INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
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Estudo de O Livro dos Espíritos - Continuação

LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, abordando a Questão 495.
495. O Espírito protetor abandona, às vezes, o protegido, quando este se mostra rebelde às suas advertências?
“Afasta-se quando vê que os seus conselhos são inúteis e que é mais forte a vontade do protegido em submeter-se à influência dos Espíritos inferiores, mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É o homem quem lhe fecha os ouvidos. Ele volta, logo que chamado”.
“Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre ao vosso lado seres que vos são superiores, que estão sempre ali para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a montanha escarpada do bem, que são amigos mais firmes e mais devotados que as mais íntimas ligações que se possam contrair na Terra, não é essa uma ideia bastante consoladora? Esses seres ali estão por ordem de seu Deus, que os colocou ao vosso lado; ali estão por seu amor, e cumprem junto a vos todos uma bela mas penosa missão. Sim, onde quer que estiverdes, vosso anjo estará convosco: nos cárceres, nos hospitais, nos antros do vício, na solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma recebe os mais doces impulsos e ouve os mais sábios conselhos”.
“Ah! Por que não conheceis melhor esta verdade? Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! Mas no dia decisivo este anjo de bondade terá muitas vezes de vos dizer: “Não te avisei disso? E não a fizeste! Não te mostrei o abismo? E nele te precipitaste! Não fiz soar na tua consciência a voz da verdade, e não seguiste os conselhos da mentira?”. Ah!, interpelai vossos anjos da guarda, estabelecei entre vós e eles essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos! Não penseis em lhes ocultar nada, pois eles são os olhos de Deus e não os podeis enganar! Considerai o futuro; procurai avançar nesta vida, e vossas provas serão mais curtas, vossas existências mais felizes. Vamos, homens, coragem! Afastai para longe de vós, de uma vez por todas, preconceitos e segundas intenções! Entrai na nova via que se abre diante de vós, marchai, marchai! Tendes guias, segui-os; a meta não vos pode faltar porque essa meta é o próprio Deus”.
“Aos que pensassem que é impossível a Espíritos verdadeiramente elevados se restringirem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos as vossas almas, embora estando a milhões de léguas de distância: para nós o espaço não existe, e mesmo vivendo em outro mundo os nossos Espíritos, conservam sua ligação convosco. Gozamos de faculdades que não podeis compreender, mas estais certos de que Deus não vos impôs uma tarefa acima de vossas forças, nem vos abandonou sozinhos sobre a Terra, sem amigos e sem amparo”.
“Cada anjo da guarda tem o seu protegido e vela por ele como um pai vela pelo filho.  Sente-se feliz quando o vê no bom caminho; chora quando os seus conselhos são desprezados”.
“Não temais fatigar-nos com as vossas perguntas; permanecei, pelo contrário, sempre em contato conosco: sereis então mais forte e mais felizes. São essas comunicações de cada homem com seu Espírito familiar que fazem médiuns a todos os homens, médiuns hoje ignorados, mas que mais tarde se manifestarão, derramando-se como um oceano sem bordas para fazer refluir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí; homens de talento, educai vossos irmãos. Não sabeis que a obra assim realizais: é a do Cristo, a que Deus vos impõe. Por que Deus vos concedeu a inteligência e a ciência, senão para as repartirdes com vossos irmãos, para os adiantar na senda da ventura e da eterna bem aventurança?”
                                                                        São Luís, Santo Agostinho.
Quando o anjo-guardião percebe que o seu protegido está sendo rebelde aos seus conselhos, ele insiste de todas as formas, para que o renitente compreenda os objetivos da sua permanência ao seu lado, e se esse fecha os olhos, tampa os ouvidos à ajuda espiritual, dá-se, por amor, o afastamento. O que se fez surdo deve sofrer as consequências da sua ignorância, no sentido de aprender a verdade pelos processos da dor. O afastamento é referente à transmissão dos conselhos, e não desligamento das responsabilidades espirituais. Os Espíritos superiores já passaram por essa fase em que se encontra seu tutelado, e sabem, por experiência, que o despertamento dos valores espirituais vêm gradativamente. Toda violência faz estragos no comportamento, no campo da intimidade da criatura.
No mundo espiritual, trabalho é vida e vida é trabalho. Se nós fizermos a nossa tarefa de mudarmos moralmente, e, para melhor, dando um passo a cada dia, o simples fato dos Espíritos perceberem o nosso esforço será algo gratificante para a nossa relação com o mundo espiritual. Nós temos que procurar estarmos em contato com eles. Podem perguntar: de que maneira? Respondemos: pela prece. Então, o indivíduo vai ter que passar vinte e quatro horas orando? Não! Estamos falando do diapasão mental. Se nós procurarmos aprimorar o nosso diapasão mental, aumentando a nossa capacidade de sintonia, estaremos fazendo no nosso dia a dia o nosso trabalho do cotidiano e, estaremos também em conexão com o mundo espiritual elevado, desde que coloquemos em pauta o seguinte: Pensar no bem; falar o bem; e buscando o máximo possível fazer o bem.
Comentário de Kardec: A doutrina dos anjos da guarda, velando pelos protegidos apesar da distância que separa os mundos, nada tem que deva surpreender, pelo contrário, é grande e sublime.  Não vemos sobre a Terra um pai velar pelo filho, ainda que esteja distante, e ajuda-lo com seus conselhos através da correspondência?  Que haveria de admirar em que os Espíritos possam guiar, de um mundo ao outro, os que tomaram sob sua proteção, pois se, para eles, a distância que separa os mundos é menor que a que divide os continentes da Terra? Não dispõem eles do fluido universal que liga a todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do som?
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, abordando as Questões de 489 a 494.
 489. Há Espíritos que se ligam a um indivíduo em particular para o  proteger?                                                         
“Sim, o irmão espiritual; é o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio”.
Cada encarnado tem, ao seu lado, lado no sentido filosófico, um Espírito com uma conexão direta conosco. O vínculo da particularidade dá a dimensão exata do nível em que este Espírito se encontra. Lógico que ele estará numa condição melhor do que a nossa, com certeza. Será um Espírito mais próximo da nossa condição de Espírito comprometido com a Lei Divina. Esse Espírito está tendo uma oportunidade de trabalho junto a alguém, para que ele possa, de alguma maneira, orientar e auxiliar. Conforme já estudamos, são vários os Espíritos que simpatizam conosco e nos acompanham, sob a orientação do Espírito protetor. É como se fosse uma família, onde moram juntas diversas criaturas, sob a orientação dos pais.
490. Que se deve entender por anjo da guarda?
“O Espírito protetor de uma ordem elevada”.
Todas as criaturas têm a seu lado um Espírito, destinado por Deus, a guiá-lo nos seus caminhos para encontrar a verdade. Não obstante, esse benfeitor espiritual tem o condão de luz no seu entendimento, compreendendo a livre iniciativa do seu tutelado, seus direitos e deveres. Assim, esse Espírito cuida para que seu protegido não ultrapasse os limites naquilo que possa prejudicá-lo. Ele está junto do companheiro ao qual se destinou guiar, mas não somente ele; outros Espíritos acompanham-no, como auxiliares, bem como outros, que simpatizam com o irmão encarnado, por afinidade desta ou de outras vidas.
491. Qual a missão do Espírito protetor?
“A de um pai para com os filhos: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições sustentar sua coragem nas provas da vida”.
A missão do protetor espiritual é como se fosse a de um pai. Dando toda a cobertura ao seu filho, investe no seu tutelado em todas as suas tarefas. Começa por aí. Vai consolá-lo nas aflições e inspirá-lo a tomar decisões sensatas, mas não tem como assumir os encargos que cabem ao protegido. A missão do protetor é de proteger sem agressão, mas, essa proteção depende muito de cada pessoa. Ele bate à nossa porta, nós é que devemos abri-la recebendo as sugestões de amor. Todos temos nossos protetores espirituais, que a cada dia fazem esforços incomuns no sentido de se aproximarem mais de seus tutelados. A sua tarefa é árdua e ele incentiva o protegido nas linhas do bem, clareando seus pensamentos cada vez mais e fortalecendo seu coração nos momentos das provas indispensáveis. Ele inspira e cuida do encarnado, para que este possa levantar seu ânimo em quaisquer circunstâncias. É importante saber que, quando o seu tutelado fecha os ouvidos e embota os sentimentos na razão direta da sua influência espiritual, o protetor vai se distanciando do seu protegido, como que sem condições de auxiliá-lo com eficiência, porém, nunca o perde de vista, pois é o seu dever ajudá-lo com as suas possibilidades, sem contrariar a lei e sem violentar os direitos que lhe faculta o livre arbítrio.
492. O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu nascimento?
 “Desde o nascimento até a morte, e frequentemente o segue depois da morte, na vida espírita, e mesmo através de numerosas experiências corpóreas porque essas existências não são mais do que fases bem curtas da vida do Espírito”.
O Espírito protetor, ou anjo-guardião, tem uma dedicação extremosa para com aquele que é seu protegido. Conhece-lhe as dificuldades e sabe muito bem das suas fraquezas; sente como pai as suas necessidades, mesmo as físicas, e sabe, como protetor, tolerar suas deficiências; no entanto, ele não perde oportunidade de o aconselhar, como se fosse a consciência, para melhorar cada vez mais sua conduta espiritual ante a vida. Dedicação não quer dizer apoio em tudo. A paternidade espiritual é porta para a escola, onde o aprendiz é envolvido na fraternidade, mas, quando preciso, recebe a energia que educa. O protetor está mais ocupado com o seu protegido em educá-lo, porque a instrução vem como consequência espiritual, O educado sempre procura a instrução, como sendo o conforto e a luz do seu caminho. O Espírito protetor acompanha seu tutelado desde o nascimento até a desencarnação e, em muitos casos, continua acompanhando-o no mundo dos Espíritos. Há muitos casos em que o Espírito guardião serve de amparo ao seu protegido por muitas reencarnações, e sente no coração a glória das suas vitórias.
493. A missão do Espírito protetor é voluntária ou obrigatória?
“O Espírito é obrigado a velar por vós porque aceitou essa tarefa mas pode escolher os seres que lhe são simpáticos. Para uns, isso é um prazer; para outros, uma missão ou um dever”.
O Espírito protetor tem a liberdade de escolher seu protegido, entretanto, depois de tê-lo escolhido, tem o dever de o proteger dentro do padrão mencionado pela lei. Todos somos escravos da lei, pois ela nos assiste e nos dirige. As leis foram criadas por Deus, para que se estabeleça a harmonia no universo. Alguns dos benfeitores espirituais dão preferência a assistir ao Espírito encarnado com o qual simpatizam; outros, que são poucos, não escolhem e deixam a cargo dos mestres siderais e, como Espíritos de luz, trabalham sem reclamar em todas as áreas aonde foram chamados a servir.
493–a. Ligando-se a uma pessoa, o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos?
“Não, mas o faz de maneira mais geral”.
O protetor com a incumbência de proteger alguém pode assistir outras pessoas; no entanto, o seu maior dever é com aquele a quem se entregou no compromisso de amparar. Eles têm a liberdade de optar, mas têm também de escolher o trabalho a ser realizado.
494. O Espírito protetor está fatalmente ligado ao ser que foi confiado à sua guarda?
“Acontece frequentemente que certos Espíritos deixam sua posição para cumprir diversas missões, mas nesse caso são substituídos”.
Assim como os homens de projeção na vida pública ou empresarial assumem variados cargos de responsabilidade quando chamados e, em muitos casos, os deixam para assumirem outros quando acham conveniente, os Espíritos protetores às vezes deixam seu protegido e assumem outros trabalhos; no entanto, outro de elevação equivalente assume sua posição, de maneira a não deixar o encarnado ficar sem a devida proteção na área espiritual.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas, abordando as Questões de 484 a 488-a.
484. Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?
“Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis  de se melhorar; os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que podem viciar-se: daí o seu apego, resultante da semelhança de sensações”.
Nós podemos ter como afeiçoados nossos tanto Espíritos bons quanto Espíritos ainda inferiores. É dito que a afeição é filha da afinidade, forças compatíveis que se entrecruzam, vibrando na mesma faixa espiritual da vida. Esta é uma lei que mostra a justiça em todos os rumos da existência de todas as coisas e, certamente, comandando a humanidade inteira. Até o nome tem uma vibração agradável: afeição. É de proveito comum que todos nós, encarnados e desencarnados, sustentemos as afeições, criando cada vez mais laços de amor com criaturas que têm idéias semelhantes às nossas.
485. A afeição dos Espíritos por certas pessoas é exclusivamente moral?
“A afeição verdadeira nada tem de. carnal; mas quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz por afeição, podendo existir no caso uma lembrança de paixões humanas”.
A verdadeira afeição é totalmente espiritual e cabe ao afeiçoado distinguir o modo pelo qual encontra aqueles que lhe dedicam carinho. Ela se desprende de Espírito para Espírito, tomando a forma de amor, para alimentar os sentimentos de maior expressão no centro da alma. Os apegos nascem de muitas fontes, dentre as quais muitas são perigosas ao coração. Existem afeições que têm suas marcas em paixões humanas de outras épocas, que ainda permanecem vivas, tomando o afeiçoado e enchendo-o de prazeres, quando esse se afiniza com as vibrações que os sentimentos imprimem. Existe também o carinho interesseiro, que sempre acaba, quando passa o interesse. Ele é transitório, como muitos outros que se pode deduzir.
486. Os Espíritos se interessam pelos nossos infortúnios e pela nossa prosperidade? Os que nos querem bem se afligem pelos males que experimentamos na vida?
“Os bons Espíritos fazem todo o bem que podem e se sentem felizes com as vossas alegrias. Eles se afligem com os vossos males, quando não os suportais com resignação, porque então esses males não vos dão resultados, pois procedeis como o doente que rejeita o remédio amargo destinado a curá-lo”.
Os bons Espíritos, que sempre nos acompanham, fazem tudo para a nossa paz interior. Certamente que eles se afligem com a nossa impaciência ante a dor e os problemas, pelos quais passamos reclamando. Somente os Espíritos puros têm a tranquilidade imperturbável da consciência. Eles compreendem que os encarnados carregam consigo fraquezas capazes de os envolverem nas sombras que sempre os espreitam, mas, que uma queda pode ser prenúncio de vitória no porvir. Estamos rodeados de testemunhas espirituais que nos assistem, e atraímos outras tantas pela sintonia dos nossos sentimentos. O Espírito envolvido na carne recebe do próprio ambiente impulsos de magnetismo inferior a todos os momentos. É preciso orar e vigiar permanentemente. Essas forças aparecem aos homens como barreira para cercear suas forças para o bem.
487. Qual a espécie de mal que mais faz os Espíritos se afligirem por nós: o mal físico ou o mal moral?
“Vosso egoísmo e vossa dureza de coração: é disso que tudo deriva. Eles riem de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição e se rejubilam com os que. têm por fim abreviar o vosso tempo de prova”.
Todos os nossos males, sejam de ordem moral ou física, são forças que têm o poder de nos acordar para as realidades da vida, destinando-nos, com isso, à maturidade da alma. Convidam-nos, todos os tipos de infortúnios, a pensar melhor sobre o nosso destino, que deve ser amoldado pelas nossas disposições, onde a vontade deve assegurar o barco das decisões tomadas. Os Espíritos que se preocupam com os nossos males morais ou físicos ainda não alcançaram a tranquilidade de consciência, aquela que os Espíritos puros já conquistaram, a consciência imperturbável. Eles conhecem os caminhos de todos, por já terem passado por eles para chegarem aonde conseguiram.
Comentário de Kardec: Os Espíritos, sabendo que a vida corporal é apenas transitória e que as tribulações que a acompanham são meios de conduzir a um estado melhor, se afligem mais pelas causas morais que podem distanciar-nos desse estado do que pelos males físicos
Os Espíritos pouco se importam com os infortúnios que só afetam as nossas idéias mundanas, como fazemos com as aflições pueris da infância.
O Espírito que vê nas aflições da vida um meio de adiantamento para nós considera-as como a crise momentânea que deve salvar o doente. Compadece-se  dos nossos sofrimentos como nos compadecemos dos sofrimentos de um amigo mas vendo as coisas de um ponto de vista mais Justo, aprecia-os de maneira diversa, e enquanto os bons reerguem a nossa coragem, no interesse do nosso futuro os outros, tentando comprometer-nos, nos incitam ao desespero.
488. Nossos parentes e nossos amigos, que nos precederam na outra vida, tem mais simpatia por nós do que os Espíritos que nos são estranhos?
“Sem dúvida, e frequentemente vos protegem como Espíritos, de acordo com o seu poder”.
Os parentes e amigos mais íntimos que nos precederam ante as barreiras do túmulo têm saudades dos que ficaram, e essa ligação espiritual faz com que os ajudem dentro das suas possibilidades. Mesmo os que se encontram em altas esferas são capazes de renunciar ao conforto espiritual de que gozam, para descerem à carne e ajudar seus entes queridos em dificuldades. Esse fato acontece todos os dias, pelos processos de reencarnações que se operam constantemente no globo terreno. Esse acontecimento conforta todos, por saberem que existem, em torno de nós, muitos Espíritos que nos amam, a nos ajudar a carregarmos a cruz que nos pesa em todos os sentidos. O apóstolo Pedro nos aconselha, para a nossa esperança: “Granjeai amigos”. Quanto mais amigos fizermos, melhor para a nossa esperança. Devemos fazer amigos por amor, que esses amigos nos ajudarão em qualquer parte, a nos libertarmos das trevas e vivermos no clima da alegria.
488–a. São eles sensíveis à afeição que lhes conservamos?
“Muito sensíveis, mas esquecem aqueles que os esquecem”.
Esses Espíritos ligados a nós pela amizade, são sensíveis à nossa lembrança e ao nosso carinho.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Convulsionários, abordando as Questões de 481 a 483.
481. Os Espíritos desempenham algum papel nos fenômenos que se produzem entre os indivíduos chamados convulsionários?
“Sim, e muito grande, como também o magnetismo, que é a sua primeira fonte. Mas o charlatanismo tem frequentemente explorado e exagerado os seus efeitos, o que o pôs em ridículo”.
Vale tecer consideração sobre o termo convulsionário, que na época de Kardec dizia respeito a uma série de situações de enfermidades, que, hoje, amoderna medicina já estabeleceu uma nomenclatura para todas as enfermidades, Os chamados convulsionários formam uma dessas divisões das faculdades espirituais, seja a convulsão espontânea ou provocada, sem deixar faltar o agente comum que é o magnetismo, que obedece à força mental, acompanhando os caminhos traçados pela vontade. Ele recebe o comando da alma encarnada ou desencarnada e obedece. Os que abusam dos chamados convulsionários, usando dos fenômenos que resultam desta faculdade, respondem por seus efeitos. Todos os convulsionários, quando orientados por pessoas ignorantes, acabam caindo no ridículo e sendo por elas abandonados.
481–a. De que natureza são, em geral, os Espíritos que concorrem a essas espécies de fenômeno?
“Pouco elevados; acreditais que Espíritos superiores perdessem tempo com tais coisas”?
O hipnotizador procura sensitivos para fazer espetáculos públicos, usa-os à sua maneira, mostrando seus poderes, e desaparece como apareceu, deixando seus tutelados com o sistema nervoso abalado, sujeito a novos desequilíbrios. O magnetismo, o hipnotismo, as sugestões, e outras manifestações similares representam força virgem sem inteligência, que obedece cegamente às inteligências que queiram usá-las.
482. Como o estado anormal dos convulsionários e dos nervosos pode estender-se subitamente a toda uma população?
“Efeito simpático. As disposições morais se comunicam mais facilmente  em certos casos; não sois tão alheios aos efeitos magnéticos para não compreender esse fato e a parte que alguns Espíritos devem nele tomar, por simpatia pelos que os provocam.
Para compreender um fato de o estado anormal dos convulsionários estender-se subitamente a toda uma população, necessário se faz que busquemos exemplos como os realizados pelos magnetizadores e magnetizados. Em um espetáculo onde os artistas são magnetizadores e magnetizados, a plateia, em se afinando com os dois personagens, sente a sua influência. O efeito das sugestões se processa todos os dias sob a nossa vista. Basta prestar atenção no correr dos fatos: aquele que tem simpatia por nós, por exemplo, estabelece uma corrente de influências entre os dois corações, e a verdade é que ninguém influencia sem ser influenciado.
Comentário de Kardec: 
Entre as faculdades estranhas que se notam nos convulsionários reconhecemos facilmente algumas de que o sonambulismo e o magnetismo oferecem numerosos exemplos: tais são, entre outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento a transmissão simpática de dores etc. Não se pode duvidar que esses indivíduos em crise estejam numa espécie de estado sonambúlico desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são, ao mesmo tempo, magnetizadores e  magnetizados, sem o saber.
483. Qual a causa da insensibilidade física que se verifica, seja entre certos convulsionários, seja entre outros indivíduos submetidos às torturas mais atrozes?
“Entre alguns, é um efeito exclusivamente magnético, que age sobre  sistema nervoso da mesma maneira que certas substâncias. Entre outros a exaltação do pensamento embota a sensibilidade, pelo que a vida parece haver-se retirado do corpo e se transportado ao Espírito. Não sabeis que quando o Espírito está fortemente preocupado com uma coisa, o corpo não sente, não ouve e não vê?”
A causa da insensibilidade física mais profunda, observada em certos convulsionários, é a fé. Ela isola perfeitamente toda a dor, todo o constrangimento, todo o estado deprimente que nos faz consumir as oportunidades de vida na carne. A fé abre caminhos para as grandes esperanças na pátria espiritual. A fé, verdadeiramente, é mãe da esperança e filha da caridade. Existem muitos meios pelos quais poderemos isolar a dor, tirando completamente a atenção do lugar enfermo.
Comentário de Kardec:  
A exaltação fanática e o entusiasmo oferecem muitas vezes, nos casos de suplício o exemplo de uma calma e de um sangue frio que não poderiam triunfar de uma dor aguda, se não se admitisse que a sensibilidade foi neutralizada por uma espécie de efeito anestésico. Sabe-se que, no calor do combate, frequentemente não se percebe um ferimento grave, enquanto nas circunstâncias ordinárias uma arranhadura provoca  tremores.
       Desde que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, podemos perguntar como, em alguns casos, a autoridade os pode fazer cessar. A razão é simples. A ação dos Espíritos é secundária; eles nada mais fazem do que aproveitar uma disposição natural. A autoridade não pode suprimir essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava; de ativa, ela o torna latente e com razão para agir assim, porque o fato resultava em abuso e escândalo. Sabe-se, aliás,  que essa intervenção é impotente,  quando a ação dos  Espíritos é direta e espontânea.

LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos encerrar o estudo do tópico Possessos, abordando as Questões de 476 a 480.
476. Não pode acontecer que a fascinação exercida por um mau Espírito seja tal que a pessoa subjugada não a perceba? Então, uma terceira pessoa pode fazer cessar a sujeição e, nesse caso, que condição deve ela preencher?
“Se for um homem de bem, sua vontade pode ajudar, apelando para o  concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais se é um homem de bem,  mais poder se tem sobre os Espíritos imperfeitos, para os afastar, e sobre os bons, para os atrair. Não obstante, essa terceira pessoa seria importante se aquele que está subjugado não se prestasse a isso, pois há pessoas que se comprazem numa dependência que satisfaz, os seus gostos e os seus desejos. Em todos os casos, aquele que não tem o coração puro não pode ter nenhuma influência; os bons Espíritos o desprezam e os maus não o temem”.
É muito importante nós prestarmos atenção a algumas coisas que derivam desta resposta. Aquele que está subjugado, aquele que está sob influência muito intensa de alguma entidade que domina a sua vontade, este indivíduo terá que, primeiro lugar, querer. Nunca ocorrerá um problema dessa natureza se não houver um desequilíbrio de relacionamento prévio entre esses dois Espíritos. O homem de bem aqui referido é aquele que já se encontra moralizado, pelo domínio do Evangelho de Jesus. Essa criatura tem força sobre os Espíritos ignorantes e basta a sua presença para eles se afastarem. O ambiente puro os constrange, impacienta, e eles o abandonam, quando este se encontra carregado de fluidos elevados. Quando alguém vai conversar com um Espírito que esteja influenciando alguma pessoa, e esse alguém não reúne condições morais para tal empreendimento, ele não a respeita, e passam a discutir e até mesmo a trocar impropérios. A força moral é tudo no aprendizado, bem como para afastar as más entidades que perturbam o ambiente familiar e as pessoas.
477. As fórmulas de exorcismo têm qualquer eficácia contra os maus  Espíritos?
“Não; quando esses Espíritos veem alguém toma-las a sério, riem e se obstinam”.
O exorcismo é uma fórmula usada pelo catolicismo de afastar Espíritos maus das pessoas que se encontram sofrendo sua influência. Em poucos casos esse método dá certo. Não são as palavras que mostram força, nem gestos pré-estudados que fazem desligar os Espíritos malfeitores dos que eles acompanham. Muitos dos Espíritos ligados às pessoas riem das ilusões dos homens que se dedicam ao exorcismo, e continuam nas suas brincadeiras de mau gosto, perturbando lares e desorientando pessoas. No entanto, existem padres que praticam o exorcismo e os perturbados são aliviados, pelo afastamento dos Espíritos inferiores. Isto se dá quando o sacerdote tem conduta reta. É a força da moral que vale, e não o jogo de palavras vazias que o vento leva. Temos que entender que não existe perfeição moral somente entre os espíritas.
478. Há pessoas animadas de boas intenções e nem por isso menos obsedadas; qual o melhor meio de se livrarem dos Espíritos obsessores?
“Cansar-lhes a paciência, não dar nenhuma atenção às suas sugestões, mostrar-lhes que perdem tempo; então, quando eles veem que nada têm a fazer, se retiram”.
Existem pessoas que têm bons sentimentos, estudiosos do espiritualismo, que só exercitam o verbo para falar coisas construtivas e, no entanto, são sempre obsediadas por entidades malfeitoras. Isto acontece por causa do seu passado. As suas raízes ainda se encontram ligadas às trevas profundas, e a cobrança vem na direção do devedor. Todavia, para essas pessoas é mais fácil o afastamento desses Espíritos, pois podem cansá-los, fazendo o contrário das suas sugestões. Os Espíritos acompanham os encarnados mais do que se pensa.
479. A prece é um meio eficaz para curar a obsessão?
“A prece é um poderoso socorro para todos os casos, mas sabei que não é suficiente murmurar algumas palavras para obter o que se deseja. Deus assiste aos que agem, e não aos que se limitam a pedir. Cumpre, portanto, que o obsedado faça, de seu lado, o que for necessário para destruir em si mesmo a causa que atrai os maus Espíritos”.
Aqui, nós observamos aquilo que está dito desde a questão 476. Quem se obsedia, acima de tudo, é o próprio obsediado. Ele tem que tomar ciência de que aquela influência negativa de algum Espírito resulta de um compromisso espiritual gerado em outra encarnação por seu próprio comportamento. Leviano, perverso, ou de alguma maneira descaridoso para quem quer que seja. Nós temos que ter piedade tanto do obsidiado quanto do obsessor. O obsessor está cobrando alguma coisa que lhe foi negada ou que lhe foi feita em época pregressa. Ele está querendo fazer justiça com as próprias mãos. A prece é a força poderosa, não somente para desfazer as insinuações dos maus Espíritos, mas para todas as dificuldades da vida. Ela nos dá mais coragem e resistência nas lutas de cada dia. Convém que as criaturas aprendam a orar, e o façam todos os dias, criando assim um hábito elevado e cristão. Nem Jesus dispensou a oração, e de vez em quando subia ao monte para conversar com Deus. Ele deixou o exemplo e até uma forma de prece que usamos até os dias que correm. Mas, não é com o simples balbuciar que afastamos os Espíritos malfeitores. É preciso que reformemos os sentimentos, que mudemos de ideias e de comportamento, para sairmos da sintonia dos ignorantes.
480. Que se deve pensar da expulsão dos demônios, de que se fala no Evangelho?
“Isso depende de interpretação. Se chamais demônio a um mau Espírito que subjuga um indivíduo, quando a sua influência for destruída, ele será verdadeiramente expulso. Se atribuís uma doença ao demônio, quando a tiverdes curado, direis também que expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, segundo o sentido que se der às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas, quando não se olha senão para a forma e quando se toma a alegoria pela realidade. Compreendei bem isto e procurai retê-lo, que é de aplicação geral”.
Sendo os “demônios” Espíritos, nossos irmãos, por que expulsá-los, sem dar-lhes, em primeiro lugar, o nosso amor? Onde estaria a caridade que tanto aprendemos com Jesus? Os demônios são considerados, notadamente, os Espíritos ignorantes, da lei de amor. Eles precisam conhecer esse amor que os tornará bons, pela natureza da verdadeira bondade. Expulsar para onde? Eles, quando se juntam a determinada pessoa, o fazem por lei de afinidade. Nesse caso, esta pessoa deveria acompanhá-los, para onde deseja que eles vão, se os expulsa. A Doutrina dos Espíritos nos ensina que devemos tratar o doente, seja qual for a enfermidade, pelas causas que a geraram, e não pelos seus efeitos. Se a causa da obsessão é a enfermidade moral da criatura, para expulsá-los basta curar primeiro a criatura, trabalhar nas mudanças dos pensamentos e das ações que têm o poder de gerar ambiente de atração de Espíritos do mesmo sentimento. Convém entender esta lei, para ficarmos livres daquilo que não desejamos.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Possessos, abordando as Questões de 473 a 475.
473. Pode um Espírito, momentaneamente, revestir-se do invólucro de uma pessoa viva, quer dizer, introduzir-se num corpo animado e agir em substituição ao Espírito que nele se encontra encarnado?
“Um Espírito não entra num corpo como entra numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir conjuntamente; mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria de que está revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha encarnado, porque o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o termo da existência material”.
Ponto fundamental a considerar é o final da resposta dos Espíritos. Lembremo-nos: nós nos ligamos ao corpo a partir do momento da concepção. A Ciência médica já prova isto, através da não entrada de outro espermatozoide dentro de um óvulo após a concepção. Somente no ato da concepção uma estrutura orgânica pode abrigar mais de um Espírito, se assim estiver programado, ou seja, gêmeos, trigêmeos, etc. Cada um de nós é dono de seu veículo físico, e ele não será invadido. A possessão se dá quando os Espíritos malfazejos se identificam com outros, sejam encarnados ou desencarnados, na altura de suas vivências, criando uma verdadeira calamidade no nosso mundo interno. Por isso, embora seja muito válido “doutrinar” certas entidades pela palavra e pelos exemplos, somente nos livraremos de certas companhias espirituais, consideradas por nós indesejadas, se mudarmos o nosso modo de pensar e de viver.
474. Se não há possessão propriamente dita, quer dizer, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, a alma pode encontrar-se na dependência de um outro Espírito, de maneira a se ver por ele subjugada ou obsedada a ponto de ser sua vontade, de alguma forma, paralisada?
“Sim, e são esses os verdadeiros possessos; mas ficai sabendo que essa denominação não se efetua jamais sem a participação daquele que sofre, seja por sua fraqueza, seja pelo seu desejo. Frequentemente se têm tomado por possessos criaturas epiléticas ou loucas, que mais necessitam de médico do que de exorcismo”.
A palavra possesso é apenas força de expressão, de sorte a entendermos uma profunda simbiose de dois Espíritos que se afinizam. Os dois têm muito em comum, igualdade de sentimentos nos seus roteiros percorridos e a percorrer. Existem as sessões de desobsessão nas casas espíritas, muito válidas; no entanto, é preciso que se entenda que o primeiro a ser educado é o encarnado. Ele haverá de promover para seu bem-estar, mudanças nos seus sentimentos mais profundos. Existem os pensamentos secretos que alimentamos e que temos prazer de sentir, e são eles que criam uma linha de comunicação com os Espíritos das trevas, a nos induzirem para a possessão.
Comentário de Kardec: A palavra possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza má, e a coabitação de um desses seres com a alma, no corpo de um indivíduo. Mas, como não há demônios nesse sentido, e como dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, também não há possessos, segundo a ideia ligada a essa palavra. Pela expressão possesso não se deve entender senão a dependência absoluta da alma em relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.
475. Pode uma pessoa por si mesma afastar os maus Espíritos e se libertar do seu domínio?
“Sempre se pode sacudir um jugo, quando se tem uma vontade firme”.
Para libertar-se da dominação de Espíritos inferiores é indispensável cortar a sintonia que temos com eles. Já dissemos muitas vezes que a obsessão, e mesmo a possessão, é processo de afinidade espiritual do obsidiado com o obsessor. O poder da vontade é válido, mas não é somente pela vontade que se pode ficar livre dos Espíritos perseguidores; a razão nos fala que devemos nos livrar desse tipo de companhia mudando o modo de pensar e, certamente, de viver. Os corvos sobrevoam onde o cheiro os atrai; as moscas procuram ambiente que lhes convém; e assim, os homens buscam sempre o ambiente da sua natureza íntima e atraímos Espíritos da nossa mesma faixa de entendimento. E, é aí que, nós que estamos estudando a Doutrina Espírita, temos a nossa responsabilidade; temos que ter vontade firme, para termos benevolência, boa vontade, compreensão, tolerância, disposição de auxílio e, acima de tudo, sensatez, para dirigirmos o auxílio de acordo com a possibilidade e a necessidade de cada um.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos encerrar o estudo do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, abordando as Questões de 469 a 472.
469. Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que suscitem em vós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós todas as más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles vos atacam na vossa fraqueza. Eis porque Jesus vos faz dizer na oração dominical: “Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”.
O modo pelo qual podemos neutralizar a influência dos Espíritos ignorantes é, certamente, fazendo o bem. O bem é força poderosa contra o mal, é o antídoto da influência do mal. O Espírito, em certa fase na sua vida, fica propenso às más radiações, por encontrar dentro de si paixões inferiores acesas, e como o semelhante atrai os semelhantes, Espíritos equivocados dele se aproximam.
470. Os Espíritos que procuram induzir-nos ao mal, e que, assim, põem à prova a nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer, e, se é uma missão que eles cumprem, terão responsabilidade nisso?
“Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade, e consequentemente terá de sofrer as consequências. Deus pode deixá-lo fazer para vos provar, mas jamais o ordena e cabe a vós repeli-lo”.
O mal não procede de Deus. Os Espíritos que induzem o homem para as paixões inferiores o fazem por conta própria, pela liberdade que desfrutam. Os agentes do mal não são missionários. Missionários, somente o são os benfeitores espirituais, que em cada passo se empenham em fazer o bem, amando a todas as criaturas.
471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorre de uma disposição física?
“E quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivestes com os Espíritos, ou das relações que tivestes com eles durante o sono”.
Quando, de repente, sentimos uma satisfação por viver, quando assoma em nós um prazer por tudo, que não sabemos de onde parte, isso é uma inspiração dos benfeitores espirituais, a nos induzir para a vida, nos ajudando, desta forma, a vencer os percalços dos caminhos. Essas lembranças, agradáveis e desagradáveis, são efeito das comunicações nossas com os Espíritos, e se entramos na faixa do mal, temos mais comunicações com Espíritos ignorantes; se nos melhoramos intimamente, a lei nos traz Espíritos elevados para se comunicarem conosco, e daí provêm sentimentos de valor moral a nos garantir a paz e a fraternidade.
  472. Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias em que nos encontramos ou podem criar essas circunstâncias?
“Eles aproveitam a circunstância, mas frequentemente a provocam, empurrando-vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se dele, enquanto outros lhes sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em todas as outras tentações”.
Os Espíritos que cercam os homens, que são inúmeros, sempre os influenciam, em constante troca de ideias, mais do que se pensa. Os de má índole aproveitam as oportunidades de invigilância e de falta de oração, para influenciarem do mesmo modo como pensam e agem, e quando não acham momento oportuno, eles criam situações para que o homem possa cair nas armadilhas dos seus desequilíbrios. Ou seja, aquela imagem que aparece na revista em quadrinhos em que o sujeito é retratado assim: de um lado da cabeça tem um diabinho, do outro tem um anjinho. O diabinho estimulando-o a fazer o mal e o anjinho estimulando-o a fazer o bem, ilustra bem essa situação.
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Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, abordando as Questões de 466 a 468.
466.  Por que permite Deus que os espíritos nos incitem ao mal?
“Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal para chegar ao bem. Nossa missão é a de colocar-te no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer; eles não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal. Se és inclinado ao assassínio, pois bem, terás uma nuvem de espíritos que entreterão esse pensamento em ti; mas também terás outros que tratarão de influenciar-te para o bem, o que faz que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti”.
Os Espíritos Superiores estão falando para a Humanidade. Mas, aqui, a resposta parece dirigida em primeiro lugar para o próprio Codificador. Será que Kardec poderia falhar? Não se trata disso. É que os Espíritos estavam falando para um Espírito encarnado. Eles nos chamam à responsabilidade sobre o uso indevido do nosso livre-arbítrio, que nos faz atrair, para junto de nós, aquelas Entidades mais levianas. Por isso, Deus permite que os Espíritos ignorantes influenciem os encarnados para provar sua constância no bem.
Comentário de Kardec:
É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devemos seguir e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
Aqui, Kardec reforça a ideia de que a escolha é nossa. Por isso, não podemos fugir à responsabilidade que nos cabe.
467. Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao mal?
“Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos”.        
O homem pode defender-se das sugestões dos Espíritos de má índole, quando não mais sintonizar com o mal; por isso deve buscar no Evangelho a luz do caminho, para que o coração possa fortalecê-lo em todos os rumos da inteligência e do amor. Entretanto, não há condições de, na sua carreira de despertamento, não passar pelas sugestões dos Espíritos ignorantes nem eximir-se de se tomar um deles, porquanto isso é processo de evolução de todas as criaturas de Deus.          
468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas?
“Que queres que eles façam? Quando nada têm afazer, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato”.
Os Espíritos inferiores, quando acham resistência no campo humano em que atacam, certamente que recuam, no entanto, o indivíduo não pode relaxar a vigilância, porque eles ficam na tocaia, esperando oportunidades para de novo investir com todas as suas forças, mormente quando se trata de Espíritos inimigos.
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Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, abordando as Questões de 462 a 465-b.
462. Os homens de inteligência e de gênio tiram sempre suas ideias de si mesmos?
“Algumas vezes as ideias surgem de seu próprio Espírito, mas frequentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar”
As ideias que nos são sugeridas partem de duas fontes: elas podem ser de dentro de nós e de fora. Quando se esgota o manancial das deduções, a alma apela para outras fontes, mesmo sem compreender de onde vem o socorro para as suas necessidades. Todo sábio, em todas as ordens do saber humano, tem seus momentos de meditações, por onde canaliza para o seu ser as respostas das suas variadas perguntas mentais, no silêncio das suas ideias.
Comentário de Kardec: Se fosse útil que pudéssemos distinguir os nossos próprios pensamentos  daqueles que nos são sugeridos. Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite.  Quando uma coisa permanece vaga, é assim que deve ser para o nosso bem.
463. Diz-se algumas vezes que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
“Pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações”.
Lógico, se um indivíduo é de índole ruim, ele vai estar sempre dominado pelo egoísmo e pelo desconhecimento das Leis Divinas e, consequentemente, vai se alinhar com pensamentos predatórios. Nem sempre os primeiros impulsos são os certos. Todos os pensamentos que surgirem em nossa mente carecem de análise, de modo a saber de onde eles vêm e quais são as suas induções espirituais. Se o primeiro impulso mental for de amor e de caridade, de paz e de honestidade, certamente que devemos alimentá-lo, todavia, se ele for voltado para o mal, em várias insinuações de tal diretiva, convém expulsá-lo do convívio da mente, enquanto é tempo, para que não faça parte da nossa vida. Estamos no meio de ondas mentais diversas, mas atraímos o que somos. Se existem em nós motivos para escândalos, pensamentos afins aproximar-se-ão dos nossos intervalos mentais, a nos inspirar sobre o que existe convivendo conosco.
464 Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
“Estudai a coisa: os bons Espíritos não aconselham senão o bem; cabe a vós distinguir”.
Devemos analisar o que nos é sugerido, para que possamos saber de onde partem os pensamentos que chegam à nossa casa mental. É fácil distinguir os pensamentos bons dos maus, bastando um pouco de razão, para que possamos entender. No entanto, se estamos acostumados às coisas vãs, percebemos que os pensamentos são inferiores, mas a ligação deles com os nossos escapa à vigilância, de modo que eles nos dominam os sentimentos. O condicionamento é um fato; se nos acostumamos a fazer o bem, a disciplinar a nossa mente, os pensamentos inferiores não acham guarida no nosso campo mental. Eles sempre investirão contra nosso caráter, porém, não achando sintonia, se desfazem e procuram outra moradia onde se instalam, por terem encontrado seus iguais.
465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
“Para vos fazer sofrer com eles”.
Os Espíritos inferiores nos induzem ao mal por ignorância. Se eles conhecessem a verdade, iriam ajudar cada vez mais aos seres encarnados. Percebendo a lei da justiça, buscariam cumpri-la pelos canais do amor. Se é semeando que colhemos o que plantamos, certamente que o Espírito consciente desta verdade não iria semear coisas inferiores.
465-a. Isso lhes diminui o sofrimento?
“Não, mas eles o fazem por inveja dos seres mais felizes”.
Estando esses Espíritos sofrendo, desejam que todos sofram como eles, por não saberem que Deus é amor, é justiça, é bondade. O tempo vai lhes mostrar os caminhos da perfeição, a esperança da vida feliz. A dor é processo para despertá-los, é caminho de todas as almas.
465-b. Que espécie de sofrimentos querem fazer-nos provar?
“Os que decorrem de pertencer a uma ordem inferior e estar distante de Deus”.
Os Espíritos inferiores sugerem maus pensamentos por inveja, que, igualmente, é uma doença gerada pela ignorância. Eles não suportam que haja seres felizes em seus caminhos, e procuram destruir a paz dos outros. Muitos dos Espíritos infelizes sentem que se encontram afastados de Deus, e não encontrando equações para esse problema, sugerem aos outros os mesmos caminhos que percorrem, a fim de encontrar mais companhias para as suas lamentações.
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Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, abordando as Questões de 459 a 461.
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
“Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem”.
Os Espíritos têm grande influência na vida dos encarnados. Eles os influenciam bem mais do que se pensa. Estamos constantemente sob a influência dos Espíritos desencarnados, e se bem analisarmos, notaremos que estamos também sob grande influência dos nossos companheiros encarnados, em todos os lados em que nos movimentamos. Quando crianças, há a influência dos pais, dos parentes; quando crescidos, a influência dos companheiros e dos mestres; quando trabalhadores, a influência dos superiores e, sobretudo, a influência das leis do país em que vivemos. Nunca poderemos nos desligar totalmente das influências que nos ajudam a caminhar. Estamos sempre sob alguma influência.
460. Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem, nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem”.
Podemos dizer que existem duas fontes de pensamentos, que surgem nas mentes dos encarnados e desencarnados. Uma aparece nos horizontes das nossas mentes, outros, nos são sugeridos por Espíritos com os quais nos afinizamos. Muitas pessoas acham que temos pensamentos contínuos, mas se enganam. Há intervalos entre um pensamento e outro, distâncias essas onde podem aparecer pensamentos que nos são enviados, se misturando com os nossos. Os pensamentos têm, em geral, intervalos, que se apresentam muitas vezes extensos, na capacidade do Espírito encarnado ou desencarnado de pensar. É nesses intervalos que notamos a inconsciência da alma, que não sabe o que se passa e o que Espíritos malfeitores agem como inimigos, principalmente quando encontram afinidade de sentimentos.
461. Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos?
“Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso. De resto, não há grande interesse para vós nessa distinção e é frequentemente útil não o saberdes: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade; se tomar o mau caminho, sua responsabilidade será maior”.
Para distinguir os pensamentos que vêm de fora dos nossos, é necessário que tenhamos um pouco de discernimento. Quem não conhece suas próprias ideias, como saberá identificar as ideias dos outros? É um processo mais sutil, mais sofisticado e, lógico, vai depender fundamentalmente da nossa própria razão mental.
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Capítulo IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo do tópico Penetração dos Espíritos em nossos pensamentos, abordando as Questões de 456 a 458.
456. Os Espíritos veem tudo o que fazemos?
“Podem vê-lo, pois estais incessantemente rodeados por eles. Mas cada um só vê aquelas coisas a que dirige a sua atenção, porque eles não se ocupam das que não lhes interessam”.
Os Espíritos podem ver o que os encarnados fazem, se derem atenção aos fatos. Há Espíritos indiferentes às ações dos homens, que procuram sempre o que lhes satisfaça, no entanto, existem aqueles que se assemelham aos próprios homens e que gostam de assistir aos malfeitos dos semelhantes e propagá-los. Assim são os Espíritos deste mesmo naipe: observam os encarnados e tomam o tempo necessário para anotações dos malfeitos dos que eles cercam, alimentando seus interesses inferiores de maledicência.
457. Os Espíritos podem conhecer os nossos pensamentos mais secretos?
“Conhecem, muitas vezes, aquilo que desejaríeis ocultar a vós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles”.
A telepatia é fato comum entre os Espíritos, de modo que as vibrações mentais têm voz na dimensão que lhes é própria. Os Espíritos elevados podem observar nossos mais secretos pensamentos, no entanto, existem Espíritos que não conseguem conhecê-los, por se encontrarem nas baixas vibrações espirituais. Tudo se prende à evolução de cada um: os Espíritos conseguem manter seus pensamentos ocultos aos seus inferiores mas não podem fazê-lo com relação àqueles que lhe são superiores.
457-a. Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta?                       
“Certamente, pois, quando vos julgais bem escondidos, tendes muitas vezes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos veem”.
A vida é uma sucessão de valores na pauta da sabedoria, indo até Deus. Nada é oculto que Deus não venha a saber, por ser Ele o Senhor de todas as ciências do universo. Quando a criatura se julga muito só, pensando o que não deveria pensar, pode ter em seu redor multidão de Espíritos ouvindo- a como se falasse pelos processos do verbo. Nossos pensamentos nos mostram o que somos na realidade, porque, quando estamos pensando, escrevemos no livro de Deus, que fica aberto para os que sabem ler.
458. Que pensam de nós os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam?
“Isso depende. Os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que vos fazem, e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as vossas trapalhadas e tratam de vos ajudar”.
Os Espíritos levianos, quando cercam os encarnados, observando seus pensamentos, quando inferiores, riem e fazem histórias. O deboche é o ambiente natural deles, sempre comparando o que os homens falam, com o que fazem e pensam, principalmente quando aqueles estão a dar conselhos aos outros. Quando estamos a sós, onde quer que seja, não pensemos que verdadeiramente nos encontramos sem testemunhas. Os Espíritos estão nos cercando, principalmente os inferiores, que não têm o que fazer, ao passo que os Espíritos sérios ocupam-se sempre com coisas sérias, e suas tarefas são cumpridas nas horas que o Senhor lhes deu para realizar.
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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos fazer o estudo de uma dissertação chamada Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista, abordando a Questão 455.
455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e independem de qualquer causa exterior conhecida. Mas, em certas pessoas dotadas de organização especial, podem ser provocados artificialmente, pela ação do agente magnético.
Aqui, nós podemos citar um caso ocorrido muito antes de Kardec começar o trabalho da codificação, e que foi relatado. O francês Armand Marie Jacques de Chastenet, Marques de Puységur (1751-1825), um dos adeptos das descobertas do médico alemão Mesmer, era um homem abastado e filantropo. Certa ocasião, Puységur foi procurado para socorrer um jovem pastor, de 18 anos, chamado Victor Race. Ele estava enfermo, sofria de dores nas costas, respirava com dificuldade e necessitava de ser tratado. O marquês aplicou-lhe passes magnéticos, como era de praxe. Qual não foi a surpresa de Puységur quando, em lugar das reações costumeiras, espasmos, convulsões, etc., o paciente mergulhou tranquilamente em sono profundo! Puységur tentou despertar o pastorzinho, sacudindo-o. Foi inútil! O jovem continuou a dormir profundamente. O marquês ordena-lhe, então, que se levante. Surpresa maior, o rapaz ergue-se dormindo e, de olhos fechados, perambula pelo quarto como se estivesse acordado e de olhos abertos. Comportava-se como um sonâmbulo comum que, à noite, se afasta da cama e, dormindo, caminha por qualquer lugar, beiral, telhado, terraços de difícil acesso, etc., tendo os olhos fechados. Puységur descobriu acidentalmente o hipnotismo em 1784, ao provocar, sem o saber, o sono hipnótico num camponês, quando tentava curá-lo por magnetismo.
 O estado designado pelo nome de sonambulismo magnético só difere do sonambulismo natural pelo fato de ser provocado, enquanto o outro é espontâneo.
O sonambulismo natural é um fato notório, que ninguém pensa pôr em dúvida, a despeito dos admiráveis fenômenos que apresenta. Que haveria, pois, de mais extraordinário ou de mais irracional no sonambulismo magnético, por ser produzido artificialmente, como tantas outras coisas? Dizem que os charlatães o têm explorado; razão a mais para que não seja deixado nas suas mãos. Quando a Ciência se houver apropriado dele, bem menos crédito terá o charlatanismo entre as massas. Enquanto isto não acontece, como o sonambulismo natural ou artificial é um fato, e como contra fatos não há raciocínio possível, ele vai se firmando, a despeito da má vontade de alguns, e isso no seio da própria Ciência, onde penetra por uma infinidade de portinhas, em vez de entrar pela porta larga. Quando ali estiver plenamente firmado, terão que lhe conceder direito de cidadania.
Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto. Ora, um dos fenômenos que a caracterizam é o da clarividência independente dos órgãos ordinários da vista. Fundam-se os que contestam este fato em que o sonâmbulo nem sempre vê, e à vontade do experimentador, como com os olhos. Será de admirar que difiram os efeitos, quando diferentes são os meios? Será racional que se pretenda obter os mesmos efeitos, quando há e quando não há o instrumento? A alma tem suas propriedades, como os olhos têm as suas. Cumpre julgá-las em si mesmas e não por analogia.
De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo magnético e a do sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros senão os assinados à própria alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se, qualquer que seja a longitude.
No caso de visão a distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente quando aquela se entrega a um trabalho ativo.
A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita e não tem sede determinada. Eis por que os sonâmbulos não lhe podem marcar órgão especial. Veem porque veem, sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para eles, na condição de Espíritos, a vista carece de foco próprio. Se se reportam ao corpo, esse foco lhes parece estar nos centros onde maior é a atividade vital, principalmente no cérebro, na região do epigastro, ou no órgão que considerem o ponto de ligação mais forte entre o Espírito e o corpo.
O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo quando completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e faculdades conforme ao grau de perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos os tem quando ligado à matéria, a cuja influência está sujeito. É o que motiva não ser universal, nem infalível, a clarividência sonambúlica. E tanto menos se pode contar com a sua infalibilidade, quanto mais desviada seja do fim visado pela Natureza e transformada em objeto de curiosidade e de experimentação.
No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados, ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. O sonâmbulo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha. É o que o torna eminentemente impressionável e sujeito às influências da atmosfera moral que o envolva. Essa também a razão por que uma assistência muito numerosa e a presença de curiosos mais ou menos malevolentes lhe prejudicam de modo essencial o desenvolvimento das faculdades que, por assim dizer, se contraem, só se desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou simpático. A presença de pessoas mal-intencionadas ou antipáticas lhe produz efeito idêntico ao do contato da mão na sensitiva.
O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio Espírito e o seu corpo, os quais constituem, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência corpórea e espiritual, existências que, entretanto, se confundem, mediante os laços que as unem. Nem sempre o sonâmbulo se apercebe de tal situação e essa dualidade faz que muitas vezes fale de si, como se falasse de outra pessoa. É que ora é o ser corpóreo que fala ao ser espiritual, ora é este que fala àquele.
Em cada uma de suas existências corporais, o Espírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos. Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.
Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural, quer magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma e nos faz assistir ao sublime espetáculo da sua emancipação. Abre-nos dessa maneira, o livro do nosso destino. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa a distância, é evidente que vê, mas não com os olhos do corpo. Vê-se a si mesmo e se sente transportado ao lugar onde vê o que descreve. Lá se acha, pois, alguma coisa dele e, não podendo essa alguma coisa ser o seu corpo, necessariamente é sua alma, ou Espírito. Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível, em busca das causas da nossa existência moral, Deus cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e patentes meios de estudarmos a psicologia experimental.
O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável. No sonho e no sonambulismo, o Espírito anda em giro pelos mundos terrestres. No êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem que, todavia, lhe seja lícito ultrapassar certos limites, porque, se os transpusesse, totalmente se partiriam os laços que o prendem ao corpo. Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade.
No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão. Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial. Inteiramente entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida apenas como paragem momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias grosseiras e as misérias deste mundo quais incidentes fúteis de uma viagem, cujo termo tem a dita de avistar.
Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos perfeita podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e compreender as coisas, conforme seja mais ou menos elevado. Muitas vezes, porém, há neles mais excitação do que verdadeira lucidez, ou, melhor, muitas vezes a exaltação lhes prejudica a lucidez. Daí o serem, frequentemente, suas revelações um misto de verdades e erros, de coisas grandiosas e coisas absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza, quando o indivíduo não sabe reprimi-la, Espíritos inferiores costumam aproveitar-se para dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus olhos, aparências que mais o aferram às ideias que nutre no estado de vigília. Há nisso um escolho, mas nem todos são assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança da razão.
A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista ou dupla vista, que é a faculdade graças à qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos humanos. Percebe o que exista até onde estende a alma a sua ação. Vê, por assim dizer, através da vista ordinária, e como por uma espécie de miragem.
No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, mau grado à oclusão dos olhos.
Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho. O poder da vista dupla varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de golpe de vista moral. Um pouco desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais desenvolvida mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.
O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da Natureza. Tal a razão por que hão existido em todos os tempos. A História mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais.
Resumindo os fatos espirituais que provam a existência do Espírito imortal, podemos dizer que todos os fenômenos que partem da alma, são dons espirituais que nos fazem pensar e nos levam à fé que pode suportar a razão esclarecida.
O sonambulismo natural nos mostra a verdade, ou parte da verdade, com certa estabilidade e com grande promessa para o desenvolvimento das outras faculdades espirituais. Já o sonambulismo magnético, ou sonambulismo provocado, certamente que afrouxa os laços que prendem a alma ao corpo, sendo que não tem a mesma facilidade que o natural de revelar as belezas imortais do mundo da verdade, O natural está mais próximo do êxtase, que penetra os ambientes de luz, levando-nos perto dos altiplanos da espiritualidade superior. Em todos os casos, o sonambulismo provocado, se bem intencionado, é válido, desde quando seja dirigido por homens de boa fé e de pleno conhecimento da causa daquilo que se propõem a realizar.
Conclamamos a todos os praticantes de transe magnético que não se esqueçam de estudar mais profundamente os livros que esclarecem, juntamente com o Evangelho de Jesus, para que o bom senso direcione a razão. Que procurem igualmente o serviço da caridade em todos os seus aspectos, para que tenham um bom comportamento nas suas lides com as forças desconhecidas da natureza.
Para o Espiritismo e a própria ciência esclarecida, o magnetismo não é um fenômeno sem expressão; ele se encontra garantido por leis, que podem ser por demais úteis às criaturas que sofrem e choram sob o peso das suas culpas. Jesus usava todos os dias a Sua força magnética para cura dos enfermos e para a paz das criaturas de Deus, assim como o faziam todos os Seus discípulos.
A Doutrina dos Espíritos nos mostra o quanto poderemos ser úteis aos irmãos que sofrem, pelo poder do magnetismo, desde quando o amor esteja presente nos nossos sentimentos. Resumindo os fatos, a força magnética é um dom natural, de que podemos nos servir, buscando-a nos depósitos da natureza, pelos canais do amor, e usando-a nas conversações na expressão das ideias e mesmo com a presença. A mente é o instrumento que pode arrebanhar grande quantidade de magnetismo no próprio ar e distribuí-lo para onde desejar.
A segunda vista e o sonambulismo podem dar muitas notícias do mundo mais grosseiro que envolve a Terra, no entanto, o êxtase nos traz notícias de planos mais elevados, de modo que o próprio extático sente atração por esses planos e pode querer ficar por lá, pelo que vê e sente de felicidade. Enfim, esses dons nos mostram a independência da alma, e que a vida continua em todas as direções da vida imortal.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos encerrar o estudo do tópico Dupla vista, abordando as Questões de 450 a 454-a.
450. A dupla vista é suscetível de se desenvolver pelo exercício?
“Sim, o trabalho sempre conduz ao progresso, e o véu que encobre as coisas se torna transparente”.
Tudo no mundo é condicionamento da vontade da alma. Tudo obedece à boa vontade, que não deixa de ser exercício para uma determinação. Vamos observar que a questão da dupla vista, sendo um fenômeno derivado da emancipação da alma, é uma capacidade que é mais anímica do que mediúnica.
450–a. Esta faculdade se liga à organização física?
“Por certo, a organização desempenha o seu papel; há organizações que se mostram refratárias”.
O exercício é valioso em todas as circunstâncias, entrementes, necessário se faz que saibamos exercitar e, muito mais, usar aquilo que é objeto do exercício. Em tempos idos, havia escolas para desenvolvimento dos dons espirituais, para previsão de fatos, para as pitonisas e outros. É interessante observar o seguinte; na época de Kardec, o mais comum eram as leitoras de “buena dicha”. A leitura de mão, prática habitual da comunidade cigana, nada mais é do que a utilização da dupla vista. O que a cigana vê não está na mão da pessoa, pura e simplesmente, assim como o processo para a leitura das cartas do tarô, a leitura dos búzios. Todas essas práticas, na verdade, são ferramentas de concentração mental para a emancipação da alma. É o estímulo à dupla vista.
451. Por que é que a dupla vista parece hereditária em cenas famílias?
“Similitude de organizações, que se transmite, como as outras qualidades físicas; e depois, desenvolvimento da faculdade por uma espécie de educação, que também se transmite de um para outro”.
Em algumas famílias parece que a segunda vista é hereditária e, de certa forma o é, porque o corpo herda do corpo. Tendo a mediunidade bases físicas, algum traço do complexo fisiológico acresce um pouco na visão espiritual; no entanto, não fica somente na herança física, porque é o Espírito que vê.
452. E verdade que certas circunstâncias desenvolvem a dupla vista?
“A doença, a proximidade de um perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo se encontra às vezes num estado particular que permite  ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos do corpo”.
Certas circunstâncias desenvolvem a segunda vista, como a enfermidade e as emoções que venham a afetar a alma. No entanto, desenvolvem não somente a segunda vista, mas desenvolvem também todas as faculdades mais afloradas, destacando-se aquela que se encontra mais fácil de se evidenciar.
  Comentário de Kardec: Os tempos de crise e de calamidades, as grandes emoções todas as causas enfim, de superexcitação moral provocam às vezes o desenvolvimento da dupla vista. Parece que a Providência nos dá, em presença do perigo, o meio de conjugar.  Todas as seitas e todos os partidos perseguidos oferecem numerosos exemplos a respeito.
453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência disso?
“Nem sempre; para elas. é coisa inteiramente natural, e muitas dessas pessoas acreditam que se todos se observassem nesse sentido,  perceberiam ser como elas”.
A dupla vista não é privilégio somente do espiritualista, nem do considerado médium espírita. É um dom que se manifesta nas pessoas que têm essa faculdade aflorada e que, por vezes, ignoram que a possuem, achando natural essa manifestação da sua sensibilidade. Podemos citar como exemplo a comunidade cigana. A prática da leitura da mão vem desde a infância. Para eles é algo muito natural.
454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de dupla vista a perspicácia de certas pessoas que, sem nada terem de extraordinário, julgam as coisas com mais precisão do que as outras?
“É sempre a alma que irradia mais livremente e julga melhor do que sob o véu da matéria”.
Os dons espirituais poder-se-iam desenvolver pela força da vontade, porque a vontade não deixa de ser faculdade do Espírito em exercício para crescer e melhorar. Por exercício, em todos os campos de ação, elas são forças que crescem; todavia, há muitas pessoas que nascem com a mediunidade aflorada. A visão espiritual não encontra dificuldades e está mais apta à revelação das verdades do Espírito. Quantas vezes encontramos pessoas que têm uma bagagem de experiências e, exatamente por terem essa bagagem têm uma visão muito além, enxergam mais do que nós.                         
454–a. Esta faculdade pode, em certos casos, dar a  presciência das coisas?
“-Sim; ela dá também os pressentimentos, porque há muitos graus desta  faculdade e o mesmo indivíduo  pode ter todos os graus ou não ter mais do que alguns”.
Certamente que a inteligência do homem busca coisas extraordinárias no plano em que habita. Ela pode fazer desabrochar alguns dons espirituais, no entanto, esses dons não podem ser manipulados por ela. Cada um se encontra em um extremo, com feições diferentes no seu exercício: um divino e outro humano. É bom que se pense nisso.
Se se tem a dupla vista, nascida sob a influência da inteligência, que a use sem a intervenção desta, porque a razão, nesses casos, pode pôr a perder a própria faculdade, por não saber defini-la com precisão.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico Dupla vista, abordando as Questões de 447 a 449.
447.  O fenômeno designado pelo nome de dupla vista tem relação com o sonho e o sonambulismo?
Kardec usou as duas expressões: “Segunda vista” e “dupla vista”, com evidente preferência pelo primeiro. Em português, sendo mais comum “dupla vista”, demos preferência a esta. (N. do T.)
“Tudo isso não é mais do que uma mesma coisa. Isso a que chamas dupla vista é ainda o Espírito em maior liberdade, embora o corpo não esteja adormecido. A dupla vista é a vista da alma”
A dupla vista tem relação profunda com o sonambulismo, os sonhos e o êxtase, assim como se afina com todas as outras faculdades espirituais. A vista ampliada não é nada mais que um pouco de liberdade do Espírito. Quanto mais evoluído, mais sabe ele entrar em liberdade espiritual, como sendo uma das faculdades afloradas. A dupla vista não é um tipo de vidência, não. É uma determinada capacidade própria do indivíduo de captar pela emancipação da alma uma série de percepções.
448. A dupla vista é permanente?
“A faculdade, sim; o seu exercício, não. Nos mundos menos materiais que o vosso, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação apenas pelo pensamento, sem excluir, entretanto, a linguagem articulada; também a dupla vista é para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos vossos sonâmbulos lúcidos, e essa é também a razão por que eles se manifestam a vós mais facilmente do que os encarnados de corpos mais grosseiros”.
A segunda vista não é permanente, sendo-o somente a faculdade, que é um dom inerente à alma; mas, o estado de ver obedece ao exercício. No assunto que ventilamos, podemos sentir o seguinte exemplo: um escritor tem a faculdade permanente, mas a escrita não; ela surge somente quando a exercita, quando quer escrever. Assim é a dupla vista nos seres encarnados ou fora da carne. Pode-se dizer que é a vontade de ver; quando passa a vontade, cessa a visão. Todavia, em mundos mais adiantados que a Terra, a visão é permanente, porque a alma se encontra mais espiritualizada. Os laços que a prendem ao fardo que lhe servem ficam mais frouxos, e não encontram no corpo certos embaraços que tolhem a visão da alma. Então, podemos concluir, um dia nós também teremos essa capacidade.
449. A dupla vista se desenvolve espontaneamente ou pela vontade de quem a possui?
“Na maioria das vezes, ela é espontânea, mas a vontade também, muitas vezes, desempenha um grande papel. Assim, podes tomar, por exemplo, certas pessoas chamadas leitoras da sorte, algumas das quais possuem esta faculdade de dupla vista e nisso a que chamas visão”
A dupla vista aparece, nas pessoas que têm o dom, espontaneamente; ela desperta ou adormece, em uma frequência bastante acentuada, pelo fato de o dom não estar em pleno desenvolvimento espiritual. Ela obedece, certamente, à vontade, força poderosa que pode mover todas as faculdades espirituais, assim como os próprios destinos dos homens. É bom que se diga que a espontaneidade no afloramento dos dons vem da consciência, pois, ela é programada para nos atender nos momentos em que dela necessitamos para tais desempenhos. Diversas pessoas são capazes de possuir esse fenômeno da dupla vista, através de diversos mecanismos, ou seja, objetos que fazem com que o indivíduo tenha recursos para focar o pensamento e auxiliar o desmembramento da alma com relação ao corpo. Exemplo: um copo com água com uma pedra dentro dele.
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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico êxtase, abordando as Questões de 439 a 446.
439. Qual a diferença entre o êxtase e o sonambulismo?
“O êxtase é um sonambulismo mais apurado; a alma do extático é mais independente”.
O êxtase é verdadeiramente um sonambulismo mais profundo. O Espírito, nesse transe, é mais independente, por isso pode ver com mais segurança e ouvir com mais perfeição as coisas. O Espírito do extático, com tal exercício, assume de certa forma perfeito controle das suas faculdades, e passa a viver os dois mundos, sentindo os dois ambientes na sua normalidade que nos cabe estudar.
440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores?
“Sim, ele os vê e compreende a felicidade dos que os habitam; é por isso que desejaria permanecer neles. Mas ha mundos inacessíveis aos Espíritos que não estão bastante depurados”.
O Espírito do extático vê mundos adiantados e sente a vontade de neles habitar, e seu desejo é tão grande que ele poderia desencarnar, se não fosse a assistência dos benfeitores espirituais que o atendem, pelos compromissos assumidos desde o início da sua reencarnação na Terra. Todavia, mesmo que tivesse permissão para ir para um mundo de alta elevação moral, ele não o poderia, dado a sua evolução não suportar essa moradia.
441. Quando o extático exprime o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente e não o retém o instinto de conservação?
“Isso depende do grau de depuração do Espírito; se ele vê a sua posição futura melhor que a vida presente, faz esforços para romper os laços que o prendem à Terra”.
O extático pode manifestar o desejo de desencarnar, no momento do transe, porque, às vezes, contempla mundos felizes. Se ele passa na Terra por certas provas, respirando o ambiente de duras consequências, pode deixar-se levar pelo desejo de romper os laços que o prendem ao corpo físico, porém, os que o cercam não deixam e usam de seus recursos para fazê-lo voltar ao domínio da matéria. Se ele está encarnado, tem uma tarefa a desempenhar, e partindo os laços antes do tempo, seria um suicida e comparado como tal.
442. Se abandonarmos o extático a si mesmo, sua alma poderá abandonar definitivamente o corpo?
“Sim, ele pode morrer e por isso é necessário chamá-lo, por meio de  tudo o que pode prendê-lo a este mundo e sobretudo fazendo-lhe entrever que, se quebrasse a cadeia que o retém aqui, seria esse o verdadeiro meio de não ficar lá, onde vê que seria feliz”.
O Espírito em transe extático poderia, desejando fortemente, abandonar definitivamente o corpo, porém, se for evoluído, ele não pensará dessa forma, por conhecer as leis naturais formuladas por Deus para a harmonia da criação.
O Espírito elevado comunga com a paz universal e conhece todas as leis.
443. Há coisas que o extático pretende ver e que não são evidentemente o produto de uma imaginação excitada pelas crenças e preconceitos terrenos.  tudo o que ele vê não é então real?
“O que ele vê é real para ele; mas, como o seu Espírito está sempre sob a influência das ideias terrenas, ele pode ver à sua maneira ou, melhor dito, exprimir numa linguagem de acordo com os seus preconceitos e com as ideias em que foi criado, ou com as vossas, afim de melhor se fazer compreender. E sobretudo nesse sentido que ele pode errar”.
Tratando dessa faculdade extraordinária que é o êxtase, podemos dizer que nem tudo o que o extático vê é real; no entanto, quase tudo se mostra dentro da realidade que ocupa a sua mente, mais ou menos ligada à Terra. Entretanto, essas diferenças ou falhas se assim podemos chamá-las, existem em todas as funções mediúnicas, de todos os médiuns sem exceção. Todas as modalidades de paranormalidade sensorial pertencem a uma escala de elevação, de pureza medianímica. O único médium sem mácula que pisou na Terra foi Jesus.
444. Qual o grau de confiança que se pode depositar nas revelações dos extáticos?
“O extático pode enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando ele quer penetrar aquilo que deve permanecer um mistério para o homem porque então se abandona às suas próprias ideias ou se torna joguete de Espíritos enganadores que se aproveitam do seu entusiasmo para o fascinar”
Não devemos simplesmente confiar nas revelações que nos trazem os extáticos, mas, fazer uma correção naquilo que ouvimos em caráter de revelação. Se tudo na Terra está sujeito ao erro, a razão nos diz para observarmos com critério o que vem ao nosso encontro. A nossa própria consciência tem a capacidade de discernimento bastante para selecionar o que podemos guardar do que ouvimos ou lemos. O extático pode enganar-se, porque ele fica mais livre no transe, e a sua vontade prevalece em muitos aspectos. Por vezes, ele quer revelar coisas que devem ficar em segredo e, assim, será escondida a verdade. Nesse ínterim, os Espíritos malfazejos entram no espaço criado pela vaidade e fazem revelações espetaculares, por não se importarem com as consequências que advirão dos seus erros.
445. Que consequências se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não seriam uma espécie de iniciação à vida futura?
“Ou, melhor dito, é a vida passada e a vida futura que o homem                    entrevê. Que ele estude esses fenômenos e neles. encontrará a solução de mais de um mistério que a sua razão procura inutilmente penetrar”.
Ante os fenômenos de sonambulismo e de êxtase, podemos devassar muitos segredos da natureza espiritual, compatíveis com os nossos desejos mais profundos. Em estado de êxtase e sonambulismo, regredimos a memória e descobrimos as vidas passadas, e em muitas delas podemos rever os nossos feitos na sua origem. Essas faculdades quebram o véu que nos encobre recuadas eras. Na questão anterior, falamos das coisas que devem ficar encobertas, e que nós, pela ignorância, batalhamos para pôr á vista, e de outras que vêm à tona naturalmente, como sendo bênçãos de Deus para as nossas meditações.
446. Os fenômenos do sonambulismo e do êxtase poderiam acomodar-se ao materialismo?
“Aquele que os estuda de boa-fé e sem prevenções não pode ser materialista nem ateu”.
Se estudar os fenômenos com honestidade e boa fé, nunca a criatura será materialista nem ateia, porque esses fenômenos trazem a certeza de outra vida além do véu da carne. A filosofia espírita nos promete e apresenta novos campos de análise, com maior segurança das coisas espirituais. Em tudo o que fizermos não nos esqueçamos da honestidade, anunciando o que realmente sentimos e descobrimos nas pesquisas.

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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos finalizar o estudo do tópico Sonambulismo, abordando as Questões de 431 a 438.
431. Qual é a fonte das ideias inatas do sonâmbulo, e como pode ele falar com exatidão de coisas que ignora no estado de vigília, e que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?
“Acontece que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis, somente que eles estão adormecidos, porque o seu invólucro é bastante imperfeito para que ele possa recordá-los. Mas, em última análise, o que é ele? Como nós, um Espírito, que está encarnado para cumprir a sua missão, e o estado em que ele entra o desperta dessa letargia. Nós já te dissemos repetidamente que revivemos muitas vezes; e essa mudança é que lhe faz perder materialmente o que conseguiu aprender na existência precedente. Entrando no estado a que chamas crise, ele se lembra, mas sempre de maneira incompleta; ele sabe, mus não poderia dizer de onde lhe vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade”.
De início, temos que lembrar de uma coisa. Somos Espíritos, temos experiências de outras existências, que hoje ignoramos, por não serem úteis no momento. Agora, no estado sonambúlico, por emancipação da alma, pode vir à tona uma série de informações de outras vidas, porque isso faz parte do acervo espiritual do indivíduo. Podemos observar, como nos primórdios da Doutrina dos Espíritos, quando, por vezes, sonâmbulos sem instrução que os qualificassem, diziam coisas maravilhosas. Ou a fonte é a consciência profunda, ou são os instrutores espirituais que lhes sopram aos ouvidos sensíveis pelo transe sonambúlico. Eis aí a origem das ideias por eles ventiladas.
Comentário de Kardec: A experiência mostra que os sonâmbulos recebem também comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que eles devem dizer e suprem a sua insuficiência. Isto se vê, sobretudo, nas prescrições médicas: o Espírito do sonâmbulo vê o mal, o outro lhe indica o remédio. Esta dupla ação é algumas vezes patente e se revela outras vezes pelas suas expressões bastante frequentes: dizem-me que diga; ou proíbem-me dizer tal coisa. Neste último caso, é sempre perigoso insistir em obter a revelação recusada, porque então se dá lugar aos Espíritos levianos que falam de tudo sem escrúpulos e sem se interessarem pela verdade.
432. Como explicar a visão a distância, em alguns sonâmbulos?                    
“A alma não se transporta durante o sono? O mesmo se verifica no sonambulismo”.
O sonâmbulo tem dois tipos de visão: uma à distância e outra onde o Espírito deixa o corpo, como no sono, e se transporta a diversos lugares. A visão do médium sonambúlico se dilata como se ele estivesse usando um telescópio de grande alcance. Quanto mais evoluído o Espírito, mais sua capacidade de visão se dilata, chegando a observar até a vida em outros mundos. No entanto, para alcançar outros mundos em Espírito, já é mais difícil, pois isso depende muito de evolução espiritual, que quase não se encontra na Terra. O mais comum é mesmo a visão à distância.
433. O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica   depende da organização física ou da natureza do Espírito encarnado?
“De uma e de outra; há disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou menos facilmente da matéria”.
O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica depende, de certo modo, da organização fisiológica, que prende ou afrouxa os laços da alma, com menos ou mais intensidade. No entanto, tudo se rende na profundidade da evolução da alma e na faculdade menos ou mais desenvolvida, como promessa no mundo espiritual, ao reencarnar-se. Há pessoas altamente conscientes da verdade, que o tempo amadureceu e que vivem em certa pureza mental, sendo a própria clarividência normal em sua vida.
434. As faculdades de que o sonâmbulo desfruta são as mesmas do Espírito após a morte?
“Até certo ponto, pois é necessário terem conta a influência da matéria, a que ele ainda se encontra ligado”.
Podemos fazer uma ilustração do caso, imaginando um balão de gás preso a uma estaca. O Espírito é o balão, a estaca é o corpo. O cordão que prende o balão à estaca é o cordão fluídico, o que demonstra que o Espírito é um ser encarnado. O sonâmbulo, no seu transe, pode ver os Espíritos porque a sua visão se dilata, de modo que observa as coisas mais profundamente. Mas, como ainda se encontra ligado à matéria por laços fluídicos, pode pensar que os Espíritos são encarnados. Sendo a forma a mesma, confunde-se, no entanto, tendo ele o conhecimento que o espírita já domina com facilidade, sabe discernir com normalidade.
435. O sonâmbulo pode ver os outros Espíritos?
“A maioria os vê muito bem; isso depende do grau e da natureza da lucidez de cada um; mas, às vezes, ele não compreende, de início, e os toma por seres corporais. Isso acontece, sobretudo, com os que não têm nenhum conhecimento do Espiritismo; eles ainda não compreendem a natureza dos Espíritos, o fato os espanta e é por isso que julgam estar vendo pessoas vivas”.
O sonâmbulo, no seu transe, pode ver os Espíritos porque a sua visão se dilata, de modo que observa as coisas mais profundamente. Mas, como ainda se encontra ligado à matéria por laços fluídicos, pode pensar que os Espíritos são encarnados. Sendo a forma a mesma, confunde-se, no entanto, tendo ele o conhecimento que o espírita já domina com facilidade, sabe discernir com normalidade. Um médium em exercício, um medianeiro adestrado nos serviços espirituais de costume, tem no intercâmbio um fato comum de todos os dias. O sonambulismo obedece, qual todos os dons, a uma escala de elevação. Cada qual tem a sua capacidade de sentir e de ver. Como na psicografia, há médiuns que escutam pelos canais da audição e escrevem; outros ouvem dentro do cérebro e escrevem; alguns veem escrito e copiam; este, sente por vibrações e registra; aquele, conserva-se consciente e suas mãos são tomadas pelos escritores espirituais.
Comentário de Kardec: O mesmo efeito se produz no momento da morte, entre os que ainda se julgam vivos. Nada ao seu redor lhes parece modificado, os Espíritos lhes aparecem como tendo corpos semelhantes aos nossos, e eles tomam a aparência de seus próprios corpos como corpos reais.
436. O sonâmbulo que vê a distância, vê do lugar em que está o seu corpo ou daquele em que está a sua alma?
“Por que esta pergunta, pois se é a alma que vê e não o corpo?”
Quando o sonâmbulo se encontra em transe, o corpo reflete as sensações da alma, do modo que ela se encontra agindo no mundo dos Espíritos. Isso é prova de que ela está ligada ao corpo por fios invisíveis, o chamado cordão fluídico, cordão de prata ou fio vida; são vários os sinônimos.
437. Sendo a alma que se transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações de calor ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo?
“A alma não deixou inteiramente o corpo, permanece sempre ligada a ele pelo laço que os une, e é esse laço o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem entre uma cidade e outra por meio da eletricidade, é este o laço entre os seus pensamentos; é graças a isso que elas se comunicam, como se estivessem uma ao lado da outra”.
Quando o sonâmbulo se encontra em transe, o corpo reflete as sensações da alma, do modo que ela se encontra agindo no mundo dos Espíritos. Isso é prova de que ela está ligada ao corpo por fios invisíveis, o chamado cordão fluídico, cordão de prata ou fio vida; são vários os sinônimos.
Esse cordão de prata serve de canal para as sensações do Espírito, quando esse se acha em viagem, observando o que mais lhe interessa na grande casa de Deus. A sua verdadeira função é manter a vida do corpo quando o Espírito sai por instantes, pelo sono, no sonambulismo, em viagem astral, ou êxtase.
438. O uso que um sonâmbulo faz da sua faculdade influi no estado do seu Espírito após a morte?
“Muito, como o uso bom ou mau de todas as faculdades que Deus concedeu ao homem”.
O uso das faculdades com que Deus dotou o Espírito influi muito na sua vida depois da morte; são as nossas ações que nos abrem ou fecham os caminhos, direcionando a nossa libertação ou prisão. É nesta assertiva que o Espiritismo vem acordar os que dormem e instruir os ignorantes, de modo a saber fazer uso de sua mediunidade em todos os rumos.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico Sonambulismo, abordando as Questões de 425 a 430.
425. O sonambulismo natural tem relação com os sonhos? Como se pode explicá-lo?
“É um estado de independência da alma, mais completo que no sonho e então as faculdades adquirem maior desenvolvimento A alma tem percepções que não atinge no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito”.
No sonambulismo, o Espírito está na posse total de si mesmo; os órgãos materiais, estando de qualquer forma em catalepsia, não recebem mais as impressões exteriores. Esse estado se manifesta sobretudo durante o sono; é o momento em que o Espírito pode deixar provisoriamente o corpo, que se acha entregue ao repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra se entrega a alguma ação que exige o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou qualquer outro objeto material nos fenômenos de manifestação física, ou mesmo da vossa mão, nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar e receitem imperfeitamente as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores, e as comunicam ao Espírito que, também se encontrando em repouso, só percebe sensações confusas e frequentemente fragmentárias, sem nenhuma razão de ser aparente misturadas que estão de vagas recordações, seja desta existência seja de existências anteriores. É, portanto, fácil compreender por que os sonâmbulos não se lembram de nada e por que os sonhos de que conservam a lembrança na maioria das vezes, não têm sentido. Digo na maioria das vezes, porque acontece também serem eles a consequência de uma recordação precisa de  acontecimentos de uma vida anterior e, algumas vezes, até uma espécie de intuição do futuro.
Sonho e sonambulismo têm muita relação; um é mais leve, outro mais profundo, mas, todos os dois são estados sérios que nos levam a pensar. O sonambulismo é um sonho mais profundo e, de certa forma, mais real, onde o Espírito se mostra livre, desarticulando o corpo nos seus impedimentos à visão da alma.
O sonambulismo pode ser natural ou provocado, Os magnetizadores e hipnotizadores podem provocar esse estado no ser humano, de sorte a ser guiado por eles, impondo suas ideias. O Espírito, neste transe, é como um instrumento dócil nas mãos daquele que se lhe impõe. O sonambulismo natural é aquele que evolui do estado de sonho, e onde sempre existe um agente, levando a alma ao sono mais profundo e a ver coisas que antes não percebia.
426. O chamado sonambulismo magnético tem relações com o sonambulismo natural?
“É a mesma coisa, com a diferença de ser provocado”.
O sonambulismo magnético é a mesma coisa que sonambulismo natural. As fontes desse fenômeno é que são diferentes: um é provocado pelos homens, e o outro pelos Espíritos ou, por vezes, é o autossonambulismo. Esse último, bem como o êxtase, é mais raro dentre os seres humanos.
No chamado sonambulismo natural, quando é provocado pelos Espíritos, é usado igualmente o magnetismo, só que os Espíritos consubstanciam o seu com o do ser humano, onde quer que se encontre.
427. Qual é a natureza do agente chamado fluido magnético?
“Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal”.
A escala dos fluidos é inumerável na extensão infinita do universo. Pouco se sabe a respeito dessa ciência divina. Eles são transformações do fluido universal ou, como se pode chamá-lo, éter cósmico, hálito divino, energia KI, e muitos outros nomes dados por variados povos. Entretanto, é a mesma bênção de Deus que se transforma, pelo amor, em substâncias diferentes. Na pauta do trabalho com os homens e mesmo com os Espíritos livres da matéria, esse hálito de Deus se transmuta em magnetismo, sujeito à impressão que os sentimentos possam nele imprimir, para o bem ou para o mal.
428. Qual é a causa da clarividência sonambúlica?
“Já o dissemos: é a alma que vê”.
Na clarividência sonambúlica, é a alma que vê. É um dom que desabrocha na profundidade do Espírito e este percebe à distância com grande facilidade. Para o sonambúlico, não existe barreira que possa impedir sua visão e, por vezes, sua audição, que alcança grandes distâncias. O Espírito é dotado de dons, e no perpassar do tempo, ele vai despertando essas qualidades, de modo a servir-se delas para sentir e compreender a vida em si e em todo o universo. Os Espíritos de alta elevação têm os dons dilatados de modo a buscarem o de que precisam onde quer que seja.
429. Como o sonâmbulo pode ver através dos corpos opacos?
“Não há corpos opacos, senão para os vossos órgãos grosseiros Já dissemos que, para o Espírito, a matéria não oferece obstáculos, pois ele a atravessa livremente. Com frequência ele vos diz que vê pela testa, pelo joelho etc., porque vós, inteiramente imersos na matéria, não compreendeis que ele possa ver sem o auxílio dos órgãos, e ele mesmo, pela vossa insistência, julga necessitar desses órfãos. Mas se o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as partes do corpo ou, para melhor dizer, e fora do corpo que ele vê”.
Sendo o sonâmbulo um Espírito mais livre do impedimento da matéria, ele vê com maior amplidão o que deseja observar. A matéria deixa de ser obstáculo para o Espírito e ele atravessa corpos compactos com a mesma facilidade que viaja onde não existem formas físicas.
430. Pois que a clarividência do sonâmbulo e a da sua alma ou do seu Espírito, por que ele não vê tudo e por que se engana tantas vezes?
“Primeiro, não e dado aos Espíritos imperfeitos tudo ver e tudo conhecer: sabes muito bem que eles ainda participam dos vossos erros e dos vossos prejuízos: e, depois, quando estão ligados a matéria. não gozam de todas as suas faculdades de Espíritos. Deus deu ao homem esta faculdade com um fim útil e sério, e não para que ele aprenda o que não deve saber; eis porque os sonâmbulos não podem dizer tudo”.
Certamente que há alguns sonâmbulos que erram nas suas previsões e visões; nem tudo que falam sucede. Não existem os sábios e os pseudossábios? Em quase tudo existe a verdade e a mentira, dependendo do grau de evolução de quem se encontra mostrando a verdade. Na mediunidade ocorre a mesma coisa; todos são médiuns, isso nos falam as leis naturais; todas as criaturas são possuidoras de todos os dons, mas nem todos estão despertos para o exercício mediúnico. Depende ainda do uso que se faz dos dons ao seu dispor. Para quem não tem responsabilidade, tanto faz mentir como falar a verdade.


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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico Letargia, catalepsia, mortes aparentes, abordando as Questões de 422 a 424.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
422. Os letárgicos e os catalépticos veem e ouvem geralmente o que se passa em torno deles, mas não podem manifestá-lo; é pelos olhos e os ouvidos do corpo que o fazem?
“Não; é pelo Espírito; o Espírito está consciente, mas não pode comunicar-se”.
A criatura em estado de letargia ou catalepsia fica impedida de falar e, por vezes, ver e ouvir pelos canais físicos; no entanto, ela percebe tudo o que se passa, pela sensibilidade espiritual. Isso também ocorre com o Espírito, livre do corpo, que pode ter os mesmos impedimentos em relação ao corpo espiritual ou perispírito.
Convém destacar que na época de Kardec os recursos de diagnóstico deixavam muito a desejar, comparados com os atuais.
422–a. Por que não pode comunicar-se?
“O estado do corpo se opõe a isso. Esse estado particular dos órgãos vos da a prova de que existe no homem alguma coisa além do corpo, pois o corpo não está funcionando e o Espírito continua a agir”.
O Espírito fica impossibilitado de manifestar-se na área humana por impedimento dos órgãos materiais; o mesmo acontece com o perispírito que, mesmo com a tenuidade de seu corpo sutil, impede o Espírito de manifestar-se nesses casos. É uma condição de emancipação da alma muito mais ampla, muito mais profunda.
423. Na letargia, o Espírito pode separar-se inteiramente do corpo de maneira a dar a este todas as aparências da morte, e voltar a ele em seguida?
“Na letargia, o corpo não está morto, pois há funções que continuam a realizar-se; a vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida mas não se extingue. Ora, o Espírito está ligado ao corpo, enquanto ele vive; uma vez rompidos os laços pela morte real e pela desagregação dos órgãos a separação é completa e o Espírito não volta mais. Quando um homem aparentemente morto volta à vida, é que a morte não estava consumada”.
Em estado letárgico, o Espírito se encontra ligado ao seu fardo físico, não obstante, dá aparências de morto, porque a sua força vital volta a um estado latente. Para bem dizer, ela se recolhe, sem certas funções na atividade do complexo fisiológico. A alma somente se prepara para sair do corpo quando os órgãos entram em inatividade; paralisando esses, o Espírito nada tem a fazer, a não ser sair para a sua morada verdadeira, a erraticidade ou mundo espiritual.
424. Pode-se, através de cuidados dispensados a tempo, renovar os laços a se romperem e devolver à vida um ser que, sem esses recursos morreria realmente?
“Sim, sem dúvida, e disso tendes prova todos os dias. O magnetismo é nesses casos, muitas vezes, um meio poderoso, porque dá ao corpo o fluido vital que lhe falta e que era insuficiente para entreter o funcionamento dos órgãos”.
Este assunto é muito interessante. Ele focaliza um tema a que se dá muita esperança, mostrando que o Espírito tem poderes extraordinários, desde quando se empenhe em fazer o bem com consciência dentro do saber e do amor. Em muitos casos, quando o encarnado está prestes a desencarnar e se encontra com mãos generosas, pode-se mudar completamente o quadro dessa situação.
Comentário de Kardec: A letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda inexplicada.  Elas diferem entre si em que, na letargia, a suspensão das forcas vitais é geral dando ao  corpo todas as aparências da morte, e, na catalepsia, é localizada e pode afetar uma parte mais ou menos extensa do corpo, de maneira a deixar a inteligência livre para se manifestar, o que não permite confundi-la com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é às vezes espontânea, mas pode ser provocada e desfeita artificialmente pela ação magnética.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico Transmissão oculta do pensamento, abordando as Questões de 419 a 421.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
419. Qual é a razão por que a mesma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, surge ao mesmo tempo em muitos pontos?
“Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Pois bem, quando o corpo desperta, o Espírito se recorda do que aprendeu e o homem julga ter inventado. Assim, muitos podem encontrar a mesma coisa ao mesmo tempo. Quando dizeis que uma ideia está no ar, fazeis uma figura mais exala do que pensais; cada um contribui, sem o suspeitar, para propagá-la”.
A filosofia espírita nos ensina que ninguém descobre nada; tudo já se encontra descoberto, tudo já está feito por Deus. Somos apenas instrumentos da Divindade. Os chamados Espíritos sábios, ao se desprenderem pelas portas do sono, reúnem-se, por consenso, no ambiente que lhes é próprio, para conversações acerca daquilo que lhes interessa mais. Aí são expostas ideias que lhes parecem mais avantajadas, como as descobertas, e pode ser que nessas conversas surja o que falta para alguns deles, no sentido de descobrirem o que está feito pela eternidade. Ao acordarem, lembram-se da chave que lhes faltava para completar seu ideal, e como foram muitos os que ali estiveram em assembleia, vindos de vários países, as descobertas, se assim podemos chamá-las, surgem simultaneamente em vários lugares do globo, uns mais atrasados e outros com certa dianteira, tudo de acordo com a percepção de cada criatura e determinação do plano espiritual.
Comentário de Kardec: Nosso Espírito revela assim, muitas vezes, a outros Espíritos e à nossa revelia aquilo que constitui o objeto das nossas preocupações de vigília.
420. Os Espíritos podem comunicar-se, se o corpo estiver completamente  acordado?
“O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor; eis porque pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo no estado de vigília, embora o faça mais dificilmente”.
Pode-se dar a comunicação dos Espíritos em estado de vigília, um encarnado comunicando-se com outro, mesmo à distância. O encarnado comunicar-se com o desencarnado também é possível; é comum, e mais facilmente. É a faculdade a que chamamos de mediunidade.
421. Por que duas pessoas, perfeitamente despertas, têm, muitas vezes, instantaneamente, o mesmo pensamento?
“São dois Espíritos simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente os seus pensamentos, mesmo quando não dormem”.
A analogia dos pensamentos faz duas pessoas ou mais, no mesmo instante, pensarem a mesma coisa. Se podemos perceber os pensamentos alheios, os outros podem sentir igualmente os nossos. Eis aí uma grande responsabilidade.
Comentário de Kardec: Há entre os Espíritos que se afinam uma comunicação de pensamentos que faz que duas pessoas se vejam e se compreendam sem a necessidade dos signos exteriores da linguagem. Poderia dizer-se que elas falam a linguagem dos Espíritos. 
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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo do tópico Visitas espíritas, abordando as Questões de 413 a 418.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
413. Do princípio de emancipação da alma durante o sono parece resultar que temos, simultaneamente, duas existências: a do corpo, que nos dá a vida de relação exterior, e a da alma, que nos dá a vida de relação oculta. É isso exato?
“No estado de emancipação, a vida do corpo cede lugar à da alma, mas não existem, propriamente falando, duas existências; são antes duas fases da mesma existência, porque o homem não vive de maneira dupla”.
A resposta dos Espíritos nos chama a atenção para a nossa necessidade de refletir a respeito da nossa espiritualidade, da nossa espiritualização, ou seja, nós trabalharmos dentro de nós o que exista de melhor para nos tornarmos seres melhores a cada dia. Como poderia haver duas vidas em um só corpo? É justo que entendamos as leis de Deus em todas as suas reações, para que possamos nos cientificar da verdade e do amor. O que se pensa que são duas vidas, é porque o Espírito, quando livre em estado de sono, ainda se acha ligado ao corpo por laços fluídicos e é capaz de movê-lo e fazê-lo sentir. Cuidemos do corpo, pois ele é, realmente, um caminho que nos leva para o despertamento espiritual.
414. Duas pessoas que se conhecem podem visitar-se durante o sono?
“Sim, e muitas outras que pensam não se conhecerem se encontram e conversam. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. O fato de visitardes, durante o sono, amigo, parentes, conhecidos, pessoas que vos podem ser úteis, é tão frequente  que o realizais quase todas as noites”.
Em O Livro dos Médiuns, existe um relato sobre uma senhora que estava enferma, e se deparou com um grande amigo, sentado ao lado do leito. Provavelmente, ele estava ali para ajuda-la, durante a enfermidade dela, com seus recursos magnéticos. Durante o sono, o Espírito se encontra mais ou menos livre, e é nesse momento que ele se encontra com quem tem mais simpatia espiritual, razão porque sonha com pessoas da sua amizade. Quando sonha com alguém que julga desconhecer, trata-se de sintonia com personalidade de outras vidas. O Espírito livre da densidade da matéria vai onde quer que lhe seja permitido pelos benfeitores espirituais. Essa liberdade parcial é bênção de Deus para fortalecimento da alma, nas suas provações na carne. No entanto, necessário se faz que o Espírito afira suas forças, se pode ou não aderir a certos encontros, desde que eles não venham a prejudicá-lo na sua nova vida. Porém, outros encontros lhe fazem bem, para o bom andamento das suas atividades no planeta.
415. Qual pode ser a utilidade dessas visitas noturnas, se não as recordamos?
“Ordinariamente, ao despertar, resta uma intuição que é quase sempre a origem de certas ideias que surgem espontaneamente, sem que se possa explicá-las, e não são mais que as ideias hauridas naqueles colóquios”.
A utilidade dos encontros espirituais na liberdade parcial do Espírito, no transe do sono, é imensurável. As lições em Espírito têm uma dinâmica diferente das lições do mundo, mesmo porque são usados meios que se diferenciam muito. Posso citar o caso de uma pessoa conhecida que, precisando desenvolver um trabalho, para fim caritativo, e, não encontrando meio de fazê-lo, foi levado a um local, onde recebeu lições práticas para concluí-lo.
416. O homem pode provocar voluntariamente as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer ao adormecer: “Esta noite quero encontrar-me em espírito com tal pessoa; falar-lhe e dizer-lhe tal coisa?”
“Eis o que se passa: o homem dorme, seu Espírito desperta, e o que o homem havia resolvido o Espírito está, muitas vezes, bem longe de o seguir, porque a vida do homem interessa pouco ao Espírito, quando ele se liberta da matéria. Isto para os homens já bastante elevados, pois os outros passam de maneira inteiramente diversa a sua existência espiritual: entregam-se às paixões ou permanecem em inatividade. Pode acontecer, portanto, que, segundo o motivo que se propôs, o Espírito vá visitar as pessoas que deseja: mas o fato de o haver desejado quando em vigília não é razão para que o faça”.
O Espírito tem uma postura quando no corpo; entretanto, ao tornar-se livre da matéria, dentro da sua parcialidade, ligado apenas pelo cordão fluídico, ele pode pensar de outra forma, desde quando seja alma elevada. Por exemplo: se, quando se movendo no corpo, ele deseja fortemente encontrar-se com alguém no plano do Espírito, ao entrar no transe do sono, mais livre, ele pode não se interessar mais pela ideia preconcebida. Mas, quando é um Espírito envolvido nas paixões inferiores da carne, em estado de sono pode se encontrar com companheiros das mesmas ideias, ou piores ainda.
417. Certo número de Espíritos encarnados pode então se reunir e formar uma assembleia?
“Sem nenhuma dúvida. Os laços de amizade, antigos ou novos, reúnem assim, frequentemente, diversos Espíritos que se sentem felizes de se encontrar”.
Aos Espíritos, por estarem encarnados, nada impede de formarem assembleias no mundo espiritual, no percurso do sono. Isso acontece sempre. São almas afins que se reúnem para trocar ideias. Assim os bons, assim os maus, dentre os quais existem os retardatários, que faltam muitas vezes aos compromissos, e que sempre são chamados aos deveres. Podemos observar que, em muitos casos, como ao lermos um livro de ensinamentos elevados é difícil de ser entendido, conseguimos, com muita facilidade, absorver seu conteúdo. Nesses casos, é porque fizemos, certamente, parte de uma dessas assembleias no mundo espiritual durante o sono, onde estudamos esses conceitos elevados da vida.
Comentário de Kardec: Pela palavra “antigos” é necessário entender os laços de amizade contraídos em existências anteriores. Trazemos ao acordar uma intuição das ideias que haurimos nesses colóquios ocultos, mas ignoramos a fonte.
418. Uma pessoa que julgasse morto um de seus amigos, que na realidade não o estivesse, poderia encontrar-se com ele em espírito e saber, assim, que continuava vivo? Poderia, nesse caso, ter uma intuição ao acordar?
“Como Espírito pode certamente vê-lo e saber como está. Se não lhe foi imposto como prova acreditar na morte do amigo, terá um pressentimento de que ele vive, como poderá ter o de sua morte”.
Tudo pode acontecer na Terra e no plano espiritual. Quando estamos em estado de sono, nesse transe de desprendimento parcial do corpo físico, podem acontecer muitas coisas, e no mundo dos Espíritos, como já dissemos, podemos encontrar amigos como inimigos nossos por vezes também nos procurando. Se tivermos alguma notícia de que um nosso amigo tenha desencarnado, ao encontrá-lo podemos perfeitamente saber dele a verdade, como também verificar as suas condições. O Espírito mais esclarecido saberá se o amigo pertence ao mundo físico ou não. A alma ainda ligada ao vaso físico é reconhecida pelo cordão de prata ainda ligado à base do crânio do perispírito e ao crânio do corpo físico, ao passo que o desencarnado se encontra livre das cadeias da carne.
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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Vamos encerrar o estudo do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões de 406 a 412.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
406. Quando vemos em sonho pessoas vivas, que conhecemos perfeitamente, praticarem atos em que absolutamente não pensam, não é isso  um efeito de pura imaginação?
“Em que absolutamente não pensam? Como o sabes? Seus Espíritos podem vir visitar o teu, como o teu pode visitar os deles, e nem sempre sabes o que pensam. Além disso, frequentemente aplicais, a pessoas que conheceis, e segundo os vossos desejos, aquilo que se passou ou se passa em outras existências”.
Quando estamos em estado de sonho, encontramo-nos livres, mais livres do que se pensa, sem as peias de família e sem os entraves das leis terrenas. Certos atos, no mundo espiritual, não causam efeitos como na Terra. É por isso que se admira ao ver certas pessoas fazendo em sonhos o que não fariam em estado consciente na carne. Ainda mais, não se sabe o que vai pela mente dos amigos e parentes, mesmo mãe e pai, cônjuge e filhos.
407. É necessário o sono completo, para a emancipação do Espírito?
“Não. O Espírito recobra a sua liberdade quando os sentidos se entorpecem; ele aproveita para se emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo, mais o Espírito estará livre”.
Para a emancipação do Espírito basta o afrouxamento do corpo. Em um “relax” completo, a alma fica livre do seu fardo carnal. Para treinar, basta fazer exercícios, buscando estudar todas as experiências de certos espiritualistas em relaxar o corpo físico para dormir. Um “relax” de uns dez minutos é muito bom até para recuperar as forças perdidas nos trabalhos diários, e mesmo espirituais. O relaxamento faz com que os sentidos entrem em torpor, de modo que o Espírito encontra mais facilidade para a sua parcial liberdade pelo sono.
Comentário de Kardec: É assim que o cochilar, ou um simples entorpecimento dos sentidos, apresenta muitas vezes as mesmas imagens do sonho.
408. Parece-nos, às vezes, ouvir cm nosso íntimo palavras pronunciadas distintamente e que não têm nenhuma relação com o que nos preocupa. De onde vêm elas?
“Sim, e até mesmo frases inteiras, sobretudo quando os sentidos começam a se entorpecer. É, às vezes, o fraco eco de um Espírito que deseja comunicar-se contigo”.
Qual a razão de ouvirmos palavras sem que nelas estejamos pensando? Essas palavras, às vezes frases inteiras, que percebemos pelos sentidos espirituais, são, certamente, ditas por Espíritos que querem se comunicar com os encarnados. É esse processo que ocorre na mediunidade. Às vezes, o Espírito fala como se fosse dentro da cabeça ou, muito raro, usando mesmo a audição dos companheiros encarnados. Isso acontece todos os dias com muitas pessoas no lar, no trabalho, nas ruas e frequentemente no lazer.
409. Muitas vezes, num estado que ainda não é o cochilo, quando temos os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras das quais apanhamos os pormenores mais minuciosos. É um efeito de visão ou de imaginação?
“Entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar a sua cadeia: ele se  transporta e vê, e se o sono fosse completo, isso seria um sonho”.
As imagens que se percebem, estando o corpo em estado de torpor, ocorrem pela dilatação visual da alma, quando ela percebe com mais nitidez o mundo espiritual que a rodeia. Quando não há entorpecimento do corpo e evidenciam-se os dons espirituais, é que a criatura é dotada de vidência ou clarividência, ao passo que, no estado de relaxamento, todas as criaturas podem perceber imagens, por entrarem mais diretamente no mundo espiritual. Tudo isso é uma amostra espiritual de que existe a continuação da vida, que todos podem perceber, sendo, assim, um dom generalizado.
410. Têm-se às vezes, durante o sono ou o cochilo, ideias que parecem muito boas e que, apesar dos esforços que se fazem para recordá-las, se apagam da memória. De onde vêm essas ideias?
“São o resultado da liberdade do Espírito, que se emancipa e goza, nesse momento, de mais amplas faculdades. Frequentemente, também, são conselhos dados por outros Espíritos”.
Eventualmente, quando encarnados e parcialmente desprendidos do corpo, pelo sono ou pelo adormecimento, surgem na alma ideias vigorosas, das quais, apesar do esforço que se faz após despertar, não se consegue recordar. São transmissões dos Espíritos livres que nos querem bem, são conselhos. Notemos bem: esquecemos as ideias, mas não esquecemos que elas nos foram ditas. A certeza desse fato é a prova da sua existência, vibrando na nossa consciência.
410-a. De que servem essas ideias ou esses conselhos, se a sua recordação se perde e não se pode aproveitá-los?
“Essas ideias pertencem, algumas vezes, mais ao mundo dos Espíritos que. ao mundo corpóreo, mas o mais frequente é que, se o corpo as esquece, o Espírito as lembra, e a ideia volta no momento necessário, como uma inspiração do momento”.
Quando despertos, esquecemos os conselhos, mas sabemos que eles existem, na consciência. Esses conselhos são mais para a nossa vida em estado de liberdade, e quando eles são úteis no mundo que habitamos, eles vêm através dos fios da intuição, materializando-se como sendo os nossos pensamentos.
411. O Espírito encarnado, nos momentos em que se desprende da matéria e age como Espírito, conhece a época de sua morte?
“Muitas vezes a pressente, e às vezes tem dela uma consciência bastante clara, o que lhe dá, no estado de vigília, a sua intuição. É por isso que algumas  pessoas preveem, às vezes, a própria morte com grande exatidão”.
O Espírito, quando está parcialmente desligado da matéria, mesmo que seja em relaxamento profundo, por vezes tem a intuição do dia da sua desencarnação, quando está preparado para tal revelação. Muitos sabem até o dia certo, e mesmo a hora, do seu desenlace espiritual. Isso acontece em todas as religiões e mesmo filosofias espiritualistas. Quem sente essa verdade, alimenta-a, sem dúvida. Jesus foi um marco dessa prática, quando anunciou tudo o que deveria acontecer com Ele.
412. A atividade do Espírito, durante o repouso ou o sono do corpo, pode fatigar a este?
“Sim, porque o Espírito está ligado ao corpo, como o balão cativo ao poste. Ora, da mesma maneira que as sacudidas do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo, e pode produzir-lhe fadiga”.
O sono é um reparador das energias gastas nas atividades durante o dia e coloca o corpo predisposto a receber forças cósmicas que o Espírito respira no plano da Vida Maior; no entanto, se a alma se encontra atribulada, onde quer que seja, ela transmite para o seu instrumento de carne essa turbulência, de forma que o corpo não descansa. Por vezes, levanta-se pela manhã mais cansado do que quando se deitou.
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Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Iniciando o Capítulo VIII, vamos iniciar também o estudo do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões de 403 a 405.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
403. Por que não nos recordamos sempre dos sonhos?
“Nisso que chamais sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito esta em movimento. No sono, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo”.
A alma, no seu estado mais livre, durante o sono, nem sempre pode trazer tudo o que vê e ouve para a matéria. Quando o Espírito volta ao corpo, ocorre uma espécie de filtragem na lembrança do que ocorreu no mundo espiritual. Esses acontecimentos não são apagados da memória, visto que, pela lei, nada se perde. Entretanto, eles ficam gravados no fundo da consciência, vindo à tona quando necessário, manifestando-se como lições ou testes para o Espírito. Se a pessoa for despertada durante o sonho pode guardar uma certa lembrança, que será mais ou menos exata de acordo com o grau de envolvimento do indivíduo naquela condição do sonho.
404. Que pensar da significação atribuída aos sonhos?
“Os sonhos não são verdadeiros, como entendem os ledores da sorte, pelo que é absurdo admitir que sonhar com uma coisa anuncia outra. Eles são verdadeiros no sentido de apresentarem imagens reais para o Espírito, mas que, frequentemente, não têm relação com o que se passa na vida corpórea. Muitas vezes, ainda, como já dissemos, são uma recordação. Podem ser, enfim, algumas vezes, um pressentimento do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa no momento em outro lugar a que a alma se transporta. Não tendes numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonhos para advertir parentes e amigos do que lhes está acontecendo? O que são essas aparições senão a alma ou o Espírito dessas pessoas que se comunicam com a vossa? Quando adquiris a certeza de que aquilo que vistes realmente aconteceu, não é isso uma prova de que a imaginação nada tem com o fato, sobretudo se o ocorrido absolutamente não estava no vosso pensamento durante a vigília?”
O que se deve pensar sobre os sonhos? Muita coisa tem relação com os sonhos, que nada mais é que o Espírito se libertar um pouco da prisão corpórea e ver, ouvir, e sentir a vida espiritual. As interpretações descabidas, dos sonhos e visões devem ficar no esquecimento, porque somente a verdade ficará de pé. Os sonhos nada mais são, os Espíritos já disseram, que a vivência do Espírito em parcial liberdade, no descanso do fardo físico, ele passeia e aprende na grande escola espiritual; recolhe aqui e ali lições valiosas, de modo que a sua vida vai mudando e seu conceito em relação ao bem e o mal passa a se modificar. Sonhos e visões: existe registro de interpretação de sonho feita por José, filho de Jacó, que interpreta o sonho do Faraó do Egito, ou seja, das vacas magras devorando as vacas gordas, e José orienta para que fosse feita uma reserva de grãos, durante os sete anos de fartura, para se prevenirem nos anos de penúria. É interessante destacar, que os chamados profetas tiveram informações durante o sonho. E, por que, isso? Todos esses indivíduos que trouxeram dados espirituais para o nosso conhecimento, acima de tudo, são criaturas que têm encargos missionários, e essa capacidade mediúnica pode muito fazer  para alavancar o progresso da Humanidade.
405. Frequentemente se veem em sonhos coisas que parecem pressentimentos e que não se cumprem; de onde vêm elas?
“Podem cumprir-se para o Espírito, se não se cumprem para o corpo.  Quer dizer que o Espírito vê aquilo que deseja, porque vai procurá-lo. Não se deve esquecer que, durante o sono, a alma está sempre mais ou menos sob a influencia da matéria e por conseguinte não se afasta jamais completamente  das ideias terrenas. Disso resulta que as preocupações da vigília podem dar, àquilo que se vê, a aparência do que se deseja ou do que se teme. A isso é que realmente se pode chamar um efeito da imaginação. Quando se está fortemente  preocupado com uma ideia, liga-se a ela tudo o que se vê”.
Muitos sonhos evidenciam aquilo que o Espírito viu antes ou pressentiu; os que são interpretados como banais, confirmam, noutra dimensão, a fragilidade do Espírito, e outros não foram bem interpretados à luz do verdadeiro entendimento espiritual. Os sonhos são como os nossos entendimentos quando encarnados. O que se passa durante o dia da alma no corpo, o que vê, o que ouve, o seu trabalho, não são ilusões, por se encontrar frente a frente com as coisas e não precisar de interpretações, ao passo que, na liberdade parcial da alma, pela porta do sono, o que se vê ou ouve pode mudar-se pelo que se encontra com mais nitidez na memória do corpo físico. As más interpretações dos sonhos se encontram ligadas às ideias fortemente alimentadas por nós, no decorrer do dia, quando o pensamento dominante é que se expressa como verdadeiro, sob forte condicionamento. Mas não se pode negar muitos dos sonhos reais que acontecem em muitas situações, principalmente com moribundos, por se encontrarem mais desprendidos da matéria.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VIII – Emancipação da alma.
Iniciando o Capítulo VIII, vamos iniciar também o estudo do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões de 400 a 402.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
400. O Espírito encarnado permanece voluntariamente no envoltório corporal?
“É como perguntar se o prisioneiro está satisfeito sob as chaves. O Espírito encarnado aspira incessantemente à libertação, e quanto mais grosseiro é o envoltório, mais deseja ver-se desembaraçado”.
Ou seja, nós precisamos do sono, exatamente para poder ter essa liberdade. Detalhe importante: o sono, para nós, é um recurso de repouso para nós, espíritos.
401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
“Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito. Então, ele percorre o espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos”.
Na realidade, o que acontece efetivamente nessa situação? O Espírito não fica inativo; ele busca a liberdade parcial, pelo sono, pois é nessas saídas que vamos receber orientações e aconselhamentos, ou, dependendo do nosso diapasão mental, encontrar outros Espíritos que se identifiquem com as nossas falhas e travarmos conversações com eles acerca dos assuntos que nos convém falar e ouvir. Importante: é durante o sono que o corpo descansa e os seus órgãos se recompõem com as energias hauridas pelo Espírito no mundo espiritual.
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos. Sabei que, quando o corpo repousa, o Espírito dispõe de mais faculdades que no estado de vigília. Tem a lembrança do passado e, às vezes, a previsão do futuro; adquire mais poder e pode entrar em comunicação com os outros espíritos, seja deste mundo, seja de outro. Frequentemente dizes: “Tive um sonho bizarro, um sonho horrível, mas que não tem nenhuma verossimilhança”. Enganas-te. E quase sempre uma lembrança de lugares e de coisas que viste ou que verás numa outra existência ou em outra ocasião. O corpo estando adormecido, o Espírito trata de quebrar as suas cadeias para investigar no passado ou no futuro.
Pobres homens, que conheceis tão pouco dos mais ordinários fenômenos da vida! Acreditais ser muito sábios, e as coisas mais vulgares vos embaraçam. A esta pergunta de todas as crianças: “O que é que fazemos quando dormimos; o que são os sonhos?”, ficais sem resposta.
O sono liberta parcialmente a alma do corpo. Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. Os Espíritos que logo se desprendem da matéria, ao morrerem, tiveram sonhos inteligentes. Esses Espíritos, quando dormem, procuram a sociedade dos que lhes são superiores: viajam, conversam e se instruem com eles; trabalham mesmo em obras que encontram concluídas, ao morrer. Destes fatos deveis aprender, uma vez mais, a não ter medo da morte, pois morreis todos os dias, segundo a expressão de um santo.
Isto para os Espíritos elevados; pois a massa dos homens que, com a morte, devem permanecer longas horas nessa perturbação, nessa incerteza de que vos têm falado, vão seja a mundos inferiores à Terra, onde antigas afeições os chamam, seja à procura de prazeres talvez ainda mais baixos do que possuíam aqui; vão beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que professavam entre vós. E o que engendra a simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de nos sentirmos, ao acordar, ligados pelo coração àqueles com quem acabamos de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que explica também as antipatias invencíveis é que sentimos, no fundo do coração, que essas pessoas têm uma consciência diversa da nossa, porque as conhecemos sem jamais as ter visto. E ainda o que explica a indiferença, pois não procuramos fazer novos amigos, quando sabemos ter os que nos amam e nos querem. Numa palavra: o sono influi mais do que pensais, sobre a nossa vida.
Por efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos, e é isso o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem muita repulsa, em encarnar-se entre vós. Deus quis que durante o seu contato com o vício pudessem eles retemperar-se na fonte do bem, para não falirem, eles que vinham instruir os outros. O sono é a porta que Deus  lhes abriu para o contato com os seus amigos do céu; é o recreio após o  trabalho, enquanto esperam o grande livramento, a libertação final que deve restituí-los ao seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança do que o vosso Espírito viu durante o sono; mas   observai que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais daquilo que vistes ou de tudo o que vistes. Isso porque não tendes a vossa alma em todo o seu desenvolvimento; frequentemente não vos resta mais do que a lembrança da perturbação que acompanha a vossa partida e a vossa volta, a que se junta a lembrança do que fizeste ou do que vos preocupa no estado de vigília. Sem isto, como explicaríeis esses sonhos absurdos, a que estão sujeitos tanto os mais sábios quanto os mais simples? Os maus Espíritos também se servem dos sonhos, para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
De resto, vereis dentro em pouco desenvolver-se uma outra espécie de sonhos; uma espécie tão antiga como a que conheceis, mas que ignorais. O  sonho de Joana, o sonho de Jacó, o sonho dos profetas judeus e de alguns indivíduos indianos: esse sonho é a lembrança da alma inteiramente liberta do corpo, a recordação dessa segunda vida de que há pouco eu vos falava.
Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonhos, entre aqueles de que vos lembrardes; sem isso, cairíeis em contradições e em erros que seriam funestos para a vossa fé.
Os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares os mais distantes ou que jamais se viu, e algumas vezes mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que retraça na memória os acontecimentos verificados na existência presente ou nas existências anteriores. A extravagância das imagens referentes ao que se passa ou se passou em mundos desconhecidos entremeadas de coisas do mundo atual formam esses conjuntos bizarros e confusos que parecem não ter senso nem nexo.
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas decorrentes da lembrança incompleta do que nos apareceu no sonho. Tal como um relato ao qual se tivessem truncado frases ou partes de frases ao acaso: os fragmentos restantes sendo reunidos, perderiam toda significação racionai.
Daí nós entendermos que, se tivermos feito bom uso do sono, nós vamos ter um período de atividade muito maior do que aquele que temos durante o período de vigília. Isto significa dizer que, devemos conhecer a nós mesmos. Ora, se detectamos que estamos tendo maus sonhos, é porque não estamos vivendo no nosso inconsciente como devemos. Temos que procurar outras companhias no mundo espiritual e no mundo físico. Refazer nosso discurso; refazer a nossa mente; reestruturar nossos valores. O espírita já consciente dessas verdades encontrará mais facilidade para o seu autoaperfeiçoamento espiritual, ocupando-se somente com a sua educação e fornecendo, aos outros, materiais de meditação para o despertamento das suas faculdades. Por que motivo é aconselhável fazermos uma prece antes de dormir? Exatamente para  disciplinar a nossa mente e estabelecer uma sintonia adequada com o plano espiritual mais elevado.
Em um de seus livros, Martins Peralva narra a trajetória de duas pessoas durante o sonho. Um casal em que a mulher, uma criatura conturbada espiritualmente, e seu esposo, indivíduo que tinha a sua consciência despertada pelo conhecimento evangélico, e vivia na busca de inspiração para ajudar aquele Espírito enfermo, que era sua mulher. Quando os dois vão dormir, ele, desligado do corpo, vai em direção a planos espirituais mais elevados, e encontra com benfeitores espirituais que o ajudam, orientam, estimulam, no sentido da paciência, da tolerância e da boa vontade, para com a sua mulher. A mulher, um Espírito sofredor, bastante problemático, ainda, que acaba entrando em contato durante o sonho com entidades perturbadoras, que estimulam, nela, uma atitude de animosidade para com o marido. Um, vai um lado, na direção da luz. O outro vai em outra direção, da treva.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o Capítulo VII e encerrando também o estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos abordar a Questão 399.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
399. Sendo as vicissitudes da vida corpórea ao mesmo tempo uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior?
“Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar daí uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado”.
As vicissitudes da vida podem nos dar uma idéia do que fomos no passado. Os acontecimentos naturais nos nossos caminhos vêm, por força da lei divina, nos mostrar, pela força da justiça, o que haveremos de reparar. Sendo que o nosso maior interesse não é recordar o passado; é sentir que Deus é amor e justiça, e nunca exigirá que Seus filhos paguem o que não devem na contabilidade divina. Tudo é um processo espiritual, para educação dos nossos sentimentos ou despertamento das nossas qualidades espirituais.
A natureza é sábia e não erra o caminho por onde deve trilhar. Quando ocorre algum acontecimento conosco, basta meditarmos um pouco e logo atingiremos a procedência do fato. A Doutrina dos Espíritos, ser-nos-á de grande valia em todas as atividades espirituais. Ela é conselheira firme em nossos passos, e nos dá forças novas para a devida correção na nossa personalidade. O que se chama de azar na vida, está sendo impulsionado por forças invisíveis capazes de nos levar à felicidade.
Conhece-te a ti mesmo, ou seja, que façamos uma reflexão para que saibamos o que fazer para nos melhorarmos.
Comentário de Kardec:  Chegado ao termo que a Providência marcou para a sua vida errante, o Espírito escolhe por ele mesmo as provas às quais deseja submeter-se, para apressar o seu adiantamento, ou seja, o gênero de existência que acredita mais apropriado a lhe fornecer os meios, e essas provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar. Se nelas triunfa, ele se eleva; se sucumbe, tem de recomeçar.
O Espírito goza sempre do seu livre-arbítrio. É em virtude dessa liberdade que, no estado de Espírito, escolhe as provas da vida corpórea e, no estado de encarnado, delibera o que fará ou não fará, escolhendo entre o bem e o mal. Negar ao homem o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de máquina.
Integrado na vida corpórea, o Espírito perde momentaneamente a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse. Não obstante, tem.,às vezes, uma vaga consciência, e elas podem mesmo lhe ser reveladas em certas circunstâncias. Mas isto não acontece senão pela vontade dos Espíritos superiores, que o fazem espontaneamente, com um fim útil e jamais para satisfazer uma curiosidade vã.
As existências futuras não podem ser reveladas em caso algum, por dependerem da maneira por que se cumpre a existência presente e da escolha ulterior do Espírito.
O esquecimento das faltas cometidas não é obstáculo à melhoria do Espírito porque, se ele não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que delas teve no  estado errante e o desejo que concebeu de as reparar guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Este pensamento é a voz da consciência, secundada pelos Espíritos que o assistem, se ele atende às boas inspirações que estes lhe sugerem.
Se o homem não conhece os próprios atos que cometeu em suas existências anteriores, pode sempre saber qual o gênero de faltas de que se tornou culpado e  qual era o seu caráter dominante. Basta que se estude a si mesmo e poderá julgar o que foi, não pelo que é. mas pelas suas tendências.
As vicissitudes da vida corpórea são, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro. Elas nos depuram e nos elevam, se as sofremos com resignação e sem reclamações.
A natureza das vicissitudes e das provas que sofremos pode também esclarecer-nos sobre o que fomos e o que fizemos, como neste mundo julgamos os atos de um criminoso pelo castigo que a lei lhe inflige. Assim, este será castigado no seu orgulho pela humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e avarento, pela miséria; aquele que foi duro para os outros, pelos tratamentos duros que sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão dos seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado etc. 
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando seguimento ao estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos abordar as Questões de 395 a 398-a.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
395. Podemos ter algumas revelações sobre as nossas existências anteriores?
“Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram; se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam singulares revelações sobre o passado”.
Algumas pessoas ficam sabendo de um pouco do seu passado por revelações espirituais, quando sabem fazer bom uso destas revelações. Pouquíssimos têm alguma lembrança das suas vidas passadas; para tudo existe o mérito que corresponde às necessidades. Saber do passado é responsabilidade da alma frente ao seu porvir. Às vezes, nem os Espíritos de certa evolução têm permissão para lembrar de todo o seu passado. Podemos citar o caso do Codificador da Doutrina Espírita que, em existência anterior, foi o druida Allan Kardec.
396. Algumas pessoas creem ter a vaga lembrança de um passado desconhecido, vislumbrado como imagem fugitiva de um sonho, que em vão se procura deter. Essa ideia não seria uma ilusão?
“Algumas vezes é real; mas quase sempre é também uma ilusão, contra a qual se deve precaver, pois pode ser o efeito de uma imaginação superexcitada”.  
Há muitas criaturas que criam histórias, casos referentes a si mesmas e, quase sempre, dizem que foram grandes personagens da história, e sentem-se bem em viver dentro da sua criação, mesmo sabendo que não é a verdade. Com o tempo, ela deixa de acreditar nela mesma, desconfiando de suas “descobertas”. Isso é muito sério, principalmente para os espiritualistas conhecedores de algumas leis espirituais. Convém a todos os Espíritos silenciar sobre esse assunto de lembranças de vidas passadas. Tomemos como exemplo uma pessoa que tenha o hábito de estudar a História da Idade Média. Ela poderá identificar-se profundamente com a história medieval e, em se tornando um adepto do medievalismo, achar que pode viver como viviam aquelas pessoas dessa época.
397. Nas existências corpóreas de natureza mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais precisa?
“Sim, à medida que o corpo é menos material, recorda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara para aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior”.
Temos em nós todas as portas do passado, e as chaves que abrem essas entradas se encontram nos segredos da evolução espiritual. Elas são capazes de nos mostrar as vidas que tivemos, que denominamos de reencarnações. Nos mundos mais atrasados que a Terra são difíceis as lembranças, por não trazerem lições benfeitoras para as criaturas neles estagiadas, ao passo que, em mundos superiores, essas lembranças são frequentes, impulsionando os Espíritos para saldar seus deslizes do pretérito.
398. As tendências instintivas do homem, sendo uma reminiscência do seu passado, pelo estudo dessas tendências ele poderá conhecer as faltas que cometeu?
“Sem duvida, até certo ponto; mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente”.
Pelas tendências que somos portadores reconheceremos o que fomos no passado, ou seja, se o indivíduo, hoje, é preguiçoso, intolerante, vicioso, com certeza não gostaria de conhecer o que ele foi na encarnação passada,  no entanto, se melhoramos muito nessas tendências, ser-nos-á difícil, por vezes quase impossível, saber corretamente o que somos realmente ou o que fomos.
398–a. Pode ela ser pior? Por outras palavras, pode o homem cometer numa existência faltas não cometidas na precedente?
“Isso depende do seu adiantamento. Se ele não souber resistir às provas, pode ser arrastado a novas faltas, que serão a consequência da posição por ele mesmo escolhida. Mas, em geral, essas faltas denunciam antes um estado estacionário do que retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou se deter, mas não recuar”.
Se em algumas existências erramos pouco, não é porque as tendências não nos inspiram: é devido ao ambiente em que nascemos ou à posição que ocupamos no mundo. Quando voltamos para ocupar posições de maior relevo na sociedade, a nossa vaidade, o orgulho e o egoísmo nos impulsionam para os desastres morais. Isso sempre acontece a quem ainda não se preparou nos caminhos de Jesus, ouvindo as lições do Evangelho.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos abordar a Questão 394.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
394. Nos mundos mais adiantados que o nosso, onde não existem todas as nossas necessidades físicas e as nossas enfermidades, os homens compreendem que são mais felizes do que nós? A felicidade, em geral, é relativa; sentimo-la por comparação com um estado menos feliz. Como, em suma, alguns desses mundos, embora melhores que o nosso, não chegaram ao estado de perfeição, os homens que os habitam devem ter motivos de aborrecimento a seu modo. Entre nós, o rico, ainda que não sofra a angústia das necessidades materiais, como o pobre, não está menos sujeito a tribulações que lhe amarguram a vida. Ora, pergunto se, na sua posição, os habitantes desses mundos não se sentem tão infelizes quanto nós e não lastimam a própria sorte, já que não têm a lembrança de uma existência inferior para comparação?
“A isto e preciso dar duas respostas diferentes. Há mundos, entre aqueles de que falas, em que os habitantes, situados, como dizes, em melhores condições que vós, nem por isso estão menos sujeitos a grandes desgostos, e mesmo a infelicidades. Estes não apreciam a sua felicidade pelo fato mesmo de não se lembrarem de um estado ainda mais infeliz. Se, entretanto não a apreciam como homens, o fazem como Espíritos”.
Certamente que no mundo onde se inicia a perfeição espiritual, onde ninguém faz mais o mal, os Espíritos têm mais capacidade de recordação do passado, de modo a não se perturbarem com tais recordações. As lembranças são de acordo com a elevação da alma, isso é lei de justiça divina, na computação de valores espirituais, na jornada de Espírito imortal. Nos mundos elevadíssimos, não há mais interesse de recordações, as quais ficarão de lado, a não ser quando elas possam ser ponto de lições para outrem. O Espírito puro nada deixa se perder. As recordações que os Espíritos inferiores têm do passado trazem nuvens pesadas (terríveis) no presente, de difícil reparação, e é sob esse ponto de vista que Deus nos abençoa, filtrando as nossas necessidades espirituais de modo que elas cheguem à nossa consciência de acordo com as nossas necessidades espirituais. Ele deixa as recordações mais exatas para mundos mais elevados, de modo que haja mais esforços, sem turvamento da mente, nos campos da limpeza da alma. Se estamos em mundo inferior, já estivemos pior, e é nessa certeza que entra a esperança de que, em breves tempos, passaremos a pertencer a um mundo melhor.

Comentário de Kardec: Não há, no esquecimento dessas existências passadas, sobretudo quando foram penosas, alguma coisa de providenciai, onde se revela a sabedoria divina?
É nos mundos superiores, quando a lembrança das existências infelizes não passa de um sonho mau que elas se apresentam à memória. Nos mundos inferiores as infelicidades presentes não seriam agravadas pela recordação de tudo aquilo que tivesse suportado?
Concluamos, portanto, que tudo quanto Deus fez é bem feito e que não nos cabe criticar as suas obras e dizer como ele deveria ter regulado o Universo.
A lembrança de nossas individualidades anteriores teria gravíssimos inconvenientes. Poderia em certos casos, humilhar-nos extraordinariamente; em  outros, exaltar o nosso orgulho e por isso mesmo entravar o nosso livre-arbítrio Deus, nos deu para nos melhorarmos, justamente o que nos é necessário e suficiente; a voz da consciência e nossas tendências instintivas, tirando-nos aquilo que poderia prejudicar-nos. Acrescentemos ainda que, se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos a dos atos alheios, e esse conhecimento poderia ter os mais desagradáveis  efeitos sobre as relações sociais. Não havendo sempre motivo para nos orgulharmos do nosso passado, é quase sempre uma felicidade que um véu seja lançado sobre ele. Isso concorda perfeitamente com a doutrina dos espíritos sobre os mundos superiores aos nossos. Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; é por isso que neles se recorda com frequência a existência precedente. como nos lembramos do que fizemos na véspera. Quanto á passagem que se possa ter tido por mundos inferiores, a sua lembrança nada mais é, como dissemos, que um sonho mau.
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Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos abordar as Questões 392 e 393.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
392. Por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado?
“O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo”.
O Espírito não perde as lembranças do passado. O fenômeno que ocorre no transe da reencarnação é apenas um esquecimento temporário, e não perde para sempre. Pode se processar a lembrança, caso necessário, mas na suavidade que convém à força divina. O esquecimento das vidas passadas é uma benção de Deus, para manter a alma preocupada com a sua vida presente. Ou seja, se o Espírito se lembrasse de tudo que havia passado em outras existências, provavelmente, não teria atingido o progresso espiritual que tem, porque essas lembranças iriam prejudicar o livre-arbítrio desse Espírito reencarnado.
393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas dos quais não se recorda? Como pode aproveitar-se da experiência adquiria em existências que caíram no esquecimento? Seria concebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-se daquilo que as atraiu mas desde que não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira, e é assim que ele está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus?
“A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito se ele se recordasse de todo o passado? Quando o Espírito entra na sua vida de origem (a vida espírita) toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência necessária a reparara que acaba de escoar-se. Procura provas semelhantes àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores para o ajudarem na nova tarefa a empreender, porque sabe que o Espírito que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que ele cometeu. Essa mesma intuição é o pensamento, o desejo criminoso que frequentemente vos assalta e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a vossa resistência, na maioria das vezes, aos princípios que recebestes de vossos pais, enquanto é a voz da consciência que vos fala e essa voz e a recordação do passado, voz que vos adverte para não cairdes nas faltas anteriormente cometidas. Nessa nova existência, se o Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio deles”.
Esta pergunta não é simplesmente só de Kardec. É uma pergunta de toda e qualquer pessoa que não entende ainda o processo da reencarnação, como um processo educativo. Nós temos que vivenciar as nossas experiências de uma maneira tal que não venhamos a causar danos a quem quer que seja. E, lógico, temos que fazê-lo sem nos lembrar do passado. Porque, com certeza, a lembrança do passado nos será prejudicial, afetando principalmente a nossa capacidade no uso do livre-arbítrio. Somos cercados de toda assistência, em tudo que o Senhor achou conveniente nos amparar, no entanto, a nossa parte, essa nós temos de fazê-la. Não temos quando na carne, lembranças exatas do que fomos do passado, mas, no silêncio vibracional, elas estão presentes a nos dizer o que fizemos. Mesmo que não queiramos ouví-las, essas lembranças nos invadem e nos falam de maneira que todos nós entendemos, reconhecendo a verdade. Todos somos responsáveis, pelo que fizemos, e pelo que devemos fazer de agora em diante.
Comentário de Kardec: Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, as quais a nossa consciência, — que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas — adverte que devemos resistir.
O que Kardec está dizendo é uma questão fundamentalmente de livre-arbítrio. Como assim? Se o indivíduo percebe que tem uma tendência colérica, acalmar-se vai depender da sua disciplina mental.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Simpatias e antipatias terrenas, vamos abordar as Questões de 386 a 391.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
386. Dois seres que se conheceram e se amaram podem encontrar se noutra existência corpórea e se reconhecerem?               
“Reconhecerem-se, não; mas serem atraídos um pelo outro sim; e frequentemente as ligações íntimas, fundadas numa afeição sincera, não provêm de outra causa. Dois seres se aproximam um do outro por circunstâncias aparentemente fortuitas, mas que são o resultado da atração de dois Espíritos que se buscam através da multidão”.
A simpatia entre dois seres é força poderosa que se enraíza em vidas passadas. Certamente que nem todos reconhecem seus parceiros de outras existências, no entanto, há criaturas mais dotadas de sensibilidades que percebem amigos e inimigos de épocas recuadas. Se juntos foram felizes, dá-lhes um grande prazer esse reencontro; quando infelizes, gera-se logo antipatia entre os dois. É aquele caso em que ouvimos as pessoas dizerem: “Hum..., meu santo não vai com o dele”.
386-a. Não seria agradável para eles se reconhecerem?
“Nem sempre. A recordação das existências passadas teria inconvenientes maiores do que acreditais. Apôs a morte eles se reconhecerão e saberão em que tempo estiveram juntos”. (Ver item 392 )
A perda de conhecimento às vezes é um amparo para os dois em processo de novas atividades, sem o qual não poderiam crescer, voltando ao ponto anterior, fomentando suas paixões descabidas e, às vezes, perturbando famílias já constituídas. O reconhecimento pleno dos seres que antes viveram juntos entravaria o progresso. Se fosse conveniente, eles voltariam juntos.
387. A simpatia tem sempre por motivo um conhecimento anterior.
“Não. Dois Espíritos que tenham afinidades se procuram naturalmente sem que se hajam conhecido como encarnados”.
A verdadeira fonte da simpatia não é precisamente a recordação de vidas anteriores; ela pode advir de analogia de ideias. São pensamentos compatíveis que se entrelaçam uns aos outros, se vindo de canais para a amizade, no entanto, quando os laços são muito fortes, isso é prova de que vêm de vidas passadas.
Não temos simpatia somente por uma pessoa; ela pode crescer e atingir muitas almas encarnadas e desencarnadas. Os Espíritos que acompanham os desencarnados quase sempre o fazem pela simpatia. A própria obsessão é por sintonia de pensamentos. Quando um dos envolvidos se modifica, o outro não tem mais razão de acompanhá-lo e sente-se desligado por falta de afinidade.
388. Os encontros que se dão algumas vezes entre certas pessoas, e que se atribuem ao acaso, não seriam o efeito de uma espécie de relações simpáticas?
“Há, entre os seres pensantes, ligações que ainda não conheceis O magnetismo é a bússola desta ciência, que mais tarde compreendereis melhor”.
Nos encontros que se dão com as pessoas, e dentre as quais se manifesta uma profunda simpatia, são Espíritos afins que carregam os mesmos ideais, na qualidade de vibrações análogas. A força que move tudo é o magnetismo, força piloto que forma o ambiente para esses encontros saudáveis, que podem ser, também, e quase sempre são, ligações de vidas passadas. Ao encontrarmos alguém por quem nutrimos simpatia, não deixemos que passe a oportunidade, pois não há nada por acaso. Aproveitemos a oportunidade e canalizemos essa amizade na construção da nossa própria vida.
389. De onde vem a repulsa instintiva que se experimenta por certas pessoas, a primeira vista?
“Espíritos antipáticos que se percebem e se reconhecem, sem se falarem”.
A repulsão instintiva de uma pessoa para com a outra é antipatia que vem do passado ou, igualmente, instinto com diferenciação na sua estrutura intrínseca. Cada um de nós gera um tipo de magnetismo, cuja força é boa ou má, dependendo dos sentimentos que imprimimos nessas vibrações.
390. A antipatia instintiva é sempre um sinal de natureza má?
“Dois Espíritos não são necessariamente maus pelo fato de não serem simpáticos. A antipatia pode originar-se de uma falta de similitude do modo de pensar Mas, à medida que eles se elevam, os matizes se apagam e a antipatia desaparece”.   
A antipatia é sinal de inferioridade, e os Espíritos puros não a têm de modo algum, por respeitarem os direitos alheios. Cada qual tem direito de pensar como queira. Não se é necessariamente Espírito mau só por pensar diferente dos outros. Um indivíduo pode ter como antipático a ele um Espírito que tenha sido seu parceiro em outras épocas, e que não caminhou evolutivamente. E, lógico, a sensação de inferioridade diante do outro pode ser extremamente desagradável. No entanto, existem antipatias geradas no ódio. Isso depende muito das almas que alimentam e sentem esse antagonismo.
391. A antipatia entre duas pessoas nasce em primeiro lugar naquele cujo Espírito é pior, ou melhor?
“Numa e noutra, mas as causas e os efeitos são diferentes.  Um Espírito mau sente antipatia por quem quer que o possa julgar e desmascarar; vendo uma pessoa pela primeira vez,  percebe que ela vai desaprová-lo; seu afastamento se transforma então em ódio, inveja e lhe inspira o desejo de fazer o mal. O bom Espírito sente repulsa pelo mau porque sabe que não será compreendido por ele e que ambos não participam dos mesmos sentimentos; mas seguro de sua superioridade, não sente contra o outro nem ódio nem inveja: contenta-se em evitá-lo e lastimá-lo”.
A antipatia entre duas pessoas nasce em qualquer uma delas primeiro, no entanto, provavelmente um é sempre mais esclarecido que o outro, e por força da natureza melhorada, a antipatia deve surgir no que ainda tem uma natureza mais bruta, que alimenta a inferioridade. Existem ainda casos de dívidas do passado entre duas pessoas, onde uma delas já está propensa ao perdão. Essa esquece logo as lembranças e a repulsão quando encontra o antagonista, mas a outra, que desconhece a desculpa, trava uma guerra consigo mesma para odiar mais, ao deparar com o seu antigo inimigo, piorando cada vez mais a sua situação espiritual.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Finalizando o estudo do tópico Da Infância, vamos abordar a Questão 385.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
385. Qual o motivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o Espírito que se modifica?
“É o Espírito que retoma a sua natureza e se mostra tal qual era.  Não conheceis o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais e acariciais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal maneira que o amor de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter por outros seres. De onde vêm essa doce afeição, essa terna complacência que até mesmo os estranhos experimentam por uma criança? Vós sabeis? Não; e é isso que vou explicar.
As crianças são os seres que Deus envia a novas existências e, para que não possam acusá-lo de demasiada severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa criança de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos. Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram antes; não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é sobre elas somente que recai a culpa.
Mas não é somente por ela que Deus lhe dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto, supondo os filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais delicados cuidados. Mas quando as crianças não mais necessitam dessa proteção, dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se eram fundamentalmente boas, mas se irisam sempre de matizes que estavam na primeira infância.
Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil conceber-se a explicação a respeito.
Com efeito, ponderai que o Espírito da criança que nasce entre vós pode vir de um mundo em que tenha adquirido hábitos inteiramente diferentes; como quereríeis que permanecesse no vosso meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuís, inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de haver passado pela preparação da infância ? Nesta vêm confundir-se todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E vós mesmos, ao morrer, estareis numa espécie de infância,  no meio de novos irmãos, e na vossa nova existência não terrena ignorareis os hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para vós, manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais vivaz do que o é atualmente o vosso pensamento. (Ver item 319).
A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder.
É assim que a infância é não somente útil, necessária, indispensável, mas ainda a  consequência natural das leis que  Deus estabeleceu e que regem o Universo”.
A mudança que se opera nas crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de expressar o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica mais consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é. Os pais devem estar preparados para receberem todos os tipos de Espíritos que Deus lhes enviará para a devida educação dos seus impulsos inferiores. O corte das arestas se processa com mais eficiência nos seres em formação. Muitas vezes, se induz a criança a uma erotização precoce. Muitas vezes, também, se reprime na criança um potencial que é patente, porque a família tem outra escala de valores. Nós temos que entender que não são somente os pais que educam a criança; também a criança educa os pais.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando sequência ao estudo do tópico Da Infância, vamos abordar as Questões de 382 a 384.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
382. O Espírito encarnado sofre, durante a infância, com o constrangimento imposto pela imperfeição dos seus órgãos?
“Não; esse estado é uma necessidade; é natural e corresponde aos desígnios da Providência. É um tempo de repouso para o Espírito”.
No decurso da infância o Espírito não sofre, porque não se encontra devidamente ligado ao corpo em estado de crescimento. A lei universal que protege a todos tem as suas gradações de serenidade, facilitando assim o estado em que se encontra a alma em vias, por vezes, de grandes provações.
383. Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?
“Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação”.
Essa resposta poderia ser resumida numa única palavra: educação, ou seja, é a de sensibilizar a alma para receber na sua formação as lições que seus pais possam lhe dar, assim como a própria vida, em decorrência do seu crescimento na sociedade.
384. Por que os primeiros gritos da criança são de choro?
“Para excitar o interesse da mãe e provocar os cuidados necessários. Não compreendes que, se ela só tivesse gritos de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se inquietariam com as suas necessidades? Admirai, pois, em tudo, a sabedoria da Providência”.
A primeira manifestação da criança no mundo, ao nascer é realmente o choro, para dizer aos pais que está junto deles. Os pais, principalmente a mãe, ao ouvirem o primeiro choro do filho, sentem a alegria assomar em seus corações, que nesta hora se encontram em estado de alta sensibilidade. A criança que nasce “colocando a boca no trombone”, ou seja, berrando, é uma criança extremamente saudável, tem um padrão respiratório que é uma beleza. A criança chora, estimulando a mãe, o pai e os que a cercam para ouvi-la.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Da Infância, vamos abordar as Questões de 379 a 385.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
379. O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido  quanto o de um adulto?
“Pode mesmo ser mais, se ele mais progrediu, pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve”.
Entendemos que a infância não é sinônimo de primitivismo. Em tudo temos de esperar; essa é a lei. No caso da criança, esperemos que ela cresça, dando ao Espírito condições de se manifestar mais livremente. Essa liberdade começa aos sete anos, expande-se aos quatorze e consolida-se aos vinte e um. Aí o homem está em condições de responder por ele mesmo, com todos os encantos e desencantos que trouxe consigo. Quanto à evolução da criança, ela pode até ser mais evoluída do que o adulto. Vamos dar um exemplo: Mozart demonstrou uma habilidade musical prodigiosa desde a sua infância. Já era virtuoso nos instrumentos de teclado e no violino. Começou a compor aos cinco anos de idade. Da mesma maneira, Blaise Pascal, demonstrou talento precoce para as ciências físicas a partir dos doze anos de idade. Podemos, também, tomar como exemplo, Hippolyte Léon Denizard Rivail, o nosso Allan Kardec que, aos quatorze anos de idade, na Escola de Pestalozzi, ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos gratuitos.
380. Numa criança de tenra idade, o Espírito, fora do obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, pensa como uma criança ou como um adulto?
“Enquanto criança, é natural que os órfãos da inteligência, não estando desenvolvidos, não possam dar-lhe toda a intuição de um adulto: sua inteligência, com efeito, é bastante limitada, até que a idade lhe amadureça a razão. A perturbação que acompanha a encarnação não cessa de súbito com o nascimento e só se dissipa com o desenvolvimento dos órgãos”.
Esta resposta dada pelos Espíritos antecipa, em muito, determinados conhecimentos que hoje permeiam a moderna Psicologia. Observamos que dá para entender como se definem as fases de desenvolvimento da criança, em termos de atitudes no transcurso da vida, desde o nascimento até o final da primeira infância. E, é, nesse período que os valores são transmitidos e assumem um padrão mais arraigado. O raciocínio nos diz que o Espírito envolvido em um corpo de criança não pode pensar qual o adulto. Os órgãos não oferecem campo de ação para sua manifestação mais livre. As suas faculdades são tolhidas pelos órgãos em desenvolvimento e somente com o tempo eles vão se afirmando, de modo que os canais de comunicações estejam sem impedimentos para as mensagens que o Espírito veio trazer ao mundo. Nossa responsabilidade diante das crianças que cruzam os nossos caminhos é imensa e não podemos desdenhar os compromissos mediante as necessidades dos pequeninos em corpos, que, às vezes, são grandes em Espírito. A criança pode não raciocinar igual aos adultos, não falar qual esses, porem ela tem poderes, de forma a plasmar tudo com mais nitidez que os próprios homens amadurecidos. A criança não é libertada da confusão de uma vez; isso acontece gradativamente, pois a lei nos ensina que a natureza não dá saltos. A sua marcha se move na ponderação, para dar mais segurança aos dons espirituais.
Comentário de Kardec:  Uma observação vem ao apoio desta resposta: é que os sonhos de uma criança não têm o caráter dos sonhos de um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que é um indício da natureza das preocupações do Espírito.
381. Com a morte da criança o Espírito retoma imediatamente o seu vigor primitivo?
“Assim deve ser, pois que está desembaraçado do seu envoltório carnal: entretanto, ele não retoma a sua lucidez primitiva enquanto a separação não estiver completa, ou seja, enquanto não desaparecer toda ligação entre o Espírito e o corpo”.
Vamos raciocinar: existe perturbação espiritual quando do retorno ao plano espiritual? Existe! É um período de adaptação a uma nova realidade. Quando os Espíritos dizem que assim deve ser, entendemos que seja um tanto relativo, pois, a criança depois da morte, em se desligando do corpo físico, readquire o vigor que antes tinha, notadamente quando é um Espírito mais ou menos evoluído; no entanto, a alma em estado de atraso espiritual, onde as paixões inferiores invadem por completo seus sentimentos, tolhendo suas faculdades espirituais, essa, depois do desenlace, volta ao seu estado primitivo que, por vezes, era de inconsciência. Tudo depende da evolução do Espírito.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões de 376 a 378.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
376. Qual a razão por que a loucura leva algumas vezes ao suicídio?
“O Espírito sofre pelo constrangimento a que está submetido e pela impotência para manifestar-se livremente. Por isso busca libertar-se por intermédio da morte”.
Em alguns casos a loucura realmente leva a criatura ao suicídio. Deve se ter em conta os caminhos tomados por ela no passado; se usou suas faculdades para o incentivo à loucura dos outros, certamente que as reações do que fez dos seus dons refletirá em seu caminho e aí vem a vestir novo corpo deficiente, acabando por tirar a sua própria vida física. O Espírito passa a sofrer o constrangimento do modo que constrangeu aos outros, e somente paga o que deve na pauta da vida. É o tribunal da consciência que pede reparos e a alma, na aflição, pensa que, em se matando, estará livre das distorções que fez nos caminhos alheios. É lógico que isso agrava sua situação. Mas, é lógico também que isso não é agravante, a doença é um fator atenuante. A Lei Divina julga de acordo com aquilo que pode educar o Espírito.
377. Após a morte, o Espírito se ressente da perturbação de suas Faculdades?
“Ele pode ressentir-se durante algum tempo, até que esteja completamente desligado da matéria, como o homem que, ao acordar, se ressente por algum tempo da perturbação em que o sono o mergulhara”.
O Espírito alienado, depois da morte física, em muitos casos continua com a impressão dos distúrbios que sofria que quando animando um corpo. É a impressão que lhe causaram as tormentas do seu passado e que o mantém ligado às coisas na Terra. Os nossos pensamentos se prendem onde o coração se acha ligado pelos fios dos sentimentos. A sensibilidade da alma registra o que ela pensa, vê e sente. Quantas perturbações fantasmas nós conservamos! Umas, nós assimilamos no ambiente em que vivemos; outras, nós ouvimos e outras mais, nós vemos. Necessário se faz que procuremos em tudo o equilíbrio, pois existem leis que regem a vida. Quando fugimos delas, caímos nas repartições que nós mesmos criamos. As leis naturais são o próprio Criador presente em nós, a nos advertir sobre como percorremos nossos caminhos. O Espírito alienado é um ser possesso de pensamentos negativos que ele mesmo criou, e se faz vitima dos mesmos até que aprenda a pensar melhor.
378. Como a alteração do cérebro pode reagir sobre o Espírito após a morte?
“É uma lembrança. Um peso oprime o Espírito, e como ele não teve consciência de tudo o que se passou durante a sua loucura, é necessário um  certo tempo para que se ponha ao corrente. É por isso que, quanto mais tenha durado a loucura, durante a vida, mais longamente durará a tortura, o constrangimento, após a morte. O Espírito desligado do corpo se ressente por algum tempo da impressão dos seus ligamentos”.
O Espírito sofre influência da matéria na recordação do tempo em que esteve reencarnado em processo de loucura, e esse estado d’alma deixa na consciência a impressão de toda a perturbação do cérebro em desequilíbrio. Na há perpetuidade de loucura, nem de penas, como se diz em outras religiões. Todos os processos de provações, quando a alma se encontra encarnada, se refletem em vários dos seus corpos espirituais, sem o que o Espírito não se educa. Todas as lições que recebemos do bem em forma aparente do mal se ambientam nos corpos sutis que usamos, com um objetivo que muitas vezes escapa à nossa observação. Não há somente um esquema de despertamento espiritual; para os Espíritos, são inúmeros os processos de ascensão da alma. As provações que muitas vezes enfrentamos na Terra nos deixam uma soma de condicionamentos muito grande, não somente a argamassa fisiológica da estrutura do cérebro. O verdadeiro registro das leis está na consciência, onde as letras são mais vivas e as recordações podem se demorar, bem como, também, desaparecer, desde quando isso não tenha mais importância para a nossa perfeição. Quando um peso oprime o Espírito e a compreensão já o atingiu, ele procura meditar mais sobre essa mensagem até descobrir o que a lei deseja dele. Se não alcança sua linguagem mística, procura quem a entenda para o guiar na orientação mais conveniente.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões de 374 a 375-a.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
374. O idiota, no estado de Espírito, tem consciência de seu estado mental?
“Sim, muito frequentemente. Compreende que as cadeias que entravam seu desenvolvimento são uma prova e uma expiação”.
Na condição de Espírito livre, o idiota quase sempre tem consciência das provas que passa para a educação dos seus sentimentos; entretanto, existem alguns que, mesmo desencarnados, continuam sendo idiotas, dado seus laços com as paixões inferiores serem muito fortes, precisando, por vezes, de outra reencarnação nesse estado de idiotismo, até saldar seus débitos do passado.
375. Qual é a situação do Espírito na loucura?
“O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e exerce diretamente a sua ação sobre a matéria; mas, encarnado, encontra-se em condições totalmente diferentes e na contingência de não afazer senão com a ajuda de órgãos especiais. Que uma parte ou conjunto desses órgãos sejam alterados, e a sua ação ou suas impressões, no que respeita a esses órgãos, ficam interrompidos. Se ele perde os olhos, fica cego; sem os ouvidos, fica surdo etc. Imagina agora se o órgão que preside aos efeitos da inteligência e da vontade for parcial ou inteiramente atacado ou modificado, e fácil te será compreender que o Espírito, só tendo então a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, deve entrar numa perturbação de que, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso já não pode deter”.
Essa resposta dos Espíritos antecipa uma série de descobertas que surgiram muito tempo depois do lançamento do livro em estudo. A loucura é uma distorção da força mental em uma ou várias reencarnações. Ela não tem o poder de desequilibrar o Espírito, que é todo harmonia, por ter saído da harmonia superior, mas, causa-lhe impressões, como que condicionamento das ideias que o próprio Espírito formula. As ideias são filhas de quem as faz, só que não têm o poder de desarmonizar as fibras mais intimas da alma. São como sugestões que levam ao desequilíbrio alguns corpos que servem ao Espírito como veste, e formam um clima de perturbação onde vive a alma.
375–a. É então sempre o corpo e não o Espírito o desorganizado?
“Sim; mas é necessário não perder de vista que, da mesma maneira que o Espírito age sobre a matéria, esta reage sobre ele numa certa medida, e que o Espírito pode encontrar-se momentaneamente impressionado pela alteração dos órgãos através dos quais se manifesta e recebe as suas impressões. Pode acontecer que, com o tempo, quando a loucura durou bastante, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influencia da qual ele não se livrará senão depois da sua completa separação de toda impressão material”.
O Espírito ao receber um corpo, se esse traz alguma deficiência, sofre o empecilho, de modo que suas faculdades sejam reduzidas ou mesmo paralisadas. Ele não perde os seus dons, que são imperturbáveis na sua moradia de origem. Se uma pessoa perde a vista, o dom de enxergar fica suspenso enquanto os olhos não lhes deem esses meios livres de observar o ambiente material; assim acontece com os ouvidos, a palavra, etc.. A loucura é um estado patológico deficiente; o cérebro em decadência não pode dar ao Espírito condições normais de expressar com serenidade a sua inteligência. Em todas as manifestações dessas doenças o desorganizado é sempre o corpo, mas, é bom que se compreenda que esse corpo tem certa influência na mente viva da alma, impressionando-a a ponto de mostrar enfermidades imaginárias.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões 373 e 373-a.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
373. Qual o mérito da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir?
“É uma expiação imposta ao abuso que tenham feito de. Certas faculdades; é um tempo de suspensão”.
O mérito do cretino e do idiota nesse estado de provações é o de ressarcir suas dívidas do passado. Aparentemente eles estão paralisados no progresso, no entanto, eles estão progredindo, ainda que lentamente, porque estão impulsionados pela força da lei. O esforço próprio se encontra cerceado, para assimilar as lições, na vigilância da justiça. Quando uma alma se encontra em reparo, como nesse caso, na fermentação dos seus valores, não quer dizer que parou no tempo e no espaço; nada para, tudo se move na dinâmica de Deus. É o processo de despertamento da luz interior para alcançar valores maiores. Entendemos que vale como ensinamento para o Espírito; vale como oportunidade de resgate para os pais, porque, quanto menos capaz é o indivíduo de manifestar seu intelecto, maior é a sua sensibilidade para afeto.
373-a. Um corpo de idiota pode então encerrar um Espírito que tivesse um homem de gênio, numa existência precedente?
“Sim, o gênio torna-se às vezes uma desgraça, quando dele se abusa”.
A dor, nesse estado, é uma expiação decorrente do abuso que o indivíduo fez das suas faculdades espirituais; são as reações das ações maléficas de uma ou várias vidas passadas. É a lei ajudando a correção. A dor é sempre um socorro, para que não venhamos a piorar a situação, com maiores dificuldades em nossos passos. Cretinos e idiotas não podem, voluntariamente, fazer o bem nem o mal, mas, estão em estado de maturidade, certamente a passos cansados, no entanto, estão rompendo as barreiras das dificuldades, para, no amanhã atingirem as luz da liberdade. Imaginemos um indivíduo que tenha passado uma existência inteira com o intelecto brilhante, porém, única e exclusivamente em manifestar seu egoísmo e seu orgulho com relação àqueles que participaram de sua existência. O corpo de um idiota prende um gênio da ciência para mostrar-lhe a necessidade de moralizar-se. O estado de idiotismo ou cretinice prepara-lhe a consciência como que “na estufa”, de sorte a fazer-lhe compreender a necessidade de amar a seus semelhantes.
Comentário de Kardec:  A superioridade moral não está sempre na razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito a expiar; daí resulta frequentemente para eles uma existência inferior às que já tenham vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o Espírito prova em suas manifestações são para ele como as cadeias que constrangem os movimentos de um homem vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos olhos.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões 372 e 372-a.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
 372.  Qual é o objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como  os cretinos e os idiotas?
“São os Espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e pela  impossibilidade de manifestar-se através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos”.  
No caso, especificamente, eram chamados de idiotas, todos os indivíduos que tinham algum grau de deficiência intelectual, por alguma lesão no cérebro. Muitos corpos que servem ao Espírito são danificados com a conduta do mesmo. No entanto, o Espírito em si é puro, carregando em seu coração espiritual todas as qualidades com as quais Deus achou conveniente dotá-lo. Para que se processe a limpeza, a pureza de todos os corpos, necessário se faz que transformemos os nossos sentimentos. O objetivo visado pelas leis de Deus ao colocarem um Espírito em um corpo de cretino ou de um idiota, é a educação da alma, somente educação. Reparando as faltas do passado, o Espírito se educa no tempo, compreendendo que não compensa fazer mal a outrem.
372-a. Então não é exato dizer que os órgãos não exercem influência sobre as faculdades?

“Jamais dissemos que os órgãos não exercem influência. Eles a exercem, e muito grande, sobre a manifestação das faculdades, mas não produzem as faculdades. Esta a diferença. Um bom músico, com um mau instrumento, não fará boa música, o que não o impede de ser um bom músico”.

Ou seja, o Espírito pode ter uma capacidade intelectual muito grande e não ter como se manifestar. Os órgãos têm certa influência sobre as faculdades do Espírito, no entanto, os dons espirituais não decrescem com o impedimento da matéria. Esses dons pertencem ao Espírito, e o Espírito não regride, sempre avança; quando se encontra um Espírito num corpo com idiotia, não foi a matéria que lhe entorpeceu as faculdades espirituais; é, por vezes, reflexo dos seus erros no corpo espiritual. O comando é da alma, no bem ou no mal.

Comentário de Kardec:  É necessário distinguir o estado normal do estado patológico. No estado normal, o moral supera o obstáculo material. Mas há casos em que a matéria oferece uma tal resistência que as manifestações são entravadas ou desnaturadas, como na idiotia e na loucura. Esses são casos patológicos, e em tal estado a alma não goza de toda a sua liberdade. A própria lei humana a isenta da responsabilidade dos seus atos.

O comentário de Kardec dispensa qualquer apreciação.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar a Questão 371. Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
 371. A opinião de que os cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza inferior tem fundamento?
“Não. Eles têm uma alma humana frequentemente mais inteligente do que pensais, e que sofre com a insuficiência dos meios de que dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar”.

É muito importante esclarecer que a terminologia utilizada por Kardec nas perguntas formuladas é da época em que O Livro dos Espíritos foi lavrado. Hoje, não se fala mais em idiotismo e loucura. O indivíduo que era chamado de o idiota, na época de Kardec, a mais de 150 anos atrás, hoje é chamado de indivíduo especial. O interessante é que nesse tópico, os Espíritos antecipam conhecimentos que só foram desenvolvidos através dos anos.
O fato de um Espírito encarnar com a prova do idiotismo não quer dizer que será ele um Espírito ignorante. Podemos dizer, aí sim, que ele não fez bom uso das suas faculdades em outras reencarnações, e nesta, como cretino, ou seja, como um indivíduo que tem uma incapacidade mental, repara suas faltas no corredor dos tempos.
Um idiota pode ser um Espírito de grande evolução científica que, descuidando-se do seu saber, influenciou muita gente nos caminhos do mal; esqueceu a moral da forma que nos ensina Jesus.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do tópico Influência do organismo, vamos abordar as Questões 370 e 370-a.
Estamos utilizando a tradução de José Herculano Pires.
 370. Pode-se induzir, da influência dos órgãos uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos cerebrais e o das faculdades morais e intelectuais?
 “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Assim, não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos”.
É importante que não se confunda efeito com causa. Os efeitos nos mostram que existe uma fonte de todas essas consequências. Todas as faculdades da alma dimanam dela mesmo e, quando encarnada, ela se serve dos órgãos para se mostrar ao mundo tal qual ela é, na soma de suas qualidades espirituais. Os efeitos são anúncio de que existe uma causa. Certamente que os órgãos materiais, como instrumentos do Espírito, estando danificados, esse encontra dificuldades para expressar seus sentimentos, e dar sua mensagem falada e por vezes escrita aos seus irmãos em caminho.
As faculdades, inclusive, superam as dificuldades. Podemos citar o caso de Jean-Dominique Bauby que, devido a um derrame, ficou totalmente paralisado e incapaz de falar. Com as pálpebras do olho direito suturadas para evitar o ressecamento da córnea, ele contava apenas com o olho esquerdo para se comunicar com o mundo e, simplesmente através do piscar de suas pálpebras, ditou um livro de 139 páginas no qual, através de ensaios curtos e tocantes sobre sua condição e suas memórias, descreveu o retrato de um homem de inteligência viva e sensibilidade ímpar que se encontrava tragicamente preso a um corpo inútil. Temos que pensar muito nisso. A criatura está presa ao leito, mas o intelecto está funcionando.
370–a. De acordo com isso, a diversidade das aptidões entre os homens decorre unicamente do estado do Espírito?
“Unicamente não é o termo exalo. As qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado, constituem o princípio, mas é necessário ter em conta a influência da matéria, que entrava mais ou menos o exercício dessas faculdades”.
As faculdades do Espírito independem dos órgãos; a alma precisa deles para realizar as comunicações na faixa material, e essa comunicação pode ser cerceada pelas decadências dos órgãos em questão. O Espírito encarnado, quando em duras provas, tem os seus órgãos dificultando que ele expresse suas faculdades, que são interrompidas, no sentido de que os sentimentos se eduquem para novas tarefas no porvir. Nunca, porém, da matéria nasceram as faculdades inteligentes; a causa de todas elas se encontra na alma, semente divina de Deus, que se reveste de variados corpos, como se dá na própria natureza.
 Comentário de Kardec:  O Espírito, ao se encarnar, traz certas predisposições, e se admitirmos para cada uma delas um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses  órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem os seus princípios nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade dos seus atos. Teríamos de admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais. De onde se segue que, sem esses órgãos, eles não seriam gênios, e que o último dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se houvesse sido provido de certos órgãos. Suposição que se torna ainda mais absurda, quando aplicada às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema. São Vicente de Paulo, dotado pela Natureza de tal órgão, poderia ter sido um celerado, e não faltaria ao maior celerado mais do que um órgão para ser um São Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são consequentes e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento, e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação trivial por bem se aplicar ao caso. Através de certos sinais fisionômicos reconhecereis o homem dado à bebida; são esses sinais que o fazem bêbado ou é o vicio da embriaguez que produz os sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando início ao estudo do tópico Influência do organismo, vamos abordar as Questões de 367 a 369.
367. Ao unir-se ao corpo, o Espírito se identifica com a matéria?
“A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como a roupa é o envoltório do corpo. Ao unir-se ao corpo, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual”.
O corpo é apenas uma roupagem que as pessoas utilizam durante uma determinada existência. Ele é estruturado geneticamente, para as experiências que a criatura vai enfrentar durante a vida física. Poderá ser uma ferramenta hábil ou poderá tornar-se um entrave ao processo evolutivo.
368. As faculdades do Espírito são exercidas com total liberdade após a sua união com o corpo?
“O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as enfraquecem”.
Mas existem casos em que o Espírito encarnado se expressa pelo olhar.
368-a. De acordo com isso, o envoltório material seria um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco se opõe à livre emissão da luz?
“Sim, e muito opaco”.
Ou seja, entendemos que, mesmo aqueles que têm plena capacidade de expressão física e intelectual terão ainda a limitação do corpo a obstar uma série de manifestações da atividade espiritual.
Comentário de Kardec:
Pode-se também comparar a ação que a matéria grosseira do corpo exerce sobre o Espírito à de um charco lodoso, que tira a liberdade dos movimentos do corpo nele mergulhado.
369. O livre-exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição desses mesmos órgãos, como a excelência de um trabalho está subordinada à qualidade da ferramenta”.
Ou seja, a ferramenta corporal que nos foi dada, foi dada de acordo com a necessidade da tarefa que temos que exercer. Por isso, não podemos reclamar do fardo.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando início ao estudo do tópico Faculdades morais e intelectuais, vamos abordar as Questões de 361 a 366.
361. Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?
“São as do Espírito nele encarnado. Quanto mais puro é o Espírito, mais o homem é propenso ao bem”.
A qualidade moral do homem, não pode, pois, advir da matéria; ela provém do Espírito. É nesse sentido que o homem consciente do seu mandato na Terra deve se esforçar para crescer ante seus compromissos e mediante a sua consciência, onde se encontram gravadas todas as leis morais que passam a governá-lo.
A matéria é instrumento humano, nas mãos do ser encarnado, como o cavalo de montaria o é do cavaleiro. As rédeas regulam seus passos e, no caso do Espírito, as rédeas são o esclarecimento para refrear os instintos materiais, correspondentes à ignorância da alma.
361-a. Parece resultar daí que o homem de bem é a encarnação de um Espírito bom, e o homem vicioso a de um Espírito mau?
“Sim, mas dizei antes que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito imperfeito, pois, do contrário, poder-se-ia crer na existência de Espíritos sempre maus, a que chamais demônios”.
Esta resposta nos consagra com a misericórdia divina, através do processo reencarnatório, porque, imperfeitos que somos hoje, somos perfectíveis e passíveis de conquistas de valores morais. Se um Espírito ignorante reencarna, certamente que ele, ao crescer, está predisposto às paixões inferiores do mundo; contudo, a bondade de Deus é tão grande, que sempre deposita essa alma aos cuidados de alguém, que passa a ensiná-lo a mudar seu modo de vida, por vezes com o exemplo. Importante: somos imperfeitos mas não somos maus.
362. Qual o caráter dos indivíduos em que encarnam Espíritos travessos e levianos?
“São indivíduos estouvados, maliciosos e, algumas vezes, maléficos”.
Os Espíritos levianos nem sempre são maus Espíritos que se aproximam dos homens inspirando maldade, o ódio e a vingança. Eles são mais brincalhões, iguais aos muitos que se pode ver dentre os encarnados. Eles têm uma grande sutileza em usar o humorismo, introduzindo nas brincadeiras assuntos de gozação sem, contudo, avaliar o tempo que gastam em coisas fúteis, mormente quando se encontram muitos deles juntos. Alguns são viciados contumazes.
É uma classe de Espíritos muito grande e eles não toleram os Espíritos sérios.
363. Os Espíritos têm paixões de que está isenta a Humanidade?
“Não; do contrário eles vo-las teriam comunicado”.
As paixões que têm os Espíritos que moram na Terra e que viajam com ela na sua órbita, como sendo o seu mundo espiritual, não são diferentes das dos homens; elas são as mesmas, porque eles se sucedem pelos processos das reencarnações. Os Espíritos são os mesmos homens, e os homens são os mesmos Espíritos, que se entregam às mutações como força da lei do progresso espiritual. O Espírito, quando passa para a carne pelos processos das vidas sucessivas, igualmente traz as suas paixões, se as tem, de modo a educá-las ao passar por variados abrolhos dos caminhos.
364. É o mesmo Espírito que dá ao homem as qualidades morais e as da inteligência?
“Certamente, e isso em virtude do grau de adiantamento a que tenha chagado. O homem não tem em si dois Espíritos”.
A criatura encarnada não tem dois Espíritos, como pensam alguns, por nela se manifestar muitas qualidades. É somente um que, com o tempo, mostrar-nos-á muito mais do que conhecemos, porque tudo o que conhecemos de beleza, de qualidades variadas, em todos os povos, existe dentro de cada um, faltando somente que sejam despertadas, mostrando a excelsitude de Deus.
365. Por que é que alguns homens muito inteligentes, o que indica que neles estão encarnados Espíritos Superiores, são ao mesmo tempo profundamente viciosos?
“É que os Espíritos encarnados ainda não são bastante puros nesses homens, e por isso cedem à influência de outros Espíritos mais imperfeitos. O Espírito progride numa marcha ascendente insensível, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Num período ele pode avançar em ciência; noutro em moralidade”.
O indivíduo que seja muito inteligente e que ao mesmo tempo seja muito vicioso, não é um Espírito superior. É um indivíduo que teve a oportunidade de expressar o seu intelecto e as suas experiências pregressas de uma maneira mais evidente, numa determinada encarnação. Mas isso não significa que tenha tido conquistas de ordem ético-moral. Inteligência não é sinônimo de pureza espiritual; é um dos dons para o alto. Ela serve, e muito, como instrumento da alma para progredir, quando é usado para a felicidade de todos os seres. Podemos verificar grandes inteligências servindo de instrumento de Deus para a paz do mundo, e outras tantas usando-as para a guerra. A inteligência só entra na faixa da pureza quando em completa harmonia com o amor, como nos mostra o exemplo de Jesus Cristo.
366. Que pensar as opinião segundo a qual as diferentes faculdades intelectuais e morais do homem resultariam de outros tantos Espíritos, nele encarnados, cada um com uma aptidão especial?
“Refletindo, reconhece-se que é absurda. O Espírito deve ter todas as aptidões. Para progredir, precisa de uma vontade única. Se o homem fosse uma mistura de Espíritos, essa vontade não existiria e ele não teria individualidade, visto que, por sua morte, todos aqueles Espíritos seriam como um bando de pássaros fugidos da gaiola. Muitas vezes o homem se queixa de não compreender certas coisas e, no entanto, é curioso ver-se como multiplica as dificuldades, quando tem ao seu alcance uma explicação muito simples e natural. É ainda tomar o efeito pela causa; é fazer com o homem o que os pagãos faziam com Deus. Acreditavam em tantos deuses quantos eram os fenômenos do Universo, embora, entre eles, as pessoas sensatas apenas vissem em tais fenômenos efeitos que tinham por causa um Deus único”.
Os que acreditam que cada faculdade do ser humano tem um Espírito que lhe corresponde estão enganados, como estavam iludidos os que no passado acreditavam em vários deuses, apontando em cada fenômeno da natureza um Deus que seria a fonte do acontecimento. Essa tese hoje caiu no esquecimento, anotando os mais entendidos que os deuses dos povos antigos eram Espíritos sob o comando do Pai Celestial.
A ciência divina nos mostra que todas as aptidões que o homem pode mostrar, em se movendo no corpo material, são qualidades da alma que se desenvolvem nas bênçãos do tempo, por vontade do Deus. Compreende-se, portanto, que o homem somente tem um Espírito com variadas manifestações dos seus dons, como sendo talentos espirituais.
Comentário de Kardec:
O mundo físico e o mundo moral nos oferecem, sobre este assunto, numerosos pontos de comparação. Enquanto se detiveram na aparência dos fenômenos, os homens acreditaram na existência múltipla da matéria; hoje, compreendem perfeitamente que esses fenômenos tão variados podem ser apenas modificações da matéria elementar única. As diversas faculdades são manifestações de uma mesma causa, que é a alma, ou do Espírito encarnado, e não muitas almas, do mesmo modo que os diferentes sons do órgão procedem do mesmo tipo de ar. E não de tantas espécies de ar quantos forem os sons. Resultaria de semelhante sistema, que quando um homem perde ou adquire certas aptidões, certos pensadores, isso se deveria à ação de outros tantos Espíritos, que tivessem vindo ou que se foram, que dele fariam um ser múltiplo, sem individualidade e, por conseguinte, sem responsabilidade. Além do mais, essa ideia é contestada pelos numerosos exemplos de manifestações, através das quais os Espíritos provam as suas personalidades e identidades.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de 357 a 360.
357. Quais são, para o Espírito, as consequências do aborto?
“É uma existência nula e que ele terá de recomeçar”.
Trata-se de um crime contra a vida, que se expande na atualidade: o aborto. Embora a resposta dos Espíritos diga isso, entendemos que o aborto não é uma existência nula porque, carrega consigo uma lição valiosa. A natureza é Deus, e Deus não perderia tempo. Por outro lado, esse fato busca educar o que se destinou a nascer e a sofrer a provação de não nascer. Existe Espírito que por muitas vezes é impedido de nascer; ora é a natureza cobrando, ora mãos assassinas que o impedem de ver a luz do mundo pelos olhos da matéria, ou, então enfermidades que acometem o pequeno fardo, fazendo lardear suas vibrações, desatando os laços da alma que se prendiam ao corpo.
358. O aborto provocado é um crime, seja qual for a época da concepção?
Há crime toda vez que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá crime sempre que tirar a vida de uma criança antes do nascimento, pois está impedindo uma alma de suportar as provas de que servirá de instrumento o corpo que estava se formando”.
Aqui, os Espíritos estão falando de abortamento criminoso. Seja a mãe, ou outra qualquer pessoa, que servir de instrumento para abortar uma criança, pratica um crime e, pior, essa premeditação vem da maldade, da inconsciência das leis. Encontramos muitos que, no fundo, reconhecem a verdade da reencarnação mas negam essa lei para entrarem na desordem do crime do aborto, sabendo e fingindo não saber que responderão pelo que fizerem na vida e da vida. O pior engano é pretender enganar Deus.
359. No caso em que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
“É preferível sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar o que já existe”.
Aqui, temos que entender que os Espíritos estão falando do aborto terapêutico. Quando a criança em gestação põe em perigo a vida da mãe, é preferível que se sacrifique a vida do nascituro, mesmo que o coração dos pais entre em estado de depressão. A mãe quase sempre tem mais filhos, que estão sob sua tutela e que precisam da sua assistência com exemplos de crescimento e de confiança.
360. Será racional que se dispense ao feto a mesma atenção que se concede ao corpo de uma criança que tivesse vivido?
“Vede em tudo isso a vontade de Deus e sua obra. Não trateis, pois, levianamente, coisas que deveis respeitar. Por que não respeitar as obras da Criação, algumas vezes incompletas por vontade do Criador? Isso faz parte de seus desígnios, que ninguém é chamado a julgar”.
A palavra respeito fala muito profundamente na alma daquele que deseja compreender os ensinamentos de Jesus Cristo. Uma criança, ao nascer sem vida, mostra a vida obedecendo à lei divina, à lei da justiça. Nada há de errado no turbilhão dos acontecimentos espirituais e mesmo na Terra. Tudo obedece à vontade de Deus. Vejamos o que diz Paulo aos Tessalonicenses, na sua primeira carta, capítulo cinco, versículo dezoito: Em tudo daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Entra, pois, aí, o respeito para todos os acontecimentos, tirando deles o que move, a razão de ser do que ocorre na vida. Se uma criança nasceu morta, se lhe escapuliu a vida antes de abrir os olhos ao mundo, existe um motivo; que seja secreto, mas existe, vibrando para que os estudiosos o descubram e aumentem sua admiração pelos desígnios do Criador.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando sequência ao estudo do tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de 351 a 356-b.
351. No intervalo que vai da concepção ao nascimento, o Espírito desfruta de todas as suas faculdades?
“Mais ou menos, conforme a época, porque ainda não está encarnado, mas apenas ligado. A partir do instante da concepção, o Espírito começa a ser tomado de perturbação, que o adverte de que chegou o momento de começar nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos o de um Espírito encarnado durante o sono do corpo. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, de que não tem mais consciência, como homem, logo que entra na vida. Mas essa lembrança lhe volta pouco a pouco à memória, no seu estado de Espírito”.
O Espírito, no intervalo da concepção ao nascimento, ainda não está reencarnado, apenas ligado por laços ainda frágeis. O toque de maior segurança é dado no momento do nascimento. Nesse intervalo, o Espírito entra em um estado de sono, como se verdadeiramente estivesse dormindo.
352. No momento do nascimento o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades?
“Não; elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. Para ele, é uma nova existência; é preciso que aprenda a servir-se de seus instrumentos. As ideias lhe voltam pouco a pouco, como a um homem que desperta e se encontra numa posição diferente da que ocupava na véspera”.
O Espírito não recobra suas faculdades imediatamente ao nascer. Ele ainda não se encontra em completo domínio sobre seu corpo. O seu instrumento de carne não lhe fornece meios para tal empreendimento. Compete, porém, ao Espírito esperar, pois com o crescimento do corpo ele vai recobrando paulatinamente suas faculdades espirituais, mas nunca se apossa dos seus dons, envolvido na carne, como se estivesse em Espírito. O Espírito encarnado está em uma existência nova, com novas tarefas a desempenhar para o seu próprio bem e da humanidade.
353. Uma vez que a união do Espírito e do corpo só se completa definitivamente depois do nascimento, pode-se considerar o feto como dotado de alma?
“O Espírito que o vai animar existe, de certo modo, fora dele. O feto não tem, a bem dizer, uma alma, visto que a encarnação está apenas em via de operar-se. Acha-se, no entanto, ligado a alma que virá a possuir”.
Segundo a resposta dos Espíritos, não se pode dizer que o feto tem uma alma, propriamente falando, no entanto, está destinado a possuí-la ou essa a este. Benfeitores espirituais nos falam que a reencarnação somente se consuma depois dos sete, quatorze e vinte e um anos. Os laços vão se apertando pouco a pouco, conforme o crescimento do corpo. É notório e prudente, que tudo na vida respeite leis irradiadas por Deus, sem violência. O encontro do espermatozoide com o óvulo é a transformação de duas vidas em uma, para que se cumpra uma destinação em favor de um Espírito, na busca de experiências necessárias ao seu comportamento espiritual.
354. Como se explica a vida intra-uterina?
“É a da planta que vegeta. A criança vive a vida animal. O homem possui em si a vida animal e a vida vegetal que, pelo seu nascimento, se completam com a vida espiritual”.
O útero da mulher é uma câmara sensível, na qualidade de ninho, onde tem todas as qualidades necessárias para a geração da criança, fenômeno humano, mas que tem feição divina. No encontro do óvulo com o espermatozoide, se dá o casamento interno de duas forças, que são envolvidas por energias imponderáveis, na formação de uma consciência instintiva, que passa a comandar como se fosse um computador altamente condicionado, porém, no qual brilha, nas suas irradiações de luz, a presença de Deus. O feto cresce pele comando das forcas internas, como sendo uma árvore, mas que com o passar dos tempos ele alcança variadas feições, como estágios nas lembranças dos seus ancestrais, por onde o Espírito percorreu na sua marcha evolutiva, até sentir a razão nos esplendores da raça humana.
355. Há, como revela a Ciência, crianças que não são viáveis desde o ventre materno? Com que finalidade isso ocorre?
“Isso acontece frequentemente. Deus o permite como prova, seja para os pais, seja para o Espírito designado a encarnar”.
Esse fenômeno das crianças não vitais pode ocorrer com frequência; de qualquer modo, existe um Espírito que fornece elementos para a formação do corpo em gestação. Nada se perde no universo de Deus; são experiências necessárias à evolução dos Espíritos envolvidos. Tudo é aproveitado como lições, para que no futuro se aproveite o melhor que se possa processar, para a beleza da própria vida.
356. Haverá natimortos que não tenham sido destinados à encarnação de Espíritos?
“Sim, há os que jamais tiveram um Espírito destinado aos seus corpos. Nada vevia cumprir-se neles. É somente pelos pais que essas crianças vêm ao mundo”.
Parece algo injusto, mas não é. A criatura tem que passar por diversas experiências, para a valorização da vida humana. Entre os natimortos alguns efetivamente não têm a destinação de viver, por não haver, desde o princípio da sua gestação no seio da mãe, determinado Espírito para a devida reencarnação. No entanto, como já foi dito, existem Espíritos que aceitam, por renúncia, ajudar na formação do corpo, o qual é nutrido mais pela mãe, e tomando a forma humana para muitas lições que a vida posse dar.
356-a. Um ser dessa natureza pode chegar até o final da gestação?
“Sim, algumas vezes, mas não vive”.
Os Espíritos devedores desejam voltar, mas, como impediram muitos de renascer, são impedidos pela lei de justiça, por causa da ação dos aparelhos e anticoncepcionais, sem falar do aborto provocado, crimes dos crimes, por tirar a vida dos indefesos; porém, a vida aproveita a morte para lições, onde o Espírito recolhe experiências e resgata dividas pretéritas.
356-b. Desse modo, toda criança que sobrevive ao nascimento tem, necessariamente, um Espírito encarnado nela?
“Que seria da criança, sem o Espírito? Não seria um ser humano”.
Há provações de toda a natureza; há crianças que vivem minutos, mesmo tendo um Espírito destinado a tomar, como tomou o seu corpo. É o saldo; ela deveria viver apenas aqueles minutos para enriquecimento das suas experiências.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de 344 a 350.
344. Em que momento a alma se une ao corpo?
“A união começa na concepção, mas só se completa no momento do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. O grito, que então escapa de seus lábios, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus”.
Esta primeira frase da resposta dos Espíritos é bastante categórica para nós, espíritas. Isto é de uma importância capital, porque, quando a mulher descobre que está grávida, o embrião que está se formando, dentro dela, já tem um coração batendo e um sistema nervoso central em processo de formação. Há muitos casos em que o Espírito destinado a reencarnar começa a conviver com seus futuros pais bem antes da concepção, no sentido de ir trocando simpatia para um futuro convívio; no entanto, como já foi explicado, a ligação será feita nos primeiros momentos da concepção.
345. A união entre o Espírito e o corpo é definitiva desde o momento da concepção? Durante esse primeiro período, o Espírito poderia renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado?
“A união é definitiva no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Mas, como os laços que o prendem ao corpo ainda são muito fracos, facilmente se rompem e podem ser rompidos pela vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Nesse caso a criança não vinga".
A união, em princípio, é definitiva, porém, está na vontade do Espírito reencarnante ficar ou deixar de ficar com a vestimenta em formação. O Espírito que se ligou com os primeiros laços na formação do seu futuro corpo, na fase inicial da gestação, ele tem a memória ancestral, e pode perceber que a programação feita pode ser penosa para ele. Então, ele desiste,  e daí surgir o aborto chamado espontâneo.
346. Que acontece ao Espírito se o corpo que ele escolheu morre antes de nascer?
“Escolhe outro”.
Se o corpo escolhido não resiste à formação, o Espírito escolhe outro, dentro das diretrizes que lhe compete seguir, para ganhar experiências correspondentes ao seu interesse de evoluir.
346-a. Qual pode ser a utilidade dessas mortes prematuras?
“As imperfeições da matéria são a causa mais frequente dessas mortes”.
Só para se ter uma ideia, à época de Kardec, a mortalidade materna infantil era enorme. Porque muitos dos conhecimentos que temos hoje não havia naquela época, No caso do corpo não suportar a vibração do Espírito destinado a reencarnar, o corpo apresentará certas deficiências, que a medicina oficial chama de defeitos congênitos. A soma dos acontecimentos é lição que o Espírito recolhe como sendo provas por onde passa.
347. Qual a utilidade de o Espírito encarnar num corpo que morre poucos dias depois de nascido?
“O ser não tem consciência plena de sua existência. A importância da morte é quase nula. Muitas vezes, como já dissemos, é uma prova para os pais”.
Quando uma criança nasce morta, isso, certamente, é uma prova muito forte para os pais. Podemos imaginar, um casal que tem uma vontade enorme de ter um filho, e a criança nasce morta. É um sofrimento  muito grande para os pais. Mas, também é uma experiência de maternidade e paternidade para eles.
348. O Espírito sabe, com antecedência, que o corpo que escolheu não tem probabilidade de viver?
“Às vezes sabe; mas, se o escolheu por este motivo é porque recua diante da prova”.
Certos Espíritos tem consciência de que a sua vida na carne vai ser interrompida, por vezes na hora de nascer, mas, se escolheram o corpo por esse motivo, estão fugindo à reencarnação, aumentando assim suas dificuldades para o futuro.
349. Quando, por qualquer motivo, falha a encarnação de um Espírito, ela é suprida imediatamente por outra existência?
“Nem sempre imediatamente. O Espírito precisa de tempo para proceder à nova escolha, a menos que a reencarnação imediata resulte de decisão anterior”.
Isto quer dizer que, se existe uma programação em que esse Espírito tem que passar por essa experiência, porque vai ajuda-lo, imediatamente escolhe outra.
350. Uma vez unido ao corpo da criança, e quando já não lhe é possível voltar atrás, o Espírito lamenta algumas vezes a escolha que fez?
“Queres perguntar se, como homem ele se queixa da vida que tem? Se desejaria outra? Sim. Se lamenta a escolha que fez? Não, pois não sabe que a escolheu. Depois de encarnado, o Espírito não pode arrepender-se de uma escolha de que não tem consciência. Pode, no entanto, achar a carga pesada demais e quando a considera superior às suas forças, recorre ao suicídio”.
O Espírito não pode deplorar a escolha, pelo estado de inconsciência em que se encontra. Quantos suicidas há, sem causas que se possa analisar, visto que essa causa está no inconsciente, mas, ela se irradia para o consciente em forma de depressão, que o leva ao momento drástico de tirar a própria vida.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 338 a 343.
338. Se acontecesse que muitos Espíritos se apresentassem para tomar determinado corpo que deve nascer, o que decidiria qual deles vai ocupar esse corpo?
“Muitos podem pedi-lo; mas, em tal caso, é Deus quem julga qual o mais capaz de desempenhar a missão à qual a criança está destinada. Porém, como eu já disse, o Espírito é designado antes do instante em que deve unir-se ao corpo”.
É muito interessante esta pergunta. E esse final da resposta do benfeitor esclarece tudo: "antes que soe o instante de unir-se ao corpo". A alma, bem antes da formação do corpo, já se encontra em companhia dos pais, e principalmente da sua futura mãe, procurando a força da sintonia, e é no momento da concepção que os primeiros laços são atados de certa forma que muitos ignoram. É a beleza da vida da criação!
339. O momento da encarnação é acompanhado de perturbação semelhante à que o Espírito experimenta ao desencarnar?
“Muito maior e sobretudo mais longa. Pela morte, o Espírito sai da escravidão; pelo nascimento, entra para ela”.
O Espírito, ao reencarnar, sofre realmente muito mais do que quando se desprende dos laços físicos, porque ele perde a memória; perde a identidade que teve na última encarnação. Ele está entrando num ambiente completamente desconhecido.
340. É solene para o Espírito o momento da sua encarnação? Realiza esse ato como uma coisa grave e importante para ele?
“É como um viajante que embarca para uma travessia perigosa e que não sabe se encontrará ou não a morte nas ondas que enfrenta”.
Entendemos que seja um processo de uma complexidade maior até do que o processo da desencarnação. É um momento eminentemente solene. Nos momentos decisivos em que se aproxima da reencarnação, o Espírito é tomado de emoções diferentes das que sente em horas de alegria. Soa para ele a entrada na vida física, aconchegando-se mais à intimidade da sua futura mãe. Foram nove meses de gestação. Os laços se confundem com o sistema emotivo da mãezinha em preparo para gerar um corpo na oficina de Deus, no seu mundo íntimo.
Comentário de Kardec:
Assim como a morte do corpo é uma espécie de renascimento para o Espírito, a reencarnação é uma espécie de morte, ou, antes, de exílio, de clausura. Ele deixa o mundo dos Espíritos pelo mundo corporal, como o homem deixa o mundo corporal pelo mundo dos Espíritos. O Espírito sabe que reencarnará, como o homem sabe que morrerá, mas, como este, não tem consciência do fato senão no último momento, quando é chegada a sua hora. Então, nesse momento supremo, qual o do homem em agonia, a perturbação se apodera do Espírito, persistindo até que a nova existência esteja nitidamente firmada. Os prelúdios da reencarnação são uma espécie de agonia para o Espírito.
341. A incerteza em que se acha quanto à eventualidade do seu triunfo nas provas que vai suportar na vida, é para o Espírito uma causa de ansiedade antes da sua encarnação?
“De uma ansiedade muito grande, pois as provas da sua existência o retardarão ou o farão avençar, conforme as tiver bem ou mal suportado”.
É importante lembrar que, quando é falado aqui em retardar, este retardar não significa retrogradar. Significa, apenas, atrasar um processo de aprendizado, se não aproveitarmos bem a experiência reencarnatória. Entendemos, também, que a ansiedade do Espírito no momento da reencarnação geralmente é enorme. Ele não tem certeza da sua vitória nas lutas que se destinou a travar, contudo, se o Espírito tem fé em Deus e conhece os ensinamentos de Jesus, a força da confiança lhe irá garantir a esperança.
342. No momento da reencarnação, o Espírito se acha acompanhado por outros Espíritos, amigos seus, que vêm assistir à sua partida do mundo espiritual, como o vêm receber quando para lá retorna?
“Depende da esfera a que o Espírito pertença. Se está nas esferas em que reina a afeição, os Espíritos que o amam acompanham-no até o último instante, encorajam-no e, muitas vezes, até lhe seguem os passos durante a vida”.
O Espírito, na hora de reencarnar, pode ter muitos que o acompanham para o ingresso na vida física; depende do plano a que pertença na escala espiritual, como está dito na resposta dos Espíritos. Mas, esse “depende da esfera”, não quer dizer que aqueles que estejam em menor condição fiquem largados. Não ficam. A Providência Divina não deixa.
343. Os Espíritos amigos que nos acompanham na vida são, por vezes, os que vemos em sonho, que nos testemunham afeto e que se nos apresentam com feições desconhecidas?
“Muito frequentemente são eles. Vêm visitar-vos, como ides visitar um encarcerado”.
Em estado de sonho o Espírito encarnado pode se comunicar com os entes queridos que já se foram para o Além e, ao acordar, tem vaga lembrança desse encontro. Em poucos casos guarda lembranças vivas, sobre os assuntos ventilados. Os Espíritos-guias igualmente se comunicam com os seus tutelados pelas portas do sonho, em variadas formas, e as lições, mesmo ficando na inconsciência, servir-lhes-ão para a vida diária.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando continuidade ao estudo do tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 334 a 337.
334. A união da alma com este ou aquele corpo é predestinada, ou só no último momento é feita a escolha do corpo que ela tomará?
“O Espírito é sempre designado previamente. Escolhendo a prova que deseja sofrer, ele pede para reencarnar. Ora, Deus, que tudo sabe e tudo vê, já sabia com antecedência que tal alma se uniria a tal corpo”.
Isto quer dizer que, muito antes da concepção, do encontro do espermatozoide com o óvulo no ventre da futura mãe, o Espírito já se encontra preparado para nascer de novo. Para tudo há uma programação espiritual. Quando a alma pode escolher suas próprias provações, os benfeitores espirituais ajudam em muitas particularidades, para que o renascimento seja bem orientado. Entretanto, as reencarnações não são iguais; todas elas diferem umas das outras, embora a lei seja uma só para todas as criaturas de Deus.
335. O Espírito pode escolher o corpo em que deve encarnar, ou somente o gênero de vida que lhe servirá de prova?
“Pode também escolher o corpo, pois as imperfeições desse corpo representam provas que o auxiliarão a progredir, se vencer os obstáculos que encontrar. O Espírito pode pedir, mas a escolha nem sempre depende dele”.
Cabe aos benfeitores espirituais examinar o que o Espírito suporta saber, para que ele não venha a recuar diante da escolha. A concepção do corpo físico foi feita para a plena harmonia, trabalhar em perfeita saúde.
335-a. Poderia o Espírito, no último momento, recusar o corpo que havia escolhido?
“Se recusasse, sofreria muito mais do que aquele que não tivesse tentado nenhuma prova”.
Muitos Espíritos, no momento de reencarnar, podem resolver, e usando sua vontade, desligarem os laços já consumados nas primeiras formações do corpo em crescimento. Uns o conseguem, deixando a nova reencarnação para depois, sem raciocinar que o depois virá com maiores dificuldades.
336. Poderia acontecer não haver Espírito que aceitasse encarnar numa criança que houvesse de nascer?
“Deus a isso proveria. A criança, desde que deva nascer viável, está sempre predestinada a ter uma alma. Nada é criado sem um propósito”.
A formação de uma criança no campo uterino é um milagre da natureza, é prova da existência de Deus. Um corpo no seio da mãe, não pode se formar por ele mesmo, sem antes existir uma causa, que é a escolha do Espírito ou dos benfeitores. Tudo é o Espírito que comanda, sob a direção de Deus.
337. A união do Espírito a determinado corpo pode ser imposta por Deus?
“Pode ser imposta do mesmo modo que as diferentes provas, sobretudo quando o Espírito ainda não está apto para escolher com conhecimento de causa. Por expiação, o Espírito pode ser constrangido a se unir ao corpo de determinada que, pelo seu nascimento e pela posição que venha a ocupar no mundo, poderá tornar-se para ele um instrumento de castigo”.
O Espírito pode se unir a um corpo por imposição, desde quando ele não tenha discernimento para a escolha compatível com as suas necessidades. Deus é a suprema bondade, e quando Seus filhos ainda se encontram crianças, Ele sabe guiá-los nas escolhas, quando precisam voltar a Terra, se revestindo de novo corpo físico. É natural que o Espírito ignorante seja guiado, qual o cego que nada enxerga nas suas andanças e precisa de guia. Mesmo o Espírito com certa evolução espiritual, no momento de tomar novas vestes físicas, sempre carece da opinião de algum benfeitor que possa guiá-lo na sua escolha.
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Capítulo VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 330 a 333.
330. Os Espíritos sabem a época em que reencarnarão?
“Eles a pressentem, como o cego sente o fogo de que se aproxima. Sabem que têm de retomar um corpo, como sabes que tendes de morrer um dia, mas ignoram quando isso acontecerá”.
Como o fenômeno chamado de morte, a reencarnação é também inevitável. São mudanças necessárias, que sempre buscam mais luz de entendimento e de paz para o coração. Uma grande parte dos Espíritos que reencarnam pressentem o dia da volta, se ainda não o sabem. Para tanto, temos um sentido que nos faz entender o que pode acontecer conosco como o temos de que existe um Ser Superior que comanda todos.
330-a. Então, a reencarnação é uma necessidade da vida espiritual, como a morte é uma necessidade da vida corporal?
“Certamente; assim é”.
A reencarnação é uma necessidade da alma, como força que a impulsiona para o alto e para Deus. Os processos da reencarnação são engenhosos; no entanto, os benfeitores espirituais cuidam dessa ciência com todo o amor que podem dar aos que vão ingressar nos fluidos da carne. Nós já reencarnamos muitas vezes, e poderemos voltar muito mais, herdando a Terra como promessa da Luz.
331. Todos os Espíritos se preocupam com a sua reencarnação?
“Há os que não pensam nela de modo algum, que nem mesmo a compreendem. Depende de sua natureza mais ou menos adiantada. Para alguns, a incerteza em que se acham em relação ao seu futuro é uma punição”.
Nem todos os Espíritos se preocupam com a reencarnação. Muitos deles não compreendem essa lei. Porém, o dia deles chegará como aviso a reingressar na carne, em busca de novos aprendizados, juntos aos homens, onde antes foram homens igualmente.
332. O Espírito pode antecipar ou retardar o momento da sua reencarnação?
“Pode antecipá-lo, solicitando-o por um desejo ardente. Pode igualmente retardá-lo, recuando diante da prova, pois entre os Espíritos também há covardes e indiferentes; mas não o faz impunimente, visto que sofre com isso, como aquele que recusa o remédio salutar que o pode curar”.
O Espírito tem condições de ativar sua evolução ou retardá-la, no entanto, pelos seus redobrados esforços, ele sempre pode, no transcorrer de sua jornada evolutiva, recuperar o tempo perdido. A liberdade de pensar, de agir e mesmo de crescer é um fato em todas as dimensões de vida.
333. Se um Espírito se considerasse bastante feliz numa condição mediana entre os Espíritos errantes, e não ambicionasse elevar-se, poderia prolongar indefinidamente esse estado?
“Indefinidamente, não. Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir. Todos têm que se elevar; esse é o destino de todos”.
A vontade do Espírito tem limites consideráveis. Sendo a evolução da alma uma lei, o Espírito não pode deixar de ascender no campo do despertar, pela sua exclusiva vontade. Assim também é o Espírito livre das conjunções humanas, que não deseja reencarnar por receio de voltar a Terra. O seu temor o faz caminhar devagar, e nessa semi paralisação, mesmo que gaste milênios, algum dia ouvirá a voz da justiça o chamar à carne.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Encarrando o estudo do tópico Comemoração dos mortos. Funerais, vamos abordar as Questões de 325 a 329.
325. De onde vem, para certas pessoas, o desejo de ser enterradas antes num lugar do que noutro? Voltam a ele com mais satisfação após a morte? Essa importância dada a uma coisa material é sinal de inferioridade do Espírito?
“Afeição do Espírito por certos lugares; inferioridade moral. Que importa este ou aquele recanto de terra a um Espírito elevado? Não sabe ele que sua alma se reunirá às dos que lhe são caros, mesmo que seus ossos estejam separados?”
Muitos e muitos Espíritos encarnados, quando percebem a aproximação da desencarnação, desejam que seus corpos sejam enterrados em tal ou qual lugar, principalmente onde nasceram. Sabemos que o retorno à vida espiritual é feito pelo Espírito e não pelo corpo. Por isso, que diferença faz se uma determinada vestimenta carnal, que é utilizada em uma encarnação, é sepultada em determinado local e não em outro? Os Espíritos elevados são despojados de todo tipo de apego, que constitui limitação moral da alma.
325-a. A reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família deve ser considerada como futilidade?
“Não; é um costume piedoso e um testemunho de simpatia pelos entes queridos. Embora essa reunião tenha pouca importância para os Espíritos, é útil aos homens; as recordações se concentram melhor”.
Reunir todos os restos mortais de uma família em determinado lugar, é inspiração do amor limitado dos que lhes foram entes queridos. Convém notar que esse gesto não interfere na evolução do Espírito imortal. São laços que estão ligados aos velhos costumes, que é preciso sejam desatados por novas filosofias.
326. A alma que volta à vida espiritual é sensível às homenagens prestadas aos seus despojos mortais?
“Quando o Espírito já chegou a certo grau de perfeição, não tem mais a vaidade terrena e compreende a futilidade de todas essas coisas. Mas, ficai sabendo; há Espíritos que, nos primeiros momentos que se seguem à sua morte material, experimentam grande prazer com as honras que lhes são prestadas, ou se aborrecem com o abandono a que relegaram os seus despojos mortais. É que ainda conservam alguns dos preconceitos da vida terrena”.
Quase sempre ele se desliga deste tipo de chamamento, embora possa sentir-se feliz com a sinceridade de algumas homenagens, sejam elas ou não, de amigos ou de familiares.
327. O Espírito assiste ao seu enterro?
“Frequentemente assiste, mas, algumas vezes, se ainda está perturbado, não percebe o que se passa”.
Ou seja, nem sempre o Espírito recém-desencarnado assiste ao enterro do seu corpo. Em muitos casos, o Espírito não percebe o que se passa no enterro do seu corpo, por estar inconsciente.
327-a. Fica lisonjeado com a afluência de pessoas ao seu enterro?
“Mais ou menos, conforme o sentimento que as anima”.
Existem Espíritos que acompanham o sepultamento dos restos mortais com certa alegria, por ter aproveitado muito bem sua vida no planeta e ter cumprido seus deveres.
328. O Espírito daquele que acaba de morrer assiste a reunião de seus herdeiros?
“Quase sempre, Deus o quer, para sua própria instrução e castigo dos culpados. É nessa ocasião que o Espírito julga o valor dos protestos que lhe faziam. Para ele, todos os sentimentos estão patentes e a decepção que lhe causa a rapacidade com que os herdeiros partilham seus bens o esclarece acerca daqueles sentimentos. Mas a vez deles também chegará”.
As decepções do mundo das formas servem para despertar o Espírito, que parte para o Além, para a evolução em que se encontra o homem. O Espírito, por vezes, tem uma vida tranquila quando no mundo, juntamente com os seus familiares. Ao passar para a vida espiritual, e quando lhe é concedido, ele assiste às brigas dos familiares ante os bens que deixou. Isso perturba sempre o sossego do Espírito que também não construiu sua paz interior. Uma família que briga pela divisão dos bens materiais de herança, é, pois, infeliz, pelo apego às coisas transitórias, o que dá origem ao ódio e, por vezes, à própria morte.
329. O respeito instintivo que, em todos os tempos e entre todos os povos, o homem testemunha pelos mortos, é efeito da intuição que tem da vida futura?
“É a consequência natural dessa intuição. Sem isso, o respeito pelos mortos não teria objetivo”.
Os homens sempre consagraram respeito aos mortos, tanto que levantam monumentos em sua honra e formulam muitas atividades baseadas em suas lembranças. Todos têm a pré-ciência de que a vida continua, e nessa certeza instintiva, fazem o que está ao alcance, em favor dos chamados mortos. Pode-se notar isso no "Dia de Finados", quando os pensamentos se voltam para os mortos fazendo orações do modo que suas crenças determinam.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando início ao estudo do tópico Comemoração dos mortos. Funerais, vamos abordar as Questões de 320 a 324.
320. Os Espíritos são sensíveis à lembrança que deles guardam os que lhes foram caros na Terra?
“Muito mais do que podeis imaginar. Se são felizes, essa lembrança lhes aumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo”.
Vamos imaginar que uma pessoa viaje para um país longínquo; do outro lado do mundo, e que não tenha nenhum recurso de comunicação. Claro que essa criatura vai ficar recordando da sua família. Da mesma maneira acontece com o Espírito desencarnado; ele continua com os mesmos sentimentos, O amor em qualquer faixa é correspondido pelo coração. Mesmo o Espírito altamente evoluído, que se encontra em planos resplandecentes, quando recebe dos que ficaram na Terra um pensamento de amor, sente algo no íntimo que o deixa emocionado, não uma emoção como se conhece na matéria, mas, um estado d’alma que não temos condições de descrever.
321. O dia da comemoração dos mortos tem algo de mais solene para os Espíritos? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os seus despojos?
“Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, tanto nesse dia como nos outros”.
À época em que Kardec formulou esta pergunta, em 1857, o dia de finados era um dia de extrema solenidade. Os Espíritos responderam que vale em qualquer tipo de circunstância. O importante é que nos lembremos dos nossos entes queridos, sempre com uma prece voltada para Deus, em benefício deles. Os pensamentos dos familiares e amigos cortam o espaço em busca dos seus queridos, e eles os atendem. As ondas mentais são como que chamados, são buscas da forma, conforme se encontra registrado no próprio Evangelho de Jesus: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Os Espíritos superiores os atendem sempre com o objetivo de ajudá-los, transmitindo para seus familiares ideias de renovação, pensamentos superiores de trabalho e de caridade.
321-a. O dia de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas?
“Nesse dia, eles se reúnem em maior número nos cemitérios, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada Espírito só comparece ali pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes”.
Os Espíritos acorrem ao pensamento das pessoas. Lógico que, nesse dia de muita solenidade, de maior movimento dentro das necrópoles, com pessoas orando junto aos túmulos de seus entes queridos, logicamente, vai haver uma afluência muito maior de Espíritos. Os Espíritos elevados não rendem culto aos restos mortais; quando os deixam, agradecem a natureza e partem para outras etapas da vida, onde podem ser mais úteis Somente os inferiores permanecem junto aos familiares, às vezes, prejudicando estes. Para orar pelos que partiram, para executar esse gesto de amor, podemos estar onde quer que seja, pois os fios dos pensamentos viajam sem impedimento pelo espaço, indo em busca daqueles que merecem o seu amor. A súplica não deve ser feita somente no Dia de Finados; façamo-la todos os dias, que a prece com o coração em Jesus é alimento para todas as almas, tanto aquela que ora, quanto a que recebe essas bênçãos de luz.
321-b. Sob que forma aí comparecem e como os veríamos se pudessem tornar-se visíveis?
“Aquela sob a qual eram conhecidos em vida”.
Ou seja, se a criatura desencarnou jovem, vai aparecer jovem; o gordo vai aparecer gordo; o idoso vai aparecer idoso; se a cor do cabelo era em tom preto, vai aparecer preto. O Espírito vai aparecer da melhor maneira para a sua identificação.
322. Os Espíritos esquecidos, cujos túmulos ninguém vai visitar, comparecem mesmo assim aos cemitérios e sentem algum pesar por verem que nenhum amigo se lembra deles?
“Que lhes importa a Terra? A ela só se prendem pelo coração. Se aí não há amor, nada mais há que prenda o Espírito ao planeta; ele tem para sio Universo inteiro”.
Talvez os esquecidos estejam em melhores condições que os bem-lembrados. Velas e mais velas são acesas nos túmulos vazios que pouco significam para o Espírito. Não será o fogo brando de uma vela que irá melhorar suas condições espirituais.
323. A visita ao túmulo proporciona mais satisfação ao Espírito do que uma prece feita em casa, em sua intenção?
“A visita ao túmulo é uma maneira de manifestar que se pensa no Espírito ausente; é a imagem. Já dissemos que a prece é que santifica o ato de lembrar; pouco importa o lugar, se for ditada pelo coração”.
As visitas aos túmulos são manifestações exteriores, herdadas do primitivismo religioso das raças e culturas, para a veneração a ancestrais e entes queridos que, à medida que a conscientização da imortalidade do Espírito e a reencarnação se consolidam, pelo impositivo da razão, vão caindo em desuso. Pergunto! O que vale realmente é o movimento do corpo ou o pensamento que se faz? Claro que é o pensamento. Nós oramos concentrando o pensamento naquele Espírito que partiu.
324. Os Espíritos das pessoas a quem se erigem estátuas ou monumentos assistem às suas inaugurações e as veem com prazer?
“Muitos aí comparecem quando podem; porém, são menos sensíveis à homenagem que lhes prestam do que a lembrança dos homens”.
A participação ou o prazer que possam sentir os homenageados está na condição evolutiva de cada um. Tratando-se de um Espírito elevado, nem sempre comparece à homenagem que lhe é prestada, salvo nos casos em que, comparecendo ou participando, possa ser útil, inspirando ou intuindo os encarnados para tarefas ou práticas enobrecedoras, que possam gerar benefícios a alguém em particular, ou a muitos, de forma generalizada.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao estudo do tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de 316 a 319.
316. O Espírito se interessa ainda pelos trabalhos que fazem na Terra, pelo progresso das artes e das ciências?
“Depende de sua elevação ou da missão que possa ter de desempenhar. Muitas vezes, o que vos parece magnífico é bem pouca coisa para certos Espíritos. Eles o admiram como um sábio admira a obra de um estudante. Examinam apenas o que prove a elevação dos Espíritos encarnados e seus progressos”.
Podemos raciocinar em cima daquilo que estudamos anteriormente; Todo conhecimento demanda uma sequência; e, esta sequência, não é interrompida, muito pelo contrário, os estudiosos vão passando, pelo pensamento, conhecimentos que desenvolveram, aquilo que descobriram no mundo espiritual, para ensinar àqueles que vão levar adiante os trabalhos de pesquisas que foram interrompidos. Mas isso depende, logicamente, do nível de elevação que o Espírito tenha. Os Espíritos superiores se interessam, e muito, pelas ciências e artes que se processam na Terra, pois, elas são forças do progresso e, mais do que isso, atuam como linha de força evolutiva para os Espíritos. O interesse de certos Espíritos para esse ou aquele ponto de vista, para essa ou aquela obra na Terra, não invalida a obra que o progresso aciona na conjuntura da vida.
317. Após a morte, os Espíritos conservam o amor da pátria?
“O princípio é sempre o mesmo; para os Espíritos elevados a pátria é o Universo; na Terra, a pátria está onde se achem mais pessoas que lhes são simpáticas”.
Nota de Kardec: As condições dos Espíritos e as maneiras por que veem as coisas variam ao infinito, de conformidade com os graus de desenvolvimento moral e intelectual em que se achem. Geralmente, os Espíritos de ordem elevada só por breve tempo se aproximam da Terra. Tudo o que aí se faz é tão mesquinho em comparação com as grandezas do infinito, tão pueris são, aos olhos deles, as coisas a que os homens mais importância ligam, que quase nenhum atrativo lhes oferece o nosso mundo, a menos que para aí os leve o propósito de concorrerem para o progresso da Humanidade. Os Espíritos de ordem intermédia são os que mais frequentemente baixam a este planeta, se bem considerem as coisas de um ponto de vista mais alto do que quando encarnados. Os Espíritos vulgares, esses são os que aí mais comprazem e constituem a massa da população invisível do globo terráqueo. Conservam quase que as mesmas ideias, os mesmos gostos e as mesmas inclinações que tinham quando revestidos do invólucro corpóreo. Metem-se em nossas reuniões, negócios, divertimentos, nos quais tomam parte mais ou menos ativa, segundo seus caracteres. Não podendo satisfazer às suas paixões, gozam na companhia dos que a eles se entregam e os excitam a cultivá-las. Entre eles, no entanto, muitos há, sérios, que veem e observam para se instruírem e aperfeiçoarem.
Os Espíritos que conservam o amor à pátria depois do túmulo, são aqueles que não conseguem sentir o amor no coração de maneira universal. O conceito de pátria para o Espírito puro é o universo, toda a criação de Deus. Sabe-se lá quantas pátrias já lhe serviram de berço? O ignorante é que briga, mata, em defesa da sua Terra. Quanto sangue é derramado neste sentido! Quantos sofrimentos ele não causa nas famílias, por pais e filhos que morrem nas linhas de frente, por causa de orgulho e egoísmo dos que não sabem onde estão sendo travadas as batalhas!
318. As ideias dos Espíritos se modificam no estado errante?
“Muito; sofrem grandes modificações, à medida que o Espírito se desmaterializa. Às vezes, ele pode permanecer muito tempo com as mesmas ideias, mas, pouco a pouco, a influência da matéria diminui e o Espírito vê as coisas mais claramente. É então que procura os meios de se tornar melhor”.
As ideias dos Espíritos na erraticidade, certamente que mudam e muito. Somos quase todos influenciados pelo meio ambiente onde estagiamos. Isso, falando do Espírito que começou a despertar para a realidade espiritual.
É fundamental que observemos a escala espiritual à qual o Espírito pertence. O Espírito elevado, que já começou a viver o Evangelho, e a se esforçar todos os dias para melhorar espiritualmente, esse Espírito, ao passar para a vida espiritual ou o mundo dos Espíritos, tem mais facilidade de esquecer os atrativos da Terra e as paixões que nela vibram com maior intensidade. No entanto, os Espíritos dominados pelos sentimentos inferiores, esses em quase nada mudam suas ideias ao chegarem ao mundo dos Espíritos. Continuam a manifestai seus interesses pelo apego às coisas da Terra e a alimentar as paixões que os levam às inferioridades.
319. Já tendo o Espírito vivido a vida espiritual antes da sua encarnação, como se explica o seu espanto ao retornar ao mundo dos Espíritos?
“É apenas o efeito do primeiro momento e da perturbação que se segue ao despertar do Espírito. Mais tarde, reconhece perfeitamente a sua condição, à medida que lhe volta a lembrança do passado e que a impressão da vida terrestre se apaga”.
Por vezes o Espírito se espanta ao regressar ao mundo dos Espíritos. É uma reação natural, comum a quase todos os Espíritos. Depois, com o passar do tempo, ele vai se lembrando da sua verdadeira pátria, passando igualmente a sentir-se em casa. A reencarnação, tanto quanto a desencarnação, é mudança mais ou menos violenta, e esse transe tem o poder de mudar as ideias dos Espíritos acerca das coisas espirituais. Observemos que é nas mudanças agressivas que a humanidade se ajusta, compreendendo o valor do trabalho e a necessidade de melhorar.
Os antigos mercadores viajavam por vários países, carregando consigo uma grande bagagem de conhecimento sobre suas variadas jornadas e servindo de intermediário na divulgação de muitas notícias interessantes. Assim também, as reencarnações dos Espíritos oferecem a eles muitas experiências, que passam a fornecer-lhes os recursos para sua própria libertação espiritual.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao estudo do tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de 308 a 315.
308. O Espírito se recorda de todas as existências que precederam a que acaba de deixar?
Odo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas de um caminho que um viajante percorreu. Mas, como já dissemos, não se recorda de maneira absoluta de todos os atos. Lembra-se deles em razão da influência que tiveram sobre o seu estado atual. Quanto às primeiras existências, as que se podem considerar como a infância do Espírito, essas se perdem no vago e desaparecem na noite do esquecimento”.
Ao deixar a veste de carne, o Espírito se recorda de alguns fatos do passado ou, por vezes, de outras reencarnações, porém, não são todos os Espíritos que podem recordar: isso acontece somente quando tem utilidade para o seu esclarecimento espiritual.
309. Como o Espírito considera o corpo que acabou de deixar?
“Como veste imprestável, que o incomodava e da qual se sente feliz por estar livre dela”.
O Espírito sendo evoluído, diante do corpo que deixa no ato da desencarnação, curva-se a ele com profunda gratidão pelo aparelho que lhe serviu para o desempenho da sua programação na Terra. Nunca fica pensando nele com saudade, por saber que ele já não lhe pertence, devolvendo à natureza o que lhe foi emprestado por misericórdia divina e que, terminando a sua tarefa, é veste imprestável.
309-a. Que sensação lhe causa a visão do seu corpo em decomposição?
“Quase sempre a de indiferença, como a uma coisa a que não dá mais importância”.
O Espírito elevado considera a roupa física que deixou como uma dádiva de Deus, para o seu despertar espiritual, e nunca sente repugnância pelo estado da roupagem que acaba de devolver ao celeiro maior, que é a natureza, pois ela se encontra em plena transformação dos elementos de vida, pela vontade do Criador. Depois que se liberta do corpo, o Espírito passa a não se interessar mais por ele.
310. Depois de certo tempo, o Espírito reconhecerá os ossos ou outros objetos que lhe tenham pertencido?
“Algumas vezes, dependendo do ponto de vista mais ou menos elevado sob o qual considere as coisas terrenas”.
O Espírito, depois de desencarnado, que tenha certa elevação espiritual, pode reconhecer os seus restos mortais, quando acha que é de utilidade fazê-lo, como também seus pertences, quando no mundo físico. Mas, nem sempre ele faz esse reconhecimento.
311. O respeito que se tem pelos objetos materiais que pertenceram ao Espírito lhe dá prazer e atrai a sua atenção para esses objetos?
“É sempre grato ao Espírito que se lembrem dele, e os objetos que lhe pertenceram trazem-no à memória dos que ele deixou no mundo. Contudo, é o pensamento dessas pessoas que o atrai para vós e não aqueles objetos”.
A atenção para os pertences dos Espíritos que já passaram para o mundo espiritual, não é atraída pelas coisas materiais, mas, sim, pelos pensamentos daqueles que ficaram. Isso acontece quando falamos de Espíritos elevados. Com relação ao Espírito apegado às coisas materiais, onde estiver o seu tesouro aí permanece o seu coração. Quando seus familiares encontram alguma coisa que lhes pertenceu, a concentração é mais poderosa a respeito do que já partiu. É, pois, uma forte transmissão telepática e o Espírito em condições elevadas, por vezes atende ao chamado mental, se isso serve para lições aos encarnados.
312. Os Espíritos conservam a lembrança dos sofrimentos por que passaram na última existência corporal?
“Frequentemente eles a conservam e essa lembrança lhes faz compreender melhor o valor da felicidade de que podem desfrutar como Espíritos”.
Depois do desenlace, o Espírito conserva lembranças do estado corporal em que se encontrava, por ficarem vivos na sua consciência os fatos derradeiros da encarnação na Terra.
313. O homem que foi feliz neste mundo lastima a felicidade que perdeu ao deixar a Terra?
“Só os Espíritos inferiores podem lamentar as alegrias condizentes com a sua natureza impura, e que lhes acarretam a expiação pelo sofrimento. Para os Espíritos elevados, a felicidade eterna é mil vezes preferível aos prazeres efêmeros da Terra”.
Tal como o homem adulto que menospreza aquilo que constituía as delícias de sua infância.

A felicidade completa na Terra não existe. Quando alguma alma se encontra feliz com as inferioridades do plano físico, é prova de que está apegado às paixões humanas, que são transitórias e, além disso, elas nos trazem reações que nos fazem sofrer, por serem inferiores. Essa alegria é, pois, mesclada de aborrecimentos.
A verdadeira felicidade, aquela agradável ao coração no reino da eternidade, se encontra em primeiro lugar na consciência imperturbável, como nos planos superiores do Espírito imortal. O desprendimento dos gozos terrenos ser-nos-á difícil. Somente a maturidade pode nos oferecer esse estado d’alma. Maturidade é sinônimo de tempo, de esforço próprio no clima do amor puro no coração, de modo que a caridade nos abra caminhos para grandes entendimentos espirituais.
314. Aquele que começou grandes trabalhos com um objetivo útil e que os vê interrompidos pela morte, lamenta, no outro mundo, tê-los deixado por acabar?
“Não, porque vê que outros estão designados para concluí-los. Trata, ao contrário, de influenciar outros Espíritos humanos, a fim de que os terminem. Seu objetivo, na Terra, era o bem da Humanidade; no mundo dos Espíritos, esse objetivo continua sendo o mesmo”.
Os trabalhos de alguma alma caridosa, interrompidos na Terra pelo processo da desencarnação, não são nem podem ser sinônimos de paralisação. Já no mundo espiritual, o Espírito que viu o seu trabalho interrompido pela morte, trata de inspirar seus companheiros que ficaram para a continuação do mesmo e, por vezes, a fazê-lo em ritmo mais acelerado do que quando ele estava à frente do ideal, em favor da coletividade.
315. Aquele que deixou trabalhos de arte ou de literatura, conserva pelas suas obras o amor que lhe tinha quando vivo?
“De acordo com a sua elevação, ele os julga de outro ponto de vista e, frequentemente, condena o que mais admirava”.
O Espírito elevado tem plena admiração pelas obras que deixou. Não tem egoísmo nem adoração somente por sua obra; os seus olhos veem o belo, que faz parte da harmonia universal.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de 304 a 307.
304. O Espírito se recorda da sua existência corporal?
“Sim, isto é, tendo vivido várias vezes como homem, ele se lembra do que foi e eu te afirmo que, algumas vezes, ri de piedade de si mesmo”.
O Espírito, depois que deixa o corpo físico e passa a viver no mundo espiritual, passado o período de perturbação que todos têm num menor ou maior prazo, certamente que se lembra de algumas de suas reencarnações, quando isso for motivo de ensinamentos para ele. As recordações se processam por necessidade, nunca por brincadeira, nem por simples curiosidade. Tudo que acontece é por determinação divina, e ao lembrar, podem achar graça, como também deplorar determinada atitude. No entanto, há inúmeros Espíritos que desconhecem até a si mesmos; esses se encontram em plena ignorância.
305. A lembrança da existência corporal se apresenta ao Espírito de maneira completa e inesperada após a morte?
“Não; ele lhe vem pouco a pouco, como algo que sai gradualmente do nevoeiro, à medida que nela fixa a sua atenção”.
Sobre as lembranças da alma depois do túmulo, das suas recordações do passado. O Espírito não vai lembrar de nada de imediato. Não podemos generalizar os fatos, dizendo que todos os Espíritos recordam de suas vidas passadas, tão logo deixem o corpo. A sucessão de lembranças é gradativa, de acordo com as necessidades de cada um, e de acordo com o nível de lucidez que o Espírito tenha adquirido. Quanto mais espiritualizado o Espírito for mais rapidamente esse processo de perturbação vai se dissipar.
306. O Espírito se lembra, com detalhes, de todos os acontecimentos de sua vida? Abrange o conjunto deles de um golpe de viste retrospectivo?
“Lembra-se das coisas em razão das consequências que resultaram para a sua condição de Espírito. Mas deves compreender que há circunstâncias de sua vida às quais não ligará importância alguma e de que nem mesmo procura lembrar-se”.
O Espírito; quando tem condições espirituais, pode recordar suas vidas passadas, mas, nem sempre se interessa por isso.
306-a. Poderia lembrar-se delas, se o quisesse?
“Pode lembrar-se dos mais minuciosos detalhes e incidentes, seja dos acontecimentos, seja mesmo de seus pensamentos. Mas, quando isso não tem utilidade, ele não o faz”.
Ou seja, é de grande interesse do Espírito os pormenores das suas vidas passadas, se isso lhe fizer bem, no futuro ou no presente. Há, por assim dizer, um comando geral em todas as suas pesquisas e mesmo nas suas vontades.
306-b. O Espírito entrevê o objetivo da vida terrestre com relação à vida futura?
“Certamente que o vê e compreende muito melhor do que quando estava encarnado. Compreende a necessidade da sua purificação para chegar ao infinito e sabe que em cada existência deixa algumas impurezas”.
A memorização da consciência é perfeita; tudo ela guarda no seu arquivo interno, de maneira que escapa às análises dos próprios sábios.
307. Como a vida passada se reflete na memória do Espírito? Será por esforço da própria imaginação, ou  como um quadro que ele tenha diante dos olhos?
“De uma e outra forma. É como se estivessem presentes todos os atos de que tenha interesse em lembrar-se. Os outros permanecem mais ou menos vagos na sua mente, ou completamente esquecidos. Quanto mais desmaterializado estiver, tanto menos importância dará às coisas materiais. Muitas vezes evocas um Espírito errante que acaba de deixar a Terra e que não se lembra dos nomes das pessoas que lhe eram caras, nem de detalhes que te parecem importantes; é que tudo isso pouco lhe interessa e logo cai no esquecimento. Aquilo de que ele se lembra muito bem são os fatos principais que o ajudam a melhorar-se”.
Alguns pensam que, desde quando o Espírito se encontra desencarnado, ele se lembra de tudo, de todas as vidas passadas. É um engano; o processo de lembranças é de acordo com as necessidades dele. Quando o Espírito precisa lembrar-se de alguma coisa para o seu benefício, o instrumento para tal é a vontade. O Espírito evoluído, que já se libertou das paixões humanas, que encontra no amor seu próprio alimento de vida, pode ir ao passado quando desejar, extraindo dele experiências que lhe servem para maiores esclarecimentos.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Encerrando o estudo do tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas, vamos abordar as Questões de 300 a 303-a.
300. Uma vez reunidos, dois Espíritos perfeitamente simpáticos permanecerão assim por toda a eternidade, ou poderão separar-se e unir-se a outros Espíritos?
“Todos os Espíritos estão unidos entre si. Falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, desde que um Espírito se eleva, já não tem a mesma simpatia pelos que deixou”.
Vamos observar que é uma questão basicamente de sintonia. O fato de dois Espíritos simpáticos estarem unidos, pelos sentimentos, não significa que estarão unidos para sempre. Se um avança na escala da evolução mais do que o outro, sua simpatia por aquele diminui; encontrando outros Espíritos que lhe são simpáticos, no plano em que passa a viver. Não é que ele deixa de amar ao que ficou na escala abaixo; ele aumenta sempre o seu amor, mas, a sintonia de trabalho e de pensamentos se eleva, ganhando planos mais perfeitos, qual o seu. A vida é, pois, uma variação constante em todas as escalas do plano espiritual. O Espírito que se eleva está sintonizado numa faixa de frequência, vamos dizer assim, que os outros ainda não atingiram.
301. Dois Espíritos simpáticos são complemento um do outro ou essa simpatia resulta de perfeita identidade?
“A simpatia que atrai um Espírito para outro resulta da perfeita concordância de seus pendores e instintos. Se um tivesse que completar o outro, perderia a sua individualidade”.
Duas almas simpatizam uma com a outra devido os pendores, suas afinidades de sentimentos, seus ideais idênticos. Nunca dois Espíritos simpáticos o são por um completar o outro. Se assim fosse, desapareceria a individualidade dos seres e a liberdade que tanto almejamos deixaria de existir. Convém lembrar que todas as conquistas são sempre individuais. Os Espíritos podem, até, se auxiliarem mutuamente a caminharem no sentido da evolução. Mas a conquista de cada um somente depende do uso de seu livre-arbítrio.
302. A identidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na similitude dos pensamentos e sentimentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos?
“Na igualdade dos graus de elevação”.

Aqui, quando é falado de grau de elevação, entendemos que se trate de elevação ético-moral, ou seja, de valores espirituais conquistados pelo esforço individual de cada um. A concordância perfeita entre duas almas se mede pela uniformidade de seus graus de elevação. A superioridade espiritual é, pois, a soma de tudo o que se desperta nos sentimentos. Para ilustrarmos o assunto, podemos dar como exemplo: Nós podemos ter uma pessoa dentro de nossa casa e que não tenha nem 10%  de conhecimentos acadêmicos que tenhamos amealhado durante a existência atual, e essa pessoa ser muito superior a nós, intelectual e moralmente. Essa pessoa foi colocada numa condição de menor conhecimento, para poder exercitar a humildade. Temos que entender que essa igualdade no grau de elevação não é uma questão cultural, é uma questão de valores espirituais.
303.  Podem tornar-se simpáticos no futuro, Espíritos que hoje não o são?
“Sim, todos o serão. Um Espírito que hoje está numa esfera inferior, ao aperfeiçoar-se alcançará a esfera onde reside o outro. O encontro entre os dois se dará mais depressa se o Espírito mais elevado, por suportar mal as provas a que esteja submetido, permanecer no mesmo estado”.
Certamente que Espíritos que não foram simpáticos no passado podem sê-lo no futuro, dependendo da analogia de sentimentos no complexo da vida. As mudanças nas condições de simpatia nas esferas espirituais são sem limites. A liberdade da alma se encontra, em grande parte, em suas mãos. Aquele que parte para o despertamento e prossegue sem destemor, lutando e servindo corajosamente, tem no seu esforço as sementes que ele mesmo deve colher nos seus próprios caminhos. A simpatia é fusão de ideais, harmonia que vibra entre duas almas, criando, de certa maneira, um clima onde as duas respiram com alegria.
303-a. Dois Espíritos simpáticos poderão deixar de sê-lo?
“Certamente, se um deles for preguiçoso”.
As mudanças nas condições de simpatia nas esferas espirituais são sem limites. Os Espíritos simpáticos podem deixar de sê-lo, com limites ou sem limites, dependendo da esfera íntima de cada ser.
Comentário de Kardec:
A teoria das metades eternas é uma imagem, representativa da união de dois Espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar e que não deve ser tomada ao pé da letra. Os Espíritos que dela se utilizam certamente não pertencem às ordens mais elevadas. Sendo necessariamente limitada a esfera de suas ideias, eles exprimiram seus pensamentos por meio de termos de que se teriam servido durante a vida corporal. É preciso, pois, repelis a ideia de que dois Espíritos, criados um para o outro, tenham fatalmente que se reunir um dia na eternidade, depois de terem estado separados por um lapso de tempo mais ou menos longo.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Continuando o estudo do tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas, vamos abordar as Questões de 296 a 299.
296. As afeições individuais dos Espíritos são passíveis de alteração?
“Não, porque eles não podem enganar-se. Não dispõem mais da máscara sob a qual se escondem os hipócritas. É por isso que suas afeições não se alteram, quando eles são puros. Para eles, o amor que os une é fonte de suprema felicidade”.
As afeições dos Espíritos puros são inalteráveis em todos os sentidos. Eles comungam com a harmonia universal, porque nunca distorcem a verdade, acompanhando os passos de Jesus Cristo nas suas caminhadas. Os Espíritos puros não se enganam; a sua luz reflete em todos os seus passos e em todos os seus gestos de paz. Somente os hipócritas carregam as máscaras, que são vistas pelos que têm olhos para ver. A mentira se dissolve sempre que chega a verdade.
297. A afeição mútua que dois seres se consagraram na Terra continua a existir sempre no mundo dos Espíritos?
“Sim, sem dúvida, se baseada na verdadeira simpatia. Entretanto, se as causas de ordem física tiveram maior participação do que a simpatia, a afeição cessa com as causas. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e duráveis que na Terra, porque não se acham subordinadas ao capricho dos interesses materiais e do amor próprio”.
A afeição que temos a outrem na Terra continua no mundo dos Espíritos, quando fundamentada realmente no amor universal. Quando ela é física, desaparece com a perda do corpo, não obstante, pode, por vezes, demorar-se mais um pouco no Espírito, enquanto a animalidade durar, porque as paixões inferiores ainda existem no plano extrafísico, quase como na Terra, animando um corpo material. Entretanto, nunca têm durabilidade como o amor fraternal, que permanece eternamente brilhando no coração das criaturas de Deus. O "amor" na Terra, principalmente entre as almas mais materializadas, é revestido de egoísmo, de amor próprio, para satisfação pessoal. Ele se encontra preso à bestialidade, nos distúrbios emocionais inferiores, sendo que utiliza um canal, o sexo, pelas vias do qual se processa a reencarnação, lei universal em todos os mundos habitados.
298. As almas que devem unir-se estão predestinadas a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo, a sua metade, a que fatalmente se unirá um dia?
“Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. Existe união entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham adquirido; quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males dos seres humanos; da concórdia resulta a completa felicidade”.
Quando os Espíritos falam em almas gêmeas, não é generalizando o termo, mas no sentido de que existem almas gêmeas nos planos onde ainda não existe a verdadeira perfeição do Espírito. Deus não fez uma alma somente para outra, de modo que somente as duas possam sentir o verdadeiro amor entre si. Isso não existe entre os Espíritos puros. No entanto, antes de chegar à pureza espiritual, é claro que temos necessidade de estarmos unidos por sentimentos mais profundos a determinada alma, que nos ajuda e nos sustenta na própria vida. No seio da pureza angélica, repetimos, não existe; ali o amor é perfeitamente universal.
299. Em que sentido se deve entender a palavra metade, de que alguns Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos?
“A expressão não é exata. Se um Espírito fosse a metade de outro, separado deste estaria incompleto”.
Essa questão sobre uma suposta "metade", foi muito bem respondida pelo Espírito; ela é oriunda da mesma fonte da "alma gêmea". Quando se chama de metade ao Espírito que acompanha outro com profunda afinidade, e se referindo à fusão de sentimentos análogos, e se aceitamos que os dois formam um, pelos laços do coração, entendemos que, apartando-se um, ambos ficam incompletos. Assim, essa expressão é somente filosófica, ficando no abstrato porque, na verdade, o Espírito é individual e indivisível, e o amor, como já foi dito, deve ser universalizado, força essa que nos une a todos e todos em Deus. É a mesma coisa que se pode entender nessa linguagem tão comum entre os casais, "minha mulher", "meu marido". Não se pode julgá-la na profundidade do termo; é apenas figura de expressão. 
É a mesma coisa que se pode entender nessa linguagem tão comum entre os casais, "minha mulher", "meu marido". Não se pode julgá-la na profundidade do termo; é apenas figura de expressão. Ninguém tem posse de ninguém porque, se hoje estão juntos, amanhã estarão separados pela lei divina e universal da reencarnação. Não vamos entender "cara metade" como uma realidade, como se fosse de fato uma metade do outro. Assim, o homem seria uma obra incompleta, e Deus, sendo Deus, faz tudo com perfeição.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas, vamos abordar as Questões de 291 a 295.
291. Além da simpatia geral resultante da semelhança, os Espíritos se consagram recíprocas afeições particulares?
“Sim, como entre os homens. Quando, porém, o corpo está ausente, o laço que une os Espíritos é mais forte, porque então esse laço já não se acha exposto às vicissitudes das paixões”.
Existem duas forças atuando entre os Espíritos: uma que reúne os grupos por sintonia de aptidões, e outra mais forte que são os laços entre duas almas, por coerência de sentimentos uma com a outra, ou seja, nós temos amigos de vários perfis aqui na Terra. Agora, temos aqueles amigos que são mais chegados a nós, a quem dedicamos um afeto todo especial. São aquelas pessoas que fazem parte da nossa vida com profundidade, podemos dizer assim.
292. Os Espíritos guardam ódio entre si?
“Só entre os Espíritos impuros há ódio. São eles que insuflam entre vós as inimizades e as dissensões”.
Existe ódio entre os Espíritos, sim, mas, somente dentre os inferiores, que ainda alimentam as paixões que correspondem ao egoísmo. O ódio, a inveja, o apego são forças negativas que pretendem empanar a verdade, mas, sendo ilusão, não conseguem. Disse o Evangelho que somente a verdade ficará de pé. Os Espíritos Superiores se esqueceram completamente do estado d'alma contrário à caridade. Não alimentam o ciúme, por não terem apego a ninguém e a nada. Não conservam o egoísmo, por serem desprendidos das coisas transitórias. Não têm orgulho, por terem entrado no esquema da humildade. Não mentem, por saberem que a verdade é luz de Deus que liberta as criaturas.
293. Dois seres que foram inimigos na Terra guardam ressentimento um do outro no mundo dos Espíritos?
“Não; compreenderão que seu ódio era estúpido e que o motivo era pueril. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma espécie de animosidade, enquanto não se tenham purificado. Se foi unicamente um interesse material que os separou, nisso não pensarão mais, por pouco desmaterializados que estejam. Não havendo antipatia entre eles e tendo deixado de existir a causa de suas desavenças, podem rever-se com prazer”.
Comentário de Kardec:
Semelhante a dois escolares que, chegando à idade da razão, reconhecem a puerilidade de suas brigas infantis e deixam de se malquerer.
Os Espíritos inferiores conservam todos os ressentimentos gerados quando na Terra. Ao retornarem ao mundo dos Espíritos, levam para lá todas as suas inferioridades, desde quando não se purificaram. Conforme o grau de ignorância do Espírito, o ódio que nasceu na Terra, entre duas criaturas ou mais, aumenta como Espírito livre, e se não encontraram os antagonistas, saem à procura deles para desforras e perseguições.
294. As lembranças das más ações que dois homens praticaram um contra o outro é um obstáculo à simpatia que deve reinar entre eles?
Sim; essa lembrança os leva a se afastarem um do outro”.
Duas pessoas, ao se encontrarem, encarnadas ou desencarnadas, podem gerar antipatia entre si, de modo que o ódio avance em seus sentimentos, dando azo à guerra de pensamentos e, por vezes, até brigas que podem envolver os familiares e amigos a eles achegados. Isso, às vezes, não passa de lembranças do passado, quando o subconsciente entrega ao consciente aquilo que trazia guardado, motivado por intrigas que a vigilância esqueceu de rechaçar, por faltar a educação cristã. Essas lembranças induzem ao afastamento um do outro, ou grupos de grupos.
295. Que sentimento experimentam, após a morte, aqueles a quem fizemos mal neste mundo?
“Se são bons, eles vos perdoam, conforme o vosso arrependimento. Se são maus, é possível que guardem ressentimento e vos persigam, algumas vezes, até mesmo em outra existência. Deus pode permiti-lo como castigo”.
Depois do túmulo, os sentimentos que animam os que ofendemos, e se esses ofendidos forem Espíritos inferiores, são de vingança, de ódio e de violência, formando, quando podem, toda ordem de obsessão sobre os ofensores do passado. Se os ofendidos forem Espíritos elevados, que já conhecem o Evangelho e começaram a praticá-lo, eles não gastam tempo em perseguição. A sua arma de luz é o esquecimento das faltas, passando a orar pelos ofensores e ajudando-os em todos os momentos possíveis.
Os Espíritos dizem que Deus permite que haja um processo obsessivo de um Espírito sobre outro, por conta de erros no passado; e, é, exatamente por isso que muitas pessoas procuram as casas espíritas, para se livrarem de algum processo obsessivo, pelo qual estejam passando.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Encerrando o estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 287 a 290.
287. Como a alma é acolhida na sua volta ao mundo dos Espíritos?
“A do justo, como um irmão bem-amado e esperado há muito tempo. A do mau, como um ser que se despreza”.
Entendemos que seja a lei de causa e efeito atuando, ou seja, tudo aquilo que a criatura fez aqui na Terra, através de seus atos, tudo isso conta do lado de lá. A chegada das almas ao mundo espiritual é sempre diferente, cada uma levando o que tem para apresentar ao mundo da realidade. Certamente que a chegada de um justo é toda envolvida pela alegria. Aqueles que vêm ao seu encontro, após a quebra de seus laços com a carne, lhe oferecem flores de luz, e o ambiente é de verdadeira paz, de harmonia que alimenta, fazendo brilhar em todos os corações a esperança. A chegada dos bem-aventurados é cercada de glórias. Eles receberão as bênçãos pelo que abençoaram, encontrando os frutos pelas qualidades das sementes semeadas em seu percurso no mundo. Já o Espírito mau que deixou em seu rastro na Terra somente tormento, que aproveitou os dons espirituais para distorção das leis, que esqueceu o tempo, matando-o com a inércia, que usou os pensamentos somente para destruir lares e complicar a sociedade, que alimentou por toda a sua vida as paixões inferiores, é recebido pelos seus desafetos e pelos seus iguais, onde a tristeza e a negatividade tornam o ambiente irrespirável e o magnetismo é toldado pela ignorância que domina. As variações das chegadas são inúmeras; tudo é de acordo com a evolução de quem se desprende da matéria.
288. Que sentimento experimentam os Espíritos impuros, ao verem chegar outro Espírito mau?
“Os maus ficam satisfeitos quando veem seres semelhantes a eles e, também como eles, privados da felicidade infinita, como acontece, na Terra, a um ladrão entre os seus iguais”.
Nós sabemos perfeitamente que os semelhantes atraem semelhantes. O mesmo que ocorre aqui na Terra, ocorre também no lado de lá. Os Espíritos comprometidos com o mal, com a disseminação do ódio, quando chegam ao mundo espiritual, despertam alegria entre seus iguais, no conjunto que o espera. Há no meio deles certa amizade. Eles desconhecem o perdão e o amor, e é por isso que se encontram em estado de inferioridade. Os iguais se congregam por lei da afinidade. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. (Mateus, 24:28 e Lucas, 18:37).
289. Nossos parentes e amigos veem, algumas vezes, encontrar-se conosco quando deixamos a Terra?
“Sim, os Espíritos vão ao encontro da alma a que se afeiçoaram. Felicitam-na, como se regressasse de uma viagem, por haver escapado aos perigos da estrada, e ajudam-na a desprender-se dos laços corporais. É uma graça concedida aos bons Espíritos quando os seres que os amam vêm ao seu encontro, ao passo que aquele que se acha maculado permanece no isolamento ou só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes. É uma punição”.
Aqui na Terra somos ligados pelos elos do amor. Aqueles que se amam, estarão juntos em qualquer lugar e, certamente, os Espíritos que são afeiçoados àquela alma que está chegando ao mundo espiritual, fazem todos os esforços para ajudá-la, e ainda trabalham na sombra da misericórdia. A maior alegria do justo é essa: esteja onde quer que esteja, os frutos do seu plantio vêm ao seu encontro, por direito divino, protegido pelas leis de justiça.
290. Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte?
“Depende de sua elevação e do caminho que seguem para progredir. Se um deles está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro, não poderão ficar juntos; é possível que se vejam algumas vezes, mas só estarão reunidos para sempre quando puderem caminhar lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Além disso, a privação de ver os parentes e amigos é, às vezes, uma punição”.
Os Espíritos somente se reúnem por consonância de sentimentos. Para os parentes desencarnados ficarem juntos, necessário se faz que estejam no mesmo plano de atividades sentimentais; porém, os mais elevados, por amor, descem de vez em quando para os planos mais inferiores em que se encontram os seus entes mais caros, para visitá-los. O amor é, pois, uma força poderosa que interliga os corações em todos os planos de vida. As leis são as mesmas, tanto na Terra como nos céus.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 282 a 286.
282. Como os Espíritos se comunicam entre si?
“Eles se veem e se compreendem. A palavra é material; é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; ´o veículo da transmissão do pensamento, como, para vós, o ar é o veículo do som; uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de uma mundo a outro”.  
 Podemos entender que entre os Espíritos há comunicação, e das mais perfeitas. Eles utilizam o fluido universal como veículo, para enviar o pensamento, e a transmissão está feita. A própria mediunidade é prova dessa verdade. O médium sintonizado com os seus guias espirituais recebe deles as orientações através da força das ideias, como sendo a telepatia muito conhecida dentre os homens. Entendemos também, que há Espíritos que sentem a mesma dificuldade que os homens para se comunicarem entre si, mas a expressão fisionômica sempre fala, demonstrando o que sentem.
283. Os Espíritos podem ocultar reciprocamente os seus pensamentos? Podem esconder-se uns dos outros?
“Não; para eles tudo é patente, sobretudo quando são perfeitos. Podem afastar-se uns dos outros, mas sempre se veem. Isto, porém, não constitui regra absoluta, porque certos Espíritos podem perfeitamente se tornar invisíveis a outros Espíritos, se assim julgarem útil”.
Podemos entender que os Espíritos da mesma faixa não podem ocultar seus pensamentos dos seus iguais, nem de Espíritos Superiores. Entretanto, para os de faixas mais baixas, eles podem perfeitamente ocultar seus pensamentos, bem como ficarem invisíveis a eles, se desejarem. Conforme os Espíritos responderam, isso não constitui, porém, regra absoluta; há nuances das leis que por vezes escapam até mesmo aos benfeitores que dirigem os homens. O Espírito superior tem todo o domínio sobre seus pensamentos, podendo até interrompê-los, se isto lhe convier.
284. Como é que os Espíritos, que não têm mais corpo, podem constatar suas individualidades e distinguir-se dos outros seres espirituais que os rodeiam?
“Eles constatam suas individualidades pelo perispírito, que os torna distinguíveis unas dos outros, como o corpo entre os homens”.
O Espírito reconhece, quando no mundo espiritual, aqueles que com ele conviveu na Terra. Imagens das vivências se plasmam nos centros mais sensíveis da consciência, vindo à tona de acordo com as necessidades de cada um. Todavia, os Espíritos mais elevados podem, pela sua vontade, recordar vidas passadas e reconhecer todos os seus companheiros de variadas existências, e que lhe serviram de instrumento de evolução.
285. Os Espíritos se reconhecem por terem convivido na Terra? O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo?
“Sim, e assim de geração em geração”.
285-a. Como se reconhecem no mundo dos Espíritos os homens que se conheceram na Terra?
“Vemos a vossa vida passada e lemos nela como num livro. Vendo o pretérito dos nossos amigos e dos nossos inimigos, aí vemos a sua passagem da vida para a morte”.
Os Espíritos mais elevados podem, pela sua vontade, recordar vidas passadas e reconhecer todos os seus companheiros de variadas existências. Quanto mais puro o Espírito, mais recordações lúcidas ele tem, com a serenidade que já possui. Ele reconhece todas as suas companhias e, nesta operação, pode buscá-las onde quer que seja.
286. Ao deixar os seus despojos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritos?
“Nem sempre imediatamente. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer-se e desembaraçar-se do véu material”.
Podemos entender que a alma, quando desencarna, tem muitas surpresas no além, porque nem sempre, logo ao seu desenlace, pode encontrar seus parentes e amigos que a precederam nessa viagem comum a todos os seres. Quase todos os Espíritos que passam para o lado de lá perdem os sentidos no momento do desprendimento do fardo. Tudo é relativo, de acordo com a evolução da criatura. Os Espíritos muito ligados às paixões terrenas e aos bens materiais, ficam apegados aos seus despojos por tempo indeterminado.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 279 a 281.
279.  Todos os Espíritos têm livre acesso a qualquer região?
“Os bons vão a toda parte e assim deve ser, para que possam exercer sua influência sobre os maus. Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de não as perturbarem com suas paixões inferiores”.
Nós sabemos que existem muitas regiões no mundo espiritual, e cada uma delas reúne espíritos com padrão semelhantes. Os Espíritos bons podem visitar e demorar nessas comunidades o tempo que lhes aprouver; essa liberdade é oportunidade de aprendizado, bem como de poder ensinar aos que ali se encontram. Os Espíritos inferiores, porém, não podem adentrar nas estâncias de luz, por não terem condições espirituais para tal. Além disso, eles nem enxergam esses planos, por lhes faltar desenvolvimento dos dons espirituais, que estão atrofiados pela constância da prática do mal. Os Espíritos imperfeitos não encontram os caminhos para visitarem os planos superiores. Se não lhes fossem interditados esses caminhos, eles levariam para lá as suas paixões e decadências morais, onde iriam perturbar a harmonia do ambiente de tranquilidade e de trabalho superior.
280. Qual a natureza das relações entre os bons e os maus Espíritos?
“Os bons se empenham em combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-los a subir. É sua missão”.
Nas relações entre bons e maus Espíritos, os bons cuidam de ensinar aos maus a prática das virtudes, e esse ensino se processa de várias maneiras, desde a palavra à vivência. Os fatos que a vida pode contar são numerosos. Há classes de Espíritos que não têm a capacidade de averiguar sua própria vida, corrigindo o que não entra em conexão com o Evangelho. Por vezes, escutam a Boa Nova do reino de Deus e veem coisas maravilhosas, porém, não entendem suficientemente para fazer uma análise mais profunda, retificando sua conduta.
281. Por que os Espíritos inferiores se comprazem em nos induzir ao mal?
“Pelo despeito de não terem merecido estar entre os bons. É desejo deles impedir, tanto quanto possam, que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o supremo bem. Querem que os outros experimentem o que eles próprios experimentam. Isto também não acontece entre vós?
Os Espíritos inferiores se comprazem em nos induzir ao mal pelo despeito, e por não saberem o valor da fraternidade. Os Espíritos maus sempre induzem os outros à maldade, por desconhecerem o valor do bem. Eles estão no princípio da sua formação espiritual, e os primeiros caminhos são esses, como o da criança. Tudo de bom se encontra dormindo no centro da sua personalidade; aguardando que o tempo e o esforço próprio os despertem; são as qualidades espirituais, atributos divinos que devem vibrar sob o domínio de si mesmos, como conhecimento da verdade.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 274 a 278.
274. As diferentes ordens de Espíritos estabelecem entre estes uma hierarquia de poderes. Há entre eles subordinação e autoridade?
“Sim, muito grande. Os Espíritos têm, uns sobre os outros, uma autoridade relativa à sua superioridade, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível”.
Como há diferentes ordens de Espíritos, essa escala é obedecida, considerando-se a autoridade moral dos Espíritos Superiores sobre aqueles que se encontram na retaguarda. O Espírito que responde a esta pergunta, fala que essa autoridade dos Espíritos Superiores sobre os inferiores é irresistível. Somente isso basta para compreendermos as leis espirituais que comandam uma vida de exemplos enobrecidos. A verdadeira autoridade está na base moral apenas, ou seja, em termos de evolução.
274-a. Os Espíritos inferiores podem subtrair-se à autoridade dos que lhes são superiores?
“Eu disse; irresistível”.
Ou seja, o Espírito inferior respeita sempre o superior.
275. O poder e a consideração de que um homem desfrutou na Terra lhe dão alguma supremacia no mundo dos Espíritos?
“Não, pois os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os salmos”.
O poder que um encarnado exerce na Terra não é garantia de que, no mundo espiritual, quando de sua volta, ele conservará a sua condição de mando. A notoriedade entre os encarnados pode ser ilusória, dependendo do modo pelo qual ele comanda seus irmãos. Em muitos casos, os mandatários no mundo terrestre podem ser muito inferiores aos que lhes obedecem, quando no mundo dos Espíritos. No mundo espiritual o que conta é a evolução intelecto-moral, e só a moral lhe dá caraterísticas de supremacia sobre os que não o são, e muitas vezes aquele que na Terra foi senhor, no mundo espiritual pode ser subalterno e vice-versa. Isso tem o condão de medir-lhes a humildade.
275-a. Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?
“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos? Pois bem! O maior na Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao passo que seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse Jesus: Aquele que se humilhar será exaltado e aquele que se exaltar será humilhado?”
No mundo espiritual o que conta é a evolução intelecto-moral, e só a moral lhe dá caraterísticas de supremacia sobre os que não o são, e muitas vezes aquele que na Terra foi senhor, no mundo espiritual pode ser subalterno e vice-versa. Isso tem o condão de medir-lhes a humildade.
276. Aquele que foi grande na Terra e que se acha em posição inferior, entre os Espíritos, sente humilhação por isso?
“Quase sempre muito grande, sobretudo se era orgulhoso e invejoso”.
Os grandes na Terra, que foram orgulhosos e invejosos, quando volvem à pátria espiritual, experimentam muita humilhação, mas da parte da sua consciência. Verificam em Espírito que não vale a pena a ostentação, e que o melhor comportamento é o que foi vivido por Jesus e anunciado pelos Seus seguidores mais próximos ao Seu coração.
277. O soldado que, após a batalha, se encontra com seu general no mundo dos Espíritos, reconhece-o ainda como seu superior?
“O título nada vale; a superioridade real é tudo”.
Daí, podemos entender que o general de qualidades morais inatacáveis, ao encontrar com seus soldados no mundo espiritual, pode continuar a orientá-los, para a verdadeira guerra, que se trava no campo de batalha interno. Por outro lado, o general de instintos inferiores, em muitas ocasiões, ao passar para o mundo dos Espíritos, pode estar bem abaixo dos seus comandados e precisar deles para guiá-lo, devido a sua cegueira no plano espiritual.
278. Os Espíritos das diferentes ordens estão misturados uns com os outros?
“Sim e não; quer dizer; eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam, segundo a analogia ou a antipatia de seus sentimentos, tal como acontece entre vós. É todo um mundo, do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias de Espírito, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam; os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo desejo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre seres semelhantes a eles”.
Esta resposta é bem elucidativa; a proximidade que os Espíritos terão uns dos outros no mundo espiritual vai depender da afinidade que tenham também uns com os outros sob o ponto de vista da escala de valores de seus sentimentos, do quanto tenham evoluído no transcurso das vidas sucessivas. As leis de Deus são justas em toda a criação, sempre atraímos de acordo com o que somos; a sintonia nos faz reunir com os nossos iguais, no entanto, a misericórdia e o amor do Todo Compassivo permite que os superiores venham sempre no meio dos inferiores, deixando ali a esperança. Os Espíritos de diferentes ordens se misturam uns com os outros, quando é necessário. Eles cumprem a vontade de Deus, porém, têm a sua vida interna, que não se mistura. O inferior não pode subir aos planos elevados, entretanto, os elevados podem descer aos planos inferiores para ajudar, enriquecendo ainda mais suas experiências. Os Espíritos puros vivem em comunidade de pureza, em planos que escapam aos sentidos humanos, mas, eles descem de vez em quando para trabalhar no desenvolvimento da moral no seio da inferioridade e, por vezes, até reencarnam na Terra, como lições vivas de Jesus, dando e mostrando os caminhos para a Luz, pelo exemplo de moralidade e de sabedoria.
Nota de Kardec:
Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e se encontram, sem se comunicarem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde o vício e a virtude convivem lado a lado sem se falarem.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Finalizando o estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 270 a 273.
270. A que se devem atribuir as vocações de certas pessoas e a vontade que sentem de seguir uma carreira de preferência a outra?
“Parece-me que vós mesmos podeis responder a esta pergunta. Não é a consequência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas e sobre o progresso realizado em existência anterior?”
Parece-nos simples essa pergunta, no entanto, ela foi feita para enriquecer mais os conhecimentos espirituais das criaturas. O Codificador era inspirado pelos benfeitores espirituais na formulação das perguntas, de maneira a mostrar a verdade aos que desejarem despertar seus dons que se encontram em estado latente. A vocação de certas pessoas para tal ou qual profissão está ligada à escolha que fez quando Espírito livre da matéria. Parece, para os ignorantes, que a criatura escolheu, naquele momento, o que deveria seguir, mas a escolha já se encontrava feita nos guardados da consciência.
271. No estado errante o Espírito estuda as diversas condições nas quais poderá progredir. Como pensa realizar seu progresso, nascendo, por exemplo, entre canibais?
“Não são Espíritos já adiantados que nascem entre os canibais, mas Espíritos da natureza dos canibais ou que lhes são inferiores”.
Ou seja, os Espíritos que reencarnam em condições extremamente primitivas, em termos de expressar o seu intelecto, são aqueles que estão em condições compatíveis com aquele grupo aonde vão reencarnar. Entre os canibais não nascem Espíritos elevados, cuja superioridade ultrapassa o entendimento daquele grupo. Para que um Espírito puro reencarnaria junto a Espíritos primitivos? Os Espíritos missionários só renascem em um meio onde as lições de que eles são portadores possam ser de proveito. Sobre isso, Jesus já falava aos Seus discípulos: Não deis pérolas aos porcos, nem lanceis coisas santas aos cães. É justo que no meio dos canibais nasça Espírito que tenha mais um pouco de entendimento que eles, para guiá-los, como igualmente reencarnam almas ainda mais inferiores, para aprenderem o que esses já granjearam na vida. Disso temos provas na própria sociedade da qual fazemos parte, onde há Espíritos de todos os naipes, uns elevados, outros medianos e outros de condições inferiores. Esse é o processo que está se desdobrando sob os nossos olhos nos dias atuais. Se enxergarmos com os olhos físicos essas diversas situações desagradáveis que acontecem no mundo de hoje, poderíamos imaginar que a barbárie está tomando conta da Humanidade. Nós estamos chegando a um ponto tal que parece que estamos regredindo ao invés de progredir. Realmente, parece isso, a um primeiro olhar. Porém, se enxergarmos com a visão espírita, com a visão que os Espíritos estão falando aqui, a coisa muda de aspecto, ou seja, estamos vendo hoje a última oportunidade de um grupo enorme de Espíritos que reencarnaram ter a oportunidade de evoluir, para permanecer no planeta, porque o planeta já está evoluindo.
Comentário de Kardec:
Sabemos que os nossos antropófagos não se acham no último degrau da escala espiritual e que mundos há onde a bruteza e a ferocidade não têm analogia na Terra. Os Espíritos que aí encarnam são, portanto, inferiores aos mais ínfimos que no nosso mundo encarnam. Para eles, pois, nascer entre os nossos selvagens representa um progresso, como progresso seria, para os antropófagos terrenos, exercerem entre nós uma profissão que os obrigasse a fazer correr sangue. Não podem pôr mais alto suas vistas, porque sua inferioridade moral não lhes permite compreender maior progresso. O Espírito só gradativamente avança. Não lhe é dado transpor de um salto a distância que da civilização separa a barbárie e é esta uma das razões que nos mostram ser necessária a reencarnação, que verdadeiramente corresponde à Justiça de Deus. De outro modo, que seria desses milhões de criaturas que todos os dias morrem na maior degradação, se não tivessem meios de alcançar a superioridade? Por que os privaria Deus dos favores concedidos aos outros homens?
272. Espíritos vindos de um mundo inferior à Terra, ou de um povo muito atrasado, como os canibais, poderiam nascer entre nossos povos civilizados?
“Sim. Há os que extraviam, por quererem subir muito alto; mas, nesse caso, ficam deslocados entre vós, porque têm costumes e instintos que não condizem com os vossos”.
A meu ver, esta pergunta complementa esse processo da evolução dos Espíritos muito primitivos.
Em qualquer comunidade, encontramos indivíduos que, mesmo demonstrando inteligência e sensibilidade, demonstram inferioridade espiritual, que é manifesta, predominantemente por uma tendência à animalidade em seus comportamentos. Para essas criaturas, a vida se restringe a uma determinada linha de conduta que é basicamente instintiva, no provimento da sobrevivência e da preservação da própria espécie. Não vão além disso. São maus? Não! São apenas Espíritos que ignoram.
Comentário de Kardec:
Esses seres nos oferecem o triste espetáculo da ferocidade no seio da civilização. Voltando para o meio dos canibais, não sofrem uma degradação; apenas retomam o seu lugar e talvez ainda ganhem com isso.
273. Um homem que pertence a uma raça civilizada poderia, por expiação, reencarnar numa raça selvagem?
“Sim, mas depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha sido cruel com seus escravos poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus-tratos que infligiu a outros. Aquele que exerceu o mando em certa época, pode, em nova existência, obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade. É uma expiação que Deus lhe impõe, se ele abusou do seu poder. Um bom Espírito também pode querer encarnar no seio daquelas raças, ocupando posição influente, para fazê-las progredir. Trata-se, então, de uma missão”.
São circunstâncias, são situações diferentes que os Espíritos nos mostram para que façamos uma reflexão. Podemos observar que a resposta dos Espíritos faz referência à época de Kardec, quando existia escravidão em diversos países civilizados. Um Espírito de mediana evolução pode renascer em uma tribo de selvagens, mas, tomando o lugar de destaque naquele ambiente, no sentido de levar os Espíritos ali reencarnados a melhores dias e a uma vivência mais agradável. Ele regride na forma, mas não no Espírito; o que aprendeu ele carrega consigo vibrando na alma. Esse é um tipo de prova que se vê constantemente em todo o mundo; é lei de justiça divina. Assim, alguns impiedosos senhores de engenhos renasceram como escravos, para suportarem na própria carne o que fizeram os outros sofrer sob o seu comando. Pelas ruas encontramos muitas vezes mendigos dormindo nas calçadas, enfrentando frio e chuva, fome e nudez, e, ainda mais, o desprezo da sociedade, porque abusaram dos poderes no passado e desmantelaram a mesma sociedade com os seus instintos inferiores.
No livro Vidas de outrora, de Eliseu Rigonatti, encontramos inúmeros casos de Espíritos que reencarnaram em condições diversas e dificuldades diversas, exatamente para viver o processo expiatório que lhes cabia.

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 267 a 269.
267. O Espírito poderá fazer sua escolha durante a vida corporal?
“Seu desejo pode influir, dependendo da intenção. Como Espírito livre, porém, quase sempre vê as coisas de modo bem diferente. É o Espírito quem faz a escolha; mas, ainda uma vez, ele pode fazê-la mesmo na vida material, pois há sempre momentos em que o Espírito se torna independente da matéria em que habita”.
As leis espirituais são elásticas, para atender a todos, no nível de cada escala do progresso espiritual. O Espírito pode escolher as suas provas mesmo antes de desencarnar, em se pensando em futura reencarnação. Ele formula ideias que podem ser aproveitadas, no que se refere às suas necessidades espirituais, mas, ele pode, igualmente, mudar de ideia ao chegar ao mundo dos Espíritos.
As escolhas antecipadas geralmente sofrem retificações para melhor aprimoramento do Espírito em questão.
267-a. Certamente não é como expiação, ou como prova, que muitas pessoas desejam as grandezas e as riquezas.
“De modo algum. É a matéria que deseja essa grandeza para gozá-la, e o Espírito para conhecer-lhe as vicissitudes”.
Quando o Espírito deseja escolher as riquezas, os poderes, e isso lhe é concedido, e ele as usa somente para sua satisfação interior e individual, notar-se-á a sua inferioridade, e quando as usa para o benefício da coletividade, esse pode se chamar de benfeitor da humanidade.
268. Até que chegue ao estado de pureza perfeita, tem o Espírito que passar constantemente por provas?
“Sim, mas não como o entendeis, pois só considerais provas as tribulações materiais. Ora, mesmo sem ser perfeito, o Espírito que se elevou a um certo grau não tem mais provas a sofrer. Porém, sempre tem deveres que o ajudam a se aperfeiçoar, e que nada tem de penosos, ainda que consistam em auxiliar os outros a se aperfeiçoarem”.
O Espírito, em certas faixas evolutivas, passa por provas, por vezes duras, com o objetivo de despertar ou aprimorar suas qualidades espirituais, depositadas, em sua consciência, pelo Criador. O progresso da alma tem um preço: a passagem pela porta estreita.
Em princípio, o homem abusa dos poderes que lhe foram concedidos, do ouro que lhe foi entregue por empréstimo do Pai; da saúde que a vida lhe ofertou, e a inferência disso são os sofrimentos de toda ordem, que vêm lhe ensinar o roteiro mais proveitoso a trilhar. Quando a lição é aprendida, cessa a necessidade da presença da dor, mestra incomparável, que deixa o homem entregue a si mesmo, consciente dos seus deveres. As provas, portanto, têm um fim, e quando o Espírito já não necessita de passar por situações penosas, outros vêm a ser os seus deveres, quando ele empregará os valores conquistados, com alegria, no seu adiantamento e no progresso dos que se acham na retaguarda, assim como ele mesmo recebe do Alto a assistência nos seus caminhos de redenção.
269. O Espírito pode enganar-se quanto à eficácia da prova que escolheu?
“Pode escolher uma que esteja acima de suas forças e sucumbir. Também pode escolher uma que não lhe traga proveito algum, como buscar, por exemplo, um gênero de vida ociosa e inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos Espíritos, percebe que nada ganhou e pede outra para reparar o tempo perdido”.
O Espírito pode perfeitamente se enganar na escolha da prova que queira experimentar na Terra. A sua percepção, não atingindo a realidade, leva-o a pensar que está sendo inteligente escolhendo provas de ociosidade, tendo, como no dizer popular, só "sombra e água fresca". Quando volta ao mundo espiritual ele se arrepende, e deseja retornar com volume maior de obrigações e com provas duras, para compensar o tempo perdido, na ilusão que lhe enganava. Ele pode, também, pedir provas além das suas forças e sucumbir no meio do caminho. Os extremos são perigosos, mesmo quando objetivamos o bem. 

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar a Questão  266.
266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas?
“Para vós, sim; para o Espírito não. Quando este se desprende da matéria, a ilusão acaba e outra é a sua maneira de pensar”.
Primeiro, nós temos que nos localizarmos nessa pergunta. Ela diz respeito ao momento em que o Espirito ainda está no plano espiritual traçando o seu projeto de vida, escolhendo provas, de acordo com as suas necessidades. Nessa resposta, os Espíritos nos mostram a mudança de postura. Quando ele está encarnado é uma, quando está desencarnado é outra. Quando a alma se encontra na carne, somente vê nas provas ideias negativas e, por vezes, sentem-se como grandes devedores, mas essa não é a realidade; são processos de despertamento espiritual necessários ao progresso de todos que assumiram compromissos, no mundo da verdade, para ganharem mais depressa a tranquilidade de consciência. O Espírito, quando se encontra na erraticidade, não pensa em provas fáceis, principalmente o que já se acha desperto para a luz do entendimento. Ele vê seu caminho cheio de lutas e deseja lutar; reconhece que as coisas fáceis lhe trazem dificuldades inúmeras, capazes de lhe fazer voltar às tarefas terrenas para recomeçar de novo, enquanto quase todos que carregam o peso da carne já têm outros pensamentos, querendo ficar livres de todas as provas, e se lhes fosse dado escolher, já não escolheriam o que escolheram quando desencarnados, por estar a sua visão vedada pela baixa vibração como encarnado.
Comentário de Kardec: Sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o Espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito.
A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. Após cada existência, veem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, solicitando as que possam fazer que a alcancem mais presto. Não há, pois, motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar.
Não vemos, aliás, todos os dias, exemplos de escolhas tais? Que faz o homem que passa uma parte de sua vida a trabalhar sem trégua, nem descanso, para reunir haveres que lhe assegurem o bem-estar, senão desempenhar uma tarefa que a si mesmo se impôs, tendo em vista melhor futuro? O militar que se oferece para uma perigosa missão, o navegante que afronta não menores perigos, por amor da Ciência ou no seu próprio interesse, que fazem, também eles, senão sujeitar-se a provas voluntárias, de que lhes advirão honras e proveito, se não sucumbirem? A que se não submete ou expõe o homem pelo seu interesse ou pela sua glória? E os concursos não são também todos provas voluntárias a que os concorrentes se sujeitam, com o fito de avançarem na carreira que escolheram? Ninguém galga qualquer posição nas ciências, nas artes, na indústria, senão passando pela série das posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é, pois, cópia da vida espiritual; nela se nos deparam em ponto pequeno todas as peripécias da outra. Ora, se na vida terrena muitas vezes escolhemos duras provas, visando posição mais elevada, por que não haveria o Espírito, que enxerga mais longe que o corpo e para quem a vida corporal é apenas incidente de curta duração, de escolher uma existência árdua e laboriosa, desde que o conduza à felicidade eterna? Os que dizem que pedirão para ser príncipes ou milionários, uma vez que ao homem é que caiba escolher a sua existência, se assemelham aos míopes, que apenas veem aquilo em que tocam, ou a meninos gulosos, que, a quem os interroga sobre isso, respondem que desejam ser pasteleiros ou doceiros.
O viajante que atravessa profundo vale ensombrado por espesso nevoeiro não logra apanhar com a vista a extensão da estrada por onde vai, nem os seus pontos extremos.
Chegando, porém, ao cume da montanha, abrange com o olhar quanto percorreu do caminho e quanto lhe resta dele a percorrer. Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda terá de transpor e combina então os meios mais seguros de atingi-lo. O Espírito encarnado é qual viajante no sopé da montanha. Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo domina, como a daquele que subiu à crista da serrania. Para o viajor, no termo da sua jornada está o repouso após a fadiga; para o Espírito, está a felicidade suprema, após as tribulações e as provas.
Dizem todos os Espíritos que, na erraticidade, eles se aplicam a pesquisar, estudar, observar, a fim de fazerem a sua escolha. Na vida corporal não se nos oferece um exemplo deste fato? Não levamos, frequentemente, anos a procurar a carreira pela qual afinal nos decidimos, certos de ser a mais apropriada a nos facilitar o caminho da vida? Se numa o nosso intento se malogra, recorremos a outra. Cada uma das que abraçamos representa uma fase, um período da vida. Não nos ocupamos cada dia em cogitar do que faremos no dia seguinte? Ora, que são, para o Espírito as diversas existências corporais, senão fases, períodos, dias da sua vida espírita, que é, como sabemos, a vida normal, visto que a outra é transitória, passageira?
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 264 a 265.
264. O que guia o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe as que lhe possam servir de expiação, segundo a natureza de suas faltas, e o faça progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, a fim de tentarem suportá-las com coragem; outros querem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelo abuso e mau emprego que deles se possa fazer, e pelas más paixões que desenvolvem. Outros, finalmente, querem ser provados nas lutas que terão de sustentar no contato com o vício”.
Quando é dado ao Espírito escolher as provas que enfrentará no corpo, ele escolhe os caminhos compatíveis com as suas necessidades. O Espírito que tem o preparo para escolher suas provas, se estivesse na carne, talvez escolhesse outros testemunhos, porque em Espírito a lucidez é outra, e o que interessa é o maior aperfeiçoamento. Quando na carne, logo que aparecem os primeiros sintomas dos revezes que escolheu, ele apavora, porquanto a escolha é teoria, e enfrentar as dificuldades é prática bem diferente. Muitos desistem no meio do caminho, no entanto, tornam a pedir reforço em voltas sucessivas, pois somente a reencarnação dar-lhes-á a chave da libertação espiritual, que eles, por vezes, veem os outros gozarem no mundo de onde vieram.
O que leva a alma a pedir duras provas em novo corpo é saber e sentir que só a consciência tranquila a limpará de todas as mazelas inferiores que lhe causam infelicidade. A solução dos problemas se encontra dentro de cada ser. A prova na escolha do Espírito viciado na bebida desregrada; ele nasce em um meio que lhe proporciona facilidade de aprender a beber, porque é nele que o Espírito sente, pelos sofrimentos, a necessidade de se livrar do vício com mais profundidade. Como aprender o desprendimento, vindo pobre ao mundo? Como perdoar, se não houver quem lhe ofenda? Como abster-se do sexo, com equilíbrio, se não se conviver com a facilidade dos desregramentos? Precisamos estudar todos os pontos de aperfeiçoamento espiritual, meditar neles, trocar experiências.
265. Se alguns Espíritos escolhem, por provação, o contato com o vício, haverá ao que busquem por simpatia e pelo desejo de viverem num meio conforme aos seus gostos, ou para poderem entregar-se materialmente aos seus pendores materiais?
“Há, sem dúvida, mas somente entre aqueles cujo senso moral ainda está pouco desenvolvido. A prova vem por si mesma e eles a sofrem por muito mais tempo. Cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes traz consequências deploráveis, que sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. Deus poderá deixa-los nesse estado, até que compreendam seus erros e, por iniciativa própria, peçam para repará-los, mediante úteis provações”.
Há também Espíritos que escolhem nascer em um reduto viciado por gostarem do vício e sentirem necessidade de estar envolvidos nele. Nesses, o senso moral ainda não tem desenvolvimento bastante para lhes mostrar que eles devem se esforçar, no sentido de adquirir a decência nos caminhos que percorrem.
Não há uma regra geral nas escolhas das provações, mas, todas elas nos trazem lições, mais ou menos demoradas, que o tempo fica encarregado de nos transmitir pelos processos da dor. As deduções que a razão nos oferece, para escolher essa ou aquela provação, vêm impulsionadas pelos nossos sentimentos, pelo tipo de escolha.
Os benfeitores espirituais nos conhecem, entretanto, na hora de conceder o escolhido, o automatismo do sim ou do não é mais profundo do que se pensa. Primeiramente, ele vem de Deus, porque todas as decisões partem d'Ele, o Supremo Mandatário do Universo, e, por vezes, nasce no candidato, por inspiração de alguém que o ajuda nas lutas de cada dia, como avalista da riqueza da vida na carne que vai receber.
Os que escolhem tipos de provas para satisfazer suas paixões brutais, mais cedo ou mais tarde, arrepender-se-ão das suas escolhas. Embora conhecendo a inconveniência do caminho, Deus lhes concedeu como aprendizado, pois ao descobri-los é que o Espírito permanecerá nos roteiros de luz.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 260 a 263.
260. Como pode o Espírito querer nascer entre gente de má vida?
“É necessário que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É preciso que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, é indispensável que se encontre entre gente dessa espécie”.
O mal não é de origem divina. Ele deriva do mau uso do nosso livre-arbítrio. Deus deixa que assim ocorra para que aprendamos pelas experiências a desenvolver os valores que nos levarão à felicidade verdadeira. Por vezes, o Espírito que tem certos defeitos a corrigir nasce em família com as mesmas faltas a serem corrigidas. Aí é que está sua maior prova, e a solução do problema está dentro dele. Uma alma que tem instintos de se apossar do alheio nasce em família que gosta de roubar; esse Espírito deve se esforçar, dentro do ambiente favorável ao erro, para se libertar daquilo que precisa para se tornar livre. Se renascer no lar já motivado pelo Evangelho, entre pessoas que já se limparam das mazelas das paixões inferiores, qual o esforço que ele terá que fazer para o seu aperfeiçoamento? Sabendo disso, escolhe lar compatível com as suas tendências. Isso é analogia de sentimentos. Atraímos o que somos, esta é a lei.
260-a. Assim, se não houvesse gente de má vida na Terra, o Espírito não encontraria aí meio adequado a certas provas?
“E se deveria lamentar isso? É o que ocorre nos mundos superiores, onde o mal não tem acesso. Eis porque neles só existem Espíritos bons. Fazei que em breve o mesmo aconteça na Terra”.
Isto quer dizer que, se nós queremos viver entre os Espíritos bons, temos que aprimorar o nosso comportamento. E a Terra se aproxima dessa mudança, e quem a herdar será feliz, pois, não mais fará dívidas. Quando a Terra mudar de dimensão, sair das provações para ser um mundo de regeneração, e daí para casa superior onde deverão habitar somente Espíritos de paz, os Espíritos inferiores não terão oportunidade de voltar a ela, mesmo querendo. Soframos, pois, com paciência, o que for necessário para a limpeza do fardo, no preparo para o paraíso, que pode ser a própria Terra.
261. Nas provações por que deve passar para alcançar a perfeição, o Espírito terá de experimentar todos os gêneros de tentações? Terá de passar por todas as situações que possam exercitar-lhe o orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade, etc. ?
“Certamente não, pois sabeis que há os que tomam desde o princípio um caminho que os livra de muitas provas. Mas aquele que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os riscos desse caminho. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e esta lhe ser concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avarento ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda entregar-se a todos os prazeres da sensualidade. O que não quer dizer que deva passar forçosamente por todas essas tendências”.
Vamos nos reportar a duas leis: lei do livre-arbítrio e a lei de causa e efeito. Pela lei do livre-arbítrio, nós escolhemos os caminhos pelos quais haveremos de passar. Temos a possibilidade de fazer as escolhas, os atos que vamos praticar. Só, que, essa lei do livre-arbítrio nos é dada para que possamos aprender a praticar a lei divina, através dos nossos atos, das nossas palavras. Agora, se as nossas escolhas forem mal direcionadas, haveremos de passar pela lei de causa e efeito. No campo das escolhas e das concessões, há uma coisa que fala mais alto: a maturidade da alma que mostra a necessidade das provas. Pode um Espírito pedir a riqueza, segundo a resposta à pergunta, e ser atendido. Alguns usam o ouro, fazendo dele motivo de glória na sua vida, e outros, carentes de lições que lhes possam preparar para o futuro, usam mal os recursos da fortuna, por lhes faltar maturidade devida, que o passado não lhes conferiu. É muito engenhosa a vida do Espírito, porque os Espíritos se encontram em escalas diferentes, uns dos outros.
262. Como pode o Espírito que, em sua origem, é simples, ignorante e sem experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?
“Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazes com uma criança desde o berço. Contudo, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve. Ele o deixa livre para escolher e só então é que muitas vezes o Espírito se extravia, tomando o mau caminho, por não ouvir os conselhos dos bons Espíritos. É a isso que se pode chamar a queda do homem”.
O Espírito na sua origem é simples e ignorante, contudo, ele tem a devida assistência na sua jornada inicial. Ele é guiado por benfeitores espirituais que o conduzem pelos fios do instinto, com toda a segurança. Ele, nesse estado d'alma, ainda não sabe cuidar da sua própria evolução. O seu despertamento vem pelas vias naturais, na gradação que o progresso pode dar, onde não participa seu esforço próprio, por não ter conhecimento da sua tarefa na Terra, a não ser pela intuição das leis que dormem no fundo da sua consciência, forças essas que despertam com o perpassar do tempo. Ao raiar dos primeiros sinais de individualidade, o Espírito passa a escolher o que mais lhe convém, sem raciocinar no que poderá acontecer. As facilidades levam-no ao orgulho e ao egoísmo, e a violência cresce pelo poder da razão. Assim, o instinto que antes servir-lhe-ia de guia, se atrofia na sua origem. É bom que não acreditemos que foi culpa da própria alma, ao escolher os caminhos que se tornarão em faltas que atraem reações compatíveis com o que foi feito. São processos criados por Deus, para educar todos os Seus filhos. Eis porque todos passamos por esses meios, e deles tiramos muito proveito no desenrolar do tempo, sob a elasticidade do espaço.
262-a. Quando o Espírito goza do seu livre-arbítrio, a escolha da existência corporal dependerá sempre exclusivamente de sua vontade, ou essa existência lhe pode ser imposta, como expiação, pela vontade de Deus?
“Deus sabe esperar, não apressa a expiação. Entretanto, pode impor determinada existência a um Espírito, quando este, por sua inferioridade ou má vontade, não está apto a compreender o que lhe seria mais salutar, e quando vê que tal existência pode contribuir para a sua purificação e, ao mesmo tempo, servir-lhe de expiação”.
Todo livre-arbítrio é inspirado nas leis universais. Daí se pode deduzir que somente Deus comanda tudo, desde a matéria primitiva na candura da sua origem, até à Sua corte celestial. A liberdade que cresce com o crescimento espiritual somente não sofre interferência quando tudo se encontra na harmonia, que corresponde às nossas necessidades. O Espírito foi feito simples e ignorante, mas, por dentro, carrega consigo, como tesouro divino, a vontade de Deus. Podemos dizer que tudo que ocorre com o Espírito são processos de despertamento espiritual, de modo a levá-lo a conhecer a verdade.
263. O Espírito faz sua escolha imediatamente depois da morte?
“Não; muitos acreditam na eternidade das penas, e isso, como já vos foi dito, é um castigo”.

Aqui, Kardec está fazendo referência à programação de uma nova vida do Espírito. O que ele vai ser, o que ele vai fazer, etc. Logo após a sua desencarnação, o Espírito passa por uma profunda mudança; obviamente, nessas condições, ele não está apto para fazer escolhas, principalmente se ele está envolvido pelas paixões terrenas. É necessário que tenha um tempo. Pode acontecer a um Espírito mais consciente de seus deveres, reencarnar logo, mesmo assim é muito raro não haver intervalo entre as duas vidas. Não podemos precisar ao certo a duração desses intervalos. Os Espíritos inferiores, como respondem os Espíritos, acreditam na eternidade das penas. A sua mente foi trabalhada nisso por muitos anos e o condicionamento não cede lugar facilmente para outras ideias, a não ser com o trabalho do tempo.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Início do estudo do tópico Escolha das provas.
258. No estado errante, e antes de começar nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que lhe vão acontecer durante a vida?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas que deseja sofrer e nisso consiste o seu livre-arbítrio”.
Esta resposta determina um ponto muito importante para o começo de nossa reflexão, que nos convida a apreciar com profundidade esse assunto da escolha das provas. Costumamos ouvir: “não sei que mal eu fiz a Deus para ter um filho assim”. Porém a criatura não deve se queixar de sua vida, nem das circunstâncias em que ela passa determinadas experiências, porque, simplesmente, são provas que ela escolheu e vai ter que passar. Provavelmente, esse filho que hoje lhe dá dor de cabeça, é alguém que ela induziu ao erro, ontem, em outra existência, fazendo com que ele fosse um Espírito rebelde, difícil de lidar. Então, essa criatura tem que ajudá-lo a soerguesse dessa condição de inferioridade para tornar-se um homem melhor.
258-a. Não é Deus, então, que lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?
“Nada acontece sem a permissão de Deus, pois foi Ele quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Perguntai, então, por que fez tal lei, e não outra! Dando ao Espírito a liberdade de escolher. Deus lhe deixa toda a responsabilidade de seus atos e de suas consequências. Nada entrava o seu futuro; o caminho do bem, como o do mal, lhe estão abertos. Se vier a sucumbir, resta-lhe o consolo de que nem tudo se acabou para ele e que Deus, em sua bondade, deixa-o livre para recomeçar o que foi malfeito. Além disso, é preciso distinguir o que é obra da vontade de Deus do que é obra da vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus; tivestes, porém, o desejo de vos expordes a ele, porque nele vistes um meio de progredirdes, e Deus o permitiu”.
Ou seja, todas as escolhas que tenhamos feito na vida são nossas, e se passamos por processos de dificuldade X Y ou Z, é porque Deus deixou; e tem um detalhe muito importante. Deus está acreditando em nós; na possibilidade de superarmos aquela dificuldade que porventura nos surja na vida. E o mais importante, com a liberdade de escolher e com o livre-arbítrio nós temos a chance de conquistarmos valores morais por nossa própria escolha.
259. Se o Espírito pode escolher o gênero de provas que deve sofrer, seguir-se-á que todas as tribulações que experimentamos na vida foram previstas e escolhida por nós?
“Todas não é bem o termo, porque não escolhestes nem previstes tudo o que vos sucede no mundo, até as menores coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações; os detalhes são consequência da posição e, muitas vezes, das vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que arrastamento se expunha, mas ignorava quais os atos que viria a praticar. Esses atos resultam do exercício da sua vontade, ou do seu livre-arbítrio. Ao escolher tal caminho, sabe o Espírito que gênero de lutas terá que sustentar; sabe, portanto, a natureza das vicissitudes que irá encontrar, mas ignora quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes secundários se originam das circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, os que influem no destino, estão previstos. Se escolhes um caminho acidentado, sabes que terás de tomar muitas precauções, porque grande é a probabilidade de caíres; ignoras, no entanto, em que trecho cairás, mas é possível que nem caias, se fores bastante prudente. Se, ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não creias que estava escrito, como se diz vulgarmente”.

Na realidade, não existe um destino. Existe um projeto de vida, e nós somos os artífices dele. Quando nós saímos para uma viagem, temos que fazer um projeto para ela. Como eu vou viajar? Eu vou viajar de carro, de trem, de ônibus, etc. Lá, eu vou ficar onde? Vou ficar num hotel, num acampamento, na casa de um familiar ou de um amigo? Se for num hotel, eu tenho que fazer a reserva, enfim, eu tenho que fazer um planejamento. Agora, nada impede que eu mude a trajetória. Vou pegar outro caminho. A mesma coisa se dá quando nós fazemos um projeto para uma nova existência. Nós escolhemos situações gerais, aquilo que vida vai nos trazer, de acordo com as circunstâncias que nós necessitamos para o nosso aprendizado. Por isso, nós podemos escolher qual a família que vai nos acolher, quais as condições de ordem material, social. Coisas assim, nós vamos escolhendo. Agora, estando aqui encarnados, o nosso livre-arbítrio vai definir se vamos cumprir ou não. Isso não está programado, mas, lógico que vamos pagar o preço das escolhas insensatas que venhamos a fazer. Quando escolhemos certos tipos de provas, escapa-nos o conhecimento das particularidades que possam ocorrer. Somente Deus sabe tudo e concede a nós o que pedimos, desde que nos sirva de lições valiosas. Fica a critério da nossa liberdade a solução dos problemas que deverão surgir em meio às provas escolhidas. O gênero de provas é escolhido, mas, um mundo de revezes provenientes delas escapou à razão, e teremos que criar defesas na hora que surgirem, ou então, seremos envolvidos por eles.  A grande verdade é esta: temos que entender que, acima de tudo, nada acontece por acaso.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Início do estudo de uma dissertação feita por Kardec, com base nas informações colhidas dos Espíritos, falando a respeito do Ensaio teórico sobre a sensação dos Espíritos, na Questão 257. Essa questão não é exatamente uma pergunta. É um comentário longo de Kardec.
257. O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primeira desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor; essa percepção é o efeito. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma; a alma não pode congelar-se, nem se queimar. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito da realidade, e até mesmo ocasionarem a morte? Todos sabem que as pessoas amputadas sentem dor no membro que não existe mais. Seguramente, não é nesse membro que está a sede ou o ponto de partida da dor; o cérebro é que guardou esta impressão, eis tudo. É lícito, pois admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha papel tão importante em todos os fenômenos espíritas, tal como nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado em que o Espírito vem a encontrar-se por ocasião da morte, na ideia tão frequente que ele tem de que ainda está vivo, no quadro tão comovente dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram absorver pelos gozos materiais, e tantos outros fatos vieram lançar luz sobre esta questão, motivando as explicações que passamos a resumir.
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; ele é tirado do meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, mas não o da vida intelectual, pois esta reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa.
Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa.
Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver. Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: No entanto, sinto os vermes a me roerem. Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, ruído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados.
Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro. Mas, dir-se-á, desde que pelo perispírito é que as sensações agradáveis, da mesma forma que as desagradáveis, se transmitem ao Espírito, sendo o Espírito puro inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Assim é, de fato, com relação às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores nenhuma impressão lhe causam. Entretanto, ele experimenta sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais ideia alguma podemos formar, porque, a esse respeito, somos quais cegos de nascença diante a luz. Sabemos que isso é real; mas, por que meio se produz? Até lá não vai a nossa ciência. Sabemos que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte apenas do ser; mas, de que modo ele as tem? Ignoramo-lo. Os próprios Espíritos nada nos podem informar sobre isso, por inadequada a nossa linguagem a exprimir ideias que não possuímos, precisamente como o é, por falta de termos próprios, a dos selvagens, para traduzir ideias referentes às nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.
Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea, se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semi-material se eteriza.
Haurido do meio ambiente, esse invólucro varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do polo ao equador. Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do perispírito terrestre e então suas percepções se produzem como no comum dos Espíritos. Todos, porém, assim os inferiores como os superiores, não ouvem, nem sentem, senão o que queiram ouvir ou sentir. Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa são obrigados a ouvir – os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas, eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são superiores. Nos primeiros instantes que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre turbada e confusa. Aclara-se, à medida que ele se desprende, e pode alcançar a nitidez que tinha durante a vida terrena, independentemente da possibilidade de penetrar através dos corpos que nos são opacos. Quanto à sua extensão através do espaço indefinito, do futuro e do passado, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Objetarão, talvez: toda esta teoria nada tem de tranquilizadora. Pensávamos que, uma vez livres do nosso grosseiro envoltório, instrumento das nossas dores, não mais sofreríamos e eis nos informais de que ainda sofreremos. Desta ou daquela forma, será sempre sofrimento. Ah! Sim, pode dar-se que continuemos a sofrer, e muito, e por longo tempo, mas também que deixemos de sofrer, até mesmo desde o instante em que se nos acabe a vida corporal.
Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre vivesse com sobriedade, que de nada abusasse, que fosse sempre simples nos gostos e modesto nos desejos, a muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos por que passa são sempre a consequência da maneira por que viveu na Terra. Certo já não sofrerá mais de gota, nem de reumatismo; no entanto, experimentará outros sofrimentos que nada ficam a dever àqueles. Vimos que seu sofrer resulta dos laços que ainda o prendem à matéria; que quanto mais livre estiver da influência desta, ou, por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. Ele tem o livre-arbítrio, tem, por conseguinte, a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral.
Interrogamos, aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as classes da sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo; acompanhamo-los passo a passo na vida de além-túmulo, para observar as mudanças que se operavam neles, nas suas ideias, nos seus sentimentos e, sob esse aspecto, não foram os que aqui se contaram entre os homens mais vulgares os que nos proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas consequências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro mundo, quer neste.
Aqui, nós temos uma série de informações que mostram, por exemplo, o quanto Kardec era uma pessoa bem qualificada e bem preparada para a tarefa da codificação. Ele tinha conhecimento de anatomia e de fisiologia profundos para a sua época, e, até para a época atual. Ele nos dá uma aula de fisiologia da dor. A dor que nós sentimos fisicamente depende basicamente do grau de condicionamento que tenhamos para tolerá-la.
O interessante é que, Kardec, depois de analisar milhares de comunicações vindas dos Espíritos, de todas as posições sociais, ele começou a acompanhar e estudar o que ocorria com eles; quais as mudanças que eles apresentavam no plano espiritual; quais as suas sensações. Podemos citar, como por exemplo, a Revista Espírita de 1852, onde Kardec  coloca para o Espírito São Luiz uma indagação a respeito de uma comunicação dada por um Espírito, falando sobre a sua penosa sensação de frio que sentia. Diz Kardec: compreendemos os sofrimentos morais, ou seja, remorso, vergonha, angústia, mas frio, calor, sede, fome, não efeitos morais. Experimentariam os Espíritos tais sensações? E São Luiz responde com outra pergunta: tua alma tem sede? Refletindo sobre essa resposta, Kardec conclui que aquele Espírito que dizia sentir um frio terrível, na realidade, ele não sentia um frio real, visto que, ele não tinha mais o corpo físico, mas uma lembrança da sensação de frio, que havia suportado.
O Espírito, quando reencarna, é ligado ao corpo por fios tenuíssimos em vários centros de força, refletores de outros centros da alma, no domínio de todas as células do campo somático. Quando o corpo físico começa a desagregar-se por desleixo da alma que não cuidou da sua vestimenta, ou por processos ligados ao passado, ou por leis de mudanças necessárias, não é ele que sofre as impressões dolorosas; é o Espírito, por sua alta sensibilidade, que capta essas impressões, pelas linhas que o prendem à argamassa física.
Esse processo de sofrimentos é, pois, um campo de experiências, mediante o qual despertam os valores do Espírito que dormem na consciência profunda.

Com o conhecimento que agora se tem, trazido à luz pelo ensaio teórico do Codificador e com todas as experiências adquiridas ao longo do tempo, deve-se passar à vivência dos ensinos de Jesus, conhecendo a verdade que oferecerá a coroa de luz, marcando assim a sua dignidade como cidadão livre no campo da vida espiritual.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 252 a 256.
252. Os Espíritos são sensíveis às belezas da Natureza?
“As belezas naturais dos globos são tão diferentes que estamos longe de as conhecer. Sim, os Espíritos são sensíveis a essas belezas, segundo as aptidões que tenham para apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto diante das quais se apagam, por assim dizer, as belezas dos detalhes”.
Sabemos que os planetas, de acordo com a sua atmosfera, têm o céu de uma determinada cor, quando iluminado pela luz solar. Aqui na Terra, nós enxergamos o céu azul. Há planetas em que o céu talvez seja rosado, devido a composição de gases que compõe a sua atmosfera. Ora, nós sabemos que o belo é próprio da criação divina e, obviamente, a Natureza nos oferece tantas coisas belas para a nossa visão tanto quanto para o próprio sentimento. Quantas vezes buscamos a Natureza para refazer as nossas energias?
253. Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e sofrimentos físicos?
“Eles os conhecem, porque os sofreram, mas não os experimentam como vós, materialmente; são Espíritos”.
Aqui, nós temos que levar em conta que a Espiritualidade está falando de Espíritos superiores, que já passaram por dificuldades, por sofrimentos. Eles já superaram as questões da matéria, e já vibram numa energia diferente e, obviamente, já não passam por nenhum sofrimento e necessidades de ordem física. Os Espíritos superiores certamente que conhecem todos os tipos de sofrimentos, por terem passado por eles quando estagiavam na Terra, em um corpo físico. Todos nós passamos pelos mesmos caminhos de ascensão, todavia, quando a consciência se encontra limpa de todas as mazelas inferiores, o Espírito se encontra livre das respostas da lei de causa e efeito. Ele vive envolvido no magnetismo superior a que fez jus.
254. Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de repouso?
“Não podem sentir fadiga, tal como entendeis; conseguintemente, não precisam do repouso corporal, já que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas. Contudo, o Espírito repousa, no sentido de não estar em constante atividade. Ele não age de maneira material; sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Ou seja; há momentos em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo e não se fixa em um objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas de nenhum modo comparável ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem experimentar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais elevado forem, de menos repouso necessitarão".
Os Espíritos elevados não podem sentir a necessidade de repouso que os homens sentem, certamente que não. Eles não possuem mais o corpo material, mas têm o descanso compatível com o seu tamanho evolutivo. Os Espíritos de pureza superior não sentem necessidade de repouso. Não existe repouso em Deus, como em Jesus também.
255. Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?
“Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos”.
Quando o Espírito diz que está sofrendo, os sofrimentos não são físicos; são angústias morais, como os Espíritos classificam, que são bem piores do que os padecimentos terrenos. A consciência registra, sem que possamos saber, todos os atos da alma, como que fotografando em todas as suas nuances, de modo que no momento certo, essas forças negativas transbordam para a mente do Espírito, entregando-o às consequências que são próprias do clima negativo das ações inferiores. É o que se chama de remorso, ou regressão de memória. A consciência, além de guardar as imagens dos feitos, registra os sons e tem a capacidade de dar vida a todos os nossos feitos e, ainda muito mais, faz com que pensemos naqueles fatos. As angústias morais torturam a alma qual um tribunal íntimo devedor. Eis aí o dente por dente do velho texto dos judeus.
256. Como é então que alguns Espíritos se têm queixado de sofrer frio ou calor?
“Reminiscência do que padeceram durante a vida, algumas vezes tão penosa quanto a realidade. Frequentemente, é uma comparação que fazem, mediante a qual exprimem a sua situação, em falta de outra melhor. Quando se lembram do corpo que tiveram, experimentam uma espécie de impressão semelhante à de alguém que, havendo tirado uma capa, julga ainda estar com ela algum tempo depois”.

A nossa realidade de fato é aquela que nós criamos através dos nossos pensamentos. A dor é um comando mental que nos é dado quando estamos em risco, para que tomemos uma providência; é uma dor em qualquer dos nossos órgãos, ou uma queimadura. Quando o Espírito desencarna, já não tem mais corpo; mas o condicionamento mental não desaparece de uma hora para outra. O Espírito continua mantendo aquele condicionamento mental. Se o Espírito desencarnou em meio ao frio, vai continuar sentindo frio por algum tempo; se desencarnou sentindo sede ou fome, também vai carregar essas sensações.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 248 a 251.
248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?
“Mais distintamente, pois sua visão penetra o que não podeis penetrar. Nada a obscurece”.
A nossa visão, ou seja, a visão dos Espíritos encarnados, nós sabemos que ela depende luz. As coisas que nós vemos, elas refletem simplesmente a luz que incide sobre elas, e essa luz sensibiliza os nossos olhos e, através disso, conseguimos enxergar. Por isso, a nossa visão passa a ser limitada ao ambiente que tenha luz. Também se limita a esses objetos, porque nada podemos ver além deles. Qualquer obstáculo de ordem material impede que a nossa visão vá além desses óbices. Diferentemente, acontece com o Espírito evoluído. A sua visão é uma atributo do próprio Espírito. Os Espíritos superiores veem as coisas da Terra com mais perfeição, enxergam até nas profundezas da matéria e compreendem, na sua intimidade, o que passa despercebido pelas almas envoltas no fluídos da carne.
249. O Espírito percebe os sons?
“Sim, e percebe até mesmo os sons que os vossos sentidos obtusos são incapazes de perceber”.
A pergunta é se os Espíritos percebem os sons. Certamente estamos tratando de Espíritos elevados, que já deixaram cair o véu da ignorância que empanava a sua visão espiritual. Eles percebem os sons bem mais do que se pensa, em todas as gamas das suas vibrações, até aqueles que o ouvido humano não registra. Para os Espíritos superiores não há segredos nesta arte. A vontade, adestrada na experiência, fornecida pela maturidade que o tempo oferece, é o seu instrumento.
249-a. No Espírito, a faculdade de ouvir está em todo o seu ser, como a der?
“Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte de seu ser. Quando está revestido de um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto os órgãos; mas, no estado de liberdade, deixam de estar localizadas”.
No Espírito, a faculdade de ouvir se encontra em todo o seu ser, e não por um órgão restrito, como os encarnados têm. Como entender que a faculdade de ouvir se encontra espalhada por todo o ser espiritual? Somente pelos canais do mais alto entendimento pode-se perceber essas belezas imortais da vida, onde o paraíso se expressa como tal.
250. Sendo as percepções atributos do próprio Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se a elas?
“O Espírito só vê e ouve o que quer. Isto é dito de forma geral, sobretudo para os Espíritos elevados, pois os imperfeitos muitas vezes ouvem e veem, à revelia deles, o que possa ser útil ao seu aperfeiçoamento”.
O Espírito elevado tem seus poderes dilatados no que concerne aos seus dons. Isso no que se refere às entidades que já se libertaram das paixões do mundo, e mesmo nelas há uma escala evolutiva, onde quanto mais se eleva, mais se percebe as belezas imortais da vida. O Espírito certamente ouve e vê o que deseja, porém em se tratando de Espíritos Superiores, pois, a sua vontade dilata sua percepção ou a retrai, interceptando o que não lhe convém. No entanto, há entidades espirituais que, por vezes, desejam ver coisas que não convêm ao seu adiantamento espiritual, e às vezes têm condições para tal, mas será tirada a sua visão para o seu próprio bem. Isso quando se trata de Espíritos medianos.
251. Os Espíritos são sensíveis à música?
“Referi-vos à vossa música? Que é ela comparada à música celeste? A esta harmonia de que nada na Terra vos pode das ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem para uma suave melodia. Não obstante, Espíritos vulgares podem experimentar certo prazer em ouvir a vossa música, por não lhes ser dado ainda compreender outra mais sublime. A música possui infinitos encantos para os Espíritos, em razão de terem muito desenvolvidas suas qualidades sensitivas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que de mais belo e suave a imaginação espiritual pode conceber”.

A música da Terra, mesmo a clássica, de Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, não se compara como as melodias dos mundos superiores que vibram na mais perfeita harmonia do universo. A música que há no mundo espiritual é de uma sublimidade tão grande, que não há uma forma de comparação para com a música que nós ouvimos aqui na Terra. É como que o canto de Deus para a felicidade dos Seus filhos, que tenham ouvidos para ouvir.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 244-a a 247.
244-a. Quando um Espírito inferior dia que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, como sabe que isso vem de Deus?
“Ele não vê a Deus, mas sente a sua soberania, e sempre que uma coisa não deve ser feita ou uma palavra não deve ser dita, ele sente uma espécie de intuição, uma advertência invisível que o proíbe de fazê-lo. Vos mesmos não tendes pressentimentos que são como avisos secretos, para fazerdes, ou não, isto ou aquilo? O mesmo acontece conosco, só que num grau superior, pois hás de compreender que, por ser mais sutil do que as vossas a essência dos Espíritos, eles podem perceber melhor as advertências divinas”.
Somente os Espíritos perfeitos têm o alcance espiritual de ver a Deus. Essa visão não se compara à proporcionada pelos olhos do corpo físico. É uma visão diferente, e as limitações da linguagem humana nos impedem de explicá-la com clareza.
Os Espíritos que ainda não atingiram a superioridade na escala da perfeição não veem a Deus; eles têm a intuição da Sua existência e a Seu respeito são esclarecidos pelos Espíritos mais elevados. Deus Se expressa na criação pela visibilidade dos Seus feitos. É algo que para nós chega a ser um tanto estranho e difícil de compreender. Seria como explicar a cor a alguém que nunca enxergou. É mais ou menos isso.
244-b. A ordem lhe é transmitida diretamente por Deus, ou por intermédio de outros Espíritos?
“Ela não lhe vem diretamente de Deus. Para se comunicar com Deus, é preciso ser digno disso. Deus lhe transmite suas ordens por meio de Espíritos mais elevados em perfeição e instrução”.
Então, podemos entender pela resposta dos Espíritos que nem mesmo o grande profeta hebreu, Moisés, que afirmou ter recebido os mandamentos diretamente de Deus, entrou em contato direto com o Divino. Apenas Jesus recebia o estímulo diretamente de Deus, na Terra, por se encontrar capacitado para tal percepção. Ver a Deus é uma coisa, e sentir a Sua soberania é outra. A voz da consciência sempre fala do Criador, porque dentro dela se encontram registradas todas as Suas leis.
245. A visão dos Espíritos é circunscrita como a dos seres corpóreos?
“Não; ela reside neles por inteiro”.
Vamos procurar entender isso. Para nós, encarnados, nós sabemos que a visão se manifesta através dos nossos olhos. Mas, o Espírito vê de forma diferente. Ele é capaz de ver por todos os lados. Então, ele é capaz de ver o que está na frente, atrás, nos lados, porque a sua visão não está circunscrita aos olhos, como está a nossa. Ele é capaz de entrever através da matéria. Portanto, a visão do Espírito é diferente da visão dos seres humanos, não sendo circunscrita como a deles. Ela reside em todo o seu ser, quando se trata de Espíritos superiores. Em muitos dos que ainda alimentam paixões inferiores, a visão é bem mais restrita que às criaturas encarnadas, quando não perdem esse dom temporariamente.
246. Os Espíritos precisam da luz para ver?
“Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Para eles não há trevas, a não ser aquelas em que podem achar-se por expiação”.
Como na Questão anterior, nós temos que analisar entendendo que tudo depende da evolução do Espírito. Obviamente essa resposta se refere aos Espíritos que estão num nível evolutivo mais elevado, e que já não necessitam dos olhos físicos para enxergarem. Agora com relação aos Espíritos mais apegados à matéria, eles estão tão presos quanto nós, que estamos aqui encarnados. Eles têm as mesmas dificuldades que nós e, às vezes, até mais dificuldades, porque, assim como nós, dependem da luz. Os Espíritos puros, ou mais ou menos puros, não têm necessidade da luz para ver as coisas. É bom que nos lembremos de que para os Espíritos puros não existem trevas; tudo é luz, porque eles têm olhos para ver. Podemos tentar exemplificar isso citando a visão mediúnica. Os médiuns que têm essa faculdade, quando fecham os olhos eles veem claramente, porque não estão usando os olhos físicos, simplesmente por isso. O mesmo ocorre com os Espíritos desencarnados, de ordem superior.
247. Os Espíritos têm necessidade de transportar-se para verem o que se passa em dois pontos diferentes? Podem, por exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?
“Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo. Seu pensamento pode irradiar e dirigir-se para muitos pontos diferentes ao mesmo tempo, mas essa faculdade depende da sua pureza; quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada é a sua visão. Só os Espíritos Superiores podem abarcar o conjunto”.
Não existem distâncias, como se pensa na Terra, para os Espíritos superiores. Eles têm o poder de ver tanto de perto, quanto em distâncias imensuráveis, como se acredita ser. É, pois, uma dilatação dos seus poderes de visão, controlados pela vontade que a sua maturidade espiritual favorece. Para os Espíritos puros, desaparecem o tempo e espaço como, e certamente, deixam de existir distâncias que, para nós outros, são obstáculos. O Espírito, de acordo com o seu crescimento espiritual, pode comunicar-se em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo, por vários médiuns. Não tendo outra expressão, podemos dizer que se expande ao infinito, em plena consciência. Além da resposta dada pelos Espíritos a Allan Kardec, que o Espírito se transporta com a velocidade do pensamento, o próprio codificador acrescenta algo, com muita lógica, dando mais luz para o nosso entendimento, dizendo que a faculdade de ver do Espírito é inerente à sua natureza. E acrescentamos que ela se dilata de acordo com a sua evolução, ou melhor, com o seu despertamento espiritual. Então, os Espíritos de luz podem se transportar para qualquer parte do planeta, na velocidade do próprio pensamento. Basta a sua vontade de estar em determinado lugar, e ele imediatamente estará ali.
Comentário de Kardec:

No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucides para a qual não há trevas nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona; não havendo luz ele fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver é um atributo próprio, abstração feita de qualquer agente repouso é todo moral. Ou seja: há momentos em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo e não se fixa em um objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas de nenhum modo comparável ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem experimentar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais elevados forem, de menos repouso necessitarão.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 242 a 244.
242. Como é que os Espíritos têm conhecimento do passado? Esse conhecimento é ilimitado para eles?
“O passado, quando com ele nos ocupamos, é presente, exatamente como te lembras de uma coisa que te impressionou no curso de teu exílio. Simplesmente, como já não temos o véu material que obscurece a tua inteligência, lembramo-nos de coisas que para ti estão apagadas. Mas, nem tudo os Espíritos sabem, a começar pela sua própria criação”.
A lembrança do passado, ela depende da evolução de cada Espírito. Não é pelo fato de um Espírito desencarnar que, naquele exato momento, já passa a ser senhor de toda sua memória, das existências do passado. Não é bem assim. O Espírito vai recordando aos poucos, de acordo com as suas necessidades. O Espírito lembra das questões difíceis que passou, para que possa cuidar delas, aprender com elas. Muitas lembranças que ele têm podem trazer transtornos, porque ele ainda não é capaz de superar no seu atual momento evolutivo em que vive. Por isso, não adiantaria vir à tona erros que o Espírito não tem ainda condição de cuidar deles.
O conhecimento do passado é relativo à alma que regride aos liames do pretérito. Recordar é conhecer o que se foi para melhorar o presente e preparar para o futuro.
O Espírito não tem pleno conhecimento das vidas passadas; ele somente recorda, até onde as suas forças suportarem, e que lhe sirva de lições. Mesmo ao Espírito livre da matéria ainda é vedado saber o que já foi. A gradação é norma de equilíbrio em todos os planos de vida, para que tenhamos paz, e essa paz possa nos fornecer forças no decorrer de novas lutas.
243. Os Espíritos conhecem o futuro?
“Isso também depende da perfeição deles. Muitas vezes, apenas o entreveem, mas nem sempre lhes é permitido revelá-lo. Quando o veem, o futuro lhes parece o presente. O Espírito vê o futuro mais claramente à medida que se aproxima de Deus. Após a morte, a alma vê e abarca num piscar de olhos suas migrações passadas, mas não pode ver o que Deus lhe reserva. Para isso, é preciso que esteja completamente integrado a Ele, depois de muitas existências”.
Para se ter uma visão completa do futuro, seria necessário que a vida se tratasse de uma história escrita por inteiro. Seria necessário que existisse um futuro predeterminado para cada um de nós. Há, sim, uma programação no nível individual e outra no nível coletivo. Mas, nessas programações, estão apenas os nossos instrumentos de aprendizado, ou seja, as circunstâncias que a vida nos trará como lições.
Existem muitas profecias; os profetas são inúmeros, em todas as religiões e filosofias espiritualistas, no entanto, todos já conhecem a existência dos falsos profetas. Eles são em quantidade inumerável. Os verdadeiros são poucos, e mesmo assim são parcimoniosos nas suas predições, falando por parábolas. No mundo espiritual existem também os falsos profetas, e não se pode dizer que todas as mensagens mediúnicas são de Espíritos puros. Os que se comunicam são muitos, mas poucos são os escolhidos, para dizer a verdade. Os Espíritos puros podem falar do futuro com segurança e somente dizem coisas que não prejudicam os seres humanos. Eles põem as criaturas a pensar sobre o que pode advir, e essas predições trazem consigo estímulos para o aprendizado, principalmente no mundo interno de cada um.
243-a. Os Espíritos que alcançaram a perfeição absoluta têm conhecimento completo do futuro?
“Completo não é bem o termo, pois só Deus é soberano Senhor e ninguém o pode igualar”.
A verdade é relativa, tanto na Terra como no céu. Nem os Espíritos perfeitos possuem o conhecimento absoluto da verdade, por não terem as condições que Deus, somente Deus, possui.
Os Espíritos conhecem o futuro, de acordo com o seu despertamento espiritual. Existe uma escala para todos eles.
244. Os Espíritos veem a Deus?
“Só os Espíritos Superiores o veem e o compreendem. Os inferiores o sentem e o admiram”.
Isto para nós nos parece um tanto estranho, alguém ver algo que é imaterial. Lógico que as percepções dos Espíritos Superiores, dos Espíritos puros, principalmente, vão além das nossas capacidades reais e, consequentemente, nós não temos sequer como entender esse “ver”, seria como explicar a luz a um cego de nascença.
Todos os Espíritos trabalham no conceito da vida divina. Deus nos criou iguais; e cada um na sua caminhada vai buscando evoluir mais rapidamente ou menos rapidamente. Mas todos nós chegaremos lá, um dia; todos têm o mesmo valor para o Pai; e é pelo trabalho na seara divina que nós vamos conquistar a nossa evolução.
Somente os Espíritos perfeitos têm o alcance espiritual de ver a Deus. Essa visão não se compara à proporcionada pelos olhos do corpo físico. É uma visão diferente, e as limitações da linguagem humana nos impedem de explicá-la com clareza.
Os Espíritos que ainda não atingiram a superioridade na escala da perfeição não veem a Deus; eles têm a intuição da Sua existência e a Seu respeito são esclarecidos pelos Espíritos mais elevados. Deus Se expressa na criação pela visibilidade dos Seus feitos.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos iniciar o tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 237 a 241.
237. Uma vez no mundo dos Espíritos, a alma tem ainda as percepções que tinha na Terra?
“Sim, e outras que não possuía, porque seu corpo era como um véu que as obscurecia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas que se manifesta mais livremente quando não tem obstáculos a vencer”.
O ser, quando desencarna, ou seja, volta à pátria espiritual, continua sendo o que era na Terra; conserva os mesmos sentimentos, as mesmas sensações, e as lembranças daquilo que aprenderam; tudo isso é patrimônio do Espírito. Quando ele reencarna novamente, ele deixa parte desse patrimônio oculto, através do esquecimento. São informações não necessárias ara a nova experiência que vai viver, mantendo apenas vaga lembrança daquilo que lhe pode ajudar. Obviamente, quando ele retornar à pátria espiritual, aos poucos, ele vai recobrando essa memória.
238. As percepções e os conhecimentos dos Espíritos são limitados? Numa palavra; eles sabem tudo?
“Quanto mais se aproximam da perfeição, tanto mais sabem. Se são Espíritos Superiores, sabem muito. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes acerca de todas as coisa”.
Os Espíritos Superiores conhecem muito; eles dominam grande parte dos segredos da natureza divina e humana. Não conhecem tudo, porque somente Deus é conhecedor das leis e dos segredos da criação que Ele mesmo estabeleceu. Os Espíritos inferiores têm o conhecimento que a sua elevação atingiu, muitos deles não sabem mais que os homens, e outros sabem menos que estes. A sabedoria é de grande importância, mas, só vai chegando às almas gradativamente, regulada pela lei, para que a ignorância não a use mais do que pode fazê-lo.
Se o Espírito, por estar desencarnado, soubesse tudo, não haveria razão para ele reencarnar. Então, cada Espírito só vai saber aquilo que aprendeu.
239. Os Espíritos conhecem o princípio das coisas?
“Conforme a sua elevação e a sua natureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais que os homens”.
É muito difícil para nós entendermos a eternidade. Como sabemos, o Espírito é imortal. Os Espíritos superiores podem até compreender os fatos do início da criação de todas as coisas. Mas só Deus, o Criador, é que tem o conhecimento pleno. Para nós, fica até um pouco difícil nós conseguirmos compreender e conceber o que seria o início das coisas; porque, mais que possamos tentar levar o nosso pensamento ao passado, para ali ser o início, a razão nos mostra que, antes daquilo, pode ter existido algo.
Os Espíritos inferiores não podem conhecer o princípio das coisas, pois lhes falta preparo para tal. Eles, como nos informa os Espíritos benfeitores, não sabem mais que os homens e muitos deles, menos que estes.
Somente os Espíritos perfeitos, que já se livraram da influência das paixões humanas, que já conheceram a verdade e se encontram livres de todas as inferioridades podem conhecer, na escala em que se encontram, os princípios das coisas, mesmo assim se lhes escapam muitas modalidades que somente Deus conhece.
240. Os Espíritos compreendem a duração, como nós?
“Não, e é isto que faz que nem sempre nos compreendeis, quando se trata de determinar datas ou épocas”.
Toda percepção, ela depende do ponto de referência do observador. Nós, que estamos encarnados, que temos a nossa existência limitada a um período de 80, 100 anos, a nossa percepção se dá através desse ponto de referência. Mas, para aquele que se encontra desencarnado, esse parâmetro de tempo aumenta sobremaneira, porque ele para trás e encontra a eternidade do tempo. Por isso há a conceituação de tempo para nós encarnados, e para aqueles que estão desencarnados.  
O tempo desaparece diante dos instrutores espirituais. Quem vive irradiando a felicidade deixa de perceber tempo e espaço. Exemplo: quando estamos cercados de companheiros cuja presença nos dá satisfação, as horas passam sem que percebamos. Para os Espíritos, nos seus trabalhos benfeitores, cuja consciência se encontra na tranquilidade de Deus, o tempo desaparece e o espaço deixa de existir. No entanto, para a humanidade e Espíritos ainda ligados às paixões humanas, esse tempo é uma realidade e o espaço tem a sua presença, impondo limitações.
Comentário de Kardec:
Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos. A duração, para eles, anula-se, por assim dizer, e os séculos, para nós tão longos, não passam, aos olhos deles, de instantes que se apagam na eternidade, do mesmo modo que as desigualdades do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço.
241. Os Espíritos fazem do presente uma ideia mais precisa e mais justa do que nós?
“Mais ou menos como aquele que vê claramente faz ideia mais exata das coisas do que o cego. Os Espíritos veem o que não vedes; julgam, pois, de modo diverso do vosso. Mas, ainda uma vez, isso depende da elevação deles”.
Entendemos que o presente é o espaço de tempo, é o agora. Presente é esse momento que estamos vivenciando agora. Passados cinco minutos, esse momento de agora será passado. Então, para termos uma ideia mais precisa do presente, na realidade, é nós termos consciência da sua importância para nossa evolução. O presente é o momento; só que é um momento muito importante na vida de todos nós, por quê? Porque é no presente que nós podemos fazer alguma coisa em prol de nós mesmos ou até alguma coisa em prejuízo de nós mesmos.
Os Espíritos fora da carne têm uma visão mais acentuada do que os encarnados, por estarem mais livres as suas faculdades. Entretanto, é bom que se compreenda que tudo é relativo; o despertamento da alma obedece a uma lei que podemos denominar de merecimento, pelo tamanho espiritual de cada um.
Determinadas entidades espirituais, cuja elevação se encontra nos primeiros degraus na escala de ascensão, por vezes não veem mais que os homens, e muitos deles, nem igual a esses. Isso ocorre igualmente no que tange ao saber. Vejamos o que diz o apóstolo João, em sua primeira epístola, no capítulo quatro, versículo um: “Amados, não deis crédito a qualquer Espírito: antes, provai os Espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.” Provar o Espírito se ele vem de Deus é examinar o conteúdo da sua fala, se as coisas que ele diz são realmente de natureza evangélica, se procedem do amor. Como já nos referimos, muitos deles não sabem mais que os próprios homens.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos iniciar o tópico Mundos transitórios, estudando as perguntas de 234 a 236-e.
234. Existem, como já foi dito, mundos que servem de estações ou ponto de repouso aos Espíritos errantes?
“Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos nos quais deles podem habitar temporariamente, espécies de acampamentos ao ar livre, de lugares em que possam repousar de uma erraticidade demasiado longa, estado este sempre um tanto penoso. São, entre outros mundos, posições intermediárias, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que podem alcançá-los e onde eles gozam de maior ou menor bem-estar”.
Há muitas moradas na casa de meu Pai, disse-nos Jesus. Em todas essas moradas há trabalho, há aprendizado e oportunidades de crescimento para todos os Espíritos que lá estão. São Espíritos que não estão revestidos de corpos, e como não estão revestidos de corpos, eles podem suportar ambientes aparentemente inóspitos para qualquer tipo de forma viva. Existem, portanto, no espaço, mundos transitórios capazes de fornecer aos Espíritos errantes, meios para a escalada maior.
234-a. Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixa-los à vontade?
“Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los, a fim de irem aonde devam ir. Imaginai-os como aves de arribação que pousam numa ilha, para ali aguardarem que se refaçam suas forças, a fim de seguirem seu destino”.
Podemos deduzir que o Espírito é um habitante do Universo e, por isso, ele pode sem revestir-se de uma forma física, habitar esferas totalmente inóspitas, mas que não afetam em nada sua estrutura perispiritual. Nesses mundos transitórios podemos encontrar Espíritos de várias escalas. São incontáveis os mundos que servem de casas para todas as qualidades espirituais, dando a cada um o que deve receber na pauta da verdadeira justiça.
235. Os Espíritos progridem durante sua estada nos mundos transitórios?
“Certamente. Os que assim se reúnem o fazem com o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para dirigir-se a lugares melhores e chegar à posição que os eleitos atingem”.
O progresso está na essência da Criação. Todo o Universo está em processo evolutivo. A estada de qualquer Espírito em um mundo transitório não é, simplesmente, querer ir e pronto. Isso é fruto de um planejamento feito anteriormente, e que tem um objetivo. Em qualquer lugar que os Espíritos estejam, o despertamento, mesmo que seja vagaroso, é um fato inconteste. O objetivo dos Espíritos é chegar aos mundos superiores, onde tudo é claridade, onde o amor é lei em todos os movimentos e a caridade é o clima de todos os seres. É um processo migratório de reequilíbrio espiritual, para que possam cumprir os seus desideratos maiores, posteriormente.
236. Pela sua natureza especial, os mundos transitórios se conservam perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
“Não; sua posição é apenas temporária”.
236-a. Esses mundos são, ao mesmo tempo, habitados por seres corpóreos?
“Não; sua superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada”.
236-b. Essa esterilidade é permanente e resulta da sua natureza especial?
“Não; são estéreis transitoriamente”.
136-c. Então esses mundos são desprovidos de belezas naturais?
“A natureza se reflete nas belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que aquilo a que chamais de belezas naturais”.
236-d. Já que o estado desses mundos é transitório, nossa Terra será contada um dia entre eles?
“Ela já o foi”.
236-e. Em que época?
“Durante a sua formação”.
Deus, na sua grandiosidade e sendo a Inteligência Suprema do universo, não iria criar os- mundos somente para Sua satisfação e dos Espíritos; todos eles têm sua missão em variados esquemas que o progresso aciona.
Os mundos transitórios, que recebem Espíritos de todas as naturezas, evoluem com as almas que nele habitam temporariamente. Nada estaciona; há leis para governar tudo que existe na criação.
Os Espíritos errantes habitam mundos nos quais, por vezes, permanecem em Espírito, visto que essas casas do universo ainda não se encontram com capacidade para lhes fornecer corpos materiais. Somente com a marca do tempo e as bênçãos do Criador eles vão se preparando gradativamente para tal empreendimento. É, pois, a Geena tanto falada nos livros sagrados, capaz de educar as almas, ou dar algum toque de transformação aos Espíritos endurecidos. São escolas divinas, na dignidade do amor.
Basta um pouco de razão, para que se possa cientificar dessas verdades anunciadas. Vários planetas, que descrevem a órbita solar, são mundos que não têm condições de fornecer corpos materiais para os Espíritos, porém se prestam como presídios onde a justiça cobra de todos as reações aos seus feitos em outras casas planetárias.
Comentário de Kardec:
“Durante a sua formação”

Nada é inútil na Natureza; cada coisa tem o seu objetivo, sua destinação. Nada é vazio, tudo é habitado, há vida em toda parte. Assim, durante a longa sucessão de séculos que passaram antes do aparecimento do homem na Terra, durante os lentos períodos de transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da formação dos primeiros seres orgânicos, naquela massa informe, naquele árido caos, onde os elementos se achavam em confusão, não havia ausência de vida. Seres que não tinham as nossas necessidades, nem as nossas sensações físicas, lá encontravam refúgio. Quis Deus, mesmo nesse estado imperfeito, que a Terra servisse para alguma coisa. Quem, pois, ousaria afirmar que, entre os bilhões de mundos que giram na imensidade, um só, um dos menores, perdido na multidão, goza do privilégio exclusivo de ser povoado? Qual seria então a utilidade dos outros? Deus os teria feito unicamente para recrear os nossos olhos? Suposição absurda, incompatível com a sabedoria que resplandece em suas obras e inadmissível quando pensamos em todos os mundos que não podemos perceber. Ninguém contestará que, nesta ideia da existência de mundos ainda impróprios para a vida material e, não obstante, já povoados de seres vivos apropriados a tal meio, há qualquer coisa de grande e sublime, em que talvez se encontre a solução de mais de um problema.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Vamos encerrar o tópico Espíritos errantes, estudando as perguntas de 228 a 233.
228. Os Espíritos conservam algumas das imperfeições humanas?
“Os Espíritos elevados, ao perderem o seu envoltório, deixam as más paixões e só guardam as do bem; mas os Espíritos inferiores as conservam, pois do contrário pertenceriam à primeira ordem”.
Ou seja, quando a criatura desencarna continua sendo a mesma; com os mesmos sentimentos, as mesmas preferências, os mesmos conhecimentos, as mesmas emoções. Vencer as más paixões é o objetivo do ser imortal. Estar encarnado é uma etapa que proporciona ao ser conquistar seus objetivos. Tanto aqui como no mundo espiritual o Espírito carrega consigo todas as suas conquistas; de ordem emocional, de ordem espiritual e de ordem intelectual que ele já tenha efetivado nas suas mais diversas encarnações. Portanto, ele sempre terá esse patrimônio que foi construído na sua história de vida, estando encarnado ou não, isso não importa. A busca pelo progresso, pelo estudo, estarão sempre presentes. A evolução é feita aqui no mundo material e lá, no mundo espiritual. Muitos Espíritos quando partem do mundo físico, levam para o mundo espiritual as suas paixões que viveram na carne. São os Espíritos inferiores que, em muitos casos, lutaram para abandoná-las. Porém, a evolução não lhes conferiu forças para a limpeza do coração e a estabilidade da consciência. Os Espíritos, mesmo no mundo espiritual, têm campo propício para domar suas paixões, depende da boa vontade de quem deseja delas se livrar. É o livre-arbítrio entrando em cena.
229. Por que os Espíritos, deixando a Terra, não deixam aí todas as más Paixões, já que reconhecem os seus inconvenientes?
“Tens nesse mundo pessoas que são excessivamente invejosas. Acreditas que, tão logo o deixem, perdem esse defeito? Após a partida da Terra, sobretudo para que os que tiveram paixões bem acentuadas, resta uma espécie de atmosfera que os envolve, fazendo que conservem todas essas coisas más, pois o Espírito ainda não se acha inteiramente desprendido da matéria. Só por momentos ele entrevê a verdade, como que para mostrar-lhe o bom caminho”.
Libertar-se das más paixões é o grande objetivo de todos nós; condição para a conquista da nossa evolução. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec diz que reconhecemos o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar as suas más inclinações. Porém, todo esse processo não se faz de imediato, é preciso que nós nos conscientizemos e, a partir dessa conscientização, comecemos a trabalhar emocionalmente.
Quando a alma parte do mundo físico, ela leva consigo as suas paixões, que atravessam com ela o túmulo sem nenhuma dificuldade, pois isso é uma disposição da alma que, pelo tempo, deve se educar com os resultados indesejáveis das suas criações inferiores. Tudo que criamos afiniza-se a nós e, de certa forma, se encontra ligado ao criador por fios invisíveis, mas sólidos, de maneira a nos trazer a paz ou a espada. Então, Se as paixões nos acompanham depois da chamada morte do corpo, a inteligência nos diz que devemos suspendê-las antes que chegue a hora de partir da Terra para o mundo espiritual.
230. O Espírito progride no estado errante?
“Pode melhorar-se muito, sempre conforme a sua vontade e o seu desejo. Mas é na existência corporal que põe em prática as novas ideias que adquiriu”.
Essa resposta dada pelos Espíritos nos mostra exatamente o objetivo do processo encarnatório. O progresso, nós sabemos, está em todo lugar da criação divina. Agora, cada lugar é apropriado para o tipo de ensinamento que ele oferece. Aqui na Terra, nós aprendemos com as restrições que a matéria nos impõe; mas ela nos impulsiona para o trabalho, e o trabalho que realizamos nos impulsiona para a convivência com as outras pessoas, para o aprendizado moral e espiritual. A carne é uma escola grandiosa, onde aprendemos com os recursos dos problemas, da dor, dos infortúnios, enfim, do calvário, a despertar os nossos valores, que nos ajudam a nos libertarmos das paixões perniciosas. Na erraticidade, o Espírito estuda as leis gradativamente, de acordo com o seu interesse por elas. A consciência profunda é um livro sagrado em cujas linhas Deus escreve o estatuto que devemos respeitar, procurando vivê-lo. O Espírito em que falta maturidade não consegue colocar em prática no mundo espiritual o que aprendeu por teoria, mas, aquele já consciente das verdades, se apura cada vez mais em qualquer lugar em que se encontra, porque, em todas as dimensões, Deus lhe dá oportunidades de melhorar, de construir o seu céu no ambiente da intimidade.
231. Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes?
“Mais ou menos, de acordo com os seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cujo princípio conservaram, ou são felizes, segundo sejam mais ou menos desmaterializados. No estado errante, O Espírito entrevê o que lhe falta para ser mais feliz, e então procura os meios de alcançá-lo. Mas, nem sempre lhe é permitido reencarnar conforme sua vontade, o que constitui, para ele, uma punição”.
Quando aquele que está aqui na Terra desencarna, continua sendo o mesmo. Ele leva para o mundo espiritual tudo aquilo que aprendeu, os débitos que adquiriu pelos seus erros e desacertos; mas também leva os seus créditos. Portanto, a felicidade ou infelicidade é uma conquista do Espírito. Se na história de vidas anteriores o ser soube fazer um trabalho em prol do próximo, vivenciou a lei de amor ensinada por Jesus, certamente haverá de ser feliz. Agora, se no seu passado ele contraiu débitos a resgatar, certamente a lei de causa e efeito lhe impõe passar por determinadas dificuldades, por ter descumprido o compromisso assumido antes da reencarnação.
Os Espíritos errantes não têm a mesma condição espiritual. As suas posições na escala espiritual são muito variadas, pois, uns são mais velhos espiritualmente que outros. Uns ainda dormem na ignorância, outros já estão despertando para o entendimento espiritual. Os Espíritos errantes nunca são totalmente felizes, pois, ainda erram. Por mais conhecedores que sejam das leis naturais, se encontram envolvidos nos dramas das paixões que destilaram na Terra, criando embaraço para os seus próprios passos. No entanto, ninguém deve esmorecer no caminho, porque não falta estímulo para todos os trabalhadores da vinha. Os fardos pesam e os jugos são incômodos, mas mãos invisíveis nos ajudam, dependendo da nossa disposição de melhorar.  
232. No estado errante, os Espíritos podem ir a todos os mundos?
“Conforme. Pelo simples fato de ter deixado o corpo, o Espírito não se acha completamente desprendido da matéria e continua pertencendo ao mundo onde viveu ou a outro do mesmo grau, a menos que, durante a vida, se tenha elevado. Esse objetivo para o qual deve voltar-se, pois, do contrário, jamais se aperfeiçoaria. Pode, no entanto, ie a alguns mundos superiores, mas na qualidade de estrangeiro. A bem dizer, consegue apenas entrevê-los, e é isso que lhe dá o desejo de melhorar-se, para se tornar digno da felicidade que ali se desfruta e poder habitá-los mais tarde”.
Jesus, quando esteve entre nós, teve a oportunidade de dizer que há muitas moradas na casa de meu Pai. O fato é que cada uma morada tem a sua finalidade específica para atender as necessidades de cada Espírito. Os Espíritos errantes podem viajar como turistas a outros mundos mais elevados, não obstante, necessário se faz que tenham preparo para tal empreendimento. Os prêmios somente vêm ao nosso encontro por merecimento. Muitos Espíritos, ao desencarnarem, permanecem na atmosfera do planeta, nas condições que deixaram o corpo. A consciência da liberdade em plenitude vem somente para aqueles que completaram a ronda da educação, nas linhas de todos os entendimentos dos ensinos de Jesus. Ao deixarem o corpo, muitos são convidados a passeios em mundos melhores, de maneira a estimular em seus corações uma vontade poderosa de se melhorarem moralmente, e em tais circunstâncias eles trabalham com todas as suas forças para aquisição dos valores imortais da Boa Nova.
233. Os Espíritos já purificados vão aos mundos inferiores?
“Frequentemente, a fim de os ajudar a progredir. Sem isso, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para os dirigir”.
Jesus, quando esteve entre nós, teve também a oportunidade de dizer que o Pai trabalha até hoje e que Ele trabalhava também. Os Espíritos puros, aqueles que já passaram por todas essas experiências que nós estamos passando hoje, e por outras que nós passaremos também. Eles hoje são os trabalhadores do Pai e, por isso, vão aos mundos inferiores na qualidade de mentores, para levar um socorro. Os Espíritos purificados descem aos mundos inferiores, e fazem isso com frequência, para ajudarem no progresso dos irmãos ali estagiados, por força do mesmo progresso. Essa é a bondade de Deus se fazendo pelos canais de Seus filhos despertos pela verdade. Quantos deles se encontram trabalhando na Terra envolvidos nos fluidos da carne e fora dela, aliando-se com as forças da natureza, as quais conhecem com profundidade!
Os Espíritos puros reúnem, pelo convite do coração, Espíritos que queiram melhorar, e os instrui para que o benefício rente à Terra seja maior.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao capítulo, vamos continuar estudando o tópico Espíritos errantes, nas perguntas de 224 a 227.
224. Que se torna a alma no intervalo das encarnações?
“Espírito errante, que aspira a novo destino, que espera”.
Hoje nós já sabemos, através de diversos mentores espirituais, que erraticidade não é um local no mundo espiritual, é uma condição própria do Espírito, na qual ele aguarda nova oportunidade de reencarnação.
224-a. Qual pode ser a duração desses intervalos?
“Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Aliás, não há, propriamente falando, um limite extremo estabelecido para o estado errante, que pode prolongar-se por muito tempo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito encontra sempre oportunidade de recomeçar uma existência que sirva à purificação das suas existências anteriores”.
Todos nós temos a nossa individualidade, a nossa consciência de nós mesmos, e elas continuam conosco o tempo todo.  Lá na erraticidade, vai depender da nossa necessidade. Portanto, é diferente para cada um de nós. Esses intervalos da reencarnação são sem limites.
224-b. Essa duração está subordinada à vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação?
“É uma consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem, mas, para alguns, é também uma punição imposta por Deus. Outros pedem que ela se prolongue, a fim de continuarem estudos que só podem ser efetuados com proveito na condição de Espírito livre”.
Portanto, a demora em reencarnar-se pode ser uma punição, pelo mau uso que se fez das qualidades espirituais recebidas do Criador. O sentido primordial da vida, em todos os campos da Criação, é despertar as qualidades nobres da consciência, para que o coração seja o canal da intuição, por onde possa falar o Cristo interno de cada criatura.
225. A erraticidade é, por si só, um sinal de inferioridade dos Espíritos?
“Não, pois há Espíritos errantes de todos os graus. A encarnação é um estado transitório, já o dissemos. Em seu estado normal, o Espírito é livre da matéria”.
Ora, como já foi dito, erraticidade é o mesmo que mundo espiritual. E, lá, no mundo espiritual, nós já sabemos que existem mundos mais evoluídos que o nosso. Então, o fato de o Espírito estar na erraticidade, não quer dizer que ele seja mais, ou menos evoluído. A erraticidade não constitui um estado de inferioridade. Tomemos como exemplo o plano material, onde existem almas de todas as qualidades, desde o homem primitivo até o missionário de Jesus. Todos juntos no mesmo plano, mas cada qual vivendo a sua situação espiritual.
226. Pode-se dizer que são errantes todos os Espíritos que não estão encarnados?
“Os que devam reencarnar, sim; mas os Espíritos puros, os que atingiram a perfeição, não são errantes; seu estado é definitivo”.
Vejamos; o errante é aquele Espírito que, nesse momento, está desencarnado, e que está aguardando uma oportunidade para reencarnar. Obviamente que esse aguardando é entre aspas, porque no mundo espiritual ninguém fica numa fila, parado, esperando ser chamado. Na realidade, estão trabalhando, estão estudando, estão realizando coisas para a sua evolução. Agora, o Espírito puro, que também está desencarnado, não tem mais a necessidade de reencarnar para buscar aprendizado. Por exemplo, muito falam erroneamente que Jesus reencarnou na Terra. Jesus encarnou na Terra. Ele só veio aqui uma única vez, para cumprir uma determinada missão, diante da Lei Divina.
Explicação de Kardec:
No tocante às qualidades íntimas, os Espíritos são de diferentes ordens ou graus, pelos quais vão passando sucessivamente, à medida que se purificam. Com relação ao estado em que se acham, podem ser: encarnados, isto é, ligados a um corpo; errantes, isto é, desligados do corpo material e aguardando nova encarnação para se melhorarem; Espíritos puros, isto é, perfeitos, não precisando mais de encarnação.
227. De que modo se instruem os Espíritos errantes, já que certamente não o fazem da mesma maneira que nós?
“Estudam o seu passado e procuram meios de elevar-se. Veem, observam o que se passa nos lugares que percorrem; ouvem os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados que eles, e tudo isso lhes inspira ideias que não tinham antes”.
Entendemos que lá no mundo espiritual, como aqui na Terra, há inúmeras oportunidades de aprendizado. Lá como aqui, o livre-arbítrio indicará o caminho de cada um, porque, embora os Espíritos tenham as oportunidades eles podem escolher ou não aceita-las. Os Espíritos errantes se ajustam numa escala muito grande. Muitos já estão despertos para o aprendizado. O Espírito não fica a toa; vai trabalhar, estudar e aprender.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo VI – Vida Espiritual.
Iniciando este capítulo, vamos estudar o tópico Espíritos errantes.
223. A alma reencarna imediatamente após a separação do corpo?
Respondem os Espíritos: “Algumas vezes reencarna imediatamente, mas na maioria das vezes só depois de intervalos mais ou menos longos. Nos mundos superiores a reencarnação é quase sempre imediata. Sendo aí menos grosseira a matéria corporal, o Espírito encarnado goza de quase todas as suas faculdades de Espírito. Seu estado normal é o dos vossos sonâmbulos lúcidos”.
Aqui, é bom esclarecer que Espírito errante não é aquele Espírito que errou durante a sua encarnação, e, sim, porque está numa situação em que não é Espírito encarnado e nem é Espírito puro. Ele está numa situação totalmente diferente.
Como está escrito, não há uma regra geral para a reencarnação dos Espíritos. Tudo é feito da melhor forma que atender as necessidades do Espírito reencarnante. A reencarnação, como já estudamos, é um instrumento de aprendizado e de desenvolvimento para o Espírito. Por, isso, ela deve atender às necessidades individuais de cada um, ou seja, os mentores espirituais, achando conveniente, mostram ao reencarnante que seria o melhor para ele a volta sem demora; no entanto, há outros para quem a demora é caminho mais inteligente, para recolher experiências necessárias à segurança da volta.
Vamos raciocinar: têm ou não, os indivíduos que habitam um planeta de expiações e provas como a Terra, que fazer um balanço, na vida espiritual, de suas conquistas e de seus erros durante a encarnação presente, quando retornarem à vida espiritual? Com toda certeza; e esse balanço será feito, como já dissemos, junto aos mentores espirituais que ajudarão o Espírito a refletir a respeito dos deveres que ele cumpriu, dos deveres que deixou de cumprir, das oportunidades que aproveitou, e das oportunidades que desprezou. Então, na maioria das situações, será um período de erraticidade, ou seja, um período entre as encarnações, mais ou menos longo. Agora, no caso de Espíritos mais evoluídos ou habitantes de planetas que estejam numa condição muito superior a nossa, aqui na Terra, e que não tenham que desobstaculizar uma matéria tão grosseira, logicamente, que o processo reencarnatório pode se dar num prazo mais curto, considerando que esses Espíritos se encontram mais próximos da vida espiritual do que da vida física, como a consideramos no planeta em que vivemos.  

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Capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Encerrando este capítulo V, vamos concluir o estudo da dissertação feita por Kardec, relativa a questão 222.
Continua Kardec:
Temos raciocinado, como dissemos, fazendo abstração de qualquer ensinamento espírita que, para certas pessoas, não tem autoridade. Se nós e tantos outros adotamos a opinião da pluralidade das existências, não é somente porque veio dos Espíritos, mas porque nos pareceu a mais lógica e porque só ela resolve questões até então insolúveis. Viesse ela de um simples mortal e tê-la-íamos do mesmo modo, não hesitando um segundo em renunciar às nossas próprias ideias. No momento em que um erro é demonstrado, o amor-próprio tem muito mais a perder do que ganhar obstinando-se numa ideia falsa. Do mesmo modo, tê-la-íamos repelido, embora vinda dos Espíritos, se nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas outras, pois sabemos, por experiência, que não se deve aceitar cegamente tudo o que venha deles, da mesma forma que não se deve aceitar às cegas tudo que proceda da parte dos homens. Seu primeiro título, ao nosso ver, é, antes de tudo, o de ser lógica; mas, também há outro; o de ser confirmada pelos fatos, fatos positivos e, a bem dizer, materiais, que um estudo atento e racional pode revelar a quem se dê ao trabalho de observar com paciência e perseverança e diante dos quais a dúvida não é mais possível. Quando esses fatos se tiverem vulgarizado, como os da formação e do movimento da Terra, forçoso será que todos se rendam à evidência e os seus oponentes se verão constrangidos a desdizer-se.
Reconheçamos, portanto, em resumo, que só a doutrina da pluralidade das existências explica o que, sem ela, é inexplicável; que é eminentemente consoladora e conforme à mais rigorosa justiça; que representa para o homem a âncora de salvação que Deus, na sua misericórdia, lhe concedeu.
Daí, nós entendermos que, sem a reencarnação, não é possível se conceber um Deus justo e bom. A reencarnação é a chave para o entendimento de todos os nossos revezes e de todas as oportunidades que a vida nos concede. E a reencarnação nos dá melhor compreensão daquilo que o Cristo falou. A lógica da vida nos mostra que a reencarnação faz parte da justiça divina.
Continua Kardec:
As próprias palavras de Jesus não podem deixar dúvida a respeito. Eis o que se lê no Evangelho de João, 3: 3 a 7;
3. Respondendo a Nicodemos, disse Jesus; Em verdade, em verdade te digo que, se um homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus.
4. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer já estando velho? Pode voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?
5. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo, se o homem não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito; importa-vos nascer de novo. (Ver, adiante o parágrafo “Ressurreição da carne”, na questão 1010).

Este diálogo entre Jesus e Nicodemos é outra passagem do Evangelho que deixa patente, nos ensinamentos do Cristo, a lei da reencarnação. O Mestre foi bem explícito: o que nasce da carne é carne, ou seja, o corpo provém do corpo; é concebido a cada novo nascimento. Mas o que nasce do espírito é espírito, o espírito, portanto, não provém da concepção do corpo, mas, do próprio espírito e, por isso mesmo, já existia antes de nascer. Há um detalhe muito importante sobre este último tópico. Na Vulgata Latina, que é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, escrita pelo bispo Jerônimo, sofreu uma alteração com a colocação de uma palavra. Jesus, diz que, se o homem não nascer da água e do espírito, aí colocou-se um aditamento à palavra espírito; colocou-se a palavra santo, ou seja, o homem nasce da água e do espírito santo. Por que isso?  Quando foi feita essa tradução, havia uma necessidade de suprimir a ideia da reencarnação, por quê?  Porque a imperatriz não gostava da ideia de vir a reencarnar, deixando de ser imperatriz, para se tornar uma escrava ou uma mulher do povo. Ela achava que, com uma alteração de um texto, ia fazer com que Deus mudasse as Suas leis. É um tremendo absurdo nós imaginarmos isto.
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Capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao estudo da pergunta 222.
Continua Kardec:
Admitamos, ao contrário, uma série de existências progressivas anteriores e tudo se explica. Os homens trazem, ao nascerem, a intuição do que aprenderam antes; são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências por que passaram, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida, exatamente como, numa reunião de indivíduos de todas as idades, cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, mil indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu tenha sido lançado sobre todos os dias anteriores e que, na vossa ignorância, acreditais que todos nasceram no mesmo dia. Perguntareis naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e outros jovens, uns instruídos e outros ainda ignorantes. Porém, se a nuvem que vos oculta o passado vier a dissipar-se; se souberdes que todos viveram mais ou menos tempo, tudo estará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado almas mais perfeitas e outras menos perfeitas; mas, com a pluralidade das existências, a desigualdade que vemos nada tem que contraria a mais rigorosa equidade; é que apenas vemos o presente e não o passado. Este raciocínio baseia-se nalgum sistema, nalguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato patente, incontestável; a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral, e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo que uma outra teoria o explica, de maneira simples, natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam àquela que explica? Em relação à sexta questão, dirão naturalmente que o hotentote é uma raça inferior. Perguntaremos, então se o hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o deserdou, a ele e à sua raça, dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é homem, por que tentar fazê-lo cristão? A Doutrina Espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela, não há muitas espécies de homens, mas apenas homens cujos espíritos estão mais ou menos atrasados, mas todos suscetíveis de progredir. Este princípio não é mais conforme à justiça de Deus?
Aqui, Kardec tece uma consideração que se liga basicamente à questão da Justiça Divina, aplicada através do processo reencarnatório. Indubitavelmente, a reencarnação explica a Justiça de Deus de forma racional e compreensiva para todos nós; explica as nossas dificuldades, os nossos sofrimentos, e explica as nossas aptidões e, principalmente, nos dá a esperança de que podemos construir um futuro melhor para nós, já que, os instrumentos de aprendizado que a vida no dá serão de acordo com as nossas necessidades. É importante, portanto, que nós tenhamos essa esperança para seguirmos em frente.
Acabamos de ver a alma no seu passado e no seu presente. Se a considerarmos em seu futuro, encontraremos as mesmas dificuldades.
1.      Se a nossa existência atual, e apenas ela, é que deve decidir da nossa sorte futura, quais serão, na vida futura, as posições respectivas do selvagem e do homem civilizado? Estarão no mesmo nível ou distanciados em relação à soma de felicidade eterna a que têm direito?
2.      O homem que trabalhou toda a sua vida por melhorar-se estará na mesma posição daquele que permaneceu inferior, não por culpa sua, mas porque não teve tempo nem possibilidade de se tornar melhor?
3.      O homem que praticou o mal, por não ter podido instruir-se, será culpado de um estado de coisas que não dependeu dele?
4.      Trabalha-se para esclarecer, moralizar e civilizar os homens. Mas, para um que se esclarece, há milhões que morrem todos os dias, antes que a luz lhes tenha chegado. Qual a sorte destes últimos? Serão tratados como réprobos? Caso contrário, que fizeram para merecer estar no mesmo nível dos outros?
5.      Qual a sorte das crianças que morrem em tenra idade, quando ainda não fizeram nem o bem nem o mal? Se estiverem entre os eleitos, por que esse favor, se nada fizeram para o merecer? Em virtude de que privilégio estarão isentas das tribulações da vida?
Haverá alguma doutrina capaz de resolver essas questões? Admiti as existências consecutivas e tudo se explicará conforme a justiça de Deus. O que não se pode fazer numa existência faz-se em outra. É assim que ninguém escapa de lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, sejam quais forem os obstáculos que encontrem no caminho.
Há um ensinamento de Jesus que contraria radicalmente o ensinamento da teologia tradicional que diz que, ao final da existência, cada um de nós, de acordo com o que fizermos, será separado para o chamado céu ou para o inferno. O fato é que, se cada um de nós terá a sua sorte decidida após uma só encarnação, onde se coloca as palavras de Jesus, quando Ele diz que as ovelhas de meu Pai nenhuma se perderá?
Essas questões poderiam multiplicar-se ao infinito, porque são inúmeros os problemas psicológicos e morais que só encontram solução na pluralidade das existências. Limitamo-nos aos de ordem mais geral. Seja como for, talvez se diga que a doutrina da reencarnação não é admitida pela igreja; que ela subverteria a religião. Não é nosso objetivo tratar dessa questão neste momento. Basta termos demonstrado que ela é eminentemente moral e racional. Ora, o que é moral e racional não pode ser contrário a uma religião que proclama ser Deus a bondade e a razão por excelência. Que seria da religião, se, contra a opinião universal e o testemunho da Ciência, se houvesse obstinado contra a evidência e expulsado do seu seio todos os que não acreditassem no movimento do Sol ou nos seis dias da Criação? Que crédito mereceria e que autoridade teria, entre os povos esclarecidos, uma religião fundada em erros evidentes, oferecidos como artigos de fé? Quando a evidência se tornou clara, a Igreja, sabiamente, se colocou ao seu lado. Se está provado que certas coisas existentes seriam impossíveis sem a reencarnação; que certos pontos do dogma não podem ser explicados senão por esse meio, forçoso é admiti-lo e reconhecer que o antagonismo entre essa doutrina e os dogmas é apenas aparente. Mais adiante mostraremos que a religião talvez esteja menos afastada da doutrina das vidas sucessivas do que se pensa e, que, ao admiti-la, não sofreria mais do que sofreu com as descobertas do movimento da Terra e dos períodos geológicos, as quais, à primeira vista pareciam desmentir os textos sagrados. Aliás, o princípio da reencarnação ressalta de muitas passagens das Escrituras e se acha especialmente formulado, de modo explícito, no Evangelho:
Quando desciam da montanha (depois da transfiguração) Jesus lhes ordenou, dizendo: Não faleis a ninguém do que acabastes de ver, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado de entre os mortos. Perguntaram-lhe então seus discípulos: Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? E Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias há de vir e que restabelecerá todas as coisas. Mas, eu vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles. Então os discípulos compreenderam que era de João Batista que Ele lhes falava. (Mateus, 17: 9 a 13).
Já que João Batista era Elias, então houve a reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista. Seja qual for, aliás, a opinião que se tenha ou não, nem por isso se deixará de sofrê-la, desde que ela exista, não obstante todas as crenças em contrário. O ponto essencial é que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão; apoia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo. Logo, não é anticristão.
Jesus falou de reencarnação não apenas na passagem de Elias e João Batista. Há outras passagens que também nos levam à teoria da reencarnação. Então, colocada a questão dentro desse ponto de vista, a pluralidade das existências se explica, se justifica, sem mesmo se falar a respeito dos ensinamentos dos Espíritos. Por quê? Porque ela é encontrada no próprio ensinamento do Cristianismo. E, se encontra até mesmo no Velho Testamento, ou seja, a noção da pluralidade das existências é algo anterior ao Espiritismo.

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Capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao estudo da pergunta 222.
Continua Kardec:
Se não há reencarnação, só há uma existência corporal; isto é evidente. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constituía uma existência sob uma forma qualquer. Não há meio termo; ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si mesma? Se não tinha, era mais ou menos como se não existisse. Se tinha individualidade, era progressiva ou estacionária? Em ambos os casos, a que grau chegara no corpo? Admitindo, segundo a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que venha a ser o mesmo, que antes de encarnar ela só dispõe de faculdades negativas, formulamos as seguintes questões:
Um registro interessante, que não é da época de Kardec. Aqui no Brasil, houve um estudioso do processo pré-natal, é bom ressaltar que este profissional lida com imagens, e se dedicando a métodos de diagnósticos, começou a estudar gestações, com o emprego de ultrassonografia, o comportamento do cérebro do feto, registrando períodos de sono e vigília. E o que o surpreendeu, particularmente, foi perceber que o feto era capaz de ter o chamado sono paradoxal, que é quando a pessoa sonha, ou seja, o feto sonha enquanto está sendo gerado. Isto aqui é a ideia de haver a pluralidade das existências, porque o sonho é a recordação de algo que se viveu. Então, como pode um feto que ainda não viveu fora do útero ter lembranças? É de grande valor para nós, entender que a própria Ciência, hoje, nos trás informações e conhecimentos.
1.  Por que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das ideias adquiridas pela educação?
Realmente. Tomemos por exemplo, três crianças que são educadas dentro do mesmo padrão. Trigêmeos univitelinos, ou seja, todos três têm o mesmo patrimônio genético; um é proativo, bastante alegre; o outro é mais fechado dentro de si mesmo, e o terceiro, nem é tão proativo quanto o outro nem é tão ensimesmado como o segundo. Então, como se explica que os três com a mesma educação tenham esses comportamentos?
2. De onde vem a aptidão extranormal de algumas crianças de tenra idade para esta arte ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida inteira?
Aqui, podemos citar a história de Mozart, que foi um gênio da música. Que desde os seis anos de idade começou a escrever duetos e pequenas composições para piano.
3. De onde vêm, para uns, as ideias inatas ou intuitivas, que não existem em outros?
4. De onde vêm, em certas crianças, os instintos precoces para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que nasceram?
5. Por que certos homens, independentemente da educação, são mais adiantados do que outros?
6. Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes uma criança hotentote recém-nascida e a educardes nos nossos melhores liceus, fareis dela algum dia um Laplace ou um Newton?
Essas perguntas de Kardec se referem a fatos que são perfeitamente observáveis em qualquer sociedade.
Perguntamos: qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que essas aptidões tão diversas? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, estaríamos diante da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos, já que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, por que essa superioridade inata concedida a algumas? Esta parcialidade estaria conforme à justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas as criaturas?
Dentro deste arrazoado aqui exposto, Kardec nos mostra como aprender a raciocinar, e quem aprende a raciocinar não crê, aprende; e quem aprende sabe. Então, fica claro para nós que, pela análise feita por Kardec, considerar a unicidade das existências fica muito difícil nós concebermos a justiça divina. Kardec fala de aptidões, capacidades e realizações. Mas há, também, as diferenças de oportunidades, para cada um de nós. Uns são pobres, outros ricos; uns são enfermos, outros saudáveis. Onde estaria a justiça divina se todos nós fossemos criados no momento do nascimento; o que justificaria essas diferenças senão um privilégio que o Criador estaria dando a uns em detrimento dos outros. A justiça divina só pode ser concebida se nós tivermos por base a existência anterior da alma.


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Capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao estudo da pergunta 222.
Continua Kardec:
Supomos falar a pessoas que acreditam num futuro qualquer depois da morte, e não aos que só têm o nada como perspectiva, ou que desejam afogar suas almas num todo universal, sem individualidade, como os pingos da chuva no oceano, o que vem a ser quase a mesma coisa. Se, pois, credes num futuro qualquer, não admitireis, por certo, que ele seja idêntico para todos, pois, de outro modo, qual seria a utilidade do bem? Por que se reprimir? Por que não satisfazer a todas as suas paixões, a todos os seus desejos, mesmo a custa de outrem, uma vez que por isso não ficaria sendo melhor, nem pior? Credes, ao contrário, que esse futuro será mais ou menos feliz ou infeliz, segundo o que tiverdes feito durante a vida, e então desejareis que seja tão afortunado quanto possível, visto que há de durar pela eternidade? Teríeis, por acaso, a pretensão de ser dos homens mais perfeitos que já existiram na Terra e, pois, com direito a alcançardes de imediato a suprema felicidade dos eleitos? Não. Admitis, então que há homens que valem mais do que vós e com direito a um lugar, sem que por isso estejais entre os réprobos. Pois bem! Colocai-vos por um instante, mentalmente, nessa situação intermédia, que será a vossa, como acabastes de reconhecer, e imaginai que alguém venha vos dizer: Sofreis, não sois tão feliz quanto poderíeis ser, ao passo que diante de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis trocar de posição com eles? Certamente, respondereis; que devemos fazer? Quase nada; recomeçar o que fizestes mal e tratar de fazê-lo melhor. Hesitaríeis em aceitar, ainda que ao preço de várias existências de provações? Façamos uma comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem ter chegado à miséria extrema, sofre, no entanto, privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Eis uma fortuna imensa, que podereis gozar; para isso, é preciso que trabalheis arduamente durante um minuto. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra, e diria sem hesitar. Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia se for preciso. Que importa isso, se vou terminar minha vida na abundância? Ora, que é a duração da vida corporal, em relação à eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.
Dentro desse ponto de vista, por exemplo, a ideia da reencarnação é mais justa. Traduz melhor a Justiça Divina do que a ideia de uma única existência, que faz com que se permaneça uma eternidade numa condição de inferioridade. A reencarnação, portanto, é a oportunidade de aprendizado; é oportunidade de resgatarmos nossos débitos; é a oportunidade de evoluirmos e crescermos enquanto espíritos. Portanto, as dificuldades que a vida nos reserva hoje, todo aquele sofrimento, são instrumentos de aprendizado, que são utilizados pela Lei Divina para promover a nossa evolução, e elas estão de acordo com as necessidades de cada um, de acordo com as escolhas boas ou más que cada um fez no passado. Por isso, é que as dores são diferentes para cada um de nós. Aí a justiça das diferenças. Elas foram criadas pelas nossas condutas no pretérito. Nós somos espíritos imortais; temos a eternidade para aprender, crescer e alcançar a felicidade; e, certamente, todos chegaremos lá. O sofrimento, portanto, numa encarnação, por maior que pareça ser, não é quase nada, diante da eternidade. 80, 100, 120 anos que possamos viver, diante da eternidade que temos pela frente, já que somos imortais, não é nada de sofrimento. Basta então que trabalhemos e façamos o melhor. Compete a todos meditarem sobre a reencarnação na sua função divina e humana, passando a se melhorar moralmente.
Continua Kardec:
Temos ouvido o seguinte raciocínio: Deus, que é soberanamente bom, não pode impor ao homem a obrigação de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Acharão, porventura, que Deus seja mais bondoso ao condenar o homem a sofrer perpetuamente, em razão de alguns erros momentâneos, do que em lhe conceder os meios de reparar suas faltas?
Isto, porque, a doutrina que é processada pela teologia tradicional, diz que, ao final de uma existência está deliberada a existência daquele ser: sofrer eternamente ou gozando das benesses eternamente. Ora, Deus seria mau por permitir que o homem venha numa outra encarnação, durante um período, apenas para reparar os seus erros, e assim poder progredir e buscar a sua felicidade? Obviamente que não.
Continua Kardec:
Dois fabricantes tinham, cada qual, um operário que podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão. Aconteceu que esses dois operários carta vez empregaram muito mal o seu dia, merecendo ambos ser despedidos. Um dos fabricantes despediu o seu empregado, apesar de suas súplicas, e este, não tendo encontrado trabalho, morreu na miséria. O outro disse ao seu: Perdeste um dia, e por isso me deves uma compensação; fizeste mal o trabalho e me deves uma reparação; eu te permito recomeçá-lo. Trata de executá-lo bem e eu te conservarei, e poderás continuar aspirando à posição superior que te prometi. Será preciso perguntar qual dos dois fabricantes foi mais humano? Deus, que é a própria clemência, seria mais inexorável do o homem?
Um dos atributos de Deus nós sabemos que é a bondade. E a bondade, ela se expressa por nos proporcionar o recomeço, nos dando novas oportunidades para que possamos nos acertar, para repararmos todo o mal que possamos ter cometido. E o instrumento desse recomeço é a reencarnação. A reencarnação é, exatamente, o fruto da bondade divina.
Continua Kardec:
A ideia de que o nosso destino está fixado para sempre em razão de alguns anos de prova, ainda mesmo quando não dependeu de nós alcançarmos a perfeição na Terra, tem qualquer coisa de pungente, ao passo que a ideia oposta é eminentemente consoladora; ela nos deixa a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das existências, sem admitirmos uma hipótese mais do que outra, diremos que, se pudéssemos escolher, ninguém haveria de querer um julgamento inapelável. Disse um filósofo que, se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, para felicidade do gênero humano. Outro tanto se poderia dizer da pluralidade das existências. Mas, como já dissemos, Deus não nos pede permissão, nem consulta os nossos gostos. Ou isto é, ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e encaremos o assunto de outro ponto de vista, sempre fazendo abstração do ensino dos Espíritos, e unicamente como estudo filosófico.
É interessante notar que, na leitura de Kardec, a lógica que ele coloca na análise de todas as questões que são postas, ele busca a compreensão dos fatos, sob todos os pontos de vista, para só depois, então, buscar suas conclusões. É muito importante essa forma didática, para que possamos raciocinar e adquirir aquela fé nos postulados da Doutrina Espírita.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos iniciar o capítulo V do livro II, estudando a pergunta 222.
O que teoricamente seria uma pergunta, é uma dissertação de Kardec, e que será estudada de acordo com a leitura, para não se tornar cansativa.
222. O dogma da reencarnação, dizem algumas pessoas, não é novo; foi ressuscitado de Pitágoras. Jamais dissemos que a Doutrina Espírita fosse uma invenção moderna.
Vamos começar explicando que Pitágoras (Pitágoras de Samos) foi um importante matemático e filósofo grego, pré-socrático, que viveu provavelmente entre 570 a 496 a.C. Ele fez diversas viagens; sendo que, numa delas, ele teve contato com cultura indiana que, nesta época, já tinha consolidado o conceito da reencarnação. Conceito este que, para os Indus, é visto como a base do sistema de castas, a que eles se submetem. Lógico que, se nós analisarmos isto, o sistema de castas é uma invenção humana. O processo reencarnatório que é um processo natural, e que traduz a misericórdia divina, não obedece a vontade de quem quer que seja, que esteja encarnado. Consequentemente, o conceito hinduísta, embora em muitos aspectos tenham o seu valor pelo fato de condicionar um modelo de vida para a sociedade, é fundamentado na estratificação (conceito que envolve a classificação das pessoas em grupos, com base rm condições socioeconômicas comuns) dessa mesma sociedade, com uma carga enorme de preconceitos que faz com que nós questionemos essa visão reencarnacionista que eles adotam. O que nós sabemos porque os Espíritos nos informaram, é que não existe esta estratificação social, em função do processo reencarnatório. Cada um de nós terá a sua experiência de vida atual ou futura, de acordo com os méritos espirituais que tenhamos auferido, durante a encarnação atual.
Continua Kardec:
Por constituir uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos em provar que se encontram sinais dele na mais remota Antiguidade. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose;
Nós já estudamos anteriormente sobre a metempsicose, que é uma teoria segundo a qual um indivíduo poderia reencarnar na condição de um animal, e, depois. Voltar numa condição humana. Nós sabemos muito bem que a metempsicose é uma lenda, é fruto de uma interpretação errônea a respeito do processo reencarnatório.
Continua Kardec:
Ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, onde existia desde tempos imemoriais. A ideia da transmigração das raças formava, pois, uma crença vulgar, admitida pelos homens mais eminentes. De que maneira chegou até eles? Por uma revelação, ou por intuição? Não o sabemos. Mas, seja como for, uma ideia não atravessa os séculos e nem é aceita pelas inteligências de escol, se não contiver algo de sério. Assim, a antiguidade dessa doutrina seria mais uma prova a seu favor do que uma objeção. Todavia, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação há, como também se sabe, uma grande diferença; a de os Espíritos rejeitarem de maneira absoluta a transmigração da alma do homem para os animais e vice-versa.
Ao ensinarem o dogma da pluralidade das existências corpóreas, os Espíritos relembram uma doutrina que nasceu nas primeiras idades do mundo e que se conservou no íntimo de muitas pessoas até os nossos dias. Apenas a apresentam de um ponto de vista mais racional, mais conforme às leis progressivas da Natureza e mais em harmonia com a sabedoria do Criador, despojando-a de todos os acessórios da superstição. Uma circunstância digna de nota é que não foi apenas neste livro que os Espíritos a ensinaram, nos últimos tempos; já antes da sua publicação, foram obtidas numerosas comunicações da mesma natureza, em vários países, e que se multiplicaram depois consideravelmente. Talvez fosse o caso aqui de examinarmos por que nem todos os Espíritos parecem de acordo sobre este ponto. Voltaremos a ele mais tarde.
A época de Kardec foi uma época rica em comunicações espirituais, por quê?  Era o momento necessário para que esses tipos de manifestações ocorressem, e que as informações a respeito da vida espiritual fossem passadas de maneira adequada para todos. Aqui, o próprio Codificador diz que o livro dos Espíritos é uma das muitas informações que vieram na mesma época. Houve também a chamada doutrina secreta (Teosofia) doutrina espiritualista, fundada por Helena Petrovna Blavatsky, e muitas outras vertentes ligadas a pensamentos orientais, que também trouxeram o conhecimento da reencarnação.
Continua Kardec:
Examinemos a questão de outro ponto de vista, fazendo abstração de qualquer intervenção dos Espíritos. Deixemo-los de lado por um instante. Suponhamos que esta teoria nada tenha a ver com eles; suponhamos mesmo que jamais se tenha cogitado de Espíritos. Coloquemo-nos momentaneamente num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de possibilidade para ambas as hipóteses, a saber: a da pluralidade e a da unicidade das existências corpóreas, e vejamos para que lado nos levam a razão e o nosso próprio interesse. Algumas pessoas repelem a ideia da reencarnação pelos simples motivo de que ela não lhes convém, dizendo que já lhes basta uma existência e que não desejariam recomeçar outra semelhante. Conhecemos algumas que se enfurecem a simples ideia de voltarem à Terra. Perguntar-lhes-emos apenas se imaginam que Deus lhes devia ter pedido a opinião ou consultado seus gostos para regular o Universo. Ora, de duas uma: ou a reencarnação existe, ou não existe; se existe, por mais que sejam contrariados por ela, terão que sofrê-la, pois Deus não lhes pedirá permissão para isso. É como se ouvíssemos um doente a dizer: já sofri bastante hoje, não quero sofrer mais amanhã. Qualquer que seja o seu mau humor, não terá por isso que sofrer menos amanhã, nem nos dias seguintes, até que esteja curado. Portanto, se tiverem de reviver corporalmente, tornarão a viver, reencarnarão. De nada lhes adiantará se rebelarem, quais crianças que não querem ir à escola, ou condenados, para a prisão, pois terão de passar por isso. Objetivações como estas são pueris demais para merecerem um exame mais sério. Diremos, entretanto, a essas pessoas que se tranquilizem, que a Doutrina Espírita, sobre a reencarnação, não é tão terrível como julgam; que, se a houvessem estudado a fundo não estariam tão assustados; saberiam que as condições dessa nova existência só depende delas, existência que será feliz ou infeliz, segundo o que tiverem feito neste mundo; que, desde agora, poderão elevar-se tão alto que não precisarão mais temer nova queda no lamaçal.
Ou seja, a Doutrina Espírita nos alerta: nós vamos reencarnar. Agora, de acordo como seja a nossa vida nessa existência, será a nossa vida futura. Portanto, façamos o bem.
Por uma questão de recurso didático, e para não tornar o estudo cansativo, não analisaremos todo o texto de uma vez só. Concluiremos no próximo estudo.

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Encerrando o capítulo IV do livro II, vamos dar sequência ao tópico Ideias inata, estudando as perguntas de 219 a 221-a.
219. Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, como as línguas, o cálculo, etc.?
“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela mesma não tem consciência. De onde queres que venham tais faculdades? O corpo muda, mas o Espírito não muda, embora troque de vestimenta”.
Ou seja, o Espírito muda de corpo, como se muda de roupa, no entanto, o agente é o mesmo, e a lei permite a variedade de instrumentos de corpos, para melhor desempenho da alma e enriquecimento das suas experiências, a caminho da Luz.
Todo aprendizado é patrimônio do Espírito. Aquilo que nós aprendemos hoje é patrimônio que carregamos para a eternidade. Só, que, nós vamos levar esse conhecimento de uma forma objetiva, ou seja, hoje fazemos um curso, amanhã, numa outra encarnação, nós não vamos lembrar que fizemos o tal curso, mas, quando nos depararmos novamente com tal questão, com a matéria em si, com o exercício daquela atividade que aprendemos, aí fica fácil, porque nós só vamos recordar. Por isso, é de se notar grandes conhecimentos em criaturas sem nenhuma escolaridade naquela existência. Onde adquiriram tais verdades? Somente a reencarnação pode dizer que esses conhecimentos vieram do passado, em vidas sucessivas, de modo que eles afloram no presente.
220. Mudando de corpo, pode o Espírito perder algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo, o gosto das artes?
“Sim, se corrompeu sua inteligência ou a utilizou mal. Além disso, uma faculdade qualquer pode ficar adormecida durante uma existência inteira, se o Espírito quiser exercitar outra que com ela não guarde relação. Neste caso, permanece em estado latente, para ressurgir mais tarde”.
Nós já sabemos que tudo aquilo que o Espírito aprende e realiza é patrimônio dele, e que jamais irá perder. Mas, em nova reencarnação, muitas vezes, o Espírito pode perder, temporariamente, algumas das suas faculdades já conquistadas em virtude de mau uso de determinado tipo de conhecimento, ou quando determinado tipo de conhecimento, em determinada área, ele não vai utilizar naquela encarnação. As faculdades já conquistadas adormecem por determinado tempo, em favor de outras que precisam ser desenvolvidas.
Então, o que o Espírito conquistou no seu aprendizado é para sempre; mas em determinado momento, em determinada circunstância, de acordo com a sua própria necessidade, ele pode estar impedido de acessar determinados conhecimentos, determinadas habilidades que ele já conquistou em vidas pregressas.
221. O Sentimento instintivo da existência de Deus e o pressentimento da vida futura se devem a uma lembrança retrospectiva do homem, mesmo no estado se selvageria?
“É uma lembrança que ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar. Mas o orgulho sufoca, muitas vezes, esse sentimento”.
Deus está sempre presente em todas as criaturas, desde o mais rude Espírito nas selvas, até os grandes sábios da chamada civilização humana. A crença no Criador é inata no ser humano. A lei divina está na consciência de cada um. Os Espíritos são criados simples e ignorantes, e a consciência, já na Criação, está ali escrita. Por isso, o homem primitivo tem lembranças retrospectivas das leis naturais e da verdadeira vida, que cintila em todo o universo.
221-a. É a essa mesma lembrança que se devem certas crenças relativas à Doutrina Espírita, e que se encontram em todos os povos?
“Essa doutrina é tão antiga quanto o mundo; por isso é encontrada em toda parte, o que constitui prova de que é verdadeira. O Espírito encarnado, conservando a intuição de seu estado de Espírito, tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas os preconceitos muitas vezes falseiam essa ideia e a ignorância lhe mistura a superstição”.
A Doutrina dos Espíritos, que nos afirma que a vida continua e que ninguém morre, é tão antiga quanto o universo, por ser baseada nas leis formuladas por Deus. Jesus  mostrou a todos, principalmente aos seus seguidores, que a morte é vida. Anunciou que retornaria depois do Calvário e cumpriu a promessa, selando, assim, a esperança com a verdade, e dando alegria a toda a humanidade.
Se porventura surgirem em nossa mente lembranças do passado, procuremos interpretar o aviso e melhorar a nossa conduta, porque o objetivo de quem acompanha Jesus Cristo é a pureza dos sentimentos, e o aprendizado do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, com todo o esplendor.

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Encerrando o capítulo IV do livro II, vamos iniciar o tópico Ideias inatas, estudando as perguntas de 218, 218a e 218b.
218. O Espírito encarnado conserva algum vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
“Resta-lhe uma vaga lembrança, que lhe dá o que se chama ideias inatas”.
Ou seja, o Espírito quando encarnado tem vaga lembrança daquilo que ele foi em reencarnação passada. A consciência registra tudo o que pensamos e fazemos, como sendo um livro divino. Quando encarnado na Terra, aparecem, de vez em quando, na mente, as ideias chamadas inatas; são pensamentos guardados na sensibilidade espiritual, de modo a irradiar-se, quando preciso, para a mente ativa.
218-a. A teoria das ideias inatas não é, portanto, uma quimera?
“Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; liberto da matéria, o Espírito sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que deles guarda lhe auxilia o progresso, sem o que estaria sempre a recomeçar. Em cada nova existência o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se encontrava em sua existência anterior”.
Quando o Espírito reencarna, traz consigo seu mundo mental, e quando parte deste para o além, também leva o que construiu pelos pensamentos, palavras e obras. Quando necessário, os benfeitores estimulam as ideias do passado a flutuar na mente presente, como meio de educação.
218-b. Deve haver, então, grande conexão entre duas existências sucessivas?
“Nem sempre tão grande quanto poderias supor, porque em geral as posições são bem diferentes, e no intervalo de uma a outra o Espírito pode ter progredido”.
Impossível descrever todos os acontecimentos como sendo iguais na pauta das reencarnações dos Espíritos. Há muitos deles que em uma existência não tem conexão alguma com a anterior, dada à incrustação da sua ignorância.

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos encerrar o tópico Semelhanças físicas e morais, estudando as perguntas de 215 a 217.
Essas perguntas falam a respeito da influência que os Espíritos sofrem das diversas experiências que têm, de acordo com o aspecto cultural, de acordo com o aspecto da estrutura social, dos grupos aonde venham a reencarnar.
215. De onde provém o caráter distintivo que se nota em cada povo?
“Os Espíritos também possuem famílias, formando-as pela semelhança de suas inclinações mais ou menos depuradas, conforme a elevação que tenham alcançado. Pois bem! Um povo é uma grande família onde se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência que têm os membros dessas famílias, para se unirem, é a origem da semelhança que existe no caráter distintivo de cada povo. Julgas que os Espíritos bons e humanitários procurem um povo duro e grosseiro? Não; os Espíritos simpatizam com as coletividades, como simpatizam com os indivíduos. Nessas coletividades, eles se acham no meio que lhes é próprio”.
Cada povo se encontra reunido pela analogia de sentimentos. Os semelhantes se atraem por lei universal da própria justiça. Quem observa o caráter distintivo de cada país entenderá porque ele aceita certas leis de bom grado; voltadas aos mesmos sentimentos dos filhos que ali aportaram, pela afinidade dos ideais. Assim como cada família atrai, para serem seus filhos, almas das mesmas ideias, o mesmo ocorre com as nações, com pequena percentagem que se refere aos grandes Espíritos, que vêm ao mundo, onde quer que seja, para servirem de instrumento do amor e da verdade.
216. O homem conserva, em suas novas existências, os traços do caráter moral de suas vidas anteriores?
“Sim, isso pode acontecer. Mas, melhorando-se, ele muda. Sua posição social pode, também, não ser a mesma. Se de senhor passa a escravo, seus gostos serão muito diferentes e teríeis dificuldade em reconhecê-lo. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos de sua nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha mudar completamente o seu caráter, pois, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e humano, se se arrependeu”.
Certamente que o caráter moral acompanha o Espírito depois do túmulo; não obstante a vida obedecerá à força do progresso; e esse caráter se modifica, diante das modalidades diferentes do que encontra no caminho.
Se em uma existência o Espírito adquiriu, pelos seus esforços no bem, a paciência, a dedicação ao trabalho honesto, e compreensão, a fé, a caridade e o amor, certamente que isso não foi produto somente daquela existência. Essas virtudes são filhas de todas as vidas que o Espírito viveu, na carne e no mundo espiritual; é fruto da maturidade. Quando vem em outra existência corporal, o Espírito não pode se esquecer dessas qualidades conquistadas, mesmo que surgir na Terra em difícil condição social, nascendo em comunidades pobres, ou mesmo no campo; ele não deixará de ser uma criatura virtuosa. Se a vida o colocar no seio de família abastada, ele não mudará sua estrutura espiritual; continuará a ser o mesmo, pelo reflexo da consciência no dia a dia que vive. Da mesma forma, se é a ignorância que predomina, o Espírito conserva o atavismo, de sorte que essa ignorância o guiará em outras vidas, mesmo que renasça em família virtuosa, fará com frequência coisas que a virtude desaprova.
217. Nas suas diferentes encarnações, o homem conserva os traços do caráter físico das existências anteriores?
“O corpo é destruído e o novo não tem nenhuma relação com o antigo. Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Certamente, o corpo é apenas matéria, mas, apesar disso, é modelado pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime certo caráter, principalmente no rosto, e não é sem razão que se apontam os olhos como o espelho da alma. Isto é, que o semblante reflete mais particularmente a alma. É por isso que uma pessoa excessivamente feia, quando nela encarnou um Espírito bom, criterioso e humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo que há rostos belíssimos, que nenhuma impressão te causam, podendo até mesmo inspirar-te repulsa. Poderias supor que somente corpos bem modelados servem de envoltório a Espíritos mais perfeitos, quando encontras todos os dias homens de bem sob um exterior disforme, Assim, mesmo sem haver pronunciada parecença, a semelhança dos gostos e das inclinações pode dar lugar ao que se chama “um ar de família”.”
Existem certas leis que podem ou não ser aplicadas, isso de conformidade com o lugar ou com a pessoa que vai servir de instrumento. O corpo em formação nada tem a ver com o corpo que o Espírito teve em outra vida, no entanto, ele pode apresentar traços profundos, pela impressão da mente do reencarnante, se esse tem essa força já desenvolvida na sua estrutura espiritual.
Há casos em que o corpo da presente reencarnação de um Espírito parece cópia do outro que ele deixou em passadas existências. Aquela que mais agradou-lhe fica mais fortemente impressa na consciência, esse é o fato. Não que o corpo herde traços de outros corpos por leis que regem a matéria em formação.
COMENTÁRIO DE KARDEC:
Considerando-se que o corpo que reveste a alma numa nova encarnação não guarda nenhuma relação essencial com aquele que ela deixou, já que pode ter tido origem muito diversa, seria absurdo deduzir-se uma sucessão de existências tomando por base apenas uma semelhança eventual. Entretanto, muitas vezes as qualidades do Espírito modificam os órgão que servem às suas manifestações e lhe imprimem ao semblante e até ao conjunto de suas maneiras uma marca especial. É assim que, sob o envoltório mais humilde, se pode encontrar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob a indumentária do grande senhor se veem algumas vezes a da baixeza e da ignomínia. Algumas pessoas, oriundas da mais ínfima posição, adquirem sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade, parecendo que reencontram nesse meio o seu elemento, enquanto outras, apesar do nascimento e da educação, ali se mostram sempre deslocadas. Como explicar esse fato de outra maneira senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos estudar o tópico Semelhanças físicas e morais; nas perguntas de 207 a 214.
207. Frequentemente os pais transmitem aos filhos uma semelhança física. Transmitirão também alguma semelhança moral?
“Não, pois têm almas ou Espíritos diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças há apenas consanguinidade”.
Conforme dizem os Espíritos, a carne procede da carne, o Espírito não. Por este motivo nós recebemos de nossos pais somente a roupagem física, ou seja, a parecença física. O que somos enquanto Espíritos é o resultado da nossa bagagem pregressa, de experiências seguidas e de aprendizados que tenhamos feito.
207-a. De onde vêm as semelhanças morais que algumas vezes se notam entre pais e filhos?
“São Espíritos simpáticos, atraídos pela similitude de suas inclinações”.
Ou seja, pode acontecer que surjam, em família, semelhanças morais por afinidade de pendores, por simpatia dos grupos de Espíritos em processo de ascensão. Desde quando os pais, ou mesmo avós, exercitem determinadas virtudes, a magnitude dessas irradiações pode atingir os descendentes que se encontram em princípio de maturidade, porque a lei nos garante que, em todos os esforços que fazemos para o bem, entramos em sintonia com esse bem, que é imortal na sua amplitude de vida.
208. Os Espíritos dos pais exercem alguma influência sobre os dos filhos, após o nascimento destes?
“Muito grande. Conforme já dissemos, os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Isto constitui para eles uma tarefa; se falharem, serão culpados”.
Os Espíritos estão falando a respeito da contribuição dos pais no desenvolvimento dos filhos pela educação; mas não é só coloca-los na escola; na escola, a criança aprende a ler, a escrever, a fazer contas. Agora, a tarefa dos pais é ensinar valores, como: respeito aos mais velhos; aprender a lidar com as tarefas de trabalho de todos os dias; aprender a cuidar de si próprio; aprender a cuidar do meio aonde vive; aprender a respeitar o semelhante; aprender a ter disciplina; aprender a ter uma vivência cristã; Deus usa as criaturas para a ascensão dos próprios filhos.
209. Por que razão pais bons e virtuosos geram filhos de natureza perversa? Em outras palavras: por que as boas qualidades dos pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para animar seu filho?
“Um mau Espírito pode pedir bons pais, na esperança de que seus conselhos o dirijam por um caminho melhor, e muitas vezes Deus o atende”.
O Espírito, no mundo espiritual, já arrependido dos seus feitos incômodos, e que deseja reencarnar, quando permitido, deseja nascer de pais virtuosos, como sendo misericórdia para que se livre de enveredar outra vez nos caminhos de erro. Para tanto, os pais servir-lhe-ão de trava, não deixando seus impulsos do passado tomarem a dianteira das boas qualidades que ele deve assimilar no mundo familiar. Porém, nem sempre é permitida essa dádiva,
210. Podem os pais, por seus pensamentos e preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, em vez de um Espírito inferior?
“Não, mas podem tornar melhor o Espírito do filho que geraram e que lhes foi confiado; esse o dever deles. Os maus filhos são uma provação para os pais”.
O processo educacional que se dá pelo exemplo não pode ser negligenciado. A oração muito pode na engrenagem da vida humana. A oração, neste caso, pode ajudar muito.
211. De onde vem a semelhança de caráter que muitas vezes existe entre dois irmãos, principalmente entre os gêmeos?
“Espíritos simpáticos que se aproximam por analogia de sentimentos e que se sentem felizes por estar juntos”.
Em muitos casos, os irmãos gêmeos são Espíritos simpáticos, que se unem por analogia de sentimentos, porém, nem todos são assim. Pode acontecer o contrário: serem Espíritos inimigos que a justiça divina faz se reencontrarem na formação biológica, no sentido de que se processe o perdão com mais eficiência. Os gêmeos, por vezes, têm semelhança de caráter, sendo que não devemos generalizar esse fato, porque em outros casos são completamente diferentes, em matéria de conduta.
212. Nas crianças cujos corpos nascem ligados e que possuem alguns órgãos em comum, há dois Espíritos, ou, melhor dizendo, duas almas?
“Sim, mas a semelhança entre elas é tão grande que faz vos pareçam, muitas vezes, uma só”.
Essa questão das crianças que nascem ligadas por uma parte do corpo (crianças siamesas), muitas vezes, quando se faz uma investigação, se vê que não é possível separar uma da outra; muitas vezes, é todo um processo provacional para ambos os Espíritos, que os obriga a respirarem juntos, a comerem juntos, a descansarem juntos e a terem, por vezes, as mesmas ideias. O corpo, nesse caso, é mais do que uma prisão.
213. Já que os Espíritos encarnam nos gêmeos por simpatia, de onde provém a aversão que às vezes se nota entre eles?
“Não é uma regra que os gêmeos tenham de ser Espíritos simpáticos. Espíritos maus podem querer lutar juntos no teatro da vida”.
Dois Espíritos, quando nascem de uma só gestação, normalmente são Espíritos afins, ou inimigos do passado, e Deus lhes dá oportunidade de ressarcir velhas rixas no campo de luta que a Terra oferece. Não é regra que sejam simpáticos, podendo ser o contrário.
214. Que se deve pensar dessas histórias de crianças que lutam no ventre materno
“Lendas! Para mostrar que o ódio entre elas era muito antigo, fazem-no recuar a uma data anterior ao nascimento delas. Em geral, não levais muito em conta as imagens poéticas”.

As lutas de crianças no seio materno, bem como outras do mesmo gênero, são histórias que nasceram entre povos supersticiosos. Toda criança em formação no útero materno movimenta-se. Quando duas crianças gêmeas estão sendo geradas, tem-se a impressão de que estão lutando, o que não passa de aparência.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos estudar o tópico Parentesco, filiação - nas perguntas de 203 a 206.
203. Os pais transmitem aos filhos uma parcela de suas almas ou se limitam a lhes dar a vida animal, à qual uma nova alma vem, mais tarde, adicionar a vida moral?
“Somente a vida animal, pois a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa”.
Os pais não transmitem aos filhos parte das suas almas, pois a alma é indivisível, conforme explicam os Espíritos. Somente fornecem meios para que os corpos se organizem. Espíritos não geram Espíritos; somente Deus é o Pai de todos e de tudo. Um pai ignorante pode ter filhos sábios, e vice-versa, assim como pode um pai inteligente ter filhos inteligentes; depende da alma que reencarna por seu intermédio.
204. Já que tivemos muitas existências, nossa parentela se organizou bem antes da nossa existência atual?
“Não pode ser de outra maneira. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, as causas de simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem estranhos”.
Pertencemos à criação de Deus e estamos, por assim dizer, ligados uns aos outros por leis universais. Somos todos irmãos e não podemos viver sozinhos. Quando reencarnamos em uma família, por necessidade de aprendizado, criamos vínculos de amizade ou, às vezes de ódio; contudo, isso é processo que se desenvolve entre as criaturas. Se amamos os nossos familiares, esse é o nosso dever, a nossa finalidade; se odiamos, tornamos a voltar, para que o amor se faça presente nos corações.
205. Na opinião de certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família, ao fazê-los recuar às existências anteriores.
“Ela os amplia; não os destrói. Baseando-se o parentesco em afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma mesma família são menos precários. A doutrina da reencarnação aumenta os deveres da fraternidade, pois no vosso vizinho ou no vosso empregado pode encontrar-se um Espírito que esteve ligado a vós por laços consanguíneos”.
A doutrina da reencarnação não se afigura como destruidora dos laços de família. Pelo contrário, ela, como lei que vigora em todos os mundos onde os Espíritos reencarnam, alicerça a verdadeira fraternidade, por alimentar o amor universal entre todas as criaturas. O princípio das vidas sucessivas nunca destrói os lares; ele os distende ao infinito e se forma na Terra uma única família para que tenhamos oportunidade de exercitar o amor; sem a reencarnação, não há condições de se estender o amor além das fronteiras do lar.
205-a. No entanto, essa doutrina diminui a importância que alguns atribuem à sua genealogia, visto que cada um pode ter tido por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça ou que tenha vivido em condição muito diversa.
“É verdade, mas essa importância se baseia no orgulho. O que a maioria das pessoas venera em seus antepassados são os títulos, a posição, a fortuna. Um, que se envergonharia de ter, como ascendente honrado sapateiro, se gabaria de descender de um nobre devasso. Mas, digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, pois Deus não regulou as leis da Natureza segundo a vontade deles”.
Cultivar o amor somente entre os ancestrais, oferecer atenção somente àqueles com os quais convivemos, amar só os nossos familiares a consciência nos diz que reforça o egoísmo e o próprio orgulho, não só dos que nos acompanham como, igualmente, de toda uma raça. A falsa ideia de sangue real é que faz muitos negarem a reencarnação. O apego às heranças é embaraço para se crer que nascemos tantas vezes quantas forem necessárias; contudo, Deus não nos pediu opinião para fazer as leis que correspondem às nossas necessidades de despertamento espiritual.
206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de uma mesma família, seguir-se-á que o culto dos antepassados seja uma coisa ridícula?
“De modo algum, pois devemos considerar-nos felizes por pertencermos a uma família em que encarnaram Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por isso consagram menos afeição aos que lhes estão ligados pelos laços da família, pois muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família por razões de simpatia ou por ligações anteriores. Mas, ficai certos de que os Espíritos de vossos ancestrais não se sentem nem um pouco honrados com o culto que lhes dedicais por orgulho. O mérito de que desfrutam só se refletirá em vós à medida que vos esforçardes por seguir os bons exemplos que vos deram. Somente então lhes é grata e até mesmo útil a lembrança que deles guardais”.

Algumas seitas e religiões espiritualistas existem cuja filosofia se baseia no culto aos ancestrais, cuja direção ou comando são passados de pai para filho, ou descendente mais próximo, na ilusão enganosa de que se pode ligar, parcimoniosamente, as coisas da Divindade. Mas quando ocorre que, na família ancestral, tenha havido alguns cujos comportamentos possam envergonhar os descendentes, estes procuram esquecê-los ou apagá-los. Esses, quando elevados, ficarão alegres quando seus "familiares" principiarem a abolir os erros, dissipando as trevas do seu mundo mental. Quando o nosso amor quebrar as amarras do lar, dos parentes, e atingir os seres humanos sem distinção, pela caridade, respeitando o direito de todos, nos sentiremos felizes por sabermos que no futuro haverá um só rebanho e um só Pastor, que é Jesus Cristo.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos estudar o tópico Sexos nos Espíritos, nas perguntas de 200 a 202.
200. Os Espíritos têm sexos?
“Não como o entendeis, porque os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos”.
Essa é uma pergunta que muitos fazem; as formas de sexo no mundo espiritual são variáveis, de acordo com a evolução do Espírito. O amor transcende ao instinto e ao fator biológico. É o amor que temos pela família.
201. O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar, em nova existência, o de uma mulher e vice-versa?
“Sim; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres”.
A resposta foi simples, direta e objetiva. Um Espírito que animou muitas vezes um corpo de homem pode, perfeitamente, animar, em outras oportunidades, corpo de mulher. Como já foi dito, o Espírito, na profundidade do termo, não tem sexo; o sexo se apresenta no perispírito diferenciando e, ao mesmo tempo, ajustando a matriz da carne como homem ou mulher.
202. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe importa. Vai depender das provas por que haja de passar”.

Comentário de Kardec:
Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, como cada posição social, lhes oferece provações, deveres especiais e novas oportunidades de adquirirem experiência. Aquele que fosse sempre homem só saberia o que sabem os homens.

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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos estudar o tópico Sorte das crianças depois da morte, nas perguntas de 197 a 199-a.
197. O Espírito de uma criança, morta em tenra idade, poderá ser tão adiantada quanto o de um adulto?
“Algumas vezes muito mais, porque pode ter vivido mais e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu”.
Uma criança pode ser muito mais adiantada do que um adulto, basta que ela tenha tido mais experiências nas suas sucessivas reencarnações. O fato de ser criança não quer dizer que é um Espírito primitivo. Somente o corpo se encontra pequeno; o Espírito pode ser grande na escala espiritual.
197-a. Então o Espírito de uma criança pode ser mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tantas vezes na Terra?”
Um Espírito que se encontra animando uma criança, em muitos casos, é mais evoluído que seus próprios pais, e isso é frequente no seio da sociedade humana. Por vezes, são os mesmos ancestrais de volta, com as experiências que granjearam, com novos aprendizados no mundo espiritual, que trazem para novas experiências na carne.
198. Por não ter podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence às categorias superiores?
“Se não fez o mal, também não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. Se for puro, não o é pelo fato de ter sido criança, mas porque era mais evoluído”.
Não é o fato de uma criança ter desencarnado em tenra idade que a faz pertencer ao reino dos Espíritos puros. Ela se agrupa, depois da morte do corpo físico, em esferas condizentes com o seu tamanho evolutivo, por suas qualidades espirituais. Ninguém faz anjos; o que transforma o Espírito das trevas para a luz é a maturidade espiritual, é o tempo e o trabalho.
199. Por que a vida se interrompe com tanta frequência na infância?
“A duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que nela está encarnado, o complemento de uma existência interrompida antes do término devido, e sua morte, quase sempre, constitui provação ou expiação para os pais”.
A curta duração da existência de algumas crianças é, por vezes, influência da existência passada, que foi interrompida antes de cumprir seus dias na pauta da vida. O que ficamos devendo, haveremos de saldar. Entretanto, pode ser igualmente, como caso mais fácil, um Espírito que somente deve dias, ou meses, e mesmo anos para conquistar sua alforria na Terra, e passar a pertencer a esferas elevadas, servindo também para provações dos pais, que sempre reajustam alguma coisa com esse fato que abala os seus sentimentos.
199-a. Em que se transforma o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade?
“Recomeça uma nova existência”.
Tudo isso se explica pelos processos das vidas sucessivas. Elas são as chaves com as quais abrimos as portas de muitos conhecimentos espirituais.
Comentário de Kardec:
Se o homem só tivesse uma existência, e se após essa existência sua sorte futura ficasse decidida para sempre, qual seria o mérito de metade da espécie humana, que morre em tenra idade, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, frequentemente tão duras, impostas à outra metade? Semelhante ordem de coisas não se harmonizaria com a justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é para todos; o futuro pertence a todos sem exceção e sem favor para quem quer que seja, e os que chegarem por último só poderão queixar-se de si mesmos. O homem deve ter o mérito de seus atos, como tem deles a responsabilidade.
Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos numa idade em que a educação ainda não pôde ter exercido a sua influência? Não se veem algumas que parecem trazer do berço a astúcia, a falsidade, a perfídia, até mesmo o instinto do roubo e do assassínio, não obstante os bons exemplos de que estão cercadas? A lei civil as absolve de suas más ações, porque, diz ela, agiram sem discernimento. E tem razão, porque, de fato, elas agem mais por instinto do que intencionalmente. Mas, de onde podem provir instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas nas mesmas condições e sujeitas às mesmas influências? De onde vem essa perversidade precoce, senão da inferioridade do Espírito, já que a educação em nada contribuiu para isso? As que são viciosas o são porque seus Espíritos progrediram menos e têm então de sofrer as consequências, não dos atos que praticaram na infância, mas dos de suas existências anteriores. A lei, portanto, é a mesma para todos e a justiça de Deus a todos alcança.


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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, e ao estudo do tópico Transmigração progressiva, vamos estudar as perguntas de 193 a 196-a.
193. Em suas novas existências pode o homem descer mais baixo do que já esteja na atual?
“Em termos de posição social, sim; como Espírito, não”.
As leis, criadas por Deus não permitem que o homem, em uma reencarnação, desça, espiritualmente, mais abaixo do que acontece a regressão.
O Espírito não regride; ele sempre avança para frente e para o alto. O que pode acontecer é a alma descer socialmente; regressão material é escola para o Espírito; no entanto, o que aprendemos nunca mais esquecemos, pois, significa despertamento. Os valores espirituais adquiridos irradiam sempre em todas as reencarnações.
O que por vezes acontece, é que o Espírito em boas condições intelectuais pode voltar à Terra em outra vida física, sem condições de se expressar, o que, contudo, não significa regressão. O que ele sabe, está registrado para a eternidade.
194. É possível, em uma nova encarnação, que a alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?
“Não. Visto que ela não pode degenerar”.
O Espírito de um homem de bem, jamais volta à Terra animando o corpo de um celerado. Não há condições de um Espírito retroceder em seus sentimentos; ele sempre avança, esta é a lei do progresso, que é a lei de Deus.
194-a. A alma de um homem perverso pode transformar-se na de homem de bem?
“Sim, se se arrependeu. Isso, então, é uma recompensa”.
A alma de um celerado em uma reencarnação, pode, em outra, voltar animando o corpo de um homem regenerado; basta arrepender-se e continuar se esforçando, para não cair em faltas novamente.

Comentário de Kardec:
A marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que chegaram. Em suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um poderoso da Terra pode mais tarde animar o mais humilde operário e vice-versa, porque entre os homens, as posições sociais guardam, frequentemente, relação inversa com a elevação dos sentimentos morais. Herodes era rei e Jesus, carpinteiro.
195. A possibilidade de se melhorarem noutra existência não pode levar algumas pessoas a perseverarem no mau caminho, sob o pretexto de que poderão corrigir-se mais tarde?
“Quem assim pensa não acredita em nada e a ideia de um castigo eterno não o reprima mais que qualquer outra coisa, pois sua razão a repele, e essa ideia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se só tivessem empregado meios racionais para conduzir os homens, não haveria tantos incrédulos. De fato, um Espírito imperfeito poderá, em sua existência corporal, pensar como dizes, mas, uma vez liberto da matéria, pensará de outro modo, pois logo perceberá que calculou mal, o que o levará a sentimentos opostos em uma nova existência. É assim que se realiza o progresso e essa a razão por que, na Terra, tendes homens mais adiantados que outros. Uns já possuem a experiência que outros ainda não têm, mas que adquirirão pouco a pouco. Depende deles acelerar o seu progresso ou retardá-lo indefinidamente”.
Se desejarmos melhorar, tomemos essa providência logo; não deixemos para amanhã, pois será um dia a mais a retardar a nossa libertação. Nunca se deve pensar que, se a vida é eterna, tem-se muito tempo para o aperfeiçoamento. Na verdade, a evolução é demorada, contudo, é progressiva, e temos uma função importante no nosso despertamento espiritual.
Comentário de Kardec:
O homem que se encontra numa posição má deseja trocá-la o mais rápido possível. Aquele que se acha convencido de que as tribulações desta vida são consequência de suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que a do fogo eterno, em que não acredita.
196. Não podendo os Espíritos melhorar-se, a não ser por meio das tribulações da existência corporal, seque-se que a vida material seja uma espécie de cadinho ou de depurador, pelo qual devem passar os seres do mundo espiritual para alcançarem a perfeição?
“Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente depois de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que atingem, num tempo mais ou menos longo, conforme os esforços que empreguem, o objetivo para o qual se encaminham”.
Então, é necessário que o Espírito passe por todos os tipos de tribulações, para serem elas escolas onde se aprende a viver melhor; tirar as tribulações dos Espíritos é o mesmo que tirar as crianças de junto dos pais. São indispensáveis os problemas e as dores nos caminhos da humanidade, pelo menos na faixa evolutiva em que ela se encontra. Eis porque são necessárias várias reencarnações para o Espírito, como sendo oportunidades de aprimoramento espiritual e educandários de elevado poder, disciplinando e prometendo um porvir cheio de luz e de paz.
196-a. É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou é o Espírito que influi sobre o corpo?
“Teu Espírito é tudo; teu corpo é uma veste que apodrece eis tudo”.
O corpo é um depurador, que vai modelando a alma passo a passo, de vida em vida. E a alegria de viver é a felicidade recebida como prêmio de jornadas avançadas.
Comentário de Kardec:

No suco da videira encontramos uma comparação material dos diferentes graus da depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por uma porção de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega à pureza absoluta depois de várias destilações, em cada uma das quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique no qual o Espírito tem que entrar para se purificar; as matérias estranhas são como o perispírito, que também se purifica à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos iniciar o estudo do tópico Transmigração progressiva, nas perguntas de 189 a 192-a.
189. O Espírito goza da plenitude de suas faculdades desde o princípio de sua formação?
“Não, porque o Espírito, como o homem, também tem sua infância. Em sua origem os Espíritos têm apenas uma existência instintiva e mal têm consciência de si mesmo e de seus atos. Só pouco a pouco a inteligência se desenvolve”.
O Espírito tem, igualmente, a sua infância. No início de sua individualidade, somente tem instintos qual o animal; a sua vida é instintiva e ele não tem consciência de si mesmo. Não compreende as leis e sua condição é de simplicidade e ignorância. Não goza das suas faculdades, porque elas se encontram adormecidas. Somente o tempo, nas sucessivas reencarnações, na dor e a agressividade que recebe de fora e de dentro de si mesmo, é que vai entendendo o objetivo de sua vida.
190. Qual o estado da alma na sua primeira encarnação?
“O da infância na vida corporal. Sua inteligência apenas desabrocha: ela se ensaia para a vida”.
Nos primeiros ensaios da alma para a vida, ela se encontra na infância e, tomando corpo, a infância continua, contudo, a alma carrega consigo as mesmas qualidades angélicas, ainda que em estado latente. A justiça nos garante os mesmos valores dos grandes sábios, mas é preciso que seja desenvolvida essa capacidade espiritual que todos temos. A força maior que nos ajuda a despertar o celeiro nos cofres da consciência é o tempo. Esse tempo, conjugando com os nossos esforços, tornar-se-á uma fonte de qualidades espirituais elevadas, capazes de nos tornar anjos.
191. As almas dos nossos selvagens são almas no estado de infância?
“Infância relativa, mas já são almas desenvolvidas, pois nutrem paixões”.
O estado da alma em suas primeiras vestimentas materiais é rudimentar, pelos rudimentos de vida que se apresentam no Espírito ainda em sono. Entretanto, mesmo naquele estado primitivo, a sua natureza tem valores imortais que o porvir irá conhecer como semelhantes aos dos Espíritos Superiores.
191-a. Então, as paixões são um sinal de desenvolvimento?
“De desenvolvimento, sim, mas não de perfeição. São um sinal de atividade e de consciência do eu, ao passo que, na alma primitiva, a inteligência e a vida se acham no estado de gérmen”.
As próprias paixões representam um desenvolvimento da alma, não a perfeição, a qual virá depois, pelo conhecimento e prática do amor.
192. Por uma conduta perfeita pode-se transpor, já nesta vida, todos os graus da escala e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermediários?
“Não, pois o que o homem julga perfeito está longe da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e que ele não pode compreender. Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza, mas isso não é a perfeição absoluta. Uma criança, por precoce que seja, deve passar pela juventude, antes de chagar a maturidade; da mesma forma, também, o doente tem de passar pela convalescença, antes de recobrar a saúde. Além disso, o Espírito deve progredir em ciência e em moralidade; se somente se adiantou num sentido, é preciso que se adiante no outro para alcançar o topo da escala. Quanto mais o homem se adiantar na vida presente, tanto menos longas e penosas serão as provas que virão depois”.
Existem os degraus, como sendo escala de ascensão, para todos os Espíritos no universo de Deus. Ninguém pode, e a razão não ensina o contrário, em somente uma existência, aperfeiçoar-se em todos os rumos. São necessários milhares e milhares delas, com acertos e desacertos, aprendendo e colhendo experiências para o grande celeiro da vida.
Em uma só encarnação, a alma não tem condições de alcançar a perfeição. Seria um contrassenso, uns passarem por caminhos tortuosos, sofrendo e disciplinando-se, e outros tomarem uma evolução reta e com poucos anos atingirem a angelitude. A evolução, ou o despertamento do Espírito, se processa de letra a letra, de passo a passo, de reencarnação a reencarnação.
Não haveria mérito algum para o Espírito se Deus já o fizesse em seu completo despertamento espiritual.
192-a. O homem pode ao menos garantir para si, já na vida presente, uma existência futura menos cheia de amarguras?
“Sim, sem dúvida; pode abreviar a extensão e as dificuldades do caminho. Só o negligente permanece sempre no mesmo ponto”.

O Espírito, desde a sua gênese, vem se despertando lentamente pelos processos estabelecidos pela lei do progresso e, quando chega a razão, aparece a sua parte a ser feita, e que ele deve fazer no âmbito das suas possibilidades. Deus criou a vida e leis para serem obedecidas; Deus criou os mundos e leis que os governam, assegurando a harmonia universal. Lembremo-nos todos os dias da gradatividade; nunca parar, mas jamais crescer desordenadamente, sem as possíveis seguranças, como viajores de Deus.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos continuar o estudo do tópico Encarnação nos diferentes mundos, nas perguntas de 183 a 188.
183. Passando de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância?
“Em toda parte a infância é uma transição necessária, mas não é, em todo lugar, tão obtusa quanto entre vós”.
Ou seja, a alma, quando transmigra de um mundo para outro, passa por determinada transição. Isso é lei natural da própria vida.
Os Espíritos reencarnados na Terra estão em preparo para que possam diminuir o tempo de transição, da reencarnação à lucidez, em se abraçando as responsabilidades.
184. O Espírito pode escolher o novo mundo em que vai habitar?
“Nem sempre; mas pode pedir e obter o que deseja, se o merecer, porque o acesso dos Espíritos a este ou aquele mundo vai depender do grau da sua elevação”.
Ou seja, o Espírito pode escolher o mundo em que deseja habitar, mas, nem sempre a escolha é concedida pelos benfeitores espirituais encarregados de estabelecer a harmonia nos mundos e dos seus tutelados.
A alma que não se libertou da escravidão da ignorância é como a criança que nem sempre pode fazer o que quer. Ela pede aos pais, e esses medem o que podem liberar para os seus filhos. Os Espíritos que já se encontram conscientes dos seus deveres, esses deixam nas mãos dos encarregados da verdade escolher o que o que eles poderão suportar, de acordo com o seu desenvolvimento espiritual.
184-a. Se o Espírito nada pedir, o que vai determinar o mundo em que irá reencarnar?
“O grau da sua elevação”.
Entendemos que isso é ponto pacífico. A elevação espiritual de cada um é que vai condicionar o acesso a este ou aquele mundo.
185. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada globo?
“Não; os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá transformação semelhante. Tornar-se-á um paraíso terrestre quando os homens se houverem tornado bons”.
O progresso é força de Deus que abrange toda a criação. O homem cresce, porque desperta seus valores, depositados por Deus em seu coração. A matéria, sendo criação de Deus, igualmente tem direito no carro do progresso.
O corpo físico tem sua linha de aperfeiçoamento em todos os rumos que a vida possa lhe pedir, porque, se o Espírito aperfeiçoa, necessário se faz que encontre corpos que correspondam ao seu crescimento espiritual. Todos os reinos da natureza têm sua marcha de ascensão; essa é, pois, uma lei; pode se dizer que é um determinismo da Divindade.
Comentário de Kardec:
É assim que as raças, que hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia e serão substituídas por seres cada vez mais perfeitos; essas raças transformadas sucederão às atuais, como estas sucederam a outras ainda mais grosseiras.
186. Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?
“Sim, e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros”.
Quem se encontra mergulhado na carne dificilmente pode ter uma ideia do que pode ser um mundo venturoso, onde somente aportam Espíritos puros, aquelas almas que já se encontram em condições de falar como disse Jesus: Eu e meu Pai somos um.
186-a. Parece resultar daí que não existe uma demarcação precisa entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro?
“Essa demarcação não existe. A diferença se vai apagando pouco a pouco até se tornar imperceptível, como a noite se desfaz ante as primeiras claridades da alvorada”.
A pureza da alma surge na amplitude da nossa vida, no silêncio que o nosso conhecimento nos ensinou a respeitar. Com o passar das eras no bem, no amor e na caridade, o Espírito vai se iluminando, como a noite sucede ao dia, e a ideia da imortalidade assegura a vida na fé que estabelece a felicidade.
187. A substância do perispírito é a mesma em todos os globos?
“Não; é mais ou menos etérea. Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com a rapidez do relâmpago”.
No que toca à vida de um Espírito que mudou de mundo por necessidade evolutiva, ao chegar a esse mundo ele muda de roupagem e se reveste de outra compatível com aquele mundo que lhe empresta as condições de viver, como os homens fazem ao passar para outro país, cujo clima é diferente do de origem. A diferença é que se troca a roupagem perispiritual pelas forças mentais, com recursos do próprio mundo interno.
188. Os Espíritos puros habitam mundos especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem mais ligados a um globo do que a outros?
“Os Espíritos puros habitam certos mundos, mas não estão confinados a eles como os homens na Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte”.

A condição de Espírito livre é conquistada pela alma em suas variadas reencarnações, nos diversos mundos. Os Espíritos livres, os puros Espíritos, não estão apegados aos mundos que habitam, porque consideram como sua casa o mundo onde se encontram naquele momento.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo IV do livro II, vamos continuar o estudo do tópico Encarnação nos diferentes mundos, nas perguntas de 179 a 182.
179. Os seres que habitam cada mundo alcançaram todos o mesmo grau de perfeição?
“Não; é como na Terra; há seres mais e menos adiantados”.
Daí nós concluirmos que, as diferenças são uma constante em todos os mundos e em tudo que existe no universo. Nada é perfeitamente igual ao outro, mesmo que estejam ligados pela mesma linha de afinidades.
Os Espíritos que reencarnam em um planeta não são todos iguais no saber e no amor; existem diferenças entre uns e outros, para que o aprimoramento se faça entre os próprios Espíritos, uns ensinando aos outros.
180. Passando deste mundo para outro, o Espírito conserva a inteligência que tinha aqui?
“Sem dúvida; a inteligência não se perde, mas pode acontecer que o Espírito não disponha dos mesmos meios para manifestá-la. Isso vai depender da sua superioridade e das condições do corpo que vai tomar”. (Veja-se: Influência do organismo, nas questões 367 a 370).
Ou seja, o Espírito na sua jornada, ao passar para outros mundos, se esse for o caso, conserva a sua inteligência e dela faz uso no que for necessário, ampliando suas experiências no que deve aprender. O Espírito somente fica embotado conforme o corpo que toma, que pode ter influência sobre a inteligência. Entretanto,  com o tempo, ele domina todas as suas condições.
181. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?
“Sem dúvida eles têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria; mas esse envoltório é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que diferencia os mundos que devemos percorrer, pois há muitas moradas na casa de nosso Pai, sendo de muitos graus essas moradas. Alguns o sabem e têm consciência disso aqui na Terra, o que não acontece com outros”.
Sabemos que existem muitas moradas na casa do Pai. São inúmeros os mundos que servem de moradia para humanidades sem conta. Aqueles mundos habitados por Espíritos que usam corpos físicos, se encontram em várias escalas evolutivas, e os corpos nos mundos nem sempre são iguais na estrutura material. As diferenciações são inúmeras, contudo, carregam alguma semelhança uns com os outros. A cada mundo, a sua própria necessidade. E o Espírito é o mesmo que atua em todos eles; as diferenças das almas são no aspecto evolutivo.
182. Podemos conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?
“Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos encontrais; ou seja, não podemos revelar estas coisas a todos, pois nem todos estão em condições de compreendê-las e isso os perturbaria”.
Comentário de Kardec:
À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o revesta aproxima-se igualmente da natureza espiritual. A matéria é menos densa, ele já não se arrasta penosamente pela superfície do solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se alimentarem. O Espírito é mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só entrevemos pelo pensamento.
A purificação dos Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. É assim que, nos mundos superiores à Terra, as guerras são desconhecidas, os ódios e discórdias não têm objetivo, pois ninguém pensa em prejudicar o seu semelhante. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem que a morte não lhes cause nenhuma apreensão. Encaram-na de frente, sem temor e como simples transformação.

A duração da vida nos diferentes mundos parece guardar relação com o grau de superioridade física e moral de cada um, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material o corpo, menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam; quanto mais puro o Espírito, menos sujeito às paixões que o consomem. É essa ainda uma graça da Providência que, dessa forma, quer abreviar os sofrimentos.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo IV do livro II, vamos continuar no estudo do tópico Encarnação nos diferentes mundos, nas perguntas de 177 a 178-b.
177. Para chegar à perfeição e á suprema felicidade, objetivo final de todos os homens, o Espírito deve passar pela série de todos os mundos que existem no Universo?
“Não, porque há muitos mundos que estão no mesmo grau da escala evolutiva, nos quais o Espírito nada aprenderia de novo”.
A perfeição exige do Espírito incontáveis reencarnações em variados mundos, buscando, aqui e ali, condições para a verdadeira felicidade. Para tanto, necessário se faz que o Espírito se submeta à lei da reencarnação, lei essa que vigora em todos os mundos habitados. O objetivo de todos é a perfeição e quanto mais sabemos dos valores do Espírito puro, mais vontade sentimos de buscar essa pureza, mesmo sabendo de todos os problemas, sacrifícios e dores. Jesus nos mostrou que cada um deve levar a sua cruz e subir o seu calvário para a própria redenção. É por isso que estamos trabalhando na aquisição de forças, buscando vencer a nós mesmos.
177-a. Como se explica então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo?
“De cada vez o Espírito pode encontrar-se em posições bem diferentes das anteriores, que serão outras tantas ocasiões de adquirir experiência”.
Podemos tomar como exemplo uma situação que está relatada pela médium Yvonne do Amaral Pereira, em um de seus livros, quando ela fala da experiência do Espírito Frédéric Chopin, que viveu na Europa, entre os anos de 1810 a 1849, quando desencarnou, na condição de um compositor consagrado, grande pianista. Agora, esse grande artista, também teve as suas questões de ordem de evolução espiritual, e fez uma escolha. Depois de ter sido famoso na Europa, no coração da civilização, escolheu uma existência obscura no interior do Brasil, numa região quase selvagem, aonde essa existência obscura o auxiliou a desenvolver, em termos espirituais, valores tais, como, humildade, tolerância, boa vontade, etc. E ele disse para a médium que fez essa escolha conscientemente, depois de ter sido uma figura projetada para o mundo. Na condição de compositor, ele evoluiu intelectualmente; na ocasião em que teve uma existência obscura, ele teve a chance de evoluir moralmente.
178. Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram?
“Sim, quando têm uma missão a cumprir para auxiliar o progresso. Aceitam, então, com alegria as tribulações de tal existência, porque lhes fornecem os meios de se adiantarem”.
Os Espíritos que já viveram em mundos superiores e dali saíram com glórias, podem voltar a mundos menos elevados que o seu com missão de transmitir suas experiências, através dos exemplos, com finalidade precípua de ajudar aos que se encontram na retaguarda. É a chance de colocar na prática tudo aquilo que aprendeu anteriormente. Eles não vão como exilados, mas, como Espíritos que escolheram uma tarefa.
178-a. Isso não pode ocorrer também por expiação, e Deus não pode enviar Espíritos rebeldes para mundos inferiores?
“Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas não retrogradam; sua punição, neste caso, consiste em não avançarem, em recomeçarem no meio conveniente à sua natureza, as existências mal empregadas”.
Os Espíritos não regridem, como muitos pensam, e dentro de uma grandeza de tempo, o próprio estacionamento do Espírito é ilusório, pois ainda que queiramos, a própria matéria não para a sua evolução. A evolução se torna tão lenta que nos dá uma impressão de inércia, mas não há imobilidade dentro do progresso universal. E, aí, nós vamos ter “N” situações possíveis e imagináveis. Infelizmente, percebemos que muitos conceitos foram inseridos no aprendizado espírita, a partir de determinada época, embora não exista nenhum registro feito nos livros básicos da doutrina, nem mesmo na Revista Espírita, como, por exemplo, os exilados de Capela. Não devemos tomar como uma verdade absoluta alguma coisa cujo registro não está nos conhecimentos transmitidos pelos Espíritos da Codificação. Não devemos considerar determinadas ficções como verdades absolutas.
178-b. Quais os que têm de recomeçar a mesma existência?
“Os que faliram em suas missões ou em suas provas”.

Esta resposta é para nós refletirmos muito. Aqueles que obstaculizaram o progresso; aqueles que não aprenderam a viver, terão que recomeçar a mesma existência.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo IV do livro II, vamos estudar o tópico Encarnação nos diferentes mundos, nas perguntas de 172 a 176-b.
Antes de estudar as perguntas, vou postular algumas questões fundamentais, que se deduz das referidas perguntas: o Espírito, ele é um habitante do Universo. Ele não é habitante de um único planeta. Portanto, ele poderá encarnar em diversos mundos. E, por que encarnar? Porque ele tem necessidade de colocar à prova tudo aquilo que aprendeu, durante o período em que estava na erraticidade.
172. As nossas diversas existências corporais se realizam todas na Terra?
“Nem todas; vivemo-las em diferentes mundos. As que passamos na Terra não são as primeiras, nem as últimas, embora sejam das mais materiais e das mais distantes da perfeição”.
Ou seja, estamos aqui, numa das muitas escolas cósmicas para os Espíritos, e esta é uma das mais elementares. Estamos aprendendo os postulados básicos da vida, tanto material quanto espiritual.
Nem todos os Espíritos que ora estagiam na Terra, tiveram nela as primeiras reencarnações. Muitos já viveram em outros mundos, dos quais guardaram muitas experiências, que lhes servem de amparo contra muitos males.
A lei da reencarnação nos fala que já passamos em muitos mundos, recolhendo experiências; devemos a esses mundos o que aprendemos; portanto, a mesma lei do amor pede que devolvamos o que recebemos em forma de fraternidade universal, enriquecendo a vida e despertando em nós os valores que nos foram legados.
173. A cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou pode ter várias existências no mesmo globo?
“Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não avançou bastante para passar a um mundo superior”.
Certamente que a alma pode viver em mundos diferentes do que estás vivendo; no entanto, o mais certo é que ela terá muitas reencarnações no mundo em que está, até que as experiências acumuladas sejam o suficiente para lhe ascender a outro mundo. Mesmo assim, a alma pode voltar ao mundo que deixou, como missão para ajudar aos que ficaram. Essa é a lei de fraternidade, onde a luz clareará as trevas.
173-a. Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra?
“Certamente”.
173-b. Podemos voltar à Terra depois de termos vivido em outros mundos?
“Seguramente. É possível que já tenhas vivido em outros mundos e na Terra”.
174. Voltar a viver na Terra é uma necessidade?
“Não; mas se não progredistes, podereis ir para outro mundo que não seja melhor e que pode até ser pior”.
O Espírito se encontra na Terra por leis rígidas, que violentam suas necessidades, obrigando-o a viver onde sua capacidade não corresponde a essa vivência. Se o Espírito não acompanha o progresso do mundo em que se encontra encarnado, deve passar a outro que lhe sugere melhor aprendizado.
Herdam a Terra somente almas compatíveis com o progresso da Terra. Os mais atrasados, bem como os mais evoluídos, deverão procurar mundos da sua afinidade. Os últimos poderão voltar aqui, em missão, em altos trabalhos, onde a educação é a finalidade e o amor, o anseio de vida.
175. Haverá alguma vantagem em voltar a habitar a Terra?
“Nenhuma vantagem particular, a menos que seja em missão, caso em que aí se progride, como em qualquer outro mundo”.
Não há vantagens para o Espírito em permanecer na Terra se ela não lhe oferecer meios compatíveis com a sua evolução espiritual. Às vezes, o interesse da alma em ficar vivendo na Terra, está sob a inspiração de sentimentos inferiores, mantendo o amor próprio, o egoísmo e a vaidade, nada de interesse universal que o leva à evolução. A maior vantagem para o Espírito é a de crescer, moral e intelectualmente. Seja onde for, a casa é uma só: a casa de Deus.
175-a. Não se seria mais feliz permanecendo na condição de Espírito?
“Não, não! Estacionar-se-ia e o que se quer é avançar para Deus”.
176. Depois de terem encarnado em outros mundos, os Espíritos podem encarnar na Terra, sem que aqui jamais tenham estado?
“Sim, do mesmo modo que vós em outros globos. Todos os mundos são solidários; o que não se faz num faz no outro”.
Os mundos são escolas diferentes, porém, ensinando a mesma lição de amor e movimentando as criaturas para o mesmo conhecimento da verdade.
Espíritos que viveram na Terra podem continuar a viver reencarnados em outros mundos, desde quando precisem das lições ali ministradas. Da mesma forma, Espíritos que viveram em outros mundos poderão viver na Terra, aprendendo algo que ainda não podem assimilar em outras pátrias do universo; tomemos, por exemplo: um aluno que estuda uma série no colégio A pode se transferir para o colégio B, cursando a mesma série, ou seja, pode se transferir com o mesmo padrão de aprendizado material e espiritual que lhe seja compatível.
176-a. Assim, há homens que estão na Terra pela primeira vez?
“Há muitos, e em diversos graus”.
176-b. Pode-se reconhecer por um sinal qualquer quando um Espírito está pela primeira vez na Terra?
“Isso não teria nenhuma utilidade”. 


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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo IV do livro II, vamos estudar a questão da Justiça da Reencarnação, na pergunta 171.
171. Em que se baseia o dogma da reencarnação?
“Na Justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai sempre deixa aos filhos uma porta aberta ao arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu se melhorarem? Não são filhos de Deus todos os homens? Somente entre os homens egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão”.
Quando é falado aqui de dogma, é falado de uma espécie de lei pétrea, que é uma lei natural, divina, um dispositivo que não pode ter alteração à matéria por ela definida, e  que nós não devemos contestar, em outras palavras, a reencarnação é lei universal vigente em todos os mundos habitados, e como tal, é imutável. O Espírito anima quantos corpos precisar para o seu despertamento espiritual. A reencarnação mostra-nos a justiça de Deus, proporcionando a todos as mesmas oportunidades de viverem bem, de usarem seus poderes e de gozarem seus esforços, suas conquistas. O descrédito de alguns em relação a essa lei não altera a sua vigência, visto que uma lei eterna, fundamentada por Deus, não vai deixar de ser lei. Quando estudamos reencarnação como nos é relatada pelos Espíritos, que estão baseados em suas experiências dentro do mundo espiritual, que lhes é próprio. Então, o dogma da reencarnação se baseia na Justiça de Deus.
Comentário de Kardec:
Essa explanação do Codificador complementa a plenitude de tudo aquilo que os Espíritos disseram.
Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la pelas provações da vida corporal. Mas, em sua justiça, Ele lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
Deus não agiria com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se castigasse para sempre os que encontraram obstáculos ao seu melhoramento, independentemente de sua vontade, no próprio meio em que foram colocados. Se a sorte dos homens se fixasse irrevogavelmente depois da morte, Deus não teria pesado as ações de todos na balança, nem os teria tratado com imparcialidade.
A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que fazemos da justiça de Deus, com respeito aos homens de formação moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros mediante novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.

O homem que tem consciência da sua inferioridade haure na doutrina da reencarnação uma esperança consoladora. Se crê na justiça de Deus, não pode esperar que venha a achar-se, por toda a eternidade, em pé de igualdade com os que agiram melhor do que ele. A ideia de que aquela inferioridade não o deserdará para sempre do supremo bem, e que poderá conquista-lo mediante novos esforços, o sustenta e lhe reanima a coragem. Quem é que, no final da sua carreira, não lamenta ter adquirido tarde demais uma experiência de que já não pode aproveitar? Essa experiência tardia não fica perdida; ele a aproveitará numa nova existência.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo IV – Pluralidade das Existências
Iniciando o capítulo IV do livro II, vamos estudar a questão da Reencarnação, nas perguntas de 166 a 170.
Este tópico é o paradigma básico e fundamental da Doutrina Espírita.
A reencarnação é estudada em diversos tipos de filosofias e correntes doutrinárias. Porém, não da maneira como os Espíritos a transmitiram a Kardec.
Ao estudar reencarnação, podemos dizer que, do ponto de vista dos Espíritos, ela diverge totalmente de todos os conceitos anteriores a respeito da reencarnação. Nós vamos observar que a justiça divina se expressa totalmente através dela. E a questão 166 é a mais importante do tópico, porque nos dá a base tudo.
166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corporal, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência”.
Ou seja, se não cumprirmos tudo aquilo que seria o nosso dever em termos de vida, vamos ter uma nova oportunidade para caminharmos um pouco mais adiante, utilizando uma nova existência; e nessa existência, vamos aprender um pouco mais.
166-a. Como a alma realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“A alma, ao se depurar, sem dúvida sofre uma transformação, mas para isso necessita da prova da vida corporal”.
Ou seja, na vida espiritual nos são passados uma série de conceitos, que não são próprios da vida corporal; e vamos ter que provar que aprendemos essas noções, através de uma nova vida física; vamos voltar para dar testemunho daquilo que aprendemos na vida espiritual, passando por um grande teste.
166-b. A alma passa, portanto, por muitas existências corporais?
“Sim, todos nós temos muitas existências corporais. Os que dizem o contrário querem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram; esse é o desejo deles”.
Ora, se nós temos que aprimorar uma série de valores, valores estes intelectuais, morais, nós temos que na vida corporal passar por várias oportunidades, porque não temos como aprender tudo numa única existência física.
166-c. Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro; em outras palavras, que ela reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?
“Evidentemente”.
Aí, nós vamos nos reportar a Jesus falando com Nicodemos: o que é da água é da água, e o que é do espírito é do espírito. O que queria dizer o Cristo com isso? A água, para aqueles povos do Oriente Médio, simbolizava a vida física, e o espírito a vida espiritual. Então, nós temos que tomar um novo corpo a cada existência.
167. Qual a finalidade da reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?”
Os Espíritos estão falando de justiça divina. Então, nós temos a oportunidade de viver diversas existências, com diversos tipos de experiências, exatamente para melhoramento progressivo da nossa condição de Espíritos, ou seja, de componentes da Humanidade.
168. O número das existências corporais é limitado ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A cada nova existência o Espírito dá um passo na estrada do progresso. Quando se despojar de todas as impurezas, não mais necessitará das provas da vida corporal”.
Ou seja, dia virá que nós não vamos reencarnar para aprender; nós vamos reencarnar para trabalhar. Não necessitaremos mais de provas na vida corporal.
169. O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?
“Não; aquele que caminha depressa se poupa a muitas provas. Todavia, essas encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito”.
Podemos fazer uma comparação com aquele aluno repetente, que por várias vezes repete a mesma série; claro, em vez de concluir o curso em quatro anos, vai concluí-lo em oito anos. Já em contrapartida, aquele que foi estudioso o bastante vai ter a oportunidade de concluir o curso mais rapidamente.
170. Em que se transforma o Espírito depois da sua última encarnação?
“Em Espírito bem-aventurado; em Espírito puro”.
Ou seja, é aquela encarnação na qual ele consegue vencer tudo aquilo que precisava vencer, para atingir uma condição de plenitude.


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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o capítulo III do livro II, vamos estudar a questão da perturbação espiritual nas perguntas de 163 a 165.
163. Deixando o corpo, a alma tem imediatamente consciência de si mesma?
“Consciência imediata não é bem o termo; ela fica algum tempo em estado de perturbação”.
Da mesma maneira como acontece a perda da memória do Espírito no processo reencarnatório, ou seja, o retorno à vida física, do mesmo modo, quando retornamos  à vida espiritual, também o Espírito tem o seu período de perturbação espiritual,
Depois que se processa o fenômeno da morte, é quase comum, por falta de elevação da alma, que ela entre em estado de perturbação espiritual. Os seus sentidos adormecem, é como se ela mergulhasse no sono. No entanto, ela ainda continua ligada ao corpo pelo chamado cordão fluídico. Esse laço se desata com o tempo, que varia de alma para alma. Poderá demorar de segundos até mesmo anos.
A libertação do Espírito dos liames da carne depende da sua condição moral. Há casos, muito raros, em que, imediatamente após a morte de corpo, o Espírito se liberta sem perda da consciência, assim como, há outros, em que a alma só se livra dos laços, quando o próprio fardo já não existe mais.
164. Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo?
“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase imediatamente, porque se libertou da matéria durante a vida do corpo, ao passo que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria”.
A separação da alma do corpo, quando nesse se extingue a força vital, nunca ocorre da mesma maneira. A diversidade é infinita, do mesmo modo que as folhas das árvores não são iguais nos seus detalhes. Cada desencarnação tem suas nuances próprias. Como já foi dito, há Espíritos que levam minutos afrouxando e desatando os laços ao corpo, e outros que levam até séculos, ficando ligados aos ossos, permanecendo na ilusão de que ainda estão vivos no corpo físico.
165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
“Influência muito grande, visto que o Espírito já compreendia de antemão a sua situação. Mas a prática do bem e a confiança pura exercem maior influência”.
Certamente que a Doutrina Espírita exerce muita influência para diminuir o tempo mais ou menos longo da perturbação espiritual após a morte, no entanto, é preciso que o estudante do espiritismo coloque em prática os ensinamentos colhidos no Consolador prometido.
A perturbação que ocorre no transe da desencarnação, pela passagem de uma vida para outra, sem que esperemos essa mudança brusca, nos causa um impacto e, por vezes, perdemos a razão, cuja recuperação demora mais ou menos, de conformidade com a nossa evolução. Quando estamos dotados de uma pureza de consciência, essa não impede a nossa lucidez. Vale muito o conhecimento das leis naturais, principalmente quando vivemos essas leis, do modo que foi ensinado por Jesus no Seu Evangelho.
Comentário de Kardec:
No momento da morte, tudo, a princípio, é confuso. A alma precisa de algum tempo para se reconhecer; acha-se como que aturdida, no estado de um homem que despertou de profundo sono e procura compreender a sua situação.. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria da qual acaba de se libertar, e se dissipa a espécie de nevoeiro que lhe obscurece os pensamentos.
A duração de perturbação que se segue à morte é muito variável. Pode ser de algumas horas, como de vários meses e até de muitos anos. É menos longa naqueles que, durante a vida terrena, se identificaram com o seu estado futuro,, pois esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado, não acredita que esteja morto e sustenta essa ideia com obstinação. No entanto, vê o seu próprio corpo, sabe que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele; acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não entende porque elas não o ouvem. Esta ilusão dura até o completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece e compreende que já não faz parte do número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, como pensa, vê o ouve, tem a sensação de não estar morto. O que lhe aumenta a ilusão é o fato de se ver com um corpo semelhante ao precedente, quanto a forma, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar; julga o sólido e compacto como o primeiro e, quando o chamam sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpa-lo. Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir; para eles o sono é sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos apresentam essa particularidade, embora a morte não lhes tenha chegado inesperadamente. Mas é sempre mais generalizada entre os que, apesar de doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterro como se fora o de um estranho, e falando desse ato como de coisa que não lhe diz respeito, até o momento em que compreende a verdade.
A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem; é calma e em tudo semelhante àquela que acompanha um despertar tranquilo. Para aquele cuja consciência não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam a medida que ele reconhece a sua nova situação.
Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que nem todos os que perecem ao mesmo tempo tornam a ver-se imediatamente. Na perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado ou só se preocupa com os que lhe interessa.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o segundo tópico do capítulo III Separação da alma e do corpo, vamos estudar as perguntas de 159 a 162.
159. Que sensação experimenta a alma no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticaste o mal com o desejo de o fazer, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Para o justo é bem diferente; a alma se sente como que aliviada de grande peso, pois não teme nenhum olhar investigador”.
A alma, quando chega ao mundo espiritual, ao deixar o corpo físico, pode sentir-se feliz ou constrangida, dependendo do modo de vida que levou. O Evangelho é instrumento de salvação para todos nós, pois nos induz a uma moral sadia; os seus conceitos são de luz, nos mostrando e nos ajudando a modificar os pensamentos, as ideias, a palavra e a própria vida, copiando a vida de Jesus em todos os seus aspectos de nobreza. O justo é exaltado em todos os tempos, seja onde for. O homem honesto é louvado e acreditado na Terra e no Céu. Ninguém perde por ser trabalhador, justo e caridoso. Podemos entender esta resposta dos Espíritos lembrando uma expressão de Jesus: “Orai e Vigiai”, ou seja, oramos para limpar os nossos pensamentos e melhorar os fluidos que nos rodeiam, e vigiamos para mantê-los assim. “O ambiente mais limpo não é aquele que mais se limpa, mas o que menos se suja”.
160. O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim, conforme a afeição que tinha por eles e o afeto que eles lhe consagravam. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante sua vida na Terra. Vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados, e os vai visitar”.
A alma, ao atravessar o portal que separa o mundo material do mundo espiritual, geralmente encontra os que lhe foram caros na Terra, bem como aqueles que a guiaram nos roteiros espirituais; no entanto, nem sempre isso acontece, devido a sua posição na escala espiritual. Compete a cada criatura trabalhar no seu aperfeiçoamento enquanto encarnada, aliviando o seu fardo e clareando sua mente para ter a felicidade de encontrar os seus parentes e amigos na mudança da Terra para o mundo dos Espíritos.
161. Na morte violenta ou acidental, quando os órgãos ainda não se enfraqueceram pela idade ou pelas doenças, a separação da alma e o cessar da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente é assim; mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto”.
No caso de morte violenta, a alma entra em grande perturbação espiritual, por lhe faltar o tempo necessário para meditar no transe da desencarnação e se ele não se processar gradativamente. No entanto, há casos em que o Espírito não perde a consciência, seja qual for a sua morte, por se encontrar em grau de evolução suficiente, o que garante a sua lucidez espiritual.
162. Após a decapitação, por exemplo, o homem conserva por alguns instantes a consciência de si mesmo?
“Muitas vezes a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre o temor da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício”.
Por existir a guilhotina na França, o tema sempre vinha ao pensamento dos estudiosos e certamente por isso também foi feita essa pergunta aos Espíritos Superiores. A resposta, certamente, não pode ser generalizada. Cada alma é um mundo diferente na sua estrutura espiritual e poucas são as que conservam a consciência no ato da decapitação. Alguns Espíritos, de acordo com a escala de despertamento da alma, perdem a consciência, sem que se possa determinar o tempo.
Comentário de Kardec:

Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns instantes, mas de duração muito curta, e que cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao contrário; em todos os casos de morte violenta, quando esta não se deve à extinção gradual das forças vitais, os laços que unem o corpo ao perispírito são mais tenazes, e o desprendimento completo é mais lento.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Iniciando o segundo tópico do capítulo III Separação da alma e do corpo, vamos estudar as perguntas de 154 a 158.
154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?
“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio”.
É processo comum e natural, para a humanidade terrena, a separação do corpo da alma, embora não exista um totalmente semelhante ao outro, ocorrendo modificações de pessoa para pessoa. Muitos querem entender que, assim como a enfermidade lhes traz dores e inquietações variadas, a separação do Espírito do corpo possa lhes causar dores inenarráveis, porém esta não é verdade. A morte por esgotamento do corpo físico se processa como se estivéssemos com uma roupa suja, de modo que nos apressamos em trocá-la, sem motivo algum de inquietação.
Comentário de Kardec
Na morte natural, a que resulta do esgotamento dos órgãos em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada que se apaga por falta de combustível.
155. Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rompidos os laços que a retinham, ela se desprende”.
Não existe violência nesse ato. Quando o Espírito abandona o corpo que lhe serviu de instrumento na área física, o mais acertado é dizer que esse desligamento é gradativo. Os laços são desatados.
155-a. A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá uma linha de demarcação claramente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo a que se restituiu subitamente a liberdade. Aqueles dois estados de tocam e se confundem, de modo que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam; eles se desatam, não se quebram”.
O Espírito apegado às coisas materiais, o usuário, o sensual, enfim, o ignorante, fica junto ao corpo o tempo que a natureza animal achar conveniente. O seu afastamento é feito gradativamente, enquanto permanecer alimentando ideias de posse, de medo, de orgulho e de egoísmo. O Espírito pode ficar apegado ao corpo, às vezes, por dias e meses, mas, na verdade, há casos em que se verifica que ele fica ligado aos seus restos mortais por anos a fio, até que desperte nele alguma luz que faça reconhecer que já não pertence mais ao mundo dos homens.
Comentário de Kardec
Durante a vida, o Espírito está preso ao corpo por seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é apenas a destruição do corpo, e não a desse segundo envoltório, que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica. A observação comprova que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo-se dizer que o momento da morte é também o da libertação; em outros, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica a existência, no corpo, da menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida, mas simples afinidade entre o corpo e o Espírito; afinidade que sempre guarda relação direta com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. De fato, é racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se tenha identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela, ao passo que a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo; assim, quando chega a morte, o desprendimento é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, algumas vezes, muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e de morte; verifica-se com alguns suicidas.
156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?
“Na agonia, a alma, algumas vezes, já deixou o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento; existe enquanto o coração faz circular o sangue nas veias e para isso não precisa da alma”.
A separação entre a alma e o corpo pode se dar antes que o corpo paralise suas funções orgânicas, porém, isso é muito raro. Depende muito da situação psíquica do Espírito. O mais das vezes, a chama espiritual permanece ligada ao fardo físico por horas, dias ou meses e até anos. Não existe uma desencarnação igual a outra. Os processos de desligamento dos laços têm variadas modalidades.
157. No momento da morte, a alma tem, algumas vezes, uma aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai entrar novamente?
“Muitas vezes a alma sente que se vão romper os laços que a prendem ao corpo; emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito”.
No momento em que a alma se desprende do corpo, seus sentidos são aguçados e, em muitos casos, tem visões reais sobre seu futuro. Geralmente, a pessoa tem o pressentimento de que vai morrer, quando se aproxima o momento de sua desencarnação. Sabe que vai partir e não se assusta, no entanto, pode vir a sentir fortes emoções. Raras são as criaturas que mantém tranquilidade nestas horas.
158. O exemplo da lagarta, que inicialmente rasteja na terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para em seguida renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos uma ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma pálida ideia. A imagem é boa; todavia, não deve ser tomada ao pé da letra, como frequentemente o fazeis”.
A comparação da lagarta com a crisálida já nos mostra a ideia mal formada sobre a reencarnação, confundindo-a com a definição de ressurreição. O Espírito atento, porém, acha a figura boa, mas incompleta na sua estrutura. A lagarta transforma o próprio corpo físico em borboleta e, no caso da reencarnação, lei divina no meio humano, o Espírito deixa um corpo para depois renascer em outro diferente em diferentes grupos familiares. Quem entende as leis de Deus e costuma meditar sobre elas deve fugir do “ao pé da letra”, para procurar sempre o Espírito de todas as coisas.

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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o primeiro tópico do capítulo III A Alma após a morte. Sua individualidade. Vida eterna. Vamos estudar as perguntas de 151 a 153-a
151. Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal?
“O conjunto dos Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela e, não obstante, conservas sempre a tua individualidade”.
Constatamos que isso é uma verdade. Mesmo quando estamos no meio de uma multidão, cada um de nós preserva a sua individualidade, suas características, seus sentimentos, tudo aquilo que faz de nós indivíduos. A pergunta de Kardec diz respeito a opinião de muitas pessoas que têm uma visão panteísta. E o que seria essa visão panteísta? É a visão de algumas filosofias orientais que defendem a tese de que, depois de desencarnado, o Espírito volta a uma espécie de um Todo universal, no qual ele se dilui, digamos assim, perdendo a individualidade. E isso significa o quê? Significa perder também todos os valores conquistados, perdendo, inclusive, a responsabilidade pelos atos cometidos durante o período encarnatório.
152. Que provas podemos ter da individualidade da alma após a morte?
“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis, pois frequentemente uma voz vos fala e vos revela a existência de um ser que está fora de vós”.
As maiores provas da individualidade da alma são as comunicações dos Espíritos que viveram na Terra. Aparecem para amigos ou familiares do mesmo modo de quando viveram aqui. Se ele foi gordo, aparece gordo; se foi magro, aparece magro; e assim por diante.
Comentário de Kardec:
Os que pensam que, pela, a alma retorna ao todo universal estão errados, se por isso entendem que, semelhante a uma gota d’agua que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, de que cada alma ou Espírito é um elemento.
Se as almas se confundisse na massa, só teriam as qualidades do conjunto e não as distinguiria umas das outras; não teriam inteligência nem qualidades próprias, ao passo que, em todas as comunicações, elas revelam a consciência do seu eu e uma vontade distinta. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de suas individualidades. Se apenas houvesse, após a morte, o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde, porém, que lá se encontram seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e infelizes; que lá os há de todos os caracteres; alegres e tristes, levianos e sérios, etc., é evidente que são seres distintos. A individualidade torna-se ainda mais patente quando esses seres provam a sua identidade por sinais incontestáveis, por detalhes pessoais relativos às suas vidas terrestres, e que podem ser constatados. Também não pode ser posta em dúvida quando eles se manifestam à visão nas aparições.
A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna evidente e, de certo modo, material.
153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?
“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna”.
Sabemos que o Espírito tem vida eterna. E não poderia ser de outra maneira. Somente a forma do corpo é que tem vida transitória. As formas materiais é que se transformam. O Espírito usa o corpo como se usam roupas.
153-a. Não seria mais exato chamar “vida eterna” à dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não têm mais provas a sofrer?
“Essa é antes a felicidade eterna. Mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais”.

Daí concluirmos que, a linguagem dos homens é pobre para expressar a realidade. Todo esforço feito nesse sentido ainda necessita de recursos para se entender as verdades. Não nos percamos em jogo de palavras, mas, procuremos sentir essa verdade.
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MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo II – Encarnação dos Espíritos
Iniciando o capítulo III do livro II, Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual, nós vamos estudar o tópico A Alma após a morte. Sua individualidade. Vida eterna. Nas perguntas de 149 a 150-b.
149. Em que se torna a alma no instante da morte?
“Volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente”.
A alma, depois da morte, volta ao plano espiritual de onde veio. É como se estivesse internada em um colégio, em contínuo aprendizado e, ao terminar o curso, volta para casa. O oposto da morte é o nascimento; pois, que, pela morte do corpo físico retornamos à vida espiritual, e pelo nascimento do corpo retornamos à vida física. A vida permeia todos esses fenômenos transicionais. O nascimento do corpo e a morte do corpo, simplesmente, trocam de planos, do espiritual para o físico e vice-versa. E a vida segue.
150. Após a morte, a alma conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”
É isso que os desencarnados desejam sempre afirmar para os que estão na Terra, presos em corpo de carne: que a alma conserva depois da morte, a sua individualidade. Tomemos, por exemplo, qualquer indivíduo que nós conhecemos. Depois de desencarnado, ele vai preservar a sua individualidade, a aparência que lhe é própria, se é gordo ou magro, careca ou cabeludo, inclusive com os seus sentimentos.
150-a.Como a alma constata a sua individualidade, uma vez que não tem mais o corpo material?
“Ela tem ainda um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação; seu perispírito”.
A alma abandona o seu envoltório carnal na Terra. Mas permanece com outro envoltório semimaterial, que lhe é próprio, haurido da atmosfera do planeta em que estava vivendo, para continuação de sua imortalidade. O Espírito deixa o perispírito condizente com o ambiente em que viveu e forma-se outro, de acordo com a natureza do planeta que deverá habitar, para estar ligado a lei de harmonia daquele planeta que lhe servirá de casa por determinado tempo.
150-b. A alma nada leva consigo deste mundo?
“Nada, a não ser a lembrança, o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargor, conforme o emprego que haja feito da vida. Quanto mais pura for, tanto melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra”.
Nós não temos na vida física nenhum tipo de impedimento de ter qualquer espécie de patrimônio, que seja útil para nós na vida física, não obstante, nós não possuirmos sequer o corpo que vai ser devolvido à terra, ou seja, tudo aquilo que utilizamos durante a encarnação é material, e de uso-fruto. Nós somos usufrutuários do corpo que nos é colocado à disposição, e temos que devolvê-lo. Só levaremos aquilo que represente material espiritual.


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