INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
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domingo, 31 de outubro de 2021

 


A VAIDADE HUMANA

Olá amigos! Hoje vamos explanar mais um ensino espírita. Trata-se de um tema que trata da vaidade humana.  A Roupa nova do Imperador ou O Rei está nu é um conto de autoria de Hans Christian Andersen. Autor de inúmeros contos infanto-juvenis, traduzido por todo o mundo. Considerado por muitos com o pai da Literatura Infanto-Juvenil. Numa versão livre, conto à minha maneira. Este conto, como já disse, trata da vaidade humana. E quanto maior a vaidade, mais tolos os seres se tornam, a ponto de alimentarem a vaidade uns dos outros. Há muitos e muitos anos havia um Imperador tão apaixonado pelas roupas novas, que gastava com elas todo o dinheiro que possuía. Pouco se incomodava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pelos bosques, contanto que pudesse vestir seus trajes. Para cada hora do dia, vestia uma roupa diferente. E, ao invés de se dizer dele o que se diz de qualquer imperador: Está na Câmara do Conselho, dizia-se sempre a mesma coisa: 0 Imperador está se vestindo. Na capital em que ele vivia, a vida era muito alegre; todos os dias chegavam multidões de forasteiros para visitá-la, e, entre eles, certa ocasião, chegaram dois vigaristas. Fingiram-se de tecelões, dizendo-se capazes de tecer os tecidos mais maravilhosos do mundo. E não somente as cores e os desenhos eram magníficos como também os trajes que se faziam com aqueles tecidos possuíam a qualidade especial de serem invisíveis para qualquer pessoa que não tivesse as qualidades necessárias para desempenhar suas funções e também que fossem muito tolas e presunçosas.

- Devem ser trajes magníficos, pensou o Rei.

- E se eu vestisse um deles, poderia descobrir todos aqueles que em meu reino carecessem das qualidades necessárias para desempenhar seus cargos.

E também poderei distinguir os tolos dos inteligentes. Sim, estou decidido a mandar tecer uma roupa para mim, a qual me servirá para tais descobertas. Entregou a um dos tecelões uma grande quantia como adiantamento, a fim de que os dois pudessem começar imediatamente com o esperado trabalho. Os dois vigaristas prepararam os teares e fingiram entregar-se ao trabalho de tecer, mas o certo é que no mesmo não havia nenhum fio nas lançadeiras. Antes de começar pediram uma certa quantidade da seda mais fina e fio de ouro da maior pureza e guardaram tudo em seus alforjes e depois começaram a trabalhar, isto é, fingindo fazê-lo, com os teares vazios. Gostaria de saber como vai o trabalho dos tecelões, pensou um dia, o bondoso monarca. Todavia, ficou um tanto aflito ao pensar que alguém que fosse tolo ou não estivesse capacitado para exercer sua função, não pudesse ver o tecido. Temia por si mesmo, mas achou mais prudente enviar uma outra pessoa, para que lhe desse conta daquilo. Todos os habitantes da cidade tomaram conhecimento das maravilhosas qualidades do tecido em questão, e todos, também, desejavam saber, por esse meio, se seu vizinho ou amigo era um tolo. Mandarei meu fiel primeiro ministro visitar os tecelões, pensou o Rei. Será o mais capacitado para ver o tecido, porque é um homem muito hábil e ninguém cumpre seus deveres melhor do que ele. E assim o bom e velho primeiro ministro se dirigiu para o aposento em que os vigaristas trabalhavam nos teares completamente vazios. Deus me proteja, pensou o ancião, abrindo os braços e os olhos. Mas eu não vejo nada! No entanto, evitou dizê-lo.

Os dois vigaristas pediram-lhe que fizesse o favor de aproximar-se um pouco mais e rogaram-lhe que desse a sua opinião a respeito do desenho e do colorido do tecido. Mostraram o tear vazio e o pobre ministro, por mais que se esforçasse para ver, não conseguia enxergar coisa alguma, porque não havia nada para ver.

- Deus meu!  Pensava. Será possível que eu seja tão tolo assim? Nunca me pareceu e é preciso que ninguém o saiba. Talvez eu não esteja capacitado a desempenhar a função que ocupo. O melhor será fingir que estou vendo o tecido.

- Não quer dar a sua opinião, senhor? Perguntou um dos falsos tecelões.

E muito lindo! Faz um efeito encantador, exclamou o velho ministro, fitando através de seus óculos. O que mais me agrada são o desenho e as maravilhosas cores que o compõem. Asseguro-lhes que daremos conta ao Rei do quanto gosto de seu trabalho, muito bem aplicado e lindíssimo.

- Ficamos muito honrados em ouvir tais palavras de vossos lábios, senhor ministro, replicaram os tecelões.

Começaram então a dar-lhe detalhes do complicado desenho e das cores que o formavam. O ministro ouviu-os com a maior atenção, com a ideia de poder repetir suas palavras quando estivesse na presença do Rei. A seguir os dois vigaristas pediram mais dinheiro, mais seda e mais fio de ouro, para que pudessem prosseguir com o trabalho. Porém, assim que receberam o solicitado, guardaram-no como antes. Nem um só fio foi colocado no tear, embora eles fingissem continuar trabalhando apressadamente.

O Rei enviou outro fiel cortesão para dar-se conta dos progressos do trabalho dos falsos tecelões e a fim de saber se eles demorariam muito para entregar o tecido. A este segundo enviado aconteceu a mesma coisa que aconteceu com primeiro ministro, isto é, mirou e remirou o tear vazio, sem ver tecido algum.

- Não acha que é uma fazenda maravilhosa? Perguntaram os vigaristas mostrando e explicando um desenho imaginário e um colorido não menos fantástico, que ninguém conseguia ver.

- Sei que não sou tolo, pensava o cortesão; mas se não vejo o tecido, é porque não devo ser capaz de exercer minha função à altura da mesma.

Isso me parece estranho. Mas é melhor não dar a perceber esse fato. Por esse motivo falou no tecido que não via e manifestou seu entusiasmo pelo colorido maravilhoso e pelos originais desenhos.  Ali está algo realmente encantador, disse mais tarde ao Rei, quando prestou contas de sua visita. Por sua vez, o Monarca achou que devia ir ver o famoso tecido, enquanto ainda estivesse no tear. E assim, acompanhado por um escolhido grupo de cortesãos, entre os quais se encontravam o primeiro ministro e o outro palaciano, que haviam fingido ver o tecido, foi fazer uma visita aos falsos tecelões, que com o maior cuidado trabalhavam no tear vazio, em meio à maior seriedade. E’ magnífico! Exclamaram o primeiro ministro e o palaciano. 

Digne-se Vossa Majestade a olhar para o desenho. Que cores maravilhosas! E apontavam para o tear vazio, pois não tinham dúvidas de que as outras pessoas viam o tecido.

Mas o que é isto? Pensou o Rei. Não estou vendo nada! Isso é terrível! Serei um tolo? Não terei capacidade para ser Rei? Certamente não poderia acontecer-me nada pior. É  realmente uma beleza! Exclamou logo depois. O tecido merece a minha melhor aprovação. Manifestou a sua aprovação por meio de alguns gestos, enquanto olhava para o tear vazio, pois ninguém poderia induzi-lo a dizer que não via coisa alguma. Todos os outros cortesãos olhavam por sua vez. Mas não viam nada. Porém, como nenhum queria dar parte de tolo ou de incapaz, fizeram coro com as palavras de Sua Majestade. É ’uma beleza! Exclamaram em coro. E aconselharam o Rei que mandasse fazer uma roupa com aquele tecido maravilhoso, a fim de estreá-la numa grande procissão que devia realizar-se daí a alguns dias. Os elogios corriam de boca em boca e todos estavam entusiasmados. E o Monarca condecorou os dois vigaristas com a ordem dos cavaleiros, cuja insígnia poderiam usar e concedeu-lhes o título de Cavaleiros Tecelões. Os dois vigaristas ficaram a noite toda trabalhando, à luz de dezesseis velas, na noite anterior ao dia da procissão; desejavam que todos testemunhassem o grande interesse que eles demonstravam em terminar a roupa do soberano. Fingiram tirar a fazenda do tear, cortaram-na com tesouras enormes e costuraram-na com agulhas sem linha de espécie alguma. Finalmente disseram: - Já está pronto o traje de Sua Majestade. 0 Imperador, acompanhado por seus mais nobres cortesãos, foi novamente visitar os vigaristas, e um deles, levantando um braço, como se segurasse uma peca de roupa, disse:

- Aqui estão as calças. Este é o colete. Veja Vossa Majestade o casaco. Finalmente, dignai-vos a examinar o manto.

Estas peças pesam tanto quanto uma teia de aranha. Quem as usar mal sentirá o seu peso. Todos os cortesãos concordaram, mesmo irão vendo coisa alguma, pois na realidade não havia rida para ver, já que nada havia.

- Dignai-vos tirar o traje que leva, disse um dos falsos tecelões, e assim poderá experimentar a roupa nova na frente do espelho. E o Rei tirou a roupa que vestia e os impostores fingiram entregar-lhe sucessivamente e ajudá-lo a vestir cada uma das peças que compõem um traje. Fingiram colocar algo ao redor de sua cintura e o Imperador, nesse meio tempo, virava-se uma vez ou outra para o espelho, a fim de contemplar-se.

Que bem assenta este traje em Sua Majestade. Como está elegante. Que desenho e que colorido! É uma roupa magnífica!

Lá fora está o dossel sob o qual irá Vossa Majestade tomar parte na procissão disse o mestre de cerimônias.

- Ótimo. Já estou pronto, disse o Rei. Acham que esta roupa me assenta bem? E novamente mirou-se no espelho, a fim de fingir que se admirava vestido com a roupa nova.

Os camaristas, que deviam carregar o manto, inclinaram-se fingindo recolhê-lo no chão e logo começaram a andar com as mãos no ar. Também não se atreviam a dizer que não viam coisa alguma. 0 Imperador foi ocupar seu lugar no cortejo da procissão embaixo do luxuoso dossel e todos os que estavam nas ruas e nas janelas exclamaram:

Como está bem vestido o Rei! Que cauda magnífica! A roupa assenta nele como uma luva! Ninguém queria dar a perceber que não podia ver coisa alguma, para não passar por tolo ou por incapaz. O caso é que nunca a roupa do Rei alcançara tanto sucesso.

- Mas eu acho que ele não veste roupa alguma! - exclamou então um menino.

- Ouçam! Ouçam o que diz esta criança inocente! - observou seu pai a quantos o rodeavam. Imediatamente todo mundo se comunicou com as palavras que o menino acabava de pronunciar.

- Não veste roupa alguma. O Rei está nu. Foi isso o que assegurou este menino.

- O Rei esta sem roupa! Começou a gritar o povo.

O Monarca fez um trejeito, pois sabia que aquelas palavras eram a expressão da verdade, mas pensou:

- A procissão tem de continuar.

E, assim, orgulhosamente, continuou mais impassível que nunca e os camaristas continuaram segurando a sua cauda invisível.

REFLEXÃO:

A vaidade, sorrateiramente, está quase sempre presente dentro de nós. Dela os espíritos inferiores se servem para abrir caminhos às perturbações entre os próprios amigos e familiares. A vaidade é decorrente do orgulho, e dele anda próxima. É muito sutil a manifestação da vaidade no nosso íntimo e não é pequeno o esforço que devemos desenvolver na vigilância, para não sermos vítimas daquelas influências que encontram apoio nesse nosso defeito.

A vaidade, nas suas formas de apresentação, quer pela postura física, gestos estudados, retórica no falar, atitudes intempestivas, reações arrogantes, reflete, quase sempre, uma deformação de colocação do indivíduo, face aos valores pessoais que a sociedade estabeleceu. Isto é, a aparência, os gestos, o palavreado, quanto mais artificiais e exuberantes, mais chamam a atenção, e isso agrada o intérprete, satisfaz a sua necessidade de ser observado, comentado.

O vaidoso o é, muitas vezes, sem perceber, e vive desempenhando um personagem que escolheu. No seu íntimo é sempre bem diferente daquele que aparenta, e, de alguma forma, essa dualidade lhe causa conflitos, pois sofre com tudo isso, sente necessidade de encontrar-se a si mesmo, embora às vezes sem saber como. De alguma forma e de variada intensidade, contamos todos com uma parcela de vaidade, que pode estar se manifestando nas nossas motivações de algo a realizar, o que é certamente válido, até certo ponto. O perigo, no entanto, reside nos excessos e no desconhecimento das fronteiras entre os impulsos de idealismo, por amor a uma causa nobre, e os ímpetos de destaque pessoal, característicos da vaidade.

É a nossa vaidade que nos faz acreditar sermos maiores do que realmente somos. Ela é um sentimento que faz o homem querer se destacar. A vaidade é um desejo superlativo de chamar a atenção, ou a presunção de ser aplaudido e reverenciado perante os outros. É a ostentação dos que procuram elogios, ou a ilusão dos que querem ter êxito diante do mundo e não dentro de si mesmo. A vaidade não passa de orgulho que faz o insensato acreditar que possui supostas virtudes. É importante não olvidarmos que a vaidade atinge toda e qualquer classe social, desde as paupérrimas até as que atingiram o cume da independência econômica. O orgulho está incluído entre os tradicionais pecados capitais.

Como a vaidade é uma ideia justaposta ao orgulho, ela também se destaca como um dos mais antigos defeitos serem combatidos na Humanidade. No entanto, somente poderemos nos transformar se conseguirmos ver e perceber em nós mesmos as raízes da vaidade, visto que negá-la de modo obstinado é ficar estritamente vinculado a ela. É oportuno dizer que não estamos nos referindo aqui no esmero na maneira de andar, falar, vestir ou se enfeitar, que, em realidade, são saudáveis e naturais, mas a uma causa mais complexa e profunda. O motivo de nossas análises e observações é o estado íntimo do indivíduo vaidoso, ou seja, o que está por baixo do interesse dessa exibição e dessa necessidade de ser visto, a ponto de falsificar a si mesmo para chamar a atenção.

Por fim, cuidar-se, sentir-se melhor com a própria imagem, dentro do bom senso, é perfeitamente natural. Viver em função da aparência, além de dar-se um valor maior que carrega, exaltando-se e, quase sempre, diminuindo os outros, é atestado da enfermidade moral chamada vaidade. Temos na figura do menino que olha e grita: “O rei está nu!”, o melhor tipo de pessoa de que poderíamos nos cercar.

 

Muita Paz!

domingo, 24 de outubro de 2021

 


REFLEXÕES SOBRE ALLAN KARDEC

Olá, Amigos! Encerrando as comemorações do mês de Kardec, vamos explanar mais um ensino espírita. Trata-se do tema “Reflexões sobre Allan Kardec”. Mais uma vez, revivemos a emoção da comemoração do aniversário da reencarnação do Codificador da Doutrina Espírita. Foi no dia 03 de outubro de 1804, em Lion, na França, que voltou ao mundo terreno um Espírito que recebeu o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail e que, mais tarde, ficaria conhecido como Allan Kardec, nome adotado por sugestão do mundo espiritual. A sublime Doutrina Espírita tem sido um farol a iluminar caminhos de todos quantos dela se aproximam em busca de explicações para os “problemas do ser, do destino e da dor”, bem como tem servido de lenitivo para os que buscam os seus ensinamentos nos instantes de sofrimentos físicos, das contrariedades, ou nos aflitivos momentos de perdas de entes queridos que nos precedem no retorno à Pátria Espiritual. A predestinação deste Espírito, plasmado para cumprir a promessa do Cristo em revelar um Consolador para a humanidade, com o claro objetivo de recuperar os padrões primeiros do Cristianismo, quando a palavra luminosa de Jesus estabeleceu a Regra Áurea do relacionamento entre os homens. Que responsabilidade Kardec assumiu! Somente sua interação secular com a terra gaulesa poderia dar a ele a compreensão do Espírito de França e cercar-se de um grupo seleto e comprometido com a restauração cristã. Ele sabia que todos os riscos estariam presentes, mas sabia também que eminentes cientistas de sua época estariam nas trincheiras do seu bom combate. Até na companheira de sua vida, Amélie Boudet, Kardec foi privilegiado porque nela encontrou as condições de paz e serenidade, para montar a estrutura da codificação espírita.

E, mais do que isto, Kardec trouxe para o domínio da razão e da ciência os fenômenos que envolvem o mundo dos espíritos e que até então estavam restritos ao campo das superstições e do sobrenatural. Foi um homem de ciência, na acepção mais rigorosa do termo, pois não descartava nem aceitava qualquer dado novo que lhe chegava sem antes submetê-lo ao crivo da razão e da crítica experimental. Certamente, foi preparado pela Espiritualidade Superior, ao longo da sua trajetória como espírito imortal, para a missão que se lhe estava reservada. Ainda nascente, o Espiritismo já foi alvo das mais pesadas críticas, da mais perversa intolerância e isso, por parte dos descendentes morais dos algozes do Cristo, que pediu ao Pai que os perdoasse. A tradição cristã é rica no histórico dos mártires que pagaram com a vida, a prática de uma fé renovadora e sublime, superando seus próprios receios e abraçando, sem temor, a causa da felicidade. Teve que lidar com os mesmos algozes que empalavam os cristãos, que decapitaram Paulo, que queimaram Joanna D’Arc e Jan Huss, os mesmos e tristes recalcitrantes que destruíram, saquearam, ensanguentaram o mundo, em nome de Deus, durante as trevas medievais da inquisição ou na insana peregrinação das cruzadas. Se para a população parisiense o trabalho de Allan Kardec não mereceu o destaque devido, para os Espíritos foi seu melhor tradutor e representante encarnado. Somente alguém com domínio de métodos científicos de investigação e pesquisa seria capaz de sobrepor as angústias e ansiedades em não saber organizar um texto ou estruturar um pensamento científico mais complexo, como fez Allan Kardec.

Como tudo começou? Paris, rua Grange Batelière, número 18, maio de 1855. Eram oito horas da noite de uma terça-feira quando a sessão na casa da Sra. De Plainemaison começou. Em silêncio absoluto, os convidados tomaram seus lugares à mesa, mãos espalmadas sobre o tampo de carvalho. Entre os mais compenetrados estava o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, 50 anos. Em poucos minutos, se tudo desse certo, ele seria testemunha de um fenômeno que causava espanto e polêmica na Europa e nos Estados Unidos do século XIX: o espetáculo das mesas girantes. Ele já tinha lido as notícias nos jornais e ouvido os relatos das cenas que se repetiam em salões nobres de Paris, Londres, Nova York e São Petersburgo, diante de personalidades tão ilustres quanto perplexas: mesas de todos os pesos e tamanhos se erguiam do chão e se moviam em todas as direções, sem que ninguém as levantasse. Algumas chegavam a atingir o forro do teto e a se espatifar lá embaixo, como se estivessem dominadas por forças ocultas. Outras flutuavam no ar e pousavam diante das testemunhas, como folhas ao vento. Muitas seguiam as ordens e contraordens dos comensais. Direita, esquerda, sobe, desce, para. Assombração? Possessão? Autossugestão? Delírio coletivo? Estudioso, desde os 19 anos, da hipnose, do sonambulismo e do poder curativo dos fluidos magnéticos, o professor Rivail tinha uma tese científica para explicar o que muitos celebravam como manifestações do além: A eletricidade dos corpos reunidos em torno das mesas agiria sobre elas. Era a força magnética dos participantes das sessões, e não os fantasmas, o combustível das mesas. E essa era a melhor das hipóteses. Era, portanto, com um misto de curiosidade e desconfiança que Rivail se preparava para encarar os prováveis fenômenos da noite.

Kardec refletia: A eletricidade dos corpos reunidos em torno das mesas agiria sobre elas. Era a força magnética dos participantes das sessões, e não os fantasmas, o combustível das mesas. E essa era a melhor das hipóteses. Era, portanto, com um misto de curiosidade e desconfiança que Rivail se preparava para encarar os prováveis fenômenos da noite. Será que a mesa se moveria? Será que seguiria as instruções dos anfitriões e convidados, como a obediente mesa do conde, estadista, escritor e orador Agénor de Gasparin? A presença do professor cético na sessão da Sra. De Plainemaison aumentava a tensão e a expectativa dos anfitriões e convidados naquela noite. Quem sabe o professor não encontraria explicações científicas para o sobe e desce das mesas, caso o fenômeno se repetisse na casa da Sra. De Plainemaison? Quem sabe não desvendaria truques secretos por trás de movimentos atribuídos a fantasmas? O professor estava disposto a dar crédito à anfitriã, considerada respeitável e confiável pelos velhos conhecidos, mas só decidiu apostar na sua boa-fé depois de inspecionar, com a devida discrição, o ambiente iluminado por velas e candelabros, em busca de sinais de traquitanas ocultas. Nenhum ímã ou roldana à vista. Concentrem-se, por favor. E que Deus nos abençoe nesta noite.” Uma breve prece antecedeu o longo período de silêncio, só interrompido pela passagem de carruagens do lado de fora, pelo tique-taque dos relógios de bolso e por tosses esporádicas. Rivail já pensava em se retirar, para preparar as aulas do dia seguinte, quando ouviu estalidos sobre os tacos e testemunhou o primeiro movimento da mesa.

Se pudesse erguer as mãos, anotaria, com o máximo de isenção, suas impressões sobre aquela noite, sem tomar partido, ainda, de nenhuma das linhas de investigação dos fenômenos existentes até aquele momento. Ele já conhecia os principais argumentos e interesses em jogo neste território nebuloso, onde fé e ciência mediam forças na então capital cultural do mundo, berço de iluministas consagrados. Mas o palco agora era outro, a sala da Sra. De Plainemaison. E as mesas teriam de exibir prodígios admiráveis para derrotar as desconfianças do professor Rivail. Por mais que lesse os relatos do conde de Gasparin e de Eugène Nus e estudasse os pareceres de Faraday e Chevreul, ele precisava “ver com os próprios olhos e sentir com os próprios dedos” para descartar uma série de suspeitas e possibilidades. Não bastava que as mesas se movessem, esses movimentos poderiam ser provocados, segundo Rivail, pela eletricidade dos corpos reunidos na sessão: Na casa da distinta Sra. Plainemaison, ninguém cobrava ingresso nem pedia doações. O espetáculo era gratuito e estava prestes a começar. Chegou a hora. As mesas giraram na casa da rua Grange Batelière e a cabeça de Rivail girou junto. Os registros sobre o que ele viu naquela noite são bastante concisos: “As mesas giravam, saltavam e corriam em tais condições que não deixavam lugar para qualquer dúvida.” Rivail testemunhou também o que definiu como “alguns ensaios, ainda muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta”. Amparada nas bordas pelas mãos da Sra. Plainemaison, a cesta de vime moveu-se, aos solavancos, sobre uma placa de ardósia, rocha acinzentada usada como lousa na época. Encaixado no fundo do cesto, com a ponta voltada para baixo, um ponteiro da mesma pedra inscreveu frases esparsas na lousa.

Eram respostas a perguntas lançadas ao invisível, escritas, ao que parecia, sem qualquer participação, ou consciência, da anfitriã.  Foi o bastante. Rivail voltou para casa atordoado. Entrevi, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo. Havia um fato que necessariamente decorria de uma causa. Qual seria a causa daqueles movimentos inexplicáveis? O que, ou quem, estaria por trás dos giros das mesas e dos ditados do além? Há ou não uma força inteligente? Eis a questão. Se esta força existe, o que é? Qual será sua natureza e sua origem? Está além da humanidade? Rival decidiu buscar respostas, com os devidos cuidados, de acordo com métodos científicos adotados por ele desde os tempos de estudante. A vida de Rivail estava prestes a se transformar radicalmente. O professor, que conciliava a educação com o ofício de contador para sobreviver, passou a dar atenção cada vez maior ao invisível. O professor sentiu na pele, ou melhor, nos próprios olhos, os efeitos do sonambulismo ao enfrentar um problema grave entre 1852 e 1853: a perda de visão, a ponto de já não conseguir ler nem escrever. Após uma série de exames, o médico especialista deu o diagnóstico: amaurose, com comprometimento irreversível do nervo óptico. O paciente deveria se preparar para o pior: a cegueira iminente. Na dúvida, Rivail decidiu ouvir uma segunda opinião. Em vez de recorrer a outro médico, o velho estudioso do magnetismo bateu na porta de uma sonâmbula conhecida em Paris por promover curas milagrosas.

O diagnóstico dela foi bem menos dramático: não era amaurose, mas, sim, uma inflamação nos olhos: “Em quinze dias experimentareis ligeira melhora; em um mês começareis a ver, e, em dois ou três meses, estareis curado.” Em seguida, receitou a aplicação de uma mistura de água e ervas. O cronograma foi cumprido à risca. Era preciso estudar, e Rivail encontrou um campo de estudos mais fértil para suas pesquisas quando foi apresentado a duas meninas na casa da Sra. Plainemaison: Caroline e Julie Baudin, então com 16 e 14 anos, filhas de Emile-Charles e Clementine Baudin. Consolar, essa foi a missão que ele recebeu. Dizer aos homens que nada está perdido, que tudo se reconstrói através da regeneradora engenharia da reencarnação e que somos perfectíveis, que podemos, sim, construir a paz e o amor, com nosso esforço e nossa luta. Desempenhou-se da missão com a altivez e a humildade dos sábios, sempre defendendo, perante aqueles que o combatiam, de forma elegante e respeitosa, as novas ideias de que se fizera propagador. Numa época em que ainda ressoavam os ecos da Inquisição e as doutrinas positivistas e materialistas mostravam-se ao mundo, ante um pensamento religioso que já não atendia aos anseios do homem, coube a Kardec a tarefa de contê-las, não através de um proselitismo fácil, mas de um corpo doutrinário vindo do Alto e para o qual contribuiu com o ordenamento de seus ensinamentos e com toda a parte experimental. Demonstrou a certeza da vida futura, acenando com uma nova era de progresso e esperança. A missão de Allan Kardec começa na sua condição de educador. Síntese das obras espíritas que Kardec publicou:

Livro dos Espíritos em sua primeira edição em 1857 e a segunda edição em 1860 – O segundo livro, pouco conhecido por muitos de nós, Ilustrações práticas sobre as manifestações espíritas editado em 1858. É um opúsculo muito interessante porque faz uma exposição completa das condições necessárias para a comunicação com os Espíritos  – O que é o Espiritismo 1859 – Carta sobre o Espiritismo 1860 – Espiritismo experimental O Livro dos Médiuns 1861 – O Espiritismo na sua expressão mais simples 1862 – Viagem espírita 1862 que traz informações sobre o espiritismo na França – Resposta à mensagem dos espíritas lioneses por ocasião do ano novo em 1862 – Resumo da lei dos fenômenos espíritas em 1864 – Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo em 1864, depois em 1865 a expressão imitação é retirada e o opúsculo fica com o nome que conhecemos hoje, O Evangelho segundo o Espiritismo – Coleção de composições inéditas; são extrações do próprio Evangelho segundo o Espiritismo 1865 – Não menos importante, O Céu e o inferno 1865 – Coleção de preces espíritas 1865 – Estudo acerca da poesia medianímica 1867 -  Caracteres da revelação espírita 1868 – A Gênese, os milagres e a predições segundo o Espiritismo 1868 – Obras póstumas 1890, lançada após o desencarne de Allan Kardec – Revista espírita, que nasce no ano de 1858 e ela se finda no ano de 1869, que é o ano em que Allan Kardec desencarna. sempre é tempo de lembrarmos Kardec e segui-lo nesta moderna e promissora imitação do Cristo, a doutrina Espírita. Dizer-se espírita não basta. Necessário é tornar-se espírita, o que lhe exigirá a conscientização daqueles princípios e não apenas o conhecimento deles. Esquecido o ensinamento espírita, condena-se a Doutrina Espírita à estagnação.

Lamentável: A biografia de Allan Kardec no seu dia a dia, na sua labuta cotidiana para o estabelecimento das balizas do Espiritismo é praticamente desconhecida. Foi preciso Kardec fazer duzentos anos de nascido para que fosse disponibilizado aos espíritas uma versão em português de todos os tomos da Revista Espírita, onde está a história da Doutrina Espírita; onde está o dia a dia de Kardec; onde estão as orientações do Codificador; onde está estabelecido o seu critério ao longo do tempo. Em virtude disso, muitos espíritas não conhecem a obra total do Mestre de Lion e, assim, se equivocam em seus julgamentos, ou, então, não fazem caso do que disseram ou deixaram de dizer o Codificador e seus excelsos orientadores espirituais. A simples leitura da Revista Espírita mostra, com riqueza de detalhes, a força dos argumentos do Codificador para desfazer as críticas, afastar as intrigas, num incessante trabalho de esclarecimentos, estudos e quebra de um paradigma estratificado na imperfeição humana. Pode-se imaginar o que Kardec passou na cética Paris, quando anunciou o Espiritismo. A obra de Kardec é fonte inesgotável; orienta o contato com os desencarnados, porém, o melhor é que ensina, sobretudo, a viver entre os encarnados. Estudemos Kardec sob todos os ângulos e Pensemos nisso!

Eu fico por aqui.

Muita paz!

Aguardem na próxima semana, um novo estudo sobre ensino espírita.

Leia Kardec! Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!

E não se esqueça: O Amanhã é sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso! 

domingo, 17 de outubro de 2021

 


O mês de outubro, para nós, espíritas, é considerado como o “Mês de Kardec”. Você sabe quem foi Hippolyte Léon Denizard Rivail? E Allan Kardec? Podemos afirmar que trata-se do Codificador da Doutrina Espírita. Nós, espíritas, devemos perguntar: que Espírito é esse que foi capaz de fazer a integração, pela primeira vez na História da Humanidade, da Ciência com a Filosofia e com a Religião? Que Espírito é esse que conseguiu fazer com que todas as questões da transcendência humana pudessem ser equacionadas, compreendidas, racionalizadas e, melhor ainda, trouxessem uma experiência para uma vida nova, para que a felicidade de fato pudesse vir a ser alcançada? Não mais aquelas histórias antigas que não falam à inteligência das pessoas; não mais as crendices, mas alguma coisa que fala à inteligência do ser, ao sentimento do ser, ao amor do ser, à luz do ser, e fala ao ser.

Que Espírito é esse capaz de traduzir com tanta clareza, com tanta objetividade esses conceitos, que são os mais profundos que o ser humano pode recolher, e colocando essa conceituação de maneira tão precisa? Que Espírito é esse que, afinal de contas, faz com que nós tenhamos um tempo novo, uma revelação nova, nos tempos novos que começam a aparecer? Às vezes, nós pensamos que, lá no Plano Espiritual, os Mentores preparam e enviam o missionário prontinho. Mas não é dessa maneira. Os grandes missionários da Humanidade se fizeram aqui na Terra, à custa de muito esforço e de muito trabalho. Eles se aprontam em meio à grandes dificuldades.

Hippolyte Léon Denizard Rivail não veio pronto, tanto isso é verdade que, ao questionar os Espíritos, temendo falhar na sua missão, estes responderam: “Se você falhar, nós incumbiremos outra pessoa para essa missão”. (Nessa metade de século, o homem fez  várias descobertas.

Para ele tudo era matéria. E, por isso, a Espiritualidade resolveu aparecer, para dizer que não era bem assim). Então, para o professor Rivail, não houve uma fatalidade programada ao sair do Plano Espiritual. Livre-arbítrio e esforço contavam na carreira desse homem, que viria a ser o Codificador do Espiritismo. Isso o torna importante e a sua missão mais importante ainda.

Segundo Herculano Pires, Pestalozzi foi fundamental na formação intelectual e moral daquele que viria a ser Allan Kardec, para que a Codificação tomasse o rumo que tomou. De quatorze para quinze anos de idade, o jovem Rivail já era assistente de Pestalozzi. Dava aulas para os alunos mais atrasados. Dominava todas as trinta e quatro disciplinas com excepcional proveito. Falava seis idiomas. Podemos imaginar, então, que trabalho não houve do lado de lá para que Hippolyte pudesse do lado de cá manter acesa a paixão pelo estudo, quando, normalmente, os jovens nessa idade estavam se divertindo. Em 1822, com dezoito anos, ele se gradua no Instituto de Yverdun e volta para Paris.

Em 1824, com vinte anos, era diretor de uma escola. Escrevia o seu primeiro livro, uma gramática da língua francesa. Escrevia também um apêndice de Aritmética e Álgebra, para uso dos professores primários e mães de família. Durante trinta anos, o professor Rivail se dedica ao magistério. Nesse período escreve trinta e duas obras. Era respeitado em toda a Europa. Em 1848 a Espiritualidade começa a promover um verdadeiro escândalo em Hydesville, com as irmãs Fox, com o episódio das batidas, que todos nós já ouvimos falar, e que chamou a atenção para alguma coisa além da matéria. Aí, começou o intercâmbio entre os homens e o mundo espiritual, que vai gerar a Codificação.

Em 1854 Rivail contava cinquenta e um anos de idade quando ouviu, pela primeira vez, falar das mesas girantes. Eram mesas que se erguiam do solo, e davam pancadas no chão, com uma ou mais pernas, fenômenos mediúnicos, que serviam como passatempo. De início, ele foi cético, parecia-lhe absurdo atribuir inteligência a uma coisa puramente material. Homem criterioso, não se deixava levar por modismos. Só, que, a coisa toma vulto, e só se fala nisso. Em maio de 1855 encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram sobre as mesas girantes, mas, agora em outro tom, instrutivo e sério. Conheceu a família Baudin, ocasião em que o Sr. Baudin o convidou para assistir às sessões que aconteciam em sua casa. Surgiu, então, uma oportunidade para estudar e observar mais atentamente as causas geradoras desses fenômenos. Somente ele, Rivail, para perceber a utilidade do novo “modismo”, substituindo a atração frívola e passageira, calcada nas respostas de espíritos brincalhões, por uma investigação séria, capaz de descortinar, para o homem, as verdades que ele próprio, por sua condição investigativa precária, ainda não podia conceber. E através de duas médiuns, filhas do Sr. Baudin, toma contato direto com esses fenômenos e desperta para a sua missão. Começa um estudo e desenvolve os primeiros trabalhos importantes sobre o assunto,  que vai lhe tomar mais de vinte horas diárias.

Entregou-se  à observações perseverantes sobre os fenômenos, e se empenhou principalmente em deduzir-lhes as consequências filosóficas. Se até então as sessões na casa do Sr. Baudin não tinham um objetivo determinado, Rivail, pelo seu jeito professoral e questionador, mudou naturalmente essa situação, pois, nessas entrevistas com os espíritos, antes frívolas, agora se procurava resolver problemas importantes e de grande interesse, sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível.

Kardec ia a cada reunião com uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas, às quais os espíritos lhe respondiam com precisão, profundidade e lógica. A disposição adotada por Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a seguinte regra: observar, comparar e deduzir. Todas as informações foram obtidas pela escrita, por intermédio de diversos médiuns. Os primeiros médiuns que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin. Quase todo o livro foi escrito por intermédio delas, em presença de numeroso público que assistia às sessões, com o mais vivo interesse. As médiuns ficavam sentadas separadamente e faziam a mesma pergunta aos espíritos. É, aí, que entra o espírito científico de Rivail. Coteja as questões, recusa aquilo que parece dúbio (Pode se recusar dez aparentes verdades, em vez de se aceitar uma possível mentira). E Rivail se dedica durante dezessete meses consecutivos à Codificação da Doutrina. Reúne as questões que os médiuns receberam dos Espíritos, examina a coerência de suas comunicações e o teor de sua linguagem. Em 25 de março de 1856, através da médium Srta. Baudin, Rivail teve pela primeira vez contato com seu guia espiritual. Como o trabalho estava quase terminado, pronto para a edição, ele resolveu revê-lo, entrevistando outros Espíritos, mediante outros médiuns. Nesse trabalho de revisão, mais de dez médiuns lhe prestaram assistência. Assim se formou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, com 501 perguntas e respostas, assim colocadas: perguntas numa coluna, respostas em outra coluna ao lado, que apareceria para o público a 18 de abril de 1857.

Por ocasião do lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos, Rivail viu-se às voltas com uma dúvida, diz ele: Essa obra que vem a público tem que falar por si mesma. O professor Rivail precisa desaparecer, ele não pode sustentar essa obra, porque as pessoas vão valorizá-la por aquilo que é o professor, e eu quero que ela se valorize por aquilo que ela é, pela riqueza que tem. Zéfiro, guia espiritual da família Baudin, sugere um nome gaulês, que Rivail teria usado numa de suas reencarnações, “Allan Kardec”, e ele acha de bom proveito utilizá-lo. E é com esse pseudônimo que passa a assinar todas as suas obras espíritas. Que homem mais preparado do que esse para codificar a Doutrina Espírita? O homem é menos importante que a obra, mas é importante que se conheça o homem para que se valorize a obra. O homem engrandece a obra quando é grande também. E o professor Rivail agigantou-se no mundo. Esse é Hippolyte Léon Denizard Rivail, um homem que viveu de 1804 a 1857, exatamente cinquenta e três anos; Allan Kardec viveu somente doze anos. São dois personagens que nós precisamos separar, e que o próprio professor Rivail fez questão de apartar. A primeira edição de O Livro dos Espíritos já sai com o nome desse homem que nasce exatamente em abril de 1857, Allan Kardec. Desaparece o professor Rivail e surge o codificador do Espiritismo.

Agora, como é que esse homem fez a codificação? Codificar significa organizar, colocar em uma disposição didática. Kardec sabia escrever muito bem, tinha prática de montar didaticamente um livro, para que oferecesse ao leitor uma maneira mais fácil de entendimento. Kardec organiza a Doutrina Espírita usando a Maiêutica, método inventado por Sócrates para tornar o conhecimento mais fácil, o sistema de perguntas e respostas, que quebra o conhecimento em porções menores e permite que o leitor, que o estudioso, absorva o conhecimento aos poucos, inclusive com interrupções, sem que signifique prejuízo para o conhecimento. Allan Kardec, a partir do instante em que chega à luz O Livro dos Espíritos, vai começar a experimentar uma vida de calvário, de perseguições. Vai ser alvo de mentiras e calúnias pela imprensa, que era dominada, nessa época, pela Igreja Católica, feroz combatente do Espiritismo que nascia ali, em Paris, cidade luz, berço da cultura mundial. Nesses primeiros tempos, só ataques a Kardec. Tentam inclusive desvalorizar a obra dele como professor, acusando-o de loucura. Como não poderia deixar de ser, O Livro dos Espíritos encontra na França ferozes combatentes. A editora que o publica não recebe mais encomendas. Não se pense que a Espiritualidade colocou um anteparo a frente dele e facilitou tudo.

Kardec foi combatido até o final de sua vida. De 1857 a 1869 foi uma vida de sacrifícios inimagináveis, contra tudo e contra todos. Ataques de todos os tipos, não apenas à obra, mas a ele. A segunda edição de O Livro dos Espíritos foi inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, com ampla revisão, mediante o contato com grupos espíritas de cerca de quinze países da Europa e das Américas, lançada em 16 de março de 1860, agora com 1018 perguntas e respostas. Essa obra chega-nos às mãos hoje trazendo para as criaturas notícias de que a vida não para no túmulo, que ela exatamente recomeça no túmulo. Esses foram alguns episódios da vida de um homem chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail. Por isto e tudo mais, nosso grande preito de gratidão em relação ao seu criterioso trabalho. E que esse livro seja para a Humanidade o Consolador prometido.

Muita Paz!

domingo, 10 de outubro de 2021

 


AUTO DE FÉ DE BARCELONA

Há 160 anos a Inquisição tentou conter a marcha do Espiritismo

Auto de Fé foi o nome dado às cerimônias em que eram proclamadas e executadas as sentenças do Tribunal de Inquisição da Igreja Católica, também conhecido como Tribunal do Santo Ofício. Ele foi instituído no começo do século XIII, pelo Papa Gregório IX, a pretexto de caçar e julgar os réus acusados de heresia (crime contra a fé cristã).  Nas nações que proclamavam o catolicismo como a religião oficial do Estado, autoridades eclesiásticas detinham o poder de abrir processos, julgar (muitas vezes sumariamente, sem defesa nem apelação) e expedir sentenças, a serem executadas pelo Estado, contra os condenados. Mas, o que foi o Auto de Fé de Barcelona? O Auto de fé de Barcelona foi uma expressão notabilizada por Allan Kardec para se referir à queima, em praça pública, de trezentos livros espíritas, realizada no dia 9 de outubro de 1861, em Barcelona, Espanha. Ela foi utilizada pela primeira vez no subtítulo do artigo “O resto da Idade Média”, publicado em novembro daquele ano na “Revue Spirite”.

A Espanha viu apagarem-se as últimas fogueiras da Inquisição, ou seja, do antigo tribunal eclesiástico instituído pela Igreja Católica. Porém, os últimos baluartes da Inquisição permaneceram nesse país. Os espanhóis tiveram alguma dificuldade para travar contato com o Espiritismo.

A história do Auto de fé de Barcelona

No início de 1861, Allan Kardec lançava O Livro dos Médiuns – guia dos médiuns e dos evocadores. Maurice Lachâtre, Intelectual e editor francês, achava-se estabelecido em Barcelona com uma livraria, quando solicitou a Kardec, seu compatriota, em Paris, uma partida de livros espíritas, para vendê-los na Espanha. Encomendou uma quantidade de O Livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, as Coleções da Revista Espírita, e exemplares de diversas obras doutrinárias e afins; livros, folhetos  e diversas obras e brochuras espíritas, formando um total em torno de trezentos volumes. Lachâtre só não contava com a intolerância do bispo da cidade. O material chegou à Espanha através de tramitação legal, com impostos e taxas devidamente pagos e com a documentação correta. O destinatário pagou direitos de entrada dos volumes.  Quando os livros chegaram ao país, e passavam pela alfândega espanhola, a remessa foi confiscada pela Igreja local, por ordem do Bispo de Barcelona, pois, a liberação de livros e ou sua censura, competia à autoridade eclesiástica. Se as referidas obras tivessem sido introduzidas clandestinamente ou em fraude, nada poderia ser feito, mas foram expedidas e apresentadas na alfândega de modo correto. Argumentando que aquelas obras eram contrárias à fé católica, o bispo de Barcelona então sentenciou que fossem queimados, sem qualquer tipo de indenização aos seus proprietários. Ficou sem resposta a inquirição do cônsul francês em Barcelona, onde afirmava que, se as obras não fossem convenientes aos espanhóis, que se dignasse ao menos a devolvê-las. O mesmo eclesiástico recusou-se a reexportar as obras apreendidas, condenando-as à destruição pelo fogo em praça pública pela mão do carrasco. E o espetáculo, só assim pode-se classificar tal ato de intolerância e intransigência, foi marcado para o dia 09 de outubro de 1861 às 10h30min, sob alegação de que a Igreja Católica sendo universal, e os livros, em contradição à fé católica, o governo não podia consentir que eles pervertessem a moral e a religião de outros países. Faz então entrar em cena um sacerdote encapuçado, com roupas sacerdotais, levando em uma das mãos a cruz e, na outra, uma tocha acesa. Seguem-no um escriba encarregado de lavrar a ata do Auto de fé; o escrevente do notário; um funcionário superior da administração; três serventes da alfândega, encarregados de manter o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo, e uma e uma multidão inumerável encobria os passeios e cobria a imensa esplanada onde se elevava a fogueira. E os volumes foram queimados como se fossem réus da Inquisição. Quando o fogo consumiu os volumes, o padre e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e as maldições dos numerosos assistentes que gritavam: “Abaixo a inquisição”. Quando as cinzas dessa fogueira foram resfriadas, notou-se que um grande número de pessoas que estavam presentes, ou que passavam por perto, sabedoras do fato, se dirigiam para o lugar do auto de fé, e recolhiam uma parte das cinzas para conservá-las. O ato causou grande polêmica, com manifestações favoráveis e desfavoráveis através de jornais, inclusive de outros países, ensejando, a contragosto dos protagonistas da Inquisição, larga propaganda para a Doutrina nascente e já perseguida, desconhecida da grande maioria das pessoas. O efeito que produziu sobre os assistentes foi a estupefação em uns, o riso em outros, e a indignação entre a maioria, à medida que se dava conta do que se passava. Os principais jornais da Espanha noticiaram o fato, digno da “Idade das Trevas”, e a procura pelas obras espíritas, como previu o mentor espiritual, se tornou intensa.

 

 

Tão logo soube da apreensão dos livros, mas antes da execução da sentença, Kardec consulta seu guia espiritual — Espírito Verdade — se seria favorável reclamar a restituição das obras e se deveria publicar os fatos relacionados na Revista Espírita. Eis a resposta: "Por direito, pode reclamá-las e conseguiria que te fossem restituídas, se te dirigisse ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, resultará desse auto-de-fé maior bem do que o que viria da leitura de alguns volumes. A perda material não é nada em comparação da repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina. Deve compreender quanto uma perseguição tão ridícula e atrasada poderá fazer a bem do progresso do Espiritismo na Espanha. A queima dos livros determinará uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura febricitante das obras dessa doutrina. As ideias se disseminarão lá com maior rapidez e as obras serão procuradas com maior avidez, desde que as tenham queimado. Tudo vai bem”. O Auto de Fé de Barcelona foi um importante episódio para a História do Espiritismo, apesar de se tratar de uma ofensiva da Inquisição Católica contra a Doutrina Espírita.

Kardec, em decorrência deste episódio, comentou: “Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo, na Espanha, vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é; é tudo o que desejamos. Podem-se queimar as ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam em lugar de abafá-las. As ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirineus bastante para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-las”.

Diante desse fato, Kardec, pela Revista Espírita, que já tinha assinantes em quase todo o mundo, proclamou: “Espíritas de todos os países! Não esqueçais a data de 09 de outubro de 1861. Será marcada nos anais do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa e não de luta, porque é o penhor de vosso próximo triunfo”. Um dos últimos Autos de Fé de nossa história, ao queimar os livros espíritas, não conseguiu destruir as ideias e o ideal. Ao contrário, o fogo resultou a fumaça que subiu alto e se esparziu… As ideias, o ideal e a difusão se fortificaram com o ato inquisitorial.

Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam em lugar de abafá-las. As ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirenéus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la.“

Allan Kardec

De Barcelona enviaram a Kardec uma aquarela feita in loco por um artista distinto, representando a cena do auto de fé. Kardec mandou fazer do quadro uma redução fotográfica. Um exemplar de O Livro dos Espíritos, carbonizado pela metade. Um punhado de cinzas apanhado na fogueira, alguns fragmentos legíveis de folhas queimadas foram colocados em uma urna de cristal. Lamentavelmente, a intransigência que ainda perdurou na primeira metade do século XX, fez com os nazistas durante a 2a. Grande Guerra destruíssem a urna. Estamos no século XXI e ainda constatamos discriminações, preconceitos, perseguições a pessoas, a religiões, a minorias, às mulheres, a nacionalidades, a etnias, inclusive com destruição de templos, agressões e até morte de religiosos, em decorrência da intolerância ideológica, do fanatismo.

Muita Paz!

domingo, 3 de outubro de 2021

 


Ensino espírita

Allan Kardec, o missionário!

Desde que a Humanidade existe, Deus envia à Terra mensageiros diversos para instruir o homem sobre as Verdades Eternas. No século 19 antes de Cristo, Abraão, o patriarca dos hebreus, levou ao seu povo à conscientização do Deus único. No século 13 antes de Cristo, Moisés recebeu no Monte Sinai os Dez Mandamentos, que estão registrados no capítulo 20, versículos 2 a 17 do livro Êxodo e no capítulo 5, versículos 6 a 21 do livro Deuteronômio. Além disso, Moisés criou as leis civis ou disciplinares, para orientar o povo da época. Aproximadamente 1.300 anos depois de Moisés, quando a Humanidade estava apta a usar mais a razão, Jesus simplificou os Dez Mandamentos em dois mandamentos principais: amar a Deus e ao próximo. E as leis civis e disciplinares, que eram baseadas no olho por olho, dente por dente, Jesus as modificou em leis baseadas na caridade, na humildade e no amor ao próximo. Eis que chega o século 19, século das conquistas científicas, das grandes transformações, mas também de grande vazio no coração do homem. É nesse panorama que reencarna em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804, aquele que viria codificar uma nova Doutrina, o Espiritismo, que traria as luzes definitivas aos ensinamentos de Jesus. Muito se tem escrito sobre a personalidade de Allan Kardec, existindo mesmo várias e extensas biografias sobre a sua obra missionária. É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente ao dia 18 de abril de 1857, quando publicou a magistral obra O Livro dos Espíritos, que deu início ao processo de codificação do Espiritismo. Nesta súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns informes sobre a sua inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral. O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. "Hippolite" em família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D Rivail" na literatura. Era, desde os 18 anos, mestre colegial de Ciências e Letras e, desde os 20 anos, renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec. Destacou-se na profissão para a qual fora educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi. Escrevendo sobre a personalidade do notável mestre, o emérito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço”. “Temperamento hostil à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias. De estatura média, apenas 165 centímetros, e constituição delicada, embora saudável e resistente, o professor Rivail tinha o rosto sempre pálido, chupado, de zigomas salientes e pele sardenta, castigado de rugas e verrugas. Fronte vertical comprida e larga, arredondada ao alto, erguida sobre arcadas orbitárias proeminentes, com sobrancelhas abundantes e castanhas. Cabelos lisos e grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás (onde alguns fios mal encobriam a larga coroa calva da madureza), repartidos, na frente, da esquerda para a direita, sem topetes, confundidos, nos temporais, com as barbas grisalhas e aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e cobriam, na nuca”,  “o colarinho duro, de pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados, com olheiras e pápulas. Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos olhos, com largas narinas entre rictos arqueados e austeros. Bigodes rarefeitos, aparados à borda do lábio, quase todo branco. Pera triangular sob o beiço, disfarçando uma pinta cabeluda. Semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misterioso, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago, senão quando meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional”, “que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloquência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada. Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra no ombro do ouvinte, num gesto de familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas”. De volta a Paris, Hippolyte sucedeu ao próprio mestre, e dedica-se à educação. Era um educador consagrado na França e autor de diversos livros sobre a educação; bacharel em ciências e letras, sabendo falar e escrever o alemão, o inglês, o espanhol, o italiano e o holandês. Filho de pais católicos, foi criado no Protestantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre pensador e homem de análise.  Importunava-lhe a rigidez do dogma que o afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e ortodoxias tornava-o incompatível com os princípios da fé cega. A esse tempo o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos. As manifestações físicas que surgiram na América espalharam-se pela Europa. Proliferaram as mesas girantes, dançantes, transmitindo mensagens dos “mortos”, algumas falando de revolução no campo moral. Mas como começou a missão de Kardec? Em 1854, o professor Rivail contava cinquenta e um anos de idade quando ouviu, pela primeira vez, falar das mesas girantes. O Sr. Fortier, falou, entusiasticamente, com o professor Rivail sobre os fenômenos das mesas girantes e falantes; mas este fez pouco caso do assunto, considerando-o um absurdo, pois mesa não tem "nervos para sentir nem cérebro para pensar". Eram mesas que se erguiam do solo, e davam pancadas no chão com uma ou mais pernas, fenômenos mediúnicos que serviam como passatempo. De início, ele foi cético, parecia-lhe absurdo atribuir inteligência a uma coisa puramente material. Homem criterioso, não se deixava levar por modismos. Só, que, a coisa toma vulto, e só se fala nisso. Em maio de 1855 encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram sobre as mesas girantes, mas, agora em outro tom, instrutivo e sério. Conheceu a família Baudin, ocasião em que o Sr. Baudin o convidou para assistir às sessões que aconteciam em sua casa.  Como estudioso do magnetismo durante 35 anos, o prof. Rivail resolveu conferir pessoalmente a informação. E foi, então, na casa da Sra. Roger, em 1º de maio de 1855, que o professor teve os primeiros contatos com o fenômeno intitulado "das mesas girantes". (O espiritualismo americano, decorrente dos chamados fenômenos de Hydesville, já vinha sendo praticado na França desde abril de 1853.) A Sra. Roger evocou o Espírito de um amigo do Sr. Pâtier e foi atendida. Nesse dia, a Sra. Plainemaison convidou o professor Rivail para assistir a próxima sessão na casa dela. Ele compareceu, em 8 de maio de 1855, e, ante os fenômenos extraordinários e de alta elevação espiritual que presenciou, pela mediunidade da Sra. Plainemaison, passou a estudar e reunir-se com os demais médiuns para construir o edifício da elevada Doutrina Espírita, sob a coordenação maior do Espírito de Verdade. Começava ali o surgimento de outras grandes e extraordinárias obras literárias mediúnicas, cujo propósito principal é o de convencer-nos sobre a realidade da vida espiritual e aprimorar nossos espíritos na eterna ascensão no rumo da perfeição. Foi a 30 de abril de 1856, em casa do Sr. Roustan, pela médium Mademoiselle Japhet, que o professor Rivail recebeu a primeira revelação da missão que tinha a desempenhar. Esse aviso, a princípio muito vago, foi confirmado no dia 12 de junho de 1856, por intermédio da médium Mademoiselle Aline C. Os primeiros médiuns da codificação espírita e a iniciação espírita do professor Rivail. Nos meios literários acadêmicos, é bastante comum a referência à obra A história de Joana D'Arc contada por ela mesma. Esse livro foi psicografado pela médium Ermance Dufaux de la Jonchère, médium desde os doze anos de idade, mais conhecida como Ermance Dufaux, e publicado quando esta tinha 14 anos. Em 1855. Na época, os neologismos psicografia, médium e mediunidade ainda não tinham sido criados por Allan Kardec, que conheceu a jovem no dia da publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. A partir desse dia, Ermance Dufaux passou a colaborar ativamente com Kardec, na segunda edição de O Livro dos Espíritos, que foi ampliado de 501 para 1019 questões. São Luís, seu guia espiritual, também transmitiu-lhe mediunicamente a obra Confissões de Luís IX. História de sua vida ditada por ele mesmo, escrita em 1857, mas somente publicada em 1864, devido à censura da época, que proibiu sua publicação antes desse ano. A disposição adotada por Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a seguinte regra: observar, comparar e deduzir. Todas as informações foram obtidas pela escrita, por intermédio de diversos médiuns. Os primeiros médiuns que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin. Quase todo o livro foi escrito por intermédio delas, em presença de numeroso público que assistia às sessões, com o mais vivo interesse. As médiuns ficavam sentadas separadamente e faziam a mesma pergunta aos espíritos. É, aí, que entra o espírito científico de Rivail. Coteja as questões, recusa aquilo que parece dúbio (Pode se recusar dez aparentes verdades, em vez de se aceitar uma possível mentira). Outras médiuns que também colaboraram com as obras da Codificação Espírita foram Ruth Celine Japhet e a Sra. De Plainemaison. Por ocasião do lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos, Rivail viu-se às voltas com uma dúvida, diz ele: Essa obra que vem a público tem que falar por si mesma. O professor Rivail precisa desaparecer, ele não pode sustentar essa obra, porque as pessoas vão valorizá-la por aquilo que é o professor, e eu quero que ela se valorize por aquilo que ela é, pela riqueza que tem. Zéfiro, guia espiritual da família Baudin, sugere um nome gaulês, que Rivail teria usado numa de suas reencarnações, “Allan Kardec”, e ele acha de bom proveito utilizá-lo. E é com esse pseudônimo que passa a assinar todas as suas obras espíritas. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. As principais obras do Codificador foram: em 18 de abril de 1857, primeira edição, com 501 perguntas de Kardec e as respostas dos Espíritos às questões importantes do conhecimento humano. Em 16 de março de 1860, surgiu a segunda (e definitiva) edição, com 1.019 questões; em 1868, iniciava a publicação da Revista Espírita, que circulou até 1869; O Que é o Espiritismo (1859); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865). Finalmente, em 1868, A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Em 1890, 21 anos após a desencarnação de Allan Kardec surgiu o livro Obras Póstumas, com escritos que ele não teve a oportunidade de editar. A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no dia 1º de abril de 1858. Seu nome era "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas". A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso, propugnando para que atingisse os objetivos nobres para os quais foi criada. Os pilares em que se assentam a Doutrina Espírita são: a existência de Deus, a reencarnação ou pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados, a intercomunicação entre os dois planos da vida, o código de Moral do Evangelho do Cristo. A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados pelas religiões. A missão do ínclito mestre, como havia sido prognosticada pelo Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transformar a Humanidade. Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar, desvendando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos postulados do Cristianismo. Na Codificação do Espiritismo, Kardec estabeleceu o controle universal do ensino dos Espíritos. “Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil centros espíritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre que princípio se estabelece a concordância.” Allan Kardec, “(...) apagando a própria grandeza (...)”, como mestre-escola, simples homem do povo, cumpriu sua missão na Terra, inaugurando Nova Era para a Humanidade. Em 3l de março de 1869, desencarnou em Paris, após vida intensamente laboriosa, sobretudo nos últimos quinze anos, dedicados ao estudo, à codificação e à divulgação do Espiritismo. Esses foram alguns episódios da vida de um homem chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail. Por isto e tudo mais, nosso grande preito de gratidão a esse grande missionário do Cristo pelo seu criterioso trabalho, e pela obra que nos foi legada. Tratemo-la como um precioso tesouro de toda a Humanidade. Estudando-a e levando sua mensagem aos corações carentes de esclarecimento e de consolo. E que esse livro seja para todos nós o Consolador prometido.. Esta, parece-me, deve ser a mais expressiva demonstração de respeito a quem tanto se sacrificou para que tivéssemos hoje todos os recursos para trilharmos um outro caminho, aquele que nos conduzirá ao aprisco de Jesus.

Allan Kardec, o missionário dos nossos dias!

Muita Paz!