CÓLERA,
SENTIMENTO DESTRUTIVO.
Todas
as virtudes e todos os vícios são próprios da natureza do Espírito. Daí a
necessidade de se educar. Do contrário, onde estaria o mérito e a
responsabilidade por nosso aperfeiçoamento moral? O homem só pode modificar o que
é do Espírito, quando tem uma vontade firme. A experiência não vem provando
isso, até onde vai o poder da vontade pela transformação verdadeira?
Convença-se portanto de que o homem só permanece violento e colérico porque
assim o quer; mas aquele que quer se corrigir sempre tem a oportunidade e o
apoio de Deus através de seus Enviados Celestes. De outra forma, a lei do progresso
não existiria para o homem. Para ilustrar este estudo nós fomos buscar no livro
Alvorada Cristã, o conto “O Grito de cólera”, ditado pelo Espírito Neio Lúcio. Conta-nos
assim o autor espiritual: Lembra-se do instante em que gritou fortemente, antes
do almoço? Por insignificante questão de vestuário, você pronunciou palavras
feias em voz alta, desrespeitando a paz doméstica. Ah! Meu filho, quantos males
foram atraídos por seu gesto de cólera! A mamãe, muito aflita, correu para o
interior, arrastando atenções de toda a casa. Voltou-lhe a dor de cabeça e o
coração tornou a descompassar-se. As duas irmãs, que cuidavam da refeição, dirigiram-se
precipitadamente para o quarto, a fim de socorrê-la, e duas terças partes do
almoço ficaram inutilizadas. Em razão das circunstâncias provocadas por sua
irreflexão, o papai, muito contrariado, foi compelido a esperar mais tempo em
casa, chegando ao serviço com grande atraso. Seu chefe não estava disposto a
tolerar-lhe a falta e recebeu-o com repreensão áspera. Quem o visse, ereto e
digno, a sofrer essa pena, em virtude da sua leviandade, sentiria compaixão,
porque você não passa de um jovem necessitado de disciplina, e ele é um homem
de bem, idoso e correto, que já venceu muitas tempestades para amparar a
família e defendê-la. Humilhado, suportou as consequências de seu gesto
impulsivo, por vários dias, observado na oficina qual se fora um menino vadio e
imprudente. Os resultados de sua gritaria foram, porém, mais vastos. A mãezinha
piorou e o médico foi chamado. Medicamentos de alto preço, trazidos à pressa,
impuseram vertiginosa subida às despesas, e o papai não conseguiu pagar todas
as contas de armazém, farmácia e aluguel de casa. Durante seis meses, toda a
sua família lutou e solidarizou-se para recompor a harmonia quebrada,
desastradamente, por sua ira infantil. Cento e oitenta dias de preocupações e
trabalhos árduos, sacrifícios e lágrimas! Tudo porque você, incapaz de
compreender a cooperação alheia, se pôs a berrar, inconscientemente, recusando
a roupa que lhe não agradava. Pense na lição, meu filho, e não repita a
experiência. Todos estamos unidos, reciprocamente, através de laços que procedem
dos desígnios divinos. Ninguém se reúne ao acaso. Forças superiores impelem-nos
uns para os outros, de modo a aprendermos a ciência da felicidade, no amor e no
respeito mútuos. O golpe do machado derruba a árvore de vez. A ventania destrói
um ninho de momento para outro. A ação impensada de um homem, todavia, é muito
pior. O grito de cólera é um raio mortífero, que penetra o círculo de pessoas
em que foi pronunciado e aí se demora, indefinidamente, provocando moléstias,
dificuldades e desgostos. Por que não aprendemos a falar e a calar, a benefício
de todos? Ajude em vez de reclamar. A cólera é força infernal que nos distancia
da paz divina. A própria guerra, que extermina milhões de criaturas, não é
senão a ira venenosa de alguns homens que se alastra, por muito tempo,
ameaçando o mundo inteiro.
REFLEXÃO:
No
Sermão da Montanha, Jesus dá uma receita de vida para todos aqueles que buscam
a evolução espiritual. Nele, o Cristo nos fala que Bem-aventurados são os
pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. A harmonia com o Universo é a
missão de todo homem, e ela está inserida na lei do amor e da caridade.
Harmonia com o Universo requer humildade, que eleva e auxilia o aprendizado, e
aquisição da sabedoria divina. Mas só há harmonia quando existe paz, não só no
mundo exterior que nos envolve mas, sobretudo, no mundo interior de cada um de
nós. A ira, a cólera, a exaltação, são agentes perturbadores da harmonia
universal e os causadores das dores do homem, e são filhas diletas do egoísmo,
que ainda habita o coração do ser. A cólera atua como estilete lançado, que
prende agressor e agredido através de um fio muito tênue, mas extremamente
resistente, feito de ressentimento, de desamor e, até, de ódio. Agressor e
agredido passam a vibrar no mesmo diapasão de desarmonia, tornando-se sujeitos
a toda sorte de desequilíbrios físicos e psíquicos. Este fio é um laço que
contém energias vibratórias desarmonizadas e que acarreta dor e sofrimento para
aqueles que gravitam em torno delas. A ira desestabiliza o organismo
perispiritual envenenando o ser com fluidos nocivos à sua saúde física e
mental; a ira contraria frontalmente a humildade e a caridade, ferindo,
portanto, a lei de Deus. E se a inveja é o único pecado que todo mundo esconde
a sete chaves, a ira, ao contrário, fica à mostra. A raiva fica exposta nas
expressões faciais. Antes mesmo de Sêneca, Aristóteles já dizia que a ira
começava com uma irritação. Só o amor é capaz de quebrar os elos vibratórios
desarmonizados gerados pela intempestividade dos estados coléricos. A
desarmonia não pode ser causada apenas pela palavra mal pronunciada ou pela
energia oral exacerbada, mas também, mas também pela palavra escrita, que
igualmente fere, magoa, perturba e desequilibra. Quando irados, falamos ou
escrevemos o que não desejamos; o que pensamos e o que não pensamos, nos tornando
julgadores, rotuladores e agressores, apenas para atender aos imperativos do
orgulho ferido ou da ilusão da maior valia. A hierarquia espiritual não se
baseia em convencionalismos, como na Terra. Ela é baseada em valores morais
adquiridos e incorporados em cada ser. A ascendência moral é irresistível,
sendo identificada com facilidade pela luz que cada um consegue irradiar, em
função da capacidade de amor e de desprendimento que possui. O poder terrestre,
portanto, não tem significado no mundo espiritual, onde não existe títulos ou
honrarias, apenas graus de evolução diferenciados. No plano espiritual,
humildade é luz, é amor, é autoridade, é energia criadora e, por isto, Jesus,
nosso mestre maior, nos lembrou: Que se quisermos ser o maior entre todos, que
sejamos aquele que mais serve. O orgulho exacerbado e a ilusão do poder cegam
os homens para a sua verdadeira posição, levando-os a sofrimentos imensos no
plano espiritual, onde defrontam-se por sua realidade e percebem-se diante da
hierarquia do amor. Na espiritualidade, os espíritos desencarnados agrupam-se
segundo a lei da afinidade, conforme o grau de elevação que tenham atingido.
Quando encarnado, entretanto, presos ao pesado fardo da matéria, todos os
espíritos aparentam ser iguais, sendo obrigados a conviver uns com os outros,
independente do grau de evolução que já tenham atingido. Pela lei de amor, cabe
àqueles que já possuem luz em seus espíritos, dividi-la com os seus
semelhantes, ajudando-os a aprender suas lições e a galgar estágios renovados
de compreensão e percepção, que os permita evoluir em espiritualidade, isto é,
em humildade e em amor. Vigilância e oração são os caminhos para superação
dessa fraqueza que ainda habita em nós. Vigilância para perceber a presença da
visitadora inconveniente, a cólera, que prepara seu bote para nos dominar;
oração para nos ligar com as forças sublimes, que nos ajudam a harmonizar o
universo à nossa volta. Virtude não é uma voz que se levanta ou que se exalta,
cobrando atendimento e obediência; mas uma luz que se estabelece e se irradia
pelo poder do exemplo da resignação e da obediência, confiante nos designíos de
Deus. Aquele que se exalta será rebaixado, e aquele que se humilha será
elevado, disse o Cristo. Essa é a consequência da aplicação da lei do amor e da
caridade.
Muita
Paz!
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