INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
Pense nisso!

Dê vida a esse Blog. Comente!
Seu comentário é muito importante!

Aprendendo com o Evangelho - Continuação

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI – Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens de 8 a 11 – Instruções dos Espíritos.
8. Se alguém vos disser: “O Cristo está aqui”, não o procureis, mas, ao contrário, ponde-vos em guarda, porque são numerosos os falsos profetas. Então não vedes quando as folhas da figueira começam a embranquecer; não vedes os numerosos rebeldes ansiando pela época da floração; e o Cristo não vos disse: “Conhece-se a árvore pelos seus frutos”? Se, pois, os frutos são amargos, considerais a árvore má; mas se são doces e saudáveis, dizeis: “Nada tão puro poderia sair de um tronco mau”.
É assim, meus irmãos, que deveis julgar: são as obras que devem ser examinadas. Se os que se dizem revestidos do poder divino revelam todos os sinais de semelhante missão, ou seja, se eles possuem, no mais alto grau, as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a  indulgência, a bondade que concilia todos os corações; e se, confirmando as palavras, lhes juntam os atos; então podereis dizer: Estes são realmente os enviados de Deus.
Mas desconfiai das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus, que pregam nas praças públicas, vestidos de longas vestes. Desconfiai dos que pretendem estar na posse da exclusiva e única verdade!
Não, não, o Cristo não está lá, porque aqueles que ele envia, para propagar a sua santa doutrina e regenerar o povo, são sempre, a seu próprio exemplo, mansos e humildes de coração, acima de tudo o mais; os que devem, por seus exemplos e seus conselhos, salvar a humanidade, que corre para a perdição e se desvia por caminhos tortuosos, serão, antes de tudo, inteiramente modestos e humildes. Todo aquele que revela um átomo de orgulho, fugi dele como de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo o que toca. Lembrai-vos de que cada criatura traz na fronte, mas sobretudo nos atos, a marca de sua grandeza ou de sua decadência.
Avançai, pois, meus queridos filhos, marchai sem vacilações, sem segundas intenções, na bendita caminhada que empreendestes. Avançai, avançai sempre, sem nenhum temor, e afastai corajosamente tudo o que poderia dificultar a vossa marcha para o objetivo eterno. Viajores, não estareis mais do que um breve tempo nas trevas e dores da prova, se vossos corações se deixarem levar por esta suave doutrina, que vem revelar-vos as leis eternas, satisfazendo todas as aspirações da vossa alma diante do infinito! Sim, desde já podereis corporificar esses silfos ligeiros, que perpassam nos vossos sonhos, e que, tão efêmeros, só podiam deleitar o vosso espírito, sem nada dizerem ao vosso coração. Agora, meus amigos, a morte desapareceu, cedendo lugar ao anjo radioso que conheceis, o anjo do reencontro e da reunião. Agora, vós que bem cumpristes a tarefa que o Criador vos deu, nada mais tendes a temer da sua justiça, porque Ele é pai e perdoa sempre aos seus filhos desgarrados, que clamam por misericórdia. Continuai, portanto, avançai sem cessar! Que a vossa divisa seja a do progresso constante em todas as coisas, até chegardes ao termo feliz em que vos esperem, afinal, todos aqueles que vos precederam. (Luís. Bordéus, 1861).
9. Desconfiai dos falsos profetas! Esta recomendação é útil em todos os tempos, mas, sobretudo, nos momentos de transição, em que, como neste, se elabora uma transformação da humanidade. Porque nesses momentos uma multidão de ambiciosos e farsantes se arvoram em reformadores e messias. É contra esses impostores que se deve estar em guarda, e o dever de todo homem honesto é desmascará-los(1). Perguntareis, sem dúvida, como se pode conhecê-los, e eis aqui os seus sinais:
Não se confia o comando de um exército senão a um general hábil e capaz de o dirigir. Acreditais que Deus seja menos prudente que os homens? Ficai certos de que Ele só confia missões importantes aos que sabe que são capazes de cumpri-las, porque as grandes missões são pesados fardos, que esmagariam os carregadores demasiado fracos. Como em todas as coisas, também nisto o mestre deve saber mais do que o aluno. Para fazer avançar a humanidade, moral e intelectualmente, são necessários homens superiores em inteligência e moralidade! Eis por que são sempre Espíritos já bastante avançados, que fizeram suas provas em outras existências, os que se encarnam para essas missões; pois se não forem superiores ao meio em que devem agir, nada poderão fazer.
Assim sendo, concluireis que o verdadeiro missionário de Deus deve provar que o é pela sua superioridade, pela suas virtudes, pela sua grandeza, pelos resultados e a influência moralizadora de suas obras. Tirai ainda esta outra consequência: se ele estiver, pelo seu caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência, abaixo do papel que se arroga, ou do personagem cujo nome utiliza, não passa de um farsante de baixa classe, que não sabe sequer imitar o seu modelo.
Outra consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros missionários de Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que  foram chamados, graças ao poder de seu próprio gênio, secundados pelo poder oculto que os inspira e os dirige, à sua revelia, e sem que o tivessem premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam pelos seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os falsos profetas se apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros são humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não serem aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como apóstolos do Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da humanidade, encontraram pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas imposturas. Uma observação bem simples, entretanto, bastaria para abrir os olhos aos mais cegos: se o Cristo reencarnasse na Terra, o faria com todo o seu poder e todas as virtudes, a menos que se admita, o que seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da mesma maneira que se tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos Deus, se tirarmos uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a questão. Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e verificareis que lhes faltam sobretudo as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, enquanto lhes sobram as que ele não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda que neste momento existem, em diversos países, muitos pretensos cristos, como há também numerosos e pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que necessariamente não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles que lhes dão ouvidos.
Desconfiai, portanto, dos falsos profetas, sobretudo numa época de renovação, porque muitos impostores se apresentarão como enviados de Deus. São os que buscam uma vaidosa satisfação sobre a Terra, mas podeis estar certos de que uma terrível justiça os espera! (Erasto. Paris, 1862).
10. Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem. Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importâncias às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam com respeito.
São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos que os levam  isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser. Cegos, portanto, são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira.
Mas há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso.
Por outro lado, lembrai-vos de que, se a verdade nem sempre é apreciada pelos indivíduos, sempre o é pelo bom-senso das massas, e isso também constitui um critério. Se dois princípios se contradizem, tereis a medida do valor intrínseco de ambos, observando qual deles encontra mais repercussão e simpatia. Com efeito, seria ilógico admitir que uma doutrina cujo número de adeptos diminui, seja mais verdadeira que outra, cujo número aumenta. Deus, querendo que a verdade chegue a todos, não a confina num círculo restrito, mas a faz surgir em diferentes lugares, a fim de que, por toda parte, a luz se apresente ao lado das trevas.
Repeli impiedosamente todos esses Espíritos que se manifestam como conselheiros exclusivos, pregando a divisão e o isolamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e medíocres, que tentam impor-se a pessoas fracas e crédulas, prodigalizando-lhes louvores exagerados, a fim de fasciná-las e dominá-las. São geralmente, Espíritos sedentos de poder, que, tendo sido déspotas no lar ou na vida pública, quando vivos, ainda querem vítimas para tiranizar, depois da morte. Em geral, portanto, desconfiai das comunicações que se caracterizam pelo misticismo e a extravagância, ou que prescrevem cerimônias e práticas estranhas. Há sempre, nesses casos, um motivo legítimo de desconfiança.
Lembrai-vos, ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns sérios, e não a este ou aquele, com exclusão dos outros. Ninguém é médium perfeito, se estiver obsedado, e há obsessão evidente quando um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este pretenda ser. Em consequência, todo médium e todo grupo que se julguem privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que, além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se indubitavelmente sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o Espírito dominante se vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar, não deixando que seja comprometido a todo instante.
É incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos. (Erasto, discípulo de São Paulo. Paris, 1862).
 (Ver, na Introdução, o parágrafo II: Controle universal do ensino dos Espíritos. E em O Livro dos Médiuns, o cap. XXIII, Da obsessão).
11. Isto diz o Senhor dos exércitos. Não queiras ouvir as palavras dos profetas, que vos profetizam e vos enganam; falam as visões dos seus corações, não da boca do Senhor. Dizem aqueles que me blasfemam: O Senhor o disse; vós tereis a paz; e a todos aqueles que andam na corrupção do seu coração, disseram: Não virá sobre vós mal. Mas qual deles assistiu ao conselho do Senhor, e viu e ouviu a sua palavra? Quem considerou a sua palavra, e o ouviu? – Eu não enviava estes profetas, e eles corriam; não lhes falava nada, e eles profetizavam. – Tenho ouvido o que disseram os profetas, que em meu nome profetizaram a mentira, e dizem: Sonhei, tenho sonhado. Até quando se achará isto no coração dos profetas que vaticinam a mentira, e que profetizam as seduções do seu coração? – Pois se te perguntar este povo, ou o profeta, ou o sacerdote, dizendo: Qual é o peso do Senhor? Direis-lhes: Vós sois o peso, porque eu vos hei de arrojar, diz o Senhor. (Jeremias, XXIII: 16-18; 25-26; 33)                                   
É sobre esta passagem do profeta Jeremias, que quero vos entreter, meus amigos. Deus, falando pela sua boca, disse: “É a visão do seu coração que os faz falar”. Essas palavras indicam claramente que, já naquela época, os charlatães e os vaidosos abusavam do dom de profecia e o exploravam. Abusavam, portanto, da fé simples e quase cega do povo, predizendo por dinheiro coisas boas e agradáveis. Essa espécie de embuste estava bastante generalizada entre os judeus, e é fácil compreender que o pobre povo, em sua ignorância, estava impossibilitado de distinguir os bons dos maus, e era sempre mais ou menos enganado pelos impostores ou fanáticos que se diziam profetas. Nada é mais significativo do que estas palavras: “Eu não enviava estes profetas, e eles corriam; não lhes falava nada, e eles profetizavam”. Mais adiante, encontramos: “Tenho ouvido o que disseram os profetas que em meu nome profetizam a mentira, dizendo: sonhei, tenho sonhado”. Indicava, assim, um dos meios então empregados para explorar a confiança do povo. A multidão, sempre crédula, não pensava em lhes contestar a veracidade dos sonhos ou das visões, porque achava tudo muito natural e convidava sempre os profetas a falarem.
Depois das palavras do profeta, ouvi os sábios conselhos do apóstolo São João, quando diz: “Não creias em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus”. Porque, entre os invisíveis, há também os que se comprazem em enganar, quando encontram oportunidade. Os enganados são, bem entendido, os médiuns que não tomam as necessárias precauções. Temos nisto, sem dúvida, um dos maiores escolhos, contra o qual muitos se chocam, sobretudo quando são novatos no Espiritismo. É uma prova, de que não podem triunfar senão com muita prudência. Aprendei, pois, antes de tudo, a distinguir os bons dos maus Espíritos, para não vos tornardes vós mesmos em falsos profetas. (Luoz, Espírito Protetor. Carisruhe, 1861).
Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Podem colher-se uvas nos espinheiros ou figos nas sarças? Assim, toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma árvore má não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Conhecê-lo-eis, pois, pelos seus frutos. (Mateus, cap. VII, vv. 15 a 20.)
Cuidado. Muito cuidado. Estejamos atentos. Não nos deixemos enganar. Jesus está dizendo a seus discípulos e a todos nós para sermos espertos e não cairmos na lábia dos falsos profetas. Como eles grassam por aí! Pelo visto, desde que o mundo é mundo, as pessoas se iludem com facilidade. Daí a importância de tal advertência. É preciso prudência.
À primeira vista, temos a impressão que o Cristo se refere somente aos falsos profetas religiosos, que infelizmente aparecem aos montes. Podemos, no entanto, ir mais fundo no ensinamento e percebermos falsos profetas em várias situações. Mas vamos nos ater primeiramente ao aspecto religioso do ensinamento e tendo sempre em mente que toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. Por isso, se a árvore é má, de lá não sairão pêssegos carnudos ou maçãs suculentas, embora muita gente iludida viva cutucando os galhos da árvore má com um bambu, na esperança de que caia uma fruta saborosa.
É sabido que líderes evangélicos aproveitam a boa-fé e a credulidade alheias para amealhar fortunas. Tais líderes evangélicos, no entanto, torcem os ensinamentos do Cristo e os utilizam para semearem a discórdia e iludirem pessoas desavisadas. Também é de suma importância para todos nós, que nos candidatamos a ser verdadeiros cristãos, observar: "Tende cuidado para que alguém não vos seduza; porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Eu sou o Cristo', e seduzirão a muitos".
Kardec ensina-nos que são chamados profetas os que possuem "o dom de adivinhar o futuro". Nesse caso, explica-nos ele, "profecia e predição" são palavras sinônimas. Contudo, pode-se ser chamada de profeta aquela pessoa que, mesmo sem predizer o futuro, tem a missão divina de "instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual". Nos itens 8 a 11, os Espíritos Luís, Erasto (discípulo de Paulo) e Luiz transmitem-nos belíssimos esclarecimentos em suas mensagens intituladas, respectivamente, Os falsos profetas; Caracteres do verdadeiro profeta; Os falsos profetas da erraticidade; e Jeremias e os falsos profetas.
Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.
Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importância às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam com respeito. São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos, que os levam a isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser.
 ************************************************ 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI – Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 6 e 7 – Não creais em todos os Espíritos.
6. Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas não acrediteis em todos os Espíritos provai se os Espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (João, 1ª. Epístola, 4:1).
Do livro “Para rir e refletir”, retiramos uma passagem para ilustrar este estudo.
Circulava pela cidade a notícia de que um homem recebia mensagens do Além, via   gravador. Voz clara, nítida, perfeita, à distância dos precários registros da transcomunicação, que pedem ouvidos altamente treinados para distinguir a voz celeste dos chiados terrestres, produzidos por estática, como uma emissora de rádio mal sintonizada. O intermediário das mensagens, que supostamente oferecia recursos fluídicos para a gravação de além-túmulo, no exercício de uma mediunidade de efeitos físicos, despertava interesse de muita gente. Isso não só pelo inusitado daquele intercâmbio, mas particularmente pelo fato de que as mensagens eram de caráter apocalíptico. Falavam de um final dos tempos, convocando as pessoas ao arrependimento para não serem contempladas com degredo infernal. Estivemos lá, um companheiro e eu. Fomos gentilmente recebidos pelo médium. Ele nos informou que as mensagens eram recebidas em plena madrugada, quando ligava o gravador, sem o microfone, de forma a que não houvesse a interferência do som ambiente. Posto a funcionar o aparelho, ouvimos a mensagem mais recente, longa, enfática, incisiva, ameaçadora, à maneira dos profetas bíblicos. Alguns detalhes nos chamaram a atenção:
A vacuidade do conteúdo, repleto de lugares-comuns sobre o final dos tempos, ideias mal arrumadas. Falava muito e não dizia nada. O pior era a voz do comunicante, muito semelhante à do médium, sugerindo mistificação. O golpe de misericórdia ocorreu em dado momento, em que surgiu na gravação insistente latido de um cão. Imediatamente o médium justificou:
– É o cachorro do mentor, que sempre o acompanha e não perde a oportunidade de mandar uma mensagem.
Nessa altura, eu e meu companheiro nos entreolhamos, mordendo a boca para impedir o riso que insistia em marcar presença.
Ainda bem que esse sábio animal utilizou a transcomunicação instrumental para dar sinal de vida. Se optasse pela manifestação psicofônica, teríamos médiuns exercitando latidos em plena reunião mediúnica.
Em O Livro dos Médiuns, encontramos uma recomendação: É preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma mentira. Toda mensagem que vier de ordem espiritual, devemos passá-la pelo crivo da lógica e da razão. Analisar seu conteúdo, com que finalidade ela foi emitida, e, também, investigar o Espírito comunicante, para evitar possíveis fraudes. Espíritos se comunicando, sempre houve. Resta saber se esse Espírito é do bem.
O pior é que, por mais grosseira seja a mistificação, sempre atrairá incautos. Jamais deixará de produzir dividendos investir na ingenuidade humana.
Certamente médiuns desse tipo, e com esse tipo de intercâmbio, seriam muito bem recebidos em centros espíritas distraídos do estudo e de uma orientação elementar de Kardec: passar pelo crivo a razão não apenas o teor das mensagens recebidas, mas, sobretudo, a sua autenticidade. Em grupos mediúnicos alheios ao estudo e ao exercício da razão, basta o médium fechar os olhos e iniciar uma manifestação, situando-se como intermediário de um guia, e sua palavra passa a ser lei, embora traindo o mais elementar bom senso. Infelizmente, ainda há pessoas que realizam fraudes e acabam degradando a imagem do Espiritismo. Só que a verdadeira fé a tudo isso supera.
É preciso que cada vez mais a Doutrina seja estudada e seus conceitos compreendidos, pois só assim poderemos separar o que é verdadeiro do falso. Como já dizia Jesus: "Desconfiai, portanto, dos falsos profetas", e João em sua primeira epístola já afirmava: "Não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus."
Comentário de Kardec:
7. Os fenômenos espíritas, longe de confirmarem os falsos cristos e os falsos profetas, como algumas pessoas gostam de dizer, vêm, ao contrário, dar-lhes o golpe mortal. Não peçais ao Espiritismo milagres nem prodígios, pois ele declara formalmente que não os produz. Assim como a Física, a Química, a Astronomia e a Geologia vieram revelar as leis do mundo material, ele vem revelar outras leis desconhecidas, aquelas que regem as relações entre o mundo corporal e o mundo espiritual, e que, tanto quanto as leis científicas, são leis da Natureza.

Ao explicar uma certa ordem de fenômenos até então incompreendidos, o Espiritismo destrói o que ainda permanecia sob o domínio do maravilhoso. Aqueles que estivessem tentados a explorar esses fenômenos em seu proveito, fazendo-se passar por messias de Deus, não poderiam abusar por muito tempo da credulidade, e logo seriam desmascarados. Aliás, como já ficou dito, só esses fenômenos por si mesmos nada provam: a missão se prova por efeitos morais que nem todos podem produzir. Eis um dos resultados do desenvolvimento da Ciência Espírita; pesquisando a causa de certos fenômenos, ela levanta o véu de muitos mistérios. Aqueles que preferem a obscuridade à luz são os únicos interessados em combatê-la; mas a verdade é como o sol: dissipa os nevoeiros mais densos.

O Espiritismo vem revelar uma outra categoria bem mais perigosa de falsos cristos e de falsos profetas, que se encontram não entre os homens, mas entre os desencarnados: é a dos Espíritos embusteiros, hipócritas, orgulhosos e falsos sábios, que, da Terra, passaram para a erraticidade, e se disfarçam com nomes veneráveis para procurar, disfarçados pela máscara com que se cobrem, tornar suas ideias aceitáveis, frequentemente as mais extravagantes e absurdas. Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles atuavam com menos ostentação, menos pompa, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, auditiva ou de incorporação.

O número daqueles que, em diversas épocas, mas principalmente nesses últimos tempos, se apresentaram como uns dos antigos profetas, como o Cristo, como Maria, mãe do Cristo, e até mesmo como Deus, é considerável. O apóstolo João nos previne contra eles quando diz: Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus; pois muitos falsos profetas têm surgido no mundo.

O Espiritismo dá os meios de pô-los à prova ao indicar as características pelas quais se reconhecem os bons Espíritos, características sempre morais e nunca materiais. É para distinguir entre os bons e os maus Espíritos que podem, sobretudo, se aplicar estas palavras de Jesus: Reconhece-se a qualidade da árvore pelo seu fruto; uma boa árvore não pode produzir maus frutos, e uma árvore má não pode produzir bons frutos. Julgam-se os Espíritos pela qualidade de suas obras, como a uma árvore pela qualidade de seus frutos.
***********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI – Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 4 e 5 – Missão dos profetas e Prodígios dos falsos profetas.

4. Atribui-se geralmente aos profetas o dom de revelar o futuro, de maneira que as palavras profecia e predição se tornaram sinônimas. No sentido evangélico, a palavra profeta tem uma significação mais ampla, aplicando-se a todo enviado a Deus, com a missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas, os mistérios da vida espiritual. Um homem pode, portanto, ser profeta, sem fazer predições. Essa era a ideia dos judeus, no tempo de Jesus. Eis porque, ao ser levado perante o sumo sacerdote Caifás, os Escribas e os Anciãos, que estavam ali reunidos, lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos e bofetadas, dizendo: “Cristo, profetiza, e dize quem foi que te bateu”. Houve profetas, entretanto, que tiveram a presciência do futuro, seja por intuição ou por revelação providencial, a fim de transmitirem advertências aos homens. Como essas predições se realizaram, o dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos da qualidade de profeta.
Quando falamos a palavra profeta, logo, nos lembramos do tempo de Moisés, em que os profetas eram dotados de mediunidade ostensiva, visto trazerem mensagens provindas do Plano Espiritual. Moisés, também possuidor dessa faculdade, condenava o seu mau uso, como a exigência de respostas dos Espíritos para coisas fúteis, mas desejava que todos pudessem ter um contato saudável com o mundo espiritual. Essa possibilidade de interação entre os planos (material e espiritual) havia sido prevista também por um profeta, Joel, e relembrada por Simão Pedro, discípulo de Jesus, e que foi, de fato, observada quando da ocorrência, em nível mundial, de fenômenos mediúnicos, cujo estudo sistemático e científico, feito por Kardec, deu origem à Doutrina Espírita.

5. “Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão prodígios e sinais espantosos, para enganarem até mesmo os escolhidos”. Essas palavras dão o verdadeiro sentido da palavra prodígio. Na acepção teológica, os prodígios e os milagres são fenômenos excepcionais, que escapam às leis da natureza. Estas leis, tendo sido estabelecidas exclusivamente por Deus, não há dúvida que podem ser derrogadas por Ele, quando lhe aprouver. O simples bom-senso nos diz porém, que Ele não pode haver conferido a seres inferiores e perversos um poder igual ao seu, e menos ainda o direito de desfazerem o que Ele fez. Jesus não podia consagrar esse princípio. Se acreditarmos, portanto, segundo o sentido que se atribui àquelas palavras, que o Espírito do Mal tem o poder de fazer tais prodígios, que até mesmo os escolhidos seriam enganados, disso resultaria que, podendo ele fazer o mesmo que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégios exclusivos dos enviados de Deus, e por isso nada provam, desde que, nada distingue os milagres dos santos dos milagres dos demônios. É pois necessário buscarmos um sentido mais racional para aquelas palavras.

Aos olhos do povo, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por sobrenatural, maravilhoso e miraculoso. Conhecia a causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário que pareça, não é mais do que a aplicação de uma determinada lei da natureza. É assim que a área dos fatos sobrenaturais se restringe, à medida que se amplia a das leis científicas. Desde todos os tempos, certos homens exploram, em proveito de sua ambição, de seus interesses e de seu desejo de dominação, certos conhecimentos que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder supostamente sobre humano ou de uma pretensa missão divina.

São esses os falsos cristos e os falsos profetas. A difusão dos conhecimentos vem desacreditá-los, de maneira que o seu número diminui, à medida que os homens se esclarecem. O fato de operarem aquilo que, aos olhos de algumas pessoas, parece prodígio não é, portanto, nenhum sinal de missão divina. Esses prodígios podem resultar de conhecimentos que qualquer um pode adquirir, ou de faculdades orgânicas especiais, que tanto o mais indigno como o mais digno podem possuir. O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias, exclusivamente de ordem moral.
Esta frase de Kardec: “O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias, exclusivamente de ordem moral”, é a chave para podermos compreender esse estudo.
A história da humanidade conheceu vários enganadores, que se passaram por prodigiosos e, ao longo do tempo, se valeram de falsos poderes e artimanhas, utilizando dons que mais impressionavam os olhos, sem acolherem a alma. Dessa forma, esses falsos líderes sustentavam poderes e influências sobre as comunidades. Para reconhecê-los é preciso estar atento, ter sempre a prudência como uma boa conselheira. Além da prudência é preciso estudar, é preciso saber, é preciso buscar. Além da ciência do corpo e da mente, é preciso estudar a ciência do espírito. Se a ciência convencional desvenda os enigmas da matéria, o estudo da Doutrina Espírita nos permite ampliar a compreensão da vida além da morte. A medida que se estuda e se compreende o funcionamento dos corpos, buscando entender a dinâmica fisiológica, a medida que se reconhece as propriedades da matéria, identificando seus vários estados e, finalmente, quando se desvendam os enigmas do psiquismo humano, inserido na imensa Casa Mental, o homem principia a identificar algumas das leis que regem a vida no seu real aspecto. Contudo, a ciência convencional já parece despertar para a realidade do espírito, e busca explicações para compreender a realidade de uma outra vida, que se prolonga depois dessa vida. Com essas informações o homem compreende que o milagre não existe, que os fatos reconhecidos como fenomenais são explicáveis pelas leis da natureza. O prodígio desaparece para dar lugar à luz da razão e da ciência. Todas as pessoas que realmente são portadores de faculdades mediúnicas ostensivas trabalharam ou trabalham no anonimato. Agora, aquelas que não possuem tais faculdades, apelam para a arte teatral. Tem sempre um paralítico na cadeira de rodas que, a um comando do falso profeta, levanta, e sai correndo. 
***************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI – Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 1 a 3 – Conhece-se a árvore pelo fruto.
INTRODUÇÃO:
Os livros nos mostram que os falsos cristos e os falsos profetas sempre existiram, e que nós os encontramos frequentemente em nossas vidas. E, sabe Deus, muitas vezes, nós também nos tornamos um falso profeta. Não resistimos à tentação de dizer alguma coisa, e essa alguma coisa não é, exatamente, o que diria um verdadeiro profeta.
Aprofundando o nosso raciocínio, nós vamos descobrir que muitos daqueles tidos como profetas tinham que se preocupar com os costumes da época. E para não agredirem os tais costumes, eles precisavam falar de modo meio velado, ocultando certas verdades, porque os corações e as mentes daquela época não estavam preparados para ouvir essas verdades.
Neste capítulo, Kardec colocou as mensagens de alerta que Jesus deu às criaturas, para que elas pudessem distinguir os bons profetas dos falsos profetas, recomendando para isso certa cautela antes de seguirem os conselhos das pessoas, em geral, porque, após a sua partida para o mundo espiritual, iriam surgir muitos falsos profetas e falsos cristos, ou seja, criaturas que iriam usar o seu próprio nome para procurar iludir os seus semelhantes. Muitos, especificamente de má-fé. Outros por ignorância e um pouco de vaidade. E que a Humanidade, também ignorante no saber e também vaidosa no ser, certamente teria dificuldade em separar o joio do trigo.
CONHECESSE A ÁRVORE PELO FRUTO
ITEM 1.
A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos nos espinheiros, nem cachos de uva nas sarças (matagais). O homem de bem tira boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira-as más do mau tesouro do seu coração; porquanto, a boca fala do que está cheio o coração. (Lucas, cap.VI, vv.43 a 45).
Nesse trecho evangélico, bem como no que o segue, Jesus faz uma comparação entre os frutos de uma árvore com aquilo que sai da nossa boca. E o objetivo maior do Mestre, ao proferir esses trechos evangélicos, era levar as criaturas a distinguirem os verdadeiros cristãos dos falsos cristãos.
Podemos entender, então, que o nosso coração é a árvore e as nossas palavras os frutos. Assim, sendo, devemos pensar sempre positivamente, para que, pela nossa boca, saiam, sempre, bons frutos, ou seja, boas palavras, exemplificadas pelas nossas boas ações, pelos nossos atos de perdão, pela nossa resignação e pelo nosso amor ao próximo.
Jesus disse: “Pelos seus frutos os conhecereis”.
Inspirado nesta frase, Emmanuel nos dá uma mensagem, que é a seguinte:
O Mundo atual, em suas elevadas características de inteligência, reclama frutos para examinar as sementes dos princípios.
O cristão, em razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe os elementos da providência divina, através da seiva, e converte-os em utilidades para as criaturas.
Convém o esforço de autoanálise, a fim de identificarmos a qualidade das próprias ações.          Muitas palavras sonoras proporcionam simplesmente a impressão daquela figueira condenada. É indispensável conhecermos os frutos de nossa vida, de modo, a saber, se beneficiam os nossos irmãos.
A vida terrestre representa oportunidade vastíssima, cheia de portas e horizontes para a eterna luz. Em seus círculos, pode o homem receber diariamente a seiva do Alto, transformando-a em frutos de natureza divina.
Indiscutivelmente, a atualidade reclama ensinos edificantes, mas nada compreenderá sem demonstrações práticas, mesmo porque, desde a Antiguidade, considera a sabedoria que a realização mais difícil do homem, na esfera carnal, é viver e morrer fiel ao supremo bem.
Quando Emmanuel nos fala que convém o esforço de autoanálise, a fim de identificarmos a qualidade das nossas ações, dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos, podemos entender que a autoanálise está ligada à busca do autoconhecimento, ou seja, do conhecimento de nós mesmos. E, isto, é objeto da questão 919 de O Livro dos Espíritos, na qual Kardec pergunta aos Espíritos: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? E a resposta foi curta: “Conhece-te a ti mesmo”. Kardec, então, insiste com os Espíritos dizendo: conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está, precisamente, em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo? Então, Santo Agostinho responde: “Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra; ao fim do dia, interrogava à minha consciência, passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para queixar-se de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma”.
O conhecimento de nós mesmos é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, como podemos julgar a nós mesmos? Não estaria aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as nossas faltas e torna-las desculpável? Por exemplo: O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real. Mas há um meio de verificarmos para não sermos iludidos: Quando estivermos indecisos sobre o valor de uma de nossas ações, perguntaremos a nós mesmos como a qualificaria, se praticada por outra pessoa. Se nós a censurarmos, não poderemos considerar boa essa ação quando formos nós o seu autor. Pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Ensina-nos o Espírito Agostinho.
O autoconhecimento é, portanto, um exame dos nossos próprios pensamentos e sentimentos; é uma observação interior. E, mais, é a observação de como nós exteriorizamos em palavras e atos os nossos pensamentos e sentimentos. Porque, primeiro nós pensamos, depois falamos, e, por fim agimos. E a maneira como falamos, o que dizemos, e o que fazemos, repercute nas nossas relações com os nossos semelhantes. Conseguir isto é fácil? Lógico que não é. Para conseguirmos temos que buscar aquela palavra chave: esforço. Sem esforço não há subida, não há elevação na escalada espiritual. Todo aperfeiçoamento requer esforço. O Cristo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo”. Então, compete a nós fazer a nossa parte.
E o que é esse supremo bem que Emmanuel nos fala? É tudo aquilo que resume o que é bom, o que é belo, o que é justo e verdadeiro. É uma aspiração universal que está dentro de todas as criaturas, independentemente do grau de evolução de cada uma. São centelhas divinas.
O supremo bem, que é o único refúgio para gozarmos a felicidade relativa, se manifesta através do amor universal, que se desenvolve pelo nosso esforço. Esse supremo bem faz parte das leis divinas. Portanto, temos que vivenciá-lo, como o Cristo nos mostrou através do seu testemunho.
As palavras são importantes para a comunicação, para o aprendizado. Agora, a exemplificação é essencial, tanto que, Jesus nada escreveu, apenas vivenciou todos os seus ensinamentos, indicando o caminho para nós. Daí Ele dizer: ”Quem quiser vir após mim, que tome a sua cruz e siga-me”. E esse “tomar a sua cruz” representa todas as nossas dificuldades, nas nossas provas e expiações.
ITEM 2.
Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de pele de ovelha e que por dentro são lobos que roubam. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Podem colher-se uvas nos espinheiros ou figos nos matagais? Assim, toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma árvore má não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Conhecê-la-eis, pois, pelos seus frutos. (Mateus, cap. VII, vv. 15 a 20).
No capítulo anterior, há uma mensagem do Espírito de Verdade, na qual Ele diz que se aproxima o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade.
Então, num tempo de transformações, de mudanças tão profundas, é claro que não poderiam faltar pessoas oferecendo salvação e divulgando doutrinas de mentiras.
Quantas criaturas, por estarem em contato constante com o Evangelho de Jesus, através de estudos e pregações, se confundem, e pensam que já estão realizando tudo aquilo que pregam e, muitas vezes, ao se iludirem, achando que já estão, realmente, fazendo a reforma íntima, passam a ter atitudes estudadas: falam mansamente, gesticulam com modéstia, para dar um ar de simplicidade. Mas, na verdade, são lobos cobertos com peles de cordeiros. Pois, no cotidiano, na relação dentro da família ou no ambiente de trabalho, muitas vezes, são pessoas profundamente agressivas. Por isto, não estão produzindo bons frutos.
Nós já sabemos, então, que o verdadeiro espírita, ou cristão, pois ambos são uma coisa só, se conhece pela sua perseverança e pelas suas ações no bem. Da mesma forma, podemos reconhecer as qualidades daqueles que pregam os ensinamentos de Jesus. Se eles estão orientando de forma correta ou se estão usando uma forma inadequada. Agora, isto não nos dá o direito de fazer críticas ácidas às pessoas que não realizam o que pregam; não quer dizer que tenhamos que sair por aí, identificando este ou aquele semelhante, como sendo bom ou mau cristão. Porque, isto seria um julgamento que estaríamos fazendo e, quem sabe, depois a condenação. O Mestre, sempre disse que não vinha julgar as coisas do mundo. Portanto, se Ele não veio julgar as criaturas, muito menos nós, devemos faze-lo. Assim, não devemos apontar falhas alheias. O máximo que devemos fazer são avaliações, para que nos sirvam de parâmetro, para que não venhamos a cair no mesmo erro do nosso próximo. Mas, nunca com o objetivo de crítica ou de destruição. Porque, isto, não seria bom para nós, muito menos seria útil para o nosso irmão que faliu. Estaríamos fugindo totalmente daquele crivo da caridade.
O julgamento que fizermos do nosso semelhante não vai nos levar a sermos melhores. Muito pelo contrário. Nós também possuímos pontos fracos, embora imaginemos já ter superado alguns deles. Na realidade, ainda falimos, ainda cometemos enganos. E esses equívocos se repetem justamente para mostrar a nossa fragilidade.
No processo de crescimento, até atingirmos a sonhada perfeição relativa, nós iremos percorrer o caminho da nossa evolução com erros e acertos. Quanto mais nos aprofundarmos no conhecimento das leis divinas, evidentemente, cada vez mais, vamos agregar elementos que nos fortaleçam, para falirmos cada vez menos.
ITEM 3.
Tende cuidado para que alguém não vos seduza; porque muitos virão em meu nome, dizendo: “Eu sou o Cristo”, e seduzirão a muitos.
Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; e porque abundará a iniquidade (Perversidade; Maldade; Injustiça), a caridade de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim se salvará.
Então, se alguém vos disser: o Cristo está aqui, ou está ali, não acrediteis absolutamente; porquanto falsos Cristos e falsos profetas se levantarão que farão grandes prodígios e coisas de espantar, a ponto de seduzirem, se fosse possível, os próprios escolhidos. (Mateus, cap. XXIV, vv. 4, 5, 11 a 13, 23 e 24; Marcos, cap. XIII, vv. 5, 6, 21 e 22).
Neste item há uma advertência dos evangelistas, para a necessidade de nós examinarmos cuidadosamente tudo o que nos dizem aqueles que nós chamamos de profetas. Mas, o que é ser um profeta?
Em todas as épocas e localizações geográficas, sempre foi observada a presença de pessoas bem mais amadurecidas do que as do restante das coletividades em que elas viviam. Tais pessoas eram portadoras de diretrizes melhores de organização e comportamento. Diretrizes essas, que o restante do grupo ia assimilando aos poucos, em lento processo de educação.
No campo da religião são chamados profetas, e transmitem o conhecimento e a vivência divinos. Eles falam, instruem, mas, sobretudo, empregam a exemplificação pessoal para transmitir suas lições. Um enviado de Deus para instruir a Humanidade. Por isto, Jesus foi confundido como tal pelos homens do Templo.
Compreensivelmente, dada a nossa condição espiritual, ainda muito deficiente, sempre houve, além dos verdadeiros missionários, criaturas equivocadas ou mal intencionadas, que se apresentavam como líderes no campo espiritual, porém, nada evidenciando o seu comportamento que pudesse justificar essa pretensão. Serviam-se de todos os meios para prevalecer suas idéias, confundindo as almas simples e confiantes. Valiam-se do nome de Deus para alcançar os seus objetivos. Daí o alerta para nos acautelarmos contra os falsos apregoadores da verdade.
Para não sermos enganados e, consequentemente, arrastados para os caminhos do erro, da mentira, da hipocrisia e da perversão moral, nós devemos nos manter vigilantes e atentos. E a maneira de o fazermos está expressa na recomendação do Mestre, quando Ele nos aconselha a observarmos as obras e os frutos produzidos.
A Doutrina Espírita nos habilita a analisar aquilo que nos é oferecido, em termos de mensagem espiritual, inclusive, fora do campo da Doutrina. Comparando o conteúdo com a pessoa que está veiculando a ideia.
No terreno religioso, nos dias de hoje, também encontramos criaturas que poderiam ser consideradas falsos profetas, quando estas, para manterem proveitos e privilégios materiais, mantêm seus seguidores na cegueira espiritual. E quem poderia dar esse mau exemplo? Aqueles que mais nos chamam a atenção: Os pregadores, os palestrantes, os oradores, criaturas que trazem para nós os ensinamentos de Jesus, e os médiuns, que através da palavra ou da escrita emitem mensagens de falsos profetas do mundo invisível. Isto nós vamos estudar no item 10.
E fora do terreno religiosos? Nos formadores de opinião que, de uma forma direta ou indireta, influenciam as pessoas, e que são encontrados em todas as esferas da atividade humana. E seja qual for o setor em que atuem, são sempre perigosos, porque semeiam a confusão e as trevas no espírito de seus leitores ou ouvintes. Hoje temos que tomar muito cuidado.
As palavras do Mestre se aplicam de um modo geral, aos que, em todos os tempos, tomam a si o encargo de conduzir os povos ao Senhor e os encaminham por falsas veredas.
É muito importante que se entenda muito bem esta advertência: “Levantar-se-ão muitos falsos profetas”, porque ainda encontramos profetas no sentido literal da palavra, que fazem revelações quando necessárias, ou seja, quando o plano espiritual permite que elas sejam divulgadas.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Qual o entendimento moral que nos revela a expressão: “Conhece-se a árvore pelos frutos?”
R – A árvore simboliza todos nós; os frutos são os nossos atos, nossas obras. Assim, a qualidade da nossa ação revela o grau do nosso adiantamento moral, caracterizando os cristãos que somos.
2 – Que árvores são essas que serão cortadas e lançadas ao fogo?
R – São as falsas obras dos homens: as idéias ocas que, a pretexto de promover o bem geral, geram desavenças, porque carregada de sentimentos de vingança e ódio; são as promoções que beneficiam uns, em detrimento de outros; são árvores que não foram plantadas por Deus e que fatalmente, serão destruídas.
3 – Quem são os falsos profetas?
R – São assim caracterizados os homens que, possuindo certos conhecimentos, abusam desse saber, em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, aproveitando-se da boa-fé de certas pessoas que acreditam serem eles missionários divinos.
Daí nós concluirmos que:
Precisamos examinar sempre tudo o que nos dizem; passando pelo crivo da razão, da lógica, todas as informações que nos são passadas. Pois, de outra forma não poderíamos concluir com segurança se elas são falsas ou verdadeiras.
Então, nesse período de transição de mundos, devemos ter um cuidado redobrado para que não sejamos iludidos, por aqueles que se dizem profetas ou seguidores do Cristo, e, que, na realidade, estão professando doutrinas fantasiosas. É nesse sentido que os evangelistas nos alertam.
Reconhecem-se os verdadeiros cristãos pelos seus atos. Estas não são belas palavras, nem promessas ostensivas que caracterizam as pessoas de bem, mas sim, suas obras em favor do bem comum, sustentada por valores exclusivamente morais.
Portanto, o verdadeiro missionário de Jesus deve provar que o é pela sua superioridade, por suas virtudes, pela sua grandeza, pelos resultados e pela influência moralizadora de suas obras. Os verdadeiros propagadores da Doutrina do Cristo, para a regeneração da Humanidade são: mansos e humildes, além de outras virtudes. Ao contrário dos falsos profetas que são: dominadores, orgulhosos, exclusivistas. Que exploram os conhecimentos que possuem em proveito de sua ambição. Atribuindo suposto poder sobrenatural ou pretensa missão divina.
 ****************************************** 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XX – Os trabalhadores da última hora – itens 4 e 5 – Instruções dos Espíritos – Missão dos espíritas e os Obreiros do Senhor.

ITEM 4:
Missão dos espíritas

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! Bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.
Esse trecho da mensagem do Espírito Erasto, proferido em tom de profecia, como a nos comunicar a chegada do Juízo Final, de certo modo, nos alerta duramente sobre o momento presente, previsto e profetizado para a realização da grande Obra, ou seja, a transformação da humanidade.
Há quase dois mil anos, Jesus, descortinando o futuro, asseverava a vinda do Consolador. É sobre isto que o Espírito comunicante fala.
Então, no devido tempo, cumprem-se as promessas do Cristo, e o Consolador surge, sob o amparo do Espírito de Verdade, na forma da Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec.
Surge como foi anunciado, visando realizar a transformação da humanidade, pelo melhoramento das criaturas.
O velho mundo aqui citado representa o mundo das expiações e provas que, com suas mazelas, será reduzido ao nada, aqui na Terra.
Continuando...
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo! Sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chagada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Erasto diz para não nos assustarmos. Os graves acontecimentos anunciados não surgirão mais dos cataclismos, puramente materiais. Dilúvios, inundações, revoluções sociais. Essa transformação se dará gradualmente, pouco a pouco. E para a concretização dessa Obra, concorrerão as boas criaturas, movidas de propósitos verdadeiramente cristãos, firmados nos princípios autênticos da caridade e da fraternidade. Estas serão recebidas pelo Senhor, no reino dos céus, porque cumpriram a sua tarefa como boas servidoras. As más criaturas, movidas pelos interesses, retardarão a colheita dos bons frutos da marcha progressiva para a moralização humana.
O que quer dizer, “As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças”? João, no cap. XVI, item 13 de seu Evangelho diz: Jesus, quando em reunião íntima alertou: “Mas, quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade...”. Isto quer dizer que já estamos sendo guiados para entender essa verdade.
Esse alerta do Espírito quer dizer que, a cada dia que passa, nós vamos nos aproximando de uma passagem estreita e, por isto, muito dolorosa, que já sabemos, nem todos conseguirão passar. Seria uma espécie de funil, onde a parte larga representa o lugar onde se faz a preparação para que a criatura se torne cada vez mais leve, menos carregada de culpas. Já o lado fino representa a aproximação das coisas de Deus e, de acordo com a nossa elevação espiritual, já não sentiremos as necessidades de nos determos para escutar, ver, ou fazer coisas que não agregam valor.
Continuando...
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo Infinito! Lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras
Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz..
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do sol nascente.
Então, nós verificamos que a transformação do homem, a mudança da humanidade e, como consequência, a modificação do planeta Terra será feita. E os escolhidos serão aqueles que conseguirem vencer a si próprios e se desprenderem na direção dessa Obra.
Ide e pregai! Nos recomenda Erasto. Então, é chegado o momento de divulgarmos a palavra de Jesus, e o Espiritismo trouxe a palavra do Mestre revivida, mais bem explicada, mostrando que o trabalho é feito com palavras e atos, para modificar os hábitos de uma multidão, através do nosso exemplo. Só assim estaremos divulgando a palavra do Cristo. E nós espíritas temos essa missão, essa responsabilidade, porque não podemos dizer que não sabemos.
O tempo nos diz que já teríamos tido tempo suficiente para sermos melhores; Que nós já poderíamos ter perdido muitos dos nossos defeitos.
Continuando...
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! Entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.
PERGUNTA – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?
RESPOSTA – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).
Ide e pregai! Ide! Eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos, falou-nos Jesus. Ide e pregai! Repete aqui o Espírito Erasto. Então, nós espíritas, estamos encarregados de levar a luz à humanidade que está doente; que sofre; que chora; que se desespera.
O verdadeiro espírita, convicto das realidades da vida que estuda, não deve ficar na posição passiva dos que esperam e aguardam Jesus, em atitude suplicante.
Ide! Eis que vos mando foi a ordem peremptória do Mestre. Cabe a nós respondermos: Presente! Estou pronto.
Não devemos temer a cruz e o martírio. O Cristo e seus corajosos sucessores encontraram na cruz e no martírio, as trincheiras de lutas, através da resistência construtiva contra o mal. É necessária, imperiosa, nossa ida aos lobos. É por demais perigoso espera-los. Portanto, é chegada a hora em que devemos sacrificar os nossos hábitos, os nossos trabalhos, as nossas ocupações fúteis em favor da palavra divina, quer na sociedade, na família, na casa espírita, na obra da caridade. Vamos nos apresentar para o trabalho. Só, assim, conseguiremos vencer a inércia e a timidez que nos impedem, muitas vezes, de participar ativamente na obra do Senhor.
Por mais milênios que nos faltem, nós estamos a caminho da perfeição relativa, porque, no cumprimento das leis divinas, e na medida do nosso tempo, enxergamos alguns pontos em que, conscientemente, nós agimos bem. E esses pontos, que representam luz, são aqueles que, no futuro, irão iluminar o resto do caminho que nos falte.
Para encerrar este item, vamos esclarecer o que Erasto quis dizer com “Mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição”. Com certeza, Deus não se desmente; Deus não destrói o seu próprio trabalho, a sua criação. Então, podemos deduzir, o que vai acontecer é que, aquele que falsear a sua lei vai ter que refazer toda a sua caminhada. A própria lei natural o encaminhará para repetir o caminho e fazê-lo de modo certo.

ITEM 5:
Os obreiros do Senhor

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo (cem vezes mais) do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões (desarmonias), houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! Clamarão: “Graça! Graça!” o Senhor, porém, lhes dirá: “Como implorais graças, vós que não tivestes piedade dos vossos irmãos e que vos negastes a estender-lhes as mãos, que esmagastes o fraco, em vez de o amparardes? Como suplicais graças, vós que buscastes a vossa recompensa nos gozos da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebestes a vossa recompensa, tal qual a quisestes. Nada mais vos cabe pedir; as recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da Terra”.
Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos (corajosos), pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus”. O Espírito de Verdade. (Paris, 1862).
Já dissemos no item anterior que, no devido tempo cumprir-se-ão as promessas de Jesus, e o Consolador surgirá nos moldes da Doutrina dos Espíritos, para realizar a transformação da Humanidade. É o fim do mundo velho, é o advento do mundo novo; é uma fase que se extingue para dar lugar à outra que vem nascendo. É uma fase do nosso mundo encerrando um ciclo de existência da Humanidade e abrindo outra página em branco trazendo um novo programa de vida.
Mas, para realizar essa missão, a Doutrina Espírita necessita de trabalhadores, e surgem no contexto, aqueles que são os trabalhadores da última hora, os quais têm o direito de receber o mesmo salário dos demais que os antecederam. Porém, o trabalhador só faz jus ao salário quando ele pratica o Evangelho de Jesus a cada dia, e desde que tenha boa vontade. Não basta só conhecer; não basta somente ler; não basta só estudar. É indispensável ser bom. Dessa forma, este trabalhador, embora esclarecido, continuar orgulhoso, egoísta, ambicioso, continuará com a consciência em trevas, embora esteja em meio à luz. Será espírita apenas no nome, de rótulo, tendo em vista que continua ligado aos prazeres materiais.
Os que conhecem o amor e não têm amor; os que exigem a lealdade e a sinceridade, mas não as praticam; os que clamam por indulgência e não são indulgentes; os que anunciam a humildade, mas se elevam aos primeiros lugares. Todos esses, e ainda mais os perjuros (jurar em falso), os indolentes  e os bajuladores, não poderão ter a cotação dos bons, dos humildes, dos que têm o coração bondoso, dos que cultivam o amor pelo amor, dos que cultivam a fé pelo seu valor progressivo, e trabalham pela verdade para terem liberdade.
Portanto, não devemos abandonar a enxada e a charrua na obra do Senhor. Não devemos entender que só têm missão os benfeitores da Humanidade.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 573, Kardec perguntou aos Espíritos: Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados? Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais, responderam-lhe as entidades.
Sabendo do comportamento humano, muitas vezes inútil, Kardec continua as perguntas, e, à pergunta 574, interroga: Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente inúteis? Há efetivamente pessoas que só para si mesmas vivem e que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão, porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas vezes, já neste mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa.
Ora, o Espírito de Verdade nos alerta de que se aproxima o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Por isto, devemos nos preparar, para não imitarmos as Virgens desprevenidas da parábola, e sermos apanhados de surpresa.
À guisa de conhecimento, vamos reproduzir a parábola:
O Reino de Deus é comparado a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco dentre elas eram néscias (inaptas; ignorantes) e cinco prudentes. As néscias, tomando as suas lâmpadas não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas. Tardando o noivo, todas adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí a seu encontro! Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam suas lâmpadas. E disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando! Porém as prudentes responderam: Talvez não haja bastante para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. Enquanto foram compra-lo, veio o noivo; e as que estavam munidas entraram com ele para as bodas e fechou-se a porta. Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
“Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora”. (Mateus, cap. XXV, vv. 1 a 13).
A instrução espiritual, como já dissemos, é indispensável. Por isto, os que passam a vida ociosamente, dela sugando o que tem de bom a lhes oferecer para satisfação de seus deleites, que julgam obter o Reino de Deus, sem estudo, sem esforço, sem trabalho, finalmente aqueles que não fazem provisão de conhecimentos que lhes aumente a fé, estão sujeitos a verem apagadas as suas candeias, e a perderem a entrada às bodas quando se virem forçados, de um momento para o outro, a fazer aquisição de óleo, que representa os conhecimentos que fazem combustão em nossas almas, acendendo em nossos corações a lâmpada sagrada da fé.
A prudência manda que o homem estude, pesquise, examine, raciocine e compreenda.
Portanto, é importante que todos nós compreendamos que somos mensageiros do Alto, que somos os trabalhadores da última hora, e como tais não devemos permitir que nosso espírito venha a desonrar-se, a degradar-se ao contato dos prazeres dos sentidos; das tentações da avareza, que subtrai de alguns o gozo dos bens que Deus deu a todos.

Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – De que modo podemos entender a transformação da Humanidade, objeto do nosso estudo?
R – Como uma nova era que chega, com grandes mudanças para as criaturas. É, antes de tudo, uma mudança moral do que material.
2 – E qual o elemento regenerador para esta transformação?
R – A renovação interior da criatura, objetivando atingir um maior grau de perfeição relativa.
3 – Qual o caminho que devemos seguir para conseguir essa renovação?
R – A Doutrina dos Espíritos, como o Cristianismo, mostra à criatura esse caminho pela prática da caridade autêntica e da fraternidade, que praticadas nos verdadeiros propósitos cristãos, modificarão os hábitos equivocados de uma multidão.

Daí nós concluirmos que:
Pregar o Evangelho de Jesus simplesmente por pregar, pouco vai adiantar, porque, essa pregação será feita por palavras vazias. É preciso que a nossa palavra seja um verbo criador, que vá  impulsionar as criaturas ao trabalho, à reforma íntima. Mas isto nós só conseguiremos se estivermos também realizando esse mesmo trabalho. O exemplo arrasta, contagia, como diz Emmanuel.
Todos nós seremos avaliados não pelo tempo de serviço e, sim, pela qualidade do serviço apresentado. Devemos lembrar que a nossa avaliação sobre a qualidade desse serviço é sempre branda. Porém, a avaliação dos Espíritos que são os avalistas da nossa reencarnação é severa. Por isto, mãos à obra! O arado está pronto; a terra adubada; devemos nos apresentar ao trabalho. E, ao nos apresentarmos para o serviço com a indução de pensamentos constantes na direção do bem, podemos dizer que já iniciamos o cumprimento da nossa missão.
***************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XX – Os trabalhadores da última hora – itens 1 a 3 -  Instruções dos Espíritos – Os últimos serão os primeiros.

Este é o único capítulo desse Evangelho que não possui comentários de Allan Kardec: à transcrição da passagem evangélica, a parábola dos trabalhadores da última hora, seguem-se imediatamente as Instruções dos Espíritos, em número de quatro.

ITEM 1:
Eis a parábola, registrada por Mateus:

O reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada, a fim de assalariar trabalhadores para a sua vinha. Tendo convencionado com os trabalhadores que pagaria um denário a cada um por dia, mandou-os para a vinha. Saiu de novo à terceira hora do dia e, vendo outros que se conservavam na praça sem fazer coisa alguma, disse-lhes: ide também vós outros para a minha vinha e vos pagarei o que for razoável. Eles foram. Saiu novamente à hora sexta e à hora nona do dia e fez o mesmo. Saindo mais uma vez à hora undécima, encontrou ainda outros que estavam desocupados, aos quais disse: Por que permaneceis aí o dia inteiro sem trabalhar? É, disseram eles, que ninguém nos assalariou. Ele então lhes disse: Ide vós também para a minha vinha.
Ao cair da tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus negócios: chama os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até aos primeiros. Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado, receberam um denário cada um. Vindo a seu turno os que tinham sido encontrados em primeiro lugar, julgaram que iam receber mais; porém, receberam apenas um denário cada um. Recebendo-o, queixaram-se ao pai de família, dizendo: estes últimos trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto quanto a nós que suportamos o peso do dia e do calor.
Mas, respondendo, disse o dono da vinha a um deles: meu amigo, não te causo dano algum; não convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te pertence e vai-te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. Não me é então lícito fazer o que quero? Tens mau olho, porque sou bom?
Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, cap. XX, vv. 1 a 16).
           
Vamos começar a entender:
Jesus apresentou diversas parábolas sobre o “reino de Deus” ou “o reino dos céus”, as quais sempre começam informando que se trata de uma analogia (semelhança): o reino dos céus é semelhante...
O Mestre nunca pretendeu descrever aquele reino, pois sabia que isso não era possível, de vez que significa um estado de integração com as leis divinas em que desaparecem: o egoísmo, o apego, o medo e, compreensivelmente, só é conhecido por aqueles que o vivenciam.
Das parábolas evangélicas, algumas são de compreensão relativamente fácil, como a do Bom Samaritano ou a do Semeador, que o próprio Cristo explicou aos discípulos. Outras, porém, trazem dificuldades interpretativas consideráveis, exigindo mais meditação e maior familiaridade com o conjunto da Doutrina Cristã, para que um sentido razoável seja alcançado.
Essa parábola que vamos estudar, seguramente, pertence à classe das “difíceis”, já que compara o reino dos céus, onde tudo é justiça, com uma situação aparentemente injusta: a remuneração igual a jornadas de trabalho desiguais.
Não obstante essa dificuldade central, a parábola contém alguns pontos mais ou menos claros, com os quais iniciaremos os nossos esforços interpretativos.
1 - O dono da vinha saiu de sua casa para contratar trabalhadores para a mesma. Combina com eles pagar-lhes um denário, que era moeda romana, de prata, com efígie do imperador, e tinha o valor de um dracma, que era a importância que correspondia à diária de um trabalhador.
2 – Aquele viticultor vai de novo à praça um pouco antes das 9, 12, 15 e 17 horas e, a cada vez, encontra novos candidatos ao serviço, aos quais também contrata, prometendo-lhes pagar o que fosse justo.
3 – Terminada a jornada diária, às 18 horas, ele chama o administrador e manda que seja efetuado o pagamento dos trabalhadores, começando pelos últimos a chegar, que só trabalharam 1 hora, e indo até aos primeiros, que realizaram uma jornada de 12 horas. O administrador, obedecendo por certo as instruções do Senhor, dá a todos o mesmo pagamento prometido aos que haviam chegado primeiro, isto é, um denário.
4 – Ao iniciar-se o pagamento, os trabalhadores da primeira hora, vendo os que haviam chegado por último receber um denário cada um, pensaram que iriam receber mais. Recebendo, no entanto, também um denário, ficaram insatisfeitos, reclamando dessa injustiça com o dono da vinha, sendo advertidos por este, que lhes indagou se não lhe era lícito fazer o que quisesse com o seu dinheiro, perguntando, ainda, a um deles: “Tens mau olho porque sou bom?”
Analisando a lição, à primeira vista, o sentido geral do ensinamento dá a entender que Jesus ao propor essa parábola estivesse consagrando a arbitrariedade e a injustiça, dado o aparente conflito da idéia de um Deus justo com o modo pelo qual o dono da vinha remunerou os trabalhadores. Logicamente, só temos duas opções para eliminar o conflito: ou supomos que Jesus de fato pretendeu caracterizar Deus como injusto, ou revemos nossa impressão inicial, de que o comportamento do senhor da vinha foi justo. Ora, como a primeira alternativa é insustentável, face ao conjunto dos ensinamentos cristãos, temos de desenvolver a segunda opção. Para tanto, comecemos atentando para o seguinte:
a)– O dono da vinha pagou os trabalhadores da primeira hora exatamente o valor combinado, de modo que não os prejudicou;
b)– Quanto aos demais, a parábola nada diz sobre acerto de salário, sugerindo-nos que os trabalhadores aceitaram a oferta de trabalho sem pré-condições;
c)– O próprio senhor da vinha justifica sua ação, dizendo que foi um ato de bondade: o denário que mandou dar aos que foram convocados mais tarde seria, pois, parte da remuneração pelas horas que trabalharam e parte de auxílio espontâneo.
Assim, quando consideramos os casos separadamente vemos que em suas relações com cada grupo de obreiros o senhor nada fez de errado.
É ponto pacífico que o pai de família ou dono da vinha é Deus; que a vinha é o Universo; o trabalho na vinha é a aquisição de virtudes para o enobrecimento da alma; as horas trabalhadas são quaisquer períodos de tempo; o salário representa o conjunto de condições que se associam ao trabalho no bem, ainda quando realizado por aprendizes como nós: paz, esperança, progresso espiritual e apoio para a superação de dificuldades; os trabalhadores, claro, somos nós.
Jesus termina a parábola dizendo: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”. Então, vamos desdobrar esse desfecho da parábola para saber por que os trabalhadores da última hora receberam o pagamento em primeiro lugar.
Nossas reflexões sobre esta situação podem ser auxiliadas pelas considerações feitas pelo Espírito Constantino, em sua instrução. Passemos, pois, a ela.

ITEM 2:
Os últimos serão os primeiros

O texto do Espírito comunicante compõe-se de quatro parágrafos, que gradativamente iremos apreciar. Diz ele:

O obreiro da última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Tem ele direito ao salário, porque desde a alvorada esperava com impaciência aquele que por fim o chamaria para o trabalho. Laborioso, apenas lhe faltava o labor.
Vemos que o Espírito, em defesa do trabalhador da última hora, destaca alguns aspectos importantes que ainda não havíamos considerado. Há uma condição para o recebimento do salário: a disposição permanente para o trabalho. Aqueles que foram contratados à terceira, sexta, nona e undécima hora tinham boa vontade, ansiavam por trabalhar. Faltou-lhes, porém, a oportunidade. Quando o dono da vinha os convocou, aceitaram apressadamente e, segundo se depreende, sem sequer inquirir pela remuneração.
Continuando...
Se, porém, se houvesse negado ao trabalho a qualquer hora do dia; se houvesse dito: “tenhamos paciência, o repouso me é agradável; quando soar a última hora é que será tempo de pensar no salário do dia; que necessidade tenho de me incomodar por um patrão a quem não conheço e não estimo! Quanto mais tarde, melhor”; esse tal, meus amigos, não teria tido o salário do obreiro, mas o da preguiça.
Aqui, o Espírito realça o direito ao salário do trabalhador da última hora e coloca uma hipotética situação de contraste.
A disposição positiva de cada um dos obreiros pode, assim, ser entendida como fator que sensibilizou o Senhor da vinha, induzindo-o ao gesto de generosidade.
Vale lembrar que no item 930 de O Livro dos Espíritos, ao perguntar acerca da situação das pessoas que se vêm impossibilitadas de trabalhar por causas independentes de sua vontade, Kardec obtém a observação de que “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”. E, explicando o ponto, os Espíritos acrescentam: “Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário”.
Ora, nessa perspectiva o Senhor da parábola seria alguém que, mesmo naqueles tempos primitivos, teria sido tocado pela dificuldade daqueles homens que impacientemente esperavam pela oportunidade de ganhar seu pão, solidarizando-se com eles por meio, primeiro, da oferta de trabalho e, depois, pelo auxílio pecuniário adicional.
Continuando...
Que dizer, então, daquele que, em vez de apenas se conservar inativo, haja empregado as horas destinadas ao labor do dia em praticar atos culposos; que haja blasfemado de Deus, derramando o sangue de seus irmãos, lançado a perturbação nas famílias, arruinado os que nele confiaram, abusado da inocência, que, enfim, se haja cevado em todas as ignomínias da Humanidade? Que será desse? Bastar-lhe-á dizer à última hora: Senhor, empreguei mal o meu tempo; toma-me até ao fim do dia, para que eu execute um pouco, embora bem pouco, da minha tarefa, e dá-me o salário do trabalhador de boa vontade? Não, não; o Senhor lhe dirá: ”Não tenho presentemente trabalho para te dar; malbarataste o teu tempo; esqueceste o que havias aprendido; já não sabes trabalhar na minha vinha. Recomeça, portanto, a aprender e, quando te achares mais bem disposto, vem ter comigo e eu te franquearei o meu vasto campo, onde poderás trabalhar a qualquer hora do dia.
Agora não se trata mais da indolência do servo que despreza o trabalho, mas da ação destrutiva daquele que, ao invés de ajudar, atrapalha a obra divina. A extensão dos comentários do Espírito Constantino para esse tópico é particularmente relevante para nós, Espíritos ligados à Terra. A observação dos fatos confirma a classificação de Kardec na seção “Destinação da Terra – Causas das misérias humanas”, do capítulo III de O Evangelho Segundo o Espiritismo, da Terra como planeta especialmente destinado ao abrigo de Espíritos desajustados com as leis divinas.
Concentremos nossa atenção nas palavras de Constantino. Como entender a reação atribuída ao Senhor, diante do servo mau: “Não tenho presentemente trabalho para te dar...”? Tolher-nos-ia Deus a oportunidade do trabalho depois que falimos? Sabemos, por outro lado, que é somente pelo trabalho no bem que repararemos nossos erros, apagando suas repercussões.
Observando mais atentamente o texto, vemos que o Senhor não impede para sempre o servo de trabalhar em sua vinha. Depois que reaprender a trabalhar construtivamente, ser-lhe-á novamente franqueado o vasto campo de ação na vinha.
Continua...
Bons espíritas, meus bem amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade. Constantino, Espírito Protetor. (Bordéus, 1863).
Com base nesse último parágrafo, bem como numa passagem da Instrução que o segue, de  Henri Heine, difundiu-se no meio espírita a ideia de que os espíritas são os trabalhadores da última hora”. Afinal, na parábola os trabalhadores da undécima hora são aqueles que mais se beneficiaram da generosidade do Senhor.
A leitura atenta desse trecho não parece corroborar a referida interpretação. Primeiro, a frase inicial qualifica os espíritas: “Bons espíritas...”. Logo, a frase não diz respeito aos espíritas em geral, mas aos bons espíritas. E todos nós já conhecemos a lista de qualidades dos bons espíritas, que Kardec registrou no capítulo XVII desse Evangelho, quando estudamos o “O homem de bem”.
Que dizer agora dos espíritas que ainda não podem ser chamados de bons? Esses são os que, não obstante terem as luzes dos princípios espíritas ao seu alcance, ainda resistem a trabalhar, ou a trabalhar tanto quanto sua condição permitiria.
É claro que essa classificação não é simples assim. Não há apenas dois grupos de espíritas. Há uma gradação contínua, começando naqueles retardatários e terminando nos que já entendem e vivenciam plenamente as diretrizes divinas para os homens. Caberá a nós determinar, pelo exame isento de nossos pensamentos e atos, nossa posição nessa escala.

ITEM 3:
Outra Instrução
Jesus gostava da simplicidade dos símbolos e, na sua linguagem máscula, os obreiros que chegaram na primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser assinaladas através dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas. Estes, que por último vieram, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa. Que digo? Recompensa maior. Últimos chegados, eles aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque o homem tem de herdar do homem e porque coletivos são os trabalhos humanos: Deus abençoa a solidariedade. Aliás, muitos dentre aqueles revivem hoje, ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora. Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um propagador da fé cristã se encontram no meio deles, porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não já na base e sim na cumeeira do edifício. Receberão, pois, salário proporcionado ao valor da obra.
O belo dogma da reencarnação eterniza e precisa a filiação espiritual. Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o edifício se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada. Ele vê, sente que apanhou, de passagem, o pensamento dos que o precederam. Entra de novo na liça, amadurecido pela experiência, para avançar mais. E todos, trabalhadores da primeira e da última hora, com os olhos bem abertos sobre a profunda justiça de Deus, não mais murmuram: adoram.
Tal um dos verdadeiros sentidos desta parábola, que encerra, como todas as de que Jesus se utilizou falando ao povo, o gérmen do futuro e também, sob todas as formas, sob todas as imagens, a revelação da magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no Universo, da solidariedade que liga todos os seres presentes ao passado e ao futuro. Henri Heine. (Paris, 1863).
Concluindo o nosso estudo, vamos analisar essa instrução:
Partindo de um outro enfoque, mas chegando à mesma conclusão, o Espírito mensageiro entende que o progresso intelectual é obra solidária e se faz por etapas. É assim que os últimos são os primeiros.
Vamos entender isso de um modo prático: Uma criança do século XXI, ao utilizar-se de um computador para realizar suas tarefas escolares ou, mesmo, viajar pela Internet, não avalia o que ela deve aos seus “predecessores que marcaram etapas do progresso”, homens que descobriram ou inventaram coisas para que um dia o computador pudesse aparecer. Entretanto, ela o utiliza em primeira mão e, se trouxer em sua bagagem espiritual um ideal elevado, com essa ferramenta de trabalho ela fará, durante a sua existência, mais e melhor, em termos de comunicação.
O Espírito comunicante faz alusão à reencarnação, conceito que ajuda a esclarecer ainda melhor a parábola, e afirma que dentre aqueles trabalhadores da primeira hora muitos revivem hoje, ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora, porém, mais esclarecidos, mais adiantados.
Vamos dar uma outra interpretação para o sentido da alegoria, em termos do “Reino dos céus”: Com base no que foi estudado até aqui, deduzimos que Jesus procurou salientar a virtude da boa vontade e da disposição para o trabalho.
Na parábola, os trabalhadores contratados posteriormente, ou seja, os da última hora, simbolizam os Espíritos que foram gerados a menos tempo. São Espíritos que têm tudo para aproveitar melhor o tempo e fazer melhor uso do livre-arbítrio. Porque levam uma grande vantagem ao encontrarem, para trabalhar, um terreno que já foi arado; onde as ervas daninhas já foram retiradas, bem como os cascalhos que estavam prejudicando o plantio. Serviço que foi feito pelos trabalhadores da primeira hora.
Aos obreiros da última hora cabe somente semear e cuidar do plantio, para conseguirem em apenas algumas existências o progresso que outros demoram a realizar.
Jesus também faz referência àquelas pessoas que não são trabalhadores nem da primeira hora nem da última hora. São aqueles que ficam na praça, perdendo muito tempo, sentados, esperando que o sol se abrande e o frescor da tarde chegue, para que eles comessem a pensar em procurar um Senhor que os assalarie, ou, então, que sentados estão, sentados continuam, perdendo a oportunidade de pegar na ferramenta, deixando que esta se enferruje. Portanto, se o acúmulo de experiências, nas muitas existências que tivemos, nos encaminham para escolhas erradas, para caminhos tortuosos, vamos nos pôr a serviço da vinha do Senhor. Não é desdouro nenhum sermos trabalhadores da última hora. Se, deixamos passar vários chamados do Senhor, não devemos deixar passar mais este. Se nós não produzirmos em quantidade suficiente, poderá acontecer de reencarnarmos num outro mundo, numa outra vinha, e começar tudo de novo. E não sabemos em que estado vamos encontrar essa nova vinha. Talvez, nessa nova vinha, sejamos os trabalhadores da primeira hora, aqueles que trabalham duro, de sol a sol.

Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Com base no que foi estudado, qual o mérito dos trabalhadores que aceitaram a oferta de trabalho, sem perguntar quanto ganhariam?
R – O desinteresse. Fazer o bem pelo bem.
2 – Houve injustiça, por parte do Senhor da vinha, com os trabalhadores da primeira hora?
R – Não. O Senhor da vinha pagou a eles exatamente o valor combinado, de modo que não os prejudicou.
3 – Podemos entender que os trabalhadores da última hora sejam preguiçosos?
R – Não. Para eles, apenas, por uma razão ou por outra, a tarefa chegou um pouco mais tarde.

Daí nós concluirmos que:
Que a mensagem mais evidente da parábola é, pois, a importância de nosso engajamento nas atividades da vinha de Jesus. E que o serviço seja sempre feito com boa vontade, com sinceridade, com amor. Que não devemos nos habituar à reclamações; que não devemos sentir inveja do que for dado aos outros; e que não devemos sentir ciúme, se eles receberem qualquer atenção, ou provas de bondade, do Senhor da vinha.
Estejamos certos de que, na presente encarnação, nosso contato com o Espiritismo representa o convite para o trabalho na vinha, isto é, a promoção do bem no mundo, a partir de nossa reforma pessoal.
“Toda ocupação útil é trabalho”, conforme resposta à questão 675 de O Livro dos Espíritos, que é a seguinte: Por trabalho só se deve entender as ocupações materiais?
Para finalizar o estudo, retiramos dessa parábola um cântico de esperança para todos nós. E todos os que atenderem a Jesus estarão com o coração felicitado e em paz.
Ser espírita é ter na alma o doce conforto e a calma, que emanam do próprio bem.
É perdoar ao que erra; nunca implantar a discórdia; é ter confiança no além.
Ser espírita é a Deus amar; cultivar a verdade; praticar a caridade; consolar toda dor.

Que sejamos perseverantes com o nosso trabalho, e que ele seja de qualidade, com a perfeição relativa que o Mestre nos ensinou, quando disse: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”.
***********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO

Capítulo XIX – A Fé transporta montanhas – itens 8 a 12 – Parábola da figueira que secou – Instruções dos Espíritos – A fé: mãe da esperança e da caridade – A fé humana e a divina.
ITEM 8:
Quando saíam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao longe uma figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti fruto algum, o que seus discípulos ouviram. No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que secara até a raiz. Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, olha como secou a figueira que tu amaldiçoaste. Jesus, tomando a palavra, lhes disse: Tende fé em Deus. Digo-vos, em verdade, que aquele que disser a esta montanha: Tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem hesitar no seu coração, crente, ao contrário, firmemente, de que tudo o que houver dito acontecerá, verá que, com efeito, acontece. (Marcos, cap. XI, vv. 12 a 14 e 20 a 23).
Para interpretar as parábolas de Jesus, nós já estudamos aqui, não podemos tomar as palavras ao pé da letra, principalmente esta, de onde podemos retirar vários ensinamentos. É preciso que se busque a sua essência e, para isto, vamos reproduzir o que diz Mateus, no cap. XXI, vv. 18 a 22 de seu Evangelho, e o que diz Lucas, no cap. XIII, vv. 6 a 9 de seu Evangelho.
Pela manhã, ao voltar Jesus à cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas; e disse-lhe: Nunca mais nasça de ti frutos, no mesmo instante secou a figueira. E vendo isto, os seus discípulos maravilharam-se e perguntaram: Como é que repentinamente secou a figueira? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que se tiverdes fé e não duvidardes fareis não só o que foi feito à figueira, mas até se disserdes a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, isto será feito; e tudo o que, com fé, pedirdes em vossas orações, havereis de receber.
ITEM 9:
COMENTÁRIO
Antes de estudarmos propriamente a parábola da figueira que secou, devemos fazer uma consideração que se apresenta às nossas vistas. A figueira que serviu de comparação ao Mestre para a exposição das duas parábolas não será a mesma? Pelo visto, sim. Porque não haveria motivo para tão sumária execução. Senão vejamos: Na segunda citação, a parábola da figueira estéril ensina a necessidade de cultivo, de fertilização com adubos, como, de momento, sem os requisitos preceituados neste ensinamento, Jesus resolveu fulminar a árvore que se achava repleta de folhas, bem copada?
Uma dificuldade se mostra com aparente contradição entre a narração do texto das duas Parábolas. A primeira diz: “Pela manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz”. A segunda diz: “No mesmo instante secou a figueira”. Entretanto, essa contradição é só aparente. Segundo estudiosos do assunto, os antigos, quando se expressavam sobre a duração de alguma coisa, de um fenômeno qualquer, não eram explícitos, como nós somos hoje.
Para a expressão “No mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, um período longo de horas cabe perfeitamente, pois as Escrituras falam de meses de trinta anos. Devemos levar em conta ainda a circunstância de que a hora dos hebreus abrangia, cada uma, três das nossas horas de hoje. Ora, uma árvore, mesmo cortada pela raiz, não secará num espaço pequeno de tempo.
A figueira, aparentemente, estaria bem situada. Por que não dava frutos? Por que só tinha tronco, galhos e folhas? Com certeza, aquela área onde se achava era improdutiva. Ou a semente não era de boa qualidade. Poderíamos interpretar que, ao expandir-se, a raiz da árvore alcançou um solo que não lhe forneceu mais os elementos necessários para que ela continue produzindo frutos e, até, para sua subsistência. Aí ela seca.
Jesus podendo ver perfeitamente o que se passa por dentro de um ser humano; podendo saber o que nós pensamos e sentimos, tinha toda a capacidade de ver o que estava acontecendo com a raiz daquela figueira.
Outro fator importante a destacar é que: Jesus, durante a sua missão terrestre, foi sempre acompanhado de uma grande falange de Espíritos que executavam suas ordens. Quando Jesus disse à figueira: “Nunca jamais alguém coma fruto de ti”, provavelmente, alguns desses Espíritos, com o poder de que dispunham, fizeram secar a figueira, assim como nós o faríamos aquecendo o seu tronco.
E, por que, falamos isso?
Mateus, no cap. VIII vv. 5 a 13,  de seu Evangelho, relata o seguinte:
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião e rogou-lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, padecendo horrivelmente. Disse-lhe o Mestre: eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que entre em minha casa; mas dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar. Porque também sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz.
Então vejamos:
Com essas palavras, o centurião teria feito ver a Jesus que conhecia o seu poder, e por certo sabia dos auxiliares que com ele agiam, do exército de Espíritos que o acompanhava, prontos a executarem suas ordens.
Se encararmos a narrativa pelo lado científico, observaremos a morte de uma árvore em virtude de uma grande descarga de fluidos magnéticos, que imediatamente secaram-na.
O poder do magnetismo, Kardec estudou magnetismo durante quarenta anos, que utiliza os fluidos do Universo, pode destruir, conservar e vivificar.
A cura de doenças e a mumificação de corpos pelo magnetismo, já se acham registrados nos anais da História, não deixando mais dúvida e esse respeito.
No caso da figueira não se trata de uma conservação, mas, ao contrário, de uma destruição, semelhante à destruição das células prejudiciais e causadoras de enfermidades, como as narradas pelos Evangelhos.
A figueira não dava fruto porque a sua organização celular era insuficiente ou deficiente, e Jesus, conhecendo esse mal, quis dar uma lição aos seus discípulos, não só para lhes ensinar a terem fé, mas também para lhes fazer ver que os homens infrutíferos como aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências.
Pelo lado filosófico, destacamos da parábola a necessidade indispensável da prática das boas obras pelas criaturas. A lição da figueira que secou pode ser um aviso do que vai acontecer a todas as criaturas semelhantes à figueira sem frutos.
Seja como for, o ensino de Jesus é muito significativo, por haver escolhido uma árvore, a fim de melhor gravar no espírito de seus discípulos a lição que lhes queria transmitir.
É instrutivo porque, havendo o Mestre tomado por ponto de comparação uma figueira, deixou bem claro que a lei de Deus, estendendo-se a toda a criação e sendo eterna, irrevogável, tanto tem ação sobre as árvores, os animais, como sobre as criaturas humanas.
Agora, a interpretação de que Jesus teria emitido pensamentos menos positivos e amaldiçoado a árvore, é um grande equívoco. Preferimos acreditar que as palavras de Pedro ao dizer que o Mestre havia lançado maldição à figueira, foram mal traduzidas ou registradas de conformidade com a maneira daquela época de entender o que não fosse bom.
Tudo o que acontecesse de mal era sempre entendido como alguma coisa sobrenatural, uma maldição. As coisas mais simples eram envolvidas em mistério. Isto também nós encontramos nas Escrituras. Então, é evidente que Pedro, muito judeu, muito apegado aos costumes da sua gente, imediatamente identificou aquela passagem como uma maldição.
Kardec comentando a parábola, diz que a figueira seca é o símbolo das criaturas que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, na realidade, nada de bom produzem. Comenta também, sobre aqueles oradores que possuem mais brilho do que solidez, cujas palavras são cobertas de verniz, e agradam aos ouvidos. Entretanto, quando estas palavras são analisadas, nós vamos perceber que nada revelam de substancial para o nosso adiantamento.
O Codificador ainda diz: A figueira seca simboliza todas as criaturas que podem ser úteis e não o são; todas as doutrinas carentes de base sólida.
ITEM 10:
Ainda dentro do tema, a figueira que secou, Kardec faz uma advertência aos médiuns. Que estes são os intérpretes dos Espíritos, daí serem dotados de faculdades para este efeito. Cabendo-lhes, portanto, uma missão muito especial. São árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos de caminhada. Porém, se eles se desviarem do objetivo principal da faculdade que lhes foi concedida, empregando-a em coisas fúteis ou prejudiciais, ou mesmo, pondo-a a serviço dos interesses mundanos e, por conseguinte, não a utilizando em benefício do semelhante, ou ainda, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são iguais à figueira estéril. Por isto, Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Que lições Jesus queria dar a seus discípulos com essa Parábola?
R – Ensinar-lhes a terem fé e fazer-lhe ver que criaturas infrutíferas como aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências.
2 - O que é necessário para que uma criatura se torne igual a uma figueira seca?
R – Praticar as boas obras.
3 – Quais as criaturas que se enquadram no símbolo da figueira seca?
R – Todas as que podem ser úteis e não o são.
Daí nós concluirmos que:
A palavra de Jesus não era simples palavra, mas também ação. E desta palavra resulta a necessidade de praticarmos sempre boas ações, e, em nossos corações, fazermos provisão de seus ensinos, para que o Cristo se traduza por estas generosas ações.
A religião do Mestre não é uma religião das folhas, mas, sim, a dos frutos.
Nós precisamos de árvores que dêem frutos. E, para isto, teremos que estar vigilantes, porque, quando menos esperarmos, poderemos estar buscando frutos para saciar a nossa fome, numa árvore estéril.
ITEM 11:
Instruções dos Espíritos
A fé: mãe da esperança e da caridade
Para ser proveitosa, a fé tem que ser ativa; não deve ser inerte. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A esperança e a caridade são consequências da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?
Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar, que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, consequentemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os enganos e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma, ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do fim que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862).
Sobre a instrução do Espírito José não há o que comentar; apenas vamos destacar um trecho para reflexão.
A esperança e a caridade são consequências da fé. Mas, por que será que o Espírito comunicante fez a associação da esperança com a caridade? Porque, na realidade, a esperança só habita um coração que realmente confia nas promessas de Jesus, e a caridade só é praticada por quem é dotado de um verdadeiro sentimento de amor ao próximo. Por isto, essas atitudes são obrigatoriamente sustentadas pela fé.
O Espírito nos conclama a pregarmos com o exemplo da nossa fé e esperança firme, para que as criaturas vejam o mérito da fé.
A fé é mãe da esperança e da caridade. E, esta, nós já dissemos, só é praticada por quem tem um verdadeiro sentimento de amor ao próximo. E qual o exemplo que nós poderíamos dar reunindo a esperança e a caridade? Vejamos: Quando nós visitamos um asilo ou um orfanato, num domingo ou num feriado, ocasião em que poderíamos estar realizando coisas pessoais, para nós ou para nossa família, doamos a nossa presença, o nosso carinho, além das coisas materiais, como: sabonetes, pastas para os dentes, biscoitos, etc. de certo, não há de ser por essas pequenas coisas que nós oferecemos àqueles irmãos carentes. A nossa proposta, acima de tudo, como religiosos, é fazermos uma visita fraterna, que simbolize algo mais para aqueles irmãos esquecidos, levando a eles a esperança de que nem tudo está perdido, e que há seres humanos que se preocupam com eles. Seres humanos que não têm a sua vida somente voltada para si. Que não são egoístas. Então, é essa atitude, esse sentimento, que nós levamos no bojo dessa visitação.
É por isto que foram associadas: a fé, a esperança e a caridade, formando uma trindade inseparável.
ITEM 12:
A fé humana e a divina
Dessa mensagem, ditada por um Espírito, que se intitulou somente como um Espírito protetor, vamos destacar alguns trechos para comentarmos.
Diz o Espírito comunicante:
No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.
Nós já aprendemos que a fé é um patrimônio da criatura; que a criatura para fazer aflorar em si a verdadeira fé tem que faze-la através do trabalho, do estudo, do raciocínio e do esforço. E, por que tem que ser assim? Quando os apóstolos pediram a Jesus para aumentar-lhes a fé, o Mestre propôs-lhes a parábola: “Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura, ou guardando o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já sentar-te à minha mesa; e que antes não lhe dirá: prepara-me a ceia, cinge-te, serve-me enquanto eu como e bebo; e depois comerás tu e beberás”? Isto quer dizer que, o servo não pode chegar, sentar à mesa e comer; tem que trabalhar primeiramente: prepara-me a ceia, isto é, trabalhar; cinge-te, ou seja, adquirir conhecimento; serve-me, quer dizer, para aprender a fazer o que o Cristo deseja.
            A fé é comida. A fé é bebida. Assim como comer e o beber não se obtêm sem o adquirir e o fazer, também a fé não se conquista sem a aplicação de meios adequados à sua obtenção. Portanto, a fé não se compra; não se dá por esmola, nem se adquire por herança.
Continua o Espírito:
Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo exaltou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?
A fé religiosa é respaldada pelos aspectos celestiais. Quando a criatura sente que vale a pena crer, que vale a pena estar voltada para Jesus, que vale a pena sintonizar com Deus. Porém, se não houver a eficácia da fé, essa sintonia com o Mundo celeste fica comprometida.
Joanna de Angelis diz que, a fé que não produz é semelhante a uma lâmpada que não esparzi claridade. Portanto, de nada adianta a criatura estar voltada para Deus, reverenciar os ensinamentos evangélicos, passar anos e anos frequentando uma casa espírita, onde usufrui, das palestras que ouve, dos passes magnéticos que toma, e da água fluidificada que bebe, se permanece naquela fé sem obras.
Continua o Espírito:
A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim visado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não chegue a vencer.
O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito Protetor. (Paris, 1863).
A fé humana nada mais é do que a mesma certeza, a mesma vontade de querer, voltada para a ação, para as aspirações de ordem terrena, como define o Espírito Protetor para nós. A única diferença se evidencia quando direcionamos as nossas forças, movidas pela vontade, para as necessidades terrenas ou para as aspirações celestes. É isso, então, que vai diferenciar cada aspecto da fé.
É importante que nós tenhamos em mente o seguinte: ao nortear a nossa existência dentro dos parâmetros evangélicos, a eficácia da fé só será mostrada através das nossas obras.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que a fé necessita de obras?
R – Porque não basta a fé, simplesmente, estar em nossa consciência. É necessário que a tornemos verdadeira, dando-lhe eficácia, isto é, ela deve nos impulsionar para Deus, através do serviço em favor do próximo.
2 – Que mudanças nos acarreta a fé?
R – Otimismo sadio, vontade de viver, esperança firme, valorização do sentimento de amor ao próximo, melhor utilização do tempo, em face da consciência do progresso que temos a alcançar, e muito mais.
Daí nós concluirmos que:
A fé desperta todos os instintos nobres que encaminham a criatura para o bem. É nela que se sustentam a esperança e a caridade. Contudo, é necessário o exemplo das obras para que ela seja eficaz e verdadeira; tem que ser ativa para ser proveitosa.

Então, é através dessa certeza, que fazemos dos ensinamentos de Jesus a nossa bússola. E uma confiança irrestrita, com certeza, vai fazer com que, cada vez mais, cada dia mais, desperte dentro de nós todos aqueles instintos mais nobres que trazemos em gérmen, ou seja, que façamos brilhar a nossa luz.
*************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO

Capítulo XIX – A Fé religiosa. Condição da fé inabalável– Itens 6 e 7.
ITEM 6.
Comentário de Kardec a respeito:

Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas (ponto indiscutível de uma crença religiosa) especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar (recomendar com louvor) alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
Kardec, ao nos passar as suas ideias a respeito do que considera ser a fé religiosa, nos foi muito claro. Evidenciando que há uma diferença de aspecto. A fé pode ser raciocinada ou cega.
A finalidade principal da religião, conforme a própria palavra diz, é propiciar à criatura religar-se com o Criador. A religião cumpre a tarefa relevante de convidar o homem aos deveres mais elevados, que são os espirituais, munindo-o com os recursos inteligentes e preciosos para consegui-lo. A fé cega, por nada examinar, leva a criatura a aceitar, sem verificar, qualquer coisa. Verdadeiro ou falso. E qual a explicação lógica para isso? É simples. Aqueles que detinham o poder religioso, embora, com o passar do tempo, os esclarecimentos fossem se apresentando, não tinham interesse em perder o poder. Mesmo que fatos inquestionáveis demonstrassem que muitas daquelas ditas verdades não eram tão verdadeiras assim. E aqueles que persistiam no conhecimento religioso tinham que impor esse conhecimento, através de uma suposta fé, de uma crença naquelas informações, sem questionamento. Por isso os dogmas foram criados, justamente para não haver explicações. E as criaturas aceitavam ou fingiam que aceitavam, por um medo justificado, muito natural, de sofrer represálias da parte dos pretensos prepostos de Deus. Então, a essa crença imposta por aqueles que não tinham como provar as suas informações pela lógica, pelos argumentos corretos, pelo raciocínio, e que impunham às criaturas pelo medo ou pela superstição, é que Kardec se refere, nos mostrando que esse tipo de fé, de crença, não tem sustentação. E não tendo sustentação, facilmente, mais cedo ou mais tarde, vai acabar se desmoronando. E a fé embasada no raciocínio e na lógica, a verdadeira fé, vai sendo construída aos poucos, incessantemente. Já dissemos que a conquista da fé não é tarefa tão simples. São necessários, muito esforço e compreensão. Não é simplesmente a criatura dizer: a partir de agora eu tenho fé. Não pode ser assim. A fé raciocinada se apresenta para nós para ser questionada, para ser aceita. Ela se funde com o nosso conhecimento científico, moral e o sentimental. Por isto, é que ela é forte. Ninguém poderia no início dos tempos ter uma fé consolidada em alguma coisa, porque desconhecia como aquela coisa funcionava. Mas hoje já podemos ter fé em determinadas coisas, porque nós sabemos como elas funcionam. Já nos foi provado que essas coisas são fatos. Portanto, verdades. Podemos até tomar como exemplo uma criança. Ao ouvir o pai ou a mãe mandar que execute alguma coisa, ela executa por causa do instinto. Ela acredita sem ter conhecimento. É uma fé cega. Com o passar do tempo, quando se torna jovem, ela passa a acreditar não pelo instinto, mas porque sabe, porque das vezes anteriores que executou o serviço não houve problema algum. Ela fez porque confia. E fé, nós sabemos, quer dizer confiança. Na realidade, nós só adquirimos confiança com o tempo. Por mais que queiramos dizer que confiamos sem provas disso, a nossa intenção de confiança não será verdadeira. Seria enganarmos a nós mesmos. Estaríamos agindo baseados numa fé cega.
As vaidades humanas também estabelecem preconceitos com respeito aos credos religiosos. Separam as criaturas e crivam-nas de maldições, perseguem os seres, e sobrepõem, aos ensinos de que as religiões se fazem portadoras, a mesquinhez das paixões perniciosas.
A fé cega para se impor, faz a criatura abdicar de dois dos mais preciosos privilégios dela, o raciocínio e o livre-arbítrio. Então, ter fé é ter confiança pelo conhecimento adquirido; é a centelha de Deus fazendo brilhar a nossa luz; é a certeza de poder afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão.
A propósito, fomos buscar em Atos dos Apóstolos, o seguinte trecho:
Havendo Jesus concluído os ensinos preparatórios para que seus discípulos pudessem receber o Espírito, estes viram o grande Messias, de volta a eterna morada, ir-se elevando aos ares até que desapareceu aos olhos de todos. – Convém lembrar que Jesus ficou quarenta dias, depois de sua morte, com seus discípulos -. Também é oportuno lembrar, que essas aparições encheram de fé e ergueram os galileus conturbados pela morte de seu Mestre e fizeram com que encarassem sem medo todos os tropeços, afrontassem todos os suplícios, vencessem todas as barreiras.
Continuando: Sob a influência de generosos sentimentos, iluminados por essa esperança que só a verdadeira fé pode dar, é que eles, descendo o Monte das Oliveiras, onde haviam recebido as orientações do Cristo, voltaram para Jerusalém, onde ficaram aguardando a visita do Espírito Consolador, para iniciarem a missão redentora que com tanta coragem desempenharam. E então passaram mais ou menos dez dias em profunda meditação, em fervorosas orações, mantendo os sentimentos da mais viva fraternidade. Dentre todos, além dos doze apóstolos, salientavam-se as santas mulheres, e o total formado era de cento e vinte pessoas. Portanto, justificada nesses princípios, nossa fé se ergue poderosa, inabalável, semelhante àquela “casa construída sobre a rocha”.
Foi interpretando essa grande virtude, que Paulo de Tarso dedicou toda a sua grande Epístola aos romanos, chegando a afirmar que todos os grandes da antiguidade, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas dos leões, extinguiram a violência do fogo, evitaram o fio de espadas; de fracos se tornaram fortes, fizeram-se poderosos e puseram em fuga exércitos estrangeiros.
Quando a fé cega nos era imposta no passado, nós achávamos que o planeta Terra era o centro do Universo, e que fora o único criado por Deus, para habitar seres racionais. Veio a ciência, e nos mostrou que não era bem assim. O Orbe terrestre é um planeta como qualquer outro.
Ao Espiritismo está assinalada pela Espiritualidade Superior a missão de varrer o fanatismo, o partidarismo e o dogmatismo, nódoas das imperfeições humanas. Nos mostrar uma fé com raciocínio, embasada no conhecimento dos fatos, onde nós podemos verificar tudo aquilo que nos é ensinado.
“Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”, nos disse Allan Kardec. No conhecimento, portanto, a libertação, na ignorância, a escravidão. E no livro A Gênese ele deixou grafado: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”. Isto quer dizer que: Pela ótica espírita, tal como o conhecimento realmente científico, o autêntico pensamento religioso persegue a verdade e, diante dela, curvam-se ambos. Então, na prática, caso um fato novo se apresente aos espíritas, e que balance um pouco o nosso entendimento, a nossa interpretação e, por conseguinte, a nossa fé, nós teremos que reformular a nossa interpretação, porque as coisas só acontecem de acordo com a nossa capacidade para entende-las.
Daí nós podermos afirmar que a fé que nós temos hoje em Deus, no nosso guia e modelo que é Jesus e na Doutrina dos Espíritos, é muito maior do que nós tínhamos quando começamos a estudar o Espiritismo.

Vamos destacar algumas questões para reflexão;
1 – O que podemos entender por fé cega?
R – É a fé que tudo aceita ou rejeita sem exame.
É a antítese da autêntica fé cristã, nascida do amor à verdade.
2 – A fé verdadeira é baseada em quê?
R – É baseada no conhecimento dos fatos e, necessariamente, iluminada pela razão crítica.
“Mais vale rejeitar dez verdades que admitir uma só falsidade”.
3 – Podemos impor a verdadeira fé?
R – Não. Ela é adquirida. Construída aos poucos, com embasamento na lógica e na razão.

Daí nós concluirmos que:
A fé verdadeira, inabalável, tem a marca da razão. Ninguém pode crer senão naquilo que sabe, que conhece por experiência pessoal. Esta a fé viva, raciocinada, que sustentará a ciência religiosa e a religião científica que, como irmãs gêmeas, irão tornar claro os novos caminhos.
A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu.
Nos assegurou Kardec:
“Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade.


 ************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO

Capítulo XIX – A Fé transporta montanhas – Poder da Fé – Itens de 1 a 5.
ITEM 1.
Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar. Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (Mateus, cap.XVII,vv.14 a 20 ).
Esse tema Ter Fé que, de certo modo, é um pouco difícil de ser abordado, pois, que, muitas vezes, é julgado de maneira precipitada, como algo simples ou muito fácil de se entender.
Nesta passagem do Evangelho, o que impediu os discípulos de curarem o menino, como fez o Mestre, foi a falta de fé. Embora os discípulos tivessem empenho e boa vontade, faltava-lhes a fé verdadeira; faltava-lhes a confiança; faltava-lhes a certeza de atingir o objetivo maior.
Então, o que é ter fé? Ter fé é a crença em algo; é ter confiança; é o crédito que a criatura dá àquilo em que confia, estudando, examinando, pesquisando, sem espírito preconcebido. É guardar no coração a certeza em Deus. Certeza que ultrapassa o âmbito da crença religiosa, crescendo sempre no conhecimento e na vivência do Evangelho de Jesus.
Ter fé é estabelecer ou ter sintonia, harmonia entre o espírito humano e o espírito divino. Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Conseguir a fé então é alcançar a possibilidade de não mais dizer “Eu creio” mas afirmar “Eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento.     Portanto, a conquista da fé não é tarefa tão simples, nem tão fácil. São necessários, muito esforço e muita compreensão. E essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida. Jesus disse aos judeus que criam nele: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (João, cap.VIII,vv.31 e 32).
O Mestre ressaltou que, se nós tivéssemos fé apenas do tamanho de um grão de mostarda, convém lembrar que a mostarda é o menor grão que existe, já seria uma fé suficiente para movimentarmos uma montanha daí para ali. É claro que o objetivo de Jesus com essa alegoria era nos mostrar que a fé tem um poder imenso, se bem sentida e bem desenvolvida. E ao usar a palavra montanha se referia a todas as dificuldades, todo o entrave que as provas e os desafios da vida material nos confere. A fé remove a montanha da má vontade, a montanha do egoísmo, a montanha do orgulho, a montanha do interesse material, a montanha da cegueira do fanatismo, a montanha da resistência aos ensinamentos do Cristo, que devemos transpor. Quer dizer, a fé remove as montanhas dos desafios que todos nós temos que superar. Na verdade, cada desafio superado é uma prova vencida, ultrapassada. É uma montanha que trocamos de lugar.
Jesus nos orienta a buscarmos a verdadeira fé, pois, com ela podemos superar todos esses obstáculos. Uma vez compreendido e conquistado, de uma forma profunda, o ensinamento da fé dentro de nós, agregamos uma virtude, traduzida na certeza da assistência de Deus. Exprimindo a confiança de quem sabe enfrentar todas as lutas e problemas sob a luz divina. A fé pode ser alcançada por todas as criaturas. Bastando para isso que ela inicie o fortalecimento dessa fé no seu interior. Já dissemos que para isso é necessário um trabalho diário, com esforço e sacrifício. É comum dizermos que temos fé, que acreditamos que Deus virá nos ajudar, e que tudo será resolvido, todos nós acreditamos nisso, quando a nossa vida transcorre dentro de uma normalidade, mas diante do primeiro obstáculo, da primeira dificuldade, ou seja, da primeira montanha, ficamos desequilibrados, girando em torno de nós mesmos procurando algo para nos apoiar, e não encontrando. Às vezes, simplesmente, determinamos pra Deus o que é melhor para nós. Aí nós pedimos: Senhor, faça com que eu consiga isso ou aquilo, ou então começamos a reclamar dizendo que Deus nos abandonou na pior hora. Onde está a nossa fé que dissemos outrora que tínhamos? Com uma pequena reflexão, a criatura descobre que a sua fé ainda é pequena, é uma fé vacilante.
É claro que temos o direito de usar o nosso livre-arbítrio. Somos consciências livres e podemos pedir o que quisermos. Porém, nós não sabemos de fato o que é melhor para a nossa evolução.  Feliz daquele que descobriu que aquilo que parece uma tragédia, na realidade não o é, apenas algo para o nosso adiantamento espiritual, e sabe que entregando o problema na mão do Pai, Ele resolverá da melhor maneira. É preciso que se tenha fidelidade e confiança em Deus e em suas leis, para aceitar resignado as dificuldades. Porém, essa resignação diante das dificuldades não significa ficar sentado, com os braços cruzados, achando que merece o sofrimento, aguardando uma grande virada na situação.  Aquele que possui a fé verdadeira é sempre auxiliado pelos bons Espíritos, e terá forças para lutar e transportar as montanhas que encontrar no caminho.
O espiritismo nos ensina e nos esclarece sempre, esta é a finalidade da doutrina, mas cabe a cada um de nós ir a busca destes ensinamentos e nos aprimorarmos.
Dentro da luz do espiritismo a fé é o discernimento conquistado pelo Espírito ao longo de sua jornada evolutiva, contínua, ascendente e infinita. A fé pode ser desenvolvida por vários fatores. E quem quiser ser forte em termos espirituais, com naturais consequências na vida material, deve procurar desenvolver essa potencialidade que dormita em nosso coração. Alguns procedimentos podem ser tomados para que a fé seja fortalecida. O primeiro deles, é ter paciência, saber esperar. Sim, pois a fé não se conquista do dia para a noite. Outro procedimento indispensável é a oração. Com ela, protegemo-nos da influência dos maus Espíritos e abrimos nosso coração para a inspiração dos nossos guardiões invisíveis. A fé, quando desenvolvida, pode ser um grande instrumento da prática do bem. Com ela, podemos estender as mãos abençoando os que sofrem, doentes, obsedados, perdidos. Com a fé, e orando, podemos limpar o ambiente onde vivemos, onde trabalhamos. Com ela, se está salvo a qualquer instante. Por ela, se recebe de Deus o socorro, a inspiração, a solução para todos os males.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Com relação à passagem evangélica estudada, o que impediu os discípulos de curarem o menino, como fez Jesus?
R – A falta de fé. Embora todo o empenho e boa vontade dos discípulos faltava-lhes, ainda, a confiança, conforme demonstrou Jesus.
Muitos percalços e dificuldades que enfrentamos em nossa vida, se devem, também, à nossa falta de fé, à nossa incredulidade.
2 – Como devemos proceder para conquistar a fé?
R – Abrindo nossa mente e o nosso coração ao estudo do Evangelho, com o firme propósito de nos reformar intimamente, mediante a vivência dos seus ensinamentos.
“A fé robusta dá a esperança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, como nas grandes”.
3 – Por que a fé legítima está associada à humildade?
R – Porque só é possuidor da fé verdadeira aquele que confia em Deus mais do que em si próprio, e isto vem a ser demonstração de humildade.
Daí nós concluirmos que:
A fé se traduz pela confiança que se tem em Deus e em si próprio, com vistas à realização de alguma coisa; confiança essa que dá a certeza de se atingir o objetivo. A fé, para ser poderosa, tem que ser sincera, verdadeira e humilde, virtudes que são conquistadas através do estudo e vivência do Evangelho.
Joanna de Angelis no livro Lampadário Espírita nos diz:
Não espere que a fé te busque.
A fé não se doa, não se transmite.
Essa chama divina arde em todas as almas, aguardando o combustível do esforço de cada um para agigantar-se e clarear o espírito como mensagem de Deus.

Assim, devemos aproveitar este estudo para fortalecer a nossa fé, colocando em prática as lições aprendidas como bons alunos. Não vamos assimilar pelo sofrimento e sim pelo esclarecimento. E que, cada vez mais, possamos ampliar a nossa fé.
*********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO

Capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos – itens de 13 a 16. Instruções dos Espíritos. – Dar-se-á àquele que tem e Pelas suas obras é que se reconhece o cristão.
ITEM 13:
Aproximando-se dele, seus discípulos lhe disseram: Por que lhes falas por parábolas? Respondendo, disse-lhes: É porque, a vós outros, vos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, ao passo que a eles isso não foi dado. Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará. Por isso é que lhes falo por parábolas; porque, vendo, nada veem e, ouvindo, nada entendem, nem compreendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías, quando diz: Ouvireis com os vossos ouvidos e nada entendereis; olhareis com os vossos olhos e nada vereis. (Mateus, cap. XIII, vv. 10 a 14).
ITEM 14:
Tende muito cuidado com o que ouvis, porquanto usarão para convosco da mesma medida de que vos houverdes servido para medir os outros, e ainda se vos acrescentará; pois, ao que já tem, dar-se-á, e, ao que não tem, até o que tem se lhe tirará. (Marcos, cap. IV, vv. 24 e 25).
Vamos procurar entender o que Jesus quer  dizer, através das citações de Mateus e de Marcos. Nós já sabemos que as parábolas são alegorias que contêm preceitos de moral.   Ditas aos que ouviam ansiosamente, procurando compreender seus discursos, a parábola tornava-se excelente meio elucidativo dos temas e das dissertações do Mestre. Mas os que não buscavam na parábola a figura que compara, a alegoria que representa a ideia espiritual, e se prendiam à forma, desprezando o sentido, para estes a Doutrina nem sequer aparecia, conservava-se oculta. Daí a resposta do Cristo aos discípulos que Lhe perguntaram a razão Dele falar por parábolas: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, ao passo que a eles isso não foi dado. Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. Por isso é que lhes falo por parábolas, porque vendo não veem; e ouvindo não ouvem, nada entendem, nem compreendem”.
O objetivo deste estudo é refletir sobre o nosso modo de ver e de ouvir no sentido de edificar o homem novo apregoado pelo Evangelho, dentro de nós. Que tipo de análise nós podemos fazer a respeito desta passagem evangélica e, mais especificamente, sobre a frase: Dar-se-á ao que já tem e tirar-se-á do que não tem.  A princípio, isso pode parecer um paradoxo. Porque, teoricamente, nós quando praticamos a caridade entendemos que, quem já tem não precisa receber. Nós damos ao que não tem nada. Essa é a nossa visão para as coisas materiais, para as coisas do nosso mundo. Com certeza, aquele que tem pouco é que merece receber mais e não aquele que tem muito.          Como Jesus não veio à Terra com a preocupação de nos informar sobre as coisas terrenas, para nos orientar como devemos agir para obter coisas materiais, e disso, Ele sabia, muito bem, de que as criaturas não precisavam, e sim, nos mostrar que existem coisas de maior valor, que as coisas da Terra, fica claro para nós, que Ele estava se referindo às coisas do espírito, às nossas virtudes, que são os nossos bens espirituais. Daí resultando o fato da criatura receber mais ou ter diminuída essas virtudes. Pela passagem evangélica se observa claramente que os fariseus e a maioria dos judeus, ouvindo o relato da parábola, só viam a figura alegórica que lhes era mostrada. Ao passo que com seus discípulos não acontecia a mesma coisa; eles viam e ouviam no ensino, o sentido espiritual que permanece para sempre; não se prendiam à figura ou à palavra. De modo que os fariseus e a maioria dos judeus tinham o coração endurecido e ouviam de mau grado. Ou seja, ouviam, mas não escutavam; viam, mas não enxergavam; porque uma coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do corpo, e outra coisa é ver e ouvir com os olhos e ouvidos do espírito.
A condição que Jesus coloca, como sendo indispensável para possuirmos em abundância é, como diz o texto, “de nós termos”. Mas termos o que? Certamente algum princípio doutrinário unido à boa vontade para recebermos a verdade. E o obstáculo para receber a doutrina é a criatura “não ter”. Não ter iniciação espiritual e não ter boa vontade para recebê-la. Então, a partir deste ponto, nós vamos começar a entender o porquê daqueles que já têm muito receberem mais. Quando a criatura é possuidora de condições espirituais, vai, cada vez mais, obtendo esse tipo de benefício. Porque tudo o que é de bom atrai o que é de bom.   Uma criatura que já esteja fazendo o bem e, cada vez, fazendo mais, os talentos de virtude lhe serão acrescentados. Ao passo que, aquela que está envolvida com as coisas materiais e que não está se preocupando em adquirir alguma virtude ou, aquela que, eventualmente tenha alguma virtude e também não se preocupa em desenvolve-la, nada lhe será acrescentado.
A parábola diz que, o pouco que se tem ainda será tirado. E como vamos entender isto? É claro que Jesus usou um termo comparativo. Porque, se for um bem verdadeiro, uma virtude já consolidada, isto não vai ser tirado. Simplesmente, eles vão parecer diminuídos, ou, até, esquecidos, perante o nosso interesse pelas coisas materiais. Podemos exemplificar da seguinte forma: tomemos uma brasa de carvão. Se ela não for abanada, se não houver vento para se manter viva, ela vai se apagando, até ficar totalmente extinta. Porém, o carvão permanece ali, onde o colocamos aceso. É, esta, a ideia contida na alegoria.
ITEM 15:
Nesse item, Instruções dos Espíritos, o Espírito comunicante, que apenas se identificou com Um Espírito Protetor, comentando essas passagens evangélicas deu um outro exemplo: Dois herdeiros receberam terrenos e sementes para o cultivo das áreas. Cada um recebeu uma área de igual tipo de terra e tamanho. A mesma quantidade de sementes de igual qualidade. Um, preparou a terra adequadamente; semeou corretamente e irrigou a terra, como tinha que ser irrigada. No período próprio à colheita teve um bom resultado. Grande quantidade e ótima qualidade do produto. Então, ele pegou parte do produto e transformou em novas sementes, refazendo todo aquele trabalho de preparo da terra. E assim procedeu, período após período, plantando e colhendo. Ao passo que o outro não se preocupou em preparar a terra adequadamente; não semeou corretamente; apenas jogou as sementes na terra e não a irrigou como tinha que ser irrigada. No período próprio à colheita não teve um bom resultado. A quantidade colhida foi pequena e a qualidade do produto não foi boa. Consequentemente, a parte destinada à conversão em sementes novas, foi bem menor que a do seu irmão. E a cada colheita, a parte destinada a se transformar em novas sementes diminuía.   Não fica difícil para nós, percebermos que a diferença total de colheita entre os dois irmãos vai ficando cada vez maior. Aquele que usou bem aquilo que recebeu, multiplicou os talentos recebidos. Muito lhe foi dado. O outro, que não usou bem aquilo que recebeu, diminuiu os seus talentos. Muito lhe foi tirado.
O Espírito comunicante nos diz que não é Deus quem retira o pouco que a criatura tem. É a própria criatura que, por ser descuidada, não sabe conservar o que tem e muito menos aumentar esses talentos. Essa comparação entre os dois herdeiros da alegoria explica perfeitamente a frase do mestre: “Àquele que já tem, mais se lhe dará; Àquele que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará”. Então, se nós não cuidarmos dos bens que deveríamos cuidar; se nós não multiplicarmos os talentos que recebemos; se nós não desenvolvermos as poucas virtudes que tivermos, vai acontecer conosco o que aconteceu ao herdeiro descuidado. Agora, se nós dermos um polimento nas nossas virtudes, com certeza, elas atrairão outras virtudes. Ou seja, outras pessoas com as mesmas virtudes que as nossas ou, com mais virtudes, serão atraídas para o nosso convívio. Atrairemos seres da mesma condição nossa, sejam encarnados ou desencarnados. Porque, nós recebemos as coisas com o mesmo teor vibratório como enviamos. Quando a nossa intenção é a elevação moral e espiritual, sintonizamos com vibrações superiores, que se tornam estímulos vigorosos, produzindo harmonia interior e renovação. De nada adianta a pessoa saber muito, ler muito, estudar muito se, na hora da verdade, na hora que tem que dar o seu testemunho, que tem que colocar em prática a multiplicação dos talentos desperdiça esta ocasião. É importante lembrar que, isso vai nos ser cobrado; o Senhor vai nos pedir contas dos talentos que deixou conosco.
Segundo o espírito Marco Prisco, no livro Luz Viva, a nossa ascensão depende muito do nosso esforço, através do autoburilamento e, mediante o que produzirmos em favor do próximo. Dessa forma, estaremos fazendo exatamente aquilo que Jesus nos recomendou.     O que não alcançarmos agora, insistindo, conseguiremos depois.
ITEM 16: Pelas suas obras é que se reconhece o cristão
No item anterior, nós tomamos conhecimento da condição que Jesus coloca pra nós no intuito de recebermos mais talentos, que é a de ouvirmos e vermos com os ouvidos e os olhos do espírito. O espírito Simeão comentando esse item que estamos estudando, faz um alerta: “Abri os ouvidos, que é chegado o momento de ouvir”. Ele ainda faz indagações: Será bastante, a criatura vestir um uniforme do Senhor, para ser um fiel servidor seu? Bastará a criatura dizer: Sou cristão, para que seja uma seguidora do Cristo? Os verdadeiros cristãos são reconhecidos pelas suas obras. “Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons”. – “Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo”. São do Mestre essas palavras. Vejam bem! Como o Espiritismo é o Cristianismo redivivo e nós somos espíritas, vamos transportar esses ensinamentos para as lides espíritas.
O que é ser espírita? Se nós consultarmos o dicionário ele nos indicará tratar-se de pessoa vinculada ao Espiritismo; Se perguntarmos a quem não é espírita, uns dizem que são aqueles que falam com os mortos outros não querem saber; Se indagarmos aos próprios espíritas, uns dirão que é ir ao Centro ou à Casa Espírita, tomar passe, ouvir palestras, ler livros da Codificação. Outros dirão que é fazer caridade. As respostas serão várias, mas todas incompletas.
Em o Livro dos Espíritos, na conclusão, item VII, Allan Kardec apresenta uma classificação dos adeptos da Doutrina Espírita:       Os que acreditam; Os que acreditam e admiram a moral espírita; e Os que creem, admiram e praticam. E segundo o Codificador, esses últimos são os verdadeiros espíritas, ou os espíritas cristãos. No capítulo XVII, nos itens “O homem de bem” e “Os bons espíritas”, podemos compreender que as características coincidem com os preceitos morais que justificam a denominação de espíritas cristãos. As palavras de Jesus, nós podemos encontrar repetidas, com muita facilidade, em várias bocas. É muito fácil nós ouvirmos, seja na Casa Espírita ou em qualquer outro ambiente, alguém falando de Espiritismo, e sabendo de cor os ensinamentos do Mestre. O difícil é esse alguém dar testemunho. Muita gente professa uma doutrina, mas não pratica. Tomemos como exemplo uma criatura que se declara adepta do Espiritismo. Faz propaganda da ideia espírita. Isto é fácil, mas o difícil para essa criatura, que está mergulhada nos seus problemas, é exemplificar o que prega. Assim somos nós. Repetimos o tempo todo: Senhor! Senhor! Falamos sobre os ensinamentos do Cristo. Passamos para as pessoas que estão nos ouvindo essas coisas maravilhosas do seu Evangelho. E, até Achamos que somos uma árvore boa, que estamos dando bons frutos. Porém, no momento em que somos contrariados, que somos atingidos na nossa vaidade, que o nosso orgulho é ferido, ocasião em que deveríamos mostrar todo o nosso conhecimento com exemplos, provar que estamos neste Mundo, mas não somos propriedades dele, o que fazemos? Passamos de laranja lima para limão. E, aí, nós nos certificamos de que ainda somos uma árvore péssima, o nosso fruto é azedo. Então, repetem-se aqui as palavras de Jesus: “Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”.       Ora, se o Mestre se decepcionasse, seria, primeiro conosco. E para nossa sorte, Jesus é o extremo da paciência. E a sua paciência para conosco é uma coisa admirável. Ele está sempre à nossa espera, mesmo que sigamos pelo caminho que nos leva à porta larga, espalhando espinhos. Pois sabe que nós temos que voltar, pelos nossos passos e pisar nos espinhos que nós mesmos espalhamos. E no momento em nós pararmos para pensar, fazermos uma reflexão, nós vamos recorrer ao divino: Meu Deus! O que é que eu estou fazendo? E nesse momento, nós vamos nos envergonhar, porque, vamos lembrar das nossas prédicas, feitas para os nossos irmãos, que acharão lindas, mas não sabem da maneira como procedemos, às vezes, prejudicando nosso semelhante. Portanto, devemos abrir os nossos ouvidos, os nossos olhos e os nossos corações, para cultivarmos a árvore da vida. Aquele que a plantou nos convida sempre para cuidar dela com amor, para colhermos em abundância seus frutos divinos. Não sejamos maus jardineiros. Devemos conserva-la como Jesus nos deu: produzindo sombra generosa para abrigar os necessitados; produzindo frutos benfazejos para alimentar os famintos. Não devemos, portanto, guarda-los e deixar apodrecer, sem ter serventia para alguém. O espírito Simeão encerra o seu comentário dizendo: “A árvore que dá bons frutos tem que os dar para todos. Ide, pois, procurar os que estão famintos; levai-os para debaixo da copa da árvore e partilhai com eles do abrigo que ela oferece”. Se nós nos dizemos espíritas, que o sejamos; esquecendo o mal que nos foi feito e pensando só numa coisa: o bem que podemos realizar. E para que coloquemos isso em prática, temos que nos esforçar para vencer as más tendências que ainda habitam em nós.
Eis o que é verdadeiramente ser espírita: a adoção dos preceitos morais como diretrizes da própria conduta ou o esforço para a eles se adaptar. O ser espírita é mais uma questão de foro íntimo, que de aparências externas.             Portanto, não devemos descuidar em acender a luz do Evangelho em nós; no plantio de uma árvore generosa e frutífera no caminho; no atendimento fraternal diante do irmão necessitado, ainda, que, não exemplifiquemos tudo o que estamos estudando. Mas enquanto não praticarmos todas as lições, nós precisamos repeti-las. Porque, à medida que vamos aguçando o nosso olhar e a nossa audição sobre elas, vamos também nos libertando de nossos erros. Tornando-nos numa pessoa nova, num ser preocupado em colocar em prática os ensinamentos trazidos por Jesus. Se nos encontramos realmente empenhados na execução do bem, ouviremos, decerto, as provocações do mal em todos os instantes de testemunho. Para vence-las, devemos: buscar a luz onde a luz se encontre; desculpar toda a ofensa; eleger a fraternidade como bandeira; conjugar o verbo servir onde estivermos; começar o trabalho de redenção em nós mesmos; orar por quem nos fere ou calunie; amar os próprios adversários; ajudar sem exigência. Contudo, para o exercício se semelhante apostolado, não passaremos sobre a Terra sem o assédio da incompreensão e do escárnio. Em cada situação do caminho, é possível registrar o chamamento celeste: no seio familiar, ante o irmão desconhecido, à frente do adversário, ao pé do enfermo, diante do ignorante e junto à criança. Nas menores experiências, no trabalho ou no lazer, no lar ou na via pública, eis que nos convida ao exercício incessante do bem.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que muitos que dizem “Senhor! Senhor!”, não entrarão no reino dos céus?
R – Porque aqueles que dizem apenas palavras soltas, sem refletirem o que lhes vai ao íntimo, não são agradáveis a Deus. A Ele agrada mais a devoção sincera, partida do coração e, acima de tudo, comprovada por atitudes no bem.
Nem sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é acompanhado de atos que identificam o verdadeiro cristão.
2 – E qual é a vontade do Pai que está nos céus?
R – Que nos comportemos como verdadeiros cristãos e façamos o bem nos termos ensinados por Jesus, não importando a qual religião pertençamos.
Não é o título religioso de que somos detentores que nos levará ao Pai, mas sim nossas obras.
3 – Como se reconhece o verdadeiro cristão?
R – Pelas suas atitudes com relação ao próximo, pelas obras que pratica e pela sua vivência real dos ensinamentos do Cristo.
O verdadeiro cristão se revela pela sua reforma íntima e pelo esforço que faz por vencer os maus pendores.
Daí nós concluirmos que:
Diante de Deus só se obtém méritos, através de obras no bem, e não através de simples religiosidade, muitas vezes falsa ou de cunho exterior. É no Cristianismo que se encontram todas as verdades e não propriamente em alguma religião em particular.

“Administra, onde estiveres, o auxílio espiritual com a alavanca do próprio equilíbrio. Vigilância sem violência. Calma sem preguiça. Consolo sem mentira. Verdade sem drama”. “Se já sabes o que deves fazer, no plano da alma, trazes o coração chamado a instruir, e um professor verdadeiro, enxergando mais longe, não apenas informa e ensina, mas também socorre e vela”. (Emmanuel).
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO

Capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos – itens 10 a 12 – Muito se pedirá àquele que muito recebeu.
ITEM 10:
Muito se pedirá àquele que muito recebeu
O servo que souber da vontade do seu amo e que, entretanto, não estiver pronto e não fizer o que dele queira o amo, será rudemente castigado. Mas, aquele que não tenha sabido da sua vontade e fizer coisas dignas de castigo menos punido será. Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado. (Lucas, cap. XII, vv. 47 e 48).
Este tema, como tantos outros do evangelho de Jesus, nos chama à responsabilidade e nos convida a fazer uma avaliação de tudo aquilo que nós estamos aprendendo, através da Doutrina Espírita.
Então, o que queria dizer Jesus, com estas palavras: Aquele que recebeu muito e não trabalhou, muito será exigido; mas aquele que pouco recebeu e também fez coisas dignas de repreensão, pouco será exigido. Na verdade, Ele queria dizer que os talentos que nós recebemos de Deus devem ser multiplicados, em favor do nosso próximo, sejam eles bens materiais ou não.
O conhecimento desses talentos nos impõe uma responsabilidade maior, perante a Providência Divina e aos nossos semelhantes. A Providência Divina nos cobra na mesma proporção que Ela nos dá esses talentos. Por esta razão, se muito recebermos maior será a nossa obrigação de doarmos, em favor dos nossos irmãos de caminhada.
Dessa forma, com esse tema proposto: Muito se pedirá àquele que muito recebeu, nós vamos meditar a cerca de tudo aquilo que já agregamos das informações que a Doutrina Espírita nos forneceu, e como nós estamos realizando as tarefas, em função do que conhecemos, não só no campo religioso, mas, sobretudo, na vida como um todo. Porque, na verdade, nós não podemos separar da ideia religiosa as nossas atitudes religiosas, e restringi-las somente aos limites dos muros da Casa Espírita.
Os preceitos do Cristo estão difundidos somente no seio das seitas cristãs. E dentro destas, quantos há que não os leem, e, entre os que leem, quantos os que os não compreendem! Resulta daí que as próprias palavras do Mestre são perdidas para a maioria dos homens.
Muitas vezes, nós nos deixamos envolver por circunstâncias da vida e somos conduzidos a fazer coisas sem prestarmos atenção naquilo que estamos realizando. Mesmo quando se trata de um trabalho religioso. E, por que isso? Porque a nossa tendência é criar um ritmo de ação mecânico, no qual estão ausentes as essências do amor e da caridade. E, nessa situação, não avaliamos se o que estamos praticando reflete o que realmente foi ensinado por Jesus.
A maneira como nós desenvolvermos as tarefas práticas ou teóricas vai mostrar, logicamente, para todos os que estão ao nosso redor, como é que foi entendida por nós a doutrina do Cristo. Por isto, é que essa avaliação sugerida tem que ser constante.
Ora, se nós já estamos estudando as orientações do Mestre, se nós já entendemos que fora da caridade não há salvação, nós temos que doar esses talentos recebidos, na mesma proporção. Mas acontece que muitos companheiros de caminhada, detentores de muitos conhecimentos, não percebem a importância e a responsabilidade de sua ação diante de seu próximo. Muitos, até participam, porém, de forma não efetiva. Vão à Casa Espírita, mas não colocam os conhecimentos adquiridos, na vida prática.
Quantas vezes, por comodidade, a criatura só retira dos ensinamentos de Jesus a parte material? Ela se acomoda e não retira a sabedoria, que só pode ser retirada através de ações.
A caridade só é caridade se ela entrar em ação, se ela for dinâmica, aplicada na nossa vida prática. Enquanto ela ficar somente na teoria e no papel, ela não será caridade.
Emmanuel nos diz que tudo na vida demanda um sacrifício. Tudo na vida tem um preço, entre aspas. E exemplifica: “O peixe mora gratuitamente na água, mas deve nadar por si mesmo. A árvore, embora não pague imposto pelo solo em que se vincula, é chamada a produzir conforme a espécie.
Ninguém recebe talentos da vida para esconde-los em poeira ou ferrugem”. E diz mais, que nós nascemos para realizar o melhor.
Quando ele diz que “o peixe mora gratuitamente na água, mas deve nadar por si mesmo”, ele nos mostra que todas as nossas ações, que nos levarão a construir algo para nós, para a nossa evolução e felicidade e, que, consequentemente, deverá ser vivenciada em conjunto, através da lei de solidariedade. Nós somos seres sociais e, por isto, precisamos viver em sociedade. Ele quer nos dizer, com certeza, que para isso vai demandar de nós um certo sacrifício, ainda que Deus nos ofereça talentos de graça.
Deus nos dá talentos múltiplos, como por exemplo: o talento da saúde, da inteligência, da mediunidade, enfim, todo o necessário para que nós utilizemos no nosso progresso e, consequentemente, no progresso e no bem dos nossos semelhantes. Embora Ele nos ofereça gratuitamente todos esses talentos, é preciso que a gente se esforce. E, isto é, de alguma forma, um preço, entre aspas. E esse preço é justamente o nosso esforço para a nossa evolução, que, quase sempre, não queremos pagar.
Para encerrarmos esse item, vamos reproduzir um trecho de Paulo, retirado de sua Epístola aos Romanos, capítulo XII, vv. 2 a 18, que diz o seguinte:
“Não vos adapteis às conveniências e convenções do mundo, mas transformai-vos pela renovação do entendimento, de modo a conhecerdes os desígnios de Deus, para que a vossa tarefa se faça agradável e útil”.
Desse modo, existindo diversos dons, segundo as concessões que nos são dadas, se nos cabe a profecia seja ela praticada, na medida de nossos recursos; se convocados à administração, ocupemo-nos em administrar; se localizados no ensino, devotemo-nos à instrução; os que exortem, usem as suas possibilidades em exortar; os que foram trazidos a repartir, procedam com liberalidade; quem preside, seja prudente; corações chamados ao exercício da misericórdia, empreguem a misericórdia com alegria”.
ITEM 11:
Vim a este mundo para exercer um juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos. Alguns fariseus que estavam com ele, ouvindo essas palavras, lhe perguntaram: Também nós, então, somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecados; mas, agora, dizeis que vedes e é por isso que em vós permanece o vosso pecado. (João, cap. IX, vv. 39 a 41).
Essa citação de João é um complemento da citação anterior.
Na frase: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecados”, Jesus quis dizer que, quanto maior for o esclarecimento da criatura maior será a sua culpa, em não seguir os Seus ensinamentos. Ora, os fariseus, que alardeavam ser os mais esclarecidos da sua nação, e, realmente eram, mais culposos se mostravam aos olhos de Deus, do que o povo ignorante.
O mesmo se aplica hoje, às criaturas que estudam o Evangelho de Jesus. Nenhuma dessas criaturas que receberam diretamente ou por intermédio de outros, todas as informações do Cristo, podem tomar como pretexto ignorância ou, ainda, desculpar-se com a sua falta de instrução ou com a obscuridade do sentido alegórico, ou seja, falta de clareza nas expressões de ideias de forma figurada. Daí não poderem alegar que não realizam o suficiente porque não entenderam.
Então, aquele que não põe em prática para melhorar-se; que as admira como coisas interessantes e curiosas, sem que essas máximas de Jesus lhe toquem o coração, mais culpado é, porque, tem meios maiores de conhecer a verdade.
Na verdade, todos os talentos recebidos precisam ser retribuídos a Deus, através de nossos semelhantes. Quando nós conhecemos as verdades de Jesus e não as colocamos em prática, é que está faltando em nós boa vontade. E esta cegueira voluntária da alma trará uma responsabilidade tanto maior quanto maior for o conhecimento.
Ao estudarmos o Evangelho de Jesus, nós sentimos a necessidade de ter uma conduta compatível com os seus ensinamentos. Porém, ainda não vivenciamos tudo o que estamos estudando. Mas, enquanto não praticarmos todas as lições precisamos repeti-las, para que estejam sempre presentes em nossas mentes e permaneçamos cientes quanto à necessidade de vivenciá-las.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – O que significa a expressão de Jesus: “Muito se pedirá àquele que muito recebeu?”.
R – Que os talentos que recebemos de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.
A Providência Divina nos cobra na mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação de doar em favor do próximo.
2 – O conhecimento espírita propicia mais responsabilidade?
R – Sim. Contudo, maiores alegrias também, se bem praticado.
“Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado, muito será dado”.
3 – Não é mais aconselhável saber menos, pois, assim, menos contas teremos que prestar a Deus?
R – Constitui isso um regozijo efêmero, que apenas fará com que retardemos o nosso progresso, a cuja lei, mais cedo ou mais tarde, inexoravelmente, teremos de nos aderir.
Somos responsáveis, não somente pelos nossos erros cometidos, mas, também, pela nossa inércia, comodismo e má vontade.
Daí nós concluirmos que:
Perante Deus, a responsabilidade dos nossos atos é diretamente proporcional ao esclarecimento de que já somos portadores.
Nós vamos finalizar o nosso estudo com uma frase de Kardec:
“O Espiritismo vem multiplicar o número dos chamados. Pela fé que faculta, multiplicará também o número dos escolhidos”.
ITEM 12.
É um comentário de Kardec sobre os textos dos evangelistas e, por esse motivo, dispensa o nosso comentário sobre o item.

 ******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos – Itens 6 a 9 – Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus.

ITEM 6:
Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, nesse dia, me dirão: Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome? Não expulsamos em teu nome o demônio? Não fizemos muitos milagres em teu nome? Eu então lhes direi em altas vozes: Afastai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniquidade. (Mateus, cap. VII, vv. 21 a 23).
Nós vamos encontrar nos itens que vamos estudar, sérias advertências de Jesus, com referência ao fato de nós seguirmos ou não os seus ensinamentos.
Jesus, por Mateus, disse: “Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus”. Ora, de que serve chamar o Mestre, se não seguimos os seus preceitos? Isto acontece com aqueles que se dizem discípulos do Cristo, que passam o dia inteiro a rezar, e que não se tornam melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com os seus semelhantes.
Paulo dizia que, não basta fazermos a caridade; é preciso que esse gesto seja revestido de amor, de compreensão daquilo que estamos fazendo. Falar é muito fácil, mas cada palavra tem que ter a sua vibração; cada frase tem que ter a expressão de um sentimento. Nós podemos clamar: Senhor! Senhor! Mas se estas palavras não saírem do coração, serão como um sino a ecoar. Afora o som repercutindo aos nossos ouvidos, nada fica. Seria, também, igual a prática utilizada pelos fariseus, que tinham a prece nos lábios e não no coração; honravam as palavras do senhor com atos exteriores de devoção e, ao mesmo tempo, as sacrificavam ao orgulho, ao egoísmo, a cupidez (cobiça) e a todas as suas paixões. Ou seja, desmentiam com os seus atos o que diziam com os seus lábios. Por este motivo, numa outra passagem evangélica, Jesus, também por Mateus, no capítulo XV, vv. 8 e 9 de seu Evangelho diz: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.
Então, nesse nosso estudo estamos vendo que, não adianta-nos bradar o nome de Deus em vão, mas sim não praticarmos a iniquidade, quer dizer, não sermos injustos, perversos, malvados. Devemos sempre fazer a vontade do Pai Criador.
“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”. (Mateus, Cap. VII, v.12).
ITEM 7:
Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que construiu sobre a rocha a sua casa. Quando caiu a chuva, os rios transbordaram, sopraram os ventos sobre a casa; ela não ruiu, por estar edificada na rocha. Mas, aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, se assemelha a um homem insensato que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada; grande foi a sua ruína.(Mateus, cap. VII, vv24 a 27. – Lucas, cap.VI, vv.46 a 49).
Nesta passagem Jesus compara a crença com a construção de uma casa. E são muitos os que interpretam essa passagem de maneira equivocada. Interpretam a construção da casa sobre a rocha ou sobre a areia de uma forma muito material, seguindo o caminho radicalmente oposto ao do caminho cristão, na busca da felicidade. E não é esse o caminho a que Jesus se referiu.
O Mestre nos fala de dois tipos de construção. A boa construção que nasce do estudo, do exame e da observação, para poder se fazer a casa sobre a rocha; e a má construção que é feita sem análise, com os dogmas que são sugeridos, resultando daí a construção da casa sobre a areia.
Na prática, quem quer construir uma boa casa, e que possa, pela sua solidez, resistir às intempéries, procura um bom terreno, e assenta sobre ele uma base de pedra para suportar o peso da casa. Só depois, então, é que ergue as paredes e conclui o prédio.
Outros há que não fazem questão de terreno, nem de alicerce. Constroem em qualquer lugar. E estas casas não oferecem garantia e se tornam perigosas aos moradores.
Assim é na religião. Quem procura com boa vontade e livre de ideias preconcebidas a verdade, e está disposto a abraça-la, está edificando sobre a rocha.
Mas, assim como não é bastante encontrar o terreno para ter a casa feita, também não basta encontrar a verdade para tê-la em si. É preciso construir a crença, como se constrói uma casa.
Quando se encontra a verdade, depois de se estar certo pela investigação, exame, raciocínio, que é, de fato, temos que tratar com urgência da construção da crença, a começar do alicerce e este há de ser forçosamente o mesmo posto por Jesus, a revelação divina, como disse Ele aos seus discípulos: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. (Mateus, cap. XVI, vv. 13 a 19).
E, assim, com o material vindo do céu, que são os ensinamentos do Mestre, com o nosso trabalho e esforço, devemos seguir a recomendação de Francisco de Assis que, na sua perseverança na busca constante de seu objetivo dizia: É necessário que se coloque tijolos na construção de nossas vidas; mas que, a cada dia se coloque pelo menos um tijolo. Assim, vamos, pouco a pouco, construindo a casa da nossa crença que tanto mais sólida e mais segura será, quanto maior for a dedicação que tivermos. A nossa edificação terá a firmeza inabalável da verdade que é Jesus. Será o nosso eterno abrigo.
Desse modo, as marés do mundo podem subir que não encontrarão o caminho fácil das nossas vaidades, para possibilitar qualquer dano.
Se pautarmos a nossa vida, os nossos atos e, principalmente, os nossos pensamentos por essa rocha, que é Jesus, nunca seremos derrubados. Não haverá maré, não haverá tempestade, não haverá ventania que derrube o que foi construído. No entanto, se nós pautarmos a nossa vida com base nos nossos interesses, nas nossas vaidades, nas coisas mundanas, no nosso estar mais do que o ser, com certeza, nós estaremos construindo sobre a areia. Por mais que demore, vem o vento, vem a chuva, os rios do mundo sobem e destroem tudo aquilo que nós construímos.
O mundo está sempre nos oferecendo verdadeiros areais, para nós construirmos sobre eles a nossa vida. É muito mais fácil avistarmos um areal do que uma pedra. Só que, quando o rio subir, o areal vai desaparecer e a pedra vai sobressair.
Nós temos a opção de escolha. Resta-nos ter a consciência plena do nosso raciocínio, para usar o nosso livre-arbítrio, fazendo a escolha correta, na hora certa.
Jesus deixou ensinada uma lição para cada situação de nossas vidas. Aqueles que buscam a perfeição, baseados em valores exteriores e em curto prazo, ainda não estão preparados para ela. Há que se ter uma visão clara do futuro; mas também há que se ter o firme propósito de construirmos alguma coisa que seja referente à nossa evolução moral, praticando ações no bem, se possível, todos os dias.
As palavras de Jesus são eternas, porque elas representam a verdade. Constituem o salvo-conduto para a vida celeste, como também a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Eis porque todos aqueles que se apoiarem nessas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha. As que, porém, forem uma violação daquelas palavras, serão como a casa edificada na areia. O vento das renovações e o rio do progresso as arrastarão.
ITEM 8:
Aquele que violar um destes menores mandamentos e que ensinar os homens a viola-los, será considerado como último no reino dos céus; mas será grande no reino dos céus aquele que os cumprir e ensinar. (Mateus, cap. V, v. 19).
É evidente que, por sermos seres humanos falíveis, de vez em quando, somos tentados a distorcer as palavras de Jesus. Talvez por ignorância ou, até mesmo, por conveniência, fazemos ou ensinamos o que o Mestre pregou de forma equivocada.
Esta passagem evangélica é uma advertência: Não devemos agir nem ensinar em nome do Senhor, se a nossa conduta desmente tudo o que nós fazemos ou falamos.
Então, aqueles que usam em vão as palavras de Jesus, praticando-as num culto exterior, não terão valor no reino dos céus. Seria como edificar na areia. Agora, aqueles que se apoiam realmente nas palavras do Mestre, e as ensinam, serão estáveis como uma edificação sobre a rocha. Porque as palavras de Jesus ditas com amor, ditas com um verdadeiro desejo de que os nossos irmãos sejam felizes, essas palavras ficam. Credenciando a entrada no reino dos céus.
Apesar dos nossos erros, mas a sincera intenção de edificarmos a nossa casa na rocha, nos credencia a contarmos com a misericórdia do Mestre. Jesus acredita em nós, quando os nossos propósitos nos levam ao caminho da prática da lei de amor e caridade.
Seguros de que a nossa casa está construída, bem alicerçada sobre a rocha, nós podemos enfrentar as piores dificuldades. Leve o tempo que levar, que os ventos contrários não irão derruba-la.
ITEM 9.
Trata-se de um comentário de Kardec, que dispensa comentário.

Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus?
R – Porque a entrada no reino dos céus só é facultada àqueles que cumprem a lei de Deus, segundo os preceitos de Jesus. E nem sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é acompanhado de atos que caracterizam o verdadeiro cristão.
Os atos exteriores de devoção, as expressões bonitas, sem sacrifício do nosso orgulho, egoísmo e cupidez, nada valem aos olhos do Pai. A Ele interessa o que vai em nosso íntimo.
2 – O que é necessário o homem fazer para conquistar o reino dos céus?
R – Usar os recursos intelectuais, materiais e morais de que dispõe, para realizar, tão bem quanto possível, a tarefa que lhe cabe como cristão, e todo o bem ao seu alcance, seguindo sempre o roteiro traçado por Jesus.
Daí nós concluirmos que:
Conhecer a lei de Deus e reverenciá-lo por palavras é condição necessária, porém não suficiente para a felicidade plena; é igualmente indispensável agir de acordo com os ditames da soberana lei, tão bem expressa e exemplificada por Jesus, em seu Evangelho.
Só chegaremos a bom termo, no cumprimento das tarefas que nos compete realizar, se tomarmos por base os mandamentos divinos.

 *******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos – Itens 3 a 5 – A Porta estreita.
Item 3. Entrai pela porta estreita, porque a larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! E quão poucos a encontram! (Mateus, Cap. VII, vv. 13 e 14).

Item 4. Tendo-lhe alguém feito esta pergunta: Senhor, serão poucos os que se salvam? Respondeu-lhes ele: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos procurarão transpô-la e não o poderão. E quando o pai de família houver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos; ele vos responderá: não sei donde sois. Por-vos-eis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença e nos instruíste nas nossas praças públicas. Ele vos responderá: Não sei donde sois; afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade.
Então, haverá prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expelidos. Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, que participarão do festim no reino de Deus. Então, os que forem últimos serão os primeiros e os que forem primeiros serão os últimos. (Lucas, cap. XIII, vv.23 a 30).

Item 5. Comentário de Kardec:
Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. (...) Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros fa fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.

É muito comum encontrarmos nos ensinamentos de Jesus uma escolha para fazermos. Ele sempre nos coloca diante de uma opção livre, porque Deus, criador de todas as coisas, concede ao homem, Espírito em processo evolutivo, inteligência, raciocínio e, sobretudo, livre-arbítrio, que é a liberdade de escolha.  Por isto, cabe, somente a nós, a tarefa de escolher os nossos caminhos e, com isto, traçar e construir nossos destinos.
Na nossa vida, dois são os caminhos que se apresentam para nossa escolha: o caminho da evolução e o caminho da degradação. E pelas palavras de Jesus, quando nos diz: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição”, percebemos o quanto é difícil entrar pela porta estreita.
O caminho da evolução, que leva à porta estreita, é apertado e são poucos os que conseguem segui-lo. Por outro lado, é grande o número dos que não querem trilha-lo por ouvir dizer que é muito difícil. Já o caminho da degradação, que leva à porta larga e, consequentemente leva à perdição, é mais fácil e é grande o número de criaturas que por ele segue e dele não quer sair, por ser espaçoso e facultar os prazeres materiais e pessoais.
O caminho da evolução, que é o caminho do progresso, nós vemos com os olhos da alma; e por ser apertado exige conhecimentos, atenção, critério, raciocínio, para a devida aquisição da felicidade futura. Já o caminho da degradação proporciona no presente os gozos efêmeros do mundo, e a criatura por ele caminha, presa às delícias perecíveis. Este caminho é guarnecido de todos os atrativos. Nele, os sentidos humanos se fascinam, embriagam-se pelas sensações exteriores, aniquilando o Espírito que fala à consciência, adormecendo a alma que deixa de agitar a razão.
A nossa ascensão espiritual está relacionada com a nossa capacidade de utilizar os recursos recebidos da espiritualidade e com a nossa adaptação aos cenários em que vivemos. Isto quer dizer que, só depende de nós o sucesso na nossa escolha de caminhos.
Sabemos que não é fácil para nós, criaturas que, quase sempre, estamos ligados apenas aos resultados imediatos da vida, convivendo em função de valores materiais, perceber uma grande verdade: Em cada caminho uma lição; em cada passo um valor a ser aprendido. E nessas lições de aprendizado, nós devemos ser capazes de vencer as tendências inferiores que ainda residem em nós. Aqui poderíamos entender uma complementação da máxima: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos”.
Sendo a Terra um mundo de expiações e provas, a nossa tendência, quase sempre, é usar a lei das facilidades, do menor esforço. Pelo menos, o que aparentemente é mais fácil. E, por isto, muitos são os motivos de falha na estrada da vida, e se não forem identificados e tratados convenientemente, com certeza, nos levarão a seguir o caminho da perdição, o caminho dos valores ilusórios do mundo, em detrimento de nossa realidade espiritual. Temos que fazer uma reflexão sobre a escolha do caminho que estamos seguindo. Se, por ventura, tivermos escolhido o caminho errado, temos que, em menor tempo possível, voltarmos ao ponto inicial. Isto, porque, o tempo e a distância gastos no retorno será bem menor do que, por ocasião da descoberta do equívoco, já estivermos muito afastados, distantes mesmo, do ponto de partida. Aí, a volta será mais longa e, consequentemente, mais demorada.
Então, deixar-nos levar pelos vícios e pelas paixões inferiores; deixarmos de estabelecer objetivos de vida, baseados no senso de utilidade e nos valores do espírito; deixarmos de perceber nossa própria verdade, dando guarida à ilusão, ao orgulho e a vaidade pessoal; deixarmos de perceber a nossa natureza e destinação, ou seja, simples e ignorantes, com a missão de evoluir; nos negarmos a assumir a responsabilidade que o livre-arbítrio nos impõe; não exercitarmos a vigilância e a auto-avaliação de nossos atos, para correção dos rumos tomados. Tudo isto vai retardar a marcha para nossa elevação, nos deixando estacionados, aprisionados às características naturais, com as quais iniciamos a caminhada, nos direcionando para um destino não muito bom. Um destino que, num futuro, vai nos exigir um esforço muito maior do que seria exigido agora, se tivéssemos escolhido o caminho da porta estreita. Vamos ser conduzidos ao retrabalho e à reparação de experiências mal sucedidas.
Não podemos entender esta parábola com a ideia de que nós só temos uma existência. Tornar-se-ia muito complicado esse entendimento, porque seria difícil de explicar o motivo pelo qual uns têm dificuldades no caminho e outros não; por que a dificuldade de uns é maior do que a de outros; por que todas as criaturas têm que passar pela porta estreita; por que para uns a porta é mais estreita e para outros não é tanto assim; por que a maioria das criaturas escolhe a porta larga. Só o entendimento baseado nas múltiplas existências é que pode proporcionar um esclarecimento amplo, para entendermos que, se hoje a porta para um está mais estreita e para outro nem tanto, isso é consequência do que aconteceu antes, em vidas passadas.
Quando Jesus diz que: “Haverá prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expedido”, entendemos que, o Mestre faz uma alusão às criaturas que vivem no reino da mentira, da hipocrisia e das exterioridades, coisas que Ele combatia, e por isto, ficarão imersos nessas mesmas trevas.
Muitos dos que caminham pela porta larga, quando bate o desespero, a angústia e a infelicidade, vão bater na porta estreita, mas não conseguem entrar. Deus que é justo, não deixará passar ninguém que não tenha mérito. Ninguém será capaz de burlar esta lei divina, perfeita e justa.
Somente com o arrependimento das faltas cometidas e a reparação das mesmas, da procura da reforma moral, é que a porta estreita voltará a se abrir novamente.
Para finalizarmos o nosso estudo, nós vamos buscar o entendimento desta frase de Jesus: “Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia”. De início vamos salientar que a tradução desse nosso Evangelho foi feita da terceira edição francesa. E na língua francesa a palavra meridien tanto serve para designar meridiano, que se refere ao ponto cardeal sul, e meio-dia, referente à doze horas do dia. Ora, se Jesus utilizou a palavra setentrião, que se refere ao ponto cardeal norte, logicamente, estaria se referindo ao sul, quando falou a palavra que foi traduzida por meio-dia. Supomos tratar de uma tradução equivocada. E, o que o Mestre queria dizer com isso? Deduzimos que Jesus, de acordo com a sua própria afirmação: “Veio para as ovelhas desgarradas da casa de Israel”, é bom esclarecer que, “Ovelhas desgarradas do redil” não são somente aqueles que nasceram dentro dos limites acanhados de uma nação que se intitulava “eleita”, mas todos aqueles que, mesmo situados nos rincões mais longínquos da Terra, estão com as almas preparadas para receber, assimilar e viver os ensinamentos evangélicos em toda a sua plenitude. Eis porque Pedro foi a Cesaréia dialogar com o centurião Cornélio e conseguir a sua conversão. Paulo foi enviado a Atenas e a Roma a fim de tentar conseguir a conversão daqueles que já estavam preparados para receber a semente generosa da Boa-Nova em seus corações. Eis porque o Mestre disse: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meridiano, e participarão do festim no reino de Deus”.
Sem Jesus, há portas de todas as formas e feitios: do comodismo, da ociosidade, da maledicência, do pessimismo, do desânimo, da ganância e outras. Jesus é a única porta que nos conduzirá à salvação. Jesus é a porta que ninguém fechará. Porta sempre aberta para almas de todos os portes. Quem por ela entrar será conduzido a um redil abençoado.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Em que consiste a porta estreita e a porta larga, referidas no texto que estudamos?
R – A porta estreita simboliza a difícil caminhada do espírito em busca da luz; a porta larga, o roteiro fácil do espírito pelo caminho do erro e da perdição.
“A porta estreita revela o acerto espiritual que nos permite marchar na senda evolutiva, com o justo aproveitamento das horas; a porta larga expressa-nos o desequilíbrio interior, com que somos forçados à dor da reparação, com lastimáveis perdas de tempo”. (Emmanuel - O Espírito de Verdade – Mensagem 14)
2 – Por que a maioria prefere o caminho da porta larga, se é o da estreita que “salva”?
R – Não se trata propriamente de uma preferência, mas de uma predisposição do homem em perambular pelas veredas do erro, em face do estágio evolutivo em que se encontra a humanidade atualmente.
Daí concluirmos que:
Se quisermos entrar no reino de Deus, isto é, nós passarmos pela porta estreita, não pensemos que será fácil. Será preciso muito sacrifício, esforço, persistência, resignação, humildade, benevolência, amor, caridade e dedicarmos uma vida inteira ao próximo, procurando a cada dia nos livrar dos apegos materiais, dar a eles o seu valor devido e também evoluirmos moral e intelectualmente, fazendo com que extirpemos de nós os defeitos.
Devemos procurar seguir os conselhos do Mestre Jesus, que nos ensinou todos os segredos para conseguirmos passar pela porta estreita. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
Quando rejeitamos o convite fraterno para seguir o caminho que leva à porta estreita, o tempo e a dor a ela nos conduzirão, em regime de misericórdia divina.
 *************************************** 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos – Itens 1 e 2 – Parábola do festim de bodas.

Item 1. Falando ainda por parábolas, disse-lhes Jesus: O reino dos céus se assemelha a um rei que, querendo festejar as bodas de seu filho, despachou seus servos a chamar para as bodas os que tinham sido convidados; estes, porém, recusaram ir. O rei despachou outros servos com ordem de dizer da sua parte aos convidados: Preparei o meu jantar; mandei matar os meus bois e todos os meus cevados; tudo está pronto; vinde às bodas. Eles, porém, sem se incomodarem com isso, lá se foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros pegaram dos servos e os mataram, depois de lhes haverem feito muitos ultrajes. Sabendo disso, o rei se tomou de cólera e, mandando contra eles seus exércitos, exterminou os assassinos e lhes queimou a cidade.
Então, disse a seus servos: O festim das bodas está inteiramente preparado; mas, os que para ele foram chamados não eram dignos dele. Ide, pois, às encruzilhadas e chamai para as bodas todos quantos encontrardes. Os servos então saíram pelas ruas e trouxeram todos os que iam encontrando, bons e maus; a sala das bodas se encheu de pessoas que se puseram à mesa.
Entrou, em seguida, o rei para ver os que estavam à mesa, e, dando com um homem que não vestia a túnica nupcial, disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores: aí é que haverá prantos e ranger de dentes; porquanto, muitos há chamados, mas poucos escolhidos. (Mateus, cap. XXII vv.1a14).
As parábolas são alegorias que contêm preceitos de moral. E foi a forma que Jesus encontrou, como sendo a melhor, para esclarecer seus ensinamentos, mediante comparações do que pretendia dizer sobre o que ocorria na vida comum com os interesses terrenos. Sugeria assim o Mestre, figuras e quadros das ocorrências cotidianas, para facilitar mais aos seus discípulos, por esse método comparativo, a compreensão das coisas espirituais.  E através dessa metodologia, as palavras fossem se auto-atualizando, ou seja, a cada momento em que uma criatura ler essas parábolas, seja em que época for, conseguirá tirar um conceito. Servindo, também, para que elas ficassem eternamente lembradas.
Quando nós ouvimos a narração dessa passagem evangélica, a princípio não entendemos bem. E o incrédulo acha uma ingenuidade. Como pode um certo homem fazer uma festa e as pessoas convidadas criarem tanta dificuldade, opor tanta resistência para participarem dela, a ponto de massacrarem os enviados do dono da festa.    
A parábola das bodas refere-se à transição das almas aqui na Terra. É uma comparação do que se verificava naquela época com o próprio Jesus. Nela o Mestre compara o reino dos céus, onde tudo é alegria e felicidade a uma festa, na qual um certo rei celebrou as bodas de seu filho.
Deus, aqui representado pelo rei, enviou os seus servos, que na alegoria representam os profetas, chamar os primeiros convidados, que foram os hebreus, e que simplesmente recusaram o convite.
Houve o segundo convite. Desta vez, os convidados foram informados de que o banquete já estava preparado, tudo já estava pronto. Porém eles, não fazendo caso, foram uns para seus campos, e outros para os seus negócios. E, ainda outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
Podemos entender que o primeiro convite foi feito num momento inicial do processo evolutivo do Planeta. Deus chamou os hebreus para o conhecimento de sua lei, exortando-os a seguirem o caminho da verdadeira felicidade.
É importante destacar que os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; foi a eles que Deus transmitiu a sua lei, por Moisés. E foi deste pequeno foco que partiu a luz que deveria se derramar sobre o mundo inteiro, e a triunfar sobre o paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual. Mas os judeus não entenderam assim. Era uma crença comum entre eles de que sua nação tinha de alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus não havia prometido a Abraão que seus descendentes cobririam toda a Terra? Os judeus apegaram-se à forma, sem atentarem para a finalidade. Entenderam tratar-se de uma dominação efetiva e material.
No segundo convite, a Terra já estava num outro momento do processo evolutivo. Estava num momento de maturidade espiritual, no qual, os convidados já tinham conhecimentos suficientes para entenderem a importância de serem convidados para a grandiosa festa. Porém os judeus desprezaram a lei moral, para se apegarem a uma prática mais fácil, a do culto exterior. E a nação, além de escravizada, era dominada e fragmentada pelas facções e dividida pelas seitas. Foi então que apareceu Jesus, enviado à Terra para lembra-los quanto à observância da lei e abrir-lhes os horizontes novos da vida futura.
O Cristianismo representa a celebração dessa grande festa, para a qual não são poupados: trabalho, sacrifício e dinheiro, para dar a essa festa o maior realce, e dela fazendo participar o maior número possível de convivas. E para que todos se fartem, se satisfaçam e se sintam ditosos, o senhor das bodas apresenta-lhes lauta mesa com variadas iguarias.
As iguarias representam os ensinamentos espirituais; assim como aquelas satisfazem e fortalecem o corpo, estes mantêm e vivificam o Espírito.
O objetivo do rei, que nós já sabemos ser Deus, era que os convidados estivessem interessados em ouvir e a meditar a cerca das palavras de seu filho, Jesus, para que pudessem compreender o sentido de seus ensinamentos. E quem poderia melhor apreciar a grande sabedoria do Mestre, seja na cura dos enfermos, seja nos prodigiosos fenômenos de materialização e desmaterialização por Ele operado, como a multiplicação dos pães e dos peixes, a manifestação do Monte Tabor, a dominação dos elementos e suas sucessivas aparições depois da morte, senão os doutos, os sábios, os aristocratas e os sacerdotes? Ninguém melhor do que estes estavam em condições de participar das bodas, e para compreender o sermão da montanha. Mas as palavras de Jesus, porém, foram pouco escutadas; suas advertências foram desprezadas. Repeliram a palavra do Messias Celeste. Mais uma vez, houve recusa dos convidados. Uns por motivos diversos. Outros pegaram o encarregado do convite e o mataram, depois de lhe haver feito muitos ultrajes, no caso, o Cristo. Sabendo disso, irou-se o rei, e mandou suas tropas exterminar aqueles assassinos e incendiar a sua cidade. Ora, então, nos ocorre imediatamente tratar-se de um Deus vingativo, um Deus que pune, quando na realidade não é isso. Deus, não é aquela figura antropomórfica, que se assemelha ao homem. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. E, por isto, está isento de todas intempéries morais, que a personalidade do homem oferece. Por isto, a ira de Deus, com certeza, é a lei de causa e efeito. É a lei se manifestando sobre aqueles que são rebeldes. E o fogo que foi ateado à cidade, nada mais é do que o fogo das consciências intranquilas das criaturas, queimando-as.
Como a festa já estava preparada e os convidados não apareceram, o rei então mandou chamar todos os que iam sendo encontrados: os pequenos, os humildes, os incultos, bons e maus.
A parábola fala de um homem que não vestia a túnica nupcial. Pois, era costume da época usar-se para cada ato ou cada cerimônia uma roupa de acordo com tal ato ou tal cerimônia a que se ia assistir. Aproveitando essas exigências sociais, muito preconizadas pelos escribas e fariseus e, mormente, pelos doutores da lei e sacerdotes, Jesus ao propor a parábola das bodas, deu a entender que, para o comparecimento a essa festa, fazia-se necessário uma túnica nupcial.
A veste de núpcias simboliza o amor, a humildade, a boa vontade em encontrar a verdade para observa-la, ou seja, a pureza das intenções. Portanto, aquele que estivesse sem a túnica, ou seja, não reunisse os requisitos necessários, embora convidado a tomar parte nas bodas, não poderia ali permanecer. Teria que ser retirado.
O rei mandou então lhe atar as mãos e os pés e lança-lo nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. Devemos extrair dessas palavras não uma ordem de Deus e, sim, uma opção da criatura, por ter ignorado as leis divinas e granjeado somente as coisas de cunho material. E, aí, quando ela toma conhecimento da sua opção equivocada, de que não pode levar nenhum bem material e, não podendo leva-lo, essa criatura entra em pânico, chora muito, sofre muito e se sente de pés e mãos atados, por ter chegado ao plano espiritual nas trevas, sem nada a oferecer e sem quem a defenda.
É preciso que aprofundemos as nossas interpretações. Quando Jesus diz que o reino dos céus é semelhante a um rei que fez as bodas para seu filho, na verdade, o que Ele quer dizer com isso é que, essa festa representa a união de cada espírito com o Pai. É o nosso momento evolutivo. E, quando essa união acontece, nós atingimos o ápice dessa evolução. Então, dia virá, que poderemos repetir, como fez Jesus, dizendo que Ele e o Pai eram um. E nesse dia, com certeza, poderemos considerar um dia de festa.
Esse convite de Jesus está sendo feito a nós há muitos milênios, e sempre a humanidade recusa esse convite para estudar as suas orientações, que certamente trarão benefícios. Há que se fazer um certo esforço para aceitarmos esse convite. Quando aceitamos o convite para trabalhar no bem, nós nos deparamos com dificuldades infinitamente maiores do que as nossas. Podendo tirar daí lições de vida que, com certeza, irão corrigir os nossos rumos.
Só assim, conseguiremos vencer a inércia e a timidez que nos impedem, muitas vezes, de participar ativamente nessa obra do Senhor.
Os recursos da criação sempre nos serão dados. Mas necessário se torna que nos habilitemos a recebê-los.
Cristianismo é caridade. Só caridade. Nada mais que caridade. O resto é crença, e esta é mutável em função do conhecimento, do entendimento e da percepção de cada um.

Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual a ideia principal desta parábola?
R – A da união de cada espírito com Deus.
2 – O que representa o convite para as bodas?
R – Representa a oportunidade de se compreender o sentido dos ensinamentos divinos.
3 – O que pode representar a veste nupcial?
R – Ela simboliza o amor, a humildade, a boa vontade, a pureza das intenções.

Daí nós concluirmos que:
Deus nos chama constantemente a participar na criação, na transformação, na edificação de um mundo melhor. Na realidade, nós não somos escolhidos, nós nos escolhemos, nos predispondo à obra de Deus. Na sociedade, na família, na casa espírita, na obra da caridade.
Apresenta-te para o trabalho; deixa fluir tuas ideias, e faz delas a concretização de tuas aspirações. Este é o convite que Jesus nos faz. Um convite para um encontro divino. Um convite para um banquete de luz, para um trabalho incessante na obra de Deus.
Assim, caros irmãos, que Deus nos permita refletir sobre a distância que ainda temos a percorrer, e nos ajude a tomar consciência de nossas deficiência e fraquezas, e a supera-las com determinação.
 **************************************** 


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – item 11 – Cuidar do corpo e do espírito - Instruções dos Espíritos

ITEM 11

Consistirá na maceração do corpo a perfeição moral? Para resolver essa questão, apoiar-me-ei em princípios elementares e começarei por demonstrar a necessidade de cuidar-se do corpo que, segundo as alternativas de saúde e de enfermidade, influi de maneira muito importante sobre a alma, que cumpre se considere cativa da carne. Para que essa prisioneira viva se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte. Façamos uma comparação: Eis se acham ambos em perfeito estado; que devemos fazer para manter o equilíbrio entre as suas aptidões e as suas necessidades tão diferentes? Inevitável parece a luta entre os dois e difícil achar-se o segredo de como chegarem a equilíbrio.

O Espírito Jorge, que se autodenominou um Espírito Protetor, inicia a sua mensagem fazendo uma pergunta: “Consistirá na mortificação do corpo a perfeição moral?” Quer dizer, para estarmos em comunhão com Jesus há necessidade de sacrificarmos o nosso corpo, por meio de martírio voluntário? Claro que não. Porque nós já sabemos que o homem difere dos outros animais por sua capacidade de pensar continuamente. Isto é, um ser dotado de inteligência. E, com essa inteligência, ele é capaz de gerar o seu progresso espiritual, acelerando o aprimoramento na direção do Criador. Equilibrando o uso de seus recursos materiais com suas necessidades morais.
O homem veio à Terra para progredir, e esse progresso depende do bom emprego que faça do tempo para zelar do seu corpo, proporcionando-lhe a natural manutenção, e cultivar o espírito, oferecendo-lhe luzes: luzes de vida eterna; luzes de sabedoria verdadeira; luzes de moral perfeita.
Continuando,...
Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas ( pessoas que se entregam à penitência), que tem por base o aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da alma. Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra. Ao lado desses dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuide igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre-arbítrio o induziu a cometer e pelas quais ele é tão responsável quanto o cavalo mal dirigido, pelos acidentes que causa. Sereis, porventura, mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo? Não, a perfeição não está nisso: está toda nas reformas por que fizerdes passar o vosso espírito. Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição. – Jorge, Espírito Protetor. (Paris, 1863).
O Espírito Jorge quando fala dos ascetas, se refere às religiões que creem que o martírio do corpo é uma maneira de se chegar à perfeição. Acham que, pelo sofrimento das dores carnais da própria flagelação, estarão se tornando melhores. Flagelam seus corpos com chicotadas nas costas para aliviar os pecados. Castigar o corpo para beneficiar a alma é um equívoco, e, não, uma virtude.
O corpo é o instrumento da alma. Ele é usado pelo espírito para as recepções e manifestações exteriores. Portanto, precisamos cuidar bem do nosso corpo, dirigir bem o nosso corpo para darmos a ele um sentido que não nos permita andar por caminhos menos recomendados.
 Já os materialistas veem apenas o corpo humano como uma máquina, que, com a morte, nada mais resta, porque não admitem que haja coisa alguma que esteja acima do seu entendimento. Daí o Espírito comunicante dizer que os materialistas rebaixam a alma.
O Espiritismo abrange a parte material e a parte psíquica do indivíduo; exige tratamento do corpo e cultivo do espírito, sem detrimento um do outro. Essa exigência se faz porque, muitas vezes, a criatura está tão empenhada em cuidar das coisas do espírito que se esquece do seu corpo. E, pior ainda, quando ela faz tudo em favor do seu corpo e se esquece da alma.
Cuidar do corpo não quer dizer cultuar o corpo. Tudo deve ser feito sem exageros, moderadamente, para que não se cometa o pecado da exibição, alimentado pela vaidade. Desconhecer as necessidades que lhes são peculiares, por força da própria natureza é desconhecer as leis de Deus.
E como podemos cuidar do corpo? Talvez seja uma pergunta que muitos fazem e não imaginam que a resposta é bem simples: evitando infringir as leis divinas e, que, se as observarmos rigorosamente, seremos perfeitamente felizes e conseguiremos manter o equilíbrio desejado de corpo e alma. Por exemplo: Se não ultrapassássemos o limite do necessário, não sofreríamos das doenças provocadas pelos excessos.
A saúde do corpo é função única e exclusiva do bom uso que fazemos dos nossos órgãos e sentidos. Alimentação adequada, sono adequado, controle de si mesmo, ausência de vícios, são premissas sem as quais não nos é possível atingir a plena saúde física, e, portanto, a plena saúde mental. É responsabilidade do Espírito tratar e guiar o seu corpo material com moralidade e equilíbrio, para que possa otimizar a sua escalada evolutiva, nas experiências da carne. Assim, sendo, meditemos um pouco: de que forma nós levamos nossas vidas? Cuidamos de maneira adequada o nosso corpo? E de nossa mente? Ainda nos permitimos vícios nocivos à nossa saúde?
Todo o nosso ser, tanto o biológico como o espiritual, responde a cada palavra e cada ação. Se ele ouvir que estamos doente, nossas células irão responder adoecendo. Todos os choques que a nossa intemperança produz atinge os centros vitais e os desequilibra. Mágoas e raivas vivem como uma massa no corpo. Elas se escondem  como doenças crônicas e precisam ouvir uma voz que é o poder de pura intenção de curar.
Os pensamentos e emoções purificados são ondas de energia que beneficiam o nosso corpo.
Aqui cabe reproduzir um conselho que eu li e achei interessante: Cuidar do corpo exige carinho: -  conversar com o pé feio e agradece-lo; acariciar o cotovelo e descobrir que é a primeira vez na vida que ele é lembrado; olhar para a barriga e perceber que ela é o grande desafio para que se aprenda a alimentar o corpo, que não conhece outra forma de reclamar, a não ser pela doença ou desequilíbrio.
A virtude, portanto, não está em maltratarmos o nosso corpo e, sim, em observarmos rigorosamente as leis de Deus, para mantermos o equilíbrio desejado de corpo e alma.
Como de costume, vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – É válido ao homem maltratar o próprio corpo para buscar a purificação de sua alma?
R – Não, pelo contrário. Sendo o corpo o instrumento da alma, para que esta pratique o bem e evolua, é necessário que o corpo esteja na melhor forma possível.
2 – Quais as consequências por desrespeitarmos o santuário do nosso corpo?
R – Teremos dificuldade para reequilibrá-lo. Ficaremos sofrendo até que tenha retornado ao destino correto, tudo o que foi desalinhado.
3 – Como devemos cuidar do corpo e do espírito, para estabelecer o equilíbrio entre ambos?
R – Do corpo, cuidamos segundo as normas de saúde e higiene de que dispomos e que nos é dado conhecer; do espírito, segundo os postulados do Evangelho, que nos estabelece a medida do nosso comportamento diante da vida.
“Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus”.
Daí nós concluirmos que:
Nosso corpo é precioso instrumento que a vida nos empresta, para servir de santuário ao princípio espiritual, ou seja, espírito, para sua evolução. Cuidar dele, portanto, é dever que nos compete, perante Deus. Amá-lo, preservando-lhe as finalidades santificantes, é dever mínimo, por ser ele degrau de ascensão e felicidade.
Que, os bons pensamentos e as nossas boas atitudes produzem frutos de alegria, compreensão, e contribuem para nossa evolução espiritual, se tornando um bálsamo para a nossa alma; que a nossa palavra sincera é responsável pelo estado de nossa saúde física e espiritual; que os maus pensamentos, os pensamentos negativos, são alimentos nocivos para a nossa matéria.
Não é a mente que depende da saúde do corpo. Ao contrário, é o corpo que depende da mente sadia. Portanto, devemos cuidar da nossa mente, do Espírito, para que a saúde se reflita em todo o corpo.
A tomada de consciência gera o desejo sincero de seguir o caminho da virtude, a que todos nós somos compelidos, pelo determinismo da lei do Criador.

Como Jesus falou, “A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória”.
***********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – item 10 – O homem no mundo - Instruções dos Espíritos

ITEM 10. O homem no mundo
Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.
Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Nesse trecho, o Espírito que, simplesmente, assinou, um Espírito protetor, nos alerta sobre as atitudes que devemos tomar, com relação ao meio em que vivemos, e para com os nossos semelhantes. Geralmente, o homem tende a encurtar a sua visão, para as reais necessidades de cada um. Age e reage conforme a sua conveniência, sem a percepção de que, a menos que haja evolução nas circunstâncias da vida, as coisas permanecerão como estão. Não basta ouvir e aceitar a palavra do Cristo. Tampouco, fazer um estudo sistemático. É necessário ter o coração imune às seduções do mundo, ter o coração sensibilizado para as coisas de Deus. E fazer o exercício da caridade.
O Espírito comunicante faz um alerta muito importante: “Não devemos pensar, todavia, que, persuadindo-nos incessantemente à prece e à evocação mental, iremos viver uma vida mística, nos conservando fora das leis da sociedade, do mundo em que vivemos”.
A religião é uma necessidade na vida do homem. Pois, através dela, ele tenta se desapegar dos valores terrenos e religar-se ao Criador. O cristão tem no mestre Jesus o exemplo, a verdade, o caminho e, a própria vida. Pessoas existem que passam a vida em eterna devoção. Não faltam com as obrigações religiosas; chamam e clamam a presença do Mestre, para guiar seus passos; aguardando a oportunidade de se elevarem aos céus, aureoladas de luz. Nessa busca, entretanto, existe muito equívoco da parte daqueles que, a pretexto de seguir Jesus, ausentam-se da vida de relação, como se temessem a mácula, num contágio com as experiências do mundo. Apesar de louvarem a Jesus e agradecerem a vida, não vivem na utilidade necessária ao soerguimento espiritual. A pretexto de não fazerem o mal, não conseguem fazer o bem.
O Espírito protetor nos exorta a viver no mundo, sem pertencer ao mundo. Ou seja, devemos lidar com os vícios, com as tentações, sem nos deixar envolver com eles. A sacrificarmos as futilidades e, até mesmo, as necessidades de cada dia. Porém, devemos fazer com um sentimento de pureza, que as possam santificar.
Continuando,...
Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.
Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os atos da vossa vida ao criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num arroubo (êxtase) d’alma, ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai (elevai) à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.
Nós já sabemos que os espíritos são de naturezas diferentes. Portanto, de hábitos diferentes, como por exemplo: nós convivemos também com criaturas que são alegres; que gostam de dançar, que gostam de cantar, que gostam de rir, que gostam de carnaval, enfim, que gostam de coisas das quais já não gostamos mais, ou, simplesmente, nunca gostamos. Geralmente, nós criticamos essas criaturas. Às vezes, de uma maneira muito ácida. E a recomendação do Espírito comunicante é para não criticarmos, para não condenarmos essas criaturas. Já foi dito por alguém, que a importância do fato está no modo de olhar e, não, na coisa olhada. Seria o caso de acrescentarmos: a importância está também na maneira de ouvir e, não, naquilo que foi dito. Não consiste virtude, o fato de não admitirmos os prazeres que a vida nos permite. A virtude está em vivermos sem os excessos, e reter somente as coisas essenciais e necessárias, para a nossa vida. Por isto, devemos moderar as nossas palavras e as nossas ações; não julgando as criaturas e, com isto, evitar ferir ou proporcionar ressentimentos nos outros.
Continuando,...
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas, os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Capítulo V, n.o 26 ).
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis (martirizeis ) e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele ( cubra ) o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente ele os abençoa. Um Espírito Protetor.(Bordéus,1863).
Para chegarmos à perfeição, é essencial a vivência na prática do bem. Uma coisa é a nossa intenção. Outra coisa é a nossa ação. Não há de ser pela crença que temos, ou pela fé que professamos, que seremos dispensados de aprender as lições necessárias. Há que se viver a vida como ela é, com as suas provas, com as suas expiações. Há que se perceber que somos criaturas de Deus, sujeitas à sua vontade. Assim, deve haver lugar para a oração, mas, também, um lugar para a ação.
O exercício da caridade passa por muitos estágios. Apenas a compreensão de que ela é condição essencial para a elevação espiritual, não torna o novo discípulo em merecedor do reino dos céus.
Enquanto o amor não se fizer sentir nas atitudes das criaturas, fazendo com que elas tenham a predisposição de ajudar, de forma fraterna, com amor no coração, mas, sobretudo, educando, para que os valores do bem sejam interiorizados, para que a luz se faça, e o homem perceba que, em sua natureza divina reside o próprio Criador, concitando-o a trabalhar, a exemplificar e, com isto, ajudar a erradicar os males da sociedade em que vive.
Enquanto o homem achar que não lhe cabe mudar o mundo em que vive; enquanto se isolar, aguardando que os outros resolvam os problemas sociais, permanecendo como mero expectador, das cenas da vida cotidiana, o nosso planeta se manterá no estágio de expiações e provas, onde haverá muito sofrimento, muitas lágrimas e muito ranger de dentes.
O espírita vive como vivem os outros, mas em todas as manifestações da existência, é chamado a servir aos outros, através da atitude.
Vamos encerrar esse item com uma mensagem de Joanna de Angelis, retirada do livro Lampadário Espírita.
Ao invés de sucumbires às tentações que espalham espinhos pelo caminho, retira da cruz, onde o Cristo agonizou, a coroa dos testemunhos, põe-na em tua fronte e, embora sofrendo, penetrarás no reino da alegria imperecível.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual deve ser o nosso comportamento numa reunião em nome de Jesus?
R – Baseado na humildade, respeito e sem qualquer sentimento inferior no coração.
2 – Podemos viver no mundo sem pertencer a ele, isto é, sem nos deixar envolver pelos vícios, tentações e prazeres mundanos?
R – É claro que sim. Mas, para isto, é necessário que estejamos com o pensamento sincero constantemente voltado para o Criador que, assim, nos auxiliará a tomar o caminho certo, nos momentos decisivos. Podemos viver os prazeres do mundo, pois a nossa condição humana nos permite. O que não devemos é abusar dos prazeres e a eles nos escravizar.
3 – Seria meritório o homem isolar-se do mundo, sob a alegação de não querer se contagiar pelos vícios e prazeres terrenos?
R – Não, pois unicamente no contato com seus semelhantes, nas lutas mais árduas, é que o homem encontra o ensejo de praticar a caridade. Enquanto viver a vida do egoísta, ele nada progredirá.
Daí nós concluirmos que:
Os vícios, tentações e prazeres do mundo não devem constituir obstáculos para que vivamos bem com os homens de nossa época. Reportando sempre os nossos atos ao Criador, teremos o auxílio e intuição necessários nos momentos decisivos de nossa vida. O convívio com os semelhantes é o meio que Deus nos concede para desenvolver em nós o sentimento de fraternidade e amor ao próximo.

 *********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – Item 9 – Instruções dos Espíritos – Os superiores e os inferiores

ITEM 9: Os superiores e os inferiores
A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas àquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.
O Espírito mensageiro nos alerta, dizendo que a autoridade, tanto quanto a riqueza, é um empréstimo que nos é concedido para a nossa evolução espiritual. Deus delega ao homem autoridade e riqueza, para que ele as utilize em favor do próximo. Nos autoriza a agir, mas nos cobra atitude correta. Isto é, nos responsabiliza pelo resultado daquilo que fazemos. A cobrança é tanto maior, quanto maior for o conhecimento da verdade, que já estiver desenvolvido em cada um de nós.
A autoridade, que é representada pelo poder temporário, é outra prova difícil de ser suportada. Pois, às vezes, aqueles que detêm o poder deixam que a ilusão do orgulho turve sua visão para a sua real destinação. E o uso indiscriminado do poder aprisiona o homem em grilhões de muito sofrimento.  O poder é conferido por Deus, como missão, ou prova, para sermos testados, em nossas aquisições de luz, a fim de podermos galgar patamares mais elevados. Como já dissemos, esse poder, a autoridade em si, nos é conferido por Deus, para ser usado com humildade, para a evolução do mundo, e pode ser retirado a qualquer momento. Para Deus não há superiores nem inferiores. As diferenças estão nas virtudes que possuímos.
Continuando,...
Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.
Aqui, o Espírito instrutor está nos alertando para que, quando estivermos numa situação de comando, tendo subordinados, não devemos esquecer que temos almas a nosso cargo; que somos responsáveis, parcialmente, pelo mal que eles venham a praticar, assim como, o bem que eles venham a fazer, pois, aprenderam conosco. Já sabemos que a destinação do homem é o bem. Por isto, toda missão, toda prova que ele recebe, tem como objetivo a sua evolução. Se ele se deixar vencer pela vaidade, pelo orgulho, com certeza, ele estará falindo na sua tarefa.
Continuando,...
Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio”.
Haverá um momento em que todos nós teremos que prestar contas daquilo que fizemos aqui na terra. Seja na prova da riqueza, seja na prova do poder. E a criatura que se deixou iludir pela condição de mando, não cumprindo sua destinação aqui na terra, terá que responder por que não empregou o seu dom, no sentido de proporcionar novas oportunidades de trabalho, distribuindo justiça, gerando a evolução e o progresso dos outros semelhantes.
Continuando,...
O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicíta-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. – François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. ( Paris, 1863 ).
Todos nós temos uma missão, grande ou pequena. Seja ela qual for, o objetivo é o bem.
O superior, verdadeiramente superior, não teme ombrear-se com os humildes, seus comandados, e auxilia-los nos trabalhos, sempre que for necessário. Sabe que se algo é necessário fazer, deve ser feito, e realiza sem se preocupar com posto ou conveniência. Este é o verdadeiro servidor de seu irmão, conforme asseverou Jesus: “O que quiser ser maior no reino dos céus, seja este o servidor de todos”.
Por outro lado, os inferiores também têm um dever a cumprir, e sua conduta, seu proceder, deve ser de um subordinado que ele gostaria de ter caso fosse o chefe.
O nosso amanhã será preenchido com os valores de hoje. Ou seja, seremos tratados amanhã conforme tratamos hoje, aqueles sobre os quais exercemos nossa autoridade. Hoje nós podemos estar dando ordens, amanhã teremos que obedecer e normalmente na mesma medida que foi exercida a autoridade. Portanto, devemos ensinar aos nossos subordinados que, a vida é um condomínio que compartilhamos com os outros nossos semelhantes. E estimula-los com nosso exemplo.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Com que fim Deus delega ao homem autoridade e riqueza?
R – Para que ele a utilize em benefício do próximo.
2 – Qual a maneira correta de exercer a autoridade de que somos detentores?
R – Devemos exercê-la levando em conta que temos pessoas a nosso cargo e que poderão ser bem ou mal sucedidas, dependendo da boa ou má diretriz que dermos a essa autoridade.
3 – Somente o superior tem deveres a cumprir?
R – Não. Aquele que se encontra socialmente inferior, na condição de subordinado, tem também importante missão e igualmente será chamado a prestar contas.
Daí nós concluirmos que:
Cargos e funções de comando são talentos dados por Deus à criatura para seu próprio crescimento.
Os comandantes de toda ordem, seja no campo político, religioso ou profissional, são responsáveis pelos seus comandados.
Para Deus não há superiores e inferiores. As diferenças são as virtudes que possuímos. Em qualquer posição que estejamos na vida, façamos o melhor. E Deus, que trata a todos com justiça e bondade, nos acrescentará tudo mais de que necessitamos.

A autoridade nos é delegada para que a utilizemos em benefício do próximo.
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – Item 8 – Instruções dos Espíritos – A Virtude

ITEM 8: A Virtude
A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais que as desornam (desguarnecem) e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de ostentação. Adivinham-na; ela,  porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas. S. Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o digno cura d’Ars e muito outros quase desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao sabor de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.
A virtude assim compreendida e praticada é que vos convido, meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a consagrar-vos. Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho, vaidade, amor-próprio, que sempre desfiguram as mais belas qualidades. Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas qualidades a todos os ouvidos complacentes. A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas covardias.
Em princípio, o homem que se exalta, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter. Entretanto, que direi daquele cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boamente que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio.
Ó vós todos a quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabeis quão longe da perfeição está o homem, jamais esbarreis em semelhante obstáculo. A virtude é uma graça que desejo a todos os espíritas sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humildade é que um dia elas se hão de redimir. – François-Nicolas-Madeleine. (Paris, 1863).
Nós viemos a este mundo para deixarmos de lado as nossas imperfeições, os nossos erros, e adquirir a verdadeira riqueza, o verdadeiro bem, que todos nós precisamos, para a nossa evolução. E esse bem é a virtude moral, riqueza que ninguém pode retirar de nós, porque nos pertence.
O Espírito comunicante quer nos dizer que, nós mesmos tendo essas virtudes, ainda estamos sujeitos a pequenos deslizes, que vão desfigurar, que vão enfraquecer as qualidades, prejudicando o brilho dessas virtudes.
Está claro que a instrução se refere à pessoas que, supomos, já dispõem de algumas virtudes, e não a aquelas que ainda estão engatinhando no processo evolutivo e, que, não são possuidoras de uma quantidade razoável de virtudes. A virtude é o conjunto de todas as qualidades essenciais ao homem de bem. Ser bom, praticar o bem com desinteresse completo e esquecimento de si mesmo.
O homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração. Porém, não deixa que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios. Isto quer dizer que, não devemos fazer alarde das nossas virtudes.
Nós, que já nos interessamos em conhecer o Evangelho, estamos demonstrando que estamos com vontade de mudar a nossa orientação de comportamento. Já estamos nos preparando para sermos bons espíritas. É claro que ainda falta muito. Mas já começamos.
O Espírito François nos alerta em relação ao orgulho e a vaidade, frutos da nossa imperfeição. Quando a criatura trabalha no sentido de melhorar as suas virtudes, com certeza, está diminuindo as suas más tendências. Quando ela não age discretamente e fica alardeando o feito, tecendo elogios de que é isso ou aquilo, que fez tal coisa, que se glorifica pelas virtudes que possui, ela não está contribuindo para que tal virtude fique agregada a si e, sim, agregando mais um defeito, a falta de modéstia. Estará acentuando o seu orgulho, a sua vaidade, anulando todo o mérito que possa ter, comprometendo a sua escalada evolutiva. Em casos especiais, no meio de uma conversa, quando a criatura não puder evitar citar um fato de que tenha participado, isso deve ser feito da forma mais natural possível, e não com o sentido de se engrandecer.
A Doutrina Espírita é uma via de acesso ao conhecimento das leis divinas. Ela nos dá explicações tão claras que podemos associar itens de diferentes capítulos, como por exemplo: Vamos fazer uma relação desse assunto, virtude, com a parábola dos talentos. Embora a parábola faça referência a uma coisa monetária, porque talento era uma moeda daquela época, hoje a palavra talento tem outra conotação, significa virtude. Então, quando nós recebemos virtudes, seja uma, duas ou cinco, como na parábola, nós temos que multiplicar essas virtudes. Agora, de que maneira vamos multiplicar essas virtudes? Colocando-as em prática, diariamente. Jesus diz na parábola que o senhor veio um dia cobrar dos seus servos, o que eles haviam feito com os talentos. A maioria das outras religiões e filosofias interpreta essa cobrança que o senhor fez a seus servos, como um dia específico no futuro, como eles dizem, no juízo final. Mas, nós, espíritas, sabemos que isso não existe. A cobrança, em relação aos talentos que nós temos, no caso, virtudes, e o que estamos fazendo delas, é diária. Então, não podemos esperar um dia específico para prestarmos contas. Vamos investir nesses talentos. Não podemos escondê-los. Muitos recebem virtudes e não sabem o que fazer com elas. E, é nesse ponto que se dá a ligação da parábola dos talentos com o assunto virtude.
Outro capítulo relacionado com o item que estamos estudando é “Amai os vossos inimigos”. E, no estudo, o Espírito comunicante diz que o orgulho é a perdição da humanidade. Ora, Jesus nos disse que, para combater o nosso orgulho e a nossa vaidade, a melhor maneira de fazer isso seria amar os nossos inimigos. Quem ama o inimigo, com certeza, já está despojado de orgulho e de vaidade. Então, na verdade, essas virtudes que aqui estão sendo mencionadas, vão depender somente da nossa vontade, do nosso esforço.
Vamos separar alguns aspectos para nossa reflexão:
1 – Como podemos definir a virtude?
R – É o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.
2 – Por que não devemos fazer alarde das nossas virtudes?
R – Porque, se ficarmos alardeando o nosso feito, não estamos agregando valor e, sim, agregando mais um defeito, a falta de modéstia.
3 – Qual é o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo de virtude?
R – Jesus.
Daí nós concluirmos que:
A virtude é o conjunto de todas as qualidades que caracterizam o homem de bem. Constitui a meta de perfeição que, um dia, todos atingiremos.
Assim, quando verificarmos que já estamos crescendo em moralidade, num determinado ponto, devemos colocar em prática a nossa humildade.
Devemos utilizar essas poucas virtudes que já adquirimos para trabalharmos, cada vez mais, para nossa evolução e para a evolução daqueles que estão à nossa volta, nunca para nos glorificarmos e nos elevarmos, em relação aos nossos irmãos. Como nos ensinou Jesus, “Aquele que se eleva será rebaixado, e aquele que se abaixa será elevado”.

 **********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – Item 7 – Instruções dos Espíritos – O dever
           
ITEM 7: O Dever
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? Onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
Agora, que nós já temos conhecimento de como devemos agir para atingirmos a perfeição que Jesus nos pede, precisamos realmente nos conscientizar de que o dever é uma virtude. É algo que nós precisamos conhecer melhor e saber o que significa, para que venhamos a ter aquela boa vontade para conosco mesmo e para com os nossos semelhantes.
O Espírito Lázaro começa a mensagem com uma frase que é de grande importância para nós, que já estamos percebendo a nossa vida de uma outra forma, pelos ensinamentos da Doutrina Espírita. Lázaro nos orienta:
“O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida”.
Podemos interpretar essa frase da seguinte maneira: - Nós, espíritos em trânsito pela terra, na medida em que vamos nos conscientizando de que somos espíritos imortais, começamos a ter mais cuidado com a nossa vida, conosco mesmo.
O dever pressupõe alguém além de nós. O dever não é isolado. É um processo de evolução na lei de compartilhar, aonde nós vamos crescendo, cada vez mais. E esse dever começa a partir de pequenas coisas.
Esse parágrafo da instrução reaviva em nós aquela orientação de Jesus, que diz: “Devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Então, aquele que já despertou para a necessidade do dever como uma alavanca de crescimento e não como uma obrigação, nós podemos situá-lo saindo da terceira etapa da semente, que é jogada entre os espinhos, para caminhar em direção a quarta etapa, quando a semente cai na terra adubada.
Para que possamos observar esse dever é preciso que tenhamos boa vontade. É preciso que nós nos desapeguemos dos valores materiais. Pois, enquanto estivermos voltados para as coisas da matéria será muito difícil cumprirmos o nosso dever.
O dever tem o seu ponto de partida no momento em que nós sentimos que podemos ajudar na tranquilidade do nosso próximo, e vai terminar quando nos depararmos com aquele limite que instituímos para que ninguém transponha, em relação a nós mesmos. Quer dizer, toda vez que nós julgarmos que algo está demais, que está nos incomodando, esse é o limite que devemos colocar para encerrar o dever em relação aos nossos semelhantes. Pois, muitas vezes, a criatura na ânsia de querer ajudar se intromete na vida daquela outra, e, aí, não está ajudando.
Continuando,...
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente diferente nas suas expressões, não é o mesmo critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.
O Espírito Lázaro toca num ponto muito importante para nosso conhecimento.    Nós já estudamos que as aflições fazem parte da vida do homem e representam a aplicação da lei de Deus, na conduta humana.
Deus não nos criou para a dor. A dor é um instrumento que o Criador escolheu para retificar, reparar, ensinar e burilar o Espírito, em sua escalada evolutiva. Cabe ao homem, portanto, preparar seu futuro, corrigindo seu caminho, a partir da dor e da cura se suas fraquezas, semeando virtudes.
Se já conhecemos o efeito da dor na nossa própria  pele, não devemos querer que o nosso irmão passe pelo mesmo sofrimento. Assim, temos o dever de não agirmos negativamente com ele.
Já dissemos que, uma das lições básicas para o espírito, é a da semeadura e da colheita. Tudo que se planta, que se cuida com amor e que se aduba, se colhe. É a lei de causa e efeito, que também é chamada de lei do carma, agindo conforme a vontade de Deus. Se o plantio não é adequado, não há amor no trato e na adubação do que se planta, pode-se não colher aquilo que desejamos ou, mesmo, colher o que não desejamos.
Portanto, temos o dever de refletir sobre algumas questões: Quais os valores que norteiam a nossa postura no mundo? São valores do bem, do respeito, da confiança, da afetividade, do amor ou, são valores do mal, do ódio, do rancor, da inveja, do orgulho ou da exaltação? De que maneira nós temos aprendido as nossas lições de vida? Resignado, paciente, tolerante, determinado ou, revoltado, desiludido e desanimado? Quais as consequências geradas por nossas ações no mundo? Equilíbrio, gratidão, reconhecimento ou, censura, crítica, recriminação, reclamação ou desamor? O que temos conseguido semear no nosso caminho de aprendizado? Exemplos de vida, exemplos de fraternidade, exemplos de dedicação e de trabalho, exemplos de abnegação ou, exemplos de preguiça, indolência, passividade, inércia ou comodidade? O que temos conseguido construir à nossa volta? Plantamos nossos valores em bases sólidas ou em coisas perecíveis? Edificamos para toda vida ou apenas para situações passageiras? Como estamos sendo vistos pelo mundo? Como pessoas úteis, necessárias e caridosas ou, ainda não chegamos a sermos percebidos, naquilo que fazemos? Estas e muitas outras perguntas nós podemos fazer, para melhor avaliar o nosso plantio. Então, pelas respostas que dermos poderemos prever aquilo que haveremos de colher. Felicidade ou dor.
Quando Lázaro diz que o dever é uma bravura da alma, é porque, às vezes, o nosso interesse pessoal prevalece, prejudicando o outro.
Continuando,...
O dever é o mais belo galardão da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos. – Lázaro. (Paris, 1863)
Cumprindo o nosso dever, com a consciência nos indicando de que isso é o melhor para nós, estaremos nos alavancando para frente e para o alto. Então, é importante que nós venhamos despertar para essa realidade, para que possamos sair da infância espiritual, em que nós nos encontramos.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual o verdadeiro sentido do dever?
R – Dever é a obrigação moral da criatura para com Deus, consigo mesma e com o próximo. O dever está presente, tanto nos atos mais simples da vida, como nos mais elevados.
2 – Por que é tão difícil para nós o cumprimento do dever?
R – Porque, devido às nossas imperfeições, somos atraídos para os nossos interesses e desejos e nos esquecemos dos deveres.
3 – Onde começa e termina o dever?
R – O dever principia sempre, para cada um de nós, do ponto em que ameaçamos a felicidade ou a tranquilidade do nosso próximo; acaba no limite que não desejamos que ninguém transponha com relação a nós.
Daí nós concluirmos que:
O dever consiste na prática do bem, de maneira permanente e progressiva. Portanto, devemos observar o dever que a vida nos incumbe. Veremos esse dever, hora a hora, no quadro das circunstâncias:
Na fé que nos pede serviço; No serviço que nos roga compreensão; No ideal que nos pede caráter; no caráter que nos roga firmeza; No exemplo que nos pede disciplina; Na disciplina que nos roga humildade; No lar que nos pede renúncia; Na renúncia que nos roga perseverança; No caminho que nos pede cooperação; Na cooperação que nos roga discernimento.
Por mais hostil que sejam os obstáculos da caminhada, não devemos nos desviar da obrigação que nos recomenda o bem de todos, sempre que pudermos e quando pudermos, seja onde for.
 ****************************************** 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede Perfeitos – item 5 e 6 – Parábola do semeador.
ITEM 5. Naquele mesmo dia, tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar; - em torno dele logo reuniu-se grande multidão de gente; pelo que entrou numa barca, onde sentou-se, permanecendo na margem todo povo. – Disse então muitas coisas por parábolas, falando-lhes assim:
Aquele que semeia saiu a semear; - e, semeando, uma parte da semente caiu ao longo do caminho e os pássaros do céu vieram e a comeram. – Outra parte caiu em lugares pedregosos onde não havia muita terra; as sementes logo brotaram, porque carecia de profundidade a terra onde haviam caído. – Mas, levantando-se, o sol as queimou e, como não tinham raízes, secaram. – Outra parte caiu entre espinheiros e estes, crescendo, as abafaram. – Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por um, outras sessenta e outras trinta. – Ouça quem tem ouvidos de ouvir. (Mateus, cap. XIII, vv. 1 a 9).
Escutai, pois, vós outros a parábola do semeador. – Quem quer que escute a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do caminho. – Aquele que recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a palavra e que a recebe com alegria no primeiro momento. – Mas, não tendo nele raízes, dura apenas algum tempo. Em sobrevindo reveses e perseguições por causa da palavra, tira ele daí motivo de escândalo e de queda. – Aquele que recebe a semente entre espinheiros é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo, os cuidados deste século e a ilusão das riquezas abafam aquela palavra e a tornam infrutífera. – Aquele, porém, que recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um. (Mateus, cap. XIII, vv.18 a 23).
Jesus encontrou na parábola a forma didática, a forma caridosa, para nos informar a cerca das verdades eternas, onde, realmente, se encontra o reino dos céus. A parábola é a forma misericordiosa que o Mestre encontrou para nos ensinar. Pois, aquele que está na infância do processo evolutivo também precisa aprender, e de uma forma mais fácil. Porque, se ele não for informado, se ele não receber a luz dos ensinamentos, ele nunca sairá dessa infância. Essa parábola, a primeira contada por Jesus, dentre dezenas, nos mostra os quatro modelos existentes no nosso processo evolutivo. O sentido da parábola é este:
A semente é a palavra de Deus, representada por seus ensinamentos. O solo onde caem as sementes divinas é o coração humano.
O que Deus espera de nós? Segundo Jesus, que nos amemos uns aos outros; que façamos ao próximo todo o bem que desejaríamos que nos fosse feito; que estejamos dispostos ao sacrifício dos interesses pessoais em favor do bem comum.
Conforme a sua má ou boa vontade na aceitação da palavra de Deus, e a maneira como procedem após tê-la ouvido, os homens aos quais o Evangelho é anunciado, podem ser classificados como “beira de caminho”, “pedregal”, “espinheiro” ou “terra boa”.
De início, nós somos como aquela semente que cai na beira do caminho. Os indiferentes, isto é, ainda imaturos, não estamos preparados para tal semeadura. Somos insensíveis a qualquer apelo de ordem mais elevada. Nós ouvimos, mas ficamos alheios à palavra. A semente não vai germinar porque ela caiu ao acaso, numa terra que ainda não está preparada para recebe-la. Ou seja, o nosso coração ainda não está devidamente sensibilizado para receber as informações éticas e morais, que estão inseridas nas leis de Deus. Num segundo estágio, a semente cai entre as pedras e há pouca terra para uma germinação perfeita. Nós nos entusiasmamos facilmente ao ouvirmos falar do Evangelho e o aceitamos prontamente. Nós ouvimos a palavra e a recebemos com alegria. Mas falta a base para empreendermos a reforma de nossos hábitos, e essa base, nós só vamos adquirir com o estudo.
 Cada vez que estudarmos, é como se nós estivéssemos colocando mais um saquinho de terra entre as pedras, e o espaço que de início era raso, vai ficando um pouco mais volumoso. E, é dessa maneira que devemos trabalhar o nosso coração, fazendo com que ele fique menos pedra e mais terra adubada, de tal forma, que ele fique sensibilizado para as coisas de Deus e, é lógico que, quanto mais terra do estudo, do conhecimento e da caridade, nós colocarmos, maior será a possibilidade da semente germinar, de forma bem profunda.
Numa terceira etapa, a semente cai entre os espinhos e é sufocada. Nós ouvimos a palavra, aceitamos a palavra. Com a ampla visão das realidades espirituais que a Doutrina Espírita nos oferece, ficamos encantados. Buscamos espontaneamente esses conhecimentos, através de um estudo sistemático; participamos dos trabalhos de uma casa espírita, todavia, demasiadamente presos às seduções do mundo, às coisas materiais como, riquezas, deleites da vida, que consideramos mais importantes que a formação de uma consciência espiritual, fazem com que pensemos em abandonar a tarefa, em abandonar a Doutrina. A luta pela conquista de garantias pessoais, vantagens e luxuosidades, sufoca, no nascedouro, os sentimentos altruísticos ou qualquer movimento de alma que implique a renúncia de nossos tesouros terrestres. Num momento equivocado na nossa jornada abandonamos todo um percurso que já havíamos feito; de crescimento espiritual, de entendimento a cerca das grandes verdades. Então, começamos a usar como desculpa a falta de tempo, para fazer isso ou aquilo.
Na quarta etapa, a semente cai em solo fértil. Ao primeiro contato com a palavra de Deus nós sentimos algo que toca mais o íntimo. As lições do Mestre Divino encontram magníficas condições de receptividade. É um maravilhoso despertar, que ilumina os caminhos. E, logo, abraçamos o ideal cristão de corpo e alma, arregaçamos as mangas e tornamo-nos multiplicadores de sementes, produzindo trinta, sessenta ou  cem por um, segundo nossas possibilidades, mas sempre estendendo o bem ao nosso redor. Embora soframos tropeços e fracassos algumas vezes, perseveramos, resultando de nosso trabalho abençoados frutos de benemerência e de amor ao próximo. A vocação de servir, a disposição de uma participação efetiva, são frutos de experiências pretéritas. Geralmente, o servidor do Evangelho já nasce feito, não por mera graça divina, mas como o resultado de suas experiências anteriores. Veio da beira, para o solo dadivoso, com trânsito pelos espinhos e as pedras. Ë justamente nesse sentido que nós devemos batalhar para conseguirmos, através do trabalho no bem e do conhecimento das leis divinas, despertar para os verdadeiros valores. Pois, é nesse momento que a terra fica adubada, preparada para receber a semente que cai, fazendo-a criar raízes profundas. Portanto, esse é o momento que todos nós devemos buscar. Porém, o alcance do objetivo não é milagroso; não é estabelecido de uma hora para outra, porque, conforme já sabemos, a natureza não dá saltos. Nós devemos construir todo esse processo de reencarnação a reencarnação. A parábola do semeador nada mais é que a busca do Eu interior do homem.
ITEM 6: Comentário de Kardec:
A parábola do semeador exprime perfeitamente os matizes existentes na maneira de serem utilizados os ensinos do Evangelho. Quantas pessoas há, com efeito, para as quais não passa ele de letra morta e que, como a semente caída sobre pedregulhos, nenhum fruto dá! Não menos justa aplicação a encontra nas diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?
No item anterior, já tomamos conhecimento que a parábola do semeador sintetiza os caracteres predominantes em todas as almas, ao mesmo tempo em que nos ensina a distingui-las pela boa ou má vontade com que recebem as novas espirituais.
No seu comentário, Kardec faz uma comparação das fases descritas por Jesus com certos tipos de criaturas. As criaturas da beira: Seus representantes comparecem à Casa Espírita motivados por variados problemas, de ordem física e emocional. A intenção é meramente receber benefícios. Pouco interesse ou quase nenhum quanto às palestras e orientações. Não obstante, hajam recursos para mantê-los atentos, o aproveitamento dos nossos irmãos da beira será sempre precário, em relação à Doutrina Espírita, que exige apelo à razão, que exige atenção e disposição para assimilar seus conceitos. As criaturas das pedras:  Seus representantes ouvem a palavra e a recebem com alegria. Assimilam algo, mas não estão dispostos a enfrentar os dissabores da adesão. O sol abrasador dos preconceitos e das  discriminações torra facilmente as frágeis raízes de sua fé.
Acontecia com o Espiritismo no passado: Falava-se que os espíritas eram adoradores do demônio. As pessoas recusavam-se a passar em frente ao Centro Espírita. Raros resistiam. Ainda hoje, temos simpatizantes que não se integram para não criar problemas com a família. As criaturas dos espinhos: Seus representantes aceitam a palavra, mas as seduções do mundo a sufocam. Adoram os princípios espíritas: a ação no campo social, o exercício da caridade. Gostariam de participar, mas, dizem que não se sentem preparadas. Alegam ser fumantes inveterados e abusarem dos aperitivos. A palavra deixou boas raízes nelas, mas as fraquezas, espinhos danosos que não querem eliminar, falam mais alto. Aqui, vale lembrar uma recomendação de Jesus, por João, no Cap. XII, v. 35 de seu Evangelho: Andai enquanto tendes luz. É imperioso aproveitar as oportunidades de edificação da jornada humana. É para isso que estamos aqui. Amanhã, poderá nos faltar luz, a lucidez, a saúde, o vigor físico a possibilidade de mudar e penoso será o futuro se não o fizermos. Se esses aspectos acontecem para o comum dos homens, como grande parte de terra improdutiva, que faz parte do nosso mundo, também se distingue, dentre todos, criaturas de boa vontade, que ouvem a palavra, transformam-na em ações, e dessa semente bendita resulta tão grande produção que se pode contar a cento por uma.
Vamos destacar alguns aspectos para nossa reflexão:
1 – Por que, se somos filhos de Deus, há vários tipos de solo?
2 – Por que muitos não se sensibilizam?
3 – Por que, há os que se sensibilizam, mas permanecem distantes, preocupados com opiniões alheias?
4 – Por que há os que se aproximam, mas não estão dispostos a se envolver?
5 – Por que, enfim, há os que se envolvem?
6 – Por que, dentre eles, há os que produzem pouco e os que produzem muito?
7 – Que fatores determinam reações tão díspares?
8 – Se a palavra é para todos, porque não somos todos dadivosos?
R – Só a reencarnação pode explicar essa diversidade de solos.
Daí nós concluirmos que:
A palavra de Deus, a semente, é uma só, quer dizer, é sempre a mesma que tem sido apregoada em toda parte, desde que o homem se achou em condições de recebe-la. E se ela não atua com a mesma eficácia em todos, deriva esse fato da variedade e da desigualdade de espíritos que existem na terra; uns mais adiantados, outros mais atrasados; uns propensos ao bem, à caridade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho; apegados aos bens terrenos.
Será que podemos, já na presente existência, entrar para a turma especial do solo dadivoso? Sem dúvida!
O lavrador pode limpar o campo, tirar as pedras e os espinhos, revolver a terra, aplicar adubo. Nós podemos e devemos fazer isso. Depende somente de nossa iniciativa. É preciso tão somente usar a enxada da vontade, revolver a terra da indiferença e aplicar o adubo do trabalho, preparando o solo do coração para as sementes do Evangelho.

Então, gloriosa será a nossa passagem pela Terra, com frutos dadivosos em favor do próximo e abençoada edificação para nós.
*********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede Perfeitos – item 4 – Os bons espíritas.
ITEM 4: Comentário de Kardec:
Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.
Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes aprendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os aprendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direto à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.
Desse comentário de Kardec, nós podemos retirar um tema bem atual. Ninguém quer ser mau nas suas atividades, nem quer ser inferior naquilo que é. Ser considerado bom em tudo que faz, é uma aspiração de todas as criaturas e, com certeza, todos os seguidores da Doutrina Espírita gostariam muito que o trabalho executado em favor dos semelhantes sempre fosse considerado bom, de boa qualidade. Mas, nem sempre é assim. Quantas vezes, nós permitimos que as coisas do mundo interfiram na nossa maneira de ser espírita? Cremos e, até, nos deslumbramos com os ensinamentos de Jesus. Mas, basta um determinado momento de nossas vidas, em que haja acontecido algo, para deixarmos de lado a atitude do espírita. Interrompemos a nossa tarefa na seara do Cristo. Não nos arriscamos mais a caminhar na direção da luz e, aí, somos levados a uma conclusão um pouco constrangedora de que, realmente, esse termo utilizado pelo codificador, os Bons Espíritas, ainda não foi observado atentamente, ainda não foi bem estudado, esmiuçado o bastante, para que nós possamos aplicá-lo às pessoas que estudam a Doutrina. Somente raros permanecem firmes e confiantes, enfrentando as tempestades e os obstáculos que, muitas vezes, são o sinal da segurança que logo advirá.
A religião espírita e a filosofia espírita nos ajudam a pensar melhor, a raciocinar melhor, a deliberar melhor. Enfim, a agir melhor, mesmo que o estudioso não seja espírita. Aqui vale lembrar que o Espiritismo é o Cristianismo redivivo. Portanto, sua filosofia pode ser seguida por qualquer criatura.
O Espiritismo bem compreendido, sobretudo, bem sentido, nos conduz forçosamente às qualidades mencionadas no estudo que fizemos da lição anterior,  que caracterizam o homem de bem. Ou seja, o verdadeiro espírita, o verdadeiro cristão. Conforme Kardec nos diz, não há diferença entre eles.
O Espiritismo, por ser o Cristianismo redivivo, como já dissemos, não cria uma nova moral, apenas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo. O Espiritismo não permite distorções daquilo que foi ensinado por Jesus.
Os verdadeiros sacerdotes do cristianismo de Jesus não são os que se dedicam às cerimônias e aos ritualismos do culto exterior, mas sim os educadores que procuram pela palavra e pelo exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais latentes dos seus educandos. Por isto, o Espiritismo não aceita alegorias nem figuras.
Continuando,...
Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes aprendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independente da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.
Para compreender a moral do Cristo, não é necessário possuir uma inteligência privilegiada. Às vezes, ela não é muito grande por parte de quem estuda. Porém, iluminada o bastante para ter o coração aberto às dores do mundo, para entender o sofrimento, os erros e as dificuldades de seus irmãos de caminhada, sejam eles quem for. Para ter a capacidade de vencer a si próprio, de forjar em si a fortaleza espiritual, a disciplina, a perseverança e a disposição de se sacrificar pelo seu semelhante. Assim, como pretendente o verdadeiro espírita, o viajor, a caminho da luz, não deixa escapar as oportunidades de crescimento.
Continua Kardec,...
Nalguns, ainda muito tenazes (aderentes ) são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores ( índole ), nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça ( corriqueira ) e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos (mistérios) do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, algum dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.
Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende (compreende) alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade.
Kardec nos alerta sobre o comportamento de algumas criaturas que entram em conflito ao atingir a percepção de que é um ser em evolução espiritual e, por conseguinte, têm a necessidade de acelerar a sua marcha, mas não querem se desvencilhar de seus valores materiais. Por isto, elas ficam entre aquilo que pretendem ser e aquilo que ainda gostam de ser. Para estas, o sentimento de orgulho, de egoísmo e de vaidade, ainda fazem morada dentro de si, formando uma cortina, que dificulta a compreensão da Boa Nova, para se livrarem do homem velho que carregam dentro de si, através de milênios de experiências, que seu princípio espiritual vivenciou, para transformá-lo num homem novo, pleno de sabedoria, de luz e de amor.
Kardec vai mais longe, as identifica como espíritas imperfeitos. Aqui, torna-se bastante pertinente, refletirmos sobre a figura da mariposa. As mariposas são atraídas pela luz, assim como, os adeptos do espiritismo são atraídos pela busca da verdade espiritual. As mariposas ao aproximarem-se demais da luz, sem estarem devidamente adaptadas às novas condições, elas acabam queimando as suas asas. Assim, também, podemos considerar em relação aos irmãos que buscam no espiritismo resultados imediatos e soluções milagrosas. Estes, na ocasião em que se vêem diante de uma queda natural, devido ao estado de imperfeição que carrega, ficam desiludidos e, por isto, não buscam mais, na fonte da criação, forças para reerguerem-se.
Agora, o espírita verdadeiro é aquele que compreende a realidade. Sabe que todos aqueles que estão a caminho da luz são falhos, imperfeitos e, portanto, as quedas existentes no caminho que percorrem são consideradas normais. Eles enfrentam suas lutas diárias, entre quedas e soerguimentos, dando continuidade às suas jornadas. Tirando  dos acontecimentos que experimenta lições aprendidas , que vão reforçando seus Espíritos, para os trabalhos que ainda virão.
Nada na natureza dá saltos. Aposentar o homem velho, cheio de incertezas, cego em si próprio, e  deixar surgir o homem novo, capaz de não mais se iludir, capaz de autoanalisar os seus atos, não é tarefa fácil. Ela exige a necessidade do trabalho, da ação, da experiência e da dor reparação, que ensinam e direcionam o verdadeiro espírita a deixar emergir de si próprio a luz divina.
Muitas são as provas pelas quais passamos: é a falta de fé e de esperança, vencendo a nossa capacidade de resignação; é o ciúme, o desamor e a inveja a destruir nossas forças, afastando-nos da elevação; é a depressão, a menos-valia, despindo-nos dos valores necessários ao crescimento do  espírito; é a dificuldade do caminho, testando a nossa paciência; é a tendência egocêntrica nos impedindo de ver o nosso próximo e senti-lo como irmão; é a doença que nos impede de caminhar, levando-nos ao desânimo. A todas devemos vencer, para nos candidatarmos a passar pela porta estreita do reconhecimento cristão.
A base do verdadeiro espírita está na compreensão e no conhecimento. Por isto, o Espírito de Verdade nos conclama: “Espíritas instrui-vos“. Porém, conhecer e compreender as verdades cristãs não são condições suficientes. A criatura precisa aceitar esse caminho e admiti-lo para si, percorrendo-o com fé, esperança e resignação.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 -  O que devemos fazer para sermos considerados bons espíritas?
R – Compreender bem a Doutrina Espírita, estudando-a, esmiuçando-a o bastante e, sobretudo, sentindo-a.
2 – O que caracteriza o espírita imperfeito?
R- A desistência de trabalhar na seara do Cristo diante da realidade, ao não encontrarem a chave miraculosa, para decifrar sonhos.
3 – O que impede o homem de ser bom espírita?
R – Ter sentimento de orgulho, de egoísmo e de vaidade.
Daí nós concluirmos que:
Os bons espíritas sabem que nunca estão sozinhos; sempre se colocam à disposição para o trabalho fecundo na caridade; percebem que não são diferentes de seus semelhantes, e que todos são irmãos necessitados de amparo, de afeto e de compreensão; não se deixam levar pelo desânimo e pela dor; sabem que as experiências que vivem são a dose justa de que necessitam para o seu soerguimento espiritual; dão de si mesmos  por  saberem que encontrarão em seus íntimos a presença de Deus; colocam o espiritismo à frente de todas as coisas; agem como espíritas, procedem como espíritas e têm consciência de que é um ser espiritual eterno; que a morte não existe e, sim, a vida, sempre. No estudo do Evangelho busca o que Jesus espera de nós.

Um dia, todos nós seremos bons espíritas.
*****************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede Perfeitos – itens 3 – O Homem de bem.
ITEM 3: O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Na questão 918 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta: Por que indícios (princípio de prova) se podem reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o espírito na hierarquia espírita?
A espiritualidade superior responde: - “O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática das leis de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual”.
Nós já estudamos, que toda criatura humana traz dentro de si um impulso, no sentido do seu progresso espiritual. Mesmo que não dê conta disso, aquela centelha do amor de Deus, colocada em sua consciência, faz com que ela se mova constantemente na direção da sua evolução espiritual, mesmo aqueles que têm o coração endurecido, e que ainda  persistem nas paixões inferiores.
Mas existem aqueles que já têm dentro de si uma noção exata de sua imperfeição e uma força tão grande, que conseguem atuar neste planeta de expiações e provas, dedicando  sua vida a aquele que sofre; dedicando sua vida a seu semelhante, seu irmão, negando-se a si mesmo. E essas pessoas, obviamente, são candidatas a serem promovidas a passar por aquela porta estreita que Jesus nos falou.
O homem, então, dá demonstração de sua elevação moral quando os seus atos são norteados pela prática das leis de Deus; quando compreende e prioriza a vida espiritual; quando cumpre com o seu dever para com o próximo, ajudando-o e fazendo tudo o que pode, a serviço da humanidade.
Essa virtude de servir ao semelhante, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.
O homem de bem quanto mais progride mais percebe que a vida no Orbe terrestre é um grande condomínio, que ele compartilha com os seus semelhantes. E sempre faz aos outros tudo aquilo que gostaria que lhe fosse feito.
Continuando:
Deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza ( esbanja ) aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.
O Codificador diz que o homem de bem deposita fé em Deus. Mas, o que é a fé? A fé é o entendimento das leis de Deus, gerado no equilíbrio, no raciocínio e na razão. Esta é fé legítima.
O homem de bem está sempre com o pensamento voltado para Deus, pois, sabe que a Obra do Criador está em toda parte. Todas as coisas visíveis e invisíveis são frutos de Sua vontade. Portanto, tudo o que acontece está ligado aos Seus desígnios. Nada se move, nada se modifica, nada acontece, sem que esteja de acordo com Sua vontade e conforme Sua lei.
O homem de bem sabe que a lei de Deus é regra de justiça, e que esta é a referência que delimita as ações e as reações; as causas e seus efeitos. Tem fé no futuro porque sabe que o amanhã será preenchido com os valores de hoje. Exercita aquela informação de Jesus, repetindo: “Deus está em mim e eu estou Nele. Eu e o Pai somos um”.
O homem de bem prioriza as coisas espirituais, porque sabe que a verdadeira vida é a espiritual. O mundo normal é o mundo dos Espíritos. Que é primitivo, que é eterno, que é preexistente e sobrevive a tudo. É interessante destacar que o mundo corporal é secundário. Poderia, até, deixar de existir, ou mesmo, não ter  jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo Espírita.
O homem de bem parte da premissa que, a felicidade não é coisa deste mundo, e que as aflições fazem parte da vida do homem; sabe que as vicissitudes são expiações e provas, que representam instrumentos que o Pai escolheu para retificar, ensinar e burilar o Espírito, em sua escalada evolutiva. É sempre resignado e, por isto, as aceita sem se lamentar.
O sentimento de caridade, sobretudo, o da caridade desconhecida, o impulsiona a exemplificar o Evangelho, sem nada exigir em troca. É levado a pensar no semelhante antes de pensar em si. E isto distingue o homem de bem do homem comum.
Continuando:
O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema ( reprovação ) aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.
O homem de bem é bom. Age sempre com benevolência para com todos; não faz distinção de pessoas. Para ele não importa a sua crença e, sim, o que faz. Tem por guia o bem e a caridade, por isto, modera as suas palavras e as suas ações, evitando ferir ou proporcionar ressentimento nos outros. Recua sempre, diante da eminência de faltar com amor a seu semelhante. Por possuir sentimento de caridade, faz o bem pelo bem. Defende o fraco, lutando incessantemente contra o mal, onde quer que esteja. Sacrifica seus interesses, pelo interesse da justiça. Sente alegria em trabalhar na seara do bem. Vive em contato com o mundo, convivendo pacificamente com todas as criaturas, e colabora para o bem-estar comum. Tem por guia a lei de justiça, de amor e caridade. Considera que todas as criaturas são filhas do mesmo Pai, irmãs, portanto.
Continuando:
Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado”.
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do na véspera.
O homem de bem vive no mundo sem pertencer ao mundo, ou seja, não se deixa envolver pelos vícios e pelas tentações. Fruto do seu desprendimento, do serviço da doação, do esquecimento de si mesmo, nas relações com o mundo que o cerca, razão porque não alimenta ódio, nem rancor, nem vingança. Jesus deixou bem clara a lição da misericórdia, quando disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Da mesma forma que julgares sereis julgados”. Por isto, o homem de bem tem o discernimento como melhor companheiro diante dos fatos da vida, que induzem ao julgamento precipitado e inútil, que o leva a aplicar a indulgência, no lugar da condenação. Sabe que o perdão das ofensas tem que ser incondicional, e que a misericórdia é uma premissa de vida. O conhecimento de si mesmo, ou seja, o entendimento que encontra em seu próprio estágio de evolução, ajuda o homem de bem a superar as tendências de inveja. Por isto, não se compraz (sentir prazer) com o insucesso dos outros. O homem de bem procura melhorar-se todos os dias, por menor que seja essa melhora. Francisco de Assis, na sua perseverança na busca de seus objetivos, dizia ser necessário que a cada dia se colocasse um tijolo na construção de nossas vidas e, em pouco tempo, poderíamos observar a igreja que fomos capazes de construir, com o nosso próprio esforço continuado.
Continuando:
Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado. Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplica-lo à satisfação de suas paixões. Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram. O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente.  (Cap. XVII, n.9).
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz.
O homem de bem segue a sua caminhada, preocupado com a harmonia social, buscando entender a necessidade de amar e compreender seu semelhante. Está sempre a serviço do Senhor, batalhando na seara do bem, em todas as formas. Ele usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos. Vive sem os excessos. Retém somente as coisas que realmente são essenciais e necessárias para sua vida, desfazendo-se de tudo aquilo que é supérfluo.
Jesus disse que nós somos o sal da terra. E a missão do homem de bem é adubar, arar o terreno, para que ele seja capaz de multiplicar as bênçãos recebidas. Em outras palavras, o homem de bem quando tem poder distribui justiça, proporcionando ensinamentos, novas oportunidades de trabalho e de evolução para os seus semelhantes. Esse poder, que é conferido por Deus, é para ser usado com humildade, para a melhoria das coisas. O poder representado aqui pela autoridade temporária, é outra prova difícil de ser suportada, porque, geralmente, aqueles que detêm poder deixam a ilusão do orgulho turvar sua visão, para a sua real destinação. Deixam-se vencer pela indolência, pela prepotência, pela perversidade, prejudicando muitas vezes aqueles com quem convive; de quem cobra dedicação, obediência e, até submissão.
Reconhece-se o verdadeiro homem de bem pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Como pode o homem verificar se está cumprindo, verdadeiramente, a lei de justiça, de amor e caridade?
R – Interrogando a consciência sobre seus próprios atos;  se faz aos outros o que deseja que lhe fizessem.
2 – Por que o sentimento de caridade e amor ao próximo estão incluídos entre as qualidades do homem de bem?
R – Porque o exercício da caridade impulsiona o homem a pensar nos outros, antes de pensar em si. Essa prática propicia o de todas as demais qualidades que distinguem o homem de bem.
3 – Os homens que cumprem suas obrigações sociais, são homens de bem?
R – Segundo o julgamento dos homens, sim. Nem sempre, no entanto, perante Deus.
Daí nós concluirmos que:
O verdadeiro homem de bem é o que age de acordo com as leis de Deus, sabiamente prescritas por Jesus em  seu evangelho, cumprindo a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza.
Não podemos fugir à responsabilidade de semear. Agora, não será possível colher-se uvas quando plantamos espinheiros. Mas se semearmos a boa semente, seremos capazes de colher os bons frutos do correto plantio que fizermos.
Que possamos, todos nós, observarmos essas virtudes do homem de bem. Aquele que caminha na direção do bem vence as suas inferioridades sem sentir. Pois, coloca no seu espírito os valores eternos da espiritualidade. Coloca em seu espírito a luz necessária para faze-lo passar pela porta estreita.

Não basta o contentamento de apenas hoje. É preciso saber se estamos pensando, sentindo, falando e agindo, para que o nosso regozijo de agora seja também regozijo depois.
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede Perfeitos – itens 1 e 2 – Caracteres da perfeição.
ITEM 1: Caracteres da perfeição.
Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. – Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? – Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? – Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (Mateus, cap. V, vv. 44, 46 a 48).
A busca da perfeição implica em amarmos até os nossos inimigos. A fazermos o bem aos que nos odeiam e caluniam, porque a perfeição só é atingida quando o coração fica despojado de toda e qualquer mácula de rancor, de ódio e de ressentimento. Quando, então, limpamos o nosso coração  para com o  semelhante, para com o outro.
É preciso entender que os nossos inimigos são colocados, por Deus, no nosso caminho, ao nosso lado, a fim de que sejamos advertidos, com mais clareza do que faria um amigo, sobre como amar o próximo. Porquanto, aquele inimigo nenhum interesse tem em mascarar a nossa condição. O inimigo, aparente obstáculo em nossa caminhada é, na verdade, instrumento de nosso aperfeiçoamento. E é muito bom nós ampliarmos a nossa afeição. Pois, como Jesus falou, não há vantagem em amarmos somente a quem nos ama.
ITEM 2: Comentário de Kardec.
Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”, tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita, quanto o Criador, tornar-se-ia igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança (diferença sutil entre coisas do mesmo gênero), pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
Como o próprio Kardec destaca, neste estudo, encontramos mais uma passagem de Jesus que, se entendida ao pé da letra, será tomada como um absurdo.
De certa forma, esta exortação do Mestre “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”, nos causa estranheza, pois, pode alguém  ser perfeito como o Pai o é? Deus é que possui a perfeição infinita em todas as coisas.
O conceito de perfeição designa um estado plenamente realizado, ou seja, aquilo que é bem acabado em todos os detalhes; aquilo que não apresenta defeito; aquilo que é belo. Em Teologia, é a plena realização sob o ponto de vista moral; realização no bem, que compete a cada um possuir e atuar. Nestas condições, como alguém, aqui na Terra, poderá atingir esse patamar? Então, há que se perguntar: Por que, sabendo da nossa fraqueza e das nossas imperfeições, o Mestre pode dar essa ordem expressa? Lógico que ele sabia, mas o motivo determinante para essa perfeição determinada pelo Cristo, é que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. E diante desta verdade, devemos prestar contas ao Pai, dentro do melhor nível de evolução que pudermos alcançar.
Nessa frase, Jesus dá uma ordenação a todos os habitantes do Planeta, independente da seita ou da religião que professem.
Continuando,...
Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: “Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem”. Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
A perfeição absoluta pertence ao Criador, como está contido na primeira pergunta de O Livro dos Espíritos, quando o Codificador pergunta que é Deus e os Espíritos respondem: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. Ora, se Deus é a inteligência suprema Ele é único. Não cabendo ao homem atingir esse estágio. Por isso, nós já podemos entender que, o que é ordenado por Jesus, é uma perfeição a que a humanidade é capaz de atingir; a que mais se aproxima de Deus. Portanto, uma perfeição relativa, ou seja, nós podemos ser perfeitos em alguns aspectos e noutros não.
Todos nós temos o direito de buscar essa perfeição. Mesmo aqueles espíritos mais rebeldes, que estão agarrados aos erros e aos vícios.  Mas, para isto, é preciso que nos despertemos para a necessidade desse momento, e que tenhamos boa vontade para iniciar aquele bom combate, de que Paulo de Tarso nos fala, para desenvolvermos em nós, de forma gradativa e paciente, as mudanças para atingirmos essa evolução.
Ë muito importante nós analisarmos a colocação do verbo, que está no imperativo afirmativo, ou seja, nos recomendando para que o ato seja realizado de imediato. Jesus não disse para sermos perfeitos amanhã. A determinação do Mestre nos indica para agirmos hoje, no presente momento.
Nós já sabemos que, para alcançar um estágio evolutivo mais adiantado, demanda muitas existências. Acredita-se que Jesus tenha vivido alguns bilhões de milênios, para chegar ao estágio em que chegou. Então, como podemos nos modificar nesse instante? Nós já aprendemos que a natureza não dá saltos. Portanto, não poderia ser exigido de nós, habitantes de um mundo de expiações e provas, a mesma perfeição que se exige de um Espírito puro e, muito menos, a perfeição absoluta de Deus. Daquele que tem um conhecimento menor será exigido uma perfeição diferente daquele que tem um conhecimento maior. Jesus alertou: A quem muito foi dado, muito será exigido.
Continuando,...
Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos        o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobre-excita (estimula) o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”.
A perfeição  que o Mestre nos ordena é aquela contida nos seus ensinamentos, que nos conclama a amarmos os nossos semelhante e a fazermos o bem sem exceção. Portanto, ela está centrada na caridade que fizermos ao nosso próximo. E essa caridade deve ser exaltada, para que culmine até no amor ao inimigo. Na mais ampla acepção do termo, porque implica na prática de todas as outras virtudes.
Jesus nos preceitua em seu Evangelho, que a verdadeira caridade é formada pela benevolência, que é a boa vontade com alguém; pela indulgência, que é estar pronto para perdoar; pela abnegação, que é o desprendimento; e pelo devotamento, que é o ato de dedicar-se.
E como saberemos se estamos cumprindo esse preceito do Mestre? Basta perguntar a nós mesmos, à nossa consciência. Sempre lembrando que somos devedores de amor e respeito, uns para com os outros. E, mais ainda, quanto mais desventurado for o ser tanto mais de auxílio necessita.
Quando Jesus nos conta a parábola do Bom Samaritano, por exemplo, faz-nos uma apologia do amor ao próximo, isento de preconceitos e de segundas intenções.
 Por isto é que nos foi exigido a perfeição, hoje. Ficando bem claro, que Jesus não ordenou nenhum absurdo.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que a busca da perfeição implica amarmos, inclusive, nossos inimigos e fazermos o bem aos que nos odeiam, perseguem ou caluniam?
R – Porque a perfeição só é atingida quando o coração se vê despojado de toda e qualquer mácula de rancor, ódio e ressentimento para com o semelhante.
2 – Em que consiste a perfeição a que a humanidade é capaz de atingir, e que mais a aproxima da divindade?
R – Na prática do mandamento de Jesus, que nos ensina a amarmos os nossos inimigos, e fazermos o bem aos que nos odeiam e orarmos pelos que nos perseguem.
3 – Que regra máxima nos concede Deus para, mais rapidamente, conquistarmos a perfeição?
R – O Evangelho de Jesus, que encerra as leis morais da vida.
Daí nós concluirmos que:

A prática da caridade, em sua mais ampla acepção, constitui o único caminho para a conquista da perfeição. Manifesta-se no amor ao próximo, extensivo aos nossos inimigos; no fazer o bem aos que nos odeiam; e no orar pelos que nos perseguem e caluniam.
*****************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Cap. XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – itens 14 e 15 – Desprendimento dos bens terrenos e transmissão da riqueza.
Instruções dos Espíritos ( continuação )
ITEM 14. Trata-se de uma mensagem de Lacordaire , e ele inicia assim:
Venho, meus irmãos, meus amigos, trazer-vos o meu óbolo, a fim de vos ajudar a avançar, desassombradamente, pela senda do aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos devemos uns aos outros; somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a regeneração.
O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices (obstáculo) ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais.
Neste parágrafo, podemos entender o seguinte: Vosso amor aos bens terrestres é um dos mais fortes entraves ao vosso adiantamento moral e espiritual; por esse apego à posse, suprimis as vossas faculdades afetivas em as transportando todas sobre as coisas materiais.
 Sede sinceros: proporciona a riqueza uma felicidade sem mescla ? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio no vosso coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre oculto um réptil? Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que, por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas, dessa satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão grande quanto a que separa da prodigalidade exagerada (gastos exagerados) a sórdida (asquerosa) avareza, dois vícios entre os quais colocou Deus a caridade, santa e salutar virtude que ensina o rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza.
Desse trecho, podemos entender que o desprendimento dos nossos bens terrenos é fundamental para o nosso crescimento moral e espiritual. E, que, o apego a eles, ao contrário, é um grande obstáculo para
que a gente cresça.
Nas perguntas que faz, o espírito Lacordaire deixa claro que a riqueza em si só não dá a felicidade plena. Ela terá que vir acompanhada de uma aplicação consciente, oportunizando auxílio aos nossos irmãos de caminhada. Na verdade, quando nós sabemos utilizar os bens que nos foram emprestados, utilizando-os com equilíbrio, nós vamos produzir o bem à todas as criaturas que estejam necessitadas e, sobretudo, desempenhar  com louvor a nossa missão, nessa prova da riqueza.
O Espírito comunicante diz que Deus aprova a fortuna adquirida através do trabalho honrado. Mas, se houver qualquer tipo de apego material, este se transforma numa atitude egoística, de plena satisfação pessoal, retendo recursos externos de que nós não estamos necessitando, e que vão continuar guardados.
O Espírito diz também, que não devemos gastar exageradamente nem fazer a retenção do dinheiro. Portanto, devemos abrir o nosso coração para deixar sair, de forma consciente, a ajuda para aqueles que estão em dificuldade.
Agindo com harmonia na distribuição da fortuna, estamos praticando  caridade, santa e salutar virtude, que Deus nos confere, para que aprendamos a dar sem ostentação, para que o necessitado receba sem humilhação.
Continua Lacordaire:
Quer a fortuna vos tenha vindo da vossa família, quer a tenhais ganho com o vosso trabalho, há uma coisa que não deveis esquecer nunca: é que tudo promana (procede) de Deus, tudo retorna a Deus. Nada vos pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não proprietários, não vos iludais. Deus vo-los emprestou, tendes de lhos restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba aos que carecem do necessário.
Um dos vossos amigos vos empresta certa quantia. Por pouco honesto que sejais, fazeis questão de lha restituirdes escrupulosamente e lhe ficais agradecido. Pois bem: essa a posição de todo homem rico. Deus é o amigo celestial, que lhe emprestou a riqueza, não querendo para si mais do que o amor e o reconhecimento do rico. Exige deste, porém, que a seu turno dê aos pobres, que são, tanto quanto ele, seus filhos.
O Espírito comunicante nos chama a atenção para o fato de que não devemos esquecer que, tudo que procede de Deus, retorna a Deus. Por isto, a riqueza que Deus nos empresta está sob a condição de que o que exceder às nossas necessidades seja repartido com os irmãos necessitados, mesmo que essa riqueza provenha de um trabalho honesto ou de uma herança.
Por este motivo, não devemos reter qualquer tipo de riqueza, de que não necessitemos. Vamos amenizar a fome do nosso irmão, que passa por um momento difícil; vamos vestir, agasalhar um nosso semelhante, que passa pela prova da pobreza. Esse socorro imediato aos desassistidos do caminho, nos envolve num processo de implantação de um mundo mais justo e mais humanizado.
Continuando,...
Ardente e desvairada cobiça despertam nos vossos corações os bens que Deus vos confiou. Já pensastes, quando vos deixais apegar imoderadamente a uma riqueza perecível e passageira como vós mesmos, que um dia tereis de prestar contas ao Senhor daquilo que vos veio dEle? Olvidais que, pela riqueza, vos revestistes do caráter sagrado de ministros da caridade na Terra, para serdes da aludida riqueza distribuidores inteligentes? Portanto, quando somente em vosso proveito usais do que se vos confiou, que sois, depositários infiéis? Que resulta desse esquecimento voluntário dos vossos deveres? A morte, inflexível, inexorável, rasga o véu sob que vos ocultáveis e vos força a prestar contas ao Amigo que vos favorecera e que nesse momento enverga diante de vós a toga de juiz.
Desse trecho, nós podemos entender o seguinte:
Quanto mais coisas materiais temos, mais precisamos de tempo para cuidar delas. Ora, se nada trouxemos para este mundo, nada poderemos daqui levar.
Os que, vivendo uma vida simples, ficam preocupados em Ter uma vida de rei, e por isto  querem se tornar ricos, caem em tentação e são tomados pelo desejo ardente de bens materiais, pelos quais são levados à ruína e à perdição. E nessa cobiça alguns se desviam da fé. O rico dificilmente se dedica a uma vida religiosa, seja porque não tem tempo, por causa dos seus afazeres materiais que lhe consome mais o seu dia-a-dia, seja porque estão contentes com a falsa felicidade que o dinheiro lhe oferece. Não se preocupa com os menos favorecidos, com a miséria que às vezes assola a casa vizinha ou parentes que passam por graves problemas. Fica alheio a tudo e a todos. A criatura que assim precede se torna um depositário infiel dos bens de Deus.
As nossas atitudes estarão sempre sendo aferidas. Ser rico, nós já sabemos, não é condenável. O que é condenável é o apego a essa riqueza porque, como já falamos, esse apego se transformará numa grande dificuldade, quando do retorno do ser ao Plano Espiritual
Não foi a toa que Jesus afirmou que é muito difícil um rico entrar no Reino de Deus.
Continuando,...
Em vão procurais na Terra iludir-vos, colorindo com o nome de virtude o que as mais das vezes não passa de egoísmo. Em vão chamais economia e previdência ao que apenas é cupidez e avareza, ou generosidade ao que não é senão prodigalidade (esbanjamento) em proveito vosso. Um pai de família, por exemplo, se abstém de praticar a caridade, economizará, amontoará ouro, para, diz ele, deixar aos filhos a maior soma possível de bens e evitar que caiam na miséria. É muito justo e paternal, convenho, e ninguém pode censurar. Mas será sempre esse o único móvel a que ele obedece? Não será muitas vezes um compromisso com a sua consciência, para justificar, aos seus próprios olhos e aos olhos do mundo, seu apego pessoal aos bens terrenais? Admitamos, no entanto, seja o amor paternal o único móvel que o guie. Será isso motivo para que esqueça seus irmãos perante Deus? Quando já ele tem o supérfluo, deixará na miséria os filhos, por lhes ficar um pouco menos desse supérfluo? Não será, antes, dar-lhes uma lição de egoísmo e endurecer-lhes os corações? Não será estiolar (enfraquecer) neles o amor ao próximo? Pais e mães, laborais (trabalhais) em grande erro, se credes que desse modo granjeais maior afeição dos vossos filhos. Ensinando-lhes a ser egoístas para com os outros, ensinais-lhes a sê-lo para com vós mesmos.
Nós já estudamos que o egoísmo se disfarça de várias maneiras. E aqui neste trecho, o Espírito comunicante diz que, por trás de uma cortina aparente de virtude, o egoísmo aparece como amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios. 0 avarento se julga previdente. Acumula uma grande fortuna, não pratica a caridade, justificando a sua atitude como previdência para com a sua família.
Lacordaire nos adverte sobre o mau exemplo dado pelo pai de família, que está faltando com o dever, não encaminhando os seus filhos para a prática do bem e da caridade.
Ele nos fala também que o esbanjamento não é generosidade e, sim, desacertos humanos, nos quais a causa básica é a busca de coisas desnecessárias para a vida do ser, como a supervalorização do supérfluo, do luxo, da posse e do prazer.
Nós já estudamos também que, a generosidade consiste em colocar os bens materiais a serviço da caridade, e nunca a serviço do esbanjamento.
Continuando,...
A um homem que muito haja trabalhado, e que com o suor de seu rosto acumulou bens, é comum ouvirdes dizer que, quando o dinheiro é ganho, melhor se lhe conhece o valor. Nada mais exato. Pois bem! Pratique a caridade, dentro das suas possibilidades, esse homem que declara conhecer todo o valor do dinheiro, e maior será o seu merecimento, do que o daquele que, nascido na abundância, ignora as rudes fadigas do trabalho. Mas, também, se esse homem, que se recorda dos seus penares, dos seus esforços, for egoísta, impiedoso para com os pobres, bem mais culpado se tornará do que o outro, pois, quanto melhor cada um conhece por si mesmo as dores ocultas da miséria, tanto mais propenso deve sentir-se em aliviá-las nos outros.
Infelizmente, sempre há no homem que possui bens de fortuna um sentimento tão forte quanto o apego aos mesmos bens: é o orgulho. Não raro, vê-se o arrivista (pessoa ambiciosa) atordoar, com a narrativa de seus trabalhos e de suas habilidades, o desgraçado que lhe pede assistência, em vez de acudi-lo, e acabar dizendo: “Faça o que eu fiz”. Segundo o seu modo de ver, a bondade de Deus não entra por coisa alguma na obtenção da riqueza que conseguiu acumular; pertence-lhe a ele, exclusivamente, o mérito de a possuir. O orgulho lhe põe sobre os olhos uma venda e lhe tapa os ouvidos. Apesar de toda a sua inteligência e de toda a sua aptidão, não compreende que, com uma só palavra, Deus o pode lançar por terra.
Aqui, entendemos um alerta, que o Espírito Lacordaire nos faz, para os cuidados que devemos ter  no relacionamento com os nossos irmãos de caminhada.
Nós já estudamos, que não podemos servir a Deus e às riquezas, porque há de entregar-se a um e não fazer caso do outro. E isto fica bem claro na mensagem, quando é dito que o orgulho impede que a caridade seja praticada. Pois, o orgulho exacerbado (intenso) cega o homem para a sua verdadeira destinação na Terra, não lhe permitindo ver que tudo o que tem é um empréstimo de Deus, para a sua evolução e que poderá ser retirado a qualquer momento.
Continuando,...
Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os dilapidar, como não tem o de confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. Se, por efeito de imprevistos reveses, vos tornardes qual Job, dizei, como ele: “Senhor, tu mos havias dado e mos tirastes. Faça-se a tua vontade”. Eis aí o verdadeiro desprendimento. Sede, antes de tudo, submissos; confiai nAquele que, tendo-vos dado e tirado, pode novamente restituir-vos o que vos tirou. Resisti animosos ao abatimento, ao desespero, que vos paralisam as forças. Quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: “O meu reino não é deste mundo”.
O esbanjamento da riqueza é a manifestação de um grande equívoco. Como já foi dito, não é um sinal de desprendimento.
O desapego aos bens terrenos consiste em saber utilizá-los em benefício dos nossos semelhantes e, não, apenas em benefício próprio. E saber perdê-los, caso Deus resolva retirá-los, deveremos aceitar sem lamentações e, como Job, dizer: “Senhor, tu me deste e me tiraste. Faça-se a tua vontade”. Eis o verdadeiro desprendimento.
Como a riqueza também é um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não permite que ela permaneça por longo tempo improdutiva, pelo que, incessantemente a desloca.
Não devemos esquecer que, ao lado de uma prova difícil, Deus coloca sempre uma consolação. E se assim entendermos, mais fácil se tornará o nosso desprendimento.
Temos informação da Espiritualidade que, muitas vezes, uma criatura possuidora de uma grande fortuna e apegada a esses bens, quando  desencarna, lhe é permitido assistir a reunião de seus herdeiros, quando da partilha dos bens por ela deixados. A decepção, o desapontamento em ver a avidez (ambição; ganância; cobiça) daqueles que estão dividindo a herança lhe serviria como ensinamento e  “castigo” pela sua falta de desprendimento.
O excesso em nossa vida cria a necessidade na vida do nosso semelhante. Por isto, há a necessidade de nós nos desprendermos desses excessos de bens materiais, para que possamos ter uma vida mais pacificada, como também, um retorno ao plano espiritual com menos angústia.
Continuando,...
A ninguém ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a concede a quem bem lhe parece, a fim de que a administre em proveito de todos. O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando não a tem, sabendo empregá-la quando necessário, procede a criatura de acordo com os desígnios do Senhor. Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo segundo a tua santa vontade.  
Nós já sabemos que a riqueza é um meio pelo qual Deus nos experimenta moralmente. Cada um tem de possui-la para se exercitar, utilizando-a e demonstrando que uso sabe fazer dela. Assim, um que não a tem hoje, já a teve ou terá noutra existência. Outro, que agora a tem, talvez não a tenha amanhã. Então, a riqueza é a prova da caridade e da abnegação, e cabe à criatura que a possui fazê-la frutificar para o bem de todos. Porém, é a pior ferramenta para o nosso progresso espiritual, porque com dinheiro no bolso podemos saciar todos os nossos desejos. Poderemos entrar na vida ociosa, egoísta e sem objetivos mais nobres. Poderemos nos tornar uma pessoa poderosa e sem escrúpulos.
Devemos aproveitar a oportunidade da riqueza que nasce diante de nós. Furtar-se ao dever da própria responsabilidade, não quer dizer que estamos liberados da tarefa que nos cabe, pelo contrário, o dever não cumprido provavelmente nos aguardará no futuro, em circunstâncias mais desfavoráveis.
Continuando,...
Aí tendes, meus amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade. Não vos julgueis com direito de dispor em vosso exclusivo proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus.. Lacordaire. ( Constantina, 1863 )
Encerrando a sua mensagem, Lacordaire nos faz o seguinte alerta: Devemos saber nos contentarmos com aquilo que temos. Se estamos na prova da pobreza, não devemos invejar aqueles que têm riquezas. Se estamos na prova da riqueza, devemos lembrar que tudo de que dispomos nos é emprestado, e que devemos fazer um bom uso dessa riqueza, em benefício dos mais necessitados. Lembrando também que teremos que justificar o emprego que dermos a ela. Ora, se nós não tivermos a capacidade de cuidar bem dos bens recebidos, para devolvê-los de acordo com os ensinamentos do Cristo, não temos o direito de pedi-los.

Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Esbanjar a riqueza é sinal de desprendimento dos bens terrenos?
R – Não. Quem assim age desconhece que a verdadeira utilidade destes bens é o serviço ao próximo; portanto, sua atitude, além de egoísta, revela irresponsabilidade, descaso e indiferença para com o próximo e para consigo mesmo. Pois, dia chegará em que irá responder pela leviandade de seus atos.
2 – Em que consiste, verdadeiramente, o desprendimento dos bens terrenos?
R – O desapego dos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em bem servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio; em não sacrificar por eles os interesses da vida futura; em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. Eis aí o verdadeiro desprendimento.
3 – Que atitude devemos adotar, no caso de perdermos os bens que possuímos?
R – Devemos ser submissos à vontade de Deus que, havendo nos concedido bens e retirado, pode restituir-nos o que nos tirou.
Daí nós concluirmos que:
O desprendimento dos bens terrenos é a virtude que capacita o homem a valorizar os bens materiais que Deus lhe concede e a utilizá-los em benefício de todos, ciente de que sua posse é transitória e sua utilidade deve estar direcionada à prática do bem.
No Evangelho, Jesus nos aponta o caminho da simplicidade e da justiça quando ensina que: não devemos nos afligir pela posse dos bens materiais.
Assim, a simplicidade é um requisito essencial na nossa vida.
Ao invés do exagero, o adequado; conforto sem suntuosidade.
ITEM 15.
Finalizando o estudo do capítulo xvi, vamos apenas ler o que o Espírito S. Luís deu como resposta a uma pergunta sobre a transmissão da riqueza.
Pergunta: - O princípio, segundo o qual ele é apenas depositário da fortuna de que Deus lhe permite gozar durante a vida, tira ao homem o direito de transmiti-la aos seus descendentes?

Resposta: - O homem pode perfeitamente transmitir, por sua morte, aquilo de que gozou durante a vida, porque o efeito desse direito está subordinado sempre à vontade de Deus, que pode, quando quiser, impedir que aqueles descendentes gozem do que lhes foi transmitido. não é outra a razão por que  desmoronam fortunas que parecem solidamente construídas. É, pois, impotente a vontade do homem para conservar nas mãos da sua descendência a fortuna que possua. Isso, entretanto, não o priva do direito de transmitir o empréstimo que recebeu de Deus, uma vez que Deus pode retirá-lo, quando o julgue oportuno. – São Luís. (Paris, 1860).                    
****************************************** 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Cap. XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – itens 11 a 13 – Emprego da riqueza.
Instruções dos Espíritos ( continuação )

ITEM 11 : Não podeis servir a Deus e a Mamon. Guardai bem isso em lembrança, vós, a quem o amor do ouro domina; vós, que venderíeis a alma para possuir tesouros, porque eles permitem vos eleveis acima dos outros homens e vos proporcionam os gozos das paixões que vos escravizam. Não; não podeis servir a Deus e a Mamon! Se, pois, sentis vossa alma dominada pelas cobiças da carne, dai-vos pressa em alijar o jugo que vos oprime, porquanto Deus, justo e severo, vos dirá: Que fizeste, ecônomo (despenseiro) infiel, dos bens que te confiei ? Esse poderoso móvel de boas obras exclusivamente o empregaste na tua satisfação pessoal.
O Espírito comunicante inicia o trecho fazendo uma séria advertência à humanidade. Realmente, nósnão podemos servir a Deus e as riquezas, não que sejam antagônicos (adversos), mas porque o apegoà riqueza é um dos sérios obstáculos à evolução espiritual do homem.
O Espírito “Cheverri” (Cheverus) quando diz que muitas criaturas vendem suas almas para possuírem tesouros, não está se referindo àquela velha lenda do demônio, que prometeu todas as riquezas do mundo a um homem, em troca de sua alma e, sim, a um fato alegórico, quando a criatura se entregando a vícios, a manobras desonestas, resultando disso acúmulo de riquezas, é o mesmo que vender a alma.
Diz também, que o ser humano tem uma tendência muito grande para se vender aos tesouros da terra; de considerar que o dinheiro é muito mais importante do que tudo. Então, a criatura por sua ignorância começa a julgar de forma apressada e equivocada que na Terra se concentram todas as realidades e que tudo está ao seu alcance e ao seu dispor, e que tudo o que conquistou é de fato seu. Aí está o grande equívoco.
Diz mais: Se, pois, sentis vossa alma dominada pelas cobiças da carne, apressai-vos em sacudir o jugo (domínio) que vos oprime. É nesses momentos, nós devemos recorrer ao evangelho de Jesus para nos ajudar, servindo de escora, para não cairmos. O evangelho do Mestre é a bússola que vai nos indicar o rumo do caminho certo.
Haverá um momento em que todos nós teremos que prestar contas, daquilo que fizemos aqui na Terra. E, a criatura que se deixou envolver pelo dinheiro; que se deixou comprar ou vender por ele, portanto, se deixou escravizar pela moeda, vai ser inquirida não pela justiça terrena e, sim, pela justiça divina, o que fez dos bens que lhe foi confiado. E, por Ter usado a sua riqueza senão na satisfação pessoal, será chamado de despenseiro infiel 
Continua o Espírito “Cheverri”:

Qual, então, o melhor emprego que se pode dar à riqueza ? Procurai – nestas palavras: “Amai-vos uns aos outros”, a solução do problema. Elas guardam o segredo do bom emprego das riquezas. Aquele que se acha animado do amor do próximo tem aí toda traçada a sua linha de proceder. Na caridade está, para as riquezas, o emprego que mais apraz a Deus. Não nos referimos, é claro, a essa caridade fria e egoísta, que consiste em a criatura espalhar ao seu redor o supérfluo de uma existência dourada. Referimo-nos à caridade plena de amor, que procura a desgraça e a ergue, sem humilhar. Rico!...Dá do que te sobra; fase mais: dá um pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo. Mas, dá com sabedoria.
Segundo o princípio de que o homem é apenas o depositário da fortuna, numa posse transitória de riquezas, a quem pertenceriam os bens materiais ? Nós já estudamos que todos os bens procedem de Deus e, portanto, a Deus pertencem. Apenas eles constituem-se em meio de crescimento para o Espírito. Assim considerando, devemos lembrar que Jesus há dois mil anos deixou para nós a mensagem de que seu Reino não é deste mundo. E o Reino do qual Ele fala tem como moeda a bondade, o amor, a benevolência, a fraternidade e todas as virtudes que dignificam o Espírito. Neste Reino o que vale é o sentimento sincero do amor ao próximo, na prática verdadeira da caridade, única e absoluta via de salvação.
A caridade que envaidece, quando a criatura se enche de orgulho do bem que faz e, por desencargo de consciência, deposita nas mãos dos miseráveis algumas moedas, que muitas vezes, são simplesmente lançadas, isso não é caridade.
Então, o melhor emprego que podemos dar à riqueza é fazendo-o trabalhar em benefício do nosso próximo, em nosso próprio benefício e, sobretudo, em favor dos mais necessitados.

O Espírito comunicante encerra a sua comunicação dizendo:

Não repilas o que se queixa, com receio de que te engane; vai às origens do mal. Alivia, primeiro; em seguida, informa-te, e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição não serão mais eficazes do que a tua esmola. Difunde em torno de ti, como os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Derrama em torno de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão. Cheverus. (Bordéus,1861).
Deste trecho, retiramos um alerta, para que não passemos ao largo na estrada da vida fazendo de conta que não vemos a dor projetada no semelhante, no caído, na vítima das próprias aflições. Tal como o anônimo bom samaritano, arregacemos as mangas e ajudemos o necessitado.
Quando o Espírito “Cheverri” nos diz: “Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. Derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão”, nos inspira a recordar o trabalho feito na “Casa do Caminho”, que, como se sabe, fora criada pelos Apóstolos em Jerusalém, nos primeiros tempos do cristianismo, onde os necessitados que a procuravam eram, pois, assistidos durante o dia com as bênçãos dos bens nutritivos, e até mesmo com os curativos. Mas, à noite, eram iluminados com as instruções cristãs.
Emmanuel nos traz uma frase de muita profundidade: “Não retendes recursos externos de que não careças”. Se nós aprendermos a administrar bem as nossas riquezas, com certeza, estaremos realizando aquilo que Deus deseja de nós.

ITEM 12 :

O Espírito comunicante, que se identificou como protetor, diz:

Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de amofinações, de tormentos cada se impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Pelo mais alto grau de cegueira, frequentemente se encontram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e de mérito – como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas! Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tratado com mimo e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou? – Um Espírito Protetor. (Cracóvia, 1861).
O Espírito protetor diz-se impressionado com a preocupação do ser, em conquistar somente o seu bem-estar material, tornando-o no principal objetivo a ser alcançado. Em geral, os homens baseiam seus valores de vida nos conceitos da matéria. Os egoístas, principalmente, dependem de bens e de valores materiais para viver. É natural que a criatura busque viver com conforto. Mas não é natural que peque pelo excesso ou pelo exagero.
É comum o ser buscar mais o lazer do que o trabalho; buscar mais o luxo do que a adequação das coisas; buscar mais a posse do que a real utilidade, esquecendo-se do seu aperfeiçoamento moral.
Neste Evangelho, Jesus nos aponta o caminho da simplicidade e da justiça, de muita importância para a nossa evolução espiritual, quando nos ensina que não devemos nos afadigar pela posse do ouro, ou seja, pela posse de bens materiais. Devemos, sim, procurar haurir valores que nos servirão de sustentação na vida futura. Difícil para o homem é compreender que o seu bem-estar está no serviço bem prestado; no desprendimento de si próprio. É preciso viver, cada dia, buscando dar o melhor de si para o mundo.
O Espírito comunicante diz ainda:
Quantas noites sem sono para aumentar uma fortuna, mais do que suficiente !
Privar-se do supérfluo, do desnecessário, abandonar as coisas que não agregam valor, em nossa evolução espiritual, é demonstração de inteligência e sabedoria. Quanto mais descomplicada for a vida que levamos, mais fácil será vivê-la, e mais provável será nos tornarmos mais desprendidos dos valores materiais.
De que adiantam posses, prazeres desregrados, luxo, conforto exagerado, se nada acrescentam na  nossa evolução espiritual ? ao sair da matéria, o homem irá se deparar com a única bagagem que realmente lhe é útil naquelas paragens: a bagagem das obras realizadas e dos valores morais adquiridos, no trabalho produtivo e profícuo (conveniente) para a evolução da humanidade e para auxílio dos irmãos do caminho, são esses os verdadeiros valores; a capacidade de ser útil à obra de Deus.
Assim, a simplicidade e a humildade são requisitos essenciais na vida do ser. A existência do luxo exagerado, do supérfluo, usados para darem a impressão de prosperidade e de progresso aos desavisados do caminho, como já dissemos, são as justificativas das criaturas egoístas para a necessidade de sobreviverem.
Neste mesmo Evangelho encontramos uma mensagem que diz:
“Aonde o homem põe o seu pensamento, aí estará o seu tesouro”. Assim, o homem será sempre prisioneiro de si próprio. Construindo a sua felicidade ou o seu sofrimento futuro; vivendo na luz ou vivendo nas trevas.
Assim entendemos  esta mensagem.

ITEM 13 :

O Espírito Fénelon nos diz:

Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio. O mau uso consiste em os aplicar exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo.
Nós já estudamos, que Deus criou o homem com a missão de evoluir. E para cumprir a missão recebida, foi dotado dos recursos disponibilizados pelo Criador, através da capacidade de escolher e decidir os seus caminhos, na escalada evolutiva. Foi, portanto, dotado de livre arbítrio. A sustentação de sua evolução depende, fundamentalmente, da forma como se movimenta e de como assegura a harmonia entre os seus semelhantes. Nesta missão, estão contidos dois grandes fatores diretamente ligados a lei de Deus: a necessidade de agir com humildade e com caridade. Ora, sendo o homem o depositário, o gerente dos bens que Deus depositou em suas mãos, lhe será pedido contas do emprego que fez desses bens.
Muitas são as maneiras de se empregar mal os bens recebidos, levando o homem à reparação de experiências mal sucedidas: dentre elas destacamos: deixar-se levar pelos vícios; deixar-se levar pelas paixões interiores; deixar de perceber a sua própria verdade, dando guarida à ilusão, ao egoísmo, ao orgulho e à vaidade pessoal, ou seja, ignorar sua natureza e destinação. Ao contrário, o bom uso para esses bens está em assistir o próximo, suprindo-lhe a sua carência material. Então, para aqueles que se portam como despenseiros inúteis, a justiça de Deus lhes pedirá contas. Do maior ao menor erro, todos serão cobrados, e não há como burlá-los para escapar da cobrança.
Fénelon diz também que o merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo. Jesus já nos disse: “A cada um será dado segundo suas obras”, o que significa dizer que o avanço espiritual está condicionado à nossa maior ou menor dedicação à prática do bem. Em outras palavras, na porta estreita do reino de Deus ninguém atravessa acompanhado e, muito menos, carregado.

Continua o Espírito comunicante:

A beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente; aplaca a fome, preserva do frio e proporciona abrigo ao que não tem. Dever, porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Tal, sobretudo, a missão das grandes fortunas, missão a ser cumprida mediante os trabalhos de todo gênero que com elas se podem executar. Nem, pelo fato de tirarem desses trabalhos legítimo proveito os que assim as empregam, deixaria de existir o bem resultante delas, porquanto o trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que ganha o pão que come, enquanto a esmola humilha e degrada. A riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu derredor.
Nós também já estudamos que existem vários meios para se beneficiar os menos aquinhoados pela sorte. E a riqueza se presta para esse serviço filantrópico, proporcionando a construção de hospitais, a criação de creches, abrigos e escolas. Agora, também é importante e meritório o trabalho de prevenir para que a pobreza e a miséria não prosperem.
Também é dito na mensagem que, pelo fato de tirarem desse trabalho um proveito legítimo, o bem não deixaria de existir, porque o trabalho desenvolve a inteligência e realça a dignidade do homem sempre confiante em poder dizer que ganhou o pão que come, ao passo que a esmola humilha.
A fonte de água viva citada como alegoria, representa a riqueza bem distribuída. A postura de pró-ação é sempre a solução para os problemas da vida, pois gera progresso e assegura trabalho; transforma as situações mais difíceis e produz aprendizado, aumentando a capacidade do homem de dar de si mesmo para a humanidade. Só há progresso real quando existe o trabalho, a utilidade, a ação. E esse conjunto tem que estar  efetivamente voltado para o bem; voltado para o nosso semelhante. Aquele que tem e retém, jamais alcançará o seu destino, que é a verdadeira felicidade. É preciso ter, mas é preciso agir.

Continua o Espírito Fénelon:

Ó vós, ricos, que a empregardes segundo os desígnios do Senhor! O vosso coração será o primeiro a saciar-se nessa fonte benfazeja; já nesta existência tereis inefáveis (que não se pode exprimir por meio da palavra) gozos da alma, em vez dos gozos materiais do egoísta, que produzem no coração o vazio. Vossos nomes serão benditos na Terra e, quando a deixardes, o soberano Senhor vos dirá, como na parábola dos talentos: “Bom e fiel servo, entra na alegria do teu Senhor”. Nessa parábola, o servidor que enterrou o dinheiro que lhe fora confiado é a representação dos avarentos, em cujas mãos se conserva improdutiva a riqueza. Se, entretanto, Jesus fala principalmente das esmolas, é que naquele tempo e no país em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que as artes e a indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser aplicadas utilmente para o bem geral. A todos os que podem dar, pouco ou muito, direi, pois: daí esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe dela. – Fénelon ( Argel, 1860 ).
Encerrando a sua mensagem, o Espírito comunicante realça que, aquele que beneficia é o primeiro a ser beneficiado; destaca que, os bens materiais, a riqueza, que nos são confiados, pertencem a Deus, e cabe-nos, pois, utilizá-los corretamente, seja praticando a beneficência, seja convertendo-os em justo salário.
A riqueza tem uso providencial, ou seja, seu uso deve respeitar a lei de Deus, e destina-se a proporcionar os grandes projetos da humanidade. Aqui vale ressaltar que, na sua época, por não haver esses projetos que ocasionaria empregos, Jesus falava em esmola. Portanto, pode-se lidar com a riqueza com extrema caridade, proporcionando oportunidades de progresso no mundo em que vivemos.

Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – O que podemos entender com a frase: “Não podeis servir a Deus e a Mamon”?
R – Que o amor aos bens materiais é incompatível com o amor a Deus e ao próximo, visto que aprisiona o homem nas cadeias do egoísmo, levando-o a empregar sua riqueza exclusivamente na satisfação pessoal.
2 – A quem pertencem os bens materiais?
R – A Deus que, no entanto, confia aos homens sua administração.
3 – Quando uma riqueza é mal utilizada?
R – Quando quem a possui a emprega exclusivamente na sua satisfação pessoal.
4 – Qual o melhor emprego que se pode dar à riqueza?
R – Utilizando-a conforme os preceitos da verdadeira caridade, que nos ensina a dar com amor, não apenas do que nos sobra, mas um pouco do que é necessário.
5 – O esforço por adquirir riquezas e usá-las a nosso bel-prazer não é legítimo?
R – Tanto uma atitude quanto a outra podem se constituir em equívocos de grandes consequências: a primeira, se estimulada exclusivamente pelo egoísmo, produz a vaidade, o orgulho, a cupidez, os excessos; a segunda favorece o esquecimento do futuro eterno e a negligência dos deveres de solidariedade fraterna.
6 – Quais as maneiras corretas, abordadas no texto, de se empregar a riqueza?
R – Fazendo a beneficência, prestando socorro imediato ao desassistido, e criando oportunidades de trabalho, visto que prevenir a miséria é dever de todas as criaturas, sobretudo, das mais aquinhoadas pela sorte.
Daí nós concluirmos que:
Espíritos encarnados que somos, devemos estar conscientes de que a vida material é um instante fugaz (transitório) e a vida do espírito é eterna; portanto, concedamos aos bens materiais sua real importância e busquemos, no aperfeiçoamento moral, o caminho que nos levará a Deus.
Vamos encerrar o nosso estudo com uma frase retirada do Evangelho de Jesus!
“Dinheiro de sobra é o amigo e servo que a Divina Providência te envia para substituir-te a presença, onde a tua mão, muitas vezes, não conseguiu chegar”.

                                    *****************************************                                    


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – itens 9 e 10. A verdadeira propriedade.
Instruções dos Espíritos
ITEM 9.
O Espírito Pascal inicia a sua mensagem dizendo:
O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir.
O Espírito comunicante faz um alerta sobre o papel que a riqueza desempenha na sociedade. Ele destaca que a riqueza é uma posse eventual daquele que, momentaneamente, está fazendo uso dela. O trânsito dos bens pelas mãos humanas é atestado da velocidade da posse. A propriedade é sempre referencial, nunca de estrutura real. Bens de verdade são aqueles que se incorporam à vida, na qualidade de valores que permanecem no comportamento da criatura. Os de origem terrena, face a sua constituição, transferem-se de possuidor, desgastam-se, desaparecem.
A compreensão real desta mensagem é mais clara, mais compreensível, para aqueles que têm o entendimento trazido pelo Espiritismo, de que a nossa vida tem uma duração muito maior do que apenas uma existência. Assim sendo, uma criatura que hoje seja possuidora de alguma riqueza, não se torna diferente, em termos de presença na humanidade, daquele que está despojado dessa mesma riqueza, porque, esse que hoje a possui está, de alguma forma, compromissado a fazer dela  uso para a sua evolução moral. Da mesma forma, aquele que vive na pobreza também está com a mesma incumbência, aperfeiçoando a sua evolução moral.
Destacamos do trecho, o detalhe da diferença entre o que é propriedade e posse de alguma coisa. A criatura ser proprietária de um bem não é a mesma coisa que Ter a posse desse bem. Portanto, a riqueza, os bens materiais que, por ventura, a criatura esteja usufruindo aqui na Terra, são bens temporários; são bens que a criatura só tem a posse. Tanto isto é verdade que, ao desencarnar, a criatura vai deixar tudo aqui no plano terrestre. Essa criatura apenas teve o direito de uso, enquanto encarnada.
Jesus nos disse: A propriedade verdadeira é aquela que “os ladrões não roubam e a traça não come”. De acordo com o caráter daquele que, temporariamente, detém a riqueza, esta pode facultar a paz ou gerar a guerra; pode propor a alegria ou sugerir a miséria. A verdadeira posse liberta o possuidor do objeto possuído
Prossegue o autor da mensagem:
Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de poucos recursos, se dá um menos agradável. Quanto àquele que nada tem, vai deitar sobre a palha. Assim ocorre com o homem na sua chegada ao mundo dos Espíritos: seu lugar nele está subordinado ao que tem. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: que trazes contigo? Não se lhe computarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram; conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres. Pascal.( Genebra, 1860 ).
Desta mensagem, podemos entender que, quando uma criatura que tinha muitos bens aqui na Terra chega ao mundo Espiritual, vai se surpreender ao saber que aquilo tudo que possuiu não vai lhe ser útil, para Ter uma situação melhor. Pois, os bens que são valiosos na Erraticidade são os bens morais. E, se esses bens não foram cultivados por aquela criatura, na sua existência terrena, ela não terá direito a um lugar melhor na sua estada. Ora, a esse respeito, um pobre poderá ser mais rico do que aquele que viveu na riqueza.
Como já dissemos, esses bens que algumas criaturas possuem aqui na Terra são apenas de usufruto  delas. Na realidade, esses bens são chances que elas têm de adquirirem bens morais.
Quando a criatura, detentora de grande soma de dinheiro, detentora de vários imóveis, proporciona a aqueles necessitados de qualquer tipo de ajuda, a oportunidade de Ter uma vida um pouco melhor, está adquirindo o seu ingresso no caminho da prática caritativa. Ao mesmo tempo em que ela está diminuindo um pouco a sua riqueza material, em contrapartida, está aumentando a sua riqueza moral. Desta forma, ela está reservando um lugar na Espiritualidade, onde ficará junto da felicidade, quando tiver que chegar lá.
ITEM 10.
O Espírito mensageiro diz:
Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui à sua vontade, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza escapa daquele que crê possuí-la pelos melhores títulos.
Direis, talvez, que isso se compreende no tocante aos bens hereditários, porém, não ocorre o mesmo com aqueles que se adquiriu pelo trabalho. Sem dúvida alguma, se há riquezas legítimas, são estas últimas, quando adquiridas honestamente, porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não se fez mal a ninguém. Contas serão pedidas até mesmo de um único centavo mal adquirido, isto é, com prejuízo de outrem.
Portanto, os bens da Terra não nos pertencem de fato, e que mais cedo ou mais tarde teremos que deixá-los. Essas posses terrenas são sempre passageiras. Mas, para os materialistas, o ser é o verdadeiro dono de toda a sua fortuna e não aceitam que digam que todos os seus bens não lhes pertençam.           Em outras palavras, o Espírito comunicante diz que o Espiritismo não condena a propriedade, desde que ela tenha sido adquirida de forma legítima, ou seja, pagando um preço justo; não condena a riqueza desde que a sua origem seja honesta., mesmo quando recebida em herança. Implicando também na distribuição de renda. Isto quer dizer que, devemos usar a nossa fortuna não só para o nosso conforto, mas, também, de alguma forma, ajudar os nossos irmãos necessitados. Talvez, essa instrução possa perturbar a muitos, à primeira vista. A mensagem de Jesus perturbou Zaqueu, o detestado cobrador de impostos, que prejudicava sem escrúpulos o seu próximo. Entretanto, a mesma mensagem que o perturbou, o transformou. Como vimos no nosso estudo a respeito, Zaqueu tomou a decisão de ressarcir os prejuízos causados, e, da fortuna que lhe sobrasse, daria a metade aos pobres.
Mas, do fato de um homem dever a si próprio a riqueza que possua, seguir-se-á que, ao morrer, alguma vantagem lhe advenha desse fato? Não são frequentemente inúteis as precauções que ele toma para transmiti-la a seus descendentes? Decerto, porquanto, se Deus não quiser que ela lhes vá Ter às mãos, nada prevalecerá contra a sua vontade. Poderá o homem usar e abusar de seus haveres durante a vida sem Ter de prestar contas? Não. Permitindo-lhe que a adquirisse, é possível haja Deus tido em vista recompensar-lhe, no curso da existência atual, os esforços, a coragem, a perseverança. Se, porém, ele somente os utilizou na satisfação dos seus sentidos ou do seu orgulho; se tais haveres se lhe tornaram causa de falência, melhor fora não os Ter  possuído, visto que perde de um lado o que ganhou do outro, anulando o mérito de seu trabalho. Quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa. M. Espírito protetor – ( Bruxelas, 1861 ).
Desse trecho final da Instrução podemos entender que, todos os bens procedem de Deus e a Deus pertencem, constituindo meio de crescimento para o Espírito, nas várias experiências evolutivas, de aplicá-los quando os dispõe. Para que o homem possa adquirir vantagem na vida futura, ele terá que fazer a sua parte nesta existência; trabalhando, servindo, buscando as ferramentas apropriadas para usufruir dessa benesse
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual a verdadeira propriedade do homem?
R – “Nada do é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais“.
2 – Como deve agir o homem, em relação aos bens materiais?
R – Reconhecendo que, na condição de espírito encarnado, não pode prescindir do seu auxílio; mas utilizando-os como meio para o atendimento de suas necessidades e do serviço ao próximo. Nunca como um fim em si mesmo.
3 – Pode o homem usar e abusar de seus haveres durante a vida, sem Ter que prestar contas?
R – Não. Se ele os utilizou senão à satisfação de seus sentidos ou de seu orgulho, se ela se tornou numa causa de queda em suas mãos, melhor seria para ele que não a possuísse. Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
Daí concluirmos que:
Que o homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo;
Que dos bens do corpo somos usufrutuários, pois estes pertencem a Deus, que nos pede contas de sua administração;
Que não levamos nem mesmo o corpo, que é um empréstimo de Deus para nossa evolução;
Que os patrimônios da alma jamais se perdem. Assim, o tesouro da inteligência, os conhecimentos e as qualidades morais seguem conosco pela eternidade. Eles são perenes e constituem a nossa verdadeira propriedade;
Que os bens materiais são uma grande ferramenta de evolução, se soubermos utilizá-los.
Se tivermos o conhecimento da verdadeira vida, certamente compreenderemos que a verdadeira propriedade, porém, é aquela que se consegue aprimorando o Espírito.
Por essa razão, vale a pena refletir sobre o que realmente tem valor duradouro e efetivo, considerando que somos um ser imortal, herdeiros de nós mesmos, de cujos atos teremos que prestar contas às nossas próprias consciências.

Devemos pensar nisso.
****************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – item 8 – Desigualdade das riquezas.

ITEM 8.
Kardec inicia o seu comentário dizendo:
A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da humanidade; que, admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão (fig. Sofrimento) que estimula os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.
Em outras palavras, o codificador está dizendo o seguinte:
Aquele que põe a sua visão no plano da matéria, nem sempre pode entender o por quê das coisas que ocorrem com as pessoas nesta vida. Agora, aquelas, cujo ponto de vista, está no plano espiritual, compreendem melhor essa desigualdade, pois percebe-a em causas anteriores. Aos  olhos de Deus, todas as coisas estão certas.
Deus criou o homem simples e ignorante. Simples porque nada tinha, e ignorante porque nada sabia além das experiências registradas em seu instinto. Daí, a diversidade de graus evolutivos, tendo em vista as desigualdades, criadas pelo próprio homem, na inteligência, na atividade e no trabalho.
Supondo que a riqueza fosse dividida igualmente, e que essa divisão fosse durável, cada um teria somente com o que viver e o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem estar da humanidade. E o homem não se depararia com obstáculos necessários ao seu crescimento espiritual e, por conseguinte, não agregaria nenhum valor para a sua evolução. Portanto, não evoluiria, contrariando a lei de Deus.
Continua Kardec:
Admitindo isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez. Assim, um que não tem nada hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.
O destino do ser foi assim determinado pelo Criador: deveis evoluir continuamente em espírito e verdade, cumprindo tudo o que está prescrito na Lei.
Deus criou o homem com a missão de evoluir em sua direção. E a sua evolução é um impulso natural. Cabendo-lhe pensar, desenvolver a inteligência e aprender, através da vivência de experiências próprias, para conseguir a evolução prometida.
Para cumprir a missão recebida, o homem foi dotado de recursos, como, a capacidade de escolher e decidir os seus caminhos na escalada evolutiva. Foi, portanto, dotado de livre-arbítrio, para que pudesse aprender na vida de relação com o seu semelhante.
De degrau em degrau, de experiência em experiência, de encarnação em encarnação, o homem amplia sua percepção da lei maior: justiça, amor e caridade. Portanto, tem como responsabilidade assumida desenvolver virtudes, de forma a assegurar a paz, o amor e a harmonia com o universo.
Continua o codificador:
Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas  riquezas, as desprezíveis paixões que a cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas ? é exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da terra; se, entretanto, não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.
O codificador encerra o seu comentário destacando que o egoísmo e o orgulho estão na raiz de todos os males. Eles excitam o homem a projetar-se além dos níveis de equilíbrio, agigantando a sua ambição nas coisas que não agregam valor, para a sua evolução espiritual. Diz, também, que, para aqueles que colocam a sua visão somente na vida material, achando que depois da morte do corpo físico nada resta, a divisão dos bens não faz sentido. Agora, para aqueles que creem que a alma não apenas sobrevive após a morte do corpo físico, mas é preexistente à vida corpórea, a divisão é justa.
Em o Livro dos Espíritos, encontramos os seguintes pontos básicos da Doutrina Espírita: Deus é eterno, imutável (não é suscetível de mudança), imaterial, único, onipotente (poder ilimitado), soberanamente justo e bom. Assim, Deus é justiça.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Por que não são igualmente ricos todos os homens?
R – A desigualdade das riquezas é inerente (inseparável) ao estágio evolutivo do homem.
2 – O problema da pobreza estaria resolvido se, num dado momento, toda a riqueza do mundo fosse igualmente repartida entre os homens?
R – Não, pois a cada um caberia uma parcela mínima e insuficiente; ademais, esta condição inicial de igualdade logo seria rompida pelas diferenças individuais, de sorte que alguns aumentariam seus haveres e outros perdê-los-iam.
3 – Como podemos contribuir para tornar menos injusta a sociedade em que vivemos?
R – Se nos foi dado possuir bens, devemos utilizá-los em benefício do próximo, gerando oportunidades de beneficiá-lo com trabalho digno e lembrando sempre de que o supérfluo não nos pertence. Se nos encontramos privados de riquezas, cuidemos de armazenar tesouros de paciência e resignação, buscando no trabalho e na prece a superação de nossas dificuldades, sem deixar de lutar com ânimo firme por melhorias e progressos em nossas vidas.
Daí nós concluirmos que:
A constatação de que a miséria de hoje é fruto do uso indevido das riquezas de ontem não pode ser motivo para diminuir nosso empenho na minoração das agruras (amarguras) dos menos afortunados.
Para encerrar, vamos lembrar que a fé espírita se apoia na lógica e no princípio de que o Universo está em constante evolução. Portanto, os seres que o habitam necessitam aprender o significado do que seja compartilhar com seus semelhantes as riquezas que lhes foram dadas.


 ***************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – item 7 – Utilidade providencial da riqueza – Provas da riqueza e da miséria.

ITEM 7 : A questão dos bens materiais é bastante estudada neste capítulo. Estudamos várias passagens de Jesus, e agora vamos refletir sobre os comentários de Kardec a respeito dessas passagens.

O codificador inicia o seu comentário dizendo:

           

Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo à salvação dos que a possuem, conforme se poderia deduzir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, ideia que é contrária à razão.
Neste trecho, o codificador destaca um ponto importante para que, através da lógica, tenhamos uma visão real e não uma visão alegórica e equivocada da riqueza, como sendo um obstáculo para a salvação do homem.      Daí entendermos que a riqueza não é obstáculo absoluto à salvação, nem meio de perdição.
Ele afirma que o motivo do erro nas interpretações das pessoas dá-se em função da tradução feita ao pé da letra, de certas expressões de Jesus, como por exemplo: “É mais fácil  que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus”. Daí, em função desta máxima, a interpretação que o rico não pode realmente entrar no reino dos céus. Quando na verdade, não foi isto que o Mestre quis dizer.
Continua Kardec:
Sem dúvida, pela atração que causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo estímulo do orgulho, do egoísmo e da vida de prazeres e libertinagem. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal desvario que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e inútil. Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não quer dizer que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir-se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a propósito e com discernimento.
Neste trecho, o codificador nos esclarece que a riqueza é sem dúvida uma prova perigosa, em virtude das tentações que ela oferece. Ela é outra rude (violenta) testadora de virtudes. Na verdade, ela tem uma finalidade específica, a evolução do ser. É um instrumento que Deus nos oferece para promover o progresso da humanidade
A criatura, quando visitada pelo dinheiro, na mais das vezes, esquece das dificuldades anteriores e dá asas ao seu egoísmo, ao seu orgulho, à sua vaidade e à sua avareza, o que faz ressaltar a sua incapacidade de compartilhar essa riqueza com os seus semelhantes. Transforma a riqueza numa fonte de perdição, deixando-se levar pela ilusão que o supérfluo produz, caindo nas tentações da vida fácil, do prazer desregrado, da inutilidade.
O detentor dessa riqueza ilude-se a tal ponto que não percebe que ela é sua real prova. Isto é, ser capaz de multiplicar o talento recebido, cedido pelo Criador, de forma a amenizar os sofrimentos de seus irmãos de caminhada. O dinheiro foi criado para facilitar a vida de relação do homem e, não, para complicá-la.
Deus quer a nossa salvação. Quando Ele coloca em nossas mãos a riqueza, não é com a intenção de servir como instrumento fatal de perdição. E, sim, como oportunidade de progresso. Ele não iria dar como meta a evolução do ser, e apresentar em seguida uma dificuldade intransponível. Jamais, Ele colocaria uma barreira assim para nós. Portanto, a riqueza não se constitui em algo que nós não possamos ultrapassar. Nada impedindo, portanto, que um detentor de riqueza possa completar essa prova, desde que, de acordo com os ensinamentos de Jesus. O rico pode, perfeitamente, encontrar aquele reino de paz, prometido pelo Mestre.
Prossegue o Mestre lionês:
Quando Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna: “Desfaze-te de todos os teus bens e segue-me”, não pretendeu, decerto, estabelecer como princípio absoluto que cada um deva despojar-se do que possui e que a salvação só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque observara certos mandamentos e, no entanto ,recusava-se à ideia de abandonar os bens de que era dono. Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de adquiri-la com sacrifício.
O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser inútil, nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe. Mas, não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava até à abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio: “Fora da caridade não há salvação”
Neste trecho, nós vimos que a prescrição do Mestre ao moço rico, que julgava poder enquadrar-se nas normas básicas estabelecidas para a conquista do reino dos céus, representou autêntico resfriamento em seus projetos de conquistar aquele ambicionado reino. Queria conquistá-lo, servindo simultaneamente a dois senhores, a Deus e a Mamon.
Jesus mostrou-lhe que a montanha quase intransponível da riqueza terrestre mal aplicada, oferecia tremendo obstáculo à sua mudança de rumo. No moço rico falaram mais alto os interesses materiais do que aqueles de ordem espiritual, e isso fez com que se afastasse cabisbaixo.
Ora, o Mestre não pretendia estabelecer como princípio básico de salvação o despojamento (privação) total dos bens, mas na verdade, propor o desapego ao excessivo desejo de posse pelas coisas transitórias, que nos impedem de alçar voo na direção da felicidade.            Então, a proposta não é extinguir a riqueza, que não é um mal em si própria. Os bens materiais são necessários, precisamos deles para vivermos no plano físico. Mas o seu valor é relativo, isto é que importa Ter sempre em mente.
Continua o codificador:
A consequência dessas palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza, por ser prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na Terra; seria, ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear; consequência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.
Se a riqueza é causa de muitos males, se torna mais intensa as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela de devemos acusar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso (danoso) o que lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.
Neste trecho, o codificador destaca a importância da riqueza.
Precisamos acabar com aquela visão equivocada de que a miséria e a dificuldade são coisas boas, e que nós devemos cultuar. E, que, somente por elas nós iremos atingir o reino dos céus. Essa visão equivocada é, na verdade, a negação da oportunidade de crescimento do homem, material e espiritualmente. Porém, muitas vezes, essa riqueza, excita a nossa vaidade e o nosso orgulho, fazendo com que nos desviemos de nossos reais objetivos, que são: evoluir e ajudar os nossos irmãos de caminhada.
Se o dinheiro não é bem utilizado, o problema não está na moeda, e sim naquele que a administra. Não podemos condenar a fortuna pelos desastres da avareza.
O mal, então, não está no dinheiro e, sim, em sua aplicação. A criatura bem evangelizada saberá dar um bom direcionamento à sua riqueza. Saberá usar bem os talentos que Deus lhe concedeu.
Kardec finaliza o seu comentário dizendo:
Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que sua extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a produção. Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações. Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de os executar com maior segurança e rapidez. Mas, para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência que ele concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso.
Em outras palavras, a vida do homem é uma arena de luta. E é nesta arena que ele tem que buscar uma vida melhor para si e para o planeta onde vive, habilitando-se a grandes descobertas, inventos de máquinas para facilitar a vida das pessoas.
Pobreza, doença física, doença mental, desemprego, injustiça, são geradores de necessidades urgentes que motivam a ação do homem. Podemos dizer que, sem a necessidade o homem não age, não se movimenta, não evolui.
A medida em que o homem for compreendendo melhor os ensinamentos de Jesus, e, sobretudo, aplicando-os em sua vida, com certeza, a qualidade de vida certamente melhorará.
A riqueza tem uso providencial, e destina-se a incentivar os grandes projetos da humanidade. O dinheiro faz milagres. Inclusive, ajuda o homem a fazer caridade.
Dizem que o dinheiro não traz felicidade. Mas, não é bem assim. O dinheiro mal utilizado ou não utilizado, realmente, não traz felicidade. Mas o dinheiro bem utilizado pode mudar muitas coisas neste mundo.
Portanto, cabe àquele que tem o poder do dinheiro empregar todos os seus dons, suas possibilidades e seus recursos, no sentido de amenizar as dores  de seus semelhantes, proporcionando novas oportunidades de trabalho, o desenvolvimento da Ciência, e distribuição de justiça, gerando a evolução e o progresso do mundo em que vive.
 Esse poder, como já dissemos, é conferido por Deus, para ser usado com humildade, com desprendimento, para a melhoria das coisas do mundo. A riqueza só é uma prova mais difícil do que a pobreza, se nós nos esquecermos dos verdadeiros motivos que, muitas vezes, tivemos para pedir esse talento ao nosso Criador. Quer dizer, a riqueza só é uma prova que nos derruba na nossa caminhada, quando nos escravizamos ao dinheiro pelo dinheiro.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – É a riqueza instrumento de perdição para o homem?
R – A riqueza, em si mesma, não constitui obstáculo à salvação do homem, pois, sendo Deus infinitamente justo e misericordioso, não colocaria em suas mãos algo que somente o arruinasse.
2 – Sendo o oposto da riqueza, pode concluir-se que a miséria é prova fácil que conduz à salvação?
R – Não. Também a miséria é prova difícil, porque dá ensejo à inveja e a revolta, dificultando a prática da caridade que conduz o homem a Deus. Mas a riqueza é, sem dúvida, prova mais dura.
3 – Qual a função da riqueza em nosso planeta?
R – Oferecer ao homem os recursos necessários ao progresso material e à satisfação das necessidades de seus habitantes.
“O homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta: desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta”.
Daí nós concluirmos que:

Riqueza e miséria não são prêmio nem castigo de Deus: são situações transitórias que o homem experimenta, no processo de evolução espiritual. Longe de ser um mal, a riqueza é fator de progresso material do planeta e de bem estar da humanidade.
*************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – Parábola dos talentos.

Item 6 -  Jesus, por Mateus, diz:
O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens. – Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente, - Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros. – O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o que apenas recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo.
Esta parábola exprime os deveres que nos cabem; material, moral e espiritualmente. Interpretada ao pé da letra, esta parábola induz que há uma violação às Leis de Deus. Uma ambição muito grande, justificando a aplicação do dinheiro para render juros. Mas buscando a essência do ensinamento, nós vamos entender um significado diferente. O talento representa potências que cada um de nós recebeu ao nascer, para serem desenvolvidas.
Nós, na condição de Espíritos em trânsito pela Terra, trazemos na nossa bagagem potencialidades latentes (ocultas) dentro de nós, que deverão ser desenvolvidas. E, na medida da nossa evolução, vamos adquirindo condições de desenvolver esses talentos.
Da mesma forma que o homem conhecia os seus servidores, distribuindo os seus bens de acordo com a sua capacidade, Deus conhece a capacidade de cada um de nós. E, por isto, sabe daquilo que podemos fazer.
Continuando,...
Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os chamou a contas. – Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo:
- Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. – Respondeu-lhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei. – O amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas (desbastar) onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence. – O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, - devias por o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence. – Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e deem-no ao que tem dez talentos; - porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (Mateus, cap. XXV, vv. 14 a 30).
Desta alegoria, vamos retirar a essência do ensinamento de Jesus.
Os talentos representam os ensinamentos de Jesus; quando bem aplicados, ou seja, bem entendidos, são uma fonte de felicidade e, ao contrário, quando mal aplicados, quer dizer, mal entendidos, são como obstáculos, desviando a criatura do bem e da verdade.
Aqueles que recebem os talentos do Evangelho de Jesus e os aplicam em proveito próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a palavra de Deus, estão representados pelos servidores que receberam cinco e dois talentos. E quando forem chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: “Servos bons e inteligentes!”
Mas, aqueles que recebem os talentos desse mesmo Evangelho e não os observam, ou os aplicam mal, prejudicando a causa que deviam zelar, são semelhantes ao servidor que escondeu o talento recebido. E quando chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: “Servidor mau e preguiçoso”. E lhes serão tirados tudo o que têm e mesmo o que pareçam ter.
Quando o senhor ordena que o servidor inútil seja lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes, quis dizer que aquela criatura, por meio do embotamento (enfraquecimento) da sua inteligência, não soube valorizar o bem que recebeu e, por isto, vai receber o fruto da sua ignorância, no seu dia-a-dia.
É importante nós destacarmos que, o servo negligente, atribuiu ao medo a causa do seu insucesso. Contara apenas com um talento e temera lutar para valorizá-lo.
O que aconteceu ao servidor receoso da narrativa Evangélica, acontece a muitas criaturas que se recolhem à ociosidade, alegando o medo da ação. Medo de trabalhar, medo de servir, medo de sofrer, medo da dor, medo da alegria. E, a pretexto de serem menos favorecidos pelo destino, transformam-se em representantes da inutilidade e da preguiça.
“Se recebeste, pois, mais rude tarefa no mundo, não te atemorize a frente dos outros e  faze dela o teu  caminho de progresso e renovação, por mais sombria que seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias, enriquece-a com a luz do teu esforço no bem, porque o medo não serviu como justificativa aceitável no acerto de contas entre o servo e o Senhor”. (Emmanuel)
A percepção é um atributo do espírito; quanto maior o estado de consciência do indivíduo, maior será sua capacidade de perceber a vida, que não se limita apenas aos fragmentos da realidade, mas sim a realidade plena.
Colocar nossa atenção nas coisas da vida é fator importante para o nosso desenvolvimento mental, emocional e espiritual, todavia, é necessário, saber direcionar convenientemente nossa percepção e atenção no momento exato e para o lugar certo.
O resultado do medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir, com espontaneidade, pois quem decidirá como e quando devemos atuar será a atmosfera de temor que nos envolve.
Cada um vê o universo das coisas pelo que é. Vemos o mundo e as criaturas segundo o nível de desenvolvimento da consciência em que vivemos. Quanto maior esses níveis, mais estaremos centrados, e vivendo estáveis e tranquilos. Quanto menor esses níveis, mais primário será o nosso juízo a respeito de tudo e teremos uma estreita visão dos fatos e das pessoas.
A vida é, antes de tudo, um profundo exercício de descobertas.
Vamos destacar algumas perguntas para reflexão:
1 – O que representa os talentos entregues aos servos?
R – A oportunidade de cada um desenvolver o potencial que tem dentro de si.
2 – Por que o senhor não deu aos seus servos quantidades iguais de talentos?
R - Porque, conhecendo bem os seus servidores, distribuiu, de acordo com a capacidade de cada um.
3 – Por que o servo que recebeu um talento foi chamado de “servo inútil”?
R – Porque, pela sua ignorância, sentiu medo e enterrou o talento, não sabendo valorizar o bem que recebeu.
4 – O que devemos entender pela expressão: “Ser lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes”?
Que, aquele que não souber valorizar os bens que recebeu aqui na Terra, receberá como recompensa os frutos da sua ignorância.
5 – O que entendemos dessa parábola?
R – Que é uma avaliação feita por Deus sobre o ser, verificando a capacidade de cada um, e recompensando segundo suas obras.
Daí nós concluirmos que:
Essa parábola, é como uma recomendação contra a negligência das pessoas.
Que, se nós desejamos que haja progresso em nossas vidas, e que tenhamos a possibilidade de utilizar esse progresso em nosso benefício e em benefício de nosso semelhante, teremos que deixar de lado a indolência e a preguiça, para agirmos com dinamismo e inteligência. Não negligenciando na hora de perdoar; não negligenciando na hora de compreender as necessidades do próximo; não negligenciando em reconhecer as palavras de Jesus, para a nossa salvação.
Ninguém nasce brilhante. Todos nós fomos criados simples e ignorantes. E, é, aos poucos, que nós vamos acumulando conhecimento, de experiência em experiência, até sabermos discernir uma coisa da outra, para traçarmos o nosso caminho.

Utilizemos, portanto, nossos talentos para a construção de um mundo melhor.
********************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – Parábola do mau rico.

Item 5. Jesus, por Lucas diz:
Havia um homem rico, que vestia púrpura (antigo tecido vermelho) e linho e se tratava magnificamente todos os dias. – Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de úlceras, - que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico; mas ninguém lhas dava e os cães lhe vinham lamber as chagas.
É muito importante para nós, entendermos bem esta parábola, para que não fiquemos com a impressão, ou com dúvida, de que existem privilégios, escolhas, no mundo espiritual.
Podemos entender nesta parábola que, o rico e o pobre Lázaro personificam a humanidade. Nela, o rico simboliza as criaturas que só tratam da vida do corpo e esquecem-se da vida da alma. São aquelas que buscam a felicidade no comer, no beber, no vestir e no se divertir; são as que se entregam a todos os gozos da matéria; são pessoas egoístas, orgulhosas, que vivem unicamente para si, e elevadas ao trono da vaidade, da soberba (arrogância), não veem senão o que lhes pode propiciar prazeres.
Lázaro representa os excluídos da sociedade terrena, aqueles que são desprezados, amaldiçoados, e que não podem chegar à porta dos mais afortunados.
É preciso entender que Lázaro não representa os pobres orgulhosos do mundo, que não têm muitas vezes o que comer e o que vestir, mas estão cobertos de púrpura. Não, os pobres, de que Lázaro serviu de símbolo na parábola, são os que sofrem com resignação, são os que desprezam os bens da Terra, porque buscam as coisas de Deus; são os pacientes e resignados que não se revoltam, porque creem no futuro e esperam as dádivas que lhes serão reservadas pelo Pai criador.
Eles sabem que existe um Pai supremo que lhes dará o prêmio de sua dedicação; e que esse prêmio, embora às vezes, pareça tardar, não faltará, porque a justiça de Deus é infalível.
Continuando,...
Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro (túmulo) o inferno (Hades). – Quando se achava nos tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão e Lázaro em seu seio – e, exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua, pois sofro horrível tormento nestas chamas.
Vamos procurar explicar o que seja estar no seio de Abraão e o que significa Hades, o inferno, citado na parábola.
Na linguagem dos hebreus, seio de Abraão significa a liberdade do Espírito no espaço infinito; é um mundo invisível, onde os Espíritos caminham livres de obstáculos, a caminho da felicidade.
Abraão foi patriarca (chefe) dos hebreus, alta personagem do Antigo Testamento, em quem a fé mais viva se mostrava, a ponto de não vacilar em sacrificar seu filho Isaac, para obedecer às ordens que havia recebido do Alto. Para aí é que foi Lázaro, com inteira liberdade de locomoção nos ares. Ele havia sofrido na terra, privado das delícias do mundo, mas cria num Deus supremo, que lhe concedera aquela existência de expiação e de provas, para que reparasse os males de suas vidas passadas, em que havia também de descuidado das coisas divinas.
Agora vamos tratar do Hades: O Hades eram as regiões infernais da Mitologia Grega, equivalente ao inferno aceito pelos católicos e pelos protestantes. Não deve ser entendido como um lugar, mas como um estado de espírito, isto é, um estado de profundo sofrimento. Os antigos acreditavam na existência de um mundo subterrâneo, para o qual iam as almas daqueles que não foram bons na terra. O corpo ficava no sepulcro, e o Espírito ia para o Hades: “mundo localizado nas entranhas da terra”. Daí essas almas não poderiam sair, assim como nós, em corpo de carne, não podemos sair deste mundo. Entretanto, os Espíritos que estavam no Hades viam com os olhos da alma, e sabiam, portanto, tudo o que se passava no seio de Abraão. Era justamente nisso que consistia o sofrimento: verem o que se passava no Alto, e não poderem participar dessas regalias que só eram concedidas àqueles que, como Lázaro, haviam saldado sua conta espiritual. Por isso, diz o Evangelho, que o rico levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio e clamou: “Pai Abraão tem compaixão de mim! E manda a Lázaro que molhe a ponta de seu dedo e lhe refresque a língua, porque estava atormentado naquela chama!” O rico queria água! Tinha sede, e essa sede não era a do corpo, não se tratava de água de rios ou de fontes, porque o corpo estava no sepulcro, e o Espírito não pode beber água material. Era sede de consolação, de esperança, de perdão!
Continuando,...
Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste em vida teus bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na consolação e tu nos tormentos.
Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode passar do lugar onde estás para aqui.
Aqui, encontramos um alerta de Jesus para a necessidade de prepararmos o nosso caminho futuro, enquanto estamos trilhando o caminho terreno. Alerta também, para que tenhamos olhos de ver as necessidades dos nossos irmãos, quando estivermos desfrutando de qualquer tipo de opulência (abundância de bens). Esse ensinamento é a proclamação da lei de caridade, cuja execução é imprescindível para todos os que desejam progredir espiritualmente.
Havia, então, a necessidade do rico ser persuadido a se regenerar mais tarde, e, como Lázaro, vir novamente ao mundo pagar a sua dívida, para  depois subir também ao seio de Abraão; porque também ele era filho de Abraão, e Abraão não deixaria seu filho perecer.
Continuando,...
Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai, - onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não venham também eles para este lugar de tormento. – Abraão lhe retrucou: Eles têm Moisés e os profetas; que os escutem. – Não, meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos mortos for ter com eles, farão penitência. – Respondeu-lhe Abraão: Se eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda mesmo que algum dos mortos ressuscite. ( Lucas, cap. XVI, vv. 19 a 31 ).
O rico, ao ouvir de pai Abraão, que havia recebido o que era de bom em sua vida, e Lázaro, os males, por isso, era justo que Lázaro estivesse sendo consolado e ele atormentado. O rico, que desfrutou de uma vida feliz no mundo material, está sofrendo no mundo espiritual; Lázaro, que sofreu no mundo material, está desfrutando de uma vida feliz no mundo espiritual. Ele, então, compreendeu que a causa de suas dores era a vida dissoluta ( devassa ) que passara no mundo e, agora, a chama viva do remorso abrasava a sua consciência. Agora, ele queria a água da vida; a água de salvação que Jesus havia dado à mulher samaritana.
Cheio de pobreza e de sofrimento, lembrando-se de seus cinco irmãos que levavam a mesma vida que ele, quando estava na terra, suplicou a Abraão que mandasse Lázaro à casa daquele que havia sido seu pai, para advertir seus irmãos, pois, precisavam ficar sabendo dos tormentos que os aguardavam, se continuassem assim.
Aqui, embora parecendo humilde, o rico demonstrou todo o seu egoísmo e o seu orgulho. Foi orgulhoso, quando quis que Lázaro, num plano espiritual mais adiantado do que o dele, fosse servir de mensageiro, voltando ao mundo, para transmitir as verdades de Deus. E egoísta, quando não se lembrou de pedir a difusão dessas mesmas verdades, entre todas as criaturas. Somente pensou nos seus amados pelo sangue.
A súplica do rico, filha do egoísmo ou do espírito de preferência, por exemplo, semelhante à maioria das súplicas que partem dos caminhos escuros da Terra, nos dizem os Espíritos superiores, nunca chegam a Deus, por se apagarem no mesmo círculo de sombra e ignorância em que foram geradas.
É bom lembrar, que os espíritos dos mortos podem comunicar-se e se manifestarem aos vivos, mas não podem obrigar os vivos a tomarem, desde já, posse da felicidade futura.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Como explicar que duas criaturas, filhas do mesmo Deus de amor, possam experimentar situações tão opostas?
R – Deus, em sua justiça, trata cada um conforme suas ações e concede a todos oportunidades de progresso: o rico recebeu a prova da fortuna para desenvolver a solidariedade; o mendigo recebeu a prova da miséria para recobrar a humildade e a resignação.
O sofrimento de hoje nos aponta as faltas do passado e constitui oportunidade de alegrias futuras.
2 – Que devemos entender pela palavra “inferno”, usada por Jesus nesta passagem?
R – O sofrimento que acomete o espírito, quando este, percebendo o mal que praticou, debate-se no remorso e padece terríveis aflições pela impossibilidade de aproximar-se de Deus.
3 – Por que Abraão não atendeu ao pedido do rico?
R – Porque sabia que a incredulidade dos homens não é vencida nem por manifestações nem por revelações de qualquer natureza, mas pela reflexão sincera acerca das leis divinas, embora elas estejam em nossa consciência.
O esclarecimento íntimo é tarefa reservada a cada um. Os meios que auxiliam o esclarecimento estão sempre ao nosso alcance: o Evangelho de Jesus, a prece, os exemplos edificantes de nossos irmãos. Basta que os busquemos.
Da lição que Jesus propôs à multidão, que se achava em torno dele, podemos tirar a seguinte conclusão:
Existem duas personalidades distintas na parábola. Uma que aproveitou os prazeres da vida, e outra que somente sofreu; uma a quem nada faltava, outra a que tudo faltava. Agora vão trocar suas condições; vão mudar de cenário; o mendigo vai para a abundância, e o rico é que passa a mendigar! É o reverso da medalha, que se apresenta a todos nós, no dia do julgamento final.
Quando nos prendemos demais às coisas terrenas, nós ficamos distanciados dos ensinamentos de Jesus e, logicamente, ficaremos na condição desse homem rico da parábola. Então não há condição de puxar para a dimensão livre de Abraão, alguém da esfera subterrânea, pesado pela carga de seus erros.
Se nós mesmos não fizermos o nosso caminho; se nós não nos iluminarmos por dentro; se nós não nos desfizermos de nossas poses, de nossa arrogância, nenhum Pai Abraão fará por nós. O progresso espiritual é tarefa individual e intransferível.
O sofrimento daquele que, na Terra, se afastou das leis divinas e retardou, assim, sua caminhada evolutiva, pode e deve ser abrandado por ele próprio, pelo retorno ao Pai, através da prática do bem.
A situação de Lázaro, que entendemos ser de bem-aventurança, não se alcança porque alguém pediu, e, sim, com muita resignação diante da dor de nossas provações, pagando até o seu último centavo.

  *********************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – Jesus em casa de Zaqueu.

Item 4. O evangelista Lucas nos diz:
Tendo Jesus entrado em Jericó, passava pela cidade – e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos (arrendatários das rendas públicas) e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito baixa. – Por isso, correu à frente da turba e subiu a um sicômoro (espécie de figueira), para o ver, porquanto ele tinha de passar ali. – Chegando a esse lugar, Jesus dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu, dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa. – Zaqueu desceu imediatamente e o recebeu jubiloso. – Vendo isso, todos murmuravam, a dizer: Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos. – Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; - visto que o Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido. ( Lucas, cap. XIX, vv. 1 a 10 ).
Ao lado do fato real, o evangelho apresenta um ensinamento simbólico a ser percebido no bojo de suas narrativas.
Zaqueu não conseguia ver Jesus por causa de muita gente, já que era pequeno de estatura. Pela ótica espiritual, essa pequena estatura pode significar o seu grau evolutivo. E essa muita gente seria a distância entre ele e o Mestre. Daí, podermos concluir, que o seu pouco desenvolvimento espiritual dificultava sua aproximação com Jesus.
Por que entendemos que Zaqueu era pouco evoluído espiritualmente? Porque ele era um cobrador de impostos. Recebia os impostos pagos pelos habitantes da Palestina ao governo de Roma. Era praxe naquela época o coletor ficar com uma boa parte da importância recebida, devido ao risco da função. Por isso Zaqueu era rico.
É interessante observar que Zaqueu tendo conhecimento de que a sua pequena estatura, ou seja, o baixo degrau evolutivo em que se encontrava, dificultava-lhe ver o Mestre, quer dizer, compreender melhor os seus ensinos e, sobretudo, vivenciá-los, ele se esforça para conseguir o seu intento.
Na questão 919, do Livro dos Espíritos, Kardec indaga aos instrutores espirituais “qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal”. Resposta: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo”. Foi exatamente isto o que fez Zaqueu. Conhecia a si mesmo, sabia de sua pequena estatura, da distância que o separava de Jesus. Mas ele não se acomodou. Ao contrário, elaborou um plano de ação de maneira a superar a dificuldade em que se achava. Planejou suas atividades, visando atingir o fim que pretendia.
Como já dissemos, Zaqueu era publicano, um cobrador de impostos e, por isto, não era bem visto. Não era considerado filho de Abraão, e por esta razão, não era digno de ser salvo. Era considerado um homem de má vida. Mas não se importou com a opinião pública, com o que iriam pensar e falar dele. Estava decidido, determinado a ver Jesus.
Daí nós deduzirmos que, Zaqueu, acostumado a ouvir as pregações do Mestre, se conscientizou de que estava errado e não deveria continuar no erro. E Jesus, que pode nos ver por dentro, viu que realmente ele estava sendo sincero no seu arrependimento. Queria refazer a sua própria vida. Passar a partir daquele momento a ser um homem inatacável. O que ele havia feito até aquele momento não foi levado em conta por Jesus. Não era importante. O importante foi que, ao tomar conhecimento das palavras do Mestre, ele as aceitou e tomou o caminho certo. Por isto, foi que o Cristo disse: “Esta casa recebeu hoje a salvação, visto que o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
É isto o que Jesus espera de nós. Ele não está preocupado com o que nós fizemos ontem. Ele está preocupado com o que nós vamos fazer a partir de agora.
Daí, nós tirarmos uma lição: Se fazemos planos a curto, médio e longo prazo em nossa vida material, por que não fazer o mesmo em relação às questões espirituais. Identificadas nossas carências, os pontos em que precisamos melhorar, as falhas a serem corrigidas, por que não fazemos como Zaqueu: planejar a vida também, com vistas aos interesses do Espírito. Livros a serem lidos, estudos a serem feitos, trabalhos a realizar, treinando-nos na vivência dos ensinos que abraçamos.
A árvore em que Zaqueu subiu pode significar estes recursos de que podemos nos valer para superar nossas deficiências. Ainda  somos de estatura pequena, mas podemos andar e correr, isto é, aproveitar o tempo, dedicando-nos ao ideal. E subir numa árvore, ou seja, suprir nossa falta de talento, ou falta de evolução espiritual, com esforço e dedicação.
O fato de Zaqueu subir numa árvore para ver Jesus significa que, quando resolvemos trabalhar pela nossa evolução espiritual, buscando aproximarmo-nos do Cristo, não podemos estar preocupados com a opinião de terceiros. Elogios, ou reprovações não devem nos atingir.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Como podemos interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus ?
R – Sabendo da natureza dos ensinamentos de Jesus, baseados na justiça e na caridade, Zaqueu, afligia-se, por reconhecer      o mau uso que fazia de sua vida e de sua riqueza; e desejoso de dar a ambas um novo sentido, buscava encontrar o Mestre.
A consciência de Zaqueu o acusava do mau uso da riqueza, e ele buscava em Jesus a força para redimir-se.
2 – Por que as pessoas que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa de Zaqueu?
R – Porque Zaqueu era considerado pelos judeus como pessoa de má vida, indigno, portanto, de receber a visita do Mestre.
Jesus buscava a companhia dos errados, para auxiliá-los no caminho da própria salvação.
3 – O que mudou na vida de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
R – O destino que ele passou a dar a sua própria vida, pois antes cuidava apenas dos próprios interesses e de acumular bens, passando depois a reparar as faltas cometidas e a dividir sua riqueza com os necessitados.
4 – Qual o sentido da palavra “salvação”, usada por Jesus?
R – Jesus referia-se ao esclarecimento que lograra alcançar o espírito de Zaqueu e à caminhada que iniciava em direção ao Reino de Deus, através do auxílio ao próximo.
“Esta casa recebeu hoje a salvação porque também este é filho de Abraão”.
Daí nós concluirmos que a riqueza tanto pode ser motivo de atraso, quando seu detentor a utiliza apenas em proveito próprio, como ocasião de progresso espiritual, quando é colocada a serviço do próximo.

Nós também podemos nos aproximar de Jesus, recebê-lo em nossa casa, isto é, em nosso íntimo. Para isto, precisamos nos conhecer, planejar as ações visando superar as dificuldades, nossas imperfeições que fazem com que permaneçamos distantes do Mestre, embora Ele esteja sempre conosco, e realizar o plano com dedicação, mesmo que, para isto, tenhamos que enfrentar opiniões contrárias.
*****************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – Preservar-se da avareza - Item 3.

ITEM 3 : O evangelista Lucas nos diz:
Então, no meio da turba, um homem lhe disse: Mestre, dize a meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou. – Jesus lhe disse: Ó homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas? – E acrescentou: Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, porquanto, seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possua.
Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem cujas terras tinham produzido extraordinariamente – e que se entretinha a pensar consigo mesmo, assim: Que ei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa encerrar tudo o que vou colher? – Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os meus celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a minha colheita e todos os meus bens. – E direi a minha alma: Minha alma, tens de reservar muitos bens para longos anos; repousa, come, bebe, goza. – Mas, Deus, ao mesmo tempo, disse ao homem: Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para que servirá o que acumulaste?
É o que acontece àquele que acumula tesouros para si próprio e que não é rico diante de Deus. ( Lucas, cap. XII, vv. 13 a 21 )
Estas palavras do Cristo, como tantas outras, ficariam meio sem sentido, se não houvesse a Doutrina Espírita para esclarecê-las.
A parábola do avarento é uma síntese do trágico fim de todos aqueles que não veem a felicidade senão no dinheiro, e se constituem em seus escravos incondicionais. Para essa gente, havendo dinheiro, há tudo. Arraste-se o mendigo pelas vias públicas, chore e soluce o aflito, geme de dores o enfermo miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses corações empedernidos (endurecidos), nada lhes demove, nada consegue mudar-lhes ou desviar-lhes as vistas do seu tesouro. Segundo Cairbar Schutel, “a avareza é a véspera da miséria”.
O que valem as riquezas efêmeras, sombras de felicidade que se esvaem, ilusão de grandezas que desaparecem à primeira visita de uma enfermidade ?
No nosso dia-a-dia encontramos diversos tipos de avareza: Aquela em que a pessoa só sabe guardar, amealhar. Não gasta nem com ela mesma. Torna-se escrava do dinheiro. Passa falta de um determinado bem, e não o compra, mesmo podendo; aquela, associada ao egoísmo, em que a pessoa só gasta consigo mesmo. Para ela tudo, para os outros nada. Tudo para si próprio é muito bem empregado, mas não tem condições para nada fazer em favor dos outros.
Poderíamos estar desfrutando, já de uma vida melhor no planeta terra, não fosse a ambição, a avareza de muitos, em prejuízo dos demais. Na medida em que formos compreendendo melhor os ensinamentos do Mestre e, sobretudo, aplicando-os em nossas vidas a qualidade de vida da humanidade, certamente, muito lucrará.
A riqueza, já nos disse Kardec, não é obstáculo à salvação, ou seja, ao aperfeiçoamento espiritual e a evolução do ser.
A espiritualidade nos diz que o dinheiro é alavanca suscetível de ser manejada para o bem e para o mal. Se o dinheiro não é bem utilizado, o problema não está na moeda, e sim naquele que a administra. Condenar a fortuna pelos desastres da avareza é o mesmo que espancar o automóvel pelos abusos do motorista.
Os bens materiais são necessários, precisamos deles para vivermos no plano físico. Mas o seu valor é relativo, isto é que importa Ter sempre na mente. Na hierarquia de valores, os verdadeiros bens, são os bens do espírito.
“O avarento gasta mais no dia de sua morte do que em dez anos de vida, e seu herdeiro gasta mais em dez meses, do que o avarento em sua vida inteira.” - La Bruyère. (Escritor).
 ******************************************** 


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – Salvação dos ricos. Itens 1 e 2.

ITEM 1. Diz Jesus, por Lucas.
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. ( cap. .XVI, v. 13 ).
Em algumas traduções do Evangelho Segundo o Espiritismo está escrito: Não se pode servir a Deus e às riquezas.
Esse personagem Mamon era um ser mitológico daquela época, que representava a personificação da riqueza. E Jesus ao proferir essa frase, queria nos dizer que não podemos servir ao mesmo tempo as coisas do espírito e as coisas da matéria.
Todos nós temos prioridades em nossas vidas. Em certo momento da nossa existência nos é colocado à nossa frente uma bifurcação de caminhos. E, aí, nós temos que escolher: Se seguimos o caminho da direita ou se seguimos o caminho da esquerda. Não existe a hipótese de seguirmos os dois caminhos ao mesmo tempo. Ou vamos seguir o caminho que nos leva a Deus, ou vamos trilhar o caminho que nos leva a Mamon. A grande diferença, entre servir a um e servir ao outro, está no que nós temos a oferecer. Mamon se contenta com bens materiais, que são posses transitórias, e Deus se contenta com outros tipos de bens, que são os bens morais.
Fica claro que, para uma criatura que desconhece os ensinamentos do Cristo, torna-se mais fácil servir a Mamon, pela paixão que tem pela posse de riquezas materiais.
ITEM 2. Os evangelistas nos dizem:
Então, aproximou-se dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna? – Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos. – Que mandamentos? Retrucou o mancebo. Disse Jesus: Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não darás testemunho falso. – Honra a teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti mesmo.
O moço lhe replicou: Tenho guardado todos esses mandamentos desde que cheguei à mocidade. Que é o que ainda me falta? – Disse Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o moço se foi todo tristonho, porque possuía grandes haveres. Jesus disse então a seus discípulos: - Digo-vos em verdade que bem difícil é que um rico entre no reino dos céus. Ainda uma vez vos digo: - É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. (Mateus, Cap. XIX, vv.16 a 24. – Lucas, cap. XVIII, vv. 18 a 25. – Marcos, cap. X, vv. 17 a 25).
Vamos procurar interpretar o que o mestre quis dizer com essas palavras.
Primeiro temos que entender que a essência da Doutrina Cristã é a modificação do caráter de quem se orienta por ela. Por isto, não podemos associar o progresso material à nossa felicidade. Esta associação resume a vida do homem entre o nascer e o morrer. Nós espíritas, necessitamos compreender a postura materialista da criatura humana, em face ao atraso espiritual reinante. Porém, se quisermos viver no reino de Deus, prometido por Jesus, não podemos encarar a vida da mesma forma que os nossos irmãos que professam religiões materialistas.
Jesus, nesse duro discurso, está nos advertindo para os cuidados que devemos ter no relacionamento com o mundo material, mas, nunca declarando a riqueza como um mal. E, sim, o mau uso que fazemos dela. Pois, diante das facilidades que a riqueza nos oferece, com certeza, vamos enveredar pelo mau caminho.
É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus.
Diante dessa alegoria podemos ficar surpresos. Mas, na realidade, o que Jesus estava querendo dizer é que: é difícil entrar no Reino de Deus os que se deixam escravizar pelas riquezas. O homem rico tem mais dificuldade de vencer do que o pobre. O pobre por não ter bens materiais,  tem maior possibilidade de passar pela porta estreita, porque não tem como servir a Mamon. Não tendo riqueza material ele não se sente tentado a buscar esse tipo de servilismo e, naturalmente, vai se chegar a um Deus que pede somente a sua riqueza interior.
Como já dissemos, Deus não condena a riqueza. E ninguém é condenado por ser rico. Essa sentença do Mestre vem como ajuda das provas por que passam aqueles que pediram bens de fortuna para terem oportunidade de prestar maior número de benefícios ao seu próximo, e, portanto, progredirem mais rapidamente.
O propósito da vida na terra é o aperfeiçoamento do Espírito. Aquele que assim compreende eleva-se, dignifica-se, e livre dos entraves materiais, sobe às alturas inacessíveis ao sofrimento, alcançando a felicidade eterna.
Aquele que assim não quer compreender rebaixa-se, desmoraliza-se, e absorvido pelas más paixões, desce aos abismos da dor, para expiar e reparar as faltas, as transgressões das Leis divinas.
O apego aos bens materiais é um dos sérios obstáculos à nossa vida espiritual. Somos, ainda, pouco evoluídos, e a nossa confiança em Deus é bastante pequena. Preocupamo-nos, excessivamente, com o futuro aqui na Terra.
É claro que devemos nos precaver, planejar a vida, prevenir o futuro, enfim, fazer a nossa parte. Mas a mensagem de Jesus fala do exagero, dos excessos, da preocupação excessiva com os bens materiais, como se tudo dependesse do dinheiro, ou como se com ele tudo resolvêssemos.
A figura do camelo, podemos entender de duas formas:
De acordo com o idioma falado naquela época, o hebreu, uma mesma palavra era empregada para designar várias coisas, como, camelo, por exemplo, que além de indicar o animal, também servia para nomear cabo e corda. Então, a tradução mais natural seria: passar uma corda pelo fundo de uma agulha.
Há também uma outra explicação:
Naquela época, era costume usar o camelo como besta de carga. E as cidades, tinham como porta de entrada, uma abertura bastante estreita e bem alta, por onde passavam as tropas. Um animal de cada vez. Daí nós concluirmos que, se o camelo estivesse com fardos volumosos, não passaria pela agulha, desenho da porta de entrada. O volume da carga seria maior do que a bitola da entrada.
Essa alegoria, de que é difícil um rico entrar no Reino de Deus, é justamente para chamar a nossa atenção quanto ao acúmulo de carga que vamos colocando em cima de nós, quando nos lançamos na busca da riqueza. Quanto mais nos esforçamos para amealhar mais riqueza, mais carga vamos acrescentando na nossa vida.
Quando Jesus nos recomenda para que nos esforcemos para passar pela porta estreita, porque a larga é a porta da perdição, Ele diz para irmos nos despojando da nossa carga, dos excessos de riqueza, para podermos passar facilmente.
Os Espíritos superiores nos estimulam a termos domínio sobre o mundo material, e não a sermos escravos dele. Mas essa é uma realização íntima, a que cada ser deve dedicar-se.
Para encerrar este item, vamos reproduzir o último trecho da comunicação do espírito Condessa Paulo, contida no livro O céu e o inferno:
“E vós ricos, tendes sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo Poderoso”.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – O que podemos entender com a frase de Jesus: “ninguém pode servir a dois senhores” ?
R – Que não podemos viver, simultaneamente, fascinados pelas coisas materiais e comprometidos com a salvação do espírito, pois é impossível conciliar dois princípios tão opostos entre si.
2 – Por que Jesus recomendou ao moço que se desfizesse da sua fortuna ?
R – Certamente porque esta fortuna, utilizada apenas em proveito próprio, aprisionava-o, impedindo-o de praticar a caridade e afastando-o do único caminho que conduz à salvação.
A fortuna daquele jovem constituía-se em empecilho para o seu progresso espiritual.
3 – Nesta passagem Jesus nos ensina a despojarmo-nos do que possuímos, para obtermos a salvação?
R – Não. Jesus nos ensina o desapego dos bens materiais, mostrando-nos que nada na vida é mais importante que a busca das coisas espirituais. Os bens materiais são meios que nos são concedidos para esse fim, porém não podem constituir obstáculos para nosso avanço espiritual.
Os bens materiais são concessões passageiras que Deus nos permite, a fim de que os administremos em favor do próximo.

Daí concluirmos que a riqueza não é condenável em si mesma. O emprego que lhe damos é que a torna empecilho ou um poderoso auxílio para o nosso progresso espiritual.
****************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da caridade não há salvação – itens de 8 a 10 – Fora da Igreja não há salvação; Fora da verdade não há salvação. – Instruções dos Espíritos – Fora da caridade não há salvação.
8 – Enquanto a máxima: Fora da caridade não há salvação apoia-se num princípio universal, abrindo a todos os filhos de Deus o acesso à felicidade suprema, o dogma: Fora da Igreja não há salvação apoia-se, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, mas na fé especial em dogmas particulares. É, portanto, exclusivista e absoluto. Em vez de unir os filhos de Deus, divide-os. Em vez de incitá-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar a animosidade entre os sectários dos diversos cultos, que se consideram reciprocamente malditos na eternidade, sejam embora parentes ou amigos neste mundo; e desconhecendo a grande lei de igualdade perante o túmulo, separa-os também no campo-santo. A máxima: Fora da caridade não há salvação é a consequência do princípio de igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-se esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for a sua maneira de adorar o Criador, eles se dão às mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma: Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e perseguem-se mutuamente, vivendo como inimigos: o pai não ora mais pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que se julgam reciprocamente condenados, sem remissão. Esse dogma é, portanto, essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.
Estas primeiras considerações do codificador, estão voltadas para nos chamar a atenção a cerca da intransigente obstinação desse axioma: Fora da Igreja não há salvação. Essa sentença moral se apoia, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, mas numa fé especial, em dogmas particulares; exclusivos e absolutos. É também elitista, porque na verdade, o ser ao achar que fora da igreja dele não há salvação, está se julgando um dos detentores da verdade.
Certamente, o Mestre não queria que o homem se dividisse em classes religiosas, disputando palmo a palmo quem detém maior conhecimento da verdade. Sem dúvida nenhuma, o sacrifício que fez, habitando um mundo de tanto atraso moral, não seria para fundar religião, ou religiões, atendendo a vontades menores. O Verbo de Deus, como O chamava o apóstolo João, veio trazer algo muito maior para a humanidade. Pretendia que o homem se libertasse do jugo da ignorância e deixasse de ser escravo dos interesses materiais e de suas imperfeições. Até hoje, porém, sua mensagem permanece adormecida.
Torna-se imperioso perguntar se a vinda de Jesus ao nosso planeta fez a mudança que Ele pretendia, para a vida dos homens. Analisando a situação dos que se dizem cristãos, a resposta é não.
No estágio evolutivo em que nós nos encontramos a verdade é algo fracionado. Estamos muito comprometidos com o nosso comportamento moral. E a própria questão da intelectualidade, nós observamos, é ainda muito rudimentar, porque, na realidade, ainda não descobrimos uma série de coisas. Estamos muito distantes da perfeição, e essa distância que dela nos separam são degraus que nós devemos subir, e que representam todas as frações da verdade.
Vamos procurar explicar a comparação que Kardec faz entre os dois lemas:
            A parábola do Bom Samaritano retrata bem a salvação pela caridade. Nela, como já estudamos, Jesus ensina ao doutor da lei quem é o nosso próximo. E o próximo do samaritano foi o moribundo, independentemente de ser ou não da mesma crença, da mesma raça ou da mesma cor. O que ficou ressaltado no ato foi a prática da caridade.
            Jesus nunca disse que esta ou aquela religião, esta ou aquela doutrina ou esta ou aquela seita deveria ser seguida. O dogma fora da Igreja não há salvação pressupõe uma adesão a uma religião, formada por um grupo que se julga melhor que os outros semelhantes, como se Deus desse preferência a esse grupo. Enquanto, a máxima fora da caridade não há salvação, pode ser praticada por qualquer criatura.
            Porém, nós encontramos criaturas religiosas acreditando, de fato, que fora da Igreja não há salvação, valorizando esse lema, como sendo a máxima de uma Igreja especial         Esse lema, além de ser pretensioso, apresenta um perfil preconceituoso, porque existem várias doutrinas religiosas e, circunscrever a verdade eterna às  suas propostas  religiosas, é condenar todos os outros grupos. E o maior exemplo disto, são as guerras chamadas santas, que existem até hoje, feitas, logicamente, por seguidores que não submetem a sua fé ao crivo da lógica e da razão.
Não faz muito tempo, a declaração “Dominus Jesus “, ou seja, “Senhor Jesus”, do cardeal Joseph Ratzinger, depois Bento XVI, na ocasião, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, divulgada após a aprovação do Papa, sobre a unicidade (qualidade do é único) e a universalidade (qualidade do que é universal) do poder de salvação de Jesus Cristo e da Igreja Católica, causou perplexidade, no seio das outras religiões, pelo seu teor. Em parte do documento encontramos: “Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a Graça divina, também é verdade que, objetivamente, se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação”.
Esse documento afetou o movimento ecumênico que seria feito e os diálogos inter-religiosos onde se discutiria que a salvação poderia ser obtida fora do catolicismo.
Num artigo no jornal O Globo, o então cardeal do Rio de Janeiro, D. Eugênio Sales, sobre as verdades salvíficas que conduzem a sociedade e o indivíduo à verdadeira felicidade, diz que a Igreja Católica assume a tarefa de ensinar sua doutrina, num mandato expresso do Senhor Jesus. Ora, por esse conceito egoístico, fica configurado um Deus feito à imagem e a semelhança do ser, passível de preferências e de vingança.
Para dar suporte à ideia de que Deus não tem preferências, vamos recorrer à Jesus, na passagem em que diz que nenhuma das ovelhas do Seu rebanho se perderia. O Cristo acusado de Ter parte com o diabo foi, por isto, morto pela ignorância dos que O julgaram como uma ameaça aos seus mesquinhos interesses.
9 – Fora da verdade não há salvação seria equivalente a Fora da Igreja não há salvação, e também exclusivista, porque não existe uma única seita que não pretende ter o privilégio da verdade. Qual o homem que pode jactar-se de possuí-la integralmente, quando a área do conhecimento aumenta sem cessar, e cada dia que passa as ideias são retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da mais elevada categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não lhe é dado saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu adiantamento. Se Deus houvesse feito, da posse da verdade absoluta, a condição expressa da felicidade futura, isso equivaleria a um decreto de proscrição geral, enquanto que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, pode ser praticada por todos. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salvação, independente da forma de crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não estabelece: Fora do Espiritismo não há salvação, e como não pretende ensinar toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em vez de unir, e que perpetuaria a animosidade.
Quando perguntaram a Jesus o que era a verdade, Ele preferiu não responder, porque a Humanidade terrena ainda não tinha condições de conhecê-la, como ainda hoje não tem. Não resta a menor dúvida, ela ainda está bem distante dessa possibilidade. As verdades de ontem hoje são questionadas, graças ao avanço dos conhecimentos; assim sendo, não temos a garantia de que as verdades de hoje sejam mantidas amanhã.
Pelo conhecimento já adquirido no nosso estudo, sabemos que a verdade absoluta não pode ser conhecida no plano terreno atualmente, devido ao atraso em que este plano ainda se encontra. Daí concluirmos que ninguém tem possibilidades de salvação, se ela depender do conhecimento da verdade.
Então, nós podemos deduzir da sentença moral “Fora da verdade não há salvação” que, além de ser um equívoco é um chamariz, uma aliciação. Engana às criaturas, dando-lhes uma falsa impressão de que são especiais. Isso contraria as Leis divinas. Pois, a criatura se julgando especial vai ter um comportamento anti-fraterno, em relação aos seus companheiros de jornada. Ela se sentirá superior àqueles que não estejam dentro daquele raio de proteção em que ela está. Portanto, aqueles que não pensarem da mesma forma que essa criatura, ficarão excluídos da possibilidade de uma felicidade futura.
Jesus disse:
“Vosso pai que está nos céus, faz nascer o seu sol sobre os bons e sobre os maus, e vir suas chuvas sobre os justos e injustos”. Então, só há um Deus, só há uma única verdade. Por isto, não pode haver duas leis de Deus, duas religiões de Deus.
A religião de Deus orienta a criatura, como Paulo de Tarso, para examinar tudo, crescer em todo o conhecimento. Fazer o estudo crítico do que lhe for apresentado, para separar o bom do mau. Então, aqui cabe uma pergunta:  qual é a verdadeira Igreja de Cristo ? A dúvida vem desde 1517, quando o monge Martinho Lutero, discordando dos dogmas da Igreja, escreveu as noventa e cinco teses contra os abusos do catolicismo. Desse ato, nasceu a chamada Reforma Protestante que preservou, segundo ele, a Igreja de Cristo de um abandono total. Os frutos dessa Reforma ocorreram a partir de 1526, com o surgimento da Igreja Luterana. Em 1534, surgiu a Igreja Episcopal Anglicana, na Inglaterra. Em 1536, surgiu a Igreja Calvinista. Em 1560 foi fundada a Igreja Presbiteriana, na Suíça. Em 1640, surgiram na Inglaterra grupos separatistas oriundos da Igreja Anglicana. Assim, em 1644, com a confissão de fé desses grupos surgiu os conhecidos Batistas. Em 1738, também na Inglaterra, surgiu a Igreja Metodista. Então, pela disputa da verdade, foram criadas novas religiões, seitas, que de uma forma fanática lançaram mão da espada, e que, até hoje fazem uso dela, para estabelecer .suas pretensas verdades. São católicos contra protestantes; árabes contra judeus; o islamismo contra as outras religiões. Ninguém cede, por se julgarem os reais detentores da verdade.
Os dogmas, nada mais são do que verdades criadas pelos homens, e não pela divindade. Daí, o “Fora da Igreja não há salvação” e o “Fora da verdade não há salvação” determinam que, aqueles que não concordarem com esses lemas sejam perseguidos, excomungados e, até brutalizados.
A religião dos homens persegue, anatematiza, odeia e calunia os que são descrentes dela. A religião de Deus perdoa, ora, auxilia, serve e ampara seus próprios perseguidores, detratores e adversários.
10 - Paulo, o apóstolo, inicia a sua instrução dizendo:
Meus filhos, na máxima – Fora da caridade não há salvação – estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa (lema) é o farol celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilhará no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si.
Em outras palavras, ele ensina que a única forma de encontrarmos a felicidade eterna está em nos tornarmos bons, prestativos, fraternos e úteis à coletividade.
O propósito da vida na Terra é o aperfeiçoamento do Espírito. Aquele que assim compreende eleva-se, dignifica-se, e livre dos entraves materiais, sobe às alturas inacessíveis ao sofrimento, alcançando a felicidade eterna. Os que cumprem e proclamam o cumprimento da lei de Deus, voam por entre luzes às eternas moradas dos Espíritos soberanos, onde a harmonia, a verdade e a paz imperam na plenitude dos seus direitos divinos.
Continua Paulo:
Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a investigar o sentido profundo e as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, necessário sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.
Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embaraço para a seita a que pertençam.
Paulo, o apóstolo. ( Paris, 1860. )
Quando somos caridosos, significa que eliminamos o egoísmo e conseguimos pairar acima de todos os vícios que nos dominam, porque uma pessoa boa já venceu as paixões mundanas, encontrando aquela condição almejada, que é o estado de bem-aventurança prometido pelo Cristo. À vista disso, para sermos caridosos basta querermos, porque essa condição está à altura de qualquer  criatura , uma vez que há muitas maneiras de fazermos a caridade, independentemente de sermos ricos ou inteligentes. Portanto, todos podem alcançar a salvação, mesmo sem serem religiosos, porque amando o próximo como a nós mesmos estaremos fazendo aquilo que Jesus nos ensinou para alcançarmos a salvação ao se referir ao samaritano, dizendo que ele ganharia o reino dos céus pois, embora herético ( ateu ), socorreu a vítima dos ladrões. Vemos, portanto, que o essencial é o amor ao próximo e não as convicções religiosas sem a vivência caritativa. Isso não significa que devemos deixar de ser religiosos; porque a religião é necessária, tendo em vista que ela nos ensina a discernir o bem do mal, evitando que pratiquemos coisas que venham a prejudicar o nosso semelhante e consequentemente a nós mesmos.
Repetindo Paulo, na máxima “Fora da caridade não há salvação” estão contidos os destinos dos homens na terra e no céu; na terra, porque sob a proteção desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque aqueles que a tiverem praticado, encontrarão as graças diante do Senhor.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que a prática da caridade define o destino dos homens, tanto na terra quanto no céu?
R – Porque aqueles que praticam, ainda na terra encontram a paz, e na vida espiritual encontram graça diante de Deus.
2 – Não fazer o mal é uma forma de praticar a caridade?
R – Na prática da caridade, o que conta não é o mal que deixamos de fazer mas o bem que conseguimos realizar.
“Uma virtude passiva não basta; é necessário uma virtude ativa”.
3 – A salvação do espírito depende de alguma religião em particular?
R – Não. As religiões têm a função de esclarecer as pessoas na prática do bem que as conduz a Deus, mas não lhes garante a salvação do espírito.
Daí nós concluirmos que:
O Cristianismo bem compreendido tem valores e conceitos bem distintos desses que aí estão expressos no comportamento da maioria das pessoas. Fala de uma nova ordem de coisas, de um novo cidadão, de um novo padrão de conduta.

Religião não é fim; é meio. Não salva; esclarece. Apenas a ação permanente, no campo da caridade, nos conduz a Deus.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da caridade não há salvação.
Necessidade da caridade, segundo Paulo – Itens 6 e 7.
6 – Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até a ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disto me aproveita. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca jamais há de acabar, ou deixem de ter lugar às profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a ciência.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a caridade. (Paulo, I Coríntios, XIII: 1-7 e 13).
7 – São Paulo compreendeu tão profundamente esta verdade, que diz: “Se eu falar as línguas dos anjos; se tiver o dom de profecia, e penetrar todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. Entre essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade”. Coloca, assim, sem equívoco, a caridade acima da própria fé. Porque a caridade está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre; e porque independe de toda a crença particular.
E faz mais: define a verdadeira caridade; mostra-a, não somente na beneficência, mas no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
Boa parte dos capítulos desse evangelho trata, direta ou indiretamente, da caridade. Mas são, sobretudo, os capítulos XIII e XV os que exploram mais a dimensão ativa do amor. Destacam o desinteresse que deve caracterizar todas as ações caritativas.
Da explicação de Kardec, entendemos que ninguém expôs de forma tão sublime acerca da essência da caridade quanto Paulo.
Paulo, nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo muito mais profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos carentes. Embora isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade desta virtude.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que retine”. Isto quer dizer que: de nada adiante ser belo na palavra e pobre de ações. O exemplo de mudança íntima, de luta constante contra as imperfeições, deve fazer parte da vida dos que se dedicam a divulgar a mensagem cristã. Conheceremos se a árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que ecoa, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e inteligências a que é direcionada.
“E ainda que tivesse o Dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria”. Isto quer dizer que: Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que se diz agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e os revelado aos simples, referindo-se ao sentimento e à fé nos ensinamentos espirituais. A mediunidade e o entendimento das leis do universo dão ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta, segundo o apóstolo Tiago, em sua Epístola.
Com a afirmativa de que por mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças nada seremos se não tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos em geral. Muitos de nós acreditamos que a crença inabalável é porta aberta para ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando aquilo em que cremos através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé ?
“E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria”. Isto quer dizer que: dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas é preciso alertar que tudo depende da intenção. Se fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos nossa consciência, estaremos nos enganando. Além disso, corremos o risco de ajudar ao necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de superioridade que o ferirá. A doação desinteressada deve brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos autoflagelarmos, com o intuito de mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais importante que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências, verdadeiras mães de nossas desgraças.
“A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece (não é arrogante)”. Aqui o apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com todos, independente do momento, pois a vingança e o ódio corroem o sentimento e turbam os sentidos racionais, enquanto o perdão enobrece o ser. Diz ainda que a prudência deve fazer parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz consequências inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
“Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade”. Isto quer dizer que: Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. Devemos refletir sobre de que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém estiver sofrendo com isso ? Com certeza, essa dor do próximo será revertida em desespero, rancor, violência, que mais cedo ou mais tarde, acabará voltando-se contra nós mesmos, nossos filhos ou amigos.
Irritar-se é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e a sensatez fazem parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir.
“Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Isto quer dizer que: Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado o desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado pela caridade.
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade”. Isto quer dizer que: a fé e a esperança, indispensáveis para uma existência sensata e confiante, são assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo homem de bem, libertando-o de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
Encerrando o seu comentário, Kardec mostra que o que interessa é a prática da caridade, seja ela feita em que religião for. Jesus nunca disse que esta ou aquela doutrina deveria ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo. Então, “Fora da caridade não há salvação”. Este é o lema do Espiritismo.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – O que nos ensina Paulo, nessa 1ª Epístola aos Corintios?
R – Ele nos ensina que a virtude por excelência é a caridade; e que nada nos vale possuir grandes conhecimentos, ter imensa fé ou distribuir riqueza em favor dos necessitados, se não tivermos caridade.
2 – É possível se praticar a caridade e fazer, ao mesmo tempo, o mal aos outros?
R – Não. A verdadeira caridade se faz acompanhar dos mais nobres e sublimes sentimentos, repelindo instintivamente os sentimentos inferiores.
3 – Por que Paulo considera a caridade mais excelente que a fé e a esperança?
R – ”Porque a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como dos pobres e independente de qualquer crença particular”.
Daí nós concluirmos que: a caridade está ao alcance de todas as pessoas; que a caridade é uma das mais altas conquistas que o homem poderá atingir. Mais nobre do que a generosidade e a filantropia é o coroamento de ambas, quando a alma valorosa, em trabalho incessante, consegue atingi-la.
Para encerrar, devemos nos lembrar que os ensinamentos cristãos são exatamente para ajudar-nos a superar as nossas limitações. E sempre que percebermo-nos fora dos atributos que constituem a caridade, devemos recomeçar novamente o caminho, para domar as nossas más inclinações.

***************************************** 
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da caridade não há salvação.
O Mandamento maior – Itens 4 e 5.
4. Mas os fariseus, quando viram que Jesus tinha feito calar a boca aos saduceus, se ajuntaram em conselho. E um deles, que era doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhes disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XII: 34-40)
Convém sempre lembrar, que o Evangelho de Jesus é o grande manual da vida. Todos os seus ensinamentos são baseados, principalmente, na Lei de amor e caridade.  
Nesta passagem evangélica, Jesus afirmou que estas eram as duas únicas e iguais Leis existentes no Universo, e que todos os profetas teriam que confirmá-las. Jesus aboliu as leis humanas ditadas por Moisés. Ainda fez mais. Resumiu com clareza os Dez Mandamentos contidos no Velho Testamento, em apenas dois, para facilitar o aprendizado e a prática das leis naturais. Estas duas Leis englobam todos os procedimentos atuais e futuros do homem perante Deus e o próximo.
Quando perguntado a respeito, Jesus simplesmente lembrou o que já estava na Lei, o amor a Deus e o amor ao próximo. O que acrescenta é a afirmação de que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro.
A essência da prédica de Jesus coloca o exercício do bem como condição única para as criaturas galgarem os degraus da evolução espiritual. Traz aos homens de boa vontade, ou seja, aqueles que desejam mudar o rumo de suas vidas, o caminho da paz e da felicidade verdadeiras, alicerçado no amor ao próximo, mudando radicalmente o ponto de vista em relação à importância que o homem dá a si mesmo. Afirmar que crê em Deus não basta. É necessário compreender Deus e sua proposta. E compreender o Pai, significa estudar e vivenciar a Lei que foi resumida por Jesus aos fariseus.
5. Caridade e humildade, esta é a única via de salvação; egoísmo e orgulho, esta é a via da perdição. Esse princípio é formulado em termos precisos nestas palavras: “Amarás a Deus de toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo; estes dois pensamentos contêm toda a lei e os profetas”. E para que não houvesse equívoco na interpretação do amor de Deus e do próximo, temos ainda: “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, significando que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus, porque tudo quanto se faz contra o próximo, é contra Deus que se faz. Não se podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: Fora da caridade não há salvação.
.Kardec comenta essa importante frase do Mestre, asseverando, em síntese, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Há, pois, essencialmente um só mandamento, o mandamento maior.
Os versículos 20 e 21 do capítulo IV da primeira epístola de João nos diz: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E dele ( Deus ) temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão”.
Por que fizemos essa referência à lei de amor num capítulo sobre a caridade? Vale lembrar que, numa outra ocasião em que Jesus foi questionado sobre o assunto da caridade, contida no mandamento maior, apresentou o mandamento numa versão diferente: “Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam”, acrescentando: “Pois é nisso que consistem a lei e os profetas”. Nessa versão está explícito o caráter ativo do mandamento, ou seja, a caridade. Essa passagem nós já estudamos no capítulo XI, “Amar o próximo como a si mesmo”.
Entre os demais ensinos e apelos do Mestre, que nos sugerem o relacionamento amoroso para com o próximo, está esta outra máxima: “A cada um será dado segundo suas obras”, o que significa dizer que o avanço espiritual está condicionado à nossa maior ou menor dedicação à prática do bem.
Quando Kardec cunhou a frase, “fora da caridade não há salvação”, ele procurava demonstrar que viver em plenitude é dar uma utilidade fraterna, solidária à vida, e não alcançar uma qualidade de vida superior, humilhando o próximo ou sendo-lhe indiferente. Kardec resume o ensino do Cristo em duas vertentes básicas: humildade e caridade.
Desse ensinamento, nós ressaltamos três deveres indispensáveis à criatura humana: para com Deus; para consigo mesmo; para com o próximo. Nisto resumiu Jesus a Lei e os Profetas.
Sendo Deus o autor de nossa existência, o nosso verdadeiro Pai, devemos dedicar, primeiramente a Ele, todos os nossos haveres, a nossa própria vida.
Os deveres do homem estão em relação com o seu grau de adiantamento, com as suas aptidões físicas, intelectuais e psíquicas. Ninguém pode dar senão o que tem, mas é fora de dúvida que devemos dar a Deus tudo o que temos. É do cumprimento desses deveres que começa a felicidade.
O próximo é aquele que se aproxima de nós, seja em corpo, seja em espírito. São os que se valem de nós para suprir a sua necessidade; necessidade de ordem material ou de ordem espiritual, porque os nossos deveres para com o próximo, para com nós mesmos e para com Deus são de ordem material e espiritual.
O homem que cumpre o seu dever, a nada mais fica obrigado. Quando o homem faz o que pode, Deus faz por ele o que ele por si mesmo não pode fazer.
Então, feliz daquele que faz tudo o que pode e deve fazer, pois esse é o bom emprego do talento para aquisição de outros tantos talentos.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – O que se entende por “Amar a Deus de todo o coração, alma e espírito”?
R – Que ama a Deus dessa maneira, aquele que O reconhece como Pai misericordioso; que compreende a vida como dádiva do seu amor em benefício de nosso progresso; e que faz da própria vida uma caminhada em sua direção, pela observância de suas leis.
2 – O que se entende por “Amar o próximo como a nós mesmos “?
R – Que devemos dispensar ao nosso irmão o mesmo tratamento que gostaríamos de receber, caso estivéssemos em seu lugar; desejar-lhe tudo o que almejamos para nós, regozijarmo-nos com suas alegrias e o consolarmos em suas dores e aflições.
3 – Que virtudes devemos cultivar, para conseguirmos observar estes ensinamentos de Jesus?
R – Devemos cultivar a caridade e a humildade, pois a primeira nos ensina o esquecimento de nós mesmos em favor do nosso próximo; e a segunda nos liberta das vaidades humanas, aproximando-nos de todos na condição de irmãos.
Pela prática da caridade combatemos o egoísmo; pelo exercício da humildade libertamo-nos do orgulho.
Daí nós concluirmos que: Ama a Deus sobre todas as coisas aquele que O coloca como o centro de sua vida, observa seus mandamentos e em tudo percebe manifestações de seu amor. Ama o próximo como a si mesmo aquele que faz para os outros todo o bem que para si próprio desejaria. O amor ao próximo é a mais autêntica manifestação de amor a Deus.
Então, que possamos refletir em nossos atos; e se estamos em dúvida sobre qual forma agir perante ao nosso próximo, lembremos as duas Leis trazidas por Jesus, que é amar à Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Não há outro mandamento senão este.
 **************************************           


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da caridade não há salvação.
O de que precisa o Espírito para ser salvo – Parábola do bom samaritano. Itens de 1 a 3.
1.Mas quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade. E serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor que aparta dos cabritos as ovelhas; e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda; então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita; vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo. Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; precisava de alojamento e recolhestes-me; estava nu e cobristes-me; estava enfermo e visitastes-me; estava no cárcere e viestes ver-me.  Então lhe responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso e te demos de beber? E quando te vimos sem alojamento e te recolhemos; ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou no cárcere e te fomos ver? E respondendo o rei, lhes dirá: Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes. Então dirá também aos que hão de estar à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está aparelhado para o diabo e para os seus anjos; Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber. Precisava de alojamento e não me recolhestes; estava nu e não me cobristes; estava enfermo no cárcere e não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou sem alojamento, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere, e deixamos de te assistir? Então lhes responderá ele, dizendo: Na verdade, vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (Mateus, XXV: 31-46).
O Evangelho de Jesus é o grande manual da vida, porque estabelece lições que representam a orientação necessária para a nossa evolução espiritual. Nessa linguagem alegórica, O Mestre está classificando todos aqueles que fazem ou não fazem caridade. E o que é caridade? Nós já aprendemos que a caridade, segundo explicação dos Espíritos superiores, é indulgência (perdão) e benevolência (boa vontade) para com todos os irmãos do caminho. Essa citação do evangelho de Mateus nos fala justamente de benevolência, e nos orienta quanto a algumas situações que encontramos no nosso dia a dia. Jesus ao dizer, “...separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes das ovelhas, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda”, está nos dando um exemplo de como será feita a separação no juízo final, entre as criaturas boas e as criaturas más. Quando Jesus destaca que o Rei teve fome e foi alimentado, isto quer dizer que, devemos dar assistência uns aos outros. Portanto, quando vermos alguém com fome é nosso dever, dentro das nossas possibilidades, dar de comer a esse alguém; quando encontrarmos alguém com sede, deveremos dar de beber; com relação ao sem teto, se possível, vamos colaborar para que esse irmão fique abrigado; para os sem roupa, com certeza, teremos que vesti-los. Ele ainda nos fala a respeito do instante em que o Rei esteve doente, e do momento em que esteve no cárcere, sendo visitado. Isto significa que todas as vezes que nós fizermos um bem, que dermos atenção a um irmão carente, que formos compreensíveis com a ingratidão de um companheiro de jornada, é como  se o Mestre estivesse ali representado, diante de nós. De certa forma, Jesus está nos testando, através do nosso irmão necessitado. Porque, muitas vezes, nós estamos dizendo, Senhor, Senhor; muitas vezes, nós estamos expressando o nosso amor por Jesus, mas no momento em que um nosso semelhante necessitado se aproxima, nós, tranquilamente o ignoramos. Nós adoramos o Pai e, em seguida, desprezamos o Filho. Notamos que na parábola há um roteiro a ser seguido. E esse roteiro nos alerta para a prática de determinadas ações no nosso cotidiano. Não nos adianta ter somente a teoria. Pois, que, a prova a que seremos submetidos pela Providência Divina, para a promoção desejada, ou seja, para conquistarmos a eterna felicidade, consta essencialmente de atividades práticas. Não existem perguntas nesse exame. E só serão promovidos aqueles que apresentarem maior bagagem de amor em seus corações e uma história mais longa de indulgência, benevolência e de beneficência em suas ações. Ao negarmos ao nosso irmão aflito o nosso apoio, a nossa atenção, estaremos assumindo mais um compromisso de  resgate de dívidas, com o nosso futuro. Naquele momento tivemos uma grande oportunidade de demonstrarmos a nós mesmos, que entendemos e aceitamos as palavras de Jesus, porém a perdemos. E, com certeza, seremos cobrados por isso. O significado da caridade que encontramos nessa parábola vai mais além do que imaginamos. Implica em estarmos no nosso dia a dia observando todas as oportunidades de sermos úteis, a aquele irmão de jornada, que está ao nosso lado. Daí estarmos atentos, pois existem os infortúnios ocultos.

2. E eis que se levantou um doutor da lei, e lhe disse, para o tentar: Mestre, que hei de eu fazer para entrar na posse da vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a sua alma, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Mas ele, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus, prosseguindo no mesmo discurso, disse: Um homem baixava de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que logo o despojaram do que levava; e depois de o terem maltratado com muitas feridas, se retiraram, deixando-o meio morto. Aconteceu pois que passava pelo mesmo caminho um sacerdote; e quando o viu, passou de largo. E assim mesmo um levita, chegando perto daquele lugar, e vendo-o, passou também de largo. Mas um samaritano, que ia a seu caminho, chegou perto dele, e quando o viu, se moveu à compaixão: E chegando-se atou as feridas, lançando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, o levou a uma estalagem, e teve cuidado dele. E ao outro dia tirou dois denários, e deu-os ao estalajadeiro, e lhe disse: Tem-me cuidado dele; e quanto gastares demais, eu to satisfarei quando voltar. Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu logo o doutor: aquele que usou com o tal de misericórdia. Então lhe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo. (Lucas, X: 25-37).
Se nós agirmos, como agiu o anônimo bom samaritano, que, sem questionar ou emitir julgamentos acerca do ferido caído à margem da estrada, arregaçou as mangas e imediatamente trouxe-o de volta à vida, estaremos praticando a caridade verdadeira. Assim, fica o exemplo para nossa reflexão. Quantos caídos à margem do caminho temos socorridos? Estamos vivendo na pré-história de um mundo de regeneração. O que estamos efetivamente fazendo para que este momento não se alongue em demasia? Vamos escolher o caminho das pedras e cascalho, ferindo-nos, caindo e tornando-nos a ferir, acumulando pontos de dor e sofrimento? Ou vamos seguir essas propostas de Jesus, entendendo que fora da caridade não há salvação? Belo ensinamento de Jesus; o samaritano, elevado à categoria de irmão, estende as mãos, os braços, a dedicação, o respeito, a misericórdia, e despindo-se das construções de fachada, torna-se-lhe um igual, compactua-lhe as angústias, irmana-se-lhe no martírio, e salvando o outro salva-se a si mesmo, diante de seus próprios olhos e da Divina Lei.
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, diz ele, os pobres de espírito, quer dizer: os humildes, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que têm coração puro; bem-aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros os que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação: julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e  de que ele mesmo dá o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que Jesus apresenta, do juízo final, como em muitas outras coisas, temos de separar o que pertence à figura e à alegoria. A homens como aos que falava, ainda incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, devia apresentar imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Para que fossem melhor aceitas, não podia mesmo afastar-se muito das idéias em voga, no tocante à forma, reservando sempre para o futuro a verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos que ainda não podia explicar claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma ideia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau.
Nesse julgamento supremo, quais são os considerandos da sentença? Sobre o que baseia a inquirição? Pergunta o juiz se foram atendidas estas ou aquelas formalidades, observadas mais ou menos estas ou aquelas práticas exteriores? Não, ele só pergunta por uma coisa: a prática da caridade. E se pronuncia dizendo: “Passai à direita, vós que socorrestes aos  vossos irmãos; passai à esquerda , vós que fostes duros para com eles”. Indaga pela ortodoxia da fé? Faz distinção entre o que crê de uma maneira, e o que crê de outra? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que tem amor ao próximo, sobre o ortodoxo a quem falta caridade. Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser preenchidas, ele as mencionaria. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque ele encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça, etc.; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
Diz o codificador que toda moral de Jesus se resume na caridade exercitada e na humildade assumida, como regras-base da convivência pacífica, contrárias ao egoísmo e ao orgulho, instrumentos de conflito nas relações humanas. O interessante, é que quase sempre, nós encontramos dentro dos ensinamentos de Jesus a palavra egoísmo. E, sempre, a necessidade de combatê-lo, para destruí-lo dentro de nossos corações. A caridade e a humildade conduzem o homem à eterna felicidade, ou seja, proporcionam a nossa libertação espiritual, que é a desobrigação da sequência reencarnatória, que numa linguagem dogmática é chamada de salvação.
Para exemplificar o obstáculo que é o egoísmo, em nossas vidas, dificultando a nossa felicidade, vamos ler o apólogo “O fio da caridade”.
Conta-se que um homem, pecador, egoísta, um dia precipitou-se num abismo e foi ter ao fundo de um fosso escuro e profundo. Assustado, mexeu-se, procurou saída, não encontrou. Tentou subir pelas encostas, mas as paredes, muito lodosas, não davam firmeza. Bradava por socorro e tinha por resposta tão só o eco de suas palavras. Desesperado, lembrou-se de Deus e, pela primeira vez na vida, dobrou os joelhos em terra, em prece fervorosa, deprecando a misericórdia do Senhor...
Abriu os olhos, banhado em lágrimas, e parecia estar tudo do mesmo jeito. Quando já ia descoroçoando, conseguiu divisar um tênue fio de aranha, que descia do alto, até onde ele estava. Mirando-o, uma voz lhe disse no adito do ser: - Por que não se agarra nesse fio, quem sabe por ele poderá se salvar? Espantado e duvidoso, não tendo, todavia, opção, nosso personagem resolve tentar. Segurou o fio e, de fato, foi subindo por ele, subindo, subindo devagarinho.
Quando já estava quase alcançando a borda do fosso, olhou para baixo e viu que não estava sozinho: dois outros perdidos do abismo subiam também, agarrados no mesmo fio. O homem deu-se pressa em enxotá-los com o pé, bradando: - Soltem isso aí, seus atrevidos, não veem que não dá para mais de um? Os outros dois caíram, mas logo em seguida o fio se rompeu e ele caiu também. Novamente no fundo do fosso e sem recursos, a voz se fez ouvir de novo.
- Se Você tivesse deixado os outros dois subirem também, teriam todos se salvado, mas o seu egoísmo pesou muito e o fio não resistiu...
O apólogo expressa bem o que é a caridade em nossa vida. Primeiramente, a sua delicada simbologia nos ensina que as coisas de Deus são mesmo assim: os mais frágeis recursos (teia de aranha), com Sua Graça, se tornam os mais poderosos. Em seguida, vemos que a lei da caridade segue, muitas vezes, uma lógica oposta à nossa e a própria lei física da matéria: quanto mais peso (da ajuda que se presta a outrem), tanto mais leve (dos cuidados só consigo próprio), menor capacidade.
Assim acontece com as pessoas que, embora pobres de recursos materiais ou intelectuais, enfermas ou aparentemente incapazes, se animadas do sentimento do Bem, exercendo a solidariedade humana, vão conseguindo superar os maiores obstáculos e avançam, conduzindo outros no caminho do socorro e do aprendizado. Mas aqueles que, preocupados, acreditam não dispor de meios para ajudar a ninguém, não encontram também solução nem para os próprios males.
(Lenda Oriental)
Digressão.
Kardec, ao responder a um grupo de espíritas sobre a necessidade de os adeptos do Espiritismo terem uma senha para se reconhecerem ao se encontrarem, diz: “Vós tendes uma senha que é compreendida de um ao outro extremo do mundo: é a caridade “. “A verdadeira caridade não pode ser falsificada. Nela reconhecereis sempre um irmão, ainda que ele não se diga espírita, e deveis estender-lhe a mão”.
Quando Kardec diz “vós tendes”, trata-se de uma afirmação, uma certeza, portanto inerente ao Ser, que permeia as suas diversas existências na matéria, donde se conclui que a caridade é resultante de um desenvolvimento, e não de uma aquisição, como, aliás, todas as virtudes e seus valores correspondentes. Em toda codificação encontramos afirmações análogas a esta, revelando-nos que somos portadores de virtudes em estado de latência, apenas aguardando o momento adequado para consolidar-se em definitivo.
A salvação, ou auto-redenção, desta forma, dá-se de forma natural, espontânea, sem maiores esforços senão os de ajustar em nós mesmos a confiança plena nos poderes superiores que dirigem a nossa existência. A salvação, tal como a caridade, não vem de fora para dentro, mas define-se em movimento perene, em cascata, do Ser em ascensão, para a vida em plenitude.
O codificador cita algumas bem-aventuranças, que dão uma receita de vida para todos aqueles que buscam a evolução espiritual, caminho seguro para se chegar à eterna felicidade.
É importante destacar que, como o mundo atual é a negação de todas as promessas contidas nessas bem-aventuranças, nós temos que situá-las num futuro ainda distante, com a redenção do Ser.
As Leis do Criador, imutáveis desde o passado sem início até o futuro sem fim, prescrevem o clima do auxílio mútuo. Jesus, embora respeitasse as convicções dos seus contemporâneos, esmerou-se em ensinar-nos a união com Deus, através do socorro aos necessitados, do amparo aos enfermos de todas as procedências, para que possamos evoluir continuamente, em espírito e verdade.
Nesse Evangelho que estamos estudando encontramos uma afirmação: “muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos”. Isto quer dizer que todos nós somos constantemente submetidos à influência do amor divino, que permite a indução de pensamentos constantes na direção do bem. Mas, na realidade, são poucas as idéias trabalhadas no bem que conseguimos realizar, atendendo o chamamento para o trabalho edificante. Daí, de forma alegórica, para que, ao longo do tempo, cada um pudesse tirar delas a compreensão necessária, o Mestre Ter traçado o que acontecerá quando prestarmos o nosso vestibular celeste: a felicidade reservada aos bons e a infelicidade destinada aos maus.
E no julgamento, dois grandes fatores diretamente ligados às Leis de Deus serão observados: a humildade e a caridade.
“A cada um será dado conforme sua obra”. O sentido da evolução moral está ligado à compreensão e a vivência desses desígnios. A chama da vela tanto pode estar aquecendo e iluminando, quanto incendiando e destruindo.
Portanto, somos lavradores de nossos destinos. Cabendo-nos colher conforme tivermos semeado.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – Que sentido podemos atribuir ao reino desse Rei, usado por Jesus nessa passagem?
R - Evidentemente, não se trata de um reino material, mas do reino espiritual, onde os justos encontrarão a suprema alegria, a paz, e gozarão da presença do amor infinito: Deus.
2 – Como Jesus considera a boa ação, praticada em favor dos necessitados?
R – Como se fora praticada em seu próprio favor, em seu próprio benefício.
3 – Por que socorrendo o próximo, estamos agradando a Deus?
R – Porque o caminho que conduz a Deus passa, obrigatoriamente, pelo nosso próximo, a quem devemos dar auxílio e amparo.
O preceito de Jesus “amai-vos uns aos outros”, é rota segura que nos levará, sem desvios, ao reino de Deus.
4 – Por que, ao contar a parábola, Jesus escolheu o samaritano, e não o sacerdote ou o levita, para prestar auxílio ao necessitado?
R – A fim de deixar bem claro que praticar a caridade não é prerrogativa das pessoas religiosas, mas procedimento comum às almas nobres e compassivas, ainda que, às nossas vistas, pareçam distantes de Deus, por não possuírem religião.
Jesus coloca o samaritano, considerado herético (homem sem fé), mas que pratica o amor ao próximo, acima do ortodoxo (observador da doutrina), mas que não pratica a caridade.
5 – Que lição de vida Jesus nos oferece, com a parábola do bom samaritano?
R – Ele nos exorta a olhar em volta e a descobrir as necessidades, aparentes e secretas, de nossos irmãos; Ele nos estimula a amenizar-lhes as dores, a consolar-lhes as aflições, enfim, a sermos seus “bons samaritanos”.
“Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo”.
Daí nós concluirmos que a salvação do espírito depende do bem que se faz ao próximo. E que não são as práticas exteriores ou rótulos religiosos que nos conduzirão a vida eterna. Assim, devemos nos revestir de bondade e darmos a nossa parcela de esforço aos falidos do caminho. Não lhes perguntando quem são, donde vêm, para onde vão, ou por que caíram.
Sejamos em qualquer situação o “bom samaritano”, considerando todo e qualquer irmão, que seja colocado à nossa frente, não como o adversário de ontem ou o inimigo de hoje, mas como nosso próximo a quem devemos ajudar.
 *******************************************
  EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe – item 9. Instruções dos Espíritos.
A Ingratidão dos filhos e os laços de família.
9. A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo, e revolta sempre os corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.
Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha – caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e sem perdão.
É então que, por um esforço inaudito, voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua animosidade desperta. Revoltam-se à ideia de perdoar, e ainda mais a de renunciarem a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes deem forças no momento mais decisivo da prova.
Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que vem de se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas boas resoluções. O contato incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. É assim que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas, que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia  provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.
Oh! Espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: “Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.
Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela podeis deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou expiar. Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: “Uma de nós duas foi culpada”. Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah! Muitas dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípios inatos, provenientes das existências anteriores, entretém e desenvolvem esses princípios, por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vós, desde esta vida, o começo da vossa expiação.
A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao revelar a causa das imperfeições do coração humano.
Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os germens desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranquila. Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor. (Ver cap. XIII, nº 19)
Deus não faz as provas superiores às forças daquele que as pede; só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro e o ranger de dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então que Deus abre os braços paternais para o filho pródigo, que se lança aos seus pés. As grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado que saiu vitorioso do centro da refrega.
De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus. Oh! É essa uma pungente angústia! Mas o que pode, nessas circunstâncias, reerguer a coragem moral, senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza de que, se há longas dilacerações, não há desesperos eternos, porque Deus não pode querer que a sua criatura sofra para sempre? O que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços, abreviar o sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque explicou a vós mesmos o que vos parecia monstruosidade da Terra. Os ferimentos que recebestes vos parecem simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro sentido: não mais os laços frágeis da matéria que ligam os seus membros, mas os laços duráveis do Espírito, que se perpetuam, e se consolidam, ao se depurarem, em vez de se quebrarem com a reencarnação.
Os Espíritos cuja similitude de gostos, identidade do progresso moral e a afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço, dando origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam, por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os, e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros. (Santo Agostinho - Paris, 1862)
Dentre as diferentes manifestações do egoísmo, que está na raiz de todos os sofrimentos do homem, encontramos a ingratidão. E a ingratidão dos filhos para com os pais apresenta caráter mais odioso.
Nós já aprendemos que o atendimento do filho aos pais é devido, pelo fato de que quando crianças, desde o nascimento, fomos assistidos e amparados nas nossas necessidades de sobrevivência e mesmo nas nossas vontades supérfluas. Portanto, o filho deve aos pais a assistência na velhice, e isto é lei natural, não é questão de fazer caridade, ou ser melhor ou mais evoluído. Graças a eles, esse espírito teve uma nova oportunidade de reencarnar e crescer espiritualmente. Mesmo que os pais não tenham sido bons pais, essa responsabilidade será cobrada deles pela lei de causa e efeito.
Santo Agostinho segue dizendo que o espírito, por ocasião do seu regresso à pátria espiritual, leva consigo para a erraticidade, que é o intervalo entre as encarnações, seus defeitos ou virtudes. Dependendo de seus sentimentos, positivo ou negativo, e de acordo com os acontecimentos e lembranças de fatos que o envolveram, ele tem a oportunidade de se aperfeiçoar ou ficar estacionário até que deseje receber luz. Se tiver algum adiantamento espiritual e, mesmo que fraco algum laço amoroso, lhe é dado a oportunidade de analisar aquilo que fez, quando encarnado, para tirar algum proveito, acrescentando algo de valor à sua ficha reencarnatória. Ao entender, que para alcançar o seu objetivo precisa ser caridoso, e não há caridade sem perdão e nem com o coração tomado pelo ódio, lhe é dado observar às pessoas de quem não gostava aqui na terra.
Se predomina a sua boa resolução, implora uma nova oportunidade no plano físico, na família daquele a quem detestou. A convivência com a parentela carnal a quem odiou constitui uma prova terrível, e quase sempre o espírito fracassa, se não tem uma grande vontade de regenerar-se. Se não consegue ajustar-se, exercitando o entendimento, pode resvalar para a frustração e a rebeldia.  A ligação pela carne pode ser constrangedora e conflitante, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas. Dessa forma, esse espírito será amigo ou inimigo daqueles entre os quais reencarnou. Por isso vemos, muitas vezes, inimigos familiares, que pontuam, dessa forma, a sua convivência com quem não lhe é agradável. Essa convivência, não é apenas para um mero exercício de forçada tolerância para se livrar dela um dia. A finalidade maior é a harmonização. Trata-se do aprendizado de um bom  relacionamento com os novos familiares, criando elos de simpatia e afeto, ainda que seja diferente. Se o espírito tolerar apenas aqueles que estão ao seu lado, guardando mágoas e ressentimentos, estará perdendo o seu tempo e semeando mais dificuldades para o futuro. Portanto, viver em família é um grande desafio e ao mesmo tempo um importante aprendizado para esse espírito, pois, que, os laços de afeto vão se formando, aos poucos. E considerando-se, ainda, as várias existências no corpo físico, ou seja, mergulhos na carne e retornos ao mundo espiritual,  o espírito vai solidificando esses laços de afetividade,  para que, um dia, possam se transformar em laços de amor.
Com certeza, já vivemos muitas vezes a prova da matéria; já nos relacionamos com muitos irmãos do caminho; já tivemos muitos pais, muitas mães, muitos filhos, e muitos irmãos compartilharam conosco as experiências da vida na carne. Concluindo-se daí, que nossa parentela espiritual é imensa, ultrapassando, mesmo, os limites de nossa percepção. Assim, devemos olhar a humanidade como uma grande família, porque todas as barreiras que separam os povos caem por terra, se levarmos em conta que, num outro país, numa outra raça, numa outra religião, pode estar alguém que já foi nosso parente consanguíneo ou nosso grande amigo numa existência física passada. Também devemos observar a nossa conduta dentro da família. Desenvolvendo a paciência e a tolerância com os nossos companheiros de jornada familiar. Devemos expandir a nossa compreensão para o amor incondicional, através do qual conseguiremos ajudar nossos afetos e desafetos de outras eras que, assim como nós, necessitam vencer a si próprios, e aprender a conviver com irmandade.
O espírito Santo Agostinho, diz que desde o nascer a criança manifesta seus instintos, bons ou maus, que traz da sua existência anterior. Entendemos nessas palavras tratar-se da inteligência e do livre-arbítrio que o espírito é dotado desde a sua criação, para aprender na experiência e na vida de relação, com o seu semelhante. Nessa arena de aprendizado e burilamento, que é o nosso planeta, recebeu a missão de evoluir em espiritualidade, alinhado com a lei de justiça, amor e caridade, que determina amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Cabe aos pais, portanto, exemplificar, com o cumprimento dessa lei, para que os filhos possam amealhar valores positivos.
Mais uma vez o egoísmo e o orgulho são citados e, é feito um apelo para que eles sejam combatidos pelos pais, antes que lancem raízes profundas. E esse combate, no nosso entender, é feito com trabalho útil, a ação. E essa ação tem que ser efetivamente voltada para o bem, voltada para a melhoria do nosso semelhante. É destacado também que, quando os pais cumprem aquilo que lhes é determinado, e os filhos não alcançam êxito, não devem se culpar, pois,  semearam a boa semente.
Deus não entrega fardo pesado para ombros fracos. Se a criatura não cumpre a sua prova é porque lhe falta vontade.
Existe até uma historinha para ilustração:
Alguém foi ao céu reclamar com muita intensidade da cruz que carregava. Achava sua cruz muito pesada, grande, e pediu, então, ao anjo guardião, que trocasse sua cruz por uma mais leve, mais suave, que fosse fácil de carregar. O anjo guardião, então, permitiu que assim fosse, e levou-o até o depósito das cruzes. Depositasse a sua cruz e escolhesse outra a seu gosto. Ele perambulou pelo depósito, separou uma cruz das outras, experimentou o seu peso, mas nada lhe agradava. Até que, então, depois de muito procurar a cruz que desejava carregar, encontrou uma que lhe parecia mais leve, mais adequada. Voltou ao anjo guardião e disse: já escolhi! Desejo carregar esta daqui. E, surpreso, ouviu anjo guardião dizer: mas, essa é a cruz que você trouxe.
Isso serve para nos mostrar que a cruz que carregamos é adequada ao nosso burilamento e a nossa evolução espiritual. Nem mais nem menos. Ninguém é prejudicado a não ser por si mesmo; ninguém fecha a porta à felicidade ou abre ao sofrimento a não ser por si mesmo. Ninguém pode ser considerado responsável pelo insucesso de outro, uma vez que a todos compete viver suas próprias experiências. A cada um será dado conforme o que tiver edificado.
Deus nos concede a misericórdia do esquecimento do passado para que consigamos manter relações equilibradas com o mundo, em seus diferentes cenários. Se assim não fosse, tornar-se-ía muito difícil refazer os caminhos, retomar experiências passadas, equilibrar o que foi desequilibrado, convivendo uns com os outros, credores e devedores. Alguns de nós já percebemos essa realidade, e aproveitamos as oportunidades concedidas, adiantando-se espiritualmente. Outros se tornam rebeldes renitentes, e teimam em se manter nas posições da incompreensão, da dureza de coração e, por conseguinte, não conseguem se desprender das algemas do orgulho, do egoísmo, da intemperança, da cupidez ( ambição ), da ilusão material. É na família, portanto, que estão nossas maiores provas e nossas maiores oportunidades. Assim, sendo, devemos abraçá-las com esforço, determinação e resignação para conseguirmos, através da ajuda mútua e da compreensão, adquirir os valores do amor incondicional.
Uns, ao reclamarem das circunstâncias da vida, de se lamentarem da sorte, não conseguem perceber a presença de Deus, a oferecer oportunidades de experiências. Oscilam entre o crer e o descrer, não percebendo que os seus ombros estão preparados para as experiências que vivifica. O Pai celestial não nos criou para a dor. Mas, para a felicidade. O problema está onde buscamos essa felicidade. Quase sempre, o caminho. que trilhamos, em busca dessa felicidade, nos leva à dor. A justiça de Deus se faz sentir na liberdade de escolha que nos proporcionou. Mas, para aqueles que já compreenderam a sua lei, a misericórdia de Deus é a sua justiça. A cada um será dado conforme sua obra. A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória. Cabe-nos percorrer o caminho escolhido com coragem, com determinação, com paciência, para conseguirmos amealhar os valores positivos da experiência, e de elevá-lo aos patamares sublimes da espiritualidade superior.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Uma vez que o espírito tomou a resolução de encarnar entre inimigos de vidas anteriores, torna-se-lhe fácil cumpri-la?
R – Nem sempre é fácil a tarefa. É penoso ao espírito observar aqueles que já lhe foram causa de padecimento e ruínas. Muitos desistem da prova; outros, nos quais predomina a boa resolução, rogam a Deus e aos bons espíritos auxílio, para enfrentá-la e vencê-la.
Ao observar a quem odiou na Terra, o espírito fica conturbado, entre sentimentos opostos de vingança e perdão.
2 – Uma vez encarnado, que atitude poderá adotar o espírito, para com os familiares?
R – Seu procedimento dependerá da maior ou menor persistência em cumprir as resoluções tomadas antes de encarnar. Portanto, conforme prevaleçam ou não os bons propósitos, ele será amigo ou permanecerá inimigo daqueles entre os quais foi chamado a viver.
3 – Como devemos agir diante da ingratidão dos filhos?
R – Reconhecendo que não foi o acaso que nos tornou seus pais, nem os fez assim. Buscando todos os meios para superar essas dissensões na presente encarnação, através da educação para o bem, do bom exemplo e, sobretudo, do amor.
Daí nós concluirmos que a ingratidão dos filhos para com os pais não é fruto do acaso, mas consequências de divergências e ódios em vidas anteriores, que devem ser superados na presente encarnação, pelo exercício do amor e do perdão, entre os membros da família terrena. Desprezar esta oportunidade significa transferir, para encarnações futuras, dificuldades que nesta poderiam ser superadas.
Portanto, se temos parentes difíceis, prova que nos parece insuportável, devemos perceber que ela nos é necessária. Que por escolha ou por imperativo, ela nos foi concedida para o desenvolvimento de nossa luz espiritual. Devemos encarar a prova pelos olhos do espírito, para que possamos ser útil aos irmãos do caminho, colocados em nossas vidas.
Devemos perdoar e ter misericórdia, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes, cada falta. Devemos exercitar a tolerância, a humildade, e estender a mão a aqueles que ainda teimam em se manterem à margem da estrada evolutiva. Oremos,  pedindo ao  Senhor, todo misericordioso, forças para superar nossas imperfeições, que nos impede de identificar na parentela difícil ao nosso lado, irmãos de jornada.
Assim, se hoje nos sentimos ofendidos, distendamos nossos sentimentos e aprendamos a  perdoar. Se sofremos as consequências dos conflitos humanos, e somos bafejados pela ingratidão daqueles que nos são caros, devemos agradecer a Deus a experiência, e tirarmos dela a oportunidade de não julgar, mas de amparar e de suportar nossas dores com resignação.
A família terrestre é a grande oficina de aprendizado. É a escola das almas, que permitirá o acesso aos planos sublimes ou a permanência nos planos de sofrimento e de dor. 
 ******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe – item 8. A Parentela corporal e a parentela espiritual.
8. Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo. O pai não gera o Espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.
Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias. Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver, pela pluralidade das existências. (Ver cap. IV, nº 13)
Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo, e quase sempre se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi o que Jesus quis fazer compreender, dizendo aos discípulos: “Eis minha mãe e meus irmãos”, ou seja, a minha família pelos laços espirituais, pois “quem quer que faça a vontade de meu Pai, que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de São Marcos, desde que, segundo este, eles se propunham a apoderar-se dele, sob o pretexto de que perdera o juízo. Avisado de que haviam chegado, e conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que dissesse, referindo-se aos discípulos, em sentido espiritual: “Eis os meus verdadeiros irmãos”. Sua mãe os acompanhava, e Jesus generalizou o ensino, o que absolutamente não implica que ele pretendesse que sua mãe segundo o sangue nada lhe fosse segundo o Espírito, só merecendo a sua indiferença. Sua conduta, em outras circunstâncias, provou suficientemente o contrário.
Kardec começa o seu comentário dizendo que os laços do sangue não criam forçosamente vínculos entre os Espíritos. Quer dizer, os laços da parentela corporal são fracos e que facilmente são rompidos. Porque não é o pai quem cria o Espírito de seu filho. O Espírito já existia antes da formação do corpo.
No diálogo entre Jesus e Nicodemos que estudamos no capítulo IV encontramos a seguinte frase: O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Portanto, encontramos aqui uma distinção feita por Jesus entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica que só o corpo procede do corpo e que o Espírito  independe deste. E mais, o Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai, que significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o Espírito fosse criado ao mesmo tempo em que o corpo, saber-se-ia donde ele veio, pois que se  lhe conheceria o começo.
Enfocando o assunto família, na dimensão terrena e na dimensão espiritual devemos entender que, quando estamos reencarnados, ocupamos na família terrena uma posição ocasional e temporária, de acordo com a necessidade das tarefas que devemos desempenhar.   Isto quer dizer que, antes de sermos o pai, a mãe, o marido, a esposa, o filho ou a filha, somos o Espírito, ser inteligente, e que a condição de parentesco e de sexo é uma condição indispensável para a vida na terra. Portanto, nós podemos estar numa encarnação com um grau de parentesco com esse ou aquele Espírito, e numa outra encarnação, a parentela corporal pode se modificar.
Os verdadeiros laços de família não são, pois, os da consanguinidade, mas os de simpatia e da comunhão de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e após a encarnação. O que prevalece como elo entre os espíritos é a semelhança de gostos, os interesses em comum, as afeições profundas e desinteressadas, posições estas que superam o grau de parentesco terreno. Na realidade, a ligação entre os espíritos acontece sem a preocupação de grau familiar e mostra a verdadeira família universal, na qual todos somos filhos de Deus e, portanto, irmãos criados pelo Pai a caminho da evolução.
A dificuldade para entender estas questões é porque avaliamos o que nos cerca limitados pela visão terrena e muitas vezes nos esquecemos que no Mundo Espiritual as situações observam normas específicas de uma outra dimensão. Lembrando que, quanto mais evoluído for o espírito mais elevados serão seus sentimentos e, por conseguinte, ele se relacionará com um número maior de entidades.
Em estudo anterior, nós observamos que Jesus ao perguntar “quem é minha mãe e quem são meus irmãos”, nos certificou de que existe a diferença de parentela. E também aprendemos que temos que dar atenção à parentela espiritual, sem menosprezo da parentela corporal.
Vamos refletir sobre a importância da reencarnação na vida familiar. Este princípio, elaborado pela Doutrina Espírita, remete-nos a uma vista de olhos sobre o passado, para entendermos melhor porque estamos unidos a essa esposa e não a outra, a esse filho e não a outro. As famílias aqui na terra são criadas a partir da união de espíritos que tenham simpatia ou antipatia entre si. E a Lei que nos rege é a Lei de amor. Jesus recomendou que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Assim, a família é uma escola onde podemos aprender a amar umas poucas pessoas para um dia amar a humanidade inteira. Já foi objeto de nosso estudo que o amor se estende de dentro da nossa casa para fora. Deus, que é a inteligência suprema, sabe que no estágio evolutivo em que se encontra, o homem é incapaz de amar todos os seres humanos como a si mesmo. Por esta razão ele distribui as pessoas nessas pequenas escolas chamadas lares, para que aprendam o amor ao próximo mais próximo. Não raro, embora vivendo sob o mesmo teto, atendendo a variados compromissos, estão separados pela diferença de aptidões, de tendências, de estágio evolutivo. Por isso vemos, muitas vezes, na parentela corporal, ligações constrangedoras e de atritos entre espíritos que necessitam de algum reajuste mútuo, no que diz respeito à Lei de Causa e Efeito, e que devem caminhar juntas. Isto é, espíritos que, um dia, ou foram inimigos, ou adversários, pontuando dessa forma a sua convivência com quem nem sempre lhe é satisfatória. Se não conseguem ajustar-se, exercitando entendimento, podem resvalar para a frustração e a rebeldia, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas.
A Doutrina Espírita esclarece sobre a responsabilidade do espírito. Mas também indica o meio para a retomada do caminho, caso o espírito não consiga terminar uma encarnação envolvido em laço amoroso, em laço de harmonia, com relação a determinado espírito ou espíritos. Há que retomar esse relacionamento em outra encarnação. A visão reencarnacionista nos exige uma responsabilidade maior: não negligenciar; Ter muito cuidado na hora de repassarmos os ensinos éticos para nossos filhos. Porque se ele for um adulto não muito equilibrado dentro da sociedade, que tenha uma dificuldade de caráter, nós teremos uma cota de responsabilidade muito grande nessa situação, pois, não soubemos conduzir esse espírito, que nos foi confiado, dentro dos padrões éticos da  Doutrina. E, logicamente, teremos que prestar contas. A família corporal vai se modificando de acordo com a necessidade evolutiva.
A parentela espiritual é diferente. São Espíritos que se identificam nos mesmos ideais, nas mesmas tendências, nos mesmos desejos de realização superior, estabelecendo preciosos elos de simpatia e afetividade. Considerando-se, ainda, as várias existências no corpo físico, vamos solidificando esses laços de afetividade com um maior número de espíritos, que nascem sob o mesmo teto que nós. Dessa forma, a nossa família espiritual se amplia e os laços de bem-querer se solidificam a cada nova possibilidade de convívio.
A família espiritual é aquela que traduz a afinidade entre os espíritos, a simpatia e a comunhão de pensamentos, que os une antes, durante e após a encarnação. Estes, os verdadeiros laços de família. De onde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes, podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue; podem se atrair, se procurar, dar-se bem juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem se repelir. Podemos constatar essa realidade no amor que nutrimos pelos amigos, que não fazem parte da parentela corporal, mas com os quais temos laços sólidos de afeição.
É importante destacar que, somente os laços amorosos é que darão as condições necessárias para rompermos o grilhão que nos prende às pessoas de quem não gostamos. Diante da exposição da Doutrina, nós podemos ter inimigos ou adversários do passado como familiares.          As ligações humanas podem romper-se com a morte, se determinadas apenas pelo sangue; mas as ligações espirituais, sustentadas pela afinidade, prolongam-se além-túmulo. Formam famílias ajustadas e felizes, cujos membros ajudam-se sempre, cada vez mais unidos, embora atendendo, eventualmente, a compromissos distintos. Pode ocorrer que um membro de nossa família espiritual não esteja reencarnado ao nosso lado, mas poderá ter assumido a posição de nosso mentor, o chamado anjo de guarda, que nos acompanha, estendendo sobre nós sua proteção e nos estimulando ao cumprimento de nossos deveres.
Refletindo sobre nossas provas e expiações, vamo-nos compenetrando da grandiosidade de Deus e do Universo. Como nada acontece por acaso, lucraríamos muito se fôssemos resignados em cada situação de desconforto. Em toda a ocasião há a possibilidade de transformar o desafeto em afeto, a ingratidão em gratidão, o desamor em amor e a incompreensão em compreensão. Portanto, viver em família é um grande desafio e ao mesmo tempo um importante aprendizado, pois o convívio diário nos dá oportunidade de aparar as arestas com aqueles que por ventura tenhamos alguma diferença, e para que aprendamos a nos amar como verdadeiros irmãos, filhos do mesmo Criador.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 - Como se explica o vínculo que existe entre um pai e um filho?
O pai fornece ao filho, apenas o invólucro corporal, uma vez que o espírito já existia antes da formação do corpo. Se estão unidos, é em razão dos laços de simpatia ou de antipatia que já existiam anteriormente ao reencarne.
"O corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito."
2 - Como se formam as famílias aqui na Terra?
Pela união de espíritos, ligados por anteriores relações de simpatia, que se expressam por uma afeição recíproca, na vida terrena, ou pelo reencontro de espíritos afastados entre si, por antipatias anteriores, ou cumplicidade no mal, traduzidas por incompatibilidades entre os mesmos.
"Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família, e sim os da simpatia e da comunhão de ideias."
3 - Como definimos a parentela corporal e espiritual?
A corporal é aquela constituída pelos laços frágeis da consanguinidade e da matéria, que se extinguem com o tempo e, muitas vezes, dissolvem moralmente já na existência atual; a espiritual é aquele caracterizada pelos laços espirituais, fortalecida pela purificação, e se perpetua no mundo dos espíritos.
"Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais."
Daí concluirmos que os verdadeiros laços de família são os espirituais, e não os da consanguinidade, uma vez que são os espíritos que se amam ou se odeiam e não os corpos. Assim, a nossa família é o ambiente de purificação, para onde somos atraídos pelos laços estabelecidos em existências anteriores.
Rendamo-nos à vontade de Deus.
Se, depois de analisadas as circunstâncias que nos envolvem, optarmos por contrair matrimônio com tal pessoa, saibamos nos resignar e auxiliar ao máximo no convívio familiar, porque recusando uma cruz, com certeza, encontraremos outra mais pesada. 

 *****************************************  
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe – itens de 5 a 7. Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
5. E, tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito.
Entretanto, tendo vindo sua mãe e seus irmãos, e ficando da parte de fora, o mandaram chamar. Estava sentado à roda de um crescido número de gente, e lhe disseram: Olha que tua mãe e teus irmãos te buscam aí fora. E ele respondeu, dizendo: Quem é minha, e quem são meus irmãos? — E olhando para os que estavam sentados à roda de si: Eis aqui, lhes disse, minha mãe e meus irmãos. Porque o que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe. (Marcos, III: 20-21 e 31-35 – Mateus, XII: 46-50).
6. Certas palavras parecem estranhas na boca de Jesus, pois contrastam com a sua bondade e a sua inalterável benevolência para com todos. Os incrédulos não deixaram de se aproveitar disso, para dizer que Ele se contradizia a si mesmo. Um fato irrecusável, porém, é que a sua doutrina tem por base essencial, por pedra angular, a lei do amor e da caridade. Ele não podia, pois, destruir de um lado o que construía do outro, de onde é imperioso tirar esta consequência rigorosa: se certas máximas estão em contradição com aquele princípio, é que as palavras que se lhe atribuem foram mal reproduzidas, mal compreendidas, ou não lhe pertencem.
7. Admira-se, e com razão, de ver Jesus mostrar, nesta circunstância, tenta indiferença para com os seus, e de qualquer sorte renegar sua mãe. Pelo que respeita aos seus irmãos, sabe-se que nunca tiveram simpatia por Ele. Espíritos pouco adiantados, não haviam compreendido a sua missão. Era bizarra, para eles, a conduta de Jesus, e seus ensinamentos não os haviam tocado, pois nenhum deles se fez seu discípulo. Parece mesmo que eles participavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. De resto, é certo que o recebiam mais como um estranho do que como um irmão, quando se apresentava em família. E São João diz, positivamente: que não acreditavam nele. (Ver cap. VII)
Jesus Cristo, Grande Mestre da Humanidade, através de sua divina sabedoria ensina através dessa passagem do Evangelho mais uma importante lição para os homens da época, ecoando até os dias atuais.
Allan Kardec inicia seus comentários, lembrando que certas palavras pronunciadas por Jesus parecem estranhas e contraditórias aos seus próprios ensinos. Realmente, essas parecem contradizer toda a sua bondade, toda a sua benevolência para com todos, e, como toda a sua doutrina tem por base o amor e a caridade, necessário se torna analisá-las dentro do contexto global da mesma. Na realidade, Jesus, colocava sua missão acima de tudo. Assim, aproveitava todas as circunstâncias e situações para deixar seus ensinos, sempre verbais. Nessa passagem de sua vida, apenas aproveitou a situação para esclarecer que antes de qualquer parentesco biológico, somos todos irmãos, na paternidade divina. E o que faz a ligação espiritual é a afinidade de sentimentos, de pensamentos, de ideias e não os laços de sangue. Destacou assim, a diferença entre o parentesco corporal e o parentesco espiritual, que o espiritismo tornou bem compreensível, com a lei das reencarnações, através das quais as famílias consanguíneas vão se desfazendo, sendo englobadas, inseridas na família espiritual, que vai crescendo sempre, constituídas pelos que aprenderam a se amar. Os Evangelhos falam pouco da vida familiar de Jesus. Kardec escreve que não havia afinidade entre eles e seus irmãos. Cita palavras de João no capítulo VII: 5. Pois, nem mesmo seus irmãos acreditam nele. Não houve indiferença ou desprezo em relação à sua mãe e a seus irmãos. Apenas destacou a irmandade de todos como filhos de um mesmo Pai. Quanto à sua mãe, ninguém contestaria sua ternura para com o filho. Mas é necessário convir, também, que ela não parece ter feito uma ideia justa de sua missão, pois jamais se soube que seguisse os seus ensinos, nem que desse testemunho dele, como o fez João Batista. A solicitude maternal era o seu sentimento dominante. No tocante a Jesus, supor que houvesse renegado sua mãe, seria desconhecer-lhe o caráter, pois semelhante pensamento não poderia animar aquele que disse: Honra a teu pai e a tua mãe. É, pois, necessário procurar outro sentido para as suas palavras, quase sempre veladas pela forma alegórica.
No momento da cruz, talvez, o mais difícil da sua passagem pela Terra, Jesus demonstrou seus cuidados, sua solicitude, seu amor em relação à sua mãe, conforme está em João, capítulo XIX: 26 e 27: “Vendo Jesus, sua mãe, e junto dela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.”.
Melhor do que ninguém Jesus conhecia e cumpria o dever de honrar pai e mãe, consoante o princípio divino enunciado na Tábua da Lei, o que, obviamente, implica dar-lhes atenção e deles cuidar. Por que, então, essa aparente contradição? Não é difícil definir o que ocorreu. Suponhamos que o Cristo estivesse falando a respeito da pluralidade dos mundos habitados, e alguém avisasse que sua mãe e seus irmãos estavam lá fora para falar-lhe, aí, a resposta do Mestre soaria mal. Mas se Ele estivesse falando sobre os valores da fraternidade, considerando a existência da família universal, filhos de Deus que somos todos, então a observação surgiria como uma ilustração, sem causar estranheza. É bem provável que assim tenha ocorrido com Jesus. Como o episódio foi registrado fragmentariamente, a observação pode sugerir uma desconsideração com sua família.
Há várias passagens evangélicas em que temos dificuldade para compreender seu pensamento, que nos parece enigmático e obscuro justamente porque houve um registro precário, sem que saibamos das circunstâncias que ensejaram a lição das explicações posteriores que ofereceu aos ouvintes.
 ****************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe – itens de 1 a 4. Piedade filial
1. Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis; não prestareis falso-testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso pai e a vossa mãe. (Mateus, cap. XIX, vv. 18 e 19).
2. Honrar a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. (Decálogo: “Êxodo”, cap. XX, v. 12).
3. O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade ordena relativamente ao próximo em geral. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento. Deus pune sempre com rigor toda violação desse mandamento. (...) Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas, a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. (...) Devem, pois, os filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável, com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos pais; e que o que talvez não passe de simples falta, no primeiro caso, pode ser considerado um crime, no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a ingratidão.
O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe“, é uma consequência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas o imperativo honrai implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial. É algo mais do que nós geralmente pressupomos. É juntar ao amor o respeito, as atenções, a submissão, a condescendência (boa vontade; estima).É dispensar aos nossos pais aquele sentimento maior, o sentimento de gratidão. Esse dever também se estende às pessoas que fazem às vezes de pai ou de mãe, as quais têm maior mérito, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento.
A Gratidão é justificada pelo fato de estarmos aqui na terra, através da porta misericordiosa da maternidade, para evoluirmos. Daí resultar a obrigação de cumprir-se para com nossos pais, de forma mais rigorosa, tudo o que a caridade ordena que se faça ao próximo. Evidentemente, ninguém estaria em condições de ser caridoso com seu semelhante fora do lar, se não exercitar esse dever dentro de casa. Logo, esse exercício de piedade tem que ser feito de dentro de casa para fora.
Não há sacrifício em favor de alguém que se compare aos da solicitude materna: começa pela gravidez, depois as noites de vigília, as angústias em face de enfermidades, as preocupações que se estenderão por toda a existência em relação ao bem estar e a felicidade do filho. Acariciando-o nos momentos alegres e enxugando suas lágrimas nos momentos tristes. E mesmo vendo as suas grandes fraquezas, ainda o vê como o mais perfeito dos seres.
Ao pai está reservada idêntica carga de cuidados, não tão envolvente e intensa, mas acrescida do compromisso de trazer para a família “o pão de cada dia”.
Honrar ao pai e a mãe, portanto, não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionar-lhes o repouso na velhice; cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós na nossa infância. Sobretudo para com os pais sem recursos é que se demonstra a verdadeira piedade filial. No entanto, para muitos pais sobram, na velhice, um fundo de quintal, um asilo, um progressivo distanciamento.
É curioso observar como as mães mais ternas, mais virtuosas, nunca cobram dos filhos os benefícios que lhes prestam. Por quê? Porque nós só podemos cobrar por aquilo que vendemos. Essas mães não “vendem” dedicação aos filhos porque o fazem por amor, que é, em sua manifestação mais pura, um ato de doação.
Muitas vezes, os filhos se julgam verdadeiros seres independentes; seres como que “autocriados”. Quanta ignorância! Quanto egoísmo! Por esse motivo, é comum nós ouvirmos alguns filhos alegarem que não pediram para nascer. Grande engano. No plano espiritual não só pedimos como imploramos a casais em disponibilidade que nos dessem a oportunidade de um retorno às experiências humanas, reconhecendo-as indispensáveis à nossa edificação e à solução de problemas cármicos
Mas como nada que ocorre é obra casual, faz-se necessário analisar a sua causa. Por que isto ocorre? De onde virá esse mau fruto? Certamente de uma semente má que foi plantada e que distribuirá novas sementes, até que seja ceifada.
O respeito mútuo deve existir entre pais e filhos, pois ambos possuem individualidades, formas de pensamentos e de agir, sentimentos e o livre arbítrio, principal atributo que Deus nos deu para sermos livres e agir conforme nosso grau moral e intelectual. O livre arbítrio significa que podemos fazer o que quiser, na hora que quiser, da forma que quiser, mas com um detalhe, sendo responsável por todos os atos praticados. Sabemos que o Espiritismo nos ensina que estamos sujeitos a Lei de Causa e Efeito, isto é, para cada ato praticado, estaremos sujeitos a uma reação boa ou não, dependendo do ato praticado. Por isso é que Kardec diz que Deus pune sempre, de maneira rigorosa, toda violação a esse mandamento: Honrai o vosso pai e a vossa mãe.
Existe um ditado popular que diz: sua mocidade é sua velhice. Então,  é preciso que nós nos conscientizemos  de que honrar pai e mãe é uma preparação para o futuro. Se não soubermos respeitar nossos pais,  nós iremos ser desrespeitados na velhice, porque todas as grosserias que fizermos, todo o abandono que proporcionarmos, ficarão marcados em nós. Como eu já disse, a ingratidão para com os que nos sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura. Ora, se na nossa juventude nós fomos malcriados, intolerantes, com certeza, na nossa velhice nós iremos ser também malcriados, intolerantes e implicantes. Por isto é que muitas vezes nós vemos uma pessoa idosa abandonada. Vítima do abandono físico, mas, sobretudo o moral, acompanhado de maus tratos e ingratidão justificados pelas formalidades sociais. Ficamos condoídos, coitada. Mas, se nós observarmos bem, procurarmos conversar com ela vamos descobrir que se trata de uma pessoa mal-humorada, implicante e intolerante. Então, há que se perguntar: Quem poderia ser tão tolerante a ponto de arriscar sua própria felicidade, para manter dentro de casa uma criatura assim. É claro que o nosso dever é amar e amparar as pessoas, mesmo nesses casos. Segundo Santo Agostinho, nós não devemos sacrificar a felicidade de muitos, por causa de uma pessoa só. E, aí, nós com toda pena, compreendemos o porquê (motivo) do isolamento dessa pessoa. Alguém deveria Ter honrado pai e mãe para que ela não estivesse naquela situação. Será que essa criatura abandonada honrou seu pai e a sua mãe? Pelo que nós já sabemos, claro que não. Ela foi na sua mocidade exatamente o que é hoje. Infeliz, portanto, aquele que se esquece da sua dívida para com os que o sustentaram na infância, que lhe deram também a vida moral e que se impuseram a duras privações para lhe assegurar o bem-estar. Ai do ingrato, porque ele será punido.
Assim, façamos aos nossos idosos o que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver bastante avançada.        
O tempo é implacável. Um dia nós iremos contemplar o espelho  e  perceberemos que a imagem nele refletida  não é mais a que hoje admiramos.
Mas há um outro lado da questão. Os pais, muitas vezes, perplexos e angustiados, passam a vida inteira correndo, como loucos, em busca do futuro, esquecendo-se do presente. Descuidam-se dos seus deveres, e não são para os filhos o que deviam ser. Apenas colocam os filhos no mundo, não dedicando a eles o melhor do seu tempo. Os anos passam, os filhos crescem, e os pais nem percebem, porque se entregaram de tal forma  à construção do futuro, não participando de suas pequenas alegrias. Não os levou ou buscou no colégio; nunca foram a uma festa infantil. Praticamente, esses filhos são órfãos de pais vivos. Criados sem amor, sem diálogo, sem a convivência que solidifica a fraternidade na família. Não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado aos filhos.
Não foi por acaso que Jesus inseriu no Decálogo deixado por Moisés a obrigação de honrar a nosso pai e a nossa mãe. Aquele que ignora essa recomendação sofre reprimenda para que se eduque. Portanto, devemos ter a preocupação de ser exemplo para os nossos filhos, antes de cobrá-los a conduta correta. Assim procedendo, realizando a tarefa de honrar pai e mãe, com certeza, seremos recompensados no futuro. Vamos receber de nossos filhos a piedade filial.
4. Deus disse: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará”. Por que promete ele como  recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “que Deus vos dará”, as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à situação e às ideias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. (...) “Meu reino não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas boas obras. A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material, transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância daquele mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”, já não é a Terra que lhes promete e sim o céu.
Deus disse: “Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o senhor teu Deus te há de dar”. Vamos entender porque é prometido como recompensa a vida terrena e não a vida celestial. Para compreendermos, temos que nos reportar à situação e às ideias dos hebreus, na época em que esse mandamento foi pronunciado. Eles ainda não compreendiam a vida futura. Sua visão não se estendia além dos limites da vida física. Por isso, deviam ser mais fortemente tocados pelas coisas que viam, do que pelas invisíveis. Eis o motivo por que Deus lhes fala numa linguagem ao seu alcance, e lhes apresenta como perspectiva aquilo que poderia satisfazê-los. Eles estavam no deserto. E a terra que Deus lhe dará é a terra da promissão, alvo de suas aspirações. Nada mais desejavam, e Deus lhes diz que viverão nela por longo tempo, o que significa que a possuirão por longo tempo, se observarem os seus mandamentos.
Com a vinda de Jesus, as suas ideias já estavam mais desenvolvidas. Portanto, chegado o momento de lhes ser dado um entendimento menos grosseiro. O mestre os inicia na vida espiritual, ao dizer: “Meu reino não é deste mundo; é nele, e não sobre a terra, que recebereis a recompensa das vossas boas obras”. Com estas palavras, a Terra da Promissão material se transforma numa pátria celeste. Da mesma maneira, quando lhes recorda a necessidade de observação do mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe”, já não é mais a terra que lhes promete, mas o céu. Estudo que fizemos dos capítulos II e III.
Vamos destacar algumas questões para nossa reflexão:
1- Qual o verdadeiro sentido do mandamento “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”?
R- Ele encerra toda a obrigação dos filhos perante os pais, traduzidas pelo amor, respeito, atenção, submissão e condescendência para com eles.
2- O que devemos entender por piedade filial?
R- É a obrigação incondicional que temos, perante nossos pais, de cumprir para com eles os deveres impostos pela lei de caridade e amor, de modo mais rigoroso que o demonstrado ao próximo em geral.
3- Que razão nos leva a cumprir os deveres que abrangem a piedade filial?
R- Nossos pais são nossos irmãos a quem Deus nos confiou, nesta existência terrena, como responsáveis importantes da nossa atual fase evolutiva.
Conclusão do Estudo:
A família é um cadinho (vaso próprio para fundir metais) de purificação onde aprendemos a legítima fraternidade. Daí nós concluirmos que a piedade filial encerra todo o dever dos filhos em relação aos pais e se exprime pelo amor, respeito, amparo, obediência e tolerância para com eles, independente de terem ou não cumprido os seus deveres, como pais.

 ********************************** 


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos Espíritos
Beneficência exclusiva
20. É acertada a beneficência, quando praticada exclusivamente entre pessoas da mesma opinião, da mesma crença, ou do mesmo partido?
Não, porquanto precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido, visto que são irmãos todos os homens. O verdadeiro cristão vê somente irmãos em seus semelhantes e não procura saber, antes de socorrer o necessitado, qual a sua crença, ou a sua opinião, seja sobre o que for. Obedeceria o cristão, porventura, ao preceito de Jesus-Cristo, segundo o qual devemos amar os nossos inimigos, se repelisse o desgraçado, por professar uma crença diferente da sua? Socorra-o, portanto, sem lhe pedir contas à consciência, pois, se for um inimigo da religião, esse será o meio de conseguir que ele a ame; repelindo-o, faria que a odiasse. (S. Luís, Paris, 1860).
O item 11 deste mesmo capitulo já havia falado sobre Beneficência. E por que isso? Exatamente porque este item 20 trata da Beneficência exclusiva! Ocorre que, nas muitas e muitas traduções deste livro, este item 20, em algumas traduções, não consta o subtítulo Beneficência Exclusiva.
O agrupamento de pessoas que têm os mesmos interesses, os mesmos ideais, foi e ainda continua necessário, para fortalecimento, estímulo, troca de experiências, entre seus elementos, auxiliando-os no desenvolvimento intelectual e moral. Todavia, devido à imperfeição humana, essa necessidade de sociabilidade, facilitou também, “o espírito de seita e de partido, que deve ser abolido, porque todos os homens são irmãos.” Hoje, com o desenvolvimento intelectual e moral do homem, embora desigual em grau de evolução, com todas as experiências da História, já é tempo de libertar-se o homem da prisão de qualquer espírito de sistema. Kardec, em Prolegômenos, onde cita as noções gerais, básicas do espiritismo, em O Livro dos Espíritos, escreveu que este é o compêndio dos ensinamentos dados pelos Espíritos, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema, pois este seria a própria negação da doutrina, conforme esclarece Herculano Pires, na sua Introdução a esse livro. Assim, escolhendo Kardec o lema do espiritismo: “Fora da caridade não há salvação”, deixou bem clara a existência da liberdade dentro da nova doutrina, porque a caridade não está em nenhum sistema científico, artístico, religioso, está no homem, no seu sentir, pensar e agir. Não fechou o espiritismo numa concha, quando escreveu que se a ciência , um dia, provar que o espiritismo está errado em algum ponto, esse ponto seria corrigido. Centrando o objetivo da doutrina em auxiliar a evolução moral da humanidade, no melhoramento de cada um, demonstrando a responsabilidade de cada Espírito no seu processo evolutivo e no da humanidade, liberta o homem de prender-se a esse ou aquele sistema ideológico, livre para aceitar o que sua razão e sensibilidade aceitam, para seguir sua consciência esclarecida, sempre pronta para aprender, sem se prender, a qualquer espírito de sistema. Por isso, o espiritismo não se propõe a fazer proselitismo, apenas oferece esclarecimentos que levam o homem a conhecer-se a si mesmo e aos outros, a conhecer a justiça e o amor de Deus, a finalidade do viver, na Terra, sua trajetória evolutiva para tornar-se um Espírito puro, perfeito e feliz.
O espiritismo não salva ninguém, oferece razões claras para o homem vivenciar os ensinos de Jesus, que se resumem no amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Assim, a beneficência, virtude de fazer o bem, de beneficiar o próximo, não pode estabelecer quaisquer limites na sua ação. “O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado, não procura saber a sua crença, a sua opinião, seja qual for.” Jesus atendeu a todos que o procuraram, ouvindo-lhes as queixas, os lamentos, auxiliando-os nas suas necessidades, sem nada indagar, sem nada exigir... Quando disse que se deve amar a todos, até aos inimigos , declarou a igualdade de todos os homens perante Deus, estabelecendo um relacionamento sem exigências, sem cobranças, mas de fraternidade, de solidariedade, de compreensão. Os ensinos de Jesus, tanto quanto os esclarecimentos do espiritismo, vieram para libertar os homens de qualquer prisão que possa tolher ou limitar sua razão e sua sensibilidade, estimulando o desenvolvimento das qualificações nobres que existem em todos, para viverem a vida plena da perfeição e da felicidade, tornando-se esclarecidos colaboradores na obra da criação, que é também, eterna.
Questões para reflexão:
1 - O que se entende por beneficência exclusiva?
A prática do bem dentro de círculos restritos, ou seja, entre grupos de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido.
"E se fizerdes bem aos que vos fazer bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo." (Lucas, 6:33)
2 - Tem algum valor a beneficência praticada entre pessoas afins, que se querem bem?
Sim. No entanto, em termos de elevação espiritual, pouco acrescenta, uma vez que não ha doação, esforço de fraternidade.
Maior mérito existe em fazer o bem àqueles que nos insultam e caluniam, do que a quem nos ama.
3 - Por que a beneficência deve ser estendida para além dos grupos?
Porque é exercício de fraternidade salutar para nós, que vamos nos fortalecendo na medida em que rompemos a barreira do orgulho e do egoísmo.
"... precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido, visto que são irmãos todos os homens."
Conclusão do Estudo:
Amar e beneficiar exclusivamente aos que nos amam é dever. Amar o próximo é considerar todos os homens como nossos irmãos e estender-lhes os benefícios que estiverem a nosso alcance, sem escolher o objeto da nossa atenção, nem esperar qualquer forma de retribuição.
Podes guardar o pão para muitos dias, ainda que o excesso de tua casa signifique ausência do essencial entre os próprios vizinhos; todavia, quanto puderes, alonga a migalha de alimento aos que fitam debalde o fogão sem lume.

 ********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos Espíritos
Benefícios pagos com ingratidão
19. Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?
Nesses há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.
E sabeis, por ventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos? Tande a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.
Ah! Meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que concede reviver para chegardes a ele. (Guia protetor. Sens, 1862).
É comum se ouvir falar de ingratidão. Amigos que depois de terem privado da maior intimidade, se voltam violentos, destruindo aquela velha amizade, esquecendo-se de todos os benefícios recebidos. Dos abraços, das promessas, das alegrias repartidas e vividas em conjunto. Esse tipo de comportamento demonstra como o homem muito necessita crescer espiritualmente, para galgar patamares mais elevados.
Recordamos de uma antiga lenda judia que fala de um homem condenado à morte e que ia ser apedrejado. Os carrascos lhe jogaram grandes pedras. O réu suportou o terrível castigo em silêncio. Nenhum grito. Na sua condição, compreendia que a desgraça havia caído sobre ele e que seus gritos de nada serviriam. Passou por ali um homem que havia sido seu amigo. Pegou uma pequena pedra e atirou na direção do condenado. Somente para demonstrar que não era do seu partido. O pobre condenado, atingido pela diminuta pedra, deu um grito estridente. O rei, que a tudo assistia, ordenou que um de seus lacaios perguntasse ao réu porque ele gritara quando atingido pela pequena pedra, depois de haver suportado sem se perturbar as grandes. O condenado respondeu: As pedras grandes foram atiradas por homens que não me conhecem, por isso me calei. Mas o pequeno seixo foi jogado por um homem que foi meu companheiro e amigo. Por isso gritei. Lembrei de sua amizade nos tempos de minha felicidade. E agora vi sua felicidade quando me encontro na desgraça. O rei compadeceu-se e ordenou que o pusessem em liberdade, dizendo que mais culpado do que ele era aquele que abandonava o amigo na desgraça. A lenda nos dá a nota de quanto dói a ingratidão de um amigo. Naturalmente, quanto mais estimamos e confiamos em alguém, mais nos atormentará a sua traição. A sua ingratidão.
Agora, é importante salientar que, quem cobra gratidão é vendedor de benefícios. Quem se doa em prol de um filho, de um amigo, de um necessitado, jamais pensa em retribuição. E assim deve ser quando ajudarmos qualquer criatura, seja no lar, na rua, no local de trabalho ou na vida social.
Inúmeras vezes, perdemos a oportunidade de ajudar porque estamos mais interessados em vender do que doar. Entretanto, é nosso dever aproveitar todas as oportunidades para ajudar o próximo, já que somos devedores uns dos outros, e somente com a prática do bem de maneira desinteressada estaremos reparando os nossos erros de reencarnações passadas, bem como, evoluir moralmente. As mágoas, os desentendimentos, as decepções, ocorrem sempre que cobramos amizade, apreço, compreensão, daqueles que eventualmente tenhamos beneficiado. Nos sentimos, muitas vezes, decepcionados, porque esperamos reconhecimento ou recompensa em troca do bem praticado. Mas, é, através da ingratidão dos outros, que Deus percebe a nossa perseverança no bem, e se estamos desenvolvendo a nossa capacidade de fazê-lo sem visar a lucros. Lembremos que o bem praticado não se perde, pois, ao realiza-lo, estamos também nos ajudando, sem contar que, através do nosso exemplo, podemos construir, para que no futuro, germinem bons frutos no solo que esteja preparado. Em hipótese alguma devemos pensar que alguém tem obrigação de fazer-nos qualquer coisa, mesmo que essa obrigação exista. Por exemplo, os pais, seguramente, têm o dever para com os filhos; de educa-los, corrigir-lhes os defeitos e ensinar-lhes o amor a Deus e ao próximo; mas os filhos têm ao mesmo tempo o dever de serem gratos aos pais pelo que recebem deles.
É importante, pois que examinemos nossas próprias ações, observando se não somos ingratos. Em especial com aqueles que estenderam a preciosidade da sua amizade, por longos e longos anos. Ingratidão. Sentimento que somente floresce nos corações enfermiços.
Questões para reflexões:
1 - Por que o homem se sente, muitas vezes, decepcionado na prática do bem?
Porque ainda a pratica de forma interesseira, não cristã. Se examinarmos a fundo nossa consciência, verificaremos que sempre esperamos alguma forma de reconhecimento ou recompensa em troca do bem que praticamos.
"Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse."
2 - Por que Deus permite que sejamos pagos com a ingratidão?
Para experimentar a nossa perseverança no bem. Para que possamos desenvolver a nossa capacidade de fazer o bem, sem visar qualquer espécie de lucro.
"Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago."
3 - Por que o benefício jamais se perde?
Porque, ao praticá-lo, trabalhamos igualmente por nós, pois Deus vê a nossa ação e a levará em conta; e pelos outros, visto que o nosso benefício é uma semente que germinará assim que o solo estiver pronto.
"Os benefícios acabam por abrandar os mais lerdos corações."
"Também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente."
"Todo aquele que der, ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade vos digo, não perderá sua recompensa."
Conclusão do estudo:
Aproveitar todas as ocasiões de servir ao próximo é dever de cada um de nós, pois somos devedores uns dos outros e, através da prática desinteressada do bem, não só reparamos faltas de vidas anteriores como aceleramos nossa caminhada de volta ao Pai.

 ********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos Espíritos
Os Órfãos
18. Meus irmãos, amai os órfãos! Se soubésseis quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando criança! Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servirmos de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vicio! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque demonstra compreender e praticar a sua lei. Lembrai-vos também de que, frequentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis já não seria caridade, mas o cumprimento de um dever. Assim, portanto, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão que a recebe, pois os vossos óbolos são frequentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre! Daí com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que resolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos. (Um Espírito familiar. Paris, 1860).
Esta mensagem, de Um Espírito familiar, embora escrita em 1860, é atualíssima, considerando a quantidade de crianças pelas ruas, pedindo dinheiro nos sinais de trânsito e, considerando também, que órfãos hoje, não são somente as que não têm pais e mães, mas as que são consideradas carentes, que vivem nas ruas durante o dia indo para casa a noite, as abandonadas ou as que fugiram de casa, as exploradas por adultos, as que não frequentam escolas, com pais ou sem eles.
A mensagem toda é um apelo a que os homens amem essas crianças, cuidem delas, as amparem, considerando que, se Deus permite que elas existam, pela imperfeição dos próprios homens, no respeito ao livre-arbítrio do Espírito imortal, espera que elas despertem os sentimentos bons, que todos possuem, em maior ou menor grau de desenvolvimento, amparando-as, servindo-lhes de pais.
Criança abandonada, sem a proteção da família é presa fácil de adultos inescrupulosos, que as usam para seus próprios interesses.
Criança abandonada encontra motivos para desenvolver ódio, rancor, inveja, tristeza, em relação aos homens e em relação à vida.
Criança abandonada não tem parâmetro de uma estrutura familiar, que facilite seu julgamento em relação aos fatos da vida e dos comportamentos humanos. Criança abandonada desenvolve a desconfiança em relação aos adultos, à vida, que abafa aquela simplicidade e confiança, que levou Jesus a dizer que os céus pertencem a quem a elas se assemelharem. Criança abandonada, na sua curiosidade natural, sem a estrutura familiar, é, mais facilmente, atraída pelas drogas, viciando-se, e envolvendo-se nas suas consequências Criança abandonada desenvolve a esperteza, a malícia, a malandragem, na luta pela sobrevivência, não se preocupando com valores morais, considerados inadequados no meio onde vive. Quantos adultos infratores das leis humanas e divinas, poderiam não existir, se tivessem sido amparados na infância! Quão grande é a responsabilidade da sociedade como um todo, na existência de crianças abandonadas!
Lembra o Espírito comunicante que, “frequentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis não é caridade, mas o cumprimento de um dever.” Cita que “todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão que a recebe, pois, os vossos óbolos são frequentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre!”
No auxiliar alguém, assim como em tudo que se faz, a maneira como se faz é que diz da verdadeira intenção de quem age. Auxiliar criticando, sem consideração e respeito ao que pede como ser humano que é, auxiliar apressadamente, como querendo libertar-se de um dever desagradável, auxiliar impondo condições, pode amenizar a situação do auxiliado, mas, não concorre para o desenvolvimento do amor em quem assim faz e em quem recebe. Não estabelece vínculos de simpatia, de gratidão, de afetividade, entre ambos, que é uma importante consequência da verdadeira caridade. Por isso, o Espírito familiar escreve “Dai com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos : uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.”
Procuremos oferecer às crianças, a toda e qualquer criança, nossos melhores sentimentos, nossos melhores pensamentos e nossas melhores ações em seu favor. Estaremos assim, contribuindo com a melhoria da humanidade em um futuro mais próximo.
Questões para reflexão:
1 - Como devemos proceder para com os órfãos?
Devemos ampará-los na medida de nossas possibilidades, visitá-los, assisti-los com amor, bens materiais, palavras e gestos de conforto, adoção, etc.
"Todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade."
"Dai delicadamente, juntai ao benefício que fizerdes o mais precioso de todos os benefícios: o de uma boa palavra, de uma carícias, de um sorriso amistoso."
2 - Podem, muitas vezes, os órfãos estar ligados à nossa vida?
Sim. Muitas vezes são entes queridos de vidas passadas que vêm buscar nosso apoio para suas provações.
"Ponderai, também que muitas vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra encarnação."
Se a reconhecêssemos, nosso mérito seria reduzido.
Conclusão do Estudo:

A orfandade é uma das mais difíceis provações por que passa o espírito encarnado. É, também, um desafio à nossa solidariedade cristã. Amparar o órfão é ato que agrada a Deus e, portanto, eleva espiritualmente quem o pratica.
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos Espíritos
A Piedade
17. A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos. É a irmã de caridade que vos conduz para Deus. Ah!, deixai vosso coração enternecer-se, diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que derramais nas suas feridas. E quando, tocados por uma doce simpatia, conseguis restituir-lhes a esperança e a resignação, que ventura experimentais! É verdade que essa ventura tem um certo amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas se não apresenta o forte sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; pelo contrário, tem uma penetrante suavidade, que encanta a alma.
A piedade, quando profundamente sentida, é amor: o amor é devotamento é o olvido de si mesmo; e esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela mesma que o divino Messias praticou em toda a sua vida, e ensinou na sua doutrina tão santa e sublime. Quando essa doutrina for devolvida à sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a Terra feliz, fazendo reinar na sua face à concórdia, a paz e o amor.
O sentimento mais apropriado a vos fazer progredir, domando vosso egoísmo e vosso orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a piedade, essa piedade que vos comove até as fibras mais íntimas, diante do sofrimento de vossos irmãos, que vos leva a estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, portanto, em vossos corações, essa emoção celeste, nem façais como esses endurecidos egoístas que fogem dos aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a feliz existência. Temei ficar indiferente, quando puderdes ser úteis! A tranquilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranquilidade do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a corrupção.
Quanto a piedade está longe, entretanto, de produzir a perturbação e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta! Não há dúvida que a alma experimenta, ao contato da desgraça alheia, confrangendo-se, um estremecimento natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta penosamente. Mas compensação é grande, quando conseguis devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo umedecido de emoção e recolhimento, se volta com doçura para vós, antes de se elevar ao céu, agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo. A piedade é a melancólica, mas celeste precursora da caridade, esta primeira entre as virtudes, de que ela é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece. (Miguel. Bordéus, 1862)
Comentário:
A piedade faz com que nos sensibilizemos diante do sofrimento alheio, e, com isso, causa uma transformação interior; quando verdadeira, nos faz evoluir espiritualmente, sublimando e enobrecendo nossos sentimentos, conduzindo-nos a Deus e quebrando o monopólio do egoísmo e do orgulho, os quais nos jogam no conformismo, reclamações, materializando-nos e entravando nossa evolução espiritual perante a indiferença.
A piedade é irmã da caridade, e quando bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o esquecimento de si mesmo e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos infelizes é a virtude por excelência. Também é o sentimento mais apropriado para nos fazer progredir, domando sentimentos que nos faz criar barreiras diante do outro em aflição, predispondo assim nossa alma à humildade, à beneficência e ao amor ao próximo.
Mas como entender a piedade em profundidade e como colocá-la em prática?
Segundo o conhecimento superficial que se tem sobre ela, a piedade, ou a compaixão, significa sofrer com alguém. E, como naturalmente fugimos do sofrimento, a piedade pode nos parecer incômoda muitas vezes. Somemos isso à indiferença ainda reinante nos corações humanos, quanto ao que se passa com o outro, e teremos o homem distante da piedade. Porém, ao compreender melhor essa virtude, veremos que nos é extremamente benéfica, e não significa que com ela traremos mais dor para nossos dias. Compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo, nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer. É recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente e um ser vivo, qualquer que seja, como coisa. A compaixão ou piedade é o contrário da crueldade, que se regozija com o sofrimento do outro, e do egoísmo, que não se preocupa com ele. É uma atitude mental baseada no desejo de que os outros se livrem do seu sofrimento. Está associada a uma sensação de compromisso, responsabilidade para com o outro. A verdadeira compaixão tem por base o raciocínio de que todo ser humano tem o desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente como nós. E exatamente como nós, ele tem o direito de realizar essa aspiração fundamental. No processo de conquista dessa virtude vamos encontrar a prática da empatia, que é o instrumento fundamental para se chegar à piedade. A empatia é a condição psicológica que permite a uma pessoa sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstância experimentada por outra pessoa. Essa técnica envolve a capacidade de suspender, provisoriamente, a insistência no próprio ponto de vista mas, também, encarar a situação a partir da perspectiva do outro. Ela é benéfica em todas as situações da vida e, em especial, no desenvolvimento da piedade. Tendo em mãos tal habilidade, poderemos nos deixar envolver pelo sofrimento alheio. Nesse instante estaremos operando como mensageiros de Deus, consolando aflições e praticando a caridade em uma de suas belíssimas formas.
Questões para reflexão:
1 - O que é piedade?
É a simpatia espontânea e desinteressada que experimentamos, ao presenciarmos o sofrimento do nosso próximo.
"A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus."
2 - Por que é necessário que tenhamos piedade, diante do sofrimento do próximo?
Porque este sentimento, se sincero e profundo, nos levará à prática da caridade, pois nos sensibilizará ao ponto de desejarmos minorar-lhe o sofrimento, através dos meios de que dispusermos.
A piedade bem sentida é amor, devotamento, esquecimento de si mesmo, abnegação em favor dos desgraçados.
A piedade é a mola propulsora da caridade: não a praticamos, senão quando nos compadecemos do sofrimento alheio.
3 - Por que é comum refrear este sentimento, evitando encarar o sofrimento alheio?
Porque o egoísmo e o orgulho endurecem o nosso coração, gerando a indiferença, o comodismo, o medo de sermos importunados em nossa tranquilidade ou lesados nos bens materiais.
"O sentimento mais apropriado a fazer que progridais, domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor ao próximo é a piedade."
"Temei conservar-vos indiferentes, quando puderdes ser úteis."
Conclusão do Estudo:
A piedade é o sentimento divino que nos impulsiona ao auxílio do próximo, à caridade. Todos trazemos no coração esta centelha de amor que precisa do nosso esforço fraterno para expandir-se.

 ******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos Espíritos
A Beneficência
11. A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh!, pudésseis compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vesti a um irmão! Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes! Quais as festas mundanas que se pode comparar a essas festas jubilosas, quando, representantes da Divindade, levais a alegria a essas pobres famílias, que da vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras; quando vedes esses rostos macilentos brilharem subitamente de esperança, desprovidos de pão, esses infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e repetiam estas palavras, que, como finos punhais, penetravam o coração materno: “Tenho fome!” Oh!, compreendei quanto são deliciosas as impressões daquele que vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendei quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: “Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis!” (...)
(Adolfo, bispo de Argel. Bordéus, 1861)
12. Sede bons e caridosos: eis a chave dos céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: “Amai-vos uns aos outros”. A alma não pode elevar-se às regiões espirituais senão pelo devotamento ao próximo; não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos da caridade. Sede bons, amparai os vossos irmãos, extirpai a horrível chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da felicidade eterna deve abrir-se para vós. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar, crescer sua alegria interior, ao relato de um belo sacrifício, de uma obra de pura caridade? Se buscásseis apenas o deleite de uma boa ação, estaríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Exemplos não vos faltam; o que falta é a boa vontade, sempre rara. Vede a multidão de homens de bem, de que a vossa história evoca piedosas lembranças. (...)
 (S. Vicente de Paulo. Paris, 1858)
13. Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos deveis visar.
Fiz nesta manhã o meu passeio habitual, e com o coração magoado venho  dizer-vos: Oh, meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto tendes de fazer para secá-las todas! Inutilmente tentei consolar as pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bondosos que velam por vós, que não vos abandonarão; paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e voltavam para mim os seus grandes olhos assustados. Eu lia em seus pobres semblantes que o corpo, esse tirano do Espírito, tinha fome, e que, se as minhas palavras lhes tranquilizam um pouco o coração, não lhes saciavam o estômago. Então eu repetia: Coragem! Coragem! E uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e ergueu-a no espaço vazio, como para me rogar que protegesse aquele pobre e pequeno ser, que só encontrava num seio estéril alimento insuficiente. (...)
 (Cárita, martirizada em Roma. Lião, 1861)
14. Há muitas maneiras de fazer a caridade, que tantos de vós confundem com a esmola. Não obstante, há grande diferença entre elas. A esmola, meus amigos, algumas vezes é útil, porque alivia os pobres. Mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, quanto para o que a recebe. A caridade, pelo contrário, liga o benfeitor e o beneficiário, e além disso se disfarça de tantas maneiras! A caridade pode ser praticada mesmo entre colegas e amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando-se mutuamente suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor próprio de ninguém. Para vós, espíritas, na vossa maneira de agir em relação aos que não pensam convosco, induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chorar, sem afrontar as suas convicções, mas levando-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá penetrar nos seus corações. Eis uma das formas da caridade. (...)
Cárita. Lião, 1861)
15. Meus caros amigos, cada dia ouço dizerem entre vós: “Sou pobre, não posso fazer a caridade”. E cada dia, vê que faltais com a indulgência para com os vossos semelhantes. Não lhes perdoais coisa alguma, e vos arvorais em juízes demasiado severos, sem vos perguntar se gostaríeis que fizessem o mesmo a vosso respeito. A indulgência não é também caridade? Vós, que não podeis fazer mais do que a caridade indulgente, faz pelo menos essa, mas fazei-a com grandeza. Pelo que respeita à caridade material, quero contar-vos uma história do outro mundo. (...)
 (Um Espírito protetor. Lião, 1861)
16 – A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de empregar o seu tempo nos trabalhos da casa, não pode dedicar algumas horas ao serviço do próximo? Que, com as sobras dos seus gastos felizes, compre agasalhos para o infeliz que tirita de frio; com suas mãos delicadas, confeccione roupas grosseiras, mas quentes, e ajude a mãe pobre a vestir o filho que vai nascer. Se o seu filho, com isso, ficar com alguns rendados de menos, o daquela terá mais calor. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor. (...)
 (João. Bordéus, 1861)
Comentário:
Na primeira mensagem, Cárita escreve na primeira pessoa do singular: “Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos deveis visar”. Narra o caminho percorrido por ela, nos lugares em que a caridade deve atuar, vendo quantas misérias, quantas lágrimas, e o quanto têm os homens a fazer para eliminá-las da face da Terra. Cita as mães, sem alimento em casa, as palavras que ela lhes diz aos ouvidos espirituais, que consolam um pouco os corações, mas que não saciam a fome do corpo. Cita os velhos sem trabalho e sem abrigo, envergonhados de pedir nas ruas, eles que sempre trabalharam. Por isso, vendo carências, já não mais justificáveis em um mundo tão rico em recursos materiais para todos, ela se dispôs a estimular, a prática da beneficência entre os homens, dizendo: “Eu sou a Caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos sofredores.” Escreve, então, o que a caridade proporciona a quem se esforça em praticá-la. Oferece a cada um uma bela árvore, que se chama Beneficência, carregada de flores e frutos, para serem colhidos por quem quiser. Para cada galho arrancado, todas as boas ações praticadas serão ali colocadas, levadas por ela ao Pai, que as carregará de novo, “porque a beneficência é inesgotável”. É uma bela metáfora, que evidencia o quanto é importante e necessário, em nosso mundo, a prática da beneficência, ato de beneficiar, de fazer bem aos outros, que proporciona também a quem o faz, prazeres inimagináveis e bens espirituais para sempre.
Na segunda mensagem, ela escreve sobre as maneiras de fazer a caridade, que não pode ser confundida com a esmola, que embora seja ainda necessária, por causa da imperfeição dos homens, sendo útil, muitas vezes, não deixa de ser um ato humilhante, tanto para quem dá como para quem recebe. A caridade, muito ao contrário, estabelece uma ligação afetiva e efetiva entre um e outro, podendo ser realizada sem constrangimento, ambos sendo beneficiados. Pode ser praticada entre colegas, amigos, vizinhos, parentes, através da indulgência, da tolerância de uns para com os outros, no valorizar as qualidades, e não os defeitos, no esforço de uma convivência agradável e produtiva para todos. Faz caridade o espírita, que divulga o espiritismo, sempre que havendo a oportunidade, sem impor, sem querer fazer proselitismo, oferece, ao que pode se beneficiar com seus ensinos, ou manifestar algum interesse, a opinião espírita, através de uma conversa, de um livro, de um convite a uma reunião e também quando exemplifica o que aprende. Enaltece as reuniões de mulheres que dedicam parte do seu tempo para as diversas atividades, que resultam em benefício dos pobres e necessitados, como bens exemplos a serem seguidos. Cita os benefícios morais causados pelas ofertas materiais a quem as recebe no estímulo à confiança em Deus e nos homens, na comprovação de que existe bondade, pessoas que se preocupam com os outros, estimulando assim, a prática do bem. Afirma que os bons Espíritos estão sempre auxiliando quem busca fazer o bem.
A cada ação de desprendimento, vamo-nos espiritualizando e diminuindo o nosso apego ao mundo material, tão passageiro. Olhemos em volta. Quantos bens nos são disponibilizados no dia-a-dia, até mais do que precisamos! E se observarmos no que nos sobra e que simplesmente jogamos fora, certamente daremos um puxão de orelha em nós mesmos, e diremos: “Mas que egoísta que eu sou!” Este é o maior desafio a ser vencido, para fazer valer a encarnação. Jesus disse que o Filho do Homem não veio à Terra para ser servido, mas para servir. E nós, também, aqui estamos para servir. A caridade é a virtude por excelência e constitui a mais alta expressão do sentimento humano, sobre cuja base as construções elevadas do Espírito encontram firmeza para realizar atividades nobres, em prol de todas as criaturas.
Jesus esclareceu-nos que todas as vezes que dermos de comer a um faminto; dermos de beber a quem tem sede; dermos abrigo a quem não tem um lar; vestirmos os nus; visitarmos os doentes e encarcerados, é a Ele próprio que estamos fazendo. Portanto,  mãos à obra. Há um longo caminho a percorrer, e que será menos áspero cada vez que nos disponibilizarmos a praticar a beneficência. “Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprindo esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna”, recomenda-nos S. Vicente de Paulo.
O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que não apenas dá o que sobra, mas divide o que tem. (Edgard Armond) A hora é de juntarmos nossos esforços em favor dos corações em sofrimento.
Questões para reflexão:
1 - A quem cabe socorrer os necessitados?
Além do Estado, esta responsabilidade cabe a todos nós. Devemos socorrer os necessitados, sobretudo aqueles irmãos que estão mais perto de nós. A ajuda aos nossos irmãos independe da condição social e econômica de quem ajuda.
"Oh! meus amigos, que de misérias, que de lágrimas, quanto tendes de fazer para secá-las todas."
2 - Sendo a miséria do mundo tão grande, de que adiantará uma ação individual se não poderá resolvê-la?
É bem verdade que as pequenas ações individuais não resolverão a miséria do mundo. Mas, através delas, as dores de um infortunado podem ser minoradas, a fome de um carente saciada, a solidão de um irmão atenuada.
Não pretendemos acabar com a miséria do mundo, mas contribuir para minorá-la, fazendo nossa parcela de caridade, por menos que seja e da melhor maneira possível, sem nos importar com a dos outros.
3 - Qual a importância da beneficência para o nosso progresso espiritual?
Além de se constituir em auxílio ao próximo, a beneficência gera felicidade interior e se constitui no melhor caminho para nos aproximar de Deus.
"Acompanhai-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou a caridade."
Conclusão do Estudo:
Praticando todo o bem que estiver ao nosso alcance, experimentaremos as suaves alegrias da paz interior e seguiremos, mais rapidamente, a estrada que nos conduz a Deus.
 *******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
A caridade material e a caridade moral
9. “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos que nos fosse feito”. Toda a religião, toda a moral, se encerram nestes dois preceitos. Se eles fossem seguidos no mundo, todos seriam perfeitos. Não haveria ódios, nem ressentimentos. Direi mais ainda: não haveria pobreza, porque, do supérfluo da mesa de cada rico, quantos pobres seriam alimentados! E assim não mais se veriam, nos bairros sombrios em que vivi, na minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças necessitadas de tudo.
Ricos! Pensai um pouco em tudo isso. Ajudai o mais possível aos infelizes; daí, para que Deus vos retribua um dia o bem que houverdes feito: para encontrardes, ao sair de vosso invólucro terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos, que vos receberão no limitar de um mundo mais feliz.
Se pudésseis saber a alegria que provei, ao encontrar no além aqueles a quem beneficiei, na minha última vida terrena!
Amai, pois, ao vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que o desgraçado que repelis talvez seja um irmão, um pai, um amigo que afastais para longe. E então, qual não será o vosso desespero, ao reconhecê-lo depois no Mundo dos Espíritos!
Quero que compreendais bem o que deve ser a caridade moral, que todos podem praticar, que materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se por em prática.
A caridade moral consiste em vos suportardes uns aos outros, o que menos fazeis nesse mundo inferior, em que estais momentaneamente encarnados. Há um grande mérito, acreditai, em saber calar para que outro mais tolo possa falar: isso é também uma forma de caridade. Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós, quando na vida espírita, a única verdadeira, está às vezes muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral.
Essa caridade, entretanto, não deve impedir que se pratique a outra. Pelo contrário: pensai, sobretudo, que não deveis desprezar o vosso semelhante; lembrai-vos de tudo o que vos tenho dito; é necessário lembrar, incessantemente, que o pobre repelido talvez seja um Espírito que vos foi caro, e que momentaneamente se encontra numa posição inferior à vossa. Reencontrei um dos pobres do vosso mundo a quem pude, por felicidade, beneficiar algumas vezes, e ao qual tenho agora de pedir, por minha vez.
Recordai-vos de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus! Pensai naqueles que sofrem, e orai. (Irmã Rosária. Paris, 1860).
10. Meus amigos, tenho ouvido muitos de vós dizerem: Como posso fazer a caridade, se quase sempre não tenho sequer o necessário?
A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras. Podeis fazê-la em pensamento, em palavras e em ações. Em pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem terem sequer vivido; uma prece de coração os alivia. Em palavras: dirigindo aos vossos companheiros alguns bons conselhos. Dizei aos homens amargurados pelo desespero e pelas privações, que blasfemam do nome do Altíssimo: “Eu era como vos; eu sofria, sentia-me infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede agora sou feliz!” Aos anciãos que vos disseram: “É inútil; estou no fim da vida; morrerei como vivi”, respondei: “A justiça de Deus é igual para todos; lembrai-vos dos trabalhadores da última hora!” Às crianças que, já viciadas pelas más companhias, perdem-se nos caminhos do mundo, prestes a sucumbir às suas tentações, dizei: “Deus vos vê, meus caros pequenos!”, e não temais repetir frequentemente essas doces palavras, que acabarão por germinar nas suas jovens inteligências, e em lugar de pequenos vagabundos, fareis delas verdadeiros homens. Essa é também uma forma de caridade.
Muitos de vós dizeis ainda: “Oh! somos tão numerosos na terra, que Deus não pode ver-nos a todos!” Escutai bem isso, meus amigos: quando estais no alto de uma montanha, vosso olhar não abarca os bilhões de grãos de areia que a cobrem? Pois bem: Deus vos vê da mesma maneira; e Ele vos deixa o vosso livre arbítrio, como também deixais esses grãos de areia ao sabor do vento que os dispersas. Com a diferença que Deus, na sua infinita misericórdia, pôs no fundo do vosso coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Ouvi-a, que ela vos dará bons conselhos. Por vezes, conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal, e então ela se cala. Mas ficai seguros de que a pobre relegada se fará ouvir, tão logo a deixardes perceber a sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a, e frequentemente sereis consolados pelos seus conselhos.
Meus amigos, a cada novo regimento o general entrega uma bandeira. Eu vos dou esta máxima do Cristo: “Amai-vos uns aos outros”. Praticai essa máxima: reunir-vos todos em torno dessa bandeira, e dela recebereis a felicidade e a consolação. (Um Espírito protetor. Lião, 1860).
Quando falamos em “caridade nas relações com nossos semelhantes” devemos ter em mente de que se trata de algo maior que simplesmente a oferta de bens materiais, sejam eles de qualquer ordem de grandeza, sendo que, mesmo nesta ação, precisaremos levar em conta a forma como esta doação se dá: se ela é revestida de respeito, de compaixão, de entendimento.
Indigno aprendiz do evangelho aquele que doa com a intenção de receber aplausos, ou ainda o que doa humilhando seu próximo.
Quanto à amplitude da caridade, como nos propõe Jesus e nos explica Kardec, percebemos que, em se tratando de “relações interpessoais” a questão moral recebe importante destaque.
A caridade moral surge como necessidade premente entre as criaturas, devendo esta [a caridade] buscar o irmão necessitado onde estiver, seja ele carente no âmbito material, psicológico, emocional ou espiritual.
A paciência faz parte deste processo. Sem ela, impossível conseguirmos realizar a caridade moral, pois para sermos verdadeiramente caridosos teremos de compreender as dificuldades íntimas de nossos irmãos, suas mazelas, seus defeitos, entendendo que cada um está e realiza de acordo com suas possibilidades.
O Espírito de Irmã Rosália comenta que caridade moral é a mais difícil de ser realizada na Terra, por conta de nosso orgulho exacerbado e de nosso egoísmo. Já a caridade material é, sem duvida, a mais simples, embora ainda seja a mais valorizada em nossa cultura, até por conta da situação difícil por que passam muitas pessoas em nosso país. 
É mais fácil abrir o nosso armário e retirarmos de lá as roupas que já não usamos mais, os sapatos velhos, os cobertores em desuso. Claro que é uma ação de grande valor, pois indica que a pessoa se preocupa em levar conforto às pessoas. Trata-se, por certo, de desprendimento material. Porém, a caridade moral nos pedirá algo a mais: o envolvimento espiritual. O que significa isso? Quer dizer que iremos ultrapassar nossos limites íntimos e não apenas os externos. Iremos calar para que um mais ignorante fale, iremos dar apoio aos angustiados, dando de nós mais do que dinheiro. Não participaremos de apontamentos humilhantes. Daremos nosso tempo, nossos ouvidos, nosso coração.  
Quando a nossa participação, dentro do contexto social em que vivemos, estiver acarretando um mínimo prejuízo a alguém, nesse instante estaremos atravancando o progresso da humanidade. Precisamos viver pensando sim em nós, mas sem esquecer os outros, uma vez que ninguém consegue ser feliz sozinho. Sejamos, então, caridosos.
Fazemos a caridade moral quando doamos o nosso tempo de folga, as nossas preocupações e os nossos interesses a ideais de nobreza, visando prestar serviços para construção de um mundo melhor, mais solidário e humano.
O importante é que façamos a caridade, seja ela material ou moral, mas façamos a caridade, pois, à medida que plantamos a alegria de viver nos corações que nos cercam, a Providência Divina, que tudo sabe e vê, agirá de forma a improvisar a nossa ventura.  Francisco de Assis, há mais de um milênio, já nos informou “que é dando que se recebe”.
Questões para reflexão:
1 - Qual a diferença entre caridade material e caridade moral?
Enquanto a primeira ocupa-se em atender o necessitado com bens materiais, a segunda, que nada custa materialmente falando, consiste em se conviver com o próximo, dispensando-lhe o tratamento e as atenções que gostaríamos nos fossem dispensados.
Quando se pratica a caridade material, dá-se do que se tem. Quando se pratica a caridade moral, dá-se do que se é.
"Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles."
2 - Por que a caridade moral é mais difícil de se praticar do que a caridade material?
Porque nos exige verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância, princípios tão contrários ao egoísmo, a que ainda estamos presos.
"A caridade moral, que todos podem praticar, nada custa (...) porém é a mais difícil de exercer-se."
3 - Como podemos exercitar a caridade moral?
Pelas pequeninas ações de cada dia, como tolerar o semelhante, não desejar mal ao próximo, não revidar as ofensas, saber calar, ignorar a má palavra e o mau procedimento, começando sempre pelos nossos familiares.
"Grande mérito há (...) em um homem saber calar, deixando fale outro mais tolo do que ele."
"Não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral."
Conclusão do Estudo:
O preceito de Jesus, amai-vos uns aos outros, manifesta-se na prática da caridade material e moral, sendo que maior valor tem esta última, porque exige de quem a pratica verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Convidar os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição
Itens 7 e 8
7 – Disse também àquele que o convidara: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem  a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam. Quando deres um festim, convidai para ele os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos. Um dos que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no reino de Deus. (Lucas, cap. XIV, vv. 12 a 15).
8 – “Quando fizeres um banquete, disse Jesus, não convides os teus amigos, mas os pobres e os estropiados”. Essas palavras, absurdas, se as tomarmos ao pé da letra, são sublimes, quando procuramos entender-lhes o espírito. Jesus não poderia ter querido dizer que, em lugar dos amigos, fosse necessário reunir à mesa os mendigos da rua. Sua linguagem era quase sempre figurada, e para os homens incapazes de compreender os tons mais delicados do pensamento, precisava usar de imagem fortes, que produzissem o efeito de cores berrantes. O fundo de seu pensamento se revela por estas palavras: “E serás bem-aventurado, porque esses não têm com o que te retribuir”. O que vale dizer que não se deve fazer o bem com vistas à retribuição, mas pelo simples prazer de fazê-lo. Para tornar clara a comparação, disse: convida os pobres para o teu banquete, pois sabes que eles não podem te retribuir. E por banquete é necessário entender, não propriamente a refeição, mas a participação na abundância de que desfrutas.
Essas palavras podem também ser aplicadas em sentido mais literal. Quantos só convidam para a sua mesa os que podem, como dizem, honrá-los ou retribuir-lhes o convite. Outros, pelo contrário ficam satisfeitos de receber parentes ou amigos menos afortunados, que todos possuem. Essa é por vezes a maneira de ajudá-los disfarçadamente. Esses, sem ir buscar os cegos e os estropiados, praticam a máxima de Jesus, se o fazem por benevolência, sem ostentação, e se sabem disfarçar o benefício com sincera cordialidade.
Os ensinos de Jesus foram sempre dirigidos a toda a humanidade e para todos os tempos, e deveriam ficar registrados na mente dos que o ouviam, estimulando o raciocínio, não sendo esquecidos, a fim de que os homens soubessem como deveriam progredir, na sua caminhada evolutiva em direção à perfeição e à felicidade.
“Sua linguagem era quase sempre figurada, e para os homens incapazes de compreender os tons delicados do pensamento, precisava usar de imagens fortes, que produzissem cores berrantes.”
Nesse texto a chave para o entendimento do texto de Lucas está na frase: “E serás bem-aventurado, porque esses não têm com o que te retribuir.”
Jesus prega o desinteresse pessoal na ação de fazer o bem.
É bom reunir parentes, amigos e vizinhos, em reuniões festivas, jantares e almoços, e Jesus não poderia pedir que esses convidados fossem substituídos pelos mendigos da rua.
Ensina que o verdadeiro ato de bem a outros é sempre o realizado sem esperar retribuição, sem interesse de obter vantagens.
Lembra Kardec que a palavra banquete pode significar também “participação na abundância de que desfrutas”.
Assim, receber parentes e amigos menos afortunados ou mais necessitados em casa é uma forma de ajudá-los, com benevolência, disfarçando o benefício, sem ostentação, lembrando sempre mais dos que têm necessidades maiores.
Lembrar sempre que a caridade deve começar na família consanguínea, que não se reuniu na Terra por acaso.
Fazer o bem sempre, pelo prazer de fazê-lo, sem exigir ou esperar nada em troca, é agir segundo a lei do amor incondicional, que é a meta do desenvolvimento espiritual da humanidade da Terra.
Na verdade, este capítulo é um desdobramento do tema central dos ensinos de Jesus que é o Amor. O amor que em suas diversas nuances recebe vários nomes, sendo um deles a caridade, que é tratada por Kardec, no cap.XIII do Evangelho Segundo o Espiritismo.        É indispensável que nos lembremos que todos os ensinos do Mestre dizem respeito a nós, espíritos. Jesus não fala apenas para quem tem a vida circunscrita entre o berço e o túmulo. Ele ensina para quem atravessa a eternidade, de reencarnação em reencarnação, buscando a sabedoria que é a chancela para a felicidade. Assim, demonstra-nos a necessidade de partilhar com os necessitados de todos os matizes do banquete espiritual que já conseguimos merecer.
O cego a que ele se refere é o que não "enxerga" a finalidade superior da vida, apegando-se ao materialismo descontrolado, por não ter "olhos de ver". O coxo e o paralítico são os que ainda não conseguem se locomover em direção à educação integral. "Marcam passo" nas esquinas da vida necessitando de mão amiga que os sustentem na caminhada. E os pobres? Ah! Esses mendigam o conhecimento do espírito. Morrem de fome! Buscam pelas reencarnações o alimento da alma, necessitando de quem o doe para que não sucumba mais uma vez. E daqui tiramos mais uma bela lição. Todo serviço no bem deve ser feito sem esperar recompensa nem retribuição. Fazer o bem pelo bem, deve ser o nosso lema, para que o bem se fixe em torno dos nossos passos. Não é do bem que precisamos?
Os ensinos de Jesus, enfocados neste capítulo do Evangelho, são de uma riqueza maravilhosa e muito oportunos para os dias em estamos vivendo, quando a futilidade pontifica, marcando a nossa contemporaneidade com cenas tristes, permitindo a vitória da iniquidade, dando vazão a uma inversão de valores que tem causando grandes problemas a nossa sociedade. Cabe-nos a nós, espíritas, por tudo que temos recebido, cerrar fileiras na busca dos valores da alma, transmitindo-os pelo exemplo a todos quanto partilham do nosso círculo de relação.
Questões para reflexão:
1 - Quem são os pobres e estropiados referidos no texto?
São os nossos irmãos mais necessitados, que não têm condições de retribuir o nosso convite, a nossa doação, a nossa visita, enfim, as nossas atenções.
"E sereis ditosos por não terem eles meios de vô-lo retribuir..."
2 - Como deve ser a atitude do cristão, quando auxilia o irmão necessitado?
Fraterna e discreta, movida pelo sentimento da verdadeira caridade, que nos manda fazer o bem tão somente pelo prazer de o praticar, sem esperar retribuição alguma.
"... praticam a máxima de Jesus se o fazem por benevolência, sem ostentação, e sabem dissimular o benefício, por meio de uma sincera cordialidade."
3 - Como exercitar esta lição em nossa vivência diária?
Convidando para nossa mesa os irmãos, amigos e parentes menos felizes, e atendendo-os fraternalmente em suas necessidades, ao invés de buscarmos apenas o convívio daqueles que nos podem beneficiar com a retribuição de nossos favores.
Encontramos os pobres e os estropiados no seio de nossa própria família.
Conclusão do Estudo:

O convite à participação nos bens de que desfrutamos deve ser inspirado na mais pura fraternidade. Se for motivado pelo desejo de retribuição é mero comércio e demonstração de orgulho e vaidade.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
O óbolo da viúva
(Itens 5 e 6)
Texto de Apoio:
5. E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento. (Marcos, XII: 41-44 – Lucas, XXI: 1-4).
6. Muita gente lamenta não poder fazer todo o bem que desejaria, por falta de recursos, e se querem a fortuna, dizem, é para bem aplicá-la. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode ser muito sincera de parte de alguns; mas o seria de parte de todos, assim completamente desinteressados? Não haverá os que, inteiramente empenhados em beneficiar os outros, se sentirão bem de começar por si mesmos, concedendo-se mais algumas satisfações, um pouco mais do supérfluo que ora não têm, para dar aos pobres apenas, o resto? Este pensamento oculto, talvez dissimulado, mas que encontrariam no fundo do coração, se o sondassem, anula o mérito da intenção, pois a verdadeira caridade faz antes pensar nos outros que em si mesmo.
O sublime da caridade, nesse caso, seria procurar cada qual no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de sua capacidade, os recursos que lhe faltam para realizar suas intenções generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor. Mas, infelizmente, a maioria sonha com meios fáceis de se enriquecer, de um golpe e sem sacrifícios, correndo atrás de quimeras, como a descoberta de tesouros, uma oportunidade favorável, o recebimento de heranças inesperadas, e assim por diante. Quer dizer dos que esperam encontrar, para os secundar nessas buscas, auxiliares entre os Espíritos? É evidente que eles nem conhecem nem compreendem o sagrado objetivo do Espírito, e menos ainda a missão dos Espíritos, aos quais Deus permite comunicarem-se com os homens. Mas justamente por isso, são punidos pelas decepções. (Livro dos Médiuns, nº 294 e 295).
Aqueles cuja intenção é desprovida de qualquer interesse pessoal, deve consolar-se de sua impotência para fazer o bem que desejariam, lembrando que o óbolo do pobre, que o tira da sua própria privação, pesa mais na balança de Deus que o ouro do rico, que dá sem privar-se de nada. Seria grande a satisfação, sem dúvida, de poder socorrer largamente a indigência; mas, se isso é impossível, é necessário submeter-se a fazer o que se pode. Aliás, não é somente com o ouro que se podem enxugar as lágrimas, e não devemos ficar inativos por não o possuirmos. Aquele que deseja sinceramente tornar-se útil para os seus irmãos, encontra mil ocasiões de fazê-lo. Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de outra, pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades, que não possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência útil. Na falta de dinheiro, não dispõe cada qual do seu esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos outros? Isso também é a esmola do pobre, o óbolo da viúva.
Jesus se achava no átrio das mulheres. Era esse um quadrado cercado de três lados por colunas, sobre as quais havia uma galeria, de onde as mulheres podiam assistir as cerimônias litúrgicas. No quarto lado estava uma larga escada semicircular, com quinze degraus que levava ao "átrio de Israel". Num desses degraus sentara-se Jesus, para breve descanso.
Daí via-se, à esquerda, o Tesouro (gazofilácio), que consistia em treze salas, cada uma das quais exteriorizava um "tronco", de gargalo estreito em cima, que alargava na parte de baixo. Aí eram lançadas as esmolas para o gasto do templo. Os exibicionistas trocavam a importância que desejavam dar em moedinhas de cobre, para terem grande número e fazerem bastante barulho ao serem lançadas, atraindo dessa forma a atenção dos demais peregrinos. O Mestre estava a olhar aquela multidão, que tanto se avolumava nos dias de Páscoa, enquanto observava as reações dos discípulos, que se admiravam, arregalando os olhos e cutucando-se, quando algum ricaço, ruidosamente, despejava sua bolsa cheia de moedas, causando um tilintar que trazia alegria aos corações dos sacerdotes que serviam no templo. Nisso surge uma pobre viúva, que deixa escorregar, envergonhada, dois leptas (centavos). Um sorriso fugaz dançou sub-reptício nos lábios dos discípulos, revelando compaixão por aquele gesto inútil. Ao ver o gesto da viúva (paupérrima, mendiga) e ao observar o desdém compassivo dos discípulos, o Mestre, que via além das aparências, chama-lhes atenção para o fato e explica:
- Olhem, ela deu mais que todos...
Os olhares dos discípulos se transformam em outros tantos pontos de interrogação duvidosos, até que o Mestre completa a frase:
- Todos deram do que lhes sobrava, mas esta, deu tudo o que tinha para viver.
Essa advertência é bastante importante, porque é comum darmos nada porque não podemos dar muito. De que serve um simples pão que eu ofereça, diante da enorme fome do mundo, indagamos muitas vezes?

Para entender a importância desse pão, lembremos Madre Teresa a benfeitora de Calcutá, que afirmou certa vez que seu trabalho não passava de uma gota no oceano. Completou, no entanto, que sem essa gota o oceano seria menor.
O óbolo da viúva não precisa ser necessariamente a oferenda material. O abraço carinhoso, a palavra de estímulo, a oferta do ombro para o alívio do outro, a prece silenciosa em favor do que sofre, o auxílio ao velho que vai atravessar a rua, a educação no trânsito e o uso rotineiro do faz favor, obrigado, dá licença, desculpe.
Temos de nos convencer que não há inutilidade e que ninguém é sem valor. Todos temos nossa parte na sociedade e, por menor que pareça, sempre é algo relevante.
Naquela época, como ainda hoje se observa, vale mais quem mais dá: nos templos, nas igrejas, nos centros espíritas, nas associações e fraternidades, e até na vida particular: o presente mais caro deve ser comprado para aquele que nos deu mais. As pessoas jurídicas dão títulos (benemérito, sócio vitalício, presidente de honra...) e medalhas. Ninguém olha com olhos espirituais para a pobrezinha que tirou do seu sustento para doar seu tostão: seu troco é um sorriso complacente, um agradecimento pró forma, e logo se esquece o gesto que tanto lhe custou.
Há que identifique neste ensino de Jesus a justificativa do dízimo, colocando a pobre viúva na posição daquele devoto que entrega todos os bens materiais que possui, chegando mesmo a faltar o essencial para viver. Estes que defendem tal tese se baseiam em uma possível ajuda divina para os devotos que se sacrificarem materialmente pelo seu estabelecimento religioso.
Kardec coloca a pobre viúva na posição daquele que faz a Caridade mesmo em situação material difícil. Muitos dentre nós, reclamam da impossibilidade de se fazer a Caridade, pelo fato de não possuir recursos financeiros que possibilitem realizar grandes obras sociais. Gostariam de ter acesso a fortunas, dizem, para que pudessem consolar os pobres e oferecer-lhes a possibilidade de suprir suas necessidades imediatas. Contudo, a lição do Óbolo da Viúva objetiva afirmar a não-necessidade de grandes fortunas para a prática da Caridade. A Doutrina dos Espíritos coloca acima da Caridade dita material, a Caridade Moral. A Caridade Moral é aquela que podemos praticar a qualquer hora do dia e em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Distribuir uma palavra de consolo, ajudar aqueles que possuem o corpo enfraquecido pelo tempo, dar de comer a quem tem fome, saber lidar com a calúnia, mesmo em ambientes aonde deveriam reinar a amizade e o amor, como o Lar.
O Óbolo da Viúva possui uma delicadeza que às vezes escapa a um olhar mais desatento, mas que quando percebido torna-se de uma beleza ímpar para aqueles que pretendem ingressas nas fileiras da Caridade.
A viúva deu o pouco do que tinha, porém ela deu isto como um ato de amor, um ato de caridade para ajudar aquilo que ela considerava justo. E a Caridade é exatamente assim: A Caridade verdadeira consiste no mais das vezes, em dar aos outros a felicidade que não temos para nós mesmos. Sem nada exigir das potências divinas, através da Caridade nós proporcionamos a alegria aos outros, quando muitas vezes nós mesmos não temos com o que sentir alegria na vida. Damos esta felicidade sem esperar dádivas do alto, mas por termos o ideal de que ajudando ao próximo, podermos encontrar a paz de espírito que nos falta na Terra.
Questões para reflexão:
1 - Por que Jesus valorizou o óbolo da viúva?
Porque sua dádiva, aparentemente de pequeno valor, foi retirada, com sacrifício e amor, do pouco que possuía; enquanto que os ricos davam com abundância do muito que lhes sobrava.
"... ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para o seu sustento."
2 - A falta de recursos materiais constitui impedimento para a prática da caridade?
Certamente que não. Aquele que dispõe de poucos recursos deve procurar no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os meios de que carece para realizar seus generosos propósitos.
Muitas vezes, sob a desculpa de não possuir bens, cultivamos a indiferença e o egoísmo, voltando as costas aos irmãos necessitados.
Conclusão do Estudo:

Todos somo chamados e sempre dispomos de meios para servir nosso próximo. O mérito da nossa ajuda, entretanto, não tem qualquer relação com o seu valor material, mas com a generosidade e o desprendimento que acompanham o gesto.
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Os infortúnios ocultos
Texto de Apoio:
Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.
Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente.
Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação.
A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem. Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa.
Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti." É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. E espírita ela? Que importa!
Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém." Falava assim Jesus.
Allan Kardec escreve sobre os sofrimentos que passam despercebidos, nos lares, sem queixas, sem coragem de sair pedindo ajuda, ou que estão impedidos de fazê-lo.
“São esses os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham pedir assistência.”
Nas grandes tragédias e calamidades, a solidariedade se faz presente, atendendo aos pedidos de auxílio. Mas, muitos sofrimentos particulares ficam sem ajuda, por serem desconhecidas.
Esses devem ser procurados pelos cristãos, não esperando tornarem-se tragédias públicas. Num auxílio discreto, que leve a alegria, a esperança e não a humilhação, a vergonha de sentir-se incapaz de resolver seus problemas.
Essa caridade é um exemplo da mão esquerda não saber o que faz a direita, a que diz palavras consoladoras, sem perguntas e recriminações, que tornam a ajuda um presente merecido, por não constranger o auxiliado.
É aquela que ajuda enquanto houver a necessidade, colaborando também, se possível, na resolução dos problemas e dos infortúnios.
Kardec descreve as ações de uma senhora rica, que vive de acordo com as exigências do seu meio social, mas que vai em roupas simples, para não ferir a pobreza alheia, em companhia da filha adolescente, entregar roupas e alimentos necessários para que essa família possa continuar vivendo com dignidade, enquanto a adversidade durar.
A citação da presença da filha nas visitas ressalta a importância dela conhecer uma realidade diferente da que vive, dos benefícios que podem doar os que têm mais, e como devem ser tratadas todas as pessoas, com dignidade, com respeito, não importando as diferenças sociais, financeiras, educacionais, religiosas, etc.
Essa mãe está ensinando, através do exemplo, como a beneficência deve ser praticada, além da consideração, do respeito, que todo ser humano tem o direito de receber, visto sermos todos criados por um Pai Perfeito em Sabedoria, Amor e Justiça.
Esse texto de Kardec é importante também, em nossos dias, mesmo em locais onde não se precisa de recursos materiais, mas que podem existir outros infortúnios sociais e morais, que poderiam ser abrandados ou resolvidos, se houvesse um relacionamento maior de amizade entre vizinhos, parentes, conhecidos, colegas de trabalho ou um maior interesse em auxiliar o outro.
Prestar auxiliar aos infortúnios ocultos, restritos a um pequeno número de conhecedores, é dever do cristão, que pretende ser discípulo de Jesus.
Auxiliar uns aos outros, pelo prazer de fazer o bem, de forma natural, espontânea, fraterna, fazendo o outro sentir-se merecedor do auxílio, é seguir o ensino de Jesus, que manda fazer o bem sem ostentação.
Questões para reflexão:
1 - Para fazer o bem, devemos esperar que o necessitado nos procure?
Não. Se quisermos praticar a verdadeira caridade, devemos socorrer nosso irmão em aflição, sem esperar que ele se humilhe, vindo até nós.
"Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência."
2 - Quais as características da caridade expostas no texto?
A humildade, que nos leva a fazer o bem; a espontaneidade; a discrição; o desinteresse; o amor ao próximo, enfim.
"Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens."
3 - Qual a melhor recompensa que podemos obter, praticando a verdadeira caridade?
A paz de nossa consciência, decorrente da certeza de que agimos conforme a lei de Deus.
"Ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e de sua consciência."
Conclusão do Estudo:
A verdadeira caridade vai em busca do infortúnio para minorá-lo e o faz com respeito e em silêncio.


 ****************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Fazer o bem sem ostentação
Texto de Apoio:
1. Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)
2. Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. - Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. - Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)
3. Em fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se não cresse no que diz.
Quantos há que só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito, aquele que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do seu orgulho.
Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.
E qual poderá ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo? Oh! Para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício deplorado é moeda falsa e sem valor.
A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: "Não saiba a mão esquerda o que dá a direita.”
Existem pessoas que, com a mesma intensidade com que disponibilizam seus préstimos, exigem reconhecimento e louvores. Esperam recompensa, em forma de elogios e afagos em seus egos. São aquelas a quem Jesus se referia. Os que fazem boas obras diante dos homens para serem vistos por eles. Fazem um favor e “tocam trombeta” para que todos vejam como são solícitos e prestativos. Desse modo, segundo Jesus, eles já receberam a sua recompensa. Para quem recebe um favor, às vezes, pouco importa se quem o fez quer aparecer ou não. Para quem tem fome não importa se quem deu um pedaço de pão fez isso por ostentação, para aparecer, para ser reconhecido. Um pedaço de pão é um pedaço de pão. Um pedaço de pão mata a fome. E o que ele precisava era matar a fome. Mas esse fazer bem esperando recompensa, esperando elogio e reconhecimento, não é um bem verdadeiro. Ele é uma ação transitória, quem o fez não o carrega consigo. O bem só é bem se não espera nada em troca. O bem só é bem quando é sincero. “Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.” Quando fazemos o bem, seja um favor, um serviço, um gesto, uma oração, devemos fazê-lo em segredo, de nós para nós, como algo íntimo e espontâneo. O Pai, que vê escondido, é a nossa consciência. Nossa consciência é a parte de Deus que nos cabe, é Deus que se manifesta através de cada um de nós. Nossa consciência está sempre observando, nada escapa a ela. O bem sem se exibir e sem ostentação, é um grande mérito. É um sinal indiscutível de fraternidade e amor de quem pratica algum ato de caridade para com o próximo. Faz-se necessário, portanto, que vigiemos nossas ações para que não venhamos a cair nesta vala comum daqueles que preferem mostrar à sua mão esquerda o que a direita fez. O ensinamento “que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita” caracteriza muito bem, a beneficência modesta. Mas se existe a beneficência modesta, há também a beneficência fingida, dissimulada. Aquele que deixa a mostra parte de suas ações para que possa ser reconhecido. O bem sem se exibir e sem ostentação, é um grande mérito. É um sinal indiscutível de fraternidade e amor de quem pratica algum ato de caridade para com o próximo. Faz-se necessário, portanto, que vigiemos nossas ações para que não venhamos a cair nesta vala comum daqueles que preferem mostrar à sua mão esquerda o que a direita fez. O ensinamento “que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita” caracteriza muito bem, a beneficência modesta. Mas se existe a beneficência modesta, há também a beneficência fingida, dissimulada. Aquele que deixa a mostra parte de suas ações para que possa ser reconhecido.
Fazer o bem sem ostentação tem um duplo mérito: além de ser caridade material é caridade moral, porque respeita os sentimentos de quem beneficiamos.  E o simples fato de respeitarmos esses sentimentos, não atingindo o amor próprio desse nosso irmão, protegendo sua dignidade prova a nossa superioridade moral. O mais importante de tudo isso e que realmente devemos levar em conta é que Deus é que nos dará a recompensa.  O sublime da verdadeira generosidade é quando nós, invertendo os papéis, encontramos um meio de parecer que somos nós os beneficiados, frente àquele a quem estendemos a nossa mão.
Questões para reflexão:
1 - Que significam as palavras de Jesus “não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita"?
Que devemos fazer o bem pela satisfação de auxiliar o irmão necessitado, e não como meio de chamar atenção sobre nós mesmos.
"Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas..."
"Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza, admiravelmente, a beneficência modesta."
2 - Por que Jesus afirma que os que alardeiam a caridade praticada já receberam sua recompensa?
Porque, quem assim age, o faz movido por orgulho e vaidade, a fim de merecer os elogios das pessoas. E, sendo esse o seu propósito, o reconhecimento já lhe basta, porque seu orgulho foi satisfeito.
"Quando deres esmolas, não trombeteeis".
"A prática do bem com ostentação é demonstração real de inferioridade moral."
3 - Como devemos agir para auxiliar o próximo?
Ajudando nosso irmão discretamente, em segredo; cuidando em ocultar nosso gesto e dando graças a Deus pela oportunidade, que nos concede, de praticar a caridade.
Na prática da caridade, o maior beneficiado não é quem a recebe, mas aquele que a pratica.
Conclusão do Estudo:
Fazer o bem é dever de todos nós. Portanto, não há razão para buscarmos aplausos para os nossos atos. O verdadeiro bem age em silêncio, com a aprovação agradecida do beneficiário, o agrado de Deus e a satisfação interior de quem o pratica.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
O duelo
Allan Kardec inseriu nesse capitulo seis itens sobre o tema; os de número 11, 12,13, 14, 15 e 16, ditados pelos Espíritos: Adolfo, bispo de Argel; Santo Agostinho; Um Espírito protetor, e Francisco Xavier, demonstrando a preocupação do Codificador e dos Espíritos sobre as práticas de duelos em épocas passadas.
O duelo é um combate entre duas pessoas, com armas iguais, que reúne um ofendido e um ofensor, motivadas, em geral, por ofensa, insulto à honra. Várias são as armas possíveis (espada, florete e pistola). Cada duelante podia ter um padrinho, que o assessorava. Cada duelo podia ter um juiz que fazia obedecer às regras tratadas previamente.
Se o duelo acabasse em morte de uma das duas pessoas, o sobrevivente não podia ser incriminado.
A prática do duelo não esta em conformidade com as Leis Naturais, por comportar dois tipos de atentado à vida: assassínio e suicídio. É um crime duplo.
Quando falamos sobre o duelo, a impressão que se tem é a de que estamos tratando de um assunto ultrapassado. Mas, se analisarmos bem, veremos que esta prática continua muito atuante sobre nós, simplesmente porque os sentimentos que o motivam são, na maioria das vezes, o orgulho e a vaidade; sentimentos dos quais ainda não conseguimos nos libertar.
É claro que nos dias atuais já não existe aquele duelo tradicional, como nos tempos passados, quando duelar era considerado uma coisa normal e o duelista nem era encarado como criminoso.
Geralmente, tudo começava com uma discussão, uma desinteligência qualquer, que fazia um indivíduo se sentir ofendido na sua honra e daí se partia para o desafio e, do desafio, partia-se para o confronto fatal.
O que é essa tal defesa da honra, senão uma inequívoca demonstração de orgulho e prepotência? Como um homem pode se achar no direito de tirar a vida de outro, mesmo com a desculpa de que dará, também ao outro a oportunidade de tirar a vida dele? Ora, essas vidas pertencem a Deus. Foi Ele que as criou. Portanto, só Deus tem o direito de tirá-las.
O que é o “ponto de honra”, afinal? Os Espíritos nos dizem, nas obras da Codificação Espírita, que é a mais clara manifestação das duas chagas que assolam a humanidade, ou seja, a vaidade e o orgulho. Dizem também que, quando os homens se tornarem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando, nem se deixando matar, que vão conseguir reparar os agravos recebidos.
Agora, continuamos nos duelando no nosso dia a dia: no recinto doméstico, no ambiente de trabalho; no empurra-empurra das filas; nas ultrapassagens arriscadas no trânsito; nas discussões acirradas por causa de futebol, religião, partido político e etc. Se continuamos nos duelando, onde está a nossa evolução moral?
Vamos continuar colocando nossos sentimentos inferiores à frente das nossas atitudes fraternalmente racionais? Quando aprenderemos a perdoar? A conviver pacificamente com os nossos semelhantes? A encarar os defeitos alheios como fraquezas – que também possuímos – e a sermos mais tolerantes para com o próximo?
Quando iremos entender que todos somos seres imperfeitos e que devemos nos ajudar neste processo de crescimento, em vez de ficarmos nos matando em duelos dissimulados?
Sem falar nas guerras, que representam o duelo entre nações e que são, na maioria das vezes, alicerçadas na ganância.
Hoje em dia, não temos mais aquele velho e tradicional duelo, mas realmente já o abolimos? Será que já nos libertamos do orgulho e da vaidade que nos impelem à prática de um outro tipo de duelo? Não matamos mais com espadas ou pistolas, mas será que não matamos ou não nos deixamos matar de outro modo? Tem gente que mata ou se deixa matar de raiva, de decepção, de tristeza, de angústia, de tédio, de solidão, de inconformismo… E por aí vai!
O homem com seus excessos, na busca de satisfazer suas necessidades com coisas supérfluas, pelo orgulho, tem alterado sua caminhada gerando problemas e situações indesejadas para si, em virtude do seu livre-arbítrio.
Fica o convite  para refletirmos sobre tudo isso e lançarmos um desafio ao único duelo concebível: o duelo do homem novo – mais consciente e espiritualizado – que começa a surgir em nós, contra o homem velho – com o seu materialismo e as suas más inclinações – que precisa ser combatido diariamente em nossa intimidade.
 **********************************************


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
O ódio
10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. (Fénelon. Bordéus, 1861).
O autor escreve baseado na sua última existência, quando se esforçava por amar a todos, indistintamente, mas sofrera por causa das ações de outros, que o perseguiram, que o amor ao próximo “não endurece o coração para os maus procedimentos”. Amar a quem persegue e calunia, para o autor, foi a prova mais penosa, que ele considerou uma tortura.
Primeiramente, não devemos confundir ódio com raiva. Enquanto o ódio tem uma natureza constante e contínua, a raiva é uma manifestação intensa, como um estouro, mas, passageira, e rompe mais facilmente com os laços que a geraram.
O que é o ódio? O ódio é uma manifestação dos mais primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de amor-próprio.
Como o ódio se apresenta dentro de nós? Como um sentimento, uma emoção incontida, um impulso que, ao nos dominar, expressamos através de palavras ofensivas, quando contraímos o coração, cerramos os maxilares, fechamos os punhos e soltamos faíscas vibratórias de baixo padrão, sintonizados com as entidades malévolas, que assim podem nos envolver, instigando-nos até ao crime.
E até que limites pode o ódio nos levar? Nesses momentos, podemos ser levados a cometer os atos mais indignos de violência, de agressividade, causando dissensões e até mortes, contraindo, muitas vezes, as mais penosas dívidas em nossa existência.
Quais os motivos que nos levariam a odiar alguém? Em geral, os ódios são despertados pelas humilhações sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no afeto, na confiança ou quando ofendidos. Encontramos, igualmente, em muitas antipatias indecifráveis que possamos sentir por alguém, os ódios recônditos de outras existências, quase sempre frutos de nossas paixões.
Quais os sentimentos decorrentes do ódio? Junto ao ódio encontramos o rancor, que é a permanência dele, nas promessas feitas a nós mesmos de revide. A vingança é sua decorrência. A agressividade às vezes externa um estado íntimo também decorrente das nossas manifestações de ódio, rancor, de cólera. Invejas, cobiças, ciúmes, inconformações, ressentimentos podem gerar ódios.
É o ódio a ausência de amor? Amor e ódio são sentimentos opostos. Um pode dar lugar ao outro em frações de segundos, dentro de nossas reações íntimas. Muitos ódios refletem expressões de um amor ainda possessivo, em criaturas que foram preteridas nos seus afetos mais profundos. Os arrependimentos copiosos por males antes nutridos em ódios distantes são os primeiros lampejos de um amor despertado, fazendo finalmente vibrar as fibras sensíveis do coração, que assim quebra a casca endurecida que o envolve. Aquele que odeia está a reclamar direitos. Aquele que ama dá de si sem esperar recompensa.
O que fazer quando o ódio nos invade a alma? O primeiro passo é segurá-lo de todos os modos, não deixá-lo expor-se à vontade. Calemos a boca, contemos até dez ou até cem, caso seja preciso. Logo em seguida, procuremos um local onde possamos nos recolher: aí iremos nos acalmando e mentalmente trabalharemos para serenar nosso ânimo exaltado. Então, dominá-la. O espírita é concitado a isso ainda por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.
Como podemos combater o ódio? Perdoando aos que nos ofendem. E o nosso Divino Mestre já nos deu a fórmula: "não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete", ou seja, infinita e plenamente.
“Amai-vos uns aos outros e sereis felizes”, lembra-me a frase de Pedro, na sua primeira epístola, 4:8:”Acima de tudo, porém, tendes amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados”, condicionando a felicidade ao amor ao próximo, que liberta o homem de causar sofrimentos a si mesmo e a outros, e o liberta das consequências dos erros anteriores.
Quem assim entende e se sensibiliza é capaz de sentir amor até aos que agem, provocando indiferença, ódio e desprezo, visto compreendê-los como irmãos imperfeitos, como todos, mas em processo evolutivo, que merece consideração, respeito e até amor.
Cita o maior exemplo de amor ao próximo na Terra: JESUS, Espírito puro, apagando sua luz espiritual, vivendo em um mundo de expiações e de provas, convivendo com irmãos muito inferiores na escala evolutiva, mas amando-os como a irmãos perfectíveis, em desenvolvimento, sacrificando-se, para ensinar o caminho mais suave do progresso espiritual: o do amor ao próximo.
 “O sacrifício de amar os que vos ultrajam e perseguem é penoso, mas é isso, precisamente, o que vos torna superiores a eles. Se vós os odiásseis como eles vos odeiam, não valeríeis mais do que eles.”
O espiritismo explicando a lei de causa e efeito em tudo o que se faz, na colheita obrigatória da semeadura, dá a razão principal de evitar- se fazer o mal e da necessidade de fazer o bem, para que a felicidade tão almejada por todos seja uma realidade para cada um.
Assim, essas reações dependem do entendimento que se tem das leis divinas, trazidas por Jesus e mais esclarecidas pelo espiritismo.
Questões para reflexão:
1 - De onde provém o ódio?
Da condição inferior em que ainda se encontra o homem, cujo orgulho fala muito alto, impedindo-o de ver, naquele que lhe inspira ódio, alguém que necessita do seu perdão, compreensão e cooperação.
"O ódio é o gérmen do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho."
"Só a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas a um plano superior de compreensão..." (Emmanuel - O Consolador - questão 339).
2 - Quem é a principal vítima do ódio?
É aquele que alimenta este sentimento, visto que o caminho para se conquistar a felicidade passa, obrigatoriamente, pelo próximo, a quem devemos amar incondicionalmente, e não odiar.
"Amai-vos uns aos outros e sereis felizes."
3 - O que ocorre aos que violam a lei de amor?
Sofrerão a corrigenda necessária, através de duras provas restauradoras, porquanto nossa própria consciência nos cobra, nesta ou noutra vida, todos os que violam a lei de amor, uma vez que esta deve presidir todo o nosso relacionamento com o próximo.
A harmonia que preside as leis de Deus impõe que a violação de uma delas determine a observância e o cumprimento de outra, que leve à reparação da falta cometida. É assim que somos impulsionados ao progresso.
Conclusão do Estudo:

O ódio é fruto da condição inferior em que ainda se encontra o homem. Odiar é ferir a si próprio; é um mal que atinge diretamente quem odeia. Devemos vencê-lo dentro de nós, para desfrutarmos a verdadeira felicidade, cujo caminho é o exemplo de Jesus, contido no seu Evangelho.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
A Vingança
9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. É, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em consequência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Em fim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam. Ah! O covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.
Fora, pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão para perdoar. (Júlio Olivier. Paris, 1862).
Júlio Olivier, autor dessa mensagem, diz que “um dos últimos resíduos dos costumes bárbaros, que tendem a desaparecer dentre os homens”, é a vingança, institucionalizada pela ignorância das leis divinas e pela imperfeição intelectual e moral do homem, no seu orgulho e no seu egoísmo.
O homem, em seus primórdios, entendeu que deveria se proteger. Seu instinto de conservação aliou-se à razão e os mecanismos de defesa foram surgindo, até os dias de hoje. Com o desenvolvimento da razão, entretanto, a primazia de um grupo sobre outro reclamava certa dose de liderança, baseada na força e na violência, compatíveis com a brutalidade daquela época. Uma ação violenta deveria ser combatida com outra ação violenta no sentido de extinguir sua causa, levando à própria sobrevivência e de seu grupo, sua família.
Estamos ainda falando da época animalizada do ser humano. Entretanto, ao longo dos tempos, a "contrapartida" tomou novo vulto quando a palavra "honra" começa a ser empenhada. O orgulho e o egoísmo levam o homem a forçar por todos os meios a própria primazia, combatendo não pela sobrevivência, mas pela "defesa da honra", revestida sob as vestes do nacionalismo, da etnia, da supremacia social, etc.
A vingança se constitui em “um índice seguro do atraso dos homens que a ela se entregam e dos Espíritos que ainda podem inspirá-la”. O espírita, pelos conhecimentos que tem, jamais deve acolhê-la em seu coração e em sua mente, pois ela é, exatamente, o contrário do perdão, condição sine qua non do amar ao próximo como a si mesmo. Quem ama, perdoa sempre, e quem se exercita no perdão está desenvolvendo o amor ao próximo. Quando sentir, dentro de si, o desejo de vingar-se de alguém, o espírita não é perfeito, no sentimento negativo da raiva, do ódio, dê uma parada, busque olhar-se como se fosse outra pessoa, e ore: - Perdão, meus Deus, ajudai-me a libertar-me desses sentimentos primitivos e negativos que ainda trago dentro de mim. Não os quero, desejo aprender a perdoar agora e sempre.
O autor comenta que o sentimento da vingança está, quase sempre, acompanhado da falsidade e da vileza, assumindo, muitas vezes, por razões diversas, uma atitude hipócrita, dissimulando os maus sentimentos que sente e o estimulam ao revide.
A vingança é um sentimento tão negativo, que impede quem o sente de perceber, não só as necessidades do outro como as suas próprias necessidades espirituais de amar e ser amado, pois busca vingar-se até dos que amam, da maneira como podem amar, mas que já é o amor em desenvolvimento. O desejo de vingança leva o vingador a alegrar-se com os sofrimentos alheios e com sua participação em provocá-los, impedindo o desenvolvimento dos sentimentos da piedade, da compaixão, da abnegação, do amor.              É de fato, prova cabal do atraso espiritual de quem a sente e a alimenta. Necessita, pois, da compaixão, do perdão, das preces de todos os que assim a percebem, assim como Jesus ensinou e exemplificou.
O autor, que não sabemos quem é, escreve de maneira tão incisiva, tão determinada, sobre esse mau sentimento, que julgamos correto terminar com suas palavras: “Para traz, portanto, com esses costumes selvagens! Para traz com esses hábitos de outros tempos! Todo espírita que pretendesse ter, ainda hoje, o direito de vingar-se, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa o lema: Fora da caridade não há salvação. Mas, não, não me deterei em semelhante ideia, de que um membro da grande família espírita possa jamais ceder ao impulso da vingança, mas, pelo contrário, ao do perdão”.
Questões para reflexão:
1 - Por que a vingança é condenável?
Porque, sendo ela a manifestação de um coração ressentido pelo ódio e que guarda mágoa do semelhante, torna-se contrária à Lei de Deus, que é toda de amor.
Jesus nos aconselhou a perdoar setenta vezes sete vezes; prescreveu, também, que devemos amar o nosso inimigo. A vingança é a negação desses ensinamentos.
2 - Como devemos agir, se os sentimento de vingança for mais forte que o desejo de perdoar?
Devemos empreender todo o nosso esforço por desenvolver os sentimentos de fraternidade e tolerância, buscando no Evangelho e na prece o amparo e a inspiração para nos libertarmos do desejo de vingança.
A nobreza da alma, cuja principal característica é perdoar indistintamente as ofensas, é conquista de grande esforço.
3 - Qual a consequência da vingança para quem a pratica?
Aquele que se vinga, além de aumentar seus débitos para com a justiça divina, deixa escapara a oportunidade de se regenerar através do perdão ao agressor, com quem terá, inevitavelmente, de se reconciliar um dia.
O vingador é alguém que carrega um pesado fardo de dores, do qual só se libertará quando iniciar a prática do perdão.
4 - Como se apresenta em nós a vingança?
A vingança se manifesta no nosso íntimo como uma reação carregada de forte emoção, por uma ofensa a nós dirigida. São também as formas dos revides, em discussões acaloradas, quando trocamos grosserias, os propósitos violentos de vingar crimes cometidos a familiares. Em geral, são as emoções muito fortes do ódio que levam as criaturas a atos criminosos de vingança.
Conclusão do Estudo:
A vingança, fruto do atraso moral do homem, é condenável, pois consiste na manifestação de um coração rancoroso. Este sentimento, contrário à lei de Deus, deixará de existir na Terra quando o homem, usando os recursos do Evangelho e da prece, se esforçar por perdoar as ofensas recebidas.

Sejamos também nós os construtores da paz que vence a violência e do entendimento que vence o ódio no microcosmos que Deus nos legou à participação, começando do lar e se expandindo, à medida de nossa capacidade, a todos os corações.
********************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra. (Itens 7 e 8)
7. Aprendestes que foi dito; olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhe entregueis o manto; e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. Daí àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (Mateus, cap. V, vv. 38 a 42).
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra” produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei mosaica prescrevia; olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse; retribuí o mal com o bem. E disse ainda; Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra. Ao orgulhoso este ensino parecerá covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.
Dever-se-à, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio às agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente; lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.
Era comum no passado, mas, até hoje ouvimos, pessoas mencionarem que, sob aspecto algum, permitiam que um filho voltasse para casa com problemas entre seus colegas de escola. E diziam: se algum colega seu bater em você, devolva na mesma proporção. Aí está a configuração da Lei Mosaica: Olho por olho, dente por dente. Pobres infelizes, estas crianças, que estavam sendo mal orientadas!
Nos dias atuais, torna-se trabalhoso resistir às provocações alheias, tendo em vista o cultivo crescente de nossa personalidade e fatalmente de nosso orgulho. Somos assaltados diariamente com sugestões de falsa superioridade e ilusória vaidade que nos cegam o discernimento.
Veio o Cristo e disse: "Retribuí o mal com o bem”. Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, pois ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que vingar-se. E não compreende porque sua visão não ultrapassa o momento presente. É evidente que Jesus, ao dar esses conselhos, não condena a repressão legal dos agressores que deve ser considerada, pois ainda é necessária. Nem prescreveu que se deixasse o campo livre aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se não houver um freio aos agressores, bem depressa todos os bons serão suas vítimas. Jesus ao enunciar aquela máxima, não pretendeu interdizer toda defesa, mas condenar a vingança.
Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal. Que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho. Que maior ventura lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que praticar alguma. Que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. Aquele que deseja a vingança, geralmente se deixa enredar nas malhas da falsidade e da baixeza, porque quase nunca se vinga a céu aberto. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento oportuno para, sem perigo, feri-lo.
Esconde-se do outro espreitando-o, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. É esse tipo de comportamento que Jesus condena.
Somente uma sociedade civilizada compreenderá e aceitará essas verdades. E isso acontecerá com o progresso intelecto-moral dos povos. A vingança, portanto, é um dos últimos vestígios dos costumes bárbaros, que tende a desaparecer dentre os homens.
Assim, deixemos a justiça por conta das leis dos homens, com a certeza de que os crimes impunes, fatalmente serão colhidos nas malhas das Leis Divinas, que dão a cada um segundo suas obras.
Para isso, é preciso estarmos dispostos a assumir a crítica externa, de que não reagir seria sinal de covardia. Jesus nos disse que o reino dos céus, ou seja, a paz de consciência é dos mansos e pacíficos. A mansuetude pressupõe passividade e é essa confusão, muitas vezes, que faz com que acreditemos que "oferecer a outra face" significa covardia.
Façamos, pois, uma escolha pela nossa tranquilidade de consciência e pelo compromisso de auxiliarmos na obra do Mestre. Jesus aguarda a nossa contribuição para a construção do mundo novo, sem utopias, mas sim com a certeza plena da Lei do Progresso e a consequente melhoria da nossa condição de vida física e espiritual.
É preciso nos habituarmos às palavras doces, aos gestos nobres, a leveza dos sentimentos sublimes, reconstruindo assim nossa natureza real, a natureza divina.

Outrora, fizemos escolhas equivocadas que ainda respondem por condicionamentos agressivos na atualidade de nossas ações, contudo a opção pelo jugo leve e pelo amor do Cristo nos é lícita e necessária, como o único meio de permanecermos nos estado real de dignificação pessoal e coletiva.
*******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Os inimigos desencarnados (Itens 5 e 6)
5. Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos. Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom.
Sabe também que a morte apenas o livra da presença material do seu inimigo, pois que este o pode perseguir com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; que, assim, a vingança, que tome, falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem por efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma existência a outra. Cabia ao Espiritismo demonstrar, por meio da experiência e da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, que a expressão: extinguir o ódio com o sangue é radicalmente falsa, que a verdade é que o sangue alimenta o ódio, mesmo no além-túmulo. Cabia-lhe, portanto, apresentar uma razão de ser positiva e uma utilidade prática ao perdão e ao preceito do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.
Iniciando seus comentários sobre o tema, Allan Kardec lembra que os espíritas têm outros motivos de indulgência para com os inimigos. Um é a perfectibilidade do Espírito imortal, que faz com que a maldade não seja uma qualificação permanente do Espírito, encarnado ou desencarnado. Assim, o Espírito, criado simples e ignorante, com o destino de ser perfeito e feliz, traz em si próprio, a capacidade de tornar-se perfeito, através de um longo processo evolutivo, nas reencarnações em mundos materiais, com o fim de desenvolver todas as potencialidades divinas, com as quais foi criado. Tudo que existe no Espírito, que não condiz com a lei do Bem, é fruto da sua própria criação, na satisfação egoísta de ser inteligente e feliz, custe o que custar. Dessa forma, segundo suas escolhas, cria em si e ao redor de si, o mal, que na medida do desenvolvimento das suas qualificações nobres, que fazem parte da sua essência, vai sendo eliminado, até que ele atinja a qualificação de Espírito Puro, perfeito e feliz. Por isso, Kardec escreveu “que a maldade não é o estado permanente do homem, mas que decorre de uma imperfeição momentânea, e que da mesma maneira que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seu erros e se tornará bom.”
Outro motivo é que o espírita sabe que a morte só o livra da presença material do seu inimigo, que pode continuar, no plano espiritual, a persegui-lo com seu ódio.
Quando grande parte dos homens compreenderem essa verdade, a ideia da pena de morte para os inimigos individuais, da coletividade e entre nações, será completamente eliminada da Terra.
 “A vingança assassina não atinge o seu objetivo, mas, pelo contrário, tem por efeito, produzir maior irritação, que pode prosseguir de uma existência para outra.”
O Espiritismo veio demonstrar a lei da sobrevivência do Espírito, que carrega sempre consigo, quer esteja no plano material ou espiritual, sua inteligência, suas emoções e sentimentos. Assim, um inimigo morto é apenas um inimigo que não se vê, sem corpo físico, podendo continuar, em ações obsessivas, perturbando, dificultando e provocando sofrimentos. Este fato é um motivo importante para abolir a vingança da morte, pelo próprio interesse de quem a deseja para seu desafeto. Um motivo a mais para compreender e aceitar o “Amai os vossos inimigos” e o “Reconcilia-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele” “a fim de transformar um inimigo em amigo, ou, pelo menos, evitar represálias, evitando que o inimigo se torne em um instrumento da justiça de Deus, para punir aquele que não perdoou”. Assim, os inimigos desencarnados agem através das obsessões, que se constituem em provações mais ou menos difíceis, mas que contribuem, muitas vezes para despertar o obsedado para a realidade da vida espiritual, mudando toda sua maneira de ver o mundo e interpretar a vida.  Essas provas, fruto dos males causados pelo orgulho e egoísmo dos homens, nos diversos e diferentes relacionamentos entre si, no decorrer das inúmeras existências já vividas, fazem parte da lei divina, a fim de proporcionar aos Espíritos imortais, as oportunidades de reviverem situações passadas, para aprenderem a solucionar os problemas com resignação e confiança em Deus, através do perdão, da humildade, do amor, que então, encontram condições de crescerem nas mentes e nos corações dos homens. Assim, se devemos nos esforçar para ser indulgentes e benevolentes para com os inimigos, na Terra, precisamos, igualmente, assim proceder para com os inimigos desencarnados.
Allan Kardec lembra que nos tempos mais primitivos, ofereciam-se sacrifícios sangrentos para apaziguar os deuses infernais. Mais tarde foram chamados de demônios. Assim, deuses infernais, demônios ou Espíritos maus nada mais são do que as almas dos homens, que ainda não se libertaram dos seus instintos materiais, continuando a fazer mal, através dos processos obsessivos, atraídos e alimentados pelos maus sentimentos e, consequentemente, maus pensamentos e más ações dos homens. Por isso, Kardec escreve, com destaque: “não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício dos maus sentimentos, ou seja, pela caridade”. Caridade, amor em ação, para com todos, irá impedi-los de fazer o mal, mas também, induzi-los ao bem, contribuindo para a sua libertação espiritual. O bom exemplo contagia encarnados e desencarnados.
“É assim que a máxima: Amai os vossos inimigos, não fica circunscrita ao círculo estreito da Terra e da vida presente, mas integra-se na grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.”
Questões para reflexão:
1 - Como devemos agir para evitar que malquerenças e inimizades perdurem depois da morte?
Observando o preceito de Jesus, de amar os nossos inimigos, procedendo para com eles com a mesma retidão que gostaríamos fosse usada conosco.
"Não há coração tão perverso que (...) não se mostre sensível ao bom proceder."
Mediante o bom procedimento pode-se fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua desencarnação.
2 - Que consequências nos traz alimentar o ódio contra outra pessoa?
O ódio que nutrimos pelo inimigo provoca neste um sentimento de igual intensidade contra nós, constituindo-se em instrumento de que Deus se utiliza para esclarecer aquele que não perdoou.
Devemos nos reconciliar o mais cedo possível com o nosso adversário, para que as discórdias não se perpetuem em existências futuras.
3 - Como libertar-se da ação nociva dos inimigos desencarnados?
Pela reforma íntima, à luz do Evangelho de Jesus, e através da prática do perdão e da caridade, em sua mais ampla acepção.
O Evangelho é abençoada escola de regeneração para todas as nossas faltas.
Essas atitudes, além de impedi-los de praticar o mal contra nós, os reconduzem ao caminho do bem.
Conclusão do estudo:

O ódio transpõe o túmulo. O inimigo desencarnado, portanto, é alguém que ofendemos em vidas passadas e hoje nos alcança para o necessário reajuste. No preceito de Jesus "Amai os vossos inimigos", encontramos o caminho para a reconciliação com o adversário.
******************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Retribuir o mal com bem
1. Aprendestes que foi dito: “Amarás o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos”. Eu, porém, vos digo: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos.  Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (Mateus, cap. V, vv. 43 a 47).
“Digo-vos que, se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus”. (Mateus, cap. V, v. 20).
2. Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam? Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei o bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus”. (Lucas, cap. VI, vv. 32 a 36).
Quem é nosso inimigo? O que é um inimigo nos dias de hoje?
R: alguém que nos quer mal ou que queremos mal, a quem desejamos uma “liçãozinha” porque nos fez mal, um colega de trabalho competitivo, um chefe que não contribui com o trabalho. Mas e o outro lado? Será que não fazemos mal a ninguém ou nossas decisões realmente fazem felizes a todos ao nosso redor? Será que não somos os “outros” inimigos do outro lado da história para alguém?
E o que podemos fazer em relação a tudo isto? É possível não ser amigo de ninguém? E Jesus, agradou a todos? Como ele nos ensinou a lidar com esta situação e que atitudes tomou frente àqueles que o consideraram inimigos?
Como vamos colocar em prática este pedido de Jesus, que nos pede a amar alguém que não temos afinidade, afeto, carinho...
O que então seria amar nossos inimigos?
Iniciando seus comentários sobre os textos evangélicos, Kardec escreve; “Se o amor do próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque essa virtude constitui uma das maiores vitórias conquistada sobre o egoísmo e o orgulho.”
Assim sendo, pode-se compreender o porquê da dificuldade dos homens, Espíritos em evolução, em entender, aceitar e praticar esse preceito da lei divina.
Kardec escreve baseado na realidade da situação espiritual do homem na Terra, que preciso é analisar esse amor aos inimigos, de forma mais condizente com as possibilidades atuais dos homens.
Diz que Jesus, o mais perfeito Espírito reencarnado na Terra, sabendo do tamanho da imperfeição humana, não pretendia que se amasse aos inimigos com a mesma ternura que se tem por uma pessoa querida, visto que a ternura pressupõe confiança total, que propicia um abrir-se, integralmente, ao outro, sem medo de ser censurado, sem receio de expor-se como se é, porque confia no amor do outro em relação a si próprio.
Esta diferença de sentimentos explica-se por uma lei da física, a da repulsão dos fluídos. O pensamento que traz em si coisas ruins dirige uma corrente de fluídos de impressão ruim. Os pensamentos que trazem coisas boas imprimem uma sensação agradável. Está aí a diferença de sensações de quando encontramos um amigo ou inimigo.
Sobre essa base de confiança é que a simpatia, a amizade, a ternura estabelecem os laços, crescendo nos relacionamentos diversos.
Como, então, sentir alegria em encontrar um inimigo, como se fora um amigo?
Lembra Kardec da lei física de assimilação e repulsão dos fluidos. Vivemos em um mundo de ondas e vibrações, irradiando-as e absorvendo-as ou repelindo-as. Assim, as irradiações semelhantes se atraem e as diferentes se repelem.
“O pensamento malévolo emite uma corrente fluídica que causa penosa impressão; o pensamento benévolo envolve-nos num eflúvio agradável. Daí a diferença de sensações que se experimenta quando da aproximação de um inimigo ou de um amigo. Amar aos inimigos não pode, pois, significar que não se deve fazer nenhuma diferença entre eles e seus amigos.”
Diz Kardec que “amar aos inimigos é não ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes a mão prestativa em caso de necessidade. É abster-se, por atos e palavras, de tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em tudo o mal com o bem, sem a intenção de humilhá-los. Todo aquele que assim fizer, cumpre as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos”.
Nessas explicações, vemos que para amar os inimigos não precisamos sentir vontade de abraçá-los, como sentimos aos a quem amamos. Mas, penso que, se tentarmos pôr em prática os sentimentos e atitudes do texto acima, vamos, em um futuro mais ou menos mesmo distante, sentir por eles a mesma ternura, que hoje sentimos pelos que mais amamos.
Kardec comenta também ser mais difícil entender essa máxima para quem somente aceita uma vida, do nascimento à morte. Para eles, seu inimigo é um mau caráter, que perturba seu viver, merecendo tudo de ruim que possa acontecer. “Para que perdoar-lhe? Quero mais que morra.” E assim por diante, considerando a morte o fim de tudo, inclusive do seu inimigo.
Para o espiritualista, e mais ainda para o espírita, tudo é diferente, uma vez que a visão espiritual lhe mostra que há um longo passado, responsável pelo presente, que por sua vez irá definir o futuro.
Compreendendo ser a Terra um mundo para Espíritos imperfeitos e rebeldes, ele busca entender as ações dos outros, tanto quanto deseja que os outros entendam as suas, procurando dominar seus maus sentimentos em relação a eles.
Entendendo que todos estamos em um processo evolutivo, cada qual cumprindo-o à sua maneira, de acordo com as necessidades e uso do livre-arbítrio de cada um, aproveitemos a existência atual e os momentos presentes para exercitar o perdão, a compreensão, a benevolência, para com todos, inclusive, para com as pessoas que sentem aversão por nós, não aceitando esse sentimento, mas procurando transformá-lo em amizade, retribuindo o mal com o bem.
Analisando tudo, sempre sob o ponto de vista da eternidade do Espírito imortal, aceitando as dificuldades como obstáculos a serem enfrentados e vencidos, não nos queixemos de quem nos faz o mal, visto que ele está, nesse momento, servindo, sem o saber e querer, de instrumento para nosso aprendizado e progresso, ao mesmo tempo em que está se prejudicando a si próprio, e irá receber através da lei de causa e efeito, as consequências da sua maldade.
Imaginando-nos no lugar do adversário, podemos perceber que, como ofendidos, estamos, talvez, recebendo o que já fizemos, enquanto o outro está provocando novos sofrimentos para si próprio. Por que queixarmo-nos, ou reagirmos da mesma forma, mantendo um sentimento de animosidade?
Se em lugar de lamentar as provas, agradecer a Deus por experimentá-las, “deve também agradecer a mão que lhe oferece a ocasião de mostrar a sua paciência e a sua resignação. Esse pensamento o dispõe, naturalmente, ao perdão. Ele sente, aliás, que quanto mais generoso for, mais se engrandece aos próprios olhos e mais longe se encontra do alcance dos dardos do seu inimigo.”
Adquirindo o hábito de tudo analisar sob o ponto de vista da eternidade do Espírito, o homem se coloca acima da humanidade material, no plano moral, tendo uma visão muito maior e mais profunda da finalidade do viver na Terra, sabendo, com mais facilidade, se dispor ao bem, ao amor, não mais considerando ninguém como seu inimigo.
Questões para reflexão:
1. Por que não há mérito em só amarmos os que nos amam?
Porque, quando amamos só os que nos amam, o fazemos por mero dever de retribuição, sem nenhum esforço de nossa parte. Consequentemente, não existe aí progresso algum.
Os malfeitores e criminosos também amam aqueles que os amam. Deus ama a todos nós, indistintamente, bons e maus.
2 - Qual deve ser, então o nosso comportamento no relacionamento diário com as pessoas que nos rodeiam?
Devemos trata a todos, inclusive aqueles com quem não nos afinamos, com a mesma dignidade e respeito que gostaríamos nos dispensassem; fazer aos outros todo o bem ao nosso alcance; e auxiliar sem esperar coisa alguma.
Jesus nos recomendou que amássemos o nosso próximo como a nós mesmos.
3 - De que forma podemos amar os nossos inimigos?
Não lhes guardando ódio, rancor ou desejo de vingança; perdoando-lhes o mal que nos causem, experimentando júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; enfim, retribuindo-lhe sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar.
Amar os inimigos não é dedicar-lhes extrema afeição, mas não lhes desejar nada que não quiséssemos para nós próprios.
Conclusão do Estudo:

Não existe mérito algum em só amar aqueles que nos amam, visto que os maus também fazem o mesmo. O verdadeiro mérito está em fazer o bem a quem nos faz o mal; em perdoar e amar os nossos inimigos; em fazer, enfim, o bem a todos, indistintamente, sem esperar retribuição alguma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário