Prezados irmãos
e amigos. Não pretendo com esse texto modificar o pensamento das pessoas. Não
tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou
seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo
informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada
indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como
quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas
colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é
obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas
vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear. Pense
nisso!
O tempo da Quaresma segundo a Igreja Católica
Todo ano a
igreja se une durante os quarenta dias da Quaresma, ao mistério de Jesus no
deserto. É o período de preparação para a Páscoa, com a purificação do coração.
Este momento é único, onde Jesus passa ao nosso lado e espera uma grande
mudança nossa.
Tradicionalmente,
esse período se estende por 40 dias, iniciando-se na Quarta-Feira de Cinzas e
se encerrando no Domingo de Ramos, ou seja, uma semana antes do Domingo de
Páscoa.
A Quaresma e o
Espiritismo
De logo,
posicionamos que o Espiritismo é uma religião cristã. Porém, o espiritismo,
como todos sabem, não carrega nenhum tipo de ritual e não comemora tais datas
cristãs como em outras religiões, mas respeita e aceita essas manifestações.
Mas isso não nos impede de refletir um pouco e tentar trazer o seu significado
para nossa vida. Estamos na quaresma, período de quarenta dias que antecede a
data mais importante para o catolicismo. A Quaresma é o tempo litúrgico
(conjunto de cerimônias eclesiásticas e refere-se à Igreja) de conversão, que a
Igreja marca como preparação para a grande festa da Páscoa (ressureição de
Cristo). Esta prática data desde o século IV. De início, os cristãos começaram
a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por
volta do ano 350 D.C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta
dias. Assim surgiu a Quaresma, que a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e
algumas Igrejas Protestantes marcam para que seus seguidores possam se preparar
para a Páscoa. Durante este espaço de tempo, os seus fiéis são convidados a um
período de penitência e meditação, por meio da prática do jejum e da oração. Ao
longo desse tempo, sobretudo na liturgia do Domingo de Ramos, é feito um
esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem
viver como “pretensos” filhos de Deus. No período quaresmal é muito comum nos
depararmos com pessoas cumprindo promessas, jejuando e fazendo penitências. Os
fiéis mais tradicionais se abstêm do consumo da carne vermelha, outros passam
os quarenta dias sem cortar o cabelo e a barba, enfim, não raro são aqueles que
realizam algum tipo de sacrifício nesse período. A duração da Quaresma está baseada no símbolo
do número quatro na Bíblia, que simboliza o universo material. Os zeros que o
seguem significam o tempo de vida na Terra; suas provações e dificuldades. É
falado também dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação
do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha,
dos quarenta dias que Jesus passou no deserto, antes de começar sua vida
pública, e dos quatrocentos anos dos judeus no Egito. Esses períodos vêm sempre
antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um
clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer. Antes de
iniciar sua vida pública, logo após ter sido batizado por João Batista no rio
Jordão, Jesus passou quarenta dias no deserto. Esse retiro de Jesus mostra a
necessidade que ele teve em se preparar para a missão que o esperava. Contam os
Evangelhos, que no deserto Jesus era conduzido pelo espírito, o que quer
significar que ele vivia em oração e recolhimento, discernindo a vontade de
Deus para sua vida e como atuaria a partir de então. No tempo em que passou no
deserto Jesus teve uma profunda experiência de encontro com o Pai. Quando
começa e quando termina a Quaresma? De acordo com a Carta Apostólica do Papa
Paulo VI aprovando o Novo Calendário Romano Geral, pág. 28, o tempo da Quaresma
começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa, até a Missa
da Ceia do Senhor, exclusive. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que
significa penitência. O roxo nessa época não significa luto e sim simboliza que
a Igreja está se preparando espiritualmente para a grande festa da Páscoa, a
ressurreição de Jesus Cristo. Sabemos que a Quaresma, que é abreviação de
quadragésima “Quadragésima die Christus pro nobis tradétur”, que se traduz:
“Daqui a 40 dias (no quadragésimo dia), Cristo será entregue por nós”, para a
nossa salvação. Por isso, a Quaresma é tempo do perdão e da reconciliação
fraterna. Houve um tempo que, quando se falava em Quaresma, geralmente, algumas
pessoas tinham uma ideia de uma coisa negativa. Era o tempo do medo, do
cachorro louco, da mula sem cabeça e outras coisas mais. Para outros a quaresma
parece superada pelo modernismo e é hoje apenas uma recordação negativa do
passado ou um retrato na parede, simplesmente.
A Quarta-feira de Cinzas, quando começa a Quaresma, é um dia consagrado
para lembrar a mortalidade. A cinza, por sua leveza, é figura das coisas que se
acabam e desaparecem. É usada como um sinal de penitência. É costume serem
realizadas missas onde os fiéis são marcados na testa com cinzas. Essa marca
normalmente permanece na testa até o pôr do sol. Esse simbolismo faz parte da
tradição demonstrada na Bíblia, onde vários personagens jogavam cinzas nas suas
cabeças como prova de arrependimento. De um modo geral, as penitências são
caracterizadas por privações voluntárias que, segundo a Igreja, aproximam os
homens a Deus, isentando-os de seus pecados. É uma prática presente na vida dos
cristãos católicos desde o século IV. Fiz questão em afirmar celebração
católica do Cristianismo, pois mesmo sendo cristãos, nós, espíritas, não
comungamos com essa prática. Nesse evento católico, há dois pontos básicos que
discordo peremptoriamente: 1º: A morte de Jesus foi para a nossa salvação, e
2º: A Ressureição de Cristo. Vejamos: cremos que o homem é produto de si mesmo,
fazendo com que em si, pelo ideal de ação no bem, pela caridade, ele evolua.
Não falamos em salvação, pois o espírito evolui continuamente até o marco
proposto pelo Cristo: Sede perfeitos como é o vosso Pai que está nos céus
(Mateus 5:48). Assim, falamos em evolução, não em salvação do homem por Cristo.
Ele sim é a nossa referência a ser seguida, mas a nossa evolução é obra pessoal
e intransferível. O ponto nº 2 – Ressurreição – também não o abraçamos, pois
seria uma derrogação das próprias Leis Divinas, das Leis Naturais. A doutrina
espírita caminha de mãos dadas com a ciência, e é ela que nos diz, segundo a
Lei de Lavoisier, postulada em 1785: “Na natureza, nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma”. É, assim, em nosso entendimento, uma total impossibilidade
de Cristo ter ressuscitado, uma vez que ele morreu, e as moléculas de seu corpo
foram se transformar em outros elementos. Estudando a Doutrina Espírita,
compreendemos que Jesus não morreu por ninguém ou para salvar alguém do
Inferno. Sua morte não significa a nossa salvação, e nem o perdão “adiantado”
dos erros que cometemos. Jesus, o Espírito mais evoluído que já esteve na
Terra, encarnou e viveu neste Mundo por amor a nós, para exemplificar o amor, o
perdão, a caridade, a fé, sendo “o modelo e guia, o tipo de perfeição moral a
que se pode aspirar na Terra”, definição essa contida na questão 625 de O Livro
dos Espíritos. Analisando as afirmativas contidas em O Livro dos Espíritos,
observamos que a visão do Espiritismo com relação às penitências, difere de
outras religiões. Para a Doutrina dos Espíritos, as privações somente são
válidas quando afastam o homem das futilidades materiais que nada acrescentam
na evolução do espírito, entretanto, deve ser um exercício contínuo na busca
pelo progresso moral, não se limitando a quarenta dias cada ano. Terá maior
mérito perante Deus, aquele que aplica sua penitência em benefício de outrem,
ou seja, pratica a caridade que, aliás, para nós que ainda somos espíritos
imperfeitos, ser caridoso é uma grande penitência. Com relação a abstinência de
certos alimentos, segundo o Espiritismo, nos é permitido consumir qualquer
substância que não nos comprometa a saúde, em qualquer época do ano, isso se
aplica ao consumo de carne. Devemos considerar que nossa matéria densa carece
de proteína para funcionar adequadamente, cuja principal fonte é a carne. Outra
questão a ser analisada: Quarenta dias seriam suficientes para redimir os homens
de seus erros? Até que ponto as penitências são válidas? Será que necessitamos
de um período específico para refletir nossas atitudes e dar início a uma
transformação moral? Busquemos as respostas em O Livro dos Espíritos, nas
Questões 720, 720-a, 722, e 726 no Capítulo V – Da Lei de Conservação. 720. São
meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma
expiação igualmente voluntária? Responderam os Espíritos: “Fazei o bem aos
vossos semelhantes e mais mérito tereis”. 720-a. Haverá privações voluntárias
que sejam meritórias? Responderam os Espíritos:
“Há; a privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e
lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao
gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos
que carecem do bastante. Se a privação não passar de simulacro, será uma
irrisão” (galhofa). 722. Será racional a abstenção de certos alimentos,
prescrita a diversos povos? Responderam os Espíritos: “Permitido é ao homem
alimentar-se de tudo o que lhe não prejudique a saúde. Alguns legisladores,
porém, com um fim útil, entenderam de interdizer o uso de certos alimentos e,
para maior autoridade imprimirem às suas leis, apresentaram-nas como emanadas
de Deus”. 726. Visto que os sofrimentos deste mundo nos elevam, se os
suportarmos devidamente, dar-se-á que também nos elevam os que nós mesmos nos
criamos? Responderam os Espíritos: “Os sofrimentos naturais são os únicos que
elevam, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando
não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso
os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos,
os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não
trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que
chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos
infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer
alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos
outros é caridade; tais os preceitos do Cristo”. Diante dessas considerações,
podemos afirmar que as privações voluntárias pouco contribuem para o progresso
espiritual. Há uma influência católica
muito intensa sobre a mente popular, com hábitos enraizados, a ponto de termos
somente feriados católicos no Brasil, advindos de uma época de dominação da
Igreja sobre o país. Os espíritas, afinados com outra proposta, a do Cristo
Vivo, não têm porque apegar-se ou preocupar-se com tais questões. Respeitemos
nossos irmãos católicos, mas deixemo-los como queiram, sem o stress de esgotar
explicações. Nossa Doutrina é livre e deve ser praticada livremente, sem
qualquer tipo de vinculação com outras práticas. Com isso, ninguém está a
desrespeitar o sacrifício do Mestre em prol da Humanidade. Preferimos sim,
ficar com seus exemplos, inclusive o da imortalidade, do que ficar a reviver a
tragédia a que foi levado pela precipitação humana. Inclusive temos o dever de
transmitir às novas gerações a violência da malhação do Judas, prática
destoante do perdão recomendado pelo Mestre, verdadeiro absurdo mantido por
mera tradição, também incoerente com a prática espírita. A mesma situação
ocorre quando na chamada quaresma de nossos irmãos católicos, alguns espíritas
ficam preocupados em comer ou não comer carne, ou preocupados se isto pode ou
não. Ora, ou somos espíritas ou não somos! A Doutrina Espírita nada tem a ver
com isso. São práticas de outras religiões. Sempre é bom repetimos:
respeitamos, mas não adotamos. A Quaresma que entendemos é época de mudança
íntima e espiritual, que deveria acontecer por um tempo infinito e não só por
quarenta dias. O Espiritismo encara a chamada Sexta-feira Santa como uma
Sexta-feira normal, como todas as outras. Também indica que não há procedimento
algum para os dias desses feriados. E não há porque preocupar-se com o Senhor
Morto, pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade. “E conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará”. (João, 8:32). O objetivo da religião é
conduzir o homem a Deus; ora, o homem não chega a Deus senão quando está perfeito.
Portanto, toda religião que não torna o homem melhor, não atinge seu objetivo.
O cristão deve buscar alcançar o Reino de Deus. Porém, não aquele lugar
específico. Mas, aquele que está dentro
dele. Devemos fazer da Quaresma um tempo para “Jejuar” alegremente de
certas coisas e também para “Fazer festa” de outras.
Neste tempo
devemos:
Jejuar de julgar
os outros e festejar porque também eles são filhos de Deus; Jejuar do
fixarmo-nos sempre nas diferenças e fazer festa por aquilo que nos une na vida Jejuar
das trevas da tristeza e celebrar a luz; Jejuar de pensamentos e palavras
doentios e alegrarmo-nos com palavras carinhosas e edificantes; Jejuar das
desilusões e festejar a gratidão; Jejuar do ódio e festejar a paciência
santificadora; Jejuar de pessimismos e viver a vida com otimismo, como uma
festa contínua. Portanto, é tempo de encontro com o próximo. É a caridade que
se faz em nome do Criador. São as obras meritórias, os ideais nobres. É tempo da
doação de si mesmo; do compartilhar; do perdão que se exercita; do bem que se
faz. É o amor em ação. Jesus está presente, e a Sua presença se evidencia,
especialmente, através de cada ser humano. Jesus, vivendo o seu tempo,
construiu valores universais únicos, que, pela profundidade e extensão,
modificaram os aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos da
Humanidade. Esses valores são conceitos fundamentais, sendo a moral cristã o
eixo de sua visão de mundo e interpretação da realidade. Naturalmente, é
questão de fé, que não se discute, mas se apresenta posições. De qualquer modo,
no entanto, sempre aproveitamos esses momentos para refletirmos, no
entendimento do sentido de Cristo entre nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário