O Dom Esquecido
Página do livro
Jesus no Lar, pelo Espírito Neio Lúcio.
A narrativa se
passa em reunião na casa de Simão Pedro, onde Jesus aproveita as discussões
entre seus discípulos para transmitir lições de sabedoria. Entendo que essas
estórias de Neio Lúcio possam ser interpretadas como parábolas modernas, devido
aos ensinamentos que podemos extrair delas.
Conta-nos,
assim, o autor espiritual. Existiu um homem, banhado pela graça do merecimento,
que recebeu do Alto a permissão para abeirar-se do Anjo Dispensador dos dons
divinos que florescem no mundo. Ante o Ministro Celeste, o mortal venturoso
pediu a bênção da Mocidade. Recebeu a concessão, mas, em breve, reconheceu que
a juventude poderia ser força e beleza, mas também era inexperiência e fragilidade
espiritual, e, já desinteressado, voltou ao Doador Sublime e solicitou-lhe a Riqueza.
Conseguiu a abastança e gozou-a longo tempo; todavia, reparou que a retenção de
grandes patrimônios provoca a inveja maligna de muitos. Cansando-se na defesa
laboriosa dos próprios bens, procurou o Anjo e rogou-lhe a Liberdade. Viu-se
realmente livre. No entanto, foi defrontado por cruéis demônios invisíveis, que
lhe perturbaram a caminhada, enchendo-lhe a cabeça de inquietudes e tentações. Extenuado,
em face do permanente conflito interior em que vivia, retornou ao Celeste Dispensador
e suplicou o Poder. Entrou na posse da
nova dádiva e revestiu-se de grande autoridade. Entendeu, porém, mais cedo que
esperava, que o mando gera ódio e revolta nos corações preguiçosos e
incompreensíveis e, atormentado pelos estiletes ocultos da indisciplina e da
discórdia, dirigiu-se ao benfeitor e implorou-lhe a inteligência. Todavia, na
condição de cientista e homem de letras, perdeu o resto da paz que desfrutava.
Compreendeu, depressa, que não lhe era possível semear a realidade, de acordo
com os seus desejos. Para não ser vítima da reação destruidora dos próprios
beneficiados, era compelido a colocar um grão de verdade entre mil flores de
fantasia passageira e, longe de acomodar-se à situação, tornou à presença do
Anjo e pediu-lhe o Matrimônio Feliz. Satisfeito em seu novo desígnio,
reconfortou-se em milagroso ninho doméstico, estabelecendo grandiosa família,
mas, um dia, apareceu a morte e roubou-lhe a companheira. Angustiado pela
viuvez, procurou o Ministro do Eterno e afirmando que se equivocara mais uma
vez, suplicou-lhe a graça da Saúde. Recebeu a concessão. Entretanto, logo que
se escoaram alguns anos, surgiu a velhice e desfigurou-lhe o corpo,
desgastando-o e enrugando-o sem compaixão. Atormentado e incapaz agora de
ausentar-se de casa, o Anjo amigo veio ao encontro dele e, abraçando-o,
paternal, indagou que novo dom pretendia do Alto. O infeliz declarou-se em
falência. Que mais poderia pleitear? Foi então que o glorioso mensageiro lhe
explicou que ele, o candidato à felicidade, se esquecera do maior de todos os
dons que pode sustentar um homem no mundo, o dom da coragem que produz
entusiasmo e bom ânimo para o serviço indispensável de cada dia.
Então, Jesus,
sorrindo, ante a pequena assembleia, rematou: Formosa é a mocidade; agradável é
a fortuna; admirável é a liberdade; brilhante é o poder; respeitável é a inteligência;
santo é o casamento venturoso; bendita é a saúde da carne. Mas se o homem não
possui coragem para sobrepor-se aos bens e males da vida humana, a fim de
aprender a consolidar-se no caminho para Deus, de pouca utilidade são os dons
temporários na experiência transitória.
Reflexão: Deus,
o criador de todas as coisas, concede ao homem, espírito em processo evolutivo,
a liberdade de escolher os seus caminhos e, com isto, traçar, construir o seu
próprio destino. Seja qual for a estrada escolhida, o homem se depara com as
experiências necessárias, para lhe proporcionar as lições responsáveis por sua
evolução espiritual. Dependendo da escolha feita, o caminho a ser percorrido
pode ser mais árduo, mais penoso, mais brando ou mais leve. Mas a realidade da
vida demonstra que, em qualquer percurso, existem sempre experiências, lições,
aprendizados, com suas consequências naturais. Cabe ao homem percorrer o
caminho escolhido com coragem, com determinação, com paciência, com disciplina,
com entusiasmo, para conseguir amealhar em si os valores positivos da
experiência e de elevá-los aos patamares sublimes da espiritualidade superior. Nós
sabemos que não é fácil para o homem, quase sempre ligado apenas aos resultados
imediatistas, perceber essa verdade. Em cada caminho uma lição; em cada passo
um valor a ser aprendido, a ser interiorizado. O Criador não se preocupa com as
dores ou sofrimentos que estamos passando momentaneamente, pois nada é eterno.
Tudo se modifica, tudo evolui. Seu foco em relação a nós está ligado à forma
com que conseguirmos superar as nossas vicissitudes, e com a postura de
resignação ou revolta que estejamos desempenhando. Aquele que vive preocupado
com os pontos futuros a serem atingidos, quando visitado pela impaciência,
costuma desistir da caminhada e escolher novos rumos, reiniciando experiências
e vivendo em eterno conflito consigo mesmo. É claro que é necessário sabermos
aonde pretendemos chegar. Mas é preciso entender que todo caminho é construído
de pequenos passos, que devem ser dados no momento presente. A felicidade do
homem não está em atingir este ou aquele ponto futuro, mas em cada pequeno
passo conquistado. Assim, a felicidade do homem deve ser vista como a própria
oportunidade de caminhar, de superar obstáculos, de aprender as lições da
estrada, de adquirir conhecimento e sabedoria, ao longo da relação com o mundo
em que vive. O sucesso e a felicidade dependem fundamentalmente de nosso ponto
de vista e de nossa postura no caminho. Disse um pensador que não existem
homens fracassados, mas, sim, pessoas inconstantes, que desistem de caminhar,
que desertam das experiências. A lei do trabalho e a lei do progresso nos
impõem que aquele que procura acha, e aquele que caminha chega sempre ao ponto
desejado. Diante da dificuldade natural, o homem costuma reclamar da falta
deste ou daquele dom, ou desta ou daquela habilidade que lhe permita ter
sucesso. Procura justificar suas falhas ou inconstância pela falta de recursos,
pela ausência de poder e assim por diante, não percebendo que o importante é
agir. Todos esses dons temporários pedidos: poder, mocidade, riqueza,
liberdade, saúde, inteligência, trazem suas consequências naturais, e são
isoladamente impotentes para ajudar o homem na superação dos obstáculos e nas
experiências nos caminhos escolhidos. Sem
coragem, sem determinação, sem entusiasmo, ingredientes que fortalecem o
espírito, dando-lhe paciência, resignação e disciplina, nenhum empreendimento
terá sucesso, fazendo o homem fugir das dificuldades ao invés de superá-las
pelo esforço digno. Sem entusiasmo nada se consegue, pois o objetivo sempre nos
parece longe, e já nos faz sentir cansados, antes mesmo de iniciarmos a
caminhada. Quando visitados pelo desânimo diante de nossas provas, é sempre bom
olharmos para trás, para o passado, para o conceito histórico de nossas vidas.
Com certeza, verificaremos o quanto já caminhamos, o quanto já crescemos. Esta
atitude reforça a fé. Faz crescer a esperança e germinar a coragem e o
entusiasmo em nossos corações. Há a necessidade de percebermos que não existe o
caminho certo, o caminho melhor. O que existe é sempre aprendizado; é sempre
prova; é sempre experiência. Por isso, devemos aproveitar as oportunidades que
nos são concedidas para escolhermos por onde caminhar. Vendo em cada pedra da
estrada não um problema ou dificuldade, mas uma grande oportunidade de
aprender, de melhorar, de crescer em sabedoria. Assim, não deixemos que as
aflições ou obstáculos sejam empecilhos para aquilo que desejamos. Não deixemos
que o aparente fracasso nos deprima ou nos paralise a caminhada, ou mesmo que
nos faça desviar de nossos objetivos. Acredite! A felicidade que tanto
procuramos está na oportunidade de caminhar. Que os dons desejados sejam
sempre: a coragem, que traz a força; a resignação; a tolerância; a paciência e
a persistência. Com eles seremos capazes de administrar bem nossas provas. Que
possamos sempre pedir: Senhor! Dai-nos a coragem e a determinação para mudarmos
aquilo que podemos. A resignação diante das coisas que não podemos mudar. E a
sabedoria para saber distinguir uma das outras.
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o
equilíbrio necessário para uma vida feliz.
Leia Kardec!
Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é
sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!