O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI –
Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens de 8 a 11 – Instruções dos
Espíritos.
8. Se
alguém vos disser: “O Cristo está aqui”, não o procureis, mas, ao contrário,
ponde-vos em guarda, porque são numerosos os falsos profetas. Então não vedes
quando as folhas da figueira começam a embranquecer; não vedes os numerosos
rebeldes ansiando pela época da floração; e o Cristo não vos disse: “Conhece-se
a árvore pelos seus frutos”? Se, pois, os frutos são amargos, considerais a
árvore má; mas se são doces e saudáveis, dizeis: “Nada tão puro poderia sair de
um tronco mau”.
É
assim, meus irmãos, que deveis julgar: são as obras que devem ser examinadas.
Se os que se dizem revestidos do poder divino revelam todos os sinais de semelhante
missão, ou seja, se eles possuem, no mais alto grau, as virtudes cristãs e
eternas: a caridade, o amor, a
indulgência, a bondade que concilia todos os corações; e se, confirmando
as palavras, lhes juntam os atos; então podereis dizer: Estes são realmente os
enviados de Deus.
Mas
desconfiai das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus, que
pregam nas praças públicas, vestidos de longas vestes. Desconfiai dos que
pretendem estar na posse da exclusiva e única verdade!
Não,
não, o Cristo não está lá, porque aqueles que ele envia, para propagar a sua
santa doutrina e regenerar o povo, são sempre, a seu próprio exemplo, mansos e
humildes de coração, acima de tudo o mais; os que devem, por seus exemplos e
seus conselhos, salvar a humanidade, que corre para a perdição e se desvia por
caminhos tortuosos, serão, antes de tudo, inteiramente modestos e humildes.
Todo aquele que revela um átomo de orgulho, fugi dele como de uma lepra
contagiosa, que corrompe tudo o que toca. Lembrai-vos de que cada criatura traz
na fronte, mas sobretudo nos atos, a marca de sua grandeza ou de sua
decadência.
Avançai,
pois, meus queridos filhos, marchai sem vacilações, sem segundas intenções, na
bendita caminhada que empreendestes. Avançai, avançai sempre, sem nenhum temor,
e afastai corajosamente tudo o que poderia dificultar a vossa marcha para o
objetivo eterno. Viajores, não estareis mais do que um breve tempo nas trevas e
dores da prova, se vossos corações se deixarem levar por esta suave doutrina,
que vem revelar-vos as leis eternas, satisfazendo todas as aspirações da vossa
alma diante do infinito! Sim, desde já podereis corporificar esses silfos ligeiros,
que perpassam nos vossos sonhos, e que, tão efêmeros, só podiam deleitar o
vosso espírito, sem nada dizerem ao vosso coração. Agora, meus amigos, a morte
desapareceu, cedendo lugar ao anjo radioso que conheceis, o anjo do reencontro
e da reunião. Agora, vós que bem cumpristes a tarefa que o Criador vos deu,
nada mais tendes a temer da sua justiça, porque Ele é pai e perdoa sempre aos
seus filhos desgarrados, que clamam por misericórdia. Continuai, portanto,
avançai sem cessar! Que a vossa divisa seja a do progresso constante em todas
as coisas, até chegardes ao termo feliz em que vos esperem, afinal, todos aqueles
que vos precederam. (Luís. Bordéus, 1861).
9. Desconfiai
dos falsos profetas! Esta recomendação é útil em todos os tempos, mas,
sobretudo, nos momentos de transição, em que, como neste, se elabora uma
transformação da humanidade. Porque nesses momentos uma multidão de ambiciosos
e farsantes se arvoram em reformadores e messias. É contra esses impostores que
se deve estar em guarda, e o dever de todo homem honesto é desmascará-los(1).
Perguntareis, sem dúvida, como se pode conhecê-los, e eis aqui os seus sinais:
Não
se confia o comando de um exército senão a um general hábil e capaz de o
dirigir. Acreditais que Deus seja menos prudente que os homens? Ficai certos de
que Ele só confia missões importantes aos que sabe que são capazes de
cumpri-las, porque as grandes missões são pesados fardos, que esmagariam os
carregadores demasiado fracos. Como em todas as coisas, também nisto o mestre
deve saber mais do que o aluno. Para fazer avançar a humanidade, moral e
intelectualmente, são necessários homens superiores em inteligência e
moralidade! Eis por que são sempre Espíritos já bastante avançados, que fizeram
suas provas em outras existências, os que se encarnam para essas missões; pois
se não forem superiores ao meio em que devem agir, nada poderão fazer.
Assim
sendo, concluireis que o verdadeiro missionário de Deus deve provar que o é
pela sua superioridade, pela suas virtudes, pela sua grandeza, pelos resultados
e a influência moralizadora de suas obras. Tirai ainda esta outra consequência:
se ele estiver, pelo seu caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência,
abaixo do papel que se arroga, ou do personagem cujo nome utiliza, não passa de
um farsante de baixa classe, que não sabe sequer imitar o seu modelo.
Outra
consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros missionários de
Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que foram chamados, graças ao poder de seu
próprio gênio, secundados pelo poder oculto que os inspira e os dirige, à sua
revelia, e sem que o tivessem premeditado. Numa palavra: os verdadeiros
profetas se revelam pelos seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os
falsos profetas se apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros
são humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com
arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não serem
aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como apóstolos do
Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da humanidade, encontraram
pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas imposturas. Uma observação bem
simples, entretanto, bastaria para abrir os olhos aos mais cegos: se o Cristo
reencarnasse na Terra, o faria com todo o seu poder e todas as virtudes, a
menos que se admita, o que seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da
mesma maneira que se tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos
Deus, se tirarmos uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses
que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a questão.
Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e verificareis que lhes
faltam sobretudo as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade,
enquanto lhes sobram as que ele não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda
que neste momento existem, em diversos países, muitos pretensos cristos, como
há também numerosos e pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que
necessariamente não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos
exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles que
lhes dão ouvidos.
Desconfiai,
portanto, dos falsos profetas, sobretudo numa época de renovação, porque muitos
impostores se apresentarão como enviados de Deus. São os que buscam uma vaidosa
satisfação sobre a Terra, mas podeis estar certos de que uma terrível justiça
os espera! (Erasto. Paris, 1862).
10. Os
falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito
mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade,
semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade,
impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.
Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar
maior importâncias às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes
que os homens só pronunciam com respeito.
São
eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos que os levam isolar-se uns dos outros e a se olharem com
prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles
mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser. Cegos, portanto,
são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira.
Mas
há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles
dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente
racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do
bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que
um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de
realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e
ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras
noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso.
Por
outro lado, lembrai-vos de que, se a verdade nem sempre é apreciada pelos
indivíduos, sempre o é pelo bom-senso das massas, e isso também constitui um
critério. Se dois princípios se contradizem, tereis a medida do valor
intrínseco de ambos, observando qual deles encontra mais repercussão e
simpatia. Com efeito, seria ilógico admitir que uma doutrina cujo número de
adeptos diminui, seja mais verdadeira que outra, cujo número aumenta. Deus, querendo
que a verdade chegue a todos, não a confina num círculo restrito, mas a faz
surgir em diferentes lugares, a fim de que, por toda parte, a luz se apresente
ao lado das trevas.
Repeli
impiedosamente todos esses Espíritos que se manifestam como conselheiros
exclusivos, pregando a divisão e o isolamento. São quase sempre Espíritos
vaidosos e medíocres, que tentam impor-se a pessoas fracas e crédulas,
prodigalizando-lhes louvores exagerados, a fim de fasciná-las e dominá-las. São
geralmente, Espíritos sedentos de poder, que, tendo sido déspotas no lar ou na
vida pública, quando vivos, ainda querem vítimas para tiranizar, depois da
morte. Em geral, portanto, desconfiai das comunicações que se caracterizam pelo
misticismo e a extravagância, ou que prescrevem cerimônias e práticas
estranhas. Há sempre, nesses casos, um motivo legítimo de desconfiança.
Lembrai-vos,
ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é
comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que
possuem médiuns sérios, e não a este ou aquele, com exclusão dos outros.
Ninguém é médium perfeito, se estiver obsedado, e há obsessão evidente quando
um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado
que este pretenda ser. Em consequência, todo médium e todo grupo que se julguem
privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que,
além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se
indubitavelmente sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o
Espírito dominante se vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados,
devemos honrar e respeitar, não deixando que seja comprometido a todo instante.
É
incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a
observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar
o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o
controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a
elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos
principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos
Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e
astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos.
(Erasto, discípulo de São Paulo. Paris, 1862).
(Ver, na Introdução, o parágrafo II: Controle
universal do ensino dos Espíritos. E em O Livro dos Médiuns, o cap. XXIII, Da
obsessão).
11. Isto
diz o Senhor dos exércitos. Não queiras ouvir as palavras dos profetas, que vos
profetizam e vos enganam; falam as visões dos seus corações, não da boca do
Senhor. Dizem aqueles que me blasfemam: O Senhor o disse; vós tereis a paz; e a
todos aqueles que andam na corrupção do seu coração, disseram: Não virá sobre
vós mal. Mas qual deles assistiu ao conselho do Senhor, e viu e ouviu a sua
palavra? Quem considerou a sua palavra, e o ouviu? – Eu não enviava estes
profetas, e eles corriam; não lhes falava nada, e eles profetizavam. – Tenho
ouvido o que disseram os profetas, que em meu nome profetizaram a mentira, e
dizem: Sonhei, tenho sonhado. Até quando se achará isto no coração dos profetas
que vaticinam a mentira, e que profetizam as seduções do seu coração? – Pois se
te perguntar este povo, ou o profeta, ou o sacerdote, dizendo: Qual é o peso do
Senhor? Direis-lhes: Vós sois o peso, porque eu vos hei de arrojar, diz o
Senhor. (Jeremias, XXIII: 16-18; 25-26; 33)
É
sobre esta passagem do profeta Jeremias, que quero vos entreter, meus amigos.
Deus, falando pela sua boca, disse: “É a visão do seu coração que os faz
falar”. Essas palavras indicam claramente que, já naquela época, os charlatães
e os vaidosos abusavam do dom de profecia e o exploravam. Abusavam, portanto,
da fé simples e quase cega do povo, predizendo por dinheiro coisas boas e
agradáveis. Essa espécie de embuste estava bastante generalizada entre os
judeus, e é fácil compreender que o pobre povo, em sua ignorância, estava
impossibilitado de distinguir os bons dos maus, e era sempre mais ou menos
enganado pelos impostores ou fanáticos que se diziam profetas. Nada é mais
significativo do que estas palavras: “Eu não enviava estes profetas, e eles
corriam; não lhes falava nada, e eles profetizavam”. Mais adiante, encontramos:
“Tenho ouvido o que disseram os profetas que em meu nome profetizam a mentira,
dizendo: sonhei, tenho sonhado”. Indicava, assim, um dos meios então empregados
para explorar a confiança do povo. A multidão, sempre crédula, não pensava em
lhes contestar a veracidade dos sonhos ou das visões, porque achava tudo muito
natural e convidava sempre os profetas a falarem.
Depois
das palavras do profeta, ouvi os sábios conselhos do apóstolo São João, quando
diz: “Não creias em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de
Deus”. Porque, entre os invisíveis, há também os que se comprazem em enganar,
quando encontram oportunidade. Os enganados são, bem entendido, os médiuns que
não tomam as necessárias precauções. Temos nisto, sem dúvida, um dos maiores
escolhos, contra o qual muitos se chocam, sobretudo quando são novatos no
Espiritismo. É uma prova, de que não podem triunfar senão com muita prudência.
Aprendei, pois, antes de tudo, a distinguir os bons dos maus Espíritos, para
não vos tornardes vós mesmos em falsos profetas. (Luoz, Espírito Protetor. Carisruhe,
1861).
Guardai-vos dos falsos profetas
que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos
rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Podem colher-se uvas nos
espinheiros ou figos nas sarças? Assim, toda árvore boa produz bons frutos e
toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir frutos maus
e uma árvore má não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bons
frutos será cortada e lançada ao fogo. Conhecê-lo-eis, pois, pelos seus frutos.
(Mateus, cap. VII, vv. 15 a 20.)
Cuidado. Muito cuidado. Estejamos
atentos. Não nos deixemos enganar. Jesus está dizendo a seus discípulos e a
todos nós para sermos espertos e não cairmos na lábia dos falsos profetas. Como
eles grassam por aí! Pelo visto, desde que o mundo é mundo, as pessoas se
iludem com facilidade. Daí a importância de tal advertência. É preciso
prudência.
À primeira vista, temos a
impressão que o Cristo se refere somente aos falsos profetas religiosos, que
infelizmente aparecem aos montes. Podemos, no entanto, ir mais fundo no
ensinamento e percebermos falsos profetas em várias situações. Mas vamos nos
ater primeiramente ao aspecto religioso do ensinamento e tendo sempre em mente
que toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. Por
isso, se a árvore é má, de lá não sairão pêssegos carnudos ou maçãs suculentas,
embora muita gente iludida viva cutucando os galhos da árvore má com um bambu,
na esperança de que caia uma fruta saborosa.
É sabido que líderes evangélicos
aproveitam a boa-fé e a credulidade alheias para amealhar fortunas. Tais
líderes evangélicos, no entanto, torcem os ensinamentos do Cristo e os utilizam
para semearem a discórdia e iludirem pessoas desavisadas. Também é de suma
importância para todos nós, que nos candidatamos a ser verdadeiros cristãos,
observar: "Tende cuidado para que alguém não vos seduza; porque muitos
virão em meu nome, dizendo: 'Eu sou o Cristo', e seduzirão a muitos".
Kardec
ensina-nos que são chamados profetas os que possuem "o dom de adivinhar o
futuro". Nesse caso, explica-nos ele, "profecia e predição" são
palavras sinônimas. Contudo, pode-se ser chamada de profeta aquela pessoa que,
mesmo sem predizer o futuro, tem a missão divina de "instruir os homens e
de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual". Nos
itens 8 a 11, os Espíritos Luís, Erasto (discípulo de Paulo) e Luiz
transmitem-nos belíssimos esclarecimentos em suas mensagens intituladas,
respectivamente, Os falsos profetas; Caracteres do verdadeiro profeta; Os
falsos profetas da erraticidade; e Jeremias e os falsos profetas.
Os falsos profetas não existem
apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os
Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e
retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus
sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.
Esses falsos profetas, para
melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importância às suas
teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam
com respeito. São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos,
que os levam a isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria
isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais
completo desmentido ao que dizem ser.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI –
Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 6 e 7 – Não creais em todos os
Espíritos.
6. Meus
bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas não acrediteis em todos
os Espíritos provai se os Espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas se
têm levantado no mundo. (João, 1ª. Epístola, 4:1).
Do livro “Para rir
e refletir”, retiramos uma passagem para ilustrar este estudo.
Circulava pela
cidade a notícia de que um homem recebia mensagens do Além, via gravador. Voz clara, nítida, perfeita, à
distância dos precários registros da transcomunicação, que pedem ouvidos
altamente treinados para distinguir a voz celeste dos chiados terrestres,
produzidos por estática, como uma emissora de rádio mal sintonizada. O
intermediário das mensagens, que supostamente oferecia recursos fluídicos para
a gravação de além-túmulo, no exercício de uma mediunidade de efeitos físicos,
despertava interesse de muita gente. Isso não só pelo inusitado daquele
intercâmbio, mas particularmente pelo fato de que as mensagens eram de caráter
apocalíptico. Falavam de um final dos tempos, convocando as pessoas ao
arrependimento para não serem contempladas com degredo infernal. Estivemos lá,
um companheiro e eu. Fomos gentilmente recebidos pelo médium. Ele nos informou
que as mensagens eram recebidas em plena madrugada, quando ligava o gravador,
sem o microfone, de forma a que não houvesse a interferência do som ambiente. Posto
a funcionar o aparelho, ouvimos a mensagem mais recente, longa, enfática,
incisiva, ameaçadora, à maneira dos profetas bíblicos. Alguns detalhes nos
chamaram a atenção:
A vacuidade do
conteúdo, repleto de lugares-comuns sobre o final dos tempos, ideias mal
arrumadas. Falava muito e não dizia nada. O pior era a voz do comunicante,
muito semelhante à do médium, sugerindo mistificação. O golpe de misericórdia
ocorreu em dado momento, em que surgiu na gravação insistente latido de um cão.
Imediatamente o médium justificou:
– É o cachorro
do mentor, que sempre o acompanha e não perde a oportunidade de mandar uma
mensagem.
Nessa altura, eu
e meu companheiro nos entreolhamos, mordendo a boca para impedir o riso que
insistia em marcar presença.
Ainda bem que
esse sábio animal utilizou a transcomunicação instrumental para dar sinal de
vida. Se optasse pela manifestação psicofônica, teríamos médiuns exercitando
latidos em plena reunião mediúnica.
Em O Livro dos
Médiuns, encontramos uma recomendação: É preferível rejeitar dez verdades a
aceitar uma mentira. Toda mensagem que vier de ordem espiritual, devemos passá-la
pelo crivo da lógica e da razão. Analisar seu conteúdo, com que finalidade ela
foi emitida, e, também, investigar o Espírito comunicante, para evitar
possíveis fraudes. Espíritos se comunicando, sempre houve. Resta saber se esse
Espírito é do bem.
O pior é que,
por mais grosseira seja a mistificação, sempre atrairá incautos. Jamais deixará
de produzir dividendos investir na ingenuidade humana.
Certamente
médiuns desse tipo, e com esse tipo de intercâmbio, seriam muito bem recebidos
em centros espíritas distraídos do estudo e de uma orientação elementar de
Kardec: passar pelo crivo a razão não apenas o teor das mensagens recebidas,
mas, sobretudo, a sua autenticidade. Em grupos mediúnicos alheios ao estudo e
ao exercício da razão, basta o médium fechar os olhos e iniciar uma manifestação,
situando-se como intermediário de um guia, e sua palavra passa a ser lei,
embora traindo o mais elementar bom senso. Infelizmente, ainda há pessoas que
realizam fraudes e acabam degradando a imagem do Espiritismo. Só que a
verdadeira fé a tudo isso supera.
É preciso que
cada vez mais a Doutrina seja estudada e seus conceitos compreendidos, pois só
assim poderemos separar o que é verdadeiro do falso. Como já dizia Jesus:
"Desconfiai, portanto, dos falsos profetas", e João em sua primeira
epístola já afirmava: "Não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se
os espíritos são de Deus."
Comentário de Kardec:
7. Os
fenômenos espíritas, longe de confirmarem os falsos cristos e os falsos
profetas, como algumas pessoas gostam de dizer, vêm, ao contrário, dar-lhes o
golpe mortal. Não peçais ao Espiritismo milagres nem prodígios, pois ele
declara formalmente que não os produz. Assim como a Física, a Química, a
Astronomia e a Geologia vieram revelar as leis do mundo material, ele vem
revelar outras leis desconhecidas, aquelas que regem as relações entre o mundo
corporal e o mundo espiritual, e que, tanto quanto as leis científicas, são
leis da Natureza.
Ao
explicar uma certa ordem de fenômenos até então incompreendidos, o Espiritismo
destrói o que ainda permanecia sob o domínio do maravilhoso. Aqueles que
estivessem tentados a explorar esses fenômenos em seu proveito, fazendo-se
passar por messias de Deus, não poderiam abusar por muito tempo da credulidade,
e logo seriam desmascarados. Aliás, como já ficou dito, só esses fenômenos por
si mesmos nada provam: a missão se prova por efeitos morais que nem todos podem
produzir. Eis um dos resultados do desenvolvimento da Ciência Espírita;
pesquisando a causa de certos fenômenos, ela levanta o véu de muitos mistérios.
Aqueles que preferem a obscuridade à luz são os únicos interessados em
combatê-la; mas a verdade é como o sol: dissipa os nevoeiros mais densos.
O
Espiritismo vem revelar uma outra categoria bem mais perigosa de falsos cristos
e de falsos profetas, que se encontram não entre os homens, mas entre os
desencarnados: é a dos Espíritos embusteiros, hipócritas, orgulhosos e falsos
sábios, que, da Terra, passaram para a erraticidade, e se disfarçam com nomes
veneráveis para procurar, disfarçados pela máscara com que se cobrem, tornar
suas ideias aceitáveis, frequentemente as mais extravagantes e absurdas. Antes
que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles atuavam com menos
ostentação, menos pompa, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente,
auditiva ou de incorporação.
O
número daqueles que, em diversas épocas, mas principalmente nesses últimos
tempos, se apresentaram como uns dos antigos profetas, como o Cristo, como
Maria, mãe do Cristo, e até mesmo como Deus, é considerável. O apóstolo João
nos previne contra eles quando diz: Meus bem-amados, não acrediteis em todos os
Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus; pois muitos falsos profetas
têm surgido no mundo.
O
Espiritismo dá os meios de pô-los à prova ao indicar as características pelas
quais se reconhecem os bons Espíritos, características sempre morais e nunca
materiais. É para distinguir entre os bons e os maus Espíritos que podem,
sobretudo, se aplicar estas palavras de Jesus: Reconhece-se a qualidade da
árvore pelo seu fruto; uma boa árvore não pode produzir maus frutos, e uma
árvore má não pode produzir bons frutos. Julgam-se os Espíritos pela qualidade
de suas obras, como a uma árvore pela qualidade de seus frutos.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI –
Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 4 e 5 – Missão dos profetas e
Prodígios dos falsos profetas.
4. Atribui-se geralmente aos profetas o dom de revelar o futuro, de maneira
que as palavras profecia e predição se tornaram sinônimas. No sentido
evangélico, a palavra profeta tem uma significação mais ampla, aplicando-se a
todo enviado a Deus, com a missão de instruir os homens e de lhes revelar as
coisas ocultas, os mistérios da vida espiritual. Um homem pode, portanto, ser
profeta, sem fazer predições. Essa era a ideia dos judeus, no tempo de Jesus.
Eis porque, ao ser levado perante o sumo sacerdote Caifás, os Escribas e os Anciãos,
que estavam ali reunidos, lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos e bofetadas,
dizendo: “Cristo, profetiza, e dize quem foi que te bateu”. Houve profetas,
entretanto, que tiveram a presciência do futuro, seja por intuição ou por
revelação providencial, a fim de transmitirem advertências aos homens. Como
essas predições se realizaram, o dom de predizer o futuro foi considerado como
um dos atributos da qualidade de profeta.
Quando falamos a palavra profeta, logo, nos
lembramos do tempo de Moisés, em que os profetas eram dotados de mediunidade
ostensiva, visto trazerem mensagens provindas do Plano Espiritual. Moisés,
também possuidor dessa faculdade, condenava o seu mau uso, como a exigência de
respostas dos Espíritos para coisas fúteis, mas desejava que todos pudessem ter
um contato saudável com o mundo espiritual. Essa possibilidade de interação
entre os planos (material e espiritual) havia sido prevista também por um
profeta, Joel, e relembrada por Simão Pedro, discípulo de Jesus, e que foi, de
fato, observada quando da ocorrência, em nível mundial, de fenômenos mediúnicos,
cujo estudo sistemático e científico, feito por Kardec, deu origem à Doutrina
Espírita.
5. “Porque se levantarão falsos cristos e
falsos profetas, que farão prodígios e sinais espantosos, para enganarem até
mesmo os escolhidos”. Essas palavras dão o verdadeiro sentido da palavra
prodígio. Na acepção teológica, os prodígios e os milagres são fenômenos
excepcionais, que escapam às leis da natureza. Estas leis, tendo sido
estabelecidas exclusivamente por Deus, não há dúvida que podem ser derrogadas
por Ele, quando lhe aprouver. O simples bom-senso nos diz porém, que Ele não
pode haver conferido a seres inferiores e perversos um poder igual ao seu, e
menos ainda o direito de desfazerem o que Ele fez. Jesus não podia consagrar
esse princípio. Se acreditarmos, portanto, segundo o sentido que se atribui
àquelas palavras, que o Espírito do Mal tem o poder de fazer tais prodígios,
que até mesmo os escolhidos seriam enganados, disso resultaria que, podendo ele
fazer o mesmo que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégios
exclusivos dos enviados de Deus, e por isso nada provam, desde que, nada
distingue os milagres dos santos dos milagres dos demônios. É pois necessário
buscarmos um sentido mais racional para aquelas palavras.
Aos olhos do povo, todo fenômeno cuja causa
é desconhecida passa por sobrenatural, maravilhoso e miraculoso. Conhecia a
causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário que pareça, não é
mais do que a aplicação de uma determinada lei da natureza. É assim que a área
dos fatos sobrenaturais se restringe, à medida que se amplia a das leis
científicas. Desde todos os tempos, certos homens exploram, em proveito de sua
ambição, de seus interesses e de seu desejo de dominação, certos conhecimentos
que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder supostamente sobre
humano ou de uma pretensa missão divina.
São esses os falsos cristos e os falsos
profetas. A difusão dos conhecimentos vem desacreditá-los, de maneira que o seu
número diminui, à medida que os homens se esclarecem. O fato de operarem aquilo
que, aos olhos de algumas pessoas, parece prodígio não é, portanto, nenhum
sinal de missão divina. Esses prodígios podem resultar de conhecimentos que
qualquer um pode adquirir, ou de faculdades orgânicas especiais, que tanto o
mais indigno como o mais digno podem possuir. O verdadeiro profeta se reconhece
por características mais sérias, exclusivamente de ordem moral.
Esta frase de
Kardec: “O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias,
exclusivamente de ordem moral”, é a chave para podermos compreender esse
estudo.
A história da
humanidade conheceu vários enganadores, que se passaram por prodigiosos e, ao
longo do tempo, se valeram de falsos poderes e artimanhas, utilizando dons que
mais impressionavam os olhos, sem acolherem a alma. Dessa forma, esses falsos
líderes sustentavam poderes e influências sobre as comunidades. Para
reconhecê-los é preciso estar atento, ter sempre a prudência como uma boa
conselheira. Além da prudência é preciso estudar, é preciso saber, é preciso
buscar. Além da ciência do corpo e da mente, é preciso estudar a ciência do
espírito. Se a ciência convencional desvenda os enigmas da matéria, o estudo da
Doutrina Espírita nos permite ampliar a compreensão da vida além da morte. A
medida que se estuda e se compreende o funcionamento dos corpos, buscando
entender a dinâmica fisiológica, a medida que se reconhece as propriedades da
matéria, identificando seus vários estados e, finalmente, quando se desvendam
os enigmas do psiquismo humano, inserido na imensa Casa Mental, o homem
principia a identificar algumas das leis que regem a vida no seu real aspecto. Contudo,
a ciência convencional já parece despertar para a realidade do espírito, e
busca explicações para compreender a realidade de uma outra vida, que se
prolonga depois dessa vida. Com essas informações o homem compreende que o
milagre não existe, que os fatos reconhecidos como fenomenais são explicáveis
pelas leis da natureza. O prodígio desaparece para dar lugar à luz da razão e
da ciência. Todas as pessoas que realmente são portadores de faculdades
mediúnicas ostensivas trabalharam ou trabalham no anonimato. Agora, aquelas que
não possuem tais faculdades, apelam para a arte teatral. Tem sempre um paralítico
na cadeira de rodas que, a um comando do falso profeta, levanta, e sai
correndo.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XXI –
Haverá falsos Cristos e falsos Profetas – itens 1 a 3 – Conhece-se a árvore
pelo fruto.
INTRODUÇÃO:
Os livros nos
mostram que os falsos cristos e os falsos profetas sempre existiram, e que nós
os encontramos frequentemente em nossas vidas. E, sabe Deus, muitas vezes, nós
também nos tornamos um falso profeta. Não resistimos à tentação de dizer alguma
coisa, e essa alguma coisa não é, exatamente, o que diria um verdadeiro
profeta.
Aprofundando o
nosso raciocínio, nós vamos descobrir que muitos daqueles tidos como profetas
tinham que se preocupar com os costumes da época. E para não agredirem os tais
costumes, eles precisavam falar de modo meio velado, ocultando certas verdades,
porque os corações e as mentes daquela época não estavam preparados para ouvir
essas verdades.
Neste capítulo,
Kardec colocou as mensagens de alerta que Jesus deu às criaturas, para que elas
pudessem distinguir os bons profetas dos falsos profetas, recomendando para
isso certa cautela antes de seguirem os conselhos das pessoas, em geral,
porque, após a sua partida para o mundo espiritual, iriam surgir muitos falsos
profetas e falsos cristos, ou seja, criaturas que iriam usar o seu próprio nome
para procurar iludir os seus semelhantes. Muitos, especificamente de má-fé.
Outros por ignorância e um pouco de vaidade. E que a Humanidade, também
ignorante no saber e também vaidosa no ser, certamente teria dificuldade em
separar o joio do trigo.
CONHECESSE A ÁRVORE PELO FRUTO
ITEM 1.
A
árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é
má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem
figos nos espinheiros, nem cachos de uva nas sarças (matagais). O homem de bem
tira boas coisas do bom tesouro do seu coração e o mau tira-as más do mau
tesouro do seu coração; porquanto, a boca fala do que está cheio o coração.
(Lucas, cap.VI, vv.43 a 45).
Nesse trecho
evangélico, bem como no que o segue, Jesus faz uma comparação entre os frutos
de uma árvore com aquilo que sai da nossa boca. E o objetivo maior do Mestre,
ao proferir esses trechos evangélicos, era levar as criaturas a distinguirem os
verdadeiros cristãos dos falsos cristãos.
Podemos
entender, então, que o nosso coração é a árvore e as nossas palavras os frutos.
Assim, sendo, devemos pensar sempre positivamente, para que, pela nossa boca,
saiam, sempre, bons frutos, ou seja, boas palavras, exemplificadas pelas nossas
boas ações, pelos nossos atos de perdão, pela nossa resignação e pelo nosso
amor ao próximo.
Jesus disse:
“Pelos seus frutos os conhecereis”.
Inspirado nesta
frase, Emmanuel nos dá uma mensagem, que é a seguinte:
O Mundo atual,
em suas elevadas características de inteligência, reclama frutos para examinar
as sementes dos princípios.
O cristão, em
razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe os elementos da
providência divina, através da seiva, e converte-os em utilidades para as
criaturas.
Convém o esforço
de autoanálise, a fim de identificarmos a qualidade das próprias ações. Muitas palavras sonoras proporcionam
simplesmente a impressão daquela figueira condenada. É indispensável
conhecermos os frutos de nossa vida, de modo, a saber, se beneficiam os nossos
irmãos.
A vida terrestre
representa oportunidade vastíssima, cheia de portas e horizontes para a eterna
luz. Em seus círculos, pode o homem receber diariamente a seiva do Alto,
transformando-a em frutos de natureza divina.
Indiscutivelmente,
a atualidade reclama ensinos edificantes, mas nada compreenderá sem
demonstrações práticas, mesmo porque, desde a Antiguidade, considera a
sabedoria que a realização mais difícil do homem, na esfera carnal, é viver e
morrer fiel ao supremo bem.
Quando Emmanuel
nos fala que convém o esforço de autoanálise, a fim de identificarmos a qualidade
das nossas ações, dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos, podemos
entender que a autoanálise está ligada à busca do autoconhecimento, ou seja, do
conhecimento de nós mesmos. E, isto, é objeto da questão 919 de O Livro dos
Espíritos, na qual Kardec pergunta aos Espíritos: Qual o meio prático mais
eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do
mal? E a resposta foi curta: “Conhece-te a ti mesmo”. Kardec, então, insiste
com os Espíritos dizendo: conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a
dificuldade está, precisamente, em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio
de consegui-lo? Então, Santo Agostinho responde: “Fazei o que eu fazia, quando
vivi na Terra; ao fim do dia, interrogava à minha consciência, passava em
revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se
ninguém tivera motivo para queixar-se de mim. Foi assim que cheguei a me
conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma”.
O conhecimento
de nós mesmos é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, como podemos
julgar a nós mesmos? Não estaria aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as
nossas faltas e torna-las desculpável? Por exemplo: O avarento se considera
apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade.
Isto é muito real. Mas há um meio de verificarmos para não sermos iludidos:
Quando estivermos indecisos sobre o valor de uma de nossas ações, perguntaremos
a nós mesmos como a qualificaria, se praticada por outra pessoa. Se nós a
censurarmos, não poderemos considerar boa essa ação quando formos nós o seu
autor. Pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Ensina-nos
o Espírito Agostinho.
O
autoconhecimento é, portanto, um exame dos nossos próprios pensamentos e
sentimentos; é uma observação interior. E, mais, é a observação de como nós
exteriorizamos em palavras e atos os nossos pensamentos e sentimentos. Porque,
primeiro nós pensamos, depois falamos, e, por fim agimos. E a maneira como
falamos, o que dizemos, e o que fazemos, repercute nas nossas relações com os
nossos semelhantes. Conseguir isto é fácil? Lógico que não é. Para conseguirmos
temos que buscar aquela palavra chave: esforço. Sem esforço não há subida, não
há elevação na escalada espiritual. Todo aperfeiçoamento requer esforço. O
Cristo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo”. Então, compete a
nós fazer a nossa parte.
E o que é esse
supremo bem que Emmanuel nos fala? É tudo aquilo que resume o que é bom, o que
é belo, o que é justo e verdadeiro. É uma aspiração universal que está dentro
de todas as criaturas, independentemente do grau de evolução de cada uma. São
centelhas divinas.
O supremo bem,
que é o único refúgio para gozarmos a felicidade relativa, se manifesta através
do amor universal, que se desenvolve pelo nosso esforço. Esse supremo bem faz
parte das leis divinas. Portanto, temos que vivenciá-lo, como o Cristo nos
mostrou através do seu testemunho.
As palavras são
importantes para a comunicação, para o aprendizado. Agora, a exemplificação é
essencial, tanto que, Jesus nada escreveu, apenas vivenciou todos os seus
ensinamentos, indicando o caminho para nós. Daí Ele dizer: ”Quem quiser vir
após mim, que tome a sua cruz e siga-me”. E esse “tomar a sua cruz” representa
todas as nossas dificuldades, nas nossas provas e expiações.
ITEM 2.
Guardai-vos
dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de pele de ovelha e que por
dentro são lobos que roubam. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Podem colher-se
uvas nos espinheiros ou figos nos matagais? Assim, toda árvore boa produz bons
frutos e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir
frutos maus e uma árvore má não pode produzir frutos bons. Toda árvore que não
produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Conhecê-la-eis, pois, pelos
seus frutos. (Mateus, cap. VII, vv. 15 a 20).
No capítulo
anterior, há uma mensagem do Espírito de Verdade, na qual Ele diz que se
aproxima o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação
da Humanidade.
Então, num tempo
de transformações, de mudanças tão profundas, é claro que não poderiam faltar
pessoas oferecendo salvação e divulgando doutrinas de mentiras.
Quantas
criaturas, por estarem em contato constante com o Evangelho de Jesus, através
de estudos e pregações, se confundem, e pensam que já estão realizando tudo
aquilo que pregam e, muitas vezes, ao se iludirem, achando que já estão,
realmente, fazendo a reforma íntima, passam a ter atitudes estudadas: falam
mansamente, gesticulam com modéstia, para dar um ar de simplicidade. Mas, na
verdade, são lobos cobertos com peles de cordeiros. Pois, no cotidiano, na
relação dentro da família ou no ambiente de trabalho, muitas vezes, são pessoas
profundamente agressivas. Por isto, não estão produzindo bons frutos.
Nós já sabemos,
então, que o verdadeiro espírita, ou cristão, pois ambos são uma coisa só, se
conhece pela sua perseverança e pelas suas ações no bem. Da mesma forma,
podemos reconhecer as qualidades daqueles que pregam os ensinamentos de Jesus.
Se eles estão orientando de forma correta ou se estão usando uma forma
inadequada. Agora, isto não nos dá o direito de fazer críticas ácidas às
pessoas que não realizam o que pregam; não quer dizer que tenhamos que sair por
aí, identificando este ou aquele semelhante, como sendo bom ou mau cristão.
Porque, isto seria um julgamento que estaríamos fazendo e, quem sabe, depois a
condenação. O Mestre, sempre disse que não vinha julgar as coisas do mundo.
Portanto, se Ele não veio julgar as criaturas, muito menos nós, devemos
faze-lo. Assim, não devemos apontar falhas alheias. O máximo que devemos fazer
são avaliações, para que nos sirvam de parâmetro, para que não venhamos a cair
no mesmo erro do nosso próximo. Mas, nunca com o objetivo de crítica ou de
destruição. Porque, isto, não seria bom para nós, muito menos seria útil para o
nosso irmão que faliu. Estaríamos fugindo totalmente daquele crivo da caridade.
O julgamento que
fizermos do nosso semelhante não vai nos levar a sermos melhores. Muito pelo
contrário. Nós também possuímos pontos fracos, embora imaginemos já ter
superado alguns deles. Na realidade, ainda falimos, ainda cometemos enganos. E
esses equívocos se repetem justamente para mostrar a nossa fragilidade.
No processo de
crescimento, até atingirmos a sonhada perfeição relativa, nós iremos percorrer
o caminho da nossa evolução com erros e acertos. Quanto mais nos aprofundarmos
no conhecimento das leis divinas, evidentemente, cada vez mais, vamos agregar
elementos que nos fortaleçam, para falirmos cada vez menos.
ITEM 3.
Tende
cuidado para que alguém não vos seduza; porque muitos virão em meu nome,
dizendo: “Eu sou o Cristo”, e seduzirão a muitos.
Levantar-se-ão
muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas; e porque abundará a
iniquidade (Perversidade; Maldade; Injustiça), a caridade de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim se salvará.
Então,
se alguém vos disser: o Cristo está aqui, ou está ali, não acrediteis
absolutamente; porquanto falsos Cristos e falsos profetas se levantarão que
farão grandes prodígios e coisas de espantar, a ponto de seduzirem, se fosse
possível, os próprios escolhidos. (Mateus, cap. XXIV, vv. 4, 5, 11 a 13, 23 e 24;
Marcos, cap. XIII, vv. 5, 6, 21 e 22).
Neste item há
uma advertência dos evangelistas, para a necessidade de nós examinarmos
cuidadosamente tudo o que nos dizem aqueles que nós chamamos de profetas. Mas,
o que é ser um profeta?
Em todas as
épocas e localizações geográficas, sempre foi observada a presença de pessoas
bem mais amadurecidas do que as do restante das coletividades em que elas
viviam. Tais pessoas eram portadoras de diretrizes melhores de organização e
comportamento. Diretrizes essas, que o restante do grupo ia assimilando aos
poucos, em lento processo de educação.
No campo da
religião são chamados profetas, e transmitem o conhecimento e a vivência
divinos. Eles falam, instruem, mas, sobretudo, empregam a exemplificação
pessoal para transmitir suas lições. Um enviado de Deus para instruir a
Humanidade. Por isto, Jesus foi confundido como tal pelos homens do Templo.
Compreensivelmente,
dada a nossa condição espiritual, ainda muito deficiente, sempre houve, além
dos verdadeiros missionários, criaturas equivocadas ou mal intencionadas, que
se apresentavam como líderes no campo espiritual, porém, nada evidenciando o
seu comportamento que pudesse justificar essa pretensão. Serviam-se de todos os
meios para prevalecer suas idéias, confundindo as almas simples e confiantes.
Valiam-se do nome de Deus para alcançar os seus objetivos. Daí o alerta para
nos acautelarmos contra os falsos apregoadores da verdade.
Para não sermos
enganados e, consequentemente, arrastados para os caminhos do erro, da mentira,
da hipocrisia e da perversão moral, nós devemos nos manter vigilantes e
atentos. E a maneira de o fazermos está expressa na recomendação do Mestre,
quando Ele nos aconselha a observarmos as obras e os frutos produzidos.
A Doutrina
Espírita nos habilita a analisar aquilo que nos é oferecido, em termos de
mensagem espiritual, inclusive, fora do campo da Doutrina. Comparando o
conteúdo com a pessoa que está veiculando a ideia.
No terreno
religioso, nos dias de hoje, também encontramos criaturas que poderiam ser consideradas
falsos profetas, quando estas, para manterem proveitos e privilégios materiais,
mantêm seus seguidores na cegueira espiritual. E quem poderia dar esse mau
exemplo? Aqueles que mais nos chamam a atenção: Os pregadores, os palestrantes,
os oradores, criaturas que trazem para nós os ensinamentos de Jesus, e os
médiuns, que através da palavra ou da escrita emitem mensagens de falsos
profetas do mundo invisível. Isto nós vamos estudar no item 10.
E fora do
terreno religiosos? Nos formadores de opinião que, de uma forma direta ou
indireta, influenciam as pessoas, e que são encontrados em todas as esferas da
atividade humana. E seja qual for o setor em que atuem, são sempre perigosos,
porque semeiam a confusão e as trevas no espírito de seus leitores ou ouvintes.
Hoje temos que tomar muito cuidado.
As palavras do
Mestre se aplicam de um modo geral, aos que, em todos os tempos, tomam a si o
encargo de conduzir os povos ao Senhor e os encaminham por falsas veredas.
É muito
importante que se entenda muito bem esta advertência: “Levantar-se-ão muitos
falsos profetas”, porque ainda encontramos profetas no sentido literal da
palavra, que fazem revelações quando necessárias, ou seja, quando o plano
espiritual permite que elas sejam divulgadas.
Vamos destacar
algumas questões para nossa reflexão:
1 – Qual o
entendimento moral que nos revela a expressão: “Conhece-se a árvore pelos
frutos?”
R – A árvore
simboliza todos nós; os frutos são os nossos atos, nossas obras. Assim, a
qualidade da nossa ação revela o grau do nosso adiantamento moral,
caracterizando os cristãos que somos.
2 – Que árvores
são essas que serão cortadas e lançadas ao fogo?
R – São as
falsas obras dos homens: as idéias ocas que, a pretexto de promover o bem
geral, geram desavenças, porque carregada de sentimentos de vingança e ódio;
são as promoções que beneficiam uns, em detrimento de outros; são árvores que
não foram plantadas por Deus e que fatalmente, serão destruídas.
3 – Quem são os
falsos profetas?
R – São assim
caracterizados os homens que, possuindo certos conhecimentos, abusam desse
saber, em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de
dominação, aproveitando-se da boa-fé de certas pessoas que acreditam serem eles
missionários divinos.
Daí nós
concluirmos que:
Precisamos
examinar sempre tudo o que nos dizem; passando pelo crivo da razão, da lógica,
todas as informações que nos são passadas. Pois, de outra forma não poderíamos
concluir com segurança se elas são falsas ou verdadeiras.
Então, nesse
período de transição de mundos, devemos ter um cuidado redobrado para que não
sejamos iludidos, por aqueles que se dizem profetas ou seguidores do Cristo, e,
que, na realidade, estão professando doutrinas fantasiosas. É nesse sentido que
os evangelistas nos alertam.
Reconhecem-se os
verdadeiros cristãos pelos seus atos. Estas não são belas palavras, nem
promessas ostensivas que caracterizam as pessoas de bem, mas sim, suas obras em
favor do bem comum, sustentada por valores exclusivamente morais.
Portanto, o
verdadeiro missionário de Jesus deve provar que o é pela sua superioridade, por
suas virtudes, pela sua grandeza, pelos resultados e pela influência
moralizadora de suas obras. Os verdadeiros propagadores da Doutrina do Cristo,
para a regeneração da Humanidade são: mansos e humildes, além de outras
virtudes. Ao contrário dos falsos profetas que são: dominadores, orgulhosos,
exclusivistas. Que exploram os conhecimentos que possuem em proveito de sua
ambição. Atribuindo suposto poder sobrenatural ou pretensa missão divina.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XX – Os
trabalhadores da última hora – itens 4 e 5 – Instruções dos Espíritos – Missão
dos espíritas e os Obreiros do Senhor.
ITEM 4:
Missão dos espíritas
Não escutais
já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o
conjunto das iniquidades terrenas? Ah! Bendizei o Senhor, vós que haveis posto
a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada
pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e
da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e
suportado suas provas terrestres.
Esse trecho da mensagem do Espírito Erasto, proferido
em tom de profecia, como a nos
comunicar a chegada do Juízo Final, de certo modo, nos alerta duramente sobre o
momento presente, previsto e profetizado para a realização da grande Obra, ou
seja, a transformação da humanidade.
Há quase dois mil anos,
Jesus, descortinando o futuro, asseverava a vinda do Consolador. É sobre isto
que o Espírito comunicante fala.
Então, no devido tempo,
cumprem-se as promessas do Cristo, e o Consolador surge, sob o amparo do
Espírito de Verdade, na forma da Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan
Kardec.
Surge como foi anunciado,
visando realizar a transformação da humanidade, pelo melhoramento das
criaturas.
O velho mundo aqui citado
representa o mundo das expiações e provas que, com suas mazelas, será reduzido
ao nada, aqui na Terra.
Continuando...
Não mais vos
assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros
adeptos do Espiritismo! Sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra
divina. É chagada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos
hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai.
Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não
quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à
abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a
mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o
sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde
tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os
reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Erasto diz para não nos
assustarmos. Os graves acontecimentos anunciados não surgirão mais dos
cataclismos, puramente materiais. Dilúvios, inundações, revoluções sociais.
Essa transformação se dará gradualmente, pouco a pouco. E para a concretização
dessa Obra, concorrerão as boas criaturas, movidas de propósitos
verdadeiramente cristãos, firmados nos princípios autênticos da caridade e da
fraternidade. Estas serão recebidas pelo Senhor, no reino dos céus, porque
cumpriram a sua tarefa como boas servidoras. As más criaturas, movidas pelos
interesses, retardarão a colheita dos bons frutos da marcha progressiva para a
moralização humana.
O que quer dizer, “As línguas
de fogo estão sobre as vossas cabeças”? João, no cap. XVI, item 13 de seu
Evangelho diz: Jesus, quando em reunião íntima alertou: “Mas, quando vier
aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade...”. Isto quer
dizer que já estamos sendo guiados para entender essa verdade.
Esse alerta do Espírito
quer dizer que, a cada dia que passa, nós vamos nos aproximando de uma passagem
estreita e, por isto, muito dolorosa, que já sabemos, nem todos conseguirão
passar. Seria uma espécie de funil, onde a parte larga representa o lugar onde
se faz a preparação para que a criatura se torne cada vez mais leve, menos
carregada de culpas. Já o lado fino representa a aproximação das coisas de Deus
e, de acordo com a nossa elevação espiritual, já não sentiremos as necessidades
de nos determos para escutar, ver, ou fazer coisas que não agregam valor.
Continuando...
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa
inferioridade em face dos mundos
disseminados pelo Infinito! Lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade.
Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra.
Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e
falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão
ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de
paz.
Que importam
as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para
lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras
Ide, homens,
que, grandes diante de Deus, mais ditosos do Tomé, credes sem fazerdes questão
de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido
obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz..
Marcha, pois,
avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos
incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do sol
nascente.
Então, nós verificamos que
a transformação do homem, a mudança da humanidade e, como consequência, a
modificação do planeta Terra será feita. E os escolhidos serão aqueles que
conseguirem vencer a si próprios e se desprenderem na direção dessa Obra.
Ide e pregai! Nos recomenda
Erasto. Então, é chegado o momento de divulgarmos a palavra de Jesus, e o
Espiritismo trouxe a palavra do Mestre revivida, mais bem explicada, mostrando
que o trabalho é feito com palavras e atos, para modificar os hábitos de uma
multidão, através do nosso exemplo. Só assim estaremos divulgando a palavra do
Cristo. E nós espíritas temos essa missão, essa responsabilidade, porque não
podemos dizer que não sabemos.
O tempo nos diz que já
teríamos tido tempo suficiente para sermos melhores; Que nós já poderíamos ter
perdido muitos dos nossos defeitos.
Continuando...
A fé é a virtude
que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores
montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os
vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para
removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão
conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só muito imperfeitamente
conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos
os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas;
aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e
levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que
exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente
entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e
fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa
consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas
aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a
vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra
espera; arai!
Ide e
agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! Entre os
chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho
e segui a verdade.
PERGUNTA –
Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os
sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?
RESPOSTA –
Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e
praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo;
reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu
desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus
princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem Sua lei, esses
são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que
falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e
sua ambição. Erasto, anjo da guarda do médium. (Paris, 1863).
Ide e pregai! Ide! Eis que
vos mando como cordeiros ao meio de lobos, falou-nos Jesus. Ide e pregai!
Repete aqui o Espírito Erasto. Então, nós espíritas, estamos encarregados de
levar a luz à humanidade que está doente; que sofre; que chora; que se
desespera.
O verdadeiro espírita,
convicto das realidades da vida que estuda, não deve ficar na posição passiva
dos que esperam e aguardam Jesus, em atitude suplicante.
Ide! Eis que vos mando foi
a ordem peremptória do Mestre. Cabe a nós respondermos: Presente! Estou pronto.
Não devemos temer a cruz e
o martírio. O Cristo e seus corajosos sucessores encontraram na cruz e no
martírio, as trincheiras de lutas, através da resistência construtiva contra o
mal. É necessária, imperiosa, nossa ida aos lobos. É por demais perigoso
espera-los. Portanto, é chegada a hora em que devemos sacrificar os nossos
hábitos, os nossos trabalhos, as nossas ocupações fúteis em favor da palavra
divina, quer na sociedade, na família, na casa espírita, na obra da caridade.
Vamos nos apresentar para o trabalho. Só, assim, conseguiremos vencer a inércia
e a timidez que nos impedem, muitas vezes, de participar ativamente na obra do
Senhor.
Por mais milênios que nos
faltem, nós estamos a caminho da perfeição relativa, porque, no cumprimento das
leis divinas, e na medida do nosso tempo, enxergamos alguns pontos em que,
conscientemente, nós agimos bem. E esses pontos, que representam luz, são
aqueles que, no futuro, irão iluminar o resto do caminho que nos falte.
Para encerrar este item,
vamos esclarecer o que Erasto quis dizer com “Mas Ele destruirá aqueles que
falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e
sua ambição”. Com certeza, Deus não se desmente; Deus não destrói o seu próprio
trabalho, a sua criação. Então, podemos deduzir, o que vai acontecer é que,
aquele que falsear a sua lei vai ter que refazer toda a sua caminhada. A
própria lei natural o encaminhará para repetir o caminho e fazê-lo de modo
certo.
ITEM 5:
Os obreiros do Senhor
Aproxima-se o
tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da
Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com
desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão
pagos pelo cêntuplo (cem vezes mais) do que tiverem esperado. Ditosos os que
hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a
fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor
lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor
silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse
dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões
(desarmonias), houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e
eles serão levados no turbilhão! Clamarão: “Graça! Graça!” o Senhor, porém,
lhes dirá: “Como implorais graças, vós que não tivestes piedade dos vossos
irmãos e que vos negastes a estender-lhes as mãos, que esmagastes o fraco, em
vez de o amparardes? Como suplicais graças, vós que buscastes a vossa
recompensa nos gozos da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebestes a
vossa recompensa, tal qual a quisestes. Nada mais vos cabe pedir; as
recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da
Terra”.
Deus procede,
neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo
aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário
dos servidores animosos (corajosos), pois aos que não recuarem diante de suas
tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da
regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão
os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus”. O Espírito de
Verdade. (Paris, 1862).
Já dissemos no item
anterior que, no devido tempo cumprir-se-ão as promessas de Jesus, e o
Consolador surgirá nos moldes da Doutrina dos Espíritos, para realizar a
transformação da Humanidade. É o fim do mundo velho, é o advento do mundo novo;
é uma fase que se extingue para dar lugar à outra que vem nascendo. É uma fase
do nosso mundo encerrando um ciclo de existência da Humanidade e abrindo outra
página em branco trazendo um novo programa de vida.
Mas, para realizar essa
missão, a Doutrina Espírita necessita de trabalhadores, e surgem no contexto,
aqueles que são os trabalhadores da última hora, os quais têm o direito de
receber o mesmo salário dos demais que os antecederam. Porém, o trabalhador só
faz jus ao salário quando ele pratica o Evangelho de Jesus a cada dia, e desde
que tenha boa vontade. Não basta só conhecer; não basta somente ler; não basta
só estudar. É indispensável ser bom. Dessa forma, este trabalhador, embora
esclarecido, continuar orgulhoso, egoísta, ambicioso, continuará com a
consciência em trevas, embora esteja em meio à luz. Será espírita apenas no
nome, de rótulo, tendo em vista que continua ligado aos prazeres materiais.
Os que conhecem o amor e
não têm amor; os que exigem a lealdade e a sinceridade, mas não as praticam; os
que clamam por indulgência e não são indulgentes; os que anunciam a humildade,
mas se elevam aos primeiros lugares. Todos esses, e ainda mais os perjuros
(jurar em falso), os indolentes e os
bajuladores, não poderão ter a cotação dos bons, dos humildes, dos que têm o
coração bondoso, dos que cultivam o amor pelo amor, dos que cultivam a fé pelo
seu valor progressivo, e trabalham pela verdade para terem liberdade.
Portanto, não devemos
abandonar a enxada e a charrua na obra do Senhor. Não devemos entender que só
têm missão os benfeitores da Humanidade.
Em O Livro dos Espíritos,
na questão 573, Kardec perguntou aos Espíritos: Em que consiste a missão dos
Espíritos encarnados? Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em
lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais, responderam-lhe
as entidades.
Sabendo do comportamento
humano, muitas vezes inútil, Kardec continua as perguntas, e, à pergunta 574,
interroga: Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente
inúteis? Há efetivamente pessoas que só para si mesmas vivem e que não sabem
tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão,
porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas
vezes, já neste mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida
lhes causa.
Ora, o Espírito de Verdade
nos alerta de que se aproxima o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas
para a transformação da Humanidade. Por isto, devemos nos preparar, para não
imitarmos as Virgens desprevenidas da parábola, e sermos apanhados de surpresa.
À guisa de conhecimento,
vamos reproduzir a parábola:
O Reino de Deus é comparado
a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco
dentre elas eram néscias (inaptas; ignorantes) e cinco prudentes. As néscias,
tomando as suas lâmpadas não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram
azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas. Tardando o noivo, todas
adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí a seu
encontro! Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam suas lâmpadas.
E disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas
lâmpadas estão se apagando! Porém as prudentes responderam: Talvez não haja
bastante para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós.
Enquanto foram compra-lo, veio o noivo; e as que estavam munidas entraram com
ele para as bodas e fechou-se a porta. Depois vieram as outras virgens e
disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos
digo que não vos conheço.
“Portanto, vigiai, porque não
sabeis nem o dia, nem a hora”. (Mateus, cap. XXV, vv. 1 a 13).
A instrução espiritual,
como já dissemos, é indispensável. Por isto, os que passam a vida ociosamente,
dela sugando o que tem de bom a lhes oferecer para satisfação de seus deleites,
que julgam obter o Reino de Deus, sem estudo, sem esforço, sem trabalho,
finalmente aqueles que não fazem provisão de conhecimentos que lhes aumente a
fé, estão sujeitos a verem apagadas as suas candeias, e a perderem a entrada às
bodas quando se virem forçados, de um momento para o outro, a fazer aquisição
de óleo, que representa os conhecimentos que fazem combustão em nossas almas,
acendendo em nossos corações a lâmpada sagrada da fé.
A prudência manda que o
homem estude, pesquise, examine, raciocine e compreenda.
Portanto, é importante que
todos nós compreendamos que somos mensageiros do Alto, que somos os
trabalhadores da última hora, e como tais não devemos permitir que nosso
espírito venha a desonrar-se, a degradar-se ao contato dos prazeres dos
sentidos; das tentações da avareza, que subtrai de alguns o gozo dos bens que
Deus deu a todos.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – De que modo podemos
entender a transformação da Humanidade, objeto do nosso estudo?
R – Como uma nova era que
chega, com grandes mudanças para as criaturas. É, antes de tudo, uma mudança
moral do que material.
2 – E qual o elemento
regenerador para esta transformação?
R – A renovação interior da
criatura, objetivando atingir um maior grau de perfeição relativa.
3 – Qual o caminho que
devemos seguir para conseguir essa renovação?
R – A Doutrina dos
Espíritos, como o Cristianismo, mostra à criatura esse caminho pela prática da
caridade autêntica e da fraternidade, que praticadas nos verdadeiros propósitos
cristãos, modificarão os hábitos equivocados de uma multidão.
Daí nós concluirmos que:
Pregar o Evangelho de Jesus
simplesmente por pregar, pouco vai adiantar, porque, essa pregação será feita
por palavras vazias. É preciso que a nossa palavra seja um verbo criador, que
vá impulsionar as criaturas ao trabalho,
à reforma íntima. Mas isto nós só conseguiremos se estivermos também realizando
esse mesmo trabalho. O exemplo arrasta, contagia, como diz Emmanuel.
Todos nós seremos avaliados
não pelo tempo de serviço e, sim, pela qualidade do serviço apresentado.
Devemos lembrar que a nossa avaliação sobre a qualidade desse serviço é sempre
branda. Porém, a avaliação dos Espíritos que são os avalistas da nossa
reencarnação é severa. Por isto, mãos à obra! O arado está pronto; a terra
adubada; devemos nos apresentar ao trabalho. E, ao nos apresentarmos para o
serviço com a indução de pensamentos constantes na direção do bem, podemos
dizer que já iniciamos o cumprimento da nossa missão.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XX – Os
trabalhadores da última hora – itens 1 a 3 -
Instruções dos Espíritos – Os últimos serão os primeiros.
Este é o único capítulo
desse Evangelho que não possui comentários de Allan Kardec: à transcrição da
passagem evangélica, a parábola dos trabalhadores da última hora, seguem-se
imediatamente as Instruções dos Espíritos, em número de quatro.
ITEM 1:
Eis a parábola, registrada
por Mateus:
O reino dos
céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada, a fim de
assalariar trabalhadores para a sua vinha. Tendo convencionado com os
trabalhadores que pagaria um denário a cada um por dia, mandou-os para a vinha.
Saiu de novo à terceira hora do dia e, vendo outros que se conservavam na praça
sem fazer coisa alguma, disse-lhes: ide também vós outros para a minha vinha e
vos pagarei o que for razoável. Eles foram. Saiu novamente à hora sexta e à
hora nona do dia e fez o mesmo. Saindo mais uma vez à hora undécima, encontrou
ainda outros que estavam desocupados, aos quais disse: Por que permaneceis aí o
dia inteiro sem trabalhar? É, disseram eles, que ninguém nos assalariou. Ele
então lhes disse: Ide vós também para a minha vinha.
Ao cair da
tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus negócios: chama os
trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até aos primeiros.
Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado, receberam um
denário cada um. Vindo a seu turno os que tinham sido encontrados em primeiro
lugar, julgaram que iam receber mais; porém, receberam apenas um denário cada
um. Recebendo-o, queixaram-se ao pai de família, dizendo: estes últimos
trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto quanto a nós que suportamos o peso
do dia e do calor.
Mas,
respondendo, disse o dono da vinha a um deles: meu amigo, não te causo dano
algum; não convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te
pertence e vai-te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. Não me é
então lícito fazer o que quero? Tens mau olho, porque sou bom?
Assim, os
últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são
os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, cap. XX, vv. 1 a 16).
Vamos começar a entender:
Jesus apresentou diversas
parábolas sobre o “reino de Deus” ou “o reino dos céus”, as quais sempre
começam informando que se trata de uma analogia (semelhança): o reino dos céus
é semelhante...
O Mestre nunca pretendeu
descrever aquele reino, pois sabia que isso não era possível, de vez que
significa um estado de integração com as leis divinas em que desaparecem: o
egoísmo, o apego, o medo e, compreensivelmente, só é conhecido por aqueles que
o vivenciam.
Das parábolas evangélicas,
algumas são de compreensão relativamente fácil, como a do Bom Samaritano ou a
do Semeador, que o próprio Cristo explicou aos discípulos. Outras, porém,
trazem dificuldades interpretativas consideráveis, exigindo mais meditação e
maior familiaridade com o conjunto da Doutrina Cristã, para que um sentido
razoável seja alcançado.
Essa parábola que vamos
estudar, seguramente, pertence à classe das “difíceis”, já que compara o reino
dos céus, onde tudo é justiça, com uma situação aparentemente injusta: a
remuneração igual a jornadas de trabalho desiguais.
Não obstante essa
dificuldade central, a parábola contém alguns pontos mais ou menos claros, com
os quais iniciaremos os nossos esforços interpretativos.
1 - O dono da vinha saiu de
sua casa para contratar trabalhadores para a mesma. Combina com eles pagar-lhes
um denário, que era moeda romana, de prata, com efígie do imperador, e tinha o
valor de um dracma, que era a importância que correspondia à diária de um
trabalhador.
2 – Aquele viticultor vai
de novo à praça um pouco antes das 9, 12, 15 e 17 horas e, a cada vez, encontra
novos candidatos ao serviço, aos quais também contrata, prometendo-lhes pagar o
que fosse justo.
3 – Terminada a jornada
diária, às 18 horas, ele chama o administrador e manda que seja efetuado o
pagamento dos trabalhadores, começando pelos últimos a chegar, que só
trabalharam 1 hora, e indo até aos primeiros, que realizaram uma jornada de 12
horas. O administrador, obedecendo por certo as instruções do Senhor, dá a
todos o mesmo pagamento prometido aos que haviam chegado primeiro, isto é, um
denário.
4 – Ao iniciar-se o
pagamento, os trabalhadores da primeira hora, vendo os que haviam chegado por
último receber um denário cada um, pensaram que iriam receber mais. Recebendo,
no entanto, também um denário, ficaram insatisfeitos, reclamando dessa
injustiça com o dono da vinha, sendo advertidos por este, que lhes indagou se
não lhe era lícito fazer o que quisesse com o seu dinheiro, perguntando, ainda,
a um deles: “Tens mau olho porque sou bom?”
Analisando a lição, à
primeira vista, o sentido geral do ensinamento dá a entender que Jesus ao
propor essa parábola estivesse consagrando a arbitrariedade e a injustiça, dado
o aparente conflito da idéia de um Deus justo com o modo pelo qual o dono da
vinha remunerou os trabalhadores. Logicamente, só temos duas opções para
eliminar o conflito: ou supomos que Jesus de fato pretendeu caracterizar Deus
como injusto, ou revemos nossa impressão inicial, de que o comportamento do
senhor da vinha foi justo. Ora, como a primeira alternativa é insustentável,
face ao conjunto dos ensinamentos cristãos, temos de desenvolver a segunda
opção. Para tanto, comecemos atentando para o seguinte:
a)– O dono da vinha pagou
os trabalhadores da primeira hora exatamente o valor combinado, de modo que não
os prejudicou;
b)– Quanto aos demais, a
parábola nada diz sobre acerto de salário, sugerindo-nos que os trabalhadores
aceitaram a oferta de trabalho sem pré-condições;
c)– O próprio senhor da
vinha justifica sua ação, dizendo que foi um ato de bondade: o denário que
mandou dar aos que foram convocados mais tarde seria, pois, parte da
remuneração pelas horas que trabalharam e parte de auxílio espontâneo.
Assim, quando consideramos
os casos separadamente vemos que em suas relações com cada grupo de obreiros o
senhor nada fez de errado.
É ponto pacífico que o pai
de família ou dono da vinha é Deus; que a vinha é o Universo; o trabalho na
vinha é a aquisição de virtudes para o enobrecimento da alma; as horas
trabalhadas são quaisquer períodos de tempo; o salário representa o conjunto de
condições que se associam ao trabalho no bem, ainda quando realizado por
aprendizes como nós: paz, esperança, progresso espiritual e apoio para a
superação de dificuldades; os trabalhadores, claro, somos nós.
Jesus termina a parábola
dizendo: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.
Então, vamos desdobrar esse desfecho da parábola para saber por que os
trabalhadores da última hora receberam o pagamento em primeiro lugar.
Nossas reflexões sobre esta
situação podem ser auxiliadas pelas considerações feitas pelo Espírito
Constantino, em sua instrução. Passemos, pois, a ela.
ITEM 2:
Os últimos serão os
primeiros
O texto do Espírito
comunicante compõe-se de quatro parágrafos, que gradativamente iremos apreciar.
Diz ele:
O obreiro da
última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja
conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu
retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Tem ele direito ao
salário, porque desde a alvorada esperava com impaciência aquele que por fim o
chamaria para o trabalho. Laborioso, apenas lhe faltava o labor.
Vemos que o Espírito, em
defesa do trabalhador da última hora, destaca alguns aspectos importantes que
ainda não havíamos considerado. Há uma condição para o recebimento do salário:
a disposição permanente para o trabalho. Aqueles que foram contratados à
terceira, sexta, nona e undécima hora tinham boa vontade, ansiavam por
trabalhar. Faltou-lhes, porém, a oportunidade. Quando o dono da vinha os
convocou, aceitaram apressadamente e, segundo se depreende, sem sequer inquirir
pela remuneração.
Continuando...
Se, porém, se
houvesse negado ao trabalho a qualquer hora do dia; se houvesse dito: “tenhamos
paciência, o repouso me é agradável; quando soar a última hora é que será tempo
de pensar no salário do dia; que necessidade tenho de me incomodar por um
patrão a quem não conheço e não estimo! Quanto mais tarde, melhor”; esse tal,
meus amigos, não teria tido o salário do obreiro, mas o da preguiça.
Aqui, o Espírito realça o
direito ao salário do trabalhador da última hora e coloca uma hipotética
situação de contraste.
A disposição positiva de
cada um dos obreiros pode, assim, ser entendida como fator que sensibilizou o
Senhor da vinha, induzindo-o ao gesto de generosidade.
Vale lembrar que no item
930 de O Livro dos Espíritos, ao perguntar acerca da situação das pessoas que
se vêm impossibilitadas de trabalhar por causas independentes de sua vontade,
Kardec obtém a observação de que “Numa sociedade organizada segundo a lei do
Cristo ninguém deve morrer de fome”. E, explicando o ponto, os Espíritos
acrescentam: “Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só
por culpa sua pode faltar o necessário”.
Ora, nessa perspectiva o
Senhor da parábola seria alguém que, mesmo naqueles tempos primitivos, teria
sido tocado pela dificuldade daqueles homens que impacientemente esperavam pela
oportunidade de ganhar seu pão, solidarizando-se com eles por meio, primeiro,
da oferta de trabalho e, depois, pelo auxílio pecuniário adicional.
Continuando...
Que dizer,
então, daquele que, em vez de apenas se conservar inativo, haja empregado as
horas destinadas ao labor do dia em praticar atos culposos; que haja blasfemado
de Deus, derramando o sangue de seus irmãos, lançado a perturbação nas
famílias, arruinado os que nele confiaram, abusado da inocência, que, enfim, se
haja cevado em todas as ignomínias da Humanidade? Que será desse? Bastar-lhe-á
dizer à última hora: Senhor, empreguei mal o meu tempo; toma-me até ao fim do
dia, para que eu execute um pouco, embora bem pouco, da minha tarefa, e dá-me o
salário do trabalhador de boa vontade? Não, não; o Senhor lhe dirá: ”Não tenho
presentemente trabalho para te dar; malbarataste o teu tempo; esqueceste o que
havias aprendido; já não sabes trabalhar na minha vinha. Recomeça, portanto, a
aprender e, quando te achares mais bem disposto, vem ter comigo e eu te
franquearei o meu vasto campo, onde poderás trabalhar a qualquer hora do dia.
Agora não se trata mais da
indolência do servo que despreza o trabalho, mas da ação destrutiva daquele
que, ao invés de ajudar, atrapalha a obra divina. A extensão dos comentários do
Espírito Constantino para esse tópico é particularmente relevante para nós,
Espíritos ligados à Terra. A observação dos fatos confirma a classificação de
Kardec na seção “Destinação da Terra – Causas das misérias humanas”, do capítulo
III de O Evangelho Segundo o Espiritismo, da Terra como planeta especialmente
destinado ao abrigo de Espíritos desajustados com as leis divinas.
Concentremos nossa atenção
nas palavras de Constantino. Como entender a reação atribuída ao Senhor, diante
do servo mau: “Não tenho presentemente trabalho para te dar...”? Tolher-nos-ia
Deus a oportunidade do trabalho depois que falimos? Sabemos, por outro lado,
que é somente pelo trabalho no bem que repararemos nossos erros, apagando suas
repercussões.
Observando mais atentamente
o texto, vemos que o Senhor não impede para sempre o servo de trabalhar em sua
vinha. Depois que reaprender a trabalhar construtivamente, ser-lhe-á novamente
franqueado o vasto campo de ação na vinha.
Continua...
Bons
espíritas, meus bem amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso
seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o
terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais
cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há
quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que
quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai
bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por
longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos
tempos que formam para vós a eternidade. Constantino, Espírito Protetor.
(Bordéus, 1863).
Com base nesse último
parágrafo, bem como numa passagem da Instrução que o segue, de Henri Heine, difundiu-se no meio espírita a ideia
de que os espíritas são os trabalhadores da última hora”. Afinal, na parábola
os trabalhadores da undécima hora são aqueles que mais se beneficiaram da
generosidade do Senhor.
A leitura atenta desse trecho
não parece corroborar a referida interpretação. Primeiro, a frase inicial
qualifica os espíritas: “Bons espíritas...”. Logo, a frase não diz respeito aos
espíritas em geral, mas aos bons espíritas. E todos nós já conhecemos a lista
de qualidades dos bons espíritas, que Kardec registrou no capítulo XVII desse
Evangelho, quando estudamos o “O homem de bem”.
Que dizer agora dos
espíritas que ainda não podem ser chamados de bons? Esses são os que, não
obstante terem as luzes dos princípios espíritas ao seu alcance, ainda resistem
a trabalhar, ou a trabalhar tanto quanto sua condição permitiria.
É claro que essa
classificação não é simples assim. Não há apenas dois grupos de espíritas. Há
uma gradação contínua, começando naqueles retardatários e terminando nos que já
entendem e vivenciam plenamente as diretrizes divinas para os homens. Caberá a
nós determinar, pelo exame isento de nossos pensamentos e atos, nossa posição
nessa escala.
ITEM 3:
Outra Instrução
Jesus gostava
da simplicidade dos símbolos e, na sua linguagem máscula, os obreiros que
chegaram na primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que
marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser assinaladas através
dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos
sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas. Estes, que por último
vieram, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e
receberão a mesma recompensa. Que digo? Recompensa maior. Últimos chegados,
eles aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque o homem
tem de herdar do homem e porque coletivos são os trabalhos humanos: Deus
abençoa a solidariedade. Aliás, muitos dentre aqueles revivem hoje, ou
reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora. Mais de um
patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um
propagador da fé cristã se encontram no meio deles, porém, mais esclarecidos,
mais adiantados, trabalhando, não já na base e sim na cumeeira do edifício.
Receberão, pois, salário proporcionado ao valor da obra.
O belo dogma
da reencarnação eterniza e precisa a filiação espiritual. Chamado a prestar
contas do seu mandato terreno, o edifício se apercebe da continuidade da tarefa
interrompida, mas sempre retomada. Ele vê, sente que apanhou, de passagem, o
pensamento dos que o precederam. Entra de novo na liça, amadurecido pela
experiência, para avançar mais. E todos, trabalhadores da primeira e da última
hora, com os olhos bem abertos sobre a profunda justiça de Deus, não mais
murmuram: adoram.
Tal um dos
verdadeiros sentidos desta parábola, que encerra, como todas as de que Jesus se
utilizou falando ao povo, o gérmen do futuro e também, sob todas as formas, sob
todas as imagens, a revelação da magnífica unidade que harmoniza todas as
coisas no Universo, da solidariedade que liga todos os seres presentes ao
passado e ao futuro. Henri Heine. (Paris, 1863).
Concluindo o nosso estudo,
vamos analisar essa instrução:
Partindo de um outro
enfoque, mas chegando à mesma conclusão, o Espírito mensageiro entende que o
progresso intelectual é obra solidária e se faz por etapas. É assim que os
últimos são os primeiros.
Vamos entender isso de um
modo prático: Uma criança do século XXI, ao utilizar-se de um computador para
realizar suas tarefas escolares ou, mesmo, viajar pela Internet, não avalia o
que ela deve aos seus “predecessores que marcaram etapas do progresso”, homens
que descobriram ou inventaram coisas para que um dia o computador pudesse
aparecer. Entretanto, ela o utiliza em primeira mão e, se trouxer em sua
bagagem espiritual um ideal elevado, com essa ferramenta de trabalho ela fará,
durante a sua existência, mais e melhor, em termos de comunicação.
O Espírito comunicante faz
alusão à reencarnação, conceito que ajuda a esclarecer ainda melhor a parábola,
e afirma que dentre aqueles trabalhadores da primeira hora muitos revivem hoje,
ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora, porém, mais
esclarecidos, mais adiantados.
Vamos dar uma outra
interpretação para o sentido da alegoria, em termos do “Reino dos céus”: Com
base no que foi estudado até aqui, deduzimos que Jesus procurou salientar a
virtude da boa vontade e da disposição para o trabalho.
Na parábola, os
trabalhadores contratados posteriormente, ou seja, os da última hora,
simbolizam os Espíritos que foram gerados a menos tempo. São Espíritos que têm
tudo para aproveitar melhor o tempo e fazer melhor uso do livre-arbítrio.
Porque levam uma grande vantagem ao encontrarem, para trabalhar, um terreno que
já foi arado; onde as ervas daninhas já foram retiradas, bem como os cascalhos
que estavam prejudicando o plantio. Serviço que foi feito pelos trabalhadores
da primeira hora.
Aos obreiros da última hora
cabe somente semear e cuidar do plantio, para conseguirem em apenas algumas
existências o progresso que outros demoram a realizar.
Jesus também faz referência
àquelas pessoas que não são trabalhadores nem da primeira hora nem da última hora.
São aqueles que ficam na praça, perdendo muito tempo, sentados, esperando que o
sol se abrande e o frescor da tarde chegue, para que eles comessem a pensar em
procurar um Senhor que os assalarie, ou, então, que sentados estão, sentados
continuam, perdendo a oportunidade de pegar na ferramenta, deixando que esta se
enferruje. Portanto, se o acúmulo de experiências, nas muitas existências que
tivemos, nos encaminham para escolhas erradas, para caminhos tortuosos, vamos
nos pôr a serviço da vinha do Senhor. Não é desdouro nenhum sermos
trabalhadores da última hora. Se, deixamos passar vários chamados do Senhor,
não devemos deixar passar mais este. Se nós não produzirmos em quantidade
suficiente, poderá acontecer de reencarnarmos num outro mundo, numa outra
vinha, e começar tudo de novo. E não sabemos em que estado vamos encontrar essa
nova vinha. Talvez, nessa nova vinha, sejamos os trabalhadores da primeira
hora, aqueles que trabalham duro, de sol a sol.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – Com base no que foi
estudado, qual o mérito dos trabalhadores que aceitaram a oferta de trabalho,
sem perguntar quanto ganhariam?
R – O desinteresse. Fazer o
bem pelo bem.
2 – Houve injustiça, por
parte do Senhor da vinha, com os trabalhadores da primeira hora?
R – Não. O Senhor da vinha
pagou a eles exatamente o valor combinado, de modo que não os prejudicou.
3 – Podemos entender que os
trabalhadores da última hora sejam preguiçosos?
R – Não. Para eles, apenas,
por uma razão ou por outra, a tarefa chegou um pouco mais tarde.
Daí nós concluirmos que:
Que a mensagem mais
evidente da parábola é, pois, a importância de nosso engajamento nas atividades
da vinha de Jesus. E que o serviço seja sempre feito com boa vontade, com
sinceridade, com amor. Que não devemos nos habituar à reclamações; que não
devemos sentir inveja do que for dado aos outros; e que não devemos sentir
ciúme, se eles receberem qualquer atenção, ou provas de bondade, do Senhor da
vinha.
Estejamos certos de que, na
presente encarnação, nosso contato com o Espiritismo representa o convite para
o trabalho na vinha, isto é, a promoção do bem no mundo, a partir de nossa
reforma pessoal.
“Toda ocupação útil é
trabalho”, conforme resposta à questão 675 de O Livro dos Espíritos, que é a
seguinte: Por trabalho só se deve entender as ocupações materiais?
Para finalizar o estudo,
retiramos dessa parábola um cântico de esperança para todos nós. E todos os que
atenderem a Jesus estarão com o coração felicitado e em paz.
Ser espírita é ter na alma
o doce conforto e a calma, que emanam do próprio bem.
É perdoar ao que erra;
nunca implantar a discórdia; é ter confiança no além.
Ser espírita é a Deus amar;
cultivar a verdade; praticar a caridade; consolar toda dor.
Que sejamos perseverantes
com o nosso trabalho, e que ele seja de qualidade, com a perfeição relativa que
o Mestre nos ensinou, quando disse: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso
Pai celestial”.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo
XIX – A Fé transporta montanhas – itens 8 a 12 – Parábola da figueira que secou
– Instruções dos Espíritos – A fé: mãe da esperança e da caridade – A fé humana
e a divina.
ITEM 8:
Quando saíam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao
longe uma figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa;
tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos.
Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti fruto algum, o que seus
discípulos ouviram. No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que
secara até a raiz. Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre,
olha como secou a figueira que tu amaldiçoaste. Jesus, tomando a palavra, lhes
disse: Tende fé em Deus. Digo-vos, em verdade, que aquele que disser a esta
montanha: Tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem hesitar no seu coração,
crente, ao contrário, firmemente, de que tudo o que houver dito acontecerá,
verá que, com efeito, acontece. (Marcos, cap. XI, vv. 12 a 14 e 20 a 23).
Para
interpretar as parábolas de Jesus, nós já estudamos aqui, não podemos tomar as
palavras ao pé da letra, principalmente esta, de onde podemos retirar vários
ensinamentos. É preciso que se busque a sua essência e, para isto, vamos
reproduzir o que diz Mateus, no cap. XXI, vv. 18 a 22 de seu Evangelho, e o que
diz Lucas, no cap. XIII, vv. 6 a 9 de seu Evangelho.
Pela
manhã, ao voltar Jesus à cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do
caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas; e disse-lhe: Nunca
mais nasça de ti frutos, no mesmo instante secou a figueira. E vendo isto, os
seus discípulos maravilharam-se e perguntaram: Como é que repentinamente secou
a figueira? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que se tiverdes fé e não
duvidardes fareis não só o que foi feito à figueira, mas até se disserdes a
este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, isto será feito; e tudo o que, com
fé, pedirdes em vossas orações, havereis de receber.
ITEM 9:
COMENTÁRIO
Antes
de estudarmos propriamente a parábola da figueira que secou, devemos fazer uma
consideração que se apresenta às nossas vistas. A figueira que serviu de
comparação ao Mestre para a exposição das duas parábolas não será a mesma? Pelo
visto, sim. Porque não haveria motivo para tão sumária execução. Senão vejamos:
Na segunda citação, a parábola da figueira estéril ensina a necessidade de
cultivo, de fertilização com adubos, como, de momento, sem os requisitos
preceituados neste ensinamento, Jesus resolveu fulminar a árvore que se achava
repleta de folhas, bem copada?
Uma
dificuldade se mostra com aparente contradição entre a narração do texto das
duas Parábolas. A primeira diz: “Pela manhã, viram que a figueira estava seca
até a raiz”. A segunda diz: “No mesmo instante secou a figueira”. Entretanto,
essa contradição é só aparente. Segundo estudiosos do assunto, os antigos,
quando se expressavam sobre a duração de alguma coisa, de um fenômeno qualquer,
não eram explícitos, como nós somos hoje.
Para
a expressão “No mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, um
período longo de horas cabe perfeitamente, pois as Escrituras falam de meses de
trinta anos. Devemos levar em conta ainda a circunstância de que a hora dos
hebreus abrangia, cada uma, três das nossas horas de hoje. Ora, uma árvore,
mesmo cortada pela raiz, não secará num espaço pequeno de tempo.
A
figueira, aparentemente, estaria bem situada. Por que não dava frutos? Por que
só tinha tronco, galhos e folhas? Com certeza, aquela área onde se achava era
improdutiva. Ou a semente não era de boa qualidade. Poderíamos interpretar que,
ao expandir-se, a raiz da árvore alcançou um solo que não lhe forneceu mais os
elementos necessários para que ela continue produzindo frutos e, até, para sua
subsistência. Aí ela seca.
Jesus
podendo ver perfeitamente o que se passa por dentro de um ser humano; podendo
saber o que nós pensamos e sentimos, tinha toda a capacidade de ver o que
estava acontecendo com a raiz daquela figueira.
Outro
fator importante a destacar é que: Jesus, durante a sua missão terrestre, foi
sempre acompanhado de uma grande falange de Espíritos que executavam suas
ordens. Quando Jesus disse à figueira: “Nunca jamais alguém coma fruto de ti”,
provavelmente, alguns desses Espíritos, com o poder de que dispunham, fizeram
secar a figueira, assim como nós o faríamos aquecendo o seu tronco.
E,
por que, falamos isso?
Mateus,
no cap. VIII vv. 5 a 13, de seu
Evangelho, relata o seguinte:
Tendo
Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião e rogou-lhe: Senhor, o
meu criado jaz em casa paralítico, padecendo horrivelmente. Disse-lhe o Mestre:
eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que
entre em minha casa; mas dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar.
Porque também sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens,
e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze
isto, e ele o faz.
Então
vejamos:
Com
essas palavras, o centurião teria feito ver a Jesus que conhecia o seu poder, e
por certo sabia dos auxiliares que com ele agiam, do exército de Espíritos que
o acompanhava, prontos a executarem suas ordens.
Se
encararmos a narrativa pelo lado científico, observaremos a morte de uma árvore
em virtude de uma grande descarga de fluidos magnéticos, que imediatamente
secaram-na.
O
poder do magnetismo, Kardec estudou magnetismo durante quarenta anos, que
utiliza os fluidos do Universo, pode destruir, conservar e vivificar.
A
cura de doenças e a mumificação de corpos pelo magnetismo, já se acham
registrados nos anais da História, não deixando mais dúvida e esse respeito.
No
caso da figueira não se trata de uma conservação, mas, ao contrário, de uma
destruição, semelhante à destruição das células prejudiciais e causadoras de
enfermidades, como as narradas pelos Evangelhos.
A
figueira não dava fruto porque a sua organização celular era insuficiente ou
deficiente, e Jesus, conhecendo esse mal, quis dar uma lição aos seus
discípulos, não só para lhes ensinar a terem fé, mas também para lhes fazer ver
que os homens infrutíferos como aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências.
Pelo
lado filosófico, destacamos da parábola a necessidade indispensável da prática
das boas obras pelas criaturas. A lição da figueira que secou pode ser um aviso
do que vai acontecer a todas as criaturas semelhantes à figueira sem frutos.
Seja
como for, o ensino de Jesus é muito significativo, por haver escolhido uma
árvore, a fim de melhor gravar no espírito de seus discípulos a lição que lhes
queria transmitir.
É
instrutivo porque, havendo o Mestre tomado por ponto de comparação uma
figueira, deixou bem claro que a lei de Deus, estendendo-se a toda a criação e
sendo eterna, irrevogável, tanto tem ação sobre as árvores, os animais, como
sobre as criaturas humanas.
Agora,
a interpretação de que Jesus teria emitido pensamentos menos positivos e
amaldiçoado a árvore, é um grande equívoco. Preferimos acreditar que as
palavras de Pedro ao dizer que o Mestre havia lançado maldição à figueira,
foram mal traduzidas ou registradas de conformidade com a maneira daquela época
de entender o que não fosse bom.
Tudo
o que acontecesse de mal era sempre entendido como alguma coisa sobrenatural,
uma maldição. As coisas mais simples eram envolvidas em mistério. Isto também
nós encontramos nas Escrituras. Então, é evidente que Pedro, muito judeu, muito
apegado aos costumes da sua gente, imediatamente identificou aquela passagem
como uma maldição.
Kardec
comentando a parábola, diz que a figueira seca é o símbolo das criaturas que
apenas aparentam propensão para o bem, mas que, na realidade, nada de bom
produzem. Comenta também, sobre aqueles oradores que possuem mais brilho do que
solidez, cujas palavras são cobertas de verniz, e agradam aos ouvidos.
Entretanto, quando estas palavras são analisadas, nós vamos perceber que nada
revelam de substancial para o nosso adiantamento.
O
Codificador ainda diz: A figueira seca simboliza todas as criaturas que podem
ser úteis e não o são; todas as doutrinas carentes de base sólida.
ITEM 10:
Ainda
dentro do tema, a figueira que secou, Kardec faz uma advertência aos médiuns.
Que estes são os intérpretes dos Espíritos, daí serem dotados de faculdades
para este efeito. Cabendo-lhes, portanto, uma missão muito especial. São
árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos de caminhada.
Porém, se eles se desviarem do objetivo principal da faculdade que lhes foi
concedida, empregando-a em coisas fúteis ou prejudiciais, ou mesmo, pondo-a a
serviço dos interesses mundanos e, por conseguinte, não a utilizando em
benefício do semelhante, ou ainda, se nenhum proveito tiram dela para si
mesmos, melhorando-se, são iguais à figueira estéril. Por isto, Deus lhes
retirará um dom que se tornou inútil neles.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1
– Que lições Jesus queria dar a seus discípulos com essa Parábola?
R
– Ensinar-lhes a terem fé e fazer-lhe ver que criaturas infrutíferas como
aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências.
2
- O que é necessário para que uma criatura se torne igual a uma figueira seca?
R
– Praticar as boas obras.
3
– Quais as criaturas que se enquadram no símbolo da figueira seca?
R
– Todas as que podem ser úteis e não o são.
Daí
nós concluirmos que:
A
palavra de Jesus não era simples palavra, mas também ação. E desta palavra
resulta a necessidade de praticarmos sempre boas ações, e, em nossos corações,
fazermos provisão de seus ensinos, para que o Cristo se traduza por estas
generosas ações.
A
religião do Mestre não é uma religião das folhas, mas, sim, a dos frutos.
Nós
precisamos de árvores que dêem frutos. E, para isto, teremos que estar
vigilantes, porque, quando menos esperarmos, poderemos estar buscando frutos
para saciar a nossa fome, numa árvore estéril.
ITEM 11:
Instruções
dos Espíritos
A
fé: mãe da esperança e da caridade
Para
ser proveitosa, a fé tem que ser ativa; não deve ser inerte. Mãe de todas as
virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento
dos filhos que gerou.
A
esperança e a caridade são consequências da fé e formam com esta uma trindade
inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do
Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não
tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?
Inspiração
divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o
bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e
durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar, que será do edifício que
sobre ela construirdes? Levantai, consequentemente, esse edifício sobre
alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os enganos e as
zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens
não é fé verdadeira.
A
fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou,
mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma, ao
passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente
quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens.
Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da
fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que
fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da
vida.
Tende,
pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua
racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai
a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo
porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do fim
que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e
esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. José, Espírito protetor.
(Bordéus, 1862).
Sobre
a instrução do Espírito José não há o que comentar; apenas vamos destacar um
trecho para reflexão.
A
esperança e a caridade são consequências da fé. Mas, por que será que o
Espírito comunicante fez a associação da esperança com a caridade? Porque, na
realidade, a esperança só habita um coração que realmente confia nas promessas
de Jesus, e a caridade só é praticada por quem é dotado de um verdadeiro
sentimento de amor ao próximo. Por isto, essas atitudes são obrigatoriamente sustentadas
pela fé.
O
Espírito nos conclama a pregarmos com o exemplo da nossa fé e esperança firme,
para que as criaturas vejam o mérito da fé.
A
fé é mãe da esperança e da caridade. E, esta, nós já dissemos, só é praticada
por quem tem um verdadeiro sentimento de amor ao próximo. E qual o exemplo que
nós poderíamos dar reunindo a esperança e a caridade? Vejamos: Quando nós
visitamos um asilo ou um orfanato, num domingo ou num feriado, ocasião em que
poderíamos estar realizando coisas pessoais, para nós ou para nossa família,
doamos a nossa presença, o nosso carinho, além das coisas materiais, como:
sabonetes, pastas para os dentes, biscoitos, etc. de certo, não há de ser por
essas pequenas coisas que nós oferecemos àqueles irmãos carentes. A nossa
proposta, acima de tudo, como religiosos, é fazermos uma visita fraterna, que
simbolize algo mais para aqueles irmãos esquecidos, levando a eles a esperança
de que nem tudo está perdido, e que há seres humanos que se preocupam com eles.
Seres humanos que não têm a sua vida somente voltada para si. Que não são
egoístas. Então, é essa atitude, esse sentimento, que nós levamos no bojo dessa
visitação.
É
por isto que foram associadas: a fé, a esperança e a caridade, formando uma
trindade inseparável.
ITEM 12:
A
fé humana e a divina
Dessa
mensagem, ditada por um Espírito, que se intitulou somente como um Espírito
protetor, vamos destacar alguns trechos para comentarmos.
Diz
o Espírito comunicante:
No
homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que
ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio
em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação
da sua vontade.
Nós
já aprendemos que a fé é um patrimônio da criatura; que a criatura para fazer
aflorar em si a verdadeira fé tem que faze-la através do trabalho, do estudo,
do raciocínio e do esforço. E, por que tem que ser assim? Quando os apóstolos
pediram a Jesus para aumentar-lhes a fé, o Mestre propôs-lhes a parábola: “Qual
de vós, tendo um servo ocupado na lavoura, ou guardando o gado, lhe dirá quando
ele voltar do campo: Vem já sentar-te à minha mesa; e que antes não lhe dirá:
prepara-me a ceia, cinge-te, serve-me enquanto eu como e bebo; e depois comerás
tu e beberás”? Isto quer dizer que, o servo não pode chegar, sentar à mesa e
comer; tem que trabalhar primeiramente: prepara-me a ceia, isto é, trabalhar;
cinge-te, ou seja, adquirir conhecimento; serve-me, quer dizer, para aprender a
fazer o que o Cristo deseja.
A fé é comida. A fé é bebida. Assim
como comer e o beber não se obtêm sem o adquirir e o fazer, também a fé não se
conquista sem a aplicação de meios adequados à sua obtenção. Portanto, a fé não
se compra; não se dá por esmola, nem se adquire por herança.
Continua
o Espírito:
Até
ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o
Cristo exaltou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como
chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais,
mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é,
a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação.
Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que
eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então
desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do
Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis?
A
fé religiosa é respaldada pelos aspectos celestiais. Quando a criatura sente
que vale a pena crer, que vale a pena estar voltada para Jesus, que vale a pena
sintonizar com Deus. Porém, se não houver a eficácia da fé, essa sintonia com o
Mundo celeste fica comprometida.
Joanna
de Angelis diz que, a fé que não produz é semelhante a uma lâmpada que não
esparzi claridade. Portanto, de nada adianta a criatura estar voltada para
Deus, reverenciar os ensinamentos evangélicos, passar anos e anos frequentando
uma casa espírita, onde usufrui, das palestras que ouve, dos passes magnéticos
que toma, e da água fluidificada que bebe, se permanece naquela fé sem obras.
Continua
o Espírito:
A
fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das
necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. O homem de
gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se
tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim visado, certeza que
lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste,
deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na fé, na certeza
da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres
de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus
pendores que se não chegue a vencer.
O
Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que
ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito:
a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da
força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força,
seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no
entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito
Protetor. (Paris, 1863).
A
fé humana nada mais é do que a mesma certeza, a mesma vontade de querer,
voltada para a ação, para as aspirações de ordem terrena, como define o
Espírito Protetor para nós. A única diferença se evidencia quando direcionamos
as nossas forças, movidas pela vontade, para as necessidades terrenas ou para
as aspirações celestes. É isso, então, que vai diferenciar cada aspecto da fé.
É
importante que nós tenhamos em mente o seguinte: ao nortear a nossa existência
dentro dos parâmetros evangélicos, a eficácia da fé só será mostrada através
das nossas obras.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1
– Por que a fé necessita de obras?
R
– Porque não basta a fé, simplesmente, estar em nossa consciência. É necessário
que a tornemos verdadeira, dando-lhe eficácia, isto é, ela deve nos impulsionar
para Deus, através do serviço em favor do próximo.
2
– Que mudanças nos acarreta a fé?
R
– Otimismo sadio, vontade de viver, esperança firme, valorização do sentimento
de amor ao próximo, melhor utilização do tempo, em face da consciência do
progresso que temos a alcançar, e muito mais.
Daí
nós concluirmos que:
A
fé desperta todos os instintos nobres que encaminham a criatura para o bem. É
nela que se sustentam a esperança e a caridade. Contudo, é necessário o exemplo
das obras para que ela seja eficaz e verdadeira; tem que ser ativa para ser
proveitosa.
Então,
é através dessa certeza, que fazemos dos ensinamentos de Jesus a nossa bússola.
E uma confiança irrestrita, com certeza, vai fazer com que, cada vez mais, cada
dia mais, desperte dentro de nós todos aqueles instintos mais nobres que
trazemos em gérmen, ou seja, que façamos brilhar a nossa luz.
*************************************************
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIX – A Fé religiosa.
Condição da fé inabalável– Itens 6 e 7.
ITEM 6.
Comentário de Kardec a
respeito:
Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença
em dogmas (ponto indiscutível de uma crença
religiosa) especiais, que constituem as diferentes religiões.
Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada
ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro
como falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao
excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona;
somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer
do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é
à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade;
preconizar (recomendar com louvor) alguém a fé
cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está
com a razão.
Kardec, ao nos passar as
suas ideias a respeito do que considera ser a fé religiosa, nos foi muito
claro. Evidenciando que há uma diferença de aspecto. A fé pode ser raciocinada
ou cega.
A finalidade principal da
religião, conforme a própria palavra diz, é propiciar à criatura religar-se com
o Criador. A religião cumpre a tarefa relevante de convidar o homem aos deveres
mais elevados, que são os espirituais, munindo-o com os recursos inteligentes e
preciosos para consegui-lo. A fé cega, por nada examinar, leva a criatura a
aceitar, sem verificar, qualquer coisa. Verdadeiro ou falso. E qual a
explicação lógica para isso? É simples. Aqueles que detinham o poder religioso,
embora, com o passar do tempo, os esclarecimentos fossem se apresentando, não
tinham interesse em perder o poder. Mesmo que fatos inquestionáveis
demonstrassem que muitas daquelas ditas verdades não eram tão verdadeiras
assim. E aqueles que persistiam no conhecimento religioso tinham que impor esse
conhecimento, através de uma suposta fé, de uma crença naquelas informações,
sem questionamento. Por isso os dogmas foram criados, justamente para não haver
explicações. E as criaturas aceitavam ou fingiam que aceitavam, por um medo
justificado, muito natural, de sofrer represálias da parte dos pretensos
prepostos de Deus. Então, a essa crença imposta por aqueles que não tinham como
provar as suas informações pela lógica, pelos argumentos corretos, pelo
raciocínio, e que impunham às criaturas pelo medo ou pela superstição, é que
Kardec se refere, nos mostrando que esse tipo de fé, de crença, não tem
sustentação. E não tendo sustentação, facilmente, mais cedo ou mais tarde, vai
acabar se desmoronando. E a fé embasada no raciocínio e na lógica, a verdadeira
fé, vai sendo construída aos poucos, incessantemente. Já dissemos que a
conquista da fé não é tarefa tão simples. São necessários, muito esforço e
compreensão. Não é simplesmente a criatura dizer: a partir de agora eu tenho
fé. Não pode ser assim. A fé raciocinada se apresenta para nós para ser
questionada, para ser aceita. Ela se funde com o nosso conhecimento científico,
moral e o sentimental. Por isto, é que ela é forte. Ninguém poderia no início
dos tempos ter uma fé consolidada em alguma coisa, porque desconhecia como
aquela coisa funcionava. Mas hoje já podemos ter fé em determinadas coisas,
porque nós sabemos como elas funcionam. Já nos foi provado que essas coisas são
fatos. Portanto, verdades. Podemos até tomar como exemplo uma criança. Ao ouvir
o pai ou a mãe mandar que execute alguma coisa, ela executa por causa do
instinto. Ela acredita sem ter conhecimento. É uma fé cega. Com o passar do
tempo, quando se torna jovem, ela passa a acreditar não pelo instinto, mas
porque sabe, porque das vezes anteriores que executou o serviço não houve
problema algum. Ela fez porque confia. E fé, nós sabemos, quer dizer confiança.
Na realidade, nós só adquirimos confiança com o tempo. Por mais que queiramos
dizer que confiamos sem provas disso, a nossa intenção de confiança não será
verdadeira. Seria enganarmos a nós mesmos. Estaríamos agindo baseados numa fé
cega.
As vaidades humanas também
estabelecem preconceitos com respeito aos credos religiosos. Separam as
criaturas e crivam-nas de maldições, perseguem os seres, e sobrepõem, aos
ensinos de que as religiões se fazem portadoras, a mesquinhez das paixões
perniciosas.
A fé cega para se impor,
faz a criatura abdicar de dois dos mais preciosos privilégios dela, o
raciocínio e o livre-arbítrio. Então, ter fé é ter confiança pelo conhecimento
adquirido; é a centelha de Deus fazendo brilhar a nossa luz; é a certeza de
poder afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão.
A propósito, fomos buscar
em Atos dos Apóstolos, o seguinte trecho:
Havendo Jesus concluído os
ensinos preparatórios para que seus discípulos pudessem receber o Espírito,
estes viram o grande Messias, de volta a eterna morada, ir-se elevando aos ares
até que desapareceu aos olhos de todos. – Convém lembrar que Jesus ficou
quarenta dias, depois de sua morte, com seus discípulos -. Também é oportuno
lembrar, que essas aparições encheram de fé e ergueram os galileus conturbados
pela morte de seu Mestre e fizeram com que encarassem sem medo todos os
tropeços, afrontassem todos os suplícios, vencessem todas as barreiras.
Continuando: Sob a
influência de generosos sentimentos, iluminados por essa esperança que só a
verdadeira fé pode dar, é que eles, descendo o Monte das Oliveiras, onde haviam
recebido as orientações do Cristo, voltaram para Jerusalém, onde ficaram
aguardando a visita do Espírito Consolador, para iniciarem a missão redentora
que com tanta coragem desempenharam. E então passaram mais ou menos dez dias em
profunda meditação, em fervorosas orações, mantendo os sentimentos da mais viva
fraternidade. Dentre todos, além dos doze apóstolos, salientavam-se as santas
mulheres, e o total formado era de cento e vinte pessoas. Portanto, justificada
nesses princípios, nossa fé se ergue poderosa, inabalável, semelhante àquela
“casa construída sobre a rocha”.
Foi interpretando essa
grande virtude, que Paulo de Tarso dedicou toda a sua grande Epístola aos
romanos, chegando a afirmar que todos os grandes da antiguidade, pela fé,
venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas
dos leões, extinguiram a violência do fogo, evitaram o fio de espadas; de
fracos se tornaram fortes, fizeram-se poderosos e puseram em fuga exércitos
estrangeiros.
Quando a fé cega nos era
imposta no passado, nós achávamos que o planeta Terra era o centro do Universo,
e que fora o único criado por Deus, para habitar seres racionais. Veio a
ciência, e nos mostrou que não era bem assim. O Orbe terrestre é um planeta
como qualquer outro.
Ao Espiritismo está
assinalada pela Espiritualidade Superior a missão de varrer o fanatismo, o
partidarismo e o dogmatismo, nódoas das imperfeições humanas. Nos mostrar uma
fé com raciocínio, embasada no conhecimento dos fatos, onde nós podemos
verificar tudo aquilo que nos é ensinado.
“Conhecereis a verdade e a
verdade vos fará livres”, nos disse Allan Kardec. No conhecimento, portanto, a
libertação, na ignorância, a escravidão. E no livro A Gênese ele deixou
grafado: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será
ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro acerca
de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se
revelar, ele a aceitará”. Isto quer dizer que: Pela ótica espírita, tal como o
conhecimento realmente científico, o autêntico pensamento religioso persegue a
verdade e, diante dela, curvam-se ambos. Então, na prática, caso um fato novo
se apresente aos espíritas, e que balance um pouco o nosso entendimento, a
nossa interpretação e, por conseguinte, a nossa fé, nós teremos que reformular
a nossa interpretação, porque as coisas só acontecem de acordo com a nossa
capacidade para entende-las.
Daí nós podermos afirmar
que a fé que nós temos hoje em Deus, no nosso guia e modelo que é Jesus e na
Doutrina dos Espíritos, é muito maior do que nós tínhamos quando começamos a
estudar o Espiritismo.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão;
1 – O que podemos entender
por fé cega?
R – É a fé que tudo aceita
ou rejeita sem exame.
É a antítese da autêntica
fé cristã, nascida do amor à verdade.
2 – A fé verdadeira é
baseada em quê?
R – É baseada no
conhecimento dos fatos e, necessariamente, iluminada pela razão crítica.
“Mais vale rejeitar dez
verdades que admitir uma só falsidade”.
3 – Podemos impor a
verdadeira fé?
R – Não. Ela é adquirida.
Construída aos poucos, com embasamento na lógica e na razão.
Daí nós concluirmos que:
A fé verdadeira,
inabalável, tem a marca da razão. Ninguém pode crer senão naquilo que sabe, que
conhece por experiência pessoal. Esta a fé viva, raciocinada, que sustentará a
ciência religiosa e a religião científica que, como irmãs gêmeas, irão tornar
claro os novos caminhos.
A criatura então crê,
porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu.
Nos assegurou Kardec:
“Fé inabalável só o é a que
pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XIX – A Fé transporta
montanhas – Poder da Fé – Itens de 1 a 5.
ITEM 1.
Quando ele
veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a
seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre
muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos
teus discípulos, mas eles não o puderam curar. Jesus respondeu, dizendo: Ó raça
incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?
Trazei-me aqui esse menino. E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do
menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com
Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar
esse demônio? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em
verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis
a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos
seria impossível. (Mateus, cap.XVII,vv.14 a 20 ).
Esse
tema Ter Fé que, de certo modo, é um pouco difícil de ser abordado, pois, que,
muitas vezes, é julgado de maneira precipitada, como algo simples ou muito
fácil de se entender.
Nesta
passagem do Evangelho, o que impediu os discípulos de curarem o menino, como
fez o Mestre, foi a falta de fé. Embora os discípulos tivessem empenho e boa
vontade, faltava-lhes a fé verdadeira; faltava-lhes a confiança; faltava-lhes a
certeza de atingir o objetivo maior.
Então,
o que é ter fé? Ter fé é a crença em algo; é ter confiança; é o crédito que a
criatura dá àquilo em que confia, estudando, examinando, pesquisando, sem
espírito preconcebido. É guardar no coração a certeza em Deus. Certeza que
ultrapassa o âmbito da crença religiosa, crescendo sempre no conhecimento e na
vivência do Evangelho de Jesus.
Ter
fé é estabelecer ou ter sintonia, harmonia entre o espírito humano e o espírito
divino. Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele
não tem fé, embora talvez creia. Conseguir a fé então é alcançar a
possibilidade de não mais dizer “Eu creio” mas afirmar “Eu sei”, com todos os
valores da razão tocados pela luz do sentimento. Portanto, a conquista da fé não é tarefa tão simples, nem tão fácil.
São necessários, muito esforço e muita compreensão. E essa fé não pode estagnar
em nenhuma circunstância da vida. Jesus disse aos judeus que criam nele: “Se
vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (João, cap.VIII,vv.31 e 32).
O
Mestre ressaltou que, se nós tivéssemos fé apenas do tamanho de um grão de
mostarda, convém lembrar que a mostarda é o menor grão que existe, já seria uma
fé suficiente para movimentarmos uma montanha daí para ali. É claro que o
objetivo de Jesus com essa alegoria era nos mostrar que a fé tem um poder
imenso, se bem sentida e bem desenvolvida. E ao usar a palavra montanha se
referia a todas as dificuldades, todo o entrave que as provas e os desafios da
vida material nos confere. A fé remove a montanha da má vontade, a montanha do
egoísmo, a montanha do orgulho, a montanha do interesse material, a montanha da
cegueira do fanatismo, a montanha da resistência aos ensinamentos do Cristo,
que devemos transpor. Quer dizer, a fé remove as montanhas dos desafios que
todos nós temos que superar. Na verdade, cada desafio superado é uma prova
vencida, ultrapassada. É uma montanha que trocamos de lugar.
Jesus
nos orienta a buscarmos a verdadeira fé, pois, com ela podemos superar todos
esses obstáculos. Uma vez compreendido e conquistado, de uma forma profunda, o
ensinamento da fé dentro de nós, agregamos uma virtude, traduzida na certeza da
assistência de Deus. Exprimindo a confiança de quem sabe enfrentar todas as
lutas e problemas sob a luz divina. A fé pode ser alcançada por todas as
criaturas. Bastando para isso que ela inicie o fortalecimento dessa fé no seu
interior. Já dissemos que para isso é necessário um trabalho diário, com
esforço e sacrifício. É comum dizermos que temos fé, que acreditamos que Deus
virá nos ajudar, e que tudo será resolvido, todos nós acreditamos nisso, quando
a nossa vida transcorre dentro de uma normalidade, mas diante do primeiro
obstáculo, da primeira dificuldade, ou seja, da primeira montanha, ficamos
desequilibrados, girando em torno de nós mesmos procurando algo para nos
apoiar, e não encontrando. Às vezes, simplesmente, determinamos pra Deus o que
é melhor para nós. Aí nós pedimos: Senhor, faça com que eu consiga isso ou aquilo,
ou então começamos a reclamar dizendo que Deus nos abandonou na pior hora. Onde
está a nossa fé que dissemos outrora que tínhamos? Com uma pequena reflexão, a
criatura descobre que a sua fé ainda é pequena, é uma fé vacilante.
É
claro que temos o direito de usar o nosso livre-arbítrio. Somos consciências
livres e podemos pedir o que quisermos. Porém, nós não sabemos de fato o que é
melhor para a nossa evolução. Feliz
daquele que descobriu que aquilo que parece uma tragédia, na realidade não o é,
apenas algo para o nosso adiantamento espiritual, e sabe que entregando o
problema na mão do Pai, Ele resolverá da melhor maneira. É preciso que se tenha
fidelidade e confiança em Deus e em suas leis, para aceitar resignado as
dificuldades. Porém, essa resignação diante das dificuldades não significa
ficar sentado, com os braços cruzados, achando que merece o sofrimento,
aguardando uma grande virada na situação. Aquele que possui a fé verdadeira é sempre
auxiliado pelos bons Espíritos, e terá forças para lutar e transportar as
montanhas que encontrar no caminho.
O
espiritismo nos ensina e nos esclarece sempre, esta é a finalidade da doutrina,
mas cabe a cada um de nós ir a busca destes ensinamentos e nos aprimorarmos.
Dentro
da luz do espiritismo a fé é o discernimento conquistado pelo Espírito ao longo
de sua jornada evolutiva, contínua, ascendente e infinita. A fé pode ser
desenvolvida por vários fatores. E quem quiser ser forte em termos espirituais,
com naturais consequências na vida material, deve procurar desenvolver essa
potencialidade que dormita em nosso coração. Alguns procedimentos podem ser
tomados para que a fé seja fortalecida. O primeiro deles, é ter paciência,
saber esperar. Sim, pois a fé não se conquista do dia para a noite. Outro
procedimento indispensável é a oração. Com ela, protegemo-nos da influência dos
maus Espíritos e abrimos nosso coração para a inspiração dos nossos guardiões
invisíveis. A fé, quando desenvolvida, pode ser um grande instrumento da
prática do bem. Com ela, podemos estender as mãos abençoando os que sofrem,
doentes, obsedados, perdidos. Com a fé, e orando, podemos limpar o ambiente
onde vivemos, onde trabalhamos. Com ela, se está salvo a qualquer instante. Por
ela, se recebe de Deus o socorro, a inspiração, a solução para todos os males.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1
– Com relação à passagem evangélica estudada, o que impediu os discípulos de
curarem o menino, como fez Jesus?
R
– A falta de fé. Embora todo o empenho e boa vontade dos discípulos faltava-lhes,
ainda, a confiança, conforme demonstrou Jesus.
Muitos
percalços e dificuldades que enfrentamos em nossa vida, se devem, também, à
nossa falta de fé, à nossa incredulidade.
2
– Como devemos proceder para conquistar a fé?
R
– Abrindo nossa mente e o nosso coração ao estudo do Evangelho, com o firme
propósito de nos reformar intimamente, mediante a vivência dos seus
ensinamentos.
“A
fé robusta dá a esperança, a energia e os recursos que fazem se vençam os
obstáculos, assim nas pequenas coisas, como nas grandes”.
3
– Por que a fé legítima está associada à humildade?
R
– Porque só é possuidor da fé verdadeira aquele que confia em Deus mais do que
em si próprio, e isto vem a ser demonstração de humildade.
Daí
nós concluirmos que:
A
fé se traduz pela confiança que se tem em Deus e em si próprio, com vistas à
realização de alguma coisa; confiança essa que dá a certeza de se atingir o
objetivo. A fé, para ser poderosa, tem que ser sincera, verdadeira e humilde,
virtudes que são conquistadas através do estudo e vivência do Evangelho.
Joanna
de Angelis no livro Lampadário Espírita nos diz:
Não
espere que a fé te busque.
A
fé não se doa, não se transmite.
Essa
chama divina arde em todas as almas, aguardando o combustível do esforço de
cada um para agigantar-se e clarear o espírito como mensagem de Deus.
Assim,
devemos aproveitar este estudo para fortalecer a nossa fé, colocando em prática
as lições aprendidas como bons alunos. Não vamos assimilar pelo sofrimento e
sim pelo esclarecimento. E que, cada vez mais, possamos ampliar a nossa fé.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os
chamados, poucos os escolhidos – itens de 13 a 16. Instruções dos Espíritos. –
Dar-se-á àquele que tem e Pelas suas obras é que se reconhece o cristão.
ITEM 13:
Aproximando-se dele, seus discípulos lhe disseram: Por que lhes
falas por parábolas? Respondendo, disse-lhes: É porque, a vós outros, vos foi
dado conhecer os mistérios do reino dos céus, ao passo que a eles isso não foi
dado. Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância;
àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará. Por isso é que
lhes falo por parábolas; porque, vendo, nada veem e, ouvindo, nada entendem,
nem compreendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías, quando diz: Ouvireis com
os vossos ouvidos e nada entendereis; olhareis com os vossos olhos e nada
vereis. (Mateus, cap. XIII, vv. 10 a 14).
ITEM 14:
Tende
muito cuidado com o que ouvis, porquanto usarão para convosco da mesma medida
de que vos houverdes servido para medir os outros, e ainda se vos acrescentará;
pois, ao que já tem, dar-se-á, e, ao que não tem, até o que tem se lhe tirará.
(Marcos, cap. IV, vv. 24 e 25).
Vamos procurar entender o que Jesus
quer dizer, através das citações de
Mateus e de Marcos. Nós já sabemos que as parábolas são alegorias que contêm
preceitos de moral. Ditas aos que ouviam
ansiosamente, procurando compreender seus discursos, a parábola tornava-se
excelente meio elucidativo dos temas e das dissertações do Mestre. Mas os que não
buscavam na parábola a figura que compara, a alegoria que representa a ideia
espiritual, e se prendiam à forma, desprezando o sentido, para estes a Doutrina
nem sequer aparecia, conservava-se oculta. Daí a resposta do Cristo aos
discípulos que Lhe perguntaram a razão Dele falar por parábolas: “Porque a vós
é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, ao passo que a eles isso não
foi dado. Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na
abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.
Por isso é que lhes falo por parábolas, porque vendo não veem; e ouvindo
não ouvem, nada entendem, nem compreendem”.
O objetivo deste estudo é refletir
sobre o nosso modo de ver e de ouvir no sentido de edificar o homem novo apregoado
pelo Evangelho, dentro de nós. Que tipo de análise nós podemos fazer a respeito
desta passagem evangélica e, mais especificamente, sobre a frase: Dar-se-á ao
que já tem e tirar-se-á do que não tem. A princípio, isso pode parecer um paradoxo.
Porque, teoricamente, nós quando praticamos a caridade entendemos que, quem já
tem não precisa receber. Nós damos ao que não tem nada. Essa é a nossa visão
para as coisas materiais, para as coisas do nosso mundo. Com certeza, aquele
que tem pouco é que merece receber mais e não aquele que tem muito. Como Jesus não veio à Terra com a
preocupação de nos informar sobre as coisas terrenas, para nos orientar como
devemos agir para obter coisas materiais, e disso, Ele sabia, muito bem, de que
as criaturas não precisavam, e sim, nos mostrar que existem coisas de maior
valor, que as coisas da Terra, fica claro para nós, que Ele estava se referindo
às coisas do espírito, às nossas virtudes, que são os nossos bens espirituais.
Daí resultando o fato da criatura receber mais ou ter diminuída essas virtudes.
Pela passagem evangélica se observa claramente que os fariseus e a maioria dos
judeus, ouvindo o relato da parábola, só viam a figura alegórica que lhes era
mostrada. Ao passo que com seus discípulos não acontecia a mesma coisa; eles
viam e ouviam no ensino, o sentido espiritual que permanece para sempre; não se
prendiam à figura ou à palavra. De modo que os fariseus
e a maioria dos judeus tinham o coração endurecido e ouviam de mau grado. Ou
seja, ouviam, mas não escutavam; viam, mas não enxergavam; porque uma coisa é
ver e ouvir com os olhos e ouvidos do corpo, e outra coisa é ver e ouvir com os
olhos e ouvidos do espírito.
A
condição que Jesus coloca, como sendo indispensável para possuirmos em
abundância é, como diz o texto, “de nós termos”. Mas termos o que? Certamente
algum princípio doutrinário unido à boa vontade para recebermos a verdade. E o
obstáculo para receber a doutrina é a criatura “não ter”. Não ter iniciação
espiritual e não ter boa vontade para recebê-la. Então, a partir deste ponto,
nós vamos começar a entender o porquê daqueles que já têm muito receberem mais.
Quando a criatura é possuidora de condições espirituais, vai, cada vez mais,
obtendo esse tipo de benefício. Porque tudo o que é de bom atrai o que é de
bom. Uma criatura que já esteja fazendo
o bem e, cada vez, fazendo mais, os talentos de virtude lhe serão
acrescentados. Ao passo que, aquela que está envolvida com as coisas materiais
e que não está se preocupando em adquirir alguma virtude ou, aquela que,
eventualmente tenha alguma virtude e também não se preocupa em desenvolve-la,
nada lhe será acrescentado.
A
parábola diz que, o pouco que se tem ainda será tirado. E como vamos entender
isto? É claro que Jesus usou um termo comparativo. Porque, se for um bem
verdadeiro, uma virtude já consolidada, isto não vai ser tirado. Simplesmente,
eles vão parecer diminuídos, ou, até, esquecidos, perante o nosso interesse
pelas coisas materiais. Podemos exemplificar da seguinte forma: tomemos uma
brasa de carvão. Se ela não for abanada, se não houver vento para se manter
viva, ela vai se apagando, até ficar totalmente extinta. Porém, o carvão
permanece ali, onde o colocamos aceso. É, esta, a ideia contida na
alegoria.
ITEM 15:
Nesse
item, Instruções dos Espíritos, o Espírito comunicante, que apenas se
identificou com Um Espírito Protetor, comentando essas passagens evangélicas
deu um outro exemplo: Dois herdeiros receberam terrenos e sementes para o
cultivo das áreas. Cada um recebeu uma área de igual tipo de terra e tamanho. A
mesma quantidade de sementes de igual qualidade. Um, preparou a terra
adequadamente; semeou corretamente e irrigou a terra, como tinha que ser
irrigada. No período próprio à colheita teve um bom resultado. Grande
quantidade e ótima qualidade do produto. Então, ele pegou parte do produto e
transformou em novas sementes, refazendo todo aquele trabalho de preparo da
terra. E assim procedeu, período após período, plantando e colhendo. Ao passo
que o outro não se preocupou em preparar a terra adequadamente; não semeou
corretamente; apenas jogou as sementes na terra e não a irrigou como tinha que
ser irrigada. No período próprio à colheita não teve um bom resultado. A
quantidade colhida foi pequena e a qualidade do produto não foi boa. Consequentemente,
a parte destinada à conversão em sementes novas, foi bem menor que a do seu
irmão. E a cada colheita, a parte destinada a se transformar em novas sementes
diminuía. Não fica difícil para nós,
percebermos que a diferença total de colheita entre os dois irmãos vai ficando
cada vez maior. Aquele que usou bem aquilo que recebeu, multiplicou os talentos
recebidos. Muito lhe foi dado. O outro, que não usou bem aquilo que recebeu,
diminuiu os seus talentos. Muito lhe foi tirado.
O
Espírito comunicante nos diz que não é Deus quem retira o pouco que a criatura
tem. É a própria criatura que, por ser descuidada, não sabe conservar o que tem
e muito menos aumentar esses talentos. Essa comparação entre os dois herdeiros
da alegoria explica perfeitamente a frase do mestre: “Àquele que já tem, mais
se lhe dará; Àquele que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará”. Então, se nós
não cuidarmos dos bens que deveríamos cuidar; se nós não multiplicarmos os
talentos que recebemos; se nós não desenvolvermos as poucas virtudes que tivermos,
vai acontecer conosco o que aconteceu ao herdeiro descuidado. Agora, se nós
dermos um polimento nas nossas virtudes, com certeza, elas atrairão outras
virtudes. Ou seja, outras pessoas com as mesmas virtudes que as nossas ou, com
mais virtudes, serão atraídas para o nosso convívio. Atrairemos seres da mesma
condição nossa, sejam encarnados ou desencarnados. Porque, nós recebemos as
coisas com o mesmo teor vibratório como enviamos. Quando a nossa intenção é a
elevação moral e espiritual, sintonizamos com vibrações superiores, que se
tornam estímulos vigorosos, produzindo harmonia interior e renovação. De nada
adianta a pessoa saber muito, ler muito, estudar muito se, na hora da verdade,
na hora que tem que dar o seu testemunho, que tem que colocar em prática a
multiplicação dos talentos desperdiça esta ocasião. É importante lembrar que,
isso vai nos ser cobrado; o Senhor vai nos pedir contas dos talentos que deixou
conosco.
Segundo
o espírito Marco Prisco, no livro Luz Viva, a nossa ascensão depende muito do
nosso esforço, através do autoburilamento e, mediante o que produzirmos em
favor do próximo. Dessa forma, estaremos fazendo exatamente aquilo que Jesus
nos recomendou. O que não alcançarmos
agora, insistindo, conseguiremos depois.
ITEM 16: Pelas
suas obras é que se reconhece o cristão
No
item anterior, nós tomamos conhecimento da condição que Jesus coloca pra nós no
intuito de recebermos mais talentos, que é a de ouvirmos e vermos com os
ouvidos e os olhos do espírito. O espírito Simeão comentando esse item que
estamos estudando, faz um alerta: “Abri os ouvidos, que é chegado o momento de
ouvir”. Ele ainda faz indagações: Será bastante, a criatura vestir um uniforme
do Senhor, para ser um fiel servidor seu? Bastará a criatura dizer: Sou
cristão, para que seja uma seguidora do Cristo? Os verdadeiros cristãos são
reconhecidos pelas suas obras. “Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem
uma árvore má pode dar frutos bons”. – “Toda árvore que não dá bons frutos é
cortada e lançada ao fogo”. São do Mestre essas palavras. Vejam bem! Como o
Espiritismo é o Cristianismo redivivo e nós somos espíritas, vamos transportar
esses ensinamentos para as lides espíritas.
O
que é ser espírita? Se nós consultarmos o dicionário ele nos indicará tratar-se
de pessoa vinculada ao Espiritismo; Se perguntarmos a quem não é espírita, uns
dizem que são aqueles que falam com os mortos outros não querem saber; Se
indagarmos aos próprios espíritas, uns dirão que é ir ao Centro ou à Casa
Espírita, tomar passe, ouvir palestras, ler livros da Codificação. Outros dirão
que é fazer caridade. As respostas serão várias, mas todas incompletas.
Em
o Livro dos Espíritos, na conclusão, item VII, Allan Kardec apresenta uma
classificação dos adeptos da Doutrina Espírita: Os que acreditam; Os que acreditam e admiram a moral espírita;
e Os que creem, admiram e praticam. E segundo o Codificador, esses últimos são
os verdadeiros espíritas, ou os espíritas cristãos. No capítulo XVII, nos itens
“O homem de bem” e “Os bons espíritas”, podemos compreender que as
características coincidem com os preceitos morais que justificam a denominação
de espíritas cristãos. As palavras de Jesus, nós podemos encontrar repetidas,
com muita facilidade, em várias bocas. É muito fácil nós ouvirmos, seja na Casa
Espírita ou em qualquer outro ambiente, alguém falando de Espiritismo, e
sabendo de cor os ensinamentos do Mestre. O difícil é esse alguém dar
testemunho. Muita gente professa uma doutrina, mas não pratica. Tomemos como
exemplo uma criatura que se declara adepta do Espiritismo. Faz propaganda da ideia
espírita. Isto é fácil, mas o difícil para essa criatura, que está mergulhada
nos seus problemas, é exemplificar o que prega. Assim somos nós. Repetimos o
tempo todo: Senhor! Senhor! Falamos sobre os ensinamentos do Cristo. Passamos
para as pessoas que estão nos ouvindo essas coisas maravilhosas do seu
Evangelho. E, até Achamos que somos uma árvore boa, que estamos dando bons
frutos. Porém, no momento em que somos contrariados, que somos atingidos na
nossa vaidade, que o nosso orgulho é ferido, ocasião em que deveríamos mostrar
todo o nosso conhecimento com exemplos, provar que estamos neste Mundo, mas não
somos propriedades dele, o que fazemos? Passamos de laranja lima para limão. E,
aí, nós nos certificamos de que ainda somos uma árvore péssima, o nosso fruto é
azedo. Então, repetem-se aqui as palavras de Jesus: “Nem todos os que me dizem:
Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus”. Ora,
se o Mestre se decepcionasse, seria, primeiro conosco. E para nossa sorte,
Jesus é o extremo da paciência. E a sua paciência para conosco é uma coisa
admirável. Ele está sempre à nossa espera, mesmo que sigamos pelo caminho que
nos leva à porta larga, espalhando espinhos. Pois sabe que nós temos que
voltar, pelos nossos passos e pisar nos espinhos que nós mesmos espalhamos. E
no momento em nós pararmos para pensar, fazermos uma reflexão, nós vamos
recorrer ao divino: Meu Deus! O que é que eu estou fazendo? E nesse momento,
nós vamos nos envergonhar, porque, vamos lembrar das nossas prédicas, feitas
para os nossos irmãos, que acharão lindas, mas não sabem da maneira como
procedemos, às vezes, prejudicando nosso semelhante. Portanto, devemos abrir os
nossos ouvidos, os nossos olhos e os nossos corações, para cultivarmos a árvore
da vida. Aquele que a plantou nos convida sempre para cuidar dela com amor,
para colhermos em abundância seus frutos divinos. Não sejamos maus jardineiros.
Devemos conserva-la como Jesus nos deu: produzindo sombra generosa para abrigar
os necessitados; produzindo frutos benfazejos para alimentar os famintos. Não
devemos, portanto, guarda-los e deixar apodrecer, sem ter serventia para
alguém. O espírito Simeão encerra o seu comentário dizendo: “A árvore que dá
bons frutos tem que os dar para todos. Ide, pois, procurar os que estão
famintos; levai-os para debaixo da copa da árvore e partilhai com eles do
abrigo que ela oferece”. Se nós nos dizemos espíritas, que o sejamos;
esquecendo o mal que nos foi feito e pensando só numa coisa: o bem que podemos
realizar. E para que coloquemos isso em prática, temos que nos esforçar para
vencer as más tendências que ainda habitam em nós.
Eis
o que é verdadeiramente ser espírita: a adoção dos preceitos morais como
diretrizes da própria conduta ou o esforço para a eles se adaptar. O ser
espírita é mais uma questão de foro íntimo, que de aparências externas. Portanto, não devemos descuidar em
acender a luz do Evangelho em nós; no plantio de uma árvore generosa e
frutífera no caminho; no atendimento fraternal diante do irmão necessitado,
ainda, que, não exemplifiquemos tudo o que estamos estudando. Mas enquanto não
praticarmos todas as lições, nós precisamos repeti-las. Porque, à medida que
vamos aguçando o nosso olhar e a nossa audição sobre elas, vamos também nos
libertando de nossos erros. Tornando-nos numa pessoa nova, num ser preocupado
em colocar em prática os ensinamentos trazidos por Jesus. Se nos encontramos
realmente empenhados na execução do bem, ouviremos, decerto, as provocações do
mal em todos os instantes de testemunho. Para vence-las, devemos: buscar a luz
onde a luz se encontre; desculpar toda a ofensa; eleger a fraternidade como
bandeira; conjugar o verbo servir onde estivermos; começar o trabalho de
redenção em nós mesmos; orar por quem nos fere ou calunie; amar os próprios
adversários; ajudar sem exigência. Contudo, para o exercício se semelhante
apostolado, não passaremos sobre a Terra sem o assédio da incompreensão e do
escárnio. Em cada situação do caminho, é possível registrar o chamamento
celeste: no seio familiar, ante o irmão desconhecido, à frente do adversário,
ao pé do enfermo, diante do ignorante e junto à criança. Nas menores
experiências, no trabalho ou no lazer, no lar ou na via pública, eis que nos
convida ao exercício incessante do bem.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1
– Por que muitos que dizem “Senhor! Senhor!”, não entrarão no reino dos céus?
R
– Porque aqueles que dizem apenas palavras soltas, sem refletirem o que lhes
vai ao íntimo, não são agradáveis a Deus. A Ele agrada mais a devoção sincera,
partida do coração e, acima de tudo, comprovada por atitudes no bem.
Nem
sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é acompanhado de atos que
identificam o verdadeiro cristão.
2
– E qual é a vontade do Pai que está nos céus?
R
– Que nos comportemos como verdadeiros cristãos e façamos o bem nos termos
ensinados por Jesus, não importando a qual religião pertençamos.
Não
é o título religioso de que somos detentores que nos levará ao Pai, mas sim
nossas obras.
3
– Como se reconhece o verdadeiro cristão?
R
– Pelas suas atitudes com relação ao próximo, pelas obras que pratica e pela
sua vivência real dos ensinamentos do Cristo.
O
verdadeiro cristão se revela pela sua reforma íntima e pelo esforço que faz por
vencer os maus pendores.
Daí
nós concluirmos que:
Diante
de Deus só se obtém méritos, através de obras no bem, e não através de simples
religiosidade, muitas vezes falsa ou de cunho exterior. É no Cristianismo que
se encontram todas as verdades e não propriamente em alguma religião em
particular.
“Administra,
onde estiveres, o auxílio espiritual com a alavanca do próprio equilíbrio.
Vigilância sem violência. Calma sem preguiça. Consolo sem mentira. Verdade sem
drama”. “Se já sabes o que deves fazer, no plano da alma, trazes o coração
chamado a instruir, e um professor verdadeiro, enxergando mais longe, não
apenas informa e ensina, mas também socorre e vela”. (Emmanuel).
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os
chamados, poucos os escolhidos – itens 10 a 12 – Muito se pedirá àquele que
muito recebeu.
ITEM 10:
Muito se pedirá àquele que muito
recebeu
O servo que souber da vontade do
seu amo e que, entretanto, não estiver pronto e não fizer o que dele queira o
amo, será rudemente castigado. Mas, aquele que não tenha sabido da sua vontade
e fizer coisas dignas de castigo menos punido será. Muito se pedirá àquele a
quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais
coisas se haja confiado. (Lucas, cap. XII, vv. 47 e 48).
Este tema, como tantos outros do
evangelho de Jesus, nos chama à responsabilidade e nos convida a fazer uma
avaliação de tudo aquilo que nós estamos aprendendo, através da Doutrina
Espírita.
Então, o que queria dizer Jesus,
com estas palavras: Aquele que recebeu muito e não trabalhou, muito será
exigido; mas aquele que pouco recebeu e também fez coisas dignas de repreensão,
pouco será exigido. Na verdade, Ele queria dizer que os talentos que nós
recebemos de Deus devem ser multiplicados, em favor do nosso próximo, sejam
eles bens materiais ou não.
O conhecimento desses talentos
nos impõe uma responsabilidade maior, perante a Providência Divina e aos nossos
semelhantes. A Providência Divina nos cobra na mesma proporção que Ela nos dá
esses talentos. Por esta razão, se muito recebermos maior será a nossa
obrigação de doarmos, em favor dos nossos irmãos de caminhada.
Dessa forma, com esse tema
proposto: Muito se pedirá àquele que muito recebeu, nós vamos meditar a cerca
de tudo aquilo que já agregamos das informações que a Doutrina Espírita nos
forneceu, e como nós estamos realizando as tarefas, em função do que
conhecemos, não só no campo religioso, mas, sobretudo, na vida como um todo.
Porque, na verdade, nós não podemos separar da ideia religiosa as nossas
atitudes religiosas, e restringi-las somente aos limites dos muros da Casa
Espírita.
Os preceitos do Cristo estão
difundidos somente no seio das seitas cristãs. E dentro destas, quantos há que
não os leem, e, entre os que leem, quantos os que os não compreendem! Resulta
daí que as próprias palavras do Mestre são perdidas para a maioria dos homens.
Muitas vezes, nós nos deixamos
envolver por circunstâncias da vida e somos conduzidos a fazer coisas sem
prestarmos atenção naquilo que estamos realizando. Mesmo quando se trata de um
trabalho religioso. E, por que isso? Porque a nossa tendência é criar um ritmo
de ação mecânico, no qual estão ausentes as essências do amor e da caridade. E,
nessa situação, não avaliamos se o que estamos praticando reflete o que
realmente foi ensinado por Jesus.
A maneira como nós desenvolvermos
as tarefas práticas ou teóricas vai mostrar, logicamente, para todos os que
estão ao nosso redor, como é que foi entendida por nós a doutrina do Cristo.
Por isto, é que essa avaliação sugerida tem que ser constante.
Ora, se nós já estamos estudando
as orientações do Mestre, se nós já entendemos que fora da caridade não há
salvação, nós temos que doar esses talentos recebidos, na mesma proporção. Mas
acontece que muitos companheiros de caminhada, detentores de muitos
conhecimentos, não percebem a importância e a responsabilidade de sua ação
diante de seu próximo. Muitos, até participam, porém, de forma não efetiva. Vão
à Casa Espírita, mas não colocam os conhecimentos adquiridos, na vida prática.
Quantas vezes, por comodidade, a
criatura só retira dos ensinamentos de Jesus a parte material? Ela se acomoda e
não retira a sabedoria, que só pode ser retirada através de ações.
A caridade só é caridade se ela
entrar em ação, se ela for dinâmica, aplicada na nossa vida prática. Enquanto
ela ficar somente na teoria e no papel, ela não será caridade.
Emmanuel nos diz que tudo na vida
demanda um sacrifício. Tudo na vida tem um preço, entre aspas. E exemplifica:
“O peixe mora gratuitamente na água, mas deve nadar por si mesmo. A árvore,
embora não pague imposto pelo solo em que se vincula, é chamada a produzir
conforme a espécie.
Ninguém recebe talentos da vida
para esconde-los em poeira ou ferrugem”. E diz mais, que nós nascemos para
realizar o melhor.
Quando ele diz que “o peixe mora
gratuitamente na água, mas deve nadar por si mesmo”, ele nos mostra que todas
as nossas ações, que nos levarão a construir algo para nós, para a nossa
evolução e felicidade e, que, consequentemente, deverá ser vivenciada em
conjunto, através da lei de solidariedade. Nós somos seres sociais e, por isto,
precisamos viver em sociedade. Ele quer nos dizer, com certeza, que para isso
vai demandar de nós um certo sacrifício, ainda que Deus nos ofereça talentos de
graça.
Deus nos dá talentos múltiplos,
como por exemplo: o talento da saúde, da inteligência, da mediunidade, enfim,
todo o necessário para que nós utilizemos no nosso progresso e, consequentemente,
no progresso e no bem dos nossos semelhantes. Embora Ele nos ofereça
gratuitamente todos esses talentos, é preciso que a gente se esforce. E, isto
é, de alguma forma, um preço, entre aspas. E esse preço é justamente o nosso
esforço para a nossa evolução, que, quase sempre, não queremos pagar.
Para encerrarmos esse item, vamos
reproduzir um trecho de Paulo, retirado de sua Epístola aos Romanos, capítulo
XII, vv. 2 a 18, que diz o seguinte:
“Não vos adapteis às
conveniências e convenções do mundo, mas transformai-vos pela renovação do
entendimento, de modo a conhecerdes os desígnios de Deus, para que a vossa
tarefa se faça agradável e útil”.
Desse modo, existindo diversos
dons, segundo as concessões que nos são dadas, se nos cabe a profecia seja ela
praticada, na medida de nossos recursos; se convocados à administração,
ocupemo-nos em administrar; se localizados no ensino, devotemo-nos à instrução;
os que exortem, usem as suas possibilidades em exortar; os que foram trazidos a
repartir, procedam com liberalidade; quem preside, seja prudente; corações
chamados ao exercício da misericórdia, empreguem a misericórdia com alegria”.
ITEM 11:
Vim a este mundo para exercer um
juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos. Alguns
fariseus que estavam com ele, ouvindo essas palavras, lhe perguntaram: Também
nós, então, somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis
pecados; mas, agora, dizeis que vedes e é por isso que em vós permanece o vosso
pecado. (João, cap. IX, vv. 39 a 41).
Essa citação de João é um
complemento da citação anterior.
Na frase: “Se fôsseis cegos, não
teríeis pecados”, Jesus quis dizer que, quanto maior for o esclarecimento da
criatura maior será a sua culpa, em não seguir os Seus ensinamentos. Ora, os
fariseus, que alardeavam ser os mais esclarecidos da sua nação, e, realmente
eram, mais culposos se mostravam aos olhos de Deus, do que o povo ignorante.
O mesmo se aplica hoje, às
criaturas que estudam o Evangelho de Jesus. Nenhuma dessas criaturas que
receberam diretamente ou por intermédio de outros, todas as informações do
Cristo, podem tomar como pretexto ignorância ou, ainda, desculpar-se com a sua
falta de instrução ou com a obscuridade do sentido alegórico, ou seja, falta de
clareza nas expressões de ideias de forma figurada. Daí não poderem alegar que
não realizam o suficiente porque não entenderam.
Então, aquele que não põe em
prática para melhorar-se; que as admira como coisas interessantes e curiosas,
sem que essas máximas de Jesus lhe toquem o coração, mais culpado é, porque,
tem meios maiores de conhecer a verdade.
Na verdade, todos os talentos
recebidos precisam ser retribuídos a Deus, através de nossos semelhantes.
Quando nós conhecemos as verdades de Jesus e não as colocamos em prática, é que
está faltando em nós boa vontade. E esta cegueira voluntária da alma trará uma
responsabilidade tanto maior quanto maior for o conhecimento.
Ao estudarmos o Evangelho de
Jesus, nós sentimos a necessidade de ter uma conduta compatível com os seus
ensinamentos. Porém, ainda não vivenciamos tudo o que estamos estudando. Mas,
enquanto não praticarmos todas as lições precisamos repeti-las, para que
estejam sempre presentes em nossas mentes e permaneçamos cientes quanto à
necessidade de vivenciá-las.
Vamos destacar algumas questões
para reflexão:
1 – O que significa a expressão
de Jesus: “Muito se pedirá àquele que muito recebeu?”.
R – Que os talentos que recebemos
de Deus, sejam os de conhecimento, sejam os de bens materiais, devem ser
multiplicados em favor do próximo e nos impõem uma responsabilidade maior
perante a Providência Divina e os nossos semelhantes.
A Providência Divina nos cobra na
mesma proporção que nos oferece: se muito recebemos, maior é a nossa obrigação
de doar em favor do próximo.
2 – O conhecimento espírita
propicia mais responsabilidade?
R – Sim. Contudo, maiores
alegrias também, se bem praticado.
“Aos espíritas, pois, muito será
pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado,
muito será dado”.
3 – Não é mais aconselhável saber
menos, pois, assim, menos contas teremos que prestar a Deus?
R – Constitui isso um regozijo
efêmero, que apenas fará com que retardemos o nosso progresso, a cuja lei, mais
cedo ou mais tarde, inexoravelmente, teremos de nos aderir.
Somos responsáveis, não somente
pelos nossos erros cometidos, mas, também, pela nossa inércia, comodismo e má
vontade.
Daí nós concluirmos que:
Perante Deus, a responsabilidade
dos nossos atos é diretamente proporcional ao esclarecimento de que já somos
portadores.
Nós vamos finalizar o nosso
estudo com uma frase de Kardec:
“O Espiritismo vem multiplicar o
número dos chamados. Pela fé que faculta, multiplicará também o número dos
escolhidos”.
ITEM 12.
É um comentário de Kardec sobre
os textos dos evangelistas e, por esse motivo, dispensa o nosso comentário
sobre o item.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os
chamados, poucos os escolhidos – Itens 6 a 9 – Nem todos os que dizem: Senhor!
Senhor! Entrarão no reino dos céus.
ITEM 6:
Nem todos os que me dizem:
Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, nesse dia, me dirão: Senhor!
Senhor! Não profetizamos em teu nome? Não expulsamos em teu nome o demônio? Não
fizemos muitos milagres em teu nome? Eu então lhes direi em altas vozes:
Afastai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniquidade. (Mateus, cap. VII, vv.
21 a 23).
Nós vamos encontrar nos itens que
vamos estudar, sérias advertências de Jesus, com referência ao fato de nós
seguirmos ou não os seus ensinamentos.
Jesus, por Mateus, disse: “Nem
todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus”. Ora, de que
serve chamar o Mestre, se não seguimos os seus preceitos? Isto acontece com
aqueles que se dizem discípulos do Cristo, que passam o dia inteiro a rezar, e
que não se tornam melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com
os seus semelhantes.
Paulo dizia que, não basta
fazermos a caridade; é preciso que esse gesto seja revestido de amor, de
compreensão daquilo que estamos fazendo. Falar é muito fácil, mas cada palavra
tem que ter a sua vibração; cada frase tem que ter a expressão de um
sentimento. Nós podemos clamar: Senhor! Senhor! Mas se estas palavras não saírem
do coração, serão como um sino a ecoar. Afora o som repercutindo aos nossos
ouvidos, nada fica. Seria, também, igual a prática utilizada pelos fariseus,
que tinham a prece nos lábios e não no coração; honravam as palavras do senhor
com atos exteriores de devoção e, ao mesmo tempo, as sacrificavam ao orgulho,
ao egoísmo, a cupidez (cobiça) e a todas as suas paixões. Ou seja, desmentiam
com os seus atos o que diziam com os seus lábios. Por este motivo, numa outra
passagem evangélica, Jesus, também por Mateus, no capítulo XV, vv. 8 e 9 de seu
Evangelho diz: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe
de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.
Então, nesse nosso estudo estamos
vendo que, não adianta-nos bradar o nome de Deus em vão, mas sim não
praticarmos a iniquidade, quer dizer, não sermos injustos, perversos, malvados.
Devemos sempre fazer a vontade do Pai Criador.
“Tudo quanto, pois, quereis que
os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os
Profetas”. (Mateus, Cap. VII, v.12).
ITEM 7:
Aquele, pois, que ouve estas
minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que construiu
sobre a rocha a sua casa. Quando caiu a chuva, os rios transbordaram, sopraram
os ventos sobre a casa; ela não ruiu, por estar edificada na rocha. Mas, aquele
que ouve estas minhas palavras e não as pratica, se assemelha a um homem
insensato que construiu sua casa na areia. Quando a chuva caiu, os rios
transbordaram, os ventos sopraram e a vieram açoitar, ela foi derribada; grande
foi a sua ruína.(Mateus, cap. VII, vv24 a 27. – Lucas, cap.VI, vv.46 a 49).
Nesta passagem Jesus compara a
crença com a construção de uma casa. E são muitos os que interpretam essa
passagem de maneira equivocada. Interpretam a construção da casa sobre a rocha
ou sobre a areia de uma forma muito material, seguindo o caminho radicalmente
oposto ao do caminho cristão, na busca da felicidade. E não é esse o caminho a
que Jesus se referiu.
O Mestre nos fala de dois tipos
de construção. A boa construção que nasce do estudo, do exame e da observação,
para poder se fazer a casa sobre a rocha; e a má construção que é feita sem
análise, com os dogmas que são sugeridos, resultando daí a construção da casa
sobre a areia.
Na prática, quem quer construir
uma boa casa, e que possa, pela sua solidez, resistir às intempéries, procura
um bom terreno, e assenta sobre ele uma base de pedra para suportar o peso da
casa. Só depois, então, é que ergue as paredes e conclui o prédio.
Outros há que não fazem questão
de terreno, nem de alicerce. Constroem em qualquer lugar. E estas casas não
oferecem garantia e se tornam perigosas aos moradores.
Assim é na religião. Quem procura
com boa vontade e livre de ideias preconcebidas a verdade, e está disposto a
abraça-la, está edificando sobre a rocha.
Mas, assim como não é bastante
encontrar o terreno para ter a casa feita, também não basta encontrar a verdade
para tê-la em si. É preciso construir a crença, como se constrói uma casa.
Quando se encontra a verdade,
depois de se estar certo pela investigação, exame, raciocínio, que é, de fato,
temos que tratar com urgência da construção da crença, a começar do alicerce e
este há de ser forçosamente o mesmo posto por Jesus, a revelação divina, como
disse Ele aos seus discípulos: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”.
(Mateus, cap. XVI, vv. 13 a 19).
E, assim, com o material vindo do
céu, que são os ensinamentos do Mestre, com o nosso trabalho e esforço, devemos
seguir a recomendação de Francisco de Assis que, na sua perseverança na busca
constante de seu objetivo dizia: É necessário que se coloque tijolos na
construção de nossas vidas; mas que, a cada dia se coloque pelo menos um
tijolo. Assim, vamos, pouco a pouco, construindo a casa da nossa crença que
tanto mais sólida e mais segura será, quanto maior for a dedicação que
tivermos. A nossa edificação terá a firmeza inabalável da verdade que é Jesus.
Será o nosso eterno abrigo.
Desse modo, as marés do mundo
podem subir que não encontrarão o caminho fácil das nossas vaidades, para
possibilitar qualquer dano.
Se pautarmos a nossa vida, os
nossos atos e, principalmente, os nossos pensamentos por essa rocha, que é
Jesus, nunca seremos derrubados. Não haverá maré, não haverá tempestade, não
haverá ventania que derrube o que foi construído. No entanto, se nós pautarmos
a nossa vida com base nos nossos interesses, nas nossas vaidades, nas coisas
mundanas, no nosso estar mais do que o ser, com certeza, nós estaremos
construindo sobre a areia. Por mais que demore, vem o vento, vem a chuva, os
rios do mundo sobem e destroem tudo aquilo que nós construímos.
O mundo está sempre nos
oferecendo verdadeiros areais, para nós construirmos sobre eles a nossa vida. É
muito mais fácil avistarmos um areal do que uma pedra. Só que, quando o rio
subir, o areal vai desaparecer e a pedra vai sobressair.
Nós temos a opção de escolha.
Resta-nos ter a consciência plena do nosso raciocínio, para usar o nosso
livre-arbítrio, fazendo a escolha correta, na hora certa.
Jesus deixou ensinada uma lição
para cada situação de nossas vidas. Aqueles que buscam a perfeição, baseados em
valores exteriores e em curto prazo, ainda não estão preparados para ela. Há
que se ter uma visão clara do futuro; mas também há que se ter o firme
propósito de construirmos alguma coisa que seja referente à nossa evolução
moral, praticando ações no bem, se possível, todos os dias.
As palavras de Jesus são eternas,
porque elas representam a verdade. Constituem o salvo-conduto para a vida
celeste, como também a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas
coisas da vida terrestre. Eis porque todos aqueles que se apoiarem nessas
palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha. As que, porém,
forem uma violação daquelas palavras, serão como a casa edificada na areia. O
vento das renovações e o rio do progresso as arrastarão.
ITEM 8:
Aquele que violar um destes
menores mandamentos e que ensinar os homens a viola-los, será considerado como
último no reino dos céus; mas será grande no reino dos céus aquele que os
cumprir e ensinar. (Mateus, cap. V, v. 19).
É evidente que, por sermos seres
humanos falíveis, de vez em quando, somos tentados a distorcer as palavras de
Jesus. Talvez por ignorância ou, até mesmo, por conveniência, fazemos ou
ensinamos o que o Mestre pregou de forma equivocada.
Esta passagem evangélica é uma
advertência: Não devemos agir nem ensinar em nome do Senhor, se a nossa conduta
desmente tudo o que nós fazemos ou falamos.
Então, aqueles que usam em vão as
palavras de Jesus, praticando-as num culto exterior, não terão valor no reino
dos céus. Seria como edificar na areia. Agora, aqueles que se apoiam realmente
nas palavras do Mestre, e as ensinam, serão estáveis como uma edificação sobre
a rocha. Porque as palavras de Jesus ditas com amor, ditas com um verdadeiro
desejo de que os nossos irmãos sejam felizes, essas palavras ficam.
Credenciando a entrada no reino dos céus.
Apesar dos nossos erros, mas a
sincera intenção de edificarmos a nossa casa na rocha, nos credencia a
contarmos com a misericórdia do Mestre. Jesus acredita em nós, quando os nossos
propósitos nos levam ao caminho da prática da lei de amor e caridade.
Seguros de que a nossa casa está
construída, bem alicerçada sobre a rocha, nós podemos enfrentar as piores
dificuldades. Leve o tempo que levar, que os ventos contrários não irão
derruba-la.
ITEM 9.
Trata-se de um comentário de
Kardec, que dispensa comentário.
Vamos destacar algumas questões
para reflexão:
1 – Por que nem todos os que
dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus?
R – Porque a entrada no reino dos
céus só é facultada àqueles que cumprem a lei de Deus, segundo os preceitos de
Jesus. E nem sempre o balbuciar de palavras reverenciando o Senhor é
acompanhado de atos que caracterizam o verdadeiro cristão.
Os atos exteriores de devoção, as
expressões bonitas, sem sacrifício do nosso orgulho, egoísmo e cupidez, nada
valem aos olhos do Pai. A Ele interessa o que vai em nosso íntimo.
2 – O que é necessário o homem
fazer para conquistar o reino dos céus?
R – Usar os recursos
intelectuais, materiais e morais de que dispõe, para realizar, tão bem quanto
possível, a tarefa que lhe cabe como cristão, e todo o bem ao seu alcance,
seguindo sempre o roteiro traçado por Jesus.
Daí nós concluirmos que:
Conhecer a lei de Deus e
reverenciá-lo por palavras é condição necessária, porém não suficiente para a
felicidade plena; é igualmente indispensável agir de acordo com os ditames da
soberana lei, tão bem expressa e exemplificada por Jesus, em seu Evangelho.
Só chegaremos a bom termo, no
cumprimento das tarefas que nos compete realizar, se tomarmos por base os
mandamentos divinos.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os
chamados, poucos os escolhidos – Itens 3 a 5 – A Porta estreita.
Item 3. Entrai pela porta
estreita, porque a larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela
conduz, e muitos são os que por ela entram. Quão pequena é a porta da vida!
Quão apertado o caminho que a ela conduz! E quão poucos a encontram! (Mateus, Cap.
VII, vv. 13 e 14).
Item 4. Tendo-lhe alguém feito
esta pergunta: Senhor, serão poucos os que se salvam? Respondeu-lhes ele:
Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos
procurarão transpô-la e não o poderão. E quando o pai de família houver entrado
e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor,
abre-nos; ele vos responderá: não sei donde sois. Por-vos-eis a dizer: Comemos
e bebemos na tua presença e nos instruíste nas nossas praças públicas. Ele vos responderá:
Não sei donde sois; afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade.
Então, haverá prantos e ranger de
dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas estão no
reino de Deus e que vós outros sois dele expelidos. Virão muitos do Oriente e
do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, que participarão do festim no reino
de Deus. Então, os que forem últimos serão os primeiros e os que forem
primeiros serão os últimos. (Lucas, cap. XIII, vv.23 a 30).
Item 5. Comentário de Kardec:
Larga é a porta da perdição,
porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho
do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é
obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa
a que poucos se resignam. (...) Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos
mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros fa fé;
o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender
toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo.
É muito comum encontrarmos nos
ensinamentos de Jesus uma escolha para fazermos. Ele sempre nos coloca diante
de uma opção livre, porque Deus, criador de todas as coisas, concede ao homem,
Espírito em processo evolutivo, inteligência, raciocínio e, sobretudo, livre-arbítrio,
que é a liberdade de escolha. Por isto,
cabe, somente a nós, a tarefa de escolher os nossos caminhos e, com isto,
traçar e construir nossos destinos.
Na nossa vida, dois são os
caminhos que se apresentam para nossa escolha: o caminho da evolução e o
caminho da degradação. E pelas palavras de Jesus, quando nos diz: “Entrai pela
porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à
perdição”, percebemos o quanto é difícil entrar pela porta estreita.
O caminho da evolução, que leva à
porta estreita, é apertado e são poucos os que conseguem segui-lo. Por outro
lado, é grande o número dos que não querem trilha-lo por ouvir dizer que é
muito difícil. Já o caminho da degradação, que leva à porta larga e, consequentemente
leva à perdição, é mais fácil e é grande o número de criaturas que por ele
segue e dele não quer sair, por ser espaçoso e facultar os prazeres materiais e
pessoais.
O caminho da evolução, que é o
caminho do progresso, nós vemos com os olhos da alma; e por ser apertado exige
conhecimentos, atenção, critério, raciocínio, para a devida aquisição da
felicidade futura. Já o caminho da degradação proporciona no presente os gozos
efêmeros do mundo, e a criatura por ele caminha, presa às delícias perecíveis.
Este caminho é guarnecido de todos os atrativos. Nele, os sentidos humanos se
fascinam, embriagam-se pelas sensações exteriores, aniquilando o Espírito que
fala à consciência, adormecendo a alma que deixa de agitar a razão.
A nossa ascensão espiritual está
relacionada com a nossa capacidade de utilizar os recursos recebidos da
espiritualidade e com a nossa adaptação aos cenários em que vivemos. Isto quer
dizer que, só depende de nós o sucesso na nossa escolha de caminhos.
Sabemos que não é fácil para nós,
criaturas que, quase sempre, estamos ligados apenas aos resultados imediatos da
vida, convivendo em função de valores materiais, perceber uma grande verdade:
Em cada caminho uma lição; em cada passo um valor a ser aprendido. E nessas
lições de aprendizado, nós devemos ser capazes de vencer as tendências
inferiores que ainda residem em nós. Aqui poderíamos entender uma
complementação da máxima: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos”.
Sendo a Terra um mundo de
expiações e provas, a nossa tendência, quase sempre, é usar a lei das
facilidades, do menor esforço. Pelo menos, o que aparentemente é mais fácil. E,
por isto, muitos são os motivos de falha na estrada da vida, e se não forem
identificados e tratados convenientemente, com certeza, nos levarão a seguir o
caminho da perdição, o caminho dos valores ilusórios do mundo, em detrimento de
nossa realidade espiritual. Temos que fazer uma reflexão sobre a escolha do
caminho que estamos seguindo. Se, por ventura, tivermos escolhido o caminho
errado, temos que, em menor tempo possível, voltarmos ao ponto inicial. Isto,
porque, o tempo e a distância gastos no retorno será bem menor do que, por
ocasião da descoberta do equívoco, já estivermos muito afastados, distantes
mesmo, do ponto de partida. Aí, a volta será mais longa e, consequentemente,
mais demorada.
Então, deixar-nos levar pelos
vícios e pelas paixões inferiores; deixarmos de estabelecer objetivos de vida,
baseados no senso de utilidade e nos valores do espírito; deixarmos de perceber
nossa própria verdade, dando guarida à ilusão, ao orgulho e a vaidade pessoal;
deixarmos de perceber a nossa natureza e destinação, ou seja, simples e
ignorantes, com a missão de evoluir; nos negarmos a assumir a responsabilidade
que o livre-arbítrio nos impõe; não exercitarmos a vigilância e a
auto-avaliação de nossos atos, para correção dos rumos tomados. Tudo isto vai
retardar a marcha para nossa elevação, nos deixando estacionados, aprisionados
às características naturais, com as quais iniciamos a caminhada, nos
direcionando para um destino não muito bom. Um destino que, num futuro, vai nos
exigir um esforço muito maior do que seria exigido agora, se tivéssemos
escolhido o caminho da porta estreita. Vamos ser conduzidos ao retrabalho e à
reparação de experiências mal sucedidas.
Não podemos entender esta
parábola com a ideia de que nós só temos uma existência. Tornar-se-ia muito
complicado esse entendimento, porque seria difícil de explicar o motivo pelo
qual uns têm dificuldades no caminho e outros não; por que a dificuldade de uns
é maior do que a de outros; por que todas as criaturas têm que passar pela
porta estreita; por que para uns a porta é mais estreita e para outros não é
tanto assim; por que a maioria das criaturas escolhe a porta larga. Só o
entendimento baseado nas múltiplas existências é que pode proporcionar um
esclarecimento amplo, para entendermos que, se hoje a porta para um está mais
estreita e para outro nem tanto, isso é consequência do que aconteceu antes, em
vidas passadas.
Quando Jesus diz que: “Haverá
prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os
profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expedido”,
entendemos que, o Mestre faz uma alusão às criaturas que vivem no reino da
mentira, da hipocrisia e das exterioridades, coisas que Ele combatia, e por
isto, ficarão imersos nessas mesmas trevas.
Muitos dos que caminham pela
porta larga, quando bate o desespero, a angústia e a infelicidade, vão bater na
porta estreita, mas não conseguem entrar. Deus que é justo, não deixará passar
ninguém que não tenha mérito. Ninguém será capaz de burlar esta lei divina,
perfeita e justa.
Somente com o arrependimento das
faltas cometidas e a reparação das mesmas, da procura da reforma moral, é que a
porta estreita voltará a se abrir novamente.
Para finalizarmos o nosso estudo,
nós vamos buscar o entendimento desta frase de Jesus: “Virão muitos do Oriente
e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia”. De início vamos salientar que a
tradução desse nosso Evangelho foi feita da terceira edição francesa. E na
língua francesa a palavra meridien tanto serve para designar meridiano, que se
refere ao ponto cardeal sul, e meio-dia, referente à doze horas do dia. Ora, se
Jesus utilizou a palavra setentrião, que se refere ao ponto cardeal norte,
logicamente, estaria se referindo ao sul, quando falou a palavra que foi
traduzida por meio-dia. Supomos tratar de uma tradução equivocada. E, o que o
Mestre queria dizer com isso? Deduzimos que Jesus, de acordo com a sua própria
afirmação: “Veio para as ovelhas desgarradas da casa de Israel”, é bom
esclarecer que, “Ovelhas desgarradas do redil” não são somente aqueles que
nasceram dentro dos limites acanhados de uma nação que se intitulava “eleita”,
mas todos aqueles que, mesmo situados nos rincões mais longínquos da Terra,
estão com as almas preparadas para receber, assimilar e viver os ensinamentos
evangélicos em toda a sua plenitude. Eis porque Pedro foi a Cesaréia dialogar
com o centurião Cornélio e conseguir a sua conversão. Paulo foi enviado a
Atenas e a Roma a fim de tentar conseguir a conversão daqueles que já estavam
preparados para receber a semente generosa da Boa-Nova em seus corações. Eis
porque o Mestre disse: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e
do Meridiano, e participarão do festim no reino de Deus”.
Sem Jesus, há portas de todas as
formas e feitios: do comodismo, da ociosidade, da maledicência, do pessimismo,
do desânimo, da ganância e outras. Jesus é a única porta que nos conduzirá à
salvação. Jesus é a porta que ninguém fechará. Porta sempre aberta para almas
de todos os portes. Quem por ela entrar será conduzido a um redil abençoado.
Vamos destacar algumas questões
para reflexão:
1 – Em que consiste a porta
estreita e a porta larga, referidas no texto que estudamos?
R – A porta estreita simboliza a
difícil caminhada do espírito em busca da luz; a porta larga, o roteiro fácil
do espírito pelo caminho do erro e da perdição.
“A porta estreita revela o acerto
espiritual que nos permite marchar na senda evolutiva, com o justo aproveitamento
das horas; a porta larga expressa-nos o desequilíbrio interior, com que somos
forçados à dor da reparação, com lastimáveis perdas de tempo”. (Emmanuel - O
Espírito de Verdade – Mensagem 14)
2 – Por que a maioria prefere o
caminho da porta larga, se é o da estreita que “salva”?
R – Não se trata propriamente de
uma preferência, mas de uma predisposição do homem em perambular pelas veredas
do erro, em face do estágio evolutivo em que se encontra a humanidade
atualmente.
Daí concluirmos que:
Se quisermos entrar no reino de
Deus, isto é, nós passarmos pela porta estreita, não pensemos que será fácil.
Será preciso muito sacrifício, esforço, persistência, resignação, humildade,
benevolência, amor, caridade e dedicarmos uma vida inteira ao próximo,
procurando a cada dia nos livrar dos apegos materiais, dar a eles o seu valor
devido e também evoluirmos moral e intelectualmente, fazendo com que extirpemos
de nós os defeitos.
Devemos procurar seguir os
conselhos do Mestre Jesus, que nos ensinou todos os segredos para conseguirmos
passar pela porta estreita. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
Quando rejeitamos o convite
fraterno para seguir o caminho que leva à porta estreita, o tempo e a dor a ela
nos conduzirão, em regime de misericórdia divina.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVIII – Muitos os
chamados, poucos os escolhidos – Itens 1 e 2 – Parábola do festim de bodas.
Item 1. Falando
ainda por parábolas, disse-lhes Jesus: O reino dos céus se assemelha a um rei
que, querendo festejar as bodas de seu filho, despachou seus servos a chamar
para as bodas os que tinham sido convidados; estes, porém, recusaram ir. O rei
despachou outros servos com ordem de dizer da sua parte aos convidados:
Preparei o meu jantar; mandei matar os meus bois e todos os meus cevados; tudo
está pronto; vinde às bodas. Eles, porém, sem se incomodarem com isso, lá se
foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros pegaram
dos servos e os mataram, depois de lhes haverem feito muitos ultrajes. Sabendo
disso, o rei se tomou de cólera e, mandando contra eles seus exércitos,
exterminou os assassinos e lhes queimou a cidade.
Então, disse a seus servos: O
festim das bodas está inteiramente preparado; mas, os que para ele foram
chamados não eram dignos dele. Ide, pois, às encruzilhadas e chamai para as
bodas todos quantos encontrardes. Os servos então saíram pelas ruas e trouxeram
todos os que iam encontrando, bons e maus; a sala das bodas se encheu de
pessoas que se puseram à mesa.
Entrou, em seguida, o rei para
ver os que estavam à mesa, e, dando com um homem que não vestia a túnica
nupcial, disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem
guardou silêncio. Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e
lançai-o nas trevas exteriores: aí é que haverá prantos e ranger de dentes;
porquanto, muitos há chamados, mas poucos escolhidos. (Mateus, cap. XXII
vv.1a14).
As parábolas são alegorias que
contêm preceitos de moral. E foi a forma que Jesus encontrou, como sendo a
melhor, para esclarecer seus ensinamentos, mediante comparações do que
pretendia dizer sobre o que ocorria na vida comum com os interesses terrenos.
Sugeria assim o Mestre, figuras e quadros das ocorrências cotidianas, para
facilitar mais aos seus discípulos, por esse método comparativo, a compreensão
das coisas espirituais. E através dessa
metodologia, as palavras fossem se auto-atualizando, ou seja, a cada momento em
que uma criatura ler essas parábolas, seja em que época for, conseguirá tirar
um conceito. Servindo, também, para que elas ficassem eternamente lembradas.
Quando nós ouvimos a narração
dessa passagem evangélica, a princípio não entendemos bem. E o incrédulo acha
uma ingenuidade. Como pode um certo homem fazer uma festa e as pessoas
convidadas criarem tanta dificuldade, opor tanta resistência para participarem
dela, a ponto de massacrarem os enviados do dono da festa.
A parábola das bodas refere-se à
transição das almas aqui na Terra. É uma comparação do que se verificava
naquela época com o próprio Jesus. Nela o Mestre compara o reino dos céus, onde
tudo é alegria e felicidade a uma festa, na qual um certo rei celebrou as bodas
de seu filho.
Deus, aqui representado pelo rei,
enviou os seus servos, que na alegoria representam os profetas, chamar os
primeiros convidados, que foram os hebreus, e que simplesmente recusaram o
convite.
Houve o segundo convite. Desta
vez, os convidados foram informados de que o banquete já estava preparado, tudo
já estava pronto. Porém eles, não fazendo caso, foram uns para seus campos, e
outros para os seus negócios. E, ainda outros, apoderando-se dos servos, os
ultrajaram e mataram.
Podemos entender que o primeiro
convite foi feito num momento inicial do processo evolutivo do Planeta. Deus
chamou os hebreus para o conhecimento de sua lei, exortando-os a seguirem o
caminho da verdadeira felicidade.
É importante destacar que os
hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; foi a eles que
Deus transmitiu a sua lei, por Moisés. E foi deste pequeno foco que partiu a
luz que deveria se derramar sobre o mundo inteiro, e a triunfar sobre o
paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual. Mas os judeus não
entenderam assim. Era uma crença comum entre eles de que sua nação tinha de
alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus não havia prometido a Abraão
que seus descendentes cobririam toda a Terra? Os judeus apegaram-se à forma,
sem atentarem para a finalidade. Entenderam tratar-se de uma dominação efetiva
e material.
No segundo convite, a Terra já
estava num outro momento do processo evolutivo. Estava num momento de
maturidade espiritual, no qual, os convidados já tinham conhecimentos
suficientes para entenderem a importância de serem convidados para a grandiosa
festa. Porém os judeus desprezaram a lei moral, para se apegarem a uma prática
mais fácil, a do culto exterior. E a nação, além de escravizada, era dominada e
fragmentada pelas facções e dividida pelas seitas. Foi então que apareceu
Jesus, enviado à Terra para lembra-los quanto à observância da lei e abrir-lhes
os horizontes novos da vida futura.
O Cristianismo representa a
celebração dessa grande festa, para a qual não são poupados: trabalho,
sacrifício e dinheiro, para dar a essa festa o maior realce, e dela fazendo
participar o maior número possível de convivas. E para que todos se fartem, se
satisfaçam e se sintam ditosos, o senhor das bodas apresenta-lhes lauta mesa
com variadas iguarias.
As iguarias representam os
ensinamentos espirituais; assim como aquelas satisfazem e fortalecem o corpo,
estes mantêm e vivificam o Espírito.
O objetivo do rei, que nós já
sabemos ser Deus, era que os convidados estivessem interessados em ouvir e a
meditar a cerca das palavras de seu filho, Jesus, para que pudessem compreender
o sentido de seus ensinamentos. E quem poderia melhor apreciar a grande
sabedoria do Mestre, seja na cura dos enfermos, seja nos prodigiosos fenômenos
de materialização e desmaterialização por Ele operado, como a multiplicação dos
pães e dos peixes, a manifestação do Monte Tabor, a dominação dos elementos e
suas sucessivas aparições depois da morte, senão os doutos, os sábios, os
aristocratas e os sacerdotes? Ninguém melhor do que estes estavam em condições
de participar das bodas, e para compreender o sermão da montanha. Mas as
palavras de Jesus, porém, foram pouco escutadas; suas advertências foram
desprezadas. Repeliram a palavra do Messias Celeste. Mais uma vez, houve recusa
dos convidados. Uns por motivos diversos. Outros pegaram o encarregado do
convite e o mataram, depois de lhe haver feito muitos ultrajes, no caso, o
Cristo. Sabendo disso, irou-se o rei, e mandou suas tropas exterminar aqueles
assassinos e incendiar a sua cidade. Ora, então, nos ocorre imediatamente
tratar-se de um Deus vingativo, um Deus que pune, quando na realidade não é
isso. Deus, não é aquela figura antropomórfica, que se assemelha ao homem. Deus
é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. E, por isto, está
isento de todas intempéries morais, que a personalidade do homem oferece. Por
isto, a ira de Deus, com certeza, é a lei de causa e efeito. É a lei se
manifestando sobre aqueles que são rebeldes. E o fogo que foi ateado à cidade,
nada mais é do que o fogo das consciências intranquilas das criaturas,
queimando-as.
Como a festa já estava preparada
e os convidados não apareceram, o rei então mandou chamar todos os que iam
sendo encontrados: os pequenos, os humildes, os incultos, bons e maus.
A parábola fala de um homem que
não vestia a túnica nupcial. Pois, era costume da época usar-se para cada ato
ou cada cerimônia uma roupa de acordo com tal ato ou tal cerimônia a que se ia
assistir. Aproveitando essas exigências sociais, muito preconizadas pelos
escribas e fariseus e, mormente, pelos doutores da lei e sacerdotes, Jesus ao
propor a parábola das bodas, deu a entender que, para o comparecimento a essa
festa, fazia-se necessário uma túnica nupcial.
A veste de núpcias simboliza o
amor, a humildade, a boa vontade em encontrar a verdade para observa-la, ou
seja, a pureza das intenções. Portanto, aquele que estivesse sem a túnica, ou
seja, não reunisse os requisitos necessários, embora convidado a tomar parte nas
bodas, não poderia ali permanecer. Teria que ser retirado.
O rei mandou então lhe atar as
mãos e os pés e lança-lo nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de
dentes. Devemos extrair dessas palavras não uma ordem de Deus e, sim, uma opção
da criatura, por ter ignorado as leis divinas e granjeado somente as coisas de
cunho material. E, aí, quando ela toma conhecimento da sua opção equivocada, de
que não pode levar nenhum bem material e, não podendo leva-lo, essa criatura
entra em pânico, chora muito, sofre muito e se sente de pés e mãos atados, por
ter chegado ao plano espiritual nas trevas, sem nada a oferecer e sem quem a
defenda.
É preciso que aprofundemos as
nossas interpretações. Quando Jesus diz que o reino dos céus é semelhante a um
rei que fez as bodas para seu filho, na verdade, o que Ele quer dizer com isso
é que, essa festa representa a união de cada espírito com o Pai. É o nosso
momento evolutivo. E, quando essa união acontece, nós atingimos o ápice dessa
evolução. Então, dia virá, que poderemos repetir, como fez Jesus, dizendo que
Ele e o Pai eram um. E nesse dia, com certeza, poderemos considerar um dia de
festa.
Esse convite de Jesus está sendo
feito a nós há muitos milênios, e sempre a humanidade recusa esse convite para
estudar as suas orientações, que certamente trarão benefícios. Há que se fazer
um certo esforço para aceitarmos esse convite. Quando aceitamos o convite para
trabalhar no bem, nós nos deparamos com dificuldades infinitamente maiores do
que as nossas. Podendo tirar daí lições de vida que, com certeza, irão corrigir
os nossos rumos.
Só assim, conseguiremos vencer a
inércia e a timidez que nos impedem, muitas vezes, de participar ativamente
nessa obra do Senhor.
Os recursos da criação sempre nos
serão dados. Mas necessário se torna que nos habilitemos a recebê-los.
Cristianismo é caridade. Só
caridade. Nada mais que caridade. O resto é crença, e esta é mutável em função
do conhecimento, do entendimento e da percepção de cada um.
Vamos destacar algumas questões
para reflexão:
1 – Qual a ideia principal desta
parábola?
R – A da união de cada espírito
com Deus.
2 – O que representa o convite
para as bodas?
R – Representa a oportunidade de
se compreender o sentido dos ensinamentos divinos.
3 – O que pode representar a
veste nupcial?
R – Ela simboliza o amor, a
humildade, a boa vontade, a pureza das intenções.
Daí nós concluirmos que:
Deus nos chama constantemente a
participar na criação, na transformação, na edificação de um mundo melhor. Na
realidade, nós não somos escolhidos, nós nos escolhemos, nos predispondo à obra
de Deus. Na sociedade, na família, na casa espírita, na obra da caridade.
Apresenta-te para o trabalho;
deixa fluir tuas ideias, e faz delas a concretização de tuas aspirações. Este é
o convite que Jesus nos faz. Um convite para um encontro divino. Um convite
para um banquete de luz, para um trabalho incessante na obra de Deus.
Assim, caros irmãos, que Deus nos
permita refletir sobre a distância que ainda temos a percorrer, e nos ajude a
tomar consciência de nossas deficiência e fraquezas, e a supera-las com
determinação.
ESTUDO SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – item 11 – Cuidar do corpo e do espírito - Instruções dos Espíritos
ITEM
11
Consistirá na maceração
do corpo a perfeição moral? Para resolver essa questão, apoiar-me-ei em
princípios elementares e começarei por demonstrar a necessidade de cuidar-se do
corpo que, segundo as alternativas de saúde e de enfermidade, influi de maneira
muito importante sobre a alma, que cumpre se considere cativa da carne. Para
que essa prisioneira viva se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da
liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte. Façamos uma comparação:
Eis se acham ambos em perfeito estado; que devemos fazer para manter o
equilíbrio entre as suas aptidões e as suas necessidades tão diferentes?
Inevitável parece a luta entre os dois e difícil achar-se o segredo de como
chegarem a equilíbrio.
O Espírito Jorge, que se autodenominou um Espírito
Protetor, inicia a sua mensagem fazendo uma pergunta: “Consistirá na
mortificação do corpo a perfeição moral?” Quer dizer, para estarmos em comunhão
com Jesus há necessidade de sacrificarmos o nosso corpo, por meio de martírio
voluntário? Claro que não. Porque nós já sabemos que o homem difere dos outros
animais por sua capacidade de pensar continuamente. Isto é, um ser dotado de
inteligência. E, com essa inteligência, ele é capaz de gerar o seu progresso
espiritual, acelerando o aprimoramento na direção do Criador. Equilibrando o
uso de seus recursos materiais com suas necessidades morais.
O homem veio à Terra para progredir, e esse progresso
depende do bom emprego que faça do tempo para zelar do seu corpo,
proporcionando-lhe a natural manutenção, e cultivar o espírito, oferecendo-lhe
luzes: luzes de vida eterna; luzes de sabedoria verdadeira; luzes de moral
perfeita.
Continuando,...
Dois sistemas
se defrontam: o dos ascetas ( pessoas que se
entregam à penitência), que tem por base o
aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da
alma. Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra. Ao lado desses
dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem
convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. Onde, então,
a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o grande
problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos
pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma
e dizendo-lhes que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de
ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuide igualmente do vosso corpo,
instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria natureza indica,
é desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso
livre-arbítrio o induziu a cometer e pelas quais ele é tão responsável quanto o
cavalo mal dirigido, pelos acidentes que causa. Sereis, porventura, mais
perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos
orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo? Não, a perfeição não
está nisso: está toda nas reformas por que fizerdes passar o vosso espírito.
Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes
dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição. – Jorge, Espírito
Protetor. (Paris, 1863).
O
Espírito Jorge quando fala dos ascetas, se refere às religiões que creem que o
martírio do corpo é uma maneira de se chegar à perfeição. Acham que, pelo
sofrimento das dores carnais da própria flagelação, estarão se tornando
melhores. Flagelam seus corpos com chicotadas nas costas para aliviar os
pecados. Castigar o corpo para beneficiar a alma é um equívoco, e, não, uma
virtude.
O
corpo é o instrumento da alma. Ele é usado pelo espírito para as recepções e
manifestações exteriores. Portanto, precisamos cuidar bem do nosso corpo,
dirigir bem o nosso corpo para darmos a ele um sentido que não nos permita
andar por caminhos menos recomendados.
Já os materialistas veem apenas o corpo humano
como uma máquina, que, com a morte, nada mais resta, porque não admitem que
haja coisa alguma que esteja acima do seu entendimento. Daí o Espírito
comunicante dizer que os materialistas rebaixam a alma.
O
Espiritismo abrange a parte material e a parte psíquica do indivíduo; exige
tratamento do corpo e cultivo do espírito, sem detrimento um do outro. Essa
exigência se faz porque, muitas vezes, a criatura está tão empenhada em cuidar
das coisas do espírito que se esquece do seu corpo. E, pior ainda, quando ela
faz tudo em favor do seu corpo e se esquece da alma.
Cuidar
do corpo não quer dizer cultuar o corpo. Tudo deve ser feito sem exageros,
moderadamente, para que não se cometa o pecado da exibição, alimentado pela
vaidade. Desconhecer as necessidades que lhes são peculiares, por força da
própria natureza é desconhecer as leis de Deus.
E
como podemos cuidar do corpo? Talvez seja uma pergunta que muitos fazem e não
imaginam que a resposta é bem simples: evitando infringir as leis divinas e,
que, se as observarmos rigorosamente, seremos perfeitamente felizes e
conseguiremos manter o equilíbrio desejado de corpo e alma. Por exemplo: Se não
ultrapassássemos o limite do necessário, não sofreríamos das doenças provocadas
pelos excessos.
A
saúde do corpo é função única e exclusiva do bom uso que fazemos dos nossos
órgãos e sentidos. Alimentação adequada, sono adequado, controle de si mesmo,
ausência de vícios, são premissas sem as quais não nos é possível atingir a
plena saúde física, e, portanto, a plena saúde mental. É responsabilidade do
Espírito tratar e guiar o seu corpo material com moralidade e equilíbrio, para
que possa otimizar a sua escalada evolutiva, nas experiências da carne. Assim,
sendo, meditemos um pouco: de que forma nós levamos nossas vidas? Cuidamos de
maneira adequada o nosso corpo? E de nossa mente? Ainda nos permitimos vícios
nocivos à nossa saúde?
Todo
o nosso ser, tanto o biológico como o espiritual, responde a cada palavra e
cada ação. Se ele ouvir que estamos doente, nossas células irão responder
adoecendo. Todos os choques que a nossa intemperança produz atinge os centros
vitais e os desequilibra. Mágoas e raivas vivem como uma massa no corpo. Elas
se escondem como doenças crônicas e precisam
ouvir uma voz que é o poder de pura intenção de curar.
Os
pensamentos e emoções purificados são ondas de energia que beneficiam o nosso
corpo.
Aqui
cabe reproduzir um conselho que eu li e achei interessante: Cuidar do corpo
exige carinho: - conversar com o pé feio
e agradece-lo; acariciar o cotovelo e descobrir que é a primeira vez na vida
que ele é lembrado; olhar para a barriga e perceber que ela é o grande desafio
para que se aprenda a alimentar o corpo, que não conhece outra forma de
reclamar, a não ser pela doença ou desequilíbrio.
A
virtude, portanto, não está em maltratarmos o nosso corpo e, sim, em
observarmos rigorosamente as leis de Deus, para mantermos o equilíbrio desejado
de corpo e alma.
Como
de costume, vamos destacar algumas questões para reflexão:
1
– É válido ao homem maltratar o próprio corpo para buscar a purificação de sua
alma?
R
– Não, pelo contrário. Sendo o corpo o instrumento da alma, para que esta
pratique o bem e evolua, é necessário que o corpo esteja na melhor forma possível.
2
– Quais as consequências por desrespeitarmos o santuário do nosso corpo?
R
– Teremos dificuldade para reequilibrá-lo. Ficaremos sofrendo até que tenha
retornado ao destino correto, tudo o que foi desalinhado.
3
– Como devemos cuidar do corpo e do espírito, para estabelecer o equilíbrio
entre ambos?
R
– Do corpo, cuidamos segundo as normas de saúde e higiene de que dispomos e que
nos é dado conhecer; do espírito, segundo os postulados do Evangelho, que nos
estabelece a medida do nosso comportamento diante da vida.
“Desatender
as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus”.
Daí
nós concluirmos que:
Nosso
corpo é precioso instrumento que a vida nos empresta, para servir de santuário
ao princípio espiritual, ou seja, espírito, para sua evolução. Cuidar dele,
portanto, é dever que nos compete, perante Deus. Amá-lo, preservando-lhe as
finalidades santificantes, é dever mínimo, por ser ele degrau de ascensão e
felicidade.
Que,
os bons pensamentos e as nossas boas atitudes produzem frutos de alegria,
compreensão, e contribuem para nossa evolução espiritual, se tornando um
bálsamo para a nossa alma; que a nossa palavra sincera é responsável pelo
estado de nossa saúde física e espiritual; que os maus pensamentos, os
pensamentos negativos, são alimentos nocivos para a nossa matéria.
Não
é a mente que depende da saúde do corpo. Ao contrário, é o corpo que depende da
mente sadia. Portanto, devemos cuidar da nossa mente, do Espírito, para que a
saúde se reflita em todo o corpo.
A
tomada de consciência gera o desejo sincero de seguir o caminho da virtude, a
que todos nós somos compelidos, pelo determinismo da lei do Criador.
Como
Jesus falou, “A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória”.
***********************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – item 10 – O homem no mundo - Instruções dos Espíritos
ITEM 10. O
homem no mundo
Um sentimento de
piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor
e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos
corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil.
Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em
vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é
preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.
Não
julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação
mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da
sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa
época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às
frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa
santificar.
Nesse
trecho, o Espírito que, simplesmente, assinou, um Espírito protetor, nos alerta
sobre as atitudes que devemos tomar, com relação ao meio em que vivemos, e para
com os nossos semelhantes. Geralmente, o homem tende a encurtar a sua visão,
para as reais necessidades de cada um. Age e reage conforme a sua conveniência,
sem a percepção de que, a menos que haja evolução nas circunstâncias da vida,
as coisas permanecerão como estão. Não basta ouvir e aceitar a palavra do
Cristo. Tampouco, fazer um estudo sistemático. É necessário ter o coração imune
às seduções do mundo, ter o coração sensibilizado para as coisas de Deus. E
fazer o exercício da caridade.
O Espírito comunicante
faz um alerta muito importante: “Não devemos pensar, todavia, que,
persuadindo-nos incessantemente à prece e à evocação mental, iremos viver uma
vida mística, nos conservando fora das leis da sociedade, do mundo em que
vivemos”.
A religião é uma
necessidade na vida do homem. Pois, através dela, ele tenta se desapegar dos
valores terrenos e religar-se ao Criador. O cristão tem no mestre Jesus o
exemplo, a verdade, o caminho e, a própria vida. Pessoas existem que passam a
vida em eterna devoção. Não faltam com as obrigações religiosas; chamam e
clamam a presença do Mestre, para guiar seus passos; aguardando a oportunidade
de se elevarem aos céus, aureoladas de luz. Nessa busca, entretanto, existe
muito equívoco da parte daqueles que, a pretexto de seguir Jesus, ausentam-se
da vida de relação, como se temessem a mácula, num contágio com as experiências
do mundo. Apesar de louvarem a Jesus e agradecerem a vida, não vivem na
utilidade necessária ao soerguimento espiritual. A pretexto de não fazerem o
mal, não conseguem fazer o bem.
O Espírito protetor nos
exorta a viver no mundo, sem pertencer ao mundo. Ou seja, devemos lidar com os
vícios, com as tentações, sem nos deixar envolver com eles. A sacrificarmos as
futilidades e, até mesmo, as necessidades de cada dia. Porém, devemos fazer com
um sentimento de pureza, que as possam santificar.
Continuando,...
Sois
chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de
caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede
joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma
consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do céu que conta os dias
que faltam para entrar na posse da sua herança.
Não
consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os
prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os
atos da vossa vida ao criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou
acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num
arroubo (êxtase) d’alma,
ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a
concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai
(elevai) à Fonte de todas as coisas, para que
nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de
Deus.
Nós já
sabemos que os espíritos são de naturezas diferentes. Portanto, de hábitos
diferentes, como por exemplo: nós convivemos também com criaturas que são
alegres; que gostam de dançar, que gostam de cantar, que gostam de rir, que
gostam de carnaval, enfim, que gostam de coisas das quais já não gostamos mais,
ou, simplesmente, nunca gostamos. Geralmente, nós criticamos essas criaturas.
Às vezes, de uma maneira muito ácida. E a recomendação do Espírito comunicante
é para não criticarmos, para não condenarmos essas criaturas. Já foi dito por
alguém, que a importância do fato está no modo de olhar e, não, na coisa
olhada. Seria o caso de acrescentarmos: a importância está também na maneira de
ouvir e, não, naquilo que foi dito. Não consiste virtude, o fato de não
admitirmos os prazeres que a vida nos permite. A virtude está em vivermos sem
os excessos, e reter somente as coisas essenciais e necessárias, para a nossa
vida. Por isto, devemos moderar as nossas palavras e as nossas ações; não
julgando as criaturas e, com isto, evitar ferir ou proporcionar ressentimentos
nos outros.
Continuando,...
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade
absoluta; mas, os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde
o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse
insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas
é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se
voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar
senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Capítulo V, n.o 26 ).
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação
constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos
cilicieis (martirizeis ) e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos.
Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na vossa
felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele ( cubra ) o semblante dos que
vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente ele os abençoa.
Um Espírito Protetor.(Bordéus,1863).
Para
chegarmos à perfeição, é essencial a vivência na prática do bem. Uma coisa é a
nossa intenção. Outra coisa é a nossa ação. Não há de ser pela crença que
temos, ou pela fé que professamos, que seremos dispensados de aprender as
lições necessárias. Há que se viver a vida como ela é, com as suas provas, com
as suas expiações. Há que se perceber que somos criaturas de Deus, sujeitas à
sua vontade. Assim, deve haver lugar para a oração, mas, também, um lugar para
a ação.
O exercício
da caridade passa por muitos estágios. Apenas a compreensão de que ela é
condição essencial para a elevação espiritual, não torna o novo discípulo em
merecedor do reino dos céus.
Enquanto o
amor não se fizer sentir nas atitudes das criaturas, fazendo com que elas
tenham a predisposição de ajudar, de forma fraterna, com amor no coração, mas,
sobretudo, educando, para que os valores do bem sejam interiorizados, para que
a luz se faça, e o homem perceba que, em sua natureza divina reside o próprio
Criador, concitando-o a trabalhar, a exemplificar e, com isto, ajudar a
erradicar os males da sociedade em que vive.
Enquanto o
homem achar que não lhe cabe mudar o mundo em que vive; enquanto se isolar,
aguardando que os outros resolvam os problemas sociais, permanecendo como mero
expectador, das cenas da vida cotidiana, o nosso planeta se manterá no estágio
de expiações e provas, onde haverá muito sofrimento, muitas lágrimas e muito
ranger de dentes.
O espírita
vive como vivem os outros, mas em todas as manifestações da existência, é
chamado a servir aos outros, através da atitude.
Vamos
encerrar esse item com uma mensagem de Joanna de Angelis, retirada do livro
Lampadário Espírita.
Ao invés de
sucumbires às tentações que espalham espinhos pelo caminho, retira da cruz,
onde o Cristo agonizou, a coroa dos testemunhos, põe-na em tua fronte e, embora
sofrendo, penetrarás no reino da alegria imperecível.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual
deve ser o nosso comportamento numa reunião em nome de Jesus?
R – Baseado
na humildade, respeito e sem qualquer sentimento inferior no coração.
2 – Podemos
viver no mundo sem pertencer a ele, isto é, sem nos deixar envolver pelos
vícios, tentações e prazeres mundanos?
R – É claro
que sim. Mas, para isto, é necessário que estejamos com o pensamento sincero
constantemente voltado para o Criador que, assim, nos auxiliará a tomar o
caminho certo, nos momentos decisivos. Podemos viver os prazeres do mundo, pois
a nossa condição humana nos permite. O que não devemos é abusar dos prazeres e
a eles nos escravizar.
3 – Seria
meritório o homem isolar-se do mundo, sob a alegação de não querer se contagiar
pelos vícios e prazeres terrenos?
R – Não,
pois unicamente no contato com seus semelhantes, nas lutas mais árduas, é que o
homem encontra o ensejo de praticar a caridade. Enquanto viver a vida do
egoísta, ele nada progredirá.
Daí nós
concluirmos que:
Os vícios,
tentações e prazeres do mundo não devem constituir obstáculos para que vivamos
bem com os homens de nossa época. Reportando sempre os nossos atos ao Criador,
teremos o auxílio e intuição necessários nos momentos decisivos de nossa vida.
O convívio com os semelhantes é o meio que Deus nos concede para desenvolver em
nós o sentimento de fraternidade e amor ao próximo.
*********************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – Item 9 – Instruções dos Espíritos – Os superiores e os inferiores
ITEM 9: Os
superiores e os inferiores
A
autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar
contas àquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela
conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a
maioria dos potentados da terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás,
lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a
retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas
personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe
pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a
autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando
julga conveniente.
O Espírito mensageiro nos alerta, dizendo que a
autoridade, tanto quanto a riqueza, é um empréstimo que nos é concedido para a
nossa evolução espiritual. Deus delega ao homem autoridade e riqueza, para que
ele as utilize em favor do próximo. Nos autoriza a agir, mas nos cobra atitude
correta. Isto é, nos responsabiliza pelo resultado daquilo que fazemos. A
cobrança é tanto maior, quanto maior for o conhecimento da verdade, que já
estiver desenvolvido em cada um de nós.
A autoridade, que é representada pelo poder
temporário, é outra prova difícil de ser suportada. Pois, às vezes, aqueles que
detêm o poder deixam que a ilusão do orgulho turve sua visão para a sua real
destinação. E o uso indiscriminado do poder aprisiona o homem em grilhões de
muito sofrimento. O poder é conferido
por Deus, como missão, ou prova, para sermos testados, em nossas aquisições de
luz, a fim de podermos galgar patamares mais elevados. Como já dissemos, esse
poder, a autoridade em si, nos é conferido por Deus, para ser usado com
humildade, para a evolução do mundo, e pode ser retirado a qualquer momento. Para
Deus não há superiores nem inferiores. As diferenças estão nas virtudes que
possuímos.
Continuando,...
Quem quer que seja
depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor
sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem
almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus
subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a
que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do
mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao
bem. Todo homem tem na terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela
seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir
ao seu desempenho.
Aqui, o Espírito instrutor está nos alertando para
que, quando estivermos numa situação de comando, tendo subordinados, não
devemos esquecer que temos almas a nosso cargo; que somos responsáveis,
parcialmente, pelo mal que eles venham a praticar, assim como, o bem que eles
venham a fazer, pois, aprenderam conosco. Já sabemos que a destinação do homem
é o bem. Por isto, toda missão, toda prova que ele recebe, tem como objetivo a
sua evolução. Se ele se deixar vencer pela vaidade, pelo orgulho, com certeza,
ele estará falindo na sua tarefa.
Continuando,...
Assim como pergunta ao
rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a
espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que
disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males
evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os
fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou
à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os
amparasses e ajudasses a subir ao meu seio”.
Haverá um momento em que todos nós teremos que prestar contas daquilo
que fizemos aqui na terra. Seja na prova da riqueza, seja na prova do poder. E
a criatura que se deixou iludir pela condição de mando, não cumprindo sua
destinação aqui na terra, terá que responder por que não empregou o seu dom, no
sentido de proporcionar novas oportunidades de trabalho, distribuindo justiça,
gerando a evolução e o progresso dos outros semelhantes.
Continuando,...
O superior, que se ache
compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam
submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de
Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe
tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será
tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Mas, se o superior tem
deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados.
Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não
pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe
de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito
retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem.
Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os
mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha,
cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os
outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra
melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma
prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe
orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados
procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso
se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda
negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para
aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa
palavra: solicíta-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de
que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde,
terá de pagar. – François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. ( Paris, 1863 ).
Todos nós temos uma missão, grande ou pequena. Seja ela qual for, o
objetivo é o bem.
O superior, verdadeiramente superior, não teme ombrear-se com os
humildes, seus comandados, e auxilia-los nos trabalhos, sempre que for
necessário. Sabe que se algo é necessário fazer, deve ser feito, e realiza sem
se preocupar com posto ou conveniência. Este é o verdadeiro servidor de seu
irmão, conforme asseverou Jesus: “O que quiser ser maior no reino dos céus,
seja este o servidor de todos”.
Por outro lado, os inferiores também têm um dever a cumprir, e sua
conduta, seu proceder, deve ser de um subordinado que ele gostaria de ter caso
fosse o chefe.
O nosso amanhã será preenchido com os valores de
hoje. Ou seja, seremos tratados amanhã conforme tratamos hoje, aqueles sobre os
quais exercemos nossa autoridade. Hoje nós podemos estar dando ordens, amanhã
teremos que obedecer e normalmente na mesma medida que foi exercida a
autoridade. Portanto, devemos ensinar aos nossos subordinados que, a vida é um
condomínio que compartilhamos com os outros nossos semelhantes. E estimula-los
com nosso exemplo.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Com que fim Deus delega ao homem autoridade e riqueza?
R – Para que ele a utilize em benefício do próximo.
2 – Qual a maneira correta de exercer a autoridade de que somos
detentores?
R – Devemos exercê-la levando em conta que temos pessoas a nosso cargo
e que poderão ser bem ou mal sucedidas, dependendo da boa ou má diretriz que
dermos a essa autoridade.
3 – Somente o superior tem deveres a cumprir?
R – Não. Aquele que se encontra socialmente inferior, na condição de
subordinado, tem também importante missão e igualmente será chamado a prestar
contas.
Daí nós concluirmos que:
Cargos e funções de comando são talentos dados por Deus à criatura para
seu próprio crescimento.
Os comandantes de toda ordem, seja no campo político, religioso ou
profissional, são responsáveis pelos seus comandados.
Para Deus não há superiores e inferiores. As diferenças são as virtudes
que possuímos. Em qualquer posição que estejamos na vida, façamos o melhor. E
Deus, que trata a todos com justiça e bondade, nos acrescentará tudo mais de
que necessitamos.
A autoridade nos é delegada para que a utilizemos em benefício do
próximo.
********************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – Item 8 – Instruções dos Espíritos – A Virtude
ITEM 8: A
Virtude
A virtude, no mais alto
grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de
bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem
virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais
que as desornam (desguarnecem) e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua
virtude, pois que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e tem o vício
que mais se lhe opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna desse nome,
não gosta de ostentação. Adivinham-na; ela,
porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas. S.
Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o digno cura d’Ars e muito outros
quase desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem
ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao sabor de suas santas
inspirações e praticavam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento
de si mesmos.
A
virtude assim compreendida e praticada é que vos convido, meus filhos; a essa virtude
verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a
consagrar-vos. Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho,
vaidade, amor-próprio, que sempre desfiguram as mais belas qualidades. Não
imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas
qualidades a todos os ouvidos complacentes. A virtude que assim se ostenta
esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas
covardias.
Em princípio, o homem
que se exalta, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse
simples fato, todo mérito real que possa ter. Entretanto, que direi daquele
cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boamente que o
homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas,
desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em
amor-próprio.
Ó vós todos a quem a fé
espírita aqueceu com seus raios, e que sabeis quão longe da perfeição está o
homem, jamais esbarreis em semelhante obstáculo. A virtude é uma graça que
desejo a todos os espíritas sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca
virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as
humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humildade é que um dia elas se hão
de redimir. – François-Nicolas-Madeleine. (Paris, 1863).
Nós viemos a este mundo
para deixarmos de lado as nossas imperfeições, os nossos erros, e adquirir a
verdadeira riqueza, o verdadeiro bem, que todos nós precisamos, para a nossa
evolução. E esse bem é a virtude moral, riqueza que ninguém pode retirar de
nós, porque nos pertence.
O Espírito comunicante
quer nos dizer que, nós mesmos tendo essas virtudes, ainda estamos sujeitos a
pequenos deslizes, que vão desfigurar, que vão enfraquecer as qualidades,
prejudicando o brilho dessas virtudes.
Está claro que a instrução se refere à pessoas que, supomos, já dispõem
de algumas virtudes, e não a aquelas que ainda estão engatinhando no processo
evolutivo e, que, não são possuidoras de uma quantidade razoável de virtudes. A
virtude é o conjunto de todas as qualidades essenciais ao homem de bem. Ser
bom, praticar o bem com desinteresse completo e esquecimento de si mesmo.
O homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu
coração. Porém, não deixa que tal satisfação se exteriorize, para colher
elogios. Isto quer dizer que, não devemos fazer alarde das nossas virtudes.
Nós, que já nos interessamos em conhecer o Evangelho, estamos
demonstrando que estamos com vontade de mudar a nossa orientação de comportamento.
Já estamos nos preparando para sermos bons espíritas. É claro que ainda falta
muito. Mas já começamos.
O Espírito François nos alerta em relação ao orgulho e a vaidade,
frutos da nossa imperfeição. Quando a criatura trabalha no sentido de melhorar
as suas virtudes, com certeza, está diminuindo as suas más tendências. Quando
ela não age discretamente e fica alardeando o feito, tecendo elogios de que é
isso ou aquilo, que fez tal coisa, que se glorifica pelas virtudes que possui,
ela não está contribuindo para que tal virtude fique agregada a si e, sim,
agregando mais um defeito, a falta de modéstia. Estará acentuando o seu
orgulho, a sua vaidade, anulando todo o mérito que possa ter, comprometendo a
sua escalada evolutiva. Em casos especiais, no meio de uma conversa, quando a
criatura não puder evitar citar um fato de que tenha participado, isso deve ser
feito da forma mais natural possível, e não com o sentido de se engrandecer.
A Doutrina Espírita é uma via de acesso ao conhecimento das leis
divinas. Ela nos dá explicações tão claras que podemos associar itens de
diferentes capítulos, como por exemplo: Vamos fazer uma relação desse assunto,
virtude, com a parábola dos talentos. Embora a parábola faça referência a uma
coisa monetária, porque talento era uma moeda daquela época, hoje a palavra
talento tem outra conotação, significa virtude. Então, quando nós recebemos
virtudes, seja uma, duas ou cinco, como na parábola, nós temos que multiplicar
essas virtudes. Agora, de que maneira vamos multiplicar essas virtudes?
Colocando-as em prática, diariamente. Jesus diz na parábola que o senhor veio
um dia cobrar dos seus servos, o que eles haviam feito com os talentos. A
maioria das outras religiões e filosofias interpreta essa cobrança que o senhor
fez a seus servos, como um dia específico no futuro, como eles dizem, no juízo
final. Mas, nós, espíritas, sabemos que isso não existe. A cobrança, em relação
aos talentos que nós temos, no caso, virtudes, e o que estamos fazendo delas, é
diária. Então, não podemos esperar um dia específico para prestarmos contas.
Vamos investir nesses talentos. Não podemos escondê-los. Muitos recebem
virtudes e não sabem o que fazer com elas. E, é nesse ponto que se dá a ligação
da parábola dos talentos com o assunto virtude.
Outro capítulo relacionado com o item que estamos estudando é “Amai os
vossos inimigos”. E, no estudo, o Espírito comunicante diz que o orgulho é a
perdição da humanidade. Ora, Jesus nos disse que, para combater o nosso orgulho
e a nossa vaidade, a melhor maneira de fazer isso seria amar os nossos
inimigos. Quem ama o inimigo, com certeza, já está despojado de orgulho e de
vaidade. Então, na verdade, essas virtudes que aqui estão sendo mencionadas,
vão depender somente da nossa vontade, do nosso esforço.
Vamos separar alguns aspectos para nossa reflexão:
1 – Como podemos definir a virtude?
R – É o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o
homem de bem.
2 – Por que não devemos fazer alarde das nossas virtudes?
R – Porque, se ficarmos alardeando o nosso feito, não estamos agregando
valor e, sim, agregando mais um defeito, a falta de modéstia.
3 – Qual é o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para
lhe servir de guia e modelo de virtude?
R – Jesus.
Daí nós concluirmos que:
A virtude é o conjunto de todas as qualidades que caracterizam o homem
de bem. Constitui a meta de perfeição que, um dia, todos atingiremos.
Assim, quando verificarmos que já estamos crescendo em moralidade, num
determinado ponto, devemos colocar em prática a nossa humildade.
Devemos utilizar essas poucas virtudes que já adquirimos para
trabalharmos, cada vez mais, para nossa evolução e para a evolução daqueles que
estão à nossa volta, nunca para nos glorificarmos e nos elevarmos, em relação
aos nossos irmãos. Como nos ensinou Jesus, “Aquele que se eleva será rebaixado,
e aquele que se abaixa será elevado”.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – Item 7 – Instruções dos Espíritos – O dever
ITEM
7: O Dever
O dever é a obrigação
moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os
outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas
particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever
moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos
sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo
com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias
e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica
entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade
interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante
dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem;
como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? Onde termina? O dever
principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a
felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não
desejais ninguém transponha com relação a vós.
Agora, que nós já temos
conhecimento de como devemos agir para atingirmos a perfeição que Jesus nos
pede, precisamos realmente nos conscientizar de que o dever é uma virtude. É
algo que nós precisamos conhecer melhor e saber o que significa, para que
venhamos a ter aquela boa vontade para conosco mesmo e para com os nossos
semelhantes.
O Espírito Lázaro começa a
mensagem com uma frase que é de grande importância para nós, que já estamos
percebendo a nossa vida de uma outra forma, pelos ensinamentos da Doutrina
Espírita. Lázaro nos orienta:
“O dever é a obrigação
moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os
outros. O dever é a lei da vida”.
Podemos interpretar essa
frase da seguinte maneira: - Nós, espíritos em trânsito pela terra, na medida
em que vamos nos conscientizando de que somos espíritos imortais, começamos a
ter mais cuidado com a nossa vida, conosco mesmo.
O dever pressupõe
alguém além de nós. O dever não é isolado. É um processo de evolução na lei de
compartilhar, aonde nós vamos crescendo, cada vez mais. E esse dever começa a
partir de pequenas coisas.
Esse parágrafo da
instrução reaviva em nós aquela orientação de Jesus, que diz: “Devemos amar a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Então, aquele que
já despertou para a necessidade do dever como uma alavanca de crescimento e não
como uma obrigação, nós podemos situá-lo saindo da terceira etapa da semente,
que é jogada entre os espinhos, para caminhar em direção a quarta etapa, quando
a semente cai na terra adubada.
Para que possamos
observar esse dever é preciso que tenhamos boa vontade. É preciso que nós nos
desapeguemos dos valores materiais. Pois, enquanto estivermos voltados para as
coisas da matéria será muito difícil cumprirmos o nosso dever.
O dever tem o seu ponto
de partida no momento em que nós sentimos que podemos ajudar na tranquilidade
do nosso próximo, e vai terminar quando nos depararmos com aquele limite que
instituímos para que ninguém transponha, em relação a nós mesmos. Quer dizer,
toda vez que nós julgarmos que algo está demais, que está nos incomodando, esse
é o limite que devemos colocar para encerrar o dever em relação aos nossos
semelhantes. Pois, muitas vezes, a criatura na ânsia de querer ajudar se
intromete na vida daquela outra, e, aí, não está ajudando.
Continuando,...
Deus criou todos os homens
iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos
pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que
pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente diferente nas suas expressões,
não é o mesmo critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de
Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não
pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo
prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as
angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas
complicações, conserva-se inflexível diante das tentações. O homem que cumpre o
seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a
si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.
O Espírito Lázaro toca num
ponto muito importante para nosso conhecimento. Nós
já estudamos que as aflições fazem parte da vida do homem e representam a
aplicação da lei de Deus, na conduta humana.
Deus não nos criou para a
dor. A dor é um instrumento que o Criador escolheu para retificar, reparar,
ensinar e burilar o Espírito, em sua escalada evolutiva. Cabe ao homem,
portanto, preparar seu futuro, corrigindo seu caminho, a partir da dor e da
cura se suas fraquezas, semeando virtudes.
Se já conhecemos o efeito
da dor na nossa própria pele, não
devemos querer que o nosso irmão passe pelo mesmo sofrimento. Assim, temos o
dever de não agirmos negativamente com ele.
Já dissemos que, uma
das lições básicas para o espírito, é a da semeadura e da colheita. Tudo que se
planta, que se cuida com amor e que se aduba, se colhe. É a lei de causa e
efeito, que também é chamada de lei do carma, agindo conforme a vontade de
Deus. Se o plantio não é adequado, não há amor no trato e na adubação do que se
planta, pode-se não colher aquilo que desejamos ou, mesmo, colher o que não
desejamos.
Portanto, temos o dever
de refletir sobre algumas questões: Quais os valores que norteiam a nossa
postura no mundo? São valores do bem, do respeito, da confiança, da
afetividade, do amor ou, são valores do mal, do ódio, do rancor, da inveja, do
orgulho ou da exaltação? De que maneira nós temos aprendido as nossas lições de
vida? Resignado, paciente, tolerante, determinado ou, revoltado, desiludido e
desanimado? Quais as consequências geradas por nossas ações no mundo?
Equilíbrio, gratidão, reconhecimento ou, censura, crítica, recriminação,
reclamação ou desamor? O que temos conseguido semear no nosso caminho de aprendizado?
Exemplos de vida, exemplos de fraternidade, exemplos de dedicação e de
trabalho, exemplos de abnegação ou, exemplos de preguiça, indolência,
passividade, inércia ou comodidade? O que temos conseguido construir à nossa
volta? Plantamos nossos valores em bases sólidas ou em coisas perecíveis?
Edificamos para toda vida ou apenas para situações passageiras? Como estamos
sendo vistos pelo mundo? Como pessoas úteis, necessárias e caridosas ou, ainda
não chegamos a sermos percebidos, naquilo que fazemos? Estas e muitas outras
perguntas nós podemos fazer, para melhor avaliar o nosso plantio. Então, pelas
respostas que dermos poderemos prever aquilo que haveremos de colher.
Felicidade ou dor.
Quando Lázaro diz que o
dever é uma bravura da alma, é porque, às vezes, o nosso interesse pessoal
prevalece, prejudicando o outro.
Continuando,...
O dever é o mais belo
galardão da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar
o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não
pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu
desenvolvimento.
O dever cresce e
irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da
Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta
de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque
quer que
a beleza da sua obra resplandeça a seus
próprios olhos. – Lázaro. (Paris, 1863)
Cumprindo o nosso dever, com a consciência nos indicando de que isso é
o melhor para nós, estaremos nos alavancando para frente e para o alto. Então, é importante que nós venhamos despertar para essa realidade,
para que possamos sair da infância espiritual, em que nós nos encontramos.
Vamos destacar algumas questões para reflexão:
1 – Qual o verdadeiro sentido do dever?
R – Dever é a obrigação moral da criatura para com Deus, consigo mesma
e com o próximo. O dever está presente, tanto nos atos mais simples da vida,
como nos mais elevados.
2 – Por que é tão difícil para nós o cumprimento do dever?
R – Porque, devido às nossas imperfeições, somos atraídos para os
nossos interesses e desejos e nos esquecemos dos deveres.
3 – Onde começa e termina o dever?
R – O dever principia sempre, para cada um de nós, do ponto em que
ameaçamos a felicidade ou a tranquilidade do nosso próximo; acaba no limite que
não desejamos que ninguém transponha com relação a nós.
Daí nós concluirmos que:
O dever consiste na prática do bem, de maneira permanente e
progressiva. Portanto, devemos observar o dever que a vida nos incumbe. Veremos
esse dever, hora a hora, no quadro das circunstâncias:
Na fé que nos pede serviço; No serviço que nos roga compreensão; No
ideal que nos pede caráter; no caráter que nos roga firmeza; No exemplo que nos
pede disciplina; Na disciplina que nos roga humildade; No lar que nos pede
renúncia; Na renúncia que nos roga perseverança; No caminho que nos pede
cooperação; Na cooperação que nos roga discernimento.
Por mais hostil que sejam os obstáculos da caminhada, não devemos nos
desviar da obrigação que nos recomenda o bem de todos, sempre que pudermos e
quando pudermos, seja onde for.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede
Perfeitos – item 5 e 6 – Parábola do semeador.
ITEM
5. Naquele mesmo dia, tendo saído de
casa, Jesus sentou-se à borda do mar; - em torno dele logo reuniu-se grande
multidão de gente; pelo que entrou numa barca, onde sentou-se, permanecendo na
margem todo povo. – Disse então muitas coisas por parábolas, falando-lhes
assim:
Aquele que semeia saiu
a semear; - e, semeando, uma parte da semente caiu ao longo do caminho e os
pássaros do céu vieram e a comeram. – Outra parte caiu em lugares pedregosos
onde não havia muita terra; as sementes logo brotaram, porque carecia de
profundidade a terra onde haviam caído. – Mas, levantando-se, o sol as queimou
e, como não tinham raízes, secaram. – Outra parte caiu entre espinheiros e
estes, crescendo, as abafaram. – Outra, finalmente, caiu em terra boa e
produziu frutos, dando algumas sementes cem por um, outras sessenta e outras
trinta. – Ouça quem tem ouvidos de ouvir. (Mateus, cap. XIII, vv. 1 a 9).
Escutai, pois, vós
outros a parábola do semeador. – Quem quer que escute a palavra do reino e não
lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no
coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do caminho. – Aquele que
recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a palavra e que a recebe com
alegria no primeiro momento. – Mas, não tendo nele raízes, dura apenas algum
tempo. Em sobrevindo reveses e perseguições por causa da palavra, tira ele daí
motivo de escândalo e de queda. – Aquele que recebe a semente entre espinheiros
é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo, os cuidados deste século e a ilusão
das riquezas abafam aquela palavra e a tornam infrutífera. – Aquele, porém, que
recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção
e em quem ela produz frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um. (Mateus,
cap. XIII, vv.18 a 23).
Jesus encontrou na
parábola a forma didática, a forma caridosa, para nos informar a cerca das
verdades eternas, onde, realmente, se encontra o reino dos céus. A parábola é a
forma misericordiosa que o Mestre encontrou para nos ensinar. Pois, aquele que
está na infância do processo evolutivo também precisa aprender, e de uma forma
mais fácil. Porque, se ele não for informado, se ele não receber a luz dos
ensinamentos, ele nunca sairá dessa infância. Essa parábola, a primeira contada
por Jesus, dentre dezenas, nos mostra os quatro modelos existentes no nosso
processo evolutivo. O sentido da parábola é este:
A semente é a palavra
de Deus, representada por seus ensinamentos. O solo onde caem as sementes
divinas é o coração humano.
O que Deus espera de
nós? Segundo Jesus, que nos amemos uns aos outros; que façamos ao próximo todo
o bem que desejaríamos que nos fosse feito; que estejamos dispostos ao
sacrifício dos interesses pessoais em favor do bem comum.
Conforme a sua má ou
boa vontade na aceitação da palavra de Deus, e a maneira como procedem após
tê-la ouvido, os homens aos quais o Evangelho é anunciado, podem ser
classificados como “beira de caminho”, “pedregal”, “espinheiro” ou “terra boa”.
De início, nós somos
como aquela semente que cai na beira do caminho. Os indiferentes, isto é, ainda
imaturos, não estamos preparados para tal semeadura. Somos insensíveis a
qualquer apelo de ordem mais elevada. Nós ouvimos, mas ficamos alheios à
palavra. A semente não vai germinar porque ela caiu ao acaso, numa terra que
ainda não está preparada para recebe-la. Ou seja, o nosso coração ainda não
está devidamente sensibilizado para receber as informações éticas e morais, que
estão inseridas nas leis de Deus. Num segundo estágio, a semente cai entre as
pedras e há pouca terra para uma germinação perfeita. Nós nos entusiasmamos
facilmente ao ouvirmos falar do Evangelho e o aceitamos prontamente. Nós
ouvimos a palavra e a recebemos com alegria. Mas falta a base para
empreendermos a reforma de nossos hábitos, e essa base, nós só vamos adquirir
com o estudo.
Cada vez que estudarmos, é como se nós
estivéssemos colocando mais um saquinho de terra entre as pedras, e o espaço
que de início era raso, vai ficando um pouco mais volumoso. E, é dessa maneira
que devemos trabalhar o nosso coração, fazendo com que ele fique menos pedra e
mais terra adubada, de tal forma, que ele fique sensibilizado para as coisas de
Deus e, é lógico que, quanto mais terra do estudo, do conhecimento e da
caridade, nós colocarmos, maior será a possibilidade da semente germinar, de
forma bem profunda.
Numa terceira etapa, a
semente cai entre os espinhos e é sufocada. Nós ouvimos a palavra, aceitamos a
palavra. Com a ampla visão das realidades espirituais que a Doutrina Espírita
nos oferece, ficamos encantados. Buscamos espontaneamente esses conhecimentos,
através de um estudo sistemático; participamos dos trabalhos de uma casa
espírita, todavia, demasiadamente presos às seduções do mundo, às coisas
materiais como, riquezas, deleites da vida, que consideramos mais importantes
que a formação de uma consciência espiritual, fazem com que pensemos em abandonar
a tarefa, em abandonar a Doutrina. A luta pela conquista de garantias pessoais,
vantagens e luxuosidades, sufoca, no nascedouro, os sentimentos altruísticos ou
qualquer movimento de alma que implique a renúncia de nossos tesouros
terrestres. Num momento equivocado na nossa jornada abandonamos todo um
percurso que já havíamos feito; de crescimento espiritual, de entendimento a
cerca das grandes verdades. Então, começamos a usar como desculpa a falta de
tempo, para fazer isso ou aquilo.
Na quarta etapa, a
semente cai em solo fértil. Ao primeiro contato com a palavra de Deus nós
sentimos algo que toca mais o íntimo. As lições do Mestre Divino encontram
magníficas condições de receptividade. É um maravilhoso despertar, que ilumina
os caminhos. E, logo, abraçamos o ideal cristão de corpo e alma, arregaçamos as
mangas e tornamo-nos multiplicadores de sementes, produzindo trinta, sessenta
ou cem por um, segundo nossas
possibilidades, mas sempre estendendo o bem ao nosso redor. Embora soframos
tropeços e fracassos algumas vezes, perseveramos, resultando de nosso trabalho
abençoados frutos de benemerência e de amor ao próximo. A vocação de servir, a
disposição de uma participação efetiva, são frutos de experiências pretéritas.
Geralmente, o servidor do Evangelho já nasce feito, não por mera graça divina,
mas como o resultado de suas experiências anteriores. Veio da beira, para o
solo dadivoso, com trânsito pelos espinhos e as pedras. Ë justamente nesse
sentido que nós devemos batalhar para conseguirmos, através do trabalho no bem
e do conhecimento das leis divinas, despertar para os verdadeiros valores.
Pois, é nesse momento que a terra fica adubada, preparada para receber a
semente que cai, fazendo-a criar raízes profundas. Portanto, esse é o momento
que todos nós devemos buscar. Porém, o alcance do objetivo não é milagroso; não
é estabelecido de uma hora para outra, porque, conforme já sabemos, a natureza
não dá saltos. Nós devemos construir todo esse processo de reencarnação a
reencarnação. A parábola do semeador nada mais é que a busca do Eu interior do
homem.
ITEM
6: Comentário de Kardec:
A
parábola do semeador exprime perfeitamente os matizes existentes na maneira de
serem utilizados os ensinos do Evangelho. Quantas pessoas há, com efeito, para
as quais não passa ele de letra morta e que, como a semente caída sobre
pedregulhos, nenhum fruto dá! Não menos justa aplicação a encontra nas
diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas
atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque
neles mais não veem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o
lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam
quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se
conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os
conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si
próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a
semente que cai em terra boa e dá frutos?
No item anterior, já
tomamos conhecimento que a parábola do semeador sintetiza os caracteres
predominantes em todas as almas, ao mesmo tempo em que nos ensina a
distingui-las pela boa ou má vontade com que recebem as novas espirituais.
No seu comentário,
Kardec faz uma comparação das fases descritas por Jesus com certos tipos de
criaturas. As criaturas da beira: Seus representantes comparecem à Casa
Espírita motivados por variados problemas, de ordem física e emocional. A
intenção é meramente receber benefícios. Pouco interesse ou quase nenhum quanto
às palestras e orientações. Não obstante, hajam recursos para mantê-los
atentos, o aproveitamento dos nossos irmãos da beira será sempre precário, em
relação à Doutrina Espírita, que exige apelo à razão, que exige atenção e
disposição para assimilar seus conceitos. As criaturas das pedras: Seus representantes ouvem a palavra e a
recebem com alegria. Assimilam algo, mas não estão dispostos a enfrentar os
dissabores da adesão. O sol abrasador dos preconceitos e das discriminações torra facilmente as frágeis
raízes de sua fé.
Acontecia com o
Espiritismo no passado: Falava-se que os espíritas eram adoradores do demônio.
As pessoas recusavam-se a passar em frente ao Centro Espírita. Raros resistiam.
Ainda hoje, temos simpatizantes que não se integram para não criar problemas
com a família. As criaturas dos espinhos: Seus representantes aceitam a
palavra, mas as seduções do mundo a sufocam. Adoram os princípios espíritas: a
ação no campo social, o exercício da caridade. Gostariam de participar, mas,
dizem que não se sentem preparadas. Alegam ser fumantes inveterados e abusarem
dos aperitivos. A palavra deixou boas raízes nelas, mas as fraquezas, espinhos
danosos que não querem eliminar, falam mais alto. Aqui, vale lembrar uma
recomendação de Jesus, por João, no Cap. XII, v. 35 de seu Evangelho: Andai
enquanto tendes luz. É imperioso aproveitar as oportunidades de edificação da
jornada humana. É para isso que estamos aqui. Amanhã, poderá nos faltar luz, a
lucidez, a saúde, o vigor físico a possibilidade de mudar e penoso será o
futuro se não o fizermos. Se esses aspectos acontecem para o comum dos homens,
como grande parte de terra improdutiva, que faz parte do nosso mundo, também se
distingue, dentre todos, criaturas de boa vontade, que ouvem a palavra,
transformam-na em ações, e dessa semente bendita resulta tão grande produção
que se pode contar a cento por uma.
Vamos destacar alguns
aspectos para nossa reflexão:
1 – Por que, se somos
filhos de Deus, há vários tipos de solo?
2 – Por que muitos não
se sensibilizam?
3 – Por que, há os que
se sensibilizam, mas permanecem distantes, preocupados com opiniões alheias?
4 – Por que há os que
se aproximam, mas não estão dispostos a se envolver?
5 – Por que, enfim, há
os que se envolvem?
6 – Por que, dentre
eles, há os que produzem pouco e os que produzem muito?
7 – Que fatores
determinam reações tão díspares?
8 – Se a palavra é para
todos, porque não somos todos dadivosos?
R – Só a reencarnação
pode explicar essa diversidade de solos.
Daí nós concluirmos
que:
A palavra de Deus, a
semente, é uma só, quer dizer, é sempre a mesma que tem sido apregoada em toda
parte, desde que o homem se achou em condições de recebe-la. E se ela não atua com
a mesma eficácia em todos, deriva esse fato da variedade e da desigualdade de
espíritos que existem na terra; uns mais adiantados, outros mais atrasados; uns
propensos ao bem, à caridade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao
egoísmo, ao orgulho; apegados aos bens terrenos.
Será que podemos, já na
presente existência, entrar para a turma especial do solo dadivoso? Sem dúvida!
O lavrador pode limpar
o campo, tirar as pedras e os espinhos, revolver a terra, aplicar adubo. Nós
podemos e devemos fazer isso. Depende somente de nossa iniciativa. É preciso
tão somente usar a enxada da vontade, revolver a terra da indiferença e aplicar
o adubo do trabalho, preparando o solo do coração para as sementes do
Evangelho.
Então, gloriosa será a
nossa passagem pela Terra, com frutos dadivosos em favor do próximo e abençoada
edificação para nós.
*********************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede
Perfeitos – item 4 – Os bons espíritas.
ITEM
4: Comentário de Kardec:
Bem compreendido, mas
sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que
caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o
mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita
aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e
esclarecida aos que duvidam ou vacilam.
Muitos, entretanto, dos
que acreditam nos fatos das manifestações não lhes aprendem as consequências,
nem o alcance moral, ou, se os aprendem, não os aplicam a si mesmos. A que
atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não
contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A
clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir
direto à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de
posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.
Desse comentário de
Kardec, nós podemos retirar um tema bem atual. Ninguém quer ser mau nas suas
atividades, nem quer ser inferior naquilo que é. Ser considerado bom em tudo
que faz, é uma aspiração de todas as criaturas e, com certeza, todos os
seguidores da Doutrina Espírita gostariam muito que o trabalho executado em
favor dos semelhantes sempre fosse considerado bom, de boa qualidade. Mas, nem
sempre é assim. Quantas vezes, nós permitimos que as coisas do mundo interfiram
na nossa maneira de ser espírita? Cremos e, até, nos deslumbramos com os
ensinamentos de Jesus. Mas, basta um determinado momento de nossas vidas, em
que haja acontecido algo, para deixarmos de lado a atitude do espírita.
Interrompemos a nossa tarefa na seara do Cristo. Não nos arriscamos mais a
caminhar na direção da luz e, aí, somos levados a uma conclusão um pouco
constrangedora de que, realmente, esse termo utilizado pelo codificador, os
Bons Espíritas, ainda não foi observado atentamente, ainda não foi bem
estudado, esmiuçado o bastante, para que nós possamos aplicá-lo às pessoas que
estudam a Doutrina. Somente raros permanecem firmes e confiantes, enfrentando
as tempestades e os obstáculos que, muitas vezes, são o sinal da segurança que
logo advirá.
A religião espírita e a
filosofia espírita nos ajudam a pensar melhor, a raciocinar melhor, a deliberar
melhor. Enfim, a agir melhor, mesmo que o estudioso não seja espírita. Aqui
vale lembrar que o Espiritismo é o Cristianismo redivivo. Portanto, sua
filosofia pode ser seguida por qualquer criatura.
O Espiritismo bem
compreendido, sobretudo, bem sentido, nos conduz forçosamente às qualidades mencionadas
no estudo que fizemos da lição anterior,
que caracterizam o homem de bem. Ou seja, o verdadeiro espírita, o
verdadeiro cristão. Conforme Kardec nos diz, não há diferença entre eles.
O Espiritismo, por ser
o Cristianismo redivivo, como já dissemos, não cria uma nova moral, apenas
facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo. O Espiritismo
não permite distorções daquilo que foi ensinado por Jesus.
Os verdadeiros
sacerdotes do cristianismo de Jesus não são os que se dedicam às cerimônias e
aos ritualismos do culto exterior, mas sim os educadores que procuram pela
palavra e pelo exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais
latentes dos seus educandos. Por isto, o Espiritismo não aceita alegorias nem
figuras.
Continuando,...
Será então necessária,
para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de
notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares,
moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes aprendem, com admirável
precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer
material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte
essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade
do senso moral, maturidade que independente da idade e do grau de instrução,
porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito
encarnado.
Para compreender a
moral do Cristo, não é necessário possuir uma inteligência privilegiada. Às
vezes, ela não é muito grande por parte de quem estuda. Porém, iluminada o
bastante para ter o coração aberto às dores do mundo, para entender o
sofrimento, os erros e as dificuldades de seus irmãos de caminhada, sejam eles
quem for. Para ter a capacidade de vencer a si próprio, de forjar em si a
fortaleza espiritual, a disciplina, a perseverança e a disposição de se
sacrificar pelo seu semelhante. Assim, como pretendente o verdadeiro espírita,
o viajor, a caminho da luz, não deixa escapar as oportunidades de crescimento.
Continua Kardec,...
Nalguns, ainda muito
tenazes (aderentes ) são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se
desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do
infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores ( índole
), nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que
aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas
que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra:
não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes
facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações.
Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça (
corriqueira ) e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em
novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os
arcanos (mistérios) do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, algum dos
quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque
recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias
para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a
aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais
fácil o segundo, noutra existência.
Aquele que pode ser,
com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau
superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais
completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da
Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma:
é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico
que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons.
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos
esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta
com o seu horizonte limitado, outro, que apreende (compreende) alguma coisa de
melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a
vontade.
Kardec nos alerta sobre
o comportamento de algumas criaturas que entram em conflito ao atingir a
percepção de que é um ser em evolução espiritual e, por conseguinte, têm a
necessidade de acelerar a sua marcha, mas não querem se desvencilhar de seus
valores materiais. Por isto, elas ficam entre aquilo que pretendem ser e aquilo
que ainda gostam de ser. Para estas, o sentimento de orgulho, de egoísmo e de
vaidade, ainda fazem morada dentro de si, formando uma cortina, que dificulta a
compreensão da Boa Nova, para se livrarem do homem velho que carregam dentro de
si, através de milênios de experiências, que seu princípio espiritual
vivenciou, para transformá-lo num homem novo, pleno de sabedoria, de luz e de
amor.
Kardec vai mais longe,
as identifica como espíritas imperfeitos. Aqui, torna-se bastante pertinente,
refletirmos sobre a figura da mariposa. As mariposas são atraídas pela luz,
assim como, os adeptos do espiritismo são atraídos pela busca da verdade
espiritual. As mariposas ao aproximarem-se demais da luz, sem estarem
devidamente adaptadas às novas condições, elas acabam queimando as suas asas.
Assim, também, podemos considerar em relação aos irmãos que buscam no
espiritismo resultados imediatos e soluções milagrosas. Estes, na ocasião em
que se vêem diante de uma queda natural, devido ao estado de imperfeição que
carrega, ficam desiludidos e, por isto, não buscam mais, na fonte da criação,
forças para reerguerem-se.
Agora, o espírita
verdadeiro é aquele que compreende a realidade. Sabe que todos aqueles que
estão a caminho da luz são falhos, imperfeitos e, portanto, as quedas
existentes no caminho que percorrem são consideradas normais. Eles enfrentam
suas lutas diárias, entre quedas e soerguimentos, dando continuidade às suas
jornadas. Tirando dos acontecimentos que
experimenta lições aprendidas , que vão reforçando seus Espíritos, para os
trabalhos que ainda virão.
Nada na natureza dá
saltos. Aposentar o homem velho, cheio de incertezas, cego em si próprio,
e deixar surgir o homem novo, capaz de
não mais se iludir, capaz de autoanalisar os seus atos, não é tarefa fácil. Ela
exige a necessidade do trabalho, da ação, da experiência e da dor reparação,
que ensinam e direcionam o verdadeiro espírita a deixar emergir de si próprio a
luz divina.
Muitas são as provas
pelas quais passamos: é a falta de fé e de esperança, vencendo a nossa
capacidade de resignação; é o ciúme, o desamor e a inveja a destruir nossas
forças, afastando-nos da elevação; é a depressão, a menos-valia, despindo-nos
dos valores necessários ao crescimento do
espírito; é a dificuldade do caminho, testando a nossa paciência; é a
tendência egocêntrica nos impedindo de ver o nosso próximo e senti-lo como
irmão; é a doença que nos impede de caminhar, levando-nos ao desânimo. A todas
devemos vencer, para nos candidatarmos a passar pela porta estreita do
reconhecimento cristão.
A base do verdadeiro
espírita está na compreensão e no conhecimento. Por isto, o Espírito de Verdade
nos conclama: “Espíritas instrui-vos“. Porém, conhecer e compreender as
verdades cristãs não são condições suficientes. A criatura precisa aceitar esse
caminho e admiti-lo para si, percorrendo-o com fé, esperança e resignação.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 - O que devemos fazer para sermos considerados
bons espíritas?
R – Compreender bem a
Doutrina Espírita, estudando-a, esmiuçando-a o bastante e, sobretudo, sentindo-a.
2 – O que caracteriza o
espírita imperfeito?
R- A desistência de
trabalhar na seara do Cristo diante da realidade, ao não encontrarem a chave
miraculosa, para decifrar sonhos.
3 – O que impede o
homem de ser bom espírita?
R – Ter sentimento de
orgulho, de egoísmo e de vaidade.
Daí nós concluirmos
que:
Os bons espíritas sabem
que nunca estão sozinhos; sempre se colocam à disposição para o trabalho
fecundo na caridade; percebem que não são diferentes de seus semelhantes, e que
todos são irmãos necessitados de amparo, de afeto e de compreensão; não se
deixam levar pelo desânimo e pela dor; sabem que as experiências que vivem são
a dose justa de que necessitam para o seu soerguimento espiritual; dão de si
mesmos por saberem que encontrarão em seus íntimos a
presença de Deus; colocam o espiritismo à frente de todas as coisas; agem como
espíritas, procedem como espíritas e têm consciência de que é um ser espiritual
eterno; que a morte não existe e, sim, a vida, sempre. No estudo do Evangelho
busca o que Jesus espera de nós.
Um dia, todos nós
seremos bons espíritas.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Cap. XVII – Sede
Perfeitos – itens 3 – O Homem de bem.
ITEM 3: O verdadeiro homem
de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior
pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo
perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que
podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem
qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Na questão
918 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta: Por que indícios (princípio de prova) se podem
reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o espírito na
hierarquia espírita?
A
espiritualidade superior responde: - “O Espírito prova a sua elevação, quando todos
os atos de sua vida corporal representam a prática das leis de Deus e quando
antecipadamente compreende a vida espiritual”.
Nós já
estudamos, que toda criatura humana traz dentro de si um impulso, no sentido do
seu progresso espiritual. Mesmo que não dê conta disso, aquela centelha do amor
de Deus, colocada em sua consciência, faz com que ela se mova constantemente na
direção da sua evolução espiritual, mesmo aqueles que têm o coração endurecido,
e que ainda persistem nas paixões
inferiores.
Mas existem
aqueles que já têm dentro de si uma noção exata de sua imperfeição e uma força
tão grande, que conseguem atuar neste planeta de expiações e provas,
dedicando sua vida a aquele que sofre;
dedicando sua vida a seu semelhante, seu irmão, negando-se a si mesmo. E essas
pessoas, obviamente, são candidatas a serem promovidas a passar por aquela
porta estreita que Jesus nos falou.
O homem,
então, dá demonstração de sua elevação moral quando os seus atos são norteados
pela prática das leis de Deus; quando compreende e prioriza a vida espiritual;
quando cumpre com o seu dever para com o próximo, ajudando-o e fazendo tudo o
que pode, a serviço da humanidade.
Essa
virtude de servir ao semelhante, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas
as qualidades essenciais que constituem o homem de bem.
O homem de
bem quanto mais progride mais percebe que a vida no Orbe terrestre é um grande
condomínio, que ele compartilha com os seus semelhantes. E sempre faz aos
outros tudo aquilo que gostaria que lhe fosse feito.
Continuando:
Deposita
fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a
sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no
futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que
todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou
expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do
sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar
paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e
sacrifica sempre seus interesses à justiça.
Encontra
satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer
ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza ( esbanja ) aos aflitos. Seu
primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar
dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao
contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.
O
Codificador diz que o homem de bem deposita fé em Deus. Mas, o que é a fé? A fé
é o entendimento das leis de Deus, gerado no equilíbrio, no raciocínio e na
razão. Esta é fé legítima.
O homem de
bem está sempre com o pensamento voltado para Deus, pois, sabe que a Obra do
Criador está em toda parte. Todas as coisas visíveis e invisíveis são frutos de
Sua vontade. Portanto, tudo o que acontece está ligado aos Seus desígnios. Nada
se move, nada se modifica, nada acontece, sem que esteja de acordo com Sua vontade
e conforme Sua lei.
O homem de
bem sabe que a lei de Deus é regra de justiça, e que esta é a referência que
delimita as ações e as reações; as causas e seus efeitos. Tem fé no futuro
porque sabe que o amanhã será preenchido com os valores de hoje. Exercita
aquela informação de Jesus, repetindo: “Deus está em mim e eu estou Nele. Eu e
o Pai somos um”.
O homem de
bem prioriza as coisas espirituais, porque sabe que a verdadeira vida é a
espiritual. O mundo normal é o mundo dos Espíritos. Que é primitivo, que é
eterno, que é preexistente e sobrevive a tudo. É interessante destacar que o
mundo corporal é secundário. Poderia, até, deixar de existir, ou mesmo, não
ter jamais existido, sem que por isso se
alterasse a essência do mundo Espírita.
O homem de
bem parte da premissa que, a felicidade não é coisa deste mundo, e que as
aflições fazem parte da vida do homem; sabe que as vicissitudes são expiações e
provas, que representam instrumentos que o Pai escolheu para retificar, ensinar
e burilar o Espírito, em sua escalada evolutiva. É sempre resignado e, por
isto, as aceita sem se lamentar.
O
sentimento de caridade, sobretudo, o da caridade desconhecida, o impulsiona a
exemplificar o Evangelho, sem nada exigir em troca. É levado a pensar no
semelhante antes de pensar em si. E isto distingue o homem de bem do homem
comum.
Continuando:
O homem de bem é bom,
humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças,
porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança
anátema ( reprovação ) aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como
certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o
seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia
de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode
evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.
O homem de bem é bom. Age sempre com benevolência para com todos; não
faz distinção de pessoas. Para ele não importa a sua crença e, sim, o que faz.
Tem por guia o bem e a caridade, por isto, modera as suas palavras e as suas
ações, evitando ferir ou proporcionar ressentimento nos outros. Recua sempre,
diante da eminência de faltar com amor a seu semelhante. Por possuir sentimento
de caridade, faz o bem pelo bem. Defende o fraco, lutando incessantemente
contra o mal, onde quer que esteja. Sacrifica seus
interesses, pelo interesse da justiça. Sente alegria em trabalhar na seara do
bem. Vive em contato com o mundo, convivendo pacificamente com todas as
criaturas, e colabora para o bem-estar comum. Tem por guia a lei de justiça, de
amor e caridade. Considera que todas as criaturas são filhas do mesmo Pai,
irmãs, portanto.
Continuando:
Não alimenta ódio, nem
rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas
e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver
perdoado.
É indulgente para as
fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem
presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se
achar sem pecado”.
Nunca se compraz em
rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê
obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Estuda suas próprias
imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços
emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de
melhor do na véspera.
O homem de bem vive no
mundo sem pertencer ao mundo, ou seja, não se deixa envolver pelos vícios e
pelas tentações. Fruto do seu desprendimento, do serviço da doação, do
esquecimento de si mesmo, nas relações com o mundo que o cerca, razão porque
não alimenta ódio, nem rancor, nem vingança. Jesus deixou bem clara a lição da
misericórdia, quando disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Da mesma
forma que julgares sereis julgados”. Por isto, o homem de bem tem o
discernimento como melhor companheiro diante dos fatos da vida, que induzem ao
julgamento precipitado e inútil, que o leva a aplicar a indulgência, no lugar
da condenação. Sabe que o perdão das ofensas tem que ser incondicional, e que a
misericórdia é uma premissa de vida. O conhecimento de si mesmo, ou seja, o
entendimento que encontra em seu próprio estágio de evolução, ajuda o homem de
bem a superar as tendências de inveja. Por isto, não se compraz (sentir prazer) com o insucesso dos outros. O homem
de bem procura melhorar-se todos os dias, por menor que seja essa melhora.
Francisco de Assis, na sua perseverança na busca de seus objetivos, dizia ser
necessário que a cada dia se colocasse um tijolo na construção de nossas vidas
e, em pouco tempo, poderíamos observar a igreja que fomos capazes de construir,
com o nosso próprio esforço continuado.
Continuando:
Não procura dar valor
ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao
revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que
tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado. Usa, mas não abusa dos bens que
lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas
e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplica-lo à satisfação
de suas paixões. Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens,
trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa
da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu
orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna
em que se encontram. O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da
posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, n.9).
Finalmente, o homem de
bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da
Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim
enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que
se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a
todas as demais conduz.
O homem de bem segue a
sua caminhada, preocupado com a harmonia social, buscando entender a
necessidade de amar e compreender seu semelhante. Está sempre a serviço do
Senhor, batalhando na seara do bem, em todas as formas. Ele usa, mas não abusa
dos bens que lhe são concedidos. Vive sem os excessos. Retém somente as coisas
que realmente são essenciais e necessárias para sua vida, desfazendo-se de tudo
aquilo que é supérfluo.
Jesus disse que nós
somos o sal da terra. E a missão do homem de bem é adubar, arar o terreno, para
que ele seja capaz de multiplicar as bênçãos recebidas. Em outras palavras, o
homem de bem quando tem poder distribui justiça, proporcionando ensinamentos,
novas oportunidades de trabalho e de evolução para os seus semelhantes. Esse
poder, que é conferido por Deus, é para ser usado com humildade, para a
melhoria das coisas. O poder representado aqui pela autoridade temporária, é
outra prova difícil de ser suportada, porque, geralmente, aqueles que detêm
poder deixam a ilusão do orgulho turvar sua visão, para a sua real destinação.
Deixam-se vencer pela indolência, pela prepotência, pela perversidade, prejudicando
muitas vezes aqueles com quem convive; de quem cobra dedicação, obediência e,
até submissão.
Reconhece-se o
verdadeiro homem de bem pela sua transformação moral e pelos esforços que
emprega para domar suas inclinações más.
Vamos destacar algumas
questões para nossa reflexão:
1 – Como pode o homem
verificar se está cumprindo, verdadeiramente, a lei de justiça, de amor e
caridade?
R – Interrogando a
consciência sobre seus próprios atos; se
faz aos outros o que deseja que lhe fizessem.
2 – Por que o
sentimento de caridade e amor ao próximo estão incluídos entre as qualidades do
homem de bem?
R – Porque o exercício
da caridade impulsiona o homem a pensar nos outros, antes de pensar em si. Essa
prática propicia o de todas as demais qualidades que distinguem o homem de bem.
3 – Os homens que
cumprem suas obrigações sociais, são homens de bem?
R – Segundo o
julgamento dos homens, sim. Nem sempre, no entanto, perante Deus.
Daí nós concluirmos
que:
O verdadeiro homem de
bem é o que age de acordo com as leis de Deus, sabiamente prescritas por Jesus
em seu evangelho, cumprindo a lei de
justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza.
Não podemos fugir à
responsabilidade de semear. Agora, não será possível colher-se uvas quando
plantamos espinheiros. Mas se semearmos a boa semente, seremos capazes de
colher os bons frutos do correto plantio que fizermos.
Que possamos, todos
nós, observarmos essas virtudes do homem de bem. Aquele que caminha na direção
do bem vence as suas inferioridades sem sentir. Pois, coloca no seu espírito os
valores eternos da espiritualidade. Coloca em seu espírito a luz necessária
para faze-lo passar pela porta estreita.
Não basta o
contentamento de apenas hoje. É preciso saber se estamos pensando, sentindo,
falando e agindo, para que o nosso regozijo de agora seja também regozijo
depois.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVII – Sede
Perfeitos – itens 1 e 2 – Caracteres da perfeição.
ITEM 1: Caracteres da perfeição.
Amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e
caluniam. – Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis
disso? Não fazem assim também os publicanos? – Se unicamente saudardes os
vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os
pagãos? – Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
celestial. (Mateus, cap. V, vv. 44, 46 a 48).
A busca da perfeição
implica em amarmos até os nossos inimigos. A fazermos o bem aos que nos odeiam
e caluniam, porque a perfeição só é atingida quando o coração fica despojado de
toda e qualquer mácula de rancor, de ódio e de ressentimento. Quando, então,
limpamos o nosso coração para com o semelhante, para com o outro.
É preciso entender que
os nossos inimigos são colocados, por Deus, no nosso caminho, ao nosso lado, a
fim de que sejamos advertidos, com mais clareza do que faria um amigo, sobre
como amar o próximo. Porquanto, aquele inimigo nenhum interesse tem em mascarar
a nossa condição. O inimigo, aparente obstáculo em nossa caminhada é, na verdade,
instrumento de nosso aperfeiçoamento. E é muito bom nós ampliarmos a nossa
afeição. Pois, como Jesus falou, não há vantagem em amarmos somente a quem nos ama.
ITEM 2: Comentário
de Kardec.
Pois
que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: “Sede
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”, tomada ao pé da letra,
pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura
fosse dado ser tão perfeita, quanto o Criador, tornar-se-ia igual a este, o que
é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa
nuança (diferença sutil entre coisas do mesmo gênero), pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a
dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
Como o
próprio Kardec destaca, neste estudo, encontramos mais uma passagem de Jesus
que, se entendida ao pé da letra, será tomada como um absurdo.
De certa
forma, esta exortação do Mestre “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
celestial”, nos causa estranheza, pois, pode alguém ser perfeito como o Pai o é? Deus é que
possui a perfeição infinita em todas as coisas.
O conceito
de perfeição designa um estado plenamente realizado, ou seja, aquilo que é bem
acabado em todos os detalhes; aquilo que não apresenta defeito; aquilo que é
belo. Em Teologia, é a plena realização sob o ponto de vista moral; realização
no bem, que compete a cada um possuir e atuar. Nestas condições, como alguém,
aqui na Terra, poderá atingir esse patamar? Então, há que se perguntar: Por
que, sabendo da nossa fraqueza e das nossas imperfeições, o Mestre pode dar
essa ordem expressa? Lógico que ele sabia, mas o motivo determinante para essa
perfeição determinada pelo Cristo, é que fomos criados à imagem e semelhança de
Deus. E diante desta verdade, devemos prestar contas ao Pai, dentro do melhor
nível de evolução que pudermos alcançar.
Nessa
frase, Jesus dá uma ordenação a todos os habitantes do Planeta, independente da
seita ou da religião que professem.
Continuando,...
Aquelas
palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de
que a humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que
consiste essa perfeição? Jesus o diz: “Em amarmos os nossos inimigos, em
fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem”. Mostra
ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla
acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
A perfeição
absoluta pertence ao Criador, como está contido na primeira pergunta de O Livro
dos Espíritos, quando o Codificador pergunta que é Deus e os Espíritos
respondem: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Ora, se Deus é a inteligência suprema Ele é único. Não cabendo ao homem atingir
esse estágio. Por isso, nós já podemos entender que, o que é ordenado por
Jesus, é uma perfeição a que a humanidade é capaz de atingir; a que mais se
aproxima de Deus. Portanto, uma perfeição relativa, ou seja, nós podemos ser
perfeitos em alguns aspectos e noutros não.
Todos nós temos o
direito de buscar essa perfeição. Mesmo aqueles espíritos mais rebeldes, que
estão agarrados aos erros e aos vícios. Mas, para isto, é preciso que nos despertemos
para a necessidade desse momento, e que tenhamos boa vontade para iniciar
aquele bom combate, de que Paulo de Tarso nos fala, para desenvolvermos em nós,
de forma gradativa e paciente, as mudanças para atingirmos essa evolução.
Ë muito
importante nós analisarmos a colocação do verbo, que está no imperativo
afirmativo, ou seja, nos recomendando para que o ato seja realizado de
imediato. Jesus não disse para sermos perfeitos amanhã. A determinação do
Mestre nos indica para agirmos hoje, no presente momento.
Nós já
sabemos que, para alcançar um estágio evolutivo mais adiantado, demanda muitas
existências. Acredita-se que Jesus tenha vivido alguns bilhões de milênios,
para chegar ao estágio em que chegou. Então, como podemos nos modificar nesse
instante? Nós já aprendemos que a natureza não dá saltos. Portanto, não poderia
ser exigido de nós, habitantes de um mundo de expiações e provas, a mesma
perfeição que se exige de um Espírito puro e, muito menos, a perfeição absoluta
de Deus. Daquele que tem um conhecimento menor será exigido uma perfeição
diferente daquele que tem um conhecimento maior. Jesus alertou: A quem muito
foi dado, muito será exigido.
Continuando,...
Com efeito,
se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos,
reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da
caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são
a negação; e isso porque tudo o que sobre-excita (estimula) o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece
os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação
e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos
inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre,
portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o
grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus,
depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de
mais sublime, lhes disse: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”.
A
perfeição que o Mestre nos ordena é
aquela contida nos seus ensinamentos, que nos conclama a amarmos os nossos
semelhante e a fazermos o bem sem exceção. Portanto, ela está centrada na
caridade que fizermos ao nosso próximo. E essa caridade deve ser exaltada, para
que culmine até no amor ao inimigo. Na mais ampla acepção do termo, porque
implica na prática de todas as outras virtudes.
Jesus nos
preceitua em seu Evangelho, que a verdadeira caridade é formada pela
benevolência, que é a boa vontade com alguém; pela indulgência, que é estar pronto
para perdoar; pela abnegação, que é o desprendimento; e pelo devotamento, que é
o ato de dedicar-se.
E como
saberemos se estamos cumprindo esse preceito do Mestre? Basta perguntar a nós
mesmos, à nossa consciência. Sempre lembrando que somos devedores de amor e
respeito, uns para com os outros. E, mais ainda, quanto mais desventurado for o
ser tanto mais de auxílio necessita.
Quando
Jesus nos conta a parábola do Bom Samaritano, por exemplo, faz-nos uma apologia
do amor ao próximo, isento de preconceitos e de segundas intenções.
Por isto é que nos foi exigido a perfeição,
hoje. Ficando bem claro, que Jesus não ordenou nenhum absurdo.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que
a busca da perfeição implica amarmos, inclusive, nossos inimigos e fazermos o
bem aos que nos odeiam, perseguem ou caluniam?
R – Porque
a perfeição só é atingida quando o coração se vê despojado de toda e qualquer
mácula de rancor, ódio e ressentimento para com o semelhante.
2 – Em que
consiste a perfeição a que a humanidade é capaz de atingir, e que mais a
aproxima da divindade?
R – Na
prática do mandamento de Jesus, que nos ensina a amarmos os nossos inimigos, e
fazermos o bem aos que nos odeiam e orarmos pelos que nos perseguem.
3 – Que
regra máxima nos concede Deus para, mais rapidamente, conquistarmos a
perfeição?
R – O
Evangelho de Jesus, que encerra as leis morais da vida.
Daí nós
concluirmos que:
A prática
da caridade, em sua mais ampla acepção, constitui o único caminho para a
conquista da perfeição. Manifesta-se no amor ao próximo, extensivo aos nossos
inimigos; no fazer o bem aos que nos odeiam; e no orar pelos que nos perseguem
e caluniam.
*****************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Cap. XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – itens 14 e 15 – Desprendimento dos bens terrenos e
transmissão da riqueza.
Instruções dos Espíritos (
continuação )
ITEM
14. Trata-se
de uma mensagem de Lacordaire , e ele inicia assim:
Venho, meus irmãos,
meus amigos, trazer-vos o meu óbolo, a fim de vos ajudar a avançar,
desassombradamente, pela senda do aperfeiçoamento em que entrastes. Nós nos
devemos uns aos outros; somente pela união sincera e fraternal entre os
Espíritos e os encarnados será possível a regeneração.
O amor aos bens
terrenos constitui um dos mais fortes óbices (obstáculo) ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à
posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes
todas às coisas materiais.
Neste parágrafo, podemos entender o seguinte: Vosso amor aos bens
terrestres é um dos mais fortes entraves ao vosso adiantamento moral e
espiritual; por esse apego à posse, suprimis as vossas faculdades afetivas em
as transportando todas sobre as coisas materiais.
Sede sinceros: proporciona a riqueza uma
felicidade sem mescla ? Quando tendes cheios os cofres, não há sempre um vazio
no vosso coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre oculto um
réptil? Compreendo a satisfação, bem justa, aliás, que experimenta o homem que,
por meio de trabalho honrado e assíduo, ganhou uma fortuna; mas, dessa
satisfação, muito natural e que Deus aprova, a um apego que absorve todos os
outros sentimentos e paralisa os impulsos do coração vai grande distância, tão
grande quanto a que separa da prodigalidade exagerada (gastos exagerados) a sórdida (asquerosa) avareza, dois vícios
entre os quais colocou Deus a caridade, santa e salutar virtude que ensina o
rico a dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza.
Desse trecho, podemos
entender que o desprendimento dos nossos bens terrenos é fundamental para o
nosso crescimento moral e espiritual. E, que, o apego a eles, ao contrário, é
um grande obstáculo para
que a gente cresça.
Nas
perguntas que faz, o espírito Lacordaire deixa claro que a riqueza em si só não
dá a felicidade plena. Ela terá que vir acompanhada de uma aplicação
consciente, oportunizando auxílio aos nossos irmãos de caminhada. Na verdade,
quando nós sabemos utilizar os bens que nos foram emprestados, utilizando-os
com equilíbrio, nós vamos produzir o bem à todas as criaturas que estejam
necessitadas e, sobretudo, desempenhar
com louvor a nossa missão, nessa prova da riqueza.
O Espírito
comunicante diz que Deus aprova a fortuna adquirida através do trabalho
honrado. Mas, se houver qualquer tipo de apego material, este se transforma
numa atitude egoística, de plena satisfação pessoal, retendo recursos externos
de que nós não estamos necessitando, e que vão continuar guardados.
O Espírito
diz também, que não devemos gastar exageradamente nem fazer a retenção do
dinheiro. Portanto, devemos abrir o nosso coração para deixar sair, de forma
consciente, a ajuda para aqueles que estão em dificuldade.
Agindo com
harmonia na distribuição da fortuna, estamos praticando caridade, santa e salutar virtude, que Deus
nos confere, para que aprendamos a dar sem ostentação, para que o necessitado
receba sem humilhação.
Continua Lacordaire:
Quer a
fortuna vos tenha vindo da vossa família, quer a tenhais ganho com o vosso
trabalho, há uma coisa que não deveis esquecer nunca: é que tudo promana (procede) de Deus, tudo retorna
a Deus. Nada vos pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo: a morte vos
despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não
proprietários, não vos iludais. Deus vo-los emprestou, tendes de lhos
restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba
aos que carecem do necessário.
Um dos
vossos amigos vos empresta certa quantia. Por pouco honesto que sejais, fazeis
questão de lha restituirdes escrupulosamente e lhe ficais agradecido. Pois bem:
essa a posição de todo homem rico. Deus é o amigo celestial, que lhe emprestou
a riqueza, não querendo para si mais do que o amor e o reconhecimento do rico.
Exige deste, porém, que a seu turno dê aos pobres, que são, tanto quanto ele,
seus filhos.
O Espírito
comunicante nos chama a atenção para o fato de que não devemos esquecer que,
tudo que procede de Deus, retorna a Deus. Por isto, a riqueza que Deus nos
empresta está sob a condição de que o que exceder às nossas necessidades seja
repartido com os irmãos necessitados, mesmo que essa riqueza provenha de um
trabalho honesto ou de uma herança.
Por este
motivo, não devemos reter qualquer tipo de riqueza, de que não necessitemos.
Vamos amenizar a fome do nosso irmão, que passa por um momento difícil; vamos
vestir, agasalhar um nosso semelhante, que passa pela prova da pobreza. Esse
socorro imediato aos desassistidos do caminho, nos envolve num processo de
implantação de um mundo mais justo e mais humanizado.
Continuando,...
Ardente e
desvairada cobiça despertam nos vossos corações os bens que Deus vos confiou.
Já pensastes, quando vos deixais apegar imoderadamente a uma riqueza perecível
e passageira como vós mesmos, que um dia tereis de prestar contas ao Senhor
daquilo que vos veio dEle? Olvidais que, pela riqueza, vos revestistes do
caráter sagrado de ministros da caridade na Terra, para serdes da aludida
riqueza distribuidores inteligentes? Portanto, quando somente em vosso proveito
usais do que se vos confiou, que sois, depositários infiéis? Que resulta desse
esquecimento voluntário dos vossos deveres? A morte, inflexível, inexorável,
rasga o véu sob que vos ocultáveis e vos força a prestar contas ao Amigo que
vos favorecera e que nesse momento enverga diante de vós a toga de juiz.
Desse
trecho, nós podemos entender o seguinte:
Quanto mais
coisas materiais temos, mais precisamos de tempo para cuidar delas. Ora, se
nada trouxemos para este mundo, nada poderemos daqui levar.
Os que,
vivendo uma vida simples, ficam preocupados em Ter uma vida de rei, e por
isto querem se tornar ricos, caem em
tentação e são tomados pelo desejo ardente de bens materiais, pelos quais são
levados à ruína e à perdição. E nessa cobiça alguns se desviam da fé. O rico
dificilmente se dedica a uma vida religiosa, seja porque não tem tempo, por
causa dos seus afazeres materiais que lhe consome mais o seu dia-a-dia, seja
porque estão contentes com a falsa felicidade que o dinheiro lhe oferece. Não
se preocupa com os menos favorecidos, com a miséria que às vezes assola a casa
vizinha ou parentes que passam por graves problemas. Fica alheio a tudo e a
todos. A criatura que assim precede se torna um depositário infiel dos bens de
Deus.
As nossas
atitudes estarão sempre sendo aferidas. Ser rico, nós já sabemos, não é
condenável. O que é condenável é o apego a essa riqueza porque, como já
falamos, esse apego se transformará numa grande dificuldade, quando do retorno
do ser ao Plano Espiritual
Não foi a
toa que Jesus afirmou que é muito difícil um rico entrar no Reino de Deus.
Continuando,...
Em vão
procurais na Terra iludir-vos, colorindo com o nome de virtude o que as mais
das vezes não passa de egoísmo. Em vão chamais economia e previdência ao que
apenas é cupidez e avareza, ou generosidade ao que não é senão prodigalidade (esbanjamento) em proveito vosso. Um
pai de família, por exemplo, se abstém de praticar a caridade, economizará,
amontoará ouro, para, diz ele, deixar aos filhos a maior soma possível de bens
e evitar que caiam na miséria. É muito justo e paternal, convenho, e ninguém
pode censurar. Mas será sempre esse o único móvel a que ele obedece? Não será
muitas vezes um compromisso com a sua consciência, para justificar, aos seus
próprios olhos e aos olhos do mundo, seu apego pessoal aos bens terrenais?
Admitamos, no entanto, seja o amor paternal o único móvel que o guie. Será isso
motivo para que esqueça seus irmãos perante Deus? Quando já ele tem o
supérfluo, deixará na miséria os filhos, por lhes ficar um pouco menos desse
supérfluo? Não será, antes, dar-lhes uma lição de egoísmo e endurecer-lhes os
corações? Não será estiolar (enfraquecer) neles o amor ao próximo? Pais e mães, laborais (trabalhais) em grande erro, se
credes que desse modo granjeais maior afeição dos vossos filhos. Ensinando-lhes
a ser egoístas para com os outros, ensinais-lhes a sê-lo para com vós mesmos.
Nós já
estudamos que o egoísmo se disfarça de várias maneiras. E aqui neste trecho, o
Espírito comunicante diz que, por trás de uma cortina aparente de virtude, o
egoísmo aparece como amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos
interesses alheios. 0 avarento se julga previdente. Acumula uma grande fortuna,
não pratica a caridade, justificando a sua atitude como previdência para com a
sua família.
Lacordaire
nos adverte sobre o mau exemplo dado pelo pai de família, que está faltando com
o dever, não encaminhando os seus filhos para a prática do bem e da caridade.
Ele nos
fala também que o esbanjamento não é generosidade e, sim, desacertos humanos,
nos quais a causa básica é a busca de coisas desnecessárias para a vida do ser,
como a supervalorização do supérfluo, do luxo, da posse e do prazer.
Nós já
estudamos também que, a generosidade consiste em colocar os bens materiais a
serviço da caridade, e nunca a serviço do esbanjamento.
Continuando,...
A um homem
que muito haja trabalhado, e que com o suor de seu rosto acumulou bens, é comum
ouvirdes dizer que, quando o dinheiro é ganho, melhor se lhe conhece o valor.
Nada mais exato. Pois bem! Pratique a caridade, dentro das suas possibilidades,
esse homem que declara conhecer todo o valor do dinheiro, e maior será o seu
merecimento, do que o daquele que, nascido na abundância, ignora as rudes
fadigas do trabalho. Mas, também, se esse homem, que se recorda dos seus
penares, dos seus esforços, for egoísta, impiedoso para com os pobres, bem mais
culpado se tornará do que o outro, pois, quanto melhor cada um conhece por si
mesmo as dores ocultas da miséria, tanto mais propenso deve sentir-se em
aliviá-las nos outros.
Infelizmente,
sempre há no homem que possui bens de fortuna um sentimento tão forte quanto o
apego aos mesmos bens: é o orgulho. Não raro, vê-se o arrivista (pessoa ambiciosa) atordoar,
com a narrativa de seus trabalhos e de suas habilidades, o desgraçado que lhe
pede assistência, em vez de acudi-lo, e acabar dizendo: “Faça o que eu fiz”.
Segundo o seu modo de ver, a bondade de Deus não entra por coisa alguma na
obtenção da riqueza que conseguiu acumular; pertence-lhe a ele, exclusivamente,
o mérito de a possuir. O orgulho lhe põe sobre os olhos uma venda e lhe tapa os
ouvidos. Apesar de toda a sua inteligência e de toda a sua aptidão, não
compreende que, com uma só palavra, Deus o pode lançar por terra.
Aqui,
entendemos um alerta, que o Espírito Lacordaire nos faz, para os cuidados que
devemos ter no relacionamento com os
nossos irmãos de caminhada.
Nós já
estudamos, que não podemos servir a Deus e às riquezas, porque há de
entregar-se a um e não fazer caso do outro. E isto fica bem claro na mensagem,
quando é dito que o orgulho impede que a caridade seja praticada. Pois, o
orgulho exacerbado (intenso) cega o homem para a sua verdadeira destinação na Terra, não lhe
permitindo ver que tudo o que tem é um empréstimo de Deus, para a sua evolução
e que poderá ser retirado a qualquer momento.
Continuando,...
Esbanjar a
riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e
indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os
dilapidar, como não tem o de confiscar em seu proveito. Prodigalidade não é
generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que despenda a
mancheias o ouro de que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê
um centavo para prestar um serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em
apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos
outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os
interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus
retirá-los. Se, por efeito de imprevistos reveses, vos tornardes qual Job,
dizei, como ele: “Senhor, tu mos havias dado e mos tirastes. Faça-se a tua
vontade”. Eis aí o verdadeiro desprendimento. Sede, antes de tudo, submissos;
confiai nAquele que, tendo-vos dado e tirado, pode novamente restituir-vos o
que vos tirou. Resisti animosos ao abatimento, ao desespero, que vos paralisam
as forças. Quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado
da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há
bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a
desprender-vos destes últimos. O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que
menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como
a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o
adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas
palavras do Salvador: “O meu reino não é deste mundo”.
O
esbanjamento da riqueza é a manifestação de um grande equívoco. Como já foi
dito, não é um sinal de desprendimento.
O desapego
aos bens terrenos consiste em saber utilizá-los em benefício dos nossos
semelhantes e, não, apenas em benefício próprio. E saber perdê-los, caso Deus
resolva retirá-los, deveremos aceitar sem lamentações e, como Job, dizer:
“Senhor, tu me deste e me tiraste. Faça-se a tua vontade”. Eis o verdadeiro
desprendimento.
Como a riqueza também é
um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não permite que ela permaneça
por longo tempo improdutiva, pelo que, incessantemente a desloca.
Não devemos
esquecer que, ao lado de uma prova difícil, Deus coloca sempre uma consolação.
E se assim entendermos, mais fácil se tornará o nosso desprendimento.
Temos
informação da Espiritualidade que, muitas vezes, uma criatura possuidora de uma
grande fortuna e apegada a esses bens, quando
desencarna, lhe é permitido assistir a reunião de seus herdeiros, quando
da partilha dos bens por ela deixados. A decepção, o desapontamento em ver a
avidez (ambição; ganância; cobiça) daqueles
que estão dividindo a herança lhe serviria como ensinamento e “castigo” pela sua falta de desprendimento.
O excesso
em nossa vida cria a necessidade na vida do nosso semelhante. Por isto, há a
necessidade de nós nos desprendermos desses excessos de bens materiais, para
que possamos ter uma vida mais pacificada, como também, um retorno ao plano
espiritual com menos angústia.
Continuando,...
A ninguém
ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária
mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a
sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens
terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da
responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a
concede a quem bem lhe parece, a fim de que a administre em proveito de todos.
O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si
mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do
bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando
não a tem, sabendo empregá-la quando necessário, procede a criatura de acordo
com os desígnios do Senhor. Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no
mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo;
dá-me a força de desempenhá-lo segundo a tua santa vontade.
Nós já
sabemos que a riqueza é um meio pelo qual Deus nos experimenta moralmente. Cada
um tem de possui-la para se exercitar, utilizando-a e demonstrando que uso sabe
fazer dela. Assim, um que não a tem hoje, já a teve ou terá noutra existência.
Outro, que agora a tem, talvez não a tenha amanhã. Então, a riqueza é a prova
da caridade e da abnegação, e cabe à criatura que a possui fazê-la frutificar
para o bem de todos. Porém, é a pior ferramenta para o nosso progresso
espiritual, porque com dinheiro no bolso podemos saciar todos os nossos
desejos. Poderemos entrar na vida ociosa, egoísta e sem objetivos mais nobres.
Poderemos nos tornar uma pessoa poderosa e sem escrúpulos.
Devemos
aproveitar a oportunidade da riqueza que nasce diante de nós. Furtar-se ao
dever da própria responsabilidade, não quer dizer que estamos liberados da
tarefa que nos cabe, pelo contrário, o dever não cumprido provavelmente nos
aguardará no futuro, em circunstâncias mais desfavoráveis.
Continuando,...
Aí tendes,
meus amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens
terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se
sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à
felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas
vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como
se prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel,
utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa
sensualidade. Não vos julgueis com direito de dispor em vosso exclusivo
proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como
empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e
lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com
Deus.. Lacordaire. ( Constantina, 1863 )
Encerrando
a sua mensagem, Lacordaire nos faz o seguinte alerta: Devemos saber nos
contentarmos com aquilo que temos. Se estamos na prova da pobreza, não devemos
invejar aqueles que têm riquezas. Se estamos na prova da riqueza, devemos
lembrar que tudo de que dispomos nos é emprestado, e que devemos fazer um bom
uso dessa riqueza, em benefício dos mais necessitados. Lembrando também que
teremos que justificar o emprego que dermos a ela. Ora, se nós não tivermos a
capacidade de cuidar bem dos bens recebidos, para devolvê-los de acordo com os
ensinamentos do Cristo, não temos o direito de pedi-los.
Vamos
destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 –
Esbanjar a riqueza é sinal de desprendimento dos bens terrenos?
R – Não.
Quem assim age desconhece que a verdadeira utilidade destes bens é o serviço ao
próximo; portanto, sua atitude, além de egoísta, revela irresponsabilidade,
descaso e indiferença para com o próximo e para consigo mesmo. Pois, dia
chegará em que irá responder pela leviandade de seus atos.
2 – Em que
consiste, verdadeiramente, o desprendimento dos bens terrenos?
R – O
desapego dos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em bem
servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio; em
não sacrificar por eles os interesses da vida futura; em perdê-los sem
murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. Eis aí o verdadeiro desprendimento.
3 – Que
atitude devemos adotar, no caso de perdermos os bens que possuímos?
R – Devemos
ser submissos à vontade de Deus que, havendo nos concedido bens e retirado,
pode restituir-nos o que nos tirou.
Daí nós
concluirmos que:
O
desprendimento dos bens terrenos é a virtude que capacita o homem a valorizar
os bens materiais que Deus lhe concede e a utilizá-los em benefício de todos,
ciente de que sua posse é transitória e sua utilidade deve estar direcionada à
prática do bem.
No
Evangelho, Jesus nos aponta o caminho da simplicidade e da justiça quando
ensina que: não devemos nos afligir pela posse dos bens materiais.
Assim, a
simplicidade é um requisito essencial na nossa vida.
Ao invés do
exagero, o adequado; conforto sem suntuosidade.
ITEM 15.
Finalizando o estudo do
capítulo xvi, vamos apenas ler o que o Espírito S. Luís deu como resposta a uma
pergunta sobre a transmissão da riqueza.
Pergunta: - O princípio,
segundo o qual ele é apenas depositário da fortuna de que Deus lhe permite
gozar durante a vida, tira ao homem o direito de transmiti-la aos seus
descendentes?
Resposta: - O homem pode
perfeitamente transmitir, por sua morte, aquilo de que gozou durante a vida,
porque o efeito desse direito está subordinado sempre à vontade de Deus, que
pode, quando quiser, impedir que aqueles descendentes gozem do que lhes foi
transmitido. não é outra a razão por que
desmoronam fortunas que parecem solidamente construídas. É, pois,
impotente a vontade do homem para conservar nas mãos da sua descendência a
fortuna que possua. Isso, entretanto, não o priva do direito de transmitir o
empréstimo que recebeu de Deus, uma vez que Deus pode retirá-lo, quando o
julgue oportuno. – São Luís. (Paris, 1860).
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Cap. XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – itens 11 a 13 – Emprego da riqueza.
Instruções dos Espíritos (
continuação )
ITEM
11 : Não podeis servir a Deus e a Mamon.
Guardai bem isso em lembrança, vós, a quem o amor do ouro domina; vós, que
venderíeis a alma para possuir tesouros, porque eles permitem vos eleveis acima
dos outros homens e vos proporcionam os gozos das paixões que vos escravizam.
Não; não podeis servir a Deus e a Mamon! Se, pois, sentis vossa alma dominada
pelas cobiças da carne, dai-vos pressa em alijar o jugo que vos oprime,
porquanto Deus, justo e severo, vos dirá: Que fizeste, ecônomo (despenseiro) infiel, dos
bens que te confiei ? Esse poderoso móvel de boas obras exclusivamente o
empregaste na tua satisfação pessoal.
O Espírito comunicante
inicia o trecho fazendo uma séria advertência à humanidade. Realmente, nósnão
podemos servir a Deus e as riquezas, não que sejam antagônicos (adversos), mas porque o apegoà riqueza é um dos sérios obstáculos à evolução
espiritual do homem.
O Espírito “Cheverri”
(Cheverus) quando diz que muitas criaturas vendem suas almas para possuírem
tesouros, não está se referindo àquela velha lenda do demônio, que prometeu
todas as riquezas do mundo a um homem, em troca de sua alma e, sim, a um fato
alegórico, quando a criatura se entregando a vícios, a manobras desonestas,
resultando disso acúmulo de riquezas, é o mesmo que vender a alma.
Diz também, que o ser
humano tem uma tendência muito grande para se vender aos tesouros da terra; de
considerar que o dinheiro é muito mais importante do que tudo. Então, a
criatura por sua ignorância começa a julgar de forma apressada e equivocada que
na Terra se concentram todas as realidades e que tudo está ao seu alcance e ao
seu dispor, e que tudo o que conquistou é de fato seu. Aí está o grande
equívoco.
Diz mais: Se, pois, sentis
vossa alma dominada pelas cobiças da carne, apressai-vos em sacudir o jugo (domínio) que vos oprime. É nesses momentos, nós devemos recorrer ao evangelho
de Jesus para nos ajudar, servindo de escora, para não cairmos. O evangelho do
Mestre é a bússola que vai nos indicar o rumo do caminho certo.
Haverá um momento em que
todos nós teremos que prestar contas, daquilo que fizemos aqui na Terra. E, a
criatura que se deixou envolver pelo dinheiro; que se deixou comprar ou vender
por ele, portanto, se deixou escravizar pela moeda, vai ser inquirida não pela
justiça terrena e, sim, pela justiça divina, o que fez dos bens que lhe foi
confiado. E, por Ter usado a sua riqueza senão na satisfação pessoal, será
chamado de despenseiro infiel
Continua o Espírito “Cheverri”:
Qual, então,
o melhor emprego que se pode dar à riqueza ? Procurai – nestas palavras:
“Amai-vos uns aos outros”, a solução do problema. Elas guardam o segredo do bom
emprego das riquezas. Aquele que se acha animado do amor do próximo tem aí toda
traçada a sua linha de proceder. Na caridade está, para as riquezas, o emprego
que mais apraz a Deus. Não nos referimos, é claro, a essa caridade fria e
egoísta, que consiste em a criatura espalhar ao seu redor o supérfluo de uma
existência dourada. Referimo-nos à caridade plena de amor, que procura a
desgraça e a ergue, sem humilhar. Rico!...Dá do que te sobra; fase mais: dá um
pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo.
Mas, dá com sabedoria.
Segundo o princípio de que
o homem é apenas o depositário da fortuna, numa posse transitória de riquezas,
a quem pertenceriam os bens materiais ? Nós já estudamos que todos os bens
procedem de Deus e, portanto, a Deus pertencem. Apenas eles constituem-se em
meio de crescimento para o Espírito. Assim considerando, devemos lembrar que
Jesus há dois mil anos deixou para nós a mensagem de que seu Reino não é deste
mundo. E o Reino do qual Ele fala tem como moeda a bondade, o amor, a
benevolência, a fraternidade e todas as virtudes que dignificam o Espírito.
Neste Reino o que vale é o sentimento sincero do amor ao próximo, na prática
verdadeira da caridade, única e absoluta via de salvação.
A caridade que envaidece,
quando a criatura se enche de orgulho do bem que faz e, por desencargo de
consciência, deposita nas mãos dos miseráveis algumas moedas, que muitas vezes,
são simplesmente lançadas, isso não é caridade.
Então, o melhor emprego que
podemos dar à riqueza é fazendo-o trabalhar em benefício do nosso próximo, em
nosso próprio benefício e, sobretudo, em favor dos mais necessitados.
O Espírito comunicante encerra a sua comunicação
dizendo:
Não repilas o
que se queixa, com receio de que te engane; vai às origens do mal. Alivia,
primeiro; em seguida, informa-te, e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a
afeição não serão mais eficazes do que a tua esmola. Difunde em torno de ti,
como os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do
próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te
trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência deves
utilizá-la como a do ouro. Derrama em torno de ti os tesouros da instrução;
derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão.
Cheverus. (Bordéus,1861).
Deste trecho, retiramos um
alerta, para que não passemos ao largo na estrada da vida fazendo de conta que
não vemos a dor projetada no semelhante, no caído, na vítima das próprias
aflições. Tal como o anônimo bom samaritano, arregacemos as mangas e ajudemos o
necessitado.
Quando o Espírito
“Cheverri” nos diz: “Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará
e que te trará grandes lucros: a das boas obras. Derrama sobre teus irmãos os
tesouros do teu amor e eles frutificarão”, nos inspira a recordar o trabalho
feito na “Casa do Caminho”, que, como se sabe, fora criada pelos Apóstolos em
Jerusalém, nos primeiros tempos do cristianismo, onde os necessitados que a
procuravam eram, pois, assistidos durante o dia com as bênçãos dos bens
nutritivos, e até mesmo com os curativos. Mas, à noite, eram iluminados com as
instruções cristãs.
Emmanuel nos traz uma frase
de muita profundidade: “Não retendes recursos externos de que não careças”. Se
nós aprendermos a administrar bem as nossas riquezas, com certeza, estaremos
realizando aquilo que Deus deseja de nós.
ITEM 12 :
O Espírito comunicante, que se identificou como
protetor, diz:
Quando
considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante
preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão
pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum
tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade.
Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do
mais alto interesse para a humanidade, quando não se trata, na maioria dos
casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades
exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de
amofinações, de tormentos cada se impõe; que de noites de insônia, para
aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Pelo mais alto grau de
cegueira, frequentemente se encontram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos
pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se
vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e de mérito – como se
trabalhassem para os outros e não para si mesmas! Insensatos! Credes, então,
realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que
despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto
negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna
impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? Unicamente no vosso
corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da
vossa solicitude egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito,
que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tratado com mimo e acariciado se
tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu
escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou? – Um
Espírito Protetor. (Cracóvia, 1861).
O Espírito protetor diz-se
impressionado com a preocupação do ser, em conquistar somente o seu bem-estar
material, tornando-o no principal objetivo a ser alcançado. Em geral, os homens
baseiam seus valores de vida nos conceitos da matéria. Os egoístas, principalmente,
dependem de bens e de valores materiais para viver. É natural que a criatura
busque viver com conforto. Mas não é natural que peque pelo excesso ou pelo
exagero.
É comum o ser buscar mais o
lazer do que o trabalho; buscar mais o luxo do que a adequação das coisas;
buscar mais a posse do que a real utilidade, esquecendo-se do seu
aperfeiçoamento moral.
Neste Evangelho, Jesus nos
aponta o caminho da simplicidade e da justiça, de muita importância para a
nossa evolução espiritual, quando nos ensina que não devemos nos afadigar pela
posse do ouro, ou seja, pela posse de bens materiais. Devemos, sim, procurar
haurir valores que nos servirão de sustentação na vida futura. Difícil para o
homem é compreender que o seu bem-estar está no serviço bem prestado; no
desprendimento de si próprio. É preciso viver, cada dia, buscando dar o melhor
de si para o mundo.
O Espírito comunicante diz
ainda:
Quantas noites sem sono
para aumentar uma fortuna, mais do que suficiente !
Privar-se do supérfluo, do
desnecessário, abandonar as coisas que não agregam valor, em nossa evolução
espiritual, é demonstração de inteligência e sabedoria. Quanto mais
descomplicada for a vida que levamos, mais fácil será vivê-la, e mais provável
será nos tornarmos mais desprendidos dos valores materiais.
De que adiantam posses,
prazeres desregrados, luxo, conforto exagerado, se nada acrescentam na nossa evolução espiritual ? ao sair da
matéria, o homem irá se deparar com a única bagagem que realmente lhe é útil
naquelas paragens: a bagagem das obras realizadas e dos valores morais
adquiridos, no trabalho produtivo e profícuo (conveniente) para a
evolução da humanidade e para auxílio dos irmãos do caminho, são esses os
verdadeiros valores; a capacidade de ser útil à obra de Deus.
Assim, a simplicidade e a
humildade são requisitos essenciais na vida do ser. A existência do luxo
exagerado, do supérfluo, usados para darem a impressão de prosperidade e de
progresso aos desavisados do caminho, como já dissemos, são as justificativas
das criaturas egoístas para a necessidade de sobreviverem.
Neste mesmo Evangelho
encontramos uma mensagem que diz:
“Aonde o homem põe o seu
pensamento, aí estará o seu tesouro”. Assim, o homem será sempre prisioneiro de
si próprio. Construindo a sua felicidade ou o seu sofrimento futuro; vivendo na
luz ou vivendo nas trevas.
Assim entendemos esta mensagem.
ITEM 13 :
O Espírito Fénelon nos diz:
Sendo o homem
o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas
severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja ele dado, em virtude do seu
livre-arbítrio. O mau uso consiste em os aplicar exclusivamente na sua
satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta
um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do
sacrifício que se impõe a si mesmo.
Nós já estudamos, que Deus
criou o homem com a missão de evoluir. E para cumprir a missão recebida, foi
dotado dos recursos disponibilizados pelo Criador, através da capacidade de
escolher e decidir os seus caminhos, na escalada evolutiva. Foi, portanto,
dotado de livre arbítrio. A sustentação de sua evolução depende,
fundamentalmente, da forma como se movimenta e de como assegura a harmonia
entre os seus semelhantes. Nesta missão, estão contidos dois grandes fatores
diretamente ligados a lei de Deus: a necessidade de agir com humildade e com
caridade. Ora, sendo o homem o depositário, o gerente dos bens que Deus
depositou em suas mãos, lhe será pedido contas do emprego que fez desses bens.
Muitas são as maneiras de
se empregar mal os bens recebidos, levando o homem à reparação de experiências
mal sucedidas: dentre elas destacamos: deixar-se levar pelos vícios; deixar-se
levar pelas paixões interiores; deixar de perceber a sua própria verdade, dando
guarida à ilusão, ao egoísmo, ao orgulho e à vaidade pessoal, ou seja, ignorar
sua natureza e destinação. Ao contrário, o bom uso para esses bens está em
assistir o próximo, suprindo-lhe a sua carência material. Então, para aqueles
que se portam como despenseiros inúteis, a justiça de Deus lhes pedirá contas.
Do maior ao menor erro, todos serão cobrados, e não há como burlá-los para
escapar da cobrança.
Fénelon diz também que o
merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo.
Jesus já nos disse: “A cada um será dado segundo suas obras”, o que significa
dizer que o avanço espiritual está condicionado à nossa maior ou menor
dedicação à prática do bem. Em outras palavras, na porta estreita do reino de
Deus ninguém atravessa acompanhado e, muito menos, carregado.
Continua o Espírito comunicante:
A
beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria
presente; aplaca a fome, preserva do frio e proporciona abrigo ao que não tem.
Dever, porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Tal,
sobretudo, a missão das grandes fortunas, missão a ser cumprida mediante os
trabalhos de todo gênero que com elas se podem executar. Nem, pelo fato de
tirarem desses trabalhos legítimo proveito os que assim as empregam, deixaria
de existir o bem resultante delas, porquanto o trabalho desenvolve a
inteligência e exalta a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que
ganha o pão que come, enquanto a esmola humilha e degrada. A riqueza
concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a
fecundidade e o bem-estar ao seu derredor.
Nós também já estudamos que
existem vários meios para se beneficiar os menos aquinhoados pela sorte. E a
riqueza se presta para esse serviço filantrópico, proporcionando a construção
de hospitais, a criação de creches, abrigos e escolas. Agora, também é
importante e meritório o trabalho de prevenir para que a pobreza e a miséria
não prosperem.
Também é dito na mensagem
que, pelo fato de tirarem desse trabalho um proveito legítimo, o bem não
deixaria de existir, porque o trabalho desenvolve a inteligência e realça a
dignidade do homem sempre confiante em poder dizer que ganhou o pão que come,
ao passo que a esmola humilha.
A fonte de água viva citada
como alegoria, representa a riqueza bem distribuída. A postura de pró-ação é
sempre a solução para os problemas da vida, pois gera progresso e assegura
trabalho; transforma as situações mais difíceis e produz aprendizado,
aumentando a capacidade do homem de dar de si mesmo para a humanidade. Só há
progresso real quando existe o trabalho, a utilidade, a ação. E esse conjunto
tem que estar efetivamente voltado para
o bem; voltado para o nosso semelhante. Aquele que tem e retém, jamais
alcançará o seu destino, que é a verdadeira felicidade. É preciso ter, mas é
preciso agir.
Continua o Espírito Fénelon:
Ó
vós, ricos, que a empregardes segundo os desígnios do Senhor! O vosso coração
será o primeiro a saciar-se nessa fonte benfazeja; já nesta existência tereis
inefáveis (que
não se pode exprimir por meio da palavra)
gozos da alma, em vez dos gozos materiais do egoísta, que produzem no coração o
vazio. Vossos nomes serão benditos na Terra e, quando a deixardes, o soberano
Senhor vos dirá, como na parábola dos talentos: “Bom e fiel servo, entra na
alegria do teu Senhor”. Nessa parábola, o servidor que enterrou o dinheiro que
lhe fora confiado é a representação dos avarentos, em cujas mãos se conserva
improdutiva a riqueza. Se, entretanto, Jesus fala principalmente das esmolas, é
que naquele tempo e no país em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que
as artes e a indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser
aplicadas utilmente para o bem geral. A todos os que podem dar, pouco ou muito,
direi, pois: daí esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível,
convertei-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe
dela. – Fénelon ( Argel, 1860 ).
Encerrando a sua mensagem,
o Espírito comunicante realça que, aquele que beneficia é o primeiro a ser
beneficiado; destaca que, os bens materiais, a riqueza, que nos são confiados,
pertencem a Deus, e cabe-nos, pois, utilizá-los corretamente, seja praticando a
beneficência, seja convertendo-os em justo salário.
A riqueza tem uso
providencial, ou seja, seu uso deve respeitar a lei de Deus, e destina-se a
proporcionar os grandes projetos da humanidade. Aqui vale ressaltar que, na sua
época, por não haver esses projetos que ocasionaria empregos, Jesus falava em
esmola. Portanto, pode-se lidar com a riqueza com extrema caridade,
proporcionando oportunidades de progresso no mundo em que vivemos.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – O que podemos entender
com a frase: “Não podeis servir a Deus e a Mamon”?
R – Que o amor aos bens
materiais é incompatível com o amor a Deus e ao próximo, visto que aprisiona o
homem nas cadeias do egoísmo, levando-o a empregar sua riqueza exclusivamente
na satisfação pessoal.
2 – A quem pertencem os
bens materiais?
R – A Deus que, no entanto,
confia aos homens sua administração.
3 – Quando uma riqueza é
mal utilizada?
R – Quando quem a possui a
emprega exclusivamente na sua satisfação pessoal.
4 – Qual o melhor emprego
que se pode dar à riqueza?
R – Utilizando-a conforme
os preceitos da verdadeira caridade, que nos ensina a dar com amor, não apenas
do que nos sobra, mas um pouco do que é necessário.
5 – O esforço por adquirir
riquezas e usá-las a nosso bel-prazer não é legítimo?
R – Tanto uma atitude
quanto a outra podem se constituir em equívocos de grandes consequências: a
primeira, se estimulada exclusivamente pelo egoísmo, produz a vaidade, o
orgulho, a cupidez, os excessos; a segunda favorece o esquecimento do futuro
eterno e a negligência dos deveres de solidariedade fraterna.
6 – Quais as maneiras
corretas, abordadas no texto, de se empregar a riqueza?
R – Fazendo a beneficência,
prestando socorro imediato ao desassistido, e criando oportunidades de
trabalho, visto que prevenir a miséria é dever de todas as criaturas,
sobretudo, das mais aquinhoadas pela sorte.
Daí nós concluirmos que:
Espíritos encarnados que
somos, devemos estar conscientes de que a vida material é um instante fugaz (transitório) e a vida do espírito é eterna; portanto, concedamos
aos bens materiais sua real importância e busquemos, no aperfeiçoamento moral,
o caminho que nos levará a Deus.
Vamos encerrar o nosso
estudo com uma frase retirada do Evangelho de Jesus!
“Dinheiro de sobra é o
amigo e servo que a Divina Providência te envia para substituir-te a presença,
onde a tua mão, muitas vezes, não conseguiu chegar”.
*****************************************
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode servir a Deus e a Mamon – itens 9
e 10.
A verdadeira propriedade.
Instruções
dos Espíritos
ITEM
9.
O Espírito Pascal
inicia a sua mensagem dizendo:
O homem só possui em
plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao
chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que
é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente,
o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o
que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais.
Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe
será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais
rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem,
resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui
a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali
lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura;
aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir.
O Espírito comunicante
faz um alerta sobre o papel que a riqueza desempenha na sociedade. Ele destaca
que a riqueza é uma posse eventual daquele que, momentaneamente, está fazendo
uso dela. O trânsito dos bens pelas mãos humanas é atestado da velocidade da
posse. A propriedade é sempre referencial, nunca de estrutura real. Bens de
verdade são aqueles que se incorporam à vida, na qualidade de valores que
permanecem no comportamento da criatura. Os de origem terrena, face a sua
constituição, transferem-se de possuidor, desgastam-se, desaparecem.
A compreensão real
desta mensagem é mais clara, mais compreensível, para aqueles que têm o
entendimento trazido pelo Espiritismo, de que a nossa vida tem uma duração
muito maior do que apenas uma existência. Assim sendo, uma criatura que hoje
seja possuidora de alguma riqueza, não se torna diferente, em termos de
presença na humanidade, daquele que está despojado dessa mesma riqueza, porque,
esse que hoje a possui está, de alguma forma, compromissado a fazer dela uso para a sua evolução moral. Da mesma
forma, aquele que vive na pobreza também está com a mesma incumbência,
aperfeiçoando a sua evolução moral.
Destacamos do trecho, o
detalhe da diferença entre o que é propriedade e posse de alguma coisa. A
criatura ser proprietária de um bem não é a mesma coisa que Ter a posse desse
bem. Portanto, a riqueza, os bens materiais que, por ventura, a criatura esteja
usufruindo aqui na Terra, são bens temporários; são bens que a criatura só tem
a posse. Tanto isto é verdade que, ao desencarnar, a criatura vai deixar tudo
aqui no plano terrestre. Essa criatura apenas teve o direito de uso, enquanto
encarnada.
Jesus nos disse: A
propriedade verdadeira é aquela que “os ladrões não roubam e a traça não come”.
De acordo com o caráter daquele que, temporariamente, detém a riqueza, esta
pode facultar a paz ou gerar a guerra; pode propor a alegria ou sugerir a
miséria. A verdadeira posse liberta o possuidor do objeto possuído
Prossegue o autor da
mensagem:
Ao viajante que chega a
um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de poucos recursos,
se dá um menos agradável. Quanto àquele que nada tem, vai deitar sobre a palha.
Assim ocorre com o homem na sua chegada ao mundo dos Espíritos: seu lugar nele
está subordinado ao que tem. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o
pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas?
Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: que trazes contigo? Não se lhe
computarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora,
sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão
alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no
outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram; conquistam-se
por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos,
casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas
qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde
te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde
serás tratado de acordo com os teus haveres. Pascal.( Genebra, 1860 ).
Desta mensagem, podemos
entender que, quando uma criatura que tinha muitos bens aqui na Terra chega ao
mundo Espiritual, vai se surpreender ao saber que aquilo tudo que possuiu não
vai lhe ser útil, para Ter uma situação melhor. Pois, os bens que são valiosos
na Erraticidade são os bens morais. E, se esses bens não foram cultivados por
aquela criatura, na sua existência terrena, ela não terá direito a um lugar
melhor na sua estada. Ora, a esse respeito, um pobre poderá ser mais rico do
que aquele que viveu na riqueza.
Como já dissemos, esses
bens que algumas criaturas possuem aqui na Terra são apenas de usufruto delas. Na realidade, esses bens são chances
que elas têm de adquirirem bens morais.
Quando a criatura,
detentora de grande soma de dinheiro, detentora de vários imóveis, proporciona
a aqueles necessitados de qualquer tipo de ajuda, a oportunidade de Ter uma
vida um pouco melhor, está adquirindo o seu ingresso no caminho da prática
caritativa. Ao mesmo tempo em que ela está diminuindo um pouco a sua riqueza
material, em contrapartida, está aumentando a sua riqueza moral. Desta forma,
ela está reservando um lugar na Espiritualidade, onde ficará junto da
felicidade, quando tiver que chegar lá.
ITEM
10.
O Espírito mensageiro
diz:
Os bens da Terra
pertencem a Deus, que os distribui à sua vontade, não sendo o homem senão o
usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens.
Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente
anula todas as previsões e a riqueza escapa daquele que crê possuí-la pelos
melhores títulos.
Direis, talvez, que
isso se compreende no tocante aos bens hereditários, porém, não ocorre o mesmo
com aqueles que se adquiriu pelo trabalho. Sem dúvida alguma, se há riquezas
legítimas, são estas últimas, quando adquiridas honestamente, porque uma
propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não se fez
mal a ninguém. Contas serão pedidas até mesmo de um único centavo mal
adquirido, isto é, com prejuízo de outrem.
Portanto, os bens da
Terra não nos pertencem de fato, e que mais cedo ou mais tarde teremos que
deixá-los. Essas posses terrenas são sempre passageiras. Mas, para os
materialistas, o ser é o verdadeiro dono de toda a sua fortuna e não aceitam
que digam que todos os seus bens não lhes pertençam. Em outras palavras, o Espírito comunicante diz que o
Espiritismo não condena a propriedade, desde que ela tenha sido adquirida de
forma legítima, ou seja, pagando um preço justo; não condena a riqueza desde
que a sua origem seja honesta., mesmo quando recebida em herança. Implicando
também na distribuição de renda. Isto quer dizer que, devemos usar a nossa
fortuna não só para o nosso conforto, mas, também, de alguma forma, ajudar os
nossos irmãos necessitados. Talvez, essa instrução possa perturbar a muitos, à
primeira vista. A mensagem de Jesus perturbou Zaqueu, o detestado cobrador de
impostos, que prejudicava sem escrúpulos o seu próximo. Entretanto, a mesma
mensagem que o perturbou, o transformou. Como vimos no nosso estudo a respeito,
Zaqueu tomou a decisão de ressarcir os prejuízos causados, e, da fortuna que
lhe sobrasse, daria a metade aos pobres.
Mas, do fato de um
homem dever a si próprio a riqueza que possua, seguir-se-á que, ao morrer,
alguma vantagem lhe advenha desse fato? Não são frequentemente inúteis as
precauções que ele toma para transmiti-la a seus descendentes? Decerto,
porquanto, se Deus não quiser que ela lhes vá Ter às mãos, nada prevalecerá
contra a sua vontade. Poderá o homem usar e abusar de seus haveres durante a
vida sem Ter de prestar contas? Não. Permitindo-lhe que a adquirisse, é
possível haja Deus tido em vista recompensar-lhe, no curso da existência atual,
os esforços, a coragem, a perseverança. Se, porém, ele somente os utilizou na
satisfação dos seus sentidos ou do seu orgulho; se tais haveres se lhe tornaram
causa de falência, melhor fora não os Ter
possuído, visto que perde de um lado o que ganhou do outro, anulando o
mérito de seu trabalho. Quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a
sua recompensa. M. Espírito protetor – ( Bruxelas, 1861 ).
Desse trecho final da
Instrução podemos entender que, todos os bens procedem de Deus e a Deus
pertencem, constituindo meio de crescimento para o Espírito, nas várias
experiências evolutivas, de aplicá-los quando os dispõe. Para que o homem possa
adquirir vantagem na vida futura, ele terá que fazer a sua parte nesta
existência; trabalhando, servindo, buscando as ferramentas apropriadas para
usufruir dessa benesse
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – Qual a verdadeira
propriedade do homem?
R – “Nada do é de uso
do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as
qualidades morais“.
2 – Como deve agir o
homem, em relação aos bens materiais?
R – Reconhecendo que,
na condição de espírito encarnado, não pode prescindir do seu auxílio; mas
utilizando-os como meio para o atendimento de suas necessidades e do serviço ao
próximo. Nunca como um fim em si mesmo.
3 – Pode o homem usar e
abusar de seus haveres durante a vida, sem Ter que prestar contas?
R – Não. Se ele os
utilizou senão à satisfação de seus sentidos ou de seu orgulho, se ela se
tornou numa causa de queda em suas mãos, melhor seria para ele que não a
possuísse. Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
Daí concluirmos que:
Que o homem só possui
em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo;
Que dos bens do corpo
somos usufrutuários, pois estes pertencem a Deus, que nos pede contas de sua
administração;
Que não levamos nem
mesmo o corpo, que é um empréstimo de Deus para nossa evolução;
Que os patrimônios da
alma jamais se perdem. Assim, o tesouro da inteligência, os conhecimentos e as
qualidades morais seguem conosco pela eternidade. Eles são perenes e constituem
a nossa verdadeira propriedade;
Que os bens materiais
são uma grande ferramenta de evolução, se soubermos utilizá-los.
Se tivermos o
conhecimento da verdadeira vida, certamente compreenderemos que a verdadeira
propriedade, porém, é aquela que se consegue aprimorando o Espírito.
Por essa razão, vale a
pena refletir sobre o que realmente tem valor duradouro e efetivo, considerando
que somos um ser imortal, herdeiros de nós mesmos, de cujos atos teremos que
prestar contas às nossas próprias consciências.
Devemos pensar nisso.
****************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – item 8 – Desigualdade das riquezas.
ITEM
8.
Kardec inicia o seu comentário dizendo:
A
desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará
resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se
apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são
por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e
laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás,
ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a
cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa
repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos
caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um
somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes
trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da humanidade; que,
admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão (fig. Sofrimento) que
estimula os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus
a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade
suficiente, de acordo com as necessidades.
Em outras
palavras, o codificador está dizendo o seguinte:
Aquele que
põe a sua visão no plano da matéria, nem sempre pode entender o por quê das
coisas que ocorrem com as pessoas nesta vida. Agora, aquelas, cujo ponto de
vista, está no plano espiritual, compreendem melhor essa desigualdade, pois
percebe-a em causas anteriores. Aos
olhos de Deus, todas as coisas estão certas.
Deus criou
o homem simples e ignorante. Simples porque nada tinha, e ignorante porque nada
sabia além das experiências registradas em seu instinto. Daí, a diversidade de
graus evolutivos, tendo em vista as desigualdades, criadas pelo próprio homem,
na inteligência, na atividade e no trabalho.
Supondo que
a riqueza fosse dividida igualmente, e que essa divisão fosse durável, cada um
teria somente com o que viver e o resultado seria o aniquilamento de todos os
grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem estar da
humanidade. E o homem não se depararia com obstáculos necessários ao seu
crescimento espiritual e, por conseguinte, não agregaria nenhum valor para a
sua evolução. Portanto, não evoluiria, contrariando a lei de Deus.
Continua Kardec:
Admitindo isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas
incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da
sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o
homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a
prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o
homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora
senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio
de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de
ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva,
pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar
em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto,
materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo,
além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o
melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez.
Assim, um que não tem nada hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro,
que agora tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus
justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os
que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os
outros, a prova da caridade e da abnegação.
O destino do ser
foi assim determinado pelo Criador: deveis evoluir continuamente em espírito e
verdade, cumprindo tudo o que está prescrito na Lei.
Deus
criou o homem com a missão de evoluir em sua direção. E a sua evolução é um
impulso natural. Cabendo-lhe pensar, desenvolver a inteligência e aprender,
através da vivência de experiências próprias, para conseguir a evolução
prometida.
Para
cumprir a missão recebida, o homem foi dotado de recursos, como, a capacidade
de escolher e decidir os seus caminhos na escalada evolutiva. Foi, portanto,
dotado de livre-arbítrio, para que pudesse aprender na vida de relação com o
seu semelhante.
De
degrau em degrau, de experiência em experiência, de encarnação em encarnação, o
homem amplia sua percepção da lei maior: justiça, amor e caridade. Portanto,
tem como responsabilidade assumida desenvolver virtudes, de forma a assegurar a
paz, o amor e a harmonia com o universo.
Continua
o codificador:
Deploram-se,
com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as desprezíveis paixões que a
cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas ? é
exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria
semelhante repartição dos bens da terra; se, entretanto, não tivermos em vista
apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências,
veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo
assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se
glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis
suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior,
mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase
sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no
egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se
regerem pela lei da caridade.
O
codificador encerra o seu comentário destacando que o egoísmo e o orgulho estão
na raiz de todos os males. Eles excitam o homem a projetar-se além dos níveis
de equilíbrio, agigantando a sua ambição nas coisas que não agregam valor, para
a sua evolução espiritual. Diz, também, que, para aqueles que colocam a sua
visão somente na vida material, achando que depois da morte do corpo físico
nada resta, a divisão dos bens não faz sentido. Agora, para aqueles que creem
que a alma não apenas sobrevive após a morte do corpo físico, mas é
preexistente à vida corpórea, a divisão é justa.
Em
o Livro dos Espíritos, encontramos os seguintes pontos básicos da Doutrina
Espírita: Deus é eterno, imutável (não é suscetível de
mudança), imaterial, único, onipotente (poder
ilimitado), soberanamente justo e bom. Assim, Deus é justiça.
Vamos destacar
algumas questões para nossa reflexão:
1
– Por que não são igualmente ricos todos os homens?
R
– A desigualdade das riquezas é inerente (inseparável)
ao estágio evolutivo do homem.
2
– O problema da pobreza estaria resolvido se, num dado momento, toda a riqueza
do mundo fosse igualmente repartida entre os homens?
R
– Não, pois a cada um caberia uma parcela mínima e insuficiente; ademais, esta
condição inicial de igualdade logo seria rompida pelas diferenças individuais,
de sorte que alguns aumentariam seus haveres e outros perdê-los-iam.
3
– Como podemos contribuir para tornar menos injusta a sociedade em que vivemos?
R
– Se nos foi dado possuir bens, devemos utilizá-los em benefício do próximo,
gerando oportunidades de beneficiá-lo com trabalho digno e lembrando sempre de
que o supérfluo não nos pertence. Se nos encontramos privados de riquezas,
cuidemos de armazenar tesouros de paciência e resignação, buscando no trabalho
e na prece a superação de nossas dificuldades, sem deixar de lutar com ânimo
firme por melhorias e progressos em nossas vidas.
Daí
nós concluirmos que:
A
constatação de que a miséria de hoje é fruto do uso indevido das riquezas de
ontem não pode ser motivo para diminuir nosso empenho na minoração das agruras (amarguras) dos menos afortunados.
Para
encerrar, vamos lembrar que a fé espírita se apoia na lógica e no princípio de
que o Universo está em constante evolução. Portanto, os seres que o habitam
necessitam aprender o significado do que seja compartilhar com seus semelhantes
as riquezas que lhes foram dadas.
***************************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – item 7 – Utilidade providencial da riqueza – Provas
da riqueza e da miséria.
ITEM
7 : A
questão dos bens materiais é bastante estudada neste capítulo. Estudamos várias
passagens de Jesus, e agora vamos refletir sobre os comentários de Kardec a
respeito dessas passagens.
O codificador inicia o seu comentário
dizendo:
Se a riqueza houvesse
de constituir obstáculo à salvação dos que a possuem, conforme se poderia
deduzir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não
segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um
instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, ideia que é contrária à razão.
Neste trecho, o
codificador destaca um ponto importante para que, através da lógica, tenhamos
uma visão real e não uma visão alegórica e equivocada da riqueza, como sendo um
obstáculo para a salvação do homem. Daí
entendermos que a riqueza não é obstáculo absoluto à salvação, nem meio de
perdição.
Ele afirma que o motivo
do erro nas interpretações das pessoas dá-se em função da tradução feita ao pé
da letra, de certas expressões de Jesus, como por exemplo: “É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma
agulha, do que entrar um rico no reino dos céus”. Daí, em função desta máxima,
a interpretação que o rico não pode realmente entrar no reino dos céus. Quando
na verdade, não foi isto que o Mestre quis dizer.
Continua
Kardec:
Sem dúvida, pela atração
que causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza
constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o
supremo estímulo do orgulho, do egoísmo e da vida de prazeres e libertinagem. É
o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os
pensamentos. Produz tal desvario que, muitas vezes, aquele que passa da miséria
à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a
partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e inútil. Mas, do
fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não quer dizer que a torne
impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe
servir-se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a
propósito e com discernimento.
Neste trecho, o
codificador nos esclarece que a riqueza é sem dúvida uma prova perigosa, em
virtude das tentações que ela oferece. Ela é outra rude (violenta) testadora de virtudes. Na
verdade, ela tem uma finalidade específica, a evolução do ser. É um instrumento
que Deus nos oferece para promover o progresso da humanidade
A criatura,
quando visitada pelo dinheiro, na mais das vezes, esquece das dificuldades
anteriores e dá asas ao seu egoísmo, ao seu orgulho, à sua vaidade e à sua
avareza, o que faz ressaltar a sua incapacidade de compartilhar essa riqueza
com os seus semelhantes. Transforma a riqueza numa fonte de perdição,
deixando-se levar pela ilusão que o supérfluo produz, caindo nas tentações da
vida fácil, do prazer desregrado, da inutilidade.
O detentor
dessa riqueza ilude-se a tal ponto que não percebe que ela é sua real prova.
Isto é, ser capaz de multiplicar o talento recebido, cedido pelo Criador, de
forma a amenizar os sofrimentos de seus irmãos de caminhada. O dinheiro foi
criado para facilitar a vida de relação do homem e, não, para complicá-la.
Deus quer a nossa
salvação. Quando Ele coloca em nossas mãos a riqueza, não é com a intenção de
servir como instrumento fatal de perdição. E, sim, como oportunidade de
progresso. Ele não iria dar como meta a evolução do ser, e apresentar em
seguida uma dificuldade intransponível. Jamais, Ele colocaria uma barreira
assim para nós. Portanto, a riqueza não se constitui em algo que nós não
possamos ultrapassar. Nada impedindo, portanto, que
um detentor de riqueza possa completar essa prova, desde que, de acordo com os
ensinamentos de Jesus. O rico pode,
perfeitamente, encontrar aquele reino de paz, prometido pelo Mestre.
Prossegue o Mestre lionês:
Quando Jesus disse ao
moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna: “Desfaze-te de
todos os teus bens e segue-me”, não pretendeu, decerto, estabelecer como
princípio absoluto que cada um deva despojar-se do que possui e que a salvação
só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é
um obstáculo à salvação. Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque
observara certos mandamentos e, no entanto ,recusava-se à ideia de abandonar os
bens de que era dono. Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo
de adquiri-la com sacrifício.
O que Jesus lhe
propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu
pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na
opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser
inútil, nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe. Mas, não tinha a
verdadeira caridade; sua virtude não chegava até à abnegação. Isso o que Jesus
quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio: “Fora da caridade não há
salvação”
Neste
trecho, nós vimos que a prescrição do Mestre ao moço rico, que julgava poder
enquadrar-se nas normas básicas estabelecidas para a conquista do reino dos
céus, representou autêntico resfriamento em seus projetos de conquistar aquele
ambicionado reino. Queria conquistá-lo, servindo simultaneamente a dois
senhores, a Deus e a Mamon.
Jesus mostrou-lhe que a
montanha quase intransponível da riqueza terrestre mal aplicada, oferecia
tremendo obstáculo à sua mudança de rumo. No moço rico falaram mais alto os
interesses materiais do que aqueles de ordem espiritual, e isso fez com que se
afastasse cabisbaixo.
Ora, o Mestre não
pretendia estabelecer como princípio básico de salvação o despojamento (privação) total dos bens, mas na verdade, propor o
desapego ao excessivo desejo de posse pelas coisas transitórias, que nos
impedem de alçar voo na direção da felicidade. Então,
a proposta não é extinguir a riqueza, que não é um mal em si própria. Os bens
materiais são necessários, precisamos deles para vivermos no plano físico. Mas
o seu valor é relativo, isto é que importa Ter sempre em mente.
Continua
o codificador:
A consequência dessas
palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza, por ser
prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na
Terra; seria, ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear;
consequência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso
mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.
Se a riqueza é causa de
muitos males, se torna mais intensa as más paixões, se provoca mesmo tantos
crimes, não é a ela de devemos acusar, mas ao homem, que dela abusa, como de
todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso
(danoso) o que lhe poderia ser de maior
utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a
riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra.
Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de
progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso
intelectual.
Neste
trecho, o codificador destaca a importância da riqueza.
Precisamos
acabar com aquela visão equivocada de que a miséria e a dificuldade são coisas
boas, e que nós devemos cultuar. E, que, somente por elas nós iremos atingir o
reino dos céus. Essa visão equivocada é, na verdade, a negação da oportunidade
de crescimento do homem, material e espiritualmente. Porém, muitas vezes, essa
riqueza, excita a nossa vaidade e o nosso orgulho, fazendo com que nos
desviemos de nossos reais objetivos, que são: evoluir e ajudar os nossos irmãos
de caminhada.
Se
o dinheiro não é bem utilizado, o problema não está na moeda, e sim naquele que
a administra. Não podemos condenar a fortuna pelos desastres da avareza.
O mal,
então, não está no dinheiro e, sim, em sua aplicação. A
criatura bem evangelizada saberá dar um bom direcionamento à sua riqueza.
Saberá usar bem os talentos que Deus lhe concedeu.
Kardec finaliza o seu comentário dizendo:
Com efeito,
o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe
desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que sua
extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce incessantemente,
preciso se faz aumentar a produção. Se a produção de um país é insuficiente,
será necessário buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos
constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos
os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações.
Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais
até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de os executar com
maior segurança e rapidez. Mas, para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade
fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses
mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência que ele
concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais
tarde a compreender as grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio
primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividade, nem
estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento
de progresso.
Em
outras palavras, a vida do homem é uma arena de luta. E é nesta arena que ele
tem que buscar uma vida melhor para si e para o planeta onde vive,
habilitando-se a grandes descobertas, inventos de máquinas para facilitar a
vida das pessoas.
Pobreza,
doença física, doença mental, desemprego, injustiça, são geradores de
necessidades urgentes que motivam a ação do homem. Podemos dizer que, sem a
necessidade o homem não age, não se movimenta, não evolui.
A medida em
que o homem for compreendendo melhor os ensinamentos de Jesus, e, sobretudo, aplicando-os
em sua vida, com certeza, a qualidade de vida certamente melhorará.
A riqueza
tem uso providencial, e destina-se a incentivar os grandes projetos da
humanidade. O dinheiro faz milagres. Inclusive, ajuda o homem a fazer caridade.
Dizem que o
dinheiro não traz felicidade. Mas, não é bem assim. O dinheiro mal utilizado ou
não utilizado, realmente, não traz felicidade. Mas o dinheiro bem utilizado
pode mudar muitas coisas neste mundo.
Portanto,
cabe àquele que tem o poder do dinheiro empregar todos os seus dons, suas
possibilidades e seus recursos, no sentido de amenizar as dores de seus semelhantes, proporcionando novas
oportunidades de trabalho, o desenvolvimento da Ciência, e distribuição de
justiça, gerando a evolução e o progresso do mundo em que vive.
Esse poder, como já dissemos, é conferido por
Deus, para ser usado com humildade, com desprendimento, para a melhoria das
coisas do mundo. A riqueza só é uma prova mais difícil do que a pobreza, se nós
nos esquecermos dos verdadeiros motivos que, muitas vezes, tivemos para pedir
esse talento ao nosso Criador. Quer dizer, a riqueza só é uma prova que nos
derruba na nossa caminhada, quando nos escravizamos ao dinheiro pelo dinheiro.
Vamos
destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – É a
riqueza instrumento de perdição para o homem?
R – A
riqueza, em si mesma, não constitui obstáculo à salvação do homem, pois, sendo
Deus infinitamente justo e misericordioso, não colocaria em suas mãos algo que
somente o arruinasse.
2 – Sendo o
oposto da riqueza, pode concluir-se que a miséria é prova fácil que conduz à
salvação?
R – Não.
Também a miséria é prova difícil, porque dá ensejo à inveja e a revolta,
dificultando a prática da caridade que conduz o homem a Deus. Mas a riqueza é,
sem dúvida, prova mais dura.
3 – Qual a
função da riqueza em nosso planeta?
R –
Oferecer ao homem os recursos necessários ao progresso material e à satisfação
das necessidades de seus habitantes.
“O homem
tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta: desobstruí-lo,
saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão
comporta”.
Daí nós
concluirmos que:
Riqueza e
miséria não são prêmio nem castigo de Deus: são situações transitórias que o
homem experimenta, no processo de evolução espiritual. Longe de ser um mal, a
riqueza é fator de progresso material do planeta e de bem estar da humanidade.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – Parábola dos talentos.
Item
6 - Jesus, por Mateus, diz:
O Senhor age como um
homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores
e lhes entregou seus bens. – Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e
um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente, - Então,
o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou
cinco outros. – O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o
que apenas recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu
amo.
Esta parábola exprime
os deveres que nos cabem; material, moral e espiritualmente. Interpretada ao pé
da letra, esta parábola induz que há uma violação às Leis de Deus. Uma ambição
muito grande, justificando a aplicação do dinheiro para render juros. Mas
buscando a essência do ensinamento, nós vamos entender um significado
diferente. O talento representa potências que cada um de nós recebeu ao nascer,
para serem desenvolvidas.
Nós, na condição de
Espíritos em trânsito pela Terra, trazemos na nossa bagagem potencialidades
latentes (ocultas)
dentro de nós, que deverão ser desenvolvidas. E, na medida da nossa evolução,
vamos adquirindo condições de desenvolver esses talentos.
Da mesma forma que o
homem conhecia os seus servidores, distribuindo os seus bens de acordo com a
sua capacidade, Deus conhece a capacidade de cada um de nós. E, por isto, sabe
daquilo que podemos fazer.
Continuando,...
Passado longo tempo, o
amo daqueles servidores voltou e os chamou a contas. – Veio o que recebera
cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo:
- Senhor, entregaste-me
cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. – Respondeu-lhe
o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei
muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – O que recebera dois
talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois
talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei. – O amo lhe
respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa,
confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – Veio em
seguida o que recebeu apenas um talento e disse: Senhor, sei que és homem
severo, que ceifas (desbastar)
onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia,
escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence. – O
homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo
onde não semeei e que colho onde nada pus, - devias por o meu dinheiro nas mãos
dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me
pertence. – Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e deem-no ao que tem
dez talentos; - porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão
cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que
pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde
haverá prantos e ranger de dentes. (Mateus, cap. XXV, vv. 14 a 30).
Desta alegoria, vamos
retirar a essência do ensinamento de Jesus.
Os talentos representam
os ensinamentos de Jesus; quando bem aplicados, ou seja, bem entendidos, são
uma fonte de felicidade e, ao contrário, quando mal aplicados, quer dizer, mal
entendidos, são como obstáculos, desviando a criatura do bem e da verdade.
Aqueles que recebem os
talentos do Evangelho de Jesus e os aplicam em proveito próprio e alheio, com o
fim especial de tornar conhecida a palavra de Deus, estão representados pelos
servidores que receberam cinco e dois talentos. E quando forem chamados ao
ajuste de contas, lhes será dito: “Servos bons e inteligentes!”
Mas, aqueles que
recebem os talentos desse mesmo Evangelho e não os observam, ou os aplicam mal,
prejudicando a causa que deviam zelar, são semelhantes ao servidor que escondeu
o talento recebido. E quando chamados ao ajuste de contas, lhes será dito:
“Servidor mau e preguiçoso”. E lhes serão tirados tudo o que têm e mesmo o que
pareçam ter.
Quando o senhor ordena
que o servidor inútil seja lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e
ranger de dentes, quis dizer que aquela criatura, por meio do embotamento (enfraquecimento) da sua
inteligência, não soube valorizar o bem que recebeu e, por isto, vai receber o
fruto da sua ignorância, no seu dia-a-dia.
É importante nós
destacarmos que, o servo negligente, atribuiu ao medo a causa do seu insucesso.
Contara apenas com um talento e temera lutar para valorizá-lo.
O que aconteceu ao
servidor receoso da narrativa Evangélica, acontece a muitas criaturas que se
recolhem à ociosidade, alegando o medo da ação. Medo de trabalhar, medo de
servir, medo de sofrer, medo da dor, medo da alegria. E, a pretexto de serem
menos favorecidos pelo destino, transformam-se em representantes da inutilidade
e da preguiça.
“Se recebeste, pois,
mais rude tarefa no mundo, não te atemorize a frente dos outros e faze dela o teu caminho de progresso e renovação, por mais
sombria que seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias, enriquece-a
com a luz do teu esforço no bem, porque o medo não serviu como justificativa
aceitável no acerto de contas entre o servo e o Senhor”. (Emmanuel)
A percepção é um
atributo do espírito; quanto maior o estado de consciência do indivíduo, maior
será sua capacidade de perceber a vida, que não se limita apenas aos fragmentos
da realidade, mas sim a realidade plena.
Colocar nossa atenção
nas coisas da vida é fator importante para o nosso desenvolvimento mental,
emocional e espiritual, todavia, é necessário, saber direcionar
convenientemente nossa percepção e atenção no momento exato e para o lugar
certo.
O resultado do medo em
nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir, com espontaneidade,
pois quem decidirá como e quando devemos atuar será a atmosfera de temor que
nos envolve.
Cada um vê o universo
das coisas pelo que é. Vemos o mundo e as criaturas segundo o nível de
desenvolvimento da consciência em que vivemos. Quanto maior esses níveis, mais
estaremos centrados, e vivendo estáveis e tranquilos. Quanto menor esses
níveis, mais primário será o nosso juízo a respeito de tudo e teremos uma
estreita visão dos fatos e das pessoas.
A vida é, antes de
tudo, um profundo exercício de descobertas.
Vamos destacar algumas
perguntas para reflexão:
1 – O que representa os
talentos entregues aos servos?
R – A oportunidade de
cada um desenvolver o potencial que tem dentro de si.
2 – Por que o senhor
não deu aos seus servos quantidades iguais de talentos?
R - Porque, conhecendo
bem os seus servidores, distribuiu, de acordo com a capacidade de cada um.
3 – Por que o servo que
recebeu um talento foi chamado de “servo inútil”?
R – Porque, pela sua
ignorância, sentiu medo e enterrou o talento, não sabendo valorizar o bem que
recebeu.
4 – O que devemos
entender pela expressão: “Ser lançado nas trevas exteriores, onde haverá
prantos e ranger de dentes”?
Que, aquele que não
souber valorizar os bens que recebeu aqui na Terra, receberá como recompensa os
frutos da sua ignorância.
5 – O que entendemos
dessa parábola?
R – Que é uma avaliação
feita por Deus sobre o ser, verificando a capacidade de cada um, e
recompensando segundo suas obras.
Daí nós concluirmos
que:
Essa parábola, é como
uma recomendação contra a negligência das pessoas.
Que, se nós desejamos
que haja progresso em nossas vidas, e que tenhamos a possibilidade de utilizar
esse progresso em nosso benefício e em benefício de nosso semelhante, teremos
que deixar de lado a indolência e a preguiça, para agirmos com dinamismo e
inteligência. Não negligenciando na hora de perdoar; não negligenciando na hora
de compreender as necessidades do próximo; não negligenciando em reconhecer as
palavras de Jesus, para a nossa salvação.
Ninguém nasce
brilhante. Todos nós fomos criados simples e ignorantes. E, é, aos poucos, que
nós vamos acumulando conhecimento, de experiência em experiência, até sabermos
discernir uma coisa da outra, para traçarmos o nosso caminho.
Utilizemos, portanto,
nossos talentos para a construção de um mundo melhor.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – Parábola do mau rico.
Item
5. Jesus,
por Lucas diz:
Havia um homem rico,
que vestia púrpura (antigo
tecido vermelho) e linho e se tratava magnificamente todos os dias. –
Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de
úlceras, - que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam
da mesa do rico; mas ninguém lhas dava e os cães lhe vinham lamber as chagas.
É muito importante para
nós, entendermos bem esta parábola, para que não fiquemos com a impressão, ou
com dúvida, de que existem privilégios, escolhas, no mundo espiritual.
Podemos entender nesta
parábola que, o rico e o pobre Lázaro personificam a humanidade. Nela, o rico
simboliza as criaturas que só tratam da vida do corpo e esquecem-se da vida da
alma. São aquelas que buscam a felicidade no comer, no beber, no vestir e no se
divertir; são as que se entregam a todos os gozos da matéria; são pessoas
egoístas, orgulhosas, que vivem unicamente para si, e elevadas ao trono da
vaidade, da soberba (arrogância),
não veem senão o que lhes pode propiciar prazeres.
Lázaro representa os
excluídos da sociedade terrena, aqueles que são desprezados, amaldiçoados, e
que não podem chegar à porta dos mais afortunados.
É preciso entender que
Lázaro não representa os pobres orgulhosos do mundo, que não têm muitas vezes o
que comer e o que vestir, mas estão cobertos de púrpura. Não, os pobres, de que
Lázaro serviu de símbolo na parábola, são os que sofrem com resignação, são os
que desprezam os bens da Terra, porque buscam as coisas de Deus; são os
pacientes e resignados que não se revoltam, porque creem no futuro e esperam as
dádivas que lhes serão reservadas pelo Pai criador.
Eles sabem que existe
um Pai supremo que lhes dará o prêmio de sua dedicação; e que esse prêmio,
embora às vezes, pareça tardar, não faltará, porque a justiça de Deus é
infalível.
Continuando,...
Ora, aconteceu que esse
pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também
morreu e teve por sepulcro (túmulo) o inferno (Hades). – Quando se achava nos
tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão e Lázaro em seu seio – e,
exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me
Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua,
pois sofro horrível tormento nestas chamas.
Vamos procurar explicar
o que seja estar no seio de Abraão e o que significa Hades, o inferno, citado
na parábola.
Na linguagem dos
hebreus, seio de Abraão significa a liberdade do Espírito no espaço infinito; é
um mundo invisível, onde os Espíritos caminham livres de obstáculos, a caminho
da felicidade.
Abraão foi patriarca (chefe)
dos hebreus, alta personagem do Antigo Testamento, em quem a fé mais viva se
mostrava, a ponto de não vacilar em sacrificar seu filho Isaac, para obedecer
às ordens que havia recebido do Alto. Para aí é que foi Lázaro, com inteira
liberdade de locomoção nos ares. Ele havia sofrido na terra, privado das
delícias do mundo, mas cria num Deus supremo, que lhe concedera aquela
existência de expiação e de provas, para que reparasse os males de suas vidas
passadas, em que havia também de descuidado das coisas divinas.
Agora vamos tratar do
Hades: O Hades eram as regiões infernais da Mitologia Grega, equivalente ao
inferno aceito pelos católicos e pelos protestantes. Não deve ser entendido
como um lugar, mas como um estado de espírito, isto é, um estado de profundo
sofrimento. Os antigos acreditavam na
existência de um mundo subterrâneo, para o qual iam as almas daqueles que não
foram bons na terra. O corpo ficava no sepulcro, e o Espírito ia para o Hades:
“mundo localizado nas entranhas da terra”. Daí essas almas não poderiam sair,
assim como nós, em corpo de carne, não podemos sair deste mundo. Entretanto, os
Espíritos que estavam no Hades viam com os olhos da alma, e sabiam, portanto,
tudo o que se passava no seio de Abraão. Era justamente nisso que consistia o
sofrimento: verem o que se passava no Alto, e não poderem participar dessas
regalias que só eram concedidas àqueles que, como Lázaro, haviam saldado sua
conta espiritual. Por isso, diz o Evangelho, que o rico levantou os olhos e viu
ao longe Abraão e Lázaro no seu seio e clamou: “Pai Abraão tem compaixão de
mim! E manda a Lázaro que molhe a ponta de seu dedo e lhe refresque a língua,
porque estava atormentado naquela chama!” O rico queria água! Tinha sede, e
essa sede não era a do corpo, não se tratava de água de rios ou de fontes,
porque o corpo estava no sepulcro, e o Espírito não pode beber água material.
Era sede de consolação, de esperança, de perdão!
Continuando,...
Mas Abraão lhe
respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste em vida teus bens e de que
Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na consolação e tu nos
tormentos.
Ao demais, existe para
sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram passar
daqui para aí não o podem, como também ninguém pode passar do lugar onde estás
para aqui.
Aqui, encontramos um
alerta de Jesus para a necessidade de prepararmos o nosso caminho futuro,
enquanto estamos trilhando o caminho terreno. Alerta também, para que tenhamos
olhos de ver as necessidades dos nossos irmãos, quando estivermos desfrutando de
qualquer tipo de opulência (abundância de bens). Esse ensinamento é a
proclamação da lei de caridade, cuja execução é imprescindível para todos os
que desejam progredir espiritualmente.
Havia, então, a
necessidade do rico ser persuadido a se regenerar mais tarde, e, como Lázaro,
vir novamente ao mundo pagar a sua dívida, para
depois subir também ao seio de Abraão; porque também ele era filho de
Abraão, e Abraão não deixaria seu filho perecer.
Continuando,...
Disse o rico: Eu então
te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai, - onde tenho cinco
irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não venham também
eles para este lugar de tormento. – Abraão lhe retrucou: Eles têm Moisés e os
profetas; que os escutem. – Não, meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos
mortos for ter com eles, farão penitência. – Respondeu-lhe Abraão: Se eles não
ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda mesmo que algum
dos mortos ressuscite. ( Lucas, cap. XVI, vv. 19 a 31 ).
O rico, ao ouvir de pai
Abraão, que havia recebido o que era de bom em sua vida, e Lázaro, os males,
por isso, era justo que Lázaro estivesse sendo consolado e ele atormentado. O
rico, que desfrutou de uma vida feliz no mundo material, está sofrendo no mundo
espiritual; Lázaro, que sofreu no mundo material, está desfrutando de uma vida
feliz no mundo espiritual. Ele, então, compreendeu que a causa de suas dores
era a vida dissoluta ( devassa ) que passara no mundo e, agora, a chama viva do
remorso abrasava a sua consciência. Agora, ele queria a água da vida; a água de
salvação que Jesus havia dado à mulher samaritana.
Cheio de pobreza e de
sofrimento, lembrando-se de seus cinco irmãos que levavam a mesma vida que ele,
quando estava na terra, suplicou a Abraão que mandasse Lázaro à casa daquele
que havia sido seu pai, para advertir seus irmãos, pois, precisavam ficar
sabendo dos tormentos que os aguardavam, se continuassem assim.
Aqui, embora parecendo
humilde, o rico demonstrou todo o seu egoísmo e o seu orgulho. Foi orgulhoso,
quando quis que Lázaro, num plano espiritual mais adiantado do que o dele,
fosse servir de mensageiro, voltando ao mundo, para transmitir as verdades de
Deus. E egoísta, quando não se lembrou de pedir a difusão dessas mesmas
verdades, entre todas as criaturas. Somente pensou nos seus amados pelo sangue.
A súplica do rico,
filha do egoísmo ou do espírito de preferência, por exemplo, semelhante à
maioria das súplicas que partem dos caminhos escuros da Terra, nos dizem os
Espíritos superiores, nunca chegam a Deus, por se apagarem no mesmo círculo de
sombra e ignorância em que foram geradas.
É bom lembrar, que os
espíritos dos mortos podem comunicar-se e se manifestarem aos vivos, mas não
podem obrigar os vivos a tomarem, desde já, posse da felicidade futura.
Vamos destacar algumas
questões para nossa reflexão:
1 – Como explicar que
duas criaturas, filhas do mesmo Deus de amor, possam experimentar situações tão
opostas?
R – Deus, em sua
justiça, trata cada um conforme suas ações e concede a todos oportunidades de
progresso: o rico recebeu a prova da fortuna para desenvolver a solidariedade;
o mendigo recebeu a prova da miséria para recobrar a humildade e a resignação.
O sofrimento de hoje
nos aponta as faltas do passado e constitui oportunidade de alegrias futuras.
2 – Que devemos
entender pela palavra “inferno”, usada por Jesus nesta passagem?
R – O sofrimento que
acomete o espírito, quando este, percebendo o mal que praticou, debate-se no
remorso e padece terríveis aflições pela impossibilidade de aproximar-se de Deus.
3 – Por que Abraão não
atendeu ao pedido do rico?
R – Porque sabia que a
incredulidade dos homens não é vencida nem por manifestações nem por revelações
de qualquer natureza, mas pela reflexão sincera acerca das leis divinas, embora
elas estejam em nossa consciência.
O esclarecimento íntimo
é tarefa reservada a cada um. Os meios que auxiliam o esclarecimento estão
sempre ao nosso alcance: o Evangelho de Jesus, a prece, os exemplos edificantes
de nossos irmãos. Basta que os busquemos.
Da lição que Jesus propôs
à multidão, que se achava em torno dele, podemos tirar a seguinte conclusão:
Existem duas
personalidades distintas na parábola. Uma que aproveitou os prazeres da vida, e
outra que somente sofreu; uma a quem nada faltava, outra a que tudo faltava. Agora
vão trocar suas condições; vão mudar de cenário; o mendigo vai para a
abundância, e o rico é que passa a mendigar! É o reverso da medalha, que se
apresenta a todos nós, no dia do julgamento final.
Quando nos prendemos
demais às coisas terrenas, nós ficamos distanciados dos ensinamentos de Jesus
e, logicamente, ficaremos na condição desse homem rico da parábola. Então não
há condição de puxar para a dimensão livre de Abraão, alguém da esfera
subterrânea, pesado pela carga de seus erros.
Se nós mesmos não
fizermos o nosso caminho; se nós não nos iluminarmos por dentro; se nós não nos
desfizermos de nossas poses, de nossa arrogância, nenhum Pai Abraão fará por
nós. O progresso espiritual é tarefa individual e intransferível.
O sofrimento daquele
que, na Terra, se afastou das leis divinas e retardou, assim, sua caminhada
evolutiva, pode e deve ser abrandado por ele próprio, pelo retorno ao Pai,
através da prática do bem.
A situação de Lázaro,
que entendemos ser de bem-aventurança, não se alcança porque alguém pediu, e,
sim, com muita resignação diante da dor de nossas provações, pagando até o seu
último centavo.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – Jesus em casa de Zaqueu.
Item
4. O
evangelista Lucas nos diz:
Tendo Jesus entrado em
Jericó, passava pela cidade – e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos
publicanos (arrendatários das rendas públicas) e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para
conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito
baixa. – Por isso, correu à frente da turba e subiu a um sicômoro (espécie de figueira), para
o ver, porquanto ele tinha de passar ali. – Chegando a esse lugar, Jesus
dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu, dá-te pressa em
descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa. – Zaqueu desceu
imediatamente e o recebeu jubiloso. – Vendo isso, todos murmuravam, a dizer:
Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. Entretanto, Zaqueu,
pondo-se diante do senhor, lhe disse: Senhor, dou a metade dos meus bens aos
pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro
tantos. – Ao que Jesus lhe disse: Esta casa recebeu hoje a salvação, porque
também este é filho de Abraão; - visto que o Filho do homem veio para procurar
e salvar o que estava perdido. ( Lucas, cap. XIX, vv. 1 a 10 ).
Ao lado do fato real, o
evangelho apresenta um ensinamento simbólico a ser percebido no bojo de suas
narrativas.
Zaqueu não conseguia ver
Jesus por causa de muita gente, já que era pequeno de estatura. Pela ótica
espiritual, essa pequena estatura pode significar o seu grau evolutivo. E essa
muita gente seria a distância entre ele e o Mestre. Daí, podermos concluir, que
o seu pouco desenvolvimento espiritual dificultava sua aproximação com Jesus.
Por que entendemos que
Zaqueu era pouco evoluído espiritualmente? Porque ele era um cobrador de
impostos. Recebia os impostos pagos pelos habitantes da Palestina ao governo de
Roma. Era praxe naquela época o coletor ficar com uma boa parte da importância
recebida, devido ao risco da função. Por isso Zaqueu era rico.
É interessante observar
que Zaqueu tendo conhecimento de que a sua pequena estatura, ou seja, o baixo
degrau evolutivo em que se encontrava, dificultava-lhe ver o Mestre, quer
dizer, compreender melhor os seus ensinos e, sobretudo, vivenciá-los, ele se
esforça para conseguir o seu intento.
Na questão 919, do
Livro dos Espíritos, Kardec indaga aos instrutores espirituais “qual o meio
prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à
atração do mal”. Resposta: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a
ti mesmo”. Foi exatamente isto o que fez Zaqueu. Conhecia a si mesmo, sabia de
sua pequena estatura, da distância que o separava de Jesus. Mas ele não se
acomodou. Ao contrário, elaborou um plano de ação de maneira a superar a
dificuldade em que se achava. Planejou suas atividades, visando atingir o fim
que pretendia.
Como já dissemos,
Zaqueu era publicano, um cobrador de impostos e, por isto, não era bem visto.
Não era considerado filho de Abraão, e por esta razão, não era digno de ser
salvo. Era considerado um homem de má vida. Mas não se importou com a opinião
pública, com o que iriam pensar e falar dele. Estava decidido, determinado a
ver Jesus.
Daí nós deduzirmos que,
Zaqueu, acostumado a ouvir as pregações do Mestre, se conscientizou de que
estava errado e não deveria continuar no erro. E Jesus, que pode nos ver por
dentro, viu que realmente ele estava sendo sincero no seu arrependimento.
Queria refazer a sua própria vida. Passar a partir daquele momento a ser um
homem inatacável. O que ele havia feito até aquele momento não foi levado em
conta por Jesus. Não era importante. O importante foi que, ao tomar
conhecimento das palavras do Mestre, ele as aceitou e tomou o caminho certo.
Por isto, foi que o Cristo disse: “Esta casa recebeu hoje a salvação, visto que
o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
É isto o que Jesus
espera de nós. Ele não está preocupado com o que nós fizemos ontem. Ele está
preocupado com o que nós vamos fazer a partir de agora.
Daí, nós tirarmos uma
lição: Se fazemos planos a curto, médio e longo prazo em nossa vida material,
por que não fazer o mesmo em relação às questões espirituais. Identificadas
nossas carências, os pontos em que precisamos melhorar, as falhas a serem
corrigidas, por que não fazemos como Zaqueu: planejar a vida também, com vistas
aos interesses do Espírito. Livros a serem lidos, estudos a serem feitos,
trabalhos a realizar, treinando-nos na vivência dos ensinos que abraçamos.
A árvore em que Zaqueu
subiu pode significar estes recursos de que podemos nos valer para superar
nossas deficiências. Ainda somos de
estatura pequena, mas podemos andar e correr, isto é, aproveitar o tempo,
dedicando-nos ao ideal. E subir numa árvore, ou seja, suprir nossa falta de
talento, ou falta de evolução espiritual, com esforço e dedicação.
O fato de Zaqueu subir
numa árvore para ver Jesus significa que, quando resolvemos trabalhar pela
nossa evolução espiritual, buscando aproximarmo-nos do Cristo, não podemos
estar preocupados com a opinião de terceiros. Elogios, ou reprovações não devem
nos atingir.
Vamos destacar algumas
questões para nossa reflexão:
1 – Como podemos
interpretar a excessiva curiosidade de Zaqueu, por ver Jesus ?
R – Sabendo da natureza
dos ensinamentos de Jesus, baseados na justiça e na caridade, Zaqueu,
afligia-se, por reconhecer o mau uso
que fazia de sua vida e de sua riqueza; e desejoso de dar a ambas um novo
sentido, buscava encontrar o Mestre.
A consciência de Zaqueu
o acusava do mau uso da riqueza, e ele buscava em Jesus a força para
redimir-se.
2 – Por que as pessoas
que presenciaram o fato criticaram a decisão de Jesus, de hospedar-se em casa
de Zaqueu?
R – Porque Zaqueu era
considerado pelos judeus como pessoa de má vida, indigno, portanto, de receber
a visita do Mestre.
Jesus buscava a companhia
dos errados, para auxiliá-los no caminho da própria salvação.
3 – O que mudou na vida
de Zaqueu, a partir do seu encontro com o Mestre?
R – O destino que ele
passou a dar a sua própria vida, pois antes cuidava apenas dos próprios
interesses e de acumular bens, passando depois a reparar as faltas cometidas e
a dividir sua riqueza com os necessitados.
4 – Qual o sentido da
palavra “salvação”, usada por Jesus?
R – Jesus referia-se ao
esclarecimento que lograra alcançar o espírito de Zaqueu e à caminhada que
iniciava em direção ao Reino de Deus, através do auxílio ao próximo.
“Esta casa recebeu hoje
a salvação porque também este é filho de Abraão”.
Daí nós concluirmos que
a riqueza tanto pode ser motivo de atraso, quando seu detentor a utiliza apenas
em proveito próprio, como ocasião de progresso espiritual, quando é colocada a
serviço do próximo.
Nós também podemos nos
aproximar de Jesus, recebê-lo em nossa casa, isto é, em nosso íntimo. Para
isto, precisamos nos conhecer, planejar as ações visando superar as
dificuldades, nossas imperfeições que fazem com que permaneçamos distantes do
Mestre, embora Ele esteja sempre conosco, e realizar o plano com dedicação,
mesmo que, para isto, tenhamos que enfrentar opiniões contrárias.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – Preservar-se da avareza - Item 3.
ITEM 3 : O evangelista Lucas nos diz:
Então, no meio da turba, um homem lhe disse: Mestre, dize a
meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou. – Jesus lhe disse: Ó
homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas? – E
acrescentou: Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, porquanto,
seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos
bens que ele possua.
Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem cujas
terras tinham produzido extraordinariamente – e que se entretinha a pensar
consigo mesmo, assim: Que ei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa
encerrar tudo o que vou colher? – Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os
meus celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a minha colheita e
todos os meus bens. – E direi a minha alma: Minha alma, tens de reservar muitos
bens para longos anos; repousa, come, bebe, goza. – Mas, Deus, ao mesmo tempo,
disse ao homem: Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para que
servirá o que acumulaste?
É o que acontece àquele que acumula tesouros para si próprio
e que não é rico diante de Deus. ( Lucas, cap. XII, vv. 13 a 21 )
Estas palavras do Cristo,
como tantas outras, ficariam meio sem sentido, se não houvesse a Doutrina
Espírita para esclarecê-las.
A parábola do avarento é uma síntese do trágico fim de todos
aqueles que não veem a felicidade senão no dinheiro, e se constituem em seus
escravos incondicionais. Para essa gente, havendo dinheiro, há tudo. Arraste-se
o mendigo pelas vias públicas, chore e soluce o aflito, geme de dores o enfermo
miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses corações
empedernidos (endurecidos), nada lhes demove, nada consegue mudar-lhes ou
desviar-lhes as vistas do seu tesouro. Segundo Cairbar Schutel, “a avareza é a
véspera da miséria”.
O que valem as riquezas efêmeras, sombras de
felicidade que se esvaem, ilusão de grandezas que desaparecem à primeira visita
de uma enfermidade ?
No nosso dia-a-dia encontramos diversos tipos de avareza:
Aquela em que a pessoa só sabe guardar, amealhar. Não gasta nem com ela mesma.
Torna-se escrava do dinheiro. Passa falta de um determinado bem, e não o
compra, mesmo podendo; aquela, associada ao egoísmo, em que a pessoa só gasta
consigo mesmo. Para ela tudo, para os outros nada. Tudo para si próprio é muito
bem empregado, mas não tem condições para nada fazer em favor dos outros.
Poderíamos estar desfrutando, já de uma vida melhor no
planeta terra, não fosse a ambição, a avareza de muitos, em prejuízo dos
demais. Na medida em que formos compreendendo melhor os ensinamentos do Mestre
e, sobretudo, aplicando-os em nossas vidas a qualidade de vida da humanidade,
certamente, muito lucrará.
A riqueza, já nos disse Kardec, não é obstáculo à salvação,
ou seja, ao aperfeiçoamento espiritual e a evolução do ser.
A espiritualidade nos diz que o dinheiro é alavanca
suscetível de ser manejada para o bem e para o mal. Se o dinheiro não é bem
utilizado, o problema não está na moeda, e sim naquele que a administra.
Condenar a fortuna pelos desastres da avareza é o mesmo que espancar o
automóvel pelos abusos do motorista.
Os bens materiais são necessários, precisamos deles para
vivermos no plano físico. Mas o seu valor é relativo, isto é que importa Ter
sempre na mente. Na hierarquia de valores, os verdadeiros bens, são os bens do
espírito.
“O avarento gasta mais no dia de sua morte do que em dez anos
de vida, e seu herdeiro gasta mais em dez meses, do que o avarento em sua vida
inteira.” - La Bruyère. (Escritor).
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ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XVI – Não se pode
servir a Deus e a Mamon – Salvação dos ricos. Itens 1 e 2.
ITEM
1. Diz
Jesus, por Lucas.
Ninguém pode servir a
dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e
desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. ( cap.
.XVI, v. 13 ).
Em algumas traduções do
Evangelho Segundo o Espiritismo está escrito: Não se pode servir a Deus e às
riquezas.
Esse personagem Mamon
era um ser mitológico daquela época, que representava a personificação da
riqueza. E Jesus ao proferir essa frase, queria nos dizer que não podemos
servir ao mesmo tempo as coisas do espírito e as coisas da matéria.
Todos nós temos
prioridades em nossas vidas. Em certo momento da nossa existência nos é
colocado à nossa frente uma bifurcação de caminhos. E, aí, nós temos que
escolher: Se seguimos o caminho da direita ou se seguimos o caminho da
esquerda. Não existe a hipótese de seguirmos os dois caminhos ao mesmo tempo.
Ou vamos seguir o caminho que nos leva a Deus, ou vamos trilhar o caminho que
nos leva a Mamon. A grande diferença, entre servir a um e servir ao outro, está
no que nós temos a oferecer. Mamon se contenta com bens materiais, que são
posses transitórias, e Deus se contenta com outros tipos de bens, que são os
bens morais.
Fica claro que, para
uma criatura que desconhece os ensinamentos do Cristo, torna-se mais fácil
servir a Mamon, pela paixão que tem pela posse de riquezas materiais.
ITEM
2. Os
evangelistas nos dizem:
Então, aproximou-se
dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida
eterna? – Respondeu Jesus: Por que me chamas bom? Bom, só Deus o é. Se queres
entrar na vida, guarda os mandamentos. – Que mandamentos? Retrucou o mancebo.
Disse Jesus: Não matarás; não cometerás adultério; não furtarás; não darás
testemunho falso. – Honra a teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti
mesmo.
O moço lhe replicou:
Tenho guardado todos esses mandamentos desde que cheguei à mocidade. Que é o
que ainda me falta? – Disse Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o
que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o moço se
foi todo tristonho, porque possuía grandes haveres. Jesus disse então a seus
discípulos: - Digo-vos em verdade que bem difícil é que um rico entre no reino
dos céus. Ainda uma vez vos digo: - É mais fácil que um camelo passe pelo
buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. (Mateus, Cap.
XIX, vv.16 a 24. – Lucas, cap. XVIII, vv. 18 a 25. – Marcos, cap. X, vv. 17 a
25).
Vamos procurar
interpretar o que o mestre quis dizer com essas palavras.
Primeiro temos que
entender que a essência da Doutrina Cristã é a modificação do caráter de quem
se orienta por ela. Por isto, não podemos associar o progresso material à nossa
felicidade. Esta associação resume a vida do homem entre o nascer e o morrer.
Nós espíritas, necessitamos compreender a postura materialista da criatura
humana, em face ao atraso espiritual reinante. Porém, se quisermos viver no
reino de Deus, prometido por Jesus, não podemos encarar a vida da mesma forma
que os nossos irmãos que professam religiões materialistas.
Jesus, nesse duro
discurso, está nos advertindo para os cuidados que devemos ter no
relacionamento com o mundo material, mas, nunca declarando a riqueza como um
mal. E, sim, o mau uso que fazemos dela. Pois, diante das facilidades que a
riqueza nos oferece, com certeza, vamos enveredar pelo mau caminho.
É mais fácil um camelo
passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus.
Diante dessa alegoria
podemos ficar surpresos. Mas, na realidade, o que Jesus estava querendo dizer é
que: é difícil entrar no Reino de Deus os que se deixam escravizar pelas
riquezas. O homem rico tem mais dificuldade de vencer do que o pobre. O pobre
por não ter bens materiais, tem maior
possibilidade de passar pela porta estreita, porque não tem como servir a
Mamon. Não tendo riqueza material ele não se sente tentado a buscar esse tipo
de servilismo e, naturalmente, vai se chegar a um Deus que pede somente a sua
riqueza interior.
Como já dissemos, Deus
não condena a riqueza. E ninguém é condenado por ser rico. Essa sentença do
Mestre vem como ajuda das provas por que passam aqueles que pediram bens de
fortuna para terem oportunidade de prestar maior número de benefícios ao seu próximo,
e, portanto, progredirem mais rapidamente.
O propósito da vida na
terra é o aperfeiçoamento do Espírito. Aquele que assim compreende eleva-se,
dignifica-se, e livre dos entraves materiais, sobe às alturas inacessíveis ao
sofrimento, alcançando a felicidade eterna.
Aquele que assim não
quer compreender rebaixa-se, desmoraliza-se, e absorvido pelas más paixões,
desce aos abismos da dor, para expiar e reparar as faltas, as transgressões das
Leis divinas.
O apego aos bens
materiais é um dos sérios obstáculos à nossa vida espiritual. Somos, ainda,
pouco evoluídos, e a nossa confiança em Deus é bastante pequena.
Preocupamo-nos, excessivamente, com o futuro aqui na Terra.
É claro que devemos nos
precaver, planejar a vida, prevenir o futuro, enfim, fazer a nossa parte. Mas a
mensagem de Jesus fala do exagero, dos excessos, da preocupação excessiva com
os bens materiais, como se tudo dependesse do dinheiro, ou como se com ele tudo
resolvêssemos.
A figura do camelo,
podemos entender de duas formas:
De acordo com o idioma
falado naquela época, o hebreu, uma mesma palavra era empregada para designar
várias coisas, como, camelo, por exemplo, que além de indicar o animal, também
servia para nomear cabo e corda. Então, a tradução mais natural seria: passar
uma corda pelo fundo de uma agulha.
Há também uma outra
explicação:
Naquela época, era
costume usar o camelo como besta de carga. E as cidades, tinham como porta de
entrada, uma abertura bastante estreita e bem alta, por onde passavam as
tropas. Um animal de cada vez. Daí nós concluirmos que, se o camelo estivesse
com fardos volumosos, não passaria pela agulha, desenho da porta de entrada. O
volume da carga seria maior do que a bitola da entrada.
Essa alegoria, de que é
difícil um rico entrar no Reino de Deus, é justamente para chamar a nossa
atenção quanto ao acúmulo de carga que vamos colocando em cima de nós, quando
nos lançamos na busca da riqueza. Quanto mais nos esforçamos para amealhar mais
riqueza, mais carga vamos acrescentando na nossa vida.
Quando Jesus nos
recomenda para que nos esforcemos para passar pela porta estreita, porque a
larga é a porta da perdição, Ele diz para irmos nos despojando da nossa carga,
dos excessos de riqueza, para podermos passar facilmente.
Os Espíritos superiores
nos estimulam a termos domínio sobre o mundo material, e não a sermos escravos
dele. Mas essa é uma realização íntima, a que cada ser deve dedicar-se.
Para encerrar este
item, vamos reproduzir o último trecho da comunicação do espírito Condessa
Paulo, contida no livro O céu e o inferno:
“E vós ricos, tendes
sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na
Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do
Todo Poderoso”.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – O que podemos
entender com a frase de Jesus: “ninguém pode servir a dois senhores” ?
R – Que não podemos
viver, simultaneamente, fascinados pelas coisas materiais e comprometidos com a
salvação do espírito, pois é impossível conciliar dois princípios tão opostos
entre si.
2 – Por que Jesus
recomendou ao moço que se desfizesse da sua fortuna ?
R – Certamente porque
esta fortuna, utilizada apenas em proveito próprio, aprisionava-o, impedindo-o
de praticar a caridade e afastando-o do único caminho que conduz à salvação.
A fortuna daquele jovem
constituía-se em empecilho para o seu progresso espiritual.
3 – Nesta passagem
Jesus nos ensina a despojarmo-nos do que possuímos, para obtermos a salvação?
R – Não. Jesus nos
ensina o desapego dos bens materiais, mostrando-nos que nada na vida é mais
importante que a busca das coisas espirituais. Os bens materiais são meios que
nos são concedidos para esse fim, porém não podem constituir obstáculos para
nosso avanço espiritual.
Os bens materiais são
concessões passageiras que Deus nos permite, a fim de que os administremos em
favor do próximo.
Daí concluirmos que a
riqueza não é condenável em si mesma. O emprego que lhe damos é que a torna
empecilho ou um poderoso auxílio para o nosso progresso espiritual.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da
caridade não há salvação – itens de 8 a 10 – Fora da Igreja não há salvação;
Fora da verdade não há salvação. – Instruções dos Espíritos – Fora da caridade
não há salvação.
8
– Enquanto a máxima: Fora da caridade não
há salvação apoia-se num princípio universal, abrindo a todos os filhos de Deus
o acesso à felicidade suprema, o dogma: Fora da Igreja não há salvação
apoia-se, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a
todas as religiões, mas na fé especial em dogmas particulares. É, portanto,
exclusivista e absoluto. Em vez de unir os filhos de Deus, divide-os. Em vez de
incitá-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar a animosidade entre
os sectários dos diversos cultos, que se consideram reciprocamente malditos na
eternidade, sejam embora parentes ou amigos neste mundo; e desconhecendo a
grande lei de igualdade perante o túmulo, separa-os também no campo-santo. A
máxima: Fora da caridade não há salvação é a consequência do princípio de
igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-se esta máxima por
regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for a sua maneira de adorar o
Criador, eles se dão às mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma: Fora da
Igreja não há salvação, anatematizam-se e perseguem-se mutuamente, vivendo como
inimigos: o pai não ora mais pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo
amigo, desde que se julgam reciprocamente condenados, sem remissão. Esse dogma
é, portanto, essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei
evangélica.
Estas primeiras
considerações do codificador, estão voltadas para nos chamar a atenção a cerca
da intransigente obstinação desse axioma: Fora da Igreja não há salvação. Essa
sentença moral se apoia, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da
alma, mas numa fé especial, em dogmas particulares; exclusivos e absolutos. É
também elitista, porque na verdade, o ser ao achar que fora da igreja dele não
há salvação, está se julgando um dos detentores da verdade.
Certamente,
o Mestre não queria que o homem se dividisse em classes religiosas, disputando
palmo a palmo quem detém maior conhecimento da verdade. Sem dúvida nenhuma, o
sacrifício que fez, habitando um mundo de tanto atraso moral, não seria para
fundar religião, ou religiões, atendendo a vontades menores. O Verbo de Deus,
como O chamava o apóstolo João, veio trazer algo muito maior para a humanidade.
Pretendia que o homem se libertasse do jugo da ignorância e deixasse de ser
escravo dos interesses materiais e de suas imperfeições. Até hoje, porém, sua
mensagem permanece adormecida.
Torna-se
imperioso perguntar se a vinda de Jesus ao nosso planeta fez a mudança que Ele
pretendia, para a vida dos homens. Analisando a situação dos que se dizem
cristãos, a resposta é não.
No estágio
evolutivo em que nós nos encontramos a verdade é algo fracionado. Estamos muito
comprometidos com o nosso comportamento moral. E a própria questão da
intelectualidade, nós observamos, é ainda muito rudimentar, porque, na
realidade, ainda não descobrimos uma série de coisas. Estamos muito distantes
da perfeição, e essa distância que dela nos separam são degraus que nós devemos
subir, e que representam todas as frações da verdade.
Vamos
procurar explicar a comparação que Kardec faz entre os dois lemas:
A parábola do Bom Samaritano retrata
bem a salvação pela caridade. Nela, como já estudamos, Jesus ensina ao doutor
da lei quem é o nosso próximo. E o próximo do samaritano foi o moribundo,
independentemente de ser ou não da mesma crença, da mesma raça ou da mesma cor.
O que ficou ressaltado no ato foi a prática da caridade.
Jesus nunca disse que esta ou aquela
religião, esta ou aquela doutrina ou esta ou aquela seita deveria ser seguida.
O dogma fora da Igreja não há salvação pressupõe uma adesão a uma religião,
formada por um grupo que se julga melhor que os outros semelhantes, como se
Deus desse preferência a esse grupo. Enquanto, a máxima fora da caridade não há
salvação, pode ser praticada por qualquer criatura.
Porém, nós encontramos criaturas
religiosas acreditando, de fato, que fora da Igreja não há salvação, valorizando
esse lema, como sendo a máxima de uma Igreja especial Esse lema, além de ser pretensioso, apresenta um perfil
preconceituoso, porque existem várias doutrinas religiosas e, circunscrever a
verdade eterna às suas propostas religiosas, é condenar todos os outros
grupos. E o maior exemplo disto, são as guerras chamadas santas, que existem
até hoje, feitas, logicamente, por seguidores que não submetem a sua fé ao
crivo da lógica e da razão.
Não faz
muito tempo, a declaração “Dominus Jesus “, ou seja, “Senhor Jesus”, do cardeal
Joseph Ratzinger, depois Bento XVI, na ocasião, prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, divulgada após a aprovação do Papa, sobre a unicidade (qualidade do é único) e a
universalidade (qualidade do que é universal)
do poder de salvação de Jesus Cristo e da Igreja Católica, causou
perplexidade, no seio das outras religiões, pelo seu teor. Em parte do
documento encontramos: “Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem
receber a Graça divina, também é verdade que, objetivamente, se encontram numa
situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm
a plenitude dos meios de salvação”.
Esse
documento afetou o movimento ecumênico que seria feito e os diálogos
inter-religiosos onde se discutiria que a salvação poderia ser obtida fora do
catolicismo.
Num artigo
no jornal O Globo, o então cardeal do Rio de Janeiro, D. Eugênio Sales, sobre
as verdades salvíficas que conduzem a sociedade e o indivíduo à verdadeira
felicidade, diz que a Igreja Católica assume a tarefa de ensinar sua doutrina,
num mandato expresso do Senhor Jesus. Ora,
por esse conceito egoístico, fica configurado um Deus feito à imagem e a
semelhança do ser, passível de preferências e de vingança.
Para dar
suporte à ideia de que Deus não tem preferências, vamos recorrer à Jesus, na
passagem em que diz que nenhuma das ovelhas do Seu rebanho se perderia. O
Cristo acusado de Ter parte com o diabo foi, por isto, morto pela ignorância
dos que O julgaram como uma ameaça aos seus mesquinhos interesses.
9
– Fora da verdade não há salvação seria
equivalente a Fora da Igreja não há salvação, e também exclusivista, porque não
existe uma única seita que não pretende ter o privilégio da verdade. Qual o
homem que pode jactar-se de possuí-la integralmente, quando a área do
conhecimento aumenta sem cessar, e cada dia que passa as ideias são
retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da mais elevada
categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não lhe é dado
saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu
adiantamento. Se Deus houvesse feito, da posse da verdade absoluta, a condição
expressa da felicidade futura, isso equivaleria a um decreto de proscrição
geral, enquanto que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, pode ser
praticada por todos. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a
salvação, independente da forma de crença, contanto que a lei de Deus seja
observada, não estabelece: Fora do Espiritismo não há salvação, e como não
pretende ensinar toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há
salvação, máxima que dividiria em vez de unir, e que perpetuaria a animosidade.
Quando perguntaram a
Jesus o que era a verdade, Ele preferiu não responder, porque a Humanidade
terrena ainda não tinha condições de conhecê-la, como ainda hoje não tem. Não
resta a menor dúvida, ela ainda está bem distante dessa possibilidade. As
verdades de ontem hoje são questionadas, graças ao avanço dos conhecimentos;
assim sendo, não temos a garantia de que as verdades de hoje sejam mantidas
amanhã.
Pelo
conhecimento já adquirido no nosso estudo, sabemos que a verdade absoluta não
pode ser conhecida no plano terreno atualmente, devido ao atraso em que este
plano ainda se encontra. Daí concluirmos que ninguém tem possibilidades de
salvação, se ela depender do conhecimento da verdade.
Então, nós
podemos deduzir da sentença moral “Fora da verdade não há salvação” que, além
de ser um equívoco é um chamariz, uma aliciação. Engana às criaturas,
dando-lhes uma falsa impressão de que são especiais. Isso contraria as Leis
divinas. Pois, a criatura se julgando especial vai ter um comportamento
anti-fraterno, em relação aos seus companheiros de jornada. Ela se sentirá
superior àqueles que não estejam dentro daquele raio de proteção em que ela
está. Portanto, aqueles que não pensarem da mesma forma que essa criatura, ficarão
excluídos da possibilidade de uma felicidade futura.
Jesus
disse:
“Vosso pai
que está nos céus, faz nascer o seu sol sobre os bons e sobre os maus, e vir
suas chuvas sobre os justos e injustos”. Então, só há um Deus, só há uma única
verdade. Por isto, não pode haver duas leis de Deus, duas religiões de Deus.
A religião
de Deus orienta a criatura, como Paulo de Tarso, para examinar tudo, crescer em
todo o conhecimento. Fazer o estudo crítico do que lhe for apresentado, para
separar o bom do mau. Então, aqui cabe uma pergunta: qual é a verdadeira Igreja de Cristo ? A
dúvida vem desde 1517, quando o monge Martinho Lutero, discordando dos dogmas
da Igreja, escreveu as noventa e cinco teses contra os abusos do catolicismo.
Desse ato, nasceu a chamada Reforma Protestante que preservou, segundo ele, a
Igreja de Cristo de um abandono total. Os frutos dessa Reforma ocorreram a
partir de 1526, com o surgimento da Igreja Luterana. Em 1534, surgiu a Igreja
Episcopal Anglicana, na Inglaterra. Em 1536, surgiu a Igreja Calvinista. Em
1560 foi fundada a Igreja Presbiteriana, na Suíça. Em 1640, surgiram na
Inglaterra grupos separatistas oriundos da Igreja Anglicana. Assim, em 1644,
com a confissão de fé desses grupos surgiu os conhecidos Batistas. Em 1738,
também na Inglaterra, surgiu a Igreja Metodista. Então, pela disputa da
verdade, foram criadas novas religiões, seitas, que de uma forma fanática
lançaram mão da espada, e que, até hoje fazem uso dela, para estabelecer .suas
pretensas verdades. São católicos contra protestantes; árabes contra judeus; o
islamismo contra as outras religiões. Ninguém cede, por se julgarem os reais
detentores da verdade.
Os dogmas,
nada mais são do que verdades criadas pelos homens, e não pela divindade. Daí,
o “Fora da Igreja não há salvação” e o “Fora da verdade não há salvação”
determinam que, aqueles que não concordarem com esses lemas sejam perseguidos,
excomungados e, até brutalizados.
A religião
dos homens persegue, anatematiza, odeia e calunia os que são descrentes dela. A
religião de Deus perdoa, ora, auxilia, serve e ampara seus próprios
perseguidores, detratores e adversários.
10 - Paulo, o
apóstolo, inicia a sua instrução dizendo:
Meus
filhos, na máxima – Fora da caridade não há salvação – estão encerrados os
destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse
estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado
acharão graças diante do Senhor. Essa divisa (lema) é o farol celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto
da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilhará no céu, como
auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração
daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai.
Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si.
Em outras
palavras, ele ensina que a única forma de encontrarmos a felicidade eterna está
em nos tornarmos bons, prestativos, fraternos e úteis à coletividade.
O propósito
da vida na Terra é o aperfeiçoamento do Espírito. Aquele que assim compreende
eleva-se, dignifica-se, e livre dos entraves materiais, sobe às alturas
inacessíveis ao sofrimento, alcançando a felicidade eterna. Os que cumprem e
proclamam o cumprimento da lei de Deus, voam por entre luzes às eternas moradas
dos Espíritos soberanos, onde a harmonia, a verdade e a paz imperam na
plenitude dos seus direitos divinos.
Continua Paulo:
Nada
exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres
do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar
melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um
reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se
transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a investigar o sentido profundo e
as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações.
Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos
responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que
pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma
virtude ativa. Para fazer-se o bem, necessário sempre se torna a ação da
vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a
despreocupação.
Meus
amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do
Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que,
ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos.
Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a
reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma
coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem
embaraço para a seita a que pertençam.
Paulo, o
apóstolo. ( Paris, 1860. )
Quando
somos caridosos, significa que eliminamos o egoísmo e conseguimos pairar acima
de todos os vícios que nos dominam, porque uma pessoa boa já venceu as paixões
mundanas, encontrando aquela condição almejada, que é o estado de
bem-aventurança prometido pelo Cristo. À vista disso, para sermos caridosos
basta querermos, porque essa condição está à altura de qualquer criatura , uma vez que há muitas maneiras de
fazermos a caridade, independentemente de sermos ricos ou inteligentes.
Portanto, todos podem alcançar a salvação, mesmo sem serem religiosos, porque
amando o próximo como a nós mesmos estaremos fazendo aquilo que Jesus nos ensinou
para alcançarmos a salvação ao se referir ao samaritano, dizendo que ele
ganharia o reino dos céus pois, embora herético (
ateu ), socorreu a vítima dos ladrões. Vemos, portanto, que o essencial
é o amor ao próximo e não as convicções religiosas sem a vivência caritativa.
Isso não significa que devemos deixar de ser religiosos; porque a religião é
necessária, tendo em vista que ela nos ensina a discernir o bem do mal,
evitando que pratiquemos coisas que venham a prejudicar o nosso semelhante e
consequentemente a nós mesmos.
Repetindo
Paulo, na máxima “Fora da caridade não há salvação” estão contidos os destinos
dos homens na terra e no céu; na terra, porque sob a proteção desse estandarte
eles viverão em paz; no céu, porque aqueles que a tiverem praticado,
encontrarão as graças diante do Senhor.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1 – Por que
a prática da caridade define o destino dos homens, tanto na terra quanto no céu?
R – Porque
aqueles que praticam, ainda na terra encontram a paz, e na vida espiritual
encontram graça diante de Deus.
2 – Não
fazer o mal é uma forma de praticar a caridade?
R – Na
prática da caridade, o que conta não é o mal que deixamos de fazer mas o bem
que conseguimos realizar.
“Uma
virtude passiva não basta; é necessário uma virtude ativa”.
3 – A
salvação do espírito depende de alguma religião em particular?
R – Não. As
religiões têm a função de esclarecer as pessoas na prática do bem que as conduz
a Deus, mas não lhes garante a salvação do espírito.
Daí nós
concluirmos que:
O
Cristianismo bem compreendido tem valores e conceitos bem distintos desses que
aí estão expressos no comportamento da maioria das pessoas. Fala de uma nova
ordem de coisas, de um novo cidadão, de um novo padrão de conduta.
Religião
não é fim; é meio. Não salva; esclarece. Apenas a ação permanente, no campo da
caridade, nos conduz a Deus.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da
caridade não há salvação.
Necessidade da
caridade, segundo Paulo – Itens 6 e 7.
6
– Se eu falar as línguas dos homens e dos
anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine.
E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se
pode saber; e se tiver toda a fé, até a ponto de transportar montanhas, e não
tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o
sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia
não tiver caridade, nada disto me aproveita. A caridade é paciente, é benigna;
a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se
ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca jamais há de
acabar, ou deixem de ter lugar às profecias, ou cessem as línguas, ou seja
abolida a ciência.
Agora, pois, permanecem
a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a
caridade. (Paulo, I Coríntios, XIII: 1-7 e 13).
7
– São Paulo compreendeu tão profundamente
esta verdade, que diz: “Se eu falar as línguas dos anjos; se tiver o dom de
profecia, e penetrar todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto
de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. Entre essas três
virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade”.
Coloca, assim, sem equívoco, a caridade acima da própria fé. Porque a caridade
está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre; e porque
independe de toda a crença particular.
E faz mais: define a
verdadeira caridade; mostra-a, não somente na beneficência, mas no conjunto de
todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o
próximo.
Boa parte
dos capítulos desse evangelho trata, direta ou indiretamente, da caridade. Mas
são, sobretudo, os capítulos XIII e XV os que exploram mais a dimensão ativa do
amor. Destacam o desinteresse que deve caracterizar todas as ações caritativas.
Da
explicação de Kardec, entendemos que ninguém expôs de forma tão sublime acerca
da essência da caridade quanto Paulo.
Paulo,
nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo muito mais
profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos carentes. Embora
isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade desta virtude.
“Ainda que
eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria
como o metal que soa ou como o sino que retine”. Isto quer dizer que: de nada
adiante ser belo na palavra e pobre de ações. O exemplo de mudança íntima, de
luta constante contra as imperfeições, deve fazer parte da vida dos que se
dedicam a divulgar a mensagem cristã. Conheceremos se a árvore é boa pelos
frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que ecoa, ou
seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e
inteligências a que é direcionada.
“E ainda
que tivesse o Dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência
e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse caridade, nada seria”. Isto quer dizer que: Ter conhecimento
espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que se diz
agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e os
revelado aos simples, referindo-se ao sentimento e à fé nos ensinamentos
espirituais. A mediunidade e o entendimento das leis do universo dão ao ser
maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso devem seus detentores
modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também
não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta, segundo o apóstolo Tiago,
em sua Epístola.
Com a
afirmativa de que por mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças
nada seremos se não tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos
em geral. Muitos de nós acreditamos que a crença inabalável é porta aberta para
ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando aquilo em que cremos
através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé ?
“E ainda
que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me
aproveitaria”. Isto quer dizer que: dar esmolas e acabar com a necessidade
material do próximo é muito importante. Mas é preciso alertar que tudo depende
da intenção. Se fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos
outros, ou então para aliviarmos nossa consciência, estaremos nos enganando.
Além disso, corremos o risco de ajudar ao necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo
tempo, com um ar de superioridade que o ferirá. A doação desinteressada deve
brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e
tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste
trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos autoflagelarmos, com o intuito de
mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais importante que
castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências,
verdadeiras mães de nossas desgraças.
“A caridade
é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade;
não se ensoberbece (não é arrogante)”. Aqui o apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a
resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a
serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com
todos, independente do momento, pois a vingança e o ódio corroem o sentimento e
turbam os sentidos racionais, enquanto o perdão enobrece o ser. Diz ainda que a
prudência deve fazer parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz consequências
inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
“Não se
porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita
mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade”. Isto quer dizer que:
Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da
paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. Devemos refletir sobre de
que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém estiver sofrendo com isso ? Com
certeza, essa dor do próximo será revertida em desespero, rancor, violência,
que mais cedo ou mais tarde, acabará voltando-se contra nós mesmos, nossos
filhos ou amigos.
Irritar-se
é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e a sensatez fazem
parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir.
“Tudo
sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Isto quer dizer que: Tudo tem sua
hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua visão além
da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e
vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de
lado o desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado pela caridade.
“Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a
caridade”. Isto quer dizer que: a fé e a esperança, indispensáveis para uma
existência sensata e confiante, são assessoras da caridade, que será o sentimento
principal a ser buscado pelo homem de bem, libertando-o de seu egoísmo e
encaminhando-o para o Reino de Deus.
Encerrando
o seu comentário, Kardec mostra que o que interessa é a prática da caridade,
seja ela feita em que religião for. Jesus nunca disse que esta ou aquela
doutrina deveria ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a
Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo. Então, “Fora da caridade não há
salvação”. Este é o lema do Espiritismo.
Vamos
destacar algumas questões para nossa reflexão:
1 – O que
nos ensina Paulo, nessa 1ª Epístola aos Corintios?
R – Ele nos
ensina que a virtude por excelência é a caridade; e que nada nos vale possuir
grandes conhecimentos, ter imensa fé ou distribuir riqueza em favor dos
necessitados, se não tivermos caridade.
2 – É
possível se praticar a caridade e fazer, ao mesmo tempo, o mal aos outros?
R – Não. A
verdadeira caridade se faz acompanhar dos mais nobres e sublimes sentimentos,
repelindo instintivamente os sentimentos inferiores.
3 – Por que
Paulo considera a caridade mais excelente que a fé e a esperança?
R – ”Porque
a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico,
como dos pobres e independente de qualquer crença particular”.
Daí nós
concluirmos que: a caridade está ao alcance de todas as pessoas; que a caridade
é uma das mais altas conquistas que o homem poderá atingir. Mais nobre do que a
generosidade e a filantropia é o coroamento de ambas, quando a alma valorosa,
em trabalho incessante, consegue atingi-la.
Para
encerrar, devemos nos lembrar que os ensinamentos cristãos são exatamente para
ajudar-nos a superar as nossas limitações. E sempre que percebermo-nos fora dos
atributos que constituem a caridade, devemos recomeçar novamente o caminho,
para domar as nossas más inclinações.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da
caridade não há salvação.
O Mandamento maior –
Itens 4 e 5.
4. Mas os fariseus, quando viram que Jesus
tinha feito calar a boca aos saduceus, se ajuntaram em conselho. E um deles, que
era doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o maior mandamento
da lei? Jesus lhes disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda
a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro
mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XII:
34-40)
Convém sempre lembrar,
que o Evangelho de Jesus é o grande manual da vida. Todos os seus ensinamentos
são baseados, principalmente, na Lei de amor e caridade.
Nesta passagem
evangélica, Jesus afirmou que estas eram as duas únicas e iguais Leis
existentes no Universo, e que todos os profetas teriam que confirmá-las. Jesus aboliu
as leis humanas ditadas por Moisés. Ainda fez mais. Resumiu com clareza os Dez
Mandamentos contidos no Velho Testamento, em apenas dois, para facilitar o
aprendizado e a prática das leis naturais. Estas duas Leis englobam todos os
procedimentos atuais e futuros do homem perante Deus e o próximo.
Quando perguntado a
respeito, Jesus simplesmente lembrou o que já estava na Lei, o amor a Deus e o
amor ao próximo. O que acrescenta é a afirmação de que o segundo mandamento é
semelhante ao primeiro.
A essência da prédica de Jesus coloca o exercício do bem como condição única para
as criaturas galgarem os degraus da evolução espiritual. Traz aos homens de boa
vontade, ou seja, aqueles que desejam mudar o rumo de suas vidas, o caminho da
paz e da felicidade verdadeiras, alicerçado no amor ao próximo, mudando
radicalmente o ponto de vista em relação à importância que o homem dá a si
mesmo. Afirmar que crê em Deus não basta. É necessário compreender Deus e sua
proposta. E compreender o Pai, significa estudar e vivenciar a Lei que foi
resumida por Jesus aos fariseus.
5. Caridade e humildade, esta é a única via de salvação; egoísmo e orgulho,
esta é a via da perdição. Esse princípio é formulado em termos precisos nestas
palavras: “Amarás a Deus de toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo;
estes dois pensamentos contêm toda a lei e os profetas”. E para que não
houvesse equívoco na interpretação do amor de Deus e do próximo, temos ainda:
“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás a teu próximo como a ti mesmo”,
significando que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo,
nem amar ao próximo sem amar a Deus, porque tudo quanto se faz contra o
próximo, é contra Deus que se faz. Não se podendo amar a Deus sem praticar a
caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se encontram resumidos
nesta máxima: Fora da caridade não
há salvação.
.Kardec comenta essa
importante frase do Mestre, asseverando, em síntese,
que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o
próximo sem amar a Deus. Há, pois, essencialmente um só mandamento, o
mandamento maior.
Os
versículos 20 e 21 do capítulo IV da primeira epístola de João nos diz: “Se
alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não
ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E dele ( Deus
) temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão”.
Por que
fizemos essa referência à lei de amor num capítulo sobre a caridade? Vale
lembrar que, numa outra ocasião em que Jesus foi questionado sobre o assunto da
caridade, contida no mandamento maior, apresentou o mandamento numa versão
diferente: “Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam”,
acrescentando: “Pois é nisso que consistem a lei e os profetas”. Nessa versão
está explícito o caráter ativo do mandamento, ou seja, a caridade. Essa
passagem nós já estudamos no capítulo XI, “Amar o próximo como a si mesmo”.
Entre os
demais ensinos e apelos do Mestre, que nos sugerem o relacionamento amoroso
para com o próximo, está esta outra máxima: “A cada um será dado segundo suas
obras”, o que significa dizer que o avanço espiritual está condicionado à nossa
maior ou menor dedicação à prática do bem.
Quando Kardec cunhou a
frase, “fora da caridade não há salvação”, ele procurava demonstrar que viver
em plenitude é dar uma utilidade fraterna, solidária
à vida, e não alcançar uma qualidade de vida superior, humilhando o próximo ou
sendo-lhe indiferente. Kardec resume o ensino do Cristo em duas vertentes
básicas: humildade e caridade.
Desse
ensinamento, nós ressaltamos três deveres indispensáveis à criatura humana:
para com Deus; para consigo mesmo; para com o próximo. Nisto resumiu Jesus a
Lei e os Profetas.
Sendo Deus
o autor de nossa existência, o nosso verdadeiro Pai, devemos dedicar,
primeiramente a Ele, todos os nossos haveres, a nossa própria vida.
Os deveres
do homem estão em relação com o seu grau de adiantamento, com as suas aptidões
físicas, intelectuais e psíquicas. Ninguém pode dar senão o que tem, mas é fora
de dúvida que devemos dar a Deus tudo o que temos. É do cumprimento desses
deveres que começa a felicidade.
O próximo é
aquele que se aproxima de nós, seja em corpo, seja em espírito. São os que se
valem de nós para suprir a sua necessidade; necessidade de ordem material ou de
ordem espiritual, porque os nossos deveres para com o próximo, para com nós
mesmos e para com Deus são de ordem material e espiritual.
O homem que
cumpre o seu dever, a nada mais fica obrigado. Quando o homem faz o que pode,
Deus faz por ele o que ele por si mesmo não pode fazer.
Então, feliz daquele que
faz tudo o que pode e deve fazer, pois esse é o bom emprego do talento para
aquisição de outros tantos talentos.
Vamos
destacar algumas questões para reflexão:
1 – O que
se entende por “Amar a Deus de todo o coração, alma e espírito”?
R – Que ama
a Deus dessa maneira, aquele que O reconhece como Pai misericordioso; que
compreende a vida como dádiva do seu amor em benefício de nosso progresso; e
que faz da própria vida uma caminhada em sua direção, pela observância de suas
leis.
2 – O que
se entende por “Amar o próximo como a nós mesmos “?
R – Que
devemos dispensar ao nosso irmão o mesmo tratamento que gostaríamos de receber,
caso estivéssemos em seu lugar; desejar-lhe tudo o que almejamos para nós,
regozijarmo-nos com suas alegrias e o consolarmos em suas dores e aflições.
3 – Que
virtudes devemos cultivar, para conseguirmos observar estes ensinamentos de
Jesus?
R – Devemos
cultivar a caridade e a humildade, pois a primeira nos ensina o esquecimento de
nós mesmos em favor do nosso próximo; e a segunda nos liberta das vaidades
humanas, aproximando-nos de todos na condição de irmãos.
Pela
prática da caridade combatemos o egoísmo; pelo exercício da humildade
libertamo-nos do orgulho.
Daí nós
concluirmos que: Ama a Deus sobre todas as coisas aquele que O coloca como o
centro de sua vida, observa seus mandamentos e em tudo percebe manifestações de
seu amor. Ama o próximo como a si mesmo aquele que faz para os outros todo o
bem que para si próprio desejaria. O amor ao próximo é a mais autêntica
manifestação de amor a Deus.
Então, que possamos
refletir em nossos atos; e se estamos em dúvida sobre qual forma agir perante
ao nosso próximo, lembremos as duas Leis trazidas por Jesus, que é amar à Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Não há
outro mandamento senão este.
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ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XV – Fora da
caridade não há salvação.
O de que precisa o
Espírito para ser salvo – Parábola do bom samaritano. Itens de 1 a 3.
1.Mas quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e
todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade. E
serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como
o pastor que aparta dos cabritos as ovelhas; e assim porá as ovelhas à direita,
e os cabritos à esquerda; então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita;
vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o
princípio do mundo. Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e
destes-me de beber; precisava de alojamento e recolhestes-me; estava nu e
cobristes-me; estava enfermo e visitastes-me; estava no cárcere e viestes
ver-me. Então lhe
responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te
demos de comer; ou sequioso e te demos de beber? E quando te vimos sem
alojamento e te recolhemos; ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou
no cárcere e te fomos ver? E respondendo o rei, lhes dirá: Na verdade vos digo,
que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a
mim é que o fizestes. Então dirá também aos que hão de estar à esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está aparelhado para o
diabo e para os seus anjos; Porque tive fome e não me destes de comer; tive
sede e não me destes de beber. Precisava de alojamento e não me recolhestes;
estava nu e não me cobristes; estava enfermo no cárcere e não me visitastes.
Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos
faminto, ou sequioso, ou sem alojamento, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere, e
deixamos de te assistir? Então lhes responderá ele, dizendo: Na verdade, vos
digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim
o deixastes de fazer. E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a
vida eterna. (Mateus, XXV: 31-46).
O Evangelho de Jesus é
o grande manual da vida, porque estabelece lições que representam a orientação
necessária para a nossa evolução espiritual. Nessa linguagem alegórica, O
Mestre está classificando todos aqueles que fazem ou não fazem caridade. E o
que é caridade? Nós já aprendemos que a caridade, segundo explicação dos Espíritos
superiores, é indulgência (perdão) e benevolência (boa vontade) para com todos
os irmãos do caminho. Essa citação do evangelho de Mateus nos fala justamente
de benevolência, e nos orienta quanto a algumas situações que encontramos no
nosso dia a dia. Jesus ao dizer, “...separará uns dos outros, como o pastor
separa dos bodes das ovelhas, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à
sua esquerda”, está nos dando um exemplo de como será feita a separação no
juízo final, entre as criaturas boas e as criaturas más. Quando Jesus destaca
que o Rei teve fome e foi alimentado, isto quer dizer que, devemos dar
assistência uns aos outros. Portanto, quando vermos alguém com fome é nosso
dever, dentro das nossas possibilidades, dar de comer a esse alguém; quando
encontrarmos alguém com sede, deveremos dar de beber; com relação ao sem teto,
se possível, vamos colaborar para que esse irmão fique abrigado; para os sem
roupa, com certeza, teremos que vesti-los. Ele ainda nos fala a respeito do
instante em que o Rei esteve doente, e do momento em que esteve no cárcere,
sendo visitado. Isto significa que todas as vezes que nós fizermos um bem, que
dermos atenção a um irmão carente, que formos compreensíveis com a ingratidão
de um companheiro de jornada, é como se
o Mestre estivesse ali representado, diante de nós. De certa forma, Jesus está
nos testando, através do nosso irmão necessitado. Porque, muitas vezes, nós
estamos dizendo, Senhor, Senhor; muitas vezes, nós estamos expressando o nosso
amor por Jesus, mas no momento em que um nosso semelhante necessitado se
aproxima, nós, tranquilamente o ignoramos. Nós adoramos o Pai e, em seguida,
desprezamos o Filho. Notamos que na parábola há um roteiro a ser seguido. E
esse roteiro nos alerta para a prática de determinadas ações no nosso
cotidiano. Não nos adianta ter somente a teoria. Pois, que, a prova a que
seremos submetidos pela Providência Divina, para a promoção desejada, ou seja,
para conquistarmos a eterna felicidade, consta essencialmente de atividades
práticas. Não existem perguntas nesse exame. E só serão promovidos aqueles que
apresentarem maior bagagem de amor em seus corações e uma história mais longa
de indulgência, benevolência e de beneficência em suas ações. Ao negarmos ao
nosso irmão aflito o nosso apoio, a nossa atenção, estaremos assumindo mais um
compromisso de resgate de dívidas, com o
nosso futuro. Naquele momento tivemos uma grande oportunidade de demonstrarmos
a nós mesmos, que entendemos e aceitamos as palavras de Jesus, porém a
perdemos. E, com certeza, seremos cobrados por isso. O significado da caridade
que encontramos nessa parábola vai mais além do que imaginamos. Implica em
estarmos no nosso dia a dia observando todas as oportunidades de sermos úteis,
a aquele irmão de jornada, que está ao nosso lado. Daí estarmos atentos, pois
existem os infortúnios ocultos.
2. E eis que se levantou um doutor da lei, e
lhe disse, para o tentar: Mestre, que hei de eu fazer para entrar na posse da
vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como lês
tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a sua alma, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o
teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse:
Respondeste bem; faze isso, e viverás. Mas ele, querendo justificar-se a si
mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus, prosseguindo no mesmo
discurso, disse: Um homem baixava de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos dos
ladrões, que logo o despojaram do que levava; e depois de o terem maltratado
com muitas feridas, se retiraram, deixando-o meio morto. Aconteceu pois que
passava pelo mesmo caminho um sacerdote; e quando o viu, passou de largo. E
assim mesmo um levita, chegando perto daquele lugar, e vendo-o, passou também
de largo. Mas um samaritano, que ia a seu caminho, chegou perto dele, e quando
o viu, se moveu à compaixão: E chegando-se atou as feridas, lançando nelas
azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, o levou a uma estalagem, e
teve cuidado dele. E ao outro dia tirou dois denários, e deu-os ao estalajadeiro,
e lhe disse: Tem-me cuidado dele; e quanto gastares demais, eu to satisfarei
quando voltar. Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu
nas mãos dos ladrões? Respondeu logo o doutor: aquele que usou com o tal de
misericórdia. Então lhe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo. (Lucas, X:
25-37).
Se nós agirmos, como
agiu o anônimo bom samaritano, que, sem questionar ou emitir julgamentos acerca
do ferido caído à margem da estrada, arregaçou as mangas e imediatamente
trouxe-o de volta à vida, estaremos praticando a caridade verdadeira. Assim,
fica o exemplo para nossa reflexão. Quantos caídos à margem do caminho temos
socorridos? Estamos vivendo na pré-história de um mundo de regeneração. O que
estamos efetivamente fazendo para que este momento não se alongue em demasia? Vamos
escolher o caminho das pedras e cascalho, ferindo-nos, caindo e tornando-nos a
ferir, acumulando pontos de dor e sofrimento? Ou vamos seguir essas propostas
de Jesus, entendendo que fora da caridade não há salvação? Belo ensinamento de
Jesus; o samaritano, elevado à categoria de irmão, estende as mãos, os braços,
a dedicação, o respeito, a misericórdia, e despindo-se das construções de
fachada, torna-se-lhe um igual, compactua-lhe as angústias, irmana-se-lhe no
martírio, e salvando o outro salva-se a si mesmo, diante de seus próprios olhos
e da Divina Lei.
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade
e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho.
Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da
felicidade eterna. Bem-aventurados, diz ele, os pobres de espírito, quer dizer:
os humildes, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que têm
coração puro; bem-aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os
misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros os
que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas,
se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação: julgai-vos a vós mesmos
antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de
recomendar, e de que ele
mesmo dá o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele
fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos
explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que Jesus apresenta, do juízo final, como em
muitas outras coisas, temos de separar o que pertence à figura e à alegoria. A
homens como aos que falava, ainda incapazes de compreender as coisas puramente
espirituais, devia apresentar imagens materiais, surpreendentes e capazes de
impressionar. Para que fossem melhor aceitas, não podia mesmo afastar-se muito
das idéias em voga, no tocante à forma, reservando sempre para o futuro a
verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos que ainda não podia
explicar claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há
uma ideia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade
reservada ao mau.
Nesse julgamento supremo, quais são os considerandos da
sentença? Sobre o que baseia a inquirição? Pergunta o juiz se foram atendidas
estas ou aquelas formalidades, observadas mais ou menos estas ou aquelas
práticas exteriores? Não, ele só pergunta por uma coisa: a prática da caridade.
E se pronuncia dizendo: “Passai à direita, vós que socorrestes aos vossos irmãos; passai à esquerda , vós
que fostes duros para com eles”. Indaga pela ortodoxia da fé? Faz distinção
entre o que crê de uma maneira, e o que crê de outra? Não, pois Jesus coloca o samaritano,
considerado herético, mas que tem amor ao próximo, sobre o ortodoxo a quem
falta caridade. Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da
salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser preenchidas, ele as
mencionaria. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é
porque ele encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a
benevolência, a justiça, etc.; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e
do egoísmo.
Diz o codificador que
toda moral de Jesus se resume na caridade exercitada e na humildade assumida,
como regras-base da convivência pacífica, contrárias ao egoísmo e ao orgulho,
instrumentos de conflito nas relações humanas. O interessante, é que quase
sempre, nós encontramos dentro dos ensinamentos de Jesus a palavra egoísmo. E,
sempre, a necessidade de combatê-lo, para destruí-lo dentro de nossos corações.
A caridade e a humildade conduzem o homem à eterna felicidade, ou seja,
proporcionam a nossa libertação espiritual, que é a desobrigação da sequência
reencarnatória, que numa linguagem dogmática é chamada de salvação.
Para exemplificar o
obstáculo que é o egoísmo, em nossas vidas, dificultando a nossa felicidade,
vamos ler o apólogo “O fio da caridade”.
Conta-se que um homem,
pecador, egoísta, um dia precipitou-se num abismo e foi ter ao fundo de um
fosso escuro e profundo. Assustado, mexeu-se, procurou saída, não encontrou.
Tentou subir pelas encostas, mas as paredes, muito lodosas, não davam firmeza. Bradava
por socorro e tinha por resposta tão só o eco de suas palavras. Desesperado,
lembrou-se de Deus e, pela primeira vez na vida, dobrou os joelhos em terra, em
prece fervorosa, deprecando a misericórdia do Senhor...
Abriu os olhos, banhado
em lágrimas, e parecia estar tudo do mesmo jeito. Quando já ia descoroçoando,
conseguiu divisar um tênue fio de aranha, que descia do alto, até onde ele
estava. Mirando-o, uma voz lhe disse no adito do ser: - Por que não se agarra
nesse fio, quem sabe por ele poderá se salvar? Espantado e duvidoso, não tendo,
todavia, opção, nosso personagem resolve tentar. Segurou o fio e, de fato, foi
subindo por ele, subindo, subindo devagarinho.
Quando já estava quase
alcançando a borda do fosso, olhou para baixo e viu que não estava sozinho:
dois outros perdidos do abismo subiam também, agarrados no mesmo fio. O homem
deu-se pressa em enxotá-los com o pé, bradando: - Soltem isso aí, seus
atrevidos, não veem que não dá para mais de um? Os outros dois caíram, mas logo
em seguida o fio se rompeu e ele caiu também. Novamente no fundo do fosso e sem
recursos, a voz se fez ouvir de novo.
- Se Você tivesse
deixado os outros dois subirem também, teriam todos se salvado, mas o seu
egoísmo pesou muito e o fio não resistiu...
O apólogo expressa bem
o que é a caridade em nossa vida. Primeiramente, a sua delicada simbologia nos
ensina que as coisas de Deus são mesmo assim: os mais frágeis recursos (teia de
aranha), com Sua Graça, se tornam os mais poderosos. Em seguida, vemos que a
lei da caridade segue, muitas vezes, uma lógica oposta à nossa e a própria lei
física da matéria: quanto mais peso (da ajuda que se presta a outrem), tanto
mais leve (dos cuidados só consigo próprio), menor capacidade.
Assim acontece com as
pessoas que, embora pobres de recursos materiais ou intelectuais, enfermas ou
aparentemente incapazes, se animadas do sentimento do Bem, exercendo a
solidariedade humana, vão conseguindo superar os maiores obstáculos e avançam,
conduzindo outros no caminho do socorro e do aprendizado. Mas aqueles que,
preocupados, acreditam não dispor de meios para ajudar a ninguém, não encontram
também solução nem para os próprios males.
(Lenda Oriental)
Digressão.
Kardec, ao responder a
um grupo de espíritas sobre a necessidade de os adeptos do Espiritismo terem
uma senha para se reconhecerem ao se encontrarem, diz: “Vós tendes uma senha
que é compreendida de um ao outro extremo do mundo: é a caridade “. “A
verdadeira caridade não pode ser falsificada. Nela reconhecereis sempre um
irmão, ainda que ele não se diga espírita, e deveis estender-lhe a mão”.
Quando Kardec diz “vós
tendes”, trata-se de uma afirmação, uma certeza, portanto inerente ao Ser, que
permeia as suas diversas existências na matéria, donde se conclui que a
caridade é resultante de um desenvolvimento, e não de uma aquisição, como,
aliás, todas as virtudes e seus valores correspondentes. Em toda codificação
encontramos afirmações análogas a esta, revelando-nos que somos portadores de
virtudes em estado de latência, apenas aguardando o momento adequado para
consolidar-se em definitivo.
A salvação, ou
auto-redenção, desta forma, dá-se de forma natural, espontânea, sem maiores
esforços senão os de ajustar em nós mesmos a confiança plena nos poderes
superiores que dirigem a nossa existência. A salvação, tal como a caridade, não
vem de fora para dentro, mas define-se em movimento perene, em cascata, do Ser
em ascensão, para a vida em plenitude.
O codificador cita
algumas bem-aventuranças, que dão uma receita de vida para todos aqueles que
buscam a evolução espiritual, caminho seguro para se chegar à eterna
felicidade.
É importante destacar
que, como o mundo atual é a negação de todas as promessas contidas nessas bem-aventuranças,
nós temos que situá-las num futuro ainda distante, com a redenção do Ser.
As Leis do Criador,
imutáveis desde o passado sem início até o futuro sem fim, prescrevem o clima
do auxílio mútuo. Jesus, embora respeitasse as convicções dos seus
contemporâneos, esmerou-se em ensinar-nos a união com Deus, através do socorro
aos necessitados, do amparo aos enfermos de todas as procedências, para que
possamos evoluir continuamente, em espírito e verdade.
Nesse Evangelho que
estamos estudando encontramos uma afirmação: “muitos serão os chamados, mas
poucos os escolhidos”. Isto quer dizer que todos nós somos constantemente
submetidos à influência do amor divino, que permite a indução de pensamentos
constantes na direção do bem. Mas, na realidade, são poucas as idéias
trabalhadas no bem que conseguimos realizar, atendendo o chamamento para o trabalho
edificante. Daí, de forma alegórica, para que, ao longo do tempo, cada um
pudesse tirar delas a compreensão necessária, o Mestre Ter traçado o que
acontecerá quando prestarmos o nosso vestibular celeste: a felicidade reservada
aos bons e a infelicidade destinada aos maus.
E no julgamento, dois
grandes fatores diretamente ligados às Leis de Deus serão observados: a
humildade e a caridade.
“A cada um será dado
conforme sua obra”. O sentido da evolução moral está ligado à compreensão e a
vivência desses desígnios. A chama da vela tanto pode estar aquecendo e
iluminando, quanto incendiando e destruindo.
Portanto, somos
lavradores de nossos destinos. Cabendo-nos colher conforme tivermos semeado.
Vamos destacar algumas
questões para nossa reflexão:
1 – Que sentido podemos
atribuir ao reino desse Rei, usado por Jesus nessa passagem?
R - Evidentemente, não
se trata de um reino material, mas do reino espiritual, onde os justos
encontrarão a suprema alegria, a paz, e gozarão da presença do amor infinito:
Deus.
2 – Como Jesus
considera a boa ação, praticada em favor dos necessitados?
R – Como se fora
praticada em seu próprio favor, em seu próprio benefício.
3 – Por que socorrendo
o próximo, estamos agradando a Deus?
R – Porque o caminho
que conduz a Deus passa, obrigatoriamente, pelo nosso próximo, a quem devemos
dar auxílio e amparo.
O preceito de Jesus
“amai-vos uns aos outros”, é rota segura que nos levará, sem desvios, ao reino
de Deus.
4 – Por que, ao contar
a parábola, Jesus escolheu o samaritano, e não o sacerdote ou o levita, para
prestar auxílio ao necessitado?
R – A fim de deixar bem
claro que praticar a caridade não é prerrogativa das pessoas religiosas, mas
procedimento comum às almas nobres e compassivas, ainda que, às nossas vistas,
pareçam distantes de Deus, por não possuírem religião.
Jesus coloca o
samaritano, considerado herético (homem sem fé), mas que pratica o amor ao
próximo, acima do ortodoxo (observador da doutrina), mas que não pratica a
caridade.
5 – Que lição de vida
Jesus nos oferece, com a parábola do bom samaritano?
R – Ele nos exorta a
olhar em volta e a descobrir as necessidades, aparentes e secretas, de nossos
irmãos; Ele nos estimula a amenizar-lhes as dores, a consolar-lhes as aflições,
enfim, a sermos seus “bons samaritanos”.
“Então, vai, diz Jesus,
e faze o mesmo”.
Daí nós concluirmos que
a salvação do espírito depende do bem que se faz ao próximo. E que não são as
práticas exteriores ou rótulos religiosos que nos conduzirão a vida eterna.
Assim, devemos nos revestir de bondade e darmos a nossa parcela de esforço aos
falidos do caminho. Não lhes perguntando quem são, donde vêm, para onde vão, ou
por que caíram.
Sejamos em qualquer
situação o “bom samaritano”, considerando todo e qualquer irmão, que seja
colocado à nossa frente, não como o adversário de ontem ou o inimigo de hoje,
mas como nosso próximo a quem devemos ajudar.
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EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a
vosso pai e a vossa mãe – item 9. Instruções dos Espíritos.
A Ingratidão dos filhos
e os laços de família.
9. A
ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo, e revolta sempre os
corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais
odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para
analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem
lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.
Quando o Espírito deixa
a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai
no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns,
portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles,
porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os
funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem
que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha – caridade. Mas não há
caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio
no coração e sem perdão.
É então que, por um
esforço inaudito, voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista
deles, porém, sua animosidade desperta. Revoltam-se à ideia de perdoar, e ainda
mais a de renunciarem a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes
destruíram talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses
infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos
contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons
Espíritos que lhes deem forças no momento mais decisivo da prova.
Enfim, depois de alguns
anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se
prepara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos
encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre
a Terra os destinos desse corpo que vem de se formar. Qual será, então, a sua
conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas
boas resoluções. O contato incessante dos seres que ele odiou é uma prova
terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte.
Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo
daqueles em cujo meio foi chamado a viver. É assim que se explicam esses ódios,
essas repulsas instintivas, que se notam em certas crianças, e que nenhum fato
exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a
causa, é necessário voltar os olhos ao passado.
Oh! Espíritas!
Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando
gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai
conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa
alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada e da qual recebereis a
recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe
derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos
de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: “Que fizestes da criança
confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo
será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse
feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa
falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a
cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos
envolverá no seu amor.
Não recuseis, portanto,
o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão:
não foi o acaso que o fez assim e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do
passado se revela, e dela podeis deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi
muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou expiar. Mães! Abraçai,
pois, a criança que vos causa aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: “Uma de
nós duas foi culpada”. Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à
maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se
aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah! Muitas dentre vós, em vez de expulsar
por meio da educação os maus princípios inatos, provenientes das existências
anteriores, entretém e desenvolvem esses princípios, por descuido ou por uma
culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos
filhos, será para vós, desde esta vida, o começo da vossa expiação.
A tarefa não é tão
difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio
podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao revelar a causa das
imperfeições do coração humano.
Desde o berço, a
criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência
anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem
no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os
germens desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem
raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à
medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho
se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão.
Quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não
conseguem êxito, não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranquila.
Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus
esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que
é apenas um atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a
obra então começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu
amor. (Ver cap. XIII, nº 19)
Deus não faz as provas
superiores às forças daquele que as pede; só permite as que podem ser
cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de possibilidades, mas de
vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos maus arrastamentos,
neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro e o ranger de
dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a bondade de
Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em que o culpado
está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então que Deus
abre os braços paternais para o filho pródigo, que se lança aos seus pés. As
grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o indício de um fim de
sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por
amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que importa não falir
pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar.
Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer
para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo
terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado
que saiu vitorioso do centro da refrega.
De todas as provas, as
mais penosas são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria
das privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas
pela ingratidão dos seus. Oh! É essa uma pungente angústia! Mas o que pode,
nessas circunstâncias, reerguer a coragem moral, senão o conhecimento das
causas do mal, com a certeza de que, se há longas dilacerações, não há
desesperos eternos, porque Deus não pode querer que a sua criatura sofra para
sempre? O que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse
pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços, abreviar o
sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não
reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é necessário elevar-se,
pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revela
aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque explicou a vós mesmos o que
vos parecia monstruosidade da Terra. Os ferimentos que recebestes vos parecem
simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços
de família aparecem no seu verdadeiro sentido: não mais os laços frágeis da
matéria que ligam os seus membros, mas os laços duráveis do Espírito, que se
perpetuam, e se consolidam, ao se depurarem, em vez de se quebrarem com a
reencarnação.
Os Espíritos cuja
similitude de gostos, identidade do progresso moral e a afeição, levam a
reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações
terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço, dando origem às
famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam
momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos
progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus permite
que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem
conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam,
por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra
a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os, e, mais tarde, no mundo dos
Espíritos, a família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua
vez, poderão salvar outros. (Santo Agostinho - Paris, 1862)
Dentre as diferentes
manifestações do egoísmo, que está na raiz de todos os sofrimentos do homem,
encontramos a ingratidão. E a ingratidão dos filhos para com os pais apresenta
caráter mais odioso.
Nós já aprendemos que o
atendimento do filho aos pais é devido, pelo fato de que quando crianças, desde
o nascimento, fomos assistidos e amparados nas nossas necessidades de
sobrevivência e mesmo nas nossas vontades supérfluas. Portanto, o filho deve
aos pais a assistência na velhice, e isto é lei natural, não é questão de fazer
caridade, ou ser melhor ou mais evoluído. Graças a eles, esse espírito teve uma
nova oportunidade de reencarnar e crescer espiritualmente. Mesmo que os pais
não tenham sido bons pais, essa responsabilidade será cobrada deles pela lei de
causa e efeito.
Santo Agostinho segue
dizendo que o espírito, por ocasião do seu regresso à pátria espiritual, leva
consigo para a erraticidade, que é o intervalo entre as encarnações, seus
defeitos ou virtudes. Dependendo de seus sentimentos, positivo ou negativo, e de
acordo com os acontecimentos e lembranças de fatos que o envolveram, ele tem a
oportunidade de se aperfeiçoar ou ficar estacionário até que deseje receber
luz. Se tiver algum adiantamento espiritual e, mesmo que fraco algum laço
amoroso, lhe é dado a oportunidade de analisar aquilo que fez, quando
encarnado, para tirar algum proveito, acrescentando algo de valor à sua ficha
reencarnatória. Ao entender, que para alcançar o seu objetivo precisa ser
caridoso, e não há caridade sem perdão e nem com o coração tomado pelo ódio,
lhe é dado observar às pessoas de quem não gostava aqui na terra.
Se predomina a sua boa
resolução, implora uma nova oportunidade no plano físico, na família daquele a
quem detestou. A convivência com a parentela carnal a quem odiou constitui uma
prova terrível, e quase sempre o espírito fracassa, se não tem uma grande
vontade de regenerar-se. Se não consegue ajustar-se, exercitando o
entendimento, pode resvalar para a frustração e a rebeldia. A ligação pela carne pode ser constrangedora e
conflitante, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas. Dessa forma,
esse espírito será amigo ou inimigo daqueles entre os quais reencarnou. Por
isso vemos, muitas vezes, inimigos familiares, que pontuam, dessa forma, a sua
convivência com quem não lhe é agradável. Essa convivência, não é apenas para
um mero exercício de forçada tolerância para se livrar dela um dia. A finalidade
maior é a harmonização. Trata-se do aprendizado de um bom relacionamento com os novos familiares,
criando elos de simpatia e afeto, ainda que seja diferente. Se o espírito
tolerar apenas aqueles que estão ao seu lado, guardando mágoas e ressentimentos,
estará perdendo o seu tempo e semeando mais dificuldades para o futuro. Portanto,
viver em família é um grande desafio e ao mesmo tempo um importante aprendizado
para esse espírito, pois, que, os laços de afeto vão se formando, aos poucos. E
considerando-se, ainda, as várias existências no corpo físico, ou seja,
mergulhos na carne e retornos ao mundo espiritual, o espírito vai solidificando esses laços de
afetividade, para que, um dia, possam se
transformar em laços de amor.
Com certeza, já vivemos
muitas vezes a prova da matéria; já nos relacionamos com muitos irmãos do
caminho; já tivemos muitos pais, muitas mães, muitos filhos, e muitos irmãos
compartilharam conosco as experiências da vida na carne. Concluindo-se daí, que
nossa parentela espiritual é imensa, ultrapassando, mesmo, os limites de nossa
percepção. Assim, devemos olhar a humanidade como uma grande família, porque
todas as barreiras que separam os povos caem por terra, se levarmos em conta
que, num outro país, numa outra raça, numa outra religião, pode estar alguém
que já foi nosso parente consanguíneo ou nosso grande amigo numa existência
física passada. Também devemos observar a nossa conduta dentro da família.
Desenvolvendo a paciência e a tolerância com os nossos companheiros de jornada
familiar. Devemos expandir a nossa compreensão para o amor incondicional,
através do qual conseguiremos ajudar nossos afetos e desafetos de outras eras
que, assim como nós, necessitam vencer a si próprios, e aprender a conviver com
irmandade.
O espírito Santo
Agostinho, diz que desde o nascer a criança manifesta seus instintos, bons ou
maus, que traz da sua existência anterior. Entendemos nessas palavras tratar-se
da inteligência e do livre-arbítrio que o espírito é dotado desde a sua
criação, para aprender na experiência e na vida de relação, com o seu
semelhante. Nessa arena de aprendizado e burilamento, que é o nosso planeta,
recebeu a missão de evoluir em espiritualidade, alinhado com a lei de justiça,
amor e caridade, que determina amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo. Cabe aos pais, portanto, exemplificar, com o cumprimento dessa
lei, para que os filhos possam amealhar valores positivos.
Mais uma vez o egoísmo
e o orgulho são citados e, é feito um apelo para que eles sejam combatidos
pelos pais, antes que lancem raízes profundas. E esse combate, no nosso
entender, é feito com trabalho útil, a ação. E essa ação tem que ser
efetivamente voltada para o bem, voltada para a melhoria do nosso semelhante. É
destacado também que, quando os pais cumprem aquilo que lhes é determinado, e
os filhos não alcançam êxito, não devem se culpar, pois, semearam a boa semente.
Deus não entrega fardo
pesado para ombros fracos. Se a criatura não cumpre a sua prova é porque lhe
falta vontade.
Existe até uma
historinha para ilustração:
Alguém foi ao céu
reclamar com muita intensidade da cruz que carregava. Achava sua cruz muito
pesada, grande, e pediu, então, ao anjo guardião, que trocasse sua cruz por uma
mais leve, mais suave, que fosse fácil de carregar. O anjo guardião, então,
permitiu que assim fosse, e levou-o até o depósito das cruzes. Depositasse a
sua cruz e escolhesse outra a seu gosto. Ele perambulou pelo depósito, separou
uma cruz das outras, experimentou o seu peso, mas nada lhe agradava. Até que,
então, depois de muito procurar a cruz que desejava carregar, encontrou uma que
lhe parecia mais leve, mais adequada. Voltou ao anjo guardião e disse: já
escolhi! Desejo carregar esta daqui. E, surpreso, ouviu anjo guardião dizer:
mas, essa é a cruz que você trouxe.
Isso serve para nos
mostrar que a cruz que carregamos é adequada ao nosso burilamento e a nossa
evolução espiritual. Nem mais nem menos. Ninguém é prejudicado a não ser por si
mesmo; ninguém fecha a porta à felicidade ou abre ao sofrimento a não ser por
si mesmo. Ninguém pode ser considerado responsável pelo insucesso de outro, uma
vez que a todos compete viver suas próprias experiências. A cada um será dado
conforme o que tiver edificado.
Deus nos concede a
misericórdia do esquecimento do passado para que consigamos manter relações
equilibradas com o mundo, em seus diferentes cenários. Se assim não fosse,
tornar-se-ía muito difícil refazer os caminhos, retomar experiências passadas,
equilibrar o que foi desequilibrado, convivendo uns com os outros, credores e
devedores. Alguns de nós já percebemos essa realidade, e aproveitamos as
oportunidades concedidas, adiantando-se espiritualmente. Outros se tornam
rebeldes renitentes, e teimam em se manter nas posições da incompreensão, da
dureza de coração e, por conseguinte, não conseguem se desprender das algemas
do orgulho, do egoísmo, da intemperança, da cupidez ( ambição ), da ilusão
material. É na família, portanto, que estão nossas maiores provas e nossas
maiores oportunidades. Assim, sendo, devemos abraçá-las com esforço,
determinação e resignação para conseguirmos, através da ajuda mútua e da
compreensão, adquirir os valores do amor incondicional.
Uns, ao reclamarem das
circunstâncias da vida, de se lamentarem da sorte, não conseguem perceber a
presença de Deus, a oferecer oportunidades de experiências. Oscilam entre o
crer e o descrer, não percebendo que os seus ombros estão preparados para as
experiências que vivifica. O Pai celestial não nos criou para a dor. Mas, para
a felicidade. O problema está onde buscamos essa felicidade. Quase sempre, o caminho.
que trilhamos, em busca dessa felicidade, nos leva à dor. A justiça de Deus se
faz sentir na liberdade de escolha que nos proporcionou. Mas, para aqueles que
já compreenderam a sua lei, a misericórdia de Deus é a sua justiça. A cada um
será dado conforme sua obra. A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória.
Cabe-nos percorrer o caminho escolhido com coragem, com determinação, com
paciência, para conseguirmos amealhar os valores positivos da experiência, e de
elevá-lo aos patamares sublimes da espiritualidade superior.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 – Uma vez que o
espírito tomou a resolução de encarnar entre inimigos de vidas anteriores,
torna-se-lhe fácil cumpri-la?
R – Nem sempre é fácil
a tarefa. É penoso ao espírito observar aqueles que já lhe foram causa de
padecimento e ruínas. Muitos desistem da prova; outros, nos quais predomina a
boa resolução, rogam a Deus e aos bons espíritos auxílio, para enfrentá-la e
vencê-la.
Ao observar a quem
odiou na Terra, o espírito fica conturbado, entre sentimentos opostos de
vingança e perdão.
2 – Uma vez encarnado,
que atitude poderá adotar o espírito, para com os familiares?
R – Seu procedimento
dependerá da maior ou menor persistência em cumprir as resoluções tomadas antes
de encarnar. Portanto, conforme prevaleçam ou não os bons propósitos, ele será
amigo ou permanecerá inimigo daqueles entre os quais foi chamado a viver.
3 – Como devemos agir
diante da ingratidão dos filhos?
R – Reconhecendo que
não foi o acaso que nos tornou seus pais, nem os fez assim. Buscando todos os
meios para superar essas dissensões na presente encarnação, através da educação
para o bem, do bom exemplo e, sobretudo, do amor.
Daí nós concluirmos que
a ingratidão dos filhos para com os pais não é fruto do acaso, mas consequências
de divergências e ódios em vidas anteriores, que devem ser superados na
presente encarnação, pelo exercício do amor e do perdão, entre os membros da
família terrena. Desprezar esta oportunidade significa transferir, para
encarnações futuras, dificuldades que nesta poderiam ser superadas.
Portanto, se temos
parentes difíceis, prova que nos parece insuportável, devemos perceber que ela
nos é necessária. Que por escolha ou por imperativo, ela nos foi concedida para
o desenvolvimento de nossa luz espiritual. Devemos encarar a prova pelos olhos
do espírito, para que possamos ser útil aos irmãos do caminho, colocados em
nossas vidas.
Devemos perdoar e ter
misericórdia, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes, cada falta. Devemos
exercitar a tolerância, a humildade, e estender a mão a aqueles que ainda
teimam em se manterem à margem da estrada evolutiva. Oremos, pedindo ao
Senhor, todo misericordioso, forças para superar nossas imperfeições,
que nos impede de identificar na parentela difícil ao nosso lado, irmãos de
jornada.
Assim, se hoje nos
sentimos ofendidos, distendamos nossos sentimentos e aprendamos a perdoar. Se sofremos as consequências dos
conflitos humanos, e somos bafejados pela ingratidão daqueles que nos são
caros, devemos agradecer a Deus a experiência, e tirarmos dela a oportunidade
de não julgar, mas de amparar e de suportar nossas dores com resignação.
A família terrestre é a
grande oficina de aprendizado. É a escola das almas, que permitirá o acesso aos
planos sublimes ou a permanência nos planos de sofrimento e de dor.
******************************************
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a
vosso pai e a vossa mãe – item 8. A Parentela corporal e a parentela
espiritual.
8.
Os laços de sangue não estabelecem
necessariamente os laços espirituais. O corpo procede do corpo, mas o Espírito
não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo. O pai
não gera o Espírito do filho: fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas
deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.
Os Espíritos que se
encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais
frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se
traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontecer que
esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por
antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na
Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são,
portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de
pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde
se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo
Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se,
tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como
vemos todos os dias. Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver, pela
pluralidade das existências. (Ver cap. IV, nº 13)
Há, portanto, duas
espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços
corporais. As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação e se
perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As
segundas, frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo, e quase
sempre se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi o que Jesus quis fazer
compreender, dizendo aos discípulos: “Eis minha mãe e meus irmãos”, ou seja, a
minha família pelos laços espirituais, pois “quem quer que faça a vontade de
meu Pai, que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
A hostilidade de seus
irmãos está claramente expressa no relato de São Marcos, desde que, segundo
este, eles se propunham a apoderar-se dele, sob o pretexto de que perdera o
juízo. Avisado de que haviam chegado, e conhecendo o sentimento deles a seu
respeito, era natural que dissesse, referindo-se aos discípulos, em sentido
espiritual: “Eis os meus verdadeiros irmãos”. Sua mãe os acompanhava, e Jesus
generalizou o ensino, o que absolutamente não implica que ele pretendesse que
sua mãe segundo o sangue nada lhe fosse segundo o Espírito, só merecendo a sua
indiferença. Sua conduta, em outras circunstâncias, provou suficientemente o
contrário.
Kardec começa o seu
comentário dizendo que os laços do sangue não criam forçosamente vínculos entre
os Espíritos. Quer dizer, os laços da parentela corporal são fracos e que facilmente
são rompidos. Porque não é o pai quem cria o Espírito de seu filho. O Espírito
já existia antes da formação do corpo.
No diálogo entre Jesus
e Nicodemos que estudamos no capítulo IV encontramos a seguinte frase: O que é
nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Portanto,
encontramos aqui uma distinção feita por Jesus entre o Espírito e o corpo. O
que é nascido da carne é carne indica que só o corpo procede do corpo e que o
Espírito independe deste. E mais, o
Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem
para onde vai, que significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o
Espírito. Se o Espírito fosse criado ao mesmo tempo em que o corpo, saber-se-ia
donde ele veio, pois que se lhe conheceria
o começo.
Enfocando o assunto
família, na dimensão terrena e na dimensão espiritual devemos entender que,
quando estamos reencarnados, ocupamos na família terrena uma posição ocasional
e temporária, de acordo com a necessidade das tarefas que devemos desempenhar. Isto quer dizer que, antes de sermos o pai, a
mãe, o marido, a esposa, o filho ou a filha, somos o Espírito, ser inteligente,
e que a condição de parentesco e de sexo é uma condição indispensável para a
vida na terra. Portanto, nós podemos estar numa encarnação com um grau de
parentesco com esse ou aquele Espírito, e numa outra encarnação, a parentela
corporal pode se modificar.
Os verdadeiros laços de
família não são, pois, os da consanguinidade, mas os de simpatia e da comunhão
de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e após a encarnação. O que
prevalece como elo entre os espíritos é a semelhança de gostos, os interesses
em comum, as afeições profundas e desinteressadas, posições estas que superam o
grau de parentesco terreno. Na realidade, a ligação entre os espíritos acontece
sem a preocupação de grau familiar e mostra a verdadeira família universal, na
qual todos somos filhos de Deus e, portanto, irmãos criados pelo Pai a caminho
da evolução.
A dificuldade para entender
estas questões é porque avaliamos o que nos cerca limitados pela visão terrena
e muitas vezes nos esquecemos que no Mundo Espiritual as situações observam
normas específicas de uma outra dimensão. Lembrando que, quanto mais evoluído
for o espírito mais elevados serão seus sentimentos e, por conseguinte, ele se
relacionará com um número maior de entidades.
Em estudo anterior, nós
observamos que Jesus ao perguntar “quem é minha mãe e quem são meus irmãos”,
nos certificou de que existe a diferença de parentela. E também aprendemos que
temos que dar atenção à parentela espiritual, sem menosprezo da parentela
corporal.
Vamos refletir sobre a
importância da reencarnação na vida familiar. Este princípio, elaborado pela Doutrina
Espírita, remete-nos a uma vista de olhos sobre o passado, para entendermos
melhor porque estamos unidos a essa esposa e não a outra, a esse filho e não a
outro. As famílias aqui na terra são criadas a partir da união de espíritos que
tenham simpatia ou antipatia entre si. E a Lei que nos rege é a Lei de amor. Jesus
recomendou que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Assim, a família é uma
escola onde podemos aprender a amar umas poucas pessoas para um dia amar a
humanidade inteira. Já foi objeto de nosso estudo que o amor se estende de
dentro da nossa casa para fora. Deus, que é a inteligência suprema, sabe que no
estágio evolutivo em que se encontra, o homem é incapaz de amar todos os seres
humanos como a si mesmo. Por esta razão ele distribui as pessoas nessas pequenas
escolas chamadas lares, para que aprendam o amor ao próximo mais próximo. Não
raro, embora vivendo sob o mesmo teto, atendendo a variados compromissos, estão
separados pela diferença de aptidões, de tendências, de estágio evolutivo. Por
isso vemos, muitas vezes, na parentela corporal, ligações constrangedoras e de
atritos entre espíritos que necessitam de algum reajuste mútuo, no que diz
respeito à Lei de Causa e Efeito, e que devem caminhar juntas. Isto é,
espíritos que, um dia, ou foram inimigos, ou adversários, pontuando dessa forma
a sua convivência com quem nem sempre lhe é satisfatória. Se não conseguem
ajustar-se, exercitando entendimento, podem resvalar para a frustração e a
rebeldia, transformando o lar em palco de lamentáveis dramas.
A Doutrina Espírita
esclarece sobre a responsabilidade do espírito. Mas também indica o meio para a
retomada do caminho, caso o espírito não consiga terminar uma encarnação
envolvido em laço amoroso, em laço de harmonia, com relação a determinado
espírito ou espíritos. Há que retomar esse relacionamento em outra encarnação. A
visão reencarnacionista nos exige uma responsabilidade maior: não negligenciar;
Ter muito cuidado na hora de repassarmos os ensinos éticos para nossos filhos.
Porque se ele for um adulto não muito equilibrado dentro da sociedade, que
tenha uma dificuldade de caráter, nós teremos uma cota de responsabilidade
muito grande nessa situação, pois, não soubemos conduzir esse espírito, que nos
foi confiado, dentro dos padrões éticos da
Doutrina. E, logicamente, teremos que prestar contas. A família corporal
vai se modificando de acordo com a necessidade evolutiva.
A parentela espiritual
é diferente. São Espíritos que se identificam nos mesmos ideais, nas mesmas
tendências, nos mesmos desejos de realização superior, estabelecendo preciosos
elos de simpatia e afetividade. Considerando-se, ainda, as várias existências
no corpo físico, vamos solidificando esses laços de afetividade com um maior
número de espíritos, que nascem sob o mesmo teto que nós. Dessa forma, a nossa
família espiritual se amplia e os laços de bem-querer se solidificam a cada
nova possibilidade de convívio.
A família espiritual é
aquela que traduz a afinidade entre os espíritos, a simpatia e a comunhão de
pensamentos, que os une antes, durante e após a encarnação. Estes, os
verdadeiros laços de família. De onde se segue que dois seres nascidos de pais
diferentes, podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue;
podem se atrair, se procurar, dar-se bem juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos
podem se repelir. Podemos constatar essa realidade no amor que nutrimos pelos
amigos, que não fazem parte da parentela corporal, mas com os quais temos laços
sólidos de afeição.
É importante destacar
que, somente os laços amorosos é que darão as condições necessárias para
rompermos o grilhão que nos prende às pessoas de quem não gostamos. Diante da exposição
da Doutrina, nós podemos ter inimigos ou adversários do passado como
familiares. As ligações humanas
podem romper-se com a morte, se determinadas apenas pelo sangue; mas as
ligações espirituais, sustentadas pela afinidade, prolongam-se além-túmulo.
Formam famílias ajustadas e felizes, cujos membros ajudam-se sempre, cada vez
mais unidos, embora atendendo, eventualmente, a compromissos distintos. Pode
ocorrer que um membro de nossa família espiritual não esteja reencarnado ao
nosso lado, mas poderá ter assumido a posição de nosso mentor, o chamado anjo
de guarda, que nos acompanha, estendendo sobre nós sua proteção e nos
estimulando ao cumprimento de nossos deveres.
Refletindo sobre nossas
provas e expiações, vamo-nos compenetrando da grandiosidade de Deus e do
Universo. Como nada acontece por acaso, lucraríamos muito se fôssemos
resignados em cada situação de desconforto. Em toda a ocasião há a
possibilidade de transformar o desafeto em afeto, a ingratidão em gratidão, o
desamor em amor e a incompreensão em compreensão. Portanto, viver em família é
um grande desafio e ao mesmo tempo um importante aprendizado, pois o convívio
diário nos dá oportunidade de aparar as arestas com aqueles que por ventura
tenhamos alguma diferença, e para que aprendamos a nos amar como verdadeiros
irmãos, filhos do mesmo Criador.
Vamos destacar algumas
questões para reflexão:
1 - Como se explica o
vínculo que existe entre um pai e um filho?
O pai fornece ao filho,
apenas o invólucro corporal, uma vez que o espírito já existia antes da
formação do corpo. Se estão unidos, é em razão dos laços de simpatia ou de
antipatia que já existiam anteriormente ao reencarne.
"O corpo procede
do corpo, mas o espírito não procede do espírito."
2 - Como se formam as
famílias aqui na Terra?
Pela união de
espíritos, ligados por anteriores relações de simpatia, que se expressam por
uma afeição recíproca, na vida terrena, ou pelo reencontro de espíritos
afastados entre si, por antipatias anteriores, ou cumplicidade no mal,
traduzidas por incompatibilidades entre os mesmos.
"Não são os da
consanguinidade os verdadeiros laços de família, e sim os da simpatia e da
comunhão de ideias."
3 - Como definimos a
parentela corporal e espiritual?
A corporal é aquela
constituída pelos laços frágeis da consanguinidade e da matéria, que se
extinguem com o tempo e, muitas vezes, dissolvem moralmente já na existência
atual; a espiritual é aquele caracterizada pelos laços espirituais, fortalecida
pela purificação, e se perpetua no mundo dos espíritos.
"Há, pois, duas
espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos
laços corporais."
Daí concluirmos que os
verdadeiros laços de família são os espirituais, e não os da consanguinidade,
uma vez que são os espíritos que se amam ou se odeiam e não os corpos. Assim, a
nossa família é o ambiente de purificação, para onde somos atraídos pelos laços
estabelecidos em existências anteriores.
Rendamo-nos à vontade
de Deus.
Se, depois de
analisadas as circunstâncias que nos envolvem, optarmos por contrair matrimônio
com tal pessoa, saibamos nos resignar e auxiliar ao máximo no convívio
familiar, porque recusando uma cruz, com certeza, encontraremos outra mais
pesada.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a
vosso pai e a vossa mãe – itens de 5 a 7. Quem é minha mãe e quem são meus
irmãos?
5.
E, tendo vindo para casa, reuniu-se aí
tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. Sabendo
disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o
espírito.
Entretanto, tendo vindo
sua mãe e seus irmãos, e ficando da parte de fora, o mandaram chamar. Estava
sentado à roda de um crescido número de gente, e lhe disseram: Olha que tua mãe
e teus irmãos te buscam aí fora. E ele respondeu, dizendo: Quem é minha, e quem
são meus irmãos? — E olhando para os que estavam sentados à roda de si: Eis
aqui, lhes disse, minha mãe e meus irmãos. Porque o que fizer a vontade de
Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe. (Marcos, III: 20-21 e 31-35 –
Mateus, XII: 46-50).
6.
Certas palavras parecem estranhas na boca
de Jesus, pois contrastam com a sua bondade e a sua inalterável benevolência
para com todos. Os incrédulos não deixaram de se aproveitar disso, para dizer
que Ele se contradizia a si mesmo. Um fato irrecusável, porém, é que a sua
doutrina tem por base essencial, por pedra angular, a lei do amor e da
caridade. Ele não podia, pois, destruir de um lado o que construía do outro, de
onde é imperioso tirar esta consequência rigorosa: se certas máximas estão em
contradição com aquele princípio, é que as palavras que se lhe atribuem foram
mal reproduzidas, mal compreendidas, ou não lhe pertencem.
7.
Admira-se, e com razão, de ver Jesus
mostrar, nesta circunstância, tenta indiferença para com os seus, e de qualquer
sorte renegar sua mãe. Pelo que respeita aos seus irmãos, sabe-se que nunca
tiveram simpatia por Ele. Espíritos pouco adiantados, não haviam compreendido a
sua missão. Era bizarra, para eles, a conduta de Jesus, e seus ensinamentos não
os haviam tocado, pois nenhum deles se fez seu discípulo. Parece mesmo que eles
participavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. De resto, é
certo que o recebiam mais como um estranho do que como um irmão, quando se
apresentava em família. E São João diz, positivamente: que não acreditavam
nele. (Ver cap. VII)
Jesus Cristo, Grande
Mestre da Humanidade, através de sua divina sabedoria ensina através dessa
passagem do Evangelho mais uma importante lição para os homens da época,
ecoando até os dias atuais.
Allan Kardec inicia seus comentários, lembrando que certas palavras
pronunciadas por Jesus parecem estranhas e contraditórias aos seus próprios
ensinos. Realmente, essas parecem contradizer toda a sua bondade, toda a sua
benevolência para com todos, e, como toda a sua doutrina tem por base o amor e
a caridade, necessário se torna analisá-las dentro do contexto global da mesma.
Na realidade, Jesus, colocava sua missão acima de tudo. Assim, aproveitava todas
as circunstâncias e situações para deixar seus ensinos, sempre verbais. Nessa
passagem de sua vida, apenas aproveitou a situação para esclarecer que antes de
qualquer parentesco biológico, somos todos irmãos, na paternidade divina. E o
que faz a ligação espiritual é a afinidade de sentimentos, de pensamentos, de ideias
e não os laços de sangue. Destacou assim, a diferença entre o parentesco
corporal e o parentesco espiritual, que o espiritismo tornou bem compreensível,
com a lei das reencarnações, através das quais as famílias consanguíneas vão se
desfazendo, sendo englobadas, inseridas na família espiritual, que vai
crescendo sempre, constituídas pelos que aprenderam a se amar. Os Evangelhos
falam pouco da vida familiar de Jesus. Kardec escreve que não havia afinidade
entre eles e seus irmãos. Cita palavras de João no capítulo VII: 5. Pois, nem
mesmo seus irmãos acreditam nele. Não houve indiferença ou desprezo em relação
à sua mãe e a seus irmãos. Apenas destacou a irmandade de todos como filhos de
um mesmo Pai. Quanto à sua mãe, ninguém contestaria sua ternura
para com o filho. Mas é necessário convir, também, que ela não parece ter feito
uma ideia justa de sua missão, pois jamais se soube que seguisse os seus
ensinos, nem que desse testemunho dele, como o fez João Batista. A solicitude
maternal era o seu sentimento dominante. No tocante a Jesus, supor que houvesse
renegado sua mãe, seria desconhecer-lhe o caráter, pois semelhante pensamento
não poderia animar aquele que disse: Honra a teu pai e a tua mãe. É, pois,
necessário procurar outro sentido para as suas palavras, quase sempre veladas
pela forma alegórica.
No momento da cruz,
talvez, o mais difícil da sua passagem pela Terra, Jesus demonstrou seus
cuidados, sua solicitude, seu amor em relação à sua mãe, conforme está em João,
capítulo XIX: 26 e 27: “Vendo Jesus, sua mãe, e junto dela o discípulo amado,
disse: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.
Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.”.
Melhor do que ninguém Jesus conhecia e cumpria o dever de honrar pai e
mãe, consoante o princípio divino enunciado na Tábua da Lei, o que, obviamente,
implica dar-lhes atenção e deles cuidar. Por que, então, essa aparente
contradição? Não é difícil definir o que ocorreu. Suponhamos que o Cristo
estivesse falando a respeito da pluralidade dos mundos habitados, e alguém
avisasse que sua mãe e seus irmãos estavam lá fora para falar-lhe, aí, a
resposta do Mestre soaria mal. Mas se Ele estivesse falando sobre os valores da
fraternidade, considerando a existência da família universal, filhos de Deus
que somos todos, então a observação surgiria como uma ilustração, sem causar
estranheza. É bem provável que assim tenha ocorrido com Jesus. Como o episódio
foi registrado fragmentariamente, a observação pode sugerir uma desconsideração
com sua família.
Há várias passagens evangélicas em que temos dificuldade para
compreender seu pensamento, que nos parece enigmático e obscuro justamente
porque houve um registro precário, sem que saibamos das circunstâncias que
ensejaram a lição das explicações posteriores que ofereceu aos ouvintes.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
Capítulo XIV – Honrai a
vosso pai e a vossa mãe – itens de 1 a 4. Piedade filial
1.
Sabeis os mandamentos: não cometereis
adultério; não matareis; não roubareis; não prestareis falso-testemunho; não
fareis agravo a ninguém; honrai a vosso pai e a vossa mãe. (Mateus, cap. XIX,
vv. 18 e 19).
2.
Honrar a vosso pai e a vossa mãe, a fim
de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. (Decálogo: “Êxodo”,
cap. XX, v. 12).
3. O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa
mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que
não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas o
termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis
Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as
atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de
cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade
ordena relativamente ao próximo em geral. Esse dever se estende naturalmente às
pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm,
quanto menos obrigatório é para elas o devotamento. Deus pune sempre com rigor
toda violação desse mandamento. (...) Alguns pais, é certo, descuram de seus
deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas, a Deus é que compete
puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez
hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. (...) Devem, pois, os
filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de
Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável,
com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos
pais; e que o que talvez não passe de simples falta, no primeiro caso, pode ser
considerado um crime, no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a
ingratidão.
O mandamento: “Honrai a
vosso pai e a vossa mãe“, é uma consequência da lei geral da caridade e do amor
ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas o
imperativo honrai implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial. É
algo mais do que nós geralmente pressupomos. É juntar ao amor o respeito, as
atenções, a submissão, a condescendência (boa vontade; estima).É dispensar aos
nossos pais aquele sentimento maior, o sentimento de gratidão. Esse dever
também se estende às pessoas que fazem às vezes de pai ou de mãe, as quais têm
maior mérito, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento.
A Gratidão é
justificada pelo fato de estarmos aqui na terra, através da porta
misericordiosa da maternidade, para evoluirmos. Daí resultar a obrigação de
cumprir-se para com nossos pais, de forma mais rigorosa, tudo o que a caridade
ordena que se faça ao próximo. Evidentemente, ninguém estaria em condições de
ser caridoso com seu semelhante fora do lar, se não exercitar esse dever dentro
de casa. Logo, esse exercício de piedade tem que ser feito de dentro de casa
para fora.
Não há sacrifício em
favor de alguém que se compare aos da solicitude materna: começa pela gravidez,
depois as noites de vigília, as angústias em face de enfermidades, as
preocupações que se estenderão por toda a existência em relação ao bem estar e
a felicidade do filho. Acariciando-o nos momentos alegres e enxugando suas
lágrimas nos momentos tristes. E mesmo vendo as suas grandes fraquezas, ainda o
vê como o mais perfeito dos seres.
Ao pai está reservada
idêntica carga de cuidados, não tão envolvente e intensa, mas acrescida do
compromisso de trazer para a família “o pão de cada dia”.
Honrar ao pai e a mãe,
portanto, não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas
necessidades; proporcionar-lhes o repouso na velhice; cercá-los de solicitude,
como eles fizeram por nós na nossa infância. Sobretudo para com os pais sem
recursos é que se demonstra a verdadeira piedade filial. No entanto, para
muitos pais sobram, na velhice, um fundo de quintal, um asilo, um progressivo
distanciamento.
É curioso observar como
as mães mais ternas, mais virtuosas, nunca cobram dos filhos os
benefícios que lhes prestam. Por quê? Porque nós só podemos cobrar por aquilo
que vendemos. Essas mães não “vendem” dedicação aos filhos porque o fazem por
amor, que é, em sua manifestação mais pura, um ato de doação.
Muitas vezes, os filhos
se julgam verdadeiros seres independentes; seres como que “autocriados”. Quanta
ignorância! Quanto egoísmo! Por esse motivo, é comum nós ouvirmos alguns filhos
alegarem que não pediram para nascer. Grande engano. No plano espiritual não só
pedimos como imploramos a casais em disponibilidade que nos dessem a
oportunidade de um retorno às experiências humanas, reconhecendo-as
indispensáveis à nossa edificação e à solução de problemas cármicos
Mas como nada que
ocorre é obra casual, faz-se necessário analisar a sua causa. Por que isto
ocorre? De onde virá esse mau fruto? Certamente de uma semente má que foi
plantada e que distribuirá novas sementes, até que seja ceifada.
O respeito mútuo deve
existir entre pais e filhos, pois ambos possuem individualidades, formas de
pensamentos e de agir, sentimentos e o livre arbítrio, principal atributo que
Deus nos deu para sermos livres e agir conforme nosso grau moral e intelectual.
O livre arbítrio significa que podemos fazer o que quiser, na hora que quiser,
da forma que quiser, mas com um detalhe, sendo responsável por todos os atos
praticados. Sabemos que o Espiritismo nos ensina que estamos sujeitos a Lei de
Causa e Efeito, isto é, para cada ato praticado, estaremos sujeitos a uma
reação boa ou não, dependendo do ato praticado. Por isso é que Kardec diz que
Deus pune sempre, de maneira rigorosa, toda violação a esse mandamento: Honrai
o vosso pai e a vossa mãe.
Existe um ditado
popular que diz: sua mocidade é sua velhice. Então, é preciso que nós nos conscientizemos de que honrar pai e mãe é uma preparação para
o futuro. Se não soubermos respeitar nossos pais, nós iremos ser desrespeitados na velhice,
porque todas as grosserias que fizermos, todo o abandono que proporcionarmos,
ficarão marcados em nós. Como eu já disse, a ingratidão para com os que nos
sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita
futura. Ora, se na nossa juventude nós fomos malcriados, intolerantes, com
certeza, na nossa velhice nós iremos ser também malcriados, intolerantes e
implicantes. Por isto é que muitas vezes nós vemos uma pessoa idosa abandonada.
Vítima do abandono físico, mas, sobretudo o moral, acompanhado de maus tratos e
ingratidão justificados pelas formalidades sociais. Ficamos condoídos, coitada.
Mas, se nós observarmos bem, procurarmos conversar com ela vamos descobrir que
se trata de uma pessoa mal-humorada, implicante e intolerante. Então, há que se
perguntar: Quem poderia ser tão tolerante a ponto de arriscar sua própria
felicidade, para manter dentro de casa uma criatura assim. É claro que o nosso
dever é amar e amparar as pessoas, mesmo nesses casos. Segundo Santo Agostinho,
nós não devemos sacrificar a felicidade de muitos, por causa de uma pessoa só.
E, aí, nós com toda pena, compreendemos o porquê (motivo) do isolamento dessa
pessoa. Alguém deveria Ter honrado pai e mãe para que ela não estivesse naquela
situação. Será que essa criatura abandonada honrou seu pai e a sua mãe? Pelo
que nós já sabemos, claro que não. Ela foi na sua mocidade exatamente o que é
hoje. Infeliz, portanto, aquele que se esquece da sua dívida para com os que o
sustentaram na infância, que lhe deram também a vida moral e que se impuseram a
duras privações para lhe assegurar o bem-estar. Ai do ingrato, porque ele será
punido.
Assim, façamos aos
nossos idosos o que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já
estiver bastante avançada.
O tempo é implacável.
Um dia nós iremos contemplar o espelho
e perceberemos que a imagem nele
refletida não é mais a que hoje
admiramos.
Mas há um outro lado da
questão. Os pais, muitas vezes, perplexos e angustiados, passam a vida inteira
correndo, como loucos, em busca do futuro, esquecendo-se do presente.
Descuidam-se dos seus deveres, e não são para os filhos o que deviam ser.
Apenas colocam os filhos no mundo, não dedicando a eles o melhor do seu tempo.
Os anos passam, os filhos crescem, e os pais nem percebem, porque se entregaram
de tal forma à construção do futuro, não
participando de suas pequenas alegrias. Não os levou ou buscou no colégio; nunca
foram a uma festa infantil. Praticamente, esses filhos são órfãos de pais
vivos. Criados sem amor, sem diálogo, sem a convivência que solidifica a
fraternidade na família. Não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado
aos filhos.
Não foi por acaso que
Jesus inseriu no Decálogo deixado por Moisés a obrigação de honrar a nosso pai
e a nossa mãe. Aquele que ignora essa recomendação sofre reprimenda para que se
eduque. Portanto, devemos ter a preocupação de ser exemplo para os nossos
filhos, antes de cobrá-los a conduta correta. Assim procedendo, realizando a
tarefa de honrar pai e mãe, com certeza, seremos recompensados no futuro. Vamos
receber de nossos filhos a piedade filial.
4. Deus disse: “Honrai a vosso pai e a vossa
mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará”.
Por que promete ele como recompensa a
vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “que
Deus vos dará”, as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe
alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à
situação e às ideias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida
futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser
impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus
então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a
crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. (...) “Meu reino
não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas
boas obras. A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material,
transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância
daquele mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”, já não é a Terra que
lhes promete e sim o céu.
Deus disse: “Honrarás a
teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o senhor
teu Deus te há de dar”. Vamos entender porque é prometido como recompensa a
vida terrena e não a vida celestial. Para compreendermos, temos que nos
reportar à situação e às ideias dos hebreus, na época em que esse mandamento
foi pronunciado. Eles ainda não compreendiam a vida futura. Sua visão não se
estendia além dos limites da vida física. Por isso, deviam ser mais fortemente
tocados pelas coisas que viam, do que pelas invisíveis. Eis o motivo por que
Deus lhes fala numa linguagem ao seu alcance, e lhes apresenta como perspectiva
aquilo que poderia satisfazê-los. Eles estavam no deserto. E a terra que Deus
lhe dará é a terra da promissão, alvo de suas aspirações. Nada mais desejavam,
e Deus lhes diz que viverão nela por longo tempo, o que significa que a
possuirão por longo tempo, se observarem os seus mandamentos.
Com a vinda de Jesus,
as suas ideias já estavam mais desenvolvidas. Portanto, chegado o momento de
lhes ser dado um entendimento menos grosseiro. O mestre os inicia na vida
espiritual, ao dizer: “Meu reino não é deste mundo; é nele, e não sobre a
terra, que recebereis a recompensa das vossas boas obras”. Com estas palavras,
a Terra da Promissão material se transforma numa pátria celeste. Da mesma
maneira, quando lhes recorda a necessidade de observação do mandamento: “Honra
a teu pai e a tua mãe”, já não é mais a terra que lhes promete, mas o céu.
Estudo que fizemos dos capítulos II e III.
Vamos destacar algumas
questões para nossa reflexão:
1- Qual o verdadeiro
sentido do mandamento “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”?
R- Ele encerra toda a
obrigação dos filhos perante os pais, traduzidas pelo amor, respeito, atenção,
submissão e condescendência para com eles.
2- O que devemos
entender por piedade filial?
R- É a obrigação
incondicional que temos, perante nossos pais, de cumprir para com eles os
deveres impostos pela lei de caridade e amor, de modo mais rigoroso que o
demonstrado ao próximo em geral.
3- Que razão nos leva a
cumprir os deveres que abrangem a piedade filial?
R- Nossos pais são
nossos irmãos a quem Deus nos confiou, nesta existência terrena, como
responsáveis importantes da nossa atual fase evolutiva.
Conclusão do Estudo:
A família é um cadinho
(vaso próprio para fundir metais) de purificação onde aprendemos a legítima
fraternidade. Daí nós concluirmos que a piedade filial encerra todo o dever dos
filhos em relação aos pais e se exprime pelo amor, respeito, amparo, obediência
e tolerância para com eles, independente de terem ou não cumprido os seus
deveres, como pais.
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ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos
Espíritos
Beneficência exclusiva
20.
É acertada a beneficência, quando
praticada exclusivamente entre pessoas da mesma opinião, da mesma crença, ou do
mesmo partido?
Não,
porquanto precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser
abolido, visto que são irmãos todos os homens. O verdadeiro cristão vê somente
irmãos em seus semelhantes e não procura saber, antes de socorrer o necessitado,
qual a sua crença, ou a sua opinião, seja sobre o que for. Obedeceria o
cristão, porventura, ao preceito de Jesus-Cristo, segundo o qual devemos amar
os nossos inimigos, se repelisse o desgraçado, por professar uma crença
diferente da sua? Socorra-o, portanto, sem lhe pedir contas à consciência,
pois, se for um inimigo da religião, esse será o meio de conseguir que ele a
ame; repelindo-o, faria que a odiasse. (S. Luís, Paris, 1860).
O item 11 deste mesmo
capitulo já havia falado sobre Beneficência. E por que isso? Exatamente porque este
item 20 trata da Beneficência exclusiva! Ocorre que, nas muitas e muitas
traduções deste livro, este item 20, em algumas traduções, não consta o subtítulo
Beneficência Exclusiva.
O agrupamento de
pessoas que têm os mesmos interesses, os mesmos ideais, foi e ainda continua
necessário, para fortalecimento, estímulo, troca de experiências, entre seus
elementos, auxiliando-os no desenvolvimento intelectual e moral. Todavia,
devido à imperfeição humana, essa necessidade de sociabilidade, facilitou
também, “o espírito de seita e de partido, que deve ser abolido, porque todos
os homens são irmãos.” Hoje, com o desenvolvimento intelectual e moral do
homem, embora desigual em grau de evolução, com todas as experiências da
História, já é tempo de libertar-se o homem da prisão de qualquer espírito de
sistema. Kardec, em Prolegômenos, onde cita as noções gerais, básicas do
espiritismo, em O Livro dos Espíritos, escreveu que este é o compêndio dos
ensinamentos dados pelos Espíritos, para estabelecer os fundamentos de uma
filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema, pois este seria
a própria negação da doutrina, conforme esclarece Herculano Pires, na sua Introdução
a esse livro. Assim, escolhendo Kardec o lema do espiritismo: “Fora da caridade
não há salvação”, deixou bem clara a existência da liberdade dentro da nova
doutrina, porque a caridade não está em nenhum sistema científico, artístico,
religioso, está no homem, no seu sentir, pensar e agir. Não fechou o
espiritismo numa concha, quando escreveu que se a ciência , um dia, provar que
o espiritismo está errado em algum ponto, esse ponto seria corrigido. Centrando
o objetivo da doutrina em auxiliar a evolução moral da humanidade, no
melhoramento de cada um, demonstrando a responsabilidade de cada Espírito no
seu processo evolutivo e no da humanidade, liberta o homem de prender-se a esse
ou aquele sistema ideológico, livre para aceitar o que sua razão e sensibilidade
aceitam, para seguir sua consciência esclarecida, sempre pronta para aprender,
sem se prender, a qualquer espírito de sistema. Por isso, o espiritismo não se
propõe a fazer proselitismo, apenas oferece esclarecimentos que levam o homem a
conhecer-se a si mesmo e aos outros, a conhecer a justiça e o amor de Deus, a
finalidade do viver, na Terra, sua trajetória evolutiva para tornar-se um
Espírito puro, perfeito e feliz.
O espiritismo não salva
ninguém, oferece razões claras para o homem vivenciar os ensinos de Jesus, que
se resumem no amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Assim,
a beneficência, virtude de fazer o bem, de beneficiar o próximo, não pode
estabelecer quaisquer limites na sua ação. “O verdadeiro cristão vê irmãos em
todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado, não procura saber a
sua crença, a sua opinião, seja qual for.” Jesus atendeu a todos que o
procuraram, ouvindo-lhes as queixas, os lamentos, auxiliando-os nas suas
necessidades, sem nada indagar, sem nada exigir... Quando disse que se deve
amar a todos, até aos inimigos , declarou a igualdade de todos os homens
perante Deus, estabelecendo um relacionamento sem exigências, sem cobranças,
mas de fraternidade, de solidariedade, de compreensão. Os ensinos de Jesus,
tanto quanto os esclarecimentos do espiritismo, vieram para libertar os homens
de qualquer prisão que possa tolher ou limitar sua razão e sua sensibilidade,
estimulando o desenvolvimento das qualificações nobres que existem em todos,
para viverem a vida plena da perfeição e da felicidade, tornando-se
esclarecidos colaboradores na obra da criação, que é também, eterna.
Questões para reflexão:
1 - O que se entende
por beneficência exclusiva?
A prática do bem dentro
de círculos restritos, ou seja, entre grupos de pessoas da mesma opinião, da
mesma crença ou do mesmo partido.
"E se fizerdes bem
aos que vos fazer bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o
mesmo." (Lucas, 6:33)
2 - Tem algum valor a
beneficência praticada entre pessoas afins, que se querem bem?
Sim. No entanto, em
termos de elevação espiritual, pouco acrescenta, uma vez que não ha doação,
esforço de fraternidade.
Maior mérito existe em
fazer o bem àqueles que nos insultam e caluniam, do que a quem nos ama.
3 - Por que a
beneficência deve ser estendida para além dos grupos?
Porque é exercício de
fraternidade salutar para nós, que vamos nos fortalecendo na medida em que
rompemos a barreira do orgulho e do egoísmo.
"... precisamente
o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido, visto que são
irmãos todos os homens."
Conclusão do Estudo:
Amar e beneficiar
exclusivamente aos que nos amam é dever. Amar o próximo é considerar todos os
homens como nossos irmãos e estender-lhes os benefícios que estiverem a nosso
alcance, sem escolher o objeto da nossa atenção, nem esperar qualquer forma de
retribuição.
Podes guardar o pão
para muitos dias, ainda que o excesso de tua casa signifique ausência do
essencial entre os próprios vizinhos; todavia, quanto puderes, alonga a migalha
de alimento aos que fitam debalde o fogão sem lume.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Instruções dos
Espíritos
Benefícios pagos com
ingratidão
19.
Que se deve pensar dos que, recebendo a
ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não
topar com os ingratos?
Nesses há mais egoísmo
do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de
reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito
desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porquanto
os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem
depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura, na Terra,
recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus, entretanto, terá em
apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os
fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo
agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o
esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado
vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é
para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.
E sabeis, por ventura,
se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos?
Tande a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o tempo germinará.
Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos
outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem
ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório
carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu
castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida
noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor.
Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e
vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além
disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito
de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos
desanimassem.
Ah! Meus amigos, se
conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas
existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade
das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso
mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que concede
reviver para chegardes a ele. (Guia protetor. Sens, 1862).
É comum se ouvir falar
de ingratidão. Amigos que depois de terem privado da maior intimidade, se
voltam violentos, destruindo aquela velha amizade, esquecendo-se de todos os
benefícios recebidos. Dos abraços, das promessas, das alegrias repartidas e
vividas em conjunto. Esse tipo de comportamento demonstra como o homem muito
necessita crescer espiritualmente, para galgar patamares mais elevados.
Recordamos de uma
antiga lenda judia que fala de um homem condenado à morte e que ia ser
apedrejado. Os carrascos lhe jogaram grandes pedras. O réu suportou o terrível
castigo em silêncio. Nenhum grito. Na sua condição, compreendia que a desgraça
havia caído sobre ele e que seus gritos de nada serviriam. Passou por ali um
homem que havia sido seu amigo. Pegou uma pequena pedra e atirou na direção do
condenado. Somente para demonstrar que não era do seu partido. O pobre
condenado, atingido pela diminuta pedra, deu um grito estridente. O rei, que a
tudo assistia, ordenou que um de seus lacaios perguntasse ao réu porque ele
gritara quando atingido pela pequena pedra, depois de haver suportado sem se
perturbar as grandes. O condenado respondeu: As pedras grandes foram atiradas
por homens que não me conhecem, por isso me calei. Mas o pequeno seixo foi
jogado por um homem que foi meu companheiro e amigo. Por isso gritei. Lembrei
de sua amizade nos tempos de minha felicidade. E agora vi sua felicidade quando
me encontro na desgraça. O rei compadeceu-se e ordenou que o pusessem em
liberdade, dizendo que mais culpado do que ele era aquele que abandonava o
amigo na desgraça. A lenda nos dá a nota de quanto dói a ingratidão de um
amigo. Naturalmente, quanto mais estimamos e confiamos em alguém, mais nos
atormentará a sua traição. A sua ingratidão.
Agora, é importante
salientar que, quem cobra gratidão é vendedor de benefícios. Quem se doa em
prol de um filho, de um amigo, de um necessitado, jamais pensa em retribuição.
E assim deve ser quando ajudarmos qualquer criatura, seja no lar, na rua, no
local de trabalho ou na vida social.
Inúmeras vezes,
perdemos a oportunidade de ajudar porque estamos mais interessados em vender do
que doar. Entretanto, é nosso dever aproveitar todas as oportunidades para
ajudar o próximo, já que somos devedores uns dos outros, e somente com a
prática do bem de maneira desinteressada estaremos reparando os nossos erros de
reencarnações passadas, bem como, evoluir moralmente. As mágoas, os
desentendimentos, as decepções, ocorrem sempre que cobramos amizade, apreço,
compreensão, daqueles que eventualmente tenhamos beneficiado. Nos sentimos,
muitas vezes, decepcionados, porque esperamos reconhecimento ou recompensa em
troca do bem praticado. Mas, é, através da ingratidão dos outros, que Deus
percebe a nossa perseverança no bem, e se estamos desenvolvendo a nossa
capacidade de fazê-lo sem visar a lucros. Lembremos que o bem praticado não se
perde, pois, ao realiza-lo, estamos também nos ajudando, sem contar que,
através do nosso exemplo, podemos construir, para que no futuro, germinem bons
frutos no solo que esteja preparado. Em hipótese alguma devemos pensar que
alguém tem obrigação de fazer-nos qualquer coisa, mesmo que essa obrigação
exista. Por exemplo, os pais, seguramente, têm o dever para com os filhos; de
educa-los, corrigir-lhes os defeitos e ensinar-lhes o amor a Deus e ao próximo;
mas os filhos têm ao mesmo tempo o dever de serem gratos aos pais pelo que
recebem deles.
É importante, pois que
examinemos nossas próprias ações, observando se não somos ingratos. Em especial
com aqueles que estenderam a preciosidade da sua amizade, por longos e longos
anos. Ingratidão. Sentimento que somente floresce nos corações enfermiços.
Questões para reflexões:
1 - Por que o homem se
sente, muitas vezes, decepcionado na prática do bem?
Porque ainda a pratica
de forma interesseira, não cristã. Se examinarmos a fundo nossa consciência,
verificaremos que sempre esperamos alguma forma de reconhecimento ou recompensa
em troca do bem que praticamos.
"Nesses, há mais
egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem apenas para receber
demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse."
2 - Por que Deus
permite que sejamos pagos com a ingratidão?
Para experimentar a
nossa perseverança no bem. Para que possamos desenvolver a nossa capacidade de
fazer o bem, sem visar qualquer espécie de lucro.
"Ficai certos de
que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em
conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago."
3 - Por que o benefício
jamais se perde?
Porque, ao praticá-lo,
trabalhamos igualmente por nós, pois Deus vê a nossa ação e a levará em conta;
e pelos outros, visto que o nosso benefício é uma semente que germinará assim
que o solo estiver pronto.
"Os benefícios
acabam por abrandar os mais lerdos corações."
"Também por vós
mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem
desinteressadamente."
"Todo aquele que
der, ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos,
porque é meu discípulo, em verdade vos digo, não perderá sua recompensa."
Conclusão do estudo:
Aproveitar todas as ocasiões
de servir ao próximo é dever de cada um de nós, pois somos devedores uns dos
outros e, através da prática desinteressada do bem, não só reparamos faltas de
vidas anteriores como aceleramos nossa caminhada de volta ao Pai.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
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Instruções dos
Espíritos
Os Órfãos
18.
Meus irmãos, amai os órfãos! Se
soubésseis quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando criança!
Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servirmos de pais. Que
divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome
e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vicio! Quem estende
a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque demonstra compreender
e praticar a sua lei. Lembrai-vos também de que, frequentemente, a criança que
agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis
recordar, o que fazeis já não seria caridade, mas o cumprimento de um dever.
Assim, portanto, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa
caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima
a mão que a recebe, pois os vossos óbolos são frequentemente muito amargos!
Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem
no casebre! Daí com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de
todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar
protetoral, que resolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer
o bem, trabalhais para vós e para os vossos. (Um Espírito familiar. Paris,
1860).
Esta mensagem, de Um
Espírito familiar, embora escrita em 1860, é atualíssima, considerando a
quantidade de crianças pelas ruas, pedindo dinheiro nos sinais de trânsito e,
considerando também, que órfãos hoje, não são somente as que não têm pais e
mães, mas as que são consideradas carentes, que vivem nas ruas durante o dia
indo para casa a noite, as abandonadas ou as que fugiram de casa, as exploradas
por adultos, as que não frequentam escolas, com pais ou sem eles.
A mensagem toda é um
apelo a que os homens amem essas crianças, cuidem delas, as amparem,
considerando que, se Deus permite que elas existam, pela imperfeição dos
próprios homens, no respeito ao livre-arbítrio do Espírito imortal, espera que
elas despertem os sentimentos bons, que todos possuem, em maior ou menor grau
de desenvolvimento, amparando-as, servindo-lhes de pais.
Criança abandonada, sem
a proteção da família é presa fácil de adultos inescrupulosos, que as usam para
seus próprios interesses.
Criança abandonada
encontra motivos para desenvolver ódio, rancor, inveja, tristeza, em relação
aos homens e em relação à vida.
Criança abandonada não
tem parâmetro de uma estrutura familiar, que facilite seu julgamento em relação
aos fatos da vida e dos comportamentos humanos. Criança abandonada desenvolve a
desconfiança em relação aos adultos, à vida, que abafa aquela simplicidade e
confiança, que levou Jesus a dizer que os céus pertencem a quem a elas se
assemelharem. Criança abandonada, na sua curiosidade natural, sem a estrutura
familiar, é, mais facilmente, atraída pelas drogas, viciando-se, e
envolvendo-se nas suas consequências Criança abandonada desenvolve a esperteza,
a malícia, a malandragem, na luta pela sobrevivência, não se preocupando com
valores morais, considerados inadequados no meio onde vive. Quantos adultos
infratores das leis humanas e divinas, poderiam não existir, se tivessem sido
amparados na infância! Quão grande é a responsabilidade da sociedade como um
todo, na existência de crianças abandonadas!
Lembra o Espírito
comunicante que, “frequentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara
numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis não é
caridade, mas o cumprimento de um dever.” Cita que “todo sofredor é vosso irmão
e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a
essa esmola que queima a mão que a recebe, pois, os vossos óbolos são frequentemente
muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação
não os esperassem no casebre!”
No auxiliar alguém,
assim como em tudo que se faz, a maneira como se faz é que diz da verdadeira
intenção de quem age. Auxiliar criticando, sem consideração e respeito ao que
pede como ser humano que é, auxiliar apressadamente, como querendo libertar-se
de um dever desagradável, auxiliar impondo condições, pode amenizar a situação
do auxiliado, mas, não concorre para o desenvolvimento do amor em quem assim
faz e em quem recebe. Não estabelece vínculos de simpatia, de gratidão, de
afetividade, entre ambos, que é uma importante consequência da verdadeira
caridade. Por isso, o Espírito familiar escreve “Dai com ternura, juntando ao
benefício material o mais precioso de todos : uma boa palavra, uma carícia, um
sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que
sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.”
Procuremos oferecer às
crianças, a toda e qualquer criança, nossos melhores sentimentos, nossos
melhores pensamentos e nossas melhores ações em seu favor. Estaremos assim,
contribuindo com a melhoria da humanidade em um futuro mais próximo.
Questões para reflexão:
1 - Como devemos
proceder para com os órfãos?
Devemos ampará-los na
medida de nossas possibilidades, visitá-los, assisti-los com amor, bens
materiais, palavras e gestos de conforto, adoção, etc.
"Todo sofredor é
vosso irmão e tem direito à vossa caridade."
"Dai
delicadamente, juntai ao benefício que fizerdes o mais precioso de todos os
benefícios: o de uma boa palavra, de uma carícias, de um sorriso
amistoso."
2 - Podem, muitas vezes,
os órfãos estar ligados à nossa vida?
Sim. Muitas vezes são
entes queridos de vidas passadas que vêm buscar nosso apoio para suas
provações.
"Ponderai, também
que muitas vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra encarnação."
Se a reconhecêssemos,
nosso mérito seria reduzido.
Conclusão do Estudo:
A orfandade é uma das
mais difíceis provações por que passa o espírito encarnado. É, também, um
desafio à nossa solidariedade cristã. Amparar o órfão é ato que agrada a Deus
e, portanto, eleva espiritualmente quem o pratica.
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A Piedade
17.
A piedade é a virtude que mais vos
aproxima dos anjos. É a irmã de caridade que vos conduz para Deus. Ah!, deixai
vosso coração enternecer-se, diante das misérias e dos sofrimentos de vossos
semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que derramais nas suas feridas. E
quando, tocados por uma doce simpatia, conseguis restituir-lhes a esperança e a
resignação, que ventura experimentais! É verdade que essa ventura tem um certo
amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas se não apresenta o forte sabor
dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por
estes; pelo contrário, tem uma penetrante suavidade, que encanta a alma.
A piedade, quando
profundamente sentida, é amor: o amor é devotamento é o olvido de si mesmo; e
esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela
mesma que o divino Messias praticou em toda a sua vida, e ensinou na sua
doutrina tão santa e sublime. Quando essa doutrina for devolvida à sua pureza
primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a Terra feliz,
fazendo reinar na sua face à concórdia, a paz e o amor.
O sentimento mais
apropriado a vos fazer progredir, domando vosso egoísmo e vosso orgulho, aquele
que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a
piedade, essa piedade que vos comove até as fibras mais íntimas, diante do
sofrimento de vossos irmãos, que vos leva a estender-lhes a mão caridosa e vos
arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, portanto, em vossos corações,
essa emoção celeste, nem façais como esses endurecidos egoístas que fogem dos
aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a
feliz existência. Temei ficar indiferente, quando puderdes ser úteis! A
tranquilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranquilidade
do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a
corrupção.
Quanto a piedade está
longe, entretanto, de produzir a perturbação e o aborrecimento de que se
arreceia o egoísta! Não há dúvida que a alma experimenta, ao contato da
desgraça alheia, confrangendo-se, um estremecimento natural e profundo, que faz
vibrar todo o vosso ser e vos afeta penosamente. Mas compensação é grande,
quando conseguis devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se
comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo umedecido de emoção
e recolhimento, se volta com doçura para vós, antes de se elevar ao céu,
agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo. A piedade é a
melancólica, mas celeste precursora da caridade, esta primeira entre as
virtudes, de que ela é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece. (Miguel. Bordéus,
1862)
Comentário:
A piedade faz com que
nos sensibilizemos diante do sofrimento alheio, e, com isso, causa uma
transformação interior; quando verdadeira, nos faz evoluir espiritualmente,
sublimando e enobrecendo nossos sentimentos, conduzindo-nos a Deus e quebrando
o monopólio do egoísmo e do orgulho, os quais nos jogam no conformismo,
reclamações, materializando-nos e entravando nossa evolução espiritual perante
a indiferença.
A piedade é irmã da
caridade, e quando bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o
esquecimento de si mesmo e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos infelizes
é a virtude por excelência. Também é o sentimento mais apropriado para nos
fazer progredir, domando sentimentos que nos faz criar barreiras diante do
outro em aflição, predispondo assim nossa alma à humildade, à beneficência e ao
amor ao próximo.
Mas como entender a
piedade em profundidade e como colocá-la em prática?
Segundo o conhecimento
superficial que se tem sobre ela, a piedade, ou a compaixão, significa sofrer
com alguém. E, como naturalmente fugimos do sofrimento, a piedade pode nos parecer
incômoda muitas vezes. Somemos isso à indiferença ainda reinante nos corações
humanos, quanto ao que se passa com o outro, e teremos o homem distante da
piedade. Porém, ao compreender melhor essa virtude, veremos que nos é
extremamente benéfica, e não significa que com ela traremos mais dor para
nossos dias. Compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo, nem
compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer. É recusar-se a considerar
um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente e um ser vivo,
qualquer que seja, como coisa. A compaixão ou piedade é o contrário da
crueldade, que se regozija com o sofrimento do outro, e do egoísmo, que não se
preocupa com ele. É uma atitude mental baseada no desejo de que os outros se
livrem do seu sofrimento. Está associada a uma sensação de compromisso,
responsabilidade para com o outro. A verdadeira compaixão tem por base o
raciocínio de que todo ser humano tem o desejo inato de ser feliz e de superar
o sofrimento, exatamente como nós. E exatamente como nós, ele tem o direito de
realizar essa aspiração fundamental. No processo de conquista dessa virtude
vamos encontrar a prática da empatia, que é o instrumento fundamental para se
chegar à piedade. A empatia é a condição psicológica que permite a uma pessoa
sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstância experimentada
por outra pessoa. Essa técnica envolve a capacidade de suspender,
provisoriamente, a insistência no próprio ponto de vista mas, também, encarar a
situação a partir da perspectiva do outro. Ela é benéfica em todas as situações
da vida e, em especial, no desenvolvimento da piedade. Tendo em mãos tal
habilidade, poderemos nos deixar envolver pelo sofrimento alheio. Nesse
instante estaremos operando como mensageiros de Deus, consolando aflições e
praticando a caridade em uma de suas belíssimas formas.
Questões para reflexão:
1 - O que é piedade?
É a simpatia espontânea
e desinteressada que experimentamos, ao presenciarmos o sofrimento do nosso
próximo.
"A piedade é a
virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a
Deus."
2 - Por que é
necessário que tenhamos piedade, diante do sofrimento do próximo?
Porque este sentimento,
se sincero e profundo, nos levará à prática da caridade, pois nos sensibilizará
ao ponto de desejarmos minorar-lhe o sofrimento, através dos meios de que
dispusermos.
A piedade bem sentida é
amor, devotamento, esquecimento de si mesmo, abnegação em favor dos
desgraçados.
A piedade é a mola
propulsora da caridade: não a praticamos, senão quando nos compadecemos do
sofrimento alheio.
3 - Por que é comum
refrear este sentimento, evitando encarar o sofrimento alheio?
Porque o egoísmo e o
orgulho endurecem o nosso coração, gerando a indiferença, o comodismo, o medo
de sermos importunados em nossa tranquilidade ou lesados nos bens materiais.
"O sentimento mais
apropriado a fazer que progridais, domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele
que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor ao próximo é a
piedade."
"Temei
conservar-vos indiferentes, quando puderdes ser úteis."
Conclusão do Estudo:
A piedade é o
sentimento divino que nos impulsiona ao auxílio do próximo, à caridade. Todos
trazemos no coração esta centelha de amor que precisa do nosso esforço fraterno
para expandir-se.
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ESTUDO
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CAPÍTULO XIII – NÃO
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Instruções dos
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A Beneficência
11.
A beneficência, meus amigos, vos dará
neste mundo os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não
são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh!, pudésseis
compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das
belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar
voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vesti a um irmão!
Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros
felizes! Quais as festas mundanas que se pode comparar a essas festas jubilosas,
quando, representantes da Divindade, levais a alegria a essas pobres famílias,
que da vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras; quando vedes esses
rostos macilentos brilharem subitamente de esperança, desprovidos de pão, esses
infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e
repetiam estas palavras, que, como finos punhais, penetravam o coração materno:
“Tenho fome!” Oh!, compreendei quanto são deliciosas as impressões daquele que
vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendei
quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro
do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais
dolorosas. Ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador:
“Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis!”
(...)
(Adolfo, bispo de
Argel. Bordéus, 1861)
12.
Sede bons e caridosos: eis a chave dos
céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima:
“Amai-vos uns aos outros”. A alma não pode elevar-se às regiões espirituais
senão pelo devotamento ao próximo; não encontra felicidade e consolação senão
nos impulsos da caridade. Sede bons, amparai os vossos irmãos, extirpai a
horrível chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, o caminho da felicidade eterna
deve abrir-se para vós. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar, crescer
sua alegria interior, ao relato de um belo sacrifício, de uma obra de pura
caridade? Se buscásseis apenas o deleite de uma boa ação, estaríeis sempre no
caminho do progresso espiritual. Exemplos não vos faltam; o que falta é a boa
vontade, sempre rara. Vede a multidão de homens de bem, de que a vossa história
evoca piedosas lembranças. (...)
(S. Vicente de Paulo. Paris, 1858)
13.
Chamo-me Caridade, sou o caminho
principal que conduz a Deus; segui-me, porque eu sou a meta a que vós todos
deveis visar.
Fiz nesta manhã o meu
passeio habitual, e com o coração magoado venho
dizer-vos: Oh, meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto
tendes de fazer para secá-las todas! Inutilmente tentei consolar as pobres
mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bondosos que velam por vós,
que não vos abandonarão; paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as
suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e voltavam para mim os seus grandes olhos
assustados. Eu lia em seus pobres semblantes que o corpo, esse tirano do
Espírito, tinha fome, e que, se as minhas palavras lhes tranquilizam um pouco o
coração, não lhes saciavam o estômago. Então eu repetia: Coragem! Coragem! E
uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e
ergueu-a no espaço vazio, como para me rogar que protegesse aquele pobre e
pequeno ser, que só encontrava num seio estéril alimento insuficiente. (...)
(Cárita, martirizada em Roma. Lião, 1861)
14.
Há muitas maneiras de fazer a caridade,
que tantos de vós confundem com a esmola. Não obstante, há grande diferença
entre elas. A esmola, meus amigos, algumas vezes é útil, porque alivia os
pobres. Mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, quanto para o que
a recebe. A caridade, pelo contrário, liga o benfeitor e o beneficiário, e além
disso se disfarça de tantas maneiras! A caridade pode ser praticada mesmo entre
colegas e amigos, sendo indulgentes uns para com os outros, perdoando-se
mutuamente suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor próprio de ninguém.
Para vós, espíritas, na vossa maneira de agir em relação aos que não pensam
convosco, induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chorar, sem afrontar
as suas convicções, mas levando-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão
ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá penetrar nos
seus corações. Eis uma das formas da caridade. (...)
Cárita. Lião, 1861)
15.
Meus caros amigos, cada dia ouço dizerem
entre vós: “Sou pobre, não posso fazer a caridade”. E cada dia, vê que faltais
com a indulgência para com os vossos semelhantes. Não lhes perdoais coisa
alguma, e vos arvorais em juízes demasiado severos, sem vos perguntar se
gostaríeis que fizessem o mesmo a vosso respeito. A indulgência não é também
caridade? Vós, que não podeis fazer mais do que a caridade indulgente, faz pelo
menos essa, mas fazei-a com grandeza. Pelo que respeita à caridade material,
quero contar-vos uma história do outro mundo. (...)
(Um Espírito protetor. Lião, 1861)
16
– A mulher rica, feliz, que não tem
necessidade de empregar o seu tempo nos trabalhos da casa, não pode dedicar
algumas horas ao serviço do próximo? Que, com as sobras dos seus gastos
felizes, compre agasalhos para o infeliz que tirita de frio; com suas mãos
delicadas, confeccione roupas grosseiras, mas quentes, e ajude a mãe pobre a
vestir o filho que vai nascer. Se o seu filho, com isso, ficar com alguns
rendados de menos, o daquela terá mais calor. Trabalhar para os pobres é
trabalhar na vinha do Senhor. (...)
(João. Bordéus, 1861)
Comentário:
Na primeira mensagem, Cárita escreve na primeira pessoa do singular:
“Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me, porque
eu sou a meta a que vós todos deveis visar”. Narra o caminho percorrido por
ela, nos lugares em que a caridade deve atuar, vendo quantas misérias, quantas
lágrimas, e o quanto têm os homens a fazer para eliminá-las da face da Terra. Cita
as mães, sem alimento em casa, as palavras que ela lhes diz aos ouvidos
espirituais, que consolam um pouco os corações, mas que não saciam a fome do
corpo. Cita os velhos sem trabalho e sem abrigo, envergonhados de pedir nas
ruas, eles que sempre trabalharam. Por isso, vendo carências, já não mais
justificáveis em um mundo tão rico em recursos materiais para todos, ela se
dispôs a estimular, a prática da beneficência entre os homens, dizendo: “Eu sou
a Caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos sofredores.” Escreve,
então, o que a caridade proporciona a quem se esforça em praticá-la. Oferece a
cada um uma bela árvore, que se chama Beneficência, carregada de flores e frutos,
para serem colhidos por quem quiser. Para cada galho arrancado, todas as boas
ações praticadas serão ali colocadas, levadas por ela ao Pai, que as carregará
de novo, “porque a beneficência é inesgotável”. É uma bela metáfora, que
evidencia o quanto é importante e necessário, em nosso mundo, a prática da
beneficência, ato de beneficiar, de fazer bem aos outros, que proporciona
também a quem o faz, prazeres inimagináveis e bens espirituais para sempre.
Na segunda mensagem, ela escreve sobre as maneiras de fazer a caridade,
que não pode ser confundida com a esmola, que embora seja ainda necessária, por
causa da imperfeição dos homens, sendo útil, muitas vezes, não deixa de ser um
ato humilhante, tanto para quem dá como para quem recebe. A caridade, muito ao
contrário, estabelece uma ligação afetiva e efetiva entre um e outro, podendo
ser realizada sem constrangimento, ambos sendo beneficiados. Pode ser praticada
entre colegas, amigos, vizinhos, parentes, através da indulgência, da
tolerância de uns para com os outros, no valorizar as qualidades, e não os
defeitos, no esforço de uma convivência agradável e produtiva para todos. Faz
caridade o espírita, que divulga o espiritismo, sempre que havendo a
oportunidade, sem impor, sem querer fazer proselitismo, oferece, ao que pode se
beneficiar com seus ensinos, ou manifestar algum interesse, a opinião espírita,
através de uma conversa, de um livro, de um convite a uma reunião e também
quando exemplifica o que aprende. Enaltece as reuniões de mulheres que dedicam
parte do seu tempo para as diversas atividades, que resultam em benefício dos
pobres e necessitados, como bens exemplos a serem seguidos. Cita os benefícios
morais causados pelas ofertas materiais a quem as recebe no estímulo à
confiança em Deus e nos homens, na comprovação de que existe bondade, pessoas
que se preocupam com os outros, estimulando assim, a prática do bem. Afirma que
os bons Espíritos estão sempre auxiliando quem busca fazer o bem.
A cada ação de desprendimento, vamo-nos espiritualizando e diminuindo o
nosso apego ao mundo material, tão passageiro. Olhemos em volta. Quantos bens
nos são disponibilizados no dia-a-dia, até mais do que precisamos! E se observarmos
no que nos sobra e que simplesmente jogamos fora, certamente daremos um puxão
de orelha em nós mesmos, e diremos: “Mas que egoísta que eu sou!” Este é o
maior desafio a ser vencido, para fazer valer a encarnação. Jesus disse que o
Filho do Homem não veio à Terra para ser servido, mas para servir. E nós,
também, aqui estamos para servir. A caridade é a virtude por excelência e
constitui a mais alta expressão do sentimento humano, sobre cuja base as
construções elevadas do Espírito encontram firmeza para realizar atividades
nobres, em prol de todas as criaturas.
Jesus esclareceu-nos que todas as vezes que dermos de comer a um
faminto; dermos de beber a quem tem sede; dermos abrigo a quem não tem um lar;
vestirmos os nus; visitarmos os doentes e encarcerados, é a Ele próprio que
estamos fazendo. Portanto, mãos à obra.
Há um longo caminho a percorrer, e que será menos áspero cada vez que nos
disponibilizarmos a praticar a beneficência. “Não pode a alma elevar-se às
altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos
arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os
vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprindo esse
dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna”, recomenda-nos S. Vicente
de Paulo.
O verdadeiro discípulo
de Jesus é aquele que não apenas dá o que sobra, mas divide o que tem. (Edgard
Armond) A hora é de juntarmos nossos esforços em favor dos corações em
sofrimento.
Questões para reflexão:
1 - A quem cabe
socorrer os necessitados?
Além do Estado, esta
responsabilidade cabe a todos nós. Devemos socorrer os necessitados, sobretudo
aqueles irmãos que estão mais perto de nós. A ajuda aos nossos irmãos independe
da condição social e econômica de quem ajuda.
"Oh! meus amigos,
que de misérias, que de lágrimas, quanto tendes de fazer para secá-las
todas."
2 - Sendo a miséria do
mundo tão grande, de que adiantará uma ação individual se não poderá
resolvê-la?
É bem verdade que as
pequenas ações individuais não resolverão a miséria do mundo. Mas, através delas,
as dores de um infortunado podem ser minoradas, a fome de um carente saciada, a
solidão de um irmão atenuada.
Não pretendemos acabar
com a miséria do mundo, mas contribuir para minorá-la, fazendo nossa parcela de
caridade, por menos que seja e da melhor maneira possível, sem nos importar com
a dos outros.
3 - Qual a importância
da beneficência para o nosso progresso espiritual?
Além de se constituir
em auxílio ao próximo, a beneficência gera felicidade interior e se constitui
no melhor caminho para nos aproximar de Deus.
"Acompanhai-me,
pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a
minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque
sou a caridade."
Conclusão do Estudo:
Praticando todo o bem
que estiver ao nosso alcance, experimentaremos as suaves alegrias da paz
interior e seguiremos, mais rapidamente, a estrada que nos conduz a Deus.
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ESTUDO
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CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
A caridade material e a
caridade moral
9.
“Amemo-nos uns aos outros e façamos aos
outros o que quereríamos que nos fosse feito”. Toda a religião, toda a moral,
se encerram nestes dois preceitos. Se eles fossem seguidos no mundo, todos
seriam perfeitos. Não haveria ódios, nem ressentimentos. Direi mais ainda: não
haveria pobreza, porque, do supérfluo da mesa de cada rico, quantos pobres
seriam alimentados! E assim não mais se veriam, nos bairros sombrios em que
vivi, na minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis
crianças necessitadas de tudo.
Ricos! Pensai um pouco
em tudo isso. Ajudai o mais possível aos infelizes; daí, para que Deus vos
retribua um dia o bem que houverdes feito: para encontrardes, ao sair de vosso
invólucro terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos, que vos receberão no
limitar de um mundo mais feliz.
Se pudésseis saber a
alegria que provei, ao encontrar no além aqueles a quem beneficiei, na minha
última vida terrena!
Amai, pois, ao vosso
próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que o desgraçado que
repelis talvez seja um irmão, um pai, um amigo que afastais para longe. E
então, qual não será o vosso desespero, ao reconhecê-lo depois no Mundo dos
Espíritos!
Quero que compreendais
bem o que deve ser a caridade moral, que todos podem praticar, que
materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se por em
prática.
A caridade moral
consiste em vos suportardes uns aos outros, o que menos fazeis nesse mundo
inferior, em que estais momentaneamente encarnados. Há um grande mérito,
acreditai, em saber calar para que outro mais tolo possa falar: isso é também
uma forma de caridade. Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica
escapa de uma boca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos
recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós,
quando na vida espírita, a única verdadeira, está às vezes muito abaixo: eis um
merecimento que não é de humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com
as faltas alheias é caridade moral.
Essa caridade,
entretanto, não deve impedir que se pratique a outra. Pelo contrário: pensai,
sobretudo, que não deveis desprezar o vosso semelhante; lembrai-vos de tudo o
que vos tenho dito; é necessário lembrar, incessantemente, que o pobre repelido
talvez seja um Espírito que vos foi caro, e que momentaneamente se encontra
numa posição inferior à vossa. Reencontrei um dos pobres do vosso mundo a quem
pude, por felicidade, beneficiar algumas vezes, e ao qual tenho agora de pedir,
por minha vez.
Recordai-vos de que
Jesus disse que somos todos irmãos, e pensai sempre nisso, antes de repelirdes
o leproso ou o mendigo. Adeus! Pensai naqueles que sofrem, e orai. (Irmã
Rosária. Paris, 1860).
10.
Meus
amigos, tenho ouvido muitos de vós dizerem: Como posso fazer a caridade, se
quase sempre não tenho sequer o necessário?
A caridade, meus amigos,
se faz de muitas maneiras. Podeis fazê-la em pensamento, em palavras e em
ações. Em pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem terem
sequer vivido; uma prece de coração os alivia. Em palavras: dirigindo aos
vossos companheiros alguns bons conselhos. Dizei aos homens amargurados pelo
desespero e pelas privações, que blasfemam do nome do Altíssimo: “Eu era como
vos; eu sofria, sentia-me infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede agora
sou feliz!” Aos anciãos que vos disseram: “É inútil; estou no fim da vida;
morrerei como vivi”, respondei: “A justiça de Deus é igual para todos;
lembrai-vos dos trabalhadores da última hora!” Às crianças que, já viciadas
pelas más companhias, perdem-se nos caminhos do mundo, prestes a sucumbir às suas
tentações, dizei: “Deus vos vê, meus caros pequenos!”, e não temais repetir
frequentemente essas doces palavras, que acabarão por germinar nas suas jovens
inteligências, e em lugar de pequenos vagabundos, fareis delas verdadeiros
homens. Essa é também uma forma de caridade.
Muitos de vós dizeis
ainda: “Oh! somos tão numerosos na terra, que Deus não pode ver-nos a todos!”
Escutai bem isso, meus amigos: quando estais no alto de uma montanha, vosso
olhar não abarca os bilhões de grãos de areia que a cobrem? Pois bem: Deus vos
vê da mesma maneira; e Ele vos deixa o vosso livre arbítrio, como também
deixais esses grãos de areia ao sabor do vento que os dispersas. Com a
diferença que Deus, na sua infinita misericórdia, pôs no fundo do vosso coração
uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Ouvi-a, que ela vos dará
bons conselhos. Por vezes, conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do
mal, e então ela se cala. Mas ficai seguros de que a pobre relegada se fará
ouvir, tão logo a deixardes perceber a sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a,
e frequentemente sereis consolados pelos seus conselhos.
Meus amigos, a cada
novo regimento o general entrega uma bandeira. Eu vos dou esta máxima do
Cristo: “Amai-vos uns aos outros”. Praticai essa máxima: reunir-vos todos em
torno dessa bandeira, e dela recebereis a felicidade e a consolação. (Um
Espírito protetor. Lião, 1860).
Quando falamos em
“caridade nas relações com nossos semelhantes” devemos ter em mente de que se
trata de algo maior que simplesmente a oferta de bens materiais, sejam eles de
qualquer ordem de grandeza, sendo que, mesmo nesta ação, precisaremos levar em
conta a forma como esta doação se dá: se ela é revestida de respeito, de
compaixão, de entendimento.
Indigno aprendiz do
evangelho aquele que doa com a intenção de receber aplausos, ou ainda o que doa
humilhando seu próximo.
Quanto à amplitude da
caridade, como nos propõe Jesus e nos explica Kardec, percebemos que, em se
tratando de “relações interpessoais” a questão moral recebe importante
destaque.
A caridade moral surge
como necessidade premente entre as criaturas, devendo esta [a caridade] buscar
o irmão necessitado onde estiver, seja ele carente no âmbito material,
psicológico, emocional ou espiritual.
A paciência faz parte
deste processo. Sem ela, impossível conseguirmos realizar a caridade moral,
pois para sermos verdadeiramente caridosos teremos de compreender as
dificuldades íntimas de nossos irmãos, suas mazelas, seus defeitos, entendendo
que cada um está e realiza de acordo com suas possibilidades.
O Espírito de Irmã
Rosália comenta que caridade moral é a mais difícil de ser realizada na Terra,
por conta de nosso orgulho exacerbado e de nosso egoísmo. Já a caridade
material é, sem duvida, a mais simples, embora ainda seja a mais valorizada em
nossa cultura, até por conta da situação difícil por que passam muitas pessoas
em nosso país.
É mais fácil abrir o
nosso armário e retirarmos de lá as roupas que já não usamos mais, os sapatos
velhos, os cobertores em desuso. Claro que é uma ação de grande valor, pois
indica que a pessoa se preocupa em levar conforto às pessoas. Trata-se, por
certo, de desprendimento material. Porém, a caridade moral nos pedirá algo a
mais: o envolvimento espiritual. O que significa isso? Quer dizer que iremos
ultrapassar nossos limites íntimos e não apenas os externos. Iremos calar para
que um mais ignorante fale, iremos dar apoio aos angustiados, dando de nós mais
do que dinheiro. Não participaremos de apontamentos humilhantes. Daremos nosso
tempo, nossos ouvidos, nosso coração.
Quando a nossa
participação, dentro do contexto social em que vivemos, estiver acarretando um
mínimo prejuízo a alguém, nesse instante estaremos atravancando o progresso da
humanidade. Precisamos viver pensando sim em nós, mas sem esquecer os outros,
uma vez que ninguém consegue ser feliz sozinho. Sejamos, então, caridosos.
Fazemos a caridade
moral quando doamos o nosso tempo de folga, as nossas preocupações e os nossos
interesses a ideais de nobreza, visando prestar serviços para construção de um
mundo melhor, mais solidário e humano.
O importante é que
façamos a caridade, seja ela material ou moral, mas façamos a caridade, pois, à
medida que plantamos a alegria de viver nos corações que nos cercam, a
Providência Divina, que tudo sabe e vê, agirá de forma a improvisar a nossa
ventura. Francisco de Assis, há mais de
um milênio, já nos informou “que é dando que se recebe”.
Questões para reflexão:
1 - Qual a diferença
entre caridade material e caridade moral?
Enquanto a primeira
ocupa-se em atender o necessitado com bens materiais, a segunda, que nada custa
materialmente falando, consiste em se conviver com o próximo, dispensando-lhe o
tratamento e as atenções que gostaríamos nos fossem dispensados.
Quando se pratica a
caridade material, dá-se do que se tem. Quando se pratica a caridade moral,
dá-se do que se é.
"Amemo-nos uns aos
outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles."
2 - Por que a caridade
moral é mais difícil de se praticar do que a caridade material?
Porque nos exige
verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância,
princípios tão contrários ao egoísmo, a que ainda estamos presos.
"A caridade moral,
que todos podem praticar, nada custa (...) porém é a mais difícil de
exercer-se."
3 - Como podemos
exercitar a caridade moral?
Pelas pequeninas ações
de cada dia, como tolerar o semelhante, não desejar mal ao próximo, não revidar
as ofensas, saber calar, ignorar a má palavra e o mau procedimento, começando
sempre pelos nossos familiares.
"Grande mérito há
(...) em um homem saber calar, deixando fale outro mais tolo do que ele."
"Não dar atenção
ao mau proceder de outrem é caridade moral."
Conclusão do Estudo:
O preceito de Jesus,
amai-vos uns aos outros, manifesta-se na prática da caridade material e moral,
sendo que maior valor tem esta última, porque exige de quem a pratica
verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Convidar os pobres e os
estropiados. Dar sem esperar retribuição
Itens 7 e 8
7 – Disse
também àquele que o convidara: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convideis
nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os
vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós
receberam. Quando deres um festim, convidai para ele os pobres, os aleijados,
os coxos e os cegos. E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo
retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos. Um dos que se
achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no
reino de Deus. (Lucas, cap. XIV, vv. 12 a 15).
8 – “Quando fizeres um banquete,
disse Jesus, não convides os teus amigos, mas os pobres e os estropiados”.
Essas palavras, absurdas, se as tomarmos ao pé da letra, são sublimes, quando
procuramos entender-lhes o espírito. Jesus não poderia ter querido dizer que,
em lugar dos amigos, fosse necessário reunir à mesa os mendigos da rua. Sua
linguagem era quase sempre figurada, e para os homens incapazes de compreender
os tons mais delicados do pensamento, precisava usar de imagem fortes, que
produzissem o efeito de cores berrantes. O fundo de seu pensamento se revela
por estas palavras: “E serás bem-aventurado, porque esses não têm com o que te
retribuir”. O que vale dizer que não se deve fazer o bem com vistas à
retribuição, mas pelo simples prazer de fazê-lo. Para tornar clara a
comparação, disse: convida os pobres para o teu banquete, pois sabes que eles
não podem te retribuir. E por banquete é necessário entender, não propriamente
a refeição, mas a participação na abundância de que desfrutas.
Essas palavras podem
também ser aplicadas em sentido mais literal. Quantos só convidam para a sua
mesa os que podem, como dizem, honrá-los ou retribuir-lhes o convite. Outros,
pelo contrário ficam satisfeitos de receber parentes ou amigos menos
afortunados, que todos possuem. Essa é por vezes a maneira de ajudá-los
disfarçadamente. Esses, sem ir buscar os cegos e os estropiados, praticam a
máxima de Jesus, se o fazem por benevolência, sem ostentação, e se sabem
disfarçar o benefício com sincera cordialidade.
Os ensinos de Jesus
foram sempre dirigidos a toda a humanidade e para todos os tempos, e deveriam
ficar registrados na mente dos que o ouviam, estimulando o raciocínio, não
sendo esquecidos, a fim de que os homens soubessem como deveriam progredir, na
sua caminhada evolutiva em direção à perfeição e à felicidade.
“Sua linguagem era
quase sempre figurada, e para os homens incapazes de compreender os tons
delicados do pensamento, precisava usar de imagens fortes, que produzissem
cores berrantes.”
Nesse texto a chave
para o entendimento do texto de Lucas está na frase: “E serás bem-aventurado,
porque esses não têm com o que te retribuir.”
Jesus prega o desinteresse
pessoal na ação de fazer o bem.
É bom reunir parentes,
amigos e vizinhos, em reuniões festivas, jantares e almoços, e Jesus não
poderia pedir que esses convidados fossem substituídos pelos mendigos da rua.
Ensina que o verdadeiro
ato de bem a outros é sempre o realizado sem esperar retribuição, sem interesse
de obter vantagens.
Lembra Kardec que a
palavra banquete pode significar também “participação na abundância de que
desfrutas”.
Assim, receber parentes
e amigos menos afortunados ou mais necessitados em casa é uma forma de
ajudá-los, com benevolência, disfarçando o benefício, sem ostentação, lembrando
sempre mais dos que têm necessidades maiores.
Lembrar sempre que a
caridade deve começar na família consanguínea, que não se reuniu na Terra por acaso.
Fazer o bem sempre,
pelo prazer de fazê-lo, sem exigir ou esperar nada em troca, é agir segundo a
lei do amor incondicional, que é a meta do desenvolvimento espiritual da
humanidade da Terra.
Na verdade, este
capítulo é um desdobramento do tema central dos ensinos de Jesus que é o Amor. O
amor que em suas diversas nuances recebe vários nomes, sendo um deles a
caridade, que é tratada por Kardec, no cap.XIII do Evangelho Segundo o
Espiritismo. É indispensável que nos lembremos que
todos os ensinos do Mestre dizem respeito a nós, espíritos. Jesus não fala
apenas para quem tem a vida circunscrita entre o berço e o túmulo. Ele ensina
para quem atravessa a eternidade, de reencarnação em reencarnação, buscando a
sabedoria que é a chancela para a felicidade. Assim, demonstra-nos a
necessidade de partilhar com os necessitados de todos os matizes do banquete
espiritual que já conseguimos merecer.
O cego a que ele se
refere é o que não "enxerga" a finalidade superior da vida,
apegando-se ao materialismo descontrolado, por não ter "olhos de
ver". O coxo e o paralítico são os que ainda não conseguem se locomover em
direção à educação integral. "Marcam passo" nas esquinas da vida
necessitando de mão amiga que os sustentem na caminhada. E os pobres? Ah! Esses
mendigam o conhecimento do espírito. Morrem de fome! Buscam pelas reencarnações
o alimento da alma, necessitando de quem o doe para que não sucumba mais uma
vez. E daqui tiramos mais uma bela lição. Todo serviço no bem deve ser feito
sem esperar recompensa nem retribuição. Fazer o bem pelo bem, deve ser o nosso
lema, para que o bem se fixe em torno dos nossos passos. Não é do bem que
precisamos?
Os ensinos de Jesus,
enfocados neste capítulo do Evangelho, são de uma riqueza maravilhosa e muito
oportunos para os dias em estamos vivendo, quando a futilidade pontifica,
marcando a nossa contemporaneidade com cenas tristes, permitindo a vitória da iniquidade,
dando vazão a uma inversão de valores que tem causando grandes problemas a
nossa sociedade. Cabe-nos a nós, espíritas, por tudo que temos recebido, cerrar
fileiras na busca dos valores da alma, transmitindo-os pelo exemplo a todos
quanto partilham do nosso círculo de relação.
Questões para reflexão:
1 - Quem são os pobres
e estropiados referidos no texto?
São os nossos irmãos
mais necessitados, que não têm condições de retribuir o nosso convite, a nossa
doação, a nossa visita, enfim, as nossas atenções.
"E sereis ditosos
por não terem eles meios de vô-lo retribuir..."
2 - Como deve ser a
atitude do cristão, quando auxilia o irmão necessitado?
Fraterna e discreta,
movida pelo sentimento da verdadeira caridade, que nos manda fazer o bem tão
somente pelo prazer de o praticar, sem esperar retribuição alguma.
"... praticam a
máxima de Jesus se o fazem por benevolência, sem ostentação, e sabem dissimular
o benefício, por meio de uma sincera cordialidade."
3 - Como exercitar esta
lição em nossa vivência diária?
Convidando para nossa
mesa os irmãos, amigos e parentes menos felizes, e atendendo-os fraternalmente
em suas necessidades, ao invés de buscarmos apenas o convívio daqueles que nos
podem beneficiar com a retribuição de nossos favores.
Encontramos os pobres e
os estropiados no seio de nossa própria família.
Conclusão do Estudo:
O convite à
participação nos bens de que desfrutamos deve ser inspirado na mais pura
fraternidade. Se for motivado pelo desejo de retribuição é mero comércio e
demonstração de orgulho e vaidade.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
O óbolo da viúva
(Itens 5 e 6)
Texto de Apoio:
5. E estando Jesus
assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que modo deitava o
povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo
chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E
convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou
esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque
todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da
sua mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu
sustento. (Marcos, XII: 41-44 – Lucas, XXI: 1-4).
6. Muita gente lamenta
não poder fazer todo o bem que desejaria, por falta de recursos, e se querem a
fortuna, dizem, é para bem aplicá-la. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode
ser muito sincera de parte de alguns; mas o seria de parte de todos, assim
completamente desinteressados? Não haverá os que, inteiramente empenhados em
beneficiar os outros, se sentirão bem de começar por si mesmos, concedendo-se
mais algumas satisfações, um pouco mais do supérfluo que ora não têm, para dar
aos pobres apenas, o resto? Este pensamento oculto, talvez dissimulado, mas que
encontrariam no fundo do coração, se o sondassem, anula o mérito da intenção,
pois a verdadeira caridade faz antes pensar nos outros que em si mesmo.
O sublime da caridade,
nesse caso, seria procurar cada qual no seu próprio trabalho, pelo emprego de
suas forças, de sua inteligência, de sua capacidade, os recursos que lhe faltam
para realizar suas intenções generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável
ao Senhor. Mas, infelizmente, a maioria sonha com meios fáceis de se
enriquecer, de um golpe e sem sacrifícios, correndo atrás de quimeras, como a
descoberta de tesouros, uma oportunidade favorável, o recebimento de heranças
inesperadas, e assim por diante. Quer dizer dos que esperam encontrar, para os
secundar nessas buscas, auxiliares entre os Espíritos? É evidente que eles nem
conhecem nem compreendem o sagrado objetivo do Espírito, e menos ainda a missão
dos Espíritos, aos quais Deus permite comunicarem-se com os homens. Mas
justamente por isso, são punidos pelas decepções. (Livro dos Médiuns, nº 294 e
295).
Aqueles cuja intenção é
desprovida de qualquer interesse pessoal, deve consolar-se de sua impotência
para fazer o bem que desejariam, lembrando que o óbolo do pobre, que o tira da
sua própria privação, pesa mais na balança de Deus que o ouro do rico, que dá
sem privar-se de nada. Seria grande a satisfação, sem dúvida, de poder socorrer
largamente a indigência; mas, se isso é impossível, é necessário submeter-se a
fazer o que se pode. Aliás, não é somente com o ouro que se podem enxugar as
lágrimas, e não devemos ficar inativos por não o possuirmos. Aquele que deseja
sinceramente tornar-se útil para os seus irmãos, encontra mil ocasiões de
fazê-lo. Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de
outra, pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades, que não
possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico
ou moral, tomar uma providência útil. Na falta de dinheiro, não dispõe cada
qual do seu esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos
outros? Isso também é a esmola do pobre, o óbolo da viúva.
Jesus se achava no átrio das mulheres. Era esse um quadrado cercado de
três lados por colunas, sobre as quais havia uma galeria, de onde as mulheres
podiam assistir as cerimônias litúrgicas. No quarto lado estava uma larga
escada semicircular, com quinze degraus que levava ao "átrio de
Israel". Num desses degraus sentara-se Jesus, para breve descanso.
Daí via-se, à esquerda, o Tesouro (gazofilácio), que consistia em treze
salas, cada uma das quais exteriorizava um "tronco", de gargalo
estreito em cima, que alargava na parte de baixo. Aí eram lançadas as esmolas
para o gasto do templo. Os exibicionistas trocavam a importância que desejavam
dar em moedinhas de cobre, para terem grande número e fazerem bastante barulho
ao serem lançadas, atraindo dessa forma a atenção dos demais peregrinos. O
Mestre estava a olhar aquela multidão, que tanto se avolumava nos dias de
Páscoa, enquanto observava as reações dos discípulos, que se admiravam,
arregalando os olhos e cutucando-se, quando algum ricaço, ruidosamente,
despejava sua bolsa cheia de moedas, causando um tilintar que trazia alegria
aos corações dos sacerdotes que serviam no templo. Nisso surge uma pobre viúva,
que deixa escorregar, envergonhada, dois leptas (centavos). Um sorriso fugaz dançou
sub-reptício nos lábios dos discípulos, revelando compaixão por aquele gesto
inútil. Ao ver o gesto da viúva (paupérrima, mendiga) e ao observar o desdém
compassivo dos discípulos, o Mestre, que via além das aparências, chama-lhes
atenção para o fato e explica:
- Olhem, ela deu mais que todos...
Os olhares dos discípulos se transformam em outros tantos pontos de
interrogação duvidosos, até que o Mestre completa a frase:
- Todos deram do que lhes sobrava, mas esta, deu tudo o que tinha para
viver.
Essa advertência é bastante importante, porque é comum darmos nada
porque não podemos dar muito. De que serve um simples pão que eu ofereça,
diante da enorme fome do mundo, indagamos muitas vezes?
Para entender a importância desse pão, lembremos Madre Teresa a
benfeitora de Calcutá, que afirmou certa vez que seu trabalho não passava de
uma gota no oceano. Completou, no entanto, que sem essa gota o oceano seria
menor.
O óbolo da viúva não precisa ser necessariamente a oferenda material. O
abraço carinhoso, a palavra de estímulo, a oferta do ombro para o alívio do
outro, a prece silenciosa em favor do que sofre, o auxílio ao velho que vai
atravessar a rua, a educação no trânsito e o uso rotineiro do faz favor,
obrigado, dá licença, desculpe.
Temos de nos convencer que não há inutilidade e que ninguém é sem valor.
Todos temos nossa parte na sociedade e, por menor que pareça, sempre é algo
relevante.
Naquela época, como ainda hoje se observa, vale mais quem mais dá: nos
templos, nas igrejas, nos centros espíritas, nas associações e fraternidades, e
até na vida particular: o presente mais caro deve ser comprado para aquele que
nos deu mais. As pessoas jurídicas dão títulos (benemérito, sócio vitalício,
presidente de honra...) e medalhas. Ninguém olha com olhos espirituais para a
pobrezinha que tirou do seu sustento para doar seu tostão: seu troco é um
sorriso complacente, um agradecimento pró forma, e logo se esquece o gesto que
tanto lhe custou.
Há que identifique neste ensino de Jesus a justificativa do dízimo,
colocando a pobre viúva na posição daquele devoto que entrega todos os bens
materiais que possui, chegando mesmo a faltar o essencial para viver. Estes que
defendem tal tese se baseiam em uma possível ajuda divina para os devotos que
se sacrificarem materialmente pelo seu estabelecimento religioso.
Kardec coloca a pobre viúva na posição daquele que faz a Caridade mesmo
em situação material difícil. Muitos dentre nós, reclamam da impossibilidade de
se fazer a Caridade, pelo fato de não possuir recursos financeiros que
possibilitem realizar grandes obras sociais. Gostariam de ter acesso a
fortunas, dizem, para que pudessem consolar os pobres e oferecer-lhes a
possibilidade de suprir suas necessidades imediatas. Contudo, a lição do Óbolo
da Viúva objetiva afirmar a não-necessidade de grandes fortunas para a prática
da Caridade. A Doutrina dos Espíritos coloca acima da Caridade dita material, a
Caridade Moral. A Caridade Moral é aquela que podemos praticar a qualquer hora
do dia e em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Distribuir uma palavra de
consolo, ajudar aqueles que possuem o corpo enfraquecido pelo tempo, dar de
comer a quem tem fome, saber lidar com a calúnia, mesmo em ambientes aonde
deveriam reinar a amizade e o amor, como o Lar.
O Óbolo da Viúva possui uma delicadeza que às vezes escapa a um olhar
mais desatento, mas que quando percebido torna-se de uma beleza ímpar para
aqueles que pretendem ingressas nas fileiras da Caridade.
A viúva deu o pouco do que tinha, porém ela deu isto como um ato de
amor, um ato de caridade para ajudar aquilo que ela considerava justo. E a
Caridade é exatamente assim: A Caridade verdadeira consiste no mais das vezes,
em dar aos outros a felicidade que não temos para nós mesmos. Sem nada exigir
das potências divinas, através da Caridade nós proporcionamos a alegria aos
outros, quando muitas vezes nós mesmos não temos com o que sentir alegria na
vida. Damos esta felicidade sem esperar dádivas do alto, mas por termos o ideal
de que ajudando ao próximo, podermos encontrar a paz de espírito que nos falta
na Terra.
Questões para reflexão:
1 - Por que Jesus valorizou o óbolo da viúva?
Porque sua dádiva, aparentemente de pequeno valor, foi retirada, com
sacrifício e amor, do pouco que possuía; enquanto que os ricos davam com
abundância do muito que lhes sobrava.
"... ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para
o seu sustento."
2 - A falta de recursos materiais constitui impedimento para a prática
da caridade?
Certamente que não. Aquele que dispõe de poucos recursos deve procurar
no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus
talentos, os meios de que carece para realizar seus generosos propósitos.
Muitas vezes, sob a desculpa de não possuir bens, cultivamos a
indiferença e o egoísmo, voltando as costas aos irmãos necessitados.
Conclusão do Estudo:
Todos somo chamados e sempre dispomos de meios para servir nosso
próximo. O mérito da nossa ajuda, entretanto, não tem qualquer relação com o
seu valor material, mas com a generosidade e o desprendimento que acompanham o
gesto.
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EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Os infortúnios ocultos
Texto de Apoio:
Nas grandes
calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no
sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há
milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem
sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os
que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam
assistência.
Quem é esta mulher de
ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua
companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida
aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam
respeitosamente.
Aonde vai ela? Sobe até
a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada,
refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas
as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras
palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da
mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto
lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da
família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio,
nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará
no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela,
à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital
levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No
canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina
aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes
pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera
como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de
si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o
sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação.
A noite, um concerto de
benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus,
protestantes, todos a bendizem. Por que tão singelo traje? Para não insultar a
miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda
como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A
mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu?
Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu
mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento
terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a
tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa.
Não te parece bastante
isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas
para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti." É
assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das
virtudes que o Cristo ensinou. E espírita ela? Que importa!
Em casa, é a mulher do
mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não
deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no
entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que
andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu
nela a sua benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a
ninguém." Falava assim Jesus.
Allan Kardec escreve
sobre os sofrimentos que passam despercebidos, nos lares, sem queixas, sem
coragem de sair pedindo ajuda, ou que estão impedidos de fazê-lo.
“São esses os
infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir,
sem esperar que venham pedir assistência.”
Nas grandes tragédias e
calamidades, a solidariedade se faz presente, atendendo aos pedidos de auxílio.
Mas, muitos sofrimentos particulares ficam sem ajuda, por serem desconhecidas.
Esses devem ser
procurados pelos cristãos, não esperando tornarem-se tragédias públicas. Num
auxílio discreto, que leve a alegria, a esperança e não a humilhação, a
vergonha de sentir-se incapaz de resolver seus problemas.
Essa caridade é um
exemplo da mão esquerda não saber o que faz a direita, a que diz palavras
consoladoras, sem perguntas e recriminações, que tornam a ajuda um presente
merecido, por não constranger o auxiliado.
É aquela que ajuda
enquanto houver a necessidade, colaborando também, se possível, na resolução
dos problemas e dos infortúnios.
Kardec descreve as
ações de uma senhora rica, que vive de acordo com as exigências do seu meio
social, mas que vai em roupas simples, para não ferir a pobreza alheia, em
companhia da filha adolescente, entregar roupas e alimentos necessários para
que essa família possa continuar vivendo com dignidade, enquanto a adversidade
durar.
A citação da presença
da filha nas visitas ressalta a importância dela conhecer uma realidade
diferente da que vive, dos benefícios que podem doar os que têm mais, e como
devem ser tratadas todas as pessoas, com dignidade, com respeito, não
importando as diferenças sociais, financeiras, educacionais, religiosas, etc.
Essa mãe está
ensinando, através do exemplo, como a beneficência deve ser praticada, além da
consideração, do respeito, que todo ser humano tem o direito de receber, visto
sermos todos criados por um Pai Perfeito em Sabedoria, Amor e Justiça.
Esse texto de Kardec é
importante também, em nossos dias, mesmo em locais onde não se precisa de
recursos materiais, mas que podem existir outros infortúnios sociais e morais,
que poderiam ser abrandados ou resolvidos, se houvesse um relacionamento maior
de amizade entre vizinhos, parentes, conhecidos, colegas de trabalho ou um
maior interesse em auxiliar o outro.
Prestar auxiliar aos
infortúnios ocultos, restritos a um pequeno número de conhecedores, é dever do
cristão, que pretende ser discípulo de Jesus.
Auxiliar uns aos
outros, pelo prazer de fazer o bem, de forma natural, espontânea, fraterna,
fazendo o outro sentir-se merecedor do auxílio, é seguir o ensino de Jesus, que
manda fazer o bem sem ostentação.
Questões para reflexão:
1 - Para fazer o bem,
devemos esperar que o necessitado nos procure?
Não. Se quisermos
praticar a verdadeira caridade, devemos socorrer nosso irmão em aflição, sem
esperar que ele se humilhe, vindo até nós.
"Esses infortúnios
discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem
esperar que peçam assistência."
2 - Quais as
características da caridade expostas no texto?
A humildade, que nos
leva a fazer o bem; a espontaneidade; a discrição; o desinteresse; o amor ao
próximo, enfim.
"Não lhes pergunta
qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus
irmãos e filhos de Deus todos os homens."
3 - Qual a melhor
recompensa que podemos obter, praticando a verdadeira caridade?
A paz de nossa consciência,
decorrente da certeza de que agimos conforme a lei de Deus.
"Ela não deseja
outra aprovação, além da de Deus e de sua consciência."
Conclusão do Estudo:
A verdadeira caridade
vai em busca do infortúnio para minorá-lo e o faz com respeito e em silêncio.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO XIII – NÃO
SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A VOSSA MÃO DIREITA
Fazer o bem sem
ostentação
Texto de Apoio:
1.
Tende cuidado em não praticar as boas
obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis
recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não
trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem
louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua
recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a
vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que
vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a
4.)
2.
Tendo Jesus descido do monte, grande
multidão o seguiu. - Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o
adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. - Jesus, estendendo a
mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a
lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja;
mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim
de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)
3.
Em fazer o bem sem ostentação há grande
mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que dá; constitui marca
incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para encarar as coisas
de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e
identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade,
para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a
aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova
que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida
presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se não cresse no que
diz.
Quantos há que só dão
na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício
recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às
ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que
fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito, aquele
que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se
pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do
seu orgulho.
Não saber a mão
esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a
beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o
simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o
cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se
alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os
benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante
Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão
satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.
E qual poderá ser a
recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que
lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a
sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo?
Oh! Para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê
privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro
castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de subirem ao
Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que praticou
nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício deplorado
é moeda falsa e sem valor.
A beneficência
praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é
caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe
aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe
a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de
receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de
prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre
orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa
no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de
melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da
necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o
beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade
orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade,
quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado
diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras:
"Não saiba a mão esquerda o que dá a direita.”
Existem pessoas que, com a mesma intensidade com que disponibilizam seus
préstimos, exigem reconhecimento e louvores. Esperam recompensa, em forma de
elogios e afagos em seus egos. São aquelas a quem Jesus se referia. Os que
fazem boas obras diante dos homens para serem vistos por eles. Fazem um favor e
“tocam trombeta” para que todos vejam como são solícitos e prestativos. Desse
modo, segundo Jesus, eles já receberam a sua recompensa. Para
quem recebe um favor, às vezes, pouco importa se quem o fez quer aparecer ou
não. Para quem tem fome não importa se quem deu um pedaço de pão fez isso por
ostentação, para aparecer, para ser reconhecido. Um pedaço de pão é um pedaço
de pão. Um pedaço de pão mata a fome. E o que ele precisava era matar a fome. Mas
esse fazer bem esperando recompensa, esperando elogio e reconhecimento, não é
um bem verdadeiro. Ele é uma ação transitória, quem o fez não o carrega
consigo. O bem só é bem se não espera nada em troca. O bem só é bem quando é
sincero. “Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a
direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido,
recompensar-te-á.” Quando fazemos o bem, seja um favor, um serviço, um gesto,
uma oração, devemos fazê-lo em segredo, de nós para nós, como algo íntimo e
espontâneo. O Pai, que vê escondido, é a nossa consciência. Nossa consciência é
a parte de Deus que nos cabe, é Deus que se manifesta através de cada um de
nós. Nossa consciência está sempre observando, nada escapa a ela. O bem sem se
exibir e sem ostentação, é um grande mérito. É um sinal indiscutível de
fraternidade e amor de quem pratica algum ato de caridade para com o próximo. Faz-se
necessário, portanto, que vigiemos nossas ações para que não venhamos a cair
nesta vala comum daqueles que preferem mostrar à sua mão esquerda o que a
direita fez. O ensinamento “que a mão esquerda não saiba o que faz a mão
direita” caracteriza muito bem, a beneficência modesta. Mas se existe a
beneficência modesta, há também a beneficência fingida, dissimulada. Aquele que
deixa a mostra parte de suas ações para que possa ser reconhecido. O bem sem se
exibir e sem ostentação, é um grande mérito. É um sinal indiscutível de
fraternidade e amor de quem pratica algum ato de caridade para com o próximo. Faz-se
necessário, portanto, que vigiemos nossas ações para que não venhamos a cair
nesta vala comum daqueles que preferem mostrar à sua mão esquerda o que a
direita fez. O ensinamento “que a mão esquerda não saiba o que faz a mão
direita” caracteriza muito bem, a beneficência modesta. Mas se existe a
beneficência modesta, há também a beneficência fingida, dissimulada. Aquele que
deixa a mostra parte de suas ações para que possa ser reconhecido.
Fazer o bem sem
ostentação tem um duplo mérito: além de ser caridade material é caridade moral,
porque respeita os sentimentos de quem beneficiamos. E o simples fato de respeitarmos esses
sentimentos, não atingindo o amor próprio desse nosso irmão, protegendo sua
dignidade prova a nossa superioridade moral. O mais importante de tudo isso e
que realmente devemos levar em conta é que Deus é que nos dará a recompensa. O sublime da verdadeira generosidade é quando
nós, invertendo os papéis, encontramos um meio de parecer que somos nós os
beneficiados, frente àquele a quem estendemos a nossa mão.
Questões para reflexão:
1 - Que significam as
palavras de Jesus “não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita"?
Que devemos fazer o bem
pela satisfação de auxiliar o irmão necessitado, e não como meio de chamar
atenção sobre nós mesmos.
"Tende cuidado em
não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas..."
"Não saber a mão
esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza, admiravelmente, a
beneficência modesta."
2 - Por que Jesus afirma
que os que alardeiam a caridade praticada já receberam sua recompensa?
Porque, quem assim age,
o faz movido por orgulho e vaidade, a fim de merecer os elogios das pessoas. E,
sendo esse o seu propósito, o reconhecimento já lhe basta, porque seu orgulho
foi satisfeito.
"Quando deres
esmolas, não trombeteeis".
"A prática do bem
com ostentação é demonstração real de inferioridade moral."
3 - Como devemos agir
para auxiliar o próximo?
Ajudando nosso irmão
discretamente, em segredo; cuidando em ocultar nosso gesto e dando graças a
Deus pela oportunidade, que nos concede, de praticar a caridade.
Na prática da caridade,
o maior beneficiado não é quem a recebe, mas aquele que a pratica.
Conclusão do Estudo:
Fazer o bem é dever de
todos nós. Portanto, não há razão para buscarmos aplausos para os nossos atos.
O verdadeiro bem age em silêncio, com a aprovação agradecida do beneficiário, o
agrado de Deus e a satisfação interior de quem o pratica.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
O
duelo
Allan Kardec inseriu nesse capitulo seis itens sobre o tema; os de
número 11, 12,13, 14, 15 e 16, ditados pelos Espíritos: Adolfo, bispo de Argel;
Santo Agostinho; Um Espírito protetor, e Francisco Xavier, demonstrando a
preocupação do Codificador e dos Espíritos sobre as práticas de duelos em
épocas passadas.
O duelo é um combate entre duas pessoas, com armas iguais, que reúne um
ofendido e um ofensor, motivadas, em geral, por ofensa, insulto à honra. Várias
são as armas possíveis (espada, florete e pistola). Cada duelante podia ter um
padrinho, que o assessorava. Cada duelo podia ter um juiz que fazia obedecer às
regras tratadas previamente.
Se o duelo acabasse em morte de uma das duas pessoas, o sobrevivente não
podia ser incriminado.
A prática do duelo não esta em conformidade com as Leis Naturais, por
comportar dois tipos de atentado à vida: assassínio e suicídio. É um crime
duplo.
Quando falamos sobre o duelo, a impressão que se tem é a de que estamos
tratando de um assunto ultrapassado. Mas, se analisarmos bem, veremos que esta
prática continua muito atuante sobre nós, simplesmente porque os sentimentos
que o motivam são, na maioria das vezes, o orgulho e a vaidade; sentimentos dos
quais ainda não conseguimos nos libertar.
É claro que nos dias atuais já não existe aquele duelo tradicional, como
nos tempos passados, quando duelar era considerado uma coisa normal e o
duelista nem era encarado como criminoso.
Geralmente, tudo começava com uma discussão, uma desinteligência
qualquer, que fazia um indivíduo se sentir ofendido na sua honra e daí se
partia para o desafio e, do desafio, partia-se para o confronto fatal.
O que é essa tal defesa da honra, senão uma inequívoca demonstração de
orgulho e prepotência? Como um homem pode se achar no direito de tirar a vida
de outro, mesmo com a desculpa de que dará, também ao outro a oportunidade de
tirar a vida dele? Ora, essas vidas pertencem a Deus. Foi Ele que as criou.
Portanto, só Deus tem o direito de tirá-las.
O que é o “ponto de honra”, afinal? Os Espíritos nos dizem, nas obras da
Codificação Espírita, que é a mais clara manifestação das duas chagas que
assolam a humanidade, ou seja, a vaidade e o orgulho. Dizem também que, quando
os homens se tornarem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão
que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é
matando, nem se deixando matar, que vão conseguir reparar os agravos recebidos.
Agora, continuamos nos duelando no nosso dia a dia: no recinto
doméstico, no ambiente de trabalho; no empurra-empurra das filas; nas
ultrapassagens arriscadas no trânsito; nas discussões acirradas por causa de
futebol, religião, partido político e etc. Se continuamos nos duelando, onde
está a nossa evolução moral?
Vamos continuar colocando nossos sentimentos inferiores à frente das
nossas atitudes fraternalmente racionais? Quando aprenderemos a perdoar? A
conviver pacificamente com os nossos semelhantes? A encarar os defeitos alheios
como fraquezas – que também possuímos – e a sermos mais tolerantes para com o
próximo?
Quando iremos entender que todos somos seres imperfeitos e que devemos
nos ajudar neste processo de crescimento, em vez de ficarmos nos matando em
duelos dissimulados?
Sem falar nas guerras, que representam o duelo entre nações e que são,
na maioria das vezes, alicerçadas na ganância.
Hoje em dia, não temos mais aquele velho e tradicional duelo, mas
realmente já o abolimos? Será que já nos libertamos do orgulho e da vaidade que
nos impelem à prática de um outro tipo de duelo? Não matamos mais com espadas
ou pistolas, mas será que não matamos ou não nos deixamos matar de outro modo?
Tem gente que mata ou se deixa matar de raiva, de decepção, de tristeza, de
angústia, de tédio, de solidão, de inconformismo… E por aí vai!
O homem com seus excessos, na busca de satisfazer suas necessidades com
coisas supérfluas, pelo orgulho, tem alterado sua caminhada gerando problemas e
situações indesejadas para si, em virtude do seu livre-arbítrio.
Fica o convite para refletirmos
sobre tudo isso e lançarmos um desafio ao único duelo concebível: o duelo do
homem novo – mais consciente e espiritualizado – que começa a surgir em nós,
contra o homem velho – com o seu materialismo e as suas más inclinações – que
precisa ser combatido diariamente em nossa intimidade.
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ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
O
ódio
10.
Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que
vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar
modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, ele amou até
dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos
ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna
superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que
eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos
corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem
a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela
não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova
mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência
terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na
outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o
amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. (Fénelon. Bordéus,
1861).
O autor escreve baseado na sua última existência, quando se esforçava
por amar a todos, indistintamente, mas sofrera por causa das ações de outros,
que o perseguiram, que o amor ao próximo “não endurece o coração para os maus
procedimentos”. Amar a quem persegue e calunia, para o autor, foi a prova mais
penosa, que ele considerou uma tortura.
Primeiramente, não devemos confundir ódio com raiva.
Enquanto o ódio tem uma natureza constante e contínua, a raiva é uma
manifestação intensa, como um estouro, mas, passageira, e rompe mais facilmente
com os laços que a geraram.
O que é o ódio? O ódio é uma manifestação dos mais
primitivos sentimentos do homem animal, que ainda guarda no espírito em
evolução os resquícios do instinto de conservação, sob as formas de defesa, de
amor-próprio.
Como o ódio se
apresenta dentro de nós? Como um sentimento, uma emoção incontida, um impulso
que, ao nos dominar, expressamos através de palavras ofensivas, quando
contraímos o coração, cerramos os maxilares, fechamos os punhos e soltamos
faíscas vibratórias de baixo padrão, sintonizados com as entidades malévolas,
que assim podem nos envolver, instigando-nos até ao crime.
E até que
limites pode o ódio nos levar? Nesses momentos, podemos ser levados a cometer
os atos mais indignos de violência, de agressividade, causando dissensões e até
mortes, contraindo, muitas vezes, as mais penosas dívidas em nossa existência.
Quais os
motivos que nos levariam a odiar alguém? Em geral, os ódios são despertados
pelas humilhações sofridas, ou quando injustiçados, maltratados, traídos no
afeto, na confiança ou quando ofendidos. Encontramos, igualmente, em muitas
antipatias indecifráveis que possamos sentir por alguém, os ódios recônditos de
outras existências, quase sempre frutos de nossas paixões.
Quais os
sentimentos decorrentes do ódio? Junto ao ódio encontramos o rancor, que é a
permanência dele, nas promessas feitas a nós mesmos de revide. A vingança é sua
decorrência. A agressividade às vezes externa um estado íntimo também
decorrente das nossas manifestações de ódio, rancor, de cólera. Invejas, cobiças,
ciúmes, inconformações, ressentimentos podem gerar ódios.
É o ódio a ausência de amor? Amor e ódio são sentimentos
opostos. Um pode dar lugar ao outro em frações de segundos, dentro de nossas
reações íntimas. Muitos ódios refletem expressões de um amor ainda possessivo,
em criaturas que foram preteridas nos seus afetos mais profundos. Os
arrependimentos copiosos por males antes nutridos em ódios distantes são os
primeiros lampejos de um amor despertado, fazendo finalmente vibrar as fibras
sensíveis do coração, que assim quebra a casca endurecida que o envolve. Aquele
que odeia está a reclamar direitos. Aquele que ama dá de si sem esperar
recompensa.
O que fazer
quando o ódio nos invade a alma? O primeiro passo é segurá-lo de todos os
modos, não deixá-lo expor-se à vontade. Calemos a boca, contemos até dez ou até
cem, caso seja preciso. Logo em seguida, procuremos um local onde possamos nos
recolher: aí iremos nos acalmando e mentalmente trabalharemos para serenar
nosso ânimo exaltado. Então, dominá-la. O espírita é concitado a isso ainda por
outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.
Como podemos combater o ódio? Perdoando aos que nos
ofendem. E o nosso Divino Mestre já nos deu a fórmula: "não apenas sete
vezes, mas setenta vezes sete", ou seja, infinita e plenamente.
“Amai-vos uns aos
outros e sereis felizes”, lembra-me a frase de Pedro, na sua primeira epístola,
4:8:”Acima de tudo, porém, tendes amor intenso uns para com os outros, porque o
amor cobre a multidão de pecados”, condicionando a felicidade ao amor ao próximo,
que liberta o homem de causar sofrimentos a si mesmo e a outros, e o liberta
das consequências dos erros anteriores.
Quem assim entende e se sensibiliza é capaz de sentir amor até aos que
agem, provocando indiferença, ódio e desprezo, visto compreendê-los como irmãos
imperfeitos, como todos, mas em processo evolutivo, que merece consideração,
respeito e até amor.
Cita o maior exemplo de amor ao próximo na Terra: JESUS, Espírito puro,
apagando sua luz espiritual, vivendo em um mundo de expiações e de provas,
convivendo com irmãos muito inferiores na escala evolutiva, mas amando-os como
a irmãos perfectíveis, em desenvolvimento, sacrificando-se, para ensinar o
caminho mais suave do progresso espiritual: o do amor ao próximo.
“O sacrifício de amar os que vos
ultrajam e perseguem é penoso, mas é isso, precisamente, o que vos torna
superiores a eles. Se vós os odiásseis como eles vos odeiam, não valeríeis mais
do que eles.”
O espiritismo explicando a lei de causa e efeito em tudo o que se faz,
na colheita obrigatória da semeadura, dá a razão principal de evitar- se fazer
o mal e da necessidade de fazer o bem, para que a felicidade tão almejada por
todos seja uma realidade para cada um.
Assim, essas reações dependem do entendimento que se tem das leis
divinas, trazidas por Jesus e mais esclarecidas pelo espiritismo.
Questões
para reflexão:
1 - De
onde provém o ódio?
Da
condição inferior em que ainda se encontra o homem, cujo orgulho fala muito
alto, impedindo-o de ver, naquele que lhe inspira ódio, alguém que necessita do
seu perdão, compreensão e cooperação.
"O
ódio é o gérmen do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem
Evangelho."
"Só
a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas a um plano
superior de compreensão..." (Emmanuel - O Consolador - questão 339).
2 -
Quem é a principal vítima do ódio?
É
aquele que alimenta este sentimento, visto que o caminho para se conquistar a
felicidade passa, obrigatoriamente, pelo próximo, a quem devemos amar
incondicionalmente, e não odiar.
"Amai-vos
uns aos outros e sereis felizes."
3 - O
que ocorre aos que violam a lei de amor?
Sofrerão
a corrigenda necessária, através de duras provas restauradoras, porquanto nossa
própria consciência nos cobra, nesta ou noutra vida, todos os que violam a lei
de amor, uma vez que esta deve presidir todo o nosso relacionamento com o
próximo.
A harmonia que preside as leis de Deus impõe que a
violação de uma delas determine a observância e o cumprimento de outra, que
leve à reparação da falta cometida. É assim que somos impulsionados ao
progresso.
Conclusão do Estudo:
O ódio
é fruto da condição inferior em que ainda se encontra o homem. Odiar é ferir a
si próprio; é um mal que atinge diretamente quem odeia. Devemos vencê-lo dentro
de nós, para desfrutarmos a verdadeira felicidade, cujo caminho é o exemplo de
Jesus, contido no seu Evangelho.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A Vingança
9.
A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a
desaparecer dentre os homens. É, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos
hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era
cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso
dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto,
meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que
se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela
prescrição do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se nega a
perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração
tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a
baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase
nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o
outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a
paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências
hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o
animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada
desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do
outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo
propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. Quando seu ódio não chega a
tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da
calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos,
se vão avolumando pelo caminho. Em consequência, quando o perseguido se apresenta
nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com
semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o
acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a
apertar as suas. Em fim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais
caros amigos e parentes se afastam e o evitam. Ah! O covarde que se vinga assim
é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em
plena face.
Fora,
pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos!
Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria
indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade
não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande
família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão
para perdoar. (Júlio Olivier. Paris, 1862).
Júlio Olivier, autor dessa
mensagem, diz que “um dos últimos resíduos dos costumes bárbaros, que tendem a desaparecer
dentre os homens”, é a vingança, institucionalizada pela ignorância das
leis divinas e pela imperfeição intelectual e moral do homem, no seu orgulho e
no seu egoísmo.
O homem, em seus primórdios, entendeu que deveria se proteger. Seu
instinto de conservação aliou-se à razão e os mecanismos de defesa foram
surgindo, até os dias de hoje. Com o desenvolvimento da razão, entretanto, a
primazia de um grupo sobre outro reclamava certa dose de liderança, baseada na
força e na violência, compatíveis com a brutalidade daquela época. Uma ação
violenta deveria ser combatida com outra ação violenta no sentido de extinguir
sua causa, levando à própria sobrevivência e de seu grupo, sua família.
Estamos ainda falando da época animalizada do ser humano. Entretanto, ao
longo dos tempos, a "contrapartida" tomou novo vulto quando a palavra
"honra" começa a ser empenhada. O orgulho e o egoísmo levam o homem a
forçar por todos os meios a própria primazia, combatendo não pela
sobrevivência, mas pela "defesa da honra", revestida sob as vestes do
nacionalismo, da etnia, da supremacia social, etc.
A vingança se constitui
em “um
índice seguro do atraso dos homens que a ela se entregam e dos Espíritos que
ainda podem inspirá-la”. O espírita, pelos conhecimentos que tem,
jamais deve acolhê-la em seu coração e em sua mente, pois ela é, exatamente, o
contrário do perdão, condição sine qua non do amar ao próximo como a si mesmo.
Quem ama, perdoa sempre, e quem se exercita no perdão está desenvolvendo o amor
ao próximo. Quando sentir, dentro de si, o desejo de vingar-se de alguém, o
espírita não é perfeito, no sentimento negativo da raiva, do ódio, dê uma
parada, busque olhar-se como se fosse outra pessoa, e ore: - Perdão, meus Deus,
ajudai-me a libertar-me desses sentimentos primitivos e negativos que ainda
trago dentro de mim. Não os quero, desejo aprender a perdoar agora e sempre.
O autor comenta que o
sentimento da vingança está, quase sempre, acompanhado da falsidade e da
vileza, assumindo, muitas vezes, por razões diversas, uma atitude hipócrita,
dissimulando os maus sentimentos que sente e o estimulam ao revide.
A vingança é um
sentimento tão negativo, que impede quem o sente de perceber, não só as
necessidades do outro como as suas próprias necessidades espirituais de amar e
ser amado, pois busca vingar-se até dos que amam, da maneira como podem amar,
mas que já é o amor em desenvolvimento. O desejo de vingança leva o vingador a
alegrar-se com os sofrimentos alheios e com sua participação em provocá-los,
impedindo o desenvolvimento dos sentimentos da piedade, da compaixão, da
abnegação, do amor. É de
fato, prova cabal do atraso espiritual de quem a sente e a alimenta. Necessita,
pois, da compaixão, do perdão, das preces de todos os que assim a percebem,
assim como Jesus ensinou e exemplificou.
O autor, que não
sabemos quem é, escreve de maneira tão incisiva, tão determinada, sobre esse
mau sentimento, que julgamos correto terminar com suas palavras: “Para
traz, portanto, com esses costumes selvagens! Para traz com esses hábitos de
outros tempos! Todo espírita que pretendesse ter, ainda hoje, o direito de
vingar-se, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por
divisa o lema: Fora da caridade não há salvação. Mas, não, não me deterei em
semelhante ideia, de que um membro da grande família espírita possa jamais
ceder ao impulso da vingança, mas, pelo contrário, ao do perdão”.
Questões para reflexão:
1 - Por que a vingança
é condenável?
Porque, sendo ela a
manifestação de um coração ressentido pelo ódio e que guarda mágoa do
semelhante, torna-se contrária à Lei de Deus, que é toda de amor.
Jesus nos aconselhou a
perdoar setenta vezes sete vezes; prescreveu, também, que devemos amar o nosso
inimigo. A vingança é a negação desses ensinamentos.
2 - Como devemos agir,
se os sentimento de vingança for mais forte que o desejo de perdoar?
Devemos empreender todo
o nosso esforço por desenvolver os sentimentos de fraternidade e tolerância,
buscando no Evangelho e na prece o amparo e a inspiração para nos libertarmos
do desejo de vingança.
A nobreza da alma, cuja
principal característica é perdoar indistintamente as ofensas, é conquista de
grande esforço.
3 - Qual a consequência
da vingança para quem a pratica?
Aquele que se vinga,
além de aumentar seus débitos para com a justiça divina, deixa escapara a
oportunidade de se regenerar através do perdão ao agressor, com quem terá, inevitavelmente,
de se reconciliar um dia.
O vingador é alguém que
carrega um pesado fardo de dores, do qual só se libertará quando iniciar a
prática do perdão.
4 - Como se apresenta
em nós a vingança?
A vingança se manifesta
no nosso íntimo como uma reação carregada de forte emoção, por uma ofensa a nós
dirigida. São também as formas dos revides, em discussões acaloradas, quando
trocamos grosserias, os propósitos violentos de vingar crimes cometidos a
familiares. Em geral, são as emoções muito fortes do ódio que levam as
criaturas a atos criminosos de vingança.
Conclusão do Estudo:
A vingança, fruto do
atraso moral do homem, é condenável, pois consiste na manifestação de um
coração rancoroso. Este sentimento, contrário à lei de Deus, deixará de existir
na Terra quando o homem, usando os recursos do Evangelho e da prece, se
esforçar por perdoar as ofensas recebidas.
Sejamos também nós os
construtores da paz que vence a violência e do entendimento que vence o ódio no
microcosmos que Deus nos legou à participação, começando do lar e se
expandindo, à medida de nossa capacidade, a todos os corações.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Se alguém vos bater na
face direita, apresentai-lhe também a outra. (Itens 7 e 8)
7.
Aprendestes que foi dito; olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo
que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face
direita, lhe apresenteis também a outra; e que se alguém quiser pleitear contra
vós, para vos tomar a túnica, também lhe entregueis o manto; e que se alguém
vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. Daí àquele
que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (Mateus,
cap. V, vv. 38 a 42).
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se
convencionou chamar "ponto de honra” produzem essa suscetibilidade
sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a
retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como
justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões
terrenas. Por isso é que a lei mosaica prescrevia; olho por olho, dente por
dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse;
retribuí o mal com o bem. E disse ainda; Não resistais ao mal que vos queiram
fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra. Ao orgulhoso este
ensino parecerá covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em
suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua
visão não pode ultrapassar o presente.
Dever-se-à, entretanto, tomar ao pé da letra
aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando
for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas consequências,
importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo
aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não
pusesse um freio às agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas.
O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém
estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois aquela máxima, não pretendeu
Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos
a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não
se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o
que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser
ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que
praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que
arruinar os outros. É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de
uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus,
que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com
paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio.
Daí vem o repetirmos incessantemente; lançai para diante o olhar; quanto mais
vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão
as coisas da Terra.
Era comum no passado, mas, até hoje ouvimos, pessoas mencionarem que,
sob aspecto algum, permitiam que um filho voltasse para casa com problemas
entre seus colegas de escola. E diziam: se algum colega seu bater em você,
devolva na mesma proporção. Aí está a configuração da Lei Mosaica: Olho por
olho, dente por dente. Pobres infelizes, estas crianças, que estavam sendo mal
orientadas!
Nos dias atuais, torna-se trabalhoso resistir às provocações alheias,
tendo em vista o cultivo crescente de nossa personalidade e fatalmente de nosso
orgulho. Somos assaltados diariamente com sugestões de falsa superioridade e
ilusória vaidade que nos cegam o discernimento.
Veio o Cristo e disse: "Retribuí o mal com o bem”. Ao orgulhoso
este ensino parecerá uma covardia, pois ele não compreende que haja mais
coragem em suportar um insulto do que vingar-se. E não compreende porque sua
visão não ultrapassa o momento presente. É evidente que Jesus, ao dar esses
conselhos, não condena a repressão legal dos agressores que deve ser considerada,
pois ainda é necessária. Nem prescreveu que se deixasse o campo livre aos maus,
isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se não houver um freio aos
agressores, bem depressa todos os bons serão suas vítimas. Jesus ao enunciar
aquela máxima, não pretendeu interdizer toda defesa, mas condenar a vingança.
Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa,
disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal. Que o homem deve
aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho. Que
maior ventura lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar
pacientemente uma injustiça do que praticar alguma. Que mais vale ser enganado
do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. Aquele que deseja a
vingança, geralmente se deixa enredar nas malhas da falsidade e da baixeza,
porque quase nunca se vinga a céu aberto. Toma caminhos escusos, segue na
sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento oportuno para, sem
perigo, feri-lo.
Esconde-se do outro espreitando-o, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em
sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. É esse tipo de
comportamento que Jesus condena.
Somente uma sociedade civilizada compreenderá e aceitará essas verdades.
E isso acontecerá com o progresso intelecto-moral dos povos. A vingança,
portanto, é um dos últimos vestígios dos costumes bárbaros, que tende a
desaparecer dentre os homens.
Assim, deixemos a justiça por conta das leis dos homens, com a certeza
de que os crimes impunes, fatalmente serão colhidos nas malhas das Leis
Divinas, que dão a cada um segundo suas obras.
Para isso, é preciso estarmos dispostos a assumir a crítica externa, de
que não reagir seria sinal de covardia. Jesus nos disse que o reino dos céus,
ou seja, a paz de consciência é dos mansos e pacíficos. A mansuetude pressupõe
passividade e é essa confusão, muitas vezes, que faz com que acreditemos que
"oferecer a outra face" significa covardia.
Façamos, pois, uma escolha pela nossa tranquilidade de consciência e
pelo compromisso de auxiliarmos na obra do Mestre. Jesus aguarda a nossa
contribuição para a construção do mundo novo, sem utopias, mas sim com a
certeza plena da Lei do Progresso e a consequente melhoria da nossa condição de
vida física e espiritual.
É preciso nos habituarmos às palavras doces, aos gestos nobres, a leveza
dos sentimentos sublimes, reconstruindo assim nossa natureza real, a natureza
divina.
Outrora, fizemos escolhas equivocadas que ainda respondem por
condicionamentos agressivos na atualidade de nossas ações, contudo a opção pelo
jugo leve e pelo amor do Cristo nos é lícita e necessária, como o único meio de
permanecermos nos estado real de dignificação pessoal e coletiva.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Os inimigos
desencarnados (Itens 5 e 6)
5.
Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos.
Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens;
que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se
corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se
tornará bom.
Sabe
também que a morte apenas o livra da presença material do seu inimigo, pois que
este o pode perseguir com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra;
que, assim, a vingança, que tome, falha ao seu objetivo, visto que, ao
contrário, tem por efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma
existência a outra. Cabia ao Espiritismo demonstrar, por meio da experiência e
da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, que a
expressão: extinguir o ódio com o sangue é
radicalmente falsa, que a verdade é que o sangue alimenta o ódio, mesmo no
além-túmulo. Cabia-lhe, portanto, apresentar uma razão de ser positiva e uma
utilidade prática ao perdão e ao preceito do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que, mesmo a
seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom
procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até
fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder,
o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a
justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.
Iniciando seus
comentários sobre o tema, Allan Kardec lembra que os espíritas têm outros
motivos de indulgência para com os inimigos. Um é a perfectibilidade do
Espírito imortal, que faz com que a maldade não seja uma qualificação
permanente do Espírito, encarnado ou desencarnado. Assim, o Espírito, criado
simples e ignorante, com o destino de ser perfeito e feliz, traz em si próprio,
a capacidade de tornar-se perfeito, através de um longo processo evolutivo, nas
reencarnações em mundos materiais, com o fim de desenvolver todas as
potencialidades divinas, com as quais foi criado. Tudo que existe no Espírito,
que não condiz com a lei do Bem, é fruto da sua própria criação, na satisfação
egoísta de ser inteligente e feliz, custe o que custar. Dessa forma, segundo
suas escolhas, cria em si e ao redor de si, o mal, que na medida do
desenvolvimento das suas qualificações nobres, que fazem parte da sua essência,
vai sendo eliminado, até que ele atinja a qualificação de Espírito Puro,
perfeito e feliz. Por isso, Kardec escreveu “que a maldade não é o estado
permanente do homem, mas que decorre de uma imperfeição momentânea, e que da
mesma maneira que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau
reconhecerá um dia os seu erros e se tornará bom.”
Outro motivo é que o
espírita sabe que a morte só o livra da presença material do seu inimigo, que
pode continuar, no plano espiritual, a persegui-lo com seu ódio.
Quando grande parte dos
homens compreenderem essa verdade, a ideia da pena de morte para os inimigos
individuais, da coletividade e entre nações, será completamente eliminada da
Terra.
“A vingança assassina não atinge o seu
objetivo, mas, pelo contrário, tem por efeito, produzir maior irritação, que
pode prosseguir de uma existência para outra.”
O Espiritismo veio demonstrar
a lei da sobrevivência do Espírito, que carrega sempre consigo, quer esteja no
plano material ou espiritual, sua inteligência, suas emoções e sentimentos. Assim,
um inimigo morto é apenas um inimigo que não se vê, sem corpo físico, podendo
continuar, em ações obsessivas, perturbando, dificultando e provocando
sofrimentos. Este fato é um motivo importante para abolir a vingança da morte,
pelo próprio interesse de quem a deseja para seu desafeto. Um motivo a mais
para compreender e aceitar o “Amai os vossos inimigos” e o “Reconcilia-te sem
demora com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele” “a fim de
transformar um inimigo em amigo, ou, pelo menos, evitar represálias, evitando
que o inimigo se torne em um instrumento da justiça de Deus, para punir aquele
que não perdoou”. Assim, os inimigos desencarnados agem através das obsessões,
que se constituem em provações mais ou menos difíceis, mas que contribuem,
muitas vezes para despertar o obsedado para a realidade da vida espiritual,
mudando toda sua maneira de ver o mundo e interpretar a vida. Essas provas, fruto dos males causados pelo
orgulho e egoísmo dos homens, nos diversos e diferentes relacionamentos entre
si, no decorrer das inúmeras existências já vividas, fazem parte da lei divina,
a fim de proporcionar aos Espíritos imortais, as oportunidades de reviverem
situações passadas, para aprenderem a solucionar os problemas com resignação e
confiança em Deus, através do perdão, da humildade, do amor, que então,
encontram condições de crescerem nas mentes e nos corações dos homens. Assim,
se devemos nos esforçar para ser indulgentes e benevolentes para com os
inimigos, na Terra, precisamos, igualmente, assim proceder para com os inimigos
desencarnados.
Allan Kardec lembra que
nos tempos mais primitivos, ofereciam-se sacrifícios sangrentos para apaziguar
os deuses infernais. Mais tarde foram chamados de demônios. Assim, deuses
infernais, demônios ou Espíritos maus nada mais são do que as almas dos homens,
que ainda não se libertaram dos seus instintos materiais, continuando a fazer
mal, através dos processos obsessivos, atraídos e alimentados pelos maus
sentimentos e, consequentemente, maus pensamentos e más ações dos homens. Por
isso, Kardec escreve, com destaque: “não se pode apaziguá-los senão pelo
sacrifício dos maus sentimentos, ou seja, pela caridade”. Caridade, amor em
ação, para com todos, irá impedi-los de fazer o mal, mas também, induzi-los ao
bem, contribuindo para a sua libertação espiritual. O bom exemplo contagia
encarnados e desencarnados.
“É assim que a máxima:
Amai os vossos inimigos, não fica circunscrita ao círculo estreito da Terra e
da vida presente, mas integra-se na grande lei da solidariedade e da
fraternidade universais.”
Questões para reflexão:
1 - Como devemos agir
para evitar que malquerenças e inimizades perdurem depois da morte?
Observando o preceito
de Jesus, de amar os nossos inimigos, procedendo para com eles com a mesma
retidão que gostaríamos fosse usada conosco.
"Não há coração
tão perverso que (...) não se mostre sensível ao bom proceder."
Mediante o bom
procedimento pode-se fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua
desencarnação.
2 - Que consequências
nos traz alimentar o ódio contra outra pessoa?
O ódio que nutrimos
pelo inimigo provoca neste um sentimento de igual intensidade contra nós,
constituindo-se em instrumento de que Deus se utiliza para esclarecer aquele
que não perdoou.
Devemos nos reconciliar
o mais cedo possível com o nosso adversário, para que as discórdias não se
perpetuem em existências futuras.
3 - Como libertar-se da
ação nociva dos inimigos desencarnados?
Pela reforma íntima, à
luz do Evangelho de Jesus, e através da prática do perdão e da caridade, em sua
mais ampla acepção.
O Evangelho é abençoada
escola de regeneração para todas as nossas faltas.
Essas atitudes, além de
impedi-los de praticar o mal contra nós, os reconduzem ao caminho do bem.
Conclusão do estudo:
O ódio transpõe o
túmulo. O inimigo desencarnado, portanto, é alguém que ofendemos em vidas
passadas e hoje nos alcança para o necessário reajuste. No preceito de Jesus
"Amai os vossos inimigos", encontramos o caminho para a reconciliação
com o adversário.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XII – AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Retribuir o mal com bem
1.
Aprendestes que foi dito: “Amarás o vosso
próximo e odiareis os vossos inimigos”. Eu, porém, vos digo: “Amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e
caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se
levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os
injustos. Porque, se só amardes os que
vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos?
Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que
os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (Mateus, cap. V, vv. 43 a 47).
“Digo-vos que, se a
vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não
entrareis no reino dos céus”. (Mateus, cap. V, v. 20).
2.
Se somente amardes os que vos amam, que
mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que
as amam? Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos
reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? Se só emprestardes
àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá,
quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma
vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei o bem a todos e
auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa
e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus.
Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus”.
(Lucas, cap. VI, vv. 32 a 36).
Quem é nosso inimigo? O
que é um inimigo nos dias de hoje?
R: alguém que nos quer
mal ou que queremos mal, a quem desejamos uma “liçãozinha” porque nos fez mal,
um colega de trabalho competitivo, um chefe que não contribui com o trabalho. Mas
e o outro lado? Será que não fazemos mal a ninguém ou nossas decisões realmente
fazem felizes a todos ao nosso redor? Será que não somos os “outros” inimigos
do outro lado da história para alguém?
E o que podemos fazer
em relação a tudo isto? É possível não ser amigo de ninguém? E Jesus, agradou a
todos? Como ele nos ensinou a lidar com esta situação e que atitudes tomou
frente àqueles que o consideraram inimigos?
Como vamos colocar em
prática este pedido de Jesus, que nos pede a amar alguém que não temos
afinidade, afeto, carinho...
O que então seria amar
nossos inimigos?
Iniciando seus
comentários sobre os textos evangélicos, Kardec escreve; “Se o amor do próximo
é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque
essa virtude constitui uma das maiores vitórias conquistada sobre o egoísmo e o
orgulho.”
Assim sendo, pode-se
compreender o porquê da dificuldade dos homens, Espíritos em evolução, em
entender, aceitar e praticar esse preceito da lei divina.
Kardec escreve baseado
na realidade da situação espiritual do homem na Terra, que preciso é analisar
esse amor aos inimigos, de forma mais condizente com as possibilidades atuais
dos homens.
Diz que Jesus, o mais
perfeito Espírito reencarnado na Terra, sabendo do tamanho da imperfeição
humana, não pretendia que se amasse aos inimigos com a mesma ternura que se tem
por uma pessoa querida, visto que a ternura pressupõe confiança total, que
propicia um abrir-se, integralmente, ao outro, sem medo de ser censurado, sem
receio de expor-se como se é, porque confia no amor do outro em relação a si
próprio.
Esta diferença de
sentimentos explica-se por uma lei da física, a da repulsão dos fluídos. O
pensamento que traz em si coisas ruins dirige uma corrente de fluídos de
impressão ruim. Os pensamentos que trazem coisas boas imprimem uma sensação
agradável. Está aí a diferença de sensações de quando encontramos um amigo ou
inimigo.
Sobre essa base de
confiança é que a simpatia, a amizade, a ternura estabelecem os laços,
crescendo nos relacionamentos diversos.
Como, então, sentir
alegria em encontrar um inimigo, como se fora um amigo?
Lembra Kardec da lei
física de assimilação e repulsão dos fluidos. Vivemos em um mundo de ondas e
vibrações, irradiando-as e absorvendo-as ou repelindo-as. Assim, as irradiações
semelhantes se atraem e as diferentes se repelem.
“O pensamento malévolo
emite uma corrente fluídica que causa penosa impressão; o pensamento benévolo
envolve-nos num eflúvio agradável. Daí a diferença de sensações que se
experimenta quando da aproximação de um inimigo ou de um amigo. Amar aos
inimigos não pode, pois, significar que não se deve fazer nenhuma diferença
entre eles e seus amigos.”
Diz Kardec que “amar
aos inimigos é não ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoar-lhes
sem segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É não opor
nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É
alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes
a mão prestativa em caso de necessidade. É abster-se, por atos e palavras, de
tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em tudo o mal com o bem,
sem a intenção de humilhá-los. Todo aquele que assim fizer, cumpre as condições
do mandamento: Amai os vossos inimigos”.
Nessas explicações,
vemos que para amar os inimigos não precisamos sentir vontade de abraçá-los,
como sentimos aos a quem amamos. Mas, penso que, se tentarmos pôr em prática os
sentimentos e atitudes do texto acima, vamos, em um futuro mais ou menos mesmo
distante, sentir por eles a mesma ternura, que hoje sentimos pelos que mais
amamos.
Kardec comenta também
ser mais difícil entender essa máxima para quem somente aceita uma vida, do
nascimento à morte. Para eles, seu inimigo é um mau caráter, que perturba seu
viver, merecendo tudo de ruim que possa acontecer. “Para que perdoar-lhe? Quero
mais que morra.” E assim por diante, considerando a morte o fim de tudo,
inclusive do seu inimigo.
Para o espiritualista,
e mais ainda para o espírita, tudo é diferente, uma vez que a visão espiritual
lhe mostra que há um longo passado, responsável pelo presente, que por sua vez
irá definir o futuro.
Compreendendo ser a
Terra um mundo para Espíritos imperfeitos e rebeldes, ele busca entender as
ações dos outros, tanto quanto deseja que os outros entendam as suas,
procurando dominar seus maus sentimentos em relação a eles.
Entendendo que todos
estamos em um processo evolutivo, cada qual cumprindo-o à sua maneira, de
acordo com as necessidades e uso do livre-arbítrio de cada um, aproveitemos a
existência atual e os momentos presentes para exercitar o perdão, a
compreensão, a benevolência, para com todos, inclusive, para com as pessoas que
sentem aversão por nós, não aceitando esse sentimento, mas procurando
transformá-lo em amizade, retribuindo o mal com o bem.
Analisando tudo, sempre
sob o ponto de vista da eternidade do Espírito imortal, aceitando as
dificuldades como obstáculos a serem enfrentados e vencidos, não nos queixemos
de quem nos faz o mal, visto que ele está, nesse momento, servindo, sem o saber
e querer, de instrumento para nosso aprendizado e progresso, ao mesmo tempo em
que está se prejudicando a si próprio, e irá receber através da lei de causa e
efeito, as consequências da sua maldade.
Imaginando-nos no lugar
do adversário, podemos perceber que, como ofendidos, estamos, talvez, recebendo
o que já fizemos, enquanto o outro está provocando novos sofrimentos para si
próprio. Por que queixarmo-nos, ou reagirmos da mesma forma, mantendo um
sentimento de animosidade?
Se em lugar de lamentar
as provas, agradecer a Deus por experimentá-las, “deve também agradecer a mão
que lhe oferece a ocasião de mostrar a sua paciência e a sua resignação. Esse
pensamento o dispõe, naturalmente, ao perdão. Ele sente, aliás, que quanto mais
generoso for, mais se engrandece aos próprios olhos e mais longe se encontra do
alcance dos dardos do seu inimigo.”
Adquirindo o hábito de
tudo analisar sob o ponto de vista da eternidade do Espírito, o homem se coloca
acima da humanidade material, no plano moral, tendo uma visão muito maior e
mais profunda da finalidade do viver na Terra, sabendo, com mais facilidade, se
dispor ao bem, ao amor, não mais considerando ninguém como seu inimigo.
Questões para reflexão:
1. Por que não há
mérito em só amarmos os que nos amam?
Porque, quando amamos
só os que nos amam, o fazemos por mero dever de retribuição, sem nenhum esforço
de nossa parte. Consequentemente, não existe aí progresso algum.
Os malfeitores e
criminosos também amam aqueles que os amam. Deus ama a todos nós,
indistintamente, bons e maus.
2 - Qual deve ser,
então o nosso comportamento no relacionamento diário com as pessoas que nos
rodeiam?
Devemos trata a todos,
inclusive aqueles com quem não nos afinamos, com a mesma dignidade e respeito
que gostaríamos nos dispensassem; fazer aos outros todo o bem ao nosso alcance;
e auxiliar sem esperar coisa alguma.
Jesus nos recomendou
que amássemos o nosso próximo como a nós mesmos.
3 - De que forma podemos
amar os nossos inimigos?
Não lhes guardando
ódio, rancor ou desejo de vingança; perdoando-lhes o mal que nos causem,
experimentando júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; enfim,
retribuindo-lhe sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar.
Amar os inimigos não é
dedicar-lhes extrema afeição, mas não lhes desejar nada que não quiséssemos
para nós próprios.
Conclusão do Estudo:
Não existe mérito algum
em só amar aqueles que nos amam, visto que os maus também fazem o mesmo. O
verdadeiro mérito está em fazer o bem a quem nos faz o mal; em perdoar e amar
os nossos inimigos; em fazer, enfim, o bem a todos, indistintamente, sem
esperar retribuição alguma.
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