Julgamento das
atitudes alheias - Ensino espírita
O tema desse
estudo nos fala sobre a importância de não julgarmos precipitadamente as
criaturas e, consequentemente, não atirarmos a primeira pedra naqueles que nos
parecem errados. De um modo geral, somos benevolentes para com os nossos erros
e muito severos para com os erros dos outros. Para que vocês percebam a
precipitação, o equívoco, no julgamento do próximo, vou contar uma pequena
estória: Um jovem casal mudou-se para um bairro muito tranquilo. Na primeira
manhã em que eles passavam em sua nova casa, enquanto tomavam café, a mulher
reparou no varal no qual a vizinha pendurava os lençóis e comentou com o
marido: Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Se eu tivesse
intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar roupas! O marido
observou calado. Alguns dias depois, também durante o café da manhã, a vizinha
pendurava seus lençóis e novamente a mulher comentou com o marido: Nossa
vizinha continua pendurando os lençóis sujos! E assim, com o passar dos dias,
enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal, a mulher repetia seu
discurso. Passado um mês, a jovem esposa se surpreendeu ao ver os lençóis muito
brancos sendo estendidos e, surpresa, foi dizer ao marido: Veja! Ela aprendeu a
lavar as roupas! Será que a outra vizinha falou com ela? O marido lhe respondeu
calmamente: Ninguém foi ensiná-la a lavar roupas. Aconteceu que hoje eu
levantei mais cedo e lavei a vidraça da nossa janela! Creio que era a sujeira
que impedia você de ver a brancura dos lençóis da nossa vizinha.
REFLEXÃO:
Muito embora o
Cristo também tenha ensinado que a verdadeira justiça repousa em Deus, em
inúmeras situações nos comportamos como juízes implacáveis da causa alheia.
Assim, ao avaliarmos os fatos e, principalmente, as pessoas, podemos rotulá-los
como certos ou errados, bons ou maus, simpáticos ou antipáticos, valorizando-os
ou desconsiderando-os, em conformidade com os conteúdos moral, emocional e
intelectual que, consciente e/ou inconscientemente, carregamos. No instante em
que a mulher da nossa estória julgara a conduta da vizinha, ela estava se
arvorando também em juíza, e esse é um grande problema de que a Humanidade
padece, tanto que Jesus, numa de suas advertências, deixou bem claro qual é o
risco de se fazer um julgamento, quando disse: “Não julgueis, afim de não
serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os
outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para
com os outros”. (Mateus, 7:1-2). Podemos interpretá-la como um alerta para o
fato de que, em nosso grau de evolução não temos condições de emitir um
julgamento de maneira justa e imparcial, exatamente porque nosso ponto de vista
é, ainda, muito limitado, ou seja, não estamos de posse de todos os fatos
referentes ao acontecimento e não possuímos uma visão real da situação. Assim,
para não cairmos em erro, seria prudente, então, abstermo-nos de julgar. Esta
citação evangélica, por si só, revela toda amplitude do ensinamento que o
Cristo pretendeu transmitir, nos levando a pensar duas vezes antes de querer
julgar o nosso próximo, pois sem dúvida, ainda somos criaturas imperfeitas
eivadas de parcialidade, paixões, egoísmo, e jamais poderíamos julgar alguém de
forma reta e justa. Este é um
ensinamento do Mestre, que destaca os perigos de nos deixarmos levar pelos
julgamentos inconsequentes de situações e pessoas, sem nenhuma cautela,
alterando o verdadeiro juízo dos acontecimentos. A máxima: “Com a mesma medida
com que medis será medido”, foi endereçada a todos nós, no tocante à aplicação
do nosso juízo quando nos defrontamos com problemas alheios. Estamos sob a
égide da Lei de Causa e Efeito, se o nosso juízo for parcial quando julgamos as
atitudes e os atos do próximo, como pretender um julgamento equitativo e reto
para com as nossas próprias ações? Quando prejudicamos alguém com o nosso falso
juízo, atraímos para nós a necessidade de um reajuste, no qual o Espírito passa
a ser réu, uma vez que não existe causa que não conduza a um efeito. Podemos,
porém, ampliar essa interpretação e compreendermos que Jesus poderia,
igualmente, estar nos alertando para o fato de que não existe, em realidade,
aquilo que costumamos chamar de juízo de valores, pelo menos não como o
entendemos, ou seja, não devemos julgar porque o critério que comumente
utilizamos para definir o que é bem e mal, não está exatamente de acordo com a
realidade, se analisado do ponto de vista da vida eterna e do Espírito. Isso
porque somos ainda imperfeitos. Outro aspecto a ser considerado na relação que
estabelecemos com o mundo e com outros seres humanos e que pode influenciar
fortemente nossa visão, refere-se ao que a psicologia chama de projeção: o
sujeito se livra de conteúdos penosos e incompatíveis, projetando-os nos
outros. Dessa forma, na eventualidade de emitirmos algum tipo de julgamento,
devemos levar em consideração também a realidade das projeções que costumamos
fazer, ou seja, é muito provável que o mal que vemos em nosso semelhante
esteja, primeiramente, em nosso próprio mundo íntimo, contaminando nosso ponto
de vista. Não é raro encontrarmos, por exemplo, pessoas a quem descrevemos como
vilões, que são, na verdade, mais adiantados que nós, em termos de escala
espiritual, mas que, no entanto, não fazem questão de esconder suas sombras,
parecendo inferiores segundo nosso critério de julgamento. Nós, por nossa
parte, podemos parecer quase perfeitos, porém, à custa da repressão de muitos
aspectos sombrios de nossa personalidade. É muito difícil, então, num mundo
onde o engano e o autoengano ainda predominam, estabelecer um juízo de valores
que seja coerente com a realidade. Dessa forma, além do fato de jamais termos
condições de conhecer todas as peripécias envolvidas num acontecimento para,
então, avaliá-lo com propriedade, existe, também, a verdade de que nem sempre
aquilo que julgamos como um mal seja realmente maléfico e vice-versa. Nosso
ponto de vista é, efetivamente, muito estreito para cogitarmos emitir
julgamentos. Por isso, o Mestre de Nazaré, constatando nossa visão frágil,
aconselhou-nos a não julgar. Parece cada vez mais claro que Jesus nos dizia, na
expressão simples do não julgueis, que essa faculdade ainda não nos está
disponível, por nos faltar competência espiritual para tanto. A mesma
recomendação nos apresenta o Espiritismo: O homens! Quando será que julgareis
os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios
atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares
severos sobre vós mesmos? O Espiritismo ratifica essa advertência: Para julgarmos
de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as consequências. Assim, para bem
apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos
transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem
sentir. Ao invés de certezas fundamentadas em julgamentos frágeis, recorramos
mais à prática da empatia, aquela que nos convida a entrar nos sentimentos dos
irmãos de jornada, experimentando-lhes as dores e as vivências, sempre
conscientes de que existe mais vantagem em ampliar nossa visão de vida, abertos
às possibilidades, do que em nos sentirmos como os donos da verdade. Na vida,
só é possível e válido o autojulgamento, porque somente o próprio indivíduo é
capaz de avaliar tudo o que se passa em seu íntimo: o que lhe dói, o que lhe
faz duvidar e sofrer, bem como o que lhe agrada e preenche o coração. Resumindo:
Como é que você cuida os erros alheios e não cuida os seus próprios? Como é que você é tão severo com as falhas do
outro e sempre arruma uma desculpa pras suas? Como é que você fica tão
indignado ao perceber os defeitos do próximo e se sente tão injustiçado quando
apontam os seus defeitos? Dois pesos e duas medidas. Apontamos os defeitos dos
outros numa tentativa ridícula de nos destacarmos, pois nos elevamos a nossos
próprios olhos e diminuímos o próximo com nossas conclusões tortas e nossos
julgamentos fraudulentos. Não se esqueça de que aqueles defeitos e erros que
você, espírito imortal, não apresenta neste atual passeio terrestre,
provavelmente já teve e cometeu em outras experiências. Sem falar que ninguém
está livre de errar ainda pro futuro. Não vamos virar santos da noite para o
dia. Não há fórmula mágica para a reforma íntima. Mas será que não podemos nos
tornar desde já um pouquinho mais tolerantes? Não é por bondade que falo. Ao
ser severo com alguém, você está sendo severo com você mesmo. Você entende
isso? Então, para entendermos, para sermos benevolentes, indulgentes para com
os erros de nossos irmãos, é preciso que, antes de tudo, nos conscientizemos
dos nossos erros, das nossas imperfeições e das nossas limitações. A partir daí
sim, teremos condições de compreender os erros dos outros. Até porque, quem tem
telhado de vidro, não joga pedra no dos outros. Nossas imperfeições decorrem
ora do desconhecimento da lei divina, ora de seu errado entendimento, ora de
uma vivência em desacordo com ela. A Doutrina Espírita é uma doutrina de
equilíbrio. Podemos fazer uma analogia do encardido da vidraça com nossos
preconceitos que as vezes não deixam que enxerguemos com clareza certas
situações. Afinal por que não devemos julgar nem ao menos os atos mais obscuros
que nos deparamos? Seria certo o espírita se abster de qualquer opinião? Para
analisarmos com mais calma cada pergunta dessas devemos primeiro lembrar que os
espíritos nos indicam sempre a calma e a atitude pacifista. Isso nos “obriga” a
ter uma atitude muitas vezes vista pelo mundo como covarde ou sem conteúdo.
Mais importante que ter a razão é estar em paz, portanto é indispensável para
nós espíritas a calma ao analisar as situações e nunca ter a arrogância de
pensamento de acharmo-nos superiores a qualquer indivíduo. Somos todos
imperfeitos a caminho da evolução moral numa grande família espiritual e para
isso é necessário a boa convivência e o amor entre todos os membros desta
família.
Muita Paz!
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