O Peru Pregador
Durante o tempo
que aqueles discípulos estiveram com Jesus, até o presente momento, eles haviam
demonstrado que O respeitavam, que O amavam, que tinham criado afeto por Ele e,
agora que tinham chegado a conclusão de quem Ele era, o Messias, tinham maior
desejo de continuar a segui-lO. Mas depois da reação reprovável dos discípulos
encabeçada por Pedro, diante da informação do Mestre sobre a necessidade dos
Seus sofrimentos, como Messias, Ele passou a ensinar-lhes a respeito do custo
de uma decisão como esta que eles desejavam tomar. O ensino dirigido tanto aos
discípulos quanto aos outros ouvintes que ali se encontravam (Mateus, 16:24 a
28), mas também é extensivo a todos quantos tomam ciência destas palavras em
todos os tempos. Para ilustrar esta estorinha, fomos buscar no livro Alvorada
Cristã, pelo Espírito Neio Lúcio, o conto “O Peru Pregador”. Nos conta assim o
autor: Um belo peru, após conviver largo tempo na intimidade duma família que
dispunha de vastos conhecimentos evangélicos, aprendeu a transmitir os
ensinamentos de Jesus, esperando-lhe também as divinas promessas. Tão versado
ficou nas letras sagradas que passou a propagá-las entre as outras aves. De
quando em quando, era visto a falar em sua estranha linguagem
“gla-gle-gli-glo-glu”. Não era, naturalmente, compreendido pelos homens. Mas os
outros perus, as galinhas, os gansos e os marrecos, bem como os patos,
entendiam-no perfeitamente. Começava o comentário das lições do Evangelho e o
terreiro enchia-se logo. Até os pintainhos se aquietavam sob as asas maternas,
a fim de ouvi-lo. O peru, muito confiante, assegurava que Jesus Cristo era o
salvador do mundo, que viera alumiar o caminho de todos e que, por base de sua
doutrina, colocara o amor das criaturas umas para com as outras, garantindo a
fórmula de verdadeira felicidade na Terra. Dizia que todos os seres, para
viverem tranquilos e contentes, deveriam perdoar aos inimigos, desculpar os
transviados e socorrê-los. As aves passaram a venerar o Evangelho; todavia,
chegando o Natal do Mestre Divino, eis que alguns homens vieram aos lagos,
galinheiros, currais e, depois de se referirem excessivamente ao amor que
dedicavam a Jesus, laçaram frangos, patinhos e perus, matando-os, ali mesmo,
ante o assombro geral. Houve muitos gritos e lamentações, mas os perseguidores,
alegando a festa do Cristo distribuíram pancadas e golpes à vontade. Até mesmo
a esposa do peru pregador foi também morta. Quando o silêncio se fez no
terreiro, ao cair da noite, havia em toda parte enorme tristeza e irremediável
angústia de coração. As aves aflitas rodearam o doutrinador e crivaram-no de
perguntas dolorosas. Como louvar um senhor que aceitava tantas manifestações de
sangue na festa de seu natalício? Como explicar tanta maldade por parte dos
homens que se declaravam cristãos e operavam tanta matança? Não cantavam eles
hinos de homenagem ao Cristo? Não se afirmavam discípulos dEle? Precisavam,
então, de tanta morte e tanta lágrima para reverenciarem o Senhor? O pastor
alado, muito contrafeito, prometeu responder no dia seguinte. Achava-se
igualmente cansado e oprimido. Na manhã imediata, ante o sol rutilante do
Natal, esclareceu aos companheiros que a ordem de matar não vinha de Jesus, que
preferira a morte no madeiro a ter de justiçar; que deviam todos eles
continuar, por isso mesmo, amando o Senhor e servindo-o, acrescentando que lhes
cabia perdoar setenta vezes sete. Explicou, por fim, que os homens degoladores
estavam anunciados no versículo quinze do capítulo sete, do Apóstolo Mateus,
que esclarece: - “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que veem até vós
vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores”. Em seguida, o
peru recitou o capítulo cinco do mesmo evangelista, comentando as
bem-aventuranças prometidas pelo Divino Amigo aos que choram e padecem no
mundo. “Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos
aproximaram-se dele, e ele começou a
ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois serão
consolados. Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por
herança. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão
satisfeitos. Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. Bem-aventurados os
pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os
perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os
perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e
regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma
perseguiram os profetas que viveram antes de vocês. Vocês são o sal da terra.
Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada,
exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo.
Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém
acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no
lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos
homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que
está nos céus. Verificou-se, então, imenso reconforto na comunidade atormentada
e aflita, porque as aves se recordaram de que o próprio Senhor, para alcançar a
Ressurreição Gloriosa, aceitara a morte de sacrifício igual à delas.
REFLEXÃO:
Então disse
Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si
mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; porque aquele que quiser salvar a
sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois
que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que
dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória
de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras. O
que significa a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me? Essa fala de
Jesus aconteceu logo após um problema Dele com o apóstolo Pedro, quando Jesus
começou a mostrar mais claramente aos discípulos que sofreria, morreria e
ressuscitaria. Mas Pedro reprova essas falas de Cristo, tentando convencer
Jesus de que não precisaria acontecer assim. Jesus, então, repreende a Pedro de
forma severa, mostrando que Pedro tinha deixado o diabo usá-lo para tentar
desviá-lo de Sua missão. E é justamente depois disso que Jesus diz: Se alguém
quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Passemos
agora a uma explicação detalhada do objetivo de Jesus ao dizer “Se alguém quer
vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”: Vamos começar
com o que Jesus não quis dizer. Muitas pessoas interpretam a cruz como um fardo
que devem carregar em suas vidas; um relacionamento tenso, um trabalho ingrato,
uma doença física. Com um orgulho piedoso, dizem: essa é a minha cruz que tenho
que carregar. Tal interpretação não é a que o Mestre nazareno quis dizer quando
proferiu: Tome a sua cruz e siga-me. Quando o Cristo carregou a sua cruz até o
gólgota para ser crucificado, ninguém estava pensando na cruz como símbolo de
um fardo a carregar. Para uma pessoa no primeiro século, a cruz significava uma
única coisa: a morte pelo meio mais doloroso e humilhante que os seres humanos
poderiam desenvolver. Portanto, "tome a sua cruz e siga-me" significa
estar disposto a morrer para seguir Jesus. Isso é chamado de "morrer para
si mesmo". É um apelo à rendição absoluta. Se você se pergunta se está
pronto para tomar a sua cruz, considere estas questões:
a) Se alguém
quer vir após mim: Jesus está claramente identificando aqueles que de alguma
forma simpatizam com Sua mensagem, pessoas que O seguiam por algum motivo.
Parece-me que Jesus está deixando claro que segui-Lo não é meramente uma
decisão simples e sem consequências, antes, é uma decisão que precisa ser
tomada de forma racional e com fé. Jesus prepara seus ouvintes para escutar a
sequência das exigências de para os que desejavam segui-Lo.
b) A si mesmo se
negue: Aqui Jesus tem como foco que aquele que deseja segui-lo precisa estar
alinhado com Sua vontade. E a vontade de Deus se choca muitas vezes com nossa
própria vontade. Os que seguirem a Cristo precisam ter a capacidade de
considerar a vontade de Deus superior à sua própria e terem atitudes claras
escolhendo a vontade de Deus e negando a sua própria quando for necessário.
Como exemplo, cito o ensino de que devemos amar os inimigos. A vontade natural
da carne é de ódio pelos inimigos. Mas o padrão de Jesus é de amá-los. Aqui preciso
negar a mim mesmo em apoio à vontade do Pai. Cristo mostrou como isso é feito
quando orou pelo perdão dos que O crucificavam. Negar a si mesmo, então, é um
conjunto de ações diárias que vamos tomando à medida que esses conflitos de
vontades aparecem em nossa vida.
c) Tome a sua
cruz: Seguir a Cristo é tomar sobre si alguns sofrimentos que não teríamos se
não o tivéssemos seguido. A cruz era um objeto muito famoso entre os judeus.
Centenas de crucificações aconteciam, realizadas pelos romanos. E muitas,
claro, de forma injusta. A cruz impunha o sofrimento, a dor e a morte. Jesus
está deixando claro aos Seus ouvintes que segui-Lo requer uma abnegação tão
forte, capaz até mesmo de enfrentar as mais duras perseguições, dores,
dificuldades e coisas parecidas por amor a Ele. De forma prática, tomar a sua
cruz é viver no dia a dia fazendo as escolhas certas (que agradam a Deus) sem
se importar com as consequências negativas (muitas vezes muito difíceis e
dolorosas) que podem vir sobre nós, devido à resistência dos inimigos.
d) E siga-me:
Toda essa abnegação trazia em si uma grandiosa bênção: estar na presença de
Jesus, seguindo-O. Estar em Sua presença, compartilhando de Sua companhia, de
Seu cuidado, de Seu ensino, de Sua ação poderosa. Assim, todas as difíceis
escolhas de negar a si mesmo e de tomar a cruz trazem alegria ao invés do medo
paralisante. Foi exatamente isso que Pedro disse a Jesus em certo momento:
“Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros
retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras da vida eterna”. Quando Jesus começou a ensinar que Ele iria morrer
nas mãos dos líderes judeus e dos seus senhores gentios (Lucas 9:22), a Sua
popularidade afundou. Muitos dos seguidores chocados o rejeitaram.
Verdadeiramente, eles não foram capazes de matar suas próprias ideias, planos e
desejos, e trocá-los pelos do Mestre Galileu. Seguir Jesus é fácil quando a
vida corre sem problemas. O nosso verdadeiro compromisso com Ele é revelado
durante as provações. Jesus assegurou-nos que as provações viriam a Seus
seguidores. O discipulado exige sacrifício, e Jesus nunca escondeu esse custo.
Em Lucas 9:57-62, três pessoas pareciam dispostas a seguir Jesus. Quando Jesus
questionou-os ainda mais, seu compromisso era, na melhor das hipóteses, apenas
meio amado. Eles não conseguiram contar o custo de segui-lo. Nenhum estava
disposto a tomar a sua cruz e crucificar nela os seus próprios interesses.
Portanto, Jesus parecia dissuadi-los. Quão diferente da apresentação típica do
evangelho! Quantas pessoas responderiam a um chamado mais ou menos assim:
"Venha seguir Jesus, e você pode enfrentar a perda de amigos, família,
reputação, carreira e, possivelmente, até sua vida"? Em alguns lugares do
mundo, essas consequências são realidade. Entretanto, observe que as perguntas
são formuladas com "Você está disposto?". Seguir Jesus não significa
necessariamente que tudo isso acontecerá, mas você está disposto a tomar a sua
cruz? Se chegar um ponto em sua vida onde você enfrenta uma escolha - Jesus ou
o conforto desta vida - o que você escolherá? O número de falsos convertidos
provavelmente diminuiria. Esse chamado é o que Jesus quis dizer quando disse:
"Tome sua cruz e siga-me". O compromisso com Cristo significa assumir
a sua cruz diariamente, abrindo mão de suas esperanças, sonhos, posses, até
mesmo da sua própria vida, se necessário para a causa de Cristo. Somente se
você voluntariamente aceitar a sua cruz é que pode então ser chamado de Seu
discípulo. A recompensa vale o preço.
Muita Paz!
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