INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
Pense nisso!

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domingo, 27 de março de 2022

 


O Que se pode entender por pobre de espírito?

As Bem-aventuranças com que o Mestre Jesus preambulou o Sermão da Montanha constituem, sem dúvida alguma, uma mensagem divina aos homens de todas as raças e de todas as épocas, destinada a servir-lhes de roteiro, rumo à perfeição. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mateus, 5.3). Jesus está aqui ensinando uma importantíssima lição sobre aqueles que o seguem e são seus discípulos, de modo que somente poder ser verdadeiramente feliz aqueles que são pobres de espírito. Para entendermos o significado de ser “pobre de espírito”, será mais fácil se primeiro for esclarecido o que não é ser pobre de espírito, e aqui vou dar exemplo. Primeiro, pobre ou humilde de espírito não se refere à pobreza financeira, ou aquele que é desprovido de bens materiais e não possui luxúria em sua vida. Jesus não está se referindo a isso. Na própria Escritura vemos que nem a pobreza em si é um bem e nem a riqueza em si mesmo é um mal. Para ilustrar esse estudo de total ausência de vaidade e desligamento das coisas transitórias da Terra, fomos buscar no livro Pontos e Contos, ditado pelo Espírito Irmão X, uma passagem intitulada “Olá, meu irmão”. É a história de Cipriano Neto, homem de grande inteligência, homem da literatura, que se encontrava agora no mundo espiritual falando para uma pequena assembleia de desencarnados. Ele, então, diz que, na sua última experiência na carne, passou por uma prova difícil, e ralado pelas dores chegou à Doutrina Espírita. Saciado pela água viva de santas consolações, resolveu servir ao Espiritismo. Conta-nos assim o autor espiritual: A disposição amiga, acentuava Cipriano Neto, é verdadeiro tônico espiritual. Não raro, envenenamos o coração, à forma de insistir na máscara sombria. Má catadura (expressão do semblante) é moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas, em virtude do mal humor dos responsáveis? Claro que ninguém se deixe absorver pelos malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado, que não esqueceremos sem ferir a nós mesmos. A frente da pequena assembleia, toda ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência, continuou, após leve pausa: Na Terra, o preconceito fala muito alto, abafando vozes sublimes da realidade superior. Nesse capítulo, tenho a minha experiência pessoal, bastante significativa. Meu amigo calou-se, por alguns momentos, vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vasculhar o passado, e prosseguiu: - É quase inacreditável, mas o meu fracasso em Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração de pai, dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à Doutrina dos Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação. Banhado de conforto sublime, senti que minhas lágrimas de desesperação se transformaram em orvalho de agradecimento à bondade de Deus. Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca, endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos. Não havia lugar à dúvida. Inclinei-me, então, à Doutrina renovadora. Saciado pela água viva de santas consolações, não sabia como agradecer à fonte. Foi aí que recordei as minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao Espiritismo, através da palavra ou da pena? Poderia escrever para os jornais ou falar em público. Profundamente reconhecido à nova fé, atendi à primeira sugestão de um amigo e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se o feito e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão. Seduzido pela beleza do Espiritismo Evangélico, discorri longamente sobre a caridade. Aplausos, abraços, sorrisos e felicitações. No círculo dos meus companheiros de literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório. Voltando à Avenida, no dia imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo para convencer os confrades de letras de que não me achava louco. Infelizmente, porém, minha decisão não se filiava senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo necessitasse de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira, o auditório e que a codificação kardequiana em mim encontrara prestigioso protetor. Desse modo, alardeava suma importância em minhas palestras novas. Citava a antiguidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava cientistas modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das discussões preciosas, eis que surge o Elpídio, velho conhecido meu e antigo tintureiro em Jacarepaguá. Sapatos rotos, calças remendadas, cabelos despenteados, rosto suarento, abeirou-se de mim e estendeu-me a destra, exclamando alegre: Olá, meu irmão! Meus parabéns! Fiquei muito satisfeito com a sua conferência! Entreolharam-se os meus amigos, admirados. E confesso que respondi à saudação efusiva, secamente, meneando levemente a cabeça e senti-me deveras humilhado. Em vista do meu silêncio, o tintureiro despediu-se, mostrando enorme desapontamento. É de sua família? Indagou um companheiro mais irônico. Estes senhores espiritistas são os campeões da ingenuidade! Exclamou outro circunstante. Enraiveci-me. Não era desaforo semelhante homem do povo chamar-me “irmão”, ali, em plena Avenida, diante dos colegas de tertúlias acadêmicas? Estaria, então, obrigado a relacionar-me com toda espécie de vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebotalhos de gente, na via pública? O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade. Cegavam-me, ainda, velhos preconceitos sociais e a ironia dos companheiros calou-me fundo, no espírito. A ausência de afabilidade e a incompreensão grosseira dominaram-me por completo. O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando a massa de minhas disposições mentais. Resultado? Voltei à aspereza antiga e, se cuidava de doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava a companhia ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia, correm metodicamente, alheios à nossa vaidade e ignorância, e impuseram-me a restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da Terra. Sabem vocês, por experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana. Gritos estentóricos (Diz-se da voz forte) de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde a recender aromas de flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral, senti que sono brando se apoderava de mim. Nunca pude saber quantos dias gastei no repouso compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho bem-amado. Sabia perfeitamente que abandonara a esfera carnal e ansiava por encontrar-lhe o carinho. Deixei a residência antiga, ferido de amargosas preocupações. Atravessei ruas e praças, de alma opressa. Atingi a Avenida, onde me dava ao luxo de palestrar sobre ciência e literatura. E ali mesmo, junto ao aristocrático Café, divisei alguém que não me era estranho às relações individuais. Não tive dificuldades no reconhecimento. Era o Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre posição espiritual, trocando ideias com outras entidades da vida superior. Não mais os sapatos velhos, nem o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado a expressão simpática e bela, cheia de bondade e compreensão. Aproximei-me, envergonhado. Quis dizer qualquer coisa que me revelasse a angústia, mas, obedecendo a impulso que eu jamais soube explicar, apenas pude repetir as antigas palavras dele: “Olá, meu irmão! Meus parabéns!” Longe, todavia, de imitar-me o gesto grosseiro e tolo de outro tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços, contente, e exclamou com sincera alegria: Ó meu amigo, que satisfação! Venha daí, vou conduzi-lo ao seu filho! Aquela bondade espontânea, aquele fraternal esquecimento de minha falta eram por demais eloquentes e não pude evitar as lágrimas copiosas! Nossa pequena assembleia de desencarnados achava-se igualmente comovida. Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos e terminou: A experiência parece demasiadamente humilde; entretanto, para mim, representou lição das mais expressivas. Através dela, fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever social, é alguma coisa de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar a nós mesmos.

REFLEXÃO:

A expressão “pobres de espírito" interpretada ainda, por muitos, como sendo pessoas sem inteligência, dentro do contexto das leis divinas, ensinadas e vivenciadas por Jesus, só podem significar os humildes, os que não buscam demonstrar o que sabem, não procuram exaltar-se ou exibir o que sabe, considerando, sinceramente, que muito têm ainda que aprender. Jesus sempre colocou a humildade entre as virtudes que aproximam o homem de Deus e o orgulho entre os vícios que o afastam dele, porque " a humildade é uma atitude de submissão a Deus, enquanto o orgulho é a revolta contra Ele." A humildade é, talvez, a virtude da qual menos se fala. Penso que tal acontece por ser ela a mais difícil de ser desenvolvida em um mundo, cuja humanidade, ainda se prende muito aos valores e prazeres materiais, onde a competição aguerrida, a luta pelo sucesso, pelo poder, pelo dinheiro, são ações estimuladas e aplaudidas. Na Terra, o orgulho continua sendo muito estimulado, até mesmo por aqueles que aceitam a existência de Deus, mas negam a Sua ação providencial sobre todas as coisas, considerando-se capazes de tudo resolver, com sua inteligência. As Bem-aventuranças com que o Mestre Jesus preambulou o Sermão da Montanha constituem, sem dúvida alguma, uma mensagem divina aos homens de todas as raças e de todas as épocas, destinada a servir-lhes de roteiro, rumo à perfeição. E logo na primeira Aventurança, Ele afirmou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles  é  o reino dos céus”. Ainda hoje, muito se fala sobre tal ensinamento. No entanto, tal ensino, como tantos outros, resta ainda incompreendido pelos homens. Esta estória ilustra o nosso estudo de total ausência de vaidade e desligamento das coisas transitórias da Terra. Nela, nós já podemos identificar quem é o pobre de espírito e quem tem grandes dificuldades para sê-lo. Isso também acontece conosco, porque temos grande dificuldade de sermos “Elpídios”, mas também temos grande facilidade de sermos “Ciprianos”. Nós carregamos essas dificuldades, e estamos aqui na Terra justamente para modificarmos isso. Então, vamos buscar dentro daquilo que a Doutrina Espírita nos apresenta as informações para podermos entender o que é ser “pobre de espírito” e, principalmente, saber qual o caminho que devemos seguir para sermos Elpídio. Quando Jesus pregou o Sermão da Montanha, que define o caráter do verdadeiro discípulo, suas palavras iniciais foram diretas ao coração, mas muitos ouvintes não O ouviram, porque nunca passaram do ponto de partida. Mesmo hoje, a maior parte da mensagem do Evangelho cai em ouvidos surdos, de homens arrogantes. Na passagem evangélica narrada por Mateus (V, 3), Jesus vem nos falar que são bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Difícil, porém, é a compreensão desse preceito, e de como nos tornarmos pobres de espírito, para vencermos o homem orgulhoso que ainda somos. O Mestre não quis dizer que seriam bem-aventurados os que tivessem pouca inteligência, os ignorantes, os de baixa condição, os obscuros. Essa pobreza de espírito está associada à humildade, àqueles que não têm orgulho, àqueles que sabem quem são e àqueles que se autoconhecem. Àqueles que não se envaidecem pelo que sabem e que nunca exibem o que têm. Aí está a humildade. O humilde sabe de onde ele veio, porque está aqui e sabe para onde ele vai. Por isso, ele não se supervaloriza. Sem a humildade, nenhuma virtude se mantém. Os humildes toleram em sua singeleza, suportam as injustiças. Pobres de espírito são os bons, que sabem amar a Deus e ao próximo, tanto quanto a si próprios. Para estes é que Jesus disse: - “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.

Muita Paz!

domingo, 20 de março de 2022

 


Reflexões sobre a Parábola dos Talentos

Ensino espírita

Uma parábola é uma pequena história contada para explicar uma verdade complexa. As parábolas de Jesus nos ensinam verdades eternas, mas também oferecem lições práticas inesperadas para as questões mundanas. Jesus foi aquele homem que veio à Terra para nos mostrar a verdade, a lógica, a razão, e nos indicar o caminho de volta ao seio do Pai. Como pedagogo, o Mestre contava histórias da vida. Alguns dias antes de Sua crucificação, Jesus levou Seus discípulos a um lugar no Monte das Oliveiras, que dava vista para Jerusalém e proferiu, nesse local, o que conhecemos como sermão do Monte das Oliveiras. Um lugar calmo e com vista panorâmica da cidade, era o local perfeito para que o Cristo ensinasse a Seus discípulos. Então, Ele contou a Parábola dos Talentos (Mateus, 25–14-30). Como todas as parábolas bíblicas, ela tem muitos níveis de significado. Sua essência se relaciona com o modo como utilizamos os dons que recebemos de Deus. Essa definição abarca todos os dons: naturais, espirituais e materiais. Inclui, também, nossas habilidades e recursos naturais. O significado da Parábola dos Talentos fala sobre responsabilidade e prestação de contas que devemos fazer dos talentos que recebemos de Deus. Esta parábola mostra como não devemos desperdiçar as oportunidades que temos. Eis, a parábola: Disse-lhes o Cristo: O Senhor age como um homem que, tendo que fazer uma longa viagem, chamou seus servidores, e falou que deixaria uma certa quantia para eles aplicarem, e que quando voltasse, eles teriam que prestar contas. Então, deu a um empregado cinco Talentos; a outro empregado dois Talentos; e a um terceiro empregado um Talento, e partiu imediatamente. O que recebeu cinco Talentos foi-se. Negociou com aquele dinheiro e ganhou outros cinco. O que recebeu dois, da mesma forma, ganhou outros dois. Mas o que apenas recebeu um, cavou a terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo. Quando se fala em Talento, aqui, no caso da parábola, somos levados a pensar tratar-se de uma moeda de pequeno valor. Mas não é isso. Segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, um Talento valia seis mil Denários, e um Denário era o pagamento de um dia de serviço de um trabalhador naquela época, em Roma. Apesar de estar mencionando essa quantia grande de dinheiro, Jesus não está aqui ensinando teoria econômica, apenas Ele está transmitindo uma mensagem. Passado longo tempo, o senhor daqueles servos voltou e os chamou a prestarem contas. Veio o que recebera cinco Talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco Talentos, aqui estão. E além desses, mais cinco que lucrei, negociando com eles. Respondeu-lhe o amo: Servidor bom e fiel. Já que me foste fiel nas coisas pequenas, confiar-te-ei muitas outras. Compartilha da alegria do teu senhor. O que recebera dois Talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois Talentos, aqui estão. E além desses, mais dois outros que lucrei, negociando com eles. E o amo respondeu-lhe: Servidor bom e fiel. Já que me foste fiel nas pequenas coisas, confiar-te-ei muitas outras. Compartilha da alegria do teu senhor.  Veio em seguida o que recebera apenas um Talento e disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste, por isso, como tive medo de ti, escondi o teu Talento na terra. Aqui o tens. Restituo o que te pertence. O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso, se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, devias por o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence. E ordenou: Tirem-lhe, pois, o Talento que está com ele e deem-no ao que tem dez Talentos, porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens. Quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter, e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. Essa parábola exprime os deveres que nos cabem: material, moral e espiritual. Interpretada ao pé da letra, ela induz que há uma violação às leis de Deus. Uma ambição muito grande, justificando a aplicação do dinheiro para render juros. Mas, buscando-se a essência do ensinamento, nós vamos entender um significado diferente. Está visto que o senhor, aí, é Deus; os servos somos nós, a Humanidade; os Talentos são os bens e recursos que a Providência nos outorga e representam potências que cada um de nós recebeu ao nascer, para serem desenvolvidas e empregadas em benefício próprio e no de nossos semelhantes; o tempo concedido para sua movimentação é a existência terrena. Nós, na condição de Espíritos em trânsito pela Terra, trazemos na nossa bagagem potencialidades latentes dentro de nós, que deverão ser desenvolvidas. E na medida da nossa evolução, vamos adquirindo condições de desenvolvermos esses Talentos. A distribuição dos Talentos em quantidades desiguais, ao contrário do que possa parecer, nada tem de arbitrária nem de injusta; baseia-se na capacidade de cada um, adquirida antes da presente encarnação, em outras jornadas evolutivas. Da mesma forma que o homem conhecia os seus servidores, Deus conhece a capacidade de cada um de nós. Dessa alegoria, vamos retirar a essência do ensinamento de Jesus. Os talentos representam os ensinamentos do Mestre. Quando bem aplicados, ou seja, bem entendidos, são fonte de felicidade e, ao contrário, quando mal aplicados, quer dizer, mal entendidos, são obstáculos, desviando a criatura do bem e da verdade. Aqueles que recebem os talentos do Evangelho e os aplicam em proveito próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a palavra de Deus, estão representados pelos servidores que receberam cinco e dois talentos. E quando forem chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: servidor bom e fiel! São criaturas que sabem cumprir a vontade de Deus, empregando bem a fortuna, a cultura, o poder, a saúde, o perdão, a benevolência, etc... Aqueles dons com que foram aquinhoados. Mas aqueles que recebem os talentos desse mesmo Evangelho e não os observam, ou aplicam mal, deixando-os improdutivos, prejudicando a causa que deveriam zelar, são semelhantes ao servidor que escondeu o talento recebido. E quando chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: servidor mau e preguiçoso! E lhes serão tirados tudo o que têm e mesmo o que pareçam ter. Nesse terceiro servo vemos destacado o mau hábito de certas criaturas, que, para encobrirem suas faltas ou justificarem suas fraquezas, não hesitam em atribuir deméritos imaginários às outras. Quando o senhor ordena que o servidor inútil seja lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes, quis dizer que aquela pessoa, por meio do embotamento da sua inteligência, não soube valorizar o bem que recebeu e, por isto, vai receber o fruto da sua ignorância no seu dia a dia. É importante destacar que o servo negligente atribuiu ao medo a causa do seu insucesso. O que aconteceu ao servidor receoso da narrativa evangélica acontece a muitas criaturas que se recolhem à ociosidade, alegando medo da ação, medo de trabalhar, medo de servir, medo de sofrer, medo da dor, medo até da alegria. E a pretexto de serem menos favorecidas pelo destino, transformam-se em representantes da inutilidade e da preguiça. “Se recebeste, pois, mais rude tarefa no mundo, não te atemorize a frente dos outros e faze dela o teu caminho de progresso e renovação, por mais sombria que seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias, enriquece-a com a luz do teu esforço no bem, porque o medo não serviu como justificativa aceitável no acerto de contas entre o servo e o Senhor”. A percepção é um atributo do espírito. Quanto maior o estado de consciência do indivíduo, maior será sua capacidade de perceber a vida, que não se limita apenas aos fragmentos da realidade, mas sim a realidade plena. Colocar nossa atenção nas coisas da vida é fator importante para o nosso desenvolvimento mental, emocional e espiritual, todavia, é necessário saber direcionar convenientemente nossa percepção e atenção no momento exato e para o lugar certo. O resultado do medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade, pois, quem decidirá como e quando devemos atuar será a atmosfera de temor que nos envolve. Cada um de nós vê o universo das coisas pelo que é. Vemos o mundo e as criaturas segundo o nível de desenvolvimento da consciência em que vivemos. Quanto maior esse nível, mais estaremos centrados e vivendo de modo estável e tranquilo. Quanto menor esse nível, mais primário será o nosso juízo a respeito de tudo, e teremos uma estreita visão dos fatos e das pessoas. A vida é, antes de tudo, um profundo exercício de descobertas. Para reflexão, vamos destacar alguns trechos: Esse contexto é importante para o melhor entendimento da parábola dos talentos. No antigo oriente, no tempo de Jesus, os ricos tinham uma prática bastante comum: quando esses senhores precisavam se ausentar da cidade, eles chamavam seus servos de maior confiança. E faziam deles os administradores de toda sua terra e seu dinheiro. Estes tinham liberdade para negociar e gerar lucro para o seu senhor no período que ele estivesse fora. É com base neste costume que a parábola dos talentos é contada. E não é difícil entendermos a sua mensagem. O que representa os Talentos entregues aos servos?  A oportunidade de cada um desenvolver o potencial que tem dentro de si. Por que o senhor não deu aos seus servos quantidades iguais de Talentos? Porque conhecendo bem os seus servidores, distribuiu de acordo com a capacidade de cada um. Por que o servo que recebeu um Talento foi chamado de servo inútil? Porque, pela sua ignorância, sentiu medo e enterrou o Talento, não sabendo valorizar o bem que recebeu. O que devemos entender pela expressão: Ser lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes?  Que aquele que não souber valorizar os bens que recebeu aqui na Terra receberá, como recompensa, os frutos da sua ignorância. O que entendemos dessa parábola? É a valorização feita por Deus sobre a criatura, verificando a capacidade de cada uma e recompensando segundo suas obras. Ao longo dos anos diferentes interpretações surgiram sobre a Parábola dos Talentos. Duas interpretações se destacam das demais como principais. Uma defende que esta parábola se refere ao povo judeu. Já a outra sugere que o ensino desta parábola abrange a totalidade dos cristãos. Claro que esta parábola foi dirigida primeiramente aos discípulos de Jesus; e provavelmente eles conseguiram estabelecer paralelos claros entre o significado da parábola e as características históricas do ambiente em que viviam. Porém, obviamente o significado da Parábola dos Talentos não ficou limitado aos discípulos, mas alcança a todos os cristãos de todas as épocas. Seja qual for a interpretação, nenhuma delas pode ignorar que o grande significado da Parábola dos Talentos enfatiza o princípio de que cada um recebe dons e oportunidades. O servo fiel é aquele que, independentemente da quantidade de talentos recebida, age com responsabilidade e diligência. O servo fiel valoriza os bens do seu Senhor. Essa parábola é como uma recomendação contra a negligência das pessoas. Se nós desejamos que haja progresso em nossas vidas, e que tenhamos a possibilidade de utilizar esse progresso em nosso benefício e em benefício do nosso semelhante, temos que deixar de lado a indolência e a preguiça, para agirmos com dinamismo e inteligência, não negligenciando na hora de perdoar; não negligenciando na hora de compreender as necessidades do próximo; não negligenciando em reconhecer as palavras de Jesus. Ninguém nasce brilhante. Todos nós fomos criados simples e ignorantes. E é aos poucos que nós vamos acumulando conhecimento, de experiência em experiência, até sabermos discernir uma coisa da outra, para traçarmos o nosso caminho. Utilizemos, portanto, nossos talentos, para a construção de um mundo melhor.

Muita Paz!

domingo, 13 de março de 2022

 


Olá, Amigos! Que tal começar a semana com uma boa reflexão? Para isso, vamos explanar mais um ensino espírita.

A Volta do Espírito à vida corporal

Estudo com base no Capítulo VII de O Livro dos Espíritos, “Da volta do Espírito à vida corporal”, no qual Kardec trata, dentre outros, o tópico Prelúdio da volta. E o nosso objetivo com essa análise é ampliarmos os nossos conhecimentos a respeito de como se dá o processo do retorno do Espírito ao mundo material. A ideia das vidas sucessivas, ou seja, o retorno periódico da individualidade à vida material, com esquecimento temporário das experiências anteriores, é muito antiga. Os povos da Ásia (como os hindus), da África (como os egípcios) e da Europa (gregos, romanos e os celtas) acreditavam que o Espírito do homem poderia voltar a viver na Terra em uma nova existência. Alguns deles acreditavam que pudesse vir a animar um corpo de um animal e vice-versa, teoria esta denominada de Metempsicose.

Hoje, sabemos pelo Espiritismo, que essa volta em corpo animal é impossível, pois o Espírito nunca retrocede no grau de evolução alcançado, podendo apenas estacionar. A Doutrina Espírita, doutrina cristã, assenta suas bases na crença da reencarnação. E, através dessa crença, a justiça divina começa a fazer sentido para seus adeptos, sem aquele ponto de vista de céu e inferno, que algumas religiões se baseiam. Aceitando e concordando que somos em Espírito criados à semelhança de Deus, e, que, em Espírito, estamos destinados à perfeição pela evolução gradativa do entendimento e da vivência do amor, passamos a perceber que a dádiva da reencarnação é a misericórdia de Deus para com suas criaturas. O princípio espiritual, centelha divina, evolui desde o momento obscuro de sua criação, sem deter-se um só instante.

O Espírito evolui, conquistando com suas experiências os valores divinos do amor em todas as suas manifestações. Mas para isto, precisa do mergulho na carne, onde vivencia, experimenta, aprende, e interioriza esses valores, purificando-se, para candidatar-se aos planos sublimes da existência. Somos hoje a conquista de milhares de anos em evolução. E como seres na forma de homens, fomos agraciados além do instinto que nos é próprio pela nossa herança animal, com a inteligência e com o livre-arbítrio, que nos permite discernir entre o bem e o mal, e a escolher os rumos que desejamos dar à nossa existência. O Espírito reencarna muitas vezes (seu progresso é lento) num mesmo mundo, apropriado ao seu grau de evolução, ou em mundos semelhantes (há muitas moradas na casa do Pai).

Então, vamos entender como se dá a partida do Espírito do mudo espiritual para o mundo material; vamos entender quantas coisas estão envolvidas nessa viagem, desde a preparação até o momento da partida, rumo ao desconhecido. Os Espíritos que integram o que chamamos de erraticidade, segundo os mentores espirituais, formam a imensa fila da reencarnação.  Enquanto aguardam, vivem a vida normal de Espíritos. Estudam e trabalham. Por isso, vamos refletir sobre o que Kardec nos trás de ensinos ditados pela Espiritualidade superior acerca do Prelúdio da volta. Dos questionamentos que o Codificador fez aos Espíritos que supervisionaram o trabalho de codificação da Doutrina, podemos retirar o seguinte: Os Espíritos sabem em que momento voltarão a reencarnar?

Em regra geral, não sabem quando irão passar por nova experiência na Terra. Apenas pressentem o instante, como sucede ao cego que se aproxima do fogo. Os Espíritos, já com algum esclarecimento, sabem que um dia terão que retornar a um corpo, para retomar, pelo estudo e pelo trabalho, a lenta, mas progressiva escalada da evolução. E é natural que seja assim, porque, afinal, reencarnar não depende só deles. Há inúmeros fatores envolvidos no processo. Os outros, isto é, os não esclarecidos, nem desconfiam que isso possa acontecer.  Entre eles, há os que não sabem que já morreram; e há os que, já estando conscientes disso, não sabem ou não acreditam em reencarnação; outros ainda há que não acreditam, até mesmo, na sobrevivência da alma, de que eles próprios são a prova mais definitiva, como não acreditam em Deus, nem em justiça divina.

Continuam ateus e materialistas. Isso acontece, porque a morte não transforma as pessoas. Elas continuam lá como eram aqui: com suas dúvidas, suas crenças e seus preconceitos. Por outro lado, o corpo de que se servem, o corpo espiritual ou perispírito, é tão igual ao que deixaram, aqui, que elas não percebem, no primeiro momento, que já estejam entre os chamados mortos. Alguns já aprenderam que a reencarnação é uma necessidade da vida espiritual, como a morte o é da vida corpórea. Nascer, viver, morrer, renascer são inevitáveis no processo evolutivo. Não há evolução sem reencarnação. Não adianta fugir. É lei natural emanada do Poder Maior. Logo, os que querem evoluir mais rapidamente preocupam-se com a sua reencarnação. Outros, como dissemos, nem sabem que ela existe.

E essa incerteza quanto ao futuro acaba por constituir-se numa espécie de punição. Alguns deles, quando a ignorância os domina, dando nascimento à revolta, são forçados a voltar ao corpo ainda que na inconsciência. Outros aceitam a volta, diante dos conselhos dos benfeitores da espiritualidade, mas depois se arrependem e, em muitos casos não chegam a nascer. Dai, advém o aborto espontâneo, mesmo com todos os cuidados que a futura mãe tem com seu estado de gravidez. Muitos imploraram a volta ao corpo e sentem prazer em tal viagem, sabendo que é pelas vidas sucessivas que se melhora espiritualmente. As variações são muitas, no quadro das vidas múltiplas. Outros são ainda mais cuidadosos: pedem um preparo alongado, de maneira a não servirem de motivo de escândalo no decorrer da vida na Terra.

O livre-arbítrio faculta ao Espírito apressar ou retardar a sua volta.  Apressa-a, quando, motivado por um desejo muito forte, adquire, através do trabalho edificante, créditos que avalizem seu desejo. Retarda-a quando se acovarda diante das provas. Mas os que adiam o enfrentamento da prova sofrem por isso, à semelhança do doente que recusa o remédio que pode curá-lo. De qualquer forma o adiamento não pode ser indefinido. Mesmo os que se sentem felizes no estágio em que se encontram, não podem nele permanecer indefinidamente, adiando sempre o momento de reencarnar. Cedo ou tarde sentirão a necessidade de progredir. Todos têm que se elevar: esse o destino de todos. Costuma-se perguntar se a alma que irá animar um corpo que está sendo formado no seio da mãe está a ele predestinada ou se é escolhida à última hora.

É evidente que o Espírito é, sempre, de antemão designado. Mesmo porque, conforme esclarece a Doutrina, é no momento da concepção que se estabelece a ligação entre o Espírito, que está vindo, e o corpo que começa a formar-se. E é o corpo espiritual do reencarnante que vai servir de modelo à formação do feto, conforme programação pré-estabelecida. Tudo nos exatos termos em que se projetou a nova experiência, respeitadas a lei de causa e efeito que direciona os resgates e as provas escolhidas pelo próprio reencarnante. Nada de improvisações ou acasos, absolutamente, fora de qualquer fase do processo. Em geral, cabe ao Espírito apenas a escolha das provas. O projeto do corpo está afeto a Espíritos com conhecimento especializado. 

Eles é que cuidam disso, levando em consideração o perispírito do reencarnante que forçosamente, como modelo biológico organizador que é, irá influenciar no corpo material que surgirá.  Pode, entretanto, o interessado solicitar certas imperfeições que visem a ajudá-lo a se sair bem das provas que auxiliarão o seu progresso. A união de um Espírito a determinado corpo pode, sim, ser imposta por Deus. Isso acontece nas chamadas reencarnações compulsórias, sempre objetivando a melhoria e proteção do Espírito obrigado a ela.  Seja nos casos de rebeldia irrefreável, com graves perturbações na harmonia geral, quando se aproveita a oportunidade para resgates e reconstruções perispirituais, seja nos casos em que se precisa esconder o reencarnado de seus inimigos e algozes que tornariam impossível sua vida no plano espiritual.

É comum aparecerem vários Espíritos como candidatos a tarefas importantes a serem executadas.  Desejam enfrentar certos trabalhos para colherem maiores frutos em seu aprendizado e evolução. Muitos podem pedir isso. No entanto, Deus é quem julga qual o mais capaz de desempenhar a missão a que a criança se destina.  Mas, como dissemos acima, o Espírito é designado antes que soe o instante em que haja de unir-se ao corpo. É muito solene para o Espírito o instante da sua encarnação. Não só pela bênção que isso representa, mas pela carga de responsabilidade que traz nos ombros, certo de que não só ele, mas muitas outras pessoas que estarão à sua volta, dele dependerão. Muita ansiedade envolve o Espírito prestes a encarnar. Por mais preparado que esteja, há sempre a incerteza quanto à eventualidade do seu triunfo nas provas que vai suportar na vida.

Há sempre riscos muito fortes envolvendo o nosso mergulho na carne. Daí a ansiedade e o medo. Dependendo da esfera a que pertença; se já reina a afeição, os amigos e parentes desencarnados costumam acompanhar o reencarnante no momento de sua despedida, tal como ocorre na sua volta, ao fim da existência terrena. A reencarnação assinala um grande momento na vida de todos nós. Pela oportunidade maior de avançarmos um pouco mais na estrada da evolução. O invólucro fluídico é que liga o Espírito ao gérmen. Essa união vai-se adensando e tornando-se mais íntima, de momento a momento, até que se completa quando a criança vem à luz.

No período intercorrente, da concepção ao nascimento, a ação da força vital faz com que diminua o movimento vibratório do perispírito, até o momento em que, não atingindo o mínimo perceptível, o Espírito fica quase totalmente inconsciente. É dessa diminuição de amplitude do movimento fluídico, diz Gabriel Delanne, que resulta o esquecimento. Quando o Espírito vai encarnar num corpo humano em via de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen, que o atrai por uma força irresistível desde o instante da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, esse laço se encurta. Sob a influência do princípio vital presente no gérmen, o perispírito se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, como se o Espírito, valendo-se do seu perispírito, se enraizasse no gérmen, a exemplo da planta que se enraíza no solo.

Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, está completa a união, e o ser nasce então para a vida exterior. A reencarnação é um choque biológico. A partir do momento em que o Espírito é colhido no laço fluídico que o prende ao gérmen, ele entra em estado de perturbação que aumenta à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de modo que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, ele começa a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que hão de lhes servir às manifestações. Aqueles que trazem para o mundo físico um acervo de qualidades despertadas têm a vantagem de se livrarem de muitas tentações, saindo ilesos das emboscadas das trevas, que sempre acontecem.

A reencarnação é uma necessidade da alma, como força que a impulsiona para o alto e para Deus. Os processos da reencarnação são engenhosos; no entanto, os benfeitores espirituais cuidam dessa ciência com todo o amor que podem dar aos que vão ingressar nos fluidos da carne. Nós já reencarnamos muitas vezes, e poderemos voltar muito mais, herdando a Terra como promessa da Luz. O prelúdio da volta pode ser a intuição que temos no fundo d'alma e a necessidade de crescimento espiritual. Concluindo: O estado corporal é transitório e passageiro. É no estado espiritual, sobretudo que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo trabalho da encarnação; é também nesse estado que se prepara para novas lutas e toma as resoluções que há de pôr em prática na sua volta à Humanidade.

Muita Paz!

 

domingo, 6 de março de 2022

 


Entusiasmo e Responsabilidade

O objetivo desse texto é levantar, de maneira despretensiosa, algumas questões de ordem moral e espiritual que permitam melhorar os nossos relacionamentos, a partir de um processo reflexivo sobre elas. No item 2 do capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo, o Espírito Constantino diz o seguinte: “Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos trabalhadores da última hora”. Daí, podemos depreender que não basta ser espírita; é preciso ser bom espírita. Para ilustrar o nosso estudo, fomos buscar no livro Pontos e Contos, ditado pelo Espírito Irmão X, uma passagem intitulada Entusiasmo e Responsabilidade. Conta-nos assim o autor: Nos primeiros tempos da nova fé, Aureliano Correia não regateava as manifestações entusiásticas. - Sou espírita, exclamava convicto, pertenço às fileiras dos discípulos sinceros da Nova Revelação. Tenho a minha tarefa a cumprir. O rapaz vivia embriagado de júbilo. Comparecia pontualmente às reuniões doutrinarias, comentava ardoroso, os ensinamentos ouvidos. Expunha projetos grandiosos, relativamente ao futuro. Instituiria núcleos de fé viva, disseminaria fundações de amor fraternal. Afirmava, sem medo, a nova atitude e prometia realizações seguras e generosas. Não se contentava em estabelecer compromissos com a fé. Aureliano ia mais longe. Referia-se ao Espiritismo na política, na filosofia, nas artes, nas ciências. Trabalharia sem cessar, dizia ele, e criaria diretrizes novas e edificações mais sólidas para o espírito humano. Continuava atravessando a região do entusiasmo fácil, quando, certa noite, no parcial desprendimento do sono, foi conduzido à presença de um de seus orientadores espirituais. O companheiro exultava. A entidade amiga falou carinhosamente, depois de abraçá-lo: - Aureliano, que o Senhor te abençoe as esperanças de redenção. Teu caminho cobre-se, agora de júbilos santos. Guardas, meu amigo, a divina lâmpada no coração. A benção do Eterno Pai segue tuas aspirações de progresso. Sê bendito e feliz, filho meu! Teu ideal de crente fervoroso será uma roseira florida no jardim do Mestre Generoso e o perfume de fé em teu espírito idealista. O rapaz chorava de contentamento e emoção. E o sábio mentor prosseguiu calmo e bondoso: - Atingirás a praia sublime da paz consoladora e, seguro na terra firme das convicções sadias, observarás, espiritualmente, de longe, o oceano revolto do mundo, embora continues em serviço de abnegação ativa a beneficio dos nossos irmãos encarnados, aflitos e vacilantes, na grande jornada, através das ondas vorazes da ilusão. Receberás consolações celestes, ao contato dos amigos espirituais que te esperam, deste lado da vida. Conhecerás a profunda alegria da luz eterna, no tabernáculo da alma crente. As dificuldades da terra surgirão aos teus olhos, na qualidade de benfeitoras. No seio das lutas mais forte, sentirão o beijo caricioso da amizade dos Servos Glorificados de Deus, invisíveis no mundo aos olhos mortais. Cada dia será uma taça de oportunidades benditas ao teu coração e cada noite um parque de claridades compassivas, onde meditarás nas Dádivas Celestes, entre a alegria e o reconhecimento. Alcançarás o bem-estar de quem encontrou o amor universal, a compreensão de todos os seres e o respeito a todas as coisas e, venturoso, estarás a caminho de esferas iluminadas, a distancia dos círculos inferiores da carne, seguindo com Jesus, amparado por seu divino amor... Enquanto a entidade fazia súbita parada, sentia-se Aureliano o mais feliz dos homens. Seria o aprendiz superior, discípulo dileto do Cristo. Não cabia em si de satisfação. O orientador devotado, porém, quebrou a pausa longa e tornou a falar: - Mas, como sabes Aureliano, não existe concessão sem responsabilidade. Alguma coisa dará de ti mesmo, para receberes tantas bênçãos. Para que te integres na posse definitiva de semelhante tesouro, é necessário que abandones a caverna dos instintos inferiores e que sejas um homem renovado em Cristo-Jesus. Não poderás perder o Mestre de vista, procurando seguir-lhe os passos, desde a manjedoura de submissão a Deus até o cuspo irônico do povo de Jerusalém, a fim de que o encontres no Calvário, a caminho da ressurreição. É indispensável seguir Jesus e Alcançá-lo, no monte do testemunho, diante dos homens e da suprema obediência ao Eterno Pai. Serás bafejado pelas harmonias celestes; entretanto, não te poderás esquivar aos sacrifícios terrestres. Receberás a tranquilidade que excede a compreensão das criaturas; todavia, para que isto se verifique, é indispensável te arrependas do passado delituoso e creias na tua sublime oportunidade de hoje, negando-te a alimentar o “homem velho” que ainda te domina o coração, e suportando a luminosa cruz de teus serviços de cada dia, acompanhando Aquele que nos dirige os destinos desde o principio. Ganharás a luz, Aureliano, mas é imprescindível que expulses as sombras que te rodeiam. Atingirás a esfera superior; no entanto, é preciso que te retires das zonas mais baixas dos vastos caminhos da vida. Não temas, porém, meu filho! Jesus não desampara a boa-vontade dos homens! Nesse instante, Aureliano acordou muito pálido. Aquela advertência calara-lhe fundo. Sentia-se desapontado. Estimava o entusiasmo, as vibrações festivas, os rasgos da palavra, mas não se lembrara ainda do campo da responsabilidade e do serviço inevitáveis. Queria uma doutrina para se proteger, mas nunca pensara na fé que exige trabalho, abnegação e testemunho no bem ativo. Estava, portanto, decepcionado. Aureliano, tão expansivo nas afirmações fáceis, levantou-se da cama, profundamente amuado, arredio, nervoso. Sua mente recuava, a passos largos, nas promessas feitas. Mal não saíra de casa, a caminho do centro urbano, eis que quatro companheiros humildes lhe surgem à frente, solicitando ansiosos: - Aureliano amigo, fundamos ontem um núcleo modesto e contamos com você! Sentimo-nos cercados de necessidades espirituais e precisamos cooperadores de sua envergadura. Venha hoje à noite, não falte. Esperamos que aceite o nosso convite e que não desampare a nossa confiança! O interpelado, porém muito diferente da véspera, sem qualquer disposição ao serviço sério, e positivamente em fuga ante a ideia de responsabilidade, respondeu com secura: - Não, meus amigos, não posso dizer que sou espírita. E, depois de uma pausa, ante o espanto dos companheiros, concluiu, como muita gente: - Tenho muita vontade de ser.

REFLEXÃO:

O homem, filho de Deus, criado em espírito à Sua imagem e semelhança, diferencia-se dos animais chamados irracionais pela vontade própria, pela inteligência, pelo livre-arbítrio, na escolha de seus caminhos. Cada um decide o que deseja viver e como deseja viver e, portanto, tem total autonomia de curso. Cabe-lhe buscar aquilo que deseja, esforçando-se, através do trabalho, na construção de seu próprio destino. Evolui em espiritualidade, em função das experiências vividas, das quais tira lições necessárias ao seu burilamento, ao seu aperfeiçoamento, à aquisição da luz divina. Quando encarnado, luta contra a herança milenar trazida de seu passado, que o obriga conciliar a inteligência de que é dotado com o instinto, que faz parte integrante da sua animalidade. Quando atinge determinado grau de percepção, lida com a razão, que o faz entender melhor a sua origem e a sua destinação. Aqueles que já entendem e percebem a presença de Deus em suas vidas, já conseguem avaliar melhor sua condição humana e sua evolução espiritual. O Espiritismo, cristianismo redivivo, traz para aqueles que percebem a clareza de sua doutrina um entusiasmo muito grande, levando-os ao desejo de romperem com o passado delituoso e a buscarem um futuro mais promissor em termos espirituais. Kardec diz, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que reconheceremos o espírita pela luta que ele trava com suas próprias imperfeições e pela disposição que, sinceramente, apresenta para vencer o mundo. Mas é preciso entender que a Natureza não dá saltos, e que nossos compromissos do pretérito são imensos. Assim, ninguém há de tornar-se santo da noite para o dia porque já é capaz de questionar-se naquilo que faz. O entusiasmo daquele que começa a praticar a doutrina, a acompanhar e assistir as palestras, a habituar-se às leituras das obras trazidas pelos mensageiros divinos, é sempre muito grande. A descoberta pela aplicação da fé raciocinada dos princípios e das leis que regem a vida, faz com que o iniciante busque falar da doutrina a todo instante, a todas as pessoas, e em todas as ocasiões. Alguns tornam-se até inconvenientes quando desejam modificar as outras pessoas com seus novos modelos de pensar, com seus novos paradigmas espirituais. Para essas pessoas, tudo o que ocorre é prontamente explicado à luz da reencarnação, à luz dos débitos do passado. Outros, depois de abraçarem a causa espírita, preocupam-se em rebuscar o passado, para identificarem as vidas anteriores, tornando-se, muitas vezes, presas fáceis do erro e da ilusão. Ora, se Deus quisesse que soubéssemos o que fomos, não nos teria proporcionado a misericórdia do esquecimento do pretérito. É claro que o entusiasmo é uma premissa necessária ao trabalhador da seara do bem. Entusiasmo significa alegria de sentir Deus em nós e, portanto, é a força propulsora de grandes ações. Mas apenas o entusiasmo não constrói um mundo melhor. O mundo é construído pelas ações, pelas obras, e estas requerem disposição para o serviço e, sobretudo, responsabilidade pelos resultados. Lembrando a Parábola do Semeador, é preciso perceber o terreno que preparamos dentro de nós para receber a semente do amor e da fraternidade. Se prepararmos o terreno com a terra rasa do entusiasmo inicial, a planta não vinga, e o aparecimento dos primeiros obstáculos faz com que deixemos a desejar a responsabilidade pelo serviço. Tenho muita vontade de trabalhar pela causa espírita; tenho muita vontade de ajudar ao necessitado; assim que puder, montarei um orfanato. Estas são frases bastante comuns entre nós, que já recebemos do Criador a oportunidade de discernir sobre nossa destinação. O homem velho teima em se manter ligado aos compromissos do mundo material, e inibe a ação do homem novo que deseja alçar voos mais elevados na espiritualidade. Muitos de nós desistem e dizem ser difícil tornar-se espírita no entendimento de que o espírita deve ser uma pessoa perfeita. Não digamos que temos vontade. Sejamos espíritas, lutando a cada instante para vencer a animalidade inferior que ainda mora conosco. A cada queda, a cada deslize, que sejamos capazes de reconhecer as fraquezas existentes. Peçamos força e amparo para vencermos a nós mesmos. Sim, somos espíritas e nos dispomos a servir, a trabalhar pelo bem por um mundo melhor, onde o amor se estabeleça em sua plenitude, e a misericórdia e o perdão sejam parte integrante da vida. Se somos pequenos pecadores, não importa. Que além do entusiasmo pela Doutrina Espírita, saibamos aceitar a responsabilidade pelo serviço na seara do amor e do bem. Deus é nosso pai. Jesus é nosso mestre e nosso guia. E, nós, pecadores contumazes, mas marchando incessantemente a caminho da luz.

Muita Paz!