Ensino
espírita
Allan Kardec,
o missionário!
Desde que a Humanidade existe, Deus envia à Terra
mensageiros diversos para instruir o homem sobre as Verdades Eternas. No século
19 antes de Cristo, Abraão, o patriarca dos hebreus, levou ao seu povo à
conscientização do Deus único. No século 13 antes de Cristo, Moisés recebeu no
Monte Sinai os Dez Mandamentos, que estão registrados no capítulo 20,
versículos 2 a 17 do livro Êxodo e no capítulo 5, versículos 6 a 21 do livro
Deuteronômio. Além disso, Moisés criou as leis civis ou disciplinares, para
orientar o povo da época. Aproximadamente 1.300 anos depois de Moisés, quando a
Humanidade estava apta a usar mais a razão, Jesus simplificou os Dez
Mandamentos em dois mandamentos principais: amar a Deus e ao próximo. E as leis
civis e disciplinares, que eram baseadas no olho por olho, dente por dente,
Jesus as modificou em leis baseadas na caridade, na humildade e no amor ao próximo.
Eis que chega o século 19, século das conquistas científicas, das grandes
transformações, mas também de grande vazio no coração do homem. É nesse
panorama que reencarna em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804, aquele que
viria codificar uma nova Doutrina, o Espiritismo, que traria as luzes
definitivas aos ensinamentos de Jesus. Muito se tem escrito sobre a
personalidade de Allan Kardec, existindo mesmo várias e extensas biografias
sobre a sua obra missionária. É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente
ao dia 18 de abril de 1857, quando publicou a magistral obra O Livro dos
Espíritos, que deu início ao processo de codificação do Espiritismo. Nesta
súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns informes sobre a sua
inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral. O seu
verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. "Hippolite" em
família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D Rivail"
na literatura. Era, desde os 18 anos, mestre colegial de Ciências e Letras e,
desde os 20 anos, renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas
foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec. Destacou-se na profissão para
a qual fora educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel
do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique
Pestalozzi. Escrevendo sobre a personalidade do notável mestre, o emérito Dr.
Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos
homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde
moço”. “Temperamento hostil à fantasia, sem instinto poético nem romanesco,
todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra
escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo
perfeito, escoimado de redundâncias. De estatura média, apenas 165 centímetros,
e constituição delicada, embora saudável e resistente, o professor Rivail tinha
o rosto sempre pálido, chupado, de zigomas salientes e pele sardenta, castigado
de rugas e verrugas. Fronte vertical comprida e larga, arredondada ao alto,
erguida sobre arcadas orbitárias proeminentes, com sobrancelhas abundantes e
castanhas. Cabelos lisos e grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás
(onde alguns fios mal encobriam a larga coroa calva da madureza), repartidos,
na frente, da esquerda para a direita, sem topetes, confundidos, nos temporais,
com as barbas grisalhas e aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e
cobriam, na nuca”, “o colarinho duro, de
pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados, com olheiras e pápulas.
Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos olhos, com largas narinas
entre rictos arqueados e austeros. Bigodes rarefeitos, aparados à borda do
lábio, quase todo branco. Pera triangular sob o beiço, disfarçando uma pinta
cabeluda. Semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de
vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais
impressionava era o olhar estranho e misterioso, cativante pela brandura das pupilas
pardas, autoritário pela penetração na alma do interlocutor. Pousava sobre o
ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago, senão quando
meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme,
de tonalidade agradável e oracional”, “que podia mesclar agradavelmente desde o
murmúrio acariciante até as explosões de eloquência parlamentar. Sua
gesticulação era sóbria, educada. Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar
direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar
impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. Conversando
com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra no ombro do
ouvinte, num gesto de familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das
damas”. De volta a Paris, Hippolyte sucedeu ao próprio mestre, e dedica-se à
educação. Era um educador consagrado na França e autor de diversos livros sobre
a educação; bacharel em ciências e letras, sabendo falar e escrever o alemão, o
inglês, o espanhol, o italiano e o holandês. Filho de pais católicos, foi
criado no Protestantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo
situar-se na posição de livre pensador e homem de análise. Importunava-lhe a rigidez do dogma que o
afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e
ortodoxias tornava-o incompatível com os princípios da fé cega. A esse tempo o
mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos. As
manifestações físicas que surgiram na América espalharam-se pela Europa.
Proliferaram as mesas girantes, dançantes, transmitindo mensagens dos “mortos”,
algumas falando de revolução no campo moral. Mas como começou a missão de
Kardec? Em 1854, o professor Rivail contava cinquenta e um anos de idade quando
ouviu, pela primeira vez, falar das mesas girantes. O Sr. Fortier, falou,
entusiasticamente, com o professor Rivail sobre os fenômenos das mesas girantes
e falantes; mas este fez pouco caso do assunto, considerando-o um absurdo, pois
mesa não tem "nervos para sentir nem cérebro para pensar". Eram mesas
que se erguiam do solo, e davam pancadas no chão com uma ou mais pernas,
fenômenos mediúnicos que serviam como passatempo. De início, ele foi cético, parecia-lhe
absurdo atribuir inteligência a uma coisa puramente material. Homem criterioso,
não se deixava levar por modismos. Só, que, a coisa toma vulto, e só se fala
nisso. Em maio de 1855 encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que
lhe falaram sobre as mesas girantes, mas, agora em outro tom, instrutivo e
sério. Conheceu a família Baudin, ocasião em que o Sr. Baudin o convidou para
assistir às sessões que aconteciam em sua casa. Como estudioso do magnetismo durante 35 anos,
o prof. Rivail resolveu conferir pessoalmente a informação. E foi, então, na
casa da Sra. Roger, em 1º de maio de 1855, que o professor teve os primeiros
contatos com o fenômeno intitulado "das mesas girantes". (O
espiritualismo americano, decorrente dos chamados fenômenos de Hydesville, já
vinha sendo praticado na França desde abril de 1853.) A Sra. Roger evocou o
Espírito de um amigo do Sr. Pâtier e foi atendida. Nesse dia, a Sra.
Plainemaison convidou o professor Rivail para assistir a próxima sessão na casa
dela. Ele compareceu, em 8 de maio de 1855, e, ante os fenômenos
extraordinários e de alta elevação espiritual que presenciou, pela mediunidade
da Sra. Plainemaison, passou a estudar e reunir-se com os demais médiuns para
construir o edifício da elevada Doutrina Espírita, sob a coordenação maior do
Espírito de Verdade. Começava ali o surgimento de outras grandes e
extraordinárias obras literárias mediúnicas, cujo propósito principal é o de
convencer-nos sobre a realidade da vida espiritual e aprimorar nossos espíritos
na eterna ascensão no rumo da perfeição. Foi a 30 de abril de 1856, em casa do
Sr. Roustan, pela médium Mademoiselle Japhet, que o professor Rivail recebeu a
primeira revelação da missão que tinha a desempenhar. Esse aviso, a princípio
muito vago, foi confirmado no dia 12 de junho de 1856, por intermédio da médium
Mademoiselle Aline C. Os primeiros médiuns da codificação espírita e a
iniciação espírita do professor Rivail. Nos meios literários acadêmicos, é
bastante comum a referência à obra A história de Joana D'Arc contada por ela
mesma. Esse livro foi psicografado pela médium Ermance Dufaux de la Jonchère,
médium desde os doze anos de idade, mais conhecida como Ermance Dufaux, e
publicado quando esta tinha 14 anos. Em 1855. Na época, os neologismos
psicografia, médium e mediunidade ainda não tinham sido criados por Allan
Kardec, que conheceu a jovem no dia da publicação da primeira edição de O Livro
dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. A partir desse dia, Ermance Dufaux
passou a colaborar ativamente com Kardec, na segunda edição de O Livro dos
Espíritos, que foi ampliado de 501 para 1019 questões. São Luís, seu guia
espiritual, também transmitiu-lhe mediunicamente a obra Confissões de Luís IX.
História de sua vida ditada por ele mesmo, escrita em 1857, mas somente publicada
em 1864, devido à censura da época, que proibiu sua publicação antes desse ano.
A disposição adotada por Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a
seguinte regra: observar, comparar e deduzir. Todas as informações foram
obtidas pela escrita, por intermédio de diversos médiuns. Os primeiros médiuns
que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin. Quase
todo o livro foi escrito por intermédio delas, em presença de numeroso público
que assistia às sessões, com o mais vivo interesse. As médiuns ficavam sentadas
separadamente e faziam a mesma pergunta aos espíritos. É, aí, que entra o
espírito científico de Rivail. Coteja as questões, recusa aquilo que parece
dúbio (Pode se recusar dez aparentes verdades, em vez de se aceitar uma
possível mentira). Outras médiuns que também colaboraram com as obras da
Codificação Espírita foram Ruth Celine Japhet e a Sra. De Plainemaison. Por
ocasião do lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos, Rivail
viu-se às voltas com uma dúvida, diz ele: Essa obra que vem a público tem que
falar por si mesma. O professor Rivail precisa desaparecer, ele não pode
sustentar essa obra, porque as pessoas vão valorizá-la por aquilo que é o
professor, e eu quero que ela se valorize por aquilo que ela é, pela riqueza
que tem. Zéfiro, guia espiritual da família Baudin, sugere um nome gaulês, que
Rivail teria usado numa de suas reencarnações, “Allan Kardec”, e ele acha de
bom proveito utilizá-lo. E é com esse pseudônimo que passa a assinar todas as suas
obras espíritas. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o
obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do
Espiritismo. As principais obras do Codificador foram: em 18 de abril de 1857,
primeira edição, com 501 perguntas de Kardec e as respostas dos Espíritos às
questões importantes do conhecimento humano. Em 16 de março de 1860, surgiu a
segunda (e definitiva) edição, com 1.019 questões; em 1868, iniciava a
publicação da Revista Espírita, que circulou até 1869; O Que é o Espiritismo
(1859); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); O
Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865). Finalmente,
em 1868, A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Em 1890,
21 anos após a desencarnação de Allan Kardec surgiu o livro Obras Póstumas, com
escritos que ele não teve a oportunidade de editar. A primeira sociedade
espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no
dia 1º de abril de 1858. Seu nome era "Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas". A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso,
propugnando para que atingisse os objetivos nobres para os quais foi criada. Os
pilares em que se assentam a Doutrina Espírita são: a existência de Deus, a
reencarnação ou pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos
habitados, a intercomunicação entre os dois planos da vida, o código de Moral
do Evangelho do Cristo. A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na
galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um
acontecimento tão extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os
direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com
o universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre
eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados
pelas religiões. A missão do ínclito mestre, como havia sido prognosticada pelo
Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de
codificar, mas principalmente de abalar e transformar a Humanidade. Pelo seu
profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo
o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar,
desvendando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão
racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos
postulados do Cristianismo. Na Codificação do Espiritismo, Kardec estabeleceu o
controle universal do ensino dos Espíritos. “Na posição em que nos encontramos,
a receber comunicações de perto de mil centros espíritas sérios, disseminados
pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre
que princípio se estabelece a concordância.” Allan Kardec, “(...) apagando a
própria grandeza (...)”, como mestre-escola, simples homem do povo, cumpriu sua
missão na Terra, inaugurando Nova Era para a Humanidade. Em 3l de março de
1869, desencarnou em Paris, após vida intensamente laboriosa, sobretudo nos
últimos quinze anos, dedicados ao estudo, à codificação e à divulgação do
Espiritismo. Esses foram alguns episódios da vida de um homem chamado Hippolyte
Léon Denizard Rivail. Por isto e tudo mais, nosso grande preito de gratidão a
esse grande missionário do Cristo pelo seu criterioso trabalho, e pela obra que
nos foi legada. Tratemo-la como um precioso tesouro de toda a Humanidade.
Estudando-a e levando sua mensagem aos corações carentes de esclarecimento e de
consolo. E que esse livro seja para todos nós o Consolador prometido.. Esta,
parece-me, deve ser a mais expressiva demonstração de respeito a quem tanto se
sacrificou para que tivéssemos hoje todos os recursos para trilharmos um outro
caminho, aquele que nos conduzirá ao aprisco de Jesus.
Allan Kardec, o missionário dos nossos dias!
Muita Paz!
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