INTRODUÇÃO
O objetivo desse Blog é levar você a uma reflexão maior sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio
necessário para uma vida saudável e produtiva.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prezados irmãos e amigos. Não pretendo com esse Blog modificar o pensamento das pessoas. Não tenho a pretensão de ser dono da verdade, pois acredito que nenhuma religião ou seita detém o privilégio de monopolizá-la. Apenas estou transmitindo informações, demonstrando a minha crença, a minha verdade. Cabe a cada indivíduo a escolha de como quer entender as coisas do mundo em que vive, como quer viver a sua vida, e quais os métodos que quer utilizar para suas colheitas. Como disse Jesus, "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória", ou seja, o plantio é opcional, você planta o que quiser, mas vai colher o que plantar. Por isto, muito cuidado com o que semear.
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domingo, 29 de janeiro de 2023

 


O Saber espírita é uma Consolação

O tema desta reflexão é por demais profundo e importante, pois nos remete a nada mais nada menos do que ao grande Rabi da Galileia. “Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho-lhes dizer que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor estava presente no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar suas lágrimas.” (O Espírito de Verdade - O Evangelho segundo o Espiritismo). “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo” (Mateus, cap. XI, vv. 28 a 30). “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (João, XIV: 15 a 17 e 26). Nessas palavras de Jesus, fica bem clara a ideia de que o Mestre se dirigia a toda a humanidade e para todos os tempos, demonstrando como conhecia o futuro e suas necessidades. Sabia que somente o amor a ele, impulsionaria seus discípulos a prosseguirem na divulgação de seus ensinos, através da palavra e do exemplo, por isso, diz "Se me amais, guardai os meus mandamentos", na mente, no coração e nas ações. E eles o fizeram, com tanto amor que seus ensinos não se perderam, chegando até nós, sendo hoje percebidos com mais clareza, para permanecerem para sempre conosco. O objetivo deste estudo é mostrar que a doutrina codificada por Allan Kardec ajusta-se perfeitamente ao texto do evangelista João sobre o Consolador Prometido. Para que possamos entender o alcance daquelas palavras, convém refletirmos sobre os ensinamentos trazidos por Jesus e o que os homens fizeram deles ao longo do tempo. Jesus, quando de sua passagem pela Terra, deixou-nos um código de vida. Entretanto, devido ao nosso atraso moral e intelectual de então, deixou a complementação dos seus ensinos para mais tarde. Quando nós estamos passando por algum momento difícil em nossas vidas, e nos sentindo tristes, vulneráveis, parecendo que o mundo vai desabar sobre nós, achando que não há saída para a situação, porque não vislumbramos nenhuma luz no fim do túnel, e, consequentemente, estamos precisando muito de um colo consolador. Ao lermos esse convite de Jesus, sentimos no nosso íntimo um alento, um reconforto muito grande. Isto acontece porque todo o Evangelho do Mestre é um cântico de esperança sublime para os caminhos de lágrimas da nossa jornada terrestre, nos amparando para as glórias do porvir. Quando o Cristo nos fez esse convite, sabia que o sofrimento faz parte do grau de evolução que nós ainda nos encontramos. Hoje, graças a Doutrina Espírita, nós sabemos que o sofrimento é uma necessidade nossa. Através dele nós aprendemos, ganhamos experiência, ressarcirmos dívidas do passado, porque ainda somos espíritos imperfeitos, e, assim, pouco a pouco, nós vamos progredindo até alcançarmos a nossa meta, que é a perfeição. Daí a importância de, nos momentos difíceis, nós estarmos unidos a Deus, porque sofrer com Deus e sofrer sem Deus tem uma diferença muito grande. Da mesma forma que também tem uma diferença enorme o sofrer e fazer sofrer. O interessante é que nós confundimos muito essa confiança que devemos depositar no Criador, que precisamos depositar na Providência Divina. Muitos acreditam que seja uma troca. Confiamos no Pai, e em troca Ele se torna nosso servidor. Nos livra de todos os problemas; realiza todos os nossos desejos. Mas não é bem assim que a coisa funciona. Da mesma forma, nós temos confundido muito os ensinamentos de Jesus, como nessa passagem que estamos expondo. O Mestre nos promete alívio e não isenção do sofrimento, e esse alívio deve ser entendido por coragem, força, para que nós possamos continuar lutando, continuar aprendendo. Mas não é a todos os aflitos que o Cristo prometia o Seu alívio. Ele prometia àqueles corações que sofrem bem, que sofrem compreendendo os desígnios de Deus com resignação, com confiança. E nós sabemos perfeitamente que não é dessa forma que nós nos posicionamos quando estamos atravessando um momento difícil. Geralmente blasfemamos, ficamos irritados, derramamos lágrimas sem proveito, aumentando ainda mais o sofrimento à nossa volta. Isso é fazer sofrer, e essas reações não vão aliviar nem tampouco modificar o nosso problema. A nossa irritação não soluciona problema algum, pelo contrário, aumenta-o ainda mais. No capítulo VI do Evangelho Segundo o Espiritismo, O Cristo Consolador, Kardec nos fala que são muitos os sofrimentos que nós experimentamos aqui na Terra. São as dores físicas, misérias, decepções, perda de seres amados, as amarguras, as ingratidões. Mas para todos esses sofrimentos existe uma consolação, existe um alívio, um consolo, para que possamos superá-los. E nós não podemos nos esquecer do nosso maior consolo que é Jesus. E lembrar-nos do sofrimento que foi imposto a Ele, Espírito Puro, e que não merecia, que veio ao nosso orbe para nos ensinar o caminho que nos levará até o Pai. "O Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside a sua instituição, chama os homens à observância da lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender o que o Cristo não disse senão por parábolas. O Cristo disse: "Que ouçam os que têm ouvidos de ouvir"; o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias; ele ergue o véu deixado propositadamente sobre certos mistérios, vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem, dando uma causa justa e um fim útil a todas as dores".(Kardec, 1984). Vejamos agora a questão em que sentido o Espiritismo é consolador. O Espiritismo consola, no momento em que esclarece e demonstra os fatos que os próprios Espíritos nos fornecem. A dor torna-se remédio e a resignação um sustentáculo da fé que se agiganta. A palavra consolador é um substantivo que deriva do verbo consolar. Consolador, portanto, é aquele que consola, que diminui a dor ou a aflição, que está junto de outro que sofre. É interessante lembrar que o consolador não interfere diretamente, mas atua por meio de palavras, procurando auxiliar o consolado a passar o momento difícil. O Espiritismo realmente nos desperta a mente para a profundidade dos ensinos de Jesus. É importante que nunca nos cansemos de estudá-lo. E mais ainda, que estudemos tudo o que estiver ao nosso alcance para fortalecer a nossa convicção espírita. O Espiritismo não pode ser contaminado pelo misticismo, nem pelo fanatismo, o que é sempre mais fácil quando não estudamos. Estar sempre em dia com os preceitos de Kardec para que recusemos informações que fujam da codificação. Graças a eles é que entendemos Jesus. Que sentimos sua presença ativa, constante e capaz de nos conduzir a uma vida mais feliz, longe da tristeza do Cristianismo oficial e perto das esperanças e certezas do Cristianismo de Jesus. Com o Espiritismo, Jesus desceu da cruz, matou a morte e nos proporciona um destino de responsabilidade, e de liberdade também. Somos artífices do nosso futuro. Não precisamos ser “santos” para segui-lo, mas precisamos ter determinação e vontade de atuar no bem. Jesus apresentando-nos o Espiritismo através do Espírito da Verdade, cortou-nos os grilhões com o passado, permitindo-nos desvendar um horizonte cheio de luz e paz que já podemos vislumbrar nas pequenas alegrias que conseguimos atingir através do esforço no bem. O Espiritismo entra exatamente neste contexto já que possui explicações lógicas, claras e concretas para as causas do sofrimento. Um outro aspecto que não podemos perder de vista é o fato de que a dor humana cresce mais à medida que não é explicada. Assim, a maioria das pessoas pergunta: por que Deus me impôs tal sofrimento? A proporção que as pessoas não encontram uma resposta a estas e outras questões a dor lhes parece mais forte e chegam mesmo a desconfiar da bondade e da justiça de Deus, tornando-se amargas e revoltadas. O Espiritismo entra exatamente neste contexto já que possui explicações lógicas, claras e concretas para as causas do sofrimento. A leitura da Doutrina dos Espíritos oferece à vida um novo sentido. A reencarnação reentroniza o conceito do Deus justo e bom que não faz que soframos por causa do pecado original ou pelos erros de nossos pais atuais. Ficamos sabendo que o sofrimento não é um mal em si mesmo, muito pelo contrário, mas um incentivo que nos empurra para frente em busca dos mundos maiores e que, se soubermos retirar do sofrimento as lições que ele nos oferece, estaremos nos candidatando a um lugar mais elevado na escala espiritual e nos adiantando em nossa jornada em busca dos Mundos Ditosos. A Doutrina Espírita consola porque esclarece. Ela permite a todos que travam contato com seu conteúdo uma vida mais tranquila, mais lúcida e feliz, apesar das aflições comuns ao mundo físico de imperfeições. Ao saber que a vida continua qualquer sofrimento diminui. Eis o consolo. A certeza do futuro é a matriz do consolo espírita. Por isso, o lado mais belo do Espiritismo é a consolação que prodigaliza aos aflitos, em todos os sentidos. O conhecimento da reencarnação é esclarecedor. Nele, a justiça divina se revela com toda a sua beleza, com todo o seu amor. Quando Allan Kardec trata do tema “consolo”, ele o faz em caráter eminentemente filosófico. Vale diferenciar o termo para o senso comum e para a filosofia. Para o senso comum, consolo é fruto de uma atitude. Alguém consola alguém. O consolo é um paliativo emocional. Conforme os dicionários, paliativo é algo que só tem eficácia momentânea ou incompleta. Uma espécie de medicamento que não cura, mas mitiga o sofrimento do doente. Ou, por fim, uma delonga que mantém uma expectativa. Para o leigo, o consolo é enxugar lágrimas, chorar junto, dar um remedinho, dar conselhos, ter compaixão. Podemos chamar esses atos bondosos de compaixão e, em alguns casos, até mesmo de caridade. Filosoficamente, consolo implica conhecer algo que lhe faça entender sofrimentos, aflições ou situações comumente inexplicáveis. Aí percebemos uma diferença digna de nota: para o leigo o consolo é algo puramente emocional. Uma atitude carinhosa de alguém para outra pessoa. Para o filósofo o consolo é algo que o próprio indivíduo estabelece para si a partir do conhecimento, da razão e do bom senso. Para a filosofia, e, claro, para o Espiritismo, não são pessoas carinhosas que consolam outras pessoas. O Consolador Prometido é a Doutrina Espírita, não os espíritas. Por mais que alguém seja carinhoso, bondoso, atencioso (e espírita) isso não o torna um “consolador”. Para o senso comum pode até ser. Segundo o Espiritismo, não. Precisamos cuidar-nos, para que também nós não apenas enxerguemos a justiça e sua necessidade, mas, sim, todo o amor divino que age sobre tudo e sobre todos. Em tudo viceja o amor. Nas maiores dores vejamos a expressão do amor, das oportunidades de escolha, e das chances de reparação do passado doloroso. A reencarnação é a grande chave. Com ela abre-se o portal do entendimento e o raciocínio se aclara, a fé surge e o conhecimento liberta. A oração também é um bálsamo consolador. Quantas vezes estamos tristes, desanimados, e nos entregamos à prece com fervor, com sinceridade, e quando terminamos, sentimos que as nossas forças estão renovadas. Ainda no capítulo VI, são citadas duas consolações. Uma é a fé no futuro, e a outra é a Justiça Divina. Mas por que são fontes de consolação? A fé no futuro é certeza da continuidade da vida, porque somos espíritos eternos. Quando Jesus proferiu o Sermão do Monte, Ele nos proporcionou essa certeza o tempo todo. Nas Bem-aventuranças, o verbo foi colocado sempre no tempo futuro. Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados; Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. O Cristo nos transmitia a certeza de uma vida melhor. A respeito da Justiça Divina, o Mestre também foi muito claro quando a sintetizou numa única sentença: A cada um será dado conforme as suas obras. Vale a pena analisar como estamos nós. Conhecimento espírita é consolação. Pois que estejamos consolados, aumentemos nossa fé. O Espiritismo apresenta uma nova concepção da divindade que, perdendo o caráter antropomorfizado das religiões primitivas, torna-se A Inteligência Universal, Causa Primeira de todas as coisas sem, entretanto, perder os seus atributos de amor e de Justiça. Frente a esta imagem de Deus não pode haver revolta, mas compreensão de que existe uma ordem universal e que esta ordem dá sentido não só à vida na Terra, mas em todo o cosmos. Em resumo, o Espiritismo é, sem dúvida alguma, O Consolador prometido por João e em seus textos e contextos atualiza a mensagem de Jesus, mensagem a que Jesus apenas aludiu em sua época, por causa da impossibilidade de compreendê-lo àquele tempo. Não é a toa que o espírito que liderou a equipe da terceira revelação, tenha se apresentado a Kardec como Espírito Verdade. Coloquemos nossa casa assentada sobre a rocha e sigamos em paz, nossa jornada terrena. Consolemo-nos e consolemos aos demais, por nossa vez, pois a bondade de Deus está sempre colocando ao nosso lado, para exemplificar, aqueles que estão em situação pior que a nossa e que estão sorrindo e amando a vida.

Muita Paz!

A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio necessário para uma vida feliz.

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domingo, 22 de janeiro de 2023

 


Sal da terra e luz do mundo

Na sequência do Sermão do Monte, Jesus asseverou: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se colocar debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:13-16). Naquela manhã, em que o povo se reunira para ouvir o Divino Mestre, os raios solares, surgindo no horizonte, iam inundando as bandas orientais com o resplendor de sua luz. A superfície tranquila do lago próximo refletia o rosicler (que tem a cor da rosa e da açucena) das nuvens matutinas; pássaros trinavam docemente, esvoaçando entre as árvores; folhas e flores, abrindo-se, viçosas, pareciam sorrir à bênção de um novo dia. Jesus fitou o Sol nascente, pousou depois o olhar sobre os discípulos que tinha perto de si e disse-lhes: "Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo". O seu pensamento íntimo, nesse instante, devia ser: "Assim como o Sol, dissipando as trevas noturnas, desperta o mundo para a vida e sazona os produtos da terra, cada um de vós tem por missão difundir a Boa-Nova que venho anunciar aos que se acham obscurecidos pela ignorância e pelo erro, de modo a preparar-lhes os corações para que deem frutos de mansidão e de fraternidade." Como as cidades e aldeias edificadas nos montes ao redor começavam a surgir na claridade da manhã, o Mestre, apontando-as, observou: "Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte." E aduziu: "Nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o velador, a fim de que ela dê luz a todos os que estão na casa. Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens; que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus". Magnífica lição, não é mesmo? Como sabemos, o sal tem a função de preservar e dar sabor ao alimento; a luz, por sua vez, tem a função de iluminar as trevas. É interessante notar que Jesus não coloca o cristão como sendo o sal da terra e a luz do mundo de forma condicional. Ele não diz: “vocês serão sal da terra e luz do mundo”; ou “vocês devem ser sal da terra e luz do mundo”; mas Ele diz “vós sois o sal da terra e luz do mundo”. Este pronunciamento do Mestre constitui uma das afirmações evangélicas mais claras de que a missão dos seguidores de Jesus no mundo faz parte de sua própria identidade. Duas pequenas imagens ou afirmações para duas grandes atitudes. Vejamos melhor neste estudo as implicações de ser sal da terra e luz do mundo. O sal possui muitas características. É muito usado no mundo gastronômico porque muda o sabor dos alimentos e também porque conserva alimentos. Para o ser humano o sal é essencial porque tem várias funções no corpo humano e uma delas é regular a quantidade de água em seu corpo. Jesus usa essa metáfora (substituição de um termo por outro através do uso da analogia) porque seu intuito é nos ensinar algo muito importante. Mas certamente ao dizer “vós sois o sal da terra” Jesus explora suas duas principais características: ter sabor e ser antisséptico. Uma das funções mais importantes do sal nos dias de Jesus era justamente o poder de preservar os alimentos. O sal era a melhor solução para impedir a deterioração dos alimentos. Além disso, ele também servia como tempero. Mas qual é realmente o objetivo de Jesus ao dizer que seus seguidores são o sal da terra? Assim como o sal que possui a função de preservação, os cristãos verdadeiros devem estar constantemente combatendo a corrupção moral e espiritual da sociedade. De certa maneira o sal age secretamente, no sentido de que não podemos ver como sua ação preservativa age especificamente. Na maioria das vezes também não podemos distinguir pelo olhar um alimento que foi temperado com sal. Mas facilmente podemos senti-lo. As imagens do sal e da luz servem também de apoio para justificar duas formas diferentes de presença e de ação no mundo. A referência ao sal remete a uma ação invisível, pois concebe a presença dos cristãos no mundo sob a forma da encarnação, a presença silenciosa na realidade, a inserção na sociedade, deixando atuar, pelo testemunho de cada um, a força do evangelho que, como a semente, uma vez semeada, germina no campo, de dia e de noite, sem que o semeador perceba. Mas Jesus também deixa claro que se o sal se tornar insípido, ou seja, sem sabor, para nada servirá. Não temos muita familiaridade com essa observação, pois estamos acostumados a comprar o sal já selecionado. Mas nos dias de Jesus isso acontecia muito. O sal era retirado principalmente da região do Mar Morto. Porém havia alguns pântanos e lagoas naquela região que, pelo contato com o cálcio e outras substâncias, o sal retirado desses locais adquiria um sabor alcalino, tornando-o inútil. Sim, o sal insípido jamais poderia ser restaurado. Naquela época havia muitos fariseus que se orgulhavam de sua religiosidade e legalismo. Mas nada disso tinha qualquer coisa a ver com a verdadeira essência das Escrituras anunciadas pelos antigos profetas. Esses religiosos tinham se misturado, perdido o sabor e não serviam para mais nada, a não ser para serem lançados fora. O específico da luz é brilhar, realçar uma forma de presença visível, através das ações comunicativas, como meios para fazer chegar o evangelho ao mundo no qual o cristão é chamado a ser presença diferenciada. Vivemos imersos num oceano de luz. Ela sempre está aí, disponível; basta abrir-nos a ela com a disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira. O ser humano é luz quando expande seu verdadeiro ser, ou seja, quando transcende e vai mais além, desbloqueando as ricas possibilidades de humanidade. A luz, por si mesma, é expansiva. Há aqueles que, ao invés de serem presenças iluminadoras, estão mais preocupados em subir e ocupar a posição do candeeiro, para aparecer, para se colocar acima dos outros, serem vistos e elogiados pelas pessoas. Quem aspira estar no candeeiro revela não ter luz para iluminar os outros. O candeeiro é para que a luz de suas vidas se expanda e ilumine melhor; o candeeiro não é para que estejam mais altos, mas é para que a luz de suas vidas chegue a lugares mais distantes. Os seguidores do Cristo, por serem "a luz do mundo", devem constituir-se em veículo da revelação divina a todos os povos e nações. Cada discípulo do Mestre, individualmente, deve ser um facho de luz a iluminar os homens no caminho para o alto, sendo necessário que, por seu intermédio, resplandeça a bondade e a misericórdia do Pai, pois é desígnio da Providência que a Humanidade receba as Suas bênçãos através de instrumentos humanos. A vida de Jesus aparece como “SAL” e como “LUZ” pelo que Ele era e vivia. Sua mensagem era sumamente simples, centrada no compromisso com todos, e com uma presença compassiva o Mestre despertou um movimento humanizador, carregado de sabor e iluminação, afetando a todos que se aproximavam d’Ele. Por isso, a missão que o Cristo confiou aos seus seguidores deve estender-se a todas as criaturas, de qualquer longitude ou latitude da Terra. Contrariando os preconceitos da época, quando os israelitas orgulhavam-se de ser "a porção escolhida por Deus dentre os povos" e consideravam os demais como "estrangeiros" imundos e desprezíveis, Jesus ensina que todos pertencemos a uma só família humana e não traça qualquer limite à nossa "casa". Suas palavras: "vós sois a luz do mundo" — "brilhe a vossa luz diante dos homens", de sentido nitidamente universalista, nada têm de comum com o amor-próprio, o preconceito de nacionalidade e o separatismo intransigente, pregado pelos rabinos judeus; eliminam todo e qualquer prejuízo de raça, de casta, ou de quejandos, pois para Deus não há escolhidos e enjeitados, há apenas almas a serem aquecidas pelo Amor e iluminadas pelo conhecimento da Verdade. Os raios do Sol alcançam todos os recantos do globo, tanto no hemisfério oriental como no ocidental; a luz do Evangelho, igualmente, deve penetrar todas as almas sobre a Terra, a fim de que participem, sem exclusão de uma só, da glória do Senhor. Mas não basta ensinar aos homens as excelências da doutrina cristã. É preciso, diz o Cristo, que "eles vejam as vossas boas obras", tornando patente que cada discípulo deve contribuir com o seu contingente pessoal de amor aos semelhantes, para que desta forma sejam levados a "glorificar o Pai Celestial". Se cada cristão, nestes vinte séculos de Cristianismo, houvesse atendido à determinação do Mestre, cumprindo fielmente a sua missão, bem outra seria hoje a situação mundial.  Pitágoras, no século seis antes de Cristo, já dizia: Eduquem as crianças e não será preciso castigar os homens. Daí a importância da educação espírita, que age no sentido horizontal, proporcionando o ensinamento moral, que prepara o Espírito para a vida em família e em sociedade; e no sentido vertical, proporcionando o ensinamento evangélico, que prepara o Espírito para educar-se devidamente, na sua marcha em direção a Deus. Bem educado, o Espírito se conduz pelos caminhos que o tornarão um homem de bem, cujo modelo está explicitado no capítulo XVII (Sede Perfeitos) de O Evangelho Segundo o Espiritismo: o homem que cumpre a lei de amor, de justiça e de caridade, na sua maior pureza. Por isso, Jesus disse que nós somos o sal da terra e a luz do mundo. Concluindo: O sal está ligado à condimentação e à conservação dos alimentos. Ele enriquece a comida e, ainda, evita a deterioração. Dessa maneira, segundo uma ética cristã, nós temos a incumbência de temperar a vida, dar-lhe sabor, neutralizar a insipidez dos acontecimentos, tantas vezes eivados de desgostos e de todos os tipos de corrupção, que apodrecem o Espírito e descortinam a senda de uma existência insossa, inclinada a doenças e tormentos. Todo mundo pode ser feliz se levar em consideração a sua essência salina, apta a transformar o azedume em ânimo, a mágoa em perdão, a maledicência em silenciosa compreensão. Viver para o bem exige disciplina contínua, haja vista as ilusões mundanas; contudo, a ação cotidiana no bem produz resultados tão positivos e prazerosos, que o esforço mínimo é de imediato recompensado. Nada supera a esperança do aprendiz disciplinado, que leva o tempero da indulgência às situações contaminadas pelo desamor e a ignorância. De outro lado, o sal se tomado em estado puro, não cumprirá sua finalidade de garantir o sabor; porém, quando usado discretamente como adição, como adequação, assegura agradabilidade a tudo. Dessa maneira, é a consciência ética, crivada na lei do amor e da caridade, que transforma as situações mundanas negativas, principalmente as embaraçosas, preservando-as da putrefação. Sejamos, então, Espíritos compromissados com a Verdade do Cristo, a única que saciará a nossa fome de evolução. Como o sal, que é o condimento por excelência, usado na arte culinária para temperar os alimentos, o nosso papel na sociedade, como discípulos de Jesus, é atuar como elemento equilibrador, temperando todos os excessos. Também como o sal, que é incorruptível, nada o contamina nem o deteriora; não permanece inativo e age sempre; não se oculta, é uma revelação permanente; jamais assimila impurezas, mas transmite seu poder purificador; sai ileso de todas as provas; não se macula, ainda que imerso na imundície; se misturado a outra substância, o seu gosto é o que sobressai. O discípulo de Jesus deve entrar em todos os lugares, agir sempre e continuar puro. Assim também deve ser a nossa maneira de proceder. O verdadeiro cristão não deve corromper-se por nada. Em todas as suas ações devem sobressair a honestidade, a lisura, a sinceridade, a firmeza de bons propósitos. Somos a luz do mundo, porque temos uma luz dentro de nós: a luz dos conhecimentos espíritas, que devemos levar aos nossos semelhantes e não guardá-la somente para nós.Uma atitude simples é seguirmos o conselho de Irmã Rosália (Espírito), na comunicação registrada no item 9 do capítulo XIII – Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita – de O Evangelho segundo o Espiritismo, sobre a caridade moral, que consiste em suportarmo-nos uns aos outros, que é o que menos se faz neste mundo inferior, onde estamos momentaneamente encarnados. Esse é o maior desafio que temos, no nosso dia a dia. Suportarem-se uns aos outros é, para alguns, um exercício difícil, pois as pessoas são diferentes umas das outras,  uma  vez que cada uma delas é um Espírito com vivências diferentes. Quando nos convoca a ser sal e luz da terra e do mundo, Jesus nos propõe abraçar a missão a que o Pai nos destinou e nos enviou. A terra tem o significado do lugar onde habitamos e o ambiente em que vivenciamos os nossos relacionamentos em família, com os amigos e pessoas com as quais nos deparamos. O mundo é o “ar que respiramos”, isto é, a mentalidade que nos é imposta e, na qual nós nos deixamos envolver. Ser sal da terra é, portanto, saber temperar a nossa vida e das pessoas com o jeito de ser cristão, levando esperança, ânimo, alegria, amor, etc. Ser luz do mundo é clarear a mentalidade deturpada e enganadora que reina na cabeça das pessoas desavisadas do Evangelho. É tirar da ignorância, aqueles que não se conhecem, por isso não enxergam as suas próprias dificuldades. Não conhecem a Deus, não amam e não perdoam porque nunca se sentiram amadas e nunca foram perdoados. É abrir caminhos, é dar alternativas para uma vida feliz.

Muita Paz!

A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio necessário para uma vida feliz.

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domingo, 15 de janeiro de 2023

 


O objetivo deste estudo é buscar e manter o equilíbrio espiritual. Para tanto devemos fazer uso dos verbos no imperativo, que se traduzem por uma ordem na mudança de nossas atitudes e comportamentos. No Evangelho de Mateus (26:26-46), está escrito que Jesus, após a última ceia, e sabedor de que seu fim era próximo, dirigiu-se ao Getsêmani, jardim ou horto situado ao redor de Jerusalém e ao pé do monte das Oliveiras, levando consigo Pedro, Tiago e João.  Então o Mestre lhes revelou: “Ainda esta noite, todos vós me abandonareis. Pois assim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão afugentadas’. Todavia, depois de ressuscitar, seguirei adiante de vós rumo à Galiléia”. Jesus  disse-lhes: “Assentai-vos por aqui, enquanto vou ali para orar”; e começando a entristecer-se ficou profundamente angustiado. Então compartilhou com eles dizendo:

“A minha alma está sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal. Permanecei aqui e vigiai junto a mim”. Seguindo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Ó meu Pai, se possível for, passa de mim este cálice! Contudo, não seja como Eu desejo, mas sim como Tu queres”. Mas, ao retornar à presença dos seus discípulos os encontrou dormindo e questionou a Pedro: “E então? Não pudestes vigiar comigo durante uma só hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca”. Jesus, em sua despedida no Getsêmani, deixou-nos um ensinamento de tamanha importância que não poderia ficar impreciso na história da humanidade; teria que ser fixado e ensinado em todos os tempos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”.

Vigiai e orai, porém, nessa ordem, vigiar, em primeiro lugar. Orar é importante para entrarmos em comunhão com os valores espirituais da existência recebendo os fluidos nutrientes de amor e luz, entretanto a vigilância é fundamental para o nosso equilíbrio. Essa é uma das maiores advertências que Jesus faz nos evangelhos: "Vigiai". Seremos tentados de todos os lados durante nossa caminhada cristã. Andaremos em um campo minado enquanto habitarmos neste corpo material. Inclinações da carne e os prazeres deste mundo nos bombardearão, esperando que tropecemos e cedamos aos seus desejos. Isso é fatal! Isso pode significar morte e a destruição de nossa comunhão com Deus, caindo em grave transgressão! Portanto, vigieis, estejais em estado contínuo de alerta. Ao dizer “vigiai e orai” naquele momento, Jesus estava literalmente dizendo:

“Mantenham-se alerta e continuem orando, para que não entrem em tentação”. Essa frase proferida por Jesus tem encoberta uma sabedoria extraordinária, ela não representa um simples preceito moral ou religioso, mas passa com a Doutrina Espírita a ser entendida como lei. Por que Jesus disse: vigiai e orai?

Jesus nos disse para vigiar e orar porque nossa carne é fraca e enfrentamos muitas tentações. Quando vigiamos e oramos, ficamos mais fortes para resistir à tentação. Aqui, o Rabi nos adverte ensinando os benefícios da prática do vigiar e orar; por isso, consolidemos praticando esta máxima no nosso dia a dia. Vigiar e orar sempre; esse ensinamento nos proporciona uma reflexão para mantermos a sintonia com os bons Espíritos, elevando os nossos pensamentos.

Vivemos num mundo de ondas, vibrações e energias, basta um pensamento ou uma palavra ofensiva, pronunciada impensadamente, para desencadear vibrações que se estenderão atingindo, com sua ressonância, outros que se encontram em sintonia com esses padrões de nível mental, gerando a discórdia e a turbulência. É um fenômeno semelhante à propagação de ondas que se verifica quando atiramos uma pedra no lago: as ondas que surgem no ponto onde a pedra caiu propagam-se e chegam até à margem. Podemos dizer que o mundo é um grande “lago mental”. As ondas mentais de uma pessoa não ficam restritas a uma pequena área em torno dela; elas se propagam sem parar, estendendo sua influência à mente dos outros, ao trabalho e ao ambiente geral, alterando de forma invisível, enquanto durar sua energia.

O espírito e a carne:

Jesus disse “vigiai e orai” porque todos nós enfrentamos uma luta entre a carne e o espírito (Gálatas 5:16-17). Nosso espírito quer as coisas de Deus e se alegra com a justiça e o bem. Mas nossa carne ainda sofre tentações e se inclina para o mal. A carne significa nossa natureza humana, que ainda é influenciada para alguma coisa não recomendável e suas consequências. Em nosso espírito, estamos prontos para servir a Deus e obedecer a Seus mandamentos. Mas nossa carne é fraca e, se não tomarmos cuidado, pode cair na tentação. Enquanto não chegamos à vida eterna, sempre teremos uma luta com a carne. Por isso, Jesus nos disse: Vigiai. Vigiar significa ficar atento. Precisamos estar vigilantes porque as tentações estão sempre procurando maneiras de nos destruir.

As tentações podem surgir quando e de onde menos esperamos. Quando baixamos a guarda, ficamos mais vulneráveis. Corremos o risco de orar, mas não viver a vigilância. Por isso que o Cristo disse: “Vigiai e orai”. Ao nos dar estas orientações, Jesus nos pedia para mantermo-nos em comunhão com Deus através das preces, buscando sempre orientação do Pai, ligando-nos à espiritualidade superior que fala diretamente conosco por boas sugestões no momento em que oramos. Além disso, o Mestre nos pede para que vigiemos nossas palavras, ações, pensamentos e até mesmo o modo como olhamos para a vida e para nosso próximo. Cristo nos orienta a vigiarmos aquilo que trazemos dentro de nós mesmos e que nos afasta dos caminhos de Deus. Ao usar a palavra “vigiai”, Ele não queria que vigiássemos a vida de outras pessoas, mas nossas próprias atitudes.

Vigilância, na sua expressão correta, como nos ensina Jesus com o “vigiai e orai”, não é fiscalizarmos as atitudes alheias, mas objetiva, acima de tudo, nos prevenir acerca de nossas próprias imperfeições e falhas. As nossas fraquezas nos prendem à retaguarda espiritual, induzindo-nos a ações menos edificantes que nos dificultam a marcha evolutiva. Como espíritas, conhecedores do Evangelho à luz da Terceira Revelação, grande é a nossa responsabilidade e, por isso, precisamos estar vigilantes com relação aos nossos próprios atos, palavras e pensamentos, para que externem sempre o que de melhor temos aprendido na doutrina que nos felicita o entendimento. Vigiar os pensamentos quer dizer mentalizar sempre o bem para todos os que nos cercam e para toda a humanidade, evitando assim colaborar para o acréscimo das ansiedades que envolvem tantas pessoas nos dias atuais.

Vigiar as palavras, não só evitando tudo o que possa desdobrar o mal, prejudicar o próximo ou exagerar os acontecimentos menos felizes, como também disseminando, sempre que possível, palavras de carinho, entendimento, ânimo, esperança e conforto. Vigiar ações, afim de que sejamos sempre instrumentos úteis nas mãos da espiritualidade maior, no auxílio aos necessitados. Vigiar será finalmente estarmos atentos para que não venhamos a ser escravos de ilusões e imperfeições, transformando-nos em verdadeiros espíritas que veem na existência terrena uma oportunidade gloriosa de aprender, amar, ajudar e servir sempre, em nome de Jesus, em favor de nossa própria felicidade espiritual. Entre idas e vindas, nos deparamos com situações muito inusitadas. Muitas vezes sorrateiramente fazemos algo, que achamos só nós estamos sabendo.

Esquecemos que ao nosso redor, existem inúmeros seres invisíveis aos nossos olhos que a tudo vê. Nunca devemos nos esquecer que a invisibilidade não significa ausência. Imperioso, portanto, saber lidar com estas situações, pois ao acharmos que estamos escondidos, na verdade, estamos sendo mais vistos do que nunca. Convém salientar que estes seres invisíveis que a tudo presenciam, raramente interferem em nós, por respeito ao nosso livre-arbítrio. Quanto mais achamos que estamos sós e isolados do contexto, mais nosso engano se torna maior. Deixando atuarmos como se nada está acontecendo, não significa que estão conivente, ou que deixam acontecer para sofrermos mais tarde. Importante na verdade é atentarmos para tudo que estamos fazendo, falando e praticando, afim de que mais tarde, não venhamos a ser cobrados por tais fatos.

A transparência é vital e fundamental, para que possamos conviver coletivamente com nossos semelhantes. Incitações e discórdias nos remetem a areias movediças do retrocesso, que arrebatarão a nós mesmos em primeiro lugar. Nestas horas é preciso estar atento e lembrar das orientações de Jesus, que nos sugere  vigiai e Orai. Somos constantemente influenciados em nossa vida de relação. Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, como ficou conhecido por sua missão junto aos povos pagãos, afirmou em carta ao povo hebreu: “temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas”. Mantermo-nos despertos, e em sintonia elevada, permite estarmos atentos e bem inspirados a toda oportunidade de fazer o Bem, a nosso semelhante e, por decorrência, a nós próprios. “Os espíritos ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato”.

É imprescindível vigiar sempre nossos pensamentos, nossas palavras e nossas ações, praticar a humildade, reconhecendo nossa pequenez diante do Universo e treinar a paciência, compreendendo e amando as coisas e as pessoas, olhar para todos com os olhos cheios de amor, a fim de que o bem cresça em nós, porque seremos, invariavelmente, traídos pelos defeitos que possuímos, que funcionam como antenas poderosas a captar as energias, numa perfeita sintonia de atração às energias semelhantes. Ao vigiar nossos pensamentos, estamos evitando desgastes pessoais e mágoas desnecessárias; ao vigiar nossas ações estamos nos resguardando de ações contrárias ao Evangelho e protegendo-nos de nós mesmos; ao vigiar nossas palavras, cuidamos para não apedrejar quem julgamos. Vigiemos, portanto, ações e palavras.

Vigiai e orai, aparente alvitre singelo, encerra conteúdo de cunho eminente. Por estarmos com frequência, a cada passo diário, sujeitos a disposições de ânimo para a prática de coisas diversas ou censuráveis (caindo em tentação), esse oportuno aviso do Mestre indica prudência, bom senso. No entanto, a interpretação evangélica para o termo vigiar também diz respeito à necessidade de tomarmos as devidas precauções, sustentando, assim, o indispensável equilíbrio e lucidez, para perceber além das aparências e, com isso, escolher o que verdadeiramente será o melhor para nós, nas várias situações de nosso cotidiano. Com isso, o “vigiai e orai” consiste em um alerta sempre oportuno a envolver a razão e a emoção de cada um de nós. A razão, porque é através de sua observação atenta e constante que nos conscientizamos de nossas negativas predisposições íntimas.

O alerta do Cristo há milênios ainda hoje ecoa de maneira atualíssima em nossa caminhada. Realmente, necessitamos vigiar e, então, depois, orar. Precisamos estar atentos a essas situações que nos desequilibram, e que nos levam, muitas vezes, a ter atitudes que irão nos comprometer em várias existências, por muitas encarnações. Existem dois tipos de  situações: a de ordem material e a de ordem espiritual. Com relação à material, devemos procurar identificar as nossas tendências no sentido de eliminarmos o que há em nós de instintos inferiores que acalentamos em nosso íntimo (orgulho, egoísmo, ira, mágoa, culpa, vingança, etc.). Pois devemos ter presente que somos espíritos em evolução, portadores de defeitos e virtudes que revelam a nossa essência. A vigilância faz-se necessária, pois o quotidiano apresenta-nos constantemente situações que nos sugestionam e condicionam.

Kardec ao desenvolver a explicação da oração dominical, no capítulo XXVIII do Evangelho Segundo o Espiritismo esclarece: “A causa do mal está em nós mesmos, e os maus espíritos apenas se aproveitam de nossas tendências viciosas, nas quais nos entretém, para nos tentarem. Cada imperfeição é uma porta aberta às suas influências, enquanto eles são impotentes e renunciam a qualquer tentativa contra os seres perfeitos. Tudo o que possamos fazer para afastá-los será inútil, se não lhes opusermos uma vontade inquebrantável na prática do bem, com absoluta renúncia ao mal. É, pois, contra nós mesmos que devemos dirigir os nossos esforços, e então os maus espíritos se afastarão naturalmente, porque o mal é o que os atrai, enquanto o bem os repele”. Como podemos verificar, as tendências inferiores que fazem parte do nosso patrimônio evolutivo manifestam-se naturalmente, daí a nossa necessidade da vigilância permanente das nossas tendências. Da mesma forma como nosso grupo de amigos encarnados é formado por afinidades, nossos companheiros espirituais também o são. Por isto, a importância do Vigiar. Se a influência dos espíritos sobre nós é tão grande como descrita em O Livro dos Espíritos, é melhor que estejamos cercados por aqueles capazes de nos dar bons conselhos e instruções. Por que devemos orar? Depois de feita a observação daquelas tendências inferiores em nós, que nos trazem sofrimentos, façamos a segunda prática. No momento em que percebemos a atuação dos “defeitos”, devemos orar para que seja retirado de nossa personalidade a imperfeição observada. A oração é um ato através do qual nos colocamos em sintonia permutando energias com as esferas superiores da vida, com entidades do bem, sublimando sentimentos.

Essa permuta de energias aproxima os benfeitores espirituais que nos aconselham e ajudam a superar as nossas fraquezas e, como sabemos, onde há espíritos do bem os espíritos maliciosos se afastam, não podendo atuar sobre nós, uma vez que não lhes estamos dando campo de sintonia para a sua influenciação. A coragem, a paciência e a resignação, também nos concederão os meios de nos livrarmos, por nós mesmos, das dificuldades, mediante ideias que nos serão sugeridas pelos bons Espíritos, de maneira que nos restará o mérito da ação. Deus assiste aos que ajudam a si mesmo segundo a máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”, e não aos que tudo esperam do socorro alheio, sem usar as próprias faculdades. Como verificamos, somos regidos por leis de sintonia; permutamos energias com os encarnados e desencarnados.

A cada momento da vida vamos nos deparar com situações que ensinam, que testam, que colocam à prova nossa constância de propósitos e a nossa fé. Nem sempre o que alguns formadores de opinião ou a mídia tentam ditar como atitudes, comportamentos ou programas da moda, se identificam com esses bons propósitos. Milhares de mentes pouco despertas e sintonizadas com padrões perturbados são, assim, influenciadas coletivamente, atrasando sua marcha evolutiva. Busquemos uma cultura de higiene mental, fazendo, assim, muito Bem a nós mesmos. Este o convite de Jesus nas passagens evangélicas acima destacadas. Jesus, orientando os Seus seguidores, conhecedor profundo da natureza de cada um, recomendava vigilância e oração como elementos indispensáveis na batalha entre o homem velho e o homem novo.

Recomendava fé, confiança na Providência divina, otimismo na caminhada, como postura essencial para aqueles que O seguiam, passes obrigatórios no pedágio da estrada de iluminação espiritual. Recomendava calma diante das circunstâncias; discernimento das situações vividas, uma vez que toda precipitação é danosa, e escurece as opções do caminho. Que Jesus nos auxilie a vigiar e a orar, para que possamos corrigir o nosso comportamento danoso, em virtude da nossa visão estreita, ao nosso semelhante, e para que possamos, cada vez mais, crescermos espiritualmente, cumprindo com nossos compromissos assumidos de forma voluntária.

Muita Paz!

A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio necessário para uma vida feliz.

Leia Kardec! Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!

O amanhã é sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!

domingo, 8 de janeiro de 2023

 


Algumas notas sobre a Salvação

Dentro do contexto religioso sempre houve acentuada preocupação sobre a tão desejada salvação. Há inúmeras citações na Bíblia sobre o tema, contudo, assim acredito, bem poucos sabem como de fato salvar-se ou mesmo por que salvar-se? O tema é de vivaz interesse entre os religiosos, obviamente, afinal, quem não almeja ser salvo para sentar-se à direita do Pai? A Soteriologia é o estudo da salvação humana. As religiões oferecem suas várias interpretações para a salvação humana, cada qual baseada em preceitos específicos. A Soteriologia é justamente o estudo que se faz sobre esses tipos de salvação, avaliando suas condições. O cristianismo, por possuir diversas ramificações, possui também diversas elaborações sobre a salvação do homem, embora o caminho básico seja a vida de Jesus Cristo. Mas, além disso, está em questão também como Deus seleciona os condenados e os redimidos, considerando seus pecados. A partir daí, em cada vertente do cristianismo aparece um novo acréscimo do caminho percorrido para salvação humana. No caso do Catolicismo, a Igreja Católica é o grande canal condutor da salvação. O homem deve se unir a ela em sua busca de santidade e na prática de seus sacramentos na expectativa da salvação. Já os protestantes também possuem suas ramificações religiosas, o que os divide em novas formas de encarar a salvação humana. Alguns acreditam no amor incondicional de Deus e, por isso, bastaria a fé em Jesus Cristo para salvação. Aqueles que escolhem crer e suportam essa posição até o fim alcançam a salvação almejada. Outros acreditam que Deus não permite salvação a todos. Além disso, seria condição inerente aos humanos serem pecadores em função do pecado de Adão e Eva no paraíso. Neste caso, o homem não tem poder nenhum sobre o processo de salvação, seria uma decisão unicamente de Deus. Há aqueles preconizando salvação pelo sangue de Jesus, contudo, se assim fosse, todos os cristãos já estariam salvos, em razão do sangue do Justo já ter sido derramado há bom tempo. O sacrifício do Mestre foi inigualável, contudo, apenas o sangue Dele não poderá nos conduzir à salvação. Se a salvação for certa e inquestionável, após a vida atual, religiosos e mesmo os materialistas serão salvos, mesmo se não o desejarem, portanto, perde-se tempo lidando com a matéria, seria uma questão de lógica: como todos se salvarão, por qual razão se preocupar precocemente com o assunto? Por outro lado, se a salvação é incerta, precisamos descobrir como a conquistaremos, considerando evidentemente nosso desejo em sermos salvos. E mais, se existe a possibilidade de não nos salvarmos, é possível imaginar alguns sendo salvos enquanto outros não, desta forma, haverá integrantes dentre as famílias separados definitivamente pela eternidade afora, proposta pouco alentadora. Além disso, se almejamos ser salvos, como faremos para alcançar a salvação o mais rápido possível? Como se nota, são muitas as interrogações. Estudando a Doutrina Espírita, compreendemos que Jesus não morreu por ninguém ou para salvar alguém do Inferno. Sua morte não significa a nossa salvação, e nem o perdão “adiantado” dos erros que cometemos. Jesus, o Espírito mais evoluído que já esteve na Terra, encarnou e viveu neste Mundo por amor a nós, para exemplificar o amor, o perdão, a caridade, a fé, sendo “o modelo e guia, o tipo de perfeição moral a que se pode aspirar na Terra”, definição essa contida na questão 625 de O Livro dos Espíritos. “Pelas obras é que se reconhece o cristão”, pois se apenas a fé salvasse o indivíduo, de que valeria a caridade, a reforma íntima, o trabalho no bem? Qualquer um que se arrependesse de seus erros antes de morrer seria salvo e iria para o Céu, mesmo se tivesse sido um ladrão ou assassino? E onde estaria, nesse caso, a justiça de Deus, que oferece tempo para alguns se arrependerem, enquanto que a outros arrebata do corpo físico sem a oportunidade de repensarem suas atitudes?  Quando tomamos consciência do cometimento de uma falta, o arrependimento é importante, porém, ele não necessita de um rótulo religioso, mas sim ser complementado pela expiação e pela reparação do erro cometido. Expiação são os sofrimentos físicos e morais consequentes do erro; e a reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal, apagando assim os traços da falta e suas consequências. A Doutrina Espírita elucida que a salvação de cada um, entendida como evolução espiritual, que é destino de todos os Espíritos criados por Deus, depende exclusivamente de si mesmo, e ocorre a partir da transformação moral, pois “fora da caridade não há salvação”. Assim, somente através da reforma íntima é possível salvar-se do comodismo, da indiferença, da omissão, da descrença, transformando a fé e a confiança em Deus em obras de amor e paz. Sendo o Céu um estado íntimo, construído pela consciência tranquila, e não um lugar de ociosidade e contemplação, o Céu de cada um só pode ser construído por ele mesmo, através de pensamentos, palavras e atitudes que revelem seu estado íntimo de constante aprimoramento espiritual, esforçando-se por tornar-se cada vez mais solidário, mais caridoso, mais parecido com Jesus. A interpretação espírita da salvação existe, e é voltada a orientar o Espírito a bem se conduzir na vida, do ponto de vista ético e moral, garantindo assim um futuro melhor nas muitas existências vindouras. Não obtendo sucesso nesta empreitada, o Espírito colherá os frutos amargos de suas escolhas, passando por sofrimentos e apreensões intermináveis, do seu ponto de vista, sendo estas, contudo, totalmente dispensáveis, pois só surgem pelo mal proceder. Entretanto, este conceito espírita não se baseia no entendimento do inferno ou do céu como aceitam algumas tradições religiosas, porquanto, segundo a ótica espírita, o inferno e o céu podem realmente existir, porém, dentro de cada um de nós, em função de como vivemos, não contemplando a existência de um local no Universo onde todos os não salvos seriam enviados, sem direito a de lá sair, e, por oposição, outra localidade no Universo onde todos os salvos permaneceriam, convivendo com Deus pela eternidade afora. A salvação espírita ocorre quando o Espírito observa os preceitos morais contidos nas leis divinas, assim agindo, não haverá temor no pós-morte, tampouco haverá vergonha, inquietação, nem ranger de dentes. Por outro lado, mesmo se o Espírito não seguir na totalidade os mandamentos morais, ele não será irremediavelmente condenado, sofrerá as temporárias consequências, voltará e prosseguirá a sua jornada até alcançar a perfeição. A propósito, na nossa faixa evolutiva, não há qualquer Espírito em condições de observar rigorosamente todos os preceitos morais de forma continuada, só Espíritos de elevadíssima evolução podem fazê-lo, como estamos muito distantes desta condição, todos nós ainda oscilaremos entre o cumprimento e o descumprimento dos deveres morais, uns mais, outros menos. Ainda dentro da visão espírita, como dito anteriormente, ninguém se perderá definitivamente, todos alcançarão uma relativa perfeição, contudo, este trilhar será diverso, uns chegando à meta primeiro, outros mais tarde, mesmo considerando dois Espíritos criados ao mesmo tempo, pois cada qual agirá por si mesmo, acertando e errando em momentos diversos de suas caminhadas. Estes sucessos e insucessos da jornada determinarão o tempo necessário para se conquistar o galardão definitivo de Espírito puro, contudo, é certo, mais cedo ou mais tarde, todos alcançarão esta meta. Conclui-se ser esta proposta eminentemente consoladora, possibilitando a qualquer Espírito terminar a sua jornada evolutiva com aproveitamento e, ao final, “sentarem-se” todos à direita do Pai. Desta forma, a salvação espírita é uma realidade, mas enquanto não alcançamos a condição de pureza, representa uma salvação provisória. Para um determinado período na longa existência, é necessário sempre agir no bem para sempre se “salvar”, a cada nova existência, não é uma salvação definitiva, esta só ocorrerá ao final da jornada. Enfatizamos uma vez mais, mesmo trilhando o caminho do mal, não há destinação perpétua de sofrimento, de fato, no próprio texto sagrado, a Bíblia, há pelo menos duas passagens opondo-se por completo à base de sustentação do conceito de inferno eterno, e foi o nosso Maior Mestre quem as formulou: 1. Eu te digo, não sairás de lá antes de pagares o último centavo. Esta passagem confirma sermos nós mesmos a quitar as nossas próprias dívidas, e também ser perfeita a justiça divina, permitindo ao devedor pagar integralmente o seu débito. Observa-se ainda nessa afirmação do Nazareno a certeza de que, ao quitarmos o último centavo, nós estaremos livres das obrigações a pagar, não nos restando mais nada a saldar, derrubando por completo a tese das penas eternas, e quanto mais rápido pagarmos, mais rápido sairemos da “prisão”, pode-se também inferir do texto; 2. Que vos parece? Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e nove nos montes e vai à procura da extraviada? Se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram. Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca. Ora, se nenhuma ovelha se desencaminhará para a perdição eterna, pode-se entender “extraviar-se” desta forma, não há também como imaginar um local ou região de sofrimentos perpétuos, abrigando todos os faltosos que não quitaram as suas respectivas dívidas. Ressalta também deste ensino não haver falta irremissível, ou seja, não existem pecados capitais. Esclarece ainda a Doutrina sobre a existência de um mecanismo sábio e justo viabilizando a caminhada para a salvação plena: a reencarnação. Segundo esta lei, viveremos em mundos materiais até não existir mais nenhum resgate, após estas muitas vidas encarnados, só reencarnaremos em missões significativas em prol do progresso da Humanidade. Esta lei dá plena sustentação na afirmação de Jesus: todas as ovelhas serão salvas, sem exceção. Por outro lado, a salvação espírita não nos conduzirá a um céu de contemplação, onde passaremos a eternidade escutando melodiosas harpas e saboreando frutas frescas ao lado do Criador; esta concepção é infantil e irreal, nos salvaremos para trabalhar mais junto a Deus, cumprindo as Suas deliberações que, nesta fase das nossas existências, serão perfeitamente entendidas, aceitas e desejadas. São muitos os que estão ligados à preguiça ou à acomodação, transferindo deveres que apenas eles podem cumprir. A religião é um dos alvos mais comuns desses transferidores de responsabilidades. Por desconhecerem o verdadeiro papel da religião, transformam-na em uma instituição paternalista, com o poder de intermediar junto ao Criador um tratamento diferenciado para os seus seguidores: isenção do compromisso de lutar para evoluir. Tal ilusão, tornada realidade, feriria frontalmente as afirmativas de Jesus contidas em João 5:17. Estas verdades, sem sombra de dúvida, descartam qualquer mérito para os que aderem à lei do menor esforço, inoperantes, à espera de desmerecidos privilégios, como se as leis divinas fossem espelhadas nas leis humanas. A religião tem muito a oferecer para a nossa formação espiritual, mas podemos compará-la muito bem a uma luz que se acende iluminando o caminho que devemos seguir; todavia, é necessário que nos submetamos ao esforço da caminhada. Ainda que muitos busquem na religião a fórmula mágica para a salvação, não podemos esquecer que a salvação nada mais é que a libertação da criatura com relação às forças deprimentes dos vícios que a aprisionam. De forma que, sem desconsiderar a importância da religião como coadjuvante desse processo de libertação, o êxito depende exclusivamente do firme propósito da vítima para se libertar. Ou seja, a religião influencia, porém a libertação (salvação, como é conhecida por algumas religiões), é determinada pelo esforço de quem deseja libertar-se. Todo processo de libertação do Espírito realiza-se de dentro para fora, sendo, então, um processo de autolibertação. O bom senso nos conduz a este raciocínio e tomamos como referencial as inolvidáveis lições contidas nos Evangelhos. Destaquemos as lições de vida que nos foram transmitidas por Judas e Pedro. Ambos beberam da água especial que Jesus prometera à samaritana: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”. Judas, escravizado à sede de poder e a resultados imediatos, entregou Jesus, e, atormentado pela culpa, aniquilou-se através do suicídio. Todavia, Pedro agiu de forma diferente; incitado pelo medo, negou ser discípulo do Mestre; reconhecendo, entretanto, o equívoco cometido, entre escravizar-se à culpa e reparar o erro, optou pela reparação, transformando-se em um dos baluartes do Cristianismo. Por que essa diferença de resultados? Será que Jesus salvou Pedro e desprezou Judas? De Jesus jamais poderíamos imaginar um tratamento diferenciado, que nos fizesse concluir que Ele amava Pedro mais que a Judas. No entanto, Jesus já havia oferecido lições importantes, para compreendermos este aparente paradoxo, a parábola do semeador: “E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera. Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a entende; e dá fruto, e produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta”. Judas representou muito bem a terra invadida pelos espinheiros e Pedro a boa terra, que produziu frutos. Sem que desconheçamos a excelente semente plantada por Jesus, como Judas não se dispôs à autolibertação, Jesus não usou do seu poder para violentar-lhe o processo natural de evolução. O Mestre já fizera referência ao conhecimento da verdade, como instrumento indispensável para a libertação. Porém, o conhecimento da verdade não acontece repentinamente, ou por imposição: é um processo que se vai completando através das sucessivas reencarnações. Sob a ação do tempo e o esforço de aprender, Judas não poderia ser diferente; conheceu a verdade e através dela libertou-se. Ante o exposto, por que nos iludirmos com o canto de sereia da salvação gratuita sem esforço e, consequentemente, sem mérito? Não podemos olvidar o perigo que representa a porta larga das facilidades. Fé improdutiva e salvação gratuita não constam nos ensinamentos do Mestre, que deixou claro que cada um receberia de acordo com as suas obras. Fuja da infantil ilusão da salvação pela graça. Conta o vulgo popular, que determinado indivíduo, avesso a qualquer ideia espiritualista, espera se esquivar da justiça divina com as mesmas artimanhas que tem usado para ludibriar a justiça terrena. Com este objetivo, para que Deus perdoe suas falcatruas, subornos e adultérios, imagina em se converter a uma das várias religiões tradicionais que aceitam e pregam a ideia da salvação pela graça. Imagina que, ao entrar na velhice, basta se arrepender, pedir perdão, encomendar algumas orações e pronto:se não for para o céu, pega no máximo um purgatoriozinho transitório. Afinal, Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados de todos nós, incluindo os bilhões de criaturas que viveram há dois mil anos e, de lá para cá, até os dias de hoje. Quer dizer, o justo paga pelo pecador, até por antecipação, e Deus ingenuamente aceita essa troca de papéis com toda a indiferença. Quanta simploriedade nessa crença! Até faz lembrar um outro costume vigente quando Jesus andava na Terra. Naquele tempo, Deus perdoaria os erros humanos através do sacrifício de animais pelos sacerdotes de Jerusalém. Se o pecado fosse grande, a oferenda tinha que ser um animal de grande porte, como um boi, para que Deus se desse por satisfeito. Entretanto, se o pecado fosse de porte médio, um desfalque nas finanças públicas, por exemplo, o sacrifício de um carneiro já resolveria a situação.E se fosse um roubozinho menor, aí o abate de uma pomba-rola era o suficiente para aplacar a suposta ira de Deus. Todo o questionamento era então proibido e considerado heresia, os homens estavam impedidos de raciocinar e de expressar a sua desconformidade. A fé era imposta pelo medo, sem maiores explicações, ou crê ou morre. Naturalmente, com o decorrer dos séculos, todos esses absurdos, dogmas e contradições foram enfraquecendo as religiões que antigamente exerciam poderosa influência sobre a sociedade. E agora, ao perderem terreno, elas se voltam contra o Espiritismo, o consolador prometido por Jesus, que no tempo previsto vem explicar tudo o que o Evangelho apresenta sob a forma de alegorias, já que a humanidade de então, rude e ingênua, não estava apta a compreender toda verdade. Aliás, foi o próprio Jesus quem assegurou: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Evangelho de João, 8:32). Libertará de quê? Do erro, da ignorância e das vidas sucessivas, pois, uma vez resgatadas as nossas faltas e aprendida a lição do perdão e do amor ao próximo, não teremos mais a necessidade de reencarnar no plano material. Alguém sem religião pode se salvar mais fácil do que o beato? A Igreja dizia que fora dela não havia salvação, o que era fruto do seu atraso evolutivo da época. Esse erro e outros, como o absurdo inferno imaginado por Dante Alighiere na sua “Divina Comédia”, eram aceitos pela Igreja até princípios do século XX. Mas alguns desses ensinos errados ainda são aceitos até hoje por parte de evangélicos e católicos de pouco esclarecimento sobre a verdade, os quais estão frontalmente contra os postulados cristãos verdadeiros, pois discriminam e, às vezes, até ofendem quem não comunga com suas ideias religiosas “vencidas”, o que é lamentável! O inferno bíblico figurado, como o é o purgatório da Igreja, é elogiado por Kardec por ser temporal. De fato não podemos pecar “eternamente” e, consequentemente, não podemos também pagar “eternamente”, o que seria injusto. Nós seremos medidos, mas na mesma medida com que tivermos medido (Mateus 7: 2). E Jesus diz que temos que pagar tudo até o último centavo (Mateus 5: 26), mas, pago o último centavo, estaremos quites com os nossos pecados, o que joga por terra, totalmente, as tais de “penas eternas”. A justiça divina é perfeita. E, assim, ninguém paga mais do que deve. E o pagamento ou carma de sofrimento não é castigo de Deus, mas disciplina, para que entendamos que, de acordo com essa lei inexorável de causa e efeito, nós colhemos o que semeamos (Paulo em Gálatas 6: 7). Se quisermos, pois, um destino feliz, pratiquemos, então, o bem e o amor incondicional evangélico, que nos recomenda a prática desse amor até para com os nossos inimigos (Mateus 5: 44). E é só assim que, um dia, poderemos conseguir passar pela difícil “porta estreita”, símbolo de nossa salvação ou libertação que nos foi dado pelo próprio Mestre dos Mestres que veio, exatamente, para nos ensinar a verdade que nos liberta, tirando-nos, pois, da nossa atual escravidão do mal. As pessoas que ainda vivem o cristianismo medieval, que, oficialmente, vai até princípios do século XX, não foram e não são cristãos verdadeiros, embora os seus adeptos pensassem e pensem ainda o contrário. E os erros do cristianismo do passado são justificados pela ignorância e o atraso evolutivo da humanidade da época. Mas hoje, não se justificam mais, pois as portas da verdade esclarecedora do evangelho estão aí escancaradas, e só não entra por elas quem não quiser! A crença numa religião exclusivista, ou seja, aquela que considera como verdadeira e salvadora somente a nossa e que as outras levam à condenação é completamente errada, pois o que nos salva mesmo é a prática do amor a Deus sobre tudo e ao nosso semelhante no mesmo grau em que nos amamos. E esse amor está presente em todas as religiões e é o que nos ensina com maestria o excelso Mestre: Conhecereis meus discípulos por se amarem uns aos outros (João 13: 34 e 35), e não, pois, por terem ou deixarem de ter uma determinada religião, o que lembra a conhecida frase de Kardec: “Fora da caridade não há salvação”.

Muita Paz!

A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o equilíbrio necessário para uma vida feliz.

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O amanhã é sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!