O Credor
incompassivo
Nesse estudo da
Parábola do credor incompassivo, vamos falar sobre um dos temas mais
libertadores do Novo Testamento, e preferido de Jesus: o perdão. O Mestre
considera esse tema tão importante que faz dele condição indispensável às
celestes Bem-aventuranças. O significado desta parábola revela a importância da
misericórdia e do perdão. Esta parábola também é conhecida como a Parábola do Servo
Ingrato ou a Parábola do Servo Mau. Ela aparece num contexto em que Jesus trata
da disciplina eclesiástica; especialmente com relação ao tratamento que deve
ser dispensado a um irmão culpado. Esta parábola é uma resposta do Mestre a
Pedro sobre a questão do perdão. Ela mostra duas situações parecidas, porém com
desfechos bem diferentes. Uma, envolve
um servo que tinha uma dívida impagável, dez mil talentos. A outra conta a
história de um outro servo com uma dívida insignificante, cem denários. Para se
ter uma ideia do que significavam esses números, apresentamos os seus valores
correspondentes: um talento é igual a seis mil denários. Assim, dez mil
talentos representam sessenta milhões de denários. É uma dívida equivalente a
165 mil anos de trabalho. Já a outra, de 100 denários, equivale a 100 dias de
trabalho. Eis a parábola: “O reino dos céus é comparável a um rei, que resolveu
ajustar contas com os seus servos. Ao fazê-lo, apresentou-se um que lhe devia
dez mil talentos; mas, como não tivesse com que pagar, ordenou o seu senhor que
fossem vendidos ele, sua mulher, seus filhos, e tudo o que lhe pertencesse,
para pagamento da dívida. O servo, porém, prostrando-se aos seus pés, suplicou:
tem paciência comigo, senhor, eu pagarei tudo. Então o rei, compadecido daquele
servo, deixou-o ir livre, e perdoou-lhe a dívida. O servo deixou feliz o
palácio. Na rua, encontrou um de seus companheiros, que lhe devia cem denários.
O servo do rei agarrou seu devedor, quase o sufocando, gritando: paga o que me
deves! O companheiro, lançando-se aos pés, implorou: tem paciência comigo, que
tudo te pagarei. Ele, porém, não o atendeu. Retirou-se e providenciou para que
fosse preso e preso ficasse, até a quitação de seu débito. Algumas pessoas que
viram o que se passara se admiraram da intransigência do servo e foram contar
tudo o que havia acontecido ao rei. Então, este o mandou chamar e disse: servo
malvado, eu te perdoei toda aquela dívida, porque me vieste rogar para isso;
não devias tu também ter compaixão, como tive de ti? Indignado, o rei mandou
prendê-lo, dizendo-lhe que não sairia da prisão até pagar sua dívida. Quando
terminou de contar esta parábola, Jesus completou o ensinamento: Assim também,
meu Pai que está no céu, vos tratará, se não perdoardes, do fundo do coração,
as faltas que vossos irmãos houverem cometido contra cada um de vós”. (Mateus,
cap. XVIII, vv. 23 a 35) Esta parábola é uma ilustração daquela frase contida
na oração dominical, em que Jesus nos ensina a rogar ao Pai celestial. No
Sermão do Monte, a fórmula de oração que Jesus deu a seus discípulos e à
multidão, encerra, ao mesmo tempo, pedidos e compromissos que teriam de assumir
os suplicantes, e dos quais se destaca o que constitui objeto dos ensinos que
se acham contidos nesse estudo: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores”.
Do cumprimento
ou não desta obrigação, depende o deferimento ou indeferimento da nossa
petição. Daí vem a parábola explicativa da concessão que devemos fazer ao nosso
próximo, para podermos receber de Deus o que foi pedido. REFLEXÃO: O primeiro
servo era devedor de alta quantia. Esse devedor, vendo-se ameaçado, pediu
moratória. Pois bem, mal havia obtido tão generoso atendimento, eis que
encontrou um companheiro que lhe devia uma bagatela e, para reaver o seu
dinheiro, não titubeou em usar de recursos violentos. Lamentavelmente, esta é,
ainda em nossos dias, a norma de conduta de grande parte da Humanidade. Reconhece-se
infratora, não nega estar sobrecarregada de dívidas perante Deus, cujas leis transgride
a todo instante; mas, ao mesmo tempo em que suplica e espera ser perdoada de
todas as suas prevaricações, age, com relação ao próximo, de forma
diametralmente oposta, negando-se a desculpar e a tolerar quaisquer ofensas,
por mínimas que sejam. O rei, posto a par do que havia acontecido com o segundo
servo, mandou vir o primeiro à sua presença e, em nova disposição, determinou
aos verdugos que o prendessem e o fizessem trabalhar à força até que pagasse
tudo quanto lhe devia. Esse tópico revela, claramente, que há sempre um limite
no pagamento das dívidas. Mas, uma vez pago o montante, o devedor fica com
direito à quitação. O pagamento de uma dívida alta pode determinar longos
períodos de sofrimentos, muitas existências expiatórias, mas, uma vez restabelecido
o equilíbrio na balança da Justiça Divina, ninguém pode ficar pagando
eternamente aquilo que já está quite. A vontade de Deus é que nos adestremos na
prática do perdão e da indulgência, e, para estimular-nos à conquista dessas
virtudes, a todos favorece com Sua misericórdia. Aqueles, porém, que se mostram
impiedosos e brutais nas atitudes que assumem contra os que os ofendem ou
prejudicam, faz que conheçam, a seu turno, o rigor da Providência, a fim de que
aprendam, por experiência própria, qual a melhor maneira de tratar seus
semelhantes. A moral da história é ressaltar o contraste entre a misericórdia e
o amor infinito, demonstrados por Deus em favor dos pecadores, e o
comportamento mesquinho e egoísta do ser humano, que sempre se recusa a
perdoar, produzindo um mundo de violência, guerras e maldades sem precedentes.
Como fica claro, esta parábola ilustra o ensinamento de Jesus acerca de como se
deve tratar a um irmão culpado. O significado principal dessa parábola é
demonstrar a importância de se ter um espírito generoso que está disposto a
demonstrar misericórdia àqueles que o ofende. Então o pecador perdoado deve
sempre agir sob a base da misericórdia perdoadora. O mínimo que se espera
daquele que foi perdoado é que também demonstre perdão. Na verdade um coração
que não perdoa também é um coração não perdoado. Por isso ,nesse ponto deve
haver muito cuidado. É verdade que só Deus perdoa de forma infinita; contudo,
Ele espera que Seus filhos sigam o Seu exemplo, como ficou claro na parábola.
Não agasalhemos mágoas, rancor e ressentimento no coração contra ninguém. O
melhor remédio contra aqueles que nos ofenderam é o bálsamo do perdão. Um
verdadeiro cristão jamais deve se comportar como o credor incompassivo. Seu
exemplo maior de perdão e misericórdia é Cristo. Todos nós somos devedores de Deus.
Mas assim como Deus nos perdoa, devemos estar sujeitos a perdoar a todos
aqueles que pecam contra nós. Esse perdão deve ser abundante, não apenas sete
vezes mais, mas setenta vezes sete!
Muita Paz!
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