O Sermão da
montanha comentado – Episódio 02
E é nesse
cenário, marcado por esses três grupos, que surge uma figura estranha,
diferente daquela que se estava acostumado a ver entre os pregadores de Israel.
Aparece no meio do povo um jovem vindo da região da Galileia, uma região que
nunca dera a Israel nenhum profeta, alguém que não era rabino, não era doutor
da lei, não tinha nenhuma tradição. Esse jovem, que apareceu nas cercanias de
Jerusalém, logo chamou a atenção pela pregação que fazia. Ele apareceu na cidade
e a breve tempo começou a agregar pessoas em torno de si, pela coragem que
tinha de apresentar as suas teses, os seus pensamentos, em confronto com aquilo
que a lei antiga preconizava. A forma de se apresentar era diferente da dos
rabinos, porque estes usavam roupas impecáveis, muito limpas, uma vestimenta
muito própria para que fossem reconhecidos nas ruas quando passassem. O homem
do qual estamos falando não usava nenhuma veste especial, misturava-se com o
povo. E, assim, no início de sua pregação, que segundo se crê durou
aproximadamente três anos, esse Jesus de Nazaré reuniu uma multidão e subiu ao
alto de um monte, propiciando que as criaturas ficassem no sopé, e pudessem
ouvir a sua mensagem. Conta o evangelista Mateus que não havia apenas uma
multidão, mas, sim, as multidões. Ora, se eram multidões, isso significa dizer
que havia mais de um grupo a ouvir o Nazareno. E é razoável que assim tenha
sido, porque a espera de um Messias, o desejo que aparecesse essa figura
singular, que iria transformar a história, era tão esperada que justificava a
presença daquelas criaturas para ouvir a pregação daquele que estava no início
de seu trabalho público. É possível, então, nós imaginarmos o Mestre no alto do
monte, sentado, cercado por um conjunto de pessoas ávidas para ouvi-lo, por
interesses distintos, certamente envolvidos na atmosfera da curiosidade, por
conta daquilo que ele poderia trazer, já que apresentava teses religiosas, e os
sacerdotes não se furtaram de ali estar para medir as suas palavras, para julgar
os seus ensinamentos, para encontrar formas de condená-lo, diante da lei de
Moisés. Para apreciar se aquele jovem Galileu, que não tinha nenhuma vinculação
com a escola tradicional de rabinos, iria apresentar algum pensamento que
ferisse a lei mosaica. Era, portanto, imprescindível vigiá-lo, acompanha-lo de
perto, observar aquilo que ele apresentava, para verificar até que ponto ele
era uma figura nociva que surgia dentro de Israel. Ao mesmo tempo, os homens de
poder, os ricos e poderosos, sem autoridade religiosa, mas dotados da
capacidade de influenciar o governo pelo poder econômico que possuíam,
certamente também estavam ali para julgar aquele forasteiro de roupas e cabelos
estranhos. Convém lembrar que cada região de Israel possuía hábitos distintos de
vestimenta e formas diferentes de cultivar os cabelos. Além dos sacerdotes e
dos poderosos, também estava ali a multidão desesperançada, aqueles que haviam
perdido a crença de que poderiam ser felizes. Assim, é possível destacar três
multidões sentadas, a espera do discurso de Jesus. Agora, a qual delas se
dirigiria Jesus? Certamente, em função da presença dos sacerdotes iria falar ao
grupo daqueles homens poderosos do templo para mostrar o conhecimento da lei
que possuía. É lógico também que não desagradaria aos ricos que ali estavam,
uma vez que eles eram os senhores de todo poder. Entretanto, diferentemente do
que se poderia imaginar, o Cristo observando as multidões em seu redor, abre a
sua boca e, promovendo um escândalo sem par entre aqueles que lhe ouviam,
apresenta o seu discurso àqueles que menos se esperava que ele fizesse. O
Mestre não fala para os sacerdotes; não fala para os ricos; fala para aqueles
que tinham a crença de que nada mais restava senão a desgraça. Então, Jesus
começa o Sermão com as Bem-aventuranças, uma série de afirmações sobre as
qualidades do verdadeiro discípulo Dele, para alcançar a tão sonhada
felicidade, para alcançar um nível de consciência superior denominado reino dos
céus. A primeira parte do Sermão, Jesus se dirige aos sofredores, pois aquele
povo sofria, como hoje, na atualidade, estamos sofrendo, enaltecendo os
pequenos e, em nenhum momento se volta para enaltecer aqueles que são
poderosos. Conta o evangelista Mateus que o Cristo abre a sua boca e diz:
Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus. Isto
dito naquela época, seria considerado um tremendo desaforo. Não se podia
exaltar um pequeno, enaltecer aquele que não tem valor e não fazer reverência
aos sacerdotes que ali estavam. Agora, por que “pobres de espírito”?
Bem-aventurados os pobres não seria suficiente? Não! Porque há várias formas de
pobreza. Porém, só a pobreza de espírito é que faz jus ao reino dos céus. Há
grande número de maltrapilhos e de mendigos que são orgulhosos. Muitos entendem
que pobre de espírito são aquelas criaturas ignorantes, aquelas criaturas
tolas, aquelas criaturas desprovidas de sensibilidade intelectual. Mas, se isso
fosse verdade, seria um contrassenso, porque Jesus estaria dizendo que o reino
dos céus não seria para Ele, pois, o Cristo não se enquadrava nessa definição.
O que o Mestre quis dizer é que o reino dos céus é para aquelas pessoas
despidas de orgulho; para aquelas pessoas que não se envaidecem; para aquelas
pessoas que reconhecem não ter autossuficiência espiritual, e que dependem,
exclusivamente, do poder de Deus. A entrada no reino dos céus só é facultada
àqueles que cumprem as leis de Deus. A pobreza de espírito é uma pobreza no
sentido da alma. Evidentemente, Jesus
está nos incentivando a desenvolver a humildade. Jesus estava prometendo o
Reino de Deus para aqueles que acham que não sabem nada, que não querem
privilégios, que não querem reconhecimento, e que precisam melhorar.
Bem-aventurado os aflitos, os que choram, porque eles serão consolados. Como é
que alguém pode ser Bem-aventurado se está em aflição? Mas, como consolado?
Muitas pessoas choram desde que nasceram. Continuam chorando, e não têm consolo
nenhum. Só sofrimento. Onde estaria essa consolação, essa Bem-aventurança? Por
mais que possa parecer incoerente, nós, espíritas, sabemos que o espírito que
reencarna vem com proposta de crescer. E muitas das vezes, aquela dívida do
“pretérito”, ou seja, aquela limitação no aspecto físico, ou, até moral
espiritual é compatível com toda bagagem que ele trouxe para reencarnar.
Bagagem que ele trouxe de vidas passadas. O sofrimento de hoje é em virtude das
atitudes infelizes do passado, numa nova oportunidade de crescer
espiritualmente.
CONTINUAÇÃO
DESTE ESTUDO NO PRÓXIMO EPISÓDIO.
Muita Paz!
A serviço da
Doutrina Espírita; com estudos comentados, cujo objetivo é levar as pessoas a
uma reflexão sobre a vida, buscando pela compreensão das leis divinas o
equilíbrio necessário para uma vida feliz.
Leia Kardec!
Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!
O amanhã é
sempre um dia a ser conquistado! Pense nisso!
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