Reflexões sobre
a Parábola dos Talentos
Ensino espírita
Uma parábola é
uma pequena história contada para explicar uma verdade complexa. As parábolas
de Jesus nos ensinam verdades eternas, mas também oferecem lições práticas
inesperadas para as questões mundanas. Jesus foi aquele homem que veio à Terra
para nos mostrar a verdade, a lógica, a razão, e nos indicar o caminho de volta
ao seio do Pai. Como pedagogo, o Mestre contava histórias da vida. Alguns dias
antes de Sua crucificação, Jesus levou Seus discípulos a um lugar no Monte das
Oliveiras, que dava vista para Jerusalém e proferiu, nesse local, o que
conhecemos como sermão do Monte das Oliveiras. Um lugar calmo e com vista
panorâmica da cidade, era o local perfeito para que o Cristo ensinasse a Seus
discípulos. Então, Ele contou a Parábola dos Talentos (Mateus, 25–14-30). Como
todas as parábolas bíblicas, ela tem muitos níveis de significado. Sua essência
se relaciona com o modo como utilizamos os dons que recebemos de Deus. Essa
definição abarca todos os dons: naturais, espirituais e materiais. Inclui, também,
nossas habilidades e recursos naturais. O significado da Parábola dos Talentos
fala sobre responsabilidade e prestação de contas que devemos fazer dos
talentos que recebemos de Deus. Esta parábola mostra como não devemos
desperdiçar as oportunidades que temos. Eis, a parábola: Disse-lhes o Cristo: O
Senhor age como um homem que, tendo que fazer uma longa viagem, chamou seus
servidores, e falou que deixaria uma certa quantia para eles aplicarem, e que
quando voltasse, eles teriam que prestar contas. Então, deu a um empregado
cinco Talentos; a outro empregado dois Talentos; e a um terceiro empregado um
Talento, e partiu imediatamente. O que recebeu cinco Talentos foi-se. Negociou
com aquele dinheiro e ganhou outros cinco. O que recebeu dois, da mesma forma,
ganhou outros dois. Mas o que apenas recebeu um, cavou a terra e aí escondeu o
dinheiro de seu amo. Quando se fala em Talento, aqui, no caso da parábola,
somos levados a pensar tratar-se de uma moeda de pequeno valor. Mas não é isso.
Segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, um Talento valia seis mil Denários, e um
Denário era o pagamento de um dia de serviço de um trabalhador naquela época,
em Roma. Apesar de estar mencionando essa quantia grande de dinheiro, Jesus não
está aqui ensinando teoria econômica, apenas Ele está transmitindo uma
mensagem. Passado longo tempo, o senhor daqueles servos voltou e os chamou a
prestarem contas. Veio o que recebera cinco Talentos e lhe apresentou outros
cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco Talentos, aqui estão. E além
desses, mais cinco que lucrei, negociando com eles. Respondeu-lhe o amo:
Servidor bom e fiel. Já que me foste fiel nas coisas pequenas, confiar-te-ei
muitas outras. Compartilha da alegria do teu senhor. O que recebera dois
Talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse: Senhor, entregaste-me dois
Talentos, aqui estão. E além desses, mais dois outros que lucrei, negociando
com eles. E o amo respondeu-lhe: Servidor bom e fiel. Já que me foste fiel nas
pequenas coisas, confiar-te-ei muitas outras. Compartilha da alegria do teu
senhor. Veio em seguida o que recebera
apenas um Talento e disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não
semeaste e colhes de onde nada puseste, por isso, como tive medo de ti, escondi
o teu Talento na terra. Aqui o tens. Restituo o que te pertence. O homem,
porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso, se sabias que ceifo onde não
semeei e que colho onde nada pus, devias por o meu dinheiro nas mãos dos
banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me
pertence. E ordenou: Tirem-lhe, pois, o Talento que está com ele e deem-no ao
que tem dez Talentos, porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão
cumulados de bens. Quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que
pareça ter, e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde
haverá prantos e ranger de dentes. Essa parábola exprime os deveres que nos
cabem: material, moral e espiritual. Interpretada ao pé da letra, ela induz que
há uma violação às leis de Deus. Uma ambição muito grande, justificando a
aplicação do dinheiro para render juros. Mas, buscando-se a essência do
ensinamento, nós vamos entender um significado diferente. Está visto que o
senhor, aí, é Deus; os servos somos nós, a Humanidade; os Talentos são os bens
e recursos que a Providência nos outorga e representam potências que cada um de
nós recebeu ao nascer, para serem desenvolvidas e empregadas em benefício
próprio e no de nossos semelhantes; o tempo concedido para sua movimentação é a
existência terrena. Nós, na condição de Espíritos em trânsito pela Terra,
trazemos na nossa bagagem potencialidades latentes dentro de nós, que deverão
ser desenvolvidas. E na medida da nossa evolução, vamos adquirindo condições de
desenvolvermos esses Talentos. A distribuição dos Talentos em quantidades
desiguais, ao contrário do que possa parecer, nada tem de arbitrária nem de
injusta; baseia-se na capacidade de cada um, adquirida antes da presente
encarnação, em outras jornadas evolutivas. Da mesma forma que o homem conhecia
os seus servidores, Deus conhece a capacidade de cada um de nós. Dessa
alegoria, vamos retirar a essência do ensinamento de Jesus. Os talentos
representam os ensinamentos do Mestre. Quando bem aplicados, ou seja, bem
entendidos, são fonte de felicidade e, ao contrário, quando mal aplicados, quer
dizer, mal entendidos, são obstáculos, desviando a criatura do bem e da
verdade. Aqueles que recebem os talentos do Evangelho e os aplicam em proveito
próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a palavra de Deus,
estão representados pelos servidores que receberam cinco e dois talentos. E
quando forem chamados ao ajuste de contas, lhes será dito: servidor bom e fiel!
São criaturas que sabem cumprir a vontade de Deus, empregando bem a fortuna, a
cultura, o poder, a saúde, o perdão, a benevolência, etc... Aqueles dons com
que foram aquinhoados. Mas aqueles que recebem os talentos desse mesmo
Evangelho e não os observam, ou aplicam mal, deixando-os improdutivos,
prejudicando a causa que deveriam zelar, são semelhantes ao servidor que
escondeu o talento recebido. E quando chamados ao ajuste de contas, lhes será
dito: servidor mau e preguiçoso! E lhes serão tirados tudo o que têm e mesmo o
que pareçam ter. Nesse terceiro servo vemos destacado o mau hábito de certas
criaturas, que, para encobrirem suas faltas ou justificarem suas fraquezas, não
hesitam em atribuir deméritos imaginários às outras. Quando o senhor ordena que
o servidor inútil seja lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e
ranger de dentes, quis dizer que aquela pessoa, por meio do embotamento da sua
inteligência, não soube valorizar o bem que recebeu e, por isto, vai receber o
fruto da sua ignorância no seu dia a dia. É importante destacar que o servo
negligente atribuiu ao medo a causa do seu insucesso. O que aconteceu ao
servidor receoso da narrativa evangélica acontece a muitas criaturas que se
recolhem à ociosidade, alegando medo da ação, medo de trabalhar, medo de
servir, medo de sofrer, medo da dor, medo até da alegria. E a pretexto de serem
menos favorecidas pelo destino, transformam-se em representantes da inutilidade
e da preguiça. “Se recebeste, pois, mais rude tarefa no mundo, não te atemorize
a frente dos outros e faze dela o teu caminho de progresso e renovação, por
mais sombria que seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias,
enriquece-a com a luz do teu esforço no bem, porque o medo não serviu como
justificativa aceitável no acerto de contas entre o servo e o Senhor”. A
percepção é um atributo do espírito. Quanto maior o estado de consciência do
indivíduo, maior será sua capacidade de perceber a vida, que não se limita
apenas aos fragmentos da realidade, mas sim a realidade plena. Colocar nossa
atenção nas coisas da vida é fator importante para o nosso desenvolvimento mental,
emocional e espiritual, todavia, é necessário saber direcionar convenientemente
nossa percepção e atenção no momento exato e para o lugar certo. O resultado do
medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com
espontaneidade, pois, quem decidirá como e quando devemos atuar será a
atmosfera de temor que nos envolve. Cada um de nós vê o universo das coisas
pelo que é. Vemos o mundo e as criaturas segundo o nível de desenvolvimento da
consciência em que vivemos. Quanto maior esse nível, mais estaremos centrados e
vivendo de modo estável e tranquilo. Quanto menor esse nível, mais primário
será o nosso juízo a respeito de tudo, e teremos uma estreita visão dos fatos e
das pessoas. A vida é, antes de tudo, um profundo exercício de descobertas.
Para reflexão, vamos destacar alguns trechos: Esse contexto é importante para o
melhor entendimento da parábola dos talentos. No antigo oriente, no tempo de
Jesus, os ricos tinham uma prática bastante comum: quando esses senhores
precisavam se ausentar da cidade, eles chamavam seus servos de maior confiança.
E faziam deles os administradores de toda sua terra e seu dinheiro. Estes
tinham liberdade para negociar e gerar lucro para o seu senhor no período que
ele estivesse fora. É com base neste costume que a parábola dos talentos é
contada. E não é difícil entendermos a sua mensagem. O que representa os
Talentos entregues aos servos? A
oportunidade de cada um desenvolver o potencial que tem dentro de si. Por que o
senhor não deu aos seus servos quantidades iguais de Talentos? Porque
conhecendo bem os seus servidores, distribuiu de acordo com a capacidade de
cada um. Por que o servo que recebeu um Talento foi chamado de servo inútil?
Porque, pela sua ignorância, sentiu medo e enterrou o Talento, não sabendo
valorizar o bem que recebeu. O que devemos entender pela expressão: Ser lançado
nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes? Que aquele que não souber valorizar os bens
que recebeu aqui na Terra receberá, como recompensa, os frutos da sua
ignorância. O que entendemos dessa parábola? É a valorização feita por Deus
sobre a criatura, verificando a capacidade de cada uma e recompensando segundo
suas obras. Ao longo dos anos diferentes interpretações surgiram sobre a
Parábola dos Talentos. Duas interpretações se destacam das demais como
principais. Uma defende que esta parábola se refere ao povo judeu. Já a outra
sugere que o ensino desta parábola abrange a totalidade dos cristãos. Claro que
esta parábola foi dirigida primeiramente aos discípulos de Jesus; e
provavelmente eles conseguiram estabelecer paralelos claros entre o significado
da parábola e as características históricas do ambiente em que viviam. Porém,
obviamente o significado da Parábola dos Talentos não ficou limitado aos
discípulos, mas alcança a todos os cristãos de todas as épocas. Seja qual for a
interpretação, nenhuma delas pode ignorar que o grande significado da Parábola
dos Talentos enfatiza o princípio de que cada um recebe dons e oportunidades. O
servo fiel é aquele que, independentemente da quantidade de talentos recebida,
age com responsabilidade e diligência. O servo fiel valoriza os bens do seu
Senhor. Essa parábola é como uma recomendação contra a negligência das pessoas.
Se nós desejamos que haja progresso em nossas vidas, e que tenhamos a
possibilidade de utilizar esse progresso em nosso benefício e em benefício do
nosso semelhante, temos que deixar de lado a indolência e a preguiça, para
agirmos com dinamismo e inteligência, não negligenciando na hora de perdoar;
não negligenciando na hora de compreender as necessidades do próximo; não
negligenciando em reconhecer as palavras de Jesus. Ninguém nasce brilhante.
Todos nós fomos criados simples e ignorantes. E é aos poucos que nós vamos
acumulando conhecimento, de experiência em experiência, até sabermos discernir
uma coisa da outra, para traçarmos o nosso caminho. Utilizemos, portanto,
nossos talentos, para a construção de um mundo melhor.
Muita Paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário