O Que se deve entender por
pobre de Espírito
Olá, Amigos! Vamos explanar
mais um ensino espírita. Trata-se do tema O Que se deve entender por pobre de
Espírito. As Bem-aventuranças com que o Mestre Jesus preambulou o Sermão da
Montanha constituem, sem dúvida alguma, uma mensagem divina aos homens de todas
as raças e de todas as épocas, destinada a servir-lhes de roteiro, rumo à
perfeição. E logo na primeira Aventurança, Ele afirmou: “Bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Ainda hoje muito se fala
sobre tal ensinamento. No entanto, tal ensino, como tanto outros, resta ainda
incompreendido pelos homens. Para ilustrar esse estudo de total ausência de
vaidade e desligamento das coisas transitórias da Terra, fomos buscar no livro Pontos
e Contos, ditado pelo Espírito Irmão X, uma passagem intitulada “Olá, meu
irmão”. É a história de Cipriano Neto, homem de grande inteligência, homem da
literatura, que se encontrava agora no mundo espiritual falando para uma
pequena assembleia de desencarnados. Conta-nos assim o autor: A disposição
amiga, acentuava Cipriano Neto, é verdadeiro tônico espiritual. Não raro,
envenenamos o coração, à forma de insistir na máscara sombria. Má catadura é
moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo
físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas,
em virtude do mal humor dos responsáveis? Claro que ninguém se deixe absorver
pelos malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas
honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado, que não
esqueceremos sem ferir a nós mesmos.
A frente da pequena assembleia,
toda ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência,
continuou, após leve pausa: Na Terra, o preconceito fala muito alto, abafando
vozes sublimes da realidade superior. Nesse capítulo, tenho a minha experiência
pessoal, bastante significativa. Meu amigo calou-se, por alguns momentos,
vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vasculhar
o passado, e prosseguiu: - É quase inacreditável, mas o meu fracasso em
Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração de pai,
dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à Doutrina dos
Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação. Banhado de conforto sublime,
senti que minhas lágrimas de desesperação se transformaram em orvalho de
agradecimento à bondade de Deus. Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca,
endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos. Não
havia lugar à dúvida. Inclinei-me, então, à Doutrina renovadora. Saciado pela
água viva de santas consolações, não sabia como agradecer à fonte. Foi aí que
recordei as minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao
Espiritismo, através da palavra ou da pena? Poderia escrever para os jornais ou
falar em público. Profundamente reconhecido à nova fé, atendi à primeira
sugestão de um amigo e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se o feito
e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão. Seduzido pela
beleza do Espiritismo Evangélico, discorri longamente sobre a caridade.
Aplausos, abraços, sorrisos e felicitações. No círculo dos meus companheiros de
literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório.
Voltando à Avenida, no dia
imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo para convencer os confrades de
letras de que não me achava louco. Infelizmente, porém, minha decisão não se
filiava senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo
necessitasse de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira,
o auditório e que a codificação kardequiana em mim encontrara prestigioso
protetor. Desse modo, alardeava suma importância em minhas palestras novas.
Citava a antiguidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava
cientistas modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das
discussões preciosas, eis que surge o Elpídio, velho conhecido meu e antigo
tintureiro em Jacarepaguá. Sapatos rotos, calças remendadas, cabelos
despenteados, rosto suarento, abeirou-se de mim e estendeu-me a destra,
exclamando alegre: Olá, meu irmão! Meus parabéns! Fiquei muito satisfeito com a
sua conferência! Entreolharam-se os meus amigos, admirados. E confesso que
respondi à saudação efusiva, secamente, meneando levemente a cabeça e senti-me
deveras humilhado. Em vista do meu silêncio, o tintureiro despediu-se,
mostrando enorme desapontamento. É de sua família? Indagou um companheiro mais
irônico. Estes senhores espiritistas são os campeões da ingenuidade! Exclamou
outro circunstante. Enraiveci-me. Não era desaforo semelhante homem do povo
chamar-me “irmão”, ali, em plena Avenida, diante dos colegas de tertúlias
acadêmicas? Estaria, então, obrigado a relacionar-me com toda espécie de
vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebotalhos de gente, na via pública?
O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade.
Cegavam-me, ainda, velhos
preconceitos sociais e a ironia dos companheiros calou-me fundo, no espírito. A
ausência de afabilidade e a incompreensão grosseira dominaram-me por completo.
O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando a massa de minhas
disposições mentais. Resultado? Voltei à aspereza antiga e, se cuidava de
doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava a companhia
ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia, correm
metodicamente, alheios à nossa vaidade e ignorância, e impuseram-me a
restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da Terra. Sabem vocês, por
experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana.
Gritos estentóricos (fortes) de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde a
recender aromas de flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral,
senti que sono brando se apoderava de mim. Nunca pude saber quantos dias gastei
no repouso compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho
bem-amado. Sabia perfeitamente que abandonara a esfera carnal e ansiava por
encontrar-lhe o carinho. Deixei a residência antiga, ferido de amargosas
preocupações. Atravessei ruas e praças, de alma opressa. Atingi a Avenida, onde
me dava ao luxo de palestrar sobre ciência e literatura. E ali mesmo, junto ao
aristocrático Café, divisei alguém que não me era estranho às relações
individuais. Não tive dificuldades no reconhecimento. Era o Elpídio,
integralmente transformado, evidenciando nobre posição espiritual, trocando
ideias com outras entidades da vida superior.
Não mais os sapatos velhos, nem
o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado a expressão simpática e bela,
cheia de bondade e compreensão. Aproximei-me, envergonhado. Quis dizer qualquer
coisa que me revelasse a angústia, mas, obedecendo a impulso que eu jamais
soube explicar, apenas pude repetir as antigas palavras dele: “Olá, meu irmão!
Meus parabéns!” Longe, todavia, de imitar-me o gesto grosseiro e tolo de outro
tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços, contente, e
exclamou com sincera alegria: Ó meu amigo, que satisfação! Venha daí, vou
conduzi-lo ao seu filho! Aquela bondade espontânea, aquele fraternal
esquecimento de minha falta eram por demais eloquentes e não pude evitar as
lágrimas copiosas! Nossa pequena assembleia de desencarnados achava-se igualmente
comovida. Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos e terminou: A experiência
parece demasiadamente humilde; entretanto, para mim, representou lição das mais
expressivas. Através dela, fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever
social, é alguma coisa de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar
a nós mesmos. REFLEXÃO: Nessa história, nós já podemos identificar quem é o
pobre de espírito e quem tem grandes dificuldades para sê-lo. Isso também
acontece conosco, porque temos grande dificuldade de sermos “Elpídios”, mas
também temos grande facilidade de sermos “Ciprianos”. Nós carregamos essas
dificuldades, e estamos aqui na Terra justamente para modificarmos isso. Então,
vamos buscar dentro daquilo que a Doutrina Espírita nos apresenta as
informações para podermos entender o que é ser “pobre de espírito” e,
principalmente, saber qual o caminho que devemos seguir para sermos Elpídio.
Quando Jesus pregou o Sermão da
Montanha, que define o caráter do verdadeiro discípulo, suas palavras iniciais
foram diretas ao coração, mas muitos ouvintes não O ouviram, porque nunca
passaram do ponto de partida. Mesmo hoje, a maior parte da mensagem do
Evangelho cai em ouvidos surdos, de homens arrogantes. Na passagem evangélica
narrada por Mateus (V, 3), Jesus vem nos falar que são bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Difícil, porém, é a
compreensão desse preceito, e de como nos tornarmos pobres de espírito, para
vencermos o homem orgulhoso que ainda somos. O Mestre não quis dizer que seriam
bem-aventurados os que tivessem pouca inteligência, os ignorantes, os de baixa
condição, os obscuros. Essa pobreza de espírito está associada à humildade,
àqueles que não têm orgulho, àqueles que sabem quem são e àqueles que se
autoconhecem. Àqueles que não se envaidecem pelo que sabem e que nunca exibem o
que têm. Aí está a humildade. O humilde sabe de onde ele veio, porque está aqui
e sabe para onde ele vai. Por isso, ele não se supervaloriza. Sem a humildade,
nenhuma virtude se mantém. Os humildes toleram em sua singeleza, suportam as
injustiças. Pobres de espírito são os bons, que sabem amar a Deus e ao próximo,
tanto quanto a si próprios. Para estes é que Jesus disse: - “Bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
Eu fico por aqui.
Muita paz!
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