O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
Deve-se
expor a vida por um malfeitor?
15.
Acha-se em perigo de morte um homem; para
o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um
malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o
segundo arriscar-se para o salvar?
Questão
muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito.
Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata
é de saber se se deve expor a vida,
mesmo por um malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se,
portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que
será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É,
talvez, a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos
instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido
volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiça,
lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir a ser-lhe terrível.
Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita
esclareceu; lançai-vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que
teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes
que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a
essa voz do coração, que vos diz: “Podeis salvá-lo, salva-o”. (Lamennais,
Paris, 1862).
Nesse questionamento de
Kardec se devemos ou não correr risco de vida (de morte) para salvar um
malfeitor, a resposta não é tão simples quanto parece.
O Espiritismo,
esclarecendo a continuidade da vida do Espírito, demonstra que sempre a
caridade deve falar mais alto, independentemente das qualificações das pessoas,
pois ninguém pode prever as reações dos homens, diante de um ato de amor.
Assim, mesmo se não
acontecer a vontade de transformar-se, ainda assim, a caridade para com o
próximo será sempre a melhor solução, tanto para quem dá como para quem recebe.
Como ninguém pode saber
o que se passa no interior de qualquer pessoa, não se pode deixar de fazer o
bem para evitar supostas consequências.
Nesta simples avaliação,
tentarei abordar esta questão segundo o meu próprio raciocínio (adiantamento
moral).
Comecemos pelos
mandamentos segundo Jesus:
“Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o
maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse:
Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham
contidos nesses dois mandamentos.”
“Se somente amardes os
que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida
também amam os que os amam? - Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem,
que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? - Se só
emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos
reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para
auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem
a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma.”
O Novo Testamento
apresenta dois relatos que nos servem como ensinamento e que demostram reações
humanas: 1) a traição de Judas e; 2) as três vezes que Pedro negou Jesus. Estes
relatos são para nos lembrar de que, mesmo diante de Jesus, ainda colocamos
nossos interesses pessoais em primeiro plano.
Podemos lembrar também
que se houver o desencarne do salvador, provavelmente, ele já estava previsto
para ser desta forma, por alguma dívida do passado. Ele fez o que sentiu dever
fazer. Mas, mesmo se assim não for, esse desencarne será sempre um ato de amor
ao próximo, que o engrandecerá diante da Espiritualidade Maior.
A resposta de Lamennais
caracteriza a abordagem de um espírito elevado, pois ele diz que “O devotamento
é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da
sociedade, a um malfeitor..." e que "Podes salvá-lo, salva-o!".
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
Caridade
para com os criminosos
14.
A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu
ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da
sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que
são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se
arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei.
Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem
negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus
como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.
Não
julgueis, oh! Não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo
que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de
indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas
ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como
faltas leves considera?
A
verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, nas palavras
de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós.
A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que
useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda
exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma
utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de
encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Estão
próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande
fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e
esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos
do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto
quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre
vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve,
quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não
haverá necessidade desses ensinos; todos
os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de
acordo com as suas inclinações.
Deveis,
àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces; é a verdadeira caridade. Não
vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua
presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe
infligem”. Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo:
Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia;
considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em
realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele,
assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode
ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo,
como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a
vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lameiro e orai por ele.
(Isabel de França. Havre, 1862).
Hoje, em nossa sociedade,
a violência nos envolve todo o tempo, nas ruas, na mídia e, muitas vezes,
dentro de nossos lares. Esse estudo “Caridade para com os Criminosos”, provoca
as mais variadas reações. Quando pensamos no perdão e na caridade para com os
criminosos, nos encontramos muitas vezes a dizer para nós mesmos: perdoar, ser
caridoso… nunca! Quando encontramos criaturas assim, ou nós mesmos agimos
assim, podemos ter certeza de que o alerta de Jesus ainda não encontrou eco em
nossos espíritos.
Sempre que a sociedade
se abala diante de um crime bárbaro, clama-se por revisões na lei. Cabe
refletir, à luz da Doutrina Espírita, sobre os crimes e sobre a lei. O mandamento
maior da lei divina inclui a caridade para com os criminosos, por mais difícil
que possa parecer ter este sentimento diante da barbárie. Perante a Lei de Deus
somos todos irmãos, por mais que repugne a alguns tal ideia.
Isabel de França
lembra, nesta mensagem, da caridade em relação aos criminosos, aos infelizes,
também filhos de Deus, a quem Ele ama e lhes dará o perdão e a misericórdia,
após seu arrependimento, dando-lhes novas oportunidades de reparação e de
aperfeiçoamento, como faz para com todos.
O amor de Deus, sempre
absoluto, não faz distinção de pessoas, porque Ele é imutável e a parábola da
ovelha perdida, narrada por Mateus, 18: 10 a 14, por Lucas, 15:3 a 7, a dos
Trabalhadores da Última Hora, Mateus, 20: 1 a 16, dando oportunidades a todos
que quiseram trabalhar, a parábola do Filho Pródigo, Lucas, 15:11 a 32,
contadas por Jesus, atestam bem o amor do Pai por todos os seus filhos.
Seu amor e misericórdia
são imutáveis e sua justiça também, portanto, cada um receberá sempre segundo
suas obras.
Lembra a autora que
caridade não é só dar esmolas nem mesmo quando acompanhadas de palavras de
consolação. É muito mais do que isso.
É ser benevolente,
constantemente, e em todas as coisas para com o próximo, e ser benevolente é
ter boa vontade para com os outros, tanta quanto a deseja para si.
Assim, ser caridoso com
os criminosos não é deixar-lhes livres para continuar cometendo desatinos, mas
sim, compreendê-los como pessoas equivocadas. Considerá-los como doentes, muito
necessitados, filhos de Deus, criados como todos os demais, que um dia, graças
às leis divinas, tornar-se-ão bons e sábios, exatamente, como todos.
Ser caridoso com os
criminosos é pensar neles, com piedade pelo que fazem orar por eles, pedindo a
Deus, que eles possam conhecer a realidade da vida espiritual, eterna e
progressiva, a fim de que se arrependam e busquem transformar-se, ao invés de
pensar e dizer: “É um miserável; deve ser extirpado da Terra”. Jesus diria
isso? Quem garante que não fizemos coisas piores em um passado talvez remoto?
Afirma a autora que se
deve sempre perdoar os criminosos. Recusando esse perdão, a pessoa está sendo
mais repreensível, mais culpada do que eles, porque quase sempre esses
criminosos “não conhecem a Deus como o conheceis, e lhes será pedido menos do
que a vós”.
Não se deve esquecer
nunca de que os homens são julgados pelas leis divinas, exatamente com julgam
os outros, e que enquanto Espíritos em desenvolvimento, estamos, todos nós,
sujeitos a erros, a enganos e todos precisamos de indulgência.
Menciona ela algo muito
importante, nem sempre evidenciado, no viver cotidiano: “Não sabeis que há
muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza, mas que o mundo não
considera sequer como faltas leves?”
No processo evolutivo
do Espírito imortal, sua responsabilidade nos seus atos, é sempre de acordo com
seu entendimento. Quanto mais inferior, menos se lhe é exigido, pois, ninguém
pode dar o que não possui; quanto mais evolui em entendimento, mais responsável
é pelo que sente, pensa e faz.
Perdoar aos criminosos,
não é, pois, livrá-los das consequências dos seus atos, mas amenizá-las tanto
quanto possível, na confiança de sua regeneração, na sua perfectibilidade e nas
leis de Deus.
Um dia, a lei divina
trazida por Jesus reinará no mundo. Para isso é preciso que nos amemos uns aos
outros como filhos de um mesmo Pai, com a mesma origem, o mesmo destino, as
mesmas potencialidades, as mesmas oportunidades.
Por isso, não devemos
desprezar ninguém. A presença de grandes criminosos na Terra é possível, por
ser ela um mundo de expiações e de provas, onde estamos todos nos
desenvolvendo, nas variadas experiências que este viver nos propicia.
Assim, o bem e o mal se
mesclam, para que os homens aprendam e distingui-los, acolhendo um e rejeitando
o outro, mas amparando sempre o que faz o mal.
Dessa maneira, o mal na
Terra pode se constituir em instrumento de aprendizado para a evolução
espiritual do Espírito imortal.
Quando a lei do amor
imperar na Terra, não haverá mais necessidade dessa mescla de bem e mal “e
todos os Espíritos impuros serão dispersados pelos mundos inferiores, de acordo
com as suas tendências” , onde irão continuar seu desenvolvimento moral.
Questões para reflexão:
1 - Como fazer a
caridade a um criminoso?
Não lhe desejando mal,
não julgando seus atos, visitando-o no presídio, levando-lhe uma mensagem que
poderá conduzi-lo à regeneração.
A violência é fruto do
desamor, do egoísmo e da indiferença para com o próximo.
2 - A desencarnação
seria um bem para o criminoso?
Só a Deus cabe julgar.
Mas, podemos acreditar que, a partir do ato salvacionista, a vida do malfeitor
poderia reformular-se para melhor, e conquistaríamos um amigo para a
eternidade, disposto a ouvir nossas propostas renovadoras.
Sem a caridade das
almas nobres, o malfeitor demoraria muito mais para renovar-se.
3 - Pode um homem vir a
se arrepender de seus atos incorretos, se tiver, diante da morte iminente, a
chance de ser salvo?
É possível, pois, nesse
instante, o homem perdido vê surgir diante de si todo o seu passado, fazendo-se
ver a chance de redimir-se vivendo mais algum tempo na recuperação renovadora.
Conclusão do Estudo:
A nossa atitude diante
de um criminoso deverá ser de benevolência, de amor, de consolação e encorajamento.
Se tivermos oportunidade de salvá-lo diante da morte, não deveremos
desperdiçá-la. Ele é tanto nosso irmão quanto o melhor dos homens.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
A
Fé e a Caridade
13.
Disse-vos, não há muito, meus caros filhos, que a caridade, sem a fé, não basta
para manter entre os homens uma ordem social capaz de os tornar felizes. Pudera
ter dito que a caridade é impossível sem a fé. Na verdade, impulsos generosos
se vos depararão, mesmo entre os que nenhuma religião têm; porém, essa caridade
austera, que só com abnegação se pratica, com um constante sacrifício de todo
interesse egoístico, somente a fé pode inspirá-la, porquanto só ela dá se possa
carregar com coragem e perseverança a cruz da vida terrena.
Sim,
meus filhos, é inútil que o homem ávido de gozos procure iludir-se sobre o seu
destino nesse mundo, pretendendo ser-lhe lícito ocupar-se unicamente com a sua
felicidade. Sem dúvida, Deus nos criou para sermos felizes na eternidade;
entretanto, a vida terrestre tem que servir exclusivamente ao aperfeiçoamento
moral, que mais facilmente se adquire com o auxílio dos órgãos físicos e do
mundo material. Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a
diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio
de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, só a poder de
concessões e sacrifícios mútuos podeis conservar a harmonia entre elementos tão
diversos.
Tereis,
contudo, razão, se afirmardes que a felicidade se acha destinada ao homem nesse
mundo, desde que ele a procure, não nos gozos materiais, sim no bem. A história
da cristandade fala de mértires que se encaminhavam alegres para o suplício.
Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não se vos faz mister nem o
holocausto do martírio, nem o sacrifício da vida, mas única e exclusivamente o
sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade. Triunfareis,
se a caridade vos inspirar e vos sustentar a fé. (Espírito protetor, Cracóvia,
1861).
O Espírito protetor,
como se intitulou o autor da mensagem, faz uma afirmação, difícil de aceitar à
primeira leitura: “Eu vos disse, recentemente, meus queridos filhos, que a caridade sem a
fé não seria suficiente para manter entre os homens uma ordem social capaz de
fazê-los felizes. Deveria ter dito que a caridade é impossível sem a fé”.
Pelo texto, compreende-se
que ele se refere à fé em Deus, nas Suas leis, na vida futura, à fé religiosa.
Todavia, sabemos que
existem, e sempre existiram, pessoas sem fé em Deus, sem fé religiosa, que
usaram de caridade para com o próximo.
Mas, a caridade a que
ele se refere é a do amor em ação, ou seja, é aquela que leva o homem às
renúncias de si mesmo em favor de outros; aquela, exercida com abnegação, com
dedicação, colocando as necessidades alheias acima das suas; aquela que
sacrifica todo o interesse egoísta para pensar nos interesses alheios; aquela
que se compraz, sente prazer em beneficiar, não precisando de satisfações
pessoais para sentir-se contente, colocando a sua felicidade no ato de tornar
os outros felizes; aquela que leva o homem a esquecer-se de si para lembrar-se
de outros.
Essa caridade, somente
a fé firme e segura em Deus, no seu amor, na sua justiça, na sua sabedoria, nas
suas leis, é capaz de vivenciar, “porque nada além dela nos faz carregar com
coragem e perseverança a cruz desta vida”.
A fé consciente, inabalável,
leva o homem a compreender a transitoriedade da vida na Terra, dando, aos
valores materiais, a importância relativa que eles têm para o Espírito imortal,
não se prendendo a eles, mas buscando usá-los em favor de outros, a fim de
suavizar os sofrimentos alheios.
Somente uma fé
religiosa, bastante firme e segura, é capaz de demonstrar ao homem que ele está
na Terra para desenvolver-se, intelectual e moralmente, desviando-o da busca
ávida de uma felicidade nos prazeres materiais, que lhe dão apenas a ilusão de
ser feliz.
Vivemos em um mundo,
“aparentemente” injusto, visto apenas do ponto de vista de uma única
existência. Todavia, analisando sob o ponto de vista das vidas sucessivas,
compreendemos que as “aparentes” injustiças, são os efeitos dos males
praticados nesta vida ou em outras: é a lei de causa e efeito, acontecendo, a
fim de auxiliar o aperfeiçoamento espiritual do homem.
Mas, não estamos
condenados a viver assim, eternamente. À medida que os homens da Terra forem se
desenvolvendo, moralmente, tanto quanto intelectualmente, as dores e os
sofrimentos vão se tornando menores até se tornarem desnecessários.
Aí, nosso mundo se
tornará um mundo melhor, mais fraterno, mais solidário, com preocupações de paz
e felicidade para todos, em todos os aspectos.
Até lá, necessário é
desenvolver a fé raciocinada, que sabe quem somos quem fomos o que seremos o
que aqui devemos fazer e como fazer, para, no desenvolvimento do amor em nós,
vivenciarmos o amor ao próximo.
Até lá, precisamos exercitar
a solidariedade, a fraternidade, a tolerância, a generosidade, todas as facetas
da caridade, uns para com os outros, como pudermos, aperfeiçoando-nos nos
valores espirituais que só a fé religiosa tem condição de despertar, de fazer
desabrochar.
Até lá, precisamos
aprender a viver na diversidade de gostos, de interesses, de tendências, de
necessidades, que esta humanidade apresenta, exercitando-nos na caridade que a
fé religiosa estimula, porque “somente à custa de concessões e de sacrifícios
mútuos, é que podeis manter a harmonia entre elementos tão diversos”.
A felicidade plena não existe na Terra, pela
própria imperfeição dos seus habitantes. Todavia, pode-se gozar de uma
felicidade relativa, dedicando-se à prática do bem, sem perder tempo em procurá-la
onde não está.
Diferentemente dos
primeiros tempos do cristianismo, hoje não é necessário, para o verdadeiro
cristão, o sacrifício da vida, mas faz-se premente “o sacrifício do egoísmo, do
orgulho e da vaidade. Triunfareis se a caridade vos inspirar e fordes
sustentados pela fé”.
Questões para reflexão:
1 - Por que a fé é
importante para manter entre os homens uma ordem social capaz de torná-los
felizes?
Porque a fé nos conduz
à caridade, desenvolvendo em nós o espírito de solidariedade, eliminando as
divergências que tanto separam as criaturas.
A fé constitui força
motriz que impulsiona a caridade, em cujo trabalho o espírito se engrandece e
alcança a plenitude da felicidade.
2 - Podemos dizer que
as dificuldades da vida estão vinculadas à falta de caridade?
Sim, e nela,
unicamente, está a solução. Quando nos voltamos para o bem-estar do próximo,
aliviamos nossas dores e concorremos para a paz social.
A maior receita de
fraternidade está contida na fórmula sagrada e imutável anunciada por Jesus no
amai-vos uns aos outros.
3 - O que é necessário
para sermos verdadeiros cristãos?
É necessário, tão
somente, que sacrifiquemos o nosso egoísmo, nosso orgulho e nossa vaidade, em
benefício do próximo.
O verdadeiro cristão se
distingue pelo muito que ama o seu próximo.
Conclusão do Estudo:
A caridade só é
verdadeira e capaz de promover a evolução do espírito, quando praticada com
abnegação e um constante sacrifício de todo interesse egoístico. Mas, para
isso, ela tem que ser inspirada e sustentada pela fé, que lhe constitui a mola
propulsora.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
O
Egoísmo
11.
O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso
moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na
hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os
verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem.
Digo; coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si
mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os
esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as
inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo
terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à
felicidade dos homens.
Jesus
nos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando o
primeiro, o Justo, vai percorrer as santas estações do seu martírio, o outro
lava as mãos, dizendo: Que me importa! Animou-se a dizer aos judeus: Este homem
é justo, por que o quereis crucificar? E, entretanto, deixa que o conduzam ao
suplício.
É
a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração humano
por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo
desempenhado por completo a sua missão. Cabem-vos a vós, novos apóstolos da fé,
que os Espíritos superiores esclarecem, o encargo e o dever de extirpar esse
mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho dos
pedrouços que lhe embaraçam a marcha. Expulsai da Terra o egoísmo para que ela
possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar
sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos
corações. (Emmanuel, Paria, 1861).
“É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no
egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros e
cogita antes de tudo de satisfazer aos seus desejos, cada um naturalmente cuida
de proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, e sacrifica sem
escrúpulo os interesses alheios, assim nas mais insignificantes coisas, como
nas maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os
antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias,
visto que cada um só trata de despojar o seu próximo.
O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros”
O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros”
Algumas
vezes o egoísmo aparece tão disfarçado que mal o percebemos agindo em nós.
Os
benfeitores espirituais nos ensinam que o egoísmo é a chaga que deve
desaparecer da face da Terra. E por causa do egoísmo nosso progresso moral anda
a passos lentos. O homem egoísta pensa em si e somente em si. Tudo que vê,
observa, acredita que deva lhe servir.
Negação da
caridade, o egoísmo gera insegurança para os homens, porque como o egoísmo e o
orgulho andam de mãos dadas, a vida será sempre uma corrida em que vencerá o
mais esperto. Uma luta de interesses, em que nada, nem ninguém merecem
respeito.
Existem
muitas almas solitárias simplesmente porque não se resolvem a arrebentar as
amarras do egoísmo para serem úteis a alguém. O egoísmo pode ser considerado
como uma velha e inútil roupa que se conserva no lar do orgulho. O melhor
antídoto para o mal do egoísmo é o conhecimento da vida espiritual.
Kardec
também cita esse mal, juntamente, com o orgulho, como as duas maiores chagas,
da humanidade, impedindo seu progresso moral.
O egoísmo, “filho
do orgulho”, é o monstro devorador de todas as inteligências, porque as domina,
direcionando-as para o mal, para a dor e para o sofrimento, é a fonte de todas
as misérias terrenas, porque leva o homem a pensar somente em si, impedindo-o
de fazer crescer o amor, inerente em si, no ser espiritual, em potencialidade a
ser desenvolvida por sua vontade.
Tendo o
espiritismo, a tarefa de colaborar para o desenvolvimento moral da humanidade,
o que elevará a Terra na hierarquia dos mundos, o egoísmo é o alvo, para o
qual, os espíritas, principalmente, devem dirigir suas armas, suas forças e sua
coragem, combatendo-o em si próprio.
As armas
são a vontade, vinda da compreensão e da aceitação da necessidade de eliminá-lo
de si, para que o amor possa se desenvolver.
As forças
são o direcionamento das suas energias, das suas vibrações, da sua
inteligência, da sua sensibilidade, no uso da vontade para os dois objetivos:
desenvolver o amor e combater o egoísmo.
A coragem é
a tenacidade, a bravura, a intrepidez, a firmeza de espírito, a determinação,
necessárias para vencer-se a si mesmo.
Isso não se
faz com facilidade, nem em pouco tempo, mas, uma vez iniciada a luta, no
processo da mesma, surgem os estímulos adequados, nas pequeninas vitórias e na
percepção do amparo espiritual.
Emmanuel
afirma que a causa do cristianismo não ter ainda conseguido cumprir sua missão
na Terra, está no egoísmo, na sua invasão nos corações humanos, no seu
antagonismo à caridade, impedindo a ação desta na mente e nos corações dos
homens.
Cita como o
exemplo de caridade, Jesus, e como exemplo do egoísmo, Pilatos, que não
reconhecendo no acusado, nenhuma das acusações, tendo, pois a chance de
libertá-lo, não o fez, lavou suas mãos, entregando à multidão, influenciada
pelas autoridades religiosas de Israel, a decisão da condenação à morte na
cruz.
E esclarece
que cabe, agora, aos espíritas, a tarefa de combater o egoísmo, para fortalecer
o Cristianismo, limpando todos os obstáculos que entravam a marcha libertadora
dos homens.
Essa
responsabilidade atual dos espíritas está nas palavras de Jesus: “Porque a todo
aquele, a quem muito foi dado, muito será pedido, e ao que muito confiaram,
mais contas lhe tomarão”. (Lucas, XII : 47e 48).
Assim, aos
espíritas, no aceitarem a 3ª revelação, o espiritismo revelado pelos Espíritos,
e codificado por Allan Kardec, pelos muitos esclarecimentos recebidos, tendo,
por consequência, maiores e melhores condições de viverem os ensinos de Jesus,
muito será pedido, mas, também, muito será dado aos que souberem aproveitar
esses ensinamentos na sua melhoria e na dos seus próximos.
A fé
raciocinada, a “que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da
humanidade”, como escreveu Kardec, neste livro que estudamos, capítulo XIX,
item 7, é a fé.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A
Lei de amor
10.
Meus caros discípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem, por meu
intermédio: “Amai muito, a fim de serdes amados”. É tão justo esse pensamento,
que nele encontrareis tudo o que consola e abranda as penas de cada dia; ou
melhor; pondo em prática esse sábio conselho, elevar-vos-eis de tal modo acima
da matéria que vos espiritualizareis antes de deixardes o invólucro terrestre.
(...)
Amar,
no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para
fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; (...)
“Amai
bastante, para serdes amados”. (Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de
Paris. 1863).
Sanson, com humildade,
diz que os Espíritos presentes falam pela sua voz: “Amai muito para serdes
amados”. Todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, aspiram ser amados,
queridos, mas nem todos pensam ou sabem que antes de receber é preciso dar. Logo,
quem quer ser amado precisa, antes de tudo, amar. Quem não busca amar não
merece ser amado. O amor é força que atrai. Sem esse imã, como atrair amor? Por
outro lado, se todos desejam ser amados e para isso é necessário que amem, tal
fato é prova de que o amor existe em todos os Espíritos, iniciado seu
desenvolvimento nos animais superiores, embora esses não tenham consciência
disso. Portanto, quem se sente sozinho, sem amores, que se abra aos que lhe
sejam seus próximos, e procure interessar-se por eles, por seus valores, por
seus sonhos, por suas necessidades, a fim de que o amor crescendo dentro de si,
se expandindo na direção de outros, atraia o amor dos outros para si.
No esforço de amar-se o
próximo, “de tal maneira vos elevareis acima da matéria, que vos
espiritualizareis antes mesmo de despirdes o vosso corpo terreno”.
O espiritismo ampliou a
visão da vida futura, mostrando-a com uma continuação da vida na Terra, dando a
certeza da progressão contínua em direção a Deus, à perfeição possível, à paz e
à felicidade, provando que podemos sonhar com o melhor para todos nós, porque
temos todas as condições, as possibilidades e o determinismo divino de
consegui-lo.
Lembra-nos Sansão que
também devemos elevar-nos bem alto, sem as restrições da matéria, buscando a
visão de toda a trajetória do Espírito imortal, dirigindo nossos pensamentos a
Deus, antes de julgarmos os outros. Isso é um ato de amor ao próximo.
“Amar, no sentido
profundo do termo, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros
aquilo que se deseja para si mesmo”. Para isso é preciso olhar para o outro
como a um irmão, um ser igual a si próprio, com qualidades, defeitos, sonhos de
felicidade... É ver o outro como membro de uma grande família, a humanidade,
caminhando todos os seus membros para se elevarem em direção a planos mais
puros e sublimes.
Em assim vendo e
compreendendo, os homens serão capazes de somente fazer aos outros o que
desejam para si, buscando aliviar os sofrimentos alheios, no combate ás causas
que os provocam e dirigindo-se aos sofredores com palavras de ajuda e
esperança.
Sansão escreve que a
máxima “Amai muito para serdes amados” é revolucionária, indicando uma rota
firme e invariável, o que se percebe na própria história dos homens, que, na
atualidade, já progrediram muito, sendo muitos e muitos capazes de aceitar, sem
repulsas, idéias sobre a liberdade e a fraternidade que, em um passado,
rejeitaram.
Ele cita a melhoria dos
que o ouvem, que estão melhores do que há cem anos, mais abertos às novas ideias
que o Espiritismo traz de liberdade e fraternidade, rejeitadas antes, afirmando
que, de então a mais cem anos, esses que o ouvem, serão capazes de aceitar, com
a mesma facilidade, as ideias que, naquele momento, não conseguiam entender e
aceitar.
Pode ser que, nesse
trecho, o autor se refira a pessoas que rejeitaram, ou não souberam entender os
ideais de liberdade e fraternidade, que culminaram na Revolução Francesa, na
França, no século anterior, reencarnados e aceitando essas idéias, na doutrina
espírita, na importância do livre-arbítrio, na liberdade com responsabilidade,
gerando o sentimento de fraternidade entre todos, no entendimento da justiça e
na renovação que se dá através dos tempos.
Penso nessa
possibilidade, devido ele falar em cem anos antes e cem anos depois, e também,
dirigir-se a “Mas vós, que já haveis progredido, vós que me escutais: sois
infinitamente melhores do que há cem anos”.
De qualquer maneira,
ele demonstra, nesse parágrafo, o progresso que é realizado pelos homens,
através das reencarnações, favorecendo-lhes sempre o desenvolvimento dos
raciocínios e da sensibilidade espiritual.
“É que estais
preparados por uma semeadura fecunda: a do último século, que implantou na
sociedade as grandes ideias do progresso. E como tudo se encadeia, sob as
ordens do Altíssimo, todas as lições recebidas e assimiladas resultarão nessa
mudança universal do amor ao próximo. Graças a elas, os Espíritos encarnados,
melhor julgando e melhor sentindo, dar-se-ão as mãos até os confins do vosso
planeta. Todos se reunirão, para se entenderem e se amarem, destruindo todas as
injustiças, todas as causas de desentendimento entre os povos.”
Isso acontecerá um dia,
talvez, neste milênio, porque depende do trabalho dos próprios homens.
Busquemos, pois, fazer
a nossa parte, em nosso campo de ação, fazendo o melhor no esforço de amarmos a
todos, cada vez mais, com esse amor incondicional, que nada exige e tudo dá a
quem quer que seja, pois, dentro de nós, ele já existe, esperando apenas, a
nossa vontade e o esforço em desenvolvê-lo.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A
Lei de amor
9.
O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no
fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É fato, que já haveis podido
comprovar muitas vezes, este; o homem, por mais abjeto, vil e criminoso que
seja, volta a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente afeição, à prova
de tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes
proporções.
A
um ente ou um objeto qualquer, disse eu, porque há entre vós indivíduos que,
com o coração a transbordar de amor, despendem tesouros desse sentimento com
animais, plantas e, até, com coisas materiais; espécies de misantropos que, a
se queixarem da Humanidade em geral e a resistirem ao pendor natural de suas
almas, que buscam em torno de si a afeição e a simpatia, rebaixam a lei de amor
à condição de instinto. Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o
gérmen vivaz que Deus lhes depositou nos corações ao criá-los. Esse gérmen se
desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora comprimido
amiúde pelo egoísmo, torna-se a fonte das santas e doces virtudes que geram as
afeições sinceras e duráveis e ajudam a criatura a transpor o caminho escarpado
e árido da existência humana.
Há
pessoas a quem repugna a reencarnação, com a ideia de que outros venham a
partilhar das afetuosas simpatias de que são ciosas. Pobres irmãos! O vosso
afeto vos torna egoístas; o vosso amor se restringe a um círculo íntimo de
parentes e de amigos, sendo-vos indiferentes os demais. Pois bem! Para
praticardes a lei de amor, tal como Deus o entende, preciso se faz chegueis
passo a passo a amar a todos os vossos irmãos indistintamente. A tarefa é longa
e difícil, mas cumprir-se-á; Deus o quer e a lei de amor constitui o primeiro e
o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que um dia
matará o egoísmo, qualquer que seja a forma sob que se apresente, dado que,
além do egoísmo pessoal, há também o egoísmo de família, de casta, de
nacionalidade. Disse Jesus: “Amai o vosso próximo como a vós mesmos”. Ora, qual
o limite com relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não; é a
Humanidade inteira. Nos mundos superiores o amor recíproco é que harmoniza e
dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e o vosso planeta, destinado a
realizar em breve sensível progresso, verá seus habitantes, em virtude da
transformação social por que passará, a praticar essa lei sublime, reflexo da
Divindade.
Os
efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade
durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão,
quando observarem os benefícios resultantes da prática deste preceito: Não
façais aos outros o que não quiserdes que vos façam; fazei-lhes, ao contrário,
todo o bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes.
Não
acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor
verdadeiro, ele, a seu mau grado, cede. É um ímã a que não lhe é possível
resistir. O contato desse amor vivifica e fecunda os germens que dele existem,
em estado latente, nos vossos corações. A Terra, orbe de provação e de exílio,
será então purificada por esse fogo sagrado e verá praticados na sua superfície
a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação
e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor. Não vos canseis, pois, de
escutar as palavras de João, o Evangelista. Como sabeis, quando a enfermidade e
a velhice o obrigaram a suspender o curso de suas prédicas, limitava-se a
repetir estas suavíssimas palavras: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros”.
Amados
irmãos, aproveitai dessas lições; é difícil o praticá-las, porém a alma colhe
delas imenso bem. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: “Amai-vos e
vereis a Terra em breve transformada num Paraíso onde as almas dos justos virão
repousar”. (Fénelon, Bordéus, 1861).
Fénelon escreve sobre o
amor, neste capítulo. Ele inicia dizendo que esse sentimento “é de essência
divina”, visto que todos os homens possuem “a centelha desse fogo sagrado” em
si. Lembra que o mais abjeto dos homens, o mais criminoso, sente uma afeição, frequentemente,
“atingindo alturas sublimes”, por alguém, por algum objeto. Cita também, as
pessoas, que dispensam todo o amor que já desenvolveram em si, aos animais, às
plantas e até mesmo a objetos materiais, mas resistem a dispensá-los às pessoas
que lhe estão próximas, que é a tendência natural da alma. Todavia, não
conseguirão “sufocar o germe vivaz que Deus depositou em seus corações, no ato
da criação”. O sentimento do amor cresce no homem, com o desenvolvimento da
moralidade e da inteligência, apesar de ser, frequentemente, “oprimido pelo
egoísmo”, constituindo-se na ”fonte das santas e doces virtudes que constituem
as afeições sinceras e duradouras, e que os ajudam a transpor a rota escarpada
e árida da existência humana.” Muitos há que resistem à afeição por pessoas,
por já terem sofrido desilusões por não terem sido correspondidas. É preciso
reconhecer que não se pode exigir, de outros, sentimentos que devam vir de
dentro do ser, simplesmente, porque os sentimos em nós. Outros buscam amar
somente a um círculo de parentes ou de amigos, muitas vezes exigindo que esses
também o façam, sentindo-se ofendidos, enciumados, quando alguém demonstra
simpatia por outros, fora desse círculo.
Esse amor em
desenvolvimento está sendo oprimido pelo amor a si mesmo, que é o egoísmo, que
torna as pessoas, além de exigentes e intolerantes, infelizes e insatisfeitas,
precisando ser combatido, com persistência e disciplina. Isso só se consegue
com a vontade firme de querer desenvolver o amor, que se dá, que se doa, e não
o que se quer receber, só para si ou sem nada doar de si. O amor ao próximo
como a si mesmo, determinismo divino, deve ser o objetivo de quem quer a
verdadeira felicidade, e a verdadeira paz interior.
Cita Fénelon, a objeção
que algumas pessoas fazem à reencarnação, pela ideia de outras pessoas
participarem da afeição das que lhe são caras. Desconhecem os que assim pensam
que o amor, sendo o sentimento por excelência, o que resume todos os demais,
contraria a lei matemática, pois, quanto mais se dá, quanto mais se divide,
mais cresce e se sublima nos corações humanos. Não tenhamos medo de amar, de
abrir nossas mentes e corações, nossos braços para envolver todos os que de nós
se aproximam, a fim de que, um dia, sejamos capazes de amar, seja quem for,
como a nós mesmos. É uma tarefa difícil, mas são as coisas difíceis que trazem
as maiores vitórias e as maiores recompensas.
“Deus o quer, e a lei
do amor é o primeiro e o mais importante preceito da vossa doutrina, porque é
ela que deve um dia matar o egoísmo, sob qualquer aspecto em que se apresente,
pois além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de
nacionalidade”.
Quando Jesus disse
“Amai o vosso próximo como a vós mesmos”, não estabeleceu qualquer limite.
“Qual é o limite do próximo? Será a família, a seita, a nação?”
O próximo constitui,
para nós, a humanidade da Terra, todos os encarnados e desencarnados, conforme
o exemplo de Jesus, que, por amor, deixou os páramos celestiais, para viver em
um mundo material, atrasado e conviver com homens ainda muito ignorantes e
imperfeitos, somente, para ensinar o caminho da perfeição e da felicidade,
sabendo o quanto seria incompreendido, e que seria levado à morte na cruz. Sabia
também que sua vinda ficaria como exemplo e seus ensinos acabariam por ser
entendidos, não importando quando, porque tudo no Universo tende ao progresso e
à perfeição. Jesus nos deu o exemplo maior de amor ao próximo!
Fénelon escreve: “Nos
mundos superiores, é o amor recíproco que harmoniza e dirige os Espíritos
adiantados que os habitam. E o vosso planeta, destinado a um progresso que se
aproxima, para a sua transformação social, verá seus habitantes praticarem essa
lei sublime, reflexo da própria Divindade”.
Se concordamos com
isso, temos de compreender que “os efeitos da lei do amor são o aperfeiçoamento
da raça humana e a felicidade durante a vida terrena.” Embora ainda seja a
Terra um lugar de dores e sofrimentos, pela imperfeição dos seus habitantes, os
que se esforçam por viver essa lei, já percebem alegrias e felicidade em seu
viver, que lhes permitem avaliar a felicidade de toda a humanidade, quando essa
lei imperar na grande maioria dos homens. Então, a minoria se renderá a ela
também, ou será encaminhada a um mundo inferior, para aprender a amar. E o mal
desaparecerá da Terra, porque, todos seguirão o “Não façais aos outros o que
não quereis que os outros vos façam, mas fazei, pelo contrário, todo o bem que
puderdes”.
“Não acrediteis na
esterilidade e no endurecimento do coração humano, que cederá, mesmo de
malgrado, ao verdadeiro amor. Este é um imã a que ele não poderá resistir, e o
seu contato vivifica e fecunda os germes dessa virtude, que estão latentes em
vossos corações”. Acreditemos, pois, na
perfectibilidade de todos os homens, por piores que alguns ou muitos, se
apresentem na atualidade. Busquemos fazer o melhor que pudermos em favor do
bem, desenvolvendo o amor dentro de nós, no esforço de usar o que já temos em
benefício dos nossos próximos, porque, somente, quando muitos viverem em
direção dessa meta, é que a Terra se transformará em um mundo melhor.
Lembremo-nos de João, o
Evangelista, que, diz-nos o autor dessa mensagem: “quando a doença e a velhice
interromperam o curso de sua pregações, ele repetia apenas essas doces palavras
:” Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.!”
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
A
Lei de amor
Dentre as Leis Divinas,
expressão do amor de Deus, há a Lei de Progresso a qual estamos submetidos e
que nos dá condição de desenvolvermos e sedimentarmos essa substância criadora
e mantenedora do Universo, o Amor.
8.
O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento
por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do
progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado
e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E
o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo,
mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as
aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a
personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele
que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em
sofrimento! Ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do
corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo.
Quando Jesus pronunciou a divina palavra, amor, os povos sobressaltaram-se e os
mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
O
Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino.
Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a
reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio
intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem; condu-lo à conquista
do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito
tem hoje que resgatar da matéria o homem.
Disse
eu que em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto,
ainda se acha do ponto de partida, do que da meta, aquele em quem predominam os
instintos. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os
instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar estes últimos,
sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os
embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si
o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de
suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos. O Espírito precisa
ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que
vos granjeará muito mais do que bens terrenos; a elevação gloriosa. É então que,
compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos
suavíssimos da alma, prelúdios das alegrias celestes. (Lázaro, Paris, 1862).
Como nos fala a lição,
no início o homem só tem instintos e uma longa caminhada para atingir o ponto
mais delicado do sentimento. O instinto objetiva concorrer para os desígnios da
providência. Pela necessidade de viver, o homem se conserva buscando,
instintivamente, o melhor para si, prelúdio do amor próprio. Instruindo-se e
purificando-se, o homem atinge o sentimento, e o mais sublime é o amor e o amor
resume toda a doutrina do nosso mestre Jesus, pois, sendo o amor humanizado com
a sua vibração faz com que aquele que o encontre se modifique, ou seja, aquele
que encontra Jesus nunca mais é o mesmo.
A Doutrina Espírita nos
esclarece, através da Lei da Reencarnação, que podemos e devemos cultivar,
desde já, este sentimento, pois, somente assim é que conseguiremos obter a cota
de bem-aventuranças que já podemos desfrutar dentro do grau evolutivo que nos
encontramos. Somente amando-nos e perdoando-nos conseguiremos amar e perdoar o
próximo, pois, somente damos aquilo que possuímos. Assim, constatamos a
necessidade de desenvolvermos o amor próprio, ou seja, desenvolver as potências
para doarmos.
O Espírito Lázaro
resume de uma forma simples e sábia, toda lei de evolução espiritual do homem,
que muitos e muitos, instruídos e ignorantes, ainda não a aceitam. O homem
primitivo, Espírito encarnado, também primitivo, vindo dos chamados reinos
inferiores, iniciando o desenvolvimento da razão e da sensibilidade, traz em
si, todos os instintos básicos, necessários ao seu processo evolutivo. À medida
que vai evoluindo, através dos milênios, esses instintos vão se manifestando,
juntamente com a inteligência, com a vontade e com a liberdade. O homem passa a
viver na busca das sensações que lhe trazem prazer, desprezando as que lhe são
desagradáveis, ainda presos às decepções físicas. E só bem mais tarde, começa a
desenvolver uma sensibilidade espiritual que lhe permite desenvolver
sentimentos em relação ao próximo, não mais só em busca do prazer, dos seus
interesses, mas também desejando oferecer algo bom e prazeroso ao outro. Assim,
os instintos, no decorrer de um longo processo evolutivo, atingirão um ponto em
que estarão, nos Espíritos puros, totalmente sublimados, porque o amor pleno, o
requinte do sentimento se constituirá no Guia racional e sensível de todas as
suas capacidades intelectuais e morais. O homem caminha da animalidade para a
angelitude, no autoburilamento, libertando-se das paixões e adquirindo
experiências superiores, sublimando as expressões do instinto no tempo em que
desenvolve a inteligência e penetra nas potencialidades transcendentes da
intuição.
O Espírito comunicante
ainda nos fala sobre a lição que o espiritismo vem pronunciar uma segunda palavra
do alfabeto divino: a reencarnação, que conduz o homem a conquista do seu ser. Reencarnação
um aspecto da Lei de Amor, pois, através dela podemos retificar nossas falhas,
conquistar aquilo que ainda não conquistamos e aprender tudo aquilo que necessitamos.
A reencarnação, assim, nos conduzirá a conquista do nosso eu profundo, como nos
fala a parábola dos talentos, multiplicando os dons divinos.
Tudo isso, e muito
mais, podemos fazer, graças à lei divina das vidas sucessivas, que evidencia e
prova o amor, a justiça e a misericórdia de Deus. Todos nós, habitantes da
Terra, encarnados e desencarnados, estamos distantes do alvo a ser atingido,
que é conquistar em si, o amor, o requinte do sentimento, mas estamos indo, em
direção a essa conquista.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
Daí
a César o que é de César
5.
Os fariseus, tendo-se retirado,
entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas próprias palavras. Mandaram
então seus discípulos, em companhia dos herodianos, dizer-lhe: Mestre, sabemos
que és veraz e que ensinas o caminho de Deus pela verdade, sem levares em conta
a quem quer que seja, porque, nos homens, não consideras as pessoas. Dize-nos,
pois, qual a tua opinião sobre isto: É-nos permitido pagar ou deixar de pagar a
César o tributo?
Jesus, porém, que lhes
conhecia a malícia, respondeu: Hipócritas, por que me tentais? Apresentai-me
uma das moedas que se dão em pagamento do tributo. E, tendo-lhe eles
apresentado um denário, perguntou Jesus: De quem são esta imagem e esta
inscrição? De César, responderam eles. Então, observou-lhes Jesus: Daí, pois, a
César o de César e a Deus o que é de Deus.
Ouvindo-o falar dessa
maneira, admiraram-se eles da sua resposta e, deixando-o, se retiraram.
(Mateus, cap. XXII, vv. 15 a 22. E Marcos, cap. XII, vv. 13 a 17).
Esse ditado popular, usado quando queremos dizer que cada um deve receber
o que merece, tem uma conhecida origem bíblica.
No tempo de Jesus, sua região era dominada pelo Império Romano. E o
principal símbolo da dominação romana era o imposto. Irritavam-se os judeus de
serem obrigados a pagar tributos aos romanos, que os dominavam. Os fariseus se
opunham abertamente ao imposto, mas os partidários de Herodes, rei deles,
aceitavam o pagamento do imposto a César, imperador de Roma. Tanto os fariseus
quanto os herodianos eram adversários de Jesus, e queriam pegá-lo em contradição
para ter um motivo para prendê-lo.
Reflitamos por um instante sobre a passagem, analisando primeiramente a
postura dos fariseus:
Incomodados com a Verdade que Jesus ensinava e que os incitava à mudança
íntima, buscaram comprometê-lo, colocando-o numa situação delicada, pois, se
Jesus dissesse para não pagarem o tributo a César, seria preso pelos herodianos
presentes, e se dissesse para que pagassem o tributo, aguçaria a ira dos
Judeus.
Buscavam, portanto, por um meio escuso, de forma melíflua, com falsa
consideração, condenar Jesus, para resolver os seus problemas internos.
Nesse momento, só pensavam em si, não importando o que aconteceria ao
outro (Jesus), desde que se vissem livres do seu incômodo interno e que eles
projetavam no Mestre. Perguntaram a ele, então, se era justo pagar o imposto a
César. Jesus pediu a eles uma moeda romana que pudesse ser usada para pagar o
imposto de César. Alguém lhe apresentou uma moeda romana e Jesus então
perguntou que nome estava escrito nela. Eles responderam que era o nome de
César, e então Jesus proferiu uma de suas famosas frases: “Dai, pois, a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus”.
No dia a dia de nossas
vidas, muitas pessoas, ou por inveja, ou por orgulho ou por egoísmo, ao se
depararem com alguém que os incomoda pela sua superioridade (pelo menos elas
assim o veem), buscam colocar esse alguém em situações embaraçosas para o
denegrir, instituindo o chamado "bode expiatório". E isso pode
acontecer nas mais diversas situações de relacionamento.
A reflexão é válida,
pois, não raro podemos estar envolvidos nessas situações, ora como vítimas, ora
como algozes desse processo infeliz. Sempre que nos reconheçamos algozes,
tenhamos a coragem de refazer a nossa postura, evitando dissabores maiores e
buscando superar os sentimentos que nos levaram a uma atitude tão infeliz e
buscando transformar o orgulho, o egoísmo, a inveja em verdadeiro amor ao
próximo. Desde que nos reconheçamos "vítimas", no entanto, reflitamos
sobre essa passagem, aprendendo com Jesus.
Questões para reflexão:
1 - Qual o verdadeiro
sentido da sentença: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus"?
Eles não queriam,
propriamente, conhecer a opinião de Jesus a respeito do pagamento dos tributos.
Por trás desta atitude escondiam sua verdadeira intenção: fazer com que Jesus
se traísse com as próprias palavras e, assim, tivesse contra ele a autoridade
romana.
2 - Como colocar em
prática esse ensinamento de Jesus: "Dai a César o que é de César"?
Cumprindo todos os
deveres contraídos para com a família, a autoridade, as instituições e a
sociedade e observando o princípio da fraternidade, segundo o qual
"devemos proceder para com os outros como queiramos que os outros procedam
para conosco".
Respeitar, pois, as
leis humanas, tanto quanto se deve respeitar as divinas no “cumprimento dos
deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, bem como para
todos os indivíduos.”
"É condenável todo
prejuízo material que se possa causar a outrem."
3 - E o ensinamento
"Dar a Deus o que é de Deus", como exercitá-lo em nosso dia-a-dia?
Observando os preceitos
divinos de amor e caridade, que nos levam à reforma íntima e nos conduzem ao
aprimoramento espiritual.
Para que cumpramos a
Lei de Deus é necessário amar o próximo e praticar a caridade.
Para que nos elevemos
espiritualmente necessitamos viver em sociedade, ao lado do nosso próximo.
Conclusão do Estudo:
Para cumprir o preceito
ensinado por Jesus, Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus,
devemos não só respeitar as leis humanas cumprindo nossas obrigações com a
família, as instituições e a sociedade, como observar os preceitos divinos de
amor e caridade, que nos possibilitam o progresso moral e espiritual.
Para que cumpramos a
Lei de Deus é necessário amar o próximo e praticar a caridade.
Relembremos que Jesus
nos recomendou: - "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus", sem qualquer indicação de que devamos dar a César mais do que o
lícito e necessário.
Portanto, espíritas
irmãos, doemos a César, personificado nas exigências passageiras do mundo, o
respeito e a colaboração digna a que estamos debitados pela própria natureza,
mas sob qualquer roupagem exterior com que nos caracterize, saibamos viver para
o Cristo, a fim de que estejamos efetivamente na construção do reino de Deus.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
XI – AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
O
mandamento maior. Fazermos aos outros o que queiramos que os outros nos façam.
Parábola dos credores e dos devedores
1.
Os fariseus, tendo sabido que ele tapara
a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o
tentar, propôs-lhe esta questão: - “Mestre, qual o mandamento maior da lei?”
Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui
tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo.
Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos”. (Mateus,
cap. XXII, vv. 34 a 40).
2.
Fazei aos homens tudo o que queirais que
eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas. (Mateus, cap.
VII, v. 12).
Tratai todos os homens
como querereis que eles vos tratassem. (Lucas, cap. VI, v. 31).
3.
O reino dos céus é comparável a um rei
que quis tomar contas aos seus servidores. Tendo começado a fazê-lo,
apresentaram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Mas, como não tinha meios
de os pagar, mandou seu senhor que o vendesse a ele, sua mulher, seus filhos e
tudo o que lhe pertencesse, para pagamento da dívida. O servidor,
lançando-se-lhe aos pés, o conjurava, dizendo: “Senhor, tem um pouco de
paciência e eu te pagarei tudo”. Então, o senhor, tocado de compaixão, deixou-o
ir e lhe perdoou a dívida. Esse servidor, porém, ao sair, encontrando um de
seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros, o segurou pela goela e, quase a
estrangulá-lo, dizia: “Paga o que me deves”. O companheiro, lançanso-se-lhe aos
pés, o conjurava, dizendo: “Tem um pouco de paciência e eu te pagarei tudo”.
Mas o outro não quis escutá-lo; foi-se e o mandou prender, para tê-lo preso até
pagar o que lhe devia.
Os outros servidores,
seus companheiros, vendo o que se passava, foram, extremamente aflitos, e
informaram o senhor de tudo o que acontecera. Então, o senhor, tendo mandado
vir à sua presença aquele servidor, lhe disse: “Mau servo, eu te havia perdoado
tudo o que me devias, porque mo pediste. Não estavas desde então no dever de
também ter piedade do teu companheiro, como eu tivera de ti?” E o senhor,
tomado de cólera, o entregou aos verdugos, para que o tivessem, até que ele
pagasse tudo o que devia.
É assim que meu Pai,
que está no céu, vos tratará, se não perdoardes, do fundo do coração, as faltas
que vossos irmãos houverem cometido contra cada um de vós. (Mateus, cap. XVIII,
vv. 23 a 35).
Lamentavelmente, esta é, ainda em nossos dias, a norma de conduta de
grande parte da Humanidade. Reconhece-se pecadora, não nega estar
sobrecarregada de dívidas perante Deus, cujas leis transgride a todo instante,
mas, ao mesmo tempo que suplica e espera ser perdoada de todas as suas
prevaricações, age, com relação ao próximo, de forma diametralmente oposta,
negando-se a desculpar e a tolerar quaisquer ofensas, por mais mínimas que
sejam.
Recalcitrantes no erro, somos devedores inadimplentes que, amiúde,
recorremos ao Senhor para comutação das nossas penas. O Pai, bom e
misericordioso, perdoa-nos dando-nos oportunidades novas para remissão de pecados,
por maiores que eles sejam. Ocorre, entretanto, que nem sempre agimos com a
mesma tolerância e brandura, tal como fomos beneficiados, quando irmãos
desventurosos não correspondem às nossas expectativas. Qual o mau servo da
parábola “O Credor Incompassivo”, de devedores penitentes que humildemente
pedem clemência, transformamo-nos em credores intransigentes, desapiedados.
Virtude santificante é saber perdoar, mas poucos sabem usá-la. Jesus
Cristo, na hora extrema da sua crucificação, ergueu os olhos aos Céus e rogou
ao Pai que perdoasse os seus algozes, porque eles não sabiam o que estavam
fazendo, representando essa sua atitude um autêntico exemplo de bondade e de
tolerância para com as faltas alheias. Essa demonstração de amor ao próximo
deve servir de paradigma para todas as gerações.
A falta cometida por qualquer pessoa, reclama reajustamento no futuro, e
as piores coisas que podem acontecer aos nossos Espíritos, ao adentrarem a vida
futura, é levar os corações inundados de ódio e de sentimentos de vingança.
Isso, indubitavelmente, servirá para acarretar sensíveis atrasos em nosso
processo evolutivo.
Quando suplicamos ao Pai, na oração dominical: "Perdoai as nossas
dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores", geralmente fazemos
uma promessa inócua, um verdadeiro engodo. Queremos realmente que Deus perdoe
as nossas grandes dívidas e ofensas, em retribuição prometemos, mas não
cumprimos, dispensar o perdão àqueles que nos devem muito pouco.
Não devemos, desta maneira, agir como o credor incompassivo. Sempre que
suplicarmos o perdão a Deus, devemos ter em mente que torna-se mister
possuirmos um coração limpo de qualquer ressentimento, estando sempre animados
do propósito de perdoar o nosso próximo, com o esquecimento de todos os males
que nos tenham atingido.
Conclusão do Estudo:
Amar o próximo como a
si mesmo é preceito contido no mandamento maior da Lei de Deus. Constitui a expressão
mais completa da caridade porque resume todos os deveres do homem para com o
próximo, e o meio mais eficaz para se eliminar o orgulho e o egoísmo.
Não nos é fácil, dada a
imperfeição de caráter, exercermos de imediato o perdão amplo e irrestrito como
convém ao cristão, no entanto, é imprescindível aprendermos a desculpar já e
exercitarmos a vigilância e a oração como escudo para não nos deixarmos enredar
nas malhas do ressentimento, do rancor, da insensibilidade.
Vale atentarmos para os
dois últimos parágrafos do item 16 do capítulo X de O Evangelho segundo o
Espiritismo:
“Sede, pois, severos
para convosco, indulgentes para com os outros. Lembrai-vos daquele que julga em
última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração e que, por
conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou condena o que
relevais, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembrai-vos de que vós, que
clamais em altas vozes: anátema! Tereis, quiçá, faltas mais graves. Sede
indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao
passo que o rigor desanima, afasta e irrita”.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
É
permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal
de outrem?
Itens
de 19 a 21
Este capítulo não
estaria completo sem essas perguntas e respostas, visto que o homem em geral,
estando mais próximo da animalidade do que da angelitude, não pode deixar de
ver o mal, para que, observando e analisando as consequências, sinta a vontade
de eliminá-lo, de si próprio e de toda a humanidade.
Eis uma questão muito
delicada. Como agir diante de circunstâncias, fatos, posturas que denotem
conduta inadequada? Quando devemos e como fazermos para chamar a atenção de
alguém por comportamentos que comprometem a segurança e paz de outras
criaturas, por exemplo? Ou de alguém que se rebela diante dos critérios de
funcionamento de uma reunião ou instituição?
Há que se considerar
que cada caso é um caso por si só. Há agravantes, atenuantes, características
próprias e peculiaridades a cada situação que nunca permitem estabelecer-se uma
receita pronta que resolva todas as ocorrências. Por isso recorramos à Doutrina
Espírita.
No item 13 deste
capítulo, Allan Kardec escrevendo sobre a frase de Jesus “Não julgueis para não
serdes julgados”, disse que essa não deve ser tomada no seu sentido absoluto,
visto que “a letra mata e o espírito vivifica”.
Jesus não podia proibir
de se reprovar o mal, pois, Ele mesmo nos deu o exemplo disso, e o fez em termos
enérgicos. Mas quis dizer que “A autoridade da censura está na razão da
autoridade moral daquele que a pronuncia”, e que “A única autoridade legítima,
aos olhos de Deus, é a que se apoia no bom exemplo”.
Ao Espírito São Luís, Kardec fez três
perguntas:
1ª – (19) Ninguém sendo
perfeito, não se segue que ninguém tem o direito de repreender o próximo?
“Certamente que não,
pois cada um de vós deve trabalhar para o progresso de todos e, sobretudo, dos
que estão sob a vossa tutela”.
Por tudo que vimos
nesses estudos, parece-me bem claro que o mal tem de ser visto, comentado,
combatido, a fim de ser eliminado da mente e dos corações humanos, bem como da
Terra.
O que Jesus demonstra,
com suas palavras e em todo o seu viver neste mundo, é que antes de tentar
corrigir os erros dos outros, deve o homem corrigir, ou pelo menos, esforçar-se
por corrigir os seus. Quem assim o faz, pode tentar esclarecer seus irmãos, com
a intenção de auxiliá-los no seu desenvolvimento espiritual, com discrição, sem
alarde, sem gerar escândalos, sem imposições, de forma a mostrar-lhe sua
verdadeira intenção de ajudar. Em assim fazendo, o outro não vai ter motivo
para sentir-se humilhado, principalmente, porque percebe a boa intenção de seu
crítico, que demonstra ser seu amigo.
Jesus combate, sim,
esse hábito desastroso de querer denegrir o outro, da exigência em relação ao
comportamento alheio, querendo quem assim o faz, mostrar-se melhor do que é,
sem falhas, superior aos demais, o que demonstra a maldade, o orgulho que
existem ainda nos homens.
Esclarece Jesus, que
mesmo quando percebemos no outro uma falha, da qual ele pode libertar-se com
nossa ajuda, devemos também incluirmo-nos na censura e no esforço de corrigi-la
em nós. Desse modo, estaremos melhorando a nós e aos que nos rodeiam,
contribuindo para o progresso geral.
2ª – (20) Será
repreensível observar as imperfeições dos outros quando disso não possa
resultar nenhum benefício para eles, e mesmo que não as divulguemos?
S. Luís responde que
depende da intenção. Se essa observação das falhas alheias for o aprendizado
pessoal, para evitá-las em si, corrigindo-as se as tiver, só pode ser benéfica
essa atitude.
Aprende-se muito nas
análises dos próprios erros, das suas consequências, tanto quanto fazendo o
mesmo com os alheios.
Jesus ensinou-nos a
combater o mal fazendo o bem. Para isso, é preciso ver o mal onde ele existir,
em nós e ao redor de nós. Não se pode combater o que não se vê ou não se
percebe.
“O erro está em fazer
essa observação em prejuízo do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na
opinião pública. Seria ainda repreensível fazê-la com um sentimento de
malevolência e de satisfação por encontrar os outros em falta.”
3ª
- Há casos em que seja útil descobrir o mal alheio?
A
caridade bem compreendida deve sempre falar mais alto, na análise das consequências
desse mal. Se as imperfeições de uma pessoa trouxerem prejuízos somente a ela,
não existe nenhum motivo para divulgá-las. Pode-se tentar conversar com ela,
sem imposição, com raciocínios claros, inspirados pelo amor, pela amizade, se
ela o permitir. Mas comentar com outros, divulgar a quem quer que seja, é agir
contra a caridade. O seu próprio viver vai lhe mostrando essas imperfeições e
dando-lhe oportunidades de corrigir-se, quando ela quiser. Todavia, quando esse
mal pode trazer prejuízos a outras pessoas, o interesse do maior número de
prejudicados deve sobrepor-se ao interesse de um. Torna-se, então um dever a
sua divulgação.
“Conforme
as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever,
pois, é melhor que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem
suas vítimas. Em semelhante caso, é necessário balancear as vantagens e os
inconvenientes”.
Essas perguntas e suas
respostas mostram a importância do raciocínio e do conhecimento das leis morais
para poder escolher as melhores soluções para as diversas situações. Para saber
optar por essa ou aquela conduta, com acerto, sem provocar novos problemas,
muitas vezes mais sérios, o conhecimento da moral divina, trazida por Jesus é,
a meu ver, condição sine qua nom para fazer-se a escolha mais correta, a que
possa resolver, sem causar danos maiores a ninguém. Sempre em dúvida, apelar
para a caridade bem compreendida, pesando as vantagens e os inconvenientes para
os envolvidos.
Questões para Reflexão:
1 - Mesmo imbuídos de
boa intenção e moderação, que outro fator devemos levar em conta ao censurar o
procedimento do próximo?
Devemos primeiramente,
verificar se não adotamos o mesmo procedimento que reprovamos no próximo.
Senão, onde encontramos a força moral necessária para repreendê-lo?
Devemos tomar para nós
os conselhos que dermos aos outros. Em termos de bons procedimentos, ninguém
pode exigir de outrem, aquilo que não pratica.
2 - Que proveito devemos
tirar para nós das imperfeições alheias?
Elas nos alertam para o
dever de nos autoavaliar, a fim de verificar o que temos a corrigir, antes de
censurar os outros, sobretudo porque cada um tem o direito de agir como melhor
lhe apraz.
3 - Que outra maneira
(indireta) existe de repreender o erro do próximo, sem alardear?
Podemos demonstrar,
também, a nossa reprovação ante as imperfeições do próximo, e alertá-lo para
isso, através do bom exemplo que possamos dar com o nosso proceder.
Enquanto a censura -
bem intencionada - consegue esclarecer e orientar, o bom exemplo convence.
Por outro lado, o tema
também é abordado na questão 903 de O Livro dos Espíritos:
Incorre em culpa o
homem, por estudar os defeitos alheios? Incorrerá em grande culpa, se o fizer
para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer,
para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma
utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos
de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as
imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai,
pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso
semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o
ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o
ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as
vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar
estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave
no seu próprio”.
Portanto, haverá casos
e casos, mas sempre a caridade deverá pautar nossas ações, ainda que para
advertir, afastar ou orientar alguém. Muitas vezes nos depararemos com pessoas
e situações que trarão prejuízos a muitos e o dever da caridade impõe nossa
ação de Falar ao invés de Não falar. Porém, sem interferir no livre-arbítrio
das criaturas. E, ao mesmo tempo, usando da indulgência, como ensinam os Bons
Espíritos. Eis o desafio a nos ensinar...
Conclusão do Estudo:
Antes de repreender
alguém, verifiquemos se não praticamos o ato censurado: a autoridade de censura
está no exemplo do bem que dá aquele que censura. Enquanto a censura bem
intencionada esclarece e orienta, o bom exemplo convence.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
A Indulgência
Itens de 16 a 18
16. Espíritas, queremos falar-vos hoje da
indulgência, sentimento doce e fraternal que todo homem deve alimentar para com
seus irmãos, mas do qual bem poucos fazem uso.
A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê,
evita falar deles, divulga-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não
tornem conhecidos senão dela unicamente, e, se a malevolência os descobre, tem
sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria, não das que, com
aparência de atenuar a falta, mais a evidencia com pérfida intenção.
A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a
menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de
os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos
lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados. Quando
criticais, que consequência se há de tirar das vossas palavras? A de que não
tereis feito o que reprovais, visto que estais a censurar; que valeis mais do
que o culpado. Ó homens! Quando será que julgareis os vossos próprios corações,
os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com
o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos?
Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os
outros. Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os
pensamentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas
vezes as faltas que censurais, ou condena o que relevais, porque conhece o
móvel de todos os atos. Lembrai-vos de que vós, que clamais em altas vozes:
anátema! Tereis quiçá, cometido faltas mais graves.
Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência
atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita. (José,
Espírito protetor. Bordéus, 1863).
Com essas palavras, o
Espírito comunicante inicia sua sublime mensagem sobre a indulgência,
sentimento que leva o homem a perdoar culpas, usar de clemência, ter
misericórdia, ser tolerante com as atitudes que lhe pareçam estranhas ou são
negativas.
Quem lê essas palavras,
penetrando-lhes no seu profundo significado, vai esforçar-se para vivenciá-las.
Vai falhar muitas vezes, vai pegar-se, em flagrante, na malevolência, outras
muitas vezes, porque muito mais difícil do que adquirir um hábito novo é perder
hábitos antigos, e comentar falhas e erros alheios é um hábito muito arraigado
no Espírito humano, que aparece sempre nas conversas entre pessoas, um mau
hábito social, como se fora algo sem importância, inocente.
Como o homem aprende e
fixa o aprendizado pelo exercício, quanto mais pratica o hábito da
malevolência, da maledicência, mais se distancia da indulgência.
Sentir indulgência para
com os outros, procurando não destacar seus defeitos, mas exaltar suas boas
qualidades é uma excelente atitude para estimular o outro a querer ser melhor
do que é, sem que se sinta ferido no seu orgulho.
Todos nós poderíamos
evoluir com menos dores e sofrimentos, se eliminássemos esse mau hábito de ver,
apontar, criticar, comentar os erros alheios, principalmente, na ausência dos
mesmos, como se não errássemos nunca; se fôssemos mais indulgentes com os
outros e mais severos conosco; se buscássemos entender as dificuldades alheias
tanto quanto enxergamos as nossas; se ao percebermos uma falha em alguém,
procurássemos evitá-la em nós ao invés de a ressaltarmos no outro; se
tentássemos auxiliar o que erra, com benevolência, com discrição, com
humildade.
Mas se houver perseverança e vontade nesse esforço, um dia
iremos conseguir ser indulgentes para com os erros dos outros, como queremos
que os outros o sejam para com os nossos erros.
17. Sede indulgentes com as faltas alheias,
quaisquer que elas sejam; não julgueis com severidade senão as vossas próprias
ações e o Senhor usará de indulgência para convosco, como de indulgência
houverdes usado para com os outros.
Sustentai os fortes; animai-os à perseverança. Fortalecei
os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor
arrependimento; mostrai a todos o anjo da penitência estendendo suas brancas
asas sobre as faltas dos humanos e velando-as assim aos olhares daquele que não
pode tolerar o que é impuro. Compreendei todos a misericórdia infinita de vosso
Pai e não esqueçais nunca de lhe dizer, pelos pensamentos, mas, sobretudo,
pelos atos; “Perdoai as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos hão
ofendido”. Compreendei bem o valor destas sublimes palavras, nas quais não
somente a letra é admirável, mas principalmente o ensino que ela veste.
Que é o que pedis ao Senhor, quando implorais para vós o
seu perdão? Será unicamente o olvido das vossas ofensas? Olvido que vos
deixaria no nada, porquanto, se Deus se limitasse a esquecer as vossas faltas,
Ele não puniria, é exato, mas tampouco recompensaria. A recompensa não pode
constituir prêmio do bem que não foi feito, nem, ainda menos, do mal que se
haja praticado, embora esse mal fosse esquecido. Pedindo-lhe que perdoe os
vossos desvios, o que lhe pedis é o favor de suas graças, para não reincidirdes
neles, é a força de que necessitais para enveredar por outras sendas, as da
submissão e do amor, nas quais podereis juntar ao arrependimento a reparação.
Quando perdoardes aos vossos irmãos, não vos contenteis com
o estender o véu do esquecimento sobre suas faltas, porquanto, as mais das
vezes, muito transparente é esse véu para os olhares vossos. Levai-lhes
simultaneamente, com o perdão, o amor; fazei por eles o que pediríeis fizesse o
vosso Pai celestial por vós. Substitui a cólera que conspurca, pelo amor que
purifica. Pregai, exemplificando, essa caridade ativa, infatigável, que Jesus
vos ensinou; pregai-a, como ele o fez durante todo o tempo em que esteve na
Terra, visível aos olhos corporais e como ainda a prega incessantemente, desde
que se tornou visível tão-somente aos olhos do Espírito. Segui esse modelo
divino; caminhai em suas pegadas; ela vos conduzirão ao refúgio onde
encontrareis o repouso após a luta. Como ele, carregai todos vós as vossas
cruzes e subi penosamente, mas com coragem, o vosso calvário, em cujo cimo está
a glorificação. (João, bispo de Bordéus. 1862).
“Sede indulgentes para
as faltas alheias, quaisquer que elas sejam; não julgueis com severidade senão
as vossas próprias ações, e o Senhor usará de indulgência para convosco, como
usastes para com os outros.” Assim inicia sua mensagem João, bispo de Bordeaux.
Novamente, a mesma
recomendação da mensagem anterior, levando-nos à importância do entendimento de
que, perante Deus e suas leis, somos todos iguais e nossa conduta em relação
aos outros determina a maneira como essas leis serão aplicadas a nós.
Na prece do Pai Nosso
que milhões e milhões de pessoas dizem, diariamente, na frase: “Perdoai-nos,
Senhor, assim como perdoamos aos nossos devedores”, está-se assumindo, com
Deus, o compromisso do esforço de perdoar aos que ofendem, mas, poucos se dão
conta de que esse compromisso, não é o do pensamento ou da palavra, mas sim o
da ação.
No exercício de sermos
severos para com nossas falhas, estamos exigindo de nós o que devemos e podemos
fazer, pois se já somos capazes de perceber nossos erros, já temos evolução
suficiente para evitá-los. O contrário se dá, quando julgamos o outro, do qual
nada sabemos, por mais que o conheçamos. Não sabemos das suas experiências
anteriores, dos seus sonhos, das suas angústias, frustrações e sofrimentos, das
suas necessidades, dos motivos que o levam a agir dessa ou de outra forma. Para
julgar alguém precisaríamos conhecê-lo como nos conhecemos. Daí a necessidade
de sermos severos para conosco e indulgentes para com os outros, se queremos
ter paz interior, evitando maiores sofrimentos para nós mesmos.
Perdoar não é só o
esquecimento das faltas, pois se as leis divinas se esquecerem das faltas,
esquecerão também das consequências das ações boas, dos méritos. Sendo as leis
divinas sábias e justas, nada pode ser simplesmente apagado, esquecido. O
perdão de Deus não pode suspender as consequências de suas leis, visto que Ele,
AMOR e SABEDORIA, não iria infringi-las.
Quando pedimos perdão a
Deus por nossas faltas, estamos ou deveríamos estar pedindo que Ele nos faculte
os meios de repará-las da melhor maneira possível. Que Ele nos dê forças para
não recairmos nos mesmos erros, proteção para libertarmo-nos das imperfeições
que lhes dão origem e auxílio para entrarmos nesse novo caminho de
arrependimento, de reparação, de submissão e de amor. Assim, devemos perdoar
aos que nos ofendem. Esquecer as ações ofensivas, mas ir além, procurar ter
para com ele pensamentos e sentimentos bons, fazendo por ele o que faríamos
para com um amigo, assim como queremos que Deus faça conosco. Esse é o perdão
que vem do coração esclarecido pela razão. É o amor em ação, é a caridade ativa
e infatigável! “Substituí a cólera que mancha, pelo amor que purifica. Pregai
pelo exemplo essa caridade ativa, infatigável, que Jesus ensinou. Pregai-a como
ele mesmo o fez por todo o tempo em que viveu na Terra, visível para os olhos
de corpo, e como ainda prega sem cessar, depois que se fez visível apenas para
os olhos do Espírito. Segui esse divino modelo, marchai sobre as suas pegadas:
elas vos conduzirão ao refúgio onde encontrareis o descanso após a luta. Como
ele, tomai a vossa cruz e subi, penosamente, mas corajosamente, o vosso
calvário: no seu cume está a glorificação.”
18. Caros amigos,
sede severos convosco, indulgentes para com as fraquezas dos outros. É esta uma
prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes
maus pendores a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes
um fardo mais ou menos pesado a alijar, para poderdes galgar o cume da montanha
do progresso. Por que, então, haveis de mostrar-vos tão clarividentes com
relação ao próximo e tão cegos com relação a vós mesmos? Quando deixareis de
perceber, nos olhos de vossos irmãos, o pequenino argueiro que os incomoda, sem
atentardes na trave que, nos vossos olhos, vos cega, fazendo-vos ir de queda em
queda? Crede nos vossos irmãos, os Espíritos. Todo homem, bastante orgulhoso
para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos encarnados, é
insensato e culpado; Deus o castigará no dia da sua justiça. O verdadeiro
caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um
apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que
prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano
seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o
gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual.
Espiritismo!
Doutrina consoladora e bendita! Felizes dos que te conhecem e tiram proveito
dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para esses, iluminado está
o caminho, ao longo do qual podem ler estas palavras que lhes indicam o meio de
chegarem ao termo da jornada; caridade prática, caridade do coração, caridade
para com o próximo, como para si mesmo; numa palavra: caridade para com todos e
amor a Deus acima de todas as coisas, porque o amor de Deus resume todos os
deveres e porque impossível é amar realmente a Deus, sem praticar a caridade,
da qual fez ele uma lei para todas as criaturas. (Dufêtre, bispo de Nevers.
Bordéus).
Dufétre, bispo de
Nevers, do qual não encontramos referências, traz a terceira e última mensagem
deste capítulo, sobre a indulgência, iniciando-a com a mesma recomendação das
duas anteriores: “sede severos para vós mesmos e indulgentes para as fraquezas
alheias.” A insistência do conselho nos mostra a importância da prática dessa
ação em nossas vidas, neste planeta de expiações e de provas, como condição
sine-qua-non de nossa evolução espiritual, de nossa paz interna e externa. Para
que possamos conseguir vivenciar no cotidiano essa recomendação, parece-me,
indispensável, a aceitação de que somos todos iguais em potencialidades, desde
a nossa criação, e que estamos todos fazendo nossa caminhada evolutiva para
atingir a perfeição e a felicidade. Para isso há necessidade da aceitação da
continuidade da vida do Espírito. Essa certeza acaba com o orgulho e o egoísmo,
desenvolve a humildade, que leva o homem a sentir-se igual ao outro, nem
superior, nem inferior, tornando-o indulgente para as fraquezas alheias, e
exigente consigo, porque compreende o que pode exigir de si mesmo.
Enquanto os homens
viverem com a ideia de uma vida única, vivendo-a guiados pelo orgulho e
egoísmo, não vendo senão seus próprios interesses, julgando-se mais merecedores
do que os outros, as lutas entre pessoas e entre nações continuarão trazendo
dores e sofrimentos, além de atrasar o progresso geral.
O autor dessa mensagem
escreve que seguir a recomendação acima é fazer “a santa caridade”, visto que
todos nós, os habitantes da Terra, encarnados e desencarnados, temos “más
tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar”. Temos um fardo
mais ou menos pesado para alijar, ou seja, para livrarmo-nos, para retirar de
nós, a fim de que possamos atingir o “cume da montanha do progresso”.
Por que, então,
enxergarmos com tanta clareza as falhas alheias, sendo tão cegos com as nossas?
Por que faltar com essa caridade? “O verdadeiro caráter da caridade é a
modéstia e a humildade, e consiste em não se verem superficialmente os defeitos
alheios, mas em procurar destacar o que há de bom e virtuoso no próximo.
Porque, se o coração humano é um abismo de corrupção, existem sempre, nos seus
mais ocultos refolhos, os germes de alguns bons sentimentos, centelhas ardentes
da essência espiritual”.
Escreve sobre o
espiritismo, considerando felizes os que o conhecem e põem em prática seus
claros ensinos, que lhes ensinam que a caridade em relação ao próximo tem de
ser praticada como para si mesmo. “Caridade para com todos e amor a Deus sobre
todas as coisas, porque o amor a Deus resume todos os deveres, e porque é
impossível amar a Deus sem praticar a caridade, da qual Ele fez uma lei para
todas as criaturas”.
Enquanto não nos libertarmos do hábito de destacar as
imperfeições alheias, por muito que façamos em atividades de beneficência, não
estamos sendo caridosos, estamos amparando necessitados, mas não estamos
aproveitando essas atividades para nossa transformação moral, visto que estamos
sendo malévolos para com nossos irmãos e orgulhosos em não vermos ou
camuflarmos as nossas próprias mazelas.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Perdão das ofensas
Itens de 14 e 15
14. Quantas vezes perdoarei a meu irmão?
Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos
ensinos de Jesus que mais vos devem percutir a inteligência e mais alto falar
ao coração. Confrontai essas palavras de misericórdia com a oração tão simples,
tão resumida e tão grande em suas aspirações, que ensinou a seus discípulos, e
o mesmo pensamento se vos deparará sempre. Ele, o justo por excelência,
responde a Pedro; perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas
vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si
mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e
às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude;
farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça. Não está ele a te
perdoar frequentemente? Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te
apagar as faltas?
Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como
Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos,
generosos, pródigos até do vosso amor. Daí, que o Senhor vos restituirá; perdoai,
que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos,
que o Senhor fará vos assenteis à sua direita.
Ide, meus bem-amados, estudai e comentai estas palavras que
vos dirijo da parte daquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem
sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu
começo, faz dezoito séculos. Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se
vos perdoe. Se seus atos pessoalmente vos prejudicaram, mais um motivo aí
tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à
gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos
irmãos, desde que não passassem de simples arranhões.
Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palavras,
como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos
dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão
numa coisa; no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não
tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois responsável
pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os
expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do
coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as
noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. (Simeão, Bordéus,
1862).
Sobre o autor da mensagem, sabemos apenas que foi um
personagem do Novo Testamento, que teria abençoado Jesus quando seus pais o
levaram para ser circuncidado no Templo de Jerusalém.
Simeão inicia dizendo
que o ensino de Jesus sobre perdoar o irmão setenta vezes sete vezes é um dos
que “devem calar em vossa inteligência e falar bem alto ao coração.” Ensina,
pois, que o homem, para agir, acertadamente, de acordo com as leis do bem, deve
usar de raciocínios para compreender e entender a necessidade dos ensinos de
Jesus, na Terra, moradia de espíritos em evolução. Esses ensinos devem mergulhar,
penetrar fundo, ou seja, “atingir ou alcançar o âmago, a essência de (algo) ou
o íntimo de (alguém), produzindo impressão forte, profunda”. Devem também
“falar bem alto ao coração”, ou seja, ser captado pela sensibilidade
espiritual, para que, juntamente com o uso da inteligência possam ser sentidos,
percebidos, compreendidos, aceitos, despertando a vontade de praticá-los.
Todos os dias, milhões
e milhões de pessoas oram a Prece do Pai Nosso,
ensinada por Jesus, provavelmente sem prestar muita atenção na frase: “Perdoai
as nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores”, na qual está
condicionada, ao perdão de Deus às nossas faltas, o nosso perdão às faltas dos
outros. E continuam, pela vida toda a dizê-la sem, pelo menos, tentar colocar
em prática essa lei divina, que é básica para a paz e felicidade do homem e da
humanidade. Quem perdoa, está vivenciando o esquecimento de si mesmo, o que o
torna invulnerável às agressões, aos maus tratos e às injúrias, porque não os
recolhe ao coração, porque busca, pelo raciocínio, compreender as dificuldades
alheias, não se sentindo, pois, ofendido. Evidentemente, que só na prática
perseverante de perdoar o mais possível, esse ideal será atingido e o que
perdoa irá se tornando uma pessoa doce e humilde de coração, fazendo aos outros
o que deseja que Deus faça por ela. “Ouvi, pois, essa resposta de Jesus, e como
Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai a indulgência, sede caridosos,
generosos, e até mesmo, pródigos no vosso amor. Conclama os espíritas a não
tornar, em palavras e em atos, o perdão, uma expressão vazia. Se vos dizeis
espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham feito e pensai apenas
uma coisa: no bem, no bem que possais fazer. Aquele que entrou nesse caminho
não deve afastar-se dele, nem mesmo em pensamento.
O espiritismo nos
ensina que somos todos responsáveis por tudo que fazemos. Para fazermos algo,
essa ação ou ato existiu antes, na ideia, e essa surgiu do que se sentiu diante
de alguma coisa. Um sentimento de mágoa ou de rancor leva o ser a pensamentos
rancorosos, que por sua vez, podem levar a um ato de ofensa, de vingança.
Daí a chamada de Simeão
quanto à responsabilidade do espírita no esforço de esquecer o mal, pensar
somente no bem que pode fazer, não dando lugar a pensamentos maus, a fim de
poder sentir-se feliz, conforme suas palavras: “Feliz aquele que pode dizer
cada noite, ao dormir: nada tenho contra o meu próximo”.
15.
Perdoar aos inimigos é pedir perdão para
si próprio; perdoar aos inimigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as
ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a de que
Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes
de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada
dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! Ai daquele que diz: “Nunca
perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se,
descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem
sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não
fostes quem atirou o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra
injuriosa, se não procedestes com toda a moderação necessária? Sem dúvida, o
vosso adversário andou mal em se mostrar excessivamente suscetível; razão de
mais para serdes indulgentes e para não vos tornardes merecedores da invectiva
que lhe lançastes. Admitamos que, em dada circunstância, fostes realmente
ofendido; quem dirá que não envenenastes as coisas por meio de represálias e
que não fizestes degenerasse em querela grave o que houvera podido cair
facilmente no olvido? Se de vós dependia impedir as consequências do fato e não
as impedistes, sois culpados. Admitamos, finalmente, que de nenhuma censura vos
reconheceis merecedores; mostrai-vos clementes e com isso só fareis que o vosso
mérito cresça.
Mas há duas maneiras
bem diferentes de perdoar; há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas
pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdoo”, mas, interiormente,
alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece.
Quantos não dizem: “Perdoo” e acrescentam; “mas, não me reconciliarei nunca;
não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida”. Será esse o perdão, segundo o
Evangelho? Não; o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu
sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não
se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais
secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de
simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às
grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não
olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que
pelas palavras. (Paulo, apóstolo. Lião, 1861).
O que significa,
realmente, perdoar?
O Apóstolo Paulo, nessa
mensagem, afirma que: Perdoar aos inimigos é pedir perdão para vós mesmos;
perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se
melhora, Perdoai, pois, para que Deus vos perdoe. Porque se fordes, duros,
exigentes, inflexíveis, se guardardes até mesmo uma ligeira ofensa, como
quereis que Deus esqueça que todos os dias tendes uma grande necessidade de
indulgência?
Compreendemos a verdade
dessa afirmação, porém deparamos com a dificuldade em aplicar o perdão, porque
ao nos sentirmos vítimas, baseamo-nos em razões que desconhecemos. Nosso conceito de perdão tem
influência decisiva nessa dificuldade; esse conceito tanto pode facilitar
quanto limitar nossa capacidade de perdoar. Perdoar não é apoiar comportamentos
que nos tragam dores físicas ou morais, não é fingir que tudo corre bem, quando
percebemos o contrário a nossa volta. Perdoar não é "ser conivente"
com as condutas inadequadas. Perdoar é compreender amplamente o outro, seus
limites, suas razões, sem abdicarmos dos nossos direitos e porque não, dos
nossos limites também. Perdoar é postura íntima, é modo de viver!
Questões para reflexão:
1 - Como a atitude de
perdoar ou não reflete em nossa vida?
Se perdoarmos, também
seremos perdoados. Se, ao contrário, formos duros, exigentes, inflexíveis e
usarmos de rigor até por uma ofensa leve, o mesmo tratamento receberemos.
"Como querereis
que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência?"
Ai daquele que diz:
'Nunca perdoarei'; pois pronuncia a sua própria condenação.
2 - Perdoar é
simplesmente afastar-se do agressor?
Não. Aquele que diz
perdoar desde que jamais se aproxime do inimigo não perdoou verdadeiramente:
guarda ainda no coração ódio e ressentimento.
"O rancor é sempre
sinal de baixeza e inferioridade."
3 - Como podemos
vivenciar este ensinamento no dia-a-dia?
Buscando libertar-nos
dos sentimentos de ódio e mágoa que guardamos do nosso próximo, através do
perdão sincero; e, paralelamente, evitando que simples dissensões derivem para
malquerenças e inimizades, pela vivência constante da fraternidade, ensinada no
Evangelho de Jesus.
"Quando
transportamos para a vida prática os luminosos ensinamentos do Cristo,
preferindo perdoar a usar de represálias, retribuindo ao mal com o bem, a paz e
a alegria farão morada permanente em nossos corações."
Conclusão do Estudo:
Perdoemos sempre, para
que Deus nos perdoe; pois o rigor que usarmos para com o próximo será
igualmente usado para conosco.
A ausência de mágoa e o
esquecimento da ofensa é que estabelecem a diferença entre o perdão dos lábios
e o perdão do coração. E não podemos nos esquecer que o verdadeiro perdão se
reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras.
Nossa meta é aprender a
não nos sentirmos ofendidos, e aprender a perdoar é uma das etapas deste
processo.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
Não julgueis, para não serdes julgados. – Atire a primeira
pedra aquele que estiver sem pecado.
Itens de 11 a 13
11. Não julgueis, a fim de não serdes julgados;
porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á
convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros. (Mateus,
cap. VII, vv. 1 e 2).
O objetivo deste estudo é levar a criatura a fazer reflexão
sobre os seus julgamentos. Há a possibilidade de suprimi-los? Isto ajudaria na
conquista de uma vida mais plena e mais centrada em nossa evolução espiritual?
Essa frase de Jesus relatada por Mateus continua sendo
lida, estudada, repetida; e nós que nos consideramos cristãos, ainda não nos
desvencilhamos do hábito de apontar, criticar, censurar, condenar. O Cristo, no
seu ensinamento, deixa bem claro a necessidade que todos têm da indulgência,
visto sermos espíritos em desenvolvimento, sujeitos, pois, a enganos e
omissões. O fato é, que, quando aceitamos algum erro nosso, o que nem sempre é
feito, encontramos sempre motivos para explicar e justificar nossas atitudes e
ações. Porém, somos exigentes e severos com os erros dos outros. Pior ainda,
quando, para defendermo-nos de alguma censura ou crítica de alguém, acusamos
esse alguém de outras falhas, que nada tem com o fato e a situação atual.
Quando o que se tem para medir é o comportamento alheio, o
bom senso recomenda em primeiro lugar, cautela, prudência, já que, como
ensinava Jesus, da maneira como julgarmos os outros seremos julgados. Na
verdade, nenhum de nós gosta de ser julgado; mais uma razão para que não nos
disponhamos a julgar alguém.
Antes de atribuir a alguém uma falta, devemos pensar se a
mesma censura não nos pode ser feita. Antes de julgar alguém com severidade,
procuremos ser tão indulgentes para com essa pessoa quanto o seríamos para
conosco.
A vida é sábia mestra que nos ensina as lições da humildade
e da indulgência, levando-nos, de um lado, ao reconhecimento das próprias
faltas, e de outro, à compreensão das faltas alheias.
Mas então não se pode criticar o que está errado?
Allan Kardec esclarece que pode haver dois motivos na
censura da conduta alheia: reprimir o mal ou desacreditar a pessoa cujos atos
se critica. Esse último não tem a menor justificativa, decorrendo da
maledicência e da maldade, demonstrando imperfeição moral, necessitando, quem
assim age, de reeducação de seus sentimentos e emoções, partindo do
reconhecimento de suas falhas. Quanto ao primeiro motivo, é necessário que ele
exista e seja cumprido a fim de que o mal seja banido dos corações humanos e,
por consequência, eliminado da sociedade. Assim, esse ensino de Jesus não pode
ser levado em conta, no seu sentido absoluto, uma vez que o mal para ser
debelado, tem de ser reconhecido. Apontá-lo, pois, onde aparece, com o propósito
de combatê-lo, pode ser uma atitude louvável, uma vez que daí pode surgir um
bem. “Aliás, não deve o homem ajudar o progresso dos seus semelhantes?” Jesus
não podia, pois, proibir de se reprovar o mal. Demonstrou, com clareza e
objetividade, que “a autoridade da censura está na razão da autoridade moral
daquele que a pronuncia. Tornar-se culpável daquilo que se condena-nos outros é
abdicar dessa autoridade e, mais ainda, é arrogar-se o direito de repressão. A
consciência íntima, de resto, recusa qualquer respeito e toda submissão
voluntária àquele que, investido de algum poder, viola as leis e os princípios
que está encarregado de aplicar. A única autoridade legítima, aos olhos de
Deus, é a que se apoia no bom exemplo. É o que resulta, evidentemente, das
palavras de Jesus”.
12. Então, os escribas e os fariseus lhe
trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no
meio do povo, disseram a Jesus: - “Mestre, esta mulher acaba de ser
surpreendida em adultério; ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as
adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?” Diziam isto para o tentarem e terem
de que o acusar. Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o
dedo. Como continuassem a interroga-lo, ele se levantou e disse: “Aquele dentre
vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Em seguida, abaixando-se
de novo, continuou a escrever no chão. Quanto aos que o interrogavam,
esses, ouvindo-o falar daquele modo, se
retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a
sós com a mulher, colocada no meio da praça.
Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: - “Mulher, onde
estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Não Senhor”.
Disse-lhe Jesus: “Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a
pecar”. (João, cap. VIII, vv. 3 a 11)
A cena descrita por
João transporta-nos ao tempo de Jesus, em um lugar público, onde um grupo de
homens se aproxima dele, colocando uma mulher assustada no centro de uma roda
que se formara, para exigir-lhe uma posição diante da lei. Nessa passagem,
podemos perceber claramente o objetivo dos escribas e fariseus, que era colocar
Jesus contra a lei Mosaica. Mas Jesus, como de outras vezes, não só escapou de
forma brilhante da armadilha que lhe prepararam, como também deixou um
ensinamento moral àqueles homens.
Vemos Jesus ouvindo as
perguntas, percebendo a intenção do grupo presente de conseguir um motivo, para
acusá-lo de desrespeitar a lei. Vê a mulher atemorizada, sabendo o que a
esperava, porque conhecia a lei injusta e cruel. Não se altera, não se
horroriza, não acusa ninguém, não tenta convencê-los a mudar de atitude. Chega
a agachar-se para escrever com o dedo na terra. Como os homens insistiram,
porque queriam pegá-lo em falta em relação ao cumprimento da lei mosaica, ou em
contradição aos seus ensinos, visto que o apedrejamento da mulher adúltera
seria uma incoerência, uma contestação aos seus ensinos, simplesmente, diz que
aquele, dentre eles, que estivesse sem pecado, isto é sem erros, sem infringência
das leis, que atirasse na mulher, a primeira pedra, continuando a escrever na
terra. O espanto deve ter sido muito grande: não havia nas palavras de Jesus
nada que desrespeitasse Moisés, nem incoerência com seus ensinos; apenas
demonstrou-lhes que nenhum deles estava isento de erros, portanto, não tinham
autoridade moral para julgar, condenar e aplicar a pena.
Nesse episódio há ainda
um fato relevante a considerar: se a mulher havia cometido adultério, onde
estava o seu parceiro? Por que, então, só a mulher deveria ser apedrejada? Não
deveriam ambos, homem e mulher sofrer a mesma pena, segundo a Lei de Moisés? A
prova de que assim era encontramos no Velho Testamento (Levítico, 20:10), de
acordo com o qual, pelo ato de adultério, mereciam condenação tanto o homem
quanto a mulher; logo, de acordo com Lei Mosaica, ambos deveriam ser mortos por
apedrejamento. Mas, com o passar do tempo, a punição passou a ser aplicada
apenas à mulher, tendo em vista tratar-se de uma sociedade patriarcal e
machista.
Questões para reflexão:
1 - Por que Jesus nos
ensina a não julgarmos o próximo?
Para que não sejamos
igualmente julgados, pois agirão para conosco do mesmo modo que agirmos para
com os outros.
"(...)
empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servindo para com os
outros."
2 - Por que os mais
velhos se afastaram em primeiro lugar?
Porque, tocados pela
palavra de Jesus, refletiram sobre as inúmeras faltas cometidas ao longo da
vida e reconheceram-se mais pecadores que os jovens, sentindo-se, portanto, incapazes
de condenar um ato que talvez já houvessem praticado.
3 - Não sendo
perfeitos, nunca podemos reprimir o mal?
A questão não é essa.
Jesus não disse que não podemos reprimir o mal, nem deixar de denunciá-lo, se
necessário. Ao contrário; em várias passagens do Evangelho vemos o Mestre
repreendendo os fariseus e doutores da lei, chamando-os de hipócritas e
víboras, porque não praticavam o que ensinavam.
Conclusão do Estudo:
Dessas duas passagens
ressalta um importante ensinamento: a autoridade moral para julgar. Quando o
Mestre disse - Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra, Ele fez
com que cada um dos presentes analisasse a própria consciência e percebesse que
nenhum possuía autoridade moral para julgar e condenar aquela mulher.
O Mestre esperou
calmamente pelo resultado que suas palavras causaram naqueles homens
endurecidos. Ele era o único que, naquela circunstância, possuía autoridade
moral para isso; no entanto, Jesus não julgou e não condenou, nem disse se
deveriam apedrejá-la ou não. Jesus apenas aguardou. Quando todos se retiraram e
Jesus ficou só com a mulher, esta ouve dele a frase: Vá e não peques mais. Ao
dizer: Vá, Jesus nos mostra que somente a Deus cabe julgar. E, ao dizer: não
peques mais, Jesus demonstra o quanto Deus é misericordioso, pois aquela
mulher, como todos nós, temos más tendências a vencer, defeitos a corrigir e a
misericórdia divina se traduz pela oportunidade que Deus nos dá de corrigir
nossos erros. Jesus mostra, também, que, assim como Ele, todos podemos ser
indulgentes e capazes de desculpar os erros dos outros, pois nenhum de nós está
apto a julgar próximo, levando-se em consideração a nossa inferioridade e a
nossa caminhada evolutiva, repleta de erros e, portanto, a nossa própria
necessidade de indulgência em algum momento da vida.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
O argueiro e a trave no olho
Itens 9 e 10
9. Como é que vedes um argueiro no olho do
vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? Ou, como é que dizeis ao
vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro do teu olho, vós que tendes no vosso
uma trave? Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então,
vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (Mateus, cap. VII,
vv. 3 a 5).
10. Uma das insensatezes da Humanidade consiste
em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para
julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num
espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio,
considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém
fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a
dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto moral, quanto físicos.
Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a
verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um
contrassenso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com
efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância
da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo
tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria,
em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios,
o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como
móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou
tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.
A palavra argueiro significa partícula leve, cisco; por
extensão, coisa insignificante. Trave significa viga, pedaço de madeira ou de
outro material utilizado para sustentar ou reforçar uma estrutura.
Este é mais um exemplo de Jesus se utilizando de coisas
simples e chamativas, às vezes pela situação absurda, a fim de que suas
palavras não se perdessem e se fixasse na memória dos que o ouviam, porque Ele
sabia da necessidade de um longo tempo de desenvolvimento espiritual para que
grande parte da Humanidade entendesse seus ensinos. Nessas palavras, citadas
por Mateus, o Cristo destaca a facilidade que o homem tem em perceber os erros
alheios e a dificuldade que tem em perceber os seus.
Retirar a trave do nosso olho significa retirar da nossa
alma todos os vícios e tornar puro o coração, e, com isto retirado, daremos um
salto das trevas para a luz. O Mestre nos ensinou que, antes de criticar os
defeitos e as faltas cometidas pelo nossos semelhantes, devemos examinar a
nossa própria conduta, fazendo uma severa crítica ao nosso proceder, fazendo um
policiamento constante nos nossos atos, das nossas atitudes, e voltando para
dentro de nós a atenção, no sentido de conhecer o nosso íntimo e, assim,
corrigir os nossos defeitos, as nossas imperfeições, purificando o nosso
coração, lavando a nossa alma, retirando vícios e paixões. Porém, temos
dificuldade de perceber os defeitos que estão dentro de nós, que constituem
essa trave nos nossos olhos. Se essa
percepção é difícil para nós, imaginem para os nossos irmãos de caminhada. Agora,
se olharmos para nós mesmos, como se outra pessoa fosse, é a melhor maneira,
talvez a única, de conhecer-se a si próprio, ideia já conhecida desde antes de
Sócrates, que a divulgou há mais de trezentos anos antes de Cristo. Isto é
possível ao homem, observando, perseverantemente, as suas relações nos
acontecimentos, às situações da vida de relação e às pessoas com as quais se
relaciona ou convive. Analisando essas reações com objetividade, sem
complacência, nem justificativas, como se outra pessoa fosse, vai-se conhecendo
a si próprio. A partir desse hábito, fica mais fácil conhecer as nossas
qualidades em desenvolvimento, as que estão quais novas plantinhas, ainda
frágeis, requerendo cuidados e atenções especiais. Fazendo esse
autoconhecimento, perceberemos que tal como nós o nosso irmão também precisa mais
de ajuda do que de censura. Não parar por aí, a fim de que o progresso, que é
inevitável, não precise ser feito através de dores e sofrimentos.
Nessas descobertas sobre si mesmo, o homem vai perceber que
é o orgulho que o leva a perceber e destacar no outro o mal que se recusa a ver
em si. Por isso Kardec afirma que o orgulho, além de ser a fonte de muitos
vícios, é também a negação de muitas virtudes. Foi por isso, que Jesus se
empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso.
Busquemos, então, todos nós, que consideramos Jesus como
nosso guia e modelo, procurar ver e destacar o bem que existe nos outros, sendo
benevolentes com suas faltas, tanto quanto desejamos que os outros o sejam para
conosco. Deixemos o rigor e a exigência para conosco, na luta contra nossas
imperfeições morais, com a certeza de que todos trazemos a capacidade de
tornarmo-nos perfeitos.
Questões para reflexão:
1 – O que Jesus quis
ensinar, quando disse: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão
quando não vedes uma trave no vosso olho"?
Ele nos ensinou que,
antes de criticar os defeitos e as faltas cometidas por nosso próximo, devemos
examinar nossa própria conduta, fazendo uma severa crítica do nosso modo de
proceder.
É para dentro de nós
mesmos que devemos voltar nossa atenção, no sentido de conhecer o nosso íntimo
e, assim, corrigir os defeitos e imperfeições.
2 - Que atitudes
devemos adotar, antes de nos tornarmos juízes das ações do próximo?
Devemos tentar perceber
o nosso íntimo, como se fosse uma imagem projetada num espelho; como se
estivéssemos examinando uma outra pessoa; e refletir se temos autoridade moral
para reprová-lo ou se merecemos críticas mais duras.
Se antes de criticarmos
as ações alheias fizermos nosso auto julgamento, perceberemos que, tal como
nós, o nosso irmão precisa mais de auxílio que de censura.
Antes de criticar os
outros perguntemos a nós mesmos: "Que pensaria eu, se visse alguém fazer o
que faço?"
3 - Qual o principal
empecilho para o progresso do espírito e de que modo devemos combatê-lo?
O orgulho, que o induz
a dissimular para si mesmo seus defeitos, tanto morais quanto físicos e a
reconhecer-se sempre superior aos outros.
A humildade é a chave que abre ao homem o entendimento de
si próprio e o reconhecimento de suas próprias fraquezas; e o torna tolerante
para com as fraquezas alheias.
Conclusão do Estudo:
Antes de julgar os atos
do próximo, examinemos com honestidade nossas próprias ações. E então
perceberemos que também cometemos faltas e necessitamos da indulgência e da
compreensão de todos.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
O Sacrifício mais agradável a Deus
Itens 7 e 8
7. Se, portanto, quando fordes depositar vossa
oferenda no altar, vos lembrardes de que o vosso irmão tem qualquer coisa
contra vós, deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos
com o vosso irmão; depois, então, voltai a oferece-la. (Mateus, cap. V, vv. 23
e 24).
8. Quando diz: “Ide reconciliar-vos com o vosso
irmão, antes de depositardes a vossa oferenda no altar”, Jesus ensina que o
sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio
ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por ele perdoado, precisa o
homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus
irmãos. Só então a sua oferenda será bem aceita, porque virá de um coração
expungido de todo e qualquer pensamento mau. Ele materializou o preceito,
porque os judeus ofereciam sacrifícios materiais; cumpria-lhe conformar suas palavras
aos usos ainda em voga. O cristão não oferece dons materiais, pois que
espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força
ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada. Entrando
no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de
animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão
sua prece aos pés do Eterno: “Deixai a vossa oferenda junto ao altar e ide
primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiseres ser agradável ao
Senhor”.
O que significa isso? O
que é reconciliação? É algo muito difícil, que bem poucos conseguem realmente
fazer de coração, mas aqueles que conseguem nada mais temem da vida. Significa
não apenas ir lá, e perdoar aqueles que cometem alguma falta para conosco, mas
ajudá-los, compreendê-los, e até amá-los. Significa que não apenas devemos
esquecer aquilo que fizeram conosco, mas também manter a amizade que tínhamos
antes.
Lembremo-nos de que
Jesus nada deixou escrito. Seus ensinos deveriam se fixar nas mentes e nos
corações dos homens. Foi um ensino informal, ao sabor das circunstâncias, dos
usos e dos costumes dos judeus, a fim de serem, mais facilmente, fixados na
memória, mesmo sem o entendimento maior das lições.
Os judeus, como todos
os demais povos da época, ofereciam sacrifícios materiais, como animais para
serem mortos, conforme os ritos adequados, para agradarem e homenagearem a
Deus.
O espiritismo nos
ensina que, se estamos na Terra para espiritualizar nossos sentimentos, nossas
emoções, nossos pensamentos e ações, a fim de desenvolvermos as qualificações
divinas que trazemos em nós, Deus, “Inteligência suprema e causa primária de
todas as coisas”, Absoluto em tudo, não precisa de sacrifícios materiais, mas
quer que todos nos tornemos inteligentes e bons.
Assim, Jesus,
aproveitando um costume religioso da época, deixou o ensinamento de que o
sacrifício que devemos fazer, por ser o mais agradável a Deus, é o sacrifício
de eliminar o orgulho, através do esforço do perdão, da reconciliação, sempre
que houver alguma ofensa, mágoa ou ressentimento.
Os tempos passaram,
usos e costumes se transformaram, mas os ensinos do Mestre Jesus, continuam
sempre atuais, desafiando nossa inteligência, conclamando-nos ao sacrifício da
eliminação dos nossos vícios morais, das nossas enfermidades espirituais.
Não adianta
considerarmo-nos cristãos, aceitar seus princípios, se não houver o esforço
para vivenciar esses ensinos no dia-a-dia, se não houver uma melhoria de
sentimentos, pensamentos e ações, se não houver a transformação para uma melhor
pessoa.
Uma das maiores
dificuldades está no perdoar, visto que o orgulho ainda predomina, sob diversas
maneiras, nos corações e nas mentes dos homens.
Todavia, sempre que nos
voltamos para Deus, no altar da nossa consciência, numa prece de louvor, ou de
agradecimento, ou para pedir, em qualquer lugar, devemos, pelo menos nesse
instante, estar com o coração puro, sem ressentimentos, sem sentimentos
negativos, com a confiança, a simplicidade e a humildade de uma criança.
Em assim fazendo, com a vontade de ter, um dia, uma
consciência tranquila e paz no coração, vamos, como podemos, manter essa
atitude de não nos sentirmos ofendidos, magoados com alguém, não somente quando
em oração, mas o mais frequente possível, porque esse é o sacrifício mais
agradável a Deus e o mais benéfico para nós, homens da Terra e Espíritos em
desenvolvimento.
Questões para reflexão:
1 - O que Jesus
recomenda fazer, antes de reverenciar a Deus, com nossos atos de sacrifício?
Ele recomenda que nos
reconciliemos com nosso irmão, antes de efetivar qualquer tipo de sacrifício em
reverência ao Pai.
Reconciliai-vos com
vosso irmão, antes de apresentar a Deus a vossa oferenda.
2 - Qual o sacrifício
mais agradável a Deus?
O que o homem faz do
próprio ressentimento, ao se aproximar daquele a quem ofendeu ou por quem foi
ofendido, num ato de humildade e amor.
Antes de se apresentar
a Deus, para ser por Ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o
agravo que tenha feito a qualquer de seus irmãos.
3 - Por que é tão
difícil aproximarmo-nos do nosso irmão, em busca de reconciliação?
Porque essa atitude
exige renúncia, desprendimento, humildade - virtudes frontalmente contrárias ao
egoísmo, orgulho e vaidade que ainda carregamos em nós.
Sejamos, a cada dia, operários da harmonia e da concórdia,
removendo desentendimentos, eliminando rancores e construindo a paz.
Conclusão do Estudo:
O sacrifício mais agradável a Deus é o que o homem faz do
próprio ressentimento, reconciliando-se com o seu irmão antes de elevar em
prece o pensamento ao Pai.
O sacrifício mais
agradável a Deus é aquele em que o individuo se coloca abertamente para
aceitar, sem desânimo e sem reclamações, a determinação dos Espíritos de luz
acerca de sua missão na terra.
Na condição humana em
que nos encontramos reagimos com vigor a situações, pessoas ou coisas que nos
façam sofrer. Esperneamos, choramos, reclamamos muito contra a dor ou algo que
de parece errado.
Porém o preceito do
Cristo se mostra completamente diferente. Ele coloca o sacrifício como uma
oferenda, conforme o conceito do dicionário, um tributo à Divindade, com base
na renúncia dos nossos instintos inferiores. E não pode ser de outro modo,
considerando que não possuímos nada de material, pois tudo nos é dado por
empréstimo, inclusive o corpo e os bens materiais que muitos, equivocadamente,
associam à felicidade.
Todo sacrifício proposto por Jesus tem de ser de ordem
espiritual, daquilo que realmente possuímos em nós mesmos. Que mais agradaria a
Deus senão a nossa melhoria interior, ou seja, a tão sonhada reforma íntima ao
vencer todo o sentimento de orgulho, vaidade e tantas outras mazelas
espirituais que impedem o desenvolvimento de cada um?
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
Reconciliação com os adversários
Itens 5 e 6
5. Reconciliai-vos o mais depressa possível com
o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos
entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais
metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não
houverdes pago o último ceitil. (Mateus, cap. V, vv. 25 e 26).
6. Na prática do perdão, como, em geral, na do
bem, não há somente um efeito moral; há também um efeito material. A morte,
como sabemos, não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos
perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais
guardam rancor; donde decorre a falsidade do provérbio que diz: “Morto o
animal, morto o veneno”, quando aplicado ao homem. O Espírito mau espera que o
outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre,
para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais
caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão,
sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e
possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma
vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a
sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite, para os punir do mal que a
seu turno praticaram, ou, se tal não ocorreu, por haverem faltado com a
indulgência e a caridade, não perdoando. Importa, conseguintemente, do ponto de
vista da tranquilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que
haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes
que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissenção, toda causa
fundada de ulterior animosidade. Por essa forma, de um inimigo encarniçado
neste mundo se pode fazer um amigo no outro; pelo menos, o que assim procede
põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que aquele que perdoou sofra
qualquer vingança. Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo
possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as
discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas
se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão,
enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não
houverdes satisfeito completamente a justiça de Deus.
A compreensão e a assimilação desses ensinamentos são de
fundamental importância para nossos relacionamentos, nosso padrão de vida,
nossa paz interior, nossa evolução. Porque, se "amar a Deus sobre todas as
coisas, e ao próximo como a si mesmo" reúne "toda Lei e os
ensinamentos dos profetas", concluímos que, enquanto odiarmos e
retardarmos o autodescobrimento do amor incondicional, não teremos condições de
entrar no "reino dos céus" interior, isto é, a maioridade espiritual
que buscamos para nos afastarmos do sofrimento e alcançarmos estados d'alma de paz
e júbilo ainda para nós desconhecidos.
Jesus pede nesta passagem para
reconciliarmo-nos sem demora com o nosso adversário enquanto estivermos a
caminho com ele. E isto a Doutrina Espírita explica completamente. Jesus fala
da reencarnação, pois temos que aproveitar esta oportunidade na matéria sem
deixarmos nenhuma mágoa e ódio para ser resolvido em vidas futuras.
O caminho em que
estamos juntos com nosso adversário é a vida presente, durante a qual houve o atrito
entre nós e ele. Enquanto estamos juntos, isto é, todos encarnados, e que
convém desfazer os agravos e transformar as inimizades, por menores que sejam,
em estima. Convém também, corrigir todo o mal que tivermos praticado; porque
senão aproveitarmos a oportunidade que o Senhor nos dá e desencarnarmos odiando
alguém e com ações malévolas pesando em nossa consciência, seremos colhidos
pelo ciclo das reencarnações dolorosas; então o sofrimento nos ensinará a mudar
todo o ódio em amor e a corrigir até a mais pequenina falta que tivermos
cometido contra o nosso próximo. Então devemos refletir bastante sobre a
natureza do nosso relacionamento no convívio social e lembrar que faz parte dos
caminhos que levam a Deus.
A
Doutrina Espírita nos ensina que fora da caridade não há salvação. Assim sendo,
este também é um caminho para nos mantermos salvos dos processos obsessivos,
pois no bem conseguiremos reformular valores e angariar a simpatia dos bons
espíritos, sem nos esquecermos de que foi o próprio Mestre quem nos recomendou perdoar
enquanto estivermos caminhando com o nosso adversário, pois quando este
encontrar-se fora do corpo, terá mais facilidade em nos atormentar, fato no
qual reside a maioria dos casos de obsessões. Jesus fala da necessidade do perdão
para o bem do que se sente ofendido. Mas, como tudo se relaciona, os benefícios
se estendem também ao que ofende, pois que o ofensor do momento, quase sempre,
foi antes o ofendido, ou assim se sentiu. Amando,
compreendendo, mudaremos de faixa vibratória, tornando-nos imune ao ataque,
pois, como o Mestre nos falou, o Amor cobre a multidão de pecados.
Kardec afirma que há
dois efeitos na prática do perdão e na prática do bem em geral: um moral e o
outro material. O primeiro são os efeitos morais para quem dá e para quem
recebe o perdão, efeitos no sentir, provocando sentimentos e emoções agradáveis
e mais nobres. Ambos, ofensor e ofendido, se sentem mais aliviados, mais
felizes. O outro elimina as vibrações negativas do ofensor e do que se sente
ofendido, que se estabelecem entre um e outro, consequência da ação e dos
sentimentos e pensamentos, igualmente negativos.
Conforme
ensinamento do Cristo, o sacrifício mais agradável a Deus não é ir ao Centro
Espírita ou mesmo ir fazer caridade junto a algum necessitado. Antes de
fazermos tudo isto é necessário reconciliarmo-nos com o nosso adversário. Pois
não adianta nada aprendermos o Evangelho e a Doutrina Espírita, se estes
ensinos não são praticados no momento das dificuldades. Jesus nos fala para
sermos humildes, pacientes e misericordiosos. A oferta verdadeira do espírita,
não é aquela que podemos fazer com simples atos materiais ou exteriores, mas
sim aquela que exige uma modificação espiritual, com atos de reflexão íntima e
em favor do próximo. Sempre, o maior beneficiado com o perdão somos nós mesmos.
Quando Jesus disse que
devemos reconciliar-nos sem demora com nosso adversário, pretendia nos ensinar
a evitar as discórdias na vida presente, mas também que elas continuassem no
plano espiritual e nas existências futuras, neste mundo, porque dele não
sairemos enquanto não pagarmos nossas dívidas até o último ceitil, ou seja, até
que a justiça esteja, completamente, satisfeita.
Relativamente à vida
presente, a reconciliação com os adversários proporciona uma série de
inapreciáveis benefícios. Paz na Consciência, o maior tesouro que o homem pode
desejar no mundo. Ausência de inquietações e remorsos, patrimônio que ajuda na
aquisição do equilíbrio interior. Sono tranquilo, assegurando bem-estar
espiritual enquanto o corpo descansa. Despertar sereno, premiando o coração que
se enriqueceu de experiências novas, no contato com benfeitores desencarnados. Construção
de preciosas amizades, nesta e na vida extrafísica, o que é fundamental para
todos nós. A inimizade é uma
brasa no coração humano. Queima, fere, abre chagas profundas. Faz sangrar por muito tempo.
Questões para reflexão:
1 - O que devemos
entender pela expressão usada por Jesus: "Reconciliai-vos (...) enquanto estais
a caminho"?
Que devemos nos
reconciliar com os nossos adversários, enquanto estamos vivendo lado a lado, na
condição de espíritos encarnados; somente assim aproveitaremos as oportunidades
que a Misericórdia de Deus nos concede, de repararmos as faltas cometidas
contra nossos irmãos em encarnações passadas.
Muitas das inimizades
de hoje são frutos de malquerenças passadas, que nos compete superar pela
perdão e pela conciliação.
2 - Como devemos tratar
nossos adversários, se quisermos assegurar a tranquilidade futura?
Devemos reparar, quanto
antes, os agravos que causamos ao próximo; perdoar os supostos inimigos e
reconciliarmo-nos com eles, a fim de que, antes que a morte do corpo nos
chegue, estejam apagados quaisquer motivos de mágoa, rancor ou vingança futuros.
"Por essa forma,
de um inimigo encarnado neste mundo se pode fazer um amigo no outro."
Conclusão
Grande parte da obra evangélica e da Doutrina Espírita diz
respeito ao relacionamento humano. Procura nos informar sobre a grande
necessidade de aprendermos a nos relacionar melhor com os companheiros de vida.
E para isto temos que questionar os nossos atos diários, aferindo se eles são
benéficos ou maléficos, e assim chegarmos a uma importante conclusão: a de
sempre utilizar uma lei de comportamento deixada por Jesus. Diz ela: Fazei ao
próximo aquilo que quereis que o próximo faça a você. Com esta prática, iremos
nos colocar sempre no lugar da pessoa que irá receber o nosso ato ou as nossas
palavras. Se gostarmos do que ouvimos ou sentimos, estaremos fazendo o bem. Se
não gostarmos, com certeza estaremos praticando o mal, e consequentemente
iremos receber a consequência disto.
Por isso, enquanto estamos na Terra, ignorantes do nosso
passado, devemos buscar não fazer novos adversários e, na valorização do tempo
presente, esforcemo-nos para tornar os relacionamentos difíceis em
relacionamentos agradáveis, os adversários em amigos, na prática do perdão,
sempre que houver qualquer desentendimento, “para assim se extinguirem, antes
da morte, todos os motivos de desavença, toda causa profunda de animosidade
posterior”.
Não adiemos a tarefa de
perdoar e reconciliar com os nossos adversários: façamos de cada instante de
nossa vida ocasião de reparar o mal e construir a fraternidade.
Quando nos dispusermos
a compreender e seguir o conselho do Mestre Jesus: "Os meus discípulos
serão conhecidos por muito se amarem", nossos corações inundar-se-ão de um
júbilo diferente. De um júbilo sublime, que nenhum tesouro do mundo pode
substituir ou compensar.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO X – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS
Perdoai, para que Deus vos perdoe
Itens de 1 a 4
1.
Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque obterão
misericórdia. (Mateus, cap. V, v7).
2.
Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra
vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, se não perdoardes
aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos
perdoará os pecados. (Mateus, cap. VI, vv. 14 e 15).
3.
Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a
falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão.
Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: Senhor, quantas vezes perdoarei a
meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes? Respondeu-lhe
Jesus: Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete
vezes. (Mateus, cap. XVIII, vv. 15, 21 e 22).
4.
A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto
aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela
consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam
alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma
elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre
ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda
mansidão e caridade.
Ai daquele que diz: nunca perdoarei. Esse, se não for
condenado pelos homens, sê-lo-á por Deus. Com que direito reclamaria ele o
perdão de suas próprias faltas, se não perdoa as dos outros? Jesus nos ensina
que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu
irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
Há, porém, duas maneiras bem diferentes de perdoar; uma,
grande, nobre, verdadeiramente generosa, sem pensamento oculto, que evita, com
delicadeza, ferir o amor-próprio e a suscetibilidade do adversário, ainda
quando este último nenhuma justificativa possa ter; a segunda é a em que o
ofendido, ou aquele que tal se julga, impõe ao outro condições humilhantes e lhe
faz sentir o peso de um perdão que irrita, em vez de acalmar; se estende a mão
ao ofensor, não o faz com benevolência, mas com ostentação, a fim de poder
dizer a toda gente: vede como sou generoso! Nessas circunstâncias, é impossível
uma reconciliação sincera de parte a parte. Não, não há aí generosidade; há
apenas uma forma de satisfazer ao orgulho. Em toda contenda, aquele que se
mostra mais conciliador, que demonstra mais desinteresse, caridade e verdadeira
grandeza dalma granjeará sempre a simpatia das pessoas imparciais.
Misericórdia, segundo os dicionários, quer dizer: sentimento
de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que
caiu em desgraça, acompanhado do desejo ou da disposição de ajudar ou salvar
essa pessoa; dó, compaixão, piedade. Ato concreto de manifestação desse
sentimento, como o perdão, indulgência, graça, clemência. Kardec declara que a
misericórdia é o complemento da mansuetude, pois os que não são misericordiosos
também não são mansos e pacíficos.
Como vemos, as virtudes se mesclam, umas originando outras,
complementando-se, até o Espírito ser capaz de amar a qualquer outro, como a si
mesmo, porque, então, vivenciará, naturalmente, as leis divinas que Jesus
ensinou e exemplificou.
O misericordioso se apieda, se condói, dos sofrimentos alheios,
buscando auxiliar, e também pratica esse sentimento no perdão às ofensas,
quando esse perdão vem da compreensão das fraquezas humanas, dos sentimentos
frustrados, da necessidade de ser amado, que todos nós temos dentro de nós.
Quem perdoa de pronto, irradiando vibrações amorosas ao
ofensor, já traz dentro de si uma elevação espiritual muito acentuada. Todavia,
a maioria dos que já conseguem perdoar as ofensas em nosso mundo, conseguem
assim fazer, com o consentimento da razão e do coração, através de um grande
esforço, porque ainda estão inseridos no processo do desenvolvimento das
qualificações nobres. Muitos há que nem sequer cogitam da necessidade do perdão
para a tão desejada felicidade. Por isso, Kardec afirma que o esquecimentos das
faltas alheias, como consequência do perdão, é próprio das almas elevadas, que
pairam acima do mal que lhe quiseram fazer, sendo, então, calmas, mansas,
caridosas. As pessoas que não desejam perdoar, ou pensam ser impossível
fazê-lo, são sem elevação e sem grandeza. Por isso, são inquietas, de uma
sensibilidade sombria e amargurada; infelizes, portanto. Quando o Cristo
declarou a Pedro que se deve perdoar setenta vezes sete vezes, declarou ser a
misericórdia sem limites, sem condições.
Kardec cita duas maneiras de perdoar: uma, generosa, sem
segunda intenção, que evita humilhar o ofensor, tratando-o com delicadeza, com
sinceridade, minimizando a sua má ação, demonstrando compreendê-lo como pessoa
humana, filha de Deus, em processo evolutivo. O exemplo maior desse perdão está
com Jesus, sendo crucificado, numa morte considerada a mais infamante, como se
fora um dos piores inimigos dos homens, dizendo: Perdoa-lhes Pai, porque não
sabem o que fazem, A outra maneira é perdoar com exigências, sob condições
humilhantes, realçando a falta do outro e a sua generosidade. Esse perdão nada
tem com o perdão ensinado pelo Mestre, por ser apenas uma maneira de satisfazer
o orgulho do que se julga ofendido. Perdoar, misericordiosamente, é olhar para o
ofensor, afastando de si a mágoa ou ressentimento, auxiliá-lo se e quando
houver oportunidade, como se faz com uma pessoa querida.
“Perdoai para que Deus vos perdoe”, é o tema do comentário
de Kardec, lembrando-nos que todos nós, Espíritos imperfeitos, sujeito a erros,
enganos e omissões, precisamos aprender a perdoarmo-nos, mutuamente, a fim de
que Deus nos possa perdoar, dando-nos novas chances de reparação desses erros,
enganos e omissões. Por enquanto, vamos tentando perdoar como podemos, no
esforço de fazer o melhor, mantendo, porém, a meta a ser alcançada, ou seja,
não precisar perdoar, por não se sentir ofendido.
Questões para reflexão:
1 - Que atitude devemos
tomar, quando formos ofendidos por alguém?
Devemos procurá-lo em
particular, para esclarecer a situação e buscar o entendimento, pondo fim à discórdia.
"Se contra vós
pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com
ele."
2 - Para que haja o
verdadeiro perdão, basta-nos dizer que perdoamos?
Não. O perdão
verdadeiro não é o dos lábios, mas o do coração nobre e generoso, sem
pensamento oculto, que evita, com delicadeza, ferir o amor próprio e a
suscetibilidade do adversário, ainda quando este último nenhuma justificativa
possa ter.
É impossível uma
reconciliação sincera de parte à parte, quando o ofendido estende a mão ao
ofensor com arrogância e ostentação.
3 - É vergonhoso buscar
a conciliação e a paz, perdoando a quem nos ofende?
Não. A lição de hoje
nos ensina que, em qualquer desentendimento, o espírito mais elevado mostra-se
mais conciliador e, com esta atitude, obterá sempre a simpatia das pessoas de
bem e as graças de Deus.
Achamos difícil perdoar porque somos ainda almas
inferiores, distanciadas de Deus, que nos aguarda compassivo a decisão de
cumprir sua lei de amor.
Conclusão do Estudo:
Somos regidos pela lei
de causa e efeito, que nos faz experimentar as mesmas situações que
proporcionamos aos outros; portanto, sejamos misericordiosos, para que possamos
obter misericórdia; e perdoemos sempre, para que sejamos perdoados pelos homens
e por Deus.
Sejamos misericordiosos
como é misericordioso Nosso Pai que está nos céus, ensinou-nos Jesus. Ser
misericordioso significa saber perdoar as ofensas que recebemos, o mal que nos
fizerem, ou o prejuízo que nos causarem.
Perdoar é ter o nosso
coração livre de ódios ou de qualquer ressentimento contra nossos irmãos ou
contra si mesmo. É ajudar o ofensor, caso necessite.
Ninguém deve aceitar a
ofensa do outro, o seu ódio ou o seu desdém. Permanecer acima da ofensa, não
deixar-se atingir pela agressão moral constituem o antídoto para o ódio. Por
exemplo, se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, este
continua pertencendo a quem o carregava consigo. Ou seja, se você não aceita a
inveja, a raiva e os insultos, esses sentimentos continuam pertencendo somente
ao ofensor. Quem guarda ódio afasta-se do amor. O ódio leva à vingança, que é
um ato mesquinho e indigno.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO IX – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACÍFICOS
A Cólera
Itens 9 e 10
9. O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que
sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos
considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito,
quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo
vos irrita e aborrece. Que sucede então? Entregai-vos à cólera.
Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira
que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão;
pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz
repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por
uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades
muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade,
diante da qual entende que todos se devem dobrar.
Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira; à
natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem.
Ah! Se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de
si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão
produzirá aos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo,
cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.
Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera
a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira
vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna
infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso
fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de
fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração,
mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve
bastar para induzir o homem a esforçar-se a ela dominar. O espírita, ao demais,
é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e
à humildade cristãs. (Um Espírito protetor. Bordéus, 1863).
10. Segundo a ideia falsíssima de que lhe não é
possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de
empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa-vontade se
compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. (...)
Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que
outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor
aos atos de força.(...)
O corpo não dá cólera àquele que não as tem, do mesmo modo
que não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao
espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? (...)
Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva
vicioso, senão porque quer permanecer vicioso; de que aquele que queira
corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei de
progresso. (Hahnemann. Paris, 1863).
Os dicionários definem
cólera como sendo o sentimento violento demonstrado por alguém diante de uma
situação revoltante. Essa situação onde nós “botamos pra fora” todo o nosso
instinto animal, ao invés de ser a exceção, tem sido a regra na sociedade
atual. Não obstante as leis existentes nos impedirem de praticar atos hediondos
contra o nosso semelhante, ainda nos utilizamos da palavra falada ou escrita
para destilarmos todo o nosso ódio contra o nosso irmão que, muitas vezes,
necessitava, apenas, de um pouco de compreensão e, não, de uma reprimenda que
levasse a piorar ainda mais a sua condição de percepção, oriunda do seu já
precário estado evolutivo.
A cólera é, sem dúvida,
filha do orgulho. Esse vício da alma nos leva a crer que somos mais importantes
do que realmente somos. Isso faz com que não tenhamos a mínima calma diante das
situações que nos são adversas. Com efeito, basta que se faça uma alusão a
certo defeito nosso; uma comparação que nos rebaixe ou simplesmente nos seja
desfavorável; uma crítica, ainda que sincera e construtiva, a qualquer
realização de que tenhamos sido responsáveis; ou que alguém não atenda a uma
ordem, esqueça uma recomendação ou contrarie uma opinião nossa, para que a
irritação se instale em nosso espírito, nos faça perder a razão e nos leve à
violência verbal ou física. Em vista
disso, não apenas cometemos desatinos contra o nosso semelhante, mas, chegamos
até mesmo a nos voltar contra seres inanimados. Não raras vezes, em uma
discussão, batemos em portas, damos soco na parede, jogamos ao longe pratos e
copos, tudo, no intuito de impor as nossas ideias pela violência e pelo medo.
Nesses momentos de fúria, é comum, então, dizermos coisas que não sentimos,
tomarmos atitudes que não condizem com as normas da civilidade, e até impondo
maus-tratos em quem quer que esteja ao alcance das mãos ou dos pés. Quase
sempre, muito nos arrependemos depois desses acessos de loucura, lamentando
amargamente termos magoado e ofendido aqueles que estimamos, mas já o mal terá
produzido seus efeitos: rancores em uns, traumas psíquicos em outros, etc. Muitas
dessas criaturas que, diante das mínimas contrariedades, se descontrolam e se
deixam empolgar pela cólera, atribuem-na ao temperamento com que a natureza os
dotou, e, dando-se por justificadas, não diligenciam para extirpá-la. Como
poderei agir de outro modo – dizem – se Deus me fez assim, com temperamento bilioso
e explosivo? A verdade, porém, é que a cólera, como de resto todos os vícios, é
uma imperfeição de nosso espírito, respondendo cada um por todos os desatinos
que venha a praticar nesse estado. Assim, para deixarmos de ser coléricos, o
que temos a fazer é exercitar-nos na mansidão, tomando por modelo o Mestre dos
mestres, que, mesmo nas circunstâncias mais constrangedoras, jamais perdeu a
calma, nunca teve um gesto de violência, nem se permitiu qualquer revide às
ofensas e maus tratos de que foi alvo, e, por isso, tinha plena autoridade para
aconselhar. A Doutrina Espírita esclarece-nos que devemos refrear o nosso mau
gênio, esforçando-nos por ser mansos e pacíficos, não apenas por meras razões
místicas, mas como medida de higiene mental, pois, sempre que nos
encolerizamos, lançamos em nosso organismo forte dose de adrenalina, e isso,
fazendo aumentar a pressão sanguínea, pode provocar uma apoplexia, arruinar-nos
a saúde, senão mesmo causar-nos a morte.
Questões para reflexão:
1 - Onde encontramos a
causa da cólera?
No orgulho ferido, que
faz com que o homem se revolte diante da menor contrariedade e de situações que
o obriguem a aceitar-se como um ser ainda imperfeito e, portanto, com graves
erros a corrigir.
2 - Como defender os
valores que julgamos corretos, sem nos encolerizar?
Agindo em conformidade
com os mesmos, respeitando nos outros sua forma de pensar, sem perder a
confiança em Deus e em sua sabedoria.
Para a definição
consciente daquilo que realmente é correto, torne-se imprescindível a nossa
constante ligação com Jesus.
3 - Mas, e se formos
bloqueados em nossa ação, que julgamos acertada, não haveria aí razão justa
para nos revoltar?
Não. Isso não seria
justificativa para a cólera. Tampouco, impor nossa vontade, quando não somos compreendidos,
não resolve o problema. O segredo do sucesso está em aguardar pacientes, pois a
verdade prevalecerá.
Conclusão do Estudo:
A cólera é sentimento
que contraria a lei de Deus e se expressa por atitudes rudes e grosseiras,
acarretando sérios desajustes orgânicos àquele que a cultiva e fazendo deste a
sua principal vítima. Além disso, revela um sentimento antifraterno de quem a
ela se predispõe, perante os semelhantes. Trata-se de um mal cuja origem reside
no orgulho ferido, que o homem terá de dominar, se deseja ser feliz.
A cólera atua como
estilete lançado, que prende agressor e agredido através de um fio muito tênue,
mas extremamente resistente, feito de ressentimento, de desamor e, até, de
ódio. Agressor e agredido passam a vibrar no mesmo diapasão de desarmonia,
tornando-se sujeitos a toda sorte de desequilíbrios físicos e psíquicos. Este
fio é um laço que contém energias vibratórias desarmonizadas e que acarreta dor
e sofrimento para aqueles que gravitam em torno delas. A ira desestabiliza o
organismo perispiritual envenenando o ser com fluidos nocivos à sua saúde
física e mental; a ira contraria frontalmente a humildade e a caridade,
ferindo, portanto, a lei de Deus.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO IX – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACÍFICOS
Obediência e resignação
8. A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus
pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e
muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do
sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação
é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo
das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser
resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes.
Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava.
Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da
corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os
triunfos do sacrifício e da renúncia carnal.
Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do
vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade
intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o
gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão
somente mais tarde verá, enquanto que a atividade é a reunião dos esforços de
todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual
de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos;
obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Ao do
espírito preguiçoso, ai daquele que
cerra o seu entendimento! Ai dele! Porquanto nós, que somos os guias da
Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade
rebelde, por meio da dupla ação no freio e da espora. Toda resistência
orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os
que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. Lázaro (Paris, 1863).
Mais uma mensagem do
Espírito Lázaro. E para compreendermos melhor a profundidade de sua mensagem,
recorremos ao dicionário a fim de deixar bem claro o que exatamente “Obediência e Resignação”. Obediência
significa: Ação ou efeito de obedecer. Ceder, cumprir, seguir. Submeter-se à
vontade de alguém. Cumprir uma ordem. Aceitar uma determinação Respeitar uma
lei ou mandato. Respeitar um superior. Resignação quer dizer conformação,
submissão, concordância. Lendo essas palavras, nosso orgulho, que chamamos de
amor-próprio, logo se espanta, porque relacionamos o obedecer a abaixar a
cabeça para tudo, enquanto resignar-se, nos lembra de passividade,
subserviência, acomodação, mas, na realidade, os significados cristãos não são
estes.
“A obediência é o
consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração.” Assim
afirma o autor da mensagem na explicação de que obediência e resignação não são
a negação da vontade e do sentimento. Ao contrário, são virtudes que se
expressam em ações muito ativas e difíceis para a maioria dos homens, porque refletem
uma confiança plena em Deus e em suas leis. A obediência e a resignação
cristãs, para assim serem qualificadas, devem ter o aval da razão e da
sensibilidade, através de raciocínios que as tornem compreensivas, demonstrando
seu valor e sua necessidade ao viver do homem na Terra e ao seu viver eterno.
“Ambas são forças ativas, porque levam o fardo das provas que a revolta
insensata deixa cair. O poltrão não pode ser resignado, assim como o orgulhoso
e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes”. Obedecer
e resignar-se são atos e ações de quem age segundo a vontade de alguém,
submetendo-se a ela. O cristão se submete ás leis divinas, porque confia no seu
Criador. Na obediência e resignação cristãs, segundo o espiritismo, o homem de
hoje esforça-se para entender as leis morais, trazidas por Jesus, pelo
consentimento da razão e da sensibilidade, compreendendo serem essas ações
morais necessárias para um viver produtivo em ações nobres, de transformações
internas e de progresso espiritual. A obediência e a resignação, por medo ou
ignorância, sem compreensão, apenas pela “autoridade” de quem as exige, cada
vez mais, escasseiam, porque hoje o homem quer compreender antes de aceitar, ou
acreditar. Jesus não renasceu na Terra, para agir com seus irmãos imperfeitos,
usando os mesmos métodos usados pelos poderosos da Terra, ou seja, exigindo,
pela força ou pelo temor, a obediência e a resignação às leis divinas. Não, ele
veio trazer as leis morais, indispensáveis ao progresso moral da humanidade da
Terra, que devem primeiro, se desenvolver na mente e no coração de cada
Espírito, encarnado ou desencarnado, pela vontade de cada um. Quando a
influência desses seus seguidores for maior do que a dos que as repelem, a
Terra se tornará um mundo sem tormentos e angústias, possibilitando um viver
agradável, prazeroso, com muito mais facilidades para o progresso no bem, pelo
bem e para o bem. Assim, aquele que, entendendo que as causas das dores e
sofrimentos da Terra estão dentro dos homens, que as ações externas, as
situações e os acontecimentos, apenas estimulam reações oriundas do íntimo de
cada um, esforça-se pela aceitação dos mesmos, resigna-se, isto é, não reclama,
não se revolta, não se desespera, porque sabe que esses males são necessários
ao seu progresso espiritual. Procura, então, com serenidade e confiança, a
libertação dos mesmos, com a certeza de que esses sofrimentos lhe trarão
benefícios, alguns já percebidos durante os mesmos, e que, esses bens não
viriam de outra forma, por causa de sua própria rebeldia. Lázaro usa, às vezes,
de uma linguagem dura, “o chicotearemos e forçaremos a sua vontade rebelde, com
o duplo esforço do freio e da espora”, que devemos entender como metáforas e
não como ações reais desses guias da humanidade. Refere-se, ele, à lei de causa
e efeito, que dá a cada um o resultado do que fez, provocando que “toda
resistência orgulhosa deverá ceder, cedo ou tarde. Mas, bem-aventurados os que
são mansos, porque darão ouvidos dóceis aos ensinamentos”.
Questões para reflexão:
1 - Em que consiste a
obediência aludida no texto?
É o cumprimento da lei
de Deus. Pelo estudo do Evangelho e pela prática do mesmo, vamos ficando mais
obedientes ao Pai, mais brandos, mais felizes, consequentemente.
"A obediência é o
consentimento da razão."
2 - O que é resignação?
São os bons sentimentos
que alimentamos em nosso coração. É compreender a necessidade de não nos
revoltarmos, de sermos bons, a fim de sermos felizes.
"A resignação é o
consentimento do coração."
3 - Como podemos
aprender e desenvolver em nós essas duas virtudes?
A perfeita assimilação
do Evangelho de Jesus, por cada um de nós, seja pela própria conscientização;
pelo exemplo das pessoas de bem; pelas boas leituras; ou ainda, pela orientação
das religiões que conduzem ao bem, nos levará a desenvolver essas e outras virtudes.
Em último caso, a dor, decorrente dos nossos desvios, também contribuirá.
Conclusão do Estudo:
Jesus, em Seu
Evangelho, sempre pregou a resignação, mas não aquela resignação passiva. A
resignação pregada pelo Mestre está longe de ser a da inércia e do desânimo. Em
Seus ensinamentos sempre estão presentes a serenidade e a fé, com que tratava
os problemas, mesmo aqueles mais aflitivos.
Na síntese da doutrina
do Cristo, encontramos o amor como a lei maior e, na Sua conduta na Terra, a
ética e o comportamento, capazes de, se nos dedicarmos a imitá-lo, garantir o
nosso crescimento espiritual.
A obediência e a
resignação são duas virtudes que refletem o nosso ajustamento às leis divinas e
nos permitem saldar mais rapidamente as faltas do passado, propiciando-nos o
progresso, em voos espirituais maiores e, consequentemente, a nossa aproximação
de Deus.
A obediência e a
resignação são próprias dos brandos e pacíficos, aqueles que possuirão a Terra,
que ao passar para mundo de regeneração, mudará o seu status. Haverá menos
lágrimas e menos dores. Enfim, a Terra será um planeta onde imperará maior
felicidade.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO IX – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACÍFICOS
A Paciência
7. A dor é uma bênção que Deus envia a seus
eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente
que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu.
Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis
praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade
que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há,
porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória; a de
perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do
nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.
A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que
são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém,
atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações
que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito
mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha
para o alto, do que quando se curva para a terra a frente.
Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais
sofreu ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo
que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro.
Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo. Um Espírito
protetor. (Havre, 1862).
Uma das súplicas que
pedimos e ouvimos com mais frequência é: “Ah, meu Deus, dê-me paciência!”. Paciência
uma palavra mágica, transformadora. Paciência é uma virtude maravilhosa que
todos temos, mas que poucos sabem utilizá-la. Incessantemente suplicamos ao Criador
essa virtude, porém nos falta perspicácia suficiente para perceber que Deus
concede a virtude aliada à prática. E Ele, em sua infinita sabedoria, nos
proporciona ocasiões para que sejamos pacientes. O hábito faz a perfeição!
Quantas vezes você se deparou com uma situação na qual era suficiente um
pouquinho mais de paciência para ser resolvida? Bastava respirar fundo e
oxigenar o cérebro ao invés de responder com tanta aspereza. Perceba, que
quando somos impacientes não resolvemos nada, muito pelo contrário, atropelamos
as etapas que temos que percorrer em nossa vida e nos machucamos muito mais. Através
da paciência, poderemos sempre encontrar uma porta aberta para nossa saída.
O Apóstolo Paulo
recomenda-nos "seguir a verdade em caridade", para que venhamos a
crescer no entendimento de Jesus, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, na
advertência da Esfera Superior, assevera-nos que "a paciência também é uma
caridade", e que nos cabe pratica-la, em obediência aos ensinos do Mestre.
A partir desse momento a paciência passou a ser um objetivo do Espírito que
busca a própria consciência, o próprio progresso. Se Jesus nos ensinou a
paciência como forma de atingir os objetivos, e se Paulo nos disse que é a
chave para a "consolação", foi a Doutrina Espírita que, descortinando
o Espírito como ser imortal, nos trouxe a chave do entendimento. A paciência é
uma característica do Espírito que precisa ser exercitada e desenvolvida para
que, com ela, saibamos aprender, entender o que nos traz a vida, e aumentarmos
a nossa fé e nossa empatia com o Criador.
Questões para estudo:
1 - Por que a dor é uma
bênção?
Porque ela é o veículo
através do qual nos regeneramos perante os erros do passado, em razão dos
nossos desvios da rota da felicidade.
Por isso, diante do
sofrimento, ao invés de nos afligirmos, é mais lícito bendizer a Deus pela
oportunidade de resgate que nos concede.
2 - Sendo uma bênção,
como explicar o fato de a dor se tornar insuportável, levando as pessoas ao
desespero?
Deus não põe fardos
pesados em ombros frágeis. Desse modo, a dor está sempre na proporção das
forças e capacidade de cada um. Logo, depende, igualmente, de cada um a
iniciativa de buscar o meio para suportá-la, sem o que esta sempre parecerá
maior do que é na realidade.
Deus, contudo, não
desampara ninguém que O procura. A dificuldade toda está em nós para chegarmos
até Ele.
3 - De que forma a
paciência se constitui no remédio que ameniza as dores?
A paciência nos
propicia a serenidade capaz de nos fazer ver que, a par do sofrimento, há um
número bem maior de bênçãos, dádivas e compensações que emanam do Pai, diante
das quais as nossas dores passam a ser bem menores e menos significativas,
conquanto ainda nos afetem.
"O fardo parece
menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a
fronte."
Para nossa paz interior,
compreendamos que o caminho que nos levará à felicidade absoluta obedece à
“longa via do ser” e, em muitas circunstâncias, reivindicará, de nossa parte,
uma ação resignada, pois não há atalhos. Então, confiemos e cultivemos a
preciosa paciência.
Conclusão do Estudo:
A paciência é uma
virtude que nos faz olhar para o alto e nos colocar acima de nossos problemas,
permitindo-nos visualizar sua solução sem atropelos. No Cristo temos o modelo e
o maior exemplo da paciência.
Para evidenciarmos algo
que todos nós já sabemos: temos a oportunidade de praticar a paciência em todos
os dias de nossas vidas. Mas o difícil é lembrarmo-nos de sermos pacientes
quando alguém "pisa no nosso calo", não é mesmo?
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO IX – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACÍFICOS
A afabilidade e a doçura
6. A benevolência
para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e
a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que
fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o
verniz dessas qualidades. Quando há cuja fingida bonomia não passa de máscara
para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades
interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e
no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem
à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda
em dardo peçonhento, quando estão por detrás.
A essa classe
também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos,
fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do
despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa,
se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os
estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se
temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: “Aqui
mando e sou obedecido”, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: “E sou
detestado”.
Não basta que dos
lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há
hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se
desmente; é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ao demais,
sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém
engana. (Lázaro. Paris, 1861).
Nesta mensagem, o autor
nos fala dessas duas virtudes, pouco citadas no cotidiano dos homens em geral,
mas exaltadas por Jesus, que incentiva seus irmãos em desenvolvimento
espiritual, a fazê-las crescer dentro de si, pois, com elas em ação, serão
bem-aventurados.
Afabilidade é a
qualidade de quem é cortês, delicado, amável, agradável, com quem se pode falar
facilmente, acessível. Doçura é a qualidade de quem é suave, meigo, brando.
Escreve ele, que a
afabilidade e a doçura se originam da benevolência (boa vontade, bondade para
com alguém), que por sua vez, é fruto do amor ao próximo. Isso significa que
não basta ter atitudes exteriores de boa educação, de gestos e atitudes suaves,
ser afável no falar, se são resultados de treinamentos sociais, aparências de
uma boa educação, de boa índole. Quem deseja ser afável e suave nos relacionamentos
com os outros, precisa cultivar o amor ao próximo, para com ele, ter boa
vontade com seus erros, suas imperfeições, suas dificuldades. São
bem-aventurados os que, se esforçando por compreender e aceitar todas as
pessoas como são, querendo para elas o que de melhor for possível, usando de
benevolência para com suas faltas e omissões, tiver sempre atitudes de
delicadeza e de afabilidade em todos os relacionamentos. Assim, Lázaro censura
os que usam de “uma máscara para uso externo, uma roupagem, cujo corte bem
calculado, disfarça as deformidades ocultas”, mas que na menor contrariedade,
mostram-se como são por dentro, nas reações violentas que manifestam. Cita os
que em casa são tiranos dos familiares, agressivos, incapazes de gestos de
delicadeza, mas fora no lar, apresentam-se de forma bem educada no falar, no
ouvir, afáveis e suaves. São pessoas dominadas pela hipocrisia, afastando-se,
cada vez mais da autenticidade.
No “amar ao próximo
como a si mesmo” está implícita a ideia de que o amor a si próprio existe em
cada um de nós, e assim Deus nos fez. O que não está dentro da vontade divina é
o egoísmo, esse amor exacerbado que só enxerga as suas necessidades,
colocando-se no centro de tudo e de todos. Para libertarmo-nos do egoísmo,
precisamos nos conhecer, aceitar as pequenas coisas boas que temos, bem como a
nossas imperfeições, considerando que somos Espíritos em evolução. Todavia, não
podemos, por amor a nós, conformarmo-nos com as poucas coisas boas e as muitas
imperfeições que temos, pois, estamos reencarnando, tantas vezes quantas forem
necessárias na Terra, para desenvolver nosso potencial divino e melhorarmo-nos,
perseverantemente. Assim, o aceite do
como somos é apenas o primeiro passo para, no uso do livre-arbítrio,
continuarmos, nesta existência, nosso processo evolutivo. Para que isso
aconteça, precisamos ser honestos e sinceros para conosco, nos enxergando o
mais real possível, a fim de reformar nosso caráter, reprimindo nossas más
tendências, melhorando o que já temos de bom, permanecendo no caminho do progresso,
difícil, lento, mas sempre progresso. A honestidade e a sinceridade conosco,
nos leva a ser autênticos, a nos apresentarmos a todos como somos, imperfeitos
sim, mas esforçando-nos para melhorarmo-nos. Assim termina Lázaro sua mensagem:
“Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, jamais se desmente. É o
mesmo para o mundo ou na intimidade, e sabe que se pode enganar os homens pelas
aparências, não pode enganar a Deus.” Só pode dar amor quem o tem. Partindo,
pois, do amor que sentimos por nós mesmos, podemos amar ao próximo.
Quando Jesus traça como
regra de vida a afabilidade e a doçura, estas duas qualidades abrangem outras,
como a paciência, a tolerância, a obediência e a resignação. Essas são as
qualidades das almas nobres, dos homens bons. Todas as pessoas afáveis e doces
são gentis. E a gentileza se exercita através de pequenos gestos; um simples
bom dia; um sorriso; um agradecimento; dar passagem a quem está com pressa.
Pode não parecer, mas esses pequenos gestos fazem muita diferença. É através de
pequenos gestos que começamos a mudar o Mundo. A gentileza traz a paz, a
tolerância, a paciência, a capacidade de perdoar. Não podemos pensar que a
educação torna uma pessoa gentil. Gentileza é uma maneira de pensar, de
enxergar as pessoas; é tratar o outro como gostaríamos de ser tratados; é muito
mais do que um código de boa conduta ou de etiqueta. A pessoa verdadeiramente
gentil não espera nada em troca; ela é verdadeira, honesta; não bajula ninguém
apenas para ser gentil; ao contrário, diz “não” da mesma maneira que diz “sim”,
quando necessário.
Questões para reflexão:
1 - Em que consiste a
afabilidade e a doçura?
São atitudes pelas
quais a criatura manifesta exteriormente a benevolência para com os seus
semelhantes.
A benevolência, por sua
vez, denota a extensão do sentimento de amor ao próximo que essa criatura
possui.
2 - Quer dizer, então,
que toda criatura afável e doce é benevolente e ama o próximo?
Não. Muitas vezes essas
atitudes não passam de aparência que, cedo ou tarde, são desmascaradas pelo
verdadeiro caráter do indivíduo, que vem à tona.
"A educação e a
frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades."
3 - Devemos adotar um
tratamento afável, ainda que isso contrarie o nosso íntimo?
Sim, porque demonstra
disciplina. Devemos, entretanto, conscientizarmo-nos de que, em última análise,
acabamos sempre refletindo no exterior o que somos interiormente. Daí, o nosso
dever de melhorar o íntimo, não as aparências.
Se formos afáveis, não
pelas aparências, mas pelo que somos intimamente, seremos tratados com
afabilidade e concorreremos para a melhoria do relacionamento entre as pessoas.
Conclusão do Estudo:
A benevolência para com
os semelhantes é fruto do amor ao próximo, e se manifesta pela afabilidade e
doçura, virtudes que concorrem para a melhoria do relacionamento com as
pessoas. Daí, a necessidade de cultivá-las e aplicá-las em nosso comportamento
diário.
Jesus reunia em
torno de si uma multidão de criaturas que buscavam consolo para suas dores e
respostas para suas indagações. Imaginemos o dia em que todos o seguirem em
busca de suas doces palavras.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO IX – BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E
PACÍFICOS
O tema deste estudo,
Injúrias e Violências, está contido no belíssimo Sermão da Montanha, lição de
Jesus que constitui um dos mais belos ensinamentos que foram dados à
Humanidade.
Injúrias e violências
1. Bem-aventurados os
que são brandos, porque possuirão a Terra. (Mateus, cap. V, v. 4.)
2. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão
chamados filhos de Deus. (Id., v.9)
3. Sabeis que foi
dito aos antigos: Não matareis e quem quer que mate merecerá condenação pelo
juízo. - Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu
irmão merecerá condenado no juízo; que aquele que disser a seu irmão: Raca,
merecerá condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser: És louco,
merecerá condenado ao fogo do inferno. (Id., vv. 21 e 22.)
O Evangelho Segundo o
Espiritismo nos diz que por essas palavras, Jesus faz da brandura, da
moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por
conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém
possa usar para com seus semelhantes, como por exemplo, “Raca”, que entre os
hebreus, era um termo desdenhoso, ofensivo, que significava homem que não vale
nada, e se pronunciava cuspindo e virando para o lado a cabeça. O Mestre a usou
para exemplificar que, jamais, em nenhuma circunstância, devemos usar o verbo
para ferir, humilhar. Mas, em que pode uma simples palavra revestir-se de tanta
gravidade que mereça tão severa punição? É que toda palavra ofensiva exprime um
sentimento contrário à lei do amor e da caridade que deve presidir às relações
entre os homens e manter entre eles a concórdia e a união. Desde há dois
mil anos que Jesus de Nazaré trouxe à Humanidade um código de conduta que
traria ao homem a felicidade. Esse código de conduta, esses ensinamentos
ético-morais que o Cristo deixou na Terra, são a garantia da paz, da
felicidade, do bem-estar interior.
Os textos de Mateus são
um convite ao exercício pleno da lei de amor. Observemos que Jesus reprova toda
palavra que possa ferir; adverte àqueles que cometem homicídio. Matar é uma
pena grave? Sim! O Cristo está colocando aqui. Mas, a mesma pena que Ele coloca
para quem mata, Ele também coloca para aquele que encolerizar, aquele que
sentir raiva, ódio contra seu irmão. Vejamos: será que sentir ódio é tão grave
quanto matar? Sábias palavras do Mestre, Ele não estava fazendo uma ameaça,
estava falando com sabedoria; porque sentir ódio é tão grave quanto matar. Na
verdade, quando nós sentimos ódio, nós estamos matando a nós mesmos; é um
suicídio involuntário, mas é um suicídio.
E o que vem a ser
brando e pacífico, de fato? Seria simplesmente não reagir? Ficar impassível
diante de provocações? É ter mansidão desde o lado mais interno nosso, com as
outras pessoas, consequentemente é ter fé na Providência Divina, o que nos dá
tranquilidade íntima de que não precisamos agredir, nem em pensamento, quem
quer que seja, para que as coisas fiquem bem; que não precisamos forçar as coisas.
É respirar fundo e refletir antes de reagir, e evitar que a reação venha
contaminada das emoções desequilibradas.
Dentro do tema, um
ponto que é necessário esclarecer refere-se à expressão "os brandos
possuirão a Terra". O que exatamente significa isso, uma vez que Jesus nos
prometia constantemente o "Reino dos Céus" e esta máxima parece
apontar exatamente o oposto? Podemos entender que Ele quis dizer que até agora
os bens da Terra são açambarcados pelos violentos, em prejuízo dos que são
brandos e pacíficos. E promete que justiça lhes será feita, porque serão
chamados filhos de Deus. A Terra, um dia, será um planeta feliz, um planeta
regenerado, e aqueles que tiverem sido brandos e pacíficos poderão viver aqui.
Possuir a Terra, certamente não significa possuir os bens materiais. As
palavras de Jesus referem-se ao futuro estágio por que passará a Terra. No
futuro, quando o planeta estiver mais depurado, aqueles que houverem sido
brandos e pacíficos, artífices da paz coletiva, terão o privilégio de continuar
reencarnando aqui.
Questões para reflexão:
1 - Quem são os
considerados "brandos e pacíficos"?
São aqueles que,
reconhecendo a necessidade de disseminar a paz entre os homens, a exemplo do
Cristo, propagam a tranquilidade nos corações revoltados e violentos,
estabelecendo a concórdia entre eles.
“A paz começa em nós e por nós. Os pacificadores
são aqueles que aceitam em si o fogo das dissensões, de modo a extingui-lo com
os recursos da própria alma, doando tranquilidade a todos que lhes compartilham
a marcha."
2 - Afinal, o que há de
tão ruim em alguém se colocar em cólera?
A cólera, além de se
consistir numa atitude anti-fraterna das mais censuráveis para com o
semelhante, provoca sérios desajustes orgânicos naquele que a cultiva, fazendo
deste a sua principal vítima.
“A cólera é tempestade magnética, no mundo da
alma, e qualquer palavra que arremessarmos, no momento da cólera, é semelhante
ao raio que ninguém sabe onde vai cair."
3 - Como sobreviver com
brandura num mundo de violência?
Cumprindo o nosso
papel, segundo as recomendações do Mestre, agindo com brandura, moderação e
paciência, e tendo sempre a confiança em Deus.
Nossa vida está sujeita
a leis imutáveis, de sabedoria e amor. A violência é um desregramento
transitório que a dor corrigirá.
4 - Mas, se mesmo com
nossos atos de brandura, recebermos em troca pedradas de violência?
Nossa ação de brandura
transformará essas pedras em flores de esperança aos infelizes protagonistas da
violência, sob os acordes da justiça e da bondade de Deus, cuja atuação é
individualizada para cada ser humano.
Os bens da Terra, hoje,
ainda são dominados pelos fortes e violentos, em prejuízo dos que são brandos e
pacíficos. Mas a perseverança destes se encarregará de conter o egoísmo
daqueles.
Conclusão do Estudo:
A violência, sentimento
contrário à lei de Deus, que é de paz, constitui um desregramento transitório.
Deixará de existir na Terra, na medida em que adotarmos, para neutralizá-la, a
brandura, a mansuetude, a afabilidade, a moderação e a paciência, sentimentos
que nos farão merecedores de habitar este Planeta, depois que ele houver se
transformado pelo amor, num mundo melhor.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Bem-aventurados os que têm fechados os olhos
Itens 20 e 21
Bem-aventurados
os que têm os olhos fechados. É importante dizer que esta frase não faz parte
do maravilhoso Sermão do Monte, proferido por Jesus.
Em Paris, um grupo de
pessoas espíritas se reunia normalmente para o estudo dos ensinamentos dos
Espíritos. Em uma noite do ano de 1863, um dos componentes do grupo levou para a
reunião uma menina que havia ficado cega, com a intenção de rogar a intercessão
dos amigos espirituais, em favor dela. Os demais companheiros do grupo
aceitaram a sugestão. E, após os estudos de praxe, ocasião em que tiveram a
oportunidade de buscarem o contato com a espiritualidade, através da
mediunidade, um dos presentes lembrou-se de um Espírito muito amado na França,
e resolveu evocar a presença de Jean-Marie Baptiste Vianney, também conhecido
como Cura de Ars. E, para alegria de todos os presentes, o benfeitor espiritual
se manifestou, e, utilizando-se das faculdades mediúnicas de um dos
participantes da reunião, falou a todos os presentes, deixando uma mensagem de
consolação e de esclarecimento. Eis a mensagem:
20. Meus bons amigos, para que me chamastes?
Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a
cure? Ah! Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a
envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que
Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram
assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas
aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu
Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo;
que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve
ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste”. Após essa prece,
meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem
e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa
abnegação.
Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde
principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista
deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o
Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais
valeria lança-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação.
Ah! Quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz!
Oh! Sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista!
Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente
da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão! Quando
Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes
restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as
delícias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então,
que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é
dado entrever na tua cegueira!
Oh! Bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais
ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas
e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados
da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a
falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir
para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes,
a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo
tenebroso que conduz à morte.
Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre
sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão
abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não
ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a
tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora
e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de dizer.
Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais
reunidos, a minha bênção. (Vianney, cura d’Ars. Paris, 1863).
Como ficou patenteado,
a criança, embora estivesse amparada, não encontrou a solução para o seu
problema. E, por que o Cura de Ars não curou aquela menina? Por certo, ele
queria sim curar aquela criança. Vianney tinha poder para fazer a cura; ele
também queria curar a menina. Porém, ele não pode efetuar essa cura, embora se
sensibilizasse com o sofrimento daquela criança. O cura de Ars, provavelmente,
percebeu que as leis magnânimas do Criador haviam instituído para aquele
espírito aquela expiação necessária. Pois, era necessário que a criança
vivenciasse aquela dor, ou seja, a cegueira. Naturalmente, quando o benfeitor
olhou para aquela menina não viu, como os companheiros do grupo, só o presente.
Ele identificou o passado, observou o presente, e vislumbrou o futuro. Ao ver o
passado, compreendeu onde estava a causa do sofrimento presente, onde aquele
espírito havia se equivocado. E, agora no presente, ele estava vivenciando a
expiação necessária. E, vislumbrando o futuro, compreendeu a justiça de Deus,
entendendo que, se aquele espírito vivenciasse essa expiação necessária, sairia
da Terra vitorioso, quite com seus equívocos do passado. Por esse motivo,
Vianney não pode interferir em respeito e obediência aos códigos superiores da
vida.
“Esperai, pois, todos
vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas
sejam as vossas dores, volvei o olhar para o céu e bendizei do Senhor por ter
querido experimentar-vos”. E o remédio para o
espírito é exatamente a própria dor que ele está enfrentando. É muito
importante nós refletirmos sobre isso, porque, muitas vezes, nós chegamos à
Casa Espírita, levados por alguém ou levados pela dor, em condições de
sofrimento semelhantes a dessa menina da narrativa, e, por certo, os
Benfeitores Espirituais irão nos ajudar. Mas, em se tratando da solução do
nosso problema, da cura efetiva de nosso mal, nem sempre é possível que os
Espíritos intercedam a nosso favor, isso porque, existem causas anteriores para
o nosso padecimento atual, e esse sofrimento que nós enfrentamos é a nossa necessidade,
é o nosso remédio para o nosso próprio crescimento espiritual. Deus, que é
infinitamente bom e justo, jamais permite uma doença ou qualquer dificuldade se
elas não tivessem um objetivo salutar para o espírito. Agora, por que Vianney
disse que são bem-aventurados os que não podem enxergar? Para nós entendermos
essas palavras do Cura de Ars, precisamos compreender que existem dois tipos de
cegueira: a cegueira física e a cegueira espiritual. Com relação à cegueira
física, narram alguns evangelistas que, certa vez, Jesus, acompanhado por seus
discípulos, e passando pelo tanque de Siloé, avistou um homem que era cego, e
um dos discípulos, alertando o Mestre, disse que aquele homem era cego de
nascença, e perguntou quem havia pecado, ele ou seus pais para que ele nascesse
assim, e o Cristo respondeu que nem ele nem os seus pais. Ele nasceu assim para
dar testemunho do Reino dos Céus. Jesus deixou os discípulos e caminhou na direção
daquele homem cego. Cuspiu na terra, e com a saliva fez uma espécie de pasta e
aplicou nos olhos daquele homem, e mandou-o se lavar no tanque. Então, ele
lavou os olhos e, a partir daquele momento, estava curado. Com relação à
cegueira espiritual, vamos acompanhar um jovem doutor da Lei: ele segue com uma
pequena comitiva em direção a Damasco. O seu propósito é prender um ancião, de
nome Ananias, seguidor de um carpinteiro chamado Jesus. Mas, quando ele está se
aproximando da cidade, um fato inusitado acontece. Uma luz esplendorosa brilha
no céu. Saulo de Tarso cai de joelhos na areia e percebe que aquela luz
magnífica começa a tomar forma. É o Mestre Jesus que estava vindo ao seu
encontro. E o Rabi da Galileia faz apenas uma pergunta: Saulo, Saulo! Por que
me persegues? Naquele instante, vislumbrando aquele homem vestido de luz e, diante
daquela indagação, Saulo compreendeu que estava errado, estava numa profunda
escuridão. Aquele ser de luz era o Messias que havia de vir. Então, ele também
pergunta: Senhor, o que queres que eu faça? Jesus vai ao encontro daquele homem
no tanque de Siloé e o cura da cegueira física; e, igualmente vai ao encontro
daquele doutor da Lei e o cura da cegueira espiritual. Agora, já podemos
entender porque Vianney disse que são bem-aventurados os que têm os olhos
fechados. Porque a cegueira física do presente é a remissão do espírito. A
Doutrina Espírita é uma doutrina de profundidade. Não é uma doutrina de superfície.
Ela não promete curas espetaculares. O Espiritismo nos convida a ter fé
raciocinada, a confiar na mensagem de Jesus.
21. NOTA: Quando uma aflição não é a consequência
dos atos da vida presente, é necessário procurar a sua causa numa vida
anterior. Isso que chamamos caprichos da sorte nada mais são que os efeitos da
justiça de Deus. Ele não aplica punições arbitrárias, pois quer sempre que
entre a falta e a pena exista correlação. Se, na sua bondade, lança um véu
sobre os nossos atos passados, entretanto nos aponta o caminho a dizer: “Quem
matou pela espada, pela espada perecerá”, palavras que podemos traduzir assim:
“Somos sempre punidos naquilo em que pecamos”. Se, pois, alguém é afligido com
a perda da visão, é que a vista foi para ele uma causa de queda. Talvez também
tenha sido causa da perda da vista para outro; pode alguém ter ficado cego pelo
excesso de trabalho que lhe impôs, ou ainda em consequência de maus tratos, de
falta de cuidados, etc., e então sofre agora a pena de talião. Ele mesmo, no
seu arrependimento, pode ter escolhido esta expiação, aplicando a si próprio
estas palavras de Jesus: “Se vosso olho for motivo de escândalo, arrancai-o”.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Deixai que venham a mim as criancinhas
Itens 18 e 19
18. Disse o Cristo: “Deixai que venham a mim as
criancinhas”. Profundas em sua simplicidade, essas palavras não continham um
simples chamamento dirigido às crianças, mas, também, o das almas que gravitam
nas regiões inferiores, onde o infortúnio desconhece a esperança. Jesus chamava
a si a infância intelectual da criatura formada; os fracos, os escravizados e
os viciosos. Ele nada podia ensinar à infância física, presa à matéria,
submetida ao jugo do instinto, ainda não incluída na categoria superior da
razão e da vontade que se exercem em torno dela e por ela.
Queria que os homens a ele fossem com confiança daqueles
entezinhos de passos vacilantes, cujo chamamento conquistava, para o seu, o
coração das mulheres, que são todas mães. Submetia assim as almas à sua terna e
misteriosa autoridade. Ele foi o facho que ilumina as trevas, a claridade
matinal que toca a despertar; foi o iniciador do Espiritismo, que a seu turno
atrairá para ele, não as criancinhas, mas os homens de boa-vontade. Está
empenhada a ação viril; já não se trata de crer instintivamente, nem de obedecer
maquinalmente; é preciso que o homem siga a lei inteligente que se lhe revela
na sua universidade.
Meus bem-amados, são chegados os tempos em que, explicados,
os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos o sentido exatos das parábolas
e vos mostraremos a forte correlação que existe entre o que foi e o que é.
Digo-vos, em verdade: a manifestação espírita avulta no horizonte, e aqui está
o seu enviado, que vai resplandecer como o Sol no cume dos montes. (João
Evangelista. Paris, 1863).
19. Deixai venham a mim as criancinhas, pois
tenho o leite que fortalece os fracos. Deixai venham a mim todos os que,
tímidos e débeis, necessitam de amparo e consolação. Deixai venham a mim os
ignorantes, para que eu os esclareça. Deixai venham a mim todos os que sofrem,
a multidão dos aflitos e dos infortunados; eu lhes ensinarei o grande remédio
que suaviza os males da vida e lhes revelarei o segredo da cura de suas
feridas! Qual é, meus amigos, esse bálsamo soberano, que possui tão grande
virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as cicatriza? É o amor, é
a caridade! Se possuís esse fogo divino, que é o que podereis temer? Direis a
todos os instantes de vossa vida: “Meu Pai, que a tua vontade se faça e não a
minha; se te apraz experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito sejas,
porquanto é para meu bem, eu o sei, que a tua mão sobre mim se abate. Se é do
teu agrado, Senhor, ter piedade da tua criatura fraca, dar-lhe ao coração as
alegrias sãs, bendito sejas ainda. Mas, faze que o amor divino não lhe fique
amodorrado na alma, que incessantemente faça subir aos teus pés o testemunho do
seu reconhecimento”.
Se tendes amor, possuís preciosíssima pérola, que nem os
acontecimentos, nem as maldades dos que vos odeiem e persigam poderão
arrebatar. Se tendes amor, tereis colocado o vosso tesouro lá onde os vermes e
a ferrugem não o podem atacar e vereis apagar-se da vossa alma tudo o que seja
capaz de lhe conspurcar a pureza; sentireis diminuir dia a dia o peso da
matéria e, qual pássaro que adeja nos ares e já não se lembra da Terra,
subireis continuamente, subireis sempre, até que vossa alma, inebriada, se
farte do seu elemento de vida no seio do Senhor. (Um Espírito protetor.
Bordéus, 1861).
Na leitura que fazemos de O Evangelho Segundo o Espiritismo
verificamos que Jesus sempre ressaltou a importância e o valor da pureza de
coração, da humildade e da simplicidade, dizendo: “Todo aquele que se fizer
pequeno como uma criança será o maior no Reino de Deus”, “E deixai vir a mim as
criancinhas”.
Esta belíssima mensagem de Jesus, grafada por João, o
Evangelista, é um apelo do Cristo aos seus discípulos, que queriam afastar as
crianças, por pensarem que elas incomodariam o Mestre, que tinha o que dizer
aos adultos, não às crianças, que não poderiam compreendê-lo.
Com este apelo, queria Jesus que os homens aceitassem seus
ensinamentos, e se entregassem a Ele, com a confiança das crianças.
Assim, na sua maneira de ensinar, aproveitando as situações
naturais, falando pouco e com muito significado, o Rabi submetia as almas à sua
terna e misteriosa autoridade, que vinha de sua pureza de espírito.
O Cristo não disse categoricamente que basta ser criança
para ter lugar no Reino de Deus, mas, sim, aqueles que possuem a pureza de
coração e a humildade que caracterizam todas as crianças.
A Doutrina Espírita nos
ensina que somos seres de muitas existências, todos nós já vivemos muitas
vidas, todos indistintamente fomos criados simples e ignorantes. E que é
através da reencarnação que vamos nos depurando, que vamos conquistando a
pureza de coração. A reencarnação é o meio para atingirmos a igualdade e a
harmonia de pensamento, pois o nosso destino é a angelitude onde gozaremos a
verdadeira felicidade.
Por isso Jesus pega a
criança como exemplo, pois a infância é um estado de humildade, pois todo
recomeço requer essa virtude, o espírito nesta fase está na posse do melhor de
si mesmo, de sua capacidade de amar, de seu desejo de aprender, essa fase faz
parte da função educativa da reencarnação como nova oportunidade de reconstruir
sua personalidade, daí a importância da educação que devemos dispensar as
crianças.
O Espírito nesse
período inicial de sua nova encarnação age realmente como criança, pois toda
aquela bagagem que traz consigo estão adormecidas, nisso reside a verdadeira
misericórdia Divina, é a benção do recomeço, nova oportunidade de progresso
Conclusão do Estudo:
O termo criancinhas se
estende aos infelizes, fracos, escravizados, viciados de qualquer idade, aos
quais Jesus concita a atenção e benevolência dos homens, e para os quais
promete Ele o consolo e amparo de que são carentes. Para Deus, nosso Pai, somos
ainda crianças espirituais, carentes de amor e orientação.
Questões para estudo:
1 - A quem mais se
referiu Jesus com o termo "criancinhas", além de se reportar a estas
propriamente?
Referiu-se,
principalmente, aos infelizes, fracos, escravizados, viciados de qualquer
idade, porquanto são estes os que mais carecem de auxílio.
"Jesus chamava a
si a infância intelectual da criatura formada..."
2 - O que pretendia
Jesus com o chamamento "Deixai que venham a mim as criancinhas"?
Jesus propôs que se
dirigissem a Ele, com esperança e confiança, todos aqueles que, quais frágeis e
indefesas crianças, necessitassem do seu amparo, pois Nele encontrariam
acolhida.
"Queria que os
homens a Ele fossem com a confiança daqueles entezinhos de passos vacilantes,
cujo chamamento conquistava, para o seu, o coração das mulheres, que são todas
mães."
3 - Como conseguir
desenvolver o amor e a caridade, que são os veículos que nos levarão à
felicidade?
Destruindo,
primeiramente, o foco maior e causador de toda nossa degradação moral: o
orgulho; depois, agindo consoante a recomendação e o exemplo do Cristo. Em
resumo: tornando-nos mais criancinhas, no dizer de Jesus.
Ninguém pode doar amor
e praticar a caridade sem, antes, tornar-se humilde ante os desígnios de Deus.
Conclusão do Estudo:
O termo criancinhas se
estende aos infelizes, fracos, escravizados, viciados de qualquer idade, aos
quais Jesus concita a atenção e benevolência dos homens, e para os quais
promete Ele o consolo e amparo de que são carentes. Para Deus, nosso Pai, somos
ainda crianças espirituais, carentes de amor e orientação.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Itens de 11 a 17
Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo, cortai-a
11. Se algum escandalizar a um destes pequenos
que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós que um
asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar.
Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que
venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha.
Tende muito cuidado em não desprezar um destes pequenos.
Declaro-vos que seus anjos no céu veem incessantemente a face de meu Pai que
está nos céus, porquanto o filho do homem veio salvar o que estava perdido.
Se a vossa mão ou o vosso pé vos é objeto de escândalo,
cortai-os e lançai-os longe de vós; melhor será para vós que entreis na vida
tendo um só pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo
eterno. Se vosso olho vos é objeto de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de
vós; melhor para vós será que entreis na vida tendo um só olho, do que terdes
dois e serdes precipitados no fogo do inferno. (Mateus, cap. XVIII, vv. 6 a 11;
cap. V, vv. 29 e 30).
Kardec selecionou este ensinamento de Jesus para compor
este capítulo: “Os que têm puro o coração”. Realmente, o coração puro faz o
homem caminhar conforme as Leis Divinas, e não semeia o sofrimento e a dor. Não
escandaliza.
Muitos de nós guardamos este ensinamento sobre os
escândalos junto com outros tantos ensinos do Cristo, que nos parecem
incompreensíveis. A Doutrina Espírita encarregou-se de clarear o caminho da
compreensão, abrindo portas para que o conhecimento pudesse adentrar o homem,
através do raciocínio, e penetrar no coração dele.
Buscando compreender o que se entende por escândalo,
encontramos nas traduções da Bíblia que essa palavra significa tropeço, e que
Jesus a usava se referindo a tudo que leva o homem à queda, ou seja, o mau
exemplo, os princípios falsos, o abuso de poder, etc.
No sentido moderno, a
palavra escândalo representa a exposição pública de ato indecoroso, fazendo com
que a imagem de quem cometeu tal ato seja manchada, e sua reputação ante a
sociedade caia em declínio. Todavia, se apreciarmos o sentido evangélico da
palavra, o sentido que Jesus lhe deu, podemos entender que, a repercussão
pública, a exposição do erro, não se faz necessária. Escândalo, então, assume a
conotação de tudo que é consequência efetiva do mal praticado. Mesmo abafado,
escondido, camuflado, ele não deixa de ter uma repercussão ante as Leis
Divinas, disparando o mecanismo de causa e efeito. Vamos exemplificar este
escândalo. Um homem distinto, considerado de boa reputação comete um crime, um
assassinato, por exemplo. Entretanto, este crime nunca é resolvido, ele nunca
se faz exposto. Deixou de ter existido o crime? Não! O escândalo se fez! O mal se
efetivou! A ocultação do crime não torna este homem menos responsável pelo
acontecido. Da mesma forma dá-se com qualquer ato que resulte no sofrimento
alheio. Jesus disse: é necessário que haja o escândalo! Vimos que o escândalo
nada mais é do que o tropeço, o erro, uma ação má. Se pensarmos que fomos
criados simples e ignorantes e que o mal nada mais é que o fruto desta
ignorância, ou seja, o mal é resultado direto de nossa imperfeição,
compreenderemos que, com propriedade, Jesus colocou-nos apenas em nossa
condição de seres em evolução, onde o agir de forma desarmônica com as Leis
Divinas expressa, na verdade o livre arbítrio que nos foi dado para traçar o
próprio caminho, sendo que, o ponto final, o destino, é o mesmo para todos:
alcançar a perfeição. Jesus também deu um complemento à sua frase: Mas, ai
daquele por quem venha o escândalo! Jesus nos veio ensinar e mostrar a
possibilidade da prática. Ai daquele que tropeça ainda em sua própria ignorância.
Ele sabe da inevitável necessidade de erguermo-nos após a queda. Sabe que serão
necessários alguns meios para despertarmos. Sabe que, muitas vezes, para
compreendermos que aquilo que fizemos ao nosso próximo gera sofrimento e dor,
precisamos vivenciar esta dor, senti-la em nosso peito, na tentativa de nos
fazer acordar e continuar a caminhada. Não há neste sentido uma punição ao erro
e sim uma tentativa de despertar, derrubar as justificativas que construímos em
torno de nós mesmos, mostrar-nos que, o que antes parecia o mais certo a fazer
não passava de pura ilusão. Ainda em sequência, Jesus nos mostra como nos
livrarmos deste mal, o escândalo, das más tendências que Kardec afirma
precisarmos eliminar, a fim de sermos bons. Se vossa mão é causa de escândalo,
cortai-a. Esta figura de linguagem forte, enérgica traz uma proposta de
reforma. Cada um de nós deve, ao longo da vida, procurar eliminar de si próprio
toda e qualquer causa de escândalo. Arrancar as raízes dos vícios que nos cegam
e estagnam na ignorância. A reforma íntima exige de nós esta atitude enérgica,
esta luta contra nossa ignorância, mãe de todos os males. Exige que tenhamos
uma visão clara de nós mesmos, pelo uso do autoconhecimento, e que nos
libertemos de tudo que nos pesa na bagagem: o egoísmo, o orgulho, a
intolerância. Somos a expressão do que vai dentro de nós. Dessas expressões
nasce o escândalo. Cortar a mão significa fechar o canal de expressão que acaba
por ferir o próximo. Eliminar o que, em nossas vidas, nos leva a cair. Kardec
nos orientou rumo ao amor e a instrução. Sua célebre frase faz uma releitura
dos maiores ensinamentos de Jesus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo com a si mesmo, este o maior. E outro fundamental: Conhece a verdade e
ela te libertará! Precisamos estar alertas de que a limpeza de nossos corações
está diretamente relacionada ao remexer do solo, a remoção das ervas daninhas.
O preparo deste solo, areando-o com amor e sabedoria, deixando o sol, que é o
amor do Pai, penetrar-lhe o íntimo, espantando a escuridão. E então, seremos
terreno fértil, onde as sementes Divinas brotarão e darão frutos.
Conclusão do estudo:
Para que aquele povo há
2000 mil anos atrás pudesse entender, muitas e muitas vezes, Jesus usou de
expressões fortes e rigorosas nos Seus ensinos. Mas o verdadeiro sentido das
palavras do Cristo era para que percebêssemos em nós os nossos erros como: se
você rouba, se você maltrata com sua mão, então faça algo para mudar isso, que
não a use mais para prejudicar ninguém, use sua mão para outra coisa que não seja
maltratar, ou, não use mais sua mão. É melhor você deixar de fazer uso daquilo
que te prejudica ou maltrate alguém do que usa-la. Fez uso de expressões
usuais, para que fixassem o que ouviam, tais como pendurar a mó no pescoço e
ser lançado ao mar, fogo eterno, fogo do inferno, apenas para que suas
metáforas ajudassem na fixação das lições que, pretendia ele, fossem divulgadas
por toda a humanidade. Quando Ele diz que é melhor entrar na vida manco ou
aleijado, do que com as duas mãos e dois pés e ser lançado no fogo do inferno.
(quer dizer ou ter sua vida prejudicada, por seus vícios e costumes e ficar com
a consciência pesada por um longo período). Vemos hoje pessoas nascerem, com
problemas físicos, sem mãos, sem um dedo, que é justamente para que não caiam
nos erros anteriores. Pois em vidas passadas, viveram almejando as coisas dos
outros, ou tirando, ou abusando do seu físico, inteligência, visão, audição
etc... Dai o porquê hoje vem com alguns problemas, para que transformem e mudem
sua maneira de ser durante uma encarnação inteira, e assim ajustem seu espirito
e se reequilibrem, tornando-se uma pessoa melhor. Vindo sem as mãos elas não
caem mais no erro, e mais que isso, elas vão precisar daqueles que ela
prejudicou. Não devemos entender como um castigo, mas como reajuste do próprio
espirito com aqueles que ele prejudicou.
O espiritismo explica
que punição eterna contraria o amor e a justiça de Deus. Entende-se inferno,
fogo do inferno, como sendo o sofrimento causado pelas infringências às leis
divinas, pelo remorso dos erros cometidos, que pode ser extremamente doloroso,
conforme os requintes de maldade com que essas faltas foram perpetradas, mas,
sempre sofrimento provisório, levando o Espírito a querer libertar-se, passando
a querer redimir-se, seja a que preço for.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Itens de 8 a 10
Verdadeira pureza – Mãos não lavadas
8. Então os escribas e os fariseus, que tinham
vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Por que violam os
teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando
fazem suas refeições?”
Jesus lhes respondeu: “Por que violais vós outros o
mandamento de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus pôs este
mandamento: Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: Seja punido de
morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós
outros, no entanto, dizeis: Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe – Toda
oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, ainda que depois não
honre, nem assista a seu pai ou a sua mãe. Tornam assim inútil o mandamento de
Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaias, quando disse:
Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão que
me honram ensinando máximas e ordenações humanas”.
Depois, tendo chamado o povo, disse: “Escutai e compreendei
bem isto: Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do
homem é que macula. O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro
o homem; porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios,
os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as
blasfêmias e as maledicências. Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o
comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna impuro”.
Então, aproximando-se dele, disseram-lhe seus discípulos:
“Sabeis que, ouvindo o que acabais de dizer, os fariseus se escandalizaram?”
Ele, porém, respondeu: “Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não
plantou. Deixai-os, são cegos que conduzem cegos; se um cego conduz outro, caem
ambos no fosso”. (Mateus, cap. XV, vv. 1 a 20).
9. Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu
que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. O fariseu
entrou então a dizer consigo mesmo: “Por que não lavou ele as mãos antes do
jantar?” Disse-lhe, porém, o Senhor: “Vós outros, fariseus, pondes grande
cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos
vossos corações está cheio de rapinas e de iniquidades. Insensatos que sois!
Aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?” (Lucas, cap. XI,
vv. 37 a 40).
10. Os judeus haviam desprezado os verdadeiros
mandamentos de Deus para se aferrarem à prática dos regulamentos que os homens
tinham estatuído e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de
consciência. A substância, muito simples, acabara por desaparecer debaixo da
complicação da forma. Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do
que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração,
iludiram-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se
conformarem com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes
ter ensinado que Deus não exigia mais do que isso. Daí o haver dito o profeta:
É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e ordenações
humanas.
Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que
acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos cristãos, a
exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação por meio das
práticas exteriores, do que pelas da moral. É a essas adições, feitas pelos
homens à lei de Deus, que Jesus alude, quando diz: Arrancada será toda planta
que meu Pai celestial não plantou.
O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este
não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não
torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o homem
julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu
princípio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. Nula é
a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam
assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem
danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos,
hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem.
Não bastam se tenham as aparências da pureza; acima de
tudo, é preciso ter a do coração.
Neste estudo há um ponto de vista muito importante para nós
todos, e esse ponto de vista é: “A finalidade da religião é conduzir o homem a
Deus. Mas o homem não chega a Deus enquanto não se fizer perfeito. Toda
religião, portanto, que não melhorar o homem, não atinge a sua finalidade”.
Entendemos hoje em dia o lavar as mãos, como uma
necessidade higiênica, e não uma questão religiosa. Mas, naquele tempo em que
Jesus viveu, o lavar as mãos era um ponto religioso e de cerimônia a ser
observado. (Devia-se banhar as mãos, até os cotovelos; na primeira, eram
retiradas as impurezas; na segunda, as gotículas residuais contaminadas;
depois, ficavam erguidas, até secarem). Essa mera tradição dos antigos,
tornara-se prática formal que se devia observar com rigor. Do ponto de vista de
higiene, Jesus certamente não teria falado nada. Mas, como a reclamação era sob
o aspecto religioso, Jesus ressaltou que, o que suja o homem e o faz imundo são
as coisas que saem do coração, tais como maus pensamentos, adultérios, etc.. E,
que, o comer com as mãos por lavar, isso não faz o homem imundo.
A maior divergência de Jesus com o judaísmo dominante era a
intransigência deles. O Mestre reiterava que os aspectos exteriores da religião
são secundários, o que importa é o empenho de renovação, o esforço por cumprir
a vontade de Deus, amando e servindo o semelhante. Os judeus negligenciaram os
verdadeiros mandamentos de Deus, para se apegarem à prática dos regulamentos
estabelecidos pelos homens. Como era mais fácil observar os atos exteriores do
que se reformar moralmente, lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se
iludiram e se acreditaram quites com Deus.
Quem eram os escribas e os fariseus? Os primeiros eram
assim chamados por terem o cargo de escrever a lei e explicá-la. Já, no tempo
de Jesus, essa designação referia-se, especialmente, aos doutores da lei, que
ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Jesus os citou juntos
com os fariseus, porque eles partilhavam dos seus princípios e tinham aversão
aos inovadores. Fariseus, adeptos da seita judia, fundada por Hilel, nos anos
de 180 a 200 antes de Cristo, doutor judeu nascido na Babilônia. Foram
perseguidos, recuperaram o poder, conservando-o até a queda de Jerusalém, pelos
romanos, no ano 70 após Cristo, quando a seita desapareceu, com a dispersão dos
judeus. Aceitavam que a fé só era dada pelas escrituras, acreditavam na
Providência divina, na imortalidade da alma, na eternidade das penas, na
ressurreição dos mortos. Eram rigorosos nas práticas exteriores do culto e das
cerimônias; inimigos das inovações, afetavam grande severidade de princípios,
mas tinham costumes dissolutos às escondidas; exerciam grande influência sobre
o povo, pelo rigor na observação das práticas exteriores. A religião para eles
era um meio de possuir o poder. As leis políticas, os usos e costumes do povo
judeu eram frutos das interpretações das leis de Moisés. Todavia, pela própria
imperfeição do homem em seguir os Dez Mandamentos, estes foram sendo
negligenciados, no decorrer do tempo, de forma que, mais valorizadas eram as
práticas exteriores dos mesmos, por serem mais visíveis, mais fáceis de serem
percebidas e de serem cumpridas.
Na citação de Jesus, em relação ao mandamento: “Honrai teu
pai e tua mãe”, fazia parte da lei o amparo material aos pais. Mas eles
burlavam a lei alegando que o dinheiro que davam ao Senhor, nos templos, já era
o cumprimento da lei, uma vez que, então, o Senhor cuidaria deles. E Jesus os
desmascara com suas palavras. Quando Jesus diz: “Toda planta que meu Pai não
plantou será arrancada”, referia-se a todo uso, costume, hábito, lei, que não
estivassem de acordo com a Sua lei, o bem. Tudo que traz prejuízo a alguém, a
si mesmo ou a outrem, que não beneficia, não foi criado por Deus, mas
constitui-se em mandamentos dos homens imperfeitos, egoístas e orgulhosos, que
se julgam poderosos, desaparecerão da Humanidade terrestre regenerada. Por
isto, hoje, quem pretende seguir os ensinos de Jesus, precisa estar,
continuamente, estudando-os, trazendo-os para os dias atuais, a fim de não se
perder nos hábitos dos que buscam viver somente o presente, sem medir as
consequências dos mesmos.
Questões para reflexão:
1.
Por que Jesus deu tão
pouca importância ao fato de lavar as mãos antes das refeições?
Para chamar
a nossa atenção sobre a importância maior de “lavar o nosso coração”, livrando-o
das impurezas que ainda lhe são tão características.
2.
Qual o significado
dessas palavras: “Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou”?
Significa
que a lei de Deus é uma só e cujos mandamentos Jesus, sabiamente, enumerou em
Seu Evangelho, para servir de roteiro único a todos nós. As distorções,
acréscimos e desvios àquela lei, frutos da ignorância e imprevidência dos
homens, são as plantas que o tempo e o progresso se incumbirão de arrancar.
3.
Qual a finalidade da
religião?
Esclarecer
a criatura sobre os princípios evangélicos e conduzi-la a Deus. Mas, para isto,
é preciso que ela pratique o bem apontado pela religião. A religião não salva
ninguém; o que salva o homem são suas atitudes voltadas para o bem. A religião
apenas abre caminho para a conquista das virtudes que a Deus conduzem.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Itens de 5 a 7
Pecado por pensamento – Adultério
5. Aprendestes que foi dito aos antigos: “Não
cometereis adultério. Eu, porém, vos digo que aquele que houver olhado uma
mulher, com mau desejo para com ela, já em seu coração cometeu adultério com
ela”. (Mateus, cap. V, vv. 27 e 28).
6. A palavra
adultério não deve ser absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da
acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a
empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer
pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: “Porquanto se alguém se
envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora,
o Filho do homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos
santos anjos, na glória de seu Pai”. (Marcos, cap. VIII, v. 38).
Comentário de
Kardec:
A verdadeira
pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele
que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer;
ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.
7. Esse princípio
suscita naturalmente a seguinte questão: Sofrem-se as consequências de um
pensamento mau, embora nenhum efeito produza?
Cumpre se faça
aqui uma importante distinção. À medida que avança na vida espiritual, a alma
que enveredou pelo mau caminho se esclarece e despoja pouco a pouco de suas
imperfeições, conforme a maior ou menor boa-vontade que demonstre, em virtude
do seu livre-arbítrio. Todo pensamento mau resulta, pois, da imperfeição da
alma, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau
pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com
energia. É indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se
apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja
resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
Aquela que, ao
contrário, não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e,
se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de
ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse.
Em resumo,
naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado;
naquele a quem essa ideia acode, mas que a repele, há progresso em vias de
realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se
compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está
feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas
essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.
Comentário:
Kardec esclarece, no
primeiro parágrafo, que a palavra adultério, no texto não deve ser entendida no
significado exclusivo próprio, mas no sentido mais amplo de mal, erro, pecado.
Cita, para mostrar que Jesus a empregava algumas vezes, nesse sentido mais
amplo, uma passagem de Marcos, VIII:38 : “ Porque, se nesta geração adúltera e
pecadora alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do
Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, acompanhado dos
santos anjos.”
O que fica bem
evidenciado, nas palavras de Jesus, citadas por Mateus, é que não se erra tão
somente, por atos, mas também por pensamentos, visto que quem tem o coração
puro, não sente o mal e nem pensa nele. Sente, pensa e faz somente o bem.
Percebe o mal ao seu redor, mas compreende-o como fruto da ignorância e da
imperfeição. O pensamento mau, proveniente de um sentimento mau, demonstra a
imperfeição do homem, seu grau de impureza. Podemos, assim, avaliar nossas
imperfeições pelos pensamentos, que nos surgem na mente, em relação às
situações, às pessoas, em nosso dia a dia. E, se estivermos atentos, com vontade
de melhorarmo-nos, esta percepção se torna um importante instrumento do
conhecimento de nós próprios, necessário para a nossa melhoria interna, da qual
dependem nossa felicidade e nossa paz, no presente e no futuro. Jesus
chamou-nos, a todos, ao conhecimento pessoal, indispensável à evolução do
Espírito imortal, quando disse que o desejo do mal, em pensamento, já é uma
falta, que revela uma imperfeição, um mau sentimento.
“Criando o pensamento
imagens fluídicas, ele reflete no invólucro perispiritual como num espelho; aí
toma forma e é, de certo modo, fotografado. Se um homem, por exemplo, tem ideia
de matar outro, mesmo que o seu corpo material permaneça impassível, o seu
corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento do qual produz todas as nuanças.
Executa, fluidicamente, o gesto, o ato que deseja realizar. O pensamento cria a
imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como um quadro, tal como está em
seu espírito.” Se a vítima estiver com sentimentos e pensamentos negativos,
pode sofrer o impacto do ataque, as vibrações agressivas, que se manifestará
por sensações desagradáveis, sentindo medo ou revolta, sem saber porquê. Se
estiver bem, em atividades nobres, ou em equilíbrio, nada sofrerá. Se um homem
pensa em caluniar um outro, mas não o faz, por medo de ser descoberto e
apontado como um caluniador, pelo outro e/ou por seus amigos, ou pela
sociedade, é sinal de que tem, em si, essa imperfeição, com a qual já
prejudicou muitas pessoas, em um passado distante ou próximo. Constatando esse
fato, pode trabalhar dentro de si, para eliminar essa tendência de caluniar, de
querer prejudicar os seus desafetos, não executando esse mau pensamento, não
pelo medo de ser descoberto, mas por querer libertar-se dessa imperfeição
moral. Ao mesmo tempo pode e deve ir procurando desculpar sempre, tentando
compreender as dificuldades dos outros, vendo-os como pessoas que também lutam
com suas imperfeições. Um dia, nesta ou em outra existência ou no plano
espiritual, alguém lhe apontará sua capacidade de compreender, de desculpar o
outro, e ele vai sentir um prazer imenso de sentir-se incapaz de ferir alguém,
seja por que meio for. Assim, há os que nem percebem o quanto de pensamentos
negativos lhe veem à mente e, se os percebe, busca realizá-los ou tenta
justificá-los e justificar-se. Ainda não iniciaram sua transformação moral. Há
os que, em os percebendo, lutam por afastá-los, conseguindo às vezes,
executando-os em outras, sofrendo as consequências dos atos, recomeçando o
esforço de modificar-se, e, assim, de luta em luta, através de experiências
boas ou desagradáveis, vai combatendo o “bom combate”, até à vitória, que é
transformar-se, moralmente, agora e sempre. Há ainda, os que estão atentos a
eles, compreendendo-os como efeitos de maus sentimentos e buscam afastá-los no
desenvolvimento dos sentimentos nobres dentro de si. Assim, na medida do
aperfeiçoamento de cada um, que se faz à custa de muita luta interior, através
do bom uso do livre-arbítrio, o homem vai se reformando devagar, mas,
continuamente, tornando-se melhor pessoa.
Respondendo à pergunta
por ele elaborada: Sofrem-se as consequências de um mau pensamento que não se
efetivou? Kardec termina: “Em resumo: a pessoa que nem sequer concebe o mau
pensamento, já realizou o progresso. Aquela que ainda tem esse pensamento, mas
o repele, está em vias de realizá-lo; e, por fim, aquela que tem esse
pensamento e se compraz, ainda está sob toda força do mal. Numa, o trabalho
está feito; nas outras, está por fazer. Deus, que é justo, leva em conta todas
essas diferenças, na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.” Desse
modo, repetimos, sempre que o homem está se esforçando para corrigir-se,
transformar-se, no desenvolvimento das suas qualificações nobres, que traz em
si, está no caminho da sua redenção. Se
a má ação não se concretizou por falta de oportunidade, ou por medo ou pressão
externa, será como se a tivesse praticado. Mas, se não foi realizada pela
consciência de que estaria infringindo a lei do Bem, demonstrando uma intenção
de vivenciar essa lei maior, as consequências serão o prazer de haver vencido a
tentação do momento e o fortalecimento da vontade em viver de acordo com as
leis divinas.
Questões para reflexão:
1 – Qual o sentido dado
por Jesus à palavra adultério?
Jesus costumava
empregá-la para designar não só toda ação má, mas todo e qualquer pensamento
mau. “Aquele que houver olhado uma mulher, com mau desejo para com ela, já em
seu coração cometeu adultério com ela”. Para Jesus, cometer adultério não é só
quem trai o cônjuge, mas todos os que infringem a lei divina.
2 – Constitui infração
à lei de Deus desejar mal a outrem, mesmo que não se chegue a praticá-lo?
Certamente que sim,
pois houve propósito de praticar o mal. Aquele que pensa em cometer um mau ato,
e só não o consuma por falta de ocasião, é tão culpado como se o cometesse.
3 – Que efeito exerce
sobre nós, praticar ou desejar o mal de outrem?
Tudo que fazemos ou
desejamos aos outros, seja de bom, seja de mau, provoca reação sobre nós, em
bênçãos ou sofrimentos. Os maus pensamentos provocam intranquilidade e
amargura. Os bons pensamentos, ao contrário, nos enchem o coração de paz e
contentamento.
Conclusão do estudo:
Jesus não só se referia
ao adultério, na acepção que se costuma dar a esta palavra, mas para todo mal
que possamos fazer. Quando nos afastamos das leis de Deus, quando agimos no
mal, estamos como que tentando adulterar as leis divinas, fugir à sua ação.
Tudo aquilo que pensamos, plasmamos para nossa realidade, ou seja, as ondas
vibracionais dos nossos pensamentos interferem diretamente na nossa realidade e
agem no ambiente à nossa volta, muito mais do que podemos supor. Então, não
basta ao homem somente abster-se de praticar o mal; é necessário destruir em si
tudo o que o leve a praticá-lo, seja por atos, palavras ou pensamentos. “Eu não
posso impedir que os pássaros voem por sobre mim, mas eu tenho como evitar que
eles façam ninho em minha cabeça”. É exatamente esse o esforço que o cristão
deve fazer nessa sua luta contra as suas más tendências.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VIII – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Itens de 1 a 4
Simplicidade e pureza de coração
1. Bem-aventurados os que têm
puro o coração, porquanto verão a Deus. (Mateus, cap. V, v. 8)
O início do messianismo
de Jesus foi marcado pelo Sermão da Montanha, que é considerado uma das
declarações mais bonitas de todo o Seu ensino. Nessa pregação Ele estabeleceu
qual é a relação de causa e efeito na vida espiritual. Basicamente, estabeleceu
que há uma íntima relação entre limpeza de coração e percepção de Deus.
No Sermão da Montanha,
o Mestre anuncia o caráter e a qualidade espiritual do reino que Ele
estabeleceria aqui na Terra. Nele, Jesus enunciou uma série de
Bem-aventuranças, e uma delas, a sexta, se refere aos limpos de coração. A
pureza de coração requerida pelo Cristo se evidencia no nosso relacionamento de
amor com Deus e com o nosso próximo. Ela é incompatível com a pureza meramente
externa. Nessa passagem, o Rabi da Galileia está falando de uma limpeza
interior, de uma consciência pura, que só os pobres de espírito têm o
privilégio de conseguir ter.
2. Apresentaram-lhe então algumas
crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com
palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes
disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o
reino dos céus é para os que se lhes assemelham. Digo-vos, em verdade, que
aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará”. E,
depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (Marcos, cap. X, vv.
13 a 16).
A belíssima mensagem é relatada
por Marcos. O primeiro impulso é, simplesmente, copiá-la, para manter a sua
beleza e a sua sublimidade. Mas, se estamos estudando este livro, precisamos
tecer comentários sobre ela. Vamos , então, fazê-lo.
Inicia ele, pelo título
da mensagem, que é o apelo de Jesus aos seus discípulos, que queriam afastar as
crianças, por pensarem que elas incomodariam o Mestre, que tinha o que dizer a
adultos, não a crianças, que não poderiam compreendê-lo. Explica, então, que
esse apelo de Jesus não era dirigido somente às crianças, embora ele “lhe
conquistaria o coração das mulheres, que são todas mães.” Dirigia-se também “às
almas que gravitam nos círculos inferiores, onde a desgraça desconhece a
esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os
fracos, os escravos, os viciosos”.
Neste apelo, queria
Jesus que os homens aceitassem seus ensinos, se entregassem a ele, com a
confiança das crianças, e essa ideia transparece em muitas de suas frases,
registradas nos Evangelhos.
Assim, na sua maneira
de ensinar, aproveitando as situações naturais, falando pouco, com muito
significado, Jesus submetia às almas a sua terna e misteriosa autoridade, que
vinha da sua pureza de espírito, conquistada através dos tempos em outro mundos
materiais, visto que ele já era puro, quando a Terra ainda não existia.
Jesus não disse
categoricamente que basta ser criança para ter lugar no Reino de Deus, mas sim
os que possuem a pureza de coração e a humildade, que caracterizam todas as
crianças.
Por isso Jesus pega a
criança como exemplo, pois a infância é um estado de humildade, pois todo
recomeço requer essa virtude, o espírito nesta fase está na posse do melhor de
si mesmo, de sua capacidade de amar, de seu desejo de aprender, essa fase faz
parte da função educativa da reencarnação como nova oportunidade de reconstruir
sua personalidade, daí a importância da educação que devemos dispensar as crianças.
3. A pureza do coração é
inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de
orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do
mesmo modo que a tomou como o da humildade. Poderia parecer menos justa essa
comparação, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito antigo e
que traz, renascendo para a vida corporal, as imperfeições de que se não tenha
despojado em suas precedentes existências. Só um Espírito que houvesse chegado
à perfeição nos poderia oferecer o tipo da verdadeira pureza. É exata a
comparação, porém, do ponto de vista da vida presente, porquanto a criancinha,
não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a
imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer Jesus, de modo absoluto, que
o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem.
4. Pois que o Espírito da criança
já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? Tudo é sábio
nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados especiais, que somente a
ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da
ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era
preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude. Ela não houvera podido
ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob
os traços infantis, um caráter viril e as ideias de um adulto e, ainda menos,
se lhe viesse a conhecer o passado.
Aliás, faz-se necessário que a
atividade do princípio inteligente seja proporcionada à fraqueza do corpo, que
não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, como se verifica
nos indivíduos grandemente precoces. Essa a razão por que, ao aproximar-se-lhes
a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a
consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono,
durante o qual todas as suas faculdades permanecem em estado latente. É
necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de
partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa
entravar. Sobre ele, no entanto, reage o passado. Renasce para a vida maior,
mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que
conserva da experiência adquirida.
A partir do nascimento, suas
ideias tomam gradualmente impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem, pelo
que se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é
verdadeiramente criança, por se acharem ainda adormecidas as ideias que lhe
formam o fundo do caráter. Durante o tempo em que seus instintos se conservam
amodorrados, ele é mais maleável e, por isso mesmo, mais acessível às
impressões capazes de lhe modificarem a natureza e de fazê-lo progredir, o que
torna mais fácil a tarefa que incumbe aos pais.
O Espírito, pois, enverga
temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade,
quando, sem embargo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da
pureza e da simplicidade.
Toda vez que lemos O
Evangelho Segundo o Espiritismo verificamos que Jesus sempre ressaltou a
importância e o valor da pureza de coração, da humildade e da simplicidade,
dizendo: “todo aquele que se fizer pequeno como uma criança será o maior no
Reino de Deus” e “deixai vir a mim os pequeninos, e não os embaraceis, porque o
Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham”.
Há corações limpos e há corações sujos.
Para aqueles reservou o Senhor a visão de Deus. E assim como há necessidade da
higiene do corpo, para que o corpo funcione regularmente, com mais forte razão
faz-se preciso higiene do coração, para que o Espírito ande bem. É preciso
limpar o coração para se ver a Deus. Ninguém há de coração sujo que tenha olhos
abertos para o Supremo Artífice de Todas as Coisas.
Há um ditado que diz:
“Quem vê cara não vê coração!” Isto nos parece uma realidade, pois, nos templos
bíblicos, os judeus eram tão meticulosos quanto à limpeza cerimonial, e suas
regras eram extremamente rígidas. Tinham o espírito preocupado com as
restrições e com o temor da contaminação exterior, porém, não percebiam a
mancha do egoísmo e da malícia que tomava conta deles.
Ao longo de Seu ensino,
Jesus se opôs diretamente ao estilo de vida desse grupo religioso de Sua época:
os fariseus. Os fariseus procuravam ter um grande zelo pelas leis de Deus. O
problema é que eles entendiam e aplicavam estas leis de forma equivocada na
vida deles e na vida do povo. Usavam as leis como forma de exaltação pessoal.
Subjugavam os mais humildes e menos favorecidos na sociedade. Tinham muito
orgulho de si mesmos e se viam como superiores aos outros. Com relação à pureza
de coração, eles supervalorizavam seu aspecto externo, atentando para os ritos
e cerimônias de purificação. Mas a pureza para eles era algo meramente externo.
O que importava para eles era a aparência de santidade, e não a santidade
íntima, interior, que flui de um coração puro, limpo.
No coração deles havia
orgulho, maldade e hipocrisia. Na Sua fala, Jesus não mencionou a pureza
cerimonial como uma das condições de se entrar em Seu reino, indicou apenas a
pureza de coração. Ao repreender os fariseus, o Cristo chama nossa atenção para
que não enveredemos pelo caminho errado deles.
Assim como há a
necessidade da higiene do corpo, para que funcione de maneira satisfatória, com
mais forte razão faz-se preciso a higiene do coração, para que o Espírito
progrida. Ser limpo de coração não é outra coisa senão ser íntegro, livre da
tirania do “Eu” possessivo, e não ficar tentando servir a Deus e ao mundo ao
mesmo tempo. É renunciar ao orgulho e ao egoísmo, com toda a sua prole
malfazeja. Os limpos de coração não estão manchados pela nódoa da mágoa, do
ódio, do rancor, do ressentimento, da vingança, ou qualquer outro sentimento
negativo. Os limpos de coração não tocam trombeta quando fazem caridade, nem
oram em pé nas praças para serem vistos. Para ser puro de coração, o ser tem
que se despojar de sua personalidade equivocada que construiu ao longo dos
milênios, formando uma imagem supervalorizada para esconder a sua própria
realidade espiritual.
Na verdade, a pureza de
coração não indica, no pensamento de Jesus, uma virtude particular, mas uma
qualidade que deve acompanhar todas as virtudes, a fim de que elas sejam de
verdade. É preciso limpar o coração para nos tornarmos capazes de ver a Deus.
Muita paz!
Questões para estudo:
1 - Por que Jesus tomou
a criança como símbolo de pureza?
Porque a criança, com
seus gestos inocentes, desprovidos de maldade e egoísmo, é a verdadeira imagem
da simplicidade e pureza.
Mesmo em uma criança de
maus pendores, suas más ações são dissimuladas pela candura dos seus traços
infantis.
2 - Jesus disse que o
reino dos céus é das crianças?
Não. Jesus deixou bem
claro que o reino dos céus é para os que a elas se assemelham.
O aspecto da inocência
e candura que vemos nas crianças não constitui superioridade real do espírito,
mas a imagem do que deveria ser.
3 - Qual a importância
do estado da infância?
Proporcionar ao
espírito um recomeço, com novas informações educativas para o seu progresso
moral e intelectual.
"Nessa fase é que
se lhe pode transformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever
que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contar". (LE,
questão 385).
Conclusão do Estudo:
O reino dos céus só é
para os que têm puro o coração. Jesus tomou a criança como o símbolo dessa
pureza, em razão da simplicidade e humildade que a caracteriza e nos ensinou
que, para conquistar a felicidade, devemos nos assemelhar a ela.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Missão do homem inteligente na Terra
13. Não vos ensoberbais do que sabeis, porquanto
esse saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Suponhamos
sejais sumidades em inteligência neste planeta; nenhum direito tendes de
envaidecer-vos. Se Deus, em seus desígnios, vos fez nascer num meio onde
pudestes desenvolver a vossa inteligência, é que quer a utilizeis para o bem de
todos; é uma missão que vos dá, pondo-vos nas mãos o instrumento com que podeis
desenvolver, por vossa vez, as inteligências retardatárias e conduzi-las a ele.
A natureza do instrumento não está a indicar a que utilização deve prestar-se?
A enxada que o jardineiro entrega a seu ajudante não mostra a este último que
lhe cumpre cavar a terra? Que direis, se esse ajudante, em vez de trabalhar,
erguesse a enxada para ferir o seu patrão? Direis que é horrível e que ele
merece expulso. Pois bem: não se dá o mesmo com aquele que se serve da sua
inteligência para destruir a ideia de Deus e da Providência entre seus irmãos?
Não levanta ele contra o seu senhor a enxada que lhe foi confiada para arrotear
o terreno? Tem ele direito ao salário prometido? Não merece, ao contrário, ser
expulso do jardim? Sê-lo-á, não duvideis, e atravessará existência miseráveis e
cheias de humilhações, até que se curve diante Daquele a quem tudo deve.
A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas, sob a
condição de ser bem empregada. Se todos os homens que a possuem dela se
servissem de conformidade com a vontade de Deus, fácil seria, para os
Espíritos, a tarefa de fazer que a Humanidade avance. Infelizmente, muitos a
tornam instrumento de orgulho e de perdição contra si mesmo. O homem abusa da
inteligência como de todas as suas outras faculdades e, no entanto, não lhe
faltam ensinamentos que o advirtam de que uma poderosa mão pode retirar o que lhe
concedeu. – Ferdinando, Espírito protetor.
De início, vamos
definir o que é um homem inteligente. Na nossa visão, o homem inteligente não é
apenas o que sabe muito e tem rapidez de raciocínio. É o que tem todo um
conjunto de atributos emoldurados pelo mais sublime sentimento que o homem deve
possuir, a humildade. O homem inteligente é o que conhece a si mesmo, é o que
se submete aos desígnios de Deus com boa vontade, trabalhando sempre seus
valores morais, utilizando a sua própria inteligência para trabalhar o próprio
burilamento.
O Espírito comunicante
deixou-nos a mensagem em pauta com aconselhamentos interessantes. Inicia
conclamando-nos a não nos orgulharmos do que sabemos, considerando que o
desenvolvimento da inteligência nos dá um imenso conhecimento sobre as leis que
regem tanto o mundo físico como o mundo espiritual, conhecimento limitado pela
nossa própria condição de imperfeição e do mundo em que vivemos.
Isto quer dizer que,
mesmo que nos julguemos uma sumidade no globo terrestre, não temos razão para
nos envaidecermos. E que devemos agradecer a Deus por nos situar num lugar e
condição em que podemos desenvolver mais conhecimentos para depois fazer uso
desses dotes para favorecer o maior número de pessoas que pudermos.
O princípio espiritual,
imortal, criado simples e ignorante, com um imenso potencial de qualificações,
tem de fazer sua evolução intelectual e moral, em mundos materiais, em um longo
período, nos reinos chamados inferiores, guiados pelo determinismo divino de
desenvolver-se sempre. Assim, sua inteligência vai de desenvolvendo,
gradativamente, através das experiências do viver. Evidentemente, que esse
desenvolvimento se faz para que o homem evolua, aperfeiçoando-se e sendo feliz.
Todavia, como tal não aconteceu para a Humanidade como um todo, até hoje, o
sofrimento faz parte da vida das pessoas, que não conseguiram encontrar a
felicidade. Esta mensagem é muito atual.
A inteligência é um dom
de Deus, inerente ao Espírito, desde sua criação, o fato de ser desenvolvido
por ele, na sua trajetória evolutiva, não é motivo de orgulho, visto que todos
os homens a estão desenvolvendo, e todos eles têm a possibilidade de continuar
desenvolvendo-a, através das reencarnações. E é essa própria inteligência que
lhe mostra o quanto ainda não sabe em relação a ele próprio, à Terra e ao
Universo.
A inteligência que
temos nunca deverá ser usada para humilhar ou diminuir o semelhante e sim para
tentar tirá-lo da inferioridade e da ignorância por estar ainda entre as
inteligências retardatárias.
A natureza de cada
ferramenta insinua para que ela serve. O martelo para pregar, o serrote para
cortar e a inteligência para ensinar. Percebe-se naturalmente sem precisar ser
gênio. Mas o serrote não corta sem o serrador e o martelo não prega sem o
trabalhador. Assim, a inteligência morta, armazenada na mente de quem a possui,
sem espalhar-se a benefício dos outros, é ferramenta que enferruja e para nada
se aproveita. Da mesma forma ela será nociva se servir apenas para espalhar
desordem, discórdia, maldade. O operário não usa o serrote para agredir o
patrão nem o empregado o martelo para ofender quem lhe paga. Assim como a ferramenta
deve ser usada cuidadosamente e com habilidade, para que produza o que dela se
espera, a inteligência pode construir ou destruir segundo o uso pelo seu
possuidor. Sintetizando esta nossa análise, o Espírito Ferdinando, autor da
mensagem, diz que basta uma poderosa mão para retirar-lhe o que ela mesma lhe
deu. Dependendo de como a inteligência seja usada, será mesmo um ato de
misericórdia do plano divino, privar o homem da sua lucidez, impedindo-o de
criar mais e mais faltas que lhe custarão remorsos e dolorosos flagelos, quer
na erraticidade, pela cobrança da consciência, quer numa nova encarnação quando
terá de consertar os erros cometidos e, geralmente, em condições mais difíceis
do que quando tinha à sua disposição recursos intelectuais que o faziam um ser
privilegiado. A inteligência, quando é atributo de um espírito adiantado, é a
grande ponte para um futuro espiritual feliz, já que produz o bem onde estiver,
beneficiando todos os que dele se aproximam. Ajuda para que o Plano Divino
tenha menos trabalho na produção do progresso da humanidade.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1 - Por que não deve o
homem se envaidecer do seu cabedal de conhecimento?
Porque esses
conhecimentos têm limites muito estreitos no mundo que habitamos. Assim sendo,
ele deve ter a humildade para reconhecer que não sabe tudo e que lhe resta
muito a aprimorar e a desenvolver. Para isso ele se encontra na Terra.
Ao invés de se
envaidecer, o homem deve utilizar o saber que já possui para ajudar aqueles
menos aquinhoados em termos de inteligência.
2 - Uma inteligência
desenvolvida é sinônimo de progresso?
Não necessariamente. O
que caracteriza um espírito evoluído é o seu progresso intelectual e moral. Mas
pode ocorrer que uma inteligência humana bem desenvolvida intelectualmente não
esteja acompanhada do desenvolvimento espiritual (moral).
3 - É a inteligência um
instrumento de progresso?
Sim. Um poderoso
instrumento, quando utilizado com bons sentimentos, e voltada à causa do bem.
Quando, porém, mal empregada, acarreta sofrimento aos atingidos, assumindo
graves débitos aos seus causadores.
Grandes assassinos e criminosos são, muitas vezes, dotados
de muita inteligência.
4 - Devemos nos
envaidecer do que sabemos?
Não. As oportunidades
para desenvolvermos a inteligência, numa dada direção, são oferecidas pelos
benfeitores espirituais. Os professores, colocados em nosso caminho,
ensinam-nos a: elaborar conexões, relacionar causa e efeito, resolver problemas
de matemática e construir máquinas. Exercitando a inteligência, ela vai se
ampliando: do simples chegamos ao complexo; do conhecido ao desconhecido.
Porém, surgem, também, os desmandos intelectuais, quando nos colocamos acima do
Criador.
5 - A inteligência é um
instrumento para uma missão?
Sim. Todo o homem
possui uma missão, grande ou pequena, no planeta Terra. A diversidade de
aptidões direciona-nos ao campo de atividade que se coaduna com nossa vocação.
A escolha de uma profissão, quando bem refletida, revela os anseios divinos com
relação ao nosso desenvolvimento intelectual e moral. Embora não exista a
fatalidade, há um determinismo que guia os nossos passos, fruto de nossa
escolha, quando desencarnados.
6 - Qual a missão do
homem inteligente?
Se Deus, na sua
infinita bondade, concedeu-nos a oportunidade de renascermos num meio em que
possamos desenvolver a nossa inteligência, é para que a utilizemos em nosso
benefício e dos nossos semelhantes. A inteligência desenvolvida é um talento
com finalidade útil nas mãos das criaturas, para que estas ajudem àqueles que
têm uma inteligência menos desenvolvida, objetivando fazer com que se
aproximem, cada vez mais, do Criador.
CONCLUSÃO DO ESTUDO:
A inteligência é um
poderoso instrumento de progresso que Deus confiou ao homem para que a
desenvolva em benefício de todos, fazendo progredir as inteligências
retardatárias e a si próprio. Abusar dessa faculdade é assumir graves
responsabilidades de débitos, cujo resgate é muito doloroso. Valorizemos a
nossa existência. Apliquemos todos os nossos recursos pessoais no
engrandecimento de nossa inteligência, a fim de melhor servir àqueles que nos
rodeiam.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
O orgulho e a
humildade
12.
Texto de Apoio:
Homens, por que
vos queixais das calamidades que vós mesmos amontoastes sobre as vossas
cabeças? Desprezastes a santa e divina moral do Cristo; não vos espanteis,
pois, de que a taça da iniquidade haja transbordado de todos os lados.
Generaliza-se o mal-estar. A quem inculpar, senão a vós que incessantemente
procurais esmagar-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes, sem mútua
benevolência; mas, como pode a benevolência coexistir com o orgulho? O orgulho,
eis a fonte de todos os vossos males. Aplicai-vos, portanto, em destruí-lo, se
não lhe quiserdes perpetuar as funestas consequências. Um único meio se vos
oferece para isso, mas infalível: tomardes para regra invariável do vosso
proceder a lei do Cristo, lei que tendes repelido ou falseado em sua
interpretação.
Por que haveis de
ter em maior estima o que brilha e encanta os olhos, do que o que toca o
coração? Por que fazeis do vício na opulência objeto das vossas adulações, ao
passo que desdenhais do verdadeiro mérito na obscuridade? Apresente-se em
qualquer parte um rico debochado, perdido de corpo e alma, e todas as portas se
lhe abrem, todas as atenções são para ele, enquanto ao homem de bem, que vive
do seu trabalho, mal se dignam todos de saudá-lo com ar de proteção. Quando a
consideração dispensada aos outros se mede pelo ouro que possuem ou pelo nome de que usam, que interesse podem
eles ter em se corrigirem de seus defeitos? Dar-se-ia o inverso, se a opinião
geral fustigasse o vicio dourado, tanto quanto o vicio em andrajos; mas, o
orgulho se mostra indulgente para com tudo o que o lisonjeia. Século de cupidez
e de dinheiro, dizeis. Sem dúvida; mas por que deixastes que as necessidades
materiais sobrepujassem o bom senso e a razão? Por que há de cada um querer
elevar-se acima de seu irmão? Desse fato sofre hoje a sociedade as
consequências.
Não esqueçais que
tal estado de coisas é sempre sinal certo de decadência moral. Quando o orgulho
chega ao extremo, tem-se um indicio de queda próxima, porquanto Deus nunca
deixa de castigar os soberbos. Se por vezes consente que eles subam, é para
lhes dar tempo a reflexão e a que se emendem, sob os golpes que de quando em
quando lhes desfere no orgulho para os advertir. Mas, em lugar de se
humilharem, eles se revoltam. Então, cheia a medida, Deus os abate
completamente e tanto mais horrível lhes é a queda, quanto mais alto hajam subido.
Pobre raça humana,
cujo egoísmo corrompeu todas as sendas, toma novamente coragem, apesar de tudo.
Em sua misericórdia infinita, Deus te envia poderoso remédio para os teus
males, um inesperado socorro à tua miséria. Abre os olhos à luz: aqui estão as
almas dos que já não vivem na Terra e que te vêm chamar ao cumprimento dos
deveres reais. Eles te dirão, com a autoridade da experiência, quanto as
vaidades e as grandezas da vossa passageira existência são mesquinhas a par da
eternidade. Dir-te-ão que, lá, o maior é aquele que haja sido o mais humilde
entre os pequenos deste mundo; que aquele que mais amou os seus irmãos será
também o mais amado no céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da sua
autoridade, ver-se-ão reduzidos a obedecer aos seus servos; que, finalmente, a
humildade e a caridade, irmãs que andam sempre de mãos dadas, são os meios mais
eficazes de se obter graça diante do Eterno. - Adolfo, bispo de Argel.
(Marmande, 1862.)
O Espírito comunicante
inicia o texto afirmando que as calamidades, os sofrimentos dos habitantes do
planeta Terra, são consequências do orgulho, que os levam a desprezar os
ensinamentos de Jesus.
O mal-estar se torna
geral. A quem se deve, senão a vós mesmos que, incessantemente, procurais
aniquilar-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência, e
como poderá esta existir juntamente com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de
todos os vossos males.
Considerando que a
benevolência leva o homem a ter boa vontade para com os outros, a ser
complacente, e que o orgulho o leva a ter um conceito elevado de si mesmo, o
que o coloca, a seus olhos, acima dos demais, percebemos que ambos os
sentimentos são antagônicos.
O orgulho leva o homem
a ser rigoroso, exigente com os demais, porque não são como ele, não possuem a
sua inteligência, suas habilidades, sua riqueza, seu poder, sendo indulgente
somente para tudo que o agrade.
A benevolência, ao
contrário, leva o homem a colocar-se no lugar do outro, compreendendo-o nas
suas dificuldades, tendo boa vontade para com suas falhas, sua maneira de
viver. O orgulho e a benevolência são, de fato, sentimentos incompatíveis.
Enquanto o homem agir
em função do orgulho, a dor e o sofrimento continuarão a existir, como efeito
da lei de causa e efeito, até que ele, cansado de sofrer, busque eliminar seu
orgulho, olhando seus irmãos como iguais a ele, com os quais pode aprender
também.
Assim, o bispo de Argel
conclama a todos os homens a eliminarem o orgulho que têm em si, seguindo a
orientação de Jesus, se almejam ser felizes, e tornarem a Terra um mundo
melhor. Fala ainda da consideração que se dá aos ricos e poderosos,
abrindo-lhes todas as portas, e do desprezo, do desdém, e da falta de
consideração aos menos deserdados dos diferentes valores materiais, mas que
podem ser ricos em valores espirituais, que eles, os orgulhosos, nem percebem.
Sua mensagem é de 1862.
Com certeza, houve melhorias substanciais no relacionamento entre os homens,
entre as diferentes classes sociais. Todavia, continua existindo a
supervalorização dos valores materiais e das suas necessidades, sobrepondo-se
ao bom senso e a razão.
De lá até os dias de
hoje, quanto sofrimento, quanta dor; duas guerras mundiais, que trouxeram
grandes transformações sociais, muitos ensinamentos, mas, a Humanidade continua
forjando guerras regionais, como meio para se chegar à paz, quando deveria
existir condições de resolução de problemas entre nações através do diálogo, da
solidariedade, da boa vontade entre os povos. O Espírito comunicante cita
também o egoísmo que corrompe o homem, impedindo-o de perceber as necessidades
do próximo. Lembra a todos que, assim como Deus abate os soberbos, através das
suas leis, Sua misericórdia, se fazendo presente sempre, nos dá hoje um poderoso
remédio, um socorro às aflições humanas.
Questões para estudo:
1 - Como combater o
orgulho?
Estudando com humildade
o Evangelho de Jesus e procurando vivenciar os ensinamentos nele contidos.
A humildade é o
antídoto do orgulho.
2 - Quais os vícios
causados pelo orgulho?
Paixão pelos bens
materiais, inveja, ciúme, egoísmo, etc.
Quando os vícios do
orgulho se instalam no coração do homem, a vida torna-se um constante tormento.
3 - O que acontece
quando o orgulho chega ao extremo?
Tem-se o indício de uma
queda próxima.
Quanto maior é a subida
de um orgulhoso mais terrível é a sua queda.
Conclusão do Estudo:
A ninguém é impedido
corrigir-se dos vícios oriundos do orgulho. O Evangelho é o roteiro de luz em
forma de bênçãos a todas as criaturas de boa vontade. Aos recalcitrantes, o
tempo e a dor servirão de remédio.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
O orgulho e a
humildade
11. Que a paz do Senhor seja convosco, meus
queridos amigos! Aqui venho para encorajar-vos a seguir o bom caminho.
Aos pobres Espíritos que habitaram outrora a Terra,
conferiu Deus a missão de vos esclarecer. Bendito seja Ele, pela graça que nos
concede; a de podermos auxiliar o vosso aperfeiçoamento. Que o Espírito Santo
me ilumine e ajude a tornar compreensível a minha palavra, outorgando-me o
favor de pô-la ao alcance de todos! Oh! Vós, encarnados, que vos achais em
prova e buscais a luz, que a vontade de Deus venha em meu auxílio para fazê-la
brilhar aos vossos olhos!
Nesta mensagem, Lacordaire, humildemente, pede o amparo
espiritual para que sua palavra seja compreensível a todos. Aqui, ele se dispõe
a colaborar com as criaturas ainda presas aos valores da vida material, mas que
já conhecem e aceitam as verdades reveladas pelos Espíritos superiores.
A humildade é virtude muito esquecida entre vós. Bem pouco
seguidos são os exemplos que dela se vos têm dado. Entretanto, sem humildade,
podeis ser caridosos com o vosso próximo? Oh! Não, pois que este sentimento
nivela os homens, dizendo-lhes que todos são irmãos, que se devem auxiliar
mutuamente, e os induz ao bem. Sem a humildade, apenas vos adornais de virtudes
que não possuís, como se trouxésseis um vestuário para ocultar as deformidades
do vosso corpo. Lembrai-vos daquele que nos salvou; lembrai-vos da sua
humildade, que tão grande o fez, colocando-o acima de todos os profetas.
O Espírito comunicante diz que a humildade é uma virtude
muito esquecida entre os homens. Assim o é, por ser um sentimento, que,
juntamente, com o amor, é o resumo de todas as virtudes, isto é, sem o
desenvolvimento das demais, ela não cresce, nem se desenvolve. Afirma, também,
que sem humildade não se pode ser caridoso para o próximo, pois esse sentimento
é que nivela todos os homens, fazendo-os sentirem-se iguais, levando-os a se
ajudarem mutuamente, encaminhando-se todos para o bem. O orgulhoso coloca-se
sempre acima dos demais.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo
prometia o reino dos céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra
imaginam que os títulos e as riquezas são recompensas deferidas aos seus
méritos e se consideram de essência mais pura do que a do pobre. Julgam que os
títulos e as riquezas lhes são devidos, pelo que, quando Deus lhos retira, o
acusam de injustiça. Oh! Irrizão e cegueira! Pois, então, Deus vos distingue
pelos corpos? O envoltório do pobre não é o mesmo que o do rico? Terá o Criador
feito duas espécies de homens? Tudo o que Deus faz é grande e sábio; não lhe
atribuais nunca as ideias que os vossos cérebros orgulhosos engendram.
Ó rico! Enquanto dormes sob dourados tetos, ao abrigo do
frio, ignoras que jazem sobre a palha milhares de irmãos teus, que valem tanto
quanto tu? Não é teu igual o infeliz que passa fome? Ao ouvires isso, bem o
sei, revolta-se o teu orgulho. Concordarás em dar-lhes uma esmola, mas em lhe
apertar fraternalmente a mão, nunca. “Pois quê; dirás, eu, de sangue nobre,
grande da Terra, igual a este miserável coberto de andrajos! Vã utopia de
pseudofilósofos! Se fôssemos iguais, por que o teria Deus colocado tão baixo e
a mim tão alto”? É exato que as vossas vestes não se assemelham; mas, despi-vos
ambos; que diferença haverá entre vós? A nobreza do sangue, dirás; a química,
porém, ainda nenhuma diferença descobriu entre o sangue de um grão-senhor e o
de um plebeu; entre o do senhor e o do escravo. Quem te garante que também tu
não tenhas sido miserável e desgraçado como ele? Que também não hajas pedido
esmola? Que não a pedirás um dia a esse mesmo a quem hoje desprezas? São
eternas as riquezas? Não desaparecem quando se extingue o corpo, envoltório
perecível do teu Espírito? Ah! Lança sobre ti um pouco de humildade! Põe os
olhos, afinal, na realidade das coisas deste mundo, sobre o que dá lugar ao
engrandecimento e ao rebaixamento no outro; lembra-te de que a morte não te
poupará, como a nenhum homem; que os teus títulos não te preservarão do seu
golpe; que ela te poderá feria amanhã, hoje, a qualquer hora. Se te enterras no
teu orgulho, oh! Quanto então te lamento, pois bem digno de compaixão serás.
Orgulhosos! Que éreis antes de serdes nobres e poderosos?
Talvez estivésseis abaixo do último dos vossos criados. Curvai, portanto, as
vossas frontes altaneiras, que Deus pode fazer se abaixem, justo no momento em
que mais as elevardes. Na balança divina, são iguais todos os homens; só as
virtudes os distinguem aos olhos de Deus. São da mesma essência todos os
Espíritos e formados de igual massa todos os corpos. Em nada os modificam os
vossos títulos e os vossos nomes. Eles permanecerão no túmulo e de modo nenhum
contribuirão para que gozeis da ventura dos eleitos. Estes, na caridade e na
humildade é que têm seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! És mãe, teus filhos sofrem; sentem frio;
têm fome, e tu vais, curvada ao peso da tua cruz, humilhar-te, para lhes
conseguires um pedaço de pão! Oh! Inclino-me diante de ti. Quão nobremente
santa és e quão grande aos meus olhos! Espera e ora; a felicidade ainda não é
deste mundo. Aos pobres oprimidos que nele confiam, concede Deus o reino dos
céus.
E tu, donzela, pobre criança lançada ao trabalho, às
privações, por que esses tristes pensamentos? Por que choras? Dirige a Deus,
piedoso e sereno, o teu olhar; ele dá alimento aos passarinhos; tem-lhe
confiança; ele não te abandonará. O ruído das festas, dos prazeres do mundo,
faz bater-te o coração; também desejaras adornar de flores os teus cabelos e
misturar-te com os venturosos da Terra. Dizes de ti para contigo que, como
essas mulheres que vês passar, despreocupadas e risonhas, também poderias ser
rica. Oh! Cala-te, criança! Se soubesses quantas lágrimas e dores inomináveis
se ocultam sob esses vestidos recamados, quantos soluços são abafados pelos
sons dessa orquestra rumorosa, preferirias o teu humilde retiro e a tua
pobreza. Conserva-te pura aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo
guardião para o seu seio volte, cobrindo o semblante com as suas brancas asas e
deixando-te com os teus remorsos, sem guia, sem amparo, neste mundo, onde
ficarias perdida, a aguardar a punição no outro.
Todos vós que dos homens sofreis injustiças, sede
indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, ponderando que também vós não vos
achais isentos de culpas; é isso caridade, mas é igualmente humildade. Se
sofreis pelas calúnias, abaixai a cabeça sob essa prova. Que vos importam as
calúnias do mundo? Se é puro o vosso proceder, não pode Deus vo-las compensar?
Suportar com coragem as humilhações dos homens é ser humilde e reconhecer que
somente Deus é grande e poderoso.
Oh! Meu Deus, será preciso que o Cristo volte segunda vez à
Terra para ensinar aos homens as tuas leis, que eles olvidam? Terá que de novo
expulsar do templo os vendedores que conspurcam a tua casa, casa que é
unicamente de oração? E, quem sabe? Ó homens! Se o não renegaríeis como outrora,
caso Deus vos concedesse essa graça! Chamar-lhe-íeis blasfemador, porque
abateria o orgulho dos modernos fariseus. É bem possível que o fizésseis
perlustrar novamente o caminho do Gólgota.
Quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber os
mandamentos de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo, abandonou o Deus
verdadeiro. Homens e mulheres deram o ouro e as joias que possuíam, para que se
construísse um ídolo que entraram a adorar. Vós outros, homens civilizados, os
imitais. O Cristo vos legou a sua doutrina; deu-vos o exemplo de todas as
virtudes e tudo abandonastes, exemplos e preceitos. Concorrendo para isso com
as vossas paixões, fizestes um Deus a vosso jeito; segundo uns, terrível e
sanguinário; segundo outros, alheado dos interesses do mundo. O Deus que
fabricastes é ainda o bezerro de ouro que cada um adapta aos seus gostos e às
suas ideias.
Despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos
Espíritos ecoe nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação,
isto é, fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à
demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho. Numa palavra: sede
verdadeiros cristãos e tereis o reino da verdade. Não continueis a duvidar da
bondade de Deus, quando dela vos dá ele tantas provas. Vimos preparar os
caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der uma
manifestação mais retumbante da sua clemência, que o enviado celeste já vos
encontre formando uma grande família; que vossos corações, mansos e humildes,
sejam dignos de ouvir a palavra divina que ele vos vem trazer; que ao eleito
somente se deparem em seu caminho as palmas que aí tenhais deposto, volvendo ao
bem, à caridade, à fraternidade. Então, o vosso mundo se tornará o paraíso
terrestre. Mas, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para
depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências, mas, no
entanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! Então não nos restará senão chorar
e gemer pela vossa sorte. Mas, não, assim não será. Voltai para Deus, vosso
pai, e todos nós que houvermos contribuído para o cumprimento da sua vontade
entoaremos o cântico de ação de graças, agradecendo-lhe a inesgotável bondade e
glorificando-o por todos os séculos dos séculos. Assim seja.
Lacordaire dirige-se aos
ricos e aos orgulhosos a verem os pobres como filhos de Deus iguais a ele, a
quem lhes cabe auxiliar e amparar, ressaltando a transitoriedade dos bens e
valores materiais, que ficarão na Terra, com a morte do corpo. "Quem te
diz que também não foste miserável como ele? Que não pediste esmola? Que não a
pedirás um dia a esses mesmos que hoje desprezas?" "Oh! debruça-te,
humildemente, sobre ti mesmo! Lança enfim, os olhos sobre a realidade das
coisas desse mundo, sobre o que constitui a grandeza e a humildade no
outro". O entendimento da lei das vidas sucessivas e sua aceitação é,
talvez, a maior demonstração da inutilidade do orgulho, uma vez que, através
delas, pode-se passar, tantas vezes quantas forem necessárias ao aprendizado e
aperfeiçoamento, pelas experiências da pobreza, da riqueza, vivendo-se nos
meios mais variados. Orgulho de quê, se cada existência é tão transitória? Ressalta
o autor que todos os homens são iguais perante Deus, sendo distinguidos apenas,
pelas qualificações nobres que consegue desenvolver em si mesmo, e que a
caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza, sendo o orgulho o
terrível inimigo da humildade. Dirige-se também aos pobres e humildes que lutam
para sobreviver em um mundo que os exclui. Conclama-os a confiarem em
Deus, argumentando que quase sempre a felicidade dos ricos é apenas ilusão e
aparência.
Pede aos que sofrem injustiças dos homens que não alimentem ódio no
coração, que sejam indulgentes com as faltas alheias, porque esse ato é
caridade e reconhecer que só Deus é grande e só Ele tudo pode, é ser humilde. Conclama
a todos a serem caridosos e generosos, com humildade, demolindo os motivos
ilusórios do orgulho, que, em realidade, são vencidos pela morte do corpo. Fala
das transformações que tornará nosso mundo um paraíso terreno, quando o homem
se entregar ao bem, à fraternidade, quando, então, todos se considerarem iguais
e viverem auxiliando-se, mutuamente, nas diferenças individuais, com
fraternidade, com humildade.
Questões para reflexão:
1 - Como podemos
definir a humildade?
É a virtude que nivela
os homens, eliminando a falsa ideia de superioridade de uns frente aos outros,
propiciando o progresso espiritual que os aproxima de Deus.
2 - Quais as
consequências do orgulho?
Transtornos na vida
social, rivalidade das classes e dos povos, intrigas, ódios, guerras, etc. É
imperfeição que bloqueia o progresso do espírito e o leva a assumir débitos,
cujo resgate é doloroso e transcende a encarnação presente.
O orgulho tem coberto
de sangue e ruínas este mundo, e é ainda ele que origina os nossos padecimentos
de além-túmulo.
3 - Por que existe o
orgulho?
Ele existe em
decorrência da ignorância dos reais valores da vida, que leva o homem a pensar
egoisticamente na sua realização pessoal e a tratar com desprezo os seus
semelhantes.
De todos os males, o
orgulho é o mais terrível, pois deixa em sua passagem o germe de quase todos os
vícios.
Conclusão do estudo:
O orgulho é a
ignorância dos reais valores da vida, constituindo-se em veneno que anula as
ações nobres dos que buscam o progresso espiritual. A humildade é uma virtude
que nivela os homens e os eleva, moralmente, aos olhos de Deus.
A inteligência,
desprovida de suporte moral do Evangelho, gera sentimento presunçoso de
superioridade, levando, consequentemente, à insubmissão a Deus.
Para o espiritismo, o
orgulho é o pai de todos os males, é ele que desencadeia todos os outros
defeitos. Não é difícil constatar essa verdade. É por orgulho que discutimos, é
por orgulho que brigamos, é por orgulho ferido que nos magoamos, é o orgulho
que dificulta o perdão.
Todos somos filhos de Deus, criados à sua imagem e
semelhança; portanto, perfectíveis. Reforma íntima é um hábito. É a escolha de
uma vida. Eu fiz a minha escolha. E você?
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
Mistérios ocultos
aos doutos e aos prudentes
7. Disse, então, Jesus estas palavras: “Graças
te rendo, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas
aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos”.
(Mateus, cap. XI, v. 25).
Nesta passagem, Jesus coloca que existem dois tipos de
pessoas aos olhos do mundo; aqueles a quem chamou de doutos, de prudentes, de
pretensos detentores do conhecimento e os simples, que não têm a pretensão de
dominar as teorias.
Para compreendermos esta passagem do Evangelho, precisamos
primeiro entender quem são os sábios e prudentes e quem são os simples e os
pequenos. Estes, são os humildes de coração, que mesmo ignorantes estão
sedentos do amor do Pai e prontos para receberem as revelações do céu. Aqueles,
são os orgulhosos e prepotentes, que se dizem sábios e doutores da lei,
incapazes ainda de ver senão aquilo que lhes convém.
8. Pode parecer singular que Jesus renda graças a Deus, por
haver revelado estas coisas aos simples e aos pequenos, que são os pobres de
espírito, e por as ter ocultado aos doutos e aos prudentes, mais aptos, na
aparência, a compreendê-las. É que cumpre se entenda que os primeiros são
humildes, são os que se humilham diante de Deus e não se consideram superiores
a toda a gente. Os segundos são os orgulhosos, envaidecidos do seu saber
mundano, os quais se julgam prudentes porque negam e tratam Deus de igual para
igual, quando não se recusam a admiti-lo, porquanto, na antiguidade, douto era
sinônimo de sábio. Por isso é que Deus lhes deixa a pesquisa dos segredos da
Terra e revela os do céu aos simples e aos humildes que diante dele se
prostram.
Como diz a lição, pode
parecer uma contradição o fato de Deus interessar-se em revelar suas
preciosidades aos mais simples, aos humildes e pobres. Aparentemente, esses
teriam mais dificuldades em entendê-las. Os outros, seriam mais estudados,
teriam mais entendimento. Mas na realidade o que acontece é bem diferente.
Quanto mais instruído nas coisas do mundo, maior dificuldade tem a criatura
humana em entender a mensagem divina. O Mestre, fazendo esse agradecimento ao
Pai, reconhecia a sabedoria Divina que o mandara àqueles que tinham as
condições necessárias ao aprendizado. Os simples são os que se reconhecem
ignorantes, porque sabem que têm muito ainda que aprender; estando, portanto,
sempre abertos a novos aprendizados, sabendo ouvir com atenção as ideias
daqueles que podem ensinar-lhes algo que desconhecem. A doutrina da Verdade é a
antítese da doutrina do mundo. Ela combate o personalismo, a ideia da
individualidade, muito ensinada pelo sistema humano que tudo faz nesse sentido,
para poder explorar o homem. Allan Kardec em O Livro dos Médiuns nos informa
que os maus Espíritos, quando querem explorar uma pessoa, procura fazê-la
sentir-se importante, isso é, faz com que se ressalte seu amor próprio. É isso
o que o mundo faz com os homens.
9. O mesmo se dá hoje com as grandes verdades
que o Espiritismo revelou. Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos tão
poucos esforços façam para os convencer. A razão está em que estes últimos cuidam
preferentemente dos que procuram, de boa fé e com humildade, a luz, do que
daqueles que se supõem na posse de toda a luz e imaginam, talvez, que Deus
deveria dar-se por muito feliz em atrai-los a si, provando-lhes a sua
existência.
O poder de Deus se manifesta nas mais pequeninas coisas,
como nas maiores. Ele não põe a luz debaixo do alqueire, por isso que a derrama
em ondas por toda a parte, de tal sorte que só cegos não a veem. A esses não
quer Deus abrir à força os olhos, dado que lhes apraz tê-los fechados. A vez
deles chegará, mas é preciso que, antes, sintam as angústias das trevas e
reconheçam que é a Divindade e não o acaso quem lhes fere o orgulho. Para
vencer a incredulidade, Deus emprega os meios mais convenientes, conforme os
indivíduos. Não é a incredulidade que compete prescrever-lhes o que deva fazer,
nem lhe cabe dizer: “Se me queres convencer, tens de proceder dessa ou daquela
maneira, em tal ocasião e não em tal outra, porque essa ocasião é a que mais me
convém”.
São palavras duras, escritas por Kardec, mas que refletem a
verdade do processo evolutivo do Espírito imortal. Tendo de fazer seu
desenvolvimento espiritual, segundo sua vontade, sujeito a leis sábias e
justas, o Espírito será perfeito e feliz, quando e como quiser, semeando e colhendo,
exatamente, segundo o uso que fizer do seu livre-arbítrio.
Não se espantem, pois, os incrédulos de que nem Deus, nem
os Espíritos, que são os executores da sua vontade, se lhes submetam às
exigências, inquiram de si mesmos o que diriam, se o último de seus servidores
se lembrasse de lhes prescrever fosse o fosse. Deus impõe condições e não
aceita as que lhe queiram impor. Escuta, bondoso, os que a Ele se dirigem
humildemente e não os que se julgam mais do que Ele.
10. Perguntar-se-á: não poderia Deus tocá-los
pessoalmente, por meio de manifestações retumbantes, diante das quais se
inclinassem os mais obstinados incrédulos? É fora de toda dúvida que o poderia;
mas, então, que mérito teriam eles e, ao demais, de que serviria? Não se veem
todos os dias criaturas que não cedem nem à evidência, chegando até a dizer:
“Ainda que eu visse, não acreditaria, porque sei que é impossível?”. Esses, se
se negam assim a reconhecer a verdade, é que ainda não trazem maduro o espírito
para compreendê-la, nem o coração para senti-la. O orgulho é a catarata que
lhes tolda a visão. De que vale apresentar luz a um cego? Necessário é que,
antes, se lhe destrua a causa do mal. Daí vem que, médico hábil, Deus
primeiramente corrige o orgulho. Ele não deixa ao abandono aqueles de seus
filhos que se acham perdidos, porquanto sabe que cedo ou tarde os olhos se lhes
abrirão. Quer, porém, que isso se dê de moto-próprio, quando vencidos pelos
tormentos da incredulidade, eles venham de si mesmo lançar-se-lhe nos braços e
pedir-lhe perdão, quais filhos pródigos.
Deus jamais oculta a
luz da verdade a nenhuma criatura, ao contrário, a espalha prodigamente por
toda a face da Terra. A inteligência no mundo, quase sempre, está associada ao
orgulho e à vaidade que, normalmente, levam o homem a supor-se autossuficiente,
satisfeito em buscar os segredos da Terra, que para ele bastam, pondo assim,
uma venda nos próprios olhos. Enquanto os vícios morais impedem o orgulhoso de
"ver", o simples e humilde pode, com as virtudes conquistadas,
desvendar os segredos do Céu. Portanto, são dois sentimentos antagônicos —
orgulho e humildade — que situam os seres em níveis diferentes de compreensão,
e que os colocam mais ou menos próximos do ideal de verdade, proposto por Jesus
e ratificado pelo Espiritismo.
Uma pessoa, que não
chega a ser ateia, mas reluta sistematicamente em concordar com os argumentos
espíritas, pode entender Deus como uma grande incógnita, um profundo mistério,
acima das nossas pobres cogitações humanas, por isso não cuida Dele.
Com esse viés de
incredulidade, ela se recusa a aceitar explicações que não sejam obtidas pela
metodologia da ciência acadêmica que, como não é difícil compreender, é
inadequada para aferir resultados de causa espiritual. Em casos como este é
inútil se pensar no argumento de Tomé: "É preciso ver para crer",
pois "ver", para a maioria dos incrédulos, não muda suas concepções. Também
não é possível se dizer o que Deus deve fazer para superar a sua incredulidade,
pois Deus não se submete a quaisquer exigências ou imposições. Apenas
"ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais
do que Ele".
A compreensão das
questões transcendentais que envolvem o problema de Deus, do ser e das leis
divinas, parece não depender só da inteligência, pois muitas pessoas preparadas
intelectualmente costumam rejeitar as respostas obtidas com a ajuda do
conhecimento espiritual.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
Aquele que se
eleva será rebaixado
3. Por essa ocasião, os discípulos se
aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: “Quem é o maior no reino dos céus?” –
Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: “Digo-vos,
em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não
entrareis no reino dos céus. Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar
pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus; e aquele que recebe
em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe”.
(Mateus, cap. XVIII, vv. 1 a 5).
COMENTÁRIO:
Como sabemos, Jesus
nada escreveu, e seu método de ensino era informal, aproveitando as situações,
as conversas, as perguntas do momento para explicar as leis divinas. Suas
parábolas são histórias simples, tiradas do cotidiano, dos usos e costumes da
época, porque sabia Jesus, o Mestre Maior, que seus ensinos deveriam ser
guardados na memória de seus discípulos, para permanecerem e serem divulgados,
quando ele já não estivesse aqui.
Ao colocar um menino
como modelo a ser seguido, Jesus exaltou a simplicidade e a humildade das
crianças em geral, na facilidade com que elas brigam e se reconciliam, não
guardando rancor, na confiança e na fé que demonstram aos outros,
principalmente, aos adultos, no seu anseio e entusiasmo de aprender.
A criança não conhece o
sentimento do ódio e, se diz: "Eu odeio você" é porque ouviu-a de
adultos. Entende ela que assim falando, expressa sua raiva do momento, pois,
pode, logo em seguida, abraçar e beijar a pessoa a quem disse tais palavras.
4.
Então, a mãe dos filhos de Zebedeu se
aproximou dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe queria
pedir alguma coisa. – Disse-lhe ele: “Que queres?” “Manda, disse ela, que estes
meus dois filhos tenham assento no teu reino, um à tua direita e o outro à tua
esquerda”. Mas, Jesus lhe respondeu: “Não sabes o que pedes; podeis vós ambos
beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. Jesus lhes
replicou: “É certo que bebereis o cálice que eu beber; mas, pelo que respeita a
vos sentardes à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim vo-lo
conceder; isso será para aqueles a quem meu Pai o tem preparado”. Ouvindo isso,
os dez outros apóstolos se encheram de indignação contra os dois irmãos. Jesus,
chamando-os para perto de si, lhes disse: “Sabeis que os príncipes das nações
as dominam e que os grandes as tratam com império. Assim não deve ser entre
vós; ao contrário, aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso
escravo; do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a vida pela redenção de muitos”. (Mateus, cap. XX, vv. 20 a 28).
COMENTÁRIO:
A mãe de dois de Seus
apóstolos pede a Jesus que seus dois filhos se assentem um à Sua direita, outro
à Sua esquerda no Reino, ou seja, ela pediu ao Cristo que desse poder aos seus
filhos. O Mestre, por amor à Humanidade, havia assumido entre nós, uma missão
de grande sacrifício, que o levaria ao martírio da crucificação. E aquela mãe
amorosa não sabia o que estava pedindo para seus filhos.
Desta passagem do
Evangelho, podemos extrair, ainda, uma outra lição: quantas vezes almejamos
situações de superioridade, julgando-as como um grande bem e nos aborrecemos
por não conquistarmos aquilo que desejávamos? Mas, será que estávamos
preparados para assumir uma posição superior? Quantas vezes, em prece, pedimos
a Deus a realização de algo que queremos muito e, como não vemos o nosso desejo
se realizar, imaginamos que sequer fomos escutados, quando, na verdade, o não
atendimento à nossa solicitação é justamente o socorro da Providência Divina em
nosso benefício, evitando consequências que não poderíamos suportar.
Quando os discípulos
pedem esclarecimentos ao Mestre Jesus acerca de suas dúvidas, Ele explica que
aquele que vem para servir, que é humilde e simples de coração, que reconhece a
Sabedoria do Pai Criador, que não se vangloria e nem exige homenagens na Terra,
mas que trabalha no silêncio de sua consciência em benefício do próximo, que
aguarda a recompensa do céu e não a dos homens, este será grande no céu, porque
se fez pequeno na Terra.
5. Jesus entrou em dia
de sábado na casa de um dos principais fariseus para aí fazer a sua refeição.
Os que lá estavam o observaram. Então, notando que os convidados escolhiam os
primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola, dizendo: “Quando fordes convidados
para bodas, não tomeis o primeiro lugar, para que não suceda que, havendo entre
os convidados uma pessoa mais considerada do que vós, aquele que vos haja
convidado venha a dizer-vos: daí o vosso lugar a este, e vos vejais
constrangidos a ocupar, cheio de vergonha, o último lugar. Quando fordes
convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que, quando aquele que
vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será
para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa;
porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa
será elevado. (Lucas, cap. XIV, vv. 1 e 7 a 11).
COMENTÁRIO:
Narra o evangelista
Lucas que, em dia de sábado, entrou Jesus na casa de um fariseu, o nome dele
não é mencionado, no entanto, o Mestre fora ali convidado à refeição. Quando
adentrou o local, foi observado pelos que ali se encontravam. Por sua vez,
observou o Cristo que os convidados escolhiam os primeiros lugares, em quase
atropelo. Todos desejavam ficar o mais próximo possível do anfitrião.
Recordemos que, ao tempo do Mestre, as refeições não eram realizadas em torno
de uma mesa.
Nesses dois ensinos
informais, Jesus exaltou a necessidade do desenvolvimento da virtude da
humildade pelo homem, que é o passaporte para o ingresso no Reino dos Céus.
Somente a humildade leva o homem a não se sentir, nunca, em circunstância
alguma, superior a quem quer que seja, porque reconhece sua pequenez diante do
Pai e sabe que muito tem ainda que aprender. Somente a humildade leva o homem a
submete-se às leis divinas, mesmo quando não as compreende bem, porque
reconhece nelas o Amor e a Justiça de Deus. Somente a humildade pode levar o
homem a amar ao próximo como a si mesmo, de forma plena e incondicional,
porque, somente com ela, ele não tem a pretensão à superioridade e à
infalibilidade. Vê o outro, qualquer outro, como um irmão num processo
evolutivo, igual a ele mesmo, também sujeito a erros e equívocos. Muitos dos
ensinos de Jesus nem foram bem entendidos, mas puderam ser vivenciados e
divulgados, pela lembrança das situações vividas e pelas parábolas simples que
contava.
Neste ensinamento, que
estamos estudando, percebemos que o Mestre não estava ensinando regras de
etiqueta aos convidados a uma festa ou a um jantar, nem exaltando a vaidade ou
a humildade fingida dos convidados. Quis ele ressaltar, uma vez mais, o valor e
a necessidade da humildade para alcançar-se o reino dos Céus. O ponto principal
deste ensino está na última frase: "Porque todo o que se exalta será
humilhado, e todo o que se humilha será exaltado". Quem se exalta, quem se
põe em evidência, quem se julga melhor, ou superior a outros, quem se
vangloria, será humilhado, ou seja, desacreditado, menosprezado, rebaixado.
Onde e quando? No seu viver em mundos inferiores, como a Terra, sofrendo as
constrições desses mundos, enquanto não desenvolver as qualificações nobres que
abrirão as portas do reino dos Céus. Por quem? Pelo funcionamento das leis
divinas - lei das reencarnações e lei de causa e efeito - que dão a cada um
segundo suas obras - porquanto seu desenvolvimento espiritual é a finalidade
maior do viver em mundo materiais. Não há tribunais, julgamentos fora da
consciência de cada um, que coloca o ser no lugar exato da sua condição
espiritual.
Questões para nossa
reflexão:
1 - Por que é
necessário tornar-se igual a uma criança para se "entrar no reino dos
céus"?
Porque a criança
simboliza a simplicidade e a pureza de coração, não tendo pretensões de
superioridade ou infalibilidade e, nos assemelhando a ela, com essas
características, alcançaremos o reinos dos céus. Não é ser criança, mas
semelhantes a mesma.
2 - Por que Jesus nos
aconselha a ocupar os últimos lugares?
Porque, quando
pretendemos os primeiros lugares, manifestamos nossos sentimentos presunçosos
de superioridade; sentimentos estes contrários à prática da humildade. A
verdadeira grandeza se afirma pela humildade.
3 - Qual o sentido da
expressão: "Aquele que se eleva será rebaixado"?
Os que se elevam pela
fortuna, títulos e glórias, morrendo, chegam no plano espiritual desprovidos de
tudo, conservando apenas o orgulho que torna sua posição ainda mais humilhante.
Aquele que se humilha será exaltado e aquele que se eleva será rebaixado.
CONCLUSÃO DO ESTUDO:
A verdadeira grandeza
se afirma pela humildade, condição necessária para a conquista da felicidade. O
orgulho e o egoísmo são sentimentos que nos distanciam de Deus.
É importante que
prestemos atenção à própria história da Humanidade e o quanto temos evoluído,
desde o homem das cavernas que pouco diferia de um animal irracional, até o
homem da civilização científica e tecnológica. Entretanto, se no campo
intelectual o homem conquistou tão grande evolução, no campo moral não ocorreu
o mesmo. Eis aqui a razão do sofrimento humano: somos todos vitimados pelo
nosso próprio comportamento, distanciados que estamos das leis de Deus.
As criaturas que,
envoltas no véu do orgulho, ignoram que a humildade a que Jesus se referia e
para a qual nos chama à prática nada tem a ver com servilismo! Na excelência de
sua pedagogia, quando o Mestre nos ensina, simplesmente, que "todo aquele
que se eleva será rebaixado", reporta-se ao sentimento de orgulho, porque
toda elevação pessoal que tem por base o orgulho é ilusória.
Assim, todo aquele que
utiliza o mal como alavanca de elevação será rebaixado, pois só o bem que
cultivamos em nós é indestrutível e nos oferece base sólida para todas as
realizações. Humildade é sentimento contrário ao orgulho, é o sentimento que
tem a possibilidade de fazer o homem entender sua real posição no mundo,
posição essa de eterno aprendiz frente à Sabedoria de Deus, nosso Pai Criador.
É o sentimento capaz de levar o homem a compreender que, mesmo conhecendo
muito, não deve humilhar quem pouco sabe; de perceber que, mesmo conhecedor de
muitas coisas, outros existem que sabem mais. A criatura humilde tem a
capacidade de ensinar sem demonstrar sabedoria e de auxiliar sem que o outro se
sinta humilhado.
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ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VII – BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
O que se deve entender por pobres de espírito
1 – Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é
o reino dos céus. (Mateus, cap. V, v.3).
2 – A incredulidade zombou desta máxima: Bem-aventurados os
pobres de espírito, como tem zombado de muitas outras coisas que não
compreende. Por pobres de espírito Jesus não entende os baldos de inteligência,
mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os
orgulhosos.
Os homens de saber e de espírito, no entender do mundo,
formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que
consideram as coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando
sobre si mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa
tendência, de se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar
aquilo que, estando-lhes acima, os depreciaria, a negar até mesmo a Divindade.
Ou se condescendem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos; a
ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são
suficientes para bem governá-lo. Tomando a inteligência que possuem para medida
da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem
crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as
sentenças que proferem.
Se se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência
extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance; é que o orgulho se
lhes revolta à ideia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os
faria descer do pedestal onde se contemplam. Daí o só terem sorrisos de mofa
para tudo o que não pertence ao mundo visível e tangível. Eles se atribuem
espírito e saber em tão grande cópia, que não podem crer em coisas, segundo
pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de espírito os que as tomam a sério.
Entretanto, digam o que disserem, forçoso lhes será entrar,
como os outros, nesse mundo invisível de que escarnecem. É lá que os olhos se
lhes abrirão e eles reconhecerão o erro em que caíram. Deus, porém, que é
justo, não pode receber da mesma forma aquele que lhe desconheceu a majestade e
outro que humildemente se lhe submeteu às leis, nem os aquinhoar em partes
iguais.
Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus
significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de
espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao
sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe
a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre
os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito natural; a de
ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta
contra ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre de espírito, conforme o entende o
mundo, e rico em qualidades morais.
COMENTÁRIO:
No Sermão da Montanha, Jesus afirmou: Bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Ainda hoje muito se fala sobre tal ensinamento, eis que
grande interesse desperta em todos os que tomaram conhecimento dos ensinos do
Mestre. No entanto, tal ensino, como tantos outros, resta ainda incompreendido
pelos homens.
O que, afinal, o Cristo pretendia proclamar? O Rabi
proclama que Deus quer os homens ricos de amor e pobres de orgulho. Os homens
ricos são aqueles que acumulam os tesouros que não se confundem com as riquezas
da Terra. Seus bens não são jamais corroídos pelas traças, tampouco podem ser
subtraídos pelos ladrões.
Os pobres de espírito são os que não têm orgulho. São os
humildes, que não se envaidecem pelo que sabem, e que nunca exibem o que têm. A
modéstia é o seu distintivo, porque os verdadeiros sábios são aqueles que têm
ideia do quanto não sabem. Por isso, a humildade é considerada requisito
indispensável para abraçar-se o reino dos céus. Sem a humildade nenhuma virtude
se mantém. A humildade é o propulsor de todas as grandes ações, em todas as
esferas de atuação do homem. Os humildes são simples ao falar; são sinceros e
francos no agir; não fazem ostentação de saber, nem de santidade. A humildade
tolerante em sua singeleza compadece-se dos que pretendem afrontá-la com o seu
orgulho. Cala-se diante de palavras loucas; suporta a injustiça; vibra com a
verdade. A humildade respeita o homem não pelos seus haveres, mas por suas
reais virtudes.
A pobreza de paixões e de vícios é a que deve amparar o
viajor que busca sinceramente a perfeição. Foi esta a pobreza que Jesus
proclamou; a pobreza de sentimentos baixos, representada pelo desapego às
glórias efêmeras, ao egoísmo e ao orgulho.
Há muitos pobres de bens terrenos que se julgam dignos do
reino dos céus, mas que, no entanto, têm a alma endurecida e orgulhosa.
Repudiam a Jesus e se fecham nos redutos de uma fé que obscurece seus
entendimentos e os afasta da verdade.
Não é a ignorância nem tampouco a miséria que garantem aos
seres a felicidade prometida pelo Mestre. O que nos encaminha para tal destino
são os atos nobres, embasados na caridade e no amor incondicional.
Precisamos, também, adquirir conhecimentos que nos permitam
alargar o plano de vida, em busca de horizontes mais vastos.
Pobres de espírito são os simples e nobres. Não os
orgulhosos. Pobres de espírito são os bons, que sabem amar a Deus e ao próximo,
tanto quanto amam a si próprios. São aqueles que observam e vivem as leis de
Deus. Estudam com humildade. Reconhecem o quanto ainda não sabem. Imploram a
Deus o amparo indispensável às suas almas.
Era a respeito desses homens que o Mestre Nazareno, em Suas
Bem-aventuranças, estava se referindo.
Muitos são os que confundem humildade com servilismo. Ser
humilde não significa aceitar desmandos e compactuar com equívocos. Ser humilde
é reconhecer as próprias limitações, buscando vencê-las, sem alarde, nem
fantasias. É buscar, incansavelmente, a verdade e o progresso pessoal, nas
trilhas dos exemplos nobres e dignos.
Somos todos iguais aos olhos de Deus. Nossos Espíritos são
da mesma essência; nossos corpos são da mesma massa; o que nos distingue? O que
nos faz ser diferentes? As virtudes. E a maior delas é a humildade.
Comecemos hoje nossa caminhada rumo à humildade. Vamos dar
o primeiro passo. O importante é começar.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VI – O CRISTO CONSOLADOR
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
Advento do Espírito de Verdade
ITEM 5 – Venho,
como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar
as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra,
tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade; o Deus
bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei
a doutrina divina. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da
Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis”.
Mas,
ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de
meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer
aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos,
isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente,
e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que
já não vivem na Terra, a clamar; Orai e crede! Pois que a morte é a
ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que
houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens
fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o
facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e
reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me
por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza
imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que
vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisa que
vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as
verdades.
Espíritas!
Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No
Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que
nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos
clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os
vencedores da impiedade. (O Espírito de Verdade)
O
Espírito de Verdade é um dos assuntos mais discutidos e que provoca bastante
polêmica entre os espíritas, por se tratar de alguém tão importante para nós
espíritas e que é o grande responsável pela doutrina que professamos. Assim
sendo, dou a minha contribuição, na condição de ser apenas um estudioso.
Muitos
sustentam a opinião de que se trata de uma falange de Espíritos que reunidos
firmaram os conceitos da Codificação, no que discordo, pois, temos a certeza
pelo que encontramos noticiado nas obras kardequianas, que é o próprio Jesus
quem usa de tal denominação para se exprimir em diversas mensagens contidas nas
obras básicas do Espiritismo.
Podemos
verificar que o Espírito de Verdade se manifesta isoladamente em várias
comunicações contidas nesse Evangelho. Observando atentamente o contido em O
Livro dos Espíritos, exatamente no último parágrafo dos Prolegômenos, não temos
qualquer dúvida quanto ao que afirmamos, pois entre as diversas personalidades
do mundo maior, citadas como participantes ativos da obra, está alguém que se
denomina simplesmente como o Espírito de Verdade, conforme segue:
“Lembra-te de que os Bons Espíritos só dispensam
assistência aos que servem a Deus com humildade e desinteresse e que repudiam a
todo aquele que busca na senda do Céu um degrau para conquistar as coisas da
Terra; que se afastam do orgulhoso e do ambicioso. O orgulho e a ambição serão
sempre uma barreira erguida entre o homem e Deus. São um véu lançado sobre as
claridades celestes, e Deus não pode servir-se do cego para fazer perceptível a
luz.”
São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de
Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin,
Swedenborg, etc., etc.
Analisando
o que acima está exposto, perguntamos: quem seria capaz de se proclamar O
Espírito de Verdade, senão ele que nos asseverou em (João 14/6), “eu sou o
caminho a verdade e a vida, ninguém vai ao pai senão por mim”?
Passamos
agora ao contido na Revista espírita, que aqui seleciono:
Revista
Espírita 1866, pág. 222, sob o título; Qualificação de Santo aplicada a certos
espíritos, ensina:
“O
Espírito que ditou a comunicação acima é, pois, muito absoluto no que concerne
a qualificação de santo, e não está na verdade dizendo que os Espíritos
superiores se dizem simplesmente Espíritos de Verdade, qualificação que não
seria senão um orgulho mascarado sob outro nome, e que poderia induzir em erro
se tomado ao pé da letra, porque ninguém pode se gabar de possuir a verdade
absoluta, não mais do que a santidade absoluta. A qualificação de Espírito de
verdade, não pertence senão a um e pode ser considerada como nome próprio; ela
é especificada no evangelho. De resto, esse Espírito se comunica raramente, e
somente em circunstâncias especiais; deve-se manter em guarda contra aqueles
que se apoderam indevidamente desse título: são fáceis de se reconhecer, pela
prolixidade e pela vulgaridade de sua linguagem”.
Não
restando, portanto, a nós mais dúvida quanto a não ser uma coletividade, uma
vez que as explicações dadas acima, pelo Codificador, nos apontam para identificá-lo
como sendo mesmo uma individualidade. Inclusive, da judiciosa recomendação de
que “deve-se manter em guarda contra aqueles que se apoderam indevidamente
desse título”, podemos perceber que se trata de um Espírito de elevada
hierarquia que, embora não se manifestasse de forma rotineira, dele já se tinha
uma ideia do estilo de linguagem, que estava bem longe da prolixidade e da
vulgaridade.
Assim,
o Espírito de Verdade se apresentou a Kardec e, por motivo de discrição, não
disse absolutamente nada sobre si mesmo. Aliás, “muita discrição” foi a atitude
que Ele recomendou ao Codificador (Obras Póstumas, 2006, p. 313).
Diante
disso, para nós, fica bem claro que Kardec ficou sabendo quem realmente era o
Espírito de Verdade, visto ele confessar que estava longe de supor a sua
superioridade, o que nos leva a concluir que deveria ser alguém de
extraordinário valor, pois, se não fosse um Espírito de elevada categoria,
teria dito o seu nome sem maiores reservas. Por outro lado, foi um Espírito que
esteve encarnado entre nós, ou seja, que foi reconhecido; caso contrário não se
poderia supor a sua elevada evolução. Além disso, o coloca à frente, na linha
de comando, dos bons Espíritos, envolvidos nessa nova proposta de renovação da
humanidade, ao afirmar que eles agiam sob suas ordens.
Não
vemos nenhuma impossibilidade de Jesus ter assistido a Kardec, pois algo
parecido, como sabemos, aconteceu a Paulo, conforme relatado no Novo
Testamento, no qual Jesus aparece ao apóstolo dos gentios, quando ele se dirigia
a Damasco (At 9,3-5) e até mesmo o instrui a não ir a Bitínia (At 16,6-7).
Aliás, é algo que todos nos aceitamos sem questionar, então, por que o fazemos
em relação à Kardec?
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VI – O CRISTO CONSOLADOR
Consolador
prometido
O Evangelho de João registra da seguinte forma a promessa
de Jesus relativa ao Consolador:
ITEM 3 – Se me amais,
guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro
Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que
o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas,
quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o
Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.
ITEM 4 – Jesus promete
outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não
estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar
todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o
Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o
Cristo não disse tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que
este disse foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa
do Cristo; preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina
todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas.
Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O Espiritismo vem
abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta
o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer
a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem,
atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, pois que
serão consolados”. Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não
sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas
existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu
passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares
que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas
existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o
sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar,
como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe
dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma.
Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importância das vicissitudes terrenas
some-se no vasto e esplêndido horizonte que ele o faz descortinar, e a
perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a
coragem de ir até ao termo do caminho.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do
Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde
vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros
princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.
Verifica-se
por essas palavras que o Consolador prometido por Jesus, também chamado de
Santo Espírito e de Espírito de Verdade, seria enviado à Terra com a missão de
consolar, lembrar o que ele dissera e ensinar todas as coisas.
Se o Cristo não disse tudo que teria
podido dizer, é que acreditava dever deixar certas verdades na sombra até que
os homens estivessem prontos para compreender. Conforme sua declaração, seus
ensinamentos estavam incompletos, já que anunciava a vinda daquele que os
deveria completar; previa então que se enganariam sobre suas palavras, que se
desviariam de seus ensinamentos; em uma palavra, que desfariam aquilo que tinha
feito, já que todas as coisas deveriam ser restabelecidas; ora só se
restabelece aquilo que foi desfeito.
Se o Cristo não pode desenvolver seu
ensinamento de uma maneira completa, é que faltava aos homens conhecimentos que
não poderiam adquirir senão com o tempo, e sem os quais não o poderiam
compreender; coisas que poderiam parecer um contrassenso no estado de
conhecimento de então. Completar seu ensinamento devia então ser entendido no
sentido de explicar e desenvolver, bem mais do que de acrescentar verdades
novas, porque tudo se encontrava em germe; somente faltava a chave para
apreender o sentido de suas palavras.
O
Consolador, como Espírito de Verdade, teria, pois, de dar ao homem o
conhecimento de sua origem, da necessidade de sua estada na Terra e do seu
destino, espalhando por todo o lado a consolação que advém da fé e da
esperança. Seu compromisso com a verdade (o ensino de todas as coisas) o eleva
à condição de uma nova Revelação (a terceira) da lei de Deus aos homens. Ora, o
Espiritismo, procedendo de Espíritos sábios e bondosos, num verdadeiro
derramamento da mediunidade na carne, preenche integralmente essas condições,
visto que: procura lembrar-nos o que Jesus ensinou; ensina-nos muitas coisas
que o Evangelho não pôde explicar adequadamente; consola e conforta os que sofrem ao
mostrar-lhes a causa e a finalidade dos sofrimentos humanos.
A
revelação cristã sucedeu à revelação mosaica; a revelação dos Espíritos veio
completá-la. O Espiritismo é, pois, segundo os próprios Espíritos superiores, o
Consolador prometido pelo Cristo. Várias foram as razões que justificaram a
promessa do Cristo, relativamente ao advento do Espírito de Verdade. Uma delas
seria a inoportunidade de uma revelação total e completa pelo Cristo, numa
época em que o homem não estaria amadurecido para compreendê-la. Outra razão
seria o esquecimento e a falta de vivência das verdades apregoadas no
Evangelho. E mais do que isto, destacam-se como forte razão as distorções
premeditadas que a mensagem evangélica sofreu ao longo dos tempos. Kardec
afirma, em "A Gênese", terem sido dois mil anos de fermentação e de
criminosas deformações da mensagem cristã. A relação entre o Espiritismo e o
Consolador prometido está no fato de a Doutrina Espírita preencher todas as
condições inerentes ao Paráclito anunciado por Jesus. Como assinala Kardec, o
Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos de toda gente, pois fala sem
figuras, nem alegorias, e levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos
mistérios, trazendo a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os
que sofrem. Se, de um lado, o Espírito de Verdade se apresentava aos homens, à
frente de elevadas Entidades espirituais, que voltaram à Terra para completar a
obra do Cristo, de outro Kardec se punha a postos, à frente de criaturas
espiritualizadas, dispostas a colaborar na imensa tarefa. Cumpria-se, assim,
uma promessa do Cristo, por meio de todo um imenso processo de amadurecimento
espiritual do homem. Kardec foi, portanto, o instrumento de que se serviu o
Alto para completar a mensagem do Cristo, como ele mesmo havia prometido, por
intermédio de uma Doutrina altamente consoladora e intimamente ligada ao ensino
moral contido no Evangelho de Jesus, que permanecerá para sempre conosco.
Questões
para reflexão:
O
Consolador prometido por Jesus deveria apresentar algumas características
especiais. Quais são elas?
R.:
Além, evidentemente, da tarefa de consolar, ele deveria lembrar o que Jesus
havia ensinado e, ultrapassando o próprio ensino do Cristo, ensinar ao homem
todas as coisas.
Por
que motivo o Espiritismo se apresenta como o Consolador prometido por Jesus?
R.: A
revelação cristã sucedeu à revelação mosaica, e a revelação dos Espíritos veio
completá-la. O Espiritismo é, segundo afirmam os próprios Espíritos superiores,
o Consolador prometido pelo Cristo. E ele, de fato, preenche integralmente as condições
mencionadas na promessa do Cristo, visto que:
1o -
procura lembrar-nos o que Jesus ensinou;
2o -
ensina-nos muitas coisas que o Evangelho não pôde explicar adequadamente;
3o -
consola e conforta os que sofrem ao mostrar-lhes a causa e a finalidade dos
sofrimentos humanos.
Que
razões justificariam a promessa do Cristo, relativamente ao advento do Espírito
de Verdade?
R.:
Várias foram as razões que justificaram a promessa do Cristo, relativamente ao
advento do Espírito de Verdade. Uma delas seria a inoportunidade de uma
revelação total e completa pelo Cristo, numa época em que o homem não estaria
amadurecido para compreendê-la. Outra razão seria o esquecimento e a falta de
vivência das verdades apregoadas no Evangelho. E mais do que isto, destacam-se
como forte razão as distorções premeditadas que a mensagem evangélica sofreu ao
longo dos tempos.
O
Espiritismo preenche todas as condições inerentes ao Consolador prometido por
Jesus?
R.:
Sim. Inexiste dúvida quanto a isso. Como assinala Kardec, o Espiritismo veio
abrir os olhos e os ouvidos de toda gente, pois fala sem figuras, nem
alegorias, e levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios,
trazendo a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem e
cumprindo, desse modo, todas as condições citadas por Jesus em sua promessa.
O ESPIRITISMO. Em sua passagem pela
Terra, Jesus deixou uma noção muito vaga sobre a vida após a morte. O
Espiritismo desenvolve e aprofunda essa questão, tentando mostrar-nos como
seria a vida futura, o mundo espiritual, explicando os mistérios do nascimento
e da morte, afastando as ideias dogmáticas de céu e inferno ou de anjos e
demônios. Busca demonstrar a existência do espírito, seus diversos graus de
adiantamento e os laços que o unem ao corpo, a possibilidade da comunicação
entre os mortos e os vivos e a necessidade das vidas sucessivas para se atingir
progresso.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO VI – O CRISTO CONSOLADOR
O Jugo leve
ITEM 1 - "Vinde a mim,
todos os que andais em sofrimentos e vos achais carregados, eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e
o meu fardo é leve." ( Mateus XI: 28 a 30)
ITEM 2 - Todos os
sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados,
encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na justiça de Deus, que
o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, ao contrário, nada espera
após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu
peso e nenhuma esperança lhe mitiga o amargor. Foi isso que levou Jesus a
dizer: “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei”.
Entretanto, faz depender de uma condição a sua
assistência e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei
por ele ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; mas, esse jugo é leve e a
lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.
Nessa passagem do Evangelho,
Kardec nos fala que são muitos os sofrimentos que nós experimentamos aqui na
Terra. Mas, para todos eles existe uma consolação, existe um alívio. Se nós
prestarmos atenção, em todos esses momentos difíceis nós encontramos um alívio.
Vinde a mim, todos vós
que estais em sofrimentos e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Nós
temos confundido muito os ensinamentos de Jesus, como nessa passagem. Nós vemos
que o Mestre nos promete alívio e não cura, nem nos prometeu afastar de nossas
vidas os sofrimentos dos quais precisamos, e esse alívio deve ser entendido por
força, por coragem, para que possamos continuar o nosso caminho. Quando Jesus
fez esse convite, Ele não se dirigiu somente às pessoas que estavam ali, à sua
volta. O Mestre o fez para toda a Humanidade, presente e futura, porque sabia
perfeitamente que o sofrimento e a dor faziam parte, como continuam a fazer
parte do grau de evolução que ainda nos encontramos.
Mas,
o que significa isso? Raciocinando sobre esta frase, podemos fazer
algumas indagações, tais como: Por que Jesus se dirige aos que estão em
sofrimento? De que forma Ele os aliviará? O que significa tomar o Seu jugo?
Como esse jugo pode ser suave e o fardo leve? Como um fardo como o de Jesus
pode ser leve? Como compreender Suas palavras, se nós vemos e experimentamos
tantos sofrimentos neste mundo?
Dirigindo-se aos que
estão em sofrimento, o Cristo está se dirigindo a toda a Humanidade, pois todos
passam por momentos de dor e vicissitudes. Jesus sabia (e sabe) que nos
momentos difíceis é que Suas palavras podem ser melhor compreendidas e aceitas,
visto que, nos momentos agradáveis e fáceis, o ser humano, ainda muito
vinculado aos valores terrenos, não sente a necessidade de ser confortado, ou
mesmo esclarecido sobre as leis espirituais; dirigindo-Se, pois, aos que andam
em sofrimento, Jesus está apenas escolhendo a melhor ocasião de ser entendido e
atendido. O alívio que o Mestre pode dar é o que vem da compreensão, da
aceitação e do esforço da prática das leis de Deus. O convite é tentador, pois
o meigo Rabi da Galiléia promete alívio para as dores humanas.
O que podemos entender
sobre esse capítulo do Evangelho? Será que podemos afirmar que o tema tem por
objetivo esclarecer sobre o papel da doutrina Cristã em relação à consolação
dos nossos sofrimentos? Seria um alerta sobre a necessidade da dor e da procura
da solução para erradicá-la da nossa existência? Jesus nos convida para irmos
até Ele, pois seremos aliviados, não é? Então, o que seria ir até Jesus? Basta
ir fisicamente ao Centro Espírita ou a um templo religioso? O que mais seria
preciso? A presença é importante porque faz parte do processo de ensino e de
nossa saúde espiritual, mas é preciso estar lá também em espírito, em
sentimento, em pensamento, em vontade, porque é isso que nos auxiliará a
obtermos não só os esclarecimentos que aumentam nossa capacidade de compreensão
e conscientização, mas também os remédios para as nossas dores, aflições,
sofrimentos, para receber o alívio que Jesus prometeu.
Hoje, graças à Doutrina
Espírita, nós sabemos que o sofrimento é uma necessidade nossa, e através dele
ganhamos experiência, aprendemos, ressarcimos dívidas do passado. Daí, a
importância de nos momentos difíceis nós estarmos unidos a Deus, porque sofrer
com Deus e sofrer sem Deus tem uma diferença muito grande.
Questões para estudo:
Por que Jesus promete o
alívio e não a cura de nossos males?
Porque, sendo os nossos
males consequências de maus procedimentos no passado, a cura compete,
exclusivamente, a nós. Porém, através do Seu Evangelho, Jesus nos oferece os
meios necessários para superar esses sofrimentos.
Quando buscamos em
Jesus e no seu evangelho, alívio para os nossos sofrimentos, ele nos conforta.
Como podemos conseguir
a libertação dos nossos sofrimentos?
Através da reforma
íntima, modificando nossas atitudes e pensamentos, vivenciando as diretrizes do
evangelho. O que disso não for possível fazer nesta vida, Deus nos propicia a
reencarnação como recurso para continuar buscando.
Compete a cada um de
nós, por intermédio do livre arbítrio, direcionar nossas ações para o bem,
edificando, assim, a nossa libertação.
Que quis Jesus dizer
com a expressão: Meu jugo é suave e leve é o meu fardo?
O jugo de Jesus é a
observância do seu evangelho. Seu fardo é leve, pois consiste em praticar o
amor e a caridade.
Esse jugo é leve e a
lei é suave, pois que apenas impõe, como dever o amor e a caridade.
Conclusão do Estudo:
Jesus promete alívio
aos aflitos, desde que se submetam ao seu jugo. Esse jugo é a observância da
lei por Ele ensinada, que, se bem cumprida, propicia alívio dos sofrimentos,
através da fé no futuro e da confiança na justiça de Deus.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Sacrifício da
própria vida
Kardec pergunta ao Espírito São Luís:
ITEM 29 – Aquele que se acha desgostoso da vida, mas
que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a
morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?
E São Luís
responde:
Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate,
seu propósito é sempre cortar o fio da existência; há, por conseguinte,
suicídio intencional, se não de fato. É ilusória a ideia de que sua morte
servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e
escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu
país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que,
morto, de nada mais lhe serviria. O devotamento consiste em não temer a morte,
quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem
pesar, o sacrifício da vida, se for necessário. Mas, mas buscar a morte com
premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço,
anula o mérito da ação.
ITEM 30 – Se um
homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus
semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado
suicídio?
O Espírito comunicante responde:
Desde que no ato
não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas,
devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrerá. Mas, quem
pode ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um
inesperado meio de salvação para o momento mais crítico? Não poderia ela salvar
mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão? Pode muitas vezes
dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso,
uma circunstância inopinada desvia o golpe fatal.
Proveito dos
sofrimentos para outrem
ITEM 31 – Os que aceitam resignados os sofrimentos,
por submissão à vontade de Deus e tendo em vista a felicidade futura, não
trabalham somente em seu próprio benefício? Poderão tornar seus sofrimentos
privilégios a outrem?
São Luís
responde:
Podem esses sofrimentos ser de proveito para outrem,
material e moralmente; materialmente se, pelo trabalho, pelas privações e pelos
sacrifícios que tais criaturas se imponham, contribuem para o bem-estar
material de seus semelhantes; moralmente, pelo exemplo que elas oferecem de sua
submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode induzir
os desgraçados à resignação e salvá-los do desespero e de suas consequências
funestas para o futuro.
Sendo
o homem um Espírito encarnado, fazendo sua evolução, através das experiências
vividas na Terra, é a intenção dos seus atos que demonstra o que ele realmente
é, o que sente, o que pensa, o que quer e o que faz. No funcionamento das leis divinas, em relação ao espírito
imortal, a intenção é o que realmente conta. Quer o homem se mate ou se faça
matar, o objetivo é sempre o de abreviar a vida e, por conseguinte, há suicídio
de intenção, embora, não haja de fato.
O
que caracteriza o ato de suicídio é a intenção premeditada de abreviar a
própria existência, seja ela qual for. O suicídio é um ato extremo do
individuo, que atenta contra todos os princípios éticos, morais e religiosos.
Todas as religiões, sem exceção, são contrárias ao suicídio e valorizam o dom
divino da vida. Abreviar a própria vida denota
verdadeira pobreza espiritual, medo de enfrentar as agruras que a vida nos
impõe, como forma de crescermos como pessoa e espiritualmente.
A própria justiça
humana, tão imperfeita, porque é feita por homens imperfeitos, traz, nos seus
códigos, a diferenciação entre o crime culposo, sem medir as consequências, sem
a intenção de fazê-lo e o crime doloso, quando está presente no ato a intenção
de realizá-lo.
O que caracteriza o ato
de suicídio é a intenção premeditada de abreviar a própria existência, seja ela
qual for. O suicídio é um ato extremo do individuo, que atenta contra todos os
princípios éticos, morais e religiosos. Todas as religiões, sem exceção, são
contrárias ao suicídio e valorizam o dom divino da vida.
Quando os enganos
acontecem e, ao invés de ajudar, determinada ação prejudica, o homem tem responsabilidade
relativa nas suas consequências. Sentirá, dentro de si, a necessidade de
reparar os efeitos, mas não será considerado culpado pela lei ou por ele, visto
que a intenção sua era auxiliar.
CONCLUSÃO
A vida é obra eterna de
nosso Pai, que nos compete respeitar e preservar, agindo segundo suas leis,
sabiamente insculpidas por Ele em nossa consciência. O sacrifício da própria
vida pode ser válido, para Deus, quando praticado exclusivamente em benefício
do próximo. Nossos sofrimentos podem ser proveitosos para outrem, material ou
moralmente, desde que suportados por nós com resignação e submissão à vontade
de Deus.
Existem diversas formas
para abreviarmos nossa própria existência, como o suicídio direto e o indireto,
por assim dizer.
No conhecer-se a si
próprio, através do voltar-se para dentro de si, analisando o que sente em
relação à vida, a si próprio, aos outros, libertando-se do verniz da educação
social, das astúcias do orgulho e do egoísmo, que disfarçam as más intenções,
vai o homem percebendo suas reais intenções em tudo que faz.
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO
1 - Existe, perante
Deus, alguma diferença entre o homem se matar e fazer com que outrem o mate?
Não há diferença
alguma, porquanto, perante Deus, o que vale é a intenção. E, uma vez que, em
qualquer dos casos citados, o propósito da criatura é o mesmo - suicidar-se -,
ambos têm a mesma reprovação de Deus.
A vida nos foi
concedida por Deus, a quem, unicamente, compete tirá-la.
2 - Haverá caso em que
o homem tenha mérito, expondo-se a perigo de morte?
Sem desconsiderar a
prudência e o dever que cada ser humano tem de preservar a vida, poderá haver
casos em que alguém tenha mérito por haver se exposto à morte; quando esta lhe
advenha de atitude voltada unicamente em benefício da vida do próximo, sem
nenhuma intenção premeditada de morrer, mínima que seja.
O verdadeiro
devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em
afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se
for necessário.
3 - De que forma podem
nossos sofrimentos ser proveitosos para outrem?
Podem esses sofrimentos
ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente se, pelo
trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se imponham,
contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente, pelo
exemplo que elas oferecem de sua submissão à vontade de Deus.
Muitas pessoas se
preocupam moral e materialmente, apenas se valendo do exemplo de outras que, em
circunstâncias parecidas, se reergueram e venceram os obstáculos.
Na questão 951, de O
Livro dos Espíritos, Allan Kardec perguntou: “Não é, às vezes, meritório o
sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser
útil aos seus semelhantes?” A resposta foi: Isso é sublime, conforme a
intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas,
Deus se opõe a todo sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado, se tem o
orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não
raro, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos
de Deus.” De seguida, Allan Kardec complementou a resposta com um comentário
seu: “Todo o sacrifício que o homem faça à custa da sua própria felicidade é um
ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque resulta da prática da lei
de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que maior apreço dá o homem, não
comete atentado o que a ela renuncia pelo bem de seus semelhantes: cumpre um
sacrifício. Mas, antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será
mais útil do que sua morte.”
4 - Por que é censurável
o homem buscar a morte num campo de batalha, quando o faz imbuído da vontade de
servir ao seu país?
Conforme já se viu na
questão anterior, a Deus vale a intenção. Aqui também, o que prevalece é o
propósito de se extinguir a própria vida. Se a vontade maior da criatura é de
servir a seu país, há outras tantas formas de fazê-lo sem ter que expor a vida.
5 - Haverá caso em que
o homem tenha mérito, mesmo expondo-se a perigo de morte?
Sem considerar a
prudência e o dever que cada ser humano tem de preservar a vida, poderá haver
casos em que alguém tenha mérito por haver se exposto à morte; quando esta lhe
advém da atitude voltada unicamente em benefício da vida do próximo, sem
nenhuma intenção premeditada de morrer, mínima que seja.
6 - Por que, muitas
vezes, somos colocados em situações que nos forçam a agir, inclusive, com a
possibilidade de por em risco a nossa própria vida?
Essas situações são
colocadas à frente pela providência divina, a fim de por em prova o nosso
devotamento e abnegação em relação ao próximo.
7 - Sob qual razão pode
ser válido o homem buscar salvar a vida do semelhante, mesmo sabendo que pode
sucumbir?
Uma vez que
desconhecemos os desígnios de Deus, nunca podemos afirmar que um acontecimento
qualquer possa ser fatal para alguém. Portanto, em toda e qualquer
circunstância, a nossa boa vontade de servir ao próximo deve estar à frente,
visto ser isso o que importa ao Pai.
“Jesus, ao escrever a
Lei de Amor, não acrescentou condição alguma para sua prática.”
8 - Todo sofrimento se
reverte em benefício de outrem?
Não. O sofrimento, para
ser proveitoso tanto para aquele que lhe padece os efeitos como para os outros,
tem que ser resignado e submisso às leis divinas, além de ser apoiado na
confiança em Deus e na vida futura.
9 - De que forma podem
nossos sofrimentos serem proveitosos para outrem?
“Podem esses
sofrimentos ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente
se, pelo trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se
imponham, contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente,
pelo exemplo que elas oferecem de submissão à vontade de Deus.”
“Muitas pessoas se
recuperam moral e materialmente apenas valendo-se do exemplo de outras que, em
circunstâncias parecidas, se reergueram e venceram os obstáculos.”
(Do livro “Roteiro
Sistematizado Para o Estudo do Livro O Evangelho Segundo O Espiritismo” -
Fundação Allan Kardec)
ROTEIRO
a) O desgosto pela vida
que atinge alguns indivíduos sem-motivos plausíveis, geralmente, é causada pelo
efeito da ociosidade, da falta de fé e também pelos costumes da sociedade.
b) O homem não tem
direito de dispor da sua vida, porque ela lhe foi concedida visando aos deveres
que tem que cumprir na Terra como encarnado, por isso não deve abrevia-la
voluntariamente sob pretexto algum. Visto possuir o livre arbítrio, poderá
praticar o suicídio, mas terá sempre que arcar com as consequências penosas que
esse ato geralmente acarreta, porque esse ato é considerado uma transgressão a
lei natural ou de Deus.
c) Fugir das misérias e
decepções do mundo significa falta de coragem. As tribulações da vida podem ser
provas ou expiações ou as duas juntas. Um Espírito que sucumbiu muitas vezes à
uma provação, esta será renovada a cada existência até quando for preciso.
Assim, podemos dizer, que não existe proveito no sofrimento enquanto não
atingirmos o objetivo ou enquanto deixarmos de atingir a finalidade da
encarnação em que nos encontramos, sendo preciso recomeçá-la até que saiamos
vitoriosos dessa campanha.
d) Aqueles (encarnados
ou desencarnados) que induzirem alguém ao suicídio responderão por assassinato.
Levar alguém a praticar o suicídio e subtrair-lhe às provações da vida.
e) Mesmo que o suicídio
tenha por finalidade escapar de alguma vergonha ou de uma má ação, ainda assim,
é um ato de covardia, de lutar para melhorar ou procurar reverter a situação.
f) O suicídio não
consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo
quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais.
g) A justiça Divina
preside a distribuição as expiações da vida segundo o grau de responsabilidade
e a capacidade evolutiva de cada um.
h) Comete suicídio
moral o homem que perece vítima de paixões que sabia lhe haviam de apressar o
fim e que já não podia resistir. É, nesse caso, duplamente culpado, pois há
nele falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus e de
fazer o bem. Nesse caso, será muito mais responsabilizado do que aquele que
tira a si mesmo a vida por desespero, pois este teve tempo de refletir sobre as
suas ações.
i) É sempre um erro,
uma falha, aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a
existência, ainda que a morte fosse inevitável e que tenha abreviado a vida
apenas por alguns instantes.
j) Quando não há
intenção ou a consciência perfeita da prática do mal, como no caso de uma
imprudência que pode comprometer a vida, neste caso não houve a intenção de se
tirar a vida, também, não pode ser considerado um suicídio.
k) Não se pode
considerar suicídio a abnegação daquele que se expõe à morte para salvar o seu
semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e,
segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair,
quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício
meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. V, itens n os 5, 6, 18 e 19.)
l) Não há uma só falta,
por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não tenha
consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se
segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre
responsabilizado naquilo em que praticou. Os sofrimentos consequentes, salvo os
das provas naturais, são então uma advertência de que não praticou o bem.
m) Os que se matam
obedecendo a um costume preconceituoso de um povo é levado mais pela força da
tradição, do que pela vontade própria, julgam cumprir um dever, o que
descaracteriza o suicídio. Por exemplo: As mulheres que em certos países se
queimam voluntariamente sobre os corpos de seus maridos obedecendo a um costume
geral. Esses atos pela falta de moral e da ignorância daqueles que o praticam,
não devem ser caracterizados por suicídio. A evolução das civilizações fará
desaparecer naturalmente esses costumes.
n) Aqueles que se matam
na esperança de ir juntar-se às pessoas que lhes eram queridas e não se
conformam com a perda delas, cometendo o suicídio, ao invés de se aproximarem e
reunirem-se a elas se afastarão por mais tempo. Um ato de covardia não pode
agradar a Deus, por isso, as compensações e as satisfações que esperavam não
aconteceu, ao contrário, surgiram-lhe à frente maiores aflições.
o) As consequências do
suicídio para o espírito são diversas, não havendo penas determinadas. Há, porém, uma a que o suicida não pode
escapar: o desapontamento. Mas as
consequências depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta de imediato;
outros, em nova existência, que será mais dificultosa do que aquela cujo curso
interromperam.
p) O homem não é,
portanto, punido sempre, ou completamente punido, na sua existência presente,
mas jamais escapa às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é
apenas momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã, pois aquele que
sofre está sendo submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que, à
primeira vista, parece imerecida, tem, portanto, a sua razão de ser, e aquele
que sofre pode sempre dizer:
Perdoai-me, Senhor,
porque eu pequei".
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Será lícito
abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?
Kardec pergunta ao Espírito São Luís:
ITEM 28 – Um homem está agonizante, presa de cruéis
sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe
alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?
Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus?
Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, a fim
de fazê-lo voltar a si e alimentar ideias diversas das quais tinha? Ainda que
haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança
que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em
suas previsões?
Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar
desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso
definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros
exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se
e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça,
que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as
reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos
tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.
O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta
tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe
o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai
os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a
vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no
futuro.
A pergunta que faz então, em momentos como esses: Será
permitido ao homem destruir o que não pode criar? São Luís dá uma resposta
contundente:
Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus?
A vida nos foi outorgada por Ele, a quem, exclusivamente, compete tirá-la,
quando lhe aprouver. Não nos é lícito abreviar a vida de quem quer que seja,
sob qualquer pretexto. Uma reflexão: na última fração de segundo de vida que
resta ao moribundo, pode evitar-lhe séculos de sofrimento, após a morte. Por
isto, em caso algum, o homem deve cometer a eutanásia, pois a agonia prolongada
pode ter a finalidade preciosa para a alma, e a moléstia incurável pode ser um
bem. É como se fosse uma única válvula de escoamento de imperfeições do
Espírito a caminho de sua evolução. Não se pode decidir sobre as necessidades do
Espírito. Vamos dar o direito para que cada indivíduo cumpra toda sua passagem
por esta existência, conseguindo a sua evolução espiritual necessária em busca
da felicidade. Vamos respeitar o próximo como a nós mesmos.
A pergunta do Espírito comunicante é atualíssima, visto que,
sendo um tema de frequente discussão, por uns defendida, por outros condenada,
a eutanásia, ou “sistema que procura dar morte sem sofrimento a um doente
incurável”, o enganoso significado da palavra eutanásia, retorna aos debates acadêmicos,
face a sua aplicação sistemática por eminentes autoridades médicas, em doentes
sem esperança científica de sobrevivência. Prática nefanda que testemunha a
predominância do conceito materialista sobre a vida, que apenas vê a matéria e
suas implicações imediatas, em detrimento das realizações espirituais.
Para o materialista, que vê na morte do corpo físico o fim
da vida do ser, a eutanásia pode até ser considerada uma ato de piedade. Mas,
para o espiritualista em geral, em particular o espírita, ninguém, nem mesmo a
pessoa enferma tem o direito de eliminar a vida, visto que esta é uma dádiva de
Deus e só Ele pode tirá-la.
A eutanásia, ao invés
de abreviar os sofrimentos do agonizante, aumenta-os, porque o corpo
perispiritual, que acompanha sempre o Espírito, é expulso ainda com fluido
vital, causando perturbações ao mesmo, que retorna de forma abrupta.
Mesmo quando o
desenlace parece inevitável, ainda assim, quantas e quantas vezes o moribundo
tem momentos de lucidez, podendo preparar-se melhor para a partida, num
arrependimento de faltas, numa aceitação da vontade de Deus, numa entrega a
essa vontade, facilitando, em muito, a inevitável partida, não só pela sua
disposição interna como por atrair, através dos novos sentimentos e
pensamentos, seus Protetores Espirituais, que então podem auxiliá-lo, com mais
facilidade.
No que tange aos
enfermos ditos irrecuperáveis, convém considerar que doenças, ontem detestáveis
quanto incuráveis, são hoje capítulo superado pelo triunfo de homens-sacerdotes
da Ciência Médica, que a enobrecem pelo contributo que suas vidas oferecem a beneficio
da Humanidade. Sempre há, pois, possibilidade de amanhã conseguir-se a vitória
sobre a enfermidade irreversível de hoje. Diariamente, para esse desiderato,
mergulham na carne Espíritos Missionários que se aprestam a apressar e
impulsionar o progresso, realizando descobrimentos e pesquisas superiores para
a vida, fonte poderosa de esperança e conforto para os que sofrem, em nome do
Supremo Pai.
Enquanto o homem
ignorar o ser espiritual, independente da matéria e o plano espiritual, com
suas leis próprias, vai agir sempre com a mentalidade estreita que a concepção
da vida do nascimento à morte lhe proporciona.
O espiritismo,
demonstrando que o homem é um Espírito eterno, encarnado na Terra para fazer
sua evolução em direção à perfeição e à felicidade; que a morte elimina apenas
a vida do corpo físico; que o Espírito continua vivo, no plano espiritual, onde
estuda, trabalha, aprende com novas experiências, mantendo sua individualidade;
que retorna à vida material, tantas vezes quantas forem necessárias, para que
esse desenvolvimento se faça de dentro para fora, esclarece que toda
experiência na Terra é necessária à alma.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1) A eutanásia consiste
em abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um enfermo incurável. Não seria
essa prática um bem, uma vez que a intenção é impedir que o doente sofra?
Não. Primeiro, porque
não nos compete tirar a vida de quem quer que seja; segundo, porque
desconhecemos e não podemos prejulgar os desígnios de Deus; terceiro, porque a
morte física não determina o fim do sofrimento.
2) O sofrimento
prolongado traz algum benefício para o Espírito?
Sim. Nada ocorre sem a
permissão de Deus e sem que tenha uma finalidade útil. O sofrimento constitui corretivo
indispensável para o Espírito que errou e se prolonga de acordo com a
necessidade deste. Impedir-lhe que sofra é tirar-lhe a oportunidade de se
regenerar perante o Pai.
3) É válido, portanto,
sempre prolongar a vida de um doente desenganado?
Sim. É este um dever da
mais legítima caridade; é permitir que a provação para o Espírito se cumpra até
o momento designado por Deus.
Ninguém se deverá
permitir a interferência destrutiva ou liberativa por meio da eutanásia em tais
processos redentores. Pessoas que se dizem penalizadas dos sofrimentos de
familiares e que desejam os tenham logo cessados, quase sempre agem por
egoísmo, pressurosos de libertar-se do comprometimento e da responsabilidade de
ajudá-los, sustentá-los, amá-los mais.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Dever-se-á pôr
termo às provas do próximo?
ITEM 27 – Deve alguém pôr termo às provas do seu
próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar
que sigam seu curso?
Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais
nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos
sucede é consequência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida
que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas
reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam
determinar.
Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre
que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar
que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem
contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande
erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus;
dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o
vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos
irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não
como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como
bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira?
Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de
Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai
misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão.
Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus
conselhos poderão ajuda-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e
resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que
cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação
talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz”.
Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas
respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra
essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo
espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a
extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que
a sua vida toda tam de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que
fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto,
sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação,
certo, porém, de que só a Deus caba detê-la ou prolonga-la, conforme julgar
conveniente.
Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se
considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De
aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o
pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! Considerai-vos sempre como
instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar;
mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos
semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade.
Kardec faz um questionamento muito interessante, e que é
respondido pelo Espírito Bernardino.
Quando uma pessoa está passando por uma determinada prova,
o que é que nós devemos fazer? Devemos minimizar a dor da criatura ou será que
devemos nos omitir, deixando que essa dor siga o seu curso?
A afirmação de que a
Terra é um mundo de expiações e de provas, para Espíritos rebeldes às leis
divinas, através das experiências que ela propicia, tem levado pessoas a
deduzirem outras ideias de consequências até funestas.
Uma é a de que não se
deve tentar atenuar os sofrimentos alheios, visto estarem as pessoas que as
sofrem expiando faltas, devendo-se, pois, respeitar seu fardo. Outras pensam
que até dever-se-ia contribuir para tornar esses sofrimentos mais graves, para
maior benefício de quem os sofre.
Esquecem-se os que assim pensam que todos nós estamos na
Terra para evoluir, desenvolver nosso potencial espiritual. O ressarcimento de
faltas cometidas contra si próprio, contra o próximo ou contra a coletividade,
é um dos fatores para que esse desenvolvimento ocorra.
Como estamos todos
sujeitos a esse ressarcimento, o meio mais fácil de fazer essa evolução é
através da solidariedade, da caridade, que leva um a auxiliar o outro e não
deixar o outro sem ajuda ou agravar seus sofrimentos.
Os habitantes da Terra
são, na sua maioria, muito imperfeitos ainda, e como esse desenvolvimento se dá
segundo o livre-arbítrio de cada um, há uma grande diferenciação de ideias, de
costumes entre seus membros. Isso dificulta muito o relacionamento entre
pessoas, entre países.
Para auxiliar seus
irmãos, Jesus trouxe o AMOR a Deus e ao próximo como lei maior. E essa lei
maior é que nos manda auxiliar o outro, abrandar-lhe as dores sempre que
possível, a auxiliá-lo em suas dificuldades.
Só o fato de não existir
alguém que não tenha um próximo junto a si, já evidencia ser o homem um ser
social, necessitando um do outro.
Nessa necessidade de
todos é que a sabedoria e o amor de Deus se sobressaem. Quis Ele, que seus
filhos tivessem sempre a oportunidade de auxiliar alguém e a necessidade de
serem auxiliados por alguém, a fim de que o amor pudesse desenvolver-se nas
mentes e nos corações dos homens.
Cita o autor a nossa
ignorância em relação às necessidades espirituais das pessoas. Como julgar e
decidir que é da vontade de Deus que elas continuem sofrendo? Deus, o Amor
Absoluto deve preferir essa atitude a de um irmão tentando abrandar a dor de
outro?
Não devemos jamais
esquecer que a lei divina é a do Bem. Toda ação que contrarie essa lei provoca
consequências desagradáveis ou dolorosas.
As expiações e as
provas são meios justos, porque são efeitos de ações negativas feitas pelos
homens, mas têm por objetivo maior fazê-los desenvolver-se espiritualmente. Seu
tempo de duração está relacionado com as necessidades espirituais dos mesmos.
Assim, o benfeitor pode ser o instrumento de Deus para o
fim daquela prova.
Não se pode também
esquecer que a justiça divina é sempre misericordiosa.
Ao depararmos com
alguém sofrendo, ao invés de dizer: É a justiça de Deus presente, pensemos:
"Vejamos que meios nosso Pai misericordioso nos concedeu para aliviar o
sofrimento de meu irmão. Vejamos se o meu conforto moral, meu amparo material,
meus conselhos, poderão ajudá-lo a transpor esta prova com mais força, paciência
e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer
cessar este sofrimento; se não me deu, como prova também, ou talvez como
expiação, o poder de cortar o mal e substituí-lo pela benção da paz."
"Jamais vos encareis como instrumentos de tortura"
continua o autor. "O espírita deve pensar que sua vida inteira tem de ser
um ato de amor e abnegação, e que, por mais que faça para contrariar as
decisões do Senhor, sua justiça seguirá seu curso. Ele pode, pois, sem medo,
fazer todos os esforços para aliviar o amargor da provação, porque somente Deus
pode cortá-la ou prolongá-la, segundo o que julgar a respeito."
Conclusão do Estudo:
A indiferença ante a
dor do próximo é um mal que pode e deve ser extinto pela caridade. Procurar
amenizar as dores do próximo é dever de toda criatura. Quando buscamos aliviar
as provas do próximo, estamos também aliviando as nossas e trabalhando para o
nosso progresso.
B - Questões para
estudo:
1 - Sendo o sofrimento
o corretivo de erro do passado, não estaríamos impedindo aquele que sofre de
saldar seus débitos, quando nos propomos a auxiliá-lo?
Não, porquanto a nossa
ajuda não impedirá que se cumpram as provas daquele que sofre. Ao contrário,
além de permitir que ele as cumpra com sucesso, nós também estaremos nos
elevando, pela prática do amor ao próximo.
"A dor é uma lei
de equilíbrio e educação. Mas nem por isso devemos pensar que os sofredores não
devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a ajudar os que
sofrem."
2 - O que faz alimentar
nas pessoas o pensamento de que as provas das criaturas devem seguir seu curso
e nada se pode fazer para amenizá-las?
O desconhecimento da
causa e finalidade do sofrimento e a insensibilidade das pessoas perante as
dores do próximo, decorrente da ausência do amor em seus corações.
Quando o nosso
comportamento perante o próximo é embasado no amor, não há lugar para
ponderações acerca da causa e duração do seu sofrimento e uma só ideia nos
anima: a de auxiliá-lo.
3 - Qual deve ser, em
resumo, o nosso comportamento perante as provas do próximo?
Devemos utilizar todos
os meios ao nosso alcance para suavizar-lhe o sofrimento, conscientes de que,
provavelmente, aquele sofredor é alguém que Deus confiou à nossa proteção, a
fim de exercitarmos a caridade, colocando para isso, os recursos em nossas
mãos.
"Socorrendo os que
sofrem estamos tecendo, no tear de nosso destino, os fios da sensatez e da
bondade que nos preparam uma túnica de luz para o futuro."
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 26 – Provas voluntárias. O verdadeiro cilício
Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas.
Essa questão equivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de
salvar-se? Àquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente,
chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a
paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e
difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as
dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as consequências dos
males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não
desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa negligência que seria
mais preguiça do que virtude..
Essa questão dá lugar naturalmente a outra. Pois, se Jesus
disse: “Bem-aventurados os aflitos”, haverá mérito em procurar, alguém,
aflições que lhe agravem as provas, por meio de sofrimentos voluntários? A isso
responderei muito positivamente: sim, há grande mérito quando os sofrimentos e
as provações objetivam o bem do próximo, porquanto é a caridade pelo
sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente objetivam o bem
daquele que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.
Grande distinção cumpre aqui se faça: pelo que vos respeita
pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos manda e não lhes
aumenteis o volume, já de si por vezes tão pesado; aceita-las sem queixumes e
com fé, eis tudo o que de vós exige ele. Não enfraqueçais o vosso corpo com
privações inúteis e macerações sem objetivo, pois que necessitais de todas as
vossas forças para cumprirdes a vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar e
martirizar voluntariamente o vosso corpo é contravir a lei de Deus, que vos dá
meios de o sustentar e fortalecer. Enfraquecê-lo sem necessidade é um
verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis, tal a lei. O abuso das melhores
coisas tem a sua punição nas inevitáveis consequências que acarreta.
Muito diverso é o que ocorre, quando o homem impõe a si
próprio sofrimentos para o alívio do seu próximo. Se suportardes o frio e a
fome para aquecer e alimentar alguém que precise ser aquecido e alimentado e se
o vosso corpo disso se ressente, fazeis um sacrifício que Deus abençoa. Vós que
deixais os vossos aposentos perfumados para irdes à mansarda infecta levar a
consolação; vós que sujais as mãos delicadas pensando chagas; vós que vos
privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em
Deus; vós, enfim, que despendeis a vossa saúde na prática das boas obras,
tendes em tudo isso o vosso cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que
os gozos do mundo não vos secaram o coração, que não adormecestes no seio das
volúpias enervantes da riqueza, antes vos constituístes anjos consoladores dos
pobres deserdados.
Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as
seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa
coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se
quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos vossos corpos;
mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho,
recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio;
enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor
física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque
atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus.
Uma coisa que sempre me intrigou foi o sacrifício físico em oferta
espiritual, como se isso equivalesse a um sacrifício espiritual.
O dicionário define a palavra “cilício” como sacrifício ou mortificação
a que alguém se submete, voluntariamente, atendendo a um propósito qualquer. É
muito antiga a crença de que impor sofrimentos ao próprio corpo, constituiria
uma forma de alcançar benefícios espirituais. Amplamente difundida no passado,
essa crença ainda hoje sobrevive, em casos isolados, sempre como expressão de
fanatismo, ignorância e superstição. Trata-se de um cordão (tipo chicote) com
pontas de metal, para ser usado contra o próprio corpo, provocando dor
constante.
O ser humano ainda
pouco esclarecido comete com frequência excessos e enganos na utilização do seu
corpo, na falsa suposição de que o mesmo seria o causador de tais desvios de
comportamento, pelo que, castigá-lo por meio de privações ou sevícias,
constituiria o remédio para evitar ou corrigir tal tendência, impedindo suas
manifestações. Isso é um equívoco, pois o corpo apenas atende, passivamente, às
determinações de seu condutor, o Espírito.
Há um componente, não
raro, no cilício, que acontecia na Idade Média, quando os cristãos, inspirados
na ignorância, levaram a extremos a afirmativa de Jesus, contida no Sermão da
Montanha: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus
5:4). Entendendo
esse consolo como uma compensação pelos sofrimentos, o ideal seria então sofrer
bastante na Terra para garantir recompensas maiores no Céu. Tal entendimento,
amplamente divulgado, gerou comportamentos absurdos, com destaque para as
várias Cruzadas, guerras promovidas pelos reis cristãos na Europa, sob a
alegação de que estavam libertando o solo sagrado da Palestina, em poder dos
árabes. Deus quer o sofrimento! Era o
grito de guerra. Em função dessa orientação, envolveram-se milhares de fiéis
ingênuos, dispostos ao tormentoso cilício dessa aventura, com a fantasia de que
todos os “cruzados” (os que lutavam nessas guerras) seriam levados para o
paraíso. Por outro lado á ideia do cilício como autoflagelação, sugeria um
comportamento alienado. Havia os que se internavam em mosteiros ou lugares
ermos, totalmente isolados, com o propósito de fugir dos males e contatos com a
sociedade. Muitos se propunham ao mutismo absoluto, passando anos sem
pronunciar uma palavra. Outros açoitavam o próprio corpo para se livrarem dos
seus pecados.
Em meados do século VI,
em Antioquia, na Síria, um piedoso cristão chamado Simeão, instalou-se no alto
de elevado monte. Inteiramente dedicado à devoção, era atendido em suas
necessidades por amigos que mais tarde imitaram o seu exemplo. Submetido às
intempéries e ao desconforto, passou os restantes trinta anos de existência sem
jamais descer do monte. Algum tempo após sua morte foi canonizado, recebendo o
título de São Simeão. Nos dias atuais, se alguém tentasse realizar a mesma
proeza, certamente seria internado em algum manicômio; mas na Idade Média, tais
aberrações eram comuns, consideradas como atos de extrema piedade e fé.
Isolar-se do mundo,
para não pecar, também não é proveitoso. Pois, o isolamento nos afasta do nosso
semelhante, e é através do contato com este que ajudamos e somos ajudados.
Não obstante o
progresso alcançado pela humanidade subsiste até hoje, pessoas ignorantes com a
ideia do cilício, da mortificação, em favor da depuração do corpo, como
passaporte para o Céu. Há quem se proponha a carregar uma cruz, imitando o
sacrifício de Jesus; outros subindo de joelhos as escadarias de igrejas por
penitência. As próprias rezas, envolvendo intermináveis e cansativas
repetições, nos rituais religiosos, representam uma forma amena de cilício a
que se propõem certas pessoas, crendo com isso merecer os favores celestiais.
A Doutrina dos
Espíritos sempre se posicionou contra os sofrimentos voluntários, mostrando a
sua inutilidade e seu caráter nocivo. Qualquer gênero de cilício que traga
sofrimento nunca é agradável a Deus, e o Espiritismo nos alerta sobre tais
práticas.
Afinal, em que consiste
o verdadeiro cilício?
O cilício, hoje,
consiste no sacrifício que fazemos objetivando nossa melhoria espiritual;
mortificando nosso espírito, e não o nosso corpo; significa sacrifícios, como,
por exemplo, combater o nosso orgulho; receber injúrias sem murmurar;
censurando o nosso amor próprio; perdoar setenta vezes sete vezes; fazer o bem
a quem faz o mal; e outros mais. Sacrifícios que, além de beneficiar outras
pessoas, elevam quem se esforça para tal, visando o seu próprio
aperfeiçoamento.
O Espiritismo nos
esclarece, através dos seus princípios, que o caminho da elevação é o da
solidariedade, da fraternidade, que farão desabrochar em nós o amor ao próximo.
Muitos dos que têm
coragem de punirem-se fisicamente, não são capazes de aguentar um único segundo
de sofrimento, sacrificando suas vaidades, seu orgulho e egoísmo, santificando
minutos de sofrimentos em prol do próximo e de si mesmo.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 25 – A Melancolia
Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos
vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É porque vosso Espírito,
aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve
de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses
esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a
lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos
enfraquecem a vontade. São inatas no Espírito de todos os homens as aspirações
por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos
envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca as felicidade
que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos
ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o Espírito. Lembrai-vos de que,
durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não
suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas
obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação,
exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as
inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar.
Afrontai-os resolutos, Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por
quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os
braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra.
Existem pessoas que, quando se deparam com o tempo nublado,
frio, cinzento, sentem-se deprimidas. Às vezes, nos deparamos com situações que
tocam pontos guardados nos porões da nossa alma, e sentimos uma saudade de algo
que não sabemos o que é. Ou, ainda, sentimos uma vaga tristeza, uma depressão
injustificável. Fatos, situações, pessoas são indutoras dessas incursões
inconscientes do passado e, conforme tenha sido a experiência, será o
sentimento.
O Espírito François de Genéve se dedica a caracterizar a
melancolia delineando as marcas que deixa na alma, sua causa espiritual, e
apresenta também estratégias de superação desse sentimento, concitando o seu
portador ao uso enérgico da vontade para escapar do estado de prostração que a
melancolia deixa naquele que a cultiva. Estado que, se prolongado, pode se
transformar em depressão.
Em síntese, o autor espiritual caracteriza a melancolia
como um sentimento de tristeza que se apodera do coração levando o indivíduo a
identificar a vida com amargor. Em se demorando nessa postura sombria, a pessoa
pode cair na apatia e profundo abatimento sob o domínio da alma triste. A
melancolia é um fenômeno natural que atinge a quase todas as pessoas, mesmo as
que vivem em extraordinário momento de alegria experimentam vazio e solidão
existencial.
A tristeza não é o inverso da alegria, como muitos pensam,
mas a ausência momentânea dela. A tristeza deve levar o ser a uma pausa para
reflexão e não ao desinteresse pela vida.
O Espírito, autor do
texto, não deixa de considerar que a aspiração por liberdade é comum no
Espírito reencarnado. As condições existenciais concretas em que vivemos nos
fazem desejar, inconscientemente, o gozo da liberdade espiritual – experimentada
muitas vezes nas atividades de emancipação da alma, na ânsia de afastarmo-nos
dos problemas que enfrentamos, nada obstante, o fato de que estes não passem de
provas e expiações no roteiro do nosso progresso espiritual, como depreendemos
na Filosofia Espírita.
As provas consistem nas
lutas enfrentadas na vida corporal que são necessárias ao desenvolvimento do
Espírito em inteligência e moralidade. Por sua vez, as expiações consistem em
experiências mais exigentes nascidas em atitudes tomadas em desacordo com as
Divinas Leis. Desse modo, diante da “opressão” dos desafios da vida corpórea
nos sentimos abafados em nossas possibilidades e a realidade extrafísica pode
parecer mais atrativa por força do que a respeito dela trazemos nos arcanos do inconsciente.
Certamente que uma
demorada reflexão acerca de si mesmo permite ao indivíduo perceber que a grande
gênese de seus conflitos está no seu planeta interno e ele os conduz em
qualquer dimensão da vida, a morte não elimina as dores da alma. Allan Kardec,
como pioneiro dos estudos psicológicos a luz da Ciência Espírita pôde
registrar, conforme encontramos na obra O Céu e o Inferno, que cada qual vive o
estado de felicidade íntima na vida espiritual conforme esse já se apresentava
porque ninguém sofre mágica transformação com o fenômeno da desencarnação.
Quando nos percebermos
mergulhados em melancolia, devemos fazer esforços para mudar o clima psíquico,
através da leitura edificante, de uma prece, da companhia de alguém que nos
ajude a sair dela. Jamais deveremos dar asas a esse tipo de sentimento, para
que não mergulhemos nele ainda mais, a ponto de perdermos o controle da
situação.
Nos momentos de
depressão, quando inconscientemente mergulhamos no passado, Espíritos infelizes
ou antigos comparsas podem tentar nos envolver nas mesmas teias dos equívocos
por nós cometidos anteriormente, levando-nos a estados de difícil retorno. Por
essa razão é que não devemos nos entregar aos braços da melancolia ou da
depressão. É imperioso que façamos esforços, que busquemos com muita vontade
mesmo, mudar nosso clima mental, buscando a sintonia com nossos Benfeitores
Espirituais, que sempre nos amparam e auxiliam em todos os momentos da nossa
existência. Agindo assim, guardemos a certeza que logo mais, num amanhã feliz,
saberemos o quanto valeu a pena passarmos por essas situações com coragem e
dignidade, porque, então, nos aguardarão de braços abertos, os afetos dos quais
tanta saudade sentimos.
Conclusão do Estudo:
A melancolia é a ânsia
do espírito por uma vida melhor, pois o mesmo não foi criado por Deus para
viver preso ao corpo no solo terreno. Essa vida melhor virá a todos, depois que
forem cumpridas as diversas obrigações que Deus confiou a cada um.
Não devemos deixar que
a tristeza nos vença, pois a felicidade almejada virá com o nosso esforço no
cumprimento da missão terrena que nos foi confiada.
Devemos resistir com
energia, desempenhando a nossa missão, quer dedicando-nos à nossa família quer
cumprindo as diversas obrigações que Deus nos confiou.
Devemos ser fortes e
corajosos quando sobre nós desabarem as inquietações e tribulações de nossas
provações.
Expulse a melancolia da
sua alma fazendo luz íntima. Acenda a lâmpada do Evangelho na sua mente.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 24 –
A DESGRAÇA REAL
Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e
julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a
gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens,
isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a veem na misária, no fogão sem lume, no
credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas,
no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado,
na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em
púrpura e mal oculta a sua nudez sob andrajos da vaidade. A tudo isso e a
muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é
desgraça para os que só veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas
consequências de um ato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento,
considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é,
realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva
contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos
arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que
causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as
consequências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou
inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque
é lá que as consequências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama
infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e
encontra a sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a
forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas
iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação,
é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a
ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A
infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o
vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge do destino; e as
provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia,
vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da
verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela
indiferença e pelo egoísmo.
Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós,
sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela
vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao
perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que não lhes pode dar
glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens
e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no
futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne,
contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste?
O que se entende por desgraça? A miséria é uma desgraça?
Qual a verdadeira desgraça? Para sabermos as respostas, vamos desenvolver o tema
tratando da caracterização da desgraça e a desgraça sob a visão espírita.
Se existe a verdadeira desgraça haverá também, lógico, a
falsa. Sobre esse assunto, o Espírito Delphine Girardin tece alguns
comentários. Acha ele que os homens de uma maneira geral enganam-se acerca da
infelicidade, pois, a veem no fogão sem fogo, no credor ameaçador, nas
lágrimas, na angústia da traição, na privação do orgulhoso que desejava
vestir-se de púrpura e esconde sua nudez nos farrapos da vaidade. Tudo isso, e
muitas outras coisas, chamam de desgraça. Sim, realmente é a desgraça, para
aqueles que nada veem além da vida presente. A verdadeira desgraça, porém, está
na consequência de um fato, mais do que no próprio fato. Vamos raciocinar. Se
um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências
funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que, a princípio,
causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. A tempestade, que despedaça
árvores, é vista como desgraça. No entanto, ela purifica a atmosfera,
dissipando os miasmas insalubres que poderiam causar a morte. Para julgar uma
coisa, é necessário, portanto, ver-lhe as consequências. É assim que, para
julgar o que é realmente felicidade ou desgraça para o homem, é necessário
transportar-se para além desta vida, porque é lá que as consequências se
manifestam.
Eles se esquecem de que toda a ação humana deve ser vista
pela sua consequência e não por ela em si mesma.
Os Espíritos superiores orientam-nos para que não olhemos
os fatos em si mesmos, mas pelas suas consequências. Se a consequência for boa
é porque o ato também o foi, embora no princípio não o pareça. Observe as
tempestades que assolam as cidades e os campos. Enquanto elas estão se
processando, estamos reclamando e nos rebelando contra a vontade divina. Depois
que ela passa, verificamos que estamos respirando melhor, que houve um
saneamento no planeta. Somente aí é que começamos ver o lado bom daquela
destruição transitória.
O Espiritismo vem nos esclarecer que a vida corpórea é uma
breve passagem por este mundo de provas e expiações, cujo objetivo é o
aperfeiçoamento da alma. Assim sendo, em qualquer de nossas ações nunca
deveríamos perder de vista a vida futura, ou seja, o que nos aguarda no outro
lado da vida. Pergunta-se: Estamos providenciando para o futuro ou apenas para
as necessidades diárias?
Os Espíritos superiores afirmam que a verdadeira desgraça é
a alegria, a fama, o prazer e a vã agitação. Como entender? É que essas ações
fazem calar a consciência, rouba-nos o tempo que poderia estar sendo mais bem
aproveitado no incremento de nossa evolução espiritual. A infelicidade é o ópio
do esquecimento que reclamamos diariamente. É preciso, pois, olhar tudo de uma
forma invertida, a fim de que possamos captar a verdade por detrás dos fatos.
Saibamos agradecer as injunções de nosso caminho. Se
julgarmos que a nossa desgraça é maior que a dos nossos vizinhos, façamos uma
visita a um hospital, a uma prisão e veremos que a nossa dor não é tão grande
quanto parece.
Superando com coragem os obstáculos do caminho, estaremos
agindo como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas
dos combates arriscados à paz que não lhes pode dar glória, nem promoção.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 23 –
OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS
Vive o homem incessante em busca da felicidade, que também
incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na
Terra. Entretanto, mau grado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da
vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a
procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos
gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos
gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única
felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e
turbará, e, coisa singular! O homem, como que de intento, cria para si
tormentos que está nas suas mãos evitar.
Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme?
Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente
febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes
vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em
eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes
assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos,
com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas
essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que
se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as
compensações merecidas.
Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se
com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer
mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e não
para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. É calmo, porque não
cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em
meio das tempestades da vida?
Nesta mensagem, Fénelon
refere-se aos tormentos, ou seja, aos sofrimentos, às privações, aflições,
inquietações, que sofre o homem, como consequências das ações negativas, na
busca da sua felicidade.
Ao nos depararmos com
este texto, a primeira sensação é a de estranheza: como assim, tormentos
voluntários? Quem, em boa consciência, criaria tormentos para si mesmo? Que
motivos teria alguém para procurar deliberadamente situações para sentir-se
miserável? Infelizmente, todos nós temos sofrimentos que são, em algum grau,
voluntários. Não porque conscientemente escolhamos sofrer, mas porque tomamos
decisões e perpetuamos hábitos que sabemos muito bem, não nos trarão nada de
bom.
Uma das maiores dádivas
do Criador à criatura é o livre-arbítrio. Na escala evolutiva, Ele deu ao homem
a possibilidade de decidir, sozinho, o que quer, como quer, para quê quer, e o
que fazer com o que adquiriu. Mas, muitas vezes, o ser transforma essa dádiva
em uma arma atroz, trazendo-lhe sofrimento, transformando o processo de
crescimento em tormento.
A verdadeira felicidade
é impossível no estado em que nos encontramos atualmente, pois ainda somos
Espíritos inferiores. Mas, cultivando os pensamentos apropriados, podemos fazer
com que a vida na Terra transcorra de maneira muito mais suave, sem conflitos
desnecessários.
O Espírito mensageiro
exemplifica bem os tormentos voluntários, falando-nos sobre a inveja e o ciúme.
Ambos os sentimentos são parecidos. Geralmente, nos comparamos com os outros e
querendo estar por cima, cada coisa boa que lhes acontece nos parece um insulto
pessoal, principalmente quando a pessoa recebe uma atenção que desejamos para
nós. Esses sentimentos criam conflitos internos; entramos em estados difíceis
de angústia e inquietude. Não podemos estar em paz, nessas condições. Então,
porque não trabalharmos para nossa cura, compreendendo que a inveja e o ciúme
não têm sentido? Muitos outros tormentos são criados por nós mesmos, em
diversas situações. Muito sofrimento pode ser evitado, quando decidimos pela
resignação, pela fé e pela humildade. Então, ao invés de criar tormentos para
nós mesmos e para os outros, elevemos nosso pensamento ao que é realmente
importante e façamos o possível para mudar nossos padrões de comportamento.
Busquemos, acima de tudo, a paz de nossos corações.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 22 – SE FOSSE UM HOMEM DE BEM, TERIA MORRIDO
Falando de um homem
mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria
morrido”. Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito
amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais
longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter
tão curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais
daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia.
Se morre um homem de
bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: “Antes fosse este”. Enunciais
uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica
talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao
mau faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba
terrestre? Que diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele
pronunciada, fosse conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à
liberdade um que a esta não tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira
liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao
corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro.
Habituai-vos a não
censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as
coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no
entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreende
os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa
acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância
da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no
curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira.
Fénelon, um dos
colaboradores de Kardec na codificação da Doutrina Espírita, assina esta
mensagem que constitui equivocado ditado popular. Ele nos adverte que seria uma
blasfêmia assim considerar.
Quando morre alguém,
cuja reputação é de bondade e desprendimento, ouve-se muitos lamentos, frases
como essas: “Os bons vão primeiro”; “Os bons Deus deseja para si”; “Os maus
ficam por aqui mesmo” Quando uma pessoa que costuma praticar atos contrários ao
bem proceder escapa de um acidente, como por exemplo: alta velocidade. O carro
derrapou na pista molhada e capotou. Porém, milagrosamente o motorista escapou,
ileso. Frequentemente dizemos: “Se fosse um homem de bem teria morrido”. Pois
bem, ao dizermos isto, visualizando o lado espiritual, estamos dizendo a
verdade, porque, efetivamente Deus concede muitas vezes, a um Espírito
perverso, uma prova mais longa; e poderá conceder a um Espírito bom, em recompensa
por mérito, uma prova mais curta. Mas, há gente boa que vive bastante e há
gente má que tem existência breve. Basta lembrar os jovens que se envolvem com
a criminalidade. A expectativa de vida para eles é curta, não por prêmio à
bondade, mas por lamentável comprometimento com a maldade. Ademais, todos os
dias morrem pessoas jovens, que se permitiram abraçar pelas drogas ou se
acumpliciaram com a imprudência, desaparecendo em acidentes diversos. Em
verdade, salvo os casos de suicídio direto ou indireto, ninguém morre antes do
tempo programado. Aquele que parte concluiu a sua tarefa, enquanto o que
permanece, por vezes, mal a iniciou. A justiça de Deus jamais falha, e tudo
está correto. Precisamos compreender que o bem está muitas vezes onde pensamos
ver o mal. Por que medir a justiça divina pela nossa medida? Habituemo-nos a
não censurar o que não podemos compreender. Muitas vezes, o que nos parece um
mal é um bem, que as nossas faculdades limitadas não nos permitem perceber.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 21 – PERDA DE PESSOAS AMADAS. MORTES PREMATURAS
Quando a morte ceifa
nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos
velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e
tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções;
pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça
o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua
alegria.
Humanos, é nesse ponto
que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra, para compreenderdes que o bem,
muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais
divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça
divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero
capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e,
seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis
melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina,
razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão
secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano.
Crede-me, a morte é
preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos
que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes
do tempo embranqueçam os cabelos dos pais. Frequentemente, a morte prematura é
um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva
das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não
é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não
convir que ele permaneça por mais tempo na Terra.
É uma horrenda
desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De
que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar,
abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se
acima da matéria. Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer
tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras?
Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as
da vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma
posição elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados?
Em vez de vos
queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um
de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele ai continuasse para
sofrer convosco? Ah! Essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na
morte uma separação etrena. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive
melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos
filhos bem-amados estão perto de vós;, sim, estão muito perto; seus corpos
fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles
guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os
afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de
Deus.
Vós, que compreendeis a
vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes
bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes
consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosa que
vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.
Quando o assunto é a
morte de crianças, adolescentes e adultos jovens antes dos pais, nem sempre a
racionalidade que o Espiritismo traz pode ser suficiente para acalentar as
almas dos que ficam. Ouve-se muito dizer, por ocasião de um acontecimento desse
tipo, que a dor é mais profunda porque a morte prematura foge da “ordem natural” das coisas. Ao se dizer
isso, é como se esperássemos que existisse uma regra onde a doença e o
desencarne só chegassem após termos vivido tudo o que tínhamos de viver, após
termos aproveitado a vida. Nós esquecemos, porém, que as regras não são nossas,
e que é bastante possível que aquele que desencarnou jovem já tenha aproveitado
sua vida da melhor maneira possível. Como aceitar a morte prematura? No
sofrimento causado por esse tipo de morte de uma pessoa amada, o ser acaba se
revoltando contra os desígnios de Deus. Ele não aceita essa ausência, acha
injusto, cruel.
Cada um de nós viverá
aquilo que necessita para acelerar seu processo de evolução e de regeneração.
Temos o hábito de acreditar que uma vida só se completa na idade avançada. Porém,
não existe um padrão a ser seguido. Muitas existências, ainda que breves, são
proveitosas. O termo “morte prematura”, talvez não seja adequado, pois não
podemos pensar em uma espiritualidade superior onde as coisas são feitas de
improviso. Evidentemente nos referimos aqui à prematuridade do ponto de vista
físico, ou seja, desencarnar jovem e não desencarnar antes do tempo programado.
Para os pais que enxergam na morte do filho o fim de tudo, o sofrimento parece
mesmo não ter fim, porém, um outro caminho, de mais amor e paz interior pode
existir. Entender esse mecanismo é fundamental para se libertar da tristeza
imensa que invade a vida dos familiares. Enquanto houver a crença de que Deus
levou; que Deus quis, como se houvesse um senhor de barbas brancas sentado em
uma nuvem escolhendo quem vai e quem fica, distribuindo benesses e concessões,
castigo e punições, não haverá progresso espiritual.
Como explicar que uma
criança de um ano de idade, que nem teve tempo de fazer coisas boas ou ruins
tenha uma doença grave e desencarne após seis meses de sofrimento? Punição para
os pais? Acreditar nessa hipótese é diminuir Deus a um tirano despótico sem
sentimento, que castiga um inocente para punir os pais. Que tipo de amor é
esse? Pois João evangelista nos define Deus da única forma que podemos
compreender. Deus é amor. Então, a resposta é uma só. Cada um responde por atos
praticados em outras vidas, resgatando pelo amor, as dívidas do passado e
caminhando em direção ao Pai. Dessa forma, não há punição, mas oportunidade.
Não há fim, mas continuidade da vida.
Não nos cabe tentar
adivinhar qual razão se aplica a tal Espírito. Existem diversos motivos para
esse tipo de desencarne. Seja qual for o motivo, o importante é nos lembrarmos
e nos conscientizarmos que esses desencarnes não são nem castigo e nem
anomalias. Eles são apenas experiências pelas quais tem de passar o Espírito em
evolução. Por isso, devemos entender que aquela criança ou aquele jovem que
desencarnou nessa situação continua vivo. Foi apenas uma cobrança automática
imposta por compromissos do passado. Portanto, não houve castigo, houve
libertação.
No processo de
aceitação e entendimento que ocorre após esse tipo de morte, o primeiro item é
não se desesperar, não agir como a vida tivesse acabado. Confie e se entregue
nas mãos do Pai amoro, que acolhe e alivia. Converta esse sentimento de dor em
algo sublime como a ajuda aos necessitados, em prol daquele que desencarnou.
Dia virá que, você que chora, será capaz de olhar para trás e entender tudo que
a vida queria lhe ensinar com esse acontecimento.
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 20 – A FELICIDADE NÃO É DESTE MUNDO
Não sou feliz! A
felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem em todas as
posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os
raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não
é deste mundo”. Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida
juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas
essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio
das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem
amargamente da situação em que se encontram.
Diante de tal fato, é
inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a
posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça,
cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimento e de
decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de
provas e de expiações.
Assim, pois, os que
pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só
existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua
natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado
está, por experiência arqui-selular, que só excepcionalmente este globo
apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.
Em tese geral pode
afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam
sucessivamente, sem jamais lograrem alcança-la. Se o homem ajuizado é uma
raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
O em que consiste a
felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guia-lo a
ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o
resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros
filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.
Conseguintemente, se à
morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que,
algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado
ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida
humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos
planetas superiores para os quais os vossos esfprços e as vossas tendências vos
farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e
aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais
das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma
penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente
deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e
mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova
doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus
queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se
despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse
Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de
fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto,
à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos
corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações
porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade.
Se questionarmos um
grupo de pessoas acerca do que significa ser feliz, obteremos respostas as mais
diversas. Alguns dirão que ser feliz significa ter uma vida confortável, sem
preocupações financeiras. Outros dirão que a presença dos familiares e amigos
já é suficiente para lhes proporcionar felicidade. Outros, ainda, poderão dizer
que ser feliz é encontrar um grande amor, alguém com quem possa dividir os
momentos de alegria e os de tristezas. E outros mais dirão que uma saúde
perfeita é o que basta para a felicidade. Outras respostas poderíamos enumerar,
sem podermos afirmar qual delas é a mais correta ou a menos errada, pois que
não há uma resposta em definitivo. Todos nós desejamos encontrar a felicidade
um dia, mas, para realizar essa vontade ou esse desejo, é necessário trabalhar
os valores pertinentes ao Espírito.
Nesta mensagem que
estamos estudando, o Cardeal Morlot, nome eclesiástico de
François-Nicolas-Madeleine, autor do texto, afirma que a felicidade não é deste
mundo. Alguns podem pensar que tal ensinamento é uma barreira às esperanças que
todos temos de encontrar a felicidade verdadeira. Porém, não é esse o propósito
da sentença. O autor quer dizer que o homem não está preparado para ser feliz
porque a procura onde ela não está. Procura do lado de fora dele, quando, na
realidade, ela mora no seu interior. Diz, ainda, o Espírito mensageiro, que se
um sábio é coisa rara neste planeta, um homem feliz não se encontra com
facilidade maior. A efemeridade dos momentos felizes, geralmente, pelas
conquistas das coisas do mundo, não deixam que o homem desfrute de alegria por
muito tempo. O orientador espiritual simula lamentos de alguém, hipoteticamente
que diz “não sou feliz”; “a felicidade não foi feita para mim”, exclamações dos
homens de todas as camadas sociais. Conclui-se, portanto, que dinheiro, beleza,
inteligência ou posição social não são recursos para que alguém tenha
felicidade. Pode-se ter conforto, folga financeira, prestígio na sociedade, mas
não felicidade.
Na mensagem, o seu
autor nos mostra que não tem cabimento os homens mais pobres terem inveja dos
ricos. Todos, ricos e pobres, têm seu quinhão de riqueza e de miséria, material
ou espiritual. Afinal, o planeta é de expiações e provas e, portanto, habitado
por Espíritos que têm como principal característica a imperfeição. Quando não é
pela maldade é pela ignorância.
Ao finalizar suas
orientações, o Espírito comunicante nos diz que a Terra não está condenada a
ser eternamente uma penitenciária para delinquentes conscientes ou
inconscientes. Ela progredirá e será um mundo que abrigará pessoas felizes.
Como Paulo, temos que matar o homem velho para fazer nascer o homem novo que
vive em nós desde quando Deus nos criou simples e sem conhecimento, para
podermos estar entre estas pessoas felizes.
Mas, infelizmente, há
tantos que depositam suas esperanças de felicidade nas ilusões que o dinheiro e
as posses materiais podem oferecer. Passam a vida trabalhando para conquistar
um império financeiro e não percebem o quanto são escravos. Esquecem-se de que
muitas pessoas são verdadeiramente felizes morando em casas singelas, com vidas
financeiras limitadas. A felicidade, portanto, não pode estar nos bens
materiais.
“A felicidade não é
deste mundo”. Essa máxima do Evangelho nos ensina que a felicidade verdadeira é
uma conquista do Espírito, pois, que todos nós fomos criados para a felicidade
eterna. Na Terra vivemos apenas momentos felizes, mas que não são duradouros e
eternos.
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 19 – O MAL E O REMÉDIO
Dando continuidade ao estudo
do Capítulo quinto, vamos apreciar uma mensagem que nos traz a consolação
diante da dor e do sofrimento. É bom lembrar que a dor é inevitável diante da
situação em que nos encontramos, ou seja, num planeta de Expiações e provas,
mas, o sofrimento é opcional.
Será a Terra um lugar
de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa mais aos vossos ouvidos a voz do
profeta? Não proclamou ele que haveria prantos e ranger de dentes para os que
nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis,
causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as
vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei do Senhor por ter querido
experimentar-vos... Ó homens! Dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor,
senão quando ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e
ventura os vosso dias? Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha
adornado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho e a
brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último
grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a Deus:
“Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais absoluta
miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar o
vosso servo!”, Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a
morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos
limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira, que seria
isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé,
amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus
vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis,
considerai-vos os afortunados da Terra.
Como desencarnados,
quando pairáveis no espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos bastante
fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que pedistes a riqueza e
a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes
para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto
mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis,
embora devesse o vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se
desprenderia uma alma de rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiação
e do sofrimento.
Que remédio, então,
prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males? Só um é
infalível; a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior acerbidade dos vossos
sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão
vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis. A fé é o
remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante
dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis,
portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação
ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e
que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido,
porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.
O Senhor apôs o seu
selo em todos os que nele creem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam
montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a
sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as
primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira
do corpo, que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões
celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao
Senhor.
Ditosos os que sofrem e
choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças.
Comentário:
Nesta mensagem, Santo
Agostinho, que viveu na Terra, envolto nos prazeres materiais, e que
transformou sua vida, quando percebeu que havia prazeres e objetivos mais
condizentes com a sua situação de filho de Deus, bem sabe das lutas internas de
quem se dispõe a desenvolver seu potencial divino que traz em si. Por isso, conclama
o ser humano a ver a realidade do Espírito, sujeito a reencarnações na Terra,
mundo de expiações e de provas. Usa, ele, de frases contundentes, severas e
realistas, a fim de relembrar e estimular aos homens sua condição de
imperfeição e rebeldia, que os impele a viver em um mundo, onde a dor, o
sofrimento, dificuldades e obstáculos são o remédio para seus males. Desse
modo, não devemos querer passar uma existência na Terra em alegrias constantes,
visto que, se assim fora, nós permaneceríamos estacionados nos prazeres e
valores materiais, sem conhecer a felicidade que nos espera. Se nos vemos
presos a um mundo inferior, sujeitos a vicissitudes e dores, e se aceitamos
Deus, como fonte de amor, justiça e misericórdia, só podemos deduzir que temos
o que precisamos para atingir nosso destino de perfeição e de felicidade.
Precisamos, pois, entender as leis naturais, que nos levam a compreender e a
aceitar as vicissitudes terrenas como necessárias a Espíritos rebeldes à lei de
amor. Em assim fazendo, seremos capazes de agradecer ao Criador todas essas
tribulações, que nos ferem, mas que nos levam a vivências mais dignas de filhos
de Deus. Conclama-nos Santo Agostinho a reconhecermos Deus, no seu amor e
sabedoria, não só nos momentos de alegria, mas também, nos momentos de
tristeza; a pensarmos na vida eterna, no seu significado, o que nos dá a
dimensão exata dessas vicissitudes, frações diminutas de tempo, diante da
eternidade e diante da felicidade plena a ser conseguida. Por isso ele escreve:
“Até
quando vossos olhos só alcançarão os horizontes marcados pela morte? Quando,
enfim, vossa alma quererá lançar-se além dos limites do túmulo? Mas, ainda que
tivésseis de sofrer uma vida inteira, que seria isso ao lado da eternidade de
glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação?
Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus vos
prepara, e vós, os que mais sofreis, julgai-vos-eis os bem-aventurados na Terra”.
O Espiritismo, proporcionando
a fé raciocinada, aquela que se desenvolve pela compreensão e entendimento das
leis naturais ou divinas, facilita, e muito, o desenvolvimento dessa fé, não só
aceita pelo sentimento e pelo amor, mas, também, pela razão. Essa fé é
inquebrantável, mesmo frente aos maiores sofrimentos, aos piores revezes.
Conclusão:
No desenrolar da leitura nós vamos
começando a estruturar algumas conclusões sobre o estudo. E interpretamos que o
sofrimento, ao invés de ser uma desgraça, constitui a oportunidade dada por
Deus para corrigir nossos erros. Na fé encontramos o remédio seguro do
sofrimento. Ela nos permite ver que as maiores dores de hoje são o prenúncio da
felicidade que nos aguarda amanhã. E quando sentimos dores, procuramos remédios
para os males que nos afligem. E qual seria esse remédio? E a resposta vem nas
linhas seguintes. Afirmando que a fé é o remédio seguro para o nosso
sofrimento, mostra sempre os horizontes do infinito, diante dos quais pouco
representa os maus dias do presente. Já que todo aquele que crê é forte pelo
remédio da fé e aquele que duvida é punido pelas angústias das aflições.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 18 – BEM E MAL
SOFRER
A partir desse estudo, vamos comentar as
Instruções dos Espíritos que Kardec selecionou para incluir no capítulo em
apreciação, e que são em número de quatorze. Nelas, vários dos assuntos
estudados são focalizados, cada um por sua vez, através de Espíritos
superiores, cuja identificação está registrada por Kardec, bem como a cidade e
o ano em que elas foram ditadas.
A primeira delas,
objeto do nosso estudo, intitula-se “Bem e Mal sofrer”, e foi ditada pelo
Espírito Lacordaire. O título da mensagem, a princípio, parece descabível. O
sofrimento, qualquer que ele seja, nunca é bem aceito, isto é, não há bem
sofrer. Mas isto não é bem assim conforme nós estamos colocando e, sim, como
Lacordaire colocou. E ele começa dizendo:
Quando o Cristo disse:
“Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de
modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra,
quer ocupem tronos, quer jazam sobre palha. Mas, ah! Poucos sofrem bem; poucos
compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de
Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte
coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta; é preciso tenha
por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não
coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como
a recompensa o será a resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa,
do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se
apresenta cheia de tribulações.
O militar que não é
mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo
nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não
desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa
alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no
fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se
há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se
mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral.
Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe
reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa
de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes
conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero,
dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte”.
Bem-aventurados os
aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de
provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus,
porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do
labor virá o repouso.
Antes de tudo, a
mensagem nos lembra de que todos que estão neste mundo sofrem, quer estejam na
opulência ou na miséria extrema. No capítulo terceiro, em que estudamos as
muitas moradas na casa de meu Pai, ficamos sabendo das diversas categorias de
mundos, que resultam do grande adiantamento ou da inferioridade de seus
habitantes. Assim, a Espiritualidade superior, considerando o estado e o
destino dos mundos, com base em seus aspectos mais destacados, classificou a
Terra na categoria dos mundos de expiações e provas, ou seja, naquele em que o
mal predomina sobre o bem. E, é, por isso, que nela, o homem está sujeito a
tanto sofrimento. Por isso, o Espírito comunicante disse em sua instrução que
todos que estão neste mundo sofrem.
Perceberam o que o Espírito mensageiro quis significar com essas
palavras? Nós podemos sintetizar o que ele nos transmitiu com uma pequena
frase: Não é bastante sofrer. É preciso saber sofrer. Porém, ainda não
conseguimos encarar a dor como um recurso terapêutico, um remédio, dolorido no
primeiro instante, mas que trará a saúde de volta. A nossa visão limitada nos
faz enxergar apenas o momento da dor, que eternizamos em forma de lamento, na
maioria das vezes exagerado. Ainda não sabemos entender o “bem sofrer” a que o
Evangelho faz alusão. Nós ainda temos a tendência de supervalorizar o
sofrimento. Nossas dores são sempre as maiores; nossos fardos são os mais
pesados.
A universalidade da dor
chama a atenção dos homens para o fato de que são essencialmente iguais. Todos
sofrem, mas poucos sofrem bem. Tão raro é o bem sofrer que, geralmente, não é
sequer compreendido.
No Sermão da Montanha,
Jesus afirmou a Bem-aventurança para os que choram, para os injuriados. Mas,
certamente, não estava referindo-se aos que sofrem em meio à revoltas e
desatinos. O sofrimento tem a dimensão que nós lhe damos. A dor é inevitável; o
sofrimento é opcional. Por tudo isso, devemos cessar com reclamações.
Quando a Doutrina
Espírita se refere à dor, em hipótese alguma faz a apologia do sofrimento na
ascensão humana. Porém, reconhecendo a inércia e a iniquidade em que ainda nos
encontramos, imersos em sombras, afirma e esclarece que a dor ainda é o meio
seguro de impulsionar o avanço do Espírito imperfeito.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V –
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS de 14 a 17 – O SUICÍDIO E A LOUCURA
Kardec colocou juntos,
a loucura e o suicídio, porque ambos acontecem pela suposta impossibilidade que
o homem vê em aceitar e enfrentar seus problemas, julgando-os muito piores do
que são, insolúveis, o que não existe.
Aqueles que estão
enfrentando uma difícil fase de sua existência; com escassez de recursos
financeiros, enfermidades ou complexos desafios pessoais, na vida familiar ou
não, e está se sentindo muito abatido, deveriam
fazer uma profunda reflexão sobre este tema, que requer muito cuidado ao
ser estudado.
Textos de apoio:
14. A calma e a
resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no
futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a
loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se
deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de
suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o
Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com
alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras
circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos
acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a
conturbariam.
A serenidade e a
resignação adquiridas no modo de considerar a vida e a fé no que o futuro nos
reserva, dão ao Espírito uma paz que é a melhor defesa contra a loucura e o
suicídio. De fato, a maioria dos casos de loucura tem como causa a comoção
determinada pelas agruras da vida que o ser humano não tem forças para
enfrentar. Com o concurso do Espiritismo que o pode reparar para enfrentar as
dores deste mundo, ele recebe com mansidão, até com satisfação, os reveses e as
dificuldades que o intimidariam ou revoltariam em circunstâncias diferentes.
O homem enlouquece
quando abdica de sua razão, desequilibrando seu campo mental, entregando-se,
passivamente, às influências externas que se casam com seus sentimentos
desequilibrados. Sairá desse estado, tanto mais facilmente, quanto menor for a
sua gravidade.
15. O mesmo ocorre com
o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura,
aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre
por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que
se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia
e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência.
Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a
vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o
que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os
infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para
as suas amarguras. Nada esperando. Acha muito natural, muito lógico mesmo,
abreviar pelo suicídio as suas misérias.
O mesmo ocorre com o
suicídio. Tirante aqueles que acontecem em estado de embriaguez ou de loucura,
e, por isso, são chamados inconscientes. O suicídio tem sempre como causa um
arraigado descontentamento. Ora, aquele que acredita na eternidade do Espírito
tem paciência, pois vê termo para o sofrimento. Mas para aquele que pensa que
tudo acaba com a vida, que está subjugado pelo peso da dor até findar-se, não
tem nada a esperar e passa a achar natural abreviar sua vida pela porta do
suicídio.
Diante de possíveis
angústias e estados depressivos, não há outro remédio senão a calma, a
paciência e a confiança na vida, que sempre nos reserva o melhor ou o que temos
necessidade de enfrentar para aprender. Ações precipitadas, suicídio e atos
insanos são praticados devido ao desespero que atinge muitas pessoas que não
conseguem enxergar os benefícios que as cercam de todos os lados.
É bom lembrar que na
evolução do entendimento dos ensinos espíritas, sabemos hoje que no suicídio
indireto, inconsciente, quando o homem age com desprezo aos cuidados com seu
corpo, dando vazão aos vícios materiais, aos vícios espirituais, tais como
estar sempre colérico, impaciente, irritado, também concorrendo para o
desequilíbrio do organismo, podem ocasionar o desencarne prematuro.
16. A incredulidade, a
simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os
maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de
ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os
ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato
levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão
se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa consequência? Que
compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não
ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a
única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para
sofrer por menos tempo.
A propagação das
doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia de suicídio na
maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes
doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada
impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se
prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas;
donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no
suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
A falta de crença, a
simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, são os mais ferrenhos
elementos que excitam a covardia moral, o apelo ao suicídio.
Assim, vemos que a
propagação de ideias materialistas é o veneno que provoca em um grande número
de criaturas a ideia do suicídio, e aqueles que se fazem apóstolos dessas
ideias não imaginam o tamanho da responsabilidade que lhes sobrecarregam os
ombros.
O suicídio, para o
materialista, é visto como uma porta de saída para os seus problemas. Mas, para
o espiritualista, ou seja, para aquele que acredita que a vida continua após a
morte do corpo físico, o suicídio é a porta de entrada para mais problemas,
dores e aflições.
17. O Espiritismo ainda
produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais
decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação
desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunimente a lei
de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há
cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos
terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui
sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a
contrapor à ideia do suicídio; a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o
ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na
Terra; a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado
oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior,
mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai
mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo
ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar;
donde a consequência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário
aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos
que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí
concluir-se que, quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver
suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas
materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do
ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das
primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.
O Espiritismo muda essa
visão. Com ele, não sendo mais admitida a dúvida, o aspecto da vida muda. Sob
esse aspecto, com outro resultado positivo, tem o Espiritismo, talvez mais útil
e importante. Ele nos mostra os próprios suicidas vindo revelar sua incômoda
situação, infeliz e desgastante, o que prova que ninguém viola impunemente a
Lei de Deus que proíbe ao homem abreviar sua vida. Há, entre os suicidas,
aqueles cujo sofrimento (embora não eterno, apenas temporário) não é menos
terrível de modo tal a dar o que pensar a qualquer um que seja tentado a se
livrar da própria vida, antes de ser chamado por Deus. O espírita tem, assim,
contra a ideia de suicídio, a certeza de uma vida futura; a certeza de que
abreviar a vida leva a um resultado exatamente contrário ao que se espera; e
que o suicídio é um obstáculo para que ele se reúna, no outro mundo, aos
objetos de suas afeições. Daí depreender-se que o suicídio é absolutamente
condenável de qualquer ponto de vista.
Conclusão:
É pura ilusão pensar
que o suicídio resolve os efeitos dos infortúnios e das decepções. Ao
contrário; abreviando-se os dias de vida, liberta-se de um mal e contrai-se
outro mais longo e terrível. Pois que o suicídio causa feridas no perispírito e
que ficam por muito tempo, e até podem permanecer por diversas existências.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V –
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS 12 E 13 – MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO
Este trecho expõe perfeitamente o
motivo dos sofrimentos que passamos e devemos bendizer, porque é a maneira de corrigirmos
nossos erros e seguirmos no caminho evolutivo. Somos devedores. Aqui estamos
para saldar nossas dívidas. Se não as pagarmos, elas se estenderão por outras
encarnações e os juros são o retardamento de nossa evolução.
Quando adentramos à Doutrina
Espírita, muitas questões perpassam por nossas mentes. Logo nos deparamos com
alguém nos orientando para sermos resignados. O que seria, então, resignação?
Como compreender os dramas que a vida nos propõe, frutos ou não de nossas
escolhas? Como proceder para ser considerado um indivíduo resignado?
Muitas vezes, entendemos
resignação como aceitação dos problemas e das dores, sem buscarmos alívio,
respostas ou o entendimento para o que ocorre conosco. E também,
principalmente, por que devemos ser resignados, questionando aonde isso vai nos
levar.
Se muitos dos nossos problemas
não podem ser solucionados nesta existência, podemos, entretanto, pela sua
compreensão, mudar a forma de enfrenta-los.
Texto
de Apoio:
Kardec pondera:
12. Por estas palavras:
Bem-aventurado os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a
compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a
bendizer do sofrimento, como prelúdio de cura.
Não se trata, como o espírita estudioso sabe, apenas
da cura das enfermidades orgânicas, mas, também, de cura das enfermidades da
alma.
Prossegue Kardec:
Também podem essas
palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes,
visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas
faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos
poupam séculos de sofrimento na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes
por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos
garantirá a tranquilidade no porvir.
Muitas pessoas murmuram
diante das dificuldades da vida, o que representa, de maneira consciente ou
inconsciente, revolta contra Deus. É como se dissessem: não mereço as provas
que estou vivenciando; que Deus está sendo injusto comigo.
O espírita, com sua fé
raciocinada, pode, pois, entendendo o mecanismo das provas e expiações no
contexto do progresso do Espírito, suportar um “mal” com resignação, conformar-se, sem murmurar, diante de certos
desafios, sejam eles de ordem material ou moral, não significando isso que irá
cruzar os braços, mas que terá como tema: buscarei modificar para melhor tudo
que estiver ao meu alcance, mas me resignarei diante daquilo que não conseguir
mudar!
Lembremo-nos da oração
da serenidade em que pedimos a Deus serenidade para aceitarmos as coisas que
não podemos modificar, coragem para modificarmos aquelas que podemos e
sabedoria para distinguir uma da outra.
O homem que sofre
assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: Se me pagares
hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás
livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela. Não
se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se
libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do
seu credor, não lhe ficará agradecido?
Tal o sentido das
palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados. São ditosos,
porque se quitam e porque, depois de haverem quitado, estarão livres. Se,
porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá
alcançar a sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto
nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente
uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será
noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de
submissão à vontade de Deus. Logo, se murmuramos nas aflições, se não as
aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a
Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto que
deveríamos colher do sofrimento. É por isso que teremos de recomeçar,
absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos
de novo por empréstimo.
Ao entrar no mundo dos
Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do
pagamento. A uns dirá o Senhor: Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho; a
outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que
tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos
gozos mundanos: Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário.
Ide e recomeçai a tarefa.
13. O homem pode
suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a
vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração
do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha,
num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito,
compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto
passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe
de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para
aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o
oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser
diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a
modelar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos
outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que
experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo
quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição,
voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da
sua curta existência.
Resignáveis, portanto,
são todas as provas, expiações, perdas, sofrimentos que o Espírito encarnado
não conseguir reverter, lembrando-se que Deus nunca coloca nos ombros de Seus
filhos fardos superiores às suas forças.
Questões
para estudo:
1 – De que forma o
sofrimento pode ser traduzido por felicidade?
R – Sendo as dores de
hoje o resgate de nossas dívidas passadas, o sofrimento constitui forma e
oportunidade abençoada de quitação daquelas dívidas. Portanto, é feliz aquele
que salda débitos com a Justiça divina. Maldizer o sofrimento é abdicar o homem
do único remédio que lhe permite a reconquista da felicidade.
2 – O que ocorre com
aquele que não sofre resignadamente?
R – Mostrar-se
irresignado com o sofrimento é tornar-se insubmisso à vontade de Deus. Aquele
que assim age, ao invés de saldar seus débitos, nova dívida contrai, edificando
um futuro tormentoso.
3 – Na prática, como
podemos suavizar nossas provações?
R – Moderando nossos
desejos evitando a inveja, o ciúme, a ambição, dando à vida material o valor
relativo que lhe é peculiar, acima de tudo aceitando-a com resignação, e
praticando o bem ao próximo.
Conclusão
do estudo:
A resignação anda
sempre de mãos dadas com a fé. Ela é, em verdade, uma das formas de aplicar a
fé em nosso cotidiano. O que caracteriza a resignação é a aceitação completa,
não apenas o sofrimento em si, mas de todas as circunstâncias que se encontram
fora de nosso controle. É através dela que aprendemos que debater-se não nos
leva a nada.
A resignação só é
possível com uma fé sólida, raciocinada. Quanto mais robusta for a fé, maior o
sentimento da resignação.
Podemos afirmar,
portanto, sem sombra de dúvida, que a resignação tem o poder de anular o
impacto do sofrimento, fazendo com que o indivíduo, ante a imortalidade da
alma, compreenda o processo. Não pela subserviência, submissão ou inércia
diante dos fatos, mas por uma oportunidade de crescimento que nos impulsiona à
busca do melhor para nós.
Devemos aproveitar o
ensejo para exemplificar nossa condição de cristão. Nossa serenidade perante o
sofrimento fará com que outros repensem a forma de como vivem.
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITEM 11 – ESQUECIMENTO DO PASSADO
Texto de Apoio:
11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstancias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.
Frequentemente, o Espirito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no intimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.
Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservara. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forcas para resistir às tentações.
Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida espiritual, readquire o Espirito a lembrança do passado; nada mais ha, portanto, do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias precedentes.
E não é somente apos a morte que o Espirito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espirito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e prejudica-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar.
Algumas pessoas dizem que não acreditam em reencarnação porque não têm lembrança de existências passadas, não sabendo o que foram, o que fizeram, no que acertaram, no que erraram, se eram homens ou mulheres, se eram ricas, pobres ou remediadas.
Incontáveis criaturas não se lembram da roupa que vestiram um mês atrás e uma multidão não sabe ou não se lembra o que almoçou na quinta-feira da semana passada. Diga-se, desde logo, que a memória não é condição necessária à existência.
Quando nós falamos em esquecimento do passado, muitos questionam por que temos que, em uma vida, corrigir erros de vidas passadas, das quais não temos a mais remota lembrança. Muitos perguntam onde está a Justiça Divina, se temos que pagar por erros que nem sequer lembramos? Como o homem pode ser responsável por atos dos quais não se recorda? Como deve, nesta existência, pagar por faltas de outras existências, das quais não tem nenhuma lembrança? A lembrança do passado não nos traria uma melhor compreensão das provas que atravessamos?
Pois é exatamente nisso que consiste a Justiça de Deus. O esquecimento do passado é a Misericórdia Divina nos dando oportunidades de recomeço, a cada nova encarnação.
O espírito reencarna para aprender e progredir. O esquecimento do passado é a oportunidade que temos, a cada nova encarnação, de começar do zero. É um passaporte em branco, um recomeço. Assim, podemos fazer uso de nosso livre-arbítrio para construir novos aprendizados em cada existência, e a quitação dos nossos débitos se encaixa justamente dentro de nossa parcela de aprendizado.
O espírito reencarnado não tem, realmente, a lembrança dos seus atos em vidas pregressas. Como toda regra tem exceção, há casos de nitidez de lembranças do passado, mas são poucos os casos conhecidos. A maioria dos reencarnados tem esquecimento do passado. Essa é a regra geral. Essa lembrança seria um obstáculo, e não uma facilidade. Na Revista Espírita de 1863, lemos: A lembrança do passado traria inconvenientes extremamente graves, porque isso nos perturbaria, nos humilharia, aos nossos próprios olhos e aos do próximo, traria até mesmo perturbações nas relações sociais e travaria o nosso livre-arbítrio. Suponhamos que um Espírito arrependido viesse encarnar em nosso meio, no cadinho de nosso lar, a fim de reparar suas faltas para conosco, por devotamento e afeição; não seria embaraçoso se ambos se lembrassem das inimizades passadas?
Senão, vejamos: todos nós somos hoje melhores do que fomos no passado. Isto porque todos os aprendizados de ordem moral e intelectual são aquisições do Espírito, ou seja, nosso Espírito conserva tudo o que aprendemos e progredimos em termos morais e intelectuais, em cada existência.
Ao renascermos trazemos nossa bagagem moral, e fazemos uso do nosso livre-arbítrio para construir novos aprendizados, e continuar a nossa evolução moral e intelectual. Se, por um lado, o esquecimento do passado nos beneficia enquanto encarnados, em Espírito conservamos a lembrança de nossas vidas anteriores. Não existe o acaso na casa do Pai – nada acontece sem planejamento, e o Espírito, antes de reencarnar, participa desse planejamento. Vejamos como isso se dá:
Na erraticidade (tempo entre uma encarnação e outra), o Espírito tem consciência de suas vidas pregressas, de seus avanços e de seus erros. Despojado dos interesses da vida material, o Espírito tem uma visão mais abrangente dos progressos que já fez, e do quanto ainda precisa fazer para continuar a sua evolução moral, intelectual e espiritual. Sabe onde tem que melhorar, e ele mesmo pede uma encarnação na qual possa sanar suas faltas, pois tem consciência que todas as suas quedas morais constituem entraves para a sua evolução. (ver Livro dos Espíritos, cap. 6, VIDA ESPÍRITA, item V, Escolha das Provas) É assim que Deus permite que ele reencarne junto das pessoas que amou, assim como daquelas a quem prejudicou, e lhe dá o benefício do esquecimento temporário, para que nem ele, nem as pessoas com as quais convive, possam se apegar ao que ele FOI ou FEZ em outras existências. Se tivéssemos consciência de todo o mal que nos fizeram, cada nova encarnação reacenderia ódios, mágoas e rancores. Que benefício isso traria?
Todos os caminhos de Deus conduzem ao AMOR. É pelo amor que aplacamos ódios, é através do amor que aprendemos a perdoar, é por amor que conhecemos o que é doação, dedicação e desinteresse. É assim que Deus faz com que, inimigos de outrora, renasçam em uma mesma família, com total esquecimento das ofensas, para construírem uma história de amor, amizade e parceria, onde antes houve maldade, ódio e rivalidade.
É assim que observamos, em uma mesma família, espíritos que tem uma perfeita afinidade, enquanto outros parecem destoar daquele meio. São diferentes, são “difíceis”. São, muito provavelmente, Espíritos que nos reclamam o reacerto, embora não de maneira explícita, visto que estamos temporariamente envoltos pelo véu do esquecimento. Nesses casos, não há que se procurar os motivos da rejeição natural que algumas pessoas nutrem por nós. Há, sim, que se compreender que é através do amor e do perdão que as relações de ódio se transformam em respeito e simpatia, que nada mais são do que o início do amor.
Conclusão do Estudo:
O esquecimento do passado, ao invés de castigo, é dadiva celeste, pois, através dele, ocultamos aos outros e a nos mesmos os erros cometidos. Porem, a voz da consciência não deixa de nos apontar as más tendências, advertindo-nos de que é preciso corrigi-las.
Questões para estudo:
1 - Por que o homem se esquece de suas vidas anteriores?
Porque se o homem recordasse dos seus erros, ódios, rancores e remorsos, essas lembranças serviriam de obstáculo para o seu progresso.
2 - Poderiam as lembranças das existências anteriores dificultar o nosso relacionamento social?
Sim. Ficaríamos perturbados diante das pessoas a quem ofendemos ou por quem fomos ofendidos em existências passadas.
Reconhecer em um ente muito amado aquele a quem prejudicamos ou por quem fomos prejudicados seria fator de desequilíbrio em nossa vida.
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O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
ESTUDO SISTEMATIZADO
CAPÍTULO V –
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS DE 6 A 10 – CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES
“Bem-Aventurados os aflitos pode traduzir-se assim:
bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua
perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a
alegria que lhes falta na Terra, porque
depois do labor virá o repouso”.
Textos de apoio:
6. Mas, se há males
nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo
menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como
por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o
amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia
impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas
pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as
que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as
deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.
Os que nascem nessas
condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem
compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para
mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois,
seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma
família, outros são favorecidos de todos os modos?
Que dizer, enfim,
dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos?
Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que
nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça
e da providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao
mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada
após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas, que
acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com
tantas misérias e para merecerem no futuro uma recompensa ou uma punição qualquer,
visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?
Todavia, por virtude do
axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que
hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há
de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra
na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa
existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem
que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se
esses mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma
alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se
acha a justiça de Deus.
O homem, pois, nem
sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não
escapa nunca às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas
momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que
sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece
imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode
sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei”.
7. Os sofrimentos
devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de
culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o
homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer
aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e
com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se
foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado
do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus
filhos, etc.
Assim se explicam pela
pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório,
as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os
bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na
aparência, porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente. Aquele
que se elevar, pelo pensamento, de maneira a aprender toda uma série de
existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem
prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus
nunca se interrompe.
Jamais deve o homem
olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o
conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se
pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende
não voltar a este, trabalhando por se melhorar.
Quando paramos para
analisar a nossa vida e a vida daqueles à nossa volta, uma dos primeiros
questionamentos que nos ocorre é tentar entender a grande diversidade de
sofrimentos e aflições que nos cercam: Por que uns têm saúde e outros doença?
Por que uns têm deficiências físicas e outros corpos perfeitos? Essas perguntas
quando ficam sem respostas sensatas para serem aceitas, nos levam a um Deus
parcial e injusto, que escolhe uns para sofrer e outros para gozar uma vida sem
problemas e sem dificuldades.
Se muitos dos
sofrimentos na Terra são consequências de infrações às Leis de Deus, cometidas
nesta existência, outros parecem imerecidos e injustificáveis, quando quem os
sofre nada fez para merecê-los.
Porém, se Deus é
perfeito, Deus é justo. E Jesus nos apresentou um Deus justo, perfeito, que ama
a todos os seus filhos da mesma forma. Pois, todos eles foram criados iguais e
terão as mesmas oportunidades de crescimento espiritual. Onde está, portanto,
essa justiça? O que nos falta para termos esse questionamento respondido? Para
completar esse quebra-cabeça, nos falta entender a reencarnação, as múltiplas
reencarnações que todos nós já tivemos e ainda teremos.
Através da
reencarnação, conseguiremos enxergar as causas de todos os nossos males e as
respostas para todas as nossas dores e sofrimentos. Se todo efeito tem uma
causa, e Deus é justo, essa causa tem que ser justa. Dessa forma, a causa de
toda aflição é justa, e tem apenas um responsável, nós mesmos. Jesus deixou bem
claro para nós que colhemos apenas o que semeamos. Ninguém passa pelo que não
deve passar; ninguém sofre pelo erro do próximo e, sim, pelo seu próprio erro,
pela sua própria imperfeição, pela sua ação fora da lei divina do amor. Sendo
assim, podemos verificar que toda aflição em nossa vida, vem de duas origens
diferentes: a primeira, nesta própria vida atual; e a outra, fora dela. A
primeira fonte, nesta vida atual, é fácil de ser verificada, basta analisarmos
nosso passado, passo a passo, que iremos encontrar a origem de vários males que
nos assola. Uma doença hoje, causada por uma imprudência de alimentação, fumo,
bebida; um desentendimento hoje, causado por uma palavra dita na hora errada, e
assim vai. Podemos até refletir: Ah! Se eu tivesse feito isso, ou deixado de
fazer aquilo, talvez não estivesse passando por essa situação. Portanto, vemos
em nós a responsabilidade pela maioria de nossas aflições. Quanto mais
evoluirmos moralmente, mais evitaremos essas faltas, diminuindo assim o nosso
sofrimento.
A lei humana pode não
perceber alguns atos e erros. Porém, da lei divina, nenhum fato escapará.
Qualquer fuga da lei divina exige uma reparação. Em grande parte do tempo, essa
reparação vem pela dor e pela aflição. Devemos também lembrar, que aquele que
mais cobra essa reparação do erro é a nossa própria consciência que, em
determinado instante percebe a nossa falta, e não se calará até a nossa
reparação. Agora, aquela aflição que nós não conseguimos reconhecer a sua
origem nesta nossa vida como, por exemplo, uma criança que já nasceu doente e
com certa deficiência física, nós não enxergamos nesta vida a origem dessa dor,
desse mal. Neste caso, está a segunda origem das nossas aflições. Para
justificar essas causas anteriores, imaginemos que no fim de sua existência, um
indivíduo reconheceu vários erros, e a sua consciência exige que ele os repare,
mas, não há mais tempo, sua vida está no fim. Ele irá lamentar com toda
certeza: Ah! Se eu pudesse recomeçar! Ah! Se eu pudesse fazer tudo novamente!
Aí, entra a lei das vidas sucessivas, oferecendo oportunidades infinitas de
evolução contínua ao Espírito imortal. Somente ela mostra a Justiça de Deus na
lei de causa e efeito, dando a todos os Seus filhos oportunidades de errando e
acertando, corrigindo e aprendendo, no desenvolvimento do seu potencial
espiritual.
Graças à misericórdia
divina, esse Espírito vai ter a bênção de nova oportunidade carnal. Vai ter a
reencarnação lhe oferecendo esse recomeço. Desta forma, o Espírito tem a chance
de reparar os erros que não foram possíveis de ser reparados na outra
existência. Sendo assim, existem aflições em nossa vida que são consequência de
faltas em outra encarnação. Faltas não reparadas que, conscientemente ou não,
pedimos agora para reparar. Dessa forma, devemos enxergar as nossas dores e
aflições como escolha própria, e enxergarmos nela um trampolim para a nossa
evolução, uma oportunidade para reparar erros passados.
É importante notar que
nem toda aflição é uma expiação em nossa vida. Isto quer dizer que nem toda dor
que passamos é um contexto de erros anteriores. Existem também aqueles que são
próprios, são testes que pedimos para passar, para verificar se já aprendemos
uma determinada lição, para que possamos subir um degrau na escada da nossa
evolução espiritual.
Para sermos os aflitos
bem-aventurados da parábola, devemos ter a força de suportar essas dores, essas
aflições, com fé, com resignação, com coragem, deixando de lado nossos
queixumes, as nossas reclamações, para termos o consolo prometido por Jesus,
devemos ter em mente que as nossas dificuldades, as nossas aflições são, na
verdade, oportunidades para aprendermos a não mais errar; de aprendermos a
acertar, conforme a lei divina.
Conclusão do Estudo:
Todo sofrimento é obra
de quem o sofre; fruto de erros praticados nesta ou em outra vida. A certeza da
Justiça de Deus nos dá a paciência e a resignação para o aceitarmos e fazer
dele ocasião de progresso espiritual.
Para nossa reflexão:
P - Como podemos
explicar a felicidades de uns e o padecimento de outros, sem negar a justiça e
a bondade de Deus?
R - Procurando as
causas anteriores que lhes deram origem e que, se não podem ser encontradas na
presente existência, devem ser buscadas em existências passadas.
P – As tribulações são
impostas aos Espíritos ou por eles buscadas?
R – Ocorrem as duas
situações: aos Espíritos endurecidos e ignorantes são impostas tribulações para
que se esclareçam e busquem, na prática do bem, a libertação do sofrimento; os
Espíritos penitentes, detentores de maior esclarecimento, buscam
espontaneamente as tribulações, desejosos de reparar o mal que hajam feito.
O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS 4 e 5 – CAUSAS
ATUAIS DAS AFLIÇÕES
O estudo desses itens
vai nos mostrar a importância de fazermos uma reflexão, de ouvirmos a voz da
nossa consciência, que vai nos dizer que muitas das nossas dificuldades; muitas
das nossas aflições que vivemos, não foram geradas em encarnações passadas,
como gostamos de dizer. Muitos, até, utilizam um termo oriental, que é o termo Carma,
para delegar a responsabilidade de todas as nossas dificuldades. Mas, na
verdade, essas pessoas estão tentando fugir da responsabilidade de seus atos.
O objetivo maior de
estudarmos esses itens é, justamente, de entendermos que essas causas se
encontram nos nossos próprios defeitos morais, criados pelo nosso
livre-arbítrio conduzido de forma inadequada, e dessa foram criamos
dificuldades que nem deveriam existir.
Sem a autorreforma
moral, nós estaremos sempre reincidindo nas mesmas faltas e sofrendo os
prejuízos que delas decorrem.
Aqui, nós vamos estudar
as causas das vicissitudes na vida presente.
Kardec nos diz no
primeiro parágrafo:
4. De duas espécies são
as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem
diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente;
outras, fora desta vida.
Remontando-se à origem
dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do
caráter e do proceder dos que os suportam.
Quantos homens caem por
sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e
de sua ambição!
Quantos se arruínam por
falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido
limitar seus desejos!
Quantas uniões
desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas
quais o coração não tomou parte alguma!
Quantas dissensões e
funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos
suscetibilidade!
Quantas doenças e
enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais são infelizes
com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más
tendências!
Por fraqueza, ou
indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do
egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais
tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de
deferência com que são tratados e da ingratidão deles.
Interroguem friamente
suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e
decepções da visa; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e
verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou
deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.
A quem, então, há de o
homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem,
pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios;
mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua
vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que
a má estrela é apenas a sua incúria.
Os males dessa natureza
fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes
da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto
quanto intelectualmente.
A imprevidência (Não
calcular bem os prós e os contras de cada opção feita) é a causa de muitos
insucessos e infortúnios. Kardec disse: “É preferível ser um bom sapateiro a um
mau poeta”, como forma de alertar a quem pretenda se arrogar uma superioridade
impossível para a atual encarnação. Saber reconhecer as próprias limitações
representa humildade e previdência, evitando-se projetos inviáveis, que
desembocam na decepção, quando não em complicações graves e até insanáveis.
O orgulho nos faz
pensar que somos superiores às demais pessoas e nos leva a desprezá-las. A
pessoa orgulhosa cria dificuldades para si e para as demais pessoas. Devido ao
orgulho infeliz, quanta gente se perde!
Kardec relacionou a
ambição desmedida como outra causa atual das aflições humanas, uma vez que,
pretendendo conquistar benesses superiores às suficientes para uma vida voltada
para a própria evolução intelecto-moral, muitos passam a perseguir sonhos de
grandeza que nos desviam do caminho do Bem. A ambição faz a pessoa pretender o
supérfluo, o injusto, em suma, aquilo que supera o necessário, a justa medida
para o cumprimento de sua tarefa no mundo terreno. A virtude contrária à
ambição desmedida é a moderação, sendo que quem a adota sabe escolher o que lhe
convém como forma de conduta.
Muitos chegam ao
fracasso de várias ordens por falta de organização na sua vida pessoal,
afetiva, profissional, etc., pois vivem em função do momento presente, sem
planejar o futuro, ou sonham alto demais e se esquecem das próprias limitações,
pretendendo o que realmente não merecem ou não lhes terá utilidade real.
A preguiça representa
um defeito moral, revelando irresponsabilidade. Se Kardec foi escolhido para a
missão de Codificador, um dos itens que deve ter sido levado em conta foi sua
aplicação ao trabalho, sua determinação em persistir no cumprimento dos seus
deveres, tanto que, em pouquíssimo tempo, deu conta de escrever e publicar
tantas obras. A perseverança é uma virtude.
Quem vive
equivocadamente não pode pretender bons resultados na sua vida nem acusar Deus
ou a sorte pelas suas infelicidades atuais, as quais representam meras
consequências das suas próprias atitudes malsãs.
Há quem aparente
bondade, mas cujos pensamentos e sentimentos sintonizam no Mal e atraem
desgraças para sua própria vida; assim, quando Kardec fala em conduta, na
certa, não se referiu apenas às atitudes externas, mas englobou também o que se
passa portas a dentro da intimidade mental de cada um.
Os maus desejos
representam pretensões antiéticas, prejudiciais aos outros e a nós mesmos,
sendo que os Espíritos primitivos se caracterizam pela predominância dos maus
desejos, que procuram satisfazer a qualquer preço, inclusive com prejuízos
alheios.
Na área profissional,
por exemplo, muitos há que procuram açambarcar o máximo de benefícios,
desrespeitando a ética profissional e as Leis divinas; na área afetiva, há quem
explore os sentimentos e a confiança alheios; dentro das quatro paredes do lar,
existe quem abuse do aparente poder que detêm na qualidade de pai ou mãe; e assim
por diante.
Os vícios, a
agressividade e todas as formas inadequadas de pensar, sentir e agir tendem a
levar-nos a maus resultados, sendo que, por adotarmos determinadas atitudes
internas ou externas, contraímos doenças físicas ou psíquicas, muitas delas
irreversíveis.
Quando os filhos
assimilam os defeitos morais dos pais tendem a repassá-los aos filhos que
tiverem, perdurando assim o rosário de problemas morais, que assolam a
sociedade. Os pais assumem perante Deus o compromisso sério e intransferível de
exemplificar o Bem ais seus filhos. Somente assim cumpriremos fielmente nossos
deveres para com aqueles por cuja educação nos responsabilizamos antes da
encarnação.
Na época de Kardec, o
duelo era um dos grandes problemas, tanto que foi abordado extensamente na
Codificação. As disputas com armas agora se transformaram em lutas judiciais,
em que, por qualquer motivo, as pessoas processam umas às outras, perdendo a
própria tranquilidade e gerando mais problemas que soluções. A conciliação é a
única solução, quando a pessoa que tem alguma queixa contra outra se reúne com
ela, formal ou informalmente, e ambas dialogam, procurando apaziguarem-se os
ânimos.
No mundo de
regeneração, o papel da justiça terrena deverá restringir-se a alguns poucos
casos de extrema complexidade, em que os próprios interessados não têm
condições de solucionar as situações de dúvida existentes. Até lá devemos
exercitar o perdão em favor daqueles que eventualmente tenham nos prejudicado.
As “dissenções e
querelas funestas”, a que Kardec se refere, devem ser contornadas com amor e
caridade, sendo que o próprio Codificador, na sua superioridade moral, na
ocasião em que podia ter acionado a justiça para questionar o prejuízo material
sofrido com o injusto “Auto de fé de Barcelona, não o fez.
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
V – BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS DE 1 A 3 –
JUSTIÇA DAS AFLIÇÕES
Esse capítulo, além de
ser o mais longo do Evangelho é também um dos mais importantes, pois através
dele é que tomamos conhecimento, como foi dito pela Espiritualidade superior,
logo ao seu início, da utilidade de sofrer para ser feliz. Ora, sem o
conhecimento da Doutrina Espírita ninguém aceita essa colocação: “Sofrer para
ser feliz”, e mesmo com o conhecimento de seus fundamentos expostos no decorrer
do capítulo, dificilmente se compreende o que nos parece ser um paradoxo. Isso
porque, de um modo geral, a Humanidade terrestre acha que a felicidade está
neste mundo, e por isso não quer aceitar o sofrimento de forma alguma, buscando
incessantemente encontra-la nesta encarnação, em que a maioria dela ainda acha
que é a única porque passa na Terra.
Neste capítulo, estão
as Bem-aventuranças, ou seja, Jesus nos dizendo as circunstâncias em que nós
poderemos ser bem-aventurados. E nessas bem-aventuranças, nós encontramos os
contrastes como bem-aventurados os aflitos. Como bem-aventurado se estou numa
aflição terrível? Como bem-aventurado se estou chorando? Então, é muito
importante que nós estudemos com muito carinho e com muita atenção essa parte
do Evangelho, porque, muitas vezes, nós nos equivocamos e interpretamos errado,
e precisamos de uma interpretação correta para que nós não caiamos nos mesmos
comentários que muitas vezes ouvimos dos nossos amigos, que não entendem por
que bem-aventurados os aflitos se eles sofrem.
Jesus estende essas
Bem-aventuranças além dos Bem-aventurados os aflitos. O Cristo estende essa
lição a muitos outros itens. Muitas vezes, os ensinamentos do Mestre se faz
difícil para nós, para o nosso entendimento, porque realmente nós ainda não
estamos à altura de uma compreensão mais profunda. Mas isso não significa que
esses ensinamentos, por mais difíceis que sejam, se tornem impossíveis de se
compreender.
Textos
de apoio:
1 – Bem-aventurados os que
choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por
amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V: 5, 6 e 10).
2 –
Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados
os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora
chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20 e 21)
Mas ai de vós, ricos, porque tendes no fundo a vossa consolação.
Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora
rides, porque gemereis e chorareis. (Lucas, VI: 24 e 25).
Esse estudo fala sobre os aflitos. E quem de
nós, nos dias de hoje, não tem aflição? E a aflição pode ser proveniente do
momento atual da vida que nós temos agora, como também pode ter uma causa em
vidas anteriores, aquilo que nós chamamos de expiação. A nossa responsabilidade
é extremamente grande, porque nós somos os artífices da nossa felicidade ou da
nossa infelicidade. Jesus nos diz que as Bem-aventuranças virão em vidas
futuras, mas para isso nós temos que nos modificar.
Nós encontramos nessa
passagem do Evangelho um desses momentos, em que Jesus nos diz Bem-aventurados
os que sofrem. Nas ocasiões em que estamos sofrendo injustiça, fome, perseguição,
dentro daquela certeza de que estamos buscando a verdade, não devemos esquecer
da justiça divina, e considerarmos que somos bem-aventurados, sim. Mas para
isso é preciso que nós consideremos a perfeição da sabedoria divina.
Considerando Deus como a máxima sabedoria e, principalmente, justiça, como é
que poderíamos admitir que o nosso sofrimento fosse injusto. Nós sabemos que
somos submetidos às leis de Deus e fomos criados por elas, e estamos evoluindo
dentro dessas leis. Então, se nós agredirmos essas leis, realizarmos ações que
não são pautadas por essas leis durante o caminhar para a nossa evolução, é
evidente que colheremos o que plantamos. Se hoje deparamos com uma série de
problemas, é porque, no passado, nós semeamos esses problemas. E Deus, na sua
misericórdia infinita pelas criaturas, através das sucessivas reencarnações,
permite que nós resgatemos esses erros cometidos no pretérito. Agora, no
momento em que, dentro das nossas aflições, dentro do nosso sofrimento, dentro
das nossas dores físicas ou morais, nós nos convencermos de que apenas a
justiça das leis estão sendo cumpridas, por mais aflitos que estejamos, nós
seremos merecedores da palavra bem-aventurado, porque estamos sofrendo sabendo
que aquilo é justo; estamos aflitos, mas convencidos de que, simplesmente, as
leis estão se cumprindo, além de nos dar muita força, muita coragem, para
prosseguir, enfrentando as coisas que possam advir. A certeza de que estamos
dentro da justiça divina faz com que nós avancemos na nossa evolução. Estaremos
trabalhando dentro da dor; estaremos progredindo dentro do sofrimento.
Quando Jesus diz que
nós seremos consolados, isto não quer dizer que alguém venha de fora nos
consolar, nem devemos esperar isso. Nós, é que temos que buscar esse consolo.
Quando nós nos recolhemos, e fazemos uma prece, pedindo ajuda aos nossos amigos
espirituais, não é que a aflição vá desaparecer, num passe de mágica. Mas nós
vamos ser consolados. É como se alguém passasse um creme suavizante em cima
daquela pancada. A pancada continua ali. Nós temos que continuar tratando do
hematoma, pois, o creme não cura, mas alivia, e nos permite seguir adiante, não
nos deixar parar, por causa da aflição. O nosso maior erro na hora da aflição é
parar o nosso progresso.
Justiça
das aflições
3 – As compensações que Jesus promete
aos aflitos da Terra só podem realizar-se na vida futura. Sem a certeza do
porvir, essas máximas seriam um contrassenso, ou mais ainda, seriam um engodo.
Mesmo com essa certeza, compreende-se dificilmente a utilidade de sofrer para
ser feliz. Diz-se que é para haver mais mérito. Mas então se pergunta por que
uns sofrem mais do que outros; por que uns nascem na miséria e outros na
opulência, sem nada terem feito para justificar essa posição; por que para uns
nada dá certo, enquanto para outros tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos
se compreende é ver os bens e os males tão desigualmente distribuídos entre o
vício e a virtude; ver homens virtuosos sofrer ao lado de malvados que
prosperam. A fé no futuro pode consolar e proporcionar paciência, mas não
explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.
Entretanto, desde que se admite a
existência de Deus, não é possível concebê-lo sem suas perfeições. Ele deve ser
todo poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se
Deus é soberanamente justo e bom, não pode agir por capricho ou com
parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois, uma causa, e como Deus é
justo, essa causa deve ser justa. Eis do que todos devem compenetrar-se. Deus
encaminhou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus, e hoje,
considerando-os suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a por
completo através do Espiritismo, ou seja, pela voz dos Espíritos.
Aqui, nós vemos a justiça das
aflições no comentário de Kardec, que nos dá um esclarecimento maior a respeito
das palavras de Mateus e de Lucas.
Conclusão do estudo
Estando nós no planeta Terra, de
provas e expiações, todos choramos por nossas dores e aflições. Em
circunstâncias diversas, enfrentamos dificuldades, adversidades, sofrimento de
todos os tipos. Contudo, o nosso pranto é um pranto de redenção. Como espíritas
somos sabedores de que ele (pranto) é um elemento que nos irá redimir de nossas
faltas passadas, porque só aprendemos e evoluímos através da dor, do
sofrimento. E, portanto, aqueles que muito sofrem são os que mais culpas têm a
expiar, e devem alegrar-se com a ideia de que suas lágrimas do sofrimento,
suportado com paciência e resignação, purificam o Espírito e faz com que as
mais suaves consolações sejam obtidas em vidas futuras. Ninguém padece sem
justa razão.
Muita Paz!
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O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
ESTUDO
SISTEMATIZADO
CAPÍTULO
IV – NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO
ITENS DE 24 A 26 –
LIMITES DA ENCARNAÇÃO E NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO
Com esse estudo
estaremos completando a apreciação do Capítulo IV deste Evangelho. Onde foram
estudados os seguimentos relativos à Ressurreição e Reencarnação, e um outro em
que ficou esclarecido que os laços de família são fortalecidos pela
reencarnação e rompidos pela unicidade da existência.
Agora, no seguimento
Instruções dos Espíritos, vamos comentar duas instruções do Espírito São Luís.
A primeira, ditada em Paris, em 1859, versando sobre os limites da encarnação.
E a segunda, também ditada em Paris e em 1859, sobre a necessidade da
encarnação.
Antes de tecermos
comentário sobre a primeira resposta de São Luís, convém relembrarmos o que nos
diz O Livro dos Espíritos sobre o assunto; em que se constitui a chamada
encarnação, e quais os objetivos da mesma, para que, com essas explicações,
possamos compreender melhor o que nos informa o Espírito mensageiro.
Ensina-nos O Livro dos
Espíritos, na sua introdução, que quem crê haver em si outra coisa além da
matéria é espiritualista; obviamente, quem não crê é materialista. Esse algo
além da matéria é o que chamamos de alma, e ela constitui o princípio da vida
material orgânica, ou seja, o ser imaterial e individual que reside em nós e
sobrevive ao corpo. A alma durante a vida material tem duplo invólucro. Um, pesado,
grosseiro, destrutível, o corpo. Outro, fluídico, leve, indestrutível, chamado
Perispírito. Quando a alma não está unida ao corpo, é chamada de Espírito. Para
essa união se verifique é preciso que o Espírito esteja revestido pelo
Perispírito. O homem é formado, portanto, por três elementos essenciais: O
Espírito, princípio inteligente, em que residem o pensamento, a vontade e o
senso moral; o Perispírito, invólucro fluídico, leve e imponderável, que serve
de primeiro envoltório ao Espírito, e une a alma ao corpo; e o corpo, invólucro
material, que põe o Espírito em relação com o mundo exterior. A encarnação do
Espírito é, portanto, a reunião desses três elementos, que irão constituir o
que chamamos de homem.
Ainda em O Livro dos
Espíritos, vamos encontrar na questão 132, a seguinte pergunta: Qual é o
objetivo da encarnação dos Espíritos? Resposta (Parte): Deus lhes impõe a encarnação com
o objetivo de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros,
missão. Todavia, para alcançarem essa perfeição, têm que suportar todas as
vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação. A encarnação
tem, também, outro objetivo; o de colocar o Espírito em condições de cumprir
sua parte na obra da Criação. Para realiza-la é que, em cada mundo, o Espírito
toma um instrumento em harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de
aí cumprir as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele
próprio se adianta.
Agora, para a alma que
não conseguiu depurar-se em uma encarnação, como ela faz para alcançar a
perfeição? Kardec faz esta pergunta na questão 166 em O Livro dos Espíritos. E
a resposta da espiritualidade é esta: Suportando a prova de uma nova
existência. Quer dizer então que a alma passa por várias experiências, donde se
extrai o princípio da pluralidade das existências. De tudo o que ficou exposto,
conclui-se que, há necessidade para o Espírito, objetivando o seu
aperfeiçoamento, de que ele repita a experiência da encarnação, já que nem
mesmo os que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem estão dispensados
dessa obrigação, por um dever de justiça divina, posto que, Deus não iria fazer
alguns felizes, desde a sua criação, sem que para isso tivessem de demonstrar
mérito como os demais. Essa mecânica é que explica o dogma da reencarnação, que
tem suas bases nos princípios já apresentados: o da pré-existência da alma e o
da pluralidade das existências. São eles que constituem a chave que torna
aceitável, compreensível e, mais do que isso, fácil de ser compreendido.
Depois dessas
informações, vamos passar ao exame da matéria, objeto do nosso estudo:
No item 24, está
formulada por Kardec, a seguinte pergunta: Quais os limites da encarnação? O
Espírito São Luís responde: A encarnação não tem, propriamente falando, limites
precisamente traçados, se tivermos em vista apenas o envoltório que constitui o
corpo do Espírito, pois que a materialidade desse envoltório diminui à
proporção que o Espírito se purifica. Em certos mundos mais adiantados do que a
Terra, ele já se apresenta menos compacto, menos pesado e menos grosseiro; e,
por conseguinte, menos sujeito à vicissitudes. Num grau mais elevado, é
transparente e quase fluídico. Vai desmaterializando-se de grau em grau, e
acaba por se confundir com o Perispírito. De acordo com o mundo em que o
Espírito é levado a viver, ele se reveste do invólucro apropriado à natureza
desse mundo. Em outras palavras, isso quer dizer o seguinte: o envoltório que
constitui o corpo do Espírito à proporção em que ele vai vivendo em mundos mais
avançados que a Terra, vai se desmaterializando, tornando-se cada vez menos
pesado e menos grosseiro, à medida que o Espírito se purifica. E, ao fim de
algumas encarnações, acaba por se confundir com o perispírito, tal a sua
fluidez. O próprio perispírito passa por transformações sucessivas; torna-se
cada vez mais etéreo, até a depuração completa, que é a condição dos Espíritos
puros. Se mundos especiais são destinados a Espíritos de grande adiantamento,
esses não ficam presos a eles, como nos mundos inferiores. O estado de
libertação em que se encontram permite-lhes ir a toda parte, onde quer que
sejam chamados, pelas missões que lhes estejam confiadas. Se considerarmos a
encarnação do ponto de vista material, tal como se verifica na Terra, podemos
dizer que ela se limita aos mundos inferiores. Depende do Espírito, portanto,
libertar-se dela mais ou menos rapidamente, trabalhando pela sua purificação.
Pela mensagem do
Espírito São Luís, nós poderíamos ficar pensando e imaginando o que seria viver
em mundos onde a condição da encarnação seja mais facilitada, em que os corpos
sejam mais leves, mais belos. Mas isso vai depender, unicamente, do nosso
crescimento espiritual, de todo um processo de educação do Espírito; pois, é
através do processo de evangelização que cada um de nós vai vivenciando, que
vamos então ganhando condições de viver num mundo melhor. Agora, se nós
estivermos naquela condição de a minha casa, o meu carro, tudo é meu, sem
compreendermos que tudo é empréstimo de Deus, para a evolução do nosso
espírito, quando desencarnarmos, vamos ficar presos a tudo isso, e não será,
portanto, o nosso momento ainda da construção do Reino dos Céus dentro de nós.
O Espírito São Luís
arremata essa sua resposta informando que a situação do Espírito no estado de
erraticidade, ou seja, no intervalo das existências corporais, está em relação
com a natureza do mundo ao que o liga o seu grau de adiantamento. Assim,
conclui o Espírito mensageiro: na erraticidade, ele é mais ou menos feliz;
livre e esclarecido, conforme for mais ou menos desmaterializado. A mensagem do
Espírito São Luís assim responde a questão formulada por Kardec: Quais os
limites da encarnação?
Se quisermos
estendermo-nos mais um pouco sobre esse enfoque, poderemos evocar a questão
168, também de O Livro dos Espíritos, na qual Kardec pergunta: É limitado o
número das existências corporais, ou o Espírito reencarna permanentemente? A
resposta da Espiritualidade é a seguinte: A cada nova existência, o Espírito dá
um passo no caminho do progresso. Desde que se ache limpo de todas as
impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal. Kardec
acrescenta a seguinte, de número 169: O número das encarnações é o mesmo para
todos os Espíritos? A resposta da Espiritualidade superior é taxativa: Não;
aquele que caminha depressa se poupa de muitas provas. Todavia, as encarnações
sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito.
Por tudo isso que foi
exposto, é que o Espírito São Luís conclui a sua resposta fazendo a seguinte
consideração: No estado de erraticidade, a situação do Espírito está em relação
com a natureza do mundo a que o liga o seu grau de adiantamento. Do exposto, se
deduz que o limite das encarnações está na razão direta do maior grau de
adiantamento que o Espírito houver adquirido nas diferentes existências
corporais que tiver vivenciado aqui na Terra. E que equivalem a um maior grau
de desmaterialização e, consequentemente, de pureza, até o ponto em que ele,
tornando-se Espírito puro, nã mais necessita encarnar. Esse, então, será o
limite de encarnação daquele Espírito que tiver alcançado essa meta suprema. Os
outros, que ainda não conseguiram essa situação, continuam com a sua limitação
em aberto.
No item de número 25,
respondendo a uma nova pergunta de Kardec, Se a encarnação é um castigo, e
somente os Espíritos culpados estão sujeito a sofrê-la? O Espírito São Luís
assim se expressa: A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária
para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os propósitos cuja
execução Deus lhes confia. Isto aqui significa dizer que os Espíritos
necessitam do instante como encarnados a bem deles, visto que a atividade que
então se veem obrigados a desempenhar ajuda-os a desenvolver a inteligência.
Deus, sendo,
soberanamente justo, deve distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos;
assim, é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão,
as mesmas obrigações a cumprir, e a mesma liberdade de proceder. Qualquer
privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Foi por isso que o Espírito
São Luís disse que Deus concede a todos o mesmo ponto de partida.
Prossegue o Espírito
mensageiro: A encarnação para todos os Espíritos é apenas um estado
transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe quando iniciam a vida, como
primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. Os que desempenham com
zelo essa tarefa transpõem rapidamente, e de maneira menos penosa, os primeiros
graus da iniciação, e mais cedo gozam do resultado de seus trabalhos. Os que,
ao contrário, fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam o seu
progresso. E, é assim, por sua obstinação demonstrada, podem prolongar
indefinidamente a necessidade de reencarnarem.
O item 26 é uma nota de
Kardec, sobre as respostas do Espírito São Luís. Diz Kardec:
Uma comparação vulgar
fará se compreenda melhor essa diferença. O escolar não chega aos estudos
superiores da ciência, senão depois de haver percorrido a série das classes que
até lá o conduzirão. Essas classes, qualquer que seja o trabalho que exijam,
são um meio de o estudante alcançar o fim e não um castigo que se lhe inflige.
Se ele é esforçado, abrevia o caminho no qual, então, menos espinhos encontra.
Outro tanto não sucede àquele a quem a negligência e a preguiça obrigam a
passar duplamente por certas classes. Não é o trabalho da classe que constitui
a punição; esta se acha na obrigação de recomeçar o mesmo trabalho.
Assim acontece com o
homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está apenas no início da vida
espiritual, a encarnação é um meio de ele desenvolver a sua inteligência;
contudo, para o homem esclarecido, em quem o senso moral se acha largamente
desenvolvido e que é obrigado a percorrer de novo as etapas de uma vida
corpórea cheia de angústias, quando já poderia ter chegado ao fim, é um
castigo, pela necessidade em que se vê de prolongar sua permanência em mundos
inferiores e desgraçados
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