Sal da terra e
luz do mundo
Na sequência do
Sermão do Monte, Jesus asseverou: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for
insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar
fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder
uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se colocar
debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:13-16). Naquela manhã,
em que o povo se reunira para ouvir o Divino Mestre, os raios solares, surgindo
no horizonte, iam inundando as bandas orientais com o resplendor de sua luz. A
superfície tranquila do lago próximo refletia o rosicler (que tem a cor da rosa
e da açucena) das nuvens matutinas; pássaros trinavam docemente, esvoaçando
entre as árvores; folhas e flores, abrindo-se, viçosas, pareciam sorrir à
bênção de um novo dia. Jesus fitou o Sol nascente, pousou depois o olhar sobre
os discípulos que tinha perto de si e disse-lhes: "Vós sois o sal da
terra. Vós sois a luz do mundo". O seu pensamento íntimo, nesse instante,
devia ser: "Assim como o Sol, dissipando as trevas noturnas, desperta o
mundo para a vida e sazona os produtos da terra, cada um de vós tem por missão
difundir a Boa-Nova que venho anunciar aos que se acham obscurecidos pela
ignorância e pelo erro, de modo a preparar-lhes os corações para que deem
frutos de mansidão e de fraternidade." Como as cidades e aldeias
edificadas nos montes ao redor começavam a surgir na claridade da manhã, o
Mestre, apontando-as, observou: "Não se pode esconder uma cidade situada
sobre um monte." E aduziu: "Nem se acende uma candeia para colocá-la
debaixo do alqueire, mas sobre o velador, a fim de que ela dê luz a todos os
que estão na casa. Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens; que eles vejam
as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus".
Magnífica lição, não é mesmo? Como sabemos, o sal tem a função de preservar e
dar sabor ao alimento; a luz, por sua vez, tem a função de iluminar as trevas.
É interessante notar que Jesus não coloca o cristão como sendo o sal da terra e
a luz do mundo de forma condicional. Ele não diz: “vocês serão sal da terra e
luz do mundo”; ou “vocês devem ser sal da terra e luz do mundo”; mas Ele diz
“vós sois o sal da terra e luz do mundo”. Este pronunciamento do Mestre
constitui uma das afirmações evangélicas mais claras de que a missão dos
seguidores de Jesus no mundo faz parte de sua própria identidade. Duas pequenas
imagens ou afirmações para duas grandes atitudes. Vejamos melhor neste estudo
as implicações de ser sal da terra e luz do mundo. O sal possui muitas
características. É muito usado no mundo gastronômico porque muda o sabor dos
alimentos e também porque conserva alimentos. Para o ser humano o sal é
essencial porque tem várias funções no corpo humano e uma delas é regular a
quantidade de água em seu corpo. Jesus usa essa metáfora (substituição de um
termo por outro através do uso da analogia) porque seu intuito é nos ensinar
algo muito importante. Mas certamente ao dizer “vós sois o sal da terra” Jesus
explora suas duas principais características: ter sabor e ser antisséptico. Uma
das funções mais importantes do sal nos dias de Jesus era justamente o poder de
preservar os alimentos. O sal era a melhor solução para impedir a deterioração
dos alimentos. Além disso, ele também servia como tempero. Mas qual é realmente
o objetivo de Jesus ao dizer que seus seguidores são o sal da terra? Assim como
o sal que possui a função de preservação, os cristãos verdadeiros devem estar
constantemente combatendo a corrupção moral e espiritual da sociedade. De certa
maneira o sal age secretamente, no sentido de que não podemos ver como sua ação
preservativa age especificamente. Na maioria das vezes também não podemos
distinguir pelo olhar um alimento que foi temperado com sal. Mas facilmente
podemos senti-lo. As imagens do sal e da luz servem também de apoio para justificar
duas formas diferentes de presença e de ação no mundo. A referência ao sal
remete a uma ação invisível, pois concebe a presença dos cristãos no mundo sob
a forma da encarnação, a presença silenciosa na realidade, a inserção na
sociedade, deixando atuar, pelo testemunho de cada um, a força do evangelho
que, como a semente, uma vez semeada, germina no campo, de dia e de noite, sem
que o semeador perceba. Mas Jesus também deixa claro que se o sal se tornar
insípido, ou seja, sem sabor, para nada servirá. Não temos muita familiaridade
com essa observação, pois estamos acostumados a comprar o sal já selecionado. Mas
nos dias de Jesus isso acontecia muito. O sal era retirado principalmente da
região do Mar Morto. Porém havia alguns pântanos e lagoas naquela região que,
pelo contato com o cálcio e outras substâncias, o sal retirado desses locais
adquiria um sabor alcalino, tornando-o inútil. Sim, o sal insípido jamais
poderia ser restaurado. Naquela época havia muitos fariseus que se orgulhavam
de sua religiosidade e legalismo. Mas nada disso tinha qualquer coisa a ver com
a verdadeira essência das Escrituras anunciadas pelos antigos profetas. Esses
religiosos tinham se misturado, perdido o sabor e não serviam para mais nada, a
não ser para serem lançados fora. O específico da luz é brilhar, realçar uma
forma de presença visível, através das ações comunicativas, como meios para
fazer chegar o evangelho ao mundo no qual o cristão é chamado a ser presença diferenciada.
Vivemos imersos num oceano de luz. Ela sempre está aí, disponível; basta
abrir-nos a ela com a disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que
ela inspira. O ser humano é luz quando expande seu verdadeiro ser, ou seja,
quando transcende e vai mais além, desbloqueando as ricas possibilidades de
humanidade. A luz, por si mesma, é expansiva. Há aqueles que, ao invés de serem
presenças iluminadoras, estão mais preocupados em subir e ocupar a posição do
candeeiro, para aparecer, para se colocar acima dos outros, serem vistos e
elogiados pelas pessoas. Quem aspira estar no candeeiro revela não ter luz para
iluminar os outros. O candeeiro é para que a luz de suas vidas se expanda e ilumine
melhor; o candeeiro não é para que estejam mais altos, mas é para que a luz de
suas vidas chegue a lugares mais distantes. Os seguidores do Cristo, por serem
"a luz do mundo", devem constituir-se em veículo da revelação divina
a todos os povos e nações. Cada discípulo do Mestre, individualmente, deve ser
um facho de luz a iluminar os homens no caminho para o alto, sendo necessário
que, por seu intermédio, resplandeça a bondade e a misericórdia do Pai, pois é
desígnio da Providência que a Humanidade receba as Suas bênçãos através de
instrumentos humanos. A vida de Jesus aparece como “SAL” e como “LUZ” pelo que
Ele era e vivia. Sua mensagem era sumamente simples, centrada no compromisso
com todos, e com uma presença compassiva o Mestre despertou um movimento
humanizador, carregado de sabor e iluminação, afetando a todos que se
aproximavam d’Ele. Por isso, a missão que o Cristo confiou aos seus seguidores
deve estender-se a todas as criaturas, de qualquer longitude ou latitude da
Terra. Contrariando os preconceitos da época, quando os israelitas
orgulhavam-se de ser "a porção escolhida por Deus dentre os povos" e
consideravam os demais como "estrangeiros" imundos e desprezíveis,
Jesus ensina que todos pertencemos a uma só família humana e não traça qualquer
limite à nossa "casa". Suas palavras: "vós sois a luz do
mundo" — "brilhe a vossa luz diante dos homens", de sentido
nitidamente universalista, nada têm de comum com o amor-próprio, o preconceito
de nacionalidade e o separatismo intransigente, pregado pelos rabinos judeus;
eliminam todo e qualquer prejuízo de raça, de casta, ou de quejandos, pois para
Deus não há escolhidos e enjeitados, há apenas almas a serem aquecidas pelo
Amor e iluminadas pelo conhecimento da Verdade. Os raios do Sol alcançam todos
os recantos do globo, tanto no hemisfério oriental como no ocidental; a luz do
Evangelho, igualmente, deve penetrar todas as almas sobre a Terra, a fim de que
participem, sem exclusão de uma só, da glória do Senhor. Mas não basta ensinar
aos homens as excelências da doutrina cristã. É preciso, diz o Cristo, que
"eles vejam as vossas boas obras", tornando patente que cada
discípulo deve contribuir com o seu contingente pessoal de amor aos
semelhantes, para que desta forma sejam levados a "glorificar o Pai
Celestial". Se cada cristão, nestes vinte séculos de Cristianismo, houvesse
atendido à determinação do Mestre, cumprindo fielmente a sua missão, bem outra
seria hoje a situação mundial. Pitágoras,
no século seis antes de Cristo, já dizia: Eduquem as crianças e não será
preciso castigar os homens. Daí a importância da educação espírita, que age no
sentido horizontal, proporcionando o ensinamento moral, que prepara o Espírito
para a vida em família e em sociedade; e no sentido vertical, proporcionando o
ensinamento evangélico, que prepara o Espírito para educar-se devidamente, na
sua marcha em direção a Deus. Bem educado, o Espírito se conduz pelos caminhos
que o tornarão um homem de bem, cujo modelo está explicitado no capítulo XVII
(Sede Perfeitos) de O Evangelho Segundo o Espiritismo: o homem que cumpre a lei
de amor, de justiça e de caridade, na sua maior pureza. Por isso, Jesus disse
que nós somos o sal da terra e a luz do mundo. Concluindo: O sal está ligado à
condimentação e à conservação dos alimentos. Ele enriquece a comida e, ainda,
evita a deterioração. Dessa maneira, segundo uma ética cristã, nós temos a
incumbência de temperar a vida, dar-lhe sabor, neutralizar a insipidez dos
acontecimentos, tantas vezes eivados de desgostos e de todos os tipos de
corrupção, que apodrecem o Espírito e descortinam a senda de uma existência
insossa, inclinada a doenças e tormentos. Todo mundo pode ser feliz se levar em
consideração a sua essência salina, apta a transformar o azedume em ânimo, a
mágoa em perdão, a maledicência em silenciosa compreensão. Viver para o bem
exige disciplina contínua, haja vista as ilusões mundanas; contudo, a ação
cotidiana no bem produz resultados tão positivos e prazerosos, que o esforço mínimo
é de imediato recompensado. Nada supera a esperança do aprendiz disciplinado,
que leva o tempero da indulgência às situações contaminadas pelo desamor e a
ignorância. De outro lado, o sal se tomado em estado puro, não cumprirá sua
finalidade de garantir o sabor; porém, quando usado discretamente como adição,
como adequação, assegura agradabilidade a tudo. Dessa maneira, é a consciência
ética, crivada na lei do amor e da caridade, que transforma as situações
mundanas negativas, principalmente as embaraçosas, preservando-as da
putrefação. Sejamos, então, Espíritos compromissados com a Verdade do Cristo, a
única que saciará a nossa fome de evolução. Como o sal, que é o condimento por
excelência, usado na arte culinária para temperar os alimentos, o nosso papel
na sociedade, como discípulos de Jesus, é atuar como elemento equilibrador,
temperando todos os excessos. Também como o sal, que é incorruptível, nada o
contamina nem o deteriora; não permanece inativo e age sempre; não se oculta, é
uma revelação permanente; jamais assimila impurezas, mas transmite seu poder
purificador; sai ileso de todas as provas; não se macula, ainda que imerso na imundície;
se misturado a outra substância, o seu gosto é o que sobressai. O discípulo de
Jesus deve entrar em todos os lugares, agir sempre e continuar puro. Assim
também deve ser a nossa maneira de proceder. O verdadeiro cristão não deve
corromper-se por nada. Em todas as suas ações devem sobressair a honestidade, a
lisura, a sinceridade, a firmeza de bons propósitos. Somos a luz do mundo,
porque temos uma luz dentro de nós: a luz dos conhecimentos espíritas, que
devemos levar aos nossos semelhantes e não guardá-la somente para nós.Uma
atitude simples é seguirmos o conselho de Irmã Rosália (Espírito), na
comunicação registrada no item 9 do capítulo XIII – Que a mão esquerda não
saiba o que faz a direita – de O Evangelho segundo o Espiritismo, sobre a
caridade moral, que consiste em suportarmo-nos uns aos outros, que é o que
menos se faz neste mundo inferior, onde estamos momentaneamente encarnados.
Esse é o maior desafio que temos, no nosso dia a dia. Suportarem-se uns aos
outros é, para alguns, um exercício difícil, pois as pessoas são diferentes
umas das outras, uma vez que cada uma delas é um Espírito com
vivências diferentes. Quando nos convoca a ser sal e luz da terra e do mundo,
Jesus nos propõe abraçar a missão a que o Pai nos destinou e nos enviou. A
terra tem o significado do lugar onde habitamos e o ambiente em que vivenciamos
os nossos relacionamentos em família, com os amigos e pessoas com as quais nos
deparamos. O mundo é o “ar que respiramos”, isto é, a mentalidade que nos é
imposta e, na qual nós nos deixamos envolver. Ser sal da terra é, portanto,
saber temperar a nossa vida e das pessoas com o jeito de ser cristão, levando esperança,
ânimo, alegria, amor, etc. Ser luz do mundo é clarear a mentalidade deturpada e
enganadora que reina na cabeça das pessoas desavisadas do Evangelho. É tirar da
ignorância, aqueles que não se conhecem, por isso não enxergam as suas próprias
dificuldades. Não conhecem a Deus, não amam e não perdoam porque nunca se
sentiram amadas e nunca foram perdoados. É abrir caminhos, é dar alternativas
para uma vida feliz.
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o
equilíbrio necessário para uma vida feliz.
Leia Kardec!
Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é
sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!
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