INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
Pense nisso!

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domingo, 27 de fevereiro de 2022

 


Reencarnação! Instrumento pedagógico

Ensino espírita

O objetivo deste trabalho é mostrar que a alma é imortal e ao corpo físico retorna quantas vezes for necessário. Reencarnação significa a volta do Espírito à vida corpórea, mas num outro corpo, sem qualquer espécie de ligação com o antigo. A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois nos oferece o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos ensinam. (Questão 171 de O Livro dos Espíritos) O que sou? De onde vim? Por que e para que estou aqui? Qual será o meu futuro? As pessoas que não aceitam a ideia da reencarnação não conseguem, de forma que atenda à nossa racionalidade, responder as perguntas lá do início e explicar o motivo dos nossos sofrimentos e das diferenças entre as pessoas. Por que razões pessoas sofrem desde que nasceram, sem o direito à mudança de cenário e outras não? Estes casos vistos aos olhos de uma única existência poderiam ser considerados como frutos da injustiça de Deus que, como pai, não deu a elas as mesmas oportunidades e condições de sobrevivência que deu a outros. Entretanto, vistos com os olhos do Espírito, desvendamos as causas que as levam aos sofrimentos na matéria. Na lei de justiça, os erros cometidos e os males infligidos ao próximo devem ser reparados durante novas existências, a fim de que, experimentando os mesmos sofrimentos, o Espírito possa resgatar seus débitos, passando a conquistar o direito de ser feliz. A reencarnação, chave do crescimento espiritual, é uma das leis da natureza. Só ela pode dar certeza ao homem de onde ele vem, para onde vai e porque está na Terra. Justificando todas as anomalias e injustiças aparentes da vida. Reencarnação quer dizer voltar à vida material. É a volta do Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo, especialmente formado para ele, e que nada tem de comum com o antigo, a fim de se ajustar às leis divinas. Ninguém está aqui pela primeira vez. As pessoas nascem, vivem, e morrem. Passam um período na espiritualidade e tornam a nascer. Isso é um processo educativo. Nesses ciclos: mundo espiritual, mundo material, elas vão encontrando consequências do que fizeram, obedecendo a uma lei chamada de causa e efeito. Nós temos livre-arbítrio? Temos! Mas temos também responsabilidades pelo que fazemos. Aqui, no mundo material, existem códigos a serem respeitados. Por exemplo: o código de trânsito tem suas regras, quem não as respeita é multado, e o infrator tem que pagar a multa; quem não obedece ao código penal sofre as penas da lei. Com relação à vida espiritual, é a mesma coisa. Quem desobedece é punido. Todo ato contrário às leis soberanas gera desequilíbrio, a exigir reparação. Só que, muitas vezes, o efeito daquilo que se fez não aparece de imediato. Na justiça aqui da Terra, todo mecanismo é externo. É o guarda de trânsito que multa, é o juiz que condena. Já na questão espiritual, esse controle é totalmente automático e interior, ele é feito pela nossa consciência. Entre as encarnações, a consciência, aos poucos, vai despertando e o Espírito contempla, no cenário da própria consciência, os atos que praticou. Ele vislumbra todas as consequências que advieram de seu proceder. E se vê tal qual é, sem ilusões ou desculpas. Alguns recalcitram no reconhecimento da própria realidade. Esse mecanismo de causa e efeito não é simplesmente justiça. Ele é um processo de educação. Ele nos ensina quais são os resultados das nossas ações. Quando são ações boas, nós nos sentimos bem. E quando cometemos algum deslize qualquer, o efeito é desagradável. Assim, nós vamos aprendendo a caminhar na vida. Aprendendo a viver. O ponto de partida para se entender a reencarnação é conhecer e entender a existência do Espírito, que quando encarnado é chamado de Alma. O princípio espiritual, centelha divina, evolui desde o momento obscuro de sua criação, sem deter-se um só instante, conquistando com suas experiências os valores divinos do amor em todas as suas manifestações. E, gradualmente, ele sai da ignorância e cresce em conhecimentos e em moralidade. Mas para isto precisa do mergulho na carne, onde vivencia experiências, aprende e interioriza valores, purificando-se para candidatar-se aos planos sublimes da existência. Esse processo é vasto e demanda incontáveis existências. E nesse longo caminhar, vagarosamente, o Espírito inteira-se do teor das leis divinas, que se encontram inscritas em sua consciência. Aquele que consegue adaptar sua vontade e seu proceder aos estatutos divinos, apressa e ameniza sua evolução para Deus. A reencarnação é, pois, a grande ferramenta que o Criador utiliza para ensinar Seus filhos o verdadeiro sentido do que seja amor ao próximo. Ela é um instrumento pedagógico para o Espírito, indispensável, pois, à sua evolução. Necessária ao duplo progresso, moral e intelectual. Uma só existência corporal é insuficiente para que o Espírito possa adquirir tudo que lhe falta na prática do bem, e se desfazer de tudo que de mal há em si. Em cada reencarnação, o ser encarnado tem a oportunidade de corrigir os erros que cometeu em outras existências. Aceitando e concordando que somos em espírito criados à semelhança de Deus, e que em espírito estamos destinados à perfeição, pela evolução gradativa, a doutrina da reencarnação é consoladora, pois faz com que o homem veja seu Criador, não como um Deus vingativo e parcial, mas como um pai amigo e justo. Haveria grande injustiça, daquele que é nosso Criador, se ele não nos desse chances de reparar as faltas cometidas, muitas vezes em momentos impensados, frutos da nossa cegueira e imperfeição espiritual. Não atuaria Deus com equidade, nem de acordo com Sua bondade, se condenasse para sempre uma criatura por seus erros, que a ignorância a fez cometer. Ao contrário, a reencarnação abre-nos uma porta para o arrependimento. Então, com essas informações e esses esclarecimentos, podemos entender que a reencarnação é uma lei natural, portanto divina, e sua finalidade é o melhoramento progressivo da Humanidade Se nós precisamos atingir a perfeição, como Jesus nos orientou e, ao desencarnarmos não tivermos produzido todos os efeitos de melhoria que deveríamos produzir, evidentemente que precisamos de mais tempo para produzi-los. Sem a reencarnação, nós não vamos compreender a nossa dor; nós não vamos entender as diferenças sociais; nós não vamos entender por que uma criança fica doente, e por que uns são maus e outros bons. Dentro destas questões de desigualdade, a justiça divina fica traduzida claramente através das vidas sucessivas. Com a ideia de que a vida começa no berço e termina no túmulo, ou seja, uma única existência, a justiça divina se mostra injusta, porque o criminoso não teria oportunidade de uma nova vida para se corrigir. Com a reencarnação, nós adquirimos a luz do conhecimento, que eliminará a sombra que existe em nós. Que possamos meditar acerca do que estamos fazendo na nossa atual existência. A reencarnação fundamenta todo o nosso desenvolvimento moral e intelectual. Sem ela, a existência física perderia a perspectiva de uma vida futura, o que nos levaria ao materialismo; com ela, todo o sofrimento encontra a sua explicação lógica, reacendendo, assim, a esperança num futuro mais promissor. Mas, por que se combate tanto a reencarnação? Porque uma vez admitida, implodirá toda a fundamentação das seitas salvacionistas, que prometem ou negociam lugares no céu, perdões gratuitos dos erros, caminho único para a felicidade, através de rituais que mais valorizam o exterior, e retiram a atenção do essencial que é a reforma íntima. A reencarnação, ao desmentir a necessidade de intermediários ou representantes da divindade, mostrando que cada um pode ser o responsável pela sua "salvação", fará ruir a exigência de remidos ou eleitos que encaminhem seguramente o crente para o reino dos céus. O homem tem a sua consciência e ela é o seu guia. Aquele que abdica dela e entrega a sua função a outrem, é como um cego que se deixa guiar pelas ventanias da estrada. Templos deve haver. Dirigentes são necessários para que a organização seja a tônica nas casas religiosas. Donos da verdade, jamais. Vejamos, então, em síntese, que a Bíblia ensina realmente que a alma já existe antes do momento da concepção. Em outras palavras, a alma ou o espírito é preexistente com relação ao instante em que acontece a concepção no ventre materno. “Antes de te formar no ventre de tua mãe, Eu te conheci; antes de saíres do ventre materno, Eu te consagrei; profeta das nações Eu te destinei” (Jeremias 1: 5).

Muita Paz!

domingo, 20 de fevereiro de 2022

 


O Pior inimigo

Ensino espírita

Com base no conto O Pior inimigo, do livro Alvorada Cristã, pelo Espírito Neio Lúcio. Entendo que as páginas de Neio Lúcio são, em verdade, valioso curso de iluminação espiritual. Conta-nos assim o autor: Um homem, admirável pelas qualidades de trabalho e pelas formosas virtudes do caráter, foi visto pelos inimigos da Humanidade que conhecemos por Ignorância, Calúnia, Maldade, Discórdia, Vaidade, Preguiça e Desânimo, os quais tramaram, entre si, agir contra ele, conduzindo-o à derrota. O honrado trabalhador vivia feliz, entre familiares e companheiros, cultivando o campo e rendendo graças ao Senhor Supremo pelas alegrias que desfrutava no contentamento de ser útil. A Ignorância começou a cogitar da perseguição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações religiosas. Insulava -se no trato da terra, cheio de ambições desmedidas para enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons costumes. O lavrador ativo recebeu as notícias do adversário que operava, de longe, sorriu calmo e falou com sinceridade: - A Ignorância está desculpada. Surgiu, então, a Calúnia e denunciou-o às autoridades por espião de interesses estranhos. Aquele homem vivia, quase sozinho, para melhor comunicar-se com vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas averiguações e, ao término do inquérito vexatório, a vítima afirmou sem ódio: - a Calúnia estava enganada. Logo após, veio a Maldade, que o atacou de mais perto. Principiou a ofensiva, incendiando-lhe o campo; destruiu-lhe milharais enormes; prejudicou-lhe a vinha; poluiu-lhe as fontes. Todavia, o homem do campo incansável, reconstruindo para o futuro, respondeu sereno: - contra as sombras do mal, tenho a luz do bem. Reconhecendo os perseguidores que haviam encontrado um espírito robusto na fé, instruíram a Discórdia que passou a assediá-lo dentro da própria casa. Provocações cercaram-no de todos os lados e, a breve tempo, irmãos e amigos da véspera relegaram-no ao abandono. O servo diligente, dessa vez, sofreu bastante, mas ergueu os olhos para o Céu e falou: - meu Deus, estou só, no entanto, continuarei agindo e servindo em teu nome. A Discórdia será por mim esquecida.  Apareceu, então, a Vaidade que o procurou nos aposentos particulares, afirmando-lhe: - és um grande herói. Venceste aflições e batalhas! Serás apontado à multidão na auréola dos justos e dos santos. O trabalhador sincero repeliu-a: -sou apenas um átomo que respira. Toda glória pertence a Deus. Ausentando-se a Vaidade com desapontamento, entrou a Preguiça e, acariciando-lhe a fronte com mãos traiçoeiras, afiançou: - Teus sacrifícios são excessivos. Vamos ao repouso! Já perdeste as melhores forças! Vigilante, contudo, o interpelado replicou sem hesitar: - Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta. Afastando-se a Preguiça, vencida, o Desânimo compareceu. Não atacou de longe, nem de perto. Entrou no coração do operoso lavrador e começou a perguntar-lhe: -esforçar-se pra quê? Vigilante, contudo, o interpelado replicou sem hesitar: - Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta. Servir por quê? Não será melhor deixar tudo por conta de Deus, mesmo? Não se lembra de que a morte destruirá tudo? O homem forte e valoroso, que triunfara em muitos combates, começou a ouvir as interrogações do Desânimo, deitou-se e passou cem anos sem levantar-se.

REFLEXÃO:

A evolução do homem, em Espírito, o obriga a vencer muitas barreiras, muitas provas. A fonte das vicissitudes que o visitam, quase sempre se localiza dentro de si mesmo, mesmo que o incentivo possa vir de fora dele. O caminho da virtude obriga-o a superar as paixões inferiores, provenientes do seu estado de fraqueza espiritual. Enquanto os sentimentos e emoções provenientes do ser animal o puxa para trás, estacionando-o em posições ilusórias, os valores do Espírito impulsiona-o para frente, para seu destino glorioso. A fraqueza do homem aflora quando ele se deixa visitar por examinadores que testam a sua constância de propósitos. São eles: egoísmo, orgulho, inveja, ciúme, vaidade, maledicência, preguiça. O homem, de uma forma geral, reage aos impulsos exteriores ou às tentações conforme o seu estado evolutivo, deixando-se arrastar, muitas vezes, pela invigilância de suas ações. Muitas são as visitas que recebemos, e, para as quais ainda não nos preparamos para lidarmos com elas. As consequências dessas visitas serão sempre dores e vicissitudes, de maior ou menor intensidade, em função da capacidade que desenvolvemos de perceber e vigiar. Quem de nós poderia afirmar que jamais se deixou abater pelo desânimo? Quem de nós poderia dizer que jamais questionou os porquês de tudo que fazemos ou sentimos? Quem de nós poderia garantir estar preparado para os percalços da vida, sem se deixar abraçar pelo desânimo? Como lutar contra esse inimigo das trevas que nos abate sem piedade, levando-nos à autocompaixão, à inércia e à agonia? Jesus nos trouxe em seu evangelho a indicação, o caminho: “Vigiai e orai.” A oração reforça a vontade interior, predispondo o espírito à ação. Mas, por si só não basta para assegurar que não vamos cair. Mesmo com o auxílio da espiritualidade superior nos encontramos caindo quando em vez, incapazes de dominar o visitador das trevas que nos abate. Oração sem vigilância não proporciona a eficácia no combate à inferioridade. A vigilância talvez seja a ação mais importante a ser tomada por aquele que ambiciona crescimento espiritual. O conhecimento de si mesmo e o combate às fraquezas que habitam em nós, frutos da vida instintiva que ainda trazemos, ajuda a vencê-las. Reconhecer-se e caminhar para vencer a si próprio é o melhor guia para a evolução. Nossas fraquezas de hoje poderão ser nossas forças de amanhã. Bastando que ajamos no sentido de identificá-las e vencê-las. Mas nossa força de hoje pode ser nossa fraqueza de amanhã, se nos limitarmos a pensar que já somos capazes de vencer as inferioridades. As circunstâncias podem abater o ânimo do trabalhador do bem. Todos conhecemos histórias de pessoas que perseveraram longo tempo no caminho do trabalho edificante, exercitando tolerância, compreensão, amor e caridade, e, que, repentinamente, abandonaram tudo para permanecerem inertes no mundo em que vive. A humildade requerida do homem frente à Criação não implica em postura de inferioridade ou questionamento de que nada adianta fazer porque não faremos diferença. Existe certa história que bem reflete a necessidade de exercitar a fé e a ação. Contam, que certo escritor um dia recolheu-se à casa de praia para meditar sobre o significado da vida, na razão de ser de cada indivíduo. Pretendia escrever a respeito. Certa manhã, levantou-se cedo para caminhar na praia. Observou um vulto que parecia dançar na areia. Indo e vindo na direção da arrebentação do mar. Ao aproximar-se, verificou tratar-se de um rapaz que se abaixava, recolhia as estrelas do mar na areia e as devolvia ao oceano. O rapaz não se cansava de repetir aquele gesto. Chegando junto dele, perguntou: -o que fazes? Ao que ele respondeu: -a maré está baixando, e se eu não devolver as estrelas do mar que ficam na areia, elas morrerão. O escritor achou um absurdo, e lhe disse: -não vês que existem quilômetros e quilômetros de praia e milhões de estrelas do mar? Você não será capaz de fazer diferença com esse seu gesto. O rapaz, ao invés de desanimar, olhou para o escritor, abaixou-se, pegou outra estrela do mar, correu para a arrebentação e lançou-a para o oceano. Voltando para junto do escritor, disse-lhe: -fez diferença para aquela que joguei. O escritor ficou desconcertado, e recolheu-se à sua casa, não conseguindo apagar aquela imagem do jovem lançando estrelas ao mar. No dia seguinte, acordou cedo e, imbuindo-se de coragem, passou toda manhã ajudando o rapaz a lançar as estrelas de volta ao mar. Aquele que pensa que as ações humildes ou modestas do dia-a-dia não servem para nada e abandona o serviço, movido pelo desânimo, deve pensar nesta história. Por mais singela que seja a ação no bem, ela sempre fará diferença neste mundo de expiações e provas. Não se deixe visitar pelo desânimo; não se deixe abater pela contestação de suas ações. Tudo que vem de Deus é útil para a criação. Não acredite que você não faça diferença. Todos somos importantes, e todas as coisas que fazemos tem uma razão de ser. Assim, caros irmãos, façamos uma reflexão sobre o que o Desânimo pode fazer na vida do homem. Vamos nos preparar para vencer esse visitador que nos derruba quando em vez. Saibamos, pois, que podemos ser os intermediários do Mestre Jesus, em qualquer parte. Basta que compreendamos a obrigação fundamental no trabalho do bem.   “Não desprezes o dom que há em ti”.  (Paulo. I Timóteo, 4:14)

Muita Paz!

 

domingo, 13 de fevereiro de 2022

 


Tomada de consciência

Ensino espírita

Esse nosso estudo tem como base o conto “O Merecimento”, contido no livro A Vida Escreve, ditado pelo Espírito Hilário Silva, que conta a estória de alguém que adotou a “Lei de Talião” para resgate das suas faltas. Conta-nos o autor espiritual: Saturnino Pereira era francamente dos melhores homens. Amoroso mordomo familiar. Companheiro dos humildes. A caridade em pessoa. Onde houvesse a dor a consolar, aí estava de plantão. Não só isso. No trabalho, era o amigo fiel do horário e do otimismo. Nas maiores dificuldades, era um sorriso generoso, parecendo raio de sol dissipando as sombras. Por isso mesmo, quando foi visto de mão a sangrar, junto à máquina de que era condutor, todas as atenções se voltaram para ele, entre o pasmo e a amargura. Saturnino ferido! Logo Saturnino, o amigo de todos... Suas colegas de fábrica rasgaram peças de roupa, a fim de estancar o sangue a correr em bica. O chefe da tecelagem, solícito, conduziu-o ao automóvel, internando-o de pronto em magnífico hospital. Operação feliz. O cirurgião informou, sorrindo: - Felizmente, nosso amigo perderá simplesmente o polegar. Todo o braço direito está ferido, traumatizado, mas será reconstituí do em tempo breve. Longe desse quadro, porém, o caso merecia apontamentos diversos: - Porque um desastre desses com um homem tão bom? – murmurava uma companheira. - Tenho visto tantas mãos criminosas saírem ilesas, até mesmo de aviões projetados ao solo, e justamente Saturnino, que nos ajuda a todos, vem de ser a vítima! – comentava um amigo.- Devemos ajudar Saturnino. - Cotizemo-nos todos para ajuda-lo. Mas também não faltou quem dissesse: - Que adianta a religião, tão bem observada? Saturnino é espírita convicto e leva a sério o seu ideal. Vive para os outros. Na caridade é um herói anônimo. Por que o infausto acontecimento? expressava-se um colega materialista. E à tarde, quando o acidentado apareceu muito pálido, com o braço direito em tipoia, carinho e respeito rodearam-no por todos os lados. Saturnino agradeceu a generosidade de que fora objeto. Sorriu, resignado. Proferiu palavras de agradecimento a Deus. Contudo, estava triste. À noite, em companhia da esposa, compareceu à reunião habitual do templo espírita que frequentava. Sessão íntima. Apenas dez pessoas habituadas ao trato com os sofredores.  Consagrado ao serviço da prece, o operário, em sua cadeira humilde, esperava o encerramento, quando Macário, o orientador espiritual das tarefas, após traçar diretrizes, dirigiu-se a ele, bondoso: - Saturnino, meu filho, não se creia desamparado, nem se entregue a tristeza inútil. O Pai não deseja o sofrimento dos filhos. Todas as dores decretadas pela Justiça Divina são aliviadas pela Divina Misericórdia, toda vez que nos apresentamos em condições para o desagravo. Você hoje demonstra indiscutível abatimento. Entretanto, não tem motivo. Quando você se preparava ao mergulho no berço terrestre, programou a excursão presente. Excursão de trabalho, de reajuste. Acontece, porém, que formulou uma sentença contra você mesmo. Fez uma pausa e prosseguiu: - Há oitenta anos, era você poderoso sitiante no litoral brasileiro e, certo dia, porque pobre empregado enfermo não lhe pudesse obedecer às determinações, você, com as próprias mãos, obrigou-o a triturar o braço direito no engenho rústico. Por muito tempo, no Plano Espiritual, você andou perturbado, contemplando mentalmente o caldo de cana enrubescido pelo sangue da vítima, cujos gritos lhe ecoavam no coração. Por muito tempo, por muito tempo. E continuou: - E você implorou existência humilde em que viesse a perder no trabalho o braço mais útil. Mas, você, Saturnino, desde a primeira mocidade, ao conhecer a Doutrina Espírita, tem os pés no caminho do bem aos outros. Você tem trabalhado, esmerando-se no dever. Não estamos aqui para elogiar, porque você continua lutando, lutando... e o plantio disso ou daquilo só pode ser avaliado em definitivo por ocasião da colheita. Sei, porém, que hoje, por débito legítimo, alijaria você todo o braço, mas perdeu só um dedo... Regozije-se, meu amigo! Você está pagando, em amor, seu empenho à justiça. De cabeça baixa, Saturnino derramava grossas lágrimas. Lágrimas de conforto, de apaziguamento e alegria. Na manhã seguinte, mostrando no rosto amorável sorriso, compareceu, pontual, ao serviço. E porque o fiscal do relógio lhe estranhasse o procedimento, quando o médico o licenciara por trinta dias, respondeu simplesmente: - O senhor está enganado. Não estou doente. Fui apenas acidentado e posso servir para alguma coisa. E caminhando, fábrica a dentro, falou alto, como se todos devessem ouvi-lo: - Graças a Deus!

REFLEXÃO: Deus nos criou espíritos ignorantes, com a missão de evoluirmos em sua direção. Todos trazem em si características instintivas, provenientes de seu estado animal. Apesar de necessitarem viver em sociedade, de um modo geral, isolam-se dentro de si mesmos, em atitudes egocêntricas, o que parece ser um contrassenso: como precisar de nosso irmão para sobreviver, mas desprezá-lo diante dos próprios interesses. A evolução do homem é um impulso natural, que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, plantou nos espíritos de Seus filhos. Para isto, deu-lhes a reencarnação e o esquecimento do passado, como oportunidade de fazerem e refazerem seus caminhos. Dotou-os também da capacidade de pensar e, através do livre-arbítrio, têm o poder de decidir os seus próprios caminhos, sendo constantemente impulsionados para o autoaprimoramento, e para a melhoria do mundo em que vive. A evolução é uma necessidade do espírito do homem, e o aprimoramento do homem, como espírito livre, requer seu amadurecimento constante, e a busca de si próprio como ser consciente de sua natureza e de sua importância. Se queres evoluir, conhece-te a ti mesmo. O ser consciente de si próprio, de seu estado, de sua natureza, é capaz de conhecer, entender, aceitar, admitir e amar sua missão evolutiva eterna. Para isso deve passar por estágios evolutivos, caracterizados pelo amadurecimento afetivo, intelectual, moral e social. Ao conhecer-se, desprende-se de si mesmo para o mundo que o envolve, tendo a noção exata de sua essência de espírito livre, purificando-se e adquirindo a condição de ver a Deus. O ser consciente ama a si próprio tanto quanto ama seus semelhantes. Cuida de si tanto quanto cuida dos outros. É humilde diante de Deus, sentindo-se pequeno diante da Criação. Reflete a caridade em seu espírito de forma espontânea e natural. Irradia luz, paz e sabedoria na relação com o mundo em que vive. Deus delegou a todos as mesmas oportunidades e o direito da livre escolha, mas indicou sua natureza evolutiva através de uma única lei apresentada por Jesus: ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Deus está na consciência de todos, permitido discernir entre o bem e o mal. Somente o bem agrega valor na evolução do homem, porque representa a conformidade com a lei de Deus e seu cumprimento na sua forma mais pura. Todo desvio do caminho que foi previamente apontado, gera aquela relação de causa e efeito: a necessidade de refazimento. A dor serve como indicador para reajuste do rumo que cada um escolheu, e o amor serve como terapia e bálsamo para todas as dores. Esta é a lei. Os desajustes morais, provenientes do descuido no cumprimento da lei, trazem sofrimentos muito mais intensos e muito mais difíceis de serem superados do que as dores físicas, porque se estabelecem na essência do ser, em seu espírito imortal. Essas dores desequilibram o homem, turvando sua visão em relação ao caminho a ser seguido. O início da tomada de consciência está na aceitação de que vivemos num mundo de provas e expiações. Todos temos problemas, e a solução deles está dentro de cada um de nós. A harmonia com o mundo e a busca da paz interior são os objetivos inconscientes de todo ser que sofre. Assim, a qualidade de vida para cada um de nós está fortemente relacionada com a capacidade que adquirimos em lidar com a dor e nos harmonizarmos com o Universo. A paz que Jesus tanto nos oferece é proveniente da harmonia plena com a lei de Deus. Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. Quando atingimos  certo grau de esclarecimento e já podemos, conscientemente, separar o bem do mal, Deus nos concede a misericórdia de escolher nossas provas, a fim de satisfazer nossas necessidades de aprendizado e de permitir resgatar pela vivência as dores que fomos capazes de causar no passado. O Espírito livre entre o espaço de duas encarnações, afastado da influência da matéria, é capaz de vislumbrar melhor a natureza de seus atos, e sofre profundamente quando sua consciência lhe mostra e lhe acusa de faltas para com a lei de Deus. Como somos juízes de nós mesmos, escolhemos nessas oportunidades as provas que desejamos ser submetidos para melhor valorizar o respeito ao nosso semelhante. Nessas ocasiões, costumamos adotar a lei de Talião, aquela do olho por olho e do dente por dente, como forma de resgate das faltas do pretérito. A justiça de Deus atua em nossa consciência e nos concita a fazer experiências e a ampliar o nosso conhecimento. A dor, proveniente da lei de causa e efeito, é o instrumento de reparação das faltas. Mas a misericórdia do Pai é maior do que podemos imaginar, e se distribui em função do merecimento que tenhamos obtido, como fruto de um trabalho de amor e na caridade. O que importa a Deus é a certeza da superação das fraquezas e das paixões interiores que ainda habitam o ser humano. Deus não nos criou para a dor, mas para o amor, e sempre provê misericórdia de acréscimo para aquele que sofre. É como se abríssemos uma conta corrente no céu. Para cada falta, um débito correspondente à gravidade. A cada ação meritória, um crédito proporcional ao seu efeito, mesmo que tenhamos escolhido vivenciar Provas e sofrer Expiações e dificuldades. Deus reavalia e atualiza a cada instante a nossa conta corrente, e permite amenizar ou agravar as nossas vicissitudes, em função daquilo que se faz necessário para o nosso aprendizado. Se tornarmos a falhar, agravaremos a nossa Prova. Demonstrarmos ter aprendido a lição e superarmos as Provas com resignação e coragem, entendimento, amor e caridade, amenizaremos os nossos sofrimentos. A lei do olho por olho é a lei dos homens, que muitas vezes percebem que só com a sua aplicação podem resgatar dívidas do pretérito. A lei de Deus é a lei do amor, e Ele exemplifica a aplicação desta lei provendo a misericórdia no cumprimento da justiça. Saturnino era um homem de bem, e a pesar da dor moral que carregava em sua consciência, vivia exemplificando tolerância, amor e caridade. Dava demonstrações claras de ter superado suas tendências egocêntricas e orgulhosas de outros tempos. Assim, apesar de ter escolhido perder o braço como reparação de suas faltas, Deus quitou seu débito com consequências bem mais amenas, demonstrando com Sua misericórdia o reconhecimento do mérito adquirido por aquele homem. Aquele que põe sua visão no plano da matéria, nem sempre percebe o porquê das coisas que ocorrem com pessoas que nesta vida só fizeram o bem. O ponto de vista no plano espiritual, entretanto, nos ajuda a perceber melhor as causas anteriores de nossas aflições. Aos olhos de Deus, todas as coisas estão certas, e só o amor é capaz de cobrir a multidão dos nossos pecados.

 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

 


A Escolha das provas

Um dos princípios da Doutrina Espírita é a reencarnação, entendida pelos orientadores espirituais como necessária à evolução humana, pois uma só existência corpórea é claramente insuficiente para que o Espírito possa adquirir todo o bem que lhe falta e de desfazer de todo o mal que traz em si. Para nos auxiliar no processo ascensional, Deus nos concede o livre arbítrio, uma vez que, se o homem tem liberdade de pensar, tem também a de agir. Podemos, então, afirmar que o ser humano é o árbitro do seu destino e que cada escolha, independentemente das suas motivações ou justificativas, acionam a lei de causa e efeito em qualquer plano de vida que se situe: o físico ou o espiritual. O uso do livre arbítrio provoca reações, no tempo e no espaço. As boas escolhas produzem progresso evolutivo, enquanto as escolhas infelizes geram provações ou expiações que se configuram como mecanismos evolutivos, moduladores da lei de causa e efeito, claramente consubstanciada no planejamento reencarnatório de cada indivíduo. Para melhor compreensão do assunto, vamos especificar a diferença que há entre prova e expiação: Mas, qual é o significado de prova? Pelo dicionário espírita L. Palhano Jr., encontramos: “situação aflitiva que atesta a capacidade do indivíduo para superar as próprias imperfeições morais”. Nós temos imperfeições morais? Temos! Todos nós temos imperfeições morais. A provação ou prova, é a batalha que nos ensina o trabalho, a nossa edificação espiritual. A expiação é uma pena que nos é imposta, por algo de errado que cometemos. Percebe-se, portanto, que a prova se assemelha a uma corrida de obstáculos que tem o poder de impulsionar o progresso humano. As provas sempre existirão, por se tratarem de desafios evolutivos.   A expiação, contudo, representa uma contenção temporária da liberdade individual, necessária à reeducação do Espírito que, melhor utilizando o livre arbítrio, reajusta-se às determinações das leis divinas. As provações podem ser difíceis, não resta dúvida, mas, por seu intermédio, o Espírito é colocado em situações que o afasta do estado de inércia em que ora permanece ou se compraz, proporcionando-lhe, ao mesmo tempo, oportunidades para que ele possa trabalhar a melhoria das suas atuais condições de vida. Vejamos a Questão 258 do Livro dos Espíritos. No estado errante, antes de nova existência corpórea, o Espírito tem consciência e previsão do que lhe vai acontecer durante a vida? E os Espíritos responderam: “Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio”. Questão 259. Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós? Responderam os Espíritos: “Todas, não, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o gênero de provas; os detalhes são consequências da posição escolhida, e frequentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslizes se expunha, mas não conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua vontade ou do seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, escolhendo esse caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, aqueles que influem no destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante prudente. Se, ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não penses que estava escrito, como vulgarmente se diz.  Questão 262. Como pode o Espírito que, em sua origem, é simples, ignorante e sem experiência escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável pela sua escolha? Responderam os Espíritos: “Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazes com uma criança desde o berço. Mas deixa-lhe pouco a pouco a liberdade de escolher, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve. E então que ele muitas vezes se extravia, tomando o mau caminho, por não ouvir os conselhos dos bons Espíritos. É a isso que podemos chamar a queda do homem”. Se na vida terrena escolhemos muitas vezes as provas mais difíceis, com vistas a um fim mais elevado, por que o Espírito, que vê mais longe, e para quem a vida no corpo é apenas um incidente fugaz, não escolherá uma existência penosa e laboriosa, se ela o deve conduzir a uma felicidade eterna? Questão 266 de O Livro dos Espíritos: Não parece natural que os espíritos escolham as provas menos dolorosas? Responderam os Espíritos: Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando ele está liberto da matéria, a ilusão cessa e a sua maneira de pensar é diferente. O homem, submetido na Terra à influência das ideias carnais, só vê nas provas o lado penoso. É por isso que lhe parece natural escolher as provas que, do seu ponto de vista, podem substituir com os prazeres materiais. Mas na vida espiritual ele compara os prazeres fugitivos e grosseiros com a felicidade inalterável que entrevê, e então, que lhe importam alguns sofrimentos passageiros? O espírito pode escolher a prova mais rude, e em consequência a existência mais penosa, com a esperança de chegar mais depressa a um estado melhor. Como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável, para se curar rapidamente. Aquele que deseja ligar o seu nome à descoberta de um país desconhecido, não escolhe um caminho coberto de flores, pois sabe os perigos que corre, mas sabe também a glória que o espera, se for feliz. A doutrina da liberdade de escolha das nossas existências, e das provas que devemos sofrer, deixa de parecer extraordinária, quando se considera que os espíritos, libertos da matéria, apreciam as coisas de maneira diferente da nossa. Depois de cada existência, veem o progresso que fizeram e compreendem quanto ainda lhes falta em pureza, para a atingirem. Eis porque se submetem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, pedindo eles mesmos aquelas que podem fazê-los chegar mais depressa. Não há, pois, motivo para nos admirarmos de que o espírito não dê preferência à existência mais suave. No seu estado de imperfeição, ele não pode desfrutar a vida sem amarguras, que apenas entrevê. E é para atingi-la que procura melhorar-se. Não vemos diariamente exemplos de coisas parecidas? O homem que trabalha uma parte de sua vida, sem tréguas nem descanso, a fim de ajuntar o necessário para seu bem-estar, não desempenha uma tarefa que se impôs, com vistas a um futuro melhor? O militar que se oferece para uma missão perigosa, o viajante que não enfrenta menores perigos, no interesse da ciência ou de sua própria fortuna, não se submetem a provas voluntárias, que devem proporcionar-lhes honra e proveito, se as vencerem? A que o homem não se submete e não se expõe, pelo seu interesse ou pela sua glória? Todos os concursos não são provas voluntárias para melhorar na carreira escolhida? Não se chega a nenhuma posição social de elevada importância, nas ciências, nas artes, na indústria, sem passar pela série de posições inferiores, que são tantas outras provas. A vida humana é assim o decalque da vida espiritual. Nela encontramos, em menor escala, todas as peripécias daquela. Aqueles que dizem que, se pudessem escolher a sua existência, teriam pedido a de príncipes ou milionários, são como os míopes que não veem o que tocam, ou como as crianças gulosas, que respondem, quando perguntamos que profissão preferem: pasteleiros ou confeiteiros; da mesma maneira, o viajante, no fundo de um vale nevoento, não vê a extensão nem os pontos extremos da sua rota; mas, chegando ao cume da montanha, seu olhar abrange o caminho percorrido e o que falta a percorrer, vê o final de sua viagem, os obstáculos que ainda tem de vencer, e pode então escolher com mais segurança os meios de o atingir. O espírito encarnado é como o viajante no fundo do vale; desembaraçado dos liames terrestres, é como o que atingiu o cume. Para o viajante, o fim é o repouso após a fadiga; para o espírito é a felicidade suprema, após as tribulações e as provas. Todos os espíritos dizem que, no estado errante, buscam, estudam, observam, para fazerem suas escolhas. Não temos um exemplo disso na vida corpórea? Não buscamos muitas vezes, através dos anos, a carreira que livremente acabamos por escolher, porque a achamos a mais apropriada a nossos objetivos? Se fracassamos numa, procuramos por outra. Cada carreira que abraçamos é uma fase, um período da vida. Não empregamos cada dia em escolher o que faremos no outro? Ora, o que são as diferentes existências corpóreas para o espírito, senão fases, períodos, dias da sua vida espírita que, como sabemos, é a vida normal, não sendo a vida corpórea mais do que transitória, passageira?

Muita Paz!