A Candeia
debaixo do alqueire
A mensagem do
Evangelho é aquele refrigério que nós precisamos para a nossa alma. De uma
forma ou de outra, são aquelas palavras, aquelas mensagens que nós lemos e que
acalmam o nosso coração e acalmam a nossa ansiedade. De todas as formas que nós
olhamos para dentro do Evangelho, as lições e as mensagens que dali nós
extraímos nos trazem o alento e uma nova visão, e não importa quantas vezes nós
façamos essa leitura, nós sempre iremos ver facetas que ainda não tínhamos
percebido. O estudo do Evangelho na sua plenitude é um estudo que não tem fim,
ele continua durante todo o nosso processo de evolução. O estudo do Evangelho é
feito por camadas; primeiro nós vamos absorver as informações básicas que estão
na superfície, e, à medida que nós formos evoluindo, nós vamos penetrando na
sua profundidade, na magnitude das suas mensagens. A Parábola da Luz do Mundo,
também conhecida como a Parábola da Lâmpada Debaixo do Alqueire, é uma das bem
conhecidas parábolas de Jesus, aparecendo em três dos evangelhos canônicos do
Novo Testamento. As diferenças encontradas em Mateus 5:14-15, Marcos 4:21-25 e
Lucas 8:16-18 são pequenas e as três versões podem ser derivadas da mesma
fonte. Uma versão abreviada da parábola também aparece no não canônico
Evangelho de Tomé. Em Mateus, a parábola é uma continuação do discurso sobre
Sal e Luz, proferido pelo Cristo, e que faz parte do conhecido Sermão do Monte.
Jesus queria fazê-los entender através dessa parábola, que uma vez iluminados
pela luz do evangelho, deveriam eles levar essa luz a todas as pessoas. “Vós
sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá
luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos
céus.” Certa vez, antes de uma palestra sobre esse tema, presentes muitas
pessoas de instrução mediana, o orador procedeu a uma ligeira enquete e
descobriu que a maioria das pessoas que ali se encontravam não sabia o
significado da palavra “candeia” e menos ainda da palavra “alqueire”. O
desconhecimento é, no caso, perfeitamente justificável, porque são palavras que
as pessoas raramente utilizam e poucos palestrantes têm o cuidado de
explicá-las. Então, vamos à explicação: Candeia, pequena peça de iluminação,
abastecida com óleo e provida de mecha; usa-se geralmente no alto, pendente de
um prego. Alqueire, recipiente que servia de medida de capacidade, usada
especialmente para cereais. Quando o Cristo fala que não se acende uma candeia
para ocultá-la, Ele convida a todos aqueles que de alguma forma já tem a
experiência e o conhecimento da sua mensagem que possamos divulgá-la e ajudar a
outras pessoas a conhecê-la também na sua profundidade. Cada um de nós pode ser
comparado a um espelho para refletir essa luz de acordo com o nosso
conhecimento. Existem espelhos maiores, que são os grandes mensageiros da
Humanidade a ampliar a divulgação da mensagem do Cristo. Está claro, neste
versículo, que pessoas conscientes sabem que todo o conhecimento destinado à
melhoria moral e intelectual do ser humano não deva permanecer oculto, mas ser
amplamente divulgado. A candeia simboliza instrumento de iluminação cuja chama,
alimentada pelo óleo que a abastece, afasta a escuridão reinante. Do ponto de
vista espiritual, a candeia assemelha-se à mente esclarecida e enobrecida de
valores morais que afasta as trevas da ignorância existentes na Humanidade. Os
Espíritos superiores não mantêm ocultos os conhecimentos que possuem, mas
disponibiliza-os a qualquer pessoa. Mantêm-se na retaguarda espiritual quem
acredita que conhecimentos superiores, destinados à melhoria humana, devam
permanecer ocultos, em círculos fechados, inacessíveis às massas populares. Por
força da lei do progresso a verdade chega, à medida que o ser humano evolui.
Comentando o tema, Allan Kardec inseriu em sua obra, O Evangelho segundo o
Espiritismo, duas informações que vale a pena destacar, dada a sua importância:
O poder de Deus se manifesta nas mais pequeninas coisas, como nas maiores. Ele
não põe a luz debaixo do alqueire, por isso que a derrama em ondas por toda a
parte, de tal sorte que só cegos não a veem. (cap. VII, item 9). Cada coisa tem
de vir na época própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não
germina. Mas, o que a prudência manda calar, momentaneamente, cedo ou tarde
será descoberto, porque, chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens
procuram por si mesmos a luz viva; pesa-lhes a obscuridade. Tendo-lhes Deus
outorgado a inteligência para compreenderem e se guiarem por entre as coisas da
Terra e do céu, eles tratam de raciocinar sobre sua fé. É então que não se deve
pôr a candeia debaixo do alqueire, visto que, sem a luz da razão, desfalece a fé.
O tema diz respeito, como é fácil compreender, à necessidade de divulgação das
verdades que, ensinadas por Jesus ou pelo Espiritismo, podem concorrer para o
aprimoramento moral das pessoas e, por consequência, do mundo em que vivemos. A
verdade possível ao homem não está escondida para ser descoberta, apenas exige
condições especiais para ser percebida e apreendida. Por isso, essa percepção
não é a mesma para todos, dependendo do trabalho de evolução de cada um, dentro
de si, pois ver e interpretar são ações individuais, ou seja, cada um
interpreta o que vê, o que sente, segundo sua estrutura intelectual e moral. Assim,
a luz da Verdade está nas leis divinas que regem todo o universo, que vem sendo
percebida conforme a evolução dos homens na Terra. Jesus trouxe a verdade que a
humanidade terrena pode perceber, e até hoje, mais de 2000 anos após, muitos e
muitos homens estão sem entendê-la. Esse fato prova a sabedoria e a
misericórdia divina, ao revelar a verdade possível a seus filhos, e esperar,
paciente, que eles a percebam, a entendam, e a aceitem, quando lhes for
possível, de acordo com sua vontade, sem imposições, apenas com o funcionamento
de Suas leis sábias, justas e misericordiosas. Assim, os que conseguem
apreender algo da verdade possível, já têm o dever de auxiliar outros a
percebê-la, sem imposições, através das palavras, dos meios de comunicação,
mas, principalmente, através da vivência dessa verdade. Não guardá-la para si,
não ficar com ela apenas no seu intelecto, como mais um conhecimento, mas
divulgá-la, principalmente, através dos seus atos e atitudes, irradiando a luz
da verdade que já possui. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. O
objetivo desse estudo é estabelecer uma relação entre o ensinamento de Jesus
nas expressões acima e o progresso espiritual, que nos possibilita o
entendimento das verdades eternas. Este ensinamento tem muito a ver com o
esclarecimento do homem, com a sua saída da ignorância, porque, quando ele se
esclarece, se ilumina, e seu conhecimento acerca das coisas sai da obscuridade. Estas palavras de Jesus
dão-nos a entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por
aqueles que já tiveram a felicidade de conhecê-las, porque, sem esse
conhecimento paralisar-se-ia a marcha da evolução humana. Jesus está falando da
importância da divulgação de Seu Evangelho. Ainda esclarece que qualquer pessoa
que adquirir conhecimentos em torno de uma verdade, ainda que seja em pequena
escala, não deverá guardar a luz desse conhecimento apenas para si, mas
procurar divulgá-lo a fim de que todos venham a haurir dos seus benefícios. Na
verdade, o que Jesus quer nos dizer com essas palavras é que não devemos
esconder a luz e, sim, colocá-la o mais alto possível. Quanto mais alta ela
estiver, a sua claridade vai abranger um ângulo maior, iluminando todo o
recinto, de modo que, todos os que entrem possam vê-la e serem iluminados. Assim
como um ambiente escuro precisa que nós acendamos uma luz para que ele se
ilumine, da mesma forma, aquele que possui o conhecimento das leis divinas não
pode esconder esse conhecimento dos companheiros de jornada. Terá que
repassá-lo, e isso significa, logicamente, uma luz que se acende nas trevas da
ignorância daquelas pessoas, com as quais estamos convivendo. É esse o sentido
que nós podemos retirar das palavras do Cristo, justamente porque Ele está
estabelecendo um paralelo entre a luz da candeia e o conhecimento das leis de
Deus pelo homem, dando assim a ideia simbólica de luz àquele que detém esse
conhecimento. O detentor de tais conhecimentos sente em seu coração as leis
divinas e vai, através de um progresso intelectual, entendendo e absorvendo
aquelas verdades de forma cada vez mais profunda e, com certeza, isto significa
luz. Luz do conhecimento ético; luz do conhecimento moralizado; luz do
conhecimento evangelizado, repassada em palavras e atitudes. Deus deu ao homem
a inteligência, para ele compreender e se guiar por entre as coisas da Terra e
do Céu. Por este motivo é que não se deve colocar a candeia debaixo do
alqueire, visto que, sem a luz da razão desfalece a fé. O Mestre convida-nos a
não escondermos a luz da verdade, mas, sim, deixa-la visível para que outras
pessoas possam se orientar por ela. Cada ideia nova, cada progresso, tem que
vir na época conveniente. Manda a prudência, entretanto, que se gradue a
transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele
a quem se quer instruir, de vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao
invés de esclarecê-lo. Seria uma insensatez pregar elevados conceitos morais a
quem ainda se encontrasse em estado de selvageria, tanto quanto, querer
ministrar regras de álgebra a quem mal dominasse a tabuada. Essa a razão porque
Jesus, tão frequentemente, velava seus ensinos, servindo-se de figuras
alegóricas, quando falava aos seus seguidores. Já aos discípulos, em
particular, explicava o sentido de muitas dessas alegorias, porque sabia
estarem eles preparados para isso. Não espalhar os preceitos cristãos, a fim de
dissipar as trevas da ignorância que envolve as almas, é esconder egoisticamente
a luz espiritual que deve beneficiar a todos. Mas, como frisa a observação de
Jesus em tela, "nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada
oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente“. À medida que
o homem vai adquirindo maior grau de desenvolvimento, procura por si mesmo os
conhecimentos que lhe falta, no que é, aliás, auxiliado pela Providência, que
se encarrega de guiá-lo em suas pesquisas e lucubrações, projetando luz sobre
os pontos obscuros e desconhecidos para cuja inteligência se mostre
amadurecido. Os que se acharem mais adiantados, intelectual e moralmente, e
forem sendo iniciados no conhecimento das verdades superiores, e que se valham
delas, não para a dominação do próximo em proveito próprio, mas para edificar seus
irmãos e conduzi-los na senda do aperfeiçoamento, maiores revelações irão
tendo, horizontes cada vez mais amplos se lhes descortinarão à vista, pois é da
lei que, "aos que já têm, ainda mais se dará”. Quanto aos que, estando de
posse de umas tantas verdades, movidos por interesses rasteiros fazem disso um
mistério cujo exame proíbem, o que importa "colocar a luz debaixo da
cama", nada mais se lhes acrescentará, e "até o pouco que têm lhes
será tirado", para que deixem de ser egoístas e aprendam a dar de graça o
que de graça hajam, recebido. A vida nos planos espirituais, questão que
interessa profundamente os sistemas filosóficos e religiosos, por muitos e
muitos séculos permaneceu como um enigma indevassável. Porém, chegou o momento
oportuno em que deveria "aparecer publicamente", e daí o advento do
Espiritismo. Na verdade, a divulgação espírita não se dá somente através de
palestras, nem que repassemos esses conhecimentos na forma de pregação
ostensiva, porque no nosso convívio isso seria ferir a liberdade de pensamento
religioso que todos merecemos ter. A divulgação também se faz de outras
maneiras; em tarefas dentro e fora da Casa Espírita; na evangelização, nas
reuniões mediúnicas. Enfim, em todos os momentos em que nós estivermos nos
relacionando com alguém. Isto é divulgação da Doutrina; isto é divulgação do
Evangelho. É um grande equívoco acharmos que só divulga a Doutrina Espírita
aquele que vai às tribunas para oratória. As palestras são a parte teórica do
ensino das leis morais. A exteriorização de tudo que nós aprendemos é a parte
prática. E esta é a melhor forma de divulgação. Esconder esses conceitos
espirituais, é esconder a luz debaixo do alqueire que, como vimos, é a luz que
não pode ser escondida, que precisa ser colocada o mais alto possível, para que
venha a iluminar o caminho daqueles que estão na retaguarda, e que necessitam
de uma referência para o despertar espiritual. Devemos perceber, nesta
passagem, uma referência aos bens espirituais: a observância dos preceitos
divinos faz com que estes bens, que constituem a verdadeira riqueza do
espírito, aumentem incessantemente. Por outro lado, aqueles que se ocupam
apenas da vida material, esquecem-se de desenvolver os bens espirituais e o
pouco progresso que possuem fica estacionado. Não sabendo conservar nem
cultivar a semente das verdades eternas, ela acaba por ser temporariamente
ofuscada, dando a sensação de perda. Devemos espalhar os conhecimentos que
possuímos em benefício de todos, pois a verdade não é para ser escondida de
ninguém. Entretanto, ela pode ser gradualmente percebida por aqueles que se
propõem a ir ao seu encontro.
Muita Paz!
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