LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou
simpáticos, abordando a Questão 495.
495. O Espírito protetor abandona, às vezes, o protegido, quando este se
mostra rebelde às suas advertências?
“Afasta-se quando vê que os seus
conselhos são inúteis e que é mais forte a vontade do protegido em
submeter-se à influência dos Espíritos inferiores, mas não o abandona
completamente e sempre se faz ouvir. É o homem quem lhe fecha os ouvidos.
Ele volta, logo que chamado”.
“Há uma doutrina que deveria
converter os mais incrédulos, por seu encanto e por sua doçura: a dos
anjos da guarda. Pensar que tendes sempre ao vosso lado seres que vos são
superiores, que estão sempre ali para vos aconselhar, vos sustentar, vos
ajudar a escalar a montanha escarpada do bem, que são amigos mais firmes e
mais devotados que as mais íntimas ligações que se possam contrair na
Terra, não é essa uma ideia bastante consoladora? Esses seres ali estão
por ordem de seu Deus, que os colocou ao vosso lado; ali estão por seu
amor, e cumprem junto a vos todos uma bela mas penosa missão. Sim, onde
quer que estiverdes, vosso anjo estará convosco: nos cárceres, nos
hospitais, nos antros do vício, na solidão, nada vos separa desse amigo
que não podeis ver, mas do qual vossa alma recebe os mais doces impulsos e
ouve os mais sábios conselhos”.
“Ah! Por que não conheceis melhor
esta verdade? Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise;
quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! Mas no dia decisivo este
anjo de bondade terá muitas vezes de vos dizer: “Não te avisei disso? E não a fizeste!
Não te mostrei o abismo? E nele te precipitaste! Não fiz soar na tua
consciência a voz da verdade, e não seguiste os conselhos da mentira?”.
Ah!, interpelai vossos anjos da guarda, estabelecei entre vós e eles essa
terna intimidade que reina entre os melhores amigos! Não penseis em lhes ocultar
nada, pois eles são os olhos de Deus e não os podeis enganar! Considerai o
futuro; procurai avançar nesta vida, e vossas provas serão mais curtas,
vossas existências mais felizes. Vamos, homens, coragem! Afastai para
longe de vós, de uma vez por todas, preconceitos e segundas intenções!
Entrai na nova via que se abre diante de vós, marchai, marchai! Tendes guias,
segui-os; a meta não vos pode faltar porque essa meta é o próprio Deus”.
“Aos que pensassem que é impossível a
Espíritos verdadeiramente elevados se restringirem a uma tarefa tão laboriosa e
de todos os instantes, diremos que influenciamos as vossas almas, embora
estando a milhões de léguas de distância: para nós o espaço não existe, e mesmo
vivendo em outro mundo os nossos Espíritos, conservam sua ligação convosco.
Gozamos de faculdades que não podeis compreender, mas estais certos de que Deus
não vos impôs uma tarefa acima de vossas forças, nem vos abandonou sozinhos sobre
a Terra, sem amigos e sem amparo”.
“Cada anjo da guarda tem o seu
protegido e vela por ele como um pai vela pelo filho. Sente-se feliz
quando o vê no bom caminho; chora quando os seus conselhos são desprezados”.
“Não temais fatigar-nos com as vossas
perguntas; permanecei, pelo contrário, sempre em contato conosco: sereis então
mais forte e mais felizes. São essas comunicações de cada homem com seu
Espírito familiar que fazem médiuns a todos os homens, médiuns hoje ignorados,
mas que mais tarde se manifestarão, derramando-se como um oceano sem bordas
para fazer refluir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí;
homens de talento, educai vossos irmãos. Não sabeis que a obra assim realizais:
é a do Cristo, a que Deus vos impõe. Por que Deus vos concedeu a inteligência e
a ciência, senão para as repartirdes com vossos irmãos, para os adiantar na
senda da ventura e da eterna bem aventurança?”
São Luís, Santo Agostinho.
Quando o anjo-guardião percebe que o
seu protegido está sendo rebelde aos seus conselhos, ele insiste de todas as
formas, para que o renitente compreenda os objetivos da sua permanência ao seu
lado, e se esse fecha os olhos, tampa os ouvidos à ajuda espiritual, dá-se, por
amor, o afastamento. O que se fez surdo deve sofrer as consequências da sua
ignorância, no sentido de aprender a verdade pelos processos da dor. O
afastamento é referente à transmissão dos conselhos, e não desligamento das
responsabilidades espirituais. Os Espíritos superiores já passaram por essa
fase em que se encontra seu tutelado, e sabem, por experiência, que o
despertamento dos valores espirituais vêm gradativamente. Toda violência faz
estragos no comportamento, no campo da intimidade da criatura.
No mundo espiritual, trabalho é vida
e vida é trabalho. Se nós fizermos a nossa tarefa de mudarmos moralmente, e,
para melhor, dando um passo a cada dia, o simples fato dos Espíritos perceberem
o nosso esforço será algo gratificante para a nossa relação com o mundo
espiritual. Nós temos que procurar estarmos em contato com eles. Podem
perguntar: de que maneira? Respondemos: pela prece. Então, o indivíduo vai ter
que passar vinte e quatro horas orando? Não! Estamos falando do diapasão mental.
Se nós procurarmos aprimorar o nosso diapasão mental, aumentando a nossa
capacidade de sintonia, estaremos fazendo no nosso dia a dia o nosso trabalho
do cotidiano e, estaremos também em conexão com o mundo espiritual elevado,
desde que coloquemos em pauta o seguinte: Pensar no bem; falar o bem; e
buscando o máximo possível fazer o bem.
Comentário
de Kardec: A doutrina dos anjos da
guarda, velando pelos protegidos apesar da distância que separa os mundos, nada
tem que deva surpreender, pelo contrário, é grande e sublime. Não
vemos sobre a Terra um pai velar pelo filho, ainda que esteja distante, e
ajuda-lo com seus conselhos através da correspondência? Que haveria
de admirar em que os Espíritos possam guiar, de um mundo ao outro, os que
tomaram sob sua proteção, pois se, para eles, a distância que separa os mundos
é menor que a que divide os continentes da Terra? Não dispõem eles do fluido
universal que liga a todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da
transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do
som?
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Anjos de guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos,
abordando as Questões de 489 a 494.
489. Há Espíritos que se ligam a um indivíduo em particular para
o proteger?
“Sim, o irmão espiritual; é
o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio”.
Cada encarnado tem, ao seu lado, lado
no sentido filosófico, um Espírito com uma conexão direta conosco. O vínculo da
particularidade dá a dimensão exata do nível em que este Espírito se encontra.
Lógico que ele estará numa condição melhor do que a nossa, com certeza. Será um
Espírito mais próximo da nossa condição de Espírito comprometido com a Lei
Divina. Esse Espírito está tendo uma oportunidade de trabalho junto a alguém,
para que ele possa, de alguma maneira, orientar e auxiliar. Conforme já
estudamos, são vários os Espíritos que simpatizam conosco e nos acompanham, sob
a orientação do Espírito protetor. É como se fosse uma família, onde moram
juntas diversas criaturas, sob a orientação dos pais.
490. Que se deve entender por anjo da guarda?
“O Espírito protetor de uma ordem
elevada”.
Todas as criaturas têm a seu lado um
Espírito, destinado por Deus, a guiá-lo nos seus caminhos para encontrar a
verdade. Não obstante, esse benfeitor espiritual tem o condão de luz no seu
entendimento, compreendendo a livre iniciativa do seu tutelado, seus direitos e
deveres. Assim, esse Espírito cuida para que seu protegido não ultrapasse os
limites naquilo que possa prejudicá-lo. Ele está junto do companheiro ao qual
se destinou guiar, mas não somente ele; outros Espíritos acompanham-no, como
auxiliares, bem como outros, que simpatizam com o irmão encarnado, por
afinidade desta ou de outras vidas.
491. Qual a missão do Espírito protetor?
“A de um pai para com os filhos:
conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos,
consolá-lo nas suas aflições sustentar sua coragem nas provas da vida”.
A missão do protetor espiritual é
como se fosse a de um pai. Dando toda a cobertura ao seu filho, investe no seu
tutelado em todas as suas tarefas. Começa por aí. Vai consolá-lo nas aflições e
inspirá-lo a tomar decisões sensatas, mas não tem como assumir os encargos que
cabem ao protegido. A missão do protetor é de proteger sem agressão, mas, essa
proteção depende muito de cada pessoa. Ele bate à nossa porta, nós é que devemos
abri-la recebendo as sugestões de amor. Todos temos nossos protetores
espirituais, que a cada dia fazem esforços incomuns no sentido de se
aproximarem mais de seus tutelados. A sua tarefa é árdua e ele incentiva o
protegido nas linhas do bem, clareando seus pensamentos cada vez mais e
fortalecendo seu coração nos momentos das provas indispensáveis. Ele inspira e
cuida do encarnado, para que este possa levantar seu ânimo em quaisquer
circunstâncias. É importante saber que, quando o seu tutelado fecha os ouvidos
e embota os sentimentos na razão direta da sua influência espiritual, o
protetor vai se distanciando do seu protegido, como que sem condições de
auxiliá-lo com eficiência, porém, nunca o perde de vista, pois é o seu dever
ajudá-lo com as suas possibilidades, sem contrariar a lei e sem violentar os
direitos que lhe faculta o livre arbítrio.
492. O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu nascimento?
“Desde o nascimento até a
morte, e frequentemente o segue depois da morte, na vida espírita, e mesmo
através de numerosas experiências corpóreas porque essas existências não são
mais do que fases bem curtas da vida do Espírito”.
O Espírito protetor, ou
anjo-guardião, tem uma dedicação extremosa para com aquele que é seu protegido.
Conhece-lhe as dificuldades e sabe muito bem das suas fraquezas; sente como pai
as suas necessidades, mesmo as físicas, e sabe, como protetor, tolerar suas
deficiências; no entanto, ele não perde oportunidade de o aconselhar, como se
fosse a consciência, para melhorar cada vez mais sua conduta espiritual ante a
vida. Dedicação não quer dizer apoio em tudo. A paternidade espiritual é porta
para a escola, onde o aprendiz é envolvido na fraternidade, mas, quando
preciso, recebe a energia que educa. O protetor está mais ocupado com o seu
protegido em educá-lo, porque a instrução vem como consequência espiritual, O
educado sempre procura a instrução, como sendo o conforto e a luz do seu
caminho. O Espírito protetor acompanha seu tutelado desde o nascimento até a
desencarnação e, em muitos casos, continua acompanhando-o no mundo dos
Espíritos. Há muitos casos em que o Espírito guardião serve de amparo ao seu
protegido por muitas reencarnações, e sente no coração a glória das suas
vitórias.
493. A missão do Espírito protetor é voluntária ou obrigatória?
“O Espírito é obrigado a velar por
vós porque aceitou essa tarefa mas pode escolher os seres que lhe são
simpáticos. Para uns, isso é um prazer; para outros, uma missão ou um
dever”.
O Espírito protetor tem a liberdade
de escolher seu protegido, entretanto, depois de tê-lo escolhido, tem o dever
de o proteger dentro do padrão mencionado pela lei. Todos somos escravos da
lei, pois ela nos assiste e nos dirige. As leis foram criadas por Deus, para
que se estabeleça a harmonia no universo. Alguns dos benfeitores espirituais
dão preferência a assistir ao Espírito encarnado com o qual simpatizam; outros,
que são poucos, não escolhem e deixam a cargo dos mestres siderais e, como
Espíritos de luz, trabalham sem reclamar em todas as áreas aonde foram chamados
a servir.
493–a. Ligando-se a uma pessoa, o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos?
“Não, mas o faz de maneira mais geral”.
O protetor com a incumbência de
proteger alguém pode assistir outras pessoas; no entanto, o seu maior dever é
com aquele a quem se entregou no compromisso de amparar. Eles têm a liberdade
de optar, mas têm também de escolher o trabalho a ser realizado.
494. O Espírito protetor está fatalmente ligado ao ser que foi confiado à
sua guarda?
“Acontece frequentemente que certos
Espíritos deixam sua posição para cumprir diversas missões, mas nesse caso
são substituídos”.
Assim como os homens de projeção na
vida pública ou empresarial assumem variados cargos de responsabilidade quando
chamados e, em muitos casos, os deixam para assumirem outros quando acham
conveniente, os Espíritos protetores às vezes deixam seu protegido e assumem
outros trabalhos; no entanto, outro de elevação equivalente assume sua posição,
de maneira a não deixar o encarnado ficar sem a devida proteção na área
espiritual.
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MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas, abordando as Questões
de 484 a 488-a.
484.
Os Espíritos se afeiçoam de preferência a
certas pessoas?
“Os bons Espíritos
simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis
de se melhorar; os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que
podem viciar-se: daí o seu apego, resultante da semelhança de sensações”.
Nós podemos ter como
afeiçoados nossos tanto Espíritos bons quanto Espíritos ainda inferiores. É
dito que a afeição é filha da afinidade, forças compatíveis que se entrecruzam,
vibrando na mesma faixa espiritual da vida. Esta é uma lei que mostra a justiça
em todos os rumos da existência de todas as coisas e, certamente, comandando a
humanidade inteira. Até o nome tem uma vibração agradável: afeição. É de
proveito comum que todos nós, encarnados e desencarnados, sustentemos as
afeições, criando cada vez mais laços de amor com criaturas que têm idéias
semelhantes às nossas.
485.
A afeição dos Espíritos por certas
pessoas é exclusivamente moral?
“A afeição verdadeira
nada tem de. carnal; mas quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o
faz por afeição, podendo existir no caso uma lembrança de paixões humanas”.
A verdadeira afeição é
totalmente espiritual e cabe ao afeiçoado distinguir o modo pelo qual encontra
aqueles que lhe dedicam carinho. Ela se desprende de Espírito para Espírito,
tomando a forma de amor, para alimentar os sentimentos de maior expressão no
centro da alma. Os apegos nascem de muitas fontes, dentre as quais muitas são
perigosas ao coração. Existem afeições que têm suas marcas em paixões humanas
de outras épocas, que ainda permanecem vivas, tomando o afeiçoado e enchendo-o
de prazeres, quando esse se afiniza com as vibrações que os sentimentos
imprimem. Existe também o carinho interesseiro, que sempre acaba, quando passa
o interesse. Ele é transitório, como muitos outros que se pode deduzir.
486.
Os Espíritos se interessam pelos nossos
infortúnios e pela nossa prosperidade? Os que nos querem bem se afligem pelos
males que experimentamos na vida?
“Os bons Espíritos
fazem todo o bem que podem e se sentem felizes com as vossas alegrias. Eles se
afligem com os vossos males, quando não os suportais com resignação, porque
então esses males não vos dão resultados, pois procedeis como o doente que
rejeita o remédio amargo destinado a curá-lo”.
Os bons Espíritos, que
sempre nos acompanham, fazem tudo para a nossa paz interior. Certamente que
eles se afligem com a nossa impaciência ante a dor e os problemas, pelos quais
passamos reclamando. Somente os Espíritos puros têm a tranquilidade
imperturbável da consciência. Eles compreendem que os encarnados carregam
consigo fraquezas capazes de os envolverem nas sombras que sempre os espreitam,
mas, que uma queda pode ser prenúncio de vitória no porvir. Estamos rodeados de
testemunhas espirituais que nos assistem, e atraímos outras tantas pela
sintonia dos nossos sentimentos. O Espírito envolvido na carne recebe do
próprio ambiente impulsos de magnetismo inferior a todos os momentos. É preciso
orar e vigiar permanentemente. Essas forças aparecem aos homens como barreira
para cercear suas forças para o bem.
487.
Qual a espécie de mal que mais faz os
Espíritos se afligirem por nós: o mal físico ou o mal moral?
“Vosso egoísmo e vossa
dureza de coração: é disso que tudo deriva. Eles riem de todos esses males
imaginários que nascem do orgulho e da ambição e se rejubilam com os que. têm por fim abreviar o vosso tempo de prova”.
Todos os nossos males,
sejam de ordem moral ou física, são forças que têm o poder de nos acordar para
as realidades da vida, destinando-nos, com isso, à maturidade da alma.
Convidam-nos, todos os tipos de infortúnios, a pensar melhor sobre o nosso
destino, que deve ser amoldado pelas nossas disposições, onde a vontade deve
assegurar o barco das decisões tomadas. Os Espíritos que se preocupam com os
nossos males morais ou físicos ainda não alcançaram a tranquilidade de
consciência, aquela que os Espíritos puros já conquistaram, a consciência
imperturbável. Eles conhecem os caminhos de todos, por já terem passado por
eles para chegarem aonde conseguiram.
Comentário
de Kardec: Os Espíritos, sabendo que a vida corporal é apenas transitória e que
as tribulações que a acompanham são meios de conduzir a um estado melhor, se
afligem mais pelas causas morais que podem distanciar-nos desse estado do que
pelos males físicos
Os
Espíritos pouco se importam com os infortúnios que só afetam as nossas idéias
mundanas, como fazemos com as aflições pueris da infância.
O
Espírito que vê nas aflições da vida um meio de adiantamento para nós considera-as
como a crise momentânea que deve salvar o doente. Compadece-se dos nossos sofrimentos como nos compadecemos
dos sofrimentos de um amigo mas vendo as coisas de um ponto de vista mais
Justo, aprecia-os de maneira diversa, e enquanto os bons reerguem a nossa
coragem, no interesse do nosso futuro os outros, tentando comprometer-nos, nos
incitam ao desespero.
488.
Nossos parentes e nossos amigos, que nos
precederam na outra vida, tem mais simpatia por nós do que os Espíritos que nos
são estranhos?
“Sem dúvida, e frequentemente
vos protegem como Espíritos, de acordo com o seu poder”.
Os parentes e amigos
mais íntimos que nos precederam ante as barreiras do túmulo têm saudades dos
que ficaram, e essa ligação espiritual faz com que os ajudem dentro das suas
possibilidades. Mesmo os que se encontram em altas esferas são capazes de
renunciar ao conforto espiritual de que gozam, para descerem à carne e ajudar
seus entes queridos em dificuldades. Esse fato acontece todos os dias, pelos
processos de reencarnações que se operam constantemente no globo terreno. Esse
acontecimento conforta todos, por saberem que existem, em torno de nós, muitos
Espíritos que nos amam, a nos ajudar a carregarmos a cruz que nos pesa em todos
os sentidos. O apóstolo Pedro nos aconselha, para a nossa esperança: “Granjeai
amigos”. Quanto mais amigos fizermos, melhor para a nossa esperança. Devemos
fazer amigos por amor, que esses amigos nos ajudarão em qualquer parte, a nos
libertarmos das trevas e vivermos no clima da alegria.
488–a.
São eles sensíveis à afeição que lhes
conservamos?
“Muito sensíveis, mas
esquecem aqueles que os esquecem”.
Esses Espíritos ligados
a nós pela amizade, são sensíveis à nossa lembrança e ao nosso carinho.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Convulsionários, abordando as Questões de 481 a 483.
481. Os Espíritos desempenham algum papel nos fenômenos que se produzem
entre os indivíduos chamados convulsionários?
“Sim, e muito grande, como também o
magnetismo, que é a sua primeira fonte. Mas o charlatanismo tem frequentemente
explorado e exagerado os seus efeitos, o que o pôs em ridículo”.
Vale tecer consideração sobre o termo
convulsionário, que na época de Kardec dizia respeito a uma série de situações
de enfermidades, que, hoje, amoderna medicina já estabeleceu uma nomenclatura
para todas as enfermidades, Os chamados convulsionários formam uma dessas
divisões das faculdades espirituais, seja a convulsão espontânea ou provocada,
sem deixar faltar o agente comum que é o magnetismo, que obedece à força
mental, acompanhando os caminhos traçados pela vontade. Ele recebe o comando da
alma encarnada ou desencarnada e obedece. Os que abusam dos chamados
convulsionários, usando dos fenômenos que resultam desta faculdade, respondem
por seus efeitos. Todos os convulsionários, quando orientados por pessoas
ignorantes, acabam caindo no ridículo e sendo por elas abandonados.
481–a. De que natureza são, em geral, os Espíritos que concorrem a essas
espécies de fenômeno?
“Pouco elevados; acreditais que
Espíritos superiores perdessem tempo com tais coisas”?
O hipnotizador procura sensitivos para fazer espetáculos públicos,
usa-os à sua maneira, mostrando seus poderes, e desaparece como apareceu,
deixando seus tutelados com o sistema nervoso abalado, sujeito a novos
desequilíbrios. O magnetismo, o hipnotismo, as sugestões, e outras
manifestações similares representam força virgem sem inteligência, que obedece
cegamente às inteligências que queiram usá-las.
482. Como o estado anormal dos convulsionários e dos
nervosos pode estender-se subitamente a toda uma população?
“Efeito simpático. As disposições
morais se comunicam mais facilmente em certos casos; não sois tão
alheios aos efeitos magnéticos para não compreender esse fato e a parte
que alguns Espíritos devem nele tomar, por simpatia pelos que os provocam”.
Para compreender um fato de o estado
anormal dos convulsionários estender-se subitamente a toda uma população,
necessário se faz que busquemos exemplos como os realizados pelos
magnetizadores e magnetizados. Em um espetáculo onde os artistas são
magnetizadores e magnetizados, a plateia, em se afinando com os dois
personagens, sente a sua influência. O efeito das sugestões se processa todos
os dias sob a nossa vista. Basta prestar atenção no correr dos fatos: aquele
que tem simpatia por nós, por exemplo, estabelece uma corrente de influências
entre os dois corações, e a verdade é que ninguém influencia sem ser
influenciado.
Comentário
de Kardec:
Entre as faculdades estranhas que se notam
nos convulsionários reconhecemos facilmente algumas de que o sonambulismo e o
magnetismo oferecem numerosos exemplos: tais são, entre outras, a
insensibilidade física, a leitura do pensamento a transmissão simpática de
dores etc. Não se pode duvidar que esses indivíduos em crise estejam numa
espécie de estado sonambúlico desperto, provocado pela influência que exercem
uns sobre os outros. Eles são, ao mesmo tempo, magnetizadores e magnetizados,
sem o saber.
483. Qual a causa da insensibilidade física que
se verifica, seja entre certos convulsionários, seja entre outros indivíduos
submetidos às torturas mais atrozes?
“Entre alguns, é um efeito
exclusivamente magnético, que age sobre sistema nervoso da mesma
maneira que certas substâncias. Entre outros a exaltação do pensamento embota a
sensibilidade, pelo que a vida parece haver-se retirado do corpo e se
transportado ao Espírito. Não sabeis que quando o Espírito está fortemente
preocupado com uma coisa, o corpo não sente, não ouve e não vê?”
A causa da insensibilidade física
mais profunda, observada em certos convulsionários, é a fé. Ela isola
perfeitamente toda a dor, todo o constrangimento, todo o estado deprimente que
nos faz consumir as oportunidades de vida na carne. A fé abre caminhos para as
grandes esperanças na pátria espiritual. A fé, verdadeiramente, é mãe da
esperança e filha da caridade. Existem muitos meios pelos quais poderemos
isolar a dor, tirando completamente a atenção do lugar enfermo.
Comentário de Kardec:
A exaltação fanática e o entusiasmo oferecem
muitas vezes, nos casos de suplício o exemplo de uma calma e de um sangue frio
que não poderiam triunfar de uma dor aguda, se não se admitisse que a
sensibilidade foi neutralizada por uma espécie de efeito anestésico. Sabe-se
que, no calor do combate, frequentemente não se percebe um ferimento
grave, enquanto nas circunstâncias ordinárias uma arranhadura
provoca tremores.
Desde
que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos,
podemos perguntar como, em alguns casos, a autoridade os pode fazer cessar. A
razão é simples. A ação dos Espíritos é secundária; eles nada mais fazem do que
aproveitar uma disposição natural. A autoridade não pode suprimir essa
disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava; de ativa, ela o torna
latente e com razão para agir assim, porque o fato resultava em abuso e
escândalo. Sabe-se, aliás, que essa intervenção é
impotente, quando a ação dos Espíritos é direta e
espontânea.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos encerrar o estudo
do tópico Possessos, abordando as Questões de 476 a 480.
476.
Não pode acontecer que a fascinação
exercida por um mau Espírito seja tal que a pessoa subjugada não a perceba?
Então, uma terceira pessoa pode fazer cessar a sujeição e, nesse caso, que
condição deve ela preencher?
“Se for um homem de
bem, sua vontade pode ajudar, apelando para o
concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais se é um homem de
bem, mais poder se tem sobre os
Espíritos imperfeitos, para os afastar, e sobre os bons, para os atrair. Não
obstante, essa terceira pessoa seria importante se aquele que está subjugado
não se prestasse a isso, pois há pessoas que se comprazem numa dependência que
satisfaz, os seus gostos e os seus desejos. Em todos os casos, aquele que não
tem o coração puro não pode ter nenhuma influência; os bons Espíritos o
desprezam e os maus não o temem”.
É muito importante nós
prestarmos atenção a algumas coisas que derivam desta resposta. Aquele que está
subjugado, aquele que está sob influência muito intensa de alguma entidade que
domina a sua vontade, este indivíduo terá que, primeiro lugar, querer. Nunca
ocorrerá um problema dessa natureza se não houver um desequilíbrio de
relacionamento prévio entre esses dois Espíritos. O homem de bem aqui referido
é aquele que já se encontra moralizado, pelo domínio do Evangelho de Jesus.
Essa criatura tem força sobre os Espíritos ignorantes e basta a sua presença
para eles se afastarem. O ambiente puro os constrange, impacienta, e eles o
abandonam, quando este se encontra carregado de fluidos elevados. Quando alguém
vai conversar com um Espírito que esteja influenciando alguma pessoa, e esse alguém
não reúne condições morais para tal empreendimento, ele não a respeita, e
passam a discutir e até mesmo a trocar impropérios. A força moral é tudo no
aprendizado, bem como para afastar as más entidades que perturbam o ambiente
familiar e as pessoas.
477.
As fórmulas de exorcismo têm qualquer
eficácia contra os maus Espíritos?
“Não; quando esses
Espíritos veem alguém toma-las a sério, riem e se obstinam”.
O exorcismo é uma
fórmula usada pelo catolicismo de afastar Espíritos maus das pessoas que se
encontram sofrendo sua influência. Em poucos casos esse método dá certo. Não
são as palavras que mostram força, nem gestos pré-estudados que fazem desligar
os Espíritos malfeitores dos que eles acompanham. Muitos dos Espíritos ligados
às pessoas riem das ilusões dos homens que se dedicam ao exorcismo, e continuam
nas suas brincadeiras de mau gosto, perturbando lares e desorientando pessoas.
No entanto, existem padres que praticam o exorcismo e os perturbados são
aliviados, pelo afastamento dos Espíritos inferiores. Isto se dá quando o
sacerdote tem conduta reta. É a força da moral que vale, e não o jogo de
palavras vazias que o vento leva. Temos que entender que não existe perfeição
moral somente entre os espíritas.
478.
Há pessoas animadas de boas intenções e
nem por isso menos obsedadas; qual o melhor meio de se livrarem dos Espíritos
obsessores?
“Cansar-lhes a
paciência, não dar nenhuma atenção às suas sugestões, mostrar-lhes que perdem
tempo; então, quando eles veem que nada têm a fazer, se retiram”.
Existem pessoas que têm
bons sentimentos, estudiosos do espiritualismo, que só exercitam o verbo para
falar coisas construtivas e, no entanto, são sempre obsediadas por entidades
malfeitoras. Isto acontece por causa do seu passado. As suas raízes ainda se
encontram ligadas às trevas profundas, e a cobrança vem na direção do devedor.
Todavia, para essas pessoas é mais fácil o afastamento desses Espíritos, pois
podem cansá-los, fazendo o contrário das suas sugestões. Os Espíritos
acompanham os encarnados mais do que se pensa.
479.
A prece é um meio eficaz para curar a
obsessão?
“A prece é um poderoso
socorro para todos os casos, mas sabei que não é suficiente murmurar algumas
palavras para obter o que se deseja. Deus assiste aos que agem, e não aos que
se limitam a pedir. Cumpre, portanto, que o obsedado faça, de seu lado, o que
for necessário para destruir em si mesmo a causa que atrai os maus Espíritos”.
Aqui, nós observamos
aquilo que está dito desde a questão 476. Quem se obsedia, acima de tudo, é o
próprio obsediado. Ele tem que tomar ciência de que aquela influência negativa
de algum Espírito resulta de um compromisso espiritual gerado em outra encarnação
por seu próprio comportamento. Leviano, perverso, ou de alguma maneira
descaridoso para quem quer que seja. Nós temos que ter piedade tanto do
obsidiado quanto do obsessor. O obsessor está cobrando alguma coisa que lhe foi
negada ou que lhe foi feita em época pregressa. Ele está querendo fazer justiça
com as próprias mãos. A prece é a força poderosa, não somente para desfazer as
insinuações dos maus Espíritos, mas para todas as dificuldades da vida. Ela nos
dá mais coragem e resistência nas lutas de cada dia. Convém que as criaturas
aprendam a orar, e o façam todos os dias, criando assim um hábito elevado e
cristão. Nem Jesus dispensou a oração, e de vez em quando subia ao monte para
conversar com Deus. Ele deixou o exemplo e até uma forma de prece que usamos
até os dias que correm. Mas, não é com o simples balbuciar que afastamos os
Espíritos malfeitores. É preciso que reformemos os sentimentos, que mudemos de ideias
e de comportamento, para sairmos da sintonia dos ignorantes.
480.
Que se deve pensar da expulsão dos
demônios, de que se fala no Evangelho?
“Isso depende de
interpretação. Se chamais demônio a um mau Espírito que subjuga um indivíduo,
quando a sua influência for destruída, ele será verdadeiramente expulso. Se
atribuís uma doença ao demônio, quando a tiverdes curado, direis também que
expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, segundo o
sentido que se der às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas,
quando não se olha senão para a forma e quando se toma a alegoria pela
realidade. Compreendei bem isto e procurai retê-lo, que é de aplicação geral”.
Sendo os “demônios”
Espíritos, nossos irmãos, por que expulsá-los, sem dar-lhes, em primeiro lugar,
o nosso amor? Onde estaria a caridade que tanto aprendemos com Jesus? Os
demônios são considerados, notadamente, os Espíritos ignorantes, da lei de
amor. Eles precisam conhecer esse amor que os tornará bons, pela natureza da
verdadeira bondade. Expulsar para onde? Eles, quando se juntam a determinada
pessoa, o fazem por lei de afinidade. Nesse caso, esta pessoa deveria
acompanhá-los, para onde deseja que eles vão, se os expulsa. A Doutrina dos
Espíritos nos ensina que devemos tratar o doente, seja qual for a enfermidade,
pelas causas que a geraram, e não pelos seus efeitos. Se a causa da obsessão é
a enfermidade moral da criatura, para expulsá-los basta curar primeiro a
criatura, trabalhar nas mudanças dos pensamentos e das ações que têm o poder de
gerar ambiente de atração de Espíritos do mesmo sentimento. Convém entender
esta lei, para ficarmos livres daquilo que não desejamos.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Possessos, abordando as Questões de 473 a 475.
473.
Pode
um Espírito, momentaneamente, revestir-se do invólucro de uma pessoa viva, quer
dizer, introduzir-se num corpo animado e agir em substituição ao Espírito que
nele se encontra encarnado?
“Um Espírito não entra
num corpo como entra numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado que tem
os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir conjuntamente;
mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria de que está
revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha encarnado, porque
o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o termo da
existência material”.
Ponto fundamental a
considerar é o final da resposta dos Espíritos. Lembremo-nos: nós nos ligamos
ao corpo a partir do momento da concepção. A Ciência médica já prova isto,
através da não entrada de outro espermatozoide dentro de um óvulo após a
concepção. Somente no ato da concepção uma estrutura orgânica pode abrigar mais
de um Espírito, se assim estiver programado, ou seja, gêmeos, trigêmeos, etc.
Cada um de nós é dono de seu veículo físico, e ele não será invadido. A
possessão se dá quando os Espíritos malfazejos se identificam com outros, sejam
encarnados ou desencarnados, na altura de suas vivências, criando uma
verdadeira calamidade no nosso mundo interno. Por isso, embora seja muito
válido “doutrinar” certas entidades pela palavra e pelos exemplos, somente nos
livraremos de certas companhias espirituais, consideradas por nós indesejadas,
se mudarmos o nosso modo de pensar e de viver.
474.
Se não há possessão propriamente dita,
quer dizer, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, a alma pode
encontrar-se na dependência de um outro Espírito, de maneira a se ver por ele
subjugada ou obsedada a ponto de ser sua vontade, de alguma forma, paralisada?
“Sim, e são esses os
verdadeiros possessos; mas ficai sabendo que essa denominação não se efetua
jamais sem a participação daquele que sofre, seja por sua fraqueza, seja pelo
seu desejo. Frequentemente se têm tomado por possessos criaturas epiléticas ou
loucas, que mais necessitam de médico do que de exorcismo”.
A palavra possesso é
apenas força de expressão, de sorte a entendermos uma profunda simbiose de dois
Espíritos que se afinizam. Os dois têm muito em comum, igualdade de sentimentos
nos seus roteiros percorridos e a percorrer. Existem as sessões de desobsessão
nas casas espíritas, muito válidas; no entanto, é preciso que se entenda que o
primeiro a ser educado é o encarnado. Ele haverá de promover para seu
bem-estar, mudanças nos seus sentimentos mais profundos. Existem os pensamentos
secretos que alimentamos e que temos prazer de sentir, e são eles que criam uma
linha de comunicação com os Espíritos das trevas, a nos induzirem para a
possessão.
Comentário de Kardec: A palavra possesso, na sua acepção vulgar,
supõe a existência de demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza
má, e a coabitação de um desses seres com a alma, no corpo de um indivíduo.
Mas, como não há demônios nesse sentido, e como dois Espíritos não podem
habitar simultaneamente o mesmo corpo, também não há possessos, segundo a ideia
ligada a essa palavra. Pela expressão possesso não se deve entender senão a
dependência absoluta da alma em relação a Espíritos imperfeitos que a
subjuguem.
475.
Pode uma pessoa por si mesma afastar os
maus Espíritos e se libertar do seu domínio?
“Sempre se pode sacudir
um jugo, quando se tem uma vontade firme”.
Para libertar-se da
dominação de Espíritos inferiores é indispensável cortar a sintonia que temos
com eles. Já dissemos muitas vezes que a obsessão, e mesmo a possessão, é
processo de afinidade espiritual do obsidiado com o obsessor. O poder da
vontade é válido, mas não é somente pela vontade que se pode ficar livre dos
Espíritos perseguidores; a razão nos fala que devemos nos livrar desse tipo de
companhia mudando o modo de pensar e, certamente, de viver. Os corvos sobrevoam
onde o cheiro os atrai; as moscas procuram ambiente que lhes convém; e assim,
os homens buscam sempre o ambiente da sua natureza íntima e atraímos Espíritos
da nossa mesma faixa de entendimento. E, é aí que, nós que estamos estudando a
Doutrina Espírita, temos a nossa responsabilidade; temos que ter vontade firme,
para termos benevolência, boa vontade, compreensão, tolerância, disposição de
auxílio e, acima de tudo, sensatez, para dirigirmos o auxílio de acordo com a
possibilidade e a necessidade de cada um.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos encerrar o estudo
do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos,
abordando as Questões de 469 a 472.
469. Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a
influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre
vós. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que suscitem em vós os
maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós todas as más
paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles vos
atacam na vossa fraqueza. Eis porque Jesus vos faz dizer na oração dominical:
“Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”.
O modo pelo
qual podemos neutralizar a influência dos Espíritos ignorantes é, certamente,
fazendo o bem. O bem é força poderosa contra o mal, é o antídoto da influência
do mal. O Espírito, em certa fase na sua vida, fica propenso às más radiações,
por encontrar dentro de si paixões inferiores acesas, e como o semelhante atrai
os semelhantes, Espíritos equivocados dele se aproximam.
470. Os Espíritos que procuram induzir-nos ao mal, e que, assim, põem à
prova a nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer, e, se é uma missão
que eles cumprem, terão responsabilidade nisso?
“Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é
pela sua própria vontade, e consequentemente terá de sofrer as consequências.
Deus pode deixá-lo fazer para vos provar, mas jamais o ordena e cabe a vós
repeli-lo”.
O mal não
procede de Deus. Os Espíritos que induzem o homem para as paixões inferiores o
fazem por conta própria, pela liberdade que desfrutam. Os agentes do mal não
são missionários. Missionários, somente o são os benfeitores espirituais, que
em cada passo se empenham em fazer o bem, amando a todas as criaturas.
471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade
indefinível ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorre de uma
disposição física?
“E quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivestes
com os Espíritos, ou das relações que tivestes com eles durante o sono”.
Quando, de
repente, sentimos uma satisfação por viver, quando assoma em nós um prazer por
tudo, que não sabemos de onde parte, isso é uma inspiração dos benfeitores
espirituais, a nos induzir para a vida, nos ajudando, desta forma, a vencer os
percalços dos caminhos. Essas lembranças, agradáveis e desagradáveis, são
efeito das comunicações nossas com os Espíritos, e se entramos na faixa do mal,
temos mais comunicações com Espíritos ignorantes; se nos melhoramos
intimamente, a lei nos traz Espíritos elevados para se comunicarem conosco, e
daí provêm sentimentos de valor moral a nos garantir a paz e a fraternidade.
472. Os Espíritos que desejam
incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias em que nos encontramos
ou podem criar essas circunstâncias?
“Eles aproveitam a circunstância, mas frequentemente a provocam,
empurrando-vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por
exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que
foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o
pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se dele,
enquanto outros lhes sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em
todas as outras tentações”.
Os
Espíritos que cercam os homens, que são inúmeros, sempre os influenciam, em
constante troca de ideias, mais do que se pensa. Os de má índole aproveitam as
oportunidades de invigilância e de falta de oração, para influenciarem do mesmo
modo como pensam e agem, e quando não acham momento oportuno, eles criam
situações para que o homem possa cair nas armadilhas dos seus desequilíbrios.
Ou seja, aquela imagem que aparece na revista em quadrinhos em que o sujeito é
retratado assim: de um lado da cabeça tem um diabinho, do outro tem um anjinho.
O diabinho estimulando-o a fazer o mal e o anjinho estimulando-o a fazer o bem,
ilustra bem essa situação.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos,
abordando as Questões de 466 a 468.
466.
Por que permite Deus que os
espíritos nos incitem ao mal?
“Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar
a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na
ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal para chegar ao
bem. Nossa missão é a de colocar-te no bom caminho, e quando más influências
agem sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal, porque os Espíritos
inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer; eles
não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal. Se és inclinado ao
assassínio, pois bem, terás uma nuvem de espíritos que entreterão esse
pensamento em ti; mas também terás outros que tratarão de influenciar-te para o
bem, o que faz que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti”.
Os
Espíritos Superiores estão falando para a Humanidade. Mas, aqui, a resposta
parece dirigida em primeiro lugar para o próprio Codificador. Será que Kardec
poderia falhar? Não se trata disso. É que os Espíritos estavam falando para um
Espírito encarnado. Eles nos chamam à responsabilidade sobre o uso indevido do
nosso livre-arbítrio, que nos faz atrair, para junto de nós, aquelas Entidades
mais levianas. Por isso, Deus permite que os Espíritos ignorantes influenciem
os encarnados para provar sua constância no bem.
Comentário de Kardec:
É assim que Deus deixa à nossa
consciência a escolha do caminho que devemos seguir e a liberdade de ceder a
uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
Aqui,
Kardec reforça a ideia de que a escolha é nossa. Por isso, não podemos fugir à
responsabilidade que nos cabe.
467. Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao
mal?
“Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou
os atraem por seus pensamentos”.
O homem
pode defender-se das sugestões dos Espíritos de má índole, quando não mais
sintonizar com o mal; por isso deve buscar no Evangelho a luz do caminho, para
que o coração possa fortalecê-lo em todos os rumos da inteligência e do amor.
Entretanto, não há condições de, na sua carreira de despertamento, não passar
pelas sugestões dos Espíritos ignorantes nem eximir-se de se tomar um deles,
porquanto isso é processo de evolução de todas as criaturas de Deus.
468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam
às suas tentativas?
“Que queres que eles façam? Quando nada têm afazer, abandonam o campo.
Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato”.
Os
Espíritos inferiores, quando acham resistência no campo humano em que atacam,
certamente que recuam, no entanto, o indivíduo não pode relaxar a vigilância,
porque eles ficam na tocaia, esperando oportunidades para de novo investir com
todas as suas forças, mormente quando se trata de Espíritos inimigos.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos,
abordando as Questões de 462 a 465-b.
462. Os homens de inteligência e de gênio tiram sempre suas ideias de si
mesmos?
“Algumas vezes as ideias surgem de seu próprio Espírito, mas
frequentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes
de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si
mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar”
As ideias
que nos são sugeridas partem de duas fontes: elas podem ser de dentro de nós e
de fora. Quando se esgota o manancial das deduções, a alma apela para outras
fontes, mesmo sem compreender de onde vem o socorro para as suas necessidades. Todo
sábio, em todas as ordens do saber humano, tem seus momentos de meditações, por
onde canaliza para o seu ser as respostas das suas variadas perguntas mentais,
no silêncio das suas ideias.
Comentário de Kardec: Se fosse útil
que pudéssemos distinguir os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos. Deus nos
teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a
noite. Quando uma coisa permanece vaga,
é assim que deve ser para o nosso bem.
463. Diz-se algumas vezes que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
“Pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre
bom para aquele que ouve as boas inspirações”.
Lógico, se
um indivíduo é de índole ruim, ele vai estar sempre dominado pelo egoísmo e
pelo desconhecimento das Leis Divinas e, consequentemente, vai se alinhar com
pensamentos predatórios. Nem sempre os primeiros impulsos são os certos. Todos
os pensamentos que surgirem em nossa mente carecem de análise, de modo a saber
de onde eles vêm e quais são as suas induções espirituais. Se o primeiro
impulso mental for de amor e de caridade, de paz e de honestidade, certamente
que devemos alimentá-lo, todavia, se ele for voltado para o mal, em várias
insinuações de tal diretiva, convém expulsá-lo do convívio da mente, enquanto é
tempo, para que não faça parte da nossa vida. Estamos no meio de ondas mentais
diversas, mas atraímos o que somos. Se existem em nós motivos para escândalos,
pensamentos afins aproximar-se-ão dos nossos intervalos mentais, a nos inspirar
sobre o que existe convivendo conosco.
464 Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau
Espírito?
“Estudai a coisa: os bons Espíritos não aconselham senão o bem; cabe a
vós distinguir”.
Devemos
analisar o que nos é sugerido, para que possamos saber de onde partem os
pensamentos que chegam à nossa casa mental. É fácil distinguir os pensamentos
bons dos maus, bastando um pouco de razão, para que possamos entender. No
entanto, se estamos acostumados às coisas vãs, percebemos que os pensamentos
são inferiores, mas a ligação deles com os nossos escapa à vigilância, de modo
que eles nos dominam os sentimentos. O condicionamento é um fato; se nos
acostumamos a fazer o bem, a disciplinar a nossa mente, os pensamentos
inferiores não acham guarida no nosso campo mental. Eles sempre investirão
contra nosso caráter, porém, não achando sintonia, se desfazem e procuram outra
moradia onde se instalam, por terem encontrado seus iguais.
465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
“Para vos fazer sofrer com eles”.
Os
Espíritos inferiores nos induzem ao mal por ignorância. Se eles conhecessem a
verdade, iriam ajudar cada vez mais aos seres encarnados. Percebendo a lei da
justiça, buscariam cumpri-la pelos canais do amor. Se é semeando que colhemos o
que plantamos, certamente que o Espírito consciente desta verdade não iria
semear coisas inferiores.
465-a. Isso lhes diminui o sofrimento?
“Não, mas eles o fazem por inveja dos seres mais felizes”.
Estando
esses Espíritos sofrendo, desejam que todos sofram como eles, por não saberem
que Deus é amor, é justiça, é bondade. O tempo vai lhes mostrar os caminhos da
perfeição, a esperança da vida feliz. A dor é processo para despertá-los, é
caminho de todas as almas.
465-b. Que espécie de sofrimentos querem fazer-nos provar?
“Os que decorrem de pertencer a uma ordem inferior e estar distante de
Deus”.
Os
Espíritos inferiores sugerem maus pensamentos por inveja, que, igualmente, é
uma doença gerada pela ignorância. Eles não suportam que haja seres felizes em
seus caminhos, e procuram destruir a paz dos outros. Muitos dos Espíritos
infelizes sentem que se encontram afastados de Deus, e não encontrando equações
para esse problema, sugerem aos outros os mesmos caminhos que percorrem, a fim
de encontrar mais companhias para as suas lamentações.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos,
abordando as Questões de 459 a 461.
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
“Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito frequentemente
são eles que vos dirigem”.
Os
Espíritos têm grande influência na vida dos encarnados. Eles os influenciam bem
mais do que se pensa. Estamos constantemente sob a influência dos Espíritos
desencarnados, e se bem analisarmos, notaremos que estamos também sob grande
influência dos nossos companheiros encarnados, em todos os lados em que nos
movimentamos. Quando crianças, há a influência dos pais, dos parentes; quando
crescidos, a influência dos companheiros e dos mestres; quando trabalhadores, a
influência dos superiores e, sobretudo, a influência das leis do país em que
vivemos. Nunca poderemos nos desligar totalmente das influências que nos ajudam
a caminhar. Estamos sempre sob alguma influência.
460. Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos
vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e frequentemente bastante
contraditórios. Pois bem, nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é
isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se
combatem”.
Podemos
dizer que existem duas fontes de pensamentos, que surgem nas mentes dos
encarnados e desencarnados. Uma aparece nos horizontes das nossas mentes,
outros, nos são sugeridos por Espíritos com os quais nos afinizamos. Muitas
pessoas acham que temos pensamentos contínuos, mas se enganam. Há intervalos
entre um pensamento e outro, distâncias essas onde podem aparecer pensamentos
que nos são enviados, se misturando com os nossos. Os pensamentos têm, em
geral, intervalos, que se apresentam muitas vezes extensos, na capacidade do
Espírito encarnado ou desencarnado de pensar. É nesses intervalos que notamos a
inconsciência da alma, que não sabe o que se passa e o que Espíritos malfeitores
agem como inimigos, principalmente quando encontram afinidade de sentimentos.
461. Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são
sugeridos?
“Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os
pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso. De
resto, não há grande interesse para vós nessa distinção e é frequentemente útil
não o saberdes: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de
melhor vontade; se tomar o mau caminho, sua responsabilidade será maior”.
Para
distinguir os pensamentos que vêm de fora dos nossos, é necessário que tenhamos
um pouco de discernimento. Quem não conhece suas próprias ideias, como saberá
identificar as ideias dos outros? É um processo mais sutil, mais sofisticado e,
lógico, vai depender fundamentalmente da nossa própria razão mental.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IX – Intervenção dos Espíritos no mundo corporal.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Penetração dos Espíritos em nossos pensamentos, abordando as Questões
de 456 a 458.
456. Os Espíritos veem tudo o que fazemos?
“Podem vê-lo, pois estais incessantemente rodeados por eles. Mas cada um
só vê aquelas coisas a que dirige a sua atenção, porque eles não se ocupam das
que não lhes interessam”.
Os
Espíritos podem ver o que os encarnados fazem, se derem atenção aos fatos. Há
Espíritos indiferentes às ações dos homens, que procuram sempre o que lhes
satisfaça, no entanto, existem aqueles que se assemelham aos próprios homens e
que gostam de assistir aos malfeitos dos semelhantes e propagá-los. Assim são
os Espíritos deste mesmo naipe: observam os encarnados e tomam o tempo
necessário para anotações dos malfeitos dos que eles cercam, alimentando seus
interesses inferiores de maledicência.
457. Os Espíritos podem conhecer os nossos pensamentos mais secretos?
“Conhecem, muitas vezes, aquilo que desejaríeis ocultar a vós mesmos;
nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles”.
A telepatia
é fato comum entre os Espíritos, de modo que as vibrações mentais têm voz na
dimensão que lhes é própria. Os Espíritos elevados podem observar nossos mais
secretos pensamentos, no entanto, existem Espíritos que não conseguem
conhecê-los, por se encontrarem nas baixas vibrações espirituais. Tudo se
prende à evolução de cada um: os Espíritos conseguem manter seus pensamentos
ocultos aos seus inferiores mas não podem fazê-lo com relação àqueles que lhe
são superiores.
457-a. Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa
viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta?
“Certamente, pois, quando vos julgais bem escondidos, tendes muitas
vezes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos veem”.
A vida é
uma sucessão de valores na pauta da sabedoria, indo até Deus. Nada é oculto que
Deus não venha a saber, por ser Ele o Senhor de todas as ciências do universo.
Quando a criatura se julga muito só, pensando
o que não deveria pensar, pode ter em seu redor multidão de Espíritos ouvindo-
a como se falasse pelos processos do verbo. Nossos pensamentos nos mostram o
que somos na realidade, porque, quando estamos pensando, escrevemos no livro de
Deus, que fica aberto para os que sabem ler.
458. Que pensam de nós os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam?
“Isso depende. Os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que
vos fazem, e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as
vossas trapalhadas e tratam de vos ajudar”.
Os
Espíritos levianos, quando cercam os encarnados, observando seus pensamentos,
quando inferiores, riem e fazem histórias. O deboche é o ambiente natural
deles, sempre comparando o que os homens falam, com o que fazem e pensam,
principalmente quando aqueles estão a dar conselhos aos outros. Quando estamos
a sós, onde quer que seja, não pensemos que verdadeiramente nos encontramos sem
testemunhas. Os Espíritos estão nos cercando, principalmente os inferiores, que
não têm o que fazer, ao passo que os Espíritos sérios ocupam-se sempre com
coisas sérias, e suas tarefas são cumpridas nas horas que o Senhor lhes deu
para realizar.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos fazer o estudo de
uma dissertação chamada Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla
vista, abordando a Questão 455.
455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e
independem de qualquer causa exterior conhecida. Mas, em certas pessoas dotadas
de organização especial, podem ser
provocados artificialmente, pela ação do agente magnético.
Aqui, nós podemos citar um caso ocorrido muito antes de Kardec começar o
trabalho da codificação, e que foi relatado. O francês Armand
Marie Jacques de Chastenet, Marques de Puységur (1751-1825), um dos adeptos das
descobertas do médico alemão Mesmer, era um homem abastado e filantropo. Certa
ocasião, Puységur foi procurado para socorrer um jovem pastor, de 18 anos,
chamado Victor Race. Ele estava enfermo, sofria de dores nas costas, respirava
com dificuldade e necessitava de ser tratado. O marquês aplicou-lhe passes
magnéticos, como era de praxe. Qual não foi a surpresa de Puységur quando, em
lugar das reações costumeiras, espasmos, convulsões, etc., o paciente mergulhou
tranquilamente em sono profundo! Puységur tentou despertar o pastorzinho,
sacudindo-o. Foi inútil! O jovem continuou a dormir profundamente. O marquês
ordena-lhe, então, que se levante. Surpresa maior, o rapaz ergue-se dormindo e,
de olhos fechados, perambula pelo quarto como se estivesse acordado e de olhos
abertos. Comportava-se como um sonâmbulo comum que, à noite, se afasta da cama
e, dormindo, caminha por qualquer lugar, beiral, telhado, terraços de difícil
acesso, etc., tendo os olhos fechados. Puységur descobriu acidentalmente o
hipnotismo em 1784, ao provocar, sem o saber, o sono hipnótico num camponês,
quando tentava curá-lo por magnetismo.
O
estado designado pelo nome de sonambulismo magnético só difere do sonambulismo
natural pelo fato de ser provocado, enquanto o outro é espontâneo.
O sonambulismo natural é um fato notório, que ninguém pensa pôr em
dúvida, a despeito dos admiráveis fenômenos que apresenta. Que haveria, pois,
de mais extraordinário ou de mais irracional no sonambulismo magnético, por ser
produzido artificialmente, como tantas outras coisas? Dizem que os charlatães o
têm explorado; razão a mais para que não seja deixado nas suas mãos. Quando a
Ciência se houver apropriado dele, bem menos crédito terá o charlatanismo entre
as massas. Enquanto isto não acontece, como o sonambulismo natural ou
artificial é um fato, e como contra fatos não há raciocínio possível, ele vai
se firmando, a despeito da má vontade de alguns, e isso no seio da própria
Ciência, onde penetra por uma infinidade de portinhas, em vez de entrar pela
porta larga. Quando ali estiver plenamente firmado, terão que lhe conceder
direito de cidadania.
Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno
psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a
alma, porque é onde esta se mostra a descoberto. Ora, um dos fenômenos que a
caracterizam é o da clarividência independente dos órgãos ordinários da vista.
Fundam-se os que contestam este fato em que o sonâmbulo nem sempre vê, e à
vontade do experimentador, como com os olhos. Será de admirar que difiram os
efeitos, quando diferentes são os meios? Será racional que se pretenda obter os
mesmos efeitos, quando há e quando não há o instrumento? A alma tem suas
propriedades, como os olhos têm as suas. Cumpre julgá-las em si mesmas e não
por analogia.
De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo magnético e
a do sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas
as partes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros
senão os assinados à própria alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares aonde sua
alma possa transportar-se, qualquer que seja a longitude.
No caso de visão a distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está
o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se
achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por
isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a
alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo
constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém
não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente
quando aquela se entrega a um trabalho ativo.
A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita e não tem sede
determinada. Eis por que os sonâmbulos não lhe podem marcar órgão especial. Veem
porque veem, sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para eles, na
condição de Espíritos, a vista carece de foco próprio. Se se reportam ao corpo,
esse foco lhes parece estar nos centros onde maior é a atividade vital,
principalmente no cérebro, na região do epigastro, ou no órgão que considerem o
ponto de ligação mais forte entre o Espírito e o corpo.
O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo quando
completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e faculdades conforme
ao grau de perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos os tem quando
ligado à matéria, a cuja influência está sujeito. É o que motiva não ser
universal, nem infalível, a clarividência sonambúlica. E tanto menos se pode
contar com a sua infalibilidade, quanto mais desviada seja do fim visado pela
Natureza e transformada em objeto de curiosidade e de experimentação.
No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do
sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados,
ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos, que
compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio
elétrico. O sonâmbulo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos
por meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha. É o que o torna
eminentemente impressionável e sujeito às influências da atmosfera moral que o
envolva. Essa também a razão por que uma assistência muito numerosa e a
presença de curiosos mais ou menos malevolentes lhe prejudicam de modo
essencial o desenvolvimento das faculdades que, por assim dizer, se contraem,
só se desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou simpático. A presença
de pessoas mal-intencionadas ou antipáticas lhe produz efeito idêntico ao do
contato da mão na sensitiva.
O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio Espírito e o seu corpo, os
quais constituem, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla
existência corpórea e espiritual, existências que, entretanto, se confundem,
mediante os laços que as unem. Nem sempre o sonâmbulo se apercebe de tal
situação e essa dualidade faz que muitas vezes fale de si, como se falasse de
outra pessoa. É que ora é o ser corpóreo que fala ao ser espiritual, ora é este
que fala àquele.
Em cada uma de suas existências corporais, o Espírito adquire um
acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando
encarnado em matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como
Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da
instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades
intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo,
quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que
porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que
se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua
clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de
outros Espíritos. Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos
adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.
Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural, quer magnético, a Providência
nos dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma e nos faz
assistir ao sublime espetáculo da sua emancipação. Abre-nos dessa maneira, o
livro do nosso destino. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa a distância,
é evidente que vê, mas não com os olhos do corpo. Vê-se a si mesmo e se sente
transportado ao lugar onde vê o que descreve. Lá se acha, pois, alguma coisa
dele e, não podendo essa alguma coisa ser o seu corpo, necessariamente é sua
alma, ou Espírito. Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica
abstrata e ininteligível, em busca das causas da nossa existência moral, Deus
cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e
patentes meios de estudarmos a psicologia experimental.
O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao
corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável.
No sonho e no sonambulismo, o Espírito anda em giro pelos mundos terrestres. No
êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais
entra em comunicação, sem que, todavia, lhe seja lícito ultrapassar certos
limites, porque, se os transpusesse, totalmente se partiriam os laços que o
prendem ao corpo. Cerca-o então resplendente e desusado fulgor, inebriam-no
harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar o invade: goza
antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no
limiar da eternidade.
No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe
somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa
unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.
Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao
sentimento apurado, que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial.
Inteiramente entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida
apenas como paragem momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias
grosseiras e as misérias deste mundo quais incidentes fúteis de uma viagem,
cujo termo tem a dita de avistar.
Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos
perfeita podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e
compreender as coisas, conforme seja mais ou menos elevado. Muitas vezes,
porém, há neles mais excitação do que verdadeira lucidez, ou, melhor, muitas
vezes a exaltação lhes prejudica a lucidez. Daí o serem, frequentemente, suas
revelações um misto de verdades e erros, de coisas grandiosas e coisas
absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza,
quando o indivíduo não sabe reprimi-la, Espíritos inferiores costumam
aproveitar-se para dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus
olhos, aparências que mais o aferram às ideias que nutre no estado de vigília.
Há nisso um escolho, mas nem todos são assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e
pesar-lhes as revelações na balança da razão.
A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e produz
o fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista ou dupla vista, que é a
faculdade graças à qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos
sentidos humanos. Percebe o que exista até onde estende a alma a sua ação. Vê,
por assim dizer, através da vista ordinária, e como por uma espécie de miragem.
No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico
do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa
de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se
que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão
persistir, mau grado à oclusão dos olhos.
Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos
temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada
lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez
passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por
desaparecer, como a de um sonho. O poder da vista dupla varia, indo desde a
sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou
ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia,
uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de
golpe de vista moral. Um pouco desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais
desenvolvida mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.
O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a dupla vista são
efeitos vários, ou de modalidades diversas, de uma mesma causa. Esses
fenômenos, como os sonhos, estão na ordem da Natureza. Tal a razão por que hão
existido em todos os tempos. A História mostra que foram sempre conhecidos e
até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a
explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos
por sobrenaturais.
Resumindo
os fatos espirituais que provam a existência do Espírito imortal, podemos dizer
que todos os fenômenos que partem da alma, são dons espirituais que nos fazem
pensar e nos levam à fé que pode suportar a razão esclarecida.
O
sonambulismo natural nos mostra a verdade, ou parte da verdade, com certa
estabilidade e com grande promessa para o desenvolvimento das outras faculdades
espirituais. Já o sonambulismo magnético, ou sonambulismo provocado, certamente
que afrouxa os laços que prendem a alma ao corpo, sendo que não tem a mesma
facilidade que o natural de revelar as belezas imortais do mundo da verdade, O
natural está mais próximo do êxtase, que penetra os ambientes de luz,
levando-nos perto dos altiplanos da espiritualidade superior. Em todos os
casos, o sonambulismo provocado, se bem intencionado, é válido, desde quando
seja dirigido por homens de boa fé e de pleno conhecimento da causa daquilo que
se propõem a realizar.
Conclamamos
a todos os praticantes de transe magnético que não se esqueçam de estudar mais
profundamente os livros que esclarecem, juntamente com o Evangelho de Jesus,
para que o bom senso direcione a razão. Que procurem igualmente o serviço da
caridade em todos os seus aspectos, para que tenham um bom comportamento nas
suas lides com as forças desconhecidas da natureza.
Para o
Espiritismo e a própria ciência esclarecida, o magnetismo não é um fenômeno sem
expressão; ele se encontra garantido por leis, que podem ser por demais úteis
às criaturas que sofrem e choram sob o peso das suas culpas. Jesus usava todos
os dias a Sua força magnética para cura dos enfermos e para a paz das criaturas
de Deus, assim como o faziam todos os Seus discípulos.
A Doutrina
dos Espíritos nos mostra o quanto poderemos ser úteis aos irmãos que sofrem,
pelo poder do magnetismo, desde quando o amor esteja presente nos nossos
sentimentos. Resumindo os fatos, a força magnética é um dom natural, de que
podemos nos servir, buscando-a nos depósitos da natureza, pelos canais do amor,
e usando-a nas conversações na expressão das ideias e mesmo com a presença. A
mente é o instrumento que pode arrebanhar grande quantidade de magnetismo no
próprio ar e distribuí-lo para onde desejar.
A segunda vista
e o sonambulismo podem dar muitas notícias do mundo mais grosseiro que envolve
a Terra, no entanto, o êxtase nos traz notícias de planos mais elevados, de
modo que o próprio extático sente atração por esses planos e pode querer ficar
por lá, pelo que vê e sente de felicidade. Enfim, esses dons nos mostram a
independência da alma, e que a vida continua em todas as direções da vida
imortal.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos encerrar o estudo
do tópico Dupla vista, abordando as Questões de 450 a 454-a.
450. A dupla vista é suscetível de se desenvolver pelo exercício?
“Sim, o trabalho sempre conduz ao
progresso, e o véu que encobre as coisas se torna transparente”.
Tudo no mundo é condicionamento da
vontade da alma. Tudo obedece à boa vontade, que não deixa de ser exercício
para uma determinação. Vamos observar que a questão da dupla vista, sendo um
fenômeno derivado da emancipação da alma, é uma capacidade que é mais anímica
do que mediúnica.
450–a. Esta faculdade se liga à organização física?
“Por certo, a organização desempenha
o seu papel; há organizações que se mostram refratárias”.
O exercício é valioso em todas as
circunstâncias, entrementes, necessário se faz que saibamos exercitar e, muito
mais, usar aquilo que é objeto do exercício. Em tempos idos, havia escolas para
desenvolvimento dos dons espirituais, para previsão de fatos, para as pitonisas
e outros. É interessante observar o seguinte; na época de Kardec, o mais comum
eram as leitoras de “buena dicha”. A leitura de mão, prática habitual da
comunidade cigana, nada mais é do que a utilização da dupla vista. O que a
cigana vê não está na mão da pessoa, pura e simplesmente, assim como o processo
para a leitura das cartas do tarô, a leitura dos búzios. Todas essas práticas,
na verdade, são ferramentas de concentração mental para a emancipação da alma.
É o estímulo à dupla vista.
451. Por que é que a dupla vista parece hereditária em cenas famílias?
“Similitude de organizações, que se
transmite, como as outras qualidades físicas; e depois, desenvolvimento da
faculdade por uma espécie de educação, que também se transmite de um para
outro”.
Em algumas famílias parece que a segunda vista é hereditária e, de
certa forma o é, porque o corpo herda do corpo. Tendo a mediunidade bases
físicas, algum traço do complexo fisiológico acresce um pouco na visão
espiritual; no entanto, não fica somente na herança física, porque é o Espírito
que vê.
452. E verdade que certas circunstâncias desenvolvem a dupla vista?
“A doença, a proximidade de um
perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo se encontra às vezes
num estado particular que permite ao Espírito ver o que não podeis
ver com os olhos do corpo”.
Certas circunstâncias desenvolvem a
segunda vista, como a enfermidade e as emoções que venham a afetar a alma. No
entanto, desenvolvem não somente a segunda vista, mas desenvolvem também todas
as faculdades mais afloradas, destacando-se aquela que se encontra mais fácil
de se evidenciar.
Comentário de
Kardec: Os tempos de
crise e de calamidades, as grandes emoções todas as causas enfim, de
superexcitação moral provocam às vezes o desenvolvimento da dupla vista. Parece
que a Providência nos dá, em presença do perigo, o meio de
conjugar. Todas as seitas e todos os partidos perseguidos oferecem
numerosos exemplos a respeito.
453. As pessoas dotadas de dupla vista sempre têm consciência disso?
“Nem sempre; para elas. é coisa inteiramente
natural, e muitas dessas pessoas acreditam que se todos se observassem
nesse sentido, perceberiam ser como elas”.
A dupla vista não é privilégio
somente do espiritualista, nem do considerado médium espírita. É um dom que se
manifesta nas pessoas que têm essa faculdade aflorada e que, por vezes, ignoram
que a possuem, achando natural essa manifestação da sua sensibilidade. Podemos
citar como exemplo a comunidade cigana. A prática da leitura da mão vem desde a
infância. Para eles é algo muito natural.
454. Poder-se-ia atribuir a uma espécie de dupla vista a perspicácia de
certas pessoas que, sem nada terem de extraordinário, julgam as coisas com mais
precisão do que as outras?
“É sempre a alma que irradia mais
livremente e julga melhor do que sob o véu da matéria”.
Os dons espirituais poder-se-iam
desenvolver pela força da vontade, porque a vontade não deixa de ser faculdade
do Espírito em exercício para crescer e melhorar. Por exercício, em todos os
campos de ação, elas são forças que crescem; todavia, há muitas pessoas que
nascem com a mediunidade aflorada. A visão espiritual não encontra dificuldades
e está mais apta à revelação das verdades do Espírito. Quantas vezes
encontramos pessoas que têm uma bagagem de experiências e, exatamente por terem
essa bagagem têm uma visão muito além, enxergam mais do que nós.
454–a. Esta faculdade pode, em certos casos, dar a presciência das
coisas?
“-Sim; ela dá também os
pressentimentos, porque há muitos graus desta faculdade e o mesmo
indivíduo pode ter todos os graus ou não ter mais do que alguns”.
Certamente que a inteligência do
homem busca coisas extraordinárias no plano em que habita. Ela pode fazer
desabrochar alguns dons espirituais, no entanto, esses dons não podem ser
manipulados por ela. Cada um se encontra em um extremo, com feições diferentes
no seu exercício: um divino e outro humano. É bom que se pense nisso.
Se se tem a dupla vista, nascida sob
a influência da inteligência, que a use sem a intervenção desta, porque a
razão, nesses casos, pode pôr a perder a própria faculdade, por não saber
defini-la com precisão.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Dupla vista, abordando as Questões de 447 a 449.
447. O fenômeno designado pelo nome de dupla vista tem relação com o
sonho e o sonambulismo?
Kardec usou as duas expressões:
“Segunda vista” e “dupla vista”, com evidente preferência pelo primeiro. Em
português, sendo mais comum “dupla vista”, demos preferência a esta. (N. do T.)
“Tudo isso não é mais do que uma
mesma coisa. Isso a que chamas dupla vista é ainda o Espírito em
maior liberdade, embora o corpo não esteja adormecido. A dupla vista é a vista
da alma”
A dupla vista tem relação profunda
com o sonambulismo, os sonhos e o êxtase, assim como se afina com todas as
outras faculdades espirituais. A vista ampliada não é nada mais que um pouco de
liberdade do Espírito. Quanto mais evoluído, mais sabe ele entrar em liberdade
espiritual, como sendo uma das faculdades afloradas. A dupla vista não é um
tipo de vidência, não. É uma determinada capacidade própria do indivíduo de
captar pela emancipação da alma uma série de percepções.
448. A dupla vista é permanente?
“A faculdade, sim; o seu exercício,
não. Nos mundos menos materiais que o vosso, os Espíritos se desprendem
mais facilmente e se põem em comunicação apenas pelo pensamento, sem
excluir, entretanto, a linguagem articulada; também a dupla vista é para a
maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao
dos vossos sonâmbulos lúcidos, e essa é também a razão por que eles se
manifestam a vós mais facilmente do que os encarnados de corpos mais
grosseiros”.
A segunda vista não é permanente,
sendo-o somente a faculdade, que é um dom inerente à alma; mas, o estado de ver
obedece ao exercício. No assunto que ventilamos, podemos sentir o seguinte
exemplo: um escritor tem a faculdade permanente, mas a escrita não; ela surge
somente quando a exercita, quando quer escrever. Assim é a dupla vista nos
seres encarnados ou fora da carne. Pode-se dizer que é a vontade de ver; quando
passa a vontade, cessa a visão. Todavia, em mundos mais adiantados que a Terra,
a visão é permanente, porque a alma se encontra mais espiritualizada. Os laços
que a prendem ao fardo que lhe servem ficam mais frouxos, e não encontram no
corpo certos embaraços que tolhem a visão da alma. Então, podemos concluir, um
dia nós também teremos essa capacidade.
449. A dupla vista se desenvolve espontaneamente ou pela vontade de quem a
possui?
“Na maioria das vezes, ela é
espontânea, mas a vontade também, muitas vezes, desempenha um grande
papel. Assim, podes tomar, por exemplo, certas pessoas chamadas leitoras
da sorte, algumas das quais possuem esta faculdade de dupla vista e nisso
a que chamas visão”
A dupla vista aparece, nas pessoas
que têm o dom, espontaneamente; ela desperta ou adormece, em uma frequência
bastante acentuada, pelo fato de o dom não estar em pleno desenvolvimento
espiritual. Ela obedece, certamente, à vontade, força poderosa que pode mover
todas as faculdades espirituais, assim como os próprios destinos dos homens. É
bom que se diga que a espontaneidade no afloramento dos dons vem da
consciência, pois, ela é programada para nos atender nos momentos em que dela
necessitamos para tais desempenhos. Diversas pessoas são capazes de possuir
esse fenômeno da dupla vista, através de diversos mecanismos, ou seja, objetos
que fazem com que o indivíduo tenha recursos para focar o pensamento e auxiliar
o desmembramento da alma com relação ao corpo. Exemplo: um copo com água com
uma pedra dentro dele.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico êxtase, abordando as Questões de 439 a 446.
439.
Qual a diferença entre o êxtase e o
sonambulismo?
“O êxtase é um
sonambulismo mais apurado; a alma do extático é mais independente”.
O êxtase é
verdadeiramente um sonambulismo mais profundo. O Espírito, nesse transe, é mais
independente, por isso pode ver com mais segurança e ouvir com mais perfeição
as coisas. O Espírito do extático, com tal exercício, assume de certa forma
perfeito controle das suas faculdades, e passa a viver os dois mundos, sentindo
os dois ambientes na sua normalidade que nos cabe estudar.
440.
O Espírito do extático penetra realmente
nos mundos superiores?
“Sim, ele os vê e
compreende a felicidade dos que os habitam; é por isso que desejaria permanecer
neles. Mas ha mundos inacessíveis aos Espíritos que não estão bastante
depurados”.
O Espírito do extático
vê mundos adiantados e sente a vontade de neles habitar, e seu desejo é tão
grande que ele poderia desencarnar, se não fosse a assistência dos benfeitores
espirituais que o atendem, pelos compromissos assumidos desde o início da sua
reencarnação na Terra. Todavia, mesmo que tivesse permissão para ir para um
mundo de alta elevação moral, ele não o poderia, dado a sua evolução não
suportar essa moradia.
441.
Quando o extático exprime o desejo de
deixar a Terra, fala sinceramente e não o retém o instinto de conservação?
“Isso depende do grau
de depuração do Espírito; se ele vê a sua posição futura melhor que a vida
presente, faz esforços para romper os laços que o prendem à Terra”.
O extático pode
manifestar o desejo de desencarnar, no momento do transe, porque, às vezes,
contempla mundos felizes. Se ele passa na Terra por certas provas, respirando o
ambiente de duras consequências, pode deixar-se levar pelo desejo de romper os
laços que o prendem ao corpo físico, porém, os que o cercam não deixam e usam
de seus recursos para fazê-lo voltar ao domínio da matéria. Se ele está
encarnado, tem uma tarefa a desempenhar, e partindo os laços antes do tempo,
seria um suicida e comparado como tal.
442.
Se abandonarmos o extático a si mesmo,
sua alma poderá abandonar definitivamente o corpo?
“Sim, ele pode morrer e
por isso é necessário chamá-lo, por meio de
tudo o que pode prendê-lo a este mundo e sobretudo fazendo-lhe entrever
que, se quebrasse a cadeia que o retém aqui, seria esse o verdadeiro meio de
não ficar lá, onde vê que seria feliz”.
O Espírito em transe
extático poderia, desejando fortemente, abandonar definitivamente o corpo,
porém, se for evoluído, ele não pensará dessa forma, por conhecer as leis
naturais formuladas por Deus para a harmonia da criação.
O Espírito elevado
comunga com a paz universal e conhece todas as leis.
443.
Há coisas que o extático pretende ver e
que não são evidentemente o produto de uma imaginação excitada pelas crenças e
preconceitos terrenos. tudo o que ele vê
não é então real?
“O que ele vê é real
para ele; mas, como o seu Espírito está sempre sob a influência das ideias
terrenas, ele pode ver à sua maneira ou, melhor dito, exprimir numa linguagem
de acordo com os seus preconceitos e com as ideias em que foi criado, ou com as
vossas, afim de melhor se fazer compreender. E sobretudo nesse sentido que ele
pode errar”.
Tratando dessa
faculdade extraordinária que é o êxtase, podemos dizer que nem tudo o que o
extático vê é real; no entanto, quase tudo se mostra dentro da realidade que
ocupa a sua mente, mais ou menos ligada à Terra. Entretanto, essas diferenças
ou falhas se assim podemos chamá-las, existem em todas as funções mediúnicas,
de todos os médiuns sem exceção. Todas as modalidades de paranormalidade
sensorial pertencem a uma escala de elevação, de pureza medianímica. O único
médium sem mácula que pisou na Terra foi Jesus.
444.
Qual o grau de confiança que se pode
depositar nas revelações dos extáticos?
“O extático pode
enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando ele quer penetrar aquilo que
deve permanecer um mistério para o homem porque então se abandona às suas
próprias ideias ou se torna joguete de Espíritos enganadores que se aproveitam
do seu entusiasmo para o fascinar”
Não devemos
simplesmente confiar nas revelações que nos trazem os extáticos, mas, fazer uma
correção naquilo que ouvimos em caráter de revelação. Se tudo na Terra está
sujeito ao erro, a razão nos diz para observarmos com critério o que vem ao
nosso encontro. A nossa própria consciência tem a capacidade de discernimento
bastante para selecionar o que podemos guardar do que ouvimos ou lemos. O
extático pode enganar-se, porque ele fica mais livre no transe, e a sua vontade
prevalece em muitos aspectos. Por vezes, ele quer revelar coisas que devem
ficar em segredo e, assim, será escondida a verdade. Nesse ínterim, os
Espíritos malfazejos entram no espaço criado pela vaidade e fazem revelações
espetaculares, por não se importarem com as consequências que advirão dos seus
erros.
445.
Que consequências se podem tirar dos
fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não seriam uma espécie de iniciação à
vida futura?
“Ou, melhor dito, é a
vida passada e a vida futura que o homem entrevê. Que ele estude
esses fenômenos e neles. encontrará a solução de mais de um mistério que a sua
razão procura inutilmente penetrar”.
Ante os fenômenos de
sonambulismo e de êxtase, podemos devassar muitos segredos da natureza
espiritual, compatíveis com os nossos desejos mais profundos. Em estado de
êxtase e sonambulismo, regredimos a memória e descobrimos as vidas passadas, e
em muitas delas podemos rever os nossos feitos na sua origem. Essas faculdades
quebram o véu que nos encobre recuadas eras. Na questão anterior, falamos das
coisas que devem ficar encobertas, e que nós, pela ignorância, batalhamos para
pôr á vista, e de outras que vêm à tona naturalmente, como sendo bênçãos de
Deus para as nossas meditações.
446.
Os fenômenos do sonambulismo e do êxtase
poderiam acomodar-se ao materialismo?
“Aquele que os estuda
de boa-fé e sem prevenções não pode ser materialista nem ateu”.
Se estudar os fenômenos
com honestidade e boa fé, nunca a criatura será materialista nem ateia, porque
esses fenômenos trazem a certeza de outra vida além do véu da carne. A
filosofia espírita nos promete e apresenta novos campos de análise, com maior
segurança das coisas espirituais. Em tudo o que fizermos não nos esqueçamos da
honestidade, anunciando o que realmente sentimos e descobrimos nas pesquisas.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos finalizar o
estudo do tópico Sonambulismo, abordando as Questões de 431 a 438.
431.
Qual é a fonte das ideias inatas do
sonâmbulo, e como pode ele falar com exatidão de coisas que ignora no estado de
vigília, e que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?
“Acontece que o
sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis, somente que eles
estão adormecidos, porque o seu invólucro é bastante imperfeito para que ele
possa recordá-los. Mas, em última análise, o que é ele? Como nós, um Espírito,
que está encarnado para cumprir a sua missão, e o estado em que ele entra o
desperta dessa letargia. Nós já te dissemos repetidamente que revivemos muitas
vezes; e essa mudança é que lhe faz perder materialmente o que conseguiu
aprender na existência precedente. Entrando no estado a que chamas crise, ele
se lembra, mas sempre de maneira incompleta; ele sabe, mus não poderia dizer de
onde lhe vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a crise, toda a
lembrança se apaga e ele volta à obscuridade”.
De início, temos que
lembrar de uma coisa. Somos Espíritos, temos experiências de outras existências,
que hoje ignoramos, por não serem úteis no momento. Agora, no estado
sonambúlico, por emancipação da alma, pode vir à tona uma série de informações
de outras vidas, porque isso faz parte do acervo espiritual do indivíduo. Podemos
observar, como nos primórdios da Doutrina dos Espíritos, quando, por vezes,
sonâmbulos sem instrução que os qualificassem, diziam coisas maravilhosas. Ou a
fonte é a consciência profunda, ou são os instrutores espirituais que lhes
sopram aos ouvidos sensíveis pelo transe sonambúlico. Eis aí a origem das ideias
por eles ventiladas.
Comentário
de Kardec: A experiência mostra que os sonâmbulos recebem também comunicações
de outros Espíritos, que lhes transmitem o que eles devem dizer e suprem a sua
insuficiência. Isto se vê, sobretudo, nas prescrições médicas: o Espírito do
sonâmbulo vê o mal, o outro lhe indica o remédio. Esta dupla ação é algumas
vezes patente e se revela outras vezes pelas suas expressões bastante
frequentes: dizem-me que diga; ou proíbem-me dizer tal coisa. Neste último
caso, é sempre perigoso insistir em obter a revelação recusada, porque então se
dá lugar aos Espíritos levianos que falam de tudo sem escrúpulos e sem se interessarem
pela verdade.
432.
Como explicar a visão a distância, em
alguns sonâmbulos?
“A alma não se
transporta durante o sono? O mesmo se verifica no sonambulismo”.
O sonâmbulo tem dois
tipos de visão: uma à distância e outra onde o Espírito deixa o corpo, como no
sono, e se transporta a diversos lugares. A visão do médium sonambúlico se
dilata como se ele estivesse usando um telescópio de grande alcance. Quanto
mais evoluído o Espírito, mais sua capacidade de visão se dilata, chegando a
observar até a vida em outros mundos. No entanto, para alcançar outros mundos
em Espírito, já é mais difícil, pois isso depende muito de evolução espiritual,
que quase não se encontra na Terra. O mais comum é mesmo a visão à distância.
433.
O desenvolvimento maior ou menor da
clarividência sonambúlica depende da
organização física ou da natureza do Espírito encarnado?
“De uma e de outra; há
disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou menos
facilmente da matéria”.
O desenvolvimento maior
ou menor da clarividência sonambúlica depende, de certo modo, da organização
fisiológica, que prende ou afrouxa os laços da alma, com menos ou mais
intensidade. No entanto, tudo se rende na profundidade da evolução da alma e na
faculdade menos ou mais desenvolvida, como promessa no mundo espiritual, ao
reencarnar-se. Há pessoas altamente conscientes da verdade, que o tempo
amadureceu e que vivem em certa pureza mental, sendo a própria clarividência
normal em sua vida.
434.
As faculdades de que o sonâmbulo desfruta
são as mesmas do Espírito após a morte?
“Até certo ponto, pois
é necessário terem conta a influência da matéria, a que ele ainda se encontra
ligado”.
Podemos fazer uma
ilustração do caso, imaginando um balão de gás preso a uma estaca. O Espírito é
o balão, a estaca é o corpo. O cordão que prende o balão à estaca é o cordão
fluídico, o que demonstra que o Espírito é um ser encarnado. O sonâmbulo, no
seu transe, pode ver os Espíritos porque a sua visão se dilata, de modo que
observa as coisas mais profundamente. Mas, como ainda se encontra ligado à
matéria por laços fluídicos, pode pensar que os Espíritos são encarnados. Sendo
a forma a mesma, confunde-se, no entanto, tendo ele o conhecimento que o
espírita já domina com facilidade, sabe discernir com normalidade.
435.
O sonâmbulo pode ver os outros Espíritos?
“A maioria os vê muito
bem; isso depende do grau e da natureza da lucidez de cada um; mas, às vezes,
ele não compreende, de início, e os toma por seres corporais. Isso acontece,
sobretudo, com os que não têm nenhum conhecimento do Espiritismo; eles ainda
não compreendem a natureza dos Espíritos, o fato os espanta e é por isso que
julgam estar vendo pessoas vivas”.
O sonâmbulo, no seu
transe, pode ver os Espíritos porque a sua visão se dilata, de modo que observa
as coisas mais profundamente. Mas, como ainda se encontra ligado à matéria por
laços fluídicos, pode pensar que os Espíritos são encarnados. Sendo a forma a
mesma, confunde-se, no entanto, tendo ele o conhecimento que o espírita já
domina com facilidade, sabe discernir com normalidade. Um médium em exercício,
um medianeiro adestrado nos serviços espirituais de costume, tem no intercâmbio
um fato comum de todos os dias. O sonambulismo obedece, qual todos os dons, a
uma escala de elevação. Cada qual tem a sua capacidade de sentir e de ver. Como
na psicografia, há médiuns que escutam pelos canais da audição e escrevem; outros
ouvem dentro do cérebro e escrevem; alguns veem escrito e copiam; este, sente
por vibrações e registra; aquele, conserva-se consciente e suas mãos são
tomadas pelos escritores espirituais.
Comentário
de Kardec: O mesmo efeito se produz no momento da morte, entre os que ainda se
julgam vivos. Nada ao seu redor lhes parece modificado, os Espíritos lhes
aparecem como tendo corpos semelhantes aos nossos, e eles tomam a aparência de
seus próprios corpos como corpos reais.
436.
O sonâmbulo que vê a distância, vê do
lugar em que está o seu corpo ou daquele em que está a sua alma?
“Por que esta pergunta,
pois se é a alma que vê e não o corpo?”
Quando o sonâmbulo se
encontra em transe, o corpo reflete as sensações da alma, do modo que ela se
encontra agindo no mundo dos Espíritos. Isso é prova de que ela está ligada ao
corpo por fios invisíveis, o chamado cordão fluídico, cordão de prata ou fio
vida; são vários os sinônimos.
437.
Sendo a alma que se transporta, como pode
o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações de calor ou de frio do lugar em
que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo?
“A alma não deixou
inteiramente o corpo, permanece sempre ligada a ele pelo laço que os une, e é
esse laço o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem entre
uma cidade e outra por meio da eletricidade, é este o laço entre os seus
pensamentos; é graças a isso que elas se comunicam, como se estivessem uma ao
lado da outra”.
Quando o sonâmbulo se
encontra em transe, o corpo reflete as sensações da alma, do modo que ela se
encontra agindo no mundo dos Espíritos. Isso é prova de que ela está ligada ao
corpo por fios invisíveis, o chamado cordão fluídico, cordão de prata ou fio
vida; são vários os sinônimos.
Esse cordão de prata
serve de canal para as sensações do Espírito, quando esse se acha em viagem,
observando o que mais lhe interessa na grande casa de Deus. A sua verdadeira
função é manter a vida do corpo quando o Espírito sai por instantes, pelo sono,
no sonambulismo, em viagem astral, ou êxtase.
438.
O uso que um sonâmbulo faz da sua
faculdade influi no estado do seu Espírito após a morte?
“Muito, como o uso bom
ou mau de todas as faculdades que Deus concedeu ao homem”.
O uso das faculdades
com que Deus dotou o Espírito influi muito na sua vida depois da morte; são as
nossas ações que nos abrem ou fecham os caminhos, direcionando a nossa
libertação ou prisão. É nesta assertiva que o Espiritismo vem acordar os que
dormem e instruir os ignorantes, de modo a saber fazer uso de sua mediunidade
em todos os rumos.
LIVRO SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Sonambulismo, abordando as Questões de 425 a 430.
425.
O sonambulismo natural tem relação com os
sonhos? Como se pode explicá-lo?
“É um estado de
independência da alma, mais completo que no sonho e então as faculdades
adquirem maior desenvolvimento A alma tem percepções que não atinge no sonho,
que é um estado de sonambulismo imperfeito”.
No sonambulismo, o
Espírito está na posse total de si mesmo; os órgãos materiais, estando de
qualquer forma em catalepsia, não recebem mais as impressões exteriores. Esse
estado se manifesta sobretudo durante o sono; é o momento em que o Espírito
pode deixar provisoriamente o corpo, que se acha entregue ao repouso
indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo é que o
Espírito, preocupado com uma coisa ou outra se entrega a alguma ação que exige
o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou qualquer
outro objeto material nos fenômenos de manifestação física, ou mesmo da vossa
mão, nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os
órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar e receitem imperfeitamente
as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores, e as comunicam
ao Espírito que, também se encontrando em repouso, só percebe sensações
confusas e frequentemente fragmentárias, sem nenhuma razão de ser aparente
misturadas que estão de vagas recordações, seja desta existência seja de
existências anteriores. É, portanto, fácil compreender por que os sonâmbulos
não se lembram de nada e por que os sonhos de que conservam a lembrança na
maioria das vezes, não têm sentido. Digo na maioria das vezes, porque acontece
também serem eles a consequência de uma recordação precisa de acontecimentos de uma vida anterior e,
algumas vezes, até uma espécie de intuição do futuro.
Sonho e sonambulismo
têm muita relação; um é mais leve, outro mais profundo, mas, todos os dois são
estados sérios que nos levam a pensar. O sonambulismo é um sonho mais profundo
e, de certa forma, mais real, onde o Espírito se mostra livre, desarticulando o
corpo nos seus impedimentos à visão da alma.
O sonambulismo pode ser
natural ou provocado, Os magnetizadores e hipnotizadores podem provocar esse
estado no ser humano, de sorte a ser guiado por eles, impondo suas ideias. O
Espírito, neste transe, é como um instrumento dócil nas mãos daquele que se lhe
impõe. O sonambulismo natural é aquele que evolui do estado de sonho, e onde
sempre existe um agente, levando a alma ao sono mais profundo e a ver coisas
que antes não percebia.
426.
O chamado sonambulismo magnético tem
relações com o sonambulismo natural?
“É a mesma coisa, com a
diferença de ser provocado”.
O sonambulismo
magnético é a mesma coisa que sonambulismo natural. As fontes desse fenômeno é
que são diferentes: um é provocado pelos homens, e o outro pelos Espíritos ou,
por vezes, é o autossonambulismo. Esse último, bem como o êxtase, é mais raro
dentre os seres humanos.
No chamado sonambulismo
natural, quando é provocado pelos Espíritos, é usado igualmente o magnetismo,
só que os Espíritos consubstanciam o seu com o do ser humano, onde quer que se
encontre.
427.
Qual é a natureza do agente chamado
fluido magnético?
“Fluido vital,
eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal”.
A escala dos fluidos é
inumerável na extensão infinita do universo. Pouco se sabe a respeito dessa
ciência divina. Eles são transformações do fluido universal ou, como se pode
chamá-lo, éter cósmico, hálito divino, energia KI, e muitos outros nomes dados
por variados povos. Entretanto, é a mesma bênção de Deus que se transforma, pelo
amor, em substâncias diferentes. Na pauta do trabalho com os homens e mesmo com
os Espíritos livres da matéria, esse hálito de Deus se transmuta em magnetismo,
sujeito à impressão que os sentimentos possam nele imprimir, para o bem ou para
o mal.
428.
Qual é a causa da clarividência sonambúlica?
“Já o dissemos: é a
alma que vê”.
Na clarividência
sonambúlica, é a alma que vê. É um dom que desabrocha na profundidade do
Espírito e este percebe à distância com grande facilidade. Para o sonambúlico,
não existe barreira que possa impedir sua visão e, por vezes, sua audição, que
alcança grandes distâncias. O Espírito é dotado de dons, e no perpassar do
tempo, ele vai despertando essas qualidades, de modo a servir-se delas para
sentir e compreender a vida em si e em todo o universo. Os Espíritos de alta
elevação têm os dons dilatados de modo a buscarem o de que precisam onde quer
que seja.
429.
Como o sonâmbulo pode ver através dos
corpos opacos?
“Não há corpos opacos,
senão para os vossos órgãos grosseiros Já dissemos que, para o Espírito, a
matéria não oferece obstáculos, pois ele a atravessa livremente. Com frequência
ele vos diz que vê pela testa, pelo joelho etc., porque vós, inteiramente
imersos na matéria, não compreendeis que ele possa ver sem o auxílio dos
órgãos, e ele mesmo, pela vossa insistência, julga necessitar desses órfãos.
Mas se o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as partes do corpo
ou, para melhor dizer, e fora do corpo que ele vê”.
Sendo o sonâmbulo um
Espírito mais livre do impedimento da matéria, ele vê com maior amplidão o que
deseja observar. A matéria deixa de ser obstáculo para o Espírito e ele
atravessa corpos compactos com a mesma facilidade que viaja onde não existem
formas físicas.
430.
Pois que a clarividência do sonâmbulo e a
da sua alma ou do seu Espírito, por que ele não vê tudo e por que se engana
tantas vezes?
“Primeiro, não e dado
aos Espíritos imperfeitos tudo ver e tudo conhecer: sabes muito bem que eles
ainda participam dos vossos erros e dos vossos prejuízos: e, depois, quando
estão ligados a matéria. não gozam de todas as suas faculdades de Espíritos.
Deus deu ao homem esta faculdade com um fim útil e sério, e não para que ele
aprenda o que não deve saber; eis porque os sonâmbulos não podem dizer tudo”.
Certamente que há
alguns sonâmbulos que erram nas suas previsões e visões; nem tudo que falam
sucede. Não existem os sábios e os pseudossábios? Em quase tudo existe a
verdade e a mentira, dependendo do grau de evolução de quem se encontra
mostrando a verdade. Na mediunidade ocorre a mesma coisa; todos são médiuns,
isso nos falam as leis naturais; todas as criaturas são possuidoras de todos os
dons, mas nem todos estão despertos para o exercício mediúnico. Depende ainda
do uso que se faz dos dons ao seu dispor. Para quem não tem responsabilidade,
tanto faz mentir como falar a verdade.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Letargia, catalepsia, mortes aparentes, abordando as Questões de 422
a 424.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
422.
Os letárgicos e os catalépticos veem e
ouvem geralmente o que se passa em torno deles, mas não podem manifestá-lo; é
pelos olhos e os ouvidos do corpo que o fazem?
“Não; é pelo Espírito;
o Espírito está consciente, mas não pode comunicar-se”.
A criatura em estado de
letargia ou catalepsia fica impedida de falar e, por vezes, ver e ouvir pelos
canais físicos; no entanto, ela percebe tudo o que se passa, pela sensibilidade
espiritual. Isso também ocorre com o Espírito, livre do corpo, que pode ter os
mesmos impedimentos em relação ao corpo espiritual ou perispírito.
Convém destacar que na
época de Kardec os recursos de diagnóstico deixavam muito a desejar, comparados
com os atuais.
422–a.
Por que não pode comunicar-se?
“O estado do corpo se
opõe a isso. Esse estado particular dos órgãos vos da a prova de que existe no
homem alguma coisa além do corpo, pois o corpo não está funcionando e o
Espírito continua a agir”.
O Espírito fica
impossibilitado de manifestar-se na área humana por impedimento dos órgãos
materiais; o mesmo acontece com o perispírito que, mesmo com a tenuidade de seu
corpo sutil, impede o Espírito de manifestar-se nesses casos. É uma condição de
emancipação da alma muito mais ampla, muito mais profunda.
423.
Na letargia, o Espírito pode separar-se
inteiramente do corpo de maneira a dar a este todas as aparências da morte, e
voltar a ele em seguida?
“Na letargia, o corpo
não está morto, pois há funções que continuam a realizar-se; a vitalidade se
encontra em estado latente, como na crisálida mas não se extingue. Ora, o
Espírito está ligado ao corpo, enquanto ele vive; uma vez rompidos os laços
pela morte real e pela desagregação dos órgãos a separação é completa e o
Espírito não volta mais. Quando um homem aparentemente morto volta à vida, é
que a morte não estava consumada”.
Em estado letárgico, o
Espírito se encontra ligado ao seu fardo físico, não obstante, dá aparências de
morto, porque a sua força vital volta a um estado latente. Para bem dizer, ela
se recolhe, sem certas funções na atividade do complexo fisiológico. A alma
somente se prepara para sair do corpo quando os órgãos entram em inatividade;
paralisando esses, o Espírito nada tem a fazer, a não ser sair para a sua
morada verdadeira, a erraticidade ou mundo espiritual.
424.
Pode-se, através de cuidados dispensados
a tempo, renovar os laços a se romperem e devolver à vida um ser que, sem esses
recursos morreria realmente?
“Sim, sem dúvida, e
disso tendes prova todos os dias. O magnetismo é nesses casos, muitas vezes, um
meio poderoso, porque dá ao corpo o fluido vital que lhe falta e que era
insuficiente para entreter o funcionamento dos órgãos”.
Este assunto é muito
interessante. Ele focaliza um tema a que se dá muita esperança, mostrando que o
Espírito tem poderes extraordinários, desde quando se empenhe em fazer o bem
com consciência dentro do saber e do amor. Em muitos casos, quando o encarnado
está prestes a desencarnar e se encontra com mãos generosas, pode-se mudar
completamente o quadro dessa situação.
Comentário
de Kardec: A letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda
momentânea da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda
inexplicada. Elas diferem entre si em
que, na letargia, a suspensão das forcas vitais é geral dando ao corpo todas as aparências da morte, e, na
catalepsia, é localizada e pode afetar uma parte mais ou menos extensa do
corpo, de maneira a deixar a inteligência livre para se manifestar, o que não
permite confundi-la com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é às
vezes espontânea, mas pode ser provocada e desfeita artificialmente pela ação
magnética.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Transmissão oculta do pensamento, abordando as Questões de 419 a 421.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
419.
Qual é a razão por que a mesma ideia, a
de uma descoberta, por exemplo, surge ao mesmo tempo em muitos pontos?
“Já dissemos que
durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Pois bem, quando o corpo
desperta, o Espírito se recorda do que aprendeu e o homem julga ter inventado.
Assim, muitos podem encontrar a mesma coisa ao mesmo tempo. Quando dizeis que
uma ideia está no ar, fazeis uma figura mais exala do que pensais; cada um
contribui, sem o suspeitar, para propagá-la”.
A filosofia espírita
nos ensina que ninguém descobre nada; tudo já se encontra descoberto, tudo já
está feito por Deus. Somos apenas instrumentos da Divindade. Os chamados
Espíritos sábios, ao se desprenderem pelas portas do sono, reúnem-se, por
consenso, no ambiente que lhes é próprio, para conversações acerca daquilo que
lhes interessa mais. Aí são expostas ideias que lhes parecem mais avantajadas,
como as descobertas, e pode ser que nessas conversas surja o que falta para
alguns deles, no sentido de descobrirem o que está feito pela eternidade. Ao
acordarem, lembram-se da chave que lhes faltava para completar seu ideal, e como
foram muitos os que ali estiveram em assembleia, vindos de vários países, as
descobertas, se assim podemos chamá-las, surgem simultaneamente em vários
lugares do globo, uns mais atrasados e outros com certa dianteira, tudo de
acordo com a percepção de cada criatura e determinação do plano espiritual.
Comentário
de Kardec: Nosso Espírito revela assim, muitas vezes, a outros Espíritos e à
nossa revelia aquilo que constitui o objeto das nossas preocupações de vigília.
420.
Os Espíritos podem comunicar-se, se o
corpo estiver completamente acordado?
“O Espírito não está
encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor; eis porque
pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo no estado de vigília, embora o
faça mais dificilmente”.
Pode-se dar a
comunicação dos Espíritos em estado de vigília, um encarnado comunicando-se com
outro, mesmo à distância. O encarnado comunicar-se com o desencarnado também é
possível; é comum, e mais facilmente. É a faculdade a que chamamos de
mediunidade.
421.
Por que duas pessoas, perfeitamente
despertas, têm, muitas vezes, instantaneamente, o mesmo pensamento?
“São dois Espíritos
simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente os seus pensamentos, mesmo
quando não dormem”.
A analogia dos
pensamentos faz duas pessoas ou mais, no mesmo instante, pensarem a mesma
coisa. Se podemos perceber os pensamentos alheios, os outros podem sentir
igualmente os nossos. Eis aí uma grande responsabilidade.
Comentário
de Kardec: Há entre os Espíritos que se afinam uma comunicação de pensamentos
que faz que duas pessoas se vejam e se compreendam sem a necessidade dos signos
exteriores da linguagem. Poderia dizer-se que elas falam a linguagem dos
Espíritos.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos iniciar o estudo
do tópico Visitas espíritas, abordando as Questões de 413 a 418.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
413.
Do princípio de emancipação da alma
durante o sono parece resultar que temos, simultaneamente, duas existências: a
do corpo, que nos dá a vida de relação exterior, e a da alma, que nos dá a vida
de relação oculta. É isso exato?
“No estado de
emancipação, a vida do corpo cede lugar à da alma, mas não existem,
propriamente falando, duas existências; são antes duas fases da mesma
existência, porque o homem não vive de maneira dupla”.
A resposta dos
Espíritos nos chama a atenção para a nossa necessidade de refletir a respeito da
nossa espiritualidade, da nossa espiritualização, ou seja, nós trabalharmos
dentro de nós o que exista de melhor para nos tornarmos seres melhores a cada
dia. Como poderia haver duas vidas em um só corpo? É justo que entendamos as
leis de Deus em todas as suas reações, para que possamos nos cientificar da
verdade e do amor. O que se pensa que são duas vidas, é porque o Espírito,
quando livre em estado de sono, ainda se acha ligado ao corpo por laços
fluídicos e é capaz de movê-lo e fazê-lo sentir. Cuidemos do corpo, pois ele é,
realmente, um caminho que nos leva para o despertamento espiritual.
414.
Duas pessoas que se conhecem podem
visitar-se durante o sono?
“Sim, e muitas outras
que pensam não se conhecerem se encontram e conversam. Podes ter, sem que o
suspeites, amigos em outro país. O fato de visitardes, durante o sono, amigo,
parentes, conhecidos, pessoas que vos podem ser úteis, é tão frequente que o realizais quase todas as noites”.
Em O Livro dos Médiuns,
existe um relato sobre uma senhora que estava enferma, e se deparou com um
grande amigo, sentado ao lado do leito. Provavelmente, ele estava ali para
ajuda-la, durante a enfermidade dela, com seus recursos magnéticos. Durante o
sono, o Espírito se encontra mais ou menos livre, e é nesse momento que ele se
encontra com quem tem mais simpatia espiritual, razão porque sonha com pessoas
da sua amizade. Quando sonha com alguém que julga desconhecer, trata-se de
sintonia com personalidade de outras vidas. O Espírito livre da densidade da
matéria vai onde quer que lhe seja permitido pelos benfeitores espirituais.
Essa liberdade parcial é bênção de Deus para fortalecimento da alma, nas suas
provações na carne. No entanto, necessário se faz que o Espírito afira suas
forças, se pode ou não aderir a certos encontros, desde que eles não venham a
prejudicá-lo na sua nova vida. Porém, outros encontros lhe fazem bem, para o
bom andamento das suas atividades no planeta.
415.
Qual pode ser a utilidade dessas visitas
noturnas, se não as recordamos?
“Ordinariamente, ao
despertar, resta uma intuição que é quase sempre a origem de certas ideias que
surgem espontaneamente, sem que se possa explicá-las, e não são mais que as ideias
hauridas naqueles colóquios”.
A utilidade dos
encontros espirituais na liberdade parcial do Espírito, no transe do sono, é
imensurável. As lições em Espírito têm uma dinâmica diferente das lições do
mundo, mesmo porque são usados meios que se diferenciam muito. Posso citar o
caso de uma pessoa conhecida que, precisando desenvolver um trabalho, para fim
caritativo, e, não encontrando meio de fazê-lo, foi levado a um local, onde
recebeu lições práticas para concluí-lo.
416.
O homem pode provocar voluntariamente as
visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer ao adormecer: “Esta noite quero
encontrar-me em espírito com tal pessoa; falar-lhe e dizer-lhe tal coisa?”
“Eis o que se passa: o
homem dorme, seu Espírito desperta, e o que o homem havia resolvido o Espírito
está, muitas vezes, bem longe de o seguir, porque a vida do homem interessa
pouco ao Espírito, quando ele se liberta da matéria. Isto para os homens já
bastante elevados, pois os outros passam de maneira inteiramente diversa a sua
existência espiritual: entregam-se às paixões ou permanecem em inatividade.
Pode acontecer, portanto, que, segundo o motivo que se propôs, o Espírito vá
visitar as pessoas que deseja: mas o fato de o haver desejado quando em vigília
não é razão para que o faça”.
O Espírito tem uma postura
quando no corpo; entretanto, ao tornar-se livre da matéria, dentro da sua
parcialidade, ligado apenas pelo cordão fluídico, ele pode pensar de outra
forma, desde quando seja alma elevada. Por exemplo: se, quando se movendo no
corpo, ele deseja fortemente encontrar-se com alguém no plano do Espírito, ao
entrar no transe do sono, mais livre, ele pode não se interessar mais pela
ideia preconcebida. Mas, quando é um Espírito envolvido nas paixões inferiores
da carne, em estado de sono pode se encontrar com companheiros das mesmas
ideias, ou piores ainda.
417.
Certo número de Espíritos encarnados pode
então se reunir e formar uma assembleia?
“Sem nenhuma dúvida. Os
laços de amizade, antigos ou novos, reúnem assim, frequentemente, diversos
Espíritos que se sentem felizes de se encontrar”.
Aos Espíritos, por
estarem encarnados, nada impede de formarem assembleias no mundo espiritual, no
percurso do sono. Isso acontece sempre. São almas afins que se reúnem para
trocar ideias. Assim os bons, assim os maus, dentre os quais existem os
retardatários, que faltam muitas vezes aos compromissos, e que sempre são
chamados aos deveres. Podemos observar que, em muitos casos, como ao lermos um
livro de ensinamentos elevados é difícil de ser entendido, conseguimos, com
muita facilidade, absorver seu conteúdo. Nesses casos, é porque fizemos,
certamente, parte de uma dessas assembleias no mundo espiritual durante o sono,
onde estudamos esses conceitos elevados da vida.
Comentário
de Kardec: Pela palavra “antigos” é necessário entender os laços de amizade
contraídos em existências anteriores. Trazemos ao acordar uma intuição das ideias
que haurimos nesses colóquios ocultos, mas ignoramos a fonte.
418.
Uma pessoa que julgasse morto um de seus
amigos, que na realidade não o estivesse, poderia encontrar-se com ele em
espírito e saber, assim, que continuava vivo? Poderia, nesse caso, ter uma
intuição ao acordar?
“Como Espírito pode
certamente vê-lo e saber como está. Se não lhe foi imposto como prova acreditar
na morte do amigo, terá um pressentimento de que ele vive, como poderá ter o de
sua morte”.
Tudo pode acontecer na
Terra e no plano espiritual. Quando estamos em estado de sono, nesse transe de
desprendimento parcial do corpo físico, podem acontecer muitas coisas, e no mundo
dos Espíritos, como já dissemos, podemos encontrar amigos como inimigos nossos
por vezes também nos procurando. Se tivermos alguma notícia de que um nosso
amigo tenha desencarnado, ao encontrá-lo podemos perfeitamente saber dele a
verdade, como também verificar as suas condições. O Espírito mais esclarecido
saberá se o amigo pertence ao mundo físico ou não. A alma ainda ligada ao vaso
físico é reconhecida pelo cordão de prata ainda ligado à base do crânio do
perispírito e ao crânio do corpo físico, ao passo que o desencarnado se
encontra livre das cadeias da carne.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Vamos encerrar o estudo
do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões de 406 a 412.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
406.
Quando vemos em sonho pessoas vivas, que
conhecemos perfeitamente, praticarem atos em que absolutamente não pensam, não
é isso um efeito de pura imaginação?
“Em que absolutamente
não pensam? Como o sabes? Seus Espíritos podem vir visitar o teu, como o teu
pode visitar os deles, e nem sempre sabes o que pensam. Além disso, frequentemente
aplicais, a pessoas que conheceis, e segundo os vossos desejos, aquilo que se
passou ou se passa em outras existências”.
Quando estamos em
estado de sonho, encontramo-nos livres, mais livres do que se pensa, sem as
peias de família e sem os entraves das leis terrenas. Certos atos, no mundo
espiritual, não causam efeitos como na Terra. É por isso que se admira ao ver
certas pessoas fazendo em sonhos o que não fariam em estado consciente na
carne. Ainda mais, não se sabe o que vai pela mente dos amigos e parentes,
mesmo mãe e pai, cônjuge e filhos.
407.
É necessário o sono completo, para a
emancipação do Espírito?
“Não. O Espírito
recobra a sua liberdade quando os sentidos se entorpecem; ele aproveita para se
emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que
haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco
estiver o corpo, mais o Espírito estará livre”.
Para a emancipação do
Espírito basta o afrouxamento do corpo. Em um “relax” completo, a alma fica
livre do seu fardo carnal. Para treinar, basta fazer exercícios, buscando
estudar todas as experiências de certos espiritualistas em relaxar o corpo
físico para dormir. Um “relax” de uns dez minutos é muito bom até para
recuperar as forças perdidas nos trabalhos diários, e mesmo espirituais. O
relaxamento faz com que os sentidos entrem em torpor, de modo que o Espírito
encontra mais facilidade para a sua parcial liberdade pelo sono.
Comentário
de Kardec: É assim que o cochilar, ou um simples entorpecimento dos sentidos,
apresenta muitas vezes as mesmas imagens do sonho.
408.
Parece-nos, às vezes, ouvir cm nosso
íntimo palavras pronunciadas distintamente e que não têm nenhuma relação com o
que nos preocupa. De onde vêm elas?
“Sim, e até mesmo
frases inteiras, sobretudo quando os sentidos começam a se entorpecer. É, às
vezes, o fraco eco de um Espírito que deseja comunicar-se contigo”.
Qual a razão de
ouvirmos palavras sem que nelas estejamos pensando? Essas palavras, às vezes
frases inteiras, que percebemos pelos sentidos espirituais, são, certamente,
ditas por Espíritos que querem se comunicar com os encarnados. É esse processo
que ocorre na mediunidade. Às vezes, o Espírito fala como se fosse dentro da
cabeça ou, muito raro, usando mesmo a audição dos companheiros encarnados. Isso
acontece todos os dias com muitas pessoas no lar, no trabalho, nas ruas e frequentemente
no lazer.
409.
Muitas vezes, num estado que ainda não é
o cochilo, quando temos os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras das
quais apanhamos os pormenores mais minuciosos. É um efeito de visão ou de
imaginação?
“Entorpecido o corpo, o
Espírito trata de quebrar a sua cadeia: ele se
transporta e vê, e se o sono fosse completo, isso seria um sonho”.
As imagens que se
percebem, estando o corpo em estado de torpor, ocorrem pela dilatação visual da
alma, quando ela percebe com mais nitidez o mundo espiritual que a rodeia.
Quando não há entorpecimento do corpo e evidenciam-se os dons espirituais, é
que a criatura é dotada de vidência ou clarividência, ao passo que, no estado
de relaxamento, todas as criaturas podem perceber imagens, por entrarem mais
diretamente no mundo espiritual. Tudo isso é uma amostra espiritual de que
existe a continuação da vida, que todos podem perceber, sendo, assim, um dom
generalizado.
410.
Têm-se às vezes, durante o sono ou o
cochilo, ideias que parecem muito boas e que, apesar dos esforços que se fazem
para recordá-las, se apagam da memória. De onde vêm essas ideias?
“São o resultado da
liberdade do Espírito, que se emancipa e goza, nesse momento, de mais amplas
faculdades. Frequentemente, também, são conselhos dados por outros Espíritos”.
Eventualmente, quando
encarnados e parcialmente desprendidos do corpo, pelo sono ou pelo
adormecimento, surgem na alma ideias vigorosas, das quais, apesar do esforço
que se faz após despertar, não se consegue recordar. São transmissões dos
Espíritos livres que nos querem bem, são conselhos. Notemos bem: esquecemos as ideias,
mas não esquecemos que elas nos foram ditas. A certeza desse fato é a prova da
sua existência, vibrando na nossa consciência.
410-a.
De que servem essas ideias ou esses
conselhos, se a sua recordação se perde e não se pode aproveitá-los?
“Essas ideias
pertencem, algumas vezes, mais ao mundo dos Espíritos que. ao mundo corpóreo,
mas o mais frequente é que, se o corpo as esquece, o Espírito as lembra, e a ideia
volta no momento necessário, como uma inspiração do momento”.
Quando despertos,
esquecemos os conselhos, mas sabemos que eles existem, na consciência. Esses
conselhos são mais para a nossa vida em estado de liberdade, e quando eles são
úteis no mundo que habitamos, eles vêm através dos fios da intuição,
materializando-se como sendo os nossos pensamentos.
411.
O Espírito encarnado, nos momentos em que
se desprende da matéria e age como Espírito, conhece a época de sua morte?
“Muitas vezes a
pressente, e às vezes tem dela uma consciência bastante clara, o que lhe dá, no
estado de vigília, a sua intuição. É por isso que algumas pessoas preveem, às vezes, a própria morte
com grande exatidão”.
O Espírito, quando está
parcialmente desligado da matéria, mesmo que seja em relaxamento profundo, por
vezes tem a intuição do dia da sua desencarnação, quando está preparado para
tal revelação. Muitos sabem até o dia certo, e mesmo a hora, do seu desenlace
espiritual. Isso acontece em todas as religiões e mesmo filosofias
espiritualistas. Quem sente essa verdade, alimenta-a, sem dúvida. Jesus foi um
marco dessa prática, quando anunciou tudo o que deveria acontecer com Ele.
412.
A atividade do Espírito, durante o
repouso ou o sono do corpo, pode fatigar a este?
“Sim, porque o Espírito
está ligado ao corpo, como o balão cativo ao poste. Ora, da mesma maneira que
as sacudidas do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o
corpo, e pode produzir-lhe fadiga”.
O sono é um reparador
das energias gastas nas atividades durante o dia e coloca o corpo predisposto a
receber forças cósmicas que o Espírito respira no plano da Vida Maior; no
entanto, se a alma se encontra atribulada, onde quer que seja, ela transmite para
o seu instrumento de carne essa turbulência, de forma que o corpo não descansa.
Por vezes, levanta-se pela manhã mais cansado do que quando se deitou.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Iniciando o Capítulo VIII,
vamos iniciar também o estudo do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões
de 403 a 405.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
403.
Por que não nos recordamos sempre dos
sonhos?
“Nisso que chamais sono
só tens o repouso do corpo, porque o Espírito esta em movimento. No sono, ele
recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja
neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira,
dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o
Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo”.
A alma, no seu estado
mais livre, durante o sono, nem sempre pode trazer tudo o que vê e ouve para a
matéria. Quando o Espírito volta ao corpo, ocorre uma espécie de filtragem na
lembrança do que ocorreu no mundo espiritual. Esses acontecimentos não são apagados
da memória, visto que, pela lei, nada se perde. Entretanto, eles ficam gravados
no fundo da consciência, vindo à tona quando necessário, manifestando-se como
lições ou testes para o Espírito. Se a pessoa for despertada durante o sonho
pode guardar uma certa lembrança, que será mais ou menos exata de acordo com o
grau de envolvimento do indivíduo naquela condição do sonho.
404.
Que pensar da significação atribuída aos
sonhos?
“Os sonhos não são
verdadeiros, como entendem os ledores da sorte, pelo que é absurdo admitir que
sonhar com uma coisa anuncia outra. Eles são verdadeiros no sentido de
apresentarem imagens reais para o Espírito, mas que, frequentemente, não têm
relação com o que se passa na vida corpórea. Muitas vezes, ainda, como já
dissemos, são uma recordação. Podem ser, enfim, algumas vezes, um
pressentimento do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa no
momento em outro lugar a que a alma se transporta. Não tendes numerosos
exemplos de pessoas que aparecem em sonhos para advertir parentes e amigos do
que lhes está acontecendo? O que são essas aparições senão a alma ou o Espírito
dessas pessoas que se comunicam com a vossa? Quando adquiris a certeza de que aquilo
que vistes realmente aconteceu, não é isso uma prova de que a imaginação nada
tem com o fato, sobretudo se o ocorrido absolutamente não estava no vosso
pensamento durante a vigília?”
O que se deve pensar
sobre os sonhos? Muita coisa tem relação com os sonhos, que nada mais é que o
Espírito se libertar um pouco da prisão corpórea e ver, ouvir, e sentir a vida
espiritual. As interpretações descabidas, dos sonhos e visões devem ficar no
esquecimento, porque somente a verdade ficará de pé. Os sonhos nada mais são, os
Espíritos já disseram, que a vivência do Espírito em parcial liberdade, no
descanso do fardo físico, ele passeia e aprende na grande escola espiritual;
recolhe aqui e ali lições valiosas, de modo que a sua vida vai mudando e seu
conceito em relação ao bem e o mal passa a se modificar. Sonhos e visões:
existe registro de interpretação de sonho feita por José, filho de Jacó, que
interpreta o sonho do Faraó do Egito, ou seja, das vacas magras devorando as
vacas gordas, e José orienta para que fosse feita uma reserva de grãos, durante
os sete anos de fartura, para se prevenirem nos anos de penúria. É interessante
destacar, que os chamados profetas tiveram informações durante o sonho. E, por
que, isso? Todos esses indivíduos que trouxeram dados espirituais para o nosso
conhecimento, acima de tudo, são criaturas que têm encargos missionários, e
essa capacidade mediúnica pode muito fazer para alavancar o progresso da Humanidade.
405.
Frequentemente se veem em sonhos coisas
que parecem pressentimentos e que não se cumprem; de onde vêm elas?
“Podem cumprir-se para
o Espírito, se não se cumprem para o corpo.
Quer dizer que o Espírito vê aquilo que deseja, porque vai procurá-lo.
Não se deve esquecer que, durante o sono, a alma está sempre mais ou menos sob
a influencia da matéria e por conseguinte não se afasta jamais
completamente das ideias terrenas. Disso
resulta que as preocupações da vigília podem dar, àquilo que se vê, a aparência
do que se deseja ou do que se teme. A isso é que realmente se pode chamar um
efeito da imaginação. Quando se está fortemente
preocupado com uma ideia, liga-se a ela tudo o que se vê”.
Muitos sonhos
evidenciam aquilo que o Espírito viu antes ou pressentiu; os que são
interpretados como banais, confirmam, noutra dimensão, a fragilidade do
Espírito, e outros não foram bem interpretados à luz do verdadeiro entendimento
espiritual. Os sonhos são como os nossos entendimentos quando encarnados. O que
se passa durante o dia da alma no corpo, o que vê, o que ouve, o seu trabalho,
não são ilusões, por se encontrar frente a frente com as coisas e não precisar
de interpretações, ao passo que, na liberdade parcial da alma, pela porta do
sono, o que se vê ou ouve pode mudar-se pelo que se encontra com mais nitidez
na memória do corpo físico. As más interpretações dos sonhos se encontram
ligadas às ideias fortemente alimentadas por nós, no decorrer do dia, quando o
pensamento dominante é que se expressa como verdadeiro, sob forte
condicionamento. Mas não se pode negar muitos dos sonhos reais que acontecem em
muitas situações, principalmente com moribundos, por se encontrarem mais
desprendidos da matéria.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VIII – Emancipação da alma.
Iniciando o Capítulo VIII,
vamos iniciar também o estudo do tópico o Sono e os Sonhos, abordando as Questões
de 400 a 402.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
400.
O Espírito encarnado permanece
voluntariamente no envoltório corporal?
“É como perguntar se o
prisioneiro está satisfeito sob as chaves. O Espírito encarnado aspira
incessantemente à libertação, e quanto mais grosseiro é o envoltório, mais
deseja ver-se desembaraçado”.
Ou seja, nós precisamos
do sono, exatamente para poder ter essa liberdade. Detalhe importante: o sono,
para nós, é um recurso de repouso para nós, espíritos.
401.
Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
“Não, o Espírito jamais
fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o
corpo não necessita do Espírito. Então, ele percorre o espaço e entra em
relação mais direta com os outros Espíritos”.
Na realidade, o que
acontece efetivamente nessa situação? O Espírito não fica inativo; ele busca a
liberdade parcial, pelo sono, pois é nessas saídas que vamos receber
orientações e aconselhamentos, ou, dependendo do nosso diapasão mental,
encontrar outros Espíritos que se identifiquem com as nossas falhas e travarmos
conversações com eles acerca dos assuntos que nos convém falar e ouvir.
Importante: é durante o sono que o corpo descansa e os seus órgãos se recompõem
com as energias hauridas pelo Espírito no mundo espiritual.
402.
Como podemos julgar da liberdade do
Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos. Sabei
que, quando o corpo repousa, o Espírito dispõe de mais faculdades que no estado
de vigília. Tem a lembrança do passado e, às vezes, a previsão do futuro;
adquire mais poder e pode entrar em comunicação com os outros espíritos, seja
deste mundo, seja de outro. Frequentemente dizes: “Tive um sonho bizarro, um
sonho horrível, mas que não tem nenhuma verossimilhança”. Enganas-te. E quase
sempre uma lembrança de lugares e de coisas que viste ou que verás numa outra
existência ou em outra ocasião. O corpo estando adormecido, o Espírito trata de
quebrar as suas cadeias para investigar no passado ou no futuro.
Pobres homens, que
conheceis tão pouco dos mais ordinários fenômenos da vida! Acreditais ser muito
sábios, e as coisas mais vulgares vos embaraçam. A esta pergunta de todas as
crianças: “O que é que fazemos quando dormimos; o que são os sonhos?”, ficais
sem resposta.
O sono liberta
parcialmente a alma do corpo. Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra
no estado em que estará de maneira permanente após a morte. Os Espíritos que
logo se desprendem da matéria, ao morrerem, tiveram sonhos inteligentes. Esses
Espíritos, quando dormem, procuram a sociedade dos que lhes são superiores:
viajam, conversam e se instruem com eles; trabalham mesmo em obras que
encontram concluídas, ao morrer. Destes fatos deveis aprender, uma vez mais, a
não ter medo da morte, pois morreis todos os dias, segundo a expressão de um
santo.
Isto para os Espíritos
elevados; pois a massa dos homens que, com a morte, devem permanecer longas
horas nessa perturbação, nessa incerteza de que vos têm falado, vão seja a
mundos inferiores à Terra, onde antigas afeições os chamam, seja à procura de
prazeres talvez ainda mais baixos do que possuíam aqui; vão beber doutrinas
ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que professavam entre
vós. E o que engendra a simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de nos
sentirmos, ao acordar, ligados pelo coração àqueles com quem acabamos de passar
oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que explica também as
antipatias invencíveis é que sentimos, no fundo do coração, que essas pessoas
têm uma consciência diversa da nossa, porque as conhecemos sem jamais as ter
visto. E ainda o que explica a indiferença, pois não procuramos fazer novos
amigos, quando sabemos ter os que nos amam e nos querem. Numa palavra: o sono
influi mais do que pensais, sobre a nossa vida.
Por efeito do sono, os
Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos, e é
isso o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem muita repulsa, em
encarnar-se entre vós. Deus quis que durante o seu contato com o vício pudessem
eles retemperar-se na fonte do bem, para não falirem, eles que vinham instruir
os outros. O sono é a porta que Deus
lhes abriu para o contato com os seus amigos do céu; é o recreio após
o trabalho, enquanto esperam o grande
livramento, a libertação final que deve restituí-los ao seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança
do que o vosso Espírito viu durante o sono; mas observai que nem sempre sonhais, porque nem
sempre vos lembrais daquilo que vistes ou de tudo o que vistes. Isso porque não
tendes a vossa alma em todo o seu desenvolvimento; frequentemente não vos resta
mais do que a lembrança da perturbação que acompanha a vossa partida e a vossa
volta, a que se junta a lembrança do que fizeste ou do que vos preocupa no
estado de vigília. Sem isto, como explicaríeis esses sonhos absurdos, a que
estão sujeitos tanto os mais sábios quanto os mais simples? Os maus Espíritos
também se servem dos sonhos, para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
De resto, vereis dentro
em pouco desenvolver-se uma outra espécie de sonhos; uma espécie tão antiga
como a que conheceis, mas que ignorais. O
sonho de Joana, o sonho de Jacó, o sonho dos profetas judeus e de alguns
indivíduos indianos: esse sonho é a lembrança da alma inteiramente liberta do
corpo, a recordação dessa segunda vida de que há pouco eu vos falava.
Procurai distinguir bem
essas duas espécies de sonhos, entre aqueles de que vos lembrardes; sem isso,
cairíeis em contradições e em erros que seriam funestos para a vossa fé.
Os sonhos são o produto
da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida
ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende
aos lugares os mais distantes ou que jamais se viu, e algumas vezes mesmo a
outros mundos. Daí também a lembrança que retraça na memória os acontecimentos
verificados na existência presente ou nas existências anteriores. A
extravagância das imagens referentes ao que se passa ou se passou em mundos
desconhecidos entremeadas de coisas do mundo atual formam esses conjuntos
bizarros e confusos que parecem não ter senso nem nexo.
A incoerência dos
sonhos ainda se explica pelas lacunas decorrentes da lembrança incompleta do
que nos apareceu no sonho. Tal como um relato ao qual se tivessem truncado
frases ou partes de frases ao acaso: os fragmentos restantes sendo reunidos,
perderiam toda significação racionai.
Daí nós entendermos
que, se tivermos feito bom uso do sono, nós vamos ter um período de atividade
muito maior do que aquele que temos durante o período de vigília. Isto
significa dizer que, devemos conhecer a nós mesmos. Ora, se detectamos que
estamos tendo maus sonhos, é porque não estamos vivendo no nosso inconsciente
como devemos. Temos que procurar outras companhias no mundo espiritual e no
mundo físico. Refazer nosso discurso; refazer a nossa mente; reestruturar
nossos valores. O espírita já consciente dessas verdades encontrará mais
facilidade para o seu autoaperfeiçoamento espiritual, ocupando-se somente com a
sua educação e fornecendo, aos outros, materiais de meditação para o
despertamento das suas faculdades. Por que motivo é aconselhável fazermos uma
prece antes de dormir? Exatamente para disciplinar a nossa mente e estabelecer uma
sintonia adequada com o plano espiritual mais elevado.
Em um de seus livros,
Martins Peralva narra a trajetória de duas pessoas durante o sonho. Um casal em
que a mulher, uma criatura conturbada espiritualmente, e seu esposo, indivíduo
que tinha a sua consciência despertada pelo conhecimento evangélico, e vivia na
busca de inspiração para ajudar aquele Espírito enfermo, que era sua mulher.
Quando os dois vão dormir, ele, desligado do corpo, vai em direção a planos
espirituais mais elevados, e encontra com benfeitores espirituais que o ajudam,
orientam, estimulam, no sentido da paciência, da tolerância e da boa vontade,
para com a sua mulher. A mulher, um Espírito sofredor, bastante problemático,
ainda, que acaba entrando em contato durante o sonho com entidades
perturbadoras, que estimulam, nela, uma atitude de animosidade para com o
marido. Um, vai um lado, na direção da luz. O outro vai em outra direção, da
treva.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o Capítulo
VII e encerrando também o estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos
abordar a Questão 399.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
399.
Sendo as vicissitudes da vida corpórea ao
mesmo tempo uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se
que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência
anterior?
“Muito frequentemente,
pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar daí
uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque
as provas que um Espírito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado”.
As vicissitudes da vida
podem nos dar uma idéia do que fomos no passado. Os acontecimentos naturais nos
nossos caminhos vêm, por força da lei divina, nos mostrar, pela força da
justiça, o que haveremos de reparar. Sendo que o nosso maior interesse não é recordar
o passado; é sentir que Deus é amor e justiça, e nunca exigirá que Seus filhos
paguem o que não devem na contabilidade divina. Tudo é um processo espiritual,
para educação dos nossos sentimentos ou despertamento das nossas qualidades
espirituais.
A natureza é sábia e
não erra o caminho por onde deve trilhar. Quando ocorre algum acontecimento
conosco, basta meditarmos um pouco e logo atingiremos a procedência do fato. A
Doutrina dos Espíritos, ser-nos-á de grande valia em todas as atividades espirituais.
Ela é conselheira firme em nossos passos, e nos dá forças novas para a devida
correção na nossa personalidade. O que se chama de azar na vida, está sendo
impulsionado por forças invisíveis capazes de nos levar à felicidade.
Conhece-te a ti mesmo,
ou seja, que façamos uma reflexão para que saibamos o que fazer para nos
melhorarmos.
Comentário
de Kardec: Chegado ao termo que a Providência
marcou para a sua vida errante, o Espírito escolhe por ele mesmo as provas às
quais deseja submeter-se, para apressar o seu adiantamento, ou seja, o gênero
de existência que acredita mais apropriado a lhe fornecer os meios, e essas
provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar. Se nelas triunfa,
ele se eleva; se sucumbe, tem de recomeçar.
O
Espírito goza sempre do seu livre-arbítrio. É em virtude dessa liberdade que,
no estado de Espírito, escolhe as provas da vida corpórea e, no estado de
encarnado, delibera o que fará ou não fará, escolhendo entre o bem e o mal.
Negar ao homem o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de máquina.
Integrado
na vida corpórea, o Espírito perde momentaneamente a lembrança de suas
existências anteriores, como se um véu as ocultasse. Não obstante, tem.,às
vezes, uma vaga consciência, e elas podem mesmo lhe ser reveladas em certas
circunstâncias. Mas isto não acontece senão pela vontade dos Espíritos
superiores, que o fazem espontaneamente, com um fim útil e jamais para
satisfazer uma curiosidade vã.
As
existências futuras não podem ser reveladas em caso algum, por dependerem da
maneira por que se cumpre a existência presente e da escolha ulterior do
Espírito.
O
esquecimento das faltas cometidas não é obstáculo à melhoria do Espírito
porque, se ele não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que delas teve
no estado errante e o desejo que
concebeu de as reparar guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir
ao mal. Este pensamento é a voz da consciência, secundada pelos Espíritos que o
assistem, se ele atende às boas inspirações que estes lhe sugerem.
Se
o homem não conhece os próprios atos que cometeu em suas existências
anteriores, pode sempre saber qual o gênero de faltas de que se tornou culpado
e qual era o seu caráter dominante.
Basta que se estude a si mesmo e poderá julgar o que foi, não pelo que é. mas
pelas suas tendências.
As
vicissitudes da vida corpórea são, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas
passadas e provas para o futuro. Elas nos depuram e nos elevam, se as sofremos
com resignação e sem reclamações.
A
natureza das vicissitudes e das provas que sofremos pode também esclarecer-nos
sobre o que fomos e o que fizemos, como neste mundo julgamos os atos de um
criminoso pelo castigo que a lei lhe inflige. Assim, este será castigado no seu
orgulho pela humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e avarento,
pela miséria; aquele que foi duro para os outros, pelos tratamentos duros que
sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão dos seus
filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado etc.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando seguimento ao
estudo do tópico Esquecimento do passado, vamos abordar as Questões de 395 a
398-a.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
395.
Podemos ter algumas revelações sobre as
nossas existências anteriores?
“Nem sempre. Muitos
sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram; se lhes fosse permitido dizê-lo
abertamente, fariam singulares revelações sobre o passado”.
Algumas pessoas ficam
sabendo de um pouco do seu passado por revelações espirituais, quando sabem
fazer bom uso destas revelações. Pouquíssimos têm alguma lembrança das suas
vidas passadas; para tudo existe o mérito que corresponde às necessidades.
Saber do passado é responsabilidade da alma frente ao seu porvir. Às vezes, nem
os Espíritos de certa evolução têm permissão para lembrar de todo o seu
passado. Podemos citar o caso do Codificador da Doutrina Espírita que, em
existência anterior, foi o druida Allan Kardec.
396.
Algumas pessoas creem ter a vaga lembrança
de um passado desconhecido, vislumbrado como imagem fugitiva de um sonho, que
em vão se procura deter. Essa ideia não seria uma ilusão?
“Algumas vezes é real;
mas quase sempre é também uma ilusão, contra a qual se deve precaver, pois pode
ser o efeito de uma imaginação superexcitada”.
Há muitas criaturas que
criam histórias, casos referentes a si mesmas e, quase sempre, dizem que foram
grandes personagens da história, e sentem-se bem em viver dentro da sua
criação, mesmo sabendo que não é a verdade. Com o tempo, ela deixa de acreditar
nela mesma, desconfiando de suas “descobertas”. Isso é muito sério,
principalmente para os espiritualistas conhecedores de algumas leis
espirituais. Convém a todos os Espíritos silenciar sobre esse assunto de
lembranças de vidas passadas. Tomemos como exemplo uma pessoa que tenha o
hábito de estudar a História da Idade Média. Ela poderá identificar-se
profundamente com a história medieval e, em se tornando um adepto do
medievalismo, achar que pode viver como viviam aquelas pessoas dessa época.
397.
Nas existências corpóreas de natureza
mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais
precisa?
“Sim, à medida que o
corpo é menos material, recorda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara
para aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior”.
Temos em nós todas as
portas do passado, e as chaves que abrem essas entradas se encontram nos
segredos da evolução espiritual. Elas são capazes de nos mostrar as vidas que
tivemos, que denominamos de reencarnações. Nos mundos mais atrasados que a
Terra são difíceis as lembranças, por não trazerem lições benfeitoras para as
criaturas neles estagiadas, ao passo que, em mundos superiores, essas
lembranças são frequentes, impulsionando os Espíritos para saldar seus deslizes
do pretérito.
398.
As tendências instintivas do homem, sendo
uma reminiscência do seu passado, pelo estudo dessas tendências ele poderá
conhecer as faltas que cometeu?
“Sem duvida, até certo
ponto; mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no
Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência
atual pode ser muito melhor que a precedente”.
Pelas tendências que
somos portadores reconheceremos o que fomos no passado, ou seja, se o
indivíduo, hoje, é preguiçoso, intolerante, vicioso, com certeza não gostaria
de conhecer o que ele foi na encarnação passada, no entanto, se melhoramos muito nessas
tendências, ser-nos-á difícil, por vezes quase impossível, saber corretamente o
que somos realmente ou o que fomos.
398–a.
Pode ela ser pior? Por outras palavras,
pode o homem cometer numa existência faltas não cometidas na precedente?
“Isso depende do seu
adiantamento. Se ele não souber resistir às provas, pode ser arrastado a novas
faltas, que serão a consequência da posição por ele mesmo escolhida. Mas, em
geral, essas faltas denunciam antes um estado estacionário do que retrógrado,
porque o Espírito pode avançar ou se deter, mas não recuar”.
Se em algumas
existências erramos pouco, não é porque as tendências não nos inspiram: é
devido ao ambiente em que nascemos ou à posição que ocupamos no mundo. Quando
voltamos para ocupar posições de maior relevo na sociedade, a nossa vaidade, o
orgulho e o egoísmo nos impulsionam para os desastres morais. Isso sempre acontece
a quem ainda não se preparou nos caminhos de Jesus, ouvindo as lições do
Evangelho.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Esquecimento do passado, vamos abordar a Questão 394.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
394.
Nos mundos mais adiantados que o nosso,
onde não existem todas as nossas necessidades físicas e as nossas enfermidades,
os homens compreendem que são mais felizes do que nós? A felicidade, em geral,
é relativa; sentimo-la por comparação com um estado menos feliz. Como, em suma,
alguns desses mundos, embora melhores que o nosso, não chegaram ao estado de
perfeição, os homens que os habitam devem ter motivos de aborrecimento a seu
modo. Entre nós, o rico, ainda que não sofra a angústia das necessidades materiais,
como o pobre, não está menos sujeito a tribulações que lhe amarguram a vida.
Ora, pergunto se, na sua posição, os habitantes desses mundos não se sentem tão
infelizes quanto nós e não lastimam a própria sorte, já que não têm a lembrança
de uma existência inferior para comparação?
“A isto e preciso dar
duas respostas diferentes. Há mundos, entre aqueles de que falas, em que os
habitantes, situados, como dizes, em melhores condições que vós, nem por isso
estão menos sujeitos a grandes desgostos, e mesmo a infelicidades. Estes não
apreciam a sua felicidade pelo fato mesmo de não se lembrarem de um estado
ainda mais infeliz. Se, entretanto não a apreciam como homens, o fazem como
Espíritos”.
Certamente que no mundo
onde se inicia a perfeição espiritual, onde ninguém faz mais o mal, os
Espíritos têm mais capacidade de recordação do passado, de modo a não se
perturbarem com tais recordações. As lembranças são de acordo com a elevação da
alma, isso é lei de justiça divina, na computação de valores espirituais, na
jornada de Espírito imortal. Nos mundos elevadíssimos, não há mais interesse de
recordações, as quais ficarão de lado, a não ser quando elas possam ser ponto
de lições para outrem. O Espírito puro nada deixa se perder. As recordações que
os Espíritos inferiores têm do passado trazem nuvens pesadas (terríveis) no
presente, de difícil reparação, e é sob esse ponto de vista que Deus nos
abençoa, filtrando as nossas necessidades espirituais de modo que elas cheguem
à nossa consciência de acordo com as nossas necessidades espirituais. Ele deixa
as recordações mais exatas para mundos mais elevados, de modo que haja mais
esforços, sem turvamento da mente, nos campos da limpeza da alma. Se estamos em
mundo inferior, já estivemos pior, e é nessa certeza que entra a esperança de
que, em breves tempos, passaremos a pertencer a um mundo melhor.
Comentário
de Kardec: Não há, no esquecimento dessas existências passadas, sobretudo
quando foram penosas, alguma coisa de providenciai, onde se revela a sabedoria
divina?
É
nos mundos superiores, quando a lembrança das existências infelizes não passa
de um sonho mau que elas se apresentam à memória. Nos mundos inferiores as
infelicidades presentes não seriam agravadas pela recordação de tudo aquilo que
tivesse suportado?
Concluamos,
portanto, que tudo quanto Deus fez é bem feito e que não nos cabe criticar as
suas obras e dizer como ele deveria ter regulado o Universo.
A
lembrança de nossas individualidades anteriores teria gravíssimos
inconvenientes. Poderia em certos casos, humilhar-nos extraordinariamente;
em outros, exaltar o nosso orgulho e por
isso mesmo entravar o nosso livre-arbítrio Deus, nos deu para nos melhorarmos,
justamente o que nos é necessário e suficiente; a voz da consciência e nossas
tendências instintivas, tirando-nos aquilo que poderia prejudicar-nos.
Acrescentemos ainda que, se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais
anteriores, teríamos a dos atos alheios, e esse conhecimento poderia ter os
mais desagradáveis efeitos sobre as
relações sociais. Não havendo sempre motivo para nos orgulharmos do nosso
passado, é quase sempre uma felicidade que um véu seja lançado sobre ele. Isso
concorda perfeitamente com a doutrina dos espíritos sobre os mundos superiores
aos nossos. Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado
nada tem de penosa; é por isso que neles se recorda com frequência a existência
precedente. como nos lembramos do que fizemos na véspera. Quanto á passagem que
se possa ter tido por mundos inferiores, a sua lembrança nada mais é, como
dissemos, que um sonho mau.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Esquecimento do passado, vamos abordar as Questões 392 e 393.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
392.
Por que o Espírito encarnado perde a
lembrança do seu passado?
“O homem nem pode nem
deve saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre
certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da
obscuridade para a luz Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo”.
O Espírito não perde as
lembranças do passado. O fenômeno que ocorre no transe da reencarnação é apenas
um esquecimento temporário, e não perde para sempre. Pode se processar a
lembrança, caso necessário, mas na suavidade que convém à força divina. O
esquecimento das vidas passadas é uma benção de Deus, para manter a alma
preocupada com a sua vida presente. Ou seja, se o Espírito se lembrasse de tudo
que havia passado em outras existências, provavelmente, não teria atingido o
progresso espiritual que tem, porque essas lembranças iriam prejudicar o livre-arbítrio
desse Espírito reencarnado.
393.
Como pode o homem ser responsável por
atos e resgatar faltas dos quais não se recorda? Como pode aproveitar-se da
experiência adquiria em existências que caíram no esquecimento? Seria
concebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse
lembrar-se daquilo que as atraiu mas desde que não se recorda, cada existência
é para ele como se fosse a primeira, e é assim que ele está sempre a recomeçar.
Como conciliar isto com a justiça de Deus?
“A cada nova existência
o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde
estaria o seu mérito se ele se recordasse de todo o passado? Quando o Espírito
entra na sua vida de origem (a vida espírita) toda a sua vida passada se
desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu
sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las;
compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência
necessária a reparara que acaba de escoar-se. Procura provas semelhantes
àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu
adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores para o ajudarem na nova
tarefa a empreender, porque sabe que o Espírito que lhe será dado por guia
nessa nova existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma
espécie de intuição das que ele cometeu. Essa mesma intuição é o pensamento, o
desejo criminoso que frequentemente vos assalta e ao qual resistis
instintivamente, atribuindo a vossa resistência, na maioria das vezes, aos
princípios que recebestes de vossos pais, enquanto é a voz da consciência que
vos fala e essa voz e a recordação do passado, voz que vos adverte para não
cairdes nas faltas anteriormente cometidas. Nessa nova existência, se o
Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si
próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio
deles”.
Esta pergunta não é
simplesmente só de Kardec. É uma pergunta de toda e qualquer pessoa que não
entende ainda o processo da reencarnação, como um processo educativo. Nós temos
que vivenciar as nossas experiências de uma maneira tal que não venhamos a causar
danos a quem quer que seja. E, lógico, temos que fazê-lo sem nos lembrar do
passado. Porque, com certeza, a lembrança do passado nos será prejudicial,
afetando principalmente a nossa capacidade no uso do livre-arbítrio. Somos
cercados de toda assistência, em tudo que o Senhor achou conveniente nos
amparar, no entanto, a nossa parte, essa nós temos de fazê-la. Não temos quando
na carne, lembranças exatas do que fomos do passado, mas, no silêncio
vibracional, elas estão presentes a nos dizer o que fizemos. Mesmo que não
queiramos ouví-las, essas lembranças nos invadem e nos falam de maneira que
todos nós entendemos, reconhecendo a verdade. Todos somos responsáveis, pelo
que fizemos, e pelo que devemos fazer de agora em diante.
Comentário
de Kardec: Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo
que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores,
temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma
reminiscência do nosso passado, as quais a nossa consciência, — que representa
o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas — adverte que
devemos resistir.
O que Kardec está dizendo
é uma questão fundamentalmente de livre-arbítrio. Como assim? Se o indivíduo
percebe que tem uma tendência colérica, acalmar-se vai depender da sua
disciplina mental.
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SEGUNDO
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Simpatias e antipatias terrenas, vamos abordar as Questões de 386 a 391.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
386.
Dois seres que se conheceram e se amaram
podem encontrar se noutra existência corpórea e se reconhecerem?
“Reconhecerem-se, não;
mas serem atraídos um pelo outro sim; e frequentemente as ligações íntimas,
fundadas numa afeição sincera, não provêm de outra causa. Dois seres se
aproximam um do outro por circunstâncias aparentemente fortuitas, mas que são o
resultado da atração de dois Espíritos que se buscam através da multidão”.
A simpatia entre dois
seres é força poderosa que se enraíza em vidas passadas. Certamente que nem
todos reconhecem seus parceiros de outras existências, no entanto, há criaturas
mais dotadas de sensibilidades que percebem amigos e inimigos de épocas recuadas.
Se juntos foram felizes, dá-lhes um grande prazer esse reencontro; quando
infelizes, gera-se logo antipatia entre os dois. É aquele caso em que ouvimos
as pessoas dizerem: “Hum..., meu santo não vai com o dele”.
386-a.
Não seria agradável para eles se reconhecerem?
“Nem sempre. A
recordação das existências passadas teria inconvenientes maiores do que
acreditais. Apôs a morte eles se reconhecerão e saberão em que tempo estiveram
juntos”.
(Ver item 392 )
A perda de conhecimento
às vezes é um amparo para os dois em processo de novas atividades, sem o qual
não poderiam crescer, voltando ao ponto anterior, fomentando suas paixões
descabidas e, às vezes, perturbando famílias já constituídas. O reconhecimento
pleno dos seres que antes viveram juntos entravaria o progresso. Se fosse conveniente,
eles voltariam juntos.
387.
A simpatia tem sempre por motivo um conhecimento
anterior.
“Não. Dois Espíritos
que tenham afinidades se procuram naturalmente sem que se hajam conhecido como encarnados”.
A verdadeira fonte da
simpatia não é precisamente a recordação de vidas anteriores; ela pode advir de
analogia de ideias. São pensamentos compatíveis que se entrelaçam uns aos
outros, se vindo de canais para a amizade, no entanto, quando os laços são
muito fortes, isso é prova de que vêm de vidas passadas.
Não temos simpatia
somente por uma pessoa; ela pode crescer e atingir muitas almas encarnadas e
desencarnadas. Os Espíritos que acompanham os desencarnados quase sempre o
fazem pela simpatia. A própria obsessão é por sintonia de pensamentos. Quando
um dos envolvidos se modifica, o outro não tem mais razão de acompanhá-lo e
sente-se desligado por falta de afinidade.
388.
Os encontros que se dão algumas vezes
entre certas pessoas, e que se atribuem ao acaso, não seriam o efeito de uma
espécie de relações simpáticas?
“Há, entre os seres
pensantes, ligações que ainda não conheceis O magnetismo é a bússola desta
ciência, que mais tarde compreendereis melhor”.
Nos encontros que se
dão com as pessoas, e dentre as quais se manifesta uma profunda simpatia, são
Espíritos afins que carregam os mesmos ideais, na qualidade de vibrações
análogas. A força que move tudo é o magnetismo, força piloto que forma o
ambiente para esses encontros saudáveis, que podem ser, também, e quase sempre
são, ligações de vidas passadas. Ao encontrarmos alguém por quem nutrimos
simpatia, não deixemos que passe a oportunidade, pois não há nada por acaso. Aproveitemos
a oportunidade e canalizemos essa amizade na construção da nossa própria vida.
389.
De onde vem a repulsa instintiva que se
experimenta por certas pessoas, a primeira vista?
“Espíritos antipáticos
que se percebem e se reconhecem, sem se falarem”.
A repulsão instintiva
de uma pessoa para com a outra é antipatia que vem do passado ou, igualmente,
instinto com diferenciação na sua estrutura intrínseca. Cada um de nós gera um
tipo de magnetismo, cuja força é boa ou má, dependendo dos sentimentos que
imprimimos nessas vibrações.
390.
A
antipatia instintiva é sempre um sinal de natureza má?
“Dois Espíritos não são
necessariamente maus pelo fato de não serem simpáticos. A antipatia pode
originar-se de uma falta de similitude do modo de pensar Mas, à medida que eles
se elevam, os matizes se apagam e a antipatia desaparece”.
A antipatia é sinal de
inferioridade, e os Espíritos puros não a têm de modo algum, por respeitarem os
direitos alheios. Cada qual tem direito de pensar como queira. Não se é
necessariamente Espírito mau só por pensar diferente dos outros. Um indivíduo
pode ter como antipático a ele um Espírito que tenha sido seu parceiro em
outras épocas, e que não caminhou evolutivamente. E, lógico, a sensação de
inferioridade diante do outro pode ser extremamente desagradável. No entanto,
existem antipatias geradas no ódio. Isso depende muito das almas que alimentam
e sentem esse antagonismo.
391.
A antipatia entre duas pessoas nasce em
primeiro lugar naquele cujo Espírito é pior, ou melhor?
“Numa e noutra, mas as
causas e os efeitos são diferentes. Um
Espírito mau sente antipatia por quem quer que o possa julgar e desmascarar;
vendo uma pessoa pela primeira vez,
percebe que ela vai desaprová-lo; seu afastamento se transforma então em
ódio, inveja e lhe inspira o desejo de fazer o mal. O bom Espírito sente
repulsa pelo mau porque sabe que não será compreendido por ele e que ambos não
participam dos mesmos sentimentos; mas seguro de sua superioridade, não sente
contra o outro nem ódio nem inveja: contenta-se em evitá-lo e lastimá-lo”.
A antipatia entre duas
pessoas nasce em qualquer uma delas primeiro, no entanto, provavelmente um é
sempre mais esclarecido que o outro, e por força da natureza melhorada, a
antipatia deve surgir no que ainda tem uma natureza mais bruta, que alimenta a
inferioridade. Existem ainda casos de dívidas do passado entre duas pessoas,
onde uma delas já está propensa ao perdão. Essa esquece logo as lembranças e a
repulsão quando encontra o antagonista, mas a outra, que desconhece a desculpa,
trava uma guerra consigo mesma para odiar mais, ao deparar com o seu antigo
inimigo, piorando cada vez mais a sua situação espiritual.
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Finalizando o estudo do
tópico Da Infância, vamos abordar a Questão 385.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
385.
Qual
o motivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e
particularmente ao sair da adolescência? É o Espírito que se modifica?
“É o Espírito que
retoma a sua natureza e se mostra tal qual era.
Não conheceis o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não
sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais
e acariciais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal maneira que o amor
de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter
por outros seres. De onde vêm essa doce afeição, essa terna complacência que
até mesmo os estranhos experimentam por uma criança? Vós sabeis? Não; e é isso
que vou explicar.
As crianças são os
seres que Deus envia a novas existências e, para que não possam acusá-lo de
demasiada severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa
criança de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos.
Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram antes;
não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é sobre elas
somente que recai a culpa.
Mas não é somente por
ela que Deus lhe dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais, cujo amor
é necessário à fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente
enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto,
supondo os filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais
delicados cuidados. Mas quando as crianças não mais necessitam dessa proteção,
dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte anos, seu
caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se
eram fundamentalmente boas, mas se irisam sempre de matizes que estavam na
primeira infância.
Vedes que os caminhos
de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil
conceber-se a explicação a respeito.
Com efeito, ponderai
que o Espírito da criança que nasce entre vós pode vir de um mundo em que tenha
adquirido hábitos inteiramente diferentes; como quereríeis que permanecesse no
vosso meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuís,
inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se
incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de haver
passado pela preparação da infância ? Nesta vêm confundir-se todos os
pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por
essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E vós mesmos, ao
morrer, estareis numa espécie de infância,
no meio de novos irmãos, e na vossa nova existência não terrena
ignorareis os hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para
vós, manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar,
língua mais vivaz do que o é atualmente o vosso pensamento. (Ver item 319).
A infância tem ainda
outra utilidade: os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se
aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna
flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem
fazê-los progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as
suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada
pela qual terão de responder.
É assim que a infância
é não somente útil, necessária, indispensável, mas ainda a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo”.
A mudança que se opera
nas crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de expressar
o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica mais
consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é. Os pais
devem estar preparados para receberem todos os tipos de Espíritos que Deus lhes
enviará para a devida educação dos seus impulsos inferiores. O corte das
arestas se processa com mais eficiência nos seres em formação. Muitas vezes, se
induz a criança a uma erotização precoce. Muitas vezes, também, se reprime na
criança um potencial que é patente, porque a família tem outra escala de
valores. Nós temos que entender que não são somente os pais que educam a
criança; também a criança educa os pais.
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando sequência ao
estudo do tópico Da Infância, vamos abordar as Questões de 382 a 384.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
382.
O
Espírito encarnado sofre, durante a infância, com o constrangimento imposto
pela imperfeição dos seus órgãos?
“Não; esse estado é uma
necessidade; é natural e corresponde aos desígnios da Providência. É um tempo
de repouso para o Espírito”.
No decurso da infância
o Espírito não sofre, porque não se encontra devidamente ligado ao corpo em
estado de crescimento. A lei universal que protege a todos tem as suas
gradações de serenidade, facilitando assim o estado em que se encontra a alma
em vias, por vezes, de grandes provações.
383.
Qual
é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?
“Encarnando-se com o
fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível durante esse tempo às
impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem
contribuir os que estão encarregados da sua educação”.
Essa resposta poderia
ser resumida numa única palavra: educação, ou seja, é a de sensibilizar a alma
para receber na sua formação as lições que seus pais possam lhe dar, assim como
a própria vida, em decorrência do seu crescimento na sociedade.
384.
Por
que os primeiros gritos da criança são de choro?
“Para excitar o
interesse da mãe e provocar os cuidados necessários. Não compreendes que, se
ela só tivesse gritos de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se
inquietariam com as suas necessidades? Admirai, pois, em tudo, a sabedoria da
Providência”.
A primeira manifestação
da criança no mundo, ao nascer é realmente o choro, para dizer aos pais que
está junto deles. Os pais, principalmente a mãe, ao ouvirem o primeiro choro do
filho, sentem a alegria assomar em seus corações, que nesta hora se encontram
em estado de alta sensibilidade. A criança que nasce “colocando a boca no
trombone”, ou seja, berrando, é uma criança extremamente saudável, tem um
padrão respiratório que é uma beleza. A criança chora, estimulando a mãe, o pai
e os que a cercam para ouvi-la.
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Da Infância, vamos abordar as Questões de 379 a 385.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
379.
O Espírito que anima o corpo de uma
criança é tão desenvolvido quanto o de
um adulto?
“Pode mesmo ser mais,
se ele mais progrediu, pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de
se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve”.
Entendemos que a
infância não é sinônimo de primitivismo. Em tudo temos de esperar; essa é a
lei. No caso da criança, esperemos que ela cresça, dando ao Espírito condições
de se manifestar mais livremente. Essa liberdade começa aos sete anos,
expande-se aos quatorze e consolida-se aos vinte e um. Aí o homem está em
condições de responder por ele mesmo, com todos os encantos e desencantos que
trouxe consigo. Quanto à evolução da criança, ela pode até ser mais evoluída do
que o adulto. Vamos dar um exemplo: Mozart demonstrou uma habilidade musical
prodigiosa desde a sua infância. Já era virtuoso nos instrumentos de teclado e
no violino. Começou a compor aos cinco anos de idade. Da mesma maneira, Blaise
Pascal, demonstrou talento precoce para as ciências físicas a partir dos doze
anos de idade. Podemos, também, tomar como exemplo, Hippolyte Léon Denizard
Rivail, o nosso Allan Kardec que, aos quatorze anos de idade, na Escola de
Pestalozzi, ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos
gratuitos.
380.
Numa criança de tenra idade, o Espírito,
fora do obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação,
pensa como uma criança ou como um adulto?
“Enquanto criança, é
natural que os órfãos da inteligência, não estando desenvolvidos, não possam
dar-lhe toda a intuição de um adulto: sua inteligência, com efeito, é bastante
limitada, até que a idade lhe amadureça a razão. A perturbação que acompanha a
encarnação não cessa de súbito com o nascimento e só se dissipa com o
desenvolvimento dos órgãos”.
Esta resposta dada
pelos Espíritos antecipa, em muito, determinados conhecimentos que hoje
permeiam a moderna Psicologia. Observamos que dá para entender como se definem
as fases de desenvolvimento da criança, em termos de atitudes no transcurso da
vida, desde o nascimento até o final da primeira infância. E, é, nesse período
que os valores são transmitidos e assumem um padrão mais arraigado. O
raciocínio nos diz que o Espírito envolvido em um corpo de criança não pode
pensar qual o adulto. Os órgãos não oferecem campo de ação para sua
manifestação mais livre. As suas faculdades são tolhidas pelos órgãos em
desenvolvimento e somente com o tempo eles vão se afirmando, de modo que os
canais de comunicações estejam sem impedimentos para as mensagens que o
Espírito veio trazer ao mundo. Nossa responsabilidade diante das crianças que
cruzam os nossos caminhos é imensa e não podemos desdenhar os compromissos
mediante as necessidades dos pequeninos em corpos, que, às vezes, são grandes
em Espírito. A criança pode não raciocinar igual aos adultos, não falar qual
esses, porem ela tem poderes, de forma a plasmar tudo com mais nitidez que os próprios
homens amadurecidos. A criança não é libertada da confusão de uma vez; isso
acontece gradativamente, pois a lei nos ensina que a natureza não dá saltos. A
sua marcha se move na ponderação, para dar mais segurança aos dons espirituais.
Comentário
de Kardec: Uma observação vem ao apoio
desta resposta: é que os sonhos de uma criança não têm o caráter dos sonhos de
um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que é um indício da natureza das
preocupações do Espírito.
381.
Com
a morte da criança o Espírito retoma imediatamente o seu vigor primitivo?
“Assim deve ser, pois
que está desembaraçado do seu envoltório carnal: entretanto, ele não retoma a
sua lucidez primitiva enquanto a separação não estiver completa, ou seja,
enquanto não desaparecer toda ligação entre o Espírito e o corpo”.
Vamos raciocinar:
existe perturbação espiritual quando do retorno ao plano espiritual? Existe! É
um período de adaptação a uma nova realidade. Quando os Espíritos dizem que
assim deve ser, entendemos que seja um tanto relativo, pois, a criança depois
da morte, em se desligando do corpo físico, readquire o vigor que antes tinha,
notadamente quando é um Espírito mais ou menos evoluído; no entanto, a alma em
estado de atraso espiritual, onde as paixões inferiores invadem por completo
seus sentimentos, tolhendo suas faculdades espirituais, essa, depois do
desenlace, volta ao seu estado primitivo que, por vezes, era de inconsciência. Tudo
depende da evolução do Espírito.
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do
tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões de 376 a 378.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
376.
Qual a razão por que a loucura leva
algumas vezes ao suicídio?
“O Espírito sofre pelo
constrangimento a que está submetido e pela impotência para manifestar-se
livremente. Por isso busca libertar-se por intermédio da morte”.
Em alguns casos a
loucura realmente leva a criatura ao suicídio. Deve se ter em conta os caminhos
tomados por ela no passado; se usou suas faculdades para o incentivo à loucura
dos outros, certamente que as reações do que fez dos seus dons refletirá em seu
caminho e aí vem a vestir novo corpo deficiente, acabando por tirar a sua
própria vida física. O Espírito passa a sofrer o constrangimento do modo que
constrangeu aos outros, e somente paga o que deve na pauta da vida. É o
tribunal da consciência que pede reparos e a alma, na aflição, pensa que, em se
matando, estará livre das distorções que fez nos caminhos alheios. É lógico que
isso agrava sua situação. Mas, é lógico também que isso não é agravante, a
doença é um fator atenuante. A Lei Divina julga de acordo com aquilo que pode
educar o Espírito.
377.
Após a morte, o Espírito se ressente da
perturbação de suas Faculdades?
“Ele pode ressentir-se
durante algum tempo, até que esteja completamente desligado da matéria, como o
homem que, ao acordar, se ressente por algum tempo da perturbação em que o sono
o mergulhara”.
O Espírito alienado,
depois da morte física, em muitos casos continua com a impressão dos distúrbios
que sofria que quando animando um corpo. É a impressão que lhe causaram as
tormentas do seu passado e que o mantém ligado às coisas na Terra. Os nossos
pensamentos se prendem onde o coração se acha ligado pelos fios dos
sentimentos. A sensibilidade da alma registra o que ela pensa, vê e sente.
Quantas perturbações fantasmas nós conservamos! Umas, nós assimilamos no
ambiente em que vivemos; outras, nós ouvimos e outras mais, nós vemos.
Necessário se faz que procuremos em tudo o equilíbrio, pois existem leis que
regem a vida. Quando fugimos delas, caímos nas repartições que nós mesmos
criamos. As leis naturais são o próprio Criador presente em nós, a nos advertir
sobre como percorremos nossos caminhos. O Espírito alienado é um ser possesso
de pensamentos negativos que ele mesmo criou, e se faz vitima dos mesmos até
que aprenda a pensar melhor.
378.
Como a alteração do cérebro pode reagir
sobre o Espírito após a morte?
“É uma lembrança. Um
peso oprime o Espírito, e como ele não teve consciência de tudo o que se passou
durante a sua loucura, é necessário um
certo tempo para que se ponha ao corrente. É por isso que, quanto mais
tenha durado a loucura, durante a vida, mais longamente durará a tortura, o
constrangimento, após a morte. O Espírito desligado do corpo se ressente por
algum tempo da impressão dos seus ligamentos”.
O Espírito sofre
influência da matéria na recordação do tempo em que esteve reencarnado em
processo de loucura, e esse estado d’alma deixa na consciência a impressão de
toda a perturbação do cérebro em desequilíbrio. Na há perpetuidade de loucura,
nem de penas, como se diz em outras religiões. Todos os processos de provações,
quando a alma se encontra encarnada, se refletem em vários dos seus corpos
espirituais, sem o que o Espírito não se educa. Todas as lições que recebemos
do bem em forma aparente do mal se ambientam nos corpos sutis que usamos, com
um objetivo que muitas vezes escapa à nossa observação. Não há somente um
esquema de despertamento espiritual; para os Espíritos, são inúmeros os
processos de ascensão da alma. As provações que muitas vezes enfrentamos na
Terra nos deixam uma soma de condicionamentos muito grande, não somente a
argamassa fisiológica da estrutura do cérebro. O verdadeiro registro das leis
está na consciência, onde as letras são mais vivas e as recordações podem se
demorar, bem como, também, desaparecer, desde quando isso não tenha mais
importância para a nossa perfeição. Quando um peso oprime o Espírito e a
compreensão já o atingiu, ele procura meditar mais sobre essa mensagem até
descobrir o que a lei deseja dele. Se não alcança sua linguagem mística,
procura quem a entenda para o guiar na orientação mais conveniente.
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do
tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões de 374 a 375-a.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
374.
O idiota, no estado de Espírito, tem
consciência de seu estado mental?
“Sim, muito frequentemente.
Compreende que as cadeias que entravam seu desenvolvimento são uma prova e uma
expiação”.
Na condição de Espírito
livre, o idiota quase sempre tem consciência das provas que passa para a
educação dos seus sentimentos; entretanto, existem alguns que, mesmo
desencarnados, continuam sendo idiotas, dado seus laços com as paixões
inferiores serem muito fortes, precisando, por vezes, de outra reencarnação
nesse estado de idiotismo, até saldar seus débitos do passado.
375.
Qual é a situação do Espírito na loucura?
“O Espírito, quando em
liberdade, recebe diretamente suas impressões e exerce diretamente a sua ação
sobre a matéria; mas, encarnado, encontra-se em condições totalmente diferentes
e na contingência de não afazer senão com a ajuda de órgãos especiais. Que uma
parte ou conjunto desses órgãos sejam alterados, e a sua ação ou suas
impressões, no que respeita a esses órgãos, ficam interrompidos. Se ele perde
os olhos, fica cego; sem os ouvidos, fica surdo etc. Imagina agora se o órgão
que preside aos efeitos da inteligência e da vontade for parcial ou
inteiramente atacado ou modificado, e fácil te será compreender que o Espírito,
só tendo então a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, deve entrar numa
perturbação de que, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita
consciência, mas cujo curso já não pode deter”.
Essa resposta dos
Espíritos antecipa uma série de descobertas que surgiram muito tempo depois do
lançamento do livro em estudo. A loucura é uma distorção da força mental em uma
ou várias reencarnações. Ela não tem o poder de desequilibrar o Espírito, que é
todo harmonia, por ter saído da harmonia superior, mas, causa-lhe impressões,
como que condicionamento das ideias que o próprio Espírito formula. As ideias
são filhas de quem as faz, só que não têm o poder de desarmonizar as fibras
mais intimas da alma. São como sugestões que levam ao desequilíbrio alguns
corpos que servem ao Espírito como veste, e formam um clima de perturbação onde
vive a alma.
375–a.
É então sempre o corpo e não o Espírito o
desorganizado?
“Sim; mas é necessário
não perder de vista que, da mesma maneira que o Espírito age sobre a matéria,
esta reage sobre ele numa certa medida, e que o Espírito pode encontrar-se
momentaneamente impressionado pela alteração dos órgãos através dos quais se
manifesta e recebe as suas impressões. Pode acontecer que, com o tempo, quando
a loucura durou bastante, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o
Espírito uma influencia da qual ele não se livrará senão depois da sua completa
separação de toda impressão material”.
O Espírito ao receber
um corpo, se esse traz alguma deficiência, sofre o empecilho, de modo que suas
faculdades sejam reduzidas ou mesmo paralisadas. Ele não perde os seus dons,
que são imperturbáveis na sua moradia de origem. Se uma pessoa perde a vista, o
dom de enxergar fica suspenso enquanto os olhos não lhes deem esses meios
livres de observar o ambiente material; assim acontece com os ouvidos, a
palavra, etc.. A loucura é um estado patológico deficiente; o cérebro em
decadência não pode dar ao Espírito condições normais de expressar com
serenidade a sua inteligência. Em todas as manifestações dessas doenças o
desorganizado é sempre o corpo, mas, é bom que se compreenda que esse corpo tem
certa influência na mente viva da alma, impressionando-a a ponto de mostrar
enfermidades imaginárias.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do
tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões 373 e 373-a.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
373. Qual
o mérito da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não
podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir?
“É
uma expiação imposta ao abuso que tenham feito de. Certas faculdades; é um
tempo de suspensão”.
O mérito do cretino e
do idiota nesse estado de provações é o de ressarcir suas dívidas do passado.
Aparentemente eles estão paralisados no progresso, no entanto, eles estão
progredindo, ainda que lentamente, porque estão impulsionados pela força da
lei. O esforço próprio se encontra cerceado, para assimilar as lições, na
vigilância da justiça. Quando uma alma se encontra em reparo, como nesse caso,
na fermentação dos seus valores, não quer dizer que parou no tempo e no espaço;
nada para, tudo se move na dinâmica de Deus. É o processo de despertamento da
luz interior para alcançar valores maiores. Entendemos que vale como
ensinamento para o Espírito; vale como oportunidade de resgate para os pais,
porque, quanto menos capaz é o indivíduo de manifestar seu intelecto, maior é a
sua sensibilidade para afeto.
373-a.
Um corpo de idiota pode então encerrar um
Espírito que tivesse um homem de gênio, numa existência precedente?
“Sim, o gênio torna-se
às vezes uma desgraça, quando dele se abusa”.
A dor, nesse estado, é
uma expiação decorrente do abuso que o indivíduo fez das suas faculdades
espirituais; são as reações das ações maléficas de uma ou várias vidas
passadas. É a lei ajudando a correção. A dor é sempre um socorro, para que não
venhamos a piorar a situação, com maiores dificuldades em nossos passos. Cretinos
e idiotas não podem, voluntariamente, fazer o bem nem o mal, mas, estão em
estado de maturidade, certamente a passos cansados, no entanto, estão rompendo
as barreiras das dificuldades, para, no amanhã atingirem as luz da liberdade.
Imaginemos um indivíduo que tenha passado uma existência inteira com o
intelecto brilhante, porém, única e exclusivamente em manifestar seu egoísmo e
seu orgulho com relação àqueles que participaram de sua existência. O corpo de
um idiota prende um gênio da ciência para mostrar-lhe a necessidade de
moralizar-se. O estado de idiotismo ou cretinice prepara-lhe a consciência como
que “na estufa”, de sorte a fazer-lhe compreender a necessidade de amar a seus
semelhantes.
Comentário
de Kardec: A superioridade moral não
está sempre na razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem
ter muito a expiar; daí resulta frequentemente para eles uma existência
inferior às que já tenham vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o
Espírito prova em suas manifestações são para ele como as cadeias que
constrangem os movimentos de um homem vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e
os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos
olhos.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Continuando o estudo do
tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar as Questões 372 e 372-a.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
372. Qual
é o objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como os
cretinos e os idiotas?
“São os Espíritos em punição que
vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a
que estão sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se através
de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos”.
No caso, especificamente, eram
chamados de idiotas, todos os indivíduos que tinham algum grau de deficiência
intelectual, por alguma lesão no cérebro. Muitos corpos que servem ao Espírito
são danificados com a conduta do mesmo. No entanto, o Espírito em si é puro,
carregando em seu coração espiritual todas as qualidades com as quais Deus
achou conveniente dotá-lo. Para que se processe a limpeza, a pureza de todos os
corpos, necessário se faz que transformemos os nossos sentimentos. O objetivo
visado pelas leis de Deus ao colocarem um Espírito em um corpo de cretino ou de
um idiota, é a educação da alma, somente educação. Reparando as faltas do
passado, o Espírito se educa no tempo, compreendendo que não compensa fazer mal
a outrem.
372-a. Então não é exato dizer que os órgãos não
exercem influência sobre as faculdades?
“Jamais
dissemos que os órgãos não exercem influência. Eles a exercem, e muito
grande, sobre a manifestação das faculdades, mas não produzem as
faculdades. Esta a diferença. Um bom músico, com um mau instrumento, não
fará boa música, o que não o impede de ser um bom músico”.
Ou
seja, o Espírito pode ter uma capacidade intelectual muito grande e não ter
como se manifestar. Os órgãos têm certa influência sobre as faculdades do
Espírito, no entanto, os dons espirituais não decrescem com o impedimento da
matéria. Esses dons pertencem ao Espírito, e o Espírito não regride, sempre
avança; quando se encontra um Espírito num corpo com idiotia, não foi a matéria
que lhe entorpeceu as faculdades espirituais; é, por vezes, reflexo dos seus
erros no corpo espiritual. O comando é da alma, no bem ou no mal.
Comentário
de Kardec: É necessário distinguir
o estado normal do estado patológico. No estado normal, o moral supera o
obstáculo material. Mas há casos em que a matéria oferece uma tal resistência
que as manifestações são entravadas ou desnaturadas, como na idiotia e na
loucura. Esses são casos patológicos, e em tal estado a alma não goza de toda a
sua liberdade. A própria lei humana a isenta da responsabilidade dos seus atos.
O comentário de Kardec dispensa qualquer apreciação.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Idiotismo e loucura, vamos abordar a Questão 371. Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
371. A opinião de que os
cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza inferior tem fundamento?
“Não. Eles têm uma alma humana frequentemente
mais inteligente do que pensais, e que sofre com a insuficiência dos meios
de que dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar”.
É muito importante esclarecer que a
terminologia utilizada por Kardec nas perguntas formuladas é da época em que O
Livro dos Espíritos foi lavrado. Hoje, não se fala mais em idiotismo e loucura.
O indivíduo que era chamado de o idiota, na época de Kardec, a mais de 150 anos
atrás, hoje é chamado de indivíduo especial. O interessante é que nesse tópico,
os Espíritos antecipam conhecimentos que só foram desenvolvidos através dos
anos.
O fato de um Espírito encarnar com a
prova do idiotismo não quer dizer que será ele um Espírito ignorante. Podemos
dizer, aí sim, que ele não fez bom uso das suas faculdades em outras
reencarnações, e nesta, como cretino, ou seja, como um indivíduo que tem uma
incapacidade mental, repara suas faltas no corredor dos tempos.
Um idiota pode ser um Espírito de
grande evolução científica que, descuidando-se do seu saber, influenciou muita
gente nos caminhos do mal; esqueceu a moral da forma que nos ensina Jesus.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do
tópico Influência do organismo, vamos abordar as Questões 370 e 370-a.
Estamos utilizando a
tradução de José Herculano Pires.
370. Pode-se induzir, da influência dos órgãos uma relação entre o
desenvolvimento dos órgãos cerebrais e o das faculdades morais e intelectuais?
“Não confundais o efeito com a
causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Assim,
não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades que
impulsionam o desenvolvimento dos órgãos”.
É importante que não se confunda
efeito com causa. Os efeitos nos mostram que existe uma fonte de todas essas consequências.
Todas as faculdades da alma dimanam dela mesmo e, quando encarnada, ela se
serve dos órgãos para se mostrar ao mundo tal qual ela é, na soma de suas
qualidades espirituais. Os efeitos são anúncio de que existe uma causa.
Certamente que os órgãos materiais, como instrumentos do Espírito, estando
danificados, esse encontra dificuldades para expressar seus sentimentos, e dar
sua mensagem falada e por vezes escrita aos seus irmãos em caminho.
As faculdades, inclusive, superam as
dificuldades. Podemos citar o caso de Jean-Dominique Bauby que, devido a um
derrame, ficou totalmente paralisado e incapaz de falar. Com as pálpebras do
olho direito suturadas para evitar o ressecamento da córnea, ele contava apenas
com o olho esquerdo para se comunicar com o mundo e, simplesmente através do
piscar de suas pálpebras, ditou um livro de 139 páginas no qual, através de
ensaios curtos e tocantes sobre sua condição e suas memórias, descreveu o
retrato de um homem de inteligência viva e sensibilidade ímpar que se
encontrava tragicamente preso a um corpo inútil. Temos que pensar muito nisso.
A criatura está presa ao leito, mas o intelecto está funcionando.
370–a. De acordo com isso, a diversidade das aptidões entre os homens decorre
unicamente do estado do Espírito?
“Unicamente não é o termo exalo. As
qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado, constituem o
princípio, mas é necessário ter em conta a influência da matéria, que
entrava mais ou menos o exercício dessas faculdades”.
As faculdades do Espírito independem
dos órgãos; a alma precisa deles para realizar as comunicações na faixa
material, e essa comunicação pode ser cerceada pelas decadências dos órgãos em
questão. O Espírito encarnado, quando em duras provas, tem os seus órgãos
dificultando que ele expresse suas faculdades, que são interrompidas, no
sentido de que os sentimentos se eduquem para novas tarefas no porvir. Nunca,
porém, da matéria nasceram as faculdades inteligentes; a causa de todas elas se
encontra na alma, semente divina de Deus, que se reveste de variados corpos,
como se dá na própria natureza.
Comentário de Kardec: O Espírito,
ao se encarnar, traz certas predisposições, e se admitirmos para cada uma delas
um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos
será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem os seus princípios
nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre-arbítrio e sem a
responsabilidade dos seus atos. Teríamos de admitir que os maiores gênios,
sábios, poetas, artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos
especiais. De onde se segue que, sem esses órgãos, eles não seriam gênios, e
que o último dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael,
se houvesse sido provido de certos órgãos. Suposição que se torna ainda mais
absurda, quando aplicada às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema. São
Vicente de Paulo, dotado pela Natureza de tal órgão, poderia ter sido um
celerado, e não faltaria ao maior celerado mais do que um órgão para ser um São
Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem,
são consequentes e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os
músculos pelo movimento, e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação
trivial por bem se aplicar ao caso. Através de certos sinais fisionômicos
reconhecereis o homem dado à bebida; são esses sinais que o fazem bêbado ou é o
vicio da embriaguez que produz os sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a
marca das faculdades.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando início ao estudo
do tópico Influência do organismo, vamos abordar as Questões de 367 a 369.
367.
Ao unir-se ao corpo, o Espírito se
identifica com a matéria?
“A matéria é apenas o
envoltório do Espírito, como a roupa é o envoltório do corpo. Ao unir-se ao
corpo, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual”.
O corpo é apenas uma
roupagem que as pessoas utilizam durante uma determinada existência. Ele é
estruturado geneticamente, para as experiências que a criatura vai enfrentar
durante a vida física. Poderá ser uma ferramenta hábil ou poderá tornar-se um
entrave ao processo evolutivo.
368.
As faculdades do Espírito são exercidas
com total liberdade após a sua união com o corpo?
“O exercício das faculdades
depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as
enfraquecem”.
Mas existem casos em
que o Espírito encarnado se expressa pelo olhar.
368-a.
De acordo com isso, o envoltório material
seria um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um
vidro opaco se opõe à livre emissão da luz?
“Sim, e muito opaco”.
Ou seja, entendemos
que, mesmo aqueles que têm plena capacidade de expressão física e intelectual
terão ainda a limitação do corpo a obstar uma série de manifestações da atividade
espiritual.
Comentário
de Kardec:
Pode-se
também comparar a ação que a matéria grosseira do corpo exerce sobre o Espírito
à de um charco lodoso, que tira a liberdade dos movimentos do corpo nele
mergulhado.
369.
O livre-exercício das faculdades da alma
está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são os
instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação se acha
subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição desses mesmos órgãos,
como a excelência de um trabalho está subordinada à qualidade da ferramenta”.
Ou seja, a ferramenta
corporal que nos foi dada, foi dada de acordo com a necessidade da tarefa que
temos que exercer. Por isso, não podemos reclamar do fardo.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando início ao estudo
do tópico Faculdades morais e intelectuais, vamos abordar as Questões de 361 a 366.
361.
Qual a origem das qualidades morais, boas
ou más, do homem?
“São as do Espírito
nele encarnado. Quanto mais puro é o Espírito, mais o homem é propenso ao bem”.
A qualidade moral do
homem, não pode, pois, advir da matéria; ela provém do Espírito. É nesse
sentido que o homem consciente do seu mandato na Terra deve se esforçar para
crescer ante seus compromissos e mediante a sua consciência, onde se encontram
gravadas todas as leis morais que passam a governá-lo.
A matéria é instrumento
humano, nas mãos do ser encarnado, como o cavalo de montaria o é do cavaleiro.
As rédeas regulam seus passos e, no caso do Espírito, as rédeas são o
esclarecimento para refrear os instintos materiais, correspondentes à
ignorância da alma.
361-a.
Parece resultar daí que o homem de bem é
a encarnação de um Espírito bom, e o homem vicioso a de um Espírito mau?
“Sim, mas dizei antes
que o homem vicioso é a encarnação de um Espírito imperfeito, pois, do
contrário, poder-se-ia crer na existência de Espíritos sempre maus, a que
chamais demônios”.
Esta resposta nos
consagra com a misericórdia divina, através do processo reencarnatório, porque,
imperfeitos que somos hoje, somos perfectíveis e passíveis de conquistas de
valores morais. Se um Espírito ignorante reencarna, certamente que ele, ao
crescer, está predisposto às paixões inferiores do mundo; contudo, a bondade de
Deus é tão grande, que sempre deposita essa alma aos cuidados de alguém, que
passa a ensiná-lo a mudar seu modo de vida, por vezes com o exemplo. Importante:
somos imperfeitos mas não somos maus.
362.
Qual o caráter dos indivíduos em que
encarnam Espíritos travessos e levianos?
“São indivíduos
estouvados, maliciosos e, algumas vezes, maléficos”.
Os Espíritos levianos
nem sempre são maus Espíritos que se aproximam dos homens inspirando maldade, o
ódio e a vingança. Eles são mais brincalhões, iguais aos muitos que se pode ver
dentre os encarnados. Eles têm uma grande sutileza em usar o humorismo,
introduzindo nas brincadeiras assuntos de gozação sem, contudo, avaliar o tempo
que gastam em coisas fúteis, mormente quando se encontram muitos deles juntos.
Alguns são viciados contumazes.
É uma classe de
Espíritos muito grande e eles não toleram os Espíritos sérios.
363.
Os Espíritos têm paixões de que está
isenta a Humanidade?
“Não; do contrário eles
vo-las teriam comunicado”.
As paixões que têm os
Espíritos que moram na Terra e que viajam com ela na sua órbita, como sendo o
seu mundo espiritual, não são diferentes das dos homens; elas são as mesmas,
porque eles se sucedem pelos processos das reencarnações. Os Espíritos são os
mesmos homens, e os homens são os mesmos Espíritos, que se entregam às mutações
como força da lei do progresso espiritual. O Espírito, quando passa para a
carne pelos processos das vidas sucessivas, igualmente traz as suas paixões, se
as tem, de modo a educá-las ao passar por variados abrolhos dos caminhos.
364.
É o mesmo Espírito que dá ao homem as
qualidades morais e as da inteligência?
“Certamente, e isso em
virtude do grau de adiantamento a que tenha chagado. O homem não tem em si dois
Espíritos”.
A criatura encarnada
não tem dois Espíritos, como pensam alguns, por nela se manifestar muitas
qualidades. É somente um que, com o tempo, mostrar-nos-á muito mais do que
conhecemos, porque tudo o que conhecemos de beleza, de qualidades variadas, em
todos os povos, existe dentro de cada um, faltando somente que sejam
despertadas, mostrando a excelsitude de Deus.
365.
Por que é que alguns homens muito
inteligentes, o que indica que neles estão encarnados Espíritos Superiores, são
ao mesmo tempo profundamente viciosos?
“É que os Espíritos
encarnados ainda não são bastante puros nesses homens, e por isso cedem à influência
de outros Espíritos mais imperfeitos. O Espírito progride numa marcha
ascendente insensível, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos
os sentidos. Num período ele pode avançar em ciência; noutro em moralidade”.
O indivíduo que seja
muito inteligente e que ao mesmo tempo seja muito vicioso, não é um Espírito
superior. É um indivíduo que teve a oportunidade de expressar o seu intelecto e
as suas experiências pregressas de uma maneira mais evidente, numa determinada
encarnação. Mas isso não significa que tenha tido conquistas de ordem
ético-moral. Inteligência não é sinônimo de pureza espiritual; é um dos dons
para o alto. Ela serve, e muito, como instrumento da alma para progredir,
quando é usado para a felicidade de todos os seres. Podemos verificar grandes
inteligências servindo de instrumento de Deus para a paz do mundo, e outras
tantas usando-as para a guerra. A inteligência só entra na faixa da pureza
quando em completa harmonia com o amor, como nos mostra o exemplo de Jesus
Cristo.
366.
Que pensar as opinião segundo a qual as
diferentes faculdades intelectuais e morais do homem resultariam de outros
tantos Espíritos, nele encarnados, cada um com uma aptidão especial?
“Refletindo,
reconhece-se que é absurda. O Espírito deve ter todas as aptidões. Para
progredir, precisa de uma vontade única. Se o homem fosse uma mistura de
Espíritos, essa vontade não existiria e ele não teria individualidade, visto
que, por sua morte, todos aqueles Espíritos seriam como um bando de pássaros
fugidos da gaiola. Muitas vezes o homem se queixa de não compreender certas
coisas e, no entanto, é curioso ver-se como multiplica as dificuldades, quando
tem ao seu alcance uma explicação muito simples e natural. É ainda tomar o
efeito pela causa; é fazer com o homem o que os pagãos faziam com Deus.
Acreditavam em tantos deuses quantos eram os fenômenos do Universo, embora,
entre eles, as pessoas sensatas apenas vissem em tais fenômenos efeitos que
tinham por causa um Deus único”.
Os que acreditam que
cada faculdade do ser humano tem um Espírito que lhe corresponde estão
enganados, como estavam iludidos os que no passado acreditavam em vários
deuses, apontando em cada fenômeno da natureza um Deus que seria a fonte do
acontecimento. Essa tese hoje caiu no esquecimento, anotando os mais entendidos
que os deuses dos povos antigos eram Espíritos sob o comando do Pai Celestial.
A ciência divina nos
mostra que todas as aptidões que o homem pode mostrar, em se movendo no corpo material,
são qualidades da alma que se desenvolvem nas bênçãos do tempo, por vontade do
Deus. Compreende-se, portanto, que o homem somente tem um Espírito com variadas
manifestações dos seus dons, como sendo talentos espirituais.
Comentário
de Kardec:
O
mundo físico e o mundo moral nos oferecem, sobre este assunto, numerosos pontos
de comparação. Enquanto se detiveram na aparência dos fenômenos, os homens
acreditaram na existência múltipla da matéria; hoje, compreendem perfeitamente
que esses fenômenos tão variados podem ser apenas modificações da matéria
elementar única. As diversas faculdades são manifestações de uma mesma causa,
que é a alma, ou do Espírito encarnado, e não muitas almas, do mesmo modo que
os diferentes sons do órgão procedem do mesmo tipo de ar. E não de tantas
espécies de ar quantos forem os sons. Resultaria de semelhante sistema, que
quando um homem perde ou adquire certas aptidões, certos pensadores, isso se
deveria à ação de outros tantos Espíritos, que tivessem vindo ou que se foram,
que dele fariam um ser múltiplo, sem individualidade e, por conseguinte, sem
responsabilidade. Além do mais, essa ideia é contestada pelos numerosos
exemplos de manifestações, através das quais os Espíritos provam as suas
personalidades e identidades.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do
tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de 357 a 360.
357.
Quais são, para o Espírito, as
consequências do aborto?
“É uma existência nula
e que ele terá de recomeçar”.
Trata-se de um crime
contra a vida, que se expande na atualidade: o aborto. Embora a resposta dos
Espíritos diga isso, entendemos que o aborto não é uma existência nula porque, carrega
consigo uma lição valiosa. A natureza é Deus, e Deus não perderia tempo. Por
outro lado, esse fato busca educar o que se destinou a nascer e a sofrer a
provação de não nascer. Existe Espírito que por muitas vezes é impedido de
nascer; ora é a natureza cobrando, ora mãos assassinas que o impedem de ver a
luz do mundo pelos olhos da matéria, ou, então enfermidades que acometem o
pequeno fardo, fazendo lardear suas vibrações, desatando os laços da alma que
se prendiam ao corpo.
358.
O aborto provocado é um crime, seja qual
for a época da concepção?
Há crime toda vez que
transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá crime
sempre que tirar a vida de uma criança antes do nascimento, pois está impedindo
uma alma de suportar as provas de que servirá de instrumento o corpo que estava
se formando”.
Aqui, os Espíritos
estão falando de abortamento criminoso. Seja a mãe, ou outra qualquer pessoa,
que servir de instrumento para abortar uma criança, pratica um crime e, pior, essa
premeditação vem da maldade, da inconsciência das leis. Encontramos muitos que,
no fundo, reconhecem a verdade da reencarnação mas negam essa lei para entrarem
na desordem do crime do aborto, sabendo e fingindo não saber que responderão
pelo que fizerem na vida e da vida. O pior engano é pretender enganar Deus.
359.
No caso em que o nascimento da criança
pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar a criança para
salvar a mãe?
“É preferível
sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar o que já existe”.
Aqui, temos que
entender que os Espíritos estão falando do aborto terapêutico. Quando a criança
em gestação põe em perigo a vida da mãe, é preferível que se sacrifique a vida
do nascituro, mesmo que o coração dos pais entre em estado de depressão. A mãe
quase sempre tem mais filhos, que estão sob sua tutela e que precisam da sua
assistência com exemplos de crescimento e de confiança.
360.
Será racional que se dispense ao feto a
mesma atenção que se concede ao corpo de uma criança que tivesse vivido?
“Vede em tudo isso a
vontade de Deus e sua obra. Não trateis, pois, levianamente, coisas que deveis
respeitar. Por que não respeitar as obras da Criação, algumas vezes incompletas
por vontade do Criador? Isso faz parte de seus desígnios, que ninguém é chamado
a julgar”.
A palavra respeito fala
muito profundamente na alma daquele que deseja compreender os ensinamentos de Jesus
Cristo. Uma criança, ao nascer sem vida, mostra a vida obedecendo à lei divina,
à lei da justiça. Nada há de errado no turbilhão dos acontecimentos espirituais
e mesmo na Terra. Tudo obedece à vontade de Deus. Vejamos o que diz Paulo aos
Tessalonicenses, na sua primeira carta, capítulo cinco, versículo dezoito: Em
tudo daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
Entra, pois, aí, o respeito para todos os acontecimentos, tirando deles o que
move, a razão de ser do que ocorre na vida. Se uma criança nasceu morta, se lhe
escapuliu a vida antes de abrir os olhos ao mundo, existe um motivo; que seja
secreto, mas existe, vibrando para que os estudiosos o descubram e aumentem sua
admiração pelos desígnios do Criador.
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando sequência ao
estudo do tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de
351 a 356-b.
351.
No intervalo que vai da concepção ao
nascimento, o Espírito desfruta de todas as suas faculdades?
“Mais ou menos,
conforme a época, porque ainda não está encarnado, mas apenas ligado. A partir
do instante da concepção, o Espírito começa a ser tomado de perturbação, que o
adverte de que chegou o momento de começar nova existência; essa perturbação
vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos o
de um Espírito encarnado durante o sono do corpo. À medida que a hora do nascimento
se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, de que
não tem mais consciência, como homem, logo que entra na vida. Mas essa
lembrança lhe volta pouco a pouco à memória, no seu estado de Espírito”.
O Espírito, no
intervalo da concepção ao nascimento, ainda não está reencarnado, apenas ligado
por laços ainda frágeis. O toque de maior segurança é dado no momento do
nascimento. Nesse intervalo, o Espírito entra em um estado de sono, como se
verdadeiramente estivesse dormindo.
352.
No momento do nascimento o Espírito
recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades?
“Não; elas se
desenvolvem gradualmente com os órgãos. Para ele, é uma nova existência; é
preciso que aprenda a servir-se de seus instrumentos. As ideias lhe voltam
pouco a pouco, como a um homem que desperta e se encontra numa posição
diferente da que ocupava na véspera”.
O Espírito não recobra
suas faculdades imediatamente ao nascer. Ele ainda não se encontra em completo
domínio sobre seu corpo. O seu instrumento de carne não lhe fornece meios para
tal empreendimento. Compete, porém, ao Espírito esperar, pois com o crescimento
do corpo ele vai recobrando paulatinamente suas faculdades espirituais, mas
nunca se apossa dos seus dons, envolvido na carne, como se estivesse em
Espírito. O Espírito encarnado está em uma existência nova, com novas tarefas a
desempenhar para o seu próprio bem e da humanidade.
353.
Uma vez que a união do Espírito e do
corpo só se completa definitivamente depois do nascimento, pode-se considerar o
feto como dotado de alma?
“O Espírito que o vai
animar existe, de certo modo, fora dele. O feto não tem, a bem dizer, uma alma,
visto que a encarnação está apenas em via de operar-se. Acha-se, no entanto,
ligado a alma que virá a possuir”.
Segundo a resposta dos
Espíritos, não se pode dizer que o feto tem uma alma, propriamente falando, no
entanto, está destinado a possuí-la ou essa a este. Benfeitores espirituais nos
falam que a reencarnação somente se consuma depois dos sete, quatorze e vinte e
um anos. Os laços vão se apertando pouco a pouco, conforme o crescimento do
corpo. É notório e prudente, que tudo na vida respeite leis irradiadas por
Deus, sem violência. O encontro do espermatozoide com o óvulo é a transformação
de duas vidas em uma, para que se cumpra uma destinação em favor de um
Espírito, na busca de experiências necessárias ao seu comportamento espiritual.
354.
Como se explica a vida intra-uterina?
“É a da planta que
vegeta. A criança vive a vida animal. O homem possui em si a vida animal e a
vida vegetal que, pelo seu nascimento, se completam com a vida espiritual”.
O útero da mulher é uma
câmara sensível, na qualidade de ninho, onde tem todas as qualidades
necessárias para a geração da criança, fenômeno humano, mas que tem feição
divina. No encontro do óvulo com o espermatozoide, se dá o casamento interno de
duas forças, que são envolvidas por energias imponderáveis, na formação de uma
consciência instintiva, que passa a comandar como se fosse um computador
altamente condicionado, porém, no qual brilha, nas suas irradiações de luz, a
presença de Deus. O feto cresce pele comando das forcas internas, como sendo
uma árvore, mas que com o passar dos tempos ele alcança variadas feições, como
estágios nas lembranças dos seus ancestrais, por onde o Espírito percorreu na
sua marcha evolutiva, até sentir a razão nos esplendores da raça humana.
355.
Há, como revela a Ciência, crianças que
não são viáveis desde o ventre materno? Com que finalidade isso ocorre?
“Isso acontece
frequentemente. Deus o permite como prova, seja para os pais, seja para o
Espírito designado a encarnar”.
Esse fenômeno das
crianças não vitais pode ocorrer com frequência; de qualquer modo, existe um
Espírito que fornece elementos para a formação do corpo em gestação. Nada se
perde no universo de Deus; são experiências necessárias à evolução dos
Espíritos envolvidos. Tudo é aproveitado como lições, para que no futuro se
aproveite o melhor que se possa processar, para a beleza da própria vida.
356.
Haverá natimortos que não tenham sido
destinados à encarnação de Espíritos?
“Sim, há os que jamais
tiveram um Espírito destinado aos seus corpos. Nada vevia cumprir-se neles. É
somente pelos pais que essas crianças vêm ao mundo”.
Parece algo injusto,
mas não é. A criatura tem que passar por diversas experiências, para a
valorização da vida humana. Entre os natimortos alguns efetivamente não têm a
destinação de viver, por não haver, desde o princípio da sua gestação no seio
da mãe, determinado Espírito para a devida reencarnação. No entanto, como já
foi dito, existem Espíritos que aceitam, por renúncia, ajudar na formação do
corpo, o qual é nutrido mais pela mãe, e tomando a forma humana para muitas
lições que a vida posse dar.
356-a.
Um ser dessa natureza pode chegar até o
final da gestação?
“Sim, algumas vezes,
mas não vive”.
Os Espíritos devedores
desejam voltar, mas, como impediram muitos de renascer, são impedidos pela lei
de justiça, por causa da ação dos aparelhos e anticoncepcionais, sem falar do
aborto provocado, crimes dos crimes, por tirar a vida dos indefesos; porém, a
vida aproveita a morte para lições, onde o Espírito recolhe experiências e
resgata dividas pretéritas.
356-b.
Desse modo, toda criança que sobrevive ao
nascimento tem, necessariamente, um Espírito encarnado nela?
“Que seria da criança,
sem o Espírito? Não seria um ser humano”.
Há provações de toda a
natureza; há crianças que vivem minutos, mesmo tendo um Espírito destinado a
tomar, como tomou o seu corpo. É o saldo; ela deveria viver apenas aqueles
minutos para enriquecimento das suas experiências.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico União da alma e do corpo. Aborto, vamos abordar as Questões de 344 a 350.
344.
Em que momento a alma se une ao corpo?
“A união começa na concepção,
mas só se completa no momento do nascimento. Desde o instante da concepção, o
Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço
fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê
a luz. O grito, que então escapa de seus lábios, anuncia que ela se conta no
número dos vivos e dos servos de Deus”.
Esta primeira frase da
resposta dos Espíritos é bastante categórica para nós, espíritas. Isto é de uma
importância capital, porque, quando a mulher descobre que está grávida, o
embrião que está se formando, dentro dela, já tem um coração batendo e um
sistema nervoso central em processo de formação. Há muitos casos em que o
Espírito destinado a reencarnar começa a conviver com seus futuros pais bem antes
da concepção, no sentido de ir trocando simpatia para um futuro convívio; no
entanto, como já foi explicado, a ligação será feita nos primeiros momentos da
concepção.
345.
A união entre o Espírito e o corpo é
definitiva desde o momento da concepção? Durante esse primeiro período, o
Espírito poderia renunciar a habitar o corpo que lhe está destinado?
“A união é definitiva
no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado
para aquele corpo. Mas, como os laços que o prendem ao corpo ainda são muito
fracos, facilmente se rompem e podem ser rompidos pela vontade do Espírito, se
este recua diante da prova que escolheu. Nesse caso a criança não vinga".
A união, em princípio,
é definitiva, porém, está na vontade do Espírito reencarnante ficar ou deixar
de ficar com a vestimenta em formação. O Espírito que se ligou com os primeiros
laços na formação do seu futuro corpo, na fase inicial da gestação, ele tem a
memória ancestral, e pode perceber que a programação feita pode ser penosa para
ele. Então, ele desiste, e daí surgir o
aborto chamado espontâneo.
346.
Que acontece ao Espírito se o corpo que
ele escolheu morre antes de nascer?
“Escolhe outro”.
Se o corpo escolhido
não resiste à formação, o Espírito escolhe outro, dentro das diretrizes que lhe
compete seguir, para ganhar experiências correspondentes ao seu interesse de
evoluir.
346-a.
Qual pode ser a utilidade dessas mortes
prematuras?
“As imperfeições da
matéria são a causa mais frequente dessas mortes”.
Só para se ter uma
ideia, à época de Kardec, a mortalidade materna infantil era enorme. Porque
muitos dos conhecimentos que temos hoje não havia naquela época, No caso do
corpo não suportar a vibração do Espírito destinado a reencarnar, o corpo
apresentará certas deficiências, que a medicina oficial chama de defeitos
congênitos. A soma dos acontecimentos é lição que o Espírito recolhe como sendo
provas por onde passa.
347.
Qual a utilidade de o Espírito encarnar
num corpo que morre poucos dias depois de nascido?
“O ser não tem
consciência plena de sua existência. A importância da morte é quase nula.
Muitas vezes, como já dissemos, é uma prova para os pais”.
Quando uma criança
nasce morta, isso, certamente, é uma prova muito forte para os pais. Podemos
imaginar, um casal que tem uma vontade enorme de ter um filho, e a criança
nasce morta. É um sofrimento muito
grande para os pais. Mas, também é uma experiência de maternidade e paternidade
para eles.
348.
O Espírito sabe, com antecedência, que o
corpo que escolheu não tem probabilidade de viver?
“Às vezes sabe; mas, se
o escolheu por este motivo é porque recua diante da prova”.
Certos Espíritos tem
consciência de que a sua vida na carne vai ser interrompida, por vezes na hora
de nascer, mas, se escolheram o corpo por esse motivo, estão fugindo à
reencarnação, aumentando assim suas dificuldades para o futuro.
349.
Quando, por qualquer motivo, falha a
encarnação de um Espírito, ela é suprida imediatamente por outra existência?
“Nem sempre
imediatamente. O Espírito precisa de tempo para proceder à nova escolha, a
menos que a reencarnação imediata resulte de decisão anterior”.
Isto quer dizer que, se
existe uma programação em que esse Espírito tem que passar por essa
experiência, porque vai ajuda-lo, imediatamente escolhe outra.
350.
Uma vez unido ao corpo da criança, e
quando já não lhe é possível voltar atrás, o Espírito lamenta algumas vezes a
escolha que fez?
“Queres perguntar se,
como homem ele se queixa da vida que tem? Se desejaria outra? Sim. Se lamenta a
escolha que fez? Não, pois não sabe que a escolheu. Depois de encarnado, o
Espírito não pode arrepender-se de uma escolha de que não tem consciência.
Pode, no entanto, achar a carga pesada demais e quando a considera superior às
suas forças, recorre ao suicídio”.
O Espírito não pode
deplorar a escolha, pelo estado de inconsciência em que se encontra. Quantos
suicidas há, sem causas que se possa analisar, visto que essa causa está no
inconsciente, mas, ela se irradia para o consciente em forma de depressão, que
o leva ao momento drástico de tirar a própria vida.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Encerrando o estudo do
tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 338 a 343.
338.
Se acontecesse que muitos Espíritos se
apresentassem para tomar determinado corpo que deve nascer, o que decidiria
qual deles vai ocupar esse corpo?
“Muitos podem pedi-lo;
mas, em tal caso, é Deus quem julga qual o mais capaz de desempenhar a missão à
qual a criança está destinada. Porém, como eu já disse, o Espírito é designado
antes do instante em que deve unir-se ao corpo”.
É muito interessante esta
pergunta. E esse final da resposta do benfeitor esclarece tudo: "antes que
soe o instante de unir-se ao corpo". A alma, bem antes da formação do
corpo, já se encontra em companhia dos pais, e principalmente da sua futura
mãe, procurando a força da sintonia, e é no momento da concepção que os
primeiros laços são atados de certa forma que muitos ignoram. É a beleza da
vida da criação!
339.
O momento da encarnação é acompanhado de
perturbação semelhante à que o Espírito experimenta ao desencarnar?
“Muito maior e
sobretudo mais longa. Pela morte, o Espírito sai da escravidão; pelo
nascimento, entra para ela”.
O Espírito, ao
reencarnar, sofre realmente muito mais do que quando se desprende dos laços
físicos, porque ele perde a memória; perde a identidade que teve na última
encarnação. Ele está entrando num ambiente completamente desconhecido.
340.
É solene para o Espírito o momento da sua
encarnação? Realiza esse ato como uma coisa grave e importante para ele?
“É como um viajante que
embarca para uma travessia perigosa e que não sabe se encontrará ou não a morte
nas ondas que enfrenta”.
Entendemos que seja um
processo de uma complexidade maior até do que o processo da desencarnação. É um
momento eminentemente solene. Nos momentos decisivos em que se aproxima da
reencarnação, o Espírito é tomado de emoções diferentes das que sente em horas
de alegria. Soa para ele a entrada na vida física, aconchegando-se mais à
intimidade da sua futura mãe. Foram nove meses de gestação. Os laços se
confundem com o sistema emotivo da mãezinha em preparo para gerar um corpo na
oficina de Deus, no seu mundo íntimo.
Comentário
de Kardec:
Assim
como a morte do corpo é uma espécie de renascimento para o Espírito, a reencarnação
é uma espécie de morte, ou, antes, de exílio, de clausura. Ele deixa o mundo
dos Espíritos pelo mundo corporal, como o homem deixa o mundo corporal pelo
mundo dos Espíritos. O Espírito sabe que reencarnará, como o homem sabe que
morrerá, mas, como este, não tem consciência do fato senão no último momento,
quando é chegada a sua hora. Então, nesse momento supremo, qual o do homem em
agonia, a perturbação se apodera do Espírito, persistindo até que a nova
existência esteja nitidamente firmada. Os prelúdios da reencarnação são uma
espécie de agonia para o Espírito.
341.
A incerteza em que se acha quanto à
eventualidade do seu triunfo nas provas que vai suportar na vida, é para o
Espírito uma causa de ansiedade antes da sua encarnação?
“De uma ansiedade muito
grande, pois as provas da sua existência o retardarão ou o farão avençar,
conforme as tiver bem ou mal suportado”.
É importante lembrar
que, quando é falado aqui em retardar, este retardar não significa retrogradar.
Significa, apenas, atrasar um processo de aprendizado, se não aproveitarmos bem
a experiência reencarnatória. Entendemos, também, que a ansiedade do Espírito
no momento da reencarnação geralmente é enorme. Ele não tem certeza da sua
vitória nas lutas que se destinou a travar, contudo, se o Espírito tem fé em
Deus e conhece os ensinamentos de Jesus, a força da confiança lhe irá garantir
a esperança.
342.
No momento da reencarnação, o Espírito se
acha acompanhado por outros Espíritos, amigos seus, que vêm assistir à sua
partida do mundo espiritual, como o vêm receber quando para lá retorna?
“Depende da esfera a
que o Espírito pertença. Se está nas esferas em que reina a afeição, os
Espíritos que o amam acompanham-no até o último instante, encorajam-no e,
muitas vezes, até lhe seguem os passos durante a vida”.
O Espírito, na hora de
reencarnar, pode ter muitos que o acompanham para o ingresso na vida física;
depende do plano a que pertença na escala espiritual, como está dito na
resposta dos Espíritos. Mas, esse “depende da esfera”, não quer dizer que
aqueles que estejam em menor condição fiquem largados. Não ficam. A Providência
Divina não deixa.
343.
Os Espíritos amigos que nos acompanham na
vida são, por vezes, os que vemos em sonho, que nos testemunham afeto e que se
nos apresentam com feições desconhecidas?
“Muito frequentemente
são eles. Vêm visitar-vos, como ides visitar um encarcerado”.
Em estado de sonho o
Espírito encarnado pode se comunicar com os entes queridos que já se foram para
o Além e, ao acordar, tem vaga lembrança desse encontro. Em poucos casos guarda
lembranças vivas, sobre os assuntos ventilados. Os Espíritos-guias igualmente
se comunicam com os seus tutelados pelas portas do sonho, em variadas formas, e
as lições, mesmo ficando na inconsciência, servir-lhes-ão para a vida diária.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 334 a 337.
334.
A união da alma com este ou aquele corpo
é predestinada, ou só no último momento é feita a escolha do corpo que ela
tomará?
“O Espírito é sempre
designado previamente. Escolhendo a prova que deseja sofrer, ele pede para
reencarnar. Ora, Deus, que tudo sabe e tudo vê, já sabia com antecedência que
tal alma se uniria a tal corpo”.
Isto quer dizer que, muito
antes da concepção, do encontro do espermatozoide com o óvulo no ventre da
futura mãe, o Espírito já se encontra preparado para nascer de novo. Para tudo
há uma programação espiritual. Quando a alma pode escolher suas próprias
provações, os benfeitores espirituais ajudam em muitas particularidades, para
que o renascimento seja bem orientado. Entretanto, as reencarnações não são
iguais; todas elas diferem umas das outras, embora a lei seja uma só para todas
as criaturas de Deus.
335.
O Espírito pode escolher o corpo em que
deve encarnar, ou somente o gênero de vida que lhe servirá de prova?
“Pode também escolher o
corpo, pois as imperfeições desse corpo representam provas que o auxiliarão a
progredir, se vencer os obstáculos que encontrar. O Espírito pode pedir, mas a
escolha nem sempre depende dele”.
Cabe aos benfeitores
espirituais examinar o que o Espírito suporta saber, para que ele não venha a
recuar diante da escolha. A concepção do corpo físico foi feita para a plena
harmonia, trabalhar em perfeita saúde.
335-a.
Poderia o Espírito, no último momento,
recusar o corpo que havia escolhido?
“Se recusasse, sofreria
muito mais do que aquele que não tivesse tentado nenhuma prova”.
Muitos Espíritos, no
momento de reencarnar, podem resolver, e usando sua vontade, desligarem os
laços já consumados nas primeiras formações do corpo em crescimento. Uns o
conseguem, deixando a nova reencarnação para depois, sem raciocinar que o
depois virá com maiores dificuldades.
336.
Poderia acontecer não haver Espírito que
aceitasse encarnar numa criança que houvesse de nascer?
“Deus a isso proveria.
A criança, desde que deva nascer viável, está sempre predestinada a ter uma
alma. Nada é criado sem um propósito”.
A formação de uma
criança no campo uterino é um milagre da natureza, é prova da existência de
Deus. Um corpo no seio da mãe, não pode se formar por ele mesmo, sem antes
existir uma causa, que é a escolha do Espírito ou dos benfeitores. Tudo é o
Espírito que comanda, sob a direção de Deus.
337.
A união do Espírito a determinado corpo
pode ser imposta por Deus?
“Pode ser imposta do
mesmo modo que as diferentes provas, sobretudo quando o Espírito ainda não está
apto para escolher com conhecimento de causa. Por expiação, o Espírito pode ser
constrangido a se unir ao corpo de determinada que, pelo seu nascimento e pela
posição que venha a ocupar no mundo, poderá tornar-se para ele um instrumento
de castigo”.
O Espírito pode se unir
a um corpo por imposição, desde quando ele não tenha discernimento para a
escolha compatível com as suas necessidades. Deus é a suprema bondade, e quando
Seus filhos ainda se encontram crianças, Ele sabe guiá-los nas escolhas, quando
precisam voltar a Terra, se revestindo de novo corpo físico. É natural que o
Espírito ignorante seja guiado, qual o cego que nada enxerga nas suas andanças
e precisa de guia. Mesmo o Espírito com certa evolução espiritual, no momento
de tomar novas vestes físicas, sempre carece da opinião de algum benfeitor que
possa guiá-lo na sua escolha.
LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VII – Retorno à Vida Corporal.
Iniciando o estudo do
tópico Prelúdio do retorno, vamos abordar as Questões de 330 a 333.
330.
Os Espíritos sabem a época em que
reencarnarão?
“Eles a pressentem,
como o cego sente o fogo de que se aproxima. Sabem que têm de retomar um corpo,
como sabes que tendes de morrer um dia, mas ignoram quando isso acontecerá”.
Como o fenômeno chamado
de morte, a reencarnação é também inevitável. São mudanças necessárias, que
sempre buscam mais luz de entendimento e de paz para o coração. Uma grande
parte dos Espíritos que reencarnam pressentem o dia da volta, se ainda não o
sabem. Para tanto, temos um sentido que nos faz entender o que pode acontecer
conosco como o temos de que existe um Ser Superior que comanda todos.
330-a.
Então, a reencarnação é uma necessidade
da vida espiritual, como a morte é uma necessidade da vida corporal?
“Certamente; assim é”.
A reencarnação é uma necessidade
da alma, como força que a impulsiona para o alto e para Deus. Os processos da
reencarnação são engenhosos; no entanto, os benfeitores espirituais cuidam
dessa ciência com todo o amor que podem dar aos que vão ingressar nos fluidos
da carne. Nós já reencarnamos muitas vezes, e poderemos voltar muito mais,
herdando a Terra como promessa da Luz.
331.
Todos os Espíritos se preocupam com a sua
reencarnação?
“Há os que não pensam
nela de modo algum, que nem mesmo a compreendem. Depende de sua natureza mais
ou menos adiantada. Para alguns, a incerteza em que se acham em relação ao seu
futuro é uma punição”.
Nem todos os Espíritos
se preocupam com a reencarnação. Muitos deles não compreendem essa lei. Porém,
o dia deles chegará como aviso a reingressar na carne, em busca de novos
aprendizados, juntos aos homens, onde antes foram homens igualmente.
332.
O Espírito pode antecipar ou retardar o
momento da sua reencarnação?
“Pode antecipá-lo,
solicitando-o por um desejo ardente. Pode igualmente retardá-lo, recuando
diante da prova, pois entre os Espíritos também há covardes e indiferentes; mas
não o faz impunimente, visto que sofre com isso, como aquele que recusa o
remédio salutar que o pode curar”.
O Espírito tem
condições de ativar sua evolução ou retardá-la, no entanto, pelos seus
redobrados esforços, ele sempre pode, no transcorrer de sua jornada evolutiva,
recuperar o tempo perdido. A liberdade de pensar, de agir e mesmo de crescer é
um fato em todas as dimensões de vida.
333.
Se um Espírito se considerasse bastante
feliz numa condição mediana entre os Espíritos errantes, e não ambicionasse
elevar-se, poderia prolongar indefinidamente esse estado?
“Indefinidamente, não.
Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir. Todos têm que se
elevar; esse é o destino de todos”.
A vontade do Espírito
tem limites consideráveis. Sendo a evolução da alma uma lei, o Espírito não
pode deixar de ascender no campo do despertar, pela sua exclusiva vontade. Assim
também é o Espírito livre das conjunções humanas, que não deseja reencarnar por
receio de voltar a Terra. O seu temor o faz caminhar devagar, e nessa semi
paralisação, mesmo que gaste milênios, algum dia ouvirá a voz da justiça o
chamar à carne.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Encarrando o estudo do
tópico Comemoração dos mortos. Funerais, vamos abordar as Questões de 325 a 329.
325.
De onde vem, para certas pessoas, o
desejo de ser enterradas antes num lugar do que noutro? Voltam a ele com mais
satisfação após a morte? Essa importância dada a uma coisa material é sinal de
inferioridade do Espírito?
“Afeição do Espírito
por certos lugares; inferioridade moral. Que importa este ou aquele recanto de
terra a um Espírito elevado? Não sabe ele que sua alma se reunirá às dos que
lhe são caros, mesmo que seus ossos estejam separados?”
Muitos e muitos
Espíritos encarnados, quando percebem a aproximação da desencarnação, desejam
que seus corpos sejam enterrados em tal ou qual lugar, principalmente onde
nasceram. Sabemos que o retorno à vida espiritual é feito pelo Espírito e não
pelo corpo. Por isso, que diferença faz se uma determinada vestimenta carnal,
que é utilizada em uma encarnação, é sepultada em determinado local e não em
outro? Os Espíritos elevados são despojados de todo tipo de apego, que
constitui limitação moral da alma.
325-a.
A reunião dos despojos mortais de todos
os membros de uma família deve ser considerada como futilidade?
“Não; é um costume
piedoso e um testemunho de simpatia pelos entes queridos. Embora essa reunião
tenha pouca importância para os Espíritos, é útil aos homens; as recordações se
concentram melhor”.
Reunir todos os restos
mortais de uma família em determinado lugar, é inspiração do amor limitado dos
que lhes foram entes queridos. Convém notar que esse gesto não interfere na
evolução do Espírito imortal. São laços que estão ligados aos velhos costumes,
que é preciso sejam desatados por novas filosofias.
326.
A alma que volta à vida espiritual é
sensível às homenagens prestadas aos seus despojos mortais?
“Quando o Espírito já
chegou a certo grau de perfeição, não tem mais a vaidade terrena e compreende a
futilidade de todas essas coisas. Mas, ficai sabendo; há Espíritos que, nos
primeiros momentos que se seguem à sua morte material, experimentam grande
prazer com as honras que lhes são prestadas, ou se aborrecem com o abandono a
que relegaram os seus despojos mortais. É que ainda conservam alguns dos preconceitos
da vida terrena”.
Quase sempre ele se
desliga deste tipo de chamamento, embora possa sentir-se feliz com a sinceridade
de algumas homenagens, sejam elas ou não, de amigos ou de familiares.
327.
O Espírito assiste ao seu enterro?
“Frequentemente
assiste, mas, algumas vezes, se ainda está perturbado, não percebe o que se
passa”.
Ou seja, nem sempre o
Espírito recém-desencarnado assiste ao enterro do seu corpo. Em muitos casos, o
Espírito não percebe o que se passa no enterro do seu corpo, por estar
inconsciente.
327-a.
Fica lisonjeado com a afluência de
pessoas ao seu enterro?
“Mais ou menos,
conforme o sentimento que as anima”.
Existem Espíritos que
acompanham o sepultamento dos restos mortais com certa alegria, por ter aproveitado
muito bem sua vida no planeta e ter cumprido seus deveres.
328.
O Espírito daquele que acaba de morrer
assiste a reunião de seus herdeiros?
“Quase sempre, Deus o
quer, para sua própria instrução e castigo dos culpados. É nessa ocasião que o
Espírito julga o valor dos protestos que lhe faziam. Para ele, todos os
sentimentos estão patentes e a decepção que lhe causa a rapacidade com que os
herdeiros partilham seus bens o esclarece acerca daqueles sentimentos. Mas a
vez deles também chegará”.
As decepções do mundo
das formas servem para despertar o Espírito, que parte para o Além, para a
evolução em que se encontra o homem. O Espírito, por vezes, tem uma vida tranquila
quando no mundo, juntamente com os seus familiares. Ao passar para a vida
espiritual, e quando lhe é concedido, ele assiste às brigas dos familiares ante
os bens que deixou. Isso perturba sempre o sossego do Espírito que também não
construiu sua paz interior. Uma família que briga pela divisão dos bens
materiais de herança, é, pois, infeliz, pelo apego às coisas transitórias, o
que dá origem ao ódio e, por vezes, à própria morte.
329.
O respeito instintivo que, em todos os
tempos e entre todos os povos, o homem testemunha pelos mortos, é efeito da
intuição que tem da vida futura?
“É a consequência
natural dessa intuição. Sem isso, o respeito pelos mortos não teria objetivo”.
Os homens sempre
consagraram respeito aos mortos, tanto que levantam monumentos em sua honra e
formulam muitas atividades baseadas em suas lembranças. Todos têm a pré-ciência
de que a vida continua, e nessa certeza instintiva, fazem o que está ao
alcance, em favor dos chamados mortos. Pode-se notar isso no "Dia de
Finados", quando os pensamentos se voltam para os mortos fazendo orações
do modo que suas crenças determinam.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando início ao estudo
do tópico Comemoração dos mortos. Funerais, vamos abordar as Questões de 320 a
324.
320.
Os Espíritos são sensíveis à lembrança
que deles guardam os que lhes foram caros na Terra?
“Muito mais do que
podeis imaginar. Se são felizes, essa lembrança lhes aumenta a felicidade; se
são infelizes, serve-lhes de lenitivo”.
Vamos imaginar que uma
pessoa viaje para um país longínquo; do outro lado do mundo, e que não tenha
nenhum recurso de comunicação. Claro que essa criatura vai ficar recordando da
sua família. Da mesma maneira acontece com o Espírito desencarnado; ele
continua com os mesmos sentimentos, O amor em qualquer faixa é correspondido
pelo coração. Mesmo o Espírito altamente evoluído, que se encontra em planos
resplandecentes, quando recebe dos que ficaram na Terra um pensamento de amor,
sente algo no íntimo que o deixa emocionado, não uma emoção como se conhece na
matéria, mas, um estado d’alma que não temos condições de descrever.
321.
O dia da comemoração dos mortos tem algo
de mais solene para os Espíritos? Eles se preparam para visitar os que vão orar
sobre os seus despojos?
“Os Espíritos atendem
ao chamado do pensamento, tanto nesse dia como nos outros”.
À época em que Kardec
formulou esta pergunta, em 1857, o dia de finados era um dia de extrema
solenidade. Os Espíritos responderam que vale em qualquer tipo de
circunstância. O importante é que nos lembremos dos nossos entes queridos,
sempre com uma prece voltada para Deus, em benefício deles. Os pensamentos dos
familiares e amigos cortam o espaço em busca dos seus queridos, e eles os
atendem. As ondas mentais são como que chamados, são buscas da forma, conforme
se encontra registrado no próprio Evangelho de Jesus: Buscai e achareis, batei
e abrir-se-vos-á. Os Espíritos superiores os atendem sempre com o objetivo de
ajudá-los, transmitindo para seus familiares ideias de renovação, pensamentos
superiores de trabalho e de caridade.
321-a.
O dia de finados é, para eles, um dia
especial de reunião junto de suas sepulturas?
“Nesse dia, eles se
reúnem em maior número nos cemitérios, porque maior é o número de pessoas que
os chamam. Mas cada Espírito só comparece ali pelos seus amigos e não pela
multidão dos indiferentes”.
Os Espíritos acorrem ao
pensamento das pessoas. Lógico que, nesse dia de muita solenidade, de maior
movimento dentro das necrópoles, com pessoas orando junto aos túmulos de seus
entes queridos, logicamente, vai haver uma afluência muito maior de Espíritos. Os
Espíritos elevados não rendem culto aos restos mortais; quando os deixam,
agradecem a natureza e partem para outras etapas da vida, onde podem ser mais
úteis Somente os inferiores permanecem junto aos familiares, às vezes,
prejudicando estes. Para orar pelos que partiram, para executar esse gesto de
amor, podemos estar onde quer que seja, pois os fios dos pensamentos viajam sem
impedimento pelo espaço, indo em busca daqueles que merecem o seu amor. A
súplica não deve ser feita somente no Dia de Finados; façamo-la todos os dias,
que a prece com o coração em Jesus é alimento para todas as almas, tanto aquela
que ora, quanto a que recebe essas bênçãos de luz.
321-b.
Sob que forma aí comparecem e como os
veríamos se pudessem tornar-se visíveis?
“Aquela sob a qual eram
conhecidos em vida”.
Ou seja, se a criatura
desencarnou jovem, vai aparecer jovem; o gordo vai aparecer gordo; o idoso vai
aparecer idoso; se a cor do cabelo era em tom preto, vai aparecer preto. O
Espírito vai aparecer da melhor maneira para a sua identificação.
322.
Os Espíritos esquecidos, cujos túmulos
ninguém vai visitar, comparecem mesmo assim aos cemitérios e sentem algum pesar
por verem que nenhum amigo se lembra deles?
“Que lhes importa a
Terra? A ela só se prendem pelo coração. Se aí não há amor, nada mais há que
prenda o Espírito ao planeta; ele tem para sio Universo inteiro”.
Talvez os esquecidos
estejam em melhores condições que os bem-lembrados. Velas e mais velas são
acesas nos túmulos vazios que pouco significam para o Espírito. Não será o fogo
brando de uma vela que irá melhorar suas condições espirituais.
323.
A visita ao túmulo proporciona mais
satisfação ao Espírito do que uma prece feita em casa, em sua intenção?
“A visita ao túmulo é
uma maneira de manifestar que se pensa no Espírito ausente; é a imagem. Já
dissemos que a prece é que santifica o ato de lembrar; pouco importa o lugar,
se for ditada pelo coração”.
As visitas aos túmulos
são manifestações exteriores, herdadas do primitivismo religioso das raças e
culturas, para a veneração a ancestrais e entes queridos que, à medida que a
conscientização da imortalidade do Espírito e a reencarnação se consolidam,
pelo impositivo da razão, vão caindo em desuso. Pergunto! O que vale realmente
é o movimento do corpo ou o pensamento que se faz? Claro que é o pensamento.
Nós oramos concentrando o pensamento naquele Espírito que partiu.
324.
Os Espíritos das pessoas a quem se erigem
estátuas ou monumentos assistem às suas inaugurações e as veem com prazer?
“Muitos aí comparecem
quando podem; porém, são menos sensíveis à homenagem que lhes prestam do que a
lembrança dos homens”.
A participação ou o
prazer que possam sentir os homenageados está na condição evolutiva de cada um.
Tratando-se de um Espírito elevado, nem sempre comparece à homenagem que lhe é
prestada, salvo nos casos em que, comparecendo ou participando, possa ser útil,
inspirando ou intuindo os encarnados para tarefas ou práticas enobrecedoras,
que possam gerar benefícios a alguém em particular, ou a muitos, de forma
generalizada.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de
316 a 319.
316.
O Espírito se interessa ainda pelos
trabalhos que fazem na Terra, pelo progresso das artes e das ciências?
“Depende de sua
elevação ou da missão que possa ter de desempenhar. Muitas vezes, o que vos
parece magnífico é bem pouca coisa para certos Espíritos. Eles o admiram como
um sábio admira a obra de um estudante. Examinam apenas o que prove a elevação
dos Espíritos encarnados e seus progressos”.
Podemos raciocinar em
cima daquilo que estudamos anteriormente; Todo conhecimento demanda uma
sequência; e, esta sequência, não é interrompida, muito pelo contrário, os
estudiosos vão passando, pelo pensamento, conhecimentos que desenvolveram,
aquilo que descobriram no mundo espiritual, para ensinar àqueles que vão levar
adiante os trabalhos de pesquisas que foram interrompidos. Mas isso depende,
logicamente, do nível de elevação que o Espírito tenha. Os Espíritos superiores
se interessam, e muito, pelas ciências e artes que se processam na Terra, pois,
elas são forças do progresso e, mais do que isso, atuam como linha de força
evolutiva para os Espíritos. O interesse de certos Espíritos para esse ou
aquele ponto de vista, para essa ou aquela obra na Terra, não invalida a obra
que o progresso aciona na conjuntura da vida.
317.
Após a morte, os Espíritos conservam o
amor da pátria?
“O princípio é sempre o
mesmo; para os Espíritos elevados a pátria é o Universo; na Terra, a pátria
está onde se achem mais pessoas que lhes são simpáticas”.
Nota
de Kardec: As condições dos Espíritos e as maneiras por que veem as coisas
variam ao infinito, de conformidade com os graus de desenvolvimento moral e
intelectual em que se achem. Geralmente, os Espíritos de ordem elevada só por
breve tempo se aproximam da Terra. Tudo o que aí se faz é tão mesquinho em
comparação com as grandezas do infinito, tão pueris são, aos olhos deles, as
coisas a que os homens mais importância ligam, que quase nenhum atrativo lhes
oferece o nosso mundo, a menos que para aí os leve o propósito de concorrerem
para o progresso da Humanidade. Os Espíritos de ordem intermédia são os que
mais frequentemente baixam a este planeta, se bem considerem as coisas de um
ponto de vista mais alto do que quando encarnados. Os Espíritos vulgares, esses
são os que aí mais comprazem e constituem a massa da população invisível do
globo terráqueo. Conservam quase que as mesmas ideias, os mesmos gostos e as
mesmas inclinações que tinham quando revestidos do invólucro corpóreo. Metem-se
em nossas reuniões, negócios, divertimentos, nos quais tomam parte mais ou
menos ativa, segundo seus caracteres. Não podendo satisfazer às suas paixões, gozam
na companhia dos que a eles se entregam e os excitam a cultivá-las. Entre eles,
no entanto, muitos há, sérios, que veem e observam para se instruírem e
aperfeiçoarem.
Os Espíritos que
conservam o amor à pátria depois do túmulo, são aqueles que não conseguem
sentir o amor no coração de maneira universal. O conceito de pátria para o
Espírito puro é o universo, toda a criação de Deus. Sabe-se lá quantas pátrias
já lhe serviram de berço? O ignorante é que briga, mata, em defesa da sua
Terra. Quanto sangue é derramado neste sentido! Quantos sofrimentos ele não
causa nas famílias, por pais e filhos que morrem nas linhas de frente, por
causa de orgulho e egoísmo dos que não sabem onde estão sendo travadas as
batalhas!
318.
As ideias dos Espíritos se modificam no
estado errante?
“Muito; sofrem grandes
modificações, à medida que o Espírito se desmaterializa. Às vezes, ele pode
permanecer muito tempo com as mesmas ideias, mas, pouco a pouco, a influência
da matéria diminui e o Espírito vê as coisas mais claramente. É então que
procura os meios de se tornar melhor”.
As ideias dos Espíritos
na erraticidade, certamente que mudam e muito. Somos quase todos influenciados
pelo meio ambiente onde estagiamos. Isso, falando do Espírito que começou a
despertar para a realidade espiritual.
É fundamental que
observemos a escala espiritual à qual o Espírito pertence. O Espírito elevado,
que já começou a viver o Evangelho, e a se esforçar todos os dias para melhorar
espiritualmente, esse Espírito, ao passar para a vida espiritual ou o mundo dos
Espíritos, tem mais facilidade de esquecer os atrativos da Terra e as paixões
que nela vibram com maior intensidade. No entanto, os Espíritos dominados pelos
sentimentos inferiores, esses em quase nada mudam suas ideias ao chegarem ao
mundo dos Espíritos. Continuam a manifestai seus interesses pelo apego às
coisas da Terra e a alimentar as paixões que os levam às inferioridades.
319.
Já tendo o Espírito vivido a vida
espiritual antes da sua encarnação, como se explica o seu espanto ao retornar
ao mundo dos Espíritos?
“É apenas o efeito do
primeiro momento e da perturbação que se segue ao despertar do Espírito. Mais
tarde, reconhece perfeitamente a sua condição, à medida que lhe volta a
lembrança do passado e que a impressão da vida terrestre se apaga”.
Por vezes o Espírito se
espanta ao regressar ao mundo dos Espíritos. É uma reação natural, comum a
quase todos os Espíritos. Depois, com o passar do tempo, ele vai se lembrando
da sua verdadeira pátria, passando igualmente a sentir-se em casa. A
reencarnação, tanto quanto a desencarnação, é mudança mais ou menos violenta, e
esse transe tem o poder de mudar as ideias dos Espíritos acerca das coisas
espirituais. Observemos que é nas mudanças agressivas que a humanidade se
ajusta, compreendendo o valor do trabalho e a necessidade de melhorar.
Os antigos mercadores
viajavam por vários países, carregando consigo uma grande bagagem de
conhecimento sobre suas variadas jornadas e servindo de intermediário na
divulgação de muitas notícias interessantes. Assim também, as reencarnações dos
Espíritos oferecem a eles muitas experiências, que passam a fornecer-lhes os
recursos para sua própria libertação espiritual.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de
308 a 315.
308.
O Espírito se recorda de todas as
existências que precederam a que acaba de deixar?
Odo o seu passado se
desenrola diante dele, como as etapas de um caminho que um viajante percorreu.
Mas, como já dissemos, não se recorda de maneira absoluta de todos os atos.
Lembra-se deles em razão da influência que tiveram sobre o seu estado atual.
Quanto às primeiras existências, as que se podem considerar como a infância do
Espírito, essas se perdem no vago e desaparecem na noite do esquecimento”.
Ao deixar a veste de
carne, o Espírito se recorda de alguns fatos do passado ou, por vezes, de
outras reencarnações, porém, não são todos os Espíritos que podem recordar:
isso acontece somente quando tem utilidade para o seu esclarecimento
espiritual.
309.
Como o Espírito considera o corpo que
acabou de deixar?
“Como veste
imprestável, que o incomodava e da qual se sente feliz por estar livre dela”.
O Espírito sendo
evoluído, diante do corpo que deixa no ato da desencarnação, curva-se a ele com
profunda gratidão pelo aparelho que lhe serviu para o desempenho da sua
programação na Terra. Nunca fica pensando nele com saudade, por saber que ele
já não lhe pertence, devolvendo à natureza o que lhe foi emprestado por
misericórdia divina e que, terminando a sua tarefa, é veste imprestável.
309-a.
Que sensação lhe causa a visão do seu
corpo em decomposição?
“Quase sempre a de
indiferença, como a uma coisa a que não dá mais importância”.
O Espírito elevado
considera a roupa física que deixou como uma dádiva de Deus, para o seu
despertar espiritual, e nunca sente repugnância pelo estado da roupagem que
acaba de devolver ao celeiro maior, que é a natureza, pois ela se encontra em
plena transformação dos elementos de vida, pela vontade do Criador. Depois que
se liberta do corpo, o Espírito passa a não se interessar mais por ele.
310.
Depois de certo tempo, o Espírito
reconhecerá os ossos ou outros objetos que lhe tenham pertencido?
“Algumas vezes,
dependendo do ponto de vista mais ou menos elevado sob o qual considere as
coisas terrenas”.
O Espírito, depois de
desencarnado, que tenha certa elevação espiritual, pode reconhecer os seus
restos mortais, quando acha que é de utilidade fazê-lo, como também seus
pertences, quando no mundo físico. Mas, nem sempre ele faz esse reconhecimento.
311.
O respeito que se tem pelos objetos
materiais que pertenceram ao Espírito lhe dá prazer e atrai a sua atenção para
esses objetos?
“É sempre grato ao
Espírito que se lembrem dele, e os objetos que lhe pertenceram trazem-no à
memória dos que ele deixou no mundo. Contudo, é o pensamento dessas pessoas que
o atrai para vós e não aqueles objetos”.
A atenção para os
pertences dos Espíritos que já passaram para o mundo espiritual, não é atraída
pelas coisas materiais, mas, sim, pelos pensamentos daqueles que ficaram. Isso
acontece quando falamos de Espíritos elevados. Com relação ao Espírito apegado
às coisas materiais, onde estiver o seu tesouro aí permanece o seu coração. Quando
seus familiares encontram alguma coisa que lhes pertenceu, a concentração é
mais poderosa a respeito do que já partiu. É, pois, uma forte transmissão
telepática e o Espírito em condições elevadas, por vezes atende ao chamado
mental, se isso serve para lições aos encarnados.
312.
Os Espíritos conservam a lembrança dos
sofrimentos por que passaram na última existência corporal?
“Frequentemente eles a
conservam e essa lembrança lhes faz compreender melhor o valor da felicidade de
que podem desfrutar como Espíritos”.
Depois do desenlace, o
Espírito conserva lembranças do estado corporal em que se encontrava, por
ficarem vivos na sua consciência os fatos derradeiros da encarnação na Terra.
313.
O homem que foi feliz neste mundo lastima
a felicidade que perdeu ao deixar a Terra?
“Só os Espíritos
inferiores podem lamentar as alegrias condizentes com a sua natureza impura, e
que lhes acarretam a expiação pelo sofrimento. Para os Espíritos elevados, a felicidade
eterna é mil vezes preferível aos prazeres efêmeros da Terra”.
Tal
como o homem adulto que menospreza aquilo que constituía as delícias de sua
infância.
A felicidade completa
na Terra não existe. Quando alguma alma se encontra feliz com as inferioridades
do plano físico, é prova de que está apegado às paixões humanas, que são
transitórias e, além disso, elas nos trazem reações que nos fazem sofrer, por
serem inferiores. Essa alegria é, pois, mesclada de aborrecimentos.
A verdadeira
felicidade, aquela agradável ao coração no reino da eternidade, se encontra em
primeiro lugar na consciência imperturbável, como nos planos superiores do
Espírito imortal. O desprendimento dos gozos terrenos ser-nos-á difícil.
Somente a maturidade pode nos oferecer esse estado d’alma. Maturidade é
sinônimo de tempo, de esforço próprio no clima do amor puro no coração, de modo
que a caridade nos abra caminhos para grandes entendimentos espirituais.
314.
Aquele que começou grandes trabalhos com
um objetivo útil e que os vê interrompidos pela morte, lamenta, no outro mundo,
tê-los deixado por acabar?
“Não, porque vê que
outros estão designados para concluí-los. Trata, ao contrário, de influenciar
outros Espíritos humanos, a fim de que os terminem. Seu objetivo, na Terra, era
o bem da Humanidade; no mundo dos Espíritos, esse objetivo continua sendo o
mesmo”.
Os trabalhos de alguma
alma caridosa, interrompidos na Terra pelo processo da desencarnação, não são
nem podem ser sinônimos de paralisação. Já no mundo espiritual, o Espírito que
viu o seu trabalho interrompido pela morte, trata de inspirar seus companheiros
que ficaram para a continuação do mesmo e, por vezes, a fazê-lo em ritmo mais
acelerado do que quando ele estava à frente do ideal, em favor da coletividade.
315.
Aquele que deixou trabalhos de arte ou de
literatura, conserva pelas suas obras o amor que lhe tinha quando vivo?
“De acordo com a sua
elevação, ele os julga de outro ponto de vista e, frequentemente, condena o que
mais admirava”.
O Espírito elevado tem
plena admiração pelas obras que deixou. Não tem egoísmo nem adoração somente
por sua obra; os seus olhos veem o belo, que faz parte da harmonia universal.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do
tópico Lembrança da existência corporal, vamos abordar as Questões de 304 a 307.
304.
O Espírito se recorda da sua existência
corporal?
“Sim, isto é, tendo
vivido várias vezes como homem, ele se lembra do que foi e eu te afirmo que,
algumas vezes, ri de piedade de si mesmo”.
O Espírito, depois que
deixa o corpo físico e passa a viver no mundo espiritual, passado o período de
perturbação que todos têm num menor ou maior prazo, certamente que se lembra de
algumas de suas reencarnações, quando isso for motivo de ensinamentos para ele.
As recordações se processam por necessidade, nunca por brincadeira, nem por
simples curiosidade. Tudo que acontece é por determinação divina, e ao lembrar,
podem achar graça, como também deplorar determinada atitude. No entanto, há
inúmeros Espíritos que desconhecem até a si mesmos; esses se encontram em plena
ignorância.
305.
A lembrança da existência corporal se
apresenta ao Espírito de maneira completa e inesperada após a morte?
“Não; ele lhe vem pouco
a pouco, como algo que sai gradualmente do nevoeiro, à medida que nela fixa a
sua atenção”.
Sobre as lembranças da
alma depois do túmulo, das suas recordações do passado. O Espírito não vai
lembrar de nada de imediato. Não podemos generalizar os fatos, dizendo que
todos os Espíritos recordam de suas vidas passadas, tão logo deixem o corpo. A
sucessão de lembranças é gradativa, de acordo com as necessidades de cada um, e
de acordo com o nível de lucidez que o Espírito tenha adquirido. Quanto mais
espiritualizado o Espírito for mais rapidamente esse processo de perturbação
vai se dissipar.
306.
O Espírito se lembra, com detalhes, de
todos os acontecimentos de sua vida? Abrange o conjunto deles de um golpe de
viste retrospectivo?
“Lembra-se das coisas
em razão das consequências que resultaram para a sua condição de Espírito. Mas
deves compreender que há circunstâncias de sua vida às quais não ligará importância
alguma e de que nem mesmo procura lembrar-se”.
O Espírito; quando tem
condições espirituais, pode recordar suas vidas passadas, mas, nem sempre se
interessa por isso.
306-a.
Poderia lembrar-se delas, se o quisesse?
“Pode lembrar-se dos
mais minuciosos detalhes e incidentes, seja dos acontecimentos, seja mesmo de
seus pensamentos. Mas, quando isso não tem utilidade, ele não o faz”.
Ou seja, é de grande
interesse do Espírito os pormenores das suas vidas passadas, se isso lhe fizer
bem, no futuro ou no presente. Há, por assim dizer, um comando geral em todas
as suas pesquisas e mesmo nas suas vontades.
306-b.
O Espírito entrevê o objetivo da vida
terrestre com relação à vida futura?
“Certamente que o vê e
compreende muito melhor do que quando estava encarnado. Compreende a
necessidade da sua purificação para chegar ao infinito e sabe que em cada
existência deixa algumas impurezas”.
A memorização da
consciência é perfeita; tudo ela guarda no seu arquivo interno, de maneira que
escapa às análises dos próprios sábios.
307.
Como a vida passada se reflete na memória
do Espírito? Será por esforço da própria imaginação, ou como um quadro que ele tenha diante dos
olhos?
“De uma e outra forma.
É como se estivessem presentes todos os atos de que tenha interesse em
lembrar-se. Os outros permanecem mais ou menos vagos na sua mente, ou
completamente esquecidos. Quanto mais desmaterializado estiver, tanto menos
importância dará às coisas materiais. Muitas vezes evocas um Espírito errante
que acaba de deixar a Terra e que não se lembra dos nomes das pessoas que lhe
eram caras, nem de detalhes que te parecem importantes; é que tudo isso pouco
lhe interessa e logo cai no esquecimento. Aquilo de que ele se lembra muito bem
são os fatos principais que o ajudam a melhorar-se”.
Alguns pensam que,
desde quando o Espírito se encontra desencarnado, ele se lembra de tudo, de
todas as vidas passadas. É um engano; o processo de lembranças é de acordo com
as necessidades dele. Quando o Espírito precisa lembrar-se de alguma coisa para
o seu benefício, o instrumento para tal é a vontade. O Espírito evoluído, que
já se libertou das paixões humanas, que encontra no amor seu próprio alimento
de vida, pode ir ao passado quando desejar, extraindo dele experiências que lhe
servem para maiores esclarecimentos.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Encerrando o estudo do
tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas,
vamos abordar as Questões de 300 a 303-a.
300.
Uma vez reunidos, dois Espíritos
perfeitamente simpáticos permanecerão assim por toda a eternidade, ou poderão
separar-se e unir-se a outros Espíritos?
“Todos os Espíritos
estão unidos entre si. Falo dos que atingiram a perfeição. Nas esferas
inferiores, desde que um Espírito se eleva, já não tem a mesma simpatia pelos
que deixou”.
Vamos observar que é
uma questão basicamente de sintonia. O fato de dois Espíritos simpáticos
estarem unidos, pelos sentimentos, não significa que estarão unidos para
sempre. Se um avança na escala da evolução mais do que o outro, sua simpatia
por aquele diminui; encontrando outros Espíritos que lhe são simpáticos, no
plano em que passa a viver. Não é que ele deixa de amar ao que ficou na escala
abaixo; ele aumenta sempre o seu amor, mas, a sintonia de trabalho e de
pensamentos se eleva, ganhando planos mais perfeitos, qual o seu. A vida é,
pois, uma variação constante em todas as escalas do plano espiritual. O
Espírito que se eleva está sintonizado numa faixa de frequência, vamos dizer
assim, que os outros ainda não atingiram.
301.
Dois Espíritos simpáticos são complemento
um do outro ou essa simpatia resulta de perfeita identidade?
“A simpatia que atrai
um Espírito para outro resulta da perfeita concordância de seus pendores e
instintos. Se um tivesse que completar o outro, perderia a sua individualidade”.
Duas almas simpatizam
uma com a outra devido os pendores, suas afinidades de sentimentos, seus ideais
idênticos. Nunca dois Espíritos simpáticos o são por um completar o outro. Se
assim fosse, desapareceria a individualidade dos seres e a liberdade que tanto
almejamos deixaria de existir. Convém lembrar que todas as conquistas são
sempre individuais. Os Espíritos podem, até, se auxiliarem mutuamente a
caminharem no sentido da evolução. Mas a conquista de cada um somente depende
do uso de seu livre-arbítrio.
302.
A identidade necessária para a simpatia
perfeita consiste apenas na similitude dos pensamentos e sentimentos, ou também
na uniformidade dos conhecimentos adquiridos?
“Na igualdade dos graus
de elevação”.
Aqui, quando é falado
de grau de elevação, entendemos que se trate de elevação ético-moral, ou seja,
de valores espirituais conquistados pelo esforço individual de cada um. A
concordância perfeita entre duas almas se mede pela uniformidade de seus graus
de elevação. A superioridade espiritual é, pois, a soma de tudo o que se
desperta nos sentimentos. Para ilustrarmos o assunto, podemos dar como exemplo:
Nós podemos ter uma pessoa dentro de nossa casa e que não tenha nem 10% de conhecimentos acadêmicos que tenhamos
amealhado durante a existência atual, e essa pessoa ser muito superior a nós,
intelectual e moralmente. Essa pessoa foi colocada numa condição de menor
conhecimento, para poder exercitar a humildade. Temos que entender que essa
igualdade no grau de elevação não é uma questão cultural, é uma questão de
valores espirituais.
303.
Podem tornar-se simpáticos no futuro, Espíritos que hoje não o são?
“Sim, todos o serão. Um
Espírito que hoje está numa esfera inferior, ao aperfeiçoar-se alcançará a
esfera onde reside o outro. O encontro entre os dois se dará mais depressa se o
Espírito mais elevado, por suportar mal as provas a que esteja submetido,
permanecer no mesmo estado”.
Certamente que
Espíritos que não foram simpáticos no passado podem sê-lo no futuro, dependendo
da analogia de sentimentos no complexo da vida. As mudanças nas condições de
simpatia nas esferas espirituais são sem limites. A liberdade da alma se
encontra, em grande parte, em suas mãos. Aquele que parte para o despertamento
e prossegue sem destemor, lutando e servindo corajosamente, tem no seu esforço
as sementes que ele mesmo deve colher nos seus próprios caminhos. A simpatia é
fusão de ideais, harmonia que vibra entre duas almas, criando, de certa
maneira, um clima onde as duas respiram com alegria.
303-a.
Dois Espíritos simpáticos poderão deixar
de sê-lo?
“Certamente, se um
deles for preguiçoso”.
As mudanças nas
condições de simpatia nas esferas espirituais são sem limites. Os Espíritos
simpáticos podem deixar de sê-lo, com limites ou sem limites, dependendo da
esfera íntima de cada ser.
Comentário
de Kardec:
A
teoria das metades eternas é uma imagem, representativa da união de dois
Espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar e que
não deve ser tomada ao pé da letra. Os Espíritos que dela se utilizam
certamente não pertencem às ordens mais elevadas. Sendo necessariamente
limitada a esfera de suas ideias, eles exprimiram seus pensamentos por meio de
termos de que se teriam servido durante a vida corporal. É preciso, pois,
repelis a ideia de que dois Espíritos, criados um para o outro, tenham
fatalmente que se reunir um dia na eternidade, depois de terem estado separados
por um lapso de tempo mais ou menos longo.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Continuando o estudo do
tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas,
vamos abordar as Questões de 296 a 299.
296.
As afeições individuais dos Espíritos são
passíveis de alteração?
“Não, porque eles não
podem enganar-se. Não dispõem mais da máscara sob a qual se escondem os
hipócritas. É por isso que suas afeições não se alteram, quando eles são puros.
Para eles, o amor que os une é fonte de suprema felicidade”.
As afeições dos
Espíritos puros são inalteráveis em todos os sentidos. Eles comungam com a
harmonia universal, porque nunca distorcem a verdade, acompanhando os passos de
Jesus Cristo nas suas caminhadas. Os Espíritos puros não se enganam; a sua luz
reflete em todos os seus passos e em todos os seus gestos de paz. Somente os
hipócritas carregam as máscaras, que são vistas pelos que têm olhos para ver. A
mentira se dissolve sempre que chega a verdade.
297.
A afeição mútua que dois seres se
consagraram na Terra continua a existir sempre no mundo dos Espíritos?
“Sim, sem dúvida, se
baseada na verdadeira simpatia. Entretanto, se as causas de ordem física
tiveram maior participação do que a simpatia, a afeição cessa com as causas. As
afeições entre os Espíritos são mais sólidas e duráveis que na Terra, porque
não se acham subordinadas ao capricho dos interesses materiais e do amor
próprio”.
A afeição que temos a
outrem na Terra continua no mundo dos Espíritos, quando fundamentada realmente
no amor universal. Quando ela é física, desaparece com a perda do corpo, não
obstante, pode, por vezes, demorar-se mais um pouco no Espírito, enquanto a
animalidade durar, porque as paixões inferiores ainda existem no plano
extrafísico, quase como na Terra, animando um corpo material. Entretanto, nunca
têm durabilidade como o amor fraternal, que permanece eternamente brilhando no
coração das criaturas de Deus. O "amor" na Terra, principalmente
entre as almas mais materializadas, é revestido de egoísmo, de amor próprio,
para satisfação pessoal. Ele se encontra preso à bestialidade, nos distúrbios
emocionais inferiores, sendo que utiliza um canal, o sexo, pelas vias do qual
se processa a reencarnação, lei universal em todos os mundos habitados.
298.
As almas que devem unir-se estão
predestinadas a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma
parte do Universo, a sua metade, a que fatalmente se unirá um dia?
“Não; não existe união
particular e fatal entre duas almas. Existe união entre todos os Espíritos, mas
em graus diferentes, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a
perfeição que tenham adquirido; quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da
discórdia nascem todos os males dos seres humanos; da concórdia resulta a
completa felicidade”.
Quando os Espíritos
falam em almas gêmeas, não é generalizando o termo, mas no sentido de que
existem almas gêmeas nos planos onde ainda não existe a verdadeira perfeição do
Espírito. Deus não fez uma alma somente para outra, de modo que somente as duas
possam sentir o verdadeiro amor entre si. Isso não existe entre os Espíritos
puros. No entanto, antes de chegar à pureza espiritual, é claro que temos
necessidade de estarmos unidos por sentimentos mais profundos a determinada
alma, que nos ajuda e nos sustenta na própria vida. No seio da pureza angélica,
repetimos, não existe; ali o amor é perfeitamente universal.
299.
Em que sentido se deve entender a palavra
metade, de que alguns Espíritos se servem para designar os Espíritos
simpáticos?
“A expressão não é
exata. Se um Espírito fosse a metade de outro, separado deste estaria
incompleto”.
Essa questão sobre
uma suposta "metade", foi muito bem respondida pelo Espírito; ela é
oriunda da mesma fonte da "alma gêmea". Quando se chama de metade ao
Espírito que acompanha outro com profunda afinidade, e se referindo à fusão de
sentimentos análogos, e se aceitamos que os dois formam um, pelos laços do
coração, entendemos que, apartando-se um, ambos ficam incompletos. Assim, essa
expressão é somente filosófica, ficando no abstrato porque, na verdade, o
Espírito é individual e indivisível, e o amor, como já foi dito, deve ser
universalizado, força essa que nos une a todos e todos em Deus. É a mesma coisa
que se pode entender nessa linguagem tão comum entre os casais, "minha
mulher", "meu marido". Não se pode julgá-la na profundidade do
termo; é apenas figura de expressão.
É a mesma coisa que se pode entender nessa linguagem tão comum entre os casais, "minha mulher", "meu marido". Não se pode julgá-la na profundidade do termo; é apenas figura de expressão. Ninguém tem posse de ninguém porque, se hoje estão juntos, amanhã estarão separados pela lei divina e universal da reencarnação. Não vamos entender "cara metade" como uma realidade, como se fosse de fato uma metade do outro. Assim, o homem seria uma obra incompleta, e Deus, sendo Deus, faz tudo com perfeição.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do
tópico Relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos. Metades eternas,
vamos abordar as Questões de 291 a 295.
291.
Além da simpatia geral resultante da
semelhança, os Espíritos se consagram recíprocas afeições particulares?
“Sim, como entre os
homens. Quando, porém, o corpo está ausente, o laço que une os Espíritos é mais
forte, porque então esse laço já não se acha exposto às vicissitudes das
paixões”.
Existem duas forças
atuando entre os Espíritos: uma que reúne os grupos por sintonia de aptidões, e
outra mais forte que são os laços entre duas almas, por coerência de
sentimentos uma com a outra, ou seja, nós temos amigos de vários perfis aqui na
Terra. Agora, temos aqueles amigos que são mais chegados a nós, a quem
dedicamos um afeto todo especial. São aquelas pessoas que fazem parte da nossa
vida com profundidade, podemos dizer assim.
292.
Os Espíritos guardam ódio entre si?
“Só entre os Espíritos
impuros há ódio. São eles que insuflam entre vós as inimizades e as dissensões”.
Existe ódio entre os
Espíritos, sim, mas, somente dentre os inferiores, que ainda alimentam as
paixões que correspondem ao egoísmo. O ódio, a inveja, o apego são forças
negativas que pretendem empanar a verdade, mas, sendo ilusão, não conseguem.
Disse o Evangelho que somente a verdade ficará de pé. Os Espíritos Superiores
se esqueceram completamente do estado d'alma contrário à caridade. Não
alimentam o ciúme, por não terem apego a ninguém e a nada. Não conservam o
egoísmo, por serem desprendidos das coisas transitórias. Não têm orgulho, por
terem entrado no esquema da humildade. Não mentem, por saberem que a verdade é
luz de Deus que liberta as criaturas.
293.
Dois seres que foram inimigos na Terra
guardam ressentimento um do outro no mundo dos Espíritos?
“Não; compreenderão que
seu ódio era estúpido e que o motivo era pueril. Apenas os Espíritos
imperfeitos conservam uma espécie de animosidade, enquanto não se tenham
purificado. Se foi unicamente um interesse material que os separou, nisso não
pensarão mais, por pouco desmaterializados que estejam. Não havendo antipatia
entre eles e tendo deixado de existir a causa de suas desavenças, podem
rever-se com prazer”.
Comentário
de Kardec:
Semelhante
a dois escolares que, chegando à idade da razão, reconhecem a puerilidade de
suas brigas infantis e deixam de se malquerer.
Os Espíritos inferiores
conservam todos os ressentimentos gerados quando na Terra. Ao retornarem ao
mundo dos Espíritos, levam para lá todas as suas inferioridades, desde quando
não se purificaram. Conforme o grau de ignorância do Espírito, o ódio que
nasceu na Terra, entre duas criaturas ou mais, aumenta como Espírito livre, e
se não encontraram os antagonistas, saem à procura deles para desforras e perseguições.
294.
As lembranças das más ações que dois
homens praticaram um contra o outro é um obstáculo à simpatia que deve reinar entre
eles?
Sim; essa lembrança os
leva a se afastarem um do outro”.
Duas pessoas, ao se
encontrarem, encarnadas ou desencarnadas, podem gerar antipatia entre si, de
modo que o ódio avance em seus sentimentos, dando azo à guerra de pensamentos
e, por vezes, até brigas que podem envolver os familiares e amigos a eles
achegados. Isso, às vezes, não passa de lembranças do passado, quando o
subconsciente entrega ao consciente aquilo que trazia guardado, motivado por
intrigas que a vigilância esqueceu de rechaçar, por faltar a educação cristã. Essas
lembranças induzem ao afastamento um do outro, ou grupos de grupos.
295.
Que sentimento experimentam, após a
morte, aqueles a quem fizemos mal neste mundo?
“Se são bons, eles vos
perdoam, conforme o vosso arrependimento. Se são maus, é possível que guardem
ressentimento e vos persigam, algumas vezes, até mesmo em outra existência.
Deus pode permiti-lo como castigo”.
Depois do túmulo, os
sentimentos que animam os que ofendemos, e se esses ofendidos forem Espíritos
inferiores, são de vingança, de ódio e de violência, formando, quando podem,
toda ordem de obsessão sobre os ofensores do passado. Se os ofendidos forem
Espíritos elevados, que já conhecem o Evangelho e começaram a praticá-lo, eles
não gastam tempo em perseguição. A sua arma de luz é o esquecimento das faltas,
passando a orar pelos ofensores e ajudando-os em todos os momentos possíveis.
Os Espíritos dizem que
Deus permite que haja um processo obsessivo de um Espírito sobre outro, por
conta de erros no passado; e, é, exatamente por isso que muitas pessoas
procuram as casas espíritas, para se livrarem de algum processo obsessivo, pelo
qual estejam passando.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Encerrando o estudo do
tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 287 a 290.
287.
Como a alma é acolhida na sua volta ao
mundo dos Espíritos?
“A do justo, como um
irmão bem-amado e esperado há muito tempo. A do mau, como um ser que se
despreza”.
Entendemos que seja a
lei de causa e efeito atuando, ou seja, tudo aquilo que a criatura fez aqui na
Terra, através de seus atos, tudo isso conta do lado de lá. A chegada das almas
ao mundo espiritual é sempre diferente, cada uma levando o que tem para
apresentar ao mundo da realidade. Certamente que a chegada de um justo é toda
envolvida pela alegria. Aqueles que vêm ao seu encontro, após a quebra de seus
laços com a carne, lhe oferecem flores de luz, e o ambiente é de verdadeira
paz, de harmonia que alimenta, fazendo brilhar em todos os corações a
esperança. A chegada dos bem-aventurados é cercada de glórias. Eles receberão
as bênçãos pelo que abençoaram, encontrando os frutos pelas qualidades das
sementes semeadas em seu percurso no mundo. Já o Espírito mau que deixou em seu
rastro na Terra somente tormento, que aproveitou os dons espirituais para
distorção das leis, que esqueceu o tempo, matando-o com a inércia, que usou os
pensamentos somente para destruir lares e complicar a sociedade, que alimentou
por toda a sua vida as paixões inferiores, é recebido pelos seus desafetos e
pelos seus iguais, onde a tristeza e a negatividade tornam o ambiente
irrespirável e o magnetismo é toldado pela ignorância que domina. As variações
das chegadas são inúmeras; tudo é de acordo com a evolução de quem se desprende
da matéria.
288.
Que sentimento experimentam os Espíritos
impuros, ao verem chegar outro Espírito mau?
“Os maus ficam
satisfeitos quando veem seres semelhantes a eles e, também como eles, privados
da felicidade infinita, como acontece, na Terra, a um ladrão entre os seus
iguais”.
Nós sabemos
perfeitamente que os semelhantes atraem semelhantes. O mesmo que ocorre aqui na
Terra, ocorre também no lado de lá. Os Espíritos comprometidos com o mal, com a
disseminação do ódio, quando chegam ao mundo espiritual, despertam alegria
entre seus iguais, no conjunto que o espera. Há no meio deles certa amizade. Eles
desconhecem o perdão e o amor, e é por isso que se encontram em estado de
inferioridade. Os iguais se congregam por lei da afinidade. Onde estiver o
cadáver, aí se ajuntarão os abutres. (Mateus, 24:28 e Lucas, 18:37).
289.
Nossos parentes e amigos veem, algumas
vezes, encontrar-se conosco quando deixamos a Terra?
“Sim, os Espíritos vão
ao encontro da alma a que se afeiçoaram. Felicitam-na, como se regressasse de
uma viagem, por haver escapado aos perigos da estrada, e ajudam-na a
desprender-se dos laços corporais. É uma graça concedida aos bons Espíritos
quando os seres que os amam vêm ao seu encontro, ao passo que aquele que se
acha maculado permanece no isolamento ou só tem a rodeá-lo os que lhe são
semelhantes. É uma punição”.
Aqui na Terra somos ligados
pelos elos do amor. Aqueles que se amam, estarão juntos em qualquer lugar e,
certamente, os Espíritos que são afeiçoados àquela alma que está chegando ao
mundo espiritual, fazem todos os esforços para ajudá-la, e ainda trabalham na
sombra da misericórdia. A maior alegria do justo é essa: esteja onde quer que esteja,
os frutos do seu plantio vêm ao seu encontro, por direito divino, protegido
pelas leis de justiça.
290.
Os parentes e amigos sempre se reúnem
depois da morte?
“Depende de sua
elevação e do caminho que seguem para progredir. Se um deles está mais
adiantado e caminha mais depressa do que outro, não poderão ficar juntos; é
possível que se vejam algumas vezes, mas só estarão reunidos para sempre quando
puderem caminhar lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Além
disso, a privação de ver os parentes e amigos é, às vezes, uma punição”.
Os Espíritos somente se
reúnem por consonância de sentimentos. Para os parentes desencarnados ficarem
juntos, necessário se faz que estejam no mesmo plano de atividades
sentimentais; porém, os mais elevados, por amor, descem de vez em quando para
os planos mais inferiores em que se encontram os seus entes mais caros, para
visitá-los. O amor é, pois, uma força poderosa que interliga os corações em
todos os planos de vida. As leis são as mesmas, tanto na Terra como nos céus.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 282 a 286.
282.
Como os Espíritos se comunicam entre si?
“Eles se veem e se
compreendem. A palavra é material; é o reflexo do Espírito. O fluido universal
estabelece entre eles uma comunicação constante; ´o veículo da transmissão do
pensamento, como, para vós, o ar é o veículo do som; uma espécie de telégrafo
universal que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam
de uma mundo a outro”.
Podemos entender que entre os Espíritos há
comunicação, e das mais perfeitas. Eles utilizam o fluido universal como
veículo, para enviar o pensamento, e a transmissão está feita. A própria
mediunidade é prova dessa verdade. O médium sintonizado com os seus guias
espirituais recebe deles as orientações através da força das ideias, como sendo
a telepatia muito conhecida dentre os homens. Entendemos também, que há
Espíritos que sentem a mesma dificuldade que os homens para se comunicarem
entre si, mas a expressão fisionômica sempre fala, demonstrando o que sentem.
283.
Os Espíritos podem ocultar reciprocamente
os seus pensamentos? Podem esconder-se uns dos outros?
“Não; para eles tudo é
patente, sobretudo quando são perfeitos. Podem afastar-se uns dos outros, mas
sempre se veem. Isto, porém, não constitui regra absoluta, porque certos
Espíritos podem perfeitamente se tornar invisíveis a outros Espíritos, se assim
julgarem útil”.
Podemos entender que os
Espíritos da mesma faixa não podem ocultar seus pensamentos dos seus iguais,
nem de Espíritos Superiores. Entretanto, para os de faixas mais baixas, eles
podem perfeitamente ocultar seus pensamentos, bem como ficarem invisíveis a
eles, se desejarem. Conforme os Espíritos responderam, isso não constitui,
porém, regra absoluta; há nuances das leis que por vezes escapam até mesmo aos
benfeitores que dirigem os homens. O Espírito superior tem todo o domínio sobre
seus pensamentos, podendo até interrompê-los, se isto lhe convier.
284.
Como é que os Espíritos, que não têm mais
corpo, podem constatar suas individualidades e distinguir-se dos outros seres
espirituais que os rodeiam?
“Eles constatam suas
individualidades pelo perispírito, que os torna distinguíveis unas dos outros,
como o corpo entre os homens”.
O Espírito reconhece,
quando no mundo espiritual, aqueles que com ele conviveu na Terra. Imagens das
vivências se plasmam nos centros mais sensíveis da consciência, vindo à tona de
acordo com as necessidades de cada um. Todavia, os Espíritos mais elevados
podem, pela sua vontade, recordar vidas passadas e reconhecer todos os seus
companheiros de variadas existências, e que lhe serviram de instrumento de
evolução.
285.
Os Espíritos se reconhecem por terem
convivido na Terra? O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo?
“Sim, e assim de
geração em geração”.
285-a.
Como se reconhecem no mundo dos Espíritos
os homens que se conheceram na Terra?
“Vemos a vossa vida
passada e lemos nela como num livro. Vendo o pretérito dos nossos amigos e dos
nossos inimigos, aí vemos a sua passagem da vida para a morte”.
Os Espíritos mais
elevados podem, pela sua vontade, recordar vidas passadas e reconhecer todos os
seus companheiros de variadas existências. Quanto mais puro o Espírito, mais recordações
lúcidas ele tem, com a serenidade que já possui. Ele reconhece todas as suas
companhias e, nesta operação, pode buscá-las onde quer que seja.
286.
Ao deixar os seus despojos mortais, a
alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no mundo dos
Espíritos?
“Nem sempre
imediatamente. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer-se
e desembaraçar-se do véu material”.
Podemos entender que a
alma, quando desencarna, tem muitas surpresas no além, porque nem sempre, logo
ao seu desenlace, pode encontrar seus parentes e amigos que a precederam nessa
viagem comum a todos os seres. Quase todos os Espíritos que passam para o lado
de lá perdem os sentidos no momento do desprendimento do fardo. Tudo é
relativo, de acordo com a evolução da criatura. Os Espíritos muito ligados às
paixões terrenas e aos bens materiais, ficam apegados aos seus despojos por
tempo indeterminado.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando continuidade ao
estudo do tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 279 a 281.
279.
Todos
os Espíritos têm livre acesso a qualquer região?
“Os bons vão a toda
parte e assim deve ser, para que possam exercer sua influência sobre os maus.
Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas aos Espíritos imperfeitos,
a fim de não as perturbarem com suas paixões inferiores”.
Nós sabemos que existem
muitas regiões no mundo espiritual, e cada uma delas reúne espíritos com padrão
semelhantes. Os Espíritos bons podem visitar e demorar nessas comunidades o
tempo que lhes aprouver; essa liberdade é oportunidade de aprendizado, bem como
de poder ensinar aos que ali se encontram. Os Espíritos inferiores, porém, não
podem adentrar nas estâncias de luz, por não terem condições espirituais para
tal. Além disso, eles nem enxergam esses planos, por lhes faltar
desenvolvimento dos dons espirituais, que estão atrofiados pela constância da
prática do mal. Os Espíritos imperfeitos não encontram os caminhos para
visitarem os planos superiores. Se não lhes fossem interditados esses caminhos,
eles levariam para lá as suas paixões e decadências morais, onde iriam
perturbar a harmonia do ambiente de tranquilidade e de trabalho superior.
280. Qual
a natureza das relações entre os bons e os maus Espíritos?
“Os bons se empenham em
combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-los a subir. É sua
missão”.
Nas relações entre bons
e maus Espíritos, os bons cuidam de ensinar aos maus a prática das virtudes, e
esse ensino se processa de várias maneiras, desde a palavra à vivência. Os
fatos que a vida pode contar são numerosos. Há classes de Espíritos que não têm
a capacidade de averiguar sua própria vida, corrigindo o que não entra em
conexão com o Evangelho. Por vezes, escutam a Boa Nova do reino de Deus e veem
coisas maravilhosas, porém, não entendem suficientemente para fazer uma análise
mais profunda, retificando sua conduta.
281.
Por que os Espíritos inferiores se comprazem
em nos induzir ao mal?
“Pelo despeito de não
terem merecido estar entre os bons. É desejo deles impedir, tanto quanto possam,
que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o supremo bem. Querem que os
outros experimentem o que eles próprios experimentam. Isto também não acontece
entre vós?
Os Espíritos inferiores
se comprazem em nos induzir ao mal pelo despeito, e por não saberem o valor da
fraternidade. Os Espíritos maus sempre induzem os outros à maldade, por
desconhecerem o valor do bem. Eles estão no princípio da sua formação
espiritual, e os primeiros caminhos são esses, como o da criança. Tudo de bom se
encontra dormindo no centro da sua personalidade; aguardando que o tempo e o
esforço próprio os despertem; são as qualidades espirituais, atributos divinos
que devem vibrar sob o domínio de si mesmos, como conhecimento da verdade.
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MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Iniciando o estudo do
tópico Relações de além-túmulo, vamos abordar as Questões de 274 a 278.
274.
As diferentes ordens de Espíritos
estabelecem entre estes uma hierarquia de poderes. Há entre eles subordinação e
autoridade?
“Sim, muito grande. Os
Espíritos têm, uns sobre os outros, uma autoridade relativa à sua
superioridade, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível”.
Como há diferentes
ordens de Espíritos, essa escala é obedecida, considerando-se a autoridade
moral dos Espíritos Superiores sobre aqueles que se encontram na retaguarda. O
Espírito que responde a esta pergunta, fala que essa autoridade dos Espíritos
Superiores sobre os inferiores é irresistível. Somente isso basta para
compreendermos as leis espirituais que comandam uma vida de exemplos
enobrecidos. A verdadeira autoridade está na base moral apenas, ou seja, em
termos de evolução.
274-a.
Os Espíritos inferiores podem subtrair-se
à autoridade dos que lhes são superiores?
“Eu disse; irresistível”.
Ou seja, o Espírito
inferior respeita sempre o superior.
275.
O poder e a consideração de que um homem
desfrutou na Terra lhe dão alguma supremacia no mundo dos Espíritos?
“Não, pois os pequenos
serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os salmos”.
O poder que um
encarnado exerce na Terra não é garantia de que, no mundo espiritual, quando de
sua volta, ele conservará a sua condição de mando. A notoriedade entre os
encarnados pode ser ilusória, dependendo do modo pelo qual ele comanda seus
irmãos. Em muitos casos, os mandatários no mundo terrestre podem ser muito
inferiores aos que lhes obedecem, quando no mundo dos Espíritos. No mundo
espiritual o que conta é a evolução intelecto-moral, e só a moral lhe dá caraterísticas
de supremacia sobre os que não o são, e muitas vezes aquele que na Terra foi
senhor, no mundo espiritual pode ser subalterno e vice-versa. Isso tem o condão
de medir-lhes a humildade.
275-a.
Como devemos entender essa elevação e
esse rebaixamento?
“Não sabes que os
Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos? Pois bem! O maior na
Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao passo que seu
servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse Jesus: Aquele que se
humilhar será exaltado e aquele que se exaltar será humilhado?”
No mundo espiritual o
que conta é a evolução intelecto-moral, e só a moral lhe dá caraterísticas de
supremacia sobre os que não o são, e muitas vezes aquele que na Terra foi
senhor, no mundo espiritual pode ser subalterno e vice-versa. Isso tem o condão
de medir-lhes a humildade.
276.
Aquele que foi grande na Terra e que se
acha em posição inferior, entre os Espíritos, sente humilhação por isso?
“Quase sempre muito
grande, sobretudo se era orgulhoso e invejoso”.
Os grandes na Terra,
que foram orgulhosos e invejosos, quando volvem à pátria espiritual,
experimentam muita humilhação, mas da parte da sua consciência. Verificam em
Espírito que não vale a pena a ostentação, e que o melhor comportamento é o que
foi vivido por Jesus e anunciado pelos Seus seguidores mais próximos ao Seu
coração.
277.
O soldado que, após a batalha, se
encontra com seu general no mundo dos Espíritos, reconhece-o ainda como seu
superior?
“O título nada vale; a
superioridade real é tudo”.
Daí, podemos entender
que o general de qualidades morais inatacáveis, ao encontrar com seus soldados
no mundo espiritual, pode continuar a orientá-los, para a verdadeira guerra,
que se trava no campo de batalha interno. Por outro lado, o general de instintos
inferiores, em muitas ocasiões, ao passar para o mundo dos Espíritos, pode
estar bem abaixo dos seus comandados e precisar deles para guiá-lo, devido a
sua cegueira no plano espiritual.
278.
Os Espíritos das diferentes ordens estão
misturados uns com os outros?
“Sim e não; quer dizer;
eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam,
segundo a analogia ou a antipatia de seus sentimentos, tal como acontece entre
vós. É todo um mundo, do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria
se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias de Espírito,
unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam; os bons, pelo desejo
de fazerem o bem; os maus, pelo desejo de fazerem o mal, pela vergonha de suas
faltas e pela necessidade de se acharem entre seres semelhantes a eles”.
Esta resposta é bem
elucidativa; a proximidade que os Espíritos terão uns dos outros no mundo
espiritual vai depender da afinidade que tenham também uns com os outros sob o
ponto de vista da escala de valores de seus sentimentos, do quanto tenham
evoluído no transcurso das vidas sucessivas. As leis de Deus são justas em toda
a criação, sempre atraímos de acordo com o que somos; a sintonia nos faz reunir
com os nossos iguais, no entanto, a misericórdia e o amor do Todo Compassivo
permite que os superiores venham sempre no meio dos inferiores, deixando ali a
esperança. Os Espíritos de diferentes ordens se misturam uns com os outros,
quando é necessário. Eles cumprem a vontade de Deus, porém, têm a sua vida
interna, que não se mistura. O inferior não pode subir aos planos elevados,
entretanto, os elevados podem descer aos planos inferiores para ajudar,
enriquecendo ainda mais suas experiências. Os Espíritos puros vivem em
comunidade de pureza, em planos que escapam aos sentidos humanos, mas, eles
descem de vez em quando para trabalhar no desenvolvimento da moral no seio da
inferioridade e, por vezes, até reencarnam na Terra, como lições vivas de
Jesus, dando e mostrando os caminhos para a Luz, pelo exemplo de moralidade e
de sabedoria.
Nota
de Kardec:
Tal
uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se
veem e se encontram, sem se comunicarem; onde as sociedades se formam pela
analogia dos gostos; onde o vício e a virtude convivem lado a lado sem se
falarem.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Finalizando o estudo do
tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 270 a 273.
270.
A que se devem atribuir as vocações de
certas pessoas e a vontade que sentem de seguir uma carreira de preferência a
outra?
“Parece-me que vós
mesmos podeis responder a esta pergunta. Não é a consequência de tudo o que
dissemos sobre a escolha das provas e sobre o progresso realizado em existência
anterior?”
Parece-nos simples essa
pergunta, no entanto, ela foi feita para enriquecer mais os conhecimentos
espirituais das criaturas. O Codificador era inspirado pelos benfeitores
espirituais na formulação das perguntas, de maneira a mostrar a verdade aos que
desejarem despertar seus dons que se encontram em estado latente. A vocação de
certas pessoas para tal ou qual profissão está ligada à escolha que fez quando
Espírito livre da matéria. Parece, para os ignorantes, que a criatura escolheu,
naquele momento, o que deveria seguir, mas a escolha já se encontrava feita nos
guardados da consciência.
271.
No estado errante o Espírito estuda as
diversas condições nas quais poderá progredir. Como pensa realizar seu
progresso, nascendo, por exemplo, entre canibais?
“Não são Espíritos já
adiantados que nascem entre os canibais, mas Espíritos da natureza dos canibais
ou que lhes são inferiores”.
Ou seja, os Espíritos
que reencarnam em condições extremamente primitivas, em termos de expressar o
seu intelecto, são aqueles que estão em condições compatíveis com aquele grupo
aonde vão reencarnar. Entre os canibais não nascem Espíritos elevados, cuja
superioridade ultrapassa o entendimento daquele grupo. Para que um Espírito
puro reencarnaria junto a Espíritos primitivos? Os Espíritos missionários só
renascem em um meio onde as lições de que eles são portadores possam ser de
proveito. Sobre isso, Jesus já falava aos Seus discípulos: Não deis pérolas aos
porcos, nem lanceis coisas santas aos cães. É justo que no meio dos canibais
nasça Espírito que tenha mais um pouco de entendimento que eles, para guiá-los,
como igualmente reencarnam almas ainda mais inferiores, para aprenderem o que
esses já granjearam na vida. Disso temos provas na própria sociedade da qual
fazemos parte, onde há Espíritos de todos os naipes, uns elevados, outros
medianos e outros de condições inferiores. Esse é o processo que está se
desdobrando sob os nossos olhos nos dias atuais. Se enxergarmos com os olhos
físicos essas diversas situações desagradáveis que acontecem no mundo de hoje,
poderíamos imaginar que a barbárie está tomando conta da Humanidade. Nós
estamos chegando a um ponto tal que parece que estamos regredindo ao invés de
progredir. Realmente, parece isso, a um primeiro olhar. Porém, se enxergarmos
com a visão espírita, com a visão que os Espíritos estão falando aqui, a coisa
muda de aspecto, ou seja, estamos vendo hoje a última oportunidade de um grupo
enorme de Espíritos que reencarnaram ter a oportunidade de evoluir, para
permanecer no planeta, porque o planeta já está evoluindo.
Comentário
de Kardec:
Sabemos
que os nossos antropófagos não se acham no último degrau da escala espiritual e
que mundos há onde a bruteza e a ferocidade não têm analogia na Terra. Os
Espíritos que aí encarnam são, portanto, inferiores aos mais ínfimos que no
nosso mundo encarnam. Para eles, pois, nascer entre os nossos selvagens
representa um progresso, como progresso seria, para os antropófagos terrenos,
exercerem entre nós uma profissão que os obrigasse a fazer correr sangue. Não
podem pôr mais alto suas vistas, porque sua inferioridade moral não lhes permite
compreender maior progresso. O Espírito só gradativamente avança. Não lhe é
dado transpor de um salto a distância que da civilização separa a barbárie e é
esta uma das razões que nos mostram ser necessária a reencarnação, que
verdadeiramente corresponde à Justiça de Deus. De outro modo, que seria desses
milhões de criaturas que todos os dias morrem na maior degradação, se não
tivessem meios de alcançar a superioridade? Por que os privaria Deus dos
favores concedidos aos outros homens?
272.
Espíritos vindos de um mundo inferior à
Terra, ou de um povo muito atrasado, como os canibais, poderiam nascer entre
nossos povos civilizados?
“Sim. Há os que
extraviam, por quererem subir muito alto; mas, nesse caso, ficam deslocados
entre vós, porque têm costumes e instintos que não condizem com os vossos”.
A meu ver, esta
pergunta complementa esse processo da evolução dos Espíritos muito primitivos.
Em qualquer comunidade,
encontramos indivíduos que, mesmo demonstrando inteligência e sensibilidade,
demonstram inferioridade espiritual, que é manifesta, predominantemente por uma
tendência à animalidade em seus comportamentos. Para essas criaturas, a vida se
restringe a uma determinada linha de conduta que é basicamente instintiva, no
provimento da sobrevivência e da preservação da própria espécie. Não vão além
disso. São maus? Não! São apenas Espíritos que ignoram.
Comentário
de Kardec:
Esses
seres nos oferecem o triste espetáculo da ferocidade no seio da civilização.
Voltando para o meio dos canibais, não sofrem uma degradação; apenas retomam o
seu lugar e talvez ainda ganhem com isso.
273.
Um homem que pertence a uma raça
civilizada poderia, por expiação, reencarnar numa raça selvagem?
“Sim, mas depende do
gênero da expiação. Um senhor que tenha sido cruel com seus escravos poderá,
por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus-tratos que infligiu a outros.
Aquele que exerceu o mando em certa época, pode, em nova existência, obedecer
aos que se curvaram ante a sua vontade. É uma expiação que Deus lhe impõe, se
ele abusou do seu poder. Um bom Espírito também pode querer encarnar no seio
daquelas raças, ocupando posição influente, para fazê-las progredir. Trata-se,
então, de uma missão”.
São circunstâncias, são
situações diferentes que os Espíritos nos mostram para que façamos uma
reflexão. Podemos observar que a resposta dos Espíritos faz referência à época
de Kardec, quando existia escravidão em diversos países civilizados. Um
Espírito de mediana evolução pode renascer em uma tribo de selvagens, mas,
tomando o lugar de destaque naquele ambiente, no sentido de levar os Espíritos
ali reencarnados a melhores dias e a uma vivência mais agradável. Ele regride
na forma, mas não no Espírito; o que aprendeu ele carrega consigo vibrando na
alma. Esse é um tipo de prova que se vê constantemente em todo o mundo; é lei
de justiça divina. Assim, alguns impiedosos senhores de engenhos renasceram
como escravos, para suportarem na própria carne o que fizeram os outros sofrer
sob o seu comando. Pelas ruas encontramos muitas vezes mendigos dormindo nas
calçadas, enfrentando frio e chuva, fome e nudez, e, ainda mais, o desprezo da
sociedade, porque abusaram dos poderes no passado e desmantelaram a mesma
sociedade com os seus instintos inferiores.
No livro Vidas de
outrora, de Eliseu Rigonatti, encontramos inúmeros casos de Espíritos que reencarnaram
em condições diversas e dificuldades diversas, exatamente para viver o processo
expiatório que lhes cabia.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao
estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 267 a 269.
267.
O Espírito poderá fazer sua escolha
durante a vida corporal?
“Seu desejo pode
influir, dependendo da intenção. Como Espírito livre, porém, quase sempre vê as
coisas de modo bem diferente. É o Espírito quem faz a escolha; mas, ainda uma
vez, ele pode fazê-la mesmo na vida material, pois há sempre momentos em que o
Espírito se torna independente da matéria em que habita”.
As leis espirituais são
elásticas, para atender a todos, no nível de cada escala do progresso
espiritual. O Espírito pode escolher as suas provas mesmo antes de desencarnar,
em se pensando em futura reencarnação. Ele formula ideias que podem ser
aproveitadas, no que se refere às suas necessidades espirituais, mas, ele pode,
igualmente, mudar de ideia ao chegar ao mundo dos Espíritos.
As escolhas antecipadas
geralmente sofrem retificações para melhor aprimoramento do Espírito em
questão.
267-a.
Certamente não é como expiação, ou como
prova, que muitas pessoas desejam as grandezas e as riquezas.
“De modo algum. É a
matéria que deseja essa grandeza para gozá-la, e o Espírito para conhecer-lhe
as vicissitudes”.
Quando o Espírito
deseja escolher as riquezas, os poderes, e isso lhe é concedido, e ele as usa
somente para sua satisfação interior e individual, notar-se-á a sua
inferioridade, e quando as usa para o benefício da coletividade, esse pode se
chamar de benfeitor da humanidade.
268.
Até que chegue ao estado de pureza
perfeita, tem o Espírito que passar constantemente por provas?
“Sim, mas não como o
entendeis, pois só considerais provas as tribulações materiais. Ora, mesmo sem
ser perfeito, o Espírito que se elevou a um certo grau não tem mais provas a
sofrer. Porém, sempre tem deveres que o ajudam a se aperfeiçoar, e que nada tem
de penosos, ainda que consistam em auxiliar os outros a se aperfeiçoarem”.
O Espírito, em certas
faixas evolutivas, passa por provas, por vezes duras, com o objetivo de
despertar ou aprimorar suas qualidades espirituais, depositadas, em sua
consciência, pelo Criador. O progresso da alma tem um preço: a passagem pela
porta estreita.
Em princípio, o homem
abusa dos poderes que lhe foram concedidos, do ouro que lhe foi entregue por
empréstimo do Pai; da saúde que a vida lhe ofertou, e a inferência disso são os
sofrimentos de toda ordem, que vêm lhe ensinar o roteiro mais proveitoso a trilhar.
Quando a lição é aprendida, cessa a necessidade da presença da dor, mestra
incomparável, que deixa o homem entregue a si mesmo, consciente dos seus
deveres. As provas, portanto, têm um fim, e quando o Espírito já não necessita
de passar por situações penosas, outros vêm a ser os seus deveres, quando ele
empregará os valores conquistados, com alegria, no seu adiantamento e no
progresso dos que se acham na retaguarda, assim como ele mesmo recebe do Alto a
assistência nos seus caminhos de redenção.
269.
O Espírito pode enganar-se quanto à eficácia da prova que escolheu?
“Pode
escolher uma que esteja acima de suas forças e sucumbir. Também pode escolher
uma que não lhe traga proveito algum, como buscar, por exemplo, um gênero de
vida ociosa e inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos Espíritos, percebe que
nada ganhou e pede outra para reparar o tempo perdido”.
O Espírito pode
perfeitamente se enganar na escolha da prova que queira experimentar na Terra.
A sua percepção, não atingindo a realidade, leva-o a pensar que está sendo
inteligente escolhendo provas de ociosidade, tendo, como no dizer popular, só
"sombra e água fresca". Quando volta ao mundo espiritual ele se
arrepende, e deseja retornar com volume maior de obrigações e com provas duras,
para compensar o tempo perdido, na ilusão que lhe enganava. Ele pode, também,
pedir provas além das suas forças e sucumbir no meio do caminho. Os extremos
são perigosos, mesmo quando objetivamos o bem.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao
estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar a Questão 266.
266.
Não parece natural que se escolham as
provas menos dolorosas?
“Para vós, sim; para o
Espírito não. Quando este se desprende da matéria, a ilusão acaba e outra é a
sua maneira de pensar”.
Primeiro, nós temos que
nos localizarmos nessa pergunta. Ela diz respeito ao momento em que o Espirito
ainda está no plano espiritual traçando o seu projeto de vida, escolhendo
provas, de acordo com as suas necessidades. Nessa resposta, os Espíritos nos
mostram a mudança de postura. Quando ele está encarnado é uma, quando está
desencarnado é outra. Quando a alma se encontra na carne, somente vê nas provas
ideias negativas e, por vezes, sentem-se como grandes devedores, mas essa não é
a realidade; são processos de despertamento espiritual necessários ao progresso
de todos que assumiram compromissos, no mundo da verdade, para ganharem mais
depressa a tranquilidade de consciência. O Espírito, quando se encontra na
erraticidade, não pensa em provas fáceis, principalmente o que já se acha
desperto para a luz do entendimento. Ele vê seu caminho cheio de lutas e deseja
lutar; reconhece que as coisas fáceis lhe trazem dificuldades inúmeras, capazes
de lhe fazer voltar às tarefas terrenas para recomeçar de novo, enquanto quase
todos que carregam o peso da carne já têm outros pensamentos, querendo ficar
livres de todas as provas, e se lhes fosse dado escolher, já não escolheriam o
que escolheram quando desencarnados, por estar a sua visão vedada pela baixa
vibração como encarnado.
Comentário
de Kardec: Sob a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das
provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as
que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida
espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável
felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe
causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o Espírito pode
escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na
esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas
vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. Aquele que intenta
ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não procura trilhar estrada
florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a
glória, se lograr bom êxito.
A
doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas
que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os
Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso
da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles
dos gozos fugitivos do mundo. Após cada existência, veem o passo que deram e
compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o
se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea,
solicitando as que possam fazer que a alcancem mais presto. Não há, pois,
motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave.
Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma
vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la,
é que trata de se melhorar.
Não
vemos, aliás, todos os dias, exemplos de escolhas tais? Que faz o homem que
passa uma parte de sua vida a trabalhar sem trégua, nem descanso, para reunir
haveres que lhe assegurem o bem-estar, senão desempenhar uma tarefa que a si
mesmo se impôs, tendo em vista melhor futuro? O militar que se oferece para uma
perigosa missão, o navegante que afronta não menores perigos, por amor da
Ciência ou no seu próprio interesse, que fazem, também eles, senão sujeitar-se
a provas voluntárias, de que lhes advirão honras e proveito, se não sucumbirem?
A que se não submete ou expõe o homem pelo seu interesse ou pela sua glória? E
os concursos não são também todos provas voluntárias a que os concorrentes se
sujeitam, com o fito de avançarem na carreira que escolheram? Ninguém galga
qualquer posição nas ciências, nas artes, na indústria, senão passando pela
série das posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é,
pois, cópia da vida espiritual; nela se nos deparam em ponto pequeno todas as
peripécias da outra. Ora, se na vida terrena muitas vezes escolhemos duras
provas, visando posição mais elevada, por que não haveria o Espírito, que enxerga
mais longe que o corpo e para quem a vida corporal é apenas incidente de curta
duração, de escolher uma existência árdua e laboriosa, desde que o conduza à
felicidade eterna? Os que dizem que pedirão para ser príncipes ou milionários,
uma vez que ao homem é que caiba escolher a sua existência, se assemelham aos
míopes, que apenas veem aquilo em que tocam, ou a meninos gulosos, que, a quem
os interroga sobre isso, respondem que desejam ser pasteleiros ou doceiros.
O
viajante que atravessa profundo vale ensombrado por espesso nevoeiro não logra
apanhar com a vista a extensão da estrada por onde vai, nem os seus pontos
extremos.
Chegando,
porém, ao cume da montanha, abrange com o olhar quanto percorreu do caminho e
quanto lhe resta dele a percorrer. Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que
ainda terá de transpor e combina então os meios mais seguros de atingi-lo. O
Espírito encarnado é qual viajante no sopé da montanha. Desenleado dos liames
terrenais, sua visão tudo domina, como a daquele que subiu à crista da
serrania. Para o viajor, no termo da sua jornada está o repouso após a fadiga;
para o Espírito, está a felicidade suprema, após as tribulações e as provas.
Dizem
todos os Espíritos que, na erraticidade, eles se aplicam a pesquisar, estudar,
observar, a fim de fazerem a sua escolha. Na vida corporal não se nos oferece
um exemplo deste fato? Não levamos, frequentemente, anos a procurar a carreira
pela qual afinal nos decidimos, certos de ser a mais apropriada a nos facilitar
o caminho da vida? Se numa o nosso intento se malogra, recorremos a outra. Cada
uma das que abraçamos representa uma fase, um período da vida. Não nos ocupamos
cada dia em cogitar do que faremos no dia seguinte? Ora, que são, para o
Espírito as diversas existências corporais, senão fases, períodos, dias da sua
vida espírita, que é, como sabemos, a vida normal, visto que a outra é
transitória, passageira?
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao
estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 264 a 265.
264.
O que guia o Espírito na escolha das
provas que queira sofrer?
“Ele escolhe as que lhe
possam servir de expiação, segundo a natureza de suas faltas, e o faça
progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias
e privações, a fim de tentarem suportá-las com coragem; outros querem
experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelo
abuso e mau emprego que deles se possa fazer, e pelas más paixões que
desenvolvem. Outros, finalmente, querem ser provados nas lutas que terão de
sustentar no contato com o vício”.
Quando é dado ao
Espírito escolher as provas que enfrentará no corpo, ele escolhe os caminhos
compatíveis com as suas necessidades. O Espírito que tem o preparo para
escolher suas provas, se estivesse na carne, talvez escolhesse outros
testemunhos, porque em Espírito a lucidez é outra, e o que interessa é o maior
aperfeiçoamento. Quando na carne, logo que aparecem os primeiros sintomas dos
revezes que escolheu, ele apavora, porquanto a escolha é teoria, e enfrentar as
dificuldades é prática bem diferente. Muitos desistem no meio do caminho, no
entanto, tornam a pedir reforço em voltas sucessivas, pois somente a
reencarnação dar-lhes-á a chave da libertação espiritual, que eles, por vezes,
veem os outros gozarem no mundo de onde vieram.
O que leva a alma a pedir
duras provas em novo corpo é saber e sentir que só a consciência tranquila a
limpará de todas as mazelas inferiores que lhe causam infelicidade. A solução
dos problemas se encontra dentro de cada ser. A prova na escolha do Espírito
viciado na bebida desregrada; ele nasce em um meio que lhe proporciona
facilidade de aprender a beber, porque é nele que o Espírito sente, pelos
sofrimentos, a necessidade de se livrar do vício com mais profundidade. Como
aprender o desprendimento, vindo pobre ao mundo? Como perdoar, se não houver
quem lhe ofenda? Como abster-se do sexo, com equilíbrio, se não se conviver com
a facilidade dos desregramentos? Precisamos estudar todos os pontos de
aperfeiçoamento espiritual, meditar neles, trocar experiências.
265.
Se alguns Espíritos escolhem, por
provação, o contato com o vício, haverá ao que busquem por simpatia e pelo
desejo de viverem num meio conforme aos seus gostos, ou para poderem
entregar-se materialmente aos seus pendores materiais?
“Há, sem dúvida, mas
somente entre aqueles cujo senso moral ainda está pouco desenvolvido. A prova
vem por si mesma e eles a sofrem por muito mais tempo. Cedo ou tarde,
compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes traz consequências
deploráveis, que sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. Deus
poderá deixa-los nesse estado, até que compreendam seus erros e, por iniciativa
própria, peçam para repará-los, mediante úteis provações”.
Há também Espíritos que
escolhem nascer em um reduto viciado por gostarem do vício e sentirem
necessidade de estar envolvidos nele. Nesses, o senso moral ainda não tem
desenvolvimento bastante para lhes mostrar que eles devem se esforçar, no
sentido de adquirir a decência nos caminhos que percorrem.
Não há uma regra geral
nas escolhas das provações, mas, todas elas nos trazem lições, mais ou menos
demoradas, que o tempo fica encarregado de nos transmitir pelos processos da
dor. As deduções que a razão nos oferece, para escolher essa ou aquela
provação, vêm impulsionadas pelos nossos sentimentos, pelo tipo de escolha.
Os benfeitores
espirituais nos conhecem, entretanto, na hora de conceder o escolhido, o
automatismo do sim ou do não é mais profundo do que se pensa. Primeiramente,
ele vem de Deus, porque todas as decisões partem d'Ele, o Supremo Mandatário do
Universo, e, por vezes, nasce no candidato, por inspiração de alguém que o
ajuda nas lutas de cada dia, como avalista da riqueza da vida na carne que vai
receber.
Os que escolhem tipos
de provas para satisfazer suas paixões brutais, mais cedo ou mais tarde,
arrepender-se-ão das suas escolhas. Embora conhecendo a inconveniência do
caminho, Deus lhes concedeu como aprendizado, pois ao descobri-los é que o
Espírito permanecerá nos roteiros de luz.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao
estudo do tópico Escolha das provas, vamos abordar as Questões de 260 a 263.
260.
Como pode o Espírito querer nascer entre
gente de má vida?
“É necessário que seja
posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É preciso que
haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, é indispensável que se
encontre entre gente dessa espécie”.
O mal não é de origem
divina. Ele deriva do mau uso do nosso livre-arbítrio. Deus deixa que assim
ocorra para que aprendamos pelas experiências a desenvolver os valores que nos
levarão à felicidade verdadeira. Por vezes, o Espírito que tem certos defeitos
a corrigir nasce em família com as mesmas faltas a serem corrigidas. Aí é que
está sua maior prova, e a solução do problema está dentro dele. Uma alma que
tem instintos de se apossar do alheio nasce em família que gosta de roubar;
esse Espírito deve se esforçar, dentro do ambiente favorável ao erro, para se
libertar daquilo que precisa para se tornar livre. Se renascer no lar já
motivado pelo Evangelho, entre pessoas que já se limparam das mazelas das
paixões inferiores, qual o esforço que ele terá que fazer para o seu
aperfeiçoamento? Sabendo disso, escolhe lar compatível com as suas tendências.
Isso é analogia de sentimentos. Atraímos o que somos, esta é a lei.
260-a.
Assim, se não houvesse gente de má vida
na Terra, o Espírito não encontraria aí meio adequado a certas provas?
“E se deveria lamentar
isso? É o que ocorre nos mundos superiores, onde o mal não tem acesso. Eis
porque neles só existem Espíritos bons. Fazei que em breve o mesmo aconteça na
Terra”.
Isto quer dizer que, se
nós queremos viver entre os Espíritos bons, temos que aprimorar o nosso
comportamento. E a Terra se aproxima dessa mudança, e quem a herdar será feliz,
pois, não mais fará dívidas. Quando a Terra mudar de dimensão, sair das
provações para ser um mundo de regeneração, e daí para casa superior onde
deverão habitar somente Espíritos de paz, os Espíritos inferiores não terão
oportunidade de voltar a ela, mesmo querendo. Soframos, pois, com paciência, o
que for necessário para a limpeza do fardo, no preparo para o paraíso, que pode
ser a própria Terra.
261.
Nas provações por que deve passar para
alcançar a perfeição, o Espírito terá de experimentar todos os gêneros de
tentações? Terá de passar por todas as situações que possam exercitar-lhe o
orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade, etc. ?
“Certamente não, pois
sabeis que há os que tomam desde o princípio um caminho que os livra de muitas
provas. Mas aquele que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os
riscos desse caminho. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e esta lhe
ser concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avarento ou
pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda entregar-se a todos os prazeres da
sensualidade. O que não quer dizer que deva passar forçosamente por todas essas
tendências”.
Vamos nos reportar a
duas leis: lei do livre-arbítrio e a lei de causa e efeito. Pela lei do
livre-arbítrio, nós escolhemos os caminhos pelos quais haveremos de passar.
Temos a possibilidade de fazer as escolhas, os atos que vamos praticar. Só, que,
essa lei do livre-arbítrio nos é dada para que possamos aprender a praticar a
lei divina, através dos nossos atos, das nossas palavras. Agora, se as nossas
escolhas forem mal direcionadas, haveremos de passar pela lei de causa e
efeito. No campo das escolhas e das concessões, há uma coisa que fala mais
alto: a maturidade da alma que mostra a necessidade das provas. Pode um
Espírito pedir a riqueza, segundo a resposta à pergunta, e ser atendido. Alguns
usam o ouro, fazendo dele motivo de glória na sua vida, e outros, carentes de
lições que lhes possam preparar para o futuro, usam mal os recursos da fortuna,
por lhes faltar maturidade devida, que o passado não lhes conferiu. É muito
engenhosa a vida do Espírito, porque os Espíritos se encontram em escalas
diferentes, uns dos outros.
262.
Como pode o Espírito que, em sua origem,
é simples, ignorante e sem experiência, escolher uma existência com
conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?
“Deus lhe supre a inexperiência,
traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazes com uma criança desde o
berço. Contudo, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve.
Ele o deixa livre para escolher e só então é que muitas vezes o Espírito se
extravia, tomando o mau caminho, por não ouvir os conselhos dos bons Espíritos.
É a isso que se pode chamar a queda do homem”.
O Espírito na sua
origem é simples e ignorante, contudo, ele tem a devida assistência na sua
jornada inicial. Ele é guiado por benfeitores espirituais que o conduzem pelos
fios do instinto, com toda a segurança. Ele, nesse estado d'alma, ainda não
sabe cuidar da sua própria evolução. O seu despertamento vem pelas vias
naturais, na gradação que o progresso pode dar, onde não participa seu esforço
próprio, por não ter conhecimento da sua tarefa na Terra, a não ser pela
intuição das leis que dormem no fundo da sua consciência, forças essas que
despertam com o perpassar do tempo. Ao raiar dos primeiros sinais de
individualidade, o Espírito passa a escolher o que mais lhe convém, sem
raciocinar no que poderá acontecer. As facilidades levam-no ao orgulho e ao
egoísmo, e a violência cresce pelo poder da razão. Assim, o instinto que antes
servir-lhe-ia de guia, se atrofia na sua origem. É bom que não acreditemos que
foi culpa da própria alma, ao escolher os caminhos que se tornarão em faltas
que atraem reações compatíveis com o que foi feito. São processos criados por
Deus, para educar todos os Seus filhos. Eis porque todos passamos por esses
meios, e deles tiramos muito proveito no desenrolar do tempo, sob a
elasticidade do espaço.
262-a.
Quando o Espírito goza do seu
livre-arbítrio, a escolha da existência corporal dependerá sempre
exclusivamente de sua vontade, ou essa existência lhe pode ser imposta, como
expiação, pela vontade de Deus?
“Deus sabe esperar, não
apressa a expiação. Entretanto, pode impor determinada existência a um
Espírito, quando este, por sua inferioridade ou má vontade, não está apto a
compreender o que lhe seria mais salutar, e quando vê que tal existência pode
contribuir para a sua purificação e, ao mesmo tempo, servir-lhe de expiação”.
Todo livre-arbítrio é
inspirado nas leis universais. Daí se pode deduzir que somente Deus comanda
tudo, desde a matéria primitiva na candura da sua origem, até à Sua corte
celestial. A liberdade que cresce com o crescimento espiritual somente não
sofre interferência quando tudo se encontra na harmonia, que corresponde às
nossas necessidades. O Espírito foi feito simples e ignorante, mas, por dentro,
carrega consigo, como tesouro divino, a vontade de Deus. Podemos dizer que tudo
que ocorre com o Espírito são processos de despertamento espiritual, de modo a
levá-lo a conhecer a verdade.
263.
O Espírito faz sua escolha imediatamente
depois da morte?
“Não; muitos acreditam
na eternidade das penas, e isso, como já vos foi dito, é um castigo”.
Aqui, Kardec está
fazendo referência à programação de uma nova vida do Espírito. O que ele vai
ser, o que ele vai fazer, etc. Logo após a sua desencarnação, o Espírito passa
por uma profunda mudança; obviamente, nessas condições, ele não está apto para
fazer escolhas, principalmente se ele está envolvido pelas paixões terrenas. É
necessário que tenha um tempo. Pode acontecer a um Espírito mais consciente de
seus deveres, reencarnar logo, mesmo assim é muito raro não haver intervalo entre
as duas vidas. Não podemos precisar ao certo a duração desses intervalos. Os
Espíritos inferiores, como respondem os Espíritos, acreditam na eternidade das
penas. A sua mente foi trabalhada nisso por muitos anos e o condicionamento não
cede lugar facilmente para outras ideias, a não ser com o trabalho do tempo.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Início do estudo do
tópico Escolha das provas.
258.
No estado errante, e antes de começar
nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que
lhe vão acontecer durante a vida?
“Ele próprio escolhe o
gênero de provas que deseja sofrer e nisso consiste o seu livre-arbítrio”.
Esta resposta determina
um ponto muito importante para o começo de nossa reflexão, que nos convida a apreciar
com profundidade esse assunto da escolha das provas. Costumamos ouvir: “não sei
que mal eu fiz a Deus para ter um filho assim”. Porém a criatura não deve se
queixar de sua vida, nem das circunstâncias em que ela passa determinadas
experiências, porque, simplesmente, são provas que ela escolheu e vai ter que
passar. Provavelmente, esse filho que hoje lhe dá dor de cabeça, é alguém que
ela induziu ao erro, ontem, em outra existência, fazendo com que ele fosse um
Espírito rebelde, difícil de lidar. Então, essa criatura tem que ajudá-lo a soerguesse
dessa condição de inferioridade para tornar-se um homem melhor.
258-a.
Não é Deus, então, que lhe impõe as
tribulações da vida, como castigo?
“Nada acontece sem a
permissão de Deus, pois foi Ele quem estabeleceu todas as leis que regem o
Universo. Perguntai, então, por que fez tal lei, e não outra! Dando ao Espírito
a liberdade de escolher. Deus lhe deixa toda a responsabilidade de seus atos e
de suas consequências. Nada entrava o seu futuro; o caminho do bem, como o do
mal, lhe estão abertos. Se vier a sucumbir, resta-lhe o consolo de que nem tudo
se acabou para ele e que Deus, em sua bondade, deixa-o livre para recomeçar o
que foi malfeito. Além disso, é preciso distinguir o que é obra da vontade de
Deus do que é obra da vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós
quem o criou e sim Deus; tivestes, porém, o desejo de vos expordes a ele,
porque nele vistes um meio de progredirdes, e Deus o permitiu”.
Ou seja, todas as
escolhas que tenhamos feito na vida são nossas, e se passamos por processos de
dificuldade X Y ou Z, é porque Deus deixou; e tem um detalhe muito importante.
Deus está acreditando em nós; na possibilidade de superarmos aquela dificuldade
que porventura nos surja na vida. E o mais importante, com a liberdade de
escolher e com o livre-arbítrio nós temos a chance de conquistarmos valores
morais por nossa própria escolha.
259.
Se o Espírito pode escolher o gênero de
provas que deve sofrer, seguir-se-á que todas as tribulações que experimentamos
na vida foram previstas e escolhida por nós?
“Todas não é bem o
termo, porque não escolhestes nem previstes tudo o que vos sucede no mundo, até
as menores coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações; os detalhes são
consequência da posição e, muitas vezes, das vossas próprias ações. Se o
Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que arrastamento
se expunha, mas ignorava quais os atos que viria a praticar. Esses atos
resultam do exercício da sua vontade, ou do seu livre-arbítrio. Ao escolher tal
caminho, sabe o Espírito que gênero de lutas terá que sustentar; sabe,
portanto, a natureza das vicissitudes que irá encontrar, mas ignora quais os
acontecimentos que o aguardam. Os detalhes secundários se originam das
circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, os que
influem no destino, estão previstos. Se escolhes um caminho acidentado, sabes
que terás de tomar muitas precauções, porque grande é a probabilidade de caíres;
ignoras, no entanto, em que trecho cairás, mas é possível que nem caias, se
fores bastante prudente. Se, ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça,
não creias que estava escrito, como se diz vulgarmente”.
Na realidade, não
existe um destino. Existe um projeto de vida, e nós somos os artífices dele.
Quando nós saímos para uma viagem, temos que fazer um projeto para ela. Como eu
vou viajar? Eu vou viajar de carro, de trem, de ônibus, etc. Lá, eu vou ficar
onde? Vou ficar num hotel, num acampamento, na casa de um familiar ou de um
amigo? Se for num hotel, eu tenho que fazer a reserva, enfim, eu tenho que
fazer um planejamento. Agora, nada impede que eu mude a trajetória. Vou pegar
outro caminho. A mesma coisa se dá quando nós fazemos um projeto para uma nova
existência. Nós escolhemos situações gerais, aquilo que vida vai nos trazer, de
acordo com as circunstâncias que nós necessitamos para o nosso aprendizado. Por
isso, nós podemos escolher qual a família que vai nos acolher, quais as
condições de ordem material, social. Coisas assim, nós vamos escolhendo. Agora,
estando aqui encarnados, o nosso livre-arbítrio vai definir se vamos cumprir ou
não. Isso não está programado, mas, lógico que vamos pagar o preço das escolhas
insensatas que venhamos a fazer. Quando escolhemos certos tipos de provas,
escapa-nos o conhecimento das particularidades que possam ocorrer. Somente Deus
sabe tudo e concede a nós o que pedimos, desde que nos sirva de lições
valiosas. Fica a critério da nossa liberdade a solução dos problemas que
deverão surgir em meio às provas escolhidas. O gênero de provas é escolhido,
mas, um mundo de revezes provenientes delas escapou à razão, e teremos que
criar defesas na hora que surgirem, ou então, seremos envolvidos por eles. A grande verdade é esta: temos que entender
que, acima de tudo, nada acontece por acaso.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Início do estudo de uma
dissertação feita por Kardec, com base nas informações colhidas dos Espíritos,
falando a respeito do Ensaio teórico sobre a sensação dos Espíritos, na Questão
257. Essa questão não é exatamente uma pergunta. É um comentário longo de
Kardec.
257.
O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primeira desta é, pelo menos,
a causa imediata. A alma tem a percepção da dor; essa percepção é o efeito. A
lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação
física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos
da alma; a alma não pode congelar-se, nem se queimar. Não vemos todos os dias a
recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito da realidade, e
até mesmo ocasionarem a morte? Todos sabem que as pessoas amputadas sentem dor
no membro que não existe mais. Seguramente, não é nesse membro que está a sede
ou o ponto de partida da dor; o cérebro é que guardou esta impressão, eis tudo.
É lícito, pois admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito
após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha papel
tão importante em todos os fenômenos espíritas, tal como nas aparições
vaporosas ou tangíveis, no estado em que o Espírito vem a encontrar-se por
ocasião da morte, na ideia tão frequente que ele tem de que ainda está vivo, no
quadro tão comovente dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram
absorver pelos gozos materiais, e tantos outros fatos vieram lançar luz sobre
esta questão, motivando as explicações que passamos a resumir.
O
perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; ele é tirado do
meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da eletricidade,
do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer
que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, mas não o da
vida intelectual, pois esta reside no Espírito. É, além disso, o agente das
sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam
essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não
dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa.
Não
se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente,
com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e
não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento
não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que
ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no
verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor.
Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem
não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que
o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se
acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma
reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa.
Algumas
vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver. Ensina-nos a
experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos
lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação,
o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não
estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe
pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura
enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa
vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: No entanto, sinto os
vermes a me roerem. Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o
perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém,
não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de
repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo
no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à
suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com
o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a
ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois não haveria no caso uma
reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, ruído pelos vermes: havia o
sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar
dos fatos, quando atentamente observados.
Durante
a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por
intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido
nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele
Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação,
porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral.
Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de
transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será
deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada
sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não
tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o
que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais
eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde
se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride,
isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro. Mas,
dir-se-á, desde que pelo perispírito é que as sensações agradáveis, da mesma
forma que as desagradáveis, se transmitem ao Espírito, sendo o Espírito puro
inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Assim é, de fato, com
relação às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som
dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores nenhuma impressão lhe
causam. Entretanto, ele experimenta sensações íntimas, de um encanto
indefinível, das quais ideia alguma podemos formar, porque, a esse respeito,
somos quais cegos de nascença diante a luz. Sabemos que isso é real; mas, por
que meio se produz? Até lá não vai a nossa ciência. Sabemos que no Espírito há
percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser
todo e não, como no homem, de uma parte apenas do ser; mas, de que modo ele as
tem? Ignoramo-lo. Os próprios Espíritos nada nos podem informar sobre isso, por
inadequada a nossa linguagem a exprimir ideias que não possuímos, precisamente
como o é, por falta de termos próprios, a dos selvagens, para traduzir ideias
referentes às nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.
Dizendo
que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos,
referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra
analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais
denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma
parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos.
Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o
ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora
de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica
a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o
auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que
dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais
desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o
Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo
essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais
extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem,
pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea,
se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea, se vão
desanuviando, à proporção que o invólucro semi-material se eteriza.
Haurido
do meio ambiente, esse invólucro varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao
passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós
mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do polo ao equador.
Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do perispírito terrestre e
então suas percepções se produzem como no comum dos Espíritos. Todos, porém,
assim os inferiores como os superiores, não ouvem, nem sentem, senão o que
queiram ouvir ou sentir. Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem,
livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa são obrigados
a ouvir – os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas,
eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem,
podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são
superiores. Nos primeiros instantes que se seguem à morte, a visão do Espírito
é sempre turbada e confusa. Aclara-se, à medida que ele se desprende, e pode
alcançar a nitidez que tinha durante a vida terrena, independentemente da
possibilidade de penetrar através dos corpos que nos são opacos. Quanto à sua
extensão através do espaço indefinito, do futuro e do passado, depende do grau
de pureza e de elevação do Espírito.
Objetarão,
talvez: toda esta teoria nada tem de tranquilizadora. Pensávamos que, uma vez
livres do nosso grosseiro envoltório, instrumento das nossas dores, não mais
sofreríamos e eis nos informais de que ainda sofreremos. Desta ou daquela
forma, será sempre sofrimento. Ah! Sim, pode dar-se que continuemos a sofrer, e
muito, e por longo tempo, mas também que deixemos de sofrer, até mesmo desde o
instante em que se nos acabe a vida corporal.
Os
sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais vezes,
contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que
a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido
possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus
excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre
vivesse com sobriedade, que de nada abusasse, que fosse sempre simples nos
gostos e modesto nos desejos, a muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá
com o Espírito. Os sofrimentos por que passa são sempre a consequência da
maneira por que viveu na Terra. Certo já não sofrerá mais de gota, nem de
reumatismo; no entanto, experimentará outros sofrimentos que nada ficam a dever
àqueles. Vimos que seu sofrer resulta dos laços que ainda o prendem à matéria;
que quanto mais livre estiver da influência desta, ou, por outra, quanto mais
desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está
nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. Ele tem o
livre-arbítrio, tem, por conseguinte, a faculdade de escolha entre o fazer e o
não fazer. Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme,
nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons
sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que
não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará
depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro,
não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos
sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles
deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz
por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer
sofrimento moral.
Interrogamos,
aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as classes da
sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos os
períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo;
acompanhamo-los passo a passo na vida de além-túmulo, para observar as mudanças
que se operavam neles, nas suas ideias, nos seus sentimentos e, sob esse
aspecto, não foram os que aqui se contaram entre os homens mais vulgares os que
nos proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que
os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas consequências
experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que
seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque
o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro
mundo, quer neste.
Aqui, nós temos uma
série de informações que mostram, por exemplo, o quanto Kardec era uma pessoa
bem qualificada e bem preparada para a tarefa da codificação. Ele tinha
conhecimento de anatomia e de fisiologia profundos para a sua época, e, até
para a época atual. Ele nos dá uma aula de fisiologia da dor. A dor que nós
sentimos fisicamente depende basicamente do grau de condicionamento que
tenhamos para tolerá-la.
O interessante é que,
Kardec, depois de analisar milhares de comunicações vindas dos Espíritos, de
todas as posições sociais, ele começou a acompanhar e estudar o que ocorria com
eles; quais as mudanças que eles apresentavam no plano espiritual; quais as
suas sensações. Podemos citar, como por exemplo, a Revista Espírita de 1852,
onde Kardec coloca para o Espírito São
Luiz uma indagação a respeito de uma comunicação dada por um Espírito, falando
sobre a sua penosa sensação de frio que sentia. Diz Kardec: compreendemos os
sofrimentos morais, ou seja, remorso, vergonha, angústia, mas frio, calor,
sede, fome, não efeitos morais. Experimentariam os Espíritos tais sensações? E
São Luiz responde com outra pergunta: tua alma tem sede? Refletindo sobre essa
resposta, Kardec conclui que aquele Espírito que dizia sentir um frio terrível,
na realidade, ele não sentia um frio real, visto que, ele não tinha mais o
corpo físico, mas uma lembrança da sensação de frio, que havia suportado.
O Espírito, quando
reencarna, é ligado ao corpo por fios tenuíssimos em vários centros de força,
refletores de outros centros da alma, no domínio de todas as células do campo
somático. Quando o corpo físico começa a desagregar-se por desleixo da alma que
não cuidou da sua vestimenta, ou por processos ligados ao passado, ou por leis
de mudanças necessárias, não é ele que sofre as impressões dolorosas; é o
Espírito, por sua alta sensibilidade, que capta essas impressões, pelas linhas
que o prendem à argamassa física.
Esse processo de
sofrimentos é, pois, um campo de experiências, mediante o qual despertam os
valores do Espírito que dormem na consciência profunda.
Com o conhecimento que
agora se tem, trazido à luz pelo ensaio teórico do Codificador e com todas as
experiências adquiridas ao longo do tempo, deve-se passar à vivência dos
ensinos de Jesus, conhecendo a verdade que oferecerá a coroa de luz, marcando
assim a sua dignidade como cidadão livre no campo da vida espiritual.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade
ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as
perguntas de 252 a 256.
252.
Os Espíritos são sensíveis às belezas da
Natureza?
“As belezas naturais
dos globos são tão diferentes que estamos longe de as conhecer. Sim, os
Espíritos são sensíveis a essas belezas, segundo as aptidões que tenham para
apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto
diante das quais se apagam, por assim dizer, as belezas dos detalhes”.
Sabemos que os
planetas, de acordo com a sua atmosfera, têm o céu de uma determinada cor,
quando iluminado pela luz solar. Aqui na Terra, nós enxergamos o céu azul. Há
planetas em que o céu talvez seja rosado, devido a composição de gases que
compõe a sua atmosfera. Ora, nós sabemos que o belo é próprio da criação divina
e, obviamente, a Natureza nos oferece tantas coisas belas para a nossa visão
tanto quanto para o próprio sentimento. Quantas vezes buscamos a Natureza para
refazer as nossas energias?
253.
Os Espíritos experimentam as nossas
necessidades e sofrimentos físicos?
“Eles os conhecem,
porque os sofreram, mas não os experimentam como vós, materialmente; são
Espíritos”.
Aqui, nós temos que
levar em conta que a Espiritualidade está falando de Espíritos superiores, que
já passaram por dificuldades, por sofrimentos. Eles já superaram as questões da
matéria, e já vibram numa energia diferente e, obviamente, já não passam por
nenhum sofrimento e necessidades de ordem física. Os Espíritos superiores
certamente que conhecem todos os tipos de sofrimentos, por terem passado por
eles quando estagiavam na Terra, em um corpo físico. Todos nós passamos pelos
mesmos caminhos de ascensão, todavia, quando a consciência se encontra limpa de
todas as mazelas inferiores, o Espírito se encontra livre das respostas da lei
de causa e efeito. Ele vive envolvido no magnetismo superior a que fez jus.
254.
Os Espíritos sentem fadiga e necessidade
de repouso?
“Não podem sentir
fadiga, tal como entendeis; conseguintemente, não precisam do repouso corporal,
já que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas. Contudo, o Espírito
repousa, no sentido de não estar em constante atividade. Ele não age de maneira
material; sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Ou seja; há
momentos em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo e não se fixa em um
objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas de nenhum modo comparável ao
do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem experimentar está na razão
da sua inferioridade, pois quanto mais elevado forem, de menos repouso
necessitarão".
Os Espíritos elevados
não podem sentir a necessidade de repouso que os homens sentem, certamente que
não. Eles não possuem mais o corpo material, mas têm o descanso compatível com
o seu tamanho evolutivo. Os Espíritos de pureza superior não sentem necessidade
de repouso. Não existe repouso em Deus, como em Jesus também.
255.
Quando um Espírito diz que sofre, de que
natureza é o seu sofrimento?
“Angústias morais, que
o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos”.
Quando o Espírito diz
que está sofrendo, os sofrimentos não são físicos; são angústias morais, como
os Espíritos classificam, que são bem piores do que os padecimentos terrenos. A
consciência registra, sem que possamos saber, todos os atos da alma, como que
fotografando em todas as suas nuances, de modo que no momento certo, essas
forças negativas transbordam para a mente do Espírito, entregando-o às consequências
que são próprias do clima negativo das ações inferiores. É o que se chama de
remorso, ou regressão de memória. A consciência, além de guardar as imagens dos
feitos, registra os sons e tem a capacidade de dar vida a todos os nossos feitos
e, ainda muito mais, faz com que pensemos naqueles fatos. As angústias morais
torturam a alma qual um tribunal íntimo devedor. Eis aí o dente por dente do
velho texto dos judeus.
256.
Como é então que alguns Espíritos se têm
queixado de sofrer frio ou calor?
“Reminiscência do que
padeceram durante a vida, algumas vezes tão penosa quanto a realidade.
Frequentemente, é uma comparação que fazem, mediante a qual exprimem a sua
situação, em falta de outra melhor. Quando se lembram do corpo que tiveram,
experimentam uma espécie de impressão semelhante à de alguém que, havendo
tirado uma capa, julga ainda estar com ela algum tempo depois”.
A nossa realidade de
fato é aquela que nós criamos através dos nossos pensamentos. A dor é um
comando mental que nos é dado quando estamos em risco, para que tomemos uma providência;
é uma dor em qualquer dos nossos órgãos, ou uma queimadura. Quando o Espírito
desencarna, já não tem mais corpo; mas o condicionamento mental não desaparece
de uma hora para outra. O Espírito continua mantendo aquele condicionamento mental.
Se o Espírito desencarnou em meio ao frio, vai continuar sentindo frio por
algum tempo; se desencarnou sentindo sede ou fome, também vai carregar essas
sensações.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade
ao tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as
perguntas de 248 a 251.
248.
O Espírito vê as coisas tão distintamente
como nós?
“Mais distintamente,
pois sua visão penetra o que não podeis penetrar. Nada a obscurece”.
A nossa visão, ou seja,
a visão dos Espíritos encarnados, nós sabemos que ela depende luz. As coisas
que nós vemos, elas refletem simplesmente a luz que incide sobre elas, e essa
luz sensibiliza os nossos olhos e, através disso, conseguimos enxergar. Por
isso, a nossa visão passa a ser limitada ao ambiente que tenha luz. Também se
limita a esses objetos, porque nada podemos ver além deles. Qualquer obstáculo
de ordem material impede que a nossa visão vá além desses óbices.
Diferentemente, acontece com o Espírito evoluído. A sua visão é uma atributo do
próprio Espírito. Os Espíritos superiores veem as coisas da Terra com mais
perfeição, enxergam até nas profundezas da matéria e compreendem, na sua
intimidade, o que passa despercebido pelas almas envoltas no fluídos da carne.
249.
O Espírito percebe os sons?
“Sim, e percebe até mesmo
os sons que os vossos sentidos obtusos são incapazes de perceber”.
A pergunta é se os
Espíritos percebem os sons. Certamente estamos tratando de Espíritos elevados,
que já deixaram cair o véu da ignorância que empanava a sua visão espiritual.
Eles percebem os sons bem mais do que se pensa, em todas as gamas das suas vibrações,
até aqueles que o ouvido humano não registra. Para os Espíritos superiores não
há segredos nesta arte. A vontade, adestrada na experiência, fornecida pela
maturidade que o tempo oferece, é o seu instrumento.
249-a.
No Espírito, a faculdade de ouvir está em
todo o seu ser, como a der?
“Todas as percepções
são atributos do Espírito e fazem parte de seu ser. Quando está revestido de um
corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto os órgãos; mas, no estado de
liberdade, deixam de estar localizadas”.
No Espírito, a
faculdade de ouvir se encontra em todo o seu ser, e não por um órgão restrito,
como os encarnados têm. Como entender que a faculdade de ouvir se encontra
espalhada por todo o ser espiritual? Somente pelos canais do mais alto
entendimento pode-se perceber essas belezas imortais da vida, onde o paraíso se
expressa como tal.
250.
Sendo as percepções atributos do próprio
Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se a elas?
“O Espírito só vê e
ouve o que quer. Isto é dito de forma geral, sobretudo para os Espíritos
elevados, pois os imperfeitos muitas vezes ouvem e veem, à revelia deles, o que
possa ser útil ao seu aperfeiçoamento”.
O Espírito elevado tem
seus poderes dilatados no que concerne aos seus dons. Isso no que se refere às
entidades que já se libertaram das paixões do mundo, e mesmo nelas há uma
escala evolutiva, onde quanto mais se eleva, mais se percebe as belezas
imortais da vida. O Espírito certamente ouve e vê o que deseja, porém em se
tratando de Espíritos Superiores, pois, a sua vontade dilata sua percepção ou a
retrai, interceptando o que não lhe convém. No entanto, há entidades
espirituais que, por vezes, desejam ver coisas que não convêm ao seu
adiantamento espiritual, e às vezes têm condições para tal, mas será tirada a
sua visão para o seu próprio bem. Isso quando se trata de Espíritos medianos.
251.
Os Espíritos são sensíveis à música?
“Referi-vos à vossa
música? Que é ela comparada à música celeste? A esta harmonia de que nada na
Terra vos pode das ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem para
uma suave melodia. Não obstante, Espíritos vulgares podem experimentar certo prazer
em ouvir a vossa música, por não lhes ser dado ainda compreender outra mais
sublime. A música possui infinitos encantos para os Espíritos, em razão de
terem muito desenvolvidas suas qualidades sensitivas. Refiro-me à música
celeste, que é tudo o que de mais belo e suave a imaginação espiritual pode
conceber”.
A música da Terra,
mesmo a clássica, de Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, não se compara como as
melodias dos mundos superiores que vibram na mais perfeita harmonia do
universo. A música que há no mundo espiritual é de uma sublimidade tão grande,
que não há uma forma de comparação para com a música que nós ouvimos aqui na
Terra. É como que o canto de Deus para a felicidade dos Seus filhos, que tenham
ouvidos para ouvir.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao
tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as
perguntas de 244-a a 247.
244-a.
Quando um Espírito inferior dia que Deus
lhe proíbe ou permite uma coisa, como sabe que isso vem de Deus?
“Ele não vê a Deus, mas
sente a sua soberania, e sempre que uma coisa não deve ser feita ou uma palavra
não deve ser dita, ele sente uma espécie de intuição, uma advertência invisível
que o proíbe de fazê-lo. Vos mesmos não tendes pressentimentos que são como
avisos secretos, para fazerdes, ou não, isto ou aquilo? O mesmo acontece
conosco, só que num grau superior, pois hás de compreender que, por ser mais
sutil do que as vossas a essência dos Espíritos, eles podem perceber melhor as
advertências divinas”.
Somente os Espíritos
perfeitos têm o alcance espiritual de ver a Deus. Essa visão não se compara à
proporcionada pelos olhos do corpo físico. É uma visão diferente, e as
limitações da linguagem humana nos impedem de explicá-la com clareza.
Os Espíritos que ainda
não atingiram a superioridade na escala da perfeição não veem a Deus; eles têm
a intuição da Sua existência e a Seu respeito são esclarecidos pelos Espíritos
mais elevados. Deus Se expressa na criação pela visibilidade dos Seus feitos. É
algo que para nós chega a ser um tanto estranho e difícil de compreender. Seria
como explicar a cor a alguém que nunca enxergou. É mais ou menos isso.
244-b.
A ordem lhe é transmitida diretamente por
Deus, ou por intermédio de outros Espíritos?
“Ela não lhe vem
diretamente de Deus. Para se comunicar com Deus, é preciso ser digno disso.
Deus lhe transmite suas ordens por meio de Espíritos mais elevados em perfeição
e instrução”.
Então, podemos entender
pela resposta dos Espíritos que nem mesmo o grande profeta hebreu, Moisés, que
afirmou ter recebido os mandamentos diretamente de Deus, entrou em contato
direto com o Divino. Apenas Jesus recebia o estímulo diretamente de Deus, na
Terra, por se encontrar capacitado para tal percepção. Ver a Deus é uma coisa,
e sentir a Sua soberania é outra. A voz da consciência sempre fala do Criador,
porque dentro dela se encontram registradas todas as Suas leis.
245.
A visão dos Espíritos é circunscrita como
a dos seres corpóreos?
“Não; ela reside neles
por inteiro”.
Vamos procurar entender
isso. Para nós, encarnados, nós sabemos que a visão se manifesta através dos
nossos olhos. Mas, o Espírito vê de forma diferente. Ele é capaz de ver por
todos os lados. Então, ele é capaz de ver o que está na frente, atrás, nos
lados, porque a sua visão não está circunscrita aos olhos, como está a nossa.
Ele é capaz de entrever através da matéria. Portanto, a visão do Espírito é
diferente da visão dos seres humanos, não sendo circunscrita como a deles. Ela
reside em todo o seu ser, quando se trata de Espíritos superiores. Em muitos
dos que ainda alimentam paixões inferiores, a visão é bem mais restrita que às
criaturas encarnadas, quando não perdem esse dom temporariamente.
246.
Os Espíritos precisam da luz para ver?
“Veem por si mesmos,
sem precisarem de luz exterior. Para eles não há trevas, a não ser aquelas em
que podem achar-se por expiação”.
Como na Questão
anterior, nós temos que analisar entendendo que tudo depende da evolução do
Espírito. Obviamente essa resposta se refere aos Espíritos que estão num nível
evolutivo mais elevado, e que já não necessitam dos olhos físicos para
enxergarem. Agora com relação aos Espíritos mais apegados à matéria, eles estão
tão presos quanto nós, que estamos aqui encarnados. Eles têm as mesmas
dificuldades que nós e, às vezes, até mais dificuldades, porque, assim como
nós, dependem da luz. Os Espíritos puros, ou mais ou menos puros, não têm
necessidade da luz para ver as coisas. É bom que nos lembremos de que para os
Espíritos puros não existem trevas; tudo é luz, porque eles têm olhos para ver.
Podemos tentar exemplificar isso citando a visão mediúnica. Os médiuns que têm
essa faculdade, quando fecham os olhos eles veem claramente, porque não estão
usando os olhos físicos, simplesmente por isso. O mesmo ocorre com os Espíritos
desencarnados, de ordem superior.
247.
Os Espíritos têm necessidade de
transportar-se para verem o que se passa em dois pontos diferentes? Podem, por
exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?
“Como o Espírito se
transporta com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao
mesmo tempo. Seu pensamento pode irradiar e dirigir-se para muitos pontos
diferentes ao mesmo tempo, mas essa faculdade depende da sua pureza; quanto
menos puro é o Espírito, tanto mais limitada é a sua visão. Só os Espíritos
Superiores podem abarcar o conjunto”.
Não existem distâncias,
como se pensa na Terra, para os Espíritos superiores. Eles têm o poder de ver
tanto de perto, quanto em distâncias imensuráveis, como se acredita ser. É,
pois, uma dilatação dos seus poderes de visão, controlados pela vontade que a
sua maturidade espiritual favorece. Para os Espíritos puros, desaparecem o
tempo e espaço como, e certamente, deixam de existir distâncias que, para nós
outros, são obstáculos. O Espírito, de acordo com o seu crescimento espiritual,
pode comunicar-se em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo, por vários
médiuns. Não tendo outra expressão, podemos dizer que se expande ao infinito,
em plena consciência. Além da resposta dada pelos Espíritos a Allan Kardec, que
o Espírito se transporta com a velocidade do pensamento, o próprio codificador
acrescenta algo, com muita lógica, dando mais luz para o nosso entendimento,
dizendo que a faculdade de ver do Espírito é inerente à sua natureza. E
acrescentamos que ela se dilata de acordo com a sua evolução, ou melhor, com o
seu despertamento espiritual. Então, os Espíritos de luz podem se transportar
para qualquer parte do planeta, na velocidade do próprio pensamento. Basta a
sua vontade de estar em determinado lugar, e ele imediatamente estará ali.
Comentário
de Kardec:
No
Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que
reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo
luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange
simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucides para a qual não há
trevas nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a
visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona; não havendo
luz ele fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver é um atributo
próprio, abstração feita de qualquer agente repouso é todo moral. Ou seja: há
momentos em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo e não se fixa em um
objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas de nenhum modo comparável ao
do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem experimentar está na razão
da sua inferioridade, pois quanto mais elevados forem, de menos repouso
necessitarão.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos dar continuidade ao
tópico Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as
perguntas de 242 a 244.
242.
Como é que os Espíritos têm conhecimento
do passado? Esse conhecimento é ilimitado para eles?
“O passado, quando com
ele nos ocupamos, é presente, exatamente como te lembras de uma coisa que te
impressionou no curso de teu exílio. Simplesmente, como já não temos o véu
material que obscurece a tua inteligência, lembramo-nos de coisas que para ti
estão apagadas. Mas, nem tudo os Espíritos sabem, a começar pela sua própria
criação”.
A lembrança do passado,
ela depende da evolução de cada Espírito. Não é pelo fato de um Espírito
desencarnar que, naquele exato momento, já passa a ser senhor de toda sua
memória, das existências do passado. Não é bem assim. O Espírito vai recordando
aos poucos, de acordo com as suas necessidades. O Espírito lembra das questões
difíceis que passou, para que possa cuidar delas, aprender com elas. Muitas
lembranças que ele têm podem trazer transtornos, porque ele ainda não é capaz
de superar no seu atual momento evolutivo em que vive. Por isso, não adiantaria
vir à tona erros que o Espírito não tem ainda condição de cuidar deles.
O conhecimento do
passado é relativo à alma que regride aos liames do pretérito. Recordar é
conhecer o que se foi para melhorar o presente e preparar para o futuro.
O Espírito não tem
pleno conhecimento das vidas passadas; ele somente recorda, até onde as suas
forças suportarem, e que lhe sirva de lições. Mesmo ao Espírito livre da
matéria ainda é vedado saber o que já foi. A gradação é norma de equilíbrio em
todos os planos de vida, para que tenhamos paz, e essa paz possa nos fornecer
forças no decorrer de novas lutas.
243.
Os Espíritos conhecem o futuro?
“Isso também depende da
perfeição deles. Muitas vezes, apenas o entreveem, mas nem sempre lhes é
permitido revelá-lo. Quando o veem, o futuro lhes parece o presente. O Espírito
vê o futuro mais claramente à medida que se aproxima de Deus. Após a morte, a
alma vê e abarca num piscar de olhos suas migrações passadas, mas não pode ver
o que Deus lhe reserva. Para isso, é preciso que esteja completamente integrado
a Ele, depois de muitas existências”.
Para se ter uma visão
completa do futuro, seria necessário que a vida se tratasse de uma história
escrita por inteiro. Seria necessário que existisse um futuro predeterminado
para cada um de nós. Há, sim, uma programação no nível individual e outra no
nível coletivo. Mas, nessas programações, estão apenas os nossos instrumentos
de aprendizado, ou seja, as circunstâncias que a vida nos trará como lições.
Existem muitas
profecias; os profetas são inúmeros, em todas as religiões e filosofias
espiritualistas, no entanto, todos já conhecem a existência dos falsos
profetas. Eles são em quantidade inumerável. Os verdadeiros são poucos, e mesmo
assim são parcimoniosos nas suas predições, falando por parábolas. No mundo
espiritual existem também os falsos profetas, e não se pode dizer que todas as
mensagens mediúnicas são de Espíritos puros. Os que se comunicam são muitos,
mas poucos são os escolhidos, para dizer a verdade. Os Espíritos puros podem
falar do futuro com segurança e somente dizem coisas que não prejudicam os
seres humanos. Eles põem as criaturas a pensar sobre o que pode advir, e essas
predições trazem consigo estímulos para o aprendizado, principalmente no mundo
interno de cada um.
243-a.
Os Espíritos que alcançaram a perfeição
absoluta têm conhecimento completo do futuro?
“Completo não é bem o
termo, pois só Deus é soberano Senhor e ninguém o pode igualar”.
A verdade é relativa,
tanto na Terra como no céu. Nem os Espíritos perfeitos possuem o conhecimento
absoluto da verdade, por não terem as condições que Deus, somente Deus, possui.
Os Espíritos conhecem o
futuro, de acordo com o seu despertamento espiritual. Existe uma escala para
todos eles.
244.
Os Espíritos veem a Deus?
“Só os Espíritos
Superiores o veem e o compreendem. Os inferiores o sentem e o admiram”.
Isto para nós nos
parece um tanto estranho, alguém ver algo que é imaterial. Lógico que as percepções
dos Espíritos Superiores, dos Espíritos puros, principalmente, vão além das
nossas capacidades reais e, consequentemente, nós não temos sequer como
entender esse “ver”, seria como explicar a luz a um cego de nascença.
Todos os Espíritos
trabalham no conceito da vida divina. Deus nos criou iguais; e cada um na sua
caminhada vai buscando evoluir mais rapidamente ou menos rapidamente. Mas todos
nós chegaremos lá, um dia; todos têm o mesmo valor para o Pai; e é pelo
trabalho na seara divina que nós vamos conquistar a nossa evolução.
Somente os Espíritos
perfeitos têm o alcance espiritual de ver a Deus. Essa visão não se compara à
proporcionada pelos olhos do corpo físico. É uma visão diferente, e as
limitações da linguagem humana nos impedem de explicá-la com clareza.
Os Espíritos que ainda
não atingiram a superioridade na escala da perfeição não veem a Deus; eles têm
a intuição da Sua existência e a Seu respeito são esclarecidos pelos Espíritos
mais elevados. Deus Se expressa na criação pela visibilidade dos Seus feitos.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos iniciar o tópico Percepções,
sensações e sofrimentos dos Espíritos, estudando as perguntas de 237 a 241.
237.
Uma vez no mundo dos Espíritos, a alma
tem ainda as percepções que tinha na Terra?
“Sim, e outras que não
possuía, porque seu corpo era como um véu que as obscurecia. A inteligência é
um atributo do Espírito, mas que se manifesta mais livremente quando não tem
obstáculos a vencer”.
O ser, quando
desencarna, ou seja, volta à pátria espiritual, continua sendo o que era na
Terra; conserva os mesmos sentimentos, as mesmas sensações, e as lembranças
daquilo que aprenderam; tudo isso é patrimônio do Espírito. Quando ele
reencarna novamente, ele deixa parte desse patrimônio oculto, através do
esquecimento. São informações não necessárias ara a nova experiência que vai
viver, mantendo apenas vaga lembrança daquilo que lhe pode ajudar. Obviamente,
quando ele retornar à pátria espiritual, aos poucos, ele vai recobrando essa
memória.
238.
As percepções e os conhecimentos dos
Espíritos são limitados? Numa palavra; eles sabem tudo?
“Quanto mais se
aproximam da perfeição, tanto mais sabem. Se são Espíritos Superiores, sabem
muito. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes acerca de todas as
coisa”.
Os Espíritos Superiores
conhecem muito; eles dominam grande parte dos segredos da natureza divina e
humana. Não conhecem tudo, porque somente Deus é conhecedor das leis e dos
segredos da criação que Ele mesmo estabeleceu. Os Espíritos inferiores têm o
conhecimento que a sua elevação atingiu, muitos deles não sabem mais que os
homens, e outros sabem menos que estes. A sabedoria é de grande importância,
mas, só vai chegando às almas gradativamente, regulada pela lei, para que a ignorância
não a use mais do que pode fazê-lo.
Se o Espírito, por
estar desencarnado, soubesse tudo, não haveria razão para ele reencarnar.
Então, cada Espírito só vai saber aquilo que aprendeu.
239.
Os Espíritos conhecem o princípio das
coisas?
“Conforme a sua
elevação e a sua natureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais que os homens”.
É muito difícil para
nós entendermos a eternidade. Como sabemos, o Espírito é imortal. Os Espíritos
superiores podem até compreender os fatos do início da criação de todas as
coisas. Mas só Deus, o Criador, é que tem o conhecimento pleno. Para nós, fica
até um pouco difícil nós conseguirmos compreender e conceber o que seria o
início das coisas; porque, mais que possamos tentar levar o nosso pensamento ao
passado, para ali ser o início, a razão nos mostra que, antes daquilo, pode ter
existido algo.
Os Espíritos inferiores
não podem conhecer o princípio das coisas, pois lhes falta preparo para tal.
Eles, como nos informa os Espíritos benfeitores, não sabem mais que os homens e
muitos deles, menos que estes.
Somente os Espíritos
perfeitos, que já se livraram da influência das paixões humanas, que já
conheceram a verdade e se encontram livres de todas as inferioridades podem
conhecer, na escala em que se encontram, os princípios das coisas, mesmo assim
se lhes escapam muitas modalidades que somente Deus conhece.
240.
Os Espíritos compreendem a duração, como
nós?
“Não, e é isto que faz
que nem sempre nos compreendeis, quando se trata de determinar datas ou épocas”.
Toda percepção, ela
depende do ponto de referência do observador. Nós, que estamos encarnados, que
temos a nossa existência limitada a um período de 80, 100 anos, a nossa
percepção se dá através desse ponto de referência. Mas, para aquele que se
encontra desencarnado, esse parâmetro de tempo aumenta sobremaneira, porque ele
para trás e encontra a eternidade do tempo. Por isso há a conceituação de tempo
para nós encarnados, e para aqueles que estão desencarnados.
O tempo desaparece
diante dos instrutores espirituais. Quem vive irradiando a felicidade deixa de
perceber tempo e espaço. Exemplo: quando estamos cercados de companheiros cuja
presença nos dá satisfação, as horas passam sem que percebamos. Para os
Espíritos, nos seus trabalhos benfeitores, cuja consciência se encontra na tranquilidade
de Deus, o tempo desaparece e o espaço deixa de existir. No entanto, para a
humanidade e Espíritos ainda ligados às paixões humanas, esse tempo é uma
realidade e o espaço tem a sua presença, impondo limitações.
Comentário
de Kardec:
Os
Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos. A duração, para eles, anula-se,
por assim dizer, e os séculos, para nós tão longos, não passam, aos olhos
deles, de instantes que se apagam na eternidade, do mesmo modo que as
desigualdades do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço.
241.
Os Espíritos fazem do presente uma ideia
mais precisa e mais justa do que nós?
“Mais ou menos como
aquele que vê claramente faz ideia mais exata das coisas do que o cego. Os
Espíritos veem o que não vedes; julgam, pois, de modo diverso do vosso. Mas,
ainda uma vez, isso depende da elevação deles”.
Entendemos que o
presente é o espaço de tempo, é o agora. Presente é esse momento que estamos
vivenciando agora. Passados cinco minutos, esse momento de agora será passado.
Então, para termos uma ideia mais precisa do presente, na realidade, é nós
termos consciência da sua importância para nossa evolução. O presente é o
momento; só que é um momento muito importante na vida de todos nós, por quê?
Porque é no presente que nós podemos fazer alguma coisa em prol de nós mesmos
ou até alguma coisa em prejuízo de nós mesmos.
Os Espíritos fora da
carne têm uma visão mais acentuada do que os encarnados, por estarem mais
livres as suas faculdades. Entretanto, é bom que se compreenda que tudo é
relativo; o despertamento da alma obedece a uma lei que podemos denominar de
merecimento, pelo tamanho espiritual de cada um.
Determinadas entidades
espirituais, cuja elevação se encontra nos primeiros degraus na escala de
ascensão, por vezes não veem mais que os homens, e muitos deles, nem igual a
esses. Isso ocorre igualmente no que tange ao saber. Vejamos o que diz o
apóstolo João, em sua primeira epístola, no capítulo quatro, versículo um:
“Amados, não deis crédito a qualquer Espírito: antes, provai os Espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.”
Provar o Espírito se ele vem de Deus é examinar o conteúdo da sua fala, se as
coisas que ele diz são realmente de natureza evangélica, se procedem do amor.
Como já nos referimos, muitos deles não sabem mais que os próprios homens.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos iniciar o tópico Mundos
transitórios, estudando as perguntas de 234 a 236-e.
234.
Existem, como já foi dito, mundos que
servem de estações ou ponto de repouso aos Espíritos errantes?
“Sim, há mundos
particularmente destinados aos seres errantes, mundos nos quais deles podem
habitar temporariamente, espécies de acampamentos ao ar livre, de lugares em
que possam repousar de uma erraticidade demasiado longa, estado este sempre um
tanto penoso. São, entre outros mundos, posições intermediárias, graduadas de
acordo com a natureza dos Espíritos que podem alcançá-los e onde eles gozam de
maior ou menor bem-estar”.
Há muitas moradas na
casa de meu Pai, disse-nos Jesus. Em todas essas moradas há trabalho, há
aprendizado e oportunidades de crescimento para todos os Espíritos que lá
estão. São Espíritos que não estão revestidos de corpos, e como não estão
revestidos de corpos, eles podem suportar ambientes aparentemente inóspitos para
qualquer tipo de forma viva. Existem, portanto, no espaço, mundos transitórios
capazes de fornecer aos Espíritos errantes, meios para a escalada maior.
234-a.
Os Espíritos que habitam esses mundos
podem deixa-los à vontade?
“Sim, os Espíritos que
se encontram nesses mundos podem deixá-los, a fim de irem aonde devam ir.
Imaginai-os como aves de arribação que pousam numa ilha, para ali aguardarem
que se refaçam suas forças, a fim de seguirem seu destino”.
Podemos deduzir que o
Espírito é um habitante do Universo e, por isso, ele pode sem revestir-se de
uma forma física, habitar esferas totalmente inóspitas, mas que não afetam em
nada sua estrutura perispiritual. Nesses mundos transitórios podemos encontrar
Espíritos de várias escalas. São incontáveis os mundos que servem de casas para
todas as qualidades espirituais, dando a cada um o que deve receber na pauta da
verdadeira justiça.
235.
Os Espíritos progridem durante sua estada
nos mundos transitórios?
“Certamente. Os que
assim se reúnem o fazem com o objetivo de se instruírem e de poderem mais
facilmente obter permissão para dirigir-se a lugares melhores e chegar à
posição que os eleitos atingem”.
O progresso está na
essência da Criação. Todo o Universo está em processo evolutivo. A estada de
qualquer Espírito em um mundo transitório não é, simplesmente, querer ir e
pronto. Isso é fruto de um planejamento feito anteriormente, e que tem um
objetivo. Em qualquer lugar que os Espíritos estejam, o despertamento, mesmo
que seja vagaroso, é um fato inconteste. O objetivo dos Espíritos é chegar aos
mundos superiores, onde tudo é claridade, onde o amor é lei em todos os
movimentos e a caridade é o clima de todos os seres. É um processo migratório
de reequilíbrio espiritual, para que possam cumprir os seus desideratos
maiores, posteriormente.
236.
Pela sua natureza especial, os mundos
transitórios se conservam perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
“Não; sua posição é
apenas temporária”.
236-a.
Esses mundos são, ao mesmo tempo,
habitados por seres corpóreos?
“Não; sua superfície é
estéril. Os que os habitam não precisam de nada”.
236-b.
Essa esterilidade é permanente e resulta
da sua natureza especial?
“Não; são estéreis
transitoriamente”.
136-c.
Então esses mundos são desprovidos de
belezas naturais?
“A natureza se reflete
nas belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que aquilo a que
chamais de belezas naturais”.
236-d.
Já que o estado desses mundos é
transitório, nossa Terra será contada um dia entre eles?
“Ela já o foi”.
236-e.
Em que época?
“Durante a sua formação”.
Deus, na sua
grandiosidade e sendo a Inteligência Suprema do universo, não iria criar os-
mundos somente para Sua satisfação e dos Espíritos; todos eles têm sua missão
em variados esquemas que o progresso aciona.
Os mundos transitórios,
que recebem Espíritos de todas as naturezas, evoluem com as almas que nele
habitam temporariamente. Nada estaciona; há leis para governar tudo que existe
na criação.
Os Espíritos errantes
habitam mundos nos quais, por vezes, permanecem em Espírito, visto que essas
casas do universo ainda não se encontram com capacidade para lhes fornecer
corpos materiais. Somente com a marca do tempo e as bênçãos do Criador eles vão
se preparando gradativamente para tal empreendimento. É, pois, a Geena tanto
falada nos livros sagrados, capaz de educar as almas, ou dar algum toque de
transformação aos Espíritos endurecidos. São escolas divinas, na dignidade do
amor.
Basta um pouco de
razão, para que se possa cientificar dessas verdades anunciadas. Vários
planetas, que descrevem a órbita solar, são mundos que não têm condições de
fornecer corpos materiais para os Espíritos, porém se prestam como presídios
onde a justiça cobra de todos as reações aos seus feitos em outras casas
planetárias.
Comentário
de Kardec:
“Durante
a sua formação”
Nada
é inútil na Natureza; cada coisa tem o seu objetivo, sua destinação. Nada é
vazio, tudo é habitado, há vida em toda parte. Assim, durante a longa sucessão
de séculos que passaram antes do aparecimento do homem na Terra, durante os
lentos períodos de transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da
formação dos primeiros seres orgânicos, naquela massa informe, naquele árido
caos, onde os elementos se achavam em confusão, não havia ausência de vida. Seres
que não tinham as nossas necessidades, nem as nossas sensações físicas, lá
encontravam refúgio. Quis Deus, mesmo nesse estado imperfeito, que a Terra
servisse para alguma coisa. Quem, pois, ousaria afirmar que, entre os bilhões
de mundos que giram na imensidade, um só, um dos menores, perdido na multidão,
goza do privilégio exclusivo de ser povoado? Qual seria então a utilidade dos
outros? Deus os teria feito unicamente para recrear os nossos olhos? Suposição
absurda, incompatível com a sabedoria que resplandece em suas obras e
inadmissível quando pensamos em todos os mundos que não podemos perceber.
Ninguém contestará que, nesta ideia da existência de mundos ainda impróprios
para a vida material e, não obstante, já povoados de seres vivos apropriados a
tal meio, há qualquer coisa de grande e sublime, em que talvez se encontre a
solução de mais de um problema.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Vamos encerrar o tópico
Espíritos errantes, estudando as perguntas de 228 a 233.
228.
Os Espíritos conservam algumas das
imperfeições humanas?
“Os Espíritos elevados,
ao perderem o seu envoltório, deixam as más paixões e só guardam as do bem; mas
os Espíritos inferiores as conservam, pois do contrário pertenceriam à primeira
ordem”.
Ou seja, quando a
criatura desencarna continua sendo a mesma; com os mesmos sentimentos, as
mesmas preferências, os mesmos conhecimentos, as mesmas emoções. Vencer as más
paixões é o objetivo do ser imortal. Estar encarnado é uma etapa que
proporciona ao ser conquistar seus objetivos. Tanto aqui como no mundo espiritual
o Espírito carrega consigo todas as suas conquistas; de ordem emocional, de
ordem espiritual e de ordem intelectual que ele já tenha efetivado nas suas
mais diversas encarnações. Portanto, ele sempre terá esse patrimônio que foi
construído na sua história de vida, estando encarnado ou não, isso não importa.
A busca pelo progresso, pelo estudo, estarão sempre presentes. A evolução é
feita aqui no mundo material e lá, no mundo espiritual. Muitos Espíritos quando
partem do mundo físico, levam para o mundo espiritual as suas paixões que
viveram na carne. São os Espíritos inferiores que, em muitos casos, lutaram
para abandoná-las. Porém, a evolução não lhes conferiu forças para a limpeza do
coração e a estabilidade da consciência. Os Espíritos, mesmo no mundo espiritual,
têm campo propício para domar suas paixões, depende da boa vontade de quem
deseja delas se livrar. É o livre-arbítrio entrando em cena.
229.
Por que os Espíritos, deixando a Terra,
não deixam aí todas as más Paixões, já que reconhecem os seus inconvenientes?
“Tens nesse mundo
pessoas que são excessivamente invejosas. Acreditas que, tão logo o deixem,
perdem esse defeito? Após a partida da Terra, sobretudo para que os que tiveram
paixões bem acentuadas, resta uma espécie de atmosfera que os envolve, fazendo
que conservem todas essas coisas más, pois o Espírito ainda não se acha
inteiramente desprendido da matéria. Só por momentos ele entrevê a verdade,
como que para mostrar-lhe o bom caminho”.
Libertar-se das más
paixões é o grande objetivo de todos nós; condição para a conquista da nossa
evolução. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec diz que reconhecemos o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar as suas más inclinações. Porém, todo esse processo não se faz de
imediato, é preciso que nós nos conscientizemos e, a partir dessa
conscientização, comecemos a trabalhar emocionalmente.
Quando a alma parte do
mundo físico, ela leva consigo as suas paixões, que atravessam com ela o túmulo
sem nenhuma dificuldade, pois isso é uma disposição da alma que, pelo tempo,
deve se educar com os resultados indesejáveis das suas criações inferiores. Tudo
que criamos afiniza-se a nós e, de certa forma, se encontra ligado ao criador
por fios invisíveis, mas sólidos, de maneira a nos trazer a paz ou a espada.
Então, Se as paixões nos acompanham depois da chamada morte do corpo, a
inteligência nos diz que devemos suspendê-las antes que chegue a hora de partir
da Terra para o mundo espiritual.
230.
O Espírito progride no estado errante?
“Pode melhorar-se
muito, sempre conforme a sua vontade e o seu desejo. Mas é na existência
corporal que põe em prática as novas ideias que adquiriu”.
Essa resposta dada
pelos Espíritos nos mostra exatamente o objetivo do processo encarnatório. O
progresso, nós sabemos, está em todo lugar da criação divina. Agora, cada lugar
é apropriado para o tipo de ensinamento que ele oferece. Aqui na Terra, nós aprendemos
com as restrições que a matéria nos impõe; mas ela nos impulsiona para o
trabalho, e o trabalho que realizamos nos impulsiona para a convivência com as
outras pessoas, para o aprendizado moral e espiritual. A carne é uma escola
grandiosa, onde aprendemos com os recursos dos problemas, da dor, dos
infortúnios, enfim, do calvário, a despertar os nossos valores, que nos ajudam
a nos libertarmos das paixões perniciosas. Na erraticidade, o Espírito estuda
as leis gradativamente, de acordo com o seu interesse por elas. A consciência
profunda é um livro sagrado em cujas linhas Deus escreve o estatuto que devemos
respeitar, procurando vivê-lo. O Espírito em que falta maturidade não consegue
colocar em prática no mundo espiritual o que aprendeu por teoria, mas, aquele
já consciente das verdades, se apura cada vez mais em qualquer lugar em que se
encontra, porque, em todas as dimensões, Deus lhe dá oportunidades de melhorar,
de construir o seu céu no ambiente da intimidade.
231.
Os Espíritos errantes são felizes ou
infelizes?
“Mais ou menos, de
acordo com os seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cujo princípio
conservaram, ou são felizes, segundo sejam mais ou menos desmaterializados. No
estado errante, O Espírito entrevê o que lhe falta para ser mais feliz, e então
procura os meios de alcançá-lo. Mas, nem sempre lhe é permitido reencarnar
conforme sua vontade, o que constitui, para ele, uma punição”.
Quando aquele que está
aqui na Terra desencarna, continua sendo o mesmo. Ele leva para o mundo
espiritual tudo aquilo que aprendeu, os débitos que adquiriu pelos seus erros e
desacertos; mas também leva os seus créditos. Portanto, a felicidade ou
infelicidade é uma conquista do Espírito. Se na história de vidas anteriores o
ser soube fazer um trabalho em prol do próximo, vivenciou a lei de amor
ensinada por Jesus, certamente haverá de ser feliz. Agora, se no seu passado
ele contraiu débitos a resgatar, certamente a lei de causa e efeito lhe impõe
passar por determinadas dificuldades, por ter descumprido o compromisso
assumido antes da reencarnação.
Os Espíritos errantes
não têm a mesma condição espiritual. As suas posições na escala espiritual são
muito variadas, pois, uns são mais velhos espiritualmente que outros. Uns ainda
dormem na ignorância, outros já estão despertando para o entendimento
espiritual. Os Espíritos errantes nunca são totalmente felizes, pois, ainda erram.
Por mais conhecedores que sejam das leis naturais, se encontram envolvidos nos
dramas das paixões que destilaram na Terra, criando embaraço para os seus
próprios passos. No entanto, ninguém deve esmorecer no caminho, porque não
falta estímulo para todos os trabalhadores da vinha. Os fardos pesam e os jugos
são incômodos, mas mãos invisíveis nos ajudam, dependendo da nossa disposição
de melhorar.
232.
No estado errante, os Espíritos podem ir
a todos os mundos?
“Conforme. Pelo simples
fato de ter deixado o corpo, o Espírito não se acha completamente desprendido
da matéria e continua pertencendo ao mundo onde viveu ou a outro do mesmo grau,
a menos que, durante a vida, se tenha elevado. Esse objetivo para o qual deve
voltar-se, pois, do contrário, jamais se aperfeiçoaria. Pode, no entanto, ie a
alguns mundos superiores, mas na qualidade de estrangeiro. A bem dizer,
consegue apenas entrevê-los, e é isso que lhe dá o desejo de melhorar-se, para
se tornar digno da felicidade que ali se desfruta e poder habitá-los mais
tarde”.
Jesus, quando esteve
entre nós, teve a oportunidade de dizer que há muitas moradas na casa de meu
Pai. O fato é que cada uma morada tem a sua finalidade específica para atender
as necessidades de cada Espírito. Os Espíritos errantes podem viajar como
turistas a outros mundos mais elevados, não obstante, necessário se faz que
tenham preparo para tal empreendimento. Os prêmios somente vêm ao nosso
encontro por merecimento. Muitos Espíritos, ao desencarnarem, permanecem na
atmosfera do planeta, nas condições que deixaram o corpo. A consciência da
liberdade em plenitude vem somente para aqueles que completaram a ronda da
educação, nas linhas de todos os entendimentos dos ensinos de Jesus. Ao
deixarem o corpo, muitos são convidados a passeios em mundos melhores, de
maneira a estimular em seus corações uma vontade poderosa de se melhorarem
moralmente, e em tais circunstâncias eles trabalham com todas as suas forças
para aquisição dos valores imortais da Boa Nova.
233.
Os Espíritos já purificados vão aos
mundos inferiores?
“Frequentemente, a fim
de os ajudar a progredir. Sem isso, esses mundos estariam entregues a si
mesmos, sem guias para os dirigir”.
Jesus, quando esteve
entre nós, teve também a oportunidade de dizer que o Pai trabalha até hoje e
que Ele trabalhava também. Os Espíritos puros, aqueles que já passaram por
todas essas experiências que nós estamos passando hoje, e por outras que nós
passaremos também. Eles hoje são os trabalhadores do Pai e, por isso, vão aos
mundos inferiores na qualidade de mentores, para levar um socorro. Os Espíritos
purificados descem aos mundos inferiores, e fazem isso com frequência, para
ajudarem no progresso dos irmãos ali estagiados, por força do mesmo progresso.
Essa é a bondade de Deus se fazendo pelos canais de Seus filhos despertos pela
verdade. Quantos deles se encontram trabalhando na Terra envolvidos nos fluidos
da carne e fora dela, aliando-se com as forças da natureza, as quais conhecem
com profundidade!
Os Espíritos puros
reúnem, pelo convite do coração, Espíritos que queiram melhorar, e os instrui para
que o benefício rente à Terra seja maior.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Dando sequência ao
capítulo, vamos continuar estudando o tópico Espíritos errantes, nas perguntas
de 224 a 227.
224.
Que se torna a alma no intervalo das
encarnações?
“Espírito errante, que
aspira a novo destino, que espera”.
Hoje nós já sabemos,
através de diversos mentores espirituais, que erraticidade não é um local no
mundo espiritual, é uma condição própria do Espírito, na qual ele aguarda nova
oportunidade de reencarnação.
224-a.
Qual pode ser a duração desses
intervalos?
“Desde algumas horas
até alguns milhares de séculos. Aliás, não há, propriamente falando, um limite
extremo estabelecido para o estado errante, que pode prolongar-se por muito
tempo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito encontra sempre
oportunidade de recomeçar uma existência que sirva à purificação das suas
existências anteriores”.
Todos nós temos a nossa
individualidade, a nossa consciência de nós mesmos, e elas continuam conosco o
tempo todo. Lá na erraticidade, vai
depender da nossa necessidade. Portanto, é diferente para cada um de nós. Esses
intervalos da reencarnação são sem limites.
224-b.
Essa duração está subordinada à vontade
do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação?
“É uma consequência do
livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem, mas, para alguns,
é também uma punição imposta por Deus. Outros pedem que ela se prolongue, a fim
de continuarem estudos que só podem ser efetuados com proveito na condição de Espírito
livre”.
Portanto, a demora em
reencarnar-se pode ser uma punição, pelo mau uso que se fez das qualidades
espirituais recebidas do Criador. O sentido primordial da vida, em todos os
campos da Criação, é despertar as qualidades nobres da consciência, para que o
coração seja o canal da intuição, por onde possa falar o Cristo interno de cada
criatura.
225.
A erraticidade é, por si só, um sinal de
inferioridade dos Espíritos?
“Não, pois há Espíritos
errantes de todos os graus. A encarnação é um estado transitório, já o
dissemos. Em seu estado normal, o Espírito é livre da matéria”.
Ora, como já foi dito,
erraticidade é o mesmo que mundo espiritual. E, lá, no mundo espiritual, nós já
sabemos que existem mundos mais evoluídos que o nosso. Então, o fato de o
Espírito estar na erraticidade, não quer dizer que ele seja mais, ou menos
evoluído. A erraticidade não constitui um estado de inferioridade. Tomemos como
exemplo o plano material, onde existem almas de todas as qualidades, desde o
homem primitivo até o missionário de Jesus. Todos juntos no mesmo plano, mas
cada qual vivendo a sua situação espiritual.
226.
Pode-se dizer que são errantes todos os
Espíritos que não estão encarnados?
“Os que devam
reencarnar, sim; mas os Espíritos puros, os que atingiram a perfeição, não são
errantes; seu estado é definitivo”.
Vejamos; o errante é
aquele Espírito que, nesse momento, está desencarnado, e que está aguardando
uma oportunidade para reencarnar. Obviamente que esse aguardando é entre aspas,
porque no mundo espiritual ninguém fica numa fila, parado, esperando ser
chamado. Na realidade, estão trabalhando, estão estudando, estão realizando
coisas para a sua evolução. Agora, o Espírito puro, que também está
desencarnado, não tem mais a necessidade de reencarnar para buscar aprendizado.
Por exemplo, muito falam erroneamente que Jesus reencarnou na Terra. Jesus
encarnou na Terra. Ele só veio aqui uma única vez, para cumprir uma determinada
missão, diante da Lei Divina.
Explicação
de Kardec:
No
tocante às qualidades íntimas, os Espíritos são de diferentes ordens ou graus,
pelos quais vão passando sucessivamente, à medida que se purificam. Com relação
ao estado em que se acham, podem ser: encarnados, isto é, ligados a um corpo;
errantes, isto é, desligados do corpo material e aguardando nova encarnação
para se melhorarem; Espíritos puros, isto é, perfeitos, não precisando mais de
encarnação.
227.
De que modo se instruem os Espíritos
errantes, já que certamente não o fazem da mesma maneira que nós?
“Estudam o seu passado
e procuram meios de elevar-se. Veem, observam o que se passa nos lugares que
percorrem; ouvem os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos
Espíritos mais elevados que eles, e tudo isso lhes inspira ideias que não
tinham antes”.
Entendemos que lá no
mundo espiritual, como aqui na Terra, há inúmeras oportunidades de aprendizado.
Lá como aqui, o livre-arbítrio indicará o caminho de cada um, porque, embora os
Espíritos tenham as oportunidades eles podem escolher ou não aceita-las. Os
Espíritos errantes se ajustam numa escala muito grande. Muitos já estão despertos
para o aprendizado. O Espírito não fica a toa; vai trabalhar, estudar e
aprender.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
VI – Vida Espiritual.
Iniciando este
capítulo, vamos estudar o tópico Espíritos errantes.
223.
A alma reencarna imediatamente após a
separação do corpo?
Respondem os Espíritos:
“Algumas vezes reencarna imediatamente, mas na maioria das vezes só depois de
intervalos mais ou menos longos. Nos mundos superiores a reencarnação é quase
sempre imediata. Sendo aí menos grosseira a matéria corporal, o Espírito
encarnado goza de quase todas as suas faculdades de Espírito. Seu estado normal
é o dos vossos sonâmbulos lúcidos”.
Aqui, é bom esclarecer
que Espírito errante não é aquele Espírito que errou durante a sua encarnação,
e, sim, porque está numa situação em que não é Espírito encarnado e nem é
Espírito puro. Ele está numa situação totalmente diferente.
Como está escrito, não
há uma regra geral para a reencarnação dos Espíritos. Tudo é feito da melhor
forma que atender as necessidades do Espírito reencarnante. A reencarnação,
como já estudamos, é um instrumento de aprendizado e de desenvolvimento para o
Espírito. Por, isso, ela deve atender às necessidades individuais de cada um,
ou seja, os mentores espirituais, achando conveniente, mostram ao reencarnante que
seria o melhor para ele a volta sem demora; no entanto, há outros para quem a
demora é caminho mais inteligente, para recolher experiências necessárias à
segurança da volta.
Vamos raciocinar: têm
ou não, os indivíduos que habitam um planeta de expiações e provas como a
Terra, que fazer um balanço, na vida espiritual, de suas conquistas e de seus
erros durante a encarnação presente, quando retornarem à vida espiritual? Com
toda certeza; e esse balanço será feito, como já dissemos, junto aos mentores
espirituais que ajudarão o Espírito a refletir a respeito dos deveres que ele
cumpriu, dos deveres que deixou de cumprir, das oportunidades que aproveitou, e
das oportunidades que desprezou. Então, na maioria das situações, será um
período de erraticidade, ou seja, um período entre as encarnações, mais ou
menos longo. Agora, no caso de Espíritos mais evoluídos ou habitantes de
planetas que estejam numa condição muito superior a nossa, aqui na Terra, e que
não tenham que desobstaculizar uma matéria tão grosseira, logicamente, que o
processo reencarnatório pode se dar num prazo mais curto, considerando que
esses Espíritos se encontram mais próximos da vida espiritual do que da vida
física, como a consideramos no planeta em que vivemos.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Encerrando este
capítulo V, vamos concluir o estudo da dissertação feita por Kardec, relativa a
questão 222.
Continua
Kardec:
Temos
raciocinado, como dissemos, fazendo abstração de qualquer ensinamento espírita
que, para certas pessoas, não tem autoridade. Se nós e tantos outros adotamos a
opinião da pluralidade das existências, não é somente porque veio dos
Espíritos, mas porque nos pareceu a mais lógica e porque só ela resolve
questões até então insolúveis. Viesse ela de um simples mortal e tê-la-íamos do
mesmo modo, não hesitando um segundo em renunciar às nossas próprias ideias. No
momento em que um erro é demonstrado, o amor-próprio tem muito mais a perder do
que ganhar obstinando-se numa ideia falsa. Do mesmo modo, tê-la-íamos repelido,
embora vinda dos Espíritos, se nos parecesse contrária à razão, como repelimos
tantas outras, pois sabemos, por experiência, que não se deve aceitar cegamente
tudo o que venha deles, da mesma forma que não se deve aceitar às cegas tudo
que proceda da parte dos homens. Seu primeiro título, ao nosso ver, é, antes de
tudo, o de ser lógica; mas, também há outro; o de ser confirmada pelos fatos,
fatos positivos e, a bem dizer, materiais, que um estudo atento e racional pode
revelar a quem se dê ao trabalho de observar com paciência e perseverança e
diante dos quais a dúvida não é mais possível. Quando esses fatos se tiverem
vulgarizado, como os da formação e do movimento da Terra, forçoso será que
todos se rendam à evidência e os seus oponentes se verão constrangidos a
desdizer-se.
Reconheçamos,
portanto, em resumo, que só a doutrina da pluralidade das existências explica o
que, sem ela, é inexplicável; que é eminentemente consoladora e conforme à mais
rigorosa justiça; que representa para o homem a âncora de salvação que Deus, na
sua misericórdia, lhe concedeu.
Daí, nós entendermos
que, sem a reencarnação, não é possível se conceber um Deus justo e bom. A
reencarnação é a chave para o entendimento de todos os nossos revezes e de
todas as oportunidades que a vida nos concede. E a reencarnação nos dá melhor
compreensão daquilo que o Cristo falou. A lógica da vida nos mostra que a
reencarnação faz parte da justiça divina.
Continua
Kardec:
As
próprias palavras de Jesus não podem deixar dúvida a respeito. Eis o que se lê
no Evangelho de João, 3: 3 a 7;
3.
Respondendo a Nicodemos, disse Jesus; Em verdade, em verdade te digo que, se um
homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus.
4.
Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer já estando velho? Pode voltar ao
ventre materno e nascer segunda vez?
5.
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo, se o homem não nascer da água
e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne e o que é nascido espírito é espírito. Não te admires de eu te haver
dito; importa-vos nascer de novo. (Ver, adiante o parágrafo “Ressurreição da carne”, na questão 1010).
Este diálogo entre
Jesus e Nicodemos é outra passagem do Evangelho que deixa patente, nos
ensinamentos do Cristo, a lei da reencarnação. O Mestre foi bem explícito: o
que nasce da carne é carne, ou seja, o corpo provém do corpo; é concebido a
cada novo nascimento. Mas o que nasce do espírito é espírito, o espírito,
portanto, não provém da concepção do corpo, mas, do próprio espírito e, por
isso mesmo, já existia antes de nascer. Há um detalhe muito importante sobre
este último tópico. Na Vulgata Latina, que é a tradução para o latim da Bíblia,
escrita entre fins do século IV início do século V, escrita pelo bispo
Jerônimo, sofreu uma alteração com a colocação de uma palavra. Jesus, diz que,
se o homem não nascer da água e do espírito, aí colocou-se um aditamento à
palavra espírito; colocou-se a palavra santo, ou seja, o homem nasce da água e
do espírito santo. Por que isso? Quando
foi feita essa tradução, havia uma necessidade de suprimir a ideia da
reencarnação, por quê? Porque a
imperatriz não gostava da ideia de vir a reencarnar, deixando de ser
imperatriz, para se tornar uma escrava ou uma mulher do povo. Ela achava que,
com uma alteração de um texto, ia fazer com que Deus mudasse as Suas leis. É um
tremendo absurdo nós imaginarmos isto.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao
estudo da pergunta 222.
Continua
Kardec:
Admitamos,
ao contrário, uma série de existências progressivas anteriores e tudo se
explica. Os homens trazem, ao nascerem, a intuição do que aprenderam antes; são
mais ou menos adiantados, conforme o número de existências por que passaram,
conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida, exatamente
como, numa reunião de indivíduos de todas as idades, cada um terá
desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As
existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do
corpo. Reuni, em certo dia, mil indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um
véu tenha sido lançado sobre todos os dias anteriores e que, na vossa
ignorância, acreditais que todos nasceram no mesmo dia. Perguntareis
naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e outros
jovens, uns instruídos e outros ainda ignorantes. Porém, se a nuvem que vos
oculta o passado vier a dissipar-se; se souberdes que todos viveram mais ou
menos tempo, tudo estará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado
almas mais perfeitas e outras menos perfeitas; mas, com a pluralidade das
existências, a desigualdade que vemos nada tem que contraria a mais rigorosa
equidade; é que apenas vemos o presente e não o passado. Este raciocínio
baseia-se nalgum sistema, nalguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato
patente, incontestável; a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual
e moral, e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo
que uma outra teoria o explica, de maneira simples, natural e lógica. Será
racional preferir-se as que não explicam àquela que explica? Em relação à sexta
questão, dirão naturalmente que o hotentote é uma raça inferior. Perguntaremos,
então se o hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o deserdou,
a ele e à sua raça, dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é
homem, por que tentar fazê-lo cristão? A Doutrina Espírita tem mais amplitude
do que tudo isto. Segundo ela, não há muitas espécies de homens, mas apenas
homens cujos espíritos estão mais ou menos atrasados, mas todos suscetíveis de
progredir. Este princípio não é mais conforme à justiça de Deus?
Aqui, Kardec tece uma
consideração que se liga basicamente à questão da Justiça Divina, aplicada
através do processo reencarnatório. Indubitavelmente, a reencarnação explica a
Justiça de Deus de forma racional e compreensiva para todos nós; explica as
nossas dificuldades, os nossos sofrimentos, e explica as nossas aptidões e,
principalmente, nos dá a esperança de que podemos construir um futuro melhor
para nós, já que, os instrumentos de aprendizado que a vida no dá serão de
acordo com as nossas necessidades. É importante, portanto, que nós tenhamos
essa esperança para seguirmos em frente.
Acabamos
de ver a alma no seu passado e no seu presente. Se a considerarmos em seu
futuro, encontraremos as mesmas dificuldades.
1.
Se
a nossa existência atual, e apenas ela, é que deve decidir da nossa sorte
futura, quais serão, na vida futura, as posições respectivas do selvagem e do
homem civilizado? Estarão no mesmo nível ou distanciados em relação à soma de
felicidade eterna a que têm direito?
2.
O
homem que trabalhou toda a sua vida por melhorar-se estará na mesma posição
daquele que permaneceu inferior, não por culpa sua, mas porque não teve tempo
nem possibilidade de se tornar melhor?
3.
O
homem que praticou o mal, por não ter podido instruir-se, será culpado de um
estado de coisas que não dependeu dele?
4.
Trabalha-se
para esclarecer, moralizar e civilizar os homens. Mas, para um que se
esclarece, há milhões que morrem todos os dias, antes que a luz lhes tenha
chegado. Qual a sorte destes últimos? Serão tratados como réprobos? Caso
contrário, que fizeram para merecer estar no mesmo nível dos outros?
5.
Qual
a sorte das crianças que morrem em tenra idade, quando ainda não fizeram nem o
bem nem o mal? Se estiverem entre os eleitos, por que esse favor, se nada
fizeram para o merecer? Em virtude de que privilégio estarão isentas das
tribulações da vida?
Haverá alguma doutrina capaz de
resolver essas questões? Admiti as existências consecutivas e tudo se explicará
conforme a justiça de Deus. O que não se pode fazer numa existência faz-se em
outra. É assim que ninguém escapa de lei do progresso, que cada um será
recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da
felicidade suprema, a que todos podem aspirar, sejam quais forem os obstáculos
que encontrem no caminho.
Há
um ensinamento de Jesus que contraria radicalmente o ensinamento da teologia
tradicional que diz que, ao final da existência, cada um de nós, de acordo com
o que fizermos, será separado para o chamado céu ou para o inferno. O fato é
que, se cada um de nós terá a sua sorte decidida após uma só encarnação, onde
se coloca as palavras de Jesus, quando Ele diz que as ovelhas de meu Pai
nenhuma se perderá?
Essas questões poderiam
multiplicar-se ao infinito, porque são inúmeros os problemas psicológicos e
morais que só encontram solução na pluralidade das existências. Limitamo-nos
aos de ordem mais geral. Seja como for, talvez se diga que a doutrina da
reencarnação não é admitida pela igreja; que ela subverteria a religião. Não é
nosso objetivo tratar dessa questão neste momento. Basta termos demonstrado que
ela é eminentemente moral e racional. Ora, o que é moral e racional não pode
ser contrário a uma religião que proclama ser Deus a bondade e a razão por
excelência. Que seria da religião, se, contra a opinião universal e o
testemunho da Ciência, se houvesse obstinado contra a evidência e expulsado do
seu seio todos os que não acreditassem no movimento do Sol ou nos seis dias da
Criação? Que crédito mereceria e que autoridade teria, entre os povos
esclarecidos, uma religião fundada em erros evidentes, oferecidos como artigos
de fé? Quando a evidência se tornou clara, a Igreja, sabiamente, se colocou ao
seu lado. Se está provado que certas coisas existentes seriam impossíveis sem a
reencarnação; que certos pontos do dogma não podem ser explicados senão por
esse meio, forçoso é admiti-lo e reconhecer que o antagonismo entre essa
doutrina e os dogmas é apenas aparente. Mais adiante mostraremos que a religião
talvez esteja menos afastada da doutrina das vidas sucessivas do que se pensa
e, que, ao admiti-la, não sofreria mais do que sofreu com as descobertas do
movimento da Terra e dos períodos geológicos, as quais, à primeira vista
pareciam desmentir os textos sagrados. Aliás, o princípio da reencarnação
ressalta de muitas passagens das Escrituras e se acha especialmente formulado, de
modo explícito, no Evangelho:
Quando
desciam da montanha (depois da transfiguração) Jesus lhes ordenou, dizendo: Não
faleis a ninguém do que acabastes de ver, até que o Filho do Homem tenha
ressuscitado de entre os mortos. Perguntaram-lhe então seus discípulos: Por que
dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? E Jesus lhes
respondeu: É verdade que Elias há de vir e que restabelecerá todas as coisas.
Mas, eu vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes fizeram com
ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos
deles. Então os discípulos compreenderam que era de João Batista que Ele lhes
falava. (Mateus, 17: 9 a 13).
Já que João Batista era Elias,
então houve a reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João
Batista. Seja qual for, aliás, a opinião que se tenha ou não, nem por isso se
deixará de sofrê-la, desde que ela exista, não obstante todas as crenças em
contrário. O ponto essencial é que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão;
apoia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça
de Deus, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo. Logo, não é anticristão.
Jesus
falou de reencarnação não apenas na passagem de Elias e João Batista. Há outras
passagens que também nos levam à teoria da reencarnação. Então, colocada a
questão dentro desse ponto de vista, a pluralidade das existências se explica,
se justifica, sem mesmo se falar a respeito dos ensinamentos dos Espíritos. Por
quê? Porque ela é encontrada no próprio ensinamento do Cristianismo. E, se
encontra até mesmo no Velho Testamento, ou seja, a noção da pluralidade das
existências é algo anterior ao Espiritismo.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao
estudo da pergunta 222.
Continua
Kardec:
Se não há reencarnação,
só há uma existência corporal; isto é evidente. Se a nossa atual existência corpórea
é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos
que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era
ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constituía uma existência
sob uma forma qualquer. Não há meio termo; ou a alma existia, ou não existia
antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de
si mesma? Se não tinha, era mais ou menos como se não existisse. Se tinha
individualidade, era progressiva ou estacionária? Em ambos os casos, a que grau
chegara no corpo? Admitindo, segundo a crença vulgar, que a alma nasce com o
corpo, ou, o que venha a ser o mesmo, que antes de encarnar ela só dispõe de
faculdades negativas, formulamos as seguintes questões:
Um registro
interessante, que não é da época de Kardec. Aqui no Brasil, houve um estudioso
do processo pré-natal, é bom ressaltar que este profissional lida com imagens,
e se dedicando a métodos de diagnósticos, começou a estudar gestações, com o
emprego de ultrassonografia, o comportamento do cérebro do feto, registrando
períodos de sono e vigília. E o que o surpreendeu, particularmente, foi
perceber que o feto era capaz de ter o chamado sono paradoxal, que é quando a
pessoa sonha, ou seja, o feto sonha enquanto está sendo gerado. Isto aqui é a
ideia de haver a pluralidade das existências, porque o sonho é a recordação de
algo que se viveu. Então, como pode um feto que ainda não viveu fora do útero
ter lembranças? É de grande valor para nós, entender que a própria Ciência,
hoje, nos trás informações e conhecimentos.
1. Por
que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das ideias adquiridas
pela educação?
Realmente. Tomemos por
exemplo, três crianças que são educadas dentro do mesmo padrão. Trigêmeos
univitelinos, ou seja, todos três têm o mesmo patrimônio genético; um é proativo,
bastante alegre; o outro é mais fechado dentro de si mesmo, e o terceiro, nem é
tão proativo quanto o outro nem é tão ensimesmado como o segundo. Então, como
se explica que os três com a mesma educação tenham esses comportamentos?
2.
De onde vem a aptidão extranormal de
algumas crianças de tenra idade para esta arte ou aquela ciência, enquanto
outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida inteira?
Aqui, podemos citar a
história de Mozart, que foi um gênio da música. Que desde os seis anos de idade
começou a escrever duetos e pequenas composições para piano.
3.
De onde vêm, para uns, as ideias inatas
ou intuitivas, que não existem em outros?
4.
De onde vêm, em certas crianças, os
instintos precoces para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de
dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que nasceram?
5.
Por que certos homens, independentemente
da educação, são mais adiantados do que outros?
6.
Por que há selvagens e homens
civilizados? Se tomardes uma criança hotentote recém-nascida e a educardes nos
nossos melhores liceus, fareis dela algum dia um Laplace ou um Newton?
Essas perguntas de
Kardec se referem a fatos que são perfeitamente observáveis em qualquer
sociedade.
Perguntamos: qual a
filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida
que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por
que essas aptidões tão diversas? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas,
então, estaríamos diante da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem
seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade
de seus atos, já que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as
almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, por que essa
superioridade inata concedida a algumas? Esta parcialidade estaria conforme à
justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas as criaturas?
Dentro deste arrazoado
aqui exposto, Kardec nos mostra como aprender a raciocinar, e quem aprende a
raciocinar não crê, aprende; e quem aprende sabe. Então, fica claro para nós
que, pela análise feita por Kardec, considerar a unicidade das existências fica
muito difícil nós concebermos a justiça divina. Kardec fala de aptidões,
capacidades e realizações. Mas há, também, as diferenças de oportunidades, para
cada um de nós. Uns são pobres, outros ricos; uns são enfermos, outros
saudáveis. Onde estaria a justiça divina se todos nós fossemos criados no
momento do nascimento; o que justificaria essas diferenças senão um privilégio
que o Criador estaria dando a uns em detrimento dos outros. A justiça divina só
pode ser concebida se nós tivermos por base a existência anterior da alma.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos dar continuidade ao
estudo da pergunta 222.
Continua
Kardec:
Supomos falar a pessoas
que acreditam num futuro qualquer depois da morte, e não aos que só têm o nada
como perspectiva, ou que desejam afogar suas almas num todo universal, sem
individualidade, como os pingos da chuva no oceano, o que vem a ser quase a mesma
coisa. Se, pois, credes num futuro qualquer, não admitireis, por certo, que ele
seja idêntico para todos, pois, de outro modo, qual seria a utilidade do bem?
Por que se reprimir? Por que não satisfazer a todas as suas paixões, a todos os
seus desejos, mesmo a custa de outrem, uma vez que por isso não ficaria sendo
melhor, nem pior? Credes, ao contrário, que esse futuro será mais ou menos
feliz ou infeliz, segundo o que tiverdes feito durante a vida, e então
desejareis que seja tão afortunado quanto possível, visto que há de durar pela
eternidade? Teríeis, por acaso, a pretensão de ser dos homens mais perfeitos
que já existiram na Terra e, pois, com direito a alcançardes de imediato a
suprema felicidade dos eleitos? Não. Admitis, então que há homens que valem
mais do que vós e com direito a um lugar, sem que por isso estejais entre os
réprobos. Pois bem! Colocai-vos por um instante, mentalmente, nessa situação
intermédia, que será a vossa, como acabastes de reconhecer, e imaginai que
alguém venha vos dizer: Sofreis, não sois tão feliz quanto poderíeis ser, ao
passo que diante de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis
trocar de posição com eles? Certamente, respondereis; que devemos fazer? Quase
nada; recomeçar o que fizestes mal e tratar de fazê-lo melhor. Hesitaríeis em
aceitar, ainda que ao preço de várias existências de provações? Façamos uma
comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem ter chegado à miséria extrema,
sofre, no entanto, privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Eis uma
fortuna imensa, que podereis gozar; para isso, é preciso que trabalheis
arduamente durante um minuto. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra, e diria sem
hesitar. Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia se for preciso.
Que importa isso, se vou terminar minha vida na abundância? Ora, que é a
duração da vida corporal, em relação à eternidade? Menos que um minuto, menos
que um segundo.
Dentro desse ponto de
vista, por exemplo, a ideia da reencarnação é mais justa. Traduz melhor a
Justiça Divina do que a ideia de uma única existência, que faz com que se
permaneça uma eternidade numa condição de inferioridade. A reencarnação,
portanto, é a oportunidade de aprendizado; é oportunidade de resgatarmos nossos
débitos; é a oportunidade de evoluirmos e crescermos enquanto espíritos.
Portanto, as dificuldades que a vida nos reserva hoje, todo aquele sofrimento,
são instrumentos de aprendizado, que são utilizados pela Lei Divina para
promover a nossa evolução, e elas estão de acordo com as necessidades de cada
um, de acordo com as escolhas boas ou más que cada um fez no passado. Por isso,
é que as dores são diferentes para cada um de nós. Aí a justiça das diferenças.
Elas foram criadas pelas nossas condutas no pretérito. Nós somos espíritos
imortais; temos a eternidade para aprender, crescer e alcançar a felicidade; e,
certamente, todos chegaremos lá. O sofrimento, portanto, numa encarnação, por
maior que pareça ser, não é quase nada, diante da eternidade. 80, 100, 120 anos
que possamos viver, diante da eternidade que temos pela frente, já que somos
imortais, não é nada de sofrimento. Basta então que trabalhemos e façamos o
melhor. Compete a todos meditarem sobre a reencarnação na sua função divina e
humana, passando a se melhorar moralmente.
Continua
Kardec:
Temos ouvido o seguinte
raciocínio: Deus, que é soberanamente bom, não pode impor ao homem a obrigação
de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Acharão, porventura, que Deus
seja mais bondoso ao condenar o homem a sofrer perpetuamente, em razão de
alguns erros momentâneos, do que em lhe conceder os meios de reparar suas
faltas?
Isto, porque, a
doutrina que é processada pela teologia tradicional, diz que, ao final de uma
existência está deliberada a existência daquele ser: sofrer eternamente ou
gozando das benesses eternamente. Ora, Deus seria mau por permitir que o homem
venha numa outra encarnação, durante um período, apenas para reparar os seus
erros, e assim poder progredir e buscar a sua felicidade? Obviamente que não.
Continua
Kardec:
Dois fabricantes
tinham, cada qual, um operário que podia aspirar a se tornar sócio do
respectivo patrão. Aconteceu que esses dois operários carta vez empregaram
muito mal o seu dia, merecendo ambos ser despedidos. Um dos fabricantes
despediu o seu empregado, apesar de suas súplicas, e este, não tendo encontrado
trabalho, morreu na miséria. O outro disse ao seu: Perdeste um dia, e por isso
me deves uma compensação; fizeste mal o trabalho e me deves uma reparação; eu
te permito recomeçá-lo. Trata de executá-lo bem e eu te conservarei, e poderás
continuar aspirando à posição superior que te prometi. Será preciso perguntar
qual dos dois fabricantes foi mais humano? Deus, que é a própria clemência,
seria mais inexorável do o homem?
Um dos atributos de
Deus nós sabemos que é a bondade. E a bondade, ela se expressa por nos
proporcionar o recomeço, nos dando novas oportunidades para que possamos nos
acertar, para repararmos todo o mal que possamos ter cometido. E o instrumento
desse recomeço é a reencarnação. A reencarnação é, exatamente, o fruto da
bondade divina.
Continua
Kardec:
A ideia de que o nosso
destino está fixado para sempre em razão de alguns anos de prova, ainda mesmo
quando não dependeu de nós alcançarmos a perfeição na Terra, tem qualquer coisa
de pungente, ao passo que a ideia oposta é eminentemente consoladora; ela nos
deixa a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das
existências, sem admitirmos uma hipótese mais do que outra, diremos que, se pudéssemos
escolher, ninguém haveria de querer um julgamento inapelável. Disse um filósofo
que, se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, para felicidade do gênero
humano. Outro tanto se poderia dizer da pluralidade das existências. Mas, como
já dissemos, Deus não nos pede permissão, nem consulta os nossos gostos. Ou
isto é, ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e encaremos o
assunto de outro ponto de vista, sempre fazendo abstração do ensino dos
Espíritos, e unicamente como estudo filosófico.
É interessante notar
que, na leitura de Kardec, a lógica que ele coloca na análise de todas as
questões que são postas, ele busca a compreensão dos fatos, sob todos os pontos
de vista, para só depois, então, buscar suas conclusões. É muito importante
essa forma didática, para que possamos raciocinar e adquirir aquela fé nos
postulados da Doutrina Espírita.
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MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
V – Considerações sobre a pluralidade das existências.
Vamos iniciar o capítulo
V do livro II, estudando a pergunta 222.
O que teoricamente
seria uma pergunta, é uma dissertação de Kardec, e que será estudada de acordo
com a leitura, para não se tornar cansativa.
222.
O dogma da reencarnação, dizem algumas
pessoas, não é novo; foi ressuscitado de Pitágoras. Jamais dissemos que a
Doutrina Espírita fosse uma invenção moderna.
Vamos começar
explicando que Pitágoras (Pitágoras de Samos) foi um importante matemático e
filósofo grego, pré-socrático, que viveu provavelmente entre 570 a 496 a.C. Ele
fez diversas viagens; sendo que, numa delas, ele teve contato com cultura
indiana que, nesta época, já tinha consolidado o conceito da reencarnação.
Conceito este que, para os Indus, é visto como a base do sistema de castas, a
que eles se submetem. Lógico que, se nós analisarmos isto, o sistema de castas
é uma invenção humana. O processo reencarnatório que é um processo natural, e
que traduz a misericórdia divina, não obedece a vontade de quem quer que seja,
que esteja encarnado. Consequentemente, o conceito hinduísta, embora em muitos
aspectos tenham o seu valor pelo fato de condicionar um modelo de vida para a
sociedade, é fundamentado na estratificação (conceito que envolve a
classificação das pessoas em grupos, com base rm condições socioeconômicas comuns)
dessa mesma sociedade, com uma carga enorme de preconceitos que faz com que nós
questionemos essa visão reencarnacionista que eles adotam. O que nós sabemos
porque os Espíritos nos informaram, é que não existe esta estratificação
social, em função do processo reencarnatório. Cada um de nós terá a sua
experiência de vida atual ou futura, de acordo com os méritos espirituais que
tenhamos auferido, durante a encarnação atual.
Continua
Kardec:
Por constituir uma lei
da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e
sempre nos esforçamos em provar que se encontram sinais dele na mais remota
Antiguidade. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da
metempsicose;
Nós já estudamos
anteriormente sobre a metempsicose, que é uma teoria segundo a qual um
indivíduo poderia reencarnar na condição de um animal, e, depois. Voltar numa
condição humana. Nós sabemos muito bem que a metempsicose é uma lenda, é fruto
de uma interpretação errônea a respeito do processo reencarnatório.
Continua
Kardec:
Ele o colheu dos
filósofos indianos e dos egípcios, onde existia desde tempos imemoriais. A
ideia da transmigração das raças formava, pois, uma crença vulgar, admitida
pelos homens mais eminentes. De que maneira chegou até eles? Por uma revelação,
ou por intuição? Não o sabemos. Mas, seja como for, uma ideia não atravessa os
séculos e nem é aceita pelas inteligências de escol, se não contiver algo de
sério. Assim, a antiguidade dessa doutrina seria mais uma prova a seu favor do
que uma objeção. Todavia, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina
da reencarnação há, como também se sabe, uma grande diferença; a de os
Espíritos rejeitarem de maneira absoluta a transmigração da alma do homem para
os animais e vice-versa.
Ao ensinarem o dogma da
pluralidade das existências corpóreas, os Espíritos relembram uma doutrina que
nasceu nas primeiras idades do mundo e que se conservou no íntimo de muitas
pessoas até os nossos dias. Apenas a apresentam de um ponto de vista mais racional,
mais conforme às leis progressivas da Natureza e mais em harmonia com a
sabedoria do Criador, despojando-a de todos os acessórios da superstição. Uma
circunstância digna de nota é que não foi apenas neste livro que os Espíritos a
ensinaram, nos últimos tempos; já antes da sua publicação, foram obtidas
numerosas comunicações da mesma natureza, em vários países, e que se
multiplicaram depois consideravelmente. Talvez fosse o caso aqui de examinarmos
por que nem todos os Espíritos parecem de acordo sobre este ponto. Voltaremos a
ele mais tarde.
A época de Kardec foi
uma época rica em comunicações espirituais, por quê? Era o momento necessário para que esses tipos
de manifestações ocorressem, e que as informações a respeito da vida espiritual
fossem passadas de maneira adequada para todos. Aqui, o próprio Codificador diz
que o livro dos Espíritos é uma das muitas informações que vieram na mesma
época. Houve também a chamada doutrina secreta (Teosofia) doutrina
espiritualista, fundada por Helena Petrovna Blavatsky, e muitas outras
vertentes ligadas a pensamentos orientais, que também trouxeram o conhecimento
da reencarnação.
Continua
Kardec:
Examinemos a questão de
outro ponto de vista, fazendo abstração de qualquer intervenção dos Espíritos.
Deixemo-los de lado por um instante. Suponhamos que esta teoria nada tenha a
ver com eles; suponhamos mesmo que jamais se tenha cogitado de Espíritos.
Coloquemo-nos momentaneamente num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de
possibilidade para ambas as hipóteses, a saber: a da pluralidade e a da
unicidade das existências corpóreas, e vejamos para que lado nos levam a razão
e o nosso próprio interesse. Algumas pessoas repelem a ideia da reencarnação
pelos simples motivo de que ela não lhes convém, dizendo que já lhes basta uma
existência e que não desejariam recomeçar outra semelhante. Conhecemos algumas
que se enfurecem a simples ideia de voltarem à Terra. Perguntar-lhes-emos
apenas se imaginam que Deus lhes devia ter pedido a opinião ou consultado seus
gostos para regular o Universo. Ora, de duas uma: ou a reencarnação existe, ou
não existe; se existe, por mais que sejam contrariados por ela, terão que
sofrê-la, pois Deus não lhes pedirá permissão para isso. É como se ouvíssemos
um doente a dizer: já sofri bastante hoje, não quero sofrer mais amanhã.
Qualquer que seja o seu mau humor, não terá por isso que sofrer menos amanhã,
nem nos dias seguintes, até que esteja curado. Portanto, se tiverem de reviver
corporalmente, tornarão a viver, reencarnarão. De nada lhes adiantará se
rebelarem, quais crianças que não querem ir à escola, ou condenados, para a
prisão, pois terão de passar por isso. Objetivações como estas são pueris
demais para merecerem um exame mais sério. Diremos, entretanto, a essas pessoas
que se tranquilizem, que a Doutrina Espírita, sobre a reencarnação, não é tão
terrível como julgam; que, se a houvessem estudado a fundo não estariam tão
assustados; saberiam que as condições dessa nova existência só depende delas,
existência que será feliz ou infeliz, segundo o que tiverem feito neste mundo;
que, desde agora, poderão elevar-se tão alto que não precisarão mais temer nova
queda no lamaçal.
Ou seja, a Doutrina Espírita
nos alerta: nós vamos reencarnar. Agora, de acordo como seja a nossa vida nessa
existência, será a nossa vida futura. Portanto, façamos o bem.
Por uma questão de
recurso didático, e para não tornar o estudo cansativo, não analisaremos todo o
texto de uma vez só. Concluiremos no próximo estudo.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Encerrando o capítulo IV
do livro II, vamos dar sequência ao tópico Ideias inata, estudando as perguntas
de 219 a 221-a.
219.
Qual a origem das faculdades
extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição
de certos conhecimentos, como as línguas, o cálculo, etc.?
“Lembrança do passado;
progresso anterior da alma, mas de que ela mesma não tem consciência. De onde
queres que venham tais faculdades? O corpo muda, mas o Espírito não muda,
embora troque de vestimenta”.
Ou seja, o Espírito
muda de corpo, como se muda de roupa, no entanto, o agente é o mesmo, e a lei
permite a variedade de instrumentos de corpos, para melhor desempenho da alma e
enriquecimento das suas experiências, a caminho da Luz.
Todo aprendizado é
patrimônio do Espírito. Aquilo que nós aprendemos hoje é patrimônio que
carregamos para a eternidade. Só, que, nós vamos levar esse conhecimento de uma
forma objetiva, ou seja, hoje fazemos um curso, amanhã, numa outra encarnação,
nós não vamos lembrar que fizemos o tal curso, mas, quando nos depararmos novamente
com tal questão, com a matéria em si, com o exercício daquela atividade que
aprendemos, aí fica fácil, porque nós só vamos recordar. Por isso, é de se
notar grandes conhecimentos em criaturas sem nenhuma escolaridade naquela
existência. Onde adquiriram tais verdades? Somente a reencarnação pode dizer
que esses conhecimentos vieram do passado, em vidas sucessivas, de modo que
eles afloram no presente.
220.
Mudando de corpo, pode o Espírito perder
algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo, o gosto das artes?
“Sim, se corrompeu sua
inteligência ou a utilizou mal. Além disso, uma faculdade qualquer pode ficar
adormecida durante uma existência inteira, se o Espírito quiser exercitar outra
que com ela não guarde relação. Neste caso, permanece em estado latente, para
ressurgir mais tarde”.
Nós já sabemos que tudo
aquilo que o Espírito aprende e realiza é patrimônio dele, e que jamais irá perder.
Mas, em nova reencarnação, muitas vezes, o Espírito pode perder,
temporariamente, algumas das suas faculdades já conquistadas em virtude de mau
uso de determinado tipo de conhecimento, ou quando determinado tipo de
conhecimento, em determinada área, ele não vai utilizar naquela encarnação. As
faculdades já conquistadas adormecem por determinado tempo, em favor de outras
que precisam ser desenvolvidas.
Então, o que o Espírito
conquistou no seu aprendizado é para sempre; mas em determinado momento, em
determinada circunstância, de acordo com a sua própria necessidade, ele pode
estar impedido de acessar determinados conhecimentos, determinadas habilidades
que ele já conquistou em vidas pregressas.
221.
O Sentimento instintivo da existência de
Deus e o pressentimento da vida futura se devem a uma lembrança retrospectiva
do homem, mesmo no estado se selvageria?
“É uma lembrança que
ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar. Mas o orgulho
sufoca, muitas vezes, esse sentimento”.
Deus está sempre
presente em todas as criaturas, desde o mais rude Espírito nas selvas, até os
grandes sábios da chamada civilização humana. A crença no Criador é inata no
ser humano. A lei divina está na consciência de cada um. Os Espíritos são
criados simples e ignorantes, e a consciência, já na Criação, está ali escrita.
Por isso, o homem primitivo tem lembranças retrospectivas das leis naturais e
da verdadeira vida, que cintila em todo o universo.
221-a.
É a essa mesma lembrança que se devem
certas crenças relativas à Doutrina Espírita, e que se encontram em todos os
povos?
“Essa doutrina é tão
antiga quanto o mundo; por isso é encontrada em toda parte, o que constitui
prova de que é verdadeira. O Espírito encarnado, conservando a intuição de seu
estado de Espírito, tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas
os preconceitos muitas vezes falseiam essa ideia e a ignorância lhe mistura a
superstição”.
A Doutrina dos
Espíritos, que nos afirma que a vida continua e que ninguém morre, é tão antiga
quanto o universo, por ser baseada nas leis formuladas por Deus. Jesus mostrou a todos, principalmente aos seus
seguidores, que a morte é vida. Anunciou que retornaria depois do Calvário e
cumpriu a promessa, selando, assim, a esperança com a verdade, e dando alegria
a toda a humanidade.
Se porventura surgirem
em nossa mente lembranças do passado, procuremos interpretar o aviso e melhorar
a nossa conduta, porque o objetivo de quem acompanha Jesus Cristo é a pureza
dos sentimentos, e o aprendizado do amor a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos, com todo o esplendor.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Encerrando o capítulo IV
do livro II, vamos iniciar o tópico Ideias inatas, estudando as perguntas de 218,
218a e 218b.
218.
O Espírito encarnado conserva algum
vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas
existências anteriores?
“Resta-lhe uma vaga
lembrança, que lhe dá o que se chama ideias inatas”.
Ou seja, o Espírito
quando encarnado tem vaga lembrança daquilo que ele foi em reencarnação
passada. A consciência registra tudo o que pensamos e fazemos, como sendo um
livro divino. Quando encarnado na Terra, aparecem, de vez em quando, na mente,
as ideias chamadas inatas; são pensamentos guardados na sensibilidade
espiritual, de modo a irradiar-se, quando preciso, para a mente ativa.
218-a.
A teoria das ideias inatas não é,
portanto, uma quimera?
“Não; os conhecimentos
adquiridos em cada existência não se perdem; liberto da matéria, o Espírito
sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte,
momentaneamente, mas a intuição que deles guarda lhe auxilia o progresso, sem o
que estaria sempre a recomeçar. Em cada nova existência o Espírito toma como
ponto de partida aquele em que se encontrava em sua existência anterior”.
Quando o Espírito
reencarna, traz consigo seu mundo mental, e quando parte deste para o além,
também leva o que construiu pelos pensamentos, palavras e obras. Quando
necessário, os benfeitores estimulam as ideias do passado a flutuar na mente
presente, como meio de educação.
218-b.
Deve haver, então, grande conexão entre duas existências sucessivas?
“Nem
sempre tão grande quanto poderias supor, porque em geral as posições são bem
diferentes, e no intervalo de uma a outra o Espírito pode ter progredido”.
Impossível descrever
todos os acontecimentos como sendo iguais na pauta das reencarnações dos
Espíritos. Há muitos deles que em uma existência não tem conexão alguma com a
anterior, dada à incrustação da sua ignorância.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos encerrar o tópico Semelhanças físicas e morais, estudando
as perguntas de 215 a 217.
Essas perguntas falam a
respeito da influência que os Espíritos sofrem das diversas experiências que
têm, de acordo com o aspecto cultural, de acordo com o aspecto da estrutura
social, dos grupos aonde venham a reencarnar.
215.
De onde provém o caráter distintivo que
se nota em cada povo?
“Os Espíritos também
possuem famílias, formando-as pela semelhança de suas inclinações mais ou menos
depuradas, conforme a elevação que tenham alcançado. Pois bem! Um povo é uma
grande família onde se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência que têm os membros
dessas famílias, para se unirem, é a origem da semelhança que existe no caráter
distintivo de cada povo. Julgas que os Espíritos bons e humanitários procurem
um povo duro e grosseiro? Não; os Espíritos simpatizam com as coletividades,
como simpatizam com os indivíduos. Nessas coletividades, eles se acham no meio
que lhes é próprio”.
Cada povo se encontra
reunido pela analogia de sentimentos. Os semelhantes se atraem por lei
universal da própria justiça. Quem observa o caráter distintivo de cada país
entenderá porque ele aceita certas leis de bom grado; voltadas aos mesmos
sentimentos dos filhos que ali aportaram, pela afinidade dos ideais. Assim como
cada família atrai, para serem seus filhos, almas das mesmas ideias, o mesmo
ocorre com as nações, com pequena percentagem que se refere aos grandes Espíritos,
que vêm ao mundo, onde quer que seja, para servirem de instrumento do amor e da
verdade.
216.
O homem conserva, em suas novas
existências, os traços do caráter moral de suas vidas anteriores?
“Sim, isso pode
acontecer. Mas, melhorando-se, ele muda. Sua posição social pode, também, não
ser a mesma. Se de senhor passa a escravo, seus gostos serão muito diferentes e
teríeis dificuldade em reconhecê-lo. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas
diversas encarnações, podem existir certas analogias entre as suas
manifestações, se bem que modificadas pelos hábitos de sua nova posição, até
que um aperfeiçoamento notável venha mudar completamente o seu caráter, pois,
de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e humano, se se arrependeu”.
Certamente que o
caráter moral acompanha o Espírito depois do túmulo; não obstante a vida
obedecerá à força do progresso; e esse caráter se modifica, diante das
modalidades diferentes do que encontra no caminho.
Se em uma existência o
Espírito adquiriu, pelos seus esforços no bem, a paciência, a dedicação ao
trabalho honesto, e compreensão, a fé, a caridade e o amor, certamente que isso
não foi produto somente daquela existência. Essas virtudes são filhas de todas
as vidas que o Espírito viveu, na carne e no mundo espiritual; é fruto da
maturidade. Quando vem em outra existência corporal, o Espírito não pode se
esquecer dessas qualidades conquistadas, mesmo que surgir na Terra em difícil
condição social, nascendo em comunidades pobres, ou mesmo no campo; ele não
deixará de ser uma criatura virtuosa. Se a vida o colocar no seio de família
abastada, ele não mudará sua estrutura espiritual; continuará a ser o mesmo,
pelo reflexo da consciência no dia a dia que vive. Da mesma forma, se é a
ignorância que predomina, o Espírito conserva o atavismo, de sorte que essa
ignorância o guiará em outras vidas, mesmo que renasça em família virtuosa,
fará com frequência coisas que a virtude desaprova.
217.
Nas suas diferentes encarnações, o homem
conserva os traços do caráter físico das existências anteriores?
“O corpo é destruído e
o novo não tem nenhuma relação com o antigo. Entretanto, o Espírito se reflete
no corpo. Certamente, o corpo é apenas matéria, mas, apesar disso, é modelado
pelas capacidades do Espírito, que lhe imprime certo caráter, principalmente no
rosto, e não é sem razão que se apontam os olhos como o espelho da alma. Isto
é, que o semblante reflete mais particularmente a alma. É por isso que uma
pessoa excessivamente feia, quando nela encarnou um Espírito bom, criterioso e
humanitário, tem qualquer coisa que agrada, ao passo que há rostos belíssimos,
que nenhuma impressão te causam, podendo até mesmo inspirar-te repulsa.
Poderias supor que somente corpos bem modelados servem de envoltório a
Espíritos mais perfeitos, quando encontras todos os dias homens de bem sob um
exterior disforme, Assim, mesmo sem haver pronunciada parecença, a semelhança
dos gostos e das inclinações pode dar lugar ao que se chama “um ar de família”.”
Existem certas leis que
podem ou não ser aplicadas, isso de conformidade com o lugar ou com a pessoa
que vai servir de instrumento. O corpo em formação nada tem a ver com o corpo
que o Espírito teve em outra vida, no entanto, ele pode apresentar traços
profundos, pela impressão da mente do reencarnante, se esse tem essa força já
desenvolvida na sua estrutura espiritual.
Há casos em que o corpo
da presente reencarnação de um Espírito parece cópia do outro que ele deixou em
passadas existências. Aquela que mais agradou-lhe fica mais fortemente impressa
na consciência, esse é o fato. Não que o corpo herde traços de outros corpos
por leis que regem a matéria em formação.
COMENTÁRIO DE KARDEC:
Considerando-se
que o corpo que reveste a alma numa nova encarnação não guarda nenhuma relação
essencial com aquele que ela deixou, já que pode ter tido origem muito diversa,
seria absurdo deduzir-se uma sucessão de existências tomando por base apenas
uma semelhança eventual. Entretanto, muitas vezes as qualidades do Espírito
modificam os órgão que servem às suas manifestações e lhe imprimem ao semblante
e até ao conjunto de suas maneiras uma marca especial. É assim que, sob o
envoltório mais humilde, se pode encontrar a expressão da grandeza e da
dignidade, enquanto sob a indumentária do grande senhor se veem algumas vezes a
da baixeza e da ignomínia. Algumas pessoas, oriundas da mais ínfima posição,
adquirem sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade, parecendo que
reencontram nesse meio o seu elemento, enquanto outras, apesar do nascimento e
da educação, ali se mostram sempre deslocadas. Como explicar esse fato de outra
maneira senão como reflexo daquilo que o Espírito foi antes?
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar o tópico Semelhanças físicas e morais; nas
perguntas de 207 a 214.
207.
Frequentemente os pais transmitem aos
filhos uma semelhança física. Transmitirão também alguma semelhança moral?
“Não, pois têm almas ou
Espíritos diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do
Espírito. Entre os descendentes das raças há apenas consanguinidade”.
Conforme dizem os
Espíritos, a carne procede da carne, o Espírito não. Por este motivo nós
recebemos de nossos pais somente a roupagem física, ou seja, a parecença
física. O que somos enquanto Espíritos é o resultado da nossa bagagem
pregressa, de experiências seguidas e de aprendizados que tenhamos feito.
207-a.
De onde vêm as semelhanças morais que
algumas vezes se notam entre pais e filhos?
“São Espíritos
simpáticos, atraídos pela similitude de suas inclinações”.
Ou seja, pode acontecer
que surjam, em família, semelhanças morais por afinidade de pendores, por
simpatia dos grupos de Espíritos em processo de ascensão. Desde quando os pais,
ou mesmo avós, exercitem determinadas virtudes, a magnitude dessas irradiações
pode atingir os descendentes que se encontram em princípio de maturidade,
porque a lei nos garante que, em todos os esforços que fazemos para o bem,
entramos em sintonia com esse bem, que é imortal na sua amplitude de vida.
208.
Os Espíritos dos pais exercem alguma
influência sobre os dos filhos, após o nascimento destes?
“Muito grande. Conforme
já dissemos, os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros.
Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos
pela educação. Isto constitui para eles uma tarefa; se falharem, serão
culpados”.
Os Espíritos estão
falando a respeito da contribuição dos pais no desenvolvimento dos filhos pela
educação; mas não é só coloca-los na escola; na escola, a criança aprende a
ler, a escrever, a fazer contas. Agora, a tarefa dos pais é ensinar valores,
como: respeito aos mais velhos; aprender a lidar com as tarefas de trabalho de
todos os dias; aprender a cuidar de si próprio; aprender a cuidar do meio aonde
vive; aprender a respeitar o semelhante; aprender a ter disciplina; aprender a
ter uma vivência cristã; Deus usa as criaturas para a ascensão dos próprios
filhos.
209.
Por que razão pais bons e virtuosos geram
filhos de natureza perversa? Em outras palavras: por que as boas qualidades dos
pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para animar seu filho?
“Um mau Espírito pode
pedir bons pais, na esperança de que seus conselhos o dirijam por um caminho
melhor, e muitas vezes Deus o atende”.
O Espírito, no mundo
espiritual, já arrependido dos seus feitos incômodos, e que deseja reencarnar,
quando permitido, deseja nascer de pais virtuosos, como sendo misericórdia para
que se livre de enveredar outra vez nos caminhos de erro. Para tanto, os pais
servir-lhe-ão de trava, não deixando seus impulsos do passado tomarem a
dianteira das boas qualidades que ele deve assimilar no mundo familiar. Porém,
nem sempre é permitida essa dádiva,
210.
Podem os pais, por seus pensamentos e
preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, em vez de um Espírito
inferior?
“Não, mas podem tornar
melhor o Espírito do filho que geraram e que lhes foi confiado; esse o dever
deles. Os maus filhos são uma provação para os pais”.
O processo educacional
que se dá pelo exemplo não pode ser negligenciado. A oração muito pode na
engrenagem da vida humana. A oração, neste caso, pode ajudar muito.
211.
De onde vem a semelhança de caráter que
muitas vezes existe entre dois irmãos, principalmente entre os gêmeos?
“Espíritos simpáticos
que se aproximam por analogia de sentimentos e que se sentem felizes por estar
juntos”.
Em muitos casos, os
irmãos gêmeos são Espíritos simpáticos, que se unem por analogia de
sentimentos, porém, nem todos são assim. Pode acontecer o contrário: serem
Espíritos inimigos que a justiça divina faz se reencontrarem na formação
biológica, no sentido de que se processe o perdão com mais eficiência. Os
gêmeos, por vezes, têm semelhança de caráter, sendo que não devemos generalizar
esse fato, porque em outros casos são completamente diferentes, em matéria de
conduta.
212.
Nas crianças cujos corpos nascem ligados
e que possuem alguns órgãos em comum, há dois Espíritos, ou, melhor dizendo,
duas almas?
“Sim, mas a semelhança
entre elas é tão grande que faz vos pareçam, muitas vezes, uma só”.
Essa questão das
crianças que nascem ligadas por uma parte do corpo (crianças siamesas), muitas
vezes, quando se faz uma investigação, se vê que não é possível separar uma da
outra; muitas vezes, é todo um processo provacional para ambos os Espíritos, que
os obriga a respirarem juntos, a comerem juntos, a descansarem juntos e a
terem, por vezes, as mesmas ideias. O corpo, nesse caso, é mais do que uma
prisão.
213.
Já que os Espíritos encarnam nos gêmeos
por simpatia, de onde provém a aversão que às vezes se nota entre eles?
“Não é uma regra que os
gêmeos tenham de ser Espíritos simpáticos. Espíritos maus podem querer lutar
juntos no teatro da vida”.
Dois Espíritos, quando
nascem de uma só gestação, normalmente são Espíritos afins, ou inimigos do
passado, e Deus lhes dá oportunidade de ressarcir velhas rixas no campo de luta
que a Terra oferece. Não é regra que sejam simpáticos, podendo ser o contrário.
214.
Que se deve pensar dessas histórias de
crianças que lutam no ventre materno
“Lendas! Para mostrar
que o ódio entre elas era muito antigo, fazem-no recuar a uma data anterior ao
nascimento delas. Em geral, não levais muito em conta as imagens poéticas”.
As lutas de crianças no
seio materno, bem como outras do mesmo gênero, são histórias que nasceram entre
povos supersticiosos. Toda criança em formação no útero materno movimenta-se.
Quando duas crianças gêmeas estão sendo geradas, tem-se a impressão de que
estão lutando, o que não passa de aparência.
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SEGUNDO
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar o tópico Parentesco, filiação - nas perguntas de 203
a 206.
203.
Os pais transmitem aos filhos uma parcela
de suas almas ou se limitam a lhes dar a vida animal, à qual uma nova alma vem,
mais tarde, adicionar a vida moral?
“Somente a vida animal,
pois a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa”.
Os pais não transmitem
aos filhos parte das suas almas, pois a alma é indivisível, conforme explicam
os Espíritos. Somente fornecem meios para que os corpos se organizem. Espíritos
não geram Espíritos; somente Deus é o Pai de todos e de tudo. Um pai ignorante
pode ter filhos sábios, e vice-versa, assim como pode um pai inteligente ter
filhos inteligentes; depende da alma que reencarna por seu intermédio.
204.
Já que tivemos muitas existências, nossa
parentela se organizou bem antes da nossa existência atual?
“Não pode ser de outra maneira.
A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que
remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, as causas de
simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem estranhos”.
Pertencemos à criação
de Deus e estamos, por assim dizer, ligados uns aos outros por leis universais.
Somos todos irmãos e não podemos viver sozinhos. Quando reencarnamos em uma
família, por necessidade de aprendizado, criamos vínculos de amizade ou, às
vezes de ódio; contudo, isso é processo que se desenvolve entre as criaturas.
Se amamos os nossos familiares, esse é o nosso dever, a nossa finalidade; se
odiamos, tornamos a voltar, para que o amor se faça presente nos corações.
205.
Na opinião de certas pessoas, a doutrina
da reencarnação parece destruir os laços de família, ao fazê-los recuar às
existências anteriores.
“Ela os amplia; não os
destrói. Baseando-se o parentesco em afeições anteriores, os laços que unem os
membros de uma mesma família são menos precários. A doutrina da reencarnação
aumenta os deveres da fraternidade, pois no vosso vizinho ou no vosso empregado
pode encontrar-se um Espírito que esteve ligado a vós por laços consanguíneos”.
A doutrina da
reencarnação não se afigura como destruidora dos laços de família. Pelo
contrário, ela, como lei que vigora em todos os mundos onde os Espíritos
reencarnam, alicerça a verdadeira fraternidade, por alimentar o amor universal
entre todas as criaturas. O princípio das vidas sucessivas nunca destrói os
lares; ele os distende ao infinito e se forma na Terra uma única família para
que tenhamos oportunidade de exercitar o amor; sem a reencarnação, não há
condições de se estender o amor além das fronteiras do lar.
205-a.
No entanto, essa doutrina diminui a importância que alguns atribuem à sua
genealogia, visto que cada um pode ter tido por pai um Espírito que haja
pertencido a outra raça ou que tenha vivido em condição muito diversa.
“É
verdade, mas essa importância se baseia no orgulho. O que a maioria das pessoas
venera em seus antepassados são os títulos, a posição, a fortuna. Um, que se
envergonharia de ter, como ascendente honrado sapateiro, se gabaria de
descender de um nobre devasso. Mas, digam ou façam o que quiserem, não
impedirão que as coisas sejam como são, pois Deus não regulou as leis da
Natureza segundo a vontade deles”.
Cultivar o amor somente
entre os ancestrais, oferecer atenção somente àqueles com os quais convivemos,
amar só os nossos familiares a consciência nos diz que reforça o egoísmo e o
próprio orgulho, não só dos que nos acompanham como, igualmente, de toda uma
raça. A falsa ideia de sangue real é que faz muitos negarem a reencarnação. O
apego às heranças é embaraço para se crer que nascemos tantas vezes quantas
forem necessárias; contudo, Deus não nos pediu opinião para fazer as leis que
correspondem às nossas necessidades de despertamento espiritual.
206.
Do fato de não haver filiação entre os
Espíritos dos descendentes de uma mesma família, seguir-se-á que o culto dos
antepassados seja uma coisa ridícula?
“De modo algum, pois
devemos considerar-nos felizes por pertencermos a uma família em que encarnaram
Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, nem por
isso consagram menos afeição aos que lhes estão ligados pelos laços da família,
pois muitas vezes eles são atraídos para tal ou qual família por razões de
simpatia ou por ligações anteriores. Mas, ficai certos de que os Espíritos de
vossos ancestrais não se sentem nem um pouco honrados com o culto que lhes
dedicais por orgulho. O mérito de que desfrutam só se refletirá em vós à medida
que vos esforçardes por seguir os bons exemplos que vos deram. Somente então
lhes é grata e até mesmo útil a lembrança que deles guardais”.
Algumas seitas e
religiões espiritualistas existem cuja filosofia se baseia no culto aos
ancestrais, cuja direção ou comando são passados de pai para filho, ou
descendente mais próximo, na ilusão enganosa de que se pode ligar,
parcimoniosamente, as coisas da Divindade. Mas quando ocorre que, na família
ancestral, tenha havido alguns cujos comportamentos possam envergonhar os descendentes,
estes procuram esquecê-los ou apagá-los. Esses, quando elevados, ficarão
alegres quando seus "familiares" principiarem a abolir os erros,
dissipando as trevas do seu mundo mental. Quando o nosso amor quebrar as
amarras do lar, dos parentes, e atingir os seres humanos sem distinção, pela
caridade, respeitando o direito de todos, nos sentiremos felizes por sabermos
que no futuro haverá um só rebanho e um só Pastor, que é Jesus Cristo.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar o tópico Sexos nos Espíritos, nas perguntas de 200
a 202.
200.
Os Espíritos têm sexos?
“Não como o entendeis,
porque os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas
baseados na afinidade de sentimentos”.
Essa é uma pergunta que
muitos fazem; as formas de sexo no mundo espiritual são variáveis, de acordo
com a evolução do Espírito. O amor transcende ao instinto e ao fator biológico.
É o amor que temos pela família.
201.
O Espírito que animou o corpo de um homem
pode animar, em nova existência, o de uma mulher e vice-versa?
“Sim; são os mesmos os
Espíritos que animam os homens e as mulheres”.
A resposta foi simples,
direta e objetiva. Um Espírito que animou muitas vezes um corpo de homem pode,
perfeitamente, animar, em outras oportunidades, corpo de mulher. Como já foi
dito, o Espírito, na profundidade do termo, não tem sexo; o sexo se apresenta
no perispírito diferenciando e, ao mesmo tempo, ajustando a matriz da carne
como homem ou mulher.
202.
Quando errante, que prefere o Espírito:
encarnar no corpo de um homem ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe
importa. Vai depender das provas por que haja de passar”.
Comentário
de Kardec:
Os
Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Como
devem progredir em tudo, como cada posição social, lhes oferece provações,
deveres especiais e novas oportunidades de adquirirem experiência. Aquele que
fosse sempre homem só saberia o que sabem os homens.
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LIVRO SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar o tópico Sorte das crianças depois da morte, nas
perguntas de 197 a 199-a.
197.
O Espírito de uma criança, morta em tenra
idade, poderá ser tão adiantada quanto o de um adulto?
“Algumas vezes muito
mais, porque pode ter vivido mais e adquirido maior soma de experiência,
sobretudo se progrediu”.
Uma criança pode ser
muito mais adiantada do que um adulto, basta que ela tenha tido mais
experiências nas suas sucessivas reencarnações. O fato de ser criança não quer
dizer que é um Espírito primitivo. Somente o corpo se encontra pequeno; o
Espírito pode ser grande na escala espiritual.
197-a.
Então o Espírito de uma criança pode ser
mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito
frequente. Não o vedes vós mesmos tantas vezes na Terra?”
Um Espírito que se
encontra animando uma criança, em muitos casos, é mais evoluído que seus
próprios pais, e isso é frequente no seio da sociedade humana. Por vezes, são
os mesmos ancestrais de volta, com as experiências que granjearam, com novos
aprendizados no mundo espiritual, que trazem para novas experiências na carne.
198.
Por não ter podido praticar o mal, o
Espírito de uma criança que morreu em tenra idade pertence às categorias
superiores?
“Se não fez o mal,
também não fez o bem e Deus não o isenta das provas que tenha de padecer. Se
for puro, não o é pelo fato de ter sido criança, mas porque era mais evoluído”.
Não é o fato de uma
criança ter desencarnado em tenra idade que a faz pertencer ao reino dos
Espíritos puros. Ela se agrupa, depois da morte do corpo físico, em esferas
condizentes com o seu tamanho evolutivo, por suas qualidades espirituais.
Ninguém faz anjos; o que transforma o Espírito das trevas para a luz é a
maturidade espiritual, é o tempo e o trabalho.
199.
Por que a vida se interrompe com tanta
frequência na infância?
“A duração da vida da
criança pode representar, para o Espírito que nela está encarnado, o
complemento de uma existência interrompida antes do término devido, e sua
morte, quase sempre, constitui provação ou expiação para os pais”.
A curta duração da
existência de algumas crianças é, por vezes, influência da existência passada,
que foi interrompida antes de cumprir seus dias na pauta da vida. O que ficamos
devendo, haveremos de saldar. Entretanto, pode ser igualmente, como caso mais
fácil, um Espírito que somente deve dias, ou meses, e mesmo anos para
conquistar sua alforria na Terra, e passar a pertencer a esferas elevadas,
servindo também para provações dos pais, que sempre reajustam alguma coisa com
esse fato que abala os seus sentimentos.
199-a.
Em que se transforma o Espírito de uma
criança que morreu em tenra idade?
“Recomeça uma nova
existência”.
Tudo isso se explica
pelos processos das vidas sucessivas. Elas são as chaves com as quais abrimos
as portas de muitos conhecimentos espirituais.
Comentário
de Kardec:
Se
o homem só tivesse uma existência, e se após essa existência sua sorte futura
ficasse decidida para sempre, qual seria o mérito de metade da espécie humana,
que morre em tenra idade, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que
direito se acharia isenta das condições, frequentemente tão duras, impostas à
outra metade? Semelhante ordem de coisas não se harmonizaria com a justiça de
Deus. Com a reencarnação, a igualdade é para todos; o futuro pertence a todos
sem exceção e sem favor para quem quer que seja, e os que chegarem por último
só poderão queixar-se de si mesmos. O homem deve ter o mérito de seus atos,
como tem deles a responsabilidade.
Aliás,
não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não
se veem crianças dotadas dos piores instintos numa idade em que a educação
ainda não pôde ter exercido a sua influência? Não se veem algumas que parecem
trazer do berço a astúcia, a falsidade, a perfídia, até mesmo o instinto do
roubo e do assassínio, não obstante os bons exemplos de que estão cercadas? A
lei civil as absolve de suas más ações, porque, diz ela, agiram sem
discernimento. E tem razão, porque, de fato, elas agem mais por instinto do que
intencionalmente. Mas, de onde podem provir instintos tão diversos em crianças
da mesma idade, educadas nas mesmas condições e sujeitas às mesmas influências?
De onde vem essa perversidade precoce, senão da inferioridade do Espírito, já
que a educação em nada contribuiu para isso? As que são viciosas o são porque
seus Espíritos progrediram menos e têm então de sofrer as consequências, não
dos atos que praticaram na infância, mas dos de suas existências anteriores. A
lei, portanto, é a mesma para todos e a justiça de Deus a todos alcança.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, e ao estudo do tópico Transmigração progressiva, vamos estudar as
perguntas de 193 a 196-a.
193.
Em suas novas existências pode o homem
descer mais baixo do que já esteja na atual?
“Em termos de posição
social, sim; como Espírito, não”.
As leis, criadas por
Deus não permitem que o homem, em uma reencarnação, desça, espiritualmente,
mais abaixo do que acontece a regressão.
O Espírito não regride;
ele sempre avança para frente e para o alto. O que pode acontecer é a alma
descer socialmente; regressão material é escola para o Espírito; no entanto, o
que aprendemos nunca mais esquecemos, pois, significa despertamento. Os valores
espirituais adquiridos irradiam sempre em todas as reencarnações.
O que por vezes
acontece, é que o Espírito em boas condições intelectuais pode voltar à Terra
em outra vida física, sem condições de se expressar, o que, contudo, não
significa regressão. O que ele sabe, está registrado para a eternidade.
194.
É possível, em uma nova encarnação, que a
alma de um homem de bem anime o corpo de um celerado?
“Não. Visto que ela não
pode degenerar”.
O Espírito de um homem
de bem, jamais volta à Terra animando o corpo de um celerado. Não há condições
de um Espírito retroceder em seus sentimentos; ele sempre avança, esta é a lei
do progresso, que é a lei de Deus.
194-a.
A alma de um homem perverso pode
transformar-se na de homem de bem?
“Sim, se se arrependeu.
Isso, então, é uma recompensa”.
A alma de um celerado
em uma reencarnação, pode, em outra, voltar animando o corpo de um homem
regenerado; basta arrepender-se e continuar se esforçando, para não cair em
faltas novamente.
Comentário
de Kardec:
A
marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada. Eles se elevam
gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que chegaram. Em suas
diferentes existências corporais, podem descer como homens, mas não como
Espíritos. Assim, a alma de um poderoso da Terra pode mais tarde animar o mais
humilde operário e vice-versa, porque entre os homens, as posições sociais
guardam, frequentemente, relação inversa com a elevação dos sentimentos morais.
Herodes era rei e Jesus, carpinteiro.
195.
A possibilidade de se melhorarem noutra
existência não pode levar algumas pessoas a perseverarem no mau caminho, sob o
pretexto de que poderão corrigir-se mais tarde?
“Quem assim pensa não
acredita em nada e a ideia de um castigo eterno não o reprima mais que qualquer
outra coisa, pois sua razão a repele, e essa ideia induz à incredulidade a
respeito de tudo. Se só tivessem empregado meios racionais para conduzir os
homens, não haveria tantos incrédulos. De fato, um Espírito imperfeito poderá,
em sua existência corporal, pensar como dizes, mas, uma vez liberto da matéria,
pensará de outro modo, pois logo perceberá que calculou mal, o que o levará a
sentimentos opostos em uma nova existência. É assim que se realiza o progresso
e essa a razão por que, na Terra, tendes homens mais adiantados que outros. Uns
já possuem a experiência que outros ainda não têm, mas que adquirirão pouco a
pouco. Depende deles acelerar o seu progresso ou retardá-lo indefinidamente”.
Se desejarmos melhorar,
tomemos essa providência logo; não deixemos para amanhã, pois será um dia a
mais a retardar a nossa libertação. Nunca se deve pensar que, se a vida é
eterna, tem-se muito tempo para o aperfeiçoamento. Na verdade, a evolução é
demorada, contudo, é progressiva, e temos uma função importante no nosso
despertamento espiritual.
Comentário
de Kardec:
O
homem que se encontra numa posição má deseja trocá-la o mais rápido possível.
Aquele que se acha convencido de que as tribulações desta vida são consequência
de suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos
penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que a do fogo
eterno, em que não acredita.
196.
Não podendo os Espíritos melhorar-se, a
não ser por meio das tribulações da existência corporal, seque-se que a vida
material seja uma espécie de cadinho ou de depurador, pelo qual devem passar os
seres do mundo espiritual para alcançarem a perfeição?
“Sim, é exatamente
isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém,
somente depois de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que atingem,
num tempo mais ou menos longo, conforme os esforços que empreguem, o objetivo
para o qual se encaminham”.
Então, é necessário que
o Espírito passe por todos os tipos de tribulações, para serem elas escolas
onde se aprende a viver melhor; tirar as tribulações dos Espíritos é o mesmo
que tirar as crianças de junto dos pais. São indispensáveis os problemas e as
dores nos caminhos da humanidade, pelo menos na faixa evolutiva em que ela se
encontra. Eis porque são necessárias várias reencarnações para o Espírito, como
sendo oportunidades de aprimoramento espiritual e educandários de elevado poder,
disciplinando e prometendo um porvir cheio de luz e de paz.
196-a.
É o corpo que influi sobre o Espírito
para que este se melhore, ou é o Espírito que influi sobre o corpo?
“Teu Espírito é tudo;
teu corpo é uma veste que apodrece eis tudo”.
O corpo é um depurador,
que vai modelando a alma passo a passo, de vida em vida. E a alegria de viver é
a felicidade recebida como prêmio de jornadas avançadas.
Comentário
de Kardec:
No
suco da videira encontramos uma comparação material dos diferentes graus da
depuração da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas
enfraquecido por uma porção de matérias estranhas, que lhe alteram a essência.
Esta só chega à pureza absoluta depois de várias destilações, em cada uma das
quais se despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique no qual o Espírito
tem que entrar para se purificar; as matérias estranhas são como o perispírito,
que também se purifica à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos iniciar o estudo do tópico Transmigração progressiva, nas
perguntas de 189 a 192-a.
189.
O Espírito goza da plenitude de suas
faculdades desde o princípio de sua formação?
“Não, porque o
Espírito, como o homem, também tem sua infância. Em sua origem os Espíritos têm
apenas uma existência instintiva e mal têm consciência de si mesmo e de seus
atos. Só pouco a pouco a inteligência se desenvolve”.
O Espírito tem,
igualmente, a sua infância. No início de sua individualidade, somente tem
instintos qual o animal; a sua vida é instintiva e ele não tem consciência de
si mesmo. Não compreende as leis e sua condição é de simplicidade e ignorância.
Não goza das suas faculdades, porque elas se encontram adormecidas. Somente o
tempo, nas sucessivas reencarnações, na dor e a agressividade que recebe de
fora e de dentro de si mesmo, é que vai entendendo o objetivo de sua vida.
190.
Qual o estado da alma na sua primeira
encarnação?
“O da infância na vida
corporal. Sua inteligência apenas desabrocha: ela se ensaia para a vida”.
Nos primeiros ensaios
da alma para a vida, ela se encontra na infância e, tomando corpo, a infância
continua, contudo, a alma carrega consigo as mesmas qualidades angélicas, ainda
que em estado latente. A justiça nos garante os mesmos valores dos grandes
sábios, mas é preciso que seja desenvolvida essa capacidade espiritual que
todos temos. A força maior que nos ajuda a despertar o celeiro nos cofres da
consciência é o tempo. Esse tempo, conjugando com os nossos esforços,
tornar-se-á uma fonte de qualidades espirituais elevadas, capazes de nos tornar
anjos.
191.
As almas dos nossos selvagens são almas
no estado de infância?
“Infância relativa, mas
já são almas desenvolvidas, pois nutrem paixões”.
O estado da alma em
suas primeiras vestimentas materiais é rudimentar, pelos rudimentos de vida que
se apresentam no Espírito ainda em sono. Entretanto, mesmo naquele estado
primitivo, a sua natureza tem valores imortais que o porvir irá conhecer como
semelhantes aos dos Espíritos Superiores.
191-a.
Então, as paixões são um sinal de
desenvolvimento?
“De desenvolvimento, sim,
mas não de perfeição. São um sinal de atividade e de consciência do eu, ao
passo que, na alma primitiva, a inteligência e a vida se acham no estado de
gérmen”.
As próprias paixões
representam um desenvolvimento da alma, não a perfeição, a qual virá depois,
pelo conhecimento e prática do amor.
192.
Por uma conduta perfeita pode-se
transpor, já nesta vida, todos os graus da escala e tornar-se Espírito puro,
sem passar por outros graus intermediários?
“Não, pois o que o
homem julga perfeito está longe da perfeição. Há qualidades que lhe são
desconhecidas e que ele não pode compreender. Poderá ser tão perfeito quanto o
comporte a sua natureza, mas isso não é a perfeição absoluta. Uma criança, por
precoce que seja, deve passar pela juventude, antes de chagar a maturidade; da
mesma forma, também, o doente tem de passar pela convalescença, antes de
recobrar a saúde. Além disso, o Espírito deve progredir em ciência e em
moralidade; se somente se adiantou num sentido, é preciso que se adiante no
outro para alcançar o topo da escala. Quanto mais o homem se adiantar na vida
presente, tanto menos longas e penosas serão as provas que virão depois”.
Existem os degraus,
como sendo escala de ascensão, para todos os Espíritos no universo de Deus.
Ninguém pode, e a razão não ensina o contrário, em somente uma existência,
aperfeiçoar-se em todos os rumos. São necessários milhares e milhares delas,
com acertos e desacertos, aprendendo e colhendo experiências para o grande
celeiro da vida.
Em uma só encarnação, a
alma não tem condições de alcançar a perfeição. Seria um contrassenso, uns
passarem por caminhos tortuosos, sofrendo e disciplinando-se, e outros tomarem
uma evolução reta e com poucos anos atingirem a angelitude. A evolução, ou o
despertamento do Espírito, se processa de letra a letra, de passo a passo, de
reencarnação a reencarnação.
Não haveria mérito
algum para o Espírito se Deus já o fizesse em seu completo despertamento
espiritual.
192-a.
O homem pode ao menos garantir para si,
já na vida presente, uma existência futura menos cheia de amarguras?
“Sim, sem dúvida; pode
abreviar a extensão e as dificuldades do caminho. Só o negligente permanece
sempre no mesmo ponto”.
O Espírito, desde a sua
gênese, vem se despertando lentamente pelos processos estabelecidos pela lei do
progresso e, quando chega a razão, aparece a sua parte a ser feita, e que ele
deve fazer no âmbito das suas possibilidades. Deus criou a vida e leis para
serem obedecidas; Deus criou os mundos e leis que os governam, assegurando a
harmonia universal. Lembremo-nos todos os dias da gradatividade; nunca parar,
mas jamais crescer desordenadamente, sem as possíveis seguranças, como viajores
de Deus.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos continuar o estudo do tópico Encarnação nos diferentes
mundos, nas perguntas de 183 a 188.
183.
Passando de um mundo para outro, o
Espírito passa por nova infância?
“Em toda parte a
infância é uma transição necessária, mas não é, em todo lugar, tão obtusa
quanto entre vós”.
Ou seja, a alma, quando
transmigra de um mundo para outro, passa por determinada transição. Isso é lei
natural da própria vida.
Os Espíritos
reencarnados na Terra estão em preparo para que possam diminuir o tempo de
transição, da reencarnação à lucidez, em se abraçando as responsabilidades.
184.
O Espírito pode escolher o novo mundo em
que vai habitar?
“Nem sempre; mas pode
pedir e obter o que deseja, se o merecer, porque o acesso dos Espíritos a este
ou aquele mundo vai depender do grau da sua elevação”.
Ou seja, o Espírito
pode escolher o mundo em que deseja habitar, mas, nem sempre a escolha é
concedida pelos benfeitores espirituais encarregados de estabelecer a harmonia
nos mundos e dos seus tutelados.
A alma que não se
libertou da escravidão da ignorância é como a criança que nem sempre pode fazer
o que quer. Ela pede aos pais, e esses medem o que podem liberar para os seus
filhos. Os Espíritos que já se encontram conscientes dos seus deveres, esses
deixam nas mãos dos encarregados da verdade escolher o que o que eles poderão
suportar, de acordo com o seu desenvolvimento espiritual.
184-a.
Se o Espírito nada pedir, o que vai
determinar o mundo em que irá reencarnar?
“O grau da sua elevação”.
Entendemos que isso é
ponto pacífico. A elevação espiritual de cada um é que vai condicionar o acesso
a este ou aquele mundo.
185.
O estado físico e moral dos seres vivos é
perpetuamente o mesmo em cada globo?
“Não; os mundos também
estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado
inferior e a própria Terra sofrerá transformação semelhante. Tornar-se-á um
paraíso terrestre quando os homens se houverem tornado bons”.
O progresso é força de
Deus que abrange toda a criação. O homem cresce, porque desperta seus valores,
depositados por Deus em seu coração. A matéria, sendo criação de Deus,
igualmente tem direito no carro do progresso.
O corpo físico tem sua
linha de aperfeiçoamento em todos os rumos que a vida possa lhe pedir, porque,
se o Espírito aperfeiçoa, necessário se faz que encontre corpos que
correspondam ao seu crescimento espiritual. Todos os reinos da natureza têm sua
marcha de ascensão; essa é, pois, uma lei; pode se dizer que é um determinismo
da Divindade.
Comentário
de Kardec:
É
assim que as raças, que hoje povoam a Terra, desaparecerão um dia e serão substituídas
por seres cada vez mais perfeitos; essas raças transformadas sucederão às
atuais, como estas sucederam a outras ainda mais grosseiras.
186.
Haverá mundos onde o Espírito, deixando
de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?
“Sim, e mesmo esse
envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o
estado dos Espíritos puros”.
Quem se encontra mergulhado
na carne dificilmente pode ter uma ideia do que pode ser um mundo venturoso,
onde somente aportam Espíritos puros, aquelas almas que já se encontram em
condições de falar como disse Jesus: Eu e meu Pai somos um.
186-a.
Parece resultar daí que não existe uma
demarcação precisa entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de
Espírito puro?
“Essa demarcação não
existe. A diferença se vai apagando pouco a pouco até se tornar imperceptível,
como a noite se desfaz ante as primeiras claridades da alvorada”.
A pureza da alma surge
na amplitude da nossa vida, no silêncio que o nosso conhecimento nos ensinou a
respeitar. Com o passar das eras no bem, no amor e na caridade, o Espírito vai
se iluminando, como a noite sucede ao dia, e a ideia da imortalidade assegura a
vida na fé que estabelece a felicidade.
187.
A substância do perispírito é a mesma em
todos os globos?
“Não; é mais ou menos
etérea. Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria
de cada um, com a rapidez do relâmpago”.
No que toca à vida de
um Espírito que mudou de mundo por necessidade evolutiva, ao chegar a esse
mundo ele muda de roupagem e se reveste de outra compatível com aquele mundo
que lhe empresta as condições de viver, como os homens fazem ao passar para
outro país, cujo clima é diferente do de origem. A diferença é que se troca a
roupagem perispiritual pelas forças mentais, com recursos do próprio mundo interno.
188.
Os Espíritos puros habitam mundos
especiais, ou se acham no espaço universal, sem estarem mais ligados a um globo
do que a outros?
“Os Espíritos puros
habitam certos mundos, mas não estão confinados a eles como os homens na Terra;
podem, melhor do que os outros, estar em toda parte”.
A condição de Espírito
livre é conquistada pela alma em suas variadas reencarnações, nos diversos
mundos. Os Espíritos livres, os puros Espíritos, não estão apegados aos mundos
que habitam, porque consideram como sua casa o mundo onde se encontram naquele
momento.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando sequência ao capítulo
IV do livro II, vamos continuar o estudo do tópico Encarnação nos diferentes
mundos, nas perguntas de 179 a 182.
179.
Os seres que habitam cada mundo
alcançaram todos o mesmo grau de perfeição?
“Não; é como na Terra;
há seres mais e menos adiantados”.
Daí nós concluirmos
que, as diferenças são uma constante em todos os mundos e em tudo que existe no
universo. Nada é perfeitamente igual ao outro, mesmo que estejam ligados pela
mesma linha de afinidades.
Os Espíritos que
reencarnam em um planeta não são todos iguais no saber e no amor; existem
diferenças entre uns e outros, para que o aprimoramento se faça entre os
próprios Espíritos, uns ensinando aos outros.
180.
Passando deste mundo para outro, o Espírito
conserva a inteligência que tinha aqui?
“Sem dúvida; a inteligência
não se perde, mas pode acontecer que o Espírito não disponha dos mesmos meios
para manifestá-la. Isso vai depender da sua superioridade e das condições do
corpo que vai tomar”. (Veja-se: Influência do organismo, nas questões 367 a
370).
Ou seja, o Espírito na
sua jornada, ao passar para outros mundos, se esse for o caso, conserva a sua
inteligência e dela faz uso no que for necessário, ampliando suas experiências
no que deve aprender. O Espírito somente fica embotado conforme o corpo que toma,
que pode ter influência sobre a inteligência. Entretanto, com o tempo, ele domina todas as suas
condições.
181.
Os seres que habitam os diferentes mundos
têm corpos semelhantes aos nossos?
“Sem dúvida eles têm
corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a
matéria; mas esse envoltório é mais ou menos material, conforme o grau de
pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que diferencia os mundos que devemos
percorrer, pois há muitas moradas na casa de nosso Pai, sendo de muitos graus
essas moradas. Alguns o sabem e têm consciência disso aqui na Terra, o que não
acontece com outros”.
Sabemos que existem
muitas moradas na casa do Pai. São inúmeros os mundos que servem de moradia
para humanidades sem conta. Aqueles mundos habitados por Espíritos que usam
corpos físicos, se encontram em várias escalas evolutivas, e os corpos nos
mundos nem sempre são iguais na estrutura material. As diferenciações são
inúmeras, contudo, carregam alguma semelhança uns com os outros. A cada mundo,
a sua própria necessidade. E o Espírito é o mesmo que atua em todos eles; as
diferenças das almas são no aspecto evolutivo.
182.
Podemos conhecer exatamente o estado
físico e moral dos diferentes mundos?
“Nós, Espíritos, só
podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos encontrais;
ou seja, não podemos revelar estas coisas a todos, pois nem todos estão em
condições de compreendê-las e isso os perturbaria”.
Comentário de Kardec:
À medida que o Espírito
se purifica, o corpo que o revesta aproxima-se igualmente da natureza
espiritual. A matéria é menos densa, ele já não se arrasta penosamente pela
superfície do solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, não mais
sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se alimentarem. O
Espírito é mais livre e tem, das coisas longínquas, percepções que
desconhecemos. Vê com os olhos do corpo o que só entrevemos pelo pensamento.
A purificação dos
Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As
paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da
fraternidade. É assim que, nos mundos superiores à Terra, as guerras são
desconhecidas, os ódios e discórdias não têm objetivo, pois ninguém pensa em
prejudicar o seu semelhante. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes
dá uma consciência isenta de remorsos, fazem que a morte não lhes cause nenhuma
apreensão. Encaram-na de frente, sem temor e como simples transformação.
A duração da vida nos
diferentes mundos parece guardar relação com o grau de superioridade física e
moral de cada um, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material o
corpo, menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam; quanto mais puro o
Espírito, menos sujeito às paixões que o consomem. É essa ainda uma graça da
Providência que, dessa forma, quer abreviar os sofrimentos.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo
IV do livro II, vamos continuar no estudo do tópico Encarnação nos diferentes
mundos, nas perguntas de 177 a 178-b.
177.
Para chegar à perfeição e á suprema
felicidade, objetivo final de todos os homens, o Espírito deve passar pela
série de todos os mundos que existem no Universo?
“Não, porque há muitos
mundos que estão no mesmo grau da escala evolutiva, nos quais o Espírito nada
aprenderia de novo”.
A perfeição exige do Espírito
incontáveis reencarnações em variados mundos, buscando, aqui e ali, condições
para a verdadeira felicidade. Para tanto, necessário se faz que o Espírito se
submeta à lei da reencarnação, lei essa que vigora em todos os mundos habitados.
O objetivo de todos é a perfeição e quanto mais sabemos dos valores do Espírito
puro, mais vontade sentimos de buscar essa pureza, mesmo sabendo de todos os
problemas, sacrifícios e dores. Jesus nos mostrou que cada um deve levar a sua
cruz e subir o seu calvário para a própria redenção. É por isso que estamos
trabalhando na aquisição de forças, buscando vencer a nós mesmos.
177-a.
Como se explica então a pluralidade de
suas existências em um mesmo globo?
“De cada vez o Espírito
pode encontrar-se em posições bem diferentes das anteriores, que serão outras
tantas ocasiões de adquirir experiência”.
Podemos tomar como
exemplo uma situação que está relatada pela médium Yvonne do Amaral Pereira, em
um de seus livros, quando ela fala da experiência do Espírito Frédéric Chopin,
que viveu na Europa, entre os anos de 1810 a 1849, quando desencarnou, na
condição de um compositor consagrado, grande pianista. Agora, esse grande
artista, também teve as suas questões de ordem de evolução espiritual, e fez
uma escolha. Depois de ter sido famoso na Europa, no coração da civilização,
escolheu uma existência obscura no interior do Brasil, numa região quase
selvagem, aonde essa existência obscura o auxiliou a desenvolver, em termos
espirituais, valores tais, como, humildade, tolerância, boa vontade, etc. E ele
disse para a médium que fez essa escolha conscientemente, depois de ter sido
uma figura projetada para o mundo. Na condição de compositor, ele evoluiu
intelectualmente; na ocasião em que teve uma existência obscura, ele teve a
chance de evoluir moralmente.
178.
Os Espíritos podem renascer corporalmente
num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram?
“Sim, quando têm uma
missão a cumprir para auxiliar o progresso. Aceitam, então, com alegria as
tribulações de tal existência, porque lhes fornecem os meios de se adiantarem”.
Os Espíritos que já
viveram em mundos superiores e dali saíram com glórias, podem voltar a mundos
menos elevados que o seu com missão de transmitir suas experiências, através dos
exemplos, com finalidade precípua de ajudar aos que se encontram na retaguarda.
É a chance de colocar na prática tudo aquilo que aprendeu anteriormente. Eles
não vão como exilados, mas, como Espíritos que escolheram uma tarefa.
178-a.
Isso não pode ocorrer também por
expiação, e Deus não pode enviar Espíritos rebeldes para mundos inferiores?
“Os Espíritos podem
permanecer estacionários, mas não retrogradam; sua punição, neste caso,
consiste em não avançarem, em recomeçarem no meio conveniente à sua natureza,
as existências mal empregadas”.
Os Espíritos não
regridem, como muitos pensam, e dentro de uma grandeza de tempo, o próprio
estacionamento do Espírito é ilusório, pois ainda que queiramos, a própria
matéria não para a sua evolução. A evolução se torna tão lenta que nos dá uma
impressão de inércia, mas não há imobilidade dentro do progresso universal. E,
aí, nós vamos ter “N” situações possíveis e imagináveis. Infelizmente,
percebemos que muitos conceitos foram inseridos no aprendizado espírita, a
partir de determinada época, embora não exista nenhum registro feito nos livros
básicos da doutrina, nem mesmo na Revista Espírita, como, por exemplo, os
exilados de Capela. Não devemos tomar como uma verdade absoluta alguma coisa
cujo registro não está nos conhecimentos transmitidos pelos Espíritos da
Codificação. Não devemos considerar determinadas ficções como verdades
absolutas.
178-b.
Quais os que têm de recomeçar a mesma
existência?
“Os que faliram em suas
missões ou em suas provas”.
Esta resposta é para
nós refletirmos muito. Aqueles que obstaculizaram o progresso; aqueles que não
aprenderam a viver, terão que recomeçar a mesma existência.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar o tópico Encarnação nos diferentes mundos, nas
perguntas de 172 a 176-b.
Antes de estudar as
perguntas, vou postular algumas questões fundamentais, que se deduz das
referidas perguntas: o Espírito, ele é um habitante do Universo. Ele não é
habitante de um único planeta. Portanto, ele poderá encarnar em diversos
mundos. E, por que encarnar? Porque ele tem necessidade de colocar à prova tudo
aquilo que aprendeu, durante o período em que estava na erraticidade.
172.
As nossas diversas existências corporais
se realizam todas na Terra?
“Nem todas; vivemo-las
em diferentes mundos. As que passamos na Terra não são as primeiras, nem as
últimas, embora sejam das mais materiais e das mais distantes da perfeição”.
Ou seja, estamos aqui,
numa das muitas escolas cósmicas para os Espíritos, e esta é uma das mais
elementares. Estamos aprendendo os postulados básicos da vida, tanto material
quanto espiritual.
Nem todos os Espíritos
que ora estagiam na Terra, tiveram nela as primeiras reencarnações. Muitos já
viveram em outros mundos, dos quais guardaram muitas experiências, que lhes
servem de amparo contra muitos males.
A lei da reencarnação
nos fala que já passamos em muitos mundos, recolhendo experiências; devemos a
esses mundos o que aprendemos; portanto, a mesma lei do amor pede que
devolvamos o que recebemos em forma de fraternidade universal, enriquecendo a
vida e despertando em nós os valores que nos foram legados.
173.
A cada nova existência corporal a alma
passa de um mundo para outro, ou pode ter várias existências no mesmo globo?
“Pode viver muitas
vezes no mesmo globo, se não avançou bastante para passar a um mundo superior”.
Certamente que a alma
pode viver em mundos diferentes do que estás vivendo; no entanto, o mais certo
é que ela terá muitas reencarnações no mundo em que está, até que as
experiências acumuladas sejam o suficiente para lhe ascender a outro mundo.
Mesmo assim, a alma pode voltar ao mundo que deixou, como missão para ajudar
aos que ficaram. Essa é a lei de fraternidade, onde a luz clareará as trevas.
173-a.
Podemos então reaparecer muitas vezes na
Terra?
“Certamente”.
173-b.
Podemos voltar à Terra depois de termos
vivido em outros mundos?
“Seguramente. É possível
que já tenhas vivido em outros mundos e na Terra”.
174.
Voltar a viver na Terra é uma
necessidade?
“Não; mas se não
progredistes, podereis ir para outro mundo que não seja melhor e que pode até
ser pior”.
O Espírito se encontra
na Terra por leis rígidas, que violentam suas necessidades, obrigando-o a viver
onde sua capacidade não corresponde a essa vivência. Se o Espírito não
acompanha o progresso do mundo em que se encontra encarnado, deve passar a
outro que lhe sugere melhor aprendizado.
Herdam a Terra somente
almas compatíveis com o progresso da Terra. Os mais atrasados, bem como os mais
evoluídos, deverão procurar mundos da sua afinidade. Os últimos poderão voltar
aqui, em missão, em altos trabalhos, onde a educação é a finalidade e o amor, o
anseio de vida.
175.
Haverá alguma vantagem em voltar a
habitar a Terra?
“Nenhuma vantagem
particular, a menos que seja em missão, caso em que aí se progride, como em
qualquer outro mundo”.
Não há vantagens para o
Espírito em permanecer na Terra se ela não lhe oferecer meios compatíveis com a
sua evolução espiritual. Às vezes, o interesse da alma em ficar vivendo na
Terra, está sob a inspiração de sentimentos inferiores, mantendo o amor próprio,
o egoísmo e a vaidade, nada de interesse universal que o leva à evolução. A
maior vantagem para o Espírito é a de crescer, moral e intelectualmente. Seja
onde for, a casa é uma só: a casa de Deus.
175-a.
Não se seria mais feliz permanecendo na
condição de Espírito?
“Não, não!
Estacionar-se-ia e o que se quer é avançar para Deus”.
176.
Depois de terem encarnado em outros
mundos, os Espíritos podem encarnar na Terra, sem que aqui jamais tenham estado?
“Sim, do mesmo modo que
vós em outros globos. Todos os mundos são solidários; o que não se faz num faz
no outro”.
Os mundos são escolas
diferentes, porém, ensinando a mesma lição de amor e movimentando as criaturas
para o mesmo conhecimento da verdade.
Espíritos que viveram
na Terra podem continuar a viver reencarnados em outros mundos, desde quando
precisem das lições ali ministradas. Da mesma forma, Espíritos que viveram em
outros mundos poderão viver na Terra, aprendendo algo que ainda não podem
assimilar em outras pátrias do universo; tomemos, por exemplo: um aluno que
estuda uma série no colégio A pode se transferir para o colégio B, cursando a
mesma série, ou seja, pode se transferir com o mesmo padrão de aprendizado
material e espiritual que lhe seja compatível.
176-a.
Assim, há homens que estão na Terra pela
primeira vez?
“Há muitos, e em
diversos graus”.
176-b.
Pode-se reconhecer por um sinal qualquer
quando um Espírito está pela primeira vez na Terra?
“Isso não teria nenhuma
utilidade”.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Dando continuidade ao capítulo
IV do livro II, vamos estudar a questão da Justiça da Reencarnação, na pergunta
171.
171.
Em que se baseia o dogma da reencarnação?
“Na Justiça de Deus e
na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai sempre deixa aos filhos
uma porta aberta ao arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar
para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu se
melhorarem? Não são filhos de Deus todos os homens? Somente entre os homens
egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem
remissão”.
Quando é falado aqui de
dogma, é falado de uma espécie de lei pétrea, que é uma lei natural, divina, um
dispositivo que não pode ter alteração à matéria por ela definida, e que nós não devemos contestar, em outras
palavras, a reencarnação é lei universal vigente em todos os mundos habitados,
e como tal, é imutável. O Espírito anima quantos corpos precisar para o seu
despertamento espiritual. A reencarnação mostra-nos a justiça de Deus,
proporcionando a todos as mesmas oportunidades de viverem bem, de usarem seus
poderes e de gozarem seus esforços, suas conquistas. O descrédito de alguns em
relação a essa lei não altera a sua vigência, visto que uma lei eterna,
fundamentada por Deus, não vai deixar de ser lei. Quando estudamos reencarnação
como nos é relatada pelos Espíritos, que estão baseados em suas experiências
dentro do mundo espiritual, que lhes é próprio. Então, o dogma da reencarnação
se baseia na Justiça de Deus.
Comentário
de Kardec:
Essa
explanação do Codificador complementa a plenitude de tudo aquilo que os
Espíritos disseram.
Todos
os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la
pelas provações da vida corporal. Mas, em sua justiça, Ele lhes concede
realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa
primeira prova.
Deus
não agiria com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se castigasse para sempre
os que encontraram obstáculos ao seu melhoramento, independentemente de sua
vontade, no próprio meio em que foram colocados. Se a sorte dos homens se
fixasse irrevogavelmente depois da morte, Deus não teria pesado as ações de
todos na balança, nem os teria tratado com imparcialidade.
A
doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o homem muitas
existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que fazemos da
justiça de Deus, com respeito aos homens de formação moral inferior; a única
que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece
os meios de resgatarmos os nossos erros mediante novas provações. A razão no-la
indica e os Espíritos a ensinam.
O
homem que tem consciência da sua inferioridade haure na doutrina da
reencarnação uma esperança consoladora. Se crê na justiça de Deus, não pode
esperar que venha a achar-se, por toda a eternidade, em pé de igualdade com os
que agiram melhor do que ele. A ideia de que aquela inferioridade não o
deserdará para sempre do supremo bem, e que poderá conquista-lo mediante novos
esforços, o sustenta e lhe reanima a coragem. Quem é que, no final da sua
carreira, não lamenta ter adquirido tarde demais uma experiência de que já não
pode aproveitar? Essa experiência tardia não fica perdida; ele a aproveitará
numa nova existência.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
IV – Pluralidade das Existências
Iniciando o capítulo IV
do livro II, vamos estudar a questão da Reencarnação, nas perguntas de 166 a 170.
Este tópico é o
paradigma básico e fundamental da Doutrina Espírita.
A reencarnação é
estudada em diversos tipos de filosofias e correntes doutrinárias. Porém, não
da maneira como os Espíritos a transmitiram a Kardec.
Ao estudar
reencarnação, podemos dizer que, do ponto de vista dos Espíritos, ela diverge
totalmente de todos os conceitos anteriores a respeito da reencarnação. Nós
vamos observar que a justiça divina se expressa totalmente através dela. E a
questão 166 é a mais importante do tópico, porque nos dá a base tudo.
166.
Como pode a alma, que não alcançou a
perfeição durante a vida corporal, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de
uma nova existência”.
Ou seja, se não
cumprirmos tudo aquilo que seria o nosso dever em termos de vida, vamos ter uma
nova oportunidade para caminharmos um pouco mais adiante, utilizando uma nova
existência; e nessa existência, vamos aprender um pouco mais.
166-a.
Como a alma realiza essa nova existência?
Será pela sua transformação como Espírito?
“A alma, ao se depurar,
sem dúvida sofre uma transformação, mas para isso necessita da prova da vida
corporal”.
Ou seja, na vida
espiritual nos são passados uma série de conceitos, que não são próprios da
vida corporal; e vamos ter que provar que aprendemos essas noções, através de
uma nova vida física; vamos voltar para dar testemunho daquilo que aprendemos
na vida espiritual, passando por um grande teste.
166-b.
A alma passa, portanto, por muitas
existências corporais?
“Sim, todos nós temos
muitas existências corporais. Os que dizem o contrário querem manter-vos na
ignorância em que eles próprios se encontram; esse é o desejo deles”.
Ora, se nós temos que
aprimorar uma série de valores, valores estes intelectuais, morais, nós temos
que na vida corporal passar por várias oportunidades, porque não temos como
aprender tudo numa única existência física.
166-c.
Parece resultar desse princípio que a
alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro; em outras palavras, que ela
reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?
“Evidentemente”.
Aí, nós vamos nos
reportar a Jesus falando com Nicodemos: o que é da água é da água, e o que é do
espírito é do espírito. O que queria dizer o Cristo com isso? A água, para
aqueles povos do Oriente Médio, simbolizava a vida física, e o espírito a vida
espiritual. Então, nós temos que tomar um novo corpo a cada existência.
167.
Qual a finalidade da reencarnação?
“Expiação, melhoramento
progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?”
Os Espíritos estão
falando de justiça divina. Então, nós temos a oportunidade de viver diversas
existências, com diversos tipos de experiências, exatamente para melhoramento
progressivo da nossa condição de Espíritos, ou seja, de componentes da
Humanidade.
168.
O número das existências corporais é
limitado ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A cada nova existência
o Espírito dá um passo na estrada do progresso. Quando se despojar de todas as
impurezas, não mais necessitará das provas da vida corporal”.
Ou seja, dia virá que
nós não vamos reencarnar para aprender; nós vamos reencarnar para trabalhar.
Não necessitaremos mais de provas na vida corporal.
169.
O número de encarnações é o mesmo para
todos os Espíritos?
“Não; aquele que
caminha depressa se poupa a muitas provas. Todavia, essas encarnações
sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito”.
Podemos fazer uma
comparação com aquele aluno repetente, que por várias vezes repete a mesma
série; claro, em vez de concluir o curso em quatro anos, vai concluí-lo em oito
anos. Já em contrapartida, aquele que foi estudioso o bastante vai ter a
oportunidade de concluir o curso mais rapidamente.
170.
Em que se transforma o Espírito depois da
sua última encarnação?
“Em Espírito
bem-aventurado; em Espírito puro”.
Ou seja, é aquela
encarnação na qual ele consegue vencer tudo aquilo que precisava vencer, para
atingir uma condição de plenitude.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o capítulo III
do livro II, vamos estudar a questão da perturbação espiritual nas perguntas de
163 a 165.
163.
Deixando o corpo, a alma tem
imediatamente consciência de si mesma?
“Consciência imediata
não é bem o termo; ela fica algum tempo em estado de perturbação”.
Da mesma maneira como
acontece a perda da memória do Espírito no processo reencarnatório, ou seja, o
retorno à vida física, do mesmo modo, quando retornamos à vida espiritual, também o Espírito tem o
seu período de perturbação espiritual,
Depois que se processa
o fenômeno da morte, é quase comum, por falta de elevação da alma, que ela
entre em estado de perturbação espiritual. Os seus sentidos adormecem, é como
se ela mergulhasse no sono. No entanto, ela ainda continua ligada ao corpo pelo
chamado cordão fluídico. Esse laço se desata com o tempo, que varia de alma
para alma. Poderá demorar de segundos até mesmo anos.
A libertação do
Espírito dos liames da carne depende da sua condição moral. Há casos, muito
raros, em que, imediatamente após a morte de corpo, o Espírito se liberta sem
perda da consciência, assim como, há outros, em que a alma só se livra dos
laços, quando o próprio fardo já não existe mais.
164.
Todos os Espíritos experimentam, no mesmo
grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do
corpo?
“Não; depende da
elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase
imediatamente, porque se libertou da matéria durante a vida do corpo, ao passo
que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais
tempo a impressão da matéria”.
A separação da alma do
corpo, quando nesse se extingue a força vital, nunca ocorre da mesma maneira. A
diversidade é infinita, do mesmo modo que as folhas das árvores não são iguais
nos seus detalhes. Cada desencarnação tem suas nuances próprias. Como já foi
dito, há Espíritos que levam minutos afrouxando e desatando os laços ao corpo,
e outros que levam até séculos, ficando ligados aos ossos, permanecendo na
ilusão de que ainda estão vivos no corpo físico.
165.
O conhecimento do Espiritismo exerce
alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
“Influência muito
grande, visto que o Espírito já compreendia de antemão a sua situação. Mas a
prática do bem e a confiança pura exercem maior influência”.
Certamente que a
Doutrina Espírita exerce muita influência para diminuir o tempo mais ou menos longo
da perturbação espiritual após a morte, no entanto, é preciso que o estudante
do espiritismo coloque em prática os ensinamentos colhidos no Consolador
prometido.
A perturbação que
ocorre no transe da desencarnação, pela passagem de uma vida para outra, sem
que esperemos essa mudança brusca, nos causa um impacto e, por vezes, perdemos
a razão, cuja recuperação demora mais ou menos, de conformidade com a nossa
evolução. Quando estamos dotados de uma pureza de consciência, essa não impede
a nossa lucidez. Vale muito o conhecimento das leis naturais, principalmente
quando vivemos essas leis, do modo que foi ensinado por Jesus no Seu Evangelho.
Comentário
de Kardec:
No
momento da morte, tudo, a princípio, é confuso. A alma precisa de algum tempo
para se reconhecer; acha-se como que aturdida, no estado de um homem que
despertou de profundo sono e procura compreender a sua situação.. A lucidez das
ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da
matéria da qual acaba de se libertar, e se dissipa a espécie de nevoeiro que
lhe obscurece os pensamentos.
A
duração de perturbação que se segue à morte é muito variável. Pode ser de
algumas horas, como de vários meses e até de muitos anos. É menos longa
naqueles que, durante a vida terrena, se identificaram com o seu estado
futuro,, pois esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram.
Essa
perturbação apresenta circunstâncias particulares, de acordo com os caracteres
dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nas mortes violentas,
por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica
surpreendido, espantado, não acredita que esteja morto e sustenta essa ideia
com obstinação. No entanto, vê o seu próprio corpo, sabe que esse corpo é seu,
mas não compreende que se ache separado dele; acerca-se das pessoas a quem
estima, fala-lhes e não entende porque elas não o ouvem. Esta ilusão dura até o
completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece e
compreende que já não faz parte do número dos vivos. Este fenômeno se explica
facilmente. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica atordoado com a
brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de
destruição, de aniquilamento. Ora, como pensa, vê o ouve, tem a sensação de não
estar morto. O que lhe aumenta a ilusão é o fato de se ver com um corpo
semelhante ao precedente, quanto a forma, mas cuja natureza etérea ainda não
teve tempo de estudar; julga o sólido e compacto como o primeiro e, quando o
chamam sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpa-lo. Esse
fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não
creem dormir; para eles o sono é sinônimo de suspensão das faculdades. Ora,
como pensam livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos
apresentam essa particularidade, embora a morte não lhes tenha chegado
inesperadamente. Mas é sempre mais generalizada entre os que, apesar de
doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um
Espírito assistir ao seu próprio enterro como se fora o de um estranho, e
falando desse ato como de coisa que não lhe diz respeito, até o momento em que
compreende a verdade.
A
perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem; é
calma e em tudo semelhante àquela que acompanha um despertar tranquilo. Para
aquele cuja consciência não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de
angústias, que aumentam a medida que ele reconhece a sua nova situação.
Nos
casos de morte coletiva, tem sido observado que nem todos os que perecem ao
mesmo tempo tornam a ver-se imediatamente. Na perturbação que se segue à morte,
cada um vai para seu lado ou só se preocupa com os que lhe interessa.
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SEGUNDO
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ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o segundo
tópico do capítulo III Separação da alma e do corpo, vamos estudar as perguntas
de 159 a 162.
159.
Que sensação experimenta a alma no
momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticaste
o mal com o desejo de o fazer, no primeiro momento te sentirás envergonhado de
o haveres praticado. Para o justo é bem diferente; a alma se sente como que
aliviada de grande peso, pois não teme nenhum olhar investigador”.
A alma, quando chega ao
mundo espiritual, ao deixar o corpo físico, pode sentir-se feliz ou
constrangida, dependendo do modo de vida que levou. O Evangelho é instrumento
de salvação para todos nós, pois nos induz a uma moral sadia; os seus conceitos
são de luz, nos mostrando e nos ajudando a modificar os pensamentos, as ideias,
a palavra e a própria vida, copiando a vida de Jesus em todos os seus aspectos
de nobreza. O justo é exaltado em todos os tempos, seja onde for. O homem
honesto é louvado e acreditado na Terra e no Céu. Ninguém perde por ser
trabalhador, justo e caridoso. Podemos entender esta resposta dos Espíritos
lembrando uma expressão de Jesus: “Orai e Vigiai”, ou seja, oramos para limpar
os nossos pensamentos e melhorar os fluidos que nos rodeiam, e vigiamos para
mantê-los assim. “O ambiente mais limpo não é aquele que mais se limpa, mas o
que menos se suja”.
160.
O Espírito encontra imediatamente aqueles
que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim, conforme a
afeição que tinha por eles e o afeto que eles lhe consagravam. Quase sempre
eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a libertar-se
das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu
de vista durante sua vida na Terra. Vê os que estão na erraticidade, bem como
os que se encontram encarnados, e os vai visitar”.
A alma, ao atravessar o
portal que separa o mundo material do mundo espiritual, geralmente encontra os
que lhe foram caros na Terra, bem como aqueles que a guiaram nos roteiros
espirituais; no entanto, nem sempre isso acontece, devido a sua posição na
escala espiritual. Compete a cada criatura trabalhar no seu aperfeiçoamento
enquanto encarnada, aliviando o seu fardo e clareando sua mente para ter a
felicidade de encontrar os seus parentes e amigos na mudança da Terra para o
mundo dos Espíritos.
161.
Na morte violenta ou acidental, quando os
órgãos ainda não se enfraqueceram pela idade ou pelas doenças, a separação da
alma e o cessar da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente é assim; mas,
em todos os casos, o instante que os separa é muito curto”.
No caso de morte
violenta, a alma entra em grande perturbação espiritual, por lhe faltar o tempo
necessário para meditar no transe da desencarnação e se ele não se processar
gradativamente. No entanto, há casos em que o Espírito não perde a consciência,
seja qual for a sua morte, por se encontrar em grau de evolução suficiente, o
que garante a sua lucidez espiritual.
162.
Após a decapitação, por exemplo, o homem
conserva por alguns instantes a consciência de si mesmo?
“Muitas vezes a
conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido
completamente. Mas, também, quase sempre o temor da morte lhe faz perder aquela
consciência antes do momento do suplício”.
Por existir a
guilhotina na França, o tema sempre vinha ao pensamento dos estudiosos e
certamente por isso também foi feita essa pergunta aos Espíritos Superiores. A
resposta, certamente, não pode ser generalizada. Cada alma é um mundo diferente
na sua estrutura espiritual e poucas são as que conservam a consciência no ato
da decapitação. Alguns Espíritos, de acordo com a escala de despertamento da
alma, perdem a consciência, sem que se possa determinar o tempo.
Comentário
de Kardec:
Trata-se
aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por
intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência
antes do suplício, pode conservá-la por alguns instantes, mas de duração muito
curta, e que cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não
quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao
contrário; em todos os casos de morte violenta, quando esta não se deve à
extinção gradual das forças vitais, os laços que unem o corpo ao perispírito
são mais tenazes, e o desprendimento completo é mais lento.
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SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Iniciando o segundo
tópico do capítulo III Separação da alma e do corpo, vamos estudar as perguntas
de 154 a 158.
154.
É dolorosa a separação da alma e do
corpo?
“Não; o corpo quase
sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma
parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo
do seu exílio”.
É processo comum e
natural, para a humanidade terrena, a separação do corpo da alma, embora não
exista um totalmente semelhante ao outro, ocorrendo modificações de pessoa para
pessoa. Muitos querem entender que, assim como a enfermidade lhes traz dores e
inquietações variadas, a separação do Espírito do corpo possa lhes causar dores
inenarráveis, porém esta não é verdade. A morte por esgotamento do corpo físico
se processa como se estivéssemos com uma roupa suja, de modo que nos apressamos
em trocá-la, sem motivo algum de inquietação.
Comentário
de Kardec
Na
morte natural, a que resulta do esgotamento dos órgãos em consequência da
idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada que se apaga por
falta de combustível.
155.
Como se opera a separação da alma e do
corpo?
“Rompidos os laços que
a retinham, ela se desprende”.
Não existe violência
nesse ato. Quando o Espírito abandona o corpo que lhe serviu de instrumento na
área física, o mais acertado é dizer que esse desligamento é gradativo. Os
laços são desatados.
155-a.
A separação se dá instantaneamente por
brusca transição? Haverá uma linha de demarcação claramente traçada entre a
vida e a morte?
“Não; a alma se
desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo a que se restituiu
subitamente a liberdade. Aqueles dois estados de tocam e se confundem, de modo
que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam; eles se
desatam, não se quebram”.
O Espírito apegado às
coisas materiais, o usuário, o sensual, enfim, o ignorante, fica junto ao corpo
o tempo que a natureza animal achar conveniente. O seu afastamento é feito
gradativamente, enquanto permanecer alimentando ideias de posse, de medo, de
orgulho e de egoísmo. O Espírito pode ficar apegado ao corpo, às vezes, por
dias e meses, mas, na verdade, há casos em que se verifica que ele fica ligado
aos seus restos mortais por anos a fio, até que desperte nele alguma luz que
faça reconhecer que já não pertence mais ao mundo dos homens.
Comentário
de Kardec
Durante
a vida, o Espírito está preso ao corpo por seu envoltório semimaterial ou
perispírito. A morte é apenas a destruição do corpo, e não a desse segundo
envoltório, que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica. A
observação comprova que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito
não se completa subitamente; que se opera gradualmente e com uma lentidão muito
variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo-se dizer que
o momento da morte é também o da libertação; em outros, sobretudo naqueles cuja
vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido,
durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica a
existência, no corpo, da menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à
vida, mas simples afinidade entre o corpo e o Espírito; afinidade que sempre
guarda relação direta com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu
à matéria. De fato, é racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se tenha
identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela, ao passo
que a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um
começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo; assim, quando chega a
morte, o desprendimento é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos
em todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam
ainda que a afinidade persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos,
é, algumas vezes, muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da
decomposição. Este caso é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e de
morte; verifica-se com alguns suicidas.
156.
A separação definitiva da alma e do corpo
pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?
“Na agonia, a alma,
algumas vezes, já deixou o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem não
tem mais consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de
vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento; existe enquanto o
coração faz circular o sangue nas veias e para isso não precisa da alma”.
A separação entre a
alma e o corpo pode se dar antes que o corpo paralise suas funções orgânicas,
porém, isso é muito raro. Depende muito da situação psíquica do Espírito. O
mais das vezes, a chama espiritual permanece ligada ao fardo físico por horas,
dias ou meses e até anos. Não existe uma desencarnação igual a outra. Os
processos de desligamento dos laços têm variadas modalidades.
157.
No momento da morte, a alma tem, algumas
vezes, uma aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai entrar
novamente?
“Muitas vezes a alma
sente que se vão romper os laços que a prendem ao corpo; emprega então todos os
esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê
o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de
Espírito”.
No momento em que a
alma se desprende do corpo, seus sentidos são aguçados e, em muitos casos, tem
visões reais sobre seu futuro. Geralmente, a pessoa tem o pressentimento de que
vai morrer, quando se aproxima o momento de sua desencarnação. Sabe que vai
partir e não se assusta, no entanto, pode vir a sentir fortes emoções. Raras
são as criaturas que mantém tranquilidade nestas horas.
158.
O exemplo da lagarta, que inicialmente
rasteja na terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte
aparente, para em seguida renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos
uma ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma pálida ideia. A
imagem é boa; todavia, não deve ser tomada ao pé da letra, como frequentemente
o fazeis”.
A comparação da lagarta
com a crisálida já nos mostra a ideia mal formada sobre a reencarnação,
confundindo-a com a definição de ressurreição. O Espírito atento, porém, acha a
figura boa, mas incompleta na sua estrutura. A lagarta transforma o próprio
corpo físico em borboleta e, no caso da reencarnação, lei divina no meio
humano, o Espírito deixa um corpo para depois renascer em outro diferente em
diferentes grupos familiares. Quem entende as leis de Deus e costuma meditar
sobre elas deve fugir do “ao pé da letra”, para procurar sempre o Espírito de
todas as coisas.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
III – Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual
Encerrando o primeiro tópico
do capítulo III A Alma após a morte. Sua individualidade. Vida eterna. Vamos
estudar as perguntas de 151 a 153-a
151.
Que pensar da opinião dos que dizem que
após a morte a alma retorna ao todo universal?
“O conjunto dos
Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo? Quando estás numa
assembleia, és parte integrante dela e, não obstante, conservas sempre a tua
individualidade”.
Constatamos que isso é
uma verdade. Mesmo quando estamos no meio de uma multidão, cada um de nós
preserva a sua individualidade, suas características, seus sentimentos, tudo
aquilo que faz de nós indivíduos. A pergunta de Kardec diz respeito a opinião
de muitas pessoas que têm uma visão panteísta. E o que seria essa visão
panteísta? É a visão de algumas filosofias orientais que defendem a tese de que,
depois de desencarnado, o Espírito volta a uma espécie de um Todo universal, no
qual ele se dilui, digamos assim, perdendo a individualidade. E isso significa
o quê? Significa perder também todos os valores conquistados, perdendo,
inclusive, a responsabilidade pelos atos cometidos durante o período
encarnatório.
152.
Que provas podemos ter da individualidade
da alma após a morte?
“Não tendes essa prova
nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis
surdos, ouviríeis, pois frequentemente uma voz vos fala e vos revela a
existência de um ser que está fora de vós”.
As maiores provas da
individualidade da alma são as comunicações dos Espíritos que viveram na Terra.
Aparecem para amigos ou familiares do mesmo modo de quando viveram aqui. Se ele
foi gordo, aparece gordo; se foi magro, aparece magro; e assim por diante.
Comentário
de Kardec:
Os
que pensam que, pela, a alma retorna ao todo universal estão errados, se por
isso entendem que, semelhante a uma gota d’agua que cai no oceano, ela perde
ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o
conjunto dos seres incorpóreos, de que cada alma ou Espírito é um elemento.
Se
as almas se confundisse na massa, só teriam as qualidades do conjunto e não as
distinguiria umas das outras; não teriam inteligência nem qualidades próprias,
ao passo que, em todas as comunicações, elas revelam a consciência do seu eu e
uma vontade distinta. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os
aspectos, é a consequência mesma de suas individualidades. Se apenas houvesse,
após a morte, o que se chama o grande Todo, a absorver todas as
individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se
recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde, porém, que lá se
encontram seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e infelizes; que lá
os há de todos os caracteres; alegres e tristes, levianos e sérios, etc., é
evidente que são seres distintos. A individualidade torna-se ainda mais patente
quando esses seres provam a sua identidade por sinais incontestáveis, por
detalhes pessoais relativos às suas vidas terrestres, e que podem ser
constatados. Também não pode ser posta em dúvida quando eles se manifestam à
visão nas aparições.
A
individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O
Espiritismo a torna evidente e, de certo modo, material.
153.
Em que sentido se deve entender a vida
eterna?
“A vida do Espírito é
que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a
alma retorna à vida eterna”.
Sabemos que o Espírito
tem vida eterna. E não poderia ser de outra maneira. Somente a forma do corpo é
que tem vida transitória. As formas materiais é que se transformam. O Espírito usa
o corpo como se usam roupas.
153-a.
Não seria mais exato chamar “vida eterna”
à dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não têm mais provas
a sofrer?
“Essa é antes a
felicidade eterna. Mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas
como quiserdes, contanto que vos entendais”.
Daí concluirmos que, a
linguagem dos homens é pobre para expressar a realidade. Todo esforço feito
nesse sentido ainda necessita de recursos para se entender as verdades. Não nos
percamos em jogo de palavras, mas, procuremos sentir essa verdade.
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LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo
II – Encarnação dos Espíritos
Iniciando o capítulo III
do livro II, Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual, nós vamos estudar o
tópico A Alma após a morte. Sua individualidade. Vida eterna. Nas perguntas de
149 a 150-b.
149.
Em que se torna a alma no instante da
morte?
“Volta a ser Espírito,
isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente”.
A alma, depois da
morte, volta ao plano espiritual de onde veio. É como se estivesse internada em
um colégio, em contínuo aprendizado e, ao terminar o curso, volta para casa. O
oposto da morte é o nascimento; pois, que, pela morte do corpo físico retornamos
à vida espiritual, e pelo nascimento do corpo retornamos à vida física. A vida
permeia todos esses fenômenos transicionais. O nascimento do corpo e a morte do
corpo, simplesmente, trocam de planos, do espiritual para o físico e
vice-versa. E a vida segue.
150.
Após a morte, a alma conserva a sua
individualidade?
“Sim; jamais a perde.
Que seria ela, se não a conservasse?”
É isso que os
desencarnados desejam sempre afirmar para os que estão na Terra, presos em
corpo de carne: que a alma conserva depois da morte, a sua individualidade. Tomemos,
por exemplo, qualquer indivíduo que nós conhecemos. Depois de desencarnado, ele
vai preservar a sua individualidade, a aparência que lhe é própria, se é gordo
ou magro, careca ou cabeludo, inclusive com os seus sentimentos.
150-a.Como a alma constata a sua individualidade,
uma vez que não tem mais o corpo material?
“Ela tem ainda um
fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta e que representa
a aparência de sua última encarnação; seu perispírito”.
A alma abandona o seu
envoltório carnal na Terra. Mas permanece com outro envoltório semimaterial,
que lhe é próprio, haurido da atmosfera do planeta em que estava vivendo, para
continuação de sua imortalidade. O Espírito deixa o perispírito condizente com
o ambiente em que viveu e forma-se outro, de acordo com a natureza do planeta
que deverá habitar, para estar ligado a lei de harmonia daquele planeta que lhe
servirá de casa por determinado tempo.
150-b.
A alma nada leva consigo deste mundo?
“Nada, a não ser a
lembrança, o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de
doçura ou de amargor, conforme o emprego que haja feito da vida. Quanto mais
pura for, tanto melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra”.
Nós não temos na vida física
nenhum tipo de impedimento de ter qualquer espécie de patrimônio, que seja útil
para nós na vida física, não obstante, nós não possuirmos sequer o corpo que
vai ser devolvido à terra, ou seja, tudo aquilo que utilizamos durante a
encarnação é material, e de uso-fruto. Nós somos usufrutuários do corpo que nos
é colocado à disposição, e temos que devolvê-lo. Só levaremos aquilo que
represente material espiritual.
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