendem as suas conquistas, de modo a conhecerem a si mesmas, bem como passam a reconhecer o poder de Deus. Os grandes acontecimentos na Terra são para despertar as almas aos conhecimentos das leis de Deus. “No entanto, o que chamamos de flagelos morais e sociais são pequenas lutas, em se comparando com as lutas internas que devem ser travadas pelos homens, cada um com a sua guerra particular.” Essas são as maiores e mais difíceis de serem vencidas. É a vitória sobre si mesmo.
741. E dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem?
“Sim, em parte, mas não como geralmente se pensa. Muitos flagelos são as consequências de sua própria imprevidência. Á medida que ele adquire conhecimentos e experiências, pode conjurá-los, quer dizer, preveni-los, se souber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos desígnios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente agravados pela indolência do homem”.
Há dois tipos de flagelos que assolam a humanidade: os primeiros podem ser atenuados pela inteligência humana, desde que essa se preocupe com o bem-estar coletivo. Hoje em dia são evitados muitos flagelos, como as pestes e a fome, graças aos meios de comunicação, que ajudam em certo conforto, e mesmo amparo nas necessidades. No entanto, existem os segundos, que são carmas coletivos da humanidade, ou mesmo de certos países. Esses, os homens devem melhor entender e suportar com paciência, pois são meios, digamos processos, de despertamento das almas em caminho para a luz. A inteligência do ser humano deve ser posta em atividade, porque ela nos foi dada para a nossa paz espiritual, abrindo assim caminho para a felicidade de todos os povos.
Comentário de Kardec: Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra. Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres? Algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando, ao cuidado da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira caridade para com os semelhantes? (Ver item 707.)

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LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, vamos iniciar o tópico Flagelos destruidores, nas questões de 737 a 738-b.
737. Com que fim Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores?
“Para fazê-la avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? E necessário ver o fim para apreciaras resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são frequentemente necessários para fazer com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos”. (Ver item 744.)
A natureza responde quando ferida pela ignorância humana ou por interesses pessoais. Deus fere a humanidade de vez em quando para despertá-la. A iluminação espiritual, em certa faixa evolutiva, requer a violência de que a história nos dá notícias. Podemos mencionar algumas, como Sodoma e Gomorra, Herculano e Pompéia, Nagasaki e Hiroshima, não falando do dilúvio parcial que houve há muitos milênios atrás. Muitas foram, ainda, as guerras, pestes e fome que abalaram a humanidade. São meios usados para acordar as almas que não desejam despertar para a luz de Deus.
738. Deus não poderia empregar, para melhorar a Humanidade, outros meios que não os flagelos destruidores?
“Sim, e diariamente os emprega, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. E o homem que não os aproveita; então, é necessário castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir a própria fraqueza”.
A necessidade da destruição se evidencia porque a humanidade fecha os ouvidos aos avisos do Evangelho, e antes deste, dos avisos dos profetas. O ser humano somente acorda com violência, por ter dentro de si a violência. As convulsões operadas em toda a Terra têm o objetivo de fazer os povos compreenderem a existência de Deus e das Suas leis, da grandeza do amor e da necessidade de o homem conhecer a si mesmo.
738–a. Nesses flagelos, porém, o homem de bem sucumbe como os perversos; isso é justo?
“Durante a vida, o homem relaciona tudo a seu corpo, mas, após a  morte, pensa de outra maneira. Como já dissemos, a vida do corpo é um quase nada; um século de vosso mundo é um relâmpago na Eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias, nada são. Apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os Espíritos que preexistem e sobrevivem a tudo, eis o mundo real. (Ver item 85.) São eles os filhos de Deus e o objeto de sua solicitude. Os corpos não são mais que disfarces sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os homens, eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os soldados do que com as vestes”.
Muitas vezes, ficamos preocupados, querendo que as destruições atinjam somente os ignorantes, os malvados, os causadores de guerra, mas não nos preocupamos em melhorar os pensamentos, no que se refere à pureza espiritual. Não fazemos o mal, mas pensamos no mal, e desta forma, ele se encontra no nosso caminho. Se passamos pela Terra, vestindo um corpo físico, é porque temos dividas no cartório onde há promissórias assinadas de muita gente que se encontra bem posta na Terra, aparentemente iluminada, mas que ainda não as saldou. Os arquivos da vida não dão traça, não queimam e nunca são destruídos. Somente saldando o que se deve é que a dívida se faz esquecida pela consciência.
738–b. Mas as vítimas desses flagelos, apesar disso, não são vítimas?
“Se considerássemos a vida no que ela é, e quanto é insignificante em relação ao infinito, menos importância lhe daríamos. Essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem lamentar”.
Deus, pela Sua bondade, nos mostra muitos meios de progresso, mas nós nos fazemos surdos e cegos. Eis porque Ele usa correções drásticas para nos acordar e nos fazer compreender os nossos deveres ante a Vida Maior. Se algum justo perece nas catástrofes, sendo levado pelos flagelos, ele, no mundo espiritual, é compensado e também não sofre tanto como se pensa, porque é justo e nada teme. O que ele conquistou é seu patrimônio que o acompanha onde quer que seja. Os escandalosos, os revoltados, os que usaram para o mal as possibilidades que Deus lhes deu para fazerem o bem, a estes o mal, agora ou depois, aparece em seus caminhos. Isto não é justiça?

Comentário de Kardec: Quer a morte se verifique por um flagelo ou por uma causa ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida: a única diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao mesmo tempo. Se pudéssemos elevar-nos pelo pensamento de maneira a abranger toda a Humanidade numa visão única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras no destino do mundo.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Dando sequência ao Capítulo VI, vamos encerrar o tópico Destruição necessária e Destruição abusiva, nas questões de 731 a 736.
731. Por que, ao lado dos meios de conservação, a Natureza colocou ao mesmo tempo os agentes destruidores?
“O remédio ao lado do mal; já o dissemos, para manter o equilíbrio e servir de contrapeso”.
A destruição é necessária em todos os rumos da criação de Deus. Ao lado da destruição, Deus colocou o instinto de conservação para manter o equilíbrio. Os agentes naturais de todas as transformações fazem com que tudo se eleve. Desde a matéria primitiva até os Espíritos, mesmo os mais iluminados, tudo muda, tudo se transforma para melhor em todas as direções da vida. Pela análise que o raciocínio nos faculta fazer, ela nos dá o benfeitor entendimento das mudanças. O que chamamos mal e bem são forças em diferentes rumos, todavia, nascidas com o mesmo objetivo.
732. A necessidade de destruição é a mesma em todos os mundos?
“É proporcional ao estado mais ou menos material dos mundos e desaparece num estado físico e moral mais apurado. Nos mundos mais avançados que o vosso, as condições de existência são muito diferentes”.
As leis espirituais são idênticas em todos os mundos, no entanto, as suas expressões são modificáveis em todos eles, de acordo com a escala a que pertencem. Essa é a lei de justiça.
733. A necessidade de destruição existirá sempre entre os homens na Terra?
“A necessidade de destruição diminui entre os homens à medida que o Espírito supera a matéria; é por isso que ao horror da destruição vedes seguir-se o desenvolvimento intelectual e moral”.
Entre os homens da Terra há, por enquanto, necessidade de destruição violenta, porque eles ainda continuam com a dureza dos corações e, nessa situação, somente a destruição violenta pode acordá-los. Essa necessidade se enfraquece à medida que o Espírito desperta para o amor. É nessa direção espiritual que o Mestre nos comanda a todos, nos educando e instruindo na suavidade do Seu amor.
734. No seu estado atual, o homem tem direito ilimitado de destruição sobre os animais?
“Esse direito é regulado pela necessidade de prover à sua alimentação e à sua segurança; o abuso jamais foi um direito”.
O homem não tem direito ilimitado sobre os animais; esse direito é regulado pelas suas necessidades de se alimentar, e os animais, com esse direito limitado, passam igualmente por processos de despertamento espiritual, pois para tanto foram criados. Não podemos destruir nada, em reino algum, que não seja por necessidade.
735. Que pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança; da caça, por exemplo, quando não tem por objetivo senão o prazer de destruir, sem utilidade?
“Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais não destroem mais do que necessitam, mas o homem, que tem o livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois nesses casos ele cede aos maus instintos”.
Aquele que destrói sem utilidade está assumindo compromissos, de maneira a comprometer seu próprio futuro. A reencarnação ser-lhe-á instrumento que o fará sofrer as consequências do que fez de mal. Não obstante, a bondade de Deus é tão grande, que ainda assim provê suas necessidades nos caminhos que trilharam, dando-lhes forças para o resgate dos seus deslizes. Todas as destruições que ultrapassam os limites da lei são violação da natureza. Tudo foi posto no mundo de modo ao homem obedecer às regras, respeitando a harmonia.
736. Os povos que levam ao excesso o escrúpulo no tocante à destruição dos animais têm mérito especial?
“É um excesso, num sentimento que em si mesmo é louvável, mas que se torna abusivo e cujo mérito acaba neutralizado por abusos de toda espécie Eles têm mais temor supersticioso do que verdadeira bondade”.

O excesso de escrúpulos na matança de animais, como os judeus em relação aos porcos, ou os indianos em relação às vacas, nos leva a concluir que a humanidade precisa estudar todos os animais, de todas as espécies, procurar saber sua utilidade onde eles foram chamados a servir, e ajudá-los, pois, sendo o homem o mais inteligente, por que destruir? Se ele destruir os reinos que o cercam, estará destruindo a si mesmo.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo VI – Da Lei de Destruição.
Iniciando o Capítulo VI, vamos estudar o tópico Destruição necessária e Destruição abusiva, nas questões de 728 a 730.
728. A destruição é uma lei da Natureza?
“E necessário que tudo se destrua para renascer e se regenerar porque  isso a que chamais destruição não é mais que transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos”.
O que chamamos de destruição são processos que Deus usa sob a forma de progresso para tudo que existe. Nada no mundo se faz sem a permissão de Deus, e Ele somente permite o que é necessário para o progresso dos seres viventes. Se assim não fora, sendo o Senhor a Inteligência Suprema, não iria Ele permitir que as coisas e os seres fossem destruídos. Podemos dar como exemplo a poda da copa de uma árvore. No início, ela fica feia; depois, fica frondosa e bonita.
728–a. O instinto de destruição teria sido dado aos seres vivos com fins providenciais?
“As criaturas de Deus são os instrumentos de que ele se serve para atingir os seus fins. Para se nutrirem, os seres vivos se destroem entre si e isso com o duplo objetivo de manter o equilíbrio da reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e de utilizar os restos do invólucro exterior. Mas é apenas o invólucro que é destruído e esse não é mais que acessório, não a parte essencial do ser pensante, pois este é o princípio inteligente indestrutível que se elabora através das diferentes metamorfoses por que passa”.
Por que os seres vivos se destroem reciprocamente? Há uma finalidade, e quem sabe mais do que nós todos reunidos, é Deus, que nos criou para passarmos por esses caminhos. Tudo deve se transformar; as mudanças são constantes no palco da vida.
729. Se a destruição é necessária para a regeneração dos seres, por que a Natureza os cerca de meios de preservação e conservação?
“Para evitar a destruição antes do tempo necessário. Toda destruição antecipada entrava o desenvolvimento do principio inteligente. Foi por isso que Deus deu a cada ser a necessidade de viver e de se reproduzir”.
Destruição é sinônimo de renovação, no entanto, não queiramos destruir para apressar a renovação. Esse ato, não cabe ao dono do corpo fazê-lo, mas somente a Deus, Criador e Senhor de todas as coisas. Em todos os reinos existe a destruição, imprimindo na vida uma renovação mais elevada. Cabe observar, igualmente, que somente a autodestruição não leva ao esclarecimento, porque a renovação pela morte pertence a Deus, que deu a vida física e pode tirá-la quando lhe aprouver. Tomemos como exemplo a fábula do casulo e da borboleta. O homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou  uma tesoura e cortou o restante do casulo.  A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.
730. Desde que a morte deve conduzir-nos a uma vida melhor, e que nos livra dos males deste mundo, sendo mais de se desejar do que de se temer, por que o homem tem por ela um horror instintivo que a torna motivo de apreensão?
“Já o dissemos. O homem deve procurar prolongar a sua vida para cumprir a sua tarefa. Foi por isso que Deus lhe deu o instinto de conservação e esse instinto o sustenta nas suas provas; sem isso, muito frequentemente ele se entregaria ao desânimo. A voz secreta que o faz repelir a morte lhe diz que ainda pode fazer alguma coisa pelo seu adiantamento. Quando um perigo o ameaça, ela o adverte de que deve aproveitar o tempo que Deus lhe concede, mas o ingrato rende geralmente graças à sua estrela, em lugar do Criador”.

O medo da morte, comum aos homens, é uma proteção para que eles não venham a sair da Terra antes do tempo, onde alguns deles poderiam, com desespero, fugir ao instinto de conservação, acabando por se autodestruir. Esse procedimento podem lhes custar muito caro, em reparos dolorosos, tanto no mundo dos Espíritos, quanto mesmo na volta à Terra em novas vestes, com a marca que usaram para dela sair.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Encerrando o Capítulo V e o tópico Privações voluntárias. Mortificações, vamos estudar as questões de 724 a 727.
724. A abstenção de alimentos animais, ou outros, como expiação é meritória?                                                             
“Sim, se o homem se priva em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparência são hipócritas”. (Ver item 720.)
Toda abstenção que visa ao benefício coletivo é meritória ante a grandeza espiritual da vida, por significar amor. Mas, quando a abstenção de qualquer coisa somente visa à vaidade, com a intenção de que os homens vejam e aplaudam, é falta grave, por alimentar o orgulho e a satisfação interior com ilusões passageiras.
725. Que pensar das mutilações praticadas no corpo do homem ou dos animais?
“A que vem semelhante pergunta? Perguntai sempre se uma coisa é útil. O que é inútil não pode ser agradável a Deus e o que é prejudicial lhe é sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam a alma para ele, e é praticando as suas leis, em vez de violá-las, que podereis sacudir o jugo de vossa matéria terrena”.
Primeiro, temos que indagar: para que servem? As mutilações voluntárias que muitos buscam para se expressarem como evolução espiritual, é ilusão, principalmente para esta época em que estamos vivendo. Por exemplo, há pessoas que se fizeram castas, por pensar que a prática do sexo era inconveniente às coisas espirituais, e praticavam essa aberração contra si mesmas. Infligiam-se torturas extravagantes, buscando o esgotamento do carma individual, enquanto alguns se viam como exemplos edificantes para os outros, achando que estavam agradando a Deus. É preciso que todos, principalmente os espíritas, se conscientizem de que estamos em outra época, onde se encontra na Terra uma literatura volumosa sobre as leis de Deus, explicadas em Espírito e verdade, de modo a conscientizar as criaturas como proceder diante de todas as atividades, mesmo ante a religião da qual faz Parte. Mutilar o corpo para evolução da alma é demonstração de ignorância, no estágio em que se encontra a humanidade, principalmente o povo brasileiro, onde o Evangelho de Jesus Cristo se encontra em evidência. As mutilações dos animais são feitas pela força maior do comércio, já que castrados, eles engordam mais rápido; é ainda um processo de despertamento que começa, mesmo no raiar da razão.
726. Se os sofrimentos deste mundo nos elevam, conforme os suportamos, poderemos elevar-nos pelos que criarmos voluntariamente?
“Os únicos sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários não servem para nada, quando nada valem para o bem de outros. Crês que os que abreviam a vida através de rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de tantas seitas, avançam na sua senda? Por que não trabalham, antes em favor dos seus semelhantes? Que vistam o indigente, consolem o que chora trabalhem pelo que está enfermo, sofram privações para o alívio dos infelizes e então sua vida será útil e agradável a Deus. Quando, nos sofrimentos voluntários a que se sujeita, o homem não tem em vista senão a si mesmo trata-se de egoísmo; quando alguém sofre pelos outros, pratica a caridade; são esses os preceitos do Cristo”.
Todos os sofrimentos naturais representam oportunidade de elevação da alma, desde que os recebamos com paciência, sem que a revolta nos tome os sentimentos. Os sacrifícios impostos por vaidade e egoísmo, como que mostrando aos outros que estamos nos elevando espiritualmente, sem nenhum benefício para os que nos cercam, nada vale. Gastar esse tempo precioso buscando a dor com interesses apenas pessoais, é falta de conhecimento, que mais tarde se transforma em padecimentos difíceis de serem removidos.
727. Se não devemos criar para nós sofrimentos voluntários que não são  de nenhuma utilidade para os outros, devemos, no entanto, preservar-nos dos que prevemos ou dos que nos ameaçam?
“O instinto de conservação foi dado a todos os seres contra os perigos e os sofrimentos. Fustigai o vosso Espírito e não o vosso corpo, mortificai vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo que se assemelha a uma serpente a vos devorar o coração e fareis mais pelo vosso adiantamento do que por meio de rigores que não mais pertencem a este século”.

Mesmo os sofrimentos naturais que vêm ao encontro da alma devem ser cuidados para se amenizarem. Foi para tal que Deus nos dotou do instinto de conservação. Por que não usar a inteligência para o bem-estar? Esse é o trabalho em que o ser humano deve se empenhar com circunspeção, nunca perdendo a serenidade e vendo em tudo isso meios de elevação, compreendendo que se encontra em uma escola de luz, onde Jesus é o comandante dos nossos destinos, por vontade de Deus. Os sofrimentos voluntários criam em nossos caminhos espinhos que nos inquietam no futuro. Se já sabemos desta verdade, é bom que não caiamos em novas tentações. No passado distante, eram muito usados esses métodos de castigar o corpo para elevação da alma, porém compreendendo a Doutrina dos Espíritos, que é a mesma Doutrina de Jesus, não tem mais sentido mantermos esse erro que a ignorância sustentou por muito tempo. O homem precisa muito de saúde para trabalhar com mais alegria; se busca a doença, o que pode produzir? A busca de sofrimentos voluntários é uma decadência moral que desaparece com a chegada da nova geração, que desponta com outra modalidade de procedimento recém-trazida dos planos espirituais. O sofrimento que devemos impor à alma para a elevação moral, é o sacrifício que se pode fazer esquecendo ofensas, eliminando a vaidade, combatendo o orgulho e o egoísmo. Esse sacrifício é abençoado por Deus e cria na cidade da consciência um clima de luz que ilumina o céu do coração. Todavia, no que se refere ao corpo, deves cuidar dele com todo o amor, pois ele é instrumento da alma para a grandeza da vida. Os rigores que o homem infligia ao seu corpo por inspiração das sombras tornar-se-ão em distâncias imensuráveis que se estendem entre a consciência e a luz. Nós somos famintos do alimento da vida, e para nos saciarmos devemos buscar a fonte verdadeira que vem de Deus, e que é o Cristo.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos continuar estudando o tópico Privações voluntárias. Mortificações, apreciando as questões de 721 a 723.
721. A vida de mortificações no ascetismo tem sido praticada desde toda a Antiguidade e nos diferentes povos; é ela meritória sob algum ponto de vista?
“Perguntai a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se não serve senão ao que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã”.
Graças ao Espiritismo com Jesus, a humanidade já se encontra mais preparada para as mudanças de costumes, procurando conservar os corpos como vestes da alma, para viver mais e dessa forma ganhar mais mérito, ganhando a vida, no trabalho de ajudar aos outros a viver melhor. As mortificações não dão exemplo de nada, pelo menos nos tempos atuais.
722. A abstenção de certos alimentos, prescrita entre diversos povos, funda-se na razão?
“Tudo aquilo de que o homem se possa alimentar, sem prejuízo para a sua saúde, é permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma finalidade útil. E para dar maior crédito às suas leis apresentaram-nas como provindas de Deus”.
Muitos legisladores formaram certos preceitos, um dos quais é a abstenção de certos alimentos, deduzindo que quem deles se alimentasse passava a ter a mesma natureza do ingerido, assim como certos povos primitivos acreditavam que, devorando seu irmão guerreiro, herdavam a sua bravura. O tempo passa, e está passando a época de abstenção das coisas externas, vindo o homem a se fazer de esquecido do mundo interno, cheio de hábitos e vícios contrários às leis de Deus/0 homem pode alimentar-se de tudo que não o prejudique. Cada organismo é um mundo com as suas necessidades diferentes, de acordo com o despertamento da alma. Uma lei que obriga a todos indistintamente àquilo que o Espírito individual poderia selecionar, deve cair, pela força do progresso.
723. A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?
“Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização”.

Cabe ao homem, por lei, respeitar as exigências do próprio organismo, desde quando não entre no excesso, por já passar ao desperdício. Não se pode generalizar certos regimes; eles devem ficar á solta para as consciências escolherem se devem segui-lo. Vamos anotar o que Marcos ouviu de Jesus, registrado no capítulo sete, versículos dezoito e dezenove: Então lhes disse: Assim vós também, não entendeis? Não o compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre e sai para lugar escuso? E assim considerou Ele puro todos os alimentos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos estudar o tópico Privações voluntárias. Mortificações, apreciando as questões de 718 a 720-a.
718. A lei de conservação obriga-nos a prover as necessidades do corpo?
“Sim, pois sem a energia e a saúde o trabalho é impossível”.
O corpo físico tem as suas necessidades, oriundas da sua constituição, e o Espírito que se serve dele é obrigado a cuidar do que ele precisa. A ciência da Terra deve estudar o complexo humano para compreender suas mais simples necessidades, revelando à massa humana o que precisa para viver bem. O corpo precisa de força e saúde, para o trabalho e mesmo para a alegria. Existe um ditado certo nos meios camponeses, que diz assim: "A alegria vem das tripas". No momento da refeição, mesmo os mais carrancudos se alegram, quando têm fome, porque o alimento é abençoado e carrega consigo as energias para abastecer o corpo. Hoje, a medicina já nos diz: atividade física, alimentação balanceada, momentos contemplativos, como meditação, prece e introspecção, ou seja, fazer uma reflexão sobre o que ocorre no nosso íntimo.
719. O homem é censurável por procurar o bem-estar?
“O bem-estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do bem-estar, se este não for conquistado às expensas de alguém e se não enfraquecer as vossas forças morais nem as vossas forças físicas”.
É natural que todos procurem o seu bem estar, no entanto, deve-se perguntar se essa procura é honesta, sem que prejudique o seu irmão. Se o bem estar que se goza é fruto do trabalho honesto, verdadeiramente ele é certo e até meritório, capaz de mostrar aos outros em silêncio que o trabalho leva ao trabalhador o conforto, compensando os esforços. A fraude, a trapaça e a mentira, podem ser uma fonte de bens materiais, contudo, essa fonte é ilusória, levando a alma que a pratica a situações dolorosas, que não compensam. A própria consciência condena veementemente o que não é ganho com honestidade. Se o bem que fazemos não fica escondido, o mal muito menos. Tudo que fazemos é denunciado por nós mesmos.
720. As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?
“Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito”.
Se queremos sentir o mérito das nossas ações, busquemos crucificar nossas paixões, esquecer as ofensas recebidas e amar a todas as criaturas de Deus, amando a Deus em todas as coisas. Eis aí o mérito dos nossos esforços. A época das privações exteriores ficou no passado; no presente, dado ao despertamento do homem para mais além, convém notar as mudanças dos comportamentos para melhor.
720–a. Há privações voluntárias que sejam meritórias?
“Sim: a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que vos convida aos excessos e ao gozo das coisas inúteis; é retirar do necessário para dar aos que o não têm. Se a privação nada mais for que um fingimento, será apenas uma irrisão”.

Entendemos que não há mérito nessas extravagâncias de impor a si mesmos sofrimentos. Ao invés desses castigos, deveriam trabalhar para confortar os enfermos, animar os caídos e dar pão a quem tem fome; é muito meritório esse gesto de caridade.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos estudar o tópico Necessário e supérfluo, composto pelas questões de 715 a 717.
715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário?
“O sensato o conhece por intuição e muitos o conhecem à custa de suas próprias experiências”.
Conhecer os limites do necessário, abandonando o supérfluo, demanda tempo e espaço nos caminhos percorridos. O homem a quem falta experiência, como pode conhecer? O Espírito mais ignorante precisa de experiências aliadas com a boa vontade para deduzir o que deve ser feito e os limites do que lhe convém. Entretanto, o Espírito mais evoluído conhece seus limites por intuição; já guarda na consciência todos os direitos e deveres nos seus caminhos a percorrer.
716. A Natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria organização?
“Sim, mas o homem é insaciável. A Natureza traçou limites de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais”.
Diante da organização que Deus deu à humanidade pelos canais da natureza, Ele traçou os limites do que essa organização divina e humana precisaria para viver. O ser humano, incentivando os hábitos que se tornaram vícios, se perdeu nos labirintos dos erros, procurando satisfação de certos apetites grosseiros, tentando torcer as leis em que a natureza se expressa para manter a educação de todo ser vivente.
717. Que pensar dos que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário?
“Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que ocasionarem”.
Os homens que não respeitam as leis de Deus, no tocante à economia, irão respeitar pela força a justiça do Todo Poderoso. Eles convencer-se-ão de que a harmonia não pode faltar nos caminhos humanos e mesmo espirituais. Convém notar que Deus se encontra presente em todos os nossos passos, nos seguindo e ensinando, para que possamos nos libertar dos entraves com os quais a nossa ignorância tenta impedir a nossa subida. "O escândalo é necessário", disse Jesus, mas, acrescenta, "ai daqueles por quem se manifestar o escândalo".

Comentário de Kardec: O limite entre o necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que não existem no estado de selvageria, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não querem que o homem civilizado viva como selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão colocar cada coisa em seu lugar. A civilização desenvolve o senso moral e ao mesmo tempo o sentimento de caridade que leva os homens a se apoiarem mutuamente. Os que vivem à custa das privações alheias exploram os benefícios da civilização em proveito próprio; não têm de civilizados mais do que o verniz, como há pessoas que não possuem da religião mais do que a aparência.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos estudar o tópico Gozo dos bens terrenos, composto pelas questões de 711 a 714.
711. O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?                   
“Esse direito é a consequência da necessidade de viver. Deus não pode impor um dever sem conceder os meios de ser cumprido”.
Os bens da Terra são para os homens suprirem as suas necessidades. Deus, sendo todo Amor, não iria deixar Seus filhos sem os meios de se alimentarem, vestirem, ampliando cada vez mais seu conforto para maiores realizações. No entanto, deu às criaturas senso de responsabilidade, para discernirem até onde usar os bens terrenos.
712. Com que fim Deus fez atrativos os gozos dos bens materiais?
“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e também para o provar na tentação”.
Deus colocou na matéria atrativos para os homens, no sentido de ensinar-lhes a saber usá-los educando seus impulsos nas investidas dos instintos, como também, para que eles sentissem um pouco de bem-estar e passassem a gozar dos seus próprios esforços, no aperfeiçoamento das coisas em seu benefício. O objetivo dessa atração quase irresistível é para que o homem passe a educar, como já dissemos, as forças em luta dentro de cada criatura e daí surgirá a luz, sendo que o entendimento mostrar-lhe-á o caminho mais acertado para a sua paz de consciência. O homem, desenvolvendo a razão, busca outros planos para operar, passando a refugar todos os condicionamentos do passado, buscando respirar uma atmosfera mais leve onde o amor é a base da vida.
712 – a. Qual o objetivo dessa tentação?
“Desenvolver a razão que deve preservá-lo dos excessos”.
Poderemos analisar o próprio sexo; nele existe para o homem um grande atrativo, que se irradia em todos os seres, objetivando a reprodução da espécie. Se não fora isso, as raças desapareceriam por completo na face da Terra, e como ficaria a reencarnação?
Comentário de Kardec: Se o homem não fosse instigado ao uso dos bens da Terra senão em vista de sua utilidade, sua indiferença poderia ter comprometido a harmonia do Universo. Deus lhe dá o atrativo do prazer que o solicita a realização dos desígnios da Providência. Mas, por meio desse mesmo atrativo, Deus quis prova-lo também pela tentação, que o arrasta ao abuso, do qual a sua razão deve livrá-lo.
713. Os gozos têm limites traçados pela Natureza?
“Sim, para vos mostrar o termo do necessário; mas pelos vossos excessos chegais até o aborrecimento e com isso vos punis a vós mesmos”.
A natureza, como mãe, imprimiu limites para o gozo dos bens terrenos, onde podemos observar como Deus é bom, na Sua justiça e no Seu amor para com todos os Seus filhos. Ele dotou a todos com um organismo que sabe avisar quando já se encontra farto. Quando a imprudência passa dos limites, este organismo sofre as consequências para se educar.
714. Que pensar do homem que procura nos excessos de toda espécie um refinamento dos seus gozos?
“Pobre criatura que devemos lastimar e não invejar, porque está bem próxima da morte!”
O homem que procura nos excessos de todos os tipos o requinte para uma ilusória satisfação pessoal, está morrendo física e moralmente, devido a sua falta de sensibilidade no campo dos sentimentos. O trabalho das religiões visa mais ao campo moral, para conduzir as almas a um modo de pensar diferente, mostrando os limites que elas devem respeitar.
714 – a. É da morte física ou da morte moral que ele se aproxima?
“De uma e de outra”.
O homem que procura os excessos aproxima-se mais rápido da morte, e das piores, que o leva ao esquecimento dos preceitos do Mestre. Mas o Consolador veio à Terra para cumprir uma promessa do Divino Amigo e livrar a humanidade dessas mortes. Ele aparece com uma personalidade doutrinária, enriquecendo a literatura espiritualista de que o mundo já era portador, fazendo com que as criaturas pudessem desfrutar das belezas imortais do céu, e não somente uns poucos escolhidos nos templos de iniciações.

Comentário de Kardec: O homem que procura, nos excessos de toda espécie um refinamento dos gozos coloca-se abaixo dos animais, porque estes sabem limitar-se à satisfação de suas necessidades. Ele abdica da razão que Deus lhe deu para guia e quanto maiores forem os seus excessos maior é o império que concedeu a sua natureza animal sobre a espiritual. As doenças, a decadência, a própria morte, que são a consequência do abuso, são também a punição da transgressão da lei de Deus.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos continuar apreciando o tópico Meios de Conservação, estudando as questões 709 e 710.
709. Aqueles que em situações críticas se viram obrigados a sacrificar os semelhantes para matar a fome, cometeram com isso um crime? Se houve crime, é ele atenuado pela necessidade de viver que o instinto de conservação lhes dá?
“Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem. Há homicídio e crime de lesa-natureza, que devem ser duplamente punidos”.
Ninguém pode matar os seus semelhantes, desculpando-se por necessidades forjadas para tirar alguém do seu caminho. Só quem pode tirar a vida física é Aquele que deu a vida. Necessário se faz que tenhamos respeito pelos semelhantes, para que eles tenham respeito por nós. Se a vida é amor, como violentar essa lei? O criminoso pagará duplamente essa falta, por meios variados, no sentido de aprender a respeitar a vida. Se a carência alimentar faz alguém sofrer, este deve sofrer com resignação e paciência, mas não violentar a lei que diz: "não matarás". Deve compreender que somente o amor nos defende de todas as investidas do mal, nos ajudando a compreender o sofrimento.
710. Nos mundos onde a organização é mais apurada, os seres vivos têm necessidade de alimentação?
“Sim, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses alimentos não seriam tão substanciais para os vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam digerir os vossos”.

A necessidade de alimentar-se existe em todos os mundos, no entanto, cada mundo habitado tem a sua alimentação específica; tudo é de acordo com a evolução já alcançada. A Terra é um mundo de provas e expiações, onde se misturam Espíritos encarnados de várias classes. A alimentação desses Espíritos é grosseira, e das mais grosseiras, mas, depois da seleção que há de vir, pela força do progresso, o planeta passará, a ser um mundo melhor. Melhorando, tudo muda, e necessariamente a alimentação haverá de ser mais leve, visto que o organismo modificará o seu sistema de assimilação.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos continuar apreciando o tópico Meios de Conservação, estudando as questões 707 e 708.
707. Os meios de subsistência faltam frequentemente a certos indivíduos, mesmo em meio da abundância que os cerca; a que se deve ligar esse fato?
“Ao egoísmo dos homens que nem sempre fazem o que devem; em seguida, e o mais frequentemente, a eles mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar para a terra a fim de encontrar o que se deseja, mas que é necessário procurar com ardor e perseverança, e não com displicência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos que muito frequentemente não passam de meios de pôr à prova a vossa constância, a vossa paciência e a vossa firmeza”. (Ver item 534.)
A abundância sempre nos cerca por todos os lados e em toda parte, no entanto, necessário se faz que procuremos o de que precisamos nos lugares certos. Cabe a nós entregarmo-nos ao trabalho honesto para cumprir o que Jesus disse para todos os homens: "Buscai e achareis". A abundância existe, mas é preciso que seja buscada, e depois, nos nossos domínios, saber usá-la na medida das nossas necessidades. O egoísmo dos homens resulta em entrave para toda a Terra.
Comentário de Kardec: Se a civilização multiplica as necessidades, também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida; mas é preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando ela tiver realizado a sua obra, ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário, a menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viverem uma vida que não é a que a Natureza lhes traçou; é então que lhes falta a inteligência para vencerem. Há para todos um lugar ao sol, mas com a condição de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas consequências da ambição e do amor-próprio.       
Seria preciso ser cego, entretanto, para não se reconhecer o progresso que nesse sentido têm realizado os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que a Filantropia e a Ciência, reunidas, não cessam de fazer para a melhoria da condição material dos homens, e malgrado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção é atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos nada têm de comparável aos de há bem pouco tempo. A higiene pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde, desconhecido por nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a Ciência é posta em ação, contribuindo para o acréscimo do bem-estar. Pode-se dizer que atingimos a perfeição? Oh! Certamente que não. Mas o que já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito, com perseverança, se o homem for bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não nas utopias que o fazem recuar em vez de avançar.
708. Não há situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem e a privação do necessário, até o mais imperioso, é uma consequência das circunstâncias?
“E uma prova frequentemente cruel que o homem deve sofrer e à qual sabia que seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se a sua inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem lamentar, pensando que a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação”.
Existem em toda a criação processos de despertamentos espirituais, dos quais o progresso é o instrumento. Se se passa por grandes vexames, por privações, quando em torno tudo é abundância, é pela ignorância, cujo entrave impede que se possa conhecer os meios de se libertar, que é conhecendo a verdade. No entanto, depois do Cristo, as portas se abriram ao conhecimento das leis espirituais que existem dentro de todos os seres. Falamos em muitas mensagens que o homem deve conhecer a verdade; é certo que deve, mas essa verdade vem ao seu encontro, no silêncio que lhe compete chegar. Ela nunca usa a violência.


LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Dando sequência ao Capítulo V, vamos apreciar o tópico Meios de Conservação, estudando as questões 704 a 706.
704. Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios para isso?
“Sim, e se ele não os encontra é por falta de compreensão. Deus não podia  dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. É por isso que faz a terra produzir de maneira a fornecer o necessário a todos os seus habitantes, pois só o necessário é útil; o supérfluo jamais o é”.
Os meios de sobreviver foram criados por Deus, para que a humanidade encontrasse o necessário para a conservação da espécie. Com pouca observação, podemos analisar como a terra é dadivosa e boa; as sementes entregues à sua intimidade produzem frutos sem que os homens disso participem, a não ser indiretamente. Vejamos que os pássaros não plantam e nem colhem, ajuntando em celeiros como os homens, entretanto, nunca passam fome. Assim é com todos os viventes que se espalham em todo o planeta, em se falando das águas e terras.
705. Por que a terra nem sempre produz bastante para fornecer o necessário ao homem?
“E que o homem a negligencia, o ingrato, e, no entanto ela é uma excelente mãe. Frequentemente ele ainda acusa a Natureza pelas consequências da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário. Vede o árabe no deserto como encontra sempre do que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é desperdiçada na satisfação de fantasias, deve o homem se admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando chega o tempo de escassez? Na verdade, eu vos digo que não é a Natureza a imprevidente, é o homem que não sabe regular-se”.
Necessário é o que sustenta o homem sem o desperdício; é quando não entra na aquisição das coisas o egoísmo; é quando os sentimentos são disciplinados pelo amor. Cumpre notar-se que a natureza nada deixa faltar para a alimentação das criaturas. Ela é mãe, com o indispensável amor para todos os seus filhos e Deus enriqueceu o solo com as qualidades indispensáveis para a multiplicação daquilo que ela produz, em favor dos viventes que ela acolhe em seu seio de amor. E o Pai ama tanto a Seus filhos que, acima do necessário, a terra é doadora em abundância, sempre ultrapassando aquilo que bastaria aos homens e animais. Assim é que os habitantes do mar não reclamam mais alimentos, como os dos ares, e mesmo os da terra, a não ser os homens, que violam as leis, e desviam os seus celeiros.
706. Como bens da terra devemos entender apenas os produtos do solo?
“O solo é a fonte primeira de que decorrem todos os outros recursos, porque esses recursos, em, última instância, são apenas uma transformação dos produtos do solo. É por isso que devemos entender pelos bens da terra tudo quanto o homem pode gozar nesse mundo”.

O solo é fonte grandiosa do que necessita o homem, no entanto, existem leis que operam nas transformações, cujos produtos as criaturas usam para o seu bem-estar. Não podemos esquecer o valor grandioso do solo, que se enriquece pelas chuvas, os raios solares e os ventos. Tudo isto enxerta a Terra de bens imperecíveis, de modo a fazer que ela produza com maior facilidade no campo dos valores nutritivos e confortáveis. De onde se tiram a casa, os alimentos, os agasalhos e demais necessidades que a civilização nos mostra? É da mãe natureza, é da velha terra, cujo nome pronunciamos com carinho e gratidão. Essa casa de Deus muito nos serve corno oficina de trabalho e lazer. Ela é uma escola que nos educa e instrui em variados favores de aprendizado.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo V – Da Lei de Conservação.
Iniciando o Capítulo V, vamos apreciar o tópico Instinto de Conservação, estudando as questões 702 e 703.
Instinto de Conservação
702. O instinto de conservação é uma lei da Natureza?
“Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o seu grau de inteligência; nuns é puramente mecânico e noutros é racional”.
É preciso compreender que tudo é regido pelas leis divinas e cada ser evolui em seu ritmo próprio. Muitas vezes, o ser humano não alcança a compreensão dessa lei universal da conservação, esse amor de Deus para com todas as criaturas, que em uns se expressa como instinto, em outros como razão, e em outros como intuição, e no mais alto com outras faculdades ainda inimagináveis. É de grande importância observarmos nos animais como funcionam os instintos. Eles sentem o que podem comer, por onde andar, e percebem outras coisas para as quais os homens são distraídos. É esse mesmo instinto que, com o perpassar dos tempos, se ilumina com a razão, e no decorrer dos milênios avança em busca da intuição.
703. Com que fim Deus concedeu a todos os seres vivos o instinto de conservação?
“Porque todos devem colaborar nos desígnios da Providência. Foi por isso que Deus lhes deu a necessidade de viver. Depois, a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres; eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem”.

A finalidade dos instintos é para concorrermos com alguma coisa para o grande ideal, na execução das leis do Criador. Ele sabe o que faz, e como cooperadores na obra universal, Ele nos faculta essa graça, pelas mãos de Jesus, nosso Governador e guia dos nossos destinos. Se meditarmos sobre o assunto, constataremos que o instinto de conservação é necessário para a vida, para que ela cresça e prospere, e que essa força divina vá desabrochando e se modificando em novos aspectos da sua própria grandeza. Os animais, por exemplo, sentem os instintos, contudo, não percebem de onde vêm, mas a bondade divina sabe como ele deve operar, e é nesse labor interno dos animais que os rudimentos da consciência vão tomando novas formas e registrando novos métodos de vida consciente.
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Encerrando o Capítulo IV, vamos apreciar o tópico Poligamia, estudando as questões 700 e 701.
700. A igualdade numérica aproximada entre os sexos é um indício da proporção em que eles se devem unir?
“Sim, pois tudo tem um fim na Natureza”.
Cabe aqui um introito: O fenômeno da poligamia é característico de determinadas sociedades, principalmente aquelas onde o ambiente era por demais inóspito. A poligamia deve ser considerada como um uso ou uma legislação particular apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fará desaparecer pouco a pouco. Não há homens na Terra em demasia, nem mulheres em quantidade menor do que o necessário, e vice-versa; tudo está programado por Deus, para a harmonia de tudo. Aquele que confia, não sofre. Quem crê, não deixa campo para dúvidas e quem ama, vive dentro da própria felicidade. Pode até não haver felicidade completa na Terra, contudo, nela se encontram os caminhos para o paraíso.
701. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme à lei natural?
“A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há verdadeira afeição: não há mais do que sensualidade”.
A poligamia, como lei dos homens, é transitória, enquanto a monogamia está mais vinculada à lei de Deus, pelos processos que se veem na natureza, sendo sistema mais acertado em uma sociedade mais evoluída. A tendência do homem à poligamia nos mostra o ranço das práticas, gritando na área animal por nossos instintos inferiores. Mas, se avançarmos por lei do amor, a monogamia nos acena para melhores dias, vivendo com a consciência em estado de tranquilidade que não se perturba.
Comentário de Kardec: Se a poligamia estivesse de acordo com a lei natural devia ser universal, o que, entretanto, seria materialmente impossível em virtude da igualdade numérica dos sexos.
O Espiritismo é ideológico, tanto do ponto de vista físico quanto do ético: as coisas materiais e os latos morais, o mundo e o homem, tudo tem uma finalidade mas não de ordem antropológica. Muitas vezes ela contraria ou escapa ao pensamento do homem. Isso deu motivo à reação antiteleológica da Filosofia moderna. A Ciência, por sua vez, tratando apenas do plano objetivo, não viu mais que “um ângulo do quadro da Natureza” e restringiu-se às “condições determinantes”. Sua natureza analítica não lhe permite abranger o sentido das coisas e dos fatos. Henri Bergson, porém, em L’Évolution  Créatice desenvolveu a teoria do ela vital, segundo a qual todo o curso da evolução, partindo da matéria mais densa, dirige-se à liberação da consciência no homem, aparecendo este como o fim último da vida na Terra. Essa é a tese espírita da evolução, até os limites da vida terrena. Mas o Espiritismo vai além, admitindo a “escala dos mundos”, através da qual a evolução se processa no infinito, sempre com a finalidade da perfeição. (N. do T.)

O impulso poligâmico do homem não é um instinto biológico, mas um simples resquício das fases anteriores de sua evolução. Não sendo irracional, nem controlado pelas leis naturais das espécies animais, ele tem o dever moral de refrear esse impulso e sublimar a sua afetividade através do amor conjugal e familiar. É pela razão e o livre-arbítrio que ele se controla, elevando-se conscientemente acima das exigências biológicas e das ilusões sensoriais. Se esse  controle lhe parece difícil, maior é o seu dever de realizá-lo, porque maior é a sua necessidade de evolução nesse campo e também porque “o mérito do bem está na dificuldade”, como se vê no item 646 deste livro. (N. do T.)
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Vamos dar sequência ao Capítulo IV, iniciando o tópico Casamento e Celibato, estudando as questões de 695 a 699.
695. O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres é contrária à lei da Natureza?
“É um progresso na marcha da Humanidade”.
O casamento, sendo uma simples união, é lei natural para todos os seres, em todos os planos da vida; mesmo nos planos espirituais mais próximos à Terra, os Espíritos se unem para tarefas sagradas do aperfeiçoamento. Observemos a natureza:, as pedras se unem, oferecendo maior segurança e firmeza à própria terra, as árvores juntas aliam as suas forças para a purificação do ar e a transmutação dos elementos, proporcionando melhoria de vida; os animais andam unidos segundo sua espécie, para que não falte o crescimento, reproduzindo-se na ordem a que pertencem, e os homens não poderiam fugir à regra estabelecida pela lei do "crescei e multiplicai".
696. Qual seria o efeito da abolição do casamento sobre a sociedade humana?
“O retorno à vida dos animais”.
A abolição do casamento na Terra seria um desastre moral no seio da sociedade. O casamento torna-se um meio onde a harmonia estabelece, não somente para a reprodução ordenada, como para o trabalho de amizade e perdão. Unem-se as almas em comunhão na Terra, de modo a aperfeiçoarem seus sentimentos e despertarem seus valores, crescendo os deveres ante os seus familiares. Se ainda estamos dando passos incertos, procuremos pelo que pode firmar nosso andar.
Comentário de Kardec: A união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de natureza. O casamento é um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os povos, embora nas mais diversas condições. A abolição do casamento seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de alguns animais que lhe dão o exemplo das uniões constantes.
697. A indissolubilidade absoluta do casamento pertence à lei natural ou apenas à lei humana?
“E uma lei humana muito contrária à lei natural. Mas os homens podem modificar as suas leis; somente as naturais são imutáveis”.

Não podemos dizer que o casamento é indissolúvel; separar o que Deus ajuntou é bem diferente de separar o que os instintos inferiores uniram. Tudo o que se une por sintonia tem laços duradouros, porém a união por interesse é passageira, porque não existe amor e se encontra sob a influência do egoísmo. O casamento é uma lei natural para que a sociedade firme seus alicerces na comunhão de ideias afins.
698. O celibato voluntário é um estado de perfeição, meritório aos olhos de Deus?
“Não, e os que vivem assim, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam a todos”.
O celibatário pode estar certo, se verdadeiramente ele deixou de contrair matrimônio por não ter essa tarefa de construir um lar. Podemos perceber muitos deles na Terra, por provas, por oportunidade de descanso com esse tipo de compromisso, ou por missão, pois, estando livre dos compromissos de familiares, desempenha melhor o seu papel em favor da sociedade. Entretanto, o celibato em favor de si mesmo, como egoísmo, e para não ajudar aos que formam uma família, não é aceito como virtude, visto que a renúncia, neste caso, é somente em favor de si mesmo, é usura e, portanto, condenado pela consciência. Estando no mundo, o Espírito deve, por obrigação, dar pelo menos o que recebeu dos seus ancestrais; se eles renunciassem ao casamento, ele não nasceria, nem teria a oportunidade que agora tem.
699. O celibato não é um sacrifício para algumas pessoas que desejam devotar-se mais inteiramente ao serviço da Humanidade?
“Isso é bem diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem; quanto maior o sacrifício, maior o mérito”.
O celibato, quando em caráter de sacrifício, para beneficiar os seres humanos, é meritório e um exercício benfeitor para o coração de quem o faz. Tudo no mundo da alma é dirigido pelos sentimentos; eles é que dão mérito ou demérito aos seus passos. O celibato é nobre, quando o celibatário se priva da constituição de família para ajudar uma família maior, quando o seu amor cresce de maneira que atinge a humanidade. Eis aí a consciência que se ilumina com trabalhos de ordem superior. No entanto, ao entrar o egoísmo, a vaidade e as paixões inferiores, desaparece o mérito.

Comentário de Kardec: Deus não se contradiz nem considera mau o que ele mesmo fez. Não pode, pois, ver um mérito na violação de sua lei. Mas se o celibato, por si mesmo, não é um estado meritório, já não se dá o mesmo quando constitui, pela renúncia às alegrias da vida familiar, um sacrifício realizado a favor da Humanidade. Todo sacrifício pessoal visando ao bem e sem segunda intenção egoísta eleva o homem acima da sua condição material.
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Vamos dar sequência ao Capítulo IV, iniciando o tópico Obstáculos à reprodução, estudando as questões de 693 a 694.
 693. As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito  criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural?
“Tudo o que entrava a marcha da Natureza é contrário à lei geral”.
Tudo na natureza busca o equilíbrio, usando de todas as formas possíveis, e o homem deve observar a lei natural suave e harmoniosa. A inteligência do homem lhe foi dada para ser usada na conservação do equilíbrio, ajudando as leis da natureza, que deixam para os seres humanos a sua parte a fazer. Quando nós buscamos ir contra aquilo que Deus propõe para cada um de nós, obviamente que vamos sofrer, e não é represália, não. Somos nós mesmo que causamos o sofrimento.
693–a. Não obstante, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução indefinida seria prejudicial às outras espécies e das quais, em breve, o próprio homem seria vitima. Seria repreensível deter essa reprodução?
“Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que ele deve usar para o bem, mas não abusar. Ele pode regulara reprodução segundo às necessidades, mas não deve entravá-la sem necessidade. A ação inteligente do homem é um contrapeso posto por Deus entre as forças da Natureza parar estabelecer-lhes o equilíbrio, e isso também o distingue dos animais, pois ele o faz com conhecimento de causa. Os animais concorrem, por sua vez, para esse equilíbrio, pois o instinto de conservação que lhes foi dado faz que, ao proverem à própria conservação, detenham o desenvolvimento excessivo e talvez perigoso das espécies animais e vegetais de que se nutrem”.
Usemos a nossa inteligência e observemos até onde age a lei geral, para que não sirvamos de tropeço para ela, na sua ação divina. Se precisamos de algo mais, tudo nos virá por acréscimo de misericórdia. Os Espíritos reencarnados na Terra são os agentes de Deus para ajudarem na obra grandiosa da evolução. Essa é uma lei natural que não podemos desviar do seu curso para o bem comum. O homem tem a responsabilidade de prover não apenas para os vegetais e para os animais, mas cuidar de todo o processo da Natureza. Nós somos responsáveis pelas nossas matas, pelos nossos rios
694. Que pensar dos usos que têm por fim deter a reprodução, com vistas à satisfação da sensualidade?
“Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e o quanto o homem está imerso na matéria”.

Há muitos laços que prendem a alma às paixões inferiores, como os variados processos que à sensualidade usa para a sua satisfação, embriagando os sentimentos em sensações grosseiras. É, pois, nesse sentido que o Espírito é considerado animal, mesmo com vestimentas diferentes destes, no entanto, as suas investidas no campo dos desregramentos são as mesmas ou, por vezes, piores. O homem, quando olha somente para baixo, esquece de sentir o Espírito que domina a matéria. Ele é animalizado, ocupando a sua mente com a apologia de que a carne precisa de carne, e que as satisfações inferiores o distraem. Não estamos aqui contra a prática do sexo que sabemos ser força de continuação da espécie, mas, somos somente contra o desregramento do mesmo, que pode levar à loucura e ao fascínio. O excesso das sensações pode embriagar a alma em caminhos de difícil recuperação.
LIVRO TERCEIRO
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Vamos dar sequência ao Capítulo IV, encerrando o tópico Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças, estudando as questões de 691 a 692-a.
691. Qual é, do ponto de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças primitivas?
“Desenvolvimento da força bruta, em detrimento da intelectual. Atualmente dá-se o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força física, e no entanto faz cem vezes mais, porque colocou a seu serviço as forças da Natureza, o que não fazem os animais”.
As raças primitivas tinham um caráter dominante, que era o desenvolvimento físico; acreditava-se no mais forte sem, contudo, aprimorar a força do pensamento. Porém, isso ocorria porque nossos ancestrais não tinham a maturidade d'alma para compreender o mais elevado. Eles estavam começando a galgar os primeiros degraus da escada da evolução. O homem atual dá maior valor à força intelectual, todavia, o seu uso ainda está equivocado, por querer conquistar as coisas transitórias, esquecendo-se dos valores imortais do Espírito, vindo a sofrer mais por faltar-lhe o discernimento, onde o amor domina e orienta. Isto quer dizer que nós caminhamos dentro do processo da evolução descobrindo os nossos potenciais. Nós aprendemos com a nossa experiência.
692. O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência é contrário à lei natural? Seria mais conforme a essa lei deixar as coisas seguirem o seu curso normal?
“Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins”.
A vida enobrecida é luz para todas as direções. É justo que compreendamos o valor da inteligência e não a empreguemos em rotas contrárias ao bem comum. A ciência, com o advento da Doutrina Espírita, pode tomar um banho de fraternidade, afim de que a fé possa alcançar e dar força maior à esperança, para novos dias. Não são contrários às leis naturais, nem o foram em tempo algum, os esforços dos homens em descobertas que elevem as coisas no respeito que pede a própria natureza. Compete a todos do mundo espiritual, ajudar no que é devido para as descobertas que beneficiam a humanidade, e que os homens estejam à altura de receber as dádivas, sem despertar em seus corações sentimentos contrários à caridade.
692–a. Mas o homem é geralmente movido, nos seus esforços para o melhoramento das raças, apenas por interesse pessoal, que não tem outro objetivo senão o aumento de seu bem-estar; isso não diminui o seu mérito?
“Que importa que o seu mérito seja nulo, contanto que se faça o  progresso? Compete a ele tornar meritório o seu trabalho, através da intenção. Ademais, por meio desse trabalho ele exercita e desenvolve sua inteligência e é sob esse aspecto que tira maior proveito”.

A perfeição é uma meta de luz e, no que se refere aos homens, esses não devem esperar somente de Deus o progresso das coisas; necessário se faz que as mãos humanas se movimentem para o crescimento de todas as coisas. Tudo estamos fazendo para que o Evangelho caminhe na frente da inteligência, dando-lhe direção, em nome d'Aquele que é a vida. Os grandes cientistas que estão no mundo ou que já passaram por ele, não vieram a este planeta por acaso; são, por vezes, missionários que devemos respeitar e orar por eles, pois às vezes, não lhes sobra oportunidade para a prática constante das atividades religiosas.
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Vamos dar sequência ao Capítulo IV, iniciando o tópico Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças, estudando as questões de 688 a 690.
688. Há neste momento raças humanas que diminuem evidentemente; chegará um momento em que terão desaparecido da Terra?
“Isso é verdade; mas é que outras lhes tomaram o lugar, como outras tomarão o vosso, um dia”.
As origens das diferentes raças do planeta se encontram no mundo espiritual, donde se dirige tudo e tudo inspira para o aperfeiçoamento. Uma raça sucede à outra, cada vez mais aprimorada. Compete a quem queira saber desse desenvolvimento observar essas mutações e o entrosamento umas com as outras. As misturas das raças levam a elas o destronamento do orgulho e do egoísmo.
689. Os homens de hoje são uma nova criação ou os descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos?
“São os mesmos espíritos que voltaram para se aperfeiçoarem em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a raça humana atual que, por seu crescimento, tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá também o seu período de decrescimento e extinção. Outras raças mais perfeitas a substituirão, descendendo da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos”.
Os homens atuais são os mesmos Espíritos do passado, que se fundiram e refundiram na forja do tempo e renasceram em novos corpos, de modo a ampliarem seus conhecimentos e se enriquecerem no amor. A família encarnada e desencarnada é muito grande e há uma profusão de trocas, de maneira que todos participem das oportunidades que Deus nos dá para o devido despertamento. É justo que compreendamos mais de perto as leis de Deus, para não errarmos os caminhos delineados por Ele. A reencarnação é lei universal e não há ponto determinado para permanecermos; estamos sempre em movimento constante pela lei de justiça e liberdade.
690. Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial ou procedem dos corpos primitivos, por via de reprodução?
“A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas como todos pertencem à grande família humana, qualquer que seja o tronco primitivo de cada uma, puderam mesclar-se e produzir novos tipos”.

A origem das raças se perde na noite dos tempos. E o aperfeiçoamento delas se encontra alicerçado em troncos que, embora diversificados na sua origem, se aliaram entre si, promovendo as transformações proporcionais ao progresso e à necessidade de cada época. No centro de determinadas raças surgem, de tempos em tempos, espécies mais evoluídas, que servirão de matrizes para corpos mais aperfeiçoados, que servirão de instrumentos para Espíritos mais evoluídos. A esse dá-se a qualificação de tronco de raças. Como exemplo, podemos mencionar Adão, que embora tenha se tornado lenda para os sofistas, surgiu no mundo há mais de 6.000 anos, e dele surgiu uma raça renovada, para receber Espíritos renovados no bem.
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Capítulo IV – A Lei de Reprodução.
Iniciando o Capítulo IV, vamos tratar do tópico População do Globo, estudando as questões de 686 e 687.
686. A reprodução dos seres vivos é uma lei natural?
“Isso é evidente; sem a reprodução o mundo corpóreo pereceria”.
Sem a reprodução, o mundo das formas pereceria, pois em tudo há o germe da multiplicidade. Começando pelas plantas, observamos o poder das sementes, a extraordinária força de multiplicação das espécies. Assim ocorre com os animais e com os seres humanos. O "crescei e multiplicai" é lei de Deus em todos os quadrantes da natureza. Somente o Espírito é que não reproduz Espírito, porque esse vem da fonte maior que é Deus. O corpo físico é a maior maravilha de todos os tempos. Se podemos chamá-lo assim, ele é o maior milagre divino, em se falando da Terra.
687. Se a população seguir sempre a progressão constante que vemos, chegará um momento em que ela se tornará excessiva na Terra?
“Não. Deus a isso provê, mantendo sempre o equilíbrio. Ele nada faz de inútil. O homem, que só vê um ângulo do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto”.
Pelo que se nota do crescimento da população, parece que nesse ritmo de aumento tornar-se-á difícil a vida na Terra, pelo excesso de pessoas e de animais. Mas, na verdade, Deus, consciente de tudo que se passa em Sua casa universal, tanto olha e sabe as necessidades dos vermes como as dos homens, tanto dos Espíritos simples e ignorantes, como dos angélicos. Nada falta na criação. O amor de Deus são sementes de luz que a tudo servem e transmutam nas nossas necessidades espirituais e físicas. Se Ele criou e domina o Universo, como não saberia manter o equilíbrio da população que deve ter o planeta, grão de areia na criação?

NOTA DO TRADUTOR: A população do mundo continua em intenso crescimento (veja-se Problación Mundial, de A M Carr Saunderes, Fondo de Cultura Econômica, México, 1939), mas os jogos de equilíbrio da própria Natureza são visíveis para os observadores do movimento demográfico. Por outro lado, na proporção em que cresce a população, a Ciência e a Técnica aumentam as possibilidades de produção e de aproveitamento de regiões inabitadas. As apreensões e o pessimismo de Malthus e seus discípulos dão bem um exemplo do que seja “ver apenas um ângulo do quadro da Natureza”. Leia-se, em A Marca da Violência, de Fred Werthan, edição Ibrasa, São Paulo, 1968, o capítulo O Mito de Malthus, que mostra a atualidade da posição espírita nesse terreno. 
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo III – Lei do Trabalho.
Encerrando o Capítulo III, vamos tratar do tópico Limite do trabalho - Repouso, estudando as questões de 682 a 685-a.
682. Sendo o repouso uma necessidade após o trabalho, não é uma lei da natureza?
“Sem duvida o repouso serve para reparar as forças do corpo. E também necessário para deixar um pouco mais de liberdade à inteligência, que deve elevar-se acima da matéria”.
Quem trabalha deve obedecer aos limites que a natureza impõe ao esforço. O corpo precisa de descanso para recuperar as energias perdidas. Compete ao homem analisar sua capacidade, e as próprias leis da Terra se inspiraram nesses limites, dividindo as vinte e quatro horas em três aspectos: trabalho, lazer e descanso. Quem desejar sair dessa disciplina pagará caro, desequilibrando a sua saúde. Precisamos ficar atentos ao egoísmo e à usura, para que não caiamos nas tentações e venhamos a sofrer as más consequências. Observando a expressão dos Espíritos quando eles dizem “um pouco mais de liberdade à inteligência”, percebemos que a nossa manutenção diz respeito não somente ao corpo, mas também ao espírito.
683. Qual é o limite do trabalho?
“O limite das forças; não obstante, Deus dá liberdade ao homem”.
A pergunta é objetiva e abrangente. Deus deixa inteiramente livre o homem. para testar seu raciocínio e fazer com que ele cresça, e é de experiência em experiência que ele acumula as qualidades nobres para despertar os valores eternos. O limite do trabalho é o das nossas forças, aqui e além, mas temos liberdade de trabalhar mais, ou menos, pois cada um é que sabe o seu limite; no entanto, não podemos ficar sem operar, no que fomos chamados a fazer.
684. Que pensar dos que abusam da autoridade para impor aos seus  inferiores um excesso de trabalho?
É uma das piores ações. Todo homem que tem o poder de dirigir é responsável pelo excesso de trabalho que impõe aos seus inferiores, porque  transgride a lei de Deus. (Ver item 273.)
Se abusamos da autoridade, fazendo os nossos subordinados trabalharem com excesso, responderemos por isso. O comando não é para violência e, sim, para harmonia do meio onde fomos chamados a operar. Se abusamos da autoridade, certamente que em outra etapa de vida poderemos vir a sermos mandados com o mesmo rigor com que abusamos dos outros. Essa é a lei de justiça, que opera sem a nossa participação. Queiramos ou não, as leis estão vibrando na vida para educar e disciplinar aqueles que as infringem. Aqui cabe uma consideração. Há um autor, que não é espírita, cuja obra é um paradigma para os administradores de empresas. Trata-se do livro “A Arte da Guerra” de Sun Tzu. Se nós trocarmos a palavra guerra pela expressão conviver com harmonia, também vale. Uma das afirmativas de Sun Tzu é exatamente esta: “Um general não deve exigir de seus comandados nada além de que ele mesmo seja capaz de fazer”.
685. O homem tem direito ao repouso na sua velhice?
“Sim, pois não está obrigado a nada, senão na proporção de suas forças”.
O homem idoso tem o direito de viver no meio da sociedade, porque ele já deu a contribuição das suas forças e do que aprendeu no preparo junto àqueles que com ele conviveram. Se todos têm certa reverência pelas crianças, por que esquecer os velhos, que são as crianças de amanhã? Eles ajudaram a construir, mesmo dentro das suas limitações, o mundo que os mais jovens hoje desfrutam. Onde está a gratidão dos que vivem no presente com saúde e alegria? O bem-estar dos moços de hoje teve como preço o suor e o sacrifício dos seus ancestrais. Dos que já foram, reverenciemos seus nomes com respeito e carinho, já que eles não morreram.
685–a. Mas o que fará o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?
O forte deve trabalhar para o fraco: na falta da família, a sociedade deve ampará-lo: é a lei da caridade.
Certamente que o velho que não tem como nem com quem viver, tem o direito de ser amparado pelo Estado que, para isso, acumula recursos fornecidos pela sociedade.
Comentário de Kardec: Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.
       Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem- estar, a garantia da segurança de todos.
Allan Kardec, no comentário que faz sobre o tópico que estamos estudando, escreve uma belíssima página, que é a verdadeira solução para erradicar a desarmonia dentre os povos. Ele, verdadeiramente, era o intérprete do Mestre Jesus, traçando as soluções para os distúrbios sociais da humanidade. O homem forte tem o dever de ajudar o fraco nas suas necessidades. Quando assim não faz, é devido à falta de caridade que, se podemos afirmar, é a falta do Cristo no coração. Devemos, assim, não somente amparar os velhos, como igualmente todos os mais fracos, desde que lhes falte a garantia de vida em harmonia. Jovem! Ajuda a velhice, pois estás no mesmo caminho. Quem sabe o amanhã colocará esses velhos de hoje como teus filhos? Pensa nisto, porque a reencarnação é uma lei universal. Ninguém morre, bem o sabes, e as vidas sucessivas constituem uma realidade em todos os quadrantes da criação. O homem tem o direito de repousar na velhice, tendo nas mãos dos jovens a segurança de que se encontram amparados. Lembremo-nos de que Deus é amor. Se Jesus pede que amemos ao próximo como a nós mesmos, esses velhos estão bem mais próximos, pelas suas necessidades.
NOTA DO TRADUTOR:
A concepção espírita do trabalho como lei natural, determinante ao mesmo tempo da evolução do homem e da Natureza, coincide com o princípio marxista segundo o qual, nas próprias palavras de Marx: “Agindo sobre a natureza, que está fora dele, e transformando-a por meio da ação, o homem se transforma também a si mesmo”. Vemos, no item 676, que “sem o trabalho o homem permaneceria na infância intelectual”. O Espiritismo não encara, pois, o trabalho como “uma condenação”, segundo dizem alguns marxistas, mas como uma necessidade da evolução humana e da evolução terrena. Trabalhar não é sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a felicidade. A diferença está em que para os marxistas a felicidade se encontra nos produtos materiais do trabalho na Terra, enquanto para os espíritas, além dos proventos imediatos na Terra, o trabalho proporciona também os da evolução espiritual. Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe pode dar. Um mundo socialista, de trabalho e abundância para todos, mas sem perspectivas espirituais, seria tão vazio e aborrecido como um mundo espiritual de ociosidade, segundo o prometido pelas religiões. O paraíso terrestre do marxismo equivaleria ao paraíso celeste dos beatos. O Espiritismo não aceita um extremo nem outro, colocando as coisas em seu devido lugar.

 LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo III – Lei do Trabalho.
Encerrando o tópico Necessidade do trabalho, vamos estudar as questões de 678 a 681.
678. Nos mundos mais aperfeiçoados, o homem é submetido à mesma necessidade de trabalho?
“A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades; quanto menos necessidades materiais, menos material é o trabalho. Mas não julgueis, por isso, que o homem permanece inativo e inútil; a ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício”.
Fugir do trabalho é isentar-se dos meios pelos quais vêm os ensinamentos espirituais. Trabalhar é viver; tudo no mundo se agita, em se formando belezas imortais. A lida para a humanidade é de acordo com as suas necessidades de despertamento. Nos mundos superiores, certamente que o labor é relativo às suas necessidades. O trabalho obedece ao progresso das criaturas de Deus e, mesmo que queira, o Espírito jamais deixará de trabalhar; até os seus corpos, em todas as faixas que lhes compete existir, estão em pleno movimento, clarificando cada vez mais o roteiro do seu senhor, que é a alma que os ocupa. Sendo o Espírito criação de Deus, como concebê-lo na sua estrutura mais íntima sem movimento divino? Deus é luz, e luz é dinamismo estuante que se irradia em todas as direções, dando e levando vida para todos os lados. O Espírito foi criado simples e ignorante, e como tal carece, pelo trabalho e pelas vidas sucessivas, de despertar para viver melhor.
679. O homem que possui bens suficientes para assegurar sua subsistência está liberto da lei do trabalho?
“Do trabalho material, talvez, mas não da obrigação de se tornar útil na proporção de seus meios, de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho. Se o homem a quem Deus concedeu bens suficientes para assegurar sua subsistência não está obrigado a comer o pão com o suor da fronte, a obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior para ele, quanto a parte que lhe coube por adiantamento lhe der maior lazer para fazer o bem”.
Ninguém se encontra isento da lei do trabalho, pois, se ele se multiplica ao infinito, Deus não iria deixar de aplicar a Sua lei a todas as criaturas, somente por que algumas delas possuem bens materiais. Essas, por vezes, trabalham mais do que as que não possuem riqueza, pois têm maiores preocupações pelo dever de vigiar o que possuem e por cuidar de multiplicar o que Deus colocou em suas mãos. Lembremo-nos dos talentos citados na parábola evangélica, e o dever de serem eles multiplicados pelos que os receberem. Se não há necessidade de se operar em duros trabalhos, onde o esforço físico deve ser ativado, o esforço mental ocupa-se com mais atividades. O físico recupera-se com mais facilidade que o desgaste mental; por conseguinte, esse último se expressa como sendo labor mais profundo e mais cansativo. Ninguém é isento da lei do trabalho, lei universal para todas as criaturas, em todos os mundos, quer sejam materiais ou espirituais. Cumpre a todos trabalhar, porque Deus não para e Jesus opera sempre. Observemos que tudo no mundo se movimenta, das células aos órgãos, e destes ao soma, o complexo humano constitui um fulcro de movimentos constantes, buscando aprimoramento.
680. Não há homens que estão impossibilitados de trabalhar, seja no que for, e cuja existência é inútil?
“Deus é justo e só condena aquele cuja existência for voluntariamente inútil, porque esse vive na dependência do trabalho alheio. Ele quer que cada um se torne útil na proporção de suas faculdades”. (Ver item 643.)
Inutilidade; não existe esta palavra no dicionário divino. Ninguém é inútil para trabalhar; alguém pode não fazer o serviço que desejava realizar, no entanto, como o trabalho se estende em ramificações diversas, as lides são muitas e pode escolher aquela que as suas forças têm a capacidade de realizar. O homem inteligente, principalmente o espiritualista, sabe disso, e ainda que esteja preso a um leito, pode usar a palavra em auxílio dos que vêm visitá-lo e que, às vezes, estão carregados de problemas e com as suas mentes tisnadas de infortúnios. A condenação da consciência é para aquele que voluntariamente deseja ficar parado e não presta serviço, mesmo estando são. Todavia, ninguém poderá ficar muito tempo nesse estado, e com o passar do tempo, procura fazer alguma coisa, sendo que o melhor é o bem. Não se mede o bem por volume de ofertas, mas sim, pelos sentimentos que move o companheiro nesse exercício.
681. A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalhar para os pais?
“Certamente, como os pais devem trabalhar para os filhos. Eis porque Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural, afim de que, por essa afeição recíproca, os membros de uma mesma família sejam levados a se auxiliarem mutuamente. É o que, com muita frequência, não se reconhece em vossa atual sociedade”. (Ver item 205.)

Os pais têm a obrigação de cuidarem de seus filhos, pois a eles foi outorgado esse dever, de modo que as suas consciências os ativam para tal empenho divino, de educar e instruir seus descendentes. Por outro lado, os filhos têm o dever sagrado de cuidar de seus pais, quando estes já são idosos ou estejam presos ao leito, por uma enfermidade. É uma troca de auxílio, para o bem e a tranquilidade de consciência de todos. Toda a família, por dever natural que a lei nos mostra, deve ocupar-se na ajuda indispensável aos familiares, para que haja ordem no grupo de Espíritos que reencarnam em uma mesma linha de sangue. O amor filial vibra por dentro, assim como o amor paterno, e os dois se encontram em obediência à lei de amor universal.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo III – Lei do Trabalho.
Iniciando o tópico Necessidade do trabalho, vamos estudar as questões de 674 a 677.
674. A necessidade do trabalho é uma lei da Natureza?
“O trabalho é uma lei da Natureza, e por isso mesmo é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e os seus prazeres”.
O trabalho, sendo lei da natureza, constitui uma necessidade de todos os povos, sendo o sustentáculo de todas as civilizações do mundo. Cumpre a todas as criaturas terem essa obrigação de trabalhar para viver de que os três reinos da natureza dão exemplo de labor constante. O próprio corpo humano, essa máquina divina em todas as suas particularidades, é exemplo nobre de movimentos rítmicos, operando em seu conjunto o despertamento de novas forças que buscam o mais além.
675. Só devemos entender por trabalho as ocupações materiais?
“Não; o Espírito também trabalha, como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho”.
Em se falando das leis do trabalho, não poderemos esquecer que ele se divide ao infinito. As ocupações materiais são necessárias para a sobrevivência dos homens e para o bem-estar de todos os povos, pois é por elas que se opera o levantamento das casas, o movimento de todas as indústrias, enfim, todas as atividades da sociedade, em todos os países, em troca de experiências. No entanto, existem as ocupações morais, as espirituais, tão necessárias quanto as outras, ou muito mais, pelo aprimoramento das almas.
676. Por que o trabalho é imposto ao homem?
“É uma consequência da sua natureza corpórea. E uma expiação e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho o homem permaneceria na infância intelectual; eis porque ele deve a sua alimentação, a sua segurança e o seu bem-estar ao seu trabalho e à sua atividade. Ao que é de físico franzino. Deus concebeu a inteligência para o compensar; mas há sempre trabalho”.
O trabalho é consequência da vida material animal. Com a elevação da alma, ele vai se modificando, dada à pureza do Espírito. No mundo espiritual elevado, o progresso atinge a modalidade do trabalho, de modo a oferecer ao trabalhador os meios conforme sua elevação espiritual. Toda atividade nobre é ação de louvor, é gratidão a Deus pelo ensejo de laborar em favor da evolução de todas as coisas. A natureza é pulsante em toda parte; as águas se movimentam em todos os rumos, o ar sopra em todas as direções, os raios solares se estendem por todas as gamas de vida. A natureza íntima das árvores é inquieta, para mantê-las na forma que Deus lhes deu; os átomos, com seus elétrons, prótons e nêutrons têm o seu cinetismo próprio; os planetas e sóis, as galáxias e acúmulos viajam pelo cosmo em velocidade empiricamente inimaginável, e Deus pulsa na intimidade de toda a criação. A vida é, pois, movimento expresso em equação matemática. Compreendemos que o trabalho, na área do ser humano e espiritual, é necessário para que possamos manter a vida no ritmo do Criador. Precisamos amar o trabalho, seja ele qual for, e quando o fizermos, façamo-lo com perfeição, desde a vestimenta até as orações, desde os pensamentos até as conversações; tudo é ocupação e necessário se torna que façamos tudo com inteligência, e que sempre esteja nos inspirando o Evangelho de Jesus.
677. Por que a Natureza provê, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?
“Tudo trabalha na Natureza. Os animais trabalham, como tu, mas o seu trabalho, como a sua inteligência, é limitado aos cuidados da conservação. Eis porque, entre eles, o trabalho não conduz ao progresso, enquanto entre os homens tem um duplo objetivo: a conservação do corpo e o desenvolvimento do pensamento, que é também uma necessidade e que o eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refiro-me ao fim a que eles se propõem, trabalhando. Mas, enquanto, sem o saberem, eles se entregam inteiramente a prover as suas necessidades materiais, são os agentes que colaboram nos desígnios do Criador. Seu trabalho não concorre menos para o objetivo final da Natureza, embora, muitas vezes, não possais ver o seu resultado imediato”.

Tudo na natureza trabalha, cada um na sua espécie, onde Deus lhe determinou operar. Embora pareça automático o movimento de vida da natureza, há inúmeros agentes de Deus impulsionando com inteligência o mourejar de todos os reinos. Árvores e animais trabalham, em sentido mais profundo, não somente para se manterem vivos; todas as divisões da natureza laboram crescendo. Em tudo que existe, Deus depositou algo mais importante para ser despertado. Se não notamos progresso nos animais e nas plantas, como no ser humano, é porque ele não é visível tanto quanto nesse último, no entanto, há uma maturação, pode-se dizer, uma fermentação da inteligência, que no amanhã pode despertar convenientemente. O transformismo está na lei divina: a luz que sai do Grande Foco se transmuta em variadas formas, cresce no seu despertar e se divide ao infinito; o animal trabalha no seu modo de ser, e o crescimento de cada espécie vai mudando o modo pelo qual ele deve trabalhar. No princípio, ele opera para garantir sua vida física, para depois a tarefa ir se aperfeiçoando, de modo que todo o trabalho se funde e espiritualiza pelos pensamentos, que engloba todos os recursos usados até então. Trabalhamos pensando, trabalhamos olhando, trabalhamos falando e trabalhamos fazendo. As modalidades são inúmeras.
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LEIS MORAIS
Capítulo II – Lei de Adoração.
Vamos tratar do estudo do tópico Sacrifícios, que encerra o presente Capítulo, estudando as questões de 669 a 673. Esse tópico fala das medidas que se adotava na Antiguidade, desde sacrifícios de animais, até mesmo sacrifícios humanos.
669. Remonta à mais alta antiguidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Primeiramente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.”
Os sacrifícios humanos, nos primórdios da civilização, tiveram a sua origem na necessidade e na ignorância dos homens, em seu empenho em agradar às divindades, o que caracterizou a aceitação de sua dependência a algo superior a eles. Acreditavam nos deuses sem submeter a exame o que eles diziam, pondo de lado o raciocínio, e assim como ouviam, assim praticavam. É certo que, em muitos casos, influíram na interferência de Espíritos ligados a paixões inferiores. É interessante lembrar o caso de Abraão que, de pois de muito tentar ter um filho para ser seu herdeiro, Sara lhe deu um filho, Isaac. E o que acontece? Abraão é submetido pela entidade que se apresentava como o Deus único, a uma determinada prova. Levar seu filho para ser imolado no alto de um monte. Quando ele vai desferir o golpe fatal sobre seu filho, esta entidade interrompe e libera Isaac, colocando em seu lugar um animal (carneiro) que surge no topo do monte, para que o sacrifício seja feito em louvação a Deus.
669-a. De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não pode haver dúvida.”
Um dos deuses, chamado Moloc, exigia sacrifícios de animais, ato impudico que até hoje acontece, expressando a barbaridade de uma civilização. Depois que a razão começou a dominar os instintos inferiores das criaturas, foram diminuindo esses feitos que envergonham as consciências dos que alimentavam a ideia de sacrifício, e quando este chegava apontando um ente querido seu, ele começava a se revoltar e se desfazer das suas ideias maquiavélicas.
669-b. Então, de acordo com a explicação que vindes de dar, não foi de um sentimento de crueldade que se originaram os sacrifícios humanos?
“Não; originaram-se de uma ideia errônea quanto à maneira de agradar a Deus. Considerai o que se deu com Abraão. Com o correr dos tempos, os homens passaram a abusar dessas práticas, imolando seus inimigos, e até mesmo seus inimigos particulares. Deus, entretanto, nunca exigiu sacrifícios, nem de homens, nem, sequer, de animais. Não há como imaginar-se que se Lhe possa prestar culto mediante a destruição inútil de Suas criaturas.”
Os sacrifícios dos animais precederam aos sacrifícios humanos, e de novo eles desejam voltar, como pena de morte, e morte de todos os tipos, como se este tipo de punição fosse agradável a Deus. Se todos somos irmãos em Jesus, matar para que, se ninguém morre? Se Jesus fosse ver esse modo de pensar, não viria à Terra, mas, o que O trouxe aqui foi o Seu amor pelos que sofrem Ele não mandou matar os encarcerados e, sim, visitá-los, levando-lhes a esperança da vida e fazendo-os crer na lei de amor para todas as criaturas. Deus realmente não quer sacrifícios, mas aceitou-os para que os homens compreendessem mais tarde que não deveriam proceder assim. O instinto do homem é matar para sobreviver, é tomar de outrem para seu bem-estar, é, enfim, a manifestação do egoísmo e do orgulho em todos os lados da evolução humana.

670. Dar-se-á que alguma vez possam ter sido agradáveis a Deus os sacrifícios humanos praticados com piedosa intenção?
“Não, nunca. Deus, porém, julga pela intenção. Sendo ignorantes os homens, natural era que supusessem praticar ato louvável imolando seus semelhantes. Nesses casos, Deus atentava unicamente na ideia que presidia ao ato e não neste. À proporção que se foram melhorando, os homens tiveram que reconhecer o erro em que laboravam e que reprovar tais sacrifícios, com os quais não podiam conformar-se as ideias dos espíritos esclarecidos. Digo esclarecidos, porque os homens tinham então a envolvê-los o véu material; mas, por meio do livre-arbítrio, possível lhes era vislumbrar suas origens e fim, e muitos, por intuição, já compreendiam o mal que praticavam, se bem que nem por isso deixassem de praticá-lo, para satisfazer às suas paixões.”
Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, contudo, colocou em cada criatura todos os valores espirituais para serem acordados e é no desenvolvimento desses valores que passamos por processos difíceis de serem vencidos. Toda subida exige esforço, e o Senhor já nos fez assim para nos dar oportunidade de conquistar, na nossa vida transitória, a nossa felicidade. Deus nos fez para o bem e somente nos deseja o amor, porém, o que passamos para alcançar essa estabilidade, são testes os quais julgamos ser infelicidade, dado o nosso pouco entendimento.

671. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que impele os povos fanáticos, tendo em vista agradar a Deus, a exterminarem o mais possível os que não partilham de suas crenças, poderá equiparar-se, quanto à origem, ao sentimento que os excitava outrora a sacrificarem seus semelhantes?
“São impelidos pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra aos seus semelhantes, contravêm à vontade de Deus, que manda ame cada um o seu irmão como a si mesmo. Todas as religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, qualquer que seja o nome que lhe deem. Por que então há de um fazer guerra de extermínio a outro, sob o fundamento de ser a religião deste diferente da sua, ou por não ter ainda atingido o grau de progresso da dos povos esclarecidos? Se são desculpáveis os povos de não crerem na palavra daquele que o espírito de Deus animava e que Deus enviou, sobretudo os que não o viram e não lhe testemunharam os atos, como pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando lhes ides levá-la de espada em punho? Eles terão que se esclarecer, sem dúvida; mas devemos esforçar-nos por fazê-los conhecer a doutrina do Cristo mediante a persuasão e com brandura, nunca a ferro e fogo. Em vossa maioria, não acreditais nas comunicações que temos com certos mortais; como quereríeis que estranhos acreditassem na vossa palavra, quando desmentis com os atos a doutrina que pregais?”
As guerras entre os homens nascem da ignorância dos mesmos ante as leis que os protegem e sustentam a vida. As guerras santas, como são chamadas no mundo, partem da barbaridade dos homens que desconhecem o amor. Essas lutas vêm de épocas passadas, e quanto mais o homem sobe na escala evolutiva, mais aperfeiçoa as técnicas de guerras. Somente depois que a humanidade passar a conhecer as vantagens do amor, da fraternidade, do perdão é que irá deixando o orgulho e o egoísmo, fontes de todas essas paixões que derramam sangue e espalham luto em toda a face da Terra.
672. A oferenda de frutos da terra, feita a Deus, tinha a Seus olhos mais mérito do que o sacrifício dos animais?
“Já vos respondi, declarando que Deus julga segundo a intenção, e que para Ele pouca importância tinha o fato em si. Mais agradável evidentemente era a Deus que Lhe oferecessem frutos da terra, em vez do sangue das vítimas. Como temos dito e sempre repetiremos, a prece proferida do fundo da alma é cem vezes mais agradável a Deus do que todas as oferendas que Lhe possais fazer. Repito que a intenção é tudo, que o fato nada vale.”
A oferenda de frutos já é mais um passo que os seres humanos deram na escala do seu progresso. De animais para frutos, sendo que hoje alguns já passaram para as fumaças e preces decoradas, os seres humanos, e mesmos alguns Espíritos, querem agradar a Deus com alguma coisa, por ainda não serem capazes de oferecer a Ele o esforço próprio para melhorarem a sua vida. A melhor oração que se deve fazer, se já se encontra na condição de senti-la, é o esforço no aprimoramento consciente da alma. Exercitar todos os dias é um trabalho valioso, que faz sorrir os Espíritos elevados.
673. Não seria um meio de tornar essas oferendas agradáveis a Deus consagrá-las a minorar os sofrimentos daqueles a quem falta o necessário e, neste caso, o sacrifício dos animais, praticado com fim útil, não se tornaria meritório, ao passo que era abusivo quando para nada servia, ou só aproveitava aos que de nada precisavam? Não haveria algo de verdadeiramente piedoso em consagrar-se aos pobres as primícias dos bens que Deus nos concede na Terra?
“Deus abençoa sempre os que fazem o bem. O melhor meio de honrá-lo consiste em minorar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos. Não quero dizer com isto que Ele desaprove as cerimônias que praticais para Lhe dirigirdes as vossas preces. Muito dinheiro, porém, aí se gasta que poderia ser empregado mais utilmente do que o é. Deus ama a simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades e não ao coração é um espírito de vistas acanhadas. Dizei, em consciência, se Deus deve atender mais à forma do que ao fundo.”
Tudo que Deus fez é agradável a Ele. O homem é um aprendiz do Senhor, e sendo Seu filho certamente que tem a obrigação de acompanhar a seu Pai em todos os sentidos. Não diz a bíblia que o homem é semelhante ao Criador? Como é que os pais da Terra ficam satisfeitos com as criancinhas ou com os seus filhos adultos? Não é da mesma maneira; a criancinha, com um simples sorriso, e o adulto com a sua boa conduta.
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LEIS MORAIS
Capítulo II – Lei de Adoração.
Vamos estudar as questões 667 e 668, que falam a respeito do Politeísmo.
667. Por que o Politeísmo é uma das crenças mais antigas e mais espalhadas, se é falso?
“A ideia de um Deus único só podia aparecer como resultado do desenvolvimento mental do homem. Incapaz, na sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma determinada, agindo sobre a matéria, ele lhe havia dado os atributos da natureza corpórea, ou seja, uma forma e uma figura, e desde então tudo o que lhe parecia ultrapassar as proporções da inteligência comum tornava-se para ele uma divindade. Tudo quanto não compreendia devia ser obra de um poder sobrenatural, e disso a acreditar em tantas potências distintas quantos os efeitos pudesse ver não ia mais do que um passo. Mas em todos os tempos houve homens esclarecidos que compreenderam a impossibilidade dessa multidão de poderes para governar o mundo sem uma direção superior, e se elevaram ao pensamento de um Deus único”.
O homem primitivo, em épocas recuadas, não tinha condições de aceitar a crença em um Deus único. Mas, Deus, sábio e soberano, deixou que os homens primitivos acreditassem na doutrina politeísta, para depois enviar uma sequência de revelações para incorporar os princípios da verdade, vindo a se revelar pelos Seus enviados, solidificando-se em um Deus único, por Moisés. A concepção dos deuses se espalhou por toda parte, mostrando aos homens que tudo era assistido por deuses específicos, na modalidade dos seus interesses para a paz de todos. Por vezes, esses deuses entravam em guerra e estimulavam a luta pelos direitos que os homens julgavam possuir. Moisés foi um instrumento ímpar nessa divulgação; ele derrubou os deuses mesmo que isso custasse, como ocorreu, muitas vidas.
668. Os fenômenos espíritas sendo produzidos desde todos os tempos e conhecidos desde as primeiras eras do mundo, não podem ter contribuído para a crença da pluralidade dos deuses?
“Sem dúvida, porque para os homens, que chamavam deus a tudo o que era sobre-humano, os Espíritos pareciam deuses. E também por isso quando um homem se distinguia entre os demais pelas suas ações, pelo seu gênio ou por um poder oculto que o vulgo não podia compreender, faziam dele um deus e lhe rendiam culto após a morte”. (Ver item 603.)
Não podemos negar que a crença nos deuses era um caminho para que o povo pudesse encontrar um só Deus, verdadeiro e justo. Como acreditar na unidade de Deus sem os meios lícitos e lógicos? Quem iria facultar esse entendimento seria o próprio Criador, cujos emissários se manifestaram por intermédio de Moisés, como se fossem a voz de Deus. Quanto mais a criatura cresce em Espírito, mais vai sabendo de onde veio e para onde vai; no entanto, ainda há muitos segredos que ainda não foram revelados, por não ter chegado a hora. Devemos esperar trabalhando e sentindo a Vida Maior na nossa vida. As religiões se sucedem, cada uma trazendo meios para convencer a humanidade sobre a paternidade do Deus único e soberano.
Para se conhecer Deus com maior interesse, com mais minuciosidade, o caminho é começarmos a estudar nós mesmos. Qual dos homens conhece o mecanismo do corpo físico na sua integral postura como foi criado pela Divindade? E os outros corpos que o Espírito usa na sua jornada evolutiva? E o Espírito? Se ainda não passamos por esses caminhos de conhecimento, como pretendemos conhecer a Deus? Tudo está certo, na pauta da vida. Foi pela crença nos deuses que o homem passou a crer no invisível; foi quando esses deuses ficaram visíveis para os homens que eles descobriram que ninguém morre, e muitas coisas existem que a humanidade, depois do preparo, vai descobrir. Somente sabe tudo, quem tudo fez. Somente Deus conhece a Si mesmo, na sua totalidade. A Doutrina dos Espíritos surgiu no mundo para dar a conhecer, nas claridades da sua sinceridade, certas leis que as outras religiões não conhecem ou não puderam revelar. Os caminhos estão abertos para tais conhecimentos, onde o impulso de perguntar encontre mais respostas, e satisfaça a curiosidade, aprendendo mais alguma letra depois do alfabeto da vida.
Comentário de Kardec: A palavra deus tinha entre os antigos uma acepção muito extensa; não era, como em nossos dias, uma designação do Senhor da Natureza, mas uma qualificação genérica de todos os seres não pertencentes às condições humanas. Ora, tendo as manifestações espíritas lhes revelado a existência de seres incorpóreos que agem como forças da Natureza, eles os chamaram deuses, como nós os chamamos Espíritos. Uma simples questão de palavras. Com a diferença de que, em sua ignorância entretida deliberadamente pelos que tinham interesse em mantê-la, elevaram templos e altares lucrativos a esses seres, enquanto para nós eles não passam de criaturas nossas semelhantes mais ou menos perfeitas, despojadas de seu envoltório terreno. Se estudarmos com atenção os diversos atributos das divindades pagas, reconheceremos sem dificuldade todos os que caracterizam os nossos Espíritos, em todos os graus da escala espírita, seu estado físico nos mundos superiores, todas as propriedades do períspirito e o papel que exercem no tocante às coisas terrenas.

O Cristianismo vindo aclarar o mundo com a sua luz divina, não podia destruir uma coisa que está na própria Natureza, mas fez que a adoração se voltasse para aquele a que realmente pertence. Quanto aos Espíritos, sua lembrança se perpetuou sob diversos nomes segundo os povos, e suas manifestações, que jamais cessaram, foram diversamente interpretadas e frequentemente exploradas sob o domínio do mistério.  Enquanto a religião as considerava como fenômenos miraculosos, os incrédulos as tomaram por charlatanice. Hoje, graças a estudos mais sérios, feitos a plena luz o Espiritismo, liberto das ideias supersticiosas que o obscureceram através dos séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo II – Lei de Adoração.
Estas perguntas que encerram o tópico A Prece, dizem respeito a questões de orar por quem e orar a quem. Vamos estudar as questões de 664 a 666.
664. É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, e nesse caso como pode as nossas preces lhes proporcionar consolo e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de fazer dobrar-se a justiça de Deus?
“A prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque o infeliz, é sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham as suas dores. De outro lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se tornar feliz.  É nesse sentido que se pode abreviar a sua pena,  se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso vos mostrava que sereis culpados se nada fizerdes pelos que mais necessitam”.
Devemos sempre orar pelos Espíritos desencarnados, principalmente pelos sofredores que ignoram a bondade de Deus. Mesmo que seja uma alma devedora em todas as circunstâncias, violenta em todas as suas atividades, devemos a ela um gesto cristão, oferecendo as nossas orações, o nosso carinho, para que possa modificar suas intenções e despertar em seu coração o interesse de ser útil aos que sofrem igualmente. Não é perda de tempo, como alguns pensam, e certas filosofias ensinam; é dever do homem de bem orar pelos que sofrem ou causam sofrimento aos outros. São os doentes que precisam ser tratados. A prece não vai mudar os desígnios de Deus, nem diminuir as provas dos que incorreram em faltas, porém é força poderosa que parte do coração misericordioso que se instrui com Jesus. O Mestre é a misericórdia viva que veio de Deus para a humanidade. A oração tem o poder de levar ao desesperado a paciência; ao violento, a calma, ao odiento, o amor, ao sofredor, o alívio. É nesse processo de socorro que se vê o tesouro da prece, quando feita por amor às criaturas.
665. Que pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos, por não estar prescrita nos Evangelhos?
“O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar. Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido; mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade. Por conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do que aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei divina que deve conduzirá unidade, objetivo e fim do Espírito”.
A filosofia religiosa que prega a não obrigação de orar pelos mortos, porquanto eles se encontram ligados aos corpos na sepultura, esperando o dia do juízo, alegando que a prece por eles nada acrescentará para a sua salvação e sua melhora, pois o que fizeram na Terra está feito, se esqueceu de aceitar Jesus. Do modo que eles pregam, uns irão para a direita, outros diretamente para a esquerda, ou seja, para o inferno eterno. Como poderia Deus, que é amor, que fez Seus filhos todos iguais, e sendo onisciente, não saber que eles, ou alguns deles, iriam para o sofrimento eterno? A resposta à pergunta em estudo foi dada por um pastor protestante (Sr. Monod, Espírito), que foi oportuna, mas se esqueceu de dizer que Jesus orava, sim, pelos mortos. Quantas vezes o Senhor subiu ao monte, para orar! Isso acontecia sempre e Ele chamava à Sua companhia alguns dos Seus discípulos. Ele, o Mestre dos mestres que conhecia tudo, toda a ciência e filosofia espiritual, não iria se esquecer dos mais necessitados, daqueles que vivem fora do corpo, em desespero. Quem poderia dizer que o Cristo quando orava não incluía os mortos? Os vivos, principalmente os judeus, tinham muitos profetas e inúmeros sacerdotes que lhes ensinavam a orar e lhes ditavam as regras estabelecidas por Moisés, enquanto os mortos sofredores em regiões “umbralinas” precisavam disso tanto quanto os chamados vivos. Quem pensa que no Evangelho não aparece Jesus orando pelos mortos, está completamente enganado, porque Jesus orou, e muito, pelos desencarnados, e falanges desses Espíritos despertaram e acompanharam Jesus até o último momento da Sua gloriosa despedida da Terra, regressando para as regiões resplandecentes de onde veio.
666. Podemos orar aos Espíritos?
“Podemos orar aos bons Espíritos como sendo os mensageiros de Deus e os executores de seus desígnios, mas o seu poder está na razão da sua superioridade e decorre sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja  permissão nada se faz; e isso porque as preces que lhes dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus”.

É dever do ser humano orar buscando os Espíritos superiores, agradecendo os benefícios recebidos deles e pedindo ajuda, desde quando o pedido seja submetido ao Todo Poderoso, e que tenha justa finalidade, em benefício coletivo, não ultrapassando as necessidades reais de cada um. Os Espíritos, mesmo os que se encontram na faixa dos seres angélicos, foram companheiros que já estiveram reencarnados na Terra ou em outros mundos, buscando o que hoje buscamos. A distância que existe dos encarnados a eles é na ordem do tempo; eles são mais velhos, no que tange à idade do Espírito, portanto, já estão livres da ignorância, e vivem no amor e pelo amor. Eles são os agentes de Deus encarregados de socorrer os que sofrem, encarnados e desencarnados, e as suas funções são exercidas nos dois planos de vida.
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Capítulo II – Lei de Adoração.
Dando seguimento ao tópico A Prece, vamos estudar as questões de 661 a 663.
661. Pode-se pedir eficazmente a Deus o perdão das faltas?
“Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta. As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras”.
Há muitas religiões que asseguram e têm esperança de que Deus perdoa todas as faltas cometidas, por apenas um simples arrependimento. Como se enganam esses irmãos! Não há perdão de faltas para ninguém; se assim fosse, seria para todas as criaturas, pois todos são filhos do mesmo Deus, e como Ele é amor, não poderia perdoar uns e deixar outros sob o peso das consequências que são geradas das faltas. Somente o ofendido é que deve perdoar ao ofensor, e isso não faz com que o ofensor se liberte das faltas cometidas; a lei cobra dele o ato de desamor para com seu irmão em caminho. Se o ofendido não perdoar, o revide faz com que ele entre na faixa do ofensor e com ele se afinize nas suas inferioridades.
662. Pode-se orar utilmente pelos outros?
“O Espírito daquele que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela prece atrai a ele os bons Espíritos que se associam ao bem que deseja fazer”.
Orar é um ato de amor, mas, se quiseres beneficiar realmente o irmão que padece, procura orar com amor, com a prece ardente, de modo que o pensamento sirva de canal para que as bênçãos de Deus possam aliviar o enfermo ou atribulado. No entanto, o sofredor deve estar consciente das suas provas e alimentar a fé, de modo que essa fé corresponda ao que disse Jesus aos inúmeros enfermos que Ele curou: A tua fé te curou. Não só podemos, mas devemos orar pelos que sofrem, se possível todos os dias, não somente porque podemos curar ou aliviar aos que padecem, rnas, e principalmente, porque é um exercício de amor, que praticamos em nosso próprio benefício. Mesmo que o enfermo não tenha fé e não saiba que alguém está pedindo a Deus por ele, será bafejado pela luz da oração sincera, e sentirá um conforto que ele próprio não saberá de onde veio. Isto é Deus operando com o Seu amor para ajudar aos Seus filhos em todas as dimensões da vida em que estagiam.
Comentário de Kardec: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.
663. As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?
“Vossas provas estão nas mãos de Deus e lia as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai a vós os bons Espíritos que vos dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos parecem menos duras. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará; tu sabes disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal do vosso ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo. Além. disso, de quantos males o homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas. Ele é punido no que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um milagre em vosso favor, quando, entretanto, vos assiste por meios tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das circunstâncias. Frequentemente, ou o mais frequentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço”.

As preces não podem mudar todos os destinos humanos, contudo, elas têm forças descomunais que os próprios homens desconhecem. A oração, pelo modo que ensinou Jesus, pelo exemplo, é um transformador espiritual das vidas; quem sabe orar, sabe viver bem. A prece traz para junto de nós os Espíritos elevados, desde quando sejam elevados os nossos sentimentos. Convém ao Espírito, encarnado ou não, estudar a força da oração, exercitar-se na prece diariamente, até dominar as forças que pode atrair com ela, mas sempre em trabalho digno. Não se brinca com as forças divinas em expansão no universo, mas que emanam do próprio Deus, na luz do Seu amor. Quando se sabe orar, mesmo que seja em favor de alguém que sofre, o mais beneficiado é quem ora, recebendo assistência dos bons Espíritos, e na transfusão de trocas superiores, a energia que se acumula pela oração, cura, alegra e nos encaminha para uma vida melhor.
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Capítulo II – Lei de Adoração.
Estudo do tópico Vida Contemplativa, que compreende uma única questão, a 657.
657. Os homens que se entregam à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e só pensando em Deus, têm algum mérito aos seus olhos?
“Não, pois se não fazem o mal também não fazem o bem e são inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense nele, mas não que se pense apenas nele, pois deu ao homem deveres a serem cumpridos na Terra. Aquele que se consome na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque sua vida é toda pessoal e inútil para a Humanidade. Deus lhe pedirá contas do bem que não tenha feito.” (Ver item 640.)
A vida contemplativa é um estágio da alma que procura algo de real para a sua solidificação espiritual. O "nada se perde" pode ser usado em tudo. À primeira vista, nos parece que a contemplação de nada serve; evidentemente não serve para nós, mas prepara quem está sem rumo para um trabalho no futuro, de grande valia. Nunca devemos incentivar a vida contemplativa, pois é semente de difícil germinação, todavia, quem precisa dela na espontaneidade de suas decisões, que o faça. Diante deste assunto, vamos repetir a resposta à pergunta de número quinhentos e trinta e seis, quando os Espíritos benfeitores assim respondem: Tudo tem uma razão de ser, e nada acontece sem a permissão de Deus. Quem tem uma vida contemplativa, o que nos dias atuais já não ocorre muito, desejou tê-la. O desejo é uma prece.
Iniciando o tópico A Prece, vamos estudar as questões de 658 a 660-a.
658. A prece é agradável a Deus?
“A prece é sempre agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para ele. A prece do coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade”.
Deus não sente emoções de tristeza nem de alegria, do modo que pensamos e sentimos, como Espíritos ainda de certo modo ignorantes. Agradar a Deus, tudo agrada, porque Ele, o Soberano Senhor, sabe transformar até o que chamamos de mal no bem mais puro, porque Ele é Amor. A prece de coração, com a maior dose de amor e humildade, atrai para junto de quem a faz, energias sutis, capazes de harmonizar todo o ser, e ainda beneficiar aos que nele pensam e aos em que ele pensa. É um comportamento espiritual livre e fascinante, é um degrau a mais que o Espírito atinge na urdidura do seu amor; quanto mais amor, mais força a alma possui na oração.
659. Qual o caráter geral da prece?
“A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nele, aproximar-se dele, pôr-se em comunicação com ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer”.
Certamente que a prece é um ato de adoração, seja ela na linguagem em que for dita, desde que seja pelo coração. Seja ela ensinada por essa ou aquela religião, orar é reconhecer um poder Supremo, é ato de gratidão Àquele que nos fez e nos governa a todos. Deus já se encontra em toda parte, desde a Sua Criação, mas, nem sempre se percebe essa união divina com a criação. Somente quando despertamos para a vida, quando a nossa consciência se ilumina, é que vamos a Ele, porque Ele já se encontra em nós, a esperar que acordemos para a verdadeira vida. Ele não tem predileção por ninguém. Quem ora sabe que pela oração pode comunicar-se com o invisível. Em certo nível do Espírito que faz a prece, ele não precisa mais pedir, porque a Onisciência Divina sabe bem o que todos merecem receber no seu estágio espiritual. Neste caso, devemos somente agradecer o que vem ao nosso caminho, com humildade e amor, ao Pai que nunca se esquece dos Seus filhos do coração.
660. A prece torna o homem melhor?
“Sim, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade”.
A prece torna melhor o homem, desde que esse homem compreenda a eficácia da oração, fazendo-a no seu sentido real. As preces decoradas, onde somente a boca fala, sem que o coração participe, são vazias e não passam de sons que o verbo articula. O essencial não é orar em demasia, maquinalmente, na inconsciência; é orar com sentimento de ternura, é colocar o coração para falar antes da boca. Quem não se interessa em corrigir os seus deslizes jamais aprende a orar. A prece atrai sempre luz para quem a faz, mas essa luz somente surge pelos canais da reforma, onde dominam o amor e a caridade.
660–a. Como se explica que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de indulgência; que sejam até mesmo viciosas?
“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham, os olhos para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste caso, mas a maneira de aplicá-lo”.

Se orar é amar, devemos orar nos moldes que Jesus ensinou: guardando os Seus mandamentos. Se desejas guardar os mandamentos de Jesus, deves trabalhar em silêncio, no teu mundo interno, no íntimo do teu coração. Desta forma, não sobrará tempo para observarmos os defeitos do nosso próximo. É neste sentido que a prece torna o homem melhor, e tem a força de purificar a alma, de despertá-la para a luz imortal. O remédio da oração é excelente em todos os casos, para todas as enfermidades morais, no entanto, é necessário que se saiba empregar esse medicamento divino para a cura de todos os males. A prece sincera desperta e ativa energias divinas na consciência e Deus passa a operar por seu intermédio, fazendo prodígios.
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LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Encerrando o estudo do tópico Adoração Exterior, vamos estudar as questões 655 e 656.
655. E reprovável praticar uma religião na qual não se acredita de coração, quando se faz isso por respeito humano e para não escandalizar os que pensam de outra maneira?
“A intenção, nisso como em tantas outras coisas, é a regra. Aquele que não tem em vista senão respeitar as crenças alheias não faz mal; faz melhor do que aquele que as ridicularizasse, porque esse faltaria com a caridade. Mas quem as praticar por interesse ou por ambição é desprezível aos olhos de Deus e dos homens. Deus não pode agradar-se daquele que só demonstra humildade perante ele para provocar a aprovação dos homens”.
A intenção é que constitui a regra da punição, mas Deus não pune ninguém; o que age são as leis criadas por Ele para disciplinar os Espíritos e é essa disciplina que educa, e todos passam por ela. Convém a nós todos estudarmos cada vez mais, procurar a observância de todas as leis. Onde o amor comanda, que desta forma vamos ficando livres dos sofrimentos, das correções e dos atritos que nos fazem sofrer. Quem pratica a religião por interesse ou ambição, não é Deus quem o despreza, mas as leis que vibram dentro da sua própria consciência. É ele mesmo que procura esquecer-se de Deus para não se sentir constrangido, porém, não o consegue, porque todos nós fomos criados iguais, com a mesma massa divina. As boas intenções na alma são a marca da sua evolução. O despertamento espiritual faz nascer luz no coração e inteligência na mente, de modo que podemos conhecer quem é quem pelos pensamentos e ações de cada dia.
656. A adoração em comum é preferível à adoração individual?
“Os homens reunidos por uma comunhão de pensamentos e sentimentos tem mais força para atrair os bons Espíritos. Acontece o mesmo quando se reúnem para adorar a Deus. Mas não penseis, por isso, que a adoração em particular seja menos boa; pois cada um pode adorar a Deus pensando nele”.

A adoração pode ser individual ou coletiva. O seu valor não está na quantidade, de menos ou mais pessoas e, sim, na sinceridade de propósitos. Tudo que fazemos, devemos fazê-lo com dignidade. O propósito é que expressa o seu valor. Os homens comuns sempre se reúnem para adorar ao Senhor em conjunto, onde têm uma liderança, como se fossem um rebanho. À medida que eles vão se libertando, passam a adorar a Deus sozinhos, no profundo do coração. Os bons Espíritos vêm em seu auxílio onde o objetivo se torna maior. As reuniões, neste caso, são por sintonia; onde os sentimentos se entrelaçam para a caridade, mãos invisíveis estão ajudando, ou procurando ajudar, pelos meios lícitos e possíveis. Experimentemos esse exercício que ora é falado, e sentiremos um bem-estar indizível no coração, porque o Céu e Deus se encontram igualmente dentro de nós. Descobrindo essa verdade, passaremos a ser felizes com os nossos próprios recursos e a presença de Deus nos nossos mínimos trabalhos.
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Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Iniciando o estudo do tópico Adoração Exterior, vamos estudar as questões de 653 a 654.
653. A adoração necessita de manifestações exteriores?
“A verdadeira adoração é a do coração. Em todas as vossas ações, pensai sempre que um senhor vos observa”.
Convém esclarecer que a pergunta de Kardec fez aos Espíritos se refere ao “proselitismo”. E o que é isso? É muito simples. É quando o indivíduo acha que, por ter determinado vínculo com uma doutrina, religião ou filosofia, somente ela e seus prosélitos é que têm razão, e os outros estão errados. O proselitismo é o precursor de uma atitude fanática.
E os Espíritos respondem que a verdadeira adoração é a do coração, ou seja, una pessoa pode ler na abertura dos trabalhos de uma casa espírita, uma linda página para a preparação do ambiente; fazer uma linda prece de abertura, e não ter nada disso dentro do seu coração, ou seja, a razão pode estar ali, mas o sentimento não. A adoração verdadeira nasce do coração, envolvendo todos os sentimentos. Devemos acionar os pensamentos em gratidão, todos os dias, Àquele que nos criou, não para lembrá-Lo de que existimos, pois, Ele está presente em tudo, mas, com esse gesto nos aproximarmos d'Ele, pela força do amor.
Os povos primitivos não têm outros meios do que a adoração exterior, e ela serve para eles, devido aos seus limitados conhecimentos sobre a verdade. Não podemos exigir uma adoração em Espírito e verdade de quem não pode dá-la; seria violência com o tipo de vida e a evolução que ele comporta.
 653-a. A adoração exterior é útil?
“Sim, se não for um vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo: mas os que afazem só por afetação e amor próprio e cuja conduta desmente a sua aparente piedade dão um exemplo antes mau do que bom e fazem mais mal do que supõem”.
A adoração sincera é divina, mas ela deve se estender aos pensamentos, às ideias, às palavras e às ações. O verdadeiro adorador de Deus e Cristo, o é pela vida que leva dentro da pureza, onde o amor universal seja o instrumento dessa gratidão. Aqueles que louvam o Senhor somente para mostrar seus gestos, estando longe seus sentimentos, desconhecem as consequências do que fazem. Falta-lhes maturidade espiritual, e a paciência de Deus continua esperando que o tempo e as Suas leis naturais possam levar Seus filhos a compreenderem seus maiores deveres ante a paternidade universal. A adoração válida é aquela que corresponde à evolução da alma, desde quando o amor seja o instrumento e a sinceridade a marca mais segura do filho ao Pai. Dos espíritas esperamos que adorem ao Senhor em Espírito e Verdade, de modo que a verdade os liberte. Podemos citar como exemplo disso os povos primitivos, que não têm outros meios do que a adoração exterior, e ela serve para eles, devido aos seus limitados conhecimentos sobre a verdade. Não podemos exigir uma adoração em Espírito e verdade de quem não pode dá-la; seria violência com o tipo de vida e a evolução que ele comporta.
654. Deus tem preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?
“Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que pensam honrá-lo através de cerimônias que não os tornam melhores para os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam. Aquele que só tem a aparência da piedade é um hipócrita; aquele para  quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com apropria conduta dá um mau exemplo. Aquele que se vangloria de adorara Cristo mas que é orgulhoso, invejoso e ciumento, que é duro e implacável com os outros ou ambicioso dos bens mundanos, eu vos declaro que só tem a religião nos lábios e não no coração. Deus, que tudo vê, dirá: aquele que conhece a verdade é cem vezes mais culpável do mal que faz do que o selvagem ignorante e será tratado de maneira consequente, no dia do juízo. Se um cego vos derruba ao passar, vós o desculpais, mas se é um homem que enxerga bem, vós o censurais e com razão. Não pergunteis, pois, se há uma forma de adoração mais conveniente, porque isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado numa língua do que em outra. Digo-vos ainda uma vez: os cânticos não chegam a ele senão pela porta do coração”.

Deus não tem preferência por alguém, somente porque tenha uma forma de adoração a Ele mais refinada. Deus se interessa por tudo na urdidura da Sua grandiosa criação. Como ter preferência, se Ele sabe que o crescimento das qualidades é através do tempo, que Ele mesmo criou? Deus não tem preferência em relação aos Seus filhos. Seu amor é como o sol cujos raios aquecem a todos e a tudo com o mesmo amor. A diferença está em como recebemos esses raios, segundo a nossa evolução. Não é a forma de adorar a Deus que importa, é a maturidade da alma, pelas mãos do tempo. Se já conheces determinadas verdades espirituais, deves usá-las; se já abriste os olhos para a luz, deves encará-la sem temê-la.
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Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Iniciando o estudo do tópico Objetivo da adoração, vamos estudar as questões de 649 a 652.
649. Em que consiste a adoração?
“E a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima de Deus a sua alma”.
Esta palavra, adoração, nos traz uma vibração que nos parece uma modalidade de adorar a Deus de forma primitiva, como se fosse paralisar-nos diante de tanto serviço que nos chama a respeitar ao Criador através do trabalho. No entanto, não é assim; existem muitas formas de adorar a Deus, de acordo com a evolução das criaturas. O sábio adora a Deus pelas suas realizações; Jesus adorava o Pai fazendo a Sua vontade, operando sempre em favor da harmonia universal. Os homens elevados formalizam uma adoração ao Senhor pela sua vida contínua no bem comum. Ou seja, a adoração aproxima a nossa Alma espiritualmente de Deus, ligando dentro de nós a Essência Divina, que em nós existe.
650. A adoração é o resultado de um sentimento inato ou produto de um ensinamento?
“Sentimento inato, como o da Divindade. A consciência de sua fraqueza leva o homem a se curvar diante daquele que o pode proteger”.
Adorar a Deus é um sentimento inato na criatura, reconhecendo Aquele que a protege por todos os meios. É uma gratidão dos que já reconhecem ou despertaram para a realidade. O reconhecimento da sua fraqueza, leva o homem a curvar-se diante da Força Soberana, porque encontra nessa força maior toda a sua segurança, depositando sua fé e fruindo dela toda a esperança de viver. Crer em Deus é saber que Ele existe; as formas de reconhecer essa paternidade são diversas, de acordo com a evolução já alcançada. Por que duvidar da existência de Deus? Em quem se irá crer? Ele, se bem analisarmos, está sempre nos protegendo, dando-nos a vida, o alimento, a água, o ar, as vestes, a moradia, tudo que existe e tudo de que precisamos.
651. Houve povos desprovidos de todo sentimento de adoração?
“Não, porque jamais houve povos ateus. Todos compreendem que há, acima deles, um ser supremo”.
Nunca houve povos destituídos de adoração. Há uma força soberana que nos dirige de volta para nossa origem, de onde fomos gerados. Podemos tirar essa dedução pelos filhos ante seus pais, quando mais em se tratando de Deus, Pai de todos e de tudo o que existe. Esse Deus vem nos revelando gradativamente, de modo que a nossa evolução possa resistir. Se você quer saber, todos os reinos da natureza adoram a Deus do seu modo. Quando o homem descobrir essa verdade, ele encontrará seu Criador em todos os seus passos, e sentir-se-á feliz.
 652. Pode-se considerar a adoração como tendo sua fonte na lei natural?
“Ela faz parte da lei natural, porque é o resultado de um sentimento inato no homem; por isso a encontramos entre todos os povos, embora sob formas diferentes”.

A fonte de adoração se encontra na lei natural. Essa fonte original inspira todos os homens, civilizados e ignorantes, segundo as letras dos homens. É uma filosofia de vida que pertence a todas as criaturas, que não podem esquecer esse grande dever dos homens, de adorar a Suprema Justiça, que nos orienta a todos. A adoração é variável de conformidade com a elevação da alma. Se a adoração está na lei natural, é lógico que emana da fonte divina, por ser um reconhecimento da paternidade.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Iniciando o estudo do tópico Divisão da Lei Natural, vamos estudar as questões de 647 a 648.
647. Toda a lei de Deus está encerrada na máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus?
“Certamente. Essa máxima encerra todos os deveres dos homens entre si; mas é necessário mostrar-lhes a aplicação, pois do contrário podem negligenciá-la, como já a fazem hoje. Aliás, a lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa máxima se refere a apenas um dos seus aspectos. Os homens necessitam de regras precisas. Os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas à interpretação”.
Cumpre saber que a lei de Deus se fundamenta em um só atributo do Criador: o amor. Porém, necessário se faz que compreendamos que esse amor é a síntese da própria vida, e que ela, sendo manifestação de Deus, se divide ao infinito, o quanto for necessário para elevação das almas, em transe para o despertamento espiritual. Quando falamos na lei de Deus, focalizamos um único ponto de partida que é o amor; entretanto, como esse amor não pode ser compreendido da maneira mais elevada na Terra, ele se divide pelos poderes do Criador, para educar e beneficiar a todas as criaturas. Podemos observar que Moisés coordenou os dez mandamentos, e que depois de mais ou menos quinze séculos Jesus condensou em dois apenas. E depois de mais de dezoito séculos, a Allan Kardec coube simplificar mais ainda, adaptando os dois mandamentos de Jesus em duas afirmativas mais chegadas aos seres humanos, donde poderiam ser melhor entendidos, e que são: Educar e instruir. Mudam-se as formas de regras, mas, o fundo é o mesmo: aprimorar a alma, despertá-la, despertar os tesouros que existem em todos, no cofre dos sentimentos, onde Deus depositou toda a Sua confiança.
648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis sobre a adoração, o trabalho, a reprodução, a conservação, a destruição, a sociedade, o progresso, a igualdade, a liberdade e, por fim, a da justiça, amor e caridade?
”Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes segui-la, sem que ela tenha, entretanto, nada de absoluto, como não o têm os demais sistemas de classificação, que sempre dependem do ponto de vista sob o qual se considera um assunto. A última lei é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras”.

Moisés anotou o dito dos emissários espirituais, contendo as dez regras para que os homens se educassem, preparando-se, dessa forma, o ambiente propício para a descida da Grande Luz desprendida de Deus: Jesus. Ele e o Pai são um. Isso nos leva a crer na sintonia de Jesus com o Criador, e é o que deveremos fazer, igualmente: nos ligarmos a Jesus, e poder falar como Ele: "Eu e Jesus somos um no amor". A Doutrina Espírita, sendo o Cristianismo renascendo nesta época, pela misericórdia do mesmo Jesus, divide e subdivide as leis ao infinito. Nela existem amontoados de conceitos de luz, proporcionando a todas as criaturas que procuram aprimorarem-se aos meios mais eficazes e mais reais para o despertamento dos dons espirituais que todos temos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Encerrando o estudo do tópico O Bem e o mal, vamos estudar as questões de 643 a 646.
643. Há pessoas que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o bem?
“Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário”.
Não há no mundo quem não possa fazer o bem. Em qualquer situação em que esteja o Espírito, tem ele sempre oportunidade de ser útil às criaturas, e mesmo às coisas. Se não existe nada morto, tudo carece de ser ajudado, na altura em que poderemos servir. A caridade que desenvolvemos em nossos caminhos, o bem que sempre pensamos e fazemos, o amor que já desabrochou em nosso coração, isso tudo são atividades espirituais que devem ser feitas, no entanto, não deixemos afastar do raciocínio o bom senso. Existe sim, quem não possa fazer o bem: é aquele coração que se encontra dominado pelo egoísmo e dirigido pelo orgulho, porém a sua própria consciência responderá pela invigilância. Todos os que estão no mundo seguros nos liames da carne, vivem porque há muitos vivendo por eles; somos todos elos interligados pelo amor de Deus.
644. O meio em que certos homens vivem não é para eles o motivo principal de muitos vícios e crimes?
“Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito da resistência”.
Primeiramente é necessário saber que o ambiente negativo, em qualquer lugar na Terra, é criado pelos homens, e nada mais. Onde se reúnem homens cheios de paixões inferiores, juntam-se a eles Espíritos da mesma faixa. O Espírito que vive em ambiente inferior, certamente que precisa desse testemunho de resistência que deve dar, e somente nesse meio pode ele provar o que já aprendeu nas suas experiências terrenas. Se por ventura, a Terra for saneada de modo que os ambientes negativos tornem-se em meios elevados, os Espíritos que devem passar por essas provas de resistência contra o mal, certamente que irão reencarnar em outro mundo que lhes ofereça a escola necessária para o despertamento das almas que se encontram nesse estágio de testes dolorosos. Muito se diz que a solução do problema está dentro do mesmo, porque os semelhantes se atraem pela sequência dos próprios atos na mesma faixa de vida. Pelo que notamos, tudo foi criado por Deus, e representa escolas. Se tudo existe por aquiescência Sua, não há outro raciocínio: o que chamamos de mal nos caminhos do Espírito ainda em despertamento, é um bem. As contradições de hoje poderão ser uma fonte de conhecimento para o futuro, o mal de hoje transformar-se-á em bem amanhã.
645. Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício, o mas não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?
“Arrastamento, sim; irresistível, não; porque, no meio dessa atmosfera de vícios, podes encontrar grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes”.
Certos homens demoram-se por tempo indeterminado nos vícios, enquanto outros seus companheiros saem logo quando passam a sofrer as consequências do erro. Pelo conhecimento da Doutrina dos Espíritos, é fácil saber o porquê de uns sofrerem mais que outros. Alguns, ainda, passam pelo ambiente vicioso, mas, não se interessam em viciar-se. Todos sabem que, quanto mais a ignorância domina a mente humana, mais viciada ela pode ser.
646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?
“O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva”.
O óbolo da viúva verdadeiramente é o símbolo da caridade mais pura, porque foi dado com o coração. Ela deu tudo o que tinha para dar, talvez, até o de que precisava para se alimentar. No entanto, a caridade entre os homens que crescem espiritualmente, toma outras formas. As posições são variadas no íntimo do coração. Se já compreendemos que a evolução não dá saltos, mas tem uma sequência de passo a passo, de vida a vida, jamais o ser humano, mesmo acompanhando grandes mestres da filosofia espiritualista, pode pretender fazê-la na perfeição que lhe cabe, com o coração em Jesus. Portanto, mesmo que as pessoas não sintam, como a viúva pobre do Evangelho, o amor de doar o que tem em favor dos que sofrem, o que elas fizerem, mesmo do que sobra em sua mesa, já é um começo.

 LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Dando sequência ao estudo do tópico O Bem e o mal, vamos estudar as questões de 638 a 642.
638. O mal parece, algumas vezes, ser consequente da força das circunstâncias. Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do nosso semelhante. Pode-se dizer, então, que há infração à lei de Deus?
“O mal não é menos mal por ser necessário; mas essa necessidade desaparece à medida que a alma se depura passando de uma para outra existência; então se torna mais culpável quando o comete, porque melhor o compreende”.
O que chamamos de mal, por vezes é necessário, conforme a evolução da alma. Isso constitui processo de despertamento do Espírito. Somente depois que o Espírito atinge determinado grau de evolução espiritual, não é mais necessário o escândalo. É bom que anotemos o que disse Jesus: Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo. (Mateus, 18:7) O verdadeiro erro se encontra no mal, que desfaz a fraternidade e faz esquecer o amor; que não conhece a caridade, e muito menos o perdão.
639. O mal que se comete não resulta frequentemente da posição em que os outros nos colocaram, e nesse caso quais são os mais culpáveis?
“O mal recai sobre aquele que o causou. Assim, o homem que é levado ao mal pela posição em que os outros o colocaram é menos culpável que aqueles que o causaram, pois cada um sofrerá a pena não somente do mal que tenha feito, mas também do que houver provocado”.
As leis espirituais estatuídas por Deus não acobertam ninguém pelo mal que deseja e que faz; no entanto, a consciência de cada causador registra todas as variações de sentimentos, e é nessa sensibilidade que julga e que corrige o infrator. Os culpados, em qualquer lugar, antes de serem julgados pelas leis humanas, já se sentem culpados pela consciência. É por isso que os infratores fogem. De quem fogem? Quem os está espantando é a própria consciência, é o tribunal dentro do homem, cumprindo a lei natural. É o que chamamos Deus dentro de nós. O mal sempre recai sobre o seu causador, no entanto, se quem causou o mal foi pressionado para tal, a sua pena é mais leve; ela se divide com quem o levou a cometer a falta.
640. Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é culpável no mesmo grau?
“É como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se participante dele. Talvez tivesse recuado diante da ação; mas, se ao encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se pudesse ou se tivesse ousado”.
Quem se aproveita do ambiente propício ao mal e o pratica, recebe da lei as corrigendas; se vive pensando na desarmonia dos outros, certamente ela passa a ser gerada dentro de si mesmo. As oportunidades que surgem para cometer faltas, quando aproveitadas pelo violento, é problema de sintonia. O mal está dentro dele, pela presença da ignorância. Estejas certo de que não deves interessar-te pelo mal, seja ele qual for. Nós fomos feitos por amor. Deus é a perfeição e não iria nos fazer propensos ao mal. O que chamamos de mal, e cujas consequências sofremos, Deus usa para despertar em nós os valores espirituais capazes de nos levar à felicidade.
641. O desejo do mal é tão repreensível quanto o mal?
“Conforme; há virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo de praticar, sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável”.
Em se analisando isto, pode-se notar que o pensamento impuro estraga a nossa conduta; eis porque devemos educá-lo, instruindo nossas intenções. A Doutrina Espírita é uma escola de educação da nossa mente, ampliando os exercícios, de modo a capacitar-nos a renovar os nossos pensamentos, para somente pensarmos no amor e na verdade. Se a pessoa pensa no mal e não o praticas, ainda assim está agindo mal; outrossim, esses pensamentos contrários ao amor podem inspirar outras pessoas, e a responsabilidade, em parte, cabe a quem formou as ideias negativas.
642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
“Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer”.

Convém que todas as criaturas, principalmente os espíritas, procurem fazer o bem de todas as formas possíveis, porque somente ele desvia as pessoas do mal. O Espírito deve estar sempre ocupado com coisas nobres, pois que se mostrará como nobre também.  Deus é harmonia, o que chamamos de mal é desarmonia. Não podemos agradar a dois senhores; assim, devemos procurar harmonizar a nossa vida, desde o abrir dos olhos, ao levantar, até a hora de descansar das lides diárias. As grandes coisas começarão pelas pequenas.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Dando sequência ao estudo do tópico O Bem e o mal, vamos estudar as questões de 634 a 637.
634. Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. (Ver item 115.) Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. E necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo”. (Ver item 119.)
As melhores condições que Deus deveria criar para os homens, Ele já o fez em todos os sentidos na vida e pela vida. Se Ele é todo amor e todo sabedoria, como criticá-Lo e dar-Lhe conselhos? Pela visão fraca do homem, cujos limites parecem não sair da própria atmosfera, o homem deveria ser criado para não sofrer essas limitações e desde o princípio gozar da felicidade tão almejada por ele. No entanto, Deus sabe o que fazer, nos dando certa liberdade e nos convidando para o crescimento, onde o esforço próprio é motivo da alegria de viver. Os Espíritos foram criados simples e ignorantes, mas trazendo guardado no cofre da consciência, em estado de sono, todas as qualidades dos anjos, a serem despertadas pelos esforços de cada criatura,
635. As diferentes condições sociais criam necessidades novas que não são as mesmas para todos os homens. A lei natural pareceria, assim, não ser uma regra uniforme?
“Essas diferentes condições existem na Natureza e estão de acordo com a lei do progresso. Isso não impede u unidade da lei natural, que se aplica a tudo”.
As diferentes posições sociais dos homens não significam que as leis de Deus são mutáveis; pelo contrário, elas são imutáveis em todas as direções onde são reconhecidas. O que podemos observar ante as diferenças sociais, que existem e existiram em todos os tempos, é a força do progresso, que não está sob o controle humano, mas é ordem de Deus, o Ser Supremo que não pede opinião aos homens sobre o que deve fazer em favor dos mesmos homens. As posições variadas dos seres e das coisas não tornam as leis fora da unidade universal; é falta de visão espiritual das almas em estado de despertamento espiritual. Em toda fase de ignorância, os seres humanos desejaram mudar as leis de Deus pelas suas, que são cópias mal feitas das de Deus, no entanto, nada conseguiram, por serem as leis humanas transitórias, não suportando o tempo, modificador comum das coisas variáveis.
Comentário de Kardec: As condições de existência do homem mudam segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que essa diversidade está na ordem das coisas é conforme à lei de Deus, e essa lei, por isso, não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?
“A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade”.
A lei de Deus é para todas as criaturas; do mesmo modo que ela atua em uma pessoa primitiva, ela se manifesta em um civilizado. A diferença que se processa é a maturidade, é o uso da inteligência de cada um. Vamos a uma comparação simples, mas que dá para entender as diferenças de atuação da lei, nos homens e nas coisas: homem primitivo mora ao relento, sujeito às variações do tempo, e sofrendo as consequências dessas variações. O civilizado usou da inteligência desenvolvida, fez uma casa, usa a eletricidade, fabricou a roupa e consegue alimentos com mais facilidade, e ainda fez o carro e usa o avião para rápidas viagens. Mas, as leis que regulam tudo são as mesmas para todos. Em rápido entendimento, o que o civilizado gasta para percorrer uma distância de avião em uma hora, por vezes o primitivo leva mais de vinte dias; porém, é a mesma a distância. Deus não encurtou a distância para o homem dito civilizado, ele é que descobriu meios para tal.
637. O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é culpado?
“Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem, o homem é tanto mais culpado quanto melhor sabe o que faz”.
O saber acarreta mais responsabilidade ao ser humano, porque a criatura mais intelectualizada sabe mais que o homem primitivo; por conseguinte, o homem civilizado tem mais culpa quando pratica o mal. Mas, mesmo assim, Deus ainda vê atenuantes para os civilizados, devido ao meio ambiente em que vivem, cheio de paixões inferiores que, em se somando tudo, constitui processos de despertamento das almas. O homem primitivo, como o indígena, carrega gravadas na consciência as leis de Deus e, visto viver em um ambiente de simplicidade, tem mais razão de conceber essas leis pelos instintos, tanto assim que nas suas tabas existem leis feitas por eles, para manter ali uma certa moral, estabelecendo ordem entre as famílias. Na vida dos selvagens é de se notar um senso de justiça bem acentuado; quem erra é punido, seja ignorante ou sábio, no sentido de levar a marca da corrigenda e sustar outras investidas em faltas.

Comentário de Kardec: As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O homem comete, frequentemente, faltas que, sendo embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver para compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus que o selvagem que se entrega aos instintos.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Vamos iniciar o estudo do tópico O Bem e o mal, estudando as questões de 629 a 633.
629. Que definição se pode dar à moral?
“A moral e a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus”.
A moral é uma regra de bem proceder, e torna-se uma sequência de valores onde o homem encontra a paz de consciência. Todo o Evangelho de Jesus fundamenta-se na educação dos seres humanos; portanto é uma escola de moralidade divina. Para a criatura humana que começa a se educar dentro da regra moral do Evangelho, a sua vida vai mudando, pela transformação que se opera no seu íntimo, e a consequência é a transformação do seu comportamento exterior. A honestidade não se baseia somente em uma virtude; ela passa a ser o conjunto de qualidades, onde se vê os valores intercambiarem para maior segurança da criatura.
630. Como se pode distinguir o bem do mal?
“O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei”.
Se as leis universais estão escritas na consciência de cada criatura, mesmo as que se encontram escondidas pelo véu da carne, pelo esforço da criatura passam a povoar a sua mente, deixando as lembranças mais visíveis que se possa pensar. Deus é bondade, é amor, e não iria deixar Seus filhos sofrerem as consequências dos erros sem conhecimento da verdade. Todos os que estão encarnados têm conhecimento do bem e do mal, uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção os reconhecem.
631. O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal?
“Sim, quando ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um e outro”.
O homem tem poderes extraordinários para resolver todos os problemas a ele afeitos. Se assim não fora, não existiria o Evangelho de Jesus, guia e sustentador divino para todas as criaturas. Qualquer pessoa, estado, nação, e mesmo o mundo inteiro, se se esforçar para viver os preceitos de Jesus irá se libertando de todos os problemas por si mesma criados. Pela ação do Evangelho a mente vai clareando e o mal passa a desaparecer das cogitações humanas, porque somente o bem impera onde nasce o amor. Precisamos crer em Deus, reconhecer o Pai, para nos aproximarmos d'Ele, porque Ele já existe dentro de nós. Sejamos inteligentes, e usemos esse dom para descobrir nossos próprios valores imortais, que todos temos.
632. O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal?
“Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos encanareis”.
O engano entre o mal e o bem, para os de boa vontade, para os que procuram Deus em tudo que fazem, é mais difícil. Necessário se faz crer em Deus porque, acreditando n'EIe como Pai de amor, estaremos sempre à procura das Suas leis, para que possamos vivê-las. Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. (Lucas, 6:31). Nesse regime de justiça, de amor e de fraternidade, ninguém se engana na escolha, a menos que deseje escolher o mal, o que não acreditamos. Ou seja, sempre que nós pensarmos em fazer alguma coisa que envolva outra pessoa, seria interessante perguntar a nós mesmos: será que eu gostaria que alguém fizesse isso comigo?
633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?
“Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem, é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que. diz: chega!, evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza”.

A regra divina da vida está sempre pronta para nos defender de iodos os males, no entanto, nós outros é que fechamos os olhos e interrompemos nossa audição, para não ver, nem escutar. É nesse impasse que entra a dor, pois somente ela pode nos impedir de continuarmos nos caminhos de espinhos, cheio de ilusões passageiras. Nós já fomos programados por Deus, peia ciência divina que escapa ao raciocínio, para saber o que queremos e entender as nossas limitações. Quem não sabe o limite da bebida mesmo que a água seja para todos urn precioso líquido? Quem não sabe o limite da comida, mesmo que ela seja para as criaturas um motivo de vida física? Quem não reconhece o limite do bem vestir, os limites do sono, do lazer, e mesmo do trabalho? Todos são dotados de sensibilidades para manter o próprio bem e equilíbrio da natureza divina e humana. São regras escritas por Deus na natureza, e que todos percebem, porque no ser humano elas se encontram escritas na consciência.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Vamos encerrar o estudo do tópico Origem e conhecimento da Lei Natural, estudando as questões de 625 a 628.
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?
“Jesus”.
Esta é a resposta mais curta dada pelos Espíritos neste livro: "JESUS". O Mestre dos mestres é, realmente, o modelo no qual todos os homens devem se inspirar, no sentido de caminhar com passos firmes em direção à luz. Certamente que o formulador da pergunta passou seus pensamentos por todos os grandes personagens da história universal, testando um e outro, por vezes sem segurança, em afirmações do seu próprio raciocínio; não obstante, o Mensageiro de Deus encarregado de fazer reviver o Cristianismo na Terra, limpou todas as dúvidas, dizendo que somente Jesus era e é o guia de todos os povos.
Comentário de Kardec: Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.
Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes s desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e dominar os homens.
626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus e antes dele só foram conhecidas por intuição?
“Não dissemos que elas estão escritas por toda a parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las desde os séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição”.
As leis de Deus foram reveladas gradativamente em toda a Terra, por meio de todos os povos, todavia, passaram por Jesus, levando Seu calor aos corações dos missionários encarregados desta missão. Somente Ele foi capaz de revelar aos homens a doutrina na sua pureza lirial. Os Seus seguidores não o conseguiram, por falta de capacidade espiritual no comando das ideias, e por lhes faltar maturidade divina na vivência do que falavam. Ao Espírito, mesmo o de certa elevação, quando internado na carne, lhe falta sensibilidade apurada para a filtragem dos conceitos mais requintados, como distribuía o Mestre dos mestres. Os missionários da verdade somente anunciam de acordo com a capacidade dos que ouvem. Em todos os tempos houve alertas admiráveis, em todos os países do mundo, no que se refere à vida espiritual, mas os ouvidos não registraram do modo que era anunciado, por lhes faltar preparo para tal entendimento.

627. Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual e a utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Têm eles mais alguma coisa para nos ensinar?
“O ensino de Jesus era frequentemente alegórico e em forma de parábolas, porque ele falava de acordo com a época e os lugares, faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. E preciso, pois. explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a de espertar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e sem equívocos afim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua própria razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém possa interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade”
A verdade é uma só, em todas as direções que se possa dar na casa paterna, no entanto, ela nos aparece de acordo com a elevação da alma. O despertamento do Espírito é que regula o que deve aprender sobre as leis naturais e eternas de Deus. Podemos comparar a verdade sobre as leis que nos assistem a todos com o sol físico: a sua luz é vida e alimento para a humanidade, não obstante, seus raios sofrem transformações variadas até chegarem aos homens, à Terra e mesmo a certos Espíritos. Jesus foi o medianeiro máximo entre nós e Deus. Ele sentia a verdade na mais pura expressão, porém, não poderia nos revelar essa verdade do modo que recebia. Assim como tens nas linhas elétricas transformadores para regular as forças virgens que se aproximam dos lares, assim é o Mestre na parte espiritual: Ele é, por excelência, um transformador divino, que regula as verdades eternas para que os homens possam conceber e aproveitar os conceitos das leis espirituais. O Mestre pregava amiúde em parábolas, revestindo certas verdades com a letra, por não ser tempo de serem conhecidas, a não ser por alguns a quem Ele mesmo explicava Seus segredos. As comunicações dos Espíritos superiores têm a finalidade de fazer reviver Jesus não para superar Seus ensinamentos, por nos faltar elevação para tal empreendimento, mas para dar cumprimento ao que Ele mesmo disse, que enviaria outro Consolador, a fim de dizer o que Ele mesmo não poderia falar na época em que viveu no mundo. Somos, todos nós, na atmosfera da Terra, Seus agentes, e fazemos a Sua vontade.
628. Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos?
“E necessário que cada coisa venha u seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria. Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na Antiguidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que consideravam profanos. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria das vezes alegórico. Não há, entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germes de grandes verdades, que, embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais. São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução”

A razão nos mostra com bastante clareza que as verdades tinham de ser reveladas do modo que o foram: gradativamente. A luz em excesso pode cegar. Quem mandou os primeiros instrutores à Terra foi Jesus, antes da Sua vinda ao planeta, mas a Sua sabedoria restringiu o que Ele deveria falar e fazer ante a massa humana inconsciente e ainda em plena ignorância. Observemos como nasce uma árvore: não é de uma noite para o dia; há uma seqüência e obedece a determinadas leis, onde a harmonia sempre está presente. Compete a nós outros observarmos essas leis que regulam tudo na vida, como a nós mesmos. O despertamento das criaturas é, igualmente, de passo a passo; ninguém violenta as leis, nem as leis violentam os Espíritos. É nesse sentido que os anjos têm maior tolerância com os homens, e os homens sábios a têm com os animais, por saberem que todos estão na mesma marcha para Deus, que os criou. Deus não permitiu que os nossos ancestrais recebessem comunicações iguais às que os homens recebem hoje, no século vinte, por faltar a eles capacidade de assimilação como a que têm atualmente. Agora estão sendo chamados e escolhidos para um melhor entendimento da verdade, não de toda a verdade, pois ela continua na sua divina gradação espiritual. Podemos dizer que ela nasce e renasce constantemente, em variadas freqüências de vida, para dar mais vida às criaturas de Deus. Os homens do passado recebiam algumas verdades esparsas, ainda assim, somente os que estavam preparados para tal iniciação, e em muitos casos elas chegavam a eles envolvidas em roupagens onde as letras perduravam escondendo o Espírito que vivifica.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Vamos iniciar o estudo do tópico Origem e conhecimento da Lei Natural, estudando as questões de 619 e 624.
619. Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei?
“Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la. Não obstante, todos um dia a compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize”.
Ou seja, o progresso vai se realizar para todos. Todos chegarão a uma condição de felicidade verdadeira. Deus facultou a todas as criaturas conhecerem as leis criadas por Ele. O conhecimento é uma advertência para que possamos respeitar as leis, entrementes, não é dado a todos a perceberem como elas são, devido à posição espiritual de cada ser. Mas, aí chega a misericórdia divina, servindo de instrumento aos mais sábios, para orientar os que ignoram as verdades espirituais. As religiões têm esse dever de tornar visíveis as leis de Deus e induzir os homens à sua prática, para que esses sejam mais felizes. O avanço desses conhecimentos depende muito de cada ser, da sua boa vontade de aprender, de melhorar suas condições espirituais.
Comentário de Kardec: A justiça da multiplicidade de encarnações do homem decorre deste princípio. pois a cada nova existência sua inteligência se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento? (Ver os itens 171a 222.)
620. A alma, antes de sua união com o corpo, compreende melhor a lei de Deus do que após a encarnação?
“Ela a compreende segundo o grau de perfeição a que tenha chegado e conserva a sua lembrança intuitiva após a união com o corpo; mas os maus instintos do homem frequentemente fazem que ele a esqueça”.
Antes da união com o corpo, a alma tem mais lucidez das leis naturais do que quando encarnada; no entanto, é justo que observemos em primeiro lugar a sua evolução espiritual, ou seja, o seu despertamento para as qualidades da vida. É claro que não podemos generalizar, porquanto existem muitos Espíritos encarnados que compreendem as leis de Deus bem mais lucidamente do que muitos dos Espíritos fora da carne. Isso, como já foi dito, depende da sua elevação, mas, no comum, a carne esconde os poderes da alma, e faz que ela esqueça o que traz na consciência profunda. Porém, a bondade de Deus é infinita e, instintivamente o homem percebe raios de lembranças das leis que dirigem a todos.
621. Onde está escrita a lei de Deus?
“Na consciência”.
A consciência sempre marca para todos o que não deve ser feito, mas ela é qual um computador divino, que somente aciona quando tocado. Depois do erro é que a consciência acusa. Não há julgamento antes da falta; esse trabalho pertence à razão, que deve analisar e escolher o caminho a percorrer. Como já falamos, as leis são para todos do mesmo modo, entrementes, cada um as assimila de forma diferente.
621-a. Desde que o homem traz na consciência a lei de Deus, que necessidade haveria de lhe ser ela revelada?
 “Ele a tinha esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse lembrada”.
Antes da união com o corpo, a alma tem mais lucidez das leis naturais do que quando encarnada; no entanto, é justo que observemos em primeiro lugar a sua evolução espiritual, ou seja, o seu despertamento para as qualidades da vida.
622. Deus outorgou a alguns homens a missão de revelar a sua lei?
“Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam essa missão. São Espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade”.
Deus confiou a certos homens a missão de ajudar a humanidade a sentir e compreender as leis imutáveis que garantem a vida e sustentam a paz em todos os reinos, e essas leis devem ser respeitadas pelas criaturas. Em todos os tempos, houve homens que tiveram essa tarefa de revelar as leis já estabelecidas pelo Criador.
623. Esses que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não se enganaram algumas vezes e não os fizeram transviar-se muitas vezes através de falsos princípios?
“Os que não eram inspirados por Deus e que se atribuíram a si mesmos, por ambição, uma missão que não tinham certamente os fizeram extraviar; não obstante, como eram homens de gênio, em meio aos próprios erros ensinaram frequentemente grandes verdades”.
Os falsos princípios podem nascer até dos gênios; depende do momento, e em que se inspiram para dizer à humanidade. Existem os missionários de Deus e os que se fazem missionários, entretanto, quando são homens de gênio, o Senhor aproveita sua boa vontade para transmitir aos homens a Sua mensagem. Porém, esses missionários que se fizeram podem torcer algumas verdades e certamente influenciar algumas pessoas, entretanto, Deus deixa que eles prossigam, por existir em suas vidas alguma mensagem de grande valor.
624. Qual é o caráter do verdadeiro profeta?
“O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo por suas palavras e por suas ações. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade”.

O verdadeiro profeta é de caráter nobre, dentro da nobreza de Deus, porque somente fala a verdade, e por vezes ela lhe custa a própria vida física, como sucedeu ao Divino Amigo Jesus. É fácil de ser reconhecido o homem de bem, pela sua vida, que ajuda outras vidas. É ele o homem que ama e em todos os seus passos ele prega e vive o amor. Todas as religiões são dignas de respeito, alguns dos religiosos é que são falsos dentro da própria comunidade.
LIVRO TERCEIRO
LEIS MORAIS
Capítulo I – Lei Divina ou natural.
Vamos iniciar o estudo do tópico Características da Lei Natural, estudando as questões de 614 e 618.
614. O que se deve entender por lei natural?
“A natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer e ele só se torna infeliz porque dela se afasta”.
A resposta do benfeitor espiritual à pergunta nos diz que devemos procurar estudar, aprender e aplicar essa lei se pretendemos conquistar a felicidade verdadeira. O sofrimento da humanidade é, pois, o afastamento da lei de Deus. O homem a conhece mais pela intuição, dependendo dos seus sentimentos. Quando Jesus disse: "batei e abrir-se-vos-á", mostrou-nos os caminhos para o conhecimento de todas as leis da criação. Bater às portas espirituais é buscar com interesse de aprender, é aplicar o esforço próprio todos os dias, é orar e vigiar. As intenções muito valem no aprendizado de cada criatura de Deus.
615. A lei de Deus é eterna?
“É eterna e imutável, como o próprio Deus”.
Ora, se as leis físicas e químicas que regem o Universo são imutáveis, as leis morais têm que ser imutáveis também. A sua configuração espiritual é a mesma em todos os tempos, em todos os mundos. O que se passa diante delas é o nosso despertamento espiritual. Cada vez que vamos crescendo, a encontramos na feição dos nossos valores.
616. Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra?
“Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas; mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade”.
As criaturas se inspiram nas leis naturais para fazerem as suas. As leis dos homens são inumeráveis, e sempre estão mudando, como dizem eles mesmos, atualizando-se de acordo com a capacidade de assimilação das criaturas. As leis de Deus são de toda a eternidade. Quando falamos de toda eternidade, não há tempo determinado. O ser humano não pode ter a pretensão de dizer que sabe tudo, mediante suas especulações. Ele somente sabe o que vê e ouviu dizer; ele é, por excelência, um copista, porque tudo está feito no programa do Todo Poderoso.
617. O que as leis divinas abrangem? Referem a algo mais do que a conduta moral?
“Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria; o homem de bem, as da alma, e as segue”.
As leis, pelo que podemos entender, se dividem em dois aspectos: leis físicas e morais; no entanto, elas podem buscar outras áreas, de modo que ainda não entendemos, pois nos falta sentido para compreendermos tudo.
617-a. É dado ao homem aprofundar umas e outras?
“Sim, mas uma só existência não lhe é suficiente para isso”.
Então, é por isso que nós precisamos reencarnar. Nós não reencarnamos para sofrer; nós não reencarnamos para pagar resgates; nada disso. Nós reencarnamos para aprender a amar; para aprender as leis divinas e aplica-las adequadamente às nossas existências. Para alcançarmos as leis da matéria e as leis da alma, necessário se faz que sintamos o conjunto de muitas vidas sucessivas. O celeiro de experiências deve estar cheio de aprendizado cada vez maior. O cumprimento das leis mostra a maturidade do Espírito.
Comentário de Kardec: Que são de fato, alguns anos para se adquirir tudo o que constitui o ser perfeito embora não consideremos mais do que a distância que separa o selvagem do homem civilizado? A mais longa existência possível e insuficiente e com mais forte razão quando ela é abreviada, como acontece com um grande numero.
Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência.
As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais.
618. As leis divinas são as mesmas para todos os mundos?
“A razão nos diz que elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam”.
Mesmo na Terra, acontece esse fenômeno da presença da lei em cada criatura; as interpretações são diferentes, conforme a evolução de quem vai receber a corrigenda, de quem vai se orientar sob a luz do que entender. As leis são imutáveis, e as mesmas para todos os mundos. As mudanças que por vezes verificamos, estão na qualidade espiritual de cada um, pois as leis vão se expressando com mais nitidez, de acordo com a altura do seu crescimento espiritual.


LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos estudar o tópico Metempsicose, encerrando o capítulo Dos Três Reinos, estudando as questões de 611 e 613.
611. A comunhão de origem dos seres vivos no princípio inteligente não e a consagração da doutrina da metempsicose?
“Duas coisas podem ter a mesma origem e não se assemelharem em nada mais tarde. Quem reconheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos no germe informe que se contém na semente de onde saíram? No momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente. No homem, somente existe do animal o corpo, as paixões que nascem da influencia do corpo e os instintos de conservação inerente à matéria Não se pode dizer, portanto, que tal homem, é a encarnação do Espírito de tal animal, e. por conseguinte a metempsicose, tal como a entendem, não é exata”.
A Doutrina Espírita, sendo uma filosofia de mais profundidade do que as outras, usando a mediunidade para revelar a verdade, vem nos informar sobre a vida das almas nos planos em que elas habitam, nos diz que a alma que já viveu em corpos de homens não volta em corpos de animais. (Metempsicose significa o conceito do Princípio Inteligente fora do padrão aonde ele vai atuar, ou seja, o Princípio Inteligente humano atuando numa outra espécie e não a espécie humana).
612. O Espírito que animou o corpo de um homem poderia encarnar-se num animal?
“Isso seria retrogradar, e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente”. (Ver item 118.)
A alma de um homem não pode voltar a animar o corpo de um animal. A Filosofia Espírita é aberta às comparações, ao raciocínio lógico. Como Deus iria criar as coisas para a regressão? Ele não seria Deus, porque não teria ciência, quando criou, de que não daria certo a Sua criação, tendo de voltar atrás, por ter falhado em Suas experiências!
613. Por mais errônea que seja a ideia ligada à metempsicose, não seria ela o resultado do sentimento intuitivo das diferentes existências do homem?
“Reconhecemos esse sentimento intuitivo nessa crença como em muitas outras; mas, como a maior parte dessas ideias intuitivas, o homem a desnaturou”.
O Espírito traz na consciência as leis estabelecidas por Deus, de modo que elas irradiam dentro e fora de si, como uma conversa com a alma em dimensão diferente da que conhecemos pela palavra falada. Certamente que a Metempsicose, falada e escrita por certos espiritualistas, varando séculos para dizer ao homem moderno que existe a reencarnação, deve ser bem esclarecida. A fala dos Espíritos a dizer que a Metempsicose seria verdadeira se indicasse a progressão da alma, através da reencarnação, que se processa como lei natural nos Espíritos de todos os mundos habitados, sendo que o Espírito não regride, de homem para o animal irracional, na interpretação de certos escritores que cochilam na letra e se esquecem do Espírito que vivifica. Tudo no mundo, e em todos os mundos, avança, progride sempre.
Comentário de Kardec: A metempsicose seria verdadeira se por ela se entendesse a progressão da alma de um estado inferior para um superior, realizando os desenvolvimentos que  transformariam a sua natureza; mas é falsa, no sentido de transmigração direta do animal para o homem e vice-versa, o que implicaria a ideia de uma retrogradação ou de fusão Ora  não podendo realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas espécies temos nisso um indicio de que se encontram em graus não assimiláveis e que o mesmo deve acontecer com os espíritos que os animam. Se o mesmo Espírito pudesse animá-los alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza que se traduziria na possibilidade de reprodução material. A reencarnação ensinada pelos Espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da Natureza e sobre a progressão do homem na sua própria espécie, o que não diminui em nada a sua dignidade O que o rebaixa é o mau uso que faz das faculdades que Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja. a antiguidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e o número de homens eminentes que a professaram provai que o principio da reencarnação tem suas raízes na própria Natureza; esses são portanto argumentos antes a seu favor do que contrários.
O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao principio das coisas e estão nos segredos de Deus. Não é dado ao homem conhecê-los de maneira absoluta e ele só pode fazer, a seu respeito, meras suposições, construir sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos estão longe de tudo conhecer e sobre o que não conhecem podem ter também opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim que nem todos pensam da mesma maneira a respeito das relações existentes entre o homem e os animais. Segundo alguns, o Espírito não chega ao período humano senão depois de ter sido elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores da criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre pertencido à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas tem a vantagem de dar uma finalidade ao futuro dos animais que constituiriam assim, os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes; o segundo é mais conforme á dignidade do homem e pode resumir-se da maneira que segue.
As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das  outras, por via de progressão; assim, o Espírito da ostra não se torna sucessivamente do peixe, da ave, do quadrúpede e do quadrúmano; cada espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus indivíduos tira da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que lhe é necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve desempenhar nos fenômenos da Natureza, devolvendo-a à massa após a morte. Aqueles dos mundos mais adiantados que o nosso (ver item 188) são igualmente constituídos de raças distintas, apropriadas ás necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos homens de que são auxiliares, mas não procedem absolutamente dos terrestres, espiritualmente falando. Com o homem já não se dá o mesmo.
Do ponto de vista físico, o homem constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas do ponto de vista moral há solução de continuidade entre o homem e o animal. O homem possui, como sua particularidade, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é o seu ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, conservando a sua individualidade. Qual é a origem do Espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se ele do principio inteligente individualizado? Isso é um mistério que seria inútil procurar e penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir sistemas.
O que é constante e ressalta ao mesmo tempo do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, sua faculdade de progredir, seu estado feliz ou infeliz, proporcional ao seu adiantamento na senda do bem, e todas as verdades morais que são a consequência desse principio. Quanto às relações misteriosas existentes entre o homem e os animais, isso, repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas cujo conhecimento atual nada importa para o nosso adiantamento e sobre as quais seria inútil nos determos. (1)

(1)  “O Livro dos Espírito!;” contém em si toda a doutrina, mas nem todos os princípios do Espiritismo estão nele suficientemente desenvolvidos. A codificação é progressiva. Vemos o aspecto cientifico desenvolver-se em “O Livro dos Médiuns” e em “A Gênese”; o aspecto religioso em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Céu e o Inferno”. Para esclarecimento dessa questão da origem do homem, o leitor deve consultar o capítulo VI de “A Gênese”, parte referente à “Criação Universal” (comunicação de Galileu, recebida por Flammarion e integrada por Kardec na codificação), o capítulo X, “Gênese Orgânica”, especialmente no número 26 e seguintes, referentes ao “Homem Corpóreo”, e o capítulo XI, “Gênese Espiritual”. Aconselhável também a leitura de “A Evolução Anímica”, de Gabriel Delanne, obra subsidiária da codificação. Em “Depois da Morte”, de Léon Denis, o capítulo XI da parte segunda intitulado “A Pluralidade das Existências”. Nota-se ainda a concordância dos ensinos acima, sobre o problema da metempsicose, com a constante afirmação dos Espíritos, neste livro, de que: ” Tudo se encadeia na Natureza”. (N. do T.)
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos dar sequência ao tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 608 a 610.
608. O Espírito do homem, após a morte, tem consciência das existências que precederam, para ele, o período de humanidade?
“Não, porque não é senão desse período que começa para ele a vida de Espírito, e é mesmo difícil que se lembre de suas primeiras existências como homem, exatamente como o homem não se lembra mais dos primeiros tempos de sua infância, e ainda menos do tempo que passou no ventre materno. Eis porque os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram”. (Ver item 78.)
O Espírito, quando desencarna, não se lembra das suas vidas pregressas, anteriores ao período de humanidade. Muitos não se lembram nem mesmo das reencarnações passadas, já como Espírito; isso depende do estado evolutivo da criatura. Somente o Espírito altamente evoluído é que pode se recordar de algumas vidas que teve na Terra, já como Espírito.
609. O Espírito, tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?
“Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações, ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca(1); há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia do   seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos se realçam lentamente, porque não são ainda secundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo”.
Os Espíritos em sua infância espiritual ainda estão bem próximos da animalidade e podem conservar alguns traços dos animais em sua vida, podendo-se notar os elos que ligam uma vida à outra, que tiveram. Conforme a distância entre uma e a outra, mostra-se bem clara a ligação de um reino ao outro. Na medida da evolução da alma, elas vão se desligando dessa influência; os traços ainda visíveis desaparecerão e a personalidade se firmará na cadeia evolutiva, de modo que a beleza moral isole o animal do homem.
610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da criação enganaram-se, então?
“Não, mas a questão não havia sido desenvolvida e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à parte porque tem  faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que o podem  conhecer”.

Verdadeiramente o homem é um ser à parte dos outros reinos, porque ele está destinado a conhecer o Criador, com bastante profundidade, como lhe toca seu destino. Além de compreender o Soberano Senhor, ele procura entender Suas leis e respeitá-las. Será, assim, de grande valia para a sua paz interna, para a sua vida consciente, reconhecer de onde veio e para onde vai.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos dar sequência ao tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 606 a 607-b.
606. De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de que são dotados?
“Do elemento inteligente universal”.
Logo, o princípio inteligente de que são dotados todos os animais é constituído, pela força do tempo, que preparou a forma animal para receber a vida mais aperfeiçoada, que é a alma e que vem de Deus, elaborada pelos impulsos do progresso, e canalizados pelos agentes mais próximos do Criador.
606–a. A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único?
“Sem nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos”.
O animal não foi feito para ser sempre animal; o princípio inteligente que o anima, no amanhã partirá para o reino humano, depois para o angélico e assim sucessivamente, até a plenitude da própria vida,.
607. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. (Ver item 190.) Onde cumpre o Espírito essa primeira fase?
“Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade”.
O Espírito, quando se humaniza, não fica necessariamente no mundo onde começou a dar seus primeiros passos no reino vegetal e animal. Os mundos que circulam no universo são casas do mesmo Deus, capazes de abrigar multidões de seres que correspondem às suas necessidades espirituais. Troca-se de casas planetárias, como se troca de escolas, quando preciso. Entretanto, muitos ficam onde começaram a despertar. Nada na vida é estático; as leis têm aberturas diversas para mostrar aos homens estudiosos a grandeza de Deus. Os homens, na sua primeira infância, são como crianças.
607-a. Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?
“Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o de germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do berne do mal e a responsabilidade dos seus atos. Corno depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas”.
Assim, poderíamos imaginar que o animal que rasteja no chão com o perpassar dos milênios, ouvirá dentro de si, quando já preparado, as palavras anotadas por Lucas, no capítulo onze, versículo dez: "Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra e a quem bate abrir-se-á." A extensão do tempo a que se submete é o pedido de melhoria; os seus movimentos, a busca no silêncio, e as lutas que tem no seu reino, são as batidas nas portas do progresso, para achar a sua melhoria, que vem na mudança de reinos.
607–b. Esse período de humanidade começa sobre a nossa Terra?
“A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente e seria antes uma exceção”.

Como os Espíritos já disseram, a Terra não é o ponto de partida de todas as reencarnações, nem o fim. Nos mundos onde existem humanidades reencarnadas, processam-se neles as trocas. Avalanches de entidades periodicamente saem e entram, para engrandecimento das criaturas de Deus. Muitos Espíritos querem descobrir a sua gênese, mas nem sempre lhes é permitido. Essas verdades vêm com lentidão, de acordo com as necessidades espirituais e a vontade de Deus. Sem a permissão de Deus, nada será feito. Compreende-se, pois, que existe um comando central, nas mãos d'Aquele que tudo criou por amor. Assim como há Espíritos de alta hierarquia comunicando-se na Terra, há os que ainda não sabem o que fazem; são alunos nos primeiros anos de escola, a quem por vezes, é permitido o intercâmbio, como exercício de aprendizado.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos dar sequência ao tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 605 e 605-a.
605. Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o homem e os animais, não poderíamos pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver só como os animais? Dizendo de outra maneira: o animal é um ser semelhante ao homem, menos a alma espírita? Disso resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma ou outra dessas duas almas?
“Não, o homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual. Pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos”.
Não devemos pensar que o homem possui duas almas. Essa é uma filosofia errada, que não devemos nutrir. O Espírito que anima um corpo é um só, porém, as naturezas são muitas no que se refere às paixões inferiores.
605–a. Assim, além das suas próprias imperfeições, de que o Espírito  deve despojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria?
“Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertados são os laços entre o Espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o homem não tem. duas almas; a  alma é sempre única, um ser único. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas se o homem não possui uma alma animal, que por suas paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo que o rebaixa frequentemente a esse nível, porque o seu corpo é um ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas ininteligentes e limitados ao interesse de sua conservação”
Os corpos que servem ao Espírito têm certa facilidade de assimilar os pensamentos e inspirar o Espírito nas coisas que ele acumulou nestes corpos. À alma, para se libertar definitivamente das ilusões, necessário se faz limpar todos esses corpos, que com ela ultrapassam o túmulo e caminham com ele em busca da evolução. A matéria induz a alma para as coisas do mundo, e a alma deve lutar para se desfazer deste ambiente grosseiro. Quem não luta, não pode vencer. O Espírito livre, que conheceu a verdade, mesmo dentro da matéria bruta, mostra a sua liberdade, pela limpeza das suas idéias e dos seus gestos ante a vida.

Comentário de Kardec: O Espírito, encarnando-se no corpo do homem, transmite-lhe o principio intelectual e moral que o torna superior aos animais. As duas naturezas existentes no homem oferecem ás suas paixões duas fontes diversas: umas provêm dos instintos da natureza, outras das impurezas do Espírito encarnado, que simpatiza em maior ou menor proporção com a grosseria dos apetites animais. O Espírito, ao se purificar, liberta-se pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, ele se aproxima dos brutos; liberto dessa influência, eleva-se ao seu verdadeiro destino.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos dar sequência ao tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 603 a 604-a.
603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?
“Não. O homem é um deus para eles, como antigamente os Espíritos foram deuses para os homens”.
Como assim, antigamente os Espíritos foram deuses para os homens? O registro que nos é dado dentro da Bíblia a respeito das entidades que se comunicavam desde Moisés até os profetas, com certeza, não era Deus, eram criaturas de Deus. Por isso, nos mundos superiores, os animais não conhecem a Deus; eles não desenvolveram ainda esse dom de perceber a Força Soberana que nos dirige, orientando os nossos passos. O animal não tem raciocínio para classificação do que é a Força Poderosa que fez tudo no universo.
604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre interiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?
“Tudo se encadeia na Natureza por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender no seu estado atual. Pode entrevê-los por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos prejuízos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá suas ideias limitadas lhe faraó ver as coisas de um ponto de vista mesquinho. Sabei que Deus não pode contradizer-se e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador”.
Os elos que interligam os reinos da natureza são muitos e imperceptíveis ao acanhado conhecimento dos homens. Os reinos estão todos respirando o mesmo ar, o mesmo sol os aquece e sorvem a mesma água. As diferenciações são muitas pelo estado espiritual de cada ser, devido a escala a que pertence. Se Deus criasse todos os seres e as coisas de uma só vez, todos estariam no mesmo nível de entendimento e com os seus valores despertados no mesmo clima de sublimação. Todavia, o caso não é esse; a criação é constante, e a justiça nos informa que os que foram criados primeiro já passaram por experimentações que lhes conferiram um estado espiritual mais elevado que os que foram feitos por último.
604–a. A inteligência é, assim, uma propriedade comum, um ponto de encontro entre a alma dos animais e a do homem?
“Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos homens, a inteligência produz a vida moral”.

Os animais dos mundos superiores somente possuem mais inteligência do que os que vivem na Terra, mas inteligência em relação às coisas materiais, mesmo assim restrita à sua escala. Aos homens, por sua vez, é proporcionada a vida moral, já com grande vantagem, a de receber, como médiuns, a intuição mais apurada dos que já estão além da sua faixa evolutiva.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos dar sequência ao tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 595 a 602.
595. Os animais têm livre-arbítrio?
“Não são simples máquinas, como supondes mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material”.
A liberdade dos animais é restrita às suas necessidades, ao passo que nos homens ela é mais avançada, por ter sido a razão entregue a eles, através dos tempos. Se o animal não pensa como os homens, não tem função neles o raciocínio, portanto não sabem escolher além das suas necessidades físicas, ou seja, os animais têm basicamente que suprir a própria sobrevivência, atender os ditames evolutivos para a preservação da própria espécie.
596. De onde vem a aptidão de certos animais para imitar a linguagem do homem, e por que essa aptidão se encontra mais entre as aves do que entre  os símios, por exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a humana?
“Conformação particular dos órgãos vocais, secundada pelo instinto da imitação. O símio imita os gestos; certos pássaros imitam a voz”.
As aptidões são diversas nos animais e nas aves. O papagaio, por exemplo, pelo instinto de imitação mais avançado, procura imitar a voz do homem, mas fica somente na imitação. Ele não cria nada por sua vontade, que ainda não desenvolveu no cenário da sua evolução. O macaco, igualmente, imita por instinto certos gestos do homem, por estar na escala mais próxima deste. A ave que repete o que ouve do ser humano o faz pela conformação dos seus órgãos vocais, mais aperfeiçoados do que em outros seus semelhantes.
597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
“Sim, e que sobrevive ao corpo”.
Há realmente nos animais um princípio inteligente, que podemos chamar de alma dos animais. Em tudo existe a claridade do princípio inteligente, que se manifesta para a glória da criação, e ao qual devemos respeitar. Os animais são nossos irmãos, e devem merecer o nosso amor. Muitos Espíritos iluminados que viveram na Terra, Francisco de Assis é um deles, deram esse exemplo, amando-os de maneira extraordinária.
597–a. Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
É também uma alma, se o quiserdes: isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
A diferença que existe entre a alma dos animais e dos homens é a seguinte: O princípio inteligente que se manifesta no animal é completamente diferente do princípio inteligente do homem. O animal não tem noção da própria individualidade; o animal não tem livre-arbítrio; o animal não tem condição de aprender através de ensaio de acerto e erro como o ser humano faz.
598. A alma dos animais conserva após a morte sua individualidade e a consciência de si mesma?
“Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente”.
Após a morte, conserva a alma do animal a sua individualidade, porque ela é indivisível, no entanto, a consciência do seu eu fica em estado latente por lhe faltar evolução para tal. O animal não perde a sua individualidade, ele a conserva nos planos que a vida espiritual reserva para todos, sob a guarda de Entidades que trabalham para a evolução de todos.
599. A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se?
“Não; ela não tem o livre-arbítrio”.
O animal não pode escolher qual a espécie que deve animar na Terra, na hora da sua volta a esta, por lhe faltarem os instrumentos de escolha. Ele continua sem liberdade para tal desejo. Ele se coloca como dependente dos Espíritos que o comandam, que avaliam as suas condições e o leva para animar corpos que lhe convêm. O animal não tem vontade própria, por lhe faltar o livre arbítrio, atributo do ser humano.
600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
“Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas”.
Os animais, depois da morte física, ficam em uma espécie de estado de erraticidade. Os animais ficam sob a tutela de Entidades espirituais, a quem cabe deles cuidar. Os lugares em que eles ficam temporariamente é de acordo com as suas necessidades. Os animais não podem ser classificados como Espíritos errantes, pelo fato de não possuírem razão. Eles, sem o livre arbítrio, não devem ficar a esmo no mundo da verdade.
601. Os animais seguem uma lei progressiva como os homens?
“Sim, e é por isso que nos mundos superiores onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre inferiores e submetidos aos homens, sendo, para estes, servidores inteligentes”.
Os animais estão sujeitos à lei do processo como, não somente os homens, mas tudo que Deus criou. Deus não criaria algo estático. O progresso, que é o despertamento dos valores espirituais, em tudo tem a sua marcha diversificada, de acordo com o tamanho evolutivo de cada criatura e de cada coisa. Entre os homens, o progresso é mais rápido, porque estes o ajudam com seu raciocínio e com a sua inteligência, mas os animais e os outros reinos, quando estiverem na escala dos homens, também irão participar destas bênçãos do esforço próprio, porque os caminhos são iguais para todos, sem exceção.
COMENTÁRIO DE KARDEC:
Nada há nisso de extraordinário. Suponhamos os nossos animais de maior inteligência, como o cão, o elefante, o cavalo, dotados de uma conformação apropriada aos trabalhos manuais. O que não poderiam fazer sob a direção do homem?     
 602. Os animais progridem, como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?
“Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação”.

Certamente que os animais progridem, entretanto, o fazem pelas circunstâncias, e não por sua vontade. Eles estão sujeitos ao progresso que domina toda a criação, na lentidão que lhe é própria, no entanto, os animais, não tendo vontade, não tendo alcançado a razão, o progresso somente atinge suas vidas na parte que pertence à natureza.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos iniciar o tópico Os Animais e o Homem, estudando as questões de 592 a 594-a.
592. Se comparamos o homem e os animais em relação à inteligência, parece difícil estabelecer a linha de demarcação, porque certos animais têm, nesse terreno, notória superioridade sobre certos homens. Essa linha de  demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa?
“Sobre esses assuntos os vossos filósofos não estão muito de acordo. Uns querem que o homem seja um animal, e outros que o animal seja um  homem. Estão todos errados. O homem é um ser à parte, que desce, às vezes, muito baixo ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o homem é como os animais e menos bem provido que muitos dentre eles; a Natureza lhes deu tudo aquilo que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência para prover às suas necessidades e à sua conservação. Seu corpo se destrói como o dos animais, isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode  compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pelo pensamento de Deus”.
O homem verdadeiramente herda alguma coisa do animal na sua estrutura física, mas não está na mesma escala deste, por ter alcançado um aperfeiçoamento maior do que ele, a sua delicadeza, a palavra falada e outras inúmeras faculdades que a natureza lhe deu. Há um conceito errado que diz que certos animais já foram homens. Isto seria a degradação, e o Espírito não regride. Como pode voltar de onde veio, em situações piores, por causa de certas faltas cometidas? Se alguns homens descem abaixo do animal, usando mal a sua razão, não quer dizer que esses homens regrediram; eles têm livre arbítrio, e o animal não pensa como os homens, não têm raciocínio, estão envolvidos no instinto, que não os guia para essas paixões. Quando eles chegarem, pelo progresso, ao reino dos homens, certamente que irão fazer o mesmo, pelos processos que a razão os conduz sem ainda compreender a educação.
593. Podemos dizer que os animais só agem por instinto?
“Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais; mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? E que têm inteligência, mas ela é limitada”.
Em certas ocasiões, o animal mostra que existe alguma coisa em si além do instinto. Parece-nos, e a observação o comprova, que em alguns dos animais o instinto está cedendo lugar para rudimentos da razão, que deve crescer em proporção à sua espécie. No entanto, em tudo isso há um limite traçado pela natureza. Todos sabemos que o animal, por lei do progresso, deve atingir outro reino; os milhões de anos nos comprova que, se o homem já tem o seu reino, é por ter conquistado a razão e hoje se move pelo raciocínio, na expansão da inteligência. O animal demonstra fios de vontade em certos aspectos, por estar junto ao homem. É, por assim dizer, uma transferência, ainda que mínima, de talentos que somente no ser humano estão mais desenvolvidos. Podemos citar como exemplo, o ataque de um grupo de leoas a um rebanho de Gnus.  As leoas selecionam no rebanho aquele animal que seja mais fraco e, por isso, mais fácil de ser atacado e o cercam. Geralmente, o rebanho o deixa abandonado à ação dos predadores.
Comentário de Kardec: Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados que denotam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e proverá sua conservação. Não há entre eles nenhuma criação nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiramos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior segundo formas e proposições constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal, abandonado a si próprio,  não tarda a voltar aos  limites traçados pela  Natureza.
594. Os animais têm linguagem?
“Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as próprias ideias, às suas necessidades”.
Os animais têm sua linguagem, característica à sua evolução e ao reino a que pertence. Não é uma linguagem qual a dos homens, mas, para se entenderem, não têm necessariamente que falar como os seres humanos. Quase todas as criaturas da Terra já reconhecem que os bichos se comunicam entre si, desde o menor inseto ao maior dos animais. É uma espécie de música, sons diferenciados que emitem, e que os outros percebem e entendem.
594–a. Há animais que não possuem voz; esses não parecem destituídos de linguagem?
Compreendem-se por outros meios. Vós, homens, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados da vida de relação, têm meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O homem não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limitada pelo círculo exclusivo das suas necessidades e das suas ideias, enquanto a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência.
Os peixes transmitem mensagem usando o veículo das águas, e cada espécie tem seu meio de comunicação. Desde as minúsculas espécies, até as baleias, eles se entendem e se juntam por lei de harmonia. Convém assinalar que os homens estão sempre fazendo reformas em sua linguagem, e os animais não mudam nos seus meios de comunicação, por ser isso programação de Deus, no silêncio da vida.

Comentário de Kardec: Realmente, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas, que obedecem ao guia, devem ter meios de se advertir de se entender e de se combinar. Talvez o façam entre si, ou talvez a água seja um veículo que lhes transmita certas vibrações. Seja o que for, é incontestável que eles dispõem de meios para se entenderem, da mesma maneira que todos os animais privados de voz e que realizam trabalhos em comum. Deve-se admirar, diante disso, que os Espíritos possam comunicar-se entre eles sem o recurso da palavra articulada? (Ver a Questão 282.)
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos encerrar o tópico Os Minerais e as Plantas, estudando as questões de 589 a 591.
589. Certas plantas, como a sensitiva e a dioneia, por exemplo, têm movimentos que acusam uma grande sensibilidade e em alguns casos uma espécie de vontade, como a última, cujos lóbulos apanham a mosca que vem pousar sobre ela para sugar-lhe o suco, e à qual ela parece haver preparado uma armadilha para matar. Essas plantas são dotadas da faculdade de pensar? Têm uma vontade e formam uma classe intermediária entre a natureza vegetal e a animal? Constituem uma transição de uma para a outra?
“Tudo é transição na Natureza, pelo fato mesmo de que nada é semelhante, e no entanto tudo se liga. As plantas não pensam e por conseguinte não têm vontade. A ostra que se abre e todos os zoófitos não têm pensamento: nada mais possuem que um instinto natural e cego”.
Nem as plantas aparentemente sensíveis pensam, como já foi falado em estudo anterior. Elas são dotadas de rudimentos instintivos, que nos animais são mais evidentes. Na natureza tudo está em estado de transição; por isso um reino tem alguma coisa do outro, por obedecer à lei do progresso. Não é somente o homem que progride; esse tem o progresso mais rápido, por ajudar na sua evolução espiritual, enquanto os outros reinos abaixo das criaturas humanas só recebem os impulsos que o progresso é capaz de dar.
Comentário de Kardec: O organismo humano nos fornece exemplos de movimentos analógicos, sem a participação da vontade, como as funções digestivas e circulatórias. O piloro se fecha ao contato de certos corpos para negar-lhes passagem. O mesmo deve acontecer com a sensitiva, na qual os movimentos não implicam absolutamente a necessidade de uma percepção, e menos ainda de uma vontade.
590. Não há nas plantas, como nos animais, um instinto de conservação que o leva a procurar aquilo que lhes pode ser útil e a fugir ao que lhes pode prejudicar?
“Há, se o quiserdes, uma espécie de instinto; isso depende da extensão que se atribua a essa palavra; mas é puramente mecânico. Quando, nas reações químicas, vedes dois corpos se unirem, é que eles se afinam, quer dizer que há afinidades entre eles; mas não chamais a isso de instinto”.
As árvores não têm um instinto de conservação como se opera nos animais, e mesmo nos homens; o "instinto" nelas é mais mecânico, no entanto, ele cresce no desenvolvimento das formas que, aos olhos humanos, é imperceptível. Todos os reinos da natureza buscam o mais alto. Em toda a extensão do universo se nota essa força poderosa que a tudo arrasta, que a tudo comanda. O pensamento de Deus programa toda a vida no fluido cósmico, ou seja, no hálito divino, que se renova na sua circulação universal, em tudo penetrando, assegurando assim o bem-estar, a harmonia em todas as coisas.
591. Nos mundos superiores as plantas são, com os outros seres, de natureza mais perfeita?
“Tudo é mais perfeito; mas as plantas são sempre plantas, como os animais são sempre animais e os homens sempre homens”

Em se tratando dos mundos superiores, podemos dizer que tanto as plantas como animais e homens, são de ordem mais elevadas do que na Terra. É evidente que não poderia ser de outro modo. Se o mundo é superior, no seu seio, por afinidade, somente se reúnem os seres superiores, para ali viverem e progredir. Até os próprios minerais ali têm outra feição, diferente dos da Terra. 
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Capítulo XI – Dos Três Reinos.
Vamos iniciar o tópico Os Minerais e as Plantas, estudando as questões de 585 a 588.
585. Que pensais da divisão da Natureza em três reinos, ou ainda em duas classes: os seres orgânicos e os seres inorgânicos? Alguns fazem da espécie humana um quarto reino. Qual dessas divisões é a preferível?
“Todas são boas: isso depende do ponto de vista. Encarados sob o aspecto material, não há senão seres orgânicos e seres inorgânicos; do ponto de vista moral, há, evidentemente, quatro graus”.
Do ponto de vista material, a natureza se divide em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos seres inorgânicos. Do ponto de vista moral, ela se divide em quatro. É bom que estudemos isso, para termos uma ideia de onde viemos, subindo de degrau a degrau na escala evolutiva da vida. Esses quatro degraus, que são os reinos da natureza, são apenas o respaldo para o despertamento da alma, que vem de muito longe ainda. A sua evolução, desde a saída do foco da sua criação, constitui segredo da natureza, em plena expansão.
Comentário de Kardec: Esses quatro graus têm, com efeito, caracteres bem definidos; embora pareçam confundir-se os seus limites. A matéria inerte, que constitui o reino mineral, não possui mais do que uma força mecânica; as plantas, compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade; os animais, compostos de matéria inerte e dotados de vitalidade, têm também uma espécie de inteligência instintiva, limitada, com a consciência de sua existência e de sua individualidade; o homem, tendo tudo o que existe nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial ilimitada(l) que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extra materiais e o conhecimento de Deus.
É interessante observar uma coisa: Kardec, resumindo em uma frase, nos dá a noção da nossa condição de Espírito livre, dotado de livre-arbítrio. Aqui nós temos a noção da nossa responsabilidade diante do meio aonde vivemos
586. As plantas têm consciência de sua existência?
“Não. Elas não pensam; não têm mais do que a vida orgânica”.
Certamente que as plantas não pensam; a vida delas é orgânica, movida pela vitalidade que se encontra em tudo. As plantas têm tropismo, que é o movimento de mudanças de direção de crescimento que ocorre em organismos vivos ou suas partes devido ao estímulo de um fator exterior. Exemplo: se nós colocarmos um vaso de planta em um locar dentro de uma casa, perto de uma janela, ela vai crescer em direção à luz, é o chamado fototropismo. Da mesma maneira, se colocarmos uma planta em um lugar onde não exista nutrientes, as suas raízes vão romper o solo, até encontrarem reservas de água. Esse movimento é chamado de geotropismo. Existem também as plantas chamadas sensitivas. As plantas sensitivas são plantas que apresentam a sismonastia ou tigmonastia: reação provocada pela a ação de um golpe ou toque. Elas se protegem fechando suas folhas (defesa natural) por qualquer tipo de contato. Sendo assim, cada toque que a planta recebe, ela "interpreta" como se tivesse recebido uma ameaça, então fecha-se. Isso é o resultado de que certas células localizadas na base de todas as folhas perderam água muito rapidamente, fazendo assim com que murchem. É importante ressaltar que a planta não pensa para fazer isso.
587. As plantas têm sensações; sofrem, quando mutiladas?
“As plantas recebem as impressões físicas da ação sobre a matéria, mas não têm percepções, por conseguinte, não têm a sensação de dor”.
Quando as plantas são mutiladas, não sentem dor como os homens, claro que não; Elas não têm o sistema nervoso central.
588. A força que atrai as plantas, umas para as outras, é independente da sua vontade?
“Sim, pois elas não pensam. É uma força mecânica da matéria que age na matéria: elas não poderiam opor-se”.

As plantas têm atração mútua, porque a matéria atrai matéria na razão da distância que pode atingir. Elas se reúnem com maior fulgor nas matas, por lei de afinidade e de harmonia. Muitas delas se procuram no seio da terra, no padrão de sensibilidade que lhes compete atingir na escala evolutiva, sendo instrumentos dos seres da natureza que trabalham na sequência que o amor lhes impõe. 
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Encerrando o Capítulo X, vamos abordar as Questões de 584 e 584-a.
584. Qual pode ser a natureza da missão do conquistador, que só tem em vista satisfazer a sua ambição e para atingir o alvo não recua diante de nenhuma calamidade?
“Ele não é, na maioria das vezes, mais do que um instrumento de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios. Essas calamidades são, muitas vezes, o meio de fazer avançar mais rapidamente um povo”.
Se tudo que acontece é pela permissão de Deus, o conquistador tem alguma coisa para fazer em favor dos que ainda não desejam andar pela força do progresso. Vamos tomar como modelo Napoleão Bonaparte, que libertou a França do jugo venenoso das linhas conservadoras, que tinham como deus o líder do conservadorismo que entravava o progresso do saber. Napoleão foi um missionário para libertar o pensamento na França, como ocorreu com Joana D'Arc; os dois, em tempos diferentes, tiveram o mesmo objetivo. No entanto, a sua libertação depende dos sentimentos que os conduziram nos movimentos que encadearam contra determinados povos.
584–a. Aquele que é instrumento dessas calamidades passageiras é alheio ao bem que delas pode resultar, pois só se propõe um alvo pessoal; não obstante, aproveitará desse bem?
“Cada um é recompensado segundo as suas obras, o bem que desejou fazer e a orientação de suas intuições”.
A missão dos espíritas é conquistar corações não somente com as palavras mas, igualmente, e até muito mais, com o exemplo de vida que deve levar. O conquistador que visa somente ao seu bem pessoal e ao dos seus amigos e parentes, certamente que irá responder pelo que fez de errado. O conquistador missionário é o que se propõe a melhorar a sociedade e trabalhar para o bem coletivo, harmonizando-se com todos os povos. A palavra missão, devemos empregar somente para o bem, sem exigências, porque ela é alicerçada no amor.
Comentário de Kardec: Os Espíritos encarnados têm ocupações inerentes à sua existência corporal. No estado errante ou de desmaterialização suas ocupações são proporcionais ao seu grau de adiantamento. Uns percorrem os mundos, instruindo-se e preparando-se para uma nova encarnação. Outros, mais avançados, ocupam-se do progresso dirigindo os acontecimentos e sugerindo pensamentos favoráveis; assistem aos homens de gênio que concorrem para o adiantamento da Humanidade. Outros se encarnam com uma missão de progresso. Outros tomam à sua tutela indivíduos, famílias, aglomerações humanas, cidades e povos dos quais se tornam anjos da guarda, gênios protetores e Espíritos familiares. Outros, enfim, presidem aos fenômenos da Natureza, dos quais são os agentes diretos. Os Espíritos comuns se imiscuem nas ocupações e divertimentos dos homens. Os Espíritos impuros ou imperfeitos esperam, em sofrimentos e angústias, o momento em que praza a Deus conceder-lhes os meios de se adiantarem. Se fazem o mal é pelo despeito de ainda não poderem gozar do bem.

Estas anotações de Kardec dão-nos a visão de conjunto das funções dos Espíritos na Natureza e justificam a sua afirmação de que os Espíritos são uma das forças naturais do Universo. As doutrinas espiritualistas que acusam o Espiritismo de não reconhecer a existência de classes de espíritos não-humanos desconhecem este quadro. O Espiritismo é monista e considera toda a evolução espiritual como um processo único que se define na Humanidade, mas reconhece as fases pré-humanas dessa evolução. Como vemos acima, os Espíritos estão em toda parte e exercem universalmente a sua ação inteligente. (N. do T.)
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Dando sequência ao estudo, vamos abordar as Questões de 578 a 583-a.
578. O Espírito pode falir na sua missão, por sua culpa?
“Sim, se não for um Espírito superior”.
Os Espíritos superiores, aqueles que preparam e avalizam a reencarnação do missionário, são conscientes de que o reencarnante pode falhar nos seus labores junto aos homens, medindo e sabendo o tamanho da sua evolução espiritual, mas, isso faz parte do seu aprendizado. A Terra é uma universidade, onde o Espírito recolhe suas experiências e acumula valores no coração da vida.
578–a. Quais são para ele as conseqüências?
“Terá de reiniciar a tarefa; está nisso a punição. Depois sofrerá as conseqüências do mal que tenha causado”.
É preciso que se saiba que ninguém falha na sua missão totalmente; sempre há o que aproveitar para a sua instrução, mesmo porque, o mal que ele causar responderá por ele, por vezes voltando em outro instrumento físico para terminar a sua tarefa. O Espírito não retrocede; ele, cada vez mais, cresce em todos os rumos da verdade.
579. Pois que o Espírito recebe a sua missão de Deus, como Deus pode confiar uma missão importante e de interesse geral a um Espírito que poderia falir?
“Deus não sabe se o seu general será vitorioso ou vencido? Ele o sabe, estais certo, e seus planos, quando importantes, não dependem desses que devem abandonar a obra em meio do trabalho.Toda a questão está, para vós, no conhecimento do futuro, que Deus possui mas que não vos é dado”.
Deus sabe de tudo que vai acontecer, em todos os rumos da criação. Ele é onisciente, mas deixa o Espírito descer à Terra, mesmo sabendo da sua falha no que deve fazer. A alma está em busca do aprendizado e, para tanto, deve repetir o curso quantas vezes for necessário. Esse é o processo de despertamento do Espírito.
580. O Espírito que se encarna para cumprir uma missão tem as mesmas apreensões daquele que o faz como prova?
“Não; ele tem experiência”.
O Espírito elevado, ao reencarnar com determinada missão, tem experiência adquirida em anteriores reencarnações acerca do assunto que assumiu para desempenhar. Nesse campo, ele tem domínio próprio. Se, por ventura, comete alguns desvios, é conscientemente, e aqueles que têm profunda segurança trabalham com alegria e certeza de que não irão falhar na sua missão.
581. Os homens que são os faróis do gênero humano, que o esclarecem pelo seu gênio, tem certamente uma missão. Mas no seu número há os que se enganam e que, ao lado de grandes verdades, difundem grandes erros. Como devemos considerar a sua missão?
“Como falseada por eles. Estão abaixo da tarefa que empreenderam. É necessário entretanto, tomar em conta as circunstâncias; os homens de gênio devem falar segundo o tempo, e um ensino que parece errôneo ou pueril para uma época avançada poderia ser suficiente para o seu século”.
Certos missionários nem sempre desempenham suas tarefas como convém; isto ocorre dadas as circunstâncias do meio ambiente e do meio social em que vieram a nascer. Cada sociedade está capacitada para determinado aspecto da verdade, e não se pode alterar ou agredir sua capacidade limitada. O mundo espiritual é consciente destas falhas, ou do que se julga falha. No entanto, o que esses missionários fizeram já foi uma cooperação em favor dos que desconheciam certas verdades. Nem todos têm a mesma estrutura moral dos que já se elevaram, de maneira a serem Espíritos puros.
582. Pode-se considerar a paternidade como uma missão?
É, sem contradita, uma missão. E ao mesmo tempo um dever muito grande, que implica, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a criança sob a tutela dos pais para que estes a dirijam no caminho do bem. E lhes facilitou a tarefa dando à criança uma organização débil e delicada, que a torna acessível a todas as impressões.  Mas há os que mais se ocupam de endireitar as árvores do pomar e de fazê-las carregar de bons frutos do que endireitar o caráter do filho. Se este sucumbir por sua culpa, terão de sofre a pena, e os sofrimentos da criança na vida futura recairão sobre eles, porque não fizeram o que lhes competia para o seu adiantamento nas vias do bem.
A paternidade é uma missão, e muito importante, dentro da sociedade. Os pais são os instrumentos por onde o Espírito toma um corpo físico, revestindo-se de oportunidades para elevar-se. A missão de ser pai e mãe, pela lei da justiça é, igualmente, uma obrigação, porque antes receberam também esta misericórdia dos seus pais, para que se materializassem no corpo pelos processos da reencarnação. Todos os Espíritos têm de passar pelos mesmos caminhos, que são processos espirituais criados por Deus. Ele sabe o que mais nos convém. A paternidade é uma verdadeira missão, no entanto, muitos não cumprem suas tarefas como tutores dos que chegam em seus lares com o verdadeiro amor. Os pais desleixados sofrem depois ao verem seus filhos em decadência, por vezes por falta de atendimento na sua educação, esquecendo-se de instruí-los. A esperança que todos temos é que, com o tempo e as reencarnações, os pais vão despertando, tanto quanto os filhos, e nas junções dos valores todos melhoram pela maturidade.
583. Se uma criança se transviar, apesar dos cuidados dos pais, estes são responsáveis?
“Não; mas quanto mais as disposições da criança são más, mais  a tarefa é pesada e maior será o mérito se conseguirem desviá-la do mau caminho”.
Se os pais cumpriram seus deveres ante seus filhos, procurando todos os meios para educá-los e instruí-los, e esses continuaram negligentes, dada à falta de amadurecimento espiritual, não há razão que possa condenar esses pais; Deus sabe premiá-los pelos seus esforços, mediante seus trabalhos para elevarem seus filhos.
583–a. Se uma criança se torna um bom adulto, apesar da negligência ou dos maus exemplos dos pais, estes se beneficiam com isso?
“Deus é justo”!

Se eles não são contra seus filhos, é porque são por eles; entretanto, as suas condições espirituais por vezes não suportam uma vida reta, para dar aos filhos exemplos enobrecidos. Quando os filhos não assimilam a conduta reta dos pais, ou quando os pais não compreendem os filhos, por suas vidas retas com Jesus, os que estão agindo no bem não têm culpa por aqueles que não puderam aprender por falta de maturidade espiritual.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Dando sequência ao estudo, vamos abordar as Questões de 573 a 577.
573. Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
“Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais. Mas as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão, como aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos desígnios da Providencia. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido”
A missão dos Espíritos consiste em ajudar, quando encarnados, o progresso da Terra e dos seus irmãos que nela estão estagiando, para acordar seus valores morais e espirituais. Não basta somente a teoria que recebem na grande vinha da espiritualidade; eles a colocam em prática no "chão" do planeta, quinhão abençoado de Deus. Aqui podemos lembrar das palavras de um grande educador brasileiro chamado Paulo Freire, que dizia que não existe um saber único, meramente acadêmico. Existem vários saberes. Um homem pode ser analfabeto e tratar da terra, trabalhar na agricultura e lidar com os animais, também; conhecendo muito mais a Natureza do que alguém que meramente estudou a Natureza através de livros.
574. Qual pode ser a missão de pessoas voluntariamente inúteis na Terra?
“Há efetivamente pessoas que só vivem para si mesmas e não sabem tomasse úteis para nada. São pobres seres que devemos lamentar, porque expiarão cruelmente sua inutilidade voluntária. Seu castigo começa frequentemente desde este mundo, pelo tédio e o desgosto da vida”.
Há criaturas que se julgam inúteis e que voluntariamente se entregam à inutilidade, como que influenciadas por outras entidades do mundo espiritual que assim pensam, deixando seus valores adormecidos, por conta própria. Desta forma, há preguiçosos igualmente no mundo espiritual, capazes de se auto inutilizar por longo tempo. Mas, o próprio tempo cobrar-lhes-á essa invigilância. Tudo que lhes acontece de negativo nos caminhos, tornar-se-á motivo para esmorecimento. Mesmo que alguém os chame para a realidade, sabem desculpar-se com habilidade e tapearem a si mesmos.
574–a. Pois se tinham o direito de escolha, por que preferiram uma vida que em nada lhes poderia aproveitar?
“Entre os Espíritos há também os preguiçosos que recuam diante de má vida de trabalho. Deus os deixa fazer; compreenderão mais tarde e à sua própria custa os inconvenientes de sua inutilidade e serão os primeiros a pedir para reparar o tempo perdido. Talvez, também, tenham escolhido uma vida mais útil, mas uma vez. em ação a recusaram, deixando-se arrastar pelas sugestões dos Espíritos que os incitavam à ociosidade”.
É preciso que se conclua que ninguém na vida é inútil; Deus não iria criar seres inúteis, por ser Ele mesmo o fundamento de tudo. Se o Senhor trabalha sem interrupção, como poderia nascer d'Ele filhos preguiçosos? É, pois, um contrassenso. Existem muitos Espíritos encarnados e desencarnados que, julgando-se inúteis, nada desejam fazer, nem para eles mesmos. São os preguiçosos, e como a lei une os semelhantes, onde se encontram os detritos aí se reúnem os corvos; os preguiçosos se atraem, e uns inspiram os outros. Os encarnados falam que estão sofrendo influência dos desencarnados, e estes alegam o contrário. A verdade é que os dois lados da vida permutam e alimentam a inércia na atmosfera que criam para viver.
575. As ocupações comuns nos parecem antes deveres que missões propriamente ditas. A missão, segundo a idéia ligada a essa palavra, tem um sentido de importância menos exclusivo e sobretudo menos pessoal. Desse ponto de vista, como se pode reconhecer que um homem tem uma missão real na Terra?
“Pelas grandes coisas que ele realiza, pelo progresso que faz os seus semelhantes realizarem”.
Os verdadeiros missionários são fáceis de serem reconhecidos pelos seus feitos em favor da coletividade, no entanto, existem missionários menores, aos quais são entregues pequenas missões, mas de real valor, por dar segurança a certas pessoas que precisavam de amparo mais direto. A missão é um dever, mas nem sempre o dever é uma missão. Todos nós temos, por exemplo, o dever de amar sem distinção a todos e a tudo para o nosso próprio bem; entretanto, o missionário de altas possibilidades faz do amor um instrumento de vida, de modo a atingir a humanidade, dando a ela mais vida, mais alegria e esperança em todas as suas atividades.
576. Os homens que têm uma missão importante são predestinados a ela  antes do nascimento e têm conhecimento disso?
“Às vezes, sim; mas, na maioria das vezes, o ignoram . Só têm um vago objetivo ao virem para a Terra; sua missão se desenha após o nascimento e segundo as circunstâncias. Deus os impulsiona pela via em que devem cumprir os seus desígnios”.
Os Espíritos missionários já são designados antecipadamente, antes de reencarnarem, para tal empreendimento. Convém saber que Espíritos de grande alcance espiritual são chamados por Deus para voltar à Terra em missão especial, trazendo ao mundo certa mensagem de paz, de trabalho, de amor e de caridade. Isso se processa em todos os países, para que se possa compreender que Deus é amor e que os homens são Seus filhos. Mas, nem sempre esses Espíritos destinados a ensinar seus irmãos menores têm consciência desta missão; com o tempo, sentirão despertar em seus corações a certeza de que têm uma mensagem para ser entregue aos homens, e isso o fazem com contentamento. Os homens predestinados são poucos, porém, são a segurança da fé e o conforto dos que sofrem. Podes conhecê-los pelo trabalho que realizam, visando ao bem coletivo.
577. Quando um homem faz uma coisa útil é sempre em virtude de uma missão anterior e predestinada ou pode receber uma missão não prevista?
“Tudo o que um homem faz não é conseqüência de uma missão predestinada; ele é freqüentemente o instrumento de que um Espírito se serve para fazer executar alguma coisa que considera útil. Por exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um livro que ele escreveria se estivesse  encarnado; procura o escritor mais apto a compreender o seu pensamento e a executá-lo; dá-lhe então a idéia e o dirige na execução. Assim, este homem não veio à Terra com a missão de fazer a obra. Acontece o mesmo com alguns trabalhos de arte e com as descobertas. Deve-se dizer ainda que durante o sono do corpo o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, e que se entendem sobre a execução”.

A missão prevista de um Espírito é mais acentuada no bem comum. Mesmo a pequena tarefa se mostra irradiando amor para todos, no sentido de amar igualmente a tudo. A diversidade de ideais é enorme e nem todos são qualificados como missão. Partindo do mundo espiritual com tal ou qual programação, muitos Espíritos favorecem a criação de ambiente adequado para uma tarefa nobre. Eis aí a oportunidade que os Espíritos elevados não perdem de prepará-lo para o serviço do bem, na pauta do amor. Isso depende muito de quem está se movendo em um corpo, não obstante haja muitos escolhidos e chamados desde seu "nascimento no mundo, mas nem todos desempenham suas missões como deveriam. Mesmo entre os iluminados, existem uns que negligenciam na execução de certos serviços do Cristo.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Dando sequência ao estudo, vamos abordar as Questões de 568 a 572-a.
568. Os Espíritos que têm missões a cumprir cumprem-nas em estado errante ou encarnado?
“Podem fazê-lo num e noutro estado. Para certos Espíritos errantes essa é uma grande ocupação”.
A missão dos Espíritos errantes consiste em ocupar suas mentes no trabalho em favor da coletividade, e mesmo que não seja desta forma, sempre o bem está presente nos seus ideais, e, conforme o desempenho, eles avançam na escala do progresso. As missões destes Espíritos podem ser como encarnados ou como desencarnados, na erraticidade.
569. Em que consistem as missões de que podem ser encarregados os Espíritos errantes?
“São tão variadas que seria impossível descrevê-las; existem aliás  as que não poderíeis compreender. Os Espetos executam a vontade de Deus e não podeis penetrar todos os seus desígnios”.
As atividades dos Espíritos errantes são variáveis na criação de Deus; conforme o estado espiritual da alma, será a sua tarefa junto à natureza e aos homens. Há muitas atividades para os Espíritos chamados errantes, e é bom que muitas delas fiquem ocultas, por enquanto, devido à falsa interpretação que os homens poderão dar a esse labor bem diferente do que conhecemos na Terra. Tudo que existe, e que é feito entre os homens, o é por permissão d'Aquele que é a vida. Tudo que se faz no mundo e no plano do Espírito é objetivando o bem. Deus sabe transformar todas as coisas em coisas úteis.
Comentário de Kardec:  As missões dos Espíritos têm sempre o bem por objeto. Seja como Espírito, seja como homens, são encarregados de ajudar o progresso da humanidade, dos povos, ou dos indivíduos num circulo de idéias mais ou menos largo, mais ou menos especial, de preparar as vias para certos acontecimentos, de velar pela realização de certas coisas. Alguns têm missões mais restritas e de certa maneira pessoais ou inteiramente locais, como de assistir aos doentes, os agonizantes, os aflitos, de velar pelos que estão sob a sua proteção de guias,  de dirigi-los pelos seus conselhos ou pelos bons pensamentos que lhes surgem. Pode se dizer que há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a resguardar, seja no mundo físico ou no mundo moral. O Espírito se adianta segundo a maneira por que desempenha a sua tarefa.
570. Os Espíritos compreendem sempre os desígnios que estão encarregados de executar?                                   
“Não. Há os que são instrumentos cegos, mas outros sabem muito bem com que objetivo agem”.
Os trabalhos dos Espíritos são diversos, mas nem todos os Espíritos são conscientes do que realizam. Os mais ignorantes são instrumentos cegos, ou seja, são dirigidos pelos mais despertos.
571. Só há Espíritos elevados no cumprimento de missões?
“A importância das missões está em relação com a capacidade e a oração do Espírito. O estafeta que leva um despacho cumpre também uma missão, que não é a do general”.
As missões são diferentes entre os Espíritos, no entanto, elas têm valores semelhantes, dependendo de como são realizadas. Não importa as qualidades de tarefas a realizar; importa, sim, como fazê-las. Um estadista, quando bem informado sobre as leis de Deus, deixa correr em seu nome, em todo o mundo, exemplos edificantes e lições de moralidade que podem encaminhar muitas criaturas para o caminho do bem. Tanto um estafeta quanto um general podem iluminar suas vidas nos diferentes postos que ocupam, cada um respeitando os direitos dos outros e cumprindo seus deveres, mesmo em lugares diferentes.
572. A missão de um Espírito lhe é imposta ou depende de sua vontade?
“Ele a pede e alegra-se de a obter”.
Certamente que o Espírito tem liberdade de pedir para vir à Terra com tal ou qual missão, mas nem sempre isto lhe será concedido, porque geralmente ele não sabe o que pede. Somente Deus, o Criador de todas as coisas, conhece as necessidades de todos nós e nos dá o que na realidade nos convém. O mais inteligente é passar a saber dos benfeitores espirituais qual a tarefa que nos convém desempenhar no mundo.
572–a. A mesma missão pode ser pedida por muitos Espíritos?
“Sim, há sempre muitos candidatos, mas nem todos são aceitos”.

Nem todos os Espíritos podem escolher suas missões; muitas das vindas das almas pelo processo da reencarnação são impostas. Os mentores espirituais, encarregados das programações das vidas sucessivas, sabem avaliar, ajudando o reencarnacionista em uma escolha proveitosa, de sorte que o candidato à volta melhore moralmente suas condições espirituais. Jesus disse, por Mateus, 22:14: Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Dando sequência ao estudo, vamos abordar as Questões de 566 a 567.
566. Um Espírito que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um  arquiteto, por exemplo, se interessa de preferência pelos trabalhos que constituíram o objeto de sua predileção durante a vida?
“Tudo se confunde num objetivo geral. Se for bom, se interessará por eles na proporção que lhe permitam ajudar a elevação das almas a Deus. Esqueceis, aliás, que um Espírito que praticou uma arte na existência em que o conhecestes, pode ter praticado outra em outra existência, porque é necessário que tudo saiba para tornar-se perfeito. Assim, segundo o seu grau de adiantamento, pode ser que nenhuma delas constitua uma especialidade para ele. E isso o que eu entendo quando digo que tudo se confunde num objetivo geral. Notai ainda isto: o que é sublime para vós, no vosso mundo atrasado, não passa de infantilidade, comparado com o que há nos mundos mais avançados. Como quereis que os Espíritos que habitam esses mundos, onde existem artes desconhecidas para vós, admirem o que, para eles, não é mais que um trabalho escolar? Já o disse: eles examinam aquilo que pode provar o progresso”.
Os dons ou talentos inerentes à alma, com o perpassar do tempo, vão despertando e crescendo para a vida. Enquanto é preciso, o Espírito dedica-se, por vezes, em muitas reencarnações, a uma arte, se tem tendência para essa arte. Entretanto, quando ele não mais precisa de estudá-la, passará para outra. Pode dar-se que o seu interesse mude de repente para outra, onde deverá buscar novas fontes de saber. A perfeição é um conjunto de conhecimentos espirituais que Deus sabe necessários para a vida de cada criatura. Se todos somos iguais, todos temos esses dons guardados no fundo da consciência, que se refletem na mente quando necessário, para que possamos nos evidenciar em busca da perfeição.
566–a. Concebemos que assim deve ser para os Espíritos bastante adiantados. Mas falamos dos Espíritos mais vulgares, que não se elevaram ainda acima das ideias terrenas.
“Para esses é diferente. Seu ponto de vista é mais limitado e podem admirar aquilo mesmo que admirais”.
Para entender melhor o crescimento dos Espíritos, vejamos em outros mundos mais adiantados do que a Terra: o que pensamos ser uma sublimidade no mundo, pode ser um vazio programa em mundos elevados. A evolução é relativa em todos os ângulos de vida. Se nesta existência não tens aflorados tais ou quais dons, não te perturbes; já os tiveste despertados anteriormente, ou tê-los-ás no amanhã. Ninguém fica órfão das belezas imortais da vida.
567. Os Espíritos se imiscuem algumas vezes em nossas ocupações e em nossos prazeres?
“Os Espíritos vulgares, como disseste, sim; estão incessantemente ao vosso redor e tomam parte, às vezes bastante ativa, naquilo que fazeis, segundo a sua natureza. E é bom que o façam, para impulsionar os homens nos diferentes caminhos da vida, excitar ou moderar as suas paixões”.
Nos nossos prazeres e ocupações nos cercam muitos Espíritos no mesmo nível dos nossos sentimentos. A lei é justa e correta. Ela garante a estabilidade do que somos, com o que podes atrair pelos pensamentos, configurando, assim, a nossa vida, na vida dos que nos cercam. Se ainda estamos envolvidos em paixões inferiores, certamente que Espíritos da mesma estirpe nos acompanham, inspirando-nos os seus desejos. Entretanto, a bondade de Deus a ninguém deixa órfão do Seu amor, e sempre ordena que Espíritos de alta linhagem espiritual nos acompanhem mesmo à distância, a desfazerem o que seja a mais em nosso fardo a carregar, traduzindo tudo que recebemos em lições edificantes, sabendo que, no amanhã, poderemos ser um dos que guiam, livre pelo amor universal.

Comentário de Kardec: Os Espíritos se ocupam das coisas deste mundo na razão da sua elevação ou da sua inferioridade. Os Espíritos superiores têm, sem dúvida, a faculdade de as considerar nos seus mínimos aspectos, mas não o fazem senão na medida em que isso seja útil ao progresso. Os Espíritos inferiores somente ligam a essas coisas uma importância relativa ás lembranças que ainda estão presentes em sua memória, e às idéias materiais que ainda não foram extintas.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Dando sequência ao estudo, vamos abordar as Questões de 563 a 565.
563. As ocupações dos Espíritos são incessantes?
“Incessantes, sim, se entendermos que o seu pensamento está sempre em atividade, pois eles vivem pelo pensamento. Mas é necessário não equiparar as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos homens. Sua própria atividade é um gozo, pela consciência que eles têm de ser úteis”.
Os Espíritos puros têm ocupações permanentes no imenso campo de atividades de Deus. É bom que a nossa compreensão atinja as verdades espirituais. Eles são exemplo máximo das realizações, e as fazem com alegria. Eles não param. Seus pensamentos são cada vez mais purificados pela grandeza de seus sentimentos, para estender a fraternidade cada vez mais.
563–a. Concebe-se isso para os bons Espíritos; mas acontece o mesmo com os Espíritos inferiores?
Os Espíritos inferiores têm ocupações apropriadas à sua natureza. Confiais ao trabalhador braçal e ao ignorante os trabalhos do homem culto?
Mesmo os Espíritos inferiores não ficam inertes; eles fazem alguma coisa que a bondade divina determina. Como em uma grande obra no mundo, é necessário o trabalhador, desde o mais humilde servente, até o mais hábil engenheiro,
564. Entre os Espíritos há os que são ociosos ou que não se ocupem de alguma coisa útil?
“Sim, mas esse estado é temporário e subordinado ao desenvolvimento de sua inteligência. Certamente que os há, como entre os homens, vivendo apenas para si mesmos; mas essa ociosidade lhes pesa e, cedo ou tarde, o desejo de progredir lhes faz sentir a necessidade de atividade, e são então felizes de poderem tornar-se úteis. Falamos de Espíritos que atingiram o ponto necessário para terem consciência de si mesmos e de seu livre-arbítrio. Porque, em sua origem, eles são como crianças recém-nascidas que agem mais por instinto do que por uma vontade determinada”.
A vida no universo é diversificada em todos os seus fundamentos. Quando os Espíritos da Codificação falam que a vida é movimento, é que realmente não existe vida sem que ela se mova. Existem Espíritos ociosos? De fato, existem Espíritos ociosos, preguiçosos, que não desejam trabalhar. Pela expressão do assunto nos parece que esses Espíritos estão na quietude total. Não, os Espíritos que nada desejam realizar, estão progredindo, embora muito lentamente, sem a sua participação e, sim, pela força do progresso universal.
565. Os Espíritos examinam os nossos trabalhos de arte e se interessam por eles?
“Examinam o que pode provar a elevação dos Espíritos e seu progresso”.

Os Espíritos elevados atentam para o trabalho honesto. A arte é um dom que a alma desenvolve, já existente no seu celeiro de vida. O pintor, o escritor, o escultor, enfim, em todos os trabalhos empreendidos pelos homens, que têm o traço do progresso, os Espíritos puros os assistem, dando melhor brilho a este exercício, para mostrar cada vez mais a beleza daquilo que pode fazer o homem.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo X – Ocupações e missões dos Espíritos.
(Este capítulo tem uma característica, ele não tem divisões em tópicos, porque, fundamentalmente Kardec nos traz, pelas respostas dos Espíritos, o cotidiano deles, aquilo que eles fazem no dia a dia, sejam eles Espíritos superiores ou inferiores. Sendo que, as perguntas do Codificador dão especial ênfase às atividades dos Espíritos superiores).
Iniciando o estudo, vamos abordar as Questões de 558 a 562-a.
558. Os Espíritos cuidam de outra coisa, além do seu melhoramento pessoal?
“Concorrem para a harmonia do Universo, executando a vontade de Deus, do qual são os ministros. A vida espírita é uma ocupação contínua, mas nada tem de penosa como a da Terra, pois não está sujeita à fadiga corpórea nem às angústias da necessidade”.
Os ministros de Deus são os Espíritos puros, sem vínculo algum com a ignorância humana; portanto, eles sabem o que fazem e o Senhor dispensa confiança a todos os Seus cooperadores em exercício no universo. A ação dos Espíritos superiores é intensa, mas, sem a fadiga que conhecemos aqui na Terra. Não entra nas suas cogitações mentais a fadiga, por não estarem ligados a corpos materiais e sujeitos às provas necessárias aos que ainda não se libertaram das paixões inferiores. Eles não têm mais o que resgatar, não existem em seus caminhos as provas que as criaturas enfrentam na Terra para o devido despertamento das qualidades espirituais que todos possuímos. O trabalho os motiva para a alegria, como prazer na cooperação ao Pai que a tudo comanda. Esses Espíritos da confiança de Deus, sob o comando de Jesus, obedecem às ordens do Mestre, que as recebe diretamente de Deus, e as espraia na Terra, quando se trata de serviço neste orbe.
559. Os Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham também um papel útil no Universo?
Todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não concorre também para a construção do edifício como o arquiteto? (Ver item 540.)
Lógico, orientando os Espíritos inferiores, os Espíritos superiores concorrem para a harmonia do Universo. Os Espíritos inferiores e imperfeitos são comandados por Deus, pelos Seus agentes mais próximos para executarem as Suas obras. Todos eles têm deveres a cumprir, e isso eles fazem mesmo que sejam inconscientes. Quem se encontra na luz, já passou pelas trevas. É nesse sentido que os Espíritos superiores têm tolerância com os Espíritos chamados imperfeitos e inferiores. O dever do encarnado é o mesmo; quem tem mais luz, deve servir de cicerone aos que não sabem o caminho.
560. Os Espíritos têm, cada um, atributos especiais?
“Vale dizer que todos temos de habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas, presidindo sucessivamente às funções concernentes a todos os planos do Universo. Mas, como se diz no Eclesiastes, há um tempo para cada coisa. Assim, este cumpre hoje o seu destino neste mundo, aquele o cumprirá ou já cumpriu em outro tempo, sobre a Terra, na água, no ar etc.”.
Os Espíritos não têm atribuições especiais; não há nada especial para cada um, Deus é amor e justiça no mais profundo do termo. Todos temos de passar por todos os caminhos para tirarmos daí as lições, porque, se fomos feitos simples e ignorantes, as lições se encontram espalhadas por toda a criação, e o nosso dever é colhê-las com os nossos esforços, passo a passo. A diversidade de entendimento dos Espíritos é para nos mostrar que uns já adquiriram certas experiências e outros ainda vão em busca das mesmas. Os direitos são iguais na pauta do tempo e, ainda mais, existe a troca de valores de alma para alma.
561. As funções que os Espíritos desempenham na ordem das coisas são permanentes para cada um e pertencem às atribuições de certas classes?   
“Todos devem percorrer os diferentes graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não poderia ter dado a uns a ciência sem trabalho, enquanto outros só a adquirem de maneira penosa”.
Se é Deus que estabelece a ordem de todas as coisas, elas vibram na justiça, e sendo justiça, é amor. Como podem uns Espíritos passarem por determinadas dificuldades para evoluir e outros não? Pela resposta dos Espíritos a Kardec, notamos que não há privilegiado na criação de Deus. Todos passam por caminhos iguais, e se alguns se mostram felizes naquilo que para outros é sofrimento, a diferença está no tamanho da evolução, na quantidade maior de despertamento espiritual. Isso deve ficar bem claro, para que não interpretemos que Deus ama mais a uns do que a outros, fato que não existe no coração d'Aquele que é a luz da vida. Se todos temos de percorrer os diferentes graus da escala, sejam eles quais forem, temos de passar pelos mesmos sacrifícios, pelos mesmos esforços, pelas mesmas dores e agressões do ambiente, mesmo que sejam diversificados na estrutura, mas, com o mesmo peso de qualidades.
Comentário de Kardec: Da mesma maneira, entre os homens, ninguém chega ao supremo grau de habilidade numa arte qualquer sem ter adquirido os conhecimentos necessários na prática das funções mais ínfimas dessa arte.
562. Os Espíritos da ordem mais elevada, nada mais tendo a adquirir, entregam-se a um repouso absoluto ou têm ainda ocupações?
“Que querias que eles fizessem por toda a Eternidade? A eterna ociosidade seria um suplício eterno”.
Não existe a inércia na criação de Deus. Os Espíritos puros trabalham constantemente. As suas ocupações são muitas, no entanto, não poderemos compará-las com as ocupações humanas, que são quase todas materiais. Cada plano de vida requer trabalhos compatíveis com a sua natureza. As almas purificadas no amor não vivem de contemplação, mas sim, de ação na fraternidade universal. Elas são cocriadoras, recebendo ordens da Suprema Justiça e executando-as. A vida é movimento, e o movimento é vida em todos os pontos, ainda que seja nos mais recônditos pontos do universo. E se tudo se move, desde a matéria primitiva até os acúmulos maiores, como pensar que os Espíritos puros fiquem com as mãos paradas? O próprio Deus opera sempre, disse Jesus.
562–a. Qual é a natureza de suas ocupações?
“Receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las por todo o Universo e velar pela sua execução”.

Eis que saiu o semeador a semear. (Marcos, 4:3). O semeador maior é Deus, que fez a própria vinha. Se até Ele saiu a semear, quanto mais os Espíritos puros, Quanto aos homens, devem fazer o mesmo e sair a semear as sementes do bem. Se colhemos o que plantamos, vejamos bem o que devemos semear. A colheita é de quem planta. Essa é a justiça universal. Os Espíritos puros recebem e executam as ordens de Deus. São os vigilantes da eternidade, e os homens podem e devem ser os vigilantes da área que o Senhor lhes deu para dirigir, desde seu corpo, ao lar, à sociedade. 
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Encerrando o estudo do tópico Poder oculto, talismãs, feiticeiros, vamos abordar as Questões de 555 e 556. Com a Questão 557, referente ao tópico Benção e maldição, vamos encerrar o Capítulo IX.
555. Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?
“Esses a que chamais feiticeiros são pessoas, quando de boa-fé, que possuem certas faculdades como o poder magnético ou a dupla vista. Como fazem coisas que não compreendeis, as julgais dotadas de poder sobrenatural. Vossos sábios não passaram muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”
Os chamados feiticeiros são homens e mulheres que possuem certas faculdades como a força magnética ou a dupla vista. Os de boa fé são assistidos pelos Espíritos benfeitores, e os de má índole, por Espíritos da sua mesma categoria. Podemos entender que a existência dos chamados curandeiros tem uma razão de ser; eles aparecem mais em lugares ermos, onde não existe outra maneira de aliviar os sofredores, e a razão nos pode indicar e fazer compreender que Deus é tão bom, que desperta alguns dons nestas criaturas em favor dos que sofrem.
Comentário de Kardec: O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa, é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença ridícula.
556. Certas pessoas têm realmente o dom de curar por simples contato?
“O poder magnético pode chegar até isso, quando é secundado pela pureza de sentimentos e um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos auxiliam. Mas é necessário desconfiar da maneira por que as coisas são contadas por pessoas muito crédulas ou muito entusiastas, sempre dispostas a ver o maravilhoso nas coisas mais simples e mais naturais. É necessário também desconfiar dos relatos interesseiros por parte de pessoas que exploram a credulidade em proveito próprio”.
Em 1775, após muitas experiências, o grande magnetizador francês Franz Anton Mesmer, reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Acredita que dela desprende um fluido que alcança o doente; declara: "De todos os corpos da Natureza, é o próprio homem que com maior eficácia atua sobre o homem". Descobriu o magnetismo animal. A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura, opina ele. Mesmer, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, para estender o benefício a maior número de pessoas, magnetizava água, pratos, cama, etc., cujo contato submetia os enfermos. Hoje encontramos, em algumas casas espíritas, os médiuns curadores.
557. A bênção e a maldição podem atrair o bem e o mal para aqueles a  quem são lançadas?
“Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é culpável aos seus olhos. Como temos as tendências opostas do bem e do mal pode nesses casos haver uma influência momentânea, mesmo sobre a matéria; mas essa influência nunca se verifica sem a permissão de Deus e como acréscimo de prova para aquele que a sofre. De resto, o mais frequentemente se maldizem os maus e bendizem os bons. A benção e a maldição não podem jamais desviar a Providência da senda da justiça: esta não fere o amaldiçoado se ele não for mau e sua proteção não cobre aquele que não a mereça”(1).
O responsável por tudo e por todos os acontecimentos são os pensamentos. Tanto as bênçãos como as maldições são forças mentais que se concentram na mente pelas forças dos sentimentos e são emitidos em direção àqueles que propomos ser o alvo das nossas intenções. Tanto uma quanto a outra somente se acoplam na criatura visada se Deus o permitir. Se desejamos o bem a certa criatura e ela não merece esse bem, as forças por nós endereçadas se desviam do seu caminho e serão direcionadas para onde encontrem sintonia. Assim, igualmente sucede com o mal: se o desejas a certa criatura, e ela não merece esse mal, se não tem de passar por essa prova, esse mal é desviado para os lugares que lhe cabe atingir. Tanto as vibrações do mal quanto do bem, voltam sempre para onde foram geradas, beneficiando sua fonte ou a prejudicando.

(1) O problema da benção e maldição, como se vê, reduz-se ao plano das relações psíquicas amplamente estudado neste livro e atualmente em pesquisa na Parapsicologia Mas um dos pontos mais importantes deste capitulo é o de n.- 522, onde aparece o conceito instinto espiritual como lembrança das provas escolhidas. Não confundir esse conceito com o de instinto biológico, tratado nos n.”‘ 589 e 590. (N. do T.)
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Iniciando o estudo do tópico Poder oculto, talismãs, feiticeiros, vamos abordar as Questões de 551 a 554.
Poder Oculto, Talismãs, Feiticeiros.
551. Um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe for devotado, pode fazer o mal ao seu próximo?
“Não, Deus não o permitiria”.
Se um homem de má índole deseja fazer o mal ao seu próximo, claro está que Deus não permitirá que esse mal seja feito, pois existe a lei de Justiça criada por Ele, de forma a proteger as criaturas. O mal que o ser recebe são lições necessárias para o seu adiantamento espiritual, capazes de libertar as criaturas, pois, é pelo sofrimento que reconhecemos o valor do bem.
552. Que pensar da crença no poder de enfeitiçar que certas pessoas teriam?
“Algumas pessoas têm um poder magnético muito grande, do qual podem fazer mau uso se o seu próprio Espírito for mau. Nesse caso poderão ser secundadas por maus Espíritos. Mas não acrediteis nesse pretenso poder mágico que só existe na imaginação das pessoas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos que citam são fatos naturais mal observados e sobretudo mal compreendidos”.
A realidade é que nós observamos no dia a dia, em todos os ambientes que frequentamos, existem pessoas que dominam, porque existem pessoas que preferem ser dominadas. A crença no poder do mal é gerada pela ignorância. O que se chama de mal deve ser esquecido e não alimentado, porque cada vez que se pensa nele, aviva-se aquele assunto nas mentes, de modo a fazer viver cada vez mais o mal. As criaturas supersticiosas sofrem por suas próprias ilusões, que devem ser desmanchadas pela certeza de que o bem é força maior, como o sol diante das nuvens que desejam empaná-lo.
553. Qual pode ser o efeito de fórmulas e práticas com as quais certas pessoas pretendem dispor da vontade dos Espíritos?
“O de as tornar ridículas, se são de boa-fé; no caso contrário, são tratantes que merecem castigo. Todas as fórmulas são charlatanices; não há nenhuma palavra sacramental, nenhum signo cabalístico, nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porque eles só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”.
Verdadeiramente, não existem fórmulas ou práticas que tenham o poder de atrair Espíritos, como seja o uso de talismã, ou de outro qualquer objeto que "garantam" a atração de Entidades Espirituais. O Espírito se encontra acima da matéria: ele é que a dirige, e não essa que o prende, pois não possui qualidade ou radiação superior àquele. A alma tem sempre condições de buscar esta qualidade superior, ao passo que a matéria não domina esse recurso. Essa crença em fórmulas é pura ilusão que nasce do fanatismo religioso entre as pessoas ignorantes.
553–a. Certos Espíritos não ditaram, algumas vezes, fórmulas cabalísticas?
“Sim, tendes Espíritos que vos indicam signos, palavras bizarras, ou que vos prescrevem certos atos, com a ajuda dos quais fazeis aquilo que chamais conjuração. Mas ficai bem seguros de que são Espíritos que zombam de vós e abusam de vossa credulidade”.
Sabemos, e disto temos provas, que Espíritos que assinam nomes respeitáveis ensinam fórmulas cabalísticas aos incautos, aos de boa fé, melhor dizendo, de fé cega, que em tudo acreditam, desde que venha dos Espíritos. São Entidades enganadoras, que começam a enganar a si mesmas, na ilusão de comprar a felicidade sem esforço próprio. Toda subida exige esforço, sacrifício e dor. Vejamos o que diz o apóstolo João, na sua mais alta inspiração, sobre certos Espíritos: “Amados, não deis crédito a qualquer Espírito: Antes, provai os Espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora”
554. Aquele que, com ou sem razão, confia naquilo a que chama virtude de um talismã, não pode, por essa mesma confiança, atrair um Espírito? Porque então é o pensamento que age; o talismã não é um signo que ajuda a dirigir o pensamento?
“Isso é verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da natureza da intenção e da elevação dos sentimentos. Ora, é difícil que aquele que é tão simplório para crer na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral. Qualquer que seja o caso, isso indica estreiteza e fraqueza de ideias, que dão azo aos Espíritos imperfeitos e zombadores”.

Um homem de boa fé, mesmo que seja fé cega, confiando em um talismã pode, perfeitamente, atrair Espíritos para o auxiliarem, mas não por causa do objeto em mãos e, sim, por sua fé, por seus pensamentos que entraram em ação, ou por motivo das suas necessidades e, além disso, pelo trabalho que tenha prestado à família e à sociedade. Para tanto, esse companheiro tem, como os outros homens, um protetor espiritual que o acompanha por amor, e não está atraído para junto do seu tutelado por causa de talismã, e sim pelo compromisso do passado, mediante aval que deu em favor do encarnado.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Iniciando o estudo do tópico Pactos, vamos abordar as Questões de 549 a 550.
549. Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos?
“Não, não há pactos, mas uma natureza má simpatiza com Espíritos maus. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo: chamas então os Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal, e para te ajudar querem que também os sirvas nos seus maus desígnios. Mas disto não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles por uma conjuração contrária ou pela sua própria vontade. Aquele que deseja cometer uma ação má, pelo simples fato de o querer chama em seu auxílio os maus Espíritos, ficando obrigado a servi-los como eles o auxiliam, pois eles também necessitam dele para o mal que desejam fazer. É somente nisso que consiste o pacto. A dependência em que o homem se encontra, algumas vezes, dos Espíritos inferiores, provém da sua entrega aos maus pensamentos que eles lhe sugerem e não de qualquer espécie de estipulações feitas entre eles. O pacto, no sentido comum atribuído a essa palavra, é uma alegoria que figura uma natureza má simpatizando com Espíritos malfazejos”
Entre os homens existem pactos, donde aparecem contratos assinados para que possam cumprir o prometido. Entre os Espíritos, em relação aos homens de má índole, o pacto é diferente: é a união de ideias, é a sintonia de sentimentos. Se queres fazer mal a alguém, é só te fixares nestes pensamentos, que logo surgirão Espíritos das mesmas ideias, e que, por vezes, não gostam dos que deverão ser atingidos.
550. Qual o sentido das lendas fantásticas segundo as quais certos indivíduos teriam vendido sua alma a Satanás em troca de favores?
“Todas as fábulas encerram um ensinamento e um sentido moral e o vosso erro é torná-los ao pé da letra. Essa é uma alegoria que se pode explicar assim: aquele que chama em seu auxílio os Espíritos para deles obteres dons da fortuna ou qualquer outro favor se rebela contra a Providência, renuncia à missão que recebeu e às provas que deve sofrer neste mundo e sofrerá as consequências disso na vida futura. Isso não quer dizer que sua alma esteja para sempre condenada ao sofrimento. Mas, porque em vez de se desligar da matéria ele se afunda cada vez mais, o gozo que preferiu na Terra não o terá no mundo dos Espíritos, até que resgate a sua falta através de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Por seu amor aos gozos materiais coloca-se na dependência dos Espíritos impuros: estabelece-se entre eles um pacto tácito, que o conduz à perdição, mas que sempre, lhe será fácil romper com a assistência dos bons Espíritos, desde que o queira com firmeza”.
Certamente que não podemos vender a alma, nem nos vender a ninguém. Esse não é o sentido real do assunto. Como podemos nos vender, se o Espírito que compra está destinado ao despertamento espiritual como todos os demais? As coisas espirituais não se compram, nem se vendem. Tudo pertence a Deus, que criou todas as coisas. Somente o ignorante troca seus sentimentos por dinheiro. Se queres ter ouro em caixa, é bom e justo que trabalhes: "O trabalhador", diz o Evangelho, "é digno do seu salário". Quem vende o que não é seu, será marcado de modo a responder em outra vida pelas consequências nefandas do seu ato indigno.

 MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
LIVRO SEGUNDO
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Iniciando o estudo do tópico Os Espíritos durante os combates, vamos abordar as Questões de 541 a 548.
541. Numa batalha, há Espíritos que a assistem e que amparam cada  uma das forças em luta?
“Sim, e que estimulam a sua coragem”.
Imaginemos um confronto qualquer entre dois países, ou, no caso de uma guerra civil, um confronto de ideias que seja levado às últimas consequências. Lógico, vai haver no mundo espiritual os que vão pensar de uma maneira e outros que vão pensar de maneira diferente. Existem muitos Espíritos assistindo e outros tantos ajudando nas lutas, ao passo que há os mais elevados, que dirigem o exército espiritual. Não há movimento algum em que não haja Espíritos dirigindo e assistindo em nome de Deus, que permitiu o evento. O alto-comando espiritual não tem rivalidade qual os homens, pois, tudo é processo de despertar espiritual dos Espíritos atrasados, encarnados e desencarnados, que se encontram naquela faixa de vida. As guerras não cessaram ainda porque elas vibram em nossos sentimentos.
Comentário de Kardec: Assim os antigos nos representavam os deuses tomando partido por este ou aquele povo. Esses deuses nada mais eram do que os Espíritos representados por figuras alegóricas.
542. Numa guerra, a justiça está sempre de um lado; como os Espíritos tomam partido a favor do errado?
“Sabeis perfeitamente que há Espíritos que só buscam a discórdia e a destruição. Para eles a guerra é a guerra; a justiça da causa pouco lhes importa”.
As guerras são sempre produtos da incompreensão humana, mas não deixam de ser processos de evolução das criaturas. Existe, a espiritualidade nos informa, que a provação coletiva da humanidade, às vezes se transforma em guerras fratricidas, ou, então, em catástrofes inesperadas, em que a natureza cobra dos seres humanos os danos causados a ela e às criaturas.
543. Certos Espíritos podem influenciar o general na concepção dos seus planos de campanha?
“Sem nenhuma dúvida. Os Espíritos podem influenciá-lo nesse sentido, como em todas as concepções”.
Existiram batalhas que não tinham a menor lógica de existir. Houve uma batalha chamada de Gaugamela, em que Alexandre, o Grande, enfrentou o exército persa com um exército menor, e esse exército muito menor foi organizado de tal maneira, que conseguiu ultrapassar a vanguarda adversária e atacar pela sua retaguarda, e ganhar a batalha, provocando o colapso do exército persa. Os Espíritos inferiores, agindo como obsessores, podem influenciar os homens que comandam tropas e sugerir errôneos métodos de lutas, principalmente se forem seus inimigos, e esses homens sucumbirem nas suas lutas. No entanto, se essa derrota irá corresponder à derrota de uma nação que não deve ser dominada, há um levante das outras tropas por inspiração de Espíritos superiores, e a nação acaba ganhando a batalha, porque um povo não pode sofrer a dominação como derrotado, por causa de um general que entrou na faixa negativa de Espíritos inconscientes.
544. Os maus Espíritos poderiam suscitar-lhe planos errados, com vistas à derrota?
“Sim, mas não tem ele o seu livre-arbítrio? Se o seu raciocínio não lhe permite distinguir uma ideia certa de uma falsa, terá de sofrer as consequências e faria melhor em obedecer do que em comandar”.
Aí, nós observamos que, determinados grandes combatentes da História da Humanidade, cometeram erros fragorosos que os levaram à decadência e à derrocada. Por quê? Porque fugiram de um propósito original a que estavam destinados. A questão em estudo nos diz que os maus Espíritos podem suscitar planos errôneos ao comandante de uma tropa, com a finalidade de levá-lo à derrota e depois gargalharem com o mal feito aos encarnados que sintonizaram com os seus pensamentos. Mas, isto não nos leva a crer que um país entrasse em sofrimento por causa do descuido de algumas pessoas que não vigiaram.
545. O general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de dupla vista, uma visão intuitiva que lhe mostre por antecipação o resultado dos seus planos?
“E frequentemente o que acontece com o homem de gênio. É o que ele chama inspiração e lhe permite agir com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem e se servem das faculdades de que ele é dotado”.
É interessante observar esse detalhe para a nossa reflexão, a respeito das decisões que tomamos na própria vida. Em muitos casos, o comandante de uma tropa pode ser dotado de faculdades mediúnicas e seguir sempre o caminho da vitória. Mas, sempre que esse Espírito tenta ultrapassar, por orgulho e vaidade, os limites pré-estabelecidos por Deus, ele é suprimido e o vencido, vítima de seus descontroles emocionais, é duplamente assistido. Vejamos o caso de Napoleão Bonaparte, na França; ele tinha faculdades desenvolvidas, de maneira a perceber as fraquezas do inimigo, além de ser guiado por Espíritos de alta função divina. O mundo estava precisando de um país onde surgisse a liberdade de pensamentos, e foi Napoleão o escolhido para desenvolver tal ideal, mas, quando passou dos limites traçados por Deus, o orgulho se apoderou do seu coração e a ganância de domínio o cegou, ele foi banido para uma ilha, onde morreu sem nenhuma perda para a nação nem para a humanidade.

546. No tumulto do combate, o que acontece aos espíritos dos que sucumbem? Ainda se interessam pela luta, após a morte?
“Alguns continuam a se interessar, outros se afastam”.
O Espírito que lutou como encarnado na guerra, ao desencarnar durante a batalha, fica mais ou menos atordoado, de acordo com a sua evolução espiritual. O fragor da batalha lhe toma os sentidos e o prende à luta, levando-o a se demorar naquele ambiente o quanto a sua evolução o permitir. Muitos Espíritos, ao desencarnarem em plena batalha, passam a não se interessar mais pela guerra, por sentirem que ela é inútil para eles, Outros ficam envolvidos nas batalhas cada vez mais, sofrendo todas as consequências que advêm da brutalidade que nasce da ignorância.
Comentário de Kardec: Nos combates, acontece o mesmo que se verifica em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento, o Espírito fica surpreso e como aturdido, não acreditando que está morto; parece-lhe ainda tomar parte na ação. Não é senão pouco a pouco que a realidade se lhe impõe.
547. Os Espíritos que se combatiam quando vivos, uma vez mortos se reconhecem como inimigos e continuam ainda excitados uns contra os outros?
“Nesses momentos, o Espírito jamais se mostra calmo. No primeiro instante, ele ainda pode odiarão seu inimigo e mesmo o perseguir. Mas quando as ideias se lhe acalmarem, verá que a sua animosidade não tem mais ramo de ser. Não obstante, poderá ainda conservar resquícios maiores ou menores, de acordo com o seu caráter”.
Após a morte, muitos dos Espíritos que sucumbiram na guerra continuam em lutas e conservam a inimizade por longo tempo. Outros, depois que se conscientizam da sua situação, começam a sentir a realidade, vendo que tudo não passa de ignorância. Ao terminar uma batalha, o Espírito nunca se encontra calmo, mas os mais esclarecidos, com pouco tempo se refazem, arrependendo-se e pedindo a Deus que os encaminhe para os roteiros certos. A sua disposição interna vale muito, e logo a assistência surge, pelos companheiros mais velhos de jornada evolutiva, que já despertaram muito antes.
547–a. Ouve ainda o fragor da batalha?
“Sim, perfeitamente!”
Sem comentário.
548. O Espírito que assiste friamente a um combate, como espectador, testemunha a separação entre a alma e o corpo? E como esse fenômeno se apresenta a ele?
“Há poucas mortes realmente instantâneas. Na maioria das vezes, o Espírito cujo corpo foi mortalmente ferido não tem consciência disso no mesmo instante. Quando começa a retomar consciência é que se pode distinguir o Espírito a mover-se ao lado do cadáver. Isso parece tão natural que a vista do corpo morto não produz, nenhum efeito desagradável. Toda a vida tendo sido transportada para o Espírito, somente ele chama a atenção e é com ele que o espectador conversa ou a quem dá ordens”.

O Espírito, depois de uma morte violenta na batalha, fica como espectador, assistindo aos seus irmãos matando e morrendo nas lutas, e nesta agressão de uns para com os outros, pode voltar à sua consciência no bem e ver a inutilidade das destruições ali verificadas, aflorando-lhe o arrependimento espiritual, momento em que o Cristo começa a tomar o seu coração de sensibilidade, e nasce nos seus sentimentos o novo homem. Para tanto, os benfeitores espirituais estão ali, procurando meios de separar o corpo espiritual do físico, libertando assim a alma de maiores sofrimentos, pelo desrespeito ao corpo que lhe serviu de instrumento para a vida na Terra.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Encerrando o estudo do tópico Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza, vamos abordar as Questões de 539 a 540.
539. Na produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é somente um Espírito que age ou se reúnem em massa?
“Em massas inumeráveis”.
Digamos assim: As tempestades são forças renovadoras que limpam a atmosfera, para que a vida brilhe de modo mais intenso e com mais segurança, e os Espíritos encarregados disto sabem dosar seus valores, de modo a servir a humanidade. Mas, muitos dos Espíritos que trabalham nesta renovação são inconscientes dos fatos. Os Princípios Inteligentes envolvidos nesses fenômenos são dos mais variados níveis. Os Espíritos superiores sabem os motivos pelos quais determinados fenômenos acontecem, e orientam aqueles que são executores do processo e se valem deles para a execução dos mesmos. Esse trabalho requer muita ação dos Espíritos mais elevados e mesmo dos Espíritos mais inferiores. É um processo elaborado. Os Espíritos superiores programam através do trabalho os Espíritos inferiores com o princípio inteligente ainda não individualizado, até, para que eles possam aproveitar daquela experiência para poder evoluir.
540. Os Espíritos que agem sobre os fenômenos da Natureza agem com conhecimento de causa em virtude de seu livre-arbítrio, ou por um impulso instintivo e irrefletido?
“Uns, sim; outros, não. Faço uma comparação: figurai essas miríades de animais que pouco a pouco fazem surgir do mar as ilhas e os arquipélagos; acreditais que não há nisso um objetivo providencial e que essa transformação da face do globo não seja necessária para a harmonia geral? São, entretanto, animais do último grau os que realizam essas coisas, enquanto vão provendo às necessidades e sem perceberem que são instrumentos de Deus. Pois bem,  da mesma maneira os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto; enquanto eles ensaiam para a vida, e antes de terem plena consciência de seus atos e de seu livre-arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem o  saberem. Primeiro, executam; mais tarde, quando sua inteligência estiver  desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material; mais tarde ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia, de que o  vosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto”.

Nem todos os Espíritos que trabalham nos fenômenos da natureza têm plena consciência do que estão fazendo. Somente a têm os dirigentes dos fenômenos. A massa é composta de operários mais ou menos conscientes do que fazem, sendo que alguns deles se alegram pelos distúrbios da natureza. Mas, Deus usa de todos os Seus filhos, mesmo os mais novos na pauta da vida, lhes dando a tarefa que sua evolução permite realizar. Com isso, e no perpassar do tempo, se encherá de experiências, do que pode recolher para transformação da sua liberdade no futuro. Os Espíritos, pelo dizer dos mais abalizados, vieram do átomo primitivo, e se expressam, na sua grandeza, como arcanjos divinos. Para que cheguem a esse ponto, passam por fieiras de milênios incontáveis, e esses bilhões de anos lhes deixam marcas das leis que devem ser respeitadas. Eles atuam com amor e por amor à Suprema Sabedoria do Universo. Os Espíritos que têm conhecimento de causa são poucos, na direção de todos os acontecimentos, porém, Deus está sempre operando em todas as causas, para que os efeitos estejam ligados a elas. Se nós viemos da matéria primitiva, saída do Hálito Divino, devemos ter grande respeito por tudo que existe, porque a própria matéria está a caminho para tornar-se Espírito, pelo trabalho em que opera há bilhões de anos.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Iniciando o estudo do tópico Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza, vamos abordar as Questões de 536 a 538-a.
536. Os grandes fenômenos da Natureza, esses que se consideram como perturbações dos elementos, são devidos a causa fortuitas ou têm pelo contrário, um fim providencial?                                         
“Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus”.
Raciocinemos: Alguma coisa acontece no Universo sem que seja com um determinado objetivo? A razão nos diz que não! Os fenômenos da natureza, como, por exemplo, as erupções vulcânicas, que chegam a soterrar cidades, como no caso de Herculano e Pompéia, na Itália, são agentes das provas coletivas das criaturas que ali pereceram. Notemos que, quando os homens não fazem guerra, a natureza a faz, motivando o despertamento das almas para as coisas espirituais.
536–a. Esses fenômenos sempre objetivam o homem?
“Algumas vezes têm uma razão de ser diretamente relacionado ao homem, mas frequentemente não tem outro objetivo que o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da Natureza”.
Os Espíritos da natureza são os agentes de todos os movimentos relacionados com ela, por ordem de Deus. Eles sabem o que fazer ante as necessidades humanas, e mesmo da própria natureza. A Ilha Havai, Havaí ou Hawaiʻi é a maior ilha do arquipélago do Havai. Esta ilha é também conhecida pelo seu nome inglês "Big Lol" (Ilha Grande), evitando-se a confusão entre a ilha e o estado. Nesta ilha fica o vulcão mais ativo do mundo chamado Kilauea. Em 1998 o Kilauea foi noticiado como o vulcão de maior atividade no mundo e tido como o vulcão ativo mais visitado do mundo, uma fonte inestimável para os vulcanólogos, porque a ilha está em fase de ampliação. Ela tem aumentado de território graças a um vulcão que está ativo desde 1983. Daquele ano até hoje, a lava que ele despeja no mar fez a ilha crescer 3 milhões de metros quadrados – o equivalente a 316 campos de futebol. E vem mais por aí, só que daqui a bastante tempo: dentro de 50 mil anos, uma nova ilha, Lo’ihi, deve surgir na região. Atualmente, ela é apenas um vulcão escondido a 1 000 metros de profundidade, mas que não para de crescer.
536–b. Concebemos perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primaria, nisso como em todas as coisas; mas como sabemos que os Espíritos podem agir sobre a matéria e que eles são os agentes da vontade de Deus perguntamos se alguns dentre eles não exerceriam uma influência sobre os elementos para os agitar, acalmar ou dirigir?
“Mas é evidente; isso não pode ser de outra maneira. Deus não se entrega a uma ação direta sobre a Natureza, mas tem os seus agentes dedicados, em todos os graus da escala dos mundos”.
Deus não exerce ação direta, mas pelos canais dos Seus agentes, que são os Espíritos, aos quais podemos chamar engenheiros siderais, ou como queiramos chamá-los, desde que as designações sejam referentes a Espíritos de alta linhagem, que tudo conhecem com precisão, o que lhes possibilita dominar a natureza.
537. A Mitologia dos antigos é inteiramente fundada sobre as ideias espíritas, com a diferença de que consideravam os Espíritos como divindades. Ora, eles nos representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir à vegetação etc. Essa crença é destituída de fundamento?
“Tão pouco destituída de fundamento que está ainda muito aquém da verdade”.
Certamente que não existem deuses. Os antigos classificavam os Espíritos agentes de Deus como sendo deuses menores, por não compreenderem as leis do Criador manifestando-se em tudo e garantindo a vida por onde quer que seja. O falar dos antigos, partindo dos próprios sábios, tem fundamentos da verdade, porque a natureza, por sua vez, não se encontra sem amparo. Em todos os seus aspectos existem Espíritos' altamente evoluídos e sendo coadjuvados por forças maiores, ajudados por agentes menores na restauração da vida, sob as bênçãos do Criador. Assim, a lavoura, a pecuária, as matas, as serras, as cachoeiras, os rios, os mares, as chuvas, os ventos, e a própria Terra têm seus cortejos de almas na sua direção, capazes de ajudar corretamente no equilíbrio, de forma que a vida manifesta, cada vez mais presente, a Força Soberana a que chamamos Deus.
537–a. Pela mesma razão poderia haver Espíritos habitando o interior da Terra e presidindo aos fenômenos geológicos?
“Esses Espíritos não habitam precisamente a Terra, mas presidem e dirigem os fenômenos segundo as suas atribuições. Um dia tereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor”.
Os Espíritos que presidem os fenômenos geológicos não precisam habitar o interior da Terra, como muitos pensam, para tal objetivo; esse trabalho é feito pela força do pensamento, por manipulações de fluidos, que são colocados neste ou naquele lugar, e que a química se encarrega de fazer manifestar. Todos esses fenômenos são vigiados pela Força Divina, que permite ou não a sua realização. O que os homens do passado achavam que eram deuses, tornamos a dizer, eram Espíritos de alto porte espiritual, encarregados de orientar outros menores na execução dos trabalhos na natureza.
538. Os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza formam uma categoria especial no mundo espírita, são seres à parte ou Espíritos que foram encarnados, como nós?
“Que o serão, ou que o foram”.
Há filosofias pregando que na população dos Espíritos da natureza muitos não se encarnam, nem reencarnam. Como se enganam! Muitas situações ainda são segredos do Todo-Poderoso, mas os próprios Espíritos encarregados de revelar a verdade vão dizendo, de acordo com o tamanho evolutivo das criaturas. Deus é justiça e amor. Sendo assim, o que todos já reconhecem, Ele não poderia criar Espíritos à parte, diferentes; eles são todos iguais, para manifestar a glória do Criador. Poderia o Senhor criar Espíritos inferiores e superiores? Onde estaria a justiça, e mesmo o amor? Vê bem o que disse Jesus, anotado por Mateus: Assim, pois, pelos seus frutos os reconhecereis. (Mateus, 7:20)
538–a. Esses Espíritos pertencem às ordens superiores ou inferiores da hierarquia espírita?
“Segundo o seu papel for mais ou menos material ou inteligente; uns mandam, outros executam; os que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem inferior, entre os Espíritos como entre os homens”.

Os Espíritos que são agentes de Deus nas lavouras são os mesmos que trabalham nos mares, na Terra, nas matas e nos demais reinos da natureza. Por vezes, eles operam mudanças de posições, quais os homens na Terra, para armazenar experiências, mas no fundo são os mesmos Espíritos que levaram o toque do Criador.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Encerrando o estudo do tópico Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida, vamos abordar as Questões de 533 a 535-b.
533. Podem os Espíritos fazer que se obtenham os dons da fortuna, desde que solicitados nesse sentido?
“Às vezes, como prova, mas frequentemente os recusam como se recusa a uma criança um pedido inconsiderado”.
De certo modo, a riqueza leva o homem aos perigos morais e aos de todas as ordens. O dinheiro, quando aliado ao orgulho e ao egoísmo, se compara a desastres nos caminhos das criaturas. Por vezes, pedimos aos Espíritos a fortuna, e eventualmente nos poderá ser isso concedido. Deus pode permiti-lo como lição, uma prova, como um fardo que pesa bastante nos ombros. As oportunidades na vida que nos sejam dadas são sempre para atender ao nosso processo de evolução espiritual.
533–a. São os bons ou os maus Espíritos que concedem esses favores?
“Uns e outros. Isso depende da intenção. Mas em geral são os Espíritos que querem arrastar-vos ao mal e que encontram um meio fácil de afazer nos prazeres que a fortuna proporciona”.
Ou seja, aqueles que nos trazem a fortuna material, muitas vezes, desejam a nossa perda espiritual, desejam que nos percamos em termos de valores espirituais para que estejamos a sua mercê. Entre os Espíritos que servem de instrumento para canalizar essa riqueza, quase sempre estão os nossos inimigos, por desejarem o nosso mal, na sequência da nossa vida. São favores perigosos, e não devem faltar ao agraciado a oração e a vigilância.
534. Quando os obstáculos parecem vir fatalmente contra aos nossos projetos, seria isso por influência de algum Espírito?
“Algumas vezes, são os Espíritos; outras vezes, e o mais frequentemente, é que vos colocastes mal. A posição e o caráter influem muito. Se vos obstinais numa senda que não é a vossa, os Espíritos nada têm com isso; sois vos mesmos que vos tornais o vosso mau gênio”.
Durante toda a vida do ser humano existe influência dos Espíritos, bons ou maus, conforme a conduta da pessoa. Os planos que intentamos realizar, se forem dentro das condições que o nosso destino comporta, se servirem para o nosso aprimoramento espiritual e erguerem a nossa conduta, serão facilitados pelos guias espirituais. No entanto, se nos investirmos no orgulho, vaidade e egoísmo, atrairemos Espíritos com as mesmas tendências para nos ajudar. Como todo mal fracassa, devemos aprender uma lição algo penosa, mas pela qual é necessário passar. Entretanto, Deus não nos perde de vista. Ele somente concede as provações, os fracassos, como escolas para os Seus filhos. Quando elaboramos um plano, devemos pensar bastante sobre ele, pedir conselhos aos mais experimentados, de modo a não errar nos caminhos. Não devemos gastar o tempo, principalmente dos Espíritos, com coisas vãs. Sacudir o pó das sandálias, no dizer evangélico, é esquecer tudo o que possa gerar maledicência, usura, desonestidade, orgulho, egoísmo, falsidade e violência. Devemos ouvir Jesus em todas as nossas andanças, em todos os nossos pensamentos e atitudes, esforçando-nos para colocarmos em prática os Seus ensinamentos. Se isso não acontecer, sofreremos as consequências do nosso desleixo.
535. Quando nos acontece alguma coisa feliz, é ao nosso Espírito protetor  que devemos agradecer?
“Agradecei primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz e depois aos bons Espíritos que foram os seus agentes”.
Quando alguma coisa de bom nos sucede, o maior dever da criatura é agradecer a Deus pelo bem que Ele nos concedeu, e em seguida estender o agradecimento aos benfeitores da eternidade, que sempre se encontram trabalhando em nosso favor, nos desejando a paz. A gratidão é o ponto alto que o coração pode atingir, pois é irradiação do próprio amor. O agradecimento é, ainda, a demonstração de educação. O que recebemos, que vem ao nosso encontro por diversas linhas de manifestações , é permissão de Deus. Ele, o Senhor do Universo, é onisciente e sabe de antemão o de que mais necessitamos para o nosso bem-estar.
535–a. Que aconteceria se esquecêssemos de agradecer?
“O que acontece aos ingratos”
O agradecimento deve estar presente em tudo, em todos os acontecimentos da nossa vida. Se porventura nos esquecermos de agradecer a Deus pelo que recebemos e fazemos todos os dias, automaticamente, não desejamos ouvir o Senhor. Não é Ele que se afasta do nosso coração; somos nós que fechamos os ouvidos e os olhos, para não ouvi-Lo e vê-Lo. As consequências não são boas; é o filho que esquece o pai.
535–b. Há, entretanto, muita gente que não ora nem agradece e para quem sai tudo bem?
“Sim, mas é necessário ver o fim; pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, porque, quanto mais tenham recebido mais terão de restituir”.
Se observarmos alguém que não se lembra da gratidão pelo que recebe e está bem, em muitos aspectos da vida terrena, não levemos isso em conta. Tudo não passa de misericórdia da Divindade, de tolerância para com os ignorantes, mas, mais tarde, esse alguém deverá lutar em caminhos cheios de espinhos, como Jesus disse a Paulo, no caminho de Damasco: Vou te mostrar o quanto deves sofrer por mim. É bom que entendamos a mensagem do Cristo, quando um de Seus discípulos queria sair do Seu convívio para enterrar alguém:

 LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando sequência ao estudo do tópico Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida, vamos abordar as Questões de 531 a 532.
531. O rancor dos seres que nos fizeram mal na Terra extingue-se com a sua vida corpórea?
“Muitas vezes reconhecem sua injustiça e o mal que fizeram, mas muitas vezes também vos perseguem com o seu ódio, se Deus o permite, para continuar a vos experimentar”.
Em certos casos, os Espíritos que nós prejudicamos, ao desencarnarem continuam a nos perseguir, clamando por justiça, e às vezes Deus o permite para nos educar. Porém, se esses Espíritos alcançam a compreensão espiritual, logo nos perdoarão, mas, como todo mal que praticamos fica gravado na consciência. Em muitos casos, a obsessão não passa de fantasia que a nossa mente alimenta, e a subconsciência fornece os meios para o prosseguimento da perturbação. Assim, a lei da justiça se cumpre, de sorte a nos educar, instruindo-nos de modo a modificarmos nossos sentimentos. É neste sentido que sempre se diz, que somente o que nos acompanha além do túmulo são nossas ações, boas ou más, elas nos ajudam ou nos torturam.
531–a. Pode-se pôr termo a isso, e por que meio?
“Sim, pode-se orar por eles, e ao se lhes retribuir o mal com o bem acabarão por compreender os seus erros. De resto, se souberdes colocar-vos acima de suas maquinações, cessarão de fazê-las ao verem que nada lucram”.
Quando passamos a amar, o Senhor fica mais visível aos nossos sentimentos e filtramos Seus pensamentos na naturalidade que a vida nos oferece, por prêmio aos nossos esforços no campo da melhora. O amor faz desaparecer o tempo e o espaço, nos tirando essa agonia de tempo, de marcação de passado e de futuro, nos levando para viver somente no eterno, que é a felicidade. Quem souber a grandeza dos frutos do verdadeiro amor, não sentirá outra coisa, em relação a Deus e ao próximo.
Comentário de Kardec: A experiência prova que certos Espíritos prosseguem na sua vingança de uma existência a outra, e que. assim, expiaremos, cedo ou tarde, os males que pudermos ter acarretado a alguém.
532. Os Espíritos têm o poder de desviar os males de certas pessoas, atraindo para elas a prosperidade?
“Não o podem fazer inteiramente, porque há males que pertencem aos desígnios da Providência; mas minoram as vossas dores, dando-vos paciência e resignação. Sabei, também, que depende frequentemente de vós desviar esses males ou pelo menos atenuá-los. Deus vos deu a inteligência para a usardes, e é sobretudo por meio dela que os Espíritos vos socorrem, sugerindo-vos pensamentos favoráveis. Mas eles não assistem senão aos que sabem assistir-se a si mesmos. É esse o significado das palavras: “Buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á”. Sabei ainda que aquilo que vos parece um mal nem sempre o é. Frequentemente um bem deve resultar dele, que será maior que o mal, e é isso o que não compreendeis porque não pensais senão no momento presente ou na vossa pessoa”.

De certo modo, os protetores espirituais afastam das pessoas certos males que as fazem sofrer, mas tudo depende da própria pessoa, se se arrepende sinceramente de ter se desviado da lei. Os guias espirituais alegram-se quando seu protegido se esforça para melhorar, quando estuda, mas não fica somente nos estudos e procura praticar o que aprendeu nas lições. Esse aprendiz tem sempre visível em seu caminho o seu anjo-guardião a lhe dizer, no silêncio, que a consciência registra: "Estou aqui, a paz seja convosco." O homem deve compreender que quase tudo depende dele mesmo, da melhoria que se processa no seu mundo interno.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando sequência ao estudo do tópico Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida, vamos abordar as Questões de 528 a 530-a.
528. Um homem mal intencionado dispara um tiro contra outro, mas o projétil passa apenas de raspão, sem o atingir. Um Espírito benfazejo pode ter desviado o tiro?   
“Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benfazejo lhe inspira   o pensamento de se desviar, ou ainda poderá ofuscar o seu inimigo de maneira a lhe perturbar a pontaria; porque o projétil, uma vez lançado, segue a linha da sua trajetória”.
Sempre existiram mistérios, que ainda vão continuar. Há muitos casos que a Doutrina Espírita ainda não pode explicar, devido ao atual estágio da humanidade. Ela está em uma escala em que certas coisas ainda não podem ser compreendidas, sem confusão mental. Em se somando às verdades reveladas até então, nos parece muita carga para as consciências no plano da Terra; somente se pode carregar um fardo que as forças possam suportar e um jugo com que a mente não se perturbe. No caso referido, o Espírito benfeitor pode desviar o projétil, confundindo a mente do que vai disparar a arma. Se não tem que acertar, o atirador é ofuscado. É o Espírito protegendo o alvo.
529. Que se deve pensar das balas encantadas, a que se referem algumas lendas e que atingem fatalmente o alvo?
“Pura imaginação: o homem gosta do maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da Natureza”. 
A existência de balas encantadas é mera ilusão, porque o homem comum gosta da fantasia, criando ficção para si. Não existe encanto algum em balas, em armas de morticínios, em aparelhos mágicos. Tudo está relacionado com os Espíritos que a tudo movem, com a permissão de Deus. Assim como há os benfeitores que desviam as armas de certas pessoas, preservando a vida, existem os Espíritos inferiores, ou inimigos do alvo, que fazem disparar uma arma por acaso, acabando por acertar alguém. Mas, não existe o acaso; tudo foi permitido por Deus.
529–a. Os Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ser contrariados por Espíritos que tenham desejos em contrário?
“O que Deus quer, deve acontecer; se há retardamento ou empecilho  e por sua vontade”.
Convém saber que Deus Se encontra em tudo, tudo vive e palpita pela irradiação do Seu amor, e Ele não Se esquece de nada. Não devemos nos preocupar em saber tudo. Isso é impossível para nós. Somente Deus sabe de tudo, pois Ele é o Criador.
530. Os Espíritos levianos e brincalhões não podem provocar esses pequenos embaraços que se antepõem aos nossos projetos e transtornam as nossas previsões; em uma palavra, são eles os autores do que vulgarmente chamamos as pequenas misérias da vida?
“Eles se comprazem nessas traquinices que são provas para vós destinadas a exercitar a vossa paciência; mas se cansam quando veem que nada conseguem.  Entretanto não seria justo nem exato responsabiliza-los por todas as vossas frustrações, das quais vos sois os principais autores, pelo vosso estouvamento. Convence-te, pois, de que, se a tua baixela se quebra é antes em virtude do teu descuido do que par culpa dos Espíritos”.       
Os Espíritos levianos e zombeteiros se aproximam das criaturas que lhes favorecem a aproximação. Quantas vezes escutamos estas palavras: "Os semelhantes se atraem"? Um Espírito mentiroso não pode influenciar um homem que não admite a mentira, nem o Espírito de um beberrão faz um homem beber, sem que este queira alimentar esse vício. Tem de haver sintonia entre os dois, para que possam entrosar os sentimentos.
530–a. Os Espíritos que provocam discórdias agem em consequência de animosidades pessoais ou atacam ao primeiro que encontram, sem motivo determinado, por simples malícia?
“Por uma e outra coisa: às vezes, trata-se de inimigos que fizestes  nesta vida ou em existência anterior e que vos perseguem; de outras vezes, não há nenhum motivo”.

Todos os infortúnios causados pelos Espíritos ignorantes às pessoas, são devidos ao fato de essas pessoas alimentarem ideias falsas e as acharem boas, praticando e alimentando paixões inferiores. A Doutrina dos Espíritos apareceu no mundo por misericórdia, trazendo a mensagem de esclarecimento para que se possa entender o caminho a ser percorrido. Os conceitos de Jesus são revividos nesta doutrina, com o objetivo de libertar as criaturas, ou mostrar os modos pelos quais elas se libertem a si mesmas. Não é que os Espíritos zombeteiros e levianos não atacam os homens sérios; eles tentam, mas, quando notam nada conseguir, os abandonam, como um artista abandona um instrumento estragado e que não possa consertar.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando início ao estudo do tópico Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida, vamos abordar as Questões de 525 a 527.
525. Os Espíritos exercem influência sobre os acontecimentos da vida?
“Seguramente, pois que te aconselham”.
A influência dos Espíritos se processa em todas as coisas, não somente sobre o ser humano. Os próprios Espíritos que influenciam no dia a dia, são influenciados igualmente pelos seus tutores celestiais. Porém é uma coisa sutil, leve, para que nós façamos o melhor possível, e tomando as decisões por nós mesmos.
525–a. Exercem essa influência de outra maneira, além dos pensamentos  que sugerem, ou seja, têm uma ação direta sobre a realização das coisas?
“Sim, mas não agem nunca fora das leis naturais”.
Os Espíritos protetores exercem influência sobre a humanidade e em particular, não somente pelos pensamentos, como por meios variados que podemos constatar, nas conversações de uns para com os outros, por páginas que vêm em nossas mãos para serem lidas, por fatos que acontecem em nossos caminhos etc. Podemos nos basear nestes valores, que eles estão espalhados por toda parte, como chuva dos céus para educar e instruir os homens.
Comentário de Kardec: Pensamos erradamente que a ação dos Espíritos só deve manifestar-se por fenômenos extraordinários; desejaríamos que viessem em nosso auxílio através de milagres, e sempre os representamos armados de uma varinha mágica. Mas assim não é. e eis porque a sua intervenção nos parece oculta e o que se faz pelo seu concurso nos parece inteiramente natural. Assim, por exemplo, eles provocarão o encontro de duas pessoas, o que parece dar-se por acaso; inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; chamarão sua atenção para determinado ponto, se isso pode conduzir ao resultado que desejam; de tal maneira que o homem, não julgando seguir senão os seus próprios impulsos, conserva sempre o seu livre-arbítrio.
526. Tendo os Espíritos ação sobre a matéria, podem provocar certos efeitos com o fim de produzir um acontecimento? Por exemplo, um homem deve perecer: sobe então a uma escada, esta se quebra e ele morre. Foram os Espíritos que fizeram quebrar a escada para que se cumpra o destino desse homem?
“E bem verdade que os Espíritos têm influência sobre a matéria, mas para o cumprimento das leis da natureza e não para as derrogar, fazendo surgir em determinado ponto um acontecimento inesperado e contrário a essas leis. No exemplo que citas, a escada se quebra porque está carunchada ou não era bastante forte para suportar o peso do homem; se estivesse no destino desse homem morrer dessa maneira, eles lhe inspirariam o pensamento de subir na escada que deveria quebrar-se com o seu peso e sua morte se  daria por um motivo natural, sem necessidade de um milagre para isso”.
Os Espíritos têm ação sobre a matéria, quando há conveniência. Deus sabe e ensinou aos Seus filhos maiores a dominar todas as coisas, e a própria matéria é obediente aos Seus comandos. Em tudo se encontra o comando dos Espíritos, como se eles fossem instrumentos da lei, que se cumpre infalivelmente. Há muitos casos, como no da escada, referido por Kardec, em que os Espíritos encarregados desses fatos agem indiretamente,
para executar a corrigenda.
527. Tomemos outro exemplo, no qual não intervenha o estado natural da matéria. Um homem deve morrer de raio: esconde-se embaixo de uma arvore o raio estala e ele morre. Os Espíritos poderiam ter provocado o raio dirigindo-o sobre ele?
“E ainda a mesma coisa. O raio explodiu sobre aquela árvore e naquele  momento porque o fato estava nas leis da Natureza. Não foi dirigido para a arvore porque o homem lá se encontrava, mas ao homem foi dada a inspiração de se refugiar numa árvore, sobre a qual ele deveria explodir. A árvore não seria menos atingida se o homem estivesse ou não sob ela”.

A lei de Deus é rigorosa. A vontade dele se cumpre em todo o universo, mas traz às criaturas lições imortais de vida e de paz. Se um raio tem de cair em uma árvore, como aqui informado, e alguém tem marcado no seu destino morrer por um raio, ele é encaminhado para debaixo dessa árvore, pelos canais dos pensamentos para que tal aconteça. No entanto, esse encaminhamento é feito em plena naturalidade, como se o encarnado tivesse feito a escolha pelo seu livre arbítrio. Assim são os milhões de acontecimentos que sucedem no mundo inteiro; no fundo, são processos de despertamento das criaturas. 
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando início ao estudo do tópico Pressentimentos, vamos abordar as Questões de 522 a 524.
522. O pressentimento é sempre uma advertência do Espírito protetor?
“O pressentimento é o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos deseja o bem. E também a intuição da escolha anterior: é a voz do instinto. O Espírito, antes de se encarnar, tem conhecimento das fases principais da sua existência, ou seja, do gênero de provas a que irá ligar-se. Quando estas têm um caráter marcante, ele conserva uma espécie de impressão em seu foro íntimo, e essa impressão, que é a voz do instinto, desperta quando chega o momento, tornando-se pressentimento”.
Quem não tem pressentimentos? Todos nós os temos e se manifestam onde quer que seja. Temos sempre pressentimentos, basta que os observemos. É alguém nos lembrando dos compromissos que temos para com o nosso processo evolutivo; é um lembrete dos nossos compromissos maiores diante da lei da vida.
523. Os pressentimentos e a voz do instinto têm sempre qualquer coisa de vago; na incerteza, o que devemos fazer?
“Quando estás em duvida, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, nosso soberano Senhor, para que te envie um de seus mensageiros, um de nós”.
Na sequência dos nossos pensamentos, por vezes, duvidas de alguma ideia assume à nossa mente; em muitos casos, a incerteza começa a nascer em nosso coração. Não devemos viver com dúvidas, porque poderá surgir a desconfiança que não ajuda em nada. Em caso de dúvida, entretanto, devemos procurar o socorro da oração e ligar os nossos pensamentos aos pensamentos dos nossos guias espirituais, que eles nos atenderão com presteza.
524. As advertências de nossos Espíritos protetores têm por único objetivo a conduta moral ou também a conduta que devemos ter em relação às coisas da vida privada?
“Tudo; eles procuram fazer-vos viver da melhor maneira possível, mas frequentemente fechais os ouvidos às boas advertências e vos tornais infelizes por vossa culpa”.
Os avisos dos Espíritos protetores são de toda ordem. Eles não visam somente ao aprimoramento moral, mas a tudo o que possa surgir em nossos caminhos, que deve ser aprimorado para uma vida reta. Enfim, o que se entende por moral? É tudo que possa ser reto na vida; todo o certo é moral, na família, nas relações sociais, nos estudos, no convívio do dia a dia, a moral deve dominar para que seja uma ciência divina. Os avisos que partem dos Espíritos superiores nos podem chegar por muitos canais, quais sejam, pela consciência, pela palavra de amigos e mesmo de inimigos, por uma leitura, por um desgosto, por uma enfermidade... Tudo são canais para a mensagem de Deus aos corações. Podemos ter um aviso nobre por uma palavra que escutamos de pessoas que conversam.

Comentário de Kardec: Os Espíritos protetores nos ajudam com os seus conselhos através da voz da consciência que fazem falar em nosso intimo; mas como nem sempre lhes damos a necessária importância oferecem-nos outros mais diretos, servindo-se das pessoas que nos cercam. Que cada um examine as diversas circunstâncias, felizes ou infelizes, de sua vida, e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos que nem sempre aproveitou e que lhe teriam poupado muitos dissabores, se os houvesse escutado.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 519 a 521.
519. As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações têm o seus Espíritos protetores especiais?
“Sim, porque essas reuniões são de individualidades coletivas que marcham para um objetivo comum e têm necessidade de uma direção superior”.
Certamente que as sociedades, cidades e nações têm Espíritos qualificados para tais empreendimentos. O Espírito protetor de uma nação mostra-se em seu todo numa equivalência grandiosa. As suas qualidades ultrapassam a capacidade de análise dos seres, conhecendo e amando pelo singelo e grandioso prazer de amar. Ele é um dos ministros do Cristo, em trabalho ativo e constante, já tendo alcançado a superioridade exigida para essa direção espiritual de uma nação. Convém salientar o trabalho grandioso dessas almas angélicas em favor da humanidade.
520. Os Espíritos protetores das massas são de natureza mais elevada que a dos que se ligam aos indivíduos?
“Tudo é relativo ao grau de adiantamento das massas como dos indivíduos”.
Os Espíritos protetores são de natureza elevada, não obstante, a sua elevação, o tamanho espiritual de cada um depende do lugar que ocupam. Pode ser que o anjo-da-guarda de uma criatura encarnada seja mais elevado de que um protetor de uma cidade ou mesmo de um país. Os Espíritos que protegiam Sócrates, Francisco de Assis, Buda, Allan Kardec e outros eram de alta estirpe, por acompanharem Espíritos encarnados de altas esferas espirituais. Isso é lei de justiça. Esses homens eram instrutores de uma multidão de almas, dentro e fora do corpo físico. Como poderiam ser inspirados e dirigidos por Espíritos medianos, de menos capacidade que eles? O Guardião de Jesus, Ele mesmo o dizia, era o próprio Deus, de quem Ele recebia ordens para o Seu mandato.
521. Alguns Espíritos podem ajudar o progresso das Artes, protegendo os que delas se ocupam?
“Há Espíritos especiais e que assistem aos que os invocam, quando os julgam dignos; mas que quereis que eles façam com os que creem ser o que não são? Eles não podem fazer ver os cegos nem ouvir os surdos”.
Os Espíritos superiores são encarregados de auxiliar o progresso onde quer que seja, manifestando-se, igualmente, para alimentar as ideias nobres, revelando a sabedoria de Deus pelos Seus próprios filhos. A razão te indicará meios inúmeros de sentir a paternidade onde os olhos possam ver e os sentimentos possam sentir. Quando as criaturas são dignas de assistência dos protetores espirituais, isso se dá, como no caso da pergunta aqui referida, a respeito das artes. O artista tem assistência dos benfeitores espirituais, ajudando-o a manifestar o poder de Deus na expressão do belo. Tudo que representa a harmonia é serviço da Divindade. Não cabe às divindades, como eram chamadas antigamente, fazer que um homem completamente ignorante da arte seja um artista, mas, ajudar a quem já conquistou esse dom a mostrar com mais perfeição as belezas que a tinta ou o cinzel podem transmitir.
Comentário de Kardec: Os antigos haviam feito desses Espíritos divindades especiais. As Musas eram a personificação alegórica dos Espíritos protetores das Ciências e das Artes, como designavam pelos nomes de lares e penates os Espíritos protetores da família. Entre os modernos, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os países têm também seus patronos ou protetores, que são os Espíritos superiores, mas sob outros nomes.
Cada homem tendo os seus Espíritos simpáticos, disso resulta que em todas as coletividades a generalidade dos Espíritos simpáticos está em relação com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos estranhos são para elas atraídos pela identidade de gostos e de pensamentos; em uma palavra, que essas aglomerações, tão bem como os indivíduos, são mais ou menos bem envolvidas, assistidas e influenciadas segundo a natureza dos pensamentos da multidão.
Entre os povos, as causas de atração dos Espíritos são os costumes, os hábitos, o caráter dominante, as leis, sobretudo, porque o caráter da nação se reflete nas suas leis. Os homens que fazem reinar a justiça entre eles combatem a influência dos maus Espíritos. Por toda parte onde a lei consagra as coisas injustas, contrárias à Humanidade, os bons Espíritos estão em minoria e a massa dos maus, que para ali afluem, entretém a nação nas suas ideias e paralisam as boas influências parciais, que ficam perdidas na multidão, como espigas isoladas em meio de espinheiros. Estudando-se os costumes dos povos, ou de qualquer reunião de homens, é fácil, portanto, fazer ideia da população oculta que se imiscui nos seus pensamentos e nas suas ações.
Neste comentário às respostas dos Espíritos, Kardec nos oferece duas indicações importantes: a primeira, referente à interpretação espírita da mitologia, que modifica tudo quanto os estudos puramente humanos do assunto firmaram a respeito, até hoje, pois mostra que os deuses mitológicos realmente existiam, como Espíritos; a segunda, referente à Sociologia, que à luz do Espiritismo reveste-se também de novo aspecto, exigindo o estudo da interação das coletividades espirituais e humanas para a boa compreensão dos processos sociais. (N. do T.)

 LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 514 a 518.
514. Os Espíritos familiares são a mesma coisa que os Espíritos Simpáticos ou os Espíritos protetores?
“Há muitas gradações na proteção e na simpatia. Dai-lhes os nomes que quiserdes. O Espírito familiar é antes de tudo o amigo da casa”.
Os Espíritos familiares são amigos da casa. Certamente que eles simpatizam com quem convivem e lhes dão proteção, de acordo com as suas necessidades, porém, sempre tomam conselhos com o Espírito protetor de cada criatura a quem decidiram acompanhar, vivendo juntos e formando uma família. O Espírito protetor, já foi dito, é um Espírito elevado, tanto mais quanto possa ser o encarnado. É um anjo-guardião, consciente do que deve fazer em favor do seu tutelado, ampliando conceitos para os que chamamos de Espíritos familiares, bem como para os que desejam receber a assistência dos que os cercam, com o carinho que lhes possa dar. Além dos Espíritos familiares, ainda há os afins, que são atraídos pelos sentimentos dos que vivem juntos. É de se notar a quantidade de almas que fazem parte de um lar. É um movimento intenso, são muitas lutas, muitos assuntos vividos entre quatro paredes, uma verdadeira escola onde todos aprendem o alfabeto divino do amor.
Comentário de Kardec: Das explicações acima e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem podemos deduzir o seguinte:
O Espírito protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão seguir o homem na vida e o ajudar a progredir. É sempre de uma natureza superior à do protegido.
Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim de ajudá-las na medida de seu poder, frequentemente bastante limitado. São bons, mas às vezes pouco adiantados e mesmo levianos, ocupam-se voluntariamente de pormenores da vida íntima e só agem por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.
Os Espíritos simpáticos são os que atraímos a nós por afeições particulares e uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto no bem como no mal. A duração de suas relações é quase sempre subordinada às circunstâncias.
O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso que se liga ao homem com o fim de o desviar do bem, mas age pelo seu próprio impulso e não em virtude de  uma missão. Sua tenacidade está na razão do acesso mais fácil ou mais difícil que encontre. O homem é sempre livre de ouvir a sua voz ou de a repelir.
515. Que se deve pensar dessas pessoas que parecem ligar-se a certos indivíduos para levá-los fatalmente à perdição ou para guiá-los no bom caminho?
“Algumas pessoas exercem um efeito sobre outras, uma espécie de fascinação que parece irresistível. Quando isso acontece para o mal são maus Espíritos, de que se servem outros maus Espíritos, para melhor subjugarem as suas vítimas. Deus pode permiti-lo para vos experimentar”.
Os Espíritos exercem influência constantemente nos encarnados e, certamente, a recíproca também ocorre; no entanto, devemos verificar qual o tipo de Espírito que está a nos influenciar, e essa verificação se dá pela qualidade de sentimentos que estamos recebendo pelas vias dos pensamentos que nos chegam nas raias da percepção: se forem pensamentos inferiores, induzindo-nos para o mal, devemos reconhecer que são Espíritos investidos no mal. As paixões inferiores vêm das sombras, ao passo que as ideias de amor, de caridade, de perdão, trabalho honesto etc., são oriundas das almas enobrecidas, que são Espíritos de luz. Que se há de pensar quando somos induzidos por encarnados e desencarnados para maus pensamentos? Que são Espíritos malfeitores, e se nos demorarmos recebendo essas ideias maléficas, a notícia corre no mundo dos Espíritos e, em torno de nós, ajuntar-se-ão outros malfeitores com as mesmas ideias, atraindo cada vez mais companhias da mesma estirpe de sentimentos. Muitas coisas que vêm ao nosso encontro e que não estamos atraindo por sintonia, são para nos experimentar, para testar as nossas forças e verificar o que aprendemos nas lutas de cada dia.
516. Nosso bom e nosso mau gênios poderiam encarnar-se para nos acompanharem na vida de maneira mais direta?
“Isso acontece algumas vezes, mas frequentemente, também, eles    encarregam dessa missão outros espíritos encarnados que lhes são simpáticos”.
As leis espirituais são elásticas e na proporção que cresce o amor, elas se estendem até o infinito. Como nos diz Paulo, o apóstolo, o amor tudo pode. Poderia, sim, um anjo-guardião tomar a carne para proteger mais de perto o seu tutelado, mas, outro da sua estirpe ficaria em seu lugar como vigilante, no caso, para os dois, porque mesmo o Espírito mais elevado, vestindo os fluidos da carne, apresentar-se-á tolhido em certas circunstâncias da vida, sujeito a alguns deslizes.
O "mau gênio", como a ele se referem os Espíritos", não tem condições, por si mesmo, de resolver a reencarnar para perseguir alguém. O Espírito que não seja superior não pode comandar uma reencarnação, o que se lhe apresenta como uma ciência profunda. Se alguns nascem juntos como inimigos de outras eras, é com o objetivo de se reconciliarem em um lar ou no trabalho; todavia, sempre são vigiados pelos tutelares da família, que dão orientação todos os dias aos seus afilhados. A vida é verdadeiramente uma escola universal, onde todos, sem exceção, são alunos, sendo instruídos e educados por variadas formas. Existem anjos-guardiães de um poder de renúncia indescritível, entrando na carne por várias vezes, passando por situações difíceis, para ajudar seu tutelado ou uma família inteira, a compreender as leis que regulam a vida e que nos dão a felicidade, quando respeitadas.
517. Há Espíritos que se ligam a toda uma família para protegê-la?
“Alguns Espíritos se ligam aos membros de uma mesma família, que vivem juntos e são unidos por afeição, mas não acrediteis em Espíritos protetores do orgulho das raças”.
Há alguns Espíritos que se ligam à família para proteção, mas tudo fazendo por amor, aquele amor que se expressa pela sua universalidade, e não pelo amor racial, que é o amor-próprio, muito comum entre a raça humana. As ideias do Espírito superior são universais, compreendendo que todos são filhos de Deus, unidos pelos elos indestrutíveis do amor puro, que provém do Criador. Outros tipos de Espíritos se ligam à família, por sentimentos que se coadunam com os seus. São os semelhantes atraindo semelhantes, para a devida educação. Aos iguais, interessa ficarem juntos, e Deus o permite por lei, para se educarem, mas nunca os Espíritos superiores os perdem de vista com seus conselhos, com a sua ajuda, tendo-os como alunos, como crianças necessitadas de guia para não se perderem nos caminhos.
518. Sendo os Espíritos atraídos aos indivíduos por simpatia, serão igualmente a reuniões de indivíduos, por motivos particulares?
“Os Espíritos vão de preferência aonde estão os seus semelhantes, pois nesses lugares podem estar à vontade e mais seguros de ser ouvidos. O homem atrai os Espíritos em razão de suas tendências, quer esteja só ou constitua um todo coletivo, como uma sociedade, uma cidade ou um povo. Há, pois, sociedades, cidades e povos que são assistidos por Espíritos mais ou menos elevados, segundo o seu caráter e as paixões que os dominam. Os Espíritos imperfeitos se afastam dos que os repelem e disso resulta que o aperfeiçoamento moral de um todo coletivo, como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e a atrair os bons, que despertam e mantêm o sentimento do bem nas massas, da mesma maneira por que outros podem insuflar-lhes as más paixões”.
Os Espíritos são atraídos mais pela simpatia, tanto em família, como nas pequenas e grandes sociedades. Um povo primitivo certamente que faz campo para Espíritos da mesma condição. A moral é a reguladora de atração dos conjuntos de Espíritos que se manifestam entre esse povo. Os encarnados se misturam com o mundo espiritual da mesma índole. Não obstante, em tudo, como já dissemos, há exceção: pela misericórdia de Deus, Espíritos de alta condição renunciam a seus planos, descem à Terra e se misturam com o mundo inferior dos homens, para ajudá-los. Atraímos almas pelo sabor das nossas paixões inferiores, ao passo que, quando passamos à reforma moral, elas se afastam, dando lugar aos Espíritos que têm as mesmas intenções de melhorar. As pessoas obsediadas não afastam os Espíritos malfeitores com simples passe de mágica, com um simples "Ide" ou com promessas ilusórias; afastam-se essas entidades ignorantes, educando-as com o exemplo em uma vida reta, onde o amor e a caridade se mostrem permanentemente.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 510 a 513-a..
510. Quando o pai que vela pelo filho se reencarna, continua ainda a velar por ele?
“Isso é mais difícil, mas ele pede, num momento de desprendimento, que um Espírito simpático o assista nessa missão. Aliás, os Espíritos não aceitam senão as missões que podem cumprir até o fim. O Espírito encarnado, sobretudo nos mundos onde a existência é material, é demasiado sujeito ao corpo para poder devotar-se inteiramente a outro, ou seja, assisti-lo pessoalmente. Eis porque os não suficientemente elevados estão sob a assistência de Espíritos que lhes são superiores, de tal maneira que, se um faltar, por um motivo qualquer, será substituído por outro”.
Entendemos que um pai ao reencarnar não pode ser um protetor do filho, porque esse ao nascer já tem o seu guia espiritual, contudo, pode ser auxiliar, recebendo ordens de ajudar ao protetor do mesmo, desde quando não se exceda pelos impulsos de amor à família. Um pai dificilmente pode ser um guia espiritual de seu filho. Envolvido na matéria, ele está sujeito a muitos erros e poderia influenciar negativamente o seu tutelado. Se um pai quer verdadeiramente instruir e educar seus filhos, que o faça pela força poderosa do exemplo; quando usa somente as palavras, existe o risco de o vento levá-las, sem o devido registro. Certamente que é bem mais difícil a continuidade da assistência quando encarnado, mas nunca impossível. O amor, quando é amor verdadeiro, permite a esse pai, onde estiver ele, projetar essa força divina tanto para os filhos quanto para toda a sua família e até mesmo para amigos ou à própria humanidade. A Terra não passa de uma casa e a humanidade, uma família maior.
511. Além do Espírito protetor, um mau Espírito é ligado a cada indivíduo com o fim de impulsioná-lo ao mal e de lhe propiciar uma ocasião de lutar entre o bem e o mal?
“Ligação não é bem o termo. É bem verdade que os maus Espíritos procuram desviar o homem do bom caminho quando encontra ocasião, mas quando um deles se liga a um indivíduo o faz por si mesmo, porque espera ser escutado; então haverá luta entre o bom e o mau e vencerá aquele a cujo domínio o homem se entregar”.
Então observemos a frase final da resposta: então haverá luta entre o bom e o mau, vencendo aquele por quem o homem se deixe influenciar. Quer dizer que os espíritos brigam entre si? Não é uma luta corporal, mesmo porque eles não têm corpo. E, muitas vezes, o espirito inferior sequer percebe a presença do espirito superior, e, como é sabido, o bem inspira e o mal conspira, ou seja, podemos sofrer o assédio, mas vai depender de nós estabelecermos a sintonia com o plano espiritual mais elevado, para evitar as influências negativas. Em muitos casos, chamamos de bem àquilo que nos agrada, e ante as leis espirituais nem sempre o que nos agrada é verdadeiramente um bem. Assim também, acontece em relação ao mal. Devemos estudar, meditar, orar e usar todos os meios, no afã de irmos descobrindo cada vez mais o que é na realidade a vontade de Deus, o ser supremo que está dentro e fora de nós. Realmente, compreender Deus não está ao nosso alcance. Se estamos vivendo no finito, como compreender o Eterno e o Infinito? Os Espíritos do mal, como são chamados erradamente, não foram criados para ficarem ligados aos encarnados, como força para despertar outras forças internas. Todos nós e eles somos perfeitos, em se falando de criação, por carregarmos dentro de nós todos os dons em estado latente, esperando que as mãos de Deus, pelo impulso do tempo, nos acordem esses dons, com os poderes que temos desde o princípio, os quais ignoramos.
 512. Podemos ter muitos Espíritos protetores?
“Cada homem tem sempre Espíritos simpáticos, mais ou menos elevados, que lhe dedicam afeição e se interessam por ele, como há, também, os que o assistem no mal”. 
Certamente que temos muitos Espíritos que nos acompanham, mais ou menos evoluídos, em sintonia com o protegido; no entanto, cada alma tem um Espírito responsável, que atende como guia e a orienta como pai nas suas andanças pela vida corpórea. O encarnado tem muitos Espíritos que o acompanham, por variados meios e por muitas circunstâncias, e geralmente é pela lei dos afins que os atrai. Estás sempre cercado por Espíritos, como testemunhas inteligentes e socorro pelo que fazes. Por isso, é necessário buscar a melhora a todos os momentos. Essa deve ser a meta de cada companheiro: ascender sempre.
513. Agem os Espíritos simpáticos em virtude de uma missão?
“Às vezes podem ter uma missão temporária, mas em geral são apenas solicitados pela similitude de pensamentos e de sentimentos, no bem como no   mal”.
Nem sempre os Espíritos que simpatizam conosco são missionários ou encarregados de nos dirigir no grande evento de educar-nos, ante a necessidade que temos de subir na escada da vida. Espírito missionário é o nosso protetor, alma elevada que renunciou ao seu bem-estar no mundo dos Espíritos para nos acompanhar, procurando oportunidades para nos aconselhar, fazendo com que despertemos para o bem comum e para conhecermos a nós mesmos. A simpatia vem da força de atração que exercemos sobre os nossos semelhantes, em consonância com os nossos sentimentos. Convém a todos nós compreendermos a lei segundo a qual atraímos os nossos iguais. Identificamo-nos com muitos companheiros pelos pensamentos e atitudes. Os que nos cercam trazem no íntimo a mesma vida que levamos. Frequentemente é assim. Quando escapamos desta lei, é por força da misericórdia, é o amor de Jesus se irradiando nas ondas da fraternidade para nos ajudar, abrindo os canais desta lei até ao "calvário", para suavizar o nosso fardo, e aliviar os nossos jugos. Simpatia é força poderosa que alinha as nossas vidas no conserto de muitas vidas, para que Deus apareça nos nossos corações e Cristo fique presente em nossa consciência.
513-a. Parece resultar daí que os Espíritos simpáticos podem ser bons ou maus?
“Sim, o homem encontra sempre Espíritos que simpatizam com ele qualquer que seja o seu caráter”.

Os Espíritos a quem somos simpáticos podem ser bons ou maus, dependendo do que sentimos pela vida, pelo modo que vivemos, pela altura das nossas atividades. Devemos mudar o nosso caráter, se ele não se coaduna com o Evangelho. Jesus, veio ao mundo nos trazer os conceitos que nos ajudam a salvar a nós mesmos, ampliando os nossos conhecimentos e favorecendo oportunidades para o autoconhecimento. Compete a nós trabalharmos com nós mesmos todos os dias, incansavelmente, até que a luz nasça, a nos indicar o roteiro da felicidade. Não obstante, o nosso dever é ter vida reta, para atrair­mos Espíritos das mesmas intenções.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 505 a 509.
505. Os Espíritos protetores que tomam nomes comuns são sempre os de pessoas que tiveram esses nomes?
“Não, mas Espíritos que lhes são simpáticos e que, muitas vezes, vêm por sua ordem. Necessitais de um nome: então, eles tomam um que vos inspire confiança. Quando não podeis cumprir pessoalmente uma missão, enviais  alguém de vossa confiança que age em vosso nome”.
Muitas pessoas que já conhecem a realidade dos protetores espirituais os tratam pelo nome de personalidades conhecidas, muitas vezes de grandes vultos da História, como, por exemplo, Bezerra de Menezes, e tantos outros. Os tutelares da espiritualidade podem não ser tais personagens; usam apenas seus nomes como representantes daqueles que foram evocados. Assim, como os tais, eles, os protetores, esforçam-se para representar os que lhes emprestaram os nomes. Isso também ocorre na nossa vida física. Quantas vezes temos encargos que não podemos cumprir, e enviamos alguém de nossa confiança para atingir o objetivo daquela necessidade?
506. Quando estivermos na vida espírita reconheceremos nosso Espírito protetor?
“Sim, pois frequentemente o conhecestes antes da vossa encarnação”.
Na vida espírita, o protegido reconhece perfeitamente aquele que foi o seu protetor enquanto encarnado. Além de reconhecê-lo por sua fala, por sua presença, o reconhecimento maior é pelo clima magnético que desprende de seu Espírito, harmônico e amoroso. Observa bem como te sentes ao encontrares a pessoa que amas. Também o Espírito protetor transmite uma serenidade indescritível para o coração do seu tutelado. Conjugando as duas simpatias, nasce a luz do verdadeiro amor. Mesmo que o Espírito favorecido desencarne em péssima situação espiritual, ele pode não perceber o seu guia, mas sente quando ele se aproxima, por certos sentidos que Deus lhe deu, sente bem-estar e lembra, na profundidade da alma, as muitas vezes em que sentiu a mesma coisa quando na Terra e na carne.
507. Os Espíritos protetores pertencem todos à classe dos Espíritos superiores? Podem ser encontrados entre os da classe média? Um pai, por exemplo, pode tornar-se Espírito protetor de seu filho?
“Pode, mas a proteção supõe um certo grau de elevação, e um poder e uma virtude a mais, concedidos por Deus. O pai que protege o filho pode ser assistido por um Espírito mais elevado”.
Os Espíritos protetores pertencem à classe dos Espíritos elevados, no entanto, não são iguais na elevação. Quem guia, é sempre mais elevado do que o guiado; o mestre deve ter mais conhecimento do que o discípulo, isso a própria razão nos diz com segurança. Aqueles a que chamamos de anjos da guarda, verdadeiramente são anjos que tomam a posição de guiarem os seus tutelados, respondendo todas as suas interrogações pelos fios que partem da sua mente em forma de pensamentos.
508. Os Espíritos que deixaram a Terra em boas condições podem sempre  proteger os que os amaram e lhes sobreviveram?
“Seu poder é mais ou menos restrito; a posição em que se encontram não lhes permite inteira liberdade de ação”.
O Espírito que deixa a Terra em boa situação não tem, por isto, total liberdade no mundo dos Espíritos. Ele pode desejar voltar em Espírito imediatamente para ajudar os que ficaram, ansiando envolver os seus afetos com o amor desperto em seu coração espiritual; entretanto, nem sempre isso lhe é possível, devido a muitos fatores. Em todos os lugares as leis nos mostram os deveres a cumprir e o respeito que devemos a elas. O Espírito recém-desencarnado deve ser obediente às vozes dos mais experientes, esperando a vontade de Deus que sempre se manifesta no momento oportuno.
509. Os homens no estado selvagem ou de inferioridade moral têm igualmente seus Espíritos protetores, e nesse caso esses Espíritos são de uma ordem tão elevada como os dos homens adiantados?
“Cada homem tem um Espírito que vela por ele, mas as missões são relativas ao seu objeto. Não dareis a uma criança que aprende a ler um professor de filosofia. O progresso do Espírito familiar segue o do Espírito protegido. Tendo um Espírito superior que vela por vós, podeis também vos tornardes o protetor de um Espírito que vos seja inferior, e o progresso que o ajudardes afazer contribuirá para o vosso adiantamento. Deus não pede ao Espírito mais do que aquilo que a sua natureza e o grau a que tenha atingido possam comportar”.
A evolução do protetor é de acordo com o protegido. Junto a um Espírito altamente evoluído, movendo-se em um corpo de carne, certamente que a justiça colocará como guia um Espírito de maior elevação do que um Espírito ignorante. Quem poderá guiar um missionário envolvido nos fluidos da carne, a não ser um missionário mais elevado que lhe possa dar melhores orientações acerca da sua missão? Jesus opera juntamente com o Pai que está nos Céus. As falanges angélicas que O cercavam, quando de sua passagem pela Terra, recebiam as Suas ordens, nos trabalhos de cura e de assistência espiritual, onde a Sua mente ordenava. O apoio a um índio em estado espiritual embrionário que nesta reencarnação começa a despertar o raciocínio não pode ser igual ou do mesmo nível ao do protetor de Francisco de Assis. A própria razão nos diz que não deve ser assim.
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Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 503 a 504-a.
503. O Espírito protetor que vê o seu protegido seguir um mau caminho, apesar dos seus avisos, não sofre com isso e não vê, assim, perturbada a sua felicidade?
“Sofre com os seus erros e os lamenta mas essa aflição nada tem das angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal, e que o que hoje não se fez, amanhã se fará”.
O Espírito protetor é equilibrado e não sofre com o sofrimento do seu protegido, porque dessa maneira ele não poderia lhe dar conselhos nem teria condições para ensinar, pois também sofreria. Compungem-no os erros do seu protegido, a quem lastima. Tal aflição, porém, não tem analogia com as angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje, amanha se fará.
504. Podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou anjo da guarda?
“Como quereis saber nomes que não existem para vós? Acreditais, então, que só existem os Espíritos que conheceis?”
O Espírito protetor não tem nome, apesar de ter tido várias denominações nas vidas passadas.
504–a. Como então o invocar, se não o conhecemos?
“Dai-lhe o nome que quiserdes, o de um Espírito superior pelo qual tendes simpatia e veneração; vosso protetor atenderá a esse apelo, porque todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente”.
A não ser que ele mesmo possa nos sugerir algum, pelas vias mediúnicas, pelo sonho, pela visão, podemos dar a ele um nome que mais simpatizamos, que ele receberá com gratidão, e quando chamado por esse nome, atenderá com presteza ao seu protegido, O importante não é o nome; o importante é a proteção recebida.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, vamos abordar as Questões de 496 a 502-a.
496. O Espírito que abandona o seu protegido, não mais lhe fazendo o bem, pode fazer-lhe mal?
“Os bons Espíritos jamais fazem o mal; deixam que o façam os que lhes tomam o lugar, e então acusais a sorte pelas desgraças que vos oprimem, enquanto a falta é vossa”. 
Os bons Espíritos nunca fazem mal a ninguém, por vivenciarem o amor, e já terem aprendido, nas caminhadas percorridas, que somente o amor salva e traz felicidade. É importante nós sabermos que não são os Espíritos superiores que se afastam de nós, nós é que cortamos a nossa sintonia com eles, atraindo os Espíritos ignorantes que nos assediam.
497. O Espírito protetor pode deixar o seu protegido à mercê de um Espírito que o quisesse mal?
“Existe a união dos maus Espíritos para neutralizar a ação dos bons, mas, se o protegido quiser, dará toda força ao seu bom Espírito. Esse talvez encontre, em algum lugar, uma boa vontade a ser ajudada, e a aproveita, esperando o momento de voltar junto ao seu protegido”.
O Espírito protetor não deixa seu tutelado à mercê de outro Espírito que queira lhe fazer o mal. O protegido, já dissemos, é que entra na faixa do “inimigo”, atraindo-o. O encarnado chama-o pelo procedimento e eles são muitos, atendendo pela lei dos afins. Deus o permite, por encontrar nos nossos sentimentos essa vontade que é de servir de instrumentos para que a luz se acenda nos corações.
498. Quando o Espírito protetor deixa o seu protegido se extraviar na vida, é por impotência para enfrentar os Espíritos maléficos?
“Não é por impotência, mas porque ele não o quer: seu protegido sai das provas mais perfeito e instruído, e ele o assiste com os seus conselhos, pelos bons pensamentos que lhe sugere, mas que infelizmente nem sempre são ouvidos. Não é senão a fraqueza, o desleixo ou o orgulho do homem que dão força aos maus Espíritos. Seu poder sobre vós só provém do fato de não lhes opordes resistência”.
A luz nunca teme as trevas; estas é que são escorraçadas pela luz, quando conveniente. O Espírito superior tem a seu favor a tranquilidade da consciência imperturbável, e se é imperturbável, ela nada teme. O protetor procura por todos os meios livrar o seu tutelado das artimanhas dos Espíritos inferiores; quando não consegue, por este estar ligado a eles por lei de afinidade, permite o Espírito protetor que seu tutelado fique envolvido, como lição, que no amanhã será valiosa, como prova. Quando nos ligamos a certas coisas, estamos pedindo para isso, e nos é concedido como experiência, por vezes notável, que vem nos ajudar a conhecer a verdade pela dor, tanto do obsidiado como do obsessor. Todos dois ganham na luta das trevas para se fazer a luz.
499. O Espírito está constantemente com o protegido? Não existe alguma circunstância em que, sem o abandonar, o perca de vista?
“Há circunstâncias em que a presença do Espírito protelar não é necessária, junto ao protegido”.
Em certas circunstâncias, o anjo-guardião deve sair de junto do seu protegido por força maior, mas não deixa de estar sensível às suas necessidades, onde quer que esteja. Para tanto, tem sentidos desenvolvidos, como Espírito elevado que é, e a sua iluminação lhe garante cumprir os seus deveres, mesmo a distâncias enormes para os encarnados, mas que para os desencarnados nada significam. Quando o protegido é consciente do seu amigo espiritual, ele pode chamá-lo pelo pensamento e esse atender pelos mesmos processos.
500. Chega um momento em que o Espírito não tem mais necessidade do anjo da guarda?
“Sim, quando se torna capaz de guiar-se por si mesmo, como chega um momento em que o estudante não mais precisa de mestre. Mas isso não acontece na Terra”.
Todos somos dependentes, de certa maneira, uns dos outros, em quase todas as circunstâncias da vida. Mas, de acordo com crescimento do Espírito, vamos nos libertando paulatinamente, passando a conhecer a verdade, como diz o Cristo, e tornando-nos livres. No entanto, essa liberdade é relativa em todas as direções da vida.
O aluno precisa de mestre até certo nível de escolaridade; depois vai se libertando e passando de discípulo a instrutor e nessa subida vai ganhando a libertação que lhe dá consciência do que deve fazer.
501. Por que a ação dos Espíritos em nossa vida é oculta, e por que, quando eles nos protegem, não o fazem de maneira ostensiva?
“Se contásseis com o seu apoio, não agiríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que ele possa adiantar-se, necessita de experiência e em geral é preciso que adquira à sua custa; é necessário que exercite as suas forças, sem o que seria como uma criança a quem não deixam andar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre de maneira a vos deixar o livre-arbítrio, porque se não tivésseis responsabilidade não vos adiantaríeis na senda que vos deve conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se entrega às suas próprias forças; não obstante, o seu guia vela por ele e de quando em quando o adverte do perigo”.
A ação do Espírito protetor ao seu tutelado é oculta, e não poderia ser de outro modo, porque quem recebe ajuda muito visível, além de ficar dependente, se acomoda, fica esperando somente da fonte que lhe dá de beber, esquecendo-se do seu dever no campo do esforço próprio. Observemos um pai, quando dá tudo ao filho, sem dele exigir cooperação: o filho se acomoda e não quer se esforçar no trabalho, faltando-lhe o estímulo no cumprimento dos seus deveres ante a vida. Quando os pais, ao contrário, exigem dos filhos o trabalho que está à altura das suas forças, eles geralmente são filhos cumpridores dos deveres e se tornam pessoas de bem e honradas. Se os guias espirituais ficassem visíveis aos seus protegidos, seriam agredidos por eles com o petitório constante, e a dependência cresceria.
502. O Espírito protetor que consegue conduzir o seu protegido pelo bom caminho experimenta com isso algum bem para si mesmo?
“É um mérito que lhe será levado em conta, seja para o seu próprio adiantamento, seja para sua felicidade. Ele se sente feliz quando vê os seus cuidados coroados de sucesso; é para ele um triunfo, como um preceptor triunfa com os sucessos do seu discípulo”.
Vejamos: todo trabalhador é digno do seu salário. O Espírito protetor, quando vê que seu protegido está em bom caminho, que esse escuta seus conselhos e os coloca em prática, sente-se feliz pelo proveito dos seus trabalhos. Ele é recompensado pela consciência, no silêncio que a tranquilidade é doadora e a sua folha de serviço no reino onde habita fica enriquecida pelas bênçãos de Deus.
502–a. É ele responsável, quando não o consegue?
“Não, pois fez o que dele dependia”.
O Espírito protetor não é responsável pelos maus resultados que podem advir do seu tutelado, porquanto os conselhos são sempre bons, mas esquecidos ou mal interpretados. Ele faz o que está ao seu alcance para ajudar.

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