O Saber espírita
é uma Consolação
O tema desta
reflexão é por demais profundo e importante, pois nos remete a nada mais nada
menos do que ao grande Rabi da Galileia. “Venho ensinar e consolar os pobres
deserdados. Venho-lhes dizer que elevem sua resignação ao nível de suas provas;
que chorem, porque a dor estava presente no Jardim das Oliveiras, mas que
esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar suas lágrimas.” (O
Espírito de Verdade - O Evangelho segundo o Espiritismo). “Vinde a mim,
todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e
achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo”
(Mateus, cap. XI, vv. 28 a 30). “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E
eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco,
o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o
conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Mas
o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
(João, XIV: 15 a 17 e 26). Nessas palavras de Jesus, fica bem clara a ideia de
que o Mestre se dirigia a toda a humanidade e para todos os tempos,
demonstrando como conhecia o futuro e suas necessidades. Sabia que somente o
amor a ele, impulsionaria seus discípulos a prosseguirem na divulgação de seus
ensinos, através da palavra e do exemplo, por isso, diz "Se me amais,
guardai os meus mandamentos", na mente, no coração e nas ações. E eles o
fizeram, com tanto amor que seus ensinos não se perderam, chegando até nós,
sendo hoje percebidos com mais clareza, para permanecerem para sempre conosco.
O objetivo deste estudo é mostrar que a doutrina codificada por Allan Kardec
ajusta-se perfeitamente ao texto do evangelista João sobre o Consolador
Prometido. Para que possamos entender o alcance daquelas palavras, convém
refletirmos sobre os ensinamentos trazidos por Jesus e o que os homens fizeram
deles ao longo do tempo. Jesus, quando de sua passagem pela Terra, deixou-nos
um código de vida. Entretanto, devido ao nosso atraso moral e intelectual de
então, deixou a complementação dos seus ensinos para mais tarde. Quando nós
estamos passando por algum momento difícil em nossas vidas, e nos sentindo
tristes, vulneráveis, parecendo que o mundo vai desabar sobre nós, achando que
não há saída para a situação, porque não vislumbramos nenhuma luz no fim do
túnel, e, consequentemente, estamos precisando muito de um colo consolador. Ao
lermos esse convite de Jesus, sentimos no nosso íntimo um alento, um reconforto
muito grande. Isto acontece porque todo o Evangelho do Mestre é um cântico de
esperança sublime para os caminhos de lágrimas da nossa jornada terrestre, nos
amparando para as glórias do porvir. Quando o Cristo nos fez esse convite,
sabia que o sofrimento faz parte do grau de evolução que nós ainda nos
encontramos. Hoje, graças a Doutrina Espírita, nós sabemos que o sofrimento é
uma necessidade nossa. Através dele nós aprendemos, ganhamos experiência,
ressarcirmos dívidas do passado, porque ainda somos espíritos imperfeitos, e,
assim, pouco a pouco, nós vamos progredindo até alcançarmos a nossa meta, que é
a perfeição. Daí a importância de, nos momentos difíceis, nós estarmos unidos a
Deus, porque sofrer com Deus e sofrer sem Deus tem uma diferença muito grande.
Da mesma forma que também tem uma diferença enorme o sofrer e fazer sofrer. O
interessante é que nós confundimos muito essa confiança que devemos depositar
no Criador, que precisamos depositar na Providência Divina. Muitos acreditam
que seja uma troca. Confiamos no Pai, e em troca Ele se torna nosso servidor.
Nos livra de todos os problemas; realiza todos os nossos desejos. Mas não é bem
assim que a coisa funciona. Da mesma forma, nós temos confundido muito os
ensinamentos de Jesus, como nessa passagem que estamos expondo. O Mestre nos
promete alívio e não isenção do sofrimento, e esse alívio deve ser entendido
por coragem, força, para que nós possamos continuar lutando, continuar
aprendendo. Mas não é a todos os aflitos que o Cristo prometia o Seu alívio.
Ele prometia àqueles corações que sofrem bem, que sofrem compreendendo os
desígnios de Deus com resignação, com confiança. E nós sabemos perfeitamente
que não é dessa forma que nós nos posicionamos quando estamos atravessando um
momento difícil. Geralmente blasfemamos, ficamos irritados, derramamos lágrimas
sem proveito, aumentando ainda mais o sofrimento à nossa volta. Isso é fazer
sofrer, e essas reações não vão aliviar nem tampouco modificar o nosso
problema. A nossa irritação não soluciona problema algum, pelo contrário,
aumenta-o ainda mais. No capítulo VI do Evangelho Segundo o Espiritismo, O
Cristo Consolador, Kardec nos fala que são muitos os sofrimentos que nós
experimentamos aqui na Terra. São as dores físicas, misérias, decepções, perda
de seres amados, as amarguras, as ingratidões. Mas para todos esses sofrimentos
existe uma consolação, existe um alívio, um consolo, para que possamos
superá-los. E nós não podemos nos esquecer do nosso maior consolo que é Jesus.
E lembrar-nos do sofrimento que foi imposto a Ele, Espírito Puro, e que não
merecia, que veio ao nosso orbe para nos ensinar o caminho que nos levará até o
Pai. "O Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o
Espírito de Verdade preside a sua instituição, chama os homens à observância da
lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender o que o Cristo não disse
senão por parábolas. O Cristo disse: "Que ouçam os que têm ouvidos de
ouvir"; o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem
figuras e sem alegorias; ele ergue o véu deixado propositadamente sobre certos
mistérios, vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e
a todos aqueles que sofrem, dando uma causa justa e um fim útil a todas as dores".(Kardec,
1984). Vejamos agora a questão em que sentido o Espiritismo é consolador. O
Espiritismo consola, no momento em que esclarece e demonstra os fatos que os
próprios Espíritos nos fornecem. A dor torna-se remédio e a resignação um
sustentáculo da fé que se agiganta. A palavra consolador é um substantivo que
deriva do verbo consolar. Consolador, portanto, é aquele que consola, que
diminui a dor ou a aflição, que está junto de outro que sofre. É interessante
lembrar que o consolador não interfere diretamente, mas atua por meio de
palavras, procurando auxiliar o consolado a passar o momento difícil. O
Espiritismo realmente nos desperta a mente para a profundidade dos ensinos de
Jesus. É importante que nunca nos cansemos de estudá-lo. E mais ainda, que
estudemos tudo o que estiver ao nosso alcance para fortalecer a nossa convicção
espírita. O Espiritismo não pode ser contaminado pelo misticismo, nem pelo
fanatismo, o que é sempre mais fácil quando não estudamos. Estar sempre em dia
com os preceitos de Kardec para que recusemos informações que fujam da
codificação. Graças a eles é que entendemos Jesus. Que sentimos sua presença
ativa, constante e capaz de nos conduzir a uma vida mais feliz, longe da
tristeza do Cristianismo oficial e perto das esperanças e certezas do
Cristianismo de Jesus. Com o Espiritismo, Jesus desceu da cruz, matou a morte e
nos proporciona um destino de responsabilidade, e de liberdade também. Somos
artífices do nosso futuro. Não precisamos ser “santos” para segui-lo, mas
precisamos ter determinação e vontade de atuar no bem. Jesus apresentando-nos o
Espiritismo através do Espírito da Verdade, cortou-nos os grilhões com o
passado, permitindo-nos desvendar um horizonte cheio de luz e paz que já
podemos vislumbrar nas pequenas alegrias que conseguimos atingir através do
esforço no bem. O Espiritismo entra exatamente neste contexto já que possui
explicações lógicas, claras e concretas para as causas do sofrimento. Um outro
aspecto que não podemos perder de vista é o fato de que a dor humana cresce
mais à medida que não é explicada. Assim, a maioria das pessoas pergunta: por
que Deus me impôs tal sofrimento? A proporção que as pessoas não encontram uma
resposta a estas e outras questões a dor lhes parece mais forte e chegam mesmo
a desconfiar da bondade e da justiça de Deus, tornando-se amargas e revoltadas.
O Espiritismo entra exatamente neste contexto já que possui explicações
lógicas, claras e concretas para as causas do sofrimento. A leitura da Doutrina
dos Espíritos oferece à vida um novo sentido. A reencarnação reentroniza o
conceito do Deus justo e bom que não faz que soframos por causa do pecado
original ou pelos erros de nossos pais atuais. Ficamos sabendo que o sofrimento
não é um mal em si mesmo, muito pelo contrário, mas um incentivo que nos empurra
para frente em busca dos mundos maiores e que, se soubermos retirar do
sofrimento as lições que ele nos oferece, estaremos nos candidatando a um lugar
mais elevado na escala espiritual e nos adiantando em nossa jornada em busca
dos Mundos Ditosos. A Doutrina Espírita consola porque esclarece. Ela permite a
todos que travam contato com seu conteúdo uma vida mais tranquila, mais lúcida
e feliz, apesar das aflições comuns ao mundo físico de imperfeições. Ao saber
que a vida continua qualquer sofrimento diminui. Eis o consolo. A certeza do
futuro é a matriz do consolo espírita. Por isso, o lado mais belo do
Espiritismo é a consolação que prodigaliza aos aflitos, em todos os sentidos. O
conhecimento da reencarnação é esclarecedor. Nele, a justiça divina se revela
com toda a sua beleza, com todo o seu amor. Quando Allan Kardec trata do tema
“consolo”, ele o faz em caráter eminentemente filosófico. Vale diferenciar o
termo para o senso comum e para a filosofia. Para o senso comum, consolo é
fruto de uma atitude. Alguém consola alguém. O consolo é um paliativo
emocional. Conforme os dicionários, paliativo é algo que só tem eficácia
momentânea ou incompleta. Uma espécie de medicamento que não cura, mas mitiga o
sofrimento do doente. Ou, por fim, uma delonga que mantém uma expectativa. Para
o leigo, o consolo é enxugar lágrimas, chorar junto, dar um remedinho, dar
conselhos, ter compaixão. Podemos chamar esses atos bondosos de compaixão e, em
alguns casos, até mesmo de caridade. Filosoficamente, consolo implica conhecer
algo que lhe faça entender sofrimentos, aflições ou situações comumente
inexplicáveis. Aí percebemos uma diferença digna de nota: para o leigo o
consolo é algo puramente emocional. Uma atitude carinhosa de alguém para outra
pessoa. Para o filósofo o consolo é algo que o próprio indivíduo estabelece
para si a partir do conhecimento, da razão e do bom senso. Para a filosofia, e,
claro, para o Espiritismo, não são pessoas carinhosas que consolam outras
pessoas. O Consolador Prometido é a Doutrina Espírita, não os espíritas. Por
mais que alguém seja carinhoso, bondoso, atencioso (e espírita) isso não o
torna um “consolador”. Para o senso comum pode até ser. Segundo o Espiritismo,
não. Precisamos cuidar-nos, para que também nós não apenas enxerguemos a
justiça e sua necessidade, mas, sim, todo o amor divino que age sobre tudo e
sobre todos. Em tudo viceja o amor. Nas maiores dores vejamos a expressão do
amor, das oportunidades de escolha, e das chances de reparação do passado
doloroso. A reencarnação é a grande chave. Com ela abre-se o portal do
entendimento e o raciocínio se aclara, a fé surge e o conhecimento liberta. A
oração também é um bálsamo consolador. Quantas vezes estamos tristes,
desanimados, e nos entregamos à prece com fervor, com sinceridade, e quando
terminamos, sentimos que as nossas forças estão renovadas. Ainda no capítulo
VI, são citadas duas consolações. Uma é a fé no futuro, e a outra é a Justiça
Divina. Mas por que são fontes de consolação? A fé no futuro é certeza da
continuidade da vida, porque somos espíritos eternos. Quando Jesus proferiu o
Sermão do Monte, Ele nos proporcionou essa certeza o tempo todo. Nas
Bem-aventuranças, o verbo foi colocado sempre no tempo futuro. Bem-aventurados
os que choram, pois que serão consolados; Bem-aventurados os
famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. O
Cristo nos transmitia a certeza de uma vida melhor. A respeito da Justiça
Divina, o Mestre também foi muito claro quando a sintetizou numa única
sentença: A cada um será dado conforme as suas obras. Vale a pena analisar como
estamos nós. Conhecimento espírita é consolação. Pois que estejamos consolados,
aumentemos nossa fé. O Espiritismo apresenta uma nova concepção da divindade
que, perdendo o caráter antropomorfizado das religiões primitivas, torna-se A
Inteligência Universal, Causa Primeira de todas as coisas sem, entretanto,
perder os seus atributos de amor e de Justiça. Frente a esta imagem de Deus não
pode haver revolta, mas compreensão de que existe uma ordem universal e que
esta ordem dá sentido não só à vida na Terra, mas em todo o cosmos. Em resumo,
o Espiritismo é, sem dúvida alguma, O Consolador prometido por João e em seus
textos e contextos atualiza a mensagem de Jesus, mensagem a que Jesus apenas
aludiu em sua época, por causa da impossibilidade de compreendê-lo àquele
tempo. Não é a toa que o espírito que liderou a equipe da terceira revelação,
tenha se apresentado a Kardec como Espírito Verdade. Coloquemos nossa casa
assentada sobre a rocha e sigamos em paz, nossa jornada terrena. Consolemo-nos
e consolemos aos demais, por nossa vez, pois a bondade de Deus está sempre
colocando ao nosso lado, para exemplificar, aqueles que estão em situação pior
que a nossa e que estão sorrindo e amando a vida.
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o
equilíbrio necessário para uma vida feliz.
Leia Kardec!
Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é
sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!
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