Falência encarnatória
Esse nosso tema
é muito curioso, pois fala sobre falência encarnatória. Em primeiro lugar,
temos que entender o que é encarnação. Nós vivemos numa grande confusão de
ideias a respeito da realidade espiritual e da realidade da vida no corpo
físico. É importante nós sabermos que não somos seres humanos tendo
experiências espirituais. Na realidade, nós somos seres espirituais tendo
experiências humanas. Infelizmente as criaturas têm se apegado mais à vida do
corpo físico. Explicar qual o objetivo da encarnação é elucidar a finalidade da
vida, é esclarecer por que nascemos, é sinalizar o caminho que devemos trilhar,
seja qual for a condição em que chegamos ao plano material do mundo onde
vivemos. A questão indica duplo objetivo em nossa passagem pela carne, tanto na
primeira vez quanto nas vezes seguintes, pelo processo das chamadas vidas
sucessivas. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições
de executar a parte que lhe toca na obra da criação. A reencarnação é um
instrumento pedagógico para o espírito, indispensável, pois, à sua evolução,
para que ele saia de sua condição de simples e ignorante para alcançar um
patamar moral superior, ou seja, chegar à perfeição. A reencarnação é o momento de colocarmos em
prática aquilo que aprendemos no mundo espiritual, quando teremos oportunidade
de nos revermos e nos conciliarmos com nossos inimigos e de reencontrarmos
antigos afetos do coração. Deus nos impôs a reencarnação para no mostrar o que
temos de fazer para nós mesmos. Aquilo que devemos fazer não podemos passar
para o outro; cabe-nos enfrentar os nossos deveres com a disposição que a fé
nos faculta. Reencarnar dá trabalho. Requer intenso estudo de nossas
necessidades espirituais. Quando nosso merecimento permite essa oportunidade,
tem que contar também com a participação de engenheiros da espiritualidade que
irão preparar o corpo, os pais, o local, a profissão, os futuros filhos e as
condições de trabalho e resgate que nos serão oferecidos. Trata-se, portanto,
de um verdadeiro investimento da espiritualidade. Naturalmente, há muitas
expectativas de mentores e amigos que, de certa forma, “apostam” em nós.
“Patrocinam” a nova chance que nos é proporcionada. Se em algum momento nos
desviamos do caminho traçado, se nos distanciamos da rota, sonoros alarmes são
disparados na espiritualidade. Claras e decisivas providências são adotadas
para que ocorra o “redirecionamento” das nossas vidas. Para que não se percam
os esforços e os objetivos a que nos propomos, os Espíritos se utilizam de
meios para nos chamar a atenção. Esmeram-se os planejadores para otimizar a
tentativa, oferecendo ao encarnante um corpo material adequadamente provido
para as necessidades do programa encarnatório elaborado, e os trabalhadores da
assistência fraterna para situá-lo no ambiente de interação, apropriado às
exigências dos resgates, reparações e aprendizagem programadas. No entanto,
estaremos redondamente enganados se concluirmos que a tolerância da
espiritualidade não tem limites. As novas oportunidades geralmente não são
muito suaves. E quando não as aproveitamos, ah! É melhor, como diriam os
antigos, “colocar as barbas de molho”, pois daí para frente vem “chumbo
grosso”. Se desperdiçarmos as derradeiras tentativas de recuperação dos amigos
espirituais, é melhor nos prepararmos para futuras encarnações dolorosas e
solitárias. Mas, para chegar a tal perfeição, o Espírito deve sofrer todas as
vicissitudes da existência corpórea. Porém, infelizmente, é alarmante, segundo
alguns Mentores espirituais, a quantidade de Espíritos que retornam à Pátria
espiritual, sem haverem conquistado progresso significativo. Enquanto na vida
física, permanecem distantes da realidade espiritual que lhes é própria,
preferindo viver na ventura fantasiosa dos prazeres mundanos, em detrimento dos
imprescindíveis e inadiáveis esforços para o adiantamento moral que deveriam
desenvolver, razão primordial da vida física. Falta-lhes o conhecimento e a fé
para compreenderem a informação que nos deu Jesus, ao declarar que a verdadeira
vida da criatura, não é a material, mas a espiritual, concreta, vibrante e
verdadeira por toda a eternidade. Permanecem cegos e surdos aos impositivos da
Lei de Progresso, conservando-se na condição de “infância espiritual”,
arrastando-se penosamente por reencarnações sucessivas, incapazes de
compreender a realidade que os aguarda além-túmulo. Por que isto acontece?
Falta-lhes o interesse para saberem as respostas às três perguntas básicas,
latentes na consciência de todos os intelectualmente capazes: De onde viemos? Por que existimos? Para onde
iremos após a morte? Alguns mais irônicos e incrédulos perguntarão: -Quem
poderá respondê-las? Está claro que não será possível com meia dúzia de
palavras explicar assunto de tal transcendência! Estas questões, entretanto,
encontram-se completamente respondidas pela Doutrina Espírita; mas, da mesma
forma que toda Ciência, ela deverá ser estudada, meditada e pesquisada para ser
compreendida e praticada. Lamentavelmente, o lazer ocupa exagerado percentual
do tempo da existência humana. Indiferentes ao conhecimento da realidade de si
mesmos os homens não sabem como bem conduzir a própria vida e, ao chegar ao
inevitável momento do retorno à Pátria Espiritual, encontram-se desorientados
na condição de Espíritos despidos das vestes físicas. Decepcionados ante a
realidade de que a morte não existe como destruição da vida, sentem-se aflitos
e perdidos com a nova situação. Não encontrando o Céu que a mentirosa ficção
lhes prometera com todas as suas delícias e privilégios, para cuja conquista
nada fizeram, os desencarnados despreparados revoltam-se e, até que novas
oportunidades encarnatórias lhes sejam oferecidas, perambulam neste estado em
convívio interativo com os encarnados, ou são arrebanhados por falanges de
Espíritos inferiores para serem iniciados, conforme suas índoles, nos caminhos
do vício e do crime. Os Mentores espirituais dizem que, o Espírito, ainda na
Espiritualidade, ao se preparar para o mergulho na carne, faz promessas de
esforços, as quais, entretanto, ao contato com as vibrações da matéria, são
desprezadas e esquecidas. Desconhecida a real finalidade da existência, não
consegue avaliar quanto de prejuízo causa ao próprio porvir, entrando em
verdadeira falência encarnatória.