MEDIUNIDADE
– O CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE JESUS AOS APÓSTOLOS
(Humberto
Werdine)
Quando Jesus morreu na
cruz, o desespero tomou conta dos apóstolos. Como que Ele, considerado por eles
como Filho de Deus, fazedor de milagres, que havia ressuscitado mortos, curado
cegos e leprosos, poderia ter sido morto daquela forma tão vil e degradante?
Os apóstolos, além de
desesperados, estavam sem rumo e quase sem fé. A desconfiança e o medo da
prisão e do possível fim similar a Jesus estavam presentes em cada um deles. O
que fazer agora?
Ao terceiro dia após
Sua morte, Jesus apareceu aos apóstolos e ficou com eles durante quarenta dias,
em situações diversas. Os Atos dos Apóstolos, documento que segue aos Quatro
Evangelhos, nos conta que Jesus aparecia, ficava algum tempo com eles, e
desaparecia logo após. E ficou nesta situação por quarenta dias. Quando chegou
a hora de Jesus subir aos Céus, no quadragésimo dia após o primeiro
aparecimento após Sua morte, Ele se reuniu com os apóstolos e disse: - Não
saiam daqui a nenhum lugar, pois as virtudes do Espírito Santo descerão sobre
vocês (Atos, cap. 1, vers. 4-5).
E Jesus começou a subir
aos céus e desaparecer da vista dos apóstolos. Foi quando eles se deram conta
que dois mancebos de vestes brilhantes estavam entre eles, sem saberem quando e
como eles apareceram ali (Atos, cap. 1, vers. 9-11).
Os Atos dos Apóstolos
não dizem nada mais a respeito destes homens de vestes brilhantes, mas a sua
presença ali deve ter tido uma repercussão bastante importante, pois Jesus
tinha ido aos céus e dois homens de vestes brilhantes apareceram do nada ao
lado dos apóstolos. A presença deles deve ter sido de capital importância para
a formação dos apóstolos e para o futuro da missão de cada um, pois, se assim
não fosse, este fato não teria sido mencionado.
Com os conhecimentos
que hoje trazemos do Espiritismo, podemos inferir que estes homens de vestes
brilhantes seriam Espíritos materializados de alta elevação moral, pela
resplandecência de suas vestes. Podemos alongar um pouco mais e chegar à
conclusão que eles vieram para dar cumprimento à promessa de Jesus de que o Espírito
Santo iria descer sobre os apóstolos.
Os Atos dos Apóstolos
nos dizem que os apóstolos seguiram a recomendação de Jesus e não saíram de
Jerusalém durante todos os cinquenta dias do Pentecoste judaico. No cap. 2,
vers. 1-4, está escrito que, no dia final do Pentecostes, estando os apóstolos
reunidos em um mesmo lugar, línguas de fogo desceram sobre todos eles e que
eles ficaram cheios do Espírito Santo.
A partir deste momento,
os apóstolos começaram a fazer milagres semelhantes ao que Jesus fazia, curando
cegos, leprosos e doentes de toda sorte, e sempre fazendo em nome de Jesus.
Foram estas maravilhas que eles fizeram que deram origem a este movimento
excepcional, fonte primeira da religião cristã.
É importante ressaltar
que não encontramos nos Evangelhos nenhum milagre ou feito extraordinário
realizado pelos apóstolos, durante a vida de Jesus. Como eles, após a morte de
Jesus e depois dos quarenta dias da Páscoa Judaica e após os cinquenta dias dos
Pentecostes, passaram a fazer milagres em conjunto e em quantidade ilimitada? A
nossa explicação é simples e ousada: após um treinamento intensivo de como
desenvolver e exercitar os diversos carismas, como o apóstolo Paulo mais tarde
identificava os dons que hoje conhecemos como dons mediúnicos. E este treinamento
teria sido dado por estes dois homens de vestes brilhantes.
Foi o primeiro Curso
Intensivo de Desenvolvimento Mediúnico, podemos assim sugerir, aplicado por
estes Espíritos materializados. Era o que faltava aos apóstolos, pois eles
tinham tido a comprovação da vida após a morte, com o aparecimento do corpo
espiritual de Jesus e sua manifestação junto a eles, cujo fato foi denominado
por eles de ressurreição.
A morte tinha sido
vencida, eles sabiam e tinham total certeza disso, era mais do que fé, era certeza
de um fato consumado. Mas como levar esta verdades às pessoas e ao povo em
geral? Somente pelo testemunho deles não seria suficiente.
Neste ponto é que veio
se dar a execução do planejamento da Espiritualidade Superior, comandada por
Jesus: a eclosão da mediunidade e seu uso intenso pelos apóstolos, curando e
fazendo os milagres e maravilhas em nome de Jesus. Para isto é que vieram
aqueles dois Espíritos iluminados, que se condensaram para o treinamento dos
apóstolos. Entendemos que assim foi cumprida a promessa de Jesus aos seus
apóstolos.
O
CÓDIGO DIVINO
(Rita Côre)
Um estudo sério
caracteriza-se pela continuidade, conforme explica Allan Kardec na Introdução
ao Estudo da Doutrina Espírita.
O espírita, apoiado no
estudo, avesso ao comodismo, não se assombra diante das constatações da História
ou das descobertas da Ciência. Suas bases doutrinárias têm como alicerce a fé
raciocinada que indaga, procura e avança constantemente.
Nas últimas décadas, o
público tem acesso, por meio de livros e reportagens, a temas inquietantes,
embora não sejam novos, pois imersos nos registros históricos. Em tal quadro se
destaca a abordagem dos textos ditos apócrifos, muitos deles sem dúvida
enriquecedores, na busca de se traçar um perfil do Filho do Homem. No entanto,
perfis são naturalmente redutores e o Mestre de Nazaré transcende o que Dele se
julga conhecer.
Recentemente se redimiu
Judas, como se ele disso precisasse. A Lei de Deus é perfeita e nada existe por
acaso. A Doutrina Espírita, por sua vez, jamais “malhou o Judas”. Ao contrário,
temos páginas mediúnicas, a respeito do controvertido discípulo de Jesus, que
encerram profunda beleza. E os estudos sobre sua função no projeto divino já
existem há bastante tempo.
Vejamos, de outro
aspecto, a polêmica criada em torno do livro de Dan Brown (2003), O Código Da
Vinci. Seguindo a tradição dos romances policiais, o autor parte de um crime e
do envolvimento das personagens como pano de fundo para mergulhar em um mundo
marcado de suposições e revelações sobre a figura de Jesus. No desenrolar da
trama, há a postura da Igreja a respeito do “dito e do não dito”, suas
organizações, como a Opus Dei, além da existência de sociedades secretas
criadas para guardar ensinamentos e informações convenientemente rejeitadas
pelo poder religioso.
Há, sem dúvida, um
fundo de veracidade. Sociedades secretas sempre existiram, disfarçando posições
filosóficas e políticas. Porém, o livro referido é obra ficcional, um romance,
com enredo e redes tecidas pela imaginação.
Ora, uma obra
literária, sendo aberta, é passível de leituras diversas. Façamos a nossa. No
diálogo do livro indicado, que mistura literatura e história, há a denúncia,
através dos “sinais” deixados por Da Vinci na Santa Ceia, do punhal da traição
da Igreja aos ensinamentos de Jesus em essência e a ocultação de importantes
dados da vida e obra daquele a quem chamamos o Cristo. Eis o que o código
revela e esconde.
As ilações daí emanadas
e as aventuras da narrativa têm, em certos pontos, comprovação histórica, mas,
em outros, não. Além da traição da Igreja, o que mais incomoda? A
possibilidade, sem fundamentação documental, de Jesus haver se casado e, consequentemente,
ter deixado uma linhagem. Mas, independente de dados biográficos, não
comprovados, a verdadeira família do Mestre é a daqueles que “fazem a vontade
do Pai”, expressas nas leis naturais da harmonia cósmica. É o que importa.
Ao espírita que sabe
disso, nada abala. Sua fé, alicerçada na razão e alimentada pelo estudo
constante, encara com desassombro essas novidades, na verdade, tão antigas.
Especulações sobre a vida de Jesus sempre existiram. Ao tempo de Kardec,
sabia-se o suficiente para que o Codificador selecionasse dos Evangelhos,
inspirado pelo Espírito de Verdade, apenas os ensinamentos morais, descartando
as demais partes, geradoras de polêmica e dúvida. Busquemos o primeiro
parágrafo da introdução ao Evangelho segundo o Espiritismo: “Podem dividir-se
em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do
Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja
para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido
objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente
inatacável. Diante desse código divino,
a própria incredulidade se curva.”.
Conclui-se da advertência
do Codificador que apenas os ensinamentos morais de Jesus, resistindo aos
ventos impuros da corrupção, atestam Seu lugar de guia e modelo de toda a
humanidade, enquanto porta-voz do código divino.
Por isso, as pesquisas
isentas de compromissos religiosos, que podem ser comprovadas ou não no futuro,
ao gerarem inquietações, são de qualquer forma saudáveis porque abalam dogmas
limitadores da grandiosidade da Boa Nova. Afinal, quem não indaga não obtém
respostas. Quem não procura não acha.
Na verdade, temos visto
que o Espiritismo está cada vez mais atual, pois agrega perguntas e respostas,
hoje apresentadas como grandes novidades. O espírita que lê, tem acesso ao
saber, pois sua fé tem base na razão.
Mas, de outro lado, nem
todo espírita desenvolveu ainda a prática do estudo constante e, por isso,
temos os “assombrados”. Se o leitor aí se enquadra, desassombre-se, pois Jesus
se basta.
Enfim, acima do
desenredo das letras, lendas e mitos, ecoa a voz que atravessa os séculos:
“Passará o céu e a Terra, mas minhas palavras não passarão.” Falou o Filho do
Homem a traduzir como Filho de Deus as Leis Morais, nada secretas, porque
escritas na consciência. Eis o grande código. Curve-se a incredulidade diante
dele, à luz do Espiritismo, que nos revela pela razão a sua origem divina.
É
RELATIVO O CONHECIMENTO DOS ESPÍRITOS
(Waldenir
Aparecido Cuin)
As percepções e os
conhecimentos dos Espíritos são indefinidos; em uma palavra, sabem eles todas
as coisas?
– Quando mais se
aproximam da perfeição mais sabem: se são superiores, sabem muito; os Espíritos
inferiores são mais ou menos ignorantes em todos os assuntos. (O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, questão 238.)
O homem nada mais é do
que um Espírito encarnado.
Assim sendo, esse
homem, uma vez fora do corpo físico, despido da matéria, obviamente, se torna
um Espírito. Portanto, de acordo com a sua natureza, condição evolutiva, nível
de progresso espiritual, se apresenta sabendo mais ou conhecendo menos sobre as
coisas.
A criatura que ao longo
do tempo e das sucessivas jornadas terrenas foi adquirindo aprendizado, quando
no mundo espiritual, ostentará maior cabedal de informações; da mesma forma,
por lá se identificará aquela que carrega consigo a ignorância e a falta de
maiores conhecimentos, transparecendo o pouco que sabe.
Então não se torna
difícil concluirmos que os Espíritos não sabem tudo e não conhecem tudo.
Refletirão exatamente o que já obtiveram no contexto do aprimoramento moral,
mental e intelectual.
Será sempre um equívoco
aceitar tudo que os Espíritos dizem, afirmam ou tentam apregoar, pois que
podem, por absoluta ignorância, expressar-se sobre assuntos e matérias que
desconhecem.
Os superiores, sem
dúvida, estarão em condições de informar, ensinar e instruir; mesmo assim, tudo
o que dizem deve ser analisado com critério, dentro do bom senso, para
realmente se verificar se corresponde à verdade.
É muito comum,
frequente mesmo, as pessoas absorverem tudo o que vem dos Espíritos só porque
partiu de um ser desencarnado. A morte, em si, apenas retira o homem do corpo
para reintegrá-lo à pátria espiritual. Apenas promove a troca de endereço,
pois, em vez de continuarmos morando na Terra, passaremos a residir fora dela,
pois em realidade ninguém morre.
Dessa forma, será
sempre oportuno e de bom alvitre pensar sobre as informações, orientações e
conselhos que chegam dos desencarnados, pois se na vida física foram
despreparados, enquanto não progredirem – e isso leva tempo – continuarão
despreparados, portanto sem condições de conduzir outras pessoas.
Jesus querendo advertir
a humanidade, ensinou sobre os “cegos conduzindo cegos”, isto é, sobre os
ignorantes conduzindo outros ignorantes.
Não importa se a
informação chegou através de um Espírito, importa se ela resiste ao crivo da
razão e da verdade. Portanto, é preciso
permanecer sempre muito atento.
A desencarnação não tem
o poder de transformar moral e intelectualmente a ninguém. Assim, o homem
inculto continuará inculto como Espírito, até progredir, e o homem culto
continuará culto, melhorando sempre, no âmbito
da evolução.
O que vem dos homens ou
dos Espíritos deve receber o mesmo tratamento, ou seja, passar por profunda
análise, para a verificação da lógica, da verdade e do bom senso.
Os Espíritos superiores
sabem muito e os inferiores são mais ou menos ignorantes em todos os
assuntos.
(Francisco
Rebouças)
Ninguém aprende sem se
submeter ao risco de errar, pois tudo na vida requer para melhor execução uma
experiência anterior, que nem sempre foi tão bem sucedida, mas que, de qualquer
forma, nos acrescenta algo de positivo, no intuito de encontrar o melhor
resultado; por essa razão, precisamos aprender o certo para retificar o que
erradamente executamos.
Precisamos escolher o
trabalho a elaborar, e sua execução pede devotamento, abnegação e força de
vontade do espírito em desenvolvimento, pois não haverá vitória sem lutas
ardentes, ainda mais na atual fase por que passa a nossa sociedade, onde a
falta de oportunidade reclama preparo e competência do indivíduo à procura do
sucesso profissional, social, religioso etc. É necessário entender que o
trabalho é uma Lei natural e que todos estamos submetidos ao seu mecanismo, que
visa ao nosso crescimento e desenvolvimento intelecto-moral, conforme nos
esclarecem os imortais da Vida Maior em O Livro dos Espíritos, nas questões que
se seguem:
Questão no 676 - Por
que o trabalho se impõe ao homem?
“Por ser uma
consequência da sua natureza corpórea. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de
aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria
sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua
segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Ao
extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, em compensação. Mas é
sempre um trabalho.”
Questão no 677 - Por que
provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?
“Tudo em a Natureza
trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a
inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Daí
vem que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento
da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si
mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais se cifra no cuidarem da própria
conservação, refiro-me ao objetivo com que trabalham. Entretanto, provendo às
suas necessidades materiais, eles se constituem, inconscientemente, executores
dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre para
a realização do objetivo final da Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o
resultado imediato.”
Questão no 678 - Em os
mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de
trabalhar?
“A natureza do trabalho
está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são
estas, menos material é o trabalho. Mas, não deduzais daí que o homem se
conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um suplício, em vez de ser um
benefício.” (¹)
Ninguém busque
encontrar o sucesso de forma tão fácil; precisamos estar dispostos a enfrentar
grandes obstáculos desde os primeiros passos nos bancos escolares, até o grande
momento da coroação dos esforços na conclusão de um curso superior que nos
garantirá um diploma universitário, conferindo-nos o direito de exercer esta ou
aquela profissão escolhida, após a alegria do juramento que prestarmos perante
a sociedade.
Semelhante conquista
não representa garantia de posição de destaque em nossa profissão, que exigirá
atenção para a constante atualização com as novidades que surgirem em nossa
área de atuação, e muita dedicação, para só então, pouco a pouco, fazer-nos
conhecido e respeitado profissional, o que exigirá disciplina, vigilância e
profissionalismo, sem falar na parte ética e moral de indivíduo consciente e
respeitador das Leis e da ordem.
O programa de todo
aquele que deseja alcançar sucesso na vida terá obrigatoriamente que se fundar
na dedicação aos estudos, na disciplina e na seriedade com que desempenhará
suas tarefas, o que representa verdadeiramente um equilibrado aprender, pois,
quem não age dessa forma estará muito mais próximo do fracasso, da decepção e
do descrédito, que o levarão sem compaixão alguma de encontro ao abismo e ao
infortúnio.
Precisamos estar
atentos para o fato de que, se para nós foi tão difícil alcançar o sonho
almejado, para muitos não será possível tamanha ventura por situações variadas,
e por isso mesmo não deveremos esquecer do juramento feito de honrar a classe
profissional que escolhemos, trabalhando acima de tudo com honestidade e
decência.
Mas, se
profissionalmente resolvermos abusar do título conquistado para auferir lucros
e vantagens pessoais, ferindo e desrespeitando os semelhantes, é justo que
estaremos assumindo compromissos para com as sábias e imutáveis Leis
estabelecidas pelo Criador, “que dará a cada um segundo suas próprias obras” e
cobrará a reparação no labor inevitável da expiação, porque só assim podemos
nos redimir perante elas. (2)
Ninguém poderá se
evadir da responsabilidade dos atos praticados, e a Lei de Causa e Efeito, no
seu perfeito mecanismo de ação, estará compelindo a criatura ao salutar
sacrifício da retificação de maneira geral através do mecanismo da dor e do
sofrimento, para que assim possam todos entender que o compromisso que temos é
o de amar ao próximo como a nós mesmos e não o de tirar proveito de sua
ignorância ou fragilidade.
Precisamos pautar
nossas ações nas sábias Leis que trazemos inscritas em nossa consciência, que
nos pedem ponderação e equilíbrio, pois a verdadeira educação exige renúncia e
aprimoramento e nos roga serviço na busca da paz, que jamais se encontrará na
ociosidade.
Todas as grandes
conquistas dos que se tornaram vitoriosos foram alcançadas mediante grandes
realizações que para se efetivarem clamaram por grandes lutas; em vista disso,
é de fundamental importância saibamos buscar nosso progresso individual, de
forma a contribuir com nossa parte na disseminação do bem, para que, quando
formos encontrados pela Lei, possamos estar na condição de operários fiéis ao
salário da Eterna Luz, e dignos de haurir a paz da consciência tranquila que só
o dever bem cumprido pode nos proporcionar.
MEU
REINO NÃO É DESTE MUMDO
(Eliana Thomé)
Jesus, a eterna
referência para o homem da Terra, não titubeou em afirmar que o seu reino não
era deste mundo. Se a Terra não é a morada do Cristo, a que reino então
estaremos sendo levados? A pergunta número 55 de O Livro dos Espíritos nos dá
uma pista quando fala da pluralidade dos mundos: Todos os globos que circulam
no espaço são habitados? – Sim, e o
homem da Terra está longe de ser, como pensa, o primeiro em inteligência,
bondade e perfeição. Entretanto, há homens que se julgam superiores a tudo e
imaginam que somente este pequeno globo tem o privilégio de ter seres
racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o universo só para eles.
A Terra é assim a
abençoada escola da alma imortal, que nela estagia por longos períodos na
purificação do próprio ser. Da mesma forma que o aluno, após ser diplomado, não
precisa mais dos bancos escolares, também o homem, depois de adquirir as
virtudes pelas quais trabalhou em sucessivas encarnações, não mais precisa
estagiar em mundos materiais, podendo, a partir daí, ter na Espiritualidade e
em mundos mais evoluídos as experiências de que agora carece.
Compreendendo a grande
escala evolutiva do ser e a necessidade de libertação do homem, Paulo, o
apóstolo dos gentios, alerta em carta aos Romanos que o reino de Deus não
consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito
Santo (Carta de Paulo, aos Romanos, 14:17).
A primeira mensagem
atesta a existência do plano espiritual e dos vários mundos que servem de asilo
para a alma na concretização de suas virtudes. A segunda, importantíssima, nos
dá a receita de como atingir os planetas em condições melhores que o nosso.
Ambas são claras na
necessidade de passarmos pela Terra sem nos deixar aprisionar por ela. Viver a
vida material lutando para que a matéria e tudo o que a engloba sejam elementos
providenciais, ferramentas que o Espírito encarnado deve manipular sem atritos
ou sangrias.
No entanto, vemos nos
dias de hoje a supervalorização de princípios calcados na beleza do corpo e na
posse de dinheiro e bens materiais, que estão longe de constituir aquele
passaporte que nos permitirá galgar um andar acima visando o mais alto que nos
aproximará do Pai.
Pode-se ser belo, ter
um bonito corpo e mesmo ter-se dinheiro. É a valorização em demasia desses
elementos que constitui obstáculo para alguns. De repente a beleza passa a ser
algo tão importante para certas pessoas que tudo sacrificam por ela: tempo,
dinheiro, família, amizade etc., numa inversão completa dos valores.
E o maior sacrifício,
se assim podemos dizer, que Deus pede aos seus filhos, é que saibamos nos amar
uns aos outros. Perdemo-nos na vida na luta pela própria subsistência, enquanto
o trabalho, canal de ocupação e mecanismo de aplicação das forças e faculdades
humanas para alcançar um determinado fim, como ensina o Aurélio, torna-se, em
nossa visão pequena e egoísta, um empecilho da felicidade.
Devemos, portanto,
ocupar nosso tempo da forma mais positiva possível, distribuindo e colhendo
afetos por onde passarmos. Saibamos honrar cada dia como uma dádiva de Deus aos
filhos bem-amados. Aprendamos a viver dentro de nossas próprias capacidades,
pois a espiritualidade nada pode fazer quando a nossa imprevidência nos coloca
em situações difíceis, principalmente na questão monetária.
O justo viverá pela fé,
já nos alertava o sempre querido Paulo em carta aos Romanos (1:17). Não apenas
não devemos misturar o espiritual com o material, no ensaio de uma miscigenação
impossível – cada elemento é único em sua essência -, como devemos honrar a
oportunidade da reencarnação assumindo todos os deveres que ela nos exige em
nível social e moral.
Jesus deixou essa
repartição bem clara quando salientou firmemente aos fariseus que tentaram
embaraçá-lo na questão dos impostos cobrados por César: É-nos permitido pagar
ou deixar de pagar a César o tributo? Jesus, lúcido quanto à oportunidade da
lição, responde firme: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus (Mateus, 22:15-22 - Marcos, 12:13-17).
Assim é o mundo
material, uma escola plena de desafios, cheia de grandeza e de grandes e
necessárias provas. Os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são
os meus bem-amados, já nos alertava o Espírito de Verdade em mensagem inserida
em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. VI, item 6), na qual nos pede para
nos instruirmos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e nos
mostra o sublime objetivo da provação humana, que é o de poder ingressar finalmente
nos mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde
exclusivamente reina o bem.
A Terra, segundo o
Espiritismo, pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por
que aí vive o homem a braços com tantas misérias (ESE, cap. III item 4).
É, portanto, na Terra
que devemos desenvolver a inteligência e sublimar o nosso mundo moral, a alma,
para conseguir as virtudes necessárias que nos farão ingressar no reino
colocado por Jesus, sendo então como ele exemplo de bondade e perfeição.
(Waldenir
Aparecido Cuin)
"O homem poderia
sempre vencer as suas más tendências pelos seus próprios esforços? - Sim, e às
vezes com pouco esforço; o que lhe falta
é a vontade. Ah, como são poucos os que
se esforçam." - (Questão 909 de "O Livro dos Espíritos", de
Allan Kardec.)
Quando Jesus, em Sua
reconhecida sabedoria, sentenciou a célebre frase: "Ajuda-te que o céu te
ajudará", estava informando à humanidade inteira a lei do esforço, pois
ninguém, em época alguma, encontrará o sucesso ou as realizações que almeja sem
oferecer sua cota de dedicação e perseverança.
É do nosso conhecimento
que fomos criados por Deus, simples e ignorantes, com a estrada aberta para
conquistarmos a luminosidade de uma vida dentro dos padrões do equilíbrio ou
para mergulharmos nas trevas da inércia, onde surgem os monstros vorazes da dor
e do sofrimento.
Em verdade, a escolha é
totalmente nossa. A bondade divina nos assegura os recursos e nos oferece as
condições devidas para que trabalhemos nossas potencialidades, mas a obrigação
de fazer, ou o descuido de deixar de fazer determinadas coisas, será
deliberação exclusivamente particular, própria de cada ser humano. Portanto,
superar as más tendências que ainda insistem em nos manter no fundo do abismo dos
desajustes é tarefa definitivamente nossa, onde deve entrar a força de vontade
e o idealismo de sepultar os defeitos que temos e sairmos à cata das virtudes
que ainda não possuímos.
E ninguém, em sã
consciência e perfeita lucidez de raciocínio, poderá afirmar que não tenha
inúmeras falhas a serem sanadas, pois todos as temos, e com frequência, de
forma abundante.
Aqui é a nossa língua
que tem grande ansiedade em comentar sobre a vida alheia, cuidando de problemas
que não são nossos, quase sempre deixando de lado os defeitos que possuímos e
que estão a rogar corrigenda.
Ali é a preguiça que
ainda carregamos, criando dificuldades e nos prostrando no comodismo, ante as
tarefas a serem realizadas, onde, via de regra, cobramos dos outros aquilo que
também não fazemos.
Mais além surgem a
indisciplina e a maledicência gerando em nossa volta o desregramento natural de
quem deseja viver sem rédeas, freios e limites, como se tudo pudéssemos e tudo
nos fosse permitido.
Noutro lugar aparece o
inconformismo e mesmo a revolta contra os desígnios de Deus, onde por vezes
gostaríamos que a mundo se curvasse aos nossos pés e que todos nossos sonhos e
caprichos encontrassem a realização.
Enfim, como criaturas
imperfeitas que ainda somos, são tantos os defeitos a serem corrigidos, tantas
as falhas a serem sanadas, que precisamos dispensar enormes esforços para que
possamos obter êxito na batalha contra nossas más tendências.
Assim, ao invés de
ficarmos observando como vivem as pessoas, como procedem os homens, como atuam
as criaturas, declinemos a mesma força, o mesmo ímpeto e a mesma dedicação para
descobrir em nós mesmos onde estamos errando, quais são as nossas falhas e
lancemo-nos, urgentemente, a saná-las, visando o nosso próprio bem.
Jamais olvidemos que o
esforço de cada um será sempre a alavanca firme que nos impulsionará pelos
caminhos das conquistas e das realizações. Esforcemo-nos, portanto, e a paz e a
felicidade que queremos estarão cada vez mais próximas.
(Rita Côre)
O caráter filosófico da
Doutrina Espírita fundamenta a fé na razão. Para crer é preciso saber. E para
que servem os saberes aos quais a Doutrina Espírita nos dá acesso? Justamente
para alicerçar a fé raciocinada, que pode oferecer ao homem um roteiro seguro
de bem viver.
No entanto, é
importante que associemos aos princípios doutrinários as nossas próprias
descobertas, num processo constante de autoconhecimento e autoburilamento. Pois
se apenas ouvirmos o que os outros sabem, sem aplicar as lições da Doutrina à
vida, estacionaremos no círculo de luz do conhecimento alheio, sem alçar o voo
da verdadeira libertação.
Espiritismo exige
estudo. E se ainda não temos no Brasil uma tradição de leitura, como se costuma
dizer, cresce a importância do estudo em grupo, na Casa Espírita que, nesse
sentido, é literalmente uma escola.
Porém, por mais
intelectualizados sejam os conhecimentos filosóficos do Espiritismo, a Casa
Espírita é uma escola de almas, e por isso não se detém apenas no saber, mas a
partir dele alcança o sentir e o ser. Seu objetivo é educar o Espírito,
individualidade imortal. Os conceitos e as informações que divulga são
instrumentos facilitadores para a conquista do bem-estar íntimo, proporcionando
uma relativa felicidade, possível de se alcançar na própria existência terrena,
mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos.
Mas o núcleo espírita,
além de escola, é também chamado de hospital, ideia que nos remete a um lugar
destinado a tratamento de enfermidades, para a recuperação da saúde. E o que é
saúde? Pelo conceito da OMS, não é simples ausência de enfermidade, é mais. É
bem-estar físico, psíquico e social. Do ponto de vista holístico, já se
acrescenta a esses três aspectos mais uma instância – a espiritual, não com a
marca religiosa, mas como uma potencialidade do ser.
Assim, podemos afirmar
que, na Casa Espírita, tem-se o mesmo conceito, ampliado pela certeza da
concretude do Espírito. Porque, se o Centro Espírita é um hospital de almas, ao
orientá-las no caminho do equilíbrio, cria condições para a conquista do
bem-estar psíquico, físico e, consequentemente, social. A medicina ali
desenvolvida não trata de curas do corpo, mesmo que pela profilaxia do perdão e
do despertar da consciência até nos possibilite alcançá-las, através da fé que
transforma as matrizes distônicas do Espírito, responsáveis pelos transtornos
orgânicos. Porém, as enfermidades da alma são o objeto principal de tratamento.
E quais seriam as
grandes enfermidades da alma? Nós as conhecemos. Dentre elas o orgulho, a
vaidade, o ciúme, o egoísmo, a inveja e suas máscaras.
A Doutrina Espírita nos
oferece as vacinas para que possamos erradicar essas doenças, dando condições
ao homem para que conquiste melhor qualidade de vida, não só na existência
terrena, como no Mundo Espiritual.
Mas por que também se
diz ser a Casa Espírita um templo ou uma casa de oração? A palavra templo é
associada à religião, e religião, por sua vez, à igreja. No entanto,
Espiritismo não é igreja, isto é, não constitui uma organização hierárquica,
com pessoas ungidas para esta ou aquela função; nem se apoia em dogmas e
rituais. É religião, do ponto de vista filosófico que, alicerçado na metodologia
científica, aponta-nos o caminho da Moral Divina. Através do constante
tratamento espiritual a que nos submetemos, na Casa Espírita, descobrimos que
ao retomarmos as conexões com a nossa origem - a que chamamos Deus –
restabelecemos também as conexões com nós mesmos, com os outros, e temos
maiores possibilidades de alcançar o equilíbrio. Para isso é inegável a
importância da prece, expressão de religiosidade, como consequência da
filosofia e da ciência, esses pilares sobre os quais se apoia o caráter moral
libertador do Espiritismo.
A Casa Espírita, em
relação à prece, oferece ambiente que facilita o recolhimento. Daí, o templo.
Enfim, uma Casa
Espírita é sempre um dínamo de amor em ação, caridade que liberta.
(José Antônio
Vieira de Paula)
Leão
Tolstoi é o autor de Ressurreição e Vida, de Yvonne A. Pereira, que traz as
informações contidas na entrevista com Zaqueu
Nas páginas do
Evangelho, escritas por alguns dos apóstolos de Jesus, vamos encontrar uma
citação (Lucas, 19:1-10) referente à figura de um homem de baixa estatura,
cobrador de impostos, que na ânsia de conhecer o Messias subiu em um sicômoro –
espécie de figueira pequena, oriunda do Egito – onde pôde ver e ser visto pelo
Cristo de Deus, o qual naquele instante chamou-o pelo nome – Zaqueu -, dizendo
que passaria aquela noite em sua casa.
No livro
"Ressurreição e Vida", psicografado pela médium Yvonne do Amaral
Pereira, o grande escritor russo Leão Tolstoi (leia texto no final da
entrevista) descreve um encontro que teve com aquele que conheceu Jesus, e
apresenta informações importantes transmitidas por ele, que resolvemos colocar
nas páginas deste periódico, em forma de entrevista.
Primeiro,
apresentaremos a figura do publicano da cidade de Jericó, na Palestina da época
em que a Terra foi abençoada com a presença daquele que seria, e é, a luz do
mundo, pelos olhos do apóstolo russo Tolstoi:
"Olhei-o, àquele a
quem haviam chamado Zaqueu. Semblante sereno, bondoso, enternecido, ainda
jovem. Olhos cintilantes e perscrutadores, como alimentados por uma resolução
invencível. Lábios finos, queixo estirado, com pequena barba negra em ponta,
recordando o característico fisionômico dos varões judaicos. Tez alva,
sobrancelhas espessas, mãos pequenas, pequena estatura, coifa discreta,
listrada em azul forte e branco, manto azul forte, barrado de galões amarelos e
borlas na ponta."
Eis a seguir a
entrevista:
- Zaqueu, você poderia
nos recordar seu encontro com Jesus, em Jericó, onde você residia?
ZAQUEU: A bondade do
Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um
renegado pela sociedade porque um "publicano", tocou-me para sempre o
coração, conforme sabeis... Ele compreendeu as minhas necessidades morais de
estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua
solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral;
contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho
de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E
conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos.
- Narra o Evangelho que
no dia da crucifixão de Jesus os apóstolos os abandonaram. Você estava lá
naquelas horas de sofrimento?
ZAQUEU: Muito sofri e
chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o
abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco
que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo.
Eu não me ocultei das autoridades receando censuras ou prisão, nem tive
preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o
despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o
povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de
funcionário romano... E assisti aos estertores da agonia sublime naquela tarde
do 14 de Nisan.
- Como foram aqueles
momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia de sua morte?
ZAQUEU: Soube, é certo,
da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a
ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só
se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e
aos apóstolos.
- O que você fez
depois?
ZAQUEU: Inconsolável
por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não
desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo
incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem
dele...
Fui a Betânia, quantas
vezes?... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas
recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de
Nisan... Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o
dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloquência com
que sempre soube arrebatar as multidões.
Perlustrei, choroso e
desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em
meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de
Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via
que acontecia a tantos outros... Mas nenhum deles sequer prestava atenção em
minha insignificante pessoa... Não me olhavam, não me viam, e eu temia
importuná-los dirigindo-lhes a palavra... Eram tantos os pretendentes ao
aprendizado do Amor, ao redor deles! Eles tinham tantas preocupações,
preparando-se, chocados, para o heróico apostolado!... E como eu era
"publicano", um malvisto cobrador de impostos da alfândega romana,
convenci-me, erroneamente, de que era por isso que não me recebiam.
Recolhi-me então à
minha mágoa imensa, sem todavia deixar de seguir, discretamente, os apóstolos,
orando para que não tardasse o socorro a vir fortalecer a fé e a esperança que
eu depositava naquele reino de Deus que havia de vir. Recolhi-me, mas não
desanimei.
- Zaqueu, você cumpriu
a promessa que fez a Jesus de que dividiria seus bens com os pobres, quando ele
esteve em sua casa?
ZAQUEU: Eu deixei
Jericó, desliguei-me das funções aduaneiras, dei parte dos meus bens aos
pobres, com a outra parte, provi recursos para minha família, distribuí minhas
terras entre os camponeses mais necessitados, reservando o estritamente
necessário à minha manutenção pelos primeiros tempos. Fiz-me errante e
vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as
conversações intimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e
depois da gloriosa ressurreição.
- O dinheiro não
acabou?
ZAQUEU: Como eu
conhecesse bem as letras e as matemáticas, falando mesmo o grego, tão usado em
Jerusalém, e também o latim, igualmente usado graças à influência romana, à
parte os nossos dialetos da Síria, da Galiléia e da Judéia, se me escasseavam
recursos apresentava-me às escolas mantidas pelas Sinagogas. Empregava-me ali
como adjunto dos escribas, para as lições aos jovens, ou então nas casas
particulares ricas, como professor, e assim ganhava meu sustento. Mas se não
houvesse lições a transmitir era certo que nunca faltariam madeiras a serrar,
aqui ou ali; águas a carregar, a fim de saciar a sede das famílias; paredes a
reparar nas casas dos romanos, os quais, se eram agressivos no trato pessoal
com o povo hebreu, sabiam, no entanto, remunerar com justiça aqueles que os
serviam, desde que não se tratasse de escravos.
- Mas, enfim, você
conseguiu ou não aproximar-se de algum dos apóstolos de Jesus?
ZAQUEU: Um dia – foi em
Jerusalém – correra a nova sensacional de que certo jovem fariseu, responsável
pelo apedrejamento e morte do nosso querido Estêvão, a quem o Espírito do
Senhor inspirava com tantas glórias, acabara por se converter à Causa, porque o
Senhor lhe aparecera em ressurreição triunfante, exatamente quando ele entrava na
cidade de Damasco, para onde se dirigia tencionando prender os nossos
"santos" - os primeiros cristãos assim de denominavam uns aos outros
- domiciliados naquela localidade. Aparecera-lhe o Senhor e convidara-o
diretamente para o seu ministério, como o fizera aos outros doze, antes de sua
paixão e morte. E que, agora, já inteiramente submisso aos desejos do Mestre
Nazareno, com tremendas responsabilidades pesando-lhe nos ombros, conferidas
pelo mesmo Mestre, pela primeira vez ia falar à assembleia dos discípulos, em
Jerusalém.
- Você foi ouvi-lo?
ZAQUEU: Fui ouvi-lo.
Esse fariseu era Saulo (Saul), o de Tarso, "que é também chamado
Paulo". Contou ele, à assembléia silenciosa e atenta, o seu colóquio com o
Nazareno, à entrada de Damasco, e logo conquistou o coração de muitos que se
achavam presentes. Foi de pé (alguns se ajoelharam) que ouvimos os pormenores
da aparição do Senhor a Paulo. Muitos choraram, eu inclusive, e também Paulo.
- Você procurou Paulo
para conversar?
ZAQUEU: Nunca mais
deixei Paulo, até hoje! Procurei-o então, em Jerusalém. Fui recebido com afeto
e bondade. Fiz-lhe a minha confissão, o que não tivera coragem de fazer aos
demais discípulos. Narrei-lhe os meus sofrimentos íntimos por Jesus. Quisera
servi-lo, a ele, Jesus. Sinceramente o queria! Mas não sabia como iniciar nem o
que fazer. Paulo ouviu-me com solicitude digna daquele mesmo Mestre que o
admoestara em Damasco. E aconselhou-me, e guiou-me!
- Você poderia nos
dizer o que Paulo lhe disse?
ZAQUEU: Ele deu-me
incumbências: - " Não te limites à adoração inativa, que poderá
cristalizar-se em fanatismo. A Doutrina de Jesus é afanosa por excelência... E
ela precisa de servos trabalhadores, enérgicos, ágeis para mil e uma
peripécias, de boa-vontade para a propagação da Verdade que nos trouxe...Tu,
que possuis noções da prática da beneficência, testemunha o teu amor por ele,
servindo também aos teus irmãos que sofrem ou erram, pois tal é o segredo da
boa prática da nova Doutrina. Nenhum de nós será tão pobre que não possa
favorecer o próximo com algo que possua para distribuir: o pão, o lume, o
agasalho, o bom conselho, a advertência solidária, a assistência moral no
infortúnio, o ensinamento do Bem, a lição ao ignorante, a visita ao enfermo, o
consolo ao encarcerado, a esperança ao triste, o trabalho ao necessitado de
ganhar o próprio sustento honrosamente, a proteção ao órfão, o seu próprio
coração amigo e irmão em Cristo, a prece rogando aos Céus bênçãos que aclarem
os caminhos dos peregrinos da vida, o perdão àqueles que nos ferem e nos querem
mal..."
- Caro amigo, depois
que enfim você se tornou um dos discípulos ativos de Jesus, você pôde viver
aquelas experiências, que nos mostram os evangelhos, de curar enfermos, afastar
espíritos...?
ZAQUEU: Se não curei
leprosos, estanquei a aflição de muitas lágrimas com exposições em torno do
Mestre. Se não levantei paralíticos, pelo menos ergui a coragem da fé em muitos
corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Se não expulsei
demônios, é certo que alijei o ateísmo, recuperando almas para o dever com
Deus. E se não ressuscitei mortos, renovei esperanças na alma de muitas
matronas desgostosas com a indiferença dos próprios filhos na prática do Bem,
revigorei a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho,
porque envergonhados de se apresentarem a Deus, pela oração, a fim de se
renovarem para jornadas reabilitadoras.
- E como tudo isso
repercutiu em sua própria evolução?
ZAQUEU: Minha alma se
alegrava em Cristo, dilatavam-se os meus propósitos de progresso. Eu sentia
que, de dia para dia, quando orava, mais incidiam sobre mim forças e novas
bênçãos para mais se desdobrarem em operações objetivas, que tendiam a me fazer
comungar com a vontade daquele Unigênito dos Céus, que um dia penetrou os
umbrais pecaminosos de minha casa para me levar a salvação. E encontrei, então,
dentro de mim próprio, aquele Reino de Deus que ele anunciara... Encontrei-o na
paz do dever cumprido, que me embalava o coração...
Leão Tolstoi na
espiritualidade
Escritor e reformador
religioso russo, descendente de uma família de latifundiários aristocráticos,
Leão Tolstoi (1828-1910) teve mocidade materialmente feliz, embora secundada
por angústias descritas em suas obras autobiográficas Infância, Adolescência e
Mocidade. Na condição de oficial do Exército russo, serviu no Cáucaso e
participou também da guerra da Criméia. Autor de obras magistrais como Os
cossacos, Contos de Sebastopol, Guerra e Paz, Anna Karenina e Ressurreição,
fundou em sua fazenda de Iasnaia Poliana escolas e obras assistenciais para os
camponeses; contudo, por causa dos escritos Breve explicação dos Evangelhos e O
que é minha fé, acabou excomungado pela Igreja russa.
Na espiritualidade
desde 1910, Leão Tolstoi continua a produzir obras notáveis, como os livros
Ressurreição e Vida e Sublimação (este em parceria com Charles), psicografados
por Yvonne A. Pereira e publicados pela Editora da FEB; e, mais recentemente, A
Eterna Mensagem do Monte e Mansão dos Lilases, psicografados por Célia Xavier
de Camargo e publicados pela Casa Editora O Clarim. (Da Redação)
RESPEITAR
SIM, REPETIR NÃO
(Rita Côre)
Sabemos que os textos
evangélicos sofreram muitas alterações ao longo dos séculos, para atender a
interesses do mundo, ditados pelo culto do poder e da ambição, ou até pela fé
ingênua e cega que pretendia converter, fazendo concessões. Nesse processo, incorporaram-se
rituais e crenças mágicas, muito anteriores a Jesus, dando-se-lhes estatuto
cristão.
A fé raciocinada encara
sem medo esses fatos, já constatados pela História, e busca a essência dos
ensinamentos do Mestre. Aliás, já nos advertia Kardec, no primeiro parágrafo da
introdução a “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Podem dividir-se em cinco
partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo;
os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento
de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de
controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável”.
O ensino moral do
Evangelho é inatacável, sem dúvida. É o evangelho propriamente dito. O mais
pode até ser lenda, ou é, pelo menos, questionável, passível de investigação
histórica e científica. Portanto, não há por que se repetirem, em nosso meio,
velhas abordagens fantasiosas que vestem Jesus de magia e ilusão. O Mestre se
basta, dispensa enfeites que não concorrem para amadurecer o Espírito, como é o
caso das festas marcadas no calendário oficial.
Tais festas representam
uma tradição dos católicos e, embora merecendo nosso respeito, não fazem o
menor sentido para a Doutrina Espírita. Portanto, não se justifica nas
escolinhas de evangelização a comemoração de datas como a Páscoa, nos moldes do
convencionalismo cristão.
É certo, porém, que as
crianças trazem informações veiculadas pelos meios de comunicação, pela
família, pela escola e que não devemos agredi-las com doutrinações radicais,
negando tudo o que conhecem e vivenciam no mundo. Mas podemos aproveitar esses
saberes, para construir o novo ou resgatar, adequadamente, o ponto de vista
histórico e cultural.
No caso da Páscoa, é
preciso situá-la entre as festas ligadas
a rituais de fertilidade e seus símbolos, dissociando-a da figura de Jesus, com
o cuidado de não repetir a crença de que Ele a instituiu ou de que lhe deu
outro sentido, assumindo a posição do cordeiro sacrificado nessa época pelos
judeus, para justificar a ressurreição e dar ao corpo do Deus a função de
alimento.
O mito do deus morto e
do deus ressurreto é comum a muitas culturas da antiguidade. Quando Jesus
encarnou entre nós, essa crença já era conhecida e os judeus, de sua parte,
haviam conferido a ela características próprias, associando-a a episódio que
remonta ao tempo de sua submissão ao
Egito.
Jesus insere-se naquele
contexto, é verdade, e participa dos eventos da época, mas frisa: “Meu reino
não é deste mundo”. E mais: “Não quero sacrifício, mas misericórdia.”
Recuperemos a formação
da palavra sacrifício: sacro + ofício. Na realidade, o Mestre da Galiléia rompe
o ciclo de repetição dos velhos rituais e propõe o mandamento do amor.
Misericórdia é expressão do amor. Não cobrava Jesus oferendas nos templos, nem
rituais mágicos, como aquele que se realizava na páscoa. Não pretendia que se
lhe oferecessem ofícios sagrados, mas sim que praticássemos a caridade.
A Terceira Revelação
nos convida, através do Espírito de Verdade: “Amai-vos e instruí-vos”.
Portanto, o conhecimento que nos traz a própria Doutrina assinala um
compromisso com o estudo, ensejando a oportunidade de superar uma mentalidade
mágica para alcançar o direcionamento da fé, pela razão. Assim, a evangelização
espírita não precisa comemorar as festas da tradição cristã, mas deve
constituir a festa de todo dia, porque oferece roteiro seguro para a vida e
suas surpresas.
Este terceiro milênio
do calendário ocidental está marcado, ao que parece, por descobertas
científicas arrojadas e por inquietantes constatações da História, provocando a
derrubada de velhas crenças. Se, inadvertidamente, repetimos tais crenças na
Casa Espírita, estaremos entravando o progresso e perdendo a chance de
esclarecimento que o próprio Espiritismo nos oferece.
A criança e o jovem
precisam desenvolver uma fé robusta e vigorosa que resista não só aos ventos
das novidades – com as quais são alvejados pela escola, pela mídia, pela
comunicação virtual – mas também aos embates da vida. Educar-se pelo Evangelho
à luz do Espiritismo é abrir uma janela para o futuro, é atravessar a linha do
horizonte da acomodação, é libertar-se do velho círculo das ilusões.
Respeitar sim, repetir
não. Essa deveria ser a postura dos evangelizadores na casa espírita, diante
dos atavismos da tradição cristã.
NEOPENTECOSTES
(Rogério Coelho)
“Eu derramarei do meu
Espírito sobre toda a carne”.
- Atos dos Apóstolos,
2:17.
Ao analisar as absurdas
quão inverossímeis citações extraídas da pastoral de Monsenhor Gousset,
cardeal-arcebispo de Reims, para a quaresma de 1865, que pelo mérito pessoal e
pela posição do autor na hierarquia da Igreja, se pode inferir que tais
conceitos eram a última expressão daquela vetusta Instituição sobre a doutrina
dos “demônios”, mostra-nos Allan Kardec, de maneira clara e insofismável, a
materialização de um dos ditos do Senhor: “cego guiando cegos”.
Pincemos apenas uma
dessas “preciosidades” medievais: “(...) Eles, [os demônios], inculcam o erro
sob todas as formas, e é para obter esse resultado que a madeira, a pedra, as
florestas, as fontes, as mãos dos meninos se tornam oráculos”.
Em sua ingenuidade
Monsenhor Gousset estava profligando a mediunidade tão acoroçoada por Jesus e
pelos cristãos dos 3 primeiros séculos, período em que o Cristianismo ainda não
estava sofrendo o achincalhe das autoridades governamentais e eclesiásticas, e
se mantinha ainda tão pulcro e simples como quando saíra da boca do Nazareno,
na forma de pérolas de luz para clarear a sombra da ignorância que então
reinava.
Mas com a sua habitual
percuciência, o ínclito Mestre lionês pulveriza toda a fraca estrutura da
construção ideológica daquele pastor de almas, começando por pinçar dos Atos
dos Apóstolos os versículos 17 e 18 do capítulo II, nos quais se lê:
“(...) Derramarei do
meu Espírito sobre toda a carne: - vossos filhos e filhas profetizarão; os
jovens terão visões e os velhos terão sonhos.
Nesses dias repartirei meu Espírito por todos os meus servidores e
servidoras, e eles profetizarão”.
Se Monsenhor Gousset
estivesse com a razão, qual seria o sentido destas palavras do Evangelho?
Com seu descortino
balizado pelo bom senso, Kardec aduz1:
“(...) Não estará nestas palavras
do Evangelho a predição tácita da mediunidade dos nossos dias a todos
concedida, mesmo às crianças? E essa
faculdade foi anatematizada pelos apóstolos?
Por que não ver antes o dedo de Deus na realização daquelas palavras?”
Kardec continua pelo
capítulo X, da 1ª. parte do livro “O Céu e o Inferno”, a explicar a dinâmica e
as condições requeridas para um intercâmbio mediúnico sadio e proveitoso tanto
para encarnados quanto para desencarnados, isento de mistificações.
Entre outras
recomendações, o Mestre lionês afirma que o mais essencial de todas as
disposições para nos comunicarmos com os Espíritos é o recolhimento coadjuvado
pela fé e o desejo do bem, pois dessa forma nos tornamos mais aptos para estar
em contato com os Espíritos superiores e esses nunca deixam de comparecer
sempre que são evocados para um fim útil, só se recusando a responder quando
tal condição não é observada.
Finaliza Kardec:
(...) As acusações
formuladas pela Igreja, contra as evocações, não atingem, o Espiritismo, porém
as práticas da magia, com a qual este nada tem de comum. O Espiritismo condena
tanto quanto a Igreja as referidas práticas, ao mesmo tempo em que não confere
aos Espíritos superiores um papel indigno deles, nem algo pergunta ou pretende
obter sem a permissão de Deus.
Certo, pode haver quem
abuse das evocações, quem delas faça um jogo, quem lhes desnature o caráter
providencial em proveito de interesses pessoais, ou ainda quem por ignorância,
leviandade, orgulho ou ambição se afaste dos verdadeiros princípios da
Doutrina; o verdadeiro Espiritismo, o Espiritismo sério os condena porém, tanto
quanto a verdadeira religião condena os crentes hipócritas e os fanáticos.
Portanto, não é lógico nem razoável imputar ao Espiritismo abusos que ele é o
primeiro a condenar, e os erros daqueles que o não compreendem. Antes de
formular qualquer acusação, convém saber se é justa. Assim, diremos: A censura
da Igreja recai nos charlatães, nos especuladores, nos praticantes de magia e
sortilégio, e com razão. Quando a crítica religiosa ou céptica, dissecando
abusos, profliga o charlatanismo, não faz mais que realçar a pureza da sã
doutrina, auxiliando-a no expurgo de maus elementos e facilitando-nos a tarefa.
O erro da crítica está no confundir o bom e o mau, o que muitas vezes sucede
pela má-fé de alguns e pela ignorância do maior número. Mas a distinção que uma
tal crítica não faz, outros a fazem.
Finalmente, a censura aplicada ao mal e à qual todo espírita sincero e
reto se associa, essa nem prejudica nem afeta a Doutrina”.
Podemos também
considerar como uma feliz variável do Neopentecostes o esforço concentrado
feito por várias editoras de livros Espíritas, incluindo-se aí a Federação
Espírita Brasileira, no sentido de traduzir as Obras Básicas do Espiritismo e
muitas outras subsidiárias para diversos idiomas de forma que o maior número de
criaturas possa ter acesso aos alcandorados e alforriadores conhecimentos
espiritistas que, na verdade, são os ensinamentos redivivos do próprio Cristo.
Trata-se, sem dúvida de
um esforço hercúleo e nobre, tendo em vista que existem no mundo
aproximadamente 6000 idiomas, (uma verdadeira torre de Babel). Mas, desses 6000 idiomas restará até o ano de
2100 apenas a metade, segundo estudos dos especialistas. Isso é paradoxalmente bom e ruim. Ruim porque um idioma que se extingue leva
consigo todo um contexto da civilização a ele vinculado, mas, por outro lado, é
bom no sentido de facilitar o intercâmbio lingüístico minimizando as
diversidades hoje existentes e facilitando o encaminhamento do rebanho
terrestre na direção de “um só Pastor”, conforme as Escrituras
Neotestamentárias. E é evidente que o Esperanto
terá aí o seu papel importante nessa equalização lingüística, ou seja: nesse
novo e necessário Pentecostes.
O
PROBLEMA DAS MISTIFICAÇÕES
(Eduardo Batista
de Oliveira)
As mistificações
constituem-se num grave problema para o Espiritismo, afetando-o principalmente
no tocante à sua credibilidade. Por isso, a questão precisa ser analisada e
enfrentada com sinceridade. Diria mesmo que este é um dever de todo espírita.
Não nos convém tapar o sol com a peneira, pois é certo que há mistificações em
nosso meio. E como há!
No presente artigo,
pretendo trazer o tema para o debate, na esperança de que nos tornemos observadores
mais atentos e críticos. É isso, aliás, o que Kardec recomendou em O Livro dos
Médiuns: “se a intenção for realmente boa, eles (os homens sensatos e bem
intencionados) farão a sua advertência de maneira conveniente e benévola,
abertamente e não com subterfúgios”.
De início, salientamos
que não há mistificadores sem mistificados. Trata-se, portanto, de uma via de
mão dupla. “A facilidade com que certas pessoas aceitam tudo o que teria vindo
do mundo invisível ... é o que encoraja os mistificadores”, disse Kardec. Por
isso, devemos tomar cuidado para não sermos nós os encorajadores das
mistificações. Como? Recebendo todas as informações com reserva e prudência. É
o que nos aconselhou o Codificador do Espiritismo. Dessa forma, não nos
enganarão tão facilmente.
Os mistificadores podem
ser Espíritos desencarnados ou Espíritos encarnados (os homens – médiuns ou
não). É sobre os homens-mistificadores que queremos tratar neste artigo, porque
os Espíritos desencarnados mistificadores já foram muito bem caracterizados por
Kardec em O Livro dos Médiuns (Capítulo XXVI – Das Manifestações Espíritas),
tornando-se desnecessária, por ora, qualquer apreciação adicional acerca deles.
Apressadamente,
poderíamos supor que os mistificadores (homens) são somente os que recorrem a
fraudes em busca de recompensas financeiras. Há muitas mistificações que visam
ao dinheiro fácil, sim, mas essas, logo, logo, acabam sendo desmascaradas. A
maioria das mistificações, no entanto, passa despercebida, uma vez que não
conseguimos enxergar os interesses que escondem, ou seja, a notoriedade, a
distinção, o status e, em especial, o poder (de decisão).
Não estamos nos
referindo ao jogo político que praticamos em nossos meios sociais, como família
e local de trabalho. Somos seres políticos por natureza e fazemos política o
tempo todo – nem sempre de forma sadia. Mas a questão aqui é outra. Estamos
tratando de embustes, de enganações, de buscar o poder por meios escusos.
Estamos tratando do uso da mentira, do uso da respeitabilidade que se dá a uma
mensagem supostamente advinda do plano espiritual. Estamos nos referindo a
regras de conduta ou de práticas impostas por homens que fingem adotar
orientações ditadas por Espíritos superiores.
Antes de qualquer
avaliação, é preciso lembrar que o Espiritismo é libertador, porquanto nos
propõe uma fé raciocinada, que nos liberta da prisão do medo que outras crenças
impõem: medo, por exemplo, de punição, quando supomos infringir uma “lei” que
não passa de uma regra criada por algum mistificador. Com a fé raciocinada, não
podemos aceitar ou temer algo que não faça sentido para nós; como obedecer a
regras de conduta que tentam nos impor sem maiores explicações?
Cumpre admitir, por
outro lado, que, ao alimentar a vaidade, tornamo-nos muitas vezes responsáveis
por essa situação. Já meditaram sobre a distinção que é feita em nosso meio
entre médiuns ostensivos e não ostensivos (contrariando a Doutrina)?
Os mistificadores
utilizam-se de variados meios para a realização de seus propósitos, alguns dos
quais poderíamos apresentar a título ilustrativo; no entanto, preferimos deixar
a exemplificação para um próximo artigo. Até lá, ficamos torcendo para que a
leitura deste texto possa suscitar análises, críticas e debates.
EXISTEM
ESPÍRITOS EM TODA PARTE?
(Wagner Ideali)
“Estamos mergulhados
num mar de ideias.” - Platão.
Remontando à antiga
Grécia podemos ver Platão a nos ensinar que “vivemos num mar de ideias”. Vamos
também estudar Paulo de Tarso quando ele nos diz que “vivemos como que na
frente de plateia de assistentes”. No século passado temos Albert Einstein
afirmando “vivemos num mundo repleto de ondas”.
Existem pessoas em toda
parte do planeta e, assim como nos diz André Luiz, as formas-pensamento estão
sendo constantemente emitidas por nós a todos os instantes, e como a vida segue
e não termina no túmulo, veremos, então, como nos ensinam os Espíritos através
de Kardec, que há Espíritos em toda parte.
Essa mistura dos
encarnados e desencarnados, essa troca de ideias constantes entre o mundo
físico e espiritual, nos conduz a pensar sobre nossas posições mentais.
Precisamos vigiar sempre, para não deixar as influências espirituais nocivas
nos afetarem, pois nos afirmam os Espíritos numa das perguntas n’O Livro dos Espíritos:
Os Espíritos influenciam em nossas vidas? E a resposta é objetiva: “Muito mais
do que vocês imaginam”. Podemos então perceber, na profundidade dessa
afirmação, que devemos e precisamos realmente vigiar nossos pensamentos e
ações.
A existência de Espíritos
em toda parte nos leva a perceber que, com os nossos atos e pensamentos,
exemplos bons ou não, atraímos os Espíritos segundo a sintonia que provocamos.
Fato é que, estando os
Espíritos à nossa volta, eles podem nos ajudar ou atrapalhar, dependendo apenas
e unicamente de nossa posição mental, espiritual e, por que não dizer,
vibracional de nossa parte.
Esse tema nos leva ao
profundo e complexo problema das perturbações, obsessões, e todo tipo de
influência negativa que recebemos dos Espíritos quando nos sintonizamos na
mesma faixa de vibração.
As pessoas que não
acreditam na espiritualidade, vida após a morte, e todo esse complexo de
interferência espiritual à nossa volta, ao se depararem com o problema da
influência espiritual, levam toda essa problemática para o campo da psicologia
e psiquiatria clássica, não procurando observar com mais profundidade o
problema.
Sem dúvida as ciências
psicológicas e psiquiátricas têm um papel importante nas nossas vidas para a
busca do equilíbrio emocional e cognitivo do ser, mas estamos aqui falando de
algo que transcende ao ser encarnado, levando-nos a um questionamento mais
profundo, pois a Ciência muitas vezes cura os problemas dessa ordem, mas,
outras vezes, não. Podemos ver no dia a dia pessoas se curando através de uma
terapia alternativa, oferecida pelos centros espíritas, que é o “tratamento
espiritual”, que não tem, segundo os estudos clássicos da Ciência, qualquer
comprovação na sua eficácia, até porque os elementos chaves, o Espírito e sua
influência, ainda se encontram obscuros para a Ciência oficial.
A benfeitora Joanna de
Ângelis nos apresenta, no seu estudo da psicologia espírita, essa ligação
profunda entre o mundo físico e espiritual e suas relações.
Assim deveremos, passo
a passo, dia após dia, construir o reino de Deus dentro de nós, para que
possamos estar em sintonia com os bons Espíritos, recebendo suas orientações
dentro do nosso campo mental em forma de intuição, inspiração ou até mesmo uma
atuação mais direta, dependendo da situação em que nos encontramos.
O esperado bloqueio das
influências negativas dos irmãos espirituais, que ainda se identificam com o
mal, só é possível com mudanças de atitudes, e procurando viver dia após dia os
ensinamentos de Jesus.
Importante que
entendamos que o tratamento espiritual é um remédio importante para restituir o
equilíbrio espiritual, mas, para permanecer nesse equilíbrio, dependerá dali
para frente de nós. Porque continuaremos recebendo as influências boas, ou não,
dependendo de nós.
Não estamos aqui
falando em viver na clausura, mas numa vida consciente do nosso papel de ser em
evolução, com muita alegria, paz, estudo, trabalho e muito amor ao próximo e a
nós mesmos.
Disse Jesus ao doente:
“Eu te curei, vai, mas não peques para que não te aconteça coisa pior”. Nessa
lição o Mestre dos mestres nos proclama a necessidade de mudança hoje para
obtermos uma vida espiritual melhor. Para que consigamos manter uma ligação com
a espiritualidade Maior, torna-se necessário o trabalho no bem, a única saída
real e efetiva para o nosso ser.
Espíritos em toda
parte, e estes com ou sem evolução nas suas ações, sentimentos e emoções,
constroem um hálito espiritual à nossa volta, onde nós compartilhamos e
colaboramos nesse nível de energia e vibração.
Seja como emissores de
pensamentos ou nossos atos, construtivos ou não, estamos na presença de
Espíritos a todo o momento. Assim, orar e vigiar, como manda o Mestre, é ainda
a melhor forma de garantir uma ligação proveitosa junto à espiritualidade
Maior. Que Jesus nos abençoe hoje e sempre.
A
INGRATIDÃO
(Waldenir A.
Cuin)
“- As decepções
causadas pela ingratidão não podem endurecer o coração e torná-lo insensível?
- Seria um erro pensar
assim, porque o homem de coração, como dizes, será sempre feliz pelo bem que
praticar...” (Questão 938, de “O Livro dos Espíritos” - Allan Kardec.)
Equivocamo-nos, quando
esperamos a compreensão alheia para os nossos atos no campo do bem, pois que a
criatura humana, com raras exceções, ainda segue seus dias revestida de orgulho
e de egoísmo, e essas terríveis chagas obscurecem sua visão, impossibilitando
observar as intenções benéficas que circulam ao seu redor.
Em realidade, a
ingratidão significa a falta de reconhecimento por alguém, de um bem, um favor,
ou de qualquer gesto de atenção que lhe fora dedicado. Isso é muito frequente
no contexto social em que vivemos, ante a pequena evolução espiritual que
conseguimos na Terra.
Mas o verdadeiro homem
de bem, aquele que já identificou a necessidade de praticar as inquestionáveis
lições do Cristo, precisa urgentemente ignorar tal comportamento social e
continuar servindo, a exemplo do próprio Jesus, que em circunstância alguma
esperou pela compreensão, entendimento e gratidão dos homens, uma vez que, após
trazer a Boa Nova ao mundo, como recompensa ganhou uma coroa de espinhos, o
sarcasmo e a morte afrontosa na cruz.
Ao discípulo compete
seguir o mestre. Assim, se somos cristãos devemos seguir o Cristo, portanto, o
serviço nos aguarda e a exemplificação de uma vida digna, honesta e sublime
deve ser a nossa meta, para que nos coloquemos também como servidores da causa
do bem, não somente como beneficiário dela.
Importante, então, que
vasculhemos nossa intimidade para localizar onde estão os nossos talentos,
visando colocá-los em prática, em favor da humanidade. De alguma forma,
incontestavelmente, todos temos algo a oferecer àqueles que caminham conosco
pelas entradas do mundo. É claro que, por necessidade, muito recebemos, e por
gratidão temos também que oferecer alguma coisa de nós pela implantação do
reino de Deus na Terra.
Assim, podemos escrever
sobre o bem, endereçando um bilhete amigo a quem estiver passando por
necessidade; falar sobre a beleza da vida aos que seguem tristes; ouvir o
lamento desesperado daqueles que agonizam em situações aflitivas; fazer uma
prece ao doente acamado cujas dores lhe roubam a tranquilidade; estender um
gesto de carinho a uma criança abandonada; servir um prato de alimento ou um
copo de leite ao irmão que perambula pelas ruas, sem exigir-lhe nada; oferecer
remédios aos necessitados que não podem adquiri-los; movimentar campanhas de
alimentos para distribuição às famílias em penúria; aconselhar o jovem
desorientado que tende a cair no abismo dos tóxicos; amparar pais inconformados
que viram partir seus filhinhos para o mundo espiritual, enfim, serviço e
oportunidades de fazer o bem não faltam. Façamos a nossa parte, sem esperar
nada de ninguém.
Deixemos o nosso
coração ser embalado pela musicalidade do amor, da fraternidade, da
sensibilidade e saiamos a servir, a cooperar e a construir o mundo dos nossos
sonhos, pois, se não tomarmos iniciativas, a paz, a felicidade e o bem-estar
ficarão somente nos sonhos mesmo.
Se o mundo vai ou não
reconhecer o nosso serviço, isso, decididamente, não importa. Se as pessoas
serão gratas ou não, também não importa. Realmente o que vai importar será a
paz da nossa consciência... isso, sim, realmente importa.
PARTIDA
E CHEGADA
(Arnaldo Divo
Rodrigues de Camargo)
Toda semana o nosso
Jornal Correio de Capivari anuncia a partida de vários capivarianos de retorno
à vida espiritual, na sua coluna falecimentos.
Imortalidade da alma –
qual a sorte dos homens depois da sepultura?
Segundo a doutrina
niilista, sendo a matéria a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de
tudo.
De acordo com a
doutrina panteísta, o Espírito, ao encarnar, é extraído do todo universal.
Individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, com a morte, à massa
comum.
De maneira geral,
cristãos, islâmicos e judeus acreditam que após a morte há a ressurreição.
Já a doutrina espírita,
também cristã, demonstra a continuação da vida no plano espiritual após a morte
do corpo físico. E explica pela reencarnação que Deus abre novas possibilidades
para o Espírito no futuro retornar em novo corpo, para continuar o processo de
evolução. Aqueles que praticam o bem, evoluem mais rapidamente. Os que praticam
o mal, recebem novas oportunidades de melhoria através das inúmeras
reencarnações. Portanto, creem na imortalidade e na individualidade da alma e
na existência de Deus, mas não como Criador de pessoas boas ou más. Deus criou
os Espíritos simples e ignorantes, sem discernimento do bem e do mal. Quem
constrói o céu e o inferno é o próprio homem em seu interior.
Gosto muito deste
pensamento do poeta francês Victor Hugo (1802/1885): – Quando estiver no túmulo
poderei dizer, como tantos outros: ‘Terminei minha jornada’ e não ‘terminei
minha vida’. Minha jornada recomeçará no outro dia, de manhã. O túmulo não é um
labirinto sem saída; é uma avenida, que se fecha no crepúsculo e volta a abrir
na aurora.
Gosto muito dessa
mensagem que é sempre comentada e não tem um autor identificado que compara a
partida e a chegada para a Pátria espiritual.
Quando observamos, da
praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela
brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de rara beleza.
O barco, impulsionado
pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só
podemos contemplar um pequeno ponto bran-co na linha remota e indecisa, onde o
mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro
sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: “Já se foi”. Terá sumido?
Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do
mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas
recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o
mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz “já se foi”, haverá outras
vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o veleiro”!!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte,
levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha
que separa o visível do invisível, dizemos: “Já se foi”.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. Na verdade são invisíveis e não
ausentes.
O ser que amamos
continua o mesmo, suas conquistas e afeições persistem na nova dimensão
espiritual.
Nada se perde, a não
ser o corpo físico de que não mais se necessita. E é assim que, no mesmo
instante em que dizemos “já se foi”, no Além, outro alguém dirá: “Já está
chegando”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a
vida.
Na vida, cada um leva
sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por
desfazer-se do que julgar desnecessário ou incômodo.
A vida é feita de
partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a
partida, para outros é a chegada. Retorno ao que escreveu o poeta francês
Victor Hugo: – O berço tem um ontem e o túmulo um amanhã.
Assim, um dia, todos
nós partimos como seres imortais que somos, ao encontro d’Aquele que nos criou.
VIVEMOS
NUM MUNDO EMPRESTADO DE NOSSOS NETOS
(Arnaldo
Camargo)
Sim, vivemos hoje com
nossos filhos e vamos deixar no futuro, para nossos netos, o nosso planeta.
Vamos deixá-lo como recebemos, ou melhorado?
Pensando no futuro e
naquilo que nos emprestaram os nossos antepassados e em como vamos devolver
para nossos netos, vejamos o que disse o advogado que lutou pela liberdade e
igualdade dos negros americanos, Martin Luther King:
“Se soubesse que o
mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me
assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a
voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível
arte de viver como irmãos”.
Outro pacifista, que
libertou a Índia da opressão inglesa, também defende a sobriedade e a
igualdade, Mahatma Gandhi:
“Cada dia a natureza
produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse
necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”.
Na Bíblia, em Eclesiastes,
3:1-2, fala-se do presente e do futuro que o Criador reservou para todos nós,
tanto em relação à nossa vida como também ao meio ambiente:
“Existe um tempo certo
para cada coisa, momento oportuno para cada propósito debaixo do Sol: tempo de
nascer, tempo de morrer; tempo de plantar, tempo de colher”.
Não podemos ficar
isolados na sociedade, todos têm que dar sua contribuição para o bem-estar
social e para o equilíbrio do meio ambiente, reconhecendo que somos parte
integrante do ambiente em que Deus nos colocou a viver. Este é o melhor momento
de nossas vidas: aquele em que podemos abrir a mente e pensar não apenas em nós
e sim no coletivo.
Pensando assim, cinco
séculos antes de Cristo, o pensador e filósofo chinês Confúcio ensinou:
“Se você tem metas para
um ano, plante arroz. Se você tem metas para dez anos, plante uma árvore. Se
você tem metas para cem anos, então eduque uma criança. Se você tem metas para
mil anos, então preserve o meio ambiente”.
O mundo capitalista nos
induz a ter e consumir, enquanto a mensagem de Jesus nos fala em dar e servir.
Por sua vez, o pensador
grego Aristóteles, que foi discípulo de Platão e como filósofo escreveu sobre
as diversas áreas do conhecimento humano, asseverou, como se falasse para hoje:
“As pessoas dividem-se
entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como
se fossem morrer amanhã”.
Mas voltemos ao nosso
meio ambiente, ao qual a primeira semana de junho foi dedicada, sendo o dia 5
sua data comemorativa especial: dia da ecologia. O médico indiano Deepak
Chopra, radicado nos Estados Unidos, que também é escritor e professor, afirma:
“As árvores são nosso
pulmão, os rios nosso sangue, o ar é nossa respiração, e a Terra, nosso corpo”.
Sobre a fonte de vida
que é a natureza, o Espírito Maria Dolores, através de Chico Xavier, poetisa:
“A fonte, a deslizar
singela e boa, / Passa fazendo o bem,
Dessedenta, consola,
alivia, abençoa / Sem perguntar a quem...”.
Será que já praticamos
uma boa ação na semana? Aliviamos a provação de alguém, abençoamos aqueles que
convivem conosco, consolamos os desamparados, ou continuamos em nossa vidinha
cômoda e confortável?
A vida exige esforço e
determinação, primeiro para vencer a nós mesmos, e depois para conquistar nosso
mundo, como bem diz o escritor francês André Gide, que recebeu o prêmio Nobel
de literatura em 1947:
“O ser humano não
descobre novos oceanos se não tiver a coragem de perder o litoral de vista”.
CANDEIA
SOBRE O CANDEEIRO
(Gebaldo José de
Sousa)
“Não há ninguém que, depois de ter acendido
uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o
candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz (...).”
No passado, a candeia ficava
ao alto, num canto da sala, e sua luz se estendia por todo o ambiente. Sempre
mais intensa para os que estavam próximos a ela. Aqueles que estavam ao longe
recebiam dela um fiapo de luz..., mas a recebiam!
Assim é a compreensão
do Evangelho: chega a todos, mas em graus variados de intensidade, como luz que
nos atrai. Fruto das vibrações e do amor zeloso de Jesus!
Todos os que
frequentamos templos religiosos (quaisquer deles!) ali vamos amiúde ou
periodicamente porque a mensagem de Jesus, de uma forma ou de outra, já nos
tocou e contagiou o coração!
Uns assimilam mais o
teor da mensagem, porque situados mais próximos da luz – da candeia de canto,
ou do próprio Evangelho! E não há nisso nenhum privilégio: quem a busca, quem
se esforça por compreendê-la e aplicá-la à própria vida, aproximam-se, por
vontade própria, da luz imperecível da Boa Nova!
Emmanuel, Espírito,
claramente exemplifica esse fato:
[“E Deus pelas mãos de
Paulo fazia maravilhas extraordinárias.” – O Evangelho não nos diz que Paulo de
Tarso fazia maravilhas, mas que Deus operava maravilhas extraordinárias por
intermédio das mãos dele.
O Pai fará sempre o
mesmo, utilizando todos os filhos que lhe apresentarem mãos limpas.
Muitos Espíritos, mais
convencionalistas que propriamente religiosos, encontraram nessa notícia dos
Atos uma informação sobre determinados privilégios que teriam sido concedidos
ao Apóstolo.
Antes de tudo, porém, é
preciso saber que semelhante concessão não é exclusiva. A maioria dos crentes
prefere fixar o Paulo santificado sem apreciar o trabalhador militante.
Quanto custou ao
Apóstolo a limpeza das mãos? Raros indagam relativamente a isso.
E o Mestre, sábio
educador, a pouco e pouco nos atrai, sempre mais e mais, até nos converter
plenamente às claridades da Sublime Mensagem, eis que afirmou: ‘Das ovelhas que
o Pai me confiou, nenhuma se perderá!’
Não há, pois,
condenações ‘eternas’: todos, ao longo das múltiplas encarnações, teremos
oportunidades de compreender essas Lições imorredouras e de, lentamente,
reparar nossas faltas, ainda que à custa de renúncias e dores! E, assim,
seremos redimidos, sempre amparados por aqueles que, no plano físico ou no
espiritual, nos conduzem à compreensão da mensagem de Amor.
Nem há, também, o
‘demônio’ ou o inferno tão temido. Só alimentam essas crendices os que não
compreendem a grandeza do Amor de Deus, criador do Universo visível e
invisível.
Ninguém melhor que
Voltaire – François Marie Arouet (Paris, 21.11.1694-30.05.1778) – expressou a
sabedoria do Criador, por oposição à imensa ignorância dos humanos, na sábia
afirmação “Eu acredito no Deus que criou os homens, e não no Deus que os homens
criaram”.
À medida que evoluímos,
ampliamos nossa compreensão da vida, de nós mesmos e aprendemos a compartilhar
com os demais tudo o de bom que o Pai nos concede.
No Velho Testamento
temos – num sonho conhecido como Escada de Jacó
– belo símbolo de nossa evolução espiritual.
Em forma de espiral,
seus primeiros degraus são de menor extensão; e vão se ampliando, à medida que
se eleva.
Cada degrau comporta
inúmeros ensinamentos, que devemos assimilar. E só ascendemos ao próximo quando
completamos o aprendizado desse estágio.
Daí por que as questões
que nos incomodam surgem, reiteradamente e de forma inesperada em nossas vidas.
Oferecem-nos, assim, oportunidades de superar questões que nos desequilibram e
de vencermos a nós mesmos: de não revidarmos ofensas; de perdoarmos etc.
Afinal, de irmos além, de transcendermos nossos limites.
Compreendida a lição,
somos envolvidos por extraordinária paz, que se torna, a cada vitória
conquistada sobre nós mesmos, em incentivo a ficar atentos às próximas lições
que nos serão oferecidas. Faz parte do processo de autoconhecimento que o
Evangelho nos favorece, eis que ele é o mais perfeito roteiro para o
crescimento espiritual! Daí a importância de conhecê-lo e aplicá-lo em nossas
vidas.
[Diz “A Grande Síntese”
que “se a dor faz a Evolução, a Evolução anula progressivamente a dor...” E
outro não poderia ser o caminho. Inútil lutarmos contra a dor como se ela
representasse um elemento intruso e agressor da Vida. Só compreendendo-a em
profundidade e aceitando-a com resignação é que obteremos sucesso nas ascensões
que nos aguardam. Quando a dor obriga o Espírito a dobrar-se sobre si mesmo, ao
mesmo tempo em que anula as dissonâncias inerentes à alma, prepara terreno para
profundas introspecções, desenvolvendo e despertando potencialidades
espirituais.] 5 – [Sublinhamos.]
Conhecer os ensinos de
Jesus e ignorar sua prática é o que mantém o atraso da Humanidade, não obstante
transmitidos há dois mil anos, pelo incansável Mestre!
Nosso aprendizado deve
beneficiar a todos. Não basta adquiri-los. É preciso que ele transforme nossas
vidas de forma efetiva, produzindo bons frutos: “Assim resplandeça a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso
Pai, que está nos céus.” Mt, 5:16 6 – Grifo do original.
QUANTO
TEMPO FALTA PARA A TERRA CHEGAR A MUNDO DE REGENERAÇÃO
(Wellington
Balbo)
A Revista Espírita foi
uma obra com periodicidade mensal dirigida por Allan Kardec, de janeiro de 1858
até abril de 1869. Embora tenha desencarnado em março de 1869, o professor
havia deixado a publicação de abril daquele ano pronta.
Com frequência, os assinantes
da Revista Espírita pediam a Kardec para que sua publicação fosse semanal ou
quinzenal. Objetivavam beber da literatura do sábio francês mais
constantemente.
Kardec respondia, de
forma educada, que era humanamente impossível. Em primeiro lugar porque o
trabalho a que se prestava o professor tornava-se cada dia mais intenso.
Além disso, caso
optasse pela periodicidade menor o professor teria que aumentar o valor das
assinaturas. Embora muitos afirmassem que pagariam de bom grado, isto seria um
prato cheio para os detratores de Kardec que, vira e mexe, acusavam o professor
de enriquecer às custas do Espiritismo.
E, também, a Revista
trazia em si o ideal da variedade e do complemento da obra construída pelo
professor, portanto, deveria seguir a publicação mensal o que, segundo ele,
seria mais conveniente.
Kardec informa, ainda,
que a Revista registraria o desenvolvimento da ciência espírita e as novas
teorias, mas que estas não poderiam ser aceitas antes de passar pelo controle
universal do ensinamento dos Espíritos.
Percebe-se o zelo que
Kardec tinha com o Espiritismo. Sua busca, conforme ele mesmo narra na
introdução da Revista Espírita, era pela verdade, então teria que traçar
estratégias seguras para que dela – verdade – não se afastasse, mas, também,
que não obstruísse o progresso, porquanto sabia ele que o Espiritismo
permanecia no patamar de ciência em construção, ou seja, aberto à continuação
da verdade que, diga-se, deveria obedecer à marcha do progresso humano e não
seria ministrada senão paulatinamente.
A grosso modo é a
comparação da luz que, quando muito forte, ofusca ao invés de iluminar.
Kardec não tinha
pressa, antes primava pela observação, pesquisa e estudo de determinado ponto,
para que a verdade não lhe escapasse.
Pode-se afirmar que Kardec
era um homem sem agonia!
Agonia que muitas vezes
reflete-se na ansiedade de constatar que a Terra será, em breve, promovida de
mundo de prova e expiação para mundo de regeneração.
Alguns falam até de
datas. Todavia, é válido buscar no professor Rivail a prudência, até porque
essa promoção não ocorrerá por decreto. Na constituição de Deus não há espaço
para negociatas. Ou seja, a Terra será promovida quando os homens a promoverem
por meio de suas ações pautadas na prática evangélica.
Basta uma breve observação
para conferir que a mudança moral é lenta.
Vejamos:
Cerca de 1.400 anos
mais ou menos separam a primeira revelação dada por Moisés da vinda do Cristo à
Terra. Logo, de Cristo para o Espiritismo são mais de 1.800 anos.
Não precisamos fazer
grandes reflexões para constatar que ainda não assimilamos nem a revelação dada
por Moisés, porquanto ainda matamos, roubamos, tiramos vantagens indevidas e
por aí vai...
Vide a situação do
Espírito Santo, estado afetado pela “greve” da Polícia Militar e que as mortes
pipocaram, os saques tomaram espaço e homens, até então não envolvidos com o
crime, acabaram por se envolver pela razão de não estarem sendo fiscalizados
pela polícia.
Em termos morais
avançamos, mas ainda não praticamos nem o que Moisés revelou.
Vale lembrar que o
Espiritismo tem pouco mais de 150 anos... Percebe-se que as revelações
demoraram um bocado de tempo para fazer pequenino efeito no comportamento moral
dos homens.
Em partindo deste
princípio, se fizermos uma média entre as revelações, ou seja, 1.400 anos de
Moisés a Jesus e 1.800 anos de Jesus ao Espiritismo, teremos 1.600 anos de
média.
Será que irão 1.600
anos para começarmos a praticar as lições de Jesus?
Em realidade, tudo
dependerá dos homens, então, cabe-nos acelerar esta progressão da Terra para um
mundo melhor.
Outro dia ainda
comentei com amigos: - Que os homens sejam todos, independentemente de
religião, kardequianos, pois kardequiano quer dizer: Kardec para o cotidiano...
Só assim nosso mundo,
de fato, será promovido para mundo de regeneração.
O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
(Marcus de
Mario)
A leitura sobre as
posições teóricas principais do desenvolvimento da criança revela que a base do
pensamento é uma visão estritamente biológica sobre o homem, ou seja, temos até
o presente momento uma visão materialista sobre a chamada psicogênese.
A concepção espírita é
espiritualista, considerando o homem uma alma imortal e a vida como criação de
Deus. E antecipando-se a todas as formulações teóricas do século vinte, no ano
de 1857, o Espiritismo assentava as bases do desenvolvimento psicogenético da
criança, como podemos verificar na questão 351 de O Livro dos Espíritos:
No intervalo da
concepção ao nascimento, o Espírito goza de todas as suas faculdades?
– Mais ou menos,
segundo a fase, porque não está ainda encarnado, mas ligado ao corpo. Desde o
instante da concepção, a perturbação começa a envolver o Espírito, advertindo-o
assim de que chegou o momento de tomar uma nova existência; essa perturbação
vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos de
um Espírito encarnado, durante o sono do corpo. À medida que o momento do
nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do
passado se apaga desde que entrou na vida. Mas essa lembrança lhe volta pouco a
pouco à memória, no seu estado de espírito.
A concepção espírita
visualiza o início do processo de desenvolvimento do homem no instante da
concepção, ou seja, quando temos a união da alma com o corpo. Nenhum teórico,
nenhum pesquisador sequer, pensou sobre isso. Todos iniciam suas deduções a
partir do nascimento, ignorando completamente a fase da gestação. Embora
envolvido pela perturbação do processo de preparação e ligação com o embrião, o
Espírito conserva suas ideias, nunca perde sua individualidade. No tocante às
ideias, aos conhecimentos e à percepção de si mesmo, vai entrando pouco a pouco
num estado de sonolência, onde tem dificuldade de manter-se pleno, pois
psiquicamente está transferindo o passado para o subconsciente, deixando na
consciência apenas as estruturas necessárias para desenvolver a nova
personalidade. Lembremos que estamos falando do processo de uma forma geral,
pois a individualidade é única, por isso, cada caso é um caso, como se costuma
dizer.
A resposta dada à
pergunta de Kardec levanta ainda outra questão: nada se perde, pois, se assim
acontecesse, já não teríamos a individualidade imortal que preexiste e
subsiste, e sim uma nova alma começando do início, o que não sucede, pois o
corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito. Na medida em
que, após o nascimento, domina o corpo, o Espírito readquire, em seu estado
normal, a lembrança de seu passado, sempre de acordo com suas necessidades e
sua missão na Terra, sem que isso venha a prejudicar sua atual existência. Esse
estado normal é vislumbrado nos sonhos, quando, através do sono, o Espírito se
desprende parcialmente do corpo e pode vagar pelo mundo espiritual.
O psiquismo do ser
humano é, portanto, complexo, pois é um ser interexistente: é uma alma num
corpo. Ao mesmo tempo que inicia a aquisição de novos aprendizados, trabalha
com os aprendizados que já traz das suas ulteriores existências, que espocam
nas ideias inatas e nas tendências de caráter.
E após o nascimento?
Como se dá o desenvolvimento desse ser? A visão espírita tem semelhança com a
visão dos teóricos da ciência? A resposta a tudo isso está na questão 352.
Vejamos:
No instante do
nascimento o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades?
– Não: elas se
desenvolvem gradualmente, com os órgãos. Ele se encontra numa nova existência;
é preciso que aprenda a se servir dos seus instrumentos: as ideias lhe voltam
pouco a pouco, como um homem que acorda e se encontra numa posição diferente da
que ocupava antes de dormir.
Temos em O Livro dos
Espíritos a psicogênese da criança explicada muito antes do aparecimento das
teorias do desenvolvimento psicológico apresentadas pela Psicologia, e isso
numa época, metade do século dezenove, onde ainda se considerava a criança como
uma miniatura do adulto. Entendamos o que os Espíritos Superiores responderam a
Allan Kardec.
Todos os teóricos falam
que a criança passa por determinados estágios de desenvolvimento, e que esses
estágios estão intimamente ligados a faixas etárias, de acordo com o natural
desenvolvimento dos órgãos. Assim as etapas de crescimento da criança devem ser
respeitadas no processo educacional. Entretanto, o Espiritismo já afirmava em
1857 que o Espírito só recobra suas faculdades paulatinamente, de acordo com o
desenvolvimento dos órgãos físicos do novo corpo, ou seja, ele só pode se
manifestar – pensar e agir – de acordo com o que lhe permite o corpo. Como este
está em formação, em crescimento, durante a infância o Espírito pensará como
criança, agirá como criança, elaborando as estruturas mentais de sua nova
personalidade. É assim que não poderá elaborar um pensamento lógico-matemático
mais complexo quando está na faixa de seus 2 ou 3 anos de idade, mas que isso
começa a ocorrer, por etapas, na medida em que o corpo, e neste caso todo o
complexo cerebral, vai lhe dando suporte para tais pensamentos.
Com isso logo
percebemos que não existe criança “burra”, que “se continuar assim não vai ser
nada na vida”, ou que “não tem possibilidade de desenvolvimento”. Pensar dessa
maneira é demonstrar preconceito, discriminação e ignorância.
Agora, a gênese
psicológica do ser, ainda tão intrigante para os pesquisadores da Psicologia do
Desenvolvimento, transforma-se totalmente com a inserção da Alma (Espírito) no
processo, pois as ideias, os conhecimentos, os aprendizados, o planejamento
reencarnatório, tudo está arquivado nela, nada se perde. Na medida em que
controla o corpo com seus instrumentos de manifestação e comunicação, a alma
extrai de seu subconsciente tudo o de que precisa para sua nova existência, mas
não o faz sozinha, pois necessita dos estímulos da educação que lhe é
propiciada no lar e na escola, até que ali pelos sete/oito anos completa esse
processo e começa a se revelar tal como realmente é, ou seja, deixa aflorar
plenamente suas tendências, mas que então já estarão transformadas (se
negativas) ou potencializadas (se positivas), pela educação recebida.
É fantástico esse
estudo. Compreender a psicogênese da criança é fundamental para melhor educar,
ainda mais com a visão espírita da imortalidade do ser. Passado, presente e
futuro pertencem à individualidade humana que desenvolve nova personalidade e é
colocada por Deus na dependência daqueles que já passaram pelo processo, já
realizaram seus estágios no mundo infantil, e sabem que tudo depende não apenas
do respeito a esses estágios, mas dos estímulos e da convivência social que são
propiciados a essa alma.
ENQUANTO
ESTAMOS A CAMINHO
(Hyerohydes
Gonçalves)
“Reconciliai-vos o mais
depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho,
para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da
justiça e não sejais metido em prisão. – Digo-vos, em verdade, que daí não saireis,
enquanto não houverdes pago o último ceitil."(Mateus 5:25 e 26).
Diante dessa
recomendação do Mestre Jesus a todos nós, Espíritos em evolução, passando pelas
bênçãos das provas e das expiações, nesta oficina Terra, temos de levar em
conta alguns detalhes contidos nos versículos em pauta, de suma importância
para o nosso entendimento e compreensão.
Observemos que Jesus
nos recomenda “reconciliar” com os nossos “adversários” e chamando-nos a
atenção para que seja “o mais depressa possível”, e ainda a circunstância:
“enquanto estiver com ele a caminho”.
O dicionário online de
português traz a definição de que “reconciliar” é instaurar a paz entre; ficar
em harmonia com; harmonizar-se.
Em analogia com o
entendimento de que para amar o próximo é necessário primeiro amar a si mesmo,
logo, para reconciliar com os adversários, é necessário cada qual reconcilie
consigo mesmo, em primeiro lugar, pacificando a própria consciência e
harmonizando-se com os bons pensamentos, em sintonia com as leis divinas.
Estando em paz consigo
mesmo, estará desenvolvendo os quesitos da caridade como a entendia (e entende)
Jesus: benevolência (= boa vontade, surgida da voluntariedade, sem esperar nada
em troca); indulgência (= doçura por dentro); e perdão (doar-se por completo). (Vide:
O Livro dos Espíritos, questão 886.)
Em seguida, estaremos
habilitados ao relacionamento com os adversários.
Adversários???
Exatamente,
adversários!
Pois bem! Novamente, em
consulta ao referido dicionário, observamos que “adversário” significa aquele que
entra em combate com outra pessoa; antagonista; que é capaz de se opor; que é
contrário a; opositor; que disputa uma competição contra; concorrente; rival;
contendor.
Logo, observamos que um
adversário não precisa, necessariamente, ser um inimigo. Mas alguém que está a
caminho conosco e que pensa e age diferente de nós, expõe as suas opiniões
diversas da nossa, conduz a vida de um jeito que nos incomoda, ou pode ser,
mesmo, um inimigo, decorrente de entreveros desta e/ou de outras existências e
que agora é a oportunidade de ajuste ou reajuste, ou seja, da reconciliação, do
acertar dos ponteiros e seguir o caminho desbravando horizontes de amizade e
paz.
Que essa reconciliação
atenda a recomendação do Mestre Jesus, sendo a mesma o mais depressa possível, porque
estamos a caminho.
Estar a caminho tem o
sentido de movimento, de estar andando para frente. Muito diferente de estar no
caminho, porque estar no caminho tem o sentido estático.
Mas a ideia de Jesus é
de evolução. E para evoluir temos de agir e de nos movimentar, ir ao encontro
do outro que, muitas das vezes, é nosso adversário e/ou inimigo.
Quando Jesus nos alerta
quanto ao “mais depressa possível”, desperta a ideia de “tempo”, de
aproveitarmos a oportunidade que temos para nos apaziguarmos uns com os outros,
acertando as arestas e desenvolvendo as virtudes morais, sendo caritativos;
cada qual se colocando no lugar do outro, com o coração misericordioso
removendo e ajudando o outro a remover as pedras do caminho.
É aproveitarmos o
tempo, essa ferramenta que temos em mãos para o exercício do livre-arbítrio,
para desenvolvermos a maturidade das nossas escolhas, e buscarmos a felicidade
juntamente com os companheiros de jornada evolutiva que também estão a caminho.
Mas a caminho de quê?
Para onde?
Rumo à felicidade, para
a qual todos nascemos e renascemos, que se localiza dentro de cada um de nós em
particular, onde está o Reino de Deus, conforme Jesus nos ensinou através do
Evangelho de Lucas, capítulo 17, versículo 21.
E, ao fazer essa
viagem, rumo à felicidade, no mundo da consciência, muitos, quiçá a maioria,
acabarão por concluir que, também, os nossos adversários podem ser nós mesmos,
que não nos damos oportunidades de nos ouvir e perceber o que temos de melhorar
e que temos de exercer o amor a nós mesmos (o autoamor), não nos culpando de
nada, mas nos responsabilizando pelas nossas ações e omissões.
Se estamos a caminho,
estamos de passagem de um lugar para o outro, em busca do conhecimento da
verdade que liberta da prisão do orgulho e do egoísmo, da ignorância, da
intolerância, da falta de perdão.
É preciso, no caminho,
o mais depressa possível, aprender a caminhar um com o outro, lado a lado,
tantas milhas que forem necessárias, aprendendo um com o outro, com as
experiências do outro.
É preciso, no caminho,
mostrar a outra face, que é a face da benevolência para com todos, da
indulgência para as imperfeições dos outros e do perdão das ofensas.
É preciso, no caminho,
entregar a túnica do conhecimento e, se possível, a capa do desprendimento.
É preciso, o mais
depressa possível, e, se possível, ainda nesta encarnação, para que evitemos a
prisão de nossa consciência nas grades da ignorância, da consciência culpada,
do egoísmo e do orgulho e de tantos e demais vícios que nos aprisionam, a fim de
evitarmos os pagamentos dolorosos de cada ceitil, de centavo por centavo, na
conta da vida.
ORAÇÃO:
PEDIR OU AGRADECER
(Wagner Ideali)
“Por
isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e
tê-las-eis”.
(Marcos,
cap. XI:24)
Em O Evangelho segundo
o Espiritismo, no capítulo XXVII, temos uma passagem de Jesus que afirma: Pedi
e obtereis. Ao ler essa passagem ficamos aqui pensando sobre a oração, o que
nos levou a uma reflexão sobre orar e a fé.
Aprendemos na Doutrina
espírita que Deus é a Inteligência Suprema do Universo e que tudo segue
conforme seus desígnios, assim sendo, por que orar pedindo, pois, como o
próprio Evangelho nos diz, na passagem de Marcos, Cap. VI: 5 a 8: vosso Pai
sabe do que necessitais antes de o pedirdes. Além disso aprendemos na Doutrina
espírita sobre a Lei de ação e reação que nos ensina sobre o processo do
merecimento em nossas vidas. Também aprendemos que o agradecimento que ocorre
nas nossas orações tem um valor espiritual muito profundo, se assim podemos
afirmar, pois realiza mudanças em nosso ser sempre que agradecemos, porque nos
envolve em um halo energético sem precedentes. O ato de agradecer deveria ser
uma constante em nossas vidas. A gratidão nos envolve num halo de energia
positiva muito salutar para o nosso equilíbrio. O agradecer não se limita
apenas nas palavras proferidas, mas no sentimento profundo que exalamos ao
pensar dentro do aspecto da gratidão.
Ficamos naquela
bifurcação entre pedir, mas já sabemos que Deus conhece as nossas reais
necessidades, ou agradecer, que é um ato de amor com a vida e com Deus.
O que devemos fazer nas
nossas orações? Entendemos que a gratidão sentida no fundo do nosso coração é
verdadeiramente um ato de humildade. Uma profunda ligação entre a criatura e o
Criador e portanto deveria ser trabalhada dentro de nós, e fazer parte de nosso
dia a dia. Procurar ter esse sentimento dentro de nossos pensamentos mais
assertivos.
O ato de pedir, que num
primeiro momento pode até parecer um ato de falta de fé na Providência Divina,
também pode demonstrar que acreditamos Nele e nas Suas Potencialidades, pois
entendemos que essa atitude denota uma posição de humildade da criatura para
com o Criador. Na nossa súplica a Deus mostramos nossa fraqueza e o
reconhecimento das nossas limitações frente à vida.
Quando o Mestre Maior,
Jesus, nos convida à prece para pedir e nos afirma que iremos obter aquilo que
pedimos, não está dizendo que vamos obter da forma que pedimos, mas sim nos
serão dadas as condições para a correção, nos serão apresentados, ao longo de
nossa vida, caminhos para a solução.
O ato de pedir mostra
nossa fé em Deus e não o contrário, pois sabemos que Ele não se esquece dos
seus filhos. As dificuldades da vida são lições para o nosso desenvolvimento e
não um castigo, como nos ensina a Doutrina espírita, portanto, pedir essa ajuda
não tem qualquer ato de falta de fé, mas de busca de coragem e ajuda para a
solução dessas dificuldades.
O que nos deixa muitas
vezes numa posição de sofrimento é, sem dúvida, o receio de não chegar a cabo
da solução, talvez por medo, preguiça ou falta de confiança em nós mesmos.
Na alegria, muitos de
nós esquecemos de agradecer, mas é nessa hora que podemos mostrar nosso Amor,
reconhecimento e fé em Deus. Assim, precisamos aprender a exercitar a gratidão
em tudo à nossa volta.
Na dor, tristeza e
momentos de dificuldade, vamos também agradecer o aprendizado, o qual estamos
atravessando naquele momento.
Quando oramos, pedindo
humildemente a Deus que nos mostre o caminho para que encontremos a solução dos
problemas, é sem dúvida importante o ato de estabilidade emocional e
espiritual, pois estamos pedindo de coração aberto cheio de fé e esperança.
Existe uma frase atribuída ao nosso querido Chico, que sendo dele ou não,
encerra uma verdade: Tudo o que é seu encontrará uma maneira de chegar até
você...
Vamos orar, mas sempre
com muito trabalho, amor e fé.
Pedimos ao Mestre Jesus
que continue abençoando a todos nós, hoje e sempre...
ALGUMAS
NOTAS SOBRE A SALVAÇÃO
(Rogério Miguez)
Dentro do contexto
religioso sempre houve acentuada preocupação sobre a tão desejada salvação. Há
inúmeras citações na Bíblia sobre o tema, contudo, assim acreditamos, bem
poucos sabem: como de fato salvar-se ou mesmo por que salvar-se?
O tema é de vivaz
interesse entre os religiosos, obviamente, afinal, quem não almeja ser salvo
para sentar-se à direita do Pai?
Há aqueles preconizando
salvação pelo sangue de Jesus, contudo, se assim fosse, todos os cristãos já
estariam salvos, em razão do sangue do Justo já ter sido derramado há bom
tempo. O sacrifício do Mestre foi inigualável, contudo, apenas o sangue Dele
não poderá nos conduzir à salvação.
Se a salvação for certa
e inquestionável, após a vida atual, religiosos e mesmo os materialistas serão
salvos, mesmo se não o desejarem, portanto, perde-se tempo lidando com a
matéria, seria uma questão de lógica: como todos se salvarão, por qual razão se
preocupar precocemente com o assunto?
Por outro lado, se a
salvação é incerta, precisamos descobrir como a conquistaremos, considerando
evidentemente nosso desejo em sermos salvos. E mais, se existe a possibilidade
de não nos salvarmos, é possível imaginar alguns sendo salvos enquanto outros
não, desta forma, haverá integrantes dentre as famílias separados
definitivamente pela eternidade afora, proposta pouco alentadora. Além disso,
se almejamos ser salvos, como faremos para alcançar a salvação o mais rápido
possível? Como se nota, são muitas as interrogações.
Talvez a questão
primeira a nos debruçarmos seja ajuizar se há salvação, pois desta decorrem
outras: como, do que, para que salvar-se?
A interpretação
espírita da salvação existe, e é voltada a orientar o Espírito a bem se conduzir
na vida, do ponto de vista ético e moral, garantindo assim um futuro melhor nas
muitas existências vindouras. Não obtendo sucesso nesta empreitada, o Espírito
colherá os frutos amargos de suas escolhas, passando por sofrimentos e
apreensões intermináveis, do seu ponto de vista, sendo estas, contudo,
totalmente dispensáveis, pois só surgem pelo mal proceder.
Entretanto, este
conceito espírita não se baseia no entendimento do inferno ou do céu como
aceitam algumas tradições religiosas, porquanto, segundo a ótica espírita, o
inferno e o céu podem realmente existir, porém, dentro de cada um de nós, em
função de como vivemos, não contemplando a existência de um local no Universo
onde todos os não salvos seriam enviados, sem direito a de lá sair, e, por oposição,
outra localidade no Universo onde todos os salvos permaneceriam, convivendo com
Deus pela eternidade afora.
A salvação espírita
ocorre quando o Espírito observa os preceitos morais contidos nas leis divinas,
assim agindo, não haverá temor no pós-morte, tampouco haverá vergonha,
inquietação, nem ranger de dentes. Por outro lado, mesmo se o Espírito não
seguir na totalidade os mandamentos morais, ele não será irremediavelmente
condenado, sofrerá as temporárias consequências, voltará e prosseguirá a sua jornada
até alcançar a perfeição.
A propósito, na nossa
faixa evolutiva, não há qualquer Espírito em condições de observar
rigorosamente todos os preceitos morais de forma continuada, só Espíritos de
elevadíssima evolução podem fazê-lo, como estamos muito distantes desta
condição, todos nós ainda oscilaremos entre o cumprimento e o descumprimento
dos deveres morais, uns mais, outros menos.
Ainda dentro da visão
espírita, como dito anteriormente, ninguém se perderá definitivamente, todos
alcançarão uma relativa perfeição, contudo, este trilhar será diverso, uns
chegando à meta primeiro, outros mais tarde, mesmo considerando dois Espíritos
criados ao mesmo tempo, pois cada qual agirá por si mesmo, acertando e errando
em momentos diversos de suas caminhadas. Estes sucessos e insucessos da jornada
determinarão o tempo necessário para se conquistar o galardão definitivo de
Espírito puro, contudo, é certo, mais cedo ou mais tarde, todos alcançarão esta
meta. Conclui-se ser esta proposta eminentemente consoladora, possibilitando a
qualquer Espírito terminar a sua jornada evolutiva com aproveitamento e, ao
final, “sentarem-se” todos à direita do Pai.
Desta forma, a salvação
espírita é uma realidade, mas enquanto não alcançamos a condição de pureza,
representa uma salvação provisória. Para um determinado período na longa
existência, é necessário sempre agir no bem para sempre se “salvar”, a cada
nova existência, não é uma salvação definitiva, esta só ocorrerá ao final da
jornada.
Enfatizamos uma vez
mais, mesmo trilhando o caminho do mal, não há destinação perpétua de
sofrimento, de fato, no próprio texto sagrado, a Bíblia, há pelo menos duas
passagens opondo-se por completo à base de sustentação do conceito de inferno
eterno, e foi o nosso Maior Mestre quem as formulou:
1. Eu te digo, não
sairás de lá antes de pagares o último centavo.Esta passagem confirma sermos
nós mesmos a quitar as nossas próprias dívidas, e também ser perfeita a justiça
divina, permitindo ao devedor pagar integralmente o seu débito. Observa-se ainda
nessa afirmação do Nazareno a certeza de que, ao quitarmos o último centavo,
nós estaremos livres das obrigações a pagar, não nos restando mais nada a
saldar, derrubando por completo a tese das penas eternas, e quanto mais rápido
pagarmos, mais rápido sairemos da “prisão”, pode-se também inferir do texto;
2. Que vos parece? Se
um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e
nove nos montes e vai à procura da extraviada? Se consegue achá-la, em verdade
vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se
extraviaram. Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus,
que um destes pequeninos se perca. Ora, se nenhuma ovelha se desencaminhará
para a perdição eterna, pode-se entender “extraviar-se” desta forma, não há
também como imaginar um local ou região de sofrimentos perpétuos, abrigando
todos os faltosos que não quitaram as suas respectivas dívidas. Ressalta também
deste ensino não haver falta irremissível, ou seja, não existem pecados capitais.
Esclarece ainda a
Doutrina sobre a existência de um mecanismo sábio e justo viabilizando a
caminhada para a salvação plena: a reencarnação. Segundo esta lei, viveremos em
mundos materiais até não existir mais nenhum resgate, após estas muitas vidas
encarnados, só reencarnaremos em missões significativas em prol do progresso da
Humanidade. Esta lei dá plena sustentação na afirmação de Jesus: todas as
ovelhas serão salvas, sem exceção.
Por outro lado, a
salvação espírita não nos conduzirá a um céu de contemplação, onde passaremos a
eternidade escutando melodiosas harpas e saboreando frutas frescas ao lado do
Criador; esta concepção é infantil e irreal, nos salvaremos para trabalhar mais
junto a Deus, cumprindo as Suas deliberações que, nesta fase das nossas
existências, serão perfeitamente entendidas, aceitas e desejadas.
Há muitos outros
aspectos a considerar, contudo, terminamos estas ligeiras observações fazendo
menção a uma passagem do Dr. Bezerra de Menezes:
O espírita cristão é
chamado aos problemas do mundo, a fim de ajudar-lhes a solução; contudo, para
atender em semelhante mister, há que silenciar discórdia e censura e alongar
entendimento e serviço.
É por essa razão que,
interpretando o conceito “salvar” por “livrar da ruína” ou “preservar do
perigo”, colocou Allan Kardec, no luminoso portal da Doutrina Espírita, a sua
legenda inesquecível:
─ “Fora da caridade não
há salvação”.
Sim, fazemos coro com o
Médico dos Pobres, a caridade bem observada e principalmente praticada equivale
a viver ética e moralmente conforme as leis de Deus.
Cremos ter respondido
satisfatoriamente quatro questões fundamentais sobre o assunto:
1. Há salvação? – Sim,
não há dúvida.
2. Como promovo a
salvação? – Vivendo continuadamente conforme as leis de Deus.
3. Do que desejo me
salvar? – Da ruína moral, preservando-me do perigo.
4. Por que quero me
salvar? – Para trabalhar ativamente na grandiosa obra divina!
REVELAÇÃO:
A PEDRA FUNDAMENTAL
(Édo Mariani)
No Evangelho de Mateus,
cap. 16 versículos 16 a 19, após pergunta de Jesus, inquirindo dos apóstolos o
que dizia o povo ser Ele, Pedro tomando a palavra respondeu: “Tu És o Cristo, o
filho do Deus Vivo”, tendo Jesus afirmado: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas,
porque não foram a carne nem o sangue que to revelou, mas Meu Pai que está nos
Céus.” Jesus continuou afirmando: “Também tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”. "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que
ligares na Terra terá sido ligado nos Céus”. No Evangelho de Marcos, cap. 12,
versículos 10 e 11, Jesus, volta falar sobre a importância da pedra afirmando:
“Ainda não lestes esta Escritura: A pedra, que os construtores rejeitaram, essa
veio a ser a principal pedra, angular; Isto procede do Senhor, e é maravilhoso
aos nossos olhos”! (Grifamos,)
Com base nessas
afirmações de Jesus, deduzimos que a Religião Dominante tenha criado a figura
do Papa que seria, no seu entendimento, o representante de Deus na Terra e o
substituto de Pedro, o Apóstolo.
Refletindo no
ensinamento de Jesus, retirando da letra, que mata, o espírito que vivifica,
compreenderemos que Ele, Espírito sublime, puro e perfeito, não conceberia a
possibilidade de colocar sobre um homem, mortal e falível, a responsabilidade
de ser o único intermediário direto entre o Céu e a Terra e muito menos o Seu
representante.
Inquirimos então: -
Onde está a pedra na qual Jesus edificou a sua Igreja? Temos a certeza de que
não está sobre Pedro, que por três vezes O negou junto à prisão.
Os ensinamentos
deixados por Jesus são por demais importantes, pois Sua palavra nunca foi dita
em vão. Por isso a igreja de Jesus só pode estar assentada na revelação, onde
se assentam as bases da ligação entre os homens e os Espíritos desencarnados.
Foi o que aconteceu com Pedro, médium inspirado, intuído por um mensageiro
celestial lhe revelou ser Jesus, o Cristo, filho de Deus Vivo.
Para nos comunicar
usamos da palavra falada ou escrita. A palavra é o veículo pelo qual nos
relacionamos. É através da palavra, escrita ou falada, que podemos consertar
erros e faltas cometidas contra o nosso próximo ainda na presente existência.
Assim procedendo, nos livramos de inimizades e mágoas que dificultam o nosso
crescimento espiritual, através do qual nos elevamos, melhorando nossa
classificação na escala espírita idealizada por Kardec.
É também imprescindível
a nossa comunicação com os Espíritos, pois ela nos propicia a recepção de
ensinamentos revelados pelos Espíritos, os quais demorariam incalculável tempo
para serem, por nós, descobertos.
Os Espíritos superiores
informaram a Kardec que são eles que nos dirigem. Como poderiam nos dirigir sem
que houvesse meios de comunicação recíproca, através das revelações
espirituais?
Em todos os tempos, a
humanidade foi intuída pelos mensageiros celeste, a respeito do intercâmbio
entre os dois mundos. Deus é amor e a
Sua misericórdia jamais nos deixaria ao desamparo.
Perlustrando a história
dos povos, mesmo as mais antigas civilizações, constataremos que esse intercâmbio
sempre existiu.
Ensina Cairbar Schutel
em "Parábolas e Ensinos de Jesus": “A Revelação é a base fundamental
da Religião. Toda a moral, toda a filosofia, toda a ciência, tem por base a
Revelação. Ela é o fundamento de todo progresso, é a Pedra inamovível sobre a
qual se ergue o edifício da verdade, que abriga a Humanidade”.
Estamos convictos de
que para o homem manter-se equilibrado e alinhado com as benesses divina que
nos são ofertadas, como um chamamento às responsabilidades assumidas na
programação da reencarnação, visando o cumprimento do trabalho redentor em
favor da evolução espiritual, é imprescindível e de capital importância
aprender que só através da prece o conseguiremos. Atentemos para os
ensinamentos de Jesus: “Quem busca acha".
Ensina Rodrigues
Ferreira, autor do livro O Espiritismo e as Distorções do Ser Humano: “Na visão
espírita, a oração corretamente cultivada altera a vibração mental de quem ora
e, por isso, coloca a espiritualidade no coração”.
A finalidade da oração
não é pedir para receber, mas preparar para merecer. A prece busca proteção;
ela promove a alteração vibratória da mente para um nível mais elevado,
facilitando, simultaneamente, a fuga das ligações inferiores e a abertura da
mente para as superiores. Vemos, assim, que a Lei Divina colocou a proteção
dentro do próprio homem.
Nestes tempos em que
grandes perturbações assolam a humanidade, o Espiritismo vem-nos trazer as
diretrizes eficazes para o equilíbrio espiritual, esse escudo protetor, a
oração, imprescindível às ligações com a fonte divina, verdadeiro manancial de
orientação para o melhor aproveitamento da existência terrena.
Orar é tão importante
para a alma como o pão é para o corpo. Aprendamos a orar como nos ensina o
Espiritismo e assim poderemos participar do convívio mental com os amigos
espirituais.
Observemos o que nos
ensina André Luiz em “Missionários da Luz”: “Toda a prece elevada é manancial
de magnetismo criador e vivificante e toda a criatura que cultiva a oração, com
o devido equilíbrio do sentimento, transforma-se gradativamente, em foco
irradiante de energias da divindade”. (Grifo nosso.)
O
CONVERTIDO DE DAMASCO
(Temi Mary
Faccio Simionato)
Paulo de Tarso, o
Apóstolo dos gentios, foi conhecido como cooperador fiel de Jesus na sua
legítima feição de homem transformado, de um coração extraordinário que se
levantou das lutas humanas, para seguir os passos do Mestre num esforço
incansável e incessante.
É importante recordar
que Paulo recebeu a dádiva da visão gloriosa do Mestre às portas de Damasco e,
também, a declaração de Jesus relativa ao sofrimento que o aguardava por amor
ao Seu nome.
O meigo Rabi, de sua
esfera de claridade imortal, chamou-o, e, assim, Paulo, tateando na treva das
experiências humanas, respondeu-Lhe: “Senhor, que queres que eu faça?” Assim
começa a grande transformação desse homem que surgia renovado, renovando as suas
atitudes e avançando com firmeza pela senda da redenção.
Essa caminhada é longa,
árdua... É um duelo interior onde o mal ainda prevalece; é o conflito entre o
que desejamos ser e o que realmente somos. Muitas vezes, encontraremos
obstáculos, desafios, porém Jesus é claro quanto ao convite do aprimoramento
interior: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para
o reino de Deus” (Lucas, 9:62).
Podemos, assim, ir
transformando progressivamente imperfeições, fraquezas, sentimentos que necessitam
ser trabalhados, pelo despertar das virtudes santificantes. O tempo não
importa. O que importa é o esforço que fizermos para alcançar nossa renovação
interior, modificando gradativamente nossos sentimentos menos elevados e
colocando em seu lugar atributos enobrecidos.
Após sua rendição
integral a Jesus, Paulo recolheu-se em meditação no deserto por três anos, pois
sabia que muito teria de lutar para não cair, novamente, nos mesmos equívocos,
como ele mesmo clamou: “Miserável homem sou, que não faço o bem que quero, mas
o mal que não quero!” (Romanos, 7:24). Na sua convicção da realidade espiritual
do Cristo, com vontade firme de vencer, Paulo triunfou sobre si mesmo na
batalha interior.
É preciso
aperfeiçoar-nos, acima de tudo, no modelo de Jesus: sentir, pensar, observar,
ouvir, ser e agir com acerto na realização da tarefa que o Mestre nos reservou.
O autoconhecimento é
fundamental para este caminho de transformação íntima: O “conhece-te a ti
mesmo” é comportamento obrigatório para quem pretende superar-se.
A nossa tomada de
consciência dos hábitos morais incoerentes com a Lei de Amor leva-nos a
questionamentos e reflexões que, através da dedicação, esforço, disciplina, são
primordiais para esse processo de reajuste, que promovem nosso crescimento e
nos ajudam a trilhar um novo caminho, uma nova realidade de acordo com o que
Deus, nosso Pai, espera de cada um de nós.
Entretanto, quanto mais
demorarmos em promover essas modificações em nós, mais tempo ficaremos presos
nas mesmas situações que tantas angústias e aflições nos trazem.
Em apoio a essa ideia,
encontramos na questão 919-A de O Livro dos Espíritos, Santo Agostinho, um dos
orientadores da Codificação espírita realizada por Allan Kardec,
esclarecendo-nos que o autoconhecimento é o meio mais prático e eficaz que
temos de melhorar e de resistir ao arrastamento do mal. O amigo espiritual,
recomenda-nos: “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra, ao fim do dia
interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e
perguntava, a mim mesmo, se não faltava a algum dever, se ninguém tivera motivo
para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em
mim precisava de reforma”.
Trata-se de um
autoexame que nos auxilia a explorar o mundo íntimo com ampla liberdade e
sinceridade em benefício da nossa própria melhora, não olvidando que a
perfeição não é apostolado de um dia e, sim, de milênios, e que cada mente traz
consigo as marcas da própria ação de ontem e de hoje, determinando seu cárcere
ou sua libertação.
O benfeitor espiritual
Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, em Pedro
Leopoldo/ MG, na casa do Doutor Rômulo Joviano, na fazenda Modelo, em
08/julho/1941, nos traz algumas considerações a respeito de Paulo de Tarso:
“Muitos dizem que Paulo recebeu apelo direto, mas, na verdade, todos nós
recebemos uma convocação pessoal ao serviço do Cristo; as formas podem variar,
mas a essência ao apelo é sempre a mesma. O convite ao ministério chega às
vezes de maneira sutil, inesperadamente, a maioria, porém, resiste ao chamado
generoso do Senhor.
Paulo negou-se a si
mesmo, arrependeu-se, tomou a cruz e seguiu o Cristo até o fim de suas tarefas
materiais. Entre perseguições, zombarias, desilusões, pedradas, açoites e
encarceramentos, o apóstolo dos Gentios foi um homem intrépido e sincero,
caminhando entre as sombras do mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir
nas encruzilhadas de sua vida. Entre ele e Jesus havia um abismo que o apóstolo
soube transpor em decênios de luta redentora e constante. O convertido não
poderia chegar a essa possibilidade em ação isolada no mundo; sem Estêvão, não
teríamos Paulo, a vida de ambos estava entrelaçada com misteriosa beleza,
confirmando a necessidade e a universalidade da lei de Cooperação. Recordemos
que Jesus, cuja misericórdia e poder abrangiam tudo, procurou a companhia de
doze auxiliares a fim de empreender a renovação do mundo, e sem cooperação não
poderia existir amor, que é a força de Deus que equilibra o Universo”.
Chico Xavier sempre
lembrava que: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Deste modo, recordemos
que as Leis Divinas ou Naturais estão escritas em nossa consciência, como nos
esclarece a questão 621 de O Livro dos Espíritos. Assim, cada um de nós sabe,
bem no íntimo, se estamos agindo, ou não, corretamente.
É conveniente também
relembrarmos o ensinamento do benfeitor espiritual Emmanuel, pela psicografia
de Francisco Cândido Xavier, contida no livro Busca e Acharás, no capítulo
Sugestões de Paz: “Quando puderes, como puderes e onde puderes, guardando a
consciência tranquila, trabalha sempre servindo. Assim agindo, ainda que não
percebas, desde agora, estarás imperturbavelmente nos domínios da paz”.
O Apóstolo Paulo de
Tarso, grande missionário, dizia que buscava viver como o próprio Mestre e por
isso asseverava: “Já não sou mais eu quem vive, mas o Cristo é que vive em mim;
já não sou mais eu quem fala e quem age, mas o Cristo é que age em mim”
(Gálatas, 2:20).
Finalizando nossas
reflexões, rememoremos que Paulo de Tarso andou em combate, perseguindo
cristãos, até o encontro pessoal com o Cristo, quando então passou a viver o
bom combate, consigo mesmo, até encontrar novamente, com o Mestre, no final da
sua jornada terrena. Até o caminho de Damasco, estivera em função das glórias
mundanas, ávido de autoridade transitória, mas, desde o instante em que
Ananias, propagador e enviado do Cristo, o recolheu enceguecido e transtornado,
entrou em submissão dolorosa; incompreendido, abatido e doente, jamais deixou
de servir a causa do bem que abraçara com Jesus.
Ao término da carreira
do semeador da verdade, o ex-conselheiro do Sinédrio, aparentemente cansado,
abatido e vencido, saiu da Terra na condição de verdadeiro triunfador.
Que o exemplo deste
grande convertido, o vaso escolhido por Jesus, se faça mais claro em nossos
corações, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete
trabalhar e sofrer por amor a Jesus.
A
FORMIGA E O TIGRE
(Felinto Elízio
Duarte Campelo)
Ouvia-se um grande
alarido na mata. Levada pela curiosidade, uma saúva, querendo investigar o que
ocorria, contornou obstáculos, venceu dificuldades até chegar a uma clareira
onde se realizava uma assembleia de bichos.
Em acalorados debates,
discutia-se qual o animal mais forte, o mais inteligente e o mais necessário à
comunidade.
Imponente, o leão
assomou à tribuna, encrespou a juba dourada e falou com soberba:
– Eu, cognominado o rei
dos animais, sou o mais forte e o mais inteligente. Conquisto e domino todo o
território ao alcance de minha vista. Imponho minha vontade, meus súditos
obedecem.
O elefante, batendo vigorosamente suas patas
contra o solo, em veemente protesto, fez estremecer o chão. O improvisado
palanque desmontou-se e, assustadíssimo, o leão rolou por terra.
– Compare, senhor leão,
o seu tamanho com o meu e diga qual o mais forte. Com a minha tromba sou capaz
de arremessá-lo para fora desta assembleia. Duvida?
– Calma, amigos – interveio
a raposa – não é só a força bruta que
conta, há de considerar-se também a astúcia. Sagacidade não me falta, posso,
então, ser considerada a mais inteligente.
Dentes à mostra em riso
sarcástico, a hiena arrogou-se o direito de ser o animal mais necessário,
dizendo:
– Alimento-me dos
restos de caça em decomposição, saneio o ambiente; em consequência, deixo o ar
livre dos miasmas para o bem-estar de todos. Quem presta serviço igual?
– Eu, a girafa, posso
prestar um melhor serviço. Alta como uma torre, vejo antes o perigo que se
avizinha e dou o alarme para que vocês, os baixinhos, se protejam.
Não concluiu sua
autopromoção. O rinoceronte bramiu irônico:
– Torre que eu derrubo
na primeira cabeçada. Meu corpo é revestido de uma couraça invulnerável, os chifres
que trago no focinho são irresistíveis e minha força pode ser comparada à de
três elefantes. Minha única falha está na visão deficiente. Por vezes, mal
distingo o adversário; mesmo assim, exijo o título de o mais vigoroso.
Não havia consenso.
Cada qual atribuía a si qualidades incomuns, sobravam os autoelogios, pululavam
exclamações de desprezo e de escárnio.
Ao tentar expor sua
opinião, a pobre formiga sofreu uma saraivada de apupos. Tida como predadora
das plantas, ouviu, desolada, o remoque do tigre:
– Cala a boca,
cortadeira vagabunda, você só serve para tira-gosto de tamanduá.
Correndo em torno da
formiga, rugindo para assustá-la, o inditoso tigre pisou numa armadilha deixada
por caçadores e, repentinamente, viu-se dependurado de cabeça para baixo, sem
condição de soltar-se.
Contrastando com os
desentendimentos ocorridos durante a reunião, a aflição causada pelo incidente
e o sentimento de solidariedade estavam patentes na maioria dos animais ali
presentes.
Seus companheiros
faziam de tudo para libertá-lo, entretanto nenhum conseguia desatar o laço
feito com bem urdida fibra vegetal.
O leão bramiu com
tristeza, declarando-se impotente. Nas seguidas tentativas, feriu a perna do
tigre com suas afiadas unhas.
O elefante, quanto mais
usava a tromba, mais apertava a laçada provocando dores insuportáveis ao
angustiado felino.
A raposa logo desistiu,
faltava-lhe habilidade.
A hiena, destoando da
tristeza geral, ria à toa, dizia aguardar a morte do incauto para cumprir sua
missão.
A girafa alegava não
ter meios de ajudar, era alta demais e meio desengonçada.
O rinoceronte sequer
enxergava o cordel que mantinha o tigre preso.
Humilde, sem guardar
ressentimento, a formiga ofereceu-se para “cortar” o laço. Foi até o arbusto
onde seu ofensor se encontrava em insólita situação. Findos prolongados minutos
de tensa expectativa, chamou o elefante e pediu sem afetação:
– Com sua tromba,
segure o tigre para evitar que ele caia no chão e se machuque. O laço está para
romper-se, faltam poucas mordidas.
No preciso instante da
esperada libertação, a formiga foi delirantemente aplaudida.
O tigre, envergonhado,
retirou-se após apresentar mil pedidos de desculpas.
A assembleia foi
dissolvida com o retorno dos participantes a seus afazeres naturais. Ficou,
porém, gravado na lembrança de todos os bichos o exemplo de humildade, de
esquecimento das ofensas recebidas e do amor fraterno dado pela formiguinha.
Ficou também a extraordinária lição de que cada ser tem uma importante função a
desempenhar no grande concerto da vida, independentemente do tamanho, do vigor
físico, da cor, da raça, do credo.
Assim, como bichos,
comporta-se grande parte da humanidade ainda presa a interesses exclusivamente
materiais.
Uns, por orgulho e
ambição, conquistam nações, subjugam e oprimem povos, qual prepotente leão.
Muitos, tocados em sua vaidade, ameaçam os mais frágeis, como um elefante
enfurecido. Alguns usam ardis para empreenderem negócios inescrupulosos em
prejuízo de terceiros, à feição de raposa manhosa.
Outros, no intuito de
entesourar bens terrenos, roubam viúvas indefesas, ao modo de hiena ridente à
espreita de despojos.
Tantos, do alto dos
seus castelos, pensam estar vigilantes e menosprezam os que labutam em plano
inferior, assemelhando-se à girafa presunçosa.
Muitos, também,
sentem-se invulneráveis sem que possam vislumbrar uma réstia da justiça e do
bem, tal um rinoceronte de visão imperfeita.
Esquecem-se de que
voltarão à Terra, em dolorosas reencarnações expiatórias e de resgate, para
repararem com o próprio esforço os danos morais e materiais causados aos
outros, até que, saldados todos os débitos, possam iniciar etapas novas de
crescimento espiritual.
Poucos, muito poucos,
vivem em conformidade com o Evangelho de Jesus, comportam-se como simples
formiguinha, despretensiosa, que, na estória, soube exercitar o amor
desinteressado e o perdão incondicional, sem limites.
A
VENTURA DE NÃO FAZER O MAL É FELICIDADE?
(Arnaldo Divo
Rodrigues de Camargo)
Muitas pessoas
acreditam na felicidade plena depois desta vida, simplesmente por não terem
feito o mal.
É claro que não
praticar atos que desrespeitem a Lei Divina é fundamental para a consciência
tranquila de cada um.
Entretanto, entendemos
que não basta não fazer o mal – é necessário também fazer o bem, pois, seremos
responsáveis pelo mal que advenha do bem que deixarmos de realizar em família,
no trabalho e na sociedade como um todo.
Em O Livro dos
Espíritos, na questão 657, Allan Kardec indagou: Os homens que se entregam à
vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e só pensando em Deus, têm algum
mérito a Seus olhos?
E recebeu a resposta
dos Espíritos superiores: Não, pois se não fazem o mal, também não fazem o bem,
e são inúteis. Além disso, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que pensemos
n’Ele, mas não que pensemos apenas n’Ele, pois deu ao homem deveres a cumprir
na Terra. (...)
Não nos equivoquemos em
relação à vida. Devemos praticar a caridade em todas as circunstâncias, seja em
pensamento, em palavras, em ações; seja em doações intelectuais, profissionais,
espirituais, ou em doações materiais e financeiras, que fazem parte do
desprendimento material e emocional, quando compreendemos que é somente dando
que expandimos nosso eu e vivenciamos o verdadeiro amor cristão.
O desafio a vencer, com
as dificuldades e lutas do dia a dia, está na comunhão com Deus, mas
principalmente com nosso próximo. Quando criamos o hábito de falar com Deus,
acabamos por mudar também o nosso jeito de falar com nossos irmãos. E mesmo
diante de provas e ingratidões, daqueles que por vezes querem nos derrubar,
tenhamos a firme convicção e fé n’Aquele que nos levanta todos os dias e nos dá
força e esperança para vencermos no bem.
Jesus, o emissário de
Deus aqui na Terra, diz que “a cada um segundo suas obras” – então, tenhamos em
vista que todo o bem que realizamos retorna através de bênçãos em nossa vida;
se espalharmos o bem por onde passarmos, ele retornará em forma de saúde,
bem-estar, esperança, pois a vida devolve aquilo que damos para ela (Mateus
16:27).
O apóstolo Paulo, numa
linda carta endereçada aos Coríntios, ensina sobre o conhecer e o viver, em
teoria e prática, em sabedoria e exercício da caridade: Ainda que eu falasse a
língua dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa
ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o
dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse
amor, nada seria.
E ainda que
distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria.
O amor é sofredor, é
benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se
ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Coríntios 13:1-7).
(Anselmo
Ferreira Vasconcelos)
O fenômeno da
auto-obsessão é tradicionalmente associado a uma “opressão”, conforme descreve
o Espírito Hammed, do indivíduo sobre si mesmo.
Nessa condição, “Geralmente, a auto-obsessão vem acompanhada de
sentimentos de culpa, de autocensura, de recriminação, de complexos de
inferioridade e de irresponsabilidade pelo próprio destino”. Em resumo, as
percepções que o indivíduo acalenta tendem a ser carregadas de recriminações,
amarguras, infelicidade, emoções descontroladas e, por extensão, altamente
autodestrutivas.
Em poucas palavras, na
sua casa mental predomina a falta de paz e harmonia, pois não há praticamente a
existência de pensamentos atenuadores ou positivos. Em decorrência disso, o ato
de viver lhe constitui um fardo insuportável. A sua visão excessivamente
negativa da vida, do mundo e, o que é mais preocupante, de si mesma, não lhe
permite armazenar forças internas capazes de contrabalançar tal estado
vibratório.
Entretanto, existe um
outro aspecto pouco explorado na literatura sobre auto-obsessão, e que merece
maior atenção de nossa parte. Trata-se da manifestação da egolatria e do
comportamento obsessivo-compulsivo. Sob essa forma, o indivíduo não ativa uma
espiral descendente tal qual descrito acima. Nessa modalidade, se assim podemos
nos expressar, o quadro beira o mais alto grau de narcisismo acoplado à falta
de senso, que muitas vezes conduz a situações ridículas ou bizarras, e ao culto
excessivo da imagem ou do corpo, entre outras características nocivas.
Para ilustrar, muitas
celebridades não raramente abusam do comportamento exibicionista. São tão
apaixonadas pelo que veem no espelho que chegam a nutrir uma verdadeira
auto-obsessão. Não faz muito tempo que um destacado portal nacional de internet
exibiu uma sequência de fotos de determinada artista nacional.
Elas começavam
destacando a primeira semana de gravidez da conhecida cantora e iam até o
estágio final da sua gestação. Detalhe importante: em todas as fotos a artista aparecia
sempre trajando uma lingerie específica de cor preta. Obviamente, só mudava o
tamanho da sua silhueta.
Fiquei com aquela
dúvida me martelando a mente: mas para que serve tal coisa? Vale a pena se
expor assim tão intimamente? Por acaso isso vai alavancar a sua carreira, que,
ao que parece, já teve momentos melhores? Outros artistas mais famosos também
já utilizaram expediente análogo. A cantora Madona, por exemplo, lançou anos
atrás um livro com fotos nada, digamos, edificantes...
Mas muitos poderão
argumentar que são apenas artistas se autopromovendo. Não dá para negar que há
um fundo de verdade nessa alegação. No entanto, outros artistas seguem firmes
em suas carreiras sem tais arroubos, bem como lidando discretamente com as suas
vidas particulares. Ainda nesse plano, não podemos também esquecer certos
personagens que alimentam com sofreguidão o seu ego.
Refiro-me a certos
políticos e empresários que abusam do culto do “eu”. A história humana está
repleta de pessoas que assim se portam. Elas tentam dar a impressão de que são
diferentes até na composição da matéria de que são constituídas. É evidente que
esses indivíduos também abrem portas para as entidades desencarnadas menos
ajuizadas. Mas, no geral, comportam-se como se fossem o “centro do mundo”,
tamanha a intensidade da paixão que alimentam por si próprios, pelos seus
feitos, pelas suas criações e ideias nem sempre dignas. Tais indivíduos deixam
não raro um rastro amargo de destruição pelo caminho.
Por fim, há outros que,
inspirados pelas ferramentas digitais contemporâneas, não conseguem ficar um
dia sequer sem postar uma foto ou vídeo pessoal. Nelas retratam, à exaustão e
nos mínimos detalhes, imagens das suas vidas. Dedicam-se com tanta frequência e
exagero a essa atividade que caracteriza uma verdadeira obsessão. Em síntese,
pode-se cogitar que a auto-obsessão eventualmente abrange um quadro bem mais
amplo.
Ao que tudo indica, uma
pessoa portadora desse tipo de distúrbio parece ter considerável dificuldade de
aplicar um olhar mais profundo, meticuloso e inquiridor sobre o seu interior,
sua conduta e atitudes. Ou seja, aquele olhar autoindagador que lhe
possibilitaria obter um maior conhecimento sobre as suas fraquezas e atrações a
fim de que pudesse se aperfeiçoar e fortalecer para os inevitáveis embates rumo
ao progresso do seu espírito. Como bem explica o Espírito Hammed, “Quando nos
conscientizamos de nossos processos mentais, passamos a clarear nosso mundo
interior e a administrar nossas atitudes psíquicas”.
(Altamirando
Carneiro)
Para conhecer a
verdade, é preciso estudar
O monge dominicano
Giordano Bruno, filósofo, astrônomo e matemático italiano (1548-1600), foi
acusado pelo Tribunal da Inquisição de ter sustentado a afirmação da existência
de inúmeros mundos e de que a Terra gira em torno do Sol.
Acusaram-no ainda de
acreditar na reencarnação e não no inferno, e de ter afirmado que até os
demônios seriam salvos, um dia, conforme a lei de evolução do Espírito; de que
a magia (entenda-se a mediunidade) é verdadeira e de que os profetas e
apóstolos eram magos (entenda-se médiuns).
Giordano Bruno, uma das
figuras mais representativas da Renascença, preferiu ser queimado na fogueira,
em 8 de fevereiro de 1600, do que abjurar as suas ideias que, hoje, vemos, não
eram fantasias, mas verdades insofismáveis.
Sobre a sua atitude,
afirmou: "Por enquanto ficariam felizes com a minha abjuração. Mas viver
também significa percorrer um longo caminho que nos afasta Deus!" Em Roma,
no local de seu martírio, há uma estátua que eterniza o seu amor à verdade.
O amor à verdade é uma
das características do homem de bem. De tal maneira que, como se lê n’ O
Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XVII - O Homem de
Bem (...): "Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos,
pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que
podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém
tem o de se queixar dele, se fez aos outros tudo aquilo que queria que os
outros fizessem por ele".
Espíritos assim já vêm
preparados. Não é fácil caminhar-se para o cadafalso tendo-se a certeza de que
poderia escapar-se dele. Mentir, abjurar, que importa, quando está em jogo a
vida? - diria um Espírito fraco.
Esses bons cristãos, e,
conseguintemente, os bons espíritas, são amantes da verdade, acima de tudo.
Neste mesmo capítulo,
diz o Evangelho que: (...) "O Espiritismo não cria uma nova moral, mas facilita
aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, ao dar uma fé sólida e
esclarecida aos que duvidam ou vacilam".
A verdade de cada um
está de acordo com a sua evolução espiritual. A verdade dos fracos é frágil; a
verdade dos fortes é firme. Assim deve ser a verdade do espírita, uma verdade
calcada nos ensinamentos de Jesus à luz da Doutrina espírita.
Muito embora não se
diga dono da verdade, o Espiritismo, sem dúvida, tem a chave que abre as portas
do conhecimento, pois os seus ensinamentos não se baseiam no pensamento ou
interpretação deste ou daquele homem, deste ou daquele fundador, mas na
interpretação clara dos Espíritos.
Allan Kardec codificou
as Verdades do Evangelho e da Doutrina Espírita, trazidas pelos Espíritos
Tutelares, em cinco importantes livros (as Obras básicas da Codificação
Espírita): O Livro dos Espíritos, O
Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A
Gênese.
Estudemos Kardec, para
que possamos distinguir a verdade da mentira, diante da enxurrada de
informações falsas que nos são impostas diariamente, por uma verdadeira plêiade
de falsos cristãos e falsos profetas. Se assim fizermos, saberemos separar o
joio do trigo.
Amemo-nos e
instruamo-nos, como nos pede o Espiritismo. Este chamamento encontra-se na
mensagem do Espírito de Verdade, registrada no capítulo VI de O Evangelho
segundo o Espiritismo - O Cristo Consolador: "Espíritas, amai-vos, este o
primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se
todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis
que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: 'Irmãos! nada
perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da
impiedade'".
O
AMOR SOCORRE
(Jane Martins
Vilela)
“Pedi e se vos dará:
buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá porque todo aquele que pede
recebe, quem procura acha, e se abrirá àquele que bater à porta.” – Jesus
(Mateus, VII: 7-11).
Esse momento de Jesus no Evangelho é mais um
momento em que ele dá esperanças aos corações aflitos.
Sob o ponto de vista
moral, diz Allan Kardec em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, o que as
palavras de Jesus significam: pedi a luz que deve clarear o vosso caminho, e
ela vos será dada; pedi a força de resistir ao mal, e a tereis; pedi a
assistência dos bons Espíritos, e eles virão vos acompanhar e, como o anjo de
Tobias, vos servirão de guias; pedi bons conselhos, e não vos serão jamais
recusados; batei à nossa porta, e ela vos será aberta, mas pedi sinceramente,
com fé, fervor e confiança: apresentai-vos com humildade, não com arrogância;
sem isso, sereis abandonados às vossas próprias forças, e as próprias quedas
que tereis serão a punição do vosso orgulho.
A prece é sustentáculo.
Pedir com amor e humildade dá forças e coragem a quem pede, dá esperanças.
Continuemos, pois, a orar pela nossa Terra e por todos nós. Não desistamos de
orar. Permaneçamos em oração e trabalho no bem, exemplificando o amor que
aprendemos. Acendamos a candeia e a coloquemos no alto. Somos sempre atendidos
pelo amor e precisamos retribuir ao amor.
Todos temos o nosso
quinhão de sofrimentos a passar, mas o amor sustenta sempre, ampara sempre e na
maioria das vezes estamos recebendo mais do que ofertamos. Deus sempre nos
socorre.
As reuniões mediúnicas
são, para os seus frequentadores, nos centros espíritas, grandes lições. São
depoimentos valiosos dos Espíritos comunicantes, na grande maioria em
sofrimento, dada a situação do planeta de provas e expiações em que ainda
habitamos. Sempre o amor a socorrer aquele que bate à porta e pede com
humildade.
À guisa de ilustração,
rememoramos um caso, ouvido há pouco tempo, em meio a inumeráveis outros, que a
bondade Divina permite vivenciarmos para o nosso aprendizado.
Um Espírito
manifestou-se em sofrimento, dizendo que não conseguia respirar. Não conseguia
respirar sem os aparelhos. Estava com um câncer na fase terminal. Sou médico,
disse, e não consigo ajudar a mim mesmo! Não percebia que já tinha
desencarnado. Não precisava mais sofrer. O câncer tinha sido no corpo e não no
espírito, mas a lembrança era vívida e isso lhe provocava o mal-estar, como se
ainda doente.
Com muito amor, foi
ajudado pelo doutrinador da reunião. A falta de ar passou. Conseguia respirar.
Disse que era médico dermatologista e que, quando descobriu o câncer, este já
estava muito adiantado, com metástases diversas.
Foi orientado sobre a
imortalidade da alma. O doutrinador lhe disse que se ele era médico, deveria
ter feito muito bem e Deus sempre ampara a quem socorre. O Espírito se acalmou.
Tranquilizou-se e foi então orientado de que ele já não estava mais num corpo
humano, que já estava no mundo espiritual.
Agradecido por estar
sendo ouvido e amparado, ele deu seu depoimento. Disse que quando descobriu seu
câncer, estava com cinco anos de casamento. Tinha uma filhinha com dois anos de
idade e ela era linda como a luz do sol, loura, de olhos azuis, lhe lembrava um
anjo. Era a época mais feliz da vida dele. Tinha projetos, tinha sonhos.
Pensava que era um Deus.
Quando viu que estava
doente, que seus sonhos desabavam, revoltou-se, não aceitou. Seu orgulho e sua
revolta não lhe permitiram perceber o auxílio que lhe era dispensado. Agora,
ali, socorrido pelas orientações e pelas preces, via-se tal qual era, um
Espírito que necessitava ser humilde. Pediu perdão a Deus pelo seu orgulho e
vaidade. Nesse momento, ele viu o avô, que também tinha sido médico na Terra, a
socorrê-lo e, grato, saiu emocionado, amparado pelo avô.
Somos sempre amparados,
sempre atendidos quando oramos com sinceridade. Jesus, o emissário Divino nos
pediu que permanecêssemos nele, que ele permaneceria em nós.
O amor jamais nos
desampara. Libertemo-nos do orgulho que nos cega e veremos a ação desses amor
continuadamente a agir a nosso favor, mesmo nas horas mais difíceis de nossas
vidas. Pensemos nas horas difíceis como degraus de subida em direção à paz, se
soubermos ter paciência e resignação.
Peçamos amparo a Deus e
forças, e teremos esse amparo e essa força. Permaneçamos em paz. Todos os
sofrimentos passam. Mantenhamos a fé e a esperança.
NOSSAS
ESCOLHAS
(Temi Mary
Faccio Simionato)
“Entrai pela porta
estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição e
muitos são os que entram por ela.” Jesus (Mt, 7:13-14).
No período em que Jesus
esteve entre nós, os povos viviam em cidades cercadas por muralhas, situadas
sobre colinas e montes, para que o assédio dos inimigos se tornasse difícil.
Jerusalém era uma delas, e para alcançá-la era necessário percorrer caminhos íngremes,
e, como as portas da cidade eram fechadas ao pôr do sol, aqueles que voltavam
para casa galgavam rapidamente os aclives, porque atrasando-se ficariam de
fora.
Assim, o Mestre nos
traz um quadro impressionante do caminho cristão, ou seja, o das dificuldades
que precisamos vencer para conquistar a vida eterna.
Duas são as estradas
que se nos apresentam: a da evolução e a da degradação.
Ao passarmos pela
estrada da evolução, caminhamos pela porta estreita, apertada, que nos conduz à
vida; no entanto, ao caminharmos pela estrada da degradação, atravessamos a
porta larga que conduz ao sofrimento e ao infortúnio, por conceder-nos as
diversões, a soberba, as facilidades imediatas, a luxúria, a preguiça, a
inveja, de qual o mundo está repleto. Eis a porta da perdição, porque são
grandes as paixões que trazemos arraigadas em nosso Espírito milenar!
Caminhando assim, e assumindo as consequências de nossas escolhas, como
asseverado na máxima: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos” - (Mt,
20:16).
Em todos os
empreendimentos humanos, somos convidados para realizações nobres e, no
entanto, vestidos pela sombra, facilmente desinteressamo-nos de prosseguir por
falta de resposta compensadora ao vazio interior, preocupando-nos em
entulhar-nos de inquietações e lutas pela conquista da primazia.
Portanto, ao galgarmos
a estrada da evolução, faz-se necessário a prudência, a temperança, a fé, a
esperança, a caridade, percorrendo o caminho das lutas, dos obstáculos, dos
sacrifícios, esforçando-nos desta forma para a redenção e para a renovação
íntima. Assim, estaremos nos preparando para um futuro de alegrias e
felicidade. É uma estrada árdua, bem sabemos, pois necessita ser trilhada com
cuidado, examinando onde entrar, porque poderemos levar longo tempo para retomar
o caminho que nos é próprio, e entendendo, definitivamente, a importância do
vigiar e orar tão alertado por Jesus.
Nosso dever é a nossa
escola e, por esta razão, a senda estreita a que se refere Jesus é a fidelidade
que nos cabe manter constantemente no culto às obrigações assumidas diante do
bem eterno. É o resultado da nossa luta interior em favor das virtudes, do
equilíbrio, da sensatez, da perseverança nos ideais de enobrecimento,
possibilitando-nos permanecer em último lugar na competitividade do mundo, a
fim de sermos os primeiros em espírito de paz e de realização do reino dos céus
dentro de nós, onde frui bem-estar na conquista interior.
Encontramo-nos envoltos
em batalhas iluminativas cada vez mais severas; e enfrentando as lutas
adquirimos sabedoria; iluminamo-nos recorrendo à oração que é fonte de energia,
abastecendo e renovando-nos, e triunfaremos sobre as dificuldades que já não
nos são obstáculos na caminhada, mas a conscientização no processo de evolução.
Através de muitas
estações no campo da humanidade, receberemos proveitosas experiências,
juntando-as à custa de desenganos terríveis, mas só em Jesus, no clima sagrado,
na aplicação dos Seus princípios, será possível encontrarmos a passagem
abençoada de definitiva salvação.
Em momento algum, Jesus
escolheu a porta larga. Da manjedoura ao calvário, caminhou entre as
dificuldades que se transformaram para Ele em degraus para o encontro com o Pai
Celestial. Aceitou a cruz como a Sua maior mensagem de amor à humanidade de
todos os tempos, deixando-nos, como exemplo vivo, a porta estreita do
sacrifício como sendo o mais belo caminho de paz e libertação.
Tomemos, então, a nossa
cruz em busca da porta estreita da redenção, colocando-nos acima de tudo a
fidelidade a Deus e, em segundo lugar, a perfeita confiança em nós mesmos.
Longo é o caminho,
difícil a jornada e estreita a porta, mas a fé remove os obstáculos da estrada.
Assim como aqueles que
caminhavam para Jerusalém, após vencerem o penoso aclive, encontravam descanso
e alegria no convívio familiar, também podemos, se quisermos, atingir a meta de
nossos destinos, como a perfeição relativa, e libertar-nos da cadeia de
renascimento neste vale de lágrimas para ascender à glória da vida espiritual,
a fim de usufruir da paz e da felicidade reservadas aos justos.
Jesus é a única porta e
o Evangelho é a chave que nos levará à verdadeira libertação para a vida
eterna.
EM
TEOLOGIA NÃO SEJAMOS UM MOLEQUE, SAIBAMOS, POIS, O QUE É FILIOQUE
(29-06-2017)
(José Reis
Chaves)
Os teólogos nunca falam
em alguns dogmas em público, por serem polêmicos. E para eles, o zé povinho não
precisa conhecer certas doutrinas, que são só para eles, intelectuais e
teólogos!
Tudo começou com o
polêmico Concílio Ecumênico de Niceia (hoje Isnique, na Turquia). Polêmico,
porque os bispos participantes dele foram pressionados pelo imperador
Constantino com ameaças de exílio, torturas e morte, para quem não votasse na
divinização de Jesus. Os ânimos estavam muito exaltados. Alguns bispos foram
acompanhados de seus seguranças armados. E, segundo Helena Blavatsky (“Doutrina
Secreta”), um bispo matou outro a chutes. Como se vê, os bispos estavam
inspirados, porém, não por um espírito ou espíritos de Deus, mas por Espíritos
impuros, atrasados.
Com a vitória de
Constantino, ou seja, a divinização de Jesus, foi também dado o primeiro passo
para a criação da Santíssima Trindade, que recebeu impulsos nos Concílios de
Constantinopla (381), de Éfeso (431), de Calcedônia (451) etc. Mas para os
apóstolos e as primeiras gerações de cristãos, Jesus era um homem, o Messias, e
não outro Deus. E eles não conheciam também a Santíssima Trindade, que não é
doutrina da Bíblia, mas que foi acrescentada a ela, posteriormente.
E foi quase um milênio
depois do Concílio de Niceia que o Concílio Ecumênico de Lião (1274), na
França, criou mais outro dogma, o Filioque (expressão latina: “e do Filho”),
que dá mais poder a Jesus, para enfraquecer os teólogos contrários à sua
divinização. E como se sabe, na época, quem fosse contra um dogma, morria na
fogueira da Inquisição.
Os teólogos do Filioque
defenderam a ideia de que o Espírito Santo procede de Deus, o Pai, e do Filho.
Com isso, tentaram mostrar que Jesus é outro Deus Todo-Poderoso como o é o Deus
Pai, introduzindo no Cristianismo o politeísmo. E a Bíblia é contra a
divinização de Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só que é
Deus” (São Marcos 10: 18). “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em
todos.” (Efésios 4: 5 e 6). “Porquanto, há um só Deus verdadeiro, e um só Mediador
entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” (1 Timóteo 2: 5). E “O Pai é
maior do que eu” (João 14: 28).
Jesus é Deus, mas
relativo, como todos nós o somos também. (João 10: 34 e 35; e Salmo 82: 6),
porém, Deus absoluto, incriado, é só o Pai. Aqueles que acham que Jesus é outro
Deus, igual ao Deus Pai, se baseiam na afirmação de que Ele e o Pai são um. Mas
Deus e Jesus são um em sintonia. E Jesus até nos convida para sermos também um
com Ele e o Pai. (São João 17: 21.)
Muitos católicos,
protestantes e evangélicos, em silêncio, não aceitam que Jesus é outro Deus e,
portanto, não aceitam também o dogma do Filioque.
E uma prova de que a
divinização de Jesus é mesmo polêmica é que, oficialmente, a respeitada Igreja
Ortodoxa Oriental (com cerca de 300.000.000 de adeptos), o Espiritismo e as
demais religiões não aceitam que Jesus seja outro Deus, a não ser relativo, e,
consequentemente, não aceitam também o dogma do Filioque!
(22-06-2017)
(Guaraci de Lima
Silveira)
Bendita humanidade esta
que se dedica a crescer. Que busca, o tempo todo, este encontro com a Divindade
Superior que tudo cria e mantém. Que se debruça diariamente sobre o novo, o
inusitado, para desvendá-lo. Para torná-lo palpável estendendo limites. Há os
que se cansam e desistem, há, contudo, os que se aventuram e vão quais águias
explorando os céus. Lá ao longe, além da linha do horizonte, nova linha surge.
Convidativa umas vezes, misteriosas outras. E, desde a antiguidade, esses
elementos, almas livres, buscam desvendar os segredos, as nuances, as
efemérides que cercam o mundo interna e externamente. E lá chega o dia em que
reais sociedades científicas são criadas e os estudos expostos para avaliação
dos pares. E lá vai o dia em que os liceus emergem das profundezas mitológicas
e, vencendo o mito, estabelece a lógica. Tantos foram os grandes Espíritos que
vieram, voltaram e retornaram cada vez mais sábios para endireitar os caminhos
sóbrios da sabedoria neles e em nós.
O fato é que a cada dia
somos surpreendidos. Algo de novo surge para nos situar como indivíduos
habitantes de um Universo cujo fim e finalidades escapam aos conceitos comuns
dos quais nos alimentamos neste presente. Mas é necessário “Nascer, morrer,
renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. Isto nos anima e nos informa
sobre a grandeza que trazemos nos refolhos da mônada divina que todos somos. Se
antes caminhávamos feito manadas direcionadas pelos instintos, agora podemos,
sobre dois pés, erguer a cabeça e olhar para frente e para o alto, buscando
ver, contemplar e entender a natureza que nos cerca. E como ela é pródiga de
excelências que nos foge por completo identificar suas práticas.
Eis que nos surge uma
notícia nova: O Planeta Nove. E o que vem a ser o Planeta Nove? Dizem os cientistas
que é um novo corpo encontrado no Sistema Solar, orbitando nosso sol a uma
média de quatro e meio bilhões de quilômetros do astro rei, com uma massa dez
vezes superior à da Terra e vinte vezes superior à distância de Netuno, nosso
último planeta até então consolidado. Como a distância dele em relação ao Sol é
aproximadamente de quinhentas e noventa e sete vezes superior à distância entre
a Terra e o Sol, esse novo planeta levaria de dez a vinte mil anos terrestres
para realizar uma órbita completa em torno do Sol.
E ainda há os que
pensam ser a Terra a única morada da Casa do Pai! Este estudo foi publicado no
periódico Astronomical Journal, por cientistas do Instituto de Tecnologia da
Califórnia (Caltech, na sigla em inglês). Eles dizem ter encontrado
"evidências sólidas" de um nono planeta, com órbita estranhamente
alongada para esse tipo de corpo celeste, na periferia do Sistema Solar.
Segundo os autores do estudo, a existência do "Planeta Nove" ajudaria
a explicar uma série de fenômenos misteriosos que ocorrem com um conjunto de
objetos congelados e destroços localizados além de Netuno, conhecido como
Cinturão de Kuiper.
Sim, sempre novas
descobertas surgirão. O que nos compete é estarmos prontos para elas,
absorvendo-as sem aqueles preconceitos que tanto dificultaram e ainda
dificultam nossos avanços mentais. Sair da caixa escura do ego inferior,
avançar além, conhecer, pesquisar, apropriar.
Diz-nos Allan Kardec em
O Livro dos Médiuns, capítulo II – Item 13: “Toda ciência não se adquire senão
com tempo e estudo; ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da
filosofia a todas as ramificações da ordem social, que abarca, ao mesmo tempo,
o homem físico e o homem moral, é, ele próprio, toda uma ciência, toda uma
filosofia que não pode ser aprendida em algumas horas, como todas as outras
ciências; haveria tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo em uma mesa
girante, como em ver toda a física em certos jogos infantis. Para todo aquele
que não quer se deter na superfície, não é preciso horas, mas meses e anos para
sondar-lhe todos os arcanos”.
Desta forma estamos e
estaremos sempre em constantes aprendizados. Sonhar, pesquisar, encontrar. Boa
tríade para consolidar em nós o conhecimento necessário aos avanços
espirituais. Nosso Sistema Solar crescerá com a possível descoberta de um novo
planeta. E nós, igualmente, cresceremos sempre com novas descobertas que nos
compete realizar.
“É quase irônico pensar
que, enquanto os astrônomos encontram centenas de exoplanetas a anos-luz do
nosso sistema solar, esse tempo todo nós temos um bem aqui no quintal”, afirma
o astrônomo Alexander Mustill, que faz parte da equipe de pesquisa.
É mesmo assim, às vezes
as coisas estão bem próximas de nós e não as percebemos. Sonhos, Pesquisas e
Encontros é o título que demos a esse artigo. Enquanto essa tríade persistir
estaremos aptos a crescer. “Sonhar sempre” como nos disse o saudoso poeta
Vinícius de Moraes. Pesquisar em laboratórios, campos, bibliotecas e seja lá
onde for necessário e encontrar o novo, inusitado, nunca antes visto ou visto
de passagem. Isso dá sentido à vida, razão gigantesca para olhar o céu
diariamente e agradecer a Deus pela chance de viver não apenas num corpo físico
perecível, mas como alma que jamais se extinguirá, avançando sempre.
O
HOMEM, A VIOLÊNCIA E A GUERRA
(15-06-2017)
(Altamirando
Carneiro)
A violência e a guerra
de hoje são a repetição do que o homem fez nas diversas épocas da Humanidade.
Isso sem contar as brigas e querelas que, ao longo do tempo, acontecem no dia a
dia.
Por que tanta briga,
tanta confusão? Por que homens engravatados, que cursaram escolas, faculdades,
colocam-se orgulhosamente num pedestal e ordenam a matança desenfreada de seus
semelhantes, destruindo seus lares, suas famílias?
Mudam-se os palcos, mas
não os atores. As causas das guerras e da violência atuais são exatamente as
mesmas que fizeram detonar as guerras e a violência passadas: ódio,
intransigência, primitivismo.
E por que não o
diálogo?
Allan Kardec, na
questão 742 de O Livro dos Espíritos, pergunta: “Qual a causa que leva o homem
à guerra?”. Os Espíritos respondem: “Predominância da natureza animal sobre a
espiritual; satisfação das paixões”.
Diz ainda O Livro dos
Espíritos que a guerra (e, por extensão, a violência) desaparecerá da face da
Terra, na medida do progresso do homem, que é muito lento, principalmente o
progresso moral.
É lamentável a
manifestação da crueldade do espírito humano, pois desrespeita o direito
fundamental de cada um, que é o direito de viver. O senso moral, que nasce com
o homem, permanece quase nulo em alguns. E a quantidade de Espíritos desse grau
evolutivo em nosso meio é bastante grande. São minoria, mas como perturbam!
É importante que nos
conscientizemos da nossa responsabilidade na educação dos Espíritos que nos forem
confiados, na qualidade de pais, tutores, educadores etc.. Muitos desses
Espíritos estão encarnando com tarefas definidas. É preciso que saibamos
educá-los devidamente, dentro dos princípios cristãos.
Assim como uma
construção, para ser sólida, depende de alicerces firmes, as bases de uma
educação sólida são importantes, na formação da criança. É no seio de um lar
bem estruturado que encontraremos o terreno propício para essa boa formação.
Como bem disse Pedro de
Camargo, “Vinícius”, em palestra proferida no Colégio Piracicabano, durante uma
Semana da Criança: “A melhoria da Humanidade está na razão direta da nova
orientação que as mães de hoje possam dar aos seus filhos”.
Disse mais que: “O
relógio do progresso avança em seu movimento isócrono; e, quando interesses
malsãos procuram retardar-lhe a caminhada determinando desacordo com a posição
do Sol que determina a trajetória da Vida, dizem que o dono do relógio põe a
mão no ponteiro e... acerta as horas”.
RAZÃO
E CARIDADE
(01-06-2017)
(Inês Rivera
Sernaglia)
Ainda estamos longe da
educação racional. Permitimos que as emoções nos governem, sem raciocinar e
sempre como resposta às palavras ou atitudes alheias, porque muitas vezes
agimos de forma desastrosa, movidos por impulsos primitivos. Dessa forma, só
teremos controle da nossa vida com condições de assimilar virtudes, se
passarmos a dominar e não ser dominados pelas emoções.
O aprendizado
vivenciado na prática diária contribui em grande escala para que nos tornemos fortes.
A teoria prepara, é verdade, mas é a prática que capacita em realizações. Não
basta, pois, o ensinamento, é preciso que sejamos a lição viva, conforme
exemplifica o Cristo, trabalhando em harmonia, aprendendo uns com os outros,
conforme assevera Emmanuel, estimado benfeitor espiritual: “a conversação é
permuta de almas”.
Doamos e recebemos o
tempo todo, e o receber é sempre em proporções maiores, já que intensificam
todos os sentimentos dos que se afinam conosco, encarnados ou não. É a lei de
ação e reação. Aí também o cuidado em filtrar o que vemos e ouvimos a fim de
aproveitar o que nos sirva para a construção no melhor.
Aprender
incessantemente é importante porque é por meio do conhecimento que podemos
optar pelo correto. A escolha de hoje, não podemos esquecer, é a consequência
de amanhã. O Espírito da Verdade foi claro: “amai-vos e instruí-vos”. Kardec
foi claro: “fora da caridade não há salvação”.
Jesus em todo seu
ministério não mencionou a palavra caridade. No entanto, com base na resposta
dada pelos Espíritos iluminados na questão 886, em O Livro dos Espíritos, temos
que a caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as
relações com os nossos semelhantes. Está descrita como benevolência para com os
outros, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.
Esses ensinamentos não
são novos, mas precisamos entendê-los todos os dias, porque ainda trazemos
sentimentos remanescentes da nossa vida primitiva. Passamos por várias
encarnações burilando esses sentimentos, mas ainda não somos capazes de
transformá-los, porque o que realmente falta à humanidade é amor. E só ele é
capaz de transformar, edificar, elevar.
No livro Mediunidade:
Desafios e Bênçãos, ditado pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, através da
mediunidade de Divaldo Pereira Franco, deparamo-nos com uma história simples
sobre o amor, que tomamos a liberdade de transcrever:
“E quando o amor,
exausto de sua jornada pelos séculos, parou para fazer um balanço das
atividades desenvolvidas, constatou que após tantos e incessantes labores
poucos resultados positivos tinha alcançado. O ser humano continuava odiando o
outro, a sua fé ainda muito escassa, e até mesmo a fraternidade não era
expressiva. O amor se entristeceu. Correu séculos atrás das pessoas mais
diversas e, quando conseguia se aproximar, o ser humano trazia de volta seus
impulsos e sentimentos primitivos. Aturdido com tantos desencantos, o amor
continuou chorando e suplicou ao Pai um urgente socorro para que a tarefa que
lhe tinha sido confiada não ruísse no esquecimento. Foi então que escutou a voz
suprema dizendo que a partir daquele momento ele receberia ALGUÉM que cobriria
suas pegadas. Alguém que, em sua ausência, falaria no seu silêncio através da
ação. O amor nunca mais estaria só nas sendas do serviço. Foi ali que o amor se
completou com a caridade. E assim podemos dizer que em todo lugar onde brilha a
luz encontramos o amor e a caridade unidos, construindo o mundo cristão." Então,
sigamos nossa jornada juntos, com benevolência de uns para com os outros,
plenos de indulgência para com as imperfeições alheias e com o perdão das
ofensas no espírito e na ação. Façamos valer a educação racional com a qual
fomos preparados para exercer nossa mais digna função. E como afirma Emmanuel:
“Deixemos que a caridade nos ilumine o crivo da razão para que não venhamos a
perder os melhores valores do tempo e da vida, por ausência de equilíbrio ou
falta de amor”.
VIVER
COM SABEDORIA
(25-05-2017)
(Altamirando
Carneiro)
O Evangelho nos orienta
sobre a posse dos bens materiais. Muitos são os que os buscam avidamente,
tomando por base o seu bem-estar. Aquilo que lhe sobra, não importando o
quanto, quase nunca é suficiente para satisfazer. Na sua busca, há os que se
desviam por caminhos que só tardiamente compreendem serem despenhadeiros para a
alma.
Alguns aceitam
corromper e serem corrompidos, na estranha aventura da posse do temporário.
Agitam-se, meditam, arquitetam e tecem teias nas quais eles próprios ficarão
enredados.
Esquecidos de Deus, por
conveniência momentânea, não permitem que a sua consciência lhes ilumine os
caminhos e assim, de erro em erro, na esperança de muito possuir, vão perdendo
mais do que possam imaginar, terminando um dia em reencarnações de abençoada
correção, onde viverão a fome, a sede e a desesperança que a tantos fizeram
passar, em virtude da sua invigilância na busca da posse. Ouçamos, entretanto,
o Mestre, no ensinamento do óbolo da viúva: "Eu afirmo que a viúva pobre
deu mais do que todos, porque os outros deram do que lhes sobrava..."
Deve o Espírito buscar
sempre, de forma honesta, o sustento para si e para os seus, todavia, jamais
deve se esquecer de que a jornada na Terra é, antes e acima de tudo,
oportunidade sagrada para um único enriquecimento, o espiritual.
O necessário não lhe
faltará, se tudo fizer corretamente, e para isso precisa entender que a posse
desmedida tem raízes fortes no egoísmo, chaga a exigir combate constante pela
vida afora.
Deve saber que a fonte
do verdadeiro bem se assenta na fraternidade universal. Precisará aprender a
conversar a linguagem do amor, única fonte que lhe trará a felicidade.
Se por breves momentos
passa pela prova da pobreza, não deverá sucumbir à tentação da apropriação
indébita. Trabalhe, ajude, sirva sem resmungos e sairá da Terra mais rico do
que possa imaginar. Se passa pela prova da riqueza, coloque-se na condição de
administrador divino, pondo os seus bens a benefício de muitos e aceite a
certeza de que nada lhe pertence, a não ser as suas ações.
Somos todos moradores
transitórios nesta casa de Espíritos reencarnados a que chamamos Terra. Tudo o
que seja material a ela pertence e aqui será deixado. Somente as conquistas
espirituais são os verdadeiros tesouros, que seguirão com o Espírito, na sua
jornada rumo à Luz e à felicidade perene. Somente o amor ilumina.
Reflitamos nestas
coisas e, transformados para melhor, enfrentemos, resolutos, as atribulações do
dia a dia, administrando com sabedoria esses bens transitórios.
(18-05-2017)
(Ricardo Orestes
Forni)
Na minha época de
infância existiam as fadas, criaturas encantadas que deslizavam no ar com as
suas varinhas de condão. Essas varinhas eram mágicas. Tinham o poder de tornar
realidade o sonho das pessoas protegidas por esses seres. Hoje já não sei mais
se existem. Talvez tenham sido substituídas pelos smartphones que encurtam
distâncias e afastam as pessoas.
Estou lembrando isso a
título de uma exposição de uma página que fiz em um Centro espírita da cidade
onde moro. Perguntei para as pessoas presentes se seria bom que na cidade
tivesse um Chico Xavier. Creio que não preciso descrever a resposta.
Em seguida perguntei se
na cidade de Marília, próxima de onde moro, seria bom se tivesse um doutor
Bezerra de Menezes. A resposta foi a mesma.
Tornei a colocar se em
Bauru, que faz parte dessa região do Estado de São Paulo, seria excelente se
tivesse um Emmanuel. A reação foi semelhante.
Em seguida perguntei
por que não havia Espíritos de tal evolução reencarnados assim tão amiúde. Não
houve resposta ou elas foram monossilábicas, pouco explicativas.
Perguntei, então, se o
brilhante ostentado nas mãos de uma pessoa rica tinha surgido como tal, ou
tinha se desenvolvido através dos milênios no interior das camadas terrestres
onde o carvão passou a diamante e este, lapidado, transformou-se na milionária
pedra? Como concordaram com o raciocínio, continuei explicando que o processo
de formação de um Espírito superior sofria um processo semelhante. Esses
Espíritos não surgiam através de um plim plim da vara de condão do Criador como
se Ele fosse a mais poderosa de todas as fadas. Por isso não era possível
existir um Espírito superior em tão curta distância nas cidades citadas.
Entretanto, Deus tinha a escola da perfeição aberta dia e noite para todo e
qualquer interessado no vestibular das virtudes.
Quando senti que o
terreno estava preparado, entrei com os ensinamentos de Emmanuel contidos no
livro Palavras De Vida Eterna, no capítulo denominado Chamamento Divino, quando
ele ensina o seguinte: Muita gente alega incapacidade de colaborar nos serviços
do bem, sob a égide do Cristo, relacionando impedimentos morais.
Continua ele: Há quem
se diga errado em excesso; há quem se afirme sob fardos de remorsos e culpas;
há quem se declare portador de graves defeitos, e quem assevere haver sofrido
lamentáveis acidentes da alma...
Para culminar a lição,
pondera o Benfeitor: Se a realidade espiritual te busca, ofertando-te serviço
no levantamento das boas obras, não te detenhas, apresentando deformidades e
frustrações.
Senti o clima como se
costuma dizer e por isso perguntei aos presentes: aqui alguém já se negou a
assumir pequenos compromissos no Centro para ajudar em alguma área alegando-se
imperfeito para tal?
O silêncio respondeu
ruidosamente! Aproveitei esse momento de análise de consciência de cada um para
explicar o porquê é difícil ter um Chico Xavier em cidades próximas, ou um
doutor Bezerra de Menezes, ou um Emmanuel. Exatamente porque nos negamos a
começar, alegando os mais variados defeitos de que somos portadores.
Evidentemente que
podemos nos considerar como os átomos de carbono no interior do solo das nossas
imperfeições. Precisaremos dos milênios que trabalharão através das provas e
expiações o nosso ser para um dia chegarmos ao diamante espiritual e, deste, ao
brilhante lapidado que faz justiça à perfeição absoluta do Criador.
O quanto antes
começarmos, o planeta Terra e demais orbes habitados do Universo infinito, cada
vez mais, poderão apresentar aos viajantes cansados do caminho um coração da
grandiosidade de um Chico Xavier, do doutor Bezerra, de Emmanuel, ou de tantos
mais que poderíamos ir citando com segurança. O que não devemos é ficar
sentados à beira da estrada evolutiva contemplando embevecidos os sacrifícios
dos Espíritos missionários que têm abençoado e iluminado a Terra com a sua
presença, e quando surgir a menor das oportunidades de trabalho que a
Providência Divina tenha a bondade de nos oferecer, nos escondermos atrás de
nossas imperfeições para fugirmos constantemente aos compromissos que acenam a
todos os homens de boa vontade.
Para culminar o
despertar das consciências presentes, deu uma cutucada final: alguém aqui
recusaria a ser o ganhador de um carro numa rifa, ou de uma viagem de turismo,
ou de um prêmio polpudo da loteria dos números?
Por que, então, quando
se trata de ganharmos os valores que as traças não corroem e os ladrões não
roubam, através do trabalho em favor dos mais desfavorecidos, escondemo-nos atrás
das nossas imperfeições?
O dia das varinhas de
condão já se vai longe, se é que um dia existiram!
A
VARINHA DE CONDÃO
(Ricardo Orestes
Forni)
Na minha época de
infância existiam as fadas, criaturas encantadas que deslizavam no ar com as
suas varinhas de condão. Essas varinhas eram mágicas. Tinham o poder de tornar
realidade o sonho das pessoas protegidas por esses seres. Hoje já não sei mais
se existem. Talvez tenham sido substituídas pelos smartphones que encurtam
distâncias e afastam as pessoas.
Estou lembrando isso a
título de uma exposição de uma página que fiz em um Centro espírita da cidade
onde moro. Perguntei para as pessoas presentes se seria bom que na cidade
tivesse um Chico Xavier. Creio que não preciso descrever a resposta.
Em seguida perguntei se
na cidade de Marília, próxima de onde moro, seria bom se tivesse um doutor
Bezerra de Menezes. A resposta foi a mesma.
Tornei a colocar se em
Bauru, que faz parte dessa região do Estado de São Paulo, seria excelente se
tivesse um Emmanuel. A reação foi semelhante.
Em seguida perguntei
por que não havia Espíritos de tal evolução reencarnados assim tão amiúde. Não
houve resposta ou elas foram monossilábicas, pouco explicativas.
Perguntei, então, se o
brilhante ostentado nas mãos de uma pessoa rica tinha surgido como tal, ou
tinha se desenvolvido através dos milênios no interior das camadas terrestres
onde o carvão passou a diamante e este, lapidado, transformou-se na milionária
pedra? Como concordaram com o raciocínio, continuei explicando que o processo
de formação de um Espírito superior sofria um processo semelhante. Esses
Espíritos não surgiam através de um plim plim da vara de condão do Criador como
se Ele fosse a mais poderosa de todas as fadas. Por isso não era possível
existir um Espírito superior em tão curta distância nas cidades citadas.
Entretanto, Deus tinha a escola da perfeição aberta dia e noite para todo e
qualquer interessado no vestibular das virtudes.
Quando senti que o
terreno estava preparado, entrei com os ensinamentos de Emmanuel contidos no
livro Palavras De Vida Eterna, no capítulo denominado Chamamento Divino, quando
ele ensina o seguinte: Muita gente alega incapacidade de colaborar nos serviços
do bem, sob a égide do Cristo, relacionando impedimentos morais.
Continua ele: Há quem
se diga errado em excesso; há quem se afirme sob fardos de remorsos e culpas;
há quem se declare portador de graves defeitos, e quem assevere haver sofrido
lamentáveis acidentes da alma...
Para culminar a lição,
pondera o Benfeitor: Se a realidade espiritual te busca, ofertando-te serviço
no levantamento das boas obras, não te detenhas, apresentando deformidades e
frustrações.
Senti o clima como se
costuma dizer e por isso perguntei aos presentes: aqui alguém já se negou a
assumir pequenos compromissos no Centro para ajudar em alguma área alegando-se
imperfeito para tal?
O silêncio respondeu
ruidosamente! Aproveitei esse momento de análise de consciência de cada um para
explicar o porquê é difícil ter um Chico Xavier em cidades próximas, ou um
doutor Bezerra de Menezes, ou um Emmanuel. Exatamente porque nos negamos a
começar, alegando os mais variados defeitos de que somos portadores.
Evidentemente que
podemos nos considerar como os átomos de carbono no interior do solo das nossas
imperfeições. Precisaremos dos milênios que trabalharão através das provas e
expiações o nosso ser para um dia chegarmos ao diamante espiritual e, deste, ao
brilhante lapidado que faz justiça à perfeição absoluta do Criador.
O quanto antes
começarmos, o planeta Terra e demais orbes habitados do Universo infinito, cada
vez mais, poderão apresentar aos viajantes cansados do caminho um coração da
grandiosidade de um Chico Xavier, do doutor Bezerra, de Emmanuel, ou de tantos
mais que poderíamos ir citando com segurança. O que não devemos é ficar
sentados à beira da estrada evolutiva contemplando embevecidos os sacrifícios
dos Espíritos missionários que têm abençoado e iluminado a Terra com a sua
presença, e quando surgir a menor das oportunidades de trabalho que a
Providência Divina tenha a bondade de nos oferecer, nos escondermos atrás de
nossas imperfeições para fugirmos constantemente aos compromissos que acenam a
todos os homens de boa vontade.
Para culminar o
despertar das consciências presentes, deu uma cutucada final: alguém aqui
recusaria a ser o ganhador de um carro numa rifa, ou de uma viagem de turismo,
ou de um prêmio polpudo da loteria dos números?
Por que, então, quando
se trata de ganharmos os valores que as traças não corroem e os ladrões não
roubam, através do trabalho em favor dos mais desfavorecidos, escondemo-nos atrás
das nossas imperfeições?
O dia das varinhas de
condão já se vai longe, se é que um dia existiram!
LAR,
PEQUENA PRAIA...
(Leda Maria
Flaborea)
Lar, nos dicionários da
Língua Portuguesa, é confundido com a ideia de família e, figurativamente, como
um local para onde se retorna, seja a casa, a cidade ou o país de origem... A
Doutrina Espírita, por sua vez, amplia esse significado na medida em que afirma
ser muito mais que uma reunião de pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na
mesma casa. São criaturas unidas por laços de parentesco, pelo sangue ou por
alianças, criando laços sociais.
As questões 205, 205-a
e 774 de O Livro dos Espíritos esclarecem que somente através da reencarnação
os laços familiares podem ser menos precários, permitindo aumentar os deveres
da fraternidade uma vez que essas pessoas já estiveram ligadas, anteriormente,
sobre bases da afeição ou da inimizade. É pela necessidade de progresso que
esses encontros acontecem. Os laços sociais são necessários ao progresso e os
laços de família estreitam tais laços.
O cadinho doméstico é
constante desafio para cada um de seus membros, tendo em vista que cada um traz
uma história de existências pregressas no bojo de seus sentimentos que se
manifestam através de suas ações, palavras e pensamentos. Difícil trabalho esse
de buscar a harmonia entre indivíduos tão distintos, ligados entre si por passados
às vezes escabrosos, permeados de cobranças, vitimizações, abandonos e
sofrimentos, com medos e angústias de um futuro desconhecido.
Entretanto, a
necessidade desses encontros é fundamental para que a vida, em seu esplendor,
prossiga segundo um programa reencarnatório pensado, avaliado e fixado nessas
consciências, com a finalidade de se cumprir a lei do progresso, através de
ajustes das consequências de escolhas infelizes, feitas em existências
anteriores.
Cansados de sofrer,
esses Espíritos, ainda na Erraticidade, pedem, imploram muitas vezes, para
retornarem à carne ao lado desses comparsas, desafetos, a fim de remirem suas
dores morais. E aqui estamos nós mergulhados em águas revoltas do presente,
resgatando débitos do passado, com vistas a um futuro mais sereno, ainda que
incerto.
Sem lutas não há
progresso. E o lar passa a representar, assim, a primeira escola de amor na
qual Deus nos matriculou para aprendermos valores espirituais indispensáveis ao
nosso crescimento moral, como a paciência, a gratidão e o amor incondicional...
A cada batalha vencida
nessa pequena praia, abrem-se, diante de nós, inúmeras oportunidades de
navegação em águas mais calmas e mais profundas, em direção a praias mais
extensas, a trabalhos com maiores responsabilidades. Aprendemos aqui no
restrito, para ensinar e mais aprender no amplo. Do simples para o complexo. Da
realidade material para a espiritual. E nesse processo contínuo de aprender,
ensinar, mais aprender e mais ensinar iremos todos cumprindo nossa destinação de
sermos felizes em plenitude.
Pacientemente ou não,
vamos resolvendo nossas mazelas junto a esses irmãos que, como nós, foram
colocados como companheiros nossos nessa jornada de aprimoramento.
Se por um lado nos
sentimos atados a eles, com vontade de romper esses laços, porque a obrigação
nos pesa, por outro lado, eles também se sentem assim muitas vezes. Se com o
outro não é fácil a convivência, viver conosco deve ser mais difícil ainda.
Assim, até que
aceitemos esses irmãos como instrumentos de nosso aprendizado pela prática da
caridade para com todos eles, respeitando-os nas suas diferenças e limitações,
retornaremos junto deles para continuarmos nosso curso como alunos rebeldes até
a aprovação final.
O
EVANGELHO E O “NOVO”
(Hyerohydes
Gonçalves)
Constantemente escuto
alguns companheiros ou companheiras de jornada espírita, após um seminário ou
uma palestra pública, ou outro determinado evento, fazerem o seguinte
questionamento:
- O que o facilitador, orador,
expositor ou palestrante trouxe “de novo” do Evangelho?
Essa interrogação soa,
aos meus abençoados ouvidos, em forma de eco, e me leva a trocar miúdos com os
meus botões:
- O que o Evangelho tem
“de novo”? Será que foi aumentado ou retirado um til ou um jota da tão
devassada fonte de conhecimentos sublimes para a vida eterna?
E, logo após, volto os
meus ditos sentidos normais ao chão da fábrica do nosso movimento espírita e
percebo que há uma preocupação, até alarmante, de muitos confrades e confreiras,
na busca de facilitadores, expositores ou palestrantes ilustres, de oratória
cuja eloquência acima do normal, proferindo seminários, exposições ou palestras
espetaculosos, e que tragam o “novo” do Evangelho de Jesus.
Por que trazer o “novo”
do Evangelho, se o Evangelho é sempre “novo”?
Por que não trazer
apenas o Evangelho na sua pura simplicidade?
Se observarmos que o
Evangelho é a boa nova, ou se preferir, a boa notícia do reino de Deus, e que é
o nosso principal manual de trabalho de aperfeiçoamento moral e espiritual,
concluiremos que Ele é sempre “novo”, sempre atual.
Então, caro leitor, com
base na lógica, a pergunta que sugiro seja elaborada é o inverso, assim
vejamos:
- O que “de novo de mim
mesmo” estou extraindo do Evangelho a cada dia, numa perspectiva de evolução de
minha visão em relação ao seu conteúdo?
- Em cada contato com o
estudo do Evangelho, eu estou me tornando uma pessoa renovada, estou me
tornando um “homem novo”?
Logo, a questão é que,
se diante dos desafios das sendas evolutivas da vida, estou deixando emergir “o
novo de mim mesmo” com base nos ensinamentos evangélicos.
Se eu estou me tornando
“novo” a cada instante; se eu estou me tornando “novo” no pensar e no agir, bem
como na visão da verdade da vida e de mim mesmo; se eu estou me tornando “novo
para mim mesmo”, domando as minhas más inclinações ou más tendências,
transformando-as em atos de bondade, de misericórdia; então, nessa perspectiva,
o “novo” deve partir de cada um de nós, da maneira como estamos vivenciando o
Evangelho nas tarefas do cotidiano, ou seja, na administração do lar, da
empresa, da conduta no trabalho profissional, no trânsito, na forma de se
expressar e de posicionar-se diante de tal assunto, situação ou acontecimento,
dentre outros exemplos...
E assim, não mais
preocuparemos com o que “de novo” os oradores, expositores, facilitadores e
palestrantes trarão do Evangelho; mas, acima de tudo, o que cada um de nós
estará levando “de novo” para uma melhor compreensão do Evangelho, e dessa
forma colaborando positivamente, em vibrações fraternais, com os trabalhos dos
oradores, facilitadores, expositores e palestrantes em trazer “o novo de si
mesmo”, a fim de despertar “o novo” de cada espectador ou telespectador, acerca
do Evangelho que é sempre “novo” e sempre a fonte de renovação e de redenção de
nós outros, Espíritos imortais, na eternidade do aprendizado constante da vida.
REVISTA
ESPÍRITA RETRATA O PAPEL DE KARDEC NA CONSTRUÇÃO DO ESPIRITISMO
(Wellington
Balbo)
Ultimamente tenho
recomendado, com ênfase, o estudo da Revista Espírita, publicação que Allan
Kardec dirigiu de janeiro do ano de 1858 até o momento de seu desencarne, em
março de 1869. Ainda desconhecida do público (Revista Espírita), é neste
periódico que o estudioso do Espiritismo encontrará, de forma mais veemente, a
atuação de Allan Kardec na produção da doutrina, além, é claro, de voltar ao
tempo e entrar em contato com a história do Espiritismo.
Há reflexões muito
interessantes. Kardec, por exemplo, de forma muito educada e cortês permite-se
discordar dos Espíritos e, com maestria, discorrer sobre uma ideia de forma
irretocável. É assim que ele faz numa comunicação do Espírito Lázaro, inserida
na revista do mês de maio do ano de 1862, sobre o instigante tema “Os
instintos”. Ressaltamos que Kardec discordou da posição de Lázaro, porém com
total respeito, sem atacá-lo ou diminuí-lo, ao contrário, inicia sua crítica
agradecendo-o e elogiando suas constantes contribuições.
Dentre os mais variados
temas da revista, destaco, também, uma instrução de Kardec referente à
publicidade das mensagens espíritas. A instrução citada está no número de
janeiro da revista de 1862.
Kardec aborda a
importância de dar publicidade às mensagens espíritas e faz relevantes
ponderações, levanta pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades das ainda
parcas possibilidades de publicidade da época. Pode-se dizer que ali Kardec fez
uma análise SWOT, análise esta que identifica os pontos fortes e fracos, as
ameaças e oportunidades que as instituições encontrarão em seus respectivos
cenários. Vale lembrar que a análise SWOT só veio ao mundo no século XX,
obedecendo às necessidades das organizações de se planejarem.
Ainda no texto
pertinente à publicidade das mensagens espíritas, Kardec desculpa-se com o
leitor por tratar de coisas puramente materiais, haja vista que toca em pontos
financeiros para o sucesso das publicações, num espaço destinado às coisas
celestes, todavia, ressalta que o faz por julgar necessário e com o objetivo de
divulgação da mensagem espírita.
O tema financeiro,
aliás, ainda é um tabu para o espírita. Indubitavelmente Kardec não teria
problemas em aplicar grandes somas para que a divulgação espírita se tornasse
pujante e atingisse um grande número de pessoas. Aliás, muitos o acusavam de
enriquecimento à custa do Espiritismo, o que é sabido não ser verdade. Kardec
tinha a ciência de que sem os recursos materiais necessários seria impossível
atingir o pleno sucesso na divulgação espírita.
O que se percebe no
estudo da Revista Espírita é um Kardec altamente envolvido com a divulgação do
Espiritismo, alguém que empenhou todos os seus esforços para o sucesso da
doutrina.
Imagino-o nos dias de
hoje, com tantas possibilidades à sua disposição para levar o Espiritismo aos
mais recônditos rincões deste planeta, certamente os utilizaria em plenitude.
As redes sociais, pois, seriam um local em que se encontraria Kardec com muita facilidade.
Teria, muito provável, perfis em Facebook, Twitter, Instagram e, fatalmente,
espaço em jornais não espíritas.
Kardec foi muito
corajoso e a dimensão de sua vinda à Terra ainda estamos distantes de entender.
Por isso, para que
compreendamos, mesmo que palidamente, um pouco da importância de sua
reencarnação no século XIX, faz-se fundamental debruçar-se nas páginas da
Revista Espírita.
Fica, então, registrada
a sugestão ao leitor e estudioso do Espiritismo.
A
FOGUEIRA DAS VAIDADES
(Altamirando
Carneiro)
O homem vive, na Terra,
uma luta inglória, na tentativa de quem, entre eles, é o maior, o melhor, o
mais poderoso. Como Narciso, ele se contempla diariamente no espelho e, no seu
orgulho, surge a pergunta: "Existe alguém mais bonito, mais perfeito, do
que eu?"
O amor a nós mesmos é
um tema estudado no Espiritismo. É este amor que nos leva a superar todos os
obstáculos, para atingir os nossos ideais; é este amor que nos leva ao
trabalho, ao estudo, ao aprendizado, enfim, a tudo aquilo que nos coloque
sempre na melhor posição possível, com relação aos semelhantes.
Este é o amor a si
mesmo do Ser consciente, que exemplifica diariamente a lição de Jesus na
Parábola dos Talentos; daquele que procura administrar da melhor maneira o
aproveitamento dos talentos, sempre em benefício dos outros. Pois a finalidade
maior da nossa encarnação na Terra é servir.
Já o amor do orgulhoso
é bem diferente. Ele se acha o máximo, o insuperável, o que não divide nada com
ninguém, porque acredita que tudo no mundo foi feito somente para ele ou para a
quem a ele se assemelhe e tenha o mesmo grau de soberba e sovinice.
Sócrates disse que
"tudo o que eu sei é que nada sei". Esta conscientização só o humilde
possui. Jamais o orgulhoso admitirá que, por mais que ele saiba, saberá pouco;
que, em relação à verdade universal, nosso conhecimento é relativo, diante do
conhecimento absoluto.
Por isso Jesus, diante
do entusiasmo dos discípulos na divulgação da Boa Nova, deu graças a Deus por
ter revelado tanta grandiosidade aos pequeninos da Terra, ocultando aos
orgulhosos, sábios e potentados.
Em Reflexões
Doutrinárias - Lúmen Editorial -, diz Antônio Fernandes Rodrigues que "o
homem simples (...), não estando prisioneiro das regras ortodoxas da ciência
acadêmica, acredita naquilo que não vê, mas aceita porque é coerente, lógico,
imprescindível. Ele sente a presença de Deus nas coisas materiais; no vegetal
que cresce; na flor que desabrocha; no fruto que alimenta; na chuva que
proporciona condições para que o verde cubra o solo, dando alimento a toda
criação animal. (...)".
Quando o avanço do
progresso intelectual não é acompanhado pelo avanço do progresso moral, o
orgulho passa a dominar os sentidos. Contudo, Deus não tira a liberdade de
ninguém e aguarda que cada um amadureça, quando então aceitará as leis divinas,
que funcionam harmonicamente, sem desequilíbrios.
MULTIPLICAR
TALENTOS
(Waldenir
Aparecido Cuin)
“Quantos pães tendes? – Cinco pães e dois
peixes, disseram..." (Mateus 14:17.)
O episódio da
multiplicação dos pães e peixes, narrado pelo Novo Testamento é,
incontestavelmente, uma notável e rica lição que Jesus delegou à humanidade,
para servir de norte e bússola às nossas ações quotidianas.
Naquele momento
histórico o Cristo não transferiu aos seus discípulos a tarefa de socorrer a
multidão faminta, que O buscava sedenta de consolo e alimento. Apenas solicitou
que informassem quantos pães e peixes tinham e, após, procedeu à multiplicação
dos dois gêneros, permitindo que mais de cinco mil pessoas se alimentassem.
Sem dúvida, um
ensinamento profundo e valioso.
É óbvio que ninguém em
sã consciência e plena lucidez de raciocínio se proporá a sair pela vida
fazendo multiplicações de pães ou outros itens alimentícios, mas de forma
alguma estamos impedidos de multiplicar os nossos talentos e recursos, de forma
a contribuir para a melhoria do mundo que habitamos.
Multiplicando os pães
da paciência conseguiremos conviver com as mais adversas situações e suportar
os mais intrincados problemas, aqueles que desafiam o equilíbrio das nossas
emoções.
Multiplicando os pães
da perseverança haveremos que caminhar com coragem em defesa dos nossos ideais,
onde a felicidade e a paz, por certo, figuram como meta e objetivo.
Multiplicando os pães
da tolerância seguiremos firmes na compreensão das diferenças que nos cercam,
principalmente no âmbito familiar, onde devemos entender que cada criatura traz
consigo a própria individualidade pensando e reagindo de modo particular, como
nós fazemos também.
Multiplicando os pães
do altruísmo teceremos a teia das nossas ações sempre voltadas para o bem, onde
o ser humano, em quaisquer situações e momentos, será eleito como a preocupação
máxima e interesse maior das nossas realizações.
Multiplicando os pães
da fé e da confiança nunca deixaremos que acreditar piamente que não estamos
sozinhos, mesmo que aparentemente o mundo nos mantenha isolados, pois do olhar
da Providência Divina ninguém está alheio.
Multiplicando os pães
do amor veremos todas as criaturas do caminho como irmãos a serem considerados,
dignos merecedores da nossa solidariedade e respeito.
Multiplicando os pães
da alegria contagiaremos aqueles que seguem conosco, informando a eles que o
otimismo e a esperança são conquistas que não podem deixar de residir no íntimo
dos nossos corações.
Multiplicando os pães
do silêncio, saberemos como conter a palavra descortês e às vezes descuidada
que, se lançada, poderá destilar o fiel da crítica ou o azedume do comentário
menos feliz, além de evitar, muitas vezes, sérias contendas ou terríveis e
inoportunas discussões.
Multiplicando os pães
da humildade teremos plenas condições de combater as investidas deletérias do
orgulho que tanto sofrimentos causam no seio social, e segurar os ataques
perigosos do egoísmo, essa chaga nefasta que aprisiona os nobres sentimentos
humanos.
Se fisicamente não
temos condições de multiplicar pães e peixes, como fez Jesus Cristo, nada
impede que façamos crescer nosso ânimo, coragem, determinação e boa vontade,
para, com os recursos de que dispomos, contribuir para a construção de uma
sociedade mais fraterna.
Reflitamos.
PARÁBOLAS
DE JESUS: O TESOURO ESCONDIDO E A PÉROLA OCULTA
(Leda Maria
Flaborea)
O tesouro encontrado e
a pérola descoberta representam o ápice do esforço de transformação no bem
No capítulo 13 do Evangelho de Mateus,
encontramos seis parábolas que fazem referência de forma direta ao Reino de
Deus. São elas: do joio e do trigo, do grão de mostarda, do fermento, da rede,
do tesouro escondido e da pérola oculta ou de grande valor.
No entendimento
espírita o Reino dos Céus ou o Reino de Deus, como também é nomeado, indica um
estado de alma, um sentimento de plenitude que não é um lugar circunscrito no
plano físico ou no plano espiritual.
Nas parábolas, alvo dos
nossos comentários, Jesus enfatiza essa felicidade, essa ventura de quem
encontra tais riquezas representadas pela pérola e pelo tesouro. E do ponto de
vista Dele isso é tão grandioso e tão pleno que leva o homem que os encontra a
dispor de todos os bens que possua. Em ambas, encontramos o predomínio da
transformação espiritual pela aquisição de virtudes. Trata-se de um momento
decisivo na vida de cada um de nós, porque estaremos tratando da modificação
íntima, definitiva, no bem, ou a conquista do Reino de Deus.
Trata-se da descoberta
da nossa consciência espiritual, da nossa ligação com Deus e das nossas
capacidades para vencermos os obstáculos que surgem ao nosso progresso. O tesouro encontrado e a pérola descoberta
representam o ápice do esforço de transformação no bem. E o local onde foram
encontrados indica o plano onde desenvolveremos as experiências necessárias
para esse crescimento, ou seja, a existência física ou os diferentes planos
espirituais. Por isso ambos são comparados, por Jesus, ao Reino dos Céus. Mas,
para adquirir o Reino dos Céus o homem precisa se desfazer do Reino do Mundo.
Afirma Jesus que o Reino não vem com aparência exterior.
(...) “A realização
divina começará no íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do templo
interno”.
Qual o significado, nas
parábolas, da expressão vender o que se tem e comprar o campo ou a pérola?
Significa a mudança do homem material para o homem espiritual – o apóstolo
Paulo de Tarso refere-se a isso como do homem velho para o homem novo. É o
desfazer-se dos bens materiais, no sentido de não se dar prioridade a eles,
pelos bens espirituais, lembrando que para esse homem materializado, seu
tesouro e sua pérola são os bens materiais que conquistou ou que deseja
conquistar.
Cairbar Schutel coloca
questões interessantes em relação a isso, que precisam ser observadas. Pergunta
ele: por que o homem trabalha na Terra? Para que estuda? Por que luta a ponto
de matar seus semelhantes? Responde ele: “para possuir tesouros”! E por essa razão o Mestre foi enfático ao
afirmar que o tesouro imperecível é aquele que a ferrugem e a traça não corroem
e os ladrões não roubam. Quando o homem terreno morre nada leva consigo; mas, o
homem espiritual carrega tudo que conquistou.
O homem materializado
não compreende a Doutrina do Cristo, como não aceita abandonar o que conquistou
pela aquisição de algo invisível, impalpável... Ele vive para o reino do mundo
e não tem interesse, por ora, no Reino dos Céus. Não compreende que aquele
desaparece com a morte física e este permanece com quem o possui.
Para Huberto Rohden,³
quando o homem descobre o Reino dos Céus, não se interessa mais pelos reinos da
Terra. Assim como a pérola que só revela seu esplendor quando exposta ao sol, a
conquista da felicidade plena só é revelada na luz da vida diária. É interessante
lembrar o ensinamento de Jesus que nos convida a não conservarmos a luz sob o
alqueire, mas colocá-la sobre o velador, iluminando caminhos, dando direções...
O que tudo isso quer
dizer?! Quer dizer que o homem, no nível evolutivo em que se encontra presentemente,
precisa sair da superfície do ego (ser material) e mergulhar na misteriosa
região do Eu Divino (ser espiritual). Essa passagem será, na maioria das vezes,
dolorosa, mas o resultado só acontecerá quando e se realizar o
autoconhecimento. “Antes de atingir a qualidade do seu Ser, corre o homem atrás
da quantidade do ter ou dos teres. Mas, depois de descobrir o seu Ser
qualitativo, torna-se indiferente aos seus teres quantitativos. E quando as
circunstâncias o obrigam a possuir certos objetos externos, possui-os com
estranha leveza e serenidade. Não se fanatiza por eles, nem jamais é possuído
por aquilo que possui. Todos os caminhos estritos e todas as portas apertadas
desaparecem em face do jugo suave e do peso leve de uma felicidade sem limites.”³
Para o estimado
benfeitor espiritual Emmanuel4 “tesouros são talentos que trazemos,
independentemente da fortuna terrestre, a fim de ajudarmos aos outros,
valorizando a si mesmo.” Diz ele que
cada um de nós, em nossas atividades, mostramos esse tesouro. Por exemplo: um
homem e uma mulher tem no amor o tesouro que constrói o santuário do lar; o
professor amontoa tesouros da cultura e inteligência para transmitir a quem
quer aprender; o escritor respeitável estabelece tesouros no livro nobre que
leva consolação e assegura o progresso. Assim também com o compositor que cria
um tesouro na melodia que compõem e encanta quem ouve...
Continua dizendo que é
preciso saber o que produzimos, a fim de sabermos para onde nos dirigimos. Fica
claro, agora, para nós, o porquê da afirmação de Jesus ao dizer: “onde
guardardes o vosso tesouro, tereis retido o coração".
Por essa razão,
entendemos que para a redenção das criaturas, de todos nós, está na
transformação dos sentimentos. Quando são dirigidos para o bem, são bênçãos
para a obra de Deus. Mas, quando se voltam para o mal, impedem a concretização
dos propósitos divinos, principalmente para nós próprios. Torna-se cada vez
mais urgente trabalharmos essa ferrugem, porque Jesus nos espera para nos
mostrar os tesouros imperecíveis.
Todos nós temos ouvido
ou lido sobre a necessidade de transformação das nossas predisposições íntimas.
Mas, como proceder?! O conhecimento de si, já o dissemos, é a chave do processo
espiritual. É fundamental o autoconhecimento para sabermos: quem sou eu? Qual é
a minha obrigação para comigo e para com a sociedade na qual trabalho?
Encontramos um caminho
em O Livro dos Espíritos, questão 919 quando Kardec pergunta aos Espíritos
superiores qual é o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar
nesta vida e resistir à atração do mal. E eles respondem: “um sábio da
Antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo”.
Como conseguir o
autoconhecimento? O que fazer? Quando fazer? Como fazer? A questão 919-a
ajuda-nos nessa busca. Mas, é necessário, sem preguiça e com vontade real de
aprender, tirar da estante o livro basilar da Doutrina Espírita e ler, sem
pressa, as respostas de Santo Agostinho.
(Hyerohydes
Gonçalves)
Quando escrevemos que o
espírita deve manter-se em vigilância e em prece, dar a César o que é de César
e posicionar-se com imparcialidade partidária na política e na sociedade, não
estamos com a pretensão de nos referir ao conformismo diante das situações de
crise política e econômica por que passa o nosso país.
Muito pelo contrário, é
neste contexto de divergências de opiniões que o espírita, discípulo sincero do
mestre Jesus, deve estar de prontidão, como cidadão do universo, pronto para
propor e buscar soluções de pacificação, de libertação, de solidariedade, em
favor da justiça e da paz, de uma sociedade equilibrada, pautada no bom senso.
O verdadeiro espírita
está inserido na sociedade, assim como qualquer outro cidadão, no exercício dos
seus deveres e direitos constitucionais. Não é perfeito, mas está, assim como
qualquer pessoa no convívio social, em busca da perfeição moral e espiritual.
A responsabilidade do
espírita consciente é aumentada, ainda mais, perante a sociedade e de si mesmo,
devido ao conhecimento adquirido sobre a lei de ação e reação ou de causa e
efeito, do uso adequado do poder de livre escolha ou livre-arbítrio, das leis
de sociedade, do trabalho e do progresso, dentre outras nas áreas do
conhecimento espírita.
Temos de entender e
compreender que, diante da crise e das injustiças sociais, o verdadeiro
espírita, na atitude de discípulo e aprendiz do mestre Jesus, tem de manter-se
vigilante e a sua conduta deve ser transformada em prece, para que a crise e as
injustiças não se agravem devido à sua falta de vigilância e de sintonia com
Aquele que nos fortalece.
Devemos, ainda,
esclarecer que dar a César o que é de César não é deitar-se no berço esplêndido
do conformismo, nem estar de acordo com as lideranças governamentais contrárias
às necessidades do povo.
É, sim, agir de acordo
com a ordem social, cumprindo as leis humanas, sem causar qualquer tipo de
desordem e prejuízo à sociedade. Mas agir com responsabilidade cidadã, sem
partidarismo, buscando, dentro do bom senso, apresentar propostas de melhorias
nos setores sociais, tais como exemplos prioritários, a meu ver, aos da saúde e
educação, prosseguindo para os demais e assim por diante.
Em relação à conduta de
imparcialidade partidária do espírita na política e na sociedade, trata-se de
questão de lógica, porque a postura espírita deve ser em favor da coletividade
como um todo, atendendo ao bem comum, sem se compactuar com esse ou aquele
partido, ou com essa ou aquela organização; pois, a imparcialidade partidária
torna-nos libertos de quaisquer tipos de jogos de interesses e de injustiças.
Agindo assim, o
verdadeiro espírita terá a sua conduta pautada no Evangelho de Jesus, em
sintonia com a espiritualidade benfeitora, atraindo pensamentos positivos, e
agindo positivamente, contribuindo com a implantação do reino de Deus (=
reinado do bem) neste planeta Terra.
O
AMOR É UM ALIMENTO DIVINO
(Hugo Alvarenga
Novaes)
Primeiramente,
lembremo-nos das sábias palavras de Jesus quando, no deserto, depois de ter
jejuado por quarenta dias, disse: “... nem só de pão viverá o homem...” (Mateus
4,4; Lucas 4,4). Com isso, Ele quis mostrar-nos que são mais importantes os
alimentos espirituais do que os materiais.
Sem dúvida alguma, o
amor encabeça a lista destes nutrientes imateriais.
Tanto o amor é
essencial para nós, que o Sublime Messias trouxe-nos o “Mandamento Maior”
calcado nesse sentimento. Vejamo-lo: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e
grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mateus
22,37-40).
Reparemos que o Divino
Nazareno pede-nos que amemos a Deus, a nós e ao próximo.
Ele também nos
recomenda: ”Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros, como eu
vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (João 13,34). Pensamos
ser o amor o maior sustentáculo dos seres humanos. Semelhante aos alimentos
sólidos, que são fontes de energia imprescindíveis para a manutenção das
funções vitais de todos nós, o amor, indiscutivelmente, é o principal nutriente
para o espírito. Quanto mais nos enriquecermos de valores morais, mais próximos
estaremos de Deus.
O Divino Rabi não
preceituou-nos que “amássemos uns aos outros” (João 13,34), unicamente
objetivando a caridade. Recomendava-nos de igual maneira que nos alimentássemos
mutuamente de simpatia e fraternidade, que são os grandes patrimônios do “amor
profundo”, e que indiscutivelmente sustenta-nos a alma. Este último sentimento
é o pão divino, o nutriente sublime dos corações.
Se o “amor ao próximo”
é a base da caridade, “amar os inimigos” (Mateus 5,44) é a mais excelsa
aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das
maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.
O amor é lei da vida.
Se não houvesse amor nada faria sentido, pois só existimos porque Deus nos
sustenta com o seu amor.
“Busquemos, então,
meditar sobre o que temos e o que não temos, sobre quem somos e sobre quem não
somos, a respeito do que fazemos e do que não fazemos, guardando a convicção de
que sem a presença do amor naquilo que temos, no que fazemos e no que somos,
estaremos imensamente pobres, profundamente carentes, desvitalizados. A
inteligência sem amor nos faz perversos. A justiça sem amor nos faz insensíveis
e vingativos. A diplomacia sem amor nos faz hipócritas. O êxito sem amor nos
faz arrogantes. A riqueza sem amor nos faz avaros. A pobreza sem amor nos faz
orgulhosos. A beleza sem amor nos faz ridículos. A autoridade sem amor nos faz
tiranos. O trabalho sem amor nos faz escravos. A simplicidade sem amor nos deprecia.
A oração sem amor nos faz calculistas. A lei sem amor nos escraviza. A política
sem amor nos faz egoístas. A fé sem amor nos torna fanáticos. A cruz sem amor
se converte em tortura. A vida sem amor... Bem, sem amor a vida não tem
sentido...” (Fonte: CD Momento Espírita, volume 7, faixa 3.)
Paulo de Tarso
demonstra que compreendera perfeitamente a importância dele, ao dizer:
“Ainda que eu falasse
as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que
soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E
ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não
trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca
os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça,
mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior
destes é o amor” (1 Coríntios 13, 1-7; 13).
Tendo tudo isto em
vista, fartamo-nos de amor.
TEMOR
DA MORTE; COMO EVITÁ-LO?
(Wellington
Balbo)
Em O Céu e o Inferno,
uma das obras da Codificação Espírita, Allan Kardec trata do tema temor da
morte. Como estamos em novembro, considero serem interessantes algumas
reflexões de tão palpitante tema.
Por que o homem teme a
morte? Essa foi uma das indagações que Allan Kardec propôs na citada obra.
Embora uma intuição sussurre nos ouvidos do homem de que a vida não se encerra
no túmulo, há o medo do que se considera o desconhecido, e a morte, para um bom
número de pessoas, é uma mera desconhecida e indesejada. Aliás, é, também, uma
passagem para um tempo de dor e sofrimento, ou até mesmo o nada, que o digam os
materialistas.
Aliás, muitos afirmam:
Ninguém nunca foi e
voltou para contar! Ledo engano, pois diversos médiuns, mesmo antes do advento
do Espiritismo, serviram como ponte para que os chamados “mortos” voltassem a
fim de dar testemunho de que a vida prossegue além matéria.
Não obstante sermos
imortais é preciso que a lei se cumpra, porquanto nosso corpo biológico tem um
tempo de vida, é uma máquina e, naturalmente, vence sua validade, o que nos
leva a experimentar o fenômeno da morte do corpo físico, mas não do Espírito
imortal, pois este é indestrutível.
O temor da morte tem
sua utilidade, pois faz com que o homem preserve-se de situações complicadas e
não se exponha sem necessidade a perigos que poderiam abreviar sua existência.
O instinto de conservação é o responsável por despertar-nos para a importância
de manter-nos em segurança e aproveitar os instantes que a vida na Terra
oferece para nossa elevação.
Sendo o homem um ser
espiritual, certo que, se possível fosse, não mergulharia na carne, pois a vida
na matéria, embora necessária, limita as atividades do Espírito, prendendo-o
aos bem limitados sentidos da vida corporal. Percebe-se, então, que caso o
instinto de conservação não existisse, o homem, certamente, se entregaria de
modo muito fácil à destruição de seu invólucro carnal.
Eis, aí, a prova da
sabedoria de Deus, que nada faz de inútil.
Quanto mais o homem
avança em intelecto e moral, mais aproxima-se do Criador, de modo que sua visão
vai ampliando-se e o temor da morte vai perdendo pujança, pois o homem passa a
compreender que o nada não existe, e constata que ao deixar o corpo a sua
essência continua bem viva.
Ele vislumbra o futuro,
mais: sabe que o futuro dependerá de suas ações no presente, por isso trata de
trabalhar com mais afinco hoje para que conquiste o equilíbrio que,
indubitavelmente, proporcionará a ele condições de encarar as provas e
expiações como desafios para seu crescimento, e não, como problemas insolúveis.
Conforme o ser humano
vai atingindo a maturidade espiritual, consegue elevar-se além da vida na
matéria e, por conseguinte, enxerga, na morte do corpo, não a destruição total,
mas a libertação de seu Espírito.
Dar o justo valor ao
corpo é uma das formas de libertar-se do temor da morte. Quando se valoriza em
demasia a matéria, coloca-se sobre ela uma responsabilidade enorme e, então,
quando esta matéria, obedecendo à lei da vida, tem a falência de seus órgãos, o
homem, ainda voltado apenas à vida terrena, desespera-se, pois pensa que ali,
na desagregação das células, houve, também, a desagregação dos laços de amor,
de afeto, de si mesmo e das amizades conquistadas.
O Espiritismo diz que
não. Os laços de amor não se extinguem com a morte do corpo físico. O
sentimento tem sede no Espírito imortal e não no corpo perecível e, por isso,
tal como o Espírito tem vida independente da matéria, os sentimentos também
possuem essa independência.
O temor da morte, pois,
sofre um revés chamado conhecimento. Quanto mais o Espírito cresce em
conhecimento das leis da vida, mais ele afasta de si o cálice amargo do medo da
morte.
Com a conquista da
maturidade espiritual, a morte já não tem um caráter fúnebre, de perda da
identidade, mas, sim, de transformação, de retorno ao mundo espiritual que,
diga-se, precede o mundo físico.
As lágrimas de revolta
e inconformação cedem lugar ao até logo, repleto de esperança no futuro de
bênçãos que aguardam aqueles que já romperam com as incredulidades.
O homem, neste estágio
de maturidade espiritual, já não mais necessita tanto do instinto de
conservação, pois a consciência empresta-lhe condições para saber que não deve
se expor sem necessidade e que o corpo é, em realidade, amigo de seu Espírito
na travessia rumo ao infinito.
Apego, um dos motivos
de temor da morte - Segundo o médico e tanatólogo Evaldo D’Assumpção, a palavra
apego é de origem latina e significa juntar, colar, pegar. É o apego que produz
o receio da perda. E quanto mais se receia a perda, mais se apega ao objeto,
pessoa, situação ou, como no tema abordado, ao corpo físico.
1 – Apego ao corpo
físico: quem leva a vida como se o corpo fosse tudo, esquece o Espírito,
esquecendo o espírito esquece de si mesmo, pois brinda apenas o corpo com os
prazeres da vida. Então, trabalha apenas para saciar o corpo. Rende culto
demasiado à beleza física e a coloca como parte essencial de sua existência.
Quando os anos, implacáveis, batem-lhe à porta, tenta, de todas as formas,
enganar o tempo. Consegue por um determinado período, porém, por mais técnicas
e tecnologias desenvolvidas atualmente prolongando a vida na matéria, não se
consegue vencer a morte biológica. Neste atual estágio de evolução do planeta,
a morte biológica é invencível. Muitos revoltam-se quando a morte biológica
captura alguém ainda jovem, belo e com futuro promissor pela frente. O
Espiritismo informa, porém, que se deve treinar o desapego do corpo valorizando
a vida do espírito, porque esta modalidade de morte chegará cedo ou tarde.
Treinar o desapego do corpo físico é aceitar que não se tem gestão sobre os
desígnios de Deus. O Criador estabeleceu leis, e elas hão de se cumprir. Não há
objeções quanto ao corpo bonito e torneado, desde que ele não se torne objetivo
único do indivíduo. Desapegar-se do destrutível, perecível e temporário é
fundamental à sanidade.
2 – Apego às pessoas
e/ou objetos: é muito comum proferir a seguinte frase: Meu filho! Meu marido!
Meu irmão! Isso no tocante às pessoas. Com relação ao objeto, dá-se o mesmo:
Meu carro! Minha empresa! Meu livro!
Frases já consagradas
por todos e não haveria problema caso reproduzissem apenas a força da
expressão. Todavia, não é assim que ocorre. O sentimento de possuir pessoas ou
objetos faz com que se apegue a eles como se fossem parte de nosso ser e não
pudessem “descolar” de nós. Mas eles descolam, e, quando descolam, o sofrimento
é mais intenso naquele que ainda não aprendeu a dizer adeus. Desapegar-se é
compreender que nada nem ninguém nos pertence e que o desapego não é sinônimo
de desamor, mas de inteligência emocional. E como conquistar a inteligência
emocional que possibilita desapegar-se? O jeito é trabalhar-se intimamente para
internalizar que pessoas e coisas chegam e vão embora de nossas vistas a todos
os instantes. Viajam para aqui e acolá, e esta viagem acontece
independentemente de nossa vontade. É preciso aprender a aceitar as coisas que
não se pode modificar e conviver de maneira pacífica com a dor proporcionada
pela “perda”.
Ou seja, desapegar-se
não é viver sem dor, mas entender que, apesar dos pesares, a vida prossegue e
se faz fundamental prosseguir com a vida.
3 – Apego às situações:
do mesmo modo que se trabalha o desapego diante do corpo físico, pessoas e
objetos, deve-se trabalhar o desapego das situações. É muito comum algumas
pessoas ficarem presas ao passado, mortas no presente, contudo vivas num
passado distante ou próximo. Ah! Como minha vida era de prazeres quando eu
tinha aquele bom emprego! – exclama o sujeito cuja situação anterior já está
“morta”. O emprego já acabou, a empresa faliu, a situação financeira pertence a
outro tempo, mas ele ainda está apegado ao que passou. Quem vive o passado,
quase sempre, mata o presente. Desapego é, pois, forma de viver mais leve.
Medo de enfrentar a dor
- Um ponto a considerar na sociedade hodierna é a pouca paciência para com a
dor. O temor da morte também é o medo de sentir a dor da partida. É claro que
não se prega a valorização da dor, mas, sim, o entendimento de que a dor, no
estágio evolutivo da Terra, vez ou outra aparecerá. O conhecimento, neste
ponto, situa-se como um analgésico, pois com conhecimento sentimos que a dor
ameniza. Todavia, nem mesmo o conhecimento – repito, neste atual estágio – é
condição para que a dor seja eliminada. Como pedir para uma mãe não sentir seu
coração dolorido ao ver um filho partir? Portanto, o conhecimento ameniza,
entretanto, não elimina a dor. Eis por que é prudente deixar de temer a dor.
Fortalecer-se a fim de que ela – a dor – não seja insuportável.
E como se fortalece?
1 - Conhecimento
2 - Prece
3 - Trabalho no bem.
O conhecimento faz-nos
amadurecer, a prece liga-nos aos bons Espíritos e estes vêm em nosso socorro
nos momentos mais complicados e, por fim, o trabalho no bem ocupa nossa mente e
dá-nos a saborosa sensação de estarmos sendo úteis.
Esta é a trinca a
fortalecer-nos diante de qualquer situação dolorosa.
Por que o espírita não
teme a morte? - Kardec, em O Céu e o Inferno, escreveu que os espíritas não
temem a morte, a considerar que todos vivenciam plenamente o conceito da
imortalidade da alma. Como sempre, Kardec muito generoso. Pode-se adaptar seu
pensamento para:
Por que o espírita não
deve temer a morte?
Não deve temer porque,
como Kardec diz, a alma já não é mais uma abstração. O Espiritismo é a Ciência
que desvendou a imortalidade da alma. Com o Espiritismo não há mais a incerteza
do futuro e a angústia advinda do nada.
O Espírito imortal é
indestrutível e os laços de amor construídos ao longo do tempo também obedecem
a esta ordem.
Portanto, nós e nossos
afetos vivemos e continuaremos a viver. Esta mensagem já é bastante alentadora
e pode servir para que, enfim, percamos o medo da morte, transformando o receio
em certeza de que o cumprimento da lei biológica, na questão da morte física,
não dilacera o Espírito imortal.
Pensemos nisto.
A
TIMIDEZ DOS BONS E A OUSADIA DOS MAUS
(Waldenir
Aparecido Cuin)
- Por que, neste mundo,
os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons? "Pela fraqueza dos bons. Os maus são
intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando o quiserem,
assumirão a preponderância.” (Questão 932, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec.)
No contexto social em
que vivemos, ante os dissabores que a sociedade tem colhido, como decorrência
dos desajustes no âmago dos relacionamentos humanos, sugere o Espírito da
Verdade, a Allan Kardec, àqueles que já despertaram para os reais valores da
vida, que assumam a preponderância, isto é, que deixem a zona de conforto em
que vivem, neutralizando a timidez e aguçando a ousadia.
Ser ousado, aguerrido,
atrevido mesmo, não significa insuflar a violência, mas ter a coragem e o
arrojo de defender, com bravura e interesse, aquilo que é nobre, digno e ético.
Não se pode deixar o
mal prosperar nos espaços deixados pela timidez que domina os homens de bem. A
criatura humana, além de ser boa, ainda é indispensável que seja justa. Calar
quando se deve falar, esconder quando se deve apresentar, omitir quando se deve
participar, obviamente são práticas que em nada contribuem para a construção de
uma sociedade mais justa, fraterna e humana.
Os maus são ousados,
pois que não temem pela reputação, pela probidade, nem se preocupam com a
indignação ou opinião das pessoas, são maus e pronto. Fazem barulho, assustam,
destroem, e, no momento da perversidade, anestesiados pelo desequilíbrio, a consciência de nada os acusam, por isso são
atrevidos e atuam nos espaços onde os bons deveriam estar, ostentando a
bandeira da decência, da honestidade e da fraternidade.
Os bons precisam estar
presentes em todos os segmentos sociais; na escola do filho, na associação de
bairro, no grêmio estudantil, na associação filantrópica e assistencial, na
política, na organização trabalhista, na organização patronal, nas decisões que
interessam à comunidade em que vivem... enfim,
têm que participar, pois se não se apresentarem para a ocupação dos
espaços que são seus, sem dúvida, virão os maus e, sem cerimônia, ocuparão as
cadeiras vazias e farão o estrago que já é do conhecimento geral.
Então, não basta
criticar, reclamar, gritar por um mundo mais decente, ordeiro e próspero,
imperioso se torna a participação para que tais conquistas cheguem mais
depressa e sem tanto sofrimento.
Para tanto, não será
preciso ser expoente da cultura, da força, da intelectualidade, da fortuna, da
virtude, do desprendimento, da caridade, mas sim, será preciso, e muito, de boa
vontade e uma hercúlea dose de esforços. Isso, obviamente, está ao alcance de
todos... basta querer.
Sem nenhuma violência,
quando os maus perceberam que os espaços estão sendo preenchidos pela ousadia e
coragem dos bons, baterão em retirada, por falta de opção e oportunidade, daí
em diante será erguido, com segurança, o edifício da paz e da serenidade que
tanto desejamos.
Observemos, então, qual
o espaço que nos pertence, na ordem do progresso, e ocupemos a nossa cadeira...
para servir, obviamente.
AMOR
E SABEDORIA
(Altamirando
Carneiro)
Na época de Moisés,
quando vigorava o olho por olho, dente por dente, o grande missionário recebeu
do Mundo Espiritual os Dez Mandamentos, que pediam ao homem da época o amor a
Deus sobre todas as coisas. Moisés também criou as leis civis e disciplinares,
para conduzir o seu povo.
Séculos depois, Jesus
nos traz os seus ensinamentos e, complementando as leis recebidas por Moisés,
pede-nos que amemos a Deus e ao próximo. E as leis civis e disciplinares
criadas por Moisés baseadas no olho por olho e no dente por dente, Jesus
transformou em leis baseadas na caridade, na humildade e no amor ao próximo.
Os séculos se passaram.
E veio o Espiritismo. No capítulo VI (O Cristo Consolador) de O Evangelho
segundo o Espiritismo, a mensagem do Espírito de Verdade diz:
“Espíritas! Amai-vos,
este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo
encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se
enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam:
‘Irmãos, nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da
impiedade’”.
O amor e a sabedoria
são as duas asas do Espírito. O ideal seria que marchassem juntas. Porém, a
evolução do homem se faz de maneira muito lenta. Por isso, o progresso
científico e intelectual do homem está sempre à frente, e o progresso moral bem
atrás.
Castro Alves, através
da psicografia de Jorge Rizzini, diz, no poema A Criação Divina:
(...)
“Povo escravo não tem
pausa,
No trabalho à luz do
archote;
E monumentos, impérios,
São erguidos com o
chicote!
Cresce a cultura
Imortal,
Mas pouco avança a
Moral,
- E da lei, o pedestal,
É a força, a cruz, o
garrote!”.
(...)
A Doutrina Espírita
tudo explica à luz da razão. Seus ensinamentos recebidos dos Espíritos
Superiores e codificados por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, O Livro dos
Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese, são
verdades eternas e, para serem bem compreendidas, é necessário que não apenas
as estudemos, mas as compreendamos.
Para tanto, é preciso
não somente ler, mas apreender realmente o conteúdo da leitura. Isso demanda
tempo, paciência, horas de dedicação. O verdadeiro espírita tem a obrigação de
ter um mínimo de conhecimento da Doutrina Espírita. É o que se espera do adepto
de qualquer religião.
A literatura espírita é
uma das mais vastas, mais completas, com informações seguras e abalizadas. Por
isso o sucesso do livro espírita, que não só mata a sede de conhecimentos e de
saber, como também suprime a penúria moral.
Na obra Na Escola do
Mestre – Edições FEESP, Vinícius diz que “Educar é tirar do interior” e que “a
diferença entre o sábio e o ignorante, o justo e o ímpio, o bom e o mau procede
de uns serem educados, outros não. O sábio se tornou tal, exercitando com
perseverança os seus poderes intelectuais. O Justo alcançou santidade,
cultivando com desvelo e carinho sua capacidade de sentir. Foi de si próprios
que eles desentranharam e desdobraram, pondo em evidência aquelas propriedades,
de acordo com a sentença que o Divino Artífice insculpiu em suas obras: Crescei
e multiplicai”.
Por outro lado, o
espírita, verdadeiro privilegiado pela obtenção de tantos conhecimentos, não
deve guardá-los somente para si, mas levá-lo até o semelhante. E deve colocar
em prática esses ensinamentos, cujo teor moral nos conduz ao exercício da
caridade e do amor ao próximo. “A fé sem obras é igual às obras sem fé”; ou: “a
fé sem obras é morta”; ou, como advertiu Paulo, “se falarmos as línguas dos
homens e dos anjos, se tivermos o dom da profecia, se tivermos toda a fé e não
tivermos caridade, seremos como o metal que soa e o sino que tine”.
A caridade é a ponte
que une a criatura ao Criador. Como diz André Luiz, no capítulo 19 do livro
Ação e Reação (FEB), através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, “a
evolução para Deus pode ser comparada a uma viagem divina. O bem constitui
sinal de passagem livre aos cimos da Vida superior, enquanto o mal significa
sentença de interdição, constrangendo-nos a paradas mais ou menos difíceis de
reajuste”.
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PODEMOS
FAZER PROSÉLITOS? O QUE KARDEC FALA A RESPEITO
(Arnaldo Ramos
de Oliveira)
Quantas e quantas vezes
ouvimos ou falamos isto: - A Doutrina Espírita não faz prosélitos?
Essa ideia passou a
povoar as mentes de inúmeros confrades a ponto de até sermos rechaçados quando
alguém supõe que o estamos fazendo, quando falamos da Doutrina Espírita; de sua
beleza, do conforto que traz ao coração, da compreensão da justiça das
aflições, da comunicabilidade para com nossos entes que já partiram para a
grande viagem, enfim, quando ao falarmos da boa doutrina e querendo passar uma
ideia bem definida e com corpo doutrinário de consolo.
Observamos que muitos
por esse mundo afora se encontram em planos maiores de entendimento e se põem a
criticar quem de boa mente leva a mensagem espírita com o intuito de
divulgá-la, e com a certeza de que pode auxiliar tantos corações desajustados
em função das múltiplas e dolorosas aflições que ocupam mente e corpo da
humanidade. Vivemos momentos angustiosos. Grassa pelos quatro cantos do planeta
Terra a insegurança, a intemperança diante de tantas desgraças e ainda assim
enfiam-nos goela abaixo o puritanismo que nada auxilia, coibindo os que de
boa-fé querem oferecer um caminho para oferecer a corações amigos, ou não, e
por fim exortam-nos os companheiros a não fazer proselitismos. Talvez Allan
Kardec também devesse ouvir e ler essas exortações do “não fazer
proselitismo", pois no Evangelho, cap. 24, item 10, ele nos recomenda o
seguinte:
Essas palavras podem
também aplicar-se aos adeptos e aos disseminadores do Espiritismo. Os
incrédulos sistemáticos, os zombadores obstinados, os adversários interessados
são para eles o que eram os gentios para os apóstolos. Que, pois, a exemplo
destes, procurem, primeiramente, fazer prosélitos entre os de boa vontade,
entre os que desejam luz, nos quais um gérmen fecundo se encontra e cujo número
é grande, sem perderem tempo com os que não querem ver, nem ouvir e tanto mais
resistem, por orgulho, quanto maior for a importância que se pareça ligar à sua
conversão. Mais vale abrir os olhos a cem cegos que desejam ver claro, do que a
um só que se compraza na treva, porque, assim procedendo, em maior proporção se
aumentará o número dos sustentadores da causa. Deixar tranquilos os outros não
é dar mostra de indiferença, mas de boa política. Chegar-lhes-á a vez, quando
estiverem dominados pela opinião geral e ouvirem a mesma coisa incessantemente
repetida ao seu derredor. Aí, julgarão que aceitam voluntariamente, por impulso
próprio, a ideia, e não por pressão de outrem. Depois, há ideias que são como
as sementes: não podem germinar fora da estação apropriada, nem em terreno que
não tenha sido de antemão preparado, pelo que melhor é se espere o tempo
propício e se cultivem primeiro as que germinem, para não acontecer que abortem
as outras, em virtude de um cultivo demasiado intenso. (O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. XXIV, item 10.)
Recorrendo a Kardec,
fica bastante esclarecido que devemos dar de nosso tempo, sim, àqueles que,
desencantados com a vida, em desequilíbrio buscam desesperadamente uma tábua de
salvação. Caso não a ofereçamos, em nos dominando a absurda ideia de não fazer
proselitismo, caímos no absurdo da avareza – aquele que tem mas não doa – com
medo das críticas e dos críticos de plantão que em nome do purismo se arvoram
em conselheiros que além de cometer erros, ajuízam que Kardec recomendou o não
fazer proselitismo.
Assim nos damos conta
que os chavões criados por descuidadosos “espíritas” nada mais é que o medo de
“pagar mico” por ainda se deixar levar pelo dito popular – religião, futebol e
política não se discutem. Realmente não se discute porque não vale a pena
qualquer discussão sem fundamento, porém, levar a mensagem do Espiritismo é
obrigação do Espírita bem-intencionado.
Finalizando pergunto: -
Será que ainda temos medo de ir para o inferno? Ou ainda nos move a dificuldade
de sermos “afrontados” com termos que não faz parte de nossa boa doutrina? Ou
será que devemos deixar os outros seguirem seu destino dentro do determinismo
que herdaram de suas (nossas) condutas no descaminho do progresso?
Uma coisa é querer
enfiar na cabeça dos outros aquilo que os mesmos não estão preparados, outra
coisa é fazer prosélitos entre os de boa vontade, afinal – A maior caridade que
podemos fazer pela Doutrina é divulgá-la, não é mesmo?
Portanto, deixemos os
orgulhosos incrédulos com suas ideias de duvidável justiça divina que
preconizam, e em contraponto, que façamos proselitismo com os prosélitos de boa
vontade.
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SETE
BELAS LÓGICAS
(Arnaldo Divo
Rodrigues de Camargo)
É vivendo que se
aprende, e demora tempo e experiência para aprendermos que felicidade e alegria
não estão nas coisas, e sim em nós, em nosso íntimo.
Para alguns a vida
parece difícil, não conseguem compreender como é a felicidade e a alegria de
viver.
Outros parecem
perseguir a felicidade por uma vida inteira, mas não se sentem felizes, parece
que não a encontram; por outro lado, uns poucos que parecem nem se preocupar
com a felicidade vivem com ela o tempo todo.
A verdadeira felicidade
consiste em fazer a felicidade do próximo. Porque somente amando se pode ser
amado.
Jesus já ensinava que
devemos praticar o amor, da mesma maneira que ele nos amou, doando sua vida
como guia e modelo para todos nós.
Você pode e deve ser
feliz. Como você é e com aquilo que tem e recebeu por empréstimo de Deus.
O pensador Pascal, que
depois de sua morte voltou a escrever através da mediunidade, ditou uma
mensagem no ano de 1860, que se encontra no livro O Evangelho segundo o
Espiritismo:
“O homem não possui de
seu senão aquilo que pode levar deste mundo. O que encontra aqui chegando, e o
que deixa partindo, usufrui durante sua estada. Mas, como é forçado a
abandoná-lo, resta-lhe apenas o gozo, e não a posse real. Então, o que ele
possui? Nada do que é de uso do corpo, tudo o que é de uso da alma: a
inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais”.
E, dentre as qualidades
morais, como humildade, caridade, sabedoria, generosidade, se destaca o amor.
Dos sentimentos, o amor é dos mais elevados, que nos aproxima sempre do
Criador.
E para nossa reflexão
anotei estas sete belas lógicas(1) que falam da serenidade, do desligamento
emocional, da confiança em Deus, da alegria de cada dia e da felicidade:
1. Faça as pazes com o
seu passado, assim você não estragará o seu presente. O passado é
irrecuperável, mas reparável no presente.
2. O que os outros
pensam de si não lhe diz respeito. Você é senhor de seu destino e fruto de suas
escolhas.
3. O tempo cura quase
tudo. Dê tempo ao tempo. Confie em Deus, mas perdoe. Ele é o remédio perfeito.
4. Ninguém é motivo
para sua felicidade senão você mesmo. Coloque a felicidade ao alcance do seu
coração, viva com simplicidade e cultive o amor como se cultiva a flor.
5. Não queira comparar
sua vida com a dos outros. Você não tem ideia de como foram os caminhos deles.
Cada um escreve sua história.
6. Não se aflija com os
problemas. Você não precisa saber todas as respostas. Você vai encontrar a
solução no próprio problema, com calma.
7. Sorria, pois você
não tem todos os problemas do mundo. Mas tem a filiação divina e Ele sempre tem
respostas e o recurso para você ser melhor.
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MORTE
É VIDA
(Altamirando
Carneiro)
Conhecia a Humanidade
naquele momento um dos mais extraordinários fenômenos jamais vistos.
Anunciava-se a ressurreição de Cristo e com ela a confirmação da inexistência
da morte. Limitado pela ineficiência dos órgãos físicos da visão, habituou-se o
Espírito encarnado a sofrer imensamente perante seus entes queridos que partem,
achando que, por não poder vê-los, se ausentavam permanentemente de seu
convívio.
“Por que procurais
entre os mortos aquele que vive?” (Lucas, 24:5). Por que procuramos os nossos que nos
antecederam na grande viagem para o Além, entre os mortos? Jesus, que disse ser
o Caminho, a Verdade e a Vida, não nos mostrou, de forma cabal e irrefutável,
que a morte não passa de ilusão? Não nos mostrou que a vida continua e que
outro mundo se descerra para além dos nossos sentidos?
Imaginemos uma criança
que desde os primeiros momentos de sua vida no corpo físico tivesse o dom da
vidência, não havendo para ela a separação entre o mundo de cá e o de lá e
mesmo quando alguém morresse ainda assim continuasse a ver o Espírito do que
havia partido. Como poderia ela aceitar a existência da morte?
Fora do corpo, o
Espírito vibra num diapasão que os nossos olhos físicos não têm capacidade de
captar e o que não se vê, muitas vezes é entendido como se não existisse. Há
mais vida fora do corpo do que podemos imaginar. As limitações impostas pelo
corpo deixam de existir e o Espírito, até mesmo o medianamente evoluído,
adquire uma liberdade de movimentos que lhe permitem volitar, ou seja, voar, à
velocidade do pensamento. Pode estar ao lado dos que ama num átimo de segundo.
Muitas vezes o Espírito
desencarnado está ao nosso lado, quando lamentamos a sua ausência. Extasia-se
com a beleza do mundo em que vive e compreende que o planeta Terra é apenas
cópia do que de extraordinariamente belo existe em seu novo habitat. Ouve
melodias inebriantes espalhadas pelo ar. As cores adquirem vida e as flores
irradiam sons e perfumes, frente a tudo o que de belo vê, sente a necessidade
de se curvar perante o Artífice do Belo e da Natureza.
Ao querer compartilhar
da felicidade que sente no novo mundo, volta a sua atenção para os que ficaram
e pede autorização, vem para junto deles, para lhes dizer que não lhe lamentem
a morte, porque morto não está. Sabe da eternidade da vida, quer orientá-los
para que trabalhem em favor próprio, a fim de conquistarem as condições
necessárias para usufruírem de todas as belezas que ele, Espírito desencarnado,
encontrou. Usando da intuição, insufla-lhes a ideia de que o caminho é a
vivência do Evangelho trazido por Jesus. Que só crescemos quando nos doamos e
que, repartindo-nos com os outros, diminuímos os nossos defeitos, que entravam
a nossa marcha.
A morte nada mais é que
a porta para um mundo que se torna tão mais maravilhoso quanto maiores forem os
nossos méritos perante a justiça divina, méritos esses que adquirimos nas lutas
diárias e na vivência do amor. A fuga a essas lutas ou mesmo a antecipação do
nosso retorno, o que nos transformará em suicidas, nos fazem contrair dívidas
maiores e consequentemente retardam a captação de tudo de belo que nos está
reservado.
Devemos lutar sempre a
boa luta, que é a de aproveitarmos o momento a que chamamos agora, para
semearmos o bem à nossa volta. A morte não existe e é belo o que nos está
reservado, se bem soubermos viver.
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A
OBSESSÃO NO CENTRO ESPÍRITA
(Wagner Ideali)
Quando se fala em
Obsessão, sempre nos lembramos dos assistidos numa casa espírita. Numa primeira
análise, pode parecer que os trabalhadores da casa estejam livres dessa
problemática espiritual.
O problema da obsessão
é muito mais profundo, porque vem de encontro à psique humana, aos nossos
sentimentos, comportamentos, e tudo isso nos afeta muito além do corpo físico,
atingindo nosso perispírito e, portanto, chegando ao nosso Espírito.
Dona Mercedes procurou
uma casa espírita para encontrar uma solução para seus desequilíbrios,
conflitos internos, através do conselho de uma amiga. Provavelmente Dona
Mercedes estivesse com um problema de obsessão, o que iria provocar algumas
mudanças em sua vida.
Ela foi em busca dessa
salvação e, através dos tratamentos espirituais, junto com o tratamento médico,
procurou assistir às palestras, realizar cursos e tudo o que uma casa espírita
bem dirigida tem a oferecer. Por fim, Dona Mercedes conseguiu a pretendida
cura.
Estava muito feliz,
pois encontrara o caminho que tanto procurara: uma doutrina de paz, amor, muito
trabalho, com um ensino lógico e profundo sobre os problemas que se lhe
apresentaram. Ela, agora, trabalhando na seara espírita há alguns anos, se
sentia muito bem e, por que não dizer, realizada nesse quesito de sua vida.
Um bom período se
passou...
Tudo estava perfeito
até o momento em que começaram a chegar os testes que a espiritualidade procura
realizar nas nossas vidas para avaliar se estamos realmente vivendo os
ensinamentos recebidos.
Num determinado
trabalho do qual participava, o Sr. Osvaldo, dirigente do trabalho, chamou-lhe
a atenção para que corrigisse um comportamento inadequado durante uma atividade
executada e sugeriu a ela que fizesse um tratamento espiritual para se
equilibrar, pois realmente estava precisando deste tratamento. Dona Mercedes se
sentiu “ofendida” com a colocação do companheiro de trabalho: “onde já se viu
isso, eu, uma trabalhadora da doutrina, precisar de tratamento? Isso é coisa
para assistido e não para mim”. A falta de polidez do companheiro de trabalho,
aliada à suscetibilidade ferida de trabalhadora da casa, acabaram por levá-la a
um sentimento de revolta.
Começou nesse momento
um desiquilíbrio que, se não interrompido pela humildade em reconhecer a
necessidade de ocasionais tratamentos e entender ela o seu colega trabalhador,
perdoando-o pela forma não muito elegante com que lhe foi colocada a situação,
esse desequilíbrio, passo a passo, poderia causar uma perturbação espiritual que,
se não tratada, evoluiria para uma obsessão. Não foi o caso de Dona Mercedes,
mas, em alguns casos, chega-se à Fascinação, e o trabalhador pode perder o
total controle sobre si mesmo, vivendo uma realidade à parte.
No momento, o
trabalhador não é capaz de perceber o envolvimento perturbatório dos irmãos
inferiores e isso pode transformar-se numa perturbação muito grave. A
Fascinação, como nos ensina Kardec, é um estágio muito perigoso para o
trabalhador da Doutrina espírita.
O trabalho espiritual
fica comprometido, os resultados esperados ficam aquém do que se espera, tanto
no mundo físico como no espiritual.
O resultado foi a Dona
Mercedes se afastar do trabalho, e, sem perceber, acabou voltando ao ponto de
partida, quando se iniciou na casa espírita.
Jesus nos ensina que
devemos Orar e Vigiar, e esse ensinamento se aplica a todos nós, trabalhadores
e assistidos numa casa espírita. Caridade no falar e caridade no ouvir.
Depois dos
desequilíbrios e de alguns sofrimentos, Dona Mercedes foi realizar novamente o
tratamento, seguindo toda a caminhada inicial para, então, poder voltar ao
trabalho, reconhecendo a necessidade de vencer o orgulho, a vaidade e
desenvolver sempre a humildade e a paciência, com muito amor.
Seu Osvaldo também
aprendeu a lição da caridade no falar.
Assim, na casa
espírita, dia após dia vamos aprendendo as lições de Jesus no fundo do nosso
ser, no encontro do trabalho que se nos apresenta como mola propulsora para o
desenvolvimento espiritual e, por fim, para a nossa tão almejada evolução.
Estudar sempre é uma
lei, mas viver esse estudo, dia após dia, nos ensina o Grande Mestre de Lion,
Allan Kardec.
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OS
PROBLEMAS RESULTAM DOS DEMÔNIOS
(Marcus Vinicius
de Azevedo Braga)
Vá lá, ilustre leitor,
desculpe, mas esse foi um título somente para chamar a sua atenção,
utilizando-me de um apelativo duplo sentido... Um artifício, dada a aridez do
tema. Não, não se trata de um texto evangélico e nem da culpabilização de
entidades extracorpóreas voltadas ao mal de nossas mazelas terrenas.
Contrariando o senso comum atual, os demônios a que se refere o presente texto
são outros...
Falamos aqui dos
demônios interiores, que nos consomem dias a fio. Alimentados das nossas
tristezas, frustrações, medos e arrependimentos, são filhos dos fantasmas do
passado desta e de outra vida, e que arrastamos em nossas mentes, como uma
tormenta que nos conduz aos consultórios médicos, às clínicas terapêuticas e às
casas espíritas, na busca de uma solução ou, quiçá, de um alívio a esse fardo.
Cada um tem os seus, em
maior ou menor lotação e, por vezes, nos vemos dominados por eles, em uma
possessão de dentro para fora e que termina por atrair outras consciências que,
utilizando dessas nossas sombras, nos fazem sofrer. Um sofrimento oriundo do
medo da própria dor, do remorso de decisões e da decepção com a nossa fraqueza
diante dos desafios que se colocam em nosso caminho de crescimento espiritual.
Vai o remédio, o
tratamento espiritual, a conversa, a reflexão e assim vamos conseguindo domar
nossos demônios interiores, à espera de mais uma crise, uma emersão que os
traga à superfície, a nos infernizar. Muitos buscam soluções químicas, ou a
violência da revolta, outros ainda perseguem santos e gurus, mas eles ainda sim
continuam lá, impressos em nossa alma, nos lembrando de sua existência.
Vencê-los? Ignorá-los?
Superá-los? Acho melhor entendê-los... dialogar com eles, buscar compreender a
sua dimensão, as suas raízes e, contando com a ajuda de amigos, profissionais e
dos Espíritos amigos, buscar a sua transcendência. Trazê-los para o seu papel
de melhoria, de aguilhão que nos impulsiona na insondável estrada da evolução.
O remorso de algo
negativo reclama a reparação... A tristeza demanda o recomeço construtivo... A
frustração nos leva a refletir sobre como o orgulho nos faz subestimar a nós
mesmos... O medo quando bebe da fé sincera e coerente encontra rachaduras em
seus alicerces... De cada fantasma, de cada sombra, temos na encarnação a
oportunidade de trabalhá-los, fazendo luz, sem mágicas ou milagres, mas de
maneira produtiva, que não os permita vencer, mas que não os extermine, pois
são parte de nós e têm seu papel nessa narrativa.
Necessitamos crescer
com os nossos demônios interiores, sem que nos consumam. Precisamos entendê-los
como uma carta do passado que precisa ser reescrita. Construídos de fatores de nossa história,
esses algozes interiores alimentam e são alimentados por nossa e por outras
mentes, chamados erroneamente de demônios, e que são um reflexo dos interiores
conhecidos de outros cenários, e que precisam de nossa ação firme e produtiva
para também se libertarem, na magia reencarnatória da reconstrução de laços.
Paliativos são
válidos... Mas a luta interior, o bom combate no amadurecimento psicológico,
este não pode ser abandonado. Afinal, nossos problemas residem nos demônios
anteriores, que nada mais, nada menos são do que o homem velho que está lá,
oculto, ruminando suas questões e buscando chegar à superfície. E para essas
lutas, além das citadas ajudas da clínica, do hospital e do passe, temos outras
ferramentas imprescindíveis, como a palavra amiga e o bem desinteressado, todos
eles elementos fundamentais nesse processo de reconstrução, a remexer o
decantado lodo de nosso ser.
Nosso interior, visto
como porão ou como universo, é parte de nós, um local que não vive apenas de
lógica positivista, mas também de sentimento, e que interage constantemente com
o mundo exterior, pelos sentidos conhecidos ou não, e se reconceitua a cada
dia. Quando acabar a romagem terrestre e nos despirmos dessas vestes carnais,
será esse interior que sobrará, e nos veremos mais amiúde, de forma inevitável,
com os demônios com os quais ignoramos dialogar, nos balanços periódicos entre
uma encarnação e outra.
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UM
OLHAR ESPÍRITA SOBRE A ADOÇÃO
(José Antônio V.
de Paula)
Estou escrevendo este
artigo na data em que se celebra o Dia da Adoção. Para nos fundamentarmos para
a reflexão sobre o assunto, recordemos o início do diálogo entre Jesus e
Nicodemos, registrado no capítulo 3, versículos de 1 a 17, do evangelho de
João.
Narra o evangelista que
havia um fariseu chamado Nicodemos (nome que significa: homem do povo), que era
uma autoridade entre os judeus e que foi ter com Jesus certa noite, quando
afirmou: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode
realizar os sinais miraculosos que estás fazendo se Deus não estiver com ele”,
e antes que fizesse qualquer pergunta Jesus lhe disse: “Em verdade vos digo que
ninguém poderá ver o Reino dos Céus se não nascer de novo”.
Nicodemos estranha
aquela informação e, porque tinha compreendido que o mestre lhe falara de
voltar à carne, questiona: “Como alguém velho como eu poderia entrar de novo no
ventre de sua mãe?”.
O Messias então lhe
responde: “O que nasce da carne é carne, o que nasce do espírito é espírito”. E
continuam o diálogo...
Hoje é celebrado o Dia
da Adoção. Mostrando perfeita sintonia com esse ensinamento do Mestre, os
Espíritos superiores responsáveis pela codificação do Espiritismo afirmam a Allan
Kardec que não é o Espírito que dá a vida ao corpo físico, mas que apenas o
anima, o habita. Quem dá a vida ao corpo é o “fluido vital”.
Assim que um novo corpo
é concebido, à medida que suas células vão se multiplicando, essa nova vida vai
absorvendo das Energias Cósmicas uma energia específica que manterá a vida
desse organismo que se forma, dando, com isso, a condição de um Espírito vir
nele habitar, ligação essa, entre espírito e corpo, que já se inicia desde o
momento da concepção, conforme nos ensinam os Espíritos superiores. Daí porque
o espírita ser completamente contra o aborto.
Da mesma forma, não é
porque o Espírito se retira que o corpo morre. Ao contrário, é porque o corpo
morre que o Espírito tem de deixá-lo. Confirmando com clareza as palavras de
Jesus de que o que é carne é carne, o que é espírito é espírito.
Segundo os Espíritos
superiores, o Espírito é criação divina e se dá em outro lugar e não no
instante da criação do corpo. O casal que se une apenas gera o organismo físico
que servirá ao Espírito que nele vier habitar.
Segundo ainda os
orientadores da codificação, quem designa qual Espírito virá habitar o corpo
que se forma são entidades espirituais sábias, que trabalham junto aos orbes
habitados, colaborando com a obra divina, através de leis específicas. Assim, o
Espírito que virá viver na Terra junto a uma família normalmente é alguém que
já tem laços anteriores com a mesma, laços esses que podem ser de simpatia ou
mesmo de animosidade, vindo com a tarefa da reconciliação. Dizem ainda os
benfeitores que é possível que o Espírito que reencarna possa não ter ligações
anteriores, mas que venha por necessidades particulares, de maneira que esse
primeiro encontro possa ser útil a ambos. Pode ser um Espírito que venha com
uma tarefa da qual tenha que desincumbir-se na região onde vive a família que o
acolherá.
Voltando ao tema
Adoção, a conclusão que podemos tirar com tranquilidade e convicção é de que,
independente de qual seja o ventre por onde deva vir a criança, o Espírito que
ali reencarna deverá juntar-se à nova família que a adotará, ambos atraídos por
leis divinas que tudo provê.
Então, quando
estivermos sendo intuídos a adotar uma ou mais crianças, lembremos sempre: O
que é carne é carne, o que é espírito é espírito.
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DE
MÃOS DADAS COM A RESSURREIÇÃO, A VERDADE BÍBLICA DA REENCARNAÇÃO
(José Reis
Chaves)
Ouve-se muito de quem
ainda não crê na reencarnação a frase: Eu não creio na reencarnação porque
minha religião não permite. Quem diz assim não pensa, deixando que a sua
religião e seu líder religioso pensem por ele, estando, pois, encabrestado
mentalmente!
Mas será que sua
religião e seu líder são infalíveis? Nem a religião mais importante do mundo e
seu papa estão conseguindo manter a crença de que eles são infalíveis!
Jesus é salvador do
mundo ou só dos adeptos da sua igreja?
Ele disse que não veio para julgar o mundo, mas para salvar o mundo
(João 12: 47). E Ele falou na porta
estreita, símbolo da salvação ou libertação, na qual não é fácil passar. Só
passa por ela quem merece transpô-la, embora muitos queiram atravessá-la (São
Mateus 7: 13). E eu digo que muitos, por enquanto, nem querem passar por ela,
mas vai chegar o primeiro momento de eles quererem também transpô-la e não vão
conseguir. Porém chegará também o seu momento de vitória no tempo sempiterno de
atravessá-la. Realmente, todos, por muitas vezes, vão poder tentar sucesso
nessa passagem, e, um dia, o conseguirão, pois a misericórdia divina é
infinita, não cessando jamais. Além disso, Deus não quer que nenhum de seus
filhos se perca (São Mateus 18: 14). E para que essa vontade de Deus se cumpra
só uma coisa é necessária, ou seja, o citado fator tempo sempiterno, para o que
o Espírito é também imortal e tem as suas inúmeras reencarnações.
Quem pensa que, com o
fim do corpo, seja o fim também da oportunidade da libertação, está agindo como
um materialista, para quem a nossa existência termina no túmulo. E está negando
também a misericórdia infinita de Deus, pois põe limite nela, e está igualmente
indo contra a vontade de Deus que, como dissemos, quer a salvação de todos, já
que Ele não faz acepção de pessoas, amando por igual todos os seus filhos,
inclusive até os maiores pecadores. E o Nazareno não veio para os sãos, mas
para os doentes.
A reencarnação não é contra
a ressurreição, pois ela própria é também a ressurreição. Se um aluno toma
bomba na escola, ele terá novas chances. E por que Deus, que é infinitamente
amoroso, onipotente e sábio, não daria novas chances aos seus filhos que “tomam
bomba” na escola do progresso do Espírito, que é neste nosso mundo? E se os
Espíritos vieram aqui, pela primeira vez, para começarem a sua evolução em
busca da perfeição semelhante à de Deus, com mais razão eles continuarão vindo
aqui, outras vezes, até que, um dia, eles possam libertar-se das mazelas da
ignorância e do sofrimento.
Cerca de 90% dos
católicos já creem na reencarnação. Ela só foi retirada do Cristianismo no ano
de 553. (Para saber mais, recomendo meu livro “A Reencarnação na Bíblia e na
Ciência”, 8ª Edição, Ed. EBM, SP.)
A reencarnação e a
ressurreição estão mesmo de mãos dadas. O Espírito até ressuscita, muitas
vezes, no mundo espiritual (Eclesiastes 12: 7) e também na carne, quando
reencarna, até que um dia ele ressuscite definitivamente num mundo ditoso!
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RELIGIÃO
É RELIGAR-SE A DEUS?
(Arnaldo Ramos
de Oliveira)
“Pois onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles.” (Mateus – Cap. 18
v. 20.) (Bíblia de Jerusalém página 1737 – 2011.) – (Optamos por essa tradução
porque não existe a condicional de pessoas, isso nos permite ter uma visão
espírita, sejam encarnados e/ou desencarnados.)
Se assim é, dir-se-á, o
Espiritismo é, pois, uma religião? Pois bem, sim! Sem dúvida, Senhores; no
sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, (...).
Por que, pois,
declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Pela razão de que não há senão
uma palavra para expressar duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a
palavra religião é inseparável da de culto; que ela desperta exclusivamente uma
ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem. Se o Espiritismo se dissesse
religião, o público não veria nele senão uma nova edição, uma variante,
querendo-se, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal
com um cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria
das ideias de misticismo, e dos abusos contra os quais a opinião frequentemente
é levantada.
Em sendo assim, como
não temos outra palavra para expressar, podemos, sem problemas maiores, dizer
sim, Espiritismo é Religião.
(...) O Espiritismo,
não tendo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra,
não se poderia, nem deveria se ornar de um título sobre o valor do qual,
inevitavelmente, seria desprezado; eis porque ele se diz simplesmente: doutrina
filosófica e moral.
(...) enquanto ficarmos
presos às formas da acepção das palavras, das atitudes que na maioria das vezes
são inconvenientes; presos ao exterior e, presos a mandatários que de uma ou
outra inexorável maneira se impõem e se põem a fazer da Doutrina um trampolim
para uso “abusivo” de sua tola vaidade. (Sessão Anual Comemorativa do dia dos
Mortos, Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868- Revista Espírita de
dez.1868.)
Vamos combinar? De
ordinário, muito vem acontecendo isso no movimento espírita – O paralelo de
hierarquias? Sem falar na tentativa de engessar espíritas com minúsculas
apostilas disso ou daquilo. Aí pergunto: – Esta prática não tem induzido o
principiante espírita a considerar-se como conhecedor da Doutrina Espírita?
Qualquer apostila por mais bem elaborada que seja é o resumo; o resumo de uma
doutrina completa pelos seus inegáveis princípios cristãos – Doutrina que deve
ser estudada e compreendida analiticamente (no dizer de Kardec: - de forma
metódica, longa e séria) e não sinteticamente, e que permite ao homem
enriquecer-se de ensinamentos –, pelo dinamismo próprio da codificação na
percepção de novos ensinamentos que jorram do alto de forma esplendorosa
despida de preconceitos; pois a mesma é a Doutrina dos Espíritos, no dizer de
Emmanuel, Religião dos Espíritos. Aliás, Religião dos Espíritos foi o primeiro
nome dado a essa obra. Saudades de meu tempo de mocidade: usávamos o método de
estudar O Livro dos Espíritos em consonância com outras obras, a saber: A
Gênese – 1ª Parte; O Livro dos Médiuns – 2ª Parte; O Evangelho segundo o
Espiritismo – 3ª Parte; O Céu e o Inferno – 4ª Parte, complementando com a
Revista Espírita.
Esclareço que esse
comentário está embasado no esvaziamento dos estudos após essa introdução do
principiante no paradigma – Amai-vos e Instruí-vos.
Contudo, voltemos ao
foco de nossas reflexões? Expositores há que divulgam que a palavra religião
quer dizer religar-se a Deus. Duvido que alguém tenha conseguido essa façanha,
desligar-se do Criador. E o tropismo Divino onde fica?
Com essa colocação
(estranha no meu entendimento) somos indevidamente remetidos, a retornar à
época de Lúcifer, o anjo decaído. Prestando atenção, esse artigo na Revista
Espírita, tem como frontispício a mensagem de Mateus: – “Pois onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles”.
Busquemos em Kardec o
entendimento:
(...) Jesus no-lo
indica pelas palavras (...) resultado produzido pela comunhão de pensamentos
que se estabelece entre pessoas reunidas com um mesmo objetivo.
Mas compreende-se bem
toda a importância desta palavra: Comunhão de pensamentos? Seguramente, até
este dia, poucas pessoas dela se fizeram uma ideia completa. O Espiritismo, que
tantas coisas nos explica pelas leis que nos revela, vem ainda nos explicar a
causa, os efeitos e o poder desta situação do Espírito. Comunhão de pensamento
quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de
aspiração. (...)
Existem explicações em
dicionários de etimologia de palavras a respeito de religião, contudo,
conclui-se que
O termo Religare é
utilizado como um ato de “voltar a unir” o humano com o que era considerado
divino.
Outrossim, analisemos:
voltar a unir o humano com o que era considerado divino; teria melhor forma de
fazer isso que “Fora da Caridade não há Salvação”?
Nesse mesmo artigo
Kardec aborda o pensamento e a comunhão de pensamentos no sentido de amar ao
semelhante conectando-se com a divindade.
“Religião, como se pode entender pelo que
clarificou o codificador, não é religar-se a Deus, mas é a maneira que Deus
proporciona ao homem religar-se ao homem”. Religião quer dizer laço. Uma
religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens
numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças. “Os meus discípulos
serão conhecidos por muito se amarem.” (Qual é a verdadeira religião? -
Amar-vos uns aos outros. – Espiritismo em Cadiz – RE Nov. 1868.)
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DEUS
É UM PAI ACOLHEDOR
(Arnaldo Divo
Rodrigues de Camargo)
A oração é nosso
contato com o Criador, e devemos manter esse diálogo diariamente, não até que
Deus nos escute, mas até que possamos ouvir Deus.
Nenhuma oração é
esquecida, todas as petições são ouvidas – a resposta de Deus demanda o tempo
do nosso merecimento.
Se estamos confiantes
em Deus, nunca estaremos sós – é da sua lei que gravitemos em torno de seu
amor.
Se é verdade que Deus
não escolhe pessoas, pois somos todos filhos de sua criação, tenhamos certeza
de que, na prática da caridade e da fraternidade, Ele nos prepara e capacita
para o bem.
A fé humana mostra onde
podemos chegar – a fé divina nos leva mais próximos de Deus. Não se importe se
outros não acreditam; tenha certeza de que Deus acredita em todos nós – Deus
entra onde encontra as portas do coração abertas.
Deus sempre dá uma
segunda, uma terceira e múltiplas chances para seus filhos – Ele estabeleceu a
lei da pluralidade de encarnações corporais, e uma vida espiritual imortal.
A vida e o
livre-arbítrio são uma dádiva do Criador – e a forma como vivemos nossa vida e
realizamos nossas ações é que pode nos trazer essa dádiva, essa graça e
vitória.
Viva com as pessoas
como se Deus estivesse não apenas a ver e ouvir você, mas também a partilhar
com você e a estimular você, compreendendo que Ele é o legislador perfeito, e
que temos suas leis inscritas em nós, em nossa consciência.
Se você pensa em Deus e
na manutenção e conquista da sua saúde, desenvolva-se espiritualmente.
O prazer físico pode
ser o complemento do sentimento, mas isso não basta para o seu equilíbrio
emocional e espiritual – é necessário viver o amor em sua plenitude.
A alegria de se doar é
maior que a de receber.
O orgulho e a
autossuficiência atrapalham a nossa vida.
Somos todos irmãos,
precisamos do próximo e de Deus e não podemos exigir a perfeição de ninguém.
Aprendamos a aceitar as pessoas como elas são.
Assim, entendamos que
Deus, o Criador de todas as coisas, causa primária de tudo o que existe, não
está limitado à humanidade, ao planeta Terra ou à nossa Via Láctea. Ele abrange
todas as coisas, todos os seres vivos, inteligentes ou não, do Universo.
Vá com calma, se cuide
e use dos recursos da oração e do perdão para viver melhor aqui e com Deus.
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Ingratidão
dos filhos. Como superar?
(Wellington
Balbo)
Dia desses recebi
e-mail de uma mãe alegando sofrer demais com a ingratidão do filho. Estava ela
numa cadeira de rodas, com o pé quebrado, e o rapaz, forte e saudável,
recusou-se a ajudá-la. Naturalmente que, como mãe e ser humano que é, ficou
chateada a indagar:
Que fiz eu, meu Deus,
para merecer filho tão ingrato, que em nada ajuda a mãe, mesmo quando ela
necessita?
Santo Agostinho, em O
Evangelho segundo o Espiritismo, dá-nos sábias lições em mensagem intitulada -
A ingratidão dos filhos e os laços de família.
Diz-nos o Espírito de
Agostinho que Deus não faz provas superiores às nossas forças, e que podemos
vencer o complicado desafio da ingratidão dos filhos.
Indica deixarmos de
olhar apenas o presente e voltarmos os olhos ao passado para, com a ideia das
múltiplas existências, encontrarmos um consolo e forças para prosseguir.
Pois bem, não é tarefa
fácil deixar de esperar reconhecimento, ainda mais de alguém tão ligado a nós
pelos laços do coração e do sangue, como os filhos.
O próprio Agostinho
reconhece como são complicados os assuntos pertinentes ao coração. Muito mais
difícil enfrentar a ingratidão do que a mesa escassa.
Seria mesmo grande
ingenuidade considerar que não brotará um mínimo de decepção no indivíduo que
recebe a indiferença, quando não a aversão de alguém tão querido.
Entretanto, vale
lembrar que estamos no Planeta Terra, orbe de provas e expiações, e, portanto,
o impossível é Deus errar. Logo, ingratidão, venha de quem vier é sempre algo
possível e até comum de acontecer.
Aliás, eis a vida
mostrando isto em todos os instantes.
O grande ponto é
aprendermos a lidar com ela, a ingratidão, principalmente dos mais caros a nós.
Ou, melhor, iniciarmos
o processo de não esperar nada, absolutamente nada de quem quer que seja.
Como fazer isto?
É um trabalho íntimo
que requer muito esforço, porém, é possível realizá-lo.
Evoluir de tal modo que
nosso agir seja sempre no bem, independentemente do que outras pessoas irão
pensar ou falar, até porque isto não nos diz respeito.
Treinar o desapego do
reconhecimento, pois será isto que nos dará a independência do “Obrigado”.
E buscar modificar a
visão de caridade.
A caridade que
praticamos, o amor que doamos, as provas de renúncia e abnegação, o suor que
vertemos em benefício alheio, em realidade, ajuda muito mais a nós do que ao
outro, pois somos sempre os primeiros beneficiados pela caridade praticada.
É como consta em O
Evangelho segundo o Espiritismo, na mensagem de Lázaro denominada “O dever”. O
dever, em primeiro lugar, é para comigo, depois com o outro. Ora, se o dever é
para comigo, então, vou estender minha mão ao outro, pois será assim que
trabalharei pela minha própria evolução.
Quem acende em si a luz
da caridade ilumina quem está ao redor e jamais ficará imerso nas trevas.
Portanto, agradecer é
dever de quem recebe, mas nem todos cumprem o dever.
Entretanto, não esperar
gratidão, reconhecimento ou mesmo um mero obrigado é o antídoto para livrar-se
da decepção.
Tornar a prática do bem
um hábito, de tal modo que dia chegará em que agiremos no bem sem perceber, e
de forma tão espontânea que agradeceremos quando recebermos e não cobraremos
quando beneficiarmos...
Assim, livres de nos
sentirmos vítimas da ingratidão alheia, seguiremos nosso caminho sempre fazendo
o bem, não por recompensa, mas porque é um hábito que adquirimos com muito
treino e vontade de gozar um pouco de liberdade que só o bem nos concede.
Pensemos nisto.
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O
PRINCÍPIO DE SERVIR
(Anselmo
Ferreira Vasconcelos)
Não é difícil constatar
que a gigantesca maioria dos humanos atualmente encarnados enfrenta
consideráveis dificuldades para vivenciar o Evangelho de Jesus. Não me refiro
aqui aos ainda aparentemente impraticáveis imperativos de “amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”, tão bem endereçados pelo
Messias. As evidências coligidas na experiência do dia a dia nas sociedades
humanas demonstram clara dificuldade de se encarar os semelhantes sequer sob os
olhares abençoados da empatia, respeito e comiseração.
O princípio de servir,
tal como proposto pelo Mestre, denota profunda maturidade espiritual: “E,
qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo” (Mateus 20:27).
Note que o Mestre alude ao natural desafio de quem busca muito mais do que as
oscilantes e fugidias conquistas humanas. No dicionário Houaiss, a propósito,
encontra-se a explicação de que servo expressa a posição de quem “obedece ou
serve a alguém” ou aquele “que faz ou presta serviços”, particularmente a Deus
no caso sob apreço.
Portanto, entendido na
sua acepção mais ampla, a recomendação divina abarca o desejo consciente de
acolher, ajudar, amparar, assistir, auxiliar, curar, cooperar, ensinar,
elucidar e ouvir os nossos companheiros de jornada, entre outras tantas
iniciativas benfazejas. Mais ainda, o convite formulado por Jesus às criaturas
humanas permanece intacto, inspirando à mudança de atitudes e conduta na
direção do bem, especialmente diante das onipresentes tragédias, dores e
dificuldades observáveis na paisagem terrena.
No entanto, é
surpreendente observar que as instituições e pessoas igualmente tropeçam ou
mesmo desprezam a elevada recomendação de servir dignamente os seus
interlocutores – não raro, os responsáveis pelas suas sobrevivências ou razão
de existir. Por toda parte se observa um quase solene desprezo pelas
necessidades e problemas dos outros. De fato, são criadas dificuldades de toda
sorte que acabam quase sempre tornando a vida mais dura e as experiências mais
sofríveis.
Lidar com burocracia
desmedida, mau humor constante de atendentes/funcionários, má vontade e
insensibilidade crônicas, excessiva lentidão no atendimento/providências,
sistemas de trabalho inflexíveis (dificilmente alguém poderá fazer uma queixa,
por mais justa que seja, a um SAC, sem fornecer o seu número de CPF, RG,
telefone celular etc.) são coisas corriqueiras de quem precisa solucionar algum
problema. Quem nesse mundo já não passou por alguma situação em que o “espírito
de desserviço” não estava claramente presente?
No entanto, o exemplo
de Jesus continua a desafiar o escopo e a qualidade do papel por nós
desempenhado – seja ele qual for – nesse mundo: “Bem como o Filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de
muitos” (Mateus 20:28). É fascinante que o Mestre tenha assim se posicionado.
Logo ele que já havia alcançado a perfeição evolutiva não se furtou ao
sacrifício de retornar ao escafandro corpóreo pelo desejo sincero de servir
amorosamente à humanidade com todas as suas misérias éticas e morais.
Fez ele, aliás,
absoluta questão de vivenciar os seus ensinamentos para que guardássemos no imo
de nossas almas os seus exemplos dignificantes. No tópico sob análise, pode-se afirmar
que ele nos proporcionou uma das lições mais ricas a respeito do que a
espiritualidade espera de nós. Desse modo, podemos inferir que o imperativo de
servir à humanidade nos convoca à ação benéfica, produtiva, apaixonada, sincera
e desinteressada, praticamente todos os dias de nossas vidas. Afinal, quem está
impossibilitado de fornecer uma réstia que seja de boa vontade, atenção,
esforço, respeito e empatia nas relações humanas?
O apóstolo Paulo, nesse
sentido, foi extremamente feliz ao ressaltar: “Servindo de boa vontade, como
sendo ao Senhor, e não aos homens” (Efésios, 6: 7). Mas mesmo devotando as
nossas melhores possibilidades em favor do próximo não estamos imunes a colher
algumas decepções e frustrações, que não devem diminuir o nosso fervor. Cabe
também acrescentar que ao incorporar o princípio de servir, estamos colocando
de lado o nosso eu, as nossas necessidades particulares, os nossos problemas,
enfim, que normalmente tangenciam o egoísmo, e nos engajando, por extensão, em
algo muito maior. É certo também que, em assim procedendo, estamos efetivamente
trabalhando para um mundo melhor e cooperando, de fato, na seara divina.
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CERTEZAS
DO POETA E DA LEI
(Fernando
Rosenberg Patrocínio)
Quem, dentre nós, nunca
ouvira falar de Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825 – 1889), advogado,
escritor e brilhante jornalista, que fora também Deputado, Senador e Diplomata?
É considerado, com louvor, um dos patronos da Academia Brasileira de Letras.
Todavia, se ainda não ouviu falar do eminente letrista, certamente conhece algo
de uma sua tocante e célebre poesia do nosso cotidiano de lágrimas:
Quem passou pela vida
em branca nuvem,
E em plácido repouso
adormeceu;
Quem não sentiu o frio
da desgraça,
Quem passou pela vida e
não sofreu,
Foi espectro de homem,
não foi homem,
Só passou pela vida,
não viveu.
E o fato é que a Dor,
nas suas mais diversas nuanças, física ou simplesmente consciencial, ou moral,
ou espiritual, é companheira assídua dos nossos passos, sobretudo nos ambientes
endividados, de consciências sombrias de um Mundo Provacional, de grandes
expiações.
Há quem diga que alguns
elementos são invulneráveis à Dor; estudos “comprovaram” que sociopatas,
indivíduos egoístas, interesseiros e manipuladores, bem como homicidas frios e
calculistas, são insensíveis a ela, estando isentos das cobranças de sua
consciência que não lhes pede um ajuste de contas, um acerto social. E,
dir-se-ia: “felizardos, por imunes que são”. Entretanto, não acredito, de forma
cabal, completa e absoluta, em tais “comprovações” e, por isso, minhas aspas.
Óbvio que alguns
indivíduos de consciência rastejante, ou seja, de patamares evolutivos mui
baixos e mui grosseiros, quiçá, até se sintam mais confortáveis, psicologicamente,
diante do que resulte dos seus atos cruéis e violentos; mas chegar ao absurdo
de que tais elementos não sentem pesar, de que tais pessoas não sentem a dor
consciencial, de que tais indivíduos sejam imunes às cobranças de retificação
de seus erros, vai uma distância enorme, pois que todos, do mais alto ao mais
baixo nível de espiritualidade e de humanização, sentem algum grau perceptivo
da dor, da cobrança consciencial, pois que, do contrário, a Lei de Deus, feita
para todos, indistintamente, estaria, de certa forma, sendo derrogada por
alguns poucos e aplicada à maioria deste Mundo infernal, feito de lágrimas e de
dores, a que nos sujeitamos como filhos da Consciência Maior, que espera do
criado a consciência reta, isenta de falhas, rumo à perfeição.
Afirma-se, e não duvido
de tal, que a dívida pode até ser transferida no tempo, mas terá de ser quitada
sempre, pois que tal é o ditame da Soberana Lei. Entretanto, isto não quer
dizer que nossa consciência não faça suas cobranças, que não nos recorde os crimes,
que não nos mostre o abismo de nossa criação, pois na consciência se instala o
Tribunal do Supremo, que aguarda, com paciência, nosso arrependimento, mas
também nos exige o condigno resultado da expiação.
Creio, sim, que o
Tribunal de Deus encontra-se instalado em nossa consciência palingenésica,
perene e imortal, havendo, pois, diversificados níveis da mesma, não excluindo
e não exonerando, em tempo algum, quem quer que seja, pois que a Perfeita Lei
não distribui privilégios ou favorecimentos, não promove conluios ou negociatas
a benefício de uns e prejuízos de outros, pois que se firma na Ordem, na
Justiça e no Merecimento, não se dobrando às dívidas do filho infrator.
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SETENTA
(Marcus Vinicius
de Azevedo Braga)
Perguntado sobre
quantas vezes deveria perdoar cada ofensa, na busca da confirmação do adágio
que preconizava perdoar apenas sete vezes, Jesus responde que não sete, mas
setenta vezes sete. Nos nossos burocratismos, queremos então buscar uma regra
matemática do perdão...
A multiplicação é uma
operação fundamental que faz um número ser somado a ele muitas vezes, em uma
expansão geométrica, de maior amplitude. Multiplicar é aumentar em muito e
Jesus ao responder o setenta vezes sete quis dizer algo como por “quantas vezes
for necessário”.
E no caso específico do
perdão, podemos interpretar que ele respondeu o seguinte: façamos todo esforço
possível e imaginável para prevalecer o amor, ali materializado pelo perdão. Ou
seja, que sejam setenta vezes sete, ou seja, muitas e muitas vezes, não
querendo nessa análise que Jesus naquela época utilizasse conceitos abstratos e
concretos como o infinito.
A mensagem do setenta
vezes sete é bem maior do que o conceito do perdão. A mensagem é que pelo amor,
pelo bem de nosso próximo, pelo crescimento, devemos envidar todos os esforços
possíveis, sete, setenta ou quatrocentos e noventa vezes, insistindo na ideia
do bem, com fé no ser humano, como obra de Deus na busca da perfeição. Essa
lógica se aplica a vários setores da atividade espírita.
Alguns trabalhos
assistenciais lidam com a chamada população de rua, pessoas que habitam as vias
urbanas e padecem de carências não apenas materiais, mas de problemas de
socialização e, por vezes, desilusões com a vida. Nestes, a ideia do setenta
vezes sete se faz mais incisiva, na nossa insistência com aquele irmão que já
entregou os pontos. Diante das dificuldades, mais amor, e com paciência.
Paciência pois os avanços espirituais se fazem de forma tímida.
Da mesma forma,
trabalhos envolvendo pessoas com deficiência demandam do trabalhador espírita
esse sentimento de que temos que insistir na lição, fazer e refazer até onde
for necessário, na ideia do setenta vezes sete. Avanços lentos, dificuldades de
compreensão, um cenário que exige dos abnegados trabalhadores essa percepção de
que a luta é morosa.
E por fim, para aqueles
irmãos que labutam em comunidades carentes, com seus problemas naturais, a
lição do “setenta” é fundamental, para enxergar naquela complexa rede de
problemas os avanços e possibilidades. Alegria com pequenos progressos,
enxergar o facho de luz tênue na escuridão, são características que nos ensinam
a lógica do “setenta”, de insistir, com fé na melhora que virá, pequena, mas
relevante.
Obviamente que, como
tudo, essa lógica tem um lado negativo. A chamada síndrome de burnout (“queimar
por completo” na tradução literal), ou síndrome do esgotamento profissional, se
refere à dedicação exagerada a atividades laborais de um modo geral e se
caracteriza pelo perfeccionismo e pela necessidade de lograr êxito, típicas de
pessoas apaixonadas.
Se faltar o equilíbrio
e a paciência diante desses desafios, o esgotamento e a depressão rondam o
trabalhador, que precisa ajustar suas expectativas à realidade, o que pode ser
promovido pelas atividades de avaliação em grupo, reflexão ou uma mera conversa
entre amigos.
Apaixonados,
confiantes, com a cabeça nas nuvens, mas com o pé no chão. Investindo no bem
não setenta, mas setenta vezes sete, mas enxergando com os olhos de ver os
pequenos avanços, resistindo à tentação do orgulho de, no que tange a questões
sociais e humanas, tentar resolver tudo de uma vez só.
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SOBRE
UM CONTO DE TCHEKHOV
(Cláudio Bueno
da Silva)
Ao terminar de ler um
conto do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), considerado um dos expoentes da literatura
russa, admirei-me com a conclusão que deu à história, pois, coincidentemente, responde
com precisão à questão 932 de O Livro dos Espíritos, onde Allan Kardec pergunta
aos Espíritos por que em nosso mundo os maus exercem maior influência sobre os
bons.
O conto foi escrito em
1883. Passo a comentá-lo em seus lances principais.
O patrão chama a
governanta do seu casal de filhos para acertar as contas: ela será dispensada.
Estabelece-se então entre os dois um “diálogo” terrível, em que a sagacidade do
patrão se impõe com enorme crueldade.
Ele diz: – “Ficou
ajustado entre nós que seriam trinta rublos por mês”...
A governanta responde:
– “Quarenta”...
– “Não, trinta”... –
ele retruca. – “Eu tenho anotado”...
Embora a mulher tenha
informado que trabalhara dois meses e cinco dias, o patrão lhe informa que os
números são inexatos e que receberá pelos dois meses, apenas.
Calada, a governanta
acompanha os cálculos mesquinhos e injustos do senhor. Vê serem descontados
domingos e feriados em que apenas passeara com o menino. O garoto ficara
doente, por isso não estudou; a governanta tivera dor de dente, por isso não
lecionou. Os pretextos vão se acumulando juntamente com os descontos que o
patrão vai impondo à empregada. Menos isto, menos aquilo...
Ainda sem responder, a
mulher o vê lembrar-se de uma xícara cara (relíquia) que ela quebrara na noite de
Ano Bom: menos dois rublos; o menino rasgou o paletozinho quando subiu numa
árvore: menos dez rublos.
Ao final, sobraram onze
rublos, dos sessenta que ele determinara.
– “Queira receber”.
– “Merci” – murmurou a governanta, depois de enfiar o
dinheiro no bolso.
O conto de Tchekhov
termina de modo tão imprevisível que eu prefiro transcrever o curto desfecho
como ele o concebeu e que responde àquela indagação de Kardec que citei no
início deste texto:
– Mas, por que este
merci? – perguntei.
– Pelo dinheiro...
– Mas, eu a assaltei,
diabos, eu lhe roubei dinheiro! Por que merci?
– Noutras casas,
cheguei a não receber nada...
– Não recebeu nada!
Compreende-se! Eu caçoei da senhora, dei-lhe uma lição cruel... Vou lhe pagar
todos os seus oitenta rublos! Estão preparados para a senhora, neste envelope!
Mas, como é que se pode ser moleirona assim? Por que não protesta? Por que fica
quieta? Pensa que, neste mundo, pode-se não ser audacioso? Pensa que se pode
ser tão pamonha?
Ela esboçou um sorriso
azedo e eu li em seu rosto: “Pode-se, sim!”.
Pedi-lhe perdão por
aquela lição cruel e dei-lhe, para seu grande espanto, os oitenta rublos.
Pôs-se a balbuciar merci com timidez e saiu do escritório. Acompanhei-a com o
olhar e pensei:
– É fácil ser forte
neste mundo!
O codificador do
Espiritismo pergunta aos Espíritos: — “Por que, neste mundo, os maus exercem
geralmente maior influência sobre os bons?” A resposta que deram aplica-se
perfeitamente ao que se acabou de ler: – “Pela fraqueza dos bons. Os maus são
intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando quiserem,
assumirão a preponderância”.
Nessa história pode-se
tomar a ingênua e subserviente governanta como representando o “bem”. E o
patrão, embora sem maldade, fez-se de “mau” enquanto durou a farsa.
Sendo o homem agente do
seu destino, dele depende tomar iniciativas que abrandem os seus males ou os
evite. Como não pode esperar que o bem surja do nada, precisará trabalhar para
a transformação que deseja.
Espera-se que o homem
bom assuma o seu papel e aja conforme sua consciência amadurecida; que lute
contra o orgulho, o egoísmo e a ambição, abolindo as necessidades artificiais
que criou para si mesmo; que denuncie as injustiças, procurando ser mais justo;
que desmascare o preconceito para que todos se sintam iguais; que não idealize,
apenas, aquilo que julga certo, mas dê o exemplo prático do que lhe cabe fazer.
Só assim os homens maus irão recuando, até serem vencidos pelos bons.
Além disso, é preciso
contagiar pelo otimismo, pela esperança e fé no futuro!
Essa timidez a que
aludiram os Espíritos pode ser interpretada como a falta de ações efetivas no
bem. Os bons, “quando quiserem, assumirão a preponderância”, disseram eles.
Parece que se trata, então, de querer e assumir.
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HAVERÁ
JUSTIFICAÇÃO PARA A INGRATIDÃO?
(Diamantino
Lourenço R. de Bártolo)
As causas que,
eventualmente, possam estar na origem de atitudes e comportamentos
mal-agradecidos, acredita-se que sejam de natureza diversa e que, quaisquer que
sejam os motivos, não justificam os procedimentos caraterísticos da ingratidão:
insensibilidade para reconhecer valores, sentimentos e atitudes recebidas,
como, por exemplo: amabilidades, consideração, estima, amizade, solidariedade,
lealdade.
Falta de humildade, em
certo tipo de personalidade? Esquecimento, puro e simples, de reconhecer um bem
recebido? Ausência do hábito de agradecer àqueles que praticam o bem, em
benefício concreto de outros? Falta de delicadeza para agradecer um simples
favor? Vergonha de manifestar comportamentos suaves e atos de gratidão?
Possivelmente outros
motivos se poderiam invocar para os procedimentos e atitudes ingratos, ou pelo
menos de não gratidão, todavia, o fato é que ela, a ingratidão, existe, se
manifesta e, quantas vezes, magoa e ofende justamente quem ficaria feliz em
receber o reconhecimento, um humilde sorriso generoso e sincero, um simples
obrigado.
O mundo atual, na sua
dinâmica globalizante, provoca comportamentos individuais e coletivos que, cada
vez mais, se afastam dos simples e elementares valores da gentileza, da
humildade e da gratidão. Quantas vezes o favor é negociado pela troca por outro
favor, por outro benefício ou por um outro valor material concreto!
A troca de favores, de
influências, de cargos e posições sócio-estatutárias torna-se uma prática quase
corrente e, na constituição dos respectivos intervenientes, muito embora tais
costumes não sejam perniciosos quando há benefício para as partes envolvidas.
Formação e educação para valores desta natureza, boas práticas na e a partir da
família, ou de grupos de amigos e comunidades mais restritas, podem integrar-se
numa dinâmica de cooperação institucional, devendo-se implementar, por
processos legais e transparentes, os procedimentos que conduzam aos melhores
resultados.
Gratidão, gentileza,
humildade serão conhecimentos, práticas, princípios, valores, deveres ou
quaisquer outras designações que, na mentalidade de quem não os pratica,
possivelmente, não se enquadrem num saber-fazer que proporciona lucros,
dividendos materiais: em numerário, ou de natureza ainda mais substantiva. Como
se chega a esta insensibilidade é uma questão que se compreende com alguma
clareza, pelas razões já apontadas, entre outras, eventualmente, ainda mais
graves.
Ao acentuar-se esta
insensibilidade, face ao sentimento de gratidão, caminha-se para situações que
se podem tornar causadoras de maiores desigualdades. Quem não tem poderes,
vontade, gentileza e mesmo carinho para retribuir um favor com outro favor
recebido, possivelmente, não adquirirá qualquer apoio, benefício e compreensão
de quem o possa fornecer se souber que em troca apenas recebe, quando recebe,
um quase forçado e indiferente “muito obrigado”.
Agradecer o recebimento
de um benefício, uma ajuda, uma solidariedade, apenas com sentimentos de
constrangida gratidão, de uma atitude de aparente e respeitoso reconhecimento,
pode significar nunca mais se ter apoio daquela pessoa que foi objeto de
afetada gratidão, por palavras, por sentimentos e atitudes de admiração e
gestos gratos.
A gentileza, a
cordialidade, a boa educação traduzidas por palavras e gestos simbólicos,
embora significantes, mas tudo como que por autoimposição, parece que já não
satisfazem a muitos daqueles que esperam agradecimentos mais concretos e
objetivos, suscetíveis de uma determinada veracidade.
São múltiplas,
profundas e sofisticadas as causas da ingratidão que se alastra,
silenciosamente, na sociedade: múltiplas, porque envolvem vertentes que vão da
depreciação de valores essenciais, abstratos e simbólicos à insuficiência da
preparação, educação e formação de muitas pessoas; profundas, porque vêm
minando os princípios mais elementares que sustentam a solidariedade, a
amizade, a lealdade, a confiança e a compreensão.
Parece que se tenta
materializar tudo a partir de conceitos e comportamentos que, em muitos casos,
são fomentados nas organizações que, num passado recente, mereciam a maior
credibilidade e respeito: família, escola, empresas, associações e instituições
de diverso cariz.
Sofisticadas, porque,
sub-repticiamente, e com a hipocrisia de aparente humildade, se insinua uma
prática de troca de favores, influências e até mesmo a compra de tais
benefícios e apoios, isto é, diz-se um muito obrigado, mas… fica a insinuação
de que isso é muito pouco para agradecer o bem recebido por favor, às vezes com
amizade sincera de quem o fornece.
Ao longo da vida de
cada pessoa, e quando esta já viveu algumas décadas, ocorrem situações que
comprovam tanto os atos de generosidade, de solidariedade, de favores, como os
que se lhes seguem de reconhecimento, agradecimento ou ingratidão.
Toda pessoa tem destas
experiências, e quando se verificam mais casos de ingratidão, para com a mesma
pessoa, esta terá uma tendência natural para se tornar menos sensível a
praticar determinadas atitudes que conduzem a boas práticas e à
disponibilização para fazer o bem, ouvindo-se, frequentemente, lamentos e
críticas no sentido de que, afinal, não é estimulante praticar boas ações,
fazer favores, ajudar, porque muitas pessoas não reconhecem nem agradecem nada
depois de atingirem os seus objetivos e se instalarem no pedestal que
desejavam.
Apesar de situações e
comportamentos destes, ainda existe muita solidariedade, principalmente em
situações-limite, ou de extrema fragilidade, e quando intervêm órgãos de
comunicação social ou instituições de solidariedade social. Nestas
circunstâncias, surgem, de fato, os benfeitores que, sem esperarem qualquer ato
de gratidão, ajudam, generosamente, quem está a passar por grandes
dificuldades.
O humanismo que existe
em muitas pessoas pode ser a base de partida para a criação de grandes
movimentos e instituições de solidariedade que, simultaneamente, espalham o bem
e transmitem a ideia de gratidão para com aqueles que participam nestas
instituições, isto é, benfeitores que se solidarizam com uma situação, uma
causa, uma iniciativa humanitária e altruísta; se se sentirem alvo de gratidão
dessa instituição, os beneficiários que posteriormente vierem a ser contemplados,
pela mesma instituição, sentir-se-ão na obrigação de manifestarem gratidão e
reconhecimento públicos. Talvez se gere uma cadeia de solidariedades e
gratidões que, dentro de algum tempo, todos possam manifestar esse sentimento
tão nobre, quanto humilde.
As causas da ingratidão
podem, pois, (e devem) ser combatidas a partir da interiorização de princípios
e valores, sentimentos e emoções verdadeiras que suportem e justifiquem,
precisamente, comportamentos e atitudes gratas. Ensinar, no sentido de adquirir
conhecimentos e avaliá-los, esta virtude que é a gratidão não se afigura tarefa
fácil; transmitir, por atos, palavras e exemplos concretos, boas práticas de
gratidão e sensibilizar crianças, jovens e adultos para o cultivo de permanente
atitude de gratidão, afigura-se possível: na família e na escola; na igreja;
entre amigos; na pequena comunidade; também no contexto mais amplo da
sociedade.
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NÓS
PRECISAMOS DO CENTRO ESPÍRITA, NÃO O CONTRÁRIO
(Wellington
Balbo)
O título acima é um
tema que costumo abordar em palestras.
Ontem vi na porta de um
centro espírita a que compareci a seguinte frase: - O Centro Espírita precisa de sua ajuda!
Coloquei-me a pensar:
O centro espírita
precisa de nós, ou nós precisamos do centro espírita?
Será que o centro
espírita precisa, realmente, de nós?
Acredito que somos nós
quem necessita do centro espírita.
Logo, penso que a
frase: “O centro espírita precisa de sua ajuda” está incorreta.
Nós necessitamos e
muito do centro espírita, autêntica escola que ensina a viver e emprega-nos no
bem, dá-nos a possibilidade de sermos úteis, de encontrarmos algo nobre a
realizar nesta efêmera existência.
Calma, não quero
menosprezar o seu esforço... Ele – seu empenho – é válido e importante para que
as tarefas no centro espírita sejam bem executadas.
Mas... caso você, por
uma ou outra razão, queira deixar a labuta alegando dificuldades de
relacionamento ou outras, não pense que a instituição fechará as portas.
Contudo, não obstante
nossa importância, somos nós que precisamos do centro espírita para ter um
pouco de equilíbrio, para ocuparmos nosso tempo de forma digna, e para, enfim,
crescermos em direção ao Pai.
Estou sendo repetitivo,
entretanto, julgo pertinente bater nesta tecla.
Nós precisamos do centro
espírita e não o contrário...
Vejo as grandes
dificuldades para encontrar voluntários comprometidos com o ideal e a busca,
quase desesperada, de algumas Casas por pessoas que se interessem em trabalhar
de forma voluntária.
Fico a indagar:
Será que ainda não
percebemos que estamos neste mundo a trabalho?
Um outro ponto:
Será que as lideranças
espíritas estão enfatizando aos frequentadores do centro espírita a importância
de se tornarem voluntários?
Cabe, também, à
liderança espírita o papel de despertar os frequentadores para o trabalho na
casa espírita.
O centro espírita, ou
as igrejas e instituições que prestam trabalhos de engrandecimento da alma são
nossos empregadores. Pagam-nos altos salários; salários estes que nos
proporcionam conquistar a paciência, a ter resignação ativa, a trabalhar em
equipe, a colaborar na construção de um mundo íntimo melhor.
Naturalmente que não é
apenas nas atividades realizadas no centro espírita que crescemos, porquanto a
evolução pode ocorrer em todas as áreas de nossa atuação, mas, convenhamos que
no centro espírita, no estudo do Espiritismo e nas lides com os companheiros
exercitamos e muito nosso Espírito.
Por essas e outras,
volto a repetir:
Nós precisamos da Casa
Espírita!
Então, que tal algumas
instituições substituírem: “A Casa Espírita precisa de sua ajuda” por algo mais
adequado, do tipo:
“A Casa Espírita
oferta-lhe a oportunidade de crescer, de trabalhar em equipe e de tornar-se
alguém melhor”.
Que tal?
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FÉ E OBRA
(Leda Maria
Flaborea)
“Um homem tinha dois
filhos. Chegando ao primeiro disse: filho, vai trabalhar hoje na minha vinha.
Ele responde: Irei, Senhor; e não foi. O segundo disse: não quero. Mais tarde,
tocado pelo arrependimento, foi.”
Esta passagem, narrada
na Parábola dos Dois Filhos (Mt, 21: 28-32), mostra Jesus perguntando-nos,
através dos discípulos: “Qual dos dois fez a vontade do Pai?” Duas
personalidades revelando, sem dúvida, as suas qualidades em palavras e ações.
O interessante nessa
questão proposta por Jesus é a possibilidade de desdobramentos no que se refere
às atitudes que temos, sem que, necessariamente, apresentemo-nos tão somente
como personalidades da luz ou da sombra.
São muitas as nuanças
que surgem quando somos defrontados com situações que exigem uma tomada de
decisão. A própria parábola mostra essa possibilidade quando, de um lado, temos
o filho que aceita a tarefa e não comparece para sua execução, e, de outro, o
filho que nega, mas que muda de atitude após pensar melhor.
Com base nisso, podemos
observar três situações bastante comuns – os desdobramentos podem ser maiores
ainda –, no momento evolutivo no qual nos encontramos, e que nos permite
refletir um pouco sobre elas.
Temos, de um lado, o
trabalhador que crê, simplesmente, porque lhe disseram que era preciso crer em
um ser superior, sem a escolha pela razão; de outro, aquele que crê pelo
entendimento e não obra; e, por último, aquele que não crê, mas que,
raciocinando com lógica, num grande esforço intelectual, discernindo e
refletindo sobre o convite ao trabalho no bem, transforma o “não quero” em ação
produtiva.
Na primeira situação,
temos aqueles trabalhadores que espalham inquietação e desânimo, pois iniciam
um trabalho de caridade – qualquer que seja – e logo o abandonam porque o mundo
não presta – por que vou esforçar-me? –; ou porque não nasceram para executar
tarefas que não tenham destaque; ou porque não se acham dignos de posição de
evidência, e quando chamados a testemunharem essa humildade, logo se revoltam;
ou porque, aproximando-se qualquer fé religiosa à espera de benesses imediatas,
e não conseguindo, afastam-se alegando que tudo é mentira.
Essas criaturas
transitam entre lamentações e queixumes, de um altar para outro, de uma igreja
para outra, com tempo suficiente para se sentirem perseguidas e
desconsideradas. Nunca terminam a tarefa pela qual se responsabilizaram,
lembrando o aluno que estuda continuamente sem aprender a lição.
Na segunda, surgem
aquelas criaturas que creem e, ainda assim, vivem em paisagem improdutiva sem
nada realizarem de útil a si e ao próximo. É o trabalhador de fé inoperante.
Recorda Emmanuel que podem ser comparados a motores preciosos dos quais ninguém
se utiliza e que acabam por enferrujarem. Que são fontes que não se movimentam
para fertilizar, nem o campo íntimo, nem o que estiver ao seu redor, e,
estagnadas, sem utilidade, ficam repletas de lodo. São, enfim, luzes que não se
irradiam.
Na verdade, nessa
situação, somos sementes guardadas, que sem serem cultivadas não têm qualquer
serventia; ou aqueles seres que afirmam ter esperança nas obras que uma tora,
que possuem, possa apresentar – móveis, casas, obras de arte etc. – sem que se
disponham a usar as ferramentas necessárias para que isso ocorra. Certamente,
essa tora ali ficará, indefinidamente, até sua desintegração.
E por fim, na terceira
situação, temos os trabalhadores que tardam, que demoram a aceitar o convite ao
trabalho no bem, mas, afinal, mudam sua forma de pensar e acabam por se
tornarem, na maioria das vezes, grandes obreiros na Seara Divina.
“Qual dos dois fez a
vontade do Pai?” – pergunta Jesus. “O segundo, responderam os discípulos, e ele
completa o ensinamento, dizendo: Em verdade vos digo que os publicanos e as
meretrizes entrarão primeiro que vós no Reino de Deus.”
A fé é sempre o
caminho, mesmo que ela não seja ostensiva. A caridade – trabalho no bem – é o
fim. A fé na essência é a semente de mostarda do ensinamento evangélico que
crescerá na proporção do trabalho de elevação que realizarmos em nós. É a
semente transformada em obras, beneficiando a tantos...
Nas palavras de
Emmanuel¹, a fé sem obras constitui embriaguez perigosa que nos convida a
aguardarmos benesses sem esforço pessoal. É a atitude do assalariado que
aguarda o pagamento sem ter trabalhado.
É importante não
esquecermos que quando nos dedicamos à ação, colocamos em movimento energias
cósmicas que são acrescidas do poder divino. A nossa fé, nesse momento, é em
Deus, que nos sustenta a tarefa, e em nossa capacidade de realização.
A fé precisa ser
revelada ao mundo através de nossas obras para a felicidade de muitos, pois
somos cooperadores do Pai na construção de um mundo melhor. O nosso amor,
através do trabalho, estimula o amor do outro. A nossa paz, conquista pessoal e
intransferível, constrói a paz entre aqueles que nos cercam. A caridade nos
nossos passos, através do exemplo, despertará a caridade no caminhar do outro.
E com nossa fé inabalável na providência divina, semearemos a fé ao redor de
nós mesmos.
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MODELO
PADRÃO
(Claudio Viana
Silveira)
“Somente constrói, sem necessidade de correção
ou corrigenda, aquele que se inspira no padrão de Jesus para criar o bem.” –
Emmanuel.
A célebre questão 625
de O Livro dos Espíritos, tão bem formulada e tão laconicamente respondida, nos
apresenta Jesus como o Modelo e Guia mais perfeito que Deus tem nos ofertado em
todos os tempos. Tanto na primeira versão da obra básica, de 1857, como na
definitiva, de 1860, questão e resposta são formuladas e respondidas de forma
idêntica.
Todos nós que ainda não
elegemos Jesus como o modelo padrão para as nossas vidas, estamos destinados a
repetir encarnações e mais encarnações destinadas a correções ou corrigendas de
equívocos cometidos a despeito de reiteradas mensagens do Cristo transmitidas
por seus missionários em todos os tempos.
Analisando o modus
operandi do Mestre ou o seu modo de fazer, constatamos que, passados dois mil
anos de sua encarnação missionária e apesar de todas as nossas alternâncias
entre vários corpos de carne e a Vida Espiritual, ainda não nos moldamos aos
padrões do Mestre. Ainda somos mais individualidade do que coletividade e
‘pecamos’ em questões básicas como:
O desejo de remuneração
– Esquecida a importante máxima “dai de graça o que de graça recebestes”, ainda
estamos sedentos da valorização dos homens por algo que façamos pelo Cristo. E
não estamos aqui nos referindo a uma valorização amoedada, mas à sede que temos
das reverências como guias de pagamento.
As nossas exigências –
Hábil em tratar os diferentes, Jesus tinha predileção especial pelos mais
necessitados do corpo e do Espírito; aliás, disse ter vindo para estes, ou que
“estes é que precisavam de médico”. Somos ainda intolerantes no trato com os
diferentes patamares evolutivos; ou ainda não os compreendemos. Desejamos,
muitas vezes, que pessoas apresentem frutos que ainda não são capazes de
produzir.
Evidenciarmo-nos;
sermos reconhecidos – O anonimato deveria ser a melhor moldura das obras do
cristão. Dizia, certa vez, aos que o seguiam: “Não saiba a vossa mão esquerda o
que opera a vossa direita”. Voltamos a repetir, ainda somos mais
individualidade do que coletividade. Cultivando a modéstia da manjedoura ao
Gólgota, ainda não aprendemos com Jesus questões relacionadas à desambição,
humildade, moderação, sobriedade, reserva, compostura…
Desejamos ser
superiores – Quem nos promove são nossas atitudes altruísticas, o servir, o
importar-nos: E isso é amar verdadeiramente! “Reconhecerão que sois os meus
discípulos se vos amardes uns aos outros”, diria, certa vez, aos doze. Emmanuel
nos dirá em capítulos seguintes desta mesma obra que “toda a movimentação
humana, sem a luz do amor, pode perder-se nas sombras…” (Cap. 15,
Fraternidade.)
************************************
A
LIÇÃO DO BOM SAMARITANO
(Altamirando
Carneiro)
Jesus contou a parábola
do bom Samaritano (Lucas, 10: 25 a 37), depois que um doutor da lei
levantou-se, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida
eterna?
Jesus lhe disse: Que
está escrito na lei? Como lês?
E respondendo, ele
disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma,
e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a
ti mesmo.
E disse-lhe:
Respondeste bem; faze isso e viverás.
Ele, porém, querendo
justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo, Jesus
disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos
salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o
meio-morto.
E, ocasionalmente,
descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E, de igual modo,
também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano que
ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.
E, aproximando-se,
atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua
cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;
E, partindo no outro
dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e
tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.
– Qual, pois, destes
três te parece que foi próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou
de misericórdia para com ele.
Disse, pois, Jesus: Vai
e faze da mesma maneira.
Direto ao assunto – No
tempo de Jesus, os discursos eram feitos de maneira diferente do que são feitos
hoje. O assunto principal era colocado logo no início da fala. Tinha-se como
costume falar em parábolas, historinhas com assuntos extraídos dos costumes e
da vida da época, que muito facilitava a compreensão do homem daquele tempo.
Ao contrário de hoje, o
orador podia ser interrompido a qualquer momento da sua conversação. Por isso,
vemos no Evangelho que Jesus foi interrompido inúmeras vezes quando falava e
muitas dessas vezes pelos chamados doutores da lei, que faziam perguntas
capciosas, com a finalidade de colocar o Mestre em contradição, coisa que
jamais conseguiram e isso os deixava furiosos.
Pouca espiritualidade –
Os doutores da lei tinham profundo conhecimento das leis de Moisés e demais
livros do Velho Testamento. Jesus deixou bem claro que não tinha vindo para
derrogar as leis, mas para dar-lhes cumprimento e, naturalmente, nova
interpretação: de leis baseadas no olho por olho, dente por dente, para leis
baseadas na caridade, na humildade e no amor ao próximo. Essas leis a que eles
se apegavam estão contidas nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento,
atribuídos a Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio - o
chamado Pentateuco, ou a Torá.
Como Jesus os
classificou, os doutores da lei eram hipócritas e usavam a religião para
proveito próprio.
Samaritanos, a
“escória” – A Samaria situava-se ao Norte de Israel, entre a Judeia e a
Galileia, região de montanhas e montes. Eram malvistos por só admitirem o Pentateuco,
que continha as leis de Moisés, e rejeitarem todos os outros livros que foram
posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres
hebraicos da mais alta antiguidade. Para os judeus ortodoxos, os samaritanos
eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos.
A fim de não terem que
ir a Jerusalém para as celebrações das festas religiosas, os samaritanos
construíram imenso templo próprio e adotaram certas reformas. A Samaria
tornou-se a capital do reino dissidente do reino de Israel. Os hebreus evitavam
cruzar a região.
Caridade e religião –
Jesus, o pedagogo por excelência, usou a figura do samaritano para mostrar ao
orgulhoso e prepotente doutor da lei o verdadeiro sentido da caridade, que
independe da religião.
A parábola do bom
samaritano nos mostra que as coisas do Espírito são reveladas aos simples; que
não basta memorizar as Escrituras, mas cumprir os seus ensinamentos; que
devemos amar indistintamente e perdoar indefinidamente.
Educador por
excelência, Jesus nos mostrou, nesta admirável parábola, que o viajante ferido
é a Humanidade; o sacerdote e o levita são os ministros religiosos, que pregam,
falam bonito, mas agem de acordo com as suas conveniências.
O samaritano é Jesus; o
azeite é o símbolo da fé; o vinho, o suco da vida; os dois dinheiros, a
caridade e a sabedoria; o mais que o enfermeiro gastar, a abnegação, a vigília,
a paciência, a dedicação; o hospedeiro simboliza os que recebem os ensinamentos
de Jesus.
Ensinamentos de Jesus,
na Samaria – O sentimento de ódio pelos samaritanos era tão arraigado que mesmo
os discípulos de Jesus demonstravam insatisfação quando tinham que atravessar a
região da Samaria. O Mestre, modificando os costumes da época, cruzava a
região, sem problemas.
Uma das vezes em que
Jesus passou pelas montanhas da Samaria, esteve junto ao Poço de Jacó, onde
manteve diálogo com a mulher samaritana. (João, 4: 9 a 14)
– Dá-me de beber.
– Como, sendo tu judeu,
me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?
– Se tu conheceras o
dom de Deus e quem é o que te diz Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te
daria água viva.
– Senhor, tu não tens
com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior
que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus
filhos, e o seu gado?
– Qualquer que beber
dessa água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a
jorrar para a vida eterna.
Na sequência do
diálogo, uma importante afirmação de Jesus (João, 4: 19 a 24):
Disse-lhe a mulher:
Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e tu dizes que é
em Jerusalém o lugar onde se deve adorar?
– Mulher, crê-me que a
hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorarás o Pai. Vós adorais o
que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e
importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade.
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CONFIAR
E ACEITAR; RECONHECENDO O BEM NA DINÂMICA DA VIDA
(Claudia
Gelernter)
“Nenhuma emoção em si é
perigosa. Disfuncional é ficar ancorado durante muito tempo em algumas delas,
já que a qualidade dos sentimentos é ir e vir, irromper e desvanecer-se.” –
Joan Garriga Bacardi.
Segundo os Vedas¹, a
causa primordial do sofrimento humano é a falta de conhecimento de quem somos,
na realidade. O Espiritismo, embora não aponte uma causa específica como sendo
a maior de todas, considera as questões do orgulho e do egoísmo² como fonte de
sofrimento (conforme dizia Jesus), mas entende também que quando reconhecemos
nossa porção sagrada e o real sentido da Vida, tendemos a abandonar vícios
antigos, trocando-os por hábitos salutares, tais como a abnegação, o que acaba
por corroborar com a primeira ideia.
A questão é que muitos
vivem na Terra como se fossem apenas um corpo, com suas necessidades e
potencialidades particulares, quando em verdade nossa essência é a parte
imortal desta fabulosa combinação chamada Eu. Somos, portanto, alma, com
mecanismos mentais específicos, vivendo em relação com o meio, em um tempo
histórico, numa determinada cultura, utilizando-nos para isso de um corpo
formado por um tipo de matéria mais densa, com seus órgãos e sistemas
complexos. Como se vê, aquilo que tomamos por essencial trata-se apenas de
veículo. O condutor é a alma, que preexiste e sobrevive à morte física.
Sendo assim, alguns
indagam por que vivemos como se fôssemos eternos no campo físico, negando a
alma, se ao longo de tantos milênios temos a informação de que a realidade é
outra.
Por certo a influência
dos sentidos é enorme em nosso psiquismo, podendo nos levar a esta e outras
confusões existenciais, mas é preciso refletir a respeito, buscando “ver"
muito além das aparências, para então desvelar o que já existia e continuará
existindo: nossa Individualidade imortal, potencialmente Crística.
Dentro deste contexto,
estas mesmas tradições de Sabedoria afirmam que a Vida na Terra nada mais é que um campo de
experimentações específicas que visam ao aprimoramento desta alma, através de
estímulos ideais, de acordo com seu momento evolutivo. Ou seja, a dinâmica da
existência possui uma inteligência soberana, capaz de nos impulsionar ao
progresso, através de imputs pedagógicos, de acordo com nossa capacidade
individual e coletiva. Ela tende ao Bem, portanto.
O que acontece é que
tais estímulos nem sempre são bem-vistos ou digeridos por nós, justamente
porque evitamos auscultar as situações com os olhos da alma. A dor, por
exemplo, é um dos recursos que a vida apresenta, quando outros não foram
suficientes para nos fazer mudar as disposições equivocadas. Chega firme, muita
vez sem aviso prévio, causando sustos e aborrecimentos. Nunca para nos
destruir, embora acreditemos nisso.
Então, como diminuir
nossa angústia a fim de conseguirmos perceber as lições que ela nos traz?
Rumi, o famoso poeta da
antiga Pérsia, já dizia que o remédio para a dor é a dor.³ Isso significa que
quando olhamos para ela com honestidade e boa vontade, podemos aprender aquilo
que veio nos ensinar, evitando-a, mais adiante. Afinal a Vida não lança mão de
recursos desnecessários. E o que vemos com frequência é um desfilar de muxoxos
e revoltas múltiplas. Desesperos, maldições e inconformações que apenas agravam
o quadro, transformando a dor em sofrimento amargo, de forte intensidade e
longa duração.
Buda, dissertando sobre
a questão do sofrimento, comentou acerca da primeira da segunda flechas⁴, numa analogia
bastante interessante a respeito da dor causada por alguma questão alheia à
nossa vontade e a forma como depreendemos o evento. O que acontece é que,
segundo Sidartha Gautama, os desafios que a vida se nos apresenta são como
flechas certeiras, causam dores específicas, muita vez passageiras,
circunstanciais. Já a segunda flecha representa nossa resistência a estas
primeiras. Nós as criamos e nos ferimos de forma desnecessária, quando nos
revoltamos, nos irritamos com as demandas, estendendo e potencializando a dor,
fazendo reverberar inclusive em outros que convivem conosco.
Joan Garriga Bacardi,
psicólogo espanhol, em seu livro “Viver na Alma”⁵, esclarece que o sofrimento se assenta
em uma luta contra os fatos, enquanto a dor é uma emoção natural, humana e
congruente. Diz ele que “Diante da dor genuína, da presença de pessoas que
atravessam verdadeiros lutos, abre-se
espontaneamente nos demais a porta da compaixão, da humanidade e da
solidariedade. É algo biológico. Sentimos o impulso natural do caminhar ao
lado, acompanhar e apoiar os tristes e os que se consomem de tormento. Sem
dúvida, o sofrimento é outro assunto, outro cantar. O sofrimento tem outras
conotações e, muitas vezes, desperta nos demais o desejo de distanciamento”.
(p. 115)
Isso porque o
sofrimento tende a ser manipulador, egoísta por parte de quem o sente e
expressa. Trata-se de posição existencial edificada na queixa, no ressentimento,
no vitimismo. E quando o sofrimento toma esta forma deletéria, quase nunca
desperta a compaixão natural dos demais, senão o incômodo. Aliás, como afirma o
próprio Garriga, “já está mais que superada a ideia de que o sofrimento concede
direitos”. (pg. 116)
A verdade é que, quem
consegue integrar o difícil, atravessar seus lutos, enriquece a vida, se
transforma positivamente, elevando-se. Já quem fica preso aos gemidos, olha
tanto para si mesmo que seus olhos não percebem os demais e a realidade da
vida.
Por certo a vida nos
convoca aos desafios com certa frequência, então cabe-nos questionar: Como
percebo esta realidade? Que atitude devo tomar diante desta demanda? Como posso
fazer para minimizar este impacto em mim e nos outros? Como encontrar o sentido
para esta dor que me abala a alma e assim aprender o que me cabe nesta
experiência?
Podemos pensar que o
desafio talvez seja gostar não apenas do que nos convém, o que nos é agradável
ou estimado, mas desenvolver uma confiança na dinâmica da vida, aceitando suas
propostas, nem sempre agradáveis, coloridas. Compreender que não há outro
remédio, assumindo nossa pequenez diante do Espírito Criador, nos rendendo ao
que é, sendo humildes. Jesus dizia: “Ofereça a outra Face”, o que significa: se
desfaça de suas armas, confia, entrega e se entregue. Deus se ocupa. Ele sabe
mais que você.
Confiar e Aceitar são,
portanto, verbos que devem ser trabalhados em nosso campo emocional.
Logicamente isso não significa uma postura passiva ou de desistência. Será preciso
trabalhar e alterar o possível, usando nosso livre-arbítrio com sabedoria.
Falamos aqui de aceitarmos o que não pode ser alterado. O passado, por exemplo.
Apegar-se a mágoas, ressentimentos, é reanimar o momento da ofensa,
relembrando-o constantemente, como se acabasse de ocorrer, a cada minuto.
Nossos corpos sentem os impactos desta ancoragem emocional, ativando o sistema
límbico, encharcando todo o córtex cerebral com estes imputs negativos,
reverberando nos sistemas endócrino e nervoso autônomo, podendo promover
diversas doenças. Nossa imunidade cai, permitindo se alastrem vírus, bactérias,
fungos e até mesmo células cancerígenas, caso outras variáveis permitam seu
crescimento.
Faz-me recordar querido
professor na minha graduação – um médico muito lúcido e didático – que dizia
que todos os dias criamos células adoentadas. Permiti-las crescer e tomar nosso
corpo depende, também, da forma como entendemos e lidamos com a Vida. Ou seja,
nossas mentes são responsáveis por praticamente 85% das doenças que
desenvolvemos – explicava.
A questão central é que
estes dados todos coincidem exatamente com as lições trazidas pelas Tradições
de Sabedoria. Quando aceitamos, quando somos humildes perante a Vida, quando
aprendemos a amar o que é, o que somos e os outros como são (assim como comenta
Joan Garriga Bacardi na mesma obra), vivemos uma vida mais plena, com relativa
paz, em harmonia com o seu fluxo sagrado, pedagógico, evolutivo. Sendo assim, e
a partir de nós, conforme ensinava o querido Gandhi⁶, poderemos transformar
o mundo, sendo a mudança que queremos ver nele.
Referências:
1. Denominam-se Vedas
as quatro obras, compostas em um idioma chamado Sânscrito Védico, de onde se
originou posteriormente o Sânscrito Clássico. Inicialmente os Vedas eram
transmitidos apenas de forma oral.
Existem dúvidas quanto à época em que foram compostos, mas aceita-se que
se trata de pelo menos 2.000 a.C., ou antes.
2. Ler em Obras
Póstumas, Allan Kardec, Parte I, o capítulo “O Egoísmo e o Orgulho – Suas
Causas, Seus Efeitos e Os Meios de Destruí-los”.
3. Rumi, também
conhecido como Jalãl ad-Din Muhammad Balkhi, era um místico, teólogo e poeta
persa, do sufismo. Viveu no século XII. Entre outras lições, em suas poesias
dizia que nossas almas não pertencem a este mundo, mas apenas o corpo, e que
devemos buscar mudar o mundo, mudando a nós mesmos.
4. Ler a respeito no
livro “O Cérebro de Buda”, do neurocientista Rick Hanson, editora Alaúde, 2012.
Parte I, Capítulo 3.
5. Livro Viver na Alma,
editora Saberes, 2011, de Joan Garriga Bacardi.
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OS BONS ESPÍRITAS
(Marcos Paulo de
Oliveira Santos)
Na caudalosa obra O
Evangelho segundo o Espiritismo, encontra-se insculpida no capítulo XVII,
denominado “Sede Perfeitos”, a preciosa lição: “Os bons espíritas”.
Trata-se de uma
exortação aos caracteres do verdadeiro espírita. Dizem-nos os imortais: “Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2002, p. 276).
Trecho precioso este
dos numes da Codificação, pois, em verdade, a proposta precípua da Doutrina
Espírita é a transformação moral do indivíduo, que implica no conhecimento de
si mesmo.
Ora, quando o indivíduo
está calcado numa consciência profunda, ou seja, quando de fato conhece a si
mesmo, ele pode discernir com maior confiança as suas virtudes e os seus defeitos.
As primeiras, ele potencializa por meio de suas ações no bem junto aos
familiares, amigos, colegas de profissão, enfim, no bojo social. Quanto aos
defeitos, ele é capaz de elencá-los e criar uma proposta ou metodologia para a
sua corrigenda. Cônscio de que, certamente, não eliminará todos os defeitos
numa só existência.
Conhecer a si mesmo não
é uma tarefa simples. Requer experiência nas múltiplas situações da vida;
exige-se maturidade. Somente somos capazes de entender os nossos sentimentos
(bons ou maus) quando estamos imersos numa situação, como se diz popularmente,
no olho do furacão. Do contrário, tudo é teoria.
O Espiritismo trouxe os
ensinamentos do Mestre Jesus numa linguagem compreensível; fácil; clara.
Propicia aos seus estudiosos uma fé inabalável!
É comum se afirmar que
a “carne é fraca” e por este motivo o erro seria inevitável. Mas é imperioso se
ampliar a lente e considerar que o condutor ou o senhor da matéria é o
Espírito. Na condição de encarnado as potencialidades do Espírito são abafados,
todavia, na consciência está inscrita a lei divina, logo, não há justificativa
para culpar a matéria quando na verdade a ação ou intenção é do Espírito.
Cientes da ontologia
humana, os Espíritos disseram que aquele que se esforça para domar suas inclinações
más, pode ser rotulado de Espírita.
O verdadeiro
espírita-cristão não violenta consciências; é indulgente para com as
imperfeições alheias e severo para consigo mesmo; compreende que a prática da
caridade se dá em todas as instâncias (de nada adianta ser bonzinho no interior
do Centro Espírita e um tirano doméstico); não é maledicente; não compactua com
o erro; não julga as imperfeições alheias; não é invejoso; não é egoísta; é, em
síntese, um lídimo trabalhador do bem. Porque, ao praticar o bem, ele apara as
próprias anfractuosidades, tornando-se melhor a cada dia.
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EMBORA UMA ALA O DEPLORE, AVANÇA O ESPIRITISMO DE MEDIGORE
(José Reis
Chaves)
Há uma corrente
católica que passou a condenar as aparições de Maria em Medigore, porque ela
sabe que se trata de fenômenos mediúnico-espíritas.
E nisso os nossos
irmãos evangélicos sempre extrapolaram dizendo que se trata de demônios, que
para eles são apenas Espíritos maus. Logo, Deus colabora com os Espíritos maus,
pois só permite a manifestação deles; dos bons, nem pensar!
Mas quem estuda mesmo a
Bíblia em profundidade, como temos aqui demonstrado, sabe que os demônios
(“daimones” em grego) são as almas e não outro tipo de Espíritos. Os padres,
bispos e uma pequena porcentagem de pastores e leigos sabem disso, mas preferem
deixar o zé-povinho na ignorância, pois demônios à moda medieval dão Ibope!
Faz uns 8 anos que um
conhecido teólogo de Belo Horizonte (por respeito a ele, não vou dizer seu
nome) pediu-me para eu evitar falar, na minha coluna em O TEMPO, algumas coisas
que são verdades, mas que não convém que o povo saiba. Eu, desculpando-me, lhe
respondi dizendo que o meu trabalho consiste exatamente em dizer verdades que
os líderes religiosos cristãos, há séculos, vêm escondendo do povo.
“Ninguém nunca viu
Deus, pois quem O vir não continua vivo.” (Êxodo 33:20). Também Jesus disse:
“Ninguém jamais viu a Deus”. (João 1:18; e 1 João 4:12). Ora, se ninguém pode
ver Deus, as manifestações de Deus (que denominam de Espírito Santo) não
existem. Mas a Mãe de Jesus, por mais que a engrandeçamos, e ela o merece, ela
não é Deus, logo ela pode se manifestar e ser, pois, vista por alguém que seja
médium vidente, e por qualquer pessoa, se houver materialização do Espírito
dela através de seu perispírito ou corpo espiritual, no dizer paulino, e, para
os cientistas russos, corpo bioplasmático, descoberto por eles em 1945. E para
os que ainda dizem erradamente que esse assunto de vidente é coisa do diabo,
digo-lhes que é coisa da Bíblia: “Os profetas eram chamados antigamente de
videntes” (1 Samuel 9: 9).
Esta ala da Igreja que
está tomando uma posição hostil contra as aparições de Medigore está, como se
diz, malhando em ferro frio, pois o Espiritismo é hoje muito forte e conta com
o apoio maciço dos segmentos científicos da ciência espiritualista. E quem quer
condenar os fenômenos espíritas mediúnicos de Medigore, tem que condenar também
os de Lourdes, Fátima e outros, como o fez o padre Quevedo que, por isso, foi
condenado pela Igreja!
São milhões de
católicos e milhares de autoridades eclesiásticas da Igreja que dão seu aval
para esses fenômenos de Medigore, inclusive eles tiveram também o apoio do Papa
João Paulo II, pois que ele visitou o local das aparições em Medigore!
A DOR DA INGRATIDÃO
(Claudia
Gelernter)
Vivemos no planeta
Terra, e isso significa diversas coisas. Uma delas é que temos muitas mazelas a
resolver. Mazelas íntimas, do ego, da personalidade transitória. Alguns
Espíritos comparam os habitantes da Terra com pequenos grãos de feijão. Existem
uns maiores, outros menores. Uns mais escuros, outros claros, alguns furados,
outros feios. Mas, no final das contas, 'somos todos feijões'. Não estamos
muito distantes uns dos outros, embora por vezes nos sintamos superiores,
devido a pequenas ações, quando, em verdade, ainda temos que batalhar para
sermos verdadeiramente melhores - todos nós.
Em O Livro dos
Espíritos, aprendemos que existem três categorias principais de Espíritos, de
acordo com seu grau de evolução (moral e intelectual): ”na última, aquela que
se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados
pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da
segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo
desejo de praticar o bem: são os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende
os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição” (Kardec, 1862).
A má notícia é que nós
pertencemos (ainda) à categoria dos imperfeitos. Uns mais, outros menos, mas
todos imperfeitos. Entretanto, também temos notícia de que a Terra está
alterando seu estado, entrando em nova fase, chamada de Regeneração, onde os
habitantes tendem mais ao bem que ao mal. Daí a necessidade de um contínuo
empenho nosso para que possamos habitar um Planeta melhor, porque mais justo e
bom.
E dentro desta “boa
batalha”, chamemos assim – um dos quesitos essenciais a serem desenvolvidos
chama-se “resiliência”. Trata-se de um conceito sequestrado da Física, hoje
largamente utilizado pela Psicologia e mesmo pela Ecologia.
Segundo o Wikipédia, no
campo da Física, o termo resiliência diz respeito à "propriedade de que
são dotados alguns submateriais, de acumular energia, quando exigidos ou
submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Após a tensão cessar poderá ou não
haver uma deformação residual causada pela histerese do material – como um
elástico ou uma vara de salto em altura, que se verga até um certo limite sem
se quebrar e depois retorna à forma original dissipando a energia acumulada e
lançando o atleta para o alto”.
Já em Psicologia,
significa a capacidade de se reequilibrar, após alguma situação de angústia, de
conflito psíquico, seja causado por impactos reais ou imaginários. Digo
imaginários porque, em geral, costumamos aumentar nosso sofrimento para além do
necessário, com fantasmas puramente emocionais, medos irracionais, porque
nascidos de uma percepção equivocada sobre os eventos da vida.
E, quando falamos de
dores reais, intensas, profundas, a palavra Ingratidão nos vem à mente, quase
que imediatamente. Não é à toa que o Espírito Santo Agostinho, no capítulo XIV
de O Evangelho segundo o Espiritismo, colocou a questão da ingratidão como
ponto nevrálgico para o coração humano, dedicando um texto inteiro (o maior do
livro, ditado por um Espírito, aliás), para tratar deste assunto,
principalmente com relação aos filhos. Ditou ele que "De todas as provas,
as mais penosas são as que afetam o coração”. Realmente. E a ingratidão surge
como um dardo cheio de veneno, lançado por pessoas geralmente distraídas de sua
missão pessoal, de sua essência sagrada. São os cegos espirituais do mundo, que
não enxergam o bem que recebem e que mais tarde terão de ser ensinados pela
Mestra Divina, chamada Dor.
Mas mantenhamos o foco
naquele que recebe a ingratidão como pagamento de um bem realizado:
Em verdade,
primeiramente é preciso recordar que não existem vítimas. Se a prova surge, por
certo é para buscar as profundezas psíquicas do aprendiz, avaliando se já
consegue dar conta de determinados desafios. E, sendo esta uma enorme demanda
quando falamos em ego orgulhoso, será preciso desenvolver a resiliência (que
serve para esta questão e todas as outras que envolvem desafios existenciais) –
esta capacidade de reorganizar o mundo mental, mesmo com a experiência
dolorosa.
Para tanto, considero
três passos importantes:
1. Reconheçamos que
todos somos imperfeitos: Tal constatação produz alívio imediato em nosso
coração, pois nos damos conta de que também nós precisamos, com frequência, do
perdão alheio, senão do próprio Pai Celestial, uma vez que somos também
ingratos, nas mais variadas situações. (Por exemplo: raramente confiamos na
Vida, na dinâmica da existência, com seus altos e baixos; raramente agradecemos
pela proteção diária; poucos levam em conta a questão da interdependência
planetária, deixando de observar certos cuidados para com o próximo e a
natureza, de forma geral, quando, em verdade, deveriam se comportar de outra
maneira, demonstrando gratidão à vida etc.).
2. Busquemos desenvolver
a Compaixão: Jesus já alertava que não existe grande mérito em sermos bons e
perdoarmos aqueles que já são benevolentes para conosco. Nesta situação estamos
apenas realizando uma troca. Porém, quando conseguimos sentir verdadeira
compaixão por aqueles que nada têm a nos oferecer ao coração, tornamo-nos
realmente grandes. Henry Wadsworth Longfellow certa vez escreveu que “se
pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, encontraríamos em cada
vida tristeza e sofrimento suficientes para aplacar qualquer hostilidade de
nossa parte”. Além disso, compadecer-se com os problemas dos outros não é ato
que se restringe a questões materiais, como, por exemplo, uma perda
significativa ou uma doença grave, mas também com relação a questões morais.
Nem sempre o outro compreende a dinâmica da vida e o quanto é bom sermos bons.
Por ignorância, erra, vindo mais tarde a colher frutos amargos. Compadecer-se
deste tipo de semeadura eleva a alma em trânsito pela Terra, denotando grande
resiliência e maturidade espiritual. Reflete a capacidade de sentirmos empatia,
do quanto já somos conscientes do nosso papel e da necessidade de combatermos
sofrimentos voluntários, através do equilíbrio mental, espiritual, físico e
social. Estamos, concomitantemente, sendo bons para conosco, portanto.
3. Construamos pontes,
sempre que possível: Uma comunicação eficaz busca soluções e nunca culpados.
Estejamos em contato com nossos sentimentos, pois quando mantemos um estado de
consciência interior, deixamos mais claro nossos objetivos durante um diálogo.
Então, se queremos realmente ajudar um irmão ingrato, não será atirando
variadas pedras verbais ou mentais, mas expondo a dor causada de forma coerente
e madura. Não devemos dar lições de moral com raiva e, por outro lado, devemos
manter fé na justiça. Não cabe a nós punirmos os ingratos. A vida fará isso,
caso seja necessário. Por fim, se o diálogo pessoal não for possível, que ele
seja feito de forma mental, através de uma prece ou irradiações de amor.
Para melhor ilustrarmos
este pensamento, vale recordar um dos contos de Jataka [autor de textos sobre
as possíveis encarnações de Buda], chamado “O Gorila e o Homem”. Escreveu ele:
“Certo dia, um caçador
adentrou a floresta, perdeu-se e caiu em um buraco profundo, do qual não
conseguia sair. Ele gritou por socorro durante dias, ficando cada vez mais
faminto e fraco. Enfim, o gorila o ouviu e foi até lá. Ao ver as paredes
íngremes e escorregadias da cavidade. o gorila disse ao homem: “Para tirá-lo
daí com segurança, primeiro vou rolar pedras aí dentro e praticar com elas”. O
gorila rolou diversas pedras para dentro do buraco, uma maior que a outra, e
tirou todas de lá. Finalmente chegara a vez do homem. Após subir com
dificuldade, segurando-se em rochas e trepadeiras, ele tirou o homem de lá, e,
com a última força que lhe restava, saiu do buraco. O homem olhou ao redor,
muito feliz por ter sido salvo. O gorila, ofegante, deitou-se ao seu lado. O
homem disse: “Obrigado, gorila. Você pode me guiar para sair da floresta?” E o gorila
respondeu: “Claro, homem, mas primeiro preciso dormir um pouco para recuperar a
energia”. Enquanto o gorila dormia, o homem o observava e começou a pensar:
“Estou com muita fome. Sou capaz de descobrir como sair da floresta por conta
própria. Ele é só um animal. Eu poderia bater uma dessas pedras na cabeça dele,
matá-lo e comê-lo. Por que não?”. Então o homem ergueu uma das pedras o mais
alto que conseguiu e atirou-a com força na cabeça do gorila. O gorila gritou de
dor e sentou-se rapidamente, atordoado com a pancada, com sangue escorrendo
pela face. Quando olhou para o homem e percebeu o que havia acontecido,
lágrimas brotaram de seus olhos. Ele balançou a cabeça com tristeza e disse:
“Pobre homem. Agora você nunca será feliz…”.
Um conto emocionante
que certamente traduz diversas situações vividas na Terra, onde o ingrato não
reconhece nem valoriza o bem recebido.
Percebemos que a má
vontade do homem tentou justificar a si mesma: “Ele é só um animal”. Naquele
momento, o homem racionalizou, como forma de defesa íntima – isso facilitou a
decisão pela ação nefasta. Só mais tarde poderá perceber que enganara a si
mesmo…
Por outro lado, a
bondade, a compaixão do gorila foram sua própria recompensa. Não fora tomado
por raiva ou ódio. A primeira flecha moral atingiu-o na forma de uma pedra; não
havia por que acrescentar injúria ao ferimento com uma segunda flecha de
rancor, atirada por ele mesmo. Perdoou, tão logo recebera a ofensa. Não viu
necessidade de desforra, pois sabia que o homem já não conseguiria ser feliz.
Agiu com equanimidade, portanto.
O gorila foi
resiliente. Apesar da experiência dolorosa, não se desequilibrou, não se
desprendeu da própria essência amorosa.
E, finalizando este
despretensioso artigo, desejo ainda relembrar uma das mais bonitas passagens do
Evangelho de Jesus, no qual os evangelistas narram Sua aparição aos discípulos
estupefatos, dias após a morte na cruz. Naquela oportunidade, após ter sido
abandonado por 11 dos 12 amigos hebreus, durante toda a caminhada de dura prova
até o Calvário, sendo por fim erguido na madeira e pregado como um ladrão
comum, sorriu aos discípulos, dizendo, apenas: “A Paz de Deus seja convosco!”…
Nada de muxoxos,
reclamações ou cara feia. Nada de desapontamentos. Apenas amor nos olhos, na
fala e no coração.
Eis a sublime mensagem
do Messias, nesta passagem: Perdão, compaixão, resiliência…, amor…
Aliás, caso não fosse
essa a postura do grande Mestre, o que seria do cristianismo?
Vale refletir…
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A
DETERMINAÇÃO EM RECOMEÇAR
(Waldenir
Aparecido Cuin)
“Levantar-me-ei e irei
ter com meu pai...”. (Lucas, 15:18.)
Quando o filho pródigo,
descrito na parábola por Jesus, deliberou retornar aos braços paternos, após
ter recebido sua herança e a desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para
nossa reflexão um dos mais significativos símbolos de arrependimento, coragem,
determinação e maturidade.
Reconhecendo seus
equívocos não vacilou em recomeçar, aceitando a condição de empregado da
propriedade do pai, pois tinha consciência de que não merecia ser tratado mais
como um filho, embora não esperasse a reação fraterna do genitor, que ao
avistá-lo, o acolheu num abraço carinhoso e meigo.
De nossa parte,
inúmeras vezes também deliberamos seguir caminhos contrários àqueles que nos
asseguram avanço moral, prosperidade intelectual e crescimento espiritual,
criando a urgente necessidade de decidir por novos rumos e outras direções,
sustentadas pela esteira dos valores da dignidade, da honra e da honestidade.
Se preciso, ergamo-nos
da inércia, da apatia e do desânimo e, fortalecidos pela fé, deixemos a rede
macia do comodismo em esperar que a vida nos dê tudo de forma gratuita, e
busquemos conquistar virtudes, enquanto empreendemos esforços para a extinção
dos defeitos que ainda nos mantêm na condição de inferioridade e sofrimento.
Se a tristeza insistir
em povoar os nossos pensamentos e derramar insatisfações em nossa vida,
levantemos a confiança em Deus e tenhamos a certeza inconteste de que o Pai
Celestial, amoroso e bom, justo e perfeito, em circunstância alguma deixará de
atender as nossas necessidades.
Se a moléstia insidiosa
continuar a nos manter no leito de dor, embora todos os esforços de médicos,
hospitais e remédios, levantemos a esperança nos dias do porvir, nos recursos
que a tecnologia vem desenvolvendo, pois o amanhã poderá surgir com novas cores
e propostas.
Se familiares queridos
deixaram o nosso convívio pelos mecanismos da desencarnação, renascendo para a
vida espiritual, abrindo enorme lacuna em nossos corações, que se repletam de
saudades, levantemos a certeza na imortalidade e prossigamos convictos de que
um dia, no futuro, em outras dimensões vibratórias, novamente estaremos com
eles.
Se o abandono e a
solidão estiverem nos acompanhando com frequência, escurecendo os nossos
momentos e amargurando a nossa vida, levantemos a vontade de refletir e
meditar, pois, às vezes, diante do nosso comportamento e atitudes, quem sabe
estaremos impedindo a aproximação das pessoas ao nosso redor?
Se os recursos
financeiros e materiais se escassearam, criando dificuldades e embaraços para
que possamos honrar nossos compromissos, levantemos a força e a perseverança e
saiamos a trabalhar ainda mais, na confiança de que o labor nos conduzirá a
novas perspectivas.
Se os filhos que
chegaram ao nosso lar – e para os quais nos empenhamos ao máximo, visando
educá-los, mostrando-lhes os caminhos da decência e da dignidade – resolveram
não atender aos nossos insistentes apelos de moralidade, levantemos a paciência
e esperemos pelas sábias lições da vida, que farão, certamente, aquilo que não
conseguimos agora fazer.
O filho pródigo, depois
de perceber o equívoco cometido, diante do sofrimento decorrente da escassez de
recursos financeiros, por ter gasto a herança recebida de forma inútil,
inconsequente e irresponsável, caindo no arrependimento, teve forças para
levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar paterno, nem que fosse na condição
de um empregado do pai, para recomeçar a vida.
Em oportunidades
inúmeras, também nós, ao percebermos os erros e os enganos deliberados, temos
absoluta necessidade de levantar a nossa vida e buscar o apoio de Deus para
recomeçar, e, por certo, Ele também abrirá seus braços para nos acolher num
abraço...
Reflitamos...
************************************NO JUÍZO FINAL, OVELHAS RECEBERÃO DIPLOMAS, MAS CABRITOS TOMARÃO BOMBA
(José Reis
Chaves)
Os teólogos antigos
ensinavam um Deus antropomórfico. E, ao invés de tomarem o atributo de Deus
Todo-Poderoso para o amor e para o bem, tomavam-no para o mal, o ódio e a
vingança, longe, pois, do Deus Pai amoroso ensinado por Jesus.
Os teólogos, quando se
deparavam com uma dúvida sobre uma interpretação bíblica, diziam “isso é
perigoso”, isto é, tal interpretação poderia trazer o risco de um castigo de
Deus ou da Igreja da época da Inquisição, se ela estivesse contra o sentido
verdadeiro da Bíblia ou de algum dogma católico.
E, hoje, a Igreja tem
duas correntes, a dos teólogos conservadores e a dos inovadores. Os primeiros
ainda mantêm as ideias erradas antigas sobre Deus e o destino ameaçador para os
Espíritos humanos. Já a corrente dos inovadores prega uma visão otimista sobre
um Deus de amor e de um destino incondicional de felicidade perene para todos
os Espíritos humanos. Infelizmente, a maioria dos dirigentes religiosos de
outras igrejas cristãs mantém ainda aquela antiga teologia cristã errada e amedrontadora
da Igreja do passado. Isso, às vezes, lamentavelmente, como meio de explorarem
mais facilmente os seus fiéis. E esses dirigentes religiosos são ajudados por
outros que são sinceros, mas que se tornam inocentes úteis daqueles dirigentes
exploradores mercenários, prejudicando, assim, a marcha do evolutivo e
verdadeiro Cristianismo, que é o de um Deus de amor e não de ódio e de
vingança.
É muito conhecida a
passagem evangélica da separação das ovelhas dos cabritos (Mateus 25: 32 a 41),
no final dos tempos. Trata-se de um dos mais importantes textos figurados dos
evangelhos. As ovelhas representam as pessoas vitoriosas, enquanto que os
cabritos, as fracassadas, pois não passaram no curso das escolas durante as
reencarnações. E, usando ainda uma linguagem escolar, diríamos que elas tomaram
bomba!
Para uma corrente
católica baseada em doutores em teologia, entre eles o holandês Jonh Kông, da
Arquidiocese de Belo Horizonte, o inverno na Palestina é muito forte. As
ovelhas, protegidas pela sua espessa camada natural de lã, podem passar,
tranquilamente no tempo, as noites frias. Já os cabritos, com sua pele fina, à
noite, têm que ser recolhidos nos currais, pois, ao relento, poderão morrer de
frio. Os cabritos simbolizam os Espíritos humanos frágeis ou doentes da alma
que tomaram bomba, precisando, pois, de uma acolhida especial, enquanto que os
verdadeiros cristãos, já libertos espiritualmente, representados pelas ovelhas,
não precisam dessa acolhida especial. É isso que Jesus quis dizer com a
separação dos cabritos das ovelhas.
Essa passagem nos
lembra daquela em que Jesus afirma que os doentes é que precisam de médicos
(Mateus 9: 12). Realmente, os cabritos, pela sua natureza de pele frágil para
enfrentar o rigor do frio, de algum modo, são doentes. E ela nos lembra também
daquela em que Jesus diz que o bom pastor procura a sua ovelha perdida “até que
ela seja encontrada” (Mateus 18: 12), ou seja, até que seja salva.
Esses ensinamentos
estão de acordo com o que o excelso Mestre nos ensinou: Deus quer que todos se
salvem (João 6: 39). E eles se igualam aos da Doutrina Espírita, que prega
também a salvação, um dia, para todos os Espíritos.
E quem será totalmente
vitorioso? O Deus verdadeiro, o “satanás”, ou os pregadores de um Deus falso,
antropomórfico e do terror?
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O ARREPENDIMENTO
(Édo Mariani)
Em o livro O Céu e o
Inferno, de autoria de Allan Kardec, capítulo VI, tradução de João Teixeira
Doria, edição da Livraria Allan Kardec Editora, em comentário à comunicação do
Espírito Jaques Latour, Kardec nos ensina: “O arrependimento acarreta o pesar,
o remorso, o sentimento doloroso, que é a transição do mal para o bem, da
doença moral para a saúde moral. É para se furtarem a isso que os Espíritos
perversos se revoltam contra a voz da consciência como doentes que repelem o
remédio que os há de curar. E assim procuram iludir-se e persistir no mal”.
Assim aprendemos que o
arrependimento é o instrumento necessário ao principio da reparação. Representa
para os Espíritos a colocação do pé no primeiro degrau da escada bendita e
reparadora, mas não basta por si só: são necessárias as expiações, porque,
segundo Jesus: “da lei até o último iota será cumprido”. Isto evidencia-nos que
a reparação da falta é imprescindível ao Espírito para libertar-se de todo mal
praticado.
Arrepender-se, segundo
os Espíritos instrutores, é muito doloroso e requer muita coragem e bom ânimo
para levar a bom termo tão bendito ensejo iniciante de novas oportunidades de
recomeço no cruento trabalho de voltar ao crescimento espiritual.
Enquanto isso não
acontecer, continua o Espírito a julgar-se sem culpa e muitas vezes maldizer a
providência divina e sem coragem para assumir a devida responsabilidade, por se
julgar inocente. De fato, se me julgo sem culpa por orgulho em reconhecer que
errei, é natural não ver o que reparar.
É imprescindível o
arrependimento, que é o reconhecimento do erro praticado para se convencer da
necessidade de reparar o mal. Sem ele, permanece o Espírito errando
inconscientemente, e por isso não se julga culpado.
É mais fácil colocar a
culpa nos outros e esconder-se debaixo da própria ignorância.
Essa lição já é
bastante velha. No tempo em que João Batista iniciava a sua pregação no
deserto, com o objetivo de apresentar publicamente a Jesus, ele convidava o
povo com plena convicção de sua atitude, conclamando: “Arrependei-vos, porque é
chegado o reino dos céus” (Mateus cap. 3, versos 2).
Enquanto encarnados
temos dificuldades e muitas vezes nos falta coragem para enfrentar o nosso
orgulho na admissão das culpas, mas se a conseguirmos, estaremos desde já dando
o primeiro passo para o início da caminhada pela estrada da reparação e
consequentemente da evolução.
Vejamos o que nos
ensina Ermance Dufaux no capítulo 8 do livro de sua autoria: ‘Reforma Íntima
sem Martírio’: “Digamos que o arrependimento é uma chave que liberta a
consciência dos grilhões do orgulho. Enquanto peregrinamos no erro sem querer
admiti-lo, temos o orgulho a nos ‘defender’ através da criação de inúmeros
mecanismos para ‘aliviar’ nossas falhas. Sem arrepender-se, o homem é um ser
que foge de si mesmo em direção aos pântanos da ilusão, por onde pode
permanecer milênios e milênios...”
Portanto, vale muito
atentarmos para esses ensinamentos que representam reais chamamentos para
iniciarmos, desde já, através do arrependimento de nossas faltas e culpas, a
subida para a “Frente e para o Alto”, na feliz expressão do Professor Leopoldo
Machado, de saudosa memória.
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ALGUÉM
JÁ VOLTOU PRA DIZER COMO É?
(Cláudio Bueno
da Silva)
Uma frase muito ouvida
entre frívolos ou indiferentes é a de que “não se sabe o que há depois da
morte, já que ninguém voltou pra dizer como é”.
O respeito ao próximo
nos impõe a obrigação de sermos condescendentes e indulgentes com aqueles que
pensam assim. Não se pode condená-los. O desconhecimento talvez se deva ao fato
de não terem tido acesso a informações dessa ordem, não estarem preparados para
o entendimento, ou até mesmo ao comodismo e à preguiça intelectual que levam
muitos a desconsiderar os temas importantes da vida.
É curioso notar como
mostram desinteresse se o assunto vem à tona. A impressão que dão é que não
existem Espíritos, não se comunicam, e pronto! Se não dizem isso, sabemos que
pensam assim. Desconhecem os fenômenos e as pesquisas psíquicas por completo.
Contudo, os temas
espiritualistas sempre foram amplamente comentados na literatura e na imprensa
mundiais; a cultura popular e as tradições dos povos estiveram o tempo todo
cheias de histórias místicas que as comunidades cuidaram de disseminar. As
Artes sempre contribuíram muito para a sugestão da transcendentalidade.
Atualmente os veículos de comunicação discutem fartamente essas questões. A
literatura espírita enche prateleiras de livrarias, bancas, feiras, displays em
redes de mercado e shoppings. O problema da morte, da sobrevivência depois
dela, da comunicabilidade entre homens e Espíritos está fartamente estudado e
descrito numa quantidade incalculável de obras, em muitos idiomas.
Os Espíritos sempre
contaram como é o seu mundo e nos últimos séculos (principalmente XIX e XX), de
forma mais organizada, têm descrito em minúcias o que pensam, o que fazem, como
vivem no lado “invisível” da vida. Há milhares de páginas falando disso.Desse
modo, alguns descrentes, que antes eram refratários, têm se aproximado das
ideias espiritualistas que poderão abrir-lhes caminhos importantes para melhor
compreensão da vida e de sua superior finalidade. Mas falta muito ainda! A
maioria não percebe nada!
Não há maldade neles,
antes, ingenuidade e desinteresse. São bons, cumprem seus deveres e vão
vivendo, mas estão visceralmente ligados ao corpo, sensíveis apenas àquilo que
diz respeito às suas relações vitais com o trabalho, o descanso, a alimentação,
os compromissos sociais, a sobrevivência, enfim... O que foge à esfera do
pragmático está distante das suas cogitações. Vivem descuidados, esquecidos da
alma, onde se “oculta” um mundo real e fascinante de que eles sequer suspeitam.
Não há premeditação
nesse modo de ser, e sim instinto, que flui com naturalidade. Absorvidos pela
densidade da vida material, com seus problemas e seus atrativos, não conseguem
enxergar novos caminhos. Quase não olham para os lados e raramente olham para o
alto.
É assim que nos
deparamos com irmãos que não ouvem música (a clássica lhes causa sono), não
gostam de flores, de vegetação; têm ojeriza aos animais; não leem nem se
dispõem a estudar; desprezam programas culturais em favor da agitação ou do
ócio; vinculam o prazer ao vício; associam progresso ao acúmulo de bens; não se
abalam com o infortúnio alheio...
Não há como julgá-los
por não terem acuidade espiritual, sensibilidade estética, preocupações
filosóficas, senso crítico. São pessoas como quaisquer outras, humanamente
falando. Fazem parte da mesma humanidade heterogênea, inteligente, pobre,
sensível, egoísta, civilizada, brutal... São partes de um todo social que,
malgrado os pessimistas, avança, progride devagar, mas progride.
Allan Kardec deixou à
posteridade um grande ensinamento, inspirado pelo evangelho e baseado na verdadeira
caridade: “os fortes devem ajudar os fracos, os que estão na dianteira,
auxiliar os retardatários”.
Esse pensamento simples
estimula a solidariedade humana e, mostrando que o indivíduo é superior ao que
lhe está atrás, mas inferior ao que lhe está à frente, instituía igualdade
entre os homens.
Portanto, ninguém é
melhor que ninguém nem superior absoluto. Há relatividade em tudo. O senhor
Tempo convencerá os indiferentes quanto aos saberes do Espírito que regerão a
sociedade humana, aí sim, chamada civilizada.
E, respondendo direta e
enfaticamente à pergunta inicial, dizemos: - Sim, muitos já voltaram. Uma
legião imensa já veio contar, em detalhes, como é “lá”.
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PARA UNS A REENCARNAÇÃO
É MALDITA, MAS NA VERDADE ELA É BENDITA
(José Reis
Chaves)
O fundamento de toda
religião é a crença em Deus e na imortalidade do Espírito. E, na vida prática
do religioso, é essencial a vivência do amor a Deus e ao próximo.
O pecado é uma ofensa
ao próximo, e uma desobediência às leis divinas. Mas a ofensa ao próximo não
atinge Deus, pois Ele é como que vacinado contra ofensas e males. “Ao
Todo-Poderoso não podemos alcançar.” (Jó 37:23). Aliás, se Deus sofresse com os pecados da
Humanidade, Ele seria o ser mais infeliz! Mas isso não acontece, exatamente
porque Deus, além de Todo-Poderoso, é também imutável. Já nós, sim, somos
prejudicados quando deixamos de amar a Ele e ao nosso próximo. E o nosso amor a
Deus passa pelo amor ao nosso semelhante. “Se alguém disser Amo a Deus, e odiar
o seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não
pode amar a Deus, a quem não vê.” (1 João 4: 20).
A crença na
imortalidade do Espírito, como já dissemos, é uma das questões essenciais das
religiões. Mas essa imortalidade é vista de vários modos. Sabemos que o
espírito de cada um de nós habita o nosso corpo aqui na vida terrena. Mas o
Espírito habita também fora deste nosso mundo físico, ou seja, no mundo
espiritual. Ele caminha sempre em sua jornada evolutiva sempiterna, pois ela
tem começo, mas não tem fim. E assim, os Espíritos humanos vão se tornando,
cada vez mais, mais perfeitos, e, pois, mais semelhantes a Deus, mas sem jamais
serem perfeitos iguais a Ele, cuja perfeição é infinita.
Essa crença de que o
espírito, ora está num corpo humano aqui na Terra, ora no mundo espiritual,
depois da crença em Deus e na imortalidade do espírito, é a mais aceita por
todos os religiosos do mundo, independente de sua religião. Ela é o que se
chama reencarnação, que não é criação do Espiritismo como muitos pensam. E, segundo
uma pesquisa da Universidade de Oxford, em 212 países, no ano de 2.000, cerca
de ¾ da população mundial creem na reencarnação, que é bíblica e é, hoje,
comprovada por vários segmentos da Ciência.
E ela é maldita para os
materialistas e para os líderes religiosos fundamentalistas, que não conhecem
bem a Bíblia, ou que a conhecem, mas querem manter os seus fiéis amedrontados
com a falsa e mitológica existência real do inferno de Dante Alighiere na
“Divina Comédia”, quando esse inferno é figurado na Bíblia. Aliás, esse mesmo
maior poeta europeu medieval demonstra reservadamente que ele era
reencarnacionista. (Mais detalhes em meu livro “A Reencarnação na Bíblia e na
Ciência”, 8ª edição, Ed. EBM, SP, e que está sendo lançado também em inglês nos
Estados Unidos, pela Editora “Outskirts Press Inc”.)
A reencarnação continua
maldita para uma minoria da Humanidade, mas, como foi mostrado, é bendita para
a grande maioria da população do mundo. É que ela nos dá a certeza da
imortalidade e de que todos nós estamos mesmo caminhando, uma minoria mais
rapidamente e a maioria mais devagar, de acordo com o livre-arbítrio de cada
um, para nos encontrarmos, um dia, com Deus, que não quer a perda de nenhuma de
suas almas amadas infinitamente por Ele. (João 6: 39).
E terminamos dizendo
que, sem a teoria da reencarnação, seria uma mentira a doutrina teológica da
misericórdia infinita de Deus!
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A
NOVA LITERATURA MEDIÚNICA
(José Passini)
“E falem dois ou três
profetas, e os outros julguem.”– Paulo (I Cor,14:29)
As palavras de Paulo –
inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos
– deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de
obras de origem mediúnica.
A literatura mediúnica
tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente aparecem novos médiuns, novos
livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas
de conteúdo duvidoso, se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos
novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame
criterioso daquilo que leem.
Muitos desses livros se
originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio
espírita como arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos
preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes
possibilite um exame lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.
Muitas pessoas que
conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis,
Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de
médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José
Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem
vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados –
sejam novas revelações.
Bezerra de Menezes,
Emmanuel, André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e
tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo
sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em
linguagem nobre.
Esses Espíritos
conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do
público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de mensagens ou de
livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e
criterioso do seu conteúdo.
Nos dias que correm,
infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já
conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas,
não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.
Sabendo-se que nomes
pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os
benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam
de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros
médiuns? Se o importante é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na
identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a
impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco
da mensagem se revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não
deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se
em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo
superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma? Por que essa ânsia
insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido –
dos Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra
de Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda
a produção mediúnica produzida até agora? Ao dizer isso não se está afirmando
que a fase de produção mediúnica está encerrada.
Sabe-se que a Doutrina
é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois
há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não
dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.
Infelizmente, os
periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que
estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina.
Impera, no meio
espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se
analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns
ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalanche de obras que vão
desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.
Nesse particular, é
justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros,
sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto
ao que é dado a público em nome do Espiritismo.
O dirigente – ou o
grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o
Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o
que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro, ou
simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis
pelas associações intituladas “clube do livro”.
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ESTRUTURA
FAMILIAR
(Waldenir
Aparecido Cuin)
Qual seria para a
sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? “Uma recrudescência
do egoísmo.” (Questão 775, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.)
A família é,
incontestavelmente, uma célula educadora. Nela a criatura aprende a ampliar
responsabilidades, a multiplicar sentimentos, a valorizar a fraternidade, a
desenvolver o senso de proteção, a pensar em conjunto, a perder a
individualidade e a banir a solidão.
Sem qualquer dúvida,
trata-se da base social.
Jamais podemos pensar
na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária, sem contarmos com a
devida, necessária e indispensável estruturação da família. Se registramos, na
coletividade, comportamentos nocivos e deletérios, onde seres humanos se
apresentam de forma desequilibrada e fora dos padrões da decência e da
dignidade que se espera, certamente a origem das distorções, na maioria dos
casos, tem o nascedouro na família em desalinho.
Edifica a família
aquele que tem plenas convicções da urgência e necessidade de educar os filhos
formando-lhes o caráter, não apenas dando-lhes instrução, pois que isso a
escola também pode fazer. Educar é tarefa prioritária da família, onde exemplo
é a lição mais forte.
Edificam a família os
cônjuges que se respeitam sentimentalmente, mantendo-se fiéis aos compromissos
de fidelidade. Diferença de opinião não se caracteriza como motivo para
desavenças e querelas. Podemos, perfeitamente, ter pensamentos diferentes uns
dos outros e caminharmos juntos na mesma direção.
Edificam a família os
membros que elegem o trabalho como base de sobrevivência e aprendizado, sem que
um seja peso econômico para o outro. Trabalho não é castigo, é sagrada
oportunidade de aprendizado e de equilíbrio físico e mental.
Edifica a família quem
mantém em seu lar um clima de cortesia, afabilidade, entendimento e
solidariedade, onde se vislumbram as qualidades dos componentes e se trabalha
em conjunto para a correção dos defeitos naturais que ainda ostentam.
Edifica a família quem
carrega para dentro dela noções de religiosidade, pois ninguém conseguirá
entender as razões lógicas da vida sem refletir, maduramente, na grandeza,
bondade e perfeição das leis divinas.
Edifica a família
aquele que permanece dentro dela mesmo carregando grande cota de sacrifício
sobre os ombros, pois quem não consegue servir ao próximo mais próximo terá
dificuldade em encontrar a paz.
Edifica a família quem
sabe perdoar, esquecer e cultivar a resignação, pois que num agrupamento de
seres humanos, ante o estágio evolutivo que nos encontramos, ainda são frequentes
os momentos de desajustes que exigem paciência e calma.
Estruturar a família
não é tarefa fácil, mas indispensável para continuarmos sonhando com a paz e a
felicidade, pois tais conquistas somente se fixarão, definitivamente, em nosso
âmago, no instante em que conseguirmos plantá-las nos corações alheios, e nada
mais justo e lógico do que iniciarmos essa tarefa pelos nossos familiares.
Em verdade, fácil é
conquistar algo no mundo, difícil é vencer na família. Muitas criaturas
conhecem a aprovação social pelos feitos que apresentam, mas recebem a
reprovação dos familiares devido ao descumprimento dos deveres básicos. Ainda,
a vitória fora do lar, sem o amparo da família sólida, não terá o sabor que se
espera.
Reflitamos.
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CASAMENTO
(Felinto Elízio
Duarte Campelo)
O casamento é uma
tradição adotada por todos os povos desde a mais remota antiguidade.
O ato de
consorciarem-se duas pessoas de sexos opostos sempre se deu por livre união,
pelas mais diversas formalidades civis ou diferentes cerimônias e rituais
religiosos, variando conforme a época, o país, a crença.
Todos os dias, jovens
enamorados unem-se pelos liames afetivos. Querem eles que seja um enlace
duradouro, pleno de felicidade.
Um casamento estável,
independentemente de haver sido oficializado ou não, lastreia-se no amor puro,
sincero, leal, diferente da paixão desvairada que se esvai quando satisfeito o
desejo.
Rapazes e moças
casadoiras não se iludam com a lenda de almas gêmeas. Elas são apenas Espíritos
afins, estagiando no mesmo grau de desenvolvimento, sujeitos às vicissitudes
que a vida material oferece. São individualidades diferentes, independentes,
com pensamentos próprios.
A vida de casados não é
só lua de mel, não é só poesia, não é um mar de rosas ou um lago azul de águas
plácidas, cristalinas, transparentes como cantam e decantam os poetas e
romancistas; por vezes as rosas tendem a se descolorirem, murcharem, as águas
turvam-se, encapelam-se. A vida a dois é um laboratório de experiências onde,
ao calor do cadinho, se devem purificar aqueles que optarem pelo matrimônio.
Por isso mesmo, creiam
que, sozinho, o amor não é capaz de consolidar um casamento. Há outros
componentes imprescindíveis para tornar uma união sólida, durável ou mesmo
perpétua.
São ingredientes tais
como um pouco de paixão moderada, humildade, compreensão, tolerância,
paciência, renúncia.
Aos cônjuges cabe aprenderem
a renunciar a determinado costume e gostos a bem da harmonia doméstica; devem
eles exercitar a paciência para eliminar áreas de atrito desgastantes;
necessitam da tolerância que releva faltas e omissões para manter uma
convivência sadia, sem rusgas; carecem de muita compreensão para administrarem
diferenças sem quebra da tranquilidade e da paz no lar; precisam ser humildes
para reconhecerem suas próprias limitações e aceitarem as do seu parceiro,
abafando a vaidade, recalcando o orgulho, extirpando a prepotência, sentimentos
inferiores tão comuns aos seres humanos; é importante manterem acesa a chama da
paixão recíproca que sustenta a atração física e dá equilíbrio ao
relacionamento íntimo, dissipador natural das tensões provocadas pela vida
moderna.
A condição humana nos
faz dependentes de bens materiais e a pouca evolução espiritual nos leva à
busca incessante do deleite em sensações físicas.
A vida a dois envolve
nuanças às vezes esquecidas. À esposa não basta ser apenas “a esposa”, é
preciso ser mulher, viver o lado feminino; ao esposo não é lícito ser somente
“o esposo”, é essencial ser marido atuante que participa, interage, ampara,
sabe manter viva a chama da paixão que aquece o coração e estar presente tanto
nas horas de alegria como nos momentos de tristeza.
Por fim, queremos falar
aos jovens que, lembrando o Evangelho de Jesus, em Mateus, 26:41: não olvidem o
ensinamento “VIGIAI E ORAI”.
A oração é o elo
luminoso entre criatura e Criador, além do que nos condiciona a vigiar para que
aquela paixão, a humildade, a compreensão, a tolerância, a paciência e a
renúncia não sejam exauridas e permaneçam vivas como sustentáculo do
remanescente amor que nunca deverá ser esvaecido.
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A
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DEUS E AS
DIVISÕES DAS CORRENTES CRISTÃS
(José Reis
Chaves)
Os espíritas não
aceitam os dogmas criados pelos teólogos, mas respeita-os e procuram seguir
rigorosamente os preceitos evangélicos. Já os protestantes e evangélicos, ao
contrário, estão mais ligados aos dogmas do que ao evangelho, além de, às
vezes, se prenderem muito ao Judaísmo do Velho Testamento. Que fique bem claro
aqui que não tenho nada contra os judeus, que muito admiro pela sua fervorosa
fé monoteísta, e que muito têm também da essência do cristianismo não
dogmático, do que é um exemplo os Dez Mandamentos. Além disso, a religião do
próprio Jesus era o Judaísmo.
O pensamento religioso
é o que mais evolui. Constantemente, ele está em transformação, principalmente
o pensamento a respeito de Deus. E cada um de nós tem Deus do tamanho de nós
mesmos, ou seja, de nosso nível diferenciado de inteligência e de nossa
evolução científico-cultural-filosófico-teológica. Daí as polêmicas teológicas
sem fim, que sempre existiram e existirão, e que são a causa de as pessoas
mudarem tanto de religiões.
E é por isso que as
ideias dos teólogos antigos a respeito de Deus, com todo o respeito a elas e a
eles, precisam de uma revisão urgente, pois, às vezes, elas estão tão fora de
tempo, que chegam mesmo a favorecer o crescimento daqueles que deixam de crer
em Deus ou ficam sem religião.
Essas diferenças
milenares de pontos de vista das pessoas, principalmente as dos teólogos, sobre
Deus, sobre Jesus e sobre o Espírito Santo, estão também presentes na própria
Bíblia e, às vezes, num mesmo autor em épocas eferentes de sua vida. Ademais,
como os autores bíblicos receberam influências ou inspirações de Espíritos
humanos, deuses (Espíritos desencarnados), ora bons (Espíritos santos), ora
maus ou atrasados, a Bíblia tem questões sobre Deus, o bem e o mal, envolvendo
ora verdades, ora erros. E essas diferenças acontecem sempre entre os
religiosos de todas as religiões, haja vista as divergências entre os cristãos
e as da minoria dos islâmicos do Estado Islâmico com a maioria do verdadeiro
Islamismo.
E essas divergências
são derivadas, em grande parte, das influências ou inspirações de Espíritos de
diversos níveis de evolução sobre os teólogos e dirigentes de religiões. “A
nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra as potestades.” (Efésios
6: 12). Sim, nós recebemos influência de Espíritos bons e maus, pois Deus
respeita o livre-arbítrio de todos os Espíritos encarnados e desencarnados que
sempre estão atuando no Universo.
Aqui queremos abrir um
parêntesis para abordar um assunto confuso. (Romanos 8: 11): O mesmo Espírito
de Deus que ressuscitou Jesus, e que habita em vós, ressuscitará a vós também.
Esse espírito é o de Deus ou o nosso? Tentemos esclarecer essa passagem.
“Pneuma” em grego significa espírito, sopro e vento. Veja-se a metáfora “Deus
soprou nas narinas de Adão”. (Gênesis 2: 7). Então, “pneuma” significa sopro ou
Espírito de Deus, propriedade de Deus, mas que é também um espírito emanado de
Deus para cada ser humano.
A Bíblia não é a
palavra de Deus. Ela contém a palavra de Deus transmitida para nós através de Espíritos
mensageiros ou anjos (“aggelos”), ou seja, Espíritos enviados por Deus ao nosso
mundo, confundidos, muitas vezes, com o próprio Deus. E muitas divergências
teológicas cristãs existem, exatamente por causa das diferenças de evolução
cultural dos teólogos!
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(André Luiz
Alves Jr)
Pisar neste terreno é o
mesmo que andar em um campo minado, pois o assunto contradiz a crença de muitas
pessoas, no entanto, nossa intenção é apenas elucidar o tema sob a ótica da
Doutrina Espírita sem promover discussões acaloradas.
Certas religiões não reconhecem
o Espiritismo como doutrina cristã e utilizam como principal argumento o fato
de que os espíritas não admitem a ideia de que Jesus é o próprio Deus. Em
parte, eles estão certos. De fato a Doutrina Espírita não interpreta a figura
de Jesus como Deus, mas, daí a dizer que o Espiritismo não é cristão, é uma
outra história.
À primeira vista, a
afirmação de que o Messias não é o Criador pode nos causar uma certa
perplexidade, mas para compreender o tema proposto devemos nos libertar da fé
cega que nos torna uma máquina de crer, nos tira a ação de questionar e de
submeter as ideias ao crivo da razão.
A divindade de Jesus
O Cristianismo
tornou-se religião oficial do Império Romano no ano de 380 d.C., por ordem do
imperador Teodósio I. Até então o paganismo predominava naquela civilização e
qualquer outra forma de manifestação religiosa era considerada uma subversão.
Todavia, a doutrina pagã fora oficialmente extinta somente no ano de 392 d.C.
Neste período de conversão do Império Romano, o Cristianismo sofreu influências
pagãs e incorporou alguns costumes da antiga religião em suas tradições.
O hábito de cultuar
imagens, por exemplo, foi herdado do paganismo. Desta maneira, acredita-se que
o endeusamento da personalidade de Jesus tenha partido do mesmo princípio, o
que acabou tornando-se um dogma, que posteriormente foi fomentado pela
institucionalização da Igreja, que acabou criando, através de seu proselitismo,
a imagem de um Messias intocável.
Jesus por Ele mesmo
Sabemos que o Mestre de
Nazaré não deixou nenhum registro de suas ideias. Os relatos existentes são
narrados pelos apóstolos ou até mesmo pelos discípulos dos apóstolos, que
sequer tiveram contato com Jesus, o que não confere grande credibilidade aos
registros contidos no Novo Testamento. Mas por serem os únicos relatos
existentes, mencionaremos determinadas citações bíblicas atribuídas ao Cristo,
que demonstram não ser Ele o Criador.
Vejamos:
“Quem quer que me
receba, recebe aquele que me enviou, porquanto aquele que for o menor entre
todos vós será o maior de todos”. (Lucas, 9:48)
“Jesus lhes disse
então: Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, porque foi de Deus que saí e
foi de sua parte que vim; pois não vim de mim mesmo, foi Ele que me enviou.”
(João, 8:42)
“Jesus então lhes
disse: Ainda estou convosco por um pouco de tempo e vou em seguida para aquele
que me enviou.” (João, 7:33)
“Desci do céu, não para
fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.” (João,
6:38)
Quem teria enviado
Jesus, senão o Criador? As palavras que destacamos em negrito, nos levam a crer
que Jesus se refere a outra personalidade, que nada tem a ver com o Nazareno.
Em outras tantas
passagens evangélicas, Jesus se dirige a Deus como um filho se reporta a um
pai:
“Aquele que me
confessar e me reconhecer diante dos homens, eu também o reconhecerei e
confessarei diante de meu Pai que está nos céus." (Mateus, 10:32)
“Eu me vou e volto a
vós. Se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai É
MAIOR DO QUE EU.” (João, 14:28.)
Certamente Jesus não se
referiu a José quando pronunciou "o meu pai", mas sim a Deus, que lhe
confiou a mais sublime missão. (Obras Póstumas - Allan Kardec.)
Percebemos nestas
citações contidas no Novo Testamento, que são atribuídas ao próprio Cristo, que
Ele é um enviado de Deus. Descarta-se, portanto, qualquer possibilidade de o
Nazareno ser o Criador.
Por fim, destacaremos
uma das mais conhecidas passagens atribuídas a Jesus, que é narrada pelos
evangelistas nas escrituras. São as últimas palavras do Cristo enquanto
espírito encarnado:
“Pai, em tuas mãos
entrego o meu espírito”. (Lucas, 23, 46)
Ora, aqui nos parece
muito claro que Jesus se coloca diante de Deus no ponto alto de seu sofrimento.
Allan Kardec destaca seu pensamento sobre o assunto:
“Se Jesus, ao morrer,
entrega sua alma às mãos de Deus, é que ele tinha uma alma distinta de Deus,
submissa a Deus. Logo, ele não era Deus”. (Obras Póstumas - Allan Kardec.)
Jesus, segundo o
Espiritismo
Algumas religiões
acusam o Espiritismo de diminuir a figura de Jesus, o que não é verdade. A
Doutrina Espírita procura resgatar o cristianismo redivivo, que se perdeu com o
passar dos tempos, e por isso rejeita o dogma da divindade de Jesus, tal qual o
próprio Cristo o fez, como exemplificamos no tópico anterior.
A Doutrina dos
Espíritos nos explica que Jesus é um Espírito criado por Deus, simples e
ignorante, como todos nós, mas que já percorreu todo o caminho evolutivo e que
por isso é um Espírito perfeito.
625) Qual o tipo mais
perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
–Vede Jesus. (O Livro
dos Espíritos - Allan Kardec.)
Jesus Cristo é um dos
prepostos do Criador, que recebeu a missão de conduzir o nosso planeta. Antes
mesmo de a Terra existir, Ele já havia alcançado a perfeição e, juntamente com
uma plêiade de Espíritos afins, organizou o nosso sistema, os planetas e tudo o
que aqui está.
Sua reencarnação na
Terra teve o objetivo de complementar a lei anunciada por Moisés e, sobretudo,
para nos mostrar que podemos evoluir moralmente e nos aproximar de Deus.
"Para o homem,
Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na
Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou
é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de
quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.” (O Livro dos
Espíritos - Allan Kardec.)
O Espiritismo não
endeusa a figura do Mestre, ao contrário, nos apresenta Jesus de uma maneira
real e tangível, desmistificando a ideia do Cristo intocável e distante. Ele é
o modelo a ser seguido e, somente colocando em prática seus exemplos e
ensinamentos, teremos condições de conquistar a perfeição.
"Eu sou o caminho,
a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim."(João, 14)
Deus, segundo o
Espiritismo
Não temos a pretensão
de definir o que é Deus, até mesmo porque esse assunto foge ao nosso
entendimento. Mas recorremos a "O Livro dos Espíritos", em que Allan
Kardec, logo na primeira pergunta direcionada aos Espíritos superiores, vai
direto ao ponto.
1. Que é Deus?
–“Deus é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas.”(O Livro dos Espíritos - Allan
Kardec.)
Temos aqui uma ideia
superficial do que é Deus, pois a natureza humana, ainda muito limitada, não é
capaz de compreender a complexidade do Criador. Mas entendemos que Deus é
eterno, não teve princípio e não terá fim; é único e soberanamente justo e bom.
É dEle que partem todas as coisas, inclusive o princípio inteligente chamado de
espírito.
81. Os Espíritos se formam espontaneamente, ou
procedem uns dos outros?
–“Deus os cria, como a
todas as outras criaturas, pela sua vontade. Mas, repito ainda uma vez, a
origem deles é mistério.” (O Livro dos Espíritos - Allan Kardec.)
"Deus não se
mostra, mas se revela por suas obras." Para comprovar sua existência,
basta olhar ao redor e contemplar a natureza, o universo, a harmonia de tudo
que o homem não criou. Não precisamos nos esforçar muito para compreender que
toda esta complexidade nasce de uma inteligência maior, ou nada faria sentido.
Considerações finais
Se todos os Espíritos
são criados por Deus e Jesus é um Espírito puro, logo o Cristo não é Deus, mas
podemos considerá-lo como seu emissário.
Jesus é parte da obra
magnífica e infinita do Criador, trazendo consigo a esperança e a centelha do
amor Divino, que nos consola em tempos difíceis e nos reveste de esperança. É a
luz que clarifica o caminho para evolução.
–"Jesus foi a
manifestação do amor de Deus, a personificação de sua bondade infinita."
(Espírito Emmanuel, no livro "Emmanuel" - Psicografia de Chico
Xavier.)
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Prezado Amigo(a) responsavel pelo Blog,
ResponderExcluirQuero agradecer por voce ter colocado meu artigo nesse importante Blog.
Mais uma oportunidade para falar dos ensinos do Mestre Jesus.
Se quizer mais artigos, me avise e eu mando para voce.
São artigos de cunho espirita, pois sou palestrante, realizamos cursos de Doutrina e Mediunidade.
Abraços fraternos
Prof. Wagner Ideali
email: wagner.ideali@terra.com.br
fone: 011-98354-3513
Caríssimo Amigo,
ResponderExcluirAgradeço-lhe a oportunidade dada a mim em conhecer esse blog que, hoje, pela primeira faço acesso durante uma pesquisa sobre uma mensagem de colóquio inter-religioso com o título"Fe e esperança no futuro".
Que os Bons Espíritos o ilumine para continuar nesse trabalho esclarecedor que faz diminuir a falta de conhecimento para aqueles que buscam se iluminar-se pelas dádivas divinas tão deturpadas ao longo da história da vida da humanidade.
Um abraço fraternal.
Walfrido Humberto
Prezado Walfrido.
ExcluirAgradeço o seu valioso comentário, que é um incentivo, para que eu continue defendendo os postulados da Doutrina Espírita, levando as pessoas a uma reflexão sobre a vida, conforme os Espíritos superiores informaram a Kardec.
Um abraço!