O Pior inimigo
Ensino espírita
Com base no conto O
Pior inimigo, do livro Alvorada Cristã, pelo Espírito Neio Lúcio. Entendo que
as páginas de Neio Lúcio são, em verdade, valioso curso de iluminação
espiritual. Conta-nos assim o autor: Um homem, admirável pelas qualidades de
trabalho e pelas formosas virtudes do caráter, foi visto pelos inimigos da
Humanidade que conhecemos por Ignorância, Calúnia, Maldade, Discórdia, Vaidade,
Preguiça e Desânimo, os quais tramaram, entre si, agir contra ele, conduzindo-o
à derrota. O honrado trabalhador vivia feliz, entre familiares e companheiros,
cultivando o campo e rendendo graças ao Senhor Supremo pelas alegrias que
desfrutava no contentamento de ser útil. A Ignorância começou a cogitar da
perseguição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações
religiosas. Insulava -se no trato da terra, cheio de ambições desmedidas para
enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons
costumes. O lavrador ativo recebeu as notícias do adversário que operava, de
longe, sorriu calmo e falou com sinceridade: - A Ignorância está desculpada.
Surgiu, então, a Calúnia e denunciou-o às autoridades por espião de interesses
estranhos. Aquele homem vivia, quase sozinho, para melhor comunicar-se com
vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas
averiguações e, ao término do inquérito vexatório, a vítima afirmou sem ódio: -
a Calúnia estava enganada. Logo após, veio a Maldade, que o atacou de mais
perto. Principiou a ofensiva, incendiando-lhe o campo; destruiu-lhe milharais
enormes; prejudicou-lhe a vinha; poluiu-lhe as fontes. Todavia, o homem do
campo incansável, reconstruindo para o futuro, respondeu sereno: - contra as
sombras do mal, tenho a luz do bem. Reconhecendo os perseguidores que haviam
encontrado um espírito robusto na fé, instruíram a Discórdia que passou a
assediá-lo dentro da própria casa. Provocações cercaram-no de todos os lados e,
a breve tempo, irmãos e amigos da véspera relegaram-no ao abandono. O servo
diligente, dessa vez, sofreu bastante, mas ergueu os olhos para o Céu e falou:
- meu Deus, estou só, no entanto, continuarei agindo e servindo em teu nome. A
Discórdia será por mim esquecida.
Apareceu, então, a Vaidade que o procurou nos aposentos particulares, afirmando-lhe:
- és um grande herói. Venceste aflições e batalhas! Serás apontado à multidão
na auréola dos justos e dos santos. O trabalhador sincero repeliu-a: -sou
apenas um átomo que respira. Toda glória pertence a Deus. Ausentando-se a
Vaidade com desapontamento, entrou a Preguiça e, acariciando-lhe a fronte com
mãos traiçoeiras, afiançou: - Teus sacrifícios são excessivos. Vamos ao
repouso! Já perdeste as melhores forças! Vigilante, contudo, o interpelado
replicou sem hesitar: - Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao
fim da luta. Afastando-se a Preguiça, vencida, o Desânimo compareceu. Não
atacou de longe, nem de perto. Entrou no coração do operoso lavrador e começou
a perguntar-lhe: -esforçar-se pra quê? Vigilante, contudo, o interpelado
replicou sem hesitar: - Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao
fim da luta. Servir por quê? Não será melhor deixar tudo por conta de Deus,
mesmo? Não se lembra de que a morte destruirá tudo? O homem forte e valoroso,
que triunfara em muitos combates, começou a ouvir as interrogações do Desânimo,
deitou-se e passou cem anos sem levantar-se.
REFLEXÃO:
A evolução do homem, em
Espírito, o obriga a vencer muitas barreiras, muitas provas. A fonte das
vicissitudes que o visitam, quase sempre se localiza dentro de si mesmo, mesmo
que o incentivo possa vir de fora dele. O caminho da virtude obriga-o a superar
as paixões inferiores, provenientes do seu estado de fraqueza espiritual.
Enquanto os sentimentos e emoções provenientes do ser animal o puxa para trás,
estacionando-o em posições ilusórias, os valores do Espírito impulsiona-o para
frente, para seu destino glorioso. A fraqueza do homem aflora quando ele se
deixa visitar por examinadores que testam a sua constância de propósitos. São
eles: egoísmo, orgulho, inveja, ciúme, vaidade, maledicência, preguiça. O
homem, de uma forma geral, reage aos impulsos exteriores ou às tentações
conforme o seu estado evolutivo, deixando-se arrastar, muitas vezes, pela
invigilância de suas ações. Muitas são as visitas que recebemos, e, para as
quais ainda não nos preparamos para lidarmos com elas. As consequências dessas
visitas serão sempre dores e vicissitudes, de maior ou menor intensidade, em
função da capacidade que desenvolvemos de perceber e vigiar. Quem de nós
poderia afirmar que jamais se deixou abater pelo desânimo? Quem de nós poderia
dizer que jamais questionou os porquês de tudo que fazemos ou sentimos? Quem de
nós poderia garantir estar preparado para os percalços da vida, sem se deixar
abraçar pelo desânimo? Como lutar contra esse inimigo das trevas que nos abate
sem piedade, levando-nos à autocompaixão, à inércia e à agonia? Jesus nos trouxe
em seu evangelho a indicação, o caminho: “Vigiai e orai.” A oração reforça a
vontade interior, predispondo o espírito à ação. Mas, por si só não basta para
assegurar que não vamos cair. Mesmo com o auxílio da espiritualidade superior
nos encontramos caindo quando em vez, incapazes de dominar o visitador das
trevas que nos abate. Oração sem vigilância não proporciona a eficácia no
combate à inferioridade. A vigilância talvez seja a ação mais importante a ser
tomada por aquele que ambiciona crescimento espiritual. O conhecimento de si
mesmo e o combate às fraquezas que habitam em nós, frutos da vida instintiva
que ainda trazemos, ajuda a vencê-las. Reconhecer-se e caminhar para vencer a
si próprio é o melhor guia para a evolução. Nossas fraquezas de hoje poderão
ser nossas forças de amanhã. Bastando que ajamos no sentido de identificá-las e
vencê-las. Mas nossa força de hoje pode ser nossa fraqueza de amanhã, se nos
limitarmos a pensar que já somos capazes de vencer as inferioridades. As
circunstâncias podem abater o ânimo do trabalhador do bem. Todos conhecemos
histórias de pessoas que perseveraram longo tempo no caminho do trabalho edificante,
exercitando tolerância, compreensão, amor e caridade, e, que, repentinamente,
abandonaram tudo para permanecerem inertes no mundo em que vive. A humildade
requerida do homem frente à Criação não implica em postura de inferioridade ou
questionamento de que nada adianta fazer porque não faremos diferença. Existe
certa história que bem reflete a necessidade de exercitar a fé e a ação. Contam,
que certo escritor um dia recolheu-se à casa de praia para meditar sobre o
significado da vida, na razão de ser de cada indivíduo. Pretendia escrever a
respeito. Certa manhã, levantou-se cedo para caminhar na praia. Observou um
vulto que parecia dançar na areia. Indo e vindo na direção da arrebentação do mar.
Ao aproximar-se, verificou tratar-se de um rapaz que se abaixava, recolhia as
estrelas do mar na areia e as devolvia ao oceano. O rapaz não se cansava de
repetir aquele gesto. Chegando junto dele, perguntou: -o que fazes? Ao que ele
respondeu: -a maré está baixando, e se eu não devolver as estrelas do mar que
ficam na areia, elas morrerão. O escritor achou um absurdo, e lhe disse: -não
vês que existem quilômetros e quilômetros de praia e milhões de estrelas do
mar? Você não será capaz de fazer diferença com esse seu gesto. O rapaz, ao
invés de desanimar, olhou para o escritor, abaixou-se, pegou outra estrela do
mar, correu para a arrebentação e lançou-a para o oceano. Voltando para junto
do escritor, disse-lhe: -fez diferença para aquela que joguei. O escritor ficou
desconcertado, e recolheu-se à sua casa, não conseguindo apagar aquela imagem
do jovem lançando estrelas ao mar. No dia seguinte, acordou cedo e, imbuindo-se
de coragem, passou toda manhã ajudando o rapaz a lançar as estrelas de volta ao
mar. Aquele que pensa que as ações humildes ou modestas do dia-a-dia não servem
para nada e abandona o serviço, movido pelo desânimo, deve pensar nesta
história. Por mais singela que seja a ação no bem, ela sempre fará diferença
neste mundo de expiações e provas. Não se deixe visitar pelo desânimo; não se
deixe abater pela contestação de suas ações. Tudo que vem de Deus é útil para a
criação. Não acredite que você não faça diferença. Todos somos importantes, e
todas as coisas que fazemos tem uma razão de ser. Assim, caros irmãos, façamos
uma reflexão sobre o que o Desânimo pode fazer na vida do homem. Vamos nos
preparar para vencer esse visitador que nos derruba quando em vez. Saibamos,
pois, que podemos ser os intermediários do Mestre Jesus, em qualquer parte.
Basta que compreendamos a obrigação fundamental no trabalho do bem. “Não desprezes o dom que há em ti”. (Paulo. I Timóteo, 4:14)
Muita Paz!
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