ESTUDO
COMENTADO DE O LIVRO DOS MÉDIUNS
PRIMEIRO MÓDULO
Vamos iniciar mais um
estudo das obras da Codificação. Trata-se de O Livro dos Médiuns. O nosso
objetivo com este estudo é introduzir os neófitos da doutrina no tema. Mas,
acredito que mesmo os mais experientes possam retirar algo do texto. Depois de haver
exposto em “O Livro dos Espíritos” a parte filosófica da ciência espírita,
Allan Kardec cuidou em “O Livro dos Médiuns” da parte prática da referida
ciência, com vistas aos que querem ocupar-se das manifestações, seja por si
mesmos, seja para se darem conta dos fenômenos que foram chamados a observar.
Na obra em apreço, ver-se-ão os perigos e obstáculos que médiuns e
experimentadores podem encontrar e o meio de evitá-los. As duas obras,
conquanto seja continuação uma da outra, são até certo ponto independentes;
mas, aos que quiserem ocupar-se seriamente do assunto, o Codificador recomenda
ler primeiro O Livro dos Espíritos, porque contém os principais fundamentos,
sem os quais algumas partes de O Livro dos Médiuns serão talvez dificilmente
compreendidas. EXPLICAÇÃO: Este é o segundo volume da Codificação do
Espiritismo. Logo após a publicação de O Livro dos Espíritos, obra básica da
doutrina, em 1857, Kardec lançou, em 1858, um livrinho intitulado Instruções
Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Era um ensaio para elaboração de O
Livro dos Médiuns, que só pôde aparecer em 1861. Publicado este, Kardec
suprimiu aquele. A finalidade deste livro é desenvolver a parte prática da
doutrina, em sequência à exposição teórica do livro básico. Por isso Kardec o
considerou "continuação de O Livro dos Espíritos", como se vê no
frontispício.
Mesmo porque, segundo
declara na Introdução, este livro também pertence aos Espíritos. Foram eles que
o orientaram na sua elaboração, eles que o revisaram e modificaram inteiramente
para a segunda edição de 1862, que ficou sendo a definitiva e que serviu para
esta tradução. Apesar de escrito há cento e cinquenta e nove anos, O Livro dos
Médiuns é atualíssimo. Nenhuma outra obra, espírita ou não, sobre a
fenomenologia mediúnica, conseguiu superá-lo. É um tratado que tem por
fundamento a pesquisa científica e a experiência, além da contribuição teórica
dos Espíritos na explicação de vários problemas ainda inacessíveis à pesquisa
científica. Essas explicações só eram aceitas por Kardec na medida da sua
racionalidade, de acordo com o método de controle rigoroso que estabeleceu para
o seu trabalho. Esse método é explicado neste livro e pode ser examinado em
minúcias nos relatórios e registros de sessões publicadas na Revista Espírita.
As teorias explicativas dos fenômenos, formuladas por Kardec com os dados de
sua investigação e a contribuição dos Espíritos, permanecem ainda como as mais
viáveis. Basta um confronto entre essas teorias e as formuladas pelos
parapsicólogos atuais para se verificar a solidez das primeiras, até hoje nunca
desmentidas, e a fragilidade das segundas. Um exemplo típico é a teoria das
aparições, que na atual Parapsicologia constitui um emaranhado de suposições
curiosas e nada mais, enquanto neste livro se apresenta fundada em pesquisas,
observações, deduções rigorosas e explicações dadas por numerosas entidades
espirituais em ocasiões diversas, por meios diversos e com todas as provas de
seriedade e coerência exigidas pelo método kardequiano. Kardec e os Espíritos
insistem numa posição ainda pouco compreendida pelos próprios espíritas: a
Ciência Espírita teve como entrada as manifestações físicas, mas sua finalidade
é moral e suas pesquisas devem desenvolver-se nesse sentido. Provada a
sobrevivência espiritual e a comunicabilidade, o Espiritismo deve aprofundar-se
na investigação dos processos de comunicação, da situação dos Espíritos após a
morte, das leis que regulam as relações permanentes entre os Espíritos e os
homens e suas consequências nesta vida, e assim por diante. O leitor deve
encarar este livro, portanto, como um tratado superior de fenomenologia
paranormal, em que a fase metapsíquica e parapsicológica de pesquisa material
estão superadas. O Livro dos Médiuns apresenta a solução dos problemas em que
ainda se enredam as pesquisas atuais e convida os estudiosos a avançarem além.
Mas tudo isso com critério e métodos científicos, segundo o próprio Richet o
reconheceu ao se referir a Kardec no Tratado de Metapsíquica. Charles Richet:
Foi ele quem, pela primeira vez, denominou a substância que emanava dos médiuns
de efeitos físicos de ectoplasma, naquele momento referindo-se aos fluidos que
emanavam de Eusápia Paladino (uma das maiores médiuns da história do
Espiritismo): “são as formações difusas que eu chamo de ectoplasmas; porque
elas parecem sair do próprio corpo de Eusápia”.
O problema está assim
colocado: as pesquisas espíritas não se prendem aos fenômenos em si, ao mundo
fenomênico ou material, e por isso mesmo exigem métodos diferentes dos
utilizados nas ciências físicas. Kardec compreendeu isso em pleno século XIX e
elaborou o método especial que lhe permitiu avançar sobre seu tempo. A prova
disso é que toda a pesquisa metapsíquica e parapsicológica nada mais conseguiu,
até agora, no tocante aos resultados positivos, do que referendar as teorias
deste livro. (J. Herculano Pires)
Nenhum comentário:
Postar um comentário