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domingo, 24 de outubro de 2021

 


REFLEXÕES SOBRE ALLAN KARDEC

Olá, Amigos! Encerrando as comemorações do mês de Kardec, vamos explanar mais um ensino espírita. Trata-se do tema “Reflexões sobre Allan Kardec”. Mais uma vez, revivemos a emoção da comemoração do aniversário da reencarnação do Codificador da Doutrina Espírita. Foi no dia 03 de outubro de 1804, em Lion, na França, que voltou ao mundo terreno um Espírito que recebeu o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail e que, mais tarde, ficaria conhecido como Allan Kardec, nome adotado por sugestão do mundo espiritual. A sublime Doutrina Espírita tem sido um farol a iluminar caminhos de todos quantos dela se aproximam em busca de explicações para os “problemas do ser, do destino e da dor”, bem como tem servido de lenitivo para os que buscam os seus ensinamentos nos instantes de sofrimentos físicos, das contrariedades, ou nos aflitivos momentos de perdas de entes queridos que nos precedem no retorno à Pátria Espiritual. A predestinação deste Espírito, plasmado para cumprir a promessa do Cristo em revelar um Consolador para a humanidade, com o claro objetivo de recuperar os padrões primeiros do Cristianismo, quando a palavra luminosa de Jesus estabeleceu a Regra Áurea do relacionamento entre os homens. Que responsabilidade Kardec assumiu! Somente sua interação secular com a terra gaulesa poderia dar a ele a compreensão do Espírito de França e cercar-se de um grupo seleto e comprometido com a restauração cristã. Ele sabia que todos os riscos estariam presentes, mas sabia também que eminentes cientistas de sua época estariam nas trincheiras do seu bom combate. Até na companheira de sua vida, Amélie Boudet, Kardec foi privilegiado porque nela encontrou as condições de paz e serenidade, para montar a estrutura da codificação espírita.

E, mais do que isto, Kardec trouxe para o domínio da razão e da ciência os fenômenos que envolvem o mundo dos espíritos e que até então estavam restritos ao campo das superstições e do sobrenatural. Foi um homem de ciência, na acepção mais rigorosa do termo, pois não descartava nem aceitava qualquer dado novo que lhe chegava sem antes submetê-lo ao crivo da razão e da crítica experimental. Certamente, foi preparado pela Espiritualidade Superior, ao longo da sua trajetória como espírito imortal, para a missão que se lhe estava reservada. Ainda nascente, o Espiritismo já foi alvo das mais pesadas críticas, da mais perversa intolerância e isso, por parte dos descendentes morais dos algozes do Cristo, que pediu ao Pai que os perdoasse. A tradição cristã é rica no histórico dos mártires que pagaram com a vida, a prática de uma fé renovadora e sublime, superando seus próprios receios e abraçando, sem temor, a causa da felicidade. Teve que lidar com os mesmos algozes que empalavam os cristãos, que decapitaram Paulo, que queimaram Joanna D’Arc e Jan Huss, os mesmos e tristes recalcitrantes que destruíram, saquearam, ensanguentaram o mundo, em nome de Deus, durante as trevas medievais da inquisição ou na insana peregrinação das cruzadas. Se para a população parisiense o trabalho de Allan Kardec não mereceu o destaque devido, para os Espíritos foi seu melhor tradutor e representante encarnado. Somente alguém com domínio de métodos científicos de investigação e pesquisa seria capaz de sobrepor as angústias e ansiedades em não saber organizar um texto ou estruturar um pensamento científico mais complexo, como fez Allan Kardec.

Como tudo começou? Paris, rua Grange Batelière, número 18, maio de 1855. Eram oito horas da noite de uma terça-feira quando a sessão na casa da Sra. De Plainemaison começou. Em silêncio absoluto, os convidados tomaram seus lugares à mesa, mãos espalmadas sobre o tampo de carvalho. Entre os mais compenetrados estava o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, 50 anos. Em poucos minutos, se tudo desse certo, ele seria testemunha de um fenômeno que causava espanto e polêmica na Europa e nos Estados Unidos do século XIX: o espetáculo das mesas girantes. Ele já tinha lido as notícias nos jornais e ouvido os relatos das cenas que se repetiam em salões nobres de Paris, Londres, Nova York e São Petersburgo, diante de personalidades tão ilustres quanto perplexas: mesas de todos os pesos e tamanhos se erguiam do chão e se moviam em todas as direções, sem que ninguém as levantasse. Algumas chegavam a atingir o forro do teto e a se espatifar lá embaixo, como se estivessem dominadas por forças ocultas. Outras flutuavam no ar e pousavam diante das testemunhas, como folhas ao vento. Muitas seguiam as ordens e contraordens dos comensais. Direita, esquerda, sobe, desce, para. Assombração? Possessão? Autossugestão? Delírio coletivo? Estudioso, desde os 19 anos, da hipnose, do sonambulismo e do poder curativo dos fluidos magnéticos, o professor Rivail tinha uma tese científica para explicar o que muitos celebravam como manifestações do além: A eletricidade dos corpos reunidos em torno das mesas agiria sobre elas. Era a força magnética dos participantes das sessões, e não os fantasmas, o combustível das mesas. E essa era a melhor das hipóteses. Era, portanto, com um misto de curiosidade e desconfiança que Rivail se preparava para encarar os prováveis fenômenos da noite.

Kardec refletia: A eletricidade dos corpos reunidos em torno das mesas agiria sobre elas. Era a força magnética dos participantes das sessões, e não os fantasmas, o combustível das mesas. E essa era a melhor das hipóteses. Era, portanto, com um misto de curiosidade e desconfiança que Rivail se preparava para encarar os prováveis fenômenos da noite. Será que a mesa se moveria? Será que seguiria as instruções dos anfitriões e convidados, como a obediente mesa do conde, estadista, escritor e orador Agénor de Gasparin? A presença do professor cético na sessão da Sra. De Plainemaison aumentava a tensão e a expectativa dos anfitriões e convidados naquela noite. Quem sabe o professor não encontraria explicações científicas para o sobe e desce das mesas, caso o fenômeno se repetisse na casa da Sra. De Plainemaison? Quem sabe não desvendaria truques secretos por trás de movimentos atribuídos a fantasmas? O professor estava disposto a dar crédito à anfitriã, considerada respeitável e confiável pelos velhos conhecidos, mas só decidiu apostar na sua boa-fé depois de inspecionar, com a devida discrição, o ambiente iluminado por velas e candelabros, em busca de sinais de traquitanas ocultas. Nenhum ímã ou roldana à vista. Concentrem-se, por favor. E que Deus nos abençoe nesta noite.” Uma breve prece antecedeu o longo período de silêncio, só interrompido pela passagem de carruagens do lado de fora, pelo tique-taque dos relógios de bolso e por tosses esporádicas. Rivail já pensava em se retirar, para preparar as aulas do dia seguinte, quando ouviu estalidos sobre os tacos e testemunhou o primeiro movimento da mesa.

Se pudesse erguer as mãos, anotaria, com o máximo de isenção, suas impressões sobre aquela noite, sem tomar partido, ainda, de nenhuma das linhas de investigação dos fenômenos existentes até aquele momento. Ele já conhecia os principais argumentos e interesses em jogo neste território nebuloso, onde fé e ciência mediam forças na então capital cultural do mundo, berço de iluministas consagrados. Mas o palco agora era outro, a sala da Sra. De Plainemaison. E as mesas teriam de exibir prodígios admiráveis para derrotar as desconfianças do professor Rivail. Por mais que lesse os relatos do conde de Gasparin e de Eugène Nus e estudasse os pareceres de Faraday e Chevreul, ele precisava “ver com os próprios olhos e sentir com os próprios dedos” para descartar uma série de suspeitas e possibilidades. Não bastava que as mesas se movessem, esses movimentos poderiam ser provocados, segundo Rivail, pela eletricidade dos corpos reunidos na sessão: Na casa da distinta Sra. Plainemaison, ninguém cobrava ingresso nem pedia doações. O espetáculo era gratuito e estava prestes a começar. Chegou a hora. As mesas giraram na casa da rua Grange Batelière e a cabeça de Rivail girou junto. Os registros sobre o que ele viu naquela noite são bastante concisos: “As mesas giravam, saltavam e corriam em tais condições que não deixavam lugar para qualquer dúvida.” Rivail testemunhou também o que definiu como “alguns ensaios, ainda muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta”. Amparada nas bordas pelas mãos da Sra. Plainemaison, a cesta de vime moveu-se, aos solavancos, sobre uma placa de ardósia, rocha acinzentada usada como lousa na época. Encaixado no fundo do cesto, com a ponta voltada para baixo, um ponteiro da mesma pedra inscreveu frases esparsas na lousa.

Eram respostas a perguntas lançadas ao invisível, escritas, ao que parecia, sem qualquer participação, ou consciência, da anfitriã.  Foi o bastante. Rivail voltou para casa atordoado. Entrevi, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo. Havia um fato que necessariamente decorria de uma causa. Qual seria a causa daqueles movimentos inexplicáveis? O que, ou quem, estaria por trás dos giros das mesas e dos ditados do além? Há ou não uma força inteligente? Eis a questão. Se esta força existe, o que é? Qual será sua natureza e sua origem? Está além da humanidade? Rival decidiu buscar respostas, com os devidos cuidados, de acordo com métodos científicos adotados por ele desde os tempos de estudante. A vida de Rivail estava prestes a se transformar radicalmente. O professor, que conciliava a educação com o ofício de contador para sobreviver, passou a dar atenção cada vez maior ao invisível. O professor sentiu na pele, ou melhor, nos próprios olhos, os efeitos do sonambulismo ao enfrentar um problema grave entre 1852 e 1853: a perda de visão, a ponto de já não conseguir ler nem escrever. Após uma série de exames, o médico especialista deu o diagnóstico: amaurose, com comprometimento irreversível do nervo óptico. O paciente deveria se preparar para o pior: a cegueira iminente. Na dúvida, Rivail decidiu ouvir uma segunda opinião. Em vez de recorrer a outro médico, o velho estudioso do magnetismo bateu na porta de uma sonâmbula conhecida em Paris por promover curas milagrosas.

O diagnóstico dela foi bem menos dramático: não era amaurose, mas, sim, uma inflamação nos olhos: “Em quinze dias experimentareis ligeira melhora; em um mês começareis a ver, e, em dois ou três meses, estareis curado.” Em seguida, receitou a aplicação de uma mistura de água e ervas. O cronograma foi cumprido à risca. Era preciso estudar, e Rivail encontrou um campo de estudos mais fértil para suas pesquisas quando foi apresentado a duas meninas na casa da Sra. Plainemaison: Caroline e Julie Baudin, então com 16 e 14 anos, filhas de Emile-Charles e Clementine Baudin. Consolar, essa foi a missão que ele recebeu. Dizer aos homens que nada está perdido, que tudo se reconstrói através da regeneradora engenharia da reencarnação e que somos perfectíveis, que podemos, sim, construir a paz e o amor, com nosso esforço e nossa luta. Desempenhou-se da missão com a altivez e a humildade dos sábios, sempre defendendo, perante aqueles que o combatiam, de forma elegante e respeitosa, as novas ideias de que se fizera propagador. Numa época em que ainda ressoavam os ecos da Inquisição e as doutrinas positivistas e materialistas mostravam-se ao mundo, ante um pensamento religioso que já não atendia aos anseios do homem, coube a Kardec a tarefa de contê-las, não através de um proselitismo fácil, mas de um corpo doutrinário vindo do Alto e para o qual contribuiu com o ordenamento de seus ensinamentos e com toda a parte experimental. Demonstrou a certeza da vida futura, acenando com uma nova era de progresso e esperança. A missão de Allan Kardec começa na sua condição de educador. Síntese das obras espíritas que Kardec publicou:

Livro dos Espíritos em sua primeira edição em 1857 e a segunda edição em 1860 – O segundo livro, pouco conhecido por muitos de nós, Ilustrações práticas sobre as manifestações espíritas editado em 1858. É um opúsculo muito interessante porque faz uma exposição completa das condições necessárias para a comunicação com os Espíritos  – O que é o Espiritismo 1859 – Carta sobre o Espiritismo 1860 – Espiritismo experimental O Livro dos Médiuns 1861 – O Espiritismo na sua expressão mais simples 1862 – Viagem espírita 1862 que traz informações sobre o espiritismo na França – Resposta à mensagem dos espíritas lioneses por ocasião do ano novo em 1862 – Resumo da lei dos fenômenos espíritas em 1864 – Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo em 1864, depois em 1865 a expressão imitação é retirada e o opúsculo fica com o nome que conhecemos hoje, O Evangelho segundo o Espiritismo – Coleção de composições inéditas; são extrações do próprio Evangelho segundo o Espiritismo 1865 – Não menos importante, O Céu e o inferno 1865 – Coleção de preces espíritas 1865 – Estudo acerca da poesia medianímica 1867 -  Caracteres da revelação espírita 1868 – A Gênese, os milagres e a predições segundo o Espiritismo 1868 – Obras póstumas 1890, lançada após o desencarne de Allan Kardec – Revista espírita, que nasce no ano de 1858 e ela se finda no ano de 1869, que é o ano em que Allan Kardec desencarna. sempre é tempo de lembrarmos Kardec e segui-lo nesta moderna e promissora imitação do Cristo, a doutrina Espírita. Dizer-se espírita não basta. Necessário é tornar-se espírita, o que lhe exigirá a conscientização daqueles princípios e não apenas o conhecimento deles. Esquecido o ensinamento espírita, condena-se a Doutrina Espírita à estagnação.

Lamentável: A biografia de Allan Kardec no seu dia a dia, na sua labuta cotidiana para o estabelecimento das balizas do Espiritismo é praticamente desconhecida. Foi preciso Kardec fazer duzentos anos de nascido para que fosse disponibilizado aos espíritas uma versão em português de todos os tomos da Revista Espírita, onde está a história da Doutrina Espírita; onde está o dia a dia de Kardec; onde estão as orientações do Codificador; onde está estabelecido o seu critério ao longo do tempo. Em virtude disso, muitos espíritas não conhecem a obra total do Mestre de Lion e, assim, se equivocam em seus julgamentos, ou, então, não fazem caso do que disseram ou deixaram de dizer o Codificador e seus excelsos orientadores espirituais. A simples leitura da Revista Espírita mostra, com riqueza de detalhes, a força dos argumentos do Codificador para desfazer as críticas, afastar as intrigas, num incessante trabalho de esclarecimentos, estudos e quebra de um paradigma estratificado na imperfeição humana. Pode-se imaginar o que Kardec passou na cética Paris, quando anunciou o Espiritismo. A obra de Kardec é fonte inesgotável; orienta o contato com os desencarnados, porém, o melhor é que ensina, sobretudo, a viver entre os encarnados. Estudemos Kardec sob todos os ângulos e Pensemos nisso!

Eu fico por aqui.

Muita paz!

Aguardem na próxima semana, um novo estudo sobre ensino espírita.

Leia Kardec! Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!

E não se esqueça: O Amanhã é sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso! 

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